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abertura de novos espaços livres nas cidades, emergem então lugares públicos ou privados.
Vários projetos foram desenvolvidos em capitais brasileiras, e em São Paulo o trabalho de
Miranda Magnoli e Rosa Kliass junto à Prefeitura ganhou destaque.
A Praça da Matriz de Itapecerica da Serra possui características próprias, que dizem
respeito à topografia, aos aspectos diferenciados da formação cultural, social e política do
município e, sobretudo, sua história singular. Não se trata de uma cidade planejada, como
poucas o foram no Brasil, por arquitetos e urbanistas. As fontes históricas que acessamos
sobre esta cidade na segunda metade do século XX mostram que algumas intervenções na
paisagem urbana da cidade têm a praça como principal alvo. Segundo os relatos de
memorialistas, fixados em documentos da administração pública como oficiais, a história de
Itapecerica tem início a partir da formação do núcleo populacional setecentista. Nesses
relatos, a Praça e a Igreja da Matriz foram assumiram ao longo dos anos um papel de
centralidade na memória itapecericana. Isto a caracteriza como espaço histórico e, como tal
socialmente construído.
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Embora não se encontrem referência, citações ou notas, é possível deduzir que
Cristiane Lopes Silva Martins se reporta aos escritos de José Silveira da Motta para sustentar
que “os primeiros sinais da praça são enraizados na ocupação da área pelos soldados
missionários da Companhia de Jesus, nos séculos XVI e XVII”.
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Postos avançados de
colonização coordenada pelos padres foram instalados na serra acima dos rios Tiete e Cotia, a
partir da região de Barueri, Carapicuíba, Embu, Monteserrate, e Itapecerica, sendo estes os
primeiros sinais do povoamento europeu da região. Outra versão trata de um aldeamento
surgido em 1562, como forma de pacificar grupos indígenas revoltados na região. Em suma,
há comprovação documental de aldeias jesuíticas na região desde o fim do século XVII.
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Para o conhecimento e análise da trajetória de construção e utilização das praças em diferentes épocas, para
diversas comunidades e culturas, consultei: RIBEIRO, op. cit.; SITTE, Camillo. A construção das cidades
segundo seus princípios artísticos. São Paulo: Ática, 1992; GUERRAND, Roger Henri. Espacios privados. In:
ARIÈS, Philipe e DUBY, Georges. História de la vida privada: sociedade burguesa, aspectos concretos de la
vida privada. Barcelona: Taurus, 1991; MACEDO e ROBBA, op. cit.; FERRARA, Lucrecia D’ Alessio. Olhar
periférico. Informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Fapesp/Edusp, 1999. Ainda sobre esta
temática o arquiteto e urbanista Murillo Marx tem três trabalhos de grande relevância, que servem de base para a
construção de diversas análises sobre a cidade e seus territórios. MARX, Murillo. Cidade brasileira. São Paulo:
Melhoramento/Edusp, 1980; Do sagrado ao profano. São Paulo: Edusp, 1989; e Cidade no Brasil: terra de
quem? São Paulo: Nobel/Edusp, 1991. SALDANHA, Nelson. O jardim e a praça: o privado e o público na vida
social e histórica. São Paulo: Edusp, 1993.
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MARTINS, Cristiane Lopes Silva. Itapecerica da Serra: Sua história e sua gente. Primeira parte. Folha da
Região Oeste, Itapecerica da Serra. Junho 2001. p 3. (Edição Comemorativa dos 124 anos).