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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
CAMPUS ARARAQUARA
A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS
FALADO
Maria Alice de Mello Fernandes
ORIENTADORA: Profª. Drª. Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza Campos
ARARAQUARA – SP
2006
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
CAMPUS ARARAQUARA
A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS
FALADO
Maria Alice de Mello Fernandes
Tese apresentada à Faculdade de
Ciências e Letras da Universidade
Estadual Paulista, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Letras (Lingüística e Língua
Portuguesa)
ORIENTADORA: Profª. Drª. Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza Campos
ARARAQUARA – SP
2006
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A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS
FALADO
Comissão Examinadora da Tese de Doutorado para obtenção do Título de
Doutor em Letras (Lingüística e LínguaPortuguesa)
____________________________________________________________________
PROFª. DRª. ODETTE GERTRUDES LUIZA ALTMANN DE SOUZA CAMPOS
Orientador/Presidente
_________________________________________________
PROFª. DRª. ROSANE DE ANDRADE BERLINCK
Membro Titular
__________________________________________________
PROFª. DRª. BEATRIZ NUNES DE OLIVEIRA LONGO
Membro Titular
__________________________________________________
PROFª. DRª. INGEDORE GRUNFELD VILLAÇA KOCH
Membro Titular
__________________________________________________
PROFª. DRª. GLADIS MARIA BARCELOS DE ALMEIDA
Membro Titular
ARARAQUARA, 04 DE ABRIL DE 2006.
DEDICATÓRIA
Um sonho pensado,
Um sonho conquistado,
Um sonho realizado.
Aos meus pais, Benedito e Irene,
Ao sempre companheiro Luiz;
Aos meus filhos Marcel e Rosiane,
Milena e Estevão,
Aos meus netos Marcel Júnior e
Maria Clara,
Com amor.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, pela presença em minha vida.
À Profª. Drª. Odette G. L. A. S. Campos, minha orientadora, por
mostrar, nessa trajetória, que amor, dedicação e alegria são o “sumo da
vida”.
À Prof
a
Dr
a
. Ingedore G.V. Koch, pelo carinho e conhecimento.
Ao grupo responsável pelo Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul,
representado pela Profª. Aparecida Negri Isquerdo, pela cedência do
corpus.
À Profª. Dr
a
.Ângela Rodrigues, pela disponibilidade de inquéritos do
Projeto Filologia Bandeirante (SP) e Português Popular do Brasil (SP).
Aos professores da Pós-Graduação de Lingüística e Língua Portuguesa
da UNESP, pelos ensinamentos e, aos funcionários, pela prontidão no
decorrer desses anos.
À UNIGRAN Centro Universitário da Grande Dourados (MS) ,
por acreditar em mim.
À direção, aos colegas professores e aos funcionários da UNIGRAN e do
ANGLO, pela amizade e compreensão de minhas ausências.
Aos meus irmãos e cunhados, Sandra e Cyro, Milton e Renata,
Fernando e Valquíria e aos meus sobrinhos Fábio, Andressa, Camila e
Murilo pelo estímulo e unidade de nossa família.
Á Tia Audenir e família, pelo carinho durante minhas passagens em
Campinas.
À Nara, colega de trajetória, pela força de uma nova e grande amizade.
À Delaine, à Cynara e à Solange pela amizade e incentivo à criação do
trabalho; à Maria do Carmo pelo apoio na finalização desse trabalho.
Aos meus alunos, pela modificação do meu texto.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
CAPÍTULO I – REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS
VERBAIS...................................................................................................................
15
1.1.As categorias Tempo e Aspecto..................................................................... 15
1.1.1 Definições................................................................................................. 16
1.2. Emprego dos tempos verbais......................................................................... 20
1.3. A visão semântica dos tempos verbais.......................................................... 28
CAPÍTULO II – REFLETINDO SOBRE A COESÃO DOS TEMPOS
VERBAIS...................................................................................................................
33
2.1 Retomando a Lingüística Textual.................................................................. 33
2.2 A coerência e a coesão como fatores de textualidade.................................... 35
2.3.O tempo verbal e a função coesiva................................................................ 39
CAPÍTULO III - LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA: OPOSIÇÕES?.......
45
3.1 Como se constrói o texto falado?.................................................................. 52
3.2 Inserções: uma reflexão 58
CAPTÍTULO IV – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
73
CAPÍTULO V – UM OLHAR SOBRE AS INSERÇÕES E OS TEMPOS
VERBAIS...................................................................................................................
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................
127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................
133
ANEXOS....................................................................................................................
138
Anexo 1 – Excertos de entrevistas do Projeto NURC de São Paulo
Anexo 2 – Excertos de entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do
Sul
Anexo 3 – Excertos de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante (SP) e do
Português Popular do Brasil
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Frases Parentéticas................................................................... 62
Gráfico 2 – Resquícios de Tópico Desenvolvido Anteriormente............... 63
Gráfico 3 – Indícios de Tópico Desenvolvido Posteriormente................... 63
Gráfico 4 - Tópico Paralelo......................................................................... 64
Gráfico 5 - Quadro Tópico.......................................................................... 65
Gráfico 6 - Alternância............................................................................... 65
Gráfico 7 – Funções das Inserções.............................................................. 86
Gráfico 8 – Distinção entre Mundos Comentado e Narrado....................... 91
Gráfico 9 – Tempos Verbais....................................................................... 95
Gráfico10 – Tempos Verbais no Mundo Narrado...................................... 101
Gráfico 11 – Análise dos Segmentos dos Corpora..................................... 109
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Representações para os tempos do modo indicativo segundo
Corôa .........................................................................................................
30
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mundo Comentado................................................................... 40
Figura 2 – Mundo Narrado........................................................................ 40
Figura 3 – Relevo do Mundo Narrado....................................................... 41
Figura 4 – Mapa do Estado de São Paulo.................................................. 73
Figura 5 – Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul.................................. 75
RESUMO
Esta tese aborda o estudo da inserção - uma das estratégias do português falado - e o uso
dos tempos verbais com base nos princípios teóricos da Lingüística na visão da
Lingüística Textual e da Semântica. Para a investigação analisaram-se excertos do
corpus, constituído por inquéritos do Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana
Culta de São Paulo, do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e do Projeto Filologia
Bandeirante e Português Popular do Brasil, ambos de São Paulo, com informantes de
sexo diferente, além de faixa etária e escolaridade variadas. Foram analisados, nesses
excertos, a natureza e as funções do fenômeno da inserção, o uso dos tempos verbais
nos diferentes tipos de inserções, a relação entre o uso dos tempos verbais nas inserções
e nos segmentos anteriores e posteriores a elas, além da relação entre o uso dos tempos
verbais e a atitude comunicativa e a perspectiva comunicativa, além do relevo, quando
pertencentes ao mundo narrado. A partir dos dados obtidos, em análise qualitativa,
verificou-se que existem variações quanto às transições verbais nos diferentes estados e
entre informantes e que a inserção não interrompe a seqüência textual; pelo contrário,
contribui para a coerência, o que justifica a maior freqüência das funções explicativas e
de comentário. Observou-se, ainda, que o uso dos tempos verbais, tanto no caso das
transições homogêneas como nas heterogêneas está sempre subordinado ao discurso e o
discurso aos temas desenvolvidos, e ambos às características sociais de seus falantes.
ABSTRACT
This dissertation studies insertion- one of the strategies of spoken Portuguese- and the
use of verbal tenses, based on the theoretical principles of Linguistics from the
perspective of Textual Linguistics and Semantics. For this research, some excerpts of
the “corpora” were analyzed which were established by exploration of the Cult Urban
Linguistic Pattern of São Paulo, of Mato Grosso do Sul Linguistics Atlas and the
Bandeirante Project of Philology and Popular Portuguese of Brazil, from São Paulo
State, with the informants belonging to different genders, diverse age groups and
education level. In order to proceed with this researched, the nature and functions of
insertion phenomenon, the use of verbal tenses in the different types of insertion, the
relationship between the use of verbal tenses in those insertions as well as in preceding
and following insertions, in addition to the relationship between the use of the verbal
tenses and the communicative attitude and communicative perspective beyond the
relevance, when part of the narrated world. From the obtained data, in qualitative
analysis, it was possible to verify that there are variations as to the verbal transitions in
those mentioned States (Mato Grosso do Sul and São Paulo) and also among informants
and that insertion does not interrupt the textual sequence, yet, quite on the contrary, it
contributes for the coherence, which justifies the major frequency of explainable
functions and comments. It was also observed that the use of verbal tenses, both in the
case of homogeneous and heterogeneous transitions, have always been subordinated to
discourse, which is also subordinated to the developed themes and both to the social
characteristics of the speakers.
INTRODUÇÃO
O projeto inicial de doutorado tinha como proposta trabalhar com o
processo de organização da produção textual, uma vez que esse tema já tinha sido
motivo de estudo no mestrado. Cursadas as primeiras disciplinas e em contato com a
orientadora, professora Odette Gertrudes L. Altmann de S. Campos, a pesquisadora foi
instigada a refletir sobre o português falado, assunto ainda carente de pesquisa, apesar
de já haver a publicação de oito (8) volumes de Gramática do Português Falado e uma
série de outros trabalhos em periódicos. À medida que as leituras sobre o assunto foram
avançando, percebeu-se que seria de muita valia um estudo sobre as estratégias de
construção desse tipo de texto, pois ainda são muitos os questionamentos.
As novas leituras proporcionaram interesse pela investigação das inserções
que, segundo Koch (2003a, p. 110) “são segmentos discursivos de extensão variável que
provocam uma espécie de suspensão temporária do tópico em curso, desempenhando
funções interativas relevantes” e iniciou-se uma reflexão que gerou as seguintes
questões de pesquisa: 1) se as inserções apresentam características discursivas próprias,
também apresentam características modo-temporais próprias?, 2) se as inserções têm
ligações com os tempos anteriores e posteriores da fala, deixam-se “contaminar” pelos
tempos verbais que as precedem ou as seguem? e, ainda: 3) se o texto falado é
considerado menos planejado de antemão que o texto escrito, em função de sua natureza
interativa, sendo “localmente planejado ou replanejado”, contribuiriam os tempos
12
verbais das inserções e de seus segmentos anteriores e posteriores para a seqüência
textual ou haveria uma ruptura desses tempos?
O estudo baseou-se nos pressupostos teóricos de Weinrich (1974), que
apresenta os tempos verbais como fatores de responsabilidade pela coesão textual. Para
tanto, apresenta uma classificação desses tempos como de mundo comentado e mundo
narrado. Também apoiou-se em Koch (2003a, 2003b) para efetuar um estudo sobre as
inserções que serviu de subsídio para a classificação das inserções encontradas nos
corpora analisados. Os referidos corpora foram extraídos do Banco de Dados do
Projeto NURC – Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta – de São Paulo
– elocuções formais e entrevistas (diálogos entre dois informantes e entre informante e
documentador), do Banco de Dados do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e do
Projeto Filologia Bandeirante, além de inquéritos do Português Popular do Brasil,
ambos de São Paulo. Os entrevistados são pessoas de diferentes faixas etárias, sexo,
profissão e escolaridade. Merece destaque, no entanto, a diferença de escolaridade entre
o primeiro grupo e os demais grupos, já que os primeiros são indivíduos com nível
superior, enquanto os outros são analfabetos ou têm, no máximo, oito anos de
escolaridade.
Optou-se, então, por realizar um estudo sobre o português falado com os
seguintes objetivos:
1 - pesquisar a inserção, estratégia característica do português falado;
2 - verificar as funções das inserções encontradas e quais as mais usadas nos
excertos dos corpora de falantes de diferentes níveis sociais, faixas etárias e localização
geográfica;
13
3 - analisar como ocorre o emprego dos tempos verbais nos diferentes tipos
de inserções;
4 - relacionar o uso dos tempos verbais nas inserções com o dos segmentos
anteriores e posteriores;
5 - identificar se existem tempos verbais característicos das inserções; e
6 - observar de que modo o emprego dos tempos verbais nas inserções pode
relacionar-se às suas características discursivas.
Trata-se de um estudo descritivo explicativo. O delineamento previu,
inicialmente, um caráter abrangente, visando a uma caracterização geral do fenômeno.
Em seguida, buscou-se aprofundar a compreensão do fenômeno mediante
procedimentos qualitativos que favoreçam a sua apreensão de forma processual e
multideterminada, decorrente de dados quantitativos.
Este trabalho está organizado em cinco seções. Na Seção I, efetuou-se uma
reflexão sobre tempo e aspecto em estudos gramaticais e lingüísticos desde 1881, o
emprego dos tempos verbais e a visão semântica desses tempos verbais de acordo com
Corôa (1985). Na Seção II, retomou-se a Lingüística Textual, dando ênfase à coerência
e à coesão, tendo como aporte teórico Weinrich (1974), Halliday e Hasan (1976),
Fávero (1995), Koch e Travaglia (1998), Marcuschi (2001) e, finalmente, Koch (2003a)
para tratar do tempo verbal e a função coesiva. Na Seção III foram abordadas a língua
falada e a língua escrita na visão de Koch (2003a, 2003b) e Marcuschi (2001), como
forma de esclarecer ao leitor que o texto falado não é desestruturado, mas construído
mediante estratégias caracterizadoras desse tipo de texto e o objeto do estudo, a inserção
14
uma dessas estratégias de construção do texto falado , segundo Jubran (2002) e
Koch (2003a, 2003b). Prosseguindo, na Seção IV, tratou-se da caracterização dos
corpora e da metodologia e na Seção V fez-se uma análise das inserções e dos
segmentos anteriores e posteriores a elas. Para encerrar, foram apontadas as
considerações finais obtidas mediante o estudo e sugestões para futuras pesquisas.
Analisaram-se excertos das entrevistas compostos por inserções e
segmentos anteriores e posteriores a elas, acrescidos das análises iniciais, ou seja, um
levantamento das inserções, suas funções e a classificação dos tempos verbais quanto à
atitude e à perspectiva comunicativa e, ainda, ao relevo, quando esses tempos pertencem
ao mundo narrado. Importante, ainda, esclarecer as siglas usadas para referência dos
excertos:
- NURC/SP: Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta;
- ALMS: Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul;
- BAND/SP: Projeto Filologia Bandeirante de São Paulo e
- SOCIOL/SP: Português Popular do Brasil de São Paulo.
1. REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS VERBAIS
1.1 As categorias Tempo e Aspecto
No Brasil, a partir de 1881, época em que se discutia sobre a brasilidade da nossa
linguagem, diversas gramáticas foram publicadas com o principal objetivo de atender
ao novo programa de português para os exames preparatórios para o ensino
secundário.
Dentre essas gramáticas, algumas se destacaram como a de Júlio Ribeiro
(1881), marco inicial do período gramatical, uma vez que rompe com os modelos de
organização portuguesa; a de João Ribeiro (1884); a de Eduardo Carlos Pereira (1907) e
a de Souza da Silveira (1923).
A partir daí, outros gramáticos e lingüistas destacaram-se até a atualidade.
Inúmeros trabalhos surgiram e, na medida do possível, tentar-se-á retratar a evolução
desses estudos sobre o verbo, enfatizando a questão dos tempos verbais e do aspecto em
Ribeiro (1881), Pereira (1907) e outros gramáticos, além de lingüistas em destaque até a
atualidade.
16
1.1.1 Definições
Várias definições sobre tempo são encontradas na literatura e, para iniciar o
trabalho sobre as inserções e o uso dos tempos verbais no português falado, julga-se
relevante mostrar alguns estudos existentes sobre a categoria do tempo, lembrando que
se torna impossível desvinculá-la da categoria aspecto, visto que ambas têm o tempo
físico como base referencial. Inicialmente, apontar-se-ão gramáticos para, a seguir,
elencar os lingüistas.
Entre os gramáticos, destacam-se:
Ribeiro (1881): “Tempo do verbo é a forma que ele assume para
determinar a época do seu enunciado.”
Não faz referência à categoria aspecto.
Pereira (1907): os tempos do verbo são definidos como “as épocas de
duração em que se realiza a ação ou o fato enunciado por ele”.
Não faz referência à categoria aspecto.
Ali (1964): Ausência de uma definição para tempo; aborda somente o
emprego dos tempos verbais.
Não faz menção ao aspecto.
Cunha (1970): “Tempo é a variação que indica o momento em que se dá
o fato expresso pelo verbo.”
Não há referência à categoria aspecto.
17
Rocha Lima (1972): “o tempo informa de maneira geral se o que
expressa o verbo ocorre no momento em que se fala, numa época anterior, ou
numa ocasião que ainda esteja por vir”.
Nenhuma referência sobre o aspecto.
Cegalla (1985): “o tempo situa o fato ou a ação verbal dentro de
determinado momento”.
Não há menção sobre aspecto.
Cunha & Cintra (1985) apresentam a mesma definição de tempo de
Cunha (1970); aspecto: “uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista
do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo”.
Faraco & Moura (1990): “tempo é a propriedade que tem o verbo de
localizar o fato no tempo, em relação ao momento em que se fala”.
Não faz menção ao aspecto.
Bechara (1999): Não há definições dele sobre tempo e a categoria
aspecto; apenas um estudo sobre tempo e aspecto, segundo Coseriu nas p. 213 a
221.
Coseriu apud Bechara (1999): o “tempo alude à posição da ação verbal
no percurso; o aspecto alude à maneira de considerar a ação verbal no tempo”.
Com os estudos lingüísticos, vários nomes destacaram-se. Entre eles,
vale a pena citar a visão sobre tempo e aspecto de:
18
Comrie (1976):
tempo situa o momento de ocorrência da situação a que nos
referimos em relação ao momento da fala como anterior,
simultâneo ou posterior a esse momento; aspectos são
diferentes modos de observar a constituição temporal interna
de uma situação
.
Lyons (1979): “tempo tem como característica essencial o
relacionamento entre o tempo da ação, do acontecimento ou do estado referido na
frase ao momento do enunciado (agora); aspecto diz respeito ao tempo,
especialmente ao contorno ou distribuição temporal de um acontecimento ou
estado de coisas e não à sua localização no tempo”.
Corôa (1985): “O tempo é uma relação entre três momentos: momento
do evento, momento da fala e momento da enunciação”; apresenta o “aspecto como
o que há de não dêitico na categoria de tempo, sendo uma propriedade apenas da
sentença, pois não se refere ao momento da enunciação”.
Mateus et alii (1989): “tempo é uma categoria que exprime, no modo de
enunciação experencial, a ordenação do intervalo de tempo que contém o estado de
coisas descrito por uma predicação relativa ao intervalo em que ocorre a
enunciação da mesma; aspecto, categoria que exprime modo de ser (interno) de um
estado de coisas descrito através de expressões de uma língua natural, (i) por
relação de um predicador pertencente a uma dada classe: (ii) por quantificação do
19
intervalo de tempo em que o estado de coisas descrito está localizado, e/ou (iii) por
referência à fronteira inicial ou final desse intervalo, ou a intervalos adjacentes.”
Câmara Júnior (1998): “Tempo é o nome que se dá, tradicionalmente
em gramática, aos grupos flexionais em que se divide a conjugação de um verbo,
cada qual compreendendo seis formas correspondentes às três pessoas gramaticais
do singular e do plural. A denominação resulta da circunstância de que esses
grupos de formas verbais situam, em princípio, o processo na sua ocorrência em
relação ao momento em que se fala. (...)”. “Aspecto – propriedade que tem uma
forma verbal de designar a duração do processo (momentâneo ou durativo) ou o
aspecto propriamente dito sob que ele é considerado pelo falante.”
Azeredo (2000): “O tempo como categoria da linguagem verbal é parte
da atividade discursiva que tem no momento da enunciação (ME) seu ponto de
referência principal; a categoria do aspecto refere-se à duração do processo verbal,
independentemente da época em que esse processo ocorre”.
Vilela & Koch (2001): “O tempo ou temporalidade marca a posição que
os fatos enunciados ocupam no tempo, em que se toma, como base, o ponto dêitico
da enunciação”. Os referidos autores “distinguem o ‘aspecto’ ligado ao significado
do lexema verbal – o ‘modo de ação’ ( = Aktionsart) – do ‘aspecto’ dependente de
formas gramaticais ( = Aspeckt). O primeiro ( = Aktionsart) é uma categoria
‘objetiva’: representa o modo como apreendemos a realidade extra-lingüística. O
verbo consubstancia lexicalmente o modo de apreensão da realidade. O segundo (
= Aspeckt) está ligado aos tempos verbais”.
20
1.2 Emprego dos tempos verbais
Reportando-se a algumas das gramáticas destacadas, constatou-se em
Ribeiro (1881) serem três as épocas do enunciado: presente, passado e futuro. No geral,
o referido autor explica que o presente indica a atualidade daquilo que o verbo enuncia;
o imperfeito representa a atualidade em relação à época passada do enunciado; o
perfeito mostra a reiteração preferida do enunciado do verbo; o aoristo
1
revela, em
absoluto, a preteritividade do enunciado do verbo; o mais que perfeito indica a
preteritividade do enunciado do verbo com referência de anterioridade a uma época
passada; o futuro representa simples futuridade do enunciado do verbo e o futuro
anterior evidencia a futuridade do enunciado do verbo com anterioridade a uma
circunstância qualquer.
Ribeiro (1881, p. 280) faz, ainda, um breve estudo sobre “Substituição dos
tempos dos verbos uns pelos outros”, onde se pôde constatar que, já em fins do século
XIX, ele mostra, inclusive por meio de exemplos, que um tempo pode ser empregado
por um outro. Em explicação inicial, mostra que os tempos dos verbos servem para
“determinar a atualidade ou os diferentes graus de anterioridade ou posterioridade do
enunciado da sentença”. A seguir, explicita que o tempo presente do indicativo é
empregado, com freqüência, em narrativas, em lugar do aoristo do indicativo, do futuro
do indicativo, do imperfeito do subjuntivo e do futuro do subjuntivo, conforme nossos
respectivos exemplos: 1 - Ao anoitecer de 20 de abril, os anfitriões abrem as portas da
casa, acendem as luzes e aguardam ansiosos os convidados para o jantar. (= abriram,
acenderam e aguardaram); 2 - Todos assistem ao filme amanhã. (= assistirão); 3 - Se o
1
Segundo Ribeiro, o “aoristo” enuncia indeterminantemente uma cousa passada; o perfeito declara que
essa cousa foi repetida. Ex. Estive em Roma... Tenho estado em Roma.
21
conheço, não lhe tinha dado atenção. (= se o conhecesse) e 4 - Se corres, tropeças e cais.
(= Se correres).
O estudo destaca que o futuro do indicativo pode ser empregado em lugar
do imperativo presente
2
como em Amarás (= ame) a todos seus irmãos!; o perfeito do
indicativo em lugar do aoristo quando se deseja confirmar uma ordem ou intimar:
tenho concluído; o aoristo do indicativo em vez de futuro, por arrojo de linguagem:
Vou dizer-lhe e já calou (= calará); o pretérito mais-que-perfeito do indicativo pelo
imperfeito do subjuntivo e do condicional
3
: Se tu houveras (= houvesses) estado aqui,
não brigara (= brigarias) com teu irmão. O autor mostra, também, que o futuro do
indicativo é empregado no lugar do presente: Quantos ficarão (ficam) hoje sem
comida! – e o futuro anterior do indicativo em vez do perfeito (indicativo): Quantos
não teriam (tiveram) já realizado o seu sonho?
É interessante salientar que Ribeiro (1981) acrescenta um parágrafo sobre a
“Correspondência dos verbos entre si”. A correlação entre os tempos verbais,
incomum nas gramáticas atuais, é mostrada da seguinte maneira: ao presente do
indicativo relacionam-se todos os tempos do modo indicativo conforme se pode
observar em:
Penso que falas bem. (presente)
que falavas bem. (pretérito imperfeito)
que tens falado bem. (pretérito perfeito composto)
que falaste bem. (pretérito perfeito)
que tenhas falado bem. (pretérito mais que perfeito composto)
2
O imperativo presente corresponde ao imperativo.
3
A Novíssima Gramática Brasileira preferiu a denominação “futuro do pretérito” em vez de
“condicional”.
22
que falarás bem. (futuro do presente)
que terás falado bem. (futuro do presente composto)
Quanto ao aspecto não há referência.
Pereira (1907) indica que “são três as épocas, indicadas por flexões
próprias: o presente, o passado e o futuro”. Afirma que o presente é único e indivisível
e indica o momento em que se fala; o passado é o momento anterior ao momento da
fala e subdivide-se em: pretérito perfeito quando o fato que se enuncia é acabado ou
passado; pretérito imperfeito (tempo de dupla relação) quando o fato verbal não se
enuncia completamente acabado, sendo passado em relação ao ato da palavra, e presente
em relação a uma outra época indicada; pretérito mais que perfeito (duplo passado),
quando é passado em relação ao ato da palavra e, também, em relação a uma época
indicada; o futuro é o tempo posterior ao ato da fala, sendo divisível em futuro
imperfeito ou absoluto, quando o fato verbal ainda não foi realizado e futuro perfeito
ou anterior, quando o fato é futuro em relação ao ato da palavra e passado em
referência a uma época posterior.
Vale observar que tanto Ribeiro (1881) como Pereira (1907) explicam os
tempos do modo indicativo de maneira semelhante. A diferença manifesta-se em relação
à denominação de alguns desses tempos verbais.
Ressalta-se que, na Gramática Expositiva, Pereira (1907) também esclarece
que o imperfeito do indicativo pode ser empregado para determinar um acontecimento
habitual ou continuado – Todos queriam a sua presença; Afirmavam que a
globalização seria impossível. – referindo-se a noções de aspecto, apesar de não usar tal
nomenclatura. Quando trata das Particularidades Sintáticas (sobre as categorias
gramaticais), o autor também faz referência aos tempos verbais, explicitando o emprego
23
de todos eles da mesma forma que Ribeiro (1881), sem nenhuma alteração. Como
exemplo disso pode-se citar o caso do presente, em que se confirma que pode
representar/significar “o ‘pretérito perfeito simples’ no estilo narrativo – João chega à
casa de Maria, trava uma luta com Pedro e vence. o ‘futuro imperfeito’, quando se
anuncia um acontecimento próximo – Logo chego a Dourados (MS). – e o ‘futuro
imperfeito do subjuntivo’, quando se quer dar mais energia à expressão” – Se os olhos
vêem com amor, o corvo é branco (A.V.)
4
–. Merece, também, atenção o caso do verbo
“ser” no imperfeito (sentido existencial): Era uma vez um menino....
Continuando esses estudos, constatou-se a seguinte referência aos tempos verbais em
Said Ali (1964, p. 68):
o ‘presente’ é empregado para a ação que se passa no momento
em que falamos, o ‘pretérito’, subdividido em ‘imperfeito’,
‘perfeito’ e ‘mais que perfeito, para os sucessos passados
anteriormente ao momento em que falamos e o ‘futuro’, para a
ação ainda não cumprida; distinguindo-se o ‘futuro do presente’,
que é em relação ao tempo presente, do futuro do pretérito, que é a
ação a cumprir em relação ao passado.
O autor aborda, ainda, o emprego dos tempos verbais, mostrando que cada um deles
pode ser empregado com significações diferenciadas.
Prosseguindo essa trajetória, registra-se que Said Ali (1964), apesar de não
fazer referência à categoria aspecto, mostra que o presente pode ser durativo (perdura
por espaço longo ou indefinido) e freqüentativo (exprime um costume ou uma ação
intermitente), além de ter valor de presente-futuro ou presente-histórico, ou exprimir
4
Exemplo retirado de Pereira (1907). Os demais exemplos são da pesquisadora.
24
um pedido, um conselho ou uma ordem, quando empregado em lugar do futuro ou do
modo imperativo.
Com relação ao pretérito, destaca o autor que o imperfeito denota ação
durativa e/ou ação freqüentativa, de costume, observando que o referido tempo não fixa
o momento em que inicia ou que termina a ação duradoura ou repetida. Exemplo: A
jovem sabia todos os exercícios. (ação durativa) –; Dizia a mesma coisa em todas as
aulas. (ação freqüentativa). Diferentemente, o pretérito perfeito denota, às vezes, a
ação ocorrida em certo momento ou durante um período determinado. Exemplo:
Durante a festa não falaste com José. Ao descer a escada, tropecei e caí. – Completa a
explicação, mostrando ser possível substituir o pretérito imperfeito pelas formas
perifrásticas, quando algum dos atos é duradouro ou repetido freqüentemente. Também
acontece para evitar equívocos. Exemplo: Lavou a roupa e ali começou a passá-la (e ali
a passava). Fomos ao parque onde estavam caminhando (= caminhavam).
Em relação ao futuro, como em Ribeiro (1881), Said Ali (1964) esclarece
que o referido tempo pode ser usado com o valor de imperativo e completa que esse
imperativo pode ser categórico ou sugestivo como em: O sétimo dia será para descanso
(categórico). Você entenderá a minha atitude (sugestivo) –. O autor sugere, também, o
futuro problemático em frases interrogativas. Isso acontece quando, por meio de
linguagem polida, não se exige uma resposta do interlocutor, diferente de quando se
empregam verbos no presente ou no pretérito: Que lugar será este? Que lugar é este? –
Finalmente, mostra que na linguagem familiar, o imperfeito ou o mais que perfeito tem
preferência ao futuro nas orações condicionais: Se relampejasse, eu entrava em sua
casa. Se mais mundo houvera, lá chegara. (Camões).
25
O que surpreende, após ter realizado essa retrospectiva gramatical por
intermédio dos referidos autores, é que, durante grande parte da trajetória da
pesquisadora no Ensino Fundamental e Médio, observou-se que a maioria dos
professores de Língua Portuguesa deixam passar desapercebido o emprego dos tempos,
atendo-se somente nas explicações das definições de presente, passado e futuro e nas
desinências referentes a cada um deles. Trata-se de um ensino meramente reprodutivo.
Aos alunos não se dá a oportunidade de aprender e entender o emprego dos tempos
verbais; esses são, simplesmente, levados à memorização.
Analisando Cunha (1970), quanto ao emprego dos tempos do indicativo,
observamos que em explicações sobre o presente, acrescenta o presente momentâneo,
cujo fato atual ocorre no momento em que se fala: O céu es negro; nuvens escuras
acima de nossa cidade e o fato futuro (próximo), que para evitar ambigüidade,
geralmente é acompanhado de um adjunto adverbial: Vou aos Estados Unidos; depois
sigo para o Canadá.
Referindo-se ao pretérito imperfeito, Cunha (1970) acrescenta que esse
tempo serve especialmente para descrições e narrações de acontecimentos passados. Ao
já dito pelos outros estudiosos acrescenta que esse tempo presta-se para: 1) destacar,
entre ações concomitantes, a que se estava processando, ao surgir a outra: Quando se
aproximava a jovem para me ajudar, deram-me uns socos.; 2) substituir o futuro do
pretérito, indicando um fato conseqüente de outro que não ocorreu: O patrão é porque
não tem força. Tivesse ele os meios e isto virava um fazendão. (Monteiro Lobato); 3)
representar o presente – forma polida para suavizar uma afirmação ou um pedido;
26
também denominado imperfeito de cortesia: Comenta: Joana, eu saía exclusivamente
para desviar sua atenção.
O referido autor registra que o “pretérito imperfeito exprime o fato
passado habitual; o pretérito perfeito, o não-habitual” – Quando o avistei, sorri-lhe.
Tal explicação não havia sido oferecida pelos autores pesquisados anteriormente, pois
se refere ao aspecto, que será destacado como um tópico na Nova Gramática do
Português Contemporâneo, de sua autoria e de Cintra, em 1985.
Quanto ao pretérito mais que perfeito, além de seu valor normal de indicar
uma ação que ocorreu antes de outra ação já passada, ele pode denotar: 1) um fato
vagamente localizado no passado: Até que enfim recebera o meu livro para ler. 2) um
fato passado em relação ao presente para suavizar um pedido ou uma afirmação: Tinha
vindo para abençoar-lhe. 3) na linguagem literária o futuro do pretérito e o pretérito
imperfeito do subjuntivo: Um pouco mais de sol – e fora (= teria sido) brasa./ Chegou
como se nada tivera ( = tivesse) acontecido. 4) na linguagem corrente frases
exclamativas como: Quem me dera! ( = Quem me desse!) / Prouvera a Deus ( =
Prouvesse a Deus).
