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AGRICULTURA DE GRUPO EM SANTA CATARINA: O Caso
Específico de Condomínios e Associações Leiteiras no Oeste.
Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal de Santa Catarina, para obtenção do título de Mestre em Agroecossistemas.
AUTOR: Sérgio Stedile
ORIENTADOR: Prof. Dr. José Antônio Ribas Ribeiro
CO-ORIENTADOR: Prof. Msc. Mário Luiz Vincenzi
Florianópolis, maio de 2005.
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS – MESTRADO
FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL
DISSERTAÇÃO
Submetida por Sérgio Stedile
como um dos requisitos para obtenção de Grau de
MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Msc. Mário Luiz Vincenzi
Presidente
Prof. Dr. Antônio Diomário de Queiroz
Membro
Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Fº
Membro
Drª Karen Follador Karam
Membro
Aprovada em: 25/05/ 2005.
Prof. Dr. José Antônio Ribas Ribeiro Prof. Luiz Carlos Pinheiro Machado Fº
Orientador Coordenador
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DEDICATÓRIA
A Deus: pela vida, saúde e determinação;
aos Espíritos de Luz: pela guarda e proteção;
à família: pelo encorajamento, incentivo e paciência;
aos professores: pela competência e desprendimento;
aos colegas do curso: pela solidariedade e espírito de grupo;
aos colegas de trabalho: pela compreensão;
ao trabalho: o sustento, o desfio e a terapia;
aos atores sociais: pelo trabalho e perseverança;
aos agroecossistemas: em sua complexidade e pujança;
ao sol: calor e incentivo;
à lua : magia e enigma;
às estrelas: o sonho e resplendor;
à música: melodia, estratégia e compasso para a dança;
aos problemas : possíveis soluções e constantes reflexões;
com carinho: Geórgea F. Stedile e Wanessa F. Stedile (filhas);
com sentimento e admiração: Jenair M. Patrício (companheira);
com respeito: à Amélia Stedile (mãe) e Francisco Stedile (pai, in memoria).
Em fim, “um sistema, sinalizando uma personalidade e um ambiente”.
4
Agradecimentos a todos que
colaboraram, especialmente à família,
professores, colegas e orientadores.
5
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ............................................................................................ 3
AGRADECIMENTOS .................................................................................. 4
SUMÁRIO ..................................................................................................... 5
CROQUI DE LOCALIZAÇÃO DOS GRUPOS ESTUDADOS .................. 6
SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................................... 7
LISTA DE TABELAS .................................................................................... 8
LISTA DE ANEXOS ...................................................................................... 9
RESUMO ........................................................................................................ 10
INTRODUÇÃO E METODOLOGIA ......................................................... 14
1. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................ 19
1.1 - OS GRUPOS AGRÍCOLAS E SUA EXISTÊNCIA ................... 19
1.2 - A PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO ........................ 32
1.3 – PARECERES DE PROFISSIONAIS SOBRE O TEMA
“AGRICULTURA DE GRUPO” .................................................. 39
2. RESULTADOS .................................................................................... 43
3. ANÁLISE ECONÔMICA E CONSIDERAÇÕES SOBRE
ASPECTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS ............................................. 85
DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES ................................................... 99
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 105
ANEXOS ......................................................................................................... 109
6
CROQUI DE LOCALIZAÇÃO DOS GRUPOS ESTUDADOS
Condomínio Beira Rio, Saltinho/ SC
(BR 269 e BR 279, com entroncamento na BR 282 em Pinhalzinho/SC,
Próximo de Chapecó/SC e depois de Serra Alta/SC)
Condomínio Raio de Luz, Nova Itaberaba/SC
(BR 282, próximo e após Chapecó/SC)
Associação Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira/SC
(BR 280, divisa com Argentina e Barracão/PR, próximo de São Miguel D’Oeste/SC)
Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz/SC
(BR 480, BR 451 e BR 467, com entroncamento na BR 282
Em Xanxerê/SC, próximo de Chapecó/SC)
Condomínio 25 de Maio, Serra Alta/SC
(BR 269 e BR 279, com entroncamento na BR 282
em Pinhalzinho/SC, próximo de Chapecó/SC)
Paraná
Rio Grande do Sul
Ar
g
entina
S A N T A C A T A R I N A
REGIÃO
OESTE
7
SIGLAS E ABREVIATURAS
ACARESC Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de
Santa Catarina
ACCS Associação Catarinense de Criadores de Suínos
APACO Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense
CCRA Cooperativa Central de Reforma Agrária
CEPAGRO Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo
CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CODER Conselho de Desenvolvimento Rural
CGC Cadastro Geral de Contribuinte (Receita Federal), hoje CNPJ.
COTRASC Cooperativa dos Trabalhadores Rurais Assentados de Santa
Catarina
CRESOL Cooperativa de Crédito
DZDR/CCA/UFSC Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural, Centro de
Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina
EMATER Empresa de Assistência e Extensão Rural
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de
Santa Catarina
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
ICEPA Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa
Catarina
IGP-di Índice Geral de Preços – disponibilidade interna
MA/MFF Ministério da Agricultura – Fundo Federal Agropecuário
MERCOSUL Mercado Comum do Conesul
MST Movimento dos Sem Terra
ONGs Organizações não-governamentais
ORNTs Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
PRONAF Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar
SAA Secretaria da Agricultura e Abastecimento
SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
UFLA Universidade Federal de Lavras – Minas Gerais
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade diária de alimentos volumosos e dos alimentos
concentrados disp. e ou fornecidos para cada unidade animal (UA) .... 32
Tabela 2 - Indicadores produtivos (lactação) dos sistemas de produção ............ 32
Tabela 3 - Valores monetários mensais dos custos de produção de leite,
queijo e pasteurização de cada sistema de produção ......................... 33
Tabela 4 - Safra julho/00 a junho/01 – Comparação entre estratos de
produção de leite da Região Oeste Catarinense .................................. 34
Tabela 5 - Safra julho/99 a junho/00 – Comparação entre estratos de
produção de leite da Região Oeste Catarinense............................... ...... 35
Tabela 6 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e
número de filhos - Condomínio Rural Leiteiro Raio de Luz ........... 45
Tabela 7 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e
número de filhos - Condomínio Leiteiro Beira Rio ...... ........................ 50
Tabela 8 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e
número de filhos - Condomínio 25 de maio ....... ................................... 54
Tabelas 9 a 12 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e
número de filhos - Associação Feirão da Roça ..................................... 58
Tabela 13 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e
número de filhos - Associação Madre Maria Bernarda ........................ 64
Tabela 14 - Número de famílias entrevistadas por grupo e local do grupo ............. 68
Tabela 15 a 18 - Síntese das respostas das famílias entrevistadas ....................... 69
Tabela 19 - Resultados contábeis - Cond. Beira Rio, Saltinho / SC ........................ 85
Tabela 20 - Resultados contábeis - Cond. Raio de Luz, Nova Itaberaba / SC ........87
.
Tabela 21 - Resultados contábeis - Cond. 25 de Maio, Serra Alta / SC .................. 88
Tabela 22 - Resultados contábeis - Cond. Madre M. Bernarda, Abelardo Luz /SC ... 89
Tabela 23 - Desempenho das propriedades leiteiras no Oeste Catarinense,
1993/1994 e 1994/1995, SMP de 0 a 7 hectares .................................. 94
Tabela 24 - Resumo e comparação dos resultados contábeis dos grupos ............ 99
Tabela 25 - Tabela comparativa de indicadores dos grupos, citados na
formulação do problema e confrontação com a hipótese ................... 101
9
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I - Conceitos Empregados em Administração Rural ................................ 109
ANEXO II - Fotos dos Componentes dos Grupos Agrícolas de
Santa Catarina .................................................................................... 119
Foto 1 - Sócio da Associação Feirão da Roça,
Dionísio Cerqueira/SC, entrevistado por Sérgio Stedile ............................ 119
Foto 2 - Sócio da Assoc. Feirão da Roça, Dionísio
Cerqueira/SC, entrevistado por Sérgio Stedile .......................................... .119
Foto 3 - Família do Sócio Assoc. Feirão da Roça,
Dionísio Cerqueira/SC, entrevistada por Sérgio Stedile ............................. 120
Foto 4 - Família do Ex-sócio do Condomínio
Rural Leiteiro de Beira Rio , Saltinho/SC, com Sérgio Stedile .................. 120
Foto 5 - Família do ex-sócio do Condomínio Rral
Leiteiro 25 de Maio, Serra Alta/SC, com Sérgio Stedile .............................. 121
Foto 6 -Associados da Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo
Luz/SC, na indústria de queijos, com Sérgio Stedile ................................... 121
Foto 7 - Associados da Associação Madre Maria Bernarda,
Abelardo Luz/SC, com Sérgio Stedile ......................................................... 122
Foto 8 – Sócio do Condomínio Rural
Leiteiro Raio de Luz, Nova Itaberaba/SC, com Sérgio Stedile ................... 122
10
RESUMO
A agricultura de grupo vem sendo estimulada pelos órgãos definidores de
políticas públicas, com a justificativa de ampliar a escala de produção agrícola,
aumentar a oferta de empregos no campo, mitigar o êxodo rural e os custos com a
urbanização dele decorrente. Apesar desse esforço, muitas dessas iniciativas
frustram-se e os grupos formados se desagregam.
O objetivo da presente dissertação foi avaliar os fatores que contribuem para a
desagregação de condomínios e associações de agricultores, especificamente
envolvidos com a produção leiteira.
A consulta a profissionais que tiveram vivência junto aos grupos e a revisão
bibliográfica sobre questões culturais e comportamentais, auxiliaram a formular as
hipóteses deste trabalho: preocupação maior das instituições públicas com a formação
dos grupos do que na sua manutenção; inviabilidade econômica, tipo de atividades
coletivizadas, desuniformidade cultural e do padrão econômico dos componentes, são
fatores decisivos para a desagregação.
Para conferir essas hipóteses foi estudado o caso de cinco grupos localizados
nos municípios de Nova Itaberaba, Serra Alta, Saltinho, Abelardo Luz e Dionísio
Cerqueira, no Oeste Catarinense, que tinham sido formados a partir de iniciativas
públicas e merecido, mais tarde, assistência técnica da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Cada membro de cada grupo foi submetido à entrevista semi-estruturada
contendo questões sobre as condições sócio-econômicas dos associados, os aspectos
formais e legais da constituição das sociedades, a forma de gestão das mesmas, seus
indicadores econômicos e o grau de satisfação individual com a atividade.
Confrontando os resultados obtidos, foi possível verificar que os grupos foram
formados sem que houvesse uma preparação para a vivência coletiva. Não havia uma
programação para assistência técnica ou financeira para os grupos, por parte de quem
promoveu a sua constituição. Dos cinco grupos estudados, três desagregaram-se,
mesmo que obtiveram margens brutas positivas. Individualmente, os componentes dos
grupos desagregados continuaram com a atividade leiteira, empregando a tecnologia
proposta pela UFSC. Analisando-se as atividades coletivizadas (produção,
industrialização ou comercialização) pelos diversos grupos, observou-se que o tipo de
exploração que menos interferiu na privacidade das pessoas e menores deserções foi
11
o que operou somente com a comercialização. O grupo de Abelardo Luz/SC, com
experiência em atuação coletiva pelos movimentos agrários, coletivizado em torno da
produção (leiteira), continuava coeso, apesar de obter a menor margem bruta.
Conclui-se que a viabilidade ou inviabilidade econômico-financeira, por si só, não
é suficiente para promover a coesão ou desagregação de grupos agrícolas.
O resultado e conseqüente conclusão obtida propõem que as instituições
governamentais, antes de promoverem a formação de grupos agrícolas, necessitam
capacitar os associados quanto ao modo de vida que terão. Os projetos necessitam de
estudos mais abrangentes, inclusive o de mercado. Quanto mais coletiva a exploração,
maior a necessidade de preparo dos componentes sobre seus deveres e direitos, bem
como a disciplina necessária ao cumprimento dos regimentos, programas e projetos
estabelecidos. Depois da constituição dos grupos, as instituições devem estimulá-los a
assumirem seus destinos, mas devem comprometer-se com a assistência técnica e
creditícia, programadas conjuntamente.
12
ABSTRACT
The agriculture in group has been stimulated by organisms which determine
public policy, with the justification of amplifying the agricultural production scale,
enlarging the offering of employment in the countryside, moderating rural exodus and
the costs of the urbanization. Despite that effort, many of those initiatives get frustrated
and the groups once organized, separeted.
The objective of the present dissertation was to appraise the factors which
contribute to the disagregation of agriculturist associations, specifically involved in milk
production.
The consultation to professionals who had had living with the groups and the
bibliografical revision about cultural and behavioural aspects help formulating the
hypotheses of this work. A larger preoccupation from public institutions on the formation
of groups than on their maintenance, economical impossibility, type of collective activity,
cultural disuniformity and the components economical standard. These are decisive
factors to desagregation.
To check these hypotheses, facts of five groups located in districts of Nova
Itaberaba, Serra Alta, Saltinho, Abelardo Luz and Dionisio Cerqueira, in western Santa
Catarina state were studied, which had been formed from public initiatives, and later
they have earned technical assistance from Universidade Federal de Santa Catarina.
Each member of each group was submitted to a semi-structured interview,
containing questions about socio-economical conditions of the partners, legal and
formal aspects of the constitution of the associations, their way of management, their
economical indexes and the degree of individual satisfaction with the activity.
Facing the results, it was possible to find out that the groups were formed not
having a preparation for a collective living. There was not had a programming for
technical of financial assistance for the groups, by the ones who had promoting the
constitution. Of all the five groups studied, three of them have got separated, even if
they have adquired very positive borders. Individually, the components of the
desaggregated groups went on the milk activity, employing the technology proposed by
the UFSC. Analysing the collective activities (production, industrialization or
commercialization) from different groups, it was observed that the type of exploration
which has less interfered in people privacy and less desertion was the one that has
13
operated only with the commercialization. Abelardo Luz/SC’ group, experient in
collective performance in agrarian movement, collectivizing around production (milk),
kept united, despite obtaining a smaller brute border.
It is conclusive that the finacial-economical practicability or impracticability itself is
not enough to promote a cohesion or desaggregation of agricultural groups.
The result and consequent obtained conclusion proposes that the governmental
institutions, before promoting the formation of agricultural groups, need to enable the
people of future associations for the way of living they will have. The projects need more
including studies, including the market one. The more collective is the exploration,
bigger is the need for preparation for the components about their duties and rights, as
well as the discipline, which is necessary to the accomplishment of the statutes,
programs and projects once established. After groups constitutions, the institutions must
stimulate them to assume their destinies, but they need to engage with credit and
technical assistance, unitedly planned.
14
INTRODUÇÃO E METODOLOGIA
A paulatina diminuição da rentabilidade das propriedades rurais ao longo das
últimas décadas, ao lado de mudanças nos costumes no sentido de uma sociedade de
consumo, têm acelerado o fluxo migratório de agricultores para as cidades.
Esse êxodo tem produzido sérios problemas sociais e ambientais,
potencializando custos com saúde, educação, saneamento e demais gastos com a
urbanização de zonas, muitas vezes classificadas como de preservação permanente.
Esse aumento nas despesas públicas tem estimulado governos a desenvolverem
políticas no sentido de viabilizarem a permanência dos produtores rurais no campo.
A formação de associações, condomínios e cooperativas tem sido uma das
estratégias mais usadas para atingir esse objetivo, com a alegação, aos produtores
rurais, de que o agrupamento traz como conseqüência o aumento de escala dos
negócios e otimização de uso dos recursos das propriedades.
O crescimento desses grupos pode ser constatado no documento apresentado
pelo Centro de Estudos de Promoção da Agricultura de Grupo - CEPAGRO, que
informou a existência de 947 grupos com 16878 associados em Santa Catarina, já no
ano de 1992. O projeto Microbacias 2 do Governo Estadual promove a formação de
grupos, não apenas por interesse próprio, mas tem o compromisso junto ao Banco
Mundial, seu parceiro, a constituí-los através da criação de associações de
desenvolvimento de microbacias - ADMs.
O entusiasmo das instituições e administradores públicos, no entanto, não tem
sido compartilhado por diversos grupos que já se dissolveram ou estão tendo
dificuldades de se manterem.
A Universidade Federal de santa Catarina - UFSC, por exemplo, foi chamada
para auxiliar um condomínio leiteiro no Oeste Catarinense, que estava em dificuldade.
Tal grupo tinha sido planejado para explorar a atividade leiteira, em um sistema em que
as vacas ficavam semi-estabuladas e recebiam alimentação no cocho. Era um sistema
muito dispendioso. A UFSC, através do seu Departamento de Zootecnia e
Desenvolvimento Rural, aperfeiçoara outro sistema de custo mais baixo, baseado
quase que exclusivamente na implantação e manejo de pastagens, e por isso foi
convocada.
A partir do sucesso alcançado na melhoria da rentabilidade e do condomínio, foi
também convidada a auxiliar na formação ou na transformação de outros condomínios.
15
Durante os cinco anos de atividade, formou-se no Oeste Catarinense, mais 4
associações de produtores, tendo como finalidade econômica a exploração da
bovinocultura de leite.
Relatórios sobre a assistência técnica da UFSC nesses grupos foram
apresentados anualmente pela coordenação da equipe e um dos pontos importantes
que foram salientados nesses relatórios era o de que, apesar de os grupos estarem
tendo remuneração condigna na atividade, havia dificuldade de manter a coesão. O
primeiro grupo, por exemplo, já tinha se desagregado. Notícias de descontentamento
em outros grupos, formados com outros objetivos, também estavam ocorrendo.
Motivados pelos fatos citados, decidiu-se levar em frente um estudo que
trouxesse luz a respeito das razões que levavam os grupos agrícolas a se
desintegrarem.
O objetivo geral desse trabalho foi de levantar possíveis causas para esses
acontecimentos, com ênfase nas questões de ordem administrativa e econômica, nos
condomínios assistidos pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Detalhar as razões que levaram à formação dos grupos, a cultura, as ligações de
parentesco, as condições sócio-econômicas dos componentes; e principalmente a
gestão econômico-financeira, os aspectos formais e legais de organização e formação
dos grupos, constituíram-se nos objetivos específicos desta dissertação.
Além da revisão da literatura, buscou-se também levantar opiniões de técnicos
que tiveram alguma participação na assistência técnica a grupos de agricultores e,
também, informações preliminares através de contatos com o Professor Mário Luiz
Vincenzi, coordenador do projeto geral da UFSC nos Condomínios do Oeste de Santa
Catarina, com o fito de melhor embasar as hipóteses para esse trabalho.
As hipóteses levantadas resumem-se no seguinte: a) as dificuldades de
aglutinação dos grupos de agricultores ocorrem por não se levar em conta, na
formação dos grupos, a real motivação para o ingresso e considerarem-se, apenas em
parte, os aspectos tecnológicos, econômicos e sociais dos potenciais integrantes; b)
durante seu operar, os desentendimentos ocorrem, principalmente, por insuficiência
administrativa, contábil e carência na mediação de conflitos; c) na produção leiteira,
objeto da constituição dos grupos, existem questões técnico-administrativas que são
mais difíceis de serem conduzidas coletivamente que atividades industriais e de
comercialização, as quais permitem maior privacidade e maior exercício da
16
individualidade; e, por isso, os grupos que se concentram em atividades mais coletivas
são mais passíveis de encontros conflituosos e, consequentemente, de desagregação.
Para alcançar os objetivos propostos e testar as hipóteses lançadas, foram
realizadas visitas e entrevistas com cinco grupos de agricultores, a saber: Condomínio
Raio de Luz, localizado em Nova Itaberaba; Condomínio 25 de Maio, em Serra alta;
Condomínio Beira Rio, em Saltinho; Associação Feirão da Roça, em Dionísio Cerqueira
e Associação Madre Maria Bernarda, em Abelardo Luz.
A metodologia usada nas entrevistas foi sugerida por Glodenberg (1997), Minayo
(1992), Cruz Neto (1992) e Jovchelovich & Guareschi (1998).
Após a auto-apresentação e informação do objetivo da visita a cada uma das
famílias, geralmente, com todos os familiares presentes, conduziu-se os
questionamentos aos titulares dos grupos, ouvindo-se também os cônjuges e filhos
presentes. Quando havia a presença de outro sócio, solicitávamos privacidade para
garantir que não houvesse constrangimentos ou influências. As perguntas que serviram
de roteiro para as entrevistas foram:
01. Quem teve a idéia de formar o grupo?
02. Qual a finalidade de criar o grupo?
03. O grupo está unido?
04. Onde e como o grupo foi formado?
05. O grupo ou você recebe assistência contínua?
06. O grupo tem conta bancária?
07. O grupo tem livro caixa?
08. Quem paga ou pagava as contas?
09. Se sente ou se sentia bem no grupo? (você em relação ao grupo).
10. Tem ou tinha algum problema no grupo?
11. Como se presta ou se prestava contas?
12. De quanto em quanto tempo se mostrava as contas?
13. Como se registra o que acontece nas reuniões ou assembléias?
14. Existe balancete ou como se calcula o lucro ou prejuízo?
15. Houve ou há reuniões de planejamento das atividades?
16. Quem decide ou decidia o que, quanto, onde criar ou plantar?
17. As reuniões ocorrem de quanto em quanto tempo?
18. É bom plantar ou criar em conjunto?
19. Quando você planta ou cria, de onde recolhe a maneira de fazê-lo?
17
20. Onde você procura a informação técnica que usa?
21. A quantidade de produção era ou é suficiente para que todos acreditem na
produção coletiva?
22. O que acha que está errado no grupo?
23. Qual a proposta que você tem para os grupos agrícolas?
24. Você acha bom ou ruim trabalhar coletivamente? (produção em grupo).
O resgate contábil e sua respectiva operacionalização foram executados de
acordo com a metodologia preconizada pela Empresa de Pesquisa e Extensão Rural
de Santa Catarina - Epagri, praticada em seu projeto de sócio-economia (Melhoria de
Sistemas Produtivos da Agricultura Familiar de Santa Catarina), utilizando-se o
software Contagri 6.01 (sistema de contabilidade agrícola).
O sistema Contagri possibilita o lançamento dos custos variáveis, custos fixos,
inventários (terras, benfeitorias, animais, máquinas e equipamentos, atividades, mão-
de-obra e insumos). Além de executar a contabilidade geral das propriedades, calcula
os resultados por atividade. Possibilita fazer o cálculo das depreciações, custo de
oportunidade do capital empregado e remuneração da mão-de-obra existente nas
propriedades.Também possibilita fazer o custo de produção dos produtos obtidos nas
explorações, além de outras tantas facilidades. A terminologia empregada e definições
encontram-se no final desta (Anexo II).
Nos grupos estudados, procedeu-se o resgate de dados e informações nos livros
de atas e de contabilidade, principalmente junto ao presidente, tesoureiro ou secretário.
No contato direto com os componentes dos grupos e seus familiares, verificou-se
seu próprio contexto, obtendo informações e conhecendo a realidade. Foram relatadas
as histórias dos componentes em relação aos grupos, os aspectos sociais, econômicos
e ambientais. Investigou-se a história de cada grupo, bem como experiências e
opiniões individuais.
Foram realizadas anotações simultâneas com o uso de diário, registro com
fotografias e coletadas outras informações úteis.
Além disso, efetivou-se o resgate contábil das explorações leiteiras dos grupos
para fazer uma análise e diagnóstico pertinente, podendo relacionar a influência
econômica nas relações existentes.
Para facilitar a entrevista das famílias em Dionísio Cerqueira/SC, a Secretaria
Municipal da Agricultura colocou um funcionário à disposição, que indicou o local em
que residiam. Em Serra Alta/SC, uma extensionista da Epagri apresentou um dos
18
componentes que residia na cidade e este acompanhou-nos para apresentar seus ex-
sócios. Para entrevistar os componentes dos demais grupos, obtiveram-se as
informações de diversas pessoas para chegar às localidades rurais e encontrá-los.
19
1. REVISÃO DA LITERATURA
1.1 – OS GRUPOS AGRÍCOLAS E SUA EXISTÊNCIA
Os grupos agrícolas são entendidos como organizações de adesão voluntária,
com capacidade de canalizar a participação e essenciais à solução de problemas
cotidianos.
A formação de grupos na agricultura é substanciada por diversos motivos e com
interferências externas e, geralmente, são formados por exigência formal nas regras de
financiamentos ou para obter valor monetário em quantidade necessária aos projetos;
metas estipuladas de profissionais agrários, na elaboração de seus planos e ou
projetos; missões ou diretrizes institucionais para facilitar o trabalho e abranger número
maior de beneficiários com menor volume de recursos financeiros.
Existem grupos que se formam para atender necessidades de proteção; atender
condicionantes de natureza técnica e ambiental (mananciais hídricos, fauna, flora,
outros); buscar melhores condições de formação e de lazer; enfrentar condições de
natureza social e humana; amenizar influências macroeconômicas, melhorando as
condições de produção e de se viver bem.
Os grupos também são formados para atender necessidades de volume de
produção, justificar os fatores de produção, produzir em “economia de escala” ou
exigência de mercado; baratear custos e socializar encargos; aliança na defesa de
objetivos comuns e ou reacionários; e para solução de necessidades legais
associativas: sindicato, cooperativa, associação, condomínio e outras.
A criação e manutenção de grupos são conseqüências de necessidades de
superar as adversidades no meio rural e sobreviver neste ambiente.
Na existência de necessidades e problemas numa sociedade cheia de
contradições, os pesquisadores acreditam que a formação de grupos
represente a única possibilidade de melhoria da situação de
desfavorecidos. No meio rural, este tipo de organização tem se
constituído como uma forma de resistência às dificuldades econômicas
e sociais no processo de produção e reprodução, cada vez mais
competitivo e seletivo. [...] O setor rural brasileiro tem sido alvo de
inúmeros projetos governamentais de desenvolvimento que privilegiam
a criação de organizações para os mais diversos fins. Sua organização
é coordenada por instituições não governamentais e principalmente por
instituições públicas. (NAVES & GOMES, 2003).
20
Os diversos fatores para justificar a criação e manutenção de grupos, destacam-
se necessidades econômicas, principalmente para ampliar a escala de produção,
realizar obras em conjunto, possibilitar a obtenção de financiamentos e obter
assistência técnica, viabilizar e racionalizar o uso de mão-de-obra, máquinas e
equipamentos.
Algumas vezes, os grupos são formados para justificar o funcionamento de
estruturas físicas financiadas com recursos públicos, nacionais e ou internacionais,
idealizadas por autoridades, técnicos ou na satisfação de líderes em viabilizar projetos
coletivos.
Nos condomínios rurais
1
e associações, denominados agricultura de grupo
2
,
destinados à produção e comercialização, envolvem renda e trabalho freqüente em
conjunto, as responsabilidades são maiores e existe maior intensidade problemas.
Os principais fatores para coesão ou desagregações, de acordo com Schumacher
(1983), são: interferências externas, cultura e comportamento do indivíduo nas relações
grupais, percepção individual e representação de classe, influência capitalista,
influência de ordem econômica (no grupo e das políticas públicas), Influência do
planejamento, previsibilidade e controle, liberdade humana que não pode fazer parte do
plano e especificidades da agricultura familiar.
A preocupação nas relações dos grupos já é muito antiga e a formação de grupos
novos, infelizmente, não tem considerado os revezes já mencionados em experiências
anteriores, apesar de se conhecer, por longo tempo, informações sobre as relações
conflituosas.
No Oeste de Santa Catarina, foram os condomínios de suinocultura e marcaram a
trajetória da produção coletiva. Em 1985, o projeto de condomínios suinícolas
3
,
elaborado pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Santa Catarina – SAA,
1
Condomínios rurais são formas de associação muito difundidas no Oeste Catarinense, inicialmente na produção de
suínos, armazenagem e mais recentemente na pecuária leiteira; importantes para o desenvolvimento rural.
2
Agricultura de Grupo pode ser entendida como uma organização voluntária, formal ou informal, com objetivos
propostos e essenciais à solução de problemas difíceis de serem resolvidos individualmente; sendo: ambientais,
sociais e econômicos (NAVES & GOMES,2003).
3
O projeto previu para o quadriênio 1985/88, o montante de CR$8.025.000.000,00 (oito bilhões e vinte e cinco
milhões de cruzeiros) ou 210.032 (duzentos e dez mil e trinta e duas) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
- ORTNs, que representava 6,74% do total de recursos que estavam sendo investidos no setor. Para ter melhor
noção em termos de moedas, tendo em vista que o Dólar Of. Venda
teve uma valorização de 294% de janeiro a
dezembro de 1985, seu preço médio no ano foi em agosto, valendo CR$6.711,36; logo o valor deste projeto foi na
ordem de US$1.195.733,80, aproximadamente. Com base na paridade (preço) de um Dólar correspondente a
21
Emater/Acaresc, Cepa/SC, UFSC, Associação Catarinense de Criadores de Suínos -
ACCS e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, previu aumentar
de 50 para 100 o número de condomínios, principalmente para de produção de leitões.
O crédito rural, vigente na época, operava com juros de 3% ao ano e correção
monetária, sem período de carência, o que inviabilizava o investimento na suinocultura.
A organização em condomínios previa que estes fossem constituídos por 8 a 10
vizinhos, pequenos e tradicionalmente suinocultores, organizados em nível de
comunidade, com grande coesão social e nível de confiabilidade recíproca, os quais
adquiriam: 0,10 hectares de terra para instalar a unidade de produção de leitões;
instalações para a fábrica, depósito e misturador de ração; e residência para um
administrador (membro do grupo escolhido).
As fontes de recursos eram do Fundo Federal Agropecuário do Ministério da
Agricultura, - MA/FFAP, Fundo da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Santa
Catarina - FUNDO S.A. A. e a contrapartida dos suinocultores. A devolução dos
recursos, inclusive os liberados pelo MA/FFA, era para que a S.A.A. tivesse um fundo
rotativo para prosseguir com novos financiamentos e para o sistema troca-troca de
machos e matrizes.
Os objetivos do projeto visavam: aumentar a produtividade zootécnica, elevar a
qualidade e quantidade dos rebanhos, ampliar a comercialização, fixar os produtores
no meio rural e estreitar as relações sociais e de auxílio mútuo no meio rural, prevendo
este comportamento para os outros setores de atividade humana da comunidade.
Os valores individuais influenciam qualquer organização social e também são
responsáveis em modificar a própria organização. Pode-se dizer que o dente diferente
ou quebrado de uma engrenagem é distinto e pode ranger a cada volta. No entanto,
abala toda a estrutura de funcionamento da engrenagem, vista como um todo.
[...] os sistemas sociais firmam-se em atitudes, percepções, crenças,
motivações, hábitos e expectativas dos seres humanos e, embora a
entidade tenha uma identidade própria, distinta, esta é formada a partir
do relacionamento entre seus membros. (NAVES & GOMES, 2003).
Coesão é fruto de um processo contínuo de acertos, erros, expectativas e
ansiedades dos que, coletivamente, buscam superar dificuldades e alcançar objetivos.
R$2,86 em novembro de 2004, representa R$3.419.798,67 (pouco mais de três milhões e quatrocentos mil Reais),
sem contar as demais contrapartidas, principalmente dos agricultores (não contando com a inflação do Dólar).
22
A vida cotidiana do homem adquire importância na existência e
manutenção da organização e é o espaço onde se desenvolvem os
relacionamentos, reflexão, ação e linguagem. É mecanismo para
entendimento e possibilita a ação coletiva. Isto é importante para
entender que os relacionamentos são construídos passo a passo, dia a
dia, como resultado da convivência grupal, entendimento e esforço
coletivo na execução das mais diversas atividades ou funções
(LAKATOS, 1981).
Na atividade agrícola, embora esta esteja sujeita às regras de mercado, como
qualquer outra atividade, admite-se que a empresa rural desempenhe um papel
adicional de realização pessoal (ou familiar) do indivíduo (ou grupo) que a dirige.
A análise do processo extrapola a noção de maximização do lucro das
atividades desenvolvidas, conjugando elementos subjetivos como a
necessidade de realização dos desejos e aspirações. Envolve
elementos como o convívio familiar e social, autonomia decisória,
reconhecimento comunitário, enfim, variáveis que podem interferir ou
determinar a capacidade administrativa do produtor rural.(CELLA,
2002).
Existem Interesses pessoais em participar de grupos, principalmente em:
realização e satisfação pessoal, realização de desejos e aspirações, convívio familiar e
social, reconhecimento comunitário, revolver questões financeiras e sociais e
Interferências particulares.
Segundo Marx (1977), as interferências particulares podem ser: “velhas
recordações, inimizades pessoais, receios e esperanças, preconceitos e ilusões,
simpatias e antipatias, convicções, princípios e outras”.
Além da herança genética que o homem possui ao nascer, é moldado num
ambiente que lhe é oferecido, por opção, necessidade ou situação, onde obtém sua
cultura, seus valores, relacionamentos e oportunidades.
Marx (1977) aborda a sucessão de gerações, hábitos e costumes e parece ser
com certa espiritualidade, quando se refere à interferência das gerações mortas.
Os homens fazem a sua própria história, não de forma arbitrária ou em
condições escolhidas por eles, mas sim nas condições diretamente
determinadas ou herdadas do passado. A tradição de todas as
gerações mortas interfere nos cérebros dos vivos. Quando necessitam a
eles e as coisas, de transformação ou em criar algo absolutamente
novo, evocam com inquietação os espíritos do passado, que lhes
tomam de empréstimo os seus nomes, as suas palavras de ordem, os
seus costumes, para entrarem na nova cena da história sob esse
disfarce venerável e com essas palavras emprestadas. (MARX,1977).
23
Para Naves & Gomes (2003), se os componentes de grupos agrícolas tivessem
melhores condições de comunicação, teriam melhor participação e consideração.
Os grupos desagregam-se por diversos motivos e na existência de conflitos.
Mudança é um distúrbio de um persistente
equilíbrio”. (Yassan Sankar, 19-?)
O pensamento anterior leva-nos a uma reflexão e ao entendimento de que a
desagregação de grupos não é coisa má e sim uma mudança. Relações conflituosas
possibilitam uma situação ou novo estágio em todas as áreas: social, econômica e
ambiental. São fatores para o equilíbrio. Se conflituosas e contínuas (sem mudança),
favorecem o caos. Mudar de pensamento, opinião, comportamento é uma dádiva para
uma constante evolução da humanidade.
Muitos grupos agrícolas não têm continuidade, mesmo que consigam boas
produções. Iniciativas de formação de grupos, nem sempre alcançam resultados
positivos.
Quando existe o insucesso da agricultura de grupo as justificativas são
de que a agricultura familiar é subordinada aos demais setores,
considerando os produtores tradicionais, desinteressados, egoístas e
individualistas. Não existe tradicionalismo, imobilismo entre produtores
familiares, mas sim um processo constante de mudança, renovação e
recriação das condições físicas e de formas de relacionamento em
função de mantê-los na atividade agrícola. (NAVES & GOMES, 2003).
Muitos grupos agrícolas que não foram bem sucedidos tiveram o Estado como
mentor e paternalista. O Estado, além de promotor, foi o responsável pela organização
dos mesmos, a exemplo de grupos com atividades que obtiveram insucesso, exemplo:
café, abacate, limão siciliano, novilho precoce, dentre tantos outros.
Constata-se que a agricultura familiar, segundo Mussoi (1995), vai mudando seu
perfil, perdendo sua identidade e modificando questões culturais.
A agricultura familiar
vem sendo gradativamente condicionada a
mudar o seu perfil, adequando-se ao modelo de desenvolvimento e
subordinando-se à indústria e ao mercado. Vai perdendo sua
identidade, num processo de erosão cultural que poderá se tornar
irreversível. [...] A agricultura familiar possui um conjunto de elementos
fundamentais que figura um sistema integrado, uma forma de vida, onde
os seus integrantes sociais detêm um saber/conhecimento construído
histórica e coletivamente. Este saber condiciona uma lógica específica
de tomada de decisão, e tende a favorecer o estabelecimento de uma
relação harmônica com o meio ambiente. [...] Torna-se fundamental
24
levar em conta a grande diversidade de representações do mundo e do
sistema de crenças e de valores, características de seus
integrantes.(MUSSOI,1995).
Para Naves & Gomes (2003), na agricultura de grupo as organizações, mesmo
que voluntárias, flexíveis e com certa capacidade de canalizar a participação dos
integrantes, “nem sempre alcançam os objetivos propostos, por não atender ao
interesse dos membros ou, por assuntos que os motivaram a ingressar”.
Vincenzi (2003) alerta que, observando o comportamento de grupos de famílias
associadas na atividade leiteira, verificou que há diferenças no relacionamento das
pessoas, de acordo com o negócio que desenvolvem. “A produção leiteira tem mais
dificuldades para ser realizada no coletivo, enquanto que a industrialização e a
comercialização de produtos tornam-se mais fáceis de operar em conjunto”
4
.
Para analisar o comportamento de componentes de grupos e considerar
que sua participação coletiva passa a ser vista como função externa e
não exclusiva de suprimento das necessidades familiares de
subsistência, essa participação poderá, a nosso ver, ser considerada
uma alternativa de caráter transitório e ocasional [...]. A decisão em
participar de um grupo implica numa remuneração mais alta por unidade
de trabalho do que em seu empreendimento particular. Se não houver
retorno financeiro e lhe trouxer muito esforço ou incômodo, não aceitará
participar ou o fará por pouco tempo (ANJOS,1995).
Para Anjos (1995), o comportamento do agricultor seria explicado pela aversão à
penosidade.
O trabalho duro só é aceito com resignação, enquanto as necessidades
básicas da família não forem atingidas e haverá disposição a um grande
sacrifício em trabalho, embora com retorno econômico muito baixo.
Uma vez alcançadas estas necessidades elementares, a estimativa feita
em torno da utilidade dos bens adicionais cai e aumenta a aversão ao
trabalho. (Anjos, 1995).
O trabalho executado em grupo, paralelo às atividades normais das propriedades
de seus componentes, pode ser visto como atividade externa ou penosa (no caso,
podendo ser atividades específicas na produção de leite) ou menos lucrativa. Neste
caso, justifica-se o caráter transitório e ocasional a permanência dos componentes em
grupos, principalmente se a viabilidade econômica não for tão compensadora e for de
risco.
4
Esta informação foi uma opinião pessoal do Prof. Msc. Mário Vincenzi, manifestada em sala de aula,
para os mestrandos em agroecossistemas, 2003,UFSC; e pela necessidade de investigação sugerida, foi
colocada pelo autor, no rol de preocupações para investigação no trabalho.
25
Para Schumacher (1983), os agricultores constituem uma massa enorme cujos
membros vivem todos na mesma situação, mas sem estarem unidos uns aos outros
por relações diversas. O seu modo de produção isola-os uns dos outros, em vez de
levá-los a relações recíprocas.
Na medida em que apenas existe um elo entre os pequenos agricultores
e a semelhança dos seus interesses, não cria entre eles nenhuma
comunidade, nenhuma ligação nacional, nenhuma organização política.
É por isso que não são capazes de defender seus interesses de classe
em seu próprio nome quer por intermédio de uma associação ou por
intermédio de uma assembléia. Não podem representar-se a si próprios,
têm que ser representados. Os seus representantes devem aparecer-
lhes simultaneamente como seus dirigentes [...] Portanto, a influência
política dos pequenos agricultores encontra a sua última expressão na
subordinação da sociedade ao poder executivo.(SCHUMACHER, 1983).
O ser humano com sua percepção individual e seus atributos deve ser
evidenciado como influência principal nas organizações, e não apenas considerar
importante a influência do aspecto formal, como processo racional e técnico.
[...] Há necessidade de uma análise mais completa da estrutura, não
somente os atributos formais, mas a influência da percepção individual
na construção e avaliação dos recursos reguladores da rotina
organizacional. Considerar o aspecto formal como processo racional e
técnico, tende-se a desvalorizar o aspecto mais importante – o ser
humano e que as tarefas enfrentadas pelas organizações, são mais
complexas e difíceis do que podem ser previstas e controladas. (NAVES
& GOMES, 2003).
Presume-se a complexidade em querer instalar e formar grupos para operarem
em comum e socializarem seus meios de produção, numa cultura individualista
permeada por séculos e gerações, sem contar com as diferenças entre os indivíduos.
A dificuldade em participar de grupos agrícolas, principalmente na produção
5
é
que os indivíduos não são iguais.
[...] um é mais forte e outro mais fraco; um é casado, outro não; este
tem mais filhos, aquele tem menos, etc. É difícil reunir meios privados
de produção e obter uma justa repartição dos objetos de consumo,
conforme o trabalho e não conforme as necessidades. (SCHUMACHER,
1983).
Um dos fatores importantes que contribuem para na coesão e desagregação dos
grupos agrícolas é a influência de ordem econômica.
5
Considerando aqui apenas a produção como um componente da verticalização, em termos de toda a cadeia produtiva,
inclusas a industrialização e comercialização.
26
Para haver possibilidade de uma participação efetiva e tranqüila do agricultor
num grupo agrícola, uma questão importantíssima que deve ser levada em conta é a
existência de certa eqüidade de poder econômico (posses) dentre seus componentes.
Qualquer deliberação ou entrada de capital combinada pela maioria não pode jamais
comprometer a estabilidade financeira e a tranqüilidade do indivíduo.
Uma parábola que exprime a diferença entre indivíduos e faz uma analogia de
atitudes é a seguinte: tem agricultor que perdeu uma vaca e como tem apenas duas,
perdeu a metade do rebanho, ou seja, 50% dos animais; trata-se de uma magnitude
considerável. Para um agricultor que perde uma vaca e possui 50 delas, perdeu
apenas uma parcela, ou seja, 2% dos animais; e não representa grande abalo em sua
estrutura ou condição.
Num grupo agrícola onde ocorre disparidade de posses econômicas existem
grandes dificuldades para entrada de capital. Para alguns, significa muito sacrifício ou
muito risco e, conseqüentemente, muito desconforto e constrangimento. Tendo que
justificar à família, o comprometimento de valores que abalam a estrutura ou a
tranqüilidade no lar. Por outro lado, no seu operar, o empreendimento pode não levar
em consideração as pequenas despesas, os gastos ou apropriações. Para alguns,
podem ser consideradas ninharias; e de outro lado, estas insignificâncias afetam
profundamente aos menos afortunados.
Sabe-se que ao ingressar num grupo agrícola ou num empreendimento qualquer,
além da realização pessoal e consideração obtida, benigna a todos, existe a motivação
de ordem econômica. Se esta traz pequenos riscos ou abalos à estrutura financeira
particular, é bem vinda ou tolerada. Se o empreendimento for construído e conduzido
devagar e sem endividamento, é mais fácil participar e continuar acreditando.
[...] todo homem de negócio, como indivíduo privado, talvez esteja
interessado em outros aspectos da vida (bondade, verdade e beleza),
mas como homem de negócio só está preocupado com os lucros. A
essência da iniciativa privada é a propriedade dos meios de produção,
distribuição e troca.(SCHUMACHER,1983).
Na apuração de resultados positivos e cabendo uma parte a cada componente do
grupo, para alguns componentes, sua parte pode ser insignificante e não atraente,
dependendo de suas posses e rendimentos. Para os menos favorecidos, sua parte
passa a ser uma grandeza essencial e motivo de júbilo. A distribuição dos lucros aos
componentes é expectativa imediata e natural; se os lucros forem conduzidos à
27
deliberação de ampliação de capital, cai a utilidade marginal de satisfação e a
expectativa fica frustrada.
Quando os resultados de um empreendimento ou de operações de um grupo
forem negativos ou necessitarem de injeção permanente de capital e trabalho
extraordinário, existe uma rejeição natural ao negócio grupal e preocupação com o
investimento. Este último é considerado como aplicação imediata de recursos para
obter possível retorno em médio ou longo tempo, com incertezas. A viabilidade de um
empreendimento é de suma importância, pois no caso de resultados negativos ou
insuficientes ou de retorno tardio, são fatores não motivadores e geradores de conflitos.
Os componentes podem pensar no ditado do autor desconhecido: “vale mais um
passarinho na mão, do que dez voando”.
Existem estratégias, citadas por Cella (2002), para minimizar riscos, como a
utilização de parcerias, diversificação de atividades, melhorar a comercialização,
melhorar a qualidade e apresentação dos produtos, e melhorar o ‘capital humano’
através da educação formal, informal e treinamento.
Outra grande influência na coesão de grupos agrícolas é o sucesso do
empreendimento grupal, relacionado com a viabilidade econômica. Como vimos, um
empreendimento pode ter alcançado resultados positivos e, divididos entre os
componentes, podem não representar uma satisfação ótima. A globalização dos
mercados exige eficiência e competitividade. Quem opera em escala maior, terá maior
competição em preços, conquista de mercado e resultados melhores (mesmo operando
com faixa menor de lucratividade, mas vendendo maior volume ou quantidade de
produção). Na agricultura familiar este é fator limitante pela pequena quantidade da
produção, impossibilitando uma economia em escala maior. Além da produção,
também aparece o mesmo problema na comercialização, quer em quantidade ou quer
na regularidade do atendimento aos consumidores; sem falar nas condições de
qualidade e apresentação dos produtos. Existem também problemas referentes ao
marketing e propaganda, que exigem recursos de monta maior, além da formação
específica do ‘capital humano’.
A análise de Cella (2002)
6
, ao explicar se um empreendimento rural é considerado
bem ou mal sucedido, além da finalidade de produzir lucro, apresenta questões
importantes que devem ser observadas na sua administração, sendo: financeira,
6
Dissertação, analisando o tema “Caracterização dos Fatores Relacionados ao Sucesso de um
Empreendimento Rural”, tomando por base produtores rurais de Não-Me-Toque / RS.
28
comunicação e informação, planejamento pessoal e aproveitamento de oportunidades.
Além disso, existem outras variáveis significativas: satisfação pessoal, qualidade dos
produtos e controle físico e financeiro de gastos e receitas.
A desagregação de grupos pode ocorrer se o homem não for considerado o fator-
chave do desenvolvimento.
Toda a História, assim como a experiência atual, aponta o fato de ser o
homem, e não a natureza, quem proporciona o primeiro recurso: o fator-
chave de todo o desenvolvimento econômico brota na mente humana.
Subitamente, ocorre um surto de ousadia, iniciativa, invenção, atividade
construtiva, não em um campo apenas, mas em muitos campos
simultaneamente. A Educação é o mais vital de todos os recursos
existentes. (SCHUMACHER, 1983).
Projetos e ações de desenvolvimento só poderão ser viáveis se levarem em
conta as limitações econômicas. As pessoas são a fonte primária e suprema de toda e
qualquer riqueza. Se as deixarem de fora, se forem manipuladas a bel-prazer por
pretensos especialistas e planejadores arbitrários, então, nenhum fruto verdadeiro
poderá jamais vingar. Podem ser ajudadas a ajudarem a si mesmos, tornando-lhes
acessível uma tecnologia que reconheça suas condições.
Quando a ênfase recai sobre as pessoas, os problemas de comunicação
tornam-se predominantes. Se as pessoas não podem adaptar-se aos métodos, então
estes devem ser adaptados a elas.
Schumacher (1993) também afirma que “o homem é destruído pela convicção
íntima de sua inutilidade. Nenhum crescimento econômico pode compensar tais
perdas. A melhor ajuda a dar é a intelectual, uma dádiva de conhecimentos úteis;
preferível às coisas materiais”.
A coesão e desagregação de grupos podem ocorrer por influência do
planejamento, da previsibilidade e do controle.
A questão da previsibilidade (estimativas, planos, previsões e orçamentos sobre
pesquisas; metas e programas) é não só importante, mas também intrincada. A
diferença mais importante é geralmente entre atos e acontecimentos.
Os acontecimentos, no que diz respeito ao planejador, simplesmente
acontecem. Ele talvez possa prevê-los e isso poderá influenciar o seu plano; mas eles
não podem absolutamente fazer parte do plano.
29
O futuro é em grande parte prognosticável se tivermos conhecimento
seguro e extenso do passado (em grande parte, mas nunca totalmente),
pois na elaboração do futuro entra aquele fator misterioso e irreprimível
chamado liberdade humana, a liberdade da criatividade. [...] a negação
da liberdade é uma negação da responsabilidade: não há atos, mas
apenas acontecimentos; tudo simplesmente ocorre, ninguém é
responsável. Por certo se as coisas simplesmente ocorressem e tudo
seria perfeitamente previsível se não houvesse um elemento de
liberdade, escolha, criatividade e responsabilidade humanas.
(SCHUMACHER, 1983).
A previsibilidade total, segundo Schumacher (1993), não existe. As decisões
isoladas dos indivíduos são, em princípio, imprevisíveis. As pessoas que fazem
previsões, talvez disponham de uma avaliação exata dos pressupostos em que elas se
baseiam. Estudo de viabilidade explora, em longo prazo, tendências pressupostas.
A existência de mediação ou arbitragem nos grupos agrícolas pode evitar ou
superar conflitos.
A cada momento, a cada dia, a cada operação ou em cada atividade, os
indivíduos que estão atuando em conjunto ou permanecendo juntos, estão expostos e
sujeitos às divergências e conflitos.
Mediação é uma forma ecológica de resolução de conflitos sociais e
jurídicos; uma forma na qual o intuito de satisfação do desejo substitui a
aplicação coerciva e terceirizada de uma sanção legal. [...] A mediação
é uma forma ecológica de negociação ou acordo transformador das
diferenças. [...] Mediação é uma forma alternativa (com o outro) de
resolução de conflitos. É um componente estruturante da visão
ecológica do mundo. [...] A mediação baseia-se em pressupostos
psicológicos e psicanalíticos, numa teoria do conflito que não vê como
algo maligno ou prejudicial. A mediação mostra o conflito como uma
confrontação construtiva, revitalizadora. [...] Conflito, não deve ser
entendido como os juristas entendem ser ‘controvérsia, que se reduz a
questões de direito ou patrimônio’, mas como ‘forma de produzir, com o
outro, a diferença; conflito como forma de inclusão do outro na produção
do novo: o conflito como outridade que permite administrar com o outro,
o diferente, para produzir a diferença, mediante um trabalho em relação
às coisas diferentes que todos portam’. [...] O conflito como uma
diferença energética, não é prejudicial. É um potencial construtivo e que
tem que ser administrado, por um mediador. (WARAT, 1998).
Quando as tentativas de organização falham, não se pode afirmar que o motivo é
que os produtores são tradicionais, desinteressados e sem condições para se
organizarem. Existe um processo constante de mudança, renovação e recriação das
condições físicas e de formas de relacionamento, em função de mantê-los na atividade
agrícola. A cada momento, surgem situações diferentes no tempo e no meio,
30
necessitando de constantes e sistemáticas mediações para resolução das dificuldades
e conflitos.
A arbitragem, segundo a Lei Nº 9.307 (23/09/96), é uma forma de dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis e ou conflitos, por direito ou eqüidade, onde
as partes poderão escolher livremente as regras de direito, desde que não haja
violação aos bons costumes e à ordem pública; nos usos e costumes, com base nos
princípios gerais do direito; escolher o árbitro, mediante convenção arbitral, que profere
a sentença arbitral.
O entendimento sobre a agricultura familiar é elementar para a compreensão
das razões que dificultam a coesão de agricultores em grupo; também necessário para
que mudem seus métodos de atuação, dividam tarefas ou funções e passem a agir
coletivamente.
A agricultura familiar tem sofrido pela indiferença e preconceito não só de
políticos, mas de estudiosos, considerando-a como irrelevante no contexto do
desenvolvimento.
[...] O trabalho no interior da agricultura familiar, especialmente a de
pequeno porte, é de uma intensidade tão relevante que somente os
membros da família aceitariam executá-los. Também o leque de tarefas
é tão diverso, que os membros da família acabam desenvolvendo uma
competência multifacetada. Tornam-se verdadeiros artesãos.(ANJOS,
1995).
Para Anjos (1995), “a maioria dos pequenos agricultores familiares explora de
forma intensiva os recursos escassos disponíveis, e que mesmo assim é difícil
conseguir gerar renda agropecuária superior ao nível de reprodução da família”.
Segundo Abramovay (1992), as características principais destes
empreendimentos familiares são: mão-de-obra predominantemente familiar, unidade de
produção/consumo e unidade de produção/reprodução social.
[...] são administrados pela família, e neles a família trabalha
diretamente, às vezes com auxílio de terceiros, porém a predominância
do trabalho é da família. [...] a propriedade familiar caracteriza-se por
ser ao mesmo tempo uma unidade de produção e de consumo, e uma
unidade de produção e de reprodução social.(ABRAMOVAY, 1992)
As políticas para o desenvolvimento não podem perpassar por comportamentos
ou intenções de cunho político. Devem estar além das vaidades pessoais. Não
esquecer de que as pessoas passam, porém as instituições e os resultados (positivos
31
ou negativos) ficam. E para que desta forma aconteça, se faz necessária a participação
comunitária, como autores sociais beneficiários ou afins.
Segundo Freire (1982) existem propostas encaminhadas por uma extensão
7
que
realmente “comunique-se e, não estenda descompromissadamente sobre o agricultor
uma determinada tecnologia, especialmente para o pequeno produtor familiar”.
A extensão não pode pensar o agricultor como alguém vazio, sem
conhecimentos, sem cultura e “este erro não poderá ser cometido
novamente como o foi no passado, sob pena de comprometermos ainda
mais os nossos recursos, não só humanos, mas do ‘meio ambiente’
como um todo. Onde ‘meio’ quer dizer: espaço, local, lugar, habitat; e
‘ambiente’ relações, convívios, solidariedades. As tecnologias
necessitam ter uma visão sistêmica e epistemológica do que é ‘meio
ambiente’ e ou ‘desenvolvimento sustentável’; até porque se o
desenvolvimento não for sustentável, jamais poderia ser classificado de
desenvolvimento. (FREIRE, 1982).
É lógico que novas atitudes ou práticas não implicam em retorno ao passado,
conforme posição de Ormond et al. (2002) In: Agricultura Orgânica: quando o passado
é futuro, mas uma visão de futuro que visa recuperar o domínio do conhecimento,
apropriação de tecnologia e harmonia entre o homem e o meio ambiente.
A estabilidade de uma agroecossitema envolve as questões socioculturais e
socioambientais, além dos objetivos tecnológicos e econômicos.
A ‘estabilidade de um agroecossistema’
deve ser alcançada pelas
tecnologias que melhor se adaptam aos recursos do agricultor
(estabilidade de gestão), estratégias de produção corretas em relação
ao mercado (estabilidade econômica), e principalmente tomando como
base as estruturas organizativas e de contexto sociocultural
(estabilidade cultural). O objetivo entre os processos de ecologização e
de ações sociais coletivas se expressa na busca e na vontade de
construir alternativas tecnológicas e organizacionais que sejam capazes
de superar a crise socioambiental. Esta afeta e coloca em risco a
continuidade da reprodução socioeconômica daqueles segmentos da
agricultura familiar de pequeno porte que não querem, ou não podem
mais seguir ou ingressar no processo de modernização agrária (padrão
convencional de intensificação tecnológica).(ALTIERI, 2001).
7
Entende-se por extensão, um processo contínuo de interação de profissionais e ou instituições junto às famílias
rurais, utilizando métodos e práticas pertinentes ao atendimento das necessidades, problemas e conflitos existentes,
respeitando as potencialidades, especificidades e saber local; numa amplitude das questões sociais, econômicas e
ambientais; inclusa a assistência técnica nas atividades agropecuárias. (definição do autor deste trabalho).
32
1.2 - A VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DOS CONDOMÍNIOS
LEITEIROS, COM PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO.
Os condomínios e associações leiteiras em estudo foram orientados a
produzirem leite à base de pasto a partir da intervenção da Universidade Federal de
Santa Catarina, cujo histórico de participação foi bem detalhado nos trabalhos de
Dartora (2002) e Abreu (2001).
Para analisar a importância da atividade, tomando por base os dados do IBGE
(1985 a 2002), Santa Catarina produzia, anualmente, 603.704.000 litros de leite em
1985 e 1.192.699.000 litros em 2002. O Oeste do Estado produzia 270.493.000 litros
em 1985 e 790.521.000 litros em 2002. O incremento da produção do Estado, nestes
17 anos, foi de 97,56%, enquanto que no Oeste o incremento foi de 192,18%. Em
termos de percentual da produção do Oeste Catarinense frente à produção Estadual,
em 1985 representava 44,80% do total e em 2002 representou 66,26% do total. O
Oeste produz mais leite do que o restante das demais regiões.
Na produção de leite à base de pasto, Dartora (2002)
8
, além de ressaltar as
questões inerentes aos pacotes tecnológicos, dependência de insumos externos, custo
ambiental, demandas de agrotóxicos, recursos não-renováveis, estrutura de produção,
tecnologias apropriadas, dentre outras, também investigou a produtividade e
rentabilidade, comparou o sistema convencional e orgânico na produção das pastagens
e leite.
Foram classificados os sistemas de produção em: pastoril, semi-intensivo e
intensivo no cocho. A classificação foi realizada através dos dados fornecidos pelos
agricultores, envolvendo: área de pastagens, formas de utilização dos pastos e nível de
fertilizantes utilizados nas áreas das forrageiras.
A alimentação fornecida nos sistemas está descrita na tabela a seguir:
Tabela 1 - Quantidade diária de alimentos volumosos e dos alimentos concentrados
disponíveis e ou fornecidos para cada unidade animal UA estimadas em quilos de
matéria seca:
Sistemas Alimentos Alimentos Total de
8
Dissertação, com o tema “Produção Intensiva à Base de Pasto: processamento, transformação e comercialização
como alternativa para a agricultura familiar de pequeno porte”, reportando-se à área de estudo nos municípios de
Erechim/RS e Chapecó/SC.
33
de
produção
volumosos
Kg MS / UA / dia
concentrados
Kg MS / UA / dia
alimentos
Kg MS / UA / dia
Pastoril 10,73 1,72 12,45
Semi – intensivo 8,97 2,38 11,35
Intensivo no cocho 7,85 4,02 11,87
Média Geral 8,87 2,90 11,78
Fonte : Dartora (2002)
O método de pastoreio para cada sistema de produção foi contínuo, rotativo e
Voisin, totalizando 9 métodos e 45 números de sistemas.
Os indicadores da produção obtida estão registrados na tabela a seguir:
Tabela 2 – Indicadores produtivos (lactação) dos sistemas de produção
Sistemas de
produção
(1) Produção / vaca / dia
(litros)
(2) Produção / vaca / dia
(litros)
Pastoril 10,87 13,22
Semi – intensivo 7,63 9,28
Intensivo no cocho 7,21 8,87
Fonte: Dartora (2202)
No indicador produtivo (1), a produção total de leite do ano foi dividida por 365
dias e no (2), foi dividida por 300 dias (período de lactação).
Na tabela anterior, verifica-se que no sistema pastoril a produtividade é de 3,24 e
3,66 litros / vaca / dia maior. No sistema semi-intensivo representa uma quantidade a
maior de 1.182 litros e no sistema intensivo, 1.335 litros.
Em 2002, o custo de produção está na tabela a seguir:
Tabela 3 – Valores monetários mensais dos custos de produção de leite, queijo e
pasteurização de cada sistema de produção:
Sistemas
de
produção
Custo de
produção
do leite
(R$/mês)
Custo de
produção
por vaca
(R$/mês)
Custo
unitário
total
(R$/litro)
(C)
Resultado
econômico
R$ / litro
(D)
Resultado
econômico
R$ / litro
Pastoril 1.200,32 88,70 0,24 ( + )0,09 ( + )0,11
34
Semi – intensivo 890,69 86,00 0,33 ( - ) 0,08 ( + ) 0,07
Intensivo no cocho 1.261,30 97,81 0,45 ( - ) 0,17 ( - ) 0,02
Fonte: Dartora, 2002.
(C) representa resultados econômicos, por litro de leite, obtidos com a aplicação
da planilha do Instituto ICEPA; (D) representa Renda líquida mais a mão-de-obra,
administração e remuneração do capital fixo da produção (instalações, cercas,
equipamentos, rebanho e terra).
O resultado econômico do litro de leite, atribuindo-se a renda líquida e os
componentes da mão-de-obra, administração e remuneração do capital fixo, resultante
das fases que os produtores realizam, desde a produção, processamento e
transformação e comercialização, incluindo as fases realizadas fora do processo
produtivo (agregação de valores), alcançou o valor agregado de R$0,11 por litro, como
média geral.
Matheus (2002) realizou estudo econômico da atividade leiteira do Oeste
Catarinense, com base nas safras 99/00 e 00/01, e registrou que várias organizações
interferiram na atividade leiteira, além dos produtores.
Além dos segmentos que fazem parte da cadeia produtiva, várias
organizações (federal, estadual e municipais), organizações de
interesse privado, ONGs, passaram a interferir na cadeia produtiva do
leite na Região. Entretanto, há evidências de que a atividade leiteira no
Oeste do Estado não possui uma coordenação que garanta uma
competitividade, contribuindo para a exclusão dos agricultores
familiares.(MATHEUS, 2002).
As tabelas a seguir, mostram o resultado apurado:
Tabela 4 - Comparação entre estratos de produção de leite da Região Oeste
Catarinense - safra julho/99 a junho/00
Itens
Unidade
Produção
menor de
40.000
litros/ano
PEQUENO
Produção entre
40 a 60.000
litros/ano
MÉDIO
Produção acima
de 60.000
litros/ano
GRANDE
Produtores un 6 5 5
35
Vaca leiteira UA 11,58 15,38 16,46
Produção litros/ano 25.387 49.447 51.924
Receita do leite US$/litro 0,125 0,135 0,140
Custo do leite US$/litro 0,110 0,115 0,115
Lucro do litro leite US$ 0,015 0,020 0,025
Rentabilidade
contábil* da atividade
US$ 380,80
988,94 1.298,00
Rentabilidade real
da atividade
US$ 152,50
688,00 1.332
Fonte : Matheus, 2002, com dados da Epagri.
* Trata-se de variação contábil e a não venda total do leite produzido na propriedade.
Tabela 5 - Safra julho/00 a junho/01 – Comparação entre estratos de produção de leite
da Região Oeste Catarinense.
Item
Unidade
Produção
menor de
40.000
litros/ano
PEQUENO
Produção entre
40 a 60.000
litros/ano
MÉDIO
Produção acima
de 60.000
litros/ano
GRANDE
Produtores un 6 5 5
Vaca leiteira UA 9,35 16,21 17,08
Produção litros/ano 26.332 53.502 68.025
Receita do leite US$/litro 0,135 0,145 0,145
Custo do leite US$/litro 0,170 0,140 0,083
Lucro do litro leite US$ ( - ) 0,035 0,005 0,062
Rentabilidade
contábil* da atividade
US$ ( - ) 921,62
267,51 4.217,55
Rentabilidade real
da atividade
US$ ( - ) 870,50
( - ) 359,00 3.735,50
Fonte : Matheus,2002, com dados da Epagri.
* Trata-se de variação contábil e a não venda total do leite produzido na propriedade.
36
Segundo Matheus (2002), em consulta realizada ao técnico Renato Broeto
9
,
registrou que as indústrias pagam preços maiores aos produtores que possuem escala
maior de produção e alguma mecanização. Enquadra-se neste perfil, o estrato dos
grandes produtores.
A ‘escala maior de produção’ possibilita maior aproveitamento de insumos,
máquinas, equipamentos, mão-de-obra e custos fixos, que são rateados numa
quantidade maior de produção.
Mello (1998) registrou a tendência à desertificação social e um acelerado
aumento no êxodo rural na região Oeste Catarinense, pela falta de oportunidades para
os jovens; e principalmente as mulheres, são as primeiras a deixar o meio rural. “Há
uma tendência inevitável ao envelhecimento e masculinização
10
do meio rural.” Dentre
razões das mais complexas, citou como uma das causas para a crise gerada, a
concentração na suinocultura e via na atividade leiteira, bem estruturada e consolidada,
uma alternativa de ocupação produtiva, oportunizando principalmente os jovens.
Também Testa et. al. (1996) justificam a importância da atividade leiteira, pela
absorção de mão-de-obra, alto valor agregado na propriedade, fácil descentralização
das unidades industriais, grande alcance social, uso de terras ‘não nobres’
11
e atividade
ecologicamente limpa. Os autores falam de especialização e economia de escala e
deixam dúvidas, em relação às intenções de uma busca desenfreada em encontrar
alternativas na substituição da suinocultura e dar ocupação à mão-de-obra existente,
ou propiciar oportunidade de renda, cidadania e desenvolvimento rural e social.
A atividade leiteira também passa pela concentração. Mello (1998), executou um
cálculo para melhorar a escala de produção para 30, 40 e 50 vacas por propriedade,
para produzir o volume de leite comercializado na região Oeste, em 1995. Demonstrou
que, para produzir de 108.000 a 180.000 litros/ano, seriam necessários 1.993 a 3.223
produtores, tendo 34.956 a 36.246 produtores em excesso, num total de 38.179
produtores da época existentes. Menos de dez por cento conseguiriam produzir o
volume de leite necessário e comercializado na época.
9
Renato Broeto foi o técnico da Epagri que acompanhou as propriedades, as quais serviram para o estudo de Mateus
(2002).
10
Masculinização foi o termo utilizado por Mello (1998), para registrar a presença maior de pessoas do sexo
masculino, no meio rural.
11
As áreas ‘não nobres’ são as consideradas possíveis de serem utilizadas na atividade leiteira, reflorestamento,
fruticultura e outras atividades; e não tão propícias à exploração agrícola, devido à sua fertilidade e principalmente
pela declividade acentuada.
37
Mello (1998), citou Escosteguy et. al. (1993), que se contrapuseram à visão
dominante no meio técnico e empresarial, onde concluiu que a “especialização não
ocorrerá, como também os produtores não abandonam a produção de leite, por uma
lógica gerencial e de sobrevivência que induz e confere estabilidade dos sistemas,
garantindo uma reprodução deste grupo social, embora em condições precárias.”
Para Mello (1998), a organização de condomínios leiteiros no Oeste Catarinense
é uma idéia interessante sob o ponto de vista industrial.
A organização de condomínios leiteiros no Oeste Catarinense é uma
idéia interessante sob o ponto de vista industrial, pois pode utilizar a
ordenha mecânica, armazenagem e resfriador de leite e demais
cuidados higiênicos e sanitários (dentro de padrões exigidos pelos
lacticínios), volume de leite por ponto de coleta; em conformidade com
as expectativas das agroindústrias e cooperativas. Apesar destas
vantagens, os condomínios não têm a mesma aceitação por parte dos
agricultores. Um motivo é a incapacidade de melhorar a organização
interna das propriedades, inexistência de financiamentos em condições
favoráveis e o estabelecimento de complexas relações entre os atores,
resultando num ambiente dinâmico onde fervilham idéias e projetos. O
agricultor fica frente a uma nova realidade e depende de uma
organização coletiva e aprendizagem organizacional. Na implantação de
condomínios de suínos, grande ênfase foi dada para a esfera
econômica, tanto por parte dos animadores do processo quanto pelos
próprios agricultores, o que pode ter contribuído para que muitos não
tivessem sucesso. (MELLO, 1998).
Mello (1998), quando fala das inovações tecnológicas, sendo uma a de produção
de leite à base de pasto, aponta as várias fases sucessivas durante as quais se criam
os laços sociais: ação no contexto, idéia inovadora no indivíduo ou grupo deles, idéia
em projeto, projeto em execução, consolidação e concretização da idéia. O risco de
insucesso, em cada fase, é muito grande pelo estabelecimento de novas conexões e
alianças em cada etapa e aponta a importância do apoio institucional, necessário à
transposição de cada etapa, na forma de animação do processo e ou de apoio
financeiro. Estes conflitos fazem parte do processo inovador, cujo sucesso, muitas
vezes, depende da boa administração dessas oposições. Todas as ações dependem,
da parte dos iniciadores, de tato, imaginação e paciência para vencer as oposições,
convencer as pessoas e construir alianças necessárias para o sucesso da ação.
Para Mello (1998), não basta apenas a existência de recursos financeiros para a
implantação do projeto, mas “uma estratégia que mobilize e sensibilize os atores
sociais envolvidos; aglutinar ações e esforços capazes de mobilizar a maior parte dos
38
atores no sentido de promover o desenvolvimento que leve em conta as pessoas e as
questões ambientais”.
A estrutura agrária do Oeste, segundo Mello (1998), onde cerca de 94% das
propriedades têm menos de 50 hectares, “limita consideravelmente o número de
propriedades que podem ter a escala de produção de leite desejada pela maioria das
indústrias".
Segundo Siminski (2004)
12
, 90% dos agricultores entrevistados e inclusos os
pareceres dos extensionistas da Região de Concórdia apontam como principal ponto
que influencia na participação em um projeto de desenvolvimento é a baixa-estima dos
atores sociais. Esta baixa-estima é devido à situação em que a agricultura se encontra,
sendo: a não-valorização do homem do campo, a dificuldade financeira, o trabalho
árduo, o pouco tempo disponível, as poucas atividades de lazer e por ser, a agricultura,
uma atividade de alto risco para investimentos. Esta baixa-estima dos agricultores é
repassada aos filhos, que passam a visualizar a cidade como melhor opção de vida; e
86% dos jovens saíram do meio rural.
Mesmo com desejo de permanecer no meio rural, os agricultores estão
desanimados porque não conseguem incentivar os filhos a ficar nas
propriedades. Quanto aos trabalhos em grupos (associações e/ou
cooperativas), 85% dos produtores dizem ser favoráveis, mas na
prática, poucos agricultores se disponibilizariam a formar um grupo.
(SIMINSKI, 2004).
Abreu (2001)
13
, analisou o Projeto do DZDR/CCA/UFSC de Produção Intensiva
e Coletiva de Leite à Base de Pasto e além de priorizar e ater-se às questões
tecnológicas, também apresentou várias informações de grupos agrícolas. Com
referência dados dos grupos estudados neste trabalho, em nada são diferentes do que
se apresenta; houve algumas coincidências em autores consultados.
12
Dissertação, com o tema “Atores sociais e Desenvolvimento Local: a participação no caso da microbacia de Nova
Teotônia, Seara/SC.
39
1.3 - PARECERES DE PROFISSIONAIS, SOBRE O TEMA: “AGRICULTURA DE
GRUPO”.
Apresenta-se a seguir a íntegra da manifestação formal de convidados especiais
que deram seu parecer, com base no título deste trabalho. A função e formação dos
mesmos constam em notas de rodapé.
PARECER 1
Prof. Dr. LUIZ CARLOS PINHEIRO MACHADO
14
“Certamente que a má gestão contábil-administrativa influi na desagregação da
agricultura de grupo”.
Entretanto, em minha opinião, o fator mais importante, e que necessita ser
pesquisado, é toda uma cultura individualista estimulando a competição desenfreada.
São o que os meios de comunicação de massa, as igrejas e o próprio sistema
capitalista promovem diuturnamente. Isto estimula o egoísmo e, por conseqüência, a
dificuldade de manter coesão.
A agricultura de grupo, no início tem a participação de seus integrantes porque,
geralmente, encontra-se em situação pré-falimentar e vêem no grupo uma saída
imediata. Superada a crise pela produção coletiva, esquecem-se de sua origem e
passam a predominar os valores culturais antes citados.
Mas que a produção coletiva é a única alternativa de sobrevivência da agricultura
familiar, isto não tenho dúvidas. Em 17 set 04. PS – autorizado a fazer o uso que
melhor lhe aprouver.
13
Dissertação, com o tema “Análise do Projeto do DZDR/CCA/UFSC de Produção Intensiva e Coletiva de Leite à
Base de Pasto no Oeste de Santa Catarina”.
14
Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado é Engenheiro Agrônomo, Professor do Curso de Pós-Graduação da UFSC, Autor de
oito livros na área de produção animal.
40
PARECER 2
Profª. Drª. ANA RITA RODRIGUES VIEIRA
15
Creio que o problema está bem delimitado e objetivado, pois vejo que as
dificuldades de ordem geral acontecem porque é difícil reunir as pessoas em torno de
objetivos ou propostas, pois estas priorizam questões pessoais (especialmente as
diferenças de idéias e posicionamentos) o que faz surgir a necessidade de agradar a
tudo e a todos, tendo que haver sempre um culpado.
A hipótese coloca a insuficiência contábil como um dos fatores prioritários que
dificultam a aglutinação do grupo o que não creio, muito embora o fator econômico seja
de extrema importância para que o grupo acredite no seu potencial. A insuficiência
administrativa sim é mais relevante uma vez que esta pode enfocar e alertar o grupo
para as diferentes visões que o empreendimento pode ter ou adquirir e, a partir daí,
como mostrar isto de forma ecológica, econômica, social, etc. Por exemplo, para
explicar as relações econômicas e benefícios ecológicos do sistema de produção,
posso falar só em taxa de retorno, ou posso falar em lucro, taxa de retorno, custos de
produção, valor presente líquido e eficiência de uso da terra. Deve haver um cuidado
quando se coloca a real motivação do grupo para participar da proposta, no sentido da
colocação não desvalorizar o papel dos conhecimentos adquiridos através da pesquisa,
porque, muitas vezes, o grupo necessita de entender este conhecimento para
contrapô-lo aos seus e, assim entender e dar maior significância aos seus próprios
conhecimentos.
Sobre os objetivos é preciso delimitar melhor o que é levantar a cultura, pois só
isto pode se constituir uma dissertação onde você levantará todo o trabalho da
ectoecologia e etnobiologia ligado ao tema. O mesmo pode ser afirmado para as
referências feitas para as condições sociais e econômicas. Será necessário saber
também como se estabeleceriam estas formas de relacionamento dos pesquisadores e
atores sociais, pois isto pode contribuir para a valorização de determinados
levantamentos (exemplo: oficinas ao invés de questionários e/ou entrevistas)
15
Profª Drª Ana Rita Rodrigues Vieira é Engenheira Agrônoma, Professora do Curso de Pós-Graduação da UFSC.
41
PARECER 3
Prof. Dr. LUIZ RENATO D’AGOSTINI
16
A coesão entre agricultores, com ou entre quaisquer outros seres sociais,
decorre da necessidade de agruparem-se para emergirem mais fortes em seus
interesses. A desagregação entre eles, por sua vez, decorre de fortes dificuldades que
os mais fracos no grupo encontram para suportar a força dos interesses daqueles que
resultam muito fortes no grupo.
É fácil todos compreenderem que nem todas as questões são passíveis de serem
percebidas a partir de demandas individuais e de demandas coletivas. Difícil é todos os
indivíduos perceberem que o interesse da coletividade não é o resultado de muitos
interesses individuais. Ainda mais difícil é o indivíduo genérico deixar de perceber a
coletividade como resultado de muitos indivíduos e passar a perceber que um indivíduo
só faz sentido numa coletividade.
Humanos são interessantes seres que resultam adaptados para viverem
agrupados e viver reagrupando seres, segundo interesses (des)humanos. Perceber
coesão ou desagregação em grupos humanos não é perceber o real, mas diferentes
realidades humanas. Agricultores são seres sociais que outros humanos pensam poder
manter coesos. A coesão é uma oportunidade a partir da união da diversidade. A
desagregação é semeadura imposta pela pretensão de impor a igualdade entre
intrinsecamente diferentes. E nada nos torna mais semelhantes aos agricultores do que
a sua capacidade de guardarem suas diferenças.
PARECER 4
Pesq. MURILO FLORES
17
‘Pequeno comentário sobre a formação de grupos no espaço rural’
Há uma grande dificuldade no Brasil, mesmo em regiões com mais tradição
cooperativista e associativista, em se produzirem ações que tenham como base algum
tipo de integração entre os atores rurais. Pode ser percebida uma ausência de projetos
16
O Prof. Dr. Luiz Renato D’Agostini é Professor do Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, UFSC, autor de 3 livros na
área agronômica e social
42
coletivos em torno dos quais se produza a construção de estratégias baseadas em
grupos de produtores. A meu ver, a base desse problema está na formatação “top-
down” ou de cima para baixo dos arranjos que são constituídos.
Em muitos países mais desenvolvidos e onde essas organizações de produtores
têm força significativa, sob diferentes formatos, mesmo quando o processo tem origem
na intervenção técnica ou do Estado, há uma intensa preocupação na participação e
controle dos atores sociais das comunidades sobre os processos. Isso leva a que não
se crie um profundo distanciamento entre as lideranças e os participantes de modo
geral.
Esse distanciamento é típico dos empreendimentos coletivos no Brasil. Um
exemplo clássico é o das cooperativas. Na medida em que começam a ter seu
crescimento, produz-se um distanciamento entre os associados e a direção, chegando
a um ponto, em muitos casos, de que os associados passam a ter um relacionamento
de fornecedores e compradores da cooperativa, e não de associados de um projeto
comum e solidário. Nesse exemplo das cooperativas, percebe-se que muitas
assembléias ocorrem com números reduzidos de associados. Para outros tipos de
iniciativas coletivas, o problema é mais grave e acentuado.
Retornando à questão da construção “top-down”, esta é uma marca constante das
intervenções no país. Torna-se difícil o envolvimento total dos participantes porque a
eles são impostos valores, comportamentos, interesses, estratégias e finalidades, o
que pode estar em dissonância com suas concepções e idéias. Deste modo, somente
com uma profunda transformação nos modos de intervenção é que os técnicos e o
Estado poderão produzir projetos sustentáveis, que demandem uma forte organização
de base. Esse é um desafio para a extensão rural e também para a pesquisa. Em
ambos estão ausentes elementos importantes para uma ação mais adequada. No
campo do desenvolvimento tecnológico, por exemplo, há um grande espaço no Brasil
para a formação de equipes multidisciplinares, para ações interdisciplinares (trabalho
em equipe de técnicos, em torno de um marco epistemológico e estratégias comuns,
para a ação com a participação das comunidades) e transdisciplinares (envolvimento
também de agentes de planejamento, de gestão de políticas públicas locais). Dessa
forma, a intervenção poderá favorecer a formação de projetos comuns e de
organizações capazes de empreendê-los, favorecendo a sua sustentabilidade.
17
Pesquisador da Embrapa, Ex-Presidente da Embrapa e Ex-Secretário de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura
43
Portanto, transferir a responsabilidade para as comunidades parece-me
inadequado. Seria preciso que os agentes de intervenção repensassem seus métodos
e estratégias.
2. RESULTADOS
2.1 – CARACTERÍSTICAS SOCIAIS DOS COMPONENTES DOS DIVERSOS
GRUPOS AGRÍCOLAS
As características de cada um dos cinco grupos e o resultado das entrevistas com
os componentes de cada um, bem como as respostas obtidas na aplicação dos
questionários foram compiladas e analisadas; e o resultado obtido foi registrado,
somando as informações obtidas, haja vista que tinham similaridade e ou
complementaridade entre si.
Existe informações que vão além das respostas contidas nas tabelas supracitadas,
pois também estão contidas nas observações registradas no ‘caderno de anotações’.
No item 2.2 (Famílias entrevistadas e síntese das respostas, tabelas 15 e 18), é
possível observar a amplitude e ou divergências nas respostas individuais; e serve de
referência à análise.
As considerações da situação encontrada junto aos grupos e aos pareceres dos
profissionais servem de base para as considerações finais, juntamente com a análise
econômica e aspectos sociais e ambientais.
2.1.1 - Condomínio Rural Leiteiro Raio de Luz
De acordo com Abreu (2001) e Vincenzi (2003), o Condomínio Rural Leiteiro
Raio de Luz foi constituído em1990, com sete famílias, na Comunidade Linha
Tarumã, no município de Nova Itaberaba/SC, próximo a Chapecó / SC.
Os componentes deste grupo, com a assessoria do Escritório da Epagri de
Coronel Freitas, iniciaram o projeto com 60 vacas, com alimentação à base de
pastagens anuais, silagem e ração; e com semi-confinamento de gado.
O Condomínio foi implantado numa área de 17 hectares, desmembrada dos 23,4
ha de um dos sócios. O arrendamento era pago anualmente no valor equivalente a
300 sacos de milho, com contrato para 20 anos. Dos 17 hectares, 2 foram destinados
às instalações e área para silagem e foram comprados pelo Condomínio. Os 15 ha
44
restantes foram destinados às pastagens e capineiras. As instalações e equipamentos
foram adquiridos em conjunto.
Foram adquiridas, importadas do Uruguai, 30 novilhas PC (puras por cruza)
holandês preto e branco, com peso médio de 400 Kg, registradas na Associação de
Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul. Através do ‘sistema troca-troca’
18
na Indústria e Comércio de Lacticínios de Chapecó Ltda, foi assinado contrato para
entrega de leite, com exclusividade, a esta indústria, correspondente a 139.500 litros de
leite, com seis meses de carência e mais dezoito meses para liquidar. O contrato
assinado envolveu as 7 famílias.
O projeto previa a produção de leite dentro de um padrão produtivista, com
inúmeros problemas, tais como: alimento muito caro, trabalho excessivo ou
desorganizado dos agricultores, alta declividade do solo, falta ou inadequação de
máquinas, baixo retorno financeiro, dentre outros,
Em 1992, os componentes do grupo visitaram o Condomínio Rural Leiteiro 25
de Dezembro, em Alto da Serra. Este, segundo informações do Prof. Mário Vincenzi,
UFSC, primeiro condomínio leiteiro, foi projetado e implantado com assessoria
exclusiva da Epagri e fracassou por problemas técnicos. O Condomínio Raio de Luz
estava sendo implantado dentro da mesma concepção. Quando a UFSC foi
consultada, apresentou outra proposta que foi colocada em dúvida por alguns
técnicos da Epagri, mas concordaram em ‘pagar para ver’; então se resolveu
transformar o condomínio em projeto piloto. A experiência do trabalho ali
desenvolvida teve significativa importância para a seqüência dos trabalhos
posteriores.
A partir da visita, a concepção do projeto passou por grandes modificações. O
grupo reduziu o plantel para 30 vacas, principalmente por dificuldades de
alimentação.
A Universidade propôs a redução do plantel para 20 vacas, pastoreio racional
Voisin - PRV, criação de terneiros a campo com vacas amas. Após estágios de
estudantes e discussões envolvendo UFSC, APACO, CEPAGRO, EPAGRI,
Secretaria Municipal de Chapecó/SC, foram implantadas as modificações
18
“Sistema troca-troca” foi um programa lançado e utilizado a partir da década de 80, pela Secretaria de Estado da
Agricultura e Abastecimento de Santa Catarina e tem por princípio os produtores adquirirem animais, máquinas,
equipamentos e sementes através de financiamento e pago em dinheiro, equivalente ao preço mínimo de tantos sacos
ou litro de produto (leite, milho, feijão e outros) no vencimento das prestações. Este quantia é calculada na data da
45
necessárias, gerando um impacto significativo, com fluxo de visitas de agricultores e
técnicos da região, de outros estados e países.
Atingiu um rebanho de 33 cabeças, lotação de 3 cabeças por hectare e 20
vacas com produção de 10 litros de leite por dia. A tecnologia foi desenvolvida,
assumida e adotada com facilidade pelos agricultores. E o projeto passou a ser
referência para produção de leite à base de pasto, no Oeste de Santa Catarina.
Depois de três anos de trabalho, em 1994, o grupo dissolveu-se. Os equívocos
da concepção inicial do projeto trouxeram graves problemas para a produção
coletiva, e hoje este grupo não existe mais.
Tabela Nº 6 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e número de filhos –
Condomínio Rural Leiteiro Raio de Luz.
NOMES IDADE ESCOLARIDADE FILHOS
Família 1 - Homem
Mulher
60
56
1ª série
4ª série
4
Família 2 - Homem
Mulher
64
62
4ª série
2º grau
2
Família 3 - Homem 33 2º grau 1
Família 4 - Homem
Mulher
39
39
4ª série
7ª série
3
Família 5 - Homem
Mulher
42
40
5ª série
8ª série
3
Família 6 - Homem
Mulher
49
47
2º grau
4ª série
2
Família 7 - Homem
Mulher
40
38
4ª série
4ª série
4
A família nº 3 mudou-se para Chapecó/SC. O ex-sócio trocou de profissão
(policial). A família nº 7 mudou-se para Coronel Freitas/SC e não está mais na
atividade agrícola. As outras demais famílias foram entrevistadas.
Observa-se que os componentes do grupo estavam já com meia idade, entre
33 a 64 anos, todos com filhos, freqüentaram o ensino fundamental (uns nas
primeiras séries e outros estudaram mais) e com experiência na atividade rural; e
descendentes de imigrantes italianos. Um condômino e seus familiares eram
responsáveis para cuidar dos animais e da produção leiteira do grupo, denominado
‘cuidador’.
liberação dos recursos, acrescida de alguns encargos, dividida pelo número de prestações fixas em quantidade de
produtos (definição do autor deste trabalho).
46
As famílias entrevistadas, em 13 de fevereiro de 2005, apresentaram
respostas e depoimentos, obtendo-se as informações a seguir:
Ao tratar em saber de quem foi a idéia de formar o grupo, houve as mais
diversas respostas: 40% respondeu que partiu dos próprios produtores, 40%
respondeu que foi por influência dos padres da Paróquia Santo Antônio de Chapecó
e do Sindicato; e 20% se adapta nas duas respostas, dizendo que foi porque todos
os produtores tinham a mesma religião, mesmo partido e mesmo sindicato. Foram
em ‘direção de uma luz’, origem do nome do condomínio.
A finalidade de criar o grupo era de produzir leite, até pagar as vacas e montar
a indústria. Ter crescimento econômico com a produção de leite, melhorar as
propriedades, os conhecimentos e realizar um sonho.
Os entrevistados responderam que o grupo não está mais unido.
Tratando-se de como e onde o grupo foi formado, argumentaram que os
padres discutiam a situação difícil dos agricultores. Fizeram reuniões, procurando
uma saída. Na época, falava-se de organizações e se empolgaram. Foram
incentivados a trabalhar em grupo, sendo a melhor saída para conseguir renda.
Entraram no grupo por erro de concepção, sem estarem preparados. O Sindicato
ajudou. Viram em Quilombo/SC, a produção de leite, em excursão com 7 famílias e
gostaram, pois estavam ‘na crista da onda’, ou seja, ‘na melhor’.
O grupo recebia assistência contínua, na época. Na arrancada, foram
orientados pelos técnicos da Epagri de Coronel Freitas/SC, que ajudaram comprar
vacas importadas, para depois fazer pasto; e depois o Prof. Mário, UFSC, mudou a
assistência: primeiro o pasto, reduzindo os animais e preferindo vacas não
importadas.
O grupo tinha conta bancária e livro-caixa.
Quem paga ou pagava as contas era o tesoureiro e às vezes, o presidente.
Dividiam entre si as despesas.
Responderam que se sentiam bem no grupo, mas tinham problemas. As
pessoas moravam longe, com afazeres em suas propriedades, com difícil
deslocamento, tendo despesas e cansaço. O dono da terra trabalhou muito e depois
queria mais renda e não pensou no grupo. O arrendamento era caro, equivalente a
47
300 sacos de milho por ano e o cuidador
19
cobrava demais pelo serviço. Era o valor
de 1 a 3 salários mínimos por mês, depois chegou até a 4 salários. Tirava-se
dinheiro das propriedades individuais para manter a propriedade coletiva e esta não
cobria os custos. Começou errado. Deviam ter feito pastagens antes. Os técnicos de
Coronel Freitas já foram comprando vacas. O Prof. Mário Vincenzi sugeriu a venda
da metade das vacas e produzir leite à base de pasto (tecnologia, trato e piquetes).
As vacas comuns produziam mais do que as importadas, com 10 litros de leite por
dia, sem ração. Todos pagavam 1 salário mínimo por mês para comprar ração.
Compraram a terra, o dono quis de volta, tentaram reverter a situação e não deu
certo. Necessitavam levar leite das propriedades para sustentar o negócio. Era
favorável para o responsável/cuidador. No início havia problemas, com conflitos e o
grupo acabou. Agora, existe paz. Não houve inimizades. Um depoente disse que
para compor um grupo, deve-se observar algumas condições: a) As pessoas não
devem ter idades diferentes e conhecimentos diferentes; b) as pessoas trabalham e
outras não gostam de fazê-lo,pois não são fãs do trabalho e acham que isto não é
importante; e c) a diferença financeira entre associados, gera conflito.
