[...] Introduzem a uma reflexão sobre os procedimentos de consumo
ordinário da televisão, as artes do fazer do ‘praticante’ nos espaços
impostos pela mídia. Permitem formular novas hipóteses sobre o
modo de produção da cultura de massa. Recusando-se a considerá-
la apenas como emanação de uma ordem, expressão de uma
racionalidade funcionalista, reprodução de um código estrutural e
estruturante, estas novas hipóteses evidenciam o interesse que há
em estudar se e como se realiza um processo de troca simbólica
entre a proposta televisiva e o imaginário individual e coletivo, e
mais, como se dá entre eles a interação e a modificação recíproca.
(MATTELART, 1998, p. 102)
Em “A questão do populismo: o mal-estar da teoria”, segundo sub-capítulo,
Mattelart fala sobre a nova dimensão que as reflexões sobre “popular” e “populismo”
adquirem na década de 80. Segundo ele, há um retorno à questão do populismo
nessa época, devido às mudanças sociais.
O retorno à questão do populismo que se deu nos anos 80 indica que
não se pode duvidar de uma transformação das esquerdas latino-
americanas. Em vez de respostas únicas, surgem questões
múltiplas. Com o desaparecimento dos modelos únicos de ação, a
idéia de classe popular se redefine. A esquerda dos anos 60 havia
construído suas análises a partir do campo de reflexão política das
grandes sociedades industriais, onde a classe operária era um setor
social estratégico. Em uma realidade onde a característica principal
das classes subalternas não é o trabalho, mas o desemprego, a
greve disfarçada, a falta de terra, as migrações para a cidade, a
marginalidade social, não mais os problemas das “minorias étnicas” e
sim das “maiorias étnicas”, o pensamento de esquerda descobre que
há “classes populares” que escapam às representações estreitas a
elas atribuídas pela definição esquemática de “classe operária”.
(MATTELART, 1998, p. 107)
O capítulo 5, “Novela e sociedades”, é dividido em cinco sub-capítulos. No
primeiro, “O impacto de um gênero”, ele fala da importância que a telenovela ocupa
na vida dos brasileiros. Segundo Mattelart, uma novela não se resume apenas ao
seu tempo de exibição, mas ocupa boa parte da imprensa em geral, e pauta muitas
das conversas cotidianas.
A popularidade das novelas não se mede somente pela cotação do
Ibope, mas exatamente pelo espaço que ocupam nas conversas e
debates de todos os dias, pelos boatos que alimentam, por seu poder