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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO
COMPETÊNCIAS DO EMPREENDEDOR EM
UMA ORGANIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO:
UM ESTUDO DE CASO
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Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho
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“COMPETÊNCIAS DO EMPREENDEDOR EM UMA ORGANIZAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO: UM ESTUDO DE CASO”
Carlos Alberto Miranda
Dissertação de Mestrado Profissionalizante
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Administração e Economia das Faculdades
Ibmec, como requisito parcial necessário para a
obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de Concentração: Administração Geral.
Aprovada em 11 de abril de 2005.
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho – Orientador
_________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Procópio Lima Netto, Faculdades Ibmec
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo José Lentino Camargo Prochno, Fundação Dom Cabral
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FICHA CATALOGRÁFICA
4
Dedico este trabalho aos meus pais Carlos e Maria Luiza (in
memoriam) e à minha irmã Inês que representam o meu
passado, responsáveis pela base de tudo o que sou.
Aos meus filhos Caroline, Marcello e Lucas que, às vezes,
sofrem no presente com a ausência do pai, e que representam
para mim a grande esperança da transformação futura da
sociedade.
À minha mulher Marise que representa a eternidade. Aquela
que sempre esteve e estará presente em meu coração e minha
alma, sendo a minha grande admiradora e incentivadora.
5
AGRADECIMENTOS
Ao amigo e orientador Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho pela
objetividade, dedicação e, acima de tudo, pelo incentivo em buscar sempre o melhor.
Ao amigo Prof. Dr. Paulo José Lentino Camargo Prochno pelas orientações precisas
e motivadoras.
Aos meus sócios que apoiaram mais este meu projeto, representados pelos amigos
Julio S. Cardozo, mentor e orientador, principalmente nos momentos mais delicados
de minha carreira profissional, a quem serei sempre grato e Jorge Menegassi, grande
amigo, que com seu comportamento profissional, sempre representou para mim um
modelo a ser seguido.
E aos meus colaboradores que, sem a sua dedicação, lealdade e competência, nada
seria possível.
6
RESUMO
O empreendedorismo representa uma das alternativas para o crescimento econômico
de um país, por outro lado, as tentativas fracassadas, que acarretam o fenômeno da
mortalidade, geram não perdas potenciais como custos reais para a economia.
Estatisticamente a mortalidade das organizações, ocorre nos estágios iniciais do Ciclo
de Vida das mesmas, e na maioria das vezes é ocasionada por uma gestão inadequada
por parte de seus empreendedores, que é associada às questões de competência. O
objetivo deste trabalho foi analisar, por meio de um estudo de caso único, como
Edson de Godoy Bueno reagiu às necessidades de competências a ele impostas
durante aqueles estágios de sua organização, a AMIL, vis-à-vis a literatura que trata
sobre Empreendedorismo, Competência e Ciclo de Vida Organizacional. Os
principais resultados foram que o empreendedor analisado adquiriu, durante os
estágios iniciais, competências tácitas e que as competências que mais exerceu foram
a intuição e o carisma para motivar seus colaboradores e influenciar seus clientes.
Além disso, apresentou-se uma proposta de modelo de Ciclo de Vida para
organizações em desenvolvimento. O trabalho está organizado em introdução,
revisão da literatura, metodologia, estudo de caso e conclusões e sugestões para
futuras pesquisas. Usado na prática este trabalho e as suas conclusões têm o potencial
de proporcionar a empreendedores, uma visão projetiva das competências que deverá
ter ou desenvolver para estar preparado a enfrentar situações que podem provocar a
morte de suas organizações.
7
ABSTRACT
The entrepreneurship represents one of the alternatives for one country’s economic
development, on the other hand, the frustrated tries, that cause the mortality
phenomenon, provoke not solely potential losses as well as real costs to the economy.
Statistically the organizations’ mortality, happen mainly in the early stages of their
Life Cycle, and in the main times is provoked by an inadequate management of their
entrepreneurs, associated by competency issues. The objective of this work was
analyze, through a single case study, how Edson de Godoy Bueno had reacted to the
different competencies needs demanded to him during that stages of his organization,
AMIL, vis-à-vis, the literature that treats Entrepreneurship, Competency and
Organization Life Cycle. The main results were that the entrepreneur analyzed have
acquired, during the early stages, tacit competencies and that the main competencies
that he have used were intuition and charisma in order to motivate his employees and
influence his clients. Beyond that, it was presented one Life Cycle model for
developing organizations. The work is organized into the following categories:
introduction, literature review, methodology, case study and conclusions and
recommendations for future researches. The present study has the potential to bring
to entrepreneurs a projective view of the competencies they will have to have or
develop in order to be prepared to face situations that potentially can drive their
organizations to death.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO__________________________________________ 12
2. REVISÃO DA LITERATURA _____________________________ 19
2.1. EMPREENDEDORISMO ______________________________ 19
2.1.1. DEFINIÇÃO _____________________________________ 20
2.1.2. PERFIL E COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR____ 23
2.1.3. O PROCESSO EMPREENDEDOR___________________ 27
2.2. CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL___________________ 30
2.2.1. DEFINIÇÃO _____________________________________ 30
2.2.2. ESTÁGIOS DOS CICLOS DE VIDA _________________ 31
2.2.3. CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES _________ 34
2.2.4. CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR _________ 39
2.2.5. REFLEXÃO COMPLEMENTAR ____________________ 46
2.3. COMPETÊNCIAS ____________________________________ 46
2.3.1. DEFINIÇÃO _____________________________________ 46
2.3.2. DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS _________ 50
2.3.3. CONTEXTUALIZAÇÃO DE COMPETÊNCIA _________ 51
3. METODOLOGIA________________________________________ 53
3.1. ESTUDO DE CASO___________________________________ 53
3.2. ESTUDO DE CASO ÚNICO ____________________________ 56
3.3. A ESTRUTURA DO ESTUDO DE CASO _________________ 57
3.4. ETAPAS DO TRABALHO _____________________________ 59
4. ESTUDO DE CASO ______________________________________ 61
9
4.1. CONCEPÇÃO DO EMPREENDEDOR ___________________ 61
4.2. CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO _____________________ 64
4.3. MODELO BASE______________________________________ 66
4.4. FASE DA ORGANIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO_____ 67
4.4.1. ORIGEM________________________________________ 67
4.4.2. SOBREVIVÊNCIA________________________________ 71
4.4.3. DESENVOLVIMENTO ____________________________ 71
4.4.4. AMADURECIMENTO ____________________________ 78
4.5. OUTROS DESAFIOS__________________________________ 79
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 81
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________ 85
ANEXOS
A. LEITURAS COMPLEMENTARES ________________________ 89
B. ANÁLISE SETORIAL____________________________________ 91
C. ROTEIRO DE ENTREVISTAS____________________________ 94
D. PRINCIPAIS MARCOS DA AMIL_________________________ 95
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - PROCESSO EMPREENDEDOR ____________________ 28
Figura 2 – O CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL ___________ 36
Figura 3 – MODELO DE CHURCHILL E LEWIS (1983) ________ 38
Figura 4 – ESTRUTURA DO TRABALHO_____________________ 60
Figura 5 – MODELO DE CRESCIMENTO DA AMIL ___________ 77
11
LISTA DE TABELAS
Tabela I – CAUSAS DE MORTALIDADE _____________________ 14
Tabela II – CUSTO DA MORTALIDADE _____________________ 15
Tabela III – MAIORES EM SERVIÇOS DIVERSOS ____________ 18
Tabela IV – ATITUDES E COMPORTAMENTOS______________ 25
Tabela V – ORGANIZAÇÕES EM DESENVOLVIMENTO ______ 44
Tabela VI – ORGANIZAÇÕES MADURAS____________________ 45
Tabela VII – ESTRATÉGIAS DE PESQUISA __________________ 55
Tabela VIII – PROPOSTA DE MODELO______________________ 82
12
1. INTRODUÇÃO
O empreendedorismo representa uma das alternativas para o crescimento econômico
de um país, por outro lado, as tentativas fracassadas, que acarretam o fenômeno da
mortalidade, geram não só perdas potenciais como custos reais para a economia.
Estatisticamente a mortalidade das organizações, ocorre nos estágios iniciais do Ciclo
de Vida das mesmas, e na maioria das vezes é ocasionada por uma gestão inadequada
por parte de seus empreendedores, que é associada às questões de competência.
O objetivo deste trabalho foi analisar, por meio de um estudo de caso único, como
Edson de Godoy Bueno reagiu às necessidades de competências a ele impostas
durante aqueles estágios de sua organização, a AMIL
1
, vis-à-vis a literatura que trata
sobre Empreendedorismo, Competência e Ciclo de Vida Organizacional.
Os principais resultados foram que o empreendedor analisado adquiriu, durante os
estágios iniciais, competências tácitas e que as competências que mais exerceu foram
a intuição e o carisma para motivar seus colaboradores e influenciar seus clientes.
Além disso, apresentou-se uma proposta de modelo de Ciclo de Vida para
organizações em desenvolvimento.
O trabalho está organizado em introdução, revisão da literatura, metodologia, estudo
de caso e conclusões e sugestões para futuras pesquisas. Usado na prática este
trabalho e as suas conclusões têm o potencial de proporcionar a empreendedores,
uma visão projetiva das competências que deverá ter ou desenvolver para estar
preparado a enfrentar situações que podem provocar a morte de suas organizações.
Além da bibliografia referenciada, outras leituras complementares foram efetuadas de
forma a buscar um maior conhecimento sobre o assunto pesquisado. Este leitura
complementar está apresentada no ANEXO A.
1
Entende-se por grupo AMIL os negócios: AMIL, AMIL Resgate Saúde, ESHO, AMIL Texas, Total
Care, CEMEDS, Farmalife, Pró-Market e Supri-M que tiveram origem a partir de uma primeira
organização adquirida por Edson de Godoy Bueno e que será chamado daqui em diante por AMIL.
13
As organizações, desde a sua fundação, passam por diversos estágios de
desenvolvimento que definem um modelo de Ciclo de Vida. Ao longo deste, para
cada estágio, a organização vivencia uma ou mais crises que antecipam a passagem
para um próximo estágio, e a cada crise são necessárias diferentes ações de
realinhamento na organização.
Estas ações podem ser várias tais como: mudanças na estrutura, na estratégia, nos
sistemas, ou ainda, busca de parceiros, endividamento, treinamento, reengenharia,
entre outros. Nos estágios iniciais do Ciclo de Vida de uma organização quem define
estas ações é o empreendedor, isto é, para cada necessidade são exigidas diferentes
competências deste e a cada competência exigida será demandada uma necessidade
de adaptação ou flexibilidade, que se constituem, também, em competência.
Nas organizações que estão em seus estágios iniciais do Ciclo de Vida o
empreendedor é o principal, e praticamente único, elemento de influência na gestão
da mesma. É a ele, portanto, que serão exigidas as diferentes competências citadas e
o não atendimento destas, poderão acarretar a morte da organização.
Desta forma a pergunta proposta que orientou o trabalho foi:
Como um empreendedor reage às diferentes competências a ele demandadas
durante o Ciclo de Vida da organização, notadamente nos estágios onde a
mesma está mais vulnerável à mortalidade?
Como premissa, o trabalho foi desenvolvido sem considerar problemas exógenos e
conjunturais, como taxa de juros e acesso ao crédito, que também colaboram para o
alto índice de mortalidade de organizações no Brasil.
Nos EUA, a mortalidade das organizações também se constitui em um problema para
o empreendedorismo. Timmons (1999) apresenta que, de acordo com uma estimativa
da Small Business Administration, para cada três novos negócios, dois morrem em
14
menos de cinco anos. Para ele, boa parte desta mortalidade está associada ao
processo de aprendizagem.
No Brasil, de acordo com uma pesquisa do SEBRAE (2004), em 2000, 59,9% das
organizações extintas tinham até quatro anos de existência indo para 56,4% com até
três anos em 2001 e 49,4% com até dois anos de existência em 2002. Ainda no
mesmo estudo, os fatores relativos a aspectos macroeconômicos e financeiros são as
sete primeiras causas apontadas entre as dificuldades e razões para o fechamento das
organizações, em seguida aparecem os aspectos de características estratégicas e
gerenciais.
A Tabela I, a seguir, apresenta, segundo os empresários pesquisados, quais são as
principais dificuldades e razões para o fechamento das empresas. É importante
destacar que esta tabela foi baseada em questionário que admitia respostas múltiplas:
Tabela I - CAUSAS DE MORTALIDADE
Categorias Ranking Dificuldades / Razões Percentual de
Empresários que
Responderam
Falta de Capital de Giro 42%
Falhas Problemas financeiros 21%
Gerenciais Ponto / local inadequado 8%
Falta de conhecimentos gerenciais 7%
Causas Falta de clientes 25%
Econômicas Maus pagadores 16%
Conjunturais Recessão econômica do país 14%
Logística 12º Instalações Inadequadas 3%
Operacional 11º Falta de mão-de-obra qualificada 5%
Políticas Falta de crédito bancário 14%
Públicas e 10º Problemas com a fiscalização 6%
arcabouço 13º Carga tributária elevada 1%
legal Outra razão 14%
Fonte: SEBRAE (2004)
15
Sobre a Tabela I acima vale mencionar que não parece correta a classificação de
maus pagadores e falta de clientes como Causas Econômicas e Conjunturais. Parece
mais adequado classificá-las também como falhas gerenciais.
Segundo este mesmo estudo (SEBRAE, 2004), projetando-se os percentuais de taxas
de mortalidade sobre o número total de empresas registradas nos anos de 2000 a
2002, estima-se o custo social total advindo do encerramento das atividades
empresariais. De acordo estes cálculos, o fechamento de 772.679
empresas nestes
três anos significou uma perda de 2,4 milhões de empregos, contribuindo para o
aumento do desemprego e da informalidade. Estimam-se, também, desperdícios
potenciais da ordem de R$ 19,8 bilhões de inversões na atividade econômica.
A Tabela II a seguir, mostra a quantidade de empresas encerradas entre 2000 e 2002,
bem como o total da perda de ocupações decorrentes destes encerramentos e a
estimativa de desperdício econômico gerado, por ano e total do período:
Tabela II - CUSTO DA MORTALIDADE
ANO EMPRESAS
ENCERRADAS
PERDAS DE
OCUPAÇÕES
DESPERDÍCIOS
ECONÔMICOS
2000
275.900 882.880 R$ 6,6 bilhões
2001
276.874 885.996 R$ 6,7 bilhões
2002
219.905 703.696 R$ 6,5 bilhões
Total 772.679 2,4 milhões R$ 19,8 bilhões
Fonte: SEBRAE (2004)
Estas perdas e custos apresentados somam-se aos inúmeros problemas sociais
existentes no Brasil. Esses problemas devem e podem ser atacados de várias formas,
e todas são válidas.
16
O empreendedorismo, de acordo com Timmons (1999), é uma forma de “fazer a torta
maior”, gerando grandes oportunidades de mobilidade social e criando oportunidades
iguais para mais pessoas.
Muito se fala sobre a criatividade e a capacidade de empreender do brasileiro e o
empreendedorismo como importante elemento de desenvolvimento econômico e
social. No entanto, as tentativas fracassadas de empreendedorismo fazem com que
esta “vontade de empreender” transforme-se ao invés de um gatilho para o
crescimento em uma arma contra o mesmo, notadamente pelos custos sociais que
estes fracassos representam.
Sendo assim, colaborar para a formação de competência empreendedora, via estudos
e pesquisas como o aqui desenvolvido, representa além de sua relevância acadêmica,
uma relevância social.
Para escolha do empreendedor a ser estudado, definiu-se o que o mesmo deveria
pertencer ao setor de serviços. Este, juntamente com o comércio, é o setor que menos
exige investimento para o início de uma organização, facilitando sobremaneira o
processo para os pequenos empreendedores, sendo, também, um dos que apresentam
os maiores índices de mortalidade. Segundo a pesquisa do SEBRAE (2004), ao
traçar-se o perfil das organizações extintas entre 2000 e 2002, verifica-se que 21%
ocupavam uma pessoa e 75% de duas a nove pessoas e que do total das organizações
extintas 51% eram atividades ligadas ao comércio e 46% ao setor de serviços.
O setor de serviços é também um dos setores onde existe uma maior dependência de
pessoas, tornando-o mais sensível aos aspectos de recursos humanos.
