15
O método analético parte, então, da palavra do outro, localizado em um mais além
do sistema da totalidade. “A palavra do outro, exterior à totalidade, só é interpretável
analeticamente”
36
. Na lógica da totalidade o outro é “ouvido” pelo eu (moderno) como “si-
mesmo”, como “algo”; é “em-coberto”, e assim negado como outro
37
.
Para Dussel o movimento do método analético seria definido em cinco momentos
38
: a)
“... parte da cotidianidade ôntica e dirige-se dialética e ontologicamente para o fundamento”;
b) “... de-monstra cientificamente (epistemática, apo-diticamente) os entes como
possibilidades existenciais. É a filosofia como ciência, relação fundante do ontológico sobre o
ôntico”; c) “realiza a passagem analética da totalidade ontológica ao outro enquanto outro
39
;
d) “acolhe a revelação do outro que cria um novo âmbito fundamental ontológico aberto ao
ético”
40
; e) “julga-se o próprio nível ôntico a partir do fundamento ético em função de uma
prática analética como serviço ao outro”
41
.
Tal como propõe Marx
42
, para a analética de Dussel, num primeiro movimento i) parte-
se dos entes para o fundamento, para ii) em seguida “voltar” devolutivamente do fundamento
aos entes; nessa “passagem”
43
iii) negativamente, comprova-se que desde o fundamento
ontológico da totalidade sobressairá a impossibilidade de pensar o outro desde a própria
36
MANCE, Euclides André. Uma introdução conceitual... p. 49.
37
DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade: Conferências de
Frankfurt (trad. Jaime A. Clasen). Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. p. 32.
“A Europa tornou as outras culturas, mundos, pessoas, em ob-jeto: lançado (-jacere) diante (ob) de seus olhos. O
“coberto” foi dês-coberto”: ego cogito cogitatum, europeizado, mas imediatamente “en-coberto” como Outro. O
outro constituído como o Si-mesmo. O ego moderno “nasce” nesta autoconstituição perante as outras regiões
deminadas (...) O Outro é a “besta” de Oviedo, o “futuro” de Hegel, a “possibilidade” de O’Gorman, a “matéria
bruta” para Alberto Caturelli: massa rústica “descoberta” para ser civilizada pelo “ser” europeu da “Cultura
Ocidental”, mas “en-coberta” em sua Alteridade”. p. 36
38
DUSSEL, Enrique. Método... p. 198.
39
MANCE, Euclides André. Uma introdução conceitual... p. 50.
Nas palavras de Dussel: “Em terceiro lugar, entre os entes há um que é irredutível a uma de-dução ou
demonstração a partir do fundamento: o “rosto” ôntico do outro que, em sua visibilidade, permanece presente
como trans-ontológico, metafísico, ético. A passagem da totalidade ontológica ao outro como outro é ana-lética:
discurso negativo a partir da totalidade, porque pensa a impossibilidade de pensar o outro positivamente partindo
da própria totalidade; discurso positivo da totalidade, quanto pensa a possibilidade de interpretar a revelação do
outro a partir do outro”. DUSSEL, Enrique. Método... p. 198.
40
MANCE, Euclides André. Uma introdução conceitual... p. 50.
Na obra de Dussel: “Essa revelação do outro já é um quarto movimento, porque a negatividade primeira do outro
questionou o nível ontológico que, agora é criado, com base num novo âmbito. O discurso se faz ético e o nível
fundamental ontológico descobre-se como não originário, como aberto a partir do ético, que se revela depois
(ordo cognoscendi a posteriori) como o que era antes (o prius da ordo realitis). DUSSEL, Enrique. Método... p.
198.
41
MANCE, Euclides André. Uma introdução conceitual... p. 50.
Para Dussel: “Em quinto lugar, o próprio nível ôntico das possibilidades fica julgado e relançado a partir de um
fundamento eticamente estabelecido, e estas possibilidades como práxis analética transpassam a ordem
ontológica e se adiantam como “serviço” na Justiça. DUSSEL, Enrique. Método... p. 198.
42
Conforme veremos adiante no tratamento do categoria trabalho-vivo.
43
E aí Dussel, subsumindo o pensamento marxista, supera o pensamento de Marx.