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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – CPGA/UFSC
JULIANO LISSONI
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA, EMPRESA E
PROPRIEDADE AO LONGO DO CICLO DE VIDA DO GRUPO RBS
FLORIAPOLIS
2006
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2
JULIANO LISSONI
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA, EMPRESA E
PROPRIEDADE AO LONGO DO CICLO DE VIDA DO GRUPO RBS
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Universidade Federal de Santa Catarina.
Curso de Pós-Graduação em Administração.
Área de concentração em Comportamento e
Organização.
Orientador: Maurício Fernandes Pereira, Dr.
FLORIANÓPOLIS
2006
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Lissoni, Juliano
Análise da relação entre família, empresa e propriedade ao
longo do ciclo de vida do Grupo RBS / Juliano Lissoni;
orientador Maurício Fernandes Pereira Florianópolis, 2006.
179 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Programa de Pós-Graduação em Administração, 2006.
Inclui bibliografia.
1. Empresa familiar. 2. Ciclo de Vida. 3. 7 Ss Framework
I. Pereira, Maurício Fernandes. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Administração.
III. Título.
iii
4
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA, EMPRESA E PROPRIEDADE AO
LONGO DO CICLO DE VIDA DO GRUPO RBS
JULIANO LISSONI
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Grau de Mestre em
Administração na área de concentração em Comportamento e Organização do Curso de Pós-
Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina e aprovada, em
sua forma final, em 27 de março de 2006.
___________________________________________
Prof. Dr. Rolf Hermann Erdmann
Coordenador
Apresentada à Comissão Examinadora composta pelos professores:
___________________________________________
Prof. Dr. Maurício Fernandes Pereira - Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
___________________________________________
Prof. Dr. Antonio Alves Filho - Membro
Universidade Federal de Santa Catarina
___________________________________________
Prof. Dr. Martinho Isnard Ribeiro de Azevedo - Membro
Universidade de São Paulo
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5
À minha mãe IVONE por me ensinar a nunca desistir
e à minha esposa CAMILA pelo seu amor e
apoio na realização deste sonho.
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AGRADEDIMENTOS
Aos meus pais pela vida.
À minha mãe pela verdadeira lição de vida.
Ao meu amor, esposa, amiga, companheira, Camila, pelo incentivo e pela compreensão.
À minha ir Alexandra por sua colaboração neste trabalho.
Ao meu primeiro orientador, no primeiro ano de mestrado, Prof. Antônio Alves Filho, pelo
incentivo e crença.
Ao meu orientador Prof. Maurício Fernandes Pereira, que prontamente me acolheu como seu
orientando, por sua confiança e orientação neste trabalho.
Ao Antônio Tigre, Diretor Executivo de Gestão da RBS, que prontamente me recebeu para
discutir a idéia da pesquisa e abriu todas as portas da empresa para a realização de parte da
coleta de dados, o qual carinhosamente chamo de padrinho da dissertação.
Ao Nelson Sirotsky e ao Pedro Parente pelo entendimento do objetivo do trabalho e abertura
da empresa.
Aos demais membros da Diretoria da RBS que se mostraram abertos e interessados no
trabalho.
Ao Prof. John Davis por fazer parte do trabalho e pela inspiração
Aos colegas com quem convivi no CPGA.
Aos professores que, ao longo do curso, que de um lado me trouxeram conhecimentos para a
elaboração deste trabalho, e de outro, ajudaram a me transformar numa pessoa melhor.
Enfim, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste trabalho.
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“Lieben und arbeiten”
S. Freud
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RESUMO
LISSONI, Juliano. Análise da relação entre família, propriedade e empresa ao longo do ciclo
de vida do Grupo RBS. 2006. 179 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de
s-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2006.
Orientador: Maurício Fernandes Pereira, Dr.
Defesa: 27/04/06
O objetivo geral deste trabalho consiste em analisar o processo de profissionalização
do Grupo RBS a partir da relação entre os subsistemas de família, propriedade e empresa, no
período de 1957 a 2005. Como objetivos específicos, foram definidos: descrever o ciclo de
vida da empresa familiar RBS, sob a ótica dos eixos de família, empresa e propriedade;
verificar quais foram os momentos críticos e movimentos sucessórios ao longo do ciclo de
vida; verificar se as mudanças na estrutura de propriedade ou na estrutura familiar
impulsionaram mudanças na empresa; identificar se houveram (e quais foram) mudanças em:
valores, estratégia, estrutura, pessoas de gestão, estilo de gestão, sistemas e habilidades em
cada uma das fases; e analisar o processo de profissionalização da empresa. Em relação aos
procedimentos metodológicos, a pesquisa se caracteriza como sendo um estudo de caso único,
do tipo descritivo, não experimental, cujo enfoque é qualitativo, em que foi utilizado como
principal instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, e, compondo a fase de
análise de dados, partiu-se para a organização do tipo de informações a serem utilizadas,
descrição analítica aprofundada orientada pelas perguntas de pesquisa e fundamentação
teórica e interpretação inferencial. Quanto aos resultados da pesquisa, observou-se que a
organização passa por sete diferentes estágios, iniciados por mudanças nos sistemas de
família, propriedade e empresa, com ênfase acentuada no sistema de família. Cada uma destas
fases se caracteriza também por alterações no 7 Ss Framework (modelo desenvolvido por
Peter e Waterman (1982) originalmente concebido como ferramenta para medição da eficácia
organizacional, mas utilizado neste trabalho como checking list para o grupo de elementos a
serem avaliados). De 1957 a 1968, tem-se o início pelo primeiro fundador que fica sócio de
um negócio. De 1968 a 1971, a empresa passa a ser uma sociedade entre irmãos, que começa
a adquirir outros negócios e gerir o crescimento. De 1971 a 1986 há um período de alterações
significativas nos três sistemas, pontuadas pela entrada da segunda geração, crise financeira e
culmina com a morte do fundador. É neste período que se consolidados os valores que
guiaram a empresa, e começa, ainda em 1971, o início de um processo de profissionalização.
De 1986 a 1991, a empresa foi administrada ainda pela primeira geração, pelo segundo
fundador, até que em 1991, a segunda geração assume o comando. Neste período ocorrem
transformações na estrutura de propriedade e um movimento na família acelera o processo de
profissionalizar a empresa, o que viria a iniciar sua consolidação em 2001, chegando em 2005
com os três subsistemas operando de forma profissionalizada. A conclusão da pesquisa remete
à importância de se observar os movimentos ocorridos na família, que por sua vez, foi o
motivador fundamental do processo de profissionalização.
Palavras-Chave: Empresa Familiar, Ciclo de Vida, Profissionalizão.
v
iii
9
ABSTRACT
LISSONI, Juliano. Análise da relação entre família, propriedade e empresa ao longo do ciclo
de vida do Grupo RBS. 2006. 179 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de
s-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2006.
Orientador: Maurício Fernandes Pereira, Dr.
Defesa: 27/04/06
This research main point consists of analyzing the professionalization process of RBS
Group, starting from the relationship between family, ownership and business, in the period
from 1957 to 2005. The specific objectives were: to describe the RBS family business
lifecycle, observing family, ownership and business systems; to verify which had been the
critical moments and successory movements during the lifecycle; to verify if changes in
ownership or family stimulated changes at the company; to identify changes (if they occurred)
in values, strategy, structure, systems, staff (TMTTop Management Team), management
style and skills in which phase; and to analyze the professionalization process. The research is
characterized as a single case study, descriptive, ex post facto, with qualitative focus. The
foremost tool for data gathering was semi-structured interview, and the data analysis took
place based on the organization of that information that would be used, deep analytical
description oriented by research questions and theoretical recital, and inferential
interpretation. The results show that RBS passed through seven different phases, which
started from changes in family, ownership and business systems, with outstanding emphasis
on family system. Each phase is characterized by changes at 7 Ss Framework (tool developed
bay Peters and Waterman (1982) originally used to measure organizational effectiveness, but
used in this research as a checking for the group of elements studied), as well. From 1975 to
1968, RBS passed through the first phase, controlled by the first founder, that become a
partner in a company. From 1968 to 1971, is the sibling partnership phase. The company
starts to growth. From 1971 to 1986, is a phase with deep changes in the three systems,
punctuated by the entering of the second generation, financial crisis, and when the first
founder dies. In this phase the values took a large step, and the company starts its
professionalization process. From 1986 to 1991 the company was managed by one of the
founders, still first generation, and, in 1991, the second generation takes the CEO post. This
phase is characterized by ownership changes and the family pushes on the decision of make
the company professional. From 2001 to 2005, the professionalization process is consolidated,
and the three systems works in a professional way. The conclusion of the research suggests
that is important to pay attention the movements that take place in the family system, because
in this case, it was the foremost motivator of the professionalization process.
Key-Words: Family Business, Organizational Lifecycle, Professionalization
ix
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – A Estrutura dos 7 Ss (7 Ss Framework) ... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... 26
Figura 02 – Diagnóstico da Estrutura.................................................................................. 34
Figura 03 – Resumo das implicações das quatro perspectivas sobre estratégia................. 38
Figura 04 – Mapa de desenvolvimento de competências/habilidades gerenciais............... 46
Figura 05 – As cinco fases do crescimento......................................................................... 53
Figura 06 – Modelo de Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar............... 56
Figura 07 – Modelo dos Três Círculos na Empresa Familiar.............................................. 59
Figura 08 – Estrutura de Governança da Empresa Familiar................................................ 59
Figura 09 – Nível de Oportunidades Individuais na Complexa Empresa Familiar............. 74
Figura 10 – Estrutura Família, Empresa e Propriedade no Período 3................................. 79
Figura 11 – Estrutura Família, Empresa e Propriedade no Período 5................................. 89
Figura 12 – Estrutura de Governança Corporativa no Período 7........................................ 101
Figura 13 – Momentos Críticos no Ciclo de Vida da RBS................................................. 104
Figura 14 – Estrutura da RBS no período anterior a 1986.................................................. 109
Figura 15 – Estrutura da RBS em 1986............................................................................... 109
Figura 16 – Estrutura da RBS em 1991............................................................................... 110
Figura 17 – Estrutura da RBS em 1996............................................................................... 110
Figura 18 – Estrutura da RBS em 2001............................................................................... 111
Figura 19 – Estrutura da RBS em 2004............................................................................... 112
Figura 20 – Estrutura Detalhada da RBS em 2004.............................................................. 112
Figura 21 – Modelo Tridimensional no Período 2.............................................................. 132
Figura 22 – Configuração dos Elementos no Período 2..................................................... 133
Figura 23 – Modelo Tridimensional no Período 3.............................................................. 135
Figura 24 – Elementos do 7Ss Framework no período 3.................................................... 135
Figura 25 – Modelo Tridimensional no Período 4.............................................................. 137
Figura 26 – Elementos do 7Ss Framework no período 4.................................................... 138
Figura 27 – Modelo Tridimensional no Período 5.............................................................. 140
Figura 28 – Elementos do 7Ss Framework no período 5.................................................... 141
Figura 29 – Modelo Tridimensional no Período 6.............................................................. 143
Figura 30 – Elementos do 7Ss Framework no período 6.................................................... 143
Figura 31 – Modelo Tridimensional no Período 7.............................................................. 146
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11
Figura 32 – Elementos do 7Ss Framework no período 7.................................................... 146
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12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Crescimento da RBS de 1969 a 1986............................................................... 81
Quadro 2 – Crescimento da RBS de 1991 a 1998............................................................... 89
Quadro 3 – Crescimento da RBS de 1998 a 2001............................................................... 93
Quadro 4 – Movimentações nos Eixos de Família, Empresa e Propriedade....................... 99
Quadro 5 – Crescimento da RBS de 2001 a 2005............................................................... 103
Quadro 6 – Evolução da RBS ao longo do Ciclo de Vida................................................... 148
xii
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 15
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA.................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS............................................................................................................... 19
1.2.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 19
1.2.2 Objetivos Específicos.............................................................................................. 19
1.3 JUSTIFICATIVA....................................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA............................................................... 22
2.1 ORGANIZAÇÕES E SEU PROCESSO DE GESTÃO............................................. 22
2.2 ESTRUTURA DOS 7 Ss (7Ss FRAMEWORK)....................................................... 25
2.3 EMPRESA FAMILIAR E SUCESSÃO..................................................................... 47
2.3.1 Modelo de Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar....................... 52
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................... 64
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO............................................................................. 64
3.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE.................................................................................. 66
3.3 UNIDADES DE ANÁLISE E ELEMENTOS PESQUISADOS.............................. 66
3.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS....................................................................... 68
3.5 TRAJETÓRIA DA PESQUISA................................................................................. 69
3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA................................................................................. 70
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS....................................................................... 71
4.1 CONDIÇÕES DO SETOR DE MÍDIA NO BRASIL................................................ 71
4.2 HISTÓRICO DO GRUPO RBS................................................................................. 75
4.3 A EVOLUÇÃO DOS 7Ss AO LONGO DO CICLO DE VIDA................................ 105
4.4 TRANSFORMAÇÕES E ALTERAÇÕES NOS ELEMENTOS.............................. 130
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 150
5.1 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.................................................................. 150
xiii
14
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 159
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTAS.............................................................. 176
xi
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15
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
Uma organização é uma coletividade criada para alguma finalidade (WEBER,
1997) e está inserida em um ambiente, e que, ao direcionar sua busca por esta finalidade,
desencadeia uma série de atividades que geram conseqüência para si e para seu entorno
(MANDELLI, 2003). As organizações geralmente passam por um ciclo de vida que pode se
configurar em diversas etapas (QUINN e CAMERON, 1983), onde seu desempenho, em cada
uma destas etapas, pode ser medido em função da forma como se adapta às pressões do
ambiente externo (MANDELLI, 2003).
Entretanto, a perspectiva da evolução da empresa familiar pode ser entendida sob
dois aspectos: a forma como o externo influi nas mudanças internas e a forma como os fatores
relacionados à sua maturidade influem numa pressão interna por mudanças (DAVIS et al,
1997). Mas independente de onde vêm estas mudanças, a estrutura social e os padrões de
trabalho acabam por sofrer ajustes e adaptações (HALL, 2004).
Os estudos de empresas familiares vêm fornecendo subsídios para o campo dos
estudos organizacionais (DAVIS et al, 1997). A empresa familiar é o tipo de organização
mais facilmente encontrado no universo organizacional, mas grande parte das pesquisas
costumeiramente não buscava análises diferenciadas para as mesmas. Recentemente, no
entanto, diversos autores têm apresentado observações a respeito do comportamento da
organização familiar.
Mas o que é uma empresa familiar? O conceito é alvo de divergências e
complementaridades. A tradução de empresa familiar pode estar relacionada com a família
dirigindo o negócio ou com a participação ou detenção acionária (LETHBRIDGE, 2005), com
a intersecção das esferas de família, empresa e propriedade (DAVIS et al, 1997), com a
participação no conselho de administração (WEBER et al, 2003), pode ser entendida como
uma empresa informal, confusa e incompleta (GONÇALVES, 2000b), ou simplesmente como
um ideal ou um sonho que se concretizou (BERNHOEFT, 1987). Nas economias capitalistas,
diga-se de passagem, a maioria das empresas inicia com uma idéia, e é a partir do empenho de
seu criador que a “criatura” toma forma e se estabelece (DAVIS et al, 1997).
16
Em todo o Planeta, negócios familiares são uma fonte significativa de riqueza
chegando a representar 80% das empresas e movimentar cerca de 50% do PIB mundial
(LETHBRIDGE, 2005). O que as difere, e fornece subsídios para as pesquisas acadêmicas
que buscam o entendimento do comportamento organizacional, é a sua capacidade de extrair
força de sua história, legado, identidade e valores (DYER, 2003), que muitas vezes, são
criados e passados através de gerações numa mesa de jantar, o que pode significar uma
postura diferenciada e altruística (DYER, 2003; DENISON, 2004). E são os seus valores
característicos que podem levar ao entendimento do conceito de empresa familiar como um
elemento muito mais relacionado ao estilo de gestão do que à sua composição acionária
(BERNHOEFT, 1987).
Mas a evolão é um conceito presente em qualquer tipo de organização, e não
difere no caso das familiares, que, como todas as outras, podem traduzir esta evolução em
diferentes comportamentos, que podem significar a existência de diferentes estruturas,
processos, estratégias, habilidades, estilos e pessoas de gestão, além de valores. O fato de
estes elementos serem citados deve-se à existência de uma estrutura conceitual que surgiu no
final da década de 70, nos Estados Unidos, e elaborado pelos então consultores da McKinsey,
Tom Peters e Robert Waterman (1982), que aperfeiçoaram um modelo de Pascale e Athos
(1981), que ficou conhecido como7 Ss Framework, ou, Modelo Diagnóstico da Eficácia
Organizacional. Esta estrutura dividia o hardware do software de uma organização.
Esta classificação surgiu porque, analisar-se o software de uma organização é tão
importante quanto o hardware (PETERS e WATERMAN, 1982). O último pode ser
entendido como o agrupamento dos fundamentos mais comumente encontrados quando se
fala em mudança: estratégia, estrutura e processos (PETERS e WATERMAN, 1982). O
primeiro, no entanto, que reúne habilidades, estilos e pessoas de gestão e valores, denomina-
se como tal, pois seus elementos são mais difíceis de serem identificados, são determinados
pelas pessoas que trabalham na organização, dificilmente se pode exercer influência nos
mesmos e, muito embora estejam abaixo da superfície, podem ter um impacto significativo
nos demais (PETERS e WATERMAN, 1982).
Em um desdobramento destes elementos, tem-se que os valores comuns presentes
na organização são observados a partir das idéias fundamentais em torno das quais o negócio
foi erguido (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980), qual o seu significado para os
membros internos e quais as forças que existem por trás da lógica da empresa familiar
(GALLO, TÀPIES e CAPPUYNS 2004). O conhecimento do estilo de gestão leva ao
entendimento dos padrões de comportamento dos gestores (PETERS, WATERMAN e
17
PHILLIPS, 1980). A análise do top management considera os recursos humanos de gestão e
os processos de socialização e meios de moldar os valores básicos (PETERS, WATERMAN e
PHILLIPS, 1980), assim como a influência do tipo de Presidente ou CEO (Chief Executive
Officer) em cada período de tempo (WIERSEMA, 1992). As habilidades por sua vez, tratam
das competências distintivas requeridas pelo top management em cada etapa do ciclo de vida,
assim como as formas encontradas pela empresa de expandir estas capacidades (PETERS,
WATERMAN e PHILLIPS, 1980).
Do ponto de vista do hardware, analisar a estrutura é verificar a combinação das
partes organizacionais (HALL, 2004). Na empresa familiar, considera-se na avaliação,
também as estrutura de propriedade e familiar (DAVIS et al, 1997). A análise do
comportamento estrutural ao longo do ciclo de vida da organização é um reforço do método
contingencial de análise da estrutura organizacional, que diz que sob certas condições, uma
forma de estrutura é mais eficaz ou eficiente, e em outras condições, formas alternativas são
mais eficazes ou eficientes (HALL, 2004). Em estratégia, a análise pode ser enquadrada do
ponto de vista de perspectivas genéricas de Whittington (2002), que agrupou o
comportamento estratégico em: abordagem clássica, abordagem evolucionária, abordagem
processualista e abordagem sistêmica. Já os sistemas e processos têm sua alise baseada nos
procedimentos formais ou informais que, em cada fase do ciclo de vida, deram suporte à
estratégia e à estrutura (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980).
Na organização familiar, o ciclo de vida precisa ser entendido sob três aspectos:
como se deu a evolão da família, da composição acionária e da empresa em si, já que como
são iniciadas por um empreendedor, à medida que crescem acabam absorvendo outros
familiares (esposa, filhos, genros, noras, netos) e geralmente mudando a distribuão de suas
ações; passando de uma configuração de empresário controlador para sociedade entre irmãos;
chegando a consórcio de primos (DAVIS et al, 1997). Esta evolução familiar faz com que o
legado do fundador seja diluído ao longo das gerações e seus valores muitas vezes não
intermediam mais as relações. Conseqüentemente, a organização passa a estar menos
protegida às perturbações familiares (DAVIS et al, 1997). Outra circunstância trata dos
momentos súbitos que muitas vezes fazem com que os processos sucessórios sejam
acelerados sem que necessariamente tenha havido uma preparação na gestão, na família e na
distribuição das ações (GALLO e LACUEVA, 1983).
Dois elementos relacionados se apresentam: a necessidade de entendimento do
ciclo de vida da empresa familiar, amparado pela evolução na família e no sistema de
propriedade; e a existência de um indicador que possa estabelecer parâmetros de análise das
18
diferenças (se é que existem) da empresa ao longo do ciclo de vida. O ciclo de vida de
empresa familiar é entendido através do modelo de desenvolvimento tridimensional de Davis
et al (1997), que define estágios distintos para cada uma dos elementos da organização
familiar: família, propriedade e empresa.
No âmbito da família, esta dimensão trata do desenvolvimento estrutural e
interpessoal da família, e pode ser dividido em quatro estágios, delimitados pelas idades dos
membros de cada geração que estão ativos na empresa: jovem família empresária, entrada na
empresa, trabalho conjunto, e passagem do bastão. No âmbito da propriedade, Ward (apud
Davis et al, 1997), sugere que formas diferentes de propriedade da família resultam em
diferenças nos aspectos da empresa familiar. Neste eixo, os estágios se caracterizam por um
primeiro momento onde a maior parte das empresas começa com um único proprietário,
passando posteriormente pela sociedade entre irmãos, até o consórcio de primos. No âmbito
da empresa, a complexidade da evolução da empresa familiar é entendida a partir dos estágios
de desenvolvimento tratados como início (formação e sobrevivência), expansão, e maturidade
(renovação ou dissolução), cuja mudança de um para outro pode ser gradual ou drástica, e
pode sofrer interferência do controle acionário e de processos de sucessão.
Como sugerido, as organizações familiares podem evoluir, crescer e desenvolver-
se. E esta evolução pode apresentar estágios, partindo do modelo onde o empreendedor é
detentor e toca o negócio, até verdadeiras burocracias formalizadas (SCOTT apud QUINN e
CAMERON, 1983). Ao assumir-se que as empresas passam por diferentes etapas no ciclo de
vida, e ainda, sofrem influências da família e dos proprietários, como podem ser observadas
diferenças em seus elementos ao longo de seus estágios?
Diante do exposto, considerando a oportunidade de se olhar de forma aprofundada
para a organização familiar a partir não só da empresa em si, mas considerando sua estrutura
de propriedade e a participação da família detentora; e de observar as mudanças em seus
valores, estrutura, estratégia, sistemas e processos, top management, estilo de gestão e
habilidades ao longo de seu evolutivo, e a evolução rumo à profissionalização, tem-se a
seguinte pergunta de pesquisa: como ocorreu o processo de profissionalização do Grupo
RBS ao longo do seu ciclo de vida observado a partir da relação entre família, empresa e
propriedade?
19
1.2 OBJETIVOS
1.2.1. Objetivo Geral
Analisar o processo de profissionalização do Grupo RBS ao longo do seu ciclo de
vida observado a partir da relação entre família, empresa e propriedade.
1.2.2. Objetivos Específicos
- Descrever o ciclo de vida da empresa familiar RBS, sob a ótica dos eixos de família,
empresa e propriedade;
- Verificar quais foram os momentos críticos e movimentos sucessórios ao longo do
ciclo de vida;
- Verificar se as mudanças na estrutura de propriedade ou na estrutura familiar
impulsionaram mudanças na empresa;
- Identificar se houveram (e quais foram) mudanças em: valores, estratégia, estrutura,
pessoas, estilo de gestão, sistemas e habilidades em cada uma das fases;
- Analisar o processo de profissionalização da empresa.
1.3 JUSTIFICATIVA
O estudo das organizações é necessário caso se deseje compreender a sociedade e
tudo o que ocorre nela e ao seu redor (Hall, 2004). Diante disso, a presente dissertação se
justifica porque contribui para a discussão teórico-empírica da evolução de uma empresa
familiar, que ao longo dos anos, em circunstâncias do seu negócio, vem interferindo na
realidade de seu meio. O estudo de organizações familiares é um tema que tem recebido
ênfase recente nas agendas de pesquisa. O estudo deste tipo de organização começou com
artigos isolados nos anos 60 e 70 que focavam problemas típicos que pareciam atrapalhar as
20
empresas familiares: nepotismo, rivalidade entre gerações e irmãos, e administração não-
profissional.
Observa-se que com o passar do tempo, as empresas familiares, forçadas pelas
mudanças no mercado que visam processos mais claros de governança, pela solução dos
conflitos internos e pela própria curva de evolução, têm partido para os processos de
profissionalização. Estes processos, por sua vez, podem implicar na transformação dos
valores organizacionais vigentes, além de considerar mudanças significativas na estratégia,
estrutura e até mesmo em outros elementos.
Um dos motivadores desta pesquisa é o fato de a literatura existente sobre o ciclo
de vida organizacional não fazer distinção muito clara entre organizações familiares e
organizações profissionais. Talvez porque o tamanho da participação das empresas familiares
nas economias em geral seja amplo, de forma que os estudos tenham contemplado as mesmas,
sem fazer distinção clara de sua característica familiar. Os estudos de empresas familiares
ganharam avanços significativos a partir de Ward (1987) e Davis et al (1997), através do
modelo tridimensional de evolução da empresa familiar. No entanto, esta proposição teórica
concentra-se em entender a evolução da empresa paralelamente à evolução da família e da
propriedade, mas não faz distinção clara das mudanças na organização em cada estágio.
Empiricamente, este estudo longitudinal se justifica, pelo fato de configurar-se em
mais um passo no entendimento da “criatura” empresa familiar, através de um estudo de caso
do Grupo RBS, um grupo de mídia do sul-brasileiro, considerado o terceiro maior do País em
termos de faturamento. A RBS foi fundada em 1957, a partir de três sócios da primeira
geração”, sendo dois da mesma família, e atualmente, operando 20 estões de TV, 25
estações de rádio e seis jornais diários, além de negócios na Internet e uma fundação social.
Cabe ressaltar que no Brasil a indústria da mídia é formada em grande parte de
empresas familiares que aumentaram seu endividamento como fonte de financiamento para
competir no setor, situação agravada em virtude do alto grau de alavancagem e da incerteza
econômica.