Apesar do objeto de pesquisa ter sido uma organização cujo grupo econômico está
enquadrado no setor de saúde, o mesmo pertence à atividade de prestação de
serviços.
17
Conforme apresentado, o foco inicial era um empreendedor que pertencesse ao setor
de serviços. Para tal, buscou-se uma organização que pertencesse àquele setor, que
fosse reconhecida pelo mercado como uma líder em sua área de atuação e que tivesse
o empreendedor-fundador
2
ainda ativo na organização.
Para não desviar o trabalho na busca de critérios para definir uma organização líder,
foram consideradas aquelas que figurassem em publicações ou estudos
especializados e reconhecidos pelo mercado como tal. Os escolhidos foram:
Melhores e Maiores” da revista Exame (2004) e Gazeta Mercantil (2002).
Após a consideração de todos os aspectos apresentados, chegou-se à AMIL e a seu
empreendedor-fundador Edson de Godoy Bueno para serem objeto do trabalho.
Destaca-se que o foco principal do trabalho foi o empreendedor e não a organização.
A AMIL, pelo critério adotado, pode ser classificada como uma organização líder em
seu seguimento. Segundo levantamento efetuado pela Gazeta Mercantil (2002) a
mesma era nesta época a maior organização de planos de saúde do Brasil, com um
faturamento da ordem de 1 bilhão de reais. E segundo a revista Exame (2004), entre
as 500 maiores organizações por venda, ela aparece na classificação de número 204
com vendas na ordem de 418 milhões de dólares. Ainda no mesmo estudo (Exame,
2004), apresentado na Tabela III, a AMIL aparece como a segunda maior empresa
do setor de serviços diversos e a consequentemente a primeira na sua categoria. Mais
informações sobre a AMIL e o setor em que está inserida poderá ser encontrado no
ANEXO B.
2
Adotou-se aqui o termo empreendedor-fundador para enfatizar aquele empreendedor que participou
da organização desde os estágios iniciais de seu Ciclo de Vida, isto é, que tenha iniciado o negócio.
18
Tabela III - MAIORES EM SERVIÇOS DIVERSOS
1. Credicard 699,1
2. AMIL 418,3
3. Visanet 391,3
4. Redecard 290,3
5. Golden Cross 247,8
6. Univ. Estácio de Sá 241,9
7. GR 236,8
8. Accenture 230,0
9. Atento 226,2
10. Unimed Paulistana 211,9
Fonte: Exame (2004)
Obs.: em US$ milhões.
19
2. REVISÃO DA LITERATURA
Perry et al. (1988) apontavam que os resultados encontrados em sua pesquisa, que
procurava estabelecer uma relação entre características pessoais do empreendedor e o
crescimento das pequenas organizações, indicavam que ainda havia um longo
caminho para identificar as características de empreendedores bem-sucedidos.
Percebeu-se, na pesquisa efetuada, que ainda hoje uma menor quantidade de
material tratando de temas como competências individuais necessárias ao
empreendedor durante os estágios iniciais do Ciclo de Vida de suas organizações e
como o mesmo reage e consegue atender ou não a estas necessidades. Verificou-se
também uma lacuna teórica razoável quando se trata de pesquisas sobre Ciclo de
Vida Organizacional para organizações em desenvolvimento.
Os fenômenos que se referem aos estágios iniciais do Ciclo de Vida das organizações
estão associados ao processo empreendedor bem como a competências individuais do
mesmo. Sendo assim o presente capítulo irá estudar Empreendedorismo, Ciclo de
Vida Organizacional e Competências. Esperou-se ao final do mesmo obter-se a
plataforma teórica que fosse a base de sustentação do estudo de caso.
2.1. EMPREENDEDORISMO
A presente pesquisa teve, conforme apresentado anteriormente, como foco principal
o posicionamento do empreendedor face aos desafios enfrentados a cada estágio do
Ciclo de Vida de sua organização. Portanto, compreender o empreendedorismo, o
perfil do empreendedor e seu comportamento, bem como o processo empreendedor e
os desafios associados ao crescimento de uma organização representou um
importante arcabouço teórico para a mesma.
Fala-se muito sobre a importância do empreendedorismo para a economia tanto do
Brasil como do mundo. Timmons (1999) apresenta que mais de 25 anos David
20
Birch contestou a teoria de que organizações com menos de 100 empregados não
eram importantes para a economia americana. A conclusão de David Birch foi que as
novas e crescentes organizações criaram na economia americana de 1969 a 1976,
81,5% dos novos empregos e completa que desde 1980 os EUA criaram 34 milhões
de novos empregos e, no entanto, as organizações listadas na Fortune 500 perderam
mais de 5 milhões de empregos e que dos 8 milhões de novos empregos criados de
1993 a 1996, apenas 5% das novas organizações criaram 77% destes empregos.
Segundo ele, as pequenas organizações americanas geram duas vezes mais inovações
em P&D
3
por dólar gasto do que as grandes.
2.1.1. DEFINIÇÃO
Buscar uma definição para empreendedorismo não é simplesmente buscar o
significado de uma palavra, é, sobretudo a tentativa do entendimento de um processo
que está associado a conhecimentos, habilidades e atitudes do empreendedor. Sendo
assim, percebeu-se a dificuldade em definir empreendedorismo sem de alguma forma
tratar-se das competências do empreendedor.
No século 18, Richard Cantillon argumentou que empreendedorismo é o conceito
que está vinculado a tomar o risco de comprar por preços certos e vender por preços
incertos. Jean Baptiste Say estendeu a definição ao incluir neste processo os fatores
de produção
4
.
Filion (1991) definiu empreendedor como a pessoa que imagina, desenvolve e realiza
as suas visões. Bygrave (1996) ao procurar dar uma definição mais abrangente
para empreendedorismo criticou a afirmação de Schumpeter de que o empreendedor
é a pessoa que destrói a ordem econômica existente, introduzindo novos produtos e
serviços, criando novas formas de organização ou explorando novas matérias primas.
Ele disse que o empreendedor é alguém que percebe uma oportunidade e cria uma
3
Pesquisa e Desenvolvimento
21
organização para capturá-la e o mesmo, exceto em poucos casos, não é o
revolucionário destruidor da ordem econômica e sim, muito mais o que a incrementa
entrando em um mercado já existente.
Entendeu-se que empreendedorismo está associado a processos gerenciais e
competências individuais
e que para estruturar-se o presente trabalho, passou-se
obrigatoriamente pelas definições de empreendedor e pela busca do entendimento de
seus comportamentos.
Stevenson et al. (1999) averiguaram que as definições acadêmicas dadas a
empreendedorismo podem ser divididas entre as que definem empreendedorismo
como uma função econômica e as que identificam empreendedorismo como traços
pessoais. As pesquisas estão concentradas na função econômica do
empreendedorismo ou nas competências individuais dos empreendedores. Para ele
o empreendedorismo é uma abordagem para o gerenciamento e define como a busca
de oportunidade não associada a uma preocupação direta com recursos atualmente
controlados.
Além disso, vale enfatizar a complexidade da definição de empreendedorismo. Isso
pode dever-se ao fato de que empreendedorismo é um processo que envolve ações
que vão desde o estágio anterior da fundação de uma organização até o sucesso desta.
Sucesso este que além de poder ser transitório é de difícil contorno.
O mesmo pode-se dizer em relação à definição de empreendedor. O empreendedor é
aquele que apresenta determinadas competências gerenciais, associadas com a
competência de identificar e buscar oportunidades, tomando riscos, gerenciando
recursos e procurando perpetuar o sucesso de seu negócio. Como dito, não há
empreendedor sem o empreendimento.
4
Apresentado em Stevenson et al. (1999).
22
Timmons (1999) reforçou o aspecto comportamental do empreendedorismo e
apresentou a seguinte definição: “Empreendedorismo é uma forma de pensar
racionalmente e agir obcecado pela oportunidade. Tem uma abordagem holística,
balanceada pela liderança.
Para ele o empreendedorismo resulta na criação, aumento, realização e renovação de
valor, não apenas para os donos, mas para todos os interessados (stakeholders)
5
. No
centro deste processo está a criação e reconhecimento de oportunidades, seguidos do
desejo e da iniciativa de capturá-las. Requer disposição para tomar riscos tanto
financeiros quanto pessoais, mas de uma forma calculada para constantemente mudar
os obstáculos a seu favor, balanceando os riscos com a recompensa potencial.
Para Dolabela (1999) empreendedor é o indivíduo que cria ou compra uma empresa
(introduzindo inovações e assumindo riscos), qualquer que seja ela, ou aquele
empregado que introduz inovações em uma organização. Este empreendedor
empregado, embora mereça ser estudado com profundidade, não foi objeto de análise
na presente pesquisa.
Para um melhor entendimento, considerando-se todas as definições vistas até o
momento, utilizou-se a seguinte definição conceitual: Empreendedorismo é o
processo de utilização de competências individuais para buscar-se uma oportunidade,
criando-se uma organização. Em um primeiro momento este processo não é
associado a uma preocupação com os recursos controlados e envolve tomada de
riscos e gerenciamento de valor
6
.
Complementarmente é importante ressalvar que o empreendedor não existe per si.
No limite dos conhecimentos do autor, não como existir o empreendedor sem a
organização, isto é, sem o empreendimento. Portanto o empreendedor, novamente
5
Entende-se como Stakeholders todas as pessoas ou entidades que têm algum interesse, de qualquer
natureza, nas movimentações de uma determinada organização. Estas pessoas podem ser tanto
acionistas quanto fornecedores ou comunidades que possam ser afetadas pela mesma.
6
Baseado em Davis e Meyer (2000) que introduzem o conceito de Future Wealth. Neste conceito
prega-se o gerenciamento de uma organização através de gerenciamento do valor da mesma.
23
nos limites do conhecimento do autor, não existe apenas por ter as características
pessoais empreendedoras, mas também em função das organizações e de suas
competências. No entanto, entendeu-se após a conclusão da presente pesquisa que o
empreendedor não está vinculado apenas a uma única organização, mas também às
tentativas de capturar oportunidades e ao processo de aquisição de competências.
Realça-se, porém que, normalmente, só se consegue identificar um empreendedor por
conta de uma organização bem sucedida ou por conta de sua história de sucesso.
2.1.2. PERFIL E COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR
A compreensão do perfil e do comportamento empreendedor, que se constituem em
competências, proporcionou um melhor entendimento das atitudes do empreendedor
estudado frente aos desafios que enfrentou no seu dia a dia. Facilitando também uma
melhor compreensão de suas reações face às exigências de mudanças de
competências a ele demandadas.
Bygrave (1996) acredita que não um conjunto claro de atributos comportamentais
que possibilite separar os empreendedores dos não-empreendedores. Segundo ele,
aparentemente, os empreendedores têm um maior desejo de estar no controle de seus
destinos.
Stevenson et al. (1999) aperfeiçoam o tema apontando que o resumo da descrição do
comportamento empreendedor pode ser analisado examinando-se seis dimensões
críticas da prática de negócios, quais sejam: orientação estratégica, comprometimento
com a oportunidade, processo de comprometimento com recursos, conceito de
controle dos recursos, conceito de gerenciamento e política de compensação. Para
eles essa análise pode ser refinada examinando-se a série de comportamentos entre
dois extremos de um espectro de comportamentos:
24
Em um extremo está o promotor
que se sente confiante com a sua habilidade
de capturar uma oportunidade sem considerar os recursos sob o controle
atual;
Em outro extremo o seguro que enfatiza a utilização eficiente dos recursos
existentes.
Enquanto o promotor e o seguro são os pontos extremos de um espectro, existe um
outro espectro de comportamento gerencial que está localizado em algum lugar entre
estes dois extremos, e conclui que nas porções em sobreposição encontramos os
comportamentos empreendedores e os comportamentos administrativos.
Portanto, quanto mais os comportamentos, nas seis dimensões citadas, estiverem
concentrados do lado promotor maior será o peso de gerenciamento empreendedor ou
comportamento empreendedor e quanto mais concentrado do lado seguro maior será
o peso do comportamento administrativo. Acreditam, assim, que empreendedorismo
é definido por mais que um conjunto de traços individuais e é diferente de uma
função econômica. É principalmente um padrão coeso de comportamentos
gerenciais.
Para Timmons (1999) os empreendedores nascem para fazer melhor, e certas atitudes
e comportamentos podem ser adquiridos, desenvolvidos, praticados e refinados
através de uma combinação de experiência e estudo. Ele apresenta o testemunho
dado por empreendedores de sucesso que confirmam as atitudes e comportamentos
que esses têm em comum. No testemunho dos primeiros 21 introduzidos ao Babson
College´s Academy of Distinguished Entrepreneurs todos citam os três principais
atributos para o seu sucesso: habilidade de responder positivamente aos desafios e
aprender com os erros, iniciativa pessoal e grande perseverança e determinação.
Nos anos 90 mais empreendedores foram introduzidos àquela academia e Timmons
(1999) apresenta os seis temas dominantes entre os empreendedores relativos a perfil
e comportamento empreendedor, resumidos na Tabela IV a seguir:
25
Tabela IV – ATITUDES E COMPORTAMENTOS
TEMA ATITUDE OU
COMPORTAMENTO
Comprometimento e Determinação Tenaz, hábil no comprometimento,
disciplinado, perseverante, tomador de
sacrifícios.
Liderança Gerador, perfeição sem exagero, criador
de times, inspirador, divide a
prosperidade, integridade e confiança,
estudante e professor, paciente e
urgente.
Obsessão por Oportunidade Conhecimento das necessidades dos
clientes, orientado para o mercado,
criação e aumento de valor.
Tolerância ao Risco, à Ambigüidade
e à Incerteza
Tomador de riscos, gerenciador de
paradoxos, tolerante a incertezas e falta
de estrutura, tolerante à pressão e ao
conflito, hábil para resolver problemas.
Criatividade, Auto Confiança e
Habilidade de adaptação
Não convencional e hábil para
adaptação, criativo, hábil para aprender,
não tem medo de falhar.
Motivação para superação Orientado para resultados e objetivos,
baixa necessidade de status, sabedor das
fraquezas e forças, e senso de Humor.
Fonte: Adaptado de Timmons (1999)
26
Salim et al. (2004) apresentam que Filion aponta as quatro principais competências
necessárias, mas insuficientes, encontradas em todos os empreendedores de sucesso:
“prisma de visão” de mundo cristalino, capaz de “enxergar o ovo de
Colombo”;
capacidade na canalização e energia para alcançar metas;
qualidade dos relacionamentos e
liderança.
E apontam os “dez mandamentos” em relação às atitudes empreendedoras:
Assumir riscos;
Identificar Oportunidades;
Conhecimento;
Organização;
Tomar decisões;
Liderança;
Dinamismo;
Independência;
Otimismo; e
Tino organizacional.
Entende-se aqui que não é fácil identificar um indivíduo como tendo o perfil
empreendedor, e que nem sempre um comportamento ou um conjunto coeso de
atitudes determinará que o mesmo seja um empreendedor. No entanto, a falta destas
competências em um indivíduo provavelmente dificultará o mesmo a ser um
empreendedor.
27
2.1.3. O PROCESSO EMPREENDEDOR
Após o entendimento do que é empreendedorismo e empreendedor e quais as
competências que mais caracterizam os mesmos, foram importantes, também, o
entendimento de como ocorre o processo empreendedor e o processo do período da
identificação da oportunidade até a criação de uma organização para capturá-la e
desenvolvê-la.
Segundo Bygrave (1996) o processo empreendedor envolve todas as funções,
atividades e ações associadas a perceber oportunidades e criar organizações para
capturá-las e desenvolvê-las. Trata-se de fatores pessoais, sociológicos e ambientais
que dão vida a uma nova organização.
Segundo ele uma pessoa vida a uma idéia (inovação) para um novo negócio por
pesquisa deliberada ou por deparar-se com uma oportunidade. Decidir perseguir ou
não a idéia depende de fatores como alternativas futuras de carreira, família, amigos,
regras, economia e disponibilidade de recursos e quase sempre eventos trigger
7
que dão vida à nova organização. Talvez o empreendedor não tenha mais
perspectivas positivas de carreira ou para outros o empreendedorismo seja uma opção
deliberada de carreira.
Timmons (1999) defende que o processo empreendedor relaciona-se a como os
empreendedores inventam, moldam, reconhecem e perseguem as oportunidades e diz
que é o gênio e a energia por trás deste valor associados ao fenômeno de criação de
valor.
