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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
ÀREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS DA LINGUAGEM
ESPECIALIDADE: TEORIA E ANÁLISE LINGÜÍSTICA
LINHA DE PESQUISA: GRAMÁTICA, SEMÂNTICA E LÉXICO
Da descrição lexicográfica: o caso dos adjetivos estéticos no português
brasileiro
Leandro Zanetti Lara
Porto Alegre
2005
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2
LEANDRO ZANETTI LARA
DA DESCRIÇÃO LEXICOGRÁFICA: O CASO DOS ADJETIVOS ESTÉTICOS
NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Letras como parte dos
requisitos para obtenção do Grau de MESTRE
EM LETRAS – Especialidade: Teoria e Análise
Lingüística, pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Orientadora: Profa. Dra. Sabrina Pereira de
Abreu
Porto Alegre, março de 2005.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a quem se dedicou inteiramente para mim:
meus pais, Paulino e Clarita.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais pela dedicação e amor.
Agradeço à Professora Sabrina Abreu pela amizade e carinho, bem como
por partilhar comigo sua sabedoria e seu exímio talento na arte de ensinar e
orientar.
Agradeço, pela amizade, confiança e incentivo, a Francisco Wasilewski,
Melissa Mello, Alexandre Velho e Jaques Beck.
5
RESUMO
Tendo como objetivo a investigação acerca da descrição lexicográfica dos
adjetivos estéticos, este trabalho observou como se estruturam a microestrutura,
no enfoque da descrição sintático-semântica, e a macroestrutura, no que toca à
organização lexical, de adjetivos do campo semântico da estética, em dicionários
vernaculares do português brasileiro. Fundamentaram a análise dos dados os
conceitos, definições e metodologia de elaboração de artigos de dicionário da
Teoria Lexicológica Explicativo-Combinatória, bem como das pesquisas léxico-
semânticas presentes no Dicionário Explicativo-Combinatório do Francês
Contemporâneo. Observou-se que os adjetivos descritos nos dicionários
vernaculares carecem da informação lexical que é passível de ser delineada
apenas mediante uma descrição sintático-semântica acurada e rigorosa, em
termos de lexicografia com base lexicológica. Os resultados apontam para a
necessidade de serem estruturadas as entradas lexicais de adjetivos estéticos em
obras lexicográficas, com base na sua caracterização sintático-semântica, que
envolve, entre outras, questões de tipologia denotacional e inter-relação sintaxe-
semântica.
Palavras-chave: lexicologia, lexicografia, adjetivo, estética.
ABSTRACT
Pursuing the aim of researching the lexicographic description of aesthetic
adjectives, this study inquires into the microstructure (chiefly the syntactic and
semantic descriptions) and the macrostructure (lexical organisation) of the
adjectives pertaining to the semantic field of aesthetics, which are observed in
portuguese vernacular dictionaries. The analysis of the data is based on the
concepts, definitions and lexicographic methodology of the Explanatory-
combinatorial Lexicology, and lexical-semantic researches of the Explanatory-
Combinatorial Dictionary of Contemporary French. It was identified that the
adjectives described in the vernacular dictionaries lack the lexical information that
only an accurate and rigorous syntactic-semantic description can provide, which is
to say on terms of a lexicographic work carried out on a lexicologic basis. The
results indicate that lexical entries for aesthetic adjectives should always be built
taking into consideration the syntactic-semantic caracterization of these adjectives,
which means considering the adjectival semantic-denotational typology and the
syntax-semantics interrelation.
Keywords: lexicology, lexicography, adjective, aesthetics.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 9
1 O LUGAR DA LEXICOLOGIA/LEXICOGRAFIA NO ÂMBITO DA CIÊNCIA DA LINGUAGEM.... 16
1.1 Existem teorias lexicológicas e lexicográficas? ................................................................ 16
1.2 O papel das teorias lexicológicas e lexicográficas nos dicionários vernaculares ................. 22
1.3 A Lexicologia e a Lexicografia de mãos dadas: a Teoria Lexicológica Explicativo-
Combinatória........................................................................................................................... 31
1.3.1 Aspectos da Teoria e do Modelo Sentido-Texto .......................................................... 31
1.3.2 O Dicionário Explicativo-Combinatório ........................................................................ 37
1.3.2.1 Conceitos basilares..................................................................................................37
1.3.2.2 Caraterização dos adjetivos no DEC.......................................................................45
1.4 O tratamento do léxico da estética: um estudo lexicográfico............................................... 51
2 O ESTATUTO LEXICOLÓGICO/LEXICOGRÁFICO DOS ADJETIVOS ..................................... 57
2.1 Problemas da definição lexicográfica dos adjetivos ............................................................ 57
2.2 A caracterização dos adjetivos........................................................................................... 63
2.2.1 Adjetivo: uma classe universal? .................................................................................. 63
2.2.2 Semântica e sintaxe adjetivais .................................................................................... 71
2.3 As especificidades dos adjetivos estéticos ......................................................................... 81
3 PLANEJAMENTO METODOLÓGICO ....................................................................................... 92
3.1 Pesquisa metalexicográfica: alguns princípios metodológicos ............................................ 92
3.2 Conceitos Microestruturais do DEC.................................................................................... 94
8
3.2.1 Conceitos e Regras Léxico-Semânticos do DEC......................................................... 95
3.2.2 A descrição do comportamento sintático das lexias no DEC.......................................107
3.3 Conceitos macroestruturais no DEC..................................................................................113
3.4 Seleção dos dados ...........................................................................................................120
3.4.1 Fonte dos Dados........................................................................................................121
3.4.3 Critérios para a recolha dos dados.............................................................................122
3.4.4 Organização dos dados .............................................................................................130
4 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................................136
4.1 Fundamentos da análise dos dados..................................................................................136
4.2 Análise Microestrutural......................................................................................................137
4.2.1 Análise da descrição semântica .................................................................................138
4.2.2 Análise da descrição sintática....................................................................................195
4.3 Análise Macroestrutural.....................................................................................................225
4.4 Discussão dos Resultados................................................................................................254
CONCLUSÃO.............................................................................................................................261
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................264
ANEXOS.....................................................................................................................................270
LISTA DE ABREVIATURAS
‘X’: sentido de X
A: actante
ADJ: adjetivo
ASém: actante semântico
ASyntP: actante sintático profundo
ASyntS: actante sintático de superfície
Aurélio: Ferreira (1999)
Caldas Aulete: Caldas Aulete (1964)
CO: complemento
Deaj: deadjetival
DEC: Dicionário Explicativo-Combinatório
Houaiss: Houaiss (2001)
L: lexia
L X: lexia L é definida em função de X
Michaelis: Weiszflog (1998)
N: nome
RSém: representação semântica
Sém: semântica
TLEC: Teoria Lexicológica Explicativo-Combinatória
TST : Teoria Sentido-Texto
X, Y, Z... Variáveis semânticas
V: Verbo
INTRODUÇÃO
Insere-se a presente dissertação no âmbito dos estudos do léxico, não no
sentido de objetivar fornecer respostas definitivas para as suas questões-chave,
que veremos no Capítulo 1, mas por constituir pesquisa em lexicografia. Mais
pontualmente, é esta uma pesquisa acerca de determinado tipo de descrição
lexicográfica: a do campo semântico dos adjetivos estéticos
1
.
Justifiquemos a escolha do tema que aqui desenvolveremos. Tomando o
título da presente dissertação como base Da Descrição Lexicográfica: O Caso
dos Adjetivos Estéticos no Português Brasileiro analisemos as três motivações
teóricas que justificam a seleção do referido tema:
a) No que toca à descrição lexicográfica, é consenso entre os
pesquisadores que os estudos lexicais ainda estão lançando suas raízes a terra,
firmando-se como vel de análise no âmbito da Ciência da Linguagem, e,
1
Campo semântico no sentido de "conjunto das lexias que têm um mesmo componente semântico
identificador do campo” [tradução nossa do original em francês] (MEL'ČUK et al., 1995, p. 173).
10
portanto, todo estudo que venha a acrescer às descrições de itens lexicais
contribui para a estruturação das teorias lexicológica e lexicográfica.
b) Quanto aos adjetivos, a escolha deu-se em função de ser esta, entre
as grandes classes (abertas) de palavras no português brasileiro nome, verbo e
adjetivo –, a menos privilegiada nos estudos lexicográficos e metalexicográficos
2
,
sobremaneira no que diz respeito à questão da definição adjetival
3
.
c) No que concerne ao campo semântico eleito a estética –, dois
aspectos devem ser levados em conta: 1) Os adjetivos estéticos ocupam um lugar
privilegiado no universo tipológico dos adjetivos, pois são uma subclassificação
dos adjetivos de valor, que "constituem uma categoria universal [translingüística]"
(DIXON, 2004, p. 5)
4
. 2) Estudar os adjetivos estéticos dum ponto de vista da
Lingüística é de valia para a estética no sentido de que tal abordagem constitui
reflexo especular à pesquisa em linguagem estética levada a efeito pelos
filósofos/estetas, que observam o lingüístico pelo prisma da estética. A nossa
proposta aqui é a de apontar alguns dos pontos em que tais imagens especulares
se tocam.
2
"Metalexicografia é sinônimo de 'pesquisa sobre dicionários' " (HARTMANN & JAMES apud
WELKER, 2004, p. 11).
3
Como veremos no Capítulo 4, no que se refere à análise que faremos acerca da definição
adjetival, na literatura filosófica e lingüística, estudar definição, na maioria das vezes, corresponde
a estudar definição nominal.
4
Segundo Dixon, a subcategoria adjetival de valor está presente mesmo em línguas com um
repertório muito exíguo de adjetivos, ou seja, todas as línguas humanas apresentam adjetivos de
valor, tais como bom, mau, belo, etc.: "There are four core semantic types associated with both
large and small adjective classes. 1. DIMENSION [...] 2. AGE [...] 3. VALUE [...] 4. COLOUR..."
(DIXON, 2004, p. 5).
11
A consecução do estudo a que nos propomos nesta dissertação, a
descrição lexicográfica dos adjetivos estéticos, pressupõe a conjunção de diversos
“olhares teóricos”, porquanto o objeto desta pesquisa é complexo. Vejamos, então,
qual referencial teórico nos servirá de pressuposto para a nossa discussão.
Primeiramente, o plano dos estudos lexicais: temos de precisar o que
entendemos por descrição lexicográfica em si, bem como devemos explicitar que
conceitos estão a este vinculados, tais como a relação lexicologia/lexicografia, as
teorias lexicológica e lexicográfica e de que maneira nos posicionamos em relação
às definições de item lexical e os correlatos conceitos de palavra, vocábulo, artigo
de dicionário, entrada lexical, etc. A posição que adotaremos é da Teoria
Lexicológica Explicativo-Combinatória (MEL’ČUK, ZHOLKOVSKY, 1965;
MEL’ČUK, ŽOLKOVSKIJ, 1969; MEL’ČUK, ŽOLKOVSKIJ, 1967; APRESYAN,
MEL’ČUK, ŽOLKOVSKIJ, 1968; APRESYAN, MEL’ČUK, ZHOLKOVSKY,1969;
MEL’ČUK, ŽOLKOVSKIJ, 1970; MEL’ČUK, ŽOLKOVSKIJ, 1972; MEL’ČUK,
POLGUÈRE, 1987; MEL’ČUK, 1974a, b, 1981, 1988, 1989), que estrutura o
Dictionnaire Explicatif et Combinatoire (MEL’ČUK et al. 1984, 1988, 1992, 1999;
MEL’ČUK, 1984, 1987). A Teoria Lexicológica Explicativo-Combinatória
(doravante, TLEC) e o Dictionnaire Explicatif et Combinatoire (doravante, DEC)
nos servirão de referencial teórico e metodológico da seguinte forma: 1) quanto ao
referencial teórico, no que tange aos conceitos de língua, lexicologia, lexicografia,
dicionário, descrição lexicográfica, micro- e macroestrutura dicionarísticas, entre
outros (conforme veremos no final do Capítulo 1); 2) quanto ao referencial
12
metodológico, no que concerne às categorias analíticas, tais como lexia, vocábulo,
zona semântica, zona sintática, artigo de dicionário, campo semântico, lexia de
base, entre outros (conforme veremos no Capítulo 3).
Em relação aos estudos da classe adjetival, nosso referencial teórico
basear-se-á em Móia (1992)
5
.
Delineado o problema inicial e os seus desdobramentos, cabe referirmos
que a presente investigação estará mirando os seguintes objetivos:
Objetivo geral: executar uma análise metalexicográfica das descrições
lexicográficas do campo semântico estético em dicionários vernaculares do
português brasileiro.
Objetivos específicos:
Quanto à microestrutura
6
, investigar:
1) a descrição semântica (definição) dos adjetivos estéticos;
2) a descrição sintática (distribuição sintática) dos adjetivos estéticos.
Quanto à macroestrutura
7
, investigar a organização dos adjetivos estéticos
em campo semântico.
Para formularmos as hipóteses que nortearão esta pesquisa, faz-se
importante notar que o aspecto da lexicografia que se destaca é o da construção:
5
MÓIA, Telmo. Sobre Classes Semânticas de Adjectivos. Cadernos de Semântica 7. Lisboa:
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1992.
6
Microestrutura é "a organização de um artigo de dicionário, que se repete de modo sistemático
em todos os artigos de dicionários [tradução nossa do original em francês]"(MEL'ČUK et al., 1995,
p. 55). Por sua vez, um artigo de dicionário, corresponde à descrição de uma, e somente uma, das
várias acepções da unidade-base do DEC, que é a palavra (tomada em todas as suas acepções)
(cf. MEL'ČUK et al., 1995, pp. 55-56).
13
o fazer lexicográfico está intimamente ligado à criação de critérios com vistas a
confeccionar uma obra lexicográfica da melhor forma para um determinado fim.
a metalexicografia tem por meta analisar uma dada obra lexicográfica, abstraindo
os critérios usados para a sua confecção. Dessa forma, o fazer lexicográfico
muitas vezes articula-se com a análise metalexicográfica, pois os critérios
desenvolvidos na lexicografia devem ser testados/criticados pela reflexão
metalexicográfica. Os métodos da lexicografia e da metalexicografia o distintos,
portanto, pois tais disciplinas, apesar de se voltarem para um mesmo objeto
(critérios de redação dicionarística), fazem-no segundo olhares distintos: quando a
natureza da análise lingüística é lexicográfica, não temos hipóteses a ser testadas,
mas critérios lexicográficos a serem desenvolvidos, sendo o seu método, na
maioria das vezes, indutivo; a análise metalexicográfica se valerá do método
hipotético-dedutivo, pois lançará e testará hipóteses quanto aos critérios
observados.
Nesta dissertação, como não se visa à construção de um dicionário, mas
justamente à crítica/análise dos critérios para a descrição dos adjetivos estéticos
em dicionários do português brasileiro, não seguiremos o método indutivo (como
geralmente se dá nos estudos lexicográficos), mas o hipotético-dedutivo, pois
nossa tarefa aqui é de cunho metalexicográfico. A hipótese geral é a de que os
critérios usualmente empregados (nos dicionários vernaculares do português
7
Macroestrutura é "a organização do conjunto do dicionário a partir de seus artigos" (MEL'ČUK et
al., 1995, p. 155).
14
brasileiro) para descrever lexicograficamente os adjetivos estéticos são
insuficientes para uma caracterização precisa: 1) da semântica adjetival; 2) da
sintaxe adjetival. Mais detalhadamente, as hipóteses que subjazerão nossa
investigação são as que seguem:
a) os dicionários vernaculares do português brasileiro não apresentam
critérios que garantam uma descrição lexicográfica de base científica para
os adjetivos estéticos no que se refere 1) à microestrutura (descrição
semântica (ou definição), descrição sintática; e 2) à macroestrutura (a
organização das lexias em campo semântico; e
b) os critérios lexicográficos desenvolvidos no âmbito da TLEC possibilitam
que os adjetivos estéticos sejam descritos de forma precisa no que se
refere 1) à microestrutura (descrição semântica (ou definição) e descrição
sintática); e 2) à macroestrutura (organização dos adjetivos estéticos em
campo semântico.
Explicitado o objeto dessa dissertação, bem como a sua justificativa,
objetivos e hipóteses, passemos à organização que moldará este trabalho.
No Capítulo 1, localizaremos a presente dissertação no âmbito dos estudos
lexicais. Iniciaremos o capítulo abordando questões gerais sobre as teorias
lexicológica e lexicográfica, às quais se seguirá uma introdução ao referencial
teórico, ou seja, aos conceitos lexicológicos e lexicográficos da TLEC. Na parte
final deste capítulo inicial, discorreremos acerca da natureza lexicográfica do
estudo do léxico estético.
15
No Capítulo 2, nossa atenção estará concentrada nos adjetivos, que serão
abordados nos seguintes aspectos: 1) seu status de classe de palavra; 2) sua
caracterização sintático-semântica. Também será observado se
especificidades de descrição sintático-semântica no que tange aos adjetivos
estéticos.
O Capítulo 3 será reservado ao planejamento metodológico. Aqui
explicitaremos os princípios metodológicos que nortearão a pesquisa no que diz
respeito: 1) às categorias analíticas da TLEC a serem aplicadas aos dados
quando da análise e 2) seleção dos dados que serão analisados (extraídos de
descrições lexicográficas de dicionários vernaculares do português brasileiro).
No Capítulo 4, levaremos a efeito a análise dos dados segundo os
referenciais teórico (Capítulos 1 e 2) e metodológico (Capítulo 3), visando a
investigar as descrições lexicográficas dos adjetivos estéticos quanto à 1)
microestrutura; e 2) à macroestrura. Este capítulo finalizará com a discussão dos
resultados da análise.
Por fim, dar-se-á o fechamento da discussão com a exposição das
conclusões do trabalho.
1 O LUGAR DA LEXICOLOGIA/LEXICOGRAFIA NO ÂMBITO DA CIÊNCIA DA
LINGUAGEM
O objetivo do presente capítulo é localizar este trabalho no âmbito dos
estudos lexicais, precisando que esta dissertação está relacionada com a
lexicologia e a lexicografia. Para tanto, discutiremos as noções de teoria
lexicológica e de teoria lexicográfica no âmbito da Ciência da Linguagem (seção
1.1), bem como o papel de tais teorias no que concerne à sua aplicação a
dicionários vernaculares do português brasileiro (seção 1.2). Apresentaremos,
também, o referencial teórico da TLEC, teoria que objetiva integrar, a um
tempo, conceitos e princípios lexicológicos e lexicográficos (seção 1.3), pontuando
aspectos da Teoria e do Modelo Sentido-Texto, que são a base da TLEC
(subseção 1.3.1), assim como caracterizando o DEC (subseção 1.3.2) nos seus
aspectos gerais (subseção 1.3.2.1) e no que toca aos adjetivos presentes no
referido dicionário (subseção 1.3.2.2). Encerraremos o capítulo, precisando que a
pesquisa do léxico da estética cabe às disciplinas da lexicologia e lexicografia, e
não da terminologia ou terminografia (seção 1.4).
1.1 Existem teorias lexicológicas e lexicográficas?
No âmbito da Ciência da Linguagem, os estudos lexicais sempre
constituíram matéria controversa, que suscita debates científicos polêmicos,
17
porquanto seu objeto de estudo é, por natureza, controverso, ainda que
fundamental, e de difícil definição no âmbito dos estudos lingüísticos: a palavra. A
lexicologia e a lexicografia, longe de constituírem um estudo moderno, visto que a
concepção de léxico como lista ou nomenclatura remonta aos registros
cuneiformes babilônicos (KRISTEVA, 1969, p. 80)
8
, de cerca de 2600 a.C.
(GREEN, 1996, p. 22), certamente, é uma ciência recente, devido ao fato de que
os próprios primitivos desta ciência, o item lexical e o léxico, começaram a ser
estudados numa perspectiva científica (lingüística) com mais regularidade
somente a partir da segunda metade do século XX, conforme podemos atestar
nas palavras de Zgusta (1971) sobre os métodos lexicográficos:
As far as methods are concerned, it is very seldom that they are
discussed or explained; sometimes they are not even described […]
inquiries into the fundamental concepts of lexicography (like the studies of
F. Hiorth, quoted in the Foreword) are exceedingly rare. (ZGUSTA, 1971,
p. 19).
Acrescentemos uma outra passagem de Zgusta (1971), na qual o autor
analisa o quão pouco estava desenvolvida a pesquisa lexicológica/lexicográfica
em 1971 e o quanto é provável que esta ainda terá um grande desenvolvimento:
We believe that a coherent discussion of the problems of
lexicography, or at least of the more important ones of them, will be useful
if not for their solution, so at least for a better understanding of them and
for finding ways to handle them more efficiently. We also believe that such
8
Segundo Kristeva (1969): "O sumério foi uma língua viva desde o IV até ao II milênio antes da
nossa era. Conservou-se como língua secreta dos Acádios. Seguiu-lhe um bilingüismo sumério-
acádio que impôs um verdadeiro estudo científico do sumério. Com esse objetivo elaboraram-se
silabários e léxicos, que atestam os fundamentos de uma sistematização da linguagem. Existiram
várias compilações deste tipo, que eram semelhantes aos dicionários de agora. Assim, a partir de
2600 antes da nossa era, encontram-se repertórios lexicográficos chamados "ciência das listas" [...]
a escrita e a ciência lingüística (filologia e lexicologia) desenvolviam-se conjuntamente..."
(KRISTEVA, 1969, p. 80)
18
a coherent discussion is useful because we suppose that lexicography
(along with other adjacent branches of linguistics) will be given much
more attention in the near future than has been the case hitherto. On the
practical side, we have the fact that education, knowledge of different
languages, and contacts between different communities are spreading.
On the theoretical side, semantics has been relatively so very much
neglected that it observably begins to come more into the focus of
attention, if for no other reasons, then simply because of the pressure of
the unsolved problems. And then, let us not forget that not only for many
theoretical approaches such as the generative grammar, but also for
undertakings such as machine translation it is precisely the mutual
dependence (or interdependence) of "lexicon" and "grammar which is of
first-class importance”. (ZGUSTA, 1971, p. 18).
Os estudos de cunho lexicológico e lexicográfico são, portanto, um campo
de investigação fértil para a pesquisa em Lingüística, que tais estudos têm mais
problemas do que soluções para as suas questões de base. Isto é notório
sobretudo quando observamos que não existem, na história da ciência lingüística,
escolas de pesquisa lexicológica/lexicográfica; pelo menos não nos moldes da
história dos estudos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos (cf.
NIKLAS-SALIMEN, 1997, p. 6). Uma vez que o léxico corresponde ao material
lingüístico não previsível, irregular, idiossincrático, a tendência natural era a de os
estudos lingüísticos se voltarem primeiramente às regularidades, às regras, à
gramática (fonologia, morfologia e sintaxe), enfim. É sabido que, a partir do final
do século XIX, os estudos de cunho semântico começaram a se intensificar
notadamente a partir do Essai de mantique (science des significations)
9
,
lançado em 1897. Segundo Lyons:
O termo semântica é de origem relativamente recente: foi criado no
século XIX, a partir de um verbo grego que quer dizer 'significar'. Mas
isso não quer dizer que no século passado se tenham voltado os
especialistas para a investigação do significado das palavras. Desde os
primeiros tempos se interessaram os gramáticos pelo estudo do
9
BRÉAL, M. Essai de sémantique: Science des significations. Paris: Hachette, 1924.
19
significado das palavras, e mais até do que pela sua função sintática. São
manifestação prática desse interesse os inumeráveis dicionários que se
vêm elaborando, não no Ocidente como em todas as partes do mundo
onde se estuda a linguagem. (LYONS, 1979, p. 425)
Porém, os estudos semânticos (e se incluem os de cunho semântico-
lexical) nunca tiveram o mesmo status que os fonológicos ou os sintáticos, no
âmbito da Ciência da Linguagem. Mais uma vez conforme Lyons:
A maioria das obras mais importantes publicadas sobre Lingüística,
nestes últimos trinta anos, deram pouca ou nenhuma atenção à
semântica. A razão disso é que, pelo menos no presente, muitos
lingüistas chegaram a duvidar da possibilidade de o significado poder ser
estudado objetiva e rigorosamente como a Gramática e a Fonologia...
(LYONS, 1979, p. 425-6)
O desenvolvimento dos estudos lexicais viria a estabelecer-se de forma
mais contundente somente no século XX, intensificado com a pesquisa em
lingüística computacional (a partir da década de 60, sobretudo), culminando, na
atualidade, com as pesquisas em processamento da linguagem natural, em cujo
seio o léxico veio a desempenhar um papel de primeira importância (cf.
BIDERMAN, 2001, p. 10).
Nas últimas décadas, as teorias acerca da natureza e do funcionamento do
léxico acabaram por conferir à lexicologia o status de nível de análise lingüística,
ainda que, na sua história, a teoria lexical tenha sido, na maioria dos casos,
entendida como suplementar e/ou subsidiária aos demais níveis de análise. A
nossa tradição em Ciência da Linguagem não nos legou uma teoria lexical
estruturalista, gerativista ou funcionalista nos mesmos moldes em que podemos
falar de uma sintaxe ou fonologia estruturalista, gerativa, etc., mas concepções de
item lexical e de léxico estruturalista, gerativista e funcionalista.
20
Este histórico é justificado no fato de que a lexicologia e a lexicografia têm
como problema fundamental a sua própria definição, "a sua própria identidade"
(NIKLAS-SALIMEN, 1997, p. 5). Exemplificativamente, se, em sintaxe, buscamos
um modelo que represente/explique de forma ótima a estrutura das orações das
línguas humanas, em lexicologia, antes de procurarmos um modelo que explique o
funcionamento dos itens lexicais e do léxico nas línguas, necessitamos perguntar
o que é item lexical?, o que é léxico?, como se constrói uma teoria lexical?, o que
estudam a lexicologia e a lexicografia?, quais os limites do que denominamos
‘palavra’? ou, mais sinteticamente, o que são a lexicologia e a lexicografia?
O século XX não apenas viu tais questões serem propostas, mas também
presenciou algumas tentativas de resposta. Pioneiro a "arriscar-se" na proposição
da tarefa de construir uma lexicologia científica foi um grupo de pesquisadores,
cujos expoentes são Mel’čuk e Zholkovsky
10
, que, nos anos 60, na então União
Soviética, dedicou-se à tradução automática de textos e à semântica lexical, tendo
por base a concepção gramatical da Sintaxe de Dependência
11
. Estas pesquisas
culminariam na formulação do modelo lingüístico Sentido-Texto
12
, que estabelece
que o componente semântico é determinante para a sintaxe e a combinatória
lexicais. Tal modelo veio a elevar a pesquisa lexicológica e lexicográfica a um
10
A Teoria Lexicológica Explicativo-Combinatória constitui desenvolvimento de um projeto
formulado por Mel’čuk e Zholkovsky em 1965 (MEL’ČUK, ZHOLKOVSKY, 1965). Trata-se do
Dicionário Explicativo e Combinatório do Russo Contemporâneo, objeto de estudos por dez anos
de vinte pesquisadores em Moscou (1966-1976). Tais estudos foram utilizados nas descrições
lexicográficas dos lexemas do francês. Afora o russo, surgiram trabalhos na mesma perspectiva
para outras línguas, tais como o polonês (JANUS, 1971), o francês (ŽOLKOVSKIJ-RAZLOGOVA,
1971,1974), o inglês (ŽOLKOVSKIJ, MEL’ČUK, ŠALJAPINA, 1971), o somáli (ŽOLKOVSKIJ, 1970)
e o alemão (REUTHER, 1978).
11
Para um estudo detalhado da Sintaxe de Dependência, ver Mel’čuk (1988).
21
status nunca antes por esta alcançado, uma vez que a descrição lingüística
fonológica, morfológica, sintática e semântica era interpretada como que
intimamente vinculada à descrição lexicográfica. Esta interdependência das
descrições gramatical e lexicográfica acaba por ser demonstrada na elaboração
do DEC
13
, que se propõe ser um dicionário científico (cf. CLAS in MEL’ČUK et al.,
1984, pp. XIII-XV), na medida em que suas descrições lexicográficas são
alicerçadas em critérios científicos (lógicos e lingüísticos) precisos e rigorosos,
sendo cada entrada lexical mais que um mero rol de acepções, constituindo,
antes, uma descrição lingüística exaustiva da lexia em questão (cf . MEL’ČUK et
al., 1995, pp. 5-14).
Na seção 1.3, veremos em detalhe aspectos da TLEC e do DEC. Porém,
antes de observarmos o funcionamento da lexicologia e lexicografia explicativo-
combinatórias, ponderemos, na subseção a seguir, acerca da lexicologia e da
lexicografia nos dicionários vernaculares, cujas descrições lexicográficas serão
objeto de estudo nesta dissertação.
12
Para uma caracterização do Modelo Sentido-Texto, ver Mel’čuk (1997).
13
Segundo Mel’čuk (1984), os princípios de base do DEC, assim como as noções pertinentes,
estão descritos, por exemplo em Žolkovskij, Mel’čuk (1966); Žolkovskij, Mel’čuk (1967); Apresyan,
Mel’čuk, Zholkovsky (1969); Mel’čuk (1974a), Mel’čuk (1974b: 110: 133). Poderia se falar, de fato,
de uma nova TEORIA LEXICOGRÁFICA, cujos primeiros resultados práticos e descritivos, em
torno de 250 vocábulos do russo, foram publicados em Moscou com tiragem reduzida: Materialy
1970-1976 (ver também Apresyan, Mel’čuk, Žolkovskij (1968 ) e Mel’čuk, Žolkovskij (1972)). Os
materiais do DEC do russo contemporâneo foram largamente utilizados quando do nosso trabalho
acerca das descrições lexicográficas dos lexemas do francês.” (MEL’ČUK, 1984, p. 3)
22
1.2 O papel das teorias lexicológicas e lexicográficas nos dicionários
vernaculares
Como mencionamos, a presente dissertação tem um objetivo
metalexicográfico, no sentido de observar descrições lexicográficas existentes.
Nossos dados de análise serão obtidos nos seguintes dicionários vernaculares do
português: Caldas Aulete (1964), Weiszflog (1998)
14
, Ferreira (1999)
15
e Houaiss
(2001). Tal abordagem, como dissemos, terá como base a TLEC e o DEC, no
sentido de que as definições lexicográficas serão não observadas pelo prisma
dos critérios da TLEC como também serão cotejadas com as descrições do DEC.
Como vimos de dizer, o DEC se pauta por ser um dicionário de base
científica, cujas descrições se alicerçam em teorias de cunho lexicológico e
lexicográfico. Vejamos alguns momentos da apresentação do DEC, nas palavras
de André Clas (in MEL’ČUK et al., 1984, pp. XIII-XV):
On a souvent dit et répété que le point de part de tout bon
travail lexicographique est une bonne théorie lexicographique. Elle
seule permet au lexicographe de s'assurer qu'il suit bien son fil
conducteur et qu'il traite tout avec la même systématisation et la même
rigueur. On pourra donc avoir [...] une excellente théorie et un traitement
scientifique des données où tout est fait avec objectivité, avec cohérence
et le pouvoir explicatif de la théorie donne toute la valeur volue à
l'oeuvre.
[...]
Il y a l'utilisateur du dictionaire. Peut lui chaut très souvent de
découvrir les principes de création, puisqu'il s'intéresse avant tout au
résultat et à lui seul. Et plus la théorie sous-jacente est complexe, plus il
est difficile d'y faire pénétrer le lecteur. Comment résoudre cette
contradiction?
14
WEISZFLOG, W. (Ed.) Michaelis português: moderno dicionário da língua portuguesa. Versão
1.0 São Paulo: DTS Software Brasil, 1998. CD-ROM
15
FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. São Paulo: Lexicon
Informática, 1999. CD-ROM.
23
[...]
La plupart des dictionnaires publié jusqu'à présent respectent la
tradition lexicographique, qui d'ailleurs a précédé la formulation théorique,
et traitent le lexique comme une collection d'unités. [...] Au contraire, la
conception même du dictionnaire explicatif et combinatoire dont nous
présentons ici quelques articles diffère résolument des celles des autres
dictionnaires connus. [...] Au lieu de concevoir un dictionnaire en fonction
de la clientèle des usagers possibles, les auteurs ont volontairement
choisi de donner priorité à la théorie linguistique et, en particulier,
lexicographique.
[...]
La théorie sous-jacente à ce nouveau dictionnaire, qui brise
délibérément avec la tradition, est de représenter la langue sous
forme de systéme cohérent et uniforme. Le modéle théorique de base,
conçu d'un le cadre d'une théorie général du langage et appelé théorie
Sens-Texte
[...]
La langue est donc essentiellement un système de
communication [...] Les règles lexicographiques, c'est-à-dire le
dicitionnaire, fournissent toutes les donnés sur les vocalbles et leur
fonctionnement dans un système [...] Chaque entrée du dictionnarire en
question se présente avec trois données fondamentales: des données
sémantiques, des données syntaxiques et des données de
combinatoire lexicale... [grifo nosso] (CLAS in MEL’ČUK et al., 1984, pp.
XIII-XV)
Como podemos ver, na apresentação do DEC, são explicitadas as teorias
lexicológica e lexicográfica que embasam a obra em questão. Dois pontos se
destacam nessa apresentação: 1) a problemática da tensão teoria/prática, no
sentido de que, como bem aborda Clas (in MEL’ČUK et al., 1984, p. XIV), o
lexicólogo/lexicógrafo deve decidir se quer construir uma obra lexicográfica mais
comprometida com a teoria ou mais comprometida com o usuário; 2) a questão da
tradição lexicográfica versus a concepção científica de obra lexicográfica.
Como nosso foco aqui são descrições presentes em dicionários
vernaculares, estaremos investigando metalexicograficamente dados da tradição
lexicográfica do português brasileiro. Como Clas aponta (in MEL’ČUK et al., 1984,
p. XIV), a tradição lexicográfica francesa carece de base teórica. Vejamos as
apresentações dos dicionários vernaculares que estudaremos, a fim de determinar
24
se a crítica de Clas se fundamenta também com relação à tradição lexicográfica
em português.
Comecemos pela apresentação de Caldas Aulete (1964):
O nosso intuito, diz Aulete na exposição do seu plano, foi
coordenar um dicionário portátil para a maioria das pessoas que
falam a língua portuguesa; um vocabulário que represente a língua
portuguesa como ela é hodiernamente, contendo as palavras que
são do domínio da conversação, de que boa parte se não encontra nos
dicionários nacionais; os neologismos sancionados pelo uso e pela
necessidade e os termos técnicos que, com o desenvolvimento da
instrução pública, têm passado para a literatura e para a linguagem da
conversação. Não deixamos também de inserir os arcaísmos que com
mais freqüência se encontram nos clássicos dos séculos XVI e XVII e
aqueles que são radicais de palavras derivadas existentes na língua atual
e que, sem o conhecimento deles, mal se entenderiam.
[...]
Cada verbete do dicionário Caldas Aulete traz em seguida ao
vocábulo, quando necessária, a sua representação fonética.
[...]
As definições só encontram paralelo nas do Diccionario de la
Lengua Española da Real Academia, obra quase três vezes centenária e
que se aperfeiçoa de edição em edição.
[...]
Mais copiosos do que Caldas Aulete muitos dicionários. Mas
como? À custa de variantes, regionalismo, arcaísmos, neologismos sem
raízes e até de palavras duvidosas.
Pela primeira vez em nossa lexicografia os termos de zoologia
e botânica recebem sua notação científica, que os identifica melhor
que qualquer descrição, por boa que seja.
A exemplificação apresenta abonações dos maiores escritores,
muitos dos quais brasileiros, como o nosso Gonçalves Dias.
Nenhum dicionário tem fraseologia mais abundante.
O verbete finaliza com a etimologia do vocábulo.
[...]
Antenor Nascentes [grifo nosso] (CALDAS AULETE, 1964, p. VII-
VIII)
Vejamos aqui quais seriam as noções lingüísticas que subjazem ao fazer
lexicográfico de Caudas Aulete. A noção de língua aparece nos seguintes trechos:
“um dicionário portátil para a maioria das pessoas que falam a ngua portuguesa”.
O que se entende por "maioria das pessoas que falam a língua portuguesa"?
Seriam os falantes alfabetizados e não-alfabetizados? Seriam os falantes cultos,
25
com grau de escolarização elevado? Não sabemos. Assim como também não
sabemos o que o autor entende por “língua portuguesa como ela é
hodiernamente” e muito menos quais seriam os critérios para se extrair “as
palavras que são do domínio da conversação”. Dessa forma, o próprio critério de
recolha está comprometido. Cabe referir que, apesar da carência de uma base
lexicológica explícita, Aulete pauta sua obra por delinear de forma precisa o
formato lexicográfico de seus verbetes. Porém, o que determinou tal formato em
termos de conceitos lexicológicos não nos é apresentado.
Observemos também a apresentação de Ferreira (1999):
Decidimos, então, criar um produto que não mostrasse na tela
de um computador o conteúdo integral do livro [...] mas também
trouxesse novas formas de consultar as palavras da nossa língua, seus
significados e exemplos de uso. Como resultado, o usuário do Dicionário
Aurélio Eletrônico tem à sua disposição novos mecanismos de consulta,
entre os quais se destacam:
a) Obtenção de listas de verbetes selecionados segundo
critérios definidos pelo próprio usuário.
b) Navegação pelos verbetes, no conceito de hipertexto,
podendo cada palavra que aparece na explicação dos significados levar
ao verbete que a define.
c) Dicionário reverso, ferramenta de grande valor, somente
praticável com os recursos da computação eletrônica: a partir de
palavras-chaves, contidas nos significados, obtêm-se os respectivos
verbetes.
Também mereceu cuidado especial a apresentação, na tela, do
significado dos verbetes. Aproveitaram-se os recursos dos monitores
de vídeo, como a cor, para destacar as diferentes partes que compõem o
texto (etimologia, categoria gramatical, rubricas, achegas, remissivas,
exemplos e abonações). [grifo nosso] (FERREIRA, 1999)
Nesta apresentação fica claro que a pretensão dessa obra é a de adaptar-
se ao universo computacional, permitindo ao consulente realizar pesquisas
rápidas, reversas, etc. Aqui se faz presente a dicotomia teoria/necessidade dos
usuários indicada por Clas, conforme mencionamos acima: Ferreira (1999), em
momento algum, explicita seu referencial teórico, concentrando-se integralmente
26
no papel que seu dicionário desempenha para suprir as necessidades dos que se
utilizam de suas informações. Mesmo se não estivéssemos aqui interessados nos
critérios lexicológicos, ainda caberia indagarmo-nos acerca dos critérios que
estruturam as ferramentas desenvolvidas em função dos usuários. Um exemplo é
a própria pesquisa reversa
16
: em Ferreira (1999), o podemos fazer uma busca
por segmento de palavras, como, por exemplo, buscar todos itens terminados em
–to, já tal recurso está disponível em Houaiss (2001). Ainda, Houaiss (2001)
permite uma busca dos itens por classe de palavras (todos os substantivos que
começam ou terminam com a seqüência tal, por exemplo). Ferreira (1999) não
apresenta a busca por classe de palavras. Houaiss tem como regra da pesquisa
reversa por segmentos de palavra que o segmento a ser pesquisado deve ter
minimamente duas letras, ou seja, não podemos buscar os adjetivos terminados
em -i (apenas poderemos buscar os adjetivos terminados em -ai, -bi, -ci, -di, -ei, -fi,
etc. Que critérios estarão decidindo a configuração dos recursos que atenderão as
necessidades do usuários? Ou, falando de outra forma, serão estas realmente as
necessidades do usuários? Que critérios para precisar tais necessidades deveriam
ser desenvolvidos/explicitados?
Como os aspectos teóricos da obra de Ferreira (1999) o se fazem
presentes na sua apresentação, perguntemo-nos se a produção lexicográfica de
grandes dicionaristas como Ferreira é tão-somente calcada na tradição
16
Segundo Houaiss (2001), pesquisa reversa é aquela em que se informa qual palavra se deseja
procurar no dicionário, sendo o resultado uma lista de palavras que contêm o item buscado em
suas acepções ou locuções (cf. HOUAISS, 2001).
27
lexicográfica, nas grandes obras do século XIX e XX (como as de Morais, Caldas
Aulete, Antenor Nascentes)? Ou há um diferencial para Ferreira, no sentido de
que seus dicionários possuem critérios de recolha de dados e estruturação de
verbetes, bem como critérios para coligir informações lexicais presentes em outras
obras? A apresentação de um dicionário, como vimos em relação ao DEC, é o
espaço para o lexicógrafo informar a sua posição teórica, a sua concepção de
lexicografia, e, após a leitura da apresentação de Ferreira (1999), restam muitas
dúvidas de tal posicionamento e concepção.
Na apresentação de Houaiss (2001), temos que:
O projeto deste dicionário fundamentou-se em três pressupostos
iniciais: levantamento de uma nominata abrangente cujas entradas
ganhassem definições ancoradas nos estudos de nosso grupo de
etimólogos; levantamento e análise minuciosa dos elementos
mórficos da língua como base do estabelecimento de grandes famílias
lexicais, e máximo esforço de datação das unidades léxicas a definir.
[...]
O trabalho sobre a história e o desenvolvimento dos formantes de
palavras na língua (prefixos, sufixos, infixos, grafemas, desinências,
terminações e demais elementos de composição antepositivos,
interpositivos e pospositivos) resultou num total de 13.295 unidades,
transformadas em verbetes que incluem exemplários com dezenas ou
mesmo centenas de palavras ligadas entre si por eles, formando uma
rede abrangente de famílias.
[...]
O trabalho de datação baseou-se em minuciosa técnica e extensa
bibliografia [...] Assinalou ano ou século do primeiro registro no português
de cerca de metade das unidades léxicas averbadas como entradas
neste dicionário. Tal fato, aliado à datação suplementar de acepções e
sintagmas locucionais dentro dos verbetes, possibilitou que, pela
primeira vez na língua, se pudesse tentar organizar a estrutura de
cada verbete, não aleatoriamente, mas a partir da sua acepção mais
antiga, procurando, então, sugerir ou esclarecer que tipo de derivação
semântica ocorrera a partir desta, para que se tivesse verificado o
surgimento do segundo e demais sentidos da palavra.
[...]
Foram também incorporados aos textos estabelecidos mais
informações úteis aos leitores, como rubricas temáticas, dados sobre
regionalismo, vel de uso, estatística de emprego e registro diacrônico
das acepções, sinônimos, antônimos, coletivos, notas de gramática e uso
das palavras, informes onomasiológicos etc.
28
Foi preocupação deste dicionário definir efetivamente os conceitos
das palavras analisadas, em lugar de lançar mão da prática da
simples sinonimização, que resulta as mais vezes em vagas
inexatidões, uma vez que os vocábulos escolhidos como sinônimos pelos
dicionários de maior porte que se utilizam de tal prática freqüentemente
comportam mais de um sentido, e aquele afim da palavra a definir nunca
é referido. Deixa-se, com isso, o processo da decodificação
semântica para a competência lingüística do consulente [...] Por outro
lado, as afinidades entre a unidade léxica a definir e o sinônimo escolhido
podem existir no plano da denotação, mas praticamente nunca no da
conotação. Por tudo isso, embora algumas definições resultem em textos
mais longos, nossos redatores foram instados a evitar a armadilha da
sinonimização e a procurar descrever os reais sentidos das palavras.
[...]
Do trabalho geral resultou uma obra de cerca de 228.500 unidades
léxicas que não privilegia determinada faixa cronológica ou
geográfica da língua. Versa diacronicamente sobre fenômenos não
apenas do português contemporâneo do Brasil e de Portugal, mas ainda,
embora de forma seletiva, sobre vocábulos da língua antiga e da arcaica,
cujo registro se justifica pelo percentual de sua ocorrência na história da
literatura portuguesa.
[...]
Foi a importância de nossa ngua no concerto das de maior
curso de utilização o que plasmou a necessidade de projetar um
dicionário abrangente que a fizesse ombrear com o que de mais
moderno no gênero pelo mundo.
[...]
Mauro de Salles Villar [grifo nosso] (HOUAISS, 2001)
Em Houaiss, encontramos alguma referência sobre os aspectos da língua
que estão sendo considerados, mas ainda não são suficientes para que se tenha
uma concepção clara do léxico que está sendo descrito. Ressalta-se em Houaiss
(2001) a menção ao método seguido na confecção da referida obra, sendo
explicitadas as etapas da elaboração, tais como “levantamento de uma nominata
abrangente”, “levantamento e análise minuciosa dos elementos mórficos da
língua”, coleta dos dados, trabalho de datação, reunião do material, padronização,
etc.
No parágrafo dedicado à definição, foi referido que se evitou o uso da
definição sinonímica (“sinonimização”). Do mesmo modo que os demais
dicionaristas em que nos detivemos aqui, Houaiss (2001) não estabelece a ponte
entre o seu fazer lexicográfico e uma teoria lexicológica. Por exemplo, a questão
da definição sinonímica é citada, porém não é demonstrado de que forma a
sinonimização será evitada. Mais adiante veremos que a sinonimização, de fato,
29
ocorre em Houaiss (2001), e de forma intensa, sobretudo no que tange aos
adjetivos, criando círculos viciosos, ou seja, redes lexicais tautológicas. Assim,
vemos que em Houaiss (2001), temos uma explicitação de aspectos de
metodologia lexicográfica, porém os poucos pontos de teoria lexicológica
indicados não só não foram explicados, como não foram respeitados por regras de
redação lexicográfica.
A apresentação de Weiszflog (1998) cinge-se à seguinte descrição:
Este dicionário, com mais de 200.000 verbetes e subverbetes, foi
planejado com extremo rigor lexicográfico, procurando-se registrar o
maior número possível de vocábulos, tanto da linguagem escrita quanto
da oral. A obra se baseia no banco de dados lexicográficos da
Melhoramentos, que foi reestruturado, revisto e ampliado com milhares
de novos verbetes elaborados por especialistas em diversas áreas do
saber.
Especial ênfase foi dada ao registro de novas palavras que
surgiram com o desenvolvimento das ciências e da tecnologia, além
da inclusão dos neologismos da linguagem padrão, dos regionalismos, da
gíria e do baixo calão.
Vale ainda mencionar o meticuloso trabalho desenvolvido para
registrar a etimologia das palavras com o maior rigor possível,
informando a ngua de origem, o étimo e os elementos de
composição, quando estes puderam ser determinados.
A utilização de sofisticados recursos de informática possibilitou
uniformizar as informações, além de sistematizar as remissões e
referências cruzadas... [grifo nosso] WEISZFLOG (1998)
Weiszflog (1998) destaca que sua obra é elaborada com “rigor
lexicográfico”. Tal rigor está baseado em quais procedimentos, regras ou critérios?
Outra dúvida que tange à não-explicitação da relação lexicologia/lexicografia que
se faz presente é a de que “...a utilização de sofisticados recursos de informática
possibilitou uniformizar informações...”. Não está claro que tipo de informação
lexicográfica foi uniformizado: poderíamos supor que seria a informação semântica
(definitória), porém, se assim fosse, de qual uniformização se estaria tratando
aqui? Também em Weiszflog (1998) não temos acesso à concepção lexicográfica
que norteia os trabalhos de criação da obra.
30
Ao que parece, as noções lingüísticas que esteiam a concepção de léxico
não são consideradas pelos lexicógrafos vernaculares que vimos de observar,
pelo menos não o são explicitamente. Se por um lado os dicionários vernaculares
comumente não apresentam qual é a sua teoria de base lexicológica
17
, por outro
devemos reconhecer que a tradição lexicográfica, como sempre se pontuou por
atender o usuário, acabou por produzir obras lexicográficas vastas e ricas, tais
como Houaiss (2001) ou Caldas Aulete (1964). O número de verbetes do DEC
18
é
ínfimo em comparação com o cabedal lexical dos dicionários vernaculares. Tal
paradoxo prova mais uma vez que incorporar a teoria lexicológica à lexicografia é
ainda um desafio à prática dos lexicógrafos, sejam estes vernaculares ou
especialistas em dicionários do tipo DEC. Porém, não podemos nos furtar a
pontuar que a crítica de Clas, apresentada anteriormente, é corroborada ao
avaliarmos as apresentações dos dicionários vernaculares que selecionamos para
estudo, ou seja, a referida crítica fundamenta-se também no que concerne à
tradição lexicográfica do português brasileiro: o comprometimento dos
dicionaristas vernaculares sempre esteve, e tem estado, voltado a questões mais
práticas (“necessidades lexicais” do usuário) que teóricas (base lexicológica das
descrições lexicográficas).
17
Ressaltemos que dicionários vernaculares que se pautam por apresentarem e basearem-se
em teoria lingüística, tais como as obras lexicográficas de Borba (BORBA, 1990, 2002), que adota
uma teoria lexicológica para a prática lexicográfica, mas trata-se de dicionários com um fim
específico. Ainda não temos no português brasileiro um dicionário para língua geral (vernacular)
que se possa chamar de científico.
18
Segundo Altman e Polguère, para o DEC da língua francesa, até a presente data, foram
elaborados 510 vocábulos (ALTMAN & POLGUÈRE, 2003, p. 1).
31
Verifiquemos, na próxima seção, de que forma teoria lexicológica e prática
lexicográfica se inter-relacionam no seio da TLEC e do DEC.
1.3 A Lexicologia e a Lexicografia de mãos dadas: a Teoria Lexicológica
Explicativo-Combinatória
1.3.1 Aspectos da Teoria e do Modelo Sentido-Texto
Como antecipamos, o referencial teórico desta dissertação terá como
base a Teoria Sentido-Texto (doravante, TST), desenvolvida a partir de 1965,
sobretudo pelos pesquisadores Mel’čuk e Zholkovsky (MEL’ČUK, ZHOLKOVSKY,
1965). No âmbito desta teoria lexicológica/lexicográfica, as línguas naturais são
concebidas como um mecanismo, ou sistema de regras (MEL’ČUK, 1997, p. 1),
que permite ao locutor falar e compreender a fala.
Os autores entendem que falar corresponde a ser capaz de estabelecer a
correspondência entre um sentido que ele queira exprimir e todos os textos
(realizações) da sua língua que possam veicular tal sentido, bem como de fazer a
melhor escolha entre as possibilidades, segundo as circunstâncias concretas de
um ato de linguagem dado. Compreender a fala, por sua vez, equivaleria a
estabelecer a correspondência entre um texto e todos os sentidos que ele pode
veicular, escolhendo-se aquele que for mais apropriado nas circunstâncias
concretas dum ato de linguagem dado.
32
Em suma, a ngua é, nesta perspectiva, um sistema de correspondência
entre um conjunto infinito de sentidos e um conjunto infinito de textos (entendidos
aqui como signos acústicos ou gráficos utilizados para expressar tais sentidos).
Para representar os sentidos e os textos, a TST valer-se-á de representações
lingüísticas, ou seja, de uma linguagem formal. Ao sentido corresponderá uma
Representação Semântica (= RSém), e ao texto, uma Representação Fonética
(RPhon).
Vejamos, inicialmente, a formalização da concepção de língua
natural para a TST:
{RSém
i
} língua;
; {RPhon
j
} 0 < i, j <
(MEL’ČUK, 1997, p. 5)
No que toca a essa relação, uma língua natural na TST é concebida
como um transformador que garante a correspondência (representada pelo
símbolo
acima) entre o conjunto infinito de sentidos (os sentidos i das RSém
variando de 0 a ) e o conjunto infinito de textos (os textos j das RSém variando
de 0 a ). Portanto, a descrição de uma língua L é um sistema de regras que
estabelece a correspondência entre os sentidos e os textos de L. Vejamos o
seguinte apontamento de Mel’čuk (1997), quanto à questão da direção sentido
texto:
33
[Cette] correspondence [...] doit être décrite par um DISPOSITIF
LOGIQUE, qui constitue um modèle fonctionnel
19
de la langue de type
Sens-Texte; il dois être élaboré et presenté dans la direction
20
Sens
Texte. (MEL’ČUK, 1997, p. 5).
O objetivo básico da teoria ora estudada é a de delinear tais
representações abstratas na prática, isto é, representar as línguas naturais.
Tendo visto a representação de língua para a TST, vejamos a
representação do Modelo Sentido-Texto em si, que corresponde ao modelo
lingüístico da TST:
Esquema 1: Representação do Modelo Sentido-Texto
19
Cabe aqui referir que Mel’čuk (1997, p. 4) entende o modelo Sentido-Texto como sendo do tipo
funcional global da língua natural. Para este autor modelo funcional é um sistema de expressões
criadas pelo pesquisador com o intuito de representar o funcionamento de uma determinada
entidade.
20
Em relação à questão da direção, Mel’čuk (1997) assevera que, do ponto de vista formal, a
passagem "sentido texto" e a passagem "texto sentido" seriam equivalentes. Porém, os
teóricos da TST preferem representar o Modelo Sentido-Texto a partir do sentido em direção ao
texto (síntese ou produção da língua), em detrimento do sentido oposto (análise ou compreensão
da língua). Assim a direção "sentido texto" é privilegiada em detrimento da direção oposta, por
representar de forma mais exata o ponto de vista do locutor, considerada como mais lingüístico do
Sentido
Modelo Sentido-Texto
Componente declarativo
Dicionário Gramática
Componente de processamento
texto1, texto2, ...
34
Adaptado de: POLGUÈRE (apud BARQUE, 2003, p. 9)
Conforme podemos ver no esquema acima, o Modelo Sentido-Texto
toma como entrada um sentido e produz na saída um conjunto de paráfrases, isto
é, um conjunto de enunciados contendo tal sentido lingüístico. O componente de
processamento, por seu turno, alberga as instruções necessárias à ativação do
Modelo Sentido-Texto, enquanto o componente declarativo é parte puramente
lingüística do modelo, por conter a gramática e o dicionário. A gramática reúne as
regras necessárias ao estabelecimento das correspondências entre os sete níveis
de representação adotado pela TST, conforme veremos a seguir. Como seria
impraticável estabelecer diretamente a correspondência entre os sentidos e os
textos, a TST, como todas as teorias lingüísticas, estabelece níveis intermediários
entre essas duas esferas (cf. BARQUE, 2003, p. 10). A gramática é, pois, dividida
em componentes, sendo que cada componente possui um conjunto de regras que
permitem a passagem de um nível (adjacente) a outro. O último componente a
comentar é o mais importante: o dicionário. Este ocupa um lugar central no
Modelo Sentido-Texto porque é o componente que fornece uma parte das
informações de que os demais componentes necessitam, que permite, portanto,
que sejam aplicadas as regras no processo de síntese. Vejamos um esquema
elaborado, por Barque (2003, p.11), que representa os sete níveis do Modelo,
acrescidos dos componentes de transição de nível e inter-relação destes com o
dicionário.
que aquele do destinatário (cf. MEL’ČUK, 1997, p. 5). Acrescentemos: donde o próprio título do
modelo e da teoria em questão.
35
Esquema 2: Níveis do Modelo Sentido-Texto (BARQUE, 2003, p. 11)
Não abordaremos aqui todos esses níveis e componentes, pois
nossa atenção recairá sobre a representação semântica (RSém), que, como
veremos no curso desta dissertação, é a mais importante no que tange à
descrição lexicográfica.
Cabe ainda ressaltar que as linguagens formais utilizadas pela TST
variam dependendo do nível em que se está atuando. Dessa forma, o nível
semântico utiliza gráficos ou redes semânticas; o nível sintático faz uso de árvores
de dependência; o nível morfológico vale-se de cadeias de morfemas; e o nível
fonológico, de cadeias de fonemas.
