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GESTÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA SOCIAL:
UMA ANÁLISE DOS SENTIDOS DA INTERAÇÃO
ORGANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE
BEATRIZ CHRISTO GOBBI
LAVRAS
MINAS GERAIS BRASIL
2005
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BEATRIZ CHRISTO GOBBI
GESTÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA SOCIAL: UMA
ANÁLISE DOS SENTIDOS DA INTERAÇÃO ORGANIZAÇÃO E MEIO
AMBIENTE
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Administração,
área de concentração em Organizações,
Estratégias e Gestão, para a obtenção do título de
“Mestre”.
Orientador
Prof. Dr. Mozar José de Brito
LAVRAS
MINAS GERAIS BRASIL
2005
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Gobbi, Beatriz Christo
Gestão ambiental como prática social: uma análise a partir dos sentidos
produzidos da interação organização e meio ambiente / Beatriz Christo Gobbi. –
Lavras: UFLA, 2005.
126 p: il.
Orientador: Mozar José de Brito.
Dissertação (Mestrado) – UFLA
Bibliografia
1. Gestão ambiental. 2. Gestão social. 3. Meio ambiente. 4. Interação
organizacional. 5. Campo Social. I Universidade Federal de Lavras. II Titulo
BEATRIZ CHRISTO GOBBI
GESTÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA SOCIAL: UMA
ANÁLISE DOS SENTIDOS DA INTERAÇÃO ORGANIZAÇÃO E MEIO
AMBIENTE
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Administração,
área de concentração em Organizações,
Estratégias e Gestão, para a obtenção do título de
“Mestre”.
APROVADA em
Prof. Dr. UFLA
Prof. Dr. UFES
Prof. Mozar José de Brito
UFLA
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS BRASIL
AGRADECIMENTOS
Muitos que passam em nossas vidas deixam algo e levam um pouco de nós. De
forma que somos no presente a dinâmica dessas passagens. Um trabalho de
dissertação assim também o é: a soma das inúmeras ajudas sem as quais tal
empreitada tornar-se-ia muito mais difícil. Nesse sentido são inúmeros os
agradecimentos a fazer:
À CAPES, pela bolsa de estudos, viabilizando a realização deste trabalho e a
complementação de minha formação.
Ao orientador Mozar José de Brito, pelo incentivo, respeito, paciência e pelas
brilhantes sugestões e discussões teóricas.
À UFLA, em particular ao DAE, pela estrutura física, aos servidores e
professores que, de alguma forma, contribuíram para a conclusão do mestrado.
Ao Núcleo de Estudos sobre Percepção Ambiental, representado pelo Sr.
Roosevelt, pelo apoio fundamental e interesse pela temática.
Aos colegas do curso, especialmente os amigos Carine, Carol, Cris, Dani,
Denise, Elcemir, Gêgê, Igor, Karla e Lívia, pela convivência e partilha dos
momentos de alegrias e inseguranças e pelas dicas e contribuições nos diversos
trabalhos.
Aos amigos de Vitória, por entenderem as ausências e pela força nas presenças.
À minha família, em especial Aleida e Sérgio, pelo suporte emocional e material
e pela enorme paciência para escutar discussões estranhas.
À organização estudada e à todos os entrevistados, por cederem seu tempo e se
disponibilizarem para o “fazer ciência”.
Aos colegas da cidade de Lavras, pela hospitalidade, fazendo-me sentir um
pouco mineira.
A todos vocês, o meu muito obrigado!
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS ....................................................................................... i
RESUMO............................................................................................................ ii
ABSTRACT......................................................................................................III
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1
2 CONSTRUCTO TEÓRICO..................................................................... 5
2.1 Institucionalização da questão ambiental.................................................. 5
2.2 As especificidades do movimento ambiental brasileiro.......................... 10
2.3 As organizações e o meio ambiente: um novo campo de pesquisa......... 15
2.4 As múltiplas interpretações da questão ambiental.................................. 23
2.5 Gestão ambiental como prática social..................................................... 28
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................... 34
3.1 Natureza da pesquisa .............................................................................. 35
3.2 Procedimentos de coleta de dados .......................................................... 36
3.3 Plano de análise ...................................................................................... 38
3.4 Caracterização dos entrevistados............................................................ 40
4 O EMPREENDIMENTO ORGANIZACIONAL: ASPECTOS DA
CONSTITUIÇÃO E ESPECIFICIDADES CONTEMPORÂNEAS DO
CAMPO SOCIAL EM ANÁLISE.................................................................. 42
4.1 O estado do Espírito Santo e os grandes projetos................................... 42
4.2 Alguns aspectos do processo de constituição e interação do
empreendimento no campo social espefico ................................................ 46
4.3 Especificidades do empreendimento....................................................... 52
5 SENTIDOS DA ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO: CONSENSOS E CONFLITOS SOCIALMENTE
CONSTRUÍDOS .............................................................................................. 55
5.1 A terra: sua função e ocupação............................................................... 56
5.2 A “torre de babel” do eucalipto e seus plantios...................................... 64
5.3 A tônica do desenvolvimento capixaba .................................................. 69
5.4 Imagem organizacional: a diversidade de percepções............................ 74
6 GESTÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA SOCIAL........................ 81
6.1 Política de gestão ambiental da CELETEC ............................................ 83
6.2 A lógica da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental..... 93
6.3 As práticas de gestão sócio-ambientais da CELETEC ........................... 95
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 107
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 115
ANEXOS ..................................................................................................... 123
i
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1
. Caracterização dos entrevistados
.............................. ...........41
QUADRO 2
. Caracterização dos gerentes
..................................................41
ii
RESUMO
GOBBI, B. C.
Gestão sócio-ambiental como prática social:
uma análise dos
sentidos da interação organização e meio ambiente. 2005. 126 p. Dissertação
(Mestrado em Administração) Universidade Federal de Lavras, Lavras
1
.
Esta dissertação teve por objetivo estudar a gestão sócio-ambiental de
uma empresa do setor de celulose a partir da análise dos sentidos produzidos por
diversos atores (lideranças políticas, ambientais, sociais, empresariais e
sindicais) na interação da organização com o seu meio. Para tanto, empregou-se
uma proposta teórico-metodológica cunhada no pressupostos da abordagem
interpretativa. A realização da pesquisa exploratório-descritiva apoiou-se na
perspectiva construcionista da produção dos sentidos para analisar a gestão
como uma prática social. Na apreensão da realidade estudada, empregou-se a
triangulação das técnicas de análise documental e entrevistas semi-estruturadas
com base em roteiros. Na interpretação dos resultados utilizou-se a análise de
conteúdo, que permitiu a identificação e a análise dos sentidos produzidos pelos
diversos atores entrevistados, bem como a apreensão deles pelos membros da
organização e a utilização da gestão para med-los. Os resultados da pesquisa
realizada no campo social específico do Espírito Santo indicaram que os
sentidos produzidos pelos atores entrevistados correlacionam-se com a natureza
das atividades do empreendimento, sua implantação e desenvolvimento a partir
da década de 1970 e com os pressupostos valorativos e os interesses dos
diversos atores do campo social. A organização vem mediando esses sentidos
proferindo discursos e práticas de gestão que visam assegurar a eficiência do seu
processo produtivo com a minimação dos impactos causados ao meio, tentando
consolidar ainda uma postura de empresa aberta e transparente no âmbito da
filosofia da responsabilidade social corporativa. Essas práticas configuram-se
como uma resposta “ótima” às limitações do contexto e da realidade
organizacional. Assim, ao mesmo tempo em que são produtos de dada realidade,
tentam transfor-la garantindo um melhor controle sobre o meio.
1
Comitê Orientador: Mozár José de Brito, Robson Amâncio, Gelson da
Silva Junquilho.
iii
ABSTRACT
GOBBI, B. C. Socio-environmental management as social practice: an analysis
of senses of the interaction organization and environment. 2005. 126 p.
Dissertation (Master Program in Administration) - UFLA
This dissertation had as objective to study a socio-environmental
management of a company in cellulose’s industry from the analysis of senses
produced from many of its players (environmental, social, enterprise syndical
and political leaderships) concerning the interaction of the organization with its
social environmental. To achieve this, it was used a theoretical-methodological
purpose based on an interpretative approach presuppose. The accomplishment
of the exploratory-descriptive research was supported by the constructionist
perspective of production the senses to analyze the management as a social
practice. Regarding the studied reality, it was used a triangulation of techniques
on documental analysis and deep semi-opened interviews. To results
interpretation, it was used a content analysis allowing the identification and
analysis of senses produced from several interviewed players, as well as the
apprehension of these for the members of the organization and the use of
management to mediate them. The results of this research, in the specific social
area of Espirito Santo, indicated that the senses produced from the players are
correlated with the nature of the enterprise’s activities, its implantation and
development from 1970 decade and with estimated values and interests of
several players in the social environmental. The organization have mediated
these senses giving speeches and management practices that asserts the
efficiency of its productive process with least environmental impacts caused in
the way that consolidate a position of an open and transparent company which is
the scope of the philosophy of corporative social responsibility. These practices
are configured as "an excellent" reply to the context and organizational reality
limitations. Thus, at the same time they are products of given reality, they try to
transform it guaranteeing a better control on the environmental.
1
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação de mestrado resultou do interesse pela temática
inter-relação organizações e meio ambiente. A discussão sobre a influência das
organizações no ambiente natural ou vice-versa ganhou maior evidência a partir
da constatação das externalidades do processo produtivo e de sua conseqüente
insustentabilidade, de modo que, nas últimas três décadas, movimentos sociais
institucionalizaram a temática, colocando no epicentro das discussões a
necessidade de se pensar a sustentabilidade do processo de intervenção humana
na biosfera e a co-responsabilidade de diversos atores para o alcance dela.
Para as organizações, o crescimento da preocupação com a preservação
do meio ambiente vem constituindo constantes desafios. A questão ambiental,
crescentemente incorporada aos mercados e às estruturas regulatórias da
sociedade, passou a ser vista cada vez mais como um elemento essencial a ser
considerado no processo de gestão. As pressões das regulamentações, dos
acionistas, investidores e bancos para que as empresas reduzam os seus riscos
ambientais e as pressões dos consumidores e entidades exigindo produtos que
causem menos impactos ao meio ambiente, têm motivado as empresas a
buscarem novas formas de relacionamento com ele.
No campo dos estudos sobre gestão e organizações surgiram diversos
trabalhos com as mais variadas abordagens teórico-metodológicas, sugerindo a
implantação de modelos e práticas de gestão por meio do estabelecimento de
estratégias que visam à reformulação do comportamento organizacional em
relação ao meio ambiente.
Um ponto de destaque da análise teórica foi a consideração das
discussões ambientais no âmbito local. Nesse locus, embora a concepção de
meio ambiente enseje certas idéias comuns, ela apresenta uma elevada riqueza
simbólica, o que gera ideologias extremamente vinculadas a pressupostos
2
valorativos e de interesses, tornando assim o seu sentido diferenciado entre
indivíduos, grupos sociais e regiões.
Com efeito, pensar na relação das organizações com a questão ambiental
implica em considerar também que da interação promovida com o meio social
podem ser produzidos diferentes sentidos pelos atores sociais. A própria
dinâmica do campo, como indicou Bourdieu (1998; 2000; 2003), vai sendo
modificada ao longo do tempo, introduzindo e alterando os valores vigentes e,
conseqüentemente, reconfigurando a lógica do campo.
A partir dessa argumentação, a gestão ambiental pode ser entendida
como produto da dinâmica estabelecida nessa inter-relação. Além de modelos e
técnicas de gestão reconhecidos e exigidos no campo das organizações, outras
posturas, práticas e discursos vão sendo construídos pelas organizações na busca
da mediação do seu campo social.
Nesse sentido torna-se pertinente o estudo da gestão como uma prática
social, conforme sugeriu Reed (1997). Dentro dessa ótica, as respostas das
organizações decorrerão da suas próprias histórias, identidades e competências
dentro do seu campo social, levando-se em consideração que atores e
interpretações mudam ao longo do tempo, resultantes de alterações nas regras e
estruturas, ao mesmo tempo em que os atores podem influenciar, ou pelo menos
tentar, as instituições do próprio campo.
Sob este recorte analítico, este trabalho procurou compreender o
processo
de interação organização e meio ambiente promovido por uma
empresa, considerando a diversidade de sentidos produzidos pelos diferentes
atores (lideranças políticas, ambientais, empresariais, sindicais e sociais) em
torno deste processo, bem como as práticas de gestão sócio-ambientais utilizadas
para mediar essa interação. Em outros termos, procurou-se responder a seguinte
questão: Quais são os sentidos atribuídos pelos diferentes atores à interação
entre a organização e o meio ambiente natural e social?
3
A abordagem empírica dessa problemática foi realizada numa
organização produtora de celulose, na sua interação com o campo social
específico do Espírito Santo. Lá, ao mesmo tempo em que diversos atores
reconhecem as práticas de gestão desenvolvidas pela organização como uma
referência de excelência considerando-as como suficientes para minimização dos
impactos causados ao meio ambiente, outros atores direcionam uma série de
críticas em referência à interação da organizacional com o meio social.
O desafio então, é contextualizar a gestão sócio-ambiental neste locus,
entendendo-a como produto e produtora da realidade. Assim sendo, este trabalho
tem por objetivo investigar o processo de interação organização e o meio sócio-
ambiental. Mais especificamente pretende-se nesse trabalho:
a) recuperar alguns aspectos da história da organização estudada, incluindo
os elementos que marcaram, ao longo do tempo, a sua interação sócio-
ambiental;
b) identificar, sob a ótica de diferentes atores do campo social em análise,
os sentidos produzidos em torno do processo de interação da
organização estudada e o meio ambiente;
c) analisar, de forma comparativa, os referidos sentidos, particularizando
os conflitos e consensos socialmente construídos pelos diferentes atores;
d) investigar as práticas de gestão ambiental que mediam a relação entre a
organização estudada e o meio ambiente e os discursos organizacionais
recentes referentes a esta interação.
Acredita-se que, ao romper com os postulados das análises positivista-
funcionalistas, este trabalho possa contribuir para a construção de uma agenda
de pesquisa que amplie a possibilidade de compreensão de toda a complexidade
4
presente na relação entre organizações e o meio ambiente. Dentre as razões que
justificaram a realização deste trabalho, destacam-se ainda:
a) a ampliação dos debates em torno das questões ambientais na sociedade
e especificamente nas organizações;
b) a importância do processo de gestão ambiental como mecanismo de
conquista e ou manutenção de legitimidade social;
c) a necessidade de entender a gestão como uma prática social destacando
a relação das organizações no seu campo social a partir da
multiplicidade de sentidos produzidos pelos atores sociais.
Para tanto, o presente trabalho encontra-se dividido em seis partes, além
dessa introdução. Na primeira parte, sistematizou-se a fundamentação teórica
dissertando sobre a relação entre as organizações e o meio ambiente, indicando a
análise da gestão como uma prática social, a partir da dinâmica estabelecida no
campo social. Na segunda parte do trabalho são apresentados os procedimentos
metodológicos e o desenho da pesquisa. Na terceira buscou-se recuperar alguns
aspectos da constituição e do processo de interação da organização no campo em
análise. Na quarta, foram evidenciados os sentidos produzidos pelos diversos
atores na interação da organização com o meio, destacando-se os consensos e
conflitos socialmente construídos. Na quinta parte, analisaram-se o discurso e as
práticas de gestão da organização, levando-se em consideração essa diversidade
de sentidos. Por fim, encontram-se as considerações finais.
5
2 CONSTRUCTO TEÓRICO
Neste capítulo discute-se a inter-relação das organizações e o seu meio
natural. Ele consta de um breve histórico, partindo da percepção das questões
ambientais na sociedade moderna, culminando na formação do movimento
ambiental contemporâneo. Foram realizadas ainda considerações sobre as
especificidades do contexto brasileiro em relação a esse processo.
Num segundo momento evidenciam-se abordagens e estudos que vêm
tratando a temática no campo gerencial e nos estudos organizacionais,
levantando as principais suposições de alguns deles. Posteriormente, abordam-se
a complexidade da temática ambiental e as suas implicações no âmbito local,
para indicar que o meio ambiente nesse espaço adquire também conotações
diferenciadas e permeadas por valores e interesses específicos.
Finalmente, sugere-se a leitura das pticas de gestão ambiental das
organizações como práticas sociais decorrentes da dinâmica estabelecida no
campo social. Nela, sentidos, representações e racionalidades são confrontados e
traduzidos em novas formas de relacionamento organização-meio natural.
2.1 Institucionalização da questão ambiental
A apropriação, o controle e o uso dos recursos naturais são constantes na
evolução humana. Desde os tempos mais remotos, a natureza foi vista como um
elemento a ser dominado. Para Foladori (2001), o ser humano, no momento em
que conseguiu objetivar a natureza com o seu trabalho, estabeleceu relações,
impondo transformações radicais no seu meio ambiente. Segundo o autor, foram
essas relações sociais estabelecidas entre os seres humanos a partir da forma
como se distribuíram os meios de produção que determinaram o modo de
acesso, os diferentes graus de intervenção e de decisão sobre o uso do ambiente.
Nessa lógica, tais processos são a origem dos problemas ambientais.
6
Em termos de questionamentos sobre as conseqüências da intervenção
humana no meio natural, Correa (1998) acredita que, a partir do século XIX, de
forma incipiente, as preocupações dos pioneiros na área ambiental começaram a
estender-se às implicações das atividades produtivas sobre os seres vivos e o
meio ambiente, expressas nas inquietações sobre a qualidade do ar, do solo, das
águas e ainda sobre a conservação de recursos naturais.
Para Passet (1994), apesar da agricultura ter contribuído
significativamente para a geração dos primeiros impactos causados no ambiente
natural, somente as a industrialização foram percebidos, com maior evidência,
os sinais das falhas resultantes do processo humano de intervenção no ambiente.
Essa constatação agravou-se, segundo Barbieri (1997), com a intensificação do
processo industrial e o advento de novos produtos mais tóxicos. Nessa época
foram sentidos na Europa sinais da disfunção do sistema produtivo sob a forma
de chuvas ácidas que causaram a destruição de lagos e vegetações.
Contudo, até o mencionado período, a noção de desenvolvimento não
fora questionada, sendo justificada pela vio do paradigma social dominante, no
qual as fontes de recursos naturais eram consideradas infinitas e o livre mercado
maximizaria o bem-estar social (Passet, 1994). Como a teoria convencional
tratava apenas de alocação de recursos escassos e a natureza não era vista como
fator de limitação, o meio ambiente era irrelevante para a economia.
A discussão sobre a intervenção humana no meio ambiente começou a
ganhar magnitude a partir da década de 1970, com o surgimento de movimentos
mundiais que passaram a considerar a temática. Naquela época foram publicados
estudos, como o Relatório do Clube de Roma, sobre os riscos globais de efeitos
cumulativos da poluição e do esgotamento dos recursos naturais. A Conferência
do Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, 1972, foi outro importante
acontecimento que abriu o debate ambiental ao público e revelou a fragilidade
dos ecossistemas que, integrados, sustentavam a vida no planeta. Os debates
7
sobre a política ambiental internacional foram marcados por profundas
discordâncias quanto às relações entre meio ambiente e desenvolvimento e as
resistências governamentais consideradas comprometedoras da sua soberania
sobre os recursos naturais e os ecossistemas de seus territórios (Vieira, 2001).
Com efeito, após a conferência de Estocolmo, vários países,
principalmente os desenvolvidos, passaram a formular, em âmbito federal,
políticas públicas para o meio ambiente, com o intuito de minimizar as
conseqüências dos problemas ambientais. A criação de agências para o controle
ambiental passou a ser uma tendência generalizada entre estes países (Sanches,
1997).
A partir desses eventos, a discussão sobre formas alternativas de
desenvolvimento capazes de incorporar a dimensão ecológica e social ganhou
uma maior notoriedade. Foi nessa época que o termo ecodesenvolvimento foi
usado por Maurice Strong, e posteriormente adaptado por Ignacy Sachs, para
indicar a integração dos aspectos indispensáveis no processo de
desenvolvimento. Para Sanchs (1994), qualquer planificação de
desenvolvimento deveria levar em consideração, simultaneamente, a viabilidade
social, a econômica, a ecológica, a espacial e a cultural.
A acentuação da percepção sobre os problemas ambientais em escala
global continuou na década de 1980 sob a forma de mudanças climáticas,
depleção da camada de ozônio, redução da biodiversidade, poluição marinha e
chuvas ácidas, entre outros. Esses problemas foram ainda mais aguçados por
dois fatores centrais: os padrões insustentáveis de consumo dos países
desenvolvidos e a perenidade da pobreza dos países em desenvolvimento
(Correa, 1998).
Para Sanchs (1994), as externalidades negativas do processo de
desenvolvimento, com o seu crescimento quantitativo e desqualitativo industrial
evidenciaram a insustentabilidade do paradigma econômico neoclássico. Assim,
8
a idéia de que é necessário e possível intervir no processo de desenvolvimento
econômico e direcioná-lo de modo a conciliar eficiência econômica,
desejabilidade social e prudência ecológica ganhou maior legitimidade.
Essa discussão iniciou-se nos Estados Unidos e Europa, espalhando-se
posteriormente aos outros continentes. Contribuíram para a ampliação dos
debates a crescente interdependência econômica e a revolução dos meios de
comunicação de massa, que permitiram acompanhar eventos fora das fronteiras
nacionais, atraindo a atenção pública para temas de esfera internacional, dos
quais o meio ambiente tornou-se elemento proeminente (Correa, 1998).
Outro marco importante do crescimento da consciência internacional dos
problemas relativos à preservação do meio ambiente foi a elaboração do
documento denominado “Nosso Futuro Comum, em 1987, pela Comissão
Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações
Unidas. Os governos signatários desse documento comprometeram-se a
promover o desenvolvimento econômico e social em conformidade com a
preservação ambiental. Neste documento, que ficou conhecido como “Relatório
Brundtland”, definiu-se o Desenvolvimento Sustentável como sendo aquele que
“satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações satisfazerem suas próprias necessidades” (CMMAD, apud
Schmidheiny, 1992, p.6).
A partir do Relatório Nosso Futuro Comum, criaram-se as bases de
discussão para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMD), também conhecida como ECO-92 ou RIO-92.
Este movimento, segundo Junqueira (2000), representou um grande avanço na
compreensão de graves problemas, caracterizados pela superposição de crises
econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais que transcenderam as
fronteiras nacionais e os espaços locais.
9
Para Viola (1996), a discussão ambiental tomou a magnitude de questão
planetária fortalecida com o processo de globalização. O autor explica que a
dimensão ecológica deste processo repercutiu sobre o modo de pensar as
atividades econômicas, constituindo-se no eixo das relações internacionais e
estimulando esforços institucionais na direção da governabilidade do
ecossistema planetário. A partir daí surgiu um movimento ambiental entendido
como global e multissetorializado que envolveu várias iniciativas e novos atores,
enfatizando que as soluções referem-se às ações e responsabilidades de todos os
agentes sociais e econômicos, tais como a sociedade civil, os governos e também
o setor privado. Tal movimento foi caracterizado da seguinte forma:
a) organizações não-governamentais e grupos comunitários que
lutam pela protão ambiental, sendo que muitos deles atuam
em escala internacional; que vêm adquirindo uma considerável
experiência técnica e organização política, seja no endosso de
produtos ecológicos, seja na elaboração e avaliação dos
EIAs/RIMAs, ou na difusão de tecnologias alternativas, etc.;
b) agências estatais (de nível federal, estadual e municipal)
encarregadas de proteger o meio ambiente (em 1970 havia 12
agências ambientais nacionais; em 1995, mais de 180);
c) grupos e instituições científicas que pesquisam os problemas
ambientais, muitos deles com uma abordagem sistêmica, que
estão impactando profundamente na dinâmica da comunidade
cientifica;
d) um setor de administradores e gerentes que implementam um
paradigma de gestão dos processos produtivos baseado na
eficiência dos materiais, na conservação da energia, na
redução da poluição, no ecodesign e na qualidade total;
e) um mercado consumidor que demanda, entre outras coisas,
alimentos de uma agricultura orgânica, automóveis e
eletrodomésticos de alta eficiência energética, papel reciclado,
recipientes reutilizáveis, produtos que tenham sido produzidos
usando tecnologias limpas e a partir de matérias-primas
produzidas de modo sustentável;
f) redes multissetoriais que estabelecem e certificam o caráter
sustentável dos processos de produção, de transporte e o ciclo
10
de vida dos produtos, como os vários “selos verdese a ISO
14000;
g) agências e tratados internacionais encarregados de equacionar
os problemas ambientais que ultrapassam as fronteiras
nacionais, como o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente.
Viola (1996, p.27-28)
Então, a institucionalização da temática ambiental tem início com a
constatação evidente dos problemas ambientais. Para Capra (1997) e Foladori
(2001), eles revelaram a insustentabilidade do projeto modernista, que se
caracteriza na atualidade como uma crise social. A partir dela a consciência
ambiental teria se difundido e, com isso, aumentado a noção de risco e o
entendimento de que as transformações em curso estariam convertendo-se em
ameaças cada vez mais preocupantes para a própria humanidade.
Giddens (1997) e Beck (1997) corroboram com essas indicações ao
explicarem que este fenômeno é, então, conseqüência das incertezas geradas
pelo próprio projeto modernista, na denominada sociedade do risco. Assim,
atingiu-se um esgio no qual as atividades realizadas são objeto de incorporação
rotineira dos conhecimentos e das informações acumuladas e essa incorporação
é reflexivamente testada e retorna à ação social redefinindo as atividades
humanas em relação ao meio ambiente.