Para ele o processo bem sucedido normalmente envolve formação de times com
perfis e talentos complementares
8
, a habilidade de trabalhar como um time e ver
oportunidades onde outros vêem contradições, caos e confusão. Além disso, esse
7
Gatilho.
8
Esses perfis e talentos também podem ser entendidos como competências.
28
processo requer o perfil e a ingenuidade para encontrar e controlar recursos
normalmente propriedade de outros, para buscar a oportunidade.
A Figura 1 abaixo apresenta o modelo de Timmons (1999) para explicar o processo
empreendedor. Nesta figura destacam-se os aspectos da captação e gerenciamento de
recursos e formação de times para buscar as oportunidades:
Figura 1 – PROCESSO EMPREENDEDOR
OPORTUNIDADE
RECURSOS
TIME
Plano de Negócios
Aderências e Lacunas
Comunicação
Forças ExógenasAmbigüidade
LiderançaCriatividade
Fonte: Timmons (1999)
Ainda segundo Timmons (1999), raramente a motivação do empreendedor é tornar-
se rico rapidamente e sim construir e renovar continuamente. É associado a valores
de longo prazo e fluxo de caixa durável. O resultado disso é um processo de criação
de valor. Já Salim et al. (2004) afirmam que muitos empreendedores desejam coisas
diferentes do seu empreendimento. Alguns desejam montar negócios de enorme
29
sucesso que os façam ficar ricos, outros querem que seu negócio permita uma vida
diferente, com mais autonomia e não enfatizam os valores de longo prazo
apresentados por Timmons (1999).
Segundo Salim et al. (2004) as etapas que integram o processo empreendedor,
consistem numa combinação adequada de conhecimento, inovação e capacidade
empreendedora e resumem as etapas do processo empreendedor como se segue:
Despertar da motivação para a criação do próprio negócio;
Desenvolvimento da idéia ou do processo visionário;
Validação da idéia;
Definição da escala de operação e identificação dos recursos necessários;
Elaboração do plano de negócio, que apresenta a formação do
empreendimento para a sua negociação interna e externa;
Operacionalização do plano de negócio, dando-se início à organização e
Consolidação e sobrevivência.
Para eles os empreendedores mantêm latente um desejo de empreender que, muitas
vezes, é despertado por um evento externo que impulsiona a ação. É comum alguma
alteração do ambiente, por exemplo, a percepção pela pessoa de que o momento de
explorar uma oportunidade de mercado aconteceu e que é preciso capturar a
oportunidade. Outros vivenciam situações como uma demissão, e dizem para si:
chegou o momento de assumir o risco de empreender. Observar outras pessoas que
montaram um negócio e tiveram sucesso também funciona como uma ignição ou
trigger (Bygrave, 1996) para o empreendedorismo.
Para Salim et al. (2004) o “vírus” do empreendedorismo começa a atuar quando a
pessoa pensa em como seria a sua vida a partir da perspectiva de ter o poder de
decidir os caminhos por onde o negócio deve seguir, quando se almeja a autonomia
que a gestão do próprio negócio traz. Completam dizendo que uma oportunidade de
negócio é formada pela confluência entre uma demanda de mercado identificada e as
30
competências do empreendedor em reunir os recursos necessários para explorar de
maneira distinta esta oportunidade.
Sobre o processo empreendedor pode-se dizer que um empreendedor percebe uma
oportunidade e motiva-se a alcançá-la. A partir daí, cria uma organização que terá
como objeto principal buscar a oportunidade e acessar e gerenciar recursos em posse
de outros. A motivação pode ser criar uma organização para se dedicar por toda a
vida (mesmo que saia do negócio antes) ou pode desejar criar uma organização para
valorizá-la e torná-la atraente para o mercado, com o objetivo de vendê-la e seguir na
busca de outra nova oportunidade.
2.2. CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL
2.2.1. DEFINIÇÃO
Para o desenvolvimento do presente trabalho buscou-se estudar o entendimento
teórico sobre Ciclo de Vida Organizacional.
Quinn e Cameron (1983) apresentam Ciclo de Vida Organizacional como modelos
capazes de identificar características que tipificam as organizações em diferentes
estágios de seu desenvolvimento.
Churchill e Lewis (1983) afirmam primeiramente de forma genérica que vários
pesquisadores têm desenvolvido modelos de Ciclo de Vida Organizacional para
examinar as organizações. Segundo eles alguns destes modelos utilizam o tamanho
da organização como uma dimensão e a maturidade ou o estágio de crescimento
como uma segunda dimensão.
Para Daft (2002) o Ciclo de Vida Organizacional é o conceito, que sugere que as
organizações nascem, envelhecem e eventualmente morrem. Segundo ele ao longo de
sua vida uma organização passa por vários estágios relacionados ao seu crescimento
31
e às suas mudanças organizacionais. Para ele uma forma de entender e estudar o
crescimento e as mudanças organizacionais é o conceito de Ciclo de Vida
Organizacional.
Portanto adotou-se a definição de Ciclo de Vida Organizacional como modelos que
pretendem explicar os fenômenos mais freqüentes, e seus impactos, que ocorrem nas
organizações em diferentes estágios. Estágios estes que podem estar associados ao
tamanho ou à maturidade da organização.
2.2.2. ESTÁGIOS DOS CICLOS DE VIDA
Procurou-se então o entendimento destes estágios, dos fenômenos mais freqüentes e
de seus impactos nas organizações. A partir daí buscou-se a identificação de um
modelo que servisse de base para a presente pesquisa.
Greiner (1972) apresenta quatro estágios que caracterizam o desenvolvimento
operacional ou crescimento das organizações, que são:
Criatividade;
Direção;
Delegação;
Coordenação e
Colaboração.
Quinn e Cameron (1983) estudaram nove diferentes modelos de Ciclo de Vida
Organizacional, desenvolvido por vários autores que podem assim ser resumidos: (i)
Downs – Motivação para o Crescimento; (ii) Lippitt e Schmidt – Preocupações
Gerenciais Críticas; (iii) Scott Estratégia e Estrutura; (iv) Greiner – Problemas que
levam à evolução e à revolução; (v) Torbert Mentalidade do Membro; (vi) Lyden -
Problemas Funcionais; (vii) Kate e Kahn Estrutura Organizacional; (viii) Adizes -
32
Principais Atividades Organizacionais e (ix) Kimberly Controle Social Interno,
estrutura de trabalho e relações ambientais.
Em seu trabalho de pesquisa tentam identificar estágios comuns entre os nove
modelos e concluem que, baseados em diferentes fenômenos todos os modelos
apresentam os seguintes estágios:
Empreendedor;
Coletividade;
Formalização e Controle e
Elaboração e Estrutura.
Defendem ainda a necessidade de haver um foco maior nas pesquisas sobre os
estágios iniciais dos Ciclos de Vida das Organizações em função de que as mudanças
ocorrem mais rapidamente em novas organizações do que em velhas.
No entanto, em todos estes estágios, segundo eles, a organização vivencia algum tipo
de crise associada às transições para cada estágio e conseqüentemente passa a ter
necessidades diferentes também associadas a estes estágios.
Churchill e Lewis (1983) afirmam que os modelos de Ciclo de Vida Organizacional
são inapropriados para pequenas organizações por causa de pelo menos três razões:
Assumem que as organizações têm que crescer e passar por todos os estágios
de desenvolvimento ou morrer;
Os modelos falham em capturar os importantes estágios iniciais da origem e
crescimento das organizações e
Caracterizam o tamanho das organizações em termos de vendas anuais
(embora alguns mencionem quantidade de empregados) e ignoram fatores
como valor agregado, expansão geográfica, complexidade da linha de
produtos e taxa de mudanças nos produtos ou tecnologia de produção.
33
E apresentam os seguintes estágios de Ciclo de Vida para pequenas organizações:
Estágio 1: Existência;
Estágio 2: Sobrevivência;
Estágio 3: Sucesso;
Estágio 4: Decolagem e
Estágio 5: Maturidade de Recursos.
Após estudar o modelo de Churchill e Lewis (1983) nota-se que, provavelmente,
seria mais adequado enquadrá-lo como um modelo para organizações em
desenvolvimento em vez de modelo para pequenas organizações.
Miller e Friesen (1984) mostram em sua pesquisa que nem sempre as organizações
passam pelos estágios na mesma seqüência e após uma revisão da literatura
inferiram cinco estágios do Ciclo de Vida das organizações:
Nascimento;
Crescimento;
Maturidade;
Reviver e
Declínio.
Daft (2002) afirma que a estrutura da organização, o estilo de liderança e os sistemas
administrativos seguem um padrão altamente previsível ao longo dos estágios do
Ciclo de Vida. Diz ainda, que estes estágios são seqüenciais por natureza
9
e têm
uma progressão natural.
É importante destacar que a escolha de um dos modelos ou a adoção de um modelo
híbrido buscou contemplar a necessidade, para a pesquisa proposta, do entendimento
de uma organização nos estágios onde a maior incidência de mortalidade entre as
9
Diferentemente de Miller e Friesen (1984).
34
organizações. Segundo pesquisa do SEBRAE (2004), apresentada anteriormente, esta
maior incidência se dá nos estágios iniciais das organizações.
Sendo assim, em um primeiro momento da pesquisa, adotou-se o modelo de
Churchill e Lewis (1983) como um dos mais adequados para servir de base para o
modelo híbrido adotado. No entanto, após efetuar-se a comparação com os modelos
disponíveis optou-se por uma nova opção sem ser enviesado especificamente por
qualquer um dos modelos.
2.2.3. CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES
Após o entendimento dos diferentes modelos de Ciclo de Vida Organizacional e seus
estágios buscou-se um entendimento mais profundo das características das
organizações para cada um dos estágios dos modelos estudados.
Para Greiner (1972) a cada estágio do Ciclo de Vida Organizacional a empresa
vivenciará uma crise que antecipará o próximo estágio. Para ele as organizações têm
as seguintes características com as seguintes crises associadas para cada um dos
estágios:
Criatividade: Ênfase na criação do produto e do mercado. As organizações
são mais sensíveis ao mercado, suas estruturas são informais e vivenciam a
crise de liderança;
Direção: A estrutura é mais organizada, já separa as atividades produtivas das
atividades de marketing, maior especialização, suas estruturas são mais
formais e vive a crise de autonomia;
Delegação: Maior responsabilidade dos gerentes, crescimento mais agressivo,
aquisições e vive a crise do controle;
Coordenação: Maior coordenação, sistemas formais de controle, criação de
departamentos, mais burocracia, unidades descentralizadas e vivencia a crise
do excesso de burocracia e da falta de confiança e
35
Colaboração: Forte colaboração interpessoal, foco na solução dos problemas,
mais flexível, estruturas matriciais.
Quinn e Cameron (1983) apresentam as seguintes características relacionadas aos
estágios de seu modelo que procura sintetizar modelos desenvolvidos
anteriormente:
Empreendedor: Atividades empreendedoras, muitas idéias e pouco
planejamento e coordenação. Formação de nicho e forte no conceito que
ganha quem se movimenta primeiro;
Coletividade: Comunicação e estruturas informais, senso de coletividade e de
missão, inovação e comprometimento;
Formalização e Controle: Formalização de regras, estrutura estável, ênfase na
manutenção do cliente e conservadorismo;
Elaboração e Estrutura: Descentralização, expansão dos domínios, adaptação
e renovação.
36
A Figura 2, abaixo foi adaptada por Daft (2002) a partir dos modelos de Greiner
(1972) e de Quinn e Cameron (1983) para ilustrar o seu modelo de Ciclo de Vida
Organizacional:
Figura 2 – O CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL
Churchill e Lewis (1983) afirmam que para desenvolver seu modelo utilizaram uma
combinação de experiência, pesquisa literária e pesquisa empírica e chegaram às
seguintes características aplicadas para pequenas organizações:
Estágio 1 - Existência: O principal problema é obter clientes e entregar
produtos ou serviços. A organização é simples. A estratégia da organização é
a sobrevivência. Este estágio não depende de tamanho e podem estar nele
simples novos restaurantes e lojas até manufaturas que ainda precisam
estabilizar produção ou qualidade do produto. Algumas organizações nesse
estágio jamais ganham suficiente aceitação do cliente ou capacidade de ter
O Ciclo de Vida Organizacional
Grande
Pequena
1. 2. 3. 4.
Estágio Estágio de Estágio de Estágio de
Empreendedor Coletividade Formalização Elaboração
Fonte: Adaptado de Daft (2002)
Crise:
Necessidade de
liderança
Crise: Necessidade
de delegação com
controle
Crise: Necessidade de
lidar com excessivas
formalidades
Crise:
Necessidade de revitalização
Agilização,
pensamento de
pequena empresa
Maturidade
continuada
Declínio
Criatividade
Fornecimento de orientações claras
Adição de sistemas internos
Desenvolvimento do trabalho em equipe
37
um produto viável. Nesses casos o empreendedor vende o negócio e tem sorte
se conseguir recuperar o capital investido;
Estágio 2 Sobrevivência: Ao atingir este estágio a organização demonstra
que é um negócio com potencial. Tem uma quantidade razoável de clientes
satisfeitos e uma quantidade razoável de produtos ou serviços para satisfazê-
los. A organização ainda é simples, o principal desafio ainda é sobreviver;
Estágio 3 Sucesso: A decisão é crescer ou manter a organização estável e
rentável. Este estágio tem dois estágios dentro dele, o 3-D
10
, onde a
organização tem saúde suficiente para manter-se nele para sempre e o 3-G
11
onde a consolidação da organização e concentração de recursos para mais
crescimento;
Estágio 4 Decolagem: Os problemas-chave são como crescer rapidamente e
como financiar este crescimento e as principais questões estão associadas à
delegação e caixa e
Estágio 5 - Maturidade de Recursos: As grandes preocupações são
primeiramente consolidar e controlar os ganhos advindos do rápido
crescimento e manter as vantagens de organização pequena.
10
Disengagement.
11
Growth.
38
A Figura 3, a seguir, foi desenvolvida por Churchill e Lewis (1983) para resumir o
seu modelo, apresentando, para cada estágio, os aspectos da organização relativos a
estilo de gerenciamento, estrutura organizacional, extensão dos sistemas formais, a
estratégia principal e a relação do empreendedor com a organização:
Figura 3 – MODELO DE CHURCHILL E LEWIS (1983)
Estágio I Estágio II Estágio III - D Estágio III - G Estágio IV Estágio V
Existência Sobrevivência Sucesso - Sucesso - Decolagem Maturidade de
(Disengagement )
Crescimento Recursos
Estilo de Supervisão Supervisão Funcional Funcional Divisional Linha e Staff
Gerenciamento Direta Supervisionada
Organização
Extenção de Mínima ou Mínima Básica Desenvolvimento Maturação Extensiva
Sistemas formais Não Existente
Estratégia Existência Sobrevivência Manutenção do Obtenção de Crescimento Retorno do
Principal
status quo de
Recursos para Investimento
rentabilidade crescer
Organização e
Empreendedor*
Fonte: Churchill e Lewis (1983)
* Círculo pequeno representa o empreendedor
e o maior a organização
Miller e Friesen (1984) apresentam as seguintes características em relação aos
estágios do Ciclo de Vida organizacional, associadas aqui a alguns modelos
desenvolvidos anteriormente:
Nascimento: A organização está focalizada em ser viável. É associado pelos
autores, ao estágio de Criatividade de Greiner (1972) e ao estágio
Empreendedor de Quinn e Cameron (1983);
Crescimento: Só acontece após a organização estar estabilizada e vivenciando
algum sucesso de mercado. Apresenta rápido crescimento e é estruturada por
funções;
39
Maturidade: Espera-se que continue a crescer e o nível de vendas estabilize-
se. O nível de inovação cai e a organização apresenta mais burocracia. É
associada aos estágios de Direção de Greiner (1972) e Formalização e
Controle de Quinn e Cameron (1983);
Reviver: É o estágio da diversificação e expansão do escopo produto-
mercado. A organização adota estruturas de divisões e apresenta controles
sofisticados. É associada aos estágios de Coordenação de Greiner (1972) e
Elaboração e Estrutura de Quinn e Cameron (1983) e
Declínio: Segundo os autores é diferente de tudo o que se apresenta na
literatura. Ele revela uma estagnação usurpadora. O mercado diminui e a
organização declina com ele. A rentabilidade cai por conta dos desafios
externos e pela falta de inovação.
