Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE GEOLOGIA COSTEIRA E SEDIMENTAR
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
BIOGRAFIA DAS AREIAS DA COSTA DO DENDÊ: UM ESTUDO DA
COMPOSIÇÃO DAS AREIAS DE PRAIA ENTRE OS RIOS JEQUIRIÇÁ E
TIJUÍPE
RENATA CARDIA REBOUÇAS
SALVADOR-BA
JULHO-2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ads:
- ii -
DEDICATÓRIA
Às minhas filhas Letícia Christi, Isabela e
Fernanda por serem a minha maior motivação.
- iii -
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a Meishu-Sama, que me encaminharam
até aqui.
Ao meu pai querido sempre compreensivo aos meus tropeços e minha
mãe (em memória) que nunca desistiu de lutar pelo meu crescimento.
A minha família desculpas pela minha ausência e obrigada pela paciência.
Ao professor Landim por ter me concedido essa oportunidade.
A professora Ana Amélia Lavènere-Wanderley e Ana Claudia Andrade,
anjos que conduziram meus primeiros passos na vida acadêmica.
A professora Facelúcia Barros, por me ensinar a triar e identificar os
componentes bióticos do sedimento.
Ao professor Abílio Bittencourt sempre disposto a ajudar e a professora
Zelinda Leão pelas informações sobre recifes.
Aos funcionários do colegiado, Maria, Nilton e Gil, sempre atenciosos.
Aos colegas Lucas, Juliana e Adeylan, trilhando o mesmo caminho desde
a graduação... Obrigada pelo carinho e amizade.
A Rafael, pela ajuda com as imagens de satélite, e a Junia, Ângela e aos
outros colegas do LEC, obrigada pelos ensinamentos, aprendi muitas lições com
todos vocês.
A CAPES pela concessão da bolsa de mestrado.
- iv -
RESUMO
A grande diversidade fisiográfica da Costa do Dendê favorece a deposição de
diferentes tipos de sedimentos em suas praias, inclusive sedimentos ricos em
carbonato de cálcio. Neste estudo foram utilizadas 86 amostras de sedimento
coletadas em intervalos de 2 km nas praias da região. Para cada amostra foram
identificados 300 grãos por fração granulométrica em lupa binocular. As
proporções relativas dos constituintes foram ponderadas pelo peso de cada
fração. Posteriormente, com os resultados obtidos foram confeccionados mapas
temáticos utilizando-se o aplicativo ArcView 3.2
P
®
P
. Os sedimentos da maioria das
praias da Costa do Dendê apresentaram uma composição de natureza
siliciclástica (80 – 100%). O quartzo é o principal componente (70 – 100%).
Apenas nas ilhas de Tinharé e Boipeba, se verificou o domínio de sedimentos
bioclásticos nas praias. Neste trecho os sedimentos bioclásticos alcançaram
teores variando entre 80 e 100%. Estes sedimentos são compostos
essencialmente de fragmentos da alga Halimeda, com teores de até 70%. Algas
coralinas e moluscos também contribuem significativamente para a composição
das areias deste trecho, com teores de até 30%. Os resultados obtidos mostram
que a análise da distribuição espacial dos componentes bioclásticos permite
inferir adequadamente às condições ambientais na linha de costa (níveis de
energia, disponibilidade de substratos duros e suprimento de sedimento), assim
como avaliar as possíveis fontes de sedimento para a praia. A composição dos
sedimentos praiais reflete as condições ambientais atuais, e evidenciam que os
sedimentos bioclásticos têm fontes localizadas e não experimentam transporte
lateral na Costa do Dendê, devido à situação de “trânsito impedido” que
predomina na maior parte da região. A despeito de uma extensiva progradação
da linha de costa nas planícies costeiras do Guaibim e Pratigi, durante o
Quaternário, o único rio importante, o Rio de Contas deságua cerca de 50 km ao
sul da Baía de Camamu. Por outro lado, os recifes se mostraram uma importante
fonte de sedimentos para as praias da região, principalmente em locais de déficit
de sedimentos. Dessa forma, além dos recifes constituírem uma proteção natural
para as praias em sua retaguarda, os organismos que vivem neste ambiente são
uma importante fonte de sedimentos para as praias. A manutenção dessas
- v -
estruturas e a conservação dos seus ecossistemas são, portanto, medidas
preventivas contra a erosão costeira.
- vi -
ABSTRACT
The great physiographic diversity of the Dendê Coast favors the deposition of
different sediment types along the beaches including, calcium carbonate rich
sediments. In this study 86 beach samples collected at 2 km interval were used.
For each sample 300 gains were identified for each grain size class, using a
binocular microscope. The relative frequencies of the different components were
weighted by the weight of each grain size fraction. The results were used to
prepare thematic maps using ArcView 3.2P
®
P
. The beach sediments of the Dendê
Coast are essentially siliciclastic (80-100%). Quartz is the major component (70-
100%). Only at the Tinharé and Boipeba islands bioclasts are major components
of beach sands reaching up to 80-100%. These sediments are made up
essentially of fragments of Halimeda, reaching percentages up to 70%. Coralline
algae and mollusks also contribute significantly to these sediments (up to 30%).
The results obtained show that the spatial distribution of the bioclastic
components provide important information on the environmental conditions
present at the shoreline (energy levels, availability of hard substrates and
sediment supply) and on the sediment sources as well. The composition of the
beach sediments at the Dendê Coast reflects the present day environmental
conditions and show that these sediments do not experience lateral transport.
This situation is favored by a “hindered longshore transport” that characterizes
most of the region. In spite of the extensive progradation of the shoreline at the
Guaibim and Pratigi strandplains, the only important river emptying in this coast is
the Contas river located 50 km south of the Camamu bay. On the other hand, the
coral reefs, besides offering a natural protection to the shoreline, also represent
an important source of beach sands. The conservation of these structures and
ecosystems is therefore fundamental to mitigate shoreline erosion at the Tinharé
and Boipeba islands.
- vii -
INDÍCE
TUDEDICATÓRIAUT .......................................................................................................ii
TUAGRADECIMENTOSUT ............................................................................................iii
TURESUMOUT...............................................................................................................iv
TUABSTRACTUT ...........................................................................................................vi
TUINDÍCEUT .................................................................................................................vii
TUINDÍCE DE FIGURASUT ......................................................................................... viii
TU1. INTRODUÇÃOUT ...................................................................................................1
TU1.1 Tipos e origem dos sedimentos praiaisUT.........................................................2
TU1.2 Sedimentos praiais e estudos de proveniência.UT ............................................8
TU1.3 Significado geológico da composição dos sedimentos praiais.UT ..................12
TU2. OBJETIVOSUT .....................................................................................................15
TU2.1 Objetivo geralUT ..............................................................................................15
TU2.2 Objetivos EspecíficosUT..................................................................................15
TU3. METODOLOGIAUT ...............................................................................................16
TU3.1 Procedimento de campoUT .............................................................................16
TU3.2 Análise granulométricaUT ...............................................................................16
TU3.3 Análise da composição do sedimentoUT ........................................................17
TU3.5 Integração e análise dos dados obtidos em um Sistema de Informação
Geográfica e confecção dos mapas.UT ................................................................18
TU4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOUT ..................................................19
TU4.1 LocalizaçãoUT .................................................................................................19
TU4.2 ClimaUT...........................................................................................................21
TU4.3 Circulação atmosféricaUT ...............................................................................22
TU4.4 Clima de ondasUT ...........................................................................................24
TU4.5 Padrão de dispersão de sedimentosUT ..........................................................25
TU4.6 Flutuações do nível relativo do mar e evolução paleogeográfica da zona
costeiraUT .............................................................................................................27
TU4.7 GeologiaUT .....................................................................................................28
TU4.8 Fisiografia e características sedimentológicasUT ............................................32
TU4.9 Bacias HidrográficasUT ...................................................................................37
TU4.10 Plataforma continentalUT ..............................................................................40
TU5. RESULTADOSUT .................................................................................................45
TU5.2 Setor IUT .........................................................................................................48
TU5.3 Setor IIUT ........................................................................................................51
TU5.4 Setor IIIUT .......................................................................................................54
TU5.5 Setor IVUT .......................................................................................................56
TU7. DISCUSSÃOUT ....................................................................................................58
TU7.1 Origem da Composição dos Sedimentos das Praias da Costa do DendêUT ..61
TU8. CONCLUSÃOUT ...................................................................................................68
TU9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASUT .................................................................70
- viii -
INDÍCE DE FIGURAS
Figura 1. Exemplos de grãos constituintes das areias de praia. Da esquerda para
a direita, grãos de quartzo, e minerais pesados. Embaixo grãos compostos por
fragmentos de organismos, como moluscos, foraminíferos, algas coralinas, e
Halimeda (Kennair & Railsback, 2006)._________________________________5
Figura 2. Fases da evolução do sedimento e os principais processos que
modificam a composição dos sedimentos clásticos ao longo do caminho da área
fonte até a bacia sedimentar. Os fatores controladores são mostrados à direita.
Modificado de Weltje & Eynatten, (2004). _______________________________6
Figura 3. Imagem Landsat (CPRM, 2003) da área de estudo, limite e sede dos
municípios, e principais rodovias de acesso (SUDENE, 1977; IBGE, 1967). ___20
Figura 4. Principais elementos da circulação atmosférica afetando a zona
costeira e influenciando o padrão de dispersão dos sedimentos (modificado de
Dominguez et al., 1992). ___________________________________________23
Figura 5. Altura média de ondas chegando à Costa do Dendê e sentido da deriva
litorânea efetiva (modificado de Freitas, 2002).__________________________26
Figura 6. Mapa geológico simplificado da Costa do Dendê, e batimetria da
plataforma continental interna (segundo Dominguez, 2006). _______________31
Figura 7. Granulometria dos sedimentos de praia da Costa do Dendê
representada pela mediana (D-50) (modificado de Freitas, 2002).___________35
Figura 8. Praias da costa do dendê. Praia do Guabim bordejada por terraço
arenoso (A), Falésia de arenito (B) e recifes em franja com manguezal instalado
em cima do recife (C) na Ilha de Boipeba, Praia do Pratigi bordejada por terraço
arenoso (D). Praia protegida na Baía de Camamu, Barra do Sirinhaém (E), praia
oceânica da Península de Maraú, próxima a foz do Rio de Contas (F), praia de
bolso com embasamento aflorando na linha de costa em Itacaré (G), foz do Rio
de Contas (H) (Fotos: Dominguez, 2006).______________________________36
Figura 9. Bacias hidrográficas que deságuam na Costa do Dendê (SUDENE,
1977; IBGE, 1967). _______________________________________________39
Figura 10. Zoneamento biológico dos organismos produtores de sedimentos, na
plataforma continental brasileira, segundo Carannante et al., (1988). ________44
Figura 11. Localização das amostras de praia da Costa do Dendê utilizadas
neste estudo e a divisão dos setores, adotada neste trabalho. Limites municipais
de acordo com SUDENE (1977) e IBGE (1967)._________________________46
Figura 12. Tabela mostrando a distribuição da composição dos sedimentos das
praias da Costa do Dendê dividida por setores. _________________________47
- ix -
Figura 13. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 1. (A) composição geral das
amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos
componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A. ____50
Figura 14. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 2. (A) composição geral das
amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos
componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A. ____53
Figura 15. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 3. (A) composição geral das
amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos
componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A. ____55
Figura 16. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 4. (A) composição geral das
amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos
componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A. ____57
Figura 17. Costa do Dendê, sua geologia, batimetria (Dominguez, 2006),
drenagem, deriva efetiva, altura de ondas (Freitas 2002) e gráfico acumulativo
mostrando a composição dos sedimentos das praias. Os componentes indicados
por "outros" representam componentes com teores insignificantes como
briozoários, tubos de vermes, equinodermos, espículas de esponja e grãos não
identificados. As setas indicam as possíveis fontes de sedimentos.__________60
Figura 18. Recife próximo à foz do Rio Jequiriçá (A), recifes adjacentes à costa
da Península de Maraú (B), recifes formando lagunas na Ilha de Boipeba (C e D)
(Fotos: Dominguez, 2006). _________________________________________65
1
1. INTRODUÇÃO
A configuração de um litoral representa o resultado da longa interação
entre processos tectônicos, geomorfológicos, climáticos e oceanográficos
(Muehe, 1998). Eventos relacionados à tectônica de placas, iniciados no
Cretáceo, resultaram na abertura do Oceano Atlântico Sul, originando bacias
sedimentares, onde posteriormente, espessos pacotes sedimentares foram
acumulados dando origem à margem continental brasileira. Durante o
Quaternário, as variações do nível relativo do mar e do clima, favoreceram os
processos de erosão e deposição, modelando as feições presentes no relevo
costeiro brasileiro (Almeida & Carneiro, 2004).
Podem-se observar fases de sedimentação continental, como a deposição
da Formação Barreiras, que sustenta os Tabuleiros Litorâneos e fases de
sedimentação marinha de areias quartzosas e carbonáticas, em função das
transgressões e regressões marinhas (MMA/UFRJ/FUJB/LAGET, 1996). Estes
episódios geraram planícies costeiras que se apresentam com diferentes
fisionomias e incluem terraços marinhos, planícies fluvio-marinhas e lacustres;
deltas e estuários; praias e manguezais.
A planície costeira da Costa do Dendê teve sua origem fortemente
influenciada pelas oscilações do nível relativo do mar durante o Quaternário.
Estas oscilações erodiram parcialmente as rochas sedimentares da Bacia de
Camamu e propiciaram a construção de terraços arenosos de idade pleistocênica
e holocênica (Martin et al., 1979). Sua costa é caracterizada por diversas feições
como praias, falésias, recifes de coral e algas coralinas, manguezais,
desembocaduras de rios, baías e canais de maré.