2.2 As especificidades do movimento ambiental brasileiro
No Brasil, assim como nos demais países periféricos, a percepção dos
problemas ambientais e a conseqüente reação dos diversos atores envolvidos
ocorreram em tempo e contexto diferenciados dos outros países. O processo de
industrialização, retardatário em relação aos países desenvolvidos, as estratégias
adotadas por sucessivos governos, a herança de seu estilo de desenvolvimento, o
modo de intervenção do Estado na economia e as características culturais e
11
naturais conferiram ao movimento ambiental brasileiro um caráter, no mínimo,
peculiar.
Nesse sentido Viola (1996), lembrou que, de economia
predominantemente exportadora de produtos agrícolas, o país passou a um
estágio de industrialização considerável no período entre 1970 e 1990. Neste
período foi implantado um enorme e diversificado parque industrial, o que
tornou o país uma das periferias mais dinâmicas do sistema mundial com
tendência para ascender ao centro. Segundo esse autor, este acelerado ritmo de
industrialização e concentração de contingentes populacionais em áreas urbanas
provocou profundos impactos no meio ambiente, tanto físicos, como
econômicos e sociais.
Viola acrescentou ainda que o processo de industrialização brasileiro
gerou um cenário muito confortável para as atividades das indústrias. A política
de substituição das importações acarretou um alto grau de protecionismo para as
indústrias do país, resultantes de subsídios diretos aos produtores de bens que
fossem considerados essenciais ou estratégicos e subsídios indiretos a partir da
manipulação de preços públicos. Somava-se a estas condições um mercado
consumidor em expansão muito pouco educado em termos de qualidade e
desprovido de proteção como consumidor.
Fleury & Fleury (1997) lembraram também que, por outro lado, o
governo penalizou as empresas com uma complexa e pesada estrutura de
tributação. Segundo estes autores, esta arquitetura institucional influenciou o
direcionamento dos esforços das empresas que, em vez de buscarem capacitação
para a competição, passaram a canalizar recursos para a formação dos lobbies.
Tal esforço gerou um ambiente cômodo no qual as empresas operavam de
maneira bastante confortável, sem maiores preocupações com qualidade dos
produtos e com o processo produtivo.
12
Um acontecimento que evidenciou a filosofia desenvolvimentista
brasileira foi a postura do país na Conferência de Estocolmo em 1972. O evento
que marcou a tomada de consciência global dos problemas ambientais coincidiu
com a época do chamado “milagre brasileiro", auge do crescimento econômico
do país. As restrições ambientais conflitavam com as estratégias de
desenvolvimento, pois elas eram baseadas numa forte depleção dos recursos
naturais considerados infinitos, em sistemas industriais muito poluentes e na
intensa exploração de uma mão-de-obra barata e desqualificada. Assim, ao
contrário dos países desenvolvidos, a posição ambiental da delegação brasileira
era defensiva, sob o argumento de que a pior poluição é a da pobreza. O Brasil
teve assim papel de destaque como organizador do bloco dos países em
desenvolvimento que viam no aumento das restrições ambientais uma
interferência nos planos nacionais de desenvolvimento (Barbieri, 1997).
O impacto da industrialização sobre o meio ambiente urbano era
desconhecido ou ignorado no processo de decisão sobre a instalação de
atividades industriais nas cidades (Barbieri, 1997; Menezes, 1997). Os planos de
desenvolvimento elaborados pelos sucessivos governos brasileiros não
contemplavam nenhuma preocupação com o meio ambiente; os problemas
sociais e ambientais não eram considerados relevantes, sendo resolvidos
naturalmente como conseqüência do crescimento econômico.
Segundo Menezes (1997) depois de Estocolmo o governo
institucionalizou autoridade, no âmbito federal, orientada para a preservação
ambiental no país. Em 30 de outubro de 1973 foi criada a Secretaria Especial de
Meio Ambiente (SEMA). Para este autor tal, acontecimento foi uma tentativa de
reverter a imagem do Brasil frente à opinião pública internacional, visando
atenuar as críticas e pressões feitas por organismos e entidades ambientalistas
internacionais e colocar-se numa posição favorável à obtenção de empréstimos e
investimentos estrangeiros.
13
A partir de 1975, outros órgãos ambientais foram criados nos diversos
estados e começaram a surgir legislações e regulamentos específicos de controle
ambiental nos níveis federal, estadual e, posteriormente, municipal. Entretanto,
segundo Menezes (1997), a institucionalização da questão ambiental, durante
toda a década de 1970, caracterizou-se pelo aspecto quantitativo e não
qualitativo. Os órgãos públicos criados e as ações por eles desenvolvidas em
áreas ambientais eram submetidos ainda à lógica desenvolvimentista.
Para este autor, esta realidade começou a mudar na década de 1980, com
a consolidação da democracia e do aparato institucional e legal da política
ambiental brasileira. Este novo quadro possibilitou um maior acesso à
informação, culminando num gradativo aumento da participação da sociedade
nos processos decisórios. A temática ambiental passou a assumir um papel bem
mais relevante no discurso dos diversos atores que compõem a sociedade
brasileira. Nessa direção, Barbieri (1997) lembra o importante papel
desempenhado pelas ONGs brasileiras para o desenvolvimento de nova ordem
econômica, social e ecológica.
Para Arenti (1998), um marco histórico conceitual no enfoque ambiental
do país foi a promulgação da Lei no 6.938 (31 de agosto de 1981), estabelecendo
a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação e instituindo o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). A
autora explica que esta lei possibilitou também aos ministérios públicos federais
e estaduais propor ações de responsabilidade civil por danos ambientais,
permitindo que a ação civil pública se consolidasse como instrumento
institucional do ministério público para a defesa de interesses do indivíduo e da
sociedade.
O movimento preparatório para a realização da ECO-92, segundo Viola
(1996), marcou o início da conscientização ambiental brasileira. A perspectiva
da realização da conferência fez com que temas relacionados ao meio ambiente
14
ganhassem interesse primordial nos debates sobre o futuro do país, originando
várias iniciativas que contribuíram para a ampliação dos debates. Nesta época,
foram constituídos o Fórum Brasileiro de ONGs, movimentos sociais para o
meio ambiente e desenvolvimento e a Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável.
Viola (1996) resume os principais vetores que promoveram a
globalização-transnacionalização da política ambiental no Brasil:
1. o consenso mundial (comunidade científica e formadores de opinião
pública) sobre a importância decisiva da Amazônia, em termos de
clima regional e biodiversidade global, e o fato da Amazônia ter se
tornado prioritária nos esforços de proteção das ONGs
ambientalistas internacionais;
2. a formação de vastas coalizões internacionais em torno de algumas
questões específicas amazônicas;
3. o impacto favorável que teve em diversos atores sociopolíticos no
Brasil à nova consideração da questão amazônica por parte de
atores transnacionais estratégicos e que mudaram, em poucos anos,
a percepção da floresta amazônica por parte da sociedade
brasileira,
4. a influência de padrões internacionais de proteção ambiental sobre
setores exportadores brasileiros como os de papel e celulose;
5. a realização da Unced no Rio em 1992;
6. a repercussão internacional do assassinato de Chico Mendes, em
1988;
7. a dramática mudança de disponibilidade de fundos dos Bancos
Multilaterais para o Brasil, em 1980-1990, de barragens, rodovias
e colonização da fronteira para saneamento básico e proteção
ambiental;
8. o predomínio de uma orientação econômica aberta e
internacionalizante das elites brasileiras desde início da década de
1990;
9. o processo de modernização acelerado do setor produtivo do Sul-
Sudeste (tanto corporações transnacionais quanto empresas
nacionais), na primeira metade da década de 1990, o que inclui
também a absorção de tecnologias mais favoráveis à
sustentabilidade ambiental, mesmo que numa escala e timing
diferentes dos de países desenvolvidos;
15
10. a emergência e o desenvolvimento, no período de 1987-1992, da
Geração pós-92 do ambientalismo brasileiro: um vasto contingente
de jovens (entre aproximadamente 15 e 30 anos) de bom nível
educacional, que descobriu simultaneamente a natureza, a
qualidade ambiental, as ONGs, as virtudes do desenvolvimento
pessoal e a vida globalizada transnacionalizada.
Viola (1996, p.63)
2.3 As organizações e o meio ambiente: um novo campo de pesquisa
A inter-relação entre as organizações e a natureza vêm se constituindo
num novo campo de estudo, apresentando uma variedade de trabalhos com as
mais diversas abordagens teórico-metodológicas. Para Starik & Marcus (2000),
além das contribuições advindas da evolução dos movimentos sociais e
ambientais a partir da década de 1970, propagando a concepção e o discurso do
desenvolvimento sustentável, a emergência deste novo campo de estudo
decorreu principalmente da percepção que as entidades organizacionais
passaram a ter de seus significativos impactos presentes ou futuros, positivos ou
negativos, reais ou imaginários nos respectivos ecossistemas, provendo assim
fontes de motivações para a mudança organizacional.
Estes mesmos autores indicam que, a partir da década de 1980, comou
a se constatar, com maior evidência, reformulações nas antigas posturas
incorporadas de ignorar ou resistir às pressões ambientais e passou-se a adotar
novos modelos, práticas e discursos gerenciais que, de alguma forma, inseriam
considerações ambientais na interação do lócus produtivo com o ambiente
natural.
Alguns teóricos passaram a criticar as visões tradicionais de gestão e
sugerir perspectivas alternativas que fossem capazes de lidar com toda a
complexidade que a temática abarca (Shrivastava, 1995; Gladwin et al., 1995;
Purser et al.,1995). A idéia central do trabalho desses autores é a necessidade de
superação e a troca dos paradigmas antropocêntrico-dominantes por um novo
16
paradigma ambiental e a conseqüente incorporação deste pelas teorias de gestão
organizacional.
Outros estudos têm tentado integrar a questão ambiental com a
competitividade econômica, sugerindo que a proteção do ambiente natural não
representa uma ameaça à empresa, mas sim uma oportunidade capaz de
adicionar vantagem competitiva (Schmidheiny, 1992; Porter & Linde, 1995). As
ações de melhoria ambiental nas empresas levariam a uma economia de insumos
ou ganhos de produtividades, o que foi popularizado por meio do termo
ecoeficiência.
Para Hunt & Auster (1990), a gestão ambiental é um componente crítico
para sustentar a competitividade. Estes autores acreditam ser necessária a
incorporação de uma espécie de cultura verde na organização e sugerem a
implementação a partir de um modelo de cinco fases connuas que vão da
reatividade à proatividade.
Hart (1995), partindo da aproximação da visão baseada em recursos
(VBR) com as especificidades do ambiente natural, indica que essa vantagem
pode ser alcançada por meio de estratégias, iniciadas pelo domínio das
competências de prevenção da poluição e do gerenciamento do impacto
ambiental em toda a cadeia produtiva que, interconectadas, proporcionarão o
desenvolvimento sustentável organizacional.
Para estes autores, melhores performances ambientais e econômicas
podem coexistir por meio da incorporação de um novo modelo de organização e
de uma cultura empresarial, baseado na ecoeficiência, que conduzirá a um
desenvolvimento sustentável. Estes trabalhos de gerenciamento ambiental
apresentam caráter normativo e prescritivo, definindo uma dimensão objetiva de
padrões de comportamento baseados em desempenho ambiental. Assim, a
adoção de modelos gerenciais que tornariam as organizações mais verdes é
17
possível por meio do estabelecimento de estratégias organizacionais que variam
da reatividade à proatividade na interação com o meio ambiente.
Outros estudos têm dedicado atenção às variáveis que conduziram à
adoção de novas práticas ambientais. Bansal & Roth (2000), por exemplo,
investigaram uma amostra de organizações do Reino Unido e do Japão e
identificaram responsabilidades ecológicas motivadas por considerações de
custo e potencial de lucro (competitividade); com o intuito de evitar sanções
legais, multas e penalidades, publicidade negativa e riscos (legitimação), e,
ainda, o movimento induzido por uma preocupação real (responsabilidade
ecológica).
Variáveis individuais tamm foram analisadas, como percepções,
atitudes, valores e estilos de liderança para o estabelecimento de políticas
ambientais e ecoiniciativas (Cordano & Hanson, 2000; Flannery & May, 2000;
Winn & Angell, 2000).
Egri & Herman (2000), analisando os valores, habilidades e qualidades
dos gestores que são capazes de mobilizar as organizações para perceberem
visões de sustentabilidade ecológica ao longo prazo, concluíram que essas
lideranças são mais transcendentes e mais abertas às mudanças do que as
lideranças tradicionais. Já Ramus & Ulrich (2000) destacaram o encorajamento,
as recompensas e o reconhecimento dos supervisores com os empregados,
juntamente com o processo de comunicação, como fatores preponderantes para a
promoção de iniciativas ecológicas.
Outra vertente de estudos tem focalizado o papel de agrupamentos ou
campos organizacionais como determinante de comportamento ambiental
incorporado. O pressuposto básico é o de que o ambiente institucional guia uma
compreensão coletiva sobre a natureza dos problemas ambientais e suas
conseqüentes soluções.
18
Segundo Jennings & Zandbergen (1995), os valores e práticas
sustentáveis foram reconhecidos e difundidos entre as organizações, que
passaram a adotar novas posturas como forma de legitimarem-se no campo
social. Para estes autores, os mecanismos institucionais de coerção direta ou
indireta têm induzido a adoção de práticas ambientais e atitudes semelhantes
entre as empresas.
Hoffman (1999) estudou a evolução dos atores e das instituições
associadas à indústria química e petrolífera entre 1960 e 1993. Segundo o autor,
a evolução do comportamento de resistência às causas ambientais em direção a
uma postura mais proativa foi resultante da evolução e da dinâmica do campo
institucional.
A pressuposta convergência de formas organizacionais e práticas
ambientais em conformidade com àquelas demandas institucionais tamm tem
sido questionada. Sugere-se que as diferentes estratégias ambientais de um
grupo de empresas podem não ser simplesmente uma resposta às pressões
ambientais diferenciadas, mas sim uma resposta diferenciada a pressões
ambientais semelhantes.
Nessa direção, Sharma (2000) constatou que o modo como o contexto
organizacional é interpretado pelos gestores da indústria de gás e óleo canadense
pode configurar-se da ameaça à oportunidade, gerando essa diversidade de
estratégias ambientais que variam da complacência ao voluntarismo nas práticas
de interação dessas organizações com os seus meios naturais. Fineman (1996)
sugere que as mudanças organizacionais pró-ambientais, assim como outras
mudanças, dependem crucialmente do significado emocional que os atores
atribuem à proteção ambiental.
Em um estudo com editores de jornais, Bansal & Penner (2002)
descrevem respostas significativamente diferentes ao uso de papel reciclado por
19
um grupo de publicadores. Estes autores destacaram a influência das
experiências passadas dos gerentes no processo de interpretações deste assunto.
Milstein et al. (2001) acrescentam que a pressão coercitiva pode ser uma
geradora de diversidade de estratégias ambientais e indutora de melhores
práticas nas organizações, em lugar de conduzir o isomorfismo dentro dos
campos organizacionais.
Levy & Rothenberg (2001) reforçam o questionamento, sugerindo a
necessidade de rejeição da dicotomia da influência do ambiente institucional e
do ambiente competitivo. Estes autores tamm constataram na sua pesquisa
uma variação considerável de respostas estratégicas que o problema da mudança
climática vem exigindo das indústrias de automóvel nas diversas regiões
geográficas. Para eles, as expectativas do ambiente institucional devem ser
confrontadas com a compreensão da própria realidade na qual os gestores e as
organizações encontram-se inseridos.
A gestão ambiental é ainda entendida como uma forma possível de
evitar conflitos ambientais, por meio de processos de negociação, destacando,
assim, o papel das diversas partes impactadas pelos empreendimentos, ou seja,
pelos
stakeholders
(Hemmati, 2002).
No Brasil, a pesquisa sobre a inter-relação entre as organizações e o
meio ambiente também vem se mostrando um terreno eclético e bastante fértil,
apontando motivações, estratégias e, ainda, considerações sobre as
especificidades da realidade brasileira.
Para Maimom (1998), a incorporação da variável ambiental nas
empresas brasileiras ocorreu em contexto e tempo diferenciados do ocorrido nos
países desenvolvidos.
Um estudo realizado com 1.451 indústrias brasileiras constatou que em
torno de 85% dos empreendimentos adotavam algum procedimento gerencial
20
associado à gestão ambiental (BNDES/CNI/SEBRAE,1998)
2
.
Nas
microempresas, a prática mais comum, a redução do uso de matéria-prima, é
associada à redução de custos. Já entre as grandes e médias empresas, o controle
de efluentes quidos e gasosos foi o mais adotado, motivado pelas exigências de
licenciamentos e legislação ambiental, além de possibilitar a conformidade com
a política social da empresa.
Segundo Maimon (1998), as atitudes mais responsáveis dos
empreendimentos brasileiros em relação ao ambiente é função também das
pressões e influências internacionais. A autora observa que as empresas de
melhor performance ambiental no Brasil são aquelas de maior inserção
internacional, pois, neste ambiente, existe uma maior sensibilização em relação
aos problemas ambientais, provocando uma maior pressão dos acionistas,
consumidores e ou órgãos de financiamento.
Para Donaire (1995), a adoção de novas práticas inicialmente
condicionadas por essas influências externas posteriormente repercute no nível
interno das organizações, geralmente via função de produção ou de segurança.
Dessa forma, a gestão ambiental assume também o caráter estratégico para
aumentar a competitividade das empresas brasileiras (Coutinho & Ferraz, 1994;
Donaire, 1995). Muitos empreendimentos de vários segmentos tendem a assumir
uma posição ecológica mais responsável num mercado internacional cada vez
mais exigente.
A forma como a questão ambiental é tratada pela alta administração da
empresa, segundo Donaire (1994), conduz a distintas repercussões no nível
interno e a uma variedade de arranjos organizacionais para o equacionamento
dos problemas relativos à variável ambiental. Para este autor, as estratégias em
2
Tal levantamento foi realizado entre agosto e setembro de 1998,
correspondendo às informações observadas em 1997 ou, em alguns
casos, em 1996.
21
relação ao meio ambiente são divididas em três níveis sucessivos: o controle
ambiental nas saídas, a integração do controle ambiental nas práticas e processos
industriais e a integração do controle ambiental na gestão administrativa.
Vinha (1999) e Andrade (2001) consideraram nos seus trabalhos a
dimensão conflitual da inter-relação das organizações com o seu meio natural.
Estes autores ampliaram as discussões ao inserir os desdobramentos sociais
decorrentes das especificidades locais e analisam as estratégias de
relacionamento das organizações com os seus diversos
stakeholders
. As
estratégias corporativas aparecem como soluções negociadas necessárias à
regulação da tensão entre escolha racional individual e ação coletiva.
Esta pequena amostra, longe de ter a pretensão de esgotar o assunto, tem
a intenção de apontar a diversidade de estudos que abordam a interação das
organizações com o seu meio natural. A mudança de comportamento das
organizações é uma construção social na qual constataram-se a
insustentabilidade do projeto modernista e os limites que o ambiente externo
impõe às unidades produtivas. Nesse sentido, as organizações passam a
responder às diversas demandas originadas das pressões do mercado, da
sociedade e do governo.
O
maimstream
da literatura sobre gestão ambiental sugere respostas
corporativas conduzidas por políticas de comprometimento implementadas em
âmbito operacional. Os eventos externos à organização se constituem em
ameaças e ou oportunidades e a questão ambiental passa a ser vista como uma
possibilidade de criar vantagem competitiva. As atitudes e estratégias se
referem, na maioria das vezes, a processos técnicos que vão da reatividade à
proatividade, entendida pela troca de tecnologias
fim-de-tubo
, ou seja, aquelas
que visam restringir a poluição no final do processo produtivo, por tecnologias
mais limpas, quer dizer, pela melhoria ao longo de todo o processo produtivo.
Essa literatura demonstra um viés racionalista-instrumental para a ação
22
organizacional verde, sugerindo que os atores percebem as demandas do
ambiente e as limitações que este impõem e passam a agir estrategicamente
visando alcançar os objetivos organizacionais e a maximização dos ganhos. A
tomada de decisão, então, é intencional e linear, configurando-se como uma
resposta ótima ao ambiente de incertezas.
Outra leitura da gestão ambiental decorre de uma interpretação das
organizações pela busca de legitimidade nos seus campos (Meyer & Rowan,
1992; DiMaggio & Powell, 1991). Além da existência do ambiente técnico,
fonte de recursos materiais para a organização, os diversos atores do campo e
suas conseqüentes ações estabelecem o ambiente institucional, fonte de
racionalidade coletiva. Então, além do controle eficiente sobre o processo
produtivo, as organizações são recompensadas pela adaptação aos fatores
cognitivo-culturais (Scott, 1992).
A interação entre processos institucionais e interpretações individuais
constitui outra abordagem da gestão ambiental. Nesse sentido, as demandas
institucionais, muito mais que conduzir práticas isomórficas, são fontes de
diversidade para a ação organizacional. Esta perspectiva destaca a formação da
racionalidade coletiva ao mesmo tempo em que sugere que as estratégias
organizacionais são dependentes também das racionalidades individuais, apesar
de todos os mecanismos isomórficos.
Essas abordagens destacam também a preocupação das organizações
com a sua imagem pública. O risco de ter o nome da empresa associado com
poluição e dano ambiental tem feito com que as empresas incrementem suas
iniciativas e ainda divulguem seus resultados e metas obtidos em relação à
proteção do meio ambiente.
Busca-se, neste trabalho, ampliar a discussão sobre gestão ambiental,
tentando incorporar a complexidade que a temática assume no âmbito local.
Assim, serão apresentadas a seguir algumas discussões que colocam em xeque
23
as formas mais tradicionais de pensar este processo de gestão, induzindo outras
considerações sobre as práticas gerenciais nestes
locus
.
2.4 As múltiplas interpretações da questão ambiental
Trazer a discussão sobre a questão ambiental para o âmbito local implica
na necessidade de se considerar toda a complexidade que a temática pode
assumir nesse locus de análise. Nestes espaços, então, são conferidos ao meio
ambiente os mais variados significados. A riqueza simlica que pode adquirir e
o papel que assume na geração de uma ideologia apresentam-se extremamente
vinculados a uma elevada carga de pressupostos valorativos e de interesses,
tornando o seu sentido diferenciado entre regiões e classes sociais (Jollivet,
1994; Vainer, 1996; Fucks, 1998; Carvalho, 2001; Reigota, 2001; Gerhardt,
2002; Gerhardt & Almeida, 2003; Franco, 2003).
A própria definição sobre o meio ambiente, no âmbito científico,
encontra diferentes concepções, indicando uma ausência de consenso sobre a
questão. Para Reigota (2001), o meio ambiente tem um caráter difuso e variado,
configurando-se como uma representação social. A internalização e a apreensão
dos conceitos científicos revelam, assim, a multiplicidade de significados e
representações que o meio ambiente pode apresentar para os diferentes
indivíduos, partindo da perspectiva subjetiva. Para este autor o meio ambiente
seria:
O lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais
estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam
processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e
sociais de transformação do meio natural e construído
(Reigota, 2001,
p.14).
Para Carvalho (2001), a questão ambiental constitui um território
simbólico, traduzido nos emaranhados de sentidos e temporalidades sempre
24
reencontrados e recriados nos autoposicionamentos dos sujeitos em suas
trajetórias de vidas.
Segundo Franco (2003), as concepções de natureza podem se constituir
com base em certos padrões locais sócio-intelectuais determinados, que podem
ir adquirindo significados novos a partir de experiências de vida que os
reproduzem mas tamm podem modifi-los. Assim, para este autor, o sentido
conferido à natureza existe imbricado numa espécie de relação das nossas
experiências existenciais ao mesmo tempo em que pode aparecer recoberto de
sentidos que lhes são atribuídos pela sociedade humana.
Para Fucks (1998), a especificidade que a questão ambiental assume,
como assunto público, emerge em torno da tensão e das possibilidades geradas
pela polarização entre a qualidade universal deste como um "bem público" e, por
outro lado, o caráter particular que ele assume no espo local. Para o autor, a
noção da universalidade diz respeito ao próprio movimento ambiental como
fenômeno social global. Assim, os interesses e a responsabilidade pelo meio
ambiente seriam de todos os cidadãos, não se restringindo a nenhum vínculo de
identidade e ideologia. No entanto, o sentido particular que o meio ambiente
pode adquirir para determinados grupos, ou em determinadas regiões, pode não
ser coerente com esta concepção de bem coletivo. A este respeito o autor faz as
seguintes considerações:
1) o meio ambiente não se apresenta como questão relevante para as
classes sociais que ainda não têm asseguradas as condições básicas de
sobrevivência; 2) ainda que o meio ambiente possa ser considerado um
bem de uso comum, cuja protão interessa ao conjunto da sociedade,
os custos e os benefícios de sua protão são desigualmente
distribuídos, variando em função dos recursos de que dispõem os
diversos grupos para atuar no contexto da política local; 3) a
universalidade do meio ambiente expressa o projeto de um determinado
grupo no sentido de tornar universal seus valores e interesses
(Fucks,
1998, p.3).