2.2.4. CARACTERISTICAS DO EMPREENDEDOR
Na pesquisa desenvolvida, nem todos os modelos analisados apresentam as
características do empreendedor em cada estágio do ciclo de vida e menos ainda
tratam das competências dos mesmos. Na maioria das vezes quando se trata de
características pessoais ou competências refere-se a gestor, gerente, administrador,
entre outros.
Outra observação é que nem sempre os autores citados se referem explicitamente às
características dos gestores como uma competência necessária. Porém, em função do
estudo proposto tratar de empresas com determinadas características e porte onde o
empreendedor confunde-se com o gerente, adotaram-se as observações feitas para os
gerentes como aplicáveis aos empreendedores e as características como
Competências necessárias àqueles gestores que permanecerem à frente de suas
organizações.
40
Considerando Greiner (1972) e aplicando-se a premissa acima, tem-se o seguinte
modelo:
No estágio da Criatividade, os empreendedores são normalmente orientados à
técnica e ao empreendedorismo. Não dão muita importância às atividades
gerenciais e as suas energias físicas e mentais estão voltadas em fazer e
vender o novo produto ou serviço. São individualistas e criativos,
características, segundo ele, essenciais para a organização sair do chão.
Conforme a organização cresce, e cresce a sua operação, a maior
necessidade de competências específicas relacionadas às técnicas de operação
e produção. Além disso, quanto maior o número de colaboradores menos
possível será o gerenciamento informal. Os empreendedores se verão diante
de responsabilidades gerenciais, às vezes, indesejadas. Os empreendedores
sentem falta do passado e tentam agir como agiam no início do negócio o que
gera a crise de liderança. Um gerente forte é necessário. a necessidade de
um gestor com o conhecimento e perfil para introduzir novas técnicas de
negócios. Os fundadores resistem em ficar ao lado, mesmo se não tiverem as
características necessárias para o cargo;
No estágio da Direção, exigir-se-á do gestor a competência de ter a visão
estratégica do negócio;
No estágio da Delegação terá que aprender a delegar responsabilidades aos
outros e conviver com a sensação de perda de controle;
No estágio da Coordenação será exigido o perfil de controle e
No estágio da Colaboração terá que ser reeducado para reinventar e repensar a
organização.
Para Quinn e Cameron (1983) que apresentam características e necessidades de
competências semelhantes às de Greiner (1972) tem-se:
No estágio empreendedor os empreendedores são focalizados nas idéias e na
atividade empreendedora;
41
No da coletividade são focalizados na inovação;
Na formalização e controle em procedimentos e
Elaboração e Estrutura na adaptação e na renovação.
Churchill e Lewis (1983), talvez por serem os que mais se concentraram nos
pequenos negócios onde o empreendedor atua mais ativamente, apresentam maiores
detalhes em relação às características dos empreendedores e às competências
necessárias:
No estágio da Existência o empreendedor faz de tudo e é ele que supervisiona
diretamente os seus subordinados. O dono é a organização, faz todas as
tarefas mais importantes e é o principal fornecedor de energia e direção e,
juntamente com parentes e amigos, também de capital. Em alguns casos os
empreendedores não conseguem aceitar as demandas sobre o seu tempo,
finanças e energia e desistem;
Muitas organizações ficam muito tempo no estágio da Sobrevivência. Nele
ainda a dependência do empreendedor. Muitas organizações acabam nesse
estágio quando o empreendedor desiste ou sai do negócio;
No estágio de Sucesso o que se exige é a visão estratégica de explorar as
conquistas da organização e expandir ou manter a organização estável e
rentável. Nesse momento a organização pode ser uma plataforma para o
crescimento. Este momento, mais uma vez dependerá de características
pessoais do empreendedor que deverá decidir entre aproveitar os benefícios
financeiros oriundos da organização ou continuar a desenvolver novos
projetos;
No estágio de Decolagem o empreendedor tem que aprender a delegar
responsabilidades a outros para melhorar a eficiência gerencial. O
empreendedor e a organização estão razoavelmente separados, porém, a
organização ainda é dominada pela presença do empreendedor e
No estágio de Maturidade de Recursos o gerenciamento tem que ser
descentralizado e apresentar um maior grau de competência e sofisticação. O
42
empreendedor e a organização são separados de fato, financeiramente e
operacionalmente.
Adicionalmente relatam ainda oito fatores relevantes que mudam a sua importância
conforme a organização cresce e se desenvolve. São fatores relacionados à
organização e ao empreendedor:
Relativos à organização:
Recursos Financeiros;
Recursos Humanos;
Sistemas e
Recursos do Negócio (clientes, participação de mercado, logística,
reputação, etc.).
Relativos ao empreendedor:
Objetivos do empreendedor para si mesmo e para o negócio;
Habilidades operacionais do empreendedor em fazer atividades
importantes como marketing, criação, produção e gerenciamento da
distribuição;
Habilidade gerencial e vontade para delegar responsabilidades e gerenciar
atividades de outros e
Habilidade para enxergar além do presente e buscar a intersecção das
forças e fraquezas da organização e seus objetivos.
Considerando-se Miller e Friesen (1984) as características e necessidades são:
Nascimento: Dominada pelo empreendedor. Necessidade de inovação e
estratégia de nicho;
Crescimento: Necessidade de competência gerencial;
43
Maturidade: Necessidade de perfil de administrador controlador;
Reviver: Necessidade de competências relacionadas a controles mais
elaborados;
Declínio: Não aplicável.
Com o objetivo de propor um modelo de Ciclo de Vida para empresas em
desenvolvimento, analisou-se a literatura, comparando-se os estágios do Ciclo de
Vida organizacional apresentados pelos diferentes autores citados.
Finalmente, tabularam-se os resultados, obtendo-se duas tabelas resumo para os
Estágios de Ciclos de Vida que apresentam: estratégia principal da organização,
característica da organização e competências exigidas do empreendedor.
A primeira tabela (Tabela V) é relativa a Organizações em Desenvolvimento e a
segunda (Tabela VI) a Organizações Maduras.
44
TABELA V
45
TABELA VI
46
2.2.5. REFLEXÃO COMPLEMENTAR
O empreendedor que inicia um negócio (estágio empreendedor) e que permanece à
frente da gestão da organização passa pelas crises e mudanças de necessidades
semelhantes às da organização.
Para sobreviver e permanecer na gestão da organização, este empreendedor poderá
ser requisitado a cada uma destas crises e mudanças de necessidades da organização,
independentemente do tempo de vida da mesma e do estágio analisado.
Isto significa que a cada mudança a organização potencialmente necessitará de uma
nova competência de seu empreendedor
12
.
Como dito anteriormente, durante o Ciclo de Vida de uma organização a mesma
demandará uma série de necessidades de diferentes competências e que podem ser
supridas de formas diferentes. No entanto na presente pesquisa o foco foi nas
competências do empreendedor que permanece à frente do negócio, isto é, as
diferentes competências que foram demandadas ao empreendedor durante o Ciclo de
Vida de sua organização.
2.3. COMPETÊNCIAS
2.3.1. DEFINIÇÃO
Como mencionado anteriormente a identificação das competências do empreendedor
e as mudanças das mesmas nos diferentes estágios do Ciclo de Vida da organização
foram alguns dos objetos da pesquisa efetuada. Para tanto foi necessário buscar-se
uma definição para ser utilizada nesta pesquisa. Verificou-se uma menor quantidade
de literatura disponível que trate de competências individuais e da contextualização
de competência na pesquisa. É importante destacar que embora a literatura
12
Conforme visto no item 2.2.4. CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR.
47
pesquisada tenha atendido os objetivos aqui propostos um maior aprofundamento do
tema Competência é recomendado e encorajado para futuros trabalhos de pesquisa.
Segundo Woodward (1965) as organizações possuem, em diferentes proporções,
competências relacionadas a três funções: (a) operações (produção e logística); (b)
desenvolvimento de produto e (c) comercialização (vendas e marketing).
Prahalad e Hamel (1990) no artigo The core competence of the corporation
demonstram que as competências essenciais são recursos intangíveis que (a) em
relação aos concorrentes são difíceis de serem imitados; (b) em relação a mercados e
clientes são os recursos essenciais para que a organização possa prover produtos e
serviços diferenciados e (c) em relação ao processo de mudança e evolução da
própria organização é o fator fundamental da maior flexibilidade que permite a
exploração de diferentes mercados.
Tanto Woodward (1965) como Prahalad e Hamel (1990) tratam as competências das
organizações já Zarafian (1996) passa a falar de competências individuais. Ele critica
a utilização indiscriminada do termo competência e a confusão causada pela
utilização deste. Cita como exemplo que “formação e gestão de competências” é
associado a práticas bem tradicionais que consistem em definir capacidades que um
indivíduo deve possuir para ocupar um determinado emprego ou posto de trabalho.
Segundo ele esta abordagem não diz diretamente nada a respeito das competências do
indivíduo. Ela objetiva um cargo ou posto de trabalho tendo-os como um referencial.
Referencial este que é uma seqüência lógica de tarefas, a partir das quais uma
inferência de capacidades físicas, conhecimentos técnicos e uma disciplina social,
“qualidades” que todo indivíduo pretendendo ocupar aquele posto de trabalho deve
possuir. Entende por competência primeiramente, o assumir responsabilidade pessoal
do assalariado frente às situações produtivas. Responsabilidade que levará a atitude
de tentar atingir o complexo de desempenhos, sempre a partir de si mesmo, a partir
de eventos que ocorrem de forma imprevista na situação produtiva. Estas ações
48
mobilizam fortemente a inteligência e a subjetividade da pessoa e significam também
assumir riscos. Insiste que competência deve ser definida como um assumir de
responsabilidade, uma atitude social antes de ser um conjunto de conhecimentos
profissionais.
Segundo ele competência pode ser definida como o exercício sistemático de uma
reflexão no trabalho. É o questionamento constante que se deve fazer à própria
maneira de trabalhar e o assumir responsabilidade e desenvolvimento de uma atitude
reflexiva face ao trabalho.
E finalmente diferencia competência de competências afirmando que a mobilização
da competência não funciona sem a aquisição de competências que são: técnicas, de
gestão e de organização.
Parry (1996) define competência sintetizando sugestões de algumas centenas de
especialistas em Recursos Humanos que participaram de uma conferência sobre
competências em outubro de 1995 em Johanesbugo da seguinte forma: “Competência
é um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes que afeta a maior parte
do trabalho de uma pessoa e que está relacionado com o desempenho. Pode ser
medida confrontando-a com padrões aceitos e pode ser melhorada através de
treinamento e desenvolvimento”.
Para McLagan (1997) existem várias definições para competência. Algumas destas
definições estão relacionadas a trabalho (ou tarefas), resultados e produtos. Outros
definem competência como sendo características de uma pessoa ao fazer o trabalho
(conhecimento, habilidades e atitudes), bem como valores, orientações e
comprometimentos e define competência como um rótulo para um conjunto de
atributos que são relacionados a tarefas, resultados, produtos, conhecimento,
habilidades e atitudes e diferenciação.
49
A definição de McLagan (1997) apresentou-se como uma das mais apropriadas para
a pesquisa aqui desenvolvida. Primeiramente porque define competência como um
conjunto de atributos e inclui os conhecimentos as habilidades e as atitudes a estes
atributos, bem como tarefas, resultados, produtos e diferenciação. Estes atributos do
empreendedor foram as competências identificadas na pesquisa. Sendo assim,
durante todo o trabalho tratou-se qualquer conhecimento, habilidade ou atitudes do
empreendedor como competência.
Vale destacar que alguns autores como Zarafian (1996), ao definirem competência ou
competências, focalizam os seus estudos no colaborador assalariado. Algumas destas
definições e conceitos podem ser consideradas também para o empreendedor que, na
maioria das vezes, exerce o papel destes colaboradores nas organizações.
Porém estes conceitos e definições têm que ser utilizados com cautela. Embora o
empreendedor, por diversas vezes, passa a assumir tarefas que poderiam ser de
assalariados existem fatores fundamentais de diferenciação que podem afetar as
atitudes e o comprometimento tais como forma de remuneração e envolvimento no
sucesso da organização.
No entanto, utilizou-se Zarafian (1996) como pano de fundo do trabalho pelo fato de
ter agregado à definição de competência, conceitos como “... atitude de tentar atingir
o complexo de desempenhos, sempre a partir de si mesmo, frente e a partir de
eventos que ocorrem de forma imprevista na situação produtiva”. Completando que
Estas ações mobilizam fortemente a inteligência e a subjetividade da pessoa e
significam também assumir riscos.” Insistindo que “... competência deve ser definida
como um assumir de responsabilidade, uma atitude social antes de ser um conjunto
de conhecimentos profissionais”, que são necessidades de competências típicas de
um empreendedor.
50
2.3.2. DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
Além da definição de competência foi importante para a pesquisa o entendimento de
como as competências são desenvolvidas individualmente ou nas organizações. Isto
porque ao longo da pesquisa procurou-se verificar como o empreendedor
desenvolveu as competências que foram a ele demandadas.
Nonaka e Takeuchi (1995) dividem o conhecimento, que é um dos atributos de
competência em explícito e tácito onde: (a) o explícito é formal e sistemático, pode
ser escrito e passado adiante, é o saber sobre; e (b) o tácito baseia-se em experiência
pessoal, bom senso, intuição e juízo, é o saber como.
Para Zarafian (1996) a mobilização da competência não funciona sem a aquisição de
competências, que têm as seguintes características:
As competências que constituirão a “propriedade” pessoal de cada indivíduo,
no sentido que dizem respeito a esquemas de raciocínio e a modalidade de
comportamento face ao real, que somente o indivíduo que as adquiriu pode
transpor de uma situação de trabalho para outra e
Os conhecimentos que são formalizáveis e capitalizáveis e que poderão ser
transmitidos aos outros.
Daft (2002) diz que na economia de hoje, o recurso básico não é mais o capital ou a
mão-de-obra ou os recursos naturais, mas o conhecimento.
Fleury e Fleury (2003) afirmam que uma das principais características da nova
economia é a transição da eficiência individual para a eficiência coletiva e que para
desenvolver competência essencial em longo prazo a organização necessita de um
processo sistemático de aprendizagem e inovação organizacional.
51
Destaca-se aqui a afirmação de Zarafian (1996) quanto à aquisição de competências
em função do interesse da pesquisa estar centrada em como o empreendedor reagiu
face às diferentes necessidades de competências ao longo do Ciclo de Vida da
organização e de como este empreendedor adquiriu estas competências.
2.3.3. CONTEXTUALIZAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Finalmente buscaram-se alguns conceitos, ao longo da literatura, que estivessem em
consonância com o estudo ou que se caracterizassem como informações
complementares e importantes para o mesmo.
Segundo Woodward (1965), as competências são relacionadas às três funções: (a)
operações (produção e logística); (b) desenvolvimento de produto e (c)
comercialização (vendas e marketing). Essas competências são mais ou menos
importantes nas organizações, isto é, terão mais peso, dependendo do tipo de produto
e mercado em que a organização está atuando e as competências acumuladas
naquelas funções que têm maior peso constituem-se na “competência essencial da
organização”.
Perry et al. (1988) procurando estabelecer a relação entre o crescimento de pequenos
negócios e as características pessoais de empreendedores na Austrália sugerem que o
crescimento de pequenas empresas, depois de um início bem sucedido, em relação às
características pessoais do empreendedor depende de: (1) setor da organização; (2)
condições econômicas; (3) estágio da organização no ciclo de vida; (4) os
instrumentos de medição para medir crescimento e características pessoais; (5) tipos
de crescimento. E indicam que ainda um longo caminho para identificar as
características de empreendedores bem-sucedidos.
Eisenhardt e Martin (2000) apresentam o conceito de capacidade ou aptidão dinâmica
que, segundo eles, é um conjunto de processos específicos e identificáveis como,
desenvolvimento de produto, tomadas de decisão, estratégias e alianças. Mostram
52
que essa capacidade ou aptidão depende da emergência e que certas organizações
apresentam vantagem competitiva em situações de necessidades de mudanças rápidas
e imprevisíveis
13
.
Discutindo a relação entre competência e execução de tarefas, Sandberg (2000)
destaca que as competências exigidas aos empreendedores não são associadas com a
execução de trabalhos específicos, mas às funções que os mesmos têm em cada
estágio do Ciclo de Vida, que são:
A primeira competência essencial é a capacidade de mudar frente aos
diferentes estágios;
Velocidade de adaptação: Conforme ocorrem as mudanças os
empreendedores têm que desistir de algumas atividades e dedicar-se a outras;
Coragem para mudar e
Conhecimento do mercado.