Contudo, analisar uma organização familiar é necessário o entendimento de que
empresas familiares são diferentes, pois agregam uma complexa relação envolvendo não só a
empresa em si, mas a família que a originou e a estrutura de sociedade que controla a
propriedade das ações.
Da mesma forma, para entender o ciclo de vida, é necessário que prioritariamente,
se olhe para uma descrição aprofundada deste ciclo, e sejam observados os movimentos
importantes, momentos cticos, ou movimentos de sucessão que ocorreram, e que, de alguma
21
forma, possam denotar que a empresa tenha se comportado diferente (ou não), a partir da
existência destes momentos. Atendo-se à questão de que família e propriedade podem dar um
direcionamento diferenciado para as empresas familiares, a análise das mudanças precisa ser
observada sob a ótica desta variação, a fim de identificar se os fatores que geraram as
mudanças mais significativas possam ter sido pela própria maturidade da organização
familiar.
Mas, se houveram mudanças, onde elas ocorreram? Para isso, o modelo dos 7Ss é
uma alternativa que visa entender como se comportam o hardware e o software de uma
organização. Tendo em vista estes elementos (estratégia, estrutura, pessoas, estilo de gestão,
sistemas e habilidades), pode ser identificada, possivelmente, uma relação existente entre as
mudanças nos 7Ss e a configuração das estruturas de propriedade e de família. Assim, tem-se
a resposta ao problema de pesquisa, que é entender a evolução da empresa familiar ao longo
de seu ciclo de vida e seu processo de profissionalização.
Deste modo, a contribuição do trabalho se faz importante, pois representa a
oportunidade de discutir a empresa familiar com total acesso às informações pertinentes à sua
evolão; e também possa iniciar um entendimento mais amplo da evolução de empresas
familiares de mídia, as quais vêm sofrendo crescentes influências de fatores dos ambientes
externo e interno, tendo que implementar mudaas comportamentais no sentido de
adaptarem-se às novas condições.
22
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA
O presente catulo compreende o referencial teórico que serve de base para a
elaboração da pesquisa em questão, de modo a atender aos objetivos propostos. Para isto,
serão abordados assuntos como a caracterização da empresa familiar, processos de sucessão, e
o 7 Ss Framework, iniciando com o entendimento do conceito de organização e gestão das
organizações.
2.1 ORGANIZAÇÕES E SEU PROCESSO DE GESTÃO
Morgan (2000) inicia a obra “Imagens da Organizaçãoincisivamente decretando
que organizações são muitas coisas ao mesmo tempo devido à sua complexidade. Para Weber
(1997), a iia de ordem diferencia as organizações de outras entidades sociais. As
organizações são entidades criadas para fazer algo (WEBER, 1997; HALL, 2004). Para o
economista Karl Marx, organização estava relacionada à “práxis”, ou atividade prática
humana (Heydebrand, 1977; Hall, 2004). Etzioni (1989) entende a organização como uma
entidade social criada para obtenção de metas. Para March e Simon (1981), as organizações
são agregados de seres humanos em constante e mútua integração. Smircich e Stubbart (1985)
conceituam as organizações como conjuntos de pessoas compartilhando crenças, valores e
pressupostos. Robbins (2002) as conceitua como unidades sociais coordenadas e conscientes.
De acordo com Peters e Waterman (1982), o termo organização traduz-se como
um instrumento racional criado para dar fim a uma tarefa, diferentemente do termo
instituição, que se aproxima em sua forma de um organismo adaptativo e dotado de
receptividade. Além disso, as organizações tornam-se instituições à medida que são
impregnadas de valores. As organizações existem para propiciar a um grupo de pessoas uma
forma eficaz de coordenar seus esforços e fazer com que as coisas sejam feitas (NOHRIA,
1995).
Hall (2004, p. 30) sintetiza da seguinte forma o conceito de organização:
Uma organização é uma coletividade com uma fronteira relativamente identificável,
uma ordem normativa (regras), níveis de autoridade (hierarquia), sistemas de
comunicação e sistemas de coordenação dos membros (procedimentos); essa
coletividade existe em uma base relativamente contínua, está inserida em um
ambiente e toma parte de atividades que normalmente se encontram relacionadas a
23
um conjunto de metas; as atividades acarretam conseqüências para os membros da
organização, para a própria organização e para a sociedade.
Hall (2004) fornece ainda uma perspectiva tipológica das organizações. Como
primeiro tipo tem-se a organização de produção, cuja atividade está em fabricar os bens
consumidos pela sociedade. Como segundo tipo aparecem as organizações orientadas às
metas poticas, que visam assegurar que a sociedade atinja as metas a que atribui valor. O
terceiro é a organização integradora, que, segundo Hall (2004, p. 37), “cujos propósitos são
resolver conflitos, direcionar as motivações para a concretização de expectativas
institucionalizadas e assegurar que as partes da sociedade operem juntas”. O tipo final é o de
manutenção de padrões, que visa continuidade da sociedade através da educação, cultura e
expressão.
A gestão das organizações, por sua vez, tem sua história iniciando através de
Robert Owen (primeiro a reconhecer a importância dos recursos humanos) e Charles Babbage
(der da produtividade), pioneiros da época inicial da teoria da gestão, nos primórdios do
século 19 (BIONDO, 2005). A preocupação com a produtividade levou Frederick Taylor a
estudar os problemas da organização industrial, o que originou a linha de pensamento
taylorista (TAYLOR, 1995). Fayol (1994) identificou as cinco funções do administrador de
uma empresa: planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar.
Chester Barnard desenvolveu a teoria sobre autoridade que quebrou a
simplificação clássica da organização como coisa puramente lógica, formal e abstrata, e Mary
Parker Follett (corrente de psilogos da organização) desenvolveu a trilogia de conceitos
envolvendo a integração do esforço individual no todo da organização, o feedback e a lei da
situação (BIONDO, 2005). Elton Mayo descobriu o “efeito Hawthorne” concluindo que o
nível de produção dos operários não era determinado por sua capacidade física, como
sustentava a teoria clássica, mas sim pelas normas sociais do grupo e suas expectativas.
Conclues como esta modificaram o cenário e a engenharia deu lugar às ciências sociais. Era
a saída do homem econômico e a chegada do homem social (MAYO, 2003).
Abraham Maslow montou a hierarquia de necessidades (MASLOW, 1998).
Douglas McGregor delineou sua Teoria Y”, identificando duas categorias de gestores que se
distinguiam pela visão que tivessem de seus subordinados (MCGREGOR, 1999). O uso da
teoria comportamental na gestão de empresa teve seu maior expoente em Herbert Simon,
autor da teoria da decisão. James March e Herbert Simon descobriram que era possível influir
no indivíduo pela divisão do trabalho, dos padrões de desempenho, da autoridade, da
comunicação e da capacitação (MARCH e SIMON, 1981).
24
Chris Argyris salientou o conflito entre a personalidade de um adulto amadurecido
e a organização “clássica”, que a subestimava ou inibia diretamente (ARGYRIS, 1968).
Frederick Herzberg, por sua parte, acreditava que a satisfação do indivíduo dependia de como
ele enxergava o trabalho (HERZBERG et al 1959). Em 1964, Peter Drucker sugeria a
administração por objetivos definindo oito setores-chave: posicionamento, inovação,
produtividade, recursos físicos e financeiros, rentabilidade, desempenho dos trabalhadores e
responsabilidade pública (DRUCKER, 1998). Igor Ansoff aplicou conceitos revolucionários
como a mudança descontínua e a incerteza em ferramentas de gestão (ANSOFF, 1977).
Henry Mintzberg analisou a natureza do trabalho gerencial, atribuindo aos
gerentes papéis enraizados na intuição e no contato pessoal (MINTZBERG et al, 1986).
Michael Porter, na esfera da estratégia, demonstrou em sua teoria de estratégia competitiva,
que as forças que dão forma à estratégia são diferentes dos contábeis (PORTER, 1991). Tom
Peters e Robert Waterman (1982) desenvolveram o modelo dos 7 Ss, considerando que a
empresa precisava ser avaliada através de seu hardware (estratégia, estrutura e processos) e
de seu software (valores, estilo de gestão, top management e habilidades). Alfred Sloan criou
gênero “presidentes de empresas bem-sucedidos” (SLOAN, 2001) e Lee Iacocca inaugurou a
era dos “presidentes de empresas célebres” (IACOCCA, 1985). C.K. Prahalad e Gary Hamel
apresentaram na década de 90 o conceito de competências essenciais das empresas, únicas e
difíceis de copiar (PRAHALAD e HAMEL, 1995). Ward (1987) e Davis et al (1997) estudam
de forma aprofundada as organizações familiares, e trazem novas contribuições à gestão deste
tipo de empresa.
A gestão da organização tem relação com comportamento e desempenho
organizacional. O desempenho de uma organização pode estar relacionado com a maneira
como se adapta ou se transforma em função do ambiente no qual atua e da descontinuidade
que o próprio meio externo oferece aos seus interesses (MANDELLI, 2003). Quanto mais
uma empresa cresce em seu próprio mercado, mais deveria desenvolver também um modelo
organizacional compatível com seu porte. Por isso conhecer o comportamento organizacional
é importante.
Para Robbins (2002, p.6), “o comportamento organizacional é um campo de
estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm sobre o
comportamento dentro das organizações, com o prosito de utilizar esse conhecimento para
promover a melhoria da eficácia organizacional”. Contudo, mesmo abrangendo o
comportamento individual e grupal, as organizações podem ser enquadradas como atores em
si (HALL, 2004). Isso é justificado pelo ponto de vista da ciência social, ao entender que
25
predominam interesses variados, onde alguns cientistas investigam os fenômenos individuais,
outros investigam os fenômenos do grupo. Mas há os que se preocupam com os fenômenos
organizacionais (ROBERTOS, HULIN e RUSSEAU apud HALL, 2004).
Contudo, a análise do comportamento organizacional pode ser entendida a partir
do cruzamento de partes consideradas o hardware e o software da empresa. A avaliação
destes pode ser feita através da caracterização de sete elementos-chave: valores comuns,
estratégia, estrutura, sistemas e processos, habilidades e competências, top management e
estilo de gestão. Estes elementos em conjunto formam o “7 Ss Framework”. O
desenvolvimento desta estrutura é próximo sub tema deste capítulo.
2.2 ESTRUTURA DOS 7 Ss (7Ss FRAMEWORK)
De acordo com Peters e Waterman (1982), o processo de manter viva e ágil uma
grande organização requer muito mais coisas do que as que podem ser representadas em
propostasticas, em novas estratégias, em planos, oamentos e diagramas organizacionais.
Quando a empresa busca um processo de mudança, geralmente está associando-se a uma
modificação em sua estratégia ou a alguma alteração da estrutura. Para Chandler (1962), a
estrutura decorre da estratégia. Porém, esta explicação de que a forma decorre da função,
segundo Peters e Waterman (1982), apresentou-se num momento em que as empresas
estavam diversificando suas atividades e o que Chandler (1962) conseguiu captar com maior
clareza foi o fato de que uma estratégia de ampla diversificação impõe uma estrutura marcada
pela descentralização.
Criado no final da década de 70, o 7 Ss Framework foi desenvolvido por Tom
Peters e Robert Watermann, na época consultores da empresa americana McKinsey (Pascale e
Athos, 1981; Peters e Watermann, 1982), e é um modelo que descreve holisticamente uma
organização. De forma conjunta, estes fatores podem determinar o modo de operação de uma
empresa. A estrutura considera os elementos descritos como Valores Compartilhados (Shared
Values inicialmente desenvolvido como Superordinate Goals), Estrutura (Structure),
Estratégia (Strategy), Sistemas e Processos (Systems), Equipe de Gestão ou Top Management
Team – TMT (Staff), Habilidades e Competências (Skills), e Estilo de Gestão (Style). Peters e
Waterman (1982) apresentam o 7 Ss Framework demonstrada na Figura 1.
26
Figura 1 – A Estrutura dos 7 Ss (7 Ss Framework)
Fonte: Peters e Waterman (1982).
Este modelo propõe uma estrutura de análise dos atributos estratégicos de uma
organização. Neste alinhamento, estratégia, estrutura e sistemas e processos são apresentados
como o "hardware" da organização, e estilo de gestão, top management, habilidades e
competências e valores comuns apresentam-se como o "software". A utilização deste modelo
pela empresa e consultoria McKinsey apresentou que as empresas que possuíam os sete
elementos de forma presente eram essencialmente melhores sucedidas na implementação de
novas estratégias. Contudo, esta dissertação não visa medir a eficácia da organização. O 7 Ss
Framework é utilizado aqui como um check-list, que levará ao entendimento e compreensão
de como a organização em estudo operou durante seus estágios do ciclo de vida.
Os elementos dohardware” apresentam-se como mais facilmente identificáveis e
podem ser encontrados em citações estratégicas, planos corporativos, gráficos organizacionais
e outros tipos de documentos. Os elementos do software”, contudo, são mais difíceis de
serem identificados. São difíceis de descrever, pois as capacidades, valores e elementos da
cultura corporativa estão continuamente desenvolvendo-se e mudando. São altamente
determinados pelas pessoas que trabalham na organização, difíceis de serem planejados ou
que se possa exercer influência nos mesmos e, muito embora estejam abaixo da superfície,
podem ter um impacto significativo na estrutura, estratégia e sistemas e processos da
organização.
Valores
Comuns
Sistemas e
Processos
Estilo de
Gestão
TMT
Estrutura
Habilidades
Competência
Estratégia
27
Observando-se a bibliografia existente no âmbito das empresas familiares e a
analise de elementos, estudos diversos buscam relacionar questões como estratégia e
estrutura, ou estratégia e cultura, ou mesmo estratégia, estrutura e cultura.
Em se tratando de empresas familiares, um dos estudos pioneiros no sentido de
relacionar elementos coube a Gallo e Lacueva (1983), que sustentaram que empresas
familiares, que passaram por diversos momentos críticos e movimentos sucesrios, tiveram a
adaptação da estrutura e estratégia num ciclo de acontecimentos. Este ciclo apresenta etapas
nem sempre seguidas em sua totalidade. Os autores encontraram os seguintes períodos:
1. Fundação – estrutura e estratégia encabeçadas pelo fundador;
2. Início de sucessão – há uma estrutura para que a estratégia fique com um maior
número de membros da família;
3. Pode variar de desenvolvimento próprio da empresa, retrocesso ou crise
estrutural.
A crise estrutural teria três causas determinantes: a necessidade de mudanças que
tem uma empresa familiar em sua orientação estratégica, as trocas de pessoas com
responsabilidades importantes na estrutura, e a mudança na estrutura do poder legal. No
entanto, o estudo realizado pelos pesquisadores restringiu-se à relação entre estrutura e
estratégia.
Uma aproximação entre estratégia, estrutura e cultura numa empresa
originalmente familiar foi o estudo de Rowlinson e Hassard (1993), ao pesquisar a história de
uma indústria inglesa de chocolates. Na conclusão, os autores afirmaram que a cultura da
empresa estava ficando inapropriada na medida em que vinha sendo desafiada por fatores
internos e externos, levando a modificações não só na estrutura e na estratégia, mas
provocando uma “reorientação” cultural.
A relação entre estratégia, estrutura e estilo de gestão também já foi objeto do
estudo de Geller (1980), ao observar que estratégias relacionadas a investimento e ao
crescimento eram implementadas com melhor eficácia por gestores com predisposição ao
risco e estilo inovador, e eram suportadas por uma estrutura que propiciava liberdade de ação.
Por outro lado, estratégias de desinvestir estavam relacionadas com aversão ao risco, estilo de
gestão conservativo e uma estrutura hierárquica com limitação de ações. Stevenson e Gumpert
(1985) observaram que um foco empreendedor favorece a estrutura achatada e redes
informais, ao passo que uma gestão conservadora é definida por estrutura hierárquica e papéis
formais de autoridade.
28
Um estudo empírico enfocando a relação entre top management e estratégia foi
apresentada por Wiersema e Bantel (1992). Para os autores, a composição demográfica da
equipe era um fator chave para a receptividade à mudança, abertura para riscos, diversidade
de fontes de informação e perspectivas, e criatividade e inovação na tomada de decisões. Uma
das primeiras suposições da influência do top management na estratégia teve sua origem nos
estudos de Andrews (1994). Wiersema (1992) sustenta que se a tomada de decisão dentro da
organização pode ser influenciada pela escolha do gestor, a natureza da sucessão é de
fundamental importância. Govindarajan (1989) já tratara do tema ao afirmar que a estratégia
está relacionada à orientação gerencial.
A utilização do 7 Ss Framework para comparar a empresa em suas diferentes
etapas visa a uma observação mais completa de seu funcionamento, já que a evolução de uma
organização pode se dar a partir de uma multiplicidade de fatores. Desta forma o 7 Ss
Framework apresenta um diagrama de elementos interconectados, onde todos são importantes
e não existe uma hierarquia clara entre eles, podendo em cada fase, possuir um starting point
diferente (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980). Os elementos do 7 Ss Framework
são ordenados na seguinte seqüência:
A) Valores Compartilhados (Shared Values ou Superordinate Goals);
B) Estrutura (Structure);
C) Estratégia (Strategy);
D) Sistemas e Processos (Systems);
E) Equipe de Direção ou Top Management Team (Staff/TMT)
F) Estilo de Gestão (Style);
G) Habilidades e Competências (Skills)
A) Valores Compartilhados (Superordinate Goals)
Este elemento trata dos valores que guiam a organização, iias fundamentais em
torno das quais o negócio é erguido e possui um grande significado dentro da organização,
mesmo que as pessoas de fora não consigam vê-los, tampouco enten-los. Inicialmente, o 7
Ss Framework fora concebido tendo este elemento com a denominação de “superordinate
goals”, cujo significado estava relacionado à “guiding concepts”, retratados como o grupo de
valores ou aspirações, freqüentemente não-escritos, que iam além dos objetivos e citações
29
formais na organização (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980). Na medida em que as
empresas de alto padrão são motivadas por sistemas de valores coerentes, praticamente todas
elas ficaram marcadas pela personalidade do der que moldou o conjunto de valores
(PETERS e WATERMAN, 1982). Para Pettigrew (1996), os valores estão fundamentalmente
conectados ao papel do der que não apenas cria os aspectos tangíveis e racionais das
organizações, tais como a estrutura e a tecnologia, mas também os símbolos, ideologias,
linguagem, crenças, rituais e mitos.
Esclarecer o sistema de valores e torná-lo vivo são fundamentais para a liderança
da organização (PETERS e WATERMAN, 1982). No entanto, criar e sustentar um sistema de
valores não é tarefa fácil, pois apenas alguns, dentre todos os sistemas de valores possíveis
são adequados para uma empresa e, impor um sistema de valores é um trabalho complexo e
cansativo. De acordo com Barnard (apud Peters e Waterman, 1982), a função essencial de um
líder consiste em canalizar as forças sociais dentro da organização, em formar e orientar
valores, e os considerados bons administradores são aqueles que conseguem formar valores
com os olhos voltados para as características sociais informais da própria organização.
Em sua pesquisa, Peters e Waterman (1982) encontraram que as empresas de alto
padrão tinham clareza a respeito do que é importante e levavam a sério o processo de
formação de valores. Além disso, para os autores, não apenas a articulação dos valores, mas o
conteúdo desses valores (e, provavelmente a maneira como são expressos) é que estabelecem
a diferença.
Katz e Kahn (1978) trazem à tona a diferença entre normas e valores e os papéis
desempenhados na organização. E isto trata do comportamento organizacional, pois a base
sócio-psicológica de um sistema social abrange os comportamentos dos membros em
desempenho de papel. Já as normas prescrevem e sancionam esses comportamentos, e os
valores em que as normas se acham enraizadas. Para Katz e Kahn (1978, p.54),os papéis
descrevem formas especificas de comportamento associado a determinadas tarefas;
originalmente se desenvolvem dos requisitos de tarefa. (...) normas são expectativas gerais
(...) valores são as justificações e aspirações ideológicas mais generalizadas”.
Um exemplo da importância dos valores é apresentado no estudo comparativo
liderado por Mahérault (1998) sobre funções de investimento (débitos, lucros e liquidez) entre
49 empresas francesas, onde observou que as empresas familiares possuíam uma lógica
financeira diferente. Outro estudo, de Gallo e Tàpies e Cappuyns (2004), veio a confirmar esta
observação ao constatar num estudo com empresas espanholas que o valor de suas ações não
estava relacionada somente ao preço, mas incluía outras variáveis tais como passar adiante a
30
tradição e permanecer no poder durante longos períodos. As diferenças fundamentais da
análise indicaram que as preferências pessoais relacionadas ao crescimento, risco e controle
de propriedade eram as driving forces por trás desta lógica financeira peculiar das empresas
familiares.
Culturas que sustentam altos níveis de performance ao longo do tempo possuem
os seguintes atributos: valor agregado, características incomuns, e são “imperfeitamente
imitáveis” (Denison et al, 2004). Estas características estão intimamente ligadas ao papel dos
fundadores, indivíduos que carregam muitas vezes valores e opiniões contraditórias e isto se
estabelece nas empresas por eles criadas. Esta unicidade cultural pode ser uma das grandes
vantagens da empresa. De acordo com Zanelli (2004), nos primeiros passos, o
compartilhamento da visão de mundo do empreendedor ou fundador pode ser incipiente, mas
conduz o funcionamento organizacional na direção que ele almeja. Nas organizações como
um todo, mas com maior intensidade nas empresas familiares, as decisões estratégicas são
tomadas pela coalizão dominante, que tendem a influenciar a escolha de estratégias de acordo
com suas habilidades e outras características.
De acordo com Daft e Weick (1984), organizações preservam seu conhecimento,
comportamento, normas e valores ao longo do tempo, pois compartilham crenças, visões do
mundo e cultura. As práticas, estruturas e distribuição de poder institucionalizados e legítimos
são dificultadores da mudança (PFEFFER, 1985). Os valores precisam ser entendidos como
as noções amplas de direção para o futuro que o Top Management Team (ou TMT, como se
tratado a partir de agora) injeta na organização (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980).
O comprometimento com os valores e a constante presença apoiaram a coesiva e responsável
cultura da família. O amplo sentido de si e foco em valores manifestados como práticas na
empresa, freqüentemente resulta em comportamento de alta performance que naturalmente
leva a resultados superiores (Dyer, 2003).
B) Estrutura (Structure)
O elemento estrutura no modelo 7 Ss trata da base para especialização e
coordenação influenciada primariamente pela estratégia e pelo tamanho e diversidade da
organização. Estrutura divide tarefas e provê coordenação, combina especialização e
integração, descentraliza e re-centraliza (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980). De
31
acordo com Hall (2004, p.44), “a estrutura organizacional pode ser considerada a combinação
das partes organizacionais” e são caracterizadas pela execução de três funções sicas:
produzir resultados, atingir metas e ser eficazes; regular a influência das variações individuais
na organização; e criar os cenários nos quais o poder é exercido, decisões são tomadas e
atividades são realizadas.
A análise do comportamento estrutural ao longo do ciclo de vida da organização é
um claro reforço do método contingencial de análise da estrutura organizacional, que diz que
sob certas condições, uma forma de estrutura é mais eficaz ou eficiente, e em outras
condições, formas alternativas são mais eficazes ou eficientes (HALL, 2004). Contudo, a
estrutura organizacional é algo muito mais complexo do que o simples organograma de linhas
e caixas, pois envolve a divisão do trabalho, coordenação de mecanismos, distribuição da
tomada de decisão, limites organizacionais, estrutura informal, estrutura política e a base
legítima de autoridade (NOHRIA, 1995).
O desenvolvimento da teoria da estrutura organizacional teve início em meados de
1910, com o cientista social alemão Max Weber. A burocracia ideal de Weber (1997) incluía
uma clara diferenciação de tarefas e responsabilidades entre indivíduos, coordenação através
de uma hierarquia de autoridade e decisões, além de regras e procedimentos padronizados,
separação vertical de planejamento e execução, de forma que os planos fossem feitos nos
níveis mais altos e executados nos mais baixos, e o uso de critérios técnicos para recrutamento
e promoções.
Do ponto de vista das classificações estruturais surgidas, Mintzberg (1990) trata a
estrutura organizacional a partir dos seguintes tipos:
- Organização funcional – é muito eficiente executando bem as funções mais
básicas de uma empresa. Ao mesmo tempo, porém, ela não é particularmente criativa ou
empreendedora, não se adapta com muita rapidez e, especialmente, tem tendência a perder as
grandes mudanças.
- Organização divisional – pode desempenhar adequadamente as funções básicas
e, em geral, é bem mais adaptativa do que a organização funcional. Em contrapartida, as
divies invariavelmente costumam crescer demais. Divisões muito grandes sempre sofrem de
todos os males e problemas que atacam as estruturas funcionais de tamanho excessivo. Além
disso, a organização divisional acarreta, muitas vezes, uma mistura de atividades centralizadas
e descentralizadas ao mesmo tempo.
- Organização matricial – deixa de ser inovadora, o que muitas vezes acontece
com extrema rapidez. Apresenta, ao mesmo tempo, dificuldades específicas na execução das
32
funções sicas. Também degenera, com muita freqüência, em pura anarquia, tornando-se,
outras vezes, rapidamente burocrática e não-criativa. Além disso, em geral, não é muito clara
a orientação, no longo prazo, de uma organização em forma matricial.
- Adhocracia – consegue responder a pressões múltiplas sem, contudo, acarretar
uma nova burocracia permanente. Também ela, entretanto, pode tornar-se igualmente
anárquica quando todos os elementos da organização se põem a trabalhar em problemas
temporários, negligenciando as funções básicas.
- Forma missionária – como Mintzberg (1990) chama, consegue propiciar
estabilidade através de meios não estruturais. Essa forma pode assumir uma mentalidade
estreita e rígida, às vezes ainda mais do que a própria forma funcional.
Nohria (1995) sugere que essencialmente existem três formas estruturais básicas
funcional, divisional e matricial –, mas considera a possibilidade de combinação destas
formas. Muitas organizações iniciam suas atividades de forma funcional, e, na medida que
crescem, tornam-se mais complexas, levando a uma estruturação divisional, mantendo muitas
vezes alguns poucos departamentos funcionais centralizados. No entanto, se o ambiente exige
uma reorganização que contemple duas ou mais dimensões, elas podem adotar uma estrutura
matricial.
A forma funcional, de acordo com Nohria (1995), existe quando uma organização
cresce de forma que os principais assuntos podem ser resolvidos por um grupo de pessoas e
um chefe, e as atividades são agrupadas de acordo com funções comuns, da base até o topo.
