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fundamental na construção do Estado Nacional. Segundo José Murilo de Carvalho,
esta escola produzia na verdade bacharéis fardados numa competição com os
bacharéis sem farda das escolas de Direito e Medicina, oficiais que gostavam de ser
chamados, mesmo dentro do exército, de doutores. Estava aí criado o perfeito
ambiente para a aceitação da idéia do soldado-cidadão que desde a proclamação da
República passou a pertencer à ideologia das intervenções militares no Brasil .
28
A concepção de história positivista que circulava no âmbito do Exército
Brasileiro pode ser exemplificada por estas palavras do médico militar Ezequiel
Antunes: A história parece não exigir grande literatura nem muita ciência. Antes,
ela determina, imperativamente, na análise e registro dos fatos, sobretudo, a
expressão nítida da verdade .
29
É o estatuto da verdade partindo do interior da
instituição permitindo que se legitimem as idéias pronunciadas por seus membros,
sem dar espaço para outras versões e visões que porventura pudessem surgir.
Além da formação da Escola Militar, alguns oficiais são membros do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro [IHGB],
30
e receberam também a influência das
idéias sobre como escrever a história nacional que circulavam no interior do Instituto
e suas versões regionais.
31
No início do Século XX os membros do Instituto ainda
28
CARVALHO, José Murilo de. As Forças Armadas na Primeira República: o poder
desestabilizador . In: FAUSTO, Boris (org). História da Civilização Brasileira: o Brasil Republicano
.
T.3, v.
2, 4ªed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 196
29
ANTUNES, Ezequiel citado por RODRIGUES, Rogério Rosa. Os sertões catarinenses: embates e
conflitos envolvendo a atuação militar na Guerra do Contestado. Dissertação de Mestrado em
História. UFSC. Florianópolis, 2001., p. 31
30
É o caso de Herculano Teixeira D Assumpção. Este militar, que participou do conflito entre os anos
de 1914 e 1915 tomando parte da chamada Coluna Sul das forças legais, quando publica a sua obra em
1918 é membro efetivo do Instit
uto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e membro da Comissão de
Arqueologia, etnografia e língua dos indígenas. Outro aspecto do texto de D Assumpção que
influenciou muito a sua escrita foi o fato de que este Oficial parece ter como um de seus objetivos
fazer uma espécie de defesa da atuação do Cel. Estilac Leal que chefiou a Coluna Sul no ataque ao
reduto de Santa Maria e foi alvo da críticas de alguns Oficiais do Exército por considerarem que a
Coluna não correspondeu aos objetivos das ações.
31
Criado em 1838, O IHGB tinha por função definir um projeto de nacionalização do país, além de
defender a Monarquia e fazer a apologia da centralização e do catolicismo. Com o advento da
República, apesar da resistência de alguns em aceitar o novo governo, aos poucos, algumas idéias
republicanas começaram a ser apropriadas pelos Institutos e o projeto de Nação passou a assumir um
caráter de exercício de cidadania. Ver ampla discussão sobre a visão historiográfica dos Institutos em:
CALLAR, Claudia Regina. Os Institutos Históricos: do Patronato de D. Pedro II à construção do
Tiradentes . In:
Revista Brasileira de História
. São Paulo, v.21, nº40, 2001, pp. 59
-
83; GUIMARÃES,
Manoel Luís Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico
Bra
sileiro e o Projeto de uma História Nacional . In:
Estudos Históricos,
Rio de Janeiro, n.1, 1988,