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aquilo punha nas forjas, esquentava batia marreta, arrumava picareta, alavanca não sei o quê... Estou fazendo
esse tipo de comentário porque em 1951-52, eu entrei em 51 com nove anos na Bahiminas, eu já vivenciava
isso e às vezes ele mandava “Vai lá na estação despachar um bocado de...” aqueles parafusos que prendem o
trilho numa chapa de ferro. O documento de despacho se chamava “X1” então ia lá com um cara levava no
carrinho, despachava na estação para as Turmas de conservação de via permanente. Eram os conhecidos
garimpeiros. De tantos em tantos quilômetros tinha uma turma de trabalhadores de linha. Então ele trabalhava
nessa área. Mexia com ferraria, carpintaria, funilaria, tinham muitos funileiros, serviço de calha, ele dava
manutenção à ferrovia na parte de carpintaria, ferraria. Caixas d’água também. Era o pessoal que trabalhava
com ele, os bombeiros, que cuidavam, davam assistência aquelas caixas antigas. Este era o setor dele.
Inclusive a primeira locomotiva em 1960, de 59 para 60. A locomotiva diesel da Bahiminas, a 800. Ele fez
parte da equipe para ajudar a construir essa locomotiva.
Ela foi construída lá?
Lá em Teófilo Otoni. Tinha um engenheiro que não me lembro o nome. Eu tinha 17 para 18 anos, ele era
conhecido como canarinho belga. Ele era muito clarinho, era gringo, cabeça branquinha e coordenava tudo
montando essa locomotiva. E se não me falha a memória ela foi montada com equipamentos, motores que a
estrada de ferro já tinha. Não sei se era de automotriz e eles conseguiram montar lá a primeira diesel à óleo. A
conhecida 800. Ela tinha duas frentes. Modelo meio esquisito mas foi feita lá.
E a história do sr.? Como foi sua trajetória na estrada de ferro?
Foi gozado porque o meu pai, naquela época tinha na estrada de ferro. Era uma estrada de administração
direta subordinada diretamente ao governo federal. O pessoal tinha estabilidade. Por exemplo, lá tinha o extra
numerado diarista e o extra numerado mensalista que era pessoal efetivo. Tinha o titulado que era um pessoal
do segundo grau. Engenheiro era muito pouco tinha um ou dois que comandavam a ferrovia toda. E tinha o
diarista, o provisório, o conhecido diarista de obras que era um pessoal que era pago com recursos da própria
estrada. Mas tinha muita gente. Então só ficava lá quem não precisava, não tinha compromisso de manter uma
verba todo fim de mês para cuidar de si, da família, qualquer coisa. Porque demorava o pagamento a sair. Era
recurso da estrada. Às vezes o pagamento desse pessoal ficava três meses, até uma ano sem pagar. Chamava-
se provisório, era o diarista de obras. Dentro do diarista de obras tinha plano de taxa, verba capital, verba três,
verba especial.... Também o dia que saía era uma festa. A gente enchia os bolsos. Era uma nota violenta.
Alguns elementos casados nessa época de quarenta e poucos para cá que pertenciam a essa tabela de
funcionários gastava o dinheiro todo comprando na cooperativa. Porque na cooperativa tinha tudo. Fazia um
biscate para ter um trocado ou alguém da família cuidava desse aspecto financeiro. Aí que comecei, na tabela
de obras porque era fácil. Era só falar com o superintendente que era o Dr. Portela e incluía a gente na folha
de pagamento que era o diarista de obras e eu entrei em primeiro de junho de 1951 com nove anos de idade.
Era um expediente na ferrovia e outro expediente no grupo escolar de Teófilo Otoni.
Na nossa ferrovia houve oito ou dez casos nessa situação. Inclusive amigos meus naquela época “Poxa fala
com seu pai vamos embora para lá.” E eu “não vamos mexer com isso não, salário demora a sair...” Por aí
passou e alguns desses elementos que eu convidei não quiseram e não conseguiram assim, não sei qual a
razão, manter um serviço. Talvez eu fui um privilegiado porque eu nunca trabalhei em outro lugar, só na
ferrovia. Trinta e oito anos, quatro meses e oito dias com a licença especial contada em dobro. Então comecei
na ferrovia assim, varrendo carpintaria, lubrificando máquinas e plainas que eram setores que meu pai
comandava, era todo mundo amigo e então tinham um carinho todo especial comigo e com outros meninos da
minha época. Tinha mais dois meninos comigo lá.
Depois, em fins de 55 eu mudei para o departamento de tráfego. Meu pai falou “Olha, gostaria que você fosse
trabalhar no tráfego”. Tudo bem. Ele arranjou, fui para o tráfico. Fui trabalhar na estação, na sede. E lá na
estação depois de um ano, mais ou menos de trabalho, me dei muito bem e passei a trabalhar como
conferente. Conferente era o elemento que fazia cálculo de mercadoria, frete pago, frete a pagar, que pagava
no destino, tráfego mútuo que era um tipo de transporte que a Bahia Minas fazia. A mercadoria vinha de
Caravelas, chegava de navio, tinha um porto lá que era a coisa mais gostosa da época. Navios pequenos, mas
possantes. Muita coisa que vinha de fora vinha através de Ponta de Areia. Então a mercadoria chegava lá,
café, sal ou gado do sul, subia de trem. A estrada na época tinha uns caminhões aí chamava-se de tráfego
mútuo. Era um frete direto. Aí só mudava a documentação em Teófilo Otoni. Punha numa outra
documentação de outro talão para poder transitar no tráfego rodoviário e aí os caminhões da estrada de ferro