Estas mesmas atividades são coordenadas verticalmente, mantendo supervisão hierárquica,
regras e planos, desenvolvendo o comprometimento dos funcionários. Contudo, a estrutura
funcional requer um bom processamento de informações entre as funções e é mais eficaz em
ambientes estáveis (a forma funcional permite economias de escala), promove profunda
especialização dos funcionários (pois são incentivados a exercer atividades dentro de sua
expertise funcional). A fraqueza da forma funcional é sua inabilidade em responder às
mudanças ambientais que requerem coordenação entre departamentos.
A um certo tamanho e complexidade, uma organização funcional, que depende de
interação freqüente entre atividades, pode não mais funcionar, o que significa que uma
empresa que passa do limiar de certo tamanho e complexidade deveria descentralizar para
dar conta” (PETERS, WATERMAN e PHILLIPS, 1980).
Já a forma divisional (NOHRIA, 1995) existe quando a estrutura é organizada de
acordo com os outputs da empresa. Orçamento e planejamento são efetuados sob a
perspectiva do lucro, pois cada divisão pode ser gerenciada como um negócio separado com
33
suas receitas e despesas próprias. Uma das variáveis mais importantes desta forma é o grau de
autonomia concedido às divisões para as tomadas de decisão consideradas estratégicas e que
envolvem um significante comprometimento de recursos. Porém, uma desvantagem é que a
organização perde economia de escala. Para Nohria (1995), a estrutura divisional funciona
mais adequadamente em empresas de médio e grande porte que operam em ambientes
heterogêneos e adotam estratégias de diversificação.
A forma matricial, de acordo com Nohria (1995), existe quando gestores
divisionais e funcionais possuem a mesma autoridade dentro da organização, e funcionários
reportam-se a ambos. Característica da forma matricial são denotadas pela grande quantidade
de tempo que precisa ser utilizado em reuniões, pela capacidade que a forma concede às
organizações de alcançar múltiplas demandas do ambiente. No entanto, uma fragilidade está
no papel ambíguo que determinados funcionários precisam exercer.
Nohria (1995), contudo, salienta a existência de estruturas emergentes,
justificando que gestores e acadêmicos vêm tentando articular conceitos alternativos à
burocracia Weberiana, que originou os fundamentos para os conceitos de estrutura funcional,
divisional e matricial. Esta emergência é representada pela forma de rede. Esta forma difere
das tradicionais estruturas burocráticas. A tomada de decisões numa estrutura de rede é
empurrada para baixo o máximo possível. Com a ajuda da tecnologia da informação,
informações estão disponíveis para dar suporte às decisões que são tomadas diretamente por
trabalhadores do conhecimento, ao invés dos gestores no topo. O modelo de rede leva à
organização mais achatada, com menor incidência de níveis. A grande vantagem da forma de
rede sobre as tradicionais é sua adaptabilidade.
De acordo com Charan, Hofer e Mahon (1980), em muitos casos, uma empresa
evolui de uma estrutura centralizada para uma estrutura funcional e, finalmente, para a
estrutura divisional. Contudo, algumas organizações saltam do primeiro para o divisional,
geralmente com conseqüências adversas.
A análise estrutural da organização pode ser complementada com a utilização da
matriz representada pela Figura 2.
34
Figura 2 – Diagnóstico da Estrutura
Fonte: adaptado de Hall (2004)
A matriz relaciona os vértices que indicam se a empresa é orientada para
atividades ou resultados e se as estruturas são fixas ou fluídas. Quando a organização é
orientada para resultados e as estruturas são fixas, tem-se um modelo descentralizado. Com as
estruturas fixas e a orientação para a atividade, tem-se uma organização hierárquica. Já com a
orientação para resultados, combinada com estruturas fluídas denotam uma organização em
rede. Finalmente, a orientação para a atividade e estruturas fluídas determinam uma
organização matricial.
Antes disso, uma caracterização importante da estrutura organizacional precisa ser
feita: a definição da complexidade da mesma. A complexidade está relacionada à divisão do
trabalho, os títulos dos cargos, a existência de diversas divisões de níveis hierárquicos, sendo
que organizações complexas geralmente contêm muitas sub partes que exigem coordenação e
controle, da mesma forma que, quanto mais complexa uma organização, mais difícil atingir a
coordenação e o controle (HALL, 2004). Hage (apud Hall, 2004) define complexidade como
a especialização em uma organização.
A complexidade pode ser avaliada a partir de três elementos (HALL, 2004):
1. Diferenciação horizontal - modo como as tarefas desempenhadas pela
organização são subdivididas (especialistas altamente treinados uma faixa a abrangente de
atividades para desempenhar ou subdivisão detalhada das tarefas, para que não-especialistas
as executem). Esta complexidade horizontal baseia-se no número de especializações
ocupacionais na organização; na contagem dos títulos dos cargos no âmbito de uma
Descentralizada
Hierárquica
Rede
Matricial
Orientação
p
ara Resultados
Estruturas
Fixas
Estruturas
Fluídas
Orientação
p
ara Atividade
35
organização; pelo número de diferentes cargos; ou pelo número de divies, departamentos ou
unidades.
2. Diferenciação vertical – é a verticalização da hierarquia em si. Uma observação
importante, de acordo com Hall (2004, p.53) é que “tanto a diferenciação horizontal como
vertical acarretam problemas de comunicação, controle e coordenação para as organizações”.
3. Dispersão geográfica - as atividades e o pessoal dispersos geograficamente, de
acordo com as funções horizontais ou verticais, por meio da separação dos centros de poder
ou das tarefas.
Mas a matriz utilizada, que complementa a verificação da complexidade estrutural
da organização relaciona centralização com formalização. O princípio da formalização está
relacionado com a capacidade de autocontrole, variando da capacidade dos indivíduos de
exercerem seus julgamentos, o que denota uma formalização reduzida, até a incapacidade de
fazê-lo, exigindo regras para orientar seu comportamento, o que torna a formalização uma
variável significativa. De acordo com Hall (2004, p.62), “as regras e os procedimentos criados
para lidar com as contingências enfrentadas pela organização um constituem parte daquilo
que é denominado formalização”. Formalização representa o uso de regras em uma
organização (HAGE e AIIKEN apud HALL, 2004).
A formalização também pode ser classificada como máxima (regras e
procedimentos severos) ou mínima (sem procedimentos expresso, usa-se o julgamento) e
também está relacionada ao número de novos programas acrescentados à rotina da empresa.
Para Hage e Aiken (apud Hall, 2004, p.65), “as organizações com funções rotineiras têm
maior probabilidade de possuir papéis organizacionais mais formalizados”.
A outra variável da matriz, centralização, refere-se à distribuição do poder no
âmbito das organizações e é uma das melhores maneiras de resumir toda a noção de estrutura
(HALL, 2004). Uma participação maior dos grupos indica um nível menor de centralização,
ao passo que se a maioria das decisões se origina no escalão superior, a organização é
considerada centralizada. No entanto, se as decisões tomadas nos níveis inferiores forem
‘programadas’ por poticas organizacionais, o grau de centralização continua elevado.
Um outro elemento da centralização é a avaliação das atividades (DORNBUSCH
e SCOTT apud HALL, 2004), ou seja, se a avaliação é feita pelo alto escalão, está
caracterizada a centralização. Hall (2004) salienta a discussão da relação entre tamanho e
centralização, denominando-a de complexa, onde o tamanho maior conduz à delegação, e
esta, por sua vez ocorre em um contexto de regras. Conclui que um tamanho maior pode estar
relacionado à maior centralização.
36
Outra considerão importante a ser feita quando se analisa a variação estrutural
ao longo do ciclo de vida é que, numa situação de crescimento, a descentralização pode ser
mais adequada para os tempos turbulentos, e a centralização poderia ser necessária em
períodos de desaceleração (HALL, 2004). Além disso, uma maior centralização significa
maior coordenação, mas menos flexibilidade, decisões rápidas, mas comunicação
sobrecarregada.
O entendimento da variação estrutural das organizações (HALL, 2004) também
pode ser explicado pelo tamanho da organização, ou seja, sua capacidade física, pessoal
disponível, insumos (número de clientes, por exemplo) ou resultados (volume de vendas, por
exemplo), recursos para investimento (riqueza ou ativos líquidos). Entretanto, a
contextualização do tamanho como determinante da estrutura encontra alguns oponentes,
argumentando que tamanho se relaciona à complexidade, necessitando de mais controle e
coordenação; ou que o tamanho maior se relaciona a uma maior formalização e menor
centralização (HALL, 2004).
Além disso, a teoria da contingência estrutural (DONALDSON apud HALL,
2004) prega que as estruturas organizacionais baseiam-se nas decisões tomadas nos contextos
em que as organizações operam, o que se traduz como a não existência da forma ótima de
estrutura.
C) Estratégia (Strategy)
O elemento estratégia considera as ações e planos da empresa em resposta ou
antecipação às mudanças no seu ambiente externo. A estratégia pode ser entendida como a
escolha de opções que definem a trajetória de longo prazo das empresas (JOHNSON, 1999).
Para Peters, Waterman e Phillips (1980), estratégia significa as ações que a empresa planeja
em resposta ou antecipação às mudanças no ambiente externo.
A concepção de estratégia empresarial apresenta-se como uma disciplina a partir
dos anos 60 com a proposição clássica de Chandler (1962), Sloan (2001) e Ansoff (1977) cuja
abordagem baseava-se no distanciamento entre concepção e execução, numa deliberação de
metas e uma seqüência lógica de ações. De acordo com Chandler (1962) estratégia é a
determinação de metas e objetivos básicos e de longo prazo de uma empresa; e a adoção de
ações e alocação de recursos necessários para atingir esses objetivos.
37
Whittington (2002) apresenta quatro perspectivas genéricas sobre estratégia: a
abordagem clássica, mais antiga e influente, baseada no processo racional e deliberado, que
acredita no planejamento para adaptação ou antecipação às mudanças de mercado; a
abordagem evolucionária, apoiada na metáfora da evolução biológica ancorada na
imprevisibilidade do ambiente, e que aconselham os estrategistas a manter custos baixos e
oões abertas, pois os evolucionistas esperam que os mercados garantam a maximização do
lucro; a abordagem processualista, baseada no aprendizado organizacional, onde as
estratégicas emergem do envolvimento íntimo com as operações e forças da organização; e a
abordagem sistêmica, que reflete os sistemas sociais dos quais ela participa, onde o caminho
da estratégia é jogar pelas regras locais. Whittington (2002) sustenta que a abordagem
incrementalista da estratégia não seria necessariamente tática, e poderia ser considerada a
partir de uma “lógica subjacente” ou “intento estratégico” com clareza necessária para prover
a direção e com amplitude a ponto de permitir a flexibilidade e o oportunismo.
O conceito de “intenção estratégica” ganhou força com Prahalad e Hamel
(1989). Os autores sustentaram que as empresas que se tornaram bem sucedidas o fizeram
porque mantiveram uma obsessão pela liderança global. Essa obsessão foi denominada
intenção estratégica, cuja base estava no estabelecimento de uma meta que merece esforço
pessoal e comprometimento, muito embora com um relacionamento diferente entre meios e
fins. A intenção estratégica pode ser entendida a partir do conceito de visão, ou seja, uma
noção de destino ou um alvo. Para Prahalad e Hamel (1995, p. 154), “a intenção estratégica
deve ser o objetivo que comanda o respeito e o compromisso de cada funcionário.
Contudo, Chakravarty (1997) considera que a intenção estratégica em certas
indústrias não funciona mais, ou seja, nas indústrias sujeitas a grande turbulência. Nestes
casos, não é possível definir uma intenção no longo prazo. Essa intenção será sempre
‘temporária’. Para o autor a guerra da estratégia está fundamentada no conceito de
"substituição", e não mais no de imitação e atualmente haveria um grande leque de
substituições possíveis vindas de vários lados, que considera que mesmo que a empresa seja
muito boa no que faz, os concorrentes mais inteligentes não seguiriam o paradigma anterior
da imitação e sim desenvolveriam uma nova estratégia de substituição.
Para Porter (1996), a formulação da estratégia diz respeito ao posicionamento da
empresa, à influência no equilíbrio de forças por meio deões estratégicas e à antecipação de
mudanças nos fatores básicos das forças, escolhendo uma estratégia apropriada ao explorar a
mudança. A influência no equilíbrio das forças, especificamente, está relacionada com a
capacidade da ação em alterar as causas destas forças. Na visão de Porter (1996), estratégia
38
diz respeito, acima de tudo, a pensar não somente como são agora o negócio, o mercado, os
concorrentes e o ambiente em geral, e sim, como o serão no futuro.
Na visão de Mintzberg (1967), estratégia é definida simplesmente como o
processo de tomar decisões importantes. Nesta proposição, o autor sugere um modelo para a
formulação da estratégia: inteligência – desenho – escolha: coletar e analisar informações,
desenhar alternativas e avaliar as conseqüências, e finalmente escolher uma alternativa.
Mintzberg e Lampel (1999) consideram que os conceitos de estratégia apresentam-se como
partes de um todo maior que seria maior do que a soma das mesmas. Outra significativa
contribuição de Mintzberg (2001) para o estudo da estratégia está na definição da mesma a
partir dos conceitos de plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva. Dentro deste
alinhamento, o autor defende que pensamento e ação ocorrem na mesma esfera, sendo,
portanto, indissociáveis. Assim, estabelece a relação entre a estratégia como plano, que pode
ser desdobrada em estratégia efetivada ou não. Dentro da mesma linha, estabelece a relação
com as estratégias emergentes, que a partir de sua efetivação também são estratégias
realizadas.
O elemento estratégia pode ser abordado através da matriz de Whittington (2002)
que busca traçar uma radiografia no comportamento estratégico da organização. Os quatro
conceitos básicos sobre estratégia apresentados por Whittington (2002) – racional, fatalista,
pragmático e relativista – têm implicações radicalmente diferentes no que diz respeito a
“realizar estratégia”.
Figura 3 - Resumo das implicações das quatro perspectivas sobre estratégia
Fonte: Perspectivas genéricas sobre estratégia (Whittington, 2002).
M
a
ximiz
ação
dos
L
uc
r
os
Plural
Processos
Deliberados
Processos
Emergentes
Clássica
Sistêmica
Evolucionária
Processual
39
De acordo com Whittington (2002, p.13), “para os clássicos, a lucratividade é o
objetivo supremo das empresas, e o planejamento racional é o meio de obtê-la”. A formulão
e o controle da estratégia seriam tarefa essencial dos executivos da empresa e a
implementação ficava com a parte operacional. Uma das fontes da abordagem clássica,
Ansoff (1977) liga suas noções sobre estratégia diretamente à prática militar e à economia
acadêmica.
A abordagem clássica estava calcada em premissas básicas (Mintzberg, 1990;
Whittington, 2002):
1. A formação da estratégia deve ser um processo consciente e controlado de
pensamento. O controle e a consciência devem permanecer com o CEO – “O estrategista”.
Estratégias seriam, portanto, em certo sentido, ordens para que outros as executem;
2. A implementação é uma fase distinta no processo da estratégia, vindo apenas
após a fase anterior da formulação explícita e consciente.
A abordagem evolucionária coloca os gestores na espera de que os mercados
garantam a maximização do lucro, numa ênfase aos processos competitivos da seleção
natural. Os teóricos dessa abordagem argumentam que, seja qual for o método adotado pelos
gerentes, somente os melhores jogadores sobreviverão (Whittington, 2002). Esta abordagem
levanta a dúvida de que as organizações sejam realmente capazes de diferenciar-se e adaptar-
se de modo deliberado. Alchian (apud Whittington, 2002) alerta contra a excessiva
valorização do poder da estratégia. Para o autor, as empresas seriam jogadas de um lado para
outro por forças de mercado imprevisíveis e incontroláveis. Esta abordagem diz que o que
importao as diferentes iniciativas inovadoras das quais o ambiente possa selecionar a
melhor.
Para os processualistas a estratégia emerge com muita confusão e a passos
pequenos. Para Whittington (2002, p.27), “a perspectiva processual diminui radicalmente a
importância da análise racional, limita a busca pela flexibilidade estratégica e reduz as
expectativas de sucesso”. A abordagem de March (apud Whittington, 2002) diz que a
estratégia é descoberta durante a ação.
Os teóricos sistêmicos partem do princípio de que os que tomam decisões não são
simplesmente indivíduos imparciais, calculistas, interagindo em transões puramente
econômicas, mas pessoas profundamente enraizadas em sistemas sociais densamente
entrelaçados (WHITTINGTON, 2002), dizendo que as empresas diferem de acordo com os
sistemas sociais e econômicos em que estão inseridas.
40
O processo de planejamento estratégico de organizações familiares vem sendo
objeto de estudo há algum tempo (WARD, 1994). Em determinadas empresas, a formulação
do plano estratégico é de responsabilidade do conselho. Já em outras, são elaborados pela
gerência com a implementação supervisionada pelo conselho. De qualquer forma, o processo
como um todo é orientado pelos proprietários.
D) Sistemas e Processos (Systems)
Este elemento está relacionado aos procedimentos formais e informais que dão
suporte à estratégia e estrutura. O processo de tomada de decisões dentro da organização pode
variar desde intuição gerencial até sistemas informatizados estruturados ou sistemas
complexos e inteligência artificial. Isto inclui sistemas de informática, sistemas operacionais,
sistemas de recursos humanos, sistemas de treinamento, sistemas contábeis, sistemas de
orçamento, entre outros. Para Peters, Waterman e Phillips (1980, p. 12), “se você quiser
entender como uma organização executa (ou não executa)? Olhe para os sistemas”.
Os sistemas que dão suporte à estratégia e estrutura podem ser classificados como
simples e complexos, assim como formais ou informais, dependendo do estágio em que se
encontra a organização.
As mudanças estruturais deveriam ser acompanhadas de mudanças nos processos,
pois à medida que as organizações crescem, expandem ou evoluem, práticas de
gerenciamento antigas gradualmente se tornam obsoletas (CHARAN, HOFER e MAHON,
1980). De acordo com Charan, Hofer e Mahon (1980), um dos movimentos da empresa
familiar em direção à profissionalização é a formalização do processo de tomada de decisões
e dos sistemas de informação da organização.
A formalização de sistemas e processos envolve a clarificação e documentação de
funções, definição explicita de objetivos organizacionais, autoridade para tomada de decisão
formalmente delegada. Esta formalização do processo de tomada de decisões leva a
organização a um comportamento e a uma estrutura mais burocrática (CHARAN, HOFER e
MAHON, 1980).
De acordo com Charan, Hofer e Mahon (1980), ao fazer a organização mais rígida
e formal, o empreendedor estará na verdade alargando o gargalo criado pela concentração de
41
poder, autoridade e informação entre os poucos indivíduos-chave. É possível entender,
inclusive, que a formalização fechará algumas portas para alguns membros.
Para Miles e Snow (1978), as organizações modificam os mecanismos pelos quais
atingem seus propósitos, através do realinhamento da estrutura de papéis e do relacionamento
entre os sistemas e processos.
E) Top Management Team - TMT (Staff)
Este elemento considera os recursos humanos de gestão e os processos utilizados
para desenvolver gestores, processos de socializão, meios de moldar os valores básicos do
grupo de gestão, meios de introduzir novos membros e meios de gerenciar a carreira de
empregados. Significa que a empresa contrata pessoas hábeis, os treina de forma adequada e
os coloca nas posições certas. Seleção, treinamento, recompensa e reconhecimento, retenção,
motivação e alinhamento apropriados para o trabalho são questões chave.
Peters, Waterman e Phillips (1980), esquematizam o TMT da seguinte forma: no
lado “hard” do espectro estão os sistemas de avaliação, escalas de pagamento, programas de
treinamento formal. No ladosoft” estão a moral, atitude, motivação e comportamento. O
TMT freqüentemente sofre impacto de ambos enfoques. De acordo com Peters, Waterman e
Phillips (1980, p. 15),excelentes empresas dão atenção extraordinária ao gerenciamento do
que pode ser chamado de processo de socialização em suas empresas”.
As organizações familiares possuem certas características relacionadas às práticas
gerenciais: tomada de decisão altamente centralizada; dependência de um ou dois indivíduos-
chave para o crescimento e sobrevivência; repertório inadequado de técnicas e treinamento
gerencial; e atmosfera paternalista (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980).
Numa organização empreendedora, o CEO (Chief Executive Officer) é um fator
crítico na direção e performance da mesma, de forma que os movimentos de sucessão tornam-
se críticos para as organizações (WASSERMAN, 2003). Em se tratando de negócios
familiares, a literatura comumente foca na transição interfamiliar entre gerações
(LEVINSON, 1971; DYER, 1986; LANSBERG, 1988; HANDLER, 1990). De acordo com
Kesner e Sebora (1994), as questões mais importantes estavam relacionadas a saber se o
sucessor seria interno ou externo. Grusky (1963) no American Sociology Journal levantava as
questões se de fato outsiders poderiam fazer mudanças de maior porte na organização, além
42
dos sistemas de compensação e do status interorganizacional que estes lucrariam. Burton e
Khurana (2000) complementaram trazendo à tona a rotina mais formalizada que outsiders
poderiam imprimir à organização. Esta formalização estaria relacionada às regras e disciplina
alinhadas às metas e objetivos da empresa.
Analisar o top management é importante, pois segundo Hambrick e Mason
(1984), uma organização é um reflexo de seu grupo de gestão. Além disso, Ruef et al (2003)
identificaram que novos membros de um grupo geralmente são escolhidos com base na
similaridade que possuem com os anteriores nos mesmos cargos. Segundo Keck (1997),
equipes homoneas são mais produtivas em ambientes estáveis, pois promovem a
socialização e coesão. Üsdiken (1992) sustenta que gestores diferem em sua base cognitiva e
valores que trazem para a organização. Pettigrew (1992) sustenta que diferentes estruturas de
gestão afetam a performance da empresa de acordo com o contexto macro ambiental, ou
época estratégica”, o que é sustentado por Priem (1990) e Murray (1989). Para Bantel
(1993), isto estaria relacionado à incerteza. Esta heterogeneidade da estrutura de gestão
encontra argumentos em Keck (1997), que sustenta que equipes com diferentes formações
irão “escanear” o ambiente mais amplamente e produzir um leque maior de soluções.
De acordo com O’Neill (1986), os turnarounds de gestão mais bem sucedidos
foram os que trouxeram outsiders para o top management, o que é rebatido por Zimmerman
(1989) que sugere que a equipe na incumbência de liderar a empresa é capaz de fazer o
turnaround. De qualquer forma, Wiersema (1992) sustenta que a natureza da sucessão traz
conseqüências substanciais para a estratégia corporativa, pois as mudanças mais significativas
provêm de outsiders, pois a falta de familiaridade destes com o passado da organização e as
habilidades oriundas de suas experiências anteriores podem trazer diferentes perspectivas
estratégicas. Sucessores externos podem trazer uma nova visão estratégica e superar a inércia.
Smith e White (1987) encontraram que organizações diversificadas e organizadas
como conglomerados freqüentemente possuíam alguém com habilidades nas áreas de
finanças, contabilidade e legal, posicionados pelo foco externo. Ao passo que organizações
com estratégias integradas verticalmente eram gerenciadas por profissionais com habilidades
em produção ou marketing.
Num estudo empírico sobre pequenas empresas, Wilderon e Berg (apud O’Reagan
e Ghobadian, 2004), apresentam quatro tipos de estilos de liderança:
1. Transformacional – inspiração, consideração e assistência aos empregados;
2. Transacional – relacionamento entre líder e empregados, baseado no beneficio
da cooperação;
43
3. Pessoas e Resultados – mostra preocupação com as pessoas ao mesmo tempo
em que enfatiza as metas do negócio;
4. Laissez Faire – gestão passiva ou ausência de gestão ativa.
O processo de tomada de decisão em firmas empreendedoras é geralmente
dominado pelo empreendedor em si, e as importantes decies, tais como alocação de
recursos, seleção e promoção de pessoas, determinão de preços, compras, desenvolvimento
de novos produtos e diversificação, são geralmente tomadas de uma forma altamente
centralizada (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980). Já a empresa em transição para a
profissionalização apresente uma estrutura de gestão mais formal baseada nas necessidades e
possui as seguintes características (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980):
- permite delegação de autoridade;
- utiliza análises formais de informações;
- não depende de indivíduos-chave;
- seus elementoso intercambiáveis.
Uma das variáveis que indicam o caminho à profissionalização considera que a
concentração na seleção de indivíduos para ocupar posições-chave é o passo mais crucial na
transição para a sobrevivência no longo prazo (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980). Isso
deve ser acompanhado pelo desenvolvimento de novos sistemas de compensação baseados na
responsabilidade funcional e contribuições individuais.
F) Estilo de Gestão (Management Style)
Este elemento trata do estilo de gestão adotado pelo Top Management,
considerando mais a questão de o que os gestores fazem do que do que dizem, como
despendem seu tempo, quais são seus focos de atenção, que tipos de simbolismos constroem e
mantém.
Nas empresas familiares, a força de uma cultura é determinada por quatro traços:
envolvimento, consistência, adaptabilidade e missão (Denison, 1990; Denison e Misha, 1995).
Dyer (1986) propôs quatro tipos culturais principais que estão relacionados à gestão da
empresa: paternalista, laissez-faire, participativa e profissional e baseado em sete categorias
de suposições de como as organizações vêem a sim mesmas, a sociedade e o mundo. Em
síntese, a família pode impor sua agenda à estratégia e ao gerenciamento de negócios.
44
Para os gestores familiares, existe a motivação proveniente do legado, onde o
processo de tomada de decisão seria mais fácil e mais rápido, permitindo a estas empresas
lançar-se sobre oportunidades que outros poderiam perder. Também sua freqüente cultura
paternalista poderia levar a menores índices de turnover e desenvolvimento de talentos
gerenciais (DAVIS et al, 1997). Outra característica das empresas familiares é o respeito pelos
empregados e a promoção da lealdade entre eles, que são iias normalmente passadas de
geração para geração. Para Davis (2003, p.3), “as empresas familiares têm um tipo de
estabilidade e uma visão de longo prazo que podem criar muito valor ao longo do tempo,
embora elas nem sempre sejam reconhecidas por isso".