No entanto vale ressaltar que a competência coletiva não existe sem as competências
individuais e dependendo do tamanho da organização, além da dependência destas
competências, elas irão confundir-se ou até mesmo serem as mesmas.
Aqui é importante destacar a pesquisa de Eisenhardt e Martin (2000) que apresentam
o conceito de capacidade ou aptidão dinâmica.
13
O que reforça a flexibilidade e agilidade como competências que levam à vantagem competitiva.
53
3. METODOLOGIA
A pesquisa foi baseada em um estudo de caso único. Neste capítulo apresentar-se-ão
as razões para a escolha de um estudo de caso único bem como a sua estrutura
através dos seguintes tópicos:
A escolha de estudo de caso como metodologia de pesquisa;
A escolha de um estudo de caso único;
A estrutura do estudo de caso;
As etapas do trabalho e
As fontes de pesquisa.
3.1. ESTUDO DE CASO
A escolha de estudo de caso como metodologia de pesquisa deveu-se a alguns fatores
que estão apresentados nesta seção.
Segundo Eisenhardt (1989) a teoria desenvolvida através de uma pesquisa de estudo
de caso tem a possibilidade de ter importantes forças como a narrativa histórica
(novelty), o teste (testability) e a validação empírica que emerge da ligação íntima
com a evidencia empírica. Completa que, considerando-se a força de sua abordagem
de construção de teoria e a sua independência de literaturas anteriores ou de
observações empíricas passadas, o estudo de caso é bem apropriado a novas áreas de
pesquisa ou a áreas onde as teorias existentes parecem inadequadas. É o que se
observou na presente pesquisa, isto é, poucas evidencias de estudos sobre as
competências observadas ou exigidas do empreendedor nos estágios iniciais dos
Ciclos de Vida das organizações.
Além disso, esse tipo de trabalho, segundo a autora é altamente complementar à
construção de teoria incremental da pesquisa científica.
54
De acordo com Yin (2004), estudos de caso representam uma boa opção quando a
pergunta para o problema proposto é do tipo “como” e “por que” ou ainda quando o
pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos. O foco está em fenômenos
que sejam contemporâneos, isto é, tenham alguma inserção na vida real. E completa
que também o estudo de caso constitui-se em uma boa alternativa de pesquisa quando
o objetivo é contribuir com o conhecimento que temos de fenômenos individuais,
organizacionais, políticos e de grupo. Acrescenta que é também aplicável em casos
onde se deseja uma investigação que preserve as características holísticas e
significativas dos acontecimentos da vida real, tais como, ciclos de vida individuais,
processos organizacionais e de mudanças, entre outros.
No entanto, para ele, usar estudos de caso para fins de pesquisa ainda é uma das
opções mais desafiadoras e ainda muito preconceito com esta estratégia de
pesquisa. As principais preocupações destacadas estão associadas a preocupações
sobre a possível falta de rigor deste método, à confusão que alguns fazem entre
estudo de caso como instrumento de pesquisa e o aplicado ao ensino e a
preocupações de que os estudos de caso fornecem pouca base para generalização
científica. Sobre estas preocupações explica que em relação à possível falta de rigor,
esta preocupação pode se dar ao fato de muitos pesquisadores terem sido negligentes,
não seguindo procedimentos sistemáticos ou aceitaram “evidencias equivocadas ou
visões tendenciosas”. Sobre a aplicação no ensino diz que a matéria-prima neste caso
pode ser alterada deliberadamente para ilustrar-se uma questão especifica e sobre a
possível generalização de dados diz: “... da mesma forma que os experimentos são
generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos. Nesse
sentido, o estudo de caso, como o experimento, não representa uma ‘amostragem’,
e, ao fazer isso, seu objetivo é expandir e generalizar teorias (generalização
analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística)”. E apresenta a
Tabela VII ESTRATÉGIAS DE PESQUISA, onde apresenta as situações
relevantes para auxiliar na escolha da metodologia face às diferentes estratégias de
pesquisa:
55
Tabela VII - ESTRATÉGIAS DE PESQUISA
Estratégia Forma de
questão de
pesquisa
Exige controle
sobre eventos
comportamentais
Focaliza
acontecimentos
contemporâneos
Experimento
Como, por que Sim Sim
Levantamento
Quem, o que,
onde, quantos,
quanto
Não
Sim
Análise de
arquivos
Quem, o que,
onde, quantos,
quanto
Não Sim / Não
Pesquisa
histórica
Como, por que Não Não
Estudo de
caso
Como, por que Não Sim
Fonte: Yin (2004)
A pesquisa teve em relação aos seus interesses, literatura analisada, e resultados
esperados as seguintes características:
Interesse em um maior detalhamento dos fenômenos;
Foi observada uma carência de modelos que tratem dos estágios mais iniciais
dos Ciclos de Vida das organizações, das reações dos empreendedores às
diferentes competências que lhe são demandadas ao longo deste Ciclo de
Vida bem como modelos de competência que tratem dos empreendedores e a
relação existente entre os dois. Sendo assim o objetivo foi que o estudo de
caso servisse como elemento de evidência empírica, generalização analítica,
geração de teoria incremental ou construção de novos modelos;
A pergunta proposta é: Como um empreendedor reage às diferentes
competências a ele demandadas durante o ciclo de vida da organização
56
notadamente nos estágios onde a mesma está mais vulnerável à mortalidade?
Ou seja, a forma da questão da pesquisa estrutura-se a partir do Como;
Trata-se de um fenômeno contemporâneo, isto é, no estudo de caso proposto
o empreendedor é vivo e exerce influência nas decisões estratégicas da
organização;
Trata-se da análise de um fenômeno organizacional;
Tem interesse nas características holísticas e significativas da vida real, como,
por exemplo, ciclo de vida individual, processos organizacionais e mudanças,
entre outros e
Trata-se de um trabalho que procurou analisar mudanças que ocorrem ao
longo do tempo, sendo importante o caráter histórico e narrativo do
documento final que explica os fenômenos.
3.2. ESTUDO DE CASO ÚNICO
Segundo Yin (2004) um estudo de caso único é análogo a um experimento único em
algumas das condições que servem para justificá-los e apresenta o fundamento lógico
para adotar-se um caso único onde destaca a sua adoção para confirmar, contestar ou
estender a teoria. Pode ser utilizado para verificar se as proposições de uma teoria são
corretas ou se algum conjunto alternativo mais relevante de explanações. E
completa que o caso único pode ser uma contribuição à base de conhecimento e à
construção da teoria e pode até ajudar a redirecionar investigações futuras em uma
área. Destaca também que o fundamento lógico para a adoção de um caso único é
quando se pretende estudar o mesmo caso em dois ou mais pontos diferentes no
tempo, onde o interesse, em certas condições, muda com o tempo.
Confirma-se a partir daí a opção pela adoção de um caso único onde se destaca o
objetivo do trabalho de estender a teoria existente e ao foco de interesse do mesmo
ser exatamente em condições que mudam em um intervalo de tempo definido.
Considerando-se esta característica, a busca de um melhor entendimento de
condições que mudam no decorrer do tempo, o caso único pode ser mais apropriado
57
que casos múltiplos. A isso se agrega o fato de ser mais difícil estabelecer
comparações entre duas ou mais organizações que tiveram o seu Ciclo de Vida
acontecendo em momentos históricos distintos principalmente pelo fato de que o
momento histórico pode ter sido um fator gerador de impactos importantes na
organização.
3.3. A ESTRUTURA DO ESTUDO DE CASO
A pesquisa desenvolvida foi baseada no estudo de caso do empreendedor Edson de
Godoy Bueno (Edson) e sua organização (AMIL).
Em uma primeira parte o estudo de caso procurou apresentar e estudar os estágios
que antecederam a formação da organização, formando uma etapa nomeada de
CONCEPÇÃO, encerrando dois estágios: (i) CONCEPÇÃO DO
EMPREENDEDOR que procurou demonstrar o seu surgimento e como o mesmo
adquire as competências básicas que irão transformá-lo em um empreendedor de
sucesso e (ii) CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO apresentando de que forma o
empreendedor visualiza uma oportunidade e concebe o instrumento (organização)
para viabilizá-la.
A partir daí, iniciou-se efetivamente o estudo com a organização em
desenvolvimento, procurando-se, inicialmente, verificar o enquadramento da história
do empreendedor e da organização com o modelo proposto para Ciclo de Vida de
organizações em desenvolvimento. Após este enquadramento analisou-se a
“aderência” do caso analisado com os autores que pesquisaram os temas-âncora da
presente pesquisa, quais sejam: Empreendedorismo, Ciclo de Vida e Competências.
Finalmente, identificaram-se as exigências de competências impostas ao
empreendedor e à organização nos estágios iniciais ou de desenvolvimento da
organização e como o mesmo reagiu e respondeu a estas imposições.
58
O resultado final desta análise foi uma proposta de modelo de Ciclo de Vida para
empresas em desenvolvimento apresentando as necessidades de competências
impostas ao empreendedor neste período e quais foram os fatores decisivos que
impactaram positivamente no sucesso da organização, considerando suas
competências tácitas (Nonaka e Takeuchi, 1995).
Durante a pesquisa buscou-se observar como o empreendedor adaptou-se ou reagiu a
cada nova necessidade decorrente da evolução do ciclo de vida de sua organização,
assim como, as mudanças de atitudes, habilidades e comportamentos adotadas pelo
mesmo e quais foram os resultados decorrentes destas novas competências.
O trabalho de pesquisa foi de análise qualitativa baseado em entrevistas efetuadas
com Edson, entrevistas efetuadas com executivos da empresa, consultores, bem como
pesquisas em livro dedicado a contar a história de Edson e da AMIL.
Resumidamente, o estudo de caso foi desenvolvido na área de intersecção entre as
diferentes competências que foram necessárias ao empreendedor e como o mesmo se
adaptou a essas diferentes necessidades e o Ciclo de Vida da Organização. O mesmo
esteve fundamentado no referencial teórico que trata de Empreendedorismo, Ciclo de
Vida Organizacional e Competência.
Para o estudo de caso foram adotadas as orientações de Kathleen M. Einsenhardt do
artigo Building theories from case study research (1989), Robert K. Yin apresentadas
no livro Estudo de Caso: planejamento e métodos (2004) e Michiel R. Leenders e
James A. Erskine do livro Case Research: the case writing process (1989).
Observa-se que talvez um dos aspectos mais positivos de um trabalho de pesquisa
desenvolvido a partir de um estudo de caso único é que o mesmo serve de teaser
14
e
plataforma para futuros trabalhos de pesquisa.
14
Instigador.
59
3.4. ETAPAS DO TRABALHO
Para Eisenhardt (1989) o processo de construção de teoria a partir de um estudo de
caso pode ser resumido nas seguintes etapas:
Início;
Seleção de caso;
Criação de Instrumentos e Protocolos;
Entrada em campo;
Análise de dados;
Refinamento das hipóteses;
Envolvimento com a literatura e
Fechamento e Conclusões.
Para Yin (2004) o protocolo do estudo de caso deve apresentar as seguintes seções:
Visão geral do projeto do estudo de caso: objetivos, questões do estudo de
caso e leituras importantes;
Procedimento de Campo: acesso aos locais e às pessoas do estudo, fontes e
advertências de procedimentos;
Questões do estudo de caso: questões centrais, planilha para disposição
específica de dados e as fontes em potencial de informações ao se responder
cada questão e
Guia para o relatório do estudo de caso: esboço, formato para os dados, outras
documentações e informações bibliográficas.
O trabalho foi desenvolvido nas seguintes etapas:
1. Revisão bibliográfica;
2. Levantamento de dados primários ou secundários da organização analisada;
60
3. Elaboração de um roteiro para o estudo de caso identificando áreas a serem
observadas, principais executivos e colaboradores a serem entrevistados e
aspectos a serem observados;
4. Elaboração do roteiro de entrevista com o fundador (empreendedor) e alguns
colaboradores (Diretores) – ANEXO C;
5. Organização e análise dos dados levantados; e
6. Finalização do texto da dissertação.
A Figura 4 – ESTRUTURA DO TRABALHO, a seguir, apresenta de forma gráfica
como foi estruturado o presente trabalho.
Primeiramente iniciou-se o processo de revisão da literatura ou revisão bibliográfica
dos principais temas-âncora do projeto. Esta revisão gerou um modelo preliminar de
Ciclo de Vida Organizacional que serviu de base teórica para o trabalho. A partir da
definição da Metodologia do trabalho, partiu-se para o levantamento de dados que
gerou a primeira versão do estudo de caso. Finalmente da interseção do modelo
preliminar com a primeira versão do estudo de caso, resultou-se o estudo de caso
definitivo bem como as conclusões e recomendações para pesquisas futuras, que
estão apresentados na presente dissertação.
Figura 4 – ESTRUTURA DO TRABALHO
Metodologia – Estudo de Caso
Empreendedorismo
Levantamento
De
Dados:
Edson (AMIL)
DISSERTAÇÃO
Resultados
na
Intersecção
Modelo
Preliminar
Estudo
de
Caso
Ciclo de Vida
Competências
Rev.Bibliográfica
61
4. ESTUDO DE CASO
O objetivo deste capítulo é apresentar o estudo de caso que apresenta a trajetória de
Edson desde a sua concepção como empreendedor até o estágio que antecede a
entrada de sua organização na maturidade. Conforme apresentado anteriormente, este
estudo foi estruturado tendo como base um primeiro modelo preliminar para Ciclo de
Vida Organizacional para organizações em desenvolvimento. A partir daí foi
sobreposto à trajetória de Edson, obtendo-se como resultados uma proposta de
modelo para Ciclo de Vida de organizações em desenvolvimento, observação da
aderência da teoria ao caso real, conclusões e sugestões para futuras pesquisas.
O presente estudo de caso está dividido nas seguintes seções: CONCEPÇÃO DO
EMPREENDEDOR, CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO, MODELO BASE,
os estágios da FASE DA ORGANIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO e
OUTROS DESAFIOS
15
.
4.1. CONCEPÇÃO DO EMPREENDEDOR
Salim et al. (2004) afirma que os empreendedores mantêm latente um desejo de
empreender que muitas vezes é despertado por um evento externo impulsionador
desta ação, o que Bygrave (1996) chama de evento trigger. Para Edson de Godoy
Bueno não foi diferente, a perda de seu pai aos seis anos de idade e a necessidade de
sobrevivência, colaboraram para fazer dele um empreendedor prematuro.
Comprovando o argumento de Richard Cantillon
16
que dizia que empreendedorismo
é o conceito vinculado a tomar o risco de comprar por preços certos e vender por
preços incertos, Edson iniciou-se no mundo do empreendedorismo comprando frutas,
ovos e aves de fazendas para vendê-las de porta em porta na cidade.
15
Apresenta algumas informações complementares sobre Edson e a AMIL, com o objetivo principal
proporcionar uma maior inserção e conhecimento do universo do empreendedor e de sua organização.
16
Apresentado em Stevenson (1999)
62
Esta primeira tentativa empreendedora demonstra, conforme preconizado por
Zarafian (1996), que Edson iniciava o seu processo de aquisição de competências que
iriam constituir-se ao longo de sua vida profissional em “propriedade” pessoal,
relacionada aos seus esquemas de raciocínio e comportamento face ao real. Processo
este que o levaria a tornar-se um empreendedor que “... imagina, desenvolve e realiza
as suas visões.” (Filion, 1991).
Veremos ao longo do caso de Edson e da AMIL que esta aquisição de competências
não foi limitada a competências explícitas, mas em sua maioria a competências
tácitas (Nonaka e Takeuchi, 1995), constituindo-se em um conjunto de traços
individuais que foram criando um padrão coeso de comportamentos gerenciais
(Stevenson et al., 1999).
Este processo de início de aquisição de competências e formação do empreendedor
pode ser ilustrado também pelo segundo desafio de Edson, onde ele teve a
oportunidade de pela primeira vez lidar com dois importantes elementos do ambiente
de negócios: A competição e a estratégia.
Como muitos dos garotos de sua cidade que enfrentavam problemas financeiros,
Edson decidiu trabalhar como engraxate na estação de trem. Logo percebeu que seria
extremamente difícil ganhar algum dinheiro fazendo exatamente a mesma coisa que a
maioria. Decidiu então prover um serviço diferenciado: coletava os sapatos de seus
clientes em casa e os entregava engraxados no final do dia. Neste momento Edson
demonstrou a sua competência em traduzir as necessidades dos clientes, de antecipar
as suas ações frente aos seus concorrentes e, acima de tudo, a sua capacidade de
desafiar a inércia do mercado.
