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Costuma-se indicar pelo termo existencialismo, a partir de 1930,
aproximadamente, um conjunto de filosofias ou de diretrizes filosóficas que têm em
comum, não já os pressupostos e as conclusões (que são diferentes), mas o
instrumento de que se valem: a análise da existência. Essas diretrizes entendem a
palavra existência como o modo de ser próprio do homem enquanto é um modo de ser
no mundo, isto é, sempre em uma situação determinada, analisável em termos de
possibilidade. A análise existencial é, portanto, a análise das situações mais comuns
ou fundamentais em que o homem vem a encontrar-se. Em tais situações, obviamente,
o homem não é nunca, e não encerra nunca em si, a totalidade infinita, o mundo, o ser
ou a natureza. Portanto o termo da existência tem, para o existencialismo, um
significado completamente diferente daqueles termos que, como consciência, espírito,
pensamento etc., servem para interiorizar, ou, como se diz, para tornar ‘imanente’ no
homem a realidade ou o mundo na sua totalidade. Existir significa estar em relação
com o mundo, isto é com as coisas e com os outros homens; e como se trata de uma
relação não necessária nos seus modos de apresentar-se, as situações em que ela toma
forma podem ser analisadas só em termos de possibilidades. (1982, p. 382).
A psicoterapia existencial não se propõe a fazer acréscimo ou revisão da psicanálise,
mas se apresenta como uma outra maneira de conceber e de compreender o ser humano. Tal
maneira prioriza o aspecto real da existência concreta do homem, saindo de concepções
teóricas que são muitas vezes abstratas e distantes da realidade do paciente. É, além de tudo,
uma tentativa de modificar as formulações sobre o homem, tornando-as mais adequadas a
realidade, de modo que a psicologia possa ter acesso a uma visão mais próxima da realidade
existencial do ser humano.
A perspectiva que ainda hoje prevalece para a experiência mediana é a divisão
cartesiana sujeito-objeto. A visão de que o sujeito é a mente pensante e o objeto é tudo o mais,
inclusive o corpo desse ser pensante, faz com que o indivíduo desvalorize tudo aquilo que não
seja pensamento. Quase todo saber se desenvolve a partir daí. O ideal científico tradicional de
buscar a essência de todas as coisas ainda possui seu vigor e, para a grande parte da teorização
psicológica contemporânea, o homem é visto como consciência separada dos objetos.
A “orientação da pesquisa existencial na psicanálise”, escreveu Ludwig Binswanger
(1956, p. 144, apud May, 1988, p. 40), “surgiu da insatisfação com os esforços predominantes
para se obter conhecimento científico na psiquiatria”. Para ele, a psicologia e a psicoterapia
como ciências não devem se dedicar, preferencialmente, ao homem mentalmente doente, mas
sim ao homem como um todo. Binswanger também reconhece que devemos a Heidegger essa
nova compreensão a respeito do homem, particularmente à sua análise da existência humana,
que tem suas bases na nova concepção de que o homem não é mais compreendido em termos
de alguma objetivação, seja biológica, psicológica ou sociológica. Para Heidegger (2001, p.
33) “o existir humano nunca é um objeto simplesmente dado em algum lugar, muito menos