Peters, Waterman e Phillips (1980) sustentam a importância de se distinguir entre
a personalidade do TMT e a forma como este grupo encontra a organização. Um dos
elementos para entendimento do estilo de gestão está em como os gestores despendem seu
tempo. O outro elemento é o comportamento simbólico. Por exemplo, para se reconhecer uma
empresa orientada para o marketing é quando todos “falam marketing” (PETERS,
WATERMAN e PHILLIPS, 1980). A proposição de Peters, Waterman e Phillips (1980) é que
um estilo de gestão é um reflexo da cultura organizacional.
G) Habilidades e Competências (Skills)
Este elemento trata das competências distintivas (PETERS, 1984). Competências
ou habilidades se referem ao fato de que os funciorios possuem as habilidades necessárias
para conduzir a estratégia da empresa, ou que a empresa proporciona os processos de
treinamento e desenvolvimento de forma a assegurar às pessoas como executar seus trabalhos
e continuarem atualizados com as tendências e tecnologias.
De acordo com Peters (1984) existem apenas três verdadeiramente distintivas
competências:
1. foco na satisfação total dos clientes;
2. foco em inovação contínua;
3. um denominador comum – a certeza de que os dois primeiros requerem que
todos as pratiquem, e as organizações compartilhem a crença no potencial
criativo dos indivíduos.
45
Estas três competências são as únicas fontes efetivas de sustentabilidade e
vantagem competitiva no longo prazo (PETERS, 1984). Envolve ouvir e adaptar-se às
necessidades dos clientes, permanecer atento ao mundo externo, e manter a expectativa de que
as pessoas irão contribuir criativamente (cada pessoa é uma fonte de renovação e adaptação).
Para Peters (1984), habilidades dirigem a estratégia nas melhores empresas.
Peters, Waterman e Phillips (1980) adicionaram um direcionamento prático ao
conceito de habilidades. Este direcionamento permite capturar os atributos cruciais de uma
empresa. Trata-se da caracterização da empresa pelo que ela faz de melhor. E esta distinção é
importante, pois freqüentemente se observam empresas que encaram descontinuidades através
da mudança no foco estratégico. E isto requer a adoção de novas capacidades, ou seja, novas
habilidades.
Habilidades ou competências de gestão e seu potencial papel no sucesso da
organização tem recebido atenção de acadêmicos e profissionais (Prahalad e Hamel, 1990;
Hamel, 1994). A identificação das habilidades e competências centrais da organização é
fundamental para a capacidade para crescer de “dentro para fora” (PRAHALAD e HAMMEL,
1995), e está relacionada com a capacidade que os gestores possuem de alavancar com êxito
os recursos da organização. A identificação das competências pode mudar, por exemplo, de
uma orientação de redução de custos para uma orientação para o gerenciamento de
oportunidades. Stinchcombe (1990) sustenta que a base das capacidades organizacionais está
nas competências de seus indivíduos.
Contudo, a construção da estrutura de 7 Ss trata das habilidades ou competências
do Top Management da organização. De acordo com Hoffmann (1999), o termo competência
vem recebendo diferentes definições e a própria falta de claridade do termo pode ter
produzido um nível de confusão entre as tentativas de desenvolver a base de competências e
seu uso na busca da melhoria de performance. Para Strebler (apud Hoffmann, 1999), “o termo
competency’ tem sido usado para se referir ao significado expresso como comportamentos,
enquanto que o termocompetences’ tem sido usado para se referir ao sentido expresso como
padrões”. Boyatzis (apud Brotherton e Watson, 2001) diferencia competency de
competence” pela definição de competência gerencial em relação aos atributos de um
indivíduo, o qual está relacionado com a performance superior no trabalho. O Oxford
Dictionary (2000) atribui como significado de “competence” a capacidade de fazer algo, e ao
termo “competency”, as habilidades (perícia) que o indivíduo necessita para uma tarefa ou
trabalho em particular.
46
Quando competência significa performance, a questão relacionada ao crescimento
ou melhoria está relacionada com mudança na performance dos indivíduos. Quando significa
padrão ou qualidade da performance, o movimento é o de padronizar habilidades e introduzir
medidas mínimas de performance. Quando significa atributos individuais, o movimento é o de
estabelecer o conteúdo do aprendizado necessário à performance competente (Hoffmann,
1999).
A proposta do desenvolvimento gerencial pode ser entendida como um
componente ou função da estratégia empresarial, de forma a assegurar que os gestores
possuirão as habilidades e o conhecimento necessário para desenvolver a eficácia
organizacional (Brotherton e Watson, 2001). De acordo com Mumford (apud Brotherton e
Watson, 2001), existem três desdobramentos no entendimento do desenvolvimento gerencial:
diretivo informal (acidental); diretivo integrado (oportunista); e desenvolvimento formal
(planejado).
Brotherton e Watson (2001) apresentam a Figura 4 de forma a clarificar o
entendimento do relacionamento do conceito de competências com a estrutura dos 7 Ss. As
dimensões do eixo vertical (Hard e Soft) mostram a distinção entre habilidades técnicas e
interpessoais necessárias em posições diretivas, sustentando que diferentes posições requerem
ênfases diferenciadas entre os dois extremos. A relação entre dependência e independência
salienta a natureza genérica e/ou específica das habilidades diretivas. O contexto dependente
relaciona que a habilidade se relaciona à função e à cultura onde se encontra, ao passo que o
contexto independente necessita de habilidades genéricas.
Figura 4 – Mapa de desenvolvimento de competências/habilidades gerenciais
Fonte: Brotherton e Watson, 2001/1996.
Hard (Técnico)
Soft (Interpessoal)
Independente
d
o Contexto
Dependente
do Contexto
47
Uma empresa familiar, ao longo de se ciclo de vida, pode ter necessitado de
diferentes habilidades ou competências de gestão, relacionadas às características técnicas ou
interpessoais. Estas características, em cada etapa do ciclo de vida podem ter se deparado com
diferentes contextos, sendo premente a existência do contexto especifico: organização
familiar.
Após o entendimento da 7 Ss Framework e o desdobramento de cada um de seus
elementos, a contextualização teórico-empírica busca o entendimento do contexto e das
características específicas da empresa familiar, além dos processos sucessórios, que são temas
do próximo sub catulo.
2.3 EMPRESA FAMILIAR E SUCESSÃO
O desenvolvimento de empresas familiares é um caso especial do tópico geral de
mudança organizacional (DAVIS et al, 1997). Existem duas principais perspectivas que
procuram traduzir o desenvolvimento da empresa familiar. A primeira tem por foco o efeito
das forças externas, sociais e ecomicas sobre as organizações, no sentido de permanecer
aberto e avaliar as informações de fora para ver de onde estão vindo as pressões por
mudanças. Esta perspectiva leva em conta o chamado processo de selão natural, ou seja, o
ambiente como um todo muda porque as empresas individualmente prosperam, ou morrem,
em conseqüência de fatores ambientais externos. Com este foco, torna-se possível descrever o
processo através do qual uma organização reage ao seu ambiente e a ele se ajusta, mas é
muito difícil prever que mudanças ocorrerão ou quando ocorrerão (DAVIS et al, 1997).
A segunda perspectiva considera que as organizações mudam numa seqüência
previsível de estágios, também motivados por condições no ambiente externo. No entanto,
esta corrente de especialistas tem nos complexos fatores maturativos internos da organização
o foco da mudança. Esses modelos são os que traduzem os ciclos de vida organizacional
(DAVIS et al, 1997). Uma das maneiras pela qual as alterações que ocorrem internamente
afetam a estrutura social é por meio de alterações nos padrões de trabalho (HALL, 2004).
Desta forma, mudanças no modo como o trabalho é feito, tais como a utilização de programas
de administração participativa, trazem uma relação com outros importantes relacionamentos
sociais (HALL, 2004).
48
A empresa familiar pode ser descrita como qualquer companhia onde os
fundadores ou descendentes continuam a manter posições no alto escalão, no conselho ou
entre seus maiores acionistas (WEBER et al, 2003). Para Lethbridge (2005), a empresa
familiar é a organização cujos integrantes possuem participação suficiente para conduzir o
necio ou para indicar um profissional que o faça. Bernoheft (1987) simplifica este conceito
ao entender a empresa familiar como um ideal que deu certo”. A origem das empresas, em
economias capitalistas, está nas idéias, no empenho e no investimento de indivíduos
empreendedores e seus parentes (DAVIS et al, 1997). O controle familiar direto existe quando
o principal executivo é um membro da família que controla organização. A existência de um
controle familiar indireto dá-se quando o principal executivo não é um membro da família.
Além disso, o controle da empresa é feito pelos dirigentes quando os executivos dominam
conselho de admiração (ALLEN e PANIAN apud HALL, 2004).
No mundo, os negócios familiares representam 80% das empresas e respondem
por quase metade do PIB mundial. Calcula-se que 75% das empresas familiares estejam sob o
comando da primeira geração, 20% nas mãos dos filhos dos fundadores – segunda geração –,
e apenas 5% sob controle das gerações seguintes (LETHBRIDGE, 2005). As empresas
familiares em todo o mundo possuem um considerável peso econômico: na Espanha
representam 70% , na Inglaterra 75%, na Alemanha 80%, no Brasil 90% e nos Estados
Unidos representam 62% da força de trabalho e 64% do produto interno bruto
(LETHBRIDGE, 2005). Do ponto de vista histórico, somente 15% das empresas familiares
permanecem nas mãos da mesma família na terceira geração (BLECHER, 2003).
Ao analisar a origem das empresas familiares, Gonçalves (2000b) argumenta que
historicamente, os empresários familiares eram tachados com o jargão de incompetentes,
devido à organização ser informal, confusa e incompleta; ter a confiança pessoal como valor
básico, em prejuízo da competência; existir o nepotismo sob diversas formas; e ser
imediatista, não permitindo o planejamento empresarial. Gonçalves (2000b) sustenta que, até
a década de 50, a presença do modelo familiar se fazia em quase todos os segmentos da
economia brasileira, desde a agricultura até o sistema financeiro, vindo a partilhar espaço com
multinacionais e estatais.
As empresas familiares têm a propriedade de extrair uma força especial da
história, da identidade e da linguagem comuns às famílias. A família pode impor sua agenda à
estratégia e ao gerenciamento de negócios e esta influência “externa” freqüentemente resulta
numa grande ênfase no altruísmo e em posturas inclusivas para com os stakeholders que
fazem empresas familiares diferentes (DYER, 2003).
49
De acordo com Bernhoeft (1987), a empresa familiar possui determinadas
características:
- confiança mútua, independente dos vínculos familiares;
- fortes laços afetivos que exercem influência sobre o comportamento;
- a antiguidade dos indivíduos sobrepondo-se aos atributos de eficácia
competência;
- forte exincia de dedicação;
- postura de austeridade;
- expectativa de fidelidade;
- atributos emocionais sobrepondo-se aos racionais;
- habilidade potica como variável fundamental nos jogos de poder.
A partir destes valores, Bernhoeft (1987) considera que o aspecto familiar da
empresa está mais relacionado ao estilo de gestão empregado, do que do fato de seu capital
ser pertencente à família. Já o comportamento da empresa familiar emana não das pressões
externas, mas de um ingrained profundo, sentido de história e moralidade aprendidos “na
mesa de jantar” (DYER, 2003; DENISON, 2004).
Lodi (1998) sustenta que a empresa familiar apresenta forças e fraquezas. As
fraquezas estariam relacionadas a conflitos de interesse entre família e empresa; uso indevido
dos recursos da empresa por membros da família; falta de sistemas de planejamento
financeiro e de apuração de custos e outros procedimentos; resistência à modernização do
marketing; e emprego e promoção de parentes por favoritismo. As forças, por sua vez,
estariam relacionadas à lealdade dos empregados; reputação do nome da família; continuidade
da administração; união entre acionistas e dirigentes; decisões rápidas; sensibilidade social e
política do grupo familiar dirigente; e um traço de união entre os valores do fundador e visões
pessoais dos dirigentes atuais.
Segundo Gonçalves (2000, p. 8),as famílias, herdando valores próprios de uma
estrutura patriarcal e adotando um comportamento patrimonialista, tendem a adotar, quase que
necessariamente, nas suas empresas, um comportamento paternalista”. A relação entre patrão
e empregado é mais pessoal do que profissional e jurídica, e é baseada na fidelidade e na
confiança mútua.
O modelo de gestão das empresas familiares e seu top managementm sendo
estudado com profundidade, dada sua importância. Nordqvist (2005) apresenta que o TMT da
empresa familiar possui uma dinâmica única, criada através da relação da família com a
empresa, e que resulta em alta coesão, potência e consenso em estratégia compartilhada.
50
Contudo, de acordo com Chua, Chrisman e Sharma (1999), o que torna o negócio
familiar único, é que o padrão de propriedade, governança, gestão e sucessão, influenciam as
metas, estratégias, estrutura e a forma como cada uma é formulada, desenhada e
implementada na organização. Lansberg (1983) apresenta que o estudo da organização
familiar é premente porque o componente familiar molda o negócio de maneira diferente das
empresas não familiares. Governança corporativa é um sistema de relacionamento entre
acionistas, auditores independentes e executivos da empresa, liderado pelo Conselho de
Administração (LODI, 2000).
Do ponto de vista da sucessão, de acordo com Lodi (1998, p. 7),o pior dos
conflitos que infestam as empresas familiares, o conflito na fase da sucessão, é quase sempre
o resultado de problemas estruturais da família cujas raízes estão 20 ou 30 anos atrás”. Para
Davis et al (1997, p. 201),
“a sucessão não é uma coisa, mas muitas. Não é um evento único que ocorre quando
um velho líder se aposenta e passa a tocha a um novo líder, mas um processo
movido por um ‘relógio’ de desenvolvimento – comando muito cedo nas vidas de
algumas falias e continuando através do amadurecimento e envelhecimento
natural das gerações”.
Algumas transições envolvem troca de pessoas, outras envolvem mudanças na
estrutura e na cultura. Davis et al (1997, p. 203) sustentam que “embora a sucessão seja um
processo nos três círculos, temos constatado que o mecanismo de transição nas empresas
familiares tende a começar com opções a respeito da participação acionária”.
O estudo de sucessão freqüentemente foca no evento em si, definido pela
avaliação se o sucessor é indicado ou não (FISCHER, REUBER e DYKE, 1993). Outros
estudos sustentam a necessidade de integrar esferas de influência variadas num esforço de
incrementar o entendimento dos processos de sucessão (HANDLER, 1990). Fatores como
retincia dos fundadores em aceitar sua mortalidade é uma dificuldade do estabelecimento de
processos de sucessão, assim como a relutância em abrir mão do poder, ou escolher um filho
como sucessor (APPLEGATE e FELDMAN, 1994).
Por definição, planos para sucessão geralmente incluem um grupo identificável de
elementos (CHRISTENSEN apud DAVIS e HARVESTON, 1998):
1. identificação do grupo de sucessores potenciais;
2. designação atual do sucessor;
3. notificação e estabelecimento de autoridade junto às esferas de poder.
51
No ambiente das empresas familiares, a chegada da maturidade traz consigo o
desafio da adaptação e de renovação, porque de outro modo corre o risco de declinar ou
desaparecer (DAVIS, 2003). A mudança e o crescimentoo essenciais para o sucesso e a
continuidade do negócio familiar (GERSICK et al, 2003). As pressões para o
desenvolvimento que acompanham as famílias e suas empresas estão sempre agindo, criando
a necessidade de mudar.
A evolução pode significar a necessidade de uma profissionalização. Para Lodi
(1998, p. 25), “profissionalização é o processo pelo qual uma organização familiar ou
tradicional assume práticas administrativas mais racionais, modernas e menos personalizadas;
(...) é a substituição de métodos intuitivos por métodos impessoais e racionais”. Para
Bernhoeft (1987), profissionalizar a organizaçãoo significa retirar o controle familiar e
simplesmente entregá-lo a um executivo outsider. A empresa familiar pode ser viável como
tal e sua profissionalização deve ser feita “de dentro para fora”. De acordo com Lodi (1998), a
profissionalização não necessariamente descaracteriza a empresa familiar, pois os familiares
mais aptos poderão permanecer como profissionais.
Numa mudança gerada pela profissionalização, a empresa familiar começa a
funcionar de maneira diferente, geralmente afastando deres de cargos anteriores com
influência sobre as operações, modificando sistemas de apoio e implementando novas
políticas e procedimentos. A profissionalização das empresas familiares é um movimento que
pode afetar sua cultura. Profissionalizar a empresa requer atrair novos empregados, investir
em novas tecnologias ou introduzir sistemas de planejamento, controle e gerenciamento de
desempenho. Para Lodi (1998, p.43), “as pessoas e as organizações não mudam, apenas
desenvolvem-se para serem cada vez mais elas mesmas”. Na medida em que evoluem,
portanto, as empresas familiares comportam-se de maneira diferente.
Diferentes estágios evolutivos podem requerer diferentes estruturas, sistemas e
processos diferentes, diferentes estratégias, habilidades, pessoas de gestão e estilos de
gerenciamento, ou seja, a organização como um todo, comportando-se de forma diferente.
Além disso, valores comuns edificados a partir da figura do fundador, podem não ser
adequados nos momentos em que novas respostas precisam ser encontradas. Uma das causas
que dificultam o afastamento do fundador é seu sistema de valores e as organizações, por
outro lado, só têm vida e sucesso na medida em que possuam e preservem seus traços
culturais e seus princípios (BERNHOEFT, 1987). No entanto, criar algo do nada
(empreendedor), é completamente diferente do processo de dar continuidade a alguma coisa
(empresário). Assim, crescimento e evolução bem-sucedidos requerem alguns tradeoffs em
52
flexibilidade e formalização (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980). Gonçalves (2000)
sustenta que existe a necessidade de alterar a relação entre “criador” e “criatura”, pois esta
demanda necessidades que o primeiroo possui.
O estudo do comportamento da organização familiar foca na busca e
entendimento do o que as faz diferentes das demais organizações. Lodi (1998) auxilia este
entendimento ao sustentar que as estruturas familiares se ajustam ao seu sistema potico e
também sofrem modificações determinadas pelo ambiente ou pelas sucessões.
2.3.1 Modelo de Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar
Durante seu ciclo de vida, as organizações podem passar por diversas fases. De
acordo com Greiner (1998), cada período evolucionário é caracterizado pelo problema
gerencial dominante que precisa ser resolvido antes que o crescimento continue e isto pode
significar uma mudança na forma como as coisas são feitas e um novo direcionamento
estratégico.
As empresas passam por diferentes etapas no seu ciclo de vida (GREINER, 1998).
Num primeiro momento, a ênfase se encontra nos fundadores e na característica
empreendedora que os mesmos imprimem nas empresas. Entretanto, após algum tempo, a
maneira como a empresas se comporta leva a primeira crise, denominada crise de liderança,
onde a criatividade, propulsora do crescimento até então já o é suficiente e a gestão
profissional é necessária para se passar à etapa seguinte. A partir da profissionalização, a
empresa entra na fase de orientação onde a gestão profissional começa a reorganizar a
empresa e uma nova crise, desta vez de autonomia, deverá surgir, pois a empresa exige maior
delegação. Isto é representado pela Figura 5.
Alguns autores sugerem que as mudanças que ocorrem nas organizações seguem
um padrão previsível que pode ser caracterizado por estágios de desenvolvimento. Neste
alinhamento são encontrados autores como Adizes (1979), Greiner (1998), Kimberly (1979),
Lavoie e Culbert (1978), Lyden (1975) e Torbert (1974). Estes estágios são considerados
seqüenciais em sua natureza, ocorrem em progressão hierárquica que o pode ser facilmente
revertida e envolvem um amplo leque de estruturas e atividades organizacionais (QUINN e
CAMERON, 1983).
53
Figura 5 – As Cinco Fases do Crescimento
Fonte: adaptado de Greiner (1998)
O modelo de Scott (apud Quinn e Cameron, 1983) também pode ser considerado
adequado para análise específica de empresas familiares, pois sugere que as empresas
progridem de um informal “one-man-shows” para burocracias formalizadas, e depois para
conglomerados diversificados. Para Byrom (apud Peters e Waterman, 1982),um gráfico
inflexível de organização, que supõe que cada um, em determinada posição, terá um
desempenho exatamente idêntico ao de seu predecessor, é simplesmente ridículo. É obvio que
seu desempenho não será o mesmo”. Com esta colocação, o autor traduz que a organização
precisa mudar e adaptar-se ao fato de que um novoder está no comando.
Entretanto, o entendimento do ciclo de vida de uma empresa familiar deve ser
entendido sob a lógica dos três sistemas que a regulam: família, empresa e propriedade. A
perspectiva contingencial considera que o estilo empreendedor de uma organização pro si
não é necessariamente desejável em todas as circunstâncias e que altos níveis de performance
alcançados por empresas inovadoras sugerem que a estrutura organizacional deve estar
alinhada com a orientação empreendedora da empresa (COVIN e SLEVIN, 1988).
De acordo com Stevenson e Gumpter (1985), o estilo empreendedor é um
conceito que abrange organizações e indivíduos. Capacidade de correr riscos, predisposição à
Jovem Madura
Pe
q
ueno
Grande
Porte da
Organização
Fase 1 Fase 5 Fase 4Fase 3Fase 2
Idade da
Organização
Criatividade
Liderança
Orientação
Autonomia
Delegação
Controle
Coordenação
Burocracia
Colaboração
54
inovação e competição agressiva, são características da orientação empreendedora (MILLER,
1983). Empresas empreendedoras são as que o top management possui estilo de gestão
empreendedor salientado por sua tomada de decisões. Já as empresas não empreendedoras ou
conservadoras são avessas ao risco, não inovadoras, e passivas ou reativas (COVIN e
SLEVIN, 1988).
Para Davis et al (1997, p. 144), “o papel de empreendedor parece incompatível
com o papel de líder de uma empresa familiar. A visão clássica dos empreendedores enfatiza
seu individualismo, determinação, gosto por mudanças rápidas e imersão obsessiva na
empresa”. o fundador pode começar como empreendedor, apresentando todo o primeiro
conjunto de qualidades. Em determinado momento, ocorre uma transição em seus valores, em
sua visão, identidade e comportamento, e nasce a empresa familiar.
No estágio de formalização, estabilidade organizacional, eficiência de produção,
regras e procedimentos, e tendências conservadoras simbolizam as organizações. Ou seja,
através do estabelecimento e realização de metas, produtividade, eficientes informação e
gerenciamento da comunicação, e estabilidade-controle. Enquanto a realização de metas,
produtividade e eficiência são claramente importantes através da maioria dos ciclos de vida de
uma organização, é no estágio de formalização que estes critérios racionais são mais
enfatizados pelos teóricos do ciclo de vida.
A comportamento de uma organização através dos estágios é particularmente
importante, e não é diferente no caso das empresas familiares. Cada etapa da vida
organizacional requer ou é impulsionada pela evolução em cada um dos elementos do 7 Ss.
Muitas vezes cada elemento (valores, estratégia, estrutura, processos, estilo de gestão, top
management, competências) pode variar dependendo de cada estágio. Outras vezes os
elementos podem se manter. A questão é como se dá o alinhamento entre o hardware e o
software da organização em cada estágio, de forma a entender como se efetiva o
comportamento da organização.
Esta, dada sua peculiaridade, necessita ser compreendida a partir de sua estrutura
de propriedade e das mudanças que ocorrem na família proprietária ao longo do tempo. Nos
necios familiares, o indivíduo pode fazer parte de um, de dois ou dos três grupos: família,
empresa e propriedade, e as questões levantadas em cada um destes grupos tem implicações
nos demais. Conseqüentemente, a busca pelo entendimento da organização familiar ao longo
de seu ciclo de vida, deve ser amparada pelo entendimento de como família e propriedade se
comportam ao longo deste mesmo ciclo, e isto pode ser desmembrado através do Modelo de
Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar, apresentado por Davis et al (1997).
55
Estudos de negócios familiares freqüentemente consideravam a separação entre
propriedade e controle, tendo Berle e Means (1932) como base conceitual. Esta base sugere
que proprietários e gestores são grupos bem diferentes, em geral por que os primeiros não
possuem as habilidades, conhecimento específico ou tempo, necessários para dirigir a
empresa, fazendo com que a contratação dos segundos fosse importante.
Muitos dos mais importantes dilemas enfrentados pelas empresas familiares são
causados pela passagem do tempo, e envolvem mudanças na organização, na família e na
distribuição da propriedade (DAVIS et al, 1997). As organizações familiares geralmente
iniciam na figura do empreendedor, que a partir do crescimento no negócio, passa a ser
encarado como o proprietário controlador. Quando este proprietário passa a levar em
consideração as opiniões e avaliações de outros acionistas da família, esta empresa passa a
operar mais como uma sociedade entre irmãos (DAVIS et al, 1997). Segundo Bernhoeft
(1987), a continuidade e o desenvolvimento de um negócio requerem uma atuação diferente
da de quem inicia o empreendimento.
Com a entrada de novos membros oriundos da família na organização, e com a
evolução de ambas, a empresa passa a operar como um consórcio de primos. Um dos aspectos
que aparenta mais problemático nesta transição da sociedade entre irmãos para consórcio de
primos é a dificuldade de os irmãos entenderem que o elo familiar entre seus filhos não pode
ser o mesmo da sua geração. De acordo com Davis et al (1997, p.50), “as histórias e lendas
familiares podem preencher uma parte, mas não tudo. Assim, a lealdade à empresa não pode
se basear com a mesma firmeza na lealdade pessoal ao fundador e à sua visão”.
Existem forças que destroem as conexões integrantes de todas as partes da
empresa familiar: conflito interpessoal, distância e falta de experiências comuns; perturbações
familiares normais, causadas por mortes e divórcio; e a crescente variabilidade, entre os
membros da família, nos custos e benefícios econômicos e financeiros de continuar envolvido
com a empresa (DAVIS et al, 1997).
Ao longo das dimensões de desenvolvimento da propriedade e da família, é
preciso levar em conta porte, idade, estrutura e desempenho financeiro da empresa em si para
que se compreenda como o sistema está funcionando atualmente e como necessita se
desenvolver (DAVIS et al, 1997).
De todos os indicadores em potencial de desenvolvimento organizacional, dois
emergem como os mais abrangentes e mais aplicáveis às empresas familiares (DAVIS et al,
1997):
56
- Crescimento volume de vendas, mero de funcionários, valor do
patrimônio, participação de mercado, linhas de produtos;
- Complexidade – no princípio estruturas simples, depois unidades funcionais.