- 2 -
As praias da Costa do Dendê apresentam predominância de sedimentos
siliciclásticos, porém com uma contribuição significativa de sedimentos
bioclásticos. De acordo com Freitas (2002), sedimentos de praia coletados na
Ilha de Tinharé e Boipeba, e na Península de Maraú têm uma grande
contribuição de biodetritos, compostos por fragmentos de algas calcárias,
principalmente Halimeda, e também de ouriços e conchas de moluscos. Esta
contribuição de biodetritos foi atribuída à presença de recifes em franja que
bordejam aquelas praias.
A grande diversidade fisiográfica da Costa do Dendê favorece, portanto a
deposição de diferentes tipos de sedimentos em suas praias, inclusive
sedimentos ricos em carbonato de cálcio. Ao reconstituir a biografia destas areias
e estabelecer suas áreas fonte são geradas informações importantes para a
compreensão de fenômenos naturais, como a erosão costeira, que afeta
localmente as praias da região.
1.1 Tipos e origem dos sedimentos praiais
Sedimentos na zona litorânea podem ser compostos de qualquer material
que esteja disponível em quantidades significantes e seja de um tamanho de
grão satisfatório para permanecer na praia (Komar 1976, Fritz e Moore 1988).
Bascom (1960) descreveu uma praia na Califórnia próxima ao depósito de lixo
municipal, composta de sedimentos formados por latas velhas. Praias na
Inglaterra próximas a fábricas de carvão possuem grãos compostos de carvão no
tamanho areia (Komar,1976). Porém estas são exceções, geralmente as praias
são compostas de sedimentos derivados da desintegração da litosfera, areias e
cascalhos erodidos de rochas terrestres (Komar, 1976).
- 3 -
Para Shepard (1973), a fonte direta de quase todas as praias arenosas é a
plataforma continental, que recebeu previamente sedimentos do continente
durante o Pleistoceno, quando o nível relativo do mar estava mais baixo. Uma
outra pequena fonte vem da erosão de falésias por ação das ondas. Em áreas
tropicais, boa parte da areia é derivada de restos de organismos marinhos.
Komar (1976) afirmou que a fonte dos sedimentos para a praia pode ser a
desembocadura de rios e falésias, ou a plataforma interna, incluindo neste caso
sedimentos bioclásticos, constituídos de restos esqueletais, calcários ou
silicosos, de organismos marinhos.
Segundo King (1972), a fonte de sedimentos para a praia pode ser o
continente (sedimentos siliciclásticos) – através do transporte por rios, geleiras e
vento, dos produtos da erosão de relevos elevados próximo à costa; e a região
costa-afora - fornecendo sedimentos possivelmente de origem orgânica,
geralmente, através da ação das ondas. King (1972) também assume que o
transporte de material pela ação das ondas da plataforma para a praia é limitado,
podendo ser ampliado de acordo com a declividade da plataforma e da ação do
swell, fatores que podem intensificar a ação das ondas junto ao fundo, onde o
sedimento está estocado.
Considerando a praia como um sistema (Carter & Woodroffe, 1994), o seu
estado depende diretamente do balanço de sedimentos, ou seja, da quantidade
de sedimentos que entra e sai do ambiente, e da energia imposta a este sistema.
O continente, e a plataforma continental adjacente podem ser fornecedores
destes sedimentos, como também a corrente longitudinal que transporta
sedimentos de outros locais da costa. O resultado deste balanço, positivo ou
- 4 -
negativo, implicará em uma praia em erosão, acresção ou ainda em estado de
equilíbrio.
De acordo com Komar (1976), a morfologia de uma praia reflete a
composição dos seus sedimentos, e os processos físicos. Ondas e correntes
costeiras retrabalham continuamente os sedimentos acumulados na praia,
arredondando as partículas, e selecionando-as por tamanho, forma e densidade.
A praia, portanto, toma a forma que reflete o movimento da água e dos
sedimentos.
Segundo Fritz & Moore (1988) grãos formados da fragmentação de outros
sólidos são chamados de clastos. Grãos derivados do intemperismo de rochas
pré-existentes formam os sedimentos clásticos terrígenos (ou siliciclásticos). A
fragmentação química, mecânica e biológica de partes esqueléticas de
organismos produz os sedimentos bioclásticos. A precipitação direta de minerais
por organismos e a precipitação inorgânica de grãos minerais também produzem
sedimento.
Os sedimentos siliciclásticos são compostos essencialmente de quartzo,
feldspato, micas e fragmento de rocha, sendo o quartzo encontrado em maior
proporção na praia, por ser um mineral mais estável, mais resistente ao
intemperismo (Folk, 1974). Em adição aos grãos de quartzo e ao feldspato, o
sedimento das praias geralmente contém pequenas quantidades de mineral
pesado (Fig. 1). Proporções destes minerais podem fornecer informação da
relativa importância de vários tipos de rochas como fonte de sedimentos; além
disso, a sua distribuição, ao longo da costa, pode indicar a direção do transporte
de sedimentos (Komar, 1976).
- 5 -
As micas e feldspatos são mais suscetíveis ao intemperismo que o quartzo.
Sua presença no ambiente praial pode estar indicando uma proximidade com a
fonte, como por exemplo, rochas cristalinas do embasamento que tocam a costa,
ou rios. Os minerais pesados, uma vez liberados da rocha fonte, podem ser
transportados pelos rios até o litoral, junto com outros minerais detríticos. A ação
das ondas e correntes costeiras ocasiona a retirada dos minerais mais leves e
concentra aqueles cujas densidades são mais elevadas, na foz de rios, praias e
planícies costeiras (Silva, 2000).
Figura 1. Exemplos de grãos constituintes das areias de praia. Da esquerda para a direita, grãos
de quartzo, e minerais pesados. Embaixo grãos compostos por fragmentos de organismos, como
moluscos, foraminíferos, algas coralinas, e Halimeda (Kennair & Railsback, 2006).
A composição dos sedimentos de uma praia reflete as várias fontes e sua
importância relativa. Sua composição, textura, selecionamento e grau de
arredondamento são controlados por diversos fatores (Fig. 2), começando com a
composição da(s) rocha(s) fonte e incluem ainda os vários processos que
125 mm
125 mm
250m
m
125 mm 125 mm
250m
m
- 6 -
modificam o sedimento ao longo do caminho entre a sua área fonte e o sítio final
de deposição. Os processos mais importantes de modificação das características
dos sedimentos siliciclásticos são o intemperismo e a erosão na área fonte,
fatores controlados pelo clima. A abrasão, o selecionamento hidrodinâmico, a
mistura durante o transporte e a deposição, são também, parâmetros relevantes
que determinam as características texturais e composicionais do depósito
sedimentar (Weltje & Eynatten 2004, Eynatten 2004).
ÁREA FONTE
Intemperismo
erosão
fragmentação
abrasão
mistura
selecionamento
Litologia rocha fonte
Topografia
Clima
Energia do ambiente
Composição e Textura
Histórico de deposição
BACIA
SEDIMENTAR
Figura 2. Fases da evolução do sedimento e os principais processos que modificam a
composição dos sedimentos clásticos ao longo do caminho da área fonte até a bacia sedimentar.
Os fatores controladores são mostrados à direita. Modificado de Weltje & Eynatten, (2004).
Outros componentes podem fazer parte dos sedimentos praiais, como
conchas e fragmentos de conchas de moluscos, foraminíferos, equinodermos,
algas coralinas dentre outros organismos (Fig. 1) (Komar, 1976; King, 1972;
Davies, 1977), especialmente em praias de regiões tropicais onde a atividade
- 7 -
biológica é intensa e em praias onde o aporte sedimentar do continente é
reduzido (Komar, 1976). São sedimentos autóctones, ou seja, produzidos in situ.
Geralmente esta produção se dá na zona submersa da praia e na plataforma.
Posteriormente estes sedimentos podem ser transportados, por ação das ondas
e correntes, para outras regiões (Wilson, 1975), a exemplo da zona emersa das
praias.
O estudo dos organismos que compõem os sedimentos pode informar
sobre mudanças ambientais ocorridas no passado, bem como indicar prováveis
mudanças e impactos no ambiente atual, constituindo dessa forma, um
importante elemento para a reconstrução da gênese de ambientes deposicionais
(Simões & Holz, 2000).
Segundo Folk (1974), o estudo da composição e das propriedades dos
sedimentos é vital para a interpretação de ambientes sedimentares sejam estes
formados por rochas ou por sedimentos inconsolidados, como é o caso da praia.
Através deste estudo é possível avaliar o relevo, clima, litologia, e atividade
tectônica na área fonte, deduzir as características do ambiente de deposição, e
determinar a causa de mudanças nesses ambientes (área fonte e área de
deposição).
Assim, o grão de areia, metaforicamente tem sua biografia impressa nas
suas características texturais e composicionais (Wanless & Tedesco 1988). O
estudo dessas características nos conduz a uma aproximação da sua
proveniência, e dos processos sofridos durante o transporte até a sua deposição.
- 8 -
1.2 Sedimentos praiais e estudos de proveniência.
O termo proveniência diz respeito à produção dos sedimentos, com
referência específica à rocha fonte, bem como a fisiografia e o clima do local de
origem do sedimento. O objetivo dos estudos de proveniência sedimentar é
reconstruir e interpretar a história do sedimento desde a erosão inicial da rocha
fonte até seu local final de deposição e soterramento, e deduzir as características
das áreas-fonte através de medidas das propriedades texturais e composicionais
dos sedimentos, suplementado por informação de outras linhas de evidência
(Weltje & Eynatten, 2004).
De acordo com a extensa revisão publicada por Weltje & Eynatten (2004),
estudos de proveniência tiveram início no século XIX, com a investigação
microscópica de minerais acessórios de areias recentes. O objetivo destes
primeiros estudos de proveniência, aplicado às rochas sedimentares, foi
determinar a rocha-fonte a partir de um único mineral ou variedade de minerais,
baseados em inventários detalhados de assembléias de minerais acessórios de
rochas ígneas ou metamórficas.
Pettijohn & Ridge (1932, 1933) descreveram a variação mineralógica ao
longo da praia de Cedar Point, no lago Erie, Ohio, e concluíram que esta variação
é o resultado do transporte seletivo dos grãos. Segundo estes autores, há um
declínio no tamanho médio do grão no sentido do transporte longitudinal, sendo
este fato atribuído à ação seletiva das ondas e das correntes litorâneas, que
selecionam os grãos por densidade, tamanho e morfologia.
- 9 -
O estudo de Colony (1932) identificou, através da análise das assembléias
de minerais pesados, a fonte imediata de sedimentos para a costa de Long Island
e Nova Jersey, como sendo os depósitos glaciais (morena) localizados atrás da
planície costeira. Por sua vez a fonte de sedimentos para estes depósitos glaciais
foram as rochas do relevo de terras altas situadas mais no interior.
No Brasil, trabalho semelhante foi realizado por Coutinho (1974 a, b) que,
ao analisar formações litológicas da bacia de drenagem do Rio Doce e a
associação de minerais pesados das areias da sua foz, relacionou-a a duas
fontes distintas: a Formação Barreiras, localizada a oeste da foz, e rochas pré-
cambrianas existentes na bacia de drenagem, fazendo contato, à oeste, com o
Grupo Barreiras.
A análise petrográfica dos maiores constituintes do sedimento não poderia
ser possível sem a invenção da seção delgada por H.B. Sorby (1880) apud Folk
(1974), introduzindo o microscópio nas análises sedimentológicas. Apesar disso,
somente no inicio do século XX, o microscópio foi utilizado amplamente para a
identificação de sedimentos inconsolidados de ambientes modernos como praias,
incluindo sedimentos bioclásticos e siliciclásticos.
Raymond & Stetson (1933), ao analisarem os sedimentos de uma praia de
areias calcárias no Maine, encontraram teores de CaCO3 variando em torno de
60%, representando essencialmente fragmentos e conchas inteiras de
artrópodes, moluscos e gastrópodes. A área fonte de sedimentos carbonáticos
para a praia é a zona de intermarés, constituída de um fundo rochoso onde se
desenvolvem estes organismos. Para estes autores, os fatores que contribuem
para a formação de uma praia carbonática em uma região de clima temperado
- 10 -
são; a baixa produção de areias siliciclásticas, condições favoráveis para o
crescimento dos organismos e a ação moderada das ondas que fragmenta e
transporta as conchas para a praia.
Raymond & Hutchins (1932) encontraram uma praia composta de mais de
90% de conchas na Escócia, com as mesmas características da Ilha de
Camberry, no Maine. Para estes autores, esta praia foi formada quando o nível
relativo do mar se elevou e favoreceu o transporte destes sedimentos da zona
submersa para a praia.
MacCarthy (1933) fez um levantamento do teor de CaCOB
3
B ao longo da
costa norte americana. No norte e nordeste da Carolina do Norte o teor de
CaCOB
3
B foi pequeno (0 – 17%) enquanto que ao Sul, praias oceânicas contêm
quantidades consideráveis de CaCOB
3
B (até 57,63%). Uma tendência encontrada
foi a de as praias compostas de areia mais grossas conterem os maiores teores
de CaCOB
3
B.
Esses estudos pioneiros sobre a composição combinavam variados
métodos de separação, com técnicas de contar grãos, emprestadas da análise de
minerais acessórios.
Estudos de proveniência de sedimentos modernos inconsolidados,
baseados na investigação das propriedades texturais e composicionais se
expandiram a partir dos anos 50, quando um grande volume de dados foi
coletado, a exemplo do trabalho de Shepard (1956) que efetuou um extenso
estudo sobre a sedimentação no Delta do Mississipi. Este autor observou que
altas taxas de sedimentação, acompanhadas de subsidência, indicam que os
- 11 -
sedimentos atuais rapidamente podem se tornar rochas sedimentares. Para as
praias, Shepard (1956) encontrou uma quantidade menor de organismos nos
sedimentos, se comparado aos sedimentos da plataforma continental. Os
sedimentos praiais foram diferenciados pelo maior grau de arredondamento das
suas partículas (Beal & Shepard, 1956).