Estas tentativas empreendedoras descritas e outras que serão apresentadas mais à
frente, demonstram também que naquela época Edson reunia a seguinte
característica comportamental muito bem resumida por Timmons (1999) ao definir
Empreendedorismo: “Empreendedorismo é uma forma de pensar racionalmente e
63
agir obcecado pela oportunidade, tem uma abordagem holística, balanceada pela
liderança”.
Conforme demonstrado no testemunho dos empreendedores do Babson College´s
Academy of Distinguished Entrepreneurs, um dos atributos
17
para o sucesso de um
empreendedor é a Auto Confiança, atributo este sempre presente nas ações de Edson
desde o tempo de estudante quando dava aulas particulares de Física e Matemática:
Ele tinha um acordo com seus alunos que caso não passassem nos exames, ele os
reembolsaria o valor de todas as aulas.
Podemos dizer que no período descrito até aqui duas coisas importantes aconteceram
na vida de Edson: O estalo empreendedor ou a gênese empreendedora assim como o
processo de aquisição das competências básicas que serviriam como plataforma para
a busca de novas competências que possibilitariam a criação do Edson empreendedor
e obviamente da AMIL
18
.
Das análises efetuadas sobre a história do empreendedor e da AMIL. Verificamos
que muitas das competências observadas aparecem desde o período que antecede a
criação da organização, sendo assim, verifica-se a importância para a pesquisa do
entendimento sobre este período que antecede a criação da organização. É que se
inicia a formação da estrutura de competências que isuportar o empreendedor à
frente de seu negócio. Ou seja, como dito anteriormente, empreendedorismo é um
processo que envolve ações que vão desde a fase anterior à fundação da organização
até o sucesso desta. Sucesso este que além de poder ser transitório é de difícil
contorno.
17
Conforme visto, atributo é classificado também como competência.
18
Conforme dito anteriormente não há empreendedor sem o empreendimento.
64
4.2. CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
Como mencionado, observando a história da AMIL, verificou-se que o
empreendimento começou a ser formatado, teve a sua gênese ou concepção muito
antes de Edson ter efetivamente fundado ou assumido um organização formalmente.
Embora Bygrave (1996) afirme que o empreendedor é alguém que percebe uma
oportunidade e cria uma organização para capturá-la e, exceto em poucos casos, não
é o revolucionário destruidor da ordem econômica e sim aquele que a incrementa
entrando em um mercado já existente. Observou-se, no caso de Edson, que o
empreendedor foi aquele que perseguiu várias oportunidades que possibilitaram o
início de um processo continuo de aquisição e desenvolvimento de competências
para sim, criar ou assumir uma organização para capturar mais uma oportunidade.
Além disso, observou-se também, que o tempo decorrido entre a percepção da
oportunidade e a criação de uma organização para persegui-la não é necessariamente
tão curto quanto a definição de Bygrave (1996) pode induzir.
Verificou-se que neste estágio Edson teve uma primeira percepção de oportunidade e
foi possuir uma organização para persegui-la algum tempo depois. Além disso,
novamente contrariando Bygrave (1996) e aproximando-se mais de Schumpeter
19
nota-se que embora Edson não tenha sido o destruidor da ordem econômica, ele foi
alguém que revolucionou o mercado de medicina em grupo, provocando uma série de
mudanças de paradigmas após a sua entrada. A reflexão que se sugere a partir daí é
que de alguma forma o empreendedor, embora não seja o responsável por mudanças
dramáticas na economia, sempre será o elemento causador de alguma instabilidade
no seu mercado de atuação.
Edson passou por vários estágios antes de tornar-se o Dr. Edson da AMIL.
Primeiramente, ainda na idade escolar, observando o médico de sua cidade, nasceu o
desejo de ser médico. Esta observação de seu “’ídolo” motivou-o, também a estudar
19
Bygrave (1996) critica Schumpeter sobre a sua afirmação de que o empreeendedor é aquele que
65
na mesma Universidade deste, a Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro.
Mudou-se para aquela cidade em 1965, trazendo em sua bagagem o sonho de ser
dono de seu hospital e inoculado pelo “vírus” do empreendedorismo (Salim et al.,
2004).
Este “vírus” inoculou-se em Edson, como apresentado em Salim et al. (2004),
quando ele começou a pensar a sua vida a partir da perspectiva de ter o poder de
decidir os caminhos por onde o seu potencial negócio seria conduzido, almejando a
autonomia que a gestão do próprio negócio traz.
É lógico que esta autonomia trás os seus de bônus e também os seus ônus, porém a
coragem para enfrentá-los é uma das características do empreendedor (Timmons,
1999).
Constatou-se que os dois estágios apresentados anteriormente não figuram na
literatura pesquisada que apresentam os Ciclos de Vida das Organizações. No
entanto, ao elaborar-se o estudo de caso da AMIL, notou-se que os estágios que
antecederam a existência da Organização foram também importantes para a
sobrevivência da mesma: o primeiro porque criou a base de competências do
empreendedor e o segundo a percepção inicial de uma oportunidade e a inoculação
do “vírus” que provoca a obsessão empreendedora.
Das observações feitas acima e da pesquisa efetuada, sugere-se a inclusão de dois
importantes estágios para futuras pesquisas sobre empreendedorismo, que poderiam
fazer parte de uma fase chamada CONCEPÇÃO, que são: CONCEPÇÃO DO
EMPREENDEDOR e CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO.
destrói a ordem econômica.
66
4.3. MODELO BASE
Como apresentado, para obter-se um modelo que potencialmente tivesse maior
aderência com a história de Edson e com o Ciclo de Vida da AMIL em seus estágios
iniciais, procurou-se inicialmente, a obtenção de um modelo teórico que melhor
contemplasse os estágios iniciais do Ciclo de Vida das organizações (Tabela V).
A partir de uma revisão efetuada na literatura analisada para este presente estudo,
chegou-se ao seguinte modelo inicial
de Ciclo de Vida para organizações em
desenvolvimento: ORIGEM, SOBREVIVÊNCIA, DESENVOLVIMENTO e
AMADURECIMENTO. Portanto a partir das análises anteriores, propõem-se o
seguinte modelo básico para uma melhor visualização dos estágios iniciais do Ciclo
de Vida de organizações ou organizações em desenvolvimento:
Fase da CONCEPÇÃO:
CONCEPÇÃO DO EMPREENDEDOR e
CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO.
Fase das ORGANIZAÇÕES EM DESENVOLVIMENTO:
ORIGEM;
SOBREVIVÊNCIA;
DESENVOLVIMENTO e
AMADURECIMENTO.
Deste ponto em diante, a partir do modelo proposto para os estágios contidos na fase
das ORGANIZAÇÕES EM DESENVOLVIMENTO, procurou-se identificar
quais ocorrências foram verificadas nos estágios iniciais do Ciclo de Vida da AMIL
associadas às características da mesma e à formação de competências do
empreendedor. Ao modelo original agregou-se também, novas características: tanto
67
da organização analisada como do empreendedor. Para esta analise adotou-se o
seguinte roteiro:
ESTÁGIO === FENÔMENO OBSERVADO === IMPACTO NA
ORGANIZAÇÃO === REAÇÃO DO EMPREENDEDOR (BUSCA DE
COMPETÊNCIAS)
4.4. FASE DA ORGANIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
4.4.1. ORIGEM
Na década de 70, Edson já havia adquirido algumas competências básicas para iniciar
o seu negócio. Ainda estudante de medicina, foi convidado para trabalhar como
plantonista em uma clínica localizada em Duque de Caxias Rio de Janeiro, a Casa
de Saúde São José. Após passar trabalhando nesta clínica praticamente todos os dias,
no quinto ano da Faculdade e tendo a competência de ser o promotor, isto é, aquele
que se sente confiante com a sua habilidade de capturar uma oportunidade sem
considerar os recursos sob o controle atual. Faz um encontro de contas com seus
antigos proprietários e assumindo as suas dívidas e tornou-se, antes de sua formatura,
o dono de seu primeiro hospital.
A sua estratégia inicial era a de tornar o negócio viável (confirmando a estratégia
apresentada no estágio Nascimento de Miller e Friesen, 1984). Começou
equacionando os débitos da Clínica para em seguida, conforme apresentado por
Churchill e Lewis (1983) na estratégia do estágio Existência, concentrar-se em obter
clientes e disponibilizar serviços.
Ele teve que adotar uma atitude mais individualista nos primeiros tempos de seu
negócio que, de acordo com (Greiner, 1972), é uma das competências decisivas nos
empreendedores para o sucesso das organizações em seus estágios iniciais. Era o faz
tudo. Era a organização. Assumia a maioria das tarefas, supervisionando diretamente
68
seus subordinados e sendo o principal fornecedor de energia, direção e capital à
mesma (Churchill e Lewis, 1983). Costumava supervisionar e participar de todas as
operações da Clínica: ajudando na limpeza, fazendo cirurgias, sendo relações
públicas, inclusive carregando camas hospitalares.
Após efetuar algumas pequenas reformas para modernizar a operação, a Clínica que
apresentava uma média de 3 partos por dia passou a assistir 400 partos por mês,
tornando-se a maior clínica privada do Estado do Rio de Janeiro.
Por ser uma pessoa intuitiva, a utilizou para desenvolver planos de marketing com o
objetivo de atrair mais clientes: Criando uma série de promoções tais como,
distribuição de merenda hospitalar para seus clientes e acompanhantes e refrigerantes
e lanches nas salas de espera, além de sortear enxovais e roupas de bebê.
Esta intuição para o marketing foi de grande importância para tornar a organização
viável. Greiner (1972) cita a competência em marketing como uma das competências
exigidas neste estágio. Vale destacar que no caso de Edson esta competência não foi
adquirida na educação formal, mas como já dito anteriormente foi adquirida de forma
intuitiva, ou seja, é uma competência tácita (Nonaka e Takeuchi, 1995). O que
confirma Timmons (1999) que afirma que certas atitudes e comportamentos podem
ser adquiridos, desenvolvidos, praticados e refinados através de uma combinação de
experiência (conhecimento tácito) e estudos (conhecimento explícito).
Ele acreditava, de forma intuitiva, em investimentos em marketing e não em
economias baratas: Enquanto o seu sócio apagava as luzes do corredor para
economizar energia, Edson as acendia dizendo: “A Clínica tem que estar iluminada
para aparecer”. E a clínica tornou-se a maior da região de Duque de Caxias.
Edson era intuitivo também nas ações que tomava em relação às operações da
Clínica. Certa vez, comprou uma van objetivando transportar os pacientes mais
pobres para as suas casas, proporcionando um benefício para os clientes e ao mesmo
69
tempo para a operação, acelerando a rotação dos leitos. Formatou também um
atendimento pré-natal utilizando a mesma van como clínica médica que em caso de
emergência transformava-se em ambulância. Nesta época a Clínica atingiu a marca
de 700 partos por mês.
Enquanto o Brasil estava vivendo a prosperidade econômica dos anos 70, Edson
ainda trabalhava na busca de influenciar mais e mais os seus clientes, conversando,
ouvindo os seus problemas e dando palestras sobre higiene, lactação e diarréia na
Câmara de Comércio de Duque de Caxias.
A ele foram exigidas, também, além de técnica ou especialização no negócio
20
(que
no presente caso constitui-se em uma competência pré-requisito), criatividade,
inovação e conhecimento do mercado, comprovando para este caso a pesquisa de
Miller e Friesen (1984).
A motivação de pessoas é também uma das competências exigidas ao empreendedor
no estágio Existência das organizações (Churchill e Lewis, 1983). Por se tratar de
uma organização prestadora de serviços, altamente dependente de pessoas, esta
motivação foi um dos fatores críticos de sucesso e talvez tenha sido uma das grandes
armas de Edson. Aliás, observa-se esta característica em seu comportamento não só
na Origem da organização, mas ao longo de todo o seu Ciclo de Vida.
Esta capacidade de encantar, motivar, convencer e persuadir pessoas, no caso da
AMIL, foi como dito, um dos diferenciais que colaboraram para o sucesso da mesma.
Característica essa observada até hoje no empreendedor: Edson sempre deu tanta
importância a esta sua característica que hoje em dia em seu cartão de visitas aparece
o cargo de Gerente de Treinamento.
Ele estava sempre tentando surpreender e encantar seus clientes sempre com ações
simples e muitas idéias (confirmando Quinn e Cameron, 1983), como por exemplo,
20
Competência explícita (Nonaka e Takeuchi, 1995) em medicina e no mercado de hospitais.
70
instalando televisores nas salas de espera ou contratando garçons para servir
cafezinho. Além disso, estava sempre conquistando as pessoas. Talvez isso tenha
sido um de seus maiores segredos de sucesso, sua capacidade de seduzir pessoas e
trazê-las para dentro de seus sonhos usando toda a sua capacidade de cativar e
conquistar seus clientes e colaboradores.
Definitivamente a motivação de colaboradores (Churchill e Lewis, 1983) sempre foi
um de seus mais importantes fatores de sucesso: Uma das colaboradoras de Edson
declarou: “Você olha nos olhos dele e de repente os sonhos dele passam a ser seus
sonhos”.
Observou-se neste primeiro estágio do Ciclo de Vida da AMIL uma razoável
aderência com a literatura pesquisada em relação às características da organização,
sua estratégia e às competências exigidas ao empreendedor. No entanto destaca-se
que algumas das competências observadas em Edson, não foram tratadas na literatura
pesquisada, trata-se de: intuição e carisma. Estes dois atributos embora pareçam
intangíveis foram atributos decisivos para o sucesso da organização neste período
inicial.
A intuição foi uma ferramenta que possibilitou ao empreendedor adquirir algumas
competências explícitas da maneira como se adquirem competências tácitas. Estas
competências normalmente constituem-se em competências que podem ser
adquiridas formalmente. No entanto, foram aprendidas ou exercitadas como
competências tácitas.
o carisma foi uma ferramenta que possibilitou, novamente de forma intuitiva,
motivar e influenciar não só os seus colaboradores como os seus clientes.
Sendo assim verifica-se aqui mais dois temas que podem ser objeto de futuros
estudos sobre empreendedores e empreendedorismo e seu impacto no sucesso das
organizações, isto é, capacidade intuitiva ou potencial de aquisição de competências
71
de forma tácita e carisma (motivação e convencimento de colaboradores, clientes e
parceiros).
4.4.2. SOBREVIVÊNCIA
O estágio da sobrevivência é aquele que, segundo Churchill e Lewis (1983), a única
estratégia da organização é sobreviver. A mesma apresenta uma estrutura simples,
constituindo-se em um negócio em potencial. tem uma quantidade razoável de
clientes satisfeitos e o empreendedor é demandado a fornecer motivação e energia.
Pode-se dizer que no caso da AMIL este estágio é divido do estágio anterior de uma
maneira muito tênue. É difícil verificar onde termina um e começa outro. Na verdade,
na análise do caso AMIL verificou-se que as características deste estágio, podem
estar perfeitamente inseridas dentro do estágio definido como ORIGEM.
4.4.3. DESENVOLVIMENTO
Segundo Churchill e Lewis (1983) no estágio Sucesso a estratégia da organização é
crescer ou manter-se estável e rentável, porém no estágio Decolagem dos mesmos
autores ou no estágio Crescimento de Miller e Friesen (1984) a estratégia é crescer
rapidamente e financiar o seu crescimento. É o que fez Edson, assim que a Clínica
começou a apresentar lucros, comprou outra clínica a Somicol e em seguida comprou
o seu terceiro hospital em Duque de Caxias, o Hospital Santa Rita.
Para suportar as pressões oriundas deste rápido crescimento, Edson contou com uma
outra importante competência a capacidade ou aptidão dinâmica que, segundo
Eisenhardt e Martin (2000), é um conjunto de processos específicos e identificáveis
como, desenvolvimento de produto, tomadas de decisão, estratégias e alianças e que
depende da emergência. Certas organizações (ou empreendedores) apresentam
vantagem competitiva em situações de necessidades de mudanças rápidas e
72
imprevisíveis. Vamos verificar a aplicação desta competência ao longo de todo esse
estágio.
