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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A FUNDAÇÃO MIRIM DE PRESIDENTE PRUDENTE COMO
INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL: UM ESTUDO DO INGRESSO DE
JOVENS SOCIALMENTE DESFAVORECIDOS NO MERCADO DE
TRABALHO
FÁBIO LUÍS NOGUEIRA
Presidente Prudente – SP
2006
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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A FUNDAÇÃO MIRIM DE PRESIDENTE PRUDENTE COMO
INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL: UM ESTUDO DO INGRESSO DE
JOVENS SOCIALMENTE DESFAVORECIDOS NO MERCADO DE
TRABALHO
FÁBIO LUÍS NOGUEIRA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Educação, como parte
dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Educação - Área de Concentração: Praxis
Pedagógicas e Gestão de Ambientes Educacionais.
Orientador:
Dra. Ivone Tambelli Schmidt
Presidente Prudente – SP
2006
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371.425 Nogueira, Fábio Luís
N778f A Fundação Mirim de Presidente
Prudente como instituição educacional: um estudo do ingresso de
jovens socialmente desfavorecidos no mercado de trabalho /
Fábio Luís Nogueira. –Presidente Prudente: UNOESTE, 2006.
102p. : il
Dissertação de Mestrado
Bibliografia
1. Educação profissional, adolescentes, trabalho
I. Autor. II. Título.
FÁBIO LUÍS NOGUEIRA
A FUNDAÇÃO MIRIM DE PRESIDENTE PRUDENTE COMO
INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL: UM ESTUDO DO INGRESSO DE
JOVENS SOCIALMENTE DESFAVORECIDOS NO MERCADO DE
TRABALHO
Trabalho apresentado e aprovado em 23 de junho de 2006, pela Banca
Examinadora constituída por:
Profa. Dra. Ivone Tambelli Schmidt – Orientadora (UNOESTE – Presidente Prudente)
___________________________________________________________________________
Profa. Dra. Lúcia Helena Tiosso Moretti – (UNOESTE – Presidente Prudente)
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Hashimoto – (UNESP – Assis)
UNOESTE
Presidente Prudente – SP
2006
DEDICATÓRIA
D
edico este trabalho a minha esposa Ana Rosa, pelo incentivo,
amor e carinho, aos meus filhos Thaís e Yago, pela compreensão e
amor. Aos meus pais Oséas e Maria Lúcia, pelo exemplo de
dedicação e trabalho. Aos meus irmãos Flávio, Fabiano, Franciane,
Francislene, Gabriel e Juninho, pelo carinho.
AGRADECIMENTOS
E
m primeiro lu
g
ar a Deus, por ter me concedido o dom da vida.
A
minha orientadora Pro
f
a. Dra. Ivone Tambelli Schmidt, que aprimorou meus
conhecimentos.
A
os pro
f
essores : Dra. Lúcia Helena Tiosso Moretti e Dr. Francisco Hashimoto pelas
valiosas contribuições no trabalho de qualificação.
coordenação, pro
essores e
uncionários do Mestrado em Educação, que contribuíram
na construção deste trabalho.
A
os
j
ovens e
g
ressos que participaram da pesquisa, pelo comprometimento e
disponibilidade em responder ao questionário.
A
o En
g
enheiro Laércio Alcântara, a Pro
f
a. Janaina Lopes Cantero e toda equipe de
colaboradores da Fundação Mirim, pelo apoio, carinho e dedicação na realização desta
p
esquisa.
A
o Pro
f
. Takayoshi Joaquim Tuboni, pela confiança e pelo incentivo na carreira
acadêmica.
A
Sra. Idalina de Oliveira Lima Seole, secretária do Mestrado em Educação, pela
atenção e pelo verdadeiro sentido da palavra amizade.
A
todas as pessoas que de
f
orma direta ou indireta, contribuíram para a conclusão deste
trabalho.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
O meu sincero e respeitoso agradecimento a duas pessoas que me
incentivaram e me ajudaram nos momentos mais difíceis dessa
caminhada, a primeira pessoa não se encontra no nosso meio,
p
orém seu exemplo, sua humildade e sua dedicação ainda nos
ensinam, obrigado a Dra. Ilda Caruso, e ao meu amigo e
irmão que não permitiu que eu desistisse desse sonho, e que em
alguns momentos me ajudou a resgatar a importância dessa
conquista em minha vida, meu muito obrigado ao Prof. Msc.
J
erson Joaquim da Silva.
EPÍGRAFE
“[...] tudo posso naquele que me fortalece.
Filipenses (4:13)
NOGUEIRA, Fábio Luís. A Fundação Mirim de Presidente Prudente como
instituição educacional: um estudo do ingresso de jovens socialmente
desfavorecidos no mercado de trabalho. 2006. 102f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade do
Oeste Paulista – Unoeste, Presidente Prudente.
Orientador: Prof. Dra. Ivone Tambelli Schmidt
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a influência do
programa formativo para inserção no mercado de trabalho de jovens adolescentes
atendidos pela Fundação Mirim de Presidente Prudente. A fundamentação teórica
para discussão e análise crítico-reflexiva dessa pesquisa centrou-se nos estudos
que demonstram o trabalho das Organizações Não Governamentais,
principalmente com foco em sua estrutura organizacional, para identificar a
necessidade de uma gestão profissional nesse tipo de entidade, e nas questões
relacionadas ao trabalho, identificando-se significado, conceitos e interferências
dessa atividade humana, com relação ao adolescente e às interferências na sua
escolha profissional. Optou-se por uma pesquisa de campo, de caráter quanti-
qualitativa, definindo-se como método de coleta de dados um questionário semi-
estruturado contendo questões sobre a entidade, os conteúdos do programa
formativo e a realidade profissional do egresso. O questionário permitiu identificar
informações que serviram para análise e discussão dos resultados da pesquisa. A
população pesquisada contou com 50 egressos desligados nos últimos cinco
anos, escolhidos de forma aleatória, de ambos os sexos. Observou-se uma
contribuição significativa ao egresso, tanto na oportunidade, como na continuidade
de seu crescimento profissional. A pesquisa indicou um sentimento de gratidão
dos egressos, o que representou que o trabalho desenvolvido pela entidade pode
ser considerado relevante e que sua estrutura está atualmente condizente com as
necessidades de desenvolvimento dos jovens atendidos por ela. Demonstrou-se,
nos resultados, que os pontos positivos identificados pelos egressos
sobrepuseram-se aos possíveis pontos negativos, o que indicou que a entidade
esta atualizada com a realidade e as mudanças do mundo globalizado.
NOGUEIRA, Fábio Luís. Mirim Foundation, Presidente Prudente, as an
educational institution: a study on the entrance of socially desfavoured youth
into the labor market. 2006. 102p. MSc. Dissertation (Graduate Studies on
Education) - Dean of Research and Graduate Studies, University of Western São
Paulo - UNOESTE, Presidente Prudente, Brazil.
Adviser: Dra. Ivone Tambelli Schmidt
ABSTRACT
The present research aimed to demonstrate the influence caused by
a program for the insertion of youth teenagers attended by the Mirim Foundation –
Presidente Prudente into the labor market. The theoretical basis for discussion and
critical reflexive analysis in this research focused on studies that have
demonstrated the major role played by non-governmental organizations (NGO),
specially considering their organizational structure. Favorable aspects include the
needs of a professional management in this kind of institution, and adequate
approach of questions related to the job market, identifying significance, concepts
and interferences of human activities in relation to the youth and to the
interferences during their professional choice. We have carried on both:
quantitative and qualitative research, by using semi-structured question sheets
containing inquiries about the institution, the contents of the formative program and
the professional reality of the formed youth. The questions have enabled identifying
useful information that could be employed for the further analysis and discussion.
The survey included 50 boys and girls formed in the last five years, chosen
randomly. It was observed significance contribution to the creation of job
opportunities, as well as in their professional growth. This research has indicated
the existence of a feeling of gratitude in the youth, indicating that the goals aimed
by the institution are relevant and that its structure is adapted with the
developmental needs of the young people attended. It was demonstrated that the
positive aspects pointed out by the formed youth have surpassed possible negative
aspects, indicating that the institution is in time with the reality and changes of the
globalized world.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Grau de instrução atual dos egressos pesquisados............... 74
Tabela 2 - Pontos fortes identificados pelos egressos, por ordem
de importância, da Fundação Mirim de Presidente Prudente............................... 75
Tabela 3 - Pontos fracos identificados pelos egressos, por ordem
de importância, da Fundação Mirim de Presidente Prudente............................... 77
Tabela 4 - Cursos de formação mais relevantes, segundo a opinião
dos egressos........................................................................................................ 78
Tabela 5 - Principais convênios com outras entidades identificados pelos
Egressos............................................................................................................... 80
Tabela 6 - Orientações e acompanhamentos relevantes desenvolvidos
pela
equipe técnica da entidade, segundo as opiniões dos egressos..........................81
Tabela 7 - Atividades culturais, esportivas e sociais relevantes, segundo
os egressos.......................................................................................................... 82
Tabela 8 - Quantidade de empresas em que o egresso estagiou............ 83
Tabela 9 - Aplicação dos conhecimentos adquiridos na Fundação Mirim
na empresa onde o egresso estava estagiando....................................................84
Tabela 10 - Percepção das empresas parceiras em relação aos
estagiários da Fundação Mirim segundo a visão dos egressos........................... 85
Tabela 11 - Contratação do egresso na empresa em que estava
estagiando
no momento de seu desligamento da Fundação Mirim........................................ 86
Tabela 12 - Promoção de cargo ou trabalho em outra empresa, após
o desligamento da Fundação Mirim..................................................................... 87
Tabela 13 - Renda atual do egresso....................................................... 88
LISTA DE FIGURAS
Foto 1 - Aniversário de 16 anos da Guarda Mirim................................... 63
Foto 2 - Desfile de Formatura da Guarda Mirim...................................... 64
Foto 3 - Sede atual da Fundação Mirim de Presidente Prudente........... 64
Foto 4 - Consultório Odontológico – Fundação Mirim............................. 66
Foto 5 - Laboratório de Informática......................................................... 67
Foto 6 - Salão de Beleza......................................................................... 67
Foto 7 - Curso de Desenvolvimento Profissional.................................... 68
Figura 1 – Valores percentuais referentes à tabela 1.............................. 74
Figura 2 - Valores percentuais referentes à tabela 2 ............................. 75
Figura 3 - Valores percentuais referentes à tabela 3 ............................. 77
Figura 4 - Valores percentuais referentes à tabela 4.............................. 78
Figura 5 - Valores percentuais referentes à tabela 5.............................. 80
Figura 6 - Valores percentuais referentes à tabela 6 .............................. 81
Figura 7 - Valores percentuais referentes à tabela 7............................... 82
Figura 8 - Valores percentuais referentes à tabela 8............................... 83
Figura 9 - Valores percentuais referentes à tabela 9............................... 84
Figura 10 - Valores percentuais referentes à tabela 10 .......................... 85
Figura 11 - Valores percentuais referentes à tabela 11........................... 86
Figura 12 - Valores percentuais referentes à tabela 12........................... 87
Figura 13 - Valores percentuais referentes à tabela 13........................... 88
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................... 18
1.1 Organizações Não Governamentais: trabalho social com uma estrutura
profissional........................................................................................................... 19
1.2 Significados da caracterização do trabalho: conceitos e interferências
dessa atividade humana..................................................................................... 28
1.3 O adolescente e as interferências na sua escolha profissional................... 50
2 METODOLOGIA............................................................................................... 62
2.1 Os sujeitos..................................................................................................... 62
2.2 Local de realização do estudo....................................................................... 63
2.3 Procedimentos de coleta e análise dos dados............................................... 72
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................. 74
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 94
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA....................................................................... 96
APÊNDICE – A - QUESTIONÁRIO....................................................................... 97
13
INTRODUÇÃO
O grande desejo de realizar esta pesquisa nasceu do fato de eu ser
um egresso da entidade. Durante nove meses participei como estagiário, tendo
meu primeiro contato com o mundo do trabalho por meio do programa
desenvolvido pela então Guarda Mirim de Presidente Prudente. Nessa passagem
pela entidade recebi, principalmente na época, ensinamentos baseados na
disciplina e responsabilidade, que me ajudaram a ser percebido, na empresa em
que trabalhava, como um futuro profissional. Essa experiência me possibilitou
pleitear outros trabalhos e enfrentar desafios que me levaram a um satisfatório
desenvolvimento profissional, mediante o conhecimento das exigências do mundo
do trabalho, que resultou nas funções que exerço funções como professor
universitário, consultor de empresas e direção de departamento.
Percebo que muitos riscos dessa trajetória foram minimizados,
devido à fase inicial dessa experiência pessoal e profissional, que contou com a
contribuição muito significativa da atual Fundação Mirim de Presidente Prudente.
Esse contexto suscita um sentimento de gratidão e comprometimento com essa
entidade, que há anos vem colaborando com vários adolescentes carentes da
cidade, visando dar-lhes melhores oportunidades.
Os problemas sociais em nosso país são muitos, e um deles está
relacionado com a questão do trabalho. Muitas são as dificuldades de inserção de
jovens sem experiência profissional nas empresas, e para preencher essa lacuna
deixada pelo Governo (Federal, Estadual e Municipal), os serviços de
organizações não governamentais se tornam de suma importância.
14
Essas organizações, geralmente sem maiores apoios do poder
público, se engajam em árduas lutas para promover a inserção do adolescente no
mercado de trabalho. A Fundação Mirim de Presidente Prudente não foge a regra
e desenvolve seu trabalho sem nenhuma verba oriunda dos governos municipal,
estadual e federal. Toda receita para sustento das atividades desenvolvidas é fruto
de parcerias com a iniciativa privada, que abre campo para inclusão dos
adolescentes. Muitas delas também têm olhares voltados para outros problemas
cruciais da sociedade, relacionados com a questão da cidadania e o
desenvolvimento de competências profissionais que, em momento oportuno, o
adolescente será ajudado a desenvolver para diferenciar-se dos demais no
quesito qualidade profissional.
Em tempo de mudanças constantes o trabalhador, principalmente
aquele que está procurando seu primeiro emprego, precisa ter desenvolvido certas
habilidades não só profissionais, mas, sobretudo, internas como auto-estima,
senso de responsabilidade, motivação, desejo de comprometer socialmente entre
outros, que o ajudarão a clarificar e conquistar seus objetivos.
O enfoque central desse estudo foi buscar o entendimento do
trabalho realizado pela Fundação Mirim de Presidente Prudente em relação aos
seus adolescentes semi-internos e de como os egressos estão se portando no
mercado de trabalho com a contribuição dada por essa entidade para seu
desenvolvimento pessoal e profissional.
Aborda-se o tema com o foco no programa de educação para o
trabalho promovido pela Fundação Mirim de Presidente Prudente, no tocante a
15
sua influência nas possibilidades e oportunidades profissionais dos egressos da
entidade.
O trabalho de entidades como a Fundação Mirim de Presidente
Prudente pode dar-nos referências e direcionamento para analisar-mos as
motivações que levam o adolescente a fazer sua escolha profissional.