Vale observar que Cunha (1970) é, dentre os autores já citados, o que, mais
detalhadamente, explica o emprego dos tempos verbais, apresentando noções modais,
apesar de não empregar o referido termo. Quanto ao futuro, ele acrescenta que o futuro
do presente ainda pode denotar: 1) incerteza sobre fatos atuais: “Meu Anjo!” – dizem de
mim./ Serei, talvez, porque enfim (A.C.O.); 2) fatos de realização provável: Se não
chegares depressa, encontrarás tua irmã morta! – Quanto ao futuro do pretérito, o autor
também destaca outras novas situações em que indica: 1) forma polida de presente,
27
geralmente indicadora de desejo: – Gostaríamos de ouvi-lo sobre o episódio; 2)
surpresa ou indignação (algumas frases exclamativas e interrogativas): Seria possível
que vencessem as calúnias sobre o pobre jovem; 3) ação posterior ao momento em que
se fala: Percebi que dali em diante haveria uma luta corporal; 4) fato que não se
realizou e nem se realizará: Caso eu tivesse condições, viajaria agora.
Dando continuidade ao trabalho constatou-se que em Rocha Lima (1972)
não há um estudo sobre o emprego dos tempos verbais, o que causou surpresa, visto que
estudiosos de modo geral sempre avaliaram a Gramática Normativa da Língua
Portuguesa (retocada e enriquecida) como uma das mais completas. Já em Bechara
(1999) e Cegalla (1985), constatou-se um longo e profundo estudo sobre tal assunto,
mas nada que não tivesse sido citado pelos autores já mencionados.
Em Cunha e Cintra (1985), verificou-se o estudo sobre o emprego dos
tempos verbais, já analisado em Cunha (1970), mas percebeu-se o acréscimo de um
tópico sobre “aspecto” ao qual far-se-á referência. Como já se mencionou o conceito
desses autores sobre aspecto no início do trabalho, vale apontar, agora, as oposições
aspectuais citadas por eles: 1) aspecto pontual/aspecto durativo; 2) aspecto
contínuo/aspecto descontínuo; 3) aspecto incoativo/aspecto conclusivo. Dizem, ainda,
serem de natureza aspectual as oposições entre: 1) forma simples/perífrase durativa; 2)
ser/estar.
Vale ressaltar também que na Moderna Gramática Portuguesa – edição
revista e ampliada de Bechara (1999) – registra-se que, além das explicações já
encontradas em edições anteriores sobre o emprego dos tempos verbais, há um estudo
complementar sobre tempo e aspecto, segundo Eugenio Coseriu (p. 213 a 221), já citado
28
anteriormente. Entretanto, não se detalhará esse estudo, neste momento, pois não se faz
relevante para o trabalho.
Em Vilela & Koch (2001), gramática da língua portuguesa com
pressupostos de teorias lingüísticas, deparou-se com um valioso estudo sobre tempo e
temporalidade, onde se destaca que os:
tempos verbais têm três significados – aliás significados complexos
– essenciais: a) significado temporal absoluto e relativo; b)
significado de modalidade e c) significado de aspectualidade.
Os autores esclarecem que na configuração dos significados do tempo absoluto
participam diversos tempos e fazem, a seguir, uma minuciosa explicação a respeito
de cada tempo do modo indicativo, abordagem já citada pelos outros estudiosos
consultados, com o acréscimo de esclarecimentos relacionados ao aspecto. Depois,
fazem referências ao tempo relativo, tratando dos meios expressos pelo tempo
verbal: simultaneidade, anterioridade e posterioridade, tópicos esses que serão
comentados mais adiante, quando será abordada a semântica dos tempos verbais.
1.3 A semântica dos tempos verbais
Estudos lingüísticos apontam um conceito tripartido de tempo, ou seja,
tempo cronológico, tempo psicológico e tempo gramatical. Entre as diversas
definições encontradas, Corôa (1985) sugere serem as de Santos (1974) as que melhor
ordenam explicações e expressões geradoras de controvérsias. O autor denomina tempo
cronológico aquele que se caracteriza por um ponto em permanente deslocamento para
o futuro, tendo duração constante, uniforme e irreversível. Quanto ao tempo
29
psicológico, afirma ser o que não apresenta duração constante e uniforme; existe de
acordo com o interior do indivíduo e pode parar, acelerar-se e retroceder. Finalmente,
esclarece ser o tempo gramatical o que é caracterizado em português por morfemas
típicos acrescentados a um radical.
Ao explicar o que é tempo, Corôa (1985, p. 27) afirma que três tipos de
teorias, baseadas em três visões diferentes do mundo, dão resposta a tal pergunta: a)
teorias do tempo absoluto, apoiadas em Newton e Galileu, que afirmam que o tempo
existe fora dos eventos. Nela há dois tipos de entidades temporais irredutíveis que são
os “momentos” e os “eventos”, mas a existência dos “momentos” não depende da
existência de “eventos”, b) as teorias de tempo relacional que têm os “eventos” como
único tipo de objeto irredutível e apóiam-se na clássica definição de Aristóteles “tempo
é número de movimento com respeito a ‘antes’ e ‘depois’” e c) as teorias de tempo
relativo que solucionam as controvérsias geradas pelas anteriores e explicam que existe
uma relatividade na percepção dos “eventos”, sendo essas relações diferentes das
relações entre os “eventos”. Mostram também que existem “eventos” com possibilidade
de considerar a sucessão temporal na direção oposta, deixando, portanto, o tempo de ser
um processo irreversível.
Quanto ao aspecto, a autora esclarece-o como o que há de não dêitico na
categoria de tempo, sendo uma propriedade apenas da sentença, pois não se refere ao
momento da enunciação.
O tempo deve, então, ser conceituado em relação a um observador,
extinguindo qualquer tensão que possa existir entre tempo psicológico e tempo
cronológico. Na análise lingüística, o observador é representado por um sistema fixo de
30
referência, não se definindo tempo como relação entre apenas dois momentos, o da fala
e o do evento, mas sim entre três, somando-se o da referência.
Corôa (1985) conclui, com base em qualquer das teorias, que os verbos
dinâmicos ou não, estarão sempre relacionados à noção temporal e são eles os
elementos lingüísticos que mais rapidamente focalizam a ação, o estado, o evento ou o
processo em seu relacionamento com a enunciação e o falante/ouvinte.
Segundo a autora, Reichenbach (1980), ao tratar dos “tempora verbais”
(tempos verbais), sugere relações de simultaneidade e anterioridade / posterioridade.
Apoiada no referido autor, Corôa (1985) apresenta um quadro definitório dos tempos
verbais, utilizando três momentos: o momento do evento ou ME (momento da
realização do predicado); o momento da fala ou MF (momento da enunciação) e o
momento de referência ou MR (a perspectiva de tempo que o falante transmite ao
ouvinte).
Quadro 1 - Representações para os tempos do modo indicativo segundo Corôa
(1985, p. 46-59)
Presente ME, MF, MR
Pretérito Perfeito ME – MR, MF
Pretérito Imperfeito ME, MR – MF
Pretérito mais que Perfeito ME – MR – MF
Futuro do Presente MF, MR – ME
Futuro do Pretérito MR – MF – ME
As vírgulas representam simultaneidade e, os traços, anterioridade.
31
Ao dar a cada tempo uma representação diferente, Corôa (1985) evita a
ambigüidade na definição dos tempos verbais, até mesmo quando há interferência
na interpretação das sentenças, como ocorre com o aspecto.
Segundo a pesquisadora, o presente é o tempus em que o momento do
evento (ME), o momento da fala (MF) e o momento da referência (MR) são
simultâneos, mas não necessariamente em seus limites temporais: esclarece também que
o importante é que haja, ao menos, um “ponto” em que cada um desses momentos seja
simultâneo. Estudando e analisando os tempos do indicativo, Corôa mostra-nos que:
o presente pode ser usado com valor de futuro, de presente dramático,
para expressar verdades gerais e atemporais, para manifestar o que ocorre habitualmente
e o que ocorre no momento em que se fala;
ao utilizar o pretérito imperfeito, o evento é sempre visto de um
referencial passado; não interessam os seus limites e nem o resultado, o que leva à
seguinte conclusão: o momento do evento (ME) é simultâneo ao momento de referência
(MR) e os dois são anteriores ao momento da fala (MF). Segundo Longo (1990),
acrescentando o traço [-perfectivo], faz-se possível explicar a maioria dos usos desse
tempo para narrar ou descrever situações passadas, mas observadas como contínuas,
duradouras, ou de localização vaga no tempo; indicar ações passadas habituais e mostrar
entre ações concomitantes no passado a que acontece enquanto a outra se realizava, não
tendo seus limites definidos. A autora menciona, ainda, os usos modais do imperfeito
que são hipotéticos e de polidez e, finalmente, que são comuns na linguagem das
crianças. Tais situações serão exemplificadas com excertos dos corpora quando da
seção dedicada à análise no presente trabalho;
32
o pretérito perfeito constitui um passado visto a partir do momento
atual. Tal definição explica o emprego deste tempo nas gramáticas e nos manuais
quando é usado para descrição do passado, quando é visto por um observador situado no
presente;
o pretérito mais que perfeito é expresso como “anterioridade do evento
em relação a um ponto de referência também anterior ao momento da fala”, ou seja,
[ME – MR – MF]. É um tempo bastante presente em contos e romances quando o
narrador remete o leitor a uma época anterior àquela em que se registra a ação e em
orações principais ligadas a orações adverbiais temporais;
em relação ao futuro, vale destacar, primeiramente, o futuro do presente
usado quando se tem um evento, visto como futuro, a partir de uma perspectiva atual:
[MF, MR – ME]. Seu emprego ocorre para indicar prováveis fatos que são posteriores
ao momento da fala e para mostrar uma situação posterior a outra no passado. O
futuro do pretérito não se manifesta vinculado, ligado ao momento da fala (MF), sendo
a definição: [MR – MF – ME] para todos os empregos do futuro do pretérito. É um
tempo prospectivo na narrativa.
Revisados os estudos sobre tempo e aspecto, faz-se-á, a seguir, uma reflexão sobre a
lingüística textual, com destaque para a coesão dos tempos verbais, estudo relevante
para a presente pesquisa.
2. REFLETINDO SOBRE A COESÃO DOS TEMPOS VERBAIS
2.1 Retomando a Lingüística Textual
Sabe-se que até o início da década de 60, os estudos lingüísticos fixavam-se
em torno das gramáticas de frase, que apresentam falhas por não darem conta da
explicação de alguns fenômenos como referências, definitivizações, ordenação das
palavras, concordância de tempos verbais, relações entre sentenças sem conjunções, que
só podem ser justificados por meio de textos ou de contextos referenciais.
A partir dessa década, os estudos sobre a lingüística textual se
multiplicaram, destacando-se, a partir de 1970, o enfoque da análise transfrástica que,
apesar de já ter a preocupação em explicar os fenômenos sintático-semânticos, ainda
não diferencia quais fenômenos estão relacionados à coesão e quais à coerência. Surgem
também as denominadas gramáticas textuais, já que as gramáticas de frase não
conseguem explicar diversos fenômenos lingüísticos. Finalmente, na década de 80 é que
tomam grande impulso as “teorias de texto”, ou a lingüística de texto que tem como
objeto não a palavra ou frase, mas o texto que, de acordo com autores como Halliday &
Hasan (1976), Beaugrande & Dressler (1981), “é a unidade básica de manifestação da
linguagem”.
O texto não se constitui pela somatória de diversas frases, como afirmam
Fávero (1995, p. 07):
34
Consiste em qualquer passagem falada ou escrita que forma um
todo significativo independente de sua extensão. Trata-se pois, de
um contínuo comunicativo contextual caracterizado pelos fatores
de textualidade: contextualização, coesão, coerência,
intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade
e intertextualidade.
e Koch & Travaglia (1998, p. 10)
é uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou
audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante,
escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da
sua extensão.
Koch (2003b, p.26) afirma que, desde o início dos estudos sobre Lingüística Textual
até a atualidade, o texto foi concebido de diversas maneiras e, hoje, precisa ser
compreendido não como produto, mas como processo de “planejamento,
verbalização e construção”. A partir dessa visão assim define texto:
[...] resultado parcial de nossa atividade comunicativa, que
compreende processos, operações e estratégias que têm lugar na
mente humana, e que são postos em ação em situações concretas de
interação social..
Em obra posterior, Koch (2004, p.32) esclarece que na concepção
interacional da língua em que se percebe os sujeitos como atores sociais, o texto deve
ser visto como um “espaço” no qual os sujeitos constroem-se e são construídos
dialogicamente.
2.2 A coerência e a coesão como fatores de textualidade
35
Retomando os fatores de textualidade, vale lembrar que é muito comum
ouvir dizer que um texto é incoerente porque as idéias não estão bem articuladas e não
resultam num sentido, o que nos causa a impressão de que a coerência de um texto faz-
se simplesmente pela combinação entre os elementos lingüísticos do texto. Isso não é
verdadeiro, uma vez que ela também se faz com base em conhecimentos prévios que o
leitor tem sobre o mundo, do contexto em que se insere, assim como do tipo de texto
que se tem.
Coerência é o significado ou o sentido global que se dá a um texto e é
construída não só pelo produtor, mas também pelo interlocutor, que necessita possuir os
conhecimentos prévios para efetivar a interpretação. De acordo com Koch & Travaglia
(1995, p. 21), deve ser entendida como “um princípio de interpretabilidade, ligada à
inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor
tem para calcular o sentido deste texto”. Tal possibilidade está relacionada a vários
fatores como o conhecimento que o usuário possui sobre o assunto, o conhecimento dos
recursos lingüísticos empregados e o grau de integração entre o produtor e o receptor.
É importante ressaltar, também, que um mesmo texto poderá ter variados
sentidos se a interlocução efetivar-se com diferentes receptores, o que fortalece a
concepção de que a coerência é uma questão de interação.
Fávero (1995, p.60) mostra que Beaugrande & Dressler (1981) e Marcuschi
(1983) adotaram a “semântica procedimental” de Winograd (1976) e Müller & Johnson-
Laird (1976) como a proposta mais adequada para o estudo da coerência; tal proposta
aponta a razão e a experiência como maneira de se adquirir conhecimento, daí a
classificação em conhecimento declarativo, retido na memória semântica e
36
conhecimento procedimental, retido na memória episódica por meio de modelos
globais. Quando se dá a interação verbal, a memória ativa (onde se organizam os dois
conhecimentos) é acionada, a partir dos elementos encontrados no texto. São os
conhecimentos determinantes do sentido do texto, ou seja, da coerência, que ficam
arquivados na memória em estruturas cognitivas, destacando-se os conceitos, os
modelos cognitivos globais – “frames”, esquemas, planos, “scripts” e cenários – e as
superestruturas.
Embora haja autores que não distingam coesão e coerência, ou destaquem
apenas um deles ou, ainda, refiram-se apenas aos seus determinantes, sem mencioná-
los, achou-se por bem, mais uma vez, enfatizar os estudos feitos por Fávero (1995) e
Koch & Travaglia (1998) que explicam existirem textos coerentes e sem coesão
5
e
outros coesivos, mas sem coerência. São, portanto, fatores independentes, embora
relacionados um ao outro.
A coesão de um texto determina-se pelos elementos responsáveis pela
articulação entre as passagens do texto. Segundo Halliday & Hasan (1976, p. 04):
a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no
discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no
sentido de que não se pode ser efetivamente decodificado a não ser
por recurso ao outro.
Diversas são as propostas de classificação dos elementos de coesão, sendo
que Halliday & Hasan (1976) apontam cinco mecanismos de coesão, que são: a)
5
São situações especiais em que a coerência é garantida não pelos recursos coesivos, mas sim pela
textualidade mais abrangente.
37
referência (pessoal, demonstrativa, comparativa); b) substituição (nominal, verbal,
frasal); c) elipse (nominal, verbal, frasal); d) conjunção (aditiva, adversativa, causal,
temporal) e e) coesão lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, uso de nomes
genéricos, colocação).
Beaugrande & Dressler (1981) explicam a coesão como a maneira como os
componentes — palavras e frases — da superfície do texto estão ligados entre si, numa
linearidade, por meio de operadores gramaticais. Para Marcuschi (2001), há textos em
que, apesar de não existirem elementos coesivos, a continuidade faz-se presente pelo
sentido; esclarece, também, que existem textos que apresentam uma seqüência de
elementos coesivos de acontecimentos isolados, que permanecem dessa maneira, não
tendo como formar uma textura.
Fávero (1995, p. 13) analisa e questiona as propostas de classificação de
vários autores, propondo a seguinte reclassificação dos tipos de coesão: a) referencial;
b) recorrencial e c) seqüencial “stricto sensu”. Esclarece, também, que a coesão
referencial obtém-se por substituição e por reiteração; a coesão recorrencial dá-se por
recorrência de termos; por paralelismo, que se faz por recorrência de estruturas; por
paráfrase, que é a recorrência semântica e por recursos fonológicos segmentais e supra-
segmentais. A coesão seqüencial stricto sensu pode ocorrer por seqüenciação temporal
e por conexão.
Koch (1994, p.27), observando a função dos mecanismos de coesão no
texto, apresenta somente duas grandes classificações de coesão, ou seja, a referencial
(referenciação e remissão) e a seqüencial (seqüenciação).
38
A autora esclarece que a coesão referencial acontece quando um
componente da superfície do texto realiza remissão a outro elemento do texto,
denominando ao primeiro de forma referencial ou remissiva; ao segundo, de elemento
de referência ou referente textual. A coesão seqüencial ou seqüenciação faz-se por
intermédio de interrelações entre segmentos do texto: enunciados, partes de enunciados,
parágrafos e seqüências textuais, de relações semânticas e/ou pragmáticas, responsáveis
pela progressão textual. Apoiada em Castilho (1988, p. 49) que apresenta a rematização
frástica – de phrázō, “informar, emitir sinais verbais, fazer compreender” – e a
rematização parafrástica – de paraphrázo, “parafrasear, alterar o sentido, comentar” –
é que faz a classificação da coesão seqüencial em seqüenciação frástica (não tem
procedimentos de recorrência estrita) e seqüenciação parafrástica (tem procedimento
de recorrência).
Verifica-se, assim, que os conceitos de coesão e coerência sofrem mudanças
expressivas à medida que os estudos da Lingüística Textual avançam. Já se sabe que a
coesão não é fator preponderante e nem suficiente para a existência da coerência e,
também, que a distinção entre um fator e outro não pode ser feita de modo radical, pois
como explica Koch (2004, p. 46):
os dois grandes movimentos responsáveis pela estruturação do
texto — o de restropecção e o de prospecção —, realizados em
grande parte por meio de recursos coesivos, são determinantes para
a produção de sentidos e, portanto, para construção da coerência.
Para complementar tais observações, faz-se importante esclarecer que hoje,
numa visão “sociocognitiva e interacionista”, considera-se que a coerência é construída
a partir da interação entre os interlocutores.
39
2.3 O tempo verbal e a função coesiva
Dentre os recursos de seqüenciação parafrástica, destacam-se os tempos
verbais estudados por Weinrich (1974), em sua obra Estructura y función de los tiempos
en el lenguaje. O autor declara que nas línguas estudadas (o francês, o espanhol e o
alemão) há, ligadas à situação comunicativa, três dimensões: a) atitude comunicativa
do falante – distinção entre o mundo comentado e o mundo narrado; b) perspectiva
comunicativa – tempos de grau zero (sem perspectiva) e tempos com perspectiva
(prospecção e retrospecção) e c) relevo – 1º e 2º planos, detectados apenas no mundo
narrado.
O autor esclarece que os tempos do mundo comentado indicam
comprometimento, pois conduzem o ouvinte a uma atitude receptiva, tensa, atenta e que
pertencem ao mundo comentado todas as situações comunicativas que não sejam
relatos, como a lírica, o drama, o ensaio, o diálogo, o comentário etc, sendo seus tempos
característicos o presente do indicativo, o pretérito perfeito (composto) e o futuro do
presente. Quanto ao mundo narrado, explica ser um convite ao ouvinte para relaxar,
sem sua manifestação, sem sua voz. Todos os tipos de relato, seja literário ou não, são
do mundo narrado, pois trata-se de relato de fatos (eventos) já ocorridos. São tempos
desse mundo o pretérito perfeito simples, o pretérito imperfeito, o pretérito mais que
perfeito e o futuro do pretérito do indicativo.
Weinrich (1974) explica, também, que analisando a perspectiva
comunicativa, o presente é o tempo-zero do mundo comentado, o pretérito perfeito
(simples) é o retrospectivo e o futuro do presente, o prospectivo. No mundo narrado
40
aponta serem dois tempos-zero, ou seja, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito,
enquanto é retrospectivo o pretérito–mais–que–perfeito e, prospectivo, o futuro do
pretérito com relação aos tempos zero, conforme se observa nas figuras 1 e 2:
Tempo-zero
Presente
Pret. Perfeito simples e
composto
Retrospecção
Futuro da Presente
Prospecção
Mundo Comentado
Figura 1 – Mundo Comentado
Tempos-zero
Pret. Perf. Simples
Pret. Imperfeito
Pret. Mais-que-Perfeito
Retrospecção
Futuro do Pretérito
Prospecção
Mundo Narrado
Figura 2 – Mundo Narrado
O relevo, comenta o autor, só é indicado por meio do tempo verbal no
mundo narrado, manifestando o 1º plano pelo perfeito que denota a ação propriamente
dita e o 2º plano (pano de fundo ou background) pelo imperfeito.
Pret. Perf. Simples =
Pret. Imperfeito =
(1º Plano)
(2º Plano / Pano de fundo)
41
Pret. mais-que-perfeito
Retrospecção
Futuro do pretérito
Prospecção
Mundo narrado
Figura 3 – Relevo do Mundo Narrado
Merece ainda destaque o conceito de Weinrich (1974) sobre as transições temporais,
isto é, as passagens de um tempo para outro na seqüência linear do texto. São
classificadas em homogêneas, quando há repetição do mesmo tempo, e heterogêneas,
que se subdividem em: de primeiro grau, quando muda o grupo temporal ou a
perspectiva; de segundo grau, quando mudam o grupo temporal e a perspectiva,
conforme exemplos a seguir:
1. Transição temporal homogênea:
MC + MC + MC
Presente + Presente + Presente
2. Transição temporal heterogênea:
Primeiro grau
a) mudança de grupo temporal:
MC + MN + MC
Presente + Pret. Perfeito + Presente
b) mudança de perspectiva:
Presente/MC + Pret. Perfeito/MC + Presente/MC
Sem perspectiva + Retrospecção + Sem perspectiva
Segundo grau
42
c) mudança de grupo temporal e de perspectiva:
Pret. Imperfeito/MN + Pret. Perfeito/MC + Pret. Imperfeito/ MN
Sem perspectiva + Retrospecção + Sem perspectiva
No mundo narrado, ainda se pode verificar transições temporais em relação
ao relevo, denominando-se homogêneas quando há repetição do mesmo plano e
heterogêneas quando há mudança de um plano para outro.
1. Transição temporal homogênea
a) permanência do mesmo plano:
Pret. Perfeito/MN + Pret. Perfeito/MN + Pret. Perfeito/ MN
1º plano + 1º plano + 1º plano
b) mudança de um plano para outro:
Pret. Perfeito/MN + Pret. Imperfeito/MN + Pret. Perfeito/ MN
1º plano + 2º plano + 1º plano
O referido autor cita, ainda, o que se denomina de metáfora temporal, que se
efetua quando um tempo de um mundo é usado em outro mundo. Quando se emprega
um tempo do mundo narrado em um mundo comentado, indica-se um compromisso
menor, distanciamento, ou irrealidade, cortesia, etc; já, no caso de um tempo do mundo
43
comentado em um mundo narrado, denota maior atenção, ou comprometimento com
aquilo que se diz.
Não é possível, no entanto, deixar de esclarecer que Weinrich (1974), como afirma
Koch (2003a, p. 56), ao fazer esse estudo da classificação dos tempos verbais no
português, teve como ponto de partida o francês, o que causa algumas dúvidas em
relação ao português. Exemplo disso é o caso do pretérito perfeito simples que em
nossa língua pode ser empregado tanto no mundo narrado quanto no mundo
comentado, sendo que a diferença em cada emprego é o valor, pois no mundo
narrado constitui-se tempo zero, sem perspectiva e no mundo comentado valor
retrospectivo em relação ao tempo zero:
Excerto 23a (ALMS)
6
Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim aí
na cozinha... tinha
dois filho... dois filho [fiquei
dois ano em Corumbá sem poder ver meu
filho...]
7
aí depois ela brigou com milha filha aí
por um caso bem.... bem diferente que Deus foi
pai... _____
(Inquérito t – ALMS)
23a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero MN
+ Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
Excerto 20b
(?): como que é essa bola... de fogo... a
ola de
fogo passa e como...
Lídia: é, tem
uma bola de fogo aí onde que vai essa
bola de fogo diz que aparece
pra lá, lá pra o lado do
20b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Pret. Perfeito + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Retrospectiva
6
A numeração dos excertos refere-se a ordem das análises feitas em cada corpus (Anexos I, II e III).
7
O grifo nos excertos destaca a inserção, objeto de estudo da presente pesquisa.
44
campo, [a senhora viu o campinho pra lá...] aí diz
que tem
...lá tem uma serpente assim e...essa
serpente não deixa
passar porque diz que tem
ouro,...
(Inquérito p – ALMS)
MC + Sem perspectiva
Koch (1994) encerra os comentários sobre coesão, afirmando:
Assim, a recorrência de tempo verbal tem função coesiva,
indicando ao leitor/ouvinte que se trata de uma seqüência de
comentário ou de relato de perspectiva retrospectiva, prospectiva
ou zero, ou ainda, de primeiro ou segundo plano, no relato.
Os elementos de coesão, quando usados com propriedade, garantem, então, a
articulação entre as partes do texto; caso contrário, provocam a fragmentação desse
texto. Enquanto a coerência diz respeito às correlações existentes entre as diversas
partes do texto, atribuindo-lhe um significado global, percebe-se que a coesão
responsabiliza-se pelas ligações, pelas costuras, pelas relações que se estabelecem
entre as passagens do texto em sua superfície.
3. LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA: OPOSIÇÕES?
As investigações realizadas por inúmeros pesquisadores mostram fazer parte da
história de todos os povos uma tradição oral, contrapondo-se à tradição escrita que se
evidencia como realidade de poucos. Daí afirmar-se que a oralidade sobrepõe-se
cronologicamente à escrita, apesar desta impor-se com maior força numa sociedade,
manifestando um valor social que supera o da oralidade.
Sem dúvida alguma, a escrita é mais conservadora que a fala, que está
constantemente inovando. Essas inovações, quando incorporadas à escrita, ocorrem de
maneira lenta, levando a imaginar que existe uma língua para a fala e outra para a
escrita.
As mais significativas diferenças entre essas modalidades são decorrentes
das especificidades de cada uma delas. Sempre se considerou que a língua escrita
representa o veículo de divulgação da tradição cultural passada, enquanto a falada, por
ser momentânea, não apresenta esse compromisso, porém não é possível negar a
tradição oral de uma cultura.
Ao estudar as duas modalidades, percebe-se que os lingüistas sempre
procuraram mostrar as diferenças e, segundo Marcuschi (2001) e outros autores, dois
grupos constituíram-se: o primeiro composto por Bernstein (1971), Labov (1972),
Halliday (1985 – primeira fase) e Ochs (1979), que discutem as divergências entre as
duas modalidades, numa visão bastante restrita; e o segundo, constituído por Chafe
46
(1982, 1984, 1985), Biber (1986, 1995), Blanche – Benveniste (1990), Halliday e Hasan
(1989) e Marcushi (2001), que explicam não serem de oposição as relações entre fala e
escrita; aliás, Biber e Marcushi esclarecem que essas relações manifestam-se em um
“continuum” tipológico das práticas sociais.
Tais estudos têm evoluído, mas ainda são limitados e independentes. No
entanto, é possível fazer considerações como a de que a fala e a escrita pertencem a um
mesmo sistema lingüístico, mas diferenciam-se pelo processo e pelas condições ou
maneira como os textos escritos e os textos falados são produzidos. O tempo de
produção também se contrapõe: o processo da escrita efetua-se de forma lenta e há
possibilidade de revisão e correção; já a língua falada é rápida e concretiza-se em menor
espaço de tempo.
A fala e a escrita não podem ser consideradas modalidades opostas como se
pensou em época anterior. Não é possível, também, afirmar que a escrita é “transcrição”
da fala, porque a oralidade, mesmo sendo característica fundamental da fala, pode
manifestar-se na escrita, enquanto a escrita pode manifestar-se na fala. Como exemplo
disso pode-se citar a Rádio e a TV, que se manifestam por meio da oralidade, mas seus
discursos são, muitas vezes, escritos para serem lidos.
A escrita é um processo solitário em que o escritor planeja e elabora; não
existe interação face a face, apesar do uso da língua ser sempre dialógico; já a fala
destaca-se pela presença dos interlocutores, responsáveis pela instalação da
dialogicidade. Há, então, na escrita, uma tendência para o planejamento e o não
envolvimento, enquanto, na fala, há tendência para o planejamento local e o
envolvimento. O texto falado estrutura-se de acordo com as circunstâncias sócio-
47
cognitivas que norteiam sua produção e é por essa visão que deve ser observado e
analisado.
A fala não é, na verdade, planejada com antecedência; daí serem a
formulação e a reformulação características da interação comunicativa; o texto falado é
o seu próprio rascunho. Trata-se da interação face a face, em que os interlocutores
partilham do mesmo contexto, sendo uma atividade que se constrói passo a passo ou,
como afirma Koch (2003b, p. 79), “em sua própria gênese”.
Vale destacar, ainda, que o discurso falado diferencia-se do escrito por
apresentar constantes descontinuidades, todas justificáveis por elementos de ordem
cognitivo/interativa, ou seja, pragmática e, também, por ter uma sintaxe própria que, no
entanto, apóia-se na sintaxe geral da língua.
Quando se afirmava que a fala representava o “caos”, o “erro”, pois o
falante não se preocupava em organizar o seu texto, manifestando-se aos “jatos”, aos
“borbotões”, havia um equívoco, pois a informalidade pode existir tanto na modalidade
da fala quanto na modalidade escrita, sendo essa apenas uma das possibilidades de
manifestação. Biber apud Koch (1998, p.18) aponta que as divergências destacam-se
num “continuum” tipológico, que passam desde o nível mais informal ao mais formal,
ou seja, passam por graus intermediários.
Outras características indicadas, numa visão já ultrapassada, são de que a
fala tem predominância de frases curtas, simples ou coordenadas e faz pouco uso das
passivas; a escrita tem frases complexas, com subordinação abundante e emprego
freqüente das passivas.
48
A fala, assim como a escrita, obedece a princípios, apesar de empregar enunciados
incompletos, ou fazer uso de “hesitações”, “repetições” e “marcadores não-
lexicalizados”. Ao falar, o indivíduo pode se utilizar de inúmeros recursos
expressivos como gestos, sons não identificados, expressão facial, riso, que são
fundamentais para que a comunicação se concretize. Ao escrever, ele serve-se da cor,
tamanho, tipos de letras e dos símbolos, além de elementos “logográficos”,
“icônicos” e “pictóricos”.
Finalmente, faz-se necessário lembrar que a fala aproxima-se, muitas vezes,
da escrita para apropriar-se da relação de “poder” que lhe é facultada ao usar a norma
padrão, convencionalizada como “correta”.