Considerando a complexidade da evolução da empresa familiar, Davis et al (1997)
apresentam o modelo de desenvolvimento tridimensional ilustrado pela Figura 6. Este modelo
é o referencial para se analisar o ciclo de vida de uma organização familiar, pois contempla as
relações entre seus três subsistemas: família, empresa e propriedade.
Figura 6 – Modelo de Desenvolvimento Tridimensional da Empresa Familiar
Fonte: adaptado de Davis et al (1997)
Na dimensão da propriedade, Ward (1987) sustenta que as diferentes formas de
propriedade da família resultam em diferenças nos aspectos da empresa. Davis et al (1997)
apresentam as questões centrais do desenvolvimento da propriedade em três estágios:
Proprietário Controlador, Sociedade entre Irmãos, Consórcio de Primos. Esta classificação
sugere a evolução da propriedade ao longo do ciclo de vida. Davis et al (1997), sustenta que a
propriedade pode ser mantida através de diferentes tipos de ações e combinações
multigeracionais, e essas configurações de ações são a principal característica do estágio de
desenvolvimento da empresa familiar. Segundo Davis et al (1997, p. 31), “para cada mudança
O SISTEMA FAMILIAR
O SISTEMA DE PROPRIEDADE
O SISTEMA EMPRESARIAL
1. Início
2. Ex
p
ansão
/
Formaliza
ç
ão
3. Maturidade
1. Jovem Família Em
p
resária
2. Entrada na Em
p
resa
3. Trabalho Con
j
unto
4. Passa
g
em do Bastão
1. Pro
p
rietário Controlado
r
2. Sociedade entre iros
3. Consórcio de
primos
57
na estrutura de propriedade ocorrem outras correspondentes, nas dinâmicas da empresa e da
família, no nível de poder detido por acionistas funcionários e não-funcionários e nas
demandas financeiras feitas sobre a empresa”. No estágio de proprietário controlador, o
conselho de administração existe apenas “no papel”, composto geralmente por membros da
família (DAVIS et al, 1997).
A dimensão da família engloba aspectos como casamento, paternidade,
relacionamento entre irmãos adultos, cunhados e sogros, padrões de comunicação e papéis
familiares (DAVIS et al, 1997). O estágio de Jovem Família Empresária é de intensa
atividade, envolvendo parceria conjugal e dilemas de início da vida adulta. O estágio de
Entrada na Empresa é onde as famílias precisam promover a entrada da geração mais jovem
na vida adulta produtiva e definir os critérios de entrada, planejamento de carreira, transição.
No estágio Trabalho Conjunto precisam ser administradas as relações complexas entre pais,
irmãos, cunhados, primos e crianças de idades variadas. No estágio de Passagem do Bastão, a
transição passa a ser o foco de preocupação.
Na dimensão da empresa, de acordo com (Davis et al, 1997), a evolão apresenta
os seguintes estágios de desenvolvimento:
- Início – formação e sobrevivência – os proprietários/gerentes estão no centro
de tudo, as estruturas organizacionais são nimas e informais, os procedimentos são
definidos quando necessários e modificados muitas vezes. A comunicação vai para o
proprietário ou é feita por ele. A empresa geralmente está focada em um produto ou serviço;
- Expansão / Formalização – expansão em várias áreas, estruturas e processos
organizacionais mais formalizados, profissionalização da empresa, delegação de autoridade,
descentralização e redução do controle direto. Quando a empresa deixa de crescer neste
estágio, os proprietários e a família devem reavaliar seu compromisso com a empresa;
- Maturidade – renovação ou dissolução – diferenciação funcional tradicional,
objetivo é a estabilidade, expectativas de crescimento modestas.
A mudança de um estágio para outro pode ser gradual ou drástica. Contudo, de
acordo com Davis et al (1997), essa mudança, com freqüência, ocorre de formabita e,
muitas vezes, em resposta a eventos provocadores. Além disso, a passagem do controle
acionário e de gerenciamento a membros da geração mais jovem da família pode levar uma
empresa rapidamente a uma fase de crescimento. Quando as empresas se deslocam através de
gerações, é quase inevitável que elas estejam em mais de um, e muitas vezes nos três, estágios
de desenvolvimento ao mesmo tempo. (DAVIS et al, 1997).
58
De acordo com Davis et al (1997, p. 155), “na empresa que está no estágio inicial
do Proprietário Controlador, os dois requisitos mais importantes para a sobrevivência são que
ela reaja de forma flexível às necessidades dos clientes e permaneça muito eficiente em
relação aos custos”. Normalmente, políticas e procedimentos na organização do Proprietário
Controlador nãoo formalizados. Trata-se de um estágio onde são lançadas as raízes para a
centralidade da empresa familiar: cultura, estratégia e valores (DAVIS et al, 1997).
Já no caso de a empresa encontrar-se no estágio de Sociedade entre Irmãos, a
formalização significa que o velho estilo “mãos na massa” precisa ser abandonado, os
gestores necessitam novas qualificações e conhecimentos, as estruturas e processos precisam
adaptar-se às normas da indústria, e sistemas de informação tornam-se imprescindíveis para
uma coordenação adequada (DAVIS et al, 1997).
A empresa no estágio de Consórcio de Primos sugere, de acordo com Davis et al
(1997, p. 191), “o desenvolvimento de políticas que protejam os interesses da empresa,
guardando-a dos excessos de politicagem familiar, e tratem a família com imparcialidade”.
Para isso o desenvolvimento de um conselho de administração profissional. Além disso, para
Davis et al (1997, p. 195), “manter a empresa sensível, criativa e disciplinada é o nome do
jogo”. Uma alternativa neste estágio é a organização da empresa como holding, que fica como
proprietária majoritária das ações de cada uma das empresas do grupo.
Um aspecto importante é que as três formas de controle requerem estilos de
liderança e estruturas diferentes. Para Davis et al (1997, p. 211),quando a sucessão envolve
não apenas uma mudança da guarda, mas também uma reestruturação da forma fundamental
da empresa, a adaptação exigida do sistema é muito maior”.
Do ponto de vista da análise dos momentos críticos que afetam a empresa
familiar, qualquer movimentação em cada um dos três eixos pode representar um momento
crítico. Por exemplo, a sucessão familiar, ou ainda, a entrada da segunda ou terceira gerações
da família na empresa, uma mudança na composição acionária, ou até mesmo uma crise
vivida pela empresa em relação às modificações no setor ou endividamento podem configurar
momentos críticos.
Sistemas empresariais familiares podem tornar a organização poderosa. No
entanto, também podem gerar questões familiares, empresariais e de propriedade que podem
fazer com que o ambiente se torne emocionalmente carregado (DAVIS, 2002). O modelo dos
três círculos descreve o sistema da empresa familiar através de subsistemas de família,
empresa e propriedade de forma independente e superposta. O modelo torna-se uma
59
ferramenta muito útil para a compreensão dos conflitos interpessoais, dilemas de papéis,
prioridades e limites em empresas familiares.
A intercambialidade do modelo também é apresentada por Davis et al (1997)
através do modelo dos três círculos, representado na Figura 7:
Figura 7 – Modelo dos Três Círculos na Empresa Familiar
Fonte: Davis et al (1997)
Partindo do modelo proposto dos três círculos, é natural imaginar que indivíduos
em cada um dos círculos terão pontos de vista diferenciados, dependendo de sua localização.
Assim, Davis (2002) sustenta que a eficácia da gestão numa empresa familiar necessita de
preocupações das partes de propriedade e gestão quanto à comunicação e tomada de decisão.
O modelo de governança eficaz para o melhor relacionamento entre os círculos é apresentado
por Davis (2002), e representado pela Figura 8.
Figura 8 – Estrutura de Governança da Empresa Familiar
Fonte: Davis (2002)
F
a
míli
a
Empresa Propriedade
Conselho de
Acionistas
Assembléia
de Falia e
Conselho de
Família
Board de
Diretores
Top
Management
60
O Top Management ou Senior Management é o instrumento organizador da
empresa e voz dos empregados. O Conselho e a Assembléia de Família são a voz da família e
o Board de Diretores é a voz dos acionistas (DAVIS, 2002).
As finalidades do Conselho de Administração são (DAVIS et al, 1997):
1. considerar e representar os interesses dos proprietários;
2. formular e monitorar o objetivo estratégico de longo prazo da empresa;
3. ser o principal conselheiro para o executivo principal.
O Conselho de Família visa discutir questões relacionadas ao envolvimento da
família com a empresa, justificado por pelo menos quatro razões (DAVIS et al, 1997):
1. cenário para educar os membros da família;
2. esclarecer os limites entre família e empresa;
3. cenário para discussão de negócios sem afetar os eventos familiares;
4. prover uma estrutura para auxiliar a família na construção de um plano familiar
(história da família, visão do futuro, declaração de missão da família, plano de ação).
Assim, dada a evolução contínua e paralela dos três vértices característicos da
organização familiar, o entendimento de como cada um deles se comporta e a forma como
afetam os demais é um tópico necessário de qualquer pesquisa que busque entender o ciclo de
vida de sistemas familiares. Para o melhor entendimento da evolão da empresa familiar,
Davis et al (1997), apresenta uma divisão em quatro tipos básicos:
A) Fundadores e a Experiência Empreendedora;
B) Empresa Familiar, Crescendo e Evoluindo;
C) Empresa Familiar Complexa;
D) Diversidade de Sucessões.
A) Fundadores e Experiência Empreendedora
Davis et al (1997, p. 141) citam que “os fundadores de empresas familiares
também podem ter profunda influência sobre as culturas organizacionais de suas criações”.
Crenças, sagacidade para negócios, valores, passam a fazer parte da empresa e são
perpetuadas. Em geral, todos os estágios subseqüentes são afetados pelos movimentos que
ocorrem nos primórdios da organização familiar. Davis et al (1997) sustenta que o fundador
pode começar como empreendedor, apresentando qualidades determinação e imersão
61
obsessiva na empresa, mas a uma certa altura ocorre uma transição em seus valores, em sua
visão, identidade e comportamento, e nasce a empresa familiar. As empresas em geral
iniciam-se dos esforços, sucessos e fracassos.
Do ponto de vista da propriedade, o controle acionário do fundador permite o
controle das decisões estratégicas e operacionais, e, freqüentemente das decisões da família.
Na empresa, não a escolha de uma estrutura organizacional voltada a o trabalho em equipe
entre os principais participantes, preferindo promover relacionamentos íntimos, em termos
individuais, com os dirigentes principais (DAVIS et al, 1997). Em geral, poticas e
procedimentos nesta etapa não são formalizados, e é uma fase onde são lançados os pilares da
cultura, da estratégia e dos valores da organização. Davis et al (1997) cita que crenças sobre
crescimento, diversificação, endividamento, controle acionário e posicionamento podem ser
influenciadas pelos princípios do fundador.
B) Empresa Familiar, Crescendo e Evoluindo.
A evolução da empresa familiar mostra algumas características específicas deste
estágio (DAVIS et al, 1997). Primeiramente observa-se que uma maior complexidade da
empresa requer a formalização de muitas diretrizes e poticas. Entre elas, regras explícitas
para entrada de membros são fundamentais para que os filhos não se agarrem às suas ações
como forma de proteção. No obstante em que a geração paterna, para acompanhar sua posição
na empresa, tende a melhorar seu estilo de vida ou assumir papéis filantrópicos visíveis na
comunidade, a expansão e reestruturação podem coincidir com a entrada da segunda geração.
Famílias com antecedentes culturais diversos tendem a tomar decisões diferentes neste
estágio. Trata-se de uma fase onde o(s) proprietário(s), que estava(m) mais acostumados ao
hands on”, agora necessitam de delegação, e os desafios estão relacionados à aquisição de
capital, questões de mercado e produto, e planejamento estratégico.
Quando a organização entra num processo de formalização, pode existir uma
reorganização por unidade de negócios, tipo de produto ou localização geográfica, e, muitas
vezes, o crescimento é provocado pela entrada num novo mercado, o que pressiona as
operações e o fluxo de caixa. Nesta etapa, além de sistemas de informação, as empresa em
evolução necessitam de poticas profissionais de recursos humanos. Os gestores da empresa
passam a necessitar de novos conhecimentos e qualificações profissionais e as estruturas e
62
processos, necessários para melhorar a coordenação, precisam se aproximar ao que prega a
indústria, criando diferenciações hierárquicas e funcionais. Além disso, políticas profissionais
de recursos humanos são necessárias.
C) Empresa Familiar Complexa
Quando a empresa familiar chega a este estágio, pode ser entendido que enfrentou
com sucesso os desafios que lhe foram impostos e geralmente afugentam as demais. Este
estágio sugere que existe um maior mero de membros da família acionistas, assim como
fundos de investimento, holding, stock options para funcionários, ações negociadas em bolsas,
em alguns casos (DAVIS et al, 1997). As empresas neste estágio precisam de um grande
volume da capital para manter e avançar em seus interesses e uma forma de manter o controle
da família e permitir investimento externo, organizando a empresa como holding;
Quando a empresa é mais complexa que a família, há um leque de oportunidade
para familiares, sejam eles posições, emprego ou dividendos. Isso mantém os membros ainda
interessados nela. Neste estágio geralmente o conselho de administração possui membros
externos, mas ainda podem ser dominados pelos membros da família, e existe a necessidade
de um gerenciamento de informações, no sentido de manter os acionistas informados.
Em muitos casos, a família fica numa posição tranqüila pelo fato de um ramo estar
no controle, e a empresa não é afetada por conflitos de incerteza.As emoções são baseadas
menos em fatores inconscientes ligados a relacionamentos antigos, e mais na satisfação das
necessidades pessoais dos diferentes ramos da família. Se a organização optar por manter um
proprietário no comando, então é preciso desenvolver liderança no conselho de administração
que represente os interesses dos acionistas. Se a família optar por sair da gestão, então o
conselho é o veículo de controle. A natureza profissional da empresa mostra que padrões
gerenciais serão válidos para membros e não-membros da família.
Os riscos desta etapa são inerentes a uma possível perda do foco estratégico e
inovação inteligente, devido à arrogância dos líderes e fala de sensibilidade, e o desafio é
manter a empresa sensível, criativa e ao mesmo tempo disciplinada. Além disso, a empresa
deve ter cuidado com a diversificação nesta etapa, para não diluir investimentos.
63
D) Diversidade de Sucessões
Segundo Davis et al (1997, p. 201), “a sucessão é o teste supremo de uma empresa
familiar”. Começa muito cedo em algumas famílias, que são pró-ativas e planejam seu
desenvolvimento. Algumas transições envolvem mudança no top management, outras na
estrutura e na cultura. Davis et al (1997) afirma que, muito embora a sucessão abranja os três
círculos, o mecanismo dispara a partir das opções sobre a composição acionária.
Além disso, o sonho e a visão comum motivam e agregam a família e são usados
para preparar a próxima geração. Se a família quer vivo o sonho da empresa, precisa renovar
seu esforço em cada geração.
Davis et al (1997, p. 211) cita que,
quando a suceso envolve substituição de liderança sem alterar a forma básica da
empresa, grande parte daquilo que o proprietário aprendeu no passado é aplicado ao
futuro. Contudo, quando a suceso envolve não apenas uma mudança da guarda,
mas também uma reestruturação da forma fundamental da empresa, a adaptação
exigida do sistema é muito maior. Neste caso, pouco daquilo que funcionou no
passado poderá funcionar bem no futuro.
Nas empresas familiares o controle da família determina o detentor do poder
supremo, mesmo que a gestão esteja totalmente profissionalizada e composta de executivos
externos.
64
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O referencial metodológico é a base para a cientificidade da pesquisa. Para
Lakatos e Marconi (1991, p. 39) “não há ciência sem o emprego de métodos científicos”. Este
método, portanto, é entendido como as atividades desenvolvidas de forma sistemática e
racional para atingir o objetivo, e, ao fazê-lo, traça o caminho a ser seguido, detecta os erros, e
auxilia as decisões. Para Castro (1978, p. 33), “o objetivo da metodologia é o de ajudar-nos a
compreender, nos mais amplos termos, não os produtos da pesquisa, mas o próprio processo”.
O conceito moderno de método científico entende-o como a teoria da investigação, que vai
desde o descobrimento do problema até procedimentos ou dados empregados na obtenção da
solução incorreta, onde inicia um novo ciclo de investigação.
Neste capítulo está descrita a abordagem metodológica utilizada com a proposição
de analisar a evolução do Grupo RBS ao longo de seu ciclo de vida e compreender seu
processo de profissionalização.
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Segundo Minayo (1994), o objeto das ciências sociais é predominantemente
qualitativo. A pesquisa qualitativa pode ser entendida como um complemento da quantitativa,
pois possibilita um método investigativo com maior abrangência e profundidade. A pesquisa
qualitativa tem como fonte direta o ambiente de dados, é predominantemente descritiva, o
enfoque indutivo é o preferido na análise dos dados, e tem preocupação significativa com o
processo. Dito isto, levando-se em conta a natureza do problema, bem como a necessidade de
aprofundamento, o presente estudo é classificado como pesquisa predominantemente
qualitativa. A metodologia qualitativa combina o racional com o intuitivo e o foco pico é no
desdobramento do processo (HARI DAS, 1983). Contudo, Turner (1983) alerta para o risco
inerente da pesquisa qualitativa em criar uma série de problemas de tratamento e análise de
dados, pois gera grande quantidade de dados não padronizados que, dada a natureza da
pesquisa, não podem ser previstos antecipadamente.
O método de abordagem utilizado foi o descritivo. Mattar (1998) define este tipo
de pesquisa pela sua caracterização em apresentar objetivos definidos, estruturaçãogida para
solução de problemas, procedimentos formais, além de estabelecer relações entre variáveis
65
definidas. Esta pesquisa constitui-se de uma abordagem predominantemente qualitativa e não-
experimental ou ex post facto, através de estudo de caso singular (Yin, 1994). De acordo com
Bruyne et al (1977, p. 224), o estudo de caso compreende uma “análise intensiva,
empreendida numa única ou em algumas organizações reais”.
Yin (1994) cita que de maneira geral, os estudos de caso são a estratégia preferida
quando as perguntas de pesquisa estão relacionadas a “como” ou “por que”, quando o
investigador possui pouco controle sobre os eventos, e quando o foco é sobre um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto de “vida-real”. Questões “como” e “por que” são mais
explanatórias e lidam com ligações operacionais, necessitando serem traçadas ao longo do
tempo, ao invés de analisar freqüências ou incidência de algo. Ou seja, o estudo de caso não
representa uma amostra, e a meta do investigador é expandir e generalizar teorias
(generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística) (YIN, 1994).
Além disso, de acordo com Yin (1994), os estudos de caso se sustentam em muitas técnicas
como uma história, mas adicionam duas fontes de evidência: observação direta e entrevistas
sistemáticas.
Yin (1994) complementa, ainda, que existem pelo menos cinco diferentes
aplicações para estudos de caso. A mais importante é explicar ligações causais nas
intervenções da vida real que são muito complexas para estratégias experimentais. A segunda
aplicação é descrever uma intervenção e o contexto da vida real em que a mesma ocorreu. A
terceira significa que estudos de caso podem ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação.
Na quarta aplicação, estudos de caso podem ser utilizados para explorar as situações em que a
intervenção que está sendo avaliada não é clara. E a quinta aplicação pode ser a “meta-
avaliação”, ou seja, um estudo sobre um estudo de avaliação.
Os procedimentos metodológicos adotados tiveram um delineamento de
perspectiva longitudinal, definido como o período que vai desde 1957, época de fundação da
empresa, até final de 2005. Uma análise histórica propicia que se examinem questões
envolvendo evolução e mudança, o que torna importante uma condução de estudos
longitudinais.
66
3.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE
A categoria de análise deste estudo é o 7 Ss Framework. Este modelo, como
referido, observa a empresa através de sete elementos: valores compartilhados, estrutura,
estratégia, sistemas, habilidades, estilo de gestão e top management. O modelo provê uma
estrutura de análise da organização como um todo, pois a existência destes elementos
configura uma relação objetiva de análise em cada período de tempo. Primeiramente, o
diagrama apresenta a idéia de uma multiplicidade de fatores que podem influenciar a mudança
numa organização. Em segundo lugar, o diagrama representa a interconexão dos elementos.
Finalmente, não há hierarquia entre os elementos, onde qualquer um deles pode ser o
influenciador em determinada situação.
O 7 Ss Framework foi estabelecido como categoria de análise, pois o diagrama
pode representar as principais modificações no contexto da empresa. Assim, do ponto de vista
da organização familiar, a interconexão, e as mudanças decorrentes, dos eixos de família,
empresa e propriedade pode levar a alterações na organização. Estas alterações podem ser
identificadas em qualquer um dos elementos do diagrama, mas ao se olhar para o modelo
como um todo, a magnitude destas alterações pode ser identificada. Estes casos respondem
aos objetivos secundários da pesquisa, pois, na existência do entendimento de como as
mudanças na relação família, empresa e propriedade possam ter alterado o TMT da empresa,
por exemplo, levando a mudanças no estilo de gestão, re-adequação da estrutura ou
modificação na estratégia. Assim, o 7 Ss Framework torna-se a ferramenta que provê um
checking list detalhado para avaliação da empresa em cada etapa de seu ciclo de vida.
3.3 UNIDADE DE ANÁLISE E ELEMENTOS PESQUISADOS
O universo da pesquisa compreende o setor de empresas familiares. A amostra da
pesquisa – sujeito do estudo – foi intencional, constituindo-se de uma empresa familiar de
mídia – RBS, devido ao fato de tratar-se de um estudo de caso único (YIN, 1987). A escolha
da empresa estudada levou em consideração, entre outros fatores, principalmente, o acesso à
pesquisa nas áreas de gestão proporcionado pela mesma, além de ser uma empresa de
referência nacional no seu segmento. A pesquisa foi aprovada pelo Presidente e Vice-
Presidente Executivo, cujo projeto foi apresentado pelo pesquisador para fins de aprovação.
67
Os elementos pesquisados são os integrantes dos círculos da empresa, família e
propriedade do Grupo RBS, pertencentes à Diretoria Executiva. Contudo, para a compreensão
dos papéis de cada um na organização, alguns termos precisam ser esclarecidos.
A estrutura de propriedade da organização é composta de três holdings: IMA,
JAMA e FEC. A IMA é pertencente à família da matriarca Ione Pacheco Sirotsky e dos quatro
filhos (Nelson, Pedro, Suzana e Sônia), e detém 51% das ações da empresa. A JAMA, por sua
vez, é pertencente à família de Jayme Sirotsky e filhos (Sérgio, Marcelo e Milene), e detém
41% das ações do grupo. A FEC pertence a Fernando Ernesto Corrêa e filhos, e participa com
8% das ações da empresa. Estas três holdings controlam as holdings RBS Participações S.A.,
criada com o objetivo de abrigar os investimentos do Grupo em áreas não regulamentadas
pela lei de Radiodifusão. Atualmente, a RBS Participações S.A. detém participações nas
seguintes empresas: Net Serviços de Comunicação S.A., RMD do Brasil S.A. e RBS
Interativa. A RBS Participações S.A. também é a detentora da marca "RBS" pela qual a
empresa recebe royalties dos veículos de mídia do Grupo. Com o novo acordo de acionistas,
as holdings controlam a nova holding criada: RBS Controladora e Afiliadas.
Os entrevistados, portanto, foram:
o Jayme Sirotsky – Presidente do Conselho de Administração da RBS, acionista,
membro da holding JAMA e membro da família de 1ª geração, irmão de
Maurício Sirotsy e um dos fundadores da empresaS
o Nelson Sirotsky – Diretor-Presidente da RBS, acionista, sócio-gerente da
holding IMA e membro da família de 2ª geração, filho do fundador Maurício
Sirotsky Sobrinho, na empresa desde 1971;
o Pedro Pullen Parente – Vice-Presidente Executivo da RBS, não-acionista e sem
vínculos familiares, na empresa desde 2003;
o Geraldo Corrêa – Vice-Presidente de Mídia Impressa e Rádios da RBS,
membro da holding FEC, filho de Fernando Ernesto Corrêa, sócio minoritário,
na empresa desde 1983;
o Afonso Antunes da Motta – Vice-Presidente de Televisão e Rural, não-
acionista e sem vínculos familiares, na empresa desde 1987;
o Antonio Tigre – Diretor Executivo de Gestão, não-acionista e sem vínculos
familiares, na empresa desde 1991;
o Eduardo Damasceno – Diretor Executivo e Finanças, não-acionista e sem
vínculos familiares, na empresa desde 1991;
68
o Sérgio Sirotsky – Diretor da RBS em Santa Catarina, filho de Jayme Sirotsky,
membro da holding JAMA, na empresa desde 1983;
o Eduardo Sirotsky Melzer – Diretor da RBS emo Paulo, neto do fundador
(filho da filha mais velha de Maurício) e membro da holding IMA, na empresa
desde 2003.
Além disso, o pesquisador também realizou uma entrevista com o consultor que
acompanha o processo de profissionalização da RBS, e especialista em empresas familiares,
autor base da teoria utilizada, John Davis. Esta entrevista foi realizada em Porto Alegre,
durante uma das visitas de consultoria à RBS.
3.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Por tratar-se de uma pesquisa predominantemente qualitativa, um dos
sustentáculos da mesma está na utilização da técnica da entrevista. A coleta de dados
primários foi feita através de entrevista semi-estruturada (ver Apêndice), permitindo uma
cobertura mais profunda de forma a entender o que o entrevistado considera como aspectos
mais relevantes a determinado problema, e observação participante, de forma a compreender
os hábitos, atitudes, interesses, relações pessoais e características da vida organizacional. Os
dados secundários são provenientes de análise documental, através de documentos e registros
históricos.
A análise do ciclo de vida está pontuada pelos momentos críticos que a empresa
passou. Esta identificação dos momentos críticos foi baseada na observação mais imediata dos
integrantes do TMT da empresa, que descreveram os femenos por seu maior e mais direto
conhecimento, incluindo executivos, familiares e proprietários da organização.
