Todas essas visões destacadas por Brait auxiliam a compreender o personagem atual,
encontrado nas telas do cinema contemporâneo. A própria autora cita o exemplo do famoso
Indiana Jones
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, recordando a série de perigos enfrentados por ele.
A personagem Indiana Jones, vivida pelo belo ator Harrison Ford, apesar de todo o
aparato modernoso sustentado pelos efeitos especiais, não deixa de ser o mesmo
mocinho dos filmes de cowboy, o mesmo herói das narrativas tradicionais, cheias de
obstáculos a serem transpostos, o mesmo mocinho romântico, cujo destino é vencer
inimigos e conquistar o coração da mocinha. Ou seja, seu comportamento e o
desfecho das ações por ele protagonizadas estão apoiados nas necessidades do
encaminhamento da história, da fábula, que neste caso é suficientemente redundante,
exaustivamente marcada por traços acumulados por uma tradição narrativa despida
de estranhamento (BRAIT, 1985, p. 32).
Com isso, a autora enfatiza que em toda história existe um herói, que deve vencer o
mal. Esse herói é sempre repleto de qualidades, chegando, em determinados casos, a estar
revestido “do mito do super-homem” (1985, p. 32). Ela coloca, ainda, que como os
espectadores já assimilaram esses traços costumeiros da ficção em outras narrativas,
identificam de imediato o herói e esperam que a narrativa cumpra, assim como o personagem,
o seu conhecido destino. Uma vez que na maioria dos casos a narrativa transcorre dentro da
fórmula tradicional, os espectadores passam a esperar, dos personagens, certas atitudes já
instituídas. Por isso a importância dos seres envolvidos na história para criar o interesse do
público pela obra.
Contribuindo para clarear esse ponto de vista, Jacques Aumont (1993a) alega que todo
campo fílmico instaura um campo ausente, que seria preenchido pelo imaginário do público.
O autor fala em identificação secundária, para designar a relação entre imagem e espectador,
que seria estimulada, principalmente, pelos personagens da obra. Ele garante que o filme –
através dos personagens – suscita, no público, afetos, simpatias, antipatias (1993a, p. 241).
Portanto, nota-se que o ritual cinematográfico requer elementos de identificação com o
espectador, e, desses elementos, o mais utilizado é o personagem. Na história do cinema
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Brait refere-se ao filme Indiana Jones and the Temple of Doon (Steven Spielberg, 1984).