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Magalhães, K. A. (2006). Alterações ambientais independentes da resposta: um estudo sobre desamparo
aprendido, comportamento supersticioso e o papel do relato verbal. São Paulo (p. 123). Dissertação de
Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Orientadora: Profª. Drª Tereza Maria de Azevedo Pires Sério.
Linha de Pesquisa: Processos Básicos.
Resumo
O presente trabalho foi uma tentativa de produzir desamparo aprendido com sujeitos humanos e, também, de
proporcionar uma descrição acurada das contingências em vigor para os grupos submetidos tanto à
controlabilidade quanto à incontrolabilidade. Para tanto, dois experimentos foram realizados. No primeiro
experimento, o objetivo foi: investigar os efeitos de procedimento similar ao utilizado por Hatfield & Job
(1998) na produção de desamparo aprendido. Nesse procedimento, diferentemente do procedimento mais
comum utilizado para a distribuição dos estímulos aversivos no grupo acoplado, a ordem de apresentação
desses estímulos (no caso, sons estridentes) foi randomizada, a fim de impedir a concentração de estímulos
com determinadas características (no caso, sons de curta duração) em determinados momentos do treino. No
segundo experimento, além desse mesmo objetivo, pretendeu-se verificar quais os efeitos de solicitações de
relato verbal sobre as contingências em vigor, realizadas em algumas tentativas, ao longo da fase de treino,
na produção de desamparo aprendido. Participaram do primeiro experimento 28 participantes distribuídos em
três grupos: Contingente (9 participantes), Acoplado (9 participantes) e Controle (10 participantes). Para os
participantes do grupo Contingente a resposta de teclar F1 três vezes interrompia o som na fase de treino; já
no teste, a resposta de clicar, também três vezes, sobre um de três retângulos (o da esquerda) apresentados na
tela do computador interrompia o som. Para os participantes do grupo Acoplado, nenhuma resposta nas
teclas disponíveis interrompia o som na fase de treino, já no teste a mesma resposta requerida para os
participantes do grupo Contingente foi requisitada. Os participantes do grupo Controle somente foram
submetidos à fase de teste, na qual a mesma resposta requerida para os grupos Contingente e Acoplado foi
requisitada. Em ambas as fases, quarenta sons foram apresentados aos participantes deste experimento. No
segundo experimento, 20 participantes foram distribuídos em dois grupos: Contingente Relato Verbal (10
participantes) e Acoplado Relato Verbal (10 participantes). O procedimento para os participantes destes dois
grupos foi igual ao dos participantes do grupo Contingente e Acoplado do Experimento 1, exceto que, em
oito tentativas ao longo da fase de treino, era solicitado que o participante descrevesse a contingência em
vigor. Os resultados obtidos no primeiro experimento mostraram que, o procedimento de mudança na ordem
das durações do som adotado para os participantes do grupo Acoplado impediu a concentração de sons de
curta duração nas tentativas finais do treino e a produção de comportamento supersticioso. Em relação ao
desamparo aprendido, apesar de mais participantes do grupo Acoplado terem aprendido as respostas
requeridas, quando comparados com os participantes dos outros dois grupos, o desamparo aprendido pôde
ser observado, no seu grau mais acentuado (não aprendizagem) em um participante e, em um grau menos
acentuado (dificuldade de aprendizagem) no responder de dois participantes. Todavia, considerando as
análises estatísticas realizadas, o grupo Acoplado não diferiu significativamente dos outros dois grupos. No
segundo experimento, em relação ao procedimento empregado para o grupo Acoplado Relato Verbal, os
mesmos resultados obtidos no Experimento 1, com o grupo Acoplado, foram observados no grupo Acoplado
Relato Verbal. Em relação ao desamparo aprendido, mais uma vez, os resultados obtidos no segundo
experimento mostraram-se muito semelhantes aos resultados obtidos no Experimento 1. Neste segundo
experimento, apesar de mais participantes do grupo Acoplado Relato Verbal terem aprendido as respostas
requeridas, o desamparo aprendido foi observado, em seu maior grau, no responder de dois participantes
desse grupo e, em seu grau menos drástico em dois participantes. Em suma, apenas sete participantes dos
dois grupos Acoplados apresentaram desamparo aprendido em algum grau. Porém, 12 participantes, o que
corresponde a mais de 63% dos sujeitos expostos aos estímulos aversivos incontroláveis não tiveram o
desempenho prejudicado em função dessa exposição. Dessa maneira, o presente estudo não produziu o
desamparo aprendido com humanos e, as análises estatísticas realizadas confirmam essa conclusão. Quanto à
solicitação dos relatos verbais, nota-se que mais de 50% dos participantes de cada um dos dois grupos
relatou a contingência planejada em alguma oportunidade. Observou-se, também, que dos cinco participantes
do grupo Acoplado Relato Verbal que descreveram a contingência planejada para a fase de treino, ou seja, a
incontrolabilidade, quatro desses participantes apresentaram o desamparo aprendido em algum grau.
Palavras-chave: desamparo aprendido, contingências, comportamento supersticioso, relato verbal.