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com o mundo e consigo mesma. Exemplos disso são: momentos de silêncio, timidez, busca
pela solidão, entre outros. Sobre este tema, ele propõe a seguinte reflexão:
A idade de latência está bem longe de ser uma idade desprovida de pressões
pulsionais, de turbulências emocionais, de agitações interiores. São as formas como
estes impulsos criativos se exprimem que são diferentes, e são adequadas a uma
idade de transição, a um período de preparação. Se esta preparação ocorrer de
maneira suficientemente organizada e elástica, o impacto com a adolescência será
violento mas tolerável; se, ao contrário, houver um excesso de organização ou um
excesso de elasticidade, o jovem encontrará dificuldade em gerir a turbulência da
adolescência. Os anos preciosos da latência servirão então para fornecer uma
preparação adequada para acolher uma revolução física, psíquica e hormonal sem
comparação, para qual, de qualquer modo, não se poderá chegar realmente
preparado, uma vez que a surpresa e a desorientação são as condições inevitáveis da
explosão da adolescência (CARIGNANI, 2000, p. 12).
As idéias propostas por Carignani são de fundamental importância para a tessitura
desta dissertação, principalmente, quando afirma que a latência é um período essencial na
construção da identidade humana e no sentimento de pertencer a uma geração. Outro aspecto
relevante é o valor que este período exerce como fase de preparação para a adolescência.
Assim, a latência passa ser vista não apenas como um momento de calmaria devido a intensos
mecanismos de defesa, mas, principalmente, como um momento de intensa elaboração
psíquica, de muitas mudanças na forma da criança se relacionar com o mundo e consigo
mesma. Através de seus estudos e análises Carignani ampliou o olhar sobre o período de
latência.
Na discussão realizada acerca dos novos estudos referentes ao período de latência,
até o momento, foram utilizados artigos publicados em revistas ou encontros científicos e uma
tese de doutorado. Como é possível verificar, praticamente não existem livros que tratem
especificamente sobre o tema da latência. Ao longo da minha pesquisa bibliográfica, deparei-
me apenas com um livro que trata especificamente sobre o assunto abordado.
O livro foi publicado nos Estados Unidos em 1987 e no Brasil em 1995. O autor
Charles Sarnoff fez um extenso estudo sobre o período de latência e as características da
psicoterapia nesta fase do desenvolvimento infantil. No início do primeiro capítulo, o autor
faz uma ressalva ao pequeno número de pesquisas dedicadas à latência.
Embora a criança no período de latência contribua com a porção maior às listas de
casos clínicos e de profissionais particulares que fazem terapia infantil, pouco no
que se refere à observação ou pesquisa dos aspectos mais refinados do
desenvolvimento da criança em latência, foi tentado ou publicado. Em programas
educacionais psiquiátricos, tempo insuficiente foi dedicado à palestras sobre
latência. Os acontecimentos da latência, com freqüência, eram abordados com idéias
preconcebidas baseadas na experiência com outras idades. A latência, um período
que a observação direta mostrou ser um caldeirão fervente de ocorrências em termos
de desenvolvimento, foi encarada como um deserto, suas características
consideradas nada mais do que padrões e sombras, projetadas de outras zonas de
desenvolvimento (SARNOFF, 1995, p. 23-24).