25
Então, ao mesmo tempo em que a noção de meio ambiente enseja certas
idéias comuns e assume os sentidos que lhe dão legitimidade, o valor e os
benefícios que o meio ambiente adquire para determinados grupos podem estar
condicionados a coordenadas sociais e espaciais locais. A questão ambiental no
âmbito local encontra-se inscrita num certo conjunto de relações sociais,
sentidos e experiências que configuram um universo social particular.
Visto dessa forma, o debate sobre a inter-relação sociedade e meio
natural, em âmbito local, configura-se como um problema social que gera
conflitos entre setores sociais específicos, em torno do que são geradas,
sedimentadas e veiculadas ações e representações distintas associadas ao meio
ambiente.
Essa discussão está presente no trabalho de Coelho (2001) ao analisar o
meio ambiente como um “problema social” dotado de dimensões conflituais. Em
sua pesquisa no âmbito da tecnociência ligada à agricultura gaúcha, a autora
identificou uma dimensão conflitual representada por dois padrões discursivos
contrários dos agentes que visavam definir o que deve ser verdade em relação às
suas práticas e, conseqüentemente, em relação ao meio ambiente.
Gerhardt & Almeida (2003) corroboram com essas considerações e
reconhecem que os sentidos contemporâneos que são atribuídos ao meio
ambiente dependem, em parte, de certas condições objetivas (emergência do
movimento ambiental global, por exemplo), mas, sobretudo são histórica, social
e culturalmente produzidos e, nas palavras do autor, “inventadas”. Dessa forma,
toda sociedade, toda cultura, poderá “inventar” a sua concepção particular do
que representa a idéia de meio ambiente e, conseqüentemente, de natureza.
Esses autores utilizam a concepção de campo social de Pierre Bourdieu
para analisar a problemática ambiental contemporânea. Eles a entenderam como
um espo ainda em construção, no qual ocorrem conflitos que visam legitimar
ou deslegitimar certos discursos e práticas no intuito de serem consideradas
26
ambientalmente corretas. Neste espaço, os diversos agentes (legisladores,
empresários, políticos, ambientalistas, cientistas, etc.) se manifestam com base
na oposição preservar/utilizar os recursos, sendo suas aspirações facilmente
influenciadas por outros campos, como, por exemplo, o político, o econômico e
o científico.
Vainer (1996, p.184) afirma que a questão ambiental deve deixar de ser
vista como produto de uma relação entre o homem (categoria genérica que
remete à noção estritamente biológica da espécie) e a natureza (categoria que,
naturalmente, resulta de um complexo processo de elaboração), para se situar no
âmbito das relações que os diferentes grupos estabelecem em seus ambientes,
bem com as diferentes estratégias que se elaboram com vistas ao embate pela
apropriação, controle e uso dos recursos naturais.
Se a problemática ambiental tem diferentes significados em decorrência
das percepções particulares e das construções sociais locais, os conflitos
decorrentes das questões ambientais locais também apresentam um caráter
particular como conseqüência das compreensões nelas expressas consolidando
especificidades às visões em disputa.
Para Silva (2001), os conflitos ambientais são gerados em decorrência
das diferenças entre as personalidades e racionalidades entre as partes
envolvidas no processo. Eles se configuram a partir de equívocos resultantes dos
principais tipos de conhecimento que fundamentam a compreensão dos atores
sobre o objetivo dos conflitos e das escolhas realizadas.
Os conflitos sócio-ambientais podem ser entendidos como disputas entre
grupos sociais, derivadas dos distintos tipos de relações por eles mantidas com
seu meio natural. Para Cunha (2004), existem ts dimensões básicas a serem
consideradas no entendimento e na análise destes conflitos: o mundo biofísico e
os ciclos naturais, o mundo humano e suas estruturas sociais e o relacionamento
dinâmico, interdependente, entre estes dois mundos. Dessa forma, podem
27
ocorrer conflitos pelo controle dos recursos naturais, ou gerados pelos impactos
ambientais e sociais decorrentes de determinados usos e tamm aqueles ligados
aos usos e apropriações dos conhecimentos ambientais (Little, 2000 apud Cunha,
2004).
Guivant (2002) faz considerações sobre a questão dos riscos coletivos.
Para esta autora, os riscos decorrentes da intervenção humana na biosfera
também são mediados por experiências e interações sociais e estão sujeitos a
diferentes racionalidades e interesses influenciando a percepção destes. Assim, a
instituição de verdades tamm envolve influências políticas, poder das
corporações, velocidade das mudanças tecnológicas e efeitos econômicos
diversos.
Nessa direção, as discussões entre leigos e peritos, ou entre a própria
comunidade científica sobre a questão ambiental podem estabelecer relações
cruzadas e impuras, com especificidades regionais, nacionais e internacionais
reproduzindo divergências, pressupostos valorativos e interesses diversos. Para
Costa & Braga (2004), a produção de saberes, discursos e verdades ocorre
sempre vinculada a formas de hegemonia social, econômica e cultural.
Alonso & Costa (2004) lembram ainda que a tradução da questão
ambiental em políticas públicas locais condiciona a discussão ambiental às
restrições impostas pelas racionalidades administrativa e burocrática,
vinculando-a a soluções politicamente aceitáveis e economicamente viáveis.
Assim, o estabelecimento de padrões de conduta, a fiscalização e a punição
podem estar condicionados a outras lógicas, senão a ambiental.
A mediação e o ajustamento dos conflitos tornam-se particularmente
complexos no plano local, em função da proximidade dos agentes, das
assimetrias de recursos de poder, da diversidade de interesses presentes e, ainda,
pelo nível local de governo ser extremamente vulnerável às pressões dos agentes
econômicos (Costa & Braga, 2004).
28
A partir do exposto, nota-se que a discussão sobre o meio ambiente e o
processo de desenvolvimento no nível local pode ser caracterizada como um
espo plural e conflituoso em decorrência das forças que atuam localmente e
dos interesses em jogo. Os diversos agentes locais, a partir de suas trajetórias
sociais (que podem em parte ser influenciadas pelos macroprocessos sociais,
mas que tamm dependerão de aspectos ideológicos, políticos, econômicos,
religiosos, etc.), passam a produzir práticas discursivas e estabelecer estratégias
no intuito de legitimar ou deslegitimar discursos e práticas sociais locais.
2.5 Gestão ambiental como prática social
A ação dos gestores e o comportamento organizacional na esfera
ambiental vem sendo tratada pelo
mainstream
da literatura gerencial como uma
resposta racional imposta pelos desafios que a questão ambiental vem
originando, a partir das três últimas décadas, aos empreendimentos.
Modelos gerenciais, culturas organizacionais e estratégias corporativas
foram apontados para a implantação de novos processos produtivos que
incorporassem tecnologias mais limpas e tamm para a disseminação de novos
valores organizacionais que fossem capazes de produzir uma atmosfera
organizacional mais verde.
Como anteriormente exposto, alguns trabalhos que consideraram a ação
gerencial no contexto da estrutura social explicaram práticas isomórficas das
organizações na procura de conformidade com o ambiente, ou uma diversidade
de comportamentos organizacionais em função das interpretações que os
gestores fizeram do macrocontexto social. A redução de custos, a
competitividade e a imagem institucional são fatores motrizes que condicionam
a ação gerencial em prol de comportamentos ambientais das organizações.
A proposta da dissertação é considerar a questão ambiental e suas
implicações no âmbito local para a gestão organizacional. Apesar da emergência
de macroprocessos sociais e da consciência ecológica, configurando-se numa
29
espécie de movimento global e, ainda, do intenso fluxo de informações, pessoas,
materiais e energia, entre as diferentes áreas geográficas, o que ajudou a
intensificar a produção e o compartilhamento de valores e comportamentos,
esses processos não necessariamente resultaram na uniformização do tratamento
conferido à questão ambiental nas diferentes áreas.
A gestão ambiental está inserida num campo de grande riqueza
simbólica, no qual são confrontadas uma variedade de racionalidades e
significados individuais. Então, tratar a ação gerencial a partir desta ótica, é
admitir a riqueza simlica inerente à condicionante ambiental, considerando a
interação e a dinâmica que constituem este espaço, cujos atores atribuem
significados diferenciados à problemática em decorrência de uma série de
fatores e interesses, sem deixar de admitir a dimeno concreta da problemática.
Uma possibilidade para este entendimento é a leitura das organizações
em seus campos sociais. Para Bourdieu (1996; 1998; 2000; 2003), o mundo
social é um espo de várias dimensões, constituídos pelos diversos campos
sociais relativamente autônomos. O campo social é o espo no qual
manifestam-se as dinâmicas sociais e se estabelecem certas propriedades e
regras específicas que são produtos e produtoras da ação dos agentes nos
campos, em função das posições relativas neste espaço.
O funcionamento e a estrutura do campo decorrem do domínio e da
habilidade de uso dos tipos de capitais. De modo geral, esses capitais são
representados pelo capital econômico (os fatores de produção e o conjunto de
bens econômicos), pelo capital cultural (o conjunto de qualificações
intelectuais), pelo capital social (conjunto de relações sociais de que dise um
determinado indivíduo ou grupo) e pelo capital simlico (qualquer um desses
capitais, seja o econômico, o social ou o cultural), que é reconhecido por sua
capacidade de exercer poder, não no plano da força física, mas no plano do valor
que os demais agentes atribuem a um tipo de capital. O capital simlico possui
30
a propriedade de ser convertido em outros tipos de capital e, geralmente, pode
ser entendido como reputação (Bourdieu, 1998).
As espécies de capital funcionam, assim, como trunfos no jogo,
exercendo poder e definindo as propriedades do campo e as probabilidades de
ganho dos agentes envolvidos (Bourdieu, 1998). A posição dos agentes no
espo social depende do volume e da estrutura do seu capital. Os agentes
detentores de capitais determinantes em dado campo tentam impor-se a todos,
legitimando uma certa visão de mundo, num princípio de movimento constante a
partir das lutas e conflitos produzidos pela própria estrutura constitutiva do
campo.
O campo é, então, um espo de diferentes e de diferenças. A tomada de
posições nos campos se dá pela intermediação das disposições incorporadas, o
que o autor chama de
habitus
. Por sua vez, o
habitus
funciona como o princípio
gerador e unificador que “retraduz” as suas características intrínsecas e
relacionais das posições nos determinados campos. Dessa forma, ao mesmo
tempo em que são produtos das posições, os
habitus
são diferenciados, mas
também diferenciadores (Bourdieu,1996).
É importante lembrar ainda que os diferentes campos sociais sofrem
influências dos demais, dependendo do tipo, da estrutura e da dinâmica do
mesmo. O campo científico, por exemplo, pode ser facilmente influenciado pelo
campo econômico tentando impor certos tipos de racionalidades e valores
vigentes.
Partindo desta concepção, é possível analisar a realidade organizacional
imbricada num espo plural onde coexistem diferentes agentes com diferentes
capitais e interesses, manifestando-se jogos políticos, ainda que não sejam
visíveis ou fáceis de se expressar. Os limites historicamente determinados que o
funcionamento do campo ime originam os conflitos, as controvérsias e as
competições. A organização encontra-se inserida neste jogo de produção de
31
sentidos, representados pelos discursos, visões, interpretações e posicionamentos
dos agentes sociais, incluindo os próprios gestores.
A organização, ao mesmo tempo em que é produto da dinâmica do
campo social, pode ser tamm produtora da realidade. O campo social de uma
organização específica é formado pelos agentes que, de alguma forma,
influenciam e ou são influenciados pela ação desta organização, incluindo
legisladores, políticos, cientistas, consumidores, funcionários, gestores,
acionistas, comunidade local, etc.
Sob esta ótica, o entendimento da gestão como uma prática social
conforme indicou Reed (1997) possibilita a compreensão da construção e
institucionalização de novas condutas e comportamentos organizacionais. Para o
autor esta perspectiva é útil à medida que remete a gestão a vários níveis de
análise, incorporando, ao mesmo tempo, os níveis institucional, organizacional e
comportamental. A ação gerencial é considerada, assim, em suas intercessões
com a dinâmica da organização e com o contexto macroestrutural.
Para a definição de prática social, Reed (1997) utiliza o conceito de
Harris no qual a prática social envolve:
[...]
a participação num conjunto de ações, inteligíveis à luz dos
pressupostos que as informam, orientados para fins partilhados por
todos os membros das comunidades envolvidas em tais ações, e
definindo-se pelos meios adotados para a realização desses fins, os
quais são determinados pelas condições em que se efetuam
[...]
(Harris,
apud Reed, 1997, p. 27)
Nessa direção, as práticas dos agentes sociais são decorrentes da
consciência que os mesmos detêm sobre os procedimentos de uma ação,
resultantes da dinâmica de significados e sentidos dentro do campo social.
Para Willmott (1987), os gestores interpretam e passam a atribuir seus
próprios significados à realidade em questão, tornando a ação coletiva
32
estruturada, institucionalizada, razoavelmente estável e coerente, produto de
condutas estratégicas dos indivíduos e, ao mesmo tempo, da ordem institucional.
Segundo Reed (1997, p. 22), a gestão como prática social envolve cinco
fatores distintos, porém , inter-relacionados:
1. a classe de ações nas quais os praticantes estão engajados como
membros de uma comunidade ou prática;
2. os conceitos atras dos quais certos objetivos ou problemas
compartilhados são identificados de um modo significativo pelos
praticantes como base para o engajamento em interações
recíprocas;
3. os objetivos ou problemas atras dos quais a prática é tomada e
como é comunicada atras do vocabulário conceitual dos seus
praticantes.
4. os meios ou recursos (material ou simbólicos) atras dos quais o
alcance de projetos importantes é buscado;
5.
as condições situacionais ou limitadoras sob as quais atividades
recíprocas, os recursos que elas requerem e as relações que elas
engendram entre os seus praticantes são configurados e conduzidos
(Reed, 1997, p. 22).
A gestão deve ser pensada, então, como um conjunto de práticas
diversas e complexas, com certa coerência conceitual e material, visando
mobilizar recursos materiais e simlicos para a manutenção ou reestruturação
dos sistemas de relações sociais nas quais os gestores estão coletivamente
envolvidos (Reed, 1997).
Nessa perspectiva, a gestão ambiental é entendida como mediadora da
relação entre a cognição e a ação em decorrência da dinâmica do contexto social.
Ela opera tanto no âmbito estrutural de reprodução social quanto no instrumental
da agência, superando visões racionais e deterministas. O processo constitui-se
de interpretações e escolhas diante da variedade e complexidade do ambiente.
Para Junquilho (2000), a partir desta perspectiva, os atores passam a ser
vistos não só como agentes responsáveis pelo exercício da disciplina e dos
33
interesses organizacionais, mas tamm como vivenciadores de conflitos e
contradições. Muitos são inerentes às formas de atingimento daqueles mesmos
objetivos, dado que as organizações são, por outro lado, tomadas como
loci
de
contradições estruturais e processuais que refletem na prática gerencial.
Esta concepção de atividade gerencial (Willmot, 1987; Reed 1997)
entende que os sujeitos são atores que moldam a realidade ao mesmo tempo em
que as ações dos sujeitos são condicionadas pela estrutura, independente da
vontade daqueles.
Acredita-se que, ao se analisar as práticas de gestão ambiental de uma
organização como práticas sociais possibilita-se uma melhor compreensão da
ação e da estrutura, pelas quais a organização tenta efetuar o controle do
ambiente dada a variedade de sentidos produzidos pelos atores sociais, ou, pelo
menos, encontrar uma resposta mais próxima da “ótima”, dentro das limitações
geradas pela própria lógica e pelas contradições da dinâmica estabelecida.
34
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A investigação científica, como atividade plural e sistemática, requer
explicitação do trajeto metodológico utilizado para alcançar os objetivos
propostos para o estudo do fenômeno em questão. Na presente pesquisa
adotaram-se os postulados do paradigma interpretativo de análise
organizacional, entendendo que, assim como a realidade, as organizações são
socialmente construídas (Burrel & Morgan, 1979).
Na perspectiva interpretativa, as organizações são descritas como sendo
o resultado das interpretações que os seus participantes fazem dos fatos que
ocorrem no ambiente e das escolhas que estabelecem a partir dessas apreensões.
Os participantes da organização são os principais atores responsáveis por
construir, manter e alterar, simbólica e socialmente, suas próprias realidades
organizacionais.
Assim, essa dissertação parte do pressuposto de que os diversos atores,
tanto organizacionais como os presentes no campo social, na dinâmica das
relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas, constroem
os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as situações e fenômenos
à sua volta dando sentido à realidade em questão (Spink & Medrado, 2000),
especificamente neste trabalho, a relação de uma organização com o meio sócio-
ambiental.
Nessa direção, os discursos organizacionais são entendidos, conforme
indicaram Grant et al. (2001), como a linguagem e símbolos que são usadas para
descrever, representar, interpretar e teorizar o que se tem como real na vida
organizacional. Segundo esses autores, ele é a principal maneira pela qual os
membros da organização criam uma realidade coerente que sustente as suas
apreensões da realidade, explícitas nas suas pticas discursivas. Essas
apreensões corroboram ainda com a noção de gestão como prática social de
35
Reed (1997). Os gestores compartilham os significados socialmente construídos
e os traduzem em discursos e práticas de gestão. Então, o discurso
organizacional é em si uma prática social.
Posto isso,
este capítulo da dissertação encontra-se dividido em quatro
partes. Na primeira delas evidenciam-se a natureza da pesquisa e a justificativa
da escolha de tal abordagem. Na parte seguinte são demonstrados os
instrumentos e mecanismos adotados para a coleta dos dados. No terceiro
momento, explicitam-se os procedimentos para a análise dos dados obtidos nas
pesquisas de campo. Por fim, caracteriza-se superficialmente os entrevistados e a
sua relação com o empreendimento no campo social específico.
3.1 Natureza da pesquisa
Este trabalho enquadra-se na categoria de pesquisa denominada de
qualitativa. Esse tipo de pesquisa busca expor, de forma minuciosa, as
especificidades de uma dada realidade ou situação social. Trata-se de uma
descrição densa que procura considerar as múltiplas facetas do fenômeno
investigado, incluindo os diversos sentidos que os diferentes atores sociais
atribuem à realidade em um dado contexto social. Para efeito desse trabalho
empregou-se o conceito de sentido formulado por Spink & Medrado (2000) no
qual:
O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais
precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das
relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas -
constróem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as
situações e fenômenos a sua volta. (Spink & Medrado, 2000, p. 41).
Esses sentidos produzidos pelos atores, expressos na linguagem em
ação, derivam de contextos marcados por diferentes temporalidades que
36
envolvem produções culturais da humanidade, processos de socialização e a
própria interação no momento do discurso (Mirin, 2000).
3.2 Procedimentos de coleta de dados
Nesse trabalho foi utilizado a triangulação das técnicas de entrevistas e
análise documental. Para Trivinos (1987), ela possibilita abranger a máxima
amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo, levando
em consideração que não é possível conceber a existência isolada de um
fenômeno social, sem raízes históricas, sem significados culturais e sem
vinculações estritas e essenciais com uma macro-realidade social. Assim,
objetivou-se, analisar como os diferentes atores do campo social compreendem o
processo de interação da organização com o meio, dando-lhe sentido e como
essa empresa os apreende na forma de discursos e práticas de gestão.
O objeto de estudo da presente pesquisa foi uma organização produtora
de celulose, que aqui será denominada de CELETEC (nome fictício para garantir
a neutralidade do trabalho) e a sua interação no campo social específico do
Espírito Santo. A obtenção de dados para este estudo embasou-se na pesquisa de
campo desenvolvida no estado do Espírito Santo, no período de maio a
novembro de 2004. Após algumas observações sobre o funcionamento da
interação da organização, foram definidos os principais atores envolvidos na
problemática em questão. Assim, foram considerados relevantes aqueles atores
que há algum tempo se situam diretamente na interação da organização com o
meio social. Num primeiro momento, foram realizadas onze entrevistas com
alguns ambientalistas, lideranças políticas, sindicais e alguns técnicos, tendo
alguns desses indicado outros atores relevantes. As entrevistas foram realizadas
em diversos locais e tiveram a duração média de uma hora.
Numa segunda etapa, depois de realizada a análise dos documentos da
empresa, foi efetuado um contato com um óro de representação das indústrias
37
do estado do Espírito Santo para o estabelecimento da conexão com a
CELETEC. Nesse momento foram definidos, juntamente com um informante-
chave, os gerentes a serem entrevistados e ainda um ex-gerente da organização.
Assim, foram realizadas entrevistas com quatro gerentes do empreendimento,
entre eles o gerente de meio ambiente corporativo, o gerente de meio ambiente e
segurança florestal, o gerente de meio ambiente e segurança industrial e o
gerente de relações comunitárias, além de um ex-gerente que atuou no
empreendimento desde a época de implantação até 1994. As entrevistas foram
realizadas na sala de reuniões, no complexo fabril do empreendimento, situado
no norte do Espírito Santo e uma delas no aeroporto da cidade de Vitória.
Portanto, foram realizadas dezesseis entrevistas com os atores sociais,
tendo sido entrevistados quatro gerentes da organização e um ex-gestor, cuja
seleção foi intencional, dadas a sua vivência e a sua capacidade de compreender
e explicar a relação da CELETEC com o meio ambiente natural e social. Optou-
se pela entrevista semi-estruturada que, segundo Triviños (1987, p. 146):
"
[...]
ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador
oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a
liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a
investigação".
A maior parte das entrevistas foi gravada, após concordância prévia do
participante. Somente um dos entrevistados manifestou a preferência pela não
gravação de sua fala, não havendo insistência por parte do pesquisador. Nos
locais das entrevistas e ao longo delas foram realizadas tamm anotações
conforme orientam Bogdan & Bikklen (1994), relatando pontos principais do
que o investigador ouvia, via, experimentava e sentia no decorrer da sua
realização.
38
3.3 Plano de análise
Na análise das práticas discursivas dos diferentes atores empregou-se a
análise de conteúdo. Bardin (1994) sugere que esta técnica consiste num
conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens e indicadores
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens. Para ele esse método serve como uma
ferramenta para a compreensão dos sentidos contidos na linguagem.
Para Laville & Dione (1999) a análise de conteúdo não obedece a etapas
rígidas. Ela deve se vista como uma reconstrução da realidade social que
envolve a interpretação do pesquisador, que procura uma resposta às questões
norteadoras da pesquisa. Portanto, a análise de conteúdo deve ser entendida
como um instrumento de mediação da relação entre a pesquisa e a realidade que
ele investiga. Mesmo não sendo orientada por normas analíticas rígidas, na visão
desses autores, a análise de conteúdo envolve recortes do conteúdo do material
coletado no campo, definição de categorias analíticas iniciais, categorização
final das unidades de análise e finalmente a reconstrução interpretativa.
Julga-se relevante mencionar que estas recomendações foram adotados
na estrutura do processo analítico. As informações coletadas por meio da
triangulação das técnicas de pesquisa, especialmente das entrevistas conduzidas
com dezesseis atores sociais, foram decompostas para, em seguida, serem
recompostos de modo a melhor expressar seu sentido. Esses elementos
recortados formaram as unidades de análise, consistindo em fragmentos do
discurso, manifesto como palavras, expressões, frases ou ainda idéias referentes
aos temas recortados. Posteriormente, os elementos desse conteúdo foram
agrupados por parentesco de sentido, definindo as categorias analíticas. Logo,
tais categorias não foram definidas a priori e sim tomaram forma no curso da
análise.
39
Na análise das entrevistas dos atores participantes do campo social
foram encontradas inicialmente cinco categorias de análise. Porém, na etapa de
categorização final, na qual foi realizada a alocação dos sentidos produzidos
pelos variados atores do campo social tendo em vista essas categorias, foi
reconsiderada a alocação dos conteúdos, suprimindo-se uma categoria de análise
que, para efeito dos objetivos propostos no trabalho, não gerou a produção de
sentidos diversificados. Assim tal categoria, denominada inicialmente de
processo de produção industrial de celulose, teve os seus conteúdos relevantes
realocados ao longo das seguintes categorias:
A terra: sua função e ocupação
O eucalipto e os seus plantios
A tônica do desenvolvimento capixaba
Imagem organizacional
Depois da análise dos sentidos produzidos pelos diversos atores
entrevistados do campo social, foram analisadas as entrevistas com os gestores e
com o ex-gestor da CELETEC. Foi realizado também processo semelhante ao
indicado por Laville & Dione (1999), juntamente com a análise documental para
a apresentação dos resultados. Foram consideradas, então, as categorias de
discurso sobre a sustentabilidade, culminando na responsabilidade social
corporativa, a apreensão dos gestores às criticas organizacionais e ainda as
práticas de gestão atuais.
Em ambas as análises, as categorias foram expostas em um mapa com o
número de colunas correspondentes à quantidade de categorias. Nesse mapa
foram inseridos os trechos das falas que apresentavam sentidos relacionados às
categorias. Cada entrevistado recebeu uma designação para facilitar a disposição
das falas e a sua apresentação nos resultados. Entre os entrevistados do campo
40
social, tal denominação corresponde às nomenclaturas de C1 a C11 e, entre os
atores organizacionais, corresponde a G1 a G5. Tais denominações seguiram a
ordem da realização das entrevistas. Nos anexos do trabalho é apresentado um
mapa dos sentidos produzidos pelos diversos atores entrevistados.
A forma de apresentação dos resultados no texto visou evidenciar os
consensos e os conflitos socialmente construídos. A exposição dos resultados
apresentou ainda alguns fragmentos dos discursos enunciados que foram
trabalhados e comentados. Foram feitas também comparações entre os relatos
dos entrevistados, de forma a se estabelecer similaridades e diferenças.
