Abria-se assim o tempo da campanha ao lado do tempo da propaganda. Era
preciso, afinal, “ampliar a fundação”. E para isso era essencial articular esses dois
processos na condição de táticas de ampliação do movimento. Fazendo-os dialogar, a
sorte da revolução estaria na dependência não só do desempenho militar dos revoltosos
na projeção do movimento até o Recôncavo. Estaria antes, sobretudo, na capacidade de
controlar publicamente os sentidos políticos com os quais acenava, a ponto de alimentar
sua expansão territorial ao tempo em que garantia a ordem revolucionária na cidade.
Para isso dois flancos foram abertos: a expansão da cidade para o interior e a
mudança da ata. O presente capítulo e o seguinte analisam cada um desses processos,
suas conexões e suas conseqüências.
1.2. Sabinada: a revolta da cidade.
Moreira de Azevedo, cerca de 50 anos depois da Sabinada, em memória lida no
Instituto Histórico Brasileiro, escreveu: “Se triunfou a revolução na primeira cidade da
província, ali ficou circunscrita, não avançou nem mais um passo, porque a maioria da
província reagiu (...)”. A série de ofícios dirigidos por Antônio Barreto Pedroso aos
juízes das cidades e vilas da região do Recôncavo e de outras regiões da província
revela, de fato, que uma minoria existiu, e que teve de ser batida para que o “pendão da
revolta e da anarquia” não se espalhasse com ela.
28
Pedroso havia chegado em
Cachoeira pouco mais de uma semana após a tomada de Salvador. Vindo da Corte, onde
exercia mandato de deputado pelo Rio de Janeiro, havia sido designado Presidente da
Bahia antes mesmo do estouro da revolução. Na cidade que sediava o “governo legal” –
28
Moreira Azevedo, “A Sabinada da Bahia em 1837”, PAEBa, I, pp. 18-38, esp. 20; Ofícios de Barreto
Pedroso aos juízes de paz e de direito de: Cachoeira, 04.01.1838, PAEBa, V, p. 155, na repressão à Feira
de Santana; Jacobina, 09.01.1838, PAEBA, V, pp. 165-6; Valença, 13.01.1838, PAEBa, V, pp. 171 e
15.01.1838, PAEBa, V, p. 176; Caravelas, 20.02.1838, PAEBa, V, pp. 205-6 e 07.03.1838, pp. 219-20;
Nazaré, 09.03.1838, PAEBa, V, pp. 222; sobre a vila da Barra, ofício de Barreto Pedroso ao Ministro da
Guerra, 06.02.1838, PAEBa, IV, p. 447; em Itaparica, ofício do Presidente Pedroso ao Ministro do
Império, 23.11.1837 apud Vicente Vianna, “A Sabinada”, p. 149 e notícia do Constitucional
Cachoeirano, 23.11.1837, PAEBa, IV, pp. 413-4; sobre a Sabinada no Recôncavo e particularmente em
Nazaré: A. J. Souza Carneiro, “A Sabinada em Nazaré”, PAEBa, IV, pp. 77-96.
24