RSem
RSyntP
RSynS
RMorphP
RMorphS
RPhonP
RPhonS
composante
sémantique
c. syntaxique
profonde
c. syntaxique
de surface
c. morphologique
de surface
c. morphologique
profonde
c. phonologique
Dictionnaire
36
Dado que o componente dicionário tem papel de destaque no modelo que
vimos de observar, é lógico que seja a unidade lexical o conceito-chave da Teoria
Sentido-Texto, porquanto estabelece o liame entre os vários níveis lingüísticos
acima explicitados. Na descrição da unidade lexical (mediante o DEC), que este
modelo proporá, como veremos na seqüência, teremos informações de cunho
semântico, sintático, morfológico e fonológico. Em outras palavras, descrever um
léxico de uma língua natural é descrever sua gramática nesta concepção de língua
adotada por Mel’čuk e seus colegas. Podemos dizer que esta teoria se articula tal
qual um aparato composto de dois elementos interdependentes: de um lado, não
podemos investigar os níveis lingüísticos senão nos itens lexicais e, de outro, a
descrição do léxico é nada mais nada menos do que uma explicitação (idealmente
exaustiva) dos níveis lingüísticos.
Um modelo Sentido-Texto de uma língua determinada pode ser
dividido em duas partes: a componente principal do modelo, que comporta o
dicionário (DEC) e a gramática, e um conjunto de regras declarativas (cf.
POLGUÈRE, 1998, p. 17). Dito de outra forma, a TST gera um modelo formalizado
das línguas naturais, um modelo Sentido-Texto, que é um sistema de regras que
simula o comportamento lingüístico dos humanos (cf. POLGUÈRE, 1998, p. 18).
Dada a importância do componente do Modelo denominado
dicionário, cabe que o estudemos com mais vagar. Uma caracterização do DEC
tem lugar na próxima subseção.
37
1.3.2 O Dicionário Explicativo-Combinatório
1.3.2.1 Conceitos basilares
A questão que subjaz ao arcabouço teórico do componente
dicionário do modelo Sentido-Texto é: Como tratar o léxico cientificamente?.
Especificamente, o léxico é estudado, nessa abordagem, sob dois aspectos:
teoricamente, ter-se-á um estudo geral dos léxicos das línguas, viés lexicológico;
e, num sentido prático, mediante a elaboração de dicionários, viés lexicográfico.
Cabe ressaltar que, em vez de estudar o léxico teoricamente e produzir dicionários
independentemente, a meta será uma fusão destas duas empresas, ou seja, a
criação de um dicionário teórico ideal: o DEC.
Assim, seguindo Polguère (1998, p. 17), temos que, no seio da TST,
o componente do modelo denominado dicionário de uma língua é visto como o
coração do modelo desta língua:
Cela est en partie une conséquence de l'orientation sémantique de
l'approche Sens-Texte, puisque le dictionnaire est avant tout le répertoire
des significations de la langue. Il existe bien entendu des significations
non lexicale c'est-à-dire des significations grammaticales de la langue.
Mais les significations linguistiques se retrouvent pour la plupart dans
l'ensemble des significations lexicales de la langue et sont décrites dans
le dictionnaire. Le "linguiste Sens-Texte" est donc nécessairement um
lexicographe. (POLGUÈRE, 1998, p.17)
Dito de outra forma, o DEC não é um simples conjunto de palavras,
mas o repositório de informações lingüísticas dos itens lexicais.
38
Para melhor delinearmos o que seja o DEC, cabe nos voltarmos para
as principais características que Mel'čuk et al. (1984, p. 3) destaca nesse
dicionário. Segundo este autor, o DEC constitui parte integrante da descrição
teórica de uma determinada língua natural. Descrição essa que tem um
fundamento científico, lingüístico, qual seja: o modelo lingüístico Sentido-Texto.
O DEC de uma dada língua L deve fornecer ao sistema todos os
dados sobre as palavras individuais, dados indispensáveis ao seu funcionamento.
E aqui é de se ressaltar a distinção de Lakoff (1973, pp. 162-164) entre um
dicionário ordinário e um léxico teórico (= ingl. lexicon). O primeiro destina-se ao
público em geral, fazendo apelo à intuição dos locutores, e não apresenta todas as
informações sobre as palavras, mas somente aquelas que podem ser úteis aos
locutores em circunstâncias bem específicas. O segundo procura apresentar a
realidade lingüística sem levar em conta as necessidades dos locutores e visa a
listar todas as informações sobre uma dada palavra
21
.
Para Mel’čuk (1984, p. 4), o DEC é destinado a ser uma fonte
completa de informações sobre as palavras de uma dada língua, a fim de que se
possa perseguir um objetivo ideal: a construção de expressões corretas, capazes
de corresponder a todo e qualquer pensamento. Tais informações são semânticas
e combinatórias. E aqui este autor estende o sentido de combinatório tanto à
sintaxe lexical, quanto à coocorrência lexical. Esta dupla natureza da informação
(dicionarística), que deverá prestar-se à formação das expressões lingüísticas (do
39
sistema lingüístico), foi o que levou os autores do DEC a nomeá-lo dessa forma:
dicionário explicativo e combinatório. O termo explicativo radica na importância da
informação semântica (ou "explication sémantique, exhaustive e rigoureuse", nos
termos de Mel’čuk (1984, p. 4), enquanto o termo combinatório diz respeito ao
importante papel que a listagem e investigação da coocorrência lexical restrita
desempenha no âmbito desta concepção dicionarística
22
.
Os elementos que estruturam o DEC o basicamente três: o
lexema
23
(em alguns casos, o frasema
24
), o vocábulo e a lexia de base de um
vocábulo termos lingüísticos aos quais devemos dar especial atenção aqui por
adquirirem no âmbito da TLEC e do DEC sentidos bem precisos e diversos dos
usualmente empregados na tradição lexicográfica e em outras teorias
lexicológicas/lexicográficas. No contexto teórico em que estamos nos inserindo
nesta pesquisa, um lexema é uma palavra tomada em uma acepção única e bem
determinada e provida de todas as informações que caracterizam tal palavra
quando usada na acepção referida. O DEC é construído de maneira a que sempre
tenhamos uma biunivocidade entre lexema e artigo de dicionário (que não
equivale a verbete, mas, grosso modo, ao que a tradição lexicográfica chama de
21
Cabe ressaltar que Melčuk (1984, p. 4) aqui argumenta que o DEC não pode ter sua elaboração
restrita por empecilhos de ordem comercial, tipográfica, etc., como geralmente é dos dicionários
correntes.
22
Nesse sentido, estamos, nesta dissertação, mais preocupados com o aspecto explicativo do que
com o aspecto combinatório do DEC, pois a coocorrência lexical restrita não é de primeira
importância na descrição lexicográfica dos adjetivos.
23
Para Mel’čuk et al. (1995), um lexema é uma palavra tomada em uma única acepção bem
determinada e munida de todas as informações que especificam totalmente seu comportamento
em um texto [tradução nossa do original em francês] (Mel’čuk et al., 1995, p. 56).
40
acepção, ou seja, a cada uma das várias descrições lexicográficas (acepção 1, 2,
etc.)). Quando ocorre de um lexema apresentar em seu significado algum
componente não-trivial comum com outro lexema, dizemos que estes estão
diretamente ligados
25
e que tal componente comum é uma ponte semântica
26
entre os dois referidos lexemas. Para entendermos o que vem a ser vocábulo
27
nesta teoria, a noção de ponte semântica é importante, pois um vocábulo é uma
família de lexemas cujos significantes são idênticos e cujos significados são
sempre ligados diretamente. Vejamos um exemplo destes termos na prática,
aplicado-os à descrição de uma lexia de um dicionário vernacular. No caso, a
lexia
28
é estético, e o dicionário é Houaiss (2001):
24
Para Mel’čuk et al. (1995), um frasema é uma locução tomada em uma única acepção bem
determinada e munida de todas as informações que especificam totalmente seu comportamento
em um texto [tradução nossa do original em francês] (Mel’čuk et al., 1995, p. 57).
25
Para Mel’čuk et al. (1995), dois significados
(
L
1
)
e
(
L
2
)
estão diretamente ligados se estes têm
uma ponte semântica. Porém, tais significados estão indiretamente ligados se não têm ponte
semântica, mas se pode construi a cadeia
(
L
1
)
,
(
L‘
)
,
(
L‘’
)
,
(
L‘’’
)
, ... ,
(
L
2
)
, tal que, nesta cadeia,
quaisquer dois elementos estejam diretamente ligados [tradução nossa do original em francês]
(Mel’čuk et al., 1995, p. 158).
26
Para Mel’čuk et al. (1995), a ponte semântica entre duas lexias L
1
e L
2
corresponde a um
componente comum característico dos significados destas duas lexias [tradução nossa do original
em francês] (Mel’čuk et al., 1995, p. 157).
27
Um vocábulo, no âmbito da TLEC, corresponde ao conjunto de todas as lexias L
1
, L
2
, ..., L
n
que
satisfazem simultaneamente duas condições: 1. os significantes de L
1
, L
2
, ..., L
n
são idênticos.; 2.
os significados de duas lexias quaisquer do conjunto L
1
, L
2
, ..., L
n
estão semanticamente ligados
(direta ou indiretamente) (cf. MEL'ČUK et al., 1995, p. 159). O vocábulo, na TLEC é, portanto, uma
estrutura, um conjunto de artigos de dicionário, e, grosso modo, comparando o DEC aos
dicionários vernaculares, poderíamos dizer que o vocábulo está para o verbete assim como os
artigos de dicionário estão para as acepções.
28
Lexia, para Mel’čuk et al. (1995), é um lexema ou um frasema (Mel’čuk et al., 1995, p. 57).
41
estético
Acepções
adjetivo
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo
Ex.: teorias e.
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo
Ex.: <avaliação e. de uma obra de arte> <o aspecto e. de um arranjo floral>
3 que denota bom gosto; atraente
Ex.: combinação de cores pouco e.
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
Ex.: senso e.
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
Ex.: <pôs nova coroa dentária por razões e.> <cirurgia e.>
O vocábulo em questão é estético, que corresponde à família de lexemas
com significantes idênticos é [estético1, estético2, estético3, estético4 e estético5]
e com significados ligados diretamente. Uma ponte semântica entre estético1 e
estético4 é “aquilo que é belo”, que chamaremos aqui de X.
estético1: relativo à conceituação de X.
estético4: relativo à capacidade de apreciar X.
Saliente-se que dois lexemas, como estético1 e estético4, de significantes
idênticos e pertencendo a um mesmo vocábulo, estão em relação de polissemia.
Já quando houver dois lexemas de significantes idênticos, mas de vocábulos
diferentes, estamos diante de homonímia, explicada pela ausência de uma ponte
semântica.
Para entendermos o que vem a ser o terceiro dos conceitos que estruturam
o DEC, a lexia de base de um vocábulo, tomemos como exemplo as acepções 1,
2 e 5 do adjetivo elegante em Houaiss (2001):
42
elegante
Acepções
adjetivo
1 que se caracteriza pela harmonia, leveza ou naturalidade na
apresentação e nos movimentos
Ex.: <traje e.> <o manga-larga trota de modo muito e.>
2 freqüentado ou habitado por pessoas elegantes (diz-se de lugar ou
ambiente); requintado, seleto
Ex.: <salão e.> <prédio e.>
5 relativo às pessoas elegantes ou a seus atos
Ex.: <vida e.> <jantar e.>
No exemplo acima, nas acepções 2 e 5 está presente a palavra elegante.
Ou seja, as acepções 2 e 5 referem-se à acepção 1, e poderíamos bem substituir
elegante nas referidas acepções pela sua primeira definição (em negrito, no
esquema a seguir):
elegante
2 freqüentado ou habitado por pessoas que se caracterizam pela
harmonia, leveza ou naturalidade na apresentação e nos
movimentos (diz-se de lugar ou ambiente); requintado, seleto
Ex.: <salão e.> <prédio e.>
5 relativo às pessoas elegantes que se caracterizam pela harmonia,
leveza ou naturalidade na apresentação e nos movimentos ou a
seus atos
Ex.: <vida e.> <jantar e.>
Podemos, agora, citar a definição de lexia de base do vocábulo:
La lexie de base d’un vocable est une lexie L telle que les autres
lexies du vocable font directement ou indirectment référence à L alors que
L ne fait aucune référence aux auitres lexies du vocable.
No caso do exemplo que acabamos de observar, segundo a redação do
DEC, a acepção 1 de elegante seria a definição da lexia de base (elegante 1), que
43
não faz referência a nenhuma outra lexia do vocábulo, enquanto as acepções 2 e
5 corresponderiam às definições das lexias 2 e 5, que fazem referência a elegante
1, a lexia de base. Vejamos o esquema:
elegante
Acepções
adjetivo
Elegante 1 que se caracteriza pela harmonia, leveza ou naturalidade
na apresentação e nos movimentos
Ex.: <traje e.> <o manga-larga trota de modo muito e.>
Elegante 2 freqüentado ou habitado por pessoas elegantes 1 (diz-se
de lugar ou ambiente); requintado, seleto
Ex.: <salão e.> <prédio e.>
Elegante 5 relativo às pessoas elegantes 1 ou a seus atos
Ex.: <vida e.> <jantar e.>
Cabe aqui referirmos que esta numeração é de suma importância no âmbito
do DEC, pois as definições sempre remetem a sentidos específicos (de lexias
específicas). A crítica dos teóricos do DEC aos dicionaristas vernaculares aqui é
de que estes constroem suas definições/acepções utilizando palavras
polissêmicas, sem precisar qual dos sentidos que estão referindo.
Exemplifiquemos com o adjetivo harmonioso em Houaiss (2001):
harmonioso
Acepções
adjetivo
1 que tem harmonia ou que está em harmonia
Ex.: <um jardim h.> <todos os objetos se combinavam fazendo um
conjunto h. com o estilo da casa>
2 que se mostra agradável ao ouvido ou à vista
Ex.: <uma voz h.> <movimentos h.>
44
A acepção 2 de harmonioso faz referência ao adjetivo agradável, que tem a
seguinte descrição lexicográfica em Houaiss(2001):
agradável
Acepções
adjetivo de dois gêneros
1 que agrada, satisfaz
Ex.: jardim a.
2 que transmite prazer, deleite; prazenteiro
Ex.: momentos a.
3 que demonstra delicadeza, afabilidade; cortês
Ex.: maneiras a.
4 que satisfaz ou dá prazer aos sentidos
Ex.: <odor a.> <sabor a.>
substantivo masculino
5 aquilo que dá prazer, satisfação
Ex.: unir o útil ao a.
Como podemos saber qual das acepções de agradável está sendo referida
em harmonioso 2? O sentido de agradável em “agradável ao ouvido” parece estar
ligado à acepção 1 (“que agrada, que satisfaz”), mas poderia também ser
substituível pelo sentido da acepção 3 (“que demonstra delicadeza”). Certamente
a acepção 4 está ligada a este mesmo sentido, pois o que é “agradável ao ouvido”
deve “satisfazer ou dar prazer aos sentidos”, uma vez que a audição (ouvido) é um
dos sentidos.
Podemos depreender da análise destes exemplos que a TLEC aplicada à
concepção do DEC define critérios de redação lexicográfica baseando-se em
conceitos lexicológicos bem definidos, como os que acabamos de observar lexia
de base, vocábulo, lexema, frasema, ponte semântica –, que garantem precisão
das descrições lexicográficas.
Tendo visto a caracterização geral da TST, da TLEC e do DEC, voltemos
nosso olhar agora para a caracterização dos adjetivos no DEC.
45
1.3.2.2 Caraterização dos adjetivos no DEC
No DEC, contabilizando as quatro publicações que compõem este
dicionário até o presente (MEL’ČUK et al., 1984, 1988, 1992, 1999), constam 510
vocábulos franceses, com 1.583 definições lexicais, segundo Altman e Polguère
(ALTMAN, POLGUÈRE, 2003, p. 1). Deste total apenas 45 vocábulos são
classificados como adjetivais, conforme vemos no esquema abaixo:
DECFC I
29
DECFC II
30
DECFC III
31
DECFC IV
32
1. ÉTONNANT
1. COMBLE 1. À ... FAÇON 1. À L'ABRI
2. ÉTONNÉ 2. DE NEIGE 2. ALIMENTAIRE 2. À TOUT CASSER
3. MALADE 3. EN PERTE DE VITESSE
3. ANALPHABÈTE 3. ABRITÉ
4. ENSEIGNANT 4. BLEU
1
4. AVEC UN GRAND...
5. IMPAYÉ 5. CHAGRINÉ 5. BRÛLANT
6. PAYABLE 6. CORPS À CORPS 6. BRÛLÉ
7. PAYANT 7. DE ... FAÇON 7. CASSE-GUEULE
8. PAYEUR 8. EN TÊTE-À-TÊTE 8. CHANGÉ
9. SANS PRIX 9. FATIGUÉ 9. CUIT
10. SUR PIED 10. ILLETRÉ 10. EN ATTENTE
11. NOURRICIER 11. IRRÉPROCHABLE
12. NOURISSANT 12. MARAÎCHER
13. NUTRITIF 13. RISQUÉ
14. NUTRITIONNEL 14. SKIABLE
15. ROUGE 15. SÛR
16. VERT 16. SÛR DE SOI
Esquema 3 : Vocábulos Adjetivais no DEC
29
MEL’ČUK, I. A. et al. Dictionnaire explicatif et combinatoire du français contemporain.
Recherches lexico-sémantiques, vol. I Montréal, Les Presses de l 'Université de Montreal, 1984.
30
MEL’ČUK, I. A. et al. Dictionnaire explicatif et combinatoire du français contemporain.
Recherches lexico-sémantiques, vol. II. Montréal, Les Presses de l 'Université de Montreal, 1988.
31
MEL’ČUK, I. A. et al. Dictionnaire explicatif et combinatoire du français contemporain.
Recherches lexico-sémantiques, vol. III. Montréal, Les Presses de l 'Université de Montreal, 1992.
32
MEL’ČUK, I. A. et al. Dictionnaire explicatif et combinatoire du français contemporain.
Recherches lexico-sémantiques, vol. IV. Montréal, Les Presses de l 'Université de Montreal, 1999.
46
No Capítulo 4, analisaremos os adjetivos presentes em dicionários
vernaculares do português brasileiro, comparando suas descrições lexicográficas
com as descrições do DEC. Porém, aqui podemos caracterizar em linhas gerais
alguns dos problemas relacionados ao repertório adjetival selecionado para
integrar o DEC.
Primeiramente, podemos perceber que o DEC apresenta tanto frasemas
quanto lexemas como lexias de base. Listemos a seguir as definições de quatro
destes adjetivos.
ÉTONNANT, adj.
1. [X] étonnant = X qui étonne 1 [= A
1
(étonner 1)].
2. [X] étonnant = [X] qui frappe par son caractère remarquable [comme si
X était étonnant 1].
ÉTONNÉ, adj.
1. [X] étonné de Y = [X] qui s’étonne de Y [= A
1
(s’étonner)].
COMBLE, adj.
1. [Récipient rigide X] qui est comblé I.a de Y ... [une tasse comble de
sucre]
DE NEIGE, loc. adjectivale.
litt. [X] ‘de neige’ = [Une partie du corps
1
II.1a X ou le teint X] d’une belle
couleur blanche | X = teint, barbe, cheveux, peau, ... [mais pas * feuille <*
toile> de neige].
(MEL’ČUK, I. A. et al., 1984, 1988, 1992)
Podemos perceber aqui que tais adjetivos são sempre denominais ou
deverbais (e isto valerá para todas as 45 formas adjetivais listadas no DEC). Os
adjetivos étonnant, étonné e comble são definidos pelos verbos étonner e combler,
enquanto de neige é definido pela expressão d’une belle couleur blanche. Os
verbos usados nas definições referidas têm suas próprias descrições
lexicográficas no DEC, assim como o lexema nominal couleur.
47
E aqui é um ponto importante na lexicografia do DEC: toda lexia que é
utilizada numa dada definição deve, por sua vez, estar definida também no DEC.
Tal processo fará com que todas as lexias da língua sejam definidas, até se
chegar aos primitivos semânticos, lingüisticamente indefiníveis (cf. MEL’ČUK et
al., 1995, p.82).
Porém, como o DEC não está completo, ou seja, com o passar dos anos,
vão sendo descritas novas lexias a serem agregadas por isso o DEC tem sido
editado em volumes separados desde 1984 –, é forçoso compor as descrições
lexicográficas usando nas definições lexias não ainda definidas na obra em
questão. Um exemplo é justamente o de um adjetivo estético (citado acima): belle,
do qual Mel'čuk et al. (1998) se valem para definir de neige, mas que não tem
definição até a presente data no DEC.
Do repertório adjetival eleito no DEC depreende-se que os autores do
referido dicionário se esquivaram de descrever adjetivos primitivos (no sentido de
não-derivados morfologicamente), pois tais adjetivos (nos quais se inclui belo)
constituem grande desafio aos lexicógrafos tanto no que tange a seu semantismo
quanto à sua distribuição sintática. Definir adjetivos deverbais e denominais
usando como definição verbos e nomes traduz claramente certa “atitude
lexicográfica”: Mel'čuk et al., nos referidos quatro volumes do DEC, preferiram não
se comprometer com a descrição lexicográfica da classe adjetival no sentido de
classe adjetival propriamente dita –, não descrevendo adjetivos morfologicamente
primitivos, tais como rápido, grande, feio, velho, bom, sublime ou belo. Exceção foi
o caso das cores, que são adjetivos primitivos, mas aqui se recorreu ao
48
expediente de comparar a propriedade (adjetivo) à entidade mais típica que possui
tal propriedade (no caso, cor), em detrimento de uma decomposição semântica.
Um exemplo é verde (vert), definido como cujas manifestações são similares à cor
das plantas.
Vert
1
I.1a. ... dont les manifestions sont similaires à la couler (β) de l’herbe ... [la
couler verte] (MEL’ČUK, I. A. et al., 1992)
Seria belo também possível de ser definido da mesma forma que foi verde?
Comparando-o a uma entidade “tipicamente bela”? Ou bom a uma “tipicamente
boa”? Com certeza, não, pois tais são adjetivos valorativos e, portanto, dependem
mais do juízo do observador do que do objeto (entidade) observada. Porém,
mesmo em relação às cores, que parecem ter uma realidade “mais palpável” do
que os adjetivos valorativos, poderíamos contestar a “entidade típica” escolhida. O
mar em um dia ensolarado pode ser chamado de “mar com uma tonalidade
verde”, apesar de tal verde não ser similar à cor das plantas da mesma forma que
o é um verde de tonalidade mais escura.
Uma série de problemas de descrição semântica estariam envolvidos nesta
questão: uma lexia como verde-azul (descrita em Houaiss (2001)), nos termos do
DEC, seria comparada a alguma entidade pica? O problema da categorização
das cores está amplamente debatida na literatura lingüística, entre outros, em
Taylor (1995)
33
, no que tange às questões de prototipicalidade, e devem ser
33
TAYLOR, John R. Linguistic categorization: Prototypes in linguistic theory. 2nd edition.
Oxford: Clarendon Press, 1995.
49
levadas em conta pelo lexicógrafo que queira definir adjetivos de cor baseado em
noções de prototipicalidade.
Ainda em relação ao semantismo do adjetivo vert: conforme veremos
adiante, o DEC segue uma regra de decomposição semântica
34
. A fim de evitar o
recurso à definição sinonímica e para não redundar em círculos viciosos, o DEC
se pauta por sempre definir usando lexias semanticamente mais simples do que a
lexia definida, ou seja, decompõe-se o seu sentido (assim, idealmente, nunca se
teria um sinônimo como definição, pois um sinônimo não corresponde a uma lexia
semanticamente mais simples; antes, tem um sentido idêntico (ou quase
idêntico)). Como podemos interpretar, então, a definição cujas manifestações são
similares à cor das plantas? A lexia plantas com certeza não está lingüisticamente
presente no semantismo de verde. Aqui a comparação parece indicar que esta
não é uma definição lingüística, mas enciclopédica, ou extralingüística. A
impossibilidade de definir vert (verde) parece indicar que estamos diante do que
Mel’čuk et al. (1995) chamam de primitivo semântico, que é, axiomaticamente,
linguisticamente indefinível. Vejamos o que estes autores afirmam em relação a
essa questão:
...l’affirmation “Les primitifs sémantiques ne sont pas définissables”
ne doit pas être prise au sens général; ils sont indéfinissables seulement
linguistiquement, c’est-à-dire par des éléments sémantiques de la même
langue. Ainsi, le sens de ‘ne...pas’ (=négation) est en toute vraisemblance
un primitif en français: il nous semble impossible de définir le sens de
l’expression lexicale NE... PAS par d’autres expressions lexicales plus
simples du français. Pourtant, en logique, la négation est définie sans
difficulté:
34
Veremos a regra de decomposição semântica de forma mais detalhada, no Capítulo 3, quando
especificarmos as categorias analíticas de cunho léxico-semântico (subseção 3.1.3).
50
“La négation ¬ est une opération telle que si A est une proposition
vraie, alors ¬ A est une proposition fausse, et vice versa.”
C’est une définition parfaite; néanmoins elle ne peut figurer dans un
dictionnaires de français au même que les définitions formulées
antérieurement. D’autres définitions dépassant le cadre linguistique
pourraient être cellle de ‘eau’ comme ‘H
2
O’, de ‘lumière’ comme ‘ondes
électromagnétiques ayant une fréquence données’, celle de ‘chat’ comme
felis felis’, etc. De telles définitions se rapportent à la chose dénotée,
cést-à-dire au réferent, et non pas au sens du signe linguistique.
(MEL’ČUK et al., 1995, p. 83)
Assim, vert estaria no mesmo grupo de primitivos semânticos indefiníveis
que alberga ne... pas, H
2
O, e lumière? Se assim o é, vert não deveria constar no
DEC, pois, como vimos acima, tal tipo de descrição não lingüística 1) ultrapassa o
lingüístico (o DEC deve, por definição, abrigar definições lingüísticas) e 2) não
pode aparecer lado a lado com as outras definições, que são lingüísticas (devido
ao princípio de coerência interna
35
).
Temos aqui um paradoxo a ser investigado nesta dissertação, pois os
adjetivos estéticos, como as cores e outros adjetivos primitivos estariam entre o
definível e o indefinível. Esta dissertação deverá posicionar-se em relação a esta
questão, quando da análise dos dados, momento em que deveremos refletir
acerca da descrição semântica dos referidos adjetivos.
Uma vez observada a caracterização dos adjetivos no DEC, voltemos
nosso olhar agora para a natureza do léxico que estudaremos nesta dissertação, a
fim de que certifiquemos que o estudo dos adjetivos estéticos constitui matéria
afeta à lexicografia.
35
Principe de traitement uniforme: Dans un DEC, les descriptions des lexies sémantiquement liées
sont réalisées strictement de la même façon. (MEL’ČUK et al., 1995, p. 40)
51
1.4 O tratamento do léxico da estética: um estudo lexicográfico
Detenhamo-nos agora na natureza dos adjetivos que estamos para analisar
nesta dissertação: o léxico da linguagem estética. Primeiramente, devemos
ressaltar que não faremos nessa dissertação uma discussão acerca do estatuto
terminológico dos vocábulos estéticos. Para tal, teríamos de investigar em que
medida os vocábulos filosóficos são palavras (no sentido de unidades lexicais da
língua comum
36
) ou termos (no sentido de unidades lexicais de uma linguagem de
especialidade, no caso, da linguagem filosófica e/ou estética). Uma vez que a
nossa análise se dará em dicionários do português brasileiro, ou seja, em obras
lexicográficas da língua geral, estamos aqui tomando os vocábulos estéticos como
pertencentes à língua comum, e não a nenhuma linguagem de especialidade.
Vejamos mais detalhadamente por que tomamos essa posição.
Cabe aqui ressaltar um aspecto da discussão sobre a relação Filosofia e
linguagem comum que demonstra que a linguagem filosófica não constitui uma
36
Entendemos aqui língua comum, ngua geral e linguagens de especialidade (terminologias), no
sentido proposto por Cabré (1993): “La lengua general (la langue tout entière”), en términos de
Kocourek), que compreende tanto las variedades marcadas como las no marcadas, puede
considerar como un conjunto de conjuntos, imbricados e interrelacionados desde muchos puntos
de vista. El nexo común a todos los conjuntos es la lengua común. Cada uno de los subconjuntos
puede ser una lengua especializada. Esa es, en resumen, la aproximación s lingüística a los
lenguajes de especialidad.” (CABRÉ, 1993, p. 129)
52
terminologia propriamente dita como terminologias científicas. Neste sentido, o
filósofo Josef Pieper diz:
E é precisamente esta diferença [entre língua de especialidade e
linguagem filosófica] que pretendo examinar a fim de esclarecer o que me
parece ser a differentia specifica, o sinal distintivo da linguagem filosófica
em contraposição à linguagem da ciência.
Certamente, ambas são linguagem. Atrever-me-ia, porém, a
designar a linguagem da ciência mais como “terminologia”, que consiste
em “termos”; enquanto o filósofo usa uma linguagem real, não-artificial,
que não é constituída de termos, mas de palavras. (PIEPER, 1987, apud
LAUAND, 1990, p.09)
Disso podemos depreender que, enquanto em terminologia muitos termos
são cunhados especificamente para as necessidades de denominação dos
especialistas de uma determinada área do conhecimento, no âmbito da Filosofia,
visto que seu objeto de estudo são os conceitos universais, tais como política,
amor, beleza, verdade, ética, arte, ciência, os termos relativos a tais conceitos não
são propriamente termos, pois são “de domínio público”. A tarefa do filósofo é
tratar dos conceitos/palavras que toda a comunidade humana partilha, enquanto a
tarefa do cientista/técnico é tratar de conceitos/termos de uma comunidade
específica, a comunidade dos especialistas.
Podemos esclarecer melhor esta questão comparando as noções de
definição terminológica (WÜSTER,1998, p. 50)
37
e de definição lexicográfica:
enquanto a definição terminológica estaria fadada a delimitar conceitos
pertencentes a um domínio específico, a definição lexicográfica estabeleceria a
relação lingüística (semântica) entre um definiendum e um definiens, equivalendo,
53
assim, a uma equação semântica. Nesse sentido, vejamos a discussão de Lara
(2004) acerca da concepção wüsteriana de definição terminológica, ligada à noção
de conceito, como distinta da concepção de definição lexicográfica, ligada à noção
de significado.
A definição terminológica (ou terminográfica) descreve, delimita e
distingue os conceitos e também concorda com a concepção wüsteriana
de unidade terminológica enquanto “símbolo convencional que
representa uma noção definida num certo domínio fundador” (Wüster,
citado por Desmet, 1990, p. 6). Como a definição aristotélica, a definição
terminológica implica a demarcação de um limite.
As terminologias seriam, desse modo, sistemas definicionais que
refletem a organização estruturada e delimitada de domínios específicos.
A definição terminológica é classificadora, hierarquizante, estruturante;
relaciona-se à definição da coisa, ao contrário da definição lexicográfica
que se relaciona à palavra e é feita pela identificação de traços
semânticos que caracterizam o significado. O significado é lingüístico; o
conceito é terminológico.
A definição terminológica busca definir o conceito, e não um
significado, estabelecendo um jogo de conceito a conceito que determina
as relações que os unem. A unidade de sentido visada na definição
terminológica é o conceito ou noção, que difere substancialmente do
significado. O significado mantém um laço de indissociabilidade com o
significante. O conceito, não, é uma unidade muito mais livre (Desmet,
1990) que se delimita no domínio. (LARA, 2004)
Se a noção de terminologia (e de definição terminológica) apenas se
cingem à descrição de conceitos de domínios específicos, ou seja, à descrição
das linguagens científicas e tecnológicas, estaria excluída a linguagem filosófica,
que está mais próxima da linguagem comum do que das ciências.
De fato, o léxico da Estética, sobretudo no que toca à sua semântica, tem
sido estudado profundamente desde a Antigüidade Clássica, porém, na maioria
dos casos, não por lexicólogos ou lingüistas, mas pelos filósofos que se dedicaram
37
WÜSTER, E. Introducción a la teoría general de la terminología y a la lexicografía terminológica.
Barcelona: IULA, 1998.
54
(e dedicam-se) à Filosofia da Arte e à estética. Lyons (1979) discorrendo sobre os
estudos semânticos, diz:
...o que em geral se denomina o 'problema do significado' pode ser de
interesse igual, se não maior, para a Filosofia, a Lógica e a Psicologia, e
talvez também para outras disciplinas como a Antropologia e a
Sociologia. Os filósofos, especialmente, sempre se interessaram pelo
significado, uma vez que ele está necessariamente envolvido em
questões filosóficas vitais e notoriamente controvertidas, tais como a
natureza da verdade, o status de conceitos universais, o problema do
conhecimento e a análise da "realidade". (LYONS, 1979, p. 426)
No que tange ao "status de conceitos universais", entre outros, estão os
conceitos estéticos. Ou seja, a tradição filosófica nos conferiu um vasto legado
acerca da linguagem sobre a arte e o estético, uma vez que muito do pensar
filosófico é um pensar sobre a linguagem: “o que é o belo?" e "o que é beleza?”
confundem-se com “o que significa belo?” ou com “o que acontece para que eu
diga que um objeto é belo?” Poderíamos bem afirmar que é impossível que possa
haver uma estética que se exima de forma absoluta de pensar o papel do
lingüístico, da importância da denominação: a história da estética é uma história
do léxico estético, mais precisamente, das definições e interpretações dos termos
estéticos, tais como, o Belo, o Sublime, o gosto, a emoção estética, o juízo
estético. Segundo o esteta Dabney Townsend (1997), “em meados do século XX,
considerou-se que o estudo da linguagem era a via mais direta na análise dos
conceitos e questões filosóficas. Alguns resultados dessa tendência tiveram
grande relevo para a estética...” (p. 37). Acrescenta ainda este autor em relação
ao problema da definição estética, que
55
a problemática que se desenvolve em torno das definições de arte e dos
termos críticos ganhou especial destaque quando, em meados do século
XX, a análise lingüística se tornou dominante na filosofia anglo-
americana. Se compreender a linguagem era a chave para a
compreensão dos conceitos, as definições claras constituiriam uma das
formas para entender a linguagem
38
.
Townsend (1997) cita muitos estudiosos que trataram da questão da
linguagem estética
39
, mostrando que esta é um ponto-chave na pesquisa em
estética na atualidade.
Com certeza, a discussão do status terminológico ou lexicológico do léxico
da Filosofia extrapolaria os objetivos desta dissertação. Assim, tomaremos como
posto, para fins de análise, que o léxico aqui estudado consiste em um campo
temático, um subconjunto lexical, do léxico comum, assim como o são a Geologia,
a História, a Física, entre outras disciplinas cujos itens lexicais são, a um
tempo, termos quando em obras/discursos terminológicos e palavras quando em
obras/discursos da língua geral.
O objetivo deste capítulo foi o de localizar o presente estudo no âmbito dos
estudos lexicais, bem como precisar o estatuto lexicográfico do estudo do léxico
estético. Como vimos, o referencial teórico desta pesquisa está centrado na Teoria
Lexicológica Explicativo-Combinatória. Vimos que as teorias lexicológicas povoam
o imaginário dos lingüistas quando se trata de descrever os léxicos das línguas
38
Townsend (1997, p. 56).
39
Entre outros, Sibley (1963), com o importante trabalho sobre predicados estéticos intitulado
"Aesthetic Concepts"; também sobre predicados estéticos, Hungerland (1963), com "The Logic of
Aesthetic Concepts", bem como Urmson (1957), com "What Makes a Situation Aesthetic?", e Ziff
(1958); em relação à problemática da definição, Ziff (1953), com "The Task of Defining a Work of
Art", bem como Davies (1991), com "Definitions of Art"; Mark Johnson (1981), que escreveu uma
antologia sobre a questão da relação descrição estética e metáfora; e Danto (1964), com "The
Artworld", que se preocupou com o modo como a linguagem cria possibilidades teóricas através do
seu uso (TOWNSEND,1997, pp. 72-74).
56
naturais, de acordo com o que salientamos na seção 1.1. Perguntamo-nos sobre o
desenvolvimento das teorias lexicográficas no âmbito dos estudos lingüísticos e
constatamos que tais estudos não existem de forma sistemática, na seção 1.2.
Cada lexicógrafo elege um conjunto de procedimentos para sua prática
lexicográfica. Tais procedimentos nem de longe constituem uma teoria. Assim, são
poucas as opções para uma análise do fazer lexicográfico baseado em teorias
lexicográficas. Uma das mais importantes delas é, sem dúvida, a TST aplicada ao
DEC.
Na seção 1.3, vimos que através do detalhamento da TLEC, que a
lexicologia e a lexicografia podem andar de mãos dadas, através de uma teoria
lexicológica que integre essas disciplinas. Essa teoria, conhecida como
Explicativo-Combinatória, tem como base a Teoria e o Modelo Sentido-Texto,
conforme observamos na subseção 1.3.1, e centra-se na elaboração do Dicionário
Explicativo-Combinatório, conforme visto na subseção 1.3.2.
Na seção 1.4, precisamos nosso posicionamento em relação à discussão
entre a natureza lexicográfica ou terminológica do léxico da estética, assumindo
que este léxico, quando observado a partir do língua comum, consiste num campo
temático.
Feita a caracterização da localização do problema desta investigação,
especificado o ponto de vista teórico que perseguiremos nesta dissertação e
pontuado o léxico a que nos dedicaremos, passemos a investigar em mais detalhe
o objeto do presente estudo: vejamos os adjetivos (estéticos) em sua
caracterização sintático-semântica e especificidades lexicográficas.
2 O ESTATUTO LEXICOLÓGICO/LEXICOGRÁFICO DOS ADJETIVOS
No presente capítulo, apresentaremos uma discussão teórica acerca do
objeto que estamos por investigar: os adjetivos estéticos. Voltaremos nossa
atenção primeiramente para os problemas que, em linhas gerais, estão vinculados
à descrição lexicográfica adjetival (seção 2.1). Na segunda parte do capítulo
(seção 2.2), será apresentada uma caracterização das propriedades dos adjetivos
em relação às questões: a) dos adjetivos como classe de palavra (subseção
2.2.1); e b) da descrição sintático-semântica dos adjetivos (subseção 2.2.2). Tais
tópicos serão abordados não só em relação aos adjetivos em geral como também
em relação aos adjetivos estéticos (seção 2.3).
2.1 Problemas da definição lexicográfica dos adjetivos
A presente investigação parte de um problema geral os adjetivos são
passíveis de serem descritos lexicograficamente? e de um problema específico
os adjetivos estéticos são passíveis de serem descritos lexicograficamente?
Uma vez que os dicionários vernaculares vêm se dedicando muito tempo a
descrever o léxico do português brasileiro de forma extensiva, buscando recobrir
58
todas as classes de palavras, é consabido que é possível a descrição lexicográfica
tanto dos adjetivos em geral quanto dos adjetivos estéticos. Porém, conforme
observaremos a seguir, alguns problemas estão envolvidos no tipo de descrição
que os dicionários vernaculares adotam. Vejamos que problemas são esses.
As obras lexicográficas vernaculares não apresentam definições
propriamente ditas para os adjetivos. A definição tradicional pressupõe a
decomposição da semântica lexical de uma dada entrada em genus et
differentiam, ou seja, em superordenado imediato mais diferença específica. Mas
como determinar hipônimos e hiperônimos para os adjetivos? Qual seria o
superordenado de grande? Poderíamos dizer que veloz seja um sinônimo de
rápido? Podemos determinar quais são os hipônimos de absurdo? A saída que os
lexicógrafos encontram é definir o adjetivo em função do nome quando este é
denominal, em função do verbo quando é deverbal e, nos casos em que não é
nem denominal nem deverbal (como belo), a definição é sinonímica, muitas vezes
criando redes sinonímicas que são puramente tautológicas: belo = lindo, sendo
que lindo = formoso, e, por sua vez, formoso = belo, o que prova que belo = belo.
Definições lexicográficas baseadas na sinonímia, por redundarem em tautologias
ou em círculos viciosos, sempre foram evitadas pelos lexicógrafos, que, porém
frente ao enigma dos adjetivos, acabam incorporando-as a seus dicionários. Além
da tautologia e do círculo vicioso, outro desafio com que um lexicógrafo se
depara ao optar pela definição sinonímica: qual sinônimo usar? Vejamos os
seguintes exemplos tomados de Houaiss (2001):
59
belo
lindo
especioso
formoso, belo, atraente, delicado, gentil
formoso
perfeito, puro, belo
lindo
belo, formoso, bonito, vistoso
Observando o quadro acima, vemos que belo é sinônimo de lindo, porém
lindo o é sinônimo de belo. Para especioso, formoso e lindo, consta belo como
sinônimo, mas apenas lindo consta na entrada belo, não tendo sido especioso e
formoso incluídos na referida entrada. Por outro lado, formoso é sinônimo de puro
e perfeito, porém estes não são sinônimos de belo, especioso ou lindo. Seriam, ao
cabo, todos sinônimos entre si? Se assim o é, as definições não estão a definir
nada. Entretanto, se apenas alguns sinônimos devem ser atribuídos aos verbetes,
quais são? E quais são os critérios e limites para esta rede sinonímica?
Observemos a seguir uma das redes sinonímicas que podemos elaborar a partir
do verbete belo, em Houaiss (2001):
(1)
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ATRATIVO ATRAENTE BELO
Podemos observar que, em primeiro lugar, tal rede é tautológica, porque
nos ensina que belo é belo. Também podemos perceber que atraente é definido
também como atrativo, ou seja, temos um círculo vicioso: belo = atrativo =
atraente = atrativo = atraente = atrativo. Além disso, se entendermos que cada
item da cadeia é definido por outros tantos sinônimos, a cadeia completa seria
uma rede de tautologias e círculos viciosos múltiplos:
60
(2)
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE REQUINTADO APRIMORADO SOFISTICADO FINO
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE REQUINTADO APRIMORADO SOFISTICADO REQUINTADO (. . .)
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE REQUINTADO DELICADO
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE APURADO REQUINTADO
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE APURADO DELICADO
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE APURADO ELEGANTE (. . .)
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE CORRETO (. . .)
BELO LINDO FORMOSO PERFEITO ELEGANTE FINO
BELO LINDO FORMOSO PURO
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ESTÉTICO ATRAENTE AGRADÁVEL
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ESTÉTICO ATRAENTE ATRATIVO ATRAENTE (. . . )
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ESTÉTICO ATRAENTE BELO
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ESTÉTICO ATRAENTE VISTOSO AGRADÁVEL
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL AGRADÁVEL
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL AMENO AGRADÁVEL
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL AMENO DELEITOSO DELEITANTE DELEITOSO (. . .)
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL AMENO APRAZÍVEL (. . .)
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ATRATIVO ATRAENTE AGRADÁVEL
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ATRATIVO ATRAENTE ATRATIVO (. . .)
BELO LINDO FORMOSO APRAZÍVEL ATRATIVO ATRAENTE BELO
Se a sinonímia é a única opção, restaria perguntarmo-nos de que maneira
usá-la para definir os adjetivos de forma a se evitar a tautologia. Certamente, este
não o caminho para a proposição das definições de adjetivos ou de qualquer outra
classe gramatical.
Um outro expediente utilizado pelos lexicógrafos é definir os adjetivos pela
antonímia, arranjando os adjetivos em bipolos antonímicos: forte fraco, grande
pequeno, cheio vazio.
40
Porém, acreditamos que seja essa uma opção muito
40
Um tipo de pesquisa que privilegia o uso da antonímia para a definição adjetival é a que resulta
na construção de redes semânticas do tipo wordnets.
61
perigosa, pois desconsidera a polissemia dos itens lexicais. Por exemplo, belo em
(3) pode ser antônimo de feio em (4):
(3) Para mim o seu rosto é belo.
(4) Para mim o seu rosto é feio.
Porém, feio não seria um antônimo apropriado para belo em (5) – (9):
(5) Recebe mensalmente um belo salário.
(6) Num belo dia, apareceu à minha porta.
(7) Ele ocupa agora um belo cargo.
(8) Talvez tenha sido aquele o mais belo período de nossas vidas.
(9) Com aquele belo professor, foi fácil aprender a matéria.
Em relação a (6), poderíamos nos perguntar se seria possível algum
antônimo para este sentido de belo? Certamente os adjetivos de (10) (13) são
mais adequados que feio como antônimos de belo em cada um dos enunciados:
(10) Recebe mensalmente um ínfimo salário.
(11) Ele ocupa agora um cargo desimportante.
(12) Talvez tenha sido aquele o pior período de nossas vidas.
(13) Com aquele professor fraco, foi difícil aprender a matéria.
Porém poderíamos ter escolhido outros antônimos, como:
(14) Recebe mensalmente um pequeno salário.
(15) Ele ocupa agora um cargo insignificante.
(16) Talvez tenha sido aquele o mais infeliz período de nossas vidas.
(17) Com aquele péssimo professor, foi difícil aprender a matéria.
Ou seja, da mesma forma que é difícil estabelecer critérios para elencar
sinônimos, é-o para eleger antônimos. O problema inicial desdobra-se, então, em
que relações lexicais devem integrar as definições adjetivais?
62
A partir dos exemplos (3) (17), podemos perceber outro importante dado
na definição adjetival: a posição que o adjetivo ocupa em relação ao nome parece
influir na sua semântica. No par “uma tesoura bela” / ”uma bela tesoura”, o adjetivo
bela apresenta um sentido estético quando aposto à esquerda do nome tesoura e
um sentido não-estético quando aposto à direita de tesoura. Isso está-nos a
indicar que a configuração sintática de um dado adjetivo es diretamente
relacionada ao conteúdo semântico – e tal importante característica deve ser
levada em conta quando da descrição lexicográfica dos adjetivos.
Sintetizando o que observamos até agora, a descrição lexicográfica dos
adjetivos apresenta problemas para os lexicógrafos nos seguintes aspectos:
1) Na microestrutura (conteúdo lexicográfico da entrada lexical), em relação
à:
a) descrição semântica (definição), exemplificada acima na questão das
redes tautológicas encontradas nas definições;
b) descrição sintática, exemplificada acima na questão da posição do
adjetivo em relação ao nome (nos pares nome + adjetivo e adjetivo +
nome), bem como pelo fato de a sua contraparte semântica não
estar explícita na descrição lexicográfica.
2) Na macroestrutura (relação entre as entradas lexicais), em relação, quanto
à organização dos adjetivos estéticos em campo semântico e lexical
(sobretudo, no que toca às redes sinonímicas / aos círculos viciosos).
Conforme observado, é realmente possível descrever lexicograficamente os
adjetivos em geral e os adjetivos estéticos. Porém, a tradição lexicográfica legou-
63
nos algumas questões a serem respondidas se quisermos tratar a descrição
lexicográfica de forma científica, e tais questões são da ordem da descrição
semântica, da descrição sintática e da macroestrutura dicionarística. Podemos
agora refinar a indagação que correspondia ao problema geral do nosso trabalho,
rescrevendo-a assim: como deveríamos descrever lexicograficamente os adjetivos
(e, em especial, os adjetivos estéticos) se quisermos que tal descrição tenha uma
base científica?
Tendo identificado os problemas do tipo de descrição lexicográfica com que
estamos nos preocupando, passemos à caracterização lexical dos adjetivos,
sobretudo no que toca ao seu status de classe de palavra e à sua descrição
sintático-semântica. Verifiquemos também se os adjetivos estéticos apresentam
configurações específicas para estas questões.
2.2 A caracterização dos adjetivos
2.2.1 Adjetivo: uma classe universal?
Começaremos a caracterização da classe adjetival citando uma
controvérsia que se instaurou no âmbito da Ciência da Linguagem acerca do
status de classe dos adjetivos, sobretudo com o desenvolvimento da pesquisa
tipológica. Dixon (1982), entre outros lingüistas que se dedicam à pesquisa das
categorias translingüísticas (universais), apresenta uma vasta pesquisa acerca da
64
classe adjetival em várias línguas
41
. Importante destacar desse trabalho é o fato
que muitas línguas apresentam um repertório muito exíguo de adjetivos (por
exemplo, a língua igbo apresenta tão-somente oito adjetivos
42
) e que tais
repertórios diminutos apresentam os mesmos tipos semânticos
43
de adjetivos
44
Outros autores (entre eles, Kim (2002), em relação ao coreano) vão mais além do
que Dixon (2004), argumentando que línguas em que não existe a categoria
adjetival, sendo a função adjetival desempenhada pelos verbos (e em alguns
casos pelos nomes):
...Korean lacks the syntactic category of Adjective. I claim that what have
been traditionally analyzed as adjectives (Cf. Choy 1971; Sohn 1999) are
in fact stative verbs. (KIM, 2002, p. 1).
41
Como o trabalho de Dixon (2004) é direcionado para a tipologia adjetival translingüística, sua
abordagem sempre enfatiza a comparação entre os repertórios lexicais entre as diversas línguas,
não para cotejá-los numa perspectiva qualitativa (semântica, sintática, morfológica, etc.), mas
também numa perspectiva quantitativa, quanto ao número de itens lexicais que uma dada língua
apresenta numa determinada classe de palavra. Em relação aos adjetivos, temos, segundo Dixon
(2004, pp. 5-6), todas as possibilidades de extensão do repertório: desde línguas tais como
coreano, que é tido como que desprovido de adjetivos, passando pelo igbo, cujo conjunto de
adjetivos é extremamente restrito (8 itens), até chegarmos em línguas, tais como as neolatinas ou
o inglês, nas quais a classe adjetival é, a um tempo, uma classe numerosa e aberta, ou seja,
receptiva à criação lexical.
42
Dixon (2004), citando seu trabalho intitulado "Where have all the adjectives gone?" (1977a,
revisado em 1982), toma os exemplos da língua igbo para ilustrar as classes adjetivais de pequeno
porte. O repertório adjetival de igbo consiste em quatro pares antonímicos, correspondentes aos
quatro tipos semânticos básicos, que expusemos acima:
DIMENSÃO
:
ukwu "grande" / nta "pequeno";
IDADE
:
ohuru "novo" / ocye "velho";
VALOR
:
oma "bom" / ojoo "mau";
COR
:
ojii "preto, escuro"/ oca
"branco, claro".
43
Dixon (2004, 5) especifica quatro tipos semânticos básicos de adjetivos (que valem para todas
as línguas) e três complementares (que apenas línguas com um vasto repertório adjetival
possuem): 1) dimensão ("grande", etc.); 2) idade ("velho", etc.); 3) valor ("bom", etc.); 4) cor
("vermelho", etc.). A tipologia de Dixon (2004, 5-6) para os complementares é como segue: 5)
propriedade física: ("duro", "macio", etc.); 6) propensão humana ("ciumento", "feliz", etc.)
velocidade: ("rápido", etc.). Dixon (2004, 8) acresce à tipologia semântica que citamos acima mais
algumas classificações: 1) dificuldade: ("fácil", "árduo", etc.); 2) similitude: ("semelhante",
"diferente", etc.); 3) qualificação ("definitivo", "verdadeiro", etc.); 4) quantificação (todo (inteiro)",
"muitos", etc.); 5) posição ("alto", "distante", etc.); 6) números cardinais, bem como "primeiro",
"último" e demais números ordinais.
44
Os adjetivos estéticos constituiriam uma subclasse dos adjetivos de valor, conforme a
classificação de Dixon (2004, p. 5).
65
Luque Durán (2001), ao tecer explanação acerca do estudo das classes de
palavras, também aponta para o fato de que os adjetivos não estão presentes em
todas as línguas:
...un punto de partida del estudio de las clases de palabras [...]
aceptación general de que la diferencia entre nombres y verbos es la más
importante dentro de las distinciones clasales. Si uma lengua tiene sólo
dos clases ‘abiertas’, estas corresponderán normalmente a una clase
verbal y a otra nominal, mientras que otras clases como los adjetivos
serán asimiladas a una subclase de aquellas dos. (LUQUE DURÁN, p.
462)
Por outro lado, Dixon (2004) dirá que, apesar de ter afirmado (DIXON,
1982) que algumas línguas "carecem" de uma classe adjetival propriamente dita,
há critérios para se determinar a classe adjetival em todas as línguas – a tarefa do
reconhecimento da classe adjetival sendo mais árdua (mas não impossível) do
que a do reconhecimento do nome ou do verbo:
I here put forward the idea that, just as all languages have
distinguishable classes of noun and verb, so all languages have a
distinguishable adjective class. However adjective class differs from noun
and verb classes in varying ways in different languages, which can make
it a more difficult class to recognise, and a more difficult class to put
forward generalisations about. (DIXON, 2004, pp. 15-16)
Ou seja, a discussão sobre a natureza da classe adjetival é de cunho,
praticamente, ontológico. Adjetivos constituem classe gramatical universal, isto é,
se realizam como classe em todas as línguas naturais?
Trazemos ao nosso trabalho essa discussão por o podermos deixar de
citar o debate quanto à natureza translingüística (ou não) da classe adjetival,
porém não precisamos tomar aqui uma posição, visto que os adjetivos que
estaremos tratando formam definitivamente uma classe. Estamos diante do léxico
do português brasileiro, que, como as demais línguas neolatinas, apresentam os
66
adjetivos como uma de suas classes basilares, por ser esta, além dos nomes e
dos verbos, uma classe aberta de palavras.
Porém, tal discussão serve-nos no sentido de atentarmos para o fato de
que os adjetivos, mesmo quando são classes abertas (como no português),
parecem ter evoluído de nomes ou verbos em um estágio primitivo da língua, por
isso a “confusão” que se estabelece entre essas classes no estágio atual.
Provas evidentes da relação adjetivo/verbo em português são:
1) Os particípios.
2) O fato de que os adjetivos ocupam posições predicativas (ou seja, são
passíveis de atuarem como predicados, assim como os verbos).
3) Uma parte substancial do léxico adjetival é deverbal: geralmente são
deverbais os adjetivos terminados em –nte (oriundos da forma verbal
latina particípio presente): interessante, fervente, pertencente,
corrente, saltitante, etc.; terminados em –vel ou -il: amável, agradável,
sensível, impraticável, volúvel, abominável, plausível, contábil, dúctil,
servil; os terminados em –dor: criador, inspirador, destruidor, gastador,
tapeador, etc.
Provas evidentes da relação adjetivo/nome:
1) O nome pode adjetivar-se: ele é muito criança”, “uma concentração
monstro”, “com seu jeito machão”, “uma idéia burra”, etc.
2) O adjetivo pode nominalizar-se: o malandro, o jovem, o francês, o ruivo,
o velho, o cobrador, o tratante, o imbecil, etc.
67
3) Grande parte do léxico adjetival é denominal: geralmente são
denominais os terminados em -al: cabal, mental, radical, normal,
especial; os terminados em oso: consciencioso, jeitoso, gostoso,
corajoso, carinhoso, cremoso, odioso, gracioso, rancoroso, etc.; os
terminados em nto: sedento, faminto, suculento, nojento, ciumento,
gosmento, lamacento; os terminados em ar/ário: partidário, acionário,
horário, beneficiário, binário, dentário, judiciário, fazendário, legendário,
documentário, nuclear, auxiliar, milenar, elementar, molecular, celular
linear, estelar, familiar, etc.; os terminados em –ico: adônico, métrico,
alcoólico, lotérico, lunático, mágico, metálico, dramático, românico,
rítmico, etc.
A classe adjetival “independentizou-se” como classe no português, mas
está visceralmente ligada aos nomes e aos verbos. O repertório de adjetivos
primitivos é diminuto (feliz, bom, alegre, belo, entre poucos outros), e um estudo
diacrônico certamente apontaria que em num estágio remotíssimo tais itens
lexicais primitivos são, na verdade, derivados de nomes ou verbos.
