Eu estava tentando buscar um espaço para matricular uma criança com
Síndrome de Down de uma comunidade rural, que fica distante 60 km da
zona urbana da cidade (sic!). Nos anos iniciais essa criança foi assistida
pela Saúde através de uma Kombi escolar que a levava às terapias. Pos-
teriormente ela fez educação infantil, a pré-escola, na prefeitura. Como a
escola de 1ª a 4ª não era ainda municipalizada, ela deveria ser matricula-
da na 1ª série do ciclo inicial da escola do Estado, por isso eu fui conhecer
a escola e a professora. Conversando, inicialmente, com a diretora, fiquei
muito bem impressionada com as referências da professora. Era formada
e tinha um alto conceito na sala de aula e perante a direção, considerada
como competente. E eu fui ver como era o estilo da sala, como ela traba-
lhava, até para preparar essa professora para receber a Síndrome de
Down na escola. Na minha primeira observação, descobri que ela organi-
zava a classe da seguinte forma: ela tinha dado uma adequação às cate-
gorias do Platão, ela tinha dado uma modernizada, ela introduziu valorati-
vamente quatro filas, na classe só cabiam 4 filas. Ela organizou uma fila
de diamantes, uma de ouro e outra de prata, e evidente que bronze e ferro
para ela eram muito valorizados para a população que ficava na 4ª fila, a
do latão (grifos da autora). Aos alunos que ficavam, durante a semana, na
fila dos diamantes, ela dava o privilégio de não assistirem [às] aulas às
sextas-feiras. Eles folgavam sexta, sábado e domingo. Com isso ela teria
mais tempo para trabalhar com o latão. E sobre o latão, ela falou na minha
frente, com registro e tudo: “vocês não servem para nada, só servem
mesmo para pôr no lixo”. Isto para uma fila que tinha (sic!) cinco crianças.
Imaginem o que significa isso. E eu tinha que encomendar, reservar e in-
cluir uma Síndrome de Down, que eu tinha trabalhado um bom tempo na
pré-escola, lá, nessa escola. Como seria chamada a fila dessa criança?
Latão era pouco, devia ser o lixo. Agora chegou o lixo na sala de aula (O-
LIVEIRA, 2004, p. 140-141).
O segundo exemplo desse mesmo tipo de violência acontece nas escolas do Es-
tado de Mato Grosso do Sul. Uma companheira de trabalho assumiu uma sala de primeira
série em escola da periferia de Campo Grande. Antes de começarem as aulas, na primei-
ra reunião de professoras e professores, com as listas de alunos e alunas nas mãos, o
professor de Educação Física perguntou: “Quem ficou com os ‘bugrinhos’?” Olharam os
nomes e contaram que ela, a professora nova, tinha ficado com os alunos índios. Todos e
todas juntos lhe falaram: “Ixe! Você que ficou com os ‘bugrinhos’?!” As aulas começaram
e ela foi para sala de aula ansiosa para conhecer os meninos índios.
Em sala, a professora se deparou com a seguinte situação: eram três crianças ín-
dias, uma com mais ou menos 12 anos e as outras duas entre 8 e 10 anos de idade. Es-
sas crianças de forma nenhuma interagiam. Não falavam, não brincavam e não gesticula-
vam na sala de aula. Quando a professora perguntava algo diretamente para elas, os dois