Analisando as situações referendadas, constata-se, então, como afirma
Marcuschi (2001, p. 45) que “primeiro, fala e escrita são atividades comunicativas e
práticas sociais situadas; segundo, em ambos os casos temos um uso real da língua” e
que as características apontadas como diferenças de uma modalidade e de outra são, na
realidade, propriedades da língua.
As investigações sobre o texto falado, que muito cresceram nas últimas
décadas, ainda podem ser ampliadas. Constata-se também ser uma questão complexa e
diversificada, mas o autor afirma serem maiores as analogias do que as diversidades
tanto no campo lingüístico como no da sociocomunicação.
Muito há que se investigar, ainda, sobre as diferenças entre a língua falada e a
língua escrita. No entanto, já são suficientes as informações constatadas para negar
a afirmação de que o texto falado é inferior, rudimentar e construído sem apoio de
uma gramática. O que se considerava oposição, hoje, é visto como um “continuum”
49
de uma a outra modalidade. Os questionamentos existentes ainda são muitos e
constituem um campo interessante e promissor para pesquisas.
Sabe-se, também, que entre as décadas de 60 e 70 do século XX, iniciaram-
se os estudos sobre a análise da conversação cujo objetivo principal era descrever as
estruturas e a organização das conversações. Baseados nas alterações de tais princípios
básicos, constata-se que, hoje, outras características destacam-se: “os conhecimentos
lingüísticos, paralingüísticos e socioculturais”, fundamentais para que ocorra a
interação, mudando o foco da organização para a interpretação, como afirma Marcuschi
(2001, p. 6).
Segundo Levinson apud Castilho (1988, p. 03), a “conversação é entendida
como um intercurso verbal em que duas ou mais pessoas se alternam, discorrendo sobre
questões propiciadas pela vida diária” e realiza-se por meio de turnos de fala. Entenda-
se por turno(s) todas as “intervenções” dos interlocutores – falante e ouvinte – sejam
elas referenciais ou assinalativas e de qualquer extensão.
Faz-se importante lembrar que as funções de falante e ouvinte alternam-se durante o
processo interacional e que duas são as modalidades básicas da conversação: simetria
e assimetria. A primeira delas efetua-se quando ambos os “interactantes” colaboram
para o desenvolvimento do tópico conversacional, havendo o interesse comum em
atingir o objetivo da fala; a segunda modalidade ocorre quando um dos interlocutores
responsabiliza-se pelo desenvolvimento do tópico enquanto o outro participante da
interação realiza intervenções que apenas “assinalam” ou “acompanham” o que seu
interlocutor diz, conforme se observa a seguir.
50
Exemplos de simetria
Inf.: e a parte acidentada é uma parte vamos
dizer de morraria... e justamente servia pro
gado... enquanto que a parte plana servia
pra:: pra culturas em geral
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas
[eu estou afastado do::... do habitat...
((riu))]
8
mas:: cultivava milho... cana-de-
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não
eram constantes culturas anuais... que se
renovavam... pro exemplo algodão... e::...
depois plantava-se também às vezes
eucaliptos... aí aí mais tempo já não é cultura
anual né?... ma ta/mas também corta e
renova transforma em pasto...
Doc.: e de manutenção com o pessoal da
fazenda não tem nada?
Inf.: bom e havia...[aliás quando::... quando
eu ia ainda bem pequeno... aí tinha café...
bastante café... então a parte dos
empregados da fazenda... quer dizer o
número de empregados... era muito grande...
porque a cultura do café exigia muitos
braços... até no decorrer do tempo a fazenda
foi... diminuindo essa parte do café... e em
conseqüência também diminuiu o número
de pessoas... que trabalhava na fazenda]
Doc.: essas pessoas que trabalham... em
fazenda têm um nome especial?
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
Excerto 8a (NURC/SP)
Excerto 8b (NURC/SP)
Observa-se, nos excertos 8a/8b (NURC/SP), que tanto informante
quanto documentador contribuem para o desenvolvimento do tópico sobre o
cultivo na fazenda.
Exemplos de assimetria
Doc.: não
Inf.: mas eu acho que o teatro hoje em dia está
indo pra um caminho eh tão TANto palavrão
tanta... ((risos)).. [ é um negócio né? fala a
Excerto 12a (NURC/SP)
8
Os trechos negritados, constituem-se inserções.
51
verdade ] ((risos)) eu tenho assistido umas
Peças eu assisti u::uma com a:: aquela artista
magrinha de televisão aquela moreninha que é
bailarina também... eh
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 088)
Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas os
cenários... depois vários artistas de televisão
estavam trabalhando nessa peça...
Doc.: uhn uhn
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora eu
tenho u/ a as minhas amigas vão vão sempre
a teatro quase... quase sempre elas vão quase
todo domingo eu] :: sou um pouco preguiçosa
não vou prefiro ficar assi/ a a aqui assistindo
televisão ou dormindo ou lendo o jornal... mas
elas:: e comentam comigo a I. diz que tem
assistido várias peças mas eu não tenho eu
Parei um pouco de ir agora... sei lá ando muito
cansada não tenho ido mais a teatro
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)
Excerto 13a (NURC/SP)
Constata-se que o informante introduz uma inserção, ou seja, introduz um
novo tópico, que ele mesmo encerra, e o documentador apenas “assinala” ou acompanha
o dito pelo interlocutor, o que corresponde à assimetria.
3.1 Como se constrói o texto falado?
Estudos como o de Koch & Souza e Silva (1992, 1993) mostraram uma
descrição das principais atividades de construção do texto falado, que foram,
recentemente, retomadas por Koch (2003b, p.83) como estratégias de processamento do
texto falado, entre elas a inserção e a reformulação, seja retórica ou saneadora, a
repetição, a adjunção e a hesitação. A inserção, por ser objeto desse estudo, será
abordada posteriormente.
52
A reformulação retórica, cuja função é interacional, faz-se por meio de
repetições e parafraseamentos; seu objetivo principal é fortalecer a argumentação. Koch
(2003b) denomina-a, informalmente, de “técnica da água mole em pedra dura”, uma
vez que contribui para o entendimento do(s) interlocutor(es) mediante a “desaceleração
do ritmo da fala”.
Exemplo:
9
L1 - que nós nós que nós temos visto aí é que
principalmente dentro da área de
investimentos... eu tenho medo acompanhado
aqui...o engenheiro está muito bem situado...
ele está exercendo perfeitamente a...a função
dele...e exercendo::a contento
inclusive...então...eles estão...
(Excerto do NURC/SP)
10
Quando há necessidade de efetuarem-se reparos com a intenção de resolver
as dificuldades encontradas pelo locutor ou pelos parceiros em um segmento, recorre-se
à reformulação saneadora, que pode concretizar-se mediante correções, repetições,
paráfrases ou adjunções.
Exemplo:
(?): mas e uma coisa que marcou você ou um susto
grande que você levou ou
Iran: Não, eu nunca... sei lá... teve..., não... não
teve quase susto assim não, nunca teve quase
nada... eu nunca teve quase nada...É sério,
nunca tive
(Excerto do ALMS)
A correção existe no texto falado por não se poder “apagar” como na escrita.
Realiza-se, às vezes, ao repetir o dito, sendo o uso do “não”comum antes do reparo. A
correção pode ser sugerida pelo interlocutor e, nesse caso, já não é autocondicionada,
isto é, a realizada pelo falante, mas heterocondicionada.
9
O exemplo é parte do inquérito 62, bobina 20 do Projeto NURC de SP, também encontrado em Hilgert
(2001, p. 03).
53
1. Exemplo de correção autocondicionada:
Cada fase...o indivíduo dá de SI... aquilo que a
fase está tendo como prepondeRANte... não existe
isso... não existe... não não existe por exemplo
esse marco... que por exemplo se o indivíduo está
numa fase... em que::... éh:::... o organismo... em
termos de :: sistema nervo/ sistema:: glandular... é
mais inTENso... a inteligência dele vai ser mais
glandular (vamos dizer) vai ter muito mais um
desempenho... mais ligado ao organismo... então
ele vai (receber)...
(Excerto do NURC/SP)
2. Exemplo de correção heterocondicionada:
Doc. É dona Célia?
Célia: descia e subia fogo, esse aí também era
seguido - seguido ... era uma invernada ...é ... e
as pessoa falava que essa mulher ia lá ... e de
certo que ... como eu falei que ... o general dele
ou marechal não sei o que ele mandava mata ...
Doc. Marechal Rondom ... não é?
Célia: não ... não é ... o Marechal Lopes ... do
Paraguai.
Doc. Como que é o nome dona Célia?
Célia: é Marechal ... Marechal Lopes.
(Excerto do ALMS)
A repetição, que já foi desaconselhada no texto escrito e reconhecida, hoje, como
estratégia da retórica, é freqüente no texto falado. Sua função é resolver problemas
10
Os excertos que não estão enumerados não fazem parte dos selecionados para a análise geral do
trabalho e que constam dos anexos I, II e III.
54
percebidos em segmentos, ou seja, esclarecer o que o interlocutor não entendeu,
evitando-se confusões ou mal-entendimentos de interpretações. Importante destacar,
ainda, que a “repetição” pode ser igual ao trecho do segmento em que foi detectado o
problema ou com variações que podem ser em graus menores ou maiores, chegando,
inclusive, à paráfrase. Há auto-repetição e repetição heterocondicionada, como se
pode observar respectivamente em:
1) Inf. (...) então nós vamos começar pela Pré-
História... hoje exatamente pelo período... do
paleolítico... a arte... no período paleolítico... o
paleolítico é período período... da pedra
lascada... como vocês todos sabem... não é?...
e... tem uma duração de aproximadamente de
seiscentos mil anos...
(Excerto do NURC/SP)
2) Doc. Seu filhos estão com que idade H?
L2. com três e cinco anos.
Doc. Eles têm noção de ho::ras... noção de::
horário?
[
L2 .
olha nós ( ) ...
( ) têm noção de horário ... porque eh eles ...
lá lá em casa é tudo em função de horário ...
Doc. ahn ahn
(Excerto do NURC/SP)
Johnston apud Koch (2003b, p. 126) explica a repetição como recurso para
criar novos itens de forma a “assimilar o que é novo ao que já é conhecido. Classifica a
repetição - estratégia de construção do texto falado – em quatro grupos: repetição como
recurso essencial da coesão; repetição como mecanismo de retórica; repetição cujo alvo
55
são os efeitos semânticos; repetição como estratégia para “aquisição da linguagem, da
socialização lingüística e para o ensino das línguas”.
A repetição que, muitas vezes, é menosprezada no texto escrito, no texto
falado apresenta diversas funções; como mecanismo coesivo, recurso retórico, etc e
classifica-se em diversos tipos como significativas e marginais, além de outras. De
acordo com Koch (2003b, p.126):
A repetição é particularmente constitutiva do discurso
conversacional, no qual os parceiros, conjuntamente e passo a
passo, constroem o texto, elaboram as idéias, criam, preservam e
negociam as identidades, de tal forma que o texto, de maneira
icônica, vai refletir essa atividade de co-produção.
As adjunções ocorrem quando, na reconstrução do texto falado, o locutor
esqueceu-se de algum dado importante sobre o assunto tratado e é necessário completar
a idéia ou relembrar ao interlocutor alguma coisa que já foi dita antes, contribuindo para
melhor compreensão. Trata-se de um acréscimo ou “adendo”.
L2. mas nós n/ nós não gostávamos::... tinha
uma uma::... umas primas que vovó criou:: desde
pequenininhas ficou sem mãe... (são duas)
((barulho de trânsito)) aí
vovó comprava para elas ... nós já íamos na rua
Direi::ta... na ru::a Santa Ifigê::nia... que
Comprávamos lá...
[
L1 ( )
(Excerto do NURC/SP)
56
L2. lá nós escolhíamos as roupas... porque
tinha uma
PARte... que vovó criou desde pequenina...
duas.. e tinha outras que vieram de Jundiaí com
mamãe que veio para cá também...
Doc. Uhn uhn
É importante ressaltar, ainda, que as hesitações são, também, estratégias de
processamento do texto falado. Pode existir trecho de fala sem inserções ou
reformulações, mas raramente sem hesitações. Uma de suas características é que não
pode ser controlada ou, eventualmente, pode, mas de forma parcial. As hesitações
aparecem quando há dificuldades por parte do locutor para conduzir o processo, mas
não se pode esquecer que essas dificuldades podem ser “criadas” com a intenção de
mostrar ao ouvinte que o falante é uma pessoa cuidadosa, atenta e reflexiva.
L2. aprende-se mais... então ela acha que o::
que o bacana seria isso mesmo entende?
L1.. . . é são os... são as... reformas que estão
existindo aí no no no ensino né? ... inclusive eu
acho acho... uma forma de pensar... acho que
discutindo a coisa e não só ficando em termos
de... da coisa... puramente:: expositiva...
L2.. . . certo...
(Excerto do NURC/SP)
Para finalizar, é importante acrescentar que entre as estratégias interacionais
destacam-se as de Preservação das faces (“facework”) e/ou de representação positiva do
“self”, usadas para evitar dissabores, complicações e falta de compreensão durante o
intercâmbio lingüístico. O falante faz uso de eufemismos, rodeios, marcadores de
57
atenuação, ou seja, faz uso de recursos de polidez para preservar a sua face e a de seu
interlocutor, como se pode observar no exemplo seguinte:
Excerto 18a:
Mário de Andrade...e eu acredito que é
mais importante para nós pararmos um
pouco na meditação do sistema de Arte
que ele estabeleceu...do que em pequenas
manifestações esporRÁ::dicas... que não
terão...tanta importância posterior... de
modo que eu vou tentar na primeira parte
da minha palestra me referir...a algumas
manifestações... e depois me fixar...na:: na
no pensamento estético de Mário...mesmo
aqui eu fiz uma pê/ uma::uma::[ah o meu
enfoque é muito pessoal] porque éh::
tendo que escolher alguns pensadores eu
preferi escolher aqueles que estão ligados
à Faculdade de Filosofia...
(Inquérito nº 156 – Bobina nº 54)
Função de ressalva/atenuação.
Como se constata, diversas são as estratégias de construção do texto falado.
Entre elas, destacam-se as inserções que, como já dito antes, constituem o objeto de
nossa pesquisa e, a seguir, serão abordadas.
3.2 Inserções: uma reflexão
Sabe-se que o fluxo de informações no discurso pode se desenvolver de
maneira contínua quando a seqüência temática flui naturalmente, sem obstáculos até a
introdução do próximo tópico, e de modo descontínuo quando há a ruptura, fenômeno
responsável pela “quebra momentânea” do tópico. Tal ruptura da unidade temática
58
efetua-se pelo próprio falante ou se realiza por iniciativa do interlocutor. A primeira
situação acontece quando o falante julga necessária uma pausa que pode ter diferentes
funções, o que caracteriza o planejamento local do texto falado e a preocupação com a
compreensão do interlocutor; a segunda denota a manifestação de envolvimento
interacional do interlocutor.
As inserções, estratégias responsáveis por essa ruptura ou suspensão,
definem-se, segundo Koch (2003a, p.110) como
segmentos discursivos de extensão variável que provocam uma
espécie de suspensão temporária do tópico em curso,
desempenhando funções interativas: explicar, ilustrar, atenuar,
fazer ressalvas, introduzir avaliações ou atitudes do locutor, etc.
Jubran (2002, p.127) afirma que entre os fenômenos de descontinuidade, a
inserção de informações que progridem na mesma direção (paralelas) e que se
subdividem em outras áreas no tema da unidade do discurso (subsidiárias) nomeiam-se
como autocondicionadas, quando a intercalação no tema efetiva-se pelo próprio falante
e heterocondicionadas, quando o falante, em função de um pedido ou sinalização do
interlocutor, é conduzido a efetuar a intercalação ou encaixe.
Numa visão pragmática interativa, as inserções autocondicionadas revelam-
se, no discurso, por intermédio das denominadas frases hóspedes, ou seja, frases
independentes – parênteses – e as heterocondicionadas manifestam-se por meio de
“seqüências laterais” (Jefferson, 1972 apud Jubran, 2002).
59
Segundo Brown & Yule (1983, p. 73) tópico discursivo é “aquilo acerca do
que se está falando”. Trata-se, então, da unidade discursiva que se constrói mediante a
interação dos participantes no processo dialógico e explica-se pela centração e
organicidade.
Entende-se por centração o assunto tratado durante a interação, sendo que
um tópico pode ser constituído por vários subtópicos que, por sua vez, poderão ser
constituídos de segmentos tópicos. Koch (2003a, p.82) afirma que, “diversos subtópicos
constituirão um quadro tópico; havendo ainda um tópico superior que englobe vários
tópicos, ter-se-á um supertópico”. Quanto à organicidade, nota-se que ela se faz pela
conexão estabelecida em dois planos, ou seja, hierárquico e seqüencial que
correspondem à progressão tanto no sentido vertical como no horizontal. Tal processo
organizacional manifestar-se-á em maior ou menor grau em função do interesse dos
participantes pelo tema da conversação e a necessidade do “detalhamento” para maior
compreensão.
Existem duas modalidades de inserção: uma, de menor extensão textual, que
não gera outro tópico ou mudança de centração, permanecendo, em curso, o mesmo
tópico, não afetando a coerência, e, outra, que apresenta maior extensão textual assim
como “estatuto tópico”, uma vez que há mudança de centração, provocando a divisão do
tópico em destaque em segmentos, conforme mostram, respectivamente, os excertos dos
corpora estudados:
60
Inf.: bom... o:: era colhido tudo
manualmente... mas nessa época então::
de:: colheita... até as mulheres passavam
a:: ajudar... [porque a colheita teria que
ser feita dentro de uma certa época...
então é preciso mais gente pra colher...]
e::... é... costumava-se colocar embaixo do
pé de café uma espécie de:: lona... uma
esteira... e a::... e depois vai-se pa/...
passando a mão no galho... e caindo os
grãos... depois colhe-se tudo
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
Excerto 10b (NURC/SP)
11
Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra
eles... e as pessoa não tacava mesmo aí fora de
hora assim porque...
(?):tinha medo.
Célia: ... tinha medo, então... ficou
por muitos
ano, [aquele tempo era
terra de chão, não
tinha
asfalto era muito buraco, os carro...
patinava
no barro então as pessoa não
abusava...]
(?): tinham medo.
Célia: É, não abusava muito por causa
disso porque tinham medo, agora não... faz
tempo eu não ouvi falar, depois que teve o
asfalto mas tinha essas coisa.
(Inquérito a
12
– ALMS)
Excerto 1a: (ALMS)
11
O critério para delimitar o excerto foi selecionar fragmentos anteriores e posteriores à inserção em que
houvesse verbo(s) ou locução(ões) verbal(is).
61
Na primeira modalidade, observam-se duas situações: a primeira delas
quando a inserção – tipo frase parentética
13
– provoca uma interrupção tão breve que
não ocasiona cortes perceptíveis do tópico e a unidade discursiva permanece coesa.
Jubran (2002, p. 64) destaca, em função disso, que as frases parentéticas provocam
dificuldade para se estabelecer qual o limite para determinar se são referentes ou não ao
tópico discursivo a fim de serem classificadas como inserções.
Para melhor compreensão, faz-se uso, a seguir, de gráfico de exemplificação
da referida autora de um modelo de organização tópica de um D2 – diálogo entre dois
informantes – com três níveis hierarquizados:
a) primeiro plano: grandes tópicos da conversação (A e B);
b) segundo plano: detalhamento do assunto (A1, A2, A3; B1, B2);
c) terceiro plano: subdetalhamento do assunto (a e b).
12
Codificação provisória, uma vez que o Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul encontra-se em
construção.
13
Frase que se apresenta como um parêntese.
62
Gráfico 1 – Frases parentéticas.
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 65.
A segunda situação efetiva-se quando causa, na linearidade do discurso,
fracionamento do tópico alvo em segmentos não conectados, representando, muitas
vezes, tentativas frustradas de alteração do assunto que, em momentos posteriores,
realizam-se de forma satisfatória. Essas inserções podem ser “resquícios” de tópicos
conversacionais que já foram mencionados anteriormente ou “indícios” de tópicos que
se destacarão em momento subseqüente e podem estar relacionadas tanto à unidade
tópica na qual ocorrem como a outras mais amplas, como se observa nos gráficos
seguintes:
63
Gráfico 2 – Resquícios de tópico desenvolvido anteriormente.
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 66.
Gráfico 3 – Indícios de tópico desenvolvido posteriormente.
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 66.
64
No que se refere à segunda modalidade, também se apresentam duas
situações: 1. a de “tópicos paralelos”, isto é, centrados num assunto em destaque, mas
que não se relacionam nem ao grande tópico nem a qualquer outro tópico do discurso;
2. a responsável pelo surgimento de um QT – quadro tópico completo – no interior de
outro tópico, provocando divisão em subtópicos que tenham o mesmo grau de relação
com o supertópico. Constata-se, então, que a inserção pode ocorrer tanto no plano
horizontal como no plano vertical.
Conforme Jubran (2002, p. 67, 68) as representações gráficas dessas
situações são, respectivamente:
Gráfico 4 – Tópico paralelo
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 67.
65
Gráfico 5 – Quadro tópico
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 68.
Finalmente, é importante destacar que Jubran (2002, p. 68) acrescenta às
diversas manifestações de inserções já elencadas, uma variante da inserção que se
denomina “alternância”, uma vez que provoca descontinuidade por interferir num
segmento tópico com elementos não-relacionados ao tópico em desenvolvimento, mas
também representa a peculiar característica de alternância de dois tópicos, o que não
determina a inserção, como se vê no gráfico abaixo:
Gráfico 6 – Alternância.
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 69.
66
Koch (2003a, 2003b) afirma que a inserção, estratégia do texto falado,
apesar de parecer conteúdo supérfluo ou de menor importância, na maioria dos casos,
não pode ser eliminada sem que haja prejuízo de sentido. Dois são, segundo ela, os
grandes blocos de funções: o de função cognitiva que objetiva facilitar a captação de
sentido(s) por parte do(s) interlocutor(es) e o de função interacional que busca chamar a
atenção do(s) interlocutor(es) para uma atitude de co-responsabilidade, de co-autoria.
Na visão da autora, quando se efetua a suspensão temporária do tópico em
andamento para inserir “algum tipo de material lingüístico”, esse processamento pode
ocorrer, por vários motivos:
Introdução de explicações ou justificativa, – explica ou justifica o
assunto em pauta. Exemplo:
Excerto 19b - (NURC/SP)
... e sobretudo à grande exposição de
pintura francesa... que em mil novecentos
e quarenta... fecha o decênio de maneira
espectacular... pra muitos de nós... foi o
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa::
chegada dos quatro franceses... [porque
nós que éramos
alunos da Faculdade
nessa ocasião... íamos
à à à à con/ à à::
exposição de quadros muitas vezes com o
professor (Moguet) para que ele nos
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi
o primeiro contato em
profundidade com a pintura... e...
(Inquérito nº 156 - Bobina nº54)
Função explicativa
referência a um conhecimento prévio – funciona como uma
estratégia para compreensão do assunto a ser abordado. Exemplo:
67
Excerto 1b (NURC/SP)
14
Maior produção... maior rendimento... né?... o
indivíduo certo para a tarefa certa...– [não sei
se alguém aqui já ouviu falar no Taylor...
né?] – então em ( ) em termos de traBAlho
nós temos os testes de Taylor... né? que
ele::.... se propôs::... a... ahn...
(Inquérito nº 377 - Bobina nº 123)
Função de alusão a um
conhecimento prévio.
Apresentação de ilustrações ou exemplificações – cita exemplos e
faz elucidações sobre o assunto. Exemplo:
Excerto 17a (NURC/SP):
L2 que existiria entre os estudantes...
L1 isso vai evidentemente acarretar uma
uma uma uma visão não só daquilo que ele
ele passa...como de de outras de outras
profissões existentes...e:: acho que ter
oportunidade assim de conversar com com
médicos engenheiros advogados [você veja
por exemplo o caso dos advogados como
que está o mercado de trabalho deles]...
é:: a bendita da lei da da oferta e procura
né? Que regula
evidentemente... todas as
profissões em termos de mercado de
trabalho... então realmente no momento
está
existindo assim uma demanda muito
grande...
Função de exemplificação
Introdução de comentário metaformulativo – acrescenta o
esclarecimento da palavra ou expressão citado anteriormente.
Excerto do (NURC/SP)
15
14
O exemplo é parte do Inquérito nº 377, Bobina nº123 do Projeto NURC de SP, também encontrado em
Koch (2003b, p.85).
15
O exemplo é parte do Inquérito nº 377, Bobina nº 123 do Projeto NURC de SP, também encontrado em
Koch (2003b, p.87).
68
Aqui nós só vamos... fazer uma leitura em nível
pré-iconográfico nós vamos reconhecer as
formas... então que tipo de formas nós vamos
reconhecer?... nós vamos reconhecer bisontes...
((vozes))...[bisonte é o bisavô do touro... tem
o touro o búfalo:: e o bisonte] MAIS lá em
cima ainda... nós vamos reconhecer ahn::
cavalos... nós vamos reconhecer veados...
sem qualquer (nível) conotativo aí ...e
algumas vezes MUIto poucas... alguma figura
humana...
Excerto do (NURC/SP)
Função de comentário
metaformulativo
A autora esclarece, ainda, que as inserções podem ter outras funções
essencialmente interacionais, uma vez que pretendem chamar a atenção do parceiro e/ou
gerar um “clima” de intimidade ou de cumplicidade como:
formulação de questões retóricas — encontradas em discursos
didáticos e de persuasão — questionamento(s) do falante ou do
ouvinte durante a conversação. Exemplos:
Excerto 22b (BAND/SP)
Inf. ...cachoe/ é bem pra frenti... bem pra frente
69
[cêis foi até o acampamento nu foru? Nu
foru até nu acampamento?]
Doc. 2 ( ) a gente não conhece direito (pra lá)
Doc. 1 a gente se perdeu... nós fomos lá pra
cima ( )
Inf. ...ah (posu fio) é pra cá... esse é pra
cá...(posu fio) a senhora pa chegá lá a senhora
tem que descê...
(Inquérito 02 – BAND/SP)
Função retórica
introdução de comentários jocosos – encaixa brincadeiras, falas
que provocam riso.
Excerto do (NURC/SP)
Aqui nós só vamos... fazer uma leitura em nível
pré-iconográfico nós vamos reconhecer as
formas... então que tipo de formas nós vamos
reconhecer?... nós vamos reconhecer bisontes...
((vozes))... bisonte é o bisavô do touro... tem o
touro o búfalo:: e o bisonte MAIS lá em cima
ainda... nós vamos reconhecer ahn:: cavalos...
nós vamos reconhecer veados... [ sem
qualquer (nível) conotativo aí —]... e algumas
vezes MUIto poucas... alguma figura humana...
Excerto do (NURC/SP)
Função de comentário jocoso
70
Koch (2003b, p.87) cita, ainda, outras funções interacionais que classifica
como de importância. São elas:
apresentação de suporte para a argumentação em curso
introduz força/reforço para o argumento explorado. Exemplo:
Excertos 16a (NURC/SP)
L1 ...quer saber de gravata não quer
nada aqui em São Paulo se você não pôr
uma gravata você não é bem recebido...
não o clima acho que é:: (tem uma)
[
L2 entende? ... ( ) essencial para o::
para o desenvolvimento de:: de certos
afazeres [inclusive eu acho você vê esse
problema de gravata... é até anti-
higiênico] você vê às vezes não
enfrentamos calores de trinta graus você
que sai de casa de manhã... não podendo
voltar... hora do almoço...
(Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)
Função argumentativa
Expressão da atitude do locutor perante o dito, introduzindo
atenuações, avaliações e ressalvas – evidencia(m) a postura do
locutor diante da fala. Exemplo:
Excerto 7c (ALMS)
(?): seu Moisés, tem alguma simpatia que o
senhor conhece, simpatias que o senhor
conhece...
Moisés: não, que eu saiba não. Eu vejo falar em
71
simpatia...
(?): quem o senhor já escutou assim, que
alguém falou pra o senhor.
Moisés: no causo uma simpatia... não, existe.
Existe... fala assim, que eu saiba não, mas tem
simpatia que... inclusiva... [não sei se todo
mundo acredita nisso, mas eu mesmo...
geralmente, antigamente... eu acreditei
numas....] me ensinaram
uma simpatia, eu fiz e
sarei
... com aquela simpatia, serviu pra mim.
(Inquérito c – ALMS)
Função ressalva/atenuação
Essas funções atribuídas por Koch (2003a, 2003b) às inserções serviram de
apoio para a análise dos corpora do português falado em excertos de entrevistas do
Projeto NURC de São Paulo, de entrevistas para a confecção do Atlas Lingüístico de
Mato Grosso do Sul e de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante (SP) e do
Português Popular do Brasil (SP), por dar conta do material lingüístico a ser analisado.
Finalmente, vale ressaltar que as inserções, apesar de provocarem uma
espécie de ruptura, ou seja, uma “suspensão” por um determinado período de tempo do
tópico discursivo, diferente do que já se pensou antes, não provocam falta de coerência
no texto falado; pelo contrário, contribuem e são responsáveis, em grande parte dos
textos, pela sua construção. Quanto à coesão, observa-se que mesmo quando há
mudança de mundo narrado para mundo comentado ou vice-versa, a “quebra” é tão
suave que não interfere na seqüência textual.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo constitui uma pesquisa qualitativa do tipo descritivo-
explicativa, que aborda dados quantitativos, necessários para a avaliação dos resultados.
Foram utilizados corpora de entrevistas e elocuções formais efetuadas em dois estados:
Mato Grosso do Sul e São Paulo e, para tanto, faz-se necessário fornecer algumas
informações sobre os referidos estados, a saber:
1. São Paulo é um Estado localizado na Região Sudeste com população de
40.442.795 habitantes
16
. Limita-se ao norte e nordeste com Minas Gerais, ao nordeste
com Rio de Janeiro, à leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o Paraná e à oeste com
Mato Grosso do Sul. Tem 645 municípios, ocupando uma área de 248.808,8 km
2
e São
Paulo é sua capital.
Figura 4 – Mapa do Estado de São Paulo
16
Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2005.
46
Fonte: www.v-brazil.com
De todos os Estados brasileiros, São Paulo é o que possui a maior e mais
diversificada população do país, ou seja, 40 milhões de habitantes. No final do século
XIX e início do século XX, período de forte migração, recebeu pessoas de todo o
mundo.
A população de São Paulo é formada por descendentes de imigrantes
europeus: italianos, espanhóis, portugueses, alemães em maior número, além de
holandeses, poloneses, armênios e suíços. Destacam-se, ainda, mestiços de
colonizadores portugueses com ameríndios e africanos; libaneses, sírios e turcos e
japoneses, coreanos e chineses.
Na busca de trabalho e melhores condições de vida, São Paulo recebe,
também, pessoas de outros Estados brasileiros, sobressaindo-se as do Nordeste. Isso
acontece em função de ser o Estado mais rico do Brasil, afirmando-se que sua história
econômica teve início com o ciclo do café, sendo, hoje destaque em diversos setores da
economia do país, entre eles, o financeiros, o da indústria automobilística, o da aviação
e o da produção sucroalcooeira.
2. Mato Grosso do Sul é um Estado localizado na região Centro-Oeste com
população de 2.078.001 habitantes
17
, sendo 83,22% da zona urbana e 16,78% da zona
rural. Limita-se ao norte com os Estados de Mato Grosso e Goiás, ao sul com a
República do Paraguai e o Estado do Paraná; a leste com os Estados de Minas Gerais,
de São Paulo e do Paraná, e a oeste com as Repúblicas do Paraguai e da Bolívia. Possui
77 municípios, que se subdividem em 11 regiões.
17
Dados fornecidos pelo IBGE pelo último censo, 2005.
47
Figura 5 – Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul
Fonte: www.v-brazil.com.
Os indígenas foram os primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul,
destacando-se os que aqui habitavam por ocasião do “descobrimento” do Brasil:
Guarani, Guató, Ofayé, Kaiapó Meridional, Payaguá e outros não identificados. Já os
colonizadores europeus chegaram ao Estado no início do século XVI e contribuíram
significativamente para o desaparecimento da população indígena. Hoje, o Estado
possui mais de cinqüenta mil índios e tem à sua frente, segundo Martins (2002, p. 12),
somente o Estado da Amazônia.