Outra competência exigida ao empreendedor neste estágio é a capacidade de
identificar talentos e delegar responsabilidades (Decolagem de Churchill & Lewis,
1983) ou como defendido por Timmons (1999), um processo bem-sucedido
normalmente envolve a formação de times com perfis e talentos complementares ou
busca de competência. Assim fez Edson, começou a procurar profissionais
qualificados para ajudá-lo a realizar os seus sonhos e convidou Jorge Rocha para
abrir uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em Duque de Caxias.
Sabe-se que neste momento a organização não é tão simples como no estágio
ORIGEM e suas estruturas embora ainda sejam informais (Quinn e Cameron, 1983)
exigem do empreendedor habilidades gerenciais ( Miller e Friesen, 1984) e visão
de processos (Churchill e Lewis, 1983). Estas exigências fizeram com que Edson
introduzisse uma nova estratégia em seus hospitais: São José passou a ser
maternidade, Somicol uma unidade pediátrica e Santa Rita, clinica cirúrgica e UTI.
As três tornaram-se as melhores de suas práticas: por exemplo, a clínica São José foi
considerada a melhor maternidade do Rio de Janeiro e a Somicol foi reconhecida
como a melhor UTI do país.
Depois destas conquistas Edson decidiu centralizar a administração de seu negócio,
alugou um galpão para instalar o seu quartel general e teve que tomar uma das
decisões mais difíceis de sua vida: despir o branco e vestir a roupa de executivo,
buscando atender a demanda por habilidades financeiras e manutenção da
rentabilidade (Churchill e Lewis, 1983).
Esta foi uma decisão muito difícil para Edson, especialmente considerando as suas
habilidades como médico e os desafios que ele havia superado: Foi o primeiro
médico a efetuar uma cesariana em Duque de Caxias utilizando a técnica do corte
horizontal e foi também o primeiro a efetuar o Tratamento Intensivo Privado.
73
A idéia principal de Edson, abandonando as atividades de médico, tornando-se um
executivo foi, segundo ele, para abranger grupos maiores e obrigações mais
complexas.
Neste estágio tanto Churchill e Lewis (1983) quanto Quinn e Cameron (1983) e
Miller e Friesen (1984) apontam que as estruturas das organizações passam a ser
mais formais e estruturadas o que confirma também o enquadramento deste estágio
da AMIL no estágio DESENVOLVIMENTO.
Em 1974 Edson criou a ESHO (Empresa de Serviços Hospitalares). Com a criação da
ESHO, o empreendedor promoveu a centralização das compras, faturamento,
recursos humanos e tesouraria. Novamente atendendo à demanda por habilidades
financeiras (Churchill e Lewis, 1983) e gerenciais (Miller e Friesen, 1984).
A ESHO era localizada em um pequeno escritório em Duque de Caxias com porta
pantográfica e sem janelas. Um de seus executivos lembrou que quando os
colaboradores costumavam reclamar que não podiam ver o Sol, Edson dizia: “Por
que você quer ver o Sol, eu sou o Sol” e em 1976 comprou outro hospital em Niterói.
Apesar de ter várias competências natas, conforme já comentado anteriormente,
Edson seguia avidamente em busca de novas competências. Neste estágio, esta busca
não era ainda uma busca formal e nem oriunda de uma percepção estruturada de suas
necessidades. Esta busca se dava de duas formas: Edson tinha uma percepção,
novamente, intuitiva, sobre as suas necessidades e também uma obsessão por buscar
novas competências e superar as suas limitações e os seus ídolos. Isso aconteceu na
busca pela superação de seu primeiro ídolo (o médico de sua cidade) e também como
conta um de seus colaboradores pela obsessão de tornar-se um expert em finanças,
contabilidade e impostos.
74
Edson contava com a ajuda de um consultor externo. A sua admiração por este
consultor e pelos seus conhecimentos era tão grande que decidiu tornar-se melhor
que ele em suas áreas de conhecimento
21
, dedicando-se vorazmente no aprendizado
daquelas matérias, tornando-se um expert nas mesmas.
Esta competência (explícita) adquirida foi muito importante para Edson quando seu
ex-sócio deixou a sociedade, e ele encontrou 433 protestos contra a ESHO e,
obviamente muitos rumores sobre um potencial falência.
Sua primeira atitude foi fazer uma grande festa para desmentir os rumores sobre a
falência. Tomou dinheiro emprestado para produzir a festa em sua casa e no dia
seguinte, chamou os seus colaboradores e anunciou que não teria dinheiro para pagá-
los, avisando para aqueles que desejassem continuar que passariam por um período
de inúmeras dificuldades. Depois disso ele conseguiu unificar os funcionários e
ultrapassar este momento dramático (novamente contando com a sua competência de
desenvolver marketing intuitivo e de influenciar e motivar as pessoas).
Jorge Rocha permaneceu na operação dos hospitais e Edson desenvolveu uma nova
competência, a de negociar. Passando a fazê-lo ininterruptamente com os credores,
conseguindo renegociar e depois pagar todos os protestos, salvando a ESHO.
Sobre esta crise e o período que se segue, é importante destacar que Edson havia
adquirido e colocado em prática algumas novas competências típicas necessárias ao
estágio em que se encontrava a sua organização: Soube identificar o talento de Jorge
Rocha e a ele delegou responsabilidades (como apresentado por Churchill e Lewis,
1983 no estágio Decolagem), aplicou a sua aptidão dinâmica para adaptar-se à nova
realidade e mais uma vez contou com a sua intuição e capacidade de convencer
pessoas. Aplicou conforme apresentado por Sandberg (2000):
Capacidade de mudar frente aos diferentes estágios;
21
Contabilidade, Finanças e Impostos.
75
Velocidade de adaptação: Conforme ocorrem as mudanças os
empreendedores têm que desistir de algumas atividades e dedicar-se a outras;
Coragem para mudar e
Conhecimento do mercado.
Edson continuava obcecado pela busca de oportunidades e optou por investir no
crescimento de sua organização. Conforme comentado por Churchill e Lewis (1983),
neste momento as opções são crescer ou manter a organização estável e rentável.
Depois de ultrapassada a crise da ESHO, o Brasil entrou em um período de colapso
do sistema publico de saúde e Edson teve uma nova visão (Identificou uma
oportunidade). Chamou Jorge Rocha e seus colaboradores mais próximos e declarou:
“A Golden Cross
22
é 100 vezes maior que a gente, veja pelo balanço, e ninguém lá
conhece o negocio de controle hospitalar, custos médicos e controle de consultas e
controle de qualidade melhor que nós, vejam o crescimento deles, temos que criar
uma organização como esta!”.
E aproveitando a sua competência para identificar talentos, delegar responsabilidades
e acima de tudo a sua aptidão dinâmica, formou uma força-tarefa no Rio de Janeiro,
liderada por Jorge Rocha com o objetivo de fazer a AMIL decolar.
É consenso entre os entrevistados que a estratégia para a criação da AMIL, na época,
foi alavancar os hospitais. Reduzindo a dependência dos mesmos do sistema público
de saúde que estava deteriorando de forma gradual.
A AMIL foi durante muito tempo o pior negocio do grupo. Edson pensava que o
controle dos custos médicos era tudo o que precisava para ter o melhor Plano de
Saúde do país, mas gradualmente, ele aprendeu que deveria desenvolver outras
competências para criar credibilidade e assim capacitar-se a conseguir mais clientes e
médicos credenciados. Essas novas competências eram na verdade uma “volta ao
22
A maior empresa de planos de saúde na época em faturamento.
76
passado”, ou seja, Edson passa novamente a utilizar a sua intuição e o seu carisma
para fazer a AMIL aumentar a sua base de clientes, médicos e hospitais credenciados.
Embora a organização, olhando-se de forma consolidada, estivesse vivendo o estágio
do DESENVOLVIMENTO, em função de estar sendo formatado um novo negócio
foi exigido do empreendedor, além das competências deste estágio, novamente as
competências do estágio ORIGEM, notadamente, criatividade, inovação, marketing,
motivação e energia.
Daí constatou-se um aspecto importante do processo de crescimento da organização
que pode ser objeto de futuros projetos de pesquisa. A organização analisada
configura-se em uma organização com vários negócios surgidos a partir de um
negócio core (Zook, 2003), sugerindo um modelo de Ciclo de Vida Organizacional
diferente dos modelos seqüenciais apresentados na literatura analisada. Para cada
novo negócio surgido a partir do negócio “core” inicia-se um novo Ciclo de Vida. No
entanto, este novo negócio já trará algumas conquistas, aprendizados e maturidade
dos negócios anteriores o que sugere que os modelos de Ciclo de Vida de empresas
em desenvolvimento devem contemplar esta característica não linear de Ciclo de
Vida.
77
A Figura 5, abaixo, mostra de forma ilustrativa o modelo de crescimento da AMIL,
baseado em Zook (2003).
Figura 5 – MODELO DE CRESCIMENTO DA AMIL
PRÓ MARKET
SUPRI-M
NOVOS SEGMENTOS
DE CLIENTES
AMIL TEXAS
AMIL EM
VÁRIAS CIDADES
NOVOS NEGÓCIOS
FARMALIFE
TOTAL CARE
NOVOS PRODUTOS
NOVAS
GEOGRAFIAS
EMPRESAS
CARÊNCIA ZERO
ESHO
Fonte: Zook (2003)
Com poucos hospitais afiliados e poucos clientes era muito difícil vender contratos
para novos clientes e também conseguir novos hospitais associados. O novo desafio
de Edson era agora transformar centenas de pacientes em milhares de clientes,
competindo diretamente com a Golden Cross
23
.
Edson costumava ir às reuniões para tentar afiliar os hospitais em carros luxuosos,
algumas vezes alugados, apenas para mostrar uma imagem de sucesso para os seus
potenciais filiados. Ele não tinha nenhum formulário para preencher e contava apenas
com o seu poder de convencimento. E seguiu gerando e buscando novas idéias
(competência típica do estágio Empreendedor) para fazer crescer a organização, tais
como:
78
1978 – Reembolso sem limites para exames e consultas
24
;
1979 Agencias da AMIL próximas aos clientes e criação de serviço de tele
marketing 24 horas para orientar e tirar duvida dos clientes;
1980 – Altos investimentos em propaganda, o telefone da AMIL foi o número
mais lembrado no Brasil
25
.
4.4.4. AMADURECIMENTO
Em 1984 Edson teve que repensar a AMIL. Em apenas seis anos a organização
atingiu tamanha magnitude que daquele momento em diante apenas a intuição e seu
carisma não seriam suficientes para sobreviver, e tanto o empreendedor como a
organização deveriam ser reciclados. Naquele ponto a organização tinha uma
estrutura estável (Formalização e Controle Quinn e Cameron, 1983), mais
organizada com as atividades produtivas e de marketing totalmente separadas e
profissionalizadas (Direção Greiner, 1972) e tinha o mesmo número de
funcionários que os três hospitais juntos de Caxias tinham de clientes.
Edson não podia mais visitar os seus clientes de leito em leito, isto é, tinha que
concentrar-se em utilizar as suas melhores habilidades e abdicar e delegar
responsabilidades a seus colaboradores (Maturidade de Recursos Churchill e
Lewis, 1983). Isto agregou um novo desafio para ele: como disseminar a cultura,
doutrina e valores éticos da AMIL
26
na enorme rede da organização espalhada em
escritórios por todo o país. Ou seja, o sucesso da organização passou a ser mais
dependente do que antes de seus colaboradores.
De acordo com Edson, o cliente de uma organização de assistência medica é muito
diferente de qualquer outro cliente do setor de prestação de serviços. O médico tem
que ter sensibilidade para lidar com momentos extremamente delicados.
23
Na época a líder do Mercado.
24
Foi uma inovação revolucionária na história dos planos de saúde no Brasil.
25
Naquela época muitos clientes da concorrência costumavam telefonar para a AMIL por engano.
79
Edson solicitou que todos os seus diretores e gerentes participassem de cursos e
assumissem a partir daí novas funções como professores e treinadores e mudou o seu
cartão de visitas para Gerente de Treinamento. Aqui percebesse a competência de
Edson em buscar tirar vantagem de suas melhores habilidades, isto é, mais uma vez
dedica-se àquilo que sabe fazer melhor (convencer pessoas) para garantir que seus
valores e seu jeito de fazer sejam disseminados.
No entanto, Edson, por ser ainda o principal elemento da gestão da organização, é
demandado por conhecimentos mais formais de administração (Direção Greiner,
1972 e Maturidade – Miller e Friesen, 1984) e sabe também que tem que organizar-se
e buscar mais especialização (Direção Greiner, 1972). De acordo com a sua visão,
ele deveria buscar estas inovações em mercados onde a exigência por flexibilidade e
respostas rápidas fossem o diferencial de sucesso das organizações e inscreve-se no
Owner President Program (OPM) da Harvard Business School em 1984. Naquela
época ele estava com 41 anos e começou a ouvir coisas que vinha aplicando por
anos por intuição: Por exemplo, que para competir em um ambiente altamente
competitivo a organização precisa conquistar os corações dos clientes.
Edson se deu conta de que a mudança deveria ser radical e que a inovação, que
sempre foi a sua marca registrada, era o caminho do sucesso. E percebeu que esta
inovação tem que ser focalizada na opinião dos clientes e dos funcionários através de
alta dedicação, mudanças, diálogo e treinamento constantes.
4.5. OUTROS DESAFIOS
Nesta parte do estudo de caso serão apresentadas algumas informações
complementares com o objetivo principal de proporcionar uma maior inserção, e,
portanto, conhecimento, do universo do empreendedor e de sua organização
27
:
26
Na verdade, de Edson.
27
As informaçõe são apenas ilustrativas, pois fazem parte de estágios mais maduros do Ciclo de Vida
da Organização que não são objeto do presente estudo.
80
Em 1989 Edson quis globalizar suas atividades. Primeiramente iniciou, em sociedade
com seu amigo Bob Smith, um pequeno negócio de fast-food chamado Crocodile. A
idéia principal de Edson era, além de fazer um negócio, aprender sobre a forma dos
americanos fazerem negócios e, segundo ele, principalmente conhecer os advogados
americanos. Após esta experiência ele fundou em Nevada a AMIL International
Health Corporation que foi a única organização não Americana autorizada a operar
serviços de saúde nos Estados Unidos. Esta organização passou a ter operações
também na Argentina e no Brasil.
Enquanto estava buscando credibilidade para obter a sua licença de operação nos
Estados Unidos foi publicado lá, um estudo destacando as sete organizações mais
inovadoras dos Estados Unidos e a AMIL foi incluída. Este estudo figura em algumas
publicações de marketing e administração tal como a Beyond Maxi Marketing.
As autoridades americanas não entendiam como uma organização de um país em
desenvolvimento tinha a intenção de competir em um ambiente altamente
competitivo como os Estados Unidos.
Hoje em dia Edson ainda comanda a organização, mas tem delegado ao longo dos
anos a maioria das funções executivas. Atualmente as suas principais atividades estão
concentradas em treinamento e contabilidade e constantemente tem encorajado e
suportado a criatividade e os projetos inovadores dentro da organização.
Outras informações complementares sobre a AMIL poderão ser encontradas no
ANEXO D.
81
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
O primeiro resultado foi uma proposta de modelo empírico de Ciclo de Vida de
organizações em desenvolvimento, apresentado a seguir e resumido na Tabela VIII.
Neste, se agregaram necessidades de competências do empreendedor, e os estágios
que antecedem a criação da organização, possibilitando uma melhor visão de como
se processam as mudanças nos empreendedores e nas organizações:
FASE DA CONCEPÇÃO:
CONCEPÇÃO DO EMPREENDEDOR: Onde acontece o estalo
empreendedor e inicia-se o processo de aquisição das competências básicas
que formarão a base do empreendedor.
CONCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO: Onde o “vírus” empreendedor é
inoculado. O empreendedor já tem o conhecimento da oportunidade e inicia o
processo de perseguição da mesma.
FASE DAS ORGANIZAÇÕES EM DESENVOLVIMENTO:
ORIGEM E SOBREVIVÊNCIA: Este estágio contempla as características
apresentadas nos estágios Criatividade (Greiner, 1972), Empreendedor
(Quinn e Cameron, 1983), Existência (Churchill e Lewis, 1983), Nascimento
(Miller e Friesen, 1984) e Sobrevivência (Churchill e Lewis, 1983);
DESENVOLVIMENTO: Este estágio contempla as características
apresentadas nos estágios Sucesso (Churchill e Lewis, 1983), Crescimento
(Miller e Friesen, 1984), Coletividade (Quinn e Cameron, 1983) e Decolagem
(Churchill e Lewis, 1983);
AMADURECIMENTO: Este estágio contempla as características
apresentadas nos estágios Direção (Greiner, 1972), Formalização e Controle
(Quinn e Cameron, 1983), Maturidade de Recursos (Churchill e Lewis, 1983)
e Maturidade (Miller e Friesen, 1984).
82
Tabela VIII
83
É importante destacar que no estudo de caso de Edson e da AMIL observou-se uma
razoável aderência das características observadas no empreendedor, e nas
necessidades de competências a ele impostas com a literatura analisada
28
.
Adicionalmente, o estudo traz as seguintes conclusões:
Para estudar-se o empreendedor (Edson) e o seu processo de
empreendedorismo não bastou vinculá-lo à sua organização. Foi importante,
também, analisar as suas tentativas de capturar oportunidades;
O processo de aquisição de competências por qual Edson passou não foi
limitado a competências explícitas, mas em sua maioria a competências
tácitas (Nonaka e Takeuchi, 1995), constituindo-se em um conjunto de traços
individuais que foram criando um padrão coeso de comportamentos
gerenciais (Stevenson et al., 1999). Ele só passou a adquirir competências
explícitas quando a organização tornou-se mais madura;
A intuição foi uma competência que possibilitou ao empreendedor adquirir
outras competências explícitas da maneira como se adquirem competências
tácitas. Embora estas possam ser adquiridas formalmente, no caso de Edson,
foram aprendidas ou exercitadas como competências tácitas;
O carisma e a intuição foram as competências mais exercidas por Edson
durante a fase de DESENVOLVIMENTO da AMIL. Possibilitando motivar
e influenciar não só os seus colaboradores como os seus clientes;
Muitas das competências observadas no empreendedor aparecem desde o
período que antecede a criação da organização. Verificou-se, para a presente
pesquisa sobre empreendedorismo, a importância do entendimento sobre este
período porque foi que se iniciou a formação da estrutura de competências
que suportou o empreendedor à frente de seu negócio;
Verificou-se no estágio ORIGEM E SOBREVIVÊNCIA uma importante
aderência com a literatura pesquisada em relação às características da
organização, sua estratégia e às competências exigidas ao empreendedor. No
28
Apresentadas na tabela de Ciclo de Vida para organizações em desenvolvimento.
84
entanto destaca-se que algumas das competências observadas em Edson, não
foram tratadas na literatura pesquisada, como, intuição e carisma; e
A organização analisada configura-se em uma organização com vários
negócios surgidos a partir de um negócio core(Zook, 2003), sugerindo um
modelo de Ciclo de Vida Organizacional diferente dos modelos seqüenciais
apresentados na literatura analisada. Para cada novo negócio surgido a partir
do negócio coreinicia-se um novo Ciclo de Vida. No entanto, este novo
negócio trará algumas conquistas, aprendizados e maturidade dos negócios
anteriores.
Em função das conclusões acima se destacam os seguintes temas que poderiam ser
desenvolvidos em pesquisas futuras:
Pesquisa quantitativa para testar o modelo de Ciclo de Vida aqui proposto
para organizações em desenvolvimento;
Pesquisa quantitativa sobre o impacto da Competência Intuitiva dos
empreendedores de sucesso de organizações prestadoras de serviço;
A utilização do Carisma como forma de motivação e convencimento de
colaboradores, clientes e parceiros; e
Desenvolvimento de modelos de Ciclo de Vida Organizacional não lineares e
seqüenciais a partir do modelo de Zook (2003).
85
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Iorque: John Wiley, 1996.
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FILION, L. Visions et relations: Clefs du succès de l’entrepreneur. Les Éditions de
l’Entrepreneur.
86
FLEURY, Afonso; FLEURY, Maria Tereza. Estratégias competitivas e competências
essenciais: perspectivas para a internacionalização da indústria no Brasil. Gestão &
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ROCHA, Jorge Ferreira. Nosso Edson: biografia não autorizada de um realizador
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SALIM, Cesar Simões. et al. Administração empreendedora. Campus: Rio de
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SEBRAE. Fatores condicionantes e taxa de mortalidade de empresas no Brasil.
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STEVENSON, Howard. et al. The entrepreneurial venture: readings selected. 2.ed.
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TIMMONS, Jeffry. New venture creation: entrepreneurship for the 21
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WOODWARD, J. Industrial organization: theory and practice. London: Tavistock
Publications, 1965.
YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi.
São Paulo: Bookman, 2004.
88
ZARAFIAN, Philippe. A gestão da e pela competência. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, TRABALHO E
COMPETÊNCIAS, Rio de Janeiro, 1996, Anais. Rio de Janeiro, SENAI / CIET,
1998. p. 15-24.
ZOOK, Chris. Além das fronteiras do core business: expandindo o mercado sem
abandonar as raízes. Tradução de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2003.
89
ANEXO A
LEITURAS COMPLEMENTARES
ADICES, Ichak. Organizational passages: diagnosing and treating lifecicle problems
of organizations. Organizational Dynamics, p.3-25, 1979.
BOWDITCH, J.; BUONO, A. Elementos do comportamento organizacional. São
Paulo: Pioneira, 1992.
COLLINS, James C.; PORRAS, Jerry I. Feitas para durar. Tradução de Silvia
Schiros. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
DOLLINGER, Marc J. Entrepeneurship: strategies and resources. 2.ed. New Jersey:
Prentice-Hall, 1999.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em
negócios. 5.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
DORNELAS, José Carlos Assis. Planejando incubadoras de empresas: como
desenvolver um plano de negócios para incubadoras. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
FARREL, Larry C. Entrepreneurship: fundamentos das organizações
empreendedoras. São Paulo: Atlas, 1993.
HISRICH, Robert D.; PETERS, Michael P. Entrepreneurship. 5.ed. Boston:
McGraw-Hill, 2002.
KIMBERLY, John. et al. The organization life cycle. San Francisco: Jossey-Bass,
1980.
90
KURATKO, Donald F.; HODGETTS, Richard M. Entrepeneurship: a contemporary
approach. 5.ed. Philadelphia: Harcourt, 2001.
MALKOVITCH, G.T.; BOUDREAU, J.W. Administração de recursos humanos.
São Paulo: Atlas, 2000.
MC GREGOR, D. O lado humano das empresas. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
PFEFFER, J. Producing sustainable competitive advantage through the effective
management of people. Academy of Management Executive, 1995.
SPECTOR, Robert; MCCARTHY, Patrick D. The Nordstrom way: the inside story
of Americas #1 customer service company. New York: John Wiley, 1995.
WAGNER III, John A.; HOLLENBECK, John R. Comportamento organizacional:
criando vantagem competitiva. Tradução de Cid Knipel Moreira; revisão técnica de
Laura Zacarelli. São Paulo: Saraiva, 2003.
91
ANEXO B
ANÁLISE SETORIAL
A AMIL está inserida no setor de serviços, especificamente serviços associados à
saúde ou setor de planos de saúde
29
. Este setor apresenta as seguintes características:
Muito regulamentado;
Preços e custos controlados;
Sujeitos à fiscalização e procedimentos fiscais e contábeis peculiares e
Muito concentrado, apesar da grande quantidade de operadoras de planos de
saúde.
Os planos de saúde podem ser divididos por tipo de organizações da seguinte forma:
Medicina de Grupo: possuem rede própria e terceirizada. Presta diretamente a
assistência médico-hospitalar. Exemplos: AMIL, Interclínicas e Blue Life;
Seguros Saúde: exerce o papel de seguradora. Não possui rede própria.
Exemplos: Sul América, Saúde Bradesco que detém aproximadamente 81%
do mercado e
Cooperativas que funcionam como as organizações de medicina de grupo,
porém pertencem aos médicos. Exemplo: Unimed.
De acordo com a Lafis (2004) o mercado de planos de saúde movimenta cerca de R$
28 bilhões por ano. Em seu relatório apresentam que de acordo com a ANS
30
, em
2003 havia 2,277 operadoras ativas no país, garantindo a cobertura para 37.7 milhões
de beneficiários (em out./03), dos quais 70% encontram-se na região sudeste do país.
29
Plano de saúde é o termo genérico usualmente adotado. No entanto o detalhamento correto será
dado mais a frente.
30
Agência Nacional de Saúde Suplementar.
92
As Operadoras de Planos de Assistência à Saúde são as organizações que oferecem
planos de assistência à saúde e estão inseridas no setor de saúde suplementar.
A ANS define 8 categorias de operadoras: administradoras, cooperativas médicas,
cooperativas odontológicas, instituições filantrópicas, autogestões (patrocinadas e
não patrocinadas), seguradoras especializadas em saúde, medicina de grupo e
odontologia de grupo.
As empresas categorizadas como medicina de grupo, foram as primeiras a operar no
Brasil. A maioria não possui serviços próprios, contratando serviços médicos de
terceiros. Operacionalmente dependem de credenciamento de médicos, de hospitais e
de serviços auxiliares para diagnósticos e terapia.
Essas empresas remuneram-se via pré-pagamento de planos de empresas, individuais
e familiares. Exemplos de empresas que atuam neste setor: AMIL, Interclínicas e
Blue-Life.
Segundo a Lafis (2004) mais de 70% dos usuários têm acesso aos planos de saúde
com despesa custeada total ou parcialmente pelos empregadores e a filiação direta
dos indivíduos ou famílias é inferior a 30% do mercado, sendo um sistema
fortemente baseado no emprego.
Sobre a competição neste setor Porter e Teisberg (2004) fazem observações
interessantes que podem servir para reflexão sobre a competição neste setor no
Brasil. Eles dizem que o fraco desempenho apresentado pelo setor nos EUA é o que
se esperava de um setor muito controlado pelo estado.
No entanto eles acreditam que o problema do setor nos EUA é justamente a
competição. É lógico que não estão se referindo a competição em si e sim ao tipo de
competição.
93
A competição vivenciada pelo setor, segundo eles, é uma competição que ao invés de
gerar benefícios para o cliente tem gerado perdas para os clientes e para os
participantes do sistema. Um dos fatores é porque os clientes têm informações
limitadas e os serviços são altamente customizados.
O que ocorre hoje nos EUA, é o que Porter e Teisberg (2004) chamam de Zero-Sum
Competition. Esta forma de competição é aquela em que o sistema dos participantes
divide valor em vez de fazê-lo crescer. E dão exemplo de quatro tipos de Zero-Sum
Competition:
No primeiro tipo é o que chamam de Cost Shifting, isto é, os competidores
não reduzem os seus custos e sim os transferem para outros. O plano passa o
custo para o paciente e para o hospital e o hospital passa para o médico;
O segundo tipo é aquele que se busca apenas aumentar o poder de barganha
ou a pressão, perdendo o foco da melhoria de serviços;
No terceiro procura-se a diminuição de opções de serviços aos usuários do
sistema e
Finalmente o quarto que trata do excesso de ações judiciais.
Na opinião do autor, exceto pelo quarto o Brasil vive um ambiente muito semelhante
ao descrito por Porter e Teisberg (2004).
94
ANEXO C
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
1. O objetivo de nossa conversa é identificar quais foram as competências a
você necessárias durante os estágios iniciais do ciclo de vida de sua
organização. O objetivo de meu trabalho é verificar como um empreendedor
reage frente a necessidade de competências a ele imposta durante o ciclo de
vida das organizações. Como pano de fundo é importante destacar que a
preocupação fundamental é com os estágios iniciais do ciclo de vida da
organização fundamentalmente pelo fato que nesses estágios ocorre o maior
índice de mortalidade;
2. Primeiramente gostaria de saber de que forma você dividiria a AMIL se
tivesse que fatiá-la em diferentes estágios de evolução / maturidade iniciando-
se com a compra da Casa de Saúde São José até os dias de hoje;
3. Dentro de cada um destes estágios como foi o papel do Edson em cada um
deles? Como você atuou e onde foi a sua maior colaboração em cada um
deles?
4. Certamente, como em qualquer organização, você deve ter vivenciado
momentos críticos em seu negócio onde a sobrevivência de sua empresa ficou
ameaçada você seria capaz de identificar estes momentos dentro dos estágios
por você identificados?
5. Fora estes momentos mais críticos onde claramente a sobrevivência esteve
ameaçada que outros momentos a sua organização poderia ter a sua
sobrevivência potencialmente ameaçada?
6. Você consegue descrever claramente quais os tipos de competências que
foram necessárias a você ao longo da existência de sua organização?
7. De que forma você adquiriu estas competências: a) pessoalmente e b) via
busca de talentos;
8. Pela sua história sabemos que você buscou educação formal. O que você
aprendeu? Foi importante?
9. Você buscou competência principalmente de que forma?
10. Quais necessidades de competências você acha que não conseguiu atender?
11. Ao buscar competências você buscava em áreas que você já tinha alguma
vantagem de conhecimento ou em áreas absolutamente estranhas a você. Por
quê?
12. Como você pretende perpetuar o seu negócio e de que forma você pretende
transferir os seus conhecimentos?
13. Como são as suas atividades hoje?
14. Quanto, se guardarmos as proporções relativas ao tamanho, mudaram as suas
atividades dentro da organização?
15. Como foi o seu papel na busca de talentos e como você os identifica hoje?
16. Qual é a maior preocupação que está em sua agenda?
95
ANEXO D
PRINCIPAIS MARCOS DA AMIL
1972 – Edson compra a Casa de Saúde São José;
1974 – Criação da ESHO – Empresa de Serviços Hospitalares;
1978 Criação da AMIL Médica no Rio de Janeiro criação do conceito de
consultas e exames sem limite de custos, instalação de escritórios localizados
em áreas próximas aos clientes e inicio do tele marketing 24 horas por dia 7
dias por semana. O telefone da AMIL passa a ser o telefone mais conhecido
no Rio de Janeiro;
1986AMIL São Paulo – liderada por Jorge Ferreira da Rocha, consolidando
a marca na maior cidade do país: Principais números: 3.555 consultórios, 697
diferentes tipos de diagnósticos e tratamentos, 195 hospitais, 209 clinicas
especializadas em total care;
1988 O maior índice de crescimento do setor, baseado em uma campanha
de marketing extremamente agressiva que procura mostrar claramente as
vantagens da AMIL sobre os competidores;
1991 Supri-M. Criada para distribuir medicamentos e suprimentos
hospitalares para seus hospitais;
1993 Lançamento da AMIL Resgate Saúde. A maior estrutura de resgate
do país, incluindo helicóptero, jatos e ambulâncias. Especializada no
transporte de pacientes em estado critico;
1993Farmalife;
1994 – Criação do sistema de franquia;
1995 Programa AMIL medicamento: Oferecendo descontos em remédios
para os clientes da AMIL. Criação da rede Farmalife;
1995 Novo conceito de cobertura de custos e internacionalização. Curacao
da AMIL Texas. Em maio consegue a licença para operar como uma PPO
(Preferred Provider Organization) e em fevereiro para operar como uma
HMO (Health Maintenance Organization). Seus principais objetivos foram
96
troca de tecnologia, pesquisa de mercado, desenvolvimento de novos
produtos e treinamento. Hoje em dia tem mais de 40 mil clientes incluindo
clientes como a prefeitura de Austin, o distrito escolar de Austin que inclui
mais de 1.000 escolas, a St. Edward’s University e a HCA St. David’s, o
maior grupo de hospitais privados dos Estados Unidos. Em 2000 em uma
pesquisa feita pelo The Guild Group, entre gerentes de Recursos Humanos, a
AMIL figurou como a melhor HMO. Além disso, a AMIL Texas foi uma das
três HMO que geraram lucro em 2001 e inicio de 2002;
1997 – Atendimento internacional para os clientes da AMIL a partir da
unidade de Miami;
1999 Primeiro Total Care no Rio de Janeiro (Botafogo): Cuidados
especiais - diagnostico e tratamento especializado em Diabetes, Hipertensão
arterial e doenças do coração;
2000Total Care São Paulo;
2001Total Care Barra da Tijuca – Rio de Janeiro;
2001 - CEMEDS Centros medicos AMIL e PRÓMARKET Agencia de
Peublicidade – House Agency;
2001 – Estratégia de Excelência Médica;
2002 – Agencia no Paraná e novo predio administrativo no Rio de Janeiro;
2003 – Projeto Vida. Programa de voluntariado entre os funcionarios da
AMIL.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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