Mabesoone (1964) investigou a origem e a idade dos arenitos de praia do
estado do Pernambuco. Através das características granulométricas e
morfoscópicas, as amostras dos arenitos foram comparadas a sedimentos de rios
e outros depósitos costeiros, o que sugeriu uma proveniência de sedimentos
costa afora.
Giles e Pilkey (1965) estudaram os sedimentos de praias atlânticas e de
dunas no Sul dos Estados Unidos e observaram um aumento no tamanho do
grão em direção ao norte do trecho estudado, e maiores teores de carbonato ao
Sul. Estes autores atribuem tais resultados à natureza e disponibilidade de
material da área fonte e à energia de ondas imposta a estes sedimentos. E,
ainda, concluem que a fonte de sedimentos inicial foi o Rio Colorado, e
posteriormente, foi ora de origem continental, ora marinha.
Bittencourt (1975) ao caracterizar textural e composicionalmente
sedimentos de praias recentes, da costa atlântica de Salvador, relacionou-as às
peculiaridades morfodinâmicas da costa. Por exemplo, onde a energia de onda é
maior estão os menores teores de CaCOB
3,
Be os feldspatos estão associados à
proximidade de afloramentos rochosos.
- 12 -
Potter (1986, 1994) analisou os sedimentos modernos de praias e rios da
América do Sul com o objetivo de inferir sobre a geografia e controle tectônico do
continente. Sugeriu ainda, que estes dados podem melhorar a interpretação de
arenitos antigos. Ele analisou 260 amostras de sedimentos de praias e rios
brasileiros e encontrou, para os sedimentos siliciclásticos, uma proporção média
entre quartzo, feldspato e fragmento de rocha de 86:7:7, indicando o quão
maturos composicionalmente são estes sedimentos. Entretanto, valores maiores
para o feldspato e fragmentos de rocha foram encontrados no nordeste semi-
árido, e em pequenas bacias que drenam a Serra do Mar, indicando a existência
de areias menos maturas. Outra característica encontrada foi a presença de
óxido de ferro envolvendo estes sedimentos. Potter (1994) também afirmou que
grãos carbonáticos são abundantes ao longo da costa brasileira.
A ultima tendência em estudos de proveniência é a utilização de modelos
computacionais que estimem o balanço de sedimentos, desde a sua produção,
na área fonte, passando pela dispersão e deposição (Eynatten, 2004). Estes
modelos, analisando uma série de fatores (Fig. 2), pretendem predizer a futura
fisiografia de ambientes deposicionais, a exemplo da praia. Não que a natureza
vá concretizar a paisagem prevista pelo modelo, mas este já fornece uma boa
compreensão dos processos ocorridos.
1.3 Significado geológico da composição dos sedimentos praiais.
O mapeamento faciológico, a origem e a composição de areias calcárias
do banco das Bahamas e os agentes controladores da distribuição dos
componentes bióticos no sedimento foram extensamente investigados por Illing
- 13 -
(1954) e Purdy (1963 a, b). Estes autores apresentaram mapas de fácies e
realizaram um dos trabalhos pioneiros em sedimentos carbonáticos.
Ginsburg (1956) estabeleceu que o tamanho e a composição de
sedimentos no sul da Florida estavam relacionados às condições ambientais
distintas. Este autor utilizou a metodologia de contar e identificar 300 grãos por
fração granulométrica e ponderar as proporções relativas pelo peso de cada
fração, para obter a proporção dos constituintes na amostra. Essa metodologia,
como discutido mais adiante, foi adotada no presente trabalho, para determinar a
contribuição dos sedimentos bióticos para os sedimentos praiais.
Milliman (1974) sistematizou o significado geológico dos componentes
carbonáticos de areias recentes. De acordo com Milliman (1974), a composição
dos grãos terrígenos, em grande parte determinada pelo tamanho dos grãos,
depende diretamente dos agentes de transporte e deposição. Em contraste,
grãos carbonáticos são, geralmente, produto do ambiente de deposição. Onde
predominam sedimentos biogênicos, o tipo de grão carbonático, ou a maneira
pela qual ele foi formado, podem influenciar nos parâmetros texturais do
sedimento. Por exemplo, animais que se alimentam de lama podem produzir uma
quantidade suficiente de pelotas fecais para transformar uma lama carbonática
em areia lamosa. Semelhantemente, um campo de Halimeda, no fundo de uma
lagoa calma, talvez produza sedimento mais grosso do que o que poderia ser
depositado pela sedimentação terrígena. Então, enquanto dados granulométricos
podem fornecer um entendimento básico sobre o ambiente de deposição
terrígena, parâmetros similares devem ser usados com extremo cuidado para
- 14 -
ambientes de deposição carbonática (Milliman, 1974) ou mista, pois o
comportamento hidrodinâmico destes grãos é diferente.
Albino & Gomes (2004), por exemplo, aplicaram o modelo de
determinação de Perfil de Equilíbrio Praial (PPE) proposto por Dean (1977) na
praia refletiva de Meaípe - ES, composta de areias mistas. O modelo se mostrou
inadequado, pois foi desenvolvido a partir de inferências sobre o comportamento
hidráulico dos siliciclásticos, que tem densidade diferente dos bioclásticos.
Segundo estes autores a utilização apenas do diâmetro médio da distribuição
granulométrica nas equações sem quantificar a contribuição dos vários
componentes dos sedimentos, pode ter sido responsável pelas divergências
observadas.
Outras características puderam ser observadas nos componentes
bioclásticos, como a abrasão (Discroll, 1967), a composição mineralógica
(carbonato/silicato) das conchas, a fragmentação (Swinchatt, 1965) e a cor dos
grãos (Leão & Machado, 1989).
Atualmente o estudo dos componentes bióticos dos sedimentos, tem
permitido inferir desde as condições oceanográficas, como temperatura,
salinidade, turbidez, etc. (Tinoco, 1989), além de servir como traçador natural de
dispersão de sedimentos (Benavente et al., 2005) e até para avaliar impactos
causados pelo turismo (Gheskiere et al., 2005).
- 15 -
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
9 Caracterizar a composição dos sedimentos praiais da Costa do
Dendê – BA e avaliar as suas possíveis fontes.
2.2 Objetivos Específicos
9 Caracterizar os sedimentos quanto à sua composição.
9 Identificar os componentes biogênicos dos sedimentos e a sua
contribuição para o depósito praial.
9 Indicar as principais áreas fonte dos sedimentos para as praias da
região.
9 Analisar a variação espacial da composição dos sedimentos nas
praias da região.
- 16 -
3. METODOLOGIA
Foram utilizadas amostras cedidas pelo Projeto Costa do Dendê (convênio
CBPM – UFBA), coordenado por José Maria Landim Dominguez, Professor Titular
da Universidade Federal da Bahia.
3.1 Procedimento de campo
Entre os dias 19 de novembro e 7 de dezembro de 2002, foram coletadas,
por Freitas (2002), 169 amostras com cerca de 200 g de sedimento nos 2 cm
superficiais da face da praia, em intervalos de 1 km, no trecho da costa
compreendido entre a foz do Rio Jequiriçá e Tijuípe. Destas amostras foram
selecionadas para realização deste trabalho 86 amostras, aumentando-se dessa
forma o intervalo entre estas para 2 km.
Os pontos de coleta, localizados com auxilio de um receptor GPS, foram
obtidos no início da vegetação do pós-praia visando estabelecer referência para o
mapeamento da linha de costa realizado por Freitas (2002).
3.2 Análise granulométrica
No Laboratório de Estudos Costeiros do Instituto de Geociências da
Universidade Federal da Bahia as amostras foram lavadas para retirada dos sais
solúveis e secas numa estufa. Posteriormente estas amostras foram peneiradas
utilizando-se peneiras com intervalo de ½ φ e cada fração granulométrica foi
pesada em uma balança de precisão.
- 17 -
O resultado do peneiramento foi utilizado para determinação dos
parâmetros estatísticos do sedimento utilizando o programa SysgranP
®
P
(Freitas,
2002).
3.3 Análise da composição do sedimento
As amostras foram homogeneizadas em intervalos de 1φ, em seguida
foram contados trezentos grãos escolhidos de cada fração granulométrica, para
determinação e identificação dos componentes carbonáticos e siliciclásticos com
o auxílio de lupa binocular Zeiss.
Os componentes bióticos foram identificados baseando-se no diagnóstico
de feições características de cada grupo de organismos através do método
discutido por Ginsburg (1956). Alguns grupos de organismos foram agrupados.
Por exemplo, no grupo dos moluscos, estão incluídos os moluscos bivalves,
gastrópodes e outros moluscos sem identificação mais detalhada. Já o gênero
Halimeda, foi separado do grupo das algas calcárias articuladas, devido à sua
importância como componente dos sedimentos das praias da região.
A identificação dos principais grupos constituintes dos sedimentos foi feita
para as frações mais grossas que 3 φ (areia fina) prosseguindo até as maiores
partículas sedimentares presentes na amostra. Entretanto, as frações acima de
-1φ (cascalho), raramente continham trezentos grãos.
As proporções relativas dos constituintes dos sedimentos foram
ponderadas pelo peso de cada fração numa planilha elaborada no aplicativo
ExcelP
®
P
.
- 18 -
3.5 Integração e análise dos dados obtidos em um Sistema de Informação
Geográfica e confecção dos mapas.
Um Sistema de Informações Geográficas (SIG) constitui-se em uma
tecnologia formada basicamente por equipamentos (computadores, GPS, etc.), e
aplicativos (softwares), utilizada para coleta, armazenamento, processamento e
análise de dados espaciais.
O SIG permite a geração de arquivos temáticos georeferenciados e a
vinculação a estes de atributos constituídos de dados alfanuméricos armazenados
num banco de dados. Através de um SIG, pode-se manipular um grande volume
de dados integrando-os a sua localização geográfica, além de fornecer
ferramentas estatísticas permitindo análise desses dados.
Neste trabalho, foi utilizada esta tecnologia para a análise e integração dos
dados de granulometria e composição gerados, bem como para confecção de
mapas, utilizando-se o aplicativo ArcView 3.2P
®
P
.
Para a confecção dos mapas também foram utilizados arquivos de cartas
plani-altimétricas (IBGE, 1967; SUDENE,1977) digitalizadas pela
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e atualizadas
por Freitas (2002) e imagens dos satélites CBERS (INPE, 2003) e Landsat
(CPRM, 2003).
- 19 -
4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
4.1 Localização
Este estudo foi realizado no trecho da costa baiana conhecida como Costa
do Dendê, que tem seu limite Norte na foz do Rio Jequiriçá (38° 19’12’’ W e
13°12’36’’ S), e limite Sul na foz do Rio Tijuípe (39°12’ W e 14°25’12’’ S),
incluindo os municípios de Valença, Cairu, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá,
Igrapiúna, Camamu, Maraú e Itacaré (Fig. 3). É válido salientar a diferença entre
a demarcação da Costa do Dendê assumida no presente trabalho com aquela
adotada pela Sudetur (2001), que não inclui o município de Itacaré. Este trecho
da costa está inserido no Litoral Oriental ou Leste, macro compartimento Litoral
de Estuários, entre Salvador e Ilhéus (Muehe, 1998).
- 20 -
Figura 3. Imagem Landsat (CPRM, 2003) da área de estudo, limite e sede dos municípios, e principais rodovias de acesso
(SUDENE, 1977; IBGE, 1967).
- 21 -
4.2 Clima
Posicionada em zona de baixa latitude ao sul do Equador, a área
caracteriza-se por apresentar clima representativo de floresta tropical quente e
úmido, tipo Af (classificação de Köeppen), sem estação seca (Martin et al., 1980),
com elevadas precipitações, influenciadas pela proximidade com o mar.
O regime pluviométrico é regular e há ocorrência de chuvas durante todos
os meses do ano, alcançando valores superiores a 2000 mm, sendo que, os
maiores índices pluviométricos ocorrem entre os meses de abril e agosto. Os
padrões de circulação atmosférica influenciam os índices pluviométricos e
amenizam as temperaturas, geralmente em torno de 24ºC a 25ºC, com
amplitudes de 5,2ºC a 8,8ºC (SEI, 1999).
O clima da região estudada foi caracterizado por Nimer (1989), levando-se
em consideração o comportamento térmico, o regime de umidade, a marcha
estacional da precipitação e os sistemas de circulação atmosférica. Partindo
destes pressupostos este autor classificou o clima da região como quente super-
úmido sem estação seca do tipo mediterrâneo. Acusando uma temperatura
média anual superior a 18° C, com máximos de precipitação no outono/inverno e
mínimo na primavera/verão, e chuvas influenciadas por correntes perturbadas de
N, E e S.
- 22 -
4.3 Circulação atmosférica
Este trecho da costa está localizado dentro do cinturão dos ventos alísios,
que atingem a costa leste do Brasil principalmente na direção E-SE (ventos
alísios propriamente ditos) e NE (ventos alísios de retorno). Essa massa de ar
tropical tem temperaturas elevadas, fornecidas pela intensa radiação que atinge
as latitudes tropicais, e forte umidade específica fornecida pela elevada
evaporação marítima (Nimer, 1989).
Este ventos são controlados pela célula de alta pressão, o anti-ciclone
semi-fixo do Atlântico Sul (Fig. 4) (Nimer, 1989). Esta célula de alta pressão se
mantém estacionária, embora se contraia e se expanda sazonalmente. Durante o
inverno ela cobre uma vasta área do continente brasileiro, enquanto que no verão
ela retorna para o oceano. Na zona costeira esse movimento sazonal controla a
posição da zona de divergência dos alísios que varia de 13° S a 20° S durante o
ano. Nesta zona de divergência onde ocorre o limite entre duas massas de ar, a
Equatorial Atlântica e a Tropical Atlântica (Nimer 1989), é o local onde também se
verifica a divergência nas direções dos ventos alísios (Dominguez et al. 1992,
Martin et al. 1998). Este padrão de circulação faz com que os ventos atinjam a
costa baiana de NE-E durante a primavera e o verão e de SE-E no outono e
inverno (Bittencourt et al., 2000).
