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brasileiro, mas sem tirar proveito político da situação”.
98
Em 1970, porém, além de
viver sob um regime de exceção, o que seria suficiente para justificar tanto a
arbitrariedade da premiação presidencial aos jogadores como a ausência de críticas
a ela, o Brasil parecia não se importar, diante da festa dos heróis do tri. Sabendo
disso, os jogadores tentaram aproveitar a situação e pediram ao presidente, por
meio do capitão do time, Carlos Alberto, um “jeitinho” de escapar do pagamento
de impostos sobre seus salários “até o fim da carreira“ e a “solução para alguns
problemas surgidos com a Alfândega“.
99
Já o deputado federal arenista Luís Brás
sugeriu que Médici enviasse ao Congresso um projeto de lei isentando os campeões
de pagamento de Imposto de Renda sobre os prêmios e as doações recebidas por
causa da conquista.
100
A imprensa não registra se esses pedidos foram atendidos,
mas o fato é que futebol e poder público sempre caminharam de mãos dadas no
Brasil.
101
Essa relação se acentua em duas circunstâncias: quando os clubes estão em
crise financeira ou quando interessa ao governo ampliar sua influência -- e, em
geral, essas duas condições se dão ao mesmo tempo, como ocorreu naquele ano,
1970.
A penúria dos clubes brasileiros na época pode ser resumida pela crise do
Santos. O clube, além de outras agremiações tradicionais, como Botafogo do Rio e
Cruzeiro, enfrentava colapso financeiro. Famoso no mundo inteiro devido à
geração capitaneada por Pelé, o clube passou a cobrar, depois de 1958, um cachê
superior ao da seleção brasileira para disputar amistosos no amistoso -- eram 30 mil
dólares, enquanto o Brasil levava 10 mil dólares. Mas o Santos endividou-se para
adquirir o Parque Balneário, que antes havia sido o principal hotel da cidade de
Santos no início do século XX e que entrara em decadência na década de 60. Em 5
98
O Estado de S. Paulo, 23.7.1970, p. 28.
99
Idem, 24.jul.1970, p. 16.
100
Última Hora, 1.jul.1970, p. 2.
101
Não foi só em 1970 que a euforia pela conquista de uma Copa propiciou irregularidades em que o público se
misturou com o privado de forma escandalosa. Em 1994, a seleção, que havia acabado de se sagrar tetracampeã
na Copa dos EUA, envolveu-se em um vergonhoso episódio conhecido como “vôo da muamba”. O avião que
trouxe a delegação de volta carregava 17 toneladas de bagagem, a maior parte dela equipamentos comprados
pelos jogadores nos EUA. Nada disso foi declarado à Receita Federal. Diferentemente de 1970, porém, esse caso
repercutiu mal: o então secretário da Receita, Osiris Lopes Filho, deixou o cargo, e os integrantes da seleção se
viram constrangidos a quitar os impostos devidos. Mas isso não impediu que o presidente da Confederação
Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, desmerecesse a pressão: “É irrelevante o que os jornais escrevem. O que