Contribuíram, também, para a sua ocupação paulistas, gaúchos, mineiros,
paranaenses e nordestinos, além de estrangeiros como bolivianos, paraguaios,
japoneses, espanhóis e portugueses. O término da Guerra do Paraguai e da Primeira
Guerra Mundial também foram responsáveis pelo povoamento do Estado com a
48
chegada de vários ex-combatentes e de europeus. Aliás, vale mencionar que o Estado de
Mato Grosso do Sul ainda está em estágio de ocupação, sendo Campo Grande – capital
– e Dourados – segunda maior cidade do Estado – os municípios responsáveis pela
maior migração.
A mistura de todos esses povos trouxe para o Estado uma diversidade
cultural e étnica e, como conseqüência, uma pluralidade lingüística, resultante das
contribuições culturais indígena, paraguaia, boliviana, platina, andina, européia e
brasileira. Mato Grosso do Sul é um Estado novo que foi criado em 1977, mas já se
destaca na área do agronegócio na economia.
Ao estudar as inserções que são estratégias que contribuem para a
construção do português falado e definidas por Jubran (2002) como “interpolações de
segmentos conversacionais” que não têm extensão e natureza definidas e que se
responsabilizam pela interrupção temporária do tópico em uso, causando alteração ou
não da centração desse tópico, surgiram algumas questões de pesquisa, já explicitadas
no início do trabalho e que se faz relevante retomá-las:
1) se as inserções apresentam características discursivas próprias, também
apresentam características modo-temporais próprias?;
2) se as inserções têm ligações com os tempos anteriores e posteriores da
fala, deixam-se “contaminar” pelos tempos verbais que as precedem ou
as seguem?;
3) se o texto falado é considerado menos planejado de antemão do que o
texto escrito, em função de sua natureza interativa, sendo localmente
49
planejado ou replanejado, contribuiriam os tempos verbais das inserções
e de seus segmentos anteriores e posteriores para a seqüência textual ou
haveria uma ruptura desses tempos?
Em função disso, iniciou-se a busca por um corpus que respondesse a tais
questões, uma vez que não se conhecia trabalhos que fornecessem tais respostas. Os
objetivos elencados para a pesquisa e, já apontados na introdução, foram os seguintes:
1. pesquisar a inserção, estratégia característica do português falado;
2. verificar as funções das inserções encontradas e quais as mais usadas
nos excertos dos corpora de falantes de diferentes níveis sociais, faixas
etárias e localizações geográficas;
3. analisar como ocorre o emprego dos tempos verbais nos diferentes tipos
de inserções;
4. relacionar o uso dos tempos verbais nas inserções com o dos segmentos
anteriores e posteriores;
5. identificar se existem tempos verbais característicos das inserções e
observar de que modo o emprego dos tempos verbais nas inserções pode
relacionar-se às suas características discursivas.
Inicialmente, optou-se por inquéritos do Projeto NURC – Projeto de Estudo
da Norma Lingüística Urbana Culta – de São Paulo (Projeto NURC/SP), constituídos:
diálogos entre dois informantes (1987), entre informante e documentador (1988) e
elocuções formais (1986), pois as mesmas já estavam transcritas. Isso facilitaria o nosso
50
trabalho, além de haver uma curiosidade de conhecer esse material sobre o texto falado
do referido Estado por ter a pesquisadora nascido em uma cidade de seu interior: Tupã,
município que se localiza a oeste do estado.
Segundo Castilho (1986, p. 2), o “Projeto de Estudo da Norma Lingüística
Urbana Culta do Brasil” surgiu da necessidade que pesquisadores brasileiros tiveram de
documentar e descrever a norma objetiva do português culto falado no Brasil.
A princípio, pensou-se em efetuá-lo somente no Rio de Janeiro; no entanto,
no IV Simpósio do PILEI, o professor Nelson Rossi, da Universidade Federal da Bahia,
esclareceu, em relatório, que dessa forma não se teria “uma imagem completa do
português do Brasil”, expondo seu pensamento a respeito do policentrismo cultural do
país e recomendando que se realizasse o projeto em cinco cidades brasileiras. Foram
exigências que elas tivessem pelo menos um milhão de habitantes e “suficiente
estratificação social para atender às exigências do projeto inicial”. As cidades
selecionadas por ele foram Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Sendo aprovado o relatório em 1968, o próprio professor foi designado para
que indicasse, em cada cidade, os coordenadores do trabalho. Em São Paulo foram
escolhidos os professores Isaac Nicolau Salum, da Universidade de São Paulo, depois
substituído por Dino Preti, também dessa Universidade, e Ataliba T. de Castilho, da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília.
Selecionadas e organizadas as equipes de trabalho de cada coordenador,
diversos e freqüentes encontros foram realizados. Em São Paulo, cidade da qual se
utilizou o corpus da pesquisa, foram efetuadas 381 entrevistas, com 474 informantes de
alta escolaridade de diferente sexo, faixa etária diversificada e profissões variadas.
51
Ainda em período de decisão, pensou-se na possibilidade de se fazer um
paralelo com outro corpus e optou-se, então, por analisar entrevistas do Estado em que
se reside atualmente: Mato Grosso do Sul. Tendo conhecimento da pesquisa em
andamento para construção do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, surgiu a idéia
de verificar-se a possibilidade de fazer uso das entrevistas realizadas para esse fim.
Trata-se, como tantas outras pesquisas realizadas pelo Brasil, de um estudo
com o objetivo de buscar informações sobre o falar regional que resultará em diversos
Atlas Lingüísticos, cuja reunião consolidar-se-á no Atlas Lingüístico do Brasil. No
Mato Grosso do Sul, é um projeto elaborado pela Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS) e que, apesar de ainda encontrar-se em andamento, foi prontamente
cedido pelo grupo responsável, representado pela Profa. Dra. Aparecida Negri Isquerdo
em concordância com o Prof. Dr. Dercir Pedro de Oliveira e os demais componentes do
grupo.
De posse desse corpus, composto por entrevistas, ora com momentos mais
espontâneos, ora mais tensos, de pessoas de diferente idade, sexo e nível de
escolarização – analfabetos e baixa escolaridade – de diversas regiões do Estado, as
entrevistas que se encontravam gravadas, foram transcritas por duas alunas da UFMS do
campus de Dourados, que participam do grupo de entrevistadores cuja meta é a
construção do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul e por dois alunos do grupo de
transcritores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Foram
selecionadas as narrativas de experiência pessoal dos informantes, que retratam
situações do dia-a-dia, como momentos de alegria, de tristeza, de medo, de lazer,
geralmente com a família ou grupo de amigos.
52
Tendo acesso, então, aos corpora da pesquisa iniciou-se o trabalho de
análise que é descrita, de forma detalhada, mais à frente. O resultado alcançado fez com
que se observasse a necessidade de se buscar um outro corpus, o que se confirmou
quando do exame de qualificação. A banca sugeriu que a análise dos corpora trouxeram
um resultado satisfatório, mas não suficiente para a pesquisa, visto que o corpus do
NURC de São Paulo abrangia uma população considerada falante da norma culta, pois
todos entrevistados eram alunos do curso superior ou já haviam concluído o curso,
diferentemente do corpus do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, cujos sujeitos
envolvidos eram pessoas de menor escolaridade, ou seja, indivíduos analfabetos ou que
tenham cursado, no máximo, o ensino fundamental.
Diante desse diagnóstico, buscou-se um outro corpus, que por sugestão da
orientadora do trabalho, professora Dra. Odette G. L. A. S. Campos, foi solicitado, à
professora Dra. Ângela Rodrigues, Profa. da Universidade de São Paulo – USP – ,
membro do Projeto de Filologia Bandeirante que, prontamente, cedeu parte do corpus
transcrito pelo grupo pesquisador.
O Projeto Filologia Bandeirante teve início em 1998, sob a coordenação do
Prof. Dr. Heitor Megale e ocorre em núcleos rurais de quatro Estados brasileiros que
fizeram parte da rota dos bandeirantes nos séculos XVII e XVIII. Tal trabalho realiza-se
por pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais, de Mato Grosso, de
Goiás e da Universidade de São Paulo, cujo objetivo é reunir uma amostra de língua
falada de idosos que de alguma forma tenham alguma ligação com os bandeirantes e
que adquiriram a língua há 60 anos ou mais. A expectativa do projeto é conhecer as
marcas da língua portuguesa antiga que tenham permanecido nestes três últimos
53
séculos; os informantes são pessoas do Estado de São Paulo de diferente sexo,
analfabetos ou com pouca escolaridade, da zona rural e, na maioria, aposentados.
Não sendo suficiente, ainda, o número de entrevistas do referido projeto, por
serem os informantes indivíduos com idade superior a 60 (sessenta) anos, obteve-se,
novamente, por meio da referida professora, outros inquéritos pertencentes ao Português
Popular do Brasil, pesquisa realizada pela disciplina de Sociolingüística da área de
Filologia em Língua Portuguesa da USP – Faculdade de Filosofia, Ciências, Letras e
Ciências Humanas. As entrevistas foram coletadas pelos acadêmicos do curso, em 2002,
e os informantes são moradores de favelas de São Paulo, de diferentes profissões, sexo,
idade e de baixa escolaridade ou analfabetos.
Para melhor compreensão, faz-se, a seguir, uma breve descrição dos
informantes dos corpora da pesquisa, subdividido em três partes, ou seja:
1. Corpus composto por inquéritos do Projeto de Estudo da Norma
Lingüística Urbana Culta de São Paulo (NURC/SP);
2. Corpus composto por entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso
do Sul (AL/MS);
3. Corpus composto por entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante de São
Paulo (BAND/SP) e entrevistas do Português Popular do Brasil
(SOCIOL/SP).
O primeiro corpus – Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta
de São Paulo é constituído por informantes cultos numa situação de comunicação
marcadamente didática – aulas e conferência –, denominadas elocuções formais (EF);
54
em diálogos entre dois informantes cultos (D2) e em diálogos entre informante e
documentador (DID). Trata-se de inquéritos efetuados na cidade de São Paulo, na
década de 70. Tais informantes têm formação universitária, são nascidos na cidade que
tem a fala estudada e foram divididos em três faixas etárias: de 25 a 30 anos; de 36 a 55
anos e de mais de 56 anos.
Os assuntos versados constataram de um Guia-questionário cujas questões
abordaram os seguintes temas: corpo humano, vestuário, alimentação, casa, família,
vida social, cidade, transportes e viagens, meios de comunicação e difusão, cinema,
televisão, rádio, teatro, comércio exterior, profissões, dinheiro, animais, todos centros
de interesse do ser humano.
O segundo corpus – entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul
- é constituído por uma amostra de informantes de diversos municípios que compõem o
Estado de Mato Grosso do Sul, o que retrata a fala de indivíduos que representam uma
diversidade cultural e étnica e, com certeza, uma pluralidade lingüística.
Escolhidos aleatoriamente, uma vez que se tratam de entrevistas cedidas
para o presente trabalho, faz-se importante mencionar que os informantes são pessoas
de ambos os gêneros, com faixa etária de 18 a mais de 50 anos, pertencentes à zona
rural e à zona urbana. São analfabetos, com ensino fundamental incompleto ou ensino
fundamental completo.
Importante lembrar mais uma vez que as entrevistas para o Atlas Lingüístico
de Mato Grosso do Sul fazem uso de dois tipos de questionários: lexical e fonético,
sendo este último o utilizado para a pesquisa, já que a ele se junta uma narrativa. Os
55
temas são acontecimentos do seu dia-a-dia como a escola, a vida em família, com seus
momentos de alegria, tristeza e medo.
O terceiro corpus é constituído pelos informantes do Projeto Filologia Bandeirante e
do Português Popular do Brasil. Os primeiros são idosos, com idade acima de 60
anos, de ambos os sexos, analfabetos, ou com baixa escolaridade, nascidos e criados
na zona rural de São Paulo, residindo quase todos no Vale do Paraíba. São pessoas,
na maioria, já aposentadas e que desenvolveram atividades no campo, relacionada à
agricultura e à pecuária. As entrevistas têm com tema as denominadas “conversas
fiadas”, o que facilita o diálogo entre documentador e informante.
Quanto ao segundo grupo, os falantes são pessoas de diferentes gêneros, de três
faixas etárias: 20 a 35 anos, 36 a 50 anos e mais de 50 anos, todos residentes em
favelas da zona norte da cidade de São Paulo. As profissões são diversas e os temas
abordados são do cotidiano, trabalho e vida em família.
Tendo acesso aos três grupos de entrevistas, 1) NURC/SP; 2) ALMS; 3)
BAND/SP e SOCIOL/SP, realizaram-se cuidadosas leituras a fim de se destacar as
inserções. Selecionaram-se, aleatoriamente, 135 inserções – 45 de cada corpus – das
mais de 180 encontradas previamente, para que se pudesse ter quantidades iguais. Em
seguida foram extraídos dos corpora excertos constituídos por inserções e segmentos
anteriores e posteriores a elas. Para melhor compreensão do estudo, elaborou-se ao lado
dos excertos, uma análise com descrições de interesse para o estudo, ou seja, verificou-
se na letra:
(a) a atitude comunicativa em relação à inserção e a cada segmento;
56
(b) os tempos verbais dessas inserções e dos segmentos que as antecedem e
as seguem;
(c) a classificação dos tempos em relação ao mundo a que pertencem;
(d) a denominação quanto à perspectiva comunicativa;
(e) a função da inserção;
(f) um comentário geral do excerto. Para efetuar essa análise, tomou-se
como aporte teórico as seções anteriores.
Esclarecidos, então, os procedimentos metodológicos da presente pesquisa,
iniciou-se a análise de dados que pudessem responder às questões suscitadas
inicialmente, como se observa a seguir.
5. UM OLHAR SOBRE AS INSERÇÕES E OS TEMPOS VERBAIS
A pesquisa mostra nos corpora observados que a inserção é empregada a
todo momento de nossa fala e diversas são as funções elencadas por Koch (2003a,
2003b) que foram detectadas: função explicativa, função retórica, função de atenuação
ou ressalva, função de exemplificação, função de suporte argumentativo e função de
alusão a um conhecimento prévio. Além da classificação dessas funções apontadas pela
autora, acrescentaram-se mais dois tipos que se constataram nos corpora analisados, a
de comentário e a de esclarecimento. Vale lembrar que Koch (2003b) já menciona a
função de comentário, mas o comentário metaformulativo e o comentário jocoso; no
entanto, nas entrevistas analisadas são os comentários gerais que se sobressaem sobre os
demais.
O gráfico 7 ilustra os percentuais obtidos na análise dos corpora, onde se
observa que dos 135 casos de inserções estudados, 38% correspondem às funções
explicativas; 26%, às de comentário; 13%, às retóricas; 12%, às de esclarecimento; 8%,
às de atenuação ou ressalva e os 3% restantes correspondem às demais funções.
86
De 135 casos de inserções
38%
26%
13%
12%
8%
3%
Funçao explicativa
Função de comentário
Função de retórica
Função de esclarecimento
Função de atenuação ou
ressalva
Outras funções
Gráfico 7 – Funções das inserções.
As inserções de funções explicativas que correspondem a 38%, têm o
objetivo de adicionar justificativas para o que está sendo dito, o que comprova que,
diferentemente do que já se pensou e foi mencionado, a inserção não interrompe a
seqüência discursiva, mas contribui para a coerência textual como se verifica a seguir:
Excerto 5b (BAND/SP)
Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi
braçu...intendeu?...[i dozi braçu é
dozi braçu
memu di di dozi parmu uma vara di dozi
parmu na mãu assim pu sinhor bem bem
isticadu memu...] ...intãu era dozi braçu
daquela...intendeu?
(Inquérito 09 – BAND/SP)
Função explicativa
87
Excerto 11a (ALMS)
(?): isso.
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá
nessa viagem, de levada do almoço, [que a
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
mãe fazia a comida e mandava... o mais
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
ele comeu toda a carne da comida, a mistura
da comida do pai, chegou e levou.
(Inquérito f – ALMS)
Função explicativa
As inserções com função de comentário
18
destacam-se por acrescentarem
algum parecer ou emitir opinião a respeito do que está sendo dito, indicativo de que esse
tipo também é usado no texto falado, visando a uma maior compreensão por parte do
ouvinte. Um percentual de 26% de todos os casos analisados têm essa função e, dentre
eles, apontam-se:
Excerto 13a: (NURC/SP)
Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas os
cenários... depois vários artistas de
televisão estavam trabalhando nessa peça...
Doc.: uhn uhn
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora eu
tenho u/ a as minhas amigas vão vão
sempre a teatro quase... quase sempre elas
Função de comentário
18
Usou-se a função de comentário para os “comentários de abordagens gerais”.
88
vão quase todo domingo] eu :: sou um
pouco preguiçosa não vou prefiro ficar
assi/ a a aqui assistindo televisão ou
dormindo ou lendo o jornal... mas elas:: e
comentam comigo a I. diz que tem assistido
várias peças mas eu não tenho eu Parei um
pouco de ir agora... sei lá ando muito
cansada não tenho ido mais a teatro
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)
Excerto 14b (ALMS)
(?) você lembra de mais alguma_____ gente
que vem visitar____
Jacinto: aqui também tem um senhor, acho que
__ perdeu aí pra baixo, foi té lá e...acho que
veio... se perdeu da turma e soltou a cara pra o
outro mundo, acharam ele já... saindo pra o
eixo lá embaixo, perto do [você vê que como
tem sorte,] aí... o tanto de onça que tem aí... e
tem onça... não sei como que nós não vimo ali
naquele cantão lá embaixo.
(Inquérito i – ALMS)
Função de comentário
O estudo feito aponta, ainda, que há um percentual significativo de
inserções com função retórica (13%) e com função de esclarecimento (12%). A
primeira, como já abordada, faz um chamamento ao interlocutor com a intenção de
convocá-lo a pensar junto, o que pode ser constatado nos excertos selecionados:
Excerto 5b: (ALMS)
89
(?): apanhou.
Célia: ai, chegue em casa e já sabendo... meu
coração subindo pela boca, e aí tive que
contar, não podia mentir... [e o que quê minha
avó fez?]pegou um pedaço daquele Porungo,
ela esquentou um arame e furou e pendurou no
meu pescoço, mandou eu ir na vizinha buscar
água e falou pra mim assim: se pergunta você
conta porque... é, minha avó fazia isso. Aí eu
coloquei aquilo lá que.
(Inquérito a - ALMS)
Função retórica
Excerto 19a (BAND/SP)
Doc.1 mas a senhora vende leite?
Inf. vendia leite na cooperativa... cooperativa
(do casaguá) [a senhora sabe
onde é né?...]
então é
19
lá qui nóis batia leite... Taubaté ( )
rapaizinho de Taubaté ( )
(Inquérito 02- BAND/SP)
Função retórica
Explicitar, tornar fácil o entendimento é a meta da função de esclarecimento
que geralmente adiciona uma informação, o que auxilia para a coerência do texto e,
provavelmente, por esse motivo, destaca-se, também, como um dos tipos mais
encontrados, como se pode notar em:
19
Valor semântico de pretérito imperfeito.
90
Excerto 17a: (ALMS)
(?): tem, não sei de... mas não conheço
pessoalmente.
Antônio: é né?! Então eu tava desmatando lá...
cem alqueire de terra pra toca lavoura, uma terra
muito boa que na fazenda Sapé ... cem
quilometro de Brasilândia lá.] Aí todo... todo
tratorista que ia... saia correndo, dizendo que via
um bicho, uma luz, e a luz quando mais Lee dizia
pra perto a luz ia crescendo... quando foi um dia
um falou: eu quero ver se eu descubro essa luz, se
eu vou corre dela. Aí ele foi e a luz se...
(Inquérito m – ALMS)
Função de esclarecimento
Excerto 3a (BAND/SP)
Doc. ( )
Inf. fazia um percursu pur trai du: ::
quarteu...du exerstu ( ) dipoi vortava pegava u a
vinida di frenti ca igreja...i fazia a
entrada...[mai era mais u menu uma umas
duas hora mais o menu di percursu na rua]
Doc. ( e tinha santo) ( )
Inf. ah tinha...tinha sãu biniditu ( ) principal
qui saía né? sãu biniditu i nossa sinhora
(Inquérito 9 - BAND/SP)
Função de esclarecimento
91
Observando os corpora estudados e analisando as inserções e, também, os
segmentos anteriores e posteriores a elas, constatou-se que a maioria delas são
pertencentes ao mundo comentado, conduzindo os interlocutores a uma atitude
receptiva, tensa e atenta conforme explica Weinrich (1974). Seus estudos mostram
pertencer ao mundo comentado situações comunicativas como o drama, o ensaio, a
lírica, assim como o diálogo e o comentário, verificados nos textos selecionados para o
presente trabalho.
Enfatiza o autor, como já se comentou, serem três as dimensões
relacionadas à situação comunicativa nas línguas estudadas por ele (alemão, espanhol e
francês): atitude comunicativa do falante, responsável pela distinção entre o mundo
comentado e o mundo narrado; perspectiva comunicativa que destaca os tempos-zero
ou tempos-base, identificados como tempos sem perspectivas e os tempos retrospectivos
e prospectivos, denominados de tempos com perspectiva e, por último, o relevo o qual
diferencia o primeiro do segundo plano, característicos apenas do mundo narrado, como
se mostrará adiante.
Das 135 inserções – 45 de cada corpus – encontradas nos corpora, 71%
são do mundo comentado e 28% do mundo narrado, como pode ser observado no
gráfico 8. Tal resultado indica que as inserções têm características discursivas próprias.
92
De 135 casos de inserções
71%
28%
1%
mundo comentado
mundo narrado
mistos
Gráfico 8 – Distinção entre mundos comentado e narrado.
Excerto 11a
20
: (NURC/SP)
Inf.: vai pro pano... vai pro pano e depois vai
pra um saco e naturalmente ainda o grão
está muito misturado com::... pedrinhas
terra... e depois precisa:: então limpar aquilo
Doc.: e como é que se limpa?
Inf.: aí limpa a::... [bom inclusive o grão do
café também precisa ser secado...] então
precisa colocar no terreiro... e:: deixar secar
no sol... hoje tem secador também:: ( )
mecânico... mas o:: o normal e até hoje:: que
se faz bastante é::... é jogar o café no
terreiro... e deixar alguns dias lá... no sol
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
zero MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem
perspectiva
20
A numeração dos exemplos citados obedecem à codificação usada no corpus.
93
Excerto 13a (ALMS)
Antônia: ... Eu fui lá e bati na minha irmã...
puxei o cabelo da minha irmã, minha... meu pai
veio de lá pra cá me jogou um... tijolo... aí eu
escondi no meio... assim a barranca do rio é
assim, então eu escondi no meio daquele... no
meio do buraco que faz aquele... [acho que
não sei que faz... diz que é jaú que faz aquele
buraco ali, na beira da barranca,] aí eu entrei
no meio daquilo ali, meu pai foi atrás de mim,
daí ele não me conseguiu bater em mim, aí
ele... e veio quase que ele morreu sabe. Aí
sabe, guria do céu... aí a minha mãe...daí minha
me bateu, mas me bateu, até hoje eu tenho sinal
disso... sabe, então até... ichê... não vou conta
nem outros mais... porque aí é pior... (risos)
(Inquérito h – ALMS)
a) MN + MC + MN
b) P. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
Verifica-se no primeiro exemplo - 11a (NURC/SP) - que tanto na inserção
como no segmento anterior e posterior, os tempos verbais pertencem ao mundo
comentado. Já no segundo exemplo - 13a – ALMS -, os tempos verbais do segmento
anterior à inserção passam do mundo narrado para o mundo comentado na inserção e os
tempos verbais do segmento posterior à inserção passam do mundo comentado para o
mundo narrado. Observa-se, no entanto, que não há “quebra” da seqüência textual e
nem da coerência do texto. Tanto no primeiro como no segundo caso, a inserção
acrescentou uma explicação, comprovando o seu próprio caráter discursivo de incluir na
fala comentários/observações com diferentes funções.
94
Contrapõem-se a esse resultado as inserções pertencentes ao mundo narrado
que se apresentaram em número menor – 28% – quando, segundo o autor, o locutor
afasta-se do seu discurso, numa atitude mais branda, mais moderada, sem a sua voz;
apenas “relata fatos” como afirma Weirinch (1974). O “eu” não se impõe e nem chama
o outro a assumir o comando da fala, o que se pode notar nos seguintes exemplos:
Excerto 11a (ALMS)
(?): isso.
Alda: diz
21
que uma senhora... mandou o filho
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá
nessa viagem, de levada do almoço, [que a
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
mãe fazia
a comida e mandava... o mais
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
ele comeu toda a carne da comida, a mistura
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina...
(Inquérito f – ALMS)
a)
MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito
+ Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
95
Observa-se, nesse excerto (11a ALMS), o uso do discurso indireto, o que
denota a ausência de compromisso por parte do informante. Ele apenas relata os fatos.
Conforme seção teórica da presente pesquisa, Weinrich (1974), em estudo
dos tempos verbais do francês, afirma serem tempos do mundo comentado o presente, o
pretérito perfeito composto, o futuro do presente e as locuções verbais constituídas por
esses tempos. Quanto ao mundo narrado, mostra serem o pretérito perfeito simples, o
pretérito imperfeito, o pretérito-mais-que-perfeito e o futuro do pretérito do modo
indicativo os tempos verbais característicos.
Tal teoria se comprova na medida em que a maioria das inserções cujos
tempos verbais são do mundo comentado, como pode ser observado no gráfico 9, que
tem como tempo de maior freqüência o presente, ou seja, 78% das 95 inserções, que,
analisado na ótica da perspectiva de locução, é considerado o tempo base ou o tempo
zero desse mundo, ou seja, tempo sem perspectiva como se vê nos excertos extraídos
dos corpora estudados.
De 95 inserções de mundo comentado
78%
7%
7%
8%
Tempo Presente
Pretérito Perfeito
Presente/Prerito Perfeito
Outros tempos verbais
21
O verbo “dizer” funciona como introdução do discurso.
96
Gráfico 9 – Tempos verbais.
Excertos 24a, 24b: (NURC/SP)
Excerto 5a: (ALMS)
Célia: nós puxava água com Porunga do rio
assim, [não é do rio, é da mina]... longe...
(?): e trazia aqui...
Célia: e trazia, e nós colocava na... na boca do
Porunga... as folha de samambaia pra não... vir
golfando a água... então pra não pular... nó
a) MN + MC + MN
b) P. Imperfeito + Presente + P.
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo Zero MN
d) Sem perspectiva (2º Plano) + Sem
perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano)
Inf. ...profissões?... por exemplo.. lixeiro... (ou)
atualmente... varredor de rua... servente de
escola que é o com:: que eu tenho maior
contato... (isso eles as/) a escolaridade deles é
Mínima... mal ele (não) [inclusive (no)... até
nos livros de pontos eles NÃO conseguem
assinar o no/ o próprio nome...] não se
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
Comunicam de forma nenhuma... as
empregadas domésticas também... então é
só::... essas profissões assim mais::... [por
exemplo balconista... ou pessoas (o) que (eles)
servem em restauran::te entende?...] são
essas profissões... mais::... sem escolaridade
que leva a isso né? que não eXIge da pessoa...
porque é uma coisa mais mecânica...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e)
97
colocava essas folha de samambaia bem
lavadinha pra poder a água para. E uma vez era
muito grande o Porunga e eu era pequeninha...
o Purunga molhado e... corri, derrubei e
quebrei...
(Inquérito a - ALMS)
Faz-se importante lembrar, ainda, que de acordo com Corôa (1985), já
mencionada anteriormente, o presente é o tempo em que o momento do evento (ME), o
momento da fala (MF) e o momento da referência (MR) são simultâneos e, para isso, é
necessário que exista pelo menos um “ponto” em que cada um dos pontos seja
simultâneo. Reportando-se à teoria da autora, vale lembrar, também, que o presente
pode ser usado com diversificados valores como futuro, presente dramático, expressar
verdades gerais e atemporais, além de poder manifestar o que ocorre habitualmente e o
que ocorre no momento em que se fala. Algumas dessas situações – visão semântica –
podem ser constatadas nos casos em que o falante, na inserção, foge da narração,
fazendo um comentário, uma justificativa, uma observação de modo geral como se
observa a seguir:
1º caso: presente que expressa verdades gerais e atemporais
Excerto 16b: (NURC/SP)
... eu imagino um indivíduo que trabalha
na rua... andando... se locomovendo
que::... soa muito mais do que a gente que
fica dentro de um escritório às vezes
tendo ar condicionado às vezes não... a
dificuldade que deve ser entende?... então
tem éh::... [o paulistano é mais fechado
mesmo] eu acho que:: uma das
influências seria a natureza e o nosso
próprio clima entende?
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente +
Presente
98
Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)
2º caso: presente para manifestar o que ocorre habitualmente.
Excerto 18a (BAND/SP)
... i eu nu gostava di distalá fumu i gostava
muitu di iscola... aí eu comecei a chorá... e: ::
os otru nu fizeru conta qui us otru nu gostava di
iscola né? então nu fizeru conta... e eu comecei
a chorá... ele já tinha as vara di marmelu assim
assentadu ca paredi di ferrrão assentadu assim
na euzinha assim as vara di marmelu... naqueli
tempu [hoji... as criança di hoji nu toma nem
um biliscãozinho assim nu toma] naqueli
tempu Nossa senhora a genti apaNHAva ( )
principalmente meu pai meu pai Dava ( )... daí
dipois eli disse assim...
(Inquérito 10 - BAND/SP))
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Pret. Imperfeito
3º caso: presente para manifestar o que ocorre no momento em que se fala:
Excerto 8a: (NURC/SP)
Inf.: e a parte acidentada é uma parte
vamos dizer de morraria... e justamente
servia pro gado... enquanto que a parte
plana servia pra:: pra culturas em geral
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
.Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas
[eu estou
afastado do::... do habitat...
((riu))] mas:: cultivava
milho... cana-de-
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não
eram constantes culturas anuais... que se
renovavam... pro exemplo algodão... e::...
a) MC + MC + MN
b) Presente + Presente + Pret.
Imperfeito
99
depois plantava-se também às vezes
eucaliptos... aí aí mais tempo já não é
cultura anual né?... ma ta/mas também
corta e renova transforma em pasto...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
Não foram encontrados no corpus analisado as seguintes situações: presente
com valor de futuro e presente com valor de presente dramático. Esse fato pode se
justificar pelo tipo de corpora estudado.
Analisando os tempos verbais das inserções de mundo comentado, poucos
foram os casos – apenas 7% – de uso do pretérito perfeito, que têm valor retrospectivo
com relação ao presente, denominado tempo zero ou tempo base do mundo comentado,
o que de certa forma contraria ou destoa do afirmado por teóricos como Koch (2003:56)
que esclarece: “a classificação dos tempos verbais de Weinrich, que, (...), tomou por
base o francês, apresenta alguns problemas, pelo menos no tocante ao português”,
referindo-se principalmente ao pretérito perfeito simples como um tempo verbal
extremamente freqüente, tanto em textos do mundo comentado, como do mundo
narrado.” Não foi o que ocorreu nos textos do corpus estudado, uma vez que sua
presença não é significativa, apesar de haver o emprego do tempo nos dois mundos
como se pode visualizar em:
Excerto 7d (ALMS)
(?): é, qual que foi?
Moisés: no caso eu tinha muito berruga assim na
mão, no caso... assim então inclusive tem um
índio [que... (já faz muitos anos) que morreu],
naquela época tinha... época 12 anos atrás...então
a) MC + MC + MN
b) Presente + Pret. Perfeito +
Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MC + Tempo
100
tinha muita berruta na mão, não sarava de jeito
nenhum... não cabava... aí um índio falou: eu sei
uma simpatia que vai sumi isso aí, sem você
sangra a mão, sem faze nada, você não vai sofre
nadam só que você tem que faze.