A circulação atmosférica do litoral leste brasileiro também é controlada
pelo deslocamento sazonal da Zona de Convergência Intertropical (ZIT) (Nimer,
1989) e pelo avanço periódico da Frente Polar Atlântica (FPA). Esta ultima atua
especialmente entre o outono e o inverno, gerando fortes ventos vindos de SSE
- 23 -
(Fig. 4), podendo ser interrompida, não atingindo o litoral, em anos de El Niño
(Martin et al. 1998, Dominguez et al. 1992, Bittencourt et al. 2000).
LULA DE
DO ATLÂNTICO SUL
F
R
E
N
T
E
F
R
I
A
ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL
ALTA PRESSÃO
V
E
N
T
O
S
A
L
Í
S
I
O
S
BRASIL
10°
15°
20°
Costa do Den
Figura 4. Principais elementos da circulação atmosférica afetando a zona costeira e influenciando
o padrão de dispersão dos sedimentos (modificado de Dominguez et al., 1992).
- 24 -
4.4 Clima de ondas
O sistema de circulação atmosférica, descrito acima, é responsável pelo
controle da direção das frentes de ondas. Assim as principais direções de frentes
de ondas incidentes no litoral nordeste brasileiro coincidem com a direção dos
ventos predominantes (Bittencourt et al., 2005). Verifica-se, deste modo, uma
estreita relação entre a direção e velocidade dos ventos alísios e a direção, altura
e período de ondas incidindo na costa nordeste brasileira (Martin et al., 1998).
Os ventos alísios de NE, presentes durante a primavera e o verão, geram
ondas se propagando na direção N-NE, com altura em torno de 1 m e período
menor que 5 segundos, enquanto que no outono e inverno ventos alísios de E-
SE se tornam mais freqüentes gerando ondas que se propagam na mesma
direção com alturas de 1,5 a 2 m e período de 6 a 7 segundos (Martin et al. 1998,
Dominguez et al. 1992). Estas últimas podem ter sua intensidade aumentada
durante o inverno, por ondas vindas de S-SSE, associadas ao avanço da Frente
Polar Atlântica (Dominguez et al. 1992, Bittencourt et al. 2000).
Freitas (2002), a partir de uma modelagem de refração de ondas feita para
a Costa do Dendê, pode constatar que existem dois grandes domínios
energéticos de onda na região estudada. Um domínio de baixa a média energia,
com ondas de até 1 m, que se estende da Praia do Guaibim até o limite da Baía
de Camamu e outro domínio de alta energia, com ondas maiores que 1m,
abrangendo a costa atlântica da Península de Maraú e as praias contidas no
município de Itacaré (Fig. 5).
- 25 -
4.5 Padrão de dispersão de sedimentos
A direção dominante do transporte de sedimentos longitudinal é função do
ângulo de incidência das ondas na linha de costa, bem como sua altura (Martin et
al., 1998). A direção preferencial da corrente longitudinal foi estimada por
Dominguez et al. (1992), Martin et al. (1998), Bittencourt et al. (2000), e Freitas
(2002) a partir da direção de propagação dos trens de ondas relacionada à
orientação inicial da linha de costa e confirmada através da observação de
indicadores geomórficos.
A dispersão de sedimentos arenosos na área de estudo apresenta dois
domínios principais (Fig. 5):
(i) de Guaibim até a entrada da Baía de Camamu, sob um clima de
ondas de energias mais amenas, e apresentando um litoral
recortado por canais de maré e canais fluviais, com o trânsito de
sedimentos impedido, favorecendo uma possível variabilidade na
composição dos sedimentos entre os vários setores da linha de
costa.
(ii) da Península de Maraú até o Rio Tijuípe, sob um clima de ondas
de maior energia, apresentando um litoral retilíneo, com uma
circulação livre de sedimentos no sentido S-N.
- 26 -
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
480000
480000
510000
510000
540000
540000
8430000
8430000
8460000
8460000
8490000
8490000
8520000
8520000
Guaibim
Ilha deTinharé
I. Boipeba
Pratigi
R
.
J
e
q
u
i
r
i
ç
á
R
i
o
d
e
C
o
n
t
a
s
R
.
T
i
j
u
í
p
e
TRÂNSITO LIVRE
MAIOR ENERGIA DE ONDA
TRÂNSITO IMPEDIDO
MENOR ENERGIA DE ONDA
N
EW
S
4048km
Maraú
Península de
Mutá
Ponta do
Camamu
Baía de
Carvalhos
Barra dos
Ponta
do Curral
Ponta do
Apaga Fogo
Deriva efetiva
Altura média de onda (m)
0.1 - 0.2
0.8 - 1.1
#
0.6 - 0.8
#
0.4 - 0.6
#
0.2 - 0.4
#
#
Figura 5. Altura média de ondas chegando à Costa do Dendê e sentido da deriva litorânea efetiva
(modificado de Freitas, 2002).
- 27 -
4.6 Flutuações do nível relativo do mar e evolução paleogeográfica da zona
costeira
O Quaternário foi um período marcado por grandes variações climáticas e
do nível relativo do mar. Tais eventos se traduziram pela formação de depósitos
sedimentares encontrados ao longo da costa baiana. Dois grandes episódios
transgressivos condicionaram fundamentalmente a evolução da zona costeira. O
primeiro denominado por Bittencourt et al. (1979) de Penúltima Transgressão,
alcançou um nível de 8 ± 2 m acima do nível atual, com idade de 120.000 anos
A.P. (Pleistoceno) e o segundo denominado por Bittencourt et al. (1979) de
Ultima Transgressão, holocênico, alcançou um máximo de cerca de 5 m acima do
nível médio atual do mar, por volta de 5100 anos AP.
A elevação no nível relativo do mar durante a Penúltima Transgressão
promoveu a erosão das rochas sedimentares da Bacia de Camamu e na
regressão subseqüente, a progradação da linha de costa foi favorecida pela
disponibilidade de sedimentos expostos da plataforma continental formando-se
assim os depósitos pleistocênicos (Martin et al., 1979).
Durante a Última Transgressão o nível do mar inundou e erodiu
parcialmente os depósitos pleistocênicos, formando sistemas de ilhas barreiras e
lagunas. A regressão subseqüente favoreceu novamente a progradação da linha
de costa e a deposição de novos cordões litorâneos, desta vez holocênicos.
Estes cordões indicam a posição de antigas linhas de costa e encontram-se na
porção externa da planície costeira, com altitudes máximas de 4 a 6 m. Após a
Última Transgressão as lagunas foram substituídas por terras úmidas
(Bittencourt, 1996).
- 28 -
4.7 Geologia
A zona litorânea da Costa do Dendê é caracterizada por estar inserida na
Bacia de Camamu. Sua geologia se diferencia dos demais trechos da costa
baiana pela ausência do Grupo Barreiras e pela presença de rochas
sedimentares mesozóicas bordejando a linha de costa e formando falésias de até
40 m (Freitas, 2002) nas ilhas de Tinharé e Boipeba (Fig. 6).
A porção mais continental (ou interlândia) está encaixada no
embasamento cristalino de idade pré-cambriana, segundo uma direção,
controlada por falhas, NNE-SSW (Martin et al., 1980). As unidades litológicas
desta unidade são representadas pelo Complexo São José, formado por rochas
ígneas e metamórficas datadas do Paleoproterozóico, chegando a aflorar na
costa do município de Itacaré, delimitando a Bacia de Camamu. Na porção
central e norte o embasamento é representado pelo Complexo Ibicaraí, datado do
Arqueano e pelo Corpo Ibirapitanga Ubaitaba, do Proterozóico, ambos formados
por rochas metamórficas (CPRM, 2003).
Marcando o limite com o embasamento, as rochas sedimentares da Bacia
de Camamu, são representadas pelos Grupos Brotas e Camamu. O grupo
Brotas, datado do Jurássico, abrange toda a área e é composto pelas Formações
Aliança e Sergi. O Grupo Camamu, datado do Cretáceo, aflora no sul da Ilha de
Boipeba e na Península de Maraú, e é composto pelas Formações Algodões e
Taipus-Mirim (CPRM, 2003).
- 29 -
Os depósitos quaternários são representados pelos terraços marinhos
pleistocênicos, terraços marinhos holocênicos, pântanos e mangues atuais
(Martin et al., 1980).
Os terraços marinhos pleistocênicos se formaram na parte final da
Penúltima Transgressão e durante a regressão que a sucedeu, e ocorrem sob a
forma de terraços arenosos de coloração branca na superfície, passando de
marrom a preta, em média dois metros abaixo. Ocupam a faixa mais interior dos
depósitos litorâneos, em toda Costa do Dendê. O topo desses terraços se situa
de 6 a 10 m acima do nível atual da preamar, e são bem desenvolvidos neste
trecho da costa (Bittencourt, 1996).
Na parte externa dos terraços marinhos pleistocênicos se localizam os
terraços marinhos holocênicos, menos elevados (4 a 6 m acima do nível atual da
preamar), normalmente contendo conchas. Diferencia-se dos terraços marinhos
pleistocênicos por serem notadamente bem desenvolvidos, e possuírem cristas
de cordões litorâneos bem preservados, mais finas, próximas e paralelas entre si
(Bittencourt, 1996). Estes depósitos são mais desenvolvidos, em Valença
(Guaibim) e em Nilo Peçanha e Ituberá (Pratigi).
Também relacionados às variações climáticas e do nível do mar, os
depósitos de pântano e mangues atuais, encontrados nas margens protegidas
dos rios e riachos, bem como das baías nas zonas de influência da maré, têm
idade holocênica e são compostos de materiais argilo-siltosos ricos em matéria
orgânica (Martin et al., 1980).
- 30 -
Margeando a linha de costa das ilhas de Tinharé e Boipeba, e na costa
atlântica da Península de Maraú são encontrados recifes de coral e de algas
calcárias (Martin et al., 1980).
- 31 -
2024Km
Geologia
Depósitos Argilo-orgânicos de 'Zonas Úmidas'
Depósitos Argilo-orgânicos de Mangue
Rochas Sedimentares Mesozóicas
Depósitos Fluviais
Areias Regressivas Holocênicas (Terraço Marinho Holocênico)
Areias Regressivas Pleistocênicas (Terraço Marinho Pleistocênico)
Embasamento Pré-cambriano
Recifes de coral e algas
Isóbatas
BAHIA
N
EW
S
Ponta
do Curral
CarvalhosBarra dos
Camamu
Baía de
Mutá
Ponta do
Maraú
Península de
Ponta do
Apaga Fogo
Pratigi
I. Boipeba
Ilha deTinharé
Guaibim
#
Rio de Contas
#
Rio Tijuípe
Canhão de
Salvador
#
Rio Jequirá
10
20
30
40
50
510000
510000
8430000
8430000
8460000
8460000
8490000
8490000
8520000
8520000
Figura 6. Mapa geológico simplificado da Costa do Dendê, e batimetria da plataforma continental interna
(segundo Dominguez, 2006).
- 32 -
4.8 Fisiografia e características sedimentológicas
A atual configuração da linha de costa apresenta características de uma
origem relacionada, às variações climáticas, do nível do mar e da atuação
tectônica durante sucessivos períodos geológicos. São encontrados depósitos
quaternários bem desenvolvidos, reentrâncias, ilhas, canais, recifes coralinos e
uma grande baía, herdada da estrutura de blocos falhados da Bacia de Camamu
(Martin et al., 1979).
A área de estudo situada no litoral de estuários, de acordo com Muehe
(1998), é caracterizada por uma série de canais fluviais afogados, logo ao sul da
Ilha de Itaparica, formados principalmente pelos rios Jaguaribe, canal de Taperoá
e pelos rios Cairu, Sirinhaém e Maraú (os dois últimos convergindo para a Baía
de Camamu).
Ao norte da área de estudo, a Vila de Guaibim entre a foz do Rio Jequiriçá
e a Ponta do Curral, constitui um extenso arco de praia contínuo (Fig. 8A), com
20 km de extensão (Freitas, 2002), bordejado por um terraço arenoso do
Holoceno de aproximadamente 5 km de largura (Martin et al., 1979). Predomina
areia siliciclástica fina, bem selecionada, exceto em praias próximas à foz de rios,
e em um trecho ao sul, onde areias médias estão presentes (Fig. 7). Próximo à
foz do Rio Jequiriçá, os sedimentos apresentam grande contribuição de
biodetritos (Freitas, 2002).
Nas ilhas de Tinharé e Boipeba, onde recifes em franja bordejam quase
toda a costa, nota-se a presença de praias intercaladas com falésias de arenitos
e carbonatos da Bacia de Camamu, além de um manguezal instalado em cima do
- 33 -
recife (Figs. 8B, 8C). Apresenta grande variedade granulométrica, com areia de
muito fina a grossa, e de muito bem a muito pobremente selecionada (Fig. 7).
Isso ocorre devido à presença de fragmentos biodetríticos em seus sedimentos.
Em praias exibindo falésias existem seixos e matacões (Freitas, 2002).
A Praia do Pratigi entre a Barra dos Carvalhos e a Ponta do Apaga-Fogo
apresenta um arco de praia de 18 km de extensão, também bordejada por um
amplo terraço arenoso holocênico (Fig. 8D), de aproximadamente 4 km de
largura (Martin et al., 1979). As areias são essencialmente siliciclásticas e muito
bem selecionadas, finas nas extremidades e médias na região central deste
trecho (Fig. 7) (Freitas, 2002).