Percebe-se que as organizações não governamentais desempenham
um papel primordial na educação e na formação do cidadão, bem como no
preparo profissional de adolescentes socialmente carentes.
Em Presidente Prudente, uma cidade de porte médio, percebe-se a
preocupação com o bem-estar do adolescente desprovido economicamente.
Algumas Organizações Não Governamentais atuam no município contemplando a
necessidade de assistência no desenvolvimento pessoal e profissional; entre elas
está a Fundação Mirim de Presidente Prudente, que há décadas vem formando
profissionais para o mercado de trabalho regional.
Fundada como Guarda-Mirim, com o nobre objetivo de tirar das ruas
os jovens e promover uma educação doutrinária com base na filosofia militar, foi
posteriormente transformada em Fundação Mirim. Com características de
Fundação, seus objetivos também tiveram outro viés; deixou de ser uma
organização com uma filosofia militar, passando para um outro estágio de
crescimento e caracterizando-se como uma organização mais direcionada para os
problemas típicos da adolescência.
Neste sentido oferece treinamentos em várias áreas e com vários
enfoques para ajudar o adolescente a sentir-se incluído socialmente e resgatar
16
valores ajustados com os valores construídos pela família, que nortearão todo seu
futuro como pessoa e profissional.
No capítulo 1, abordamos fundamentos teóricos que venham
sustentar a discussão proposta neste trabalho, sendo que no item 1.1 aborda-se o
contexto das organizações não governamentais, buscando a compreensão do
trabalho social desenvolvido por elas com enfoque em sua estrutura, discutida
principalmente na proposta de Tenório (1998), que aborda a gestão de ONGs.
O tema trabalho, com seus significados, conceitos e interferências, é
tratado no item 1.2, Com base em Dejours, que demonstra a relação do trabalho
como um paradoxo entre prazer e sofrimento. Utilizamos também a base teórica
de Jacques Delors, que enfoca os pilares da educação voltada para o
desenvolvimento pessoal e em relação ao trabalho, principalmente na fase da
adolescência.
No item 1.3, abordamos as interferências na escolha profissional do
adolescente, retomando propostas de alguns autores brasileiros: Angerami-
Camon, Shale e Carr-Gregg, Tiba, Trípoli e Zaguri, que tratam da temática da
adolescência, enfocando principalmente o momento de sua escolha profissional.
A metodologia deste projeto, detalhada no capítulo 2, identifica e
caracteriza os sujeitos, os procedimentos e as técnicas utilizadas.
No capítulo 3, apresentamos a análise e discussão dos resultados
obtidos com a pesquisa, enfocando as percepções dos egressos da Fundação
Mirim de Presidente Prudente, em relação à entidade e às suas contribuições para
o seu desenvolvimento.
17
Apresentamos, nas considerações finais, a visão dos egressos
atendidos pela entidade em relação ao papel da Fundação Mirim de Presidente
Prudente, no que se refere à inserção do adolescente no mundo complexo do
trabalho, por meio do programa formativo oferecido pela entidade.
18
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O trabalho foi delineado por meio de embasamentos teóricos
relativos a Organizações Não Governamentais e sua estrutura. Serão abordados
seu nascimento e relevância social, como também sua estruturação com padrões
profissionais sustentados por TENÓRIO (1998), FERNANDES (1994),
ROTHGIESSER (2002), GONÇALVES (1999) e BAVA (1994). No tocante aos
aspectos relacionados ao trabalho, com destaque para seus significados,
características, conceitos e interferências no contexto do adolescente,
fundamentamos principalmente em BUENO (1988), LEITE (2003), DELORS
(2001), DEJOURS (1994), entre outros; para contextualizar o adolescente com
relação ao trabalho, e principalmente identificar as interferências na sua escolha
profissional, tomamos como base ERIKSON (1997), SHALE E CARR-GREGG
(2002), ZAGURY (1997), ANGERAMI-CAMON (1999), GONÇALVES (2000), entre
outros.
Com essa fundamentação teórica, visamos elaborar o nosso estudo,
considerando as respostas e os aspectos técnicos da pesquisa de campo.
19
1.1 Organizações Não Governamentais: trabalho social com uma estrutura
profissional.
Na virada deste século, percebemos um crescimento considerável
das desigualdades sociais, intensificadas pelo fenômeno da globalização, que
deixou ainda mais claras as diferenças entre as classes sociais, cujo mediador
deveria ser o Estado, o qual, porém, se mostra ineficaz para promover uma maior
justiça social.
Essa desigualdade social pode ser intensificada pela má distribuição
de renda promovida principalmente nos países de terceiro mundo e nos países
emergentes.
Sobre essa questão Orozco (1996, p. 58) considera que:
Os focos do subdesenvolvimento político, com evidente decadência
política, proliferam na América Latina, Ásia e África, embora não
exclusivos destas regiões. Estes focos mostram a ingovernabilidade
como uma deterioração acentuada da autoridade, da eficiência e da
legitimidade dos governos, incapazes de dar sentido ao interesse público.
A decadência política é uma assimetria entre a aceleração do processo
de mobilização social e a lentidão no desenvolvimento das instituições
políticas, para apoiar as mudanças econômicas e sociais. Em resumo, os
governos não oferecem legitimidade, organizações ou eficácia, nem
ordem e estabilidade, porque lhes faltou arte necessária para prolongar a
vida civil.
Traçando um paralelo entre o fator renda e o capital neoliberal,
podemos considerar que, nos países onde as riquezas estão concentradas nas
mãos de poucos, os problemas sociais emergem com mais relevância e se tornam
mais difíceis de serem solucionados, ou até mesmo minimizados.
Um outro fator importante nesse contexto é a utilização da máquina
pública, que tem de ser administrada de forma competente. Para entender os
anseios sociais e os direitos constitucionais dos cidadãos, não pode ser
caracterizada como um instrumento de manipulação social e muito menos ser
20
utilizada para interesses de uma minoria privilegiada do país. Se não for
administrada com competência, deixará lacunas, ou seja, deficiências, que
poderão comprometer seu papel, deixando a cargo da sociedade organizada a
complementação da função dos órgãos públicos.
Para preencher esta lacuna, possivelmente deixada pelo Estado que
não atende as necessidades das classes menos favorecidas, nascem as
chamadas Organizações Não-Governamentais (ONGs), que atuam no terceiro
setor, não estão vinculadas ao poder público, mas procuram atender as
necessidades da sociedade, fazendo o papel que caberia ao Estado, dedicando-
se às causas e problemas sociais, com características autônomas e sem fins
lucrativos.
Sobre esse pressuposto, Tenório (1998, p.2) pondera que:
[...] a novidade mais significativa nesse caso tenha sido o aparecimento
das chamadas organizações não governamentais (ONGs), mais
recentemente conhecidas como organizações do terceiro setor não-
governamental. Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a
ele estão vinculadas, mas se revestem de caráter público na medida em
que se dedicam a causas e problemas sociais e em que, apesar de
serem sociedades civis privadas, não têm como objetivo o lucro, e sim o
atendimento das necessidades da sociedade.
Mediante os problemas sociais gerados pelo processo de
globalização, que intensifica o chamado capitalismo selvagem, a sociedade civil se
mobiliza e encontra forças para identificar os problemas que afetam a própria
sociedade, causados pelo descaso e pela deficiência de políticas públicas em
áreas essenciais como na saúde e educação.
Tenório (1998) considera que muitas são as dificuldades para se
falar sobre as ONGs e o Terceiro Setor, e a primeira delas é a que se refere
21
diretamente ao próprio termo. A expressão Terceiro Setor foi utilizada pela
primeira vez, nos Estados Unidos, nos anos 70, e os pesquisadores europeus só
começaram a usá-la a partir da década de 80. Muitos ainda não a consideram
ideal, apontando outras opções, mas todos concordam na dificuldade de se
chegar a um consenso, principalmente por sua extrema abrangência e a sua ainda
recente aparição na opinião pública.
Quanto à questão conceitual do Terceiro Setor, não há um consenso
por parte daqueles que pesquisam o assunto, havendo assim diversas definições.
Segundo Fernandes ( 1994, p.21), o conceito denota:
“[...] um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam à
produção de bens e serviços públicos. Este é o sentido positivo da
expressão. “Bens e serviços públicos”, nesse caso implicam uma dupla
qualificação: não geram lucros e respondem a necessidades coletivas.
Já Ribeiro (1997, p.20) considera que:
O terceiro setor é um universo institucional em expansão e consolidação.
Por um lado, representa a consagração da evolução institucional da
sociedade capitalista democrática, que tende a conferir ao associativismo
um papel cada vez mais relevante na definição de novos padrões de
representação de interesses nas relações estado sociedade em geral e
na formulação e implementação de políticas sociais, em particular. O
recente avanço tecnológico, principalmente relativo à capacidade de
disseminar e desenvolver conhecimento, desenvolver e integrar
processos de trabalho, tornou possível a implementação organizacional
de atores sociais proporcionando a manutenção de sistemas de produção
de bens públicos operados de forma autônoma em relação ao Estado.
Para Rothgiesser (2002, p.2), Terceiro Setor seriam iniciativas “[...]
privadas que não visão lucros, iniciativas na esfera pública que não são feitas pelo
Estado. São cidadãos participando de modo espontâneo e voluntário, em ações
que visão ao interesse comum”.
22
O conceito mais aceito atualmente, segundo Gonçalves (1999, p.2),
é o de que “[...]se trata de uma esfera de atuação pública, não estatal, formada a
partir de iniciativas voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido comum”.
No que se refere ao Brasil, o aparecimento desses movimentos data
do início dos anos 50, tendo como base, principalmente, as iniciativas ligadas à
igreja católica e a seus missionários.
Outros grupos que surgiram também nessa época foram às
organizações com interesses políticos e sociais, normalmente vinculadas aos
ideais da esquerda, e financiadas por instituições européias, que mais tarde fariam
oposição aos regimes ditatoriais impostos em grande parte da América Latina. É o
que demonstra Bava (1994, p.97), ao afirmar que:
[...]as ONGs existem no Brasil há muito tempo. Novo é o nome –
organizações não governamentais – que lhes deram o Banco Mundial e
as Nações Unidas. Antes eram conhecidas como centro de pesquisa,
associações promotoras de educação popular, entidades de assessoria a
movimentos sociais.
As intervenções da sociedade civil reforçam o desejo de uma
sociedade democrática, do ponto de vista social, econômico, cultural e político.
Neste desejo de contribuição, as ONGs enfrentam muitos desafios,
um deles, segundo Tenório (1998, p.14) “[...], é o desafio de estabelecer diálogo
com os setores governamental e empresarial. Esse desafio constitui, ao mesmo
tempo, a oportunidade de conquistar novos espaços por parte das ONGs”.
Os trabalhos dessas organizações interagem com as ações
desenvolvidas pelas organizações do primeiro setor (público) e com as
23
organizações do segundo setor (privado), estabelecendo uma ação conjugada,
que deve complementar de forma objetiva as ações sociais.
Neste contexto, o Estado começa a reconhecer as ONGs como
parceiras das políticas governamentais, admitindo que estas organizações
acumulam experiências que se refletem em formas inovadoras para enfrentar as
questões sociais.
Em pesquisa realizada por Fernandes (1997) para o III Encontro
Ibero-Americano do Terceiro Setor, realizado no Rio de Janeiro em 1996, foram
apresentados os números do setor no Brasil.
O referido autor afirma que, de acordo com o RAIS (Relatório Anual
de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, em 1991 existiam mais de 200
mil organizações sem fins lucrativos no Brasil, empregando mais de 1 milhão de
pessoas. São números consideráveis, que colocam o setor como a terceira maior
categoria na geração de empregos no país. Não incluem, porém, o trabalho
realizado no âmbito dos templos religiosos. Cada paróquia da Igreja Católica
desenvolve, ao menos, um projeto social. Em 1991, as Conferências Vicentinas
coordenavam o trabalho social de 300 mil voluntários, com um orçamento acima
de US$ 18 milhões.
Ainda aponta Fernandes (1998, p.28-29) que:
Pesquisas sobre as igrejas evangélicas no Rio de Janeiro indica que
cerca de 20% de seus membros dedicam algum tempo de trabalho
voluntário aos necessitados num ritmo semanal. Isto significa cerca de
300 mil voluntários [...] os projetos apresentados pelas 99 empresas
concorrentes ao Prêmio Eco de Filantropia Empresarial, em 1995,
totalizavam investimentos no valor de US$ 285,338,662.00.
24
O crescimento acelerado do Terceiro Setor é um fenômeno ainda
recente no Brasil; a iniciativa privada está tomando parte das questões
anteriormente deixadas a cargo exclusivo do Estado. Esse fenômeno tem sido
visto como a solução para vários problemas, tanto pela sociedade como pelo
Estado.
Constata-se, nas últimas décadas, um crescimento quantitativo e
qualitativo do Terceiro Setor como um todo, em especial das ONGs. Com a
consolidação democrática, por meio das pluralidades partidárias, da formação de
sindicatos e do fortalecimento de movimentos sociais urbanos e rurais, abre-se
espaço para uma atuação mais efetiva das ONGs.
Em virtude da atuação ineficiente do Estado, em especial na área
social, o Terceiro Setor vem crescendo e se expandindo em várias áreas para
atender a demanda por serviços sociais, requisitados por uma quantidade
expressiva da população menos favorecida, em vários sentidos, uma vez, que o
Estado e os agentes econômicos não têm interesses, ou não são capazes de
provê-la. Seu crescimento ocorre também em virtude de práticas cada vez mais
efetivas de políticas neoliberal do capitalismo global, que produzem instabilidade
econômica, política e social, principalmente nos países do terceiro mundo.
No mundo globalizado e competitivo em que vivemos, até mesmo as
ONGs têm de pensar em modelos de gestão profissional, dotando estas
organizações de pessoas com habilidades e competências para gerirem
adequadamente este negócio social.
Essas organizações devem manter-se bem focadas em suas ações,
identificar as necessidades eminentes da sociedade, compartilhar com outras
25
instituições, sejam elas públicas ou privadas, criar sistemas eficientes de
controles, para verificar o impacto das ações realizadas e divulgar o resultado do
seu trabalho para a sociedade.
Para obter os resultados esperados, as ONGs deverão enfrentar
grandes desafios, um deles relacionado com a sua gestão administrativa,
havendo necessidade de utilização das técnicas e dos instrumentos oferecidos
pela ciência da administração.
Os indivíduos que atuam em uma ONG devem entender o significado
de organização que, segundo Tenório (1998, p.17) “é o agrupamento de pessoas
e recursos, dinheiro, equipamentos, materiais, informações e tecnologia, com o
objetivo de produzir bens e/ou prestar serviços...”
As ONGs, também, devem ser vistas e entendidas no que tange aos
conceitos da administração pós-moderna, administração esta que nasce com a
ruptura das fronteiras entre os países e a acelerada era da informação, para
promover e ampliar, de forma competente, os serviços propostos pela
organização.
Com base nesse cenário Tenório (1998, p.15) afirma que:
Para superar esses desafios que podem ameaçar sua existência e sua
eficiência administrativa, as ONGs têm que pensar em acrescentar às
suas peculiaridade novos instrumentos de gestão, dotando seus quadros
de habilidades, conhecimentos e atitudes que assegurem, ao fim e ao
cabo, o cumprimento dos objetivos institucionais.