Cabe ressaltar que, em função da natureza qualitativa, preocupada em
levantar hipóteses e não em testá-las (Godoy, 1995; Triviños, 1987), os
resultados não são generalizáveis. Ainda deve-se lembrar que o pesquisador
ocupa uma posição social de observador tomando, portanto, como objeto, um
mundo social no qual está incluído. Assim, certas facetas do real podem ser
percebidas como importantes, algumas como marginais ou acessórias enquanto
outras podem nem ser percebidas.
3.4 Caracterização dos entrevistados
Para uma melhor compreensão dos sentidos produzidos pelos atores
sociais, bem como para a visualização da correlação deles com os aspectos
ideológicos e interesses dos atores, segue uma breve descrição dos entrevistados
enfocando a atuação no campo social relacionada à interação da organização
estudada com o meio sócio-ambiental. Também são apresentados os gestores
organizacionais e alguns aspectos relevantes de sua trajetória. Cabe ressaltar
que, apesar de caracterizarmos os atores entrevistados e vinculá-los a algum
grupo social, entende-se que nem sempre a opinião de um ou de alguns
entrevistados evidencia a apreensão do grupo sobre determinados assuntos,
quando ocorre o consenso.
41
QUADRO 1 Caracterização dos entrevistados
Designação
Caracterização / Atuação no campo social
C1
Liderança empresarial, representante de um conselho empresarial de
meio ambiente.
C2
Representante do poder público. Fiscaliza emissões de resíduos e
efluentes das grandes empresas do Espírito Santo.
C3
Ambientalista. Participa das discussões sobre os impactos dos
grandes empreendimentos no Estado.
C4
Representante de um movimento sócio-ambiental. Participa das
discussões sobre os impactos dos grandes empreendimentos no.
C5
Ambientalista. Participa das discussões sobre os impactos dos
grandes empreendimentos no Estado.
C6
Liderança sindical.
C7
Representante sindical de trabalhadores ligados à CELETEC.
C8
Representante de um instituto ligado à extensão rural.
C9
Ambientalista. Participa das discussões sobre os impactos dos
grandes empreendimentos no Estado.
C10
Representante do poder público. Atuou em órgão ambiental.
C11
Ambientalista. Participa das discussões sobre os impactos dos
grandes empreendimentos no Estado.
Fonte: dados da pesquisa, maio de 2004
QUADRO 2 Caracterização dos gestores entrevistados
Designação
Caracterização
G1
Ex-gestor do empreendimento. Atuou na CELETEC da implantação
até meados da década de 1990.
G2
Gerente de meio ambiente e segurança florestal
G3
Gerente de relações comunitárias
G4
Gerente de meio ambiente e segurança industrial
G5
Gerente de meio ambiente corporativo
Fonte: dados da pesquisa, maio de 2004
42
4 O EMPREENDIMENTO ORGANIZACIONAL: ASPECTOS DA
CONSTITUIÇÃO E ESPECIFICIDADES CONTEMPORÂNEAS DO
CAMPO SOCIAL EM ANÁLISE
O universo em que se realizou a pesquisa foi uma empresa produtora de
celulose de fibra de eucalipto e a sua interação no estado do Espírito Santo. Esta
organização, aqui denominada de CELETEC, foi escolhida pelo fato de que ao
mesmo tempo em que se configura em diversas publicações como precursora do
desenvolvimento sustentável empresarial e modelo de empresa eco-
comprometida, inserida no mercado internacional onde as exigências ambientais
o altas, a sua atuação no âmbito local é alvo de inúmeras interpretações,
produzindo variados sentidos pelos diversos atores presentes no campo social.
A compreensão dessa multiplicidade de sentidos requer uma passagem
pela história do empreendimento. Assim, este capítulo tem como objetivo
reconstruir alguns aspectos do processo de interação da organização no seu
campo social específico, o estado do Espírito Santo, particularizando alguns
aspectos na dinâmica estabelecida entre a organização e o ambiente com os
diversos atores sociais. Para isso, dividiu-se o capítulo em três partes. Na
primeira apresenta-se um breve resgate histórico do processo de
desenvolvimento do estado do Espírito Santo e a conseqüente influência e
impacto dos grandes projetos industriais, como a CELETEC. Na parte seguinte
resgataram-se a história da organização e alguns aspectos do processo de
interação no campo social específico e, finalmente, contextualizou-se o
empreendimento em estudo.
4.1 O estado do Espírito Santo e os grandes projetos
A instalação e o desenvolvimento do empreendimento em estudo
encontram-se intimamente imbricados com o processo de industrialização
43
acelerada ocorrido no estado do Espírito Santo a partir dos anos 1970. Para uma
melhor compreensão da problemática de estudo é pertinente recuperar alguns
aspectos da história do Espírito Santo, expondo a influência que grandes
empreendimentos industriais, como a CELETEC, tiveram num Estado
proeminentemente agrícola, cujo principal produto, o café, encontrava-se em
franca decadência. Esse resgate possibilita ainda a compreensão de possíveis
implicações na formação do imaginário e memória coletiva.
A colonização do Espírito Santo comou em 23 de maio de 1535 com a
chegada de seu primeiro donatário, Vasco Fernandes Coutinho. A capitania foi
povoada partindo de sua faixa costeira, tendo a sua primeira população sido
constituída de indígenas nativos, portugueses e escravos africanos. Até o século
XIX, a economia regional não apresentou significativa diversificação,
permanecendo predominantemente agrícola e produtora em pequena escala de
alguns produtos de subsistência. A farinha de mandioca e o açúcar eram os dois
únicos produtos que tinham seus excedentes exportados (Rocha, 1998).
Em meados de 1850, a cultura do café comou a expandir-se,
suplantando o açúcar e tornando-se a responsável pela reorganização da
economia regional, principal e mais importante fonte de renda da época (Rocha,
1998). A economia capixaba, caracterizada como agricultura cafeeira de
exportação, vivenciou uma grande crise devido à superprodução nacional e à
baixa dos preços do produto no mercado internacional em 1960. O Espírito
Santo, tendo em vista a baixa produtividade e lucratividade dos seus cafezais em
relação a outras regiões do País, sofreu
uma erradicação de mais da metade de
suas plantações (Rocha & Morandi, 1991).
Foi neste contexto que ocorreu o início da industrialização no estado do
Espírito Santo, com a criação das políticas de incentivos fiscais regionais de
apoio às atividades industriais, a partir de 1967 e, na década de 1970, com a
44
estratégia de implantação de grandes empreendimentos industriais. Assim,
objetivava-se romper com a dependência da economia capixaba em relação à
monocultura do café e proceder a diversificação da economia local (Moreira,
1992).
Os grandes projetos industriais, como ficaram conhecidos na literatura
capixaba as plantas de usinas de pelotização, siderurgias, mineração e indústria
de celulose, em decorrência dos seus grandes portes, tiveram forte apoio do
Estado Desenvolvimentista. Implementados na época da ditadura militar e
voltados para o mercado internacional, devido aos grandes aportes financeiros
necessários à sua viabilização, foram
bancados pelo governo federal em
associação com os grandes capitais, nacional e estrangeiro, ou ainda só pelo
capital privado, não se notando aí a participação do capital privado capixaba
(Rocha, 1998).
Foi a implantação destes grandes projetos que impactou definitivamente
a dinâmica da sociedade do Espírito Santo, constituindo-se em um ponto de
modernização da economia, viabilizando o surgimento de investimentos em
outros setores industriais vinculados aos mercados local ou nacional. Registrou-
se naquela época taxa de crescimento no Espírito Santo em torno de 12,88%,
nível superior ao conjunto da economia brasileira que cresceu no mesmo
período, em média, 8,7% (Dalcomuni, 1990).
Além dos econômicos, esses empreendimentos geraram também
diversos outros impactos. Data da época da implantação dos projetos o enorme
fluxo migratório para as áreas adjacentes às plantas industriais, deslocando a
base produtiva do campo para a cidade. Este processo marcou o início de
profundas alterações de ordem qualitativa, principalmente no que se refere às
questões ligadas à qualidade de vida nas regiões circunvizinhas às unidades
industriais.
45
Na esfera política, esses grandes empreendimentos geraram uma
complexificação nas relações políticas internas ao Estado, bem como as suas
formas de interação com as esferas de poder no âmbito federal. Nesse sentido,
Dalcomuni (1990) sugere que o estado do Espírito Santo, historicamente
caracterizado como locus de reprodução de capitais de pequeno e médio porte,
passa a ser submetido às lógicas associadas aos grandes blocos de capitais
estrangeiros, em sintonia com as macrodefinições do mercado internacional e
com a inter-relação política que se caracterizou pela interlocução direta com o
governo federal.
Em termos ambientais, as transformações deram-se basicamente por
meio da criação de grandes maciços de plantios homogêneos de eucalipto e o
aumento da liberação de resíduos sólidos e quidos na água e no ar,
aumentando-se os níveis de poluição atmosférica e marítima. A compra de
vastas áreas de terras pelos empreendimentos gerou ainda alteração da
concentração fundiária no Estado.
Em suma, no período de três décadas, a sociedade capixaba transitou de
um perfil essencialmente rural para uma estrutura predominantemente urbana. A
estrutura econômica, antes totalmente dependente da cafeicultura, adquiriu um
perfil majoritariamente industrial e de serviços. O Espírito Santo entrou na
década de 1990 com o seu perfil econômico redefinido e predominantemente
urbano-industrial, evidenciando além de grandes plantas
industriais produtoras
de semi-elaborados destinados à exportação, um significativo setor terciário
(Rocha, 1998).
46
4.2 Alguns aspectos do processo de constituição e interação do
empreendimento no campo social específico
Recuperar alguns aspectos do processo de interação da organização no
seu meio é fundamental para a compreensão da dinâmica atual e da
multiplicidade de sentidos produzidos pelos diversos atores do campo social.
Assim, com base em levantamentos em jornais, relatórios e alguns trabalhos, são
apresentados aqui alguns aspectos da interação da CELETEC no seu meio e
alguns incidentes críticos pelos quais passou a organização.
Datam de 1967 as primeiras atividades do empreendimento no Espírito
Santo, quando uma empresa florestal, posteriormente incorporada pela
CELETEC, iniciou os plantios de eucalipto na região norte do Estado. Em 1972,
na época dos planos nacionais de desenvolvimento (viabilizador dos chamados
grandes projetos capixabas), foi criada a CELETEC e, em 1978, teve início a
produção de celulose branqueada de fibra de eucalipto.
O setor de papel e celulose obteve na época grande apoio institucional
do governo federal (por meio de incentivos fiscais e cambiais concedidos no
processo de substituição das importações e ainda uma legislação de incentivos
fiscais ao reflorestamento) e do BNDS (concedendo crédito subsidiado e
participação acionária nas empresas de celulose e papel), além de uma crescente
demanda internacional (Bacha, 2000).
No âmbito estadual, uma política local de incentivos fiscais favoreceu a
instalação do empreendimento atendendo aos interesses do governo do estado do
Espírito Santo após a década de 1960 em fomentar a diversificação da economia
estadual demasiadamente centrada na cafeicultura (Dalcomuni, 1990).
Somam-se a isso, as vantagens locacionais, naturais e adquiridas
existentes no Espírito Santo à época de definição do empreendimento. Entre elas
destacam-se as condições edafoclimáticas favoráveis à exploração do eucalipto
47
em grande escala; a localização privilegiada devido à sua proximidade do centro
dinâmico da economia brasileira, o centro sul e do mar, favorecendo o
desenvolvimento de atividades exportadoras (Dalcomuni, 1990).
Como todo grande projeto de investimento, a implantação da CELETEC
interferiu de modo significativo do ponto de vista econômico, sócio-cultural e
ambiental no destino da população residente na área sobre a sua influência
direta. O município escolhido para a instalação do complexo agroindustrial de
celulose tinha a economia voltada para o extrativismo e atividades agrícolas,
dentro dos quais crescia lentamente. Num curto espo de tempo, sua economia
foi direcionada para o setor industrial e de serviços, nos quais a produção de
celulose é o carro chefe (Sebrae, 1996).
A criação e o desenvolvimento da empresa, até meados da década de
1980, foram marcados por governos de cunho autoritários, os quais mantinham,
por meio do exercício do poder, à margem da sociedade toda e qualquer
discussão política. Esse contexto facilitou o desenvolvimento da CELETEC na
região, submetendo a localidade ao poder do Estado e do grande capital
(Moreira, 1992).
Segundo Moreira (1992), a ocupação pela empresa de terras capixabas
foi, desde o início, polêmica. Em plena época do milagre econômico, a
CELETEC ocupou solo degradado fazendo plantios homogêneos. Inclusive,
surgindo algumas denúncias de ocupações irregulares com expulsões das
populações nativas
3
, além do fato da produção de celulose ser considerada
altamente impactante.
3
Refere-se à população indígena, pequenos agricultores, posseiros de
terras e uma população formada por descendentes de escravos
habitantes de terras entre os plantios de eucalipto mais ao norte do
Estado.
48
Nessa direção, Dalcomuni (1990) indica que a análise histórica não
apontou para uma participação relevante da sociedade capixaba no processo de
desenvolvimento local. Na verdade, ela ocorreu de forma muito pulverizada e
pontual e reduzidas às empresas envolvidas na estratégia de membros
pertencentes à tecnoestrutura do governo local, além de órgãos representativos
da classe empresarial.
Para Moreira (1992), os impactos esperados formalmente com a
instalação do empreendimento eram de cunho essencialmente econômico, quais
sejam:
transformar o Espírito Santo na maior reserva de matéria-prima da
indústria de papel do país e, possivelmente, dos mercados europeu,
canadense, norte-americano e japonês;
a conseqüente geração de divisas para o país;
promover a exploração econômica “racional” de área não ocupada, com
inexpressiva atuação econômica, devastada e sem vocação clara;
constituir/induzir a formação de um pólo de desenvolvimento da região
norte do Espírito Santo e
promover, em decorrência, a constituição de um setor terciário na
região.
Percebeu-se, pois, que os aspectos ambientais e sociais do projeto não
constituíram preocupações dos formuladores da política desenvolvimentista do
Estado. Foi com o estabelecimento de um governo democrático que veio à tona,
entre outras discussões relevantes, a avaliação do papel e das conseqüências dos
49
grandes projetos implantados na década de 1970. Grande parte destes projetos
demandou ampliação ao final dos anos 1980, constituindo momento propício
para essa avaliação e para o estabelecimento de condicionantes, principalmente
de natureza ambiental, que facultasse corrigir falhas ou reduzir os danos
causados ao meio ambiente.
Nesse período, ao dar início aos investimentos para a expansão de sua
capacidade instalada, a CELETEC enfrentou obstáculos decorrentes da imagem
devastadora do meio ambiente consolidada na sociedade capixaba. Em
decorrência do movimento que se formou na sociedade do Espírito Santo, houve
pressão por parte dos ecologistas e um interesse político em proibir novas
aquisições de terras pela CELETEC no Estado (Moreira, 1992).
Assim, além da parceria estabelecida em 1986 com o governo do
Espírito Santo visando o reflorestamento de pequenas e médias propriedades
rurais com o eucalipto denominado de programa de extensão florestal, a
empresa, objetivando garantir fontes alternativas de suprimento de madeira,
implantou um programa de caráter privado com os proprietários rurais dispostos
a plantar eucalipto em suas terras.
Tal programa ,denominado Fomento Florestal, não foi bem recebido por
alguns atores locais que, liderados por uma organização não governamental,
entraram com uma representação de ação civil pública junto ao Ministério
Público, denunciando o empreendimento por descumprimento de dispositivos
legais. Essa ação que teve, além da empresa, o Estado e o IBAMA como réus,
por terem sido considerados coniventes, resultou
posteriormente num Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) da empresa com o Ministério Público Federal
(MPF) e uma homologação de sentença na qual a empresa comprometeu-se a
fazer educação ambiental, de fomento florestal e extensão florestal, entre outras
coisas.
50
A dinâmica do campo social pós-democratização gerou o espo para
discussões e maior visibilidade de outros atores, além do binômio Empresa-
Estado. Para Moreira (1992), as dificuldades encontradas pela CELETEC, para a
obtenção das autorizações necessárias à execução de seu projeto de expansão,
foram o reflexo da imagem da empresa construída ao longo dos anos de
ditadura, da abertura democrática e da maior conscientização da sociedade
quanto aos danos ambientais decorrentes dos grandes projetos.
Um outro episódio que evidenciou a controvérsia gerada em torno dos
plantios de eucalipto foi a invasão do porto privado da empresa, em meados de
1992, por um veleiro dos ambientalistas do
Greenpeace
que, durante três dias,
protestaram contra as supostas agressões que a empresa causara ao meio
ambiente. A empresa que já vinha participando ativamente dos preparativos da
ECO-92, por meio do
World Business Council for Sustainable Development
(WBSCD), como resposta lançou e distribuiu para todas as delegações
governamentais o livro
Changing Course
, considerado o marco inicial do
ambientalismo empresarial (Andrade, 2000).
Ao final dos anos 1990, a Empresa passou a enfrentar novos desgastes
em relação à sua imagem corporativa ao tentar obter um selo verde FSC (
Forest
Stewardship Council
- no Brasil denominado de Conselho de Manejo Florestal),
atestando ser a madeira, utilizada como matéria-prima, proveniente de floresta
manejada ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente
viável. Formou-se uma ampla mobilização contrária, composta por dezenas de
entidades e personalidades capixabas e
do sul da Bahia, que passou a denunciar
os denominados “passivos sociais e ambientais” da Empresa. Desde então, este
movimento configura-se como importante oposicionista das propostas de
expansão da empresa no estado do Espírito Santo.
51
Outro aspecto que gerou polêmica foi a relação da empresa, a ocupação
e o uso das terras, com alguns grupos de populações na sua área de atuação
direta. Após alguns anos de reivindicações e disputa de terras foi estabelecido
um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em 1998, entre a empresa e a
população indígena. O acordo envolveu incorporação de terras em posse do
empreendimento às reservas indígenas, repasse de dinheiro destinado a projetos
de geração de renda e concessão de bolsas de estudos para alguns índios
cursarem a faculdade durante a vigência do acordo, que expira em 2018.
Em 2001, às vésperas da inauguração de sua terceira fábrica, a empresa
enfrentou nova tentativa de restrição dos seus plantios de eucalipto no estado do
Espírito Santo. Depois de recorrer ao Supremo Tribunal Federal, a legislação
estadual que visava conter o plantio de eucalipto para produção de celulose foi
considerada inconstitucional. Na mesma época, foi realizado um semirio
internacional, o qual discutiu a monocultura do eucalipto e seus impactos e
ocorreu a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para a
apuração de denúncias sobre aquisições irregulares e superfaturamento na
compra de terras e o plantio de eucalipto em terras impróprias, por parte da
Empresa. Tal denúncia foi posteriormente arquivada, surgindo posteriormente
denúncias de tentativas de favorecimento e extorsões por políticos locais em
relação à empresa.
A partir do exposto percebe-se que a interação social do
empreendimento no seu campo social é polêmica. Com o processo de
democratização na década de 1980, os atores sociais passaram a ter maiores
oportunidades de posicionar-se, expondo seus pontos de vistas ou as
percepções
de determinados agrupamentos sociais. No estado do Espírito Santo, as
discussões em torno da atuação e dos impactos do empreendimento encontram-
se sintetizadas sob dois movimentos. Um deles assume um caráter mais
52
ambiental, com as discussões centradas sobre práticas de manejo florestal e
processos de educação ambiental, embora admita que o social e o ambiental não
estejam dissociados. O outro movimento congrega discussões sociais,
ideológicas e ambientais; caracteriza-se por uma forte oposição à atuação do
empreendimento e os seus plantios, sendo formado por uma ampla coalizão que
representa o interesse de alguns grupos sociais.
Na dinâmica social estabelecida, misturam-se, muitas vezes,
reivindicações legítimas, diversas racionalidades, aspectos ideológicos e
interesses diversos de todos os lados. O funcionamento do campo não é
harmonioso, muitas vezes até conflituoso, demonstrando as assimetrias dos
diversos tipos de capitais, gerando variados tipos de atritos e denúncias de
ambos os lados
.
4.3 Especificidades do empreendimento
Segundo Souza & Oliveira (2002), a indústria brasileira de celulose e
papel é especializada, principalmente, na produção e exportação de celulose
sulfato branqueada, de fibra curta, oriunda da utilização do eucalipto como
principal matéria-prima. A celulose de eucalipto no Brasil é produzida
principalmente por grandes companhias, proprierias de grandes áreas de
florestas manejadas, com ciclo médio de corte de sete anos e duas a três
colheitas na mesma área por rotação, que varia de 14 a 21 anos. São empresas
que utilizam alta tecnologia, desde a produção das mudas, plantio e manutenção
dos povoamentos florestais, com alto grau de mecanização em todas as
operações até a colheita realizada por máquinas computadorizadas. O transporte
de madeira para as fábricas é realizado por caminhões pesados e as indústrias
o altamente automatizadas, utilizando larga gama de produtos químicos. A
celulose de eucalipto é utilizada principalmente para a produção de papel de
imprimir, escrever e para fins higiênicos, que acabam em produtos para
53
consumo com certo grau de permanência em uso, de reutilização, de reciclagem
e de degradabilidade as descarte.
A CELETEC é umas dessas empresas, configurando-se entre as maiores
produtoras mundiais de celulose branqueada de eucalipto, respondendo por mais
de 30% da oferta global de celulose. Sua vantagem está no baixo pro de sua
celulose com alto índice de qualidade.
As suas atividades são totalmente integradas, desde o processo da
plantação da madeira, produção da celulose, comercialização até a distribuição.
O complexo fabril situa-se no norte do Espírito Santo, juntamente com um porto
privativo, por meio do qual grande parte da sua produção é exportada para a
Europa, América do Norte e Ásia, e no Rio Grande do Sul, com a aquisição, em
2003 de uma unidade fabril.
Para o fornecimento de matéria-prima, a Empresa faz uso de duas
modalidades de plantio: em terras próprias ou em terras de terceiros, por meio de
uma parceria com os pequenos proprietários rurais, programa esse denominado
Fomento Florestal. Suas atividades florestais alcançam os estados do Espírito
Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com aproximadamente 247 mil
hectares de eucalipto plantados, destes, 105 mil no Espírito Santo.
Em 2003, as vendas de celulose de eucalipto, segundo o relatório
publicado pela empresa, atingiram 2.250 mil toneladas. O controle acionário da
empresa é exercido pelos grupos Lorentzen, Votorantim, Safra e pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O grupo ainda
possui uma empresa de produtos de madeiras provenientes dos plantios de
eucalipto, destinados às indústrias de móveis e design de interiores.
Em suma, a passagem pela história do empreendimento possibilitou a
evidenciação de alguns dos aspectos da interação da organização no campo
social específico do Espírito Santo. O breve resgate histórico do processo de
54
desenvolvimento do estado do Espírito Santo revelou a influência e os impactos
que os grandes projetos industriais, do qual a CELETEC é uma dos
representantes, tiveram num Estado proeminentemente agrícola cujo o principal
produto, o café, encontrava-se em franca decadência e as possíveis correlações
na produção dos sentidos.
55
5 SENTIDOS DA ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO: CONSENSOS E CONFLITOS SOCIALMENTE
CONSTRUÍDOS
Este capítulo tem por objetivo identificar e analisar, sob a ótica de
diferentes atores do campo social em estudo, os sentidos produzidos em torno do
processo de interação da organização estudada e o meio ambiente, comparando-
se os referidos sentidos, particularizando os conflitos e consensos socialmente
construídos. Assim, são expostos os resultados partindo da análise das
entrevistas realizadas entre representantes de ONGs, técnicos, representantes do
poder público e do meio empresarial, entre outros. É pertinente destacar que,
nesta parte do trabalho, não são evidenciadas as percepções dos gerentes da
organização estudada, optando-se por fazer isto no capítulo referente às práticas
de gestão.
Foi observado, conforme as proposições de Spink & Medrado (2000),
que os diversos atores, na dinâmica historicamente datada e culturalmente
localizada, construíram meios, ou seja, os sentidos, a partir dos quais lidaram e
tentaram compreender e explicar o mundo à sua volta. Os resultados da pesquisa
de campo corroboram ainda com as indicações de Jollivet (1994), Vainer (1996),
Fucks (1998), Carvalho (2001), Reigota (2001), Gerhardt (2002), Gerhardt &
Almeida (2003) e Franco (2003), revelando a elevada carga de pressupostos
valorativos e de interesses da problemática ambiental, o que tornou o seu sentido
diferenciado entre indivíduos e grupos sociais.
Algumas das situações conflituosas decorrentes da atuação do
empreendimento manifestaram-se conforme as compreensões expressas no
contexto do conflito. Essa constatação corrobora com a indicação de Silva
(2001) de que os conflitos ambientais são resultantes do processo de relação e de
56
seus desdobramentos sobre a sustentação da dinâmica da personalidade das
partes envolvidas.
Outro aspecto revelado na pesquisa foi que os sentidos produzidos pelos
diversos atores a partir da interação da organização estudada e o seu meio social
estão sempre inter-relacionados. Assim, muitos deles referem-se a vários
aspectos apreendidos pelos atores na dinâmica organização e meio social.
Entretanto, para efeito de demonstração, optou-se por apresentá-los em 4 partes.
Dessa forma, são expostos os sentidos produzidos referentes à função da terra e
à sua ocupação, ao eucalipto e seu plantio, aos modelos de desenvolvimento e,
por fim, os sentidos relacionados à imagem organizacional.
5.1 A terra: sua função e ocupação
Um dos aspectos fortemente presentes nas falas dos entrevistados e que
gerou uma diversidade de sentidos foi a questão da terra, a sua função e a forma
como foi e é ocupada. Essa concepção se aproxima ainda do que Fucks (1998)
indicou como a polarização entre a qualidade universal da questão ambiental
como “bem público” e o caráter particular que ele assume no espo local. Essa
questão originou diversas percepções em relação à atuação do empreendimento e
ainda gerou implicações nos demais objetos de produção dos sentidos.
No discurso de alguns participantes de movimentos sócio-ambientais, a
empresa, por possuir grandes quantidades de terras, configura-se como a maior
“latifundiária capixaba”. A promoção dos plantios homogêneos come rciais de
eucalipto com forte apoio estatal e com a anuência de órgãos de fiscalização,
para este grupo de atores, causou uma série de impactos e conseqüências. Tais
aspectos estão presentes em relatos da seguinte forma:
57
Onde tem madeira de eucalipto plantada, onde tem plantação de
eucalipto, você tem a diminuição das atividades da agricultura
familiar”
(Relato de entrevista C8).
A CELETEC continua comprando terras, muitas terras, aumentando
ainda mais o êxodo rural
(Relato de entrevista C4).
“Desde a implantação das florestas, em 67, que os conflitos se
instalaram
(Relato de entrevista
. -
C9).
Um dos entrevistados apreende estas conseqüências, justificando-as
como decorrentes, entre outras causas, do excesso de capital que a empresa tem,
o que, segundo a racionalidade do ator, gera poder de barganha e possibilita que
a organização confira ganhos para alguns poucos conforme o interesse dela em
detrimento de toda a coletividade. Tal idéia está presente no seguinte
depoimento:
“Ela compra terras por um valor muito acima do valor do mercado.
Então, estabelecendo mais um obstáculo para a reforma agrária,
porque aquelas terras passíveis de desapropriação para a reforma
agrária e o Incra não consegue se valer do pro que a CELETEC
paga. Ela paga um preço bem acima do mercado. Então, isso é um
enorme problema. A CELETEC é um enorme obstáculo, hoje, para a
reforma agrária no Espírito Santo. Então é de fato a maior
latifundiária de terras
(Relato de entrevista C4).
Esse fragmento revela a percepção, apreendida também por outros atores
do campo social, de que a organização, pelo porte e por ser proprietária de
grandes extensões de terras, tornou-se uma empresa muito poderosa. Para esses
atores existe uma assimetria de capitais no campo social. Conforme a Teoria do
Campo Social de Bourdieu (1998; 2000; 2003), o capital legitimado pelos
demais constituintes do campo, aqui entendido essencialmente o capital
58
econômico, exerceu um poder simlico e a habilidade de manipulá-lo originou
a possibilidade de estabelecimento da dinâmica do campo social, conforme o
interesse do empreendimento. Nesse sentido, para alguns entrevistados, a
empresa acaba sempre estabelecendo as regras do jogo e impondo a sua vontade
sobre os demais atores do campo.
Um outro ponto mencionado na fala desses atores e que evidenciou a
questão da terra foi a comparação, em termos monetários, entre o valor investido
por instituições públicas nos projetos de expansão do empreendimento e os
valores investidos na agricultura familiar. De acordo com a racionalidade de um
ator entrevistado, o elevado montante investido neste tipo de projeto é incoerente
por gerar uma evidente desvantagem para a sociedade com o aumento da
desigualdade social.
Eles investiram só na ampliação. Agora, o BNDES deu 600 e poucos
milhões. Para o Brasil inteiro, para a agricultura familiar, deu 800
milhões. Que lógica é essa que, para uma empresa exportadora, gera
pouco emprego, gera pouco imposto a nível estadual tem 600 milhões e
para o Brasil inteiro, para a agricultura familiar que gera emprego e
renda, não tira o pessoal do campo e diminui a violência tem só 800
milhões?
(Relato de entrevista C9).
A auto-suficiência do Espírito Santo na produção e abastecimento de
alimentos tamm foi questionada. Para um representante de ONG “
Se você tem
terras agriculturáveis ocupadas pelo eucalipto, você de certa forma, você perde
a auto-sustentabilidade do Estado, porque o Estado vai estar com as suas terras
agriculturáveis comprometidas com o eucalipto
” (Relato de entrevista C3). Na
lógica de outro ator presente no campo social,
“ninguém come o que eles
plantam e as áreas de produção, as áreas de atividades de agricultura familiar
estão simplesmente sumindo por causa do eucalipto
(Relato de entrevista C8).
59
Nesse sentido, um desses entrevistados continua o seu depoimento
lembrando que a terra é o espo de sistemas culturais específicos, território de
manifestação de importantes tradições locais que devem ser preservadas. Para
ele, a substituição da agricultura tradicional pela cultura do eucalipto,
incentivada pelo programa de extensão ou de fomento florestal gerou a
introdução de processos mecanizados e técnicas exógenas que alteram as
relações cotidianas entre os agricultores, implicando na perda dos sistemas
culturais tradicionais presentes no campo.
“Quer dizer, a substituição destas atividades pelas atividades florestais
eleva o distanciamento cada vez mais das relações interpessoais das
atividades do dia-a-dia na área rural, diminuindo com isto o
intercâmbio entre pessoas, o intercâmbio entre o conhecimento. O
intercâmbio entre o dia-a-dia das pessoas, que é onde se faz e fomenta
as relações sociais e os valores, tanto sociais quanto culturais, se
estabelecem nas relações diárias e cotidianas. Isso tem se distanciado e
se tornado muito mais esporádico em função da trocas por atividades
até então desconhecidas do sistema cultural daquelas comunidades
(Relato de entrevista C8).
Reforçando a questão das populações tradicionais e o seu direito à terra,
foi reportado, na fala de diversos entrevistados, o início dos plantios e da
instalação do empreendimento no Espírito Santo. O forte apoio do Estado
desenvolvimentista e a cumplicidade de governos militares com o
empreendimento na ocupação do território capixaba foram lembrados para
indicar o início da geração dos conflitos entre a empresa e os grupos de
populações tradicionais localizados nestas áreas.
Assim, para esses entrevistados, o Estado também teve grande parcela
de culpa, na medida em que concedeu terras ao empreendimento na década de
1970, ignorando a presença das populações nativas, apesar de alguns protestos
contrários manifestados naquela época. Na interpretação de um ambientalista,
60
“desde o início da implantão da CELETEC foi dramático, na medida em que
houve diversas arbitrariedades políticas na época
” (Relato de entrevista C3).
A expansão dos plantios de eucalipto, na lógica desses atores sócio-
ambientais, expulsou as populações tradicionais, tendo em vista que a
monocultura vizinha aos territórios das populações acarretou na diminuição da
capacidade de subsistência delas, pressionando muitos grupos a deixarem as
suas terras. Ou, ainda, as populações que permaneceram em seus espaços,
muitas vezes áreas menores que a original, sofreram diversas dificuldades
decorrentes do passivo social e ambiental resultante. É interessante notar que
esse sentido permanece manifesto ainda para alguns entrevistados, apesar da
empresa já ter estabelecido acordos com algumas destas populações.
Para outros entrevistados, a aquisição e a ocupação de terras pelo
empreendimento são percebidas em consonância com o processo de
desenvolvimento. Uma liderança sindical justifica dizendo que
a “empresa
ocupa uma área muito grande de terra, então, os conflitos, é natural que eles
aconteçam”
(Relato de entrevista C6).
Nessa ótica, a terra desempenha uma função primordialmente
econômica, sendo considerada um fator de produção como os demais e ainda
pode adquirir o caráter de propriedade particular para grupos específicos. Os
sentidos produzidos por estes entrevistados expressam-se pelas percepções de
benefícios gerados pela ocupação do solo e pela forma como a empresa o utiliza.
O uso da terra pela empresa é comparado a outras atividades, como a
pecuária e algumas monoculturas, como a do café e a do milho, não causando,
segundo esse raciocínio, impactos maiores. Ao contrário, apresenta-se como
possibilidade de minimização dos impactos outrora causados por aquelas
culturas.
61
Para um técnico de um óro de extensão rural, por exemplo, o
programa de fomento florestal implementado pela empresa é uma opção de
diversificação rural e fonte de renda para o pequeno proprietário do campo.
A CELETEC é uma empresa industrial de grande porte e ela tem um
outro lado que é um lado agrícola. Eu vejo a CELETEC, ela tem uma
atuação direta, ela tem um programa, que é o programa de fomento
florestal que atua junto aos agricultores. Isso tem sido mais uma opção
de renda, ou de diversificação, mais uma opção para o produtor
(Relato de entrevista
-
C7).
O sindicalistaacredita que os plantios comerciais promovidos pelo
empreendimento são ainda uma das poucas formas de absorção de mão-de-obra
sem muita qualificação, num mercado cada vez mais competitivo.
Ela é uma que ainda emprega a mão-de-obra não qualificada, em
relação a outras empresas que vêm antes e depois da CELETEC; são
mão-de-obra especializada e a qual não supre o mercado de trabalho”
(Relato de entrevista C6).
Na fala de alguns desses atores encontram-se argumentos contrários aos
pronunciamentos do grupo anterior, indicando uma infundamentação das críticas
e dos posicionamentos daqueles atores sociais. Para eles, a ocupação da terra se
deu de forma legal, não gerando a expulsão de populações tradicionais; os
plantios comerciais não causariam a diminuição das áreas para a agricultura
tradicional, já que existe disponibilidade de terras para a produção de alimentos
e também não causariam o êxodo rural, mas, ao contrário, ajudariam a fixar o
homem no campo. Uma dessas idéias está presente no seguinte depoimento:
“Na verdade as terras que eram agriculturáveis ainda continuam no
município e muitas terras que poderiam ser plantadas continuam sem
ser plantadas. Então na verdade, não se indisponibilizou a região para
62
o plantio de alimentos como o pessoal fala: ‘não tem mais lugar para
plantar aqui, só tem eucalipto’. Mentira! Tem que se parar de criticar e
viver dessa crítica e tentar levar vantagem: ‘consigo benefício, consigo
emprego para o meu filho’...
(Relato de entrevista C1).
Esse fragmento, além de indicar a disponibilidade de terras para outras
atividades senão o plantio de eucalipto, insinua a existência de indivíduos ou
grupos sociais que tentam obter algum tipo de vantagem gerando críticas
infundadas em relação ao empreendimento. O agente do poder público justifica
também os pronunciamentos contrários em relação à organização, indicando que
muitos deles têm origem na lógica do mercado global competitivo que, muitas
vezes, por falta de conhecimento técnico e científico são apropriados por grupos
e movimentos políticos, tomando a dimensão de verdade.
São muitas variáveis que existem em torno do empreendimento
econômico. A CELETEC é uma fornecedora de comodities para o
mercado internacional de papel e celulose. Nessa área só existem
grandes players, players que têm a localização em países onde a
localização florestal é muito mais lenta, portanto, muito menos
competitivos que nós. Isso gera embates comerciais, conflitos, e muitas
vezes conflitos até mesmo gerados por trabalhos que são gerados pelos
concorrentes. Inclusive movimentos políticos daí são gerados. Os
movimentos políticos do mundo têm origens diversas e nesse mundo
competitivo global uma das causas dos conflitos pode ser causado pelos
próprios concorrentes internacionais. Eu coloco isso como um dos
fatores e repetido por pessoas que, às vezes, não têm o conhecimento
técnico e científico da questão. Isto pode tomar dimensões que, às vezes,
acaba se tornando uma verdade
(Relato de entrevista C10).
O que se percebeu por esses depoimentos é que os sentidos produzidos
em torno da ocupação da terra pelo empreendimento no estado do Espírito Santo
coexistem num connuo de percepções no qual a terra teria uma função
predominante específica e admitiria um caráter específico.
63
Na racionalidade de alguns participantes de movimentos sócio-
ambientais, a terra é uma categoria com uma função essencialmente social,
numa perspectiva ideal, de uso comum de todos. Esse território deve ser usado
por grupos de populações tradicionais ou não como alternativa local para o
desenvolvimento de atividades que gerem condições de subsistência e melhoria
da qualidade de vida, devendo o Estado incentivá-las e implementá-las. O uso do
solo para os plantios comerciais em larga escala gera uma série de impactos e
uma concentração de renda para poucos em detrimento da coletividade. Assim,
os sentidos produzidos por esses atores em relação ao uso da terra e à forma de
ocupação pela organização foram os de que a agricultura familiar e a produção
de alimentos no Espírito Santo foram prejudicadas, as populações tradicionais
sofreram conseqüências, as tradições culturais foram enfraquecidas e o êxodo
rural promovido.
Já para outros atores entrevistados, entre eles o líder empresarial, o
sindical e o político, a terra desempenha uma função primordialmente
econômica, não sendo diferenciada de outros fatores de produção e ainda é
admitido que ela tenha caráter privado. O termo econômico foi empregado aqui
o no sentido
stricto
do economicismo, pois esses entrevistados percebem
benefícios sociais a partir da atuação da empresa, mas no sentido utilitarista. O
uso de terra por um empreendimento gera uma série de vantagens percebidas por
estes atores, o que justifica a ocupação da terra pela empresa e a conseqüente
gerão de alguns impactos, considerados normais. Contrariamente ao grupo
anterior, a relação da organização com a terra, para esses entrevistado, gerou a
diminuição do êxodo rural, é fonte de renda e diversificação para o pequeno
proprietário no campo e ainda absorve a mão de obra não qualificada na região.
Então, o que foi percebido por alguns entrevistados como benefícios
decorrentes da interação da organização no seu meio social, especificamente em
64
relação à questão da terra, para outros entrevistados não teve o mesmo
significado. De maneira geral, os diversos atores, nos seus discursos,
objetivando legitimar seus pontos de vistas, tentam deslegitimar os dos demais
atores. Assim, são apresentados sempre justificativas, referências a estudos e
resultados de relatórios, além de menções diretas a uma suposta
infundamentação do discurso do outro ator ou do grupo de atores presentes no
mesmo campo social.
5.2 A “torre de babel” do eucalipto e seus plantios
Uma segunda categoria - muito relacionada com a ocupação do solo -
que indicou uma diversidade de sentidos produzidos pelos atores entrevistados a
partir da interação da organização estudada e o seu meio social, foram o
eucalipto e seus plantios. Aspecto bastante conturbado e ainda polêmico, a
discussão sobre o eucalipto comou no Espírito Santo antes mesmo do início
dos plantios da CELETEC, quando um renomado cientista capixaba, Augusto
Rusch, fez previsões sobre as conseqüências da substituição de florestas nativas
por espécies eticas de rápido crescimento. Segundo esses cientista, o norte do
Espírito Santo se tornaria um grande deserto nas próximas décadas, caso
continuasse a expansão desenfreada dos plantios em larga escala.
Para alguns integrantes de movimentos sócio-ambientais, o eucalipto é
uma espécie exótica, por ser originária da Austrália, inapropriada para as
condições edafoclimáticas locais. Os ciclos de crescimento consecutivos, muito
menores se comparados a outras regiões do mundo, além das grandes extensões
dos plantios, trazem conseqüências irreversíveis para o meio ambiente.
Os efeitos ambientais adversos do plantio de eucalipto mais ressaltados
por esses que se posicionam contrariamente a ele são: a retirada de água do solo,
tornando o balanço hídrico deficitário, com o rebaixamento do lençol frtico e
até o secamento de nascentes; o empobrecimento de nutrientes no solo, bem
65
como seu ressecamento; a desertificação de amplas áreas, pelos efeitos
alelopáticos sobre outras formas de vegetação e a conseqüente extinção da
fauna, além das conseqüências do uso de agrotóxicos nas plantações. Alguns
destes questionamentos foram apresentados da seguinte forma:
“Isso está tudo comprovado por estudos científicos, não só aqui no
Brasil, mas também na Índia, na própria Austrália que é a origem dessa
espécie. O eucalipto é uma planta, coisa muito simples, é uma planta
que precisa de 1200 mm de hébio liquido para crescer e para viver, e
ela tem a capacidade de lançar as raízes a profundidades terríveis à
procura da água que ela precisa. .... Então, você imagina, esse
eucalipto vai jogar as raízes em cima desse aqüífero. E essa é uma das
razões porque a CELETEC escolheu o Estado
(Relato de entrevista
C3).
A desestruturação dos sistemas naturais, sistemas naturais de
florestas, de banhados, de áreas úmidas, de encostas, de nascente...
Todos estes sistemas sofrem hoje gravemente com a entrada e a
expansão quase que ilimitada do cultivo do eucalipto
(Relato de
entrevista C8).
Na fala de alguns desses entrevistados apareceu novamente referência ao
papel exercido pelo Estado como intermediador na relação organização e meio
social. Na verdade, esta apreensão está muito relacionada ao aspecto anterior
referente à forma de ocupação da terra e à sua função. Para estes entrevistados, o
Estado é culpado pela expansão da monocultura do eucalipto no Espírito Santo,
porque o apoio dado ao programa de extensão e fomento florestal da empresa e
ainda a ocorrência da flexibilização da legislação não são cabíveis. Tal
sentimento é expresso da seguinte forma:
66
“Não há j ustificativa para que o Estado tenha permitido tal expansão,
não há ... Ela partiu para o projeto de fomento florestal. Por que?
Porque o estado do Espírito Santo nunca teve política florestal, nunca
interessou ter e nisso vai uma parcela de conivência com os projetos de
expansão de monocultura de eucalipto. Então, o Estado tirou o time de
campo e disse: Ah o destino nosso é deixar a CELETEC crescer, porque
isso é arrecadação
(Relato de entrevista C3).
Os defensores do eucalipto, por sua vez, apresentam também, nos seus
discursos, indicações de estudos e de pesquisas científicas que atestam a
sustentabilidade dos plantios de eucalipto. Sugerem ainda que a empresa é uma
referência nas plantações de eucalipto para a produção de celulose no Brasil. O
eucalipto é visto como um produto útil e uma alternativa sustentável. Nesse
sentido, o líder empresarial justifica o seu comportamento diante das críticas
referentes aos plantios de eucalipto da seguinte forma:
O que eu faço? Eu pego e mostro estudos. Não interessa só o que a
CELETEC está escrevendo. Mostro o que a faculdade de Ouro Preto
está escrevendo, o que a USP está escrevendo
(Relato de entrevista
C1).
Para o agente do poder público, são esses estudos que a empresa
desenvolve em parceria com diversas instituições que geram uma tecnologia de
ponta, o que, em certa medida, cria um know-how para o estado do Espírito
Santo e para o Brasil em termos de práticas de silvicultura e produção de
celulose.
É uma grande empresa que tem alta tecnologia na produção florestal,
tem um papel importante no desenvolvimento na área florestal em todo
o estado do Espírito Santo
(Relato de entrevista C10).
67
As críticas a respeito da insustentabilidade dos plantios de eucalipto,
segundo um desses entrevistados, decorre da perpetuação de mitos criados no
passado, gerados pela falta de conhecimento sobre essa espécie e por alguns
erros na implantação e condução dos maciços florestais e que ainda são
reproduzidos por alguns atores locais. Então, um deles disse “
na parte
ambiental, o eucalipto sempre foi um grande mito, mitos fantásticos, que seca a
terra, por aí...
(Relato de entrevista C1).
O mesmo entrevistado continua o seu discurso explicando algumas das
críticas referentes aos cultivos de eucalipto. Em relação ao consumo de água ele
relata que
“Não é que o eucalipto seca a terra. O eucalipto é uma planta que
cresce muito rápido e, no momento que ela cresce mais, ela demanda mais
água.Mas, no balanço, não tem diferença dos outros. No crescimento, claro que
ele consome muita água, mas depois é normal”
. Ou ainda em relação à questão
da biodiversidade nos plantios da espécie, para ele
“se você for dentro de uma
plantação de eucalipto, tem fauna e flora. É muito menos, mas se você for
dentro de uma plantação de soja é a mesma coisa, do café a mesma coisa. Não
dá para comparar o bichinho que existe dentro dos eucaliptos com a Amazônia,
brincadeira... Você tem que comparar plantação de eucalipto com plantação de
café e aí as pessoas de má fé utilizam esta informação para fazer tumulto
(Relato de entrevista C1).
Este fragmento indica ainda a existência de indivíduos ou grupos de
indivíduos que fazem uso de informações sem fundamentação para criar
agitação e um clima de hostilidade na sociedade em relação ao empreendimento.
É interessante notar que, dessa relação da empresa com os plantios de
eucalipto e dos sentidos produzidos pelos entrevistados, originaram-se três
percepções e ou comportamentos principais dos atores em relação a esta questão.
68
Para alguns dos entrevistados, as pesquisas e práticas referentes ao
plantio e manejo do eucalipto tornaram a empresa uma espécie de
benchmarking
de silvicultura, referência para o Estado e para o Brasil. Então, os plantios de
eucalipto desenvolvidos pela empresa são exemplos de tecnologia e práticas
ambientais.
Entre os entrevistados que historicamente vêm se posicionando de
maneira mais atuante no questionamento das práticas da empresa, em alguns
momentos criticando-a, foram observadas outras duas percepções e ou
comportamentos do atores.
Alguns ambientalistas perceberam uma melhora nas práticas de
silvicultura e manejo implementados pela empresa. Para eles, tal fato contribuiu
para a criação de uma cultura florestal num Estado tão degradado. Na
racionalidade desses atores existe ainda muita coisa a ser feita, processos e
práticas a serem melhorados pela empresa; mas, a mudança foi iniciada e este
seria o caminho para a minimação dos impactos causados pelo empreendimento.
Deve-se então pensar no que pode ser feito em termos atuais e futuros, sem se
esquecer do passado, no entanto, não se detendo nele.
Já na fala de outros ambientalistas e participantes de movimentos
sociais, manifestam-se uma insatisfação em relação às práticas adotadas pelo
empreendimento e um descrédito referentes às pesquisas e ao discurso da
organização. Para eles, estas pesquisas e seus resultados são tendenciosos,
contraditórios e, muitas vezes, forjados. A versão da empresa e a dos seus
defensores estaria muito longe de ser a realidade.
Em suma, os diversos entrevistados produziram variados sentidos para a
relação da empresa com o eucalipto. Para alguns integrante de movimentos
sócio-ambientais, o eucalipto é uma espécie inapropriada para as condições
edafoclimáticas locais. O plantio dessa espécie causa a desestruturação dos
69
sistemas naturais e alguns impactos, como a dessertificação, a perda da
biodiversidade e a contaminação do meio pelos agrotóxicos utilizados. Já para o
agente do poder público, do meio empresarial,o técnico e o sindicalista, o
eucalipto é visto como uma espécie ambientalmente viável. Além de não
perceberem impactos decorrentes dos plantios, consideram as pesquisas
desenvolvidas pela empresa com um pólo de desenvolvimento de tecnologias,
gerando técnicas e práticas que se tornam referência ambiental.
5.3 A tônica do desenvolvimento capixaba
Outro aspecto significativo encontrado na análise das entrevistas e que
foi objeto de produção de sentidos diversificados pelos variados atores foi a
relação da empresa com o processo de desenvolvimento. Os resultados expostos
aqui tamm se correlacionam e confundem-se com os anteriormente
apresentados.
Como já mencionado, o empreendimento, assim como os demais
grandes projetos, alterou de modo significativo o destino das populações na sua
área de atuação direta. Na narrativa de diversos atores foram encontradas
menções sobre a extrema significância da organização no processo de
desenvolvimento da região, da importância que o empreendimento teve no
âmbito local, ou ainda, da ausência de significação da CELETEC em termos de
desenvolvimento social, econômico e ambiental local.
A percepção de uma influência positiva da atuação do empreendimento
na localidade e sua correlação com o processo de desenvolvimento apresenta-se
visível no discurso de alguns dos entrevistados. Para o agente empresarial, o
sindical, do poder público e o técnico do instituto de pesquisa, o
empreendimento configura-se como um alavancador e dinamizador de uma
região sem muitas opções de desenvolvimento no passado. Por vezes são
trazidas à memória as lembranças da época do início das atividades do
70
empreendimento, em termos de infra-estrutura, nível educacional, condições de
saúde existentes e fontes de renda local que, comparadas com as do presente,
resultam numa melhoria da qualidade de vida. Entre alguns atores este
sentimento é bem mais forte, como expresso no fragmento abaixo:
“Como cidadão, eu destacaria que ela é uma empresa que alavancou o
desenvolvimento do município. Ela transformou, ela tem uma ação
muito forte dentro do município, pelo número de pessoas que está
diretamente ou indiretamente envolvida com a empresa. Ela tem uma
atuação muito marcante dentro do município
(Relato de entrevista
C7).
Em temos atuais, o empreendimento é lembrado também pelas
contribuições ao incremento do PIB municipal/estadual, pela circulação de
dinheiro que, conseqüentemente, favorece, além da geração de divisas ao país
por ser uma empresa exportadora. Para um dos entrevistados por exemplo
O
beneficio vem atras do imposto recolhido. O beneficio é que a CELETEC é
responsável aqui na região de estar gerando emprego, melhores condições de
vida, às pessoas aqui da região, não só do município, mas dos municípios
circunvizinhos”
(Relato de entrevista C7).
Esses fragmentos ressaltam uma idéia presente em alguns discursos que
foi a da criação de uma cadeia de valor em decorrência da implantação do
empreendimento na região. Nas palavras do agente do poder público, “
a
empresa é responsável por uma cadeia, é uma empresa que exporta. Mas,
apesar de não ter arrecadação de ICMS diretamente, ela tem feito um trabalho
bastante interessante na verticalização de seus fornecedores, utilizando
fornecedor local, treinando, capacitando, dando oportunidades importantes
para a indústria local
(Relato de entrevista C10).
71
Então, segundo esses atores, as externalidades e os impactos gerados
pela empresa são comuns a todos os empreendimentos e inerentes a todo o
processo de desenvolvimento. Em termos ambientais, as emissões hemisféricas,
de corpos hídricos e o odor provocado pelo processo de fabricação de celulose
m sendo, ao longo do tempo, minimizados com o desenvolvimento de
pesquisas e implementação de novas técnicas.
Também alguns impactos sociais como, por exemplo, os bolsões de
contingentes gerados pelo fluxo migratório em decorrência da instalação dos
grandes projetos, temporariamente aproveitados e posteriormente supérfluos, são
considerados impactos normais, cabendo ao Estado a responsabilidade de prover
uma matriz para realocá-los e aproveitá-los.
Uma narrativa intermediária presente feita por alguns integrantes de
movimentos sócio-ambientais foi a percepção da contribuição do
empreendimento no processo de desenvolvimento local, principalmente pelo
fato de ter sido instalado numa região sem muitas alternativas e sem projetos
governamentais que propiciassem outras possibilidades.
“Ela foi crescendo e se tornando um pólo importante, dinamizando a
economia local, porque é obvio, uma empresa daquela, num município
do tamanho daquele... O município praticamente explodiu em função da
CELETEC
(Relato de entrevista C3).
Entretanto, esse retorno foi percebido como pequeno e insuficiente, em
função dos impactos que o empreendimento causa e do custo social e ambiental
que foi gerado para a sociedade. O mesmo entrevistado continua explicando que
“nós temos uma empresa implantada que não traz grandes contribuições para o
Estado em matéria de retorno pelo que ela faz, de utilização do meio ocupado.
Poucos empregos, comparavelmente, para quem ocupa milhares de hectares na
72
sua produção. Ela tinha que dar um retorno muito maior e ela não dá
” (Relato
de entrevista C3).
Nesse sentido, algumas críticas são decorrentes da isenção fiscal que o
empreendimento recebe do Estado e o volume de investimentos públicos
concedidos aos projetos de expansão em detrimento de outras possibilidades que
trariam maiores retornos sociais. São feitas comparações também entre os
empregos diretos gerados, montante pequeno segundo esta lógica, devido à
automatização do processo de fabricação de celulose e a área ocupada pelo
empreendimento.
Com uma posição contrária ao empreendimento, uma terceira narrativa,
feita por alguns integrantes de movimentos sociais, não considera que a
organização em estudo tenha contribuído para o desenvolvimento local. O
discurso foi então centrado nas críticas que o grupo considera como o modelo
insustentável adotado pela empresa, que fortalece a lógica desigual e excludente.
Tais idéias estão presentes nos seguintes fragmentos:
“Do ponto de vista de um crescimento sustentável, ou de um
desenvolvimento sustentável que teria que considerar as variáveis
sociais, ambientais e culturais, realmente é um desastre, infelizmente é
um desastre
(Relato de entrevista C8).
Uma enorme insustentabilidade ess e modelo de desenvolvimento na
qual a CELETEC é um dos representantes. Aqui no Espírito Santo o
modelo de desenvolvimento está pautado nos grandes projetos, a
celulose é um, a mineração é outro, a siderurgia é outro”
(Relato de
entrevista C4).
Esses fragmentos fazem referências aos grandes projetos implementados
na década de 1970, durante os chamados governos desenvolvimentistas. Na
73
visão desses atores, esses projetos foram impostos à população durante a
ditadura militar, são excludentes e desprivilegiam grande parte da população que
se encontra nas áreas próximas ao empreendimento.
Outro aspecto interessante mencionado na fala de um dos entrevistados é
o fato da empresa, que é de propriedade de um pequeno grupo, exportar quase
que a totalidade da sua produção para a fabricação de papéis especiais, para
suprir a demanda dos países desenvolvidos, enquanto que os custos recaem
sobre a população dos países produtores. Esta idéia está presente no fragmento
seguinte:
“Ele predomina dentro desta lógica capi talista de produção para a
exportação em detrimento de todo um desenvolvimento local. Então, a
CELETEC exporta, grande parte da sua produção, 97%, é para a
exportação e o ônus disso, todo o prejuízo ficam aqui. Então a celulose
é vendida para abastecer os países do norte, Europa, EUA
principalmente para fazerem papel de luxo, para manterem esta lógica
do capital, favorecendo apenas alguns grupos, enquanto os países do
sul arcam com este ônus, com esta lógica
(Relato de entrevista C4).
Assim, a CELETEC é uma das representantes de um modelo
insustentável reproduzido pelas grandes corporações que não promove o
desenvolvimento, mas ao contrário, gera muitos passivos sociais e
conseqüências, como o fluxo migratório, o êxodo rural, a carência de serviços
básicos e muita pobreza.
Enfim, pela análise das entrevistas, constatou-se que os sentidos
relacionados à questão do desenvolvimento local produzidos pelos atores
entrevistados foram diferenciados e muito relacionados com as demais
categorias analisadas. Para alguns atores locais, entre eles o líder empresarial,
sindical e o agente do poder público, a empresa foi um alavancador e
74
dinamizador do desenvolvimento local propiciando a criação de uma civilização
e modernização no norte do estado do Espírito Santo. Essa percepção foi
apreendida de outra forma entre alguns integrantes de movimentos sócio-
ambientais, que em parte, perceberam a relação da organização com o processo
de desenvolvimento, mas que a consideram desvantajosa para a sociedade local,
tendo em vista os custos que recaíram sobre a comunidade. Então, realmente, o
desenvolvimento foi favorecido em decorrência de tal empreendimento, mas
infimamente menor se for considerado o tamanho dele. Finalmente, outro grupo
formado por alguns integrantes de movimentos sociais e ambientais não
percebeu correlação entre a empresa e o desenvolvimento local, pois o modelo
adotado pelo empreendimento é insustentável e injusto e reproduz a lógica
incoerente da economia neoliberal.
5.4 Imagem organizacional: a diversidade de percepções
A quarta categoria objeto de produção de sentidos apreendida na análise
das entrevistas refere-se à imagem organizacional. Este aspecto foi
propositalmente situado posteriormente aos demais por apresentar forte
correlação com aqueles. Em outras palavras, os sentidos produzidos pelos atores
sociais em referência à percepção da organização de forma mais ampla, foi, no
geral, o somatório ou a decorrência dos anteriores. Admitir isso não significa
negar a existência de possíveis contradições nos discursos dos atores sociais,
mas entender que a narrativa é o balanço final dos diversos discursos.
Percebeu-se que esses sentidos coexistem num connuo de percepções
no qual a empresa oscila de sócio-ambientalmente responsável à opressora,
infratora e degradadora. Nesse meio existem diversas percepções relacionadas
aos aspectos técnicos e legais de suas operações, a forma com que a organização
vem se relacionando e interagindo com a comunidade local e com a sociedade
75
em geral, a própria história do empreendimento e a forma de ocupação das
terras, entre outros aspectos.
Para alguns entrevistados, incluindo agentes do poder público, do meio
empresarial e técnicos, a CELETEC é uma empresa ambientalmente correta e
referência em práticas ambientais, tanto no âmbito industrial como no florestal.
O sistema de gerenciamento ambiental mantém o controle das externalidades
geradas pelas suas operações de forma eficiente e, conseqüentemente, as
emissões encontram-se dentro dos parâmetros estabelecidos na lei. Tal idéia está
representada nos seguintes fragmentos:
“Em termos técnicos, como ela tem vários controles e tem uma
administração aberta com a gente em termos de informação. A qualquer
momento que a gente precise, podemos ir lá. A gente fiscaliza, é claro, e
eles dão a informação sempre. Eu acho que, neste contexto de uma
empresa aberta, até em termos ambientais, desenvolvimento de
tecnologias... Ela tem implantado certificações, toda uma política
voltada
(Relato de entrevista C2).
“Ela é uma empresa que t ambém promove o desenvolvimento
sustentável e tecnológico, os plantios florestais delas demonstram isso
(Relato de entrevista C10).
Um desses fragmentos indica que a empresa é uma organização
transparente e clara em relação aos processos industriais. Nessa direção, alguns
ambientalistas entrevistados lembraram que a empresa, no passado, tinha uma
postura mais fechada, uma posição mais defensiva e não procurava muito
dialogar com a comunidade local. Para eles, então, houve um processo de
abertura na empresa, que passou a se mostrar mais disposta a escutar os atores
locais. Essa mudança comportamental pode ser apreendida também no discurso
76
de uma liderança empresarial que ao ser questionada sobre a forma como a
empresa vem tratando a questão social e ambiental, mencionou:
A CELETEC está tratando a questão social e ambiental com mais
profissionalismo, porque, na verdade, era um erro de concepção. A
abertura foi inerente à própria CELETEC perceber que tinha um
estilo errado. E também tem um detalhe. A própria CELETEC
percebeu que a exigência moderna, hoje, obriga que você tenha um
papel de transparência e democracia, você precisa sentar com o seu
público
(Relato de entrevista C1).
A percepção de mudança foi apreendida também por um integrante de
ONG que relatou que
a CELETEC já entendeu que, ao longo desses anos que a
gente vem interlocutando com ela..., e eles entenderam que é um legítimo direito
lutar pela questão ambiental...,. ela vem se relacionando legal... Ela está
conversando direto com as entidades ambientalistas representadas no fórum das
ONGs. Bem mais democrática, eu diria”
(Relato de entrevista C3).
Entretanto, outro entrevistado não teve a mesma percepção quando
questionado a respeito da interação do empreendimento com as organizações
o governamentais e mencionou que “
a CELETEC tem um grupo de ONGs que
são favoráveis. Ela quer ter um relacionamento com algumas ONGs, com
aquelas que possam estar prestando serviço a ela, dando consultoria. Agora,
aquelas que tenham algum questionamento, que tenham alguma posição, ela
não quer relação. Não só ONGs mas movimentos sociais e outras entidades
(Relato de entrevista C4).
Esses fragmentos revelam um aspecto muito polêmico na dinâmica entre
a organização e os vários atores. Alguns representantes de ONGs e movimentos
sociais entrevistados criticam o comportamento de aproximação, diálogo e
parceria com o empreendimento ou, no caso oposto, a não disposição para a
77
participação, justificando a própria postura ou a postura do outro com os mais
variados argumentos e denúncias. É nesse ponto que parece haver uma “cisão
do que é entendido como luta pela causa ambiental.
Mas, é interessante notar que, apesar dessa dissidência se fazer sentir na
aproximação da empresa como as ONGs ambientais, consolidada com a
instituição de um canal de interlocução entre o empreendimento e o fórum
capixaba das ONGs ambientalistas, não tendo, assim, a participação de alguns
movimentos, foi indicado por um dos interlocutores, o cuidado de que essa
aproximação não desmobilize nenhuma luta e causa já consolidadas. A
aproximação foi efetuada, segundo o entrevistado, por entendimento da
possibilidade de mudança de rumo, ou seja, a partir dessa interação acredita-se
ser possível repensar e modificar alguns pontos do processo, de modo que a
sociedade seja a principal beneficiária.
Um outro sentido produzido por alguns dos entrevistados, referente à
imagem corporativa, é que a empresa é uma organização muito poderosa. Para
alguns participantes de movimentos sociais, a organização cresce de forma
ilimitada e avança, independentemente de ideologias, partidos e interesses
contrariados da sociedade. Outro aspecto apreendido por esses entrevistados foi
que a empresa transgride os dispositivos legais vigentes, passa por cima de
condicionantes e beneficia-se obtendo autorizações, conforme os seus interesses,
com a conivência de algumas pessoas da função gerencial do Estado, que usam
as suas prerrogativas de atuação. Algumas dessas idéias estão presentes nos
fragmentos que seguem:
“Como grande corporão, está muito mais próxima do poder do que
qualquer outra qualidade” (Relato de entrevista – C8).
78
A empresa cresce sem limites, a empresa dita as regras, a empresa
manda e desmanda no Estado ...Então, ela se arma com todos os canais
e todas as instâncias de poder para estarem subsidiando todas as suas
atividades. Muitas pesquisas acadêmicas hoje são pagas para isso, para
dizerem os méritos e benefícios de suas atividades
(Relato de
entrevista C4).
Para esses entrevistados, então, a forma de ocupação da terra, o uso dela
para plantios comerciais de eucalipto gerou uma série de conseqüências sócio-
ambientais. A apreensão dos sentidos produzidos referentes à imagem
corporativa é traduzida na fala de um dos atores que, questionado sobre a
percepção da atuação da organização no Espírito Santo, afirmou que
“ sob o
ponto de vista social e sócio ambiental é desastroso
(Relato de entrevista
C3).
Em suma, esse capítulo revelou que os sentidos produzidos pelos
diversos atores entrevistados sobre a interação da organização no campo social
do Espírito Santo correlacionam-se com a natureza das atividades do
empreendimento, sua implantação e o seu desenvolvimento a partir da década de
1970 e com os pressupostos valorativos e os interesses dos diversos atores
sociais.
Os sentidos produzidos pelos atores referentes à relação da empresa com
a terra, a forma de ocupação e o uso que a CELETEC faz dela, correlaciona-se
com o significado que os entrevistados atribuem à terra. Dessa forma, são
percebidos benefícios ou prejuízos decorrentes da relação da empresa com a
questão agrária, gerando posicionamentos favoráveis ou contrários à atuação do
empreendimento na localidade.
Na segunda categoria analisada, a questão do eucalipto, matéria-prima
utilizada pelo empreendimento para a fabricação de celulose, e os plantios da
empresa, os sentidos produzidos pelos atores do campo social geraram discursos
79
situados num continum no qual as práticas silviculturais e de manejo florestais
desenvolvidos pela CELETEC são reconhecidas por gerarem tecnologia,
minimizando os impactos causados ao meio ambiente e no outro extremo por
serem insuficientes, causando os plantios uma série de impactos na região.
A análise das entrevistas evidenciou também que as implicações da
empresa com o processo de desenvolvimento local foram percebidas de forma
diferenciada entre os entrevistados. Para alguns atores locais, entre eles, o
integrante do movimento sindical, o agente do instituto de pesquisa e extensão
rural e o líder empresarial, a empresa foi um alavancador e dinamizador do
desenvolvimento local, propiciando a criação de uma civilização e modernização
no norte do estado do Espírito Santo. Alguns participantes de movimentos sócio-
ambientais perceberam a relação da organização com o processo de
desenvolvimento, mas a consideram desvantajosa para a sociedade local, tendo
em vista os custos que recaíram sobre a comunidade. Ainda, outros sócio-
ambientalistas entrevistados não perceberam correlação entre a empresa e o
desenvolvimento local, já que o modelo adotado pelo empreendimento foi
considerado insustentável e injusto, reproduzindo a lógica incoerente da
economia neoliberal.
Esses sentidos correlacionaram-se com a quarta categoria analisada no
trabalho, que foi a imagem organizacional. Entre os entrevistados a empresa
oscila de sócio-ambientalmente responsável à opressora, infratora e degradadora.
Ainda, existem outras percepções relacionadas aos aspectos técnicos e legais de
suas operações, a forma com que a organização vem se relacionando e
interagindo com a comunidade local e com a sociedade em geral, a própria
história do empreendimento e a forma de ocupação das terras, entre outros
aspectos.
80
Como exposto, essa diversidade de sentidos demonstra uma diversidade
também de percepções e lógicas, conforme a historicidade do ator, seus
interesses, seus valores e suas crenças, o que impactou na formação de suas
verdades e de suas racionalidades. Essas diferenças demonstram a forma como
esses atores interagem e se compreendem no campo. Alguns dos entrevistados
perceberam como importante o papel do outro ator no campo social; alguns
evidenciaram essa diferença, entendendo que grupos sociais diferentes têm
papéis e funções diferentes na sociedade e, ainda, alguns atores ou grupos
sociais, com pontos de vistas diferentes, algumas vezes tentaram legitimar a sua
posição deslegitimando a do outro.
81
6 GESTÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA SOCIAL
Evidenciada a diversidade de sentidos produzidos pelos diversos atores
na dinâmica da organização com o campo social, verifica-se, nesta parte do
trabalho, a apreensão da CELETEC em relação à sua interação e à forma como
ela vendo sendo traduzida em discursos organizacionais e em pticas de gestão
mais recentes. Além da análise documental foram realizadas entrevistas com três
gestores da equipe de meio ambiente, um gerente de relações comunitárias e um
ex-gerente participante do processo de instalação e desenvolvimento do
empreendimento até meados da década de 1990. Dessa forma, abrangeu-se a
percepção gerencial de toda a história da interação do empreendimento no seu
campo social, já que alguns dos gerentes atuais ingressaram na empresa no
início da década de 1990.
Segundo os relatórios, os documentos da empresa e as entrevistas com
os gestores, existe uma preocupação ambiental na organização que antecede a
implantação do empreendimento na região. Além do atendimento das exigências
legais desde a época de implantação, a empresa vem desenvolvendo uma série
de estudos e muitas iniciativas pioneiras de práticas de gestão ambiental.
A existência de ações e práticas comuns expressas nos discursos dos
entrevistados indicam que os membros da organização desenvolvem uma prática
social de gestão. De acordo com Reed (1997), o que caracteriza a gestão da
organização como prática social é o fato dos componentes dessa comunidade
compartilharem de modo significativo os objetivos ou problemas
organizacionais e comuni-los entre si, utilizando meios ou recursos materiais
ou simbólicos para conjugar as práticas produtivas de forma a gerar um grau
aceitável de coerência estrutural. Por meio da análise das entrevistas, percebe-se
que a organização, além de desenvolver mecanismos para assegurar suas
82
atividades produtivas, desenvolve tamm outros meios com o intuito de
gerenciar os conflitos e ter o controle sobre o ambiente.
Assim, apesar da precoce e constante preocupação manifestada em
relação ao meio ambiente, as falas dos atuais gestores convergem para uma
apreensão de uma mudança comportamental na qual a organização teria se
tornado mais aberta e transparente na interação com o meio social. O
questionamento sobre o meio ambiente adquiriu uma dimensão mais ampla,
inserindo-se no discurso da responsabilidade social corporativa.
Essa narrativa e ou postura da organização é entendida aqui como uma
tentativa de gerenciamento das demandas sociais, traduzido em pticas sociais
de gestão que passam a considerar a diversidade de sentidos produzidos pelos
diversos atores do campo social, objetivando uma atuação mais legítima.
Posto isto, este capítulo tem como objeto investigar as práticas de gestão
ambiental que mediam a relação entre a organização estudada e o meio social,
bem como os discursos organizacionais recentes referentes a esta interação.
Dessa forma, não nos interessa aprofundar os questionamentos técnicos e
financeiros do processo de gestão, bem como maiores detalhamentos de
questões e parâmetros voltados para as demandas do mercado internacional, a
não ser que constituam interfaces com o campo social específico.
O presente capítulo encontra-se dividido em duas partes. Na primeira
delas evidenciam-se a política e o discurso organizacional, partindo da
apreensão de um ex-gerente da época da implantação e das duas primeiras
décadas de desenvolvimento da CELETEC, centrando-se no discurso recente
proferido pelos atuais gerentes entrevistados. Na parte seguinte, são analisadas
algumas práticas de gestão da organização que tentam mediar a sua relação com
o meio social, levando em consideração a diversidade de sentidos.
83
6.1 Potica de gestão ambiental da CELETEC
As atividades do empreendimento iniciaram-se na década de 1970,
período no qual a filosofia desenvolvimentista dos planejadores públicos
geralmente não contemplava a questão ambiental. Conforme Menezes (1997) e
Barbieri (1997), nessa época o impacto da industrialização sobre o meio
ambiente era, na maioria das vezes, desconhecido ou ignorado no processo de
decisão sobre a instalação de atividades industriais.
No entanto, segundo os documentos, relatórios da organização e, ainda,
os discursos dos gerentes entrevistados, a preocupação ambiental sempre esteve
presente no projeto CELETEC. Essa idéia é traduzida na fala de um ex-gerente
que acompanhou a instalação e o desenvolvimento do empreendimento até a
década de 1990. Ao ser questionado sobre os princípios que orientavam a
relação da empresa com o meio ambiente, esse entrevistado afirmou que a
CELETEC foi instalada numa rego absolutamente degradada pela exploração
madeireira e, apesar da existência de pouca legislação apropriada disse que
“a
primeira fábrica nós começamos a pensá-la a partir de 72, e a decisão de se
trazer para aquela região uma fábrica obedecendo aos maiores rigores
ambientais que podia existir na Suécia e nos Estados Unidos. Então, a
preocupação ambiental foi muito forte
(Relato de entrevista G1 ).
O conteúdo desse trecho visa ainda eximir a organização das denúncias
e críticas referentes à degradação da vegetação nativa para o estabelecimento
dos primeiros plantios de eucalipto. Assim, ao longo do seu discurso, o ex-
gerente constantemente fez refencias à época em que as atividades do
empreendimento foram iniciadas, citando inúmeras serrarias existentes que
faziam a exploração madereira de forma predatória na região. Para ele, a
instalação do empreendimento na localidade, na verdade, ajudou a conservar e
restabelecer o pouco de vegetação nativa que ainda permanecia intacta.
84
Esse mesmo entrevistado, questionado sobre a emergência de conflitos
sócio-ambientais em decorrência da atuação do empreendimento no Espírito
Santo, fez duas ponderações. A primeira delas: a polêmica criada em torno dos
plantios de eucalipto resultou da falta de conhecimento sobre a espécie na época,
o que originou a criação dos mitos, insinuando que o eucalipto causaria a
desertificação do solo e traria inúmeras conseqüências. Segundo o ex-gerente,
todos os estudos e pesquisas desenvolvidos pela empresa geraram uma
sustentabilidade das práticas da empresa que pode ser comprovada nos plantios
atuais. As técnicas de clonagem geraram diversificação nos plantios, o que
infundamenta o discurso da monocultura, mas, ao contrário, possibilita
visualizar os plantios como florestas plantadas com alta tecnologia e com
enorme desenvolvimento e produtividade. O segundo ponto: os incidentes
relevantes resultantes da ocupação da terra e os conseqüentes conflitos sociais
foram totalmente negados. Para o entrevistado, o fato da instalação do
empreendimento ter trazido
“desenvolvimento e novas formas de se enxergar a
região”
gerou somente relações positivas entre a empresa e a sociedade. Nessa
direção, ele ainda justifica de outra forma a propagação de alguns dos discursos
contrários à organização afirmando:
E você tem alguns pontos, quando se fala isso são sempre os radicais.
Falam que a CELETEC tomou terra, tomou terra de diversas pessoas...
A CELETEC não tomou terra de ninguém, a CELETEC comprou todas
as terras do Estado, de terceiros que foram lá e venderam. Então, são
todas compras regulares com recibos, com escrituras, tudo
adequadamente feito e registrado em cartório. Então, a falácia de que a
CELETEC tomou terras, isso é só para os radicais
(Relato de
entrevista G1).
.
Esse fragmento sugere a falta de credibilidade do discurso do outro ator,
considerado como “radicalno campo social. É interessante indicar também que
85
na fala de alguns dos entrevistados aparecem menções específicas a este ator
como uma das personalidades do empreendimento na época em que os conflitos
foram iniciados.
O discurso organizacional recente reproduz a mesma idéia presente na
narrativa do ex-gerente. Para um dos gerentes entrevistados, a CELETEC
sempre tratou a questão ambiental como prioridade dentro dos conceitos atuais
de desenvolvimento sustentável. Ele continua justificando que, até mesmo pelo
fato do empreendimento ter sido planejado visando à exportação, originou,
desde o início “
aquela visão que a questão ambiental dentro da empresa deve
ser tratada a nível de outras questões ambientais em outros países. Como seria
uma empresa voltada para a exportação, a questão ambiental teria que atender
às demandas ambientais do exterior
(Relato de entrevista G2).
Essa relação entre o mercado internacional e o compromisso ambiental
aparece com freqüência nas falas dos gestores. Essa postura reforça a
constatação de Maimon (1998) de que no Brasil os empreendimentos mais
preocupados com a performance ambiental são aqueles de maior inserção
internacional. Isso porque nesse ambiente existe uma maior sensibilização
quanto aos problemas ambientais, provocando uma maior pressão dos acionistas,
consumidores e ou órgãos de financiamento.
Tal comportamento corrobora ainda com a idéia de Coutinho & Ferraz
(1994) e de Donaire (1995) de que, entre as empresas brasileiras inseridas no
mercado internacional a gestão ambiental assume um caráter estratégico. Nesse
sentido, a implantação do sistema de certificação ISO 14001 pela CELETEC,
em 1999, demandada principalmente pelas pressões internacionais, concorre
com as indicações de Jennings & Zandbergen (1995) de que alguns valores e
práticas mais sustentáveis são reconhecidos e difundidos entre as organizações
que passam a adotá-las por pressões externas. Tal postura isomórfica pode ser
analisada conforme as concepções de Meyer & Rowan (1992) e DiMaggio &
86
Powell (1991), segundo as quais esse comportamento é resultante da
interpretação das organizações em busca de legitimidade nos seus campos
Então, segundo o discurso organizacional, a preocupação ambiental
sempre esteve presente no projeto da CELETEC e a legislação pertinente sempre
foi respeitada. Nesse ponto, um dos gerentes fez algumas considerações sobre a
época da implantação do empreendimento, o modelo utilizado e a mentalidade
vigente no final dos anos 1960, para sugerir que muitas das críticas atuais são
resultantes da comparação incoerente entre épocas diferentes.