Para o melhor desenrolar do processo de coleta de dados, o mesmo foi dividido
em etapas:
1. Análise documentalidentificação e análise de documentos e registros
históricos que forneceram alguns subsídios concretos para responder às
perguntas de pesquisa e conseqüentemente ao problema;
2. Entrevistas Semi-Estruturadas – entrevistas em profundidade, onde se
obteve dos entrevistados o que os mesmos consideravam como aspectos
69
mais relevantes do ciclo de vida da empresa, representados pelos momentos
críticos, assim como as mudanças nos elementos do “7 Ss Framework”;
3. Registro do pesquisador de forma a complementar a análise, a partir de sua
observação dos femenos ocorridos na empresa. Neste caso, cabe
mencionar a ligação do pesquisador com a organização, ao longo de 12
anos como funcionário, constituindo possivelmente uma observação de
longo prazo.
A partir de então, foi feita a pré-análise, caracterizada pela organização do
material a partir de que tipo de informações utilizar. Posteriormente, preparada a descrição
analítica onde o material recebeu um estudo aprofundado orientado pelas perguntas de
pesquisa e pelos referenciais teóricos. Finalmente, a interpretação inferencial, configurando a
etapa de reflexão acerca do material empírico.
A análise dos dados foi pautada de forma a evitar um de seus principais
obstáculos: a intimidade do pesquisador com a organização, o que poderia configurar em certa
obviedade nos resultados.
3.5 TRAJETÓRIA DA PESQUISA
As entrevistas com o TMT foram conduzidas utilizando-se o roteiro detalhado no
Anexo B, e foram realizadas entre os dias 12 e 21 de dezembro de 2005, todas nas
dependências da RBS em Porto Alegre, excetuando-se a de Sérgio Sirotsky, realizada durante
um almoço em Florianópolis. Esta entrevista teve a duração aproximada de 2 horas. De
maneira geral, os entrevistados receberam o pesquisador em suas respectivas salas.
A maioria das entrevistas foi realizada sem interrupções, demonstrando a total
disposição dos entrevistados em participar do processo e fazer suas inferências. Cada uma das
conversas teve seu desenvolvimento em tempos diferentes, com um mínimo de 50 minutos,
chegando a mais de 75 minutos em alguns dos casos.
O clima encontrado foi de abertura e transparência, onde cada um dos
entrevistados fez suas inferências baseadas no roteiro de entrevistas, de forma que o
pesquisador pudesse obter a maior amplitude possível dos temas em questão. Isso demonstra a
familiaridade que o grupo possui com o tema ‘empresa familiar’. Um aspecto interessante é
que os entrevistados integrantes da família possuem uma linha de raciocínio e informações
70
comuns referentes ao tema de evolução da empresa, momentos importantes, situações críticas,
movimentações familiares, e dinâmica de propriedade.
Outro aspecto importante relaciona-se com a abertura de todos para discutir os
temas. Este é um aspecto particularmente importante, pois, o pesquisador também é integrante
da empresa, e poderia encontrar barreiras a determinados assuntos devido ao nível de
informação que necessitava para a pesquisa. No entanto, os entrevistados demonstraram muita
tranqüilidade no decorrer das conversas, abrindo as informações necessárias para a condução
da pesquisa.
Além disso, de maneira geral, os entrevistados se colocaram à disposição do
pesquisador, caso houvesse necessidade de complementar as informações para a pesquisa,
demonstrando, mais uma vez, a abertura para a temática. Ainda, além dos membros
pertencentes à família, o que demonstrou maior afinidade com o tema de empresas familiares
foi o entrevistado Antônio Tigre, Diretor executivo de Gestão, em virtude de ter participado,
em novembro de 2005 de um curso em Harvard com John Davis sobre o tema.
A entrevista com John Davis, que é o consultor que acompanha o
desenvolvimento da RBS sob a ótica dos três círculos, foi realizada em 2004. Contudo, os
temas abordados foram de caráter generalista, não avançando muito no tema da empresa. De
qualquer forma, os insights desta conversa também são utilizados na apresentação e análise
dos dados.
3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Na elaboração deste trabalho de pesquisa, faz-se necessário apontar aspectos
referentes às suas limitações. Primeiramente, o fato de ser um estudo de caso único, gera
limitações peculiares deste tipo de delineamento - impossibilidade de generalização dos
resultados para outras organizações. Em segundo lugar, realizar um estudo de caso numa
grande empresa como a RBS, sendo o pesquisador funcionário, fez com que o projeto
recebesse algumas modificações justamente pelo fato de que determinados assuntos
encontrariam um terreno árido em termos de abertura de informações. Assim, o projeto final
foi elaborado respeitando-se as limitações do caso.
71
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Este capítulo aborda primeiramente as condições do setor em que a empresa em
estudo se encontra. Posteriormente, são identificados e descritos os períodos identificados
pela pesquisa que representam fases distintas dentro do ciclo de vida da organização.
Finalmente, a partir da identificação destes períodos, são avaliados o desenvolvimento
tridimensional de família, empresa e propriedade, e apresentadas as alterações nos elementos
do 7 Ss Framework. Durante a apresentação dos dados são feitas inferências a partir do
referencial metodológico.
4.1 CONDIÇÕES DO SETOR DE MÍDIA NO BRASIL
Como o estudo de caso desta pesquisa foi realizado numa organização de mídia, é
importante o entendimento de que, no Brasil, a indústria da dia é formada em grande parte
de empresas familiares que aumentaram seu endividamento como fonte de financiamento para
competir no setor. De acordo com Blecher (2003), aproximadamente 40% das empresas de
mídia e telecomunicações do Brasil estão sob a tutela familiar. Segundo Lobato (2004), “as
empresas apostaram no crescimento da economia e na estabilidade do câmbio, na segunda
metade dos anos 90, e se endividaram emlar para diversificar os negócios e aumentar a
capacidade de produção”.
A indústria da mídia vem sendo afetada nos últimos anos por duas mudanças. No
cenário internacional, a queda nas ações das empresas causada por circunstâncias como a
redução nos gastos com propaganda, o fraco desempenho das TVs a cabo e a decepção em
relação ao desempenho da Internet acabaram, por provocar um movimento de ajustes nas
empresas. E no cenário nacional a adoção, por parte das familiares empresas de mídia, do
digo de Melhores Práticas, para atrair novos investidores em condições mais favoráveis e,
desta forma sair do mercado da dívida como forma de financiamento, combinada com a
recente mudança na legislação brasileira, que passou a permitir que pessoas jurídicas e
investidores estrangeiros adquiram até 30% do capital de empresas de mídia nacional.
O setor da mídia foi afetado de maneira contundente no final da década de 90,
com a desvalorização cambial no inicio de 1999 e uma sucessão de crises: Crise da Rússia,
crise da Ásia, crise da telefonia. As sucessivas crises, e principalmente a da telefonia, segundo
72
Eduardo Damasceno, um dos entrevistados da pesquisa, “a crise pegou mais a RBS do que
qualquer outra empresa de dia”. Logo depois a bolha da internet estourou, e a partir do
estouro da bolha, em 2000 e em meados de 2001, no setor de mídia como um todo começou a
se desenhar uma crise mais fundamental.
O movimento global de recuperação das empresas de mídia tende a ser
acompanhado pela busca de parcerias estratégicas capazes de diluir o custo de produção de
conteúdo sobre uma plataforma de distribuição mais ampla globalmente, associada à
produção de conteúdo de qualidade, diversificando fontes de receita como forma de diminuir
a vulnerabilidade em relação aos ciclos econômicos. Eduardo Damasceno (entrevistado)
sustenta que “não dava pra tocar um negócio com uma plataforma regional, e hoje dá pra se
dizer que não da pra tocar nem com uma plataforma nacional (...). Determinados negócios
necessitam de plataformas se não globais, internacionais”.
o movimento nacional deverá ser o de atrair novos investidores, com forte
potencial de crescimento do mercado de mídia, como forma mais eficiente das empresas
ajustarem sua estrutura, a partir da definição do tipo de investidor necessário e adequado,
sejam eles institucionais ou estratégicos especializados na instria que podem trazer, além de
capital, a experiência internacional e sinergias a serem exploradas. Como existe uma pressão
para que os meios de entretenimento e mídia tenham mais escala e abrangência geográfica,
devido aos custos e à pressão de anunciantes, a formação de redes latinas de dia com a
criação de um forte bloco para competir na região deve ser um dos principais fatores que
podem motivar o interesse de estrangeiros no setor.
Contudo, a mudança mais significativa no cenário nacional ocorre com a Lei
10.610 sobre a participação de capital estrangeiro nas empresas jornalísticas e de
radiodifusão. Esta lei esclareceu os limites impostos ao capital estrangeiro, adaptou as
restrições de concentração econômica no setor de mídia à nova realidade de abertura para
investimento e manteve o mercado aberto para entrantes, pois num contexto de permanente
transformação, descontinuidade e ruptura tecnológica, não fazia sentido manter as empresas
nacionais isoladas ou sem condições de concorrer com as estrangeiras.
Mas para ter acesso ao mercado global de capitais, as corporações brasileiras
tendem a adotar um modelo de governança no qual a família se limita ao papel de acionista
(BLECHER, 2003). Do ponto de vista histórico, somente cerca de 15% das empresas
familiares permanecem nas mãos da mesma família na terceira geração e aproximadamente
40 % das grandes empresas de mídia estão sob a tutela familiar (BLECHER, 2003). A
separação dos sistemas parece ser a questão central e decisiva que se coloca para essas
73
empresas. Segundo Liberman (2003), existem perspectivas concretas de presença de novos
investidores no mercado brasileiro de dia, pois um terço de todas as fusões e aquisições
realizadas em 2002 ocorreram no mercado da comunicação e da dia. Isto demonstra o
interesse dos investidores pelas empresas do setor, e mais, a entrada do capital estrangeiro é
essencial para o restabelecimento da saúde financeira das empresas de jornalismo e
radiodifusão, pertencentes, atualmente, em sua maioria a grupos familiares (Liberman, 2003).
No obstante em que o capital estrangeiro está regulamentado,o necessárias as regras com
relação à propriedade cruzada (isto é, propriedade de mais de um meio cultural pela mesma
pessoa) e à concentração vertical (controle pela mesma pessoa de diversas etapas da cadeia
produtiva, da produção à distribuição), de forma a diminuir o controle dos meios culturais por
um grupo restrito.
Porém, esta mudança da legislação, não é por si suficiente para atrair
investimentos, caso as empresas de mídia não se tornem eficientes. A entrada destes
investidores, que deve iniciar um processo de transformação profunda, pode implicar em
alguma influência na gestão da estratégia, e pode exigir das empresas maior transparência e
adoção de práticas internacionais de governança corporativa. Desta forma, acionistas e
gestores das principais empresas de mídia nacionais estão buscando modelos de governança,
propondo que poderão fortalecer sua competitividade e capacidade de captação de
investimentos, além de tornarem-se mais receptivas às preocupações e metas de seus
acionistas.
Então, o aumento na eficiência da gestão de ativos parece ser um imperativo para
a sobrevivência de grandes corporações de mídia. O re-ordenamento das estruturas
patrimoniais deverá gerar efeitos sobre o resultado das mesmas, uma vez que os indicadores
de bom desempenho sinalizam a ocorrência de fluxo de caixa positivos no futuro, o que pode
impactar diretamente na avaliação das ações da empresa e sua atratividade no mercado de
capitais. Este re-ordenamento passa pelo modelo de profissionalização da gestão, onde o
destino estratégico e operacional da empresa deverá, em tese, ser entregue a um profissional
selecionado no mercado.
Esta profissionalização, contudo, também pode ser um reflexo das dinâmicas
internas, oriundas da relação entre familiares e acionistas. A empresa familiar, via de regra,
passa por um momento em seu ciclo de vida em que a complexidade da família supera a
complexidade da empresa, como representado pela Figura 9. O relacionamento entre a família
e a complexidade da empresa cria, para os membros da primeira, um ambiente onde existem
oportunidades financeiras e de carreira. Quando a empresa é maior que a família, existem
74
mais oportunidades para os membros familiares, o que mantém a paz na família e mantém
seus membros interessados na empresa, o que contribui para a mesma continuar crescendo.
Figura 9 – Nível de Oportunidades Individuais na Complexa Empresa Familiar
Fonte: Davis et al (1997)
Ambos os casos estão relacionados com a empresa objeto do estudo de caso. Em
meados da década de 90, a RBS se tornou maior que seus acionistas. Contudo, na medida em
que a família e empresa evoluem, a passagem para a terceira geração pode representar um
risco relacionado à Figura 9. Assim, o entendimento da complexidade da relação família,
empresa e propriedade, acabaram por se tornar o motivador da RBS em acelerar seu
desenvolvimento como empresa familiar profissionalizada.
4.2 HISTÓRICO DO GRUPO RBS
A RBS é uma empresa multimídia regional que opera no sul do Brasil, tem como
missão "facilitar a comunicação das pessoas com o seu mundo". Foi fundada em 1957 por
Maurício Sirotsky Sobrinho, e opera rádio, televisão, jornal, internet, serviço de informação e
uma fundação social. Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os principais mercados da RBS,
que conta com 6 jornais, 26 emissoras de rádio, um portal de internet, 2 emissoras locais de
televisão, uma gravadora, uma operação voltada para o segmento rural e uma empresa de
logística. Possui ainda 18 emissoras de TV afiliadas à Rede Globo – trata-se da maior rede
Sistemas de Alta
O
p
ortunidade
Sistemas com
Oportunidades
Limitadas
Complexidade
da Em
p
res
a
Complexidade
da Famíli
a
75
regional de TV da América Latina (SCHIRMER, 2002) – e a Rede Gaúcha Sat de rádio, com
123 emissoras afiliadas, distribuídas ao longo de uma dezena de estados brasileiros.
Fundamentalmente, a RBS é uma empresa de comunicação, situando-se no que se
denomina no Brasil de “setor de mídia”. Trata-se de uma organização com 48 anos de
existência, e que possui um quadro de aproximadamente 5.000 funcionários, com um
faturamento que em 2005 chegou à casa de R$ 1 bilhão, sendo franqueado como o terceiro
maior grupo de mídia do Brasil, atrás apenas das Organizações Globo e do Grupo Abril.
Concentra no Rio Grande do Sul e Santa Catarina seus empreendimentos em televisão aberta
e a cabo, rádio, jornalismo impresso e Internet.
1) Primeiro Período do Ciclo de Vida (1957 a 1968)
O primeiro período compreende os anos entre 1957 e 1968, quando a empresa
existe a partir da entrada do primeiro fundador comocio da rádio Gaúcha e vai até o
movimento de recompra da TV Gaúcha, onde começa a se organizar a “empresa familiar”.
A origem da RBS data de 1957. Contudo, nas palavras de Nelson Sirotsky,
Diretor-Presidente da empresa, e um dos entrevistados da pesquisa,
o início da RBS (...) é mais um referencial histórico do que uma fundação. Eu
participei, eu estava na reunião com meu pai com o Jayme, com Fernando Ernesto.
Isso foi nos anos 70, mais ou menos. Nós não tínhamos uma data de fundação, e a
data de fundação ficou a data em que o Maurício virou sócio da Rádio Gaúcha, no
dia 31 de agosto de 1957 e que estava até na carteira de trabalho dele. Mas a
empresao começa ali. Na realidade o Maurício vira sócio de uma empresa e
assume a liderança de gestão da empresa.
Assim, mesmo que oficialmente a empresa tenha sido iniciada em 1957, os dois
membros mais antigos entrevistados, Nelson Sirotsky (Diretor-Presidente) e Jayme Sirotsky
(Presidente do Conselho de Administração), são claros ao afirmar que a empresa familiar
inicia mesmo em 1968, depois de um período de compra e venda de sociedades (compram a
TV Gaúcha em 1962, vendem em 1965, e retomam o controle acionário em 1968), quando
Maurício e Jayme passam a ser sócios do empreendimento. Este, na opinião dos entrevistados,
é o marco do que viria a se configurar como uma empresa familiar. De acordo com Nelson
Sirotsky, Maurício chama o irmão para trabalhar junto ele começa a dar o contorno de uma
empresa familiar”. De acordo com Eduardo Sirotsky Melzer, “acho que no momento da
76
fundação da empresa, no momento em que meu avô começou a jornada dele e que ele sentiu
uma necessidade de ter alguém de confiança perto dele, quando ele convidou o Jayme para
entrar. Ali nasceu a empresa familiar”.
Um dos aspectos interessantes que surge aqui é que este “começo”, ou o
entendimento que as pessoas possuem deste início da empresa, mostra verdadeiramente como
eram as coisas naquele período. Os próprios proprietários não têm certeza lógica da data de
criação da organização, pois não possuem registros históricos do fato, excetuando-se a
Carteira de Trabalho do fundador. Isso denota a informalidade em que as coisas eram feitas
nos primórdios da empresa, quando a empresa é apenas uma idéia a ser realizada, onde os
proprietários estão no centro de tudo e as estruturas e procedimentos sãonimos e informais.
O fundador, Maurício Sirotsky Sobrinho, era filho de José Sirotsky e Rebeca
Birmann Sirotsky, imigrantes provenientes da Rússia para uma colônia judaica em Erebango,
no planalto do Rio Grande do Sul. Nasceu em 1925, mudou-se com a família para Passo
Fundo (RS) onde cresceu e iniciou sua carreira como comunicador. Outro elemento
importante da análise: a história mostra Maurício comando sua carreira como comunicador.
Esta é uma variável que acabou por desenhar um dos valores que seguem até hoje na empresa,
e a moldar o perfil dos presidentes pertencentes à organização em sua história, assim como
definir por onde iniciariam na empresa os membros da segunda geração.
O perfil empreendedor de Maurício apresenta-se na compra da Rádio Gaúcha, que
acontece num momento de crise da emissora. Esta crise só foi superada sob a gestão de
Maurício, e através de significativas inovações, além de organização do trabalho como
empresa. (SCHIRMER, 2002). Seu perfil é exemplificado por Schirmer (2002, p. 27): “em
viagens tinha a mania de instalar vários televisores no quarto do hotel para acompanhar as
programões de vários canais ao mesmo tempo (...) também lia e recortava todos os jornais e
revistas que podia, para recolher sugestões”. Ainda segundo Schirmer (2002), mesmo depois
de receber a notícia de que estava com um câncer maligno na parótida (glândula salivar),
Maurício seguiu sendo o mesmo líder carismático e encantador. Schirmer (2002, p. 31) relata
também que Maurício era o visionário sonhador, que dizia pouco antes de nos deixar: ‘estou
pensando nos 100 anos da RBS. Eu não vou estar aqui, sei disso. Quer dizer, estarei sim,
espiritualmente. Estarei na sua história. Nós, afinal, fazemos a história no dia-a-dia das nossas
vidas’”.
Exemplos do perfil inovador do fundador são citados por Schirmer (2002), tais
como em 1962 a compra de equipamentos de transmissão provenientes da Inglaterra, antenas
direcionais da Alemanha, aparelhos de videoteipe dos Estado Unidos. Na luta pela audiência,
77
identificou a valorização da produção local como vantagem competitiva. Segundo Schirmer
(2002, p. 59),a TV Caxias, Canal 8, inaugurada em 22 de fevereiro de 1969, foi a primeira
estação a operar em cadeia com a TV Gaúcha, mas produzindo também programação local, o
que acontecia pela primeira vez no Brasil”.
2) Segundo Período do Ciclo de Vida (1968 a 1971)
O segundo período do ciclo de vida vai de 1968, quando começa a existir o
contorno de uma empresa familiar, até 1971, momento de forte crise vivida pelos
empreendedores, que coincide com a entrada da segunda geração (filho e genros do primeiro
fundador) no negócio.
Jayme Sirotsky, também um dos fundadores da empresa, segundo Schirmer
(2002, p. 138), “vai se juntar a Maurício na instalação e lançamento do Canal 12, assumindo o
gerenciamento comercial da Rádio e da TV Gaúcha. Os dois vão formar, a partir dali, uma
simbiose perfeita, um complementando o outro, a segurança dos pés no chão de Jayme, dando
sustento aos vôos da criação sonhadora de Maurício”.
Em 1971 apresenta-se a primeira crise, esta de ordem financeira. Os então três
sócios (Maurício, Jayme e Fernando Ernesto Corrêa – que se juntara aos irmãos ainda nos
primórdios, mas viria se tornar sócio no final da década de 60), amarguram uma crise
financeira em virtude da situação falimentar do jornal Zero Hora, no qual os sócios possuíam
50% do controle acionário desde 1968. A crise só foi resolvida com um empréstimo avalizado
pelo patriarca da família, José Sirotsky.
3) Terceiro Período do Ciclo de Vida (1971 a 1986)
O terceiro período se encontra entre os anos de 1971 e 1986, iniciando-se com a
entrada da segunda geração e culminando com uma brusca mudança de rumo na família,
causada pelo falecimento do primeiro fundador, Maurício Sirotsky.
E em meio à crise de sobrevivência, onde, segundo Nelson Sirotsky, “a única
palavra de ordem era custos, redução de custos, economia, luta pela sobrevivência”, inicia-se
78
a entrada da segunda geração na família. Nelson Sirotsky, filho de Maurício, aos 17 anos
coma a trabalhar na empresa. Segundo Nelson,
é um outro marco, não por ser eu, mas pelo que eu significava. Eu era a primeira
pessoa da segunda geração de uma empresa que estava começando e que tinha uma
crise gigantesca. Então a minha entrada na empresa, acompanhada alguns meses
depois da entrada do Carlos Melzer, que era casado com a minha irmã, e da entrada
do Marcos Dvoskin, que era casado com a outra minha irmã, era um movimento
típico de empresa familiar em que o fundador traz os filhos para trabalhar junto para
ajudar, independente se é qualificado ou não.
Eduardo Melzer cita que houve um momento importante na empresa, na família,
quando o Maurício sinalizou a diferenciação do Nelson dos outros”. Jayme Sirotsky sustenta
que a RBS “como toda empresa familiar, começou a partir da visão dos empreendedores que
era uma visão normal de quem queria correr riscos e queria crescer, que pensava a exemplo
das gerações anteriores em abrigar a família dentro do negócio”. Os entrevistados afirmam
que a entrada da segunda geração na empresa caracteriza um momento crítico em sua curva
de evolução.
Estes depoimentos comprovam a teoria de Davis et al (1997), onde neste estágio,
o fundador ou fundadores, chama os familiares para ajudar a desenvolver o negócio, e esta
entrada ocorre completamente sem critérios. São os filhos e os genros que são chamados para
ajudar, pois o negócio começa a crescer, e isto caracteriza o estágio do eixo da família
denominado entrada na empresa familiar”. Por este aspecto, o ano de 1971 pode ser
considerado um momento marcante na história da empresa.
Neste período, a presença da família e propriedade na gestão executiva era de
100%. Eram basicamente Maurício, Jayme e Fernando Ernesto Corrêa. Dois membros da
família Sirotsky e todos detentores de capital. É importante salientar, contudo, que Fernando
Ernesto Corrêa era caracterizado como um “tio”, um membro da família, mas como esta
pesquisa separa efetivamente a família Sirotsky, Fernando Ernesto é considerado apenas
como proprietário. Assim, olhando-se para o modelo dos três círculos, a configuração
demonstrava sobreposição das esferas de família, propriedade e empresa (figura 10):
79
Figura 10 - Estrutura Família, Empresa e Propriedade no Período 3.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados primários
De acordo com o testemunho de Jayme Sirotsky, começamos a desenvolver
estratégias para a perpetuação da empresa, isso no começo da década de 70, a empresa já
tinha passado sua fase inicial de estruturação, já tinha uma definição estratégica, e aí
começamos a fazer essa visão futura, já enriquecida com alguns destes problemas e conflitos
em outros ramos da família”. Jayme, ao citar problemas e conflitos anteriores, refere-se ao
fato de que a história envolvendo os irmãos é oriunda de um outro negócio familiar, onde o
irmão mais velho de Maurício possuía uma corretora e viera a falecer. A então viúva passara o
comando da empresa para o filho, que por sua vez demitiu Maurício, o que levou ao
desmantelamento da empresa. A história mostra que a família já havia passado por uma crise
de relacionamento em virtude de um negócio, e isto possivelmente contribuiu para que os
fundadores buscassem ser uma empresa familiar profissionalizada.
Sérgio Sirotsky sustenta que o segredo do sucesso da RBS deve-se ao fato de que
os proprietários/família começaram a ouvir pessoas (especialistas) antes dos problemas
começarem. Isso é comprovado pelo movimento feito por Maurício, ainda em 1971, de
contratar o consultor João Bosco Lodi para assessorar e preparar o filho Nelson para os
desafios da profissionalização da empresa. Lodi fora durante muitos anos o único especialista
brasileiro em empresas familiares. Segundo Nelson,
eu tinha 17 anos. Alguns meses depois apareceu João Bosco Lodi... 35 anos tem
isso. O Lodi foi uma tentativa de fora, mérito do meu pai, do Jayme, do Fernando,
que enxergaram que isso seria uma empresa familiar. Com a entrada da segunda
geração, realmente estava se marcando como uma empresa familiar. O Lodi
acompanhou a minha carreira uns 20 anos, como acompanhou a de todos, depois
foram entrando os outros, o Pedro, depois os filhos do Jayme, tentando estabelecer
um processo que eu acho que hoje é o clima que nós estamos vivendo, de ser uma
empresa familiar profissional.
F
a
míli
a
Empresa
Propriedade
80
De acordo com Jayme Sirotsky, durante vários anos o Lodi nos transferiu
sugestões, que nós fomos aos poucos absorvendo no sentido de ir nos preparando para as
transições geracionais. Mas mesmo assim a segunda geração entrou na empresa com o
aspecto familiar muito mais forte do que o aspecto profissional”.
Algumas análises importantes podem ser feitas aqui. Primeiramente, os
fundadores viam que a empresa começava a crescer, e, com a entrada da segunda geração,
estava se caracterizando uma empresa familiar. Segundo, a experiência vivida anteriormente
pelos membros da família, pode ser entendida como um dos elementos mais importantes na
decisão dos fundadores de tornar a RBS uma empresa familiar profissionalizada. Terceiro, a
condição de profissionalizar a empresa foi devidamente caracterizada, devido à contratação de
João Bosco Lodi para consultoria da empresa e preparação dos membros da segunda geração.
Lodi (falecido em 2003) possuía uma sólida cultura filofica e teológica (formou-se em
Roma), tornou-se professor da FGV, administrador de empresas e reorganizou importantes
empresas jornalísticas, além de ter publicado mais de 20 livros. Na qualidade de consultor,
tornou-se um dos poucos especialistas na matéria de empresas familiares. Este elemento
mostra a preocupação da empresa em contar com apoio de consultores, o que é demonstrado
ao longo de todo a sua evolução.