As contas eram vistas nas reuniões, mensalmente.
O que acontecia ficava registrado em livro atas e apresentava-se a prestação
de contas (receitas e despesas) era mostrada. Responderam que havia balancete,
mas percebe-se que desconhecem esta especificidade contábil, o que é normal.
Para um associado, a organização era nota 10.
Houve reuniões de planejamento das atividades. Quem decidia o que, quanto,
onde criar ou plantar era o grupo, com idéias próprias, mas assessorados pela
UFSC, juntamente com um técnico da Prefeitura de Chapecó/SC e a APACO.
Quanto à freqüência das reuniões de planejamento, houve muitas contradições
e as respostas foram as mais variadas: 6 em 6 meses, às vezes todos os meses ou
semanais, sempre, duas vezes por ano, quando necessário. Observa-se que
dependia da vontade e possibilidade dos que prestavam assistência e os
assessoravam.
Ao tratar em saber se era bom ou ruim plantar ou criar em conjunto, disseram
que havia dificuldades para os que moravam longe, porém afirmaram que é bom;
entretanto que não dá certo. Justificaram dizendo que: “devia ter horário, pois uns
vinham de manhã e os outros só de tarde”; “as cabeças não pensam iguais”; “na
19
Família responsável para cuidar dos animais na propriedade, pertencente ao grupo.
48
época achava bom, hoje não trabalharia mais”; “só se as famílias fossem de perto e
do mesmo nível de bens”; “os que têm menos pensam diferente”; e “seria uma saída,
mas não dá certo”. Fica evidenciado um despreparo muito grande para a produção
coletiva, falta de planejamento, falta de gerenciamento e falta de liderança.
Quando se planta ou cria, a maneira de fazer é vista com os professores,
técnicos e um pouco da experiência dos próprios agricultores. Um entrevistado disse
que se fosse hoje, teria experiência e discutiria mais.
Ao perguntar onde procuram a assistência técnica, responderam que “quando
necessária, a informação técnica vem de técnicos da Prefeitura, Sindicato, Epagri e
UFSC”, caracterizando problemas na organização da assistência técnica.
A quantidade de produção não era suficiente para que todos acreditassem na
produção coletiva. Investiram muito e não chegaram a ter lucro. Havia muitas vacas e
muitas despesas; grande investimento e demora em aparecer lucro.
Ao apurar os problemas existentes no grupo, na somatória das respostas,
deram os seguintes depoimentos: “foi um erro de concepção, pois o grupo nasceu
errado”; “pessoal não estava preparado”; “foi uma ilusão”; “visitaram outras
experiências e se empolgaram”; “muito gasto e pouca produção”; “aluguel caro e não
tinha condições”; “não teve planejamento, pessoas moravam longe, com nível
diferente e grupo sem experiência”; “teimosia em insistir em algo errado”; “faltou
baixar o salário do cuidador e colaborar”; “alguns avisaram que iam sair do grupo e
outros acompanharam”; “acharam melhor sair do grupo, pois não era viável brigar”;
“tinha muitas vacas e muitas despesas”; “sócios colocavam um salário mínimo por
mês e ficavam muito tempo sem nada receber”; “o cuidador não tinha boa vontade
que o negócio andasse”; entre outras respostas.
As contribuições oferecidas para outros grupos agrícolas, na somatória dos
depoimentos foram: “primeiro pasto e depois gado”; “o grupo deve ter área própria”;
“planejar muito antes”; “ver quais são as condições”; “melhorar o que tem”; “ir criando
aos poucos e a renda vem logo”; “devia ter feito estudo mais aprofundado, conhecer o
grupo e ter idéias semelhantes”; “não misturar jovens e velhos, para ter grupo de
idades parecidas”; “o grupo deve estar próximo e de preferência ser familiar”;
“trabalhar com a própria mão-de-obra e não pagar a de fora, pois se precisa pagar 13º
salário e férias”; e “as despesas devem ser pagas com as atividades da própria
propriedade”.
49
Um entrevistado, coincidentemente era o denominado “cuidador”, que cuidava
da propriedade do grupo, afirmou que “nenhum sócio deveria trabalhar na propriedade,
deixando só um tratador e ninguém botar o bico”.
Ao perguntar se é bom ou ruim trabalhar em grupo, as respostas foram: “é bom
trabalhar em grupo, pois se vê o serviço aparecer”; “ótimo, mas tem inconveniências”;
“se todos fossem bons, com boa coordenação e caso contrário, não”; “é bom para
aprender, como estágio”; e “deve ser familiar, onde há melhor entendimento”.
Observa-se que foi implantado um projeto coletivo, paralelo às atividades das
propriedades individuais dos componentes, com improvisações, dependendo de
alimentos caros e delegando a responsabilidade de execução a um dos componentes,
bem como, com inúmeros problemas na coletivização de atividades.
2.1.2 - Condomínio Leiteiro Beira Rio
Segundo Abreu (2001) e Vincenzi (2003), o Condomínio Leiteiro Beira Rio foi
formado em1992, com quatro famílias que pertenciam a um outro grupo informal, na
Comunidade São Donato, no município de Saltinho/SC, Região de Chapecó, Oeste
Catarinense.
Antes deste grupo havia um outro menor e as famílias se reuniam na residência
de um dos sócios. Tinham uma mini-indústria de queijos. O leite era produzido nas
propriedades individuais e levado até a fábrica. Duas pessoas revezavam-se na
fabricação do queijo. O lucro para cada família era proporcional ao leite que
entregavam. A proporcionalidade era inclusive na devolução do soro do leite, utilizado
na alimentação animal das respectivas propriedades.
Os interessados na formação do grupo visitaram o Condomínio Raio de Luz,
Nova Itaberaba / SC, para ver os erros e êxitos desse condomínio. Entre os visitantes,
10 famílias tiveram interesse em produzir leite à base de pasto e, através da APACO,
procuraram o DZDR/CCA/UFSC. A Engenheira Agrônoma Licia Brancher, orientada
por professores do DZDR, elaborou um projeto.
Evitando o arrendamento, principal problema verificado no Condomínio Raio de
Luz, devido ao preço elevado, as 10 famílias adquiriram 11 hectares de terra, em
conjunto, para produzirem leite e industrializar queijo tipo colonial.
50
Evitando o endividamento, cada sócio cedeu duas vacas ‘crioulas’, já adaptadas.
Foram selecionadas por uma comissão eleita para isto.
Nesse período, o preço do leite era R$0,14 / litro e do queijo R$3,00 / quilo. Com
oito litros de leite produzia-se um quilo de queijo, sendo que se agregava ao leite um
valor de 164%, resultando R$0,37 o litro.
A unidade de produção foi construída pelos próprios sócios. O manejo do pasto,
manejo dos animais, ordenha e fabricação do queijo, ficaram sob a responsabilidade da
família sócia que morava na propriedade do Condomínio. Esta recebia pelo trabalho o
equivalente a 2,5 salários mínimos por mês. O CEPAGRO e a APACO também
participaram na construção da proposta.
Devido a razões administrativas internas, o condomínio passou por importantes
alterações e seis famílias venderam suas quotas partes para outros condôminos, na
maioria não mais agricultores. Este fato descaracterizou o grupo e a UFSC retirou-se
da assessoria. Considera-se que o grupo se desagregou no ano 2000. Os
componentes que saíram do grupo, segundo o Prof. Mário Vincenzi, não tiveram
prejuízo, pois venderam suas quotas partes.
Tabela Nº 7 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e número de filhos –
Condomínio Leiteiro Beira Rio.
NOMES IDADE ESCOLARIDADE FILHOS
Família 1 - Homem
Mulher
65
66
3ª série
3ª série
9
Família 2 - Homem
Mulher
51
46
5ª série
5ª série
3
Família 3 - Homem
Mulher
66
63
3ª série
1ª série
11
Família 4 - Homem
Mulher
64
62
4ª série
4ª série
3
Em 2001, a família de nº 4 (casal aposentado) saiu do grupo e foi residir em
Joinville/SC, para ficar próxima à residência de sua filha. As demais famílias foram
entrevistadas.
Pelos nomes dos componentes do grupo, sua origem étnica era 2 italianos, 1
alemão e 1 de origem portuguesa. Possuíam idades relativamente parecidas e,
certamente, com grande experiência com a atividade agrícola. Todos freqüentaram a
escola e possuíam filhos.
51
As famílias entrevistadas, em 10 de fevereiro de 2005, apresentaram os
seguintes depoimentos:
A idéia de formar o grupo foi dos produtores que participavam de um grupo
informal anterior, sob a influência do técnico da Prefeitura.
A finalidade de criar o grupo foi a de viabilizar a utilização de mão-de-obra,
máquinas e equipamentos, conseguir financiamento e assistência técnica e
industrializar o leite para vender queijo.
Em resposta à pergunta, os entrevistados responderam que “o grupo não existe
mais”.
O grupo foi formado, a partir de outro grupo informal de 8 famílias, que
permanecia coeso. Reuniram-se no porão da casa do de um agricultor, hoje, falecido.
Em contato com um técnico da Prefeitura de Campo Erê (na época, e hoje, município
de Saltinho), discutiram sobre as dificuldades em produzir de forma individual para
fazer frente ao MERCOSUL. Precisariam de volume de produção, máquinas e
equipamentos, bem como assessoria técnica. O grupo cansou das reuniões e resolveu
ir à prática. Compraram uma área e registraram o grupo, inclusive com Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ. As famílias produziam e comercializavam queijo,
com rendimentos superiores à venda do leite.
Receberam assistência contínua da Prefeitura, bem como apoio e assessoria da
UFSC.
Tinham conta bancária e livro caixa. Quem pagava as contas era o tesoureiro ou
o presidente.
Os componentes sentiam-se bem no grupo, mas tinham problemas: “faltava
formação das pessoas”, “diziam coisas, combinava-se e não cumpriam”, “as idéias
eram diferentes”, “tinha falsidade, com falta de consciência e personalidade”, “não
abraçavam o trabalho e o trabalho de suas propriedades estava em primeiro lugar e
depois do grupo”, “tinha um indivíduo que fazia discórdia, fofocas e brigas”, “existiam
problemas na divisão dos recursos”, “levavam queijo para casa como sendo refugo e
vendiam o seu”, “tive problemas de comercialização do leite, por estarem longe do
comércio”, “a área era pequena” e “os problemas tentavam ser saneados pelo
regimento interno”.
Tinham conta no banco e a prestação de contas era mostrada a cada mês. Havia
recibos, notas e ‘tickets’.
52
Os registros das reuniões ou assembléias eram feitos no livro de atas. Tinha
CNPJ, livro caixa e livro atas.
Pelos depoimentos, existia balancete mensal, mas de fato era a prestação de
contas, receitas e despesas.
As reuniões de planejamento das atividades aconteciam com freqüência e em
certas épocas, eram mais dispersas. Às vezes eram mensais, outras vezes a cada 60
dias e chegou até a acontecer apenas duas vezes por ano. Quando necessário,
reuniam-se. Havia conflitos técnicos, problemas de comercialização e certo desânimo
de ordem econômica. Decidiam e não faziam.
A diretoria dava as idéias do que, quanto, onde criar ou plantar e o grupo decidia.
A maioria vencia. As idéias em função das pastagens eram, principalmente, da UFSC.
Quanto às reuniões de planejamento, as respostas não coincidiram: “mensalmente,
de 60 em 60 dias ou duas vezes por ano”.
Plantar ou criar em conjunto, as opiniões se divergiram, mas todos concordaram
na existência de dificuldades. Disseram: “seria bom, mas é difícil”, “é bonito, mas difícil
dar certo”, “precisa de gente com consciência, pois um bom presidente no meio de um
grupo sacana, não dá”, “cataram tudo o que era do grupo”, “sociedade nem com a
mulher” e “o povo não trabalha unido e recai só numa família”.
Quando se planta ou cria, a maneira de fazer é procurada em visitas a outros
grupos e com técnicos. A UFSC prestava assessoria e orientava. Na época não tinha
técnicos da Epagri e tinha o técnico da Prefeitura.
Quando precisavam de informação técnica, não existia a Epagri no Município e
obtinham da UFSC e APACO. Agora, recebem assistência da Prefeitura, Tirol, Epagri e
UFSC.
A quantidade de produção não era suficiente para que todos acreditassem na
produção coletiva. A quantidade da produção e a propriedade eram pequenas. Tinham
apenas 4 hectares e poucos animais. Faltava água e boa localização. Estavam no
início da exploração, mas sabiam que daria lucro se tivessem volume de produção.
Existe um depoimento de que as contas eram feitas de forma errada.
O que estava errado no grupo era a desunião, complicações, desconfiança e não
havia consenso. Para um entrevistado, estatuto e regimento resolviam as discussões.
Para outros, o motivo foi de que não trabalhavam unidos e não se dava prioridade ao
grupo. Faltava formação, consciência e conhecimento.
53
A contribuição que deram para os grupos agrícolas é de que é difícil operar. Tem
que haver responsabilidade, consciência e respeito com o que é de todos. Deve ter
estatuto e regimento interno, cumprindo as leis. Ter cuidado e transparência. Para
integrar um grupo, deve-se ver a conveniência de cada e se conhecerem bem. Se
pensar só em dinheiro, não dá certo. O maior problema é o econômico. Tem que se ter
paciência, pois nem sempre o dinheiro aparece.
Ao concluir se é bom ou não trabalhar em grupo, os componentes deram vários
depoimentos: “é ruim trabalhar em grupo e causa sofrimento. Só se fosse um grupo
unido”; “o relacionamento ruim que existia e o problema econômico, causaram
desânimo, mesmo que a tecnologia estava certa”.
O problema de falta de liderança, falta de respeito ao acordado nas reuniões e de
transparência, evidenciam a falta de companheirismo ou de mediação nos constantes
conflitos.
2.1.3 - Condomínio 25 De Maio
O Condomínio 25 de Maio, conforme Abreu (2001) e Vincenzi (2003), foi
formado em1989, por sete famílias, em 1989, na Sede do Município, em Serra Alta/SC.
Realizou plantio coletivo de lavouras e trabalhos em forma de mutirão.
Com o tempo, as lavouras coletivas não estavam sendo priorizadas pelo
acúmulo de tarefas nas propriedades individuais. Iniciou-se debate para reorganizar os
trabalhos e em 1992, quatro das sete famílias decidiram trabalhar em conjunto;
priorizando a produção de leite, citros, frangos de corte (6.000 frangos), olerícolas,
culturas anuais (milho e feijão), suinos e uma confecção de roupas.
A área para a bovinocultura foi de 15 ha. Reformaram o centro de ordenha já
existente e reuniram os animais do próprio grupo, na propriedade de um dos membros,
que ficou responsável pelo desenvolvimento da atividade leiteira.
Convidado pela APACO e CEPAGRO, em 1993, o Prof. Mário Luiz Vicenzi,
UFSC, proferiu palestras sobre a produção de leite à base de pasto e iniciou a
assistência e os trabalhos em 1994. A UFSC incentivou a construção da indústria e
procurou entidades para financiar a compra de máquinas para pasteurização de leite e
construção de queijaria. O objetivo era de agregar valor ao leite e não entregá-lo in
natura para a indústria. As pastagens foram melhoradas.
54
O capital não era originário de endividamento, houve também investimento dos
sócios e a gestão era familiar. Passou a incorporar a gestão agrícola e houve
significativa mudança tecnológica.
O conhecimento sobre a cadeia produtiva de leite ficou centralizado na família
que cuidava dos animais e houve viabilidade econômica, agregação de valores,
comercialização direta, sustentabilidade econômica e social. O grupo dividia o lucro. As
demais atividades desenvolvidas pelo grupo (avicultura de corte e hortaliças) não
contaram com acompanhamento, com desníveis de mão-de-obra, conhecimentos e
resultados.
Começaram as desigualdades e falta de cooperação. Com assessoria da
APACO, foi montado um plano estratégico participativo e acredita-se que isso tenha até
contribuído para dissolução do grupo.
Ainda que com mudanças estruturais, a família que sediava a exploração
continua com o projeto e é referência no Oeste.
O grupo desagregou-se em 1998.
Tabela Nº 8 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e número de filhos –
Condomínio 25 de Maio.
NOMES IDADE ESCOLARIDADE FILHOS
Família 1 - Homem
Mulher
54
52
8ª série
8ª série
2
Família 2 - Homem
Mulher
44
45
4ª série
4ª série
2
Família 3 - Homem
Mulher
52
37
3ª série
4ª série
1
Família 4 - Homem
32 2ª série, na época.
Hoje,
administrador.
-
A família nº 4, em 1998, foi embora para Florianópolis/SC e agora está
trabalhando numa empresa em Lages/SC. As demais famílias foram entrevistadas.
Os condôminos, embora com sobrenomes diferentes, são parentes entre si e
todos de origem italiana. As três primeiras famílias têm idades praticamente parecidas
(meia idade), freqüentaram o ensino fundamental e tinham filhos. O último, mais jovem,
por ocasião da formação do grupo era solteiro e estudava. Este teve oportunidade de
viajar para a Europa e voltou com idéias diferentes, com ideais de coletivização de
55
atividades e especialização por atividade; além de vislumbrar outras oportunidades de
negócios.
As famílias entrevistadas, em 11 de fevereiro de 2005, apresentaram os seguintes
depoimentos:
A idéia de formar o grupo surgiu em 1986. O Sindicato falava de MERCOSUL e
da necessidade dos pequenos agricultores se juntarem para fazerem frente à ameaça
da importação de leite mais barato. Um agricultor foi para a França e quando voltou,
procurou juntar irmãos e vizinhos, procurou a UFSC para terem assistência técnica.
Os objetivos do grupo foram: produzir leite e fabricar derivados do leite (queijo,
iogurte) e produzir confecções. Juntar forças de trabalho, terra, animais, máquinas e
trabalhar por atividade, em cada propriedade. Ganhar dinheiro e facilitar a mão-de-obra
nas atividades.
Os entrevistados responderam que o grupo não está mais unido.
O grupo foi formado com base num curso feito no Centro de Treinamento da
Epagri, em São Miguel do Oeste / SC. Fizeram excursões para ver a aptidão do solo e
viram como funcionava a administração rural. Viram no curso que “Grão só se planta
onde é plano. No solo acidentado, planta-se laranja, reflorestamento e pastagem”.
Os componentes reuniram-se nas casas dos vizinhos, várias vezes.
Desmancharam galpões e construíram a agroindústria.
A assistência recebida era do Prof. Mário Vincenzi da UFSC, do Sindicato dos
Trabalhadores e da APACO.
O Grupo tinha conta bancária e livro caixa. Quem pagava as contas era o
tesoureiro.
Todos se sentiam bem no grupo.
Quanto aos problemas no grupo, no começo ia tudo bem. Houve problema de
endividamento, pois os juros eram de 12% ao ano. Investiram demais. Não houve
planejamento. Existia diferença na mão-de-obra utilizada. Disseram que “o Prof. Mário
da UFSC tentou reverter a situação, mas já foi tarde”. Teve problemas financeiros. Um
bancava os demais, com capital de giro. O capital de giro não era suficiente para
igualar o capital de quem tinha aplicado mais. A horta e estufa davam prejuízo. No
aviário, sobrava dinheiro. Confecções davam prejuízo. O leite e aves pagavam as
contas das demais atividades. Havia diferenças na quantidade de mão-de-obra
empregada pelos sócios nas atividades. Se fosse só a atividade leite, talvez tivesse
56
dado certo. Apressaram os investimentos e se fossem devagar, certamente existiria o
grupo.
Desmancharam o grupo por causa de dívidas, pois ficavam devendo para o que
tinha mais dinheiro. A falta do conhecimento de um sócio que foi embora, trabalhar em
Florianópolis, também fez falta no empreendimento.
Prestavam contas em reuniões, mensalmente e extraordinariamente, quando era
preciso.
O registro do que acontecia nas reuniões ou assembléias era feito em livro ata.
O balancete, que calculava o lucro ou prejuízo, também era feito.
Tinha reuniões de planejamento das atividades. A execução do que era
combinado, não fechava, por causa da falta de tempo. Estavam ocupados com
inúmeras tarefas.
Quem decidia o que, quanto, onde criar ou plantar era o grupo. Um sócio ficava
com vacas, outro com aviário, outro com horta e estufa e as senhoras com a
confecção.
As reuniões de planejamento ocorriam sempre mensalmente ou a cada 4 meses,
e anualmente.
Ao perguntar se é bom plantar ou criar em conjunto, todos disseram que sim,
justificando que isto racionaliza o uso de máquinas. Cada sócio não precisaria comprar
tantas máquinas, mas seria bom se todos se envolvessem por igual.
Pela manifestação, quando se planta ou cria, o modo de fazê-lo é orientado por
técnicos da cooperativa, Prefeitura, UFSC, Epagri e APACO. As respostas dos
componentes do grupo para esta pergunta foram diferentes e diversas. A autonomia na
tomada de decisões era de quem cuidava da atividade. E a informação técnica era
oriunda dos técnicos, esporadicamente da Epagri e normalmente da APACO.
A quantidade de produção era suficiente para que todos acreditassem na
produção coletiva. Havia produção, porém foi mal planejada e com muitos encargos.
No início estava tudo certo, depois teve muito investimento, dívidas e preferiram se
separar.
A diferença de trabalho foi considerada incorreta no grupo; as idéias não eram
coesas. Faltou continuidade do sócio mediador e assessor. O motivo da desagregação
foi de ordem financeira. A doença dos pais, também diminuiu o capital de giro, pois são
parentes e todos ajudavam. Dois sócios queriam ir devagar e o outro acelerava. Não
57
era seguida a orientação técnica que recebiam. Dizia-se sim e não se fazia. Uns
trabalhavam mais, outros menos e todos recebiam por igual.
Venderam coisas, repartiram e desagregaram-se.
As contribuições que apresentaram para outros grupos agrícolas foram: “precisa
ter confiança entre os componentes”; “preparar-se com cursos e honrar a camisa com
trabalho, boa vontade e com dinheiro”; “fazer reuniões com as pessoas que tem a
mesma cabeça, pois senão uns puxam para frente e outros para trás”; “o pessoal deve
sentar e se entender”; “não adianta o técnico vir de fora e criar o grupo, pois deve partir
da necessidade dos produtores e fazer igual se faz com a família”.
Disseram que trabalhar em grupo seria bom, se desse certo. O serviço seria
realizado com maior eficiência, a exemplo da silagem onde todos ajudam (antes já
faziam troca de dias); e fazem render. Embora o grupo tivesse se desagregado, seus
componentes continuam mantendo um bom relacionamento. Suas propriedades
individuais estão bem conduzidas.
A falta de gerenciamento não é tão grave quanto aos outros grupos, mas a
desuniformidade patrimonial entre os condôminos e as múltiplas atividades
contribuíram para a dissolução do grupo.
2.1.4 - Associação Feirão da Roça
Nos registros de Abreu (2001) e Vincenzi (2003), a Associação Feirão da
Roça foi criada em 1977, no município de Dionísio Cerqueira/SC, no Extremo Oeste
Catarinense, com o objetivo de comercializar produtos coloniais, livres de
agrotóxicos, sob o lema “trabalhando agroecologia”, em feiras livres.
Foram apoiados por técnicos locais, Sindicato dos Trabalhadores Rurais da
Agricultura Familiar (SINTRAF), ONGs, Conselho de Desenvolvimento Rural - CODER,
APACO, Prefeitura Municipal e Epagri. Teve significativa importância na construção e
busca do desenvolvimento da agricultura sustentável, participando 32 famílias, com 20
bancas nas feiras.
As feiras acontecem nas manhãs de sábado, no Centro da Cidade e nas terças-
feiras, no Bairro Três Fronteiras, comercializando mais de 70 produtos coloniais, dentre
eles o leite e seus derivados.
58
A coordenação é constituída por 3 representantes dos feirantes, auxiliados pela
Epagri, Secretaria Municipal de Agricultura e Sindicato dos Trabalhadores da
Agricultura Familiar.
Os representantes são escolhidos a cada ano, em dezembro. A coordenação é
dividida nas atribuições e ou dividida em comissões: divulgação e promoção,
administração, finanças, formação e ética.
Estavam dispostos a desenvolver atividades alternativas mais compatíveis com a
realidade. Havia muitas experiências em agroecologia para produtos de origem vegetal,
com dificuldades nos de origem animal, procurados nas feiras, a exemplo do leite.
Produtores e técnicos da Epagri, Prefeitura e APACO visitaram o Condomínio 25
de Maio, Serra Alta / SC.
Em 1998, foi realizado o Iº Encontro Municipal dos Produtores de Leite, na
Comunidade Maria Preta, e contou com a presença de palestrantes da UFSC (Prof.
Mário Luiz Vincenzi e Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Fº) e do Agricultor Sr.
Olinto Ficagna, do Condomínio 25 de Maio. Neste evento, houve adesão de outros
sócios ao Condomínio Feirão da Roça.
A UFSC, através do Prof. Mario Luiz Vincenzi, as graduandas Adriane Tomazzi,
Andréia Ize Cecconi, Adriana Andréia Padilha e a mestranda Cristine Lopes de Abreu,
a Prefeitura e a Epagri, montaram o Projeto Piloto de Produção Intensiva e Coletiva de
Leite à Base de Pasto, no município de Dionísio Cerqueira/SC. Cita-se também o
estágio de vivência, palestras e cursos, envolvendo Ivan Canci, Cristine Lopes de
Abreu, Fábia Tonini e Andréia Techio.
Tabela Nº 9 - Componentes do grupo, idade atual, escolaridade e número de filhos –
Associação feirão da Roça.
NOMES BANCA IDADE ESCOLA-
RIDADE
FILHOS
Família 1 - Mulher 1 14 8ª série -
Família 2 - Homem 2 45 4ª série 2
Família 3 - Homem
Mulher
3
52
52
4ª série
4ª série
3
Família 4 - Homem
Mulher
4
50
48
4ª série
4ª série
3
Família 5 - Homem
Mulher
5
55
54
2ª série
3ª série
2
Família 6 - Homem 6 58 4ª série 4
Família 7 - Homem 42 4ª série
59
Mulher 7 42 4ª série 3
Família 8 - Homem
Mulher
8
58
56
4ª série
4ª série
2
Família 9 - Homem
Mulher ( e 5 outras)
9
52
54
2º Grau
4ª série
3
Família 10 - Homem
Mulher (e 3 outras)
10
37
37
4ª série
4ª série
4
Família 11 - Mulher 11 17 1ª série
Família 12 - Homem
Mulher
12 40
41
4ª série
6ª série
4
Família 13 - Homem
Mulher
13 53
50
4ª série
4ª série
6
Família 14 - Mulher 14 46 4ª série 3
Família 15 - Homem
Mulher
15
49
43
4ª série
5ª série
3
Família 16 - Homem
Mulher
16
42
42
4ª série
4ª série
3
Família 17 - Mulher 17 21 8ª série 2
Família 18 - Homem
Mulher
18
50
47
4ª série
4ª série
4
Família 19 - Homem
Mulher
19
45
43
4ª série
4ª série
2
Família 20 - Homem
Mulher
20
51
49
4ª série
4ª série
3
Na Banca 9, outras 5 famílias são titulares por terem pago as quotas das bancas,
mas exercem outras atividades, exceto o primeiro da tabela a seguir, que divide a feira
com a cunhada, de forma alternada.
Todos os membros da associação são alfabetizados e, na sua maioria, possui
idade entre 40 a 55 anos e com poucos filhos. Todos freqüentaram o ensino
fundamental. Também encontram-se jovens, mas sem problemas ou conflitos de
idéias, em função de comercializarem em bancas separadas e produção própria,
mantendo certa individualidade.
Tabela 10 – Famílias participantes da Banca 9 – Associação Feirão da Roça.
NOMES BANCA IDADE ESCOLA-
RIDADE
FILHOS
Família 21 - Homem
Mulher
9 48
47
4ª série
4ª série
2
Família 22 - Homem
Mulher
9 Falecido
71
4ª série
4ª série
8
Família 23 - Homem
Mulher
9 47
45
geografia
2º grau
3
Família 24 - Homem
Mulher
9 35
30
Matemática
Pedagogia
2
60
Família 25 - Homem 9 50 C. Exterior 5
Na Banca 10, outras 3 famílias são também titulares e entregam sua produção
em conjunto com outro irmão, formando um grupo de irmãos, inclusa sua mãe.
Tabela 11 – Famílias participantes da Banca 10 – Associação Feirão da Roça.
NOMES BANCA IDADE ESCOLA-
RIDADE
FILHOS
Família 26 - Homem
Mulher
10 37
35
4ª série
4ª série
3
Família 27 - Homem
Mulher
10 35
34
4ª série
4ª série
2
Família 28 - Homem 10 57 2ª série Matriarca
Na Banca 3, outra família também entrega a produção, usando a banca em
conjunto.
Tabela 12 – Família participante da Banca 3 – Associação Feirão da Roça.
NOMES BANCA IDADE ESCOLA-
RIDADE
FILHOS
Família 29 - Homem
Mulher
3
42
44
6ª série
6ª série
2
O grupo inicial era de 32 famílias, com 20 bancas. Agora são 29 famílias, nas 20
bancas. Houve a movimentação de troca, venda ou substituição (pela saída do
Município e exclusão de associados), envolvendo 11 famílias.
No grupo, devido à alternância de titularidade e respectivas substituições,
somente foi possível entrevistar 13 famílias, 65% do total de 20 bancas.
Algumas bancas são divididas com outras famílias que formam parceria e o
estudo envolveu a representação de 21 famílias do grupo (alcançou 65% do total de 32
famílias).
As famílias entrevistadas residem nas mais diversas comunidades, sendo: Sede
Paperi, Linha São Paulo, Linha Jorge Lacerda, Linha Cordilheira, Barra da União, Linha
Gleba União, Linha Palmeira e Linha Toldo Baixo.
O grupo continua ativo e coeso.
61
As famílias entrevistadas, de 7 a 9 de fevereiro de 2005, apresentaram os
seguintes depoimentos:
A idéia de formar o grupo foi dos produtores, técnicos da Prefeitura e Sindicato,
depois do Seminário da UFSC, com o Prof. Mário Vincenzi. Os produtores já tinham um
grupo antes, com feira na rua e não tinha dado certo.
A finalidade de criar o grupo foi para a venda direta ao consumidor de produtos
orgânicos e frescos, evitarem o atravessador e obter melhor preço. Ter a possibilidade
de vender também os produtos que os atravessadores não compram dos agricultores,
a exemplo de: ovos, mandioca, repolho, galinhas e outras verduras. Produzir sem
venenos e melhorar as condições financeiras. Manter o agricultor na roça. Organizar os
produtores da agricultura familiar e ter referência.
O grupo está unido, havendo unanimidade nas respostas dos componentes
entrevistados.
O grupo foi formado através da motivação da Prefeitura e esta abriu inscrição.
Foi feita uma reunião no Colégio Castro Alves, coordenada pela Prefeitura e
Sindicato. Das 90 famílias inscritas, 16 se adequaram na proposta agroecológica.
O grupo recebe assistência contínua. A APACO só assessorou no planejamento
inicial. A Prefeitura, juntamente com a coordenação do grupo, dão assistência.
Por vários depoimentos, falta um técnico que atenda exclusivamente os
feirantes, pois recebem pouca assistência técnica.
O Grupo tem conta bancária, na cooperativa de crédito.
O grupo tem livro caixa e quem paga as contas é o tesoureiro. São apenas
despesas de água e algumas taxas. A Prefeitura paga a energia elétrica do galpão.
Todos se sentem bem no grupo.
Quando foi perguntado sobre os problemas no grupo, disseram que sempre
existem problemas: “política partidária, fuga das regras, desrespeito ao estatuto e
regimento interno”; “vários problemas de ordem de convivência e conflito de idéias, que
são resolvidos nas reuniões e através do regimento interno”; “os problemas são
resolvidos na primeira reunião, depois não se fala mais no assunto e não se leva
mágoa”. Consideram que é normal existirem problemas, os quais são passíveis de
solução.
As contas são apresentadas em reuniões ou quando alguém pedir. Aproveitam as
reuniões para pagar as despesas.
As reuniões acontecem a cada mês e também são anuais.
62
O que acontece nas reuniões é registrado no livro de atas.
Não existe balancete e só existe o rateio das despesas. Antes tinha balanços
trimestrais para saber a quantidade vendida.
Quem decide o que, quanto, onde criar ou plantar é o próprio produtor, que é livre.
Disseram: “planejar não deu certo e não funcionou ainda”; “leva-se o que se tem e o
que é mais procurado”; e “só os parceiros de uma banca planejam”.
Responderam que as reuniões de planejamento ocorrem de 30 em 30 dias, mas
sabe-se que se referem às questões administrativas e estratégicas; e não de
planejamento de produção, diversidade e volume a ser comercializado.
Ao perguntar se é bom ou ruim plantar ou criar em conjunto, disseram: “plantar
em conjunto não funciona, mas a venda sim, com bancas separadas”; “tudo é
separado, cada um vende o seu”; “existem algumas parcerias, pois há distância entre
associados”; “tem que ser de forma individual”; e “nunca tentou plantar em conjunto, só
com a família”. Percebe-se resistência em plantar e criar em conjunto, apesar das
diferentes respostas obtidas. A maioria está convicta que funciona muito bem, na
comercialização dos produtos, desde que cada um venda o seu.
Quando se planta ou cria, a maneira de fazer vem de informações de técnicos e
troca de experiência entre feirantes. Também, através de excursões, cursos e na busca
de alternativas. A família também decide.
A informação técnica a ser usada é procurada com técnicos e em cursos, na
Prefeitura e Epagri. Alguns não procuram. Outros disseram que a experiência é a que
mais conta.
Quanto ao volume da produção ser ou não suficiente para que todos
acreditassem na produção coletiva, neste caso, a pergunta não se adequou muito ao
grupo, por ser grupo característico em comercialização da produção individual. Mesmo
assim, possibilitou analisar a questão de oferta e demanda. As respostas obtidas
foram: “quantidade de produção não é suficiente. Não contenta. Às vezes sobra e às
vezes, falta”; “é uma complementação de renda e entra dinheirinho toda a semana”;
“num sábado, as 20 bancas venderam R$6.000,00”; “depende do tempo e das
condições climáticas”; “faltam muitos produtos”.
Ao verificar o que está errado no grupo, disseram que: “existem grupinhos
políticos partidários, nas épocas das eleições, isto desagrega e não dá independência”;
“política partidária cria atritos e afeta o consumidor”; “deu crise na política, mas a
comissão de ética apaziguou”; “falta melhoria no galpão da feira”; “tem gente que
63
vende com preço diferente e tem que ser igual”; “nas épocas ruins poucos feirantes
produzem hortaliças e na época de facilidade, todos querem produzir”.
As contribuições para outros grupos agrícolas foram: “cada um tenha
independência e um fim”; “não misturar produção com venda”; “fazer só venda ou só
produção”; “dá muito trabalho e tem que ter regras rígidas”; “o povo não confia mais um
no outro”; “devem ser compreensivos e respeitar os direitos dos outros”; “fazer estatuto
e regimento e seguir as regras”; “trabalhar e não viver nas costas dos outros”; “renovar
sempre”; “ajeitar os erros em reuniões e multar os infratores, a exemplo do preço, que
deve ser único e o consumidor escolhe pela qualidade”; “quem vende por menos, deve
receber advertência e depois ser multado”; “se houver tolerância, sem multas, tudo vai
água abaixo”; “vender produtos orgânicos traz boa renda, leva-se tudo o que se tem”;
“fazer duas feiras por semana”; e “procurar orientação correta e assistência”.
No caso da citação das multas, o grupo estabeleceu a regra em multar os
infratores, no valor correspondente a 40 litros de leite.
Ao se perguntar se é bom ou ruim trabalhar em grupo, todos disseram que é bom.
A maioria dos feirantes aprova o grupo para feira, mas insistem em que a produção
deve ser de forma individual.
Um produtor orgulha-se pelo grupo Feirão da Roça ter participado do Fórum
Social Mundial, em Porto Alegre, em 2004.
Esse grupo está se realizando, pois os associados estão ganhando dinheiro, mais
do que o suficiente para sobreviver e possuem um objetivo em comum. Querem o
grupo para aumentar as possibilidades de comercialização e com isso, cada um ganha
mais do que se estivesse trabalhando isoladamente. Esse grupo não se acertaria se
estivesse trabalhando na produção coletiva de leite, pois precisam de privacidade e são
ambiciosos. Por outro lado, são disciplinados e sabem que a obediência às regras
permite que o grupo se mantenha e eles conseguem ganhar mais.
2.1.5 - Associação Madre Maria Bernarda
Segundo Abreu (2001) e Vincenzi (2003), a Associação Madre Maria
Bernarda faz parte do Assentamento Santa Rosa 3, Abelardo Luz/SC. É formada por
cinco famílias, onde quatro delas residem lado a lado. A quinta vive nas proximidades,
no assentamento Santa Rosa 1, onde sua área de terra não faz divisa com as demais
associadas.
64
As mulheres destas famílias foram incentivadas para o trabalho coletivo por
freiras Franciscanas, formaram a Associação em 1996 e começaram com atividades
artesanais: tricô, fabricação de sabão e horta comunitária.
Parte do dinheiro adquirido era utilizada para pagamento de suas terras. Cada
família tem 13,5 ha, totalizando de 54,4 ha, mas o trabalho é feito de forma coletiva,
com pastagens (naturalizadas e de inverno) e lavouras.
Existe forte liderança e senso de solidariedade. Tiveram histórias marcantes
pelas lutas no Movimento dos Sem Terras - MST.
Pela distância da cidade e dificuldade financeira houve restrições ao progresso.
Usam o leite in natura para consumo das famílias da Associação. O restante é utilizado
na fabricação de queijo.
O queijo é vendido, uma vez por semana, de ônibus, deixando-o na casa de uma
pessoa amiga. Esta venda de queijo representa a principal fonte de renda.
Os animais são manejados através do sistema de pastoreio rotativo.
Foram feitos investimentos com açudes, destoca e construção de estábulo,
através do Pronaf, sem consulta à equipe do CCA-UFSC; e alguns itens de
investimento foram considerados não prioritários, pois comprometeram as finanças e a
administração do grupo.
O grupo continua existindo, com as quatro famílias que moram próximas.
Tabela Nº 13 - Famílias componentes do grupo, idade atual, escolaridade e número de
filhos – Associação Madre Maria Bernarda.
NOMES IDADE ESCOLARIDADE FILHOS
Família 1 - Homem
Mulher
37
52
5ª série
5ª série
3
Família 2 - Homem
Mulher
52
50
3ª Série
3ª Série
1
Família 3 - Homem
Mulher
59
59
Analfabeta
4ª Série
2
Família 4 - Homem
Mulher
43
47
5ª Série
4ª Série
5
Família 5 - Homem
Mulher
55
61
1ª Série
1ª Série
2
A família nº 5 foi embora para outro Assentamento, Santa Rosa 1, pois era de lá.
O grupo agora é composto de 4 famílias e todas foram entrevistadas.
O grupo é formado por três famílias de origem italiana e duas famílias de origem
portuguesa. O grupo tem origens na agropecuária, trabalhadores, e alguns estudaram
65
no ensino fundamental e outros muito pouco. Uma associada é analfabeta. Todos
possuem filhos.
O grupo continua com suas atividades.
As famílias entrevistadas, em 12 de fevereiro de 2005, apresentaram os seguintes
depoimentos:
A idéia de formar o grupo foi dos assentados, liderados por uma associada,
apoiados pelas Irmãs, freiras Franciscanas, e pelo Movimento dos Sem Terra - MST.
A finalidade de criar o grupo foi para produzir em conjunto para sobreviver.
O grupo está unido. Houve unanimidade de respostas.
O grupo foi formado, desde 1996, pela necessidade dos acampados. As mulheres
(16 famílias) começaram fazer horta em conjunto e fabricar sabão. Fizeram um estudo
bíblico. Viram possibilidade de força através da união, integraram-se com os
companheiros (5 famílias) e começaram produzir leite em conjunto. Também foi pela
expectativa de conseguir recursos financeiros, se organizados em grupo.
Quando se perguntou se o grupo recebe assistência contínua, disseram que sim:
no cultivo e agora, na indústria. A assistência é do Projeto Lumiar da Reforma Agrária,
da UFSC e do MST.
O Grupo tinha conta bancária e agora não tem mais. Falta dinheiro e faltam
projetos.
O grupo não tinha livro caixa. Só no contador, em Abelardo Luz/SC. Tem contas
improvisadas.
Quem paga as contas é qualquer um do grupo, traz a nota para o tesoureiro e
presta contas para todos. O dinheiro fica com uma ou outra sócia.
Todos se sentem bem no grupo.
Ao verificar a existência de problemas, afirmaram que: “sempre existem
problemas e acontece uma coisa ou outra”; “tenta-se resolver com reuniões e
discussão”; “não se pensa em desistência”; “os problemas são resolvidos em conjunto”;
“cada família e cada pessoa pensa diferente”; “quando o assunto é discutido, vê-se a
melhor forma que sirva para todos”.
As contas são mostradas em reuniões, todos os meses, nos sábados, às 20
horas, após cada feira que acontece na Sede do Município, nas segundas sextas-feiras
do mês.
66
O registro do que acontece nas reuniões ou assembléias é feito num caderno,
considerado livro de atas.
Existe balancete, mas o grupo não sabe fazer direito. Agora querem fazer, pois
um rapaz do grupo estuda.
Há reuniões para planejamento das atividades. Todas as quartas-feiras, a
coordenação do grupo se reúne, pensa nas estratégias e normas. Estão sempre
mudando, adaptando, tentando achar soluções. Uma vez por mês, planejam com
todos.
A cada dois anos, a diretoria é trocada.
Quem decide o que, quanto, onde criar ou plantar, é o grupo assessorado pelos
técnicos.
A informação técnica que usam, em primeiro lugar, vem do grupo e depois vem
dos técnicos em Abelardo Luz, na Cooperativa Central da Reforma Agrária – CCRA e
na Cooperativa dos Trabalhadores Rurais Assentados de Santa Catarina – COTRASC;
também de técnicos do Município e da UFSC.
A quantidade de produção não é suficiente, mas ajuda. Falta assistência em
corrigir a terra com calcário e precisam dinheiro. Não têm produção para vender;
apenas para sobreviver. Esperam ajuda ou planos do Governo. Faltam equipamentos e
a inspeção na indústria de queijos. Porém, dois associados disseram que consideram a
produção suficiente, pois não estão passando dificuldades alimentares a exemplo de
anos anteriores.
Ao falar do que está errado no grupo, a maioria disse que está bem. Existem
algumas distorções de combinação de trabalho na roça, mas são acertadas. Outros
afirmaram que falta assistência em corrigir a terra (calcário) e falta dinheiro.
Com relação às contribuições para outros grupos agrícolas, sugeriram: “discutam
as normas antes de entrar”; “planejar antes: onde e como”; “visitar outros grupos e ver
o processo”; “a melhor forma é trabalhar em grupo, melhor do que da forma individual”;
“deve ter uma discussão bem feita”; “procurar recursos (dinheiro), para ser mais fácil”;
“unir-se e fazer certo, tem-se mais força”; “a força faz união e união faz a força”;
“sempre é bom, quanto os objetivos são alcançados”; “o trabalho combinado e não
cumprido, na roça, tem que ser acertado”.
Ao responderem se é bom ou ruim trabalhar em grupo, disseram: “é bom
trabalhar em grupo, nem todos pensam iguais, mas é bom”; “o esforço é tão grande e
não tem recursos (mesmo a pagar) para dar a volta por cima”; “precisam ajeitar a terra
67
e adquirir animais”; “se não conseguirem renda, os jovens terão que acampar”;
“queijaria precisa de estrutura melhor e faltam equipamentos”; “a inspeção vai exigir
mais dinheiro e trabalho”; “dizem que tem recursos, mas não chegam”; “o nosso
problema é na produção e na queijaria”; “a solidariedade em grupo facilita as coisas”;
“quem tem 5 ou 6 vacas e não poderiam possuir ordenhadeira, se fosse de forma
individual”; “o conjunto é a solução”; e “problemas acontecem, mas são resolvidos com
conversas”.
Esse grupo está unido e a razão para permanecer assim, decorre da forma de
pensar (coletivamente) e do apoio espiritual e moral que receberam. A associação tem
dificuldades, falta dinheiro, mas o que possuem permite sobreviver com dignidade e
satisfação. A frase seguinte, ouvida de uma associada, caracteriza bem a filosofia do
grupo: “trabalhar unido é melhor do que comer”.
68
2.2 - FAMÍLIAS ENTREVISTADAS E SÍNTESE DAS RESPOSTAS
Apresentam-se os nomes das famílias entrevistadas, o grupo que pertencem ou que
pertenciam, o município e o número de ordem.
Tabela nº 14 - Número correspondente, famílias entrevistadas, grupo que pertencem e
município.
Relação das famílias entrevistadas Grupo Município
1 Família 1 Beira Rio Saltinho/sc
2 Família 2 Beira Rio Saltinho/sc
3 Família 3 Beira Rio Saltinho/sc
4 Família 1 Raio de Luz Nova Itaberaba/sc
5 Família 2 Raio de Luz Nova Itaberaba/sc
6 Família 3 Raio de Luz Nova Itaberaba/sc
7 Família 4 Raio de Luz Nova Itaberaba/sc
8 Família 5 Raio de Luz Nova Itaberaba/sc
9 Família 1 25 de Maio Serra Alta/sc
10 Família 2 25 de Maio Serra Alta/sc
11 Família 3 25 de Maio Serra Alta/sc
12 Família 1 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
13 Família 2 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
14 Família 3 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
15 Família 4 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
16 Família 5 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
17 Família 6 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
18 Família 7 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
19 Família 8 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
20 Família 9 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
21 Família 10 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
22 Família 11 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
23 Família 12 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
24 Família 13 Feirão da Roça Dion. Cerqueira/sc
25 Família 1 Madre Benvenuta Abelardo Luz/sc
26 Família 2 Madre Benvenuta Abelardo Luz/sc
27 Família 3 Madre Benvenuta Abelardo Luz/sc
28 Família 4 Madre Benvenuta Abelardo Luz/sc
Constam nas tabelas a seguir, os números das famílias correspondentes à tabela
anterior, identificando as respostas individuais. São quatro tabelas (nº 15 a nº 18), cada
uma com seis perguntas e respectivas respostas, totalizando as 24 perguntas da
entrevista semi-estruturada. Também existem linhas mescladas que separam os
grupos, identificando-os.
69
Tabela nº 15 - Síntese das respostas das famílias entrevistadas
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
1. Quem teve a
idéia de formar
o grupo?
2. Qual a
finalidade de
criar o grupo?
3. O grupo
está
unido?
4. Onde e como
o grupo foi
formado?
5. O grupo
recebe assis-
tência técnica
contínua?
6. O grupo
tem conta
bancária?
Condomínio Beira Rio – Saltinho/SC
1
Grupo anterior
Fazer queijo.
Não
Grupo anterior
Sim
Sim
2
Um produtor
Produzir para
o Mercosul
Não
Iniciativa produ-
tores e Sindic.
A UFSC
assessorava
Tinha
3
Técnicos e
Prefeitura
Viabilizar mão- de-
obra,
financiamento e
ter técnicos
Não
Apoio da PM
e UFSC
Sim
Sim
Condomínio Raio de Luz – Nova Itaberaba/SC
4
Sindicato
Produzir
Leite
Não
Ajuda do
Sindicato
Sim.
UFSC
sim
5
Padres de
Chapecó
Produzir
Leite
Não
Reuniões e
Padres
Sim
UFSC
sim
6
Agricultores
Crescimento
econômico com
produção Leite
Não
Reuniões e
procurar saída
Sim. Epagri
e depois, UFSC
sim
7
Todos na
mesma Igreja,
mesmo partido e
Sindicato
Produzir leite,
pagar
vacas e montar
Indústria
Não
Vendiam
leite em
Quilombo.
Gostaram
da excursão
Sim, na
época
sim
8
Produtores
Melhorar
propriedade,
conhecimento e
sonho
Não, desde
10 anos
Erro de
concepção.
Falava-se em
organização,
empolgou e
estava sem
preparo.
Sim.
Tinha.
Sim.
Tinha.
Condomínio 25 de Maio – Serra Alta/SC
9
Sindicato
falava do
Mercosul
Juntar trabalho,
máquinas, terras e
animais, Trabalhar
por atividade
Não
Fez curso no
Cetresmo
da
Epagri e
Excursões
UFSC e
APACO
Sim
10
Um Irmão
que voltou da
França e
UFSC
Dinheiro,
facilitar
mão-de-obra e
atuar em
atividades.
Não
Reunião na
casa do vizinho
UFSC
APACO
SINDICATO
Sim
11
UFSC
Produzir leite e
fabricar derivados
Não
Fizeram várias
reuniões,
desmancharam
o Galpão e
construíram a
agroindústria
UFSC
Sim
Associação Feirão da Roça – Dionísio Cerqueira/SC
12
Produtores
Venda direta
consumidor.
Situação obrigou.
Sim, com
‘arranca
rabos’, mas
resolve
Entrou depois
Muito pouco
Sim.
CRESOL
13
Entrou
depois
Produzir sem
veneno e finanças
Sim
Entrou depois
Não
Sim
14
PM e agricultores
Produzir e vender
produtos
orgânicos
Sim
Sindicato
Não
Sim.
Cresol.
do Feirão.
70
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
1. Quem teve a
idéia de formar
o grupo?
2. Qual a
finalidade de
criar o grupo?
3. O grupo
está
unido?
4. Onde e como
o grupo foi
formado?
5. O grupo
recebe assis-
tência técnica
contínua?
6. O grupo
tem conta
bancária?
15
Prefeitura abriu
Inscrição
Venda direta
consumidor e
cortar atraves-
sador.
Sim.
problemas
na política
Sindicato, em
reunião
Técnicos PM e
coordenação do
grupo
Sim
16
Agricultores e
técnicos da
PM e o
Sindicato
Organizar
produtos da
agricultura familiar
e ter referência.
Sim
Sindicato.
Na sede
Às vezes
Sim
17
Produtores
E PM
Produção
Orgânica
Sim
Sede
Não
sim
18
Entrou depois
Segurar o
agricultor e evitar
atravessador.
Oportunizar
venda
subprodutos
Sim
Entrou
depois
Recebe
um
pouco
sim
19
Agricultores
e
técnicos
Venda direta ao
consumidor
Sempre tem
problemas
mas
resolvidos
Entrou depois.
Foi o
Sindicato
Não
Sim
20
Seminário da
UFSC
Venda direta
consumidor
de produtos
ecológicos
Sim
Entrou dois anos
depois
Não
Sim
CRESOL
21
Produtores
Técnicos
Prefeitura
Sindicato
Vender produtos
direta-
mente ao
consumidor
Sim
Salão Paroquial
e Sindicato
Faz tempo que
não
sim
22
Produtores, PM e
Sindicato
Venda direta ao
consumidor e
qualidade
Sim
Interessados
com PM e
Sindicato
Não contínua
sim
23
Produtores que
tinham uma vez,
na rua, e não deu
certo
Venda de produtos
frescos
direto do produtor
Sim
Entrou depois
Tinha.
Agora, não.
Sim
24
Entrou depois
Venda de produtos
orgânicos, direto
ao consumidor
Sim
Entrou depois.
No início era na
rua.
Não
sim
Associação Madre Maria Bernarda – Abelardo Luz/SC
25
Grupos de
Irmãs e MST.
Necessidade do
acampado.
Produzir em
conjunto para
sobreviver
Sim
Desde 1996.
Mulheres em
estudo bíblico.
Fizeram horta e
sabão. Viram a
força e no leite
integraram com
companheiros.
Projeto Lumiar
da Reforma
Agrária, Irmãs,
UFSC e MST
Tinha.
Fechou por
falta
dinheiro e
projetos.
26
Uma associada
Em 16 famílias,
quatro chamaram
os maridos e
formaram o grupo.
Sim
Das 16 famílias,
12 saíram fora e
outras se
juntaram com os
maridos.
Sim
Tinha
27
Uma associada
Trabalhar em
conjunto (sabão e
horta) e depois
vacas e queijo
Sim
Horta, sabão e
procurar
recursos, se
registrar.
Sim
Tinha
28
Assentados e
Irmãs
Trabalho em
conjunto
Sim
Iniciaram com
fábrica de sabão
Sim.
Da parte técnica
e agora, queijaria
Não
71
Tabela nº 16 - Síntese das respostas das famílias entrevistadas
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
7. O grupo tem
Livro caixa?
8. Quem paga
ou pagava as
contas?
9. Se Sente
ou se sentia
bem no
grupo?
10. Tem ou
tinha algum
problema no
grupo?
11. Como presta
ou se prestava
contas?
12. De
quanto em
quanto
tempo se
mostrava
as contas?
Condomínio Beira Rio – Saltinho/SC
1
sim
Tesoureiro
sim
Sim,
Comercia-
lização
Reuniões
mensal
2
tinha
Tesoureiro
Sim,
mas
tinha
problemas
Conflitos
técnicos. Certo
desânimo
econômico
Notas e
recibos
15 em 15
dias, cada
duas
vendas
3
Sim
Presidente
Sim
Discórdia,
fofocas e brigas
Sem notas, com
tickets
30 a 40 dias
e só brigas
Condomínio Raio de Luz – Nova Itaberaba/SC
4
Sim
Tesoureiro
Sim
Sim no
começo. Agora
acabou e tem
paz
Reuniões
mensais
5
Sim
Tesoureiro e
Presi-
dente
Sim
Sim.
Pessoas longe,
afazeres,
cansaço
Reuniões
Mensais
6
Sim
Tesoureiro
Sim
Arrenda –
mento
Reuniões
mensais
7
Sim
Tesoureiro
Sim
Arrend. caro.
Cuidador
cobrava demais
Reuniões
mensais
8
Sim.
Tinha
Tesoureiro
Sim
Diferentes
idades,
conhecimentos,
trabalho e
condição
financeira, que
geram conflito.
Reuniões
mensais
Condomínio 25 de Maio – Serra Alta/SC
9
Sim.
Tesoureiro
Sim
Problema de
individamento
Não houve
planejam. e juros
altos. Apuraram
demais
Reunião
Mensais e
extraor-
dinárias
quando
precisava
10
Sim.
Tesoureiro
Sim. Até o
momento da
desagregação
Financeiro,
diferença de mão
de obra,
faltava capital
de giro
Reuniões
mensais
11
Sim
Tesoureiro
Sim
Começo ia bem.
UFSC quis
pressa. Custa
dinheiro.
Se devagar teria
grupo
reunião
Sim
Associação Feirão da Roça – Dionísio Cerqueira/SC
12
Sim
Tesoureiro
Sim
Tem problema e
resolve na 1ª
reunião, depois
esquece
Reunião
Sim.
mensal
72
Perguntas e Síntese das Respostas
Fam.
7. O grupo tem
Livro caixa?
8. Quem paga
ou pagava as
contas?
9. Se Sente
ou se sentia
bem no
grupo?
10. Tem ou
tinha algum
problema no
grupo?
11. Como presta
ou se prestava
contas?
12. De
quanto em
quanto
tempo se
mostrava
as contas?
13
Sim
Tesoureiro
(água, luz)
Sim
Sempre tem,
mas
resolve
Sim
mensal
14
Sim
Tesoureiro
Sim
Não
Reuniões
Todo mês,
na casa de
um feirante
15
Sim
Tesoureiro
e
Presidente
Sim
Sempre.
Fuga de regras.
Política
Reunião
e
Tesoureiro
Mensais
e fim do
ano
16
Sim
Tesoureiro
Sim
Interferência
partidária
nas eleições
Reuniões
30 em 30 di
a
17
Sim
Tesoureiro
Sim
Não.
Problemas são
resolvidos
Reuniões
mensais
30 em 30
dias
18
sim
Tesoureiro
sim
Não.
Em reuniões
Cada 30
dias na
casa de um
feirante e
paga-se as
contas
19
Sim
Tesoureiro
Sim
Coisas para
acertar
Reuniões
Mensais ou
quando se
pede
20
sim
Tesoureiro
sim
Existem sempre.
Pedem técnico e
não deu certo
Reuniões
30 em 30
dias
21
Sim
Tesoureiro
sim
Existem sempre.
São feitas
reuniões mensais
nas propriedades
Reuniões
30 em 30
dias
22
sim
Tesoureiro
sim
Vários, de ordem
de
convivência.
Conflito de idéias
Reuniões
30 em 30
dias
23
Sim
Tesoureiro
Sim
Proble-
minhas a serem
resolvidos na
reunião
Reunião
30 em 30
dias, casa
de um
produtor,
para lavar
roupa suja
24
Sim
Tesoureiro
Sim
Os problemas
mínimos são
resolvidos
Reuniões
30 a 60 dias
73
Perguntas e Síntese das Respostas
Fam.
7. O grupo tem
Livro caixa?
8. Quem paga
ou pagava as
contas?
9. Se Sente
ou se sentia
bem no
grupo?
10. Tem ou
tinha algum
problema no
grupo?
11. Como presta
ou se prestava
contas?
12. De
quanto em
quanto
tempo se
mostrava
as contas?
Associação Madre Maria Bernarda – Abelardo Luz/SC
25
Contas
improvisadas
Qualquer um
do grupo. Traz
nota. Dinheiro
com tesoureiro
e presta conta
com todo
mundo
Sim
Acontece, mas
não leva pensar
em desistência.
Os problemas no
conjunto se
resolvem. Cada
família e cada
pessoa pensa
diferente.
Quando vai para
discussão, vê a
melhor forma que
serve para todos
Todo sábado à
noite, às oito
horas, reunião
com todo o
grupo.
Uma vez
por mês
26
Sim Todos Sim Sempre tem,
mas para
resolver
Reuniões, uma
vez por semana
Mensal
27
Não
Tesoureiro
Sim
Pouca coisa,
mas resolve
Reunião
Uma vez
por mês.
28
Não. Só o
contador, em
Abelardo Luz
Qualquer um.
Uma das
sócias ficavam
com o dinheiro
Sim
Sempre existe e
acontece coisa
ou outra.
Tenta resolver
com reunião e
discussão
Reunião
Cada mês.
Tem feira
em
Abelardo
Luz na 2ª
feira do mês
Tabela nº 17 - Síntese das respostas das famílias entrevistadas
Perguntas e Síntese das Respostas
Fam.
13. Como se
registra o
que
acontece nas
reuniões ou
assem -
bléias?
14. Existe
balancete ou
como se
calcula o
lucro ou
prejuízo?
15. Houve ou há
reuniões de
planejamento
das atividades?
16. Quem decide
ou decidia o
que, quanto,
onde criar ou
plantar?
17. As reuniões
ocorrem de
quanto em
quanto tempo?
18. È bom
plantar ou
criar em
conjunto?
Condomínio Beira Rio – Saltinho/SC
1
Atas e
livros
sim
Sim
Diretoria e grupo
mensais
Sim, mas
difícil
2
Livro
Atas e recibos
sim
mensal
Sim
Grupo e maioria
vencia
Quando
necessário ou 60
dias
Não. Trab.
recai numa
família
3
Livro, atas
CGC e tudo
Sim
Decidiam e não
faziam.
(0 matava 0)
Grupo e UFSC
2 vezes
ao ano
Bonito, mas
difícil dar
certo
Condomínio Raio de Luz – Nova Itaberaba/SC
4
Atas
Sim
Sim
Prefeitura
O técnico
orientava
mensal
Distância
e pessoas
pensam
diferente
74
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
13. Como se
registra o
que
acontece nas
reuniões ou
assem -
bléias?
14. Existe
balancete ou
como se
calcula o
lucro ou
prejuízo?
15. Houve ou há
reuniões de
planejamento
das atividades?
16. Quem decide
ou decidia o
que, quanto,
onde criar ou
plantar?
17. As reuniões
ocorrem de
quanto em
quanto tempo?
18. È bom
plantar ou
criar em
conjunto?
5
Atas
Sim
Sim
Idéias no grupo
6 em 6 meses, e
quando
necessário
Era bom.
Dificuldades
aos de
longe
6
Atas
Sim
Sim
Grupo
Sempre
Seria a
saída, mas
não dá
certo
7
atas
Sim
Grupo
Assessoria Epagri
e UFSC
Mensais
Era bom,
cabeças
não pensam
iguais
8
Atas
Sim.
Provisório
Sim
Grupo
Toda
Semana
Hoje, não
mais
trabalharia
Na época,
achava bom
Condomínio 25 de Maio – Serra Alta/SC
9
Atas
sim
Sim. Tinha.
Execução não
fechava, devido
tempo
Grupo
Anuais
Sim.
Favorece.
Racionaliza
uso
máquinas
10
Atas
sim
Sim
Grupo
3 em
3 meses
Bom. Se
todos
pegassem
junto
11
Atas
Sim
Sim
Dividiram
atividades
mensais
Sim
Associação Feirão da Roça – Dionísio Cerqueira/SC
12
Atas Sim e
mensal
Sim Cada um por si Mensais Não é bom.
Só venda
13
Atas
sim
Sim
Produtor
30 a 60 dias
Tudo é
separado.
Cada um
vende na
barraca
14
Atas
sim
Sim
Cada
feirante
30 dias
individual
15
Atas
sim
Mensal
É livre.
Planejar não deu
certo
Mensal
sim
16
Atas
Sim,
anual
Todo mês
Grupo da banca e
individual
30 em 30 dias
Sim,
Ajuda-se
17
Atas
sim
Sim
Feirantes,
cada um
30 em30 dias
Nunca
tentou
plantar
junto. Só
família
18
Atas
sim
Tem
Por conta de
cada um
Cada 30 dias
Só em
banca
separada
19
Atas
Sim,
anual
Tem, 2 a 3 vezes
Produção livre
30 em 30 dias
Só para
vender e
em banca
separada
75
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
13. Como se
registra o
que
acontece nas
reuniões ou
assem -
bléias?
14. Existe
balancete ou
como se
calcula o
lucro ou
prejuízo?
15. Houve ou há
reuniões de
planejamento
das atividades?
16. Quem decide
ou decidia o
que, quanto,
onde criar ou
plantar?
17. As reuniões
ocorrem de
quanto em
quanto tempo?
18. È bom
plantar ou
criar em
conjunto?
20
Atas
Sim,
trimestrais,
saber quanto
vendia
Sim. Várias vezes
iniciado. Falta
técnico p/
planejamento
Próprio feirante
30 em
30 dias
Tem que
ser
individual.
Só venda é
legal
21
Atas
Sim, só
despesas e
receitas
Várias vezes
Cada um decide
o que é mais
procurado
30 dias
Existem
parcerias.
Tem
distância
entre
associados
22
Atas,
regimento
e estatuto
sim
Não, é associação
sem fins lucrativos.
Só despesas e
receitas
Produtor
30 dias
Plantar não
funciona.
Em bancas
separadas
cada um
vende o seu
23
Atas
sim
Sim
Tinha
planejamento.
Pode cultivar o
que quer
30 em 30 dias
sim
24
Atas
sim
Sim
Próprio feirante e
grupo
30 a 60 dias
Não é bom.
Só venda e
ainda
separado
seu dinheiro
Associação Madre Maria Bernarda – Abelardo Luz/SC
25
Atas
Sim, mensal.
Agora, um
rapaz estuda e
vai fazer.
Sim. As quartas
feiras e
assembléias nos
sábados.
Grupo
Semanalmente
Sim
26
Atas
Sim. Cada dois
anos troca
diretoria
Sim
Grupo
Anual
Muito bom.
27
Ata
Sim
Sim
Grupo e técnicos
Uma vez por mês
Sim. Mais
que comer.
28
Ata
Sim
Sim
Grupo com
reunião, ver as
propostas
Todo mês
sim
76
Tabela nº 18 - Síntese das respostas das famílias entrevistadas
Perguntas e Síntese das Respostas
Fam.
19. Quando
você
planta ou
cria, onde
recolheu a
maneira de
faze-lo?
20. Onde você
procurar a
informação
técnica
que você usa?
21. A quantidade
de produção era
ou é suficiente
para que todos
acreditem na
produção
coletiva?
22. O que você
acha que está
errado no
grupo?
23. Qual a
proposta
que vo
tem para
os grupos
agrícolas?
24.
É Bom ou
ruim
trabalhar
em
grupo?
Condomínio Beira Rio – Saltinho/SC
1
Técnicos
Epagri e UFSC
Não,
pequena
Discussões,
mas regimento
resolvia
Regimento,
Estatuto e
cumprir
Gostou do grupo
de
Suinocultura
2
Visitar grupos
e assessoria
da UFSC
UFSC, APACO,
Técnicos
Laticínios
Não. Propriedade
pequena, difícil
água e localização
Desunião e
desconfiança
Transparên-
cia.
Paciência.
Se conhecer
Só se unido
e pessoal
consciente
3
UFSC, PM.
E não tinha
Epagri
UFSC, PM,
Tirol e Epagri
Em formação e
contas mal feitas
Desunião,
complica-
ção e sem
consenso
É difícil.
Responsa-
bilidade
e respeito
às coisas
alheias
Ruim.
Sofrimento.
Só se fosse
união
Condomínio Raio de Luz – Nova Itaberaba/SC
4
Técnicos
Técnicos e
experiência
adquirida
Não. Muitas
vacas e despesas.
Não teve
planejam.
e sócios
longe.Grupo
sem
experiência
Planejar
antes. Ver
condições. Ir
devagar
Bom.
5
Técnico
Agrícola
e
veterinário
Epagri e
UFSC
Grande
Investimento e
demora
do lucro
Ver distância.
Não brigar.
Ver
viabilidade
Proximidade
Grupo
Familiar.
Não pagar
mão-de-obra
Bom.
Se vê
serviço.
6
Professores
Técnicos
E
produtores
Técnicos, PM e
Epagri
Não suficiente
Muito gasto e
pouca
produção, e
tinha arren-
damento
Nenhum
sócio
trabalhar. Só
tratador e
ninguém
botar bico
Se todos fossem
bons e com boa
coordenação
7
Técnicos
Hoje, Sindicato
e Prefeitura
Não
Teimosia em
insistir em algo
errado
1º pasto e
depois gado.
Área do
grupo própria
Sim. É melhor.
Deve ser familiar
e é
melhor
8
Técnicos
E UFSC
Hoje, PM e
Epagri
Não
Erro concepção
Nasceu errado,
Ilusão.
Empolgou
e não
preparados
Estudo
Aprofun-
dado.
Grupo com
Idéias
semelhantes
Grupo
Homogêneo
Ótimo,
mas
com inconve-
niências.
Bom para
Aprender.
77
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
19. Quando
você
planta ou
cria, onde
recolheu a
maneira de
faze-lo?
20. Onde você
procurar a
informação
técnica
que você usa?
21. A quantidade
de produção era
ou é suficiente
para que todos
acreditem na
produção
coletiva?
22. O que você
acha que está
errado no
grupo?
23. Qual a
proposta
que vo
tem para
os grupos
agrícolas?
24.
É Bom ou
ruim
trabalhar em
grupo?
Condomínio 25 de Maio – Serra Alta/SC
9
Autonomia
De quem
cuidava
Às vezes
Epagri.
Normal-
mente a
APACO
Sim
Erros não.
Endividamento.
Uso capital giro
com doença dos
pais
Entendimento.
Não técnico criar
grupo e sim os
produtores
Bom,
serviço com
maior
eficiência.
10
Técnicos
Cooperativa
Epagri e
PM
PM e
Epagri
Tem produção
Mal planejado
Muitos encargos
Diferença de
Trabalho e
Idéias Diferentes.
Faltou
continuidade da
UFSC, na
assessoria
e
mediação
Confiança entre
componentes,
preparação,
honrar camisa,
boa vontade e
dinheiro
Bom, se der
certo.
Motivo da
separação
foi o
financeiro
11
Técnicos
UFSC
Agrônomos
No início sim.
Depois, muito
investimento
e
dívidas
Um queria ir
devagar e outro
acelerava. Não
conseguiram
pagar dívidas
Reuniões,
entendimento e
mesma cabeça
Bom.
Aprendeu-
se
muito
Associação Feirão da Roça – Dionísio Cerqueira/SC
12
Compa-
nheiros,
técnicos
e família
Técnicos da
Secretaria
ou
PM
Faltam
muitos produtos
Época difícil
poucos
produzem.Na
época fácil todos
produzem
Regulamento
bem feito e
seguido.
União, lavar
roupas sujas e
depois tudo bem
Sim.
Para vender
13
Do jeito
Que dá
Técnicos
Depende do
tempo.
Falta produção
Falta melhoria no
galpão
Ajeitar erros na
reunião, corrigir e
multar.
No grupo de
venda sim.
Plantar
junto não
14
Técnicos
Experiência de
cada um e
Epagri
Às vezes sobra,
outras falta
Está bem
Dá muito
trabalho. Deve
ter regras rígidas.
Desconfiança.
Melhor com a
família.
Sim.
Grupo do
melado
ganhou
tudo e
desagregou
-se
15
Técnicos
e troca
experiências
Técnicos
Sobram
e
faltam
coisas
Tudo certo
Compreensivo,
respeitar direitos,
seguir regras, ter
regimento,
trabalhar,
renovar e não
viver nas costas
dos outros
Bom.
Estranhos
dá para
xingar e
ter mais
respeito
78
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
19. Quando
você
planta ou
cria, onde
recolheu a
maneira de
faze-lo?
20. Onde você
procurar a
informação
técnica
que você usa?
21. A quantidade
de produção era
ou é suficiente
para que todos
acreditem na
produção
coletiva?
22. O que você
acha que está
errado no
grupo?
23. Qual a
proposta
que vo
tem para
os grupos
agrícolas?
24.
É Bom
ou ruim
trabalha
r em
grupo?
16
Família
decide
Não procura
Faltam e sobram
Produtos
Venda com
preços diferentes
Seguir regras do
grupo
Bom
17
Técnicos
P M
Sobra e agora falta
Não
Produzir de
forma ecológica.
Discutir como
fazer.
Bom
18
Pergunta para
outros, curso
e visitas
Prefeitura
Falta produção
Falhas discutir
em reunião
Viável e
orgânico.
Traz boa renda
É bom
19
Visitas e
excursões
Epagri e
Prefeitura
Falta produção
Nada errado
Organizar
estatuto e
regimento
Interno
Sim.
Grupo do
açúcar não
deu certo
20
Técnicos e
curso
Epagri e
PM
Faltam em épocas
e sobram em
outras
Os problemas
são resolvidos na
reunião, com
discussão.
Boa diretoria
Reuniões
mensais
para resolver os
problemas
Bom e
gostoso.
Querem
técnico
específico
21
Informações
de técnicos
Técnicos
Faltam produtos e
sobra quando tem.
Existem. Mas se
resolvem.
Falta assistência
intensiva
Preparar-se bem.
Orientação
correta e ter
assistência
Bom. Cada
um faz sua
parte.
Querem um
técnico
22
Excursões
e procura
de alterna-
tivas
Em cursos
Produção não
suficiente.
Não contenta
Grupinhos
políticos
partidários.
Desagrega e
não dá
independência.
Cria atritos e
afeta consumidor
Cada um tenha
sua
independência
E um fim. Não
misturar
produção com
Venda. Só venda
ou produção
É bom,
desde que
afinado e
com
finalidade.
23
Troca de
experiências
PM
Em certas épocas,
falta produção.
Agora, verduras
Não encontrou
Idéias diferentes
e até captar tem
que combinar
Á vezes
duas
pessoas
acertam e
outros não.
24
Técnicos e
por conta
Epagri
É só para a venda
Está mais ou
menos bom.
Seguir o sistema
nosso
e fazer reuniões.
Só para
venda.
Plantar não
funciona.
Falta um
técnico
79
Perguntas e síntese das respostas
Fam.
19. Quando
você
planta ou
cria, onde
recolheu a
maneira de
faze-lo?
20. Onde você
procurar a
informação
técnica
que você usa?
21. A quantidade
de produção era
ou é suficiente
para que todos
acreditem na
produção
coletiva?
22. O que você
acha que está
errado no
grupo?
23. Qual a
proposta
que vo
tem para
os grupos
agrícolas?
24.
É Bom
ou ruim
trabalha
r em
grupo?
Associação Madre Maria Bernarda – Abelardo Luz/SC
25
Técnicos
Projeto Lumiar
da Reforma
Agrária
Tem problemas.
Baixa produção,
falta calcário. Não
se tem para
vender, só para
sobreviver.
Espera-se plano
do Governo.
Falta equipa -
mentos
e inspeção vai
exigir mais.
Está bem
1º discutir
normas, antes de
entrar.
Planejar antes,
onde, como; e
visitar grupos e
ver o processo.
Solidariedade
facilita as coisas.
Bom.
Conjunto é
a solução.
Problemas
acontecem,
mas se
resolvem
com
conversa.
26
1º entre si e
depois os
técnicos
Técnicos do
Município e
UFSC
Sim
Não tem erros
Se unir e fazer
certo, tem mais
força.
Força faz união e
união faz força.
Bom.
Grupo é
melhor.
Sempre é
bom quanto
mais gente
chega para
chegar.
27
Os
produtores,
às vezes,
sabem mais
que os
técnicos. Faz
por conta e
dos técnicos
Grupo
Sim
Combinação no
trabalho
na roça não
cumpre. Depois
acerta.
No Brasil,
considera-se 1º
lugar.
Unir-se,
espelhar-se no
grupo. Pelearam
muito,
sofreram, mas é
melhor.
Bom,
unidos.
28
Discute entre
si e com os
técnicos
Técnicos em
Abelardo Luz,
Coop. Crédito
da Reforma
Agrária e
Cooperativa
dos
Trabalhadores
da agricultura
Fam. de S C
Não é suficiente,
quase, mas ajuda.
Falta assistência
no corrigir a terra.
Falta dinheiro.
Melhor forma é
em grupo discutir
do que individual.
Deve ter
discussão bem
feita. Procurar
recursos
(dinheiro), para
ser mais fácil.
Bom.
Nem
todos
pensam
igual,
mas é
bom.
2.3 - Considerações sobre a situação encontrada junto aos grupos e nos
pareceres dos profissionais
Considerando a investigação bibliográfica e relatórios existentes na UFSC, onde
professores, mestrandos e estagiários de agronomia que interagiram com as famílias
80
rurais, componentes dos grupos e protagonistas da agricultura em grupo; considerando
o resultado obtido através das entrevistas, pode-se constatar e registrar:
- dos 5 grupos investigados, 3 estão desagregados e dois estão trabalhando
coesos. O interessante é que um dos coesos é o mais pobre, ou seja, obteve o menor
desempenho econômico.
- todos os grupos foram formados por interferência externa, estímulo de pessoas
e instituições;
- os grupos que se desagregaram afirmam e atribuem os motivos de problemas
econômicos, problemas de relacionamentos e falta de planejamento adequado,
principalmente no seu dimensionamento e viabilidade técnica e econômica;
- os grupos que se desagregaram tiveram acompanhamento técnico de diversos
técnicos e instituições. Os produtores não acusam, mas, nas entrelinhas e respostas,
deixam claro que houve influências externas, ineficiência técnica e de planejamento.
Afirmam também que professores da Universidade tentaram salvar o empreendimento
que iniciou de forma equivocada, mas já era tarde, pelo endividamento ou discórdia, ou
necessidades de outros investimentos;
- a grande maioria dos entrevistados afirma que houve falta de preparação dos
componentes do grupo, em relações interpessoais e no conhecimento do negócio;
- a manifestação de alguns entrevistados leva a crer que nos cursos e excursões,
onde os produtores são levados a ver empreendimentos, chamando-os de ‘crista da
onda’, provocam empolgação e facilmente aderem à idéia proposta. Só depois de
terem experiência (inclusive as negativas), sabem que para chegar neste ponto ótimo,
passou muito tempo, e muito foi investido em tecnologias, recursos financeiros,
aprendizado nos negócios e administração. Se tivessem sido informados de que estes
pontos visitados representavam uma percentagem mínima, ou informados de
problemas que já tinham enfrentado, teriam analisado e decidido melhor;
- todos os participantes dos grupos que se desagregaram, afirmaram não possuir
conhecimento suficiente para gerir e administrar o negócio, além de enfrentarem os
problemas de relacionamento interpessoal com seus pares;
- pela característica específica das famílias rurais, sua grande facilidade de
superar e suportar incertezas e conflitos, sua religiosidade e sociabilidade continuam se
relacionando bem com os vizinhos e antigos parceiros de grupo, encarando como
aprendizado, experiência e ou estágio; servindo até para conformar-se ou gostar de
possuir empreendimento particular (sua propriedade);
81
- a grande maioria dos componentes dos grupos desagregados não dependia
diretamente e infalivelmente do sucesso do empreendimento coletivo. Todos tinham
propriedade particular e nela sempre dedicaram prioridade. Os componentes do grupo
25 de Maio, Serra Alta/SC, dividiram as explorações por atividade, já em função do que
vinham fazendo e em suas respectivas propriedades;
- alguns componentes do Condomínio Beira Rio, Saltinho/SC, destacaram seus
sofrimentos em dinheiro perdido e no trabalho que passam para encerrar o grupo (já
inativo por longo tempo). Existem compromissos e pendências de ordem fiscal, junto às
instituições; e necessitam ‘dar baixa’ e ‘limpar seus nomes’. Disseram discretamente
que quando o grupo vai mal e se desagrega, a assessoria cessa e não são
esclarecidos dos procedimentos necessários para o encerramento do negócio;
- grande maioria dos componentes dos grupos desagregados demonstra
contentamento em terem desarticulado seus empreendimentos, pois isto iria
comprometê-los ainda mais;
- a experiência negativa obtida pelos componentes de grupos desagregados
tornou-se extraordinária em ser ouvida; prontamente apresentaram sugestões aos que
pretendem sucedê-los com formação de grupos, orientando-os a respeito dos
procedimentos a serem tomados.
- os grupos agrícolas que estão coesos possuem uma especificidade diferente, ou
seja: a) a Associação Feirão da Roça somente agrupou-se para a comercialização; e
afirmam que deu certo, pois cada um tinha sua banca individual e vendiam seus
próprios produtos e ou de seus parceiros de banca; b) a Associação Madre Maria
Bernarda, Assentamento Santa Rosa 3, está operando pela necessidade básica de
subsistência, pela lida do Movimento dos Sem Terras e por um ideal e sacrifício de
obter um mínimo necessário de dignidade e cidadania. Existe uma persistente
preparação sociológica e organizacional, recebida das mais diversas instituições. Logo
que possuem um mínimo de estabilidade, possivelmente, a nosso ver, podem mudar
de pensamento e comportamento. O exemplo é que, quando conseguem a
aposentadoria, geralmente saem do grupo;
- quando foi perguntado sobre a proposta que tinham para os outros grupos
agrícolas, dizendo-lhes tratar-se de conselhos, os produtores apontaram quais são os
atributos e procedimentos indispensáveis para possibilitar a coesão dos grupos;
- quando foi perguntado se existe ou existiam problemas, os entrevistados
manifestaram-se dizendo das dificuldades existentes entre os componentes de grupo:
82
diferença de idéias e de comportamento, diferença de idades, diferença em posses,
dentre outras;
- fica constatado que os grupos necessitam de uma grande organização para
possibilitar a convivência, em termos de procedimentos contábeis, atas, reuniões e
acertos. Todos evidenciam a importância do estatuto e regimento interno, com
necessidade do fiel cumprimento destes;
- pode-se observar que nos grupos que, quanto maior a participação de todos nas
tarefas e atividades, maiores são os pequenos conflitos, exigindo maior mediação e
acordos; em conseqüência, há maior coesão. A coesão é um constante exercício de
relações;
- para haver coesão nos grupos, percebe-se a necessidade da existência de um
mediador, facilitador, moderador ou coordenador. Nos grupos coesos, verifica-se a
presença mais constante destes. Propiciam e possibilitam resolver os constantes e
freqüentes conflitos que ocorrem a todo o momento;
- quando as tentativas de organização falham, não se pode afirmar que o motivo é
porque os produtores sejam tradicionais, desinteressados, sem condições para se
organizarem. Existe um processo constante de mudança, renovação e recriação das
condições físicas e de formas de relacionamento em função de mantê-los na atividade
agrícola. A cada momento, surgem situações diferentes no tempo e no meio.
Necessitam de constantes e sistemáticas mediações para resolução das dificuldades e
conflitos. A mediação é uma alternativa de resolução de conflitos.
O parecer do Prof. Pinheiro Machado remete-nos a perceber as grandes
dificuldades em formar grupos que interajam entre si, com harmonia, num mundo
inteiramente de formação capitalista, esperando que seus integrantes tivessem uma
formação socialista ou comunista. Percebe-se também que em caso de extrema
pobreza ou dificuldades, onde até a sobrevivência está em jogo, existe maior tolerância
e coesão. Sabe-se que vizinhos, inimigos ou rivais, tornam-se solidários em épocas de
catástrofes (incêndios, enchentes, etc.). Nestes casos, a solidariedade fica em alta.
Nos grupos agrícolas, fica bem nítida a solidariedade, quando se trata de
assentamentos agrários. As dificuldades são tantas, que os obriga à junção de forças.
Esta observação evidencia-se na Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz/SC,
pois obteve o pior retorno financeiro entre os grupos estudados, numa situação crítica e
com inúmeras necessidades; e mesmo assim, os associados continuam a ter boas
83
relações. Possuem a convicção que a superação dos problemas só será possível em
atuação coletiva e solidária.
Conforme o parecer da Profª Ana Rita, entende-se que o valor do saber científico
é importante para melhorar o existente, valorizando o saber adquirido e o entendimento
entre ambos. A administração e gestão dos empreendimentos estão acima da
formalidade contábil para que o grupo tenha o enfoque das diferentes visões entre o
social, econômico, ecológico, dentre outros.
De acordo com o Prof. D’Agostini, fica claro que os componentes de grupo
possuem sua própria personalidade, interesse e vontade, e diferentes entre si. Os que
tentam aglutinar os componentes querem tratar com igualdade os desiguais. Falta
também o entendimento do que é coletivo e o que é individual, pois o interesse de um
grupo não pode ser a somatória dos interesses individuais, e que um indivíduo só faz
sentido numa coletividade. Na questão da capacidade dos agricultores guardarem suas
diferenças, fica bem explícita esta comprovação ao ver que, mesmo tendo seus grupos
desagregados, os agricultores vivem em harmonia.
O parecer do Pesquisador Murilo Flores leva-nos a lembrar das missões,
diretrizes, estratégias e ações de governo e, respectivamente, dos técnicos que
planejam formação de grupos como se fosse mera tarefa ou atividade.
O distanciamento entre direção e associados, realmente acontece em
cooperativas, principalmente onde estas já cresceram e o associado não consegue
mais falar com o chefe do departamento, nem com o diretor e, muito menos, com o
presidente.
Nos grupos estudados, o distanciamento entre diretoria e associados não foi
verificado, provavelmente, por serem grupos pequenos, recentes e de vizinhos; mas
observaram-se problemas decorrentes da falta de liderança nos grupos que se
desagregaram.
Fica evidente que se faz necessária uma reflexão, principalmente na extensão
rural e em órgãos governamentais, buscando outros métodos e estratégias ao tratar de
projetos e organizações, necessariamente envolvendo o conhecimento multidisciplinar.
A distância das propriedades/residências ao condomínio é realmente um dos
problemas. Problema maior é condomínio à parte, ou seja, o agricultor produzir leite em
sua propriedade particular e participar do condomínio para produção coletiva. Porém
foram ‘experiências de vida’ para os agricultores.
84
A produção de leite à base de pasto no Condomínio 25 de Maio, Serra Alta/SC,
é referência até os dias de hoje; e durante muito tempo o foi, na ‘venda direta’ ao
consumidor. Cabe ressaltar que um de seus componentes tornou-se palestrante em
eventos pertinentes.
A Associação Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira/SC, tem por objetivo a
comercialização individual de produtos pertencentes aos associados. Deste grupo, uma
família implantou a produção de leite à base de pasto, que tornou-se outra grande
referência.
Cabe ressaltar o esforço feito pelos agricultores, técnicos, professores,
estudantes e outros colaboradores. na busca de formas alternativas para os pequenos
agricultores, entre elas o trabalho coletivo. Em grupos que houve desagregação,
produtores melhoraram sua situação particular, graças ao que aprenderam no
condomínio.
As experiências negativas servem como lições, na organização de muitos outros
grupos. O co-orientador deste trabalho, Prof. Mário Luiz Vicenzi, cita como exemplos
de sucesso: Cooperunião, Dionísio Cerqueira/SC; Copranova, Abelardo Luz/SC; e
grupos no Alto Vale do Itajaí e na Região Serrana de Santa Catarina, a exemplo do
Ecosserra.
85
3. - ANÁLISE ECONÔMICA DOS GRUPOS ESTUDADOS E CONSIDERAÇÕES
SOBRE ASPECTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS.
A questão econômica é um dos fatores que pode influenciar a desagregação de
grupos agrícolas e os componentes entrevistados também fizeram inúmeras citações,
conforme registros nas tabelas de nº 15 a nº 18.
Fez-se necessária a apuração dos indicadores econômicos, talvez não tão
precisos, em virtude do tempo em que alguns grupos já se desagregaram, mas
existiam anotações com os associados e condôminos. São importantes para um
diagnóstico e verificação da viabilidade dos empreendimentos.
3.1. - Resultados contábeis
3.1.1 - Condomínio Beira Rio, Saltinho / SC.
Tabela 19 – Resultados Finais obtidos pelo grupo em 06/97 e atualização dos Valores.
Dados de 06/97
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05,referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
queijo
(2)
SIMULAÇÃO
(se fosse
vendido leite
in natura à
Indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Renda Bruta Total 15.120,00 6.840,00 25.891,39 36.316,26
CUSTOS VARIÁVEIS
Insumos e despesas gerais
Mão-de-obra paga
Totais
2.258,00
3.000,00
5.258,00
2.258,00
3.000,00
5.258,00
3.847,39
5.111,69
8.959,08
5.423,42
7.205,61
12.629,03
Margem bruta total 9.862,00 1.582,00 16.932,31 23.687,23
CUSTOS FIXOS
Depreciação de máquinas
Juros calculados - máquinas
Depreciação de construções
Juros calculados - construções
Juros calculados - terra
Juros calculados do capital circulante
Mão-de-obra familiar*
Totais
125,00
60,00
495,00
660,00
1.800,00
410,51
0,00
3.550,51
125,00
60,00
495,00
660,00
1.800,00
410,51
0,00
3.550,51
212,99
102,23
843,43
1.124,57
3.067,00
699,47
0,00
6.049.69
533,70
256,18
2.113,47
2.817,95
7.685,34
1.752,73
0,00
15.159,37
Lucro 6.311,49 - 10.882,62 8.527,86
Prejuízo - 1.968,51 -
-
Número de famílias 4 4 4 4
Remuneração por
Família / ano
(+)
1.577,87
(-)
492,13
(+)
2.720,65
(+)
2.131,96
86
Dados de 06/97
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05,referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
queijo
(2)
SIMULAÇÃO
(se fosse
vendido leite
in natura à
Indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Remuneração por
família/mês
(+)
131,49
(-)
41,01
(+)
226,72
(+)
177,66
Preço queijo vendido R$/Kg
Preço do leite - R$/litro
3,00
-
-
0,14
5,11
-
7,20
-
* A mão-de-obra familiar está registrada em custos variáveis, por ter sido paga, em forma de retiradas
financeiras, como se fosse mão-de-obra contratada.
O grupo agregou valor ao leite, vendendo queijo e a receita gerada dividida pelo
volume de leite produzido resultou em um preço médio do leite equivalente a R$0,37
(06/97). Se fosse vendido à indústria, teria recebido R$0,14 / litro de leite.
O grupo conseguiu uma margem bruta de 65% da renda bruta total, cobriu todos
os custos fixos e obteve um lucro de 41%. Se tivessem vendido leite à indústria, teriam
obtido prejuízo.
4.1.2. - Condomínio Raio De Luz, Nova Itaberaba / SC.
Tabela 20 – Resultados Finais obtidos pelo grupo em 06/95 e atualização dos Valores.
Dados de 06/95
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05,referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
leite in natura à
indústria
(2)
SIMULAÇÃO
(se fosse
vendido leite
in natura à).
indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Renda bruta total 20.925,00 20.925,00 42.844,06 59.095,87
CUSTOS VARIÁVEIS
insumos e despesas gerais
Mão-de-obra paga
Arrendamento pago
Totais
6.916,00
3.000,00
3.000,00
12.916,00
6.916,00
3.000,00
3.000,00
12.916,00
14.160,54
6.142,52
6.142,52
26.445,58
19.531,01
8.472,52
8.472,52
36.477,05
Margem bruta total 8.009,00 8.009,00 16.398,48 22.618,82
CUSTOS FIXOS
Depreciação de máquinas
Juros calculados - máquinas
Depreciação de construções
464,84
237,05
877,75
464,84
237,05
877,75
951,76
485,36
1.797,20
1.312,77
669,46
2.478,88
87
Dados de 06/95
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05,referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
leite in natura à
indústria
(2)
SIMULAÇÃO
(se fosse
vendido leite
in natura à).
indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Juros calculados - construções
Juros calculados - terra
Juros calculados do cap. circulante
Mão-de-obra familiar
Totais
1.247,25
2.781,84
1.607,14
0,00
7.215,87
1.247,25
2.781,84
1.607,14
0,00
7.215,87
2.553,75
5.695,84
3.290,62
0,00
14.774,54
3.522,51
7.856,42
4.538,84
0,00
20.378,88
Lucro 793,13 793,13 1.623,94 2.239,94
Prejuízo - - -
-
Número de famílias 7 7 7 7
Remuneração por
Família / ano
(+)
113,30
(+)
113,30
(+)
231,99
(+)
319,99
Remuneração por
família/mês
(+)
9,44
(+)
9,44
(+)
19,33
(+)
26,66
Preço leite obtido R$/litro 0,17 0,17 0,85 0,48
NOTA: As colunas 1 e 2 possuem os mesmos valores, haja vista que o Condomínio Raio de Luz, Nova
Itaberaba / SC, foi o único que não produziu subprodutos do leite e entregou o leite à indústria.
No resultado econômico estão computadas as despesas com arrendamento, o
equivalente a 300 sacas de milho por ano, lançadas no item custos variáveis / demais
despesas. Além disto, teve que pagar as dívidas de investimentos na propriedade e a
compra das 30 novilhas do Uruguai, o equivalente a 139.500 litros de leite, ou seja,
após 6 meses de carência, 14 prestações mensais de 7.750 litros de leite. Também
não está incluída a mão–de-obra dos componentes do grupo.
Em geral, pode-se dizer que teve uma margem bruta de 38% da receita bruta
total e um lucro de 3,8%.
Pelos depoimentos obtidos, as 7 famílias, além de pagarem o rateio do
pagamento das vacas, tinham que desembolsar mensalmente o valor de um salário
mínimo para dar continuidade no empreendimento, pagando salário à família que
cuidava dos animais, dívidas, arrendamento e despesas diversas.
88
4.1.3. - Condomínio 25 De Maio, Serra Alta / SC.
Tabela 21 – Resultados Finais obtidos pelo grupo em 06/00 e atualização dos Valores.
Dados de 06/00
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05,referente à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
queijo
(2)
SIMULAÇÃO
(se
fosse vendido
leite in natura à
indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Renda Bruta Total 24.707,00 13.125,59 32.780,42 35.081,21
CUSTOS VARIÁVEIS
Insumos e despesas gerais
Mão-de-obra paga
Totais
7.656,72
9.619,26
17.275,98
5.083,24
6.434,08
11.517,32
10.158,69
12.762,53
22.921,22
10.871,70
13.658,28
24.529,98
Margem bruta total 7.431,00 1.608,27 9.859,20 10.551,23
CUSTOS FIXOS
Depreciação de máquinas
Juros calculados - máquinas
Depreciação de construções
Juros calculados - construções
Juros calculados - terra
Juros calculados do cap. circulante
Mão-de-obra familiar
Totais
500,13
600,03
135.04
180,03
3.829,08
1.247,99
2.138,56
8.630,86
500,13
600,03
135.04
180,03
3.829,08
1.247,99
2.138,56
8.630,86
663,56
797,00
179,17
238,55
5.080,30
1.655,19
2.837,37
11.451,14
710,13
851,97
191,74
255,62
5.436,87
1.772,01
3.036,52
12.254,86
Lucro - - - -
Prejuízo
(-)
1.198,87
(-)
7.022,59
(-)
1.591,94
(-)
1.703,63
Número de famílias 4 4 4 4
Remuneração por
Família / ano
(-)
299,72
(-)
1.755,64
(-)
397,98
(-)
425,90
Remuneração por
família/mês
(-)
24,98
(-)
146,30
(-)
33,16
(-)
35,49
Preço obtido queijo R$/Kg
Preço obtido leite R$/litro
Preço obtido iogurte R$/litro
3,25
0,20
0,50
0,17
4,31
0,27
0,66
4,61
0,28
0,71
O grupo além de vender leite à indústria (25%), produziu e vendeu iogurte (com
5 % do leite) e queijo (com 70% do leite). A receita total dividida pelo volume de leite
produzido resultou em um preço médio do leite de R$0,32 (06/2000). Se tivesse
vendido para a indústria, teria praticamente a metade da receita bruta total (53%), o
leite seria vendido a R$0,17 / litro, a margem bruta seria de 12% e teriam um grande
prejuízo.
Embora o grupo tenha conseguido uma margem bruta de 30% sobre a renda
bruta total, não conseguiu pagar todos os custos fixos e obter lucro. O prejuízo foi
89
aproximadamente em 5%. Desta forma não conseguiu remunerar totalmente o capital e
a mão-de-obra.
4.1.4 - Associação Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira / SC.
Este grupo possui características totalmente diferentes dos demais. Estão
associados somente para a venda de sua própria produção, principalmente
hortifrutigranjeira, subprodutos vegetais e animais, em feiras-livres (nas terças-feiras e
sábados). Todos possuem banca própria. Apenas três bancas são utilizadas com
parceria de outras famílias de agricultores na comercialização, e estas também
produzem individualmente. Os usuários das bancas pagam o rateio de pequenas
despesas de manutenção (água, taxas e outras). A Prefeitura paga a energia elétrica.
4.1.5 - Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz / SC
Tabela 22 – Resultados Finais obtidos pelo grupo em 06/00 e atualização dos Valores.
Dados de 06/00
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05, referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
queijo
(2)
SIMULAÇÃO
(se
fosse vendido
leite in natura à
indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Renda Bruta Total 6.589,40 4.775,00 8.742,60 9.356,22
CUSTOS VARIÁVEIS
Insumos e despesas gerais
Mão-de-obra paga
Totais
909,00
0,00
909,00
909,00
0,00
909,00
1.206,00
0,00
1.206,04
1.290,68
0,00
1.290,68
Margem Bruta total 5.680,40 3.866,00 7.536,56 8.065,54
CUSTOS FIXOS
Depreciação de máquinas
Juros calculados - máquinas
Depreciação de construções
Juros calculados - construções
Juros calculados - terra
Juros calculados do cap. circulante
Mão-de-obra familiar
Totais
12,50
6,00
315,00
420,00
1.800,00
752,48
10.286,25
13.592,23
12,50
6,00
315,00
420,00
1.800,00
752,48
10.286,25
13.592,23
16,58
7,96
417,93
557,24
2.388,18
998,38
13.647,45
18.033,72
17,75
8,52
447,27
596,35
2.555,80
1.068,44
14.605,34
19.299,47
Lucro - - - -
Prejuízo
(-)
7.911,83
(-)
9.726,23
(-)
10.497,15
(-)
11.233,93
Número de famílias 5 5 5 5
Remuneração por
Família / ano
(-)
1.582,37
(-)
1.945,25
(-)
2.099,43
(-)
2.246,79
90
Dados de 06/00
Valores em REAIS
Valores em REAIS, corrigidos
em 02/05, referentes à coluna
(1)
Indicadores
(1)
RESULTADOS
OBTIDOS
Vendeu
somente
queijo
(2)
SIMULAÇÃO
(se
fosse vendido
leite in natura à
indústria)
(3)
IGP-di
(4)
DÓLAR OF.
VENDA
Remuneração por
família/mês
(-)
131,86
(-)
162,10
(-)
174,94
(+)
187,23
Preço queijo vendido R$/Kg Preço
do leite R$/litro
3,50
-
-
0,25
4,64
-
4,96
-
O grupo agregou valor ao leite, vendendo queijo e a receita dividida pelo volume
de leite produzido, o grupo conseguiu o preço médio do leite de R$0,43 (06/200).
O grupo obteve margem bruta de 86% da receita bruta total, pois as despesas
foram mínimas, ou seja, 14%. A receita total foi muito pequena e representou apenas
48% dos custos fixos.
4. 2 - Análise e diagnóstico da situação encontrada
A produção de leite à base de pasto foi um grande avanço tecnológico, pois
permite redução dos custos alimentares, viabilizando a atividade leiteira. Hoje, o Oeste
Catarinense é responsável por 66% do leite produzido em Santa Catarina, conforme
dados do IBGE (1985-2004). Em parte explica-se esse notável avanço da bovinocultura
leiteira, frente às dificuldades enfrentadas pelos suinocultores, na década de 90 e início
do século XXI (ICEPA,2004), mas também à ampliação das pastagens, aproveitando o
solo enriquecido pelo estrume acumulado de suinocultura intensiva. Por outro lado, a
atividade em grupo pareceu não ter alcançado o mesmo sucesso, pois dos cinco
condomínios pesquisados apenas dois estão coesos.
A atividade coletiva, na teoria, racionaliza os meios de produção, amplia a escala
e reduz os custos com mão-de-obra. Na prática, não parece ser tão fácil de ser
mantida. Os agricultores que compõem o grupo não têm a atividade coletiva como
parte da cultura e estão acostumados a trabalharem de forma individual.
A necessidade de socializar-se para sobreviver era uma constante nos povos
primitivos. Com o surgimento do capitalismo e da exploração do homem pelo homem,
as práticas individualistas assumiram cada vez maior relevância com o passar do
tempo e o individualismo arraigou-se na cultura.
91
A afirmação do Prof. Mário Luiz Vincenzi de que existem atividades mais difíceis
de serem conduzidas em conjunto, é real. Nos grupos estudados e que se
desagregaram, não se dividiu, em igualdade de condições, todas as tarefas
necessárias e preconizadas na exploração leiteira. A atividade leite foi conduzida por
uma determinada família; e isto decidido por eles, na divisão do serviço. Ao nosso ver,
o ‘saber-local’ fica evidenciado. A divisão de atribuições nos grupos aconteceu em
atividades diferentes, ou que davam suporte à exploração, a exemplo dos
investimentos, principalmente com as pastagens.
As questões ambientais e, principalmente, as sociais, têm motivação muito forte
em questões econômicas. Instalar uma exploração para fins didáticos é diferente de
conduzir um empreendimento econômico, em conjunto. A solidariedade e coesão
acontecem quando se vê vantagens, em curto ou em longo prazo; embora autores,
como Anjos (1995) e Abramovay (1992), afirmam que pode acontecer quando as
famílias não possuem condições suficientes à sua sobrevivência e reprodução, mesmo
que penoso, como alternativa de caráter transitório e ocasional.
Schumacher (1983) cita que todo o homem como indivíduo, talvez esteja
interessado em outros aspectos da vida (bondade, verdade e beleza), mas como
homem de negócio, só está preocupado com os lucros.
Estudos confirmam, segundo Testa et. al. (1996), que “em todas regiões do Brasil
a maioria dos pequenos agricultores familiares explora de forma intensiva os recursos
escassos disponíveis, e que, mesmo assim, é difícil conseguir gerar renda
agropecuária superior ao nível de reprodução da família”.
Segundo alerta Freire (1982), conseguir gerar renda suficiente, nem sempre é
possível.
[...] naturalmente que nem sempre ‘este potencial’ se realiza, seja em
razão das severas restrições de recursos que tem os agricultores
familiares; seja por questões macroeconômicas, não existência de
políticas públicas, especialmente tecnologias alternativas
comprometidas. Propostas encaminhadas por uma extensão que
realmente comunique-se e, não estenda descompromissadamente
sobre o agricultor uma determinada tecnologia, especialmente para o
pequeno produtor familiar.(FREIRE, 1982).
Em questões econômicas, segundo Testa et. al. (1996), nas propostas de
discussão para o Desenvolvimento Sustentável do Oeste Catarinense, consideram que
um estabelecimento agrícola viável necessita obter uma Renda da Operação Agrícola –
ROA mínima de US$4.200/ano, incluído o auto-abastecimento (este de US$800,00 a
92
US$1.000,00/ano). Propõem para a bovinocultura de leite, um sistema de produção
cuja ROA atinja um mínimo de US$4.200 e no máximo US$8.000 a
US$10.000/família/ano, incluindo o auto-abastecimento. Desta ROA, deseja-se que
20% a, no máximo, 45% seja obtida do leite; sendo necessários 10,5 mil a 56 mil litros
de leite por produtor/ano (vendendo leite a US$0,16/litro e ROA representando o
equivalente a 50% do valor da renda bruta total). Para satisfazer estes critérios, cada
produtor de leite precisaria ter uma escala de seis a dez matrizes, com produtividade
de 8 a 12 litros/vaca/dia.
O desempenho técnico e econômico de propriedades leiteiras do Oeste
Catarinense, acompanhado pela gestão agrícola da Epagri, em 1993/94 e 1994/95
20
,
em áreas de 0 a 7 hectares de superfície forrageira principal – SFP, apresentou os
seguintes resultados, na tabela a seguir.
Tabela 23 – Desempenho das propriedades leiteiras no Oeste Catarinense, 1993/1994 e
1994/1995, SMP de 0 a 7 hectares, sem considerar custos fixos.
INDICADORES TÉCNICOS E
ECONÔMICOS
VALORES
(US$)
Renda bruta total por SFP 1.634,43
Custos variáveis por SFP 666,09*
Margem bruta por SPF 968,34
Leite por SFP / ano 4.311
Leite por vaca / ano 2.165
Efetivo de vacas 9,16
SFP - hectares 4,6
Vacas por SFP 1,99
Preço do leite vendido 0,27
* (Deste valor, em alimentos foram gastos US$414, 11).
Fonte: Epagri, 1997
A média aritmética dos ‘custos fixos reais e calculados’, apurados nos 4 grupos
agrícolas estudados, foi de US$12.612,00. São necessários muitos litros de leite para
obter lucro, mesmo que as margens brutas foram positivas, em todos os grupos.
Cita-se apenas um exercício contábil e ilustrativo, no caso do queijo levado de
ônibus à cidade, pela Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz/SC, sendo: 28
93
litros de leite/dia, divididos por 8 de leite, resulta 3,5 Kg de queijo/dia; e multiplicando-
se por 30 dias, resulta um total de 105 kg de queijo por mês; vendido a R$3,50 (preço
em 06/00) com favores de amigos, soma uma renda mensal de R$367,50. As despesas
de ônibus são de R$8,00 (preço em 06/00) e em quatro semanas custa R$32,00 por
mês. A margem bruta resulta em R$335,50. Se o leite fosse vendido a R$0,25 (preço
em 06/00) para a indústria, sendo 28 l/dia vezes 30 dias, somam 840 litros, resulta em
receita de R$210,00/mês. Subtraindo-se R$335,50 (do queijo) por R$210,00 (do leite),
a margem é de R$125,50 e representa 59,76 % de agregação, pois foi considerado o
frete.
O queijo era a principal fonte de renda das 5 famílias e implica que a renda
principal e anual é de R$4.026,00, vendendo queijos ou R$2.520,00 vendendo leite, no
total do grupo. Isto representa uma renda anual de R$504,00 a R$R$805,20 por
família. Considerando a existência no grupo de 5,0 equivalentes homem – UTH por
família, em média, resulta a remuneração de R$100,80 a R$161,04 por UTH / ano
(equivalente a 0,66 a 1,06 salários mínimos / ano), sem considerar todos os custos
variáveis na produção de leite e mais custos fixos (estes últimos, na Associação, foram
maiores que a renda bruta).
Cada UTH deveria receber 13 salários mínimos/ano (valor preconizado em seus
cálculos de gestão agrícola e administração rural, na Epagri). Em junho de 2000, o
valor do salário mínimo era de R$151,00/mês e totalizava R$1.963,00/ano. As 5
famílias deveriam receber R$9.815,00 de mão-de-obra por ano. Comparando com o
resultado obtido, trabalharam sem receber e a margem bruta cobriu parte dos custos
fixos.
O grupo Associação Feirão da Roça, Abelardo Luz/SC, além do queijo, produzia
tudo o que precisava para a subsistência, mas percebe-se que houve desvios de
objetivos principais, por influências de terceiros.
Para o sucesso de um empreendimento, algumas observações devem ser
consideradas:
- deve haver dimensionamento, para que a margem bruta total cubra os custos
fixos;
- deve-se levar em conta que a mão-de-obra familiar deve ser remunerada em no
mínimo 13 salários mínimos anuais (300 dias de trabalho, com 8 horas diárias). Em
termos econômicos, é preferível trabalhar como assalariado (sem correr riscos e não
20
Informações constantes no Manual de Referências de Administração Rural, Epagri, 1997.
94
trabalhar extra-horários) do que conduzir um empreendimento sem condições de
viabilidade econômica;
- na desagregação de grupos, existem desentendimentos e conflitos que podem
ser conseqüência das questões econômicas;
- alguns técnicos utilizam dimensionamentos da produção em projetos grupais,
como se estes fossem unidades didáticas e não verdadeiramente fossem remunerar os
componentes dos grupos;
- os resultados apurados não são compatíveis com o que se chama de
estabelecimentos agrícolas viáveis. Segundo Testa et. al. (1996), o estabelecimento
viável, na atividade leiteira, seria o que obtivesse renda da atividade agrícola – ROA
entre US$4.200 a US$8.000,00. Observe-se que as famílias, em grupo, só ficam com a
parte que lhes cabe. Deve-se prever e planejar, no mínimo, em progressão aritmética;
- tratando da Eficiência Marginal do Capital – EMK, esta deve ser maior ou igual a
taxa de juros (r) de mercado (EMK > ou = r). Logo, os investimentos devem ter lucro,
pois ao contrário, em termos econômicos, a caderneta de poupança remunera o
capital, mesmo que em remuneração mínima;
- nos estabelecimentos agrários, alguns técnicos e produtores valorizam o
“disponível” (recursos da depreciação, juros do capital), que deveria ser poupado ou
reservado para repor benfeitorias, máquinas e remunerar o capital aplicado na
propriedade. Esta também é uma das justificativas em se verificar o sucateamento
existente no meio rural, sem condições de fazer a reposição dos bens; e é uma das
causas que ajudam a promover a inviabilidade do setor agrário e influenciam a
desagregação dos grupos;
- nas explorações leiteiras, mesmo produzindo leite à base de pasto, existem
muitas despesas e custos: sanidade dos animais, suprimento mineral, inseminação
artificial, consertos e manutenção de máquinas e equipamentos, fretes e ou
combustíveis, energia elétrica, embalagens, dentre outros;
- no caso do Condomínio Beira Rio, muito leite era necessário produzir para que
com o lucro fossem pagos os dois salários mínimos mensais, atribuídos à família que
tomava conta da propriedade. Os vinte e quatro salários da época (R$120,00 e
R$130,00 em 1997), representaram em 2004, o valor de R$3.000,00 / ano. Na venda
do queijo, o leite teve valor agregado de R$0,37 o litro. Com dez vacas em lactação,
com 10 l/vaca/ano, produzindo 36.000 litros / ano, com lucro de R$6.311,49, resultou
R$0,17 de lucro em cada litro. Então, foram necessários 17.647 litros só para os
95
salários permanentes. E se o leite fosse vendido à indústria por R$0,14 o litro, esta
produção não seria suficiente, pois daria R$1.968,51 de prejuízo;
- o acúmulo das tarefas nas propriedades particulares não possibilita aos
componentes dos grupos darem ênfase e atenção devida aos projetos coletivos. Além
disso, por ter uma família (chamado pelos agricultores de cuidador) desenvolvendo a
maioria dos trabalhos na atividade leiteira (característica pertinente e intrínseca da
atividade leiteira), as sugestões dos demais componentes do grupo causam
constrangimentos de ambas partes e o cuidador geralmente as vê como críticas. As
sugestões passam a ser omitidas e causam afastamentos e desagregações;
-no Condomínio Raio de Luz, além do lucro ser baixo e rateado entre 7 famílias,
nem sequer alivia os encargos no pagamento das dívidas. Além disto, o arrendamento
de 300 sacas de milho / ano (despesa lançada em custos variáveis / arrendamento
pago), abocanhou também parte da margem bruta;
- não é difícil antever-se o desfecho de um grupo como o Condomínio Raio de
Luz, que ficou devendo 17 parcelas mensais (após 6 meses de carência) ao valor
equivalente a 7.750 litros de leite/mês e mais 300 sacas de milho por ano de
arrendamento. Não tem como o grupo continuar coeso. Considerando o lucro obtido de
R$793,13 e dividido por 72.000 litros de leite produzido no ano, corresponde ao lucro
entre R$0,01 a R$0,02 por litro de leite. Pagar de arrendamento o equivalente a 300
sacos de milho
21
, eram necessários 272.000 litros de leite a serem produzidos. Para
pagar as vacas importadas, era preciso a produção de 119.772 litros de leite / mês;
- com relação ao Condomínio 25 de Maio, os associados faziam retiradas mensais
de dinheiro da atividade leiteira, por conta da mão-de-obra. Este dinheiro destinava-se
a fazer frente às demais atividades que davam prejuízo (fumo, olerícolas, confecções),
exceto a avicultura, que proporcionava lucro. Se vendessem leite à indústria, o prejuízo
seria bem maior;
- na atividade leiteira dos grupos, os trabalhos geralmente são conduzidos apenas
por uma família associada, logo, as decisões cotidianas são tomadas por um só
componente. Aconteceram desníveis de mão-de-obra, conhecimentos e resultados,
conforme afirma Vincenzi (2003) e os produtores entrevistados. Era lucrativo somente
para a família que conduzia a atividade. Neste caso, quando os componentes se
reuniam para a avaliação e planejamento, era o momento que contribuía para realçar
21
O valor do milho na época citada era de R$10,00 por saca de 60 Kg.
96
as diferenças e os conflitos, os quais ajudaram a acelerar a desagregação; mesmo que
técnicos afirmassem que ‘sinteticamente houve viabilidade econômica’;
- a Associação Feirão da Roça, um caso de sucesso, só utilizou o trabalho em
conjunto para a feiras-livres e estratégias para comercializar os produtos orgânicos,
produzidos individualmente nas propriedades dos seus componentes. Os conflitos são
menores porque as bancas estão separadas, segundo informações dos entrevistados.
A socialização e cooperação acontecem num componente da escala de produção, o
que diminui a existência de conflitos. Além de não terem que escalonar a mão-de-obra
no trabalho em conjunto, fica mais fácil o controle das finanças e o próprio
planejamento. Quem trabalha mais, ganha mais e quem trabalha menos, ganha menos.
Fica evidenciada a diferença em ter coesão em certas atividades, mais fáceis de operar
em conjunto, com maior transparência, motivação e minimização de conflitos. Certas
atividades em conjunto logram êxito, com menor esforço dos que planejam e
assessoram; e do ‘bem estar’ dos próprios componentes do empreendimento;
- embora a margem bruta na produção de leite à base de pasto seja maior, em
função da redução do valor dos custos variáveis, nem sempre cobre os custos fixos;
- a elaboração de planos técnicos, sem preencher as devidas exigências de ordem
técnica e de viabilidade econômica, também é forte motivo para influenciar na
desagregação dos grupos.
4.3 - Considerações sobre os aspectos sociais e ambientais
A principal característica dos grupos estudados é o fato de cada componente
possuir sua propriedade. A propriedade do grupo é uma alternativa de renda e de
obtenção de melhores condições de comercialização. Ficou evidente que somente
parte do trabalho é grupal, considerando a atividade grupal como um componente a
mais, como exceção do grupo no assentamento agrário, em Abelardo Luz / SC.
Os componentes dos grupos que possuem sua suficiência em terra, subsistência
e monolíticos nas decisões agrárias, vêem a unidade grupal como mais uma
alternativa. No início gostam, mas movidos principalmente por questões econômicas e
de diferença de idéias, passam a ter desconfianças e conflitos.
Na Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz / SC, onde está em jogo a
subsistência, as dificuldades são maiores, viram e vêem a produção grupal como uma
única saída. De fato dividem o trabalho, as decisões, as obrigações e os créditos.
97
Possuem uma melhor visão de trabalho coletivo. O trabalho coletivo, diário e solidário
proporciona união, neste caso. Pelos depoimentos obtidos, recebe maior assistência
em termos de formação para este fim, principalmente do Movimento Sem Terra, do
estudo bíblico e certamente pela solidariedade frente às precariedades. Dizem que a
formação do grupo também foi estratégia para conseguir recursos governamentais e
subsídios; e embora não aconteça, mesmo assim, continuam esperando. Emocionam-
se e manifestam alegria por superar tantos problemas.
Os componentes da Associação Feirão da Roça, em Dionísio Cerqueira/SC,
manifestaram grande contentamento e comprovaram a viabilidade social, ambiental e
econômica. Melhoraram as relações sociais em termos de formação pessoal e
relacionamentos interpessoais. Na questão ambiental, produzem alimentos sem
prejuízo à saúde humana, quer nos alimentos, quer nas operações de produção. Na
questão econômica surgiu alternativa de demanda para produzirem mais, viabilizou a
comercialização e aumentou a renda. Houve depoimentos de que, no início, alguns
componentes não tinham nem sequer condições de pagar a passagem de ônibus para
ir à feira e, hoje, possuem até veículo.
Principalmente na Região do Extremo-Oeste Catarinense, os produtores queixam-
se das questões ambientais, pela falta de água (precipitação, falta de córregos e
vertedouros), Houve desmatamento e faltam matas ciliares. Visualmente, observa-se
que, além da escassez, a água está poluída e misturada com o esgoto domiciliar e das
propriedades (funciona como canal de escoamento de águas usadas).
Também afirmam que as terras não possuem a fertilidade adequada e são muito
ácidas, necessitando de grande investimento para recuperá-las.
Os Condomínios Beira Rio, Raio de Luz e 25 de Maio passaram por sérios
problemas de ordem econômica e de relacionamento. Agora que desagregados, voltou
a reinar a paz, tranqüilidade (até em termos econômicos) e harmonia entre seus
componentes. Todos encaram como uma grande experiência. Agora possuem
melhores possibilidades e competência para gerirem seus negócios, conhecerem
melhor seus vizinhos. Não querem mais trabalho em grupo (a não ser que seja
homogêneo, o que consideram difícil). Categoricamente, afirmam que o que de melhor
lhes restou foi o conhecimento tecnológico adquirido e que está sendo utilizado em
suas propriedades particulares, além de saberem que os investimentos devem ocorrer
de forma gradativa.
98
Numa análise mais abrangente, pode-se dizer que os condomínios, embora
desagregados, cumpriram uma função social e também econômica. Foi, apesar dos
problemas, uma forma de se apropriarem de conhecimentos e experiências,
geralmente, a serem aplicadas em suas propriedades e suas vidas, respectivamente.
O incentivo para que os produtores rurais produzam leite à base de pasto,
fortalece a agricultura orgânica, evitando a utilização e dependência de insumos
externos, que ocorre na agricultura convencional. Tem o intuito de proporcionar-lhes
autonomia e sustentabilidade. Percebe-se que alguns profissionais acreditam que
produções boas e com viabilidade econômica e tecnológica, conseguem resolver
problemas de ordem ambiental. Nem sempre é possível obter equilíbrio entre os fatores
ambientais e os econômicos, sociais, culturais. Também existem diferenças de
percepção, além das diferenças de visão entre áreas de conhecimentos
interdisciplinares ou transdisciplinares.
99
DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES
A atividade leiteira possui aspectos técnico-administrativos com dificuldades de
ser conduzida no coletivo, sendo sempre realizada apenas por uma família. Acontecem
diferenças de conhecimentos, de trabalhos e de interesses.
As atividades industriais também são interessantes com o coletivo, porém como
necessitam de maiores investimentos, organização, legalização e inspeção geram
deficiências econômicas em curto prazo, maiores preocupações com atividades
pertinentes à comercialização, dificuldades no controle e grandes conflitos.
Tabela 24 – Resumo e comparação dos resultados contábeis dos grupos estudados, valores em reais,
corrigidos pelo IGP-di, feveveiro/2005.
GRUPOS AGRÍCOLAS
INDICADORES
BEIRA RIO
SALTINHO
RAIO DE LUZ
N. ITABERABA
25 DE MAIO
SERRA ALTA
M. MARIA B.
AB. LUZ
Renda Bruta Total 25.891 42.884 32.780 8.742
Custos variáveis 8.959 26.445 22.921 1.206
Margem Bruta 16.936 16.398 9.859 7.536
Custos Fixos 6.049 14.774 11.451 18.033
Lucro 10.882 1.623 - -
Prejuízo - - 1.591 10.497
Nº Famílias 4 7 4 5
Remuneração/ família/mês 226 19,33 (-) 33 (-) 174
Preço do leite - 0,85 0,27 -
Preço do queijo 5,11 - 4,31 4,64
Preço do iogurte - - 0,66 -
Observa-se que todos os grupos tiveram margem bruta positiva, embora somente
a metade conseguiu cobrir os custos fixos. Dois grupos tiveram lucro e representou
pouco retorno financeiro para cada família. Dois grupos tiveram prejuízo, ou seja, não
conseguiram remunerar totalmente sua mão-de-obra e demais custos fixos.
Além da produção, os grupos enfrentam muitas questões pertinentes à
comercialização e legalização, de ordem sanitária e tributária, além dos controles e
estratégias mercantis.
100
A Legislação atual, principalmente a sanitária, está moldada para grandes
produções e corporações. Os empreendimentos com produção em escala menor têm
as mesmas obrigações. Sua adequação às exigências e normas, requer investimentos,
e onera os custos dos produtos. Pode-se dizer que a legislação funciona, para os
grandes, como uma reserva de mercado e fator de concentração de renda, dada as
dificuldades dos que produzem em escala menor, na adequação legal e implica na
dificuldade de competição em custos de produção e respectivos preços finais.
Os grupos conseguem manter uma organização mínima de registros dos fatos e
de ordem contábil, mesmo com precariedade; conseguem reunir-se periodicamente,
mas em face da inviabilidade técnica e econômica, aparecem o desânimo e os
conflitos.
Todos os grupos estudados possuem estatuto, regimento interno, livro de contas
e atas. Manifestam estar carentes de assistência em termos de visão e estratégias dos
negócios.
Em alguns grupos, existe certa deficiência administrativa, mesmo que digam
existir atas, livro caixa, balancete e legalização do empreendimento. Isto é fácil de
entender, pois a maioria dos seus componentes estudou até a quarta série (ensino
fundamental) e as atividades dos agricultores estão mais identificadas com o esforço
físico e não similares às de formalidades escrita e contábil. Após as atividades laborais,
estão cansados fisicamente para os devidos registros e controles.
Ficam comprovadas as dificuldades de coesão nos grupos agrícolas e muitos
deles se desagregam. Dos cinco grupos estudados, somente dois continuam coesos.
A formação de grupos agrícolas acontece mais pelas dificuldades que a
agricultura familiar enfrenta de manter-se isoladamente, incentivada por políticas
públicas e organizações não-governamentais, com o objetivo de superar e amenizar os
problemas de viabilidade econômica, social e ambiental; racionalizar os meios de
produção e procurar amenizar o impacto do empobrecimento no campo e conseqüente
êxodo rural.
Os grupos são formados por influência de líderes, técnicos e instituições, e na
formação, nem sempre leva em conta a real motivação dos integrantes, aspectos
étnicos, culturais, tecnológicos, econômicos e sociais. Falta homogeneidade,
principalmente na diferença de idéias, experiências e poder aquisitivo.
101
Tabela 25 – Tabela comparativa de indicadores dos grupos estudados, citados na formulação do
problema e confrontação com a hipótese
GRUPOS AGRÍCOLAS
INDICADORES
BEIRA RIO
SALTINHO
RAIO DE LUZ
NOVA
ITABERABA
25 DE MAIO
SERRA
ALTA
FEIRÃO
ROÇA
DION. CERQ.
M. MARIA
BERNARDA
AB. LUZ
Dificuldades de
aglutinação
Sim
Sim
Não
Não
Não
Influência externa
no ingresso
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Diferença étnica Sim Não Não
Sim
Sim
Diferença em
aspectos culturais
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Diferença em
aspectos técnicos
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Diferença em
aspectos
econômicos
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Diferença em
aspectos sociais
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Insuficiência
administrativa
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Empobrecimento
Não Não Não Não Não
Desarmonia familiar
Não Não Não Não Não
Desarmonia com
vizinhos
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Existência de êxodo
rural de
componentes do
grupo
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Existência de
problemas
econômicos, sociais
e ambientais
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Durante seu operar, ocorrem problemas de relacionamento, provocados por
questões econômicas e despreparo em lidar de forma grupal, causando conflitos e
102
desânimo; e conseqüentemente sua desagregação.
Os componentes têm uma cultura, uma história de vida, idéias e aspirações
diferentes e torna a atividade grupal um campo de conflitos. Os entrevistados dos
grupos que atuam com produção afirmam que a coesão é maior quando existir grau de
parentesco entre seus componentes e existir homogeneidade de idéias e de idades.
Os grupos apresentaram a diferença de idéias, valores e idades como fator que
influencia a existência de conflitos e desagregação. Na questão de idade, analisando o
perfil dos grupos, verifica-se não existir tanta diferença. Existe sim diferença
significativa de idades no grupo Feirão da Roça, em Dionísio Cerqueira. Tratando-se de
convivência esporádica, por ser o grupo de comercialização e de produção individual
vendida em bancas separadas, acontece menos conflitos e o grupo continua coeso.
Nos grupos que se desagregaram, não ocorreram desarmonias familiares e
empobrecimentos graves, em vista de que todos tinham propriedades individuais e
priorizadas. Os componentes dos grupos desagregados (geralmente vizinhos ou
parentes) continuam convivendo harmoniosamente. Com a desagregação, os
problemas foram resolvidos; o tempo passou e os produtores possuem uma grande
capacidade de guardarem suas diferenças, como já foi afirmado pelo Prof. Dr.
D’Agostini, em seu parecer.
Os componentes dos grupos desagregados consideraram a experiência como
produtiva e a aprendizagem muito significativa. Seu maior legado é o conhecimento
tecnológico que conseguiram se apropriar, o qual é utilizado de maneira indispensável
em suas propriedades.
Os agricultores não possuem condições tão apropriadas para crescimento em
seus negócios, dadas às condições macro e microeconômicas. Qualquer alternativa
proposta que deslumbre uma possibilidade de progresso pode ser facilmente aceita,
mesmo que eles tenham que partilhar com os demais, aparecendo como uma
alternativa de superação.
Deve-se ter cuidado, principalmente os técnicos, em achar que alternativas
sejam boas e propícias aos agricultores, sem conhecer profundamente as questões
sociológicas e culturais destes e, principalmente, não ter conhecimento multidisciplinar
em relação aos empreendimentos.
Os processos de adoção tecnológica e crescimento econômico devem ocorrer
de acordo com a realidade local, observando situação dos agricultores, o contexto em
que se encontram e as oportunidades disponíveis e acessíveis. Cabe um intenso
103
trabalho de formação de indivíduos, principalmente em relações interpessoais, antes de
formar o grupo.
Um dos problemas observados, talvez entre os mais importantes, foi a
inexistência de uma liderança natural que harmonizasse o interesse geral dos
condôminos, principalmente nos grupos que se desagregaram (os condomínios). As
reuniões, embora atendessem às formalidades necessárias, não se transformavam em
ações e continuavam existindo divergências que, em última análise, contribuíam para a
dissolução. Os grupos unidos, por sua vez, estabeleceram uma liderança natural que
influenciou na coesão, além dos demais objetivos que tinham em comum e embora
diferentes de um grupo para outro.
Os projetos técnicos elaborados merecem maior atenção e perícia. Faz-se
necessário dimensionar a capacidade de endividamento, estudar o tempo necessário
para retorno, considerar a média de produções e não fazendo estimativas otimizadas,
considerar que os projetos coletivos existem maiores problemas do que os individuais.
Os grupos coesos declaram que o sucesso está na solução dos freqüentes
problemas e conflitos entre si, resolvidos nas freqüentes reuniões, com a existência da
mediação: diretoria, comissão de ética, grupo estratégico, técnicos, mediadores ou
facilitadores. Os problemas não se avolumam e mantém-se a harmonia e o equilíbrio
entre eles.
Os componentes de grupo dizem não ter a devida preparação e formação para
atuar de forma coletiva. Há a intransigência e falta de visão de um todo. Os interesses
individuais estão sempre em prioridade. O Prof. D”Agostini já afirmou que “o interesse
de um grupo não pode ser a somatória dos interesses de seus componentes”.
A constante formação dos grupos não tem sido, em geral, espontânea de parte
dos agricultores, resultando em desagregação. Na maioria dos casos, foi considerada
uma experiência importante para todos os entrevistados, pois, mantêm vínculos de
amizade e continuam na atividade leiteira, seguindo os princípios de produção leiteira
preconizada pela UFSC, mesmo trabalhando cada qual na sua propriedade.
Existem diversas causas para desagregação, todas contidas na hipótese
formulada, que foram importantes, como: problemas financeiros, diferenças de cultura,
falta de preparo em lidar com a coletividade, individualismo, pressões do meio externo;
mas cada condomínio tem uma história diferente e, também sua causa geradora da
cisão não foi igual.
104
Os grupos que ainda se mantêm coesos, também o fazem por razões diferentes.
Um está com produção e outro somente com comercialização. O grupo que atua
somente na atividade de comercialização é bem sucedido. O que está na produção,
veio de uma história de muitas dificuldades, está exultante num comportamento
coletivista, mesmo tendo a pior remuneração do seu trabalho.
No sistema em que vivemos, as associações de agricultores, com o objetivo de
comercializarem seus produtos, onde mantêm maior privacidade, podem ser o melhor
ponto de partida para a coletivização das atividades rurais; ou não coletivizar.
Os produtores, técnicos e demais envolvidos na atividade leiteira lutam para ter
eficiência técnica e econômica, sempre com o objetivo em baixar o custo de produção,
e em conseqüência, baixar o preço do leite para a indústria ou para os consumidores.
Os produtores estão sempre perdendo. Parece que a luta deveria ser em auferir um
preço justo ao leite, oportunizando a possibilidade de renda aos que o produzem,
evitando problemas sócio-econômicos e ambientais.
Espera-se que a observância destas considerações possa evitar futuros
desentendimentos, principalmente junto às famílias rurais e contribua para a
sustentabilidade dos agroecossistemas.
105
REFERÊNCIAS
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Unicamp, 1992.
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CENTRO DE ESTUDOS E PROMOÇÃO DA AGRICULTURA DE GRUPO –
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pequenos agricultores para compra, produção, venda e transformação de produtos
agrícolas. Florianópolis: GTZ, 1992.
106
CRUZ NETO, O. O Trabalho de Campo Como Descoberta e Criação: O Desafio do
Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro – São Paulo: Abrasco,
Hucitec, S. ED.,1992.
D’ AGOSTINI, L. R. Parecer sobre Motivos de Coesão e Desagregação de Grupos
Agrícolas. (Parecer concedido ao mestrando em agroecossistemas Sérgio Stedile).
Florianópolis, UFSC, 2004.
DARTORA, V. Produção Intensiva de Leite à Base de Pasto: Processamento,
Transformação e Comercialização como Alternativa para a Agricultura Familiar de
Pequeno Porte. 2002. 169 f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Curso de
Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2002.
FLORES, M. Parecer sobre Motivos de Coesão e Desagregação de Grupos
Agrícolas. (Pequeno comentário sobre a formação de grupos no espaço rural).
(Parecer concedido ao mestrando em agroecossistemas Sérgio Stedile). Florianópolis,
2004.
FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 6ª ed., 1982.
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Programa de Recuperação e
Conservação dos Recursos Naturais – PRAPEM. Projeto Microbacias 2.
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GOLDENBERG, M. A Arte de Pesquisar. Como Fazer uma Pesquisa Qualitativa em
Ciências Sociais. Rio de Janeiro – São Paulo: Record, s. ed., 1997.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA – IBGE. Censo
Agropecuário. Dados Estatísticos de Santa Catarina. Rio de Janeiro, 1985-2004.
INSTITUTO DE PLANEJAMENTO E ECONOMIA AGRÍCOLA DE SANTA CATARINA –
ICEPA/SC. Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina. Leite. Florianópolis,
2002-2004.
JOVCHELOVICH & GUARESCHI et. Al. Textos em Representações Sociais.
São Paulo: Vozes, s. ed., 1998.
LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 4ª ed., 1981.
107
MARX, K. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª ed.,
1977.
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Estudo de Caso (Safras 99/00 e 00/01). 2002. 101 f. Monografia (Curso de Graduação
em Ciências Econômicas), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2002.
MELLO, M. A. de. A Trajetória da Produção e Transformação do Leite no Oeste
Catarinense e a Busca de Vias alternativas. 1998. 164 f. Dissertação (Mestrado em
Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.
Rio de Janeiro – São Paulo: Abrasco, s. ed., Hucitec, 1992.
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Catarinense de Desenvolvimento. Florianópolis, UFSC, 2000.
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Acesso em: 19 out. 2003.
ORMOND, J. G. P. et al. Agricultura Orgânica: Quando o Passado é Futuro.
(Polígrafo), 2002.
MACHADO, L. C. P. Parecer sobre Motivos de Coesão e Desagregação de Grupos
Agrícolas. (Parecer concedido ao mestrando em agroecossistemas Sérgio Stedile).
Florianópolis, UFSC, 2004.
SANKAR, y. “Mudança é um Distúrbio de um Persistente Equilíbrio”.
(Pensamento). (Impressão avulsa), 19-?.
SCHUMACHER, E. F. O Negócio é Ser Pequeno (Small is Beautiful). Um Estudo de
Economia Que Leva em Conta as Pessoas. Rio de Janeiro: Zahar, 4ª ed., 1983.
SIMINSKI, A. Atores Sociais e Desenvolvimento Local: A Participação no Caso da
Microbacia de Nova Teotônia Seara/SC. 2004. 124 f. Dissertação (Mestrado em
108
Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
TESTA, V. M. et. al. O Desenvolvimento Sustentável no Oeste Catarinense
(Proposta para Discussão). Florianópolis, Epagri, 1996.
VIEIRA, A. R. R. Parecer sobre Motivos de Coesão e Desagregação de Grupos
Agrícolas. (Parecer concedido ao mestrando em agroecossistemas Sérgio Stedile).
Florianópolis, 2004.
VIEIRA, P. F.et. al. A Pequena Produção e o Modelo Catarinense de
Desenvolvimento. Florianópolis, UFSC, 2000.
VINCENZI, M. L. Situação dos Condomínios e Associações Leiteiras no Oeste
Catarinense. (Palestra). (Apontamentos registrados durante aulas do Curso de Pós-
Graduação - Mestrado em Agroecossistemas, Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal de Santa Catarina), Florianópolis, UFSC, 2003.
WARAT, L. A. Em Nome do Acordo: A Mediação no Direito. Argentina: Angra
Impresiones, 1998.
109
ANEXO I
CONCEITOS EMPREGADOS EM ADMINISTRAÇÃO RURAL
22
1 – SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL (SAU)
A superfície agrícola útil compreende as terras de uma empresa rural que são
trabalhadas ou exploradas na produção. Incluem-se, neste item, as terras com plantas
de culturas anuais, olerícolas, floricultura, pastagens perenes, culturas perenes
(excluídas as florestas e bosques), pastagens anuais, quintal doméstico. Não se
incluem na SAU as terras inaproveitáveis, banhados, área em caminhos ou
construções e matas.
Para o cálculo da SAU, não importa se as terras são do proprietário ou
arrendadas de terceiros. A SAU é expressa em hectares.
SAU = área própria (–) Arr. P/ terceiros (+) Arr. De terceiros (–) matas (–)
capoeiras (–) Benf. / estradas (–) Preservação permanente.
2 – USO PRINCIPAL
É o uso de culturas principais, quintal doméstico, capineiras, pastagens nativas e
capoeiras até 2 anos etc. O uso principal da terra é expresso em hectares. O somatório
das suas áreas constitui a superfície agrícola Útil.
3 – USO ADICIONAL
É o uso do solo após uma cultura principal. O uso adicional é expresso em hectares, a
sua área não é computada no cálculo da Superfície Agrícola Útil. São as culturas, feitas
em sucessão.
4. – RENDA BRUTA - RB
22
Conceitos empregados em Socioeconomia na Epagri, Contagri; e redação para a monografia de Graduação em
Economia de Anamary Matheus Magagnin, UFSC, sob a co-orientação do Econ. Sérgio Stedile, em 2002.
110
RB = vendas (+) autoconsumo (+) estoque final (–) estoque inicial (–) compras de
animais.
5 – RENDA BRUTA TOTAL (RBT)
Renda bruta total na atividade representa o valor de tudo o que foi produzido
durante o ano, tanto para a venda como para consumo familiar, como também para a
alimentação animal; e cessões internas.
A renda bruta total é igual a produção multiplicada pelo preço. É calculada pela
seguinte fórmula:
Renda bruta total = vendas (–) compras de animais (+) diferença de inventário
(+) autoconsumo (+) cessões internas.
6 – RENDA BRUTA TOTAL GLOBAL (RBTG)
É o somatório da renda bruta total das atividades.
A renda bruta total global compreende toda a renda gerada na empresa rural
com: vendas, autoconsumo, cessões internas, produtos usados com pagamento em
gênero e diferença de estoque de produtos animais e vegetais, menos as compras de
animais. É também computada na renda bruta total global a renda gerada com aluguel
de máquinas, arrendamentos de terras etc..
7 – CUSTOS VARIÁVEIS
Os custos variáveis são custos ligados as atividades que uma propriedade
conduz. Os custos variáveis aumentam ou diminuem de acordo com a existência,
dimensionamento e o rendimento destas atividades.
Os custos variáveis são custos em sementes, agrotóxicos, transporte, secagem,
armazenagem, funrural, alimentos, sanidade, mão-de-obra ocasional, aluguel de
máquinas etc..
8 – MARGEM BRUTA (MB)
111
A margem bruta de uma atividade é a diferença entre a renda bruta total (RBT)
dessa atividade e os custos variáveis (CV) dessa mesma atividade. É o índice de
eficiência mais utilizado para analisar uma atividade. Mede o desempenho econômico
da atividade.
MB= RBT – CV
9 – MARGEM BRUTA TOTAL (MBT)
É o somatório das margens brutas das atividades. É o valor capaz de cobrir os
custos fixos para que haja lucro.
10 - MARGEM BRUTA TOTAL GLOBAL (MBTG)
A margem bruta total global é a diferença entre a renda bruta total global e os
custos variáveis totais. O desejável é que este índice seja o mais alto possível.
11 – LUCRO
O lucro é a diferença entre renda bruta total global e os custos totais (custos
variáveis totais + custos fixos totais). É o índice mais importante na comparação entre
propriedades agrícolas, não considerando as externalidades ambientais e sociais. Na
análise comparativa é o índice para a classificação das propriedades. O lucro é o
indicador que mede o desempenho econômico da propriedade como um todo.
Lucro = RBTG (–) CTG ou
Lucro = RBTG (–) CV (–) CF
Outra maneira de calcularmos o lucro é a Renda Bruta menos os Custos Reais e
Calculados.
LUCRO = MB (-) CR (–) CC
12 - CUSTOS REAIS (CR)
112
Os custos reais correspondem aos valores desembolsados (+) a depreciação.
13 - CUSTOS CALCULADOS (CC)
Os custos calculados correspondem a remuneração dos fatores de produção
(juros sobre o capital e remuneração da mão-de-obra familiar).
14 - DISPONÍVEL (D)
O Disponível Corresponde ao valor em espécie que sobrou do negócio agrícola,
após expurgar as movimentações de rendas e custos que não envolveram receitas e
despesas.
Disponível = ROA (–) AUTOCONSUMO (+) DEPRECIAÇÃO (+/-) DIF. DE ESTOQUE
15 - Remuneração da Mão-de-obra Familiar (RMOF) = ROA – RCP
13 X UTH familiar
Disponível = Lucro (+) Depreciação (+) Custos Calculados (13 s.m/mês/UTH (+) 6% do
capital) (–) Autoconsumo (+) Diferença de estoques (Estoque Final (–) Estoque Inicial,
que pode ser (+) ou (-) ).
RCP = Remuneração do capital próprio.
16 - Remuneração do Capital Próprio (RCP%) = ROA – RMOF
X 100
Capital inicial
17 - UNIDADE DE CONSUMO – UC
É uma unidade que permite determinar o consumo das pessoas presentes
durante um ano em uma residência. Há tabelas de uso internacional para converter os
integrantes de uma família em unidades de consumo. Em nosso trabalho de
administração rural adotamos a seguinte tabela:
O primeiro adulto da família
Î
1,00 UC
113
As demais pessoas com mais de 14 anos
Î
0,70 UC
Pessoas com menos de 14 anos
Î
0,50 UC
EXEMPLO DE VALORES CONTÁBEIS ESTIPULADOS POR UNIDADE DE
CONSUMO, EM SANTA CATARINA:
Tabela 2 - VALOR DO AUTOCONSUMO POR UNIDADE DE CONSUMO (UC)
(Valores em R$ atualizados pelo IGP-di para janeiro de 2002)
REGIÃO OLERÍCOLAS FRUTAS TOTAL
São Miguel d’Oeste 40,53 187,92 228,45
Chapecó 44,45 227,60 272,05
Concórdia 49,88 191,03 240,91
Joaçaba 50,85 389,32 440,16
Videira 48,43 156,04 204,46
Mafra 40,03 143,25 183,28
Rio do Sul 43,54 146,06 189,61
Lages 41,79 53,70 95,49
Jaraguá do Sul 54,37 44,39 98,76
Itajaí 44,76 60,09 104,86
Florianópolis 56,45 82,46 138,91
Criciúma 63,17 96,43 159,59
Tubarão 56,18 126,32 182,50
Fonte: ACARESC (PAT) – ANO AGRÍCOLA 1984/85.
18 - DESFRUTE (%)
É um índice calculado dividindo-se o crescimento vegetativo do rebanho em
quilogramas pelo peso em quilogramas no início do período, multiplicando por 100.
Corrresponde a quantidade de peso vivo de animais produzidos por determinada
atividade animal, durante um ano (normalmente).
Crescimento vegetativo do rebanho = kg vendidos (–) kg comprados (+) kg final (–) kg
inicial (+) kg de autoconsumo.
Desfrute % = kg produzidos X 100
114
Kg Efetivo inicial
Kg produzidos = kg vend. (+) kg autoc. (+) kg ef. Final (–) kg ef. inic.(–) kg comprados
19 - CONVERSÃO ALIMENTAR
É um índice, calculado pela divisão de quantidade total de alimentos
consumidos, em quilogramas, quantidade transformada em matéria seca, tendo como
base à matéria seca (média) do milho pela quantidade em quilogramas de animal
produzido, resultante da seguinte equação:
kg vendidos (–) kg comprados (+) kg no estoque final (–) kg no estoque inicial (+) kg de
autoconsumo.
CONVERSÃO ALIMENTAR DO PLANTEL
Conversão = Kg de alimentos consumidos
Kg de PV produzidos
Kg PV produzidos = kg vend.(+) kg autoc.(+) kg ef. final (–) kg ef. inicial (–) kg
comprados
20 – DEPRECIAÇÃO
É o custo necessário para substituir os bens de capital quando tornamo-los
inúteis pelo desgaste físico (depreciação física) ou quando perdem o valor com o
decorrer dos anos, devido às inovações técnicas, depreciação econômica ou
absolência.
21 – EFETIVO MÉDIO DE PORCAS E VACAS
É o número médio de porcas e vacas presentes no período de análise, na
suinocultura e bovinocultura. É calculado somando-se o número de porcas e de vacas
presentes em cada mês do período de análise e dividindo-se o total por 12.
115
22 – EFETIVO MÉDIO DE U.A.
É o número médio de unidades animais (UA), presentes no período de análise. É
calculado, somando-se o número de unidades animal presente em cada mês, do
período de análise dividindo-se o total por 12.
23 – ESTERCO – MATÉRIA SECA
É a quantidade de esterco em matéria seca, utilizada numa atividade. Na análise
comparativa utiliza-se normalmente o índice esterco - matéria seca kg/ha.
24 – FLUXO DE CAIXA
Um fluxo de caixa é um resumo das entradas e saídas de dinheiro de um
negócio sobre um período de tempo. Como instrumentos de planejamento seu uso
primário é estimar necessidades de empréstimo e a capacidade de pagamento de
negócio. Existem diversas formas de apresentação, dependendo dos objetivos de uso.
Pode se referir somente à empresa, família ou família empresa.
25 – SUPERFÍCIE FORRAGEIRA PRINCIPAL (SPF)
Equivale a área de superfície agrícola útil (SAU) que se destina à produção de
forrageiras. A SFP não é a área total pastagens porque é compreendida pelas
pastagens perenes e a área de pastos que são consideradas atividades principais.
26 – UNIDADE ANIMAL
Define-se como um animal teórico, cujas exigências alimentares de consumo se
situa em 11,25 Kg de matéria seca por dia. É representado por um animal de 450 Kg
de peso vivo, presente durante 12 meses em uma exploração agrícola.
27 – UNIDADE DE TRABALHO HOMEM (UTH)
116
É uma unidade padrão de mão-de-obra que serve para medir a disponibilidade,
bem como remunerar o fator trabalho de uma empresa rural. Equivale ao aporte de
trabalho de uma pessoa adulta em tempo integral, em uma propriedade rural, durante
um ano. Uma unidade de trabalho homem corresponde a um adulto que trabalha 8
horas por dia, durante 300 dias por ano, em uma propriedade rural. Também é
chamada de equivalente homem. Segundo a idade, considera-se o seguinte valor:
Pessoas com idade entre 15 e 65 anos = 1,00 UTH
Pessoas com idade entre 10 e 14 anos = 0,50 UTH
Pessoas com idade superior a 65 anos = 0,50 UTH
28 – UNIDADE DE TRAÇÃO (UT)
É uma unidade que permite reduzir diversos meios de tração a uma unidade
comum de comparação. Equivale a 7 HP de um trator. Usam-se tabelas para converter
animais, tratores e outros veículos a uma mesma unidade. Na EPAGRI usa-se a
seguinte tabela:
Tabela 3 - UNIDADE DE TRAÇÃO (UT)
DISCRIMINAÇÃO Potência/Peso/Convesão U T
Trator 7 HP na barra de tração 1,0
Animais 1 cavalo, burro 0,8
1 boi (menos de 450 Kg) 0,3
1 boi (mais de 450 Kg) 0,6
1 vaca (menos de 450 Kg) 0,2
1 novilho 0,2
1 touro 0,4
1 novilho (mais de 2 anos) 0,2
Fonte: Epagri, 2004
29 – ATIVO
117
Descreve os bens e direitos em posse de uma empresa. Compreende a parte
esquerda do balanço, normalmente dividida em ativo circulante, e ativos permanentes
ou fixos. Em outras apresentações do balanço, o ativo é dividido em circulante,
realizável a médio e longo prazo.
O ativo circulante é composto basicamente pelos valores monetários disponíveis
como: dinheiro em caixa, saldos positivos em bancos, títulos em haver com prazos de
menos de um ano, os estoques de insumos, de produtos colhidos e animais existentes
no dia do inventário.
O ativo fixo é a parte do ativo que tem um grau de liquidez baixo, não é
facilmente convertido em dinheiro.
O ativo realizável a médio prazo compreende os ítens do ativo com grau de
liquidez e vida útil intermediária, geralmente entre 1 e 20 anos.
30 – PASSIVO
É um componente do Balanço da Empresa que representa a origem dos
recursos financeiros e garante o financiamento dos bens e direitos descritos no Ativo.
Pode-se dizer, também, que o Passivo corresponde aos valores que a empresa deve a
terceiros e ao proprietário.
O Passivo, a exemplo do Ativo, pode ser dividido em Passivo Circulante de
Médio Prazo ou de Longo Prazo. Sob o ponto de vista da composição de contas do
Passivo, nele são inscritos os valores devidos a credores, ou seja, as dívidas, bem
como a Situação Líquida ou os valores devidos ao proprietário.
31 – BALANÇO GERAL
O balanço é uma conta geral da empresa, em uma determinada data, na qual
estão reunidos todos os elementos patrimoniais e onde se evidencia a Situação
Líquida, por diferenças entre o Ativo Total e o Passivo Exigível.
32 – REFERÊNCIAS
118
Referência ou Padrões são índices técnicos e econômicos que se referem a
custos, mão-de-obra uso de máquinas, desempenho de sistemas de produção e de
atividades. As referências são obtidas através de estudos e observação em
propriedades agrícolas. Em Santa Catarina, as referências em sistemas e atividades
são um dos produtos do trabalho de Gestão Agrícola. São também chamados de
padrões.
119
ANEXO II
FOTOS DE COMPONENTES DOS GRUPOS AGRÍCOLAS DO
OESTE DE SANTA CATARINA
Foto 1 - Sócio da Associação Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira/SC, entrevistado por Sérgio
Stedile
Foto 2 – Sócio do Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira/SC, entrevistado por Sérgio Stedile
120
Foto 3 - Família do Sócio da Associação Feirão da Roça, Dionísio Cerqueira/SC, entrevistada por Sérgio Stedile
Foto 4 - Família do Ex-sócio do Condomínio Rural Leiteiro de Beira Rio,
Saltinho/SC, com Sérgio Stedile
121
Foto 5 - Família do ex-sócio do Condomínio Rural Leiteiro 25 de Maio, Serra Alta/SC, com Sérgio
Stedile.
Foto 6 - Sócios da Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz/SC, na indústria de queijos, com
Sérgio Stedile.
122
Foto 7 - Associados da Associação Madre Maria Bernarda, Abelardo Luz/SC, com Sérgio Stedile
Foto 8 – Associados do Condomínio Rural Leiteiro Raio de Luz, Nova Itaberaba/SC, com Sérgio
Stedile
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