45
Assim, muito
45
Como exemplo, podemos citar o caso das cores em português: temos exemplos claros de
adjetivos de cores que nascem a partir de nomes: cor-de-rosa (cor de uma flor), cor de laranja (cor
de uma fruta), cor-de-carne, cor de abóbora, cor de cacom leite, marrom (cor de uma castanha),
bem como cinza, argila, violeta, telha, pêssego, chocolate, mostarda, gelo, etc. Em princípio, os
adjetivos tais como azul, vermelho ou verde seriam primitivos e não-denominais. Sincronicamente
com certeza. Porém, se os observarmos diacronicamente, revelar-se-á sua origem nominal.
Origem esta cujo processo de denominação é muito semelhante ao da seqüência laranja (fruta)
cor de laranja (cor da fruta) laranja (cor): vermelho advém do nome verme (cor da substância
que um determinado verme produz), azul (cor do lápis-lazúli), púrpura (o nome púrpura significa
substância corante extraída dos moluscos), a cor ocre vem do nome ocra (tipo de terra fina que
contém argila e óxido de ferro hidratado), gre vem de granada (nome de um mineral), bordô é a
cor do vinho Bordeaux, acaju é a cor de um tipo de mogno chamado acaju, turquesa também é o
nome de um mineral, etc. Tal processo de formação lexical dos adjetivos é chamado de
lexicalização secundária por Luque Durán: “Las lenguas obtienen las designaciones de las
68
do trabalho do estudioso do adjetivo é determinar de que forma este é distinto das
demais classes.
Di Felippo (2004) pontua a diferenciação entre adjetivo e verbo:
Uma questão que aqui se coloca é: haveria classificações
universais operando sobre os itens de toda e qualquer língua? No sentido
de contribuir com a hipótese de que a estrutura de base das línguas é
universal, Lakoff (1970), Lyons (1979) e outros gerativistas procuraram
demonstrar que adjetivos e verbos não são constituintes distintos e sim
pertencentes à mesma classe, cuja etiqueta seria verbo. [...] Lyons
destaca [...] o fato de que nguas, como o chinês, em que o que se
entende por adjetivo em nossa tradição gramatical corresponde a um
grupo de verbos estativos. [...] nguas como o chinês evidenciam o
relativismo dos processos classificatórios. No português, inclusive, o
adjetivo exerce, assim como o verbo, a função predicativa, como em O
homem é alto. No entanto, esse paralelismo de comportamento
gramatical não justifica colocar adjetivos e verbos em uma mesma classe,
pois o fato de muitos adjetivos ocorrerem no português em função
predicativa, comportando-se, portanto, como verbos, não significa que o
mesmo ocorra com todos os adjetivos e seus empregos (p. ex.: reforma
tributária/*a reforma é tributária). Além disso, os adjetivos não
compartilham com os verbos a propriedade de expressar, por meio de
flexões, categorias como tempo, modo... (DI FELIPPO, 2004, p. 33-34)
Esta distinção de Di Felippo entre verbos e adjetivos no português brasileiro
também deve ser marcada no que se refere ao substantivo. Este também muitas
vezes é confundido com o adjetivo e, na tradição gramatical, foram inclusive
entendidos como que pertencentes a uma mesma classe, a dos nomes.
No que se refere à determinação da classe adjetival está sempre em jogo o
estabelecimento de critérios para distinguir os adjetivos dos verbos e dos
substantivos. É clássica nos estudos tipológicos acerca dos adjetivos citar a
classificação de Givón (RASKIN & NIRENBURG, 1995, p. 7), que situou os
adjetivos num ponto intermediário entre os nomes e os verbos. De acordo com
cualidades extrayéndolas de aquellos objetos que s tipicamente las poseen.” (LUQUE DURÁN,
69
esta escala, nomes correspondem a entidades estáveis no decurso temporal,
verbos correspondem a entidades instáveis e adjetivos estão justamente no meio,
correspondendo tanto a entidades mais estáveis no tempo (como os nomes)
quanto a entidades menos estáveis (como os verbos). Porém a esta classificação,
Luque Durán (2001) acresce a de Wierzbicka:
La distinción entre sustantivo y adjetivo se debe a que los
sustantivos agrupan conceptos que no pueden reducirse a
combinaciones de rasgos [...] los sustantivos nombran un tipo y los
adjetivos una propiedad. Los sustantivos designan realidades cuyas
propiedades y características conocemos no a través del lenguaje sino a
través de la experiencia directa; es decir, no se trata de significados
formunacionales sino de significados referenciales. Normalmente los
sustantivos transmiten una imagen que trasciende todos los posibles
rasgos enumerables. (LUQUE DURÁN, 2001, p. 473)
Aqui cabe ressaltar essa diferenciação estabelecida por Wierzbicka, que se
baseia nos seguintes princípios, sintetizados por Durán (2001):
SUBSTANTIVOS
46
ADJETIVOS
1 Conjunto de propriedades Uma só (ou poucas) propriedades
2 Classe (tipo) propriedade
Fonte: LUQUE DURÁN, 2001, p. 474
Conforme podemos observar no esquema acima, a diferença fundamental
entre o adjetivo e o substantivo é da ordem da complexidade conceptual (LUQUE
DURÁN, 2001, p. 474), pois os substantivos reúnem um grande número de
propriedades (ainda que seu significado não possa vir a ser decomposto em todas
essas propriedades), e os adjetivos centram-se em apenas uma propriedade (e
2001, p. 476).
46
Tradução do autor (do original em espanhol).
70
não em outra). E como proceder para analisar por este critério de distinção
quando temos, como no caso do português, substantivos que se adjetivizam e
adjetivos que se substantivam, conforme atesta Basílio (2004)
47
? A explicação
radica no fato de que, segundo Luque Durán (2001, p. 473), quando os
substantivos se adjetivizam, uma redução de suas propriedades, extraindo-se
um dos traços prototípicos do substantivo para que este valha como adjetivo
(propriedade). Podemos exemplificar em português com o seguinte exemplo:
(18) Não seja palhaço.
O substantivo palhaço aqui valendo como adjetivo não abarca todas as
propriedades do substantivo palhaço, exaltando tão-somente o traço "merecedor
de escárnio". O adjetivo, ao contrário, não "ganha" mais traços quando se
substantiviza, mas incrementa seu valor intensional em detrimento de sua
extensão, tendo seu âmbito de aplicação restringido.
Nesta subseção, pudemos observar que o status dos adjetivos como classe
universal é contestado por alguns teóricos, e que, em línguas em que os adjetivos
formam uma classe aberta, devemos ter critérios que os distingam das demais
classes maiores de palavras, sobretudo dos nomes e dos verbos, no caso do
português.
47
Conforme Basilio, as gramáticas escolares definem o substantivo e o adjetivo como duas classes
de palavras distintas. Apesar dessa distinção, entretanto, muitas vezes dúvida na análise de
casos específicos. Isso acontece porque, em parte, o critério predominante de definição nas
gramáticas semântico para o substantivo e sintático para o adjetivo não é o mesmo para as
71
Explicitada a caracterização dos adjetivos enquanto classe, vejamos a sua
caracterização sintático-semântica.
2.2.2 Semântica e sintaxe adjetivais
Como pudemos observar na subseção precedente, os adjetivos têm um
lugar sui generis na história da Ciência da Linguagem. A sua caracterização
sintático-semântica é, tal qual o seu status de classe, entendida de variadas
formas. Tal multiplicidade de olhares deve-se, no caso da descrição sintático-
semântica, aos diversos lugares teóricos de onde os estudiosos dos adjetivos os
observaram. Atentemos às palavras de Móia (1992) sobre essa não-
homogeneinadade das classificações dos adjetivos na literatura lingüística:
O comportamento semântico das expressões que se agrupam sob
a designação de tradicional de adjectivos está – como frequentemente se
tem feito notar longe de ser homogéneo. Com vista a dar conta da
diversidade de comportamentos dentro desta classe tradicional de
palavras, têm surgido na literatura diferentes propostas de classificação,
mais ou menos complexas, em que se distinguem várias classes e
subclasses de adjectivos. (MÓIA, 1992, 1)
Nossa intenção é a de pensarmos a descrição lexicográfica dos adjetivos,
portanto um estudo comparado das várias classificações dos adjetivos extrapolaria
os objetivos desta dissertação. Como devemos ter um parâmetro classificatório
para adentrarmos a semântica e a sintaxe dos adjetivos, a fim de que tenhamos
informações de ordem sintático-semântica a embasarem a organização lexical dos
duas classes. Além disso, mecanismos de mútua conversão entre as duas classes, assim como
72
adjetivos estéticos e para que possamos identificar que papéis (semântico e
sintático) desempenham os adjetivos estéticos no universo dos adjetivos em geral,
elegeremos uma classificação que norteará nossa pesquisa. Evidentemente não
estamos negando que haja outras classificações e descrições
48
, apenas estamos
assumindo um ponto de vista teórico, que será o de Móia (1992) e Keenan e Faltz
(1980)
49
. Tal abordagem teórica considera como critérios de classificação adjetival
a denotação, o tipo lógico e a distribuição sintática. A nomenclatura de tais classes
na literatura apresenta-se muito diversificada, sendo os adjetivos classificados
pelos teóricos como termos que muitas vezes se confundem ou se sobrepõem
50
.
Antes de entrarmos no detalhamento da sintaxe e da semântica adjetivais,
cabe ressaltar que não discorreremos acerca da caracterização morfossintática
dos adjetivos, pelos seguintes motivos:
1) a classificação morfossintática (marcas de gênero, de número e de
grau) dos adjetivos tem sido objeto de estudo da tradição
gramatical do português brasileiro, bem como objeto de descrição
a possibilidade de extensão de propriedades de uma classe para outra. (BASILIO, 2004, p. 79)
48
Raskin e Nirenburg (1995) sintetizam as modernas abordagens teóricas dos adjetivos,
asseverando que a pesquisa sobre as classes nominal e verbal é vasta e sobrepuja a referente a
seus modificadores, adjetivos e advérbios, sendo a sintaxe e a semântica adjetivais podem ser
caracterizadas através de duas vertentes teóricas, que considera que os adjetivos modificam os
nomes e que, normalmente, denotam propriedades das coisas denotadas pelos nomes. Para estes
autores, o cerne de toda discussão acerca de sintaxe e semântica adjetivais é a distinção entre os
adjetivos predicativos e os não-predicativos, que também pode ser entendida como a distinção
entre adjetivos qualitativos (escalares, graduáveis) e relacionais (não-escalares, não graduáveis),
ainda que exista uma classe de adjetivos mistos, relacionais/qualitativos.
49
Justifiquemos por que não tomamos também para a descrição dos adjetivos os parâmetros
teóricos da TLEC: não há até o momento, no seio desta teoria, um estudo aprofundado das
classes de palavra no que concerne à sua caracterização lingüística nem no que toca à relação
classe de palavra / descrição lexicográfica.
50
Para um estudo comparativo das mais importantes abordagens de cunho classificatório dos
adjetivos, ver Raskin e Nirenburg (1995).
73
dos estudos lingüísticos do último século e, portanto, está descrita
de forma extensa na literatura lingüística do português;
2) a caracterização morfológica dos adjetivos não está diretamente
ligada a questões lexicográficas: gênero, número e grau não
influenciam diretamente na microestrutura descrição semântica
(definição) ou sintática –, nem na macroestrutura;
3) na TLEC, a descrição morfológica das lexias e as marcas de uso
não foram objeto de um estudo mais aprofundado no âmbito do
DEC, segundo Mel'čuk et al. (1995, p.71).
Explicitado o papel que a morfologia desempenha no DEC e no nosso
trabalho (já que a TLEC constitui nosso referencial teórico), passemos, então, à
descrição sintático-semântica dos adjetivos.
Móia (1992) atenta para duas questões que estão envolvidas nas
classificações dos adjetivos:
1. a questão conceptual, ou seja, como estabelecer uma definição sintático-
semântica para cada classe de adjetivo;
2. a questão de identificação: o problema aqui é fazer corresponder as
propriedades sintático-semânticas observadas em um dado adjetivo a uma
determinada categoria (como acontece com qualquer tipo de classificação
teórica, nem sempre os dados empíricos correspondem exatamente à divisão
classificatória). Mais especificamente, quais testes seriam válidos para
determinar a classificação correta de um dado adjetivo em um tipo semântico-
sintático?)
74
Tais questões desdobram-se em outros problemas:
1) de natureza semântica: a) Qual tipo de denotação tem relação com as classes
de adjetivos? b) Quais propriedades inferenciais estão relacionadas a cada
uma das classes adjetivais? (Os testes inferenciais são válidos para a
identificação das classes?)
2) de natureza sintática: Quais as propriedades distribucionais das classes de
adjetivo? (Quais testes sintáticos podem determinar a identificação de um
adjetivo com uma dada classe?)
Em síntese, podemos perceber que a classificação adjetival orbita em torno
de três conceitos: denotação, tipo lógico e distribuição sintática.
Keenan e Faltz (1980) (apud MÓIA, 1992, p. 1) apresentam uma tipologia
que classificam o universo dos adjetivos tendo como base a extensão
denotacional. A partir de tipos (semânticos) denotacionais de adjetivos são
observadas as suas distribuições sintáticas, a fim de que se delineie qual tipo
sintático (distribucional) está associado com cada tipo denotacional. Tomamos
esta classificação por adequar-se ao tipo de descrição lexicográfica que estamos
observando nesta dissertação: o DEC estabelece que a pesquisa lexicográfica não
pode prescindir de duas zonas de descrição– a semântica e a sintática –, portanto,
devemos eleger uma teoria que estabeleça um paralelo entre os tipos semânticos
e os tipos sintáticos adjetivais.
As expressões adjetivais são classificadas, na tipologia de base
denotacional de Keenan e Faltz (1980) (apud MÓIA, 1992) segundo traços
75
subcategorizadores
51
. Entre estes, encontramos o traço [± intersectivo], que é o
mais relevante para o caso dos adjetivos estéticos, sendo, portanto o traço
classificatório em que concentraremos nossa atenção. Vejamos a seguir um
quadro adaptado de Móia (1992, p. 2):
Traço:
[± inters.]
1. chinês
+
2. minúsculo
3. habilidoso
4. falso
5. presumível
Esquema 4: Traços Subcategorizadores dos Adjetivos
Adaptado de: Móia (1992, p. 2)
Tomemos como exemplo o adjetivo belo e apliquemos o teste
52
de base
inferencial que garanta que o adjetivo em questão pertence à classe dos
intersectivos.
(19) Adjetivos intersectivos
O Paulo é um médico belo. O Paulo é um escritor. Logo, o Paulo é um
escritor belo.
51
Móia (1992) apresenta quatro traços subcategorizares (com valores binários), que classificam os
adjetivos em diferentes classes semânticas (cujo critério é a extensão denotacional): os traços são
[± intersectivo], [± transparente], [± restritivo] e [± anti-restritivo]. Apesar de tais traços gerarem
cinco classes semânticas, como estaremos observando apenas o traço [± intersectivo], as classes
semânticas (denotacionais) que veremos serão a dos adjetivos intersectivos e a dos adjetivos não-
intersectivos. Tal abordagem justifica-se no fato de ser a distinção entre a denotação intersectiva e
a não-intersectiva a mais importante para o caso dos adjetivos estéticos. Indicamos aqui a
possibilidade de um trabalho futuro, que vise à descrição lexicográfica de outros adjetivos que não
os do campo semântico da Estética e que leve em conta as demais classes semânticas referidas
em Móia (1992).
52
O referido teste inferencial é citado por Móia (1992).
76
Para entendermos o porquê do nome desse traço (dessa categoria), cabe
citarmos a explanação de Boleda (2003, pp. 5-6): a classe adjetival pode ser
comparada, para fins de classificação semântica (denotacional), à classe verbal: a
denotação de um adjetivo corresponderia ao conjunto de entidades às quais se
pode aplicar a descrição do referido adjetivo. A denotação de belo, dessa forma,
seria o conjunto de coisas que são belas, do mesmo modo que a denotação de
"caminhar" seria o conjunto das entidades que caminham. Os adjetivos
intersectivos restringem a denotação dos nomes comuns, selecionando do
conjunto que denota cada nome um dado subconjunto. Donde se deduz que, no
exemplo acima, "médico belo” corresponde ao subconjunto dos médicos que são
belos, ou seja, a restrição do adjetivo "belo" (digamos, conjunto B) sobre o
conjunto denotado por "médico" (digamos, conjunto M) corresponde a uma
"intersecção" (como na teoria dos conjuntos) entre os dois predicados: MB = M
B, ou, escrevendo de outra forma (nos termos de Montague (1973 apud Móia
(1992)): médico belo λx [ médico’ (x) belo’ (x)].
Um exemplo de adjetivo não-intersectivo é habilidoso (MÓIA, 1992, p. 5):
(20) Adjetivos não-intersectivos:
O Paulo é um médico habilidoso. O Paulo é um político. *Logo, o Paulo é
um político habilidoso.
Na verdade, podemos perceber que, para haver intersecção neste caso,
deveríamos ter o conjunto das coisas (pessoas) habilidosas. Porém, tal conjunto
não existe em absoluto: alguém é sempre habilidoso em relação a alguma coisa.
77
Em relação aos adjetivos intersectivos versus os adjetivos não-intersectivos
(chinês versus baixo, habilidoso, falso e presumível), Móia (2004, p. 5) aponta que
divergência entre os teóricos: alguns separam estes dois tipos de adjetivos,
dizendo que têm denotação e distribuição sintática distintas e que pertencem a
tipos lógicos diferentes, enquanto outros preferem entendê-los como pertencentes
a um mesmo tipo de denotação e a um mesmo tipo lógico, sem diferenças
também em relação à distribuição sintática. Alguns estudiosos, segundo Móia
(1992, p. 5), aceitam
53
que a divisão intersectivo/não-intersectivo esteja ligada a
propriedades sintático-semânticas dos adjetivos, sendo que seria "a classe
tradicional dos adjectivos, em boa verdade, uma etiqueta que designa duas
realidades sintáctico-semânticas diferentes" (MÓIA, 1992, p. 5). Móia (1992)
definirá intersectivo como o tipo o de adjetivo que corresponde a:
...um predicado unitário, sendo uma expressão que extensionalmente, ou
numa lógica intensional que adopte o sistema simplificado de Bennet (cf.
DOWTY, WALL 7 PETERS 81, p. 188), denota um conjunto de indivíduos
ou uma função característica de um conjunto de indivíduos, pertencendo,
pois, ao tipo lógico (e, t). De um ponto de vista sintático, trata-se de uma
expressão da categoria F/SN, isto é, uma expressão que se combina com
um sintagma nominal (SN) para formar uma frase (F). (MÓIA, 1992, p. 5)
No tocante à sintaxe dos adjetivos intersectivos, há duas situações: 1)
posição atributiva, como em médico chinês e 2) posição à direita de um verbo
copulativo, tradicionalmente chamada de predicativa, como em o médico que é
chinês (ressaltemos que outros teóricos classificam os adjetivos sintático-
semanticamente como adjetivos predicativos e não-predicativos
54
).
53
Defendida por Siegel (1976) e Dowty, Walll e Peters (1981) (MÓIA, 1992, p. 5).
54
Sobretudo Levi (193, 1975, 1978), segundo Raskin e Nirenburg (1995, p.11).
78
Em relação à posição atributiva, a sua denotação equivalerá,
extensionalmente, à intersecção de dois conjuntos denotados por cada um dos
predicados isoladamente. Siegel (1976) (apud MÓIA, 1992, p. 6) entende que a
situação em que um adjetivo ocorre em posição atributiva é derivada de estruturas
nominais com relativas em que houve uma supressão do morfema relativo e do
verbo copulativo (denominada pela autora de regra (transformacional) t///e
adjective fronting rule)
55
: CN
1
{that, which, who} be ADJ t///e CN
1
2
(MÓIA, 1992, p.
6).
De acordo com essa regra, médico chinês adviria de médico que é chinês.
para os adjetivos em posição predicativa, a caracterização de tal tipo
adjetival não gera problema algum, pois não teria necessidade da regra acima por
já estar na configuração de relativa + predicação.
Móia (1992, p. 6), ao explanar sobre os adjetivos não-intersectivos, indica
que estes se diferenciam denotacionalmente dos intersectivos pela sua extensão,
sendo funções de conjuntos de indivíduos para conjuntos de indivíduos e,
sintaticamente, por serem expressões que se combinam com nomes comuns (CN)
para formar novos nomes comuns (tipo CN/CN): um exemplo é o adjetivo
competente
56
. Analisando-se médico competente (competente em posição
atributiva), a denotação é diversa daquela dos adjetivos intersectivos no sentido
de que não se trata aqui de um conjunto resultante da intersecção de dois outros
conjuntos (nome + adjetivo). Tal configuração advém do fato de que não existem
55
"CN" significa "common noun", nome comum.
79
entidades competentes (ou altas, ou belas, ou grandes, ou ricas) em absoluto.
Competência (ou altura, ou beleza, ou grandeza ou riqueza) é uma propriedade
sempre relativa a alguma outra propriedade: ser competente tem uma denotação
diferente para cada nome: o "competente" em pai competente é diferente do
"competente" de marido competente, ou chefe competente, ou ator competente,
ou trabalho competente, da mesma forma que, em elefante pequeno e formiga
pequena, o adjetivo "pequeno" é relativo aos tamanhos de elefante e formiga.
Comparando estes dois tipos de adjetivos no que tange às suas
denotações, em termos de lógica de predicados (MONTAGUE, 1973, apud MÓIA,
1992, p. 5-7), teríamos:
Adjetivos intersectivos: médico chinês λ x [ médico' (x) ^ chinês' (x) ]
Adjetivos não-intersectivos: médico competente λ x [ competente' (médico') ]
Podemos depreender da explanação acima que os adjetivos não-
intersectivos, nesta abordagem, têm como distribuição sintática default estar
modificando um nome (posição atributiva). Porém, como se explicaria a sua
possibilidade de estar em posição predicativa? Ou seja, por exemplo, em este
médico é competente, o adjetivo competente não está modificando nenhum nome,
não está sintaticamente contíguo a nenhum sintagma nominal. Tal problema está
relacionado à questão de serem os adjetivos não-intersectivos expressões da
categoria CN/CN, fato que faz com que seja obrigatório que tais adjetivos estejam
sempre combinados com expressões CN. Tal problema gerou a proposta de que
56
Podemos comparar o exemplo de ia (1992, p. 6) com o adjetivo belo, pois ambos são o-
intersectivos.
80
este tipo de frase é derivada mediante apagamento do nome que estaria
(teoricamente) adjunto ao adjetivo. A regra transformacional em comento é a
dummy CN deletion rule (SIEGEL, 12976, p. 54, apud MÓIA, 1992, p. 7), que é
assim formalizada: be a [ADJ]
CN/CN
CN be [ADJ]
CN/CN
. Aqui, [ADJ]
CN/CN
corresponde a um adjetivo não-intersectivo.
Em síntese, a visão de que adjetivos intersectivos e não-intersectivos
apresentam propriedades semânticas distintas pressupõe a existência de duas
regras sintáticas específicas, a saber: uma regra do tipo "simplificação de relativa",
para dar conta dos casos em que os adjetivos intersectivos ocorrem em posição
atributiva, e uma regra do tipo "apagamento de nome", para os casos em que
adjetivos não-intersectivos ocorrem em posição predicativa. Para as demais
possibilidades, a regra é de aplicação funcional direta. O esquema abaixo,
formulado por Móia (1992), sintetiza as regras sintáticas em relação à distribuição
sintática e às classes semânticas (denotacionais):
ADJECTIVOS
INTERSECTIVOS
ADJECTIVOS NÃO-
INTERSECTIVOS
Posição
atributiva
Regra de simplificação de
relativa
Aplicação direta
Posição
predicativa
Aplicação direta
(+ verbo copulativo)
Regra de apagamento de nome
Esquema 5: Regras Sintáticas ( MÓIA, 1992, p. 7)
Com relação à questão da descrição das propriedades distribucionais dos
adjetivos intersectivos e não-intersectivos, o que está em jogo é a existência (ou
não-existência) de contextos específicos de alguma destas classes que possam
funcionar como um meio seguro para a sua identificação (MÓIA, 1992, p. 11-15):
81
[No que tange às] propriedades distribucionais de adjectivos
intersectivos e não-intersectivos, verifica-se que, como afirmámos,
inicialmente, apesar de existirem algumas particularidades distribucionais
nas duas classesque são, sem dúvida, interessantes e sintomáticas da
existência de diferenças entre elas não parecem existir testes de base
sintáctica seguros para distinguir adjectivos intersectivos de adjectivos
não-intersectivos. Assim sendo, ficam-nos como instrumentos mais ou
menos seguros de identificação os testes baseados nas propriedades
inferenciais dos adjectivos. (MÓIA, 1992, p. 15)
Tendo caracterizado, a partir do ponto de vista de Móia (1992), como
as propriedades denotacionais, inferenciais e sintáticas interagem na
caracterização dos adjetivos nas classes intersectiva e não-intersectiva, ainda no
que se refere à descrição sintático-semântica, vejamos, na próxima seção, se
propriedades que sejam específicas dos adjetivos estéticos.
2.3 As especificidades dos adjetivos estéticos
Voltemos nosso olhar agora para a natureza do léxico que estamos
pesquisando, buscando verificar em que medida os adjetivos estéticos
apresentam especifidades de caracterização como classe adjetival e no que se
refere à sua natureza sintático-semântica
No que toca à questão das classes de palavra, como vimos anteriormente,
os adjetivos estéticos correspondem a uma subclasse dos adjetivos de valor, na
qual se incluem, por exemplo, os adjetivos bom, mau, belo, feio, correto. Conforme
os estudos acerca dos adjetivos como classe de palavra (DIXON, 1982, 2004), os
adjetivos de valor são uma classe universal, no sentido de translingüística: se uma
82
dada ngua tiver uma classe adjetival, esta disporá de adjetivos de valor, ainda
que o repertório de exemplares adjetivais seja muito exíguo.
Como dissemos na subseção 2.2.1, os adjetivos como classe surgem na
história das línguas após os nomes e verbos, processo de formação lexical
denominado de lexicalização secundária por alguns autores (LUQUE DURÁN,
2001, p. 476). Devemos nos questionar como se deu tal processo no caso dos
adjetivos estéticos, pois tal fator talvez venha a influenciar na caracterização
sintático-semântica destes adjetivos. Tomemos como exemplo três adjetivos
estéticos: belo , sublime e elegante.
Conforme Houaiss (2001), a lexia belo forma-se a partir do latino bellus
57
,
que, por sua vez, forma-se a partir de bonus acrescido de um sufixo de diminutivo
(bonus + ellus < *bonellus < bellus). Ou seja, na sua origem, o conteúdo
semântico de belo corresponderia a algo como bonzinho”. Interessante notar que
este é um processo que se repete em relação à lexia bonito
58
, que também nasce
do sentido de “bonzinho”.
sublime não nasce de outro adjetivo, mas de um nome, ligado à noção
de lintel, conforme nos ensina Barbas (2002):
1. Das origens do termo Sublime
O termo sublime tem as suas raízes na Antiguidade.
Etimologicamente vem do latim sublimis, composto de sub-limen: «o que
está suspenso na arquitrave da porta» (lat. limes), o lintel entre duas
colunas (O.E.D.). É pois um termo que, nas suas origens, se encontra
directamente ligado à arquitectura, tendo o sentido imediato de elevado,
de algo que esacima da cabeça do homem. Será a tradução latina do
57
Etimologia: lat. bellus,a,um 'belo, bela, bonito, bonita', cog. de bom; ver bon-; f.hist. sXIII belo,
sXIII bel, sXIII bello (HOUAISS, 2001).
58
Etimologia: prov. esp. bonito 'bonito, lindo', dim. de bueno por um processo semântico paralelo
ao do lat. bellus 'lindo', orign. dim. de bonus,a,um... (HOUAISS, 2001)
83
termo To Hupsos, o elevado, que se define por oposição a Tapelinotes
(humilia oratio) [1] enquanto um dos géneros do discurso. Assim, o
Sublime surge directamente relacionado com a terminologia da retórica, é
o genus grande, grave ou... sublime, que se caracteriza pelo tipo de
linguagem elaborada, de ornato vigoroso, patético. A sua função é
comover: é o local onde domina o pathos o grau mais violento dos
afectos, mais indicado para promover o impulso que conduz à acção...
Por sua vez, elegante advém do verbo eleger. Ou seja, aquele que é
elegante sabe eleger, sabe bem escolher.
Desta brevíssima incursão à etimologia dos adjetivos estéticos, podemos
atestar que, se os adjetivos como classe se originam por um processo de
lexicalização secundária em relação aos nomes e verbos, os adjetivos estéticos se
formam da mesma maneira, porém com uma diferença: os adjetivos estéticos
nascem não de nomes e verbos, mas também de outros adjetivos (como é o
caso de belo). Abusando do termo de Luque Durán (2001, p. 476), poderíamos
dizer que este seria o caso de um lexicalização terciária. Parece não ter existido,
em estágios primitivos das línguas, adjetivos puramente estéticos, tendo estes
sido criados mediante processo metafórico a partir de outros adjetivos, nomes e
verbos.
E a metáfora continua a ser a ferramenta mais importante de
formação/criação lexical para os adjetivos estéticos. Por exemplo, avaliando
esteticamente um dado objeto X, temos o recurso de traduzir o sentido de belo por
adjetivos/nomes relacionados a determinadas características de X, tais como
tamanho (metáfora: X é grande = X é belo ou X é pequeno = X é belo), altura
(metáfora: X é alto = X é belo), luminosidade (metáfora: X é luminoso = X é belo),
84
proporção (metáfora: X é proporcionado = X é belo) ou destaque (metáfora: X
destaca-se = X é belo). Vejamos alguns exemplos:
X é grande = X é belo
(21) Esta é uma grande pintura.
(22) Esta é uma música magnífica.
(23) Esta é uma composição colossal.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: monumental,
catedralesco, gigantesco, magnificente, pujante, imponente, lauto.
X é pequeno = X é belo
(24) Foi um refinado gesto de nobreza.
(25) Trata-se de jóias finas.
(26) Ela tem um delicado rosto.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: esbelto, grácil,
delgado, ligeiro, sutil.
X é luminoso = X é belo
(27) Um esplêndido amanhecer.
(28) Uma paisagem esplendorosa.
(29) Um sorriso luminoso.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: aluziado, claro,
deslumbrador, deslumbrante, deslumbrativo, esplandecente, esplendente,
flamante, fulgente, fúlgido, fulgurante, irradiante, luminoso, lustroso, luzeiro,
luzente, luzidio, polido, radioso, refulgente, reluzente, resplandecente,
resplendente, rutilante, rútilo, translumbrante.
85
X é alto = X é belo
(30) Um texto sublime.
(31) Uma obra de arte soberba.
(32) A augusta escultura.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: alteroso, alto, celso,
excelente, excelso, sobreeminente, subido, sumo, superior, supino.
X é proporcionado = X é belo
(33) Uma voz harmoniosa.
(34) Seu corpo proporcionado.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: bem-composto,
bem-conformado, harmônico, harmonioso, proporcional, proporcionado, sintônico.
X destaca-se = X é belo.
(35) Uma obra de arte invulgar.
(36) Uma composição excelente.
(37) Música excelsa.
Outras lexias deste tipo que são usadas esteticamente: bizarro, destacado,
distinto, egrégio, exímio, extraordinário, insigne, proeminente, etc.
O processo metafórico pode dar-se por comparação com outras
características de X, como, por exemplo, as seguintes:
(38) o divinal (angélico, divino, celestino, celestial, deífico, etc.);
(39) extranatural (extraordinário, fádico, seráfico, mágico, maravilhoso,
miraculoso, preternatural, fantástico, inaudito, etc.)
(40) o nobre (nobre, glorioso, emérito, heróico, etc.);
(41) o artístico (praxiteliano, pitoresco, escultural, epopéico, etc.);
(42) o prazeroso (delicioso, deleitante, gostoso, agradável, adorável, etc.);
(43) o visual (vistoso, mirífico, etc.);
(44) o admirável (admirável, estupendo, pasmoso, surpreendente, etc.);
(45) o perfeito (perfeito, pindérico, exato, absoluto, etc.);
86
(46) o completo (completo, cabal, pleno, total, acabado, etc.);
(47) o puro (puro, apurado, limpo, esmerado, etc.);
(48) o valioso (caro, valioso, suntuoso, ostentoso, aparatoso, luxuoso, etc.);
Os adjetivos estéticos, enquanto classe, têm, portanto, características bem
específicas quanto à formação lexical, e tal fato apresenta uma contraparte
lexicográfica, no sentido de que a estrutura dos artigos de dicionário apresentará
uma determinada arquitetura em função da descrição semântica de um dado
adjetivo. Assim, os conceitos de campo semântico, descrição semântica e
identificador de campo semântico estarão intimamente ligados à formação lexical
dos adjetivos estéticos. Os referidos conceitos serão abordados no Capítulo 3, e a
referida análise da relação formação lexical / descrição lexicográfica caberá ao
Capítulo 4.
Tendo observado os adjetivos estéticos no que tange à classe palavra e à
formação lexical, vejamos se há, no que tange aos adjetivos estéticos,
especificidades em relação à descrição sintático-semântica.
Dixon (2004, pp. 7-8) discute o exemplo do francês um homme curieux / um
curieux homme, a fim de descrever a característica da mudança semântica
decorrente da posição sintática do adjetivo adnominal. Este autor, porém, deixa de
especificar que tal fenômeno sintático-semântico é comum às línguas neolatinas.
Assim, cabe trazermos à discussão nesta subseção reservada à descrição
sintático-semântica dos adjetivos o referido processo.
Amaro (2002) dedica seu estudo à investigação do comportamento sintático
de seis adjetivos que sofrem esta mudança semântica (velho, alto, mau, rico,
pobre e grande). Abaixo, citamos os exemplos de Amaro (2002), nos quais a
87
autora compara as duas possíveis leituras dos semantismos dos referidos
adjetivos.
1. amigo velho / velho amigo
2. funcionário alto / alto funcionário
3. cão de guarda mau / mau cão de guarda
4. pai rico / rico pai
5. homem pobre / pobre homem
6. homem grande / grande homem
(AMARO, 2002, p. 2)
Podemos observar inicialmente que todos esses adjetivos são do tipo não-
intersectivo, conforme a classificação que vimos de analisar na subseção anterior.
Segundo Amaro (2002):
O adjectivo adnominal em português pode surgir na posição pré-
nominal ou pós-nominal. A posição relativa ao nome não acarreta, na
maioria dos casos, mudança de significado.
[...]
A escolha da posição do adjectivo relativamente ao nome que
modifica é descrita tradicionalmente como directamente ligada a um valor
objectivo (posposição) ou subjectivo (anteposição) [...] Esta idéia é
aprofundada, por exemplo, em Demonte (1999), onde a autora descreve
os adjectivos pós-nominais como expressões que se unem a extensões
(nomes comuns) para configurar novas extensões (novos nomes
comuns), e os adjetivos pré-nominais como funções que actuam sobre a
referência sem que a sua aplicação afecte a extensão do nome
modificado. (AMARO, 2002, p. 3)
Dessa análise de Amaro (2002), podemos concluir que um mesmo adjetivo
pode ter uma leitura intersectiva e uma leitura não-intersectiva. Porém, como a
própria Amaro salienta (2002, p. 3), a correspondência sintaxe/semântica não é
assim tão simples nos adjetivos: as denotações intersectiva/não-intersectiva não
correspondem necessariamente sempre às posições pré- e pós-nominais. Para
exemplificação, tomemos um adjetivo estético que foi alvo de extensas discussões
teóricas acerca dessa dupla leitura:
88
Olga é uma bela dançarina.
(SIEGEL 976
a, b, 1979 apud Raskin e Nirenburg (1995, pp. 13-14))
A ambigüidade de beautiful (bela) pode ser assim analisada:
(49) Olga is a beautiful dancer.
(50) Olga is beautiful and Olga is a dancer.
(51) Olga is beautiful as a dancer (dances beautifully).
Nestes exemplos, temos dois sentidos para o exemplo (49): o intersectivo,
exemplo (50) e não-intersectivo, exemplo (51). Da mesma forma que no "caso de
Olga", exemplos outros adjetivos estético mostrarão que, conforme a distribuição
sintática do adjetivo em relação ao nome a que aquele se refere, haverá uma
interpretação diferente. Vejamos alguns exemplos abaixo:
(52) um bela coleção (=uma coleção numerosa)
(53) uma coleção bela (= uma coleção bonita, uma coleção de objetos belos)
(54) um lindo projeto (= um projeto bom, bem executado)
(55) um projeto lindo (= projeto bonito, bem acabado esteticamente)
(56) um formoso cantor (= um cantor esplêndido, talentoso)
(57) um cantor formoso (= cantor de grande beleza física)
(58) um magnífico jantar (= um jantar suntuoso, fastuoso)
(59) um jantar magnífico (= um jantar preparado com esmero, um jantar bom)
Cabe ressaltar que, conforme vemos nos exemplos, a anteposição é
marcada pela denotação não-intersectiva, porém, não temos garantia de
exclusividade de tal denotação na referida posição sintática, pois, mesmo na
anteposição, há a possibilidade de uma dupla leitura (intersectivo/não-
intersectivo): bela coleção pode ser tanto uma coleção numerosa quanto uma
coleção bonita. Já a posição de posposição é preferencialmente reservada à
89
leitura intersectiva
59
, pois não podemos ter o adjetivo belo em posição posposta
nos exemplos abaixo:
(60) *Recebeu uma herança bela.
(61) *Está num emprego belo.
(62) *Fez um negócio belo.
O que deve ser ressaltado, nesses exemplos, é que os semantismos de
belo não remetem à estética, ou seja, belo aqui não é um adjetivo estético. Se o
fosse, poderia ocupar ambas as posições, como, por exemplo, em:
(63) Um belo casaco. / Um casaco belo.
(64) Uma bela paisagem. / Uma paisagem bela.
(65) Um belo texto. / Um texto belo.
Vemos, então, que, é de suma importância para a descrição lexicográfica
sabermos, em relação a adjetivos tais como belo, sublime e lindo, que quando a
descrição semântica destes remeter a um sentido estético, teremos uma
distribuição sintática antepositiva e pospositiva, e quando seus semantismos
forem não-estéticos, teremos apenas a possibilidade da anteposição. Tal
especificidade dos adjetivos estéticos deverá ser avaliada nos dicionários
vernaculares que viermos a estudar nesta dissertação.
Neste capítulo nossa atenção esteve concentrada nos adjetivos, tanto na
sua caracterização como classe de palavra quanto na sua caracterização
semântica e sintática. Vimos que há problemas recorrentes para a descrição
59
E esta é uma das provas da inexistência de critérios distribucionais (sintáticos) que garantam
com certeza absoluta que um determinado adjetivo, por ocupar esta ou aquela posição sintática,
90
lexicográfica dos adjetivos, sobretudo no que tange ao recurso à sinonímia como
elemento definitório. Observamos, também, uma caracterização da classe
adjetival, que levou em conta a discussão entre os teóricos do estatuto de classe
(universal) dos adjetivos nas línguas. Tal caracterização também se voltou à
descrição semântica e sintática dos adjetivos, quando foi observado que os
adjetivos podem ser submetidos a uma classificação baseada na sua denotação, e
que os tipos denotacionais estão ligados a diferentes distribuições sintáticas.
Fechamos nossa discussão refletindo acerca das especificidades dos adjetivos
estéticos, mostrando que, enquanto classe, tais adjetivos formaram-se mediante
um processo metafórico. A descrição sintático-semântica dos adjetivos estéticos
também foi aqui contemplada, ao apontarmos que há uma característica inerente
a estes adjetivos de assumirem apenas diversas distribuições sintáticas, conforme
se aproximam ou se distanciam de seu sentido tipicamente estético.
Tendo visto até aqui uma explicitação do referencial teórico (no Capítulo 1)
e uma caracterização do objeto desta dissertação, voltemos nosso olhar, no
próximo capítulo, ao planejamento metodológico que seguiremos para executar a
análise, mostrando quais categorias analíticas servirão de ferramenta ao estudo
analítico, bem como apresentando a seleção dos dados lexicográficos (adjetivais)
sobre os quais incidirão a análise.
seja pertence a esta ou aquela classe semântica, conforme vimos acima na explanação de Móia
(1992, p. 15).
91
Passemos, então, ao planejamento metodológico.
3 PLANEJAMENTO METODOLÓGICO
Neste capítulo apresentaremos o planejamento metodológico desta
dissertação. Primeiramente, veremos os princípios metodológicos (na seção 3.1)
adotados nesta pesquisa, sendo expostas as categorias analíticas – a serem
aplicadas aos dados quando da análise (do Capítulo 4) – de ordem microestrutural
(seção 3.2), nos vieses léxico-semântico (subseção 3.2.1) e léxico-sintático
(subseção 3.2.2), e de ordem macroestrutural (seção 3.3). Na segunda metade do
capítulo, terá espaço a seleção dos dados (na seção 3.4), quando explicitaremos a
fonte (subseção 3.4.1), os critérios para a recolha (subseção 3.4.2) e a
organização (subseção 3.2.3) dos dados.
3.1 Pesquisa metalexicográfica: alguns princípios metodológicos
Como já dissemos, o estudo lexicográfico, por via de regra, não é
executado segundo o formato hipotético-dedutivo, mas sim segundo o indutivo.
Estudos lexicográficos tratam geralmente da elaboração de uma obra
lexicográfica, enquanto os estudos metalexicográficos se cingem à análise das
93
obras lexicográficas. A tradição lexicográfica, par a par com a tradição dos estudos
gramaticais, concedeu-nos o legado da normatividade, isto é, os lexicógrafos
propunham-se a mantença da forma com que seus precursores haviam criado as
suas obras lexicográficas, sem se indagarem quais critérios (lexicográficos e/ou
lingüísticos) subjaziam a tal fazer lexicográfico. A inovação que as obras que se
sucediam no tempo traziam não passava da inclusão de itens lexicais novos
(neologismos, estrangeirismos, etc.) ou exclusão de outros itens (tais como
arcaísmos). A evolução e o desenvolvimento são de cunho quantitativo, e não de
cunho qualitativo, ou seja, as obras lexicográficas vernaculares vêm crescendo em
tamanho e recursos (eletrônicos, remissivos, etc.), mas não se vêm aprimorando
cientificamente, no sentido de serem estabelecidos critérios lexicográficos claros e
precisos, que confiram maior organicidade e logicidade à obra lexicográfica. Mais
detalhadamente, os incrementos que se foram incorporando aos dicionários
vernaculares não trouxeram mudanças significativas nos critérios para a
organização lexical (macroestrutura) ou definições (microestrutura).
Em contrapartida, desenvolveu-se, sobretudo na segunda metade do século
XX, uma lexicografia que se quis científica, conforme estudamos no Capítulo 1.
Mais uma vez, do mesmo modo que se deu com os estudos lingüísticos
fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, a assunção do viés
descritivo/explicativo em detrimento do prescritivo operou um câmbio de
perspectiva teórica, que resultou no abandono da repetição das fórmulas para a
concepção das obras lexicográficas, privilegiando-se a investigação de critérios.
94
Alguns desses critérios da TLEC e do DEC, no que tange às questões
léxico-semânticas e léxico-sintáticas, serão objeto de nossa discussão neste
capítulo e constituirão as categorias analíticas de que faremos uso na análise.
Uma vez que nosso objetivo é investigar a microestrutura e macroestrutura
das descrições lexicográficas dos adjetivos estéticos em dicionários vernaculares,
vejamos quais conceitos e critérios estão envolvidos nas concepções de micro- e
macroestrutura dicionarísticas de acordo com a TLEC.
3.2 Conceitos Microestruturais do DEC
Conforme Mel’čuk et al. (1995, p. 56), as lexias são submetidas ao
tratamento lexicográfico segundo três aspectos: a delimitação, a descrição e o
agrupamento. Aqui nos interessa sobretudo a descrição das lexias, pois os
critérios de delimitação são relevantes para o lexicógrafo que está por
confeccionar uma dada obra lexicográfica, e os critérios de agrupamento de lexias
pertencem à esfera da macroestrutura (que será abordada na seção 3.3).
A descrição das lexias no DEC, que corresponde à estruturação dos artigos
de dicionário, deve ser efetuada de forma uniforme para todas as entradas
lexicais, ou seja, todo artigo de dicionário deve apresentar a mesma estrutura
formal (cf. MEL’ČUK et al., 1995, p. 69) e envolve três zonas: fonológica
(descrição do significante de uma da lexia L), semântica (descrição do significado
de L) e combinatória (descrição das combinatórias sintática e lexical restrita de L).
Discorreremos aqui sobre os conceitos tão-somente referentes à semântica e à
95
combinatória sintática devido a 1) não estar presente nos objetivos deste trabalho
(formulados na Introdução) a descrição fonológica; 2) não pretendermos aqui
analisar os adjetivos estéticos pelo prisma da combinatória lexical, pois, ainda que
haja adjetivos que participem de coocorrências lexicais, na maioria dos casos,
como nestas combinatórias são sempre adnominais, a lexia em destaque na
coocorrência será o nome, e é no verbete nominal que serão listadas tais
informações de ordem combinatória.
3.2.1 Conceitos e Regras Léxico-Semânticos do DEC
O papel da semântica na descrição das lexias está reservado à zona
semântica do DEC, que encerra a definição lexicográfica, principal conceito léxico-
semântico nesta teoria, ao qual estão relacionados: 1) outros conceitos, tais como
os de rede semântica, definiendum, definiens e actante semântico; 2) regras, tais
como, a regra de decomposição semântica e a regra de estandardização.
É na zona semântica do DEC que se faz a descrição exaustiva do sentido
denotacional (significado) de uma dada lexia, e esta subseção é dedicada aos
conceitos e regras léxico-semânticos, por serem estes de suma importância no
âmbito do DEC, uma vez que a TLEC se baseia na seguinte tese:
A maioria das propriedades do comportamento de uma lexia o
sustentadas ou mesmo determinadas pelo seu sentido denotacional [...] a
definição lexicográfica é tida como o nó central do artigo de dicionário. De
fato, é impossível tratar em profundidade a regência sintática ou a
96
coocorrência lexical de L antes de ter-se formulado o seu sentido.”
(MEL’ČUK et al., 1995, p. 73)
60
.
O primeiro conceito que devemos abordar aqui é justamente o de descrição
lexicográfica, que, no DEC, é sinônimo de elaboração de um artigo de dicionário.
Ressalte-se que esta redação de artigos de dicionário no DEC,
independentemente da natureza da lexia descrita, deve ser levada a efeito de
forma unímoda, isto é, seguindo rigorosamente um padrão de elaboração de
artigos (cf. MEL’ČUK et al., 1995, p. 69). Para tal, a referida definição lexicográfica
deve ser adequada (necessária e suficiente), idealmente permitindo que se possa
substituir um dado lexema em qualquer contexto pela sua definição sem que, com
isso, venha a ocorrer mudanças no significado do enunciado, sendo que definir
uma lexia L equivale a justamente representar o sentido L, ou seja, compor uma
definição tem o sentido de formular uma representação semântica, para os
lexicógrafos do DEC.
Na TST, uma Representação Semântica
61
escreve-se obrigatoriamente sob
a forma de uma rede semântica, que é um objeto formal constituído de pontos
(nós), ligados por flechas (ou arcos). Os nomes são etiquetados com os nomes
dos elementos semânticos, e os arcos são munidos de numeração concernente às
relações predicado/argumentos. Entre outras, por razões de dificuldades de
produção e percepção (pelos usuários) das redes, prefere-se a utilização de
definições redigidas com uma linguagem tratada (desambigüizada), em vez do uso
60
Tradução nossa do original em francês.
61
Representação Semântica (RSém), conforme o Modelo Sentido-Texto, visto no início desta
dissertação (Capítulo 1).
97
Ο
ΟΟ
Ο
Ο
ΟΟ
Ο
‘profession’
‘personne1
Ο
ΟΟ
Ο
‘enseigner1
‘Z’
Ο
ΟΟ
Ο
1 2
3
2
Ο
ΟΟ
Ο
‘employer’1
2
1
Ο
ΟΟ
Ο
1
Ο
ΟΟ
Ο
‘établissement d’enseignement’
Ο
ΟΟ
Ο
‘niveau’
1
2
Ο
ΟΟ
Ο
‘assez élevé
‘Y’
‘W’
professeur de Y/de Z à W =
3
REDE SEMÂNTICA
1
da rede semântica, difícil de ser reproduzida graficamente em larga escala.
Vejamos um exemplo com a lexia professeur (MEL’ČUK et al., 1995, p. 75):
Esquema 6: Rede Semântica (MEL’ČUK et al., 1995, p. 75)
Outra razão para não se usar as redes semânticas é a própria natureza da
linguagem humana – pela sua linearidade. A versão linearizada da rede semântica
citada acima de professor será a seguinte:
Professeur de Y/de Z(à W) = ‘Personne qui, ‘en tant que’ profession,
enseigne1 Y d’un niveau assez élevé à Z (étant employée par un
établissement d’enseignement W)’
62
.
Na rede acima, o nó dominante está sublinhado e tem, neste caso, o
sentido de ‘pessoa’ (‘personne’). Portanto, a componente semântica ‘pessoa’
resume a rede em questão, no sentido de que um professor é essencialmente
98
uma ‘pessoa que...’, mais as devidas especificações. A porção da rede que está
circulada é opcional.
Mel’čuk et al. (1995, p. 75) atentam para o fato de que o ideal seria haver
um algoritmo que, computacionalmente, estabelecesse a transformação
automática entre as definições lineares e as redes semânticas, mas que, no
momento, ainda a pesquisa em lexicografia deve aprofundar-se nas definições
redigidas.
Nesta visão da TLEC, a definição lexicográfica no DEC é uma expressão na
forma A = ‘B’, em que A o definiendum (aquele a ser definido) é a lexia de
base L inserta na sua forma proposicional (expressão com variáveis, como
veremos a seguir), e ‘B’ definiens (aquele que define) é uma descrição do
significado de L (ou seja, ‘B’ é L’) efetuada mediante uma metalinguagem
lexicográfica (no caso do DEC para a ngua francesa, tal metalinguagem
equivaleria a um francês “tratado”). Os dois elementos da definição A = B’
correspondem ao definiendum e ao definiens, respectivamente.
O definiendum é apresentado sob uma forma proposicional, que consiste
numa fórmula que comporta a lexia (predicativa) acompanhada de seus actantes
semânticos, que são, por sua vez, representados por variáveis. Repitamos o
exemplo da representação linearizada de professeur: professeur de Y/de ZW).
Aqui temos a lexia (professeur) mais seus actantes semânticos W, Y e Z .
62
Professeur de Y/de Z (à W)
99
O definiendum está, portanto, fortemente ligado à noção de actante
semântico
63
, que, como antecipamos no Capítulo 1, é um dos conceitos-chave
para a questão da definição lexicográfica no âmbito da TLEC e do DEC. Tal
conceito é entendido (MEL’ČUK et al., 1995, pp. 75-76) como relacionado a outros
dois conceitos: predicado semântico e argumento de predicado semântico.
Mel’čuk et al. (1995) não definem na sua explanação estes dois últimos conceitos,
tomando-os como já largamente estudados na Lingüística, e explicam o primeiro
apenas em linhas gerais: predicado semântico seria aquele sentido incompleto
(“avec des trous”), à espera de outros sentidos para completá-lo, e designam
ações, acontecimentos, processos, estados, propriedades, relações, etc., ou seja,
designam fatos que implicam necessariamente participantes. Caso um dado
predicado semântico P represente um ação que envolva três participantes, os
argumentos A
1
, A
2
, e A
3
de P corresponderão aos participantes deste fato,
segundo a seguinte formalização P (A
1
, A
2
, A
3
). Para a TLEC, o conceito de
actante semântico é indispensável para a descrição das lexias de sentido
predicativo, isto é, para as lexias cujo sentido é um predicado semântico. Para
estas, vale o seguinte postulado: “Soit une lexie L dont les sens est un prédicat à n
arguments: L (A
1
, A
2
, ... A
n
)’. La définition de L doit alors inclure nécessairment n
variables” (MEL’ČUK et al., 1995, p. 76).
Uma vez que o definiendum é sempre construído de forma a não descrever
tal lexema de forma isolada, mas sempre como uma expressão com variáveis,
63
Segundo Mel’čuk, o actante semântico [=ASém] de uma lexia L é “une expression qui
correspond à un argument du prédicat ‘L( A
1
, A
2
, ..., A
n
)’; cette expression est soit un sens, soit une
variable dans la définition de L”. (MEL’ČUK et al., 1995, p. 76).
100
composta da lexia e de variáveis correspondentes a todos os participantes da
situação descrita pela lexia em questão, a abordagem lexicográfica do DEC se
diferencia sobremaneira da dos dicionários tradicionais neste quesito. No que diz
respeito à forma específica que o definiendum deve ostentar, Mel’čuk et al. (1995)
enunciam a seguinte regra:
Règle de la forme propositionnelle
... contrairement aux autres dicionnaires, le défini dans un DEC ne peut
pas être une lexie seule. [...] Ainsi, pour définir REPROCHER (par
exemple, dans Marie reproche son absence à Pierre), il faut en fait définir
X reproche Y à Z [...] Les définis sont représentés par des expressions
appelées formes propositionnelles. La Règle de la forme propositionnelle
se formule donc comme suit:
Pour une lexie prédicative L, le défini doit être une forme propositionnelle
où les variables représent les actants sémantiques de L.
(MEL’ČUK et al., 1995, p. 79)
É de se ressaltar, porém, que nem todos os adjetivos podem apresentar
esta estrutura de variáveis semânticas nos seus definienda, pois nem todos os
adjetivos o predicados semânticos. Os adjetivos mais adequados para o tipo de
descrição de definiendum proposta no DEC são os deverbais, pois funcionam
tanto semântica (são “sentido incompletos”) quanto sintaticamente (exigem
complementos sintáticos). Como apontamos no Capítulo 1, o repertório adjetival
selecionado para o DEC contempla adjetivos denominais e deverbais, mas não
morfologicamente primitivos (como belo ou bom), portanto, este quadro lexical
indica que a concepção lexicográfica do DEC privilegia um tipo de lexia (aquelas
cujos os semantismos se estruturam em predicados semânticos). Em relação à
questão do definiendum, resta uma indagação: como estruturar os definienda para
lexias tais como os adjetivos primitivos? Voltaremos à esta problematização
quando da análise.
101
Em relação ao definiens, temos que este constitui paráfrase que analisa o
sentido do definiendum por intermédio de unidades lexicais mais simples. O
definiens, portanto está relacionado com a decomposição do sentido do
definiendum, e é muitas vezes entendido como “uma versão texto’ de uma regra
de decomposição semântica” (BARQUE, 2003, p. 17). Poderíamos dizer, grosso
modo, que o definiendum está para a noção de predicado semântico assim como
o definiens está para a de regra de decomposição semântica. Em Mel’čuk et al.
(1995, pp. 79-80), a regra de decomposição semântica é assim formulada:
Règle de décomposition
La définition de la lexie vedette L doit être faite par des lexies L
1
,
L
2
, ... ,L
n
(en ce sens que 'L' = 'L
1
' + 'L
2
' + ... + 'L
n
') qui sont chacune
SÉMANTIQUEMENT PLUS SIMPLE
que L. (MEL’ČUK et al., 1995, pp. 79-80)
Cabe aqui referir que, segundo Mel’čuk et al. (1995, p. 80), a lexia L
1
é
semanticamente mais simples que a lexia se e somente se se necessita de L
1
para definir L, sendo que L não pode ser usada para a definição de L
1
. A regra de
decomposição, portanto, é uma regra de equivalência entre duas estruturas
semânticas, sendo que o semantismo da estrutura à esquerda é decomposto
pelos semantismos mais simples da estrutura à direita. Citemos o exemplo de
decomposição semântica de Barque (2003, p. 12) da lexia nouvelle, formulado
como annonce de X d’un évènement W à l’individu Y, qui sait désormais W
64
. Aqui,
annonce é hiperônimo de nouvelle, sendo tanto annonce, évènement e individu
64
Propondo uma tradução para o exemplo, teríamos nouvelle como de novidade e a sua
decomposição annonce de X d’un évènement W à l’individu Y, qui sait désormais W como anúncio
de X acerca de um acontecimento W ao indivíduo Y, que passa a saber doravante W.