O trecho entre a Ponta do Apaga-Fogo até a barra de Sirinhaém,
passando pelo norte da Península de Maraú até a Ponta do Mutá, onde se insere
a Baía de Camamu, é caracterizado por praias descontínuas e abrigadas,
cortadas por canais de maré (Fig. 8E). Apresenta areias siliciclásticas finas e
médias muito bem a bem selecionada (Fig. 7) (Freitas, 2002).
As praias oceânicas da Península de Maraú, estendendo-se desde a
Ponta do Mutá até a foz do Rio de Contas, caracterizam-se por serem contínuas
sem embaiamentos, com vários trechos apresentando recifes de corais e algas
coralinas em franja (Fig. 8F). Predominam areias médias, exceto em uma foz de
rio, com areia grossa e trechos isolados de areia fina (Fig. 7). Essas areias
recebem uma grande contribuição de biodetritos, e são de pobremente à bem
selecionadas (Freitas, 2002).
- 34 -
As praias compreendidas entre a foz do Rio de Contas e a foz do Rio
Tijuípe, são diferenciadas pela existência de costões rochosos do embasamento,
formando algumas praias de bolso (Fig. 8G). O sedimento da praia é siliciclástico,
apresentando areias finas a médias, às vezes com seixos (Fig.7). O
selecionamento é de bom a muito bom, exceto na foz do Rio de Contas (Fig. 8H),
onde a areia é mal selecionada (Freitas, 2002).
- 35 -
Ponta do
Apaga Fogo
Ponta
do Curral
Carvalhos
Barra dos
Baía de
Mutá
Ponta do
Maraú
Península de
4048km
N
EW
S
R
.
T
i
j
u
í
p
e
R
i
o
d
e
C
o
n
t
a
s
R
.
J
e
q
u
i
r
i
ç
á
Pratigi
Ilha de Boipeba
Ilha deTinha
Guaibim
8520000
8520000
8490000
8490000
8460000
8460000
8430000
8430000
540000
540000
510000
510000
480000
480000
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
Foz do Jequiriçá
Foz do Rio de Contas
Foz do Rio Tijuípe
Camamu
Mediana
#
areia muito grossa
#
areia grossa
#
areia média
#
areia fina
#
areia muito fina
R
.
S
i
r
i
n
h
a
é
m
Figura 7. Granulometria dos sedimentos de praia da Costa do Dendê representada pela mediana (D-50)
(modificado de Freitas, 2002).
- 36 -
Figura 8. Praias da costa do dendê. Praia do Guabim bordejada por terraço arenoso (A), Falésia de arenito
(B) e recifes em franja com manguezal instalado em cima do recife (C) na Ilha de Boipeba, Praia do Pratigi
bordejada por terraço arenoso (D). Praia protegida na Baía de Camamu, Barra do Sirinhaém (E), praia
oceânica da Península de Maraú, próxima a foz do Rio de Contas (F), praia de bolso com embasamento
aflorando na linha de costa em Itacaré (G), foz do Rio de Contas (H) (Fotos: Dominguez, 2006).
A B
C D
E F
G H
- 37 -
4.9 Bacias Hidrográficas
A Costa do Dendê está inserida no contexto das bacias hidrográficas do
Rio de Contas e do Recôncavo Sul (SRH, 1995). Na faixa litorânea, estas bacias
apresentam clima tropical quente e úmido. A quantidade de meses da estação
seca aumenta em direção ao interior do continente, a oeste da bacia, onde o
clima é semi-árido (CEPLAB, 1979).
Ocupando uma área de 55 334 kmP
2
P
, a bacia do Rio de Contas (Fig. 9),
sob o ponto de vista geológico, apresenta como unidades litológicas, o
embasamento cristalino e sedimentos pré-cambrianos dos grupos Chapada
Diamantina/Bambuí, cobertos por sedimentos cenozóicos. O complexo cristalino
abrange a maior parte da bacia, constituída principalmente de granulitos
gnaisses, migmatitos, quartzitos e vários granitos relacionados ao pré-cambriano.
Essas rochas são muito antigas, metamorfizadas e passaram por transformações
tectônicas, produzindo dobramentos, cizalhamento e fragmentação, formando
uma extensa cobertura elúvio-colúvial. Os depósitos cenozóicos são clásticos,
com cobertura pouco espessa, constituída de material elúvio-colúvio aluvial
(CEPLAB, 1979).
A geomorfologia da bacia do Rio de Contas caracteriza-se pela existência
de um planalto bastante dissecado em níveis erosivos embutidos,
correspondendo a unidades morfológicas distintas. Possui um regime fluvial de
caráter essencialmente torrencial e as irregularidades pluviométricas causam
acentuada variabilidade em seus deflúvios. Apresenta-se perene em todo o seu
curso embora os seus afluentes sejam intermitentes (CEPLAB, 1979).
- 38 -
A bacia do Recôncavo Sul (Fig. 9) é formada pelas sub-bacias dos rios
Jaguaripe, Jequiriçá, Una, Acaraí, das Almas, Cachoeira Grande ou da Mariana e
outros de pequena expressão, e ocupa uma área em torno de 17.540 kmP
2
P
.
Destes apenas o Rio Jaguaripe se localiza fora da área de estudoP
P
(SRH, 1995).
A geologia a oeste da bacia, caracteriza-se pela presença de rochas
metamórficas (complexo granulítico) do Arqueano. Na porção leste, as litologias
correspondem à cobertura das bacias sedimentares do Recôncavo e Camamu
(SRH, 1995).
O relevo é plano na parte oriental, com a presença da planície costeira e
formas tabulares para o interior onde aparecem maciços de morros, outeiros e
morros residuais (CEPLAB, 1979). A variabilidade climática da região é refletida
nos padrões de escoamento dos cursos de água, que com exceção do Jequiriçá,
se mostram intermitentes na maior parte da bacia (SRH, 1995).
- 39 -
Figura 9. Bacias hidrográficas que deságuam na Costa do Dendê (SUDENE, 1977; IBGE, 1967).
- 40 -
4.10 Plataforma continental
Fisiografia
Na plataforma continental adjacente à Costa do Dendê, a principal feição é
o canhão de Salvador, cuja cabeceira alcança até a plataforma interna (Fig. 6).
De acordo com a carta náutica de nº. 1100 da Marinha Brasileira (DHN,
1979), a quebra da plataforma nesta região ocorre aproximadamente na isóbata
de 50 m. A plataforma continental apresenta uma largura máxima de 26 km em
frente à Praia do Pratigi, e mínima adjacente à costa de Itacaré. A plataforma em
frente à Praia do Guaibim apresenta isóbatas paralelas à linha de costa, e a
isóbata de 10 m, situa-se a cerca de 5 km da costa no trecho sul e 1 km no trecho
norte (Fig. 6). A isóbata de 10 m dista da linha de costa na Ilha de Tinharé cerca
de 3 km e entre 4 e 8 km na Ilha de Boipeba (Fig. 6). Este trecho apresenta
isóbatas irregulares, com pequenos vales. A plataforma adjacente à Praia do
Pratigi forma um extenso platô, bastante raso até a praia. A entrada da Baía de
Camamu é bastante influenciada pela existência de recifes de coral e bancos de
areia (Fig. 6). Em frente às praias oceânicas da Península de Maraú as isóbatas
apresentam-se paralelas, orientadas na direção N-S (Fig. 6). Neste trecho, como
também em Itacaré, a plataforma continental fica mais estreita e bastante
inclinada. As isóbatas destes trechos são paralelas à linha de costa e a isóbata
de 10 m está entre 1 e 2 km, sendo que nas praias de Itacaré essa distância
chega a ser menor que 1 km.
- 41 -
Cobertura sedimentar
De acordo com o mapa compilado por Kowsman & Costa (1979), o
recobrimento sedimentar da plataforma continental interna, defronte os estuários,
a partir do lado sul do cânion de Salvador, até a Baía de Camamu, é de lama
fluvial moderna, estendendo-se até profundidades que variam de 20 a 40m. No
restante da área, a faixa próxima à costa, até profundidades em torno de 20 m, é
recoberta por areias siliciclásticas, e em profundidades maiores por cascalhos e
areias de algas calcárias recifais.
Então, a cobertura superficial de fundo da plataforma continental baiana
constitui-se basicamente de uma fácies de sedimentos de natureza siliciclástica e
uma fácies de sedimentos carbonáticos de origem biogênica. Estes diferentes
tipos de sedimentos estão distribuídos paralelamente ao longo da linha de costa,
formando faixas distintas. Contudo, estas faixas podem se interdigitar; em frente
à foz de rios onde os siliciclásticos avançam costa afora, ou em áreas onde se
verifica a existência de construções biogênicas costeiras como recifes de coral e
algas, onde os bioclástos se estendem em direção a praia (Leão & Brichta, 1996).
Segundo Mello & Summerhayes (1975), os sedimentos siliciclásticos
encontrados na plataforma continental deste segmento da costa apresentam uma
forte pigmentação de óxido de ferro, uma predominância de grãos sub-angulares,
feldspato em quantidades razoáveis e estão bem retrabalhados.
A fração lamosa destes sedimentos, acumulada em ambientes de baixa
energia da zona costeira, é composta de silte quartzoso e argilas continentais do
tipo caulinita e ilita. Essa fração pode se apresentar associada a areias
- 42 -
constituídas de grãos de quartzo, angulares a sub-angulares, e secundariamente
a grãos de feldspato, plaquetas de mica, fragmentos de rocha, restos de
moluscos e testas de foraminíferos (Leão & Brichta, 1996).
De acordo com Kosman & Costa (1979) as suítes de minerais pesados
existentes têm proveniência dominante do Grupo Barreiras, com contribuição
local de outras fontes. Coutinho (1974 b) apontou o Grupo Barreiras como fonte
alimentadora de sedimentos para a zona costeira, através da presença de suítes
de minerais pesados idênticas, caracterizadas pela presença de cianita,
estaurolita, monazita, e andaluzita.
Ainda de acordo com Leão & Brichta (1996), a fácies carbonática abrange
a plataforma média, externa e parte da plataforma interna, até bem próximo da
linha de costa, onde há presença dos recifes costeiros de algas e corais. Nestas
áreas, são dominantes os fragmentos das algas coralinas incrustantes e
ramificadas, dos briozoários, das algas verdes calcárias, das conchas de
moluscos e testas de foraminíferos bentônicos. Secundariamente ocorrem restos
de corais, equinodermos, tubos de verme e outros organismos calcários que
constituem a fauna marinha bentônica e contribuem para a produção de
sedimentos bioclásticos.
Na plataforma interna, onde não existem construções biogênicas, a fração
carbonática constitui-se de grãos retrabalhados e impregnados de óxido de ferro,
formando depósitos relictos (Mello & Summerhayes, 1975).
Carannante et al. (1988), baseados no estudo da distribuição latitudinal da
fácies carbonática que constitui a plataforma continental brasileira, propuseram
- 43 -
um zoneamento para a plataforma continental brasileira (Fig. 10), onde: (a) de 0 a
15°S (Zona Tropical) predominam algas calcárias verdes (Halimeda) e algas
coralinas ramificadas e o foraminífero bentônico Amphistegina; (b) de 15 a 23°S
(Zona de Transição) predominância de algas coralinas incrustantes, rodolitos,
briozoários e quantidades variadas de Halimeda, Amphistegina e coralinas
ramificadas. Briozoários tornam-se abundantes em direção ao setor sul, bem
como nas águas mais profundas; e (c) de 23 a 35°S (Zona Temperada), os
sedimentos carbonáticos são compostos de fragmentos de moluscos, equinóides,
crustáceos e foraminíferos arenáceos. Briozoários, algas coralinas e Halimeda
são praticamente ausentes.
- 44 -
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
ZONA A
ZONA B
ZONA C
BRASIL
Costa do Den
alga coralina ramificada
Halimeda
Amphistegina e outros constituintes
alga coralina incrustante
briozoários e quantidades variáveis de
Amphistegina, Halimeda e alga
moluscos e equinodermas
foraminíferos arenáceos
crusceos
briozoários
Ú
Ú
Ú
Ú
Ú
Ú
Ú
Ú
Ú
coralina ramificada
Figura 10. Zoneamento biológico dos organismos produtores de sedimentos, na plataforma continental
brasileira, segundo Carannante et al., (1988).
- 45 -
5. RESULTADOS
Para as praias da Costa do Dendê foi possível identificar padrões distintos
de sedimentação (siliciclástico e bioclástico) e diferentes teores e associações de
componentes biogênicos. Baseado nestas informações foi possível dividir a área
de estudo em quatro setores (Figuras 11 e 12):
(a) Setor I – sedimentação predominantemente siliciclástica, contribuição
de sedimentos biogênicos com teores em torno de 10 a 15%, principalmente de
moluscos e algas coralinas.
(b) Setor II – sedimentação predominantemente bioclástica (80 a 100%),
onde a Halimeda é o principal componente dos sedimentos, seguido de algas
coralinas, moluscos e crustáceos.
(c) Setor III – sedimentação predominantemente siliciclástica, contribuição
de sedimentos biogênicos com teores de até 30%, constituídos principalmente de
algas coralinas, moluscos e crustáceos.
(d) Setor IV – sedimentação predominantemente siliciclástica, ausência de
componentes bioclásticos em alguns trechos, e em outros, contribuição de
sedimentos biogênicos com teores de até 10%, principalmente de moluscos e
algas coralinas.
- 46 -
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
##
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
#
N
EW
S
Setor 1
Setor 2
Setor 3
Setor 4
4048km
#
Localização das amostras
Drenagem principal
Ponta
do Curral
Carvalhos
Barra dos
Camamu
Baía de
Mutá
Ponta do
Maraú
Península de
Ponta do
Apaga Fogo
Pratigi
Ilha de Boipeba
Ilha deTinharé
Guaibim
#
Rio de Contas
#
Rio Tijuípe
#
Rio Jequiriçá
4
8
0
0
0
0
480000
5
2
0
0
0
0
520000
8400000
8400000
8440000
8440000
8480000
8480000
8520000
8520000
Figura 11. Localização das amostras de praia da Costa do Dendê utilizadas neste estudo e a divisão dos setores,
adotada neste trabalho. Limites municipais de acordo com SUDENE (1977) e IBGE (1967).