(Inquérito c - ALMS)
retrospectivo MC + Tempo
zero MN
d) d) Sem perspectiva +
Retrospecção + Sem
perspectiva (2º plano)
Excerto 23a (ALMS)
Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim
aí na cozinha... tinha dois filho... dois filho
[fiquei dois ano em Corumbá sem poder ver
meu filho...] aí depois ela brigou com milha
filha aí por um caso bem.... bem diferente que
Deus foi pai... _____
(Inquérito t – ALMS)
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Perfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (1º plano).
Esse fato poderia se comprovar pela especificidade do corpus que está
sendo analisado; formado por inserções que por si só são essencialmente comentários de
vários tipos, devido ao seu próprio caráter discursivo, - o de tecer comentários,
justificativas e observações acerca do que está sendo apresentado - há o predomínio do
presente. O uso dos outros tempos, embora ocorra, é esporádico, comprovando-se, nesse
corpus, que os tempos verbais cumprem sua função discursiva.
De acordo com o gráfico 10, onde são apresentados os percentuais dos
tempos verbais no mundo narrado, 28% das inserções do total dos corpora analisados
que pertencem ao mundo narrado, apenas 22% delas - porcentagem pouco significativa
- têm o pretérito perfeito como tempo verbal. Esses casos fazem parte do corpus
101
pertencente ao Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul, ao Projeto Filologia
Bandeirante e Português Popular do Brasil, ambos de São Paulo, cujos entrevistados
têm menor escolaridade. O pretérito perfeito, de acordo com Corôa (1985), como se
pode constatar nos textos analisados, é usado para descrever o passado sob a visão de
um observador que se localiza no presente.
De 37 inserções M N
59%22%
11%
8%
Pretérito Imperfeito
Pretérito Perfeito
Pretérito Imperfeito +
Pretérito Perfeito
Outros tempos verbais
Gráfico 10 – Tempos verbais no mundo narrado.
Interessante comentar, também, que o pretérito imperfeito, já mencionado
pela referida autora como sendo momento do evento (ME) simultâneo ao momento de
referência (MR) e os dois anteriores ao momento da fala (MF), sobressai sobre o
pretérito perfeito, perfazendo um total de 59%, o que corresponde a quase o triplo de
casos.
Excerto 14a (NURC/SP)
102
Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá
casquinha que fica ainda... ahn se vendia
assim ou:: já se entregava de uma... numa
outra condição
Inf.: não me lembro bem viu? como era
viu?... [porque ne/ nessa época...
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?]
Doc.: uhn uhn
Inf.: então não me lembro bem como era
vendido o arroz...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Imperfeito
+ Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
zero MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva MC
Longo (1990), já mencionada na seção anterior, afirma que mediante o traço
[- perfectivo], pode-se esclarecer que as situações de uso desse tempo, como se constata,
servem para:
a) narrar ou descrever ações passadas consideradas “contínuas, permanentes,
ou de localização vaga no tempo” como se observa nos excertos 11a (ALMS), 11b
(ALMS) e 18a (ALMS), respectivamente.
Excertos 11a/11b (ALMS)
(?): isso.
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz
22
que
lá nessa viagem, de levada do almoço, [que a
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
mãe fazia a comida e mandava... o mais
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
22
O verbo dizer funciona como introdução do discurso.
103
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
ele comeu toda a carne da comida, a mistura
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina...
(?): aí ele...
Alda: ...aí que começou, diz que aparecer
vaca. Meu esposo conta que via...[e era forte
essa lenda,] começou a vaca indo...(pausa)
pessoas morrer sem língua... e aí esses menino
ficou no mundo... o come língua, o come
língua, agora sumiu o nome, acho que ele
parou... de certo a missão dele foi cumprida,
nunca mais comeu língua de ninguém
(Inquérito f – ALMS)
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito MN + Pret.
Imperfeito MN + Pret. Perfeito
MN
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
Excerto 18a (ALMS)
(?): feiticeira?
Camila: é, aparecia as feiticeira... feiticeira que
diz
22
que ia raspa... as criança pagã, não
batizava, [antigamente tinha isso] diz que
raspava as criança assim pela casa. Minha mãe
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo zero
22
O verbo dizer funciona como introdução do discurso.
104
sempre contava isso, que antigamente tinha
essas coisas... essas lenda... lobisome, tem
mula sem cabeça... essas coisa assim....
(Inquérito n – ALMS)
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
b) mostrar ações passadas freqüentes, como em 1a (ALMS)
Excerto 1a: (ALMS)
Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra
eles ... e as pessoa não tacava mesmo aí fora
de hora assim porque....
(?):tinha medo
Célia: ... tinha medo, então... ficou
por
muitos ano, [aquele tempo era terra de
chão, não tinha asfalto era muito buraco,
os carro... patinava no barro então as
pessoa não abusava...]
(?): tinha medo.
Célia: É, não abusava muito por causa
disso porque tinham medo, agora não...
(Inquérito a – ALMS)
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito/Pret. Perfeito
+ Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo
zero MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano/1º
plano) + Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva (2º
plano)
c) destacar ações concomitantes em tempo anterior, conforme:
105
Excerto 9a (BAND/SP)
Inf. só que a: :: u terrenu era tinha um
casarãu grandi nu meiu...i im roda du casarãu
grandi deli era u: :: us bacateru tudu...sabi?
intãu fazia vizinha: :: beranu até ca dutra
aqui...i u caquiseru era a mesma coisa...tinha
uma parti di caqui...i ota parti di: ::
bacati...[até eu lembru (di um dia) eu ia
inu
pa pa roça...na casa da minha ermã...entrô
uma turma lá pa robá abacate deli eli
correu ((ri))]
Doc. ( )
Inf. é sempri fazia issu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
a) MN + MN + MN
b) Pretérito imperfeito +
Pretérito imperfeito/Pret.
Perfeito + Pretérito
imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempos
zero MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º
plano/1º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
A autora esclarece, também, que os usos do tempo pretérito imperfeito os
poderiam ser rotulados como modais, sendo de justificativas mais difíceis, servem para:
d) elaborações hipotéticas, que não foram encontradas nos corpora e, para
facilitar a compreensão do leitor, optou-se por extrair um exemplo de Longo (1990, p.
169): “Se eu ganhasse na loteria, comprava aquela fazenda”.
e) indicar polidez por parte do falante, caso que não se localizou nas
inserções que compuseram os corpora, mas se detectou muitas vezes nas falas dos
documentadores ao solicitar que os informantes contassem algum fato ou esclarecessem
106
alguma dúvida como se percebe nos inquéritos que constituem o Atlas Lingüístico de
Mato Grosso do Sul.
Exemplo:
Janete: (...) eu acho que isso aí é uma lenda
mesmo.
Doc.: É? E a senhora já achou algum caso
interessante ou engraçado que a senhora podia
contar?
(Excerto do ALMS)
Nota-se na fala do documentador que ao invés de dizer “Conte algum caso que a
senhora achou interessante ou engraçado”, ele faz uso da polidez, para preservação
da face a fim de conseguir aquilo que deseja.
Finalmente, a referida autora esclarece que o pretérito imperfeito ainda pode
ser usado na linguagem infantil em situações como: “Agora eu era
herói”.
As observações sobre maior emprego do pretérito imperfeito que do
pretérito perfeito nas inserções que compõem o estudo, levam-nos à seguinte reflexão:
por não existirem elocuções formais nas segunda e terceira partes do corpora,
respectivamente, Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e Projeto Filologia
Bandeirante-SP e Português Popular do Brasil -SP e nas entrevistas os documentadores
direcionarem mais para a contação de narrativas, é que o pretérito imperfeito sobressai-
se como tempo verbal das inserções de mundo narrado.
É importante relembrar, no entanto, que nessa parte do corpora estudado, o
número de inserções do mundo comentado é predominante, correspondendo a 62%.
Algumas inserções dos corpora estudados, as de textos do Atlas Lingüísticos de MS,
107
chamaram a atenção por compartilharem tempos verbais do mundo comentado e do
mundo narrado, mostrando que mesmo em tais situações a transição de um mundo para
o outro é realizada de forma branda; o que representa uma contribuição para
manutenção da coerência, pois essas transições estão sempre ligadas a objetivos
discursivos.
Excerto 20c (ALMS)
(?): como que é o neguinho d’água, a lenda do
neguinho d’água... diz que eu não conheço.
Lídia: é um... é um... pretinho, ele sai... aí ele
uma vez diz que ele ia carrega um guri [e tem...
e aqui também diz que tem aquela escola,
não tem a escola {que eu mostrei pra a
senhora}
23
, antiga de...] diz que lá é...lá já
morou...tem bastante professor, que morreu
dois professores, uma professora e um
professor, ...
(Inquérito p – ALMS)
a) MC/MN + MC + MC/MN
b) Presente/Pret. Imperfeito +
Presente + P. Perfeito
c) Tempo zero MC/Tempo zero
MN + Tempo zero MC +
Tempo zero MN
d) Sem perspectiva/ Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem
perspectiva (1º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; passa para
o mundo narrado; muda para
o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado.
108
Excerto 25a (ALMS)
(?): nossa!
Homem: certo. Em vez de eu voltar pra fazenda
voltei... mas ele me chamou claramente. Quer
dizer, de coisa que eu... tenho visto... esse foi
um e... [nesse município quando eu vim
de_____ pra esse município eu fiz uns dois
mil metro quadrado de casas pré-montadas
[que eu sou especialista nisso,]]
24
na minha
casa chamou também... certo, chamou... na
porta... é o pássaro... ___
(Inquérito x - ALMS)
a) MN + MN/MC + MN
b) Pret. Perfeito + Pret.
Perfeito/Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
zero MN Tempo zero MC +
Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva MN (1º
plano)/ Sem perspectiva MC
+ Sem perspectiva (1ºplano).
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção permanece no
mundo narrado (1º plano) e
continua no mundo
comentado e finaliza no
mundo narrado (1º plano).
Excerto 9a (ALMS)
(?): pegou na sua perna?
Socorro: aqueles... na minha perna, meu pai
vinha com a carroça cheia de rama, pra dar pra
os porco, [ele criava porco, e a gente quando
é criança você sabe, vinha na beirada na
a) MN + MN/MC/MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito/Presente/Pret.
Imperfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN/Tempo zero MC/Tempo
zero MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
23
Oração adjetiva; não pertence à inserção.
24
Há a presença de duas inserções: a segunda está intercalada na primeira.
109
carroça...]aí menina, uma cobra enrolou na
mina perna e eu gritei... mas eu fiquei com
medo então eu fiz assim... isso me marcou
também...
(Inquérito d – AL/MS)
perspectiva (2º plano)/ Sem
perspectiva /Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado; na inserção
permanece no mundo narrado
(2º plano), passa para o mundo
comentado e retorna ao mundo
narrado para permanecer no
mundo narrado.
Como Bastos (2001, p. 88), em estudos de coesão e coerência em narrativas
escolares escritas, constatou-se casos de alternância comentário/narração que ocorrem
como “uma intervenção do narrador” que emite uma avaliação ou como nos exemplos,
explicação ou comentário sobre o dito. A autora afirma que a teoria de Weinrich (1974)
mostra essa possibilidade, mas não menciona ser tão evidente como nos textos
analisados por ela – narrativas escolares escritas. Em relação aos segmentos anteriores e
posteriores às inserções, verificou-se que tal alternância também é freqüente e exame
mais detalhado será efetuado no momento em que se analisar o conjunto dos três
segmentos.
O estudo dos excertos que compõem o corpus mostra que as inserções e os
segmentos anteriores e posteriores a elas constituem um quadro em que se visualiza que
dos 135 excertos analisados – 45 de cada corpus –, 40% apresentam os três segmentos
com tempos verbais pertencentes ao mundo comentado e 20% têm os tempos verbais do
mundo narrado. Os outros 40% intercalam mundo comentado com mundo narrado,
como pode ser verificado no gráfico 11.
110
De 135 excertos
40%
20%
40%
Três seguimentos C/T.V. MC
Três seguimentos C/T.V. M N
Seguimentos C/TV Mistos
Gráfico 11 – Análise dos segmentos dos corpora.
Tais situações podem ser verificadas nas análises abaixo:
Excerto 38a (SOCIOL/SP)
25
Doc. e como é que é a relação com os vizinho
aqui? Conhece muita gente...
Inf. é a gente conhece bastante gente tem gente
que a gente conhece nem sei do nome sabe...
mas meus vizinho meus vizinho aqui [sabe de
uma coisa?] A maioria dos meu vizinho são
piauiense é pernambucano... é sim
Doc. tudo de lá...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
Excerto 21a (Atlas/MS)
(?): é, capado.
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava
a)
MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
25
A sigla (SOCIOL/SP) representa a parte do “corpus” do Português Popular do Brasil de São Paulo.
111
o porco pra anda um pouco e nóis montava, e
ela ia pra roça e nóis ficava brincando
montando nos porco, aí os porco varava por
baixo do arame e nóis caia porque nóis batia
no arame ou na cerca... e também nóis fazia
carroça de... da nossa bonea, [que
antigamente a gente não tinha nada,] era
boneca de sabugo, aí a gente fazia a carreta do
queico da vaca, assim da cabeça da vaca nóis
virava de cabeça pra baixo assim...
(Inquérito q – ALMS)
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano).
Excerto 15a: (NURC/SP)
Inf.: ... Barretos nem se costumava tirar
leite das das vacas... que haviam dado
cria... então:: o próprio leite que ela...
vamos dizer produzia... era consumido pelo
bezerro... e... pro ninguém mais... [inclu/
inclusive então é pouco leite...] depois... os
próprios bezerros nem sempre ficavam no
estábulo... a:: às vezes... ficava assim uma
duas semanas depois já ia pro pasto com a
mãe.... e::... que seria separado quando
estivesse um pouco maior
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero MC
+ Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
Parece ser marcante a tese apresentada por estudiosos da Lingüística
Textual de que mesmo no texto falado, considerado por muito tempo, caótico,
desorganizado, a coerência textual está presente e, o que é importante, observa-se que
de modo geral conservam-se os tempos verbais do mesmo mundo do segmento anterior
na inserção e no segmento posterior. A parte referente ao corpus do Projeto NURC/São
112
Paulo sobressai-se em relação aos demais grupos de inquéritos por apresentar o maior
número de casos – quase três vezes maior – em que os três segmentos têm seus tempos
verbais no mundo comentado. Apesar de mais de um gênero textual – elocuções verbais
e diálogos entre dois informantes e entrevistas com um informante – verifica-se que em
todos eles há incidência do mundo comentado, surgindo a hipótese de que maior
escolaridade e temas mais expositivos conduzem a uma maior tendência para o emprego
do mundo comentado.
Contrapondo-se a esse resultado, verifica-se em Mato Grosso do Sul maior
tendência para o emprego do mundo narrado nos três segmentos, o que poderia estar
ligado à baixa escolaridade e a temas mais narrativos. Por outro lado, os informantes de
São Paulo do Projeto Filologia Bandeirante e do Português Popular do Brasil, também
de baixa escolaridade, evidenciam o uso de tempos verbais do mundo narrado, só que se
alternando com os tempos verbais do mundo comentado. O predomínio deu-se na
seqüência de tempos verbais do mundo narrado, tempos verbais do mundo comentado
na inserção e, para finalizar, tempos verbais do mundo narrado, conforme se observa
em:
Excerto 30b (NURC/SP)
Doc. (muito) bonita ((risos))
Inf. Belo Horizonte:: é uma cidade atrativa
uma cidade:: limpa uma cidade... [inclusive
naquele centro de Belo Horizonte onde a
gente costuma estar MAIS quando vai a
Belo Horizonte dá uma sensação assim de
largueza muito grande...] que São Paulo não
apresenta muito porque São Paulo cresceu
desordenadamente mesmo no Rio de Janeiro
que tem uma feição arquitetural arquitetural
completamente diferente São Paulo...
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
zero MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem
113
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47)
perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado;
permanece no mundo
comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
Excerto 12 a (ALMS)
Adônia: ...eu emborcaba a canoa no meio do
rio e ela ficava lá e vortava pra trás nadando...
(risos)... aí, meu Deus. Daí quando era de noite
e daí pra dormir, [que... aquele tempo...
urrava mesmo... até goela é onça.... e pegava
um pegava tudo, nóis era dez... panhava
tudo, não tinha... não queria nem saber...]
Ah! vinha jantar e tal jantá...aí eles queriam
bater ni mim... aí já vi... que o meu irmão
tava... aquele tempo que papai plantava milho,
aquele paior de milho lá em cima e ele criava
porco e os porco ficava...
(Inquérito g – ALMS)
a) MN + MN +MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfetio
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e,
finaliza no mundo narrado (2º
plano)
Excerto 14a (NURC/SP)
114
Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá
casquinha que fica ainda... ahn se vendia
assim ou:: já se entregava de uma... numa
outra condição
Inf.: não me lembro bem viu? como era
viu?... [porque ne/ nessa época...
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?]
Doc.: uhn uhn
Inf.: então não me lembro bem como era
vendido o arroz...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Imperfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva MC
e) Função explicativa
f) Mundo comentado e narrado; na
inserção passa para o mundo
narrado (2º plano) e, retorna ao
mundo comentado para finalizar.
Essa constatação reflete mais uma vez a comprovação de que as inserções
não representam propriamente uma divisão da unidade discursiva. Quando há mudança
de tempo verbal percebe-se que ocorre em função da intenção do falante de
proporcionar ao seu interlocutor um comentário sobre o que está sendo dito. A alteração
de atitude comunicativa - passagem de um mundo para outro - realiza-se de forma
suave, branda, sem que se possa avaliar como quebra ou ruptura perceptível e da
seqüência e da coerência expressas pelos tempos verbais.
Se as inserções são constituídas de tempos verbais do mundo comentado e
se o tempo predominante é o presente, é possível constatar ainda que o tempo verbal
utilizado está ligado às funções dessas inserções. A pesquisa evidenciou que grande
parte delas manifesta-se com funções explicativas e de comentário, seguidas pelas de
115
retórica e esclarecimento, confirmando que as inserções são estratégias utilizadas pelos
falantes com a finalidade de ajudar o interlocutor a compreender o texto. Isso justifica a
presença do mundo comentado e do tempo presente, contribuindo para que o
interlocutor possa dar maior coerência ao texto falado, visto que o seu planejamento é
momentâneo, pois a interação realiza-se face a face. Estudos como o de Marcuschi
(2001) e Koch (2003a) mostram que a coerência está muito mais centrada no receptor
do texto que no próprio texto.
É possível relacionar as inserções de função explicativa que ocorrem no
mundo comentado com o tempo presente e as do mundo narrado com o pretérito
imperfeito, conforme exemplos abaixo:
Excerto 12a (BNAD/SP)
Doc. daí quando o senhor trazia...levava a
caça pra casa...como é que era? fazia festa ( )?
Inf. é quandu cunticia
di pegá pur exempru
uma: :: um viadu [( ) purque u viadu é
grandi né? ((ruídos)) pega
eli até: ::(si
abusá) quarenta cinquenta quilu]...um
viadu...aí lidava
bem repartia ca família...qui
tinha: :: parenti ( ) da genti pertu né? pa num
ficá cum tudu im casa divi/dividia...dividia
essi tipu di coisa assim
(Inquérito 9 - BAND/SP)
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito +
Presente + Pretérito
imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
zero MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
Excerto 19b (NURC/SP)
116
... e sobretudo à grande exposição de
pintura francesa... que em mil novecentos
e quarenta... fecha o decênio de maneira
espectacular... pra muitos de nós... foi o
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa::
chegada dos quatro franceses... [porque
nós que éramos alunos da Faculdade
nessa ocasião... íamos à à à à con/ à à::
exposição de quadros muitas vezes com o
professor (Moguet) para que ele nos
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi o primeiro contato em
profundidade com a pintura... e...
(Inquérito nº 156 - Bobina nº 54 -
NURC/SP)
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Imperfeito
+ Pret. Perfeito
c) Tempo zero MC + Tempo
zero MN (2º plano) +
Tempo retrospectivo MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano) +
Retrospecção
a) Função explicativa
Ao observar as funções de comentário, de esclarecimento e retórica,
percebe-se a presença do mundo comentado que se manifesta por intermédio do
presente, o que é compreensível, visto que se trata do tempo zero ou tempo base do
referido mundo. Já nas de mundo narrado, é marcante o uso do pretérito imperfeito. Há
casos de metáfora temporal em que o futuro do pretérito faz as vezes do presente como
em 2a (NURC/SP).
Excerto 2a - (NURC/SP)
... então os testes deles possuem assim... éh
GRAUS de dificuldades... crescentes... éh...
ehn:::.., bom... o [... que seria
26
então... éh::
uma nota bruta... num teste?] Seria aquela
nota total... de erros... e acertos então cada
indivíduo... realiza o seu teste e:: obtém uma
a) MC + MC + MC
b) Presente + Futuro do Pretérito =
Presente (metáfora temporal) +
presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
26
O tempo seria equivale, no texto, ao tempo presente.
117
nota... que é o total de erros... e acertos...
MAS... essa nota simplesmente... não diz
muita coisa... então... ...nós precisamos ter...
(Inquérito nº 377 - Bobina nº 123)
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
Ao empregar um tempo verbal do mundo narrado no segmento de inserção
do mundo comentado como no excerto seguinte, 11b do Projeto NURC/São Paulo,
verifica-se menor responsabilidade por parte do locutor, uma vez que o tempo futuro do
pretérito, considerado tempo prospectivo do mundo narrado, aparece no interior do
mundo comentado. Trata-se, segundo Weinrich (1974) da metáfora temporal.
Excerto 11b - (NURC/SP)
Doc.: como é o terreiro?
Inf.: o terreiro é uma:: uma porção vamos
dizer de... de tera... ah... calçada... com::...
lajota... bom ou às vezes é cimentada mas
em geral é com lajota... e fica ali:: é:: um::
( ). ... [como poderia
27
chamar?] - um
chão... ou às vezes até:: chão:: batido
mas... normalmente tem lajota no terreiro
Doc.: e o... grão é é::
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Fut. Pretérito = Presente
(metáfora temporal) + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero MC +
Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem perspectiva +
Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo comentado e
finaliza no mundo comentado.
27
O tempo poderia equivale, no texto, ao tempo presente.
118
Neste caso, o futuro do pretérito tem valor de presente e, nessa situação,
manifesta, também, a preservação da face. Segundo Bange apud Koch (2003a, p.75) o
ato da linguagem faz-se por intermédio de textos e trata-se de um “ato social”, de
interação com o outro, o que exige em muitos momentos polidez por parte do falante
para que não se exponha como autoridade constituída. Tal atitude pode minimizar
sentimentos de arrogância e facilitar a conversação. É o que se observa no excerto 11b
(NURC/SP), sendo importante ressaltar que o uso da metáfora temporal, que não é
muito freqüente, ocorre apenas na parte do corpus referente ao Projeto NURC/São
Paulo, cujos informantes são pessoas que fazem uso da norma culta, já que têm maior
escolaridade, o que suscita uma nova questão de pesquisa: por ser mais complexo, o
emprego da metáfora temporal – uso do tempo verbal de um mundo no interior de outro
mundo – estaria relacionado a um público de maior nível de escolaridade ou que faça
uso da norma padrão? Provavelmente sim, mas estudos com outros corpus e realizados
com esse objetivo poderão esclarecer esta questão.
Retomando a questão da interação face a face, constatou-se que as inserções
com função de atenuação ou ressalva têm, também, o propósito de facilitar a relação
entre os interlocutores, como já afirmado por Koch (2003b, p. 37). Trata-se da
“estratégia da preservação das faces” que se manifesta mediante os recursos de polidez
usados pelo locutor e que se determina, principalmente, pela função social dos
participantes. É o cuidado para evitar situações constrangedoras que possam ocasionar
complicações, ou melhor conflitos, daí a justificativa para se atenuar ou ressalvar. Em
casos desse tipo, constatou-se o predomínio do presente, como se pode observar nos
exemplos abaixo:
119
Excerto 4a: (NURC/SP)
...então todo artista deve sabe::r... ah:: o
conteúdo da peça o que vai acontê/ e
conhecer bem a peça... e... com seu talento...
[não estou quere::ndo com:: isso dizer que
sou um grande artista porque quando eu
fui artista longe disso... fui o pior
possível...] mas acho que o camarada deve::
eh:: valorizar... o espetáculo que está do
qual ele está participando... então acho que o
ponto CHAve::o::
(Id. Ibid. 351-357)
Função de atenuação/ressalva
Excerto 20a (ALMS)
(?): fazer como que é a simpatia... tem que
contá como que é a simpatia...
Lídia: não, é uma oração, eles pegam um...
um santinho... e coloca o nome da pessoa...
então coloca o nome da pessoa no mel, uma
coisa assim, [eu não sei
, não sei nada...
porque eu não sou
de fazer...] é... que
coloca dentro do... copinho assim do... mel,
escreve o nome da pessoa e faz uma oração,
uma coisa assim e eu não... pessoal que fala.
(...)
(Inquérito p – ALMS)
Função de ressalva/atenuação
Weinrich (1974), como já se esclareceu, discute as transições temporais, ou
seja, as passagens de um tempo para outro na seqüência linear do texto, classificando-as
120
em homogêneas e heterogêneas. Quando há repetição do mesmo tempo verbal,
concretiza-se a primeira situação; já a segunda, denomina-se de primeiro grau quando
muda o grupo temporal ou a perspectiva, e de segundo grau ao alterarem-se os dois,
grupo temporal e perspectiva, como exemplificam os excertos a seguir:
1. Transição Temporal Homogênea: repetição do mesmo tempo verbal.
Excertos 24a, 24b (NURC/SP)
Inf. ...profissões?... por exemplo..
lixeiro... (ou) atualmente... varredor de
rua... servente de escola que é o com::
que eu tenho maior contato... (isso eles
as/) a escolaridade deles é Mínima... mal
ele (não) [inclusive (no)... até nos livros
de pontos eles NÃO conseguem assinar
o no/ o próprio nome...] não se
comunicam de forma nenhuma... as
empregadas domésticas também... então é
só::... essas profissões assim mais::...
[por exemplo balconista... ou pessoas (o)
que (eles) servem
em restauran::te
entende?...] são essas profissões...
mais::... sem escolaridade que leva a isso
né? que não eXIge da pessoa... porque é
uma coisa mais mecânica...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
Excerto 21a (ALMS)
121
(?): é, capado.
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava o
porco pra anda um pouco e nóis montava, e ela
ia pra roça e nóis ficava brincando montando
nos porco, aí os porco varava por baixo do
arame e nóis caia porque nóis batia no arame
ou na cerca... e também nóis fazia carroça de...
da nossa bonea, [que antigamente a gente não
tinha nada,] era boneca de sabugo, aí a gente
fazia a carreta do queico da vaca, assim da
cabeça da vaca nóis virava de cabeça pra baixo
assim...
(Inquérito q – ALMS)
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
+ Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano).
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado (2º
plano) na inserção e finaliza no
mundo narrado (2º plano).
2. Transição temporal heterogênea
a) Primeiro grau: mudança somente do grupo temporal
Excerto 8a (BAND/SP)
Doc. sei...sei
Inf. i anti deli era um bacateru tamém...que
até u donu u donu du bacateru chamava manué
du santu... [essi eu conheçu ainda lembru du
nomi deli...] chamava manué du santu...aí
distruíru u bacateru discui/...distruíru tamém u:
:: caquiseru...pa fazê essa: :: construçãu
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito + Presente
+ Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
122
(Inquérito 9 - BAND/SP)
Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano)
b) Primeiro grau: mudança somente da perspectiva
Excerto 20b (ALMS)
(?): como que é essa bola... de fogo... a bola
de fogo passa e como...
Lídia: é, tem uma bola de fogo aí onde que vai
essa bola de fogo diz que aparece pra lá, lá pra
o lado do campo, [a senhora viu o campinho
pra lá...] aí diz que tem...lá tem uma serpente
assim e...essa serpente não deixa passar porque
diz que tem ouro, e também tem, diz que tem
lobisome aqui, o pessoal fala que sempre
apareceu, um senhor morreu diz que é, e tem
outra também que fala mas...
(Inquérito p – ALMS)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo zero
MC
d) Sem perspectiva + Retrospectiva
MC + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; na inserção,
permanece no mundo comentado,
mas retrospectivo e, continua no
mundo comentado.
123
c) Segundo grau: mudança de grupo temporal e de perspectiva
Excerto 7e (NURC/SP)
você vai faze assim, assim e assim. Nós vamos
montar a berruga, fazia assim pra o relâmpago
assim, assim. Eu fiz as três vez, sumiu, não tem
nada, só...
(?): sumiu tudo?
Moisés: acabou. [O cara não existe mais, já
morreu
,] então... foi um tipo de simpatia que
eu confio
, porque eu fiz e valeu, agora não sei
se foi a simpatia dele ou se foi a minha fé que
eu tava com aquela vontade de sarar que valeu.
Então eu fique... isso aí tem um segredo que... a
gente sabe
(Inquérito c - ALMS)
a) MN + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Presente/Pret.
Perfeito + Pret. Perfeito/ Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC/ Tempo retrospectivo MC
+ Retrospectivo MC / Tempo
zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva / Retrospecção
MC + Retrospecção MC/Sem
perspectiva
Observa-se que 35% dos excertos estudados apresentam tempos comuns nos
três segmentos, 15% entre a inserção e o segmento posterior e apenas 6,5% entre o
segmento anterior e a inserção. Tal resultado contrapõe-se às transições em que os
tempos verbais mostram-se diferentes, ou seja, 15% têm os tempos distintos nos três
segmentos - inserção e segmentos anteriores e posteriores, 40% em relação ao segmento
anterior e a inserção e 35% no que se refere à inserção e o segmento posterior. Esse
fenômeno mostra o seguinte resultado: no corpus analisado as transições heterogêneas
predominam sobre as homogêneas.
Nos excertos em que há segmentos do mundo narrado, ainda é possível
constatar transições homogêneas relativas ao relevo, como se observou na teoria. São
124
consideradas homogêneas as que apontam as seguintes transições: a) primeiro plano -
primeiro plano; b) segundo plano (pano de fundo) - segundo plano (pano de fundo) e
heterogêneas: a) primeiro plano - segundo plano (pano de fundo); b) segundo plano
(pano de fundo) - primeiro plano como se nota a seguir:
a. Transições homogêneas
Excerto 20a (BAND/SP)
Inf. Ai eu nu: :: eu nu sei poque eu se eu contá pa
senhora pode perguntá pra essa gente eu nu saio
daqui pra nada... eu nu saio daqui quando vô na
cidade vô correndo cedo e já vorto atrais eu nu:
:: nu mexo... nu saio pu parte ninhum
Doc. 1 ( )
Inf. Ah coitado ( ) lavrador só usava um
prantinha [nói era muito pobrizinho nu tinha
nada... é... tinha nada só usava
uma
prantinha]
Doc. 1 ( )
Inf. não nói nu morava
aqui...
Inquérito 02 - BAND/SP)
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva
(2º plano)
26a
28
(BAND/SP)
Célia: Deus o livre. Eu (fiquei) com dó da minha Sem perspectiva (1º plano) +
28
O exemplo faz parte de inquéritos para construção do Atlas Lingüístico de MS, mas não compôs o
“corpus” analisado.
125
irmã ... [já faleceu minha irmã, coitadinha], eu
cheguei e pedi, aí ele falou assim, nós era
pequena ... nove ano acho que era ...
Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
b) Transições heterogêneas
Excerto 26a (ALMS)
(?): Ah! é?
Homem: assim... teve um cara uma vez que... eu
vim de carro, era onze hora da manhã, tinha uma
mulher dando com a mão... _______ correr e ele
__ [que ele sabia que era assombrado,] aí a
hora que ele passou
na Croa ela pareceu do lado
dele sentado assim e a boca dela cheia de ouro, aí
foi sumindo, sumindo, o último que sumiu foi o
ouro da boca...