“....é você comparar o modelo florestal, o estabelecimento que foi feito
no final dos anos 60, com apoio governamental, com o dinheiro do
governo e respeitando a legislação vigente na época e a consciência na
época. Quer dizer, se esse modelo não é o melhor modelo, é o modelo
que a gente tem no Brasil e foi utilizado por todas as empresas que
foram implantadas na mesma época
(Relato de entrevista G5).
As interpretações dos gestores entrevistados sobre as relações
conflituosas da empresa como o meio social adquiriram algumas variações de
sentidos, mas a apropriação inadequada de terras e a expulsão de populações
tradicionais foram veementemente negadas. As percepções dos gestores
convergiram para um entendimento das implicações originadas da relação da
empresa com a questão fundiária, admitindo-se ou não a latência de um conflito.
Essa idéia está presente nos fragmentos de entrevistas a seguir.
“Da atuação da empresa nós desconhecemos que exista algum tipo de
conflito, mas conseguimos identificar que há conflitos de interesses. E
conflitos de interesses são percebidos como sentimentos e percepções
que determinado agrupamento social possa ter. Nós não podemos
desconsiderar que a nossa atividade é concentradora de terras; ela tem
uma questão fundiária muito forte e pode haver alguns conflitos de
interesses com alguns agrupamentos sociais, religiosos e tecnocratas
87
que defendam que o sucesso, ou o bem-estar da população rural, seja
na agricultura familiar. Mas isto, no meu ponto de vista, trata-se de um
conflito de interesses e não é uma questão de um conflito inerente à
nossa atividade
(Relato de entrevista G3).
O fundamental de tudo é daí que deriva todo o questionamento, é a
questão fundiária
(Relato de entrevista G2).
A polêmica criada em torno dos plantios de eucalipto também é
justificada de forma semelhante à do ex-gestor. Alguns grupos sociais se
apropriariam dos discursos criados no passado por falta de conhecimento e os
utilizam para criar agitação ou, ainda, para tentar, de alguma forma, obter
benefícios.
A política de gestão da empresa, segundo os gestores entrevistados, se
adapta às modernas discussões sobre sustentabilidade. Tal filosofia delineia os
princípios de ação do empreendimento, visando à qualidade dos produtos e
serviços com um retorno sustentável. Essa política indica um trico
compromisso com a questão ambiental, apresentado nas seguintes diretrizes:
Fornecimento de produtos e serviços adequados e diferenciados aos
clientes.
Gestão orientada pela excelência operacional, focada em resultados com
melhoria connua.
Uso sustentável dos recursos naturais e operações com impactos
ambientais minimizados por meio de ações de prevenção e controle.
Atendimento à legislação, normas e compromissos assumidos
formalmente pela empresa.
Relacionamento ético e comunicação transparente com as partes
interessadas.
88
Promoção de um ambiente de trabalho motivador, com elevados padrões
de saúde e segurança.
Pessoas capacitadas, motivadas e aptas a atuar eficazmente conforme as
estratégias da empresa.
Desenvolvimento e aplicação de tecnologias que garantam inovação e
competitividade.
O conteúdo dessas diretrizes foi reproduzido nas falas dos gestores
entrevistados. O atendimento à legislação dos órgãos ambientais, traduzido na
aquisição das licenças de operação e o cumprimento das condicionantes, confere
legitimidade à atuação do empreendimento
.
Para os gerentes, o compromisso da CELETEC com o desenvolvimento
sustentável reflete nas práticas de manejo dos plantios de eucalipto e na
preservação dos ecossistemas. Os investimentos em pesquisa, no
desenvolvimento de tecnologias e na qualificação dos seus funcionários geraram
diferenciação dos seus produtos, que são reconhecidos no mercado pelo alto
índice de qualidade. Devido à atuação em relação aos seus plantios de eucalipto
e ao processo industrial, o empreendimento adquiriu o status de benchmarking
ambiental. Tais idéias estão presentes nos seguintes fragmentos:
“Hoje a CELETEC é uma referencia int ernacional em relação às
práticas ambientais e isso o que acontece de bom? Os nossos produtos
são aceitos no mundo de uma forma sem questionamento. Eles sabem
que a gente está produzindo no Brasil, dentro do Espírito Santo, com
programas de qualidade ambiental e sócio-ambientais. Nós estamos
cumprindo até mais que a legislação” (Relato de entrevista G4).
“Os padrões da CELETEC estão entre os melhores do mundo. A gente é
benchmarking com esses padrões. A gente pode operar em qualquer
lugar do mundo. A gente vai muito alem da legislação. Esses dados
89
estão nos relatórios ambientais, que são auditados e tal
(Relato de
entrevista G5).
A gestão orientada para a excelência indica que as práticas ambientais
adotadas na fábrica são objeto de connuos processos de aprimoramento. Essa
idéia também está presente em alguns relatórios da empresa, referindo-se ao
conceito de ecoeficiência. Esse conceito sugere que as atividades industriais da
empresa baseiam-se nos seguintes princípios:
- Esforço connuo para reduzir o uso de matérias-primas, água e
energia.
- Prevenção da poluição.
- Melhoria connua dos sistemas de controle ambiental, tratamento de
efluentes quidos e destinação dos resíduos sólidos.
- Reciclagem e reutilização de água e resíduos.
Essa concepção demonstra a integração da questão ambiental com a
questão econômica, tal como indicaram Hunt & Auster (1990) e Porter & Linde
(1995). O conceito de ecoeficiência vem sendo utilizado no meio empresarial
para sugerir a competitividade na produção e a colocação no mercado de bens ou
serviços que satisfaçam às necessidades humanas, aliadas à qualidade de vida e à
minimação dos impactos ambientais e do uso de recursos naturais (Schmidheiny,
1992).
Um dos gerentes entrevistados indicou que a empresa procura sempre se
adequar às novas realidades e desafios. Ele mencionou o fato da recente criação
de um conselho de sustentabilidade entre os acionistas da CELETEC para
sugerir a importância que a questão ambiental adquiriu dentro do
empreendimento.
90
Na CELETEC, a estrutura funcional de meio ambiente é composta pelo
Comitê de Meio Ambiente que é coordenado pelo Diretor Adjunto de Meio
Ambiente e Relações Corporativas e tem a participação de gerentes de meio
ambiente da fábrica, florestal, corporativo, além do gerente de Sistemas de
Certificação, jurídico de meio ambiente e a controladoria. As principais
atribuições desse comitê são:
a) fazer análise crítica de todos os aspectos ambientais das operações da
empresa;
b) propor ações através do Plano de Melhoria Ambiental
4
e acompanhar
o andamento destas ações;
d) fazer o acompanhamento da legislação ambiental;
e) fazer a revisão da política de meio ambiente e disseminar as
informações (políticas, PMA, legislação, etc.) para toda a empresa.
Foi solicitado a um dos entrevistados o organograma funcional para uma
melhor visualização da estrutura de meio ambiente dentro da organização.
Entretanto, tal documento, segundo um dos gestores, não se encontra disponível
para o público externo.
Apesar da declarada preocupação ambiental anterior à época da
implantação do empreendimento na região, as falas dos gerentes convergem
também para um discurso de mudança do comportamento da organização em
relação ao tratamento dado às questões ambientais e sociais. Segundo os
gerentes, a antiga postura da CELETEC de evitar os questionamentos e as
críticas criou um certo clima de hostilidade entre alguns setores e grupos da
4
O Plano de Melhoria Ambiental (PMA) estabelece os objetivos, metas e projetos ambientais para
cada ano. O PMA, é analisado em primeira instância pelo Fórum Tecnológico e posteriormente é
aprovado pela Diretoria.
91
sociedade e uma percepção de distanciamento da CELETEC da realidade local.
A compreensão das implicações geradas por essa postura levou a empresa a
perceber a necessidade de abordar as questões de forma mais clara e
transparente. Tal idéia está presente nos fragmentos de entrevistas transcritos a
seguir:
“Hoje s abrimos as portas. Hoje, qualquer pessoa pode conhecer a
CELETEC. Ah, eu quero conhecer o topo da chaminé. Nós a levamos no
topo da chaminé. Mas, no passado, não era assim, era a época...
(Relato de entrevista G4).
“Na verdade a empresa está cada vez mais atenta a estas questões,
porque se estas questões não forem bem tratadas, ela pode dar uma
repercussão negativa e as empresas hoje vivem de uma imagem e se
votiver uma imagem negativa vopode ter prejuízos em termos de
rendimento. As exigências de mercado aumentaram e você tem que
acompanhar estas exigências. Então, você tem que resolver estes
conflitos
(Relato de entrevista G2).
A nova postura da CELETEC foi uma forma da organização conseguir
maior legitimação no âmbito local, na medida em que compreendeu que vários
atores a percebiam como uma empresa fechada e arrogante, contribuindo para a
manutenção de um clima de hostilidade ao empreendimento e comprometendo a
sua imagem na sociedade e no mercado.
Então, tal mudança é uma tentativa de mediação, por parte da empresa,
da interação promovida com o meio no qual se situa e das demandas oriundas
dele. Conforme indicou Bourdieu (1998; 2000; 2003), o funcionamento do
campo social não é estável e vai sendo modificado ao longo do tempo. O
processo de democratização mobilizou outros atores e a emergência e a
conscientização sobre a questão ambiental tornaram aparentes as discussões
sobre os impactos, sejam positivos ou negativos, mensuráveis
ou imensuráveis,
92
ambientais, sociais ou econômicos, do empreendimento no estado do Espírito
Santo modificando a lógica do campo social.
Assim, a dinâmica do campo foi reconfigurada para além das
determinações do binômio Empresa-Estado. Nela, outros tipos de capitais
passaram também a definir as propriedades do campo e as probabilidades de
ganhos senão o capital econômico. Agora, o conjunto de relações sociais, as
qualificações intelectuais e a competência técnica são traduzida como reputação
e exercem papel preponderante para o reconhecimento entre os atores e o
estabelecimento de legitimidade entre as partes.
Os diversos atores, a partir de seu
habitus
(Bourdieu, 1998; 2000; 2003),
que funciona como uma matriz de percepções e condiciona a o que será
entendido como causa ambiental,
apreenderam a relação da empresa com o seu
meio de forma específica produzindo variados sentidos. E esses atores tentam
impor a sua visão conforme os seus interesses e referenciais determinados pelas
posições que ocupam no mesmo mundo que pretendem transformar ou
conservar.
Ainda, a própria natureza das atividades do empreendimento, que exige
grandes quantidades de insumos naturais e grandes quantidades de terras, passou
também a ser compreendida pela organização como produtora de inúmeras
implicações no âmbito local, representando um desafio a mais para o processo
de gestão.
Em suma, essa diversidade de sentidos produzidos pelos variados atores
passou a ser considerada e, em certa medida, trabalhada e traduzida em novas
formas de relacionamento, práticas de gestão e discursos organizacionais que
sejam mais reconhecidos entre os participantes do campo social. Essas asserções
corroboram com Reed (1997), que compreende a gestão como uma prática
social, na medida em que ela visa mobilizar os recursos materiais e simlicos
93
para a manutenção e reestruturação dos sistemas de relações sociais dos quais os
gestores e a organização fazem parte. A gestão é ainda entendida, como indicou
Reed (1997), como produto da dinâmica do campo social ao mesmo tempo em
que a organização a utiliza para transformar e moldar a realidade na qual está
inserida.
6.2 A lógica da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental
Um ponto analisado observado na fala dos gerentes entrevistados foi o
discurso em relação à questão ambiental. Aqui, o discurso, conforme as
indicações de Spink & Frezza (2000), não se encontra descolado da prática
social, embora, muitas vezes, no âmbito organizacional, o discurso divirga da
prática. O discurso é entendido como uma prática social em si conforme
indicaram Grant, Keenoy & Oswwinck (2001), porque ele é o meio pelo qual os
membros da organização tentam criar uma realidade, coerente que sustente as
suas apreensões da realidade objetivando uma melhor adaptação da organização
ao ambiente.
Segundo a análise das entrevistas, o discurso organizacional atual da
sustentabilidade insere-se num discurso mais amplo, que é o da responsabilidade
social corporativa. Essa concepção pode ser visualizada, por exemplo, quando o
gerente de relações comunitárias, questionado sobre os impactos que a
CELETEC causa no meio, disse que eles são minimizados e compensados muito
além do que é exigido legalmente, pois, para a empresa, a sustentabilidade, parte
da filosofia da empresa, é alcançada por meio de iniciativas conjuntas da
sociedade que propiciem melhorias de qualidade de vida. Tal idéia está contida
no fragmento abaixo:
“Pelo próprio compromisso, pela própria visão de responsabilidade
social da empresa, acreditamos que isto é feito em escala muito maior
do que é exigido pelas condicionantes. E, nesse momento, a CELETEC
94
utiliza todo um leque de ações que são demandadas principalmente pela
nossa gerência para tentar atuar junto ao poder público para tentar o
atingimento do bem-estar e a cidadania. Coisa que hoje está
comprovadamente percebido que é impossível de ser atingido com
iniciativas únicas da sociedade como um todo ou de empresas. Eu diria
que a grande união de esforços é que leva ao atingimento de um
patamar de sustentabilidade, mais no curto prazo, mas atuante
(Relato
de entrevista G3).
Um aspecto fundamental que permeia este discurso é o fato do
empreendimento estar localizado próximo a regiões carentes. Para outro gerente
entrevistado, essas comunidades foram crescendo e chegando perto da
CELETEC e o contraste criado entre a coexistência de uma das maiores
produtoras de celulose do mundo e as populações necessitadas evidenciou a
urgência de efetivação de esforços conjuntos para a reversão dessa desigualdade.
Essa concepção é compartilhada com um outro gestor que acrescenta
que o maior problema ambiental do mundo é causado pela pobreza, a falta de
saneamento, a falta de serviços básicos, a falta de educação, etc. Para ele, quanto
mais pobre o país e a região, maiores são os problemas ambientais e menor a
conscientização ambiental. Assim, o fato da CELETEC atuar naquela região
criando uma cadeia de valor, investindo direta ou indiretamente, tem um efeito
importanssimo no meio ambiente que vai desde a conscientização até
realmente a melhorias físicas no ecossistema.
O discurso da união de esforços e dos trabalhos conjuntos revela uma
outra questão evidenciada na fala dos gerentes. Para eles, a CELETEC não pode
e não deve substituir o papel do Estado de principal responsável da promoção de
índices de qualidade de vida satisfatória, ou, conforme alguns gestores, a
empresa não pode ser assistencialista. A apreensão da indissociabilidade entre a
questão ambiental e a social e ainda a percepção da responsabilidade e da
necessidade de intermediação nesse processo de
maneira não assistencialista têm
95
guiado a empresa a desenvolver uma linha de ação trabalhando o social e o
ambiental de forma conjunta. Tal idéia pode ser observada no seguinte
depoimento:
A questão básica é que você tem hoje no país, a distribuição de renda
e a questão social é muito fraca. Teríamos que ter uma mudança
radical. A empresa acha que uma forma de se resolver isto é através da
educação. Então nós temos dado prioridades na questão social. O apoio
a comunidade é baseado principalmente em educação
(Relato de
entrevista G2).
Assim, o discurso organizacional recente insere a sustentabilidade numa
perspectiva mais ampla, a da responsabilidade social. A ação da empresa no
meio social passou a priorizar projetos voltados para a educação, por considerá-
los elementos-chave na construção da cidadania que é o que possibilitará o
desenvolvimento sustentável das comunidades.
6.3 As práticas de gestão sócio-ambientais da CELETEC
Evidenciados os discursos e a política da CELETEC em relação à
questão ambiental, são apresentadas aqui, em dois momentos, algumas práticas
de gestão que visam mediar a relação da empresa com o meio ao qual pertence.
No primeiro deles, são evidenciadas as práticas de gestão utilizadas para a
manutenção do status da CELETEC, como
benchmarking
de práticas ambientais
assegurando a sua competitividade e ainda para rebater as críticas que a empresa
vem recebendo, seja no âmbito industrial ou florestal. Posteriormente, é
analisada a postura da empresa de aproximação com os vários segmentos da
sociedade para a efetivação do comportamento de abertura e transparência e,
conseqüentemente, a melhoria de sua imagem e das suas atividades entre os
atores do seu campo social.
96
6.3.1 A certificação ambiental e a busca da ecoeficiência
A CELETEC é certificada pela ISO 14001 desde 1999 nas suas
operações florestais, industriais e comerciais. Essa certificação informa que o
empreendimento realiza avaliações sistemáticas de sua gestão ambiental e possui
uma política interna formalizada para o meio ambiente. Para os gestores, o fato
de a empresa ter essa certificação representa conformidade das práticas de
gestão com as demandas ambientais e é sinônimo de uma relação harmoniosa
com o meio ambiente. Essa idéia é traduzida na fala de um dos gerentes que
quando que questionado sobre esse aspecto, afirmou:
“Na questão ambiental, a Em presa, ela tem a certificação ISO 14001 e
só tem ISO 14001 quem tem o ambiente com a gestão integrada e
adequada com a questão ambiental
(Relato de entrevista G2).
Além de obter a certificação, a CELETEC vem, ao longo do tempo,
investindo em pesquisas e práticas de silvicultura, manejo florestal e no processo
de fabricação de celulose, seja para garantir competitividade e aceitação de seus
produtos no mercado internacional, seja para atender às demandas de órgão de
fiscalização ambiental ou, ainda, para tentar legitimar-se no âmbito local e
responder às críticas que recebe.
O capítulo anterior evidenciou que tais práticas foram percebidas de
maneira diferenciada pelos diversos entrevistados. Alguns atores sociais as
perceberam como exemplos positivos que servem de referência para o setor
produtivo, já outros entrevistados as consideraram como suficientes para a
minimização dos impactos causados pela empresa e, ainda, entre alguns atores
tais práticas não constituíram elemento central na produção de sentidos.
A empresa vem tentando reforçar e consolidar o seu status de
benchmarking
e referência de práticas ambientais baseadas em critérios de
sustentabilidade e competitividade, seguindo a filosofia da ecoeficiência. A
97
CELETEC faz uso dessas práticas ainda para rebater as críticas que recebe em
referências aos impactos que as suas atividades causam ao meio ambiente.
Assim, são apresentadas inicialmente as práticas específicas ao processo
industrial de fabricação de celulose e, posteriormente, as referentes ao plantio e
manejo do eucalipto.
O processo industrial da CELETEC consiste na transformação da
madeira de eucalipto em material fibroso, que é denominado pasta, polpa ou
celulose industrial. Este aspecto não gerou interessante produção de sentidos
diversificados entre os entrevistados. Isso pode ser explicado, talvez, pelo fato
do empreendimento já vir, ao longo do tempo, efetuando maiores controles
sobre o processo produtivo e vir alcançando resultados efetivos e visíveis ou, por
outro lado, talvez ainda o entrevistado tenha julgado mais pertinente centrar-se
em outras discussões por ele consideradas mais relevantes.
Algumas apreensões sobre o processo produtivo da CELETEC, suas
práticas de gestão e os impactos do processo industrial foram relacionadas no
capítulo anterior, nas categorias referentes à imagem organizacional e na relação
da empresa com o processo de desenvolvimento. As práticas industriais da
CELETEC em relação ao meio ambiente foram consideradas uma referência de
gestão para alguns dos entrevistados; já entre outros atores, foram percebidas
como suficientes para um controle desejável. Ainda houve aqueles entrevistados
que não mencionara o aspecto industrial especificamente.
No geral, as referências aos impactos do processo produtivo da
CELETEC foram o grande volume de água necessário no processo da fabricação
de celulose e os efluentes gerados pelo processo de fabricação. O impacto mais
lembrado foi o odor gerado na fabricação da celulose, decorrente do uso de
enxofre no processo.
98
A empresa vem mantendo o discurso da ecoeficiência e da excelência
ambiental e vem investindo em pesquisas para o desenvolvimento de práticas
que minimizem os impactos e reduzam o consumo de materiais e energia.
Segundo os seus relatórios, essas práticas vêm demonstrando:
benefícios econômicos pela redução no consumo de energia;
uma redução de dispersão de substâncias poluentes no meio ambiente
relacionados a emissões atmosféricas, efluentes quidos e outros
resíduos;
maximização do uso sustentável dos recursos naturais renováveis.
o realizados constantes monitoramentos em relação à emissão dos
efluentes e resíduos. A questão do odor característico da produção de celulose,
apesar de ter diminuído ao longo do tempo, ainda é marcante e vem
direcionando os esforços da empresa. Segundo um dos gestores entrevistados,
hoje, os investimentos ambientais estão muito voltados para a questão do odor,
que é uma questão característica de toda empresa de produção de celulose do
mundo”
. Ele continua, afirmando que “
os trabalhos que s fizemos aqui em
relação ao odor, hoje, é uma referencia não só para o Brasil, mas para fora do
Brasil”
(Relato de entrevista G2).
O gerente menciona, como uma das iniciativas pioneiras, a rede de
percepção de odor, em funcionamento desde 1991. O funcionamento de tal
iniciativa consiste num controle que é realizado por dezenas de voluntários
residentes no entorno da fábrica. Os membros dessa rede podem fazer
comunicações por telefone sobre qualquer percepção de alteração do cheiro e,
posteriormente, ocorrem reuniões em que são comunicadas as avaliações.
Segundo os gerentes, iniciativas como essa têm gerado bons resultados e
direcionado os investimentos para o aprimoramento do processo produtivo.
99
Em suma, a CELETEC tem feito um controle operacional visando
estabelecimento de processos de menor impacto, menor consumo de recursos
hídricos, verificação da redução de desperdícios e das perdas. Além do
atendimento à legislação pertinente, esta postura é fundamental para a
manutenção da sua posição no mercado internacional. Um impacto de difícil
controle, que é a questão do odor, vem sendo monitorado mais intensamente e
obtido resultados satisfatórios. Tal controle é fundamental para a diminuição da
sensação de desconforto causada pelo forte odor no entorno da fábrica,
diminuindo a percepção de possíveis impactos causados pelo empreendimento.
A questão do eucalipto e de seus plantios gerou uma produção de
sentidos diversificados entre os atores do campo social. As práticas da empresa
em relação ao plantio e manejo dessa espécie também foram considerados, por
alguns dos entrevistados, como exemplos positivos. Mas, diferentemente do que
aconteceu em relação às práticas industriais, aqui, alguns dos entrevistados
manifestaram um descdito em relação às pesquisas e práticas da empresa. Para
alguns dos entrevistados, a questão do eucalipto insere-se ainda numa discussão
muito maior que é a da função social da terra. O uso do solo pelo
empreendimento gera, assim, inúmeras implicações para a sociedade.
As críticas iniciais sobre a sustentabilidade dessa espécie levaram a
Empresa a concentrar esforços no desenvolvimento de técnicas florestais
próprias, como o melhoramento genético e o desenvolvimento de clones mais
adaptáveis às condições das regiões onde o eucalipto seria plantado.
Para minimizar o impacto ambiental do cultivo da espécie a CELETEC
vem desenvolvendo práticas de manejo florestal
aplicando um conjunto de
práticas agronômicas/silviculturais. Entre elas estão o monitoramento de insetos
e pragas, o plantio em mosaico, alternando eucalipto com plantas nativas e a
manutenção de sub-bosques.
100
As reservas nativas próximas das áreas de eucalipto, segundo os
relatórios da empresa, em percentual maior do que determina a legislação,
servem também para melhorar o equilíbrio de todo o complexo, inclusive da
própria reserva produtora. A existência dessas reservas nativas em extensão
superior ao que é exigido por lei foi usado para reforçar a importância da
empresa em termos de conservação na natureza. Um dos gestores entrevistados
comparou o percentual da mata atlântica existente no estado do Espírito Santo
com a extensão dos plantios de reservas que a empresa estabeleceu, para
expressar tal idéia.
“Em termos ambientais, basta dizer que a empresa hoje det ém cerca de
115 mil hectares de nativos. Nessas reservas boa parte delas são
vegetação de mata atlântica, tem áreas de restinga, tem áreas de outros
tipos de vegetação que são importantes para o ecossistema, para a
qualidade de água. Então, hoje, nós temos cerca de 35% de reservas em
relação às propriedades. Se você pegar o Estado, que tem cerca de 8 a
10 por cento no máximo de reserva nativa, a empresa detém, no
mínimo, 3 vezes mais. O que a gente pode dizer o seguinte, se não
tivesse a empresa no local, provavelmente, os 115 mil hectares, talvez
tivessem bem menos hectares. Então, a força da empresa na questão
ambiental em termos de conservação da natureza e preservação é
inegável
(Relato de entrevista G2).
Segundo os gerentes, as práticas em relação aos plantios de eucalipto
incluem a seleção de áreas mais adequadas para o plantio dessa espécie, o
manejo de resíduos da colheita, o preparo do terreno para novos plantios, as
adubações para atender às demandas nutricionais das plantas e melhorar as
propriedades do solo, o dimensionamento adequado de equipamentos e o
planejamento de operações visando ao controle de processos erosivos e de
compactação do solo, a manutenção da água das chuvas na área de plantio,
evitando perdas superficiais ou a contaminão dos cursos d’água, e o
favorecimento da ciclagem de nutrientes e matéria orgânica.