- 47 -
Setor Tipo de sedimento
dominante
Teor de
bioclastos
Principais componentes
bioclásticos
1 siliciclastos 10 a 15% Moluscos e algas coralinas.
2 bioclastos 80 a 100% Halimeda, seguido de algas
coralinas, moluscos e
crustáceos.
3 siliciclastos Até 30% Algas coralinas, moluscos e
crustáceos.
4 siliciclastos Ausência e
até 10%
Moluscos e algas coralinas.
Figura 12. Tabela mostrando a distribuição da composição dos sedimentos das praias da Costa
do Dendê dividida por setores.
- 48 -
5.2 Setor I
Este setor inclui a Praia do Guaibim, entre a foz do Rio Jequiriçá e a Ponta
do Curral e um pequeno trecho da Ilha de Tinharé sob a influência do Canal de
Taperoá (Fig. 13). Os componentes siliciclásticos e bioclásticos variam entre 84 e
100%, e 0 e 16% respectivamente. Notou-se um aumento na porcentagem de
componentes bioclásticos em direção a extremidade norte da praia (foz do Rio
Jequiriçá) e no limite Sul deste trecho.
As maiores concentrações de biodetritos são verificadas em três pontos na
extremidade norte da planície (amostras L27, L31, L33) como mostra a Figura 13,
onde os grãos bioclásticos representam de 13 a 16% da amostra total. Neste
trecho a contribuição de algas coralinas ficou em torno de 5%, de moluscos entre
4,3 e 6,5%, de algas calcárias articuladas entre 1 e 2,5%, e os foraminíferos de
0,5 a 1,7%. Registrou-se também a presença de fragmentos de Halimeda,
equinodermos, crustáceos, e tubo de vermes, porém em quantidades
insignificantes. Nos demais trechos da Praia do Guaibim as concentrações dos
componentes biodetríticos foi insignificante.
Na extremidade sul do setor I, na Ilha de Tinharé, sob a influência do canal
de Taperoá (amostras L49, L51, L53 – Fig.13), os principais organismos que
contribuem para a composição do sedimento são a Halimeda (2,3%), as algas
coralinas (1,8 a 2,3%), os moluscos (1,5%), os foraminíferos (0 a 1,8%), e os
crustáceos (0,5%). Briozoários, equinodermos, tubos de verme e outras algas
calcárias articuladas, ocorrem em quantidades insignificantes. Estas
- 49 -
características permitem incluir estas amostras neste setor I, tendo em vista a
semelhança com as amostras coletadas ao longo da Praia de Guaibim.
Do ponto de vista dos siliciclastos, a Praia de Guaibim apresentou um
percentual de grãos de quartzo variando entre 83% e 98%. Neste setor ocorrem
ainda minerais pesados com teores de até 6% , além de outros minerais como
micas e feldspatos que não ultrapassam 1%, principalmente nas proximidades do
Rio Jequiriçá (Fig. 13).
Em Tinharé, nas vizinhanças da foz do Canal de Taperoá (amostras L49,
L51, L53) os siliciclastos representam 90 a 100% do sedimento, com o quartzo
ocorrendo entre 86% e 100% (Fig. 13). Minerais pesados estão presentes, porém
em valores insignificantes e os fragmentos de rocha apresentam teores
significantes em apenas uma amostra na Ilha de Tinharé (L51 - 2,8%).
- 50 -
Figura 13. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 1. (A) composição geral das amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A.
- 51 -
5.3 Setor II
O setor II compreende as ilhas de Tinharé e Boipeba (Fig. 14). Na Ilha de
Tinharé, os componentes bioclásticos passam a ser predominantes, alcançando
percentuais de até 80 – 100%. Este padrão apenas é interrompido na Praia da
Barra (amostras L69 a L75) quando os sedimentos voltam ser essencialmente
siliciclásticos (91 -97%).
Na Ilha de Boipeba (Fig. 14) apenas nas desembocaduras de rios o que
corresponde a três pontos, as areias são predominantemente siliciclásticas, como
na foz do Rio do Inferno, 97% (L77), na foz do Rio Oritiba, na Praia da Cueira,
68% (L83) e ao sul da foz do Rio Cueira, na Praia dos Castelhanos 72% (L91). No
restante da linha de costa os teores de bioclastos variam entre 84% e 100%.
Na Ilha de Tinharé (Fig. 14), na região sob influência dos recifes em franja
a Halimeda é o principal componente bioclástico do sedimento (28 - 68%),
seguido pela alga coralina (11,5 - 30%), moluscos (2,5 - 31%), e crustáceos (0,7 -
4%), Foraminíferos foram observados em maiores quantidades entre a Primeira e
a Quarta praias (L55 e L57), com 6 e 22% respectivamente. Fragmentos de
briozoários, eqüinodermos, espículas de esponja, outras algas calcárias
articuladas e tubos de vermes estão presentes nas amostras, porém em
quantidades insignificantes.
Na Praia da Barra (L69 a L75), onde predominam siliciclastos, o
componente biogênico mais importante são as algas coralinas seguida pelos
moluscos e Halimeda.
- 52 -
Na Ilha de Boipeba em frente aos recifes em franja, os principais
componentes bioclásticos, são a Halimeda (8 a 69%), seguido pelas algas
coralinas (6 a 30%), os moluscos (1,5 a 22%) e em menor quantidade, os
foraminíferos (1 a 2%). Briozoários, equinodermos, outras algas calcárias
articuladas, tubos de vermes e espículas de esponjas ocorrem ao longo da costa
da Ilha de Boipeba em teores insignificantes.
Neste setor, dentre os componentes siliciclásticos, a exceção do quartzo,
minerais pesados ocorrem apenas na Praia da Barra, próximos à desembocadura
do Rio do Inferno, em teores de até 1% e outros minerais (micas e feldspatos)
com porcentagem insignificante. Fragmentos de rocha são encontrados ao longo
da costa do setor II, em teores que não ultrapassam 1,2%.
Em Tinharé, na Praia do Encanto (L61.2), houve uma ocorrência de 10%
de grãos orgânicos constituídos de restos vegetais.
- 53 -
Figura 14. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 2. (A) composição geral das amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos
componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A.
- 54 -
5.4 Setor III
O Setor III engloba a Praia do Pratigi, entre a Barra dos Carvalhos e a
Ponta do Apaga Fogo (Fig. 15). Neste setor os sedimentos praiais são
essencialmente de origem siliciclástica (70,5 – 97,6%). Apenas em três pontos
verifica-se uma maior concentração de sedimentos bioclásticos: na Barra dos
Carvalhos (L23 -29%), na porção central do arco praial (L13.2 -22%), e na ponta
do Apaga Fogo (L01-18%) junto à foz do Rio Sirinhaém. Nos demais pontos da
praia o teor de bioclástos variou de 2 a 9%.
Nos pontos onde ocorre uma maior concentração de sedimentos
bioclásticos (L23, L13.2, L01), foi observada a seguinte variação na porcentagem
dos componentes em relação a amostra total: molusco - 3,3 a 9,7%, alga coralina
- 2 a 6,2%, algas calcárias articuladas - 1 a 7,6%, crustáceos - 1,5 a 4,5% e
foraminíferos - 0 a 2,6%. Nas demais amostras, o teor de moluscos e algas
calcárias articuladas nos sedimentos, variou de 0 a 3,3%, e as algas coralinas e
crustáceos, de 0 a 2,1% da amostra.
Em relação aos componentes siliciclásticos, na praia do Pratigi o teor de
quartzo variou de 70,3 a 97,6%. Minerais pesados ocorreram ao longo de toda
extensão da praia com teores que variaram de 0,2 a 2%. Outros minerais, a
exemplo de micas e feldspatos ocorrem na porção norte do setor, porém com
porcentagens insignificantes. Fragmentos de rocha ocorrem na extremidade sul
deste setor em teores também insignificantes.
- 55 -
Figura 15. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 3. (A) composição geral das amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A.
- 56 -
5.5 Setor IV
O setor IV engloba a entrada da Baía de Camamu, a Península de Maraú,
e as praias pertencentes ao município de Itacaré (Fig. 16).
Neste setor os sedimentos são essencialmente siliciclásticos, com teores
variando entre 91 e 100%. O pequeno percentual de bioclástos (0 - 9%) é
constituído por algas coralinas (0 - 4,5%), moluscos (0 - 2,5%) e algas calcárias
articuladas (0 - 2,2%). A alga Halimeda, briozoários, foraminíferos, crustáceos,
equinodermos, espículas, e tubos de vermes também estiveram presentes, porém
apresentando teores insignificantes. Inexistem fragmentos biogênicos nas praias
de Piracanga e Pontal, ao norte da foz do Rio de Contas.
Com relação aos siliciclastos, o quartzo apresenta teores entre 61 e 99%.
Minerais pesados são encontrados ao longo de todo trecho com teores variando
entre 0,2 e 4,1%. Foram observados teores significativos de minerais pesados na
entrada da Baía de Camamu (L 107 - 5,7%; L105 - 38,3%; L103 - 10%) e ao norte
da foz do Rio de Contas (12,3%). Outros minerais como micas e feldspatos, com
valores em torno de 1%, foram encontrados na Ponta do Mutá e seus arredores.
Estes minerais também foram observados da foz do Rio Albim até o limite sul do
setor, desta vez alcançando teores de até 8,9%. Registrou-se a presença de
fragmentos de rocha em apenas um ponto (L159 - 0,9%) de uma das praias de
Itacaré, onde o embasamento aflora na linha de costa.
- 57 -
Figura 16. Imagem CBERS (INPE, 2003) do setor 4. (A) composição geral das amostras, (B) porcentagens dos componentes siliciclásticos em relação à fração
siliciclástica ilustrada em A, excluindo-se o quartzo, (C) porcentagens dos componentes bioclásticos em relação à fração bioclástica ilustrada em A.
- 58 -
7. DISCUSSÃO
Os sedimentos da maioria das praias da Costa do Dendê apresentaram
uma composição de natureza siliciclástica (80 – 100%). O quartzo é o principal
componente (70 – 100%).
A praia da Vila de Guaibim (Setor 1 - Figuras 13 e 17), as praias protegidas
da Baía de Camamu e as praias da costa atlântica da Península de Maraú (Setor
4 – Figs. 16 e 17) são constituídos essencialmente de areias siliciclásticas com
uma pequena contribuição de biodetritos, que, de uma forma geral, não
ultrapassam 10%. Os organismos que compõem a fração bioclástica nestes
trechos são: algas coralinas, moluscos, algas calcárias articuladas, e
foraminíferos. No Setor 4 o teor destes componentes, diminui no sentido da foz do
Rio de Contas, onde inexistem, e voltam a aparecer ao sul desta foz, nas praias
de Itacaré, onde o embasamento aflora na linha de costa (Fig. 17).
A Praia do Pratigi (Setor 3 - Figs. 15 e 17) também tem areias
predominantemente siliciclásticas, mas a associação de organismos que compõe
a fração biodetrítica é mais diversificada e alcança até 30% da amostra.
Apenas no Setor 2, se verifica o domínio de sedimentos bioclásticos nas
praias (Figs. 14 e 17), contrariando a natureza siliclástica da maioria das praias da
Costa do Dendê. Neste trecho os sedimentos bioclásticos alcançaram teores
variando entre 80 e 100%. Estes sedimentos são compostos essencialmente de
Halimeda, com teores de até 70%. Algas coralinas e moluscos também
contribuem significativamente para a composição das areias do Setor 2, com
teores de até 30%. Outras algas calcárias articuladas, crustáceos e foraminíferos
- 59 -
não ultrapassam 6% da composição, com exceção de apenas uma amostra na
Quarta Praia, com 22% de foraminíferos (Figs. 14c e 17). Briozoários, espículas
de esponjas, tubos de verme e equinodermos (Fig. 17), também foram
encontrados, embora em porções pouco significantes neste setor.
No Setor 2, apenas a Praia da Barra (Figs. 14 e 17), é composta por
sedimentos siliciclásticos, semelhante à maioria das praias da Costa do Dendê. A
alga Halimeda, apesar de ser abundante nos sedimentos do Setor 2, nos demais
trechos da costa, quando ocorre, é em porções insignificantes.
- 60 -
Figura 17. Costa do Dendê, sua geologia, batimetria (Dominguez, 2006), drenagem, deriva efetiva, altura de ondas (Freitas 2002) e gráfico acumulativo mostrando a
composição dos sedimentos das praias. Os componentes indicados por "outros" representam componentes com teores insignificantes como briozoários, tubos de
vermes, equinodermos, espículas de esponja e grãos não identificados. As setas indicam as possíveis fontes de sedimentos.
- 61 -
7.1 Origem da Composição dos Sedimentos das Praias da Costa do Dendê
A composição dos sedimentos das praias da Costa do Dendê reflete
diretamente os níveis de energia ao longo da linha de costa, as fontes de
sedimentos e a disponibilidade de substratos duros e áreas protegidas. A
distribuição dos fragmentos bioclásticos exibe uma correlação muito boa com as
condições ambientais dominantes em cada setor da linha de costa.
Os organismos que secretam carbonato de cálcio ou sílica fornecem
sedimentos para o ambiente, ou dão origem a bioconstruções ocasionando
acumulações in situ, que podem ou não modificar as condições hidrodinâmicas
locais, ao provocarem alterações no relevo submarino (Villaça, 2002).