(Inquérito x - ALMS)
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)+
Sem perspectiva (1º plano)
Excerto 36a (SOCIOL/SP)
Inf. ... me desse um meio de um filho aí num Sem perspectiva (1º plano) +
126
(queria sabê) como evitá só que depois eu num
cumpri ((ri)) e sabe por que? porque depois de
deiz filho o médico “ói...[porque era muito
duente como eu já te falei] quando chegô na
fase do premero... segundo... ó do segundo o
médico começô “você num pode tê filho vai te
que operá”
(Entrevista nº 03 - SOCIOL/SP)
Sem perspectiva (2º plano)/Sem
perspectiva (1ºplano) + Sem
perspectiva
Analisando os corpora, observou-se que embora predominem, no conjunto,
as transições heterogêneas, devido ao valor discursivo de comentário das inserções,
muitas vezes, inseridas no interior de uma narração, há, de um modo geral, uma
coerência interna entre o discurso anterior e posterior à inserção, revelada pela
manutenção dos tempos verbais utilizados nesses segmentos, o que ocasiona coesão
desses tempos verbais.
Excerto 33a (SOCIOL/SP)
Doc. trabalhá... mas foi muito difícil no
começo?
Inf. não foi pra mim não foi difícil por causo
que quando no dia que eu cheguei...[parece
mentira mais é verdade] no dia que eu
cheguei eu arrumei serviço então qué dizê eu
cheguei hoje com a...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
a) MN+ MC + MN
b) Pret. Perfeito + Presente +
Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (1º plano)
e) Função de comentário
127
Para finalizar essa pesquisa, far-se-á, a seguir, as considerações finais,
quando se procurará mostrar as conclusões do estudo sobre as inserções e o uso dos
tempos verbais no português falado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer do estudo, a pesquisadora constatou que as inserções
apresentam inúmeras funções e, tendo escolhido a classificação apresentada por Koch
(2003a, 2003b), concluiu-se que os tipos de inserções de maior freqüência são as
explicativas, seguidas pelas de comentário, retóricas e de esclarecimento. Desse grupo,
as de comentário e as de esclarecimento são funções não elencadas pela referida autora,
que menciona em suas obras a existência de comentários metaformulativos e jocosos.
Nesse corpus ocorreram apenas comentários com abordagens gerais.
Faz-se importante mencionar que, ao classificar as inserções, foi comum
existirem dúvidas em relação às funções explicativas e de esclarecimento, mas percebe-
se que as de esclarecimento adicionam alguma informação, enquanto as explicativas
justificam o já dito. Foi possível, também, relacionar o uso do tempo presente com essas
funções de inserções que desempenham o papel de explicar, comentar, esclarecer e
questionar.
Ainda foi possível perceber que a presença de inserções com as funções
mais citadas, principalmente as de comentário, na última parte dos corpora – entrevistas
do Projeto Filologia Bandeirante e do Português Popular do Brasil – justifica-se por um
percentual significativo dos entrevistados ser de pessoas com menor grau de
escolaridade e, na maioria, idosas.
128
Pensa-se que os referidos sujeitos sentem necessidade de comentar por se
sentirem inseguros diante do documentador que tem maior escolaridade - geralmente
universitários - e precisarem se fazer entender ou, ainda, porque vivem mais isolados,
mesmo tendo família, e sentirem necessidade de comentar, explicar e até mesmo
esclarecer para que o diálogo prossiga. Essas observações são hipóteses que poderão ser
investigadas em outros trabalhos e com grupos de informantes previamente
determinados quanto à faixa etária e à escolaridade.
Para responder também ao objetivo de número 4 (quatro), exposto na
introdução e na seção 4 desse trabalho, estudou-se o uso dos tempos verbais em
excertos compostos por inserções e os segmentos anteriores ou posteriores. Pôde-se
caracterizar as seguintes situações: 1) mesmo tempo verbal no segmento anterior à
inserção; 2) tempo verbal diferente no segmento anterior à inserção; 3) mesmo tempo
verbal na inserção e no segmento posterior à inserção; 4) tempo verbal diferente na
inserção e no segmento posterior à inserção; 5) mesmo tempo verbal na inserção e no
segmento anterior e posterior a ela; 6) tempo verbal diferente na inserção e no
segmento anterior e posterior a ela; 7) mesmo tempo verbal no segmento anterior e no
segmento posterior à inserção.
Tais evidências indicam que as inserções têm características discursivas
próprias e, nos corpora analisados, a maioria delas pertence ao mundo comentado. Em
decorrência disso, o tempo mais empregado é o presente que simboliza, segundo
Weinrich (1974), o tempo zero, sem perspectiva, indicativo de compromisso por parte
do locutor, e, por isso, quando o segmento que as precede pertence ao mundo narrado,
há uma ruptura no que diz respeito à narração, ruptura esta manifestada pelo uso de um
diferente tempo verbal, mas que não ocasiona a ausência de coerência; pelo contrário, as
129
inserções fazem parte de um grupo de estratégias de construção do texto falado que
contribui para a seqüência textual e o sentido do texto, como se observou nos excertos
analisados nesse estudo.
Há casos, porém, em que, na inserção, há manutenção do uso do mesmo
tempo verbal ou grupo temporal (MC + MC+ MC) / (MN + MN + MN) ou do mesmo
plano, quando se trata de mundo narrado, pois, no segundo caso, os tempos podem se
alternar entre pretérito perfeito e pretérito imperfeito – tempos zero, sem perspectiva,
mas, respectivamente, de primeiro plano e de segundo plano. Também aí a inserção não
representa o fracionamento da unidade discursiva.
A quantidade de tempos verbais iguais entre a inserção e o segmento
antecedente ou entre a inserção e o segmento posterior desperta a atenção.
Diferentemente do que pensou Weinrich (1974), quando afirmou ser o pretérito perfeito
o tempo mais usado nas narrativas, o tempo que se sobressai nos corpora observados
não é o pretérito perfeito e sim o pretérito imperfeito, tempo zero ou tempo base, sem
perspectiva e de segundo plano.
Se o texto falado foi considerado, em décadas anteriores, um texto inferior
ao texto escrito, por ser visto como sem um planejamento prévio e sem estruturação,
verificou-se que, apesar de os entrevistados serem pessoas de diferentes idades, sexo e
escolarização, fazem uso coerente dos tempos verbais, mesmo quando o tópico da
conversação é suspenso ou rompido temporariamente. Não obstante a aparente ruptura,
o que prevalece é a coerência, já que o texto exige explicações, esclarecimentos,
comentários, etc.
130
Os tempos verbais estão subordinados ao discurso. Eles não são empregados
aleatoriamente, ao gosto do falante, uma vez que são sempre razões discursivas que
levam a transições heterogêneas ou à mudança do tempo verbal na inserção em relação
ao tempo verbal que o precede ou o segue. Isto mostra que a língua falada não é
produzida ao acaso; tem uma coerência interna, suscetível de ser analisada. Parece que o
falante mostra-se mais preocupado em ser entendido do que aquele que escreve, pois o
escritor sabe que seu texto pode ser relido para melhor compreensão do leitor.
Relacionando os vários inquéritos analisados, observou-se diferença entre a
parte referente ao corpus do NURC de São Paulo, cujos tempos verbais pertencem, em
maior número, ao mundo comentado, tanto que a situação MC + MC + MC prevalece
em 71% dos casos. Nas entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul,
predomina o esquema MN + MN + MN com 42% e, em menor escala, aparece MC +
MC + MC (24,5%). Já na terceira parte do corpus – Projeto de Filologia Bandeirante e
Inquérito do Português Popular do Brasil, há o predomínio da estrutura MN + MC +
MN.
A superioridade de tempos verbais pertencentes ao mundo comentado nos
inquéritos do Projeto NURC de São Paulo parece se explicar pela diferença de
escolaridade entre esses informantes e os demais, assim como a diferença de temas
tratados, haja vista que os inquéritos do NURC/SP são de temas mais expositivos do
que narrativos. Além disso, esses inquéritos desenvolvem em grande parte assuntos
culturais em função dos corpora serem constituídos parcialmente de elocuções formais,
enquanto os outros apresentam entrevistas de caráter mais informal.
131
Pôde-se perceber, de um modo geral, que as mudanças de tempos verbais,
denominadas transições heterogêneas têm freqüência maior que as homogêneas nesse
corpus estudado, contrapondo-se ao dito por Weinrich (1974) de que o contrário é mais
comum. Observou, a pesquisadora, entretanto, que, nos inquéritos pertencentes ao
Projeto NURC/ São Paulo, provavelmente devido à natureza do texto e ao tipo de
informantes, as transições homogêneas – repetição do mesmo tempo verbal – ocorrem
duas vezes mais que as heterogêneas, tanto no que diz respeito à mudança de
perspectiva ou do grupo temporal, ou, ainda, de ambos. Esse fato não acontece com a
mesma freqüência nas partes referentes ao corpus do Atlas de MS e ao corpus do
Projeto Filologia Bandeirante e Português Popular do Brasil.
Ainda nas situações em que o grupo temporal modifica-se em algum dos
segmentos ou em mais de um deles, não há como justificar que ao “suspender” ou
“romper” o tópico para introdução de uma inserção, haja a quebra da seqüência dos
tempos verbais. Ao pesquisar o fenômeno, percebe-se que ao aprender a língua, o
indivíduo sistematiza o seu uso e, independentemente de escolaridade e idade, consegue
fazer uso adequado da linguagem para uma comunicação eficiente.
As metáforas temporais, explicitadas também por Weinrich (1974) como o
uso de um tempo verbal de um mundo em outro mundo, são evidentes em alguns dos
excertos estudados. Importante destacar, porém, que praticamente todos os casos
verificados constituem parte das falas do Projeto NURC/SP. Tal fato permite refletir
sobre a possibilidade desse uso estar relacionado também às pessoas mais escolarizadas,
falantes da norma culta ou, ainda, porque esses usos, que se pode chamar de atenuação,
devam-se a uma preocupação por parte desses falantes, que não eram ou não queriam se
132
mostrar especialistas no assunto, possibilidades que poderiam ser confirmadas com
novas pesquisas.
Apesar de algumas contribuições que esse estudo apresenta, tem-se
consciência de que a análise sobre a natureza das inserções e a sua relação com o uso
dos tempos verbais no português falado não é um trabalho esgotado. Pelo contrário,
sabe-se que se trata de uma abordagem preliminar sobre o assunto e que muitas questões
suscitadas poderão ser objeto de pesquisas futuras com outro corpora.
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ANEXOS
Anexo 1. Excertos de entrevistas do Projeto NURC/São Paulo em
que há inserções
Excerto 1a
... então nós tínhamos por um lado naquela
época muitas crianças com problemas... e
havia uma necessidade... de se pegar essas
crianças... e adaptá-las à escola comum né?
[Porque... quanto mais uma criança possa
(se) adaptar a uma escola comum...
melhor... não há necessidade de
formação... especial::: para educador:: e
nada disso né?]... e por outro lado uma
necessidade de desenvolvimento da
indústria... e a indústria o que precisa?
(Inquérito nº 377-Bobina nº 123)
Excerto 1b
1a
b) MN + MC + MC
c) P. imperfeito + Presente +
presente
d) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
e) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva
f) Função explicativa
g) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na
inserção; permanece no mundo
comentado
1b
. . . e a indústria o que precisa?
Maior produção... maior rendimento... né?... o
indivíduo certo para a tarefa certa...– [não sei
se alguém aqui já ouviu falar no Taylor...
né?] – então em ( ) em termos de traBAlho
nós temos os testes de Taylor... né? que
ele::.... se propôs::... a...
(Inquérito nº 377-Bobina nº123)
b) MC+ MC+ MC
c) Presente + Presente / Pret.
Perfeito+Presente
d) Tempo zero MC + Tempo
zero MC / Tempo
retrospectivo MC+Tempo zero
MC
e) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
f) Função de alusão a um
conhecimento prévio para a
melhor compreensão do
assunto.
g) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção, mas com uma
retrospectiva e, após, permanece
no mundo comentado
Excertos 2a/2b/2c:
... então os testes deles possuem assim... éh
GRAUS de dificuldades... crescentes... éh...
ehn:::.., bom... o [... que seria
29
então... éh::
uma nota bruta... num teste?] Seria aquela
nota total... de erros... e acertos então cada
indivíduo... realiza o seu teste e:: obtém uma
nota... que é o total de erros... e acertos...
MAS... essa nota simplesmente... não diz
muita coisa... então... ...nós precisamos
ter...
2a
e) MC + MC + MC
f) Presente + Futuro do Pretérito
= Presente (Metáfora
temporal) + presente
g) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
h) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
i) Função retórica
j) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
éh um Nível de significância... significativo
esse número de acerto (esse número) de
erros? ...] é significativo em termos
estatísticos... em termos quantitativos... né?
[então::... o que nós fazemos?] Nós
comparamos::... esses resultados... com
2b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
29
O tempo seria equivale, no texto, ao tempo presente: valor metafórico.
padrões... determinados...
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
(Inquérito nº377 - Bobina nº123)
2c
b) MC + MC + MC
c) Presente + Presente + Presente
d) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
e) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
f) Função retórica
g) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
Excertos 3a/3b:
Aqui nós só vamos
30
... fazer uma leitura em
nível pré-iconográfico nós vamos reconhecer
as formas...[então que tipo de formas nós
vamos reconhecer?]... nós vamos
reconhecer bisontes... ((vozes))... [bisonte é
o bisâvo do touro... tem o touro o búfalo::
e o bisonte MAIS lá em cima ainda...] nós
vamos
reconhecer ahn:: cavalos...nós vamos
reconhecer veados... - sem qualquer (nível)
conotativo aí - e algumas vezes MUIto
poucas... alguma figura humana...
3a
a) MC + MC + MC
b) Futuro Presente + Futuro do
Presente + Futuro do Presente
c) Tempo prospectivo MC +
Tempo prospectivo MC +
Tempo prospectivo MC
d) Prospecção + Prospecção +
Prospecção
e) Função retórica
f) Mundo comentado prospectivo;
permanece no mundo
comentado prospectivo na
inserção e continua no mundo
comentado prospectivo.
3b
a) MC + MC + MC
b) Futuro do Presente + Presente
+ Futuro do Presente
c) Tempo prospectivo MC +
Tempo zero MC + Tempo
prospectivo MC
d) Prospecção + Sem Perspectiva
30
As locuções verbais vamos fazer, vamos reconhecer equivalem, no texto, ao futuro do presente.
(Inquérito nº 405 - Bobina nº 141)
+ Prospecção
e) Função explicativa/justificativa
f) Mundo comentado prospectivo;
na inserção passa para o
tempo base, sem perspectiva
do MC e retorna ao mundo
comentado prospectivo.
Excerto 4a:
...então todo artista deve sabe::r... ah:: o
conteúdo da peça o que vai acontê/ e conhecer
bem a peça... e... com seu talento... [não estou
quere::ndo com:: isso dizer que sou um
grande artista porque quando eu fui artista
longe disso... fui
o pior possível...] mas
acho
que o camarada deve::
eh:: valorizar... o espetáculo que está do qual
ele está participando... então acho que o ponto
CHAve::o:: fundamental na numa
apresentação de teatro é o artista
(Inquérito nº 161 - Bobina nº56)
4a
a) MC + MC + MC
b) Fut. Presente + Presente /
Pretérito Perfeito + Presente
c) Tempo Prospectivo MC +
Tempo zero MC / Tempo
retrospectivo MC + Tempo
zero MC
d) Prospecção + Sem perspectiva
/ Retrospecção + Sem
perspectiva
e) Função de atenuação/ressalva.
f) Mundo comentado em
prospecção; permanece no
mundo comentado na inserção
em tempo zero e, a seguir, em
retrospectiva; após, permanece
no mundo comentado
Excerto 5a:
LI então a minha de onze anos... ela
supervisiona o trabalho dos cinco... então
ela
vê se as gavetas estão em orde/...em
ordem se o:: material escolar já foi
5a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
re/arrumado para o dia seguinte... se
nenhum::: [
L2 É
L1 fez::: arte demais no banheiro... [porque
às vezes estão tomando banho e ficam
jogando água pela janela] quer dizer
essa... é supervisora nata é assim...
ah... toma conta... precocemente não? das:::
atividades dos irmãos
Inquérito nº360 - Bobina nº 137)
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e permanece no
mundo comentado.
Excertos 6a/6b:
L2 ...tem que levantar tem que vestir os
dois...
L1 São pequeninos né?
L2 e tenho que me vestir... porque ambos
são pequenos... então eles não aceitam
muito a pajem né para eh : : :... [aliás
não é pajem pajem é pajem e
arrumadeira mas]
L1 ( )
L2 [quer dizer não é só é só não vive
em função deles,] mas de manhã... a
única
função dela é me ajudar com eles... mas
eles não aceitam o menino porque... quer
fazer tudo sozinho... no que eu procuro
deixar... e a menina porque quer que seja
a mamãe que faça né? então sou eu
que. : : : tenho que ir fazer et cetera et
cetera.
(Inquérito nº360 - Bobina nº 137)
6a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
6b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
Excerto 7a:
Doc.: e a iluminação era feita como?
Inf.: então a:: a iluminação era
feita com::
lampião... lampião daqueles tipo Aladim...
com camisinha... de::... [até não sei de que
que era feita a camisinha...] mas era
assim
Doc.: e o tipo de terreno onde situava a
fazenda era um terreno plano ou um
terreno mais acidentado?
Inf: o terreno era... aqui em Campinas...
tem uma parte acidentada...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
7a
a) MN + MN + MN
b) Pret.Imperfeito+ Presente/Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC / Tempo zero MN + Tempo
zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva / Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção muda para o mundo
comentado e depois volta ao
mundo narrado (2º plano)e,
continua, a seguir no mundo
narrado
Excertos 8a/8b:
Inf.: e a parte acidentada é uma parte
vamos dizer de morraria... e justamente
servia pro gado... enquanto que a parte
plana servia pra:: pra culturas em geral
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas
[eu estou afastado do::... do habitat...
((riu))] mas:: cultivava milho... cana-de-
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não
eram constantes culturas anuais... que se
renovavam... pro exemplo algodão... e::...
depois plantava-se também às vezes
eucaliptos... aí aí mais tempo já não é
cultura anual né?... ma ta/mas também
corta e renova transforma em pasto...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
8a
a) MC + MC + MN
b) Presente + Presente + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(2º plano)
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e passa para o mundo
narrado (2º plano) no final
Excerto 9a:
Inf.: e... costuma-se bom no caso... como
nas culturas como o milho não precisa
disso... porque:: eu acho que a planta
milho... já é muito forte... então ela de uma
certa maneira ela abafa até...ah:: capim et
cetera... e:: de qualquer forma o capim
não atrapalha muito... agora... em outras
culturas como a do café... [que eu acho
que é uma planta mais delicada...] então
precisa
carpir o café... e::.. então éh:: essa
carpa do café como se falava... e se faz
de... pelo menos umas duas vezes por ano
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
9a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado e finaliza igual.
Excertos 10a
Inf.: hoje parece que está:: também::
in::convenien/ achá/ chegaram à
conclusão que é inconveniente... o café
coberto
Doc.: e como é que se colhe... o café por
exemplo o senhor se lembra?
Inf.: bom... o:: era
colhido tudo
manualmente... [mas nessa época então::
de:: colheita... até as mulheres passavam
a:: ajudar...] porque a colheita teria que
ser feita dentro de uma certa época...
então é preciso mais gente pra colher...
10a
a) MN + MN + MC
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Fut. do Pretérito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo prospectivo MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Retrospecção
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano); na
e::... é...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
Excerto 10b
inserção permanece no mundo
narrado (2º plano), depois em
tempo retrospectivo e, finaliza,
em mundo comentado e em
tempo retrospectivo.
Inf.: bom... o:: era colhido tudo
manualmente... mas nessa época então::
de:: colheita... até as mulheres passavam
a:: ajudar... [porque a colheita teria que
ser feita dentro de uma certa época...
então é preciso mais gente pra colher...]
e::... é... costumava-se colocar embaixo do
pé de café uma espécie de:: lona... uma
esteira... e a::... e depois vai-se pa/...
passando a mão no galho... e caindo os
grãos... depois colhe-se tudo.
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
10b
a) MN + MN + MC
b) Pret. Imperfeito + Fut. do Pret.
+ Presente
c) Tempo zero MN + Tempo
prospectivo MN + Tempo zero
MC
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Prospecção + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção passa para
prospecção em MN e, no final,
muda para o mundo comentado.
Excertos 11a/11b:
Inf.: vai pro pano... vai pro pano e depois
vai pra um saco e naturalmente ainda o grão
está muito misturado com::... pedrinhas
terra... e depois precisa:: então limpar
aquilo
Doc.: e como é que se limpa?
Inf.: aí limpa
a::... [bom inclusive o grão do
café também precisa
ser secado...] então
precisa
colocar no terreiro... e:: deixar
secar no sol... hoje tem secador também:: ( )
mecânico... mas o:: o normal e até hoje::
que se faz bastante é::... é jogar o café no
terreiro... e deixar alguns dias lá... no sol
Doc.: como é o terreiro?
Inf.: o terreiro é uma:: uma porção vamos
dizer de... de tera... ah... calçada... com::...
11a
e) MC + MC + MC
f) Presente + Presente + Presente
g) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
h) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
i) Função explicativa
j) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado e finaliza no mundo
comentado
lajota... bom ou às vezes é cimentada mas
em geral é com lajota... e fica
ali:: é:: um:: (
). ... [como poderia
chamar?] - um chão...
ou às vezes até:: chão:: batido mas...
normalmente tem
lajota no terreiro
Doc.: e o... grão é é::
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
11b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Fut. Pretérito =
Presente (metáfora temporal)
+ Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado e finaliza no mundo
comentado
Excerto 12a:
Doc.: não
Inf.: mas eu acho que o teatro hoje em dia
está indo pra um caminho eh tão TANto
palavrão tanta... ((risos)).. [ é um negócio
né? fala a verdade ] ((risos)) eu tenho
assistido umas Peças eu assisti u::uma com
a:: aquela artista magrinha de televisão
aquela moreninha que é bailarina também...
eh
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 088)
12a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Pret. Perf.
composto
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo retrospectivo MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Retrospecção
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; na inserção,
permanece no mundo
comentado e, finaliza, também,
no mundo comentado em
retrospecção
Excerto 13a:
Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas
os cenários... depois vários artistas de
televisão estavam trabalhando nessa
peça...
Doc.: uhn uhn
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora
eu tenho u/ a as minhas amigas vão vão
sempre a teatro quase... quase sempre
elas vão quase todo domingo] eu :: sou
13a
a) MC + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Presente +
Presente
c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC + Tempo zero
MC
d) Retrospectivo MC + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; na
um pouco preguiçosa não vou prefiro ficar
assi/ a a aqui assistindo televisão ou
dormindo ou lendo o jornal... mas elas:: e
comentam comigo a I. diz que tem
assistido várias peças mas eu não tenho eu
Parei um pouco de ir agora... sei lá ando
muito cansada não tenho ido mais a teatro
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)
inserção, permanece no
mundo comentado e finaliza
no mundo comentado.
Excerto 14a:
Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá
casquinha que fica ainda... ahn se vendia
assim ou:: já se entregava de uma... numa
outra condição
Inf.: não me lembro bem viu? como era
viu?... [porque ne/ nessa época...
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?]
Doc.: uhn uhn
Inf.: então não me lembro bem como era
vendido o arroz...
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
14a
e) MC + MN + MC
f) Presente + Pret. Imperfeito +
Presente
g) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
h) Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva MC
i) Função explicativa
j) Mundo comentado; na inserção
passa para o mundo narrado (2º
plano) e, retorna ao mundo
comentado para finalizar.
Excerto 15a:
Inf.: ... Barretos nem se costumava tirar
leite das das vacas... que haviam dado
cria... então:: o próprio leite que ela...
vamos dizer produzia... era consumido
pelo bezerro... e... pro ninguém mais...
[inclu/ inclusive então é pouco leite...]
depois... os próprios bezerros nem sempre
ficavam
no estábulo... a:: às vezes... ficava
assim uma duas semanas depois já ia pro
15a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano)
pasto com a mãe.... e::... que seria
separado quando estivesse um pouco
maior.
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção, passa para o mundo
comentado e termina no mundo
narrado (2º plano)
Excertos 16a/16b: 16a
L1 ...quer saber de gravata não quer
nada aqui em São Paulo se você não pôr
uma gravata você não é bem recebido...
não o clima acho que é:: (tem uma)
[
L2 entende? ... ( ) essencial para o::
para o desenvolvimento de:: de certos
afazeres [inclusive eu acho você vê esse
problema de gravata... é até anti-
higiênico] você vê às vezes não
enfrentamos calores de trinta graus você
que sai de casa de manhã... não podendo
voltar... hora do almoço... então você fica
o tempo todo até vir a noite para uma
escola qualquer curso ou qualquer coisa...
com aquela mesma roupa aquela gravata
suANDO entende?... eu imagino um
indivíduo que trabalha na rua...
andando... se locomovendo que::... soa
muito mais do que a gente que fica dentro
de um escritório às vezes tendo ar
condicionado às vezes não... a dificuldade
que deve ser entende?... então tem éh::...
[o paulistano é mais fechado mesmo] eu
acho
que:: uma das influências seria a
natureza e o nosso próprio clima entende?
(Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função argumentativa.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e continua no mundo
comentado
16b
c) MC + MC + MC
d) Presente + Presente + Presente
e) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
f) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
g) Função de comentário.
h) Mundo comentado; na
inserção, permanece no
mundo comentado e continua
no mundo comentado
Excerto 17a:
L2 que existiria entre os estudantes...
L1 isso vai evidentemente acarretar uma
uma uma uma visão não só daquilo que ele
ele passa...como de de outras de outras
profissões existentes...e:: acho
que ter
oportunidade assim de conversar com com
17a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
médicos engenheiros advogados [você veja
por exemplo o caso dos advogados como
que está o mercado de trabalho deles]...
é:: a bendita da lei da da oferta e procura
né? Que regula evidentemente... todas as
profissões em termos de mercado de
trabalho... então realmente no momento
está existindo assim uma demanda muito
grande...
(Inquérito nº 62-Bobina nº 20)
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de exemplificação.
f) Mundo comentado; na
inserção, permanece no
mundo comentado e continua
no mundo comentado
Excerto 18a:
Mário de Andrade...e eu acredito que é
mais importante para nós pararmos um
pouco na meditação do sistema de Arte
que ele estabeleceu...do que em pequenas
manifestações esporRÁ::dicas... que não
terão...tanta importância posterior... de
modo que eu vou tentar na primeira parte
da minha palestra me referir...a algumas
manifestações... e depois me fixar...na:: na
no pensamento estético de Mário...mesmo
aqui eu fiz uma pê/ uma::uma::[ah o meu
enfoque é muito pessoal] porque éh::
tendo que escolher alguns pensadores eu
preferi escolher aqueles que estão ligados
à Faculdade de Filosofia...
(Inquérito nº 156 – Bobina nº 54)
18a
a) MC + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC
d) Retrospecção+Sem perspectiva
+ Retrospecção
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado em tempo
retrospectivo; na inserção,
permanece no mundo
comentado e continua no
mundo comentado em tempo
retrospectivo
Excertos 19a/19b:
Mário de Andrade querendo defender as
idéias... que eram idéias um pouco de Lê
Corbusier e muito de (Gropius)...
difundidas no Brasil... por
(Warchavchik)... [o que nos interessa
hoje... é ... a estética que fazia... de uma
maneira talvez mais aprofundada nos
cursos da Faculdade de Filosofia...] nessa
ocasião os cursos eram dados pro
professores estrangeiros... por professores
franceses ((pigarreou))... e... a atuação
desses professores foi para muitos de nós...
19a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito +
Presente/Pret. Imperfeito +
Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva/Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
passa para o mundo comentado
na inserção e retorna ao mundo
narrado (2º plano) e finaliza no
mudo narrado (2º plano).
... e sobretudo à grande exposição de
pintura francesa... que em mil novecentos
e quarenta... fecha o decênio de maneira
espectacular... pra muitos de nós... foi o
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa::
chegada dos quatro franceses... [porque
nós que éramos alunos da Faculdade
nessa ocasião... íamos à à à à con/ à à::
exposição de quadros muitas vezes com o
professor (Moguet) para que ele nos
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi o primeiro contato em
profundidade com a pintura... e...
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)
19b
b) MC + MN + MC
c) Presente + Pret. Imperfeito +
Pret. Perfeito
d) Tempo zero MC + Tempo zero
MN (2º plano) + Tempo
retrospectivo MC
e) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano) +
Retrospecção
f) Função explicativa
g) Mundo comentado; passa para
o mundo narrado (2º plano)
na inserção e permanece no
mundo comentado em tempo
retrospectivo
Excerto 20a:
...Lévi-Strauss... chegou ao Brasil com
vinte e sete anos... era professor de
Etnografia... mas... ele era filho de
pintor... filho de pintor:: e... amando a
pintura... como em geral... todo pro/ todo
francês de de de formação... intelectual... e
amando a música --- [como nós vemos
pelos livros que ele continua escrvendo e
que muitos deles têm uma... uma:: (tem)
títulos ou em subtítulos tirados da:: da::
da nomenclatura musical... como
acontece com Cru e Cozido- - ] ...
((tosse)) a preocupação de Lévi-Strauss
pela pintura é uma pro/ preocupação...
que percorre a sua vida... ela se manifesta
sobretudo num livrinho precioso... que é...
Entrevistas...
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)
20a
a) MN + MC + MC
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
passa para o mundo
comentado na inserção e
permanece, depois, no mundo
comentado
Excerto 21a:
O Cubismo e a Vida Cotidiana... que foi
publicado na Revista do Arquivo... em
novembro ou dezembro de mil novecentos
e trinta e cinco... e um artigo sobre pintura
moderna que surgiu no segundo número
da Revista Contemporânea... – [que este
eu não consegui localizar... --] o artigo da
da Revista do Arquivo... é todo e/
((pigarreou)) todo ele marcado.. éh que é
sobre a... pintura contemporânea... se fixa
no cubismo foi um movimento paradoxal...
na medida em que... deu nascimento e...
que na éh que tendo nascido e se
desenvolvido sob o signo de do diVÓRcio
entre a arte e o público...
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)
21a
a) MN + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MN (1º plano) +
Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Retrospecção + Sem
perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano);
passa para o mundo
comentado em retrospecção
(1º plano) na inserção e
permanece no mundo
comentado.
Excerto 22a:
um nome ligado a uma série de setores do
pensamento... Jean (Moguet) é... – [a não
ser para nós que tivemos a a sorte a
eNORme realmente ventura de ser seus
alunos--] ele é um desconhecido... no
entanto... foi o professor talvez mais
brilhante que jamais passou... pelos cursos
de Filosofia nessa faculdade... – ele não
fez carreira universitária
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)
22a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo
zero MC
d) Sem perspectiva +
Retrospecção MC + Sem
perspectiva
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção em tempo
retrospectivo e finaliza no
mundo comentado
Excerto 23a:
... Todos os estatutos todas as coisas estão
mudando do governo... todas as faixas
maiores... de ordena::do e tudo de
promoção é tudo na base de nível
universitário... [por exemplo::... um:: uma
coisa que eu ouvi falar... há p]oucos
dias... é que só vão prestar concursos
públicos pra professora professoras que
tiverem Pedagogia...] quer dizer que
(quem) tem curso NORMAL que já é uma...
uma escolaridade alta... (ele) já não pode
mais prestar concurso público pra ser
professora...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
23a
a) MC + MC + MC
b) Presente+ Pret. Perfeito/Presente
= Futuro do Presente (metáfora
temporal) + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC/Tempo
prospectivo MC + Tempo zero
MC
d) Sem perspectiva +
Retrospecção/Prospeção + Sem
perspectiva
e) Função de exemplificação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excertos 24a, 24b:
Inf. ...profissões?... por exemplo.. lixeiro...