Dentro desse contexto organizacional, a ação gerencial dos recursos,
sejam eles humanos, materiais ou tecnológicos, se torna ponto fundamental para
as ONGs realizarem sua missão.
26
Os objetivos, no entanto, devem ser muito claros e entendidos por
todos, porque por meios dessas referências que as ações poderão ser
desenvolvidas de forma ordenada, evitando-se desvios e fracassos.
A comunicação e a participação terão de ser promovidas, a finalidade
da organização deve ser discutida com todos os seus integrantes; buscar o
comprometimento das pessoas e divulgar seu trabalho é muito importante para
sensibilizar outras pessoas que possam ser integradas neste movimento social.
Tenório (1997, p.17) considera: “que as estratégias constituem
respostas às ameaças e às oportunidades identificadas quando da análise do
contexto, bem como aos pontos fracos e fortes encontrados na organização”.
A estratégia não deve ser desconsiderada para a manutenção e
ampliação dos serviços, identificação do público alvo - aqueles que efetivamente
serão atingidos pelos serviços prestados – e avaliação dos resultados atingidos,
com o intuito de validar as ações desenvolvidas e adaptar-se às novas demandas
oriundas de uma realidade volátil, na qual as necessidades de hoje não são as
mesmas de amanhã. Essas ações tornam-se fundamentais para o sucesso das
ONGs.
Dentro dessa concepção profissional das ONGs, dois pontos são
relevantes para o entendimento de sua organização e de sua estratégia: sua
missão e visão.
A missão deve refletir a razão de existir da organização,
caracterizada de forma clara, para que qualquer indivíduo possa entendê-la. Esta
missão é pensada e definida pela direção da organização, de preferência com a
participação de todos os seus integrantes. Desta forma, contribui para o
27
comprometimento e participação mais efetiva das pessoas com os serviços e
resultados da organização.
Caracteriza-se a visão como a percepção clara das finalidades da
organização, de suas pretensões e expansões, para que seus integrantes possam
contribuir para seus objetivos.
As ONGs não podem ser vistas apenas como entidades
beneficentes, devem ser caracterizadas como um organismo dinâmico exposto a
todos os efeitos causadores dos problemas de qualquer modelo organizacional.
Portanto, participar desse tipo de organização requer
profissionalismo e responsabilidade, pois o produto dela é a esperança de uma
parcela considerável da sociedade.
Algumas dessas Organizações Não Governamentais procuram
atender adolescentes que se encontram em uma fase muito importante de suas
vidas, que é exatamente a escolha profissional, ou seja, o momento de sua
inserção no mundo do trabalho.
A Fundação Mirim de Presidente Prudente, mediante sua missão e
seus objetivos como uma organização do terceiro setor, promove todos os anos
um processo seletivo para atender adolescentes menos favorecidos da cidade. Os
critérios para seleção desses jovens é a prova escrita e a análise sócio-
econômica. Esse processo visa identificar os adolescentes com maior
necessidade de atendimento pela entidade; são absorvidos 400 adolescentes por
ano, para participarem do projeto de educação para o trabalho.
Iremos abordar, a seguir, por meio de uma discussão teórica com
autores que abordam as vertentes relacionadas com o trabalho, desde seus
28
conceitos até suas interferências, aspectos positivos e negativos, com o foco
principal no adolescente.
1.2 Significados da caracterização do trabalho: conceitos e interferências
dessa atividade humana
Pretendemos destacar aqui, as diferentes conceituações de trabalho
e examinar os distintos momentos históricos com seus contextos e relações
específicas, a fim de analisar a questão de seu significado, enfatizando seu papel
no preenchimento de necessidades psicológicas, além do provimento da
subsistência.
Desde os primórdios em que o homem pré-histórico passou a
dominar formas elementares de execução de atividades hoje tidas como
primitivas, como a agricultura, a pesca e a caça, o trabalho figurou como ocupação
básica da humanidade, como uma forma de sobrevivência da coletividade. Há
aproximadamente dois séculos, com o surgimento e desenvolvimento ocasionado
pela revolução industrial, o trabalho tornou-se, fator de produção ocasionando a
expansão do capitalismo.
A revolução industrial promove a passagem do trabalho manual para
a máquina ou manufatura, para a fábrica e, aos poucos o trabalho cotidiano, a
mentalidade, a cultura, enfim, todos os setores da vida são atingidos e
transformados. Toda uma gama de novos trabalhos é oferecida, as profissões
liberais são transformadas e o setor de serviços cresce.
29
Deste momento histórico até os dias atuais, as formas de execução
do trabalho se alteraram e se diversificaram, mas o trabalho enquanto condição
humana permaneceu.
A Antigüidade caracterizou-se pela produção agrícola, ligada à
propriedade de terras. Os gregos distinguiram entre o esforço do trabalho na terra,
a fabricação do artesão e a atividade livre do cidadão que discutia os problemas
da comunidade. O trabalho na terra possuía, para eles, valor e prestígio, pois
estabelecia um elo com a divindade, que rege a fertilidade da terra e os ciclos
naturais.
De modo semelhante, entre os artesãos, a divisão do trabalho existia
com vistas à qualidade do produto e por causa da diversidade das capacidades e
dons, não visando a produtividade.
Na idade média, o trabalho modificou-se e, após uma longa
persistência da agricultura como atividade básica, teve início uma diversificação,
com o surgimento ou o renascimento de novas atividades; o comércio e o
artesanato fortaleceram-se, a pecuária intensificou-se e as cidades novamente
prosperaram, gerando novas demandas de trabalho e formação de riqueza, num
cenário propício à gradativa introdução de elementos que posteriormente
culminariam com um novo contexto de relações laborais.
O ressurgimento do comércio, a gradativa consciência dos
camponeses rumo à liberdade de trabalho, a progressiva utilização do dinheiro e a
formação das cidades e da burguesia, entre outros fatores, foram decisivos no
rompimento da velha ordem feudal.
30
O trabalho artesanal, segundo Albonorz (1988, p.77) “caracterizou-se
por um aspecto lúdico, na medida em que nele se obedecia a nenhum motivo
ulterior, além da fabricação do produto e dos processos de sua criação”.
Em decorrência disto, a relação indivíduo-trabalho é complexa,
delicada e dependente de fatores múltiplos, entre os quais aqueles de ordem
pessoal e os vínculos estabelecidos com as tarefas e o próprio local de trabalho.
Estes fatores combinados vão consolidar uma significação do trabalho singular
para cada indivíduo, num processo essencialmente subjetivo.
Considerado em sua mais ampla acepção, o trabalho pode ser
concebido como o exercício da atividade humana, quaisquer que sejam a esfera e
a forma sob as quais esta atividade seja exercida.
Na linguagem cotidiana, a palavra trabalho possui muitos
significados, quase sempre conotando a ação do homem para sobreviver e
realizar-se.
Conforme aponta Bueno (1988, p.75) “trabalho é um termo masculino
que, em sua forma substantiva, quer dizer: exercício, aplicação de energia física
em algum serviço, numa profissão ou ocupação”.
Vários autores, ao conceituar trabalho, enfatizam o fato de que
também os animais, a seu modo, o realizam, mas o trabalho animal como os das
formigas ou das abelhas, é produto de comportamentos instintivos, enquanto que
o que caracteriza o trabalho humano é a adaptação às situações imprevistas e a
fabricação de instrumentos, bem como o fato de ele ser “consciente e proposital,
na medida em que o resultado do processo existe previamente na imaginação do
trabalhador” (FRIEDMAN 1973, p.93).
31
Segundo Leite ( 2003 ), ocorreram transformações importantes no
campo do trabalho, tanto nas exigências das empresas em relação ao mercado,
quanto nas exigências de qualificação das pessoas para realização do trabalho, e,
conseqüentemente, no contexto da vida social. O trabalho segundo Santos (1987),
é a forma de acumular bens e riquezas, necessários para a sobrevivência do
homem e de sua família, visto como trabalho mecanizado, cuja característica
parece estar posta sob o fogo dos novos conceitos de produção, que
transformaram a produção em massa numa parcialização das tarefas,
caracterizando um novo funcionamento organizacional.
Como toda ação humana, as atividades laborais ou do trabalho, via
de regra, têm seu ponto de partida na insatisfação. A extração, criação, produção
ou transformação delas decorrentes ocorre porque há um estado de privação.
As necessidades psicológicas fazem com que o homem, no processo
de satisfação de suas necessidades primárias, “através dos frutos de seu trabalho,
alcance sua auto-realização em alguma proporção” (SHOECK 1985, p.45)
Estas transformações passaram a exigir do indivíduo novos
requisitos de qualificação, que não só revalorizariam a educação, mas também a
formação profissional, criando uma nova visão organizacional. Percebe-se que as
empresas estariam mais dispostas a investir em seus trabalhadores e remunerá-
los melhor, oferecer melhores perspectivas de carreira nos mercados internos de
trabalho. Entretanto o velho paradigma fordista do ´´saber fazer `` e os novos
modelos organizacionais incorporam um conjunto de novas aptidões, capacidades
e atitudes de conhecimento técnico e formal, e também o conhecimento tácito e
32
informal, junto com uma nova postura de trabalhadores e trabalhadoras diante do
trabalho.
Ferreti (1988, p.81) aponta que:
Os aspectos biológico e psicológico, em conjunto, conferem ao trabalho
um caráter sociológico, na medida em que indivíduos e grupos
congregam no esforço comum, favorecendo, a um só tempo, o progresso
e os vínculos de cooperação e solidariedade, uma vez que o trabalho,
além de gerar os artefatos necessários à subsistência do homem,
engendra a vida social, sendo simultaneamente por ela determinado.
Podemos considerar, portanto, o trabalho como meio de proporcionar
a satisfação das necessidades, mas também de permitir a busca da auto-
realização.
A responsabilidade nessa incessante busca compete a cada
indivíduo e a educação tem um papel importante nesse contexto. Como afirma
Delors (2001, p.16), cabe à educação:
[...] a missão de fazer com que todos, sem exceção, façam frutificar os
seus talentos e potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada
um, a capacidade de se responsabilizar pela realização do seu projeto
pessoal.
Desta forma, as transformações relacionadas com o trabalho
poderão ser menos traumáticas, considerando a influência da educação na
construção da formação do trabalhador.
Em termos históricos, o trabalho é uma atividade tão antiga quanto o
empenho do homem em obter a satisfação de suas necessidades, garantindo,
assim, a sua sobrevivência e a da espécie. Com efeito, ao qualificá-lo como uma
das mais antigas experiências humanas, muitos autores mostram sua evolução
através dos tempos, de acordo com circunstâncias históricas.
33
Oliveira (1987, p.27) enaltece que “os primeiros vestígios do que hoje
é definido como trabalho, podem ser encontrados ainda na pré-história, em formas
primitivas de economia”.
Desta maneira, o trabalho representava um esforço apenas
complementar ao ritmo da natureza, baseando-se na coleta e limitando-se a
garantir a reprodução biológica da espécie humana. A caça, a pesca e o pastoreio
diversificaram as formas de trabalho humano e possibilitaram sua evolução, na
medida em que o homem começou a fabricar instrumentos de trabalho.
Com a competitividade, entra em cena um novo conjunto de
requisitos, marcados por atributos relacionados à atitude, com destaque para a
responsabilidade e postura cooperativa, relacionamento com os colegas e a
empresa, envolvimento com objetivos gerenciais, disposição para adaptar-se
constantemente a novas situações e ter iniciativa de solucionar problemas.
Esse novo perfil indica uma tendência significativa do homem em
conhecer o comportamento das outras pessoas com as quais poderá relacionar-
se. Mas como conhecer o comportamento dos outros se não se conhecer a si
próprio?
Delors (2001, p.98) pondera que:
Passando a descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si
mesmo, e por dar ao adolescente uma visão ajustada do mundo, a
educação seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola,
deve antes de mais ajudá-los a descobrir-se a si mesmo. Só então
poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos outros e compreender
suas reações.
De acordo com Leite ( 2003 ), a pesquisa da construção das formas
de produção e de gestão de trabalho, em diferentes contextos e países, havia
demonstrado que o chamado “modelo fordista” fora marcado por uma enorme
34
variabilidade inter-societal, tendo, justamente por isso, apresentado um conjunto
de características muito variáveis entre os países, seja no que refere-se à
organização do trabalho, seja no que respeita às formas de regulação salarial.
Mudanças profundas e transformações tecnológicas revolucionam o
modo de produzir nossa vida material, com enormes implicações para a
organização da produção e do trabalho; novos modelos de vida e de organização
social são rapidamente modificados; verdades absolutamente estabelecidas e
maneiras de compreender o social que não pareciam passíveis de ser contestadas
são modificadas. Delors (2001, p.91) observa: “cada um aprenda a compreender o
mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para
viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais”. Para esse
autor, no entanto, a compreensão da realidade, na qual o indivíduo está inserido,
é fundamental para o desenvolvimento das capacidades profissionais do
trabalhador.
Para Fromm (1977, p.76), “com a introdução do trabalho assalariado,
clara conseqüência da revolução industrial, o capitalismo libertou o indivíduo da
arregimentação do sistema corporativo”. Para o autor, no entanto, a mudança
psicológica mais importante ocorrida no homem, neste momento, foi a adoção de
uma nova atitude, face ao esforço e ao trabalho, como meta de si mesma.
Dado o caráter assumido pelo trabalho após a Revolução Industrial,
ele se tornou gradativamente mais rotineiro e irreflexivo, à medida que o
trabalhador, via de regra, passou a executar tarefas parcelares, limitou-se à
execução e foi impedido de visualizar o trabalho ou produto em seu conjunto.
35
Entender o sentido dessas transformações não é uma tarefa fácil,
ainda que se trate de um estafante trabalho de redesenho conceitual que não
pode ser obra de uma só pessoa. Para tanto, deve haver um equilíbrio entre o
homem e o trabalho; este é o mais importante aprendizado na vida adulta, para o
qual a sociedade não nos prepara. Este aprendizado de vida pode ser relacionado
com o aprendizado do próprio conhecimento: Delors (2001, p.92) considera que “o
processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode
enriquecer-se com qualquer experiência. Neste sentido, liga-se cada vez mais à
experiência do trabalho...”.
Para uns, o trabalho é a única fonte de desfrute, para outros, a
necessidade é primeiro trabalhar para depois desfrutar.
Segundo Bernhoeft ( 1991, p.42),
Obter equilíbrio entre trabalho e desfrute não é apenas uma questão
psicológica, está vinculada a contribuições como história, antropologia,
tem muito a ver com as transições que ocorrem em nossas vidas e para
as quais não estamos preparados. Ninguém nasce sabendo ser filho,
pai, mãe, marido ou avô, são estados que se aprende, ou não se
aprende.
As crises da vida não são, nem devem ser, eliminadas, mas devem
ser vividas e administradas da mesma maneira como se administram os conflitos.
Da maneira como os resolvemos e os conduzimos é que resulta o sucesso da
busca da felicidade como estado permanente.