Os organismos que constroem recifes fornecem sedimentos para as áreas
ao redor do recife, possivelmente se estendendo por distâncias consideráveis,
criando novos ambientes para outros organismos, que sem estes não poderiam
viver naquela área (Leão et al., 2006).
Outro aspecto importante influenciando a composição dos sedimentos das
praias da Costa do Dendê é a deriva litorânea. Como foi discutido anteriormente,
o transporte longitudinal de sedimentos apresenta dois domínios (Fig. 5). Os
setores 1, 2 e 3 são caracterizados por “trânsito impedido”. Neste trecho existe
uma grande variabilidade na composição das areias praiais entre os diferentes
setores. Já no Setor 4, onde a costa tem uma configuração retilínea, favorecendo
o transporte livre dos sedimentos no sentido S-N (Fig. 17), a composição dos
sedimentos é mais uniforme.
- 62 -
A Praia do Guaibim (Setor 1 - Fig.17), por exemplo, apresentou maiores
teores de bioclastos na porção norte, próximo à foz do Rio Jequiriçá, sendo que
os principais componentes são as algas coralinas e moluscos. Note nas figuras 13
e 18A, que a nordeste desta foz existe um recife aflorando próxima a linha de
costa, que segundo Freitas (2002), é um recife de algas coralinas. A energia de
ondas, maior neste trecho, e a presença deste substrato devem estar favorecendo
esse incremento nos teores de algas coralinas.
As algas coralinas (rodofíceas) podem se desenvolver a partir de
fragmentos de crostas oriundas da fragmentação de outras algas calcárias e
constituir ramificações (talos), que se destacam e continuam seu desenvolvimento
no estado livre (Dias, 2000), ou através de formas incrustantes e maciças, que de
acordo com Milliman (1974), se constituem notáveis contribuintes de carbonato
para áreas de alta energia como estruturas algais rígidas. As formas livres podem
se desenvolver em fundos lamosos, arenosos ou em substratos duros, enquanto
que as formas incrustantes geralmente requerem a presença de substrato duro.
Em ambientes tropicais, as formas de crescimento das algas coralinas
representam uma mistura de duas ou mais espécies e às vezes gêneros
(Milliman,1974). E de acordo com as características granulométricas do
sedimento associado, as construções de algas coralinas abrigam biocenoses
animais diferentes (Dias, 2000).
As algas coralinas participam ativamente da construção dos recifes,
cobrindo um substrato litificado, como, por exemplo, o dos arenitos de praia (Dias,
2000). Para Milliman (1974) as algas coralinas são um importante fornecedor de
sedimentos para a maioria dos recifes de coral, constituindo mais de 20% dos
- 63 -
sedimentos dos recifes, e chegando localmente a mais de 50%. Por causa da
necessidade de um substrato duro são menos abundantes em ambientes
lagunares.
O Setor 4 apresenta características ambientais semelhantes ao Setor 1,
como a presença de um substrato duro (os recifes em franja da Península de
Maraú e o embasamento no município de Itacaré - Figs. 8G, 18B e 17), e uma
energia de onda mais elevada (Fig. 17). Como resposta as esses fatores a
associação de componentes bióticos dos sedimentos é também semelhante a do
Setor 1, com exceção do trecho ao norte da desembocadura do Rio de Contas,
onde não foi observada a presença de bioclástos nos sedimentos (Fig. 17). Neste
trecho, provavelmente o aporte sedimentar do Rio de Contas e a ausência de
substratos duros não criam condições propícias para o desenvolvimento das
algas coralinas e outros organismos presentes no restante deste setor.
O Setor 2, apesar da existência de recifes em franja bordejando quase toda
sua costa, não apresenta algas coralinas como principal componente do
sedimento (Fig. 17). A menor energia de ondas chegando a esse trecho da costa
e a morfologia do recife, formando extensas lagunas rasas (Figs. 18C e 18D) dão
origem a ambientes protegidos e calmos oferecendo, desta forma, condições
favoráveis para o crescimento das algas calcárias do gênero Halimeda
(Clorofíceas). Estas sim constituem o componente mais abundante das areias do
Setor 2. Neste setor a Halimeda, e outros organismos, como algas coralinas,
moluscos, crustáceos e foraminíferos, juntos, constituem a principal fonte de
sedimentos para as praias.
- 64 -
De acordo com Tinoco (1989), as algas verdes Halimeda, abundantes na
plataforma continental nordestina são típicas de regiões tropicais, com águas
quentes e contribuem com grande quantidade de calcário nas plataformas
continentais rasas e nas lagunas recifais.
Segundo Milliman (1974), estas algas apesar de serem encontradas
geralmente em ambientes calmos como lagunas, também são encontradas em
outras áreas do recife, podendo crescer tanto em sedimentos inconsolidados,
como em substratos duros. É o constituinte mais comum das lagunas dos recifes
do Pacífico enquanto que no Caribe é um importante componente do recife.
No Setor 2 apenas a Praia da Barra apresentou areias siliciclásticas e um
conjunto de componentes bióticos semelhante ao encontrado nas outras praias de
areias siliciclásticas (Fig. 17). A ausência de recifes neste trecho parece estar
influenciando neste aspecto.
Os recifes adjacentes à costa atlântica da Península de Maraú são
localizados próximos a uma importante fonte de sedimentos siliciclásticos, o Rio
de Contas, além disso, as construções recifais não são tão extensas quanto as do
Setor 2, e estão dispostas de forma esparsa, não permitindo assim, a formação
de lagunas (Fig. 18B). Por esses motivos os sedimentos bioclásticos apesar da
presença dos recifes, não predominam nesta área. Do mesmo modo a ausência
de ambientes protegidos não favorece o crescimento da alga Halimeda.
- 65 -
Figura 18. Recife próximo à foz do Rio Jequiriçá (A), recifes adjacentes à costa da Península de
Maraú (B), recifes formando lagunas na Ilha de Boipeba (C e D) (Fotos: Dominguez, 2006).
O Setor 3 apresenta areias predominantemente siliciclásticas. A fração
carbonática dos sedimentos, entretanto, é composta por uma associação de
componentes bióticos diferente das demais praias siliciclásticas (Fig. 17),
apresentando maior variedade de componentes bióticos no sedimento, com
teores também mais elevados, os quais nas outras praias não ultrapassam 10% e
nesta chega a 30%. Curiosamente, as amostras que apresentaram maiores
teores de bioclástos estão localizadas em frente a pequenas construções recifais
mais afastadas da costa.
A menor energia de onda no Setor 3 (Fig.17) também parece controlar a
presença de alguns organismos ausentes nas outras praias siliciclásticas da
Costa do Dendê, a exemplo dos crustáceos. De acordo com Milliman (1974) os
A
A
B
A
C
A
D
A
- 66 -
crustáceos geralmente, não produzem grande quantidade de sedimento, pois seu
exoesqueleto é frágil e não resiste a ambientes de alta energia.
Após modelar a produção de sedimentos do Rio Jequiriçá e avaliar a
extensão e espessura da planície costeira, Almeida (2004) chegou à conclusão de
que, este rio não poderia ser a única fonte de sedimentos para a progradação da
planície costeira adjacente a Praia de Guaibim. Sugeriu então, que as variações
do nível do mar, teriam sido responsáveis por disponibilizar uma parte dos
sedimentos para a progradação da linha de costa. Tal argumento tem sido
utilizado por outros autores como Dominguez et al. (1983) para explicar a
progradação da linha de costa associada à desembocadura de rios, como o São
Francisco, o Jequitinhonha, o Doce e o Paraíba do Sul.
Embora Dominguez et al. (1982, 1983), Martin et al. (1979,1980,1998) e
Bittencourt et al. (1979) sugiram que as planícies costeiras baianas tenham
progradado à custa de sedimentos expostos na plataforma continental durante
eventos regressivos ocorridos no Quaternário, e os rios da Bacia do Recôncavo
Sul que deságuam na Costa do Dendê pareçam transportar pouco sedimento
para a zona costeira, a presença de minerais pesados, de micas e de feldspatos
nas desembocaduras do Rio Jequiriçá (Praia de Guaibim), do Rio dos Patos
(Praia do Pratigi) e na saída da Baía de Camamu (Fig. 17), sugere uma
contribuição fluvial para os sedimentos das praias vizinhas. Estes rios
transportam, junto com o quartzo, estes outros minerais presentes no
embasamento cristalino e nas rochas sedimentares que afloram nas suas bacias
hidrográficas.
- 67 -
A bacia do Rio de Contas encontra-se em uma situação mais favorável
para a produção de sedimentos, não só por causa de suas dimensões, como
também por possuir um relevo bastante dissecado, caracterizado por uma
extensa cobertura elúvio-colúvial, além do fato do próprio Rio de Contas ser
perene (Ceplab, 1979). Nas proximidades de sua foz, as areias apresentam
teores elevados de micas, feldspatos, e minerais pesados (Fig. 17). A deriva,
neste trecho é mais intensa, como citado anteriormente e provavelmente distribui
os sedimentos trazidos pelo Rio de Contas por toda Península de Maraú.
Por fim a presença destes minerais siliciclásticos nas praias em frente ao
embasamento cristalino, no município de Itacaré (Setor 4 – Fig. 17), aponta
também, para a contribuição local destas rochas com sedimentos para a linha de
costa.
- 68 -
8. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos nos permitem concluir, que apesar de os trabalhos
clássicos sobre proveniência enfatizarem sobremodo a fração siliciclástica, a
analise da distribuição dos componentes bioclásticos permitem inferir
adequadamente às condições ambientais da linha de costa (níveis de energia e
disponibilidade de substratos duros), assim como avaliar as possíveis fontes de
sedimento para a praia.
A variabilidade na distribuição dos componentes sedimentares corroboram
a conclusão anterior de Freitas (2002), baseada na modelagem da refração de
ondas, que os setores 1 a 3 eram de trânsito impedido. Os resultados aqui
apresentados mostram que a composição dos sedimentos praiais reflete as
condições ambientais atuais, e evidenciam que os sedimentos bioclásticos têm
fontes localizadas e não experimentam transporte lateral.
A baixa produção de sedimentos nas bacias hidrográficas do Recôncavo
Sul e a situação de “trânsito impedido” de sedimentos constituem um elemento
complicador do ponto de vista da erosão costeira, pois, apesar de ter ocorrido
uma extensiva progradação da linha de costa nas planícies costeiras do Guaibim
e Pratigi, entre 4 a 5 km aproximadamente durante o Quaternário (Martin et al.,
1979), o único rio significante, o Rio de Contas deságua cerca de 50 km ao sul da
Baía de Camamu.
Os recifes se mostraram uma importante fonte de sedimentos para as
praias da região, principalmente em locais de déficit de sedimentos. Dessa forma,
além dos recifes constituírem uma proteção natural para as praias em sua
- 69 -
retaguarda, os organismos deste ambiente são uma importante fonte de
sedimentos para estas. A manutenção dessas estruturas e a conservação dos
seus ecossistemas são, portanto, medidas preventivas contra a erosão costeira.
Apenas observando a composição dos sedimentos, principalmente a sua
fração bioclástica, foi possível fazer algumas inferências sobre as possíveis fontes
de areia para as praias da Costa do Dendê. Outras características, como o
arredondamento do quartzo, identificação dos minerais pesados e das espécies
de organismos que compõem os sedimentos, além de estudos de produção de
sedimentos, e coleta e análise de amostras de sedimentos em rios da região, no
continente e na plataforma continental para comparação com os sedimentos
praiais, poderiam fornecer informações mais precisas sobre as fontes de
sedimento para essa região costeira.
- 70 -
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBINO J. & GOMES, R.C. 2004. Influência da composição mista dos
sedimentos marinhos na determinação do perfil praial de equilíbrio. In: VI
Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos, Vitória, Espírito Santo,
p.263 – 267.
ALMEIDA A.B., 2004. Modelagem da produção de sedimentos na bacia
hidrográfica do Rio Jequiriçá – implicações na zona costeira. Monografia de
Graduação. Curso de Graduação em Geologia, Instituto de Geociências da
Universidade Federal da Bahia, 58 p.
ALMEIDA, F.F.M.& CARNEIRO, C.D.R. 2004. Inundações Fanerozóicas no Brasil
e recursos minerais associados. In: V. MANTESSO - NETO, A.
BARTORELLI, C.D.R. CARNEIRO; B.B. BRITO – NEVES (Orgs). Geologia
do Continente Sul Americano: Evolução da obra de Fernando Flávio
Marques de Almeida. Beca, São Paulo, Cap.III, p.43 - 58 .
BASCOM, W., 1960. Beachs. In: J.R. MOORE. (ed.) Oceanography. Scientific
American Inc., San Francisco, p. 131-141.
BEAL, M.A.; SHEPARD, F.P., 1956. A use of roudness to determine
depositionals environments. J. of Sed. Petrol., 26 (1):49 – 50.
BENAVENTE, J.; GRACIA, F.J.; ANFUSO, G.; LOPEZ-AGUAYO, F., 2005.
Temporal assessment of sediment transport from beach nourishments by
using foraminifera as a natural tracer. Coastal Engineering, 52: 205 - 219.
BITTENCOURT, A.C.S.P., 1975. Sedimentação recente na costa atlântica de
Salvador. Revista Brasileira de Geociências, 5: 46 - 76.
BITTENCOURT, A.C.S.P.; VILAS BOAS, G.S.; FLEXOR, J.M.; MARTIN, L., 1979.
Quaternary marine formations of the coast of the state of Bahia (Brazil). In:
K. SUGUIO, T. FAIRCHILD, L. MARTIN e J.M. FLEXOR (eds.), Proceedings
of the “1978 International Symposium of Coastal evolution in the
Quaternary”. São Paulo, p. 232 -253.