(ou) atualmente... varredor de rua...
servente de escola que é o com:: que eu
tenho maior contato... (isso eles as/) a
escolaridade deles é Mínima... mal ele
(não) [inclusive (no)... até nos livros de
pontos eles NÃO conseguem assinar o
no/ o próprio nome...] não se comunicam
de forma nenhuma... as empregadas
domésticas também... então é só::... essas
profissões assim mais::... [por exemplo
balconista... ou pessoas (o) que (eles)
servem
em restauran::te entende?...] são
essas profissões... mais::... sem
escolaridade que leva a isso né? que não
eXIge da pessoa... porque é uma coisa
mais mecânica...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
24a
b) MC + MC + MC
c) Presente + Presente + Presente
d) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
e) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
f) Função explicativa
g) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
24b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de exemplificação
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excerto 25a:
Inf. são::... o:: os operários... de fi/ de
fábricas... operários que a gente chama de
operários especializados... então eles
fazem... cursos... mas os cursos Deles
[inclusive eu tenho um pouco de
experiência nisso (porque) eu estagiEI
...]
são cursos... ahn::... totalmente... ah::...
ato de mecânicos não não entra
a parte
teórica que eles tenham que aprender eles
aprendem só o me-canismo da coisa...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
25a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente/Pret.
Perfeito + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC/Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC
d) Sem perspectiva / Sem
perspectiva/retrospecção +Sem
perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado
Excerto 26a
....da... da advocacia que eles... é uma
parte que cuida de::... que é um:: tipo de
advogado que cuida de assuntos navais...
que é meio
raro aqui no Brasil [inclusive parece
que
só existem dois ou três especializados...]
acho
que (sou) mais ou menos assim mais
familiarizada com essas coisa que eu disse
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
26a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excerto 27a
... pra:: a especialização... acho que uma
que está agora sendo muito procurada e
que não era ... e não se fazia há pouco há
tempos atrás é a plástica... [porque a
plástica era um tabu...] e ao passo que
aGOra:: é
um negócio assim... bastante
normal né?...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
27a
a) MN/MC + MC+ MC
b) Pret. Imperfeito/Presente + Pret.
Imperfeito + Presente
c) Tempo zero MN/Tempo zero MC
+ Tempo zero MC + Tempo zero
MC
d) Sem perspectiva (2º plano)/ Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado/mundo
comentado; na inserção passa
para o mundo comentado (2º
plano) e permanece no mundo
comentado.
Excertos 28a, 28b
Inf. numa escola?... vamos ser assim bem
sinceras bem organizada... ((pigarreou))
nós temos que ter... o diretor... orientador
educacional... a psicóloga [porque um
orientador educacional não é um
psicólogo... ele nem pode fazer o papel de
psicólogo...] tem que ter::... o corpo
docente... evidentemente... ((risos)) o
corpo discente... e::... o corpo
administrativo... que seriam
as
secretárias... [porque uma escola sem
secretária é uma lástima porque:: no fim
quem faz o serviço de secretária são as
professores...] ((pigarreou)) os:: os...
vigias... que é
aqueles que tomam conta
das::... dos corredores... de sala de aula
que isso aí é MUIto importante numa
escola...
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
28a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
28b
a) MC + MC + MC
b) Futuro do Pretérito = Presente
(metáfora temporal) + Presente +
Presente
c) Tempo prospectivo MC + Tempo
zero MC + Tempo zero MC
d) Prospecção + Sem perspectiva +
Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza, também, no
mundo comentado
Excerto 29a
Inf. os biologistas... (tem) os biologistas os
den::/ bom dentistas... o que mais::? (tem)
... os fosno / fonodió/ audiólogos—[aliás
essa palavra eu tenho uma dificuldade
louca pra falar ((risos))... já é um termo
pra:: pesquisa] – ((risos)) e::... bom mas
tem tantos né?
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
29a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excertos 30a, 30b
.... pelo que se percebe pelo que se ouve
falar... e:: Belo Horizonte então hoje:: se
espraiou e:: cresceu de tal maneira que
eles não tiveram condição mais de seguir
aquela planificação original...[vocês já
tiveram oportunidade de estar em Belo
Horizonte não?... já?]
Doc.
Inf. você deu um risinho aí que pelo
(visto) pelo visto você gosta muito de Belo
Horizonte
Doc. eu gosto
Inf. é
Doc. (muito) bonita ((risos))
Inf. Belo Horizonte:: é uma cidade
atrativa uma cidade:: limpa uma cidade...
[inclusive naquele centro de Belo
Horizonte onde a gente costuma estar
MAIS quando vai a Belo Horizonte dá
uma sensação assim de largueza muito
grande...] que São Paulo não apresenta
muito porque São Paulo cresceu
desordenadamente mesmo no Rio de
Janeiro que tem uma feição arquitetural
arquitetural completamente diferente São
Paulo...
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47)
30a
a) MC + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC
d) Retrospecção + Retrospecção +
Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
30b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado
Excertos 30c, 30d
:: aproximam se afeiçoam muito... àquele
aspecto do Rio de Janeiro... que são
aquelas aqueles prédios com:: com
platibandos com:: com espécie de:: de::
[(vamos dizer:: eu não sei bem o termo...]
uma:::... uma cobertura assim sobre as
calçadas que a gente vê muito em::
principalmente naquela zona que é
conhecida como a zona da Mata... e que se
inicia... em::... [como é que chama aquela
cidade...] ahn:: perto de Volta Redonda
quando se vai a Belo Horizonte passa-se
por Volta Redonda...
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47)
30c
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
30d
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excerto 31a
::os negócios... indo tudo pro buraco...
falências (tudo mais) meu pai também teve
um prejuízo muito grande então nós fomos
obrigados a mudar duma casa grande que
nós morávamos pruma casinha pequena...
com:: [meu pai tinha
naquela ocasião já
tinha
automóvel tinha geladeira elétrica...
e vendeu tudo...] e passamos a:: uma vida
mais ou menos apertada... basta dizer que
minha mãe Mesmo grávida de Nove meses
era ela que...
(Inquérito nº 208 – Bobina nº 79)
31a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito/Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano/1º
plano) + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano/1ºplano) na inserção
e finaliza no mundo narrado (1º
plano).
Anexo 2. Excertos de entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato
Grosso do Sul em que há inserções
Excerto 1a:
Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra
eles... e as pessoa não tacava mesmo aí fora de
hora assim porque...
(?):tinha medo
Célia: ... tinha medo, então... ficou
por muitos
ano, [aquele tempo era terra de chão, não
tinha asfalto era muito buraco, os carro...
patinava no barro então as pessoa não
abusava...]
(?): tinham medo.
Célia: É, não abusava muito por causa
disso porque tinham medo, agora não... faz
tempo eu não ouvi falar, depois que teve o
asfalto mas tinha essas coisa.
(Inquérito a – ALMS
31
)
1a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito/Pret. Perfeito +
Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano/
plano) + Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano/
1ºplano); na inserção,
apresenta-se no 2º plano do
mundo narrado e, após a
inserção ainda permanece no 2º
plano.
Excerto 2a:
(?): e a senhora... e a senhora sabe de alguma
que... alguma pessoa que viu mesmo, que
conta alguma aparição, um causo assim que
viu... fora daqui... Ah! Eu tava ali e apareceu
tal coisa. A senhora já ouviu alguém contar pra
a senhora que viu alguma coisa?
Célia: nós já moramo numa fazenda aí que...
nessa fazenda... todo dia dez hora da manhã...
2a
a) MN + MN + MN
b) Pretérito Imperfeito + Pretérito
Imperfeito + Pretérito
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
zero MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
sem perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); na
31
Codificação provisória, uma vez que o Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul encontra-se em
construção.
na janela da cozinha assim que... onde era...
(?): a senhora que morava.
Célia:é, eu que morava. [Era até inclusive na
casa do meu pai...] e aí depois... tinha uma
janela e não era
pia, era bacia que a gente
usava pra lava louça e bem na janela assim,
inserção permanece no mundo
narrado (2º plano) e continua,
após a referida inserção, no
mundo narrado (2º plano).
com umas dez horas da manhã sem falta,
passava uma mulher de cabeça amarrada com
lenço branco, você saia ia olha e não tinha
ninguém. Mas era sagrado dez hora da manhã,
eu marcava.
(Inquérito a - ALMS)
Excerto 3a
(?): (...) conte pra nós por favor, nós
estamos acabando... algum fato da sua infância
assim que a senhora nunca esqueceu, até hoje...
uma arte, uma coisa boa...qualquer coisa
assim, um susto que a senhora levou, alguma
coisa assim que a gente quer que a senhora
conte pra nós.
Célia: o susto eu também é... que quando eu...
que eu não me criei
com meus pai... vim parar
com a minha tia... [e ela também não tinha
muito, não era bem financeira...] aí ela nos
fazia pastel pra a gente vender, e eu ia com a
minha irmã... salgada, e ela falava: vocês não
vai lá na parte que não pode. Pois é lá que nós
fomos... aí...
(Inquérito a - ALMS)
3a
a) MN + MN + MN
b) Pretérito Perfeito + Pretérito
Imperfeito + Pretérito
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção, passa para o 2º
plano do mundo narrado e
permanece, no final, no 2º
plano.
Excertos 4a/4b/4c:
(?): apanhou até...
Célia: De novo eu! [Ah! Também minha avó
chamava nóis de madrugada pra levanta e
soca milho pra faze canjica, pra soca arroz e
coloca feijão no fogo], e antes de tudo dia de
varrer o quintal era grandão, eu tinha que sair
com a lamparina e as outras guria, as minha
irmã, minhas prima que minha avó criava... de
madrugada...
(?): por que de madrugada?
Célia: Não sei, e eu com a lamparina, e eu
4a
a) MN + MN + MN
b) Pretérito Perfeito + Pretérito
Imperfeito + Pretérito
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção, passa para 2º plano
do mundo narrado e
permanece no 2º plano.
com sono eu colocava na minha cabeça e
sentava. Aí minhas irmã falava! Ah! tá morta
de bosta de vaca... aí eu mudava de lugar um
pouquinho...e eu com sono, eu era pequena... aí
eu sentava mais pra lá de novo... com a
lamparina na cabeça de novo, e assim
continuava. E uma vez não foi que era pra
varrer e a minha avó me chamou
pra mim fazer
fogo, colocar também feijão... [a cozinha era
longe da casa... porque o pessoal de antes
não fazia cozinha junto da casa.
(?): Por que?
Célia: porque era fogão a lenha pra não
fumacear a casa], aí...o pilão era alto, tinha
um...
(?): Por que?
4b
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pretérito
Imperfeito + Pretérito
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1ºplano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano) passa
para o 2º plano na inserção e,
finaliza da mesma maneira.
Célia: porque era fogão a lenha pra não
fumacear a casa, aí... o pilão era alto, tinha um
pezinho em volta e eu não alcançava, tinha que
subi num barquinho pra soca, [e o que quê eu
fiz
], peguei a mão no pilão, coloquei no chão,
4c
a) MN + MN+ MN
b) Pretérito Imperfeito + Pretérito
Perfeito + Pretérito Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano) +
deitei no banquinho, vou dormi um pouco...e
caí
(Inquérito a - ALMS)
Sem perspectiva (1º plano)
e) Função retórica.
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção, passa para 1º plano
do mundo narrado e
permanece, após a inserção, no
1º plano do mundo narrado.
Excertos 5a/5b/5c:
Célia: nós puxava água com Porunga do rio
assim, [não é
do rio, é da mina]... longe...
(?): e trazia
aqui...
Célia: e trazia, e nós colocava na... na boca do
Porunga... as folha de samambaia pra não... vir
golfando a água... então pra não pular... nó
colocava essas folha de samambaia bem
lavadinha pra poder a água para. E uma vez era
muito grande o Porunga e eu era pequeninha... o
Purunga molhado e... corri, derrubei e quebrei...
(?): apanhou.
Célia: ai, chegue em casa e já sabendo... meu
coração subindo pela boca, e aí tive
que contar,
não podia
mentir... [e o que quê minha avó fez,]
pegou
um pedaço daquele Porungo, ela
esquentou um arame e furou e pendurou no
meu pescoço, mandou eu ir na vizinha buscar
5a
e) MN + MC + MN
f) P. Imperfeito + Presente +
Pret.. Imperfeito
g) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo Zero MN
h) Sem perspectiva (2º Plano) +
Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano)
i) Função explicativa
j) Mundo narrado (2º plano);
passa para o mundo
comentado na inserção e, após,
retorna ao mundo narrado (2º
plano).
5b
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito / Pret. Imperfeito
+ Pret. Perfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
zero MN + Tempo zero MN
água... e falou pra mim assim: se pergunta você
conta porque... é, minha avó fazia isso. Aí eu
coloquei aquilo lá que... um ____;
(?) bom, pelo menos você tinha uma corrente
Célia: ai, passava numa porteira quando nós
atravessava pra outra rua pra ir na comadre, ___
pra mim buscar água. E eu ia rezando, pedindo a
Deus que ninguém me visse com
aquele negócio. Cheguei lá quietinha, abri... um
d) Sem perspectiva (1º plano/2º
plano) + Sem perspectiva (1º
plano) + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (1º plano/2º
plano); na inserção,
permanece no mundo
narrado (1º plano) e finaliza
no mundo narrado (1º plano).
colchete, entrei... peguei e puxei a água, coloquei
na vasilha e pé por pé voltei e ela ficou na... na
porteira de casa me olhando pra ver se eu ir tirar
ou não. Aí voltei com aquele negócio, fiquei três
dia com aquele negócio no pescoço... não...não
deixou eu tira.
(?) Meu Deus, ela era malvadinha...
Célia: é
... e assim por diante.. [Mas eu graças a
Deus eu tenho
idéia assim de bom...] de nunca
esqueço
que eu sempre tive saúde.
(?): graças a Deus...
Célia: é, graças a Deus, sempre tive essa saúde.
(Inquérito a - ALMS)
5c
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado, encerra também
com mundo comentado.
Excerto 6a
(?): correndo...
Ana: correndo com o joelho e com esse. Aí diz
que ele foi... correndo e foi... virou um lobisome.
(?): Você conhece outras histórias assim, outras
coisas... tipo assim: pra esse homem virou um
lobisomem, já ouviu alguém contando de outras
coisas?
Ana: já. Essa minha prima que tá aqui agora
comigo, ela disse que o namorado dela disse que
uma vez ia passando, [porque lá onde eu
moro tem muitas árvore...] e o namorado
dela ia passando ali, aí diz que escutou um
barulhão, barulhão do meio do mato e começou
a sair um clarão assim... e saiu uma mulher
debaixo da terra gritando com uma vassoura.
(?): nossa!
Ana: diz que era bruxa.
(Inquérito b – ALMS)
6a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Perfeito/Pret. Imperfeito +
Presente + Pret. Imperfeito/Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano / 2º
plano) + Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano / 1º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano/2º
plano); na inserção passa para o
mundo comentado e, retorna,
finalmente, ao mundo narrado (2º
plano/1º plano).
Excertos 7a/7b/7c/7d/7e/7f
(?): e teve alguma coisa que o senhor acha que dá
azar, que o senhor não usa ou que tem
em casa
que o senhor acha que dá azar?
Moisés: eu acho que tem. Tem, existe sim.
(?): o que por exemplo?
Moisés: vamos
supor uma arma. [Uma arma
mesmo é
um azar], porque noutra você tá com
uma arma... se você está desarmado e o cara dá
um empurrão em você, você talvez apanhe ali e
7a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, finaliza no mundo
comentado.
vai embora, mas se você tá com uma arma você
não vai contenta de levar aquela surra e vortá
quietinho, então quer dizer que tudo é um tipo
que dá azar... é que nem um... vamos
supor uma
faca, [no caso a faca ela tem
uma utilidade na
cozinha], mas é
um azar porque... chega uma
mulher, vamos supor... se for... chegou outra
mulher que tem raiva da minha mulher e chega
aqui pra... (pausa).
(?): seu Moisés, tem alguma simpatia que o
7b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, finaliza no mundo
comentado
senhor conhece, simpatias que o senhor conhece...
Moisés: não, que eu saiba não. Eu vejo falar em
simpatia...
(?): quem o senhor já escutou assim, que alguém
falou pra o senhor.
Moisés: no causo uma simpatia... não, existe
.
Existe... fala assim, que eu saiba não, mas tem
simpatia que... inclusiva... [não sei
se todo
mundo acredita
nisso, mas eu mesmo...
geralmente, antigamente... eu acreditei
numas....] me ensinaram
uma simpatia, eu fiz e
sarei... com aquela simpatia, serviu pra mim.
7c
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente/Pret.
Perfeito + Pret Perfeito
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo retrospectivo MC
+ Tempo retrospectiva MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva / Retrospectiva +
Retrospectiva
e) Função de ressalva/atenuação
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado muda para o tempo
retrospectivo e, finaliza no
mundo comentado retrospectivo.
(?): é, qual que foi?
Moisés: no caso eu tinha muito berruga assim na
7d
mão, no caso... assim então inclusive tem um
índio [que... (já faz muitos anos) que morreu
],
naquela época tinha
... época 12 anos atrás...então
tinha muita berruta na mão, não sarava de jeito
nenhum... não cabava... aí um índio falou: eu sei
uma simpatia que vai sumi isso aí, sem você
sangra a mão, sem faze nada, você não vai sofre
nadam só que você tem que faze. É, três vez que
chove você tem que faze, só que o dia também
certo... aí eu... confiei, eu
a) MC + MC + MN
b) Presente + Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo zero
MN
d) Sem perspectiva +
Retrospecção + Sem perspectiva
(2º plano)
e) Função de esclarecerimento
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado em tempo
retrospectivo e, finaliza no
mundo narrado (2º plano).
falei... confiei, porque se eu não confiar acho que
eu ia sarar também, não se se foi a simpatia ou foi
a minha fé que valeu. Ele falou: pois você faz...
se você faze certinho e confia no que... você vai
sara... eu falei: vou tenta. Ele falou; três sexta-
feira, quando chove... quando...não só quando
chove, mas quando chove quando relampea você
vai faze... falou:
você vai faze assim, assim e assim. Nós vamos
montar a berruga, fazia assim pra o relâmpago
assim, assim. Eu fiz as três vez, sumiu, não tem
nada, só...
(?): sumiu tudo?
Moisés: acabou
. [O cara não existe mais, já
morreu
,] então... foi um tipo de simpatia que eu
confio
, porque eu fiz e valeu, agora não sei se foi
a simpatia dele ou se foi a minha fé que eu tava
com aquela vontade de sarar que valeu. Então eu
fique... isso aí tem um segredo que... a gente sabe,
quer dizer que eu confiei porque... graças a Deus
sumiu mesmo, sumiu, não tem nada, nem sinal e
tinha... era grandão assim, uma berrugona assim...
ele falou: vai sumi e vai sumindo com o tempo,
não vai acaba de uma vez mas vai chega um tempo
7e
a) MN + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Presente/Pret.
Perfeito + Pret. Perfeito/
Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
/ Tempo retrospectivo MC +
Retrospectivo / Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva / Retrospecção
MC + Retrospecção MC/Sem
perspectiva
e) Introduz explicação
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção passa para o mundo
comentado no final com tempo
retrospectivo e permanece no
mundo comentado, inicialmente
com tempo retrospectivo.
7f
que você não vai ver nada, normal. E, inclusive
tá...tá normal, sumiu, desapareceu. E tinha
na
mão assim, no braço... inclusive ficou o sinal,
sem cicatriz nenhuma, desapareceu
. [Essa pessoa
também não existe
mais, ele morreu,] foi... meu
tio ele era
casado com uma índia que era irmã
desse... chamava Cecílio, então ele...diz que esses
índio sabe muita simpatia...
(Inquérito c - ALMS)
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito/ Pret. Perfeito +
Presente / Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo zero
MC / Retrospectivo MC +
Tempos zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano/
plano) + Sem perspectiva /
Retrospecção + Sem perspectiva
(2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano / 1º
plano); na inserção, passa para
o mundo comentado, no final
com tempo retrospectivo e
retorna para o mundo narrado (2º
plano).
Excerto 8a
(?): Por exemplo, tem... tem alguma... aparição que
o senhor já viu, que falaram pra o senhor que
apareceu alguma coisa... ou algum caso por
exemplo aqui da região, que alguém contou pra o
senhor que o senhor já viu.
Moisés: é, tem vários e, inclusive comigo mesmo
também já aconteceu quando eu era mais jovem, já
aconteceu só que inclusive não era... assim uma
assombração, era uma coisa que foi feito... colega
era pra o outro...
(?): o que quê era?
Moisés: já me aconteceu. Uma vez eu morava num
sítio também, e daí nós vinha... eu tinha... eu
morava em Pirapora... num sítio e, tinha um parque
que chegou na Vila e nós vem uns oito mais ou
menos, daí quando viemos
do parque... [e era bem
tarde] viemos
embora pra casa, já tava vortando aí
nós vinha e tinha fogo no meio da estrada, tinha
uma tocha de fogo assim, incrusive ninguém
passou... nós tava nuns oito mas ficaram com medo,
ninguém passou...
(Inquérito c – ALMS)
8a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pretérito
Imperfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano), na
inserção continua no mundo
narrado (2º plano) e permanece
no mundo narrado a seguir (1º
plano).
Excerto 9a
(?): pegou na sua perna?
Socorro: aqueles... na minha perna, meu pai
vinha com a carroça cheia de rama, pra dar pra
os porco, [ele criava porco, e a gente quando
é criança você sabe, vinha na beirada na
carroça...]aí menina, uma cobra enrolou na
mina perna e eu gritei... mas eu fiquei com
medo então eu fiz assim... isso me marcou
também...
(Inquérito d – ALMS)
9a
g) MN + MN/MC/MN + MN
h) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito/Presente/Pret.
Imperfeito + Pret. Perfeito
i) Tempos zero MN/MC/MN +
Tempo zero.
j) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano).
k) Função explicativa
l) Mundo narrado; na inserção
permanece no mundo narrado
(2º plano), passa para o mundo
comentado e retorna ao
mundo narrado para
permanecer no mundo narrado.
Excertos 10a/10b
Jair: o jacaré... pegou assim nessa batata da
perna dele assim... levou 17 ponto assim, teve
que tirar a carne da polpa da bunda dele... pra
fazer enxerto. E pra nós levar esse moleque
pra... aí... fosse peixinho______ uns 15
quilômetro... os peixinho foi embora claro...
largamos pra lá vara, linhada... que nós tinha
lá... esquecemos tudo... pra levar o guri...[Aí
fizemo o quê], fizemo o tipo de um... cortamo
lá um... quebramo uns bambu... não levamo
faca nem nada, cortamo uns bambu assim mais
ou menos, quebrou os mais seco... quebramos
aquele lá uns quatro mais ou menos... aí... fomo
no mato... cortamos... tiramos um... um cipó...
fizemo tipo de uma grade ali, colocamo o
moleque em cima... e levamos até na fazenda...
aquele sangue... amarro aquele... um
torniquete, [agora eu aprendi esse torniquete
10a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
retrospectivo MC + Tempo
zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Retrospecção mundo comentado
+ Sem perspectiva (1º plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção passa para mundo
comentado retrospectivo e
finaliza no mundo narrado (1º
plano).
fazendo carteira de motorista] lá, fizemo o
esquema deles aqui... ____ botamo aquele
couro dele pra trás... rasgamo a camisa e
colocamo assim... colocamo o amargoso___que
é um capim amargo...pra evitar sair mais
sangue até chega na fazenda, aí chegamo lá o
moleque tava quase desmaiando... ainda bem
que a fazenda tinha carro, tinha tudo e não era
tão longe da cidade. Aí teve que... chegar em
Bodoquena e de Bodoquena foi pra Campo
Grande... e
(Inquérito e – ALMS)
10b
a) MC + MC + MC
b) Presente + Pret. Perfeito + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo
zero MC
d) Sem perspectiva +
Retrospecção MC + Sem
perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; na
inserção, permanece no
mundo comentado e termina
com o mundo comentado.
Excertos 11a/11b
(?): isso.
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá
nessa viagem, de levada do almoço, [que a
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
mãe fazia
a comida e mandava... o mais
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
ele comeu
toda a carne da comida, a mistura
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina...
(?): aí ele...
Alda: ...aí que começou, diz que aparecer vaca.
Meu esposo conta que via...[e era forte essa
lenda,] começou a vaca indo...(pausa) pessoas
11a
e) MN + MN + MN
f) Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Perfeito
g) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
i) Função explicativa Mundo
narrado (1º plano); na inserção
permanece no mundo narrado
(2º plano) e retorna ao mundo
narrado (1º plano)
11b
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito MN + Pret.
morrer sem língua... e aí esses menino ficou no
mundo... o come língua, o come língua, agora
sumiu o nome, acho que ele parou... de certo a
missão dele foi cumprida, nunca mais comeu
língua de ninguém
(Inquérito f – ALMS)
Imperfeito MN + Pret. Perfeito
MN
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
e) Função de suporte
argumentativo
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).
Excerto 12a
Adônia: ...eu emborcaba a canoa no meio do
rio e ela ficava lá e vortava pra trás nadando...
(risos)... aí, meu Deus. Daí quando era de noite
e daí pra dormir, [que... aquele tempo...
urrava mesmo... até goela é onça.... e pegava
um pegava tudo, nóis era dez... panhava
tudo, não tinha... não queria nem saber...]
Ah! vinha jantar e tal jantá...aí eles queriam
bater ni mim... aí já vi... que o meu irmão
tava... aquele tempo que papai plantava milho,
aquele paior de milho lá em cima e ele criava
porco e os porco ficava...
(Inquérito g – ALMS)
12a
a) MN + MN +MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfetio
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e,
finaliza no mundo narrado (2º
plano)
Excerto 13a
Antônia: ... Eu fui lá e bati na minha irmã...
puxei o cabelo da minha irmã, minha... meu pai
veio de lá pra cá me jogou um... tijolo... aí eu
13a
e) MN + MC + MN
f) Pretérito Perfeito + Presente +
Pret. Perfeito
escondi no meio... assim a barranca do rio é
assim, então eu escondi no meio daquele... no
meio do buraco que faz aquele... [acho que
não sei que faz... diz que é jaú que faz aquele
buraco ali, na beira da barranca,] aí eu entrei
no meio daquilo ali, meu pai foi atrás de mim,
daí ele não me conseguiu bater em mim, aí
ele... e veio quase que ele morreu sabe. Aí
sabe, guria do céu... aí a minha mãe...daí minha
me bateu, mas me bateu, até hoje eu tenho sinal
disso... sabe, então até... ichê... não vou conta
nem outros mais... porque aí é pior... (risos)
(Inquérito h – ALMS)
g) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva (1º plano)
i) Função explicativa
j) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado e, depois, retorna ao
mundo narrado (1º plano).
Excertos 14a/14b
(?): como vocês voltaram.
Jacinto: só de... teve... sei... nós levava as coisa
de... que nós saia assim pra... pegando isca, nós
sempre levava isso daí, só que você guenta
,
[sabia que o homem guenta
cinco, seis dia
sem comer, só não guenta a sede...]
(?): como que vocês descobriram pra voltar?
Jacinto: é, dormimo... passemo o noite... falei:
ó, amanhã vocês vão por mim... que eu sou... aí
quando o sol se...tava clareando o dia que... eu
marquei um... eu falei: daqui nós vamo sai em
tal lugar, e saimo bem no trilheiro onde nós
tinha desviado... eu sou difícil de perder no...
(?): ____
Jacinto: mas só que... você fica nervoso á
porque os cara acha que você ta perdido
também e aí... vai na idéia dos outro e se
14a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece,
na inserção, no mundo
comentado e finaliza no mundo
comentado em tempo
retrospectivo.
14b
perde... você viu outro rapaz que se perdeu,
ficou sete dia lá perdido.__aqui nesse _ achemo
ele e ele queria come...não, não pode dá comida
demais assim a vontade.... aí fizemo uma canja
pra ele... ____ tava só couro e osso.
(?): faz tempo que aconteceu isso?
Jacinto: faz, uns oito ano.
(?) você lembra de mais alguma_____ gente
que vem visitar____
Jacinto: aqui também tem um senhor, acho que
__ perdeu aí pra baixo, foi té lá e...acho que
veio... se perdeu da turma e soltou a cara pra o
outro mundo, acharam ele já... saindo pra o
eixo lá embaixo, perto do [você vê que como
tem sorte,] aí... o tanto de onça que tem aí... e
tem onça... não sei como que nós não vimo ali
naquele cantão lá embaixo.
(Inquérito i – ALMS)
a) MN + MC + MC
b) Pret. Perfeito + Presente +
Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção passa para o mundo
comentado e, no final,
permanece no mundo comentado
Excerto 15a
Izaura: Capinava assim na roça o dia inteiro...
ia embora pra casa, chegava lá e ainda tinha o
serviço da casa, tinha que fazer tudo correndo
que amanhã cedo tinha que vortá pra a roça, e
assim que nóis foi criado, desse jeito, nóis era
doze irmão, criou tudo na roça, desse jeito,
minhas irmã... [essa aqui... essa aqui é irmã,
essa aqui é cunhada e aquela ali é minha
nora,] então foi criado desse jeito na roça, aí
que depois eu casei
, mudei pra a fazenda, no
lugar que só havia
uns porco que tinha nesse
lugar e mais nada,
15a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito/ Pret. Perfeito +
Presente + Pret. Perfeit / Pret.
Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo zero
MC + Tempos zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano / 1º
plano) + Sem perspectiva + Sem
perspectiva (1º plano/ 2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano/1º
plano); na inserção passa para o
mundo comentado e, no final,
retorna ao mundo narrado (1º
plano/ 2º plano)
(Inquérito j – ALMS)
Excerto 16a
(?): pode... com certeza.
Izabel: então assim, aconteceu quando meu pai
faleceu... a gente morava assim numa fazenda...
perto assim da fazendeira, aí todo dia a gente
jantava e ia lá pra a casa da fazendeira, aí
depois chegou... eles falava portador, [era a
pessoa que vinha pra avisar que a pessoa
tinha falecido, se por exemplo se falecesse
noutra fazenda,] então pai saiu cedo de casa
mas meu tio foi num bolicho... antigamente não
tinha mercado era bolicho, buscar as coisa,
compra as coisa pra casa, ...
(Inquérito l – ALMS)
16a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito/Pret. Imperfeito +
Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito
/ Pret. Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo
zero MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano/
plano) + Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva (1º
plano/2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano/
plano); na inserção permanece
no mundo narrado (2º plano),
e, depois, continua no mundo
narrado (1º plano/2º plano).
Excerto 17a
(?): tem, não sei de... mas não conheço
pessoalmente.
Antônio: é né?! Então eu tava desmatando lá...
cem alqueire de terra pra toca lavoura, uma
terra muito boa que na fazenda Sapé
... cem
quilometro de Brasilândia lá.] Aí todo... todo
tratorista que ia... saia correndo, dizendo que
via um bicho, uma luz, e a luz quando mais Lee
dizia pra perto a luz ia crescendo... quando foi
um dia um falou: eu quero ver se eu descubro
essa luz, se eu vou corre dela. Aí ele foi e a luz
17a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Pret. Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo
zero MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção passa para o mundo
comentado e retorna ao mundo
narrado após a inserção (2º
plano).
se... quando escureceu a luz... mais tarde
apareceu, aí ele meteu a máquina pra cima...
quando chegou perto, desceu e chegou lá... tava
uma teiona de aranha assim... cheia daqueles
vaga-lume e o povo dizia que era
assombração... (risos)...
(Inquérito m – ALMS)
Excerto 18a
(?): feiticeira?
Camila: é, aparecia as feiticeira... feiticeira que
diz que ia raspa... as criança pagã, não batizava,
[antigamente tinha isso] diz que raspava as
criança assim pela casa. Minha mãe sempre
contava isso, que antigamente tinha essas
coisas... essas lenda... lobisome, tem mula sem
cabeça... essas coisa assim....
(Inquérito n – ALMS)
18a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece, na inserção, no
mundo narrado (2º plano) e,
continua no mundo narrado (2º
plano).
Excerto 19a
(?): e ele aparece sempre, como é que é o
negócio?
Luíza: ele aparece, mas ninguém sabe, o
pessoal que fala assim, eles só fala assim... mas
não sabe se é verdade não, acho que não, só
fala... e do Negrinho da... daqui... que
aparecia... aparecia como assim lá naquele ___
19a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e,
lá na... ali perto da mineração, essas coisa...
tem mais história assim mas... esse pessoal
conta, [os senhores mais antigo que eles gosta
de conta] e a gente vai só pra ouvi a história
deles... eles conta que tem história... esse
senhor mesmo que morreu... ele contava
bastante história pra a gente... até cego mesmo,
mas história dele, da época dele e a gente era
bem... ____
(Inquérito o – ALMS)
permanece no mundo comentado.
Excertos 20a/20b/20c
(?): fazer como que é a simpatia... tem que contá
como que é a simpatia...
Lídia: não, é uma oração, eles pegam um... um
santinho... e coloca o nome da pessoa... então
coloca
o nome da pessoa no mel, uma coisa assim,
[eu não sei
, não sei nada... porque eu não sou de
fazer...] é
... que coloca dentro do... copinho assim
do... mel, escreve o nome da pessoa e faz uma
oração, uma coisa assim e eu não... pessoal que
fala.
(...)
(?): como que é essa bola... de fogo... a bola de
fogo passa e como...
Lídia: é, tem uma bola de fogo aí onde que vai essa
bola de fogo diz que aparece
pra lá, lá pra o lado do
campo, [a senhora viu
o campinho pra lá...] aí diz
que tem
...lá tem uma serpente assim e...essa
serpente não deixa passar porque diz que tem ouro,
e também tem, diz que tem lobisome aqui, o
pessoal fala que sempre apareceu, um senhor
morreu diz que é, e tem outra também que fala
20a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de ressalva/atenuação
f) Mundo comentado; permanece,
na inserção, no mundo
comentado e, continua no mundo
comentado.
20b
e) MC + MC + MC
f) Presente + Pret. Perfeito +
Presente
g) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo zero
MC
h) Sem perspectiva + Retrospecção
+ Sem perspectiva
i) Função de comentário
j) Mundo comentado; na inserção,
permanece no mundo
comentado, mas retrospectivo e
continua no mundo comentado.
mas...
(?): como que é o neguinho d’água, a lenda do
neguinho d’água... diz que eu não conheço.
Lídia: é um... é um... pretinho, ele sai... aí ele uma
vez diz que ele ia
carrega um guri [e tem... e aqui
também diz que tem
aquela escola, não tem a
escola {que eu mostrei
pra a senhora,} antiga
de...] diz que lá é...lá já morou
...tem bastante
professor, que morreu dois professores, uma
professora e um professor, diz que eles aparecem lá
de vez em quando e que fala...tem a mulher de
branco também...
(Inquérito p – ALMS)
20c
g) MC/MN + MC + MC/MN
h) Presente/Pret. Imperfeito +
Presente +Presente
i) Tempo zero MC/Tempo zero
MN + Tempo zero MC +
Tempo zero MN
j) Sem perspectiva/ Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem
perspectiva/Sem perspectiva
(1º plano)
k) Função explicativa
l) Mundo comentado e mundo
narrado; na inserção passa
para o mundo comentado; no
final permanece no mundo
narrado.
Excerto 21a
(?): é, capado.
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava o
porco pra anda um pouco e nóis montava, e ela ia
pra roça e nóis ficava brincando montando nos
porco, aí os porco varava por baixo do arame e
nóis caia porque nóis batia no arame ou na
cerca... e também nóis fazia
carroça de... da nossa
bonea, [que antigamente a gente não tinha
nada,] era boneca de sabugo, aí a gente fazia a
carreta do queico da vaca, assim da cabeça da
vaca nóis virava de cabeça pra baixo assim...
(Inquérito q – ALMS)
21a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano).
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (2º plano).
Excerto 22a
Maria Adeneise: ... nós era dez... panhavam tudo,
não tinha... não queria nem saber... Ah! vinha
jantar, já jantado... aí eles queriam
bater em mim,
22a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Perfeito
aí isso aí... ____ meu irmão estava... [aquele
tempo papai plantava
milho... aquele paior de
milho lá em cima e ele criava
porco, os porco
ficava
...] e meu irmão subiu lá e (...)
(Inquérito r – ALMS)
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano)
Excerto 23a
Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim aí
na cozinha... tinha
dois filho... dois filho [fiquei
dois ano em Corumbá sem poder ver meu
filho...] aí depois ela brigou
com milha filha aí
por um caso bem.... bem diferente que Deus foi
pai... _____
(Inquérito t – ALMS)
23a
e) MN + MN + MN
f) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
g) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
i) Função de comentário
j) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).
Excerto 24a
(?): tudo honesto.
Filó: ...tudo honesto graças a Deus, é o que eu
sempre tenho pelejado
com eles, [ser pobre não é
defeito, mas tem
que ser honesto, gosto de leva
minhas coisa direitinho] e... dado com Deus e o
povo graças a Deus é
o que eu mais... é o que mais
me emociona
é vê as pessoas ter satisfação comigo
graças a Deus... (pausa).
(Inquérito v – ALMS)
24a
a) MC + MC + MC
b) Pret. Perf. Composto + Presente
+ Presente
c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC + Tempo zero
MC
d) Retrospecção + Sem perspectiva
+ Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza com o mundo comentado.
Excerto 25a
(?): nossa!
Homem: certo. Em vez de eu voltar pra fazenda
voltei... mas ele me chapou claramente. Quer
dizer, de coisa que eu... tenho visto... esse foi
25a
g) MN + MN/MC + MN
h) Pret. Perfeito + Pret.
Perfeito/Presente + Pret. Perfeito
i) Tempo zero MN + Tempo zero
MN Tempo zero MC + Tempo
zero MN
um e... [nesse município quando eu vim
de_____ pra esse município eu fiz uns dois
mil metro quadrado de casas pré-montadas
[que eu sou especialista nisso,]] na minha casa
chamou também... certo, chamou... na porta... é
o pássaro... ___
(Inquérito x - ALMS)
j) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva MN (1º plano)/ Sem
perspectiva MC + Sem
perspectiva (1ºplano).
k) Função de comentário
l) Mundo narrado (1º plano); na
inserção permanece no mundo
narrado (1º plano) e continua no
mundo comentado e finaliza no
mundo narrado (1º plano).
Excerto 26a
(?): Ah! é?
Homem: assim... teve um cara uma vez que... eu
vim
de carro, era onze hora da manhã, tinha uma
mulher dando com a mão... _______ correr e ele
__ [que ele sabia
que era assombrado,] aí a
hora que ele passou
na Croa ela pareceu do lado
dele sentado assim e a boca dela cheia de ouro, aí
foi sumindo, sumindo, o último que sumiu foi o
ouro da boca...
(Inquérito x - ALMS)
26a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito
+ Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)+ Sem
perspectiva (1º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
com o mundo narrado (2º plano).
Excertos 27a /28a
Maria Adeneise: E corre, corre, esse tempo na
fazenda não tinha socorro, e sacudia
daqui e
sacudia dali, [nem jantado eu tinha,] era meu
irmão que tava lá em cima: foi o senhor que
mandou debulhá milho... agora o senhor vem
me fazer isso... então aí custou pra vortá, aí eu
vortei. [Até hoje eu não esqueço...]
(?): escapou da
Maria Adeneise:________
(?): escapou
da surra da mãe, mas levou...
Maria Adeneise: meu pai... mas quase eu fui
mesmo (...)
27a
a) MN+ MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
+ Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; permanece na
inserção no mundo narrado e
finaliza no mundo narrado.
28a
a) a) MN + MC+ MN
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
(Inquérito r - ALMS)
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(1ºplano).
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; passa na
inserção para o mundo
comentado e retorna ao mundo
narrado
Excerto 29a
(?) quebrar o que?
Daniel: assim, quebrá arvore... quebrá mato,
pisa forte... pagá vela... pagava e nóis acendia
até... [a lenda verdadeira na minha vida que
aconteceu ____ foi isso,] que nóis teve que sair
correndo porque a coisa tava pegando feio...
(Inquérito z - ALMS)
29a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).
Excerto 30a
(?): aqui pra... pra finalizar... você conhece...
tem alguma coisa que...[por exemplo, nós
temos a lenda do saci Pererê que é uma coisa
que acontece em alguma... em todo o Brasil,]
e aqui da região tem alguma lenda, algum
causo que falam que é uma coisa que acontece
só aqui no pantanal ou só numa floresta,
(Inquérito a1 - ALMS)
30a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função exemplificativa
f) Mundo comentado; permanece,
na inserção, no mundo
comentado e, continua no mundo
comentado.
Excerto 31a
Mulher: Meu pai lá na beira... lá na beira do
Rio Paraguai... Nós morava lá, eu tinha mais ou
menos uns sete ano, eu era muito briguenta.
31a
a) MC + MC + MN
b) Presente Imperfeito + Presente +
Pret. Perfeito
Meu pai, [até hoje eu não esqueço ele,] meu
pai falou assim pra mim assim: eu vou dormi,
vocês não dixem... vocês não acorde eu com
choro de criança...
(Inquérito b1 - ALMS)
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado para
finalizar.
Anexo 3. Excertos de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante
(SP) e do Português Popular do Brasil (SP)em que há inserções
Excerto 1a
Doc. ( )
Inf. ói na cidadi tinha festa eu fa/... única
festa qui tinha dentu da cidadi... [é festa
di sãu biniditu...né? qui prucissãu di
sãu biniditu qui é u dia di paxão di
cristu né?] i: :: i na realidadi dipoi u u
carnaval qui tinha né? u carnaval ( )
pinda tuda vida foi bom também
Doc. e essa festa de são benedito (como era?)
(Inquérito 9 - BAND/SP)
1a
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC
+ Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
Excerto 2a
Inf. era (dera) bem pugrissiva qui purque
formava prucissãu né? tinha
dua/du/ duas festa
tinha festa da semana santa qui saía lá da: ::...
nossa sinhora da... [agora eu num recordu u
nomi da santa...] sei qui era igreja da matriz
sabi? purqui é a nossa sinhora da
cunceição...issu memu...intãu saía essa
prucissãu...i saiu somenti...na
(Inquérito 9 - BAND/SP)
2a
a) MN + MC +MN
b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva(2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (2º plano).
Excerto 3a
Doc. ( )
Inf. fazia um percursu pur trai du: ::
quarteu...du exerstu ( ) dipoi vortava
pegava u a vinida di frenti ca igreja...i
fazia a entrada...[mai era mais u menu
uma umas duas hora mais o menu di
percursu na rua]
Doc. ( e tinha santo) ( )
Inf. ah tinha...tinha sãu biniditu ( ) principal
qui saía né? sãu biniditu i nossa sinhora
(Inquérito 9 - BAND/SP)
3a
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito + Pretérito
imperfeito + Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado; permanece no
mundo narrado na inserção e
continua no mundo narrado.
Excerto 4a
Doc. (e nu carnaval como era? )
Inf. é nu carnaval eu cumu: :: [vô falá
francamenti pru sinhor eu num sô
muitu
chegadu im carnaval...sabi?] num sãu
tudu
qui sãu iguau (u sinhor intendi bem cumé qui é)
intãu eu num: :: freqüentava muitu tipu di coisa
mai tudu mundu dizia qui era bunitu era ( ) né?
mai eu memo num: :: nu freqüentava...num
freqüentava e nu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
4a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de ressalva/atenuação
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
continua no mundo comentado.
Excerto 4b
Doc. (e nu carnaval como era? )
Inf. é nu carnaval eu cumu: :: vô falá
4b
a) MC + MC + MN
b) Presente + Presente + Pretérito
francamenti pru sinhor eu num sô muitu
chegadu im carnaval...sabi? num sãu tudu qui
sãu iguau [u sinhor intendi bem cumé qui é]
intãu eu num: :: freqüentava muitu tipu di coisa
mai tudu mundu dizia qui era bunitu era ( ) né?
mai eu memo num: :: nu freqüentava...num
freqüentava e nu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
imperfeito
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(2.º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção
depois passa para o mundo
narrado.
Excerto 5a
Inf. nãu...quandu eu era: :: garotu...eu trabaiava
muitu na inxada...queu fui arrastadu muitu cedu
che/ che/ chefi di casa ( ) [pur: :: eu tinha
incrusivi uma ermã...qui era muitu
trabaiadera...quandu ela ponhava a inxadinha
dela nas costa pa di tirá (quadra) sa quadra di:
:: d’impreita...] [sinhor sabi qui qui é
impreita né?]
Doc. sei
Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi
braçu...intendeu?...i dozi braçu é dozi braçu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
5a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero +
Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
Excerto 5b
Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi
braçu...intendeu?...[i dozi braçu é
dozi braçu
memu di di dozi parmu uma vara di dozi
parmu na mãu assim pu sinhor bem bem
isticadu memu...] ...intãu era dozi braçu
5b
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função explicativa
daquela...intendeu?
(Inquérito 9 - BAND/SP)
f) Mundo narrado; retorna ao
mundo comentado e termina no
mundo comentado.
Excerto 6a
Doc. e...o senhor veio pra cá quando? saiu de
pinda pra vim pra cá pra taubaté?
Inf. ai dei di que eu vim pra cá [eu num
recordu a data] ( ) sei qui fai uns uns vinti
cincu anu já qui eu tô pra uns vinti cincu a
trinta anu por aí qui eu tô moranu aqui...qui
dipoi queu: :: queu mi casei...queu trabaiei uns
dizoitu anu cu japonei lá...aí eli
(Inquérito 9 - BAND/SP)
6a
a) MN + MC + MC
b) Pretérito perfeito + Presente +
Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
permanece no mundo comentado.
Excerto 7a
Inf. nessi piríudu ( ) pudia tê dei a dozi
anu...aquela parti du istadãu aqui imbaxu
aqui...[u sinhor sabi um istadãu né?]
Doc. sei
Inf. aquela porta du istadãu ali tudu era
daqueli: ::...era um matu turma tratava di
marmeleru né? mar/marmelu...u ispéci
duma vara di fugueti...subia pra cima
(Inquérito 9)
7a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
Excerto 8a
Doc. sei...sei
Inf. i anti deli era um bacateru tamém...que
8a
e) MN + MC + MN
f) Pretérito imperfeito + Presente +
até u donu u donu du bacateru chamava manué
du santu... [essi eu conheçu ainda lembru du
nomi deli...] chamava manué du santu...aí
distruíru u bacateru discui/...distruíru tamém u:
:: caquiseru...pa fazê essa: :: construçãu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
Pretérito imperfeito
g) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
i) Função de comentário
j) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna no mundo narrado.
Excerto 9a
Inf. só que a: :: u terrenu era tinha um
casarãu grandi nu meiu...i im roda du casarãu
grandi deli era u: :: us bacateru tudu...sabi?
intãu fazia vizinha: :: beranu até ca dutra
aqui...i u caquiseru era a mesma coisa...tinha
uma parti di caqui...i ota parti di: :: bacati...[até
eu lembru (di um dia) eu ia inu pa pa
roça...na casa da minha ermã...entrô uma
turma lá pa robá abacate deli eli correu
((ri))]
Doc. ( )
Inf. é sempri fazia issu
(Inquérito 9 - BAND/SP)
9a
e) MN + MN + MN
f) Pretérito imperfeito + Pretérito
imperfeito/Pret. Perfeito +
Pretérito imperfeito
g) Tempo zero MN + Tempos zero
MN + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano/1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
i) Função de comentário
j) Mundo narrado; permanece no
mundo narrado na inserção e
finaliza no mundo narrado.
Excerto 10a
Inf. tãu...pombinha tem essi/ tamanhu duma
juruti...sinhor matava quatu cincu (daqueli) num
tiro...sabi comu (o povo) fazia u sevêru? eu
ponha um: :: quatu ganchu...doi ganchu
ansim...fincadu nu chãu...i: :: imbaxu du: ::
daqueli...sevêru qui eu fazia
...eu ponhava uma
teia...sabi? uma teia im cima daqueli ganchu i ali
eu po/ enchia
di milhu [porque ali o (jurutí)
gosta
muito de milho né?...]milhu quirera....
10ª
a) MN + MC + MN
b) Pretérito imperfeito + Presente
+Pretérito imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
inchia di milhu i embaxu eu ponhava um potinhu
di água intãu eis bebia água mai dipoi eu si
conformei qui eu memu achei qui tava fazenu
erradu...di tratá du bichu pa dipoi eu memu matá
né? ( ) vô larga mãu dissu tamém ((ri))
(Inquérito 9 - BAND/SP)
Excerto 11a
Inf. u pinta-sirva tuda vida foi
piquinininhu...[sinhor cunheci pinta-
sirva né?] intãu pinta-sirva (sempri) foi
piquinininhu
Doc. e pra pescar comé que o senhor ( )?
(Inquérito 9 - BAND/SP)
11a
a) MN + MC + MN
b) Pretérito perfeito + Presente +
Pretérito perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
Excerto 12a
Doc. daí quando o senhor trazia...levava a
caça pra casa...como é que era? fazia festa ( )?
Inf. é quandu cunticia
di pegá pur exempru
uma: :: um viadu ( ) purque u viadu é grandi
né? ((ruídos)) pega
eli até: ::(si abusá)
quarenta cinquenta quilu...um viadu...aí
lidava
bem repartia ca família...qui tinha: ::
parenti ( ) da genti pertu né? pa num ficá cum
tudu im casa divi/dividia...dividia essi tipu di
coisa assim
(Inquérito 9)
12a
f) MN + MC + MN
g) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
h) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
i) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
j) Função explicativa
k) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
Excertos 13a, 13b, 13c
Inf. nossa eu lembru du assim du du tempu qui
eu era criança que eu co/ com esse meu irmão
(que é pai dessa uma qui mora aqui pegadu...)
[qui era qui era pai dela...] então nóis armava
urupuca... (o cêis) [todo mundu sabe u qui é
urupuca né?] intão... intão nóis ia naqueles
fundão lá qui agora é do: :: [fico pu: :: pa
subrinhada né?... qui meu irmão faleceu fico
lá pa subinhada...] agora tão fazenu casa lá... i
nóis ia mais i tudu era: :: cafezar e canarviar i
bananera qui tinha...
(Inquérito 10 - BAND/SP)
13a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano) +
Mundo narrado (2º plano) +
Mundo narrado (2º plano)
13b
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna para o mundo
narrado (2º plano).
13c
a) MN + MN + MC
b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Introduz esclarecimento
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado na inserção e
muda, depois, para o mundo
comentado.
Excerto 14a
Inf...queru recorda du tempu qui que nói dois que
andava junto” qui qui nói a diferença era
di pocu né
[purqui eli é
di deis di eu sô di seti di fevereru i
eli é
di deiz di fevereru quase um: :: anu/ quase
14a
a) MN + MC + MC
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
um anu certinhu né só treis dia di diferença só di
pa (sê) um anu... i:] :: nóis crescemo
juntu i:
::andava
juntu... pulandu pa trepandu im arve
pulandu pegava o bambu assim a/afirmava o bambu
nu chão i assim pegava o bambu caía Lá longe
dipoi tornava
subí outra vei pa nói torná pulá di
novu otra veiz... i: :: ( ) [tá
MUItu diferenti lá
agora tá
muito nu é mais nu tem mai cafezar nu
tem
mais cana nu tem nu tem mai bananera nu
tem
mais nada agora é só Matu... tá muitu
diferenti demai...] e o meu irmão prantô
( ) um
leitu di di caliptu... i: :: tiro mais a aparência ainda
du lugar ainda né (fica) bem no fundão...
(Inquérito 10 - BAND/SP)
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna para o mundo
comentado
14b
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Introduz comentário
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
narrado (1º plano).
Excerto 15a
Inf.... antigamenti... pa tomá banhu era um
sacrificiu purque o tinha qui tomá di bacia o
sinão di caneca... agora di ca/ di caneca era
difícil purqui nu tinha banheru... ninguém tinha
banheru... o o intãu tomava di bacia ((ri)) i
depoi pa tirá aquela água da bacia da da du du
quartu tinha qui tirá nu nu nu bardi pó nu bardi
pa tirá [ nossa ( ) era mai fácil a genti fica
sem tomá banhu do que tomá banhu di
tantu dificil qui era...] i e: :: agora não agora
tem chuveru tudu quasi maioria tem chuveru
dentru tem: :: a água dentru tem: :: Tudu... tuda
regalia agora
(Inquérito 10 - BAND/SP)
15a
a) MN + MN + MC
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo comentado
Excerto 16a
... a a professora ( ) (veiu)de são luis... uma
professora MUIto boa demai nossa pa ensiná...
[a professora hoji di di di di ( ) di: :: di
faculdadi nu ensinava o que ela ensinava no
primero anu...] nossa era uma beleza memu ( )
pra ensiná... eu gostava dimai di di iscola eu
queria istudá eu queria ( )
(Inquérito 10 - BAND/SP)
16a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito +
Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (2º plano)
Excerto 17a
Inf. ( ) ia lá pegava a chave ia lá limpava... i: ::
gostava dimais... i o meu pai fazia lavora di
fumu... lavora di fumu é a coisa que é mais
hoRRÍvil qui tem [nu sei purque qui ( ) genti
ainda fuma qui nu larga mão du cigarru...
eu tenhu uma filha qui só farta cume cigarru
( ) (u filhu) tamém... é a: :: mais uma uma
la/ um um:] :: uma lavora horrívil ( ) di coisa
purque tem qui distalá sentá nu chão assim pa
distalá u fumu... i a ( ) o: ::
(Inquérito 10 )
17a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Excerto 18a
Inf. ... i eu nu gostava di distalá fumu i gostava
muitu di iscola... aí eu comecei a chorá... e: ::
os otru nu fizeru conta qui us otru nu gostava di
iscola né? então nu fizeru conta... e eu comecei
a chorá... ele já tinha as vara di marmelu assim
assentadu ca paredi di ferrrão assentadu assim
18a
c) MN + MC + MN
d) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
e) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
f) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
na euzinha assim as vara di marmelu... naqueli
tempu [hoji... as criança di hoji nu toma nem
um biliscãozinho assim nu toma] naqueli
tempu Nossa senhora a genti apaNHAva ( )
principalmente meu pai meu pai Dava ( )... daí
dipois eli disse assim...
(Inquérito 10 - BAND/SP)
plano)
g) Função de comentário
h) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
narrado (2º plano).
Excerto 19a
Doc.1 mas a senhora vende leite?
Inf. vendia leite na cooperativa... cooperativa
(do casaguá) [a senhora sabe onde é né?...]
então lá qui nóis batia leite... Taubaté ( )
rapaizinho de Taubaté ( )
(Inquérito 02 - BAND/SP)
19a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito + Presente = (Metáfora
temporal)
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (2º plano)
Excertos 20a / 20b
Inf. ai eu nu: :: eu nu sei poque eu se eu contá
pa senhora pode perguntá pra essa gente eu nu
saio daqui pra nada... eu nu saio daqui quando
vô na cidade vô correndo cedo e já vorto atrais
eu nu: :: nu mexo... nu saio pu parte ninhum
Doc. 1 ( )
Inf. ah coitado ( ) lavrador só usava um
prantinha [nói era muito pobrizinho nu tinha
nada... é... tinha nada só usava uma
prantinha]
Doc. 1 ( )
Inf. não nói nu morava
aqui... é lá na cachoera
[era
bem longinho daqui...] esse aqui é qui
nói compramo adiante do zingual é esse que o
20a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (2º plano)
20b
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Imperfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
rapaizinho tá falando ( )
(Inquérito 02 - BAND/SP)
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado (2º plano) na
inserção e retorna ao mundo
comentado
Excerto 21a
Doc.1 ( )
Inf. é... esse ali nu é (filhu) esse ali qui mora ali
é um camarada [o pai dele era camarada
nosso aí coitado morreu fico ele morando na
casa] ma nu é camarada ( ) ...(trabalha na )
compania... agora ali é o filho qui mora ali lá
em cima é o neto... e nói aqui
(Inquérito 02 - BAND/SP)
21a
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Imperfeito/Pret.
Perfeito + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano/1ºplano) +
Sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado (2º plano/1º
plano) na inserção e retorna ao
mundo comentado
Excerto 22a
Doc.2 ( )
Inf. ai eu conheci quando era sortera... eu
morava lá na cachoera... morava lá na cachoera
(quando conheci ele)... [cachoe/ é bem pra
frenti... bem pra frente] cêis foi
até o
acampamento nu foru? Nu foru até nu
acampamento?
(Inquérito 02 - BAND/SP)
22a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
narrado (1º plano)
Excerto 22b
Inf. ...cachoe/ é bem pra frenti... bem pra frente
[cêis foi até o acampamento nu foru? Nu
foru até nu acampamento?]
Doc. 2 ( ) a gente não conhece direito (pra lá)
22b
a) MC + MN + MC
b) Presente + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
Doc. 1 a gente se perdeu... nós fomos lá pra
cima ( )
Inf. ...ah (posu fio) é pra cá... esse é pra
cá...(posu fio) a senhora pa chegá lá a senhora
tem que descê...
(Inquérito 02 - BAND/SP)
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado (1º plano) na
inserção e retorna ao mundo
comentado
Excerto 23a
Doc.1 duas? Tem duas?
Inf. tem uma quatro fazenda lá tem... tem a: [::
quero lembra o nome do rapaiz qui tem uma
fazenda ( ) lá grandão... nu lembro mai o
nome dele... ( ) é pra cá da da: :: da
estrada lá di cima... do lado de lá nu sei eu
nu alembro o nome do rapaiz] (tem um
fazendão lá)
Doc. 1 ( )
Inf. é di frenti da escola... de frente da escola
tem um a igreja... é... a escola é pertinho da
igreja.
(Inquérito 02 - BAND/SP)
23a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
Excerto 24a
Inf. ... então ela eu sempre: :: eu tenho medo tipo
assim: :: [poque: ::... aqui a minha casa é
m/é
simples é
di madera] es tamém deve re/nu pode
repará né? isso... então é... semp/depoi do natal eles
vêm vê ela... aí eu sempre eu fico com medo ai meu
deus tenho de ele vim aqui na minha casa e querê
carregá minha filha...
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP)
24a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
Excerto 25a
Inf. Porque ele já é: :: du du outro qui mora aqui
comigo... então ele: ::
morava comigo [minha
25a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
mãe nunca quis ele comigo...] minha mãe feiz
di tudo pele saí di lá da: :: do outro lado pa
podê: ::
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP)
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano)+ Sem
perspectiva (1º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(1º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano)
Excerto 26a
Inf. meus irmão sempre tão aqui... pergunta se
meus fiio tão bem... [um mora em
Interlagos...] sempre ele tá qui perguntando se
meus ir/meus fiio tão bem se eu to: ::
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP)
26a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
Excerto 27a
Inf. não... eu... eu... porque esse trabalho aí a
gente/eu... eu num posso pegá assim como um
trabalho mesmo... [quem pega como trabalho
tem
sucesso né?...] mais eu num pego como
um trabalho mesmo... porque eu gostaria de
trabalhá assim num esquema registrado né...
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)
27a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Excerto 28a
Inf. têm... que tá tendo... é nesse Projeto
Avizinhar memo né (Dico)? ((fala com o
filho)) que eles tem acesso assim de ficá lá
mexendo com computadô... tem uma sala lá
28a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Pret. Perfeito/Presente
+ Fut. Pretérito
c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC/Tempo zero
MC + Tempo prospectivo MC
que eles fica... [fizeru curso também tem
diproma] aí tal... mais.. .eu gostaria assim
que... que através desses diproma...
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)
d) Sem perspectiva +
Retrospecção/Sem perspectiva +
Prospecção
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção,
inicialmente com retrospecção e
finaliza no mundo comentado com
tempo prospectivo.
Excerto 29a
Inf. ... eles além de tá fazendo aquele curso...
eles dava assim calçado pros menino corrê...[...
num precisava a gente gastá né...] eles
dava/ajudava em cesta básica também... ajuda
ainda as outra criança que...
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)
29a
a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
+ Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; permanece no
mundo narrado (2º plano) na
inserção e finaliza no mundo
narrado (2º plano)
Excerto 30a
Doc. ah... tá.
Inf. Quando eu podia
estudá mesmo... [que
agora tem
esse negócio de criança pequena]
é... fui trabalhá fora... tem que né cumpri os
horário certo ((cumprimenta alguém)) tem que
cumpri os horário certo né de trabalho e: :: casa
e tudo e cumprica né?
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)
30a
a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
Excerto 31a
Doc. é trabalhá acaba vindo em primeiro lugar.
Inf. então... [inclusive agora a gente tá
passando um poco de aperto aí né...] p’que
31a
a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
né... num tem... eu tô sem trabalhá... os menino
também... tem um que tem vinte anos aí
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
Excerto 32a
Doc. foi bom né? E o que que a senhora mais
gosta de fazê?
Inf. ô meu deus (ri) pra te falá a verdade só sei
fazê sabe... é é serviço pesado porque óia eu fui
criada trabainado na enxada ... machado...
[sabe o que é machado? Trabalho de
machado? fazê roça?]
Doc. uh-hum.
Inf. foi disso que eu aprendi (ri) é (acho) que
já falei.
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
32a
a) MN+ MC + MN
b) Pret. Perfeito + Presente +
Pretérito Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (1º plano); muda
para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
Excerto 33a
Doc. trabalhá... mas foi muito difícil no
começo?
Inf. não foi pra mim não foi difícil por causo
que quando no dia que eu cheguei
...[parece
mentira mais é verdade] no dia que eu
cheguei eu arrumei serviço então qué dizê eu
cheguei hoje com a...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
33a
a) MN+ MC + MN
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano); muda
para o mundo narrado na
inserção e finaliza no mundo
narrado.
Excerto 34a
Doc. fala um pouco dos seus filhos... conta
34a
como é a relação com eles.
Inf. olha... meus filho graças a deus... é... [sabe
criança dá trabalho né (não) conheço
criança acho que num dê trabalho mais... ]
Doc. é sinal que tá vivo né.
Inf. é graças a Deus meus filho são
sadio...eles...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Excerto 35a
Doc. só pra visitá.
Inf. só pra visitá... assim pa morá num sei...
que nem diz o ditado “a gente num sabe a
volta que o mundo dá” só deus é quem
sabe...] mais pa te falá bem a verdade pra mim
volta pa morá lá num tenho vontade não...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
35a
a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Excerto 36a
Inf. ... me desse um meio de um filho aí num
(queria sabê) como evitá só que depois eu num
cumpri ((ri)) e sabe por que? porque depois de
deiz filho o médico “ói...[porque era muito
duente como eu já te falei] quando chegô na
fase do premero... segundo... ó do segundo o
médico começô
“você num pode tê filho vai te
que operá”
36a
a) MN+ MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito/
Pret. Perfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)/Sem
perspectiva (1ºplano) + Sem
perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo narrado (1º plano); mundo
narrado (2º plano/1ºplano) na
inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
Excerto 37a
Doc. com certeza.
Inf. meu esposo fala assim “ó quando casá tivé
seus filho olha eu num vô cuidá de fio de
ninguém cada quem que se cuide” ele fala
assim “eu num sô daqueles avô que... que vai
cuida do neto... não eu não [num sei não do
jeito que ele gosta de criança]
Doc. fala isso agora né depois é que vai vê.
Inf. então... depois é que vai vê... gosta de
criança demais viu?
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
37a
a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Excerto 38a
Doc. e como é que é a relação com os vizinho
aqui? Conhece muita gente...
Inf. é a gente conhece bastante gente tem gente
que a gente conhece nem sei
do nome sabe...
mas meus vizinho meus vizinho aqui [sabe
de
uma coisa?] A maioria dos meu vizinho são
piauiense é pernambucano... é sim
Doc. tudo de lá...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)
38a
a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
.
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