Para Codo (1993), a atividade trabalho apresenta papel significante
na preservação e nos prejuízos à saúde mental do trabalhador. Saúde mental
expressa dinâmica de produção de identidade social dos indivíduos. O trabalho
contribui para a produção de identidade social diretamente sobre o trabalhador e,
indiretamente, mediada pelo trabalhador, sobre seus filhos.
36
A inserção dos pais no trabalho modula a colocação dos filhos na
alimentação, na educação e no acesso a bens culturais, por exemplo. Trabalho
resulta em um duplo produto genérico: transforma o mundo e é o agente de
transformação, num processo bem definido na expressão: ”o produto do trabalho é
o homem”. Nossa construção como indivíduos e como elementos sociais, por meio
do trabalho, mostra-se particularmente clara na moderna sociedade industrial e
liberal. Ser médico, professor, industriário, comerciante, bancário, construtor,
motorista, engenheiro ou secretária faz parte indissolúvel de nossa identidade
social e, portanto, de nossas possibilidades de sofrimento psicológico.
Na economia industrial capitalista dos últimos dois séculos, o
trabalho passou a ser definido em função da produção social, devendo ultrapassar
o nível de subsistência e produzindo um excedente suscetível de transformar-se
em riqueza. “Enquanto criador de riquezas subordina-se, portanto, a
determinadas formas sociais que determinam sua execução e organização e que
são produtos de relações sociais” (OLIVEIRA, 1987, p.45).
Portanto, o trabalho é um dos principais elementos de transformação
de um simples indivíduo em um verdadeiro cidadão, que espera que o exercício
de sua cidadania seja solidificado pela inserção no mundo do trabalho. O trabalho
deixou de ser apenas um meio de sobrevivência e torna-se um importante
componente de reprodução social, visando atingir futuras gerações pelo espelho
chamado trabalho.
Para que essas gerações sejam, de fato, atingidas, a educação tem
um papel extremamente importante. Para Delors (2001, p.89), “a educação deve
transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer
37
evolutivos, adaptados à civilização congnitiva, pois são as bases das
competências do futuro”.
Em sua forma atual, o trabalho tornou-se profundamente degradado
enquanto valor, ocorrendo a eliminação da criatividade para grande parte dos
indivíduos. Houve uma alteração radical do caráter do trabalho, que o tornou um
processo singularmente desinteressante e sem significado, que obriga os homens
a uma disciplina enervante e embrutecedora, voltada apenas ao aumento da
produtividade. Em conseqüência, perdeu-se sua compreensão como uma relação
social básica na definição do mundo humano de existência. Com base nessa
realidade, Delors (2001, p.100) considera:
Num mundo em mudança, de que um dos principais motores parece ser
a inovação tanto social quanto econômica, deve ser dada importância
especial à imaginação e à criatividade, claras manifestações da liberdade
humana [...]
A maioria dos estudos que analisam as profundas transformações
por que passa o mundo do trabalho atualmente enfatizam a necessidade de
revisão de condições, contextos e atividades de trabalho.
Codo et al. (1993, p.211) destacam, porém, que não apenas o
“modo como o trabalho é executado (a atividade), mas também o que resulta
deste trabalho (o produto) são importantes na construção da identidade humana”
e ambos os fatores dizem respeito à questão do seu significado e da satisfação
obtida por seu intermédio. Segundo eles, nossa construção como indivíduos e
como elementos sociais, por meio do trabalho, mostra-se particularmente clara na
moderna sociedade industrial e liberal.
38
Podemos considerar que o significado subjetivo atribuído ao trabalho
funciona para o trabalhador como uma estrutura cognitiva que tem forte impacto
sobre percepções, atribuições, sentimento moral e valor social, e que influenciará
o próprio comportamento destes indivíduos posteriormente no trabalho, além de
possibilitar, de modo mais efetivo, a formação de atitudes coletivas diante das
atividades laborais.
As perspectivas para o mundo do trabalho em que vivemos hoje se
configuram em dois ângulos. Por um lado, vislumbra-se a possibilidade de uma
real diminuição do tempo de trabalho, em função do avanço tecnológico que
assumiria grande parte, principalmente, das tarefas operacionais, proporcionando
mais tempo livre a todos. Por outro, postula-se uma profunda modificação na
concepção de trabalho, que, uma vez concretizada, será capaz de gerar
mudanças nas suas formas características, nos modos de organização e na
finalidade, resgatando os aspectos prazeroso e humano que o trabalho um dia
comportou.
Paralelamente às mudanças contextuais, conceituais e valorativas
referentes ao trabalho, assistimos a uma rápida sucessão de transformações nas
profissões, que extinguem umas, criam outras, modificam outras tantas e relegam
algumas à obsolescência ou até mesmo a extinção.
O trabalho tem um papel mediador entre o mundo subjetivo (do
sujeito) e o mundo objetivo (real, concreto). Pelo trabalho o homem se apropria do
mundo objetivo, transformando a si mesmo, ou seja, construindo-se, ao mesmo
tempo em que transforma o real.
39
O homem é aquilo que faz, portanto, não podemos falar do “homem”
de forma abstrata, mas devemos falar de homens reais, concretos, que se
realizam como sujeitos na medida em que são capazes de construir e executar
projetos de vida que permitam uma relação humanizadora com o mundo objetivo,
medida pelas relações de trabalho.
Essa construção pode ser menos problemática se o indivíduo for
desenvolvido para aprender a ser, Delors (2001, p. 99) destaca que:
Todo ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação
que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e
críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder
decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
O autor destaca a importância da educação no momento da
juventude de um indivíduo, educação que esta relacionada com o seu
desenvolvimento pessoal e também profissional.
Nas relações de trabalho desenvolvidas dentro do modo capitalista
de produção, o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho,
transformando-se, da mesma forma que o produto do seu próprio trabalho, em
mercadoria.
Temos aí um processo de alienação, pelo qual se retira do
trabalhador o produto do seu trabalho, que passa a considerá-lo como algo
estranho: “o homem alienado é um homem desprovido de si mesmo” (Codo, 1995,
p.8).
A alienação faz com que o homem perca sua própria identidade.
Nesse tipo de relação produtiva o trabalho deixa de cumprir o papel mediador
entre o mundo subjetivo e o objetivo. Ao contrário, ocorre a separação entre o
40
sujeito e o seu objeto de trabalho. “[...] a alienação separa o homem do produto do
seu trabalho, de seus companheiros e finalmente de si mesmo” (Berger, 1983,
p.6).
Essa perda da identificação pelo trabalho acarreta sérias
conseqüências para os trabalhadores.
O trabalho humano, quando executado sob condições inseguras e
desgastantes, tem efeito direto sobre o bem-estar físico e psíquico do trabalhador,
motivo pelo qual nos interessamos pela questão da saúde e do trabalho humano e
como isto repercute no funcionamento psíquico do indivíduo.
As dinâmicas psicossociais nos contextos de trabalho têm sido
estudadas de forma vigorosa pela psicopatologia do trabalho, corrente que
assume hoje o caráter de ciência interdisciplinar e se fortalece com base nas
contribuições de diversas áreas do conhecimento humano. Os impactos da
organização do trabalho sobre o indivíduo estão associados também aos efeitos
de determinadas condições físicas, químicas e biológicas presentes nos postos de
trabalho. Em outras palavras, a forma como está organizado o trabalho e as
condições em que ele é executado determinam um tipo de desgaste para o
trabalhador.
Além do equilíbrio, é importante frisar a saúde mental no trabalho,
porque a procura por melhores desempenhos produtivos leva o indivíduo a ser
uma vítima do trabalho, que se torna um gerador de sofrimento.
O trabalho tem um papel mediador entre o mundo subjetivo (do
sujeito) e o mundo objetivo (real, concreto). No adolescente isto repercute da
seguinte maneira: pelo fato de ele estar numa fase de transformação, em que a
41
identidade deve ser formada, o trabalho adquire um papel importante, porque
proporciona ao adolescente, noções que influenciam a formação da sua
identidade.
Entende-se, então, que a identidade do adolescente vem
desenvolvendo-se e cristalizando-se à medida que ele cresce. Sai de um mundo
lúdico em que o trabalho era visto e manipulado por meio do ato de brincar e, num
processo rápido, se defronta com o trabalho real. Viver desta dualidade entre o
querer ser adolescente para gozar dos direitos de jovem e o querer assumir o
papel de adulto, no que se refere a ter responsabilidade pelos seus atos, torna-se
em seu imaginário um conflito que perdura até o trabalho vir a ser uma fonte tanto
de estruturação da personalidade como de fortificação da identidade. Neste
sentido, por meio do trabalho, o adolescente se apropria do mundo objetivo,
transformando a si mesmo.
Portanto, para entender o trabalho em seu significado subjetivo,
buscou-se em Dejours (1994), psiquiatra francês que se apóia na força do trabalho
para justificar os sucessos e os insucessos, o referencial principal para elucidar os
aspectos positivos e negativos que o trabalho pode proporcionar. O mesmo autor
(1988), que desenvolveu importantes estudos sobre psicopatologia do trabalho,
investigou o impacto da organização do trabalho sobre o aparelho psíquico do
trabalhador.
Considera ele que o trabalho pode gerar sofrimento psíquico e,
dependendo do trabalhador, pode levar à doença mental. A proposição do autor,
quanto a separar a carga de trabalho mental em duas ordens distintas de
fenômenos, facilita a compreensão do funcionamento psíquico do indivíduo nas
42
situações de trabalho. A carga de trabalho mental seria composta tanto por fatores
de natureza racional e cognitiva quanto por aqueles vinculados à dimensão afetiva
e relacional do indivíduo. O trabalho não é a causa, mas pode ser um fator
desencadeador de distúrbios mentais.
Para entender melhor a carga psíquica do trabalho, é necessário
compreender o funcionamento psíquico do adolescente e o que é característico de
cada personalidade. As excitações de ordem psicossensorial (exteriores) e
pulsional (interiores) transformam-se no aparelho psíquico em energia pulsional,
que dispõe de três vias para ser descarregada: a psíquica, a motora e a visceral.
Se essa energia não consegue ser despendida sob as duas primeiras formas, ela
acumula-se no aparelho psíquico como uma carga psíquica, originando a tensão
psíquica.
Na infância, o ato de brincar ajuda a criança a conter esta energia
pulsional, ao mesmo tempo em que também favorece à aprendizagem de
maneiras corretas.
Entretanto se, com o passar do tempo, as vias psíquica e motora
não forem utilizadas para a descarga dessa tensão, a visceral será demandada, já
que a tensão não pode permanecer por longo período no aparelho psíquico. É
através da via visceral que a fadiga existente em um primeiro momento poderá dar
lugar, em seguida, às patologias. A criança que não aprendeu a conter tal pulsão,
seja porque foi punida em seus atos lúdicos ou porque lhe faltou o modelo
paternal, deixará de canalizar esta energia, sobrecarregando o aparelho psíquico,
o que poderá fazer dela um ser alienado e não comprometido com atos laborais.
43
Dejours (1994, p.15), sobre essa questão, coloca:
As características das pessoas e o grau de evolução da personalidade
do indivíduo desempenham papel importante na escolha das vias de
descarga da energia pulsional. O trabalhador não chega a seu local de
trabalho como uma máquina nova. Ele possui uma história pessoal que
se concretiza por uma certa qualidade de suas aspirações, de seus
desejos, de suas motivações, de suas necessidades psicológicas, que
integram a sua história passada
.
O adolescente, enfim, em razão de sua história, dispõe de vias de
descarga preferenciais que não são as mesmas para todos e que participam na
formação daquilo que denominamos estrutura da personalidade. O tipo de
trabalho, porém, pode ou não oferecer caminhos para a descarga da energia
pulsional do indivíduo.
A partir de suas características intrínsecas e da forma como está
organizado, o trabalho humano vincula-se diretamente ao prazer ou ao sofrimento
pessoal do adolescente. O trabalho é equilibrante quando permite a retomada,
por parte do adolescente, de suas aspirações e de seus desejos mais profundos,
contribuindo para a estruturação de sua personalidade, ajudando-o a realizar-se.
O trabalho oferece-lhe, de alguma maneira, uma ocasião
suplementar de perseguir seu questionamento interior e de traçar sua história. No
entanto, o trabalho pode opor-se à liberdade, distanciando-se da intenção, do
controle e da vontade pessoal do adolescente. É o trabalho que degrada e
provoca, na verdade, o estranhamento e a despersonalização daquele que o
executa.
O prazer ou o sofrimento pessoal no trabalho dependem do grau que
ele oferece à livre-atividade do aparelho psíquico. O trabalho equilibrante traz
prazer e é mentalmente saudável, porque permite a contínua descarga da tensão
44
psíquica do indivíduo, o que dimensiona satisfatoriamente a carga psíquica do
trabalho. Isto é aprendido na infância por meio do teatro do trabalho proposto por
Dejours. Em contrapartida, o trabalho fatigante opõe-se à livre-atividade do
aparelho psíquico, impedindo a descarga da tensão e repercutindo negativamente
sobre a estrutura mental e corporal do adolescente.
Dejours considera que o adulto aprende a trabalhar porque o
adolescente já aprendeu a conter o desejo de prazer em nome de uma futura
gratificação que foi passada pelos pais e que pode conseguir transformar esse
processo de contenção em alguma coisa a ser alcançada porque é desejada.
Enfatiza que uma aprendizagem falha dos pais faz com que o sintoma patológico
aconteça no trabalho, já que os pais não ensinaram os adolescentes a trabalhar
porque eles também não aprenderam. O autor destaca o desenvolvimento mental
e psíquico para apontar a forma como o trabalho é vivenciado pelos indivíduos.
Dessa maneira, o trabalho age na vida dos adolescentes de duas
maneiras: como fonte de crescimento e prazer e também como fonte de
insatisfação e irritação. Quando repetitivo, torna-se uma obrigação do
estabelecimento da repressão pulsional necessária para poder resistir, a longo
prazo, às pressões psíquicas exercidas em sua organização. Existem
procedimentos específicos que vão além da adaptação às pressões rígidas, nos
quais os adolescentes constroem verdadeiras regras de trabalho que não estão de
acordo com a organização do trabalho oficial. Tais procedimentos podem ser
ligados a uma forma específica de inteligência, raramente levada em conta nas
análises científicas.
45
O trabalho está intimamente ligado ao psicológico do adolescente e,
se esse se sentir confortável com sua realização, terá menor probabilidade de
desenvolver uma carga psíquica negativa, colaborando mais ativamente para o
seu desenvolvimento. Ao contrário, se o adolescente se sentir ameaçado por algo,
isto irá desencadear um sofrimento que o levará ao acúmulo de energia psíquica,
aumento da tensão, tornando-o alienado e sem motivação para realização de algo.
As ocupações moldam seu jeito de ser e de apresentar-se,
contribuindo para o surgimento das doenças ocupacionais.
Estas doenças exigem intervenção direta no ambiente físico e,
quando diagnosticadas, caracterizam as doenças ocupacionais, com orientações
médicas e legais específicas, como é o caso dos digitadores que apresentam
lesões causadas por esforços repetitivos. Ainda segundo o referido autor, há dois
tipos de sofrimento: o sofrimento criador e o sofrimento patogênico.
Quando o sofrimento se transforma em criatividade, ele funciona
como um mediador para a saúde. Quando o trabalho emprega o sofrimento, ele
atua como mediador da desestabilização e da fragilização da saúde. As pressões
do ambiente de trabalho fazem com que indivíduos se sintam doentes durante o
trabalho, interpretando isto como inevitável, inerente ao próprio dia a dia.
As doenças isquêmicas do coração e a hipertensão arterial estão
ocorrendo cada vez com maior freqüência em indivíduos jovens e,
especificamente, em determinadas categorias profissionais,
independente de classe social, e todas as pesquisas feitas até agora
indicam que as suas causas são o ritmo de trabalho, a exigência
irrecorrível da atenção e todos os condicionamentos que envolvem o
homem e o trabalho. (LIMONGI, 2002, p.84)
Estamos vivendo a era da qualidade total, em que se fazem
necessárias mudanças radicais na estrutura da empresa, visando ao cliente em
46
primeiro lugar, para garantir a sobrevivência da organização. Valoriza-se a
profissionalização, os horizontes são desafiadores, a saúde sinaliza os limites de
resistência física, mental e de relacionamento das pessoas. Cada sintoma é um
sinal de alerta para a revisão das condições de vida no trabalho.
O trabalho está intimamente ligado a dimensão psíquica do
trabalhador, o qual, ao sentir-se confortável dentro da organização, terá menor
probabilidade de desenvolver uma carga psíquica negativa, colaborando mais
ativamente para o seu desenvolvimento e o da organização. Ao contrário, se ele
se sentir ameaçado por algo, será desencadeado um sofrimento que o levará ao
acúmulo de energia psíquica e ao aumento da tensão, que tornam fatigante o
trabalho.
Esse sofrimento poderá ser minimizado se o indivíduo for
desenvolvido permanentemente pelos processos formativos e educativos. Delors
(2001, p.18) pondera que:
É a idéia de educação permanente que deve ser repensada e ampliada.
É que, além das necessárias adaptações relacionadas com as alterações
da vida profissional, ela deve ser encarada como uma construção
contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões, da sua
capacidade de discernir e agir.
O autor nos leva a reflexão da importância da chamada educação
continuada, em que o adolescente, que se encontra no momento da sua escolha e
desenvolvimento da vida profissional, possa ter maiores possibilidades de sucesso
e menor sofrimento, ao usufruir de novos e constantes conhecimentos oferecidos
pela educação permanente.
A crescente globalização da economia e a rápida evolução da
tecnologia têm suscitado um amplo debate em torno do futuro do trabalho e das
exigências que o mundo impõe aos que pretendem engajar-se nele.
47
As relações entre capacitação/conhecimento e as possibilidades de
inserção no mundo do trabalho reeditam a discussão sobre o desenvolvimento das
pessoas desde a formação fundamental, média e superior até os conhecimentos
básicos exigidos pelo mercado de trabalho. Essas exigências nascem do próprio
mercado consumidor, que cada vez, se apresenta de forma mais veloz e
competitivo, exigindo das pessoas, principalmente dos jovens que iniciam sua
jornada profissional, um conjunto de competências e habilidades mínimas para
sua inserção no mundo do trabalho.
Essa complexidade, posta pelas vertentes relacionadas com o
contexto do trabalho, é para o adolescente um momento de decisão em meio a
muita confusão, oriunda da própria fase pela qual ele está passando, que torna
suas escolhas ainda mais difíceis.
É nesse contexto de exigências, que torna mais dificultosa e
complexa a iniciação do adolescente no mercado de trabalho, que a Fundação
Mirim de Presidente Prudente desenvolve um o programa formativo, segundo o
qual os jovens ingressarão em módulos que têm como objetivo prepará-los para
sua inserção nas empresas parceiras da entidade.
O primeiro módulo cujo tema é “Programa de formação inicial:
educação para o trabalho”, tem por objetivo:
[...] qualificar o adolescente carente para o mercado de trabalho,
conscientizando-o de suas responsabilidades, oportunizando o
conhecimento de suas aptidões e habilidades, identificando as
dificuldades, necessidades e expectativas dos adolescentes,
proporcionando uma formação global preocupada com o adolescente, a
família e a sociedade. Trata-se de curso obrigatório a todos os ingressos
na Entidade, em atendimento ao Art. 2º da PORTARIA Nº 702, DE
DEZEMBRO DE 2001, que prescreve o programa de aprendizagem para
o desenvolvimento de ações de educação profissional, no nível básico.
(MANUAL DE NORMAS FM, 2004, p. 18)
48
O primeiro módulo desenvolvido pela entidade tem carga horária de
400 h/a e duração de 60 dias; são utilizados para o desenvolvimento desse
módulo 12 professores, voluntários e profissionais de várias áreas, pertencentes a
Universidades, Faculdades e Escolas Profissionalizantes.
Os conteúdos trabalhados no Módulo I são: informática, orientação
para o estudo, matemática financeira, inglês, música, esporte e lazer, temas
transversais (ética, cidadania, sexualidade, meio ambiente, pluralidade cultural e
saúde), rotinas empresariais, recursos humanos, atendimento e técnica de venda,
empreendedorismo, prática e palestras de orientação com diversos temas.
Esse sistema promovido pela Fundação Mirim de Presidente
Prudente pode ser caracterizado como um sistema amplo e flexível, que
proporciona ao adolescente uma formação consistente. Delors (2001, p.17) define
esses sistemas como:
[...] sistemas mais flexíveis, com maior diversidade de cursos, e com
possibilidade de transferência entre diversas categorias de ensino ou
então entre a experiência profissional e o retomar da formação,
constituem respostas válidas às questões postas pela inadequação entre
a oferta e a procura de emprego.
Esse trabalho inicial promove a identificação do perfil do adolescente,
de suas aptidões e deficiências, que são trabalhadas de acordo com as
necessidades de mercado, proporcionando uma qualificação mais adequada para
sua inserção nas empresas.
Estando o adolescente inserido na empresa, a entidade promove um
programa de qualificação continuada:
[...] os adolescentes constantemente realizam cursos de requalificação na
Entidade. Atendendo a necessidade de oferecer cursos que embasam
atividades que partem da menor para a maior complexidade, dessa
49
maneira a Fundação Mirim proporciona conteúdos que levam o aluno a
desenvolver competências, habilidades e atitudes correlatas à sua prática
em estágio. (MANUAL DE NORMAS FM, 2004, p. 33)
A entidade não se preocupa apenas com a inserção do jovem no
mercado de trabalho, mas também com seu desenvolvimento contínuo, pois um
dos paradigmas do mundo do trabalho refere-se ao conhecimento que deve ser
desenvolvido constantemente. Para tanto, são promovidos cursos e eventos com
base nas necessidades apresentadas pelos adolescentes e pelas empresas.
Um outro programa desenvolvido refere-se a convênios firmados
com as Universidades e Faculdades da cidade, dando a oportunidade ao jovem de
ingressar em um curso superior, fortalecendo ainda mais sua qualificação e
empregabilidade.
Todas as variantes apresentadas sobre o trabalho colocam o
adolescente que deseja sua inclusão neste universo em uma situação
problemática e de muitas dúvidas, principalmente pela instabilidade existente no
mundo globalizado.
Neste sentido, percebe-se uma necessidade de orientação e
acompanhamento do desenvolvimento pessoal e profissional do adolescente, pois
sua escolha está ligada diretamente ao seu futuro, e este é fruto do seu trabalho.
Devido a essa necessidade, a Fundação Mirim de Presidente
Prudente torna-se um elo entre o adolescente e o mundo do trabalho, enfatizado
pela educação profissional e pessoal oferecida para contemplar esse desejo.
O trabalho realizado pela Fundação visa preparar o adolescente por
meio de programas educacionais, baseado nas transformações no campo de
50
trabalho, que demonstra ser volátil, alterando-se de acordo com as necessidades
do mercado.
Neste contexto, a Fundação Mirim integra esses adolescentes a uma
vida social em que terão sua identidade caracterizada pela entrada no mundo do
trabalho, pois será por meio do seu trabalho que o adolescente poderá chegar ao
alcance de sua auto-realização.
Infere-se, então, que a Fundação Mirim promove não só a inserção
do adolescente no mundo do trabalho, mas também o acompanha em toda a sua
trajetória por meio dos estágios probatórios e, numa eventualidade de qualquer
natureza, o adolescente recebe acompanhamento profissional e psicológico para
sua melhor adaptação, e para que tenha maiores condições de sucesso
profissional.
1.3 O adolescente e as interferências na sua escolha profissional
O período de desenvolvimento humano denominado adolescência é
utilizado, de forma popular, para identificar a etapa de transição entre a vida
infantil e a vida adulta. A fase da chegada da adolescência, em que se deixa de
agir como criança, passa a ser observada como uma fase de grande
transformação, talvez a maior transformação da vida de um ser humano.
Há um certo consenso de que “ser adolescente” significa viver uma
fase transitória, de pouca responsabilidade, combinada com uma maior liberdade
e certos direitos, isto é: a adolescência é vista como um compasso de espera
entre a infância e a construção da própria família e a busca da profissão desejada.
51
Aparentemente é neste período que se desenvolvem as
características mais marcantes e predominantes do ser humano: a consciência já
é responsabilizada pelos atos e começa a definir-se o rumo a ser tomado no
presente, como também o que será investido no futuro.
Erikson (1997) aponta que, neste período, um outro fator importante
se desenvolve na vida da pessoa. Trata-se da puberdade que obriga a pessoa a
aceitar modificações em seu corpo, que afetam diretamente sua mente, sua
psique e a forma de encarar o mundo.
Na adolescência surge um novo ser, com aspectos físicos, mas,
principalmente, psicológicos, emocionais e comportamentais que quase sempre
surpreendem os que já conviviam com o jovem. Essa surpresa, misto de
desconfiança, de desacordos, de contrastes e de confrontos, acaba gerando
manifestações, muitas vezes, nada agradáveis.
A adolescência confunde-se com “crescimento”, que tem
equivalência biológica marcada pela perda do harmonioso equilíbrio do esquema
corporal infantil. Mais importante do que tudo, a adolescência implica
existencialmente no rompimento com o passado e na tentativa de
desenvolvimento de novos esquemas vitais, que envolvem um duplo conjunto de
posturas e de atitudes, caracterizando um misto de insurreição e de
reestruturação.
Insurreição contra a infância e tudo quanto pretende simbolizá-la ou
apenas sugerir a possibilidade de mantê-la. É o caso de manifestações de
autoridade ou exigência de disciplina, simbolizados em normas e regulamentos,
Daí gostos, prazeres e lazeres novos, preferências e prioridades, que marcam
52
desvinculamento com os momentos anteriores. Jogos e linguagens originais,
quase um dialeto, são utilizados para a comunicação e a integração com os
companheiros.
Reestruturação tendente à formação, mesmo que inconsciente, de
um homem novo, pressionado pela incerteza do futuro e assinalado pela
multiplicidade de apelos contraditórios e pelo desabrochamento de tantas
potencialidades, a adolescência leva o homem a um grande conflito.
Todo esse mecanismo de reformulação existencial traz consigo
profunda inquietação, que chega, às vezes, à angústia, repercutindo em conflitos
internos, causando crises existenciais e afetando a escolha profissional em
decorrência de tal desequilíbrio.
Shale e Carr-Gregg (2002) pesquisadores que buscam orientar os
possíveis comportamentos e manifestações dos adolescente, identificam quatro
metas que os adolescentes têm de alcançar. São elas:
1. Formar uma identidade equilibrada e positiva.
Significa, por meio da identidade com os pais, internalizar valores
repassados por eles sob a forma de aprendizagem. Entretanto, estes valores nem
sempre são ensinados, mas sempre aprendidos. Não podemos afirmar que uma
criança possui identidade, pois esta só é desenvolvida e cristalizada no período da
adolescência.
2. Alcançar a independência dos pais ou dos adultos
responsáveis pela sua educação.
Conforme aponta, também, Erikson (1997), nesta fase além da
concretização da identidade, um outro fator se faz presente que é a confusão de
53
papéis. Significa que a pessoa quer, ao mesmo tempo, ser adulto para gozar de
certos privilégios, como dirigir automóveis, poder ficar mais ausente de casa, mas
antagonicamente quer ser criança para poder usufruir os deleites da não
responsabilidade de seus atos.
3. Conhecer pessoas para amar fora do círculo familiar.
Os pais devem ser modelos para seus filhos; dependendo da forma
como foi percebida a educação dispensada pelos pais os filhos terão mais ou
menos facilidade em manter relacionamentos duradouros, saudáveis e
consistentes.
A falta de imposição de limites faz com que a criança se torne um
adolescente com dificuldade de receber limites em suas ações, incapaz de
assumir responsabilidades e de estabelecer e manter um adequado
relacionamento interpessoal. Se os limites da educação paternal forem percebidos
como uma fonte de direcionamento de atitudes socialmente aceitáveis ou não, o
adolescente se tornará uma pessoa íntegra com um auto-conhecimento aceitável.
4. Encontrar um lugar no mundo ao dar um rumo à carreira
profissional e alcançar a independência econômica.
O pai sempre deve ser o modelo adequado para o filho, mas no
tocante ao trabalho esta responsabilidade é mais marcante. O pai que demonstra
não estar satisfeito com o que ele está desempenhando poderá passar para o
filho, mesmo de forma inconsciente, a idéia de que trabalhar é ruim, que ser
trabalhador é coisa muito difícil e escolher uma profissão é pior ainda. Desse
modo fica um vazio no imaginário do filho, que fica sem saber que o trabalho pode
gerar prazer e condições de prosperidade.
54
Essa quarta meta apontada pelos autores nos dirige a pesquisar o
momento em que o adolescente tem de definir um caminho para encontrar, em
meio a muitas dúvidas, a sua identidade profissional, que pode ser influenciada
pelo contexto que vive.
Dentro desse contexto podemos identificar o primeiro fator de
influência do adolescente, que é sua família. Zagury (1997) indica que os pais
ainda são a maior fonte de influência para os filhos. Mas a forma de influenciar os
filhos no passado é muito diferente da forma encontrada nos dias de hoje.
Antes os pais decidiam a profissão dos filhos, escolhendo até mesmo
o que os filhos iam estudar, pelo seu poder de persuasão e pela sua influência
sobre eles.
Zagury (1997) coloca que, atualmente, o papel dos pais consiste em
orientar, esclarecer, indicar opções e conversar, é um tipo de apoio muito
importante, mas a escolha final é feita pelo adolescente.
A forma com que os pais exercem suas profissões torna-se uma
influência na decisão dos adolescentes, porque, se eles mostram o trabalho por
meio de realizações, lutas, prazer e valorização, o adolescente começará a ver o
trabalho como uma fonte importante de prazer e satisfação; porém, se for
mostrado o trabalho como uma fonte de sofrimento e de aborrecimentos, pode-se
passar para os adolescentes uma idéia de que trabalhar não é bom, prejudicando
ainda mais sua escolha profissional.
Neste momento em que a família tem esse importante papel, mostrar
a realidade, as dificuldades, ouvir suas opiniões, pode tornar-se uma forma
55
importante para o crescimento e a maturidade do adolescente; essa ajuda, porém,
deve ser negociada e aceita pelo adolescente.
“Impor ajuda aos adolescentes pode torná-los impotentes,
justamente num período de vida onde eles lutam para se mostrarem capazes”
(TIBA, 1986, p.40).
Dessa forma, identificar e entender os desejos e vontades dos
adolescentes torna-se uma forma estratégica de negociação e ajuda para eles,
que começam a fazer sua escolha profissional, pois os pais não devem olhar para
seus filhos como se tivessem a mesma maturidade que eles, e sim como alguém
que esta, de certa forma, perdido, sem uma visão clara dos melhores caminhos
que deve seguir.
Outro fator que influencia a escolha profissional do adolescente é a
sociedade na qual ele está inserido.
“O inconformismo jovem torna-se tédio pela própria necessidade de
mudanças que incidem sobre os valores que recebemos da estrutura social e pela
necessidade de mudanças na inaceitabilidade desses valores por parte do jovem”
(ANGERAMI-CAMON, 1999, p. 47).
Dois aspectos importantes nesse contexto são a mudança e a
estrutura social vivenciada pelo adolescente.
A mudança na sociedade esta acontecendo de forma muito rápida, a
velocidade da informação e sua transformação em conhecimento demonstram que
a única certeza é que tudo está em transformação constante.
56
A estrutura social dessas mudanças indicam, por conseqüência, os
valores aceitos por essa sociedade, construindo uma cultura que é posta para os
adolescentes.
“A cultura do jovem é marcada pela sociedade de consumo,
especialmente nos anos 90, com a globalização e a utilização intensificada dos
meios de comunicação, visando um consumo excessivo...” (TRIPOLI, 1998, p.
106).
Vivemos em um mundo capitalista, onde os valores do sistema
capitalista são assimilados pelos adolescentes, determinando, em alguns
momentos, uma visão distorcida de sua realidade.
Mediante esse pressuposto, o adolescente pode criar uma visão do
trabalho como uma forma de realização por meio de uma aceitação social pautada
nos valores capitalistas, segundo os quais as pessoas são aceitas e reconhecidas
por aquilo que possuem e não pelo que verdadeiramente são.
Uma vez que o jovem é colocado sobre essa realidade começa a ser
moldado, principalmente sua personalidade, com uma característica distorcida, em
que o trabalho pode ser visto apenas para satisfação de posse.
Segundo Zagury (1997, p. 70), “outra idéia que se tem do jovem da
hoje é a de que ele é utilitarista, materialista, ligado mais a retribuição financeira
da profissão do que a algum ideal ou ao desejo de contribuir socialmente”.
57
O perfil do adolescente é assinalado por algumas características que
o especificam. Para Gonçalves (2000, p. 57):
[...] a adolescência é uma fase da descoberta do eu, traduzida na tomada
de consciência da própria personalidade como entidade autônoma,
independente do mundo exterior representado pelas coisas, pelas
pessoas e pelo mercado de trabalho.
O mesmo autor considera que:
Essa descoberta do próprio eu, verdadeira busca de identificação
pessoal, traduz-se na capacidade de introspecção e na tentativa da
vivência de valores pessoais. Esse processo não se desenvolve sem
riscos: de um lado o perigo da criação de um hiato entre o mundo e a
realidade interior, criando o típico sentimento de solidão do adolescente.
(GONÇALVES, 2000, p. 57)
Outra característica da personalidade do adolescente é a descoberta
do outro, o que lhe permite a integração em outras esferas sociais, distintas das
anteriores, em particular da família. Trata-se do entendimento que tem o
adolescente da vida em grupo, mas no grupo que ele escolhe e, neste contexto,
inclui a profissão com que ele tem mais afinidade, caracterizando uma atitude
muitas vezes desvinculada dos anseios da família.
O referido autor ainda aponta:
Esta atitude é freqüentemente interpretada pelos pais como ato de
rebeldia e indisciplina, mas principalmente como atitude de rejeição. É o
momento em que o adolescente revela sua peculiaridade histórica, bem
diferente do que acontecia em momentos anteriores, onde os espaços
escolhidos para a diversão coletiva eram amplos. (GONÇALVES, 2000,
p. 61)
A busca de um projeto de vida próprio é outra marca da
personalidade do adolescente. Ele se julga plenamente senhor das situações e
habitualmente supervaloriza suas possibilidades físicas, mentais, emocionais,
econômicas, embora esse quadro possa estar longe da realidade. O que ele
58
pretende é traçar caminhos para o seu futuro, num contexto de atividades e
relacionamentos.
A escolha profissional analisada sob essa ótica nos leva à reflexão
de que o adolescente pode, nesse momento tão importante de sua vida, ou seja,
na escolha que poderá direcionar seu futuro, estar sendo conduzido a não levar
em conta seus ideais, suas aptidões, seus sonhos e suas vontades, colocando
como referência apenas a retribuição financeira, para atender necessidades
imediatas, e podendo, até mesmo, distorcer sua contribuição para a melhora e o
futuro da sociedade.
Ainda sobre esse pressuposto Angerami-Camon (1999, p.51) coloca
que:
Essas situações, na realidade, apenas escondem uma escolha muitas
vezes feita por determinadas conveniências (como facilidade de acesso,
estabilidade de emprego e algumas outras vantagens inerentes a
determinadas atividades). Aspectos que envolvem o prazer em
determinadas profissões são deixados de lado: visa-se à facilidade
imediata obtida nessas escolhas.
Podemos inferir que a escolha profissional do adolescente também
poderá sofrer interferência de determinadas conveniências que poderão não ser
compatíveis com suas aptidões, tornando o trabalho não algo prazeroso e de
realizações futuras, mas algo que contemple suas necessidades imediatas.
O mesmo, autor, ainda afirma que:
No entanto, é necessário reconhecer que esse tipo de escolha não leva
em conta a gratificação emocional que o trabalho precisa apresentar e,
dessa maneira, é uma escolha feita por razões que farão com que a
atividade escolhida se torne insuportável depois de um longo tempo de
prática profissional. (ANGERAMI-CAMON, 1999, p.51)
59
Deduz-se, desse modo, que à medida que se desenrola o trabalho
desse adolescente, ou seja, no desenvolvimento de sua prática profissional, ele
poderá encontrar-se em um momento de sofrimento, ocasionado pela insatisfação
de sua escolha, no qual seu emocional não estará sendo satisfeito, pois seu
trabalho não produz prazer nem realização, podendo entrar em conflito e
desmotivação para o trabalho.
Podemos considerar também que, nesse momento, o jovem
encontra-se inconformado, pois a própria sociedade embute valores que se
alteram constantemente, tornando ainda mais conflitantes suas escolhas e seus
caminhos cada vez mais incertos. Dentro desse contexto, o jovem se vê em um
momento que ele terá de mudar, por força da própria sociedade.
Dentro desse contexto o referido autor coloca que:
O inconformismo jovem torna-se tédio pela própria necessidade de
mudança que incidam sobre os valores que recebemos da estrutura
social e pela necessidade de mudança na inaceitabilidade desses
valores por parte do jovem. (ANGERAMI-CAMON, 1999, P.47)
Para minimizar essas incertezas e interferências na escolha
profissional do adolescente, a Fundação Mirim de Presidente Prudente adota uma
política de desenvolvimento profissional e pessoal, que visa clarear esse momento
do adolescente para que o mesmo tenha informações e conhecimentos
necessários para que a sua escolha seja a mais acertada possível.
Dentro dessa política adotada pela Fundação Mirim de Presidente
Prudente, os jovens atendidos pela entidade terão de passar por um Módulo
Inicial, denominado “Educação para o Trabalho”. No Manual de Normas da
Fundação Mirim (2004), identificamos que esse módulo tem como objetivo
60
qualificar o adolescente para o mercado de trabalho, considerando suas aptidões,
habilidades, necessidades e expectativas, fazendo com que o adolescente tenha
uma visão mais objetiva da sua escolha profissional. Esse módulo é obrigatório
para todos os adolescentes ingressos na Entidade, e sua duração é de 400 horas.
Dando continuidade ao desenvolvimento do adolescente, a
Fundação Mirim também promove outros temas, relacionados com as questões
profissionais e também pessoais do adolescente, entre esses temas, podemos
destacar os temas transversais.
Os temas transversais visam educar os adolescentes nas questões
relacionadas com a ética, cidadania, sexualidade, meio ambiente, pluralidade
cultural e saúde. Eles têm como objetivo internalizar conceitos e realidades que
estão em volta dos jovens, conceitos esses que podem interferir no seu
posicionamento em relação a sua escolha profissional e também na sua conduta
como profissional e cidadão.
A Fundação Mirim de Presidente Prudente preocupada, não só com
esse momento difícil para qualquer adolescente, mas também com seu futuro
pessoal e profissional, institui dentro de seu Manual de Normas (2004) um
programa de “Qualificação Continuada”, na qual os adolescentes constantemente
realizam cursos de requalificação profissional, para conhecer conteúdos que
visam desenvolver suas competências, habilidades e atitudes correlatas à sua
prática profissional e pessoal.
Ainda dentro dessa visão de educação continuada, a Fundação
Mirim de Presidente Prudente promoveu convênios com as Faculdades da cidade
para proporcionar bolsa de estudo parcial aos adolescentes atendidos por ela.
61
É nessa visão sobre as interferências nas escolhas profissionais do
adolescente que podemos verificar que a Fundação Mirim de Presidente Prudente
tem um papel importante, pois ela vem, com seu programa educativo e formativo,
complementar e até mesmo ampliar os papéis que são de responsabilidade da
família e da sociedade, que cada vez mais é caracterizada pela instabilidade e
mudança oriundas de um mundo capitalista e globalizado.
Com esta contribuição, podemos afirmar que os nortes delineados
pela Fundação Mirim de Presidente Prudente podem minimizar o sofrimento do
adolescente na sua escolha profissional.
62
2. METODOLOGIA
Nossa pesquisa foi de campo, de caráter quanti-qualitativa, isto
porque este método associa análise numérica à investigação dos significados das
relações humanas, privilegiando a melhor compreensão do tema estudado e
facilitando a interpretação dos dados obtidos. Segundo Polit e Hungler (1995,
p,.277), a abordagem quanti-qualitativa é aquela que “permite a contemplação
entre palavras e números, as duas linguagens fundamentais da comunicação
humana”.
Escolhemos esse método porque este tipo de pesquisa nos pareceu
mais adequado para o nosso trabalho, pois integra dados qualitativos e
quantitativos em um único estudo, como é o caso de nossa pesquisa, permitindo-
nos análise mais ampla.
2.1 – Os sujeitos
Participaram da pesquisa 50 egressos atendidos pela Fundação
Mirim de Presidente Prudente, desligados nos últimos cinco anos, escolhidos
aleatoriamente, por meio de relatório de desligamento fornecido pela entidade.
Estão assim caracterizados: 20 egressos do sexo masculino, na faixa etária entre
18 e 24 anos, e 30 egressos do sexo feminino, na faixa etária entre 18 e 23 anos.
Dezessete dos pesquisados completaram o ensino médio, enquanto 33 estão
inseridos em curso superior.
63
2.2 – Local de Realização do Estudo
A pesquisa foi realizada no período de janeiro de 2004 à julho de
2005, na Fundação Mirim de Presidente Prudente.
A Fundação Mirim de Presidente Prudente é uma instituição
filantrópica que atende, atualmente, mil adolescentes carentes de Presidente
Prudente, município do interior do Estado de São Paulo.
Fundada em 1961, a entidade tem duas fases de atuação bem
distintas. No momento de sua fundação, em sintonia com o espírito da época,
exigia-se disciplina rígida, organização aos moldes militares e preparava meninos
para trabalhar como Guardas Mirins em empresas da cidade.
Foto 1: Aniversário de 16 anos da Guarda Mirim
Autor: Cedido pela Fundação Mirim de Presidente Prudente
A hoje Fundação que foi criada com o nome de Guarda Mirim de
Presidente Prudente, no dia 11 de abril de 1960, teve como primeiro presidente
Nelson Porto Alegre. O segundo foi Gerônimo Ruiz Garcia. Cada um deles
cumpriu um mandato de dois anos. O terceiro presidente foi Raul Bongiovani, que
ficou durante 30 anos à frente da entidade, sendo o maior impulsionador na
64
construção e desenvolvimento de uma entidade sólida e reconhecida pela
sociedade.
Foto 2: Desfile de Formatura da Guarda Mirim
Autor: Cedido pela Fundação Mirim de Presidente Prudente
Seu presidente atual é o engenheiro Laércio Alcântara, que foi
guarda mirim na entidade e exerce o mandato desde o ano de 2001.
Hoje a fundação conta com sua sede própria, em uma área de 3.500
metros quadrados, com 1.600 metros quadrados de área construída, finalizada e
inaugurada em maio de 1987, em cerimônia conduzida pelo então presidente Raul
Bongiovani. Possui, nessa área, uma ampla cozinha, sanitários, instalações para
administração, assistência odontológica, pedagógica, psicológica, um anfiteatro e
um salão social para 600 pessoas.
Foto 3 – Sede atual da Fundação Mirim de Presidente Prudente
A
utor: Fábio Luís No
g
ueira - 2006
65
Em 41 anos de trabalho ininterruptos, a entidade formou mais de
22.000 adolescentes, que foram formados para ocuparem cargos de destaque na
comunidade.
Em 1995, o trabalho da fundação mereceu citação elogiosa em
boletim da Organização das Nações Unidas (ONU), como entidade modelo.
Todo ano, cerca de 2.000 adolescentes, na faixa etária de 15 anos,
candidatam-se a uma vaga na entidade. No processo de seleção, 400
adolescentes ingressam no projeto, o processo seletivo é composto de prova
escrita e análise sócio-econômica para identificar os adolescentes com maior
necessidade de serem atendidos pela entidade. Após a seleção, formam-se
grupos de aproximadamente 50 alunos, e iniciam-se as atividades educacionais e
formativas com o curso de educação para o trabalho.
Todos os adolescentes admitidos na instituição fazem curso de
orientação básica de 90 dias, no qual recebem desde reforço escolar até a
introdução às práticas exigidas no mundo do trabalho, passando por orientações
sobre técnicas de atendimento ao público, marketing pessoal, informática
completa, além de receber orientação psicológica e orientação com referência ao
perfil profissional.
Um dos principais fatos históricos da entidade foi a conquista, em
abril de 2001, por sensibilização e trabalho da atual diretoria, do pagamento do
salário mínimo integral para todos os estagiários na ativa.
66
A Fundação Mirim conta com o apoio de 450 empresas parceiras,
que abrem suas portas, dando oportunidade profissional aos adolescentes, e os
liberam uma vez por semana para participarem de orientações na entidade.
Tem 20 funcionários e uma diretoria voluntária, composta por
pessoas representativas da comunidade, além de um conselho de pais, composto
de 15 membros, todos eleitos mediante de um processo de eleição direto e
secreto.
A entidade mantém atendimento a todos os adolescentes, nos
seguintes setores:
- Atendimento odontológico;
Foto 4 – Consultório Odontológico – Fundação Mirim
Autor: Fábio Luís Nogueira - 2006
67
- Informática completa;
- Salão de beleza completo;
Foto 5 – Laboratório de Informática
Autor: Fábio Luís Nogueira - 2006
Foto 6 – Salão de Beleza
Autor: Fábio Luís Nogueira - 2006
68
- Workshops de desenvolvimento profissional
- Curso de montagem e manutenção de micro computadores;
- Biblioteca e Telecentro;
- Aulas de música e fanfarra;
- Coral;
- Grupo de Teatro;
- Datilografia:
- Atendimento de assistência social;
- Atendimento psicológico:
- Atendimento de esporte e lazer;
- Atendimento médico;
- Bolsa de estudo para mirins de nível universitário;
Foto 7 – Curso de Desenvolvimento Profissional
A
utor: Fábio Luís No
g
ueira - 2006
69
Para que sejam realizados todos esses atendimentos, a Fundação
Mirim conta com um corpo técnico qualificado e com entidades parceiras, como as
instituições de ensino da cidade de Presidente Prudente, que são elas a
UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista, a UNESP – Universidade do Estado
de São Paulo – Campus de Presidente Prudente e a Instituição Toledo de Ensino.
Também colaboram com a Fundação o SESI – Unidade de Presidente Prudente, o
Centro Cultural Brasil Estados Unidos, e outras instituições que são convidadas
esporadicamente.
O departamento de psicologia da Fundação é composto por uma
psicóloga contratada e estagiários do curso de Psicologia da Faculdade de
Psicologia da Universidade do Oeste Paulista – Unoeste, que oferecem
atendimento aos adolescentes, às suas respectivas famílias e ao núcleo
empresarial, realizando trabalho de orientação e aconselhamento, assim como
políticas de treinamento e desenvolvimento para os adolescentes admitidos no
projeto.
O departamento de capacitação de estágio conta com uma
professora, que tem como objetivo atender as empresas, encaminhar os
adolescentes ao campo de estágio, acompanhar o desenvolvimento dos mirins
nos estágios em conjunto com todo o departamento técnico.
O departamento de serviço social conta com uma profissional
formada em serviço social, que realiza o acompanhamento social de todos os
adolescentes em estágio-aprendizagem, mediante o atendimento aos
adolescentes e familiares e visitas nas empresas parceiras.
70
O departamento educacional e pedagógico conta com uma
profissional formada em pedagogia, com o objetivo de preparar o adolescente,
para que seja inserido no mercado de trabalho, levando-o a reconhecer que a
escola, ou seja a educação, é o único meio de atingir seus objetivos profissionais
e de cidadania.
O departamento social é composto por uma professora, com o
objetivo de proporcionar, através de atividades físicas e culturais, o senso de
responsabilidade, a auto-estima, a competitividade, a cooperação, a expressão
corporal, desenvolvimento de hábitos saudáveis e vontade de aprender e
descobrir coisas novas.
O departamento de extensão comunitária conta com uma
profissional: seu objetivo é divulgar a instituição para toda a comunidade
prudentina, e mostrar o trabalho que é realizado pela entidade, tornando essa
divulgação essencial para o fortalecimento e apoio da sociedade na construção
permanente de uma entidade sólida e significativa.
A Fundação conta com um sistema de transporte coletivo gratuito,
com veículos da própria entidade, para atender as necessidades de locomoção
dos seus adolescentes.
O refeitório da instituição fornece alimentação gratuita aos
adolescentes atendidos no projeto, sendo diariamente 750 refeições, com uma
produção anual de 180.000 refeições.
Preocupada com a educação esportiva e com o lazer do
adolescente, a Fundação mantém convênio com o SESI – Unidade de Presidente
Prudente. Com esse convênio os adolescentes podem utilizar o complexo
71
poliesportivo gratuitamente, com o suporte de uma professora de Educação
Física, funcionária da Fundação Mirim.
A exigência do mercado de trabalho fez crescer a preocupação com
a profissionalização do adolescente. Para atender essas exigências, a Fundação
firmou um convênio com o Centro Cultural Brasil Estados Unidos, que oferece
curso de Inglês aos sábados, e com a Escola Hispano-Americana de Línguas, que
oferece cursos de Espanhol, Italiano, Inglês e Francês, com valores subsidiados
aos adolescentes.
Uma outra conquista da Fundação foi o convênio com as duas
instituições particulares de ensino superior da cidade, a UNOESTE – Universidade
do Oeste Paulista, e a Instituição Toledo de Ensino, que oferecem bolsa de estudo
aos adolescentes atendidos pela instituição.
Os atendimentos na área de saúde, médico e odontológico, são
frutos da parceria dos cursos de Medicina e Odontologia da UNOESTE –
Universidade do Oeste Paulista, que disponibilizam professores e estagiários dos
respectivos cursos para atendimento gratuito aos adolescentes.
A Fundação Mirim sobrevive graças à contribuição dada
mensalmente pelas empresas parceiras, não recebendo nenhum tipo de verba
pública, seja municipal, estadual e federal.
Em abril de 2002, a Fundação Mirim de Presidente Prudente,
conquistou o Certificado “Filantropia 400”, importante título que a reconhece como
uma das maiores instituições não governamentais de atendimento social e
educacional a adolescentes carentes do Brasil.
72
A missão da fundação mirim que é:
Contribuir para a ascensão social de jovens carentes prudentinos, dando-
lhes sentido à vida através da educação, cultura, lazer, esporte e
profissionalização ao mundo do trabalho, desenvolvendo a auto-estima,
espírito de solidariedade e consciência de cidadania. (Manual de Normas
FM, 2004, p. 18)
Sendo essa a fundamentação dos objetivos reais da Fundação,
podemos caracterizar a importância do trabalho desenvolvido por essa instituição
no desenvolvimento sustentado da sociedade, principalmente em razão da
deficiência constatada na educação tradicional oferecida aos jovens, que estão em
uma fase de decidir seu futuro profissional.
A Fundação Mirim de Presidente Prudente não desenvolve apenas
futuros cidadãos, conscientes e aptos a adentrar o mundo do trabalho, mas
procura resgatar, através da auto-estima desses adolescentes, o desejo
incondicional de vislumbrar um futuro melhor.
2.3 – Procedimentos de Coleta e Análise dos Dados
a) A partir da autorização do Presidente da entidade, juntamente com
o seu corpo técnico, foi providenciada a relação com os dados completos dos
egressos que se desligaram nos últimos cinco anos.
b) Com o objetivo de construir um questionário com informações
suficientes para a pesquisa, a entidade, através do seu corpo técnico,
disponibilizou relatórios de avaliação com os menores semi-internos, para que as
informações constantes nos relatórios servissem de subsídios para a construção
de um questionário semi-estruturado, que apresentou questões que abordam:
73
dados pessoais, grau de instrução atual, avaliação da Fundação Mirim aos olhos
dos egressos e uma auto-avaliação no tocante ao item profissionalização.
c) Os questionários foram aplicados diretamente na entidade, através
de ações conjuntas com o seu corpo técnico, sendo que, para chegarmos ao
número suficiente, foram feitas as seguintes ações: almoços temáticos e
comemorativos, convocação por telefone para participação em reuniões na
entidade e evento comemorativo de aniversário da Fundação Mirim de Presidente
Prudente. Essas ações foram realizadas no período de janeiro de 2004 à julho de
2005.
d) Os dados coletados nesta pesquisa foram analisados quanti-
qualitativamente à luz dos embasamentos teóricos apresentados. A análise dos
resultados foi realizada segundo as respostas oferecidas pelos egressos, nas
questões fechadas e, posteriormente, na questão aberta, sem nenhuma
interferência do aplicador.
74
3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Inicialmente, procuramos identificar o grau de instrução atual dos
egressos pesquisados, para identificar se houve continuidade no seu
desenvolvimento intelectual. Os dados foram identificados na tabela seguinte:
Tabela 1 – Grau de instrução atual dos egressos pesquisados
Ensino médio incompleto 1
Ensino médio completo 17
Superior incompleto 32
Superior completo 0
34%
64%
2%0%
Ensino médio
incompleto
Ensino médio
completo
Superior
incompleto
Superior completo
Figura 1 – Valores percentuais referentes à tabela 1
Estes resultados indicam que houve continuidade no
desenvolvimento intelectual dos egressos, pois 32 egressos pesquisados estão
inseridos em curso superior, o que representa 64% do total.
Podemos afirmar, pelos dados apresentados, que foi compreendida
pelos egressos a importância da educação continuada, ou seja, no mundo em que
75
vivemos, em constantes mudanças e transformações, a educação passa ser algo
a desenvolver-se ao longo da vida.
Sobre esse pressuposto Delors (2001, p.117) afirma que:
O conceito de educação ao longo de toda a vida é a chave que abre as
portas do século XXI. Ultrapassa a distinção tradicional entre educação
inicial e educação permanente. Aproxima-se de um outro conceito
proposto com freqüência: o da sociedade educativa, onde tudo pode ser
ocasião para aprender e desenvolver os próprios talentos.
Um dos objetivos da pesquisa foi detectar os pontos fortes e fracos
da Fundação Mirim ao olhar do egresso e obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 2 – Pontos fortes identificados pelos egressos, por ordem de importância, da
Fundação Mirim de Presidente Prudente.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Organização da Fundação 32
Estágios 31
Cursos 28
Refeitório 19
30%
28%
25%
17%
Organizão da
Fundação
Estágios
Cursos
Refeitório
Figura 2 – Valores percentuais referentes à tabela 2
76
De acordo com os dados apresentados no item pontos fortes,
podemos observar na ordem de importância, que os egressos identificam em
primeiro lugar a estrutura da Fundação Mirim de Presidente Prudente, que ao
olhar do egresso se apresenta de uma forma organizada e está condizente com a
estrutura de empresas não governamentais, o que interfere na sua formação.
Através dos dados apresentados podemos afirmar que a Fundação
Mirim de Presidente Prudente está sendo bem gerenciada, cumprindo sua
finalidade, e que os esforços desprendidos pelos seus colaboradores estão sendo
reconhecidos pelos egressos e, possivelmente, pela própria sociedade. Sobre isso
Tenório (1998, p. 19) aponta que:
[...] a prática de gerenciar tem salientado a necessidade de tornar
conhecida a finalidade da organização, a fim de que seus dirigentes,
gerentes e demais empregados possam canalizar seus esforços para
atingi-la e a fim de que a organização seja considerada legítima pela
sociedade.
Logo em seguida temos os estágios e cursos, que despontam no
discurso dos adolescentes como fatores primordiais para a sua formação:
“A Fundação me encaminhou para um estágio que fui contratada e estou lá até
hoje.”
“A Fundação contribuiu muito para que eu chegasse onde eu estou, porque devido
aos cursos, aos treinamentos e aos estágios, estou utilizando tudo para minha
realização profissional, estou me dedicando ao máximo para subir de cargo e
poder ser orgulho para minha empresa.”
“Contribuiu com os cursos, o estágio e todo o acompanhamento.”
77
Tabela 3 – Pontos fracos identificados pelos egressos, por ordem de importância, da
Fundação Mirim de Presidente Prudente.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Uniforme 23
Transporte 16
Acompanhamento escolar 11
Biblioteca 10
38%
27%
18%
17%
Uniforme
Transporte
Acompanhamento
escolar
Biblioteca
Figura 3 – Valores percentuais referentes à tabela 3
De acordo com os dados apresentados, podemos verificar que os
egressos identificaram, por ordem de importância, pontos fracos da Fundação
Mirim de Presidente Prudente sob sua ótica, aparecendo com mais relevância
uniforme, principalmente na questão da cor, que representa 38% dos
questionários respondidos, em seguida o transporte, que representa 27% e, por
fim, a biblioteca e o acompanhamento escolar, com valores percentuais
equivalentes.
78
Em relação às atividades oferecidas pela Fundação, analisamos um
item que denominamos cursos:
Tabela 4 – Cursos de formação mais relevantes, segundo a opinião dos egressos
ITEM Nº. RESPOSTAS
Formação Inicial (Treinamento) 41
Atendimento 20
Informática 15
Secretariado 06
Auxiliar Odontológico 01
50%
24%
18%
7%
1%
Formação Inicial
(Treinamento)
Atendimento
Informática
Secretariado
Auxiliar
Odontológico
Figura 4 – Valores percentuais referentes à tabela 4
Os egressos avaliaram o curso de formação inicial como de maior
importância, seguido do curso sobre atendimento:
“Primeiro aprendizado quanto ao mercado de trabalho, comportamento,
atendimento ao público, organização e disciplina.
79
“O que mais ajudou foi o treinamento.”
“Senti que cresci como pessoa, os treinamentos me prepararam e fizeram com
que eu me sentisse segura para enfrentar a concorrência do mercado de
trabalho.”
Os relatos acima comprovam que os cursos aplicados pela Fundação
Mirim de Presidente Prudente estão condizentes com as exigências do mundo do
trabalho, tornando o adolescente apto a utilizar esses conhecimentos nas
empresas.
Mediante esse pressuposto podemos analisar a importância do
desenvolvimento de temas que levam o adolescente a aprender a fazer, ou seja, a
ter as competências necessárias para a sua prática profissional. Sobre essa
questão Delors (2001, p. 101) afirma que:
Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação
profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem
a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe.
Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências
sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer
espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, que formalmente,
graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho.
Também foi pesquisada a eficácia dos convênios com outras
entidades e, na percepção dos pesquisados, o convênio com o SESI veio em
primeiro lugar, seguido de convênio que proporciona bolsas de estudos.
80
Tabela 5 – Principais convênios com outras entidades identificados pelos egressos
ITEM Nº. RESPOSTAS
Sesi 20
Bolsa de Estudo (Unoeste) 19
Treinamento (Unoeste/Toledo) 05
Centro Cultural Brasil-EUA (Inglês) 03
43%
40%
11%
6%
Sesi
Bolsa de Estudo
(Unoeste)
Treinamento
(Unoeste/Toledo)
Centro Cultural
Brasil-EUA (Inglês)
Figura 5 – Valores percentuais referentes à tabela 5
Relato dos pesquisados:
“Se hoje estou na faculdade, é graças à Fundação Mirim que sempre incentivou os
mirins a estudar e ter uma visão de mundo diferente.”
“A Fundação Mirim foi a melhor coisa que aconteceu na vida, se não fosse a
fundação não teria sido encaminhado ao curso superior de Direito.”
“A Fundação contribuiu num todo no meu desenvolvimento, pois atualmente estou
cursando o 2º ano de Administração na Unoeste.”
81
Evidenciou-se, nos relatos dos pesquisados, a importância dos
convênios e parcerias com outras entidades, para sua formação pessoal e
profissional, principalmente a possibilidade de ingressar em um curso superior.
A equipe técnica também teve seu processo avaliativo, com foco nas
orientações e acompanhamentos. Obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 6 – Orientações e acompanhamentos relevantes desenvolvidos pela equipe técnica
da entidade, segundo as opiniões dos egressos.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Estágio 37
Escolar 15
Disciplinar 08
62%
25%
13%
Estágio
Escolar
Disciplinar
Figura 6 – Valores percentuais referentes à tabela 6
Percebe-se, pelas respostas dos egressos, a importância do
acompanhamento dos estágios, que, segundo a visão dos pesquisados, é o
trabalho mais relevante desenvolvido pela equipe técnica da entidade, que tem
referência direta com o seu estágio nas empresas parceiras.
82
Entre as atividades culturais, esportivas e sociais avaliadas pelos
pesquisados, não se notou uma preferência específica, tendo os itens pesos
equivalentes, conforme respostas:
Tabela 7 – Atividades culturais, esportivas e sociais relevantes, segundo os egressos
ITEM Nº. RESPOSTAS
Mirim Fest 18
Apresentações Culturais 14
Fanfarra 13
Campeonatos Esportivos 12
Gincanas 06
28%
22%
21%
19%
10%
Mirim Fest
Apresentões
Culturais
Fanfarra
Campeonatos
Esportivos
Gincanas
Figura 7 – Valores percentuais referentes à tabela 7
As atividades acima citadas demostram a importância do
desenvolvimento pluralista do adolescente. Podemos perceber, pelos dados
apresentados, que não existiu uma preferência específica dos egressos. As
atividades oferecidas foram aceitas de forma eqüitativas, sendo todas elas
dedicadas a desenvolver no adolescente o sentimento de viver junto com outras
83
pessoas e melhorar seus relacionamentos. Sobre esse assunto Delors (2001, p.
102) coloca:
Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a
percepção das interdependências – realizar projetos comuns e
preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do
pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
Quanto à avaliação profissional, apresentou-se uma certa
estabilidade nos estágios realizados, segundo as respostas dos egressos:
Tabela 8 – Quantidade de empresas em que o egresso estagiou
ITEM Nº. RESPOSTAS
Uma 17
Duas 16
Três 09
Mais que três 08
34%
32%
18%
16%
Uma
Duas
Três
Mais que três
Figura 8 – Valores percentuais referente à tabela 8
84
O item que pesquisava a aplicação dos conhecimentos adquiridos
pelo egresso na Fundação Mirim, na empresa onde estava estagiando,
demonstrou a eficácia do programa formativo da entidade, conforme respostas
abaixo:
Tabela 9 – Aplicação dos conhecimentos adquiridos na Fundação Mirim na empresa onde
o egresso estava estagiando.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Sim 46
Não 04
92%
8%
Sim
Não
Figura 9 – Valores percentuais referentes à tabela 9
Segundo opinião dos pesquisados, as empresas conveniadas com a
Fundação Mirim têm algumas percepções sobre o Mirim. A pesquisa revelou o
seguinte:
85
Tabela 10 – Percepção das empresas parceiras em relação aos estagiários da Fundação
Mirim, segundo a visão dos egressos.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Mão-de-obra barata 10
Menor aprendiz 08
Futuro funcionário 21
Funcionário 11
20%
16%
42%
22%
Mão de obra
barata
Menor aprendiz
Futuro funcionário
Funcionário
Figura 10 – Valores percentuais referentes à tabela 10
Segundo a equipe técnica da Fundação Mirim de Presidente
Prudente, as empresas tinham, anteriormente, uma visão dos estagiários, apenas
como mão-de-obra barata. As respostas dos egressos demonstram que houve
uma mudança de concepção por parte dos empresários em relação ao trabalho
desenvolvido pelos estagiários da Fundação Mirim.
O item desligamento foi pesquisado e foram encontrados os
seguintes resultados:
86
Tabela 11 – Contratação do egresso na empresa em que estava estagiando no momento de
seu desligamento da Fundação Mirim
ITEM Nº. RESPOSTAS
Sim 35
Não 15
70%
30%
Sim
Não
Figura 11 – Valores percentuais referentes à tabela 11
Os dados apresentados acima demonstram que um percentual
significativo de estagiários é contratado pelas empresas em que eles estavam
estagiando, o que demonstra uma certa competência dos estagiários e relevância
do seu trabalho para as empresas parceiras da Fundação Mirim.
Quanto ao seu crescimento profissional após o desligamento da
Fundação Mirim, foi auferido que:
87
Tabela 12 – Promoção de cargo ou trabalho em outra empresa, após o desligamento da
Fundação Mirim.
ITEM Nº. RESPOSTAS
Sim 29
Não 21
58%
42%
Sim
Não
Figura 12 – Valores percentuais referentes à tabela 12
Percebe-se nas respostas dos egressos que um percentual
significativo (58%) já foi promovido, ou esta trabalhando em outra empresa, o que
demonstra o crescimento profissional do egresso após seu desligamento da
Fundação Mirim de Presidente Prudente.
88
Tabela 13 – Renda atual do egresso
ITEM Nº. RESPOSTAS
1 Salário mínimo 5
2 Salários mínimos 38
3 Salários mínimos 6
4 Salários mínimos 0
5 Salários mínimos 1
Acima de 5 salários mínimos 0
10%
76%
12%
2%
0%0%
1 Salário mínimo
2 Salários mínimos
3 Salários mínimos
4 Salários mínimos
5 Salários mínimos
Acima de 5 salários
nimos
Figura 13 – Valores percentuais referentes à tabela 13
Conforme os dados apresentados referentes à renda dos egressos,
podemos observar uma valorização do seu trabalho. Enquanto eram estagiários
da Fundação Mirim, recebiam mensalmente um salário mínimo (R$ 350,00), ao
passo que a grande maioria dos egressos (76%) ganha dois salários mínimos,
seis egressos (12%) percebem o valor de 3 salários mínimos e um egresso (2%)
percebe o valor de 5 salários mínimos. Estes dados demonstram que o
crescimento profissional tem por conseqüência um aumento na renda do egresso.
89
Os relatos dos egressos foram colhidos na questão aberta do
questionário (4.7). Confrontando-os com as questões fechadas, verificou-se que a
grande maioria relatou positivamente essa questão, não havendo comentários
negativos. Todos os egressos pesquisados demonstraram significativa satisfação,
e um sentimento de gratidão para com a Fundação Mirim de Presidente Prudente.
Sabemos que nenhuma organização pode ser caracterizada como perfeita, que
pode haver falhas e que se pode melhorar o que está sendo desenvolvido pela
entidade; porém, com base nas respostas dos egressos, percebeu-se que os
pontos positivos estão superando os pontos que poderiam ser caracterizados
como negativos.
Na visão dos egressos, a Fundação Mirim de Presidente Prudente foi
a grande responsável pelas oportunidades de sua entrada no mundo do trabalho e
contribuiu, de forma significativa, para sua realização.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste trabalho, deparamos com situações interessantes
no tocante ao indivíduo, sua identidade e seu comportamento dentro da
organização.
Implicitamente, valores como aprendizagem, experiência,
profissionalismo, responsabilidade, disciplina, comprometimento e motivação se
fizeram notar nas respostas dos entrevistados. Isto mostra que os conceitos, tanto
profissional quanto pessoal foram internalizados durante a experiência que eles
tiveram enquanto semi-internos da Fundação Mirim de Presidente Prudente.
Notamos que esses resultados foram possíveis devido à estrutura da
entidade e também ao constante aperfeiçoamento dos programas formativos
desenvolvidos pela Fundação Mirim de Presidente Prudente. Assim, acreditamos
que a estrutura organizacional da entidade cumpre o seu papel de forma
adequada, atingindo seus objetivos e contribuindo com a sociedade. Essa
colocação condiz com que afirma Tenório (1998, p.15):
[...] as ONGs têm que pensar em acrescentar às suas peculiaridade
novos instrumentos de gestão, dotando seus quadros de habilidades,
conhecimentos e atitudes que assegurem, ao fim e ao cabo, o
cumprimento dos objetivos institucionais.
Percebemos, nesse contexto, que uma entidade, mesmo quando
cumpre seu papel de maneira satisfatória, necessita constantemente avaliar sua
estrutura organizacional, estratégias e processos educacionais, em consideração
às mudanças de direção ocasionadas pelo mundo globalizado.
91
Podemos considerar, ainda, que os valores auferidos nas respostas
dos egressos foram desenvolvidos e despertados nos adolescentes, favorecendo
seu espírito crítico e a formação da cidadania.
Os valores do trabalho e da cidadania, conforme apregoa a
psicologia social, são de fundamental importância para a inclusão dos
adolescentes no mercado de trabalho e na sociedade contemporânea que prioriza
valores éticos e morais.
Considerando o relacionamento do indivíduo com o trabalho, vemos
que o desenvolvimento proporcionado nesse contexto possibilita aos jovens
egressos expressar-se, identificar-se e realizar projetos. Segundo Zagury (1997)
os adolescentes percebem os valores vigentes do contexto social em que estão
inseridos e se colocam à disposição para batalhar para atingir seus objetivos.
Esta pesquisa permitiu visualizar e compreender como a Fundação
Mirim de Presidente Prudente possibilita aos adolescentes perceberem suas
ideologias e incorporarem o significado real do trabalho e sua importância para o
crescimento e desenvolvimento de cada um, em particular, agregando valor a vida
e ao futuro de cada egresso.
Na trajetória desta pesquisa entendemos o importante papel da
Fundação Mirim para o adolescente semi-interno e o adolescente egresso; este
tem sido foco de pesquisas direcionadas a Fundação Mirim, porém, nos
deparamos com um fator importante e significativo, que é a influência exercida
sobre o egresso, tanto no desejo como na escolha de uma profissão.
Detectamos o significativo papel da Fundação Mirim na possibilidade
de desempenhar a função de tornar possível o desejo de progresso e de
92
continuidade educativa e de formação da família, pois apresenta uma
hierarquização das relações que interfere direta ou indiretamente na forma de
viver dos adolescentes.
Deste modo, a Fundação Mirim de Presidente Prudente desperta em
cada adolescente, segundo essa pesquisa, que o comportamento dentro das
organizações nada mais é que a extensão de seu lar e dos aprendizados
adquiridos na instituição, tais como disciplina, comprometimento e trabalho em
equipe, requisitos estes que são indispensáveis para os futuros trabalhadores que
ocuparão lugar de destaque dentro de organizações conceituadas e serão até
mesmo empreendedores de sucesso.
O sucesso em uma profissão deixa sempre um lugar para outros
projetos não realizados, depositados, muitas vezes, em nossos próprios filhos. E é
assim que a história se repete, continua e se perpetua. Essa característica de
continuidade nos remete a entender o papel da Fundação Mirim de Presidente
Prudente, pois, com o desenvolvimento do seu trabalho, ela está conseguindo,
conforme nossa pesquisa, através dos adolescentes atendidos, reacender o
desejo e a esperança, que se renovam através desses jovens atingindo os
desejos latentes de sua própria família.
Podemos considerar que os objetivos do trabalho foram cumpridos,
visto que, de modo geral, a intenção dessa pesquisa era analisar a relevância do
programa formativo desenvolvido pela Fundação Mirim de Presidente Prudente,
especialmente identificando a realidade de seus egressos. Notamos então que o
objetivo foi alcançado, pois os resultados da pesquisa comprovam que, realmente,
o adolescente atendido pela entidade conseguiu encontrar seu espaço na
93
sociedade, por meio do seu trabalho, e esta dando continuidade ao seu
desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional.
Os resultados indicam ainda, que o programa formativo desenvolvido
pela Fundação Mirim de Presidente Prudente preocupa-se com a constante
atualização de suas propostas e com a adequação à realidade apresentada pelo
mundo do trabalho.
Esperamos que este estudo possa servir de referência para outros
estudos similares e também como reflexão sobre o importante papel das
organizações do terceiro setor na busca e implementação de ações que objetivam
a inserção dos jovens na sociedade.
94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ZAGURY, T. Encurtando a adolescência 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
97
APÊNDICE – A
QUESTIONÁRIO
98
QUESTIONÁRIO
1. DADOS PESSOAIS
Nome:____________________________________________ Idade:__________
Endereço:_________________________________________ Nº._____________
Bairro:____________________CEP:_________-____ Telefone:______________
e-mail:____________________________________________________________
2. GRAU DE INSTRUÇÃO ATUAL:
Ensino médio incompleto Ensino médio completo
Superior Incompleto Superior Completo
99
3. AVALIAÇÃO DA FUNDAÇÃO MIRIM
3.1. Defina os pontos fortes e pontos fracos da Fundação Mirim sendo:
Pontos Fortes Pontos Fracos
Classifique por ordem de importância:
Organização da Fundação
Mais Fortes Mais Fracos
Acompanhamento Escolar
1_______________ 1______________
Transporte (ônibus)
2_______________ 2______________
Biblioteca
3_______________ 3______________
Eventos Comemorativos
4_______________ 4______________
Uniforme
5_______________ 5______________
Cursos
6_______________ 6______________
Refeitório
7_______________ 7______________
Salão de Beleza
8_______________ 8______________
Consultório Odontológico 9_______________ 9______________
Estágios 10______________ 10______________
3.2. Quais as atividades oferecidas pela Fundação Mirim, que fizeram diferença na
sua formação? (Cada questão poderá ter como resposta mais que uma
alternativa)
3.2.1 Cursos:
Formação Inicial (Treinamento) Atendimento Secretariado
Informática Auxiliar Odontológico
A
B
100
3.2.2 Convênios com outras entidades:
Bolsa de Estudo (Unoeste) Centro Cultural Brasil – Estados Unidos (Inglês)
Sesi Treinamento (Unoeste / Toledo)
3.2.3 Orientações e Acompanhamentos desenvolvidos pela equipe técnica;
Estágio Escolar Disciplinar
3.2.4 Atividades culturais, esportivas e sociais;
Mirim Fest Campeonatos Esportivos Gincanas
Apresentações Culturais Fanfarra
101
4. AVALIAÇÃO PROFISSIONAL
4.1. Quantas empresas você estagiou no período que esteve na Fundação Mirim?
Uma Duas Três Mais que três
Quais Empresas? : __________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4.2. Você aplicava os conhecimentos adquiridos na Fundação Mirim na empresa
onde estava estagiando?
Sim Não
Quais Conhecimentos? : ______________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4.3. Qual a percepção que você acha, que a empresa tinha em relação a você
como estagiário da Fundação Mirim:
Mão de obra barata;
Menor Aprendiz;
Futuro Funcionário;
Funcionário.
4.4. Após o seu desligamento da Fundação Mirim, você foi contratado na mesma
função que estava estagiando?
Sim Se sim, qual a função?____________________________________
Não Se não, qual a função?____________________________________
Qual sua profissão atualmente?:________________________________________
102
4.5. Você já foi promovido de cargo ou esta trabalhando em outra empresa?
Sim Se sim, qual o cargo / empresa? ____________________________
Não
4.6. Qual sua renda atual? Por salário mínimo (R$ 300,00)
1 Salário Mínimo 2 Salários Mínimo 3 Salários Mínimo
4 Salários Mínimo 5 Salários Mínimo Acima de 5 Salários Mínimo
4.7. Como a Fundação Mirim contribuiu para o seu desenvolvimento profissional e
pessoal?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
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