102
lexias semanticamente mais simples que nouvelle (ou seja, nouvelle não
participará dos definiens destas lexias).
Para além das questões de definiendum e de definiens, realça-se a questão
da metalinguagem usada na redação dos artigos de dicionário do DEC. Tal
linguagem da definição deve obedecer a algumas condições básicas, como, por
exemplo, à da ausência de ambigüidade, idealmente contendo as definições tão-
lexemas não-ambíguos. Aqui entra em cena também o problema da definição
sinonímica, que pontuamos em alguns momentos desta dissertação: a
metalinguagem, ou linguagem tratada, deve evitar a todo o custo o recurso à
sinonímia, pois esta viola o princípio de decomposição semântica, observado
anteriormente.
Aqui podemos perceber que os lexicógrafos do DEC tocam num ponto
fulcral da Lingüística: como descrever a língua usando como instrumento a própria
língua? A saída que tais teóricos vislumbram é o uso de uma linguagem artificial,
restrita, constituída de um repertório exíguo de formas lingüísticas e idealmente
desambigüizida. Logicamente, tal metalinguagem é ideal e, na prática, os
lexicógrafos enfrentam um sem-número de óbices à sua reificação. Este, no
entanto, é um dos “pontos altos” dos parâmetros de redação lexicográfica
presentes no DEC, que o distingue sobremaneira dos dicionários tradicionais,
nunca preocupados com um aspecto tão importante da sua constituição: a sua
própria linguagem lexicográfica – ou metalinguagem.
Com relação a esse tema, Mel’čuk et al. (1995) concebem a seguinte regra
lexicográfica:
103
Règle de stardardisation
65
Étant donné la nature formelle et la logique rigoureuse du DEC, il
va de soi que la définition des lexies vedettes doit être faite dans un
métalangage uniformisé, soumis à des contraintes explicites, applicables
de façon homogène à l’ensemble du lexique. [...] exprimé par la gle
suivante comprenant deux contraintes:
La définition doit être faite de façon à éviter, dans le définissant, a)
les termes AMBIGUS et b) les termes SYNONYMES.
(MEL’ČUK et al., 1995, p. 86)
Quando à questão dos termos ambíguos, temos que cada elemento
utilizado no definiens deve veicular sempre um único sentido, ou seja, este em si
deve ser uma lexia bem definida. Já no que tange à questão da sinonímia, a regra
acima preceitua que todo e qualquer sentido utilizado no definiens deve ser
sempre expresso por um único elemento, o que equivale a dizer que deve ser
expresso pela mesma lexia em todos os definiens do DEC em questão.
Observando a desambigüização em detalhe, notamos que o DEC se utiliza
para tal fim de números distintivos acrescidos aos lexemas a fim de distinguir uma
dada acepção de outra. Valendo-nos do exemplo da lexia estético (em Houaiss
(2001)), citado no Capítulo 1 (e, para facilitar a leitura, repetido abaixo), vemos
que estético3 significa "atraente" e que estético4 significa "capacidade de
identificar o que é belo".
Do mesmo modo que refletimos em relação à questão do definiendum,
cabe agora nos perguntarmos como poderíamos fazer valer os critérios de
formulação do definiens e de redação metalingüística para o caso dos adjetivos
Deveremos argumentar que nem todos os adjetivos podem ser semanticamente
decompostos. O nosso exemplo outra vez serão os adjetivos estéticos: como
65
Traduziremos aqui o nome desta regra como Regra de Estandardização.
104
podemos decompor belo ou sublime utilizando lexias semanticamente mais
simples? Notemos que a regra de decomposição semântica de Mel’čuk et al.
(1995) está fortemente associada à noção de relações lexicais, sobretudo
hiperonímia/hiponímia: recordando aqui a citação de Barque (2003) acima, a
decomposição semântica é uma regra de equivalência entre duas estruturas
semânticas, que se dá, é claro, pelas lexias envolvidas, ou seja, trata-se do que
poderíamos chamar de uma equação lexical, que faz equivaler um definiendum a
um definiens (geralmente hipônimo daquele definiendum), como podemos
observar nos exemplos abaixo, adaptados de Mel’čuk et al. (1984)
66
:
Lexia Definição
(66) ADMIRAÇÃO 1. Atitude emocional favorável...
(67) CORAÇÃO 1. Órgão principal da circulação sangüínea...
(68) CÓLERA 1. Emoção desagradável muito forte...
(69) ENTUSIASMO 1. Alegria muito forte....
(70) ENSINO 1. ...ensinar 1...
(71) ÓDIO 1. Atitude desfavorável...
(72) ODIAR 1. Ter ódio 1...
(73) CONVIDAR 1. ...pedir....
(74) DESPREZO 1. Atitude emocional desfavorável...
(75) DESPREZAR 1. Ter uma atitude emocional desfavorável...
(76) DOENTE 1. ...doença...
(77) PROMETER 1. ...comunicar...67
Destas definições abreviadas, vemos que o exercício de compor a
decomposição semântica está intimamente vinculado ao processo de selecionar
um hipônimo para a lexia a ser definida. Por exemplo, admiração é um tipo de
“atitude”; coração é um tipo de “órgão”; entusiasmo é um tipo de “alegria”;
66
MEL’ČUK, I. A. et al. Dictionnaire explicatif et combinatoire du français contemporain.
Recherches lexico-sémantiques, vol. I Montréal, Les Presses de l 'Université de Montreal, 1984.
105
prometer é uma forma de “comunicar”; convidar é uma forma de “pedir”. No
entanto, temos, nestes exemplos, algumas discrepâncias que devemos fazer
serem notadas. Analisemos separadamente as lexias, ódio, desprezo, odiar e
desprezar:
(78) ÓDIO 1. Atitude desfavorável...
(79) DESPREZO 1. Atitude emocional desfavorável...
(80) ODIAR 1. Ter ódio 1...
(81) DESPREZAR 1. Ter uma atitude emocional desfavorável...
Caberia perguntarmo-nos: por que ódio é uma “atitude desfavorável”,
enquanto desprezo é uma “atitude emocional desfavorável”. o teria ódio nada
de emocional? Além disso, por que odiar é definido como “ter ódio”, enquanto
desprezar é “ter uma atitude emocional”? Por que não definir desprezar como “ter
desprezo”? A linguagem tratada do DEC não se apresenta unímoda, como
pretendem os lexicógrafos da TLEC. Verifica-se, portanto, o que afirmamos
anteriormente: a metalinguagem do DEC é um ideal a ser perseguido, cuja
consecução requer um esforço heróico, típico de toda empreitada lexicográfica.
Podemos depreender dos exemplos que a metalinguagem do DEC, em
relação à decomposição semântica, está aqui ora operando com a homonímia e
ora com a noção de derivação, no sentido de que as lexias morfologicamente
derivadas o definidas pelas lexias que lhes são primitivas. Tal processo foi
avaliado por nós quando tratamos da descrição dos adjetivos no DEC – no
Capítulo 1, com os exemplos étonnant, étonné, comble e de neige e é aqui
67
Tradução do original em francês e adaptação nossas.
106
corroborado para as três classes abertas de palavra: nome (ensino é definido
como “...[ato de] ensinar...”), verbo (odiar é definido como “Ter ódio 1...”) e adjetivo
(doente é definido como “...[que tem] doença”).
estético
Acepções
adjetivo
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo
Ex.: teorias e.
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo
Ex.: <avaliação e. de uma obra de arte> <o aspecto e. de um arranjo floral>
3 que denota bom gosto; atraente
Ex.: combinação de cores pouco e.
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
Ex.: senso e.
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
Ex.: <pôs nova coroa dentária por razões e.> <cirurgia e.>
A numeração das acepções auxilia da diferenciação dos sentidos, fazendo
com que entendamos que mais de um sentido para o vocábulo polissêmico
estético. Porém, quando a lexia estético é utilizada em definiens de outras lexias,
como, por exemplo, em uma das acepções da lexia coleção (em Houaiss (2001)),
não há qualquer identificação, tal como numeração desambigüizadora ou qualquer
outra forma de desambigüização, conforme podemos perceber no exemplo
abaixo:
coleção2: reunião ordenada de objetos de interesse estético, cultural,
científico etc., ou que possuem valor pela sua raridade, ou que
simplesmente despertam a vontade de colecioná-los.
A lexia estético no definiens de coleção2 é, portanto, polissêmica, pois não
podemos precisar qual das acepções de estético (acepção 1, 2, 3, 4, ou 5?) está
sendo referida. Tal fato acarreta que, em termos do DEC, não temos uma
definição de coleção2, pois seu definiens remete a vários possíveis sentidos.
107
Tendo visto os principais aspectos da léxico-semântica, que envolvem os
conceitos de definição lexicográfica, actante semântico, predicado semântico,
definiendum, definiens, bem como as regras da forma proposicional, de
decomposição semântica e de estandardização
68
, cabe agora voltarmos nossa
atenção à questão da léxico-sintaxe no âmbito do DEC.
3.2.2 A descrição do comportamento sintático das lexias no DEC
A partir do que vimos na subseção precedente, ou seja, a partir da definição
de uma dada lexia, não podemos prever qual será o seu comportamento sintático.
Por exemplo, a definição do verbo francês emprunter não aponta para o fato de
que a este verbo se deve seguir a preposição à (cf. MEL’ČUK et al., 1995, p. 117).
A zona de combinatória sintática do DEC é o espaço em que deve ser
apresentado este tipo de informação sintática (excetuadas as regras gerais de
sintaxe, que são válidas para a língua como um todo, e não características de uma
dada lexia).
Dois tipos de propriedades sintáticas são diferenciados por Mel’čuk et al.
(1995): de um lado, temos aquelas que caracterizam uma dada lexia L como
dependente sintático e, de outro, aquelas que dizem respeito à forma como L
determina o comportamento sintático de seus dependentes. Ao primeiro tipo de
propriedades cabe a capacidade de L de entrar em certas construções sintáticas.
68
Salientemos que os conceitos e regras léxico-semânticas presentes na TLEC são mais
numerosos do que os vistos nesta dissertação, para a qual fizemos uma seleção dos tópicos de
léxico-semântica que julgamos mais relevantes para a análise em questão.
108
Por ser tal tipo de propriedades sintáticas entendido, no âmbito da TLEC, como
mais gramatical do que lexical, este não é neglicenciado no DEC. Já as
propriedades do segundo tipo terão relevância para a abordagem explicativo-
combinatória, pois estas estão diretamente relacionadas aos actantes sintáticos
(ASynt) de L e, por esse motivo, intimamente ligadas às propriedades lexicais de L
(cf. MEL’ČUK et al., 1995, p. 117).
A TLEC estabelece uma distinção entre actante sintático de superfície e
actante sintático profundo: o primeiro corresponde ao sujeito e aos objetos,
segundo os mesmos moldes da interpretação da gramática tradicional. o
segundo é assim definido em termos de correspondência com os actantes
semânticos:
Nous appelons actant syntaxique profond [=ASyntP] de la lexie L é
un syntagme qui dépend de L syntaxiquement et en exprime un actant
sémantique (MEL’ČUK et al.,1995, p. 117).
Os ASyntP de uma dada lexia são marcados com números romanos,
conforme a sua posição sintática em relação à lexia em questão: se um dado
ASynP é sujeito de L, recebe a numeração I; se é complemento direto, é marcado
com II; e os demais complementos, com III, IV, V, e assim por diante.
Exemplificando, pensemos no verbo tratar (X trata Y Z-mente = ‘X comporta-se em
relação a Y da forma Z’). Em X trata Y bem, X trata Y mal, X trata Y como um
cachorro, X trata Y friamente, X trata Y amigavelmente, as expressões bem/mal,
como um cachorro, friamente e amigavelmente são manifestações do ASyntP III,
que exprime o Asém Z. Da mesma forma, com o verbo encontrar-se (X encontra-
109
se em Y (em algum lugar)), o complemento circunstancial Y está representando o
ASyntP II
69
.
O que diferencia os actantes sintáticos de superfície dos actantes sintáticos
profundos? A gramática tradicional abarca tão-somente o sujeito e os
complementos como categorias dependentes do núcleo verbal e os complementos
nominais como dependentes do núcleo nominal. Para a TLEC os actantes
sintáticos não se limitam a este conjunto de “dependentes sintáticos”, que
corresponderá aos ASyntS, entendendo como sintaticamente dependente outras
formas sintáticas como os complementos circunstanciais. Assim, o conceito de
ASyntP é generalizado de forma a cobrir os dependentes sintáticos das lexias de
todas as partes do discurso, e não apenas dos verbos e dos nomes
70
, na medida
em que tal ASyntP exprima um ASém. Os exemplos de MEL’ČUK et al. (1995)
são: arrivée de Pierre, sendo aqui PIERRE o ASyntP I de ARRIVÉE; le veto
français, em que FRANÇAIS é também um ASyntP I de VETO; e victoire
américaine, onde temos o adjetivo designando o vencedor ou seja, como
ASyntP I de VICTOIRE (cf. MEL’ČUK et al., 1995, p. 118).
Nos termos da TLEC, é nos actantes sintáticos profundos que estão
concentradas as particularidades de coocorrência irregular de uma dada lexia L
com seus dependentes, sendo definido o adjetivo irregular, nessa perspectiva
69
Exemplos traduzidos e adaptados por nós de Mel’čuk et al. (1995, p. 118).
70
Mel’čuk et al. (1995, p. 118) mencionam apenas verbos, porém temos aqui de referir também os
nomes: pelo menos no que tange à gramática tradicional do português brasileiro, a figura do
complemento nominal como um dependente sintático do nome é constante.
110
teórica, como um fenômeno não passível de ser descrito completamente por
regras gerais da sintaxe” (MEL’ČUK et al., 1995, p. 118)
71
.
Refletindo sobre a abordagem léxico-sintática da TLEC e do DEC, devemos
nos questionar acerca de duas questões fundamentais para o estudo que estamos
desenvolvendo nessa dissertação: 1) Em que medida apenas o fenômeno
sintático irregular tem lugar na zona sintática do DEC? e 2) Dado o fato de que as
propriedades sintáticas equiparadas (por Mel’čuk et al. (1995, p. 117)) ao conjunto
das capacidades de uma lexia L entrar em certas construções sintáticas o que
corresponderia, grosso modo, a uma “sintaxe externa a L”, caracterizada como
fenômeno sintático regular o negligenciadas no DEC por não estarem
diretamente ligadas ao semantismo de L (constituindo, antes, regras gerais da
sintaxe das línguas) em favor das propriedades que determinam o
comportamento dos dependentes de L, grosso modo, em favor da “sintaxe interna
de L”, caracterizada como fenômeno sintático irregular, este, sim, condicionado
pelo semantismo de L como classificaríamos nas línguas a regra de colocação
do adjetivo adnominal (que o antepõe ou pospõe ao nome)?
No que tange à primeira questão, se verbos, nomes deverbais e adjetivos
deverbais necessitam canonicamente de um sujeito, por que dizer que o actante
sintático I, correspondente ao actante semântico X, deve ser descrito na zona
sintática, que é o espaço para o delineamento do fenômeno sintático de natureza
irregular? Apresentar casas argumentais e, por default, dever estar a primeira
71
Tradução nossa do original em francês.
111
casa argumental preenchida não seriam regras gerais da sintaxe das nguas?
Não seria o “irregular” aqui os casos em que tal casa argumental é vazia?
No que tange à segunda questão, como explicaríamos o caso dos adjetivos
estéticos, que, conforme vimos no final do Capítulo 2, têm especificidades de
distribuição sintática diretamente ligadas aos seus semantismos? Tudo indica que
tal configuração sintática não pertencem à língua (como regra geral), pois é
característica de um campo semântico específico. Ou seja, também no caso dos
adjetivos, em que a posição sintática é de suma importância para a depreensão do
conteúdo semântico, devemos tecer uma ressalva à interpretação dos teóricos da
TLEC em relação ao regular e ao irregular do fato sintático.
Detenhamo-nos, agora, no esquema de regência (“schéma de régime”, no
original), ponto alto da teoria sintático-lexicológica da abordagem explicativo-
combinatória. A estrutura do esquema de regência é a de um quadro que
apresenta explicitamente todos os actantes sintáticos profundos do lexema,
fornecendo para cada um destes sua forma superficial (infinitivo, sintagma
preposicional regido por esta ou aquela preposição, etc.) e sua interpretação
(actante semântico que lhe seja relacionado). Acrescente-se também que no
âmbito do esquema de regência são listadas as restrições de coocorrência de
diferentes actantes sintáticos do mesmo lexema. Exemplifiquemos a zona sintática
do DEC com o adjetivo malade:
Malade
1a. adj. [X est] malade de Y/de Z = Organisme de X ne fonctionne pas
normalement parce que (une partie Y de) l’organisme de X est sujet(te) à
um trouble de fonctionnement causé par une maladie 1a Z.
112
Régime
Mod 1
2 = Y 3 = Z
1. de N 1. de N
1) C
2
: N désigne un organe interne
2) C
2
+ C
3
: impossible
C
2
: Pierre est malade du coeur < des reins >
C
3
: Pierre est malade de la grippe espagnole < de la
rougeole , d’une maladie incurable >
Impossibile : *Pierre est malade de l’estomac d’un ulcére (2) [ =
Pierre est est malade de l’estomac: il a un ulcère]
Mod 2
2 = Z
_____
Le coeur de Pierre est malade
(MEL’ČUK et al., 1984, p. 121)
Mod 1
ÊTRE
MALADE
.
. .
X Y
Mod 2
ÊTRE
MALADE
.
.
.
X
Y
AVOIR
.
. .
X
Y
1 2 1 2
MALADE
ATTR
<=> <=>
<=> <=>
Pierre a
la rate
malade
La rate
de Pierre
est malade
Pierre est
malade
de la rate
1
1
113
Este quadro deve ser lido da seguinte maneira: o número de colunas
relaciona-se com o número de actantes semânticos de malade, e o número de
linhas corresponde ao número máximo de possibilidades de expressão dos
actantes sintáticos. No caso, temos o que corresponderia a dois actantes
semânticos (Y e Z), ligados às noções de parte do organismo (Y) e doença (Z):
malade de Y (malade de l’estomac), malade de Z (malade de la grippe). A lista
abaixo do quadro diz respeito às possíveis configurações sintáticas e às
restrições. C
2
indica que podemos ter um dos complementos (Y ou Z), e C
2
+ C
3
:
impossible indica que não podemos ter a combinatória sintática de ambos os
complementos ao mesmo tempo (restrição): *Pierre est malade de l’estomac d’un
ulcère.
Observados os aspectos principais que configuram a microestrutura do
DEC, ou seja, tendo caracterizado os conceitos e regras que estruturam as zonas
semântica e sintática do DEC, voltemos nossa atenção para os conceitos que
dizem respeito a relação entre os vocábulos e lexias. Numa palavra, à
macroestrutura do DEC.
3.3 Conceitos macroestruturais no DEC
Começamos o texto da presente dissertação dizendo que estávamos por
analisar a descrição lexicográfica do campo semântico dos adjetivos estéticos.
Vejamos, pois, nesta subseção, como o conceito de campo semântico, é
entendido no âmbito da TLEC.
114
Diretamente relacionada à noção de campo semântico no âmbito da TLEC
está o conceito de identificadores de campo. Reservemos, então, a presente
subseção à explanação dos referidos dois conceitos macroestruturais.
Na perspectiva da TLEC, são traçadas as seguintes asseverações em
relação à noção de campo semântico:
Para responder [...] às exigências de rigor [...] da descrição
lexicográfica, o lexicólogo vê-se obrigado a fragmentar a massa lexical de
uma ngua e de constituir, assim, agrupamentos de lexias que
apresentam características semânticas comuns, sejam aproximadamente
similares ou mesmo equivalentes. Tal forma de proceder divide o léxico
em conjuntos determinados e limitados quanto ao mero de seus
elementos. Os referidos repertórios lexicais, suficientemente
manipuláveis chamados campos semânticos, formam o objeto primário
de estudos do lexicólogo.[...] A aquisição do léxico pelo locutor está
intimamente ligada ao agrupamento de lexias em famílias [...] A própria
língua determina tais agrupamentos fornecendo lexias que designam os
componentes semânticos subjacentes às famílias de lexias. (MELČUK et
al., 1995, p. 173)
72
.
Cabe nos perguntarmos quais lexias ou elementos semânticos unem um
dado conjunto de lexias em um determinado campo semântico. É consabido que
mesa, cama, cadeira e armário pertencem à família dos móveis, pois temos a
noção de ‘móveis’ expressa na língua pela lexia móveis, que se constitui em
portadora do componente semântico que estabelece o liame entre as demais
lexias deste campo. Para a TLEC, tal componente semântico partilhado, ou
“etiqueta semântica”, ou semantismo genérico comum, é designado como
identificador de campo, noção esta que está presente na definição de campo
semântico:
72
Tradução nossa do original em francês.
115
Nous appelons champ sémantique l’ensemble des lexies qui ont
une même composante sémantique identificatrice de champ. (MEL’ČUK
et al., 1995, p. 173)
A componente semântica identificadora de campo deve estar presente nas
definições lexicográficas de todas as lexias pertencentes ao campo em questão.
O exemplo de Mel’čuk et al. (1995, p. 173) é o campo semântico dos
fenômenos atmosféricos, formado pelas lexias PLUIE (chuva), NEIGE (neve),
GRÊLE (granizo), BROUILLARD (neblina), TEMPÊTE (tempestade), ORAGE
(temporal), entre outras. O ponto-chave aqui é o adjetivo atmosférico, tomado
como elemento identificador do campo semântico em questão, em detrimento do
adjetivo meteorológico, usado pela maioria dos lexicólogos tradicionais nas
definições de lexias desse campo. Os referidos autores justificam essa escolha ao
mostrar que meteorológico é semanticamente derivado de atmosférico, conforme
vemos na dedução abaixo:
météorologique : ‘relatif à la météorologie’
météorologie : ‘sciences des phénomènes atmosphériques’
atmosphérique : ‘relatif à l’atmosphère
atmosphère : ‘couche d’air qui entoure la Terre’.
Cette petite série de définitions montre à l’évidence que
‘atmosphère’ (et non ‘météorologie’) est le sens sous-jacent au champ en
cause. La pluie et les tempêtes existaient bien avant l’apparition de la
météorologie!
(MEL’ČUK et al.,1995, p. 174)
Da seqüência de definições acima, vemos que os teóricos da TLEC se
decidem por eleger o adjetivo atmosphérique, porque é a este que estão ligadas
todas as definições acima. Ou seja, météorologique não poderia ser uma escolha
apropriada por ser também definido em função de atmosphérique.
116
Cabe destacarmos que o raciocínio aqui seguido se baseou plenamente no
estudo das definições e dos elementos semânticos que as compõem. Como temos
acesso aos referidos semantismos por meio dos “segmentos das definições”, a
identificação de tais segmentos nos sede grande valia. A esses “segmentos de
definição” chamaremos, nesta dissertação, de elementos definitórios. No caso do
exemplo acima, temos como indicador de campo atmosphérique. Porém, este
semantismo é expresso, no âmbito da definição de météorologie, pelo segmento
“phénomènes atmosphériques”.
Como visamos aos adjetivos estéticos, vejamos como estrutura a definição
do adjetivo estético em Houaiss (2001):
estético
adjetivo
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo
Ex.: teorias e.
(HOUAISS, 2001)
Na definição acima, temos dois elementos definitórios: “relativo à estética” e
“estudo e conceituação do belo”. Substituiremos aqui o segmento “estudo e
conceituação” por “estudo” a fim de simplificarmos a definição.
Vejamos, então, as definições de estética (acepção 1) e de belo
(substantivo: o belo
73
) propostas no dicionário Houaiss (HOUAISS, 2001):
estética
substantivo feminino
Rubrica: filosofia
1 parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e
do fenômeno artístico
73
Quando necessário, usaremos o artigo para distinguir o adjetivo belo do substantivo belo.
117
belo
substantivo masculino
13 qualidade do que é belo; beleza
14 Rubrica: estética.
qualidade atribuída a objetos e realidades naturais ou culturais,
apreendida primordialmente através da sensibilidade (e não do intelecto),
e que desperta no homem que a contempla uma satisfação, emoção ou
prazer específicos, de natureza estética
(HOUAISS, 2001)
Em estética, podemos substituir o elemento definitório “parte da filosofia
voltada para a reflexão a respeito de” por “estudo” como fizemos acima com
“estudo e conceituação”. Assim, temos um paralelo entre os elementos definitórios
de estético e de estética, “estudo do belo” / “estudo da beleza sensível e do
fenômeno artístico”, respectivamente.
Não investigaremos em detalhe aqui do venha a ser “beleza sensível” ou
“fenômeno artístico”, ou seja, não traçaremos aqui uma análise minudente dos
elementos definitórios observados, pois tal será efetuado no Capítulo 4 em
profundidade, quando da análise macroestrutural. Importa-nos, neste momento,
apenas determinar o identificador do campo estético, a fim de que possamos
proceder à seleção dos dados, na próxima seção do trabalho.
Feita essa ressalva, voltemos aos elementos definitórios. Uma vez que os
semantismos dos elementos “estudo da beleza sensível” e “estudo do fenômeno
artístico” dependem dos semantismos de beleza e de artístico, passemos às suas
definições:
beleza
substantivo feminino
1 qualidade, propriedade, caráter ou virtude do que é belo;
manifestação característica do belo
artístico
118
adjetivo
1 relativo às artes, sobretudo às belas-artes
2 relativo aos artistas ou aos cultores das belas-artes
3 que foi trabalhado ou executado com arte
(HOUAISS, 2001)
Como artístico tem como definição os elementos arte e belas-artes,
vejamos suas definições também:
arte
15 Rubrica: estética.
produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a
concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a
expressão da subjetividade humana
belas-artes
substantivo feminino plural
1 manifestações artísticas (ger. as artes plásticas, a sica, a
poesia e a dança) que, a partir do sXVIII, estão relacionadas a um
ideal de beleza formal exclusivamente contemplativo
(HOUAISS, 2001)
Analisemos conjuntamente, agora, os elementos definitórios de o belo,
beleza, artístico, arte e belas-artes. O substantivo belo é definido em função do
adjetivo belo, de beleza e do próprio adjetivo estético. beleza é definida em
função tanto do substantivo belo quanto do adjetivo belo. A lexia artístico remete
aos elementos “arte” e “belas-artes”, sendo estes últimos definidos em função do
elemento beleza. Em síntese, temos as seguintes relações entre as lexias e os
elementos definitórios avaliados:
(82) estético “relativo à estética” / “relativo ao estudo do belo”
(83) estética “estudo da beleza” / “estudo do artístico”
(84) o belo “qualidade do que é belo” / “beleza” / “qualidade que desperta
prazer estético”
(85) beleza “qualidade do que é belo” / “manifestação do belo”
(86) artístico “arte” / “belas-artes”
(87) arte “produção de obras que concretizem um ideal de beleza”
119
(88) belas-artes “obras artísticas relacionadas a um ideal de beleza”
Podemos depreender dos exemplos acima que todas as definições
remetem, ao final e ao cabo, ao adjetivo belo, que podemos apontar como o
indicador do campo semântico estético. Abstraindo dessas correspondências entre
as lexias e os elementos definitórios os respectivos indicadores de campo,
podemos formar o seguinte esquema ilustrativo da primazia do adjetivo belo como
“ponto semântico” em torno do qual orbitam os demais semantismos:
Esquema 7: Identificador do Campos Semântico da estética: belo
Aqui completamos a primeira parte deste capítulo, dedicada à expensão
das categorias analíticas que servirão de esteio ao estudo que empreenderemos
no Capítulo 4 e que, como vimos, são ligadas a dois tipos de conceitos: os micro-
e os macroestruturais. Na próxima seção, trataremos da seleção dos dados, na
qual desempenhará papel decisivo os conceitos de campo semântico e de
indicador de campo recém-minuciados. Passemos, pois, à seleção dos dados
lexicográficos.
estético estética
beleza
arte
artístico
o belo
belo
belas-artes
120
3.4 Seleção dos dados
A análise que faremos nesta dissertação, como veremos no Capítulo 4,
será o exame das descrições lexicográficas de alguns adjetivos estéticos no que
tange à sua microestrutura e à sua macroestrutura. Nosso intento não é o de
descrever entradas lexicais, uma vez que nossa abordagem é metalexicográfica, e
não lexicográfica, como já especificamos alhures. Assim, focaremos no modo
como os dicionaristas compõem as microestruturas de adjetivos estéticos, no
intuito de abstrair informações acerca da concepção de definição lexicográfica
subjacente às entradas lexicais, no que toca, sobretudo, às questões de cunho
léxico-semântico e léxico-sintático, nas linhas do que vimos de estudar nos
Capítulos 2 e 3.
Dado o cunho metalexicográfico desta pesquisa, o estaremos aqui
constituindo um corpus textual do qual serão extraído os itens lexicais a serem
analisados, como é o procedimento metodológico típico dos trabalhos
lexicográficos. Como veremos, na próxima subseção, nosso método prescinde de
um corpus textual, por visar as obras lexicográficas em si.
Não podemos também considerar uma dada seleção de descrições
lexicográficas como um corpus textual, pois estas se diferenciam no universo
textual das línguas, por já serem resultado de uma reflexão lingüística, ou seja, por
já constituírem uma análise aplicada a uma gama vasta de corpora textuais.
Vejamos a seguir, na próxima subseção, a origem dos dados que
analisaremos no Capítulo 4.
121
3.4.1 Fonte dos Dados
Como constituirão os dados de nossa pesquisa as descrições lexicográficas
de adjetivos, deveremos definir em quais obras lexicográficas tal recolha se
efetuará.
A nossa escolha recaiu sobre os dicionários Caldas Aulete (1964),
Weiszflog (1998), Ferreira (1999) e Houaiss (2001). Estas três últimas obras
constituem as maiores criações da lexicografia brasileira do século XX (Houaiss
tendo sido preparado na segunda metade do século, teve sua primeira edição,
entretanto, somente no século XXI, em 2001). Caldas Aulete é obra lexicográfica
de origem portuguesa, porém o incorporamos nos nossos dados pelo fato de esse
dicionário ter tido cinco edições brasileiras a partir de 1958, sendo o único
dicionário do século XIX (foi publicado em Portugal, em 1881) no mercado até a
atualidade
74
(e está novamente sendo revisado com fins a ter edição digitalizada
futuramente).
Utilizaremos as versões digitais dos dicionários Michaelis (WEISZFLOG,
1998), chamada Michaelis português: moderno dicionário da língua portuguesa,
versão eletrônica; Aurélio (FERREIRA, 1999), denominada Dicionário Aurélio
Eletrônico; Houaiss (2001), Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa; e
74
Para uma historiografia da lexicografia portuguesa, ver Holtus et. al. (1990).
122
a versão em papel do Caldas Aulete (1964)
75
, intitulada Dicionário Contemporâneo
da Língua Portuguesa.
Utilizaremos doravante a seguinte nomenclatura para referirmos os
dicionários em análise:
Caldas Aulete (1964): Caldas Aulete
Weiszflog (1998): Michaelis
Ferreira (1999): Aurélio
Houaiss (2001): Houaiss
Especificadas as obras lexicográficas a serem examinadas, passemos aos
critérios de recolha dos dados.
3.4.3 Critérios para a recolha dos dados
Com base no observado na seção relativa aos conceitos macroestruturais,
tendo como elemento semântico identificador do campo semântico da estética
“belo”, procederemos aqui à recolha dos adjetivos estéticos que serão submetidos
a análise nesta dissertação.
Nosso procedimento de recolha terá o seguinte formato:
75
Não pudemos usar a versão digital do dicionário Caldas Aulete, pois esta ainda es sendo
preparada.
123
1) valendo-nos da ferramenta pesquisa reversa, observaremos quais
adjetivos são definidos em função do elemento indicador de campo
(“belo”) nos dicionários Aurélio e Houaiss
76
;
2) utilizando o critério de selecionar apenas lexias que contêm o elemento
identificador de campo na acepção 1, descartaremos os adjetivos que
apresentam belo apenas nas demais acepções.
3) descartaremos lexias que sejam gírias, regionalismos, arcaísmos,
neologismos ou que tenham marca de uso informal, formal ou poético.
Justifiquemos a escolha deste procedimento.
Com o passo 1, podemos detectar todas as lexias que são definidas em
função de belo, tanto no dicionário Aurélio quanto no Houaiss, ou seja, podemos
traçar o campo semântico em estudo, na medida em que a ferramenta de
pesquisa reversa produz uma lista de lexias segundo o identificador de campo
referido. Uma vez efetuado o passo 1, teremos o campo semântico estético de
Houaiss e Aurélio.
As lexias não pertencem a um único campo: por exemplo bisturi pertence
tanto ao campo semântico ferramentas cortantes (da mesma forma que faca,
machado, etc.) quanto ao campo das armas brancas (sabre, espada, etc.).
Poderíamos, inclusive, citar vários outros campos a que pertence bisturi, como
cirurgia (juntamente com as lexias operação, seringa, etc.). Da mesma forma, as
lexias que forem listadas a partir da pesquisa reversa, pertencerão a vários
76
Atentaremos apenas para os dicionários Houaiss e Aurélio, por serem aqueles que apresentam
a ferramenta de pesquisa reversa. A versão de Michaelis usada nesta dissertação não possui a
124
campos semânticos. Como vimos no início do Capítulo 2, lexias adjetivais
estéticas (como a maioria dos adjetivos) derivam, geralmente, de lexias
pertencentes a outras classes de palavra que não a adjetival. Dessa forma,
freqüentemente não encontraremos o semantismo adjetival na acepção 1 das
lexias (prova de que o sentido estético vem por alguma forma de derivação
semântica). Observemos os exemplos abaixo (extraídos de Houaiss):
jeitoso
1 que possui jeito para (realizar algo); apto, capaz, habilidoso
2 cuja aparência é bela, elegante; atraente, esbelto
radiante
1 Rubrica: física.
que se propaga através de radiação, que emite raios Ex.: <emitância r.> <calor r.> <farosagem r.>
2 que radia; brilhante, fulgurante, irradiante Ex.: cristal r.
3 Derivação: sentido figurado. que é belo, esplêndido Ex.: plumas de cores r.
Como podemos perceber, os sentidos estéticos em jeitoso e radiante não
são a lexia de base (acepção 1), nos termos do que estudamos no Capítulo 1, na
subseção 1.3.2.1, relativa aos conceitos basilares do DEC: as lexias de base aqui
são jeitoso1, ligado à noção de jeito (ou seja, adjetivo derivado de nome), e
radiante1, ligado à noção de raio (ou seja, também aqui um adjetivo denominal).
Precisemos que, formalmente, não é o radiante que é derivado de raio: o adjetivo
português radiante advém do adjetivo latino radians, que deriva de um nome
radio (raio). Lexicalmente, a derivação deu-se no latim, mas semanticamente a
relação permanece em português, no sentido de que, lexicograficamente,
definimos radiante em função do elemento definitório raios.
referida ferramenta, e o dicionário Caldas Aulete está sendo usado na sua versão em papel, cuja
versão eletrônica está por ser editada.
125
Assim, não podemos dizer que os vocábulos (enquanto palavras
polissêmicas) jeitoso e radiante pertencem ao campo semântico da estética, pois
suas lexias de base pertencem a outros campos que não o estético. É forçoso
dizer que se inserem no campo estético apenas as lexias jeitoso2 e radiante3.
Porém, como nesta dissertação não pretendemos efetuar uma análise
quantitativa, mas sim qualitativa das descrições lexicográficas dos adjetivos
estéticos, optamos por considerar apenas as lexias não derivadas
semanticamente, ou, dito de outra, preferimos avaliar o-somente as lexias
tipicamente estéticas. Para tal, formulamos no passo 2 o critério da presença do
identificador de campo na acepção 1, que selecionará do conjunto de lexias
listadas no passo 1, aquelas que constituírem lexias de base portadoras do
identificador de campo. Com isso, estaremos delimitando, no âmbito dos
dicionários vernaculares em estudo, os adjetivos estéticos primitivos, no sentido
do que vimos no Capítulo 2, nos estudos de classe adjetival universal, e membros
primitivos (não derivados) desta classe, de Dixon (2004) e Luque Durán (2001).
Como decidimos que esta dissertação estaria voltada para o estudo dos
exemplares adjetivais do português brasileiro, o passo 3 ajudar-nos-á a selecionar
as lexias de uso menos restrito entre a comunidade lingüística visada pelos
dicionários em estudo.
Efetuemos o passo 1 de nosso procedimento, expondo as listas de
adjetivos portando o identificador belo (negritado e sublinhado nas lexias abaixo),
obtidas a partir da operação de pesquisa reversa nos dicionários Aurélio e
Houaiss:
126
AURÉLIO
angélico3 Belo ao extremo, ou perfeitíssimo.
asseado5. Bras. S. P. ext. Diz-se do objeto elegante, belo.
bacana1 Bras. Gír. Palavra-ônibus que exprime, encarecendo-as, inúmeras idéias apreciativas, e
equivale a bom, excelente, belo, simpático, elegante, luxuoso, bem-educado, muito leal,
inteligente, culto, etc., tudo no superlativo, aplicado a pessoas e/ou coisas; formidável, legal,
bárbaro, infernal, tranchã, maneiro, massa, esperto.
badejo4 Belo, vistoso.
bonito2 Formoso, belo: rosto bonito.
cutuba3 Bras. N. N.E. Bonito, belo.
donoso2 Bonito, formoso, belo.
especioso3 Formoso, belo, atraente, sedutor.
estético2 Que tem características de beleza; belo, harmonioso.
fachudo2 Bras. RS Diz-se do cavalo de bela estampa.
formoso1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
lindo1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: mulher linda; dia lindo; versos
lindos.
luminoso4 Belo, formoso: "um crepúsculo cheio de harmonias consoladoras e de luminosas
esperanças para uma radiante aurora." (Ramalho Ortigão, Em Paris, p. 263).
magnífico2 Muito bom ou muito belo; excelente: "Qualquer dos três compartimentos estava
luxuosamente mobiliado e o leito era magnífico." (Artur Azevedo, Contos Cariocas, p. 57.)
majestoso3 Sublime, belo.
maravilhoso3 Belo, encantador: olhar maravilhoso.
preclaro2 Formoso, belo.
pulcro1 poét. Gentil, belo, formoso: "Adeus aos filtros da mulher bonita; / A esse rosto espanhol,
pulcro e moreno" (Raimundo Correia, Poesias, p. 62); "Arfam na graça dos coleios, / Nos rodopios
e meneios, / Os pomos pulcros dos seus seios." (Martins Fontes, Verão, p. 88).
radiante3 Muito bonito; belo, esplêndido.
rico5 Fig. Bonito, belo, lindo: uma rica pequena.
HOUAISS
127
adônico2 p.ext. muito belo; adoniano, adônio
adoníade2 p.ext. mulher jovem, muito bela e graciosa
debruado4 p.metf. tornado belo; enfeitado, requintado <enviou-lhe um bilhete d. de belas frases>
badejo6 B infrm. de bela aparência; bonito, vistoso
2
decorado2 tornado mais belo; embelezado, enfeitado <bolo d.> <vidro d.>
dourado5 fig. que tem bela mas ilusória aparência; idealizado <fizeram-no crer numa realidade d.>
especioso3 formoso, belo, atraente, delicado, gentil <jovens especiosas>
estético1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
estético4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo <senso e.>
flóreo3 fig. ornado, viçoso, belo
formidável3 extremamente belo ou bom; magnífico
formoso1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde
concorrem as mais f. jovens da cidade>
formoso2 perfeito, puro, belo <uma f. alma>
gráfico8
belo quanto à natureza gráfica de sua forma, aspecto <a excelência g. de uma
foto>
jeitoso2 cuja aparência é bela, elegante; atraente, esbelto
kapás
2 TIM muito bem-feito; belo
legal3 B infrm. palavra-ônibus que qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos: belo (uma
pessoa l.; um sol.); bom (um marido l.); amável, compreensivo (uma professora l.); interessante,
curioso (uma dica l.); justo (uma decisão l.) etc.
lindo1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso
<uma l. aquarela> <um l. conto> <um l. gesto>
loução3 fig. belo, viçoso <natureza louçã>
luminoso9 fig. belo, magnífico, radioso <beleza l.>
magnífico6 extremamente bom e belo; formidável; excelente para o fim pretendido <m.
espetáculo> <uma seda m.> <um livro m.>
mirífico2 extraordinariamente belo; perfeito, maravilhoso, admirável <m. paisagem> <uma visão
m.>
namorado4 propício a amores; belo, encantador <o casal escolheu, para proteger-se, as sombras
n. de um bosque>
namorada2 cheia de encantos; bela
128
odara: Regionalismo: Brasil.1 palavra-ônibus que qualifica com atributos positivos: belo, bom,
excelente etc. <um sujeito o.>
perfeito5 formoso de corpo; belo, elegante
plástico
4 belo quanto à forma, ao aspecto; pictórico <a beleza p. de uma cena>
praxiteliano4 p.ext. belo, sensual
preclaro3 de grande beleza; formoso, belo
pulcro1: formal. belo, formoso <semblante p.> <p. donzelas>
radiante3 fig. que é belo, esplêndido <plumas de cores r.>
rico7 fig. agradável; bom, belo <temperatura amena, r.>
sensual5 belo, bonito <um homem s.> <uma mulher s.>
seráfico4 fig. digno dos serafins; belo, puro; sublime, excelso <amor s.>
soberbo3 que impressiona pelo aspecto grandioso, belo, magnífico, suntuoso, esplêndido,
sublime etc. <o espetáculo estava s.>
sublime1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s.
arquitetura do Partenon de Atenas>
urco2 RS grande e belo (diz-se de cavalo)
velido arc. belo, formoso
virtuoso5 que tem beleza e excelência; belo <v. artes>
Executando o passo 2 de nosso procedimento, temos os seguintes
resultados:
AURÉLIO
bacana1 Bras. Gír. Palavra-ônibus que exprime, encarecendo-as, inúmeras idéias apreciativas, e
equivale a bom, excelente, belo, simpático, elegante, luxuoso, bem-educado, muito leal,
inteligente, culto, etc., tudo no superlativo, aplicado a pessoas e/ou coisas; formidável, legal,
bárbaro, infernal, tranchã, maneiro, massa, esperto.
formoso1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
lindo1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: mulher linda; dia lindo; versos
lindos.
129
pulcro1 poét. Gentil, belo, formoso: "Adeus aos filtros da mulher bonita; / A esse rosto espanhol,
pulcro e moreno" (Raimundo Correia, Poesias, p. 62); "Arfam na graça dos coleios, / Nos rodopios
e meneios, / Os pomos pulcros dos seus seios." (Martins Fontes, Verão, p. 88).
HOUAISS
estético1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
formoso1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde
concorrem as mais f. jovens da cidade>
lindo1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso
<uma l. aquarela> <um l. conto> <um l. gesto>
odara: Regionalismo: Brasil.1 palavra-ônibus que qualifica com atributos positivos: belo, bom,
excelente etc. <um sujeito o.>
pulcro1: formal. belo, formoso <semblante p.> <p. donzelas>
sublime1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s.
arquitetura do Partenon de Atenas>
velido: arc. belo, formoso
Finalizando a recolha com o passo 3 de nosso procedimento, temos o
seguinte corpo de dados:
AURÉLIO
formoso1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
lindo1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: mulher linda; dia lindo; versos
lindos.
HOUAISS
estético1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
formoso1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde
concorrem as mais f. jovens da cidade>
lindo1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso
<uma l. aquarela> <um l. conto> <um l. gesto>
130
sublime1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s.
arquitetura do Partenon de Atenas>
Como podemos perceber, formoso e lindo são comuns aos dois dicionários.
Assim sendo, teremos cinco adjetivos a serem analisados: estético, formoso, lindo,
sublime e o próprio belo.
Vejamos na próxima subseção como serão organizados os dados
referentes às descrições lexicográficas dos referidos adjetivos selecionados.
3.4.4 Organização dos dados
Como dito alhures, nesta pesquisa, estaremos observando dados de quatro
grandes dicionários vernaculares do português brasileiro: Caldas Aulete (1964),
Houaiss (2001), Ferreira (1999) e Weiszflog (1998). Assim, tendo expendido o
corpo de dados ao qual será aplicada a análise, listemos aqui as descrições
lexicográficas presentes nos quatro dicionários citados de cada um dos cinco
adjetivos selecionados para a análise.
Principiemos pelo adjetivo belo, cujas descrições lexicográficas nos
dicionários vernaculares visados são as seguintes:
131
1. BELO
CALDAS AULETE
1 que é de forma agradável, de proporções harmônicas [diz-se igualmente de todo o corpo ou de alguma das suas
partes]: Uma bela dama. Um belo braço.
2 O belo sexo, o sexo feminino...
3 Feito com esmero, agradável à vista [falando das coisas]: Um belo palácio. Belos jardins.
4 Agradável ao ouvido. : Uma bela música.
5 Distinto, escolhido: Reúne-se ali uma bela companhia.
6 Que faz bem uma coisa: um belo pintor.
7 Diz-se do instrumento para designar que é manejado ou usado habilmente.: Este alfaiate tem uma bela tesoura.
O autor desta gravura tinha um belo buril.
8 [Também se diz do instrumento para designar a pessoa que se serve dele]: As mais belas penas se têm
ocupado deste assunto.
9 Ameno, aprazível, sereno: Ali passei os mais belos dias de minha mocidade.
10 Considerável pelo número, pela quantidade: Uma bela fortuna.
11 Considerável pelas dimensões: Um belo peixe.
12 Robusto, vigoroso: Uma bela saúde.
13 Que deve dar excelentes resultados; prometedor: Uma bela empresa.
14 Vantajoso; lucrativo: Um belo emprego.
15 Bem pensado, dito ou imaginado: Um belo poema.
16 Justo, profundo, penetrante [falando das qualidades intelectuais]: Um belo talento.
17 Grande, nobre, generoso: Uma alma como tu, cândida e bela, devo aliar contigo. (Bocage.)
18 De que resulta glória; honroso: Prestou belos serviços. Uma bela ação.
19 Lisonjeiro; fagueiro; que alegra, que contenta: Belas promessas.
20 Emprega-se muitas vezes com um sentido mal definido, e pouco mais ou menos equivalente ao indefinido um
certo: Um belo dia de manhã o ministério muda de opinião, de religião financeira. (Garrett.)
HOUAISS
1 que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição; que tem beleza;
lindo <uma b. 77escultura> <um b. quarteto de cordas>
2 que produz uma viva impressão de deleite e admiração <descortinava-se um b. panorama>
2.1 que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade <uma b. manhã>
3 cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres <assistimos a uma b.
aula>
4 de elevado valor moral; sublime <é b. viver por um ideal>
5 que redunda em honra ou glória <um b. triunfo>
6 que revela bondade; generoso <ser dotado de uma b. alma>
7 feito com apuro e proficiência; bem projetado e/ou bem construído <uma b. represa>
8 em que há felicidade; venturoso <levamos ali uma b. vida>
9 que oferece proveito; apreciável, lucrativo <fez um b. negócio>
10 notável pela quantidade, pela extensão, pela duração, pelas dimensões, pelo número etc. <tem uma b. coleção
de livros> <recebeu uma b. quantia>
11 difícil de prever, de precisar (falando-se de dia ou de parte dele); inesperado <uma b. tarde sumiram todos>
12 iron. que merece repreensão; lamentável <b. papel você fez ontem, hem?>
AURÉLIO
1 Que tem forma perfeita e proporções harmônicas: "Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina, / Mais do que a vida,
o orgulho de ser bela!" (Olavo Bilac, Tarde, p. 54); "Sonho o que jamais pude: / -- Belo como Davi, forte como
Golias..." (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, p. 29).
2 Que é agradável aos sentidos.
3 Elevado; sublime: "Pela pátria morrer é nobre, é belo!" (Marquesa de Alorna, Poesias, p. 117.)
4 Majestoso, grandioso, imponente: "Mar, belo mar selvagem / Das nossas praias solitárias!" (Vicente de
Carvalho, Poemas e Canções, p. 137.)
5 Bom, generoso: Tem um belo coração.
6 Ameno, aprazível, sereno.
7 Próspero, feliz.
8 Considerável pelo número, quantidade ou dimensões: Tem uma bela criação: mais de 10.000 cabeças.
9 De que resulta lucro, vantagem; vantajoso: Trabalhou muito, mas alcançou belo resultado -- deram-lhe o
emprego.
10 De que resulta glória; honroso: Foi uma bela vitória, a da seleção brasileira!
11 Tem, por vezes, um sentido indefinido, próximo ao de certo (9): Um belo dia aparece de volta.
~ V. o -- sexo.
132
MICHAELIS
1 Que tem beleza; formoso, lindo.
2 Que tem proporções harmônicas.
3 Agradável ao ouvido.
4 Distinto, escolhido.
5 Ameno, aprazível, sereno.
6 Feliz, próspero.
7 Robusto, vigoroso.
8 Emprega-se com um sentido mal definido, e pouco mais ou menos equivalente ao do indefinido certo: Um belo
dia, resolveu entrar para o convento.
O adjetivo estético é descrito, por sua vez, das seguintes formas, nos
citados dicionários:
2. ESTÉTICO
CALDAS AULETE
1 que tem relação com a estética;
2 que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo: Impressão, apreciação estética; as condições estéticas de
um monumento, de uma estátua, etc.
HOUAISS
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo <avaliação e. de uma obra de arte> <o aspecto e. de um
arranjo floral>
3 que denota bom gosto; atraente <combinação de cores pouco e.>
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo <senso e.>
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo <pôs nova coroa dentária por razões e.>
<cirurgia e.>
AURÉLIO
1 Relativo à estética, ao sentimento do belo: senso estético; emoção estética.
2Que tem características de beleza; belo, harmonioso: decoração estética.
3 Concernente à beleza do corpo: cuidados estéticos.
MICHAELIS
1 Relativo à estética.
2 Concernente ao sentimento ou apreciação do belo.
Terceiro na nossa lista é o adjetivo estético formoso, cujas descrições
lexicográficas no conjunto dicionarístico selecionado podem ser examinadas
abaixo:
3. FORMOSO
CALDAS AULETE
1 belo, bonito, bem feito; de feições, de formas perfeitas: Basta afirmá-lo boca tão formosa. (Garrett.) Oh! Que
formosos cachos. (Castilho.)
2 Aprazível, ameno, deleitoso: Formosa manhã clara e deleitosa. (Camões.)
3 Esplêndido, brilhante: Os formosos dias do poderio e renome. (Herc.)
4 Sonoro, harmonioso: Nem acoimes à língua tão formosa o desprimor e as faltas do poeta. (Garrett.)
5 Perfeito, puro, estreme, cândido: Protesto inútil de algumas almas formosas e puras. (Herc.)
133
HOUAISS
1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde concorrem as mais f. jovens
da cidade>
2 perfeito, puro, belo <uma f. alma>
3 aprazível, ameno <uma f. manhã de abril>
4 sonoro, harmonioso <na f. língua dos antigos bardos>
5 esplêndido, magnífico <uma f. demonstração de amor ao próximo>
AURÉLIO
1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
2 Deleitoso, aprazível.
3 Magnífico, brilhante, esplêndido.
4 Perfeito, primoroso.
5 Harmonioso, sonoro.
MICHAELIS
1 De feições ou formas perfeitas, de aspecto agradável.
2 Belo.
3 Deleitoso.
4 Perfeito, puro, estreme, cândido.
A lexia lindo tem como descrições de cunho lexicográfico nos dicionários
eleitos para a análise que podem ser vistas a seguir:
4. LINDO
CALDAS AULETE
1 formoso, belo, bonito
2 agradável
3 vistoso
4 airoso
5 elegante: Onde vais tão alva e linda, mas tão triste e pensativa? (Garrett.) Aquelas madeixas negras como folgam
lindas! (R. da Silva).
HOUAISS
1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso <uma l. aquarela> <um l.
conto> <um l. gesto>
2 que se caracteriza pela harmonia; elegante <essa saia está l., no rigor da moda>
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso <l. trabalho de ourivesaria>
4 fig. que transmite prazer, deleite; prazenteiro, agradável <passamos um dia l.>
5 ant. que é claro, limpo
AURÉLIO
1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: mulher linda; dia lindo; versos lindos.
2 Gracioso, delicado; mimoso: As lindas borboletas alegram a paisagem; O colar é um lindo trabalho de
ourivesaria.
3 Bem aprestado; elegante, airoso: A noiva estava linda.
4 Delicado, sensível; distinto; sutil: um lindo gesto de generosidade.
5 Apurado, perfeito, primoroso; puro: Escreve um lindo português; Tem móveis em lindo estilo D. João V.
MICHAELIS
1 Belo, formoso.
2 Garboso, elegante.
3 Delicado, primoroso.
4 Aprazível, agradável.
Encerrando nossa lista de descrições lexicográficas, está o adjetivo
sublime, como podemos observar na seqüência:
134
5. SUBLIME
CALDAS AULETE
1 elevado, levantado acima de todos: Ali sublime o fogo estava em cima, que em nenhum a matéria se sustinha.
(Camões)
2 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material: Da estátua erguida por gênio sublime do homem...
(Montalverne)
3 Alto, elevado.
4 Grande, nobre, majestoso, elevado nos seus atos, nas suas palavras, etc.: Eram sublimes os mártires, quando
perante os césares davam testemunho do Evangelho. (Herc.)
5 Muito excelente, muito grande, poderoso, muito nobre, subido: Coragem sublime; E vendo o rei sublime
castelhano (Camões.)
6 Magnífico, esplêndido, excelente: Amanheceu hoje um belo dia, puro e sublime. (Garrett.)
7 Agradável, encantador: Naquela sublime solidão. (Lat. Coelho.)
8 Grandioso, soberbo, extraordinário: Religião sublime, teu sopro é bem abrasador, tua influência, é bem
miraculosa. (Montalverne.)
HOUAISS
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto
1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s. arquitetura do Partenon
de Atenas>
2 moralmente irrepreensível; digno de admiração <vida s.>
3 intelectualmente irretocável, perfeito <obra s.>
4 cujos méritos ultrapassam o normal <ela foi s. em sua dedicação materna> <herói s. da nossa pátria>
5 que em relação a outros está em posição superior ou distinta; insigne, perfeito, preexcelente <a s. poesia de
Petrarca>
6 de uma beleza radiosa; esplendente, esplêndido, magnífico <o dia abriu puro e s.>
7 digno do reino celestial; que se eleva acima do humano, do material; celeste, divino <seu canto era s. e
enlevava> <um rosto calmo e s.>
8 que desperta pensamentos e sentimentos nobres; elevado, magnífico, excelso <estilo s.>
AURÉLIO
1 Que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos; quase perfeito: gesto
sublime; devotamento sublime; argumentação sublime; poesia sublime; escultura sublime.
2 Cujos méritos transcendem o normal; inexcedível; muito admirável: Tiradentes foi sublime em seu martírio.
3 Diz-se de quem está em posição superior à de outros, ou distinta da de outros; insigne, celso, excelso,
preexcelso, preexcelente: Era amado e respeitado o sublime imperador; O sublime patriarca distribuía justiça.
4 Esplêndido, esplendente, magnífico: O astro sublime brilhava no céu.
5 Grandioso, augusto, magnífico, esplêndido, soberbo: "Meu Deus! Como é sublime um canto ardente / Pelas
vagas sem fim boiando à toa!" (Castro Alves, Obra Completa, p. 278.)
6 Encantador; maravilhoso; divino: música sublime; sublime enlevo.
7 Muito bonito; formosíssimo, gentil, lindo: uma sublime figura de mulher.
8 Nobre, pomposo, elevado, erguido: estilo sublime; eloqüência sublime.
MICHAELIS
1 Que é dotado de uma elevação excepcional.
2 Lit Diz-se do estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas de relevo e brilho fora do vulgar.
3 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material.
4 Elevado nas suas palavras, nos seus atos; grande, majestoso, nobre.
5 Muito excelente, muito nobre; poderoso, subido.
6 Esplêndido, magnífico.
7 Agradável, encantador.
8 Extraordinário, grandioso, soberbo.
As descrições lexicográficas que vimos de contemplar é que compõem
nosso repertório de dados, pois os adjetivos selecionados não serão observados
independentemente, ou seja, toda a análise estará voltada para o exame das
descrições em si, no que tange à sua estrutura semântica, sintática e
dicionarística, conforme veremos no próximo capítulo.
135
Com isso concluímos a exposição do planejamento metodológico desta
dissertação, que foi apresentado segundo quatro aspectos: no que toca à natureza
da pesquisa metalexicográfica e aos princípios metodológicos a esta inerentes; no
tangente aos conceitos micro- (sobretudo, em relação aos conceitos léxico-
semânticos e léxico-sintáticos da abordagem explicativo-combinatória) e
macroestruturais (sobremaneira em relação aos conceitos de campo semântico e
identificador de campo) do DEC; e no concernente aos critérios e procedimentos
de seleção, recolha e organização dos dados lexicográficos que formam o corpo
de lexias e descrições lexicográficas estéticas sobre o qual incidirá a análise.
Expendido o planejamento metodológico, passemos à análise dos dados no
capítulo a seguir.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, levaremos a efeito a análise dos dados selecionados no
capítulo anterior segundo os referenciais teórico (vistos nos Capítulos 1 e 2)
metodológico (observados no Capítulo 3). A presente análise estará dividida da
seguinte forma: na seção 4.1, serão apresentados os fundamentos e os
procedimentos para a análise dos dados. Na seção 4.2, será apresentada a
análise dos dados em relação às questões microestruturais, ou seja, de descrição
semântica (subseção 4.2.1) e de descrição sintática (subseção 4.2.1). A análise
macroestrutural terá lugar na seção 4.3, quando trataremos da aplicação dos
conceitos de campo semântico e de redes lexicais aos dados selecionados. E na
seção 4.4, fecharemos o capítulo da análise, discutindo os resultados desta
extraídos.
4.1 Fundamentos da análise dos dados
Como anunciado no primeiro capítulo desta dissertação, seguiremos os
princípios lexicológicos da TLEC e do DEC para realizar a presente análise.
137
Procuraremos aplicar os critérios de descrição lexicográfica desenvolvidos no seio
da referida teoria à análise, zona semântica, zona sintática e da macroestrutura.
Tomando os fundamentos da TLEC abordados no curso desta dissertação:
- Quanto aos aspectos semânticos, serão analisados:
1) o definiens, no que tange à regra de decomposição semântica;
2) a metalinguagem, no que tange à regra da estandardização;
3) indicador de campo semântico, no que tange à análise dos elementos
definitórios.
- Quanto aos aspectos sintáticos, serão analisados:
1) o definiendum, no que tange à regra da forma proposicional;
2) a relação sintaxe-semântica;
3) o esquema de regência.
- Quanto à macroestrutura, no que toca à questão das redes lexicais.
Destacados os fundamentos da análise, passemos à primeira etapa
analítica, referente aos aspectos microestruturais.
4.2 Análise Microestrutural
Nessa primeira fase da análise, estaremos nos voltando para os aspectos
léxico-semânticos e léxico-sintáticos das descrições lexicográficas selecionadas.
Comecemos pelas questões semânticas.
138
4.2.1 Análise da descrição semântica
Como anunciado na seção concernente aos fundamentos da análise,
estaremos visando aqui às questões relacionadas à definição lexicográfica, lugar
da descrição semântica, no que se refere a dois aspectos: ao definiens e à
metalinguagem. Apesar de o definiendum ser uma noção abordada na zona
semântica do DEC, deixaremos a sua análise para a seção relativa aos aspectos
sintáticos, por ser aquele um conceito de natureza semântico-sintática, e não
apenas sintática.
Comecemos, então, pela noção de definiens. Como analisamos no Capítulo
3, o definiens constitui uma paráfrase que analisa o sentido da lexia a ser definida,
sendo formado, para tanto, com lexias mais simples. O ato de analisar em
unidades lexicais mais simples é traduzido, no âmbito, da TLEC na regra de
decomposição semântica.
Verifiquemos como são redigidos os definiens das lexias selecionadas para
a análise a fim de observarmos como se a decomposição semântica em cada
caso. Encetemos nosso estudo com o item lexical belo
77
:
139
1. BELO
CALDAS AULETE
1 que é de forma agradável, de proporções harmônicas
3 Feito com esmero, agradável à vista
4 Agradável ao ouvido.
5 Distinto, escolhido
6 Que faz bem uma coisa
7 Diz-se do instrumento para designar que é manejado ou usado habilmente.
8 Também se diz do instrumento para designar a pessoa que se serve dele.
9 Ameno, aprazível, sereno.
10 Considerável pelo número, pela quantidade.
11 Considerável pelas dimensões,
12 Robusto, vigoroso.
13 Que deve dar excelentes resultados; prometedor.
14 Vantajoso; lucrativo.
15 Bem pensado, dito ou imaginado.
16 Justo, profundo, penetrante.
17 Grande, nobre, generoso.
18 De que resulta glória; honroso.
19 Lisonjeiro; fagueiro; que alegra, que contenta.
20 Equivalente ao indefinido um certo.
HOUAISS
1 que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição; que tem beleza;
lindo
2 que produz uma viva impressão de deleite e admiração
2.1 que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade
3 cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres
4 de elevado valor moral; sublime
5 que redunda em honra ou glória
6 que revela bondade; generoso
7 feito com apuro e proficiência; bem projetado e/ou bem construído
8 em que há felicidade; venturoso
9 que oferece proveito; apreciável, lucrativo
10 notável pela quantidade, pela extensão, pela duração, pelas dimensões, pelo número etc.
11 difícil de prever, de precisar (falando-se de dia ou de parte dele); inesperado
12 iron. que merece repreensão; lamentável
AURÉLIO
1 Que tem forma perfeita e proporções harmônicas.
2 Que é agradável aos sentidos.
3 Elevado; sublime.
4 Majestoso, grandioso, imponente.
5 Bom, generoso.
6 Ameno, aprazível, sereno.
7 Próspero, feliz.
8 Considerável pelo número, quantidade ou dimensões.
9 De que resulta lucro, vantagem; vantajoso.
10 De que resulta glória; honroso.
11 Tem, por vezes, um sentido indefinido, próximo ao de certo
MICHAELIS
1 Que tem beleza; formoso, lindo.
2 Que tem proporções harmônicas.
3 Agradável ao ouvido.
4 Distinto, escolhido.
5 Ameno, aprazível, sereno.
6 Feliz, próspero.
7 Robusto, vigoroso.
8 Emprega-se com um sentido mal definido, e pouco mais ou menos equivalente ao do indefinido certo
77
Não consideraremos a descrição da unidade lexical complexa belo sexo, recorrente nos verbetes
de belo, pois não estamos tratando das combinatórias na presente dissertação.
140
Das descrições acima podemos depreender que existem alguns padrões de
estruturação de definiens, que chamaremos aqui de padrões definitórios
78
. Em
Caldas Aulete, temos os seguintes padrões definitórios:
1) que é de nome + adjetivo
que é de forma agradável
que é de proporções harmônicas
2) adjetivo
ameno
aprazível
distinto
escolhido
fagueiro
generoso
grande
honroso
justo
lisonjeiro
lucrativo
nobre
penetrante
profundo
prometedor
robusto
sereno
vantajoso
vigoroso
3) adjetivo + complemento
agradável à vista
agradável ao ouvido
considerável pela quantidade
considerável pelas dimensões
considerável pelo número
4) relativo a fazer algo bem / bem + particípio
bem dito
bem imaginado
78
Para um estudo aprofundado da relação padrão definitório / definição, ver Bodson (2003).
141
bem pensado
feito com esmero
que faz bem uma coisa
5) que + verbo
que alegra
que contenta
6) de que resulta X, sendo X = nome
de que resulta glória
7) que dá X, sendo X = adjetivo + nome
que deve dar excelentes resultados
8) belo X = X usado habilmente (X= instrumento)
instrumento que é manejado ou usado habilmente.
9) belo X = Y usa X habilmente (X= instrumento) (Y= pessoa)
diz-se do instrumento para designar a pessoa que se serve dele
10) equivalente a pronome indefinido
certo
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
belo em Houaiss são os seguintes:
1) que tem X, sendo X = nome (+ adjetivo)
que tem beleza
que tem formas e proporções (esteticamente) harmônicas, tendendo a um ideal
de perfeição
2) adjetivo
apreciável
generoso
inesperado
lamentável (irônico)
lindo
lucrativo
sublime
venturoso
3) adjetivo + complemento
142
difícil de precisar (falando-se de dia ou de parte dele)
difícil de prever
notável pela duração
notável pela extensão
notável pela quantidade
notável pelas dimensões
notável pelo número
4) relativo a fazer algo bem / bem + particípio
bem construído
bem projetado
feito com apuro e proficiência
5) de X, sendo X = adjetivo
1
+ nome + adjetivo
2
de elevado valor moral
6) em que há X, sendo X = nome
em que há felicidade
7) que oferece X, sendo X = nome
que oferece proveito
8) que redunda em X, sendo X = nome
que redunda em honra ou glória
9) que revela em X, sendo X = nome
que revela bondade
10) cujas qualidades o tornam destacado
cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus
congêneres
11) que produz impressão X, senso X = de + nome
que produz uma viva impressão de deleite e admiração
12) que provoca sensação X, senso X = de + nome
que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade
13) que merece X, senso X = nome
que merece repreensão (irônico)
14) equivalente a pronome indefinido
certo
143
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
belo em Aurélio são os seguintes:
1) que tem X e Y, sendo X = nome + adjetivo e Y = nome + adjetivo
que tem forma perfeita e proporções harmônicas.
2) adjetivo
ameno
aprazível
bom
elevado
feliz
generoso
grandioso
honroso
imponente
majestoso
próspero
sereno
sublime
vantajoso
3) adjetivo + complemento
agradável aos sentidos
considerável pelo número
considerável pela quantidade
considerável pelas dimensões
4) de que resulta X, sendo X= nome
de que resulta lucro
de que resulta vantagem
de que resulta glória
5) equivalente a pronome indefinido
certo
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
belo em Michaelis são os seguintes:
1) que tem X, sendo X = nome (+ adjetivo)
144
que tem proporções harmônicas
que tem beleza
2) adjetivo
ameno
aprazível
distinto
escolhido
feliz
formoso
lindo
próspero
robusto
sereno
vigoroso
3) adjetivo + complemento
agradável ao ouvido
4) equivalente a pronome indefinido
certo
Vejamos agora a mesma análise dos padrões definitórios para a lexia
estético.
2. ESTÉTICO
CALDAS AULETE
1 que tem relação com a estética
2 que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo
HOUAISS
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo
3 que denota bom gosto; atraente
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
AURÉLIO
1 Relativo à estética, ao sentimento do belo
2Que tem características de beleza; belo, harmonioso
3 Concernente à beleza do corpo
MICHAELIS
1 Relativo à estética.
2 Concernente ao sentimento ou apreciação do belo.
Em Caldas Aulete, temos os seguintes padrões definitórios:
145
1) que tem relação com X, sendo X = nome
que tem relação com a estética
2) que diz respeito a X, sendo X = nome + de Y, sendo Y = nome
que diz respeito ao sentimento do belo
que diz respeito à apreciação do belo
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
estético em Houaiss são os seguintes:
1) relativo a X, sendo X = nome
relativo à estética
2) relativo a X, sendo X = nome + complemento
relativo ao estudo
relativo à conceituação do belo
3) adjetivo
atraente
4) que denota X, sendo X = adjetivo + nome
que denota bom gosto
5) relativo à capacidade X, sendo X = de + verbo + complemento
relativo à capacidade de identificar o que é belo
relativo à capacidade de apreciar o que é belo
6) que diz respeito a ou que visa a X, sendo X = nome + complemento
que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
estético em Aurélio são os seguintes:
1) relativo a X, sendo X = nome (+ adjetivo)
relativo à estética
relativo ao sentimento estético
2) que tem características de X, sendo X = nome
146
que tem características de beleza
3) concernente a X, sendo X = nome + complemento
concernente à beleza do corpo
4) adjetivo
belo
harmonioso
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
estético em Michaelis são os seguintes:
1) relativo a X, sendo X = nome
relativo à estética
2) concernente a X, sendo X = nome + complemento
concernente ao sentimento do belo
concernente à apreciação do belo
Já a lexia formoso apresenta os seguintes padrões definitórios:
3. FORMOSO
CALDAS AULETE
1 belo, bonito, bem feito; de feições, de formas perfeitas.
2 Aprazível, ameno, deleitoso.
3 Esplêndido, brilhante.
4 Sonoro, harmonioso.
5 Perfeito, puro, estreme, cândido.
HOUAISS
1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita.
2 perfeito, puro, belo
3 aprazível, ameno
4 sonoro, harmonioso
5 esplêndido, magnífico
AURÉLIO
1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
2 Deleitoso, aprazível.
3 Magnífico, brilhante, esplêndido.
4 Perfeito, primoroso.
5 Harmonioso, sonoro.
MICHAELIS
1 De feições ou formas perfeitas, de aspecto agradável.
2 Belo.
3 Deleitoso.
4 Perfeito, puro, estreme, cândido.
Em Caldas Aulete, temos os seguintes padrões definitórios:
147
1) de X, sendo X = nome + adjetivo
de feições perfeitas
de formas perfeitas
2) adjetivo
ameno
aprazível
belo
bonito
brilhante
cândido
deleitoso
esplêndido
estreme
harmonioso
perfeito
puro
sonoro
3) bem + particípio
bem feito
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
formoso em Houaiss são os seguintes:
1) de X, sendo X = nome
1
ou nome
2
+ adjetivo
de forma ou aparência agradável
de forma ou aparência bela
de forma ou aparência bonita
2) de X, sendo X = nome
1
ou nome
2
+ bem + particípio
de forma ou aparência bem feita
3) adjetivo
ameno
aprazível
belo
esplêndido
harmonioso
magnífico
perfeito
puro
148
sonoro
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
formoso em Aurélio são os seguintes:
1) de X, sendo X = nome
+ adjetivo
de aspecto agradável
de feições agradáveis
de formas agradáveis
2) de X, sendo X = nome
1
ou nome
2
+ bem + particípio
de forma ou aparência bem feita
3) adjetivo
aprazível
belo
bonito
brilhante
deleitoso
esplêndido
harmonioso
magnífico
perfeito
primoroso
sonoro
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
formoso em Michaelis são os seguintes:
1) de X, sendo X = nome
+ adjetivo
de aspecto agradável
2) de X, sendo X = nome
1
ou nome
2
+ adjetivo
de feições ou formas perfeitas
3) adjetivo
belo
cândido
deleitoso
estreme
149
perfeito
puro
Avaliemos a lexia lindo
79
em relação a seus padrões definitórios:
4. LINDO
CALDAS AULETE
1 formoso, belo, bonito
2 agradável
3 vistoso
4 airoso
5 elegante
HOUAISS
1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso
2 que se caracteriza pela harmonia; elegante
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso
4 fig. que transmite prazer, deleite; prazenteiro, agradável
AURÉLIO
1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso
2 Gracioso, delicado; mimoso
3 Bem aprestado; elegante, airoso
4 Delicado, sensível; distinto; sutil
5 Apurado, perfeito, primoroso; puro
MICHAELIS
1 Belo, formoso.
2 Garboso, elegante.
3 Delicado, primoroso.
4 Aprazível, agradável.
Em Caldas Aulete, temos os seguintes padrões definitórios:
1) adjetivo
agradável
airoso
belo
bonito
elegante
formoso
vistoso
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
lindo em Houaiss são os seguintes:
79
Não consideraremos aqui a acepção 5 de lindo em Houaiss, considerada pelo lexicógrafo em
questão como um arcaísmo: 5 ant. que é claro, limpo (HOUAISS, 2001).
150
1) que apresenta X, sendo X = nome + adjetivo
que apresenta beleza singela e sutil, geralmente com formas miúdas
2) que se caracteriza por X, sendo X = nome
que se caracteriza pela harmonia
3) que transmite X, sendo X = nome
que transmite prazer
que transmite deleite
4) adjetivo
agradável
belo
bonito
delicado
elegante
formoso
prazenteiro
primoroso
vistoso
5) adjetivo + complementos
prazeroso de se apreciar
prazeroso de se contemplar
prazeroso de se ouvir
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
lindo em Aurélio são os seguintes:
1) adjetivo
airoso
apurado
belo
bonito
delicado
delicado
distinto
elegante
formoso
gracioso
mimoso
perfeito
primoroso
151
puro
sensível
sutil
2) adjetivo + complemento
agradável à vista ou ao espírito
3) bem + particípio
bem aprestado
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
lindo em Michaelis são os seguintes:
1) adjetivo
agradável
aprazível
belo
delicado
elegante
formoso
garboso
primoroso
Detenhamo-nos agora na lexia sublime, observado os seus padrões
definitórios:
5. SUBLIME
CALDAS AULETE
1 elevado, levantado acima de todos
2 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material
3 Alto, elevado
4 Grande, nobre, majestoso, elevado nos seus atos, nas suas palavras, etc.
5 Muito excelente, muito grande, poderoso, muito nobre, subido
6 Magnífico, esplêndido, excelente
7 Agradável, encantador
8 Grandioso, soberbo, extraordirio
HOUAISS
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto
1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário
2 moralmente irrepreensível; digno de admiração
3 intelectualmente irretocável, perfeito
4 cujos méritos ultrapassam o normal
5 que em relação a outros está em posição superior ou distinta; insigne, perfeito,
preexcelente
6 de uma beleza radiosa; esplendente, esplêndido, magnífico
7 digno do reino celestial; que se eleva acima do humano, do material; celeste, divino
8 que desperta pensamentos e sentimentos nobres; elevado, magnífico, excelso
152
AURÉLIO
1 Que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos;
quase perfeito
2 Cujos méritos transcendem o normal; inexcedível; muito admirável
3 Diz-se de quem está em posição superior à de outros, ou distinta da de outros; insigne,
celso, excelso, preexcelso, preexcelente
4 Esplêndido, esplendente, magnífico
5 Grandioso, augusto, magnífico, esplêndido, soberbo
6 Encantador; maravilhoso; divino
7 Muito bonito; formosíssimo, gentil, lindo
8 Nobre, pomposo, elevado, erguido
MICHAELIS
1 Que é dotado de uma elevação excepcional.
2 Lit Diz-se do estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas de relevo e
brilho fora do vulgar.
3 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material.
4 Elevado nas suas palavras, nos seus atos; grande, majestoso, nobre.
5 Muito excelente, muito nobre; poderoso, subido.
6 Esplêndido, magnífico.
7 Agradável, encantador.
8 Extraordinário, grandioso, soberbo.
Em Caldas Aulete, temos os seguintes padrões definitórios:
1) que atingiu X, sendo X = adjetivo
1
+ nome + adjetivo
2
que atingiu grande perfeição intelectual ou material
2) adjetivo
agradável
alto
elevado
encantador
esplêndido
excelente
extraordinário
grande
grandioso
magnífico
majestoso
(muito) excelente
(muito) grande
(muito) nobre
nobre
poderoso
soberbo
subido
3) adjetivo + complemento
levantado acima de todos
elevado nos seus atos
153
elevado nas suas palavras
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
sublime em Houaiss são os seguintes:
1) que apresenta X, sendo X = adjetivo
1
+ nome + adjetivo
2
que apresenta inexcedível perfeição intelectual
que apresenta inexcedível perfeição material
que apresenta inexcedível perfeição moral
2) que desperta X, sendo X = nome + adjetivo
que desperta pensamentos nobres
que desperta sentimentos nobres
3) de X, sendo X = nome + adjetivo
de uma beleza radiosa
4) cujas qualidades o tornam destacado
cujos méritos ultrapassam o normal
5) que está em posição superior
que em relação a outros está em posição superior ou distinta
que se eleva acima do humano
que se eleva acima do material
6) adjetivo
augusto
(superlativamente) belo
celeste
divino
elevado
elevado
esplendente
esplêndido
excelso
extraordinário
grandioso
insigne
(intelectualmente) irretocável
(moralmente) irrepreensível
magnífico
(esteticamente) perfeito
154
(intelectualmente) perfeito
preexcelente
soberbo
7) adjetivo + complemento
digno de admiração
digno do reino celestial
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
sublime em Aurélio são os seguintes:
1) que atingiu X, sendo X = nome + complementos
que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais
ou estéticos
2) adjetivo
(muito) admirável
(quase) perfeito
augusto
celso
divino
elevado
encantador
erguido
esplendente
esplêndido
esplêndido
excelso
formosíssimo
gentil
grandioso
inexcedível
insigne
lindo
magnífico
magnífico
maravilhoso
muito bonito
nobre
pomposo
preexcelente
preexcelso
soberbo
155
3) cujas qualidades o tornam destacado
cujos méritos transcendem o normal
4) que está em posição superior
Diz-se de quem está em posição superior à de outros, ou distinta da de outros
Os padrões definitórios presentes nos definiens das acepções do verbete
belo em Michaelis são os seguintes:
1) que é dotado de X, sendo X = nome + adjetivo
Que é dotado de uma elevação excepcional.
2) que atingiu X, sendo X = adjetivo
1
+ nome + adjetivo
2
que atingiu grande perfeição intelectual ou material
3) adjetivo
grande
majestoso
nobre
agradável
encantador
esplêndido
extraordinário
grandioso
magnífico
(muito) excelente
(muito) nobre
poderoso
soberbo
subido
4) adjetivo + complemento
elevado nas suas palavras, nos seus atos
5) equivalente a estilo nobre
Lit Diz-se do estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas
de relevo e brilho fora do vulgar
Para fins de análise, usaremos as seguintes abreviaturas:
N: nome
ADJ: adjetivo
156
CO: complemento do adjetivo
L
X: lexia L é definida em função de X
V: verbo
Lançando um olhar sobre todas essas definições e padrões definitórios em
conjunto, e buscando abstrair a regularidade que subjaz a tais estruturas,
depreendemos que a definição dos adjetivos estéticos é feita na grande maioria
dos casos tendo como esteio os semantismos de outros adjetivos. Tal
característica (a de definir-se um adjetivo com outro adjetivo) da definição
lexicográfica adjetival já foi objeto de breve análise no Capítulo 2, quando tratamos
dos problemas da definição adjetival (seção 2.1), porém a idéia lançada deve
ser agora, na presente análise, investigada em detalhe. Percorramos os dados
acima, a fim de detectar as regularidades.
Podemos ver, a partir dos padrões definitórios acima, que o padrão comum
a todas as descrições lexicográficas é o que define a lexia adjetival por intermédio
de um outro adjetivo, estando este ora sem complementação (doravante, L
Adj
=
Adj), ora com complementação (doravante, L
Adj
ADJ + CO). Porém, este não é
o único padrão que depende do adjetivo, pois a definição que faz uso de uma
estrutura “nome + adjetivo” (doravante, L
Adj
N +ADJ e L
Adj
ADJ + N) também
radica no semantismo adjetival. É adjetival também a estrutura definitória baseada
no padrão “bem + particípio”, por serem, no português brasileiro, as expressões
resultantes deste tipo de composição, sempre adjetivais. Da mesma forma,
deveremos dizer que as definições que estão em função de adjetivos, tais como
destacado (cujas qualidades o tornam destacado), superior (que está em posição
157
superior ) ou nobre (estilo nobre), também são dependentes semanticamente de
um de adjetivos. Existe uma dependência indireta à categoria adjetival em
definições que se baseiam em nomes deadjetivais, tais como beleza,
embelezamento ou belo (substantivo) (doravante, L
Adj
N
deadj
).
Reorganizando os dados referentes às definições e padrões definitórios
todas as lexias acima, em função dos três tipos definitórios desenvolvidos acima
(L
Adj
ADJ (+ CO); L
Adj
N +ADJ / L
Adj
ADJ + N; L
Adj
N
deadj
), temos:
belo
1) L
Adj
N +ADJ / L
Adj
ADJ + N
[que é de X / que tem X / de X, sendo X = (ADJ
1
) +N + (ADJ
2
)] ou [que X, sendo X =
adjetivo + nome]
de elevado valor moral
que deve dar excelentes resultados
que é de forma agradável
que é de proporções harmônicas
que tem forma perfeita e proporções harmônicas.
que tem formas e proporções (esteticamente) harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição
que tem proporções harmônicas
2) L
Adj
ADJ (+ CO)
ADJ
agradável à vista
agradável ao ouvido
agradável aos sentidos
ameno
aprazível
apreciável
bem construído
bem dito
bem imaginado
bem pensado
bem projetado
bom
considerável pela quantidade
considerável pelas dimensões
considerável pelo número
destacado entre os seus congêneres
158
difícil de precisar (falando-se de dia ou de parte dele)
difícil de prever
distinto
elevado
escolhido
fagueiro
feito com apuro e proficiência
feito com esmero
feliz
feliz
formoso
generoso
grande
grandioso
honroso
honroso
imponente
inesperado
justo
lamentável (irônico)
lindo
lindo
lisonjeiro
lucrativo
majestoso
nobre
notável pela duração
notável pela extensão
notável pela quantidade
notável pelas dimensões
notável pelo número
penetrante
profundo
prometedor
próspero
que faz bem uma coisa
robusto
sereno
sublime
vantajoso
venturoso
vigoroso
estético
1) L
Adj
N
deadj
que diz respeito a X / relativo a X / concernente a X, sendo X = (N + prep +) N
deadj
(+ CO)
concernente à apreciação do belo
concernente à beleza do corpo
concernente ao sentimento do belo
que diz respeito à apreciação do belo
que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
159
que diz respeito ao sentimento do belo
que tem características de beleza
relativo à conceituação do belo
relativo ao estudo
relativo à capacidade X, sendo X = V + N
deadj
relativo à capacidade de identificar o que é belo
relativo à capacidade de apreciar o que é belo
2) L
Adj
ADJ
ADJ
atraente
belo
harmonioso
3) L
Adj
N +ADJ / L
Adj
ADJ + N
que denota X, sendo X = ADJ + N
que denota bom gosto
relativo a X, sendo X = N + ADJ
relativo ao sentimento estético
formoso
1) L
Adj
N +ADJ
de X, sendo X = N + ADJ
de aspecto agradável
de feições agradáveis
de feições ou formas perfeitas
de feições perfeitas
de forma ou aparência agradável
de forma ou aparência bela
de forma ou aparência bem feita
de forma ou aparência bonita
de formas agradáveis
de formas perfeitas
2) L
Adj
ADJ
ameno
aprazível
belo
bem feito
bonito
brilhante
cândido
deleitoso
esplêndido
estreme
160
harmonioso
harmonioso
magnífico
perfeito
primoroso
puro
sonoro
lindo
1) L
Adj
N
deadj
+ADJ
que apresenta X, sendo X = N
deadj
+ ADJ
que apresenta beleza singela e sutil, geralmente com formas miúdas
2) L
Adj
ADJ (+ CO)
ADJ
agradável
agradável à vista ou ao espírito
airoso
aprazível
apurado
belo
bem aprestado
bonito
delicado
distinto
elegante
formoso
garboso
gracioso
mimoso
perfeito
prazenteiro
prazeroso de se apreciar
prazeroso de se contemplar
prazeroso de se ouvir
primoroso
puro
sensível
sutil
vistoso
sublime
1) L
Adj
N +ADJ + (CO) / L
Adj
ADJ + N
161
que atingiu X / que apresenta X, que está em X, que é dotado de X, equivalente a, sendo
X = (ADJ
1
) + N + ADJ
2
+ (CO)
equivalente a estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas de relevo e
brilho fora do vulgar
que apresenta inexcedível perfeição intelectual
que apresenta inexcedível perfeição material
que apresenta inexcedível perfeição moral
que atingiu grande perfeição intelectual ou material
que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos
que desperta pensamentos nobres
que desperta sentimentos nobres
que é dotado de uma elevação excepcional
que está em posição distinta da de outros
que está em posição superior à de outros
2) L
Adj
ADJ (+ CO)
ADJ
(muito) admirável
agradável
alto
augusto
(superlativamente) belo
(muito) bonito
celeste
celso
digno de admiração
digno do reino celestial
divino
elevado
elevado nas suas palavras
elevado nas suas palavras, nos seus atos
elevado nos seus atos
encantador
erguido
esplendente
esplêndido
excelente
(muito) excelente
excelso
extraordinário
formosíssimo
gentil
grande
(muito) grande
grandioso
inexcedível
insigne
(moralmente) irrepreensível
(intelectualmente) irretocável
levantado acima de todos
lindo
magnífico
majestoso
162
maravilhoso
nobre
(muito) nobre
(esteticamente) perfeito
(intelectualmente) perfeito
(quase) perfeito
poderoso
pomposo
preexcelente
preexcelso
soberbo
subido
3) LAdj
Ndeadj
de X, sendo X = nome + adjetivo
de uma beleza radiosa
4) cujos méritos transcendem o normal
Como podemos observar, todas as definições podem ser reduzidas, de uma
forma ou outra, aos três tipos definitórios que desenvolvemos nesta análise.
Analisemo-los em detalhe, então.
Como o tipo definitório L
Adj
N +ADJ apresenta uma definição elaborada
em função tanto do nome quanto do adjetivo, para um consulente entendê-la
deverá ou saber o sentido do adjetivo em questão ou deverá buscar tal sentido no
dicionário que estiver usando. Assim, o sentido de L
Adj
dependerá do sentido de
outra L
Adj
: L
Adj1
N + (L
Adj2
). A análise de L
Adj
N
deadj
leva-nos ao fato de que
N
deadj
L
Adj
. Portanto, os três tipos definitórios podem ser reduzidos a um:
163
Tipos definitórios Base adjetival dos
tipos definitórios
Tipo definitório
final
1. L
Adj
N +ADJ
L
Adj
ADJ + N
L
Adj1
N + (L
Adj2
)
2. L
Adj
ADJ
L
Adj1
L
Adj2
3. L
Adj
N
deadj
N
deadj
L
Adj
L
Adj1
L
Adj2
Esquema 8: Tipo Definitório Final
Antes de prosseguirmos com a análise dos tipos definitórios, devemos
atentar para a única exceção nos dados de padrões definitórios acima: o tipo 4 de
sublime (“cujos méritos transcendem o normal”, cf. definição citada acima). Aqui
não temos a referência a nenhum adjetivo e a nenhum sentido estético.
Observando as acepções 1 que os quatro dicionários em estudo apresentam para
sublime, podemos notar que apenas em Houaiss e Aurélio é que um sentido
estético descrito diretamente, sendo todas as outras acepções relativas, em
primeiro plano, aos sentidos de elevado:
CALDAS AULETE
1 elevado, levantado acima de todos
HOUAISS
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto
1 Que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos; quase perfeito
AURÉLIO
1 Que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos; quase perfeito
MICHAELIS
1 Que é dotado de uma elevação excepcional.
Porém, mesmo em Houaiss, podemos contestar essa primazia do sentido
estético para sublime, pois, no referido dicionário, muitas vezes a prática de
inserção de uma definição introdutória, não numerada, em posição imediatamente
164
anterior à acepção 1, que poderíamos chamar de uma acepção 0. Nesta acepção
0, o sentido referido é o de elevado também. Ou seja, uma análise mais
detalhada, levando em conta a questão dos padrões e tipos definitórios aponta
para o fato de que não é consensual entre os dicionaristas em estudo ser sublime
um adjetivo pertencente ao campo semântico da estética, nos termos do que
vimos no Capítulo 3, ou seja, no sentido de apresentar em sua lexia de base o
semantismo estético (dito de outra, de apresentar em sua lexia de base o
identificado de campo semântico: no caso, belo). Aurélio seria a exceção mais
clara, uma vez que apresenta o elemento definitório “na escala dos valores
estéticos”. Porém, tal elemento é posto lado a lado com outros dois: na escala dos
valores intelectuais” e “na escala dos valores morais”. Assim, não podemos nos
posicionar de forma definitiva em relação ao vocábulo sublime, porquanto está
este numa região fronteiriça entre o pertencer e o não pertencer ao campo
semântico da estética nos moldes que entendemos tal conceito em nossa
dissertação. Talvez ainda tenhamos no português brasileiro o sentido de sublime
como diretamente ligado à idéia de elevado, de onde se originou etimologicamente
tal adjetivo, conforme vimos na seção 2.3 (especificidade dos adjetivos estéticos),
sendo o sentido estético apenas derivado semanticamente a partir do semantismo
básico de lintel
80
. Voltaremos à questão do adjetivo sublime na análise sintática,
quando tentaremos dirimir essa dúvida.
80
sublime não nasce de outro adjetivo, mas de um nome, ligado à noção de lintel, conforme nos
ensina Barbas (2002).
165
Tendo analisado os padrões e tipos definitórios dos adjetivos estéticos
selecionados, podemos analisar agora as duas questões que nos propusemos no
início desta seção: avaliar o definiens, no que tange à regra de decomposição
semântica, e a metalinguagem, no que tange à regra da estandardização.
Recapitulando o que observamos no Capítulo 3, na seção referente aos
conceitos microestruturais do DEC, temos que a regra decomposição semântica
faz equivaler duas estruturas semânticas numa equação lexical, conforme o
exemplo abaixo:
(89) lexia L / ‘semantismo’ = lexia L
1
/ ‘semantismo
1
+ lexia L
2
/ ‘semantismo
2
+
...
Sendo que o semantismo da estrutura à esquerda é decomposto pelos
semantismos mais simples da estrutura à direita.
a regra de estandardização dirá que a metalinguagem com a qual são
redigidas as entradas dicionarísticas deve evitar os termos ambíguos e sinônimos
no âmbito do definiens (estrutura à direita da regra de decomposição semântica).
Como podemos interpretar essas duas regras em relação à nossa análise
dos tipos definitórios dos adjetivo em tela? Ora se todas as definições observadas
podem ser reduzidas ao tipo definitório L
Adj1
L
Adj2
, temos que é possível
definir um adjetivo mediante outro. Tal fato, apesar de o estarmos medindo
somente no âmbito de uma conjunto exíguos de adjetivos, dentro de um campo
semântico muito especificado (estético), parece ser válido para a definição dos
adjetivos em geral, e aqui indicamos a possibilidade (e necessidade) de um
166
trabalho que pesquise a definição dos membros da classe adjetival. E se a
redução ao tipo definitório referido é constante no campo semântico da estética (e
julgamos que nos adjetivos em geral, como dissemos), explicam-se todos os
problemas ressaltados no início do Capítulo 2, relativos à tautologia e aos círculos
viciosos presentes em todas as obras lexicográficas que contêm a descrição de
lexias adjetivais.
As regras de decomposição semântica e de estandardização vão de
encontro à realidade da supremacia do tipo definitório L
Adj1
L
Adj2
, uma vez que
tal estrutura de definição implica inevitavelmente ambigüidade e recurso à
sinonímia. Em muitos pontos desta dissertação, apresentamos exemplos de
círculos viciosos e do uso da mera sinonímia como definição, mas devemos
acrescentar aqui que, mesmo o DEC, que se pretende um dicionário científico,
baseado em regras rigorosas, infringe as próprias regras. Vejamos o seguinte
exemplo, em que citamos a descrição de illetré (iletrado).
ILLETRÉ
1a. adj. Analphabète a.
(MEL’ČUK et al., 1992, p. 223)
Conforme podemos atestar no exemplo acima, não há para o adjetivo
referido a apresentação da sua decomposição semântica. Utilizar tão-somente o
adjetivo analphabète como definiens equivale a tomá-lo como perfeito sinônimo de
illetré, e deveríamos nos perguntar se em todos os contextos lingüísticos um
adjetivo é intercambiável com o outro. O exemplo de MEL’ČUK et al. (1992)
presente na referida definição é: “La télévision produit des illetrés”. Porém, aqui
167
sabemos que o sentido é de que a “televisão ‘produz’ pessoas pobres
culturalmente”, que é completamente diferente do semantismo de analphabète,
que MEL’ČUK et al. (1992) apontam como “qui, étant censé savoir II lire et écrire,
ne sait II ni lire ni écrire dans aucune langue”. Ora, “a televisão não pode produzir
pessoas que não sabem ler”. Portanto, a sinonímia como definição é a um tempo
excluída e utilizada no âmbito do DEC, que acaba, diante do desafio que é
descrever a classe adjetival, caindo em erro ao ferir as próprias regras que o
sustentam.
Assim, não sendo característica exclusiva dos dicionários vernaculares o
recurso à sinonímia e a fuga à decomposição semântica, sendo, antes, partilhada
para maioria dos dicionaristas, devemos nesse ponto nos perguntar o porquê de
tal fato.
Como estudamos no Capítulo 2, na seção 2.2, referente à questão dos
adjetivos como classe, nos trabalhos de Dixon (2004) e Luque Durán (2001), a
grande maioria dos adjetivos forma-se a por derivação a partir de nomes e verbos.
Tais adjetivos não apresentam problemas quanto à sua definição, pois, conforme
vimos na subseção referente à caracterização dos adjetivos do DEC (denominais
e deverbais na quase sua totalidade), são descritos em função dos nomes e
verbos dos quais derivam. Porém, ainda segundo Dixon (2004) e Luque Durán
(2001), uma parcela dos adjetivos que não derivam de nomes ou verbos, aos
quais tais autores conferem a denominação de primitivos. Dixon (2004) aponta
que tais adjetivos pertencem a quatro classes: 1) dimensão ("grande", etc.); 2)
idade ("velho", etc.); 3) valor ("bom", etc.); 4) cor ("vermelho", etc.). Sendo os
168
adjetivos estéticos pertencentes à classe dos adjetivos de valor, devemos nos
perguntar se parte destes adjetivos estéticos não seria do tipo primitivo.
No universo dos adjetivos estéticos, exemplos de itens derivados, tais
como os seguintes:
deverbais
(90) admirável > admirar
(91) adorando > adorar
(92) adorável > adorar
(93) agradável > agradar
(94) amável > amar
(95) aprazível > aprazer
(96) arrebatador > arrebatar
(97) atrativo > atrair
(98) bem-apanhado > apanhar
(99) bem-composto > compor
(100) bem-conformado > conformar
(101) bem-feito > fazer
(102) bem-parecido > parecer
(103) elegante > eleger
(104) encantador > encantar
denominais
(105) apessoado > pessoa
(106) apolíneo > apolo
(107) apolínico > apolo
(108) bem-apessoado > pessoa
(109) bem-encarado > cara
(110) deleitante > deleite
(111) deleitável > deleite
(112) deleitoso > deleite
(113) delicioso > delícia
(114) deslumbrador > luz
(115) deslumbrante > luz
(116) deslumbrativo > luz
(117) donairoso > donaire
(118) fádico > fada
(119) galante > gala
(120) galhardo > gala
(121) garboso > garbo
169
(122) gracioso > graça
(123) harmonioso > harmonia
(124) proporcionado > proporção
(125) venusto > Vênus
deadjetivais
(126) bonito > belo
(127) preclaro > claro
(128) velido > belo
Analisando os adjetivos que selecionamos mediante o crivo do identificador
de campo semântico no que toca à questão da derivação, temos a seguinte
configuração:
(129) belo > ?
(130) estético > estética
(131) formoso > forma
(132) lindo > ?
(133) sublime > ?
Sincronicamente, não é possível, no português brasileiro, localizarmos
palavras das quais belo, lindo e sublime derivem. Como vimos, sublime foi
apontado como um caso limítrofe do campo semântico da estética, então não o
consideraremos por ora. Restam, portanto, belo e lindo a serem investigados.
Para os pesquisadores do léxico do português brasileiro, lindo seria derivado limpo
(limpidus, no latim). Tal fato é atestado semanticamente por ter lindo ainda um
sentido de limpo ou puro, como atestam as acepções e etimologias presentes nos
quatro dicionários em estudo:
CALDAS AULETE
LINDO, adj. formoso, belo, bonito; agradável; vistoso; airoso; elegante: Onde vais tão alva e linda, mas tão
triste e pensativa? (Garrett.) Aquelas madeixas negras como folgam lindas! (R. da Silva.) || F. lat. Limpidus
(limpo, límpido).
AURÉLIO
170
lindo
5. Apurado, perfeito, primoroso; puro: Escreve um lindo português; Tem móveis em lindo estilo D. João V.
HOUAISS
5 ant. que é claro, limpo. ETIM orig.contr. para JM, o lat. limpìdus 'limpo, puro'
MICHAELIS
lin.do adj (lat limpidu)
1 Belo, formoso. 2 Garboso, elegante. 3 Delicado, primoroso. 4 Aprazível, agradável.
Podermos bem comparar essa derivação semântica de lindo à que se
com impecável, apurado, caprichado e lapidado, muitas vezes usados como
adjetivos de avaliação estética.
Assim, teríamos, mediante essa análise, que o adjetivo estético primitivo
por natureza seria belo, o que vem mais uma vez a corroborar o seu status de
lexia elementar (identificadora de campo) do campo semântico da estética.
Argumentaremos, neste ponto da análise que os dicionaristas falham e
sempre falharão ao definir belo no seu sentido estético, por ser esta lexia em seu
sentido estético não passível de ser definida. Este seria um dos primitivos
semânticos aos quais aludem Mel’čuk et al. (1995, p. 83) e bem poderíamos
compará-lo aos exemplos de primitivos semânticos que estes autores nos
oferecem: “H
2
O”, “luz”, “negação gramatical”, etc. A negação gramatical ou o
verbo podem ser definidos em termos funcionais (não-lingüísticos),
lingüisticamente não como definirmos sem recorrer a uma lexia cujo
semantismo é definido em função de belo. A solução dos dicionaristas como vimos
até aqui, e veremos no restante deste capítulo, é submeter-se à tautologia ou
optar pela definição enciclopédica/funcional (extralingüística). Assim, a conclusão
à qual chegamos com essa análise é a de que belo é a lexia por excelência do
171
campo estético e pode ser definida funcionalmente, como os itens lexicais ser
ou coisa.
Podemos sintetizar o que vimos de analisar no seguinte esquema:
Esquema 9: belo como Primitivo Semântico do Campo da Estética
Tendo analisado as questões envolvendo o definiens, passemos à segunda parte
desta análise semântica, que tratará do conceito de identificador de campo.
Como vimos quando do Capítulo 3, na seção 3.3, o identificador de campo
semântico é aquele elemento definitório que deve estar presente em todas as
definições das lexias pertencentes a um mesmo campo semântico. Assim, como
esta dissertação visa a analisar o campo semântico da estética, analisemos em
adjetivos
campo semântico 1
campo semântico 2
campo semântico 3
campo semântico da estética
campo semântico
da estética
adjetivos denominais
adjetivos deverbais
adjetivos deadjetivais
adjetivo não-derivado: belo
Definições
lexicográficas
indefinível!
172
detalhe a questão do identificador de campo enquanto parte integral da definição
(descrição semântica).
Para efetuarmos a análise do identificador de campo, seguiremos o mesmo
raciocínio desenvolvido por Mel’čuk et al. (1995, p. 173) em relação aos adjetivos
atmosphérique e météorologique, testados no papel de indicadores de campo
semântico, aplicando-o neste momento à descrição lexicográfica do adjetivo
estético. Porém, diferentemente da forma empregada no Capítulo 3, agora, à
medida que estabelecemos a discussão das descrições, teceremos uma análise
crítica dos dicionários em estudo, no que tange às suas concepções lexicográficas
de tratamento dos semantismos e dos elementos definitórios das lexias estéticas
envolvidas. Nossa meta aqui é pôr à prova a conclusão a que chegamos no
Capítulo 3, ou seja, sondaremos se realmente o adjetivo belo é o indicador do
campo semântico da estética.
Partamos, pois, da lexia estético, observando-a agora nas suas descrições
presentes nos quatro dicionários que selecionamos para análise:
CALDAS AULETE
ESTÉTICO, adj. que tem relação com a estética; que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo:
Impressão, apreciação estética; as condições estéticas de um monumento, de uma estátua, etc.
AURÉLIO
estético
Adj.
1. Relativo à estética, ao sentimento do belo: senso estético; emoção estética.
2. Que tem características de beleza; belo, harmonioso: decoração estética.
3. Concernente à beleza do corpo: cuidados estéticos.
HOUAISS
estético
adjetivo
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo
Ex.: teorias e.
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo
Ex.: <avaliação e. de uma obra de arte> <o aspecto e. de um arranjo floral>
3 que denota bom gosto; atraente
Ex.: combinação de cores pouco e.
173
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
Ex.: senso e.
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
Ex.: <pôs nova coroa dentária por razões e.> <cirurgia e.>
MICHAELIS
es.té.ti.co adj
1 Relativo à estética. 2 Concernente ao sentimento ou apreciação do belo.
Comparando a primeira acepção dos referidos dicionários, temos:
CALDAS AULETE: que tem relação com a estética.
AURÉLIO: relativo à estética, ao sentimento do belo.
MICHAELIS: relativo à estética.
HOUAISS: relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo.
Todos esses dicionários concordam apenas em relação ao segmento
“relativo à estética”. O elemento “relativo ao sentimento do belo” está na acepção
1 de Aurélio e nas acepções 2 de Caldas Aulete e de Michaelis, porém não
referência ao “sentimento do belo” em Houaiss, conforme podemos ver nos
trechos sublinhados abaixo:
CALDAS AULETE: que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo (acepção2)
AURÉLIO: relativo ao sentimento do belo (acepção 1)
MICHAELIS: concernente ao sentimento ou apreciação do belo. (acepção2)
Observando o elemento “relativo à apreciação do belo”, vemos que este
está presente em Caldas Aulete (acepção 2), Houaiss (acepção 4) e Michaelis
(acepção 2), estando, porém, ausente em Aurélio. Vejamos este segmento
sublinhado nas definições abaixo:
CALDAS AULETE: que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo
MICHAELIS: concernente ao sentimento ou apreciação do belo
HOUAISS: relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
Devemos ainda destacar que há outros elementos definitórios presentes em
Aurélio e ausentes nos demais dicionários:
174
AURÉLIO: 2: que tem características de beleza; belo, harmonioso
3. Concernente à beleza do corpo
Apenas em Aurélio, temos, portanto, a referência de estético a belo em si
(equivalendo-o aos adjetivos belo e harmonioso) e à beleza física. Em Houaiss
também encontramos elementos definitórios ausentes nos demais dicionários:
na acepção 1, temos o segmento “relativo ao estudo e conceituação do belo”, que
não surge nas acepções 1 de Caldas Aulete, Aurélio ou Michaelis. Os outros
segmentos envolvem as noções de “qualidade artística”, “qualidade formal”, “bom
gosto”, “atraente”, “capacidade de identificar o belo”, “embelezamento de um
indivíduo”:
HOUAISS: 2. referente às qualidades artísticas ou formais de algo
3. que denota bom gosto; atraente
4. relativo à capacidade de identificar o belo
5. que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo
Façamos agora uma síntese destes elementos definitórios. Cotejando as
informações referentes às quatro obras lexicográficas investigadas, temos que
estético é definido em função de seis importantes elementos definitórios,
concernentes a: 1) estética; b) o belo (nome); 3) belo (adjetivo); qualidade
artística; 5) qualidade formal; 6) (bom) gosto. Para fins de análise, em vez de
usarmos o elemento “relativo ao embelezamento”, utilizaremos aqui a sua
paráfrase verbal “em relação ao tornar-se (mais) belo”, a fim de que tenhamos
paralelismo sintático entre as definições.
175
Vejamos um esquema que sintetiza os elementos definitórios detectados
nos dicionários abordados:
Elementos definitórios de estético
C. Aulete
Aurélio Michaelis
Houaiss
estética
x x x x
apreciação do belo
x x x
identificação do belo
x
estudo do belo
x
conceituação do belo
x
sentimento do belo
x x x x
belo do corpo
x
tomar um indivíduo (mais) belo
qualidades artísticas (de algo)
x
relativo
à/ao/às
qualidades formais (de algo)
x
belo
x
harmonioso
x
equivalente a
atraente
x
que denota
bom gosto
x
Esquema 10: Elementos Definitórios nos Dicionários Vernaculares em Estudo
Analisemos em detalhe os seis tipos de elementos definitórios de estético:
Elemento 1: relativo à estética
Comecemos nosso estudo deste elemento definitório analisando a
descrição de estético em Houaiss, em que o segmento “relativo à estética” é posto
no mesmo patamar que “relativo ao estudo e à conceituação do belo”. Portanto,
parece estar-se, em Houaiss, definindo estética como “estudo e conceituação do
176
belo”. Vejamos se tal fato se corrobora observando a definição de estética em
Houaiss:
HOUAISS
estética
1 Rubrica: filosofia.
parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico
1.1 Rubrica: filosofia.
segundo o criador do termo, o filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762), ciência das faculdades
sensitivas humanas, investigadas em sua função cognitiva particular, cuja perfeição consiste na captação da
beleza e das formas artísticas
1.2 Rubrica: filosofia.
no kantismo, estudo dos juízos por meio dos quais os seres humanos afirmam que determinado objeto
artístico ou natural desperta universalmente um sentimento de beleza ou sublimidade
1.3 Rubrica: filosofia.
no hegelianismo, estudo da beleza artística, que apresenta em imagens sensoriais, ou representações
sensíveis, a verdade do espírito, do princípio divino, ou da idéia
2 harmonia das formas e/ou das cores; beleza
Ex.: a e. de uma escultura de Giacometti
3 ramo ou atividade profissional que tem por fim corrigir problemas cutâneos, capilares etc., assim
como conservar ou dar mais viço à beleza física de uma pessoa, por meio de tratamentos especiais (p.ex.,
limpeza de pele, emagrecimento etc.)
Ex.: clínica de e.
4 Uso: informal.
aparência física; plástica
Ex.: dispensa muitos cuidados à sua e.
Como apontamos na subseção 1.3.2.1, referente aos conceitos basilares do
DEC, torna-se difícil sabermos qual o sentido exato de uma lexia usada numa
dada definição de um dicionário vernacular na ausência do recurso
desambigüizador da numeração das lexias. Como podemos compreender qual é a
definição de estético, se esta é “relativo à estética”, quando estética é palavra
polissêmica e definida de sete formas diferentes?
No verbete estética, em Houaiss, não é corroborada a equivalência
semântica de estética e de “estudo e conceituação do belo”, pois tal verbete
extrapola a noção de “estudo do belo”, acrescendo-lhe a noção de “estudo do
fenômeno artístico”. A leitura dos verbetes estético e estética em Houaiss,
portanto, aponta para definições díspares de uma mesma lexia (estética). Além
177
disso, são apresentadas, neste mesmo verbete, três concepções de estética,
segundo as visões de Baumgarten, Kant e Hegel. Não se estaria mais uma vez
recorrendo a definições do tipo enciclopédico?
Neste ponto, cabe trazermos à discussão a distinção que Polguère (2002)
estabelece entre os caracteres lingüístico enciclopédico das obras/definições
lexicográficas:
Le dictionnaires de langue (monolingues) présentent le lexies de
la langue dans leur réalité linguistique: prononciation, partie du discours,
sens, etc. Ils ne contiennent généralement pas de noms propres. Ils se
distinguent des dictionnaires encyclopédiques, qui contiennent
notamment de nobreux noms propres (noms de pays, de personnalité,
etc.) et, surtout, donnent pour chaque unité décrite des informations non
linguistiques sur les entités correspondantes. Ainsi, un dictionnaire
encyclopédique ne va pás décrire la lexie VACHE, mais plutôt l'animal
lui-même: ce que mange une vache, son poids moyen, la façon dont
fonctionne son système digestif, etc. (POLGUÈRE, 2002, p. 178)
Assim, se a intenção subjacente à definição de estética em Houaiss é a de
apresentar informações extralingüísticas, caberia solicitarmos saber quais são os
critérios enciclopédicos de redação de definições. Seria um critério basear-se na
visão de determinados filósofos, e não na definição de estética
independentemente de correntes de pensamento filosófico? Se tal for o critério,
por que as concepções de estética de Croce, Lessing, Shaftesbury, Schiller,
Schopenhauer, Nietzsche, Santayana e tantos outros filósofos são preteridas em
função de Baumgarten, Kant e Hegel? A resposta de que Kant e Hegel são os
mais importantes pensadores da estética na história da filosofia seria possível,
porém, então o critério seria outro: o do valor de uma dada interpretação filosófica
em comparação com outra, e um critério desta monta seria muito questionável. Se
178
o critério for histórico, no sentido de considerar-se a definição de estética somente
no que toca ao seu desenvolvimento como área da filosofia a partir de
Baumgarten, poderíamos argumentar que antes de Baumgarten ter cunhado o
termo estética no século XVIII, já havia uma tradição de estudos estéticos desde a
Antigüidade, baseada, sobretudo no platonismo. Pois, como é consabido,
Baumgarten nomeou a reflexão sobre o belo e a arte, mas esta já existia antes
dele
81
. Cabe indagarmo-nos se uma obra lexicográfica deve preocupar-se, então,
em delinear a história da estética ao descrever a lexia estética. Se sim, é possível
estabelecer regras para tal fazer lexicográfico baseado no historicismo? Tomando
tal critério como válido, poderíamos querer que na definição de estética se
acrescente às visões de Baumgarten, Kant e Hegel a menção à concepção
platonista
82
. Porém, o platonismo é apenas um exemplo, e outros tantos poderiam
ser aqui arrolados, mostrando que a definição baseada em informações
enciclopédicas acerca da história da estética se mostra incompleta. Importante
81
Segundo Croce (2001), “...que no período desde a civilização helênica, até o fim do
Renascimento italiano faltasse a ciência estética não significa (como acreditam alguns) que aos
homens que então viveram faltasse o conceito de poesia e arte em geral [...] Se tal conceito não
tivesse existido e operado, como teriam podido formar-se na Antigüidade aquelas distinções de
belo e feio [...] Em segundo lugar, ao negar a Estética ao período acima indicado, não se pretende
tampouco negar que se investia então muita atividade nas coisas da arte; pois é, ao contrário, aos
gregos e aos romanos que se deve a fundação da ciência prática ou empírica arte...”. (CROCE,
2001, pp. 103-104)
82
Conforme nos ensina Huisman (1994), “...poder-se-ia mostrar o modo como o platonismo
exerceu uma influência muito profunda sobre a Idade Média, a Renascença e o século XVII. De
certa maneira, todos os grandes “clássicos”, e nomeadamente Bossuet e Boileau, aparecem como
neoplatónicos muito fervorosos [...] por respeito a um Paradigma, a um Padrão. “O Belo é o
esplendor da verdade e do Bem...” Todos os estóicos poderiam ser citados como platonizantes”
[...] Plotino (205-270) define a beleza pela unidade [...] Santo Agostinho fará inúmeras variações
sobre os mesmos temas platónicos, enquanto São Tomás d’Aquino apontará harmonia daquilo que
agrada [...] Leonardo da Vinci irá retomar também, depois de Marsílio Ficino, outros temas
platónicos. Mas, enquanto a Renascença ainda bebia na fonte de Platão...(HUISMAN, 1994, pp.
28-29).
179
ressaltar que outros teóricos que se debruçaram sobre a definição de estética
prescindem do critério historicista, como Carchia e D’Angelo (1999), que, no
verbete estética de seu dicionário, entendem-na como entidade extralingüística
(como objeto no mundo, como reflexão acerca do belo e do artístico) que
independe de uma visão teórica (histórica) específica:
A utilização do termo estética numa acepção generalizada,
indicando a filosofia do belo e da arte independentemente das
circunstâncias de tempo e lugar, é uma operação que prescinde da
natureza determinadamente histórica do conceito. (CARCHIA &
D’ANGELO, 1999, p. 109)
Argumentemos aqui, pois, que uma definição enciclopédica no âmbito de
um dicionário vernacular, tido como dicionário lingüístico (lingüístico como oposto
a enciclopédico), é fadada ao erro por já nascer incompleta: nem uma verdadeira
enciclopédia de estética seria capaz de abranger todas as definições do conceito
estética. E aqui está talvez a chave do problema da descrição das lexias estéticas
nos dicionários vernaculares: confundem-se a descrição do conceito de estética
com a descrição da palavra estética. Isto nos leva à distinção de Ogden e
Richards (1972), entre o "verbal" e o "real" na definição dicionarística:
...se falamos sobre a definição de palavras, então estamos nos
referindo a algo muito diferente do que é referido, entendido, por "definir
coisas". Quando definimos palavras, recorremos a um outro conjunto de
palavras que podem ser usadas com o mesmo referente do primeiro
conjunto, isto é, substituímos um símbolo por outro que será melhor
entendido numa dada situação. Com coisas, por outro lado, não está
envolvida substituição alguma. A chamada definição de um cavalo, por
exemplo, em contraste com a definição da palavra "cavalo", é um
enunciado a respeito dele, enumerando propriedades mediante as quais
ele pode ser comparado com outras coisas e distinguido destas.
Portanto, não rivalidade entre definições "verbais" e "reais". (OGDEN
& RICHARDS, 1972)
180
A distinção de Ogden e Richards corresponde à de Polguère (2002),
como vimos anteriormente: o dicionário de língua tem como pressuposto a
descrição das palavras de uma dada língua, ou seja, uma descrição de como a
comunidade que partilha aquela língua usa a palavra em questão, quais
semantismos tal comunidade confere àquela palavra; esse tipo de descrição
lexicográfica deveria, em tese, pois, independer da descrição dos semantismos
das terminologias, usados por uma fração ínfima da comunidade lingüística
visada, em princípio, pelo dicionário vernacular.
Levando em conta esses questionamentos, para fins de análise dos
indicadores de campo semântico, tomaremos aqui a acepção 1 de estética em
Houaiss como aquela a que se refere o verbete estético, por ser esta a “menos
enciclopédica”. Porém, temos de tecer uma ressalva também em relação à
acepção 1, que, por sua vez, apresenta elementos enciclopédicos na definição
que traz em seu bojo (“parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da
beleza sensível e do fenômeno artístico“): a coordenação de “beleza sensível” e
de “fenômeno artístico” estaria aqui a indicar que estas são coisas distintas, sendo
a estética o estudo de dois objetos diversos? Se interpretarmos que beleza
sensível é algo inerente ao fenômeno artístico, então tal definição seria
pleonástica, pois faria estética equivaler ao “estudo da beleza presente no
fenômeno artístico e do fenômeno artístico”. Se interpretarmos que a beleza
sensível aqui é outra que não a beleza artística, então tal definição é insuficiente,
pois não caracteriza que tipo de beleza sensível está sendo referida (será a beleza
natural?). Tal definição em Houaiss (2001) traz o dilema de todos aqueles que se
181
aventuram em definir o objeto da estética de forma precisa: sintetizar um conjunto
vasto de conceitos filosóficos em apenas uma descrição. Mas devemos criticá-la:
se um lexicógrafo decide agregar elementos enciclopédicos a suas definições, é
porque entende que a descrição da entidade a que se refere o nome (em termos
de tríade semiótica) é mais importante do que a mera descrição de seu
semantismo (do seu sentido denotativo) e que os conceitos que lhe estão
vinculados. Porém, no caso ora analisado, vemos que os conceitos de belo
natural, belo artístico, belo sensível e fenômeno artístico são antes confundidos do
que bem explicitados. Cabe atentarmos para o fato de que esta definição alberga
uma questão de importância valiosa para os estudos estéticos, que não pode ser
menosprezada. A relevância de tal questão é comprovada na obra de Hegel, no
tratado denominado O Belo na Arte
83
, justamente elaborado na intenção de
precisar uma concepção de estética: a que discerne o belo artístico do belo
natural, considerando objeto da estética apenas o primeiro.
Para melhor entendermos a definição dicionarística de estética de Houaiss,
comparemo-la com as descrições formuladas nos demais dicionários em estudo:
CALDAS AULETE
ESTÉTICA, s. f. filosofia da arte; ciência do belo e que estuda as leis gerais da crítica e do gosto, aplicadas à
avaliação e apreciação dos produtos da inteligência humana debaixo do ponto de vista artístico. [São do
domínio da estética as artes do desenho (arquitetura, escultura e pintura), a arte musical e as composições
literárias.]
AURÉLIO
estética
S. f.
1. Filos. Estudo das condições e dos efeitos da criação artística.
2. Filos. Tradicionalmente, estudo racional do belo, quer quanto à possibilidade da sua conceituação, quer
quanto à diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem.
3. Caráter estético; beleza: a estética de um monumento, de um gesto.
4. Fam. Beleza física; plástica: Ia à praia para apreciar a estética das garotas.
83
HEGEL, G. W. O Belo na Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
182
MICHAELIS
es.té.ti.ca sf
1 Estudo que determina o caráter do belo nas produções naturais e artísticas. 2 Filosofia das belas-artes. 3
Harmonia das formas e coloridos.
Comparando todas as definições de estética teríamos os seguintes
elementos definitórios:
elementos definitórios
filosofia da arte
ciência do belo
estudo da crítica e do gosto artísticos
estudo das condições e dos efeitos da criação artística.
estudo (racional) da conceituação e do sentimento belo
estudo que determina o caráter do belo nas produções
naturais e artísticas
filosofia das belas-artes
beleza física/plástica
estética
harmonia de forma e coloridos
Esquema 11: Elementos Definitórios em estética
Do esquema acima, podemos depreender que três grupos bem
marcados de elementos definitórios: 1) os que se referem ao belo em si (sem
referência a natural ou artístico), como em ciência; as especificações; 2) os que
se referem ao belo artístico, como em filosofia das belas-artes; e 3) os que se
referem ao belo natural, como beleza física. Reorganizemos o quadro a fim de
demonstrar de que forma todos os elementos definitórios em estética se referem
ao belo:
Relativo ao
elementos definitórios em estética
ciência do belo
belo em si
estudo (racional) da conceituação e do sentimento belo
183
filosofia da arte
estudo da crítica e do gosto artísticos
estudo que determina o caráter do belo nas artísticas
filosofia das belas-artes
belo artístico
estudo das condições e dos efeitos da criação artística.
beleza física/plástica
harmonia de forma e coloridos
belo natural
estudo que determina o caráter do belo nas produções naturais
Esquema 12: Elementos Definitórios em estética relativos ao belo
Podemos ver, portanto, que um paralelo entre os elementos definitórios
de estética e de estético, pois este adjetivo tem seu semantismo ligado não à
noção de “estudo do belo” (belo em si) (“apreciação do belo”, “conceituação do
belo”, etc.), mas também à noção do belo natural (“beleza do corpo”, tornar um
indivíduo mais belo”) e do belo artístico (“qualidades artísticas”). Dessa forma,
refinaremos a definição de estética ao aplicarmos esta à definição de estético,
destacando o elemento estudo entre parênteses, a fim de precisarmos que
estético se refere tanto ao estudo do belo quanto ao belo em si.
Isso posto, podemos agora reinterpretar o quadro dos elementos
definitórios de estético, reinterpretando os elementos “relativo a apreciação do
belo”, “relativo a identificação do belo”, “relativo a estudo do belo”, “relativo à
conceituação do belo”, “relativo a tornar (mais) belo um indivíduo” e “relativo à
beleza do corpo” como estando contidos no elemento “relativo ao (estudo do)
belo natural e do belo artístico”.
Tendo avaliado a questão do elemento definitório “relativo à estética”,
voltemos nossa atenção para a questão dos elementos “qualidades artísticas” e
184
“qualidades formais”. Mais uma vez, tais elementos estão presentes na definição
de estético de Houaiss, em que não é especificado qual o sentido do adjetivo
formal (fletido em formais) visado. Citemos a acepção 10 de formal em Houaiss,
que, parece-nos, é a mais apropriada para a análise do verbete estético:
HOUAISS
formal
Adj.
10 Rubrica: artes plásticas, literatura, música. [sic
84
]
relativo à forma, à estrutura, aos recursos artísticos empregados numa obra
Ex.: sem recursos f., não adianta a obra possuir um belo conteúdo
Poderíamos nos perguntar se obra aqui é entendida como qualquer obra ou
como obra artística, uma vez que tal definição está sob a rubrica de artes
plásticas, literatura, música. Outro aspecto ambíguo desta definição é o adjetivo
artísticos: numa leitura, podemos entendê-lo como referente a recursos somente,
e, em outra leitura, podemos interpretá-lo como extensivo a forma e estrutura.
Redescreveremos esta definição de formal, tomando-a como “relativo à forma da
obra artística”. Ora, a obra artística não existe sem uma forma, assim as
qualidades formais de uma dada obra artística são um dos aspectos da qualidade
de tal obra. Donde se depreende que o elemento definitório “qualidades formais” já
se encontra contido no sentido de “qualidades artísticas”.
O quadro dos elementos definitórios de estético teria o seguinte formato até
aqui:
Elementos definitórios de estético
84
No exemplar de Houaiss (2001) usado para esta dissertação, consta, na rubrica, a expressão
“artes plásticas”, que estamos aqui entendendo como “artes plásticas”.
185
(estudo
do) belo natural e do belo
artístico
sentimento do belo
relativo às/ao
qualidades artísticas (de uma obra de
arte)
belo
harmonioso
equivalente a
atraente
que denota
bom gosto
Esquema 13: Elementos Definitórios de estético
Uma vez que, em Houaiss, belo é definido, entre outros, em função de
harmonioso e atraente; que atraente e harmonioso têm como sinônimo belo; e que
bom gosto é definido como preferência pela beleza (pelo belo), podemos rescrever
o esquema acima de forma mais sintética:
Elementos definitórios de estético
(estudo do) belo natural e do belo
artístico
sentimento do belo
relativo às/ao
qualidades artísticas (de uma obra de
arte)
equivalente a
belo (adjetivo)
que denota
preferência pelo belo
Esquema 14: Esquema Sintético dos Elementos Definitórios de estético
Tendo analisado até aqui a primeira parte da definição de estético (relativo
à estética), chegamos à conclusão de que, a partir de estético, via estética,
chegamos aos elementos definitórios basilares (identificadores de campo), belo
(adjetivo) e o belo (substantivo). Vejamos agora o segundo elemento definitório de
186
estético: relativo ao sentimento do belo. Logicamente, este exemplo se refere
diretamente a belo (substantivo), da mesma forma que “relativo à estética”:
portanto aqui não há análises a serem tecidas.
Porém, como a descrição lexicográfica não é somente constituída da
definição em si, mas também das exemplificações, cabe agora nos voltarmos
também à exemplificação de estético, para recobrirmos de forma mais plena a
análise semântica dos verbetes dos dicionários em estudo. Se observarmos a
definição de estético em Aurélio, deparar-nos-emos com os seguintes exemplos:
senso estético e emoção estética. Deveríamos ponderar por que estas duas lexias
estão arroladas entre os exemplos: já que estamos aqui investigando qual(is)
seria(m) o(s) elemento(s) indicador(es) do campo da estética, ressalta-se o fato,
em Aurélio, de estarem citados justamente como exemplos as lexias senso
estético e emoção estética, pois estas o itens lexicais com uma longa tradição
filosófica, uma vez que constituem conceitos do domínio da estética, conforme
podemos constatar nos verbetes gosto e emoção do Dicionário de Estética
(CARCHIA & D’ANGELO, 1999). Neste ponto, é forçoso atentarmos mais uma vez
para a questão da definição lingüística versus a definição enciclopédica: em
Aurélio, à definição de estético é acrescida uma exemplificação que cita conceitos
de filosofia da arte / estética (e o mesmo acontecerá também nas próprias
definições, como vimos anteriormente). Porém, o que sejam senso estético e
emoção estética não podemos depreender a partir da leitura dos verbetes de
Aurélio: na seção das locuções do verbete senso, não o item senso estético
187
(apesar de constar senso comum, senso moral e bom senso), e o verbete emoção
não apresenta seção de locuções, conforme vemos abaixo:
AURÉLIO
senso
S. m.
1. Faculdade de apreciar, de julgar, entendimento: "O capitão-mor, que tinha aliás o senso claro e reto, para
não dar-se ao trabalho de meditar, incumbia o seu ajudante dessa ocupação secundária" (José de Alencar, O
Sertanejo, p. 119).
2. Juízo, tino, siso, discrição, circunspeção: "Desconfio que estou ficando louco... / Tanta coisa me passa na
cabeça, / Que se senso me resta é já bem pouco." (Marcelo Gama, Via-Sacra e Outros Poemas, p. 44.)
3. Faculdade de sentir ou apreciar; sentido: Tem senso artístico; Tem o senso da medida.
4. P. us. Sentido (15).
5. Filos. V. sentido (16).
Senso comum.
1. Conjunto de opiniões e modos de sentir que, por serem impostos pela tradição aos indivíduos de uma
determinada época, local ou grupo social, são ger. aceitos de modo acrítico como verdades e
comportamentos próprios da natureza humana.
Senso moral. Filos.
1. Faculdade de reconhecer intuitiva e infalivelmente o bem e o mal, sobretudo nos fatos concretos.
Bom senso. Filos.
1. Faculdade de discernir entre o verdadeiro e o falso. [Cf. senso comum.]
2. Aplicação correta da razão para julgar ou raciocinar em cada caso particular da vida.
3. Capacidade de julgar e de resolver problemas conforme o senso comum.
Uma vez que, em Aurélio, não se considera senso estético como item
lexical, devemos interpretá-lo aqui como uma combinação livre de duas lexias, e
não como um item lexical composto. O sentido de senso 3 parece ser o mais
próximo do de senso em senso estético: “faculdade de sentir ou apreciar; sentido”.
A exemplificação é “Tem senso artístico; Tem o senso da medida.” Dessa forma,
cruzando as informações da definição e da exemplificação, temos que senso
artístico corresponde à “faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é artístico”,
donde podemos concluir que senso estético será “faculdade de sentir ou apreciar
aquilo que é estético”. Como podemos ver da acepção 3 de senso, em Aurélio,
este está também definido como sentido, ao qual este autor confere a seguinte
descrição lexicográfica:
AURÉLIO
sentido
Adj.
188
1. V. sensível (8).
2. Pesaroso, triste, plangente: choro sentido; "Saudade! és a ressonância / De uma cantiga sentida, / Que,
embalando a nossa infância, / Nos segue por toda a vida!" (Da Costa e Silva; Pandora, p. 83).
3. Melindrado, magoado, ressentido: Sentido com o que lhe fizeram, não os procurou mais.
4. Em princípio de putrefação; moído, passado: carne sentida.
S. m.
5. Fisiol. Cada uma das formas de receber sensações, segundo os órgãos destas.
[São cinco os sentidos: visão, audição, olfato, gosto e tato.]
6. Senso (3).
7. Bom senso; juízo, tino: Sua decisão apressada não revela muito sentido.
8. Intento, propósito; objetivo: Ninguém compreendeu o sentido de tua atitude.
9. V. acepção (1): palavra de duplo sentido.
10. Lado, aspecto, face: Estudou a matéria em todos os sentidos.
11. Razão de ser; cabimento, lógica: Que sentido tem isso?; Sua decisão radical não tem sentido.
12. Atenção; pensamento: A criança está com o sentido na brincadeira.
13. Cuidado, cautela.
14. Consciência (1): No acidente perdeu os sentidos.
15. Orientação, direção, rumo: O caminho bifurca-se em dois sentidos. [Sin. (p. us.), nesta acepç.: senso.]
16. Filos. Faculdade de conhecer de um modo imediato e intuitivo, a qual se manifesta nas sensações
propriamente ditas; senso.
Interj.
17. Exprime busca, advertência, recomendação ou cautela.
18. Mil. Voz de comando com que se ordena atenção para as ordens de manobras que virão em seguida. ~
V. sentidos.
Das acepções 6 e 16 de sentido, podemos perceber que tanto quando se
define sentido como lexema pertencente à língua comum (acepção 6) (definição
de cunho lexical) quanto como pertencente a linguagens de especialidades
(acepções 16) (descrição de cunho enciclopédico), em Aurélio, a equivalência
entre sentido e senso. Assim, temos que sentido estético tem o mesmo
semantismo que senso estético em Aurélio e pode, assim, também ser definido
como “faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é estético”.
Em relação à emoção estética, embora esta não tenha sua própria definição
no dicionário em questão, a acepção 4 de emoção remete a um sentido de
estético, conforme podemos observar abaixo:
AURÉLIO
emoção
S. f.
1. Ato de mover (moralmente).
2. Perturbação ou variação do espírito advinda de situações diversas, e que se manifesta como alegria,
tristeza, raiva, etc.; abalo moral; comoção.
189
3. Psicol. Reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado
afetivo de conotação penosa ou agradável.
4. Estado de ânimo despertado por sentimento estético, religioso, etc.
E aqui cabe uma outra crítica: se de um lado não temos uma zona
fraseológica ou de locuções para emoção, ou seja, se de um lado não temos a
definição de emoção estética, por outro, temos emoção definida como “estado de
ânimo despertado por sentimento estético”. O que podemos depreender da
acepção 4 de emoção, então? Que emoção pode ser definida como emoção
estética? Porém, não seria emoção estética um tipo de emoção? Por que então o
elemento estético está na própria definição de emoção? Estaríamos diante de uma
definição por metonímia? Não restam esclarecidas tais questões a partir da leitura
das acepções, porém tudo está aqui a indicar mais uma vez uma espécie de
“confusão” entre as abordagens lexical e enciclopédica: se a proposta de Aurélio
fosse a de ser um dicionário de cunho lexical, teríamos um grave problema na
acepção 4 de emoção: não é em todos os contextos que poderíamos substituir o
definiendum (no caso, emoção) pelo definiens (no caso, “estado de ânimo
despertado por sentimento estético”), pois emoção estética é um hipônimo de
emoção sendo aqui o papel do adjetivo justamente o de restringir o universo de
emoção, numa perspectiva intersectiva, nos termos do que estudamos no Capítulo
2. E a capacidade de substitutibilidade da lexia, num dado contexto lingüístico,
pela sua definição é uma regra básica da teoria da definição lexicográfica,
universalmente admitida pelos estudiosos do léxico, dado que o definiendum e o
190
definiens devem ser “iguais” na sua substância semântica (cf. MEL’ČUK et al.,
1995, p. 91)
85
.
Interpretemos, pois, diferentemente a acepção 4 de emoção em Aurélio:
tomemo-la como a própria definição de emoção estética, uma vez que tal
definiendum parece adequar-se mais ao definiens proposto no citado dicionário:
emoção estética, assim, seria o “estado de ânimo despertado por sentimento
estético”. Esta definição exige, entretanto, que definamos sentimento estético,
que, da mesma forma que senso estético e emoção estética, não tem um verbete
em Aurélio. O verbete sentimento traz a seguinte descrição:
AURÉLIO
sentimento
S. m.
1. Ato ou efeito de sentir(-se).
2. Capacidade para sentir; sensibilidade: sentimento artístico.
3. Faculdade de conhecer, perceber, apreciar; percepção, noção, senso: sentimento do dever, das
conveniências; Tem o sentimento de sua fraqueza.
4. Disposição afetiva em relação a coisas de ordem moral ou intelectual: sentimento religioso; sentimento
patriótico; sentimento de admiração.
5. Afeto, afeição, amor: Grande é o seu sentimento pelo tio.
6. Entusiasmo, emoção; alma: cantar com sentimento.
7. Pesar, tristeza, desgosto, mágoa.
8. Palpite, pressentimento.
Devemos interpretar, então, sentimento estético, do mesmo como que se
deu em relação a senso estético, como combinação livre de lexias. Pela
exemplificação presente na descrição lexicográfica de sentimento em Aurélio,
podemos perceber que o sentido de sentimento em sentimento estético está mais
próximo da acepção 4 de sentimento (“Disposição afetiva em relação a coisas de
85
MEL’ČUK et al. (1995) traduzem esse conceito de largo uso na tradição lexicográfica em uma
regra: “Règle de substitualité: La lexie vedette L et sa définion ‘Ldoivent être réciproquement
substituables dans tous les énoncés, sans modification du sens exprimé.” (MEL’ČUK et al., 1995, p.
91)
191
ordem moral ou intelectual”), como podemos ver no cotejo entre a definição de
emoção 4 e os exemplos de sentimento 4:
AURÉLIO
emoção 4: Estado de ânimo despertado por sentimento estético, religioso, etc.
sentimento 4: disposição afetiva em relação a coisas de ordem moral ou intelectual: sentimento religioso;
sentimento patriótico; sentimento de admiração.
Se entendermos que “coisas de ordem moral ou intelectual” correspondem
àquilo que é da ordem do religioso em sentimento religioso e àquilo que é da
ordem do patriótico em sentimento patriótico, consideraremos que correspondem
àquilo que é da ordem do estético em sentimento estético. Podemos, agora, definir
sentimento estético como “disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem do
estético” e emoção estética como “estado de ânimo despertado pela disposição
afetiva em relação àquilo que é da ordem do estético”.
Teríamos, até aqui, as seguintes definições a partir dos exemplos:
senso estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é estético
sentido estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é estético
sentimento estético: disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem do estético
emoção estética: estado de ânimo despertado pela disposição afetiva em relação àquilo
que é da ordem do estético
Pela análise que efetuamos e observando os exemplos acima, podemos ver
que tanto senso estético e sentido estético quanto sentimento estético e emoção
estética podem ser definidos em função da lexia adjetival estético. Substituindo
estético pela primeira parte de sua definição (“relativo à estética”), teremos:
senso estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo à estética
sentido estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo à estética
sentimento estético: disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem do relativo à
estética
192
emoção estética: estado de ânimo despertado pela disposição afetiva em relação àquilo
que é da ordem do relativo à estética
Avaliando as definições rescritas, deveríamos apenas simplificar, em
sentimento estético e em emoção estética, o elemento em relação àquilo que é
da ordem do relativo à estética” por “em relação àquilo que é da ordem da
estética”. Após as modificações, temos:
senso estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo à estética
sentido estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo à estética
sentimento estético: disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem da estética
emoção estética: estado de ânimo despertado pela disposição afetiva em relação àquilo
que é da ordem da estética
Vejamos agora as mesmas definições submetidas à substituição de estético
pela segunda parte de sua definição (“relativo ao sentimento do belo”).
senso estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo ao sentimento do
belo
sentido estético: faculdade de sentir ou apreciar aquilo que é relativo ao sentimento do
belo
sentimento estético: disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem do relativo ao
sentimento do belo
emoção estética: estado de ânimo despertado pela disposição afetiva em relação àquilo
que é da ordem do relativo ao sentimento do belo
Verificamos aqui que, ao contrário dos elementos “relativo à estética” e
“relativo ao sentimento do belo”, as exemplificações acabam por gerar algumas
definições tautológicas. Primeiramente, temos o caso de senso estético e sentido
estético, que seriam definidos, nestes moldes, como a “faculdade de sentir o que
é relativo ao sentimento do belo ou faculdade de apreciar o que é relativo ao
sentimento do belo”. A tautologia está em “sentir o que é relativo ao sentimento”,
no âmbito da redação do da definição (do definiens). O mesmo problema dá-se
193
com sentido estético. Já em sentimento estético, teríamos uma impropriedade
ainda mais grave, uma tautologia no âmbito da própria descrição lexicográfica:
utilizar a lexia para definir a própria lexia, pois o sentimento estético, seria, nesses
moldes, a “disposição afetiva em relação àquilo que é da ordem do sentimento do
belo”. Por conseguinte, a definição de emoção estética também estaria
comprometida, relembrando-nos de que esta é definida como “estado de ânimo
despertado pelo sentimento estético”.
Se, entretanto, desconsiderarmos tais tautologias e nos concentrarmos no
elemento básico de cada uma das definições acima, veremos que todas
dependem de belo (substantivo).
Assim, após essa análise de cada um dos elementos definitórios de
estético, bem como de suas exemplificações, devemos rever o que havíamos
detectado no Capítulo 3, quando concluímos que o identificador do campo
semântico da estética era belo (adjetivo). A análise que efetuamos mostra que os
elementos definitórios na sua totalidade convergem sempre para dois pólos, ou
identificadores de campo semântico: belo (adjetivo) e o belo (substantivo).
Como analisamos o adjetivo belo anteriormente neste capítulo,
expliquemos por que o substantivo belo deve ser considerado também um
identificador de campo, observando a sua definição em Houaiss:
CALDAS AULETE
s. m.
1. caráter natural do que é belo. |
2. O conjunto harmônico de certos caracteres ou das formas, das cores, dos sons, dos pensamentos, do
estilo, que despertam na alma um sentimento de prazer e admiração, uma impressão especial diferente da
que origina o que é apenas formoso, bom ou verdadeiro.
AURÉLIO
S. m.
194
12. Caráter ou natureza do que é belo.
13. Estét. Qualidade atribuída a obras humanas -- sendo discutível se se aplica também à natureza -- que por
isso são dotadas de caráter estético. [Esta qualidade se anuncia por meio de fatores subjetivos (emoção
estética, sentimento e percepção do belo, e todos os fenômenos psicológicos ligados à sua criação) que
levam à busca da definição das demonstrações concretas que os suscitam (a análise das obras de arte, dos
conceitos de gosto, harmonia, equilíbrio, perfeição, etc.). Cf. arte1 (3) e estética (2).]
HOUAISS
qualidade do que é belo; beleza
14 Rubrica: estética.
qualidade atribuída a objetos e realidades naturais ou culturais, apreendida primordialmente através da
sensibilidade (e o do intelecto), e que desperta no homem que a contempla uma satisfação, emoção ou
prazer específicos, de natureza estética
Michaelis
sm 1 Caráter ou natureza do que é belo.
Podemos observar que, em todas as definições acima, salvo em Michaelis,
o vocábulo belo (substantivo) é descrito como constituído de duas lexias: o belo1,
definido sempre diretamente em função do adjetivo belo, e o belo2, que é sempre
definido enciclopedicamente, também um primitivo semântico, lingüisticamente
indefinível, como a acepção 1 do adjetivo belo (ou lexia belo no seu sentido
estético, como preferimos dizer em alguns momentos desta dissertação).
Assim, de forma mais precisa, argumentamos que os identificadores de
campo semântico da estética são as lexias belo1 e o belo2, no âmbito dos
dicionários estudados.
Com isso, finalizamos a nossa análise semântica, que visou a investigar a
descrição do semantismo dos cinco adjetivos estéticos selecionados (belo,
estético, formoso, lindo, sublime) no que concerne às questões de composição de
definiens e de identificação do elemento definitório estruturador do campo
semântico da estética. Passemos, agora, à segunda das áreas de descrição
lingüística em mira nesta dissertação: a análise sintática.
195
4.2.2 Análise da descrição sintática
Nesta subseção, trataremos dos aspectos sintáticos da descrição
lexicográfica dos adjetivos estéticos. Nossa análise visará a três pontos: o
definiendum, a relação sintaxe-semântica e o esquema de regência.
Iniciaremos nossa análise com a questão do definiendum. Como dissemos
no Capítulo 3, ao contrário dos dicionaristas tradicionais, os teóricos da TLEC não
pensam somente o formato do definiens (definição em si), mas também do
definiendum (da lexia a ser definida). Como vimos anteriormente, a noção de
definiendum está ligada à de actante semântico, no sentido de ser o definiendum
uma expressão com variáveis (composta da lexia e de variáveis representantes de
todos os participantes da situação descrita pela lexia em questão, bem como à
noção de actante sintático, no sentido de que temos uma estrutura sintática, em
que está inserida a lexia a ser definida, que serve de “esqueleto” para as variáveis
semânticas.
Como todos os dicionários que estamos estudando seguem o formato dos
assim chamados pelos teóricos do DEC dicionários tradicionais, não teremos
em nossos dados nenhuma estrutura de definiendum. Este será pura e
simplesmente a lexia em questão: belo, estético, formoso, lindo e sublime.
Como observado no Capítulo 3, nem todas as lexias adjetivais podem
apresentar esta estrutura de variáveis semânticas nos seus definienda, pois nem
todos os adjetivos são predicados semânticos. O tipo adjetival preferencial para
196
este formato de definiendum é o deverbal, que exige um complemento semântico
e sintático. Pois serão justamente os adjetivos deverbais aqueles privilegiados na
seleção do DEC, que não apresenta descrições lexicográficas para adjetivos
primitivos, conforme dissemos em vários momentos desta dissertação.
A questão do definiendum deveria, pois, ser pensada para os não-
deverbais, ainda que estes não sejam predicados semânticos. Tomemos os
exemplos abaixo a fim de pensar essa estrutura para o caso dos adjetivos
estéticos, que, como vimos, na análise semântica, são não-deverbais e não-
derivados:
(134) Gosto desta bela paisagem. (bela = estético)
(135) Ganha um belo salário mensalmente. (belo = considerável pela quantidade)
Nos termos da regra da forma proposicional, vista no Capítulo 3, teremos,
no que se refere aos adjetivos em estudo, um actante semântico (X), que
corresponderá ao elemento possuidor da característica expressa pelo adjetivo,
como no exemplo abaixo, de MEL’ČUK et al. (1999):
BRÛLANT
I. [X] brûlant = [X] très chaud – tellement qu’il peut brûler
1
II.4b.
(MEL’ČUK et al., 1999, p. 148)
Usando as descrições de Houaiss para belo, teríamos as seguintes
configurações de definienda aplicadas às duas lexias dos exemplos (134) e (135):
BELO
(136) [X] belo = [X] tem beleza
(137) [X] belo = [X] é notável pela quantidade.
197
Se usássemos essa notação, estaríamos redundando em erro, uma vez
que não podemos ter o adjetivo belo posposto à variável semântica [X], pois a
anteposição se verifica para a lexia belo com o semantismo de notável pela
quantidade:
(138) *Ganha um salário belo mensalmente.
Assim, nossos exemplos deverão ser rescrito nos seguintes moldes:
BELO
(139) [X] belo = [X] tem beleza
(140) belo [X] = [X] é notável pela quantidade.
Argumentamos, nessa dissertação, portanto, que o tratamento dos adjetivos
não-derivados também pode contemplar as questões de definiendum, que, no
caso dos adjetivos estéticos, estarão muito ligadas à sintaxe de colocação.
Criticamos o fato de que, nas quatro edições do DEC, apenas tenham sido
escolhidos adjetivos deverbais para a aplicação das regras lexicográficas, como a
regra da forma proposicional. Perdemos muito de saber acerca do tratamento
lexicográfico dos adjetivos pela corrente teórica que mais se preocupou com o
estudo criterioso de regras lexicológico-lexicográficas.
Em relação ao definiendum, cabe ainda dizermos que, apesar de ser
abordado nos estudos semânticos da TLEC, é, sem dúvida, uma categoria
sintático-semântica, ao relacionar numa forma bem definida os actantes
semânticos e os actantes sintáticos profundos. E essa importância da
consubstanciação da relação sintaxe-semântica é, na nossa visão, um dos
aspectos meritórios da teoria lexicográfica que estrutura o DEC: não existem
198
“palavras soltas” em nenhuma ngua humana, as lexias relacionam-se, a partir de
seus semantismos, com outras lexias inevitavelmente, seja na forma de vocábulo,
nos termos da TLEC, seja por intermédio da regência ou colocação, e essas
relações lexicais, que brotam da estrato semântico-lexical de uma dada lexia
nunca fora alvo de atenção por parte dos lexicógrafos.
O problema da sintaxe de colocação na lexicografia dos adjetivos,
deflagrado na nossa análise pela relação sintático-semântica de estruturação do
definiendum é justamente o segundo dos aspectos sintático-semânticos a ser
tratado no âmbito desta análise sintática.
A relação conteúdo semântico / distribuição sintática não é objeto de estudo
no DEC, mas cremos que é de suma importância para a lexicografia adjetival e,
sobremaneira, para a lexicografia dos adjetivos estéticos.
A presente análise da distribuição sintática terá como base teórica, pois,
não a TLEC ou o DEC, mas os conceitos que abordamos no Capítulo 2, quando
nos detivemos na semântica e a sintaxe adjetivais (subseção 2.2.2), pudemos
tomar contato com a subdivisão dos adjetivos em duas classes semântico-
denotacionais: a dos adjetivos intersectivos e a dos não-intersectivos. Como visto
na referida passagem desta dissertação, Móia (1992, p. 15) aponta para a
dificuldade de construir testes que determinem contextos distribucionais
específicos para cada uma dessas classes denotacionais.
Porém, na seção 2.3, ao observarmos as especificidades sintático-
semânticas dos adjetivos estéticos, concluímos que os vocábulos estéticos
albergam em seu bojo tanto lexias de semantismos estéticos como lexias de
199
semantismos não-estéticos, como o exemplo abaixo, no qual belo tem uma
interpretação estética no primeiro caso e uma não-estética no segundo caso:
(141) Fez um belo quadro a óleo. (belo = estético)
(142) Recebeu uma bela herança. (bela = substanciosa, valiosa)
Conforme foi observado na referida seção, exemplos como os recém-
citados indicam que, para o caso dos vocábulos estéticos, poderíamos ter um
teste seguro a fim de distinguir as classes intersectiva e não-intersectiva: na leitura
intersectiva, ambas as posições adnominais (anteposição e posposição) seriam
possíveis, enquanto na leitura não-intersectiva, apenas a anteposição seria
possível. Voltando aos exemplos acima, teríamos a seguinte configuração:
ANTEPOSIÇÃO
(143) Fez um belo quadro a óleo. (belo = estético)
POSPOSIÇÃO
(144) Fez um quadro belo a óleo. (belo = estético)
ANTEPOSIÇÃO
(145) Recebeu uma bela herança. (bela = substanciosa, valiosa)
POSPOSIÇÃO
(146) *Recebeu uma herança bela. (bela = ?)
Teceremos aqui a seguinte formulação, pois: o teste do contexto de
distribucionalidade sintática é válido para determinar a classe semântica a que
pertence uma dada lexia considerada como pertencente a um vocábulo estético.
Dessa forma, a fim de testar tal formulação, separaremos as acepções de
belo que apresentam semantismos estéticos das que não os apresentam.
200
1. BELO
CALDAS AULETE
ESTÉTICO
1 que é de forma agradável, de proporções harmônicas [diz-se igualmente de todo o corpo ou de alguma das suas
partes]: Uma bela dama. Um belo braço.
3 Feito com esmero, agradável à vista [falando das coisas]: Um belo palácio. Belos jardins.
4 Agradável ao ouvido. : Uma bela música.
NÃO-ESTÉTICO
5 Distinto, escolhido: Reúne-se ali uma bela companhia.
6 Que faz bem uma coisa: um belo pintor.
7 Diz-se do instrumento para designar que é manejado ou usado habilmente.: Este alfaiate tem uma bela tesoura.
O autor desta gravura tinha um belo buril.
8 [Também se diz do instrumento para designar a pessoa que se serve dele]: As mais belas penas se têm
ocupado deste assunto.
9 Ameno, aprazível, sereno: Ali passei os mais belos dias de minha mocidade.
10 Considerável pelo número, pela quantidade: Uma bela fortuna.
11 Considerável pelas dimensões: Um belo peixe.
12 Robusto, vigoroso: Uma bela saúde.
13 Que deve dar excelentes resultados; prometedor: Uma bela empresa.
14 Vantajoso; lucrativo: Um belo emprego.
15 Bem pensado, dito ou imaginado: Um belo poema.
16 Justo, profundo, penetrante [falando das qualidades intelectuais]: Um belo talento.
17 Grande, nobre, generoso: Uma alma como tu, cândida e bela, devo aliar contigo. (Bocage.)
18 De que resulta glória; honroso: Prestou belos serviços. Uma bela ação.
19 Lisonjeiro; fagueiro; que alegra, que contenta: Belas promessas.
20 Emprega-se muitas vezes com um sentido mal definido, e pouco mais ou menos equivalente ao indefinido um
certo: Um belo dia de manhã o ministério muda de opinião, de religião financeira. (Garrett.)
HOUAISS
ESTÉTICO
1 que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição; que tem beleza;
lindo <uma b. escultura> <um b. quarteto de cordas>
2 que produz uma viva impressão de deleite e admiração <descortinava-se um b. panorama>
NÃO-ESTÉTICO
2.1 que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade <uma b. manhã>
3 cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres <assistimos a uma b.
aula>
4 de elevado valor moral; sublime <é b. viver por um ideal>
5 que redunda em honra ou glória <um b. triunfo>
6 que revela bondade; generoso <ser dotado de uma b. alma>
7 feito com apuro e proficiência; bem projetado e/ou bem construído <uma b. represa>
8 em que há felicidade; venturoso <levamos ali uma b. vida>
9 que oferece proveito; apreciável, lucrativo <fez um b. negócio>
10 notável pela quantidade, pela extensão, pela duração, pelas dimensões, pelo número etc. <tem uma b. coleção
de livros> <recebeu uma b. quantia>
11 difícil de prever, de precisar (falando-se de dia ou de parte dele); inesperado <uma b. tarde sumiram todos>
12 iron. que merece repreensão; lamentável <b. papel você fez ontem, hem?>
AURÉLIO
ESTÉTICO
1 Que tem forma perfeita e proporções harmônicas: "Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina, / Mais do que a vida,
o orgulho de ser bela!" (Olavo Bilac, Tarde, p. 54); "Sonho o que jamais pude: / -- Belo como Davi, forte como
Golias..." (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, p. 29).
2 Que é agradável aos sentidos.
NÃO-ESTÉTICO
3 Elevado; sublime: "Pela pátria morrer é nobre, é belo!" (Marquesa de Alorna, Poesias, p. 117.)
4 Majestoso, grandioso, imponente: "Mar, belo mar selvagem / Das nossas praias solitárias!" (Vicente de
Carvalho, Poemas e Canções, p. 137.)
5 Bom, generoso: Tem um belo coração.
6 Ameno, aprazível, sereno.
7 Próspero, feliz.
8 Considerável pelo número, quantidade ou dimensões: Tem uma bela criação: mais de 10.000 cabeças.
9 De que resulta lucro, vantagem; vantajoso: Trabalhou muito, mas alcançou belo resultado -- deram-lhe o
201
emprego.
10 De que resulta glória; honroso: Foi uma bela vitória, a da seleção brasileira!
11 Tem, por vezes, um sentido indefinido, próximo ao de certo (9): Um belo dia aparece de volta.
~ V. o -- sexo.
Verificando alguns dos exemplos de Caldas Aulete, Houaiss e
Aurélio (Michaelis não apresenta exemplificações), reescrevendo entre parênteses
os exemplos com o adjetivo na posição respectivamente oposta:
CALDAS AULETE
ESTÉTICO
(147) Uma bela dama
(148) (Uma dama bela)
(149) Um belo braço.
(150) (Um braço belo)
(151) Um belo palácio.
(152) (Um palácio belo)
(153) Belos jardins.
(154) (Jardins belos)
(155) Uma bela música.
(156) (Uma música bela.)
NÃO-ESTÉTICO
(157) Reúne-se ali uma bela companhia. (bela = distinta)
(158) (*Reúne-se ali uma companhia bela.)
(159) um belo pintor (belo = que faz bem uma coisa)
(160) (*um pintor belo)
(161) Este alfaiate tem uma bela tesoura. (bela = boa)
(162) (*Este alfaiate tem uma tesoura bela.)
(163) Um belo peixe. (belo = considerável pelas dimensões)
(164) (*Um peixe belo.)
(165) Uma bela saúde. (bela = robusta)
202
(166) (*Uma saúde bela.)
(167) Uma bela empresa. (bela = que dá excelentes resultados)
(168) (*Uma empresa bela)
(169) Um belo emprego. (belo = vantajoso, lucrativo)
(170) (*Um emprego belo.)
(171) Prestou belos serviços. (belos = honrosos)
(172) (*Prestou serviços belos.)
(173) Um belo dia de manhã o ministério muda de opinião, de religião financeira.
(belo é equivalente do indefinido certo)
(174) (*Um dia belo de manhã o ministério muda de opinião, de religião
financeira.)
HOUAISS
ESTÉTICO
(175) uma bela escultura
(176) (uma escultura bela)
(177) descortinava-se um belo panorama
(178) (descortinava-se um panorama belo)
NÃO-ESTÉTICO
(179) assistimos a uma bela aula (belo = destacado)
(180) (*assistimos a uma aula bela)
(181) uma bela represa (bela = bem construída)
(182) (*uma represa bela)
(183) tem uma bela coleção de livros (bela = volumosa)
(184) (*tem uma coleção de livros bela)
(185) belo papel você fez ontem, hem? (belo = lamentável)
(186) (*papel belo você fez ontem, hem?)
AURÉLIO
ESTÉTICO
Não há exemplos de belo em posição adnominal.
203
NÃO-ESTÉTICO
(187) Tem um belo coração. (belo = generoso)
(188) (?? Tem um coração belo.)
(189) Trabalhou muito, mas alcançou belo resultado -- deram-lhe o emprego.
(belo = vantajoso)
(190) (*Trabalhou muito, mas alcançou resultado belo -- deram-lhe o emprego.)
Até aqui parece corroborar-se a formulação que tecemos acima. Vejamos o
caso de estético, que se destaca por apresentar uma distribuição sintática quase
que unicamente antepositiva. Segundo nossa formulação, tal fato estaria a indicar
que estético não teria, nesses casos, portanto, um semantismo estético, nos
termos do que vimos no Capítulo 3 (cujo sentido esteja baseado no identificador
de campo do campo da estética, que é o adjetivo belo). Grosso modo, poderíamos
dizer que estético, nos referidos exemplos, não é intercambiável com belo.
2. ESTÉTICO
CALDAS AULETE
1 que tem relação com a estética;
2 que diz respeito ao sentimento ou apreciação do belo: Impressão, apreciação estética; as condições estéticas de
um monumento, de uma estátua, etc.
HOUAISS
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
2 referente às qualidades artísticas ou formais de algo <avaliação e. de uma obra de arte> <o aspecto e. de um
arranjo floral>
3 que denota bom gosto; atraente <combinação de cores pouco e.>
4 relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo <senso e.>
5 que diz respeito a ou que visa ao embelezamento de um indivíduo <pôs nova coroa dentária por razões e.>
<cirurgia e.>
AURÉLIO
1 Relativo à estética, ao sentimento do belo: senso estético; emoção estética.
2 Que tem características de beleza; belo, harmonioso: decoração estética.
3 Concernente à beleza do corpo: cuidados estéticos.
Observemos as exemplificações ofertadas pelos dicionaristas acima
(Michaelis não traz exemplos):
Caldas Aulete
(191) *estética impressão
204
(192) *estética apreciação
(193) *as estéticas condições de um monumento
(194) *as estéticas condições de uma estátua
Houaiss
(195) *estéticas teorias
(196) *estética avaliação de uma obra de arte
(197) *o estético aspecto de um arranjo floral
(198) ??pouco estética combinação de cores
(199) * estético senso
(200) *pôs nova coroa dentária por estéticas razões
(201) *estética cirurgia
Aurélio
(202) *estético senso
(203) *estética emoção
(204) ??estética decoração
(205) *estéticos cuidados
Na maioria dos casos, como podemos perceber nos exemplos, estético não
pode aparecer em posição anterior ao nome, uma vez que, nestes casos, não está
remetendo a um sentido estético. Antes de equivaler a belo ou atraente, aqui tal
lexia equivale a relativo à estética, relativo à apreciação do belo, relativo ao
sentimento do belo, relativo à beleza física e relativo às qualidades formais,
conforme vemos abaixo:
Caldas Aulete
(206) *estética impressão
(207) (estética = relativa à apreciação do belo)
(208) *estética apreciação
(209) (estética = relativa à apreciação do belo)
(210) *as estéticas condições de um monumento
(211) (estéticas = relativas às qualidades formais)
(212) *as estéticas condições de uma estátua
(213) (estéticas = relativas às qualidades formais)
205
Houaiss
(214) *estéticas teorias
(215) (estéticas = relativas à estética)
(216) *estética avaliação de uma obra de arte
(217) (estética = relativa às qualidades formais)
(218) *o estético aspecto de um arranjo floral
(219) (estético = relativo às qualidades formais)
(220) ??pouco estética combinação de cores
(221) (estética = bela / atraente)
(222) *estético senso
(223) (estético = relativo à apreciação do belo)
(224) *pôs nova coroa dentária por estéticas razões
(225) (estéticas = relativas à beleza física)
(226) *estética cirurgia
(227) (estética = relativa à beleza física)
Aurélio
(228) *estético senso
(229) (estético = relativo à apreciação do belo)
(230) *estética emoção
(231) (estética = relativo ao sentimento do belo)
(232) ??estética decoração
(233) (estética = bela / atraente / harmoniosa)
(234) *estéticos cuidados
(235) (estéticos = relativos à beleza física)
Tão-só nos exemplos em que estético apresenta o semantismo de belo /
atraente / harmonioso, é que podemos antepô-lo ao nome. Poderíamos dizer aqui
que é um pouco incomum tal uso, mas um falante da ngua não diria que os
exemplos a seguir possam ser absolutamente mal formados, nos quais o adjetivo
206
adnominal está anteposto ao nome numa estrutura em que é predicativo do objeto
e em outra, em que participa do sujeito da oração.
(236) Considerei pouco estética a combinação de cores escolhida pelo artista?
(237) Considerei muito estética a decoração escolhida para a festa.
(238) A estética combinação de cores escolhida pelo artista impressionou a
todos.
(239) A estética decoração da festa impressionou a todos.
em relação às demais acepções, é impossível citar um contexto em que
se verifiquem como bem formadas:
(240) *Considerei as estéticas razões de pôr uma nova coroa dentária por
estéticas razões
(241) *Devido a estéticas razões, pus uma nova coroa dentária.
(242) *Considerei o estético aspecto daquele arranjo floral.
(243) *O estético aspecto de um arranjo floral é a sua principal característica
decorativa.
Analisemos, agora, as acepções do vocábulo formoso:
3. FORMOSO
CALDAS AULETE
1 belo, bonito, bem feito; de feições, de formas perfeitas: Basta afirmá-lo boca tão formosa. (Garrett.) Oh! Que
formosos cachos. (Castilho.)
2 Aprazível, ameno, deleitoso: Formosa manhã clara e deleitosa. (Camões.)
3 Esplêndido, brilhante: Os formosos dias do poderio e renome. (Herc.)
4 Sonoro, harmonioso: Nem acoimes à língua tão formosa o desprimor e as faltas do poeta. (Garrett.)
5 Perfeito, puro, estreme, cândido: Protesto inútil de algumas almas formosas e puras. (Herc.)
HOUAISS
1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde concorrem as mais f. jovens
da cidade>
2 perfeito, puro, belo <uma f. alma>
3 aprazível, ameno <uma f. manhã de abril>
4 sonoro, harmonioso <na f. língua dos antigos bardos>
5 esplêndido, magnífico <uma f. demonstração de amor ao próximo>
AURÉLIO
1 De formas, feições ou aspecto agradável; belo, bonito.
2 Deleitoso, aprazível.
3 Magnífico, brilhante, esplêndido.
4 Perfeito, primoroso.
5 Harmonioso, sonoro.
207
MICHAELIS
1 De feições ou formas perfeitas, de aspecto agradável.
2 Belo.
3 Deleitoso.
4 Perfeito, puro, estreme, cândido.
Em princípio, deveríamos proceder em relação a formoso da mesma forma
que fizemos em relação a belo, separando as lexias (acepções) de semantismo
estético das de semantismo não-estético. Porém, faremos isso lexia a lexia, pois,
em alguns momentos, torna-se difícil precisar se o sentido é puramente não-
estético. Vejamos os exemplos de Caldas Aulete e Houaiss (Aurélio e Michaelis
não apresentam exemplificações), marcando-os com anteposto ou posposto.
CALDAS AULETE
(no sentido de: belo, bem feito)
(244) Oh! Que formosos cachos. [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: aprazível, ameno, deleitoso)
(245) Formosa manhã clara e deleitosa. [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: esplêndido, brilhante)
(246) Os formosos dias do poderio e renome. [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: perfeito, puro, estreme, cândido)
(247) Protesto inútil de algumas almas formosas e puras. [
POSPOSTO
]
HOUAISS
(no sentido de: de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita)
(248) concurso de beleza, onde concorrem as mais formosas jovens da cidade
[
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: perfeito, puro, belo)
(249) uma formosa alma [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: aprazível, ameno)
(250) uma formosa manhã de abril [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: sonoro, harmonioso)
(251) na formosa língua dos antigos bardos [
ANTEPOSTO
]
208
(no sentido de: esplêndido, magnífico)
(252) uma formosa demonstração de amor ao próximo [
ANTEPOSTO
]
Houaiss exemplifica o sentido estético de (245) com a anteposição do
adjetivo. Pela nossa formulação, a anteposição é possível para esse semantismo.
Houaiss marca somente com anteposição os exemplos não-estéticos, o que
também verifica a nossa formulação. Porém, em Caldas Aulete, temos uma
exceção no sentido não-estético do exemplo (244), em que há a posposição, onde
deveríamos ter, segundo nossa formulação, a anteposição. Porém, aqui devemos
fazer uma crítica à definição de Caldas Aulete: como podemos saber que é o
sentido de “pura” que corresponde ao semantismo de formosa em “alma
formosa”? Ainda que “alma” não tenha uma realidade visível, não é impossível
considerar que possa existir a idéia de “alma bela”/ “alma de uma beleza
incomparável”. Se, no exemplo, o semantismo fosse realmente de “pura”, não
seria a oração exemplificativa pleonástica? Vejamos se substituíssemos a lexia
pela sua definição no exemplo, sempre seguindo a regra de substitutibilidade,
teríamos:
(253) Protesto inútil de algumas almas formosas e puras.
(254) Protesto inútil de algumas almas puras e puras.
Atentemos para as demais acepções tidas como não diretamente estéticas
pelos dicionaristas estudados e façamos a substituição pelas respectivas
definições:
(no sentido de: belo, bem feito)
209
(255) Oh! Que formosos cachos.
(256) Oh! Que belos cachos. [
SUBSTITUIÇÃO
]
Nesta acepção, temos o sentido estético, e a substituição do definiendum
pelo definiens correspondente redunda numa oração bem formada.
(no sentido de: deleitoso)
(257) Formosa manhã clara e deleitosa.
(258) Deleitosa manhã clara e deleitosa. [
SUBSTITUIÇÃO
]
Nesta acepção, a substituição do definiendum pelo definiens
correspondente redunda numa oração pleonástica. Argumentaremos aqui que
uma manhã não necessariamente bela pode ser deleitosa, ou seja, se tivéssemos
a expressão “formosa manhã clara” isolada, não poderíamos garantir que os
falantes interpretassem formosa como deleitosa. Assim, no nosso entender, o
sentido estético se mantém aqui, e a interpretação de deleitosa, no exemplo, cabe
à lexia deleitosa em si.
(no sentido de: esplêndido, brilhante)
(259) Os formosos dias do poderio e renome.
(260) Os brilhantes dias do poderio e renome. [
SUBSTITUIÇÃO
]
HOUAISS
(no sentido de: de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita)
(261) concurso de beleza, onde concorrem as mais formosas jovens da cidade
(262) concurso de beleza, onde concorrem as mais belas jovens da cidade
[
SUBSTITUIÇÃO
]
Nesta acepção, temos o sentido estético mais uma vez, e a substituição do
definiendum pelo definiens correspondente redunda numa oração bem formada.
(no sentido de: perfeito, puro, belo)
210
(263) uma formosa alma
(264) uma perfeita, pura e bela alma [
SUBSTITUIÇÃO
]
Nesta acepção, temos como definição uma seqüência de três adjetivos:
perfeito, puro e belo. Portanto, há um acúmulo do estritamente estético com outros
sentidos não-estéticos. Este é um tipo de definição que até agora não havíamos
analisado. A formulação da definição em Houaiss de formoso como
concomitantemente perfeito, puro e belo, ainda que possa ser criticada como uma
mera série de sinônimos, deve ser vista com mais atenção, pois da mesma forma
que em formosa com o sentido de “pura” (analisada acima), parece ser este o
processo semântico do adjetivo estético formoso: o sentido não-estético depende
muito do contexto em que o adjetivo esteja inserido, mas tal semantismo
atualizado em função do nome que este adjetivo modifica independe do seu
semantismo estético, que se mantém inalterado.
(no sentido de: aprazível, ameno)
(265) uma formosa manhã de abril
(266) uma amena manhã de abril [
SUBSTITUIÇÃO
]
Como em relação a formoso no sentido de deleitoso, argumentaremos que
uma manhã não necessariamente bela pode ser amena, ou seja, formosa, na
expressão “formosa manhã de abril”, quando lida isoladamente, não remete
indiscutivelmente ao sentido de amena. Assim, no nosso entender, o sentido
estético se mantém aqui, e a interpretação de amena dependerá do contexto
oracional.
211
(no sentido de: sonoro, harmonioso)
(267) na formosa língua dos antigos bardos
(268) na sonora língua dos antigos bardos [
SUBSTITUIÇÃO
]
O adjetivo sonoro está presente também em uma das acepções de belo em
Houaiss, o que nos leva a entendê-lo como um adjetivo estético relacionado com a
experiência estética
86
auditiva (na maioria dos casos, uma adjetivo é usado para
referir uma experiência estética visual). Assim, formoso tem aqui um paralelo com
belo, fato que vem a demonstrar que o seu semantismo aqui é estético, e, do
mesmo modo que em relação a formoso como belo, nos exemplos (258) e (259), a
substituição do definiendum pelo definiens correspondente redunda numa oração
bem formada.
(no sentido de: esplêndido, magnífico)
(269) uma formosa demonstração de amor ao próximo
(270) uma magnífica demonstração de amor ao próximo [
SUBSTITUIÇÃO
]
Não esquecendo que, em Houaiss, magnífico é definido como
“extremamente bom e belo”, também aqui argumentaremos que não é possível
separar o sentido de bom (“bem executado”) do de belo.
Assim, verificado o semantismo estético de cada uma das acepções de
formoso nos exemplos acima, temos, segundo a nossa formulação quanto à
distribuição sintática dos adjetivos estéticos, que formoso poderá ocupar tanto a
posição antepositiva quanto a pospositiva. E isso se verifica em todos os
212
exemplos, pois, se fizermos esse teste sintático, obteremos sempre orações bem
formadas:
CALDAS AULETE
(271) Oh! Que formosos cachos. [
ANTEPOSTO
]
(272) Oh! Que cachos formosos. [
POSPOSTO
]
(273) Formosa manhã clara e deleitosa. [
ANTEPOSTO
]
(274) Manhã formosa clara e deleitosa. [
POSPOSTO
]
(275) Os formosos dias do poderio e renome. [
ANTEPOSTO
]
(276) Os dias formosos do poderio e renome. [
POSPOSTO
]
(277) Protesto inútil de algumas almas formosas e puras. [
POSPOSTO
]
(278) Protesto inútil de algumas formosas e puras almas. [
ANTEPOSTO
]
HOUAISS
(279) concurso de beleza, onde concorrem as mais formosas jovens da cidade
[
ANTEPOSTO
]
(280) concurso de beleza, onde concorrem as jovens mais formosas da cidade
[
POSPOSTO
]
(281) uma formosa alma [
ANTEPOSTO
]
(282) uma alma formosa [
POSPOSTO
]
(283) uma formosa manhã de abril [
ANTEPOSTO
]
(284) uma manhã formosa de abril [
POSPOSTO
]
(285) na formosa língua dos antigos bardos [
ANTEPOSTO
]
(286) na língua formosa dos antigos bardos [
POSPOSTO
]
(287) uma formosa demonstração de amor ao próximo [
ANTEPOSTO
]
(288) uma demonstração formosa de amor ao próximo [
POSPOSTO
]
86
Segundo Townsend (1997), a experiência estética é “a experiência dos objetos estéticos [e] é
213
No que toca à lexia lindo, é muito difícil detectarmos um sentido que seja
claramente não-estético. Vamos considerar, portanto, aqui, que todos os
semantismos remetem a uma noção estética.
4. LINDO
CALDAS AULETE
1 formoso, belo, bonito
2 agradável
3 vistoso
4 airoso
5 elegante: Onde vais tão alva e linda, mas tão triste e pensativa? (Garrett.) Aquelas madeixas negras como folgam
lindas! (R. da Silva).
HOUAISS
1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso <uma l. aquarela> <um l.
conto> <um l. gesto>
2 que se caracteriza pela harmonia; elegante <essa saia está l., no rigor da moda>
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso <l. trabalho de ourivesaria>
4 fig. que transmite prazer, deleite; prazenteiro, agradável <passamos um dia l.>
AURÉLIO
1 Agradável à vista ou ao espírito; belo, bonito, formoso: mulher linda; dia lindo; versos lindos.
2 Gracioso, delicado; mimoso: As lindas borboletas alegram a paisagem; O colar é um lindo trabalho de
ourivesaria.
3 Bem aprestado; elegante, airoso: A noiva estava linda.
4 Delicado, sensível; distinto; sutil: um lindo gesto de generosidade.
5 Apurado, perfeito, primoroso; puro: Escreve um lindo português; Tem móveis em lindo estilo D. João V.
Uma vez que apontamos lindo como sempre passível de ter uma
interpretação estética, testemos nossa formulação de que a lexia cujo semantismo
é de natureza estética sempre pode ocupar ambas as posições sintáticas (ante- e
posposição), com os exemplos acima de Houaiss e Aurélio (Caldas Aulete não
apresenta exemplos com adjetivos em posição adnominal, e Michaelis não
apresenta exemplificações). Reescrevendo entre parênteses os exemplos com o
adjetivo na posição respectivamente oposta, temos:
Houaiss
(289) uma linda aquarela
caracterizada como forma de contemplação ou como tipo de experiência singular confinada ao seu
conteúdo imediato. (Townsend, 1997, p. 267)
214
(290) (uma aquarela linda)
(291) um lindo conto
(292) (um conto lindo)
(293) um lindo gesto
(294) (um gesto lindo)
(295) lindo trabalho de ourivesaria
(296) (trabalho lindo de ourivesaria
(297) passamos um dia lindo
(298) (passamos um lindo dia)
Aurélio
(299) mulher linda
(300) (linda mulher)
(301) dia lindo
(302) (lindo dia)
(303) versos lindos
(304) (lindos versos)
(305) As lindas borboletas alegram a paisagem.
(306) (As borboletas lindas alegram a paisagem.)
(307) O colar é um lindo trabalho de ourivesaria.
(308) (O colar é um trabalho lindo de ourivesaria.)
(309) um lindo gesto de generosidade
(310) (um gesto lindo de generosidade)
(311) Escreve um lindo português.
(312) (Escreve um português lindo.)
(313) Tem móveis em lindo estilo D. João V.
(314) ??Tem móveis em estilo lindo D. João V.
Como podemos depreender dos exemplos, comprova-se que o semantismo
estético está relacionado com a dupla opção de posição para o adjetivo adnominal
215
estético. O último exemplo é duvidoso, mas temos de levar em consideração aqui
que a posição após o nome já está preenchida. Para deslindar essa questão
teríamos de entrar no campo da prioridade no posicionamento do adjetivo em
relação ao nome quando temos vários adjetivos envolvidos. Tal problema se
presta a um trabalho específico sobre a sintaxe de colocação múltipla para
adjetivos e extrapola a nossa proposta de análise para essa subseção.
Por fim, analisemos o adjetivo sublime, separando os semantismos
estéticos dos não-estéticos.
5. SUBLIME
CALDAS AULETE
NÃO-ESTÉTICO
1 elevado, levantado acima de todos: Ali sublime o fogo estava em cima, que em nenhum a matéria se sustinha.
(Camões)
2 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material: Da estátua erguida por gênio sublime do homem...
(Montalverne)
3 Alto, elevado.
4 Grande, nobre, majestoso, elevado nos seus atos, nas suas palavras, etc.: Eram sublimes os mártires, quando
perante os césares davam testemunho do Evangelho. (Herc.)
5 Muito excelente, muito grande, poderoso, muito nobre, subido: Coragem sublime; E vendo o rei sublime
castelhano (Camões.)
6 Magnífico, esplêndido, excelente: Amanheceu hoje um belo dia, puro e sublime. (Garrett.)
7 Agradável, encantador: Naquela sublime solidão. (Lat. Coelho.)
8 Grandioso, soberbo, extraordinário: Religião sublime, teu sopro é bem abrasador, tua influência, é bem
miraculosa. (Montalverne.)
HOUAISS
ESTÉTICO
1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s. arquitetura do Partenon
de Atenas>
NÃO-ESTÉTICO
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto
2 moralmente irrepreensível; digno de admiração <vida s.>
3 intelectualmente irretocável, perfeito <obra s.>
4 cujos méritos ultrapassam o normal <ela foi s. em sua dedicação materna> <herói s. da nossa pátria>
5 que em relação a outros está em posição superior ou distinta; insigne, perfeito, preexcelente <a s. poesia de
Petrarca>
6 de uma beleza radiosa; esplendente, esplêndido, magnífico <o dia abriu puro e s.>
7 digno do reino celestial; que se eleva acima do humano, do material; celeste, divino <seu canto era s. e
enlevava> <um rosto calmo e s.>
8 que desperta pensamentos e sentimentos nobres; elevado, magnífico, excelso <estilo s.>
216
AURÉLIO
ESTÉTICO
1 Que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais ou estéticos; quase perfeito: gesto
sublime; devotamento sublime; argumentação sublime; poesia sublime; escultura sublime.
NÃO-ESTÉTICO
2 Cujos méritos transcendem o normal; inexcedível; muito admirável: Tiradentes foi sublime em seu martírio.
3 Diz-se de quem está em posição superior à de outros, ou distinta da de outros; insigne, celso, excelso,
preexcelso, preexcelente: Era amado e respeitado o sublime imperador; O sublime patriarca distribuía justiça.
4 Esplêndido, esplendente, magnífico: O astro sublime brilhava no céu.
5 Grandioso, augusto, magnífico, esplêndido, soberbo: "Meu Deus! Como é sublime um canto ardente / Pelas
vagas sem fim boiando à toa!" (Castro Alves, Obra Completa, p. 278.)
6 Encantador; maravilhoso; divino: música sublime; sublime enlevo.
7 Muito bonito; formosíssimo, gentil, lindo: uma sublime figura de mulher.
8 Nobre, pomposo, elevado, erguido: estilo sublime; eloqüência sublime.
MICHAELIS
NÃO-ESTÉTICO
1 Que é dotado de uma elevação excepcional.
2 Lit Diz-se do estilo nobre, que se observa nas produções literárias e artísticas de relevo e brilho fora do vulgar.
3 Que atingiu grande perfeição intelectual ou material.
4 Elevado nas suas palavras, nos seus atos; grande, majestoso, nobre.
5 Muito excelente, muito nobre; poderoso, subido.
6 Esplêndido, magnífico.
7 Agradável, encantador.
8 Extraordinário, grandioso, soberbo.
Como dissemos na subseção anterior, quando da análise semântica, os
dicionaristas em estudo não concordam entre si quanto à natureza estética da
lexia sublime1 (acepção 1). Acima podemos constatar que Caldas Aulete e
Michaelis não registram acepções estritamente estéticas para sublime. Apenas
Aurélio e Houaiss explicitam tal semantismo nas suas descrições, porém não o
fazem na acepção 1. Ou seja, sublime no seu sentido estético é uma das lexias do
vocábulo sublime, mas não é a sua lexia de base. que sublime está numa área
limítrofe, visto por uns como pertencente ao campo semântico da estética e visto
por outros apenas como “sinônimo” de elevado, teremos de efetuar uma análise
sintática que determine ser sublime pertencente ao campo estético ou não.
Observando os exemplos dos dicionaristas acima, destaca-se o fato de que
sublime se comporta de forma completamente atípica em relação ao que vimos
com belo, estético, formoso e lindo: o comportamento sintático das lexias do
217
vocábulo sublime parece independer de seus respectivos semantismos, conforme
podemos observar lexia a lexia.
CALDAS AULETE
NÃO-ESTÉTICO
(no sentido de: que atingiu grande perfeição intelectual ou material)
(315) a estátua erguida por gênio sublime do homem... [
POSPOSTO
]
(no sentido de: Muito excelente, muito grande, poderoso, muito nobre)
(316) Coragem sublime [
POSPOSTO
]
(317) E vendo o rei sublime castelhano. [
POSPOSTO
]
(no sentido de: agradável, encantador)
(318) Naquela sublime solidão. [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: Grandioso, soberbo, extraordinário)
(319) Religião sublime, teu sopro é bem abrasador, tua influência, é bem
miraculosa. [
POSPOSTO
]
HOUAISS
ESTÉTICO
(no sentido de: superlativamente belo, esteticamente perfeito)
(320) a sublime arquitetura do Partenon de Atenas [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: de uma beleza radiosa)
(321) o dia abriu puro e sublime [
PREDICATIVO
]
NÃO-ESTÉTICO
(no sentido de: moralmente irrepreensível; digno de admiração)
(322) vida sublime [
POSPOSTO
]
(no sentido de: intelectualmente irretocável, perfeito)
(323) obra sublime [
POSPOSTO
]
(no sentido de: cujos méritos ultrapassam o normal)
(324) herói sublime da nossa pátria [
POSPOSTO
]
(no sentido de: que em relação a outros está em posição superior ou distinta)
(325) a sublime poesia de Petrarca [
ANTEPOSTO
]
218
(no sentido de: digno do reino celestial; que se eleva acima do humano, do
material; celeste, divino)
(326) um rosto calmo e sublime [
POSPOSTO
]
(no sentido de: que desperta pensamentos e sentimentos nobres)
(327) estilo sublime [
POSPOSTO
]
AURÉLIO
ESTÉTICO
(no sentido de: que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais,
intelectuais ou estéticos; quase perfeito)
(328) gesto sublime [
POSPOSTO
]
(329) devotamento sublime [
POSPOSTO
]
(330) argumentação sublime [
POSPOSTO
]
(331) poesia sublime [
POSPOSTO
]
(332) escultura sublime [
POSPOSTO
]
(no sentido de: muito bonito; formosíssimo, gentil, lindo)
(333) uma sublime figura de mulher [
ANTEPOSTO
]
NÃO-ESTÉTICO
(no sentido de: Diz-se de quem está em posição superior à de outros, ou distinta
da de outros)
(334) Era amado e respeitado o sublime imperador [
ANTEPOSTO
]
(335) O sublime patriarca distribuía justiça. [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: esplêndido, esplendente, magnífico)
(336) O astro sublime brilhava no céu. [
POSPOSTO
]
(no sentido de: encantador; maravilhoso; divino)
(337) música sublime [
POSPOSTO
]
(338) sublime enlevo [
ANTEPOSTO
]
(no sentido de: nobre, pomposo, elevado)
(339) estilo sublime [
POSPOSTO
]
(340) eloqüência sublime [
POSPOSTO
]
Os exemplos mostram que, tanto quando o semantismo é estético quanto
quando é não-estético, podemos ter a ante- e a posposição. Invertendo a posição
219
do adjetivo em relação ao nome, o resultado sempre é de construções bem
formadas.
CALDAS AULETE
NÃO-ESTÉTICO
(341) a estátua erguida por gênio sublime do homem... [
POSPOSTO
]
(342) a estátua erguida por sublime gênio do homem... [
ANTEPOSTO
]
(343) coragem sublime [
POSPOSTO
]
(344) sublime coragem [
ANTEPOSTO
]
(345) E vendo o rei sublime castelhano. [
POSPOSTO
]
(346) E vendo o sublime rei castelhano. [
ANTEPOSTO
]
(347) Naquela sublime solidão. [
ANTEPOSTO
]
(348) Naquela solidão sublime. [
POSPOSTO
]
(349) Religião sublime, teu sopro é bem abrasador, tua influência, é bem
miraculosa. [
POSPOSTO
]
(350) Sublime religião, teu sopro é bem abrasador, tua influência, é bem
miraculosa. [
ANTEPOSTO
]
HOUAISS
ESTÉTICO
(351) a sublime arquitetura do Partenon de Atenas [
ANTEPOSTO
]
(352) a arquitetura sublime do Partenon de Atenas [
POSPOSTO
]
NÃO-ESTÉTICO
(353) vida sublime [
POSPOSTO
]
(354) sublime vida [
ANTEPOSTO
]
(355) obra sublime [
POSPOSTO
]
(356) sublime obra [
ANTEPOSTO
]
(357) herói sublime da nossa pátria [
POSPOSTO
]
(358) sublime herói da nossa pátria [
ANTEPOSTO
]
(359) a sublime poesia de Petrarca [
ANTEPOSTO
]
(360) a poesia sublime de Petrarca [
POSPOSTO
]
220
(361) um rosto calmo e sublime [
POSPOSTO
]
(362) um calmo e sublime rosto [
ANTEPOSTO
]
(363) estilo sublime [
POSPOSTO
]
(364) sublime estilo [
ANTEPOSTO
]
AURÉLIO
ESTÉTICO
(365) gesto sublime [
POSPOSTO
]
(366) sublime gesto [
ANTEPOSTO
]
(367) devotamento sublime [
POSPOSTO
]
(368) sublime devotamento [
ANTEPOSTO
]
(369) argumentação sublime [
POSPOSTO
]
(370) sublime argumentação [
ANTEPOSTO
]
(371) poesia sublime [
POSPOSTO
]
(372) sublime poesia [
ANTEPOSTO
]
(373) escultura sublime [
POSPOSTO
]
(374) sublime escultura [
ANTEPOSTO
]
(375) uma sublime figura de mulher [
ANTEPOSTO
]
(376) uma figura sublime de mulher [
POSPOSTO
]
NÃO-ESTÉTICO
(377) Era amado e respeitado o sublime imperador [
ANTEPOSTO
]
(378) Era amado e respeitado o imperador sublime [
POSPOSTO
]
(379) O sublime patriarca distribuía justiça. [
ANTEPOSTO
]
(380) O patriarca sublime distribuía justiça. [
POSPOSTO
]
(381) O astro sublime brilhava no céu. [
POSPOSTO
]
(382) O sublime astro brilhava no céu. [
ANTEPOSTO
]
(383) música sublime [
POSPOSTO
]
(384) sublime música [
ANTEPOSTO
]
(385) sublime enlevo [
ANTEPOSTO
]
(386) enlevo sublime [
POSPOSTO
]
(387) estilo sublime [
POSPOSTO
]
221
(388) sublime estilo [
ANTEPOSTO
]
(389) eloqüência sublime [
POSPOSTO
]
(390) sublime eloqüência [
ANTEPOSTO
]
Como a nossa formulação valeu para os vocábulos belo, estético, formoso
e lindo, interpretaremos os dados de sublime considerando-o como não-
pertencente ao campo da estética, no sentido do critério de identificador de
campo, corroborado pelo critério sintático, agora.
Concluindo a nossa análise da relação conteúdo semântico / distribuição
sintática, temos de marcar a necessidade de que, no âmbito lexicográfico, sejam
descritas de forma criteriosa as diferenças sintático-distribucionais que existem
entre as várias lexias que compõem os vocábulos estéticos.
Argumentamos em favor da discriminação desse aspecto sintático, ainda
que os teóricos da TLEC o desconsiderem, asseverando não ter a sintaxe
colocacional uma relação direta com a semântica lexical. Na visão desses
estudiosos, a sintaxe colocacional estaria acima do nível lexical, ou seja, faria
parte das regras gerais da ngua e não dependeria das idiossincrasias de cunho
semântico das lexias, como as demais propriedades lexicais o fazem. Entretanto,
tendo em vista a análise recém-apresentada, é forçoso discordar da interpretação
de Mel’čuk et al. (1995), destacando que tal fato sintático está diretamente ligado à
realidade semântica de cada lexia. Revendo a visão de Mel’čuk et al. (1995),
temos que a posição defendida por esses autores é a de distinguir fato sintático
regular do fato sintático irregular, sendo apenas as propriedades sintáticas
relativas a esse último de valia para a lexicografia:
222
On peut répartir ces propriétés syntaxiques en deux grands
groupes: celles qui caractérisent la lexie L elle-même comme dépendant
syntaxique et celles qui concernent la façon dont L détermine le
comportement syntaxique de ses dépendants. Les propriétés du premier
groupe concernent les capacités de L d’entrer dans certaines
constructions syntaxiques; elles sont plus grammaticales que lexicales, et
nous les négligerons ici.
Quant aux propriétés syntaxiques du deuxième groupe, elles visent
avant tout les
ACTANTS SYNTAXIQUES
[= Asynt] de L et de ce fait sont
intimiment liées à ses propriétés lexicales. Elles nous interessent donc.
(MEL’ČUK et al., 1995, p. 117)
Devemos questionar essa assertiva de Melčuk et al. (1995)) no que toca à
lexicografia dos adjetivos. O primeiro grupo sintático referido pelos autores, ao
qual dizem respeito as propriedades sintáticas de L que fazem com que esta lexia
participe de certas construções sintáticas não é “mais gramatical do que lexical”
quando a lexia em questão é adjetiva. Pois, como pudemos ver no Capítulo 2 e na
primeira parte do presente capítulo, a sintaxe adjetival de cunho distribucional
(colocacional) está intimamente relacionada com a denotação do adjetivo,
portanto, uma correspondência entre a semântica e a sintaxe aqui, que se
traduzirá em diferenças de natureza descritivo-lexicográfica, tanto na redação da
definição, quanto no arranjo dos artigos de dicionário. Para os adjetivos não-
deverbais (e sobremaneira para os primitivos) essa é a única sintaxe que existe,
pois estes não necessitam de uma complementação semântica expressa em
actantes sintáticos.
Portanto, tais propriedades sintáticas deveriam interessar não só à TLEC,
como a todo lexicógrafo que objetive a lexicografia de base científica aplicada à
categoria adjetival. Talvez a negligência à sintaxe de colocação seja válida para o
caso dos nomes, mas somente um estudo aprofundado da relação sintaxe-
223
semântica garantirá, para fins lexicográficos, que a distribuição sintática não esteja
vinculada a nenhuma restrição ou mudança à semântica nominal.
Ora, faz-se clara a natureza irregular da sintaxe colocacional das lexias
adjetivais, dado que o que vale para as lexia belo em termos de relação sintaxe-
semântica, não corresponde ao que vale para a lexia lindo, por exemplo, sendo,
assim, impossível delinearmos uma única regra sintática capaz de descrever o
comportamento distribucional de todas as lexias que observamos. E a
irregularidade será ainda mais sublinhada se considerarmos a sintaxe colocacional
dos adjetivos em geral: deveremos investigar a relação conteúdo semântico /
distribuição sintática em cada campo semântico adjetival se quisermos determinar
como ocorre tal relação, mas nunca mediante uma regra regular, independente de
qualquer semântica lexical.
Uma vez que propomos a inclusão da sintaxe colocacional na descrição
sintática dos adjetivos, argumentamos em favor da substituição do esquema de
regência por um esquema colocacional, que deverá ter um formato próximo a este
do esquema abaixo:
Esquema Sintático
-
Colocacional
Vocábulo:
BELO
LEXIAS
Semantismo
Anteposição Posposição
belo [X] [X] belo
belo1
‘estético’
x x
belo2
‘considerável pela quantidade’
x -
belo3
‘lucrativo’
x -
224
belo4
‘equivalente ao indefinido certo’
x -
Vocábulo:
LINDO
LEXIAS
Semantismo
Anteposição Posposição
belo [X] [X] belo
lindo1
‘estético’
x x
Vocábulo:
E
STÉTICO
LEXIAS
Semantismo
Anteposição Posposição
belo [X] [X] belo
estético1
‘relativo à estética’
- x
estético2
‘referente às qualidades formais’
- x
estético 3
‘belo’
x x
estético 4
‘relativo ao embelezamento de
um indivíduo’
- x
Esquema 15: Esquema Colocacional para os Adjetivos Estéticos
Com a avaliação da sintaxe, fechamos a primeira parte deste capítulo,
referente à análise dos aspectos microestruturais da lexicografia dos adjetivos
estéticos, na qual nos dedicamos à investigação dos fatores envolvidos na
descrição semântica e sintática dos referidos adjetivos.
Passemos, pois, agora, à análise macroestrutural.
225
4.3 Análise Macroestrutural
Não analisaremos, nesta seção, a questão do agrupamento das lexias e
vocábulos em função do campo semântico, por dois motivos. O primeiro deve-se
ao fato de que o estudo que efetuamos quando do análise semântica, no que se
refere à determinação do identificador de campo, mostrou como se estrutura o
campo semântico que elegemos como objeto da nossa investigação. E o segundo
diz respeito ao fato de que os dicionários vernaculares optam sempre por um
sistema macroestrutural alfabético, não conferindo aos vocábulos e lexias um
tratamento uniformizado das descrições lexicográficas segundo critérios
pertinentes a um dado campo semântico. Ou seja, ao contrário do DEC, que
configurará as descrições das lexias chuva, granizo, tempestade, etc. nos mesmos
moldes, por formarem estas o campo semântico dos fenômenos atmosféricos, os
dicionários vernaculares não estabelecerão critério algum comum às lexias em
questão: estas não terão o mesmo mero de acepções, não terão um
identificador de campo ao qual todas se remetam, não apresentarão um esquema
de regência similar, etc.
Entretanto, mais de uma vez, apontamos nesta dissertação para o fato de
que os adjetivos estéticos remetem em suas definições a outros adjetivos.
Sintetizemos esse aspecto da lexicografia dos adjetivos no tipo definitório L
Adj1
L
Adj2
, que corresponde ao fenômeno sempre evitado e, nunca deixado de ser
evitado, do recurso à sinonímia para fins definitórios. Chamaremos, no curso da
presente análise, recurso de “sinonímia definitória”, a fim de diferenciá-la de outras
226
concepções de sinonímia. Porém, se um adjetivo é usado para definir outro
adjetivo, estabelece-se uma rede de relações entre os vários vocábulos e lexias
adjetivais no âmbito de uma dada obra lexicográfica, ou seja, cria-se uma rede
baseada na sinonímia definitória. Para fins de análise, chamaremos tais redes de
“redes lexicais”. Justifiquemos a nossa intenção em analisar esse aspecto
lexicográfico: uma vez que temos uma rede de relações entre as entradas
dicionarísticas, ainda que os dicionários em questão não trabalhem por campo
semântico, trabalham macroestruturalmente no sentido de que algumas lexias
estão interligadas e outras não, isto é, uma configuração macroestrutural
específica de cada obra lexicográfica, e analisaremos exemplificativamente aqui a
rede lexical presente em Houaiss (2001)
87
. À análise das redes lexicais, então.
Em Houaiss (2001), temos como uma das acepções de belo o item lexical
lindo. Lindo apresenta, entre outras, três acepções: belo, bonito e formoso. Por
sua vez, formoso apresenta, entre outras, as acepções de belo e bonito. Uma das
acepções de bonito é estético. E para podermos compreender o sentido de duas
das acepções de estético, devemos saber o sentido de belo. Temos aqui,
portanto, a partir de um único item lexical (belo), uma complexa rede lexical.
Ressalte-se que todos estes cinco adjetivos envolvidos na rede estão interligados
por via de suas descrições lexicográficas, uma vez que a sinonímia definitória
constitui a sua base descritiva. Vejamos o esquema abaixo:
87
A análise de todos os quatro dicionários em estudo tornaria a presente investigação muito
extensa, e indicamos aqui a possibilidade de uma pesquisa léxico-comparativa a ser levada a
efeito, na qual se cotejem as macroestruturas baseadas em redes lexicais em várias obras
lexicográficas.
227
belo
lindo
formoso
bonito
estético
belo: lindo
lindo: belo
lindo: formoso
lindo: bonito
formoso: belo
formoso: bonito
bonito: estético
estético: belo
Esquema 16: Rede Lexical a partir de belo
Podemos extrair, entre outras, as seguintes séries sinonímicas deste
exemplo:
1. belo lindo bonito estético belo
2. belo lindo belo
3. belo lindo formoso belo
4. belo lindo formoso bonito estético belo
5. lindo bonito estético belo lindo
6. lindo formoso belo lindo
7. lindo belo lindo
8. lindo formoso bonito estético belo lindo
9. bonito estético belo lindo
10. bonito estético belo lindo bonito
11. formoso bonito estético belo lindo formoso
228
12. formoso belo lindo formoso
13. ...
Uma rede lexical pode estabelecer-se de duas formas no âmbito das
definições adjetivais, conforme podemos ver nos exemplos abaixo:
(391) bonito
1
: agradável. (CALDAS AULETE, 1964, p. 575)
(392) estético 4: relativo à capacidade de identificar e apreciar o que é belo
(HOUAISS, 2001 p.)
Podemos observar a sinonímia definitória:
a) diretamente, como no exemplo de Caldas Aulete, ou seja, um adjetivo, pura
e simplesmente, é usado como definição (bonito: agradável), ou seja, temos
a identificação adjetivo
1
= adjetivo
2
;
b) indiretamente, como no exemplo de Houaiss, ou seja, aqui não temos uma
identificação do tipo adjetivo
1
= adjetivo
2
, mas temos uma definição
complexa, na qual é utilizado um adjetivo (estético: relativo à capacidade de
identificar e apreciar X, sendo o que é X: belo).
O que importa ser destacado é que, em ambos os casos, na relação direta
e na indireta, necessitamos saber o sentido de um adjetivo para entender o
sentido de outro adjetivo. Se tais adjetivos estivessem em uma hierarquização
hiperônimo-hiponímica, não estaríamos diante de um problema lexicográfico
(círculo vicioso).
Para fins de comparação, observamos um exemplo que não envolva lexias
adjetivais. Tomemos o vocábulo estalajadeiro. Se observamos esta unidade lexical
229
no Aurélio, pela pesquisa reversa, poderemos detectar que estalajadeiro não
ocorre na definição de nenhum outro item lexical do dicionário. Ou seja, podemos
considerar estalajadeiro como "lexicograficamente primitivo" no dicionário em
questão. Vejamos a sua descrição lexicográfica:
AURÉLIO
estalajadeiro: S. m. 1. Dono ou administrador de estalagem.
Estalagem, por sua vez, tem como acepção 1 o seguinte:
AURÉLIO
estalagem: S. f. 1. V. hospedaria.
Em hospedaria, temos como acepção 1:
AURÉLIO
hospedaria: S. f. 1. Casa onde se recebem hóspedes, especialmente mediante remuneração.
Em hóspede, temos como acepção 1:
AURÉLIO
hóspede: S. f. 1. aquele que se aloja temporariamente em casa alheia.
Em casa, temos como acepção 1:
AURÉLIO
casa: S. f. 1. Edifício (2) de um ou poucos andares, destinado, geralmente, a habitação.
Em habitação, temos como acepção 1:
AURÉLIO
habitação: S. f. 1. Ato ou efeito de habitar.
Em habitar, temos como acepção 1:
230
AURÉLIO
habitar: V.t.d. 1. [...] residir, morar, viver em
Em viver, temos como acepção 1:
AURÉLIO
viver: V. int. [...] existir.
Em existir, temos como acepção 1:
AURÉLIO
Existir: V. Int. [...] ser.
Assim, a partir do item lexical estalajadeiro podemos traçar a rede lexical
que se forma, conforme os seguintes esquemas abaixo (separaremos a rede
nominal da verbal).
Rede nominal a partir de estalajadeiro.
Esquema 17: Rede Nominal a partir de estalajadeiro
Rede verbal a partir de habitar:
Esquema 18: Rede Verbal a partir de habitar
estalajadeiro
estalagem
dono
hospedaria hóspede
receber
remuneração
alojar-se
casa
edifício
habitação habitar
habitar
em
viver existir ser
231
Diferentemente do que acontece com os adjetivos, para as séries de lexias
nominais (de estalajadeiro a habitação) e de lexias verbais (de habitar a ser) ,
como vimos acima, não houve necessidade de voltarmos à lexia de base, como
aconteceu com as séries adjetivais (por exemplo belo lindo belo)
(circularidade) e pudemos ir do mais complexo ao mais simples semanticamente,
pois ser é lexia indefinível, portanto último membro da série necessariamente.
O problema visto acima em relação aos adjetivos, como mencionado em
vários momentos desta dissertação, é o que se chama em lexicografia de círculos
viciosos: arranjos segundo redes do tipo adjetivo
1
é adjetivo
2,
que é adjetivo
3
, que
é adjetivo
n
, sendo adjetivo
n
definido como adjetivo
1
.
Com o exemplo de estalajadeiro, podemos ver que há uma decomposição
semântica aplicada recursivamente, que faz com que as lexias usadas em uma
definição sejam semanticamente mais simples do que a lexia a ser definida.
Vejamos novamente o exemplo de estalajadeiro de forma esquemática
(definições adaptadas de Ferreira(1999)):
(393) estalajadeiro dono de estalagem
(394) dono proprietário possuir
(395) estalagem hospedaria hóspede casa habitação habitar
viver existir ser
Definindo estalajadeiro (L) como "dono (L
1
) de estalagem (L
2
)", realmente
verificamos a regra de decomposição acima, pois: a) L corresponde realmente a
'L
1
+ L
2
'; b) tanto "dono" quanto "estalagem" são lexias semanticamente mais
simples que estalajadeiro, pois são usadas para definir estalajadeiro (L), porém
232
estalajadeiro (L) não é usado para defini-las (não é usado no Aurélio para definir
nenhuma outra lexia como vimos acima); c) podemos decompor semanticamente
as lexias L
1
, L
2
, ... L
n
até à exaustão, ou seja, até chegarmos a primitivos
semânticos indefiníveis (não-decomponíveis).
Podemos depreender da regra apresentada acima que essa decomposição
está intimamente ligada à noção de relação lexical: evita usar como definição a
sinonímia, criando uma rede de lexias inter-relacionadas pelas suas definições em
uma cadeia hipônimo-hiperonímica. Impõe-se a seguinte questão: Se esta é a
regra semântico-lexicográfica que nos permite evitar os círculos viciosos, como
podemos aplicá-la aos adjetivos? Tal questão macroestrutural encontra ecos na
pergunta que nos fizemos na seção deste capítulo referente à análise semântica:
qual será o identificador de campo do campo semântico da estética?
Ou seja, argumentaremos que o problema macroestrutural da formação da
impossibilidade de criação de uma rede lexical hiperônimo-hiponímica para os
adjetivos se resolve com o conceito de identificador de campo desenvolvido no
âmbito da TLEC.
Como anunciado no início desta seção, vejamos, exemplificativamente o
caso de Houaiss: estabeleçamos agora um procedimento para a determinação da
macroestrutura de redes lexicais adjetivais que está presente do citado dicionário:
1) tomaremos a descrição lexicográfica de belo;
2) listaremos quais os adjetivos, usados para definir todas as acepções
de belo, que pertençam a um vocábulo que tenha alguma lexia com
semantismo estético;
233
3) tomaremos todas as descrições lexicográficas desses adjetivos;
4) mais uma vez, observaremos quais foram os adjetivos utilizados nas
definições das acepções;
5) mais uma vez, listaremos as respectivas descrições lexicográficas;
6) e assim sucessivamente até não se chegar a um adjetivo que não
pertença a nenhum vocábulo que tenha lexias de semantismo
estético.
Com o procedimento acima, não estaremos selecionando apenas as lexias
do campo da estética (como fizemos no Capítulo 3), mas todos os vocábulos que
tenham entre as suas acepções uma que tenha um sentido estético.
Exemplifiquemos com os adjetivos lindo e delicado em Houaiss. A lexia de base
(acepção 1) do vocábulo lindo tem um semantismo estético, por apresentar o
identificador de campo (belo). a acepção 3 de lindo, apresenta a seguinte
definição:
HOUAISS
lindo
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso
Ex.: lindo trabalho de ourivesaria
Como vemos, nesta acepção, por sinonímia definitória, lindo é definido
como delicado. Observamos agora a descrição de delicado:
HOUAISS
delicado
1 que possui delgadeza; de espessura reduzida; fino
Ex.: pano d.
2 quase imperceptível; sutil
Ex.: diferença d.
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas
Ex.: traços d.
234
4 que demonstra técnica elaborada, precisão minuciosa, habilidade
Ex.: d. obra de arte
5 carente de forças e de defesas; frágil, débil
Ex.: estado de saúde d.
6 que se melindra com facilidade; vulnerável, suscetível
Ex.: uma pessoa d. não agüenta a grosseria deste homem
7 que se comporta com cortesia e civilidade
Ex.: anfitrião d.
8 que possui ternura; meigo, doce, afetuoso
Ex.: <moça d.> <gesto d.>
9 Derivação: sentido figurado.
que apresenta brandura, mansidão, suavidade
Ex.: brisa d.
10 Derivação: por extensão de sentido. Uso: informal.
que adota comportamento feminino (diz-se de homem); adamado, afeminado
11 Derivação: sentido figurado (da acp. 5).
que encerra dificuldade, exigindo prudência e cautela
Ex.: questão d.
12 Derivação: sentido figurado (da acp. 2).
que apresenta sutileza, complexidade, argúcia
Ex.: argumentação d.
13 Derivação: sentido figurado (da acp. 4).
de gosto requintado, sofisticado
Ex.: d. musicólogo
14 Derivação: sentido figurado (da acp. 2).
que satisfaz o paladar; de sabor aprazível e incomum
Ex.: iguaria d.
A lexia de base do vocábulo delicado não apresenta semantismo estético e
não apresenta o identificador de campo (belo), portanto, não pertence ao campo
semântico da estética. No entanto, a acepção 3 do vocábulo delicado apresenta o
mesmo elemento definitório que a acepção 3 de lindo (“que apresenta beleza
singela e sutil”). Comparemo-los:
HOUAISS
lindo
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso
Ex.: lindo trabalho de ourivesaria
delicado
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas
Ex.: traços delicados
235
Tendo lindo3 e delicado3 a mesma definição, podemos considerá-los
sinônimos no nível lexicográfico, ainda que pertençam a campos semânticos
diversos. Como temos o elemento definitório fino na lexia de base de delicado,
para fins de análise, digamos que seja este o identificador do campo semântico
fino. Assim, esquematicamente, teríamos a seguinte intersecção de campos
semânticos:
Esquema 19: Intersecção de Campos Semânticos
Ao conjunto dos vocábulos que apresentam uma “intersecção definitória”
com o campo semântico da estética chamaremos de rede lexical de belo ou
repertório dos vocábulos direta ou indiretamente estéticos.
campo
semântico
fino
lindo1
campo
semântico
estétic
o
belo1
formoso
belo2
belo3
lindo3
=
delicado3
lindo2
delicado1
delicado2
fino1
fino2
236
Assim, operemos o procedimento descrito acima, partindo do verbete
belo
88
:
belo
adjetivo
1 que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição; que tem beleza; lindo
Ex.: <uma b. escultura> <um b. quarteto de cordas>
2 que produz uma viva impressão de deleite e admiração
Ex.: descortinava-se um b. panorama
2.1 que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade
Obs.: ver gram, a seguir
Ex.: uma b. manhã
3 cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres
Ex.: assistimos a uma b. aula
4 de elevado valor moral; sublime
Obs.: ver gram, a seguir
Ex.: é b. viver por um ideal
5 que redunda em honra ou glória
Ex.: um b. triunfo
6 que revela bondade; generoso
Obs.: ver gram, a seguir
Ex.: ser dotado de uma b. alma
7 feito com apuro e proficiência; bem projetado e/ou bem construído
Ex.: uma b. represa
8 em que há felicidade; venturoso
Obs.: ver gram, a seguir
Ex.: levamos ali uma b. vida
9 que oferece proveito; apreciável, lucrativo
Ex.: fez um b. negócio
10 notável pela quantidade, pela extensão, pela duração, pelas dimensões, pelo número etc.
Ex.: <tem uma b. coleção de livros> <recebeu uma b. quantia>
11 difícil de prever, de precisar (falando-se de dia ou de parte dele); inesperado
Ex.: uma b. tarde sumiram todos
12 Uso: ironia.
que merece repreensão; lamentável
Ex.: b. papel você fez ontem, hem?
Rescrevendo essas acepções sem os exemplos e separando as suas
definições, temos:
BELO1: que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de
perfeição;
BELO1: que tem beleza
BELO1: lindo
88
Não listaremos aqui todas as informações presentes nas entradas lexicais observadas em
Houaiss (2001), uma vez que a datação da entrada do item lexical no português, a sua etimologia
e locuções, entre outras informações lexicais não diretamente relacionadas à definição e à
macroestrutura não interessam para o nosso estudo. Como a maioria dos itens lexicais que
estaremos analisando são polissêmicos no sentido de poderem tanto valer como substantivo e
adjetivo (e muitas vezes, como advérbio ou interjeição), também nos restringiremos às acepções
adjetivas, desconsiderando aquelas substantivas, adverbiais ou interjetivas.
237
BELO2: que produz uma viva impressão de deleite e admiração
BELO2.1: que provoca uma sensação de serenidade ou de aprazibilidade
BELO3: cujas qualidades, presentes em alto grau, o tornam destacado entre os seus congêneres
BELO4: de elevado valor moral;
BELO4: sublime
BELO5: que redunda em honra ou glória
BELO6: que revela bondade;
BELO6: generoso
BELO7: feito com apuro e proficiência;
BELO7: bem projetado e/ou bem construído
BELO8: em que há felicidade;
BELO8: venturoso
BELO9: que oferece proveito;
BELO 9: apreciável, lucrativo
BELO10: notável pela quantidade, pela extensão, pela duração, pelas dimensões, pelo número
etc.
BELO11: (falando-se de dia ou de parte dele) difícil de prever, de precisar inesperado
BELO12: (ironia) que merece repreensão;
BELO12: (ironia) lamentável
Como podemos perceber acima, as definições de Houaiss para belo, em
suas variadas acepções, remetem a outros adjetivos.
BELO1: (formas) harmônicas
BELO1: lindo
BELO3: destacado
BELO4: elevado
BELO4: sublime
BELO6: generoso
BELO7: bem projetado
BELO7: bem construído
BELO8: venturoso
BELO9: apreciável
BELO9: lucrativo
BELO10: notável
238
Vejamos, então, como Houaiss (2001) define os adjetivos apreciável, bem
construído, bem projetado, destacado, elevado, generoso, harmônico, lindo,
lucrativo, notável, sublime e venturoso:
apreciável
adjetivo de dois gêneros
1 que se pode apreçar; a que se pode atribuir valor; mensurável
Ex.: era facilmente a. o prejuízo que tivera
2 que pode ser percebido; perceptível, sensível
Obs.: ver gram a seguir
Ex.: era a. a diferença de idade entre o casal
3 que merece apreço
Ex.: qualidades a.
4 de grande vulto; considerável, significativo
Ex.: o negócio rendeu-lhe uma quantia a.
As acepções de apreciável não apresentam semantismos de natureza
estética.
As expressões “bem construído” e “bem projetado” não constituem itens
lexicais para Houaiss (2001), sendo interpretadas, então, como sintagmas
adjetivais livres (o modificador bem + adjetivo). Atentemos, entretanto, que
existem outros adjetivos estéticos que apresentam a estrutura bem + adjetivo e
que estão dicionarizados, ou seja, que não são considerados sintagmas livres,
mas unidades lexicais compostas, tais como bem-apanhado, bem-apessoado,
bem-lançado e bem-parecido.
destacado
adjetivo
que se destacou
1 que não está unido nem agrupado; isolado, separado, solto
2 que sobressai ou se destaca; saliente
239
As acepções de destacado não apresentam semantismos de cunho
estético.
elevado
adjetivo
1 que se eleva ou elevou
2 que transcende; superior, sublime
Ex.: espírito e.
3 Rubrica: lingüística.
us. pelos falantes quando atentos à correção gramatical, à escolha das palavras, à construção
sintática e à pronúncia (diz-se de um nível de língua)
Quanto a elevado, temos dois adjetivos a considerar: superior e sublime.
Como sublime já está vinculado a belo, resta observar superior, que veremos a
seguir.
generoso
adjetivo
1 de boa linhagem; ilustre, nobre
2 dotado de caráter e sentimentos nobres
3 de alma magnânima, liberal
Ex.: uma família g., que aos infelizes acolhe
4 Derivação: por extensão de sentido.
próprio de quem é generoso
Ex.: gesto g.
5 que dá com largueza (esp. dinheiro)
6 em quantidade maior do que o usual ou o necessário
Ex.: <uma dose g. de conhaque> <o filantropo fez g. doação à instituição>
7 da melhor qualidade (diz-se esp. de vinho)
8 fértil, fecundo (diz-se de solo)
No tocante a generoso, temos os adjetivos ilustre e nobre.
harmônico
adjetivo
1 que diz respeito a harmonia ou que a apresenta
2 que está em harmonia; em que há harmonia; regular, proporcionado, coerente
Ex.: <uma voz h. com as demais> <uma vida saudável proporciona um desenvolvimento h. do
organismo>
3 Rubrica: física.
concernente a fenômeno físico descrito por uma função, cuja primeira derivada é contínua, e que
satisfaça a equação de Laplace
4 Rubrica: música.
240
que se estrutura conforme às leis e princípios da harmonia
Ex.: as relações h. dos sons
Cabe serem analisados os adjetivos regular, proporcionado, e coerente no
que toca a harmônico.
lindo
adjetivo
1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso
Ex.: <uma l. aquarela> <um l. conto> <um l. gesto>
2 que se caracteriza pela harmonia; elegante
Ex.: essa saia está l., no rigor da moda
3 que apresenta beleza singela e sutil, ger. com formas miúdas; delicado, primoroso
Ex.: l. trabalho de ourivesaria
4 Derivação: sentido figurado.
que transmite prazer, deleite; prazenteiro, agradável
Ex.: passamos um dia l.
5 Diacronismo: antigo.
que é claro, limpo
Quanto a lindo, observaremos os adjetivos prazeroso, formoso, bonito,
vistoso, elegante, delicado, primoroso, prazenteiro, agradável, claro e limpo.
lucrativo
adjetivo
1 que proporciona lucro ou vantagem; vantajoso, rentável
Ex.: comércio l.
2 de que se tira proveito; fruitivo, interessante, útil
Ex.: <passou uma tarde l., apenas ouvindo música> <possibilitando conhecer os colegas, o
intervalo do almoço tornou-se muito l.>
Não temos aqui, em lucrativo, lexias cujos semantismos sejam estéticos.
notável
adjetivo de dois gêneros
1 digno de nota, de atenção
Ex.: uma escultura n.
2 que pode ser percebido; apreciável, sensível
Ex.: houve uma melhora n. no seu desempenho
3 que merece apreço
Ex.: qualidades n.
4 renomado por suas obras ou feitos; insigne
Ex.: o n. cientista recebeu bela condecoração
5 ilustre, pela posição que ocupa na hierarquia social
Ex.: a cerimônia teve a presença de figuras n. da sociedade local
241
6 de grande vulto; considerável, extraordinário
Ex.: obtiveram resultados n. com a experiência
Deter-nos-emos, no que concerne a notável, nos adjetivos insigne,
considerável e extraordinário (ilustre já está citado em relação a generoso).
sublime
adjetivo de dois gêneros
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto
1 superlativamente belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário
Ex.: a s. arquitetura do Partenon de Atenas
2 moralmente irrepreensível; digno de admiração
Ex.: vida s.
3 intelectualmente irretocável, perfeito
Ex.: obra s.
4 cujos méritos ultrapassam o normal
Ex.: <ela foi s. em sua dedicação materna> <herói s. da nossa pátria>
5 que em relação a outros está em posição superior ou distinta; insigne, perfeito, preexcelente
Ex.: a s. poesia de Petrarca
6 de uma beleza radiosa; esplendente, esplêndido, magnífico
Ex.: o dia abriu puro e s.
7 digno do reino celestial; que se eleva acima do humano, do material; celeste, divino
Ex.: <seu canto era s. e enlevava> <um rosto calmo e s.>
8 que desperta pensamentos e sentimentos nobres; elevado, magnífico, excelso
Ex.: estilo s.
Chegamos a sublime, que é outro adjetivo estético por excelência.
Devemos verificar os semantismos dos seguintes adjetivos: augusto, perfeito,
grandioso, soberbo, irrepreensível, digno, irretocável, distinto, insigne,
preexcelente, radioso, esplendente, esplêndido, magnífico, celeste, divino, nobre,
elevado, excelso (os adjetivos belo, elevado, extraordinário, insigne, nobre,
magnífico e superior já haviam sido citados).
venturoso
adjetivo
1 cheio de ventura, felicidade, sorte; feliz, ditoso, afortunado
Ex.: <mãe v.> <ano v.>
2 em que há risco, perigo, incerteza; arriscado, perigoso, ventureiro
Ex.: projeto v.
Não há aqui adjetivos cujos semantismos sejam de cunho estético.
242
Vejamos a seguir um quadro que resume os dados que reunimos até agora
nos dois quadros a seguir:
belo
apreciável
destacado
elevado
generoso
harmônico
lindo
lucrativo
notável
superior
ilustre
nobre
regular
proporcionado
coerente
prazeroso
formoso
bonito
vistoso
elegante
delicado
primoroso
prazenteiro
agradável
claro
limpo
insigne
considerável
extraordinário
243
Esquema 20: Rede Lexical a partir de belo
Esquema 21: Rede Lexical a partir de sublime
belo
sublime
augusto
perfeito
grandioso
soberbo
irrepreensível
digno
irretocável
distinto
preexcelente
radioso
esplendente
esplêndido
magnífico
celeste
divino
excelso
244
Analisemos, então, agora as descrições lexicográficas dos seguintes
adjetivos: agradável, augusto, bonito, celeste, claro, coerente, considerável,
delicado, digno, distinto, divino, elegante, esplendente, esplêndido, excelso,
extraordinário, formoso, grandioso, ilustre, insigne, insigne, irrepreensível,
irretocável, limpo, magnífico, nobre, perfeito, prazenteiro, prazeroso, preexcelente,
primoroso, proporcionado, radioso, regular, soberbo, superior e vistoso.
Uma vez que já demonstramos como repertoriamos os adjetivos, extraindo
de cada uma das descrições lexicográficas os adjetivos semanticamente
relacionados, não listaremos as acepções de Houaiss: arrolaremos apenas os
adjetivos estéticos que encontramos em cada uma das descrições lexicográficas
dos adjetivos acima
89
.
1. agradável
2. augusto: magnífico (já citado), majestoso, solene
3. bonito: estético, correto
4. celeste: célio, divino (já citado), perfeito (já citado), magnífico (já citado)
5. claro: célebre, ilustre (já citado), notável (já citado), distinto (já citado)
6. coerente
7. considerável: grande, vasto
8. delicado: fino, sutil, requintado, sofisticado
9. digno
10. distinto: ilustre (já citado), eminente
11. divino: perfeito (já citado), maravilhoso, sublime (já citado), honrado
12. elegante: requintado (já citado), seleto, nobre (já citado), distinto (já citado), delicado (já citado)
13. esplendente: resplandecente, brilhante, cintilante
14. esplêndido: luminoso, brilhante (citado), grandioso (citado), suntuoso, bom, excelente,
maravilhoso (já citado)
15. excelso: sublime (já citado), eminente (já citado), elevado (já citado), ilustre (já citado),
egrégio, admirável (já citado), excelente (já citado)
16. extraordinário: excepcional, notável (já citado), esquisito, fabuloso, inacreditável, excessivo
17. formoso: agradável (citado), belo (já citado), bonito (já citado), perfeito (já citado), puro,
aprazível, ameno, sonoro, harmonioso, esplêndido (já citado), magnífico (já citado)
89
Mais uma vez, ressaltemos que as descrições lexicográficas dos referidos adjetivos estão nos
anexos.
245
18. grandioso: grande (já citado), gigantesco, soberbo (já citado), extenso, extraordinário (
citado), majestoso (já citado), magnífico (já citado), suntuoso (já citado), faustoso, nobre (
citado), distinto (já citado), elevado (já citado)
19. ilustre: célebre (já citado), eminente (já citado), notável (citado), famoso (citado), fidalgo,
nobre (já citado)
20. insigne: notável (já citado), destacado (já citado), ilustre (já citado), famoso (já citado), fidalgo
(já citado), nobre (já citado)
21. irrepreensível: perfeito (já citado), escorreito
22. irretocável: acabado, perfeito (já citado)
23. limpo: imaculado, puro (já citado), isento, mondado, límpido, claro (já citado), cristalino,
cuidado, sóbrio, asseado, correto (já citado), escorreito (já citado), apurado, explícito
24. magnífico: aparatoso, radioso (já citado), suntuoso (já citado), bom (já citado), belo (citado),
formidável, excelente (já citado)
25. nobre: aristocrata, fidalgo (citado), digno (já citado), ilustre (já citado), emérito, majestoso (já
citado), augusto (já citado), magnífico (já citado), elevado (já citado), magnânimo, generoso (
citado), solene (já citado)
26. perfeito: cabal, rematado, total, notável (já citado), magistral, formoso (já citado), belo (já
citado), elegante (já citado)
27. prazenteiro
28. prazeroso: agradável (já citado)
29. preexcelente: superior (citado), eminente (citado), excelente (já citado), extraordinário (
citado)
30. primoroso: maravilhoso (já citado), perfeito (já citado), encantador, caprichado, artístico
31. proporcionado: harmônico (já citado), simétrico, proporcional
32. radioso: brilhante (já citado), cintilante (já citado), radiante
33. regular: proporcionado (já citado), harmonioso (já citado)
34. soberbo: alto, elevado (já citado), grandioso (citado), belo (citado), magnífico (citado),
suntuoso (já citado), esplêndido (já citado), sublime (já citado), valioso, precioso
35. superior: alto (já citado), elevado (já citado), distinto (já citado), elaborado
36. vistoso: agradável (já citado), berrante, chamativo, garrido, aparatoso (já citado), ostentoso
A seguir lista dos adjetivos relacionados aos 36 adjetivos recém-
repertoriados:
1. acabado: completo, notável (já citado), perfeito (já citado)
2. alto: elevado (já citado), superior ( citado), excelente (já citado), sublime ( citado),
magnífico (já citado), ilustre (já citado), insigne (já citado), eminente (já citado), nobre (já
citado)
3. ameno: agradável (já citado), deleitoso, aprazível (já citado), suave, agradável (já citado)
4. aparatoso: faustoso (já citado), suntuoso (já citado), aparativo
5. aprazível: agradável (já citado), ameno (já citado), estético (já citado), atrativo, galante
6. apurado: cuidado (já citado), requintado (já citado), delicado (já citado), elegante (já citado)
7. aristocrata: nobre (já citado), fidalgo (já citado), distinto (já citado), sofisticado (já citado),
requintado (já citado)
8. artístico
9. asseado: limpo (já citado), acabado (já citado), luxuoso
10. berrante: chamativo (já citado), garrido (já citado)
11. bom: correto (já citado), magnânimo (já citado), superior (já citado), perfeito (já citado)
12. brilhante: fúlgido, luminoso (já citado), luzente, reluzente, resplandecente (citado), cintilante
(já citado), lustroso, luzidio, vivo, forte, vistoso (já citado), magnificente, ilustre (já citado),
246
notável (citado), lebre (já citado), excepcional (citado), excelente (já citado), fascinante,
próspero, florescente, venturoso (já citado)
13. cabal: completo (já citado), inteiro, pleno
14. caprichado
15. célebre: afamado, famoso (já citado), louvável, notável (já citado), ilustre (já citado)
16. célio: celeste (já citado), celestial
17. chamativo: bandeiroso, vivo (já citado), atraente
18. cintilante: chamejante, dardejante
19. correto: perfeito (já citado), emendado, digno (já citado), irrepreensível (citado), honrado (já
citado)
20. cristalino: límpido (já citado), claro (já citado)
21. cuidado: bem-feito, aprimorado
22. egrégio: distinto (já citado), insigne (já citado), notável ( citado), magnífico (já citado),
importante
23. elaborado: rico, fino (já citado)
24. emérito: sublime (já citado), eminente (já citado)
25. eminente: proeminente, alto (já citado), elevado (citado), sublime (citado), excelente (
citado)
26. encantador: mágico
27. escorreito: correto (já citado), bem-apessoado
28. esquisito: raro, precioso (já citado), fino (já citado)
29. estético: delicioso, refinado, delicado (já citado)
30. excelente: bom (já citado), ótimo
31. excepcional: excelente (já citado), brilhante (já citado)
32. excessivo
33. explícito: claro (já citado)
34. extenso
35. fabuloso: admirável (já citado), incrível, ótimo (já citado), excelente (já citado), fantástico
36. famoso: invulgar, excepcional (já citado)
37. faustoso: fastuoso
38. fidalgo
39. fino: apurado (já citado), requintado (já citado), amável, refinado (já citado), aristocrático,
elegante (já citado), seleto (já citado), esbelto, excelente (já citado), puro ( citado),
selecionado, apurado ( citado), aprazível (já citado), suave (já citado), bem-acabado,
escolhido, perfeito (já citado)
40. formidável: colossal, gigantesco (já citado), belo ( citado), bom (já citado), magnífico (
citado), ótimo (já citado), excelente (já citado), fantástico (já citado)
41. garrido: loução, galante (já citado), janota, casquilho, vivo (já citado), alegre, vistoso (já citado)
42. gigantesco: admirável (já citado), grandioso (já citado)
43. grande: exímio, notável ( citado), eminente (já citado), superior (já citado), excelente (
citado), magnífico (já citado), soberbo (já citado), excepcional (já citado), extraordinário (já
citado)
44. harmonioso: agradável (já citado)
45. honrado: distinto (já citado), ilustre (já citado), qualificado, conceituado
46. ilustre: lebre (citado), eminente (já citado), notável (citado), famoso (citado), fidalgo
(já citado), nobre (já citado)
47. imaculado: isento (já citado), inocente, limpo (já citado), perfeito (já citado)
48. inacreditável: incrível (já citado), excessivo (já citado)
49. isento
50. mpido: claro (já citado), puro (citado), transparente, distinto (já citado), sonoro (já citado),
polido, brilhante (já citado), bem-lançado
51. luminoso: brilhante (citado), cintilante (citado), iluminado, diáfano, grandioso (já citado),
esplendoroso (já citado), belo (já citado), magnífico (já citado), radioso (já citado)
52. magistral: perfeito (já citado), escorreito (já citado)
247
53. magnânimo
54. majestoso: augusto (já citado), majestático, sublime (já citado), suntuoso (já citado), grandioso
(já citado), imponente, sublime (já citado)
55. maravilhoso: primoroso (já citado), perfeito (já citado)
56. mondado: limpo (já citado)
57. ostentoso: luxuoso (já citado), magnificente (já citado)
58. precioso: magnífico ( citado), suntuoso (já citado), maravilhoso (já citado), afetado,
amaneirado, rebuscado
59. proporcional: bem composto, harmonioso (já citado), proporcionado (já citado)
60. puro: límpido (já citado), claro (já citado), transparente (já citado), imaculado (já citado), correto
(já citado), mavioso, tranqüilo, suave (citado), completo (citado), total (já citado), cabal (
citado), absoluto
61. radiante: brilhante (já citado), fulgurante, irradiante, belo (já citado), esplêndido (já citado)
62. rematado: acabado (já citado), pronto, completo (já citado), perfeito (já citado)
63. requintado: alto (já citado), aprimorado(já citado), delicado (já citado)
64. resplandecente: luzente (já citado), brilhante (já citado)
65. seleto: escolhido (citado), selecionado (citado), especial, excelente (citado), distinto (já
citado)
66. simétrico: regular (já citado)
67. sóbrio
68. sofisticado: fino (já citado), requintado (já citado)
69. solene: extraordinário (já citado), magnífico (já citado), majestoso (já citado), pomposo, nobre
(já citado), imponente (já citado)
70. sonoro: claro (já citado), mavioso (já citado), melodioso, harmonioso (já citado)
71. suntuoso: faustoso (já citado), suntuário
72. sutil: fino (já citado), primoroso (já citado), delicado (já citado), suave (já citado)
73. total: inteiro (já citado), completo (já citado)
74. valioso
75. vasto
A seguir lista dos adjetivos relacionados aos 75 adjetivos recém-
repertoriados:
1. absoluto: acabado (já citado), pleno (já citado), superior (já citado)
2. afamado: insigne (já citado)
3. afetado
4. alegre: vivo (já citado), vistoso (já citado)
5. amaneirado: afetado (já citado), rebuscado (já citado)
6. amável: agradável (já citado), encantador (já citado)
7. aparativo: aparatoso (já citado)
8. aprimorado: perfeito (citado), acabado (citado), completo (já citado), apurado (já citado),
sofisticado (já citado)
9. aristocrático: nobre (já citado), fidalgo (já citado), sofisticado (já citado), requintado (já citado)
10. atraente: atrativo (citado), agradável (citado), acolhedor, bonito ( citado), vistoso (
citado), sedutor
11. atrativo: atraente (já citado)
12. bandeiroso
13. bem-acabado: bom (já citado), perfeito (já citado)
14. bem-apessoado: apessoado, bonito (já citado), donairoso
15. bem-conformado: bem-composto, bem-feito (já citado), gracioso, harmonioso (já citado)
248
16. bem-feito: bem-acabado (já citado), bem-conformado (citado), bem-composto (já citado),
grácil, elegante (já citado)
17. bem-lançado: gracioso (já citado), bem-apanhado, bonito (já citado)
18. casquilho: janota (já citado),
19. celestial: celeste (já citado)
20. chamejante
21. colossal: grande (já citado), gigantesco (já citado), descomunal, vasto (já citado), espantoso,
extraordinário (já citado)
22. conceituado
23. dardejante: cintilante (já citado)
24. deleitoso: deleitante
25. delicioso: gostoso, prazeroso (já citado)
26. diáfano: transparente (já citado), límpido (já citado)
27. emendado: não este adjetivo como entrada em Houaiss (2001). Não o observaremos,
então.
28. esbelto: elegante(já citado), gracioso (já citado), esguio
29. escolhido
30. especial: ótimo (já citado), excelente (já citado)
31. exímio: perfeito (já citado), superior (já citado), excelente (já citado)
32. fantástico: extraordinário (já citado), prodigioso
33. fascinante: fascinador
34. fastuoso: aparatoso (já citado), pomposo (já citado), magnificente (já citado)
35. florescente: insigne (já citado), notável (já citado)
36. forte
37. fúlgido: fulgente
38. fulgurante: brilhante (já citado), lampejante
39. galante: donairoso (já citado), esbelto (já citado), distinto (já citado), amável (já citado)
40. iluminado
41. imponente: solene (já citado)
42. importante
43. incrível: extraordinário (já citado), fantástico (já citado)
44. inocente: singelo, puro (já citado)
45. inteiro: completo (já citado), total (já citado), perfeito (já citado)
46. invulgar: especial (já citado), raro (já citado), incomum
47. irradiante: brilhante (já citado), fulgurante (já citado), (já citado), luminoso (já citado)
48. janota
49. loução: enfeitado, louçainho, elegante (já citado), janota (já citado), belo (já citado), viçoso
50. louvável
51. lustroso: brilhoso, luzidio (já citado), brilhante (já citado), ilustre (já citado), insigne (citado),
vistoso (já citado), aparatoso (já citado), magnificente (já citado)
52. luxuoso: faustoso (já citado), requintado (já citado)
53. luzente: fulgurante (já citado), refulgente
54. luzidio: brilhante (já citado), lustroso (já citado), luzente (já citado), lúzio
55. mágico: fantástico (já citado)
56. magnificente: grandioso (já citado), suntuoso (já citado), rico (já citado)
57. majestático: majestoso (já citado), augusto (já citado), imponente (já citado)
58. mavioso: melodioso (já citado)
59. melodioso: melódico, harmonioso (já citado)
60. ótimo: boníssimo, bom (já citado), excelente (já citado)
61. pleno: completo (já citado), perfeito (já citado)
62. polido: lustroso (já citado), brunido, luzidio (já citado)
63. pomposo
64. proeminente: saliente
65. pronto
249
66. próspero: rico (já citado)
67. qualificado
68. raro
69. rebuscado: aprimorado (já citado), esmerado, requintado (já citado)
70. refinado: requintado (já citado)
71. reluzente: lustroso (já citado), luzidio (já citado)
72. rico: agradável (já citado), bom (já citado), belo (já citado)
73. selecionado: eleito, escolhido (já citado), distinto (já citado), especial (já citado)
74. suave: agradável (citado), harmonioso (citado), delicado (já citado), ameno (já citado),
aprazível (já citado)
75. suntuário: magnificente (já citado)
76. tranqüilo
77. transparente: límpido (citado), cristalino (citado), translúcido, diáfano (já citado), claro (
citado), luminoso (já citado)
78. vivo
A seguir lista dos adjetivos relacionados aos 78 adjetivos recém-
repertoriados:
1. acolhedor
2. apessoado: bem-apessoado (já citado)
3. bem-apanhado: bem-posto, bonito (já citado)
4. bem-composto: atraente (já citado), bem-apresentado, bem-conformado (já citado)
5. boníssimo: bom (já citado), ótimo (já citado)
6. brilhoso: brilhante (já citado), reluzente (já citado), lustroso (já citado)
7. brunido: luzidio (já citado), aprimorado (já citado), primoroso (já citado)
8. deleitante: deleitoso (já citado)
9. descomunal: invulgar (já citado), gigantesco (já citado), colossal (já citado), imenso
10. donairoso: donoso, garboso
11. eleito: escolhido (já citado)
12. enfeitado: adornado, ataviado
13. esmerado
14. espantoso: agradável (já citado), extraordinário (já citado), fantástico (já citado)
15. fascinador
16. fulgente: brilhante (já citado), resplandecente (já citado), fúlgido (já citado)
17. gostoso: agradável (já citado)
18. grácil: fino (já citado), delicado (já citado), leve, gracioso (já citado)
19. gracioso
20. lampejante
21. louçainho: ornado, enfeitado (já citado), engalanado
22. lúzio: lúcido
23. melódico: melodioso (já citado)
24. prodigioso: maravilhoso (já citado), assombroso, fantástico (já citado), grande (já citado),
descomunal (já citado), imenso (já citado), miraculoso, sobrenatural
25. refulgente
26. saliente: notável (já citado), distinto (já citado)
27. sedutor: atraente (já citado), encantador (já citado)
28. singelo: puro (já citado), inocente (já citado)
29. translúcido: diáfano (já citado), iluminado (já citado)
30. viçoso
250
A seguir lista dos adjetivos relacionados aos 30 adjetivos recém-
repertoriados:
1. bem-posto: harmonioso (já citado), elegante (já citado), alinhado, bem-apresentado (já citado)
2. adornado: ataviado (já citado), enfeitado (já citado)
3. assombroso: espantoso (já citado), impressionante
4. ataviado: ornado (já citado), enfeitado (já citado), embelezado
5. bem-apresentado: bem-posto (já citado)
6. donoso: donairoso (já citado), primoroso (já citado), garboso (já citado), lindo (já citado)
7. engalanado: agalanado, enfeitado (já citado)
8. garboso
9. imenso
10. leve
11. lúcido: brilhante (citado), dilúcido, luzente (citado), resplandecente (citado), translúcido
(já citado), transparente (já citado)
12. miraculoso: milagroso
13. ornado: adornado ( citado), decorado, enfeitado (já citado), ilustrado, ornamentado,
abrilhantado, engrandecido
14. sobrenatural: extranatural, grande (citado), intenso, extraordinário (citado), excessivo (já
citado), sobre-humano
A seguir lista dos adjetivos relacionados aos 14 adjetivos recém-
repertoriados:
1. abrilhantado: brilhante (já citado), reluzente (já citado)
2. agalanado: engalanado (já citado)
3. alinhado: elegante (já citado)
4. decorado: ornado (já citado), ornamentado (já citado), embelezado (já citado), enfeitado (já
citado)
5. dilúcido: lúcido (já citado)
6. embelezado: não este adjetivo como entrada em Houaiss (2001). Não o observaremos,
então.
7. engrandecido: elevado (já citado), sublimado
8. extranatural
9. ilustrado: enfeitado (já citado)
10. impressionante: admirável (já citado), fascinante (já citado)
11. intenso
12. milagroso: extraordinário (já citado), maravilhoso (já citado)
13. ornamentado
14. sobre-humano: sobrenatural (já citado), elevado (já citado), excelso (já citado)
A seguir o adjetivo relacionado aos 14 adjetivos recém-repertoriados:
251
1. sublimado: sublime (já citado), elevado (já citado), engrandecido (já citado)
Reunindo todos os itens lexicais até agora recolhidos, temos 256 adjetivos:
1. abrilhantado
2. absoluto
3. acabado
4. acolhedor
5. adornado
6. afamado
7. afetado
8. agalanado
9. agradável
10. alegre
11. alinhado
12. alto
13. amaneirado
14. amável
15. ameno
16. aparativo
17. aparatoso
18. apessoado
19. aprazível
20. apreciável
21. aprimorado
22. apurado
23. aristocrata
24. aristocrático
25. artístico
26. asseado
27. assombroso
28. ataviado
29. atraente
30. atrativo
31. augusto
32. bandeiroso
33. belo
34. bem-acabado
35. bem-apanhado
36. bem-apessoado
37. bem-apresentado
38. bem-composto
39. bem-conformado
40. bem-feito
41. bem-lançado
42. bem-posto
43. berrante
44. bom
45. boníssimo
46. bonito
47. brilhante
48. brilhoso
49. brunido
50. cabal
51. caprichado
52. casquilho
53. célebre
54. celeste
55. celestial
56. célio
57. chamativo
58. chamejante
59. cintilante
60. claro
61. coerente
62. colossal
63. conceituado
64. considerável
65. correto
66. cristalino
67. cuidado
68. dardejante
69. decorado
70. deleitante
71. deleitoso
72. delicado
73. delicioso
74. descomunal
75. destacado
76. diáfano
77. digno
78. dilúcido
79. distinto
80. divino
81. donairoso
82. donoso
83. egrégio
84. elaborado
85. elegante
86. eleito
87. elevado
88. emérito
89. eminente
90. encantador
91. enfeitado
92. engalanado
93. engrandecido
94. esbelto
95. escolhido
96. escorreito
97. esmerado
98. espantoso
99. especial
100. esplendente
101. esplêndido
102. esquisito
103. estético
104. excelente
105. excelso
106. excepcional
107. excessivo
108. exímio
109. explícito
110. extenso
111. extranatural
112. extraordinário
113. fabuloso
114. famoso
115. fantástico
116. fascinador
117. fascinante
118. fastuoso
119. faustoso
120. fidalgo
121. fino
122. florescente
123. formidável
124. formoso
125. forte
126. fulgente
127. fúlgido
128. fulgurante
129. galante
130. garboso
131. garrido
132. generoso
133. gigantesco
134. gostoso
135. grácil
136. gracioso
137. grande
138. grandioso
139. harmônico
140. harmonioso
141. honrado
252
142. iluminado
143. ilustrado
144. ilustre
145. imaculado
146. imenso
147. imponente
148. importante
149. impressionante
150. inacreditável
151. incrível
152. inocente
153. insigne
154. inteiro
155. intenso
156. invulgar
157. irradiante
158. irrepreensível
159. irretocável
160. isento
161. janota
162. lampejante
163. leve
164. límpido
165. limpo
166. lindo
167. louçainho
168. loução
169. louvável
170. lúcido
171. lucrativo
172. luminoso
173. lustroso
174. luxuoso
175. luzente
176. luzidio
177. lúzio
178. mágico
179. magistral
180. magnânimo
181. magnificente
182. magnífico
183. majestático
184. majestoso
185. maravilhoso
186. mavioso
187. melódico
188. melodioso
189. milagroso
190. miraculoso
191. mondado
192. nobre
193. notável
194. ornado
195. ornamentado
196. ostentoso
197. ótimo
198. perfeito
199. pleno
200. polido
201. pomposo
202. prazenteiro
203. prazeroso
204. precioso
205. preexcelente
206. primoroso
207. prodigioso
208. proeminente
209. pronto
210. proporcionado
211. proporcional
212. próspero
213. puro
214. qualificado
215. radiante
216. radioso
217. raro
218. rebuscado
219. refinado
220. refulgente
221. regular
222. reluzente
223. rematado
224. requintado
225. resplandecente
226. rico
227. saliente
228. sedutor
229. selecionado
230. seleto
231. simétrico
232. singelo
233. soberbo
234. sobre-humano
235. sobrenatural
236. sóbrio
237. sofisticado
238. solene
239. sonoro
240. suave
241. sublimado
242. sublime
243. suntuário
244. suntuoso
245. superior
246. sutil
247. total
248. tranqüilo
249. translúcido
250. transparente
251. valioso
252. vasto
253. venturoso
254. viçoso
255. vistoso
256. vivo
253
Este é o conjunto macroestrutural subjacente aos adjetivos relacionados, via
sinonímia definitória, ao vocábulo belo. Porém, esses adjetivos não pertencem ao
campo semântico da estética no sentido do que observamos quando da análise
semântica (lexias de base apresentando o identificador de campo). Nos anexos, no
final deste trabalho, estão listados estes 256 vocábulos detectados acima,
acompanhados da descrição de suas lexias (ou seja, com as suas respectivas
acepções 1). Neste repertório de lexias de base, podemos perceber que, fora
aquelas lexias que já constatamos ser pertencentes ao campo semântico da estética
(belo, estético, formoso e lindo), as demais são todas indiretamente estéticas, pois,
devido às configurações de seus elementos definitórios, são todas pertencentes a
outros campos semânticos distintos do estético.
o é importante, exemplificativamente, mostrarmos as dimensões que
uma rede lexical de um dado dicionário pode ter, devemos, além disso, indicar, com
o nosso exemplo (rede lexical em Houaiss), que os vocábulos estéticos apresentam
intersecções com outros campos semânticos específicos, tais como os ligados aos
semantismos de grande (grande, grandioso, colossal, magnífico, etc.), luminoso
(abrilhantado, esplendente, esplêndido, luzente, luzidio, etc.), destacado
(destacado, preclaro, preexcelente, proeminente, etc.), luxuoso (luxuoso, aparatoso,
ostentoso, suntuoso, etc.), ornado (ornado, ornamentado, ataviado, etc.), puro
(puro, limpo, apurado, etc.). Tal análise nos conduz àquilo que havíamos concluído
na seção referente às especificidades dos adjetivos estéticos: a formação de tais
adjetivos (indiretamente estéticos) dá-se mediante o processo de metáfora. Porém,
agora, depois da análise da rede lexical, podemos refinar tal afirmação dizendo que
o processo de formação e criação lexicais de lexias (indiretamente) estéticas se
por intermédio das intersecções entre os campos semânticos relacionados via redes
254
lexicais. Como afirmáramos na referida seção do Capítulo 2, a metáfora é o
processo responsável pela expansão do campo semântico indiretamente estético,
nos moldes referenciados anteriormente: avaliando-se esteticamente um dado objeto
X, o semantismo estético pode ser expresso indiretamente por lexias relacionadas a
determinadas características (que dependerão da intersecção semântica) de X, tais
como tamanho (metáfora: X é grande = X é belo ou X é pequeno = X é belo), altura
(metáfora: X é alto = X é belo), luminosidade (metáfora: X é luminoso = X é belo),
ornamento (metáfora: X é ornado = X é belo) ou destaque (metáfora: X destaca-se
= X é belo).
Indicamos aqui um possível trabalho a ser levado a efeito, acerca da relação
entre criação lexical, metáfora e intersecção de campos semânticos. Logicamente,
tais análises extrapolariam o que pretendemos com essa seção: averiguar o conceito
de macroestrutura baseada na rede lexical.
Tendo avaliado a rede lexical como macroestrutura, exemplificativamente, em
Houaiss, passemos ao fechamento deste capítulo, com a discussão dos resultados
da análise.
4.4 Discussão dos Resultados
Nossa análise recobriu dois planos de estudo: o microestrutural e o
macroestrutural. No microestrutural, estivemos investigando duas zonas da
descrição lexicográfica: a semântica e a sintática.
255
Sintetizemos os resultados da análise semântica dos dados lexicográficos
selecionados
90
. Podemos sintetizar essa análise, organizando os resultados em três
tipos definitórios, sendo o primeiro tipo subdivido em três subtipos e o terceiro
subdivido em 2 subtipos, conforme vemos na tabela abaixo (selecionamos um
exemplo para cada tipo/subtipo).
TIPO DEFINITÓRIO 1: L
Adj
N +ADJ / L
Adj
ADJ + N
belo estético formoso lindo
SUBTIPO DEFINITÓRIO 1.1
[que é de X / que tem X / de X, sendo X
= (ADJ
1
) +N + (ADJ
2
)] ou [que dá X,
sendo X = adjetivo + nome]
de elevado valor moral
SUBTIPO DEFINITÓRIO 1.2
relativo a X, sendo X = N +
ADJ
relativo ao
sentimento estético
SUBTIPO
DEFINITÓRIO 1.3
de X, sendo X
= N + ADJ
de aspecto
agradável
-
Esquema 22: Tipo Definitório 1 e seus Subtipos Definitórios
TIPO DEFINITÓRIO 2: L
Adj
ADJ (+ CO)
belo estético formoso lindo
agradável à vista
belo
aprazível
prazeroso de se
apreciar
Esquema 23: Tipo Definitório 2
TIPO DEFINITÓRIO 3: L
Adj
N
deadj
belo estético formoso lindo
-
SUBTIPO DEFINITÓRIO 3.1
que diz respeito a X / relativo a X /
concernente a X, sendo X = (N + prep +)
N
deadj
(+ CO)
concernente à apreciação do belo
-
SUBTIPO DEFINITÓRIO 3.2
que apresenta X, sendo X = N
deadj
+
ADJ
que apresenta beleza singela e sutil,
geralmente com formas miúdas
Esquema 24: Tipo Definitório 3 e seus Subtipos Definitórios
A partir do que vimos de investigar em relação às questões de macroestrutura e a
partir da constatação de que tipo definitório 2 (na tabela acima) é o mais importante
90
Não incluímos o adjetivo sublime, pois, apesar de o termos estudado na análise semântica,
concluímos que este o pertence ao campo semântico da estética, conforme a análise sintática que
fizemos.
256
para a descrição lexicográfica dos adjetivos estéticos porque todos os tipos podem
ser reduzidos ao tipo 2 e por ser este o único tipo presente nas descrições dos
quatro adjetivos estudados, pudemos chegar à conclusão de que as regras de
decomposição estandardização e de semântica da TLEC não poderiam ser
aplicadas ao caso dos adjetivos por dois motivos: 1) (não-possibilidade de renúncia
absoluta ao recurso à sinonímia lexicográfica) os adjetivos estéticos relacionam-se
por sinonímia definitória aos vocábulos e lexias de diversos outros campos
semânticos, formando uma rede lexical de lexemas indiretamente estéticos; 2) (não-
possibilidade de decomposição semântica) os elementos definitórios que são
identificadores do campo semântico estético não podem ser lingüisticamente (no
sentido de linguisticamente oposto a enciclopedicamente) definidos, por tratar-se de
primitivos semânticos, nos termos de Mel’čuk et al. (1995, p.82).
Em relação à análise sintática, devemos mencionar a importância da revisão
da concepção da TLEC de quais propriedades sintáticas das lexias devem ser
registradas nas descrições lexicográficas dos adjetivos (sobremaneira, dos adjetivos
estéticos), dado que relação conteúdo semântico / distribuição sintática se de
forma irregular para os lexemas pertencentes à referida classe de palavra. No que
toca à questão do esquema de regência, pudemos perceber, pela nossa análise,
que este só é válido para as palavras deverbais (que são predicados semânticos).
Em razão destes destas duas constatações a que chegamos, nossa
concepção de zona sintática para os adjetivos estéticos seria uma que ostentasse
um esquema colocacional, em vez de um de regência, exemplificado a seguir com
duas das lexias pertencentes ao vocábulo belo:
257
Esquema S
intático
-
Colocacional
Lexias
Semantismo
belo
[
X
] belo
belo1
‘estético’
x
x
belo3
‘lucrativo’
x
-
Esquema 24: Esquema Colocacional para belo1 e belo3
No concernente à análise estrutural, mostramos que, nos dicionários
vernaculares a macroestrutura campo semântico não tem relevância, uma vez que
tais dicionários preferem sempre organizar as suas descrições alfabeticamente, sem
levar em consideração o paralelismo descritivo-lexicográfico segundo campos
semânticos. Porém, como esses dicionários se valem da sinonímia definitória, temos
uma macroestrutura que interliga, por via definitória, lexias indiretamente
pertencentes a um dado campo – denominada, no âmbito desta dissertação, de rede
lexical. De ressaltar que as lexias pertencentes a tais campos definitórios podem ser
vinculadas por rede lexical somente porque um processo metafórico de
extensão/atribuição do sentido estético a lexias não diretamente estéticas.
O propósito metalexicográfico desta dissertação impede-nos de pretender
estabelecer aqui a definição lexicográfica ideal para os adjetivos estéticos,
porquanto a metalexicografia visa à crítica dos aspectos mais relevantes de uma
dada obra lexicográfica (ou conjunto de obras desta natureza), e não à construção
em si de um dicionário ou ao estabelecimento de regras/critérios de redação
lexicográfica. Entretanto, do estudo que efetuamos no decorrer deste capítulo,
reservado à análise, podemos apontar tópicos que devem sempre estar presentes
em todo estudo lexicográfico relativo aos adjetivos estéticos; Tais tópicos de
lexicografia são:
1) o enciclopédico versus o lingüístico;
2) o intersectivo versus o não-intersectivo;
258
3) o estético versus o não-estético;
4) o não-derivado versus derivado
5) primitivo / derivado;
6) anteposicional / biposicional
Para concluirmos nossa discussão dos resultados da análise, temos de referir
que nossa crítica metalexicográfica partiu da hipótese geral a de que os critérios
usualmente empregados (nos dicionários vernaculares do português brasileiro) para
descrever lexicograficamente os adjetivos estéticos são insuficientes para uma
caracterização precisa: 1) da semântica adjetival; 2) da sintaxe adjetival. Da análise
recém-efetuada podemos ver que estes dois aspectos lexicográficos (descrição
semântica e sintática) realmente são levados a efeito de forma insuficiente nos
dicionários estudados, uma vez que tanto o definiens, quanto o definiendum e as
questões sintáticas devem ser revistas de acordo com a nossa análise.
Vejamos, ainda, a hipótese específica que apontamos no Capítulo 1: os
critérios lexicográficos desenvolvidos no âmbito da TLEC possibilitam que os
adjetivos estéticos sejam descritos de forma precisa no que se refere 1) à
microestrutura (descrição semântica (ou definição) e descrição sintática); e 2) à
macroestrutura (organização dos adjetivos estéticos em campo semântico).
Aqui devemos dizer que nenhuma das duas hipóteses se confirmara. A TLEC
e o DEC fornecem regras, conceitos e critérios de redação lexicográfica que também
não o suficientes para bem descrever os adjetivos estéticos, sendo algumas de
suas regras (como a de decomposição semântica e a de estandardização): 1) não-
aplicáveis para as lexias adjetivais identificadores do campo estético (não-
decomposição semântica); 2) incompatíveis com a macroestrutura (impossibilidade
de não-sinonímia definitória); 3) violadas pelo próprio DEC, quando se trata de
259
descrição de adjetivos (exemplo: adjetivo illetré); não-aplicáveis ao caso da sintaxe
dos adjetivos (esquema de regência impróprio para adjetivos não-deverbais).
Neste capítulo, desenvolvemos a análise dos dados selecionados os
adjetivos belo, estético, formoso, lindo e sublime. Na seção 4.1, apresentamos os
fundamentos da nossa análise, bem como indicamos os procedimentos a serem
seguidos. Tais fundamentos teóricos radicaram na TLEC e no DEC, que nos
conferiram as regras e critérios que utilizamos na análise microestrutural (seção 4.2),
sobretudo no que tange aos conceitos de cunho léxico-semântico, verificados nos
dados quando da análise da descrição semântica. Para a análise da descrição
sintática, além dos conceitos explicativo-combinatórios de cunho léxico-sintático,
lançamos mão do que observamos da classificação de Móia (1992), que vincula as
classes adjetivais denotacionais a classes de sintático-distribucionais. Na seção 4.2,
reservada à análise microestrutural, investigamos os aspectos semânticos
(subseção 4.2.1) das descrições lexicográficas dos adjetivos eleitos para a análise
em relação a três tópicos: 1) definiens, no qual partimos da determinação dos
padrões definitórios das lexias estudadas até chegarmos à noção do tipo definitório
padrão (L
Adj1
L
Adj2
) para as referidas lexias; 2) metalinguagem, no qual analisamos
que o recurso à sinonímia definitória e a fuga da decomposição semântica têm uma
explicação na estrutura da classe dos adjetivos estéticos enquanto campo semântico
e na natureza não-definível dos primitivos semânticos de tal campo; 3) identificador
do campo semântico da estética, no qual buscamos determinar os elementos
definitórios indispensáveis a todas as descrições lexicográficas das lexias cujo
semantismo é estético. Ainda no âmbito da análise microestrutural, estudamos os
aspectos sintáticos (subseção 4.2.2) envolvidos na redação lexicográfica dos dados
investigados, em relação 1) à questão do definiendum, quando propusemos que
260
este conceito deve ser estendido a todas as lexias de um dado dicionário (inclusive
as não-derivadas), e não apenas àquelas que são predicados semânticos. Na seção
4.3, dedicamo-nos à análise macroestrutural, observando como se formam nos
dicionários as macroestruturas do tipo rede lexical, que interliga, no caso dos dados
avaliados, os adjetivos via remissão a outras lexias presentes nas suas descrições
lexicográficas. Na seção final (4.4), discutimos os resultados das análises.
Tendo sintetizado o percurso analítico que trilhamos neste capítulo, passemos
à conclusão da presente dissertação.
261
CONCLUSÃO
Nesta dissertação, perseguimos o objetivo de executar uma análise
metalexicográfica das descrições lexicográficas do campo semântico estético em
dicionários vernaculares do português brasileiro, especificamente, no que toca à
microestrutura (descrição semântica (definição) dos adjetivos estéticos) e descrição
sintática (distribuição) dos adjetivos estéticos) e à macroestrutura (organização dos
adjetivos estéticos em campo semântico e rede lexical).
Para alcançarmos nosso objetivo, no capítulo 1, buscamos localizar nosso
trabalho na esfera dos estudos lexicais, ressaltando o estatuto lexicográfico do
estudo do léxico estético. Também explicitamos o referencial teórico que usaríamos
nas nossas análises, precisado que este seria o da TLEC, que tem como base a
Teoria e o Modelo Sentido-Texto e centra-se na elaboração do DEC. Ainda
observamos a discussão entre a natureza lexicográfica ou terminológica do léxico da
estética, optando por considerá-lo, no nosso estudo, como um campo temático no
quadro da lexicografia geral.
Seguindo com a expensão dos pressupostos teóricos que norteariam nossa
pesquisa, quando do Capítulo 2, estudamos os adjetivos quanto a duas questões:
seu status de classe de palavra e sua caracterização semântico-sintática.
Constatamos que problemas recorrentes para a descrição lexicográfica dos
262
adjetivos, como, por exemplo, o recurso à sinonímia. Com relação à descrição
semântica e sintática dos adjetivos, vimos que os adjetivos podem ser submetidos a
uma classificação que leve em conta o parâmetro denotacional, sendo os tipos
denotacionais ligados a diferentes distribuições sintáticas. Investigamos também as
especificidades dos adjetivos estéticos, chegando à conclusão de que, para estes: 1)
havia, sim, um paralelo entre o tipo denotacional ao qual pertenciam e a distribuição
sintática (paralelo este não observado para os adjetivos em geral, conforme Móia; e
2) o processo de expansão (formação e criação) lexical se via processo
metafórico.
No Capítulo 3, dedicamo-nos ao planejamento metodológico, que abrangeu o
estudo: 1) da natureza da pesquisa metalexicográfica e dos princípios metodológicos
que a caracterizam; 2) dos conceitos micro- (conceitos/regras léxico-semânticos e
léxico-sintáticos) e macroestruturais (conceitos de campo semântico e identificador
de campo) do DEC; e 3) dos critérios e procedimentos de seleção, recolha e
organização dos dados lexicográficos a comporem o repertório adjetival ao qual se
aplicaria a análise.
Concluindo nosso trabalho, no Capítulo 4, efetuamos a análise dos
dados selecionados (adjetivos belo, estético, formoso, lindo e sublime), dividida em
análise micro- e macroestrutural. A microestrutura foi analisada semântica e
sintaticamente: para a descrição semântica, levamos em conta as questões de
definiens, de metalinguagem e de determinação do identificador de campo
semântico, e a análise sintática teve como foco o definiendum, a relação sintaxe-
semântica e o esquema de regência. Por sua vez, a análise macroestrutural visou à
formação nos dicionários vernaculares de redes lexicais. O referido capítulo
culminou na discussão e síntese dos resultados das análises.
263
Por óbvio, não se esgotaram todas as possibilidades analíticas da descrição
dos adjetivos estéticos em dicionários vernaculares do português brasileiro.
Acreditamos que, com a presente dissertação, alguns caminhos foram apontados,
porém, este tema ainda demanda pesquisas futuras, no sentido de investigar
questões, tais como a formação/criação lexical dos adjetivos estéticos, a relação
entre as lexias e vocábulos indiretamente estéticos (nos termos do que estudamos
na seção 4.3, referente à análise macroestrutural), a relação dos aspectos
semântico-lexicais e dos aspectos de derivação morfológica, entre outras.
264
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270
ANEXOS
271
DESCRIÇÕES DAS LEXIAS DE BASE DOS VOCÁBULOS
PERTENCENTES À REDE LEXICAL INDIRETAMENTE VINCULDA AO
CAMPO SEMÂNTICO DA ESTÉTICA, EM HOUAISS (2001)
1. abrilhantado
que se abrilhantou 1 tornado brilhante, reluzente
2. absoluto
1 que se apresenta como acabado, pleno
3. acabado
que se acabou 1 que foi concluído ou terminado
4. acolhedor
que ou o que oferece bom acolhimento; hospitaleiro
5.
1
adornado
que ou o que oferece bom acolhimento; hospitaleiro
6. afamado
que adquiriu fama; famoso, insigne <é um a. desportista>
7. afetado
que se afetou 1 sem naturalidade; amaneirado, presunçoso, empolado <discurso e gestos a.>
8. agalanado
m.q. engalanado
9. agradável
1 que agrada, satisfaz <jardim a.>
10. alegre
1 que tem, sente ou manifesta alegria; contente, prazenteiro, jubiloso
11. alinhado
adj. (1596 cf. DBernLim) que se alinhou 1 colocado em linha reta, em fila; direito, enfileirado
12. alto
1 de grande dimensão vertical; de altura superior à média; elevado <edifício a.> <criança a.>
13. amaneirado
1 de grande dimensão vertical; de altura superior à média; elevado <edifício a.> <criança a.>
14. amável
1 que merece afeto, amor; digno de ser amado
15. ameno
272
1 agradável, deleitoso, aprazível pelo clima, vegetação ou frescor (diz-se esp. de ambiente natural) <as
amenas paisagens campestres>
16. aparativo
m.q. aparatoso ('que exibe riqueza')
17. aparatoso
1 que exibe grande riqueza; faustoso, suntuoso, aparativo <cerimônia a.>
18. apessoado
m.q. bem-apessoado
19. aprazível
1 que apraz, que causa prazer; agradável <pessoa a.> <voz a.> <tarde a.>
20. apreciável
1 que se pode apreçar; a que se pode atribuir valor; mensurável <era facilmente a. o prejuízo que tivera>
21. aprimorado
que se aprimorou 1 realizado com primor, com esmero; perfeito, acabado, completo <educação a.>
22. apurado
que se apurou 1 conhecido, desvendado após investigação; averiguado, investigado <tratava-se de
informação a. e confirmada>
23. aristocrata
1 diz-se de ou membro da aristocracia; nobre, fidalgo
24. aristocrático
1 pertencente ou relativo à aristocracia; nobre, fidalgo <governo a.>
25. artístico
1 relativo às artes, sobretudo às belas-artes
26. asseado
1 que tem ou revela asseio; limpo, higiênico <copeira eficiente e a.> <restaurante simples mas a.>
27. assombroso
que causa assombro; espantoso, impressionante
28. ataviado
que se ataviou; ornado, enfeitado, embelezado
29. atraente
1 que tem o poder de atrair; sedutor <pessoa a.>
30. atrativo
1 que tem a propriedade de puxar para si; capaz de atrair <a força a. do ímã>
31. augusto
1 que merece respeito, reverência; venerável <a. estadista> <a. sentimentos>
32. bandeiroso
1 relativo a bandeira ('deslize; ingenuidade')
33. belo
1 que tem formas e proporções esteticamente harmônicas, tendendo a um ideal de perfeição; que tem
beleza; lindo <uma b. escultura> <um b. quarteto de cordas>
34. bem-acabado
cujo acabamento é bom ou perfeito; realizado com capricho; executado com finura
35. bem-apanhado
de boa estampa; bem-posto, bonito <um sujeito b.>
36. bem-apessoado
que tem boa aparência; apessoado, bonito, donairoso
273
37. bem-apresentado
1 que tem boa apresentação, bom aspecto
38. bem-composto
configurado de forma atraente; bem-apresentado, bem-conformado
39. bem-conformado
que apresenta uma boa conformação; bem-composto, bem-feito, gracioso, harmonioso
40. bem-feito
1 feito com esmero; caprichado, bem-acabado
41. bem-lançado
1 que vem a propósito; azado, oportuno <uma sugestão b.>
42. bem-posto
1 harmonioso, elegante nos movimentos, no deslocar-se
43. berrante
1 harmonioso, elegante nos movimentos, no deslocar-se
44. bom
1 que corresponde plenamente ao que é exigido, desejado ou esperado quanto à sua natureza, adequação,
função, eficácia, funcionamento etc. (falando de ser ou coisa) <b. cristão> <b. resposta> <b. técnica> <b.
ventos o levem> <b. investimento>
45. boníssimo
extremamente bom; ótimo
46. bonito
1 cuja forma, feições, colorido, som, ambiente etc. suscita prazer estético, agrada ao ouvido, e/ou comove
<um b. jovem> <uma paisagem b.> <música b.> <dedicatória b.>
47. brilhante
1 que emite uma luz forte, viva; fúlgido, luminoso, luzente <estrela b.> <corisco b.>
48. brilhoso
1 que brilha; brilhante, reluzente <livro de capa b.> <cabelos b. de vaselina>
49. brunido
que se bruniu 1 a que se deu lustro; a que se fez brilhar por alisamento e polimento <couraça b.>
50. cabal
que vai ou chega ao fim; que é ou está como deve ser; completo, inteiro, pleno
51. caprichado
que vai ou chega ao fim; que é ou está como deve ser; completo, inteiro, pleno
52. casquilho
1 diz-se de ou indivíduo que se veste com apuro excessivo, no rigor da moda; janota
53. célebre
1 que tem fama; afamado, famoso
54. celeste
1 relativo a céu; célio <física c.>
55. celestial
m.q. celeste (exceto 'diz-se de império')
56. célio
1 que tem fama; afamado, famoso
57. chamativo
1 relativo a ou que encerra chamamento
274
58. chamejante
1 que chameja
59. cintilante
1 que emite raios luminosos, coloridos ou não, em intervalos de tempo muito curtos <estrela c.> <jóia c.>
<lâmpada c.>
60. claro
1 que clareia, que alumia; brilhante, luminoso, resplandecente <a luz c. da lua>
61. coerente
1 em que há coesão; que liga, que adere reciprocamente
62. colossal
1 que tem volume, altura ou proporções de colosso ('estátua')
63. conceituado
1 julgado, avaliado
64. considerável
1 julgado, avaliado
65. correto
1 que se corrigiu
66. cristalino
1 CRIST pertencente a, da natureza do cristal ou formado por cristalização
67. cuidado
1 submetido a rigorosa análise; meditado, pensado <uma afirmação c.> <um estudo c., consistente>
68. dardejante
adj. que dardeja 1 que arremessa dardo ('arma')
69.
2
decorado
adj. que dardeja 1 que arremessa dardo ('arma')
70. deleitante
que causa deleite, gozo, delícia; deleitoso
71. deleitoso
m.q. deleitante
72. delicado
1 que possui delgadeza; de espessura reduzida; fino <pano d.>
73. delicioso
1 que provoca delícia; gostoso, prazeroso
74. descomunal
1 que não é comum; invulgar
75.
1
destacado
1 que não é comum; invulgar
76. diáfano
1 que permite a passagem da luz; transparente, límpido
77. digno
1 que merece; credor <d. de fé> <d. de crédito>
78. dilúcido
m.q. lúcido
79. distinto
1 que não é igual; diferente <escrever é d. de falar>
275
80. divino
1 TEOL relativo a ou proveniente de Deus ou de um ou mais deuses <alcançou a graça d.> <inspiração d.>
81. donairoso
que tem ou apresenta donaire; donoso, garboso <jovem d.> <gesto d.>
82. donoso
que tem ou apresenta donaire; donoso, garboso <jovem d.> <gesto d.>
83. egrégio
1 extremamente distinto; insigne, muito importante (diz-se esp. dos tribunais superiores e de seus juízes)
84. elaborado
1 criado, produzido, montado a partir de elementos mais simples <ferramentas naturais (paus, seixos
rolados) e artefatos e. (machados de sílex, arpões neolíticos)>
85. elegante
1 que se caracteriza pela harmonia, leveza ou naturalidade na apresentação e nos movimentos <traje e.> <o
manga-larga trota de modo muito e.>
86. eleito
1 que ou o que foi objeto de escolha, de preferência
87. elevado
1 que se eleva ou elevou
88. emérito
1 que se aposentou e desfruta dos rendimentos e honras do emprego
89. eminente
1 muito acima do que o que está em volta; proeminente, alto, elevado <torre e.>
90. encantador
1 que atrai, arrebata, seduz
91. enfeitado
1 que se enfeitou
92. engalanado
1 que se engalanou, que se enfeitou; agalanado, enfeitado <salão e. para a festa>
93. engrandecido
que engrandeceu 1 que aumentou fisicamente; ampliado, crescido
94. esbelto
1 que apresenta formas elegantes, graciosas, esguias
95. escolhido
que foi objeto de preferência, de escolha; preferido
96. escorreito
1 que não tem defeito, falha ou lesão
97. esmerado
1 que se esmerou
98. espantoso
que causa espanto 1 que causa medo, que assusta
99. especial
1 que diz respeito a uma coisa ou pessoa, em particular; não geral; individual, particular <mandou lembrança
e. para a neta>
100. esplendente
que esplende; resplandecente, brilhante, cintilante
101. esplêndido
276
1 que tem esplendor; luminoso, brilhante
102. esquisito
1 encontrado com dificuldade; raro, precioso, fino
103. estético
1 relativo à estética, ao estudo e conceituação do belo <teorias e.>
104. excelente
que excele; que é de ótima qualidade; que é muito bom <e. caráter> <e. livro> <e. pessoa>
105. excelso
1 que é sublime, eminente, elevado <pensamentos e.>
106. excepcional
1 que é fora do comum, que ocorre além dos limites do estabelecido ou do que é normal, freqüente ou
corriqueiro <ocasião e.> <sorte e.>
107. excessivo
1 que excede, que sobra
108. exímio
que é perfeito, superior, excelente <e. espadachim>
109. explícito
1 que é claro, explicado sem ambigüidade <formulação e.> <resposta e.>
110. extenso
1 que tem extensão
111. extranatural
que não pertence ao natural
112. extraordinário
1 que foge do usual ou ao previsto; que não é ordinário; fora do comum; extra <acontecimento e.>
<despesas e.>
113. fabuloso
1 que concerne ao legendário, às narrativas criadas pela imaginação <os personagens f. dos irmãos
Grimm>
114. famoso
1 que tem fama; renomado, célebre <cineasta f.>
115. fantástico
1 que ou aquilo que só existe na imaginação, na fantasia <vivia imaginando coisas f.> <na sua cabeça
havia lugar para o f.> adj. 2 que tem caráter caprichoso, extravagante <o espetáculo lançava na parede
grandes sombras f.>
116. fascinador
que ou o que fascina
117. fascinante
que causa ou provoca fascínio; fascinador
118. fastuoso
que contém fasto ou fausto; aparatoso, pomposo, magnificente
119. faustoso
m.q. fastuoso
120. fidalgo
1 concernente a, pertencente a ou próprio de fidalguia ou de fidalgo (subst.)
121.
1
fino
1 cujo diâmetro ou circunferência são reduzidos <cadarço f.> <pêlos f. como os de um gato> <árvore de
tronco f.> <braços muito f.> <lápis de ponta f.> p. opos. a grosso
277
122. florescente
1 que floresce; em flor <sob as janelas, jardineiras f. alegravam as casas>
123. formidável
1 que ultrapassa as dimensões usuais; colossal, gigantesco
124. formoso
1 de forma ou aparência agradável, bela, bonita, bem feita <concurso de beleza, onde concorrem as mais f.
jovens da cidade>
125. forte
adj.2g. (sXIII cf. FichIVPM) 1 que tem grande força física e/ou orgânica; cujos músculos são bem
desenvolvidos, robusto, vigoroso <jovem f.> <pulmões f.> <pernas f.>
126. fulgente
que fulge, que possui brilho, luminosidade; brilhante, resplandecente, fúlgido
127. fúlgido
m.q. fulgente
128. fulgurante
1 que fulgura, relampeja
129. galante
1 que se destaca pela elegância, discrição etc.; donairoso, esbelto, distinto
130. garboso
que tem ou revela garbo
131. garrido
1 que tem elegância, graça; loução, galante
132.
1
generoso
1 de boa linhagem; ilustre, nobre
133. gigantesco
1 cuja estatura é de gigante; desmesurado, imenso
134. gostoso
1 que tem sabor bom, agradável <sobremesa g.> <queijo g.>
135. grácil
1 fino, delicado, leve <corpo g.> <tem um talhe g.>
136. gracioso
1 engraçado, jocoso, jovial
137. grande
1 de tamanho avantajado; vasto <pés g.> <carro g.>
138. grandioso
1 muito grande; gigantesco, soberbo <templo g.>
139. harmônico
1 que diz respeito a harmonia ou que a apresenta
140. harmonioso
1 que tem harmonia ou que está em harmonia <um jardim h.> <todos os objetos se combinavam fazendo um
conjunto h. com o estilo da casa>
141. honrado
1 que é conforme aos princípios de honradez; honesto, probo, digno
142. iluminado
1 que se iluminou; que recebe ou recebeu luz ou iluminação
278
143. ilustrado
1 dotado de ilustração; esclarecido, instruído, sábio <candidato i.>
144. ilustre
1 que se distingue por seu brilhantismo, por qualidades dignas de louvor; célebre, eminente, notável
<cientista i.>
145. imaculado
1 que não tem pecado
146. imenso
1 impossível de medir ou contar; desmedido, ilimitado
147. imponente
1 que se impõe por sua majestade, sua magnificência, suas dimensões ou proporções <uma vista i.> <uma
i. moradia do sXIX>
148. importante
1 que tem mérito; digno de elogio; elogiável, meritório <seu esforço foi uma contribuição i.>
149. impressionante
1 que causa impressão nos sentidos (por beleza, forma, porte etc.; admirável, fascinante <as cataratas do
Iguaçu são i.>
150. inacreditável
1 que não merece crédito, não acreditável; incrível <histórias i.>
151. incrível
1 que ou o que não é crível, não se pode acreditar <uma notícia i.> <o i. às vezes acontece>
152. inocente
1 que não faz mal, inofensivo; que não é nocivo, que não causa efeito; inócuo <um i. cordeirinho> <um
remédio i., uma bebida i.>
153. insigne
que é notável por suas obras ou feitos; destacado, famoso, ilustre
154. inteiro
1 com todas as partes que lhe são próprias, sem ter sofrido diminuição; completo, total <um pão i.> <um ano
i.>
155. intenso
1 que se manifesta ou se faz sentir com força, com vigor, com abundância <calor i.> <dor i.> <barulho i.>
<chuva i.>
156. invulgar
que não é vulgar, comum; que foge ao padrão encontradiço; especial, raro, incomum
157. irradiante
1 que irradia, que se propaga através de irradiações
158. irrepreensível
1 que não dá margem a repreensão ou censura <um administrador i.>
159. irretocável
adj.2g. que não exige retoque; acabado, perfeito
160. isento
1 que se encontra eximido, dispensado, desobrigado
161. janota
1 pej. que ou quem se mostra afetado no vestir <o mais j. dos senadores da República> <um j. que se veste
sempre no rigor da moda>
162. lampejante
que lampeja
279
163.
1
leve
1 de pouco peso <embrulho l.>
164. límpido
1 que é claro, puro e transparente <um l. regato> <uma atmosfera l.>
165. limpo
1 isento de qualquer sujidade, impureza ou mancha; imaculado <roupa de cama l.>
166. lindo
1 prazeroso de se contemplar, de se ouvir, de se apreciar; belo, formoso, bonito, vistoso <uma l. aquarela>
<um l. conto> <um l. gesto>
167. louçainho
provido de louçainha, de adorno; ornado, enfeitado, engalanado
168. loução
1 provido de adorno; enfeitado, louçainho
169. louvável
1 que deve ser louvado; digno de louvor
170. lúcido
1 que se manifesta com luz e brilho; brilhante, dilúcido, luzente, resplandecente
171. lucrativo
1 que proporciona lucro ou vantagem; vantajoso, rentável <comércio l.>
172.
1
luminoso
relativo a luz ou a fluxo luminoso 1 que emite, difunde, espalha luz (própria ou refletida) <astro l.>
173. lustroso
1 cheio de lustre ou lustro; brilhoso, luzidio <um animal de pêlo l.> <chão l.> 2 p.ext. que, por ter sido muito
esfregado pelo uso, se tornou brilhante, luzidio <trazia um traje asseado, mas l.> 3 fig. que é notável por
seus feitos, saberes; ilustre, insigne <homem de l. sobrenome> 4 fig. de efeito vistoso; aparatoso,
magnificente <bem perfilados, desceram a avenida em l. parada> s.m. 5 B infrm. vagabundo, indivíduo
vadio ETIM
2
lustro + -oso; ver
2
lustr-; 1521-1558 é a data para a acp. fig. 'ilustre' e 1601, para a acp.
'brilhoso' SIN/VAR ver sinonímia de malandro ANT como adj.: baço, deslustroso; ver tb. antonímia de
malandro
174. luxuoso
1 que apresenta luxo, fausto; caro, faustoso, requintado <gostos l., elegância l.>
175. luzente
1 que luz ou brilha; fulgurante, refulgente
176. luzidio
que, por ter lustre, reluz; brilhante, lustroso, luzente, lúzio <pele l., cabelos l.>
177.
2
lúzio
m.q. lúcido ('brilhante', 'transparente')
178. mágico
1 relativo a magia <palavras m.> <cartola m.>
179. magistral
1 relativo a mestre
180. magnânimo
1 que, a despeito de todos os riscos e perigos, age ou pensa desinteressadamente com vistas a servir
alguém ou a encarnar um ideal; generoso, bondoso, longânime <pessoas m.>
181. magnificente
1 que tem magnificência, esplendor, opulência; grandioso, suntuoso, rico
182. magnífico
1 aparatoso em suas dádivas, que não mede despesa nos gastos <um m. patrão>
280
183. majestático
1 que se refere à majestade, ao poder soberano
184. majestoso
1 que inspira respeito, veneração; augusto, majestático, sublime
185. maravilhoso
1 que provoca grande admiração, deslumbramento, fascínio, prazer etc. <o espetáculo m. das cataratas>
186. mavioso
1 sensível aos sentimentos de amizade; terno, afetuoso, compassivo <temperamento m.>
187. melódico
1 MÚS relativo, pertencente a melodia <linha m., desenho m., passagem m.>
188. melodioso
1 MÚS relativo, pertencente a melodia <linha m., desenho m., passagem m.>
189. milagroso
1 que realiza milagres
190. miraculoso
m.q. milagroso
191. mondado
m.q. milagroso
192. nobre
1 que tem título nobiliárquico; pertencente à nobreza; fidalgo, aristocrata <família n.>
193. notável
1 digno de nota, de atenção <uma escultura n.>
194. ornado
1 que se ornou; que apresenta ornamento; adornado, decorado, enfeitado, ilustrado, ornamentado
195. ornamentado
que se ornamentou, adornou, decorou, enfeitou
196. ostentoso
1 feito com ostentação <o decorador sugeriu-nos um projeto o.>
197. ótimo
1 que ou o que existe de melhor, que é demasiadamente bom; boníssimo, excelente
198. perfeito
1 em que não há defeito; que apresenta as melhores qualidades
199. pleno
1 que se mostra cheio, repleto <o mês estava p. de flores>
200. polido
1 tornado lustroso por fricção; brunido
201. pomposo
1 que tem magnificência, fausto
202. prazenteiro
1 simpático, adulador
203. prazeroso
1 com prazer, com satisfação, com boa vontade; alegre, prazenteiro, bem-humorado
204. precioso
1 de alto preço ou grande valor <metais p.>
281
205. preexcelente
que se sobressai, por suas qualidades, entre os demais da mesma categoria; superior, eminente, excelente,
extraordinário
206. primoroso
1 que apresenta primor; maravilhoso, perfeito, encantador <flores p.> <paisagem p.>
207. prodigioso
1 relativo a prodígio (subst.)
208. proeminente
1 que se eleva acima do que o rodeia
209. pronto
1 inteiramente feito ou construído, em condições de ser utilizado; concluído, terminado <a casa está p.> <o
almoço está p.>
210. proporcionado
1 que apresenta determinada proporção
211.
1
proporcional
1 relativo a proporção
212. próspero
1 que prospera, se desenvolve, progride <um Estado p.> <um município p.>
213. puro
1 sem mistura; não alterado pela presença ou inclusão de elementos estranhos <ferro p.> <ouro p.> <uísque
p.> <seda p.> <tecido de p. lã
214. qualificado
1 que se qualificou
215. radiante
1 FÍS que se propaga através de radiação, que emite raios <emitância r.> <calor r.> <farosagem r.>
216. radioso
1 que emite raios de luz; brilhante, cintilante
217. raro
1 que não é comum, vulgar; que poucas vezes se encontra, se vê <beleza r.> <livros r.>
218. rebuscado
que se rebuscou 1 muito procurado; buscado com afinco
219. refinado
1 que se refinou
220. refulgente
1 que refulge, brilha, resplandece
221.
1
regular
1 conforme as regras, as leis, as praxes, a natureza
222. reluzente
1 que reluz
223. rematado
1 que se rematou, que se concluiu; acabado, pronto
224. requintado
1 elevado ao mais alto grau
225. resplandecente
luzente, brilhante
226. rico
282
1 que ou aquele que possui muitos bens, muito dinheiro e/ou muitas coisas de valor
227. saliente
1 que avança, que se sobressai do plano em que se assenta <coluna s.>
228. sedutor
1 aquele que pratica a sedução ('delito'), corrompendo e desonrando mulheres, esp. menores, de 14 a 18
anos
229. selecionado
1 aquele que pratica a sedução ('delito'), corrompendo e desonrando mulheres, esp. menores, de 14 a 18
anos
230. seleto
1 que foi objeto de seleção; escolhido, selecionado
231. simétrico
1 de, relativo ou pertencente a simetria <ordem s.>
232. singelo
1 simples, não dobrado, não composto
233. soberbo
/ 1 que ou o que tem soberba; arrogante, orgulhoso <dirigiu-lhes um olhar s. e humilhante> <a indiferença é
grande castigo para os s.>
234. sobre-humano
1 que vai além da natureza humana; sobrenatural <é pessoa de compreensão e bondade sobre-humanas>
235. sobrenatural
1 que ultrapassa o natural, fora das leis naturais, fora do comum; extranatural <poderes s.>
236. sóbrio
1 moderado, contido no comer e no beber
237. sofisticado
que se sofisticou 1 enganado com sofismas
238. solene
1 que se celebra com pompa e suntuosidade <comemoração s.>
239. sonoro
1 que tem som
240. suave
1 (1595) que expressa bondade, afeto; terno, meigo <seu olhar era s.> <um sorriso s.>
241. sublimado
que se sublimou 1 que passou diretamente do estado sólido para o gasoso
242. sublime
que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto 1 superlativamente
belo, esteticamente perfeito; grandioso, soberbo, extraordinário <a s. arquitetura do Partenon de Atenas>
243. suntuário
1 referente a despesa(s), gasto(s) <contas s.> <lei s.>
244. suntuoso
1 que exige muito dispêndio de dinheiro <numa época de crise não se justificam tais banquetes s.>
245. superior
1 situado mais alto ou acima de outro <mora no andar s.> <lábio s.>
246. sutil
1 quase imperceptível devido ao diminuto volume, tamanho ou espessura; fino, tênue, delgado <um s. fio de
seda> <com um fio s. a aranha tece a sua casa> <uma poeira s.>
283
247. total
1 a que não falta nada, que forma ou abrange um todo; inteiro, completo <devido à seca, a perda da lavoura
foi t.> <durante a greve, houve paralisação t.>
248. tranqüilo
1 de ânimo calmo, sem agitação <a natação a dispõe t.> 1.1 de natureza serena <um bebê t.>
249. translúcido
1 diz-se de qualquer corpo que deixa passar a luz, mas que não permite que se perceba objetos colocados
por detrás dele; diáfano <topázio t.> <o vidro fosco é t.>
250. transparente
1 que deixa passar a luz e ver nitidamente o que está por trás; límpido, cristalino <a água t. revela a areia
clara do fundo da lagoa>
251. valioso
1 que tem grande valor monetário; caro <uma jóia v.>
252. vasto
1 que oferece grande espaço; amplo, espaçoso, ancho <dormiu na v. poltrona> <dançar no v. salão>
253. venturoso
1 cheio de ventura, felicidade, sorte; feliz, ditoso, afortunado <mãe v.> <ano v.>
254. viçoso
1 que é tratado com mimos e agrados; mimado <ele leva uma vida folgada e v.> <criança v.>
255. vistoso
1 que atrai a vista; agradável de ver <rapaz alto e v.>
256. vivo
1 que vive, que tem vida; vivente <ser v.>
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