BITTENCOURT, A.C.S.P., 1996. As coberturas Terciárias e Quaternárias do
interior e da zona costeira. In: J.F.Barbosa, J.M.L. Dominguez (eds.). Texto
básico para o mapa geológico da Bahia ao milionésimo. Governo da Bahia,
Superintendência de Geologia e Recursos Minerais, Cap. VIII, p.165 – 181.
BITTENCOURT, A.C.S.P.; Dominguez, J.M.L.; Martin, L.; Silva, I.R., 2000.
Patterns of sediment dispersion coastwise the state of Bahia – Brazil. Anais
Acad. Bras. Ci., 72(2): 271 -287.
- 71 -
BITTENCOURT, A.C.S.P.; Dominguez, J.M.L.; Martin, L.; Silva, I.R., 2005.
Longshore transport on the northeastern Brazilian coast and implications to
the location of large scale accumulative and erosive zones: An overview.
Marine Geology, 219: 219 -234.
CARANNANTE, G.; ESTEBAN, H.; MILLIMAN, J.D.; SIMONE, L., 1988.
Carbonate lithofacies as paleolatitude indicators: problems and limitations.
Sedimentary Geology, (60):333-346.
CARTER, R.W.G.; WOODDROFFE, C.D., 1994. Coastal Evolution. Late
Quaternary shoreline morphodynamics. Cambrige University Press, 517 p.
CEPLAB (Centro de Planejamento da Bahia) 1979. Bacias Hidrográficas do
Estado da Bahia. Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnología,
Publicações Ceplab, Série Recursos Hídricos, Salvador, 109 p.
COLONY, R.J., 1932. Source of the sands on the south shore of Long Island and
the coast of New Jersey. J. of Sed. Petrol., 2 (2): 150 – 159.
COUTINHO, J.M.V., 1974a. O Pré-cambriano do Vale do Rio Doce como fonte
alimentadora de sedimentos costeiros. In: XXVIII Congresso de Geologia,
Porto Alegre, 5: 43-56
COUTINHO, J.M.V., 1974b. Os minerais pesados de areia na foz do Rio Doce. In:
XXVIII Congresso de Geologia, Porto Alegre, 5: 27-40.
CPRM, 2003. Serviço geológico do Brasil. Geologia e Recursos Minerais do
Estado da Bahia. Sistemas de Informações Geográficas. Mapas na escala
1:100 0000. Cd-room.
DAVIES, J.D., 1977. Geographical variations in coastal development
(Geomorfology texts; 4), Logman Group Ltda., Nova york, p.203.
DEAN, R.G., 1977. Equilibrium beach profiles: U.S. Atlântic and gulf coasts.
Department of Civil Engineering, Oceano engineering report nº 12, University
of Delaware, Newark.
DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação), 1979. Carta Náutica nº. 1100 –
Brasil Costa Leste: do Rio Itariri a Ilhéus. Escala 1:308.000.
DIAS, G.T.M., 2000. Marine bioclasts: calcareous algae. Rev. Bras. Geof., São
Paulo, 18 (3): 307-318.
DISCROLL, E.G., 1967. Experimental field study of shell abrasion. J. Sediment.
Petrol., 37 (4):1117 – 1123.
DOMINGUEZ, J.M.L.; MARTIN, L.; BITTENCOURT, A.C.S.P., 1982. Evolução
Paleogeográfica do delta do Rio Jequitinhonha durante o Quaternário -
influência das variações do nível do mar. In: Simpósio do quaternário no
Brasil (CTQC/SBG), Rio de Janeiro, p. 69-92.
- 72 -
DOMINGUEZ, J.M.L.; BITTENCOURT, A.C.S.P.; MARTIN, L., 1983. Esquema
evolutivo da sedimentação quaternária nas feições deltaicas dos rios São
Francisco (SE/AL), Jequitinhonha (BA), Doce (ES) e Paraíba do Sul (RJ).
Revista Brasileira de Geociências, 11(4): 227 -237.
DOMINGUEZ, J.M.L.; Bittencourt, A.C.S.P.; Martin, L., 1992. Controls on
Quaternary coastal evolution of the east-north-eastern coast of Brazil: roles
of sea level history, trade winds and climate. Sedimentary Geology, 80: 213 -
232.
DOMINGUEZ, J.M.L., 2006. Projeto Costa do Dendê. Convênio
CBPM/UFBA/CPGG. Salvador.
EYNATTEN, H.V., 2004. Statical modeling of compositional trends in sediments.
Sed. Geol., 171:79-89.
FOLK, R.L., 1974. Petrology of Sedimentary Rocks. Hemphill Publishing Co.,
Texas, 182 p.
FREITAS, L.M.B., 2002. Caracterização geoambiental e sensibilidade da linha
com ênfase nas praias da Costa do Dendê – BA, utilizando um Sistema de
Informações Geográficas (SIG). Monografia de Graduação, Instituto de
Geociências, Universidade Federal da Bahia, 42p.
FRITZ, W.J.; MOORE, J.N., 1988. Basic of Physical Stratigraphy and
Sedimentology. John Wiley & Sons., New Cork, 337 p.
GHESKIERE, T.; VINCX, M.; WESLAWSKI J.M.; SCAPINI, F.; DEGRAER S.,
2005. Meio fauna as descriptor of tourism-induced changes at sandy
beaches. Marine Environment Research, 60: 245 – 265.
GILES, R.T.E.; PILKEY, O.H., 1965. Atlantic beach and dune sediments of the
Southern of United States. J. of Sed. Petrol., 35 (4): 900 – 910.
GINSBURG, R.N., 1956. Environmental relationship of grains size and constituent
particles in some South Florida carbonates sediments. Geol. Soc. Amer.
Bull., 40: 2381-2427
IBGE, 1967. Cartas plani-altimétricas, folhas Velha Boipeba (SD.24-J-III) e
Jaguaripe (SD.24-J-I), escala 1:100,000. Em meio digital por SEI, 2003.
ILLING, L.V., 1954. Bahamas calcareous sands. J. Sed. Petrol., 38 (1): 1 –95.
INPE, 2003. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de imagens.
CB2CCD 148/115 - 2003 -12 -24, CB2CCD 148/116 - 2003 -12 -24.
Publicação on line. TUwww.dgi.inpe.brUT
KENNAIR, E.H. & RAILSBACK, L.B., 2006. Beach and Shoreline Sands From
Around the World. Publicação on-line.
TUhttp://www.gly.uga.edu/railsback/sands/sandstitle.htmlUT
- 73 -
KING, C.A.M., 1972. Beach and Coasts. Edward Arnold, Londres, 570 p.
KOMAR, P.D., 1976. Beach Processes and Sedimentation. Prentice-Hall
Englewood Cliffs, Nova Jersey, 544p.
KOWSMAN, R.O. & COSTA, M.A , 1979. Sedimentação quaternária da margem
continental brasileira e das áreas oceânicas adjacentes.
PETROBRÁS.CENPES.DINTEP, Rio de janeiro, 55p. (série projeto REMAC
n. 8).
LEÃO, Z.M.A.N.; DUTRA, L.X.C.; SPANÓ, S., 2006. The characteristics of bottom
sediments. In: G.F. Dutra, G.R. Allen, T. Werner, S.A. Mackena (eds.) A
Rapid Marine Biodiversity Assessment of the Abrolhos Bank, Bahia, Brasil.
RAP Bulletin of Biological Assessment 38. Conservation International,
Washington, D.C., USA.
LEÃO, Z.M.A.N. & BRICHTA, A., 1996. A plataforma continental da Bahia. In:
J.F.Barbosa, J.M.L. Dominguez (eds.). Texto básico para o mapa geológico
da Bahia ao milionésimo, Governo da Bahia, Superintendência de Geologia
e Recursos Minerais, Cap.IX, p. 184 -198.
LEÃO, Z.M.A. & MACHADO, A.J., 1989. Variação da cor dos grãos carbonáticos
de sedimentos marinhos atuais. Revista Brasileira de Geociências, 19 (1):
87 - 91.
MABESOONE, J.M., 1964. Origin and age of sandstone reefs of Pernambuco
(Northeastern Brazil). J. of Sed. Petrol., 34 (4): 715 -716.
MacCARTHY, G.R., 1933. Calcium carbonate in beach sands. J. of Sed. Petrol., 3
(2): 64 –67.
MARTIN, L.; VILAS BOAS, A.S.; FLEXOR, J.M., 1979, Introdução ao estudo do
Quaternário do litoral do estado da Bahia – Trecho Salvador Ilhéus. Revista
Brasileira de Geociências, 9 (4): 309-320.
MARTIN, L.; BITTENCOURT, A.C.S.P.; VILAS BOAS, G.S.; FLEXOR, J.M., 1980.
Mapa Geológico do Quaternário Costeiro do Estado da Bahia – 1:250 000 –
Texto Explicativo. Secretaria das Minas e Energia/Coordenação produção
mineral, Salvador, 57p.
MARTIN, L.; DOMINGUEZ, J.M.L.; BITTENCOURT, A.C.S.P., 1998. Climatic
control of coastal erosion during a sea level fall episode. Anais Acad. Bras.
Ci., 70(2):249 -266.
MELO, U.; SUMMERHAYES, C.P., 1975. Upper Continental Margim
Sedimentation of Brazil. Parte 4: Salvador to Vitória, Southeastern Brasil. In:
Contributions to Sedimentology. J.D.Milliman, C.P. Summerhayes (eds.). E.
Schweizerbart’sche Verlagsbuchhanlung, Stuttgart, pp. 78 -116.
- 74 -
MILLIMAN, J.D., 1974. Marine Carbonates. Spring – Verlag Berlin Heidelberg,
Nova York. 375p.
MMA/UFRJ/FUJB/LAGET,1996. Macrodiagnóstico da Zona Costeira do Brasil na
Escala da União. Programa Nacional do Meio Ambiente. Brasilia, 277p.
MUEHE D.O., 1998. O litoral brasileiro e a sua compartimentação. In: A.J.T.
Guerra, & S.B. Cunha (eds.). Geomorfologia do Brasil. Bertrand Brasil, Rio
de Janeiro, p. 273-249.
NIMER, E., 1989. Climatología do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, Rio de Janeiro, 421 p.
PETTIJOHN, F.J. & RIDGE, J.D. 1932. A textural variation series of beach sands
from Cedar Point, Ohio. J. of Sed. Petrol., 2 (2): 76 - 88.
PETTIJOHN, F.J. & RIDGE, J.D. 1933. A mineral variation series of beach sands
from Cedar Point, Ohio. J. of Sed. Petrol., 3 (2): 92 - 94.
POTTER, P.E., 1986. South american and a few grains of sand: part 1 – Beach
sands. J. Geol., 94 (3): 301 - 319.
POTTER, P.E., 1994. Modern Sands of South America: composition, provenance
and global significance. Geologist Rundshau, 83: 212 - 232.
PURDY, E.G., 1963a. Recent carbonate facies of the Great Bahaman Bank. 1.
petrography and reactions groups. J. Geol., 71 (3): 334 - 355.
PURDY, E.G., 1963b. Recent carbonate facies of the Great Bahaman Bank. 2.
Sedimentary facies. J. Geol., 71 (4): 472 - 497.
RAYMOND, P.E. & HUTCHINS, F., 1932. A calcareous beach of John O’groats,
Scotland. J. of Sed. Petrol., 2 (2): 63 - 67.
RAYMOND, P.E., & STETSON, H.C., 1933. A calcareous beach on the coast of
Maine. J. of Sed. Petrol., 2 (2): 51 - 62.
SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), 1999.
Diagnóstico Ambiental. Litoral Sul da Bahia. Salvador 120 p.
SIMÕES, M.G.; HOLZ, M., 2000. Tafonomia - Processos e Ambientes de
Fossilização. In: I. C. Souza (ed.) Paleontologia. Interciência, Rio de Janeiro,
pp.: 19 - 44.
SILVA, C.G., 2000. Marine placers. Rev. Bras. Geof, vol.18, no.3, p.327 - 336.
SHEPARD, F.P., 1956. Marginal sediments of Mississippi delta. Geol. Soc. Amer.
Bull., 40 (11): 2537 – 2623.
SHEPARD, F.P., 1973. Submarine Geology. Haper & Row, Publishers. 517 p.
- 75 -
SRH (Secretaria de Recursos Hídricos - Ba), 1995. Plano Diretor de Recursos
Hídricos, Bacia do Recôncavo Sul. Salvador. 181 p.
SUDENE, 1977. Cartas plani-altimétricas, folhas Valença (SD.24-V-D-III), Ituberá
(SD.24-V-D-VI), Ubaitaba (SD.24-Y-B III), Itacaré (SD.24-2-A-I), escala
1:100,000. Em meio digital por SEI, 2003.
SUDETUR (Superintendência de Desenvolvimento do Turismo), 2001. Roteiros
Ecoturísticos da Bahia – Costa do Dendê. Secretaria da Cultura e Turismo.
Coleção Selo Turismo 2, Salvador.
SWINCHATT, J.P., 1965. Significance of constituent composition, texture, and
skeletal breakdown in some recent carbonates sediments. J. of Sed. Petrol.,
35 (1): 71 - 90.
TINOCO, I.M., 1989. Introdução aos estudos dos componentes bióticos dos
sedimentos marinhos recentes. Recife, Ed. Universitária da UFPE, 221 p.
VILLAÇA, R., 2002. Recifes Biológicos. In: R.C. Pereira, A. Soares-Gomes,
(eds.) Biologia Marinha. Interciência, Rio de Janeiro, Cap 11, p 229 – 248.
WANLESS, H.R. & TEDESCO, L.P., 1988. Sand biographics. In: Sea frontiers.
Julho-agosto: 225-231.
WELTJE, G. J. & EYNATTEN H. VON., 2004. Quantitative provenance analysis
of sediments: review and outlook. Sed. Geol., 171:1-11.
WILSON, J.M., 1975. Carbonate Facies in Geologic History. Springer-Verlag
Berlin Heidelberg, Nova York, 471 p.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo