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das florações de cianobactérias leva à
desoxigenação da água promovendo a
morte de organismos aquáticos.
Entretanto, o efeito mais grave é o
fato de várias espécies serem capazes de
produzir e liberar toxinas (cianotoxinas)
na água, as quais podem se acumular na
musculatura de peixes ou camarões e
produzir diferentes sintomas de
intoxicação (hepatotóxicos e
neurotóxicos). As pessoas podem se
intoxicar bebendo a água, comendo peixes
ou camarão contendo a toxina ou através
de atividades de recreação. O tipo mais
comum de intoxicação é causado por
hepatoxinas (microcistinas) cujos sintomas
são os mesmos de uma gastroenterite, tais
como vômitos, dor abdominal e diarréia. A
microcistina é potencial produtora de
tumores no fígado, quando ocorre ingestão
de água contendo a toxina, mesmo em
baixas concentrações, por longos períodos
(ver quadro 1).
Os ambientes que apresentam
florações tóxicas devem ser monitorados e
interditados para o banho, pesca e
abastecimento doméstico, caso excedam os
limites máximos permitidos pela legislação
que regulamenta os padrões de
potabilidade da água (Portaria n
o
518/março/2004 do Ministério da Saúde e
da resolução n
o
357/2005 o CONAMA).
O máximo tolerável para banho e para
consumo humano, por exemplo, é a
presença de cem e vinte mil células de
cianobactérias em cada mililitro d’água,
respectivamente. Quando a água atinge a
cor verde, encontramos pelo menos um
milhão de células de cianobactérias por
mililitro de água.
A presente pesquisa tem como
objetivo diagnosticar e avaliar as condições
ecotoxicológicas, com base na incidência
de cianobactérias e cianotoxinas, de
importantes ambientes aquáticos
(reservatórios artificiais, rios, lagoas
costeiras e viveiros de camarão) do Estado
do Rio grande do Norte.
SÍNTESE DOS RESULTADOS
A maioria dos ambientes
investigados (70%) foram classificados
como eutróficos, de acordo com os níveis
de nutrientes (fósforo total), clorofila-a,
turbidez da água e incidência de
cianobactérias e cianotoxinas. Foram
investigados 19 reservatórios, 11 fazendas
de cultivo de camarão Litopenaeus
vannamei de água doce e salgada, 4 rios e
a lagoa costeira de Guaraíra.
Freqüentes e duradouras florações
tóxicas de cianobactérias ocorreram
principalmente em reservatórios do semi-
árido, os quais são utilizados
principalmente para abastecimento
humano. Eles estão localizados nas bacias
Apodi-Mossoró (Lucrécia, Pau dos Ferros,
Tenente Ananias e Pilões),
Piranhas-Assu
(Armando Ribeiro, Gargalheiras e
Passagem das Traíras) e Trairi (Açude
Traíri).
Em diversos ambientes foram
encontradas elevadas concentrações de
clorofila-a e fósforo total, respectivamente,
≤ 800μg/L e ≤ 350 µg/L. A dominância de
cianobactérias na maioria dos ambientes
foi superior a 90% da biomassa total do
fitoplâncton.
Florações hepatotóxicas foram
observadas em 60% dos reservatórios.
Elevados níveis de microcistinas (≤ 30
≥172 µg/L) foram encontrados nos
reservatórios Itans, Passagem das Trairas,
Sabugi, Pilões, Lucrécia, Tenente Ananias,
Pau dos Ferros, Gargalheiras, Armando
Ribeiro e no rio Assu. Esses valores estão
muito acima do limite máximo permitido
para consumo humano, que é de 1µg/L.
Apesar da ocorrência de florações em
viveiros de camarão de água doce e
estuarina, a toxicidade foi comprovada
apenas em um cultivo que capta água do
rio Assu. A densidade de cianobactérias é
extremamente alta nos pontos de captação
dos cultivos (rios, estuários e lagoas) em
alguns períodos, evidenciando o efeito
poluente das descargas dos viveiros nesses
ambientes.