Neste período, de acordo com Sérgio Sirotsky, os valores, da então primeira
geração eram liderança forte, valorização do talento, comprometimento familiar,
transparência, qualidade e presença marcante da família na administração da empresa. De
acordo com Nelson Sirotsky, “na recompra da TV em 68, tem ali antes, com certeza, uma
visão estratégica, intuitiva do meu pai, isso é indiscutível, que está presente até hoje, que são
duas coisas; a valorização do local (...) e a visão multimídia.
O desenvolvimento da RBS foi acompanhado tamm por alguns estudos
realizados no Sul do Brasil. Entre eles, a Dissertação de Dulce Márcia Cruz, na Universidade
Federal de Santa Catarina, que acabou se tornando livro, publicado em 1997. A citação abaixo
serve para referenciar alguns dos valores presentes na empresa e difundidos por Maucio
Sirotsky. Segundo Cruz (1997, p. 46),
sem discordar do papel social, moral e educativo dos meios de comunicação,
discussão muito em voga na época e até hoje, Maurício sirotsky acrescentava a nova
postura racional do empresário de comunicação que nascia na década de 70:
‘sabemos todos que a comunicaçãoo pode ser apenas um negócio. Mas ela
precisa ser um negócio também, ela precisa perseguir os lucros para sobreviver,
senão ela não se fortalecerá (...). Nós precisamos disciplinar nossas vidas, nós
precisamos ter um orçamento, precisamos saber quanto podemos gastar e para saber
81
quanto podemos gastar precisamos saber qual a estimativa que o mercado nos
oferece de receita.
No final da década de 70, a família possuía 10 estações de TV, cinco emissoras de
rádio, um jornal, uma editora e uma gráfica. No período entre 1969 e 1986, o crescimento da
empresa ocorreu da seguinte forma:
Quadro 1 – Crescimento da RBS de 1969 a 1986
1969 Formação da primeira Rede Regional de Televisão do país com a inauguração da
TV Caxias
1970 RBS adquire o seu primeiro jornal - Zero Hora
1973 Formação da rede de rádios FM da RBS
1976 RBS inaugura a Rádio Atlântida FM/ Porto Alegre
1979 Surge a primeira emissora da RBS TV em Santa Catarina (Florianópolis)
Surge a Rádio Cidade FM/ Porto Alegre
1981 Surge a Rádio Atlântida FM/ Florianópolis
1982 Criada a Fundação RBS, hoje Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.
Surgem as Rádios Farroupilha AM/ Porto Alegre e Drio da Manhã AM/
Floriapolis
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Nelson Sirotsky destaca ainda três momentos que considera marcantes na historia
da empresa: os incêndios da TV Gaúcha em 1972 e Zero Hora em 1973, e o início das
operações em Santa Catarina, em 1979. O incêndio na televisão acelerou o processo de
passagem do sistema preto e branco para o sistema em cores, que, com o sucesso da novela
O Bem Amado”, da Rede Globo, faz uma verdadeira alavancagem na emissora. O incêndio
no jornal, segundo Nelson, alavancou a sinergia e a visão multimídia. Já no que tange à
chegada da RBS em Santa Catarina, Nelson Sirotsky afirma:
aí está muito presente a questão da empresa familiar, quando o pai, que trabalhou na
rádio aqui, me chamou e disse: ‘é tu que vai pra Santa Catarina’ (...). Ele disse que
tinha que ter alguém da família, algum Sirotsky (...). Claramente ali tem duas coisas,
tem uma estratégia intuitiva, vamos crescer respeitando o local; uma visão
multimídia, vamos repetir em Santa Catarina um projeto multimídia; e tem a questão
familiar, o meu movimento de vir, e aqui claramente os filhos ... estava botando cada
um num lugar, família, dentro das suas qualificações, das suas competências, mas
empresa de família com a diferenciação que tinha um processo que tentava gerir esse
conceito de ser uma empresa familiar profissional.
82
Segundo Cruz (1996, p. 15), “a chegada da RBS ims uma nova dinâmica
competitiva no setor, antes de mais nada, por ser uma empresa administrada dentro de
parâmetros de eficncia, racionalidade e profissionalismo.
Schirmer (2002, p. 115) relata da seguinte forma a entrada de Pedro Sirotsky,
irmão de Nelson na empresa: “em 1979, quando Nelson estava indo pra Florianópolis dirigir a
TV Catarinense, Maurício chamou-o, colocando-o na prensa: - o que é que tu queres ser: um
artista ou me ajudar, junto com teus irmãos, a fazer desta empresa uma grande empresa?”
Jayme Sirotsky sustenta que a empresa teve o que se pode chamar de sorte, pois os familiares
que acabaram entrando eram profissionais de boa qualidade e que foram dando seqüência ao
crescimento, mas já com uma inoculação de um sentido de profissionalização, sem que
houvesse um processo formal, apenas a disseminação da iia. Nelson reafirma o caminho
para a visão profissional ao mencionar que
a melhor contribuição minha para este processo de empresa familiar foi quando
começamos a estabelecer processos mais formais da relação família e empresa,
porque até 81 era uma confusão total, fazia permuta, entregava refrigerador em casa,
a família toda viajava por conta da empresa...
Sérgio Sirotsky, membro da segunda geração pelo lado da família de Jayme,
atribui sua entrada na empresa à característica da família de origem judaica de que “filho
parado em casa é problema”. Segundo Sérgio Sirotsky, “aos 17 anos meu pai me falou ‘tu não
vai ficar parado em casa, pois não é bom pra ti’ (...) depois de enrolar um pouco, comecei a
trabalhar em rádio, pois o pai dizia que era o ramo onde o negócio começou, era mais fácil de
aprender, e mais, todos nos aqui começamos pelo rádio”. Isso ocorreu quando a RBS comprou
a rádio Farroupilha, e estava fazendo ajustes, e Sérgio começou como operador, numa época
em o nome ajudava muito. Sérgio Sirotsky sustenta que teve sorte na minha carreira, pois
encontrou um papel que agregava valor para o seu chefe na época. Em certa oportunidade,
quando desafiado a criar um quadro na programação da rádio, que teve alta aceitação,
percebeu que sua idéia gerara dinheiro. Sérgio Sirotsky afirma que
“nessa hora fui ‘mordido pelo bicho’. Eu vi uma idéia minha virar dinheiro para a
empresa do meu pai (...). Pensei: comecei a ajudar meu pai (...). Muitos anos da
minha carreira a minha preocupação era como contribuir mais como negócio, pois o
que o meu pai me dava era muito mais do que o meu salário. No inicio, a minha
grande motivação era pagar o déficit moral que eu tinha com o meu velho. A minha
motivação era contribuir com o meu pai”.
83
Aqui se observam alguns elementos importantes. Primeiro, o fato de a segunda
geração ter sido induzida a trabalhar na empresa por características familiares. Em segundo
lugar, essa entrada na empresa ter sido através de um negócio (rádio) que fora o cerne de tudo,
por onde tudo começou, e a vontade do pai de que o filho seguisse os seus passos. Finalmente,
a prisão psicológica que se criou através do permanente débito com o pai. Esta pesquisa não
visa analisar questões psicológicas, mas no entendimento do ciclo de vida da organização
familiar, este tipo de situação é presente e não pode ser descartada.
Em 1981 os acionistas começam a tentar organizar a empresa, pois até então eram
trêsrculos, um dentro do outro, embora se tratassem das mesmas pessoas. As tentativas de
organização societária e separação dos círculos eram frustradas, pois, segundo Nelson
Sirotsky, o tema era sempre o mesmo ’vamos fazer um acordo...’, eles não conseguiam, não
conseguiam, era um assunto difícil devido à informalidade”.
4) Quarto Período do Ciclo de Vida (1986 a 1991)
O período quatro da história do Grupo RBS inicia-se com o falecimento do
primeiro fundador e conseqüentes ajustes nas estruturas de família e propriedade, onde o
irmão Jayme Sirotsky assume o comando da empresa, vindo a encerrar-se na passagem de
comando do tio (primeira geração) para o sobrinho (segunda geração).
Em 1986 morre Mauricio Sirotsky, vítima de um aneurisma ascendente da aorta.
Surge uma nova sociedade, que era a sociedade não mais dos fundadores Maurício e Jayme,
mas a sociedade da esposa do Mauricio e seus filhos com o Jayme. Na época, a empresa
possuía 2.500 funcionários. Neste período, a presença da família na gestão executiva era
também de 100%. Eram 6 membros, sendo todos detentores de capital e 5 familiares. Assim,
olhando-se para o modelo dos três círculos, a configuração demonstrava sobreposição das
esferas de família, propriedade e empresa, não apresentando difereas em relação ao período
3 do ciclo de vida.
Aqui é necessário o registro importante. Deste momento em diante, a RBS passou
a figurar no estágio intermediário do eixo de propriedade do modelo de Davis et al (1997).
Com o falecimento de Maurício, a relação entre as gerações passou a ser a de uma geração e
meia, um fato curioso, não muito comum. Outro elemento importante remete novamente à
característica das empresas familiares em seu início, relacionadas à informalidade de estrutura
84
e procedimentos. Segundo Schirmer (2002), “quando Maurício e Jayme Sirotsky recuperaram
o controle da TV Gaúcha em 1968, chegaram a estabelecer que Maurício ficaria com 55% das
ações, Jayme com 45% e Fernando Ernesto Corrêa com 10% - o que daria um total de 110%”.
Analisando-se o fato, observa-se que não só na empresa, mas também na estrutura de
propriedade, a RBS vivia em informalidade.
De acordo com Nelson, de 86 a 91 nós fizemos, eu e o Jayme, aquilo que o pai e
o Jayme não conseguiram fazer: a estruturação, criar acordo, ter uma empresa de 100% e não
mais de 110%, com negociação entre as partes, um comprando o pedaço do outro, pagando,
acertando, fazendo acordo, criando estrutura, criando o conselho de administração, trazendo
gente de fora para nos ajudar na concepção disso”. De acordo com Schirmer (2002, p. 133),
uma semana após o seu falecimento (Maurício), no dia 2 de abril, num encontro
marcado pela emoção, a diretoria plena da RBS e familiares de Maurício Sirotsky
Sobrinho se reuniam para empossar a nova dirão geral da empresa. Jayme assumiu
a presidência, tendo Nelson Sirotsky e Fernando Ernesto Corrêa como vice-
presidentes, e Carlos Melzer, Marcos Dvoskin e José Pedro Sirotsky como diretores
superintendentes.
Neste período, havia emoção misturada ao processo. Os dois irmãos tinham
constrangimento de falar sobre divies societárias. Mas em meio à emoção do falecimento
do fundador, Sérgio Sirotsky sustenta que,
bateu o filme da SIBISA, e a Ione o Nelson possivelmente devem ter decidido que o
Jayme era o mais adequado para tocar o negócio (...). Meu pai conquistou a
confiança dos Sobrinhos pela sua competência (...) Não se deu a entender prazos,
mas o pai vinha trabalhando o Nelson. Ficou um acordo não dito, quase um
compromisso de morte com o irmão. Quando o Mauricio morreu, algumas coisas
forma mitificadas (...). Há um terremoto de emoções numa empresa familiar quando
morre o líder carismático. As decisões aconteceram como coração e razão ao mesmo
tempo. Já tinha o episodio anterior. No calor da emoção, o próprio Nelson se sentiu
despreparado naquele momento. E o meu foi ouvir pessoas e discutir o que era ser o
presidente minoritário. Geraldo Hess e João Silveiro, especialistas em direito
societário, ajudaram bastante a entender como o tio tinha de ajudar o sobrinho não
mais como pessoa, mas como organização. começou o embro da IMA, JAMA e
FEC.
Por ocasião deste processo, o então consultor João Bosco Lodi (apud Schirmer,
2002), comentou que “a postura de dona Ione Pacheco Sirotsky, no epidio de sucessão de
seu marido, foi exemplar. Ela poderia até, como detentora do capital acionário, ter pretendido
assumir a presidência da RBS. Preferiu entregá-la ao cunhado, sócio-minoritário, até o maior
amadurecimento do filho Nelson”. Este é um movimento que pode ter mudado os rumo da
empresa. Ao fazer este movimento de entregar a empresa para Jayme, a esposa do então
85
falecido fundador Maurício demonstrou a confiança nos laços familiares, na capacidade do
irmão em tocar a empresa, na segurança no processo de preparação do filho Maurício, para
assumir o negócio a partir do desenvolvimento de maturidade empresarial, e possivelmente
pela experiência da família quando da sociedade anterior que não fora bem-sucedida. Assim,
este acaba sendo um indício do que os fundadores queriam como empresa familiar
profissionalizada, confirmando também a teoria de Davis et al (1997) que sugere que em
determinados momentos os familiares precisam reavaliar seu compromisso com a empresa e
ter o negócio em primeiro lugar.
Schirmer (2002) sustenta que é a partir da transição Maurício-Jayme que a RBS se
ajusta a novos modelos de gestão, com a constituição de um Conselho de Administração, um
dos primeiros de empresas familiares no país a contar com conselheiros externos. No entanto,
Antônio Tigre sustenta que neste período o conselho tinha pouca inflncia, pois a maioria era
de familiares, com apenas dois membros externos, um pouco ausentes, um conselho pouco
processual. O conselho funcionava muito mais para troca de informações.
Dentro da perspectiva de mudanças que passavam a ser feitas na empresa, a
mudança no estilo de gestão foi marcada pela tentativa de iniciar uma profissionalização e
romper com o formato personalista. De acordo com matéria publicada na Revista Exame de
16 de setembro de 1987,
uma das primeiras providências tomadas depois da morte de Sirotsky foi a criação
de uma diretoria de RH, antes uma simples gerência subordinada ao departamento
jurídico. Surgiram, então, diversas áreas novas, entre elas, a de cargos e salários, a
de treinamento, a de relações no trabalho. Ao mesmo tempo e, como que
incorporando ao novo estilo um toque paternalista típico do passado, fortaleceu-se o
serviço próprio de assistência médica e assistência social.
A mesma matéria, mais adiante, citava: “os diretores, gerentes e supervisores
passaram a ser convocados para programas de treinamento que tentam romper o traço
personalista da administração anterior e criar um novo padrão de administração”. Contudo, de
acordo com Antônio Tigre, “a empresa continua paternalista. Ela nunca perdeu sua linha de
conduta. Menos, é verdade, mas ainda paternalista. Agora é que começam a aparecer
diferenças”. O Conselho de Administração comou a ser criado com a orientação do Geraldo
Hess e João Carlos Silveiro na gestão de Jayme, que criara um mecanismo para auxiliar em
sua gestão, e acabou por trazer algumas pessoas de fora. Hess e Silveiro eram advogados
especialistas em direito societário, mais uma prova de que a empresa fazia uso freqüente de
profissionais de fora.
86
Neste período, o crescimento da RBS acontece através da crião do jornal Diário
Catarinense em Florianópolis, em 1986.
Com o passar do tempo, profissionalizou-se ainda mais a ação da empresa. As
condições internas foram mais marcadas do ponto de vista de processos, foram definidas as
formas de condução, as linhas de comportamento, as linhas de delegação de autoridade e
delegação de alçadas. Segundo Jayme, “o que nos considerávamos a profissionalização
definitiva: a efetiva separação da visão dos interesses da empresa da visão dos eventuais
sócios que participavam da gestão. Não a separação dos sócios da empresa”. Segundo Nelson
Sirotsky, “o conceito de Governaa Coorporativas criamos vinte anos atrás. Em 91s
implementamos a estrutura nova, com o Conselho, a Diretoria, eu assumi a Presidência da
empresa, com a visão de continuar. A partir de 91 o conceito de estratégia deixou de ser
intuitivo para ser processualizado”.
Algum tempo depois, em 1991, a empresa passa a constituir um Conselho de
Administração formal, que não havia até então. Havia um conselho de administração
informal, formado pelos membros da família. O conselho demorou a ganhar força, pois era
uma relação sobrinho e tio, cujas reuniões eram conduzidas com muita cautela para o tio não
desmoralizar o sobrinho, e issoo permitia que o conselho funcionasse. Mais uma vez com o
auxílio de consultores, a RBS desenha um acordo de acionistas formal. Os acordos até então
eram verbais, de confiança. E este acordo foi então endossado com todas as famílias,
acionistas, executivos ou não. Desenhou-se também o inicio de um processo de sucessão
profissional, onde foram estabelecidas as regras de entrada dos membros da família. Segundo
Jayme Sirotsky,
nós tomamos neste caso um caminho intermedrio, nem colocamos a proibição dos
familiares de participarem da empresa, que é um rumo que algumas empresas
familiares tomam, nem fomos tão abertos a ponto de convidar os familiares que
viessem participar da empresa. Eu diria que foi mais um sentido de criar obstáculos
do que facilitar, e com isso então a segunda geração, que já estava na empresa,
situou-se de forma mais profissional.
Observa-se que entre 1986 e 1991 ocorre uma verdadeira fase de transição, ou
uma gestão (Jayme Sirotsky) marcada pelo modelo de transição: há uma continuidade nos
valores da organização, começa a se desenhar o acordo de acionistas, surge o Conselho de
Administração misto incluindo membros da família e conselheiros profissionais, há uma
identificação das convergências societárias e o modelo de gestão caminha para a
profissionalização. O comportamento dos sócios da RBS nesta ocasião denota a busca da
87
preservação do negócio acima da família. Observa-se também que a construção da transição
para que Nelson assumisse a presidência era uma condição sine qua non, já que Jayme
detinha 41% das ações. Afonso Motta sustenta esta condição ao citar que iniciou sua carreira
na empresa “com o Jaime Sirotsky presidente da RBS, cumprindo uma transição até que o
Nelson assumisse”. De 1986 a 1991, a configuração das esferas de família, empresa e
propriedade continua com sobreposição. O TMT da empresa é constitdo por Jayme
(Presidente), Nelson Sirotsky e Fernando Ernesto Corrêa (Vice-Presidentes), e Carlos Melzer,
Marcos Dvoskin e José Pedro Sirotsky (Diretores Superintendentes).
5) Quinto Período do Ciclo de Vida (1991 a 1998)
O quinto período compreende os anos de 1991 a 1998, com a empresa sob o
comando da segunda geração, culminando com a maior crise vivida pela organização ao
longo de sua história.
Segundo Afonso Motta, a passagem do Jayme para o Nelson, marcou um primeiro
movimento no sentido da profissionalização. De acordo com Schirmer (2002, p. 135),
ao fazer o balanço de sua passagem pela presincia da empresa, em 1991, pôde
(Jayme) afirmar na convenção em que transmitiu o cargo a Nelson Sirotsky que o
faturamento da empresa em cinco anos havia praticamente dobrado: ‘orgulho-me de
ter conduzido e ter dado continuidade ao processo de preservação dos interesses dos
acionistas e, ao mesmo tempo, tendo a satisfação de ver crescer nesse período em
175%, em termos reais, os negócios da RBS.
A partir de 1991, os acionistas/familiares decidem organizar a empresa de modo
diferente. Além do mencionado Conselho de Administração formal, foram constituídas três
holdings, que juntas detém 100% do capital da empresa: IMA (família de Maurício, com
51%; JAMA, família de Jayme, com 41%; e FEC, família de Fernando Ernesto Corrêa, com
8%). É neste período que a RBS começa a ter uma estratégia mais clara, contando com o
apoio da empresa de consultoria americana Booz, Allen and Hamilton, são constituídos a
missão e os valores da empresa; não é mais a cultura dos “familiares” definindo a estratégia
da empresa; na medida em que evolui, os valores vão se profissionalizando; há a manutenção
de um valor que é parte da herança cultural de Mauricio Sirotsky, o compromisso social e
comunitário. De acordo com Nelson Sirotsky, “foi neste momento (meados da década de 90)
que a RBS começou a estabelecer missão e valores, antes era só intuitivamente, eles iam
88
acontecendo”. Para Antônio Tigre, Nelson assumiu a presidência e imprimiu uma nova
filosofia, deu uma nova cara para a empresa, mas sempre manteve a lógica de crescimento. As
questões fundamentais têm a ver com as investidas para mudar de patamar, fazer a empresa
maior. Isso é observável ao longo da historia com as incursões nas diversas áreas que a
empresa investiu.
Aqui cabe uma análise importante. A segunda geração assume o comando da
empresa e marca uma mudança na configuração dos sistemas de empresa e propriedade.
Pode-se sugerir que esta passagem marca a relação entre a informalidade e a formalidade
destas estruturas. Do lado da empresa, a expansão do TMT para além dos vínculos familiares
mostra mudança significativa nos parâmetros de gestão da empresa. Do lado da propriedade,
por mais claros que estivessem a participação de cada “braço” da família, é neste estágio que
são constituídas holdings.
Além disso, a efetivação da configuração societária ocorrera no período anterior,
mas também fora um reflexo da participação da segunda geração na condução dos acertos. A
reorganização na estrutura de propriedade ocorre porque, em 1968, quando os irmãos
hipotecam suas casas, se definem os percentuais de cada um, mas tudo muito informal. No
entanto, quando a empresa começa a se tornar um “império”, os percentuais são importantes e
precisam ser formalizados. Antes, a sensação de que “todos são donos”, depois, o eixo da
IMA com 51%, passa a ser o eixo dominante. Outro elemento importante, é que, valendo-se
do que poderia se chamar de “modelo mental”, a organização passa a contar com consultoria
agora na área de estratégia, com a contratação da Booz, Allen and Hamilton, uma das mais
importantes do cenário internacional.
É um período onde os gurus da época propagavam a necessidade da
diversificação, e por isso, neste período a RBS fez algum investimentos, tornando-se sócia da
Kaiser, comprando a ADP Systems e outros investimentos diversificados. Neste período,
Geraldo Corrêa atesta que foram formalizadas as poticas de recursos humanos da empresa,
criou-se o PPR (Programa de Participação em Resultados) e o programa de trainees. Também
é neste período que a Booz, Allen and Hamilton cria o modelo de Unidades de Negócio
(1994). Segundo Geraldo Corrêa, “antes disso era uma operação centralizada e não existia o
conceito de profit center (...). Era a onda da descentralização. E nós embarcamos neste
processo de descentralizar e transferir para as pontas a responsabilidade quase que total pelas
operações, no conceito de profit center (...). E há uma reestruturação da empresa a partir
disso”.
89
Nelson, ao assumir o comando da RBS, em seu discurso de posse, disse não ter a
pretensão de propor um sistema revolucionário dentro do grupo, e ao citar que a RBS era uma
empresa vitoriosa, reconhecida nacionalmente como uma das lideranças do setor, traçou seu
objetivo como sendo de buscar nos valores a inspiração para maior aperfeiçoamento e
desenvolvimento (SCHIRMER, 2002). A partir de 1991, com a segunda geração no comando,
a coalizão dominante da empresa é composto de 9 pessoas, sendo 5 membros da família.
Figura 11 - Estrutura Família, Propriedade e Empresa no Início do Período 5.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados primários
De acordo com Nelson Sirotsky, “quando o Jayme assumiu a Presidência do
Conselho já existiam dois conselheiros externos e depois de 91 em diante nós fomos
aperfeiçoando este processo”. Pela primeira vez em sua história, os dois principais órgãos
diretivos do grupo, Conselho de Administração e Comitê Executivo, passam a contar com a
participação de membros não-acionistas.
Segundo Antônio Tigre, as tentativas em gestão que se fizeram a partir da chegada
de Nelson à presidência sempre foram no sentido de adicionar algumas coisas, processos,
produtividade, meritocracia. Antônio Tigre cita que não há uma mudança de estilo, mas um
encorpamento” do estilo, mantendo coisas que são da essência da empresa. A empresa reage
muito mais ao momento que está vivendo do que a um estilo de gestão propriamente dito.
No período, o crescimento da RBS é representado pelo Quadro 2.
Quadro 2 – Crescimento da RBS de 1991 a 1998
1992 A RBS adquire seu segundo jornal em Santa Catarina - o Jornal de Santa
Catarina, de Blumenau;
É lançada a NET Sul, pioneira em TV a cabo no mercado brasileiro.
Empresa Propriedade
F
a
míli
a
5
3
1
90
1993 O jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, é incorporado pela RBS;
É incorporada a Rádio 102 FM/ Porto Alegre.
1995 Lançada a TVCOM em Porto Alegre, a primeira TV comunitária do Brasil.
1996 É criado o Canal Rural - produção de conteúdo dirigido ao setor de agribusiness;
É feita a associão com a Nutecnet (ZAZ) para o desenvolvimento do primeiro
portal brasileiro na internet;
Cria-se a Rádio CBN 1340 AM/ Porto Alegre.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Há, ainda, neste meio tempo, um momento importante da RBS, quando em 1995 a
empresa fez sua primeira emissão de títulos no mercado internacional.
Geraldo Cora sustenta que foi um peodo em que a empresa melhorou
significativamente a rentabilidade dasdios e TVs: “visitamos emissoras no EUA e
adaptamos muitas coisas aqui, reduzindo o custo fixo das operações (...). Criamos uma rede
(...). Não existia o conceito de rede. Existia a idéia, mas não a eficiência de uma rede”. Vários
negócios novos foram criados sob o guarda-chuva da Mídia Eletrônica: Canal Rural em SP,
TVCOM (inspirada em TVs do Canadá e EUA), início do processo de TV paga no Brasil
(pioneirismo), a NET. Segundo os entrevistados, entre 1996 e 1997, o negócio de TV paga
cresceu muito, e a empresa fez um split, onde a NET deixou de ser parte da TV e passou a ser
um negócio independente.
Mas na esfera de família, a década de 90 é quando ocorrem transformações
importantes. Em meados de 1996, os filhos de Jayme Sirotsky, Sérgio e Marcelo, passam a
revisar sua participação do negócio. É quando o primogênito de Jayme, Marcelo, decide sair
da empresa e em conjunto com Sérgio, começam a coordenar a discussão da JAMA. Segundo
Sérgio,
foi quando acabou a fase de encantamento, de pagar o pai, de seguir o caminho do
pai (...) passamos a nos perguntar qual era o verdadeiro motivo que estávamos ali.
Era ser a continuação do nosso pai? Eu tinha um sonho pessoal que passava pelo
negócio da família (...). Quando você amadurece se perguntaqual o seu projeto de
vida?’, e esta é uma pergunta fundamental para um membro de uma empresa
familiar que é praticamente induzido a entrar no negócio, como foi o nosso caso. E
se não dá certo a tua entrada, trabalhando com o teu primo? Lá adiante isso pode
botar a pique todo o esforço coletivo de harmonia.
