Segundo s biógrafos
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, o jovem Vicente demonstrava inclinações literárias e estéticas na escola,
mas seu pai praticamente forçou a sua matrícula na Politécnica, esperançoso de que a forte base
matemática e científica da escola produzisse um espírito mais disciplinado
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. Nos termos
micelianos, poder-se-ia dizer que Licínio pai internalizou as expectativas possíveis para seu filho,
que não poderia e não deveria ser um bacharel, disputando espaço com filhos de nobres famílias
oligárquicas. Note-se que a estabilidade lograda pela família foi notável, terminando por
constituir os Licínio Cardoso num clã prestigioso do bairro de Botafogo e da cidade do Rio de
Janeiro, embora distante do circuito alto da vida mundana da cidade.
A Escola Politécnica, criada pelo decreto 5.600 de 25 de abril de 1874, caracterizava-se
desde sua fundação, pela ênfase na formação científica, e não na qualificação de profissionais
especializados. Único centro superior do país dedicado à formação de engenheiros até 1894, a
Escola notabilizou-se por produzir um certo perfil de homens públicos, que combinavam atuação
na burocracia estatal e participação em grandes negócios e companhias. Mário Barata (Barata
1973) enumera as trajetórias de personagens como Francisco Bicalho e Pereira Passos, ambas
marcadas pela quase obrigatória passagem pela Estrada de Ferro Pedro II e pela ocupação de
inúmeros cargos de prestígio, tais como a Inspetoria Geral de Obras Públicas (chefiada por
Bicalho entre 1901 e 1903) e a direção da companhia de bondes da capital. Esse “período de
ouro” da Escola durou, segundo Barata, até o início do século XX, quando a concorrência de
novas escolas surgidas com República (Politécnicas de São Paulo e Porto Alegre) e a própria
diminuição da expansão econômica teriam reduzido o número de alunos
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. Foi durante esse
período, delimitado entre 1902 e 1914, que Vicente Licínio lá estudou e progressivamente se
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Essa interpretação é partilhada tanto por Sydney dos Santos (Santos, 198-), quanto por Goycochea (op.cit), que se
constituem nas principais fontes de informação biográfica sobre Vicente Licínio Cardoso.
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Nas palavras de Goycochea, “Entendendo, porém, que, para o estudo consciencioso das matérias componentes do
curso exigido para o exercício de qualquer profissão – Medicina ou Direito --, é imprescindível uma preparação
fundamental séria, quis que Vicente completasse o seu curso de humanidades com o curso geral da Escola
Politécnica.”(Goycochea, ibid, p.29).
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Segundo Barata, “As turmas de engenheiros, sobretudo civis, foram crescendo – mesmo relativamente à população
– na Escola Politécnica, que em 1875, 1876, 1878 formou respectivamente 25, 37 e 40 alunos nesta qualificação,
número expressivo para a época, mantendo-se após, aproximadamente, nessa média, excetuando no período entre
1902 e 1914. Aí diminuiu, possivelmente devido à expansão de estabelecimentos congêneres, em vários Estados.
Mas logo depois a Politécnica correspondeu ao necessário surto das exigências de expansão e produção nacionais,
em parte coincidente com as dificuldades oriundas da primeira Guerra Mundial, quando o número de engenheiros
civis e de outras especialidades subiu progressivamente. Dos primeiros, as turmas de 1917, 1918 e 1919 formaram
respectivamente 57, 74 e 86 alunos; Daí em diante as classes mantiveram-se grandes, em comparação com o
Passado” (Barata, 1973, p.80)
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