101
A CELETEC vem rebatendo as críticas atuais em relação aos seus
plantios com conclusões dos seus projetos de monitoramento. Num deles
estabeleceu parceria com renomados institutos de pesquisas e universidades do
Brasil e do exterior para desenvolver estudos integrados dos principais
componentes ambientais clima, solo, recursos hídrico e biodiversidade e na
análise de suas inter-relações. A partir dos resultados, a empresa tem sustentado
que as suas práticas asseguram a manutenção ou a melhoria da condição natural
do solo, além de contribuir de maneira eficaz na preservação da biodiversidade e
dos recursos hídricos
.
Segundo a empresa, os princípios que norteiam as suas atividades
florestais são:
uso exclusivo de madeira de eucalipto plantado para a produção de
celulose e madeira serrada;
competitividade florestal baseada em critérios de sustentabilidade;
manutenção da biodiversidade;
conservação do solo;
proteção de recursos hídricos;
sustentabilidade econômica e social.
Ela vem tentando também nortear os seus plantios de eucalipto com a
idéia de progresso social e econômico realizado em harmonia com a natureza.
Além do desenvolvimento de pesquisas, aprimoramento de técnicas e práticas
ambientais e os constantes monitoramentos, a CELETEC desenvolveu um plano
de comunicação para fortalecer a imagem de sua matéria-prima, o eucalipto.
Esse ponto será discutido mais adiante.
102
6.3.2 Marketing sócio-ambiental e as relações com os
stakeholders
Como já foi ressaltado, a instalação e o desenvolvimento do
empreendimento durante os governos militares e a postura da CELETEC durante
tal período geraram um clima de rejeição à sua imagem pela sociedade local.
Segundo Moreira (1992), foi a partir desta época que a CELETEC percebeu a
necessidade de construir uma nova imagem de empresa promotora do
desenvolvimento econômico e social na região e passou a adotar uma política
mais agressiva de marketing, tanto do ponto de vista interno quanto externo.
Entre as estratégias utilizadas para a demonstração e a consolidação de
uma imagem de empresa comprometida com o social e o ambiental, a
CELETEC passou a fazer maiores investimentos sociais na sua área de atuação
direta e a fazer parte de diversos fóruns e entidades que discutem a inter-relação
das organizações e o meio ambiente. Entre algumas iniciativas que ilustram essa
idéia podemos destacar que a CELETEC foi uma das primeiras empresas
brasileiras a assinar a “Carta de Princípios sobre o Desenvolvimento
Sustentável”, da Câmara do Comércio Internacional; tornou-se membro do
comitê executivo do
World Business Council for Sustainable Development
(WBCSD), do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), da Federação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável (FBDS), entre outros, permanecendo até os dias atuais.
Na década de 1990, a CELETEC passou a fazer pesquisas para conhecer
a imagem da empresa para a sociedade capixaba. Um dos questionamentos da
sociedade local referia-se à sua postura de distanciamento no que diz respeito ao
relacionamento social que vinha mantendo, considerada um pouco à margem da
realidade do Estado. Além disso, a postura do passado de preservação de sua
imagem em face das críticas e polêmicas geradas pela sua atuação, prejudicou
sua imagem no âmbito local.
103
Assim, a percepção da necessidade de reversão de sua imagem de
empresa fechada e arrogante induziu a uma mudança de comportamento, na qual
a CELETEC estaria disposta a lidar com as questões sociais e ambientais de
forma mais aberta e transparente e a estar mais próxima da sociedade local,
visando assim solidificar o discurso da sustentabillidade de suas operações.
Além disso, as controvérsias geradas pela própria natureza de suas atividades,
que usam insumos de plantios comerciais e que demandam grandes quantidades
de terras, vêm direcionando a CELETEC para o desenvolvimento de estratégias
e ações para demonstrar a sua atuação responsável e comprometida com a
sociedade, em detrimento dos discursos propagados pelos grupos sociais que ela
classifica como “radicais”.
As entrevistas com os atores do campo social demonstraram ainda uma
diversidade de sentidos produzidos na interação da organização com o meio
local. Alguns dos entrevistados apreenderam tal mudança comportamental de
forma positiva e já evidenciaram algumas das ações e práticas que a organização
estabeleceu recentemente. Algumas dessas iniciativas são apresentadas a seguir.
Preocupada com o que a empresa chama de propagação de mitos criados
no passado, com os discursos contrários e com as repercussões que isso cria para
a sua imagem na sociedade e no mercado, a CELETEC, além dos investimentos
em pesquisas e o desenvolvimento de parcerias com institutos de pesquisas
renomados, vem desenvolvendo campanhas de comunicação para informar e
envolver a comunidade com o eucalipto.
A CELETEC vem também participando mais ativamente de eventos e
seminários, para divulgar a mensagem de que "o eucalipto é uma árvore
sustentável, econômica, ambiental e socialmente”. As justificativas divulgadas
pela empresa são de que o eucalipto é uma espécie que:
- reduz a pressão sobre a mata nativa e protege sua fauna;
104
- recupera solos exauridos pelo cultivo e queimadas e controla a
erosão;
- mantém a cobertura do solo pela deposição dos resíduos florestais;
- contribui para regular o fluxo e a qualidade dos recursos hídricos;
- estabiliza o solo, promovendo a retenção de água;
- absorve grande quantidade de CO
2
da atmosfera, diminuindo a
poluição e o calor e combatendo o efeito estufa;
- produz mais sem prejuízo à natureza;
- fornece matéria-prima para produtos indispensáveis em nossas
vidas;
- é uma fonte de riquezas econômicas e sociais;
- gera empregos e mantém o homem no campo.
No ano de 2000, a empresa lançou o livreto "Eucalipto - uma árvore
amiga da natureza", que foi distribuído em escolas, entre os produtores rurais,
profissionais liberais e organizações não-governamentais (ONGs). A publicação
trabalhou a mensagem do uso da madeira como uma alternativa ecologicamente
correta para manter o progresso e o bem-estar da comunidade, informando sobre
a utilização comercial dessa espécie e o uso dela pela empresa; tamm
apresentou respostas para infundamentar os chamados mitos sobre o eucalipto.
Essas idéias vêm sendo trabalhadas também no site da empresa.
A CELETEC vem desenvolvendo uma série de iniciativas de
aproximação com a comunidade local, buscando ter acesso à percepção da
comunidade do seu entorno para identificar e responder às preocupações e
dúvidas desses grupos sobre a atuação e os procedimentos da empresa e, ainda,
para estabelecer parcerias e melhorar a sua imagem. Ela tem investido também
em projetos de educação, o que foi definido como o seu foco institucional de
investimentos sociais.
105
Uma das estratégias de aproximação foi o estabelecimento de um canal
de comunicação direcionado especificamente para pequenos proprietários rurais
e moradores das regiões situadas nos limites de seus plantios de eucalipto e
reservas nativas. Nesse programa ocorrem visitas à empresa ou ida de técnicos
da CELETEC às comunidades, oportunidade em assuntos de interesse comum
o expostos e debatidos. Por meio dele, as populações do entorno do
empreendimento conhecem as instalações e atividades da empresa, são
informadas da importância dela para a região que habitam, tornam-se mais
atentas à presença física da CELETEC e passam até mesmo a contribuir,
avisando quando há princípios de incêndio ou outras atividades que possam
ameaçar os plantios de eucalipto.
Ainda em relão ao contato com grupos de populações, a Empresa,
além de ter estabelecido um acordo com algumas tribos indígenas, conta com
um funcionário específico que atua diretamente, consolidando a aproximação e,
segundo ela, atendendo às demandas desse grupo específico
O estabelecimento de visitas a fábrica também foi outro mecanismo
utilizado. Durantes os últimos anos, a Empresa vem recebendo grupos de
estudantes, de associações, representantes de ONGs e das comunidades, clientes,
jornalistas, entre outros. Durante o ano de 2003, aproximadamente 9.000 pessoas
conheceram as instalações do empreendimento e destas, mais de 60 por cento
eram estudantes. Os visitantes passam pelas várias etapas do complexo da
CELETEC, conhecendo os canteiros de produção de mudas, a fábrica e o porto
onde a produção é exportada e ainda assistem a um filme institucional.
Outra ação mais recente de aproximação para o diálogo foi o
estabelecimento, no ano de 2003, de um canal de comunicação regular com o
Fórum Capixaba de ONGs Ambientalistas. Nos encontros, a CELETEC
mostrou-se aberta a discutir os questionamentos referentes à sua atuação e os
reflexos sobre o meio ambiente, assumindo a co-responsabilidade nas
106
dificuldades de diálogo do passado e na integração governo/empresas/sociedade
civil. Durante as reuniões, os participantes levantaram alguns pontos e,
posteriormente, foram definidos temas de interesse e estabelecida uma agenda
de trabalho. Um dos pontos convergentes e que guiará trabalhos conjuntos
refere-se à recuperação e a conservação da Mata Atlântica.
Outra estratégia utilizada pela CELETEC é divulgar as ações da empresa
no campo ambiental, econômico e social. Desde 1997, ela vem publicando
relatórios sócio-ambientais informando as suas ações e incluindo objetivos e
metas sócio-ambientais para o ano seguinte. No relatório de 2003, foi
incorporada a verificação de uma terceira parte para
dar maior credibilidade as
informações disponibilizadas. Tal material é distribuído a bibliotecas, institutos
e centro de pesquisas.
Outra iniciativa, que também visa a comunicação da empresa com
alguns públicos alvos foi a criação de um projeto para resgatar de maneira
estruturada os principais eventos e contribuições da empresa ao longo de sua
história, por meio da pesquisa documental e dos depoimentos dos principais
protagonistas.
Em suma, a organização vem tentando mediar os sentidos produzidos
pelos diferentes atores sociais sobre a sua interação proferindo discursos e
práticas de gestão que asseguram a eficiência do seu processo produtivo com a
minimação dos impactos causados ao meio, tentando consolidar ainda uma
postura de empresa aberta e transparente no âmbito da filosofia da
responsabilidade social corporativa.
107
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho teve como objetivo estudar o processo de interação entre
organização e meio ambiente promovido por uma empresa do setor de celulose,
considerando a diversidade de sentidos produzidos por diferentes atores locais
(lideranças políticas, ambientais, empresariais, sindicais e sociais) em torno
deste processo, bem como as práticas de gestão sócio-ambientais utilizadas pela
organização.
Para tanto, foi levado em consideração, a partir da análise teórica do
trabalho, que a percepção das externalidades negativas do processo de
desenvolvimento gerou a constatação da insustentabilidade do projeto
modernista, o que questionou e redefiniu as atividades humanas em relação ao
meio ambiente. A discussão sobre a intervenção antrópica na biosfera passou a
ser entendida como uma questão que transcende os limites dos estados
nacionais, tomando a forma de um movimento transnacional que tenta
estabelecer uma governança ambiental global. A evidenciação da temática e a
maior consciência ambiental geraram implicações no ambiente organizacional,
pressionando e condicionando mudanças do comportamento das entidades
participantes em relação ao ambiente no qual estão inseridas. No âmbito dos
estudos sobre gestão e organizações surgiram diversos trabalhos com as mais
variadas abordagens teórico-metodológicas, apontando a necessidade de
reformulação do comportamento das organizações e sugerindo práticas e
modelos que inserem considerações ambientais no processo de gestão.
O ponto central da análise teórica foi a consideração da queso
ambiental no âmbito local. Nesse locus, embora a concepção de meio ambiente
enseje certas idéias comuns, ela se encontra extremamente vinculada às próprias
especificidades locais, o que lhe confere uma elevada carga de pressupostos
108
valorativos e de interesses específicos, gerando uma diversidade de significados
para os atores sociais.
Os resultados da abordagem empírica da pesquisa sobre a interação de
uma organização produtora de celulose, aqui denominada de CELETEC, no
campo social específico do Espírito Santo, corroboraram com essas indicações,
demonstrando e confirmando uma diversidade de sentidos produzidos pelos
atores entrevistados. As divergências ocorridas entre indivíduos e grupos
resultaram de aspectos temporais e relacionais do espo social em questão.
O breve resgate histórico do processo de industrialização e do
desenvolvimento do empreendimento ajudou a contextualizar e a compreender
melhor a dinâmica atual e alguns dos sentidos produzidos pelos atores
entrevistados. A alise dos consensos e conflitos socialmente construídos em
torno desses sentidos revelou a estreita vinculação entre aspectos ideológicos,
interesses e a questão ambiental, o que tornou a racionalidade individual
coletivamente irracional ou vice-versa. A natureza das atividades da CELETEC,
demandando grandes quantidades de insumos naturais advindos de plantios
comerciais de eucalipto e exigindo a propriedade de consideráveis extensões de
terra e mesmo o processo de instalação e desenvolvimento do empreendimento
na região geraram inúmeras controvérsias, interferindo significativamente na
produção dos sentidos.
Essa conclusão não significa negar a existência de impactos reais e
mensuráveis que o empreendimento causa ao meio, mas que a compreensão
sobre os riscos coletivos ocorre tamm de maneira diferenciada conforme os
valores e interesses dos diversos atores. Ainda, o estabelecimento da “verdade
(s)ou a própria ciência está condicionada à variadas lógicas senão a ambiental.
Assim, na pesquisa, alguns atores locais perceberam benefícios sociais,
ambientais e econômicos advindos da atuação do empreendimento na rego e
109
apreenderam a forma de atuação da CELETEC como legítima. Outros
entrevistados admitiram a influência da empresa na localidade e reconheceram a
minimação dos impactos gerados pela empresa por meio da adoção de
tecnologias e diversas práticas. Ainda dentre os entrevistados, existiram aqueles
que consideraram totalmente ilegítima a forma como a empresa atuou e atua na
região. Aqui, algumas vezes, o que foi percebido como benefício para alguns
dos entrevistados foi compreendido de maneira diferenciada por outros, da
mesma forma que alguns pontos considerados negativos por alguns dos atores
foram apreendidas de forma positiva por outros.
Entre o próprio movimento ambiental existiu uma apreensão
diversificada em relação ao questionamento da relação da empresa com o meio
ambiente. De maneira geral, os diversos atores tentaram legitimar os seus
discursos deslegitimando os dos demais atores presentes no campo social. Nesse
processo aparecem, de ambos os lados, referências a estudos e pesquisas,
indicações de interesses implícitos que alimentam a narrativa contrária,
acusações de que outros atores estariam agindo de má fé e teriam
comportamentos antiéticos.
Com efeito, a forma como os atores apreenderam a relação da empresa
com o processo de desenvolvimento local, a ocupação e o uso do solo pela
CELETEC e a questão da monocultura de eucalipto utilizada pelo
empreendimento encontram-se intimamente correlacionadas com a imagem final
que os entrevistados fizeram da organização em estudo. Os gestores da
organização, por sua vez, tamm produziram sentidos em torno da atuação da
empresa, justificando os discursos e comportamentos contrários à organização.
A produção dos sentidos foi uma das formas pela qual os atores
compreenderam e tentaram lidar com a realidade na qual estão inseridos. As
escolhas foram tidas como racionais para os atores porque assim eles as
110
perceberam. Os comportamentos e convicções dos atores foram inspirados em
suas próprias razões, embora essas possam até mesmo ser falsas. Admitir isso
o significa que o trabalho concorde que qualquer comportamento ou
convicção é justificável, mas que a razão e o simbolismo são funções do
contexto social, não cabendo ao pesquisador imprimir a eles juízos de valor.
Assim sendo, a proposta do trabalho foi analisar a atuação de uma
organização levando-se em consideração a diversidade de sentidos que são
produzidos pelos diversos atores na interação com o campo social. A partir daí, a
gestão ambiental foi entendida tamm como produto da dinâmica estabelecida
nessa inter-relação. Assim, além de modelos e técnicas de gestão reconhecidos e
exigidos no campo das organizações, outras posturas, práticas e discursos vão
sendo construídos pela organização na busca da mediação do campo social.
A utilização de alguns pressupostos da teoria do campo social de Pierre
Bourdieu auxiliou a visualização da dinâmica do campo, compreendendo o seu
funcionamento e as suas diferentes lógicas ao longo da história do
empreendimento. Verificou-se então, que campo não é uma estrutura estática e
autônoma, mas, ao contrário, ele foi sendo influenciado ao longo do tempo por
outros campos, como o político, o econômico, o científico e o organizacional,
entre outros. Merece destaque o processo de democratização abrindo o debate ao
público e ampliando a discussão para além do binômio Estado x Empresa.
Concomitantemente, alguns mecanismos, como a audiência pública,
formalizaram instrumentos de participação da população no processo de
avaliação ambiental dos empreendimentos potencialmente causadores de
degradação ambiental. Esses novos espaços, conforme desmontrado no trabalho,
se transformaram em arenas nas quais se manifestaram conflitos de interesses.
Ainda foi lembrado por alguns dos entrevistados que, dada a capacidade final de
influenciar o “processo de funcionamento” das organizações, os novos
111
instrumentos da política ambiental do país configuram-se tamm como uma
arena de disputas políticas.
Essa percepção foi evidenciada por vários entrevistados. Para os atores
que se manifestaram claramente contrários à atuação do empreendimento, a
CELETEC se beneficia do seu poder advindo de grande corporação constituindo
lobbies, cooptando grupos e instituições para influenciar o processo ao seu
favor. Entre outros entrevistados, a empresa estaria, muitas vezes, sujeita a
políticos e grupos sociais que utilizam esses instrumentos de acordo com
interesses próprios, visando obter benefícios particulares.
Entendidas a dinâmica atual e a produção de sentidos pelos atores do
campo em análise em referência à organização, no segundo momento, o trabalho
propôs analisar quais práticas e discursos a CELETEC vem utilizando para
mediar essa relação. Para isso, foi proposto, conforme a sociologia da gestão de
Mike Reed (1997), o entendimento da gestão como uma prática social. A gestão
ambiental derivou então da apreensão organizacional sobre os sentidos e
significados proeminentes no campo social.
Como empresa que destina grande parte da sua produção para o mercado
internacional, a CELETEC veio, ao longo da sua história, desenvolvendo uma
série de técnicas é práticas ambientais e adotando outras reconhecidas e exigidas
neste campo. O investimento em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias
conferiu ao seu produto diferenciação em custo e qualidade e reconhecimento no
mercado internacional.
Contudo, embora os documentos e os discursos dos gestores da
CELETEC tenham indicado uma preocupação com a questão ambiental desde a
sua implantação, a análise atual indicou uma reformulação de algumas posturas
e práticas. Essa mudança de comportamento resultou da própria apreensão, pela
CELETEC, das possíveis implicações que a sua atuação no meio social pode
112
gerar no seu negócio. A organização estaria tratando as questões ambiental e
social de forma mais aberta e transparente. Um ponto relevante neste aspecto é a
constatação da indissociabilidade entre a questão ambiental e a social.
No plano teórico, isso foi traduzido pela CELETEC na inserção dos
discursos da ecoeficiência e da sustentabilidade no contexto mais amplo, que é o
da responsabilidade social corporativa. Essa narrativa foi representada também
em práticas de gestão que tentam abor-las conjuntamente. Os próprios
discursos foram considerados como práticas de gestão, embora, no âmbito
organizacional, muitas vezes o discurso divirja da prática.
Na gestão analisada como prática social, os discursos e as práticas de
gestão são uma resposta mais próxima da ótima dentro das limitações geradas
pelas lógicas e contradições do campo. A pesquisa revelou que a CELETEC
vem desenvolvendo práticas para manter e melhorar o seu processo produtivo,
para consolidar sua imagem de empresa responsável como o meio social e
ambiental, aberta e disposta a dialogar sobre essas questões. Eno, ao mesmo
tempo em que as novas posturas e práticas são construídas a partir da dinâmica
estabelecida entre a empresa e o meio, elas tentam modificar também a estrutura
social. Portanto, pôde-se constatar conexões existentes entre um determinado
contexto social e a estrutura e o comportamento de uma organização com
relação a meio sócio-ambiental.
Acredita-se que o presente trabalho, ao tomar como referência
epistemológica os fundamentos da abordagem interpretativa, diferenciou-se dos
diversos estudos organizacionais que procuram explicar o processo de gestão
ambiental e a relação entre organizações e meio ambiente. Para tanto, ele
considerou as contribuições advindas de alguns dos trabalhos que sugerem a
adoção de modelos e práticas sob uma perspectiva primordialmente técnica,
aliadas às advindas dos estudos que indicaram a adoção de comportamentos
113
ambientais similares reconhecidos e legitimados entre os participantes do campo
tendo em vista as pressões institucionais. Nessa dissertação foram incorporadas
também a dimensão simbólica e política do processo de gestão ambiental. O
quadro teórico do trabalho tornou possível a integração dos níveis de análise
organizacional, institucional e comportamental, abandonando-se os pressupostos
positivistas-funcionalistas presentes em muitas pesquisas sobre gestão
ambiental.
o obstante, esta investigação apresenta algumas limitações. Embora
alguns dos atores entrevistados tenham produzido sentidos referentes ao impacto
da empresa sobre determinados grupos sociais, como a população indígena,
descendentes de escravos e agricultores, não foi possível verificar a apreensão
específica destes grupos. Tal fato, revelou ainda, um aspecto curioso que
demonstra a complexidade da temática. Mesmo tendo sido realizados acordos
entre a empresa e algumas dessas populações, existem controvérsias que não
foram discutidas nesse trabalho, como por exemplo, o fato de que para alguns
dos entrevistados, essas populações foram forçadas a aceitar a convenção, ao
passo que, para outros entrevistados, essas populações são usadas por
determinados grupos para alimentar os discursos contrários à empresa.
De forma semelhante, a abordagem metodológica de investigação
suscita que os seus resultados são sempre interpretações das interpretações. Isso
quer dizer que certas facetas do real podem ser percebidas como importantes,
algumas como marginais ou acessórias, enquanto outras podem nem ser
percebidas pelo pesquisador. Essas constatações sugerem a impossibilidade de
superação dos valores do próprio pesquisador na sua relação com o objeto de
estudo, constitutivo de uma realidade mais ampla.
114
Outro aspecto importante que merece ser destacado é o de que os
resultados deste trabalho referem-se a este caso específico, não podendo ser
objeto de generalizações para outras realidades diferentes desta.
Finalmente, como agenda para futuras pesquisas relacionadas ao tema,
sugerem-se:
um estudo analisando e comparando as práticas de gestão de
diferentes empresas produtoras de celulose no país;
um estudo considerando também a produção dos sentidos de outros
funcionários da organização além dos gestores.
115
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123
ANEXOS
124
QUADRO 3 Mapa dos sentidos
Categoria produtoras
dos sentidos
Atores
Relação da empresa
com a terra
Eucalipto/monocultura
Desenvolvimento local
Imagem organizacional
Gestores
Produtiva
Fonte de diversificação
rural
Alternativa de renda
Similar a outras culturas
Floresta
Benchmarking
Alavancador e dinamizador da
economia local
Criação de uma
civilização/modernização no
norte capixaba
Sócio-ambientalmente
responsável
Atores do
campo social
Expulsa populações
tradicionais
Prejudica a agricultura e
a produção de alimentos
Gera diversificação rural
e alternativa de renda
Monocultura
Perda da biodiversidade
Desertificação do solo
Benchmarking
Gera know-how
Alavancador e gerador de
oportunidades
Insuficiente considerando o
retorno que a empresa poderia
dar
Inexistente porque gera renda e
oportunidades para poucos em
detrimento da coletividade
Crescimento desqualitativo-
insustentável
Transparente nos
aspectos técnicos
Criadora de uma cadeia
de valor
Responsável
Injusta poderosa
degradadora
renovada
125
Roteiro para entrevistas do tipo semi-estruturadas para atores do campo
social e gestores
-
Nome:
-
Idade:
-
Atividade Atual:
1) Origem e trajetória social
-
Local de origem?
-
Área rural, área urbana?
-
Qual o tipo de atividade desenvolvida pelos pais?
-
Tais atividades vinculavam-se ao rural/urbano?
-
Envolvimento e participação em algum tipo de movimento social e
ambiental?
2) Trajetória profissional
-
Qual a formação profissional?
-
Em que local e período esta foi realizada?
-
Citar brevemente um hisrico profissional: atividades desenvolvidas
-
Envolvimento com a questão ambiental
3.1 Perguntas - Gestores
Como a CELETEC tem abordado a chamada “problemática ambiental”? Quais
são os princípios que orientam a relação entre esta empresa e o meio ambiente?
Quais os principais pontos positivos (benefícios) decorrentes da atuação da
organização no estado?
Quais os principais pontos negativos?
Que tipos de conflitos sócio-ambientais emergem da atuação da empresa? Qual
o sentido que a empresa atribui a estes conflitos? O que eles significam
Quais são as práticas de gestão que a CELETEC tem adotado para reduzir os
conflitos e os impactos sócio-ambientais de sua atividade? Como a empresa tem
atuado para tratar dos conflitos sócio-ambientais? Por que estas práticas de
gestão e de regulação de conflitos foram adotadas?
126
3.2 Perguntas para atores do campo social
Como você percebe a atuação da CELETEC no estado do Espírito Santo
?
Quais os principais pontos positivos (benefícios) decorrentes da atuação da
organização no Estado?
Quais os principais pontos negativos?
Que tipos de conflitos ambientais emergem da atuação da empresa? Quais são as
causas destes conflitos? O que eles significam para você?
Quais são as práticas de gestão que a CELETEC tem adotado para reduzir os
conflitos e impactos ambientais de sua atividade?
Na sua opinião por que estas práticas foram adotadas? Na sua opinião estas
práticas são eficientes?
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