Marcelo Sirotsky tinha na época 36 anos, havia implementado com sucesso o
projeto da NET, e era respeitado internacionalmente por sua liderança no negócio de cabo,
quando descobre que está com uma doença gravíssima. Depois de ficar uma semana sem
91
poder se mexer, numa cama de hospital, chegou à conclusão de que vinha competindo com a
imagem do pai, competindo com o irmão, e com a vida pessoal desabando. Segundo Sérgio
Sirotsky,
ele refletiu ‘é isso mesmo que eu quero fazer da minha vida?’ (...) e descobriu que
aquele não era o projeto pessoal dele. Ele vinha fazendo isso para atender muito
mais demanda do meu pai do que dele (...). A reação do pai foi péssima. Ele me
chamou e disse ‘teu iro pirou’. Queria que eu conversasse com o Marcelo pra
ajudar a entender (...) Conversei com o Marcelo e depois de ele me contar tudo, eu
disse ‘tu é louco. Como é que tu vai me deixar sozinho aqui?’. Ele respondeu ‘tu não
tá enxergando. Eu não vou deixar ninguém, eu vou mudar. Vou mudar de papel, vou
deixar de ser operador e olhar do ponto de vista do investidor. Eu quero ser outra
coisa.
Para Sérgio Sirotsky, este foi um aprendizado muito interessante, pois Marcelo
veio a se tornar um grande conselheiro, mesmo numa época o conselho não era efetivamente
atuante. Neste peodo quando os irmãos discutem seu projeto pessoal, houve uma dificuldade
de comunicação com o pai. Nesta época também, Jayme queria que os filhos tomassem a
iniciativa de coordenar a condução da sociedade entre os irmãos (Sérgio, Milene e Marcelo).
De acordo com Sérgio Sirotsky “a gente ficava dando voltas e não conseguia sair do lugar.
Chegamos à conclusão que precisávamos de ajuda externa (...)”.
Segundo Sérgio Sirotsky, o modelo de gestão sob a presidência de Nelson
Sirotsky é caracterizado pela existência de:
- Conselho de Administração;
- Comitê Executivo;
- Unidades de Negócios;
- Delegações – não há mais otapinha nas costas”, o personalismo;
- Alçadas definitivas;
- A gestão presta contas ao Conselho um esboço de profissionalização;
- A empresa dobra de tamanho.
Outro momento crítico na história da empresa ocorre em 1998, e segundo
Schirmer (2002), foi possivelmente a maior das crises vividas pela RBS em sua história, e
fora desencadeada com a ruptura do projeto do consórcio com a Telefónica de Espanha. O
endividamento feito na Net Sul, que seria equacionado pela sua fusão com a CRT e a Tele
Brasil Sul, passou a ter débitos de curto prazo. Segundo Schirmer (2002, p. 184),
a par de outros compromissos de curto prazo, em dezembro de 1998 a RBS foi
chamada a antecipar o pagamento de US$ 40 milhões de uma operação de US$ 50
milhões que venceria em 2003. No contrato havia esta opção de uma antecipação
92
(put), que os investidores se apressaram em acionar, diante das notícias que corriam
sobre a situação da empresa. Para saldá-la, a RBS vendeu por US$ 60 milhões a
participação que detinha na BCP de São Paulo, associada à Bell South e ao Banco
Safra. E enquanto se arrastava por quase dois anos a negociação da venda da CRT
para a Brasil Telecom, as desvalorizações cambiais de 1999 agravaram ainda mais a
crise, cuja superação exigiu inclusive o enxugamento do quadro de pessoal e a
suspensão de vários novos investimentos.
De acordo com Naiditch (1998),o sonho de entrar no cobiçado mercado de
telefonia acabou convertendo-se em pesadelo para o grupo gaúcho RBS”. Segundo Naiditch
(1998), o grupo estava repassando os 6% que detinha do capital da Telesp, cujo controle foi
assumido pelos espanhóis no leilão de privatização realizado em julho de 1998, e em troca, a
Telefónica cederia uma parte substancial de suas ações na CRT, a companhia de telefonia do
Rio Grande do Sul, arrematada no primeiro semestre do ano. Na ocasião da negociação, em
sociedade com a Telefónica a RBS formou uma holding, a TBS, com o objetivo de ficar com
a Tele Centro Sul e formar a maior operadora de telefonia da região sul. Mas os planos
frustraram-se com a decisão unilateral da Telefónica de fazer com que a TBS adquirisse a
Telesp - pelas regras da privatização um mesmo consórcio não poderia assumir mais de uma
empresa de telefonia fixa. A crise desencadeada gerou uma onda de boatos sobre a RBS, em
Porto Alegre, envolvendo um possível pedido de concordata e até na renúncia de Nelson
Sirotsky, que teria sido hospitalizado com depressão. Nenhum dos boatos se confirmou. De
acordo com Eduardo Damasceno,
quando se instalou a telefônica, ali começou uma fragilidade na organização, e que
culminou com a desvalorização cambial no inicio de 99, quando o dólar saiu de R$
1,20, depois foi pra R$ 1,36, depois foi pra R$ 1,70, R$ 1,80, na época a gente não
tinha cambiado da nossa dívida em dólar, foi uma sucessão de crises, Crise da
Rússia, crise da Ásia , crise da telefonia, desvalorização cambial. A nossa dívida por
conta da desvalorização cambial, regulando, colocou o grupo numa situação de
fragilidade. Em 98, nós tivemos uma redução expressiva, uma rodada de demissões.
6) Sexto Período do Ciclo de Vida (1998 a 2001)
Período seis da história inicia-se com as turbulências decorrentes da crise, onde a
empresa entra em mais um estágio de transição. É um momento onde a segunda geração passa
a repensar e discutir seu papel dentro da empresa e começam as movimentações no sentido de
acelerar o processo de profissionalização.
As o choque, em 1999, Nelson Sirotsky citava que os planos de expansão da
RBS haviam esbarrado no divisor de águas entre empresas brasileiras e companhias
93
internacionais: suprir as necessidades de investimentos. De acordo com Sirotsky (apud
Vassalo, 1999),
o sócio diz: ‘preciso de uns 600 milhões de dólares amanhã e de mais outro tanto
daqui a alguns meses’. Como vou levantar esse dinheiro? A Telefónica consegue
trazer uma montanha de capital para as operações brasileiras porque capta quase
tudo de que precisa com o público a um custo de cerca de 3% ao ano. Para a RBS - e
para qualquer outra empresa brasileira, de qualquer porte - o preço do dinheiro seria
rias vezes maior.
Ainda no reflexo da crise, a RBS mexeu em sua estratégia de negócios: saiu da
Telesp, vendeu o ZAZ, seu provedor de acesso à Internet, e passou à frente sua participação
na CRT, utilizando parte do dinheiro para pagar uma dívida de 175 milhões de dólares, feita
para financiar os negócios na área de telecomunicações. De acordo com Vassalo (1999),
“diante das dificuldades, a RBS optou por voltar a operar um nicho. O foco era reforçar os
negócios na área de comunicação na Região Sul do país e esperar por parceiros estratégicos”.
Neste processo ocorreu também a venda a Net Sul. Na oportunidade, a United Global
oferecera US$ 350 milhões em dinheiro, mas o negócio acabou sendo feito com a Globo, por
US$ 200 milhões em dinheiro e mais US$ 600 milhões em ações. Mas em virtude do estouro
da bolha virtual, esses 600 passaram a valer 60.
Para Eduardo Damasceno, momentos como a crise de 1998, aceleraram a
maturidade da família como detentoras de capital. O revés com a telefônica talvez tenha sido
a primeira frustração empresarial da RBS e, se trouxe danos por um lado, trouxe também uma
maturidade, um aprendizado que trouxe processos na empresa e na cabeça dos acionistas.
De 1998 a 2001, o crescimento da empresa é demonstrado pelo Quadro 3.
Quadro 3 – Crescimento da RBS de 1998 a 2001
2000 A RBS lança o jornal Diário Gaúcho - jornal do segmento popular com circulação
inicial na Rego Metropolitana de Porto Alegre;
É lançado o projeto RBS Interativa, sendo:
- RBS Direct (Marketing Direto);
- portal de internet clicRBS;
- RBS Rural, focada no agribusiness nacional;
- RBS Esporte para a compra e venda de direitos esportivos;
- RBS Jovem, focado no segmento jovem no país.
É inaugurada a TVCOM em Florianópolis;
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Inauguração a TVCOM em Joinville;
Associão da Net Sul com a Globocabo
A RBS torna-se sócia da plataforma nacional de Televio por Assinatura;
É criada a RBS Publicações - editora responsável pelo lançamento de livros e
colecionáveis.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Em 1999, ainda sob a euforia da internet, a RBS contratou a consultoria americana
McKinsey, que durante dois anos trabalhou na criação do projeto RBS Interativa, que durou
apenas um ano, e teve de ser reformulada. Aqui há um elemento que cabe destaque. Durante o
período de gestão de Nelson Sirotsky, a RBS se manteve aberta ao trabalho de consultorias
especializadas em estratégia e estrutura. Primeiramente através do trabalho da Booz, Allen and
Hamilton, que ajudou a “desenhar” a empresa em unidades de negócio. Depois a McKinsey,
que auxiliou no desenvolvimento do conceito de RBS Interativa. A McKinsey é uma empresa
privada de consultoria focada em grandes organizações ao redor do mundo.
Este momento é certamente um dos mais interessantes na trajetória da empresa,
pois marca uma passagem de perda de foco. A RBS passou a operar sob a lógica de se tornar
uma empresa multimídia regional com foco no consumidor. Continua presente o valor
multimídia, mas a linha de condução estava em integrar consumidores com os produtores de
bens e serviços, colocando uma empresa até então de mídia, como intermediária de trocas. O
que ocorreu aqui foi uma verdadeira drenagem de recursos financeiros e de pessoal, levando a
uma verdadeira desaceleração dos negócios tradicionais da RBS.
A lógica por trás do alinhamento conceitual proposto pela Mckinsey parecia clara:
a empresa começa a disputar não somente a fatia do bolo publicitário, que na época
apresentava índices de retração, como passaria a participar do “bolso” dos consumidores,
através de intermediação de trocas. Estes elementos foram fortemente influenciados pelo
movimento de convergência das dias, tecnologia e entretenimento, onde a dinâmica de
concentração multinacionalizada condicionaria os processos de industrialização do
entretenimento, com acordos entre gigantes das telecomunicações, alianças entre
conglomerados de mídia, nichos digitais e ofertas gratuitas, internacionalização dos negócios
com progressiva regionalização dos serviços (MORAES, 1998).
No entanto, ao apostar na convergência e mudar seu foco, a empresa deslocou
grande quantidade de profissionais de seus veículos tradicionais, mas não conseguiu
implementar o modelo estratégico desenvolvido pela McKinsey. O investimento causou uma
95
drenagem de recursos sem retorno, e depois de um ano o projeto foi alterado, permanecendo
poucos elementos do modelo original. É fato comum que empresas nacionais fazerem uso de
consultorias internacionais, que desconhecem muitas vezes as necessidades do mercado local,
e promovem planos estratégicos gigantescos, sem uma análise mais aprofundada das
condões locais.
Do ponto de vista da família e propriedade, este período marca o início do que
viria ser feito em termos de profissionalização. O grupo da holding JAMA, mais
especificamente Marcelo e Sérgio Sirotsky foram a São Paulo para contratar Renato
Bernhoeft, na época considerado um dos principais consultores em empresas familiares do
Brasil, para prestar consultoria à JAMA, para que fosse construído o acordo dos irmãos, o que
daria a tranqüilidade para os acionistas minoritários sobre o patrimônio numa eventual
ausência do patriarca Jayme. Segundo Sérgio Sirotsky,
a primeira pergunta dele foi ‘preciso que vocês três irmãos me digam qual seu
projeto pessoal’ (...). E eu não sabia. Meu irmão tinha isso muito claro, ajudar a ver
do ponto de vista do investidor. Eu não sabia se eu queria ser eu ou meu pai, e eu
fiquei mudo, ouvi o meu irmão falar tudo aquilo e comecei a chorar. S de lá com
uma crise de identidade muito grande. Pensei, será que fiz isso tudo até agora, e a
motivação era copiar meu pai e eu vi que eu nunca seria o meu pai. Eu achava que a
minha motivação era ser meu pai (...).Depois disso descobri que meu projeto de vida
era parecido com o do meu pai. podia ter meu caminho independente do meu pai (...)
a gente trouxe para dentro, através de um consultor externo, a racionalização do
sentimento. O consultor vê as incongruências e ajuda a renovar a relação.
Renato Bernhoeft auxiliou a evolão da JAMA, e isso foi levado aos encontros
dos sócios, quando chegam a um consenso de contratar o consultor para atender a todos os
lados da família.
Aqui cabe uma consideração importante. A holding JAMA teve um papel
fundamental na construção da profissionalização, pois os irmãos minoritários passaram a se
preocupar com sua posição, com a importância de se manter unidos diante de sócios
majoritários, mesmo familiares, mas que sabiam que na ausência do pai, toda a estrutura de
relação mudaria. Chegaram à conclusão de que não estavam prontos naquele momento de
representar 41% do patrimônio. Assim, decidem que um dos irmãos iria por dentro, como
executivo, e o outro por fora, no Conselho de Administração.
O trabalho da JAMA e da consultoria de Bernhoeft dá inicio a outro momento da
organização. De acordo com Nelson Sirotsky, “outro momento importante quando nós
trouxemos o John Davis (...) ele nos ajudou muito no distanciamento dos três círculos, foi
realmente neste momento que incorporamos esse conceito todo”. Em 2002, Nelson Sirotsky,
96
Pedro Sirotsky, Jayme Sirotsky, Sérgio Sirotsky, Marcelo Sirotsky, e Carlos Melzer foram
fazer um curso em Harvard, onde na oportunidade definiram a estrutura que a organização
possui hoje. A família trabalhou com Davis durante 2001 e em 2002 foram fazer o curso em
Harvard. De acordo com Nelson Sirotsky,
precisávamos dar um passo adicional que é, quem é da família e trabalha na
empresa, realmente precisa se submeter a regras profissionais, isso quer dizer que
pode ser demitido e ninguém pode ficar bravo, ninguém é obrigado a sair, ninguém é
obrigado a entrar, mas está dentro da empresa tem que ser profissional e mais, para
entrar – nós já temos uma terceira geração chegando – tem que ter regras que
priorizem a profissionalização (...) naquele momento o Pedro Sirotsky e o Carlos
Melzer disseram que queriam ficar de fora, ficariam no Conselho, iriam ser sócios.
7) Sétimo Período do Ciclo de Vida (2001 a 2005)
O período sete da história é marcado pela profissionalização efetiva da empresa e
inicia-se com a contratação de um especialista em empresas familiares mundialmente
reconhecido, que dá início a um novo momento de separação dos círculos família, empresa e
propriedade. Não é possível afirmar que este ciclo encerra-se em 2005. Mas a pesquisa tem
seu encerramento este ano.
A contratação do especialista em empresas familiares, John Davis, é talvez o
marco mais importante na trajetória de uma empresa que buscava se tornar uma empresa
familiar profissionalizada. O professor John Davis leciona administração de empresas na
Harvard Business School, onde é o coordenador do programa de empresas familiares. É
considerado o maior especialista internacional no tema, e tamm é presidente do Owner
Managed Business Institute, em Santa Bárbara, na Califórnia, uma instituição internacional de
educação para empresas familiares, especializada em consultoria, programas sob medida e
seminários. Davis é um dos pesquisadores que aperfeiçoou o modelo de desenvolvimento
tridimensional da empresa familiar. Este momento é considerado importante, pois é aqui que
são lançadas as bases definitivas, por se assim dizer, para a profissionalização efetiva do
grupo. Jayme comenta que durante o curso em Harvard,
já estávamos com as formas mais amadurecidas e decidimos ate o fim de 2002 tomar
as medidas finais de profissionalização. Consistiria na contratação de um executivo
qualificado para gerir do ponto de vista da operação da empresa. A presidência já era
do Nelson em caráter mais institucional, e a minha continuidade na coordenação do
grupo e do conselho.
97
Este momento é quando a família percebe que a empresa poderia garantir a
sobrevivência de vários setores da família Sirotsky até a segunda geração. Mas se a pretensão
era de tirar da empresa o sustento de todas as famílias Sirotsky depois da terceira geração,
quem iria ficar sem sustento eram todas as falias Sirotsky.
A partir de 2002, a empresa se configura como um consórcio de primos. As
negociações entre IMA e JAMA são constrdas pelos primos. Porém do ponto de vista da
JAMA, Jayme Sirotsky possui uma relação constante com Nelson Sirotsky. Mas esta relação
tende a possuir nova configuração, pois passará a ser entre pares. A IMA possui um cio-
gerente, Nelson, que adquiriu inclusive participações de seus irmãos. Já a JAMA tem sócio
gerente, mas não tem distribuição diferenciada de ações. JAMA, IMA e FEC irão representar
o capital fechado e são os mecanismos que deverão organizar e decidir a abertura de capital
da empresa. O capital do negócio está garantido numa holding que tem a divio exata da
sociedade, a RBS Controladora e Afiliadas. Este é um acordo societário que se conclui em
2006, e que deverá permitir a aquisição de novas concessões, o que só foi possível pela
profissionalização dos sócios e do conselho.
Em 2003, a chegada de Pedro Parente como Vice-Presidente Executivo, está
dentro de um movimento caracterizado por:
- decio de profissionalizar efetivamente a empresa;
- construir as demais ferramentas para profissionalização (holding);
- As três holdings laam um membro para ser representante no Conselho de
Administração, que passa por uma redefinição, em função do novo acordo de acionistas;
- Dois conselhos novos na família – Conselho e Assembléia de Família.
- Depuração dos valores da primeira, segunda e terceira gerações e como le-
los para as próximas, principalmente no que tange ao significado de pertencer a uma família
empreendedora;
- Critérios objetivos com vistas a separar a emoção do processo;
A entrada de Pedro Parente representou a tomada de algumas ações delicadas, que
foi a saída de alguns membros da segunda geração que estavam na empresa. Foi desenhada a
nova estrutura de governança que hoje é constituída de uma Diretoria Executiva, de um
Conselho de Administração, de um Conselho de Acionistas que na verdade é a assembléia
geral dos grupos onde estão representados os 100% dos detentores do capital. De acordo com
Jayme,
começamos a valorizar ainda mais as relões entre sócios e o conselho de família,
que é por sua vez coroado com uma assembléia, O conselho de família, que tem ao
mesmo tempo a relação societária e também a relação familiar e a relação afetiva, é
98
composto somente pela família Sirotsky. Nós entendemos que ali haveria a
representação dos valores e cultura familiares.
O site da empresa (www.rbs.com.br), na data de 11 de fevereiro de 2003,
apresentava a seguinte nota oficial:
Reunido sob a presidência de Jayme Sirotsky, o Conselho de Administração da RBS
aprovou hoje a nova estrutura organizacional do grupo, decorrente do processo de
constante aperfeiçoamento de sua gestão e de profissionalização de seus quadros
diretivos. As mudanças começam pelo próprio Conselho de Administração, que
passa a contar a partir de agora com Carlos Melzer. Depois de 32 anos de atividade
profissional, Melzer afasta-se de suas funções operacionais para se tornar
conselheiro, passando também a dar contribuição efetiva à empresa imobiliária
Maiojama, de propriedade dos acionistas da RBS. O vice-presidente Pedro Sirotsky,
que também integra o Conselho, anunciou o seu afastamento da área operacional em
Santa Catarina para, nos meses de abril e maio, fazer curso de aperfeiçoamento
profissional no exterior. A partir de 1º de junho responde pela coordenação das
áreas institucional e editorial da RBS-SC. Além disso, foi criada e começa a operar
hoje a Diretoria Executiva presidida por Nelson Sirotsky, que responde
diretamente pelas questões institucionais, estratégicas e editoriais do grupo. Também
foi apresentada pelo vice-presidente executivo Pedro Parente, que assumiu em 1º de
fevereiro, a nova estrutura operacional constitda por quatro unidades a ele
subordinadas: a Unidade de Televisão, dirigida pelo vice-presidente Afonso Motta; a
Unidade de Jornais e Rádios, dirigida pelo vice-presidente Geraldo Corrêa; a
Unidade de Participações e Desenvolvimento de Novos Negócios, dirigida pelo
diretor-executivo Ricardo Bernardes, e a Unidade de Gestão, dirigida pelo diretor-
executivo Antônio Tigre.
No entanto, a chegada de Pedro Parente não foi um processo muito fácil no eixo
da empresa. Quando o Nelson Sirotsky anunciou para os diretores executivos que haveria
outra pessoa acima deles, houver algumas reações principalmente dos que estavam numa
possível linha de sucessão. O contorno se deu pelo fato de que Nelson Sirotsky trouxe um
elemento com muita credibilidade externa e isso ajudou muito internamente, a vencer um
certo ceticismo de alguns membros que eram mais familiares que os próprios membros da
família. Isso é um elemento importante, pois trata de um fenômeno nas empresas familiares
que é uma das barreiras para mudança.
Mas a turbulência da chegada de Pedro Parente foi somente no eixo da empresa.
Não houve desconfortos na família. Isso é prova de que a família profissionaliza a empresa. A
análise importante aqui é que o primeiro passo para separar as esferas é profissionalizar a
família. Ou seja, que a família tenha o entendimento do negócio de uma forma profissional, e
não de uma forma afetiva. E isso coma com a consciência de sócios e familiares de que o
negocioo vai crescer na mesma proporção da falia. John Davis, na entrevista, comentou
que, num determinado momento, os familiares compartilham a riqueza, mas no futuro irão
compartilhar a pobreza, e esse geralmente é o choque da mudança.
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Aqui cabe mais uma análise importante. De fato, pode-se dizer que a família e os
acionistas deram um passo atrás para entender o que queriam do projeto empresarial RBS,
como se daria o crescimento, reforçaram as crenças que possuía na empresa e primaram pela
criação das condições para que o projeto empresarial fosse executado. O estabelecimento de
regras formalizadas para o acesso de familiares talvez seja um dos exemplos mais importantes
deste momento da empresa.
Os familiares que participam da gestão da empresa sustentam o mesmo ponto.
Para deixar completamente clara a nova etapa de profissionalização, foi reescrita a cláusula
que já havia sido escrita em 1991 que é a admissão de familiares, e deixando muito clara a
maneira como serão aceitos na empresa, adicionando também as formas e regras de demissão,
isto tudo assinado e aceito por todos. Eduardo Sirotsky Melzer cita que sua entrada na
empresa simbolizou um novo tempo, saindo de um modelo bastante familiar, onde as
principais posições eram ocupadas por membros da família.
Eduardo Sirotsky Melzer sustenta que eu entrei em um contexto mais objetivo,
de critérios mais estabelecidos, critérios de mercado, a empresa estabeleceu, entendendo que
tinha um projeto bastante desafiador, e aí estabeleceu critérios importantes para família. São
critérios, padrões um pouco mais rígidos do que para qualquer executivo normal”. Os critérios
utilizados para a entrada da terceira geração passaram a ser de, primeiramente, ter mais de 25
anos, formão com mestrado, MBA ou equivalente, e domínio da língua inglesa. O MBA
equivalente é altamente recomendado que seja uma escola de ponta. Deve ter experiência
profissional com sucesso comprovado, pelo menos uma promoção e, acima de tudo, tem que
existir a vaga na empresa.
No diagrama dos três círculos, ocorrem as seguintes movimentações,
representadas pelo Quadro 4.
Quadro 4 – Movimentações nos Eixos de Família, Empresa e Propriedade.
Sistema Familiar Sistema de Propriedade Sistema da Empresa
Criação de um Conselho de Família Formalização do Conselho de
Acionistas
33% da família no TMT, composto
de um total de 6 membros (2003).
Construção da Constituição da
Família
Reuniões regulares entre novos Conselho de Administração
profissionalizado
Acordo de acionistas Dir. Executiva profissionalizada
Definição de diretrizes para os
negócios
Foco profissional nos interesses da
empresa
100
Escolha dos membros para o
Conselho de Acionistas
Vice-presidência executiva
Definição de matérias de voto
qualificado
Formalização de processos
Política de Dividendos Formalização do estatuto geral da
empresa
Missão e valores Formalização do plano geral de
alçadas
Audiências
Alçadas da Diretoria Executiva
Acompanhamento do programa de
capacitação de acionistas
Acompanhamento da terceira
geração na empresa
Regras para ingresso da terceira
geração no necio
Regras para atividades profissionais
fora da RBS
Sistema de informações para
acionistas (membros da falia
recebem informações apuradas e
buscando cativar o DNA para
“querer” trabalhar no negócio)
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados primários
As competências do Conselho de Administração foram definidas como:
- Seguir orientações, missão e valores;
- Definir Plano Estratégico;
- Definir poticas de remuneração.
E as competências da Diretoria Executiva foram definidas no obstante de:
- Separação do institucional do operacional;
- Política de investimentos;
- Implementação da estratégia;
- Operação da empresa.
A configuração dos três círculos na RBS, a partir deste momento, passou a ser a
representação da Figura 12:
101
Figura 12 - Estrutura de Governança Corporativa no Período 7
Fonte: RBS
O Conselho de Família é o momento em que os membros da família Sirotsky RBS
focam num denominador comum, onde Jayme Sirotsky é o tio, e Nelson Sirotsky é o Nelson,
não o presidente. É um momento onde todos podem fazer perguntas de forma menos
melindrosa. As pautas são no sentido de prestar informações sobre a empresa, resultado,
dividendos. O Conselho de Família organiza as informações e prepara a Assembléia, que é
um misto de informativo empresarial e congraçamento social. Existe a conscientização, um
trabalho para que as pessoas se orgulhem, mas também um trabalho para saibam das barreiras
para entrar na empresa.
Pedro Parente sustenta que considera a relação dos três círculos na RBS uma
relação consistente, porque consegue definir para cada um desses círculos um conjunto
específico de medidas para a profissionalização. Para Pedro Parente, “claro que você tinha a
empresa e a propriedade, mas não estava tão claro que você tinha diferente da propriedade a
família. Tem membros da família que hoje o são proprietários, pode ser que venham a ser
no futuro”. Preservar a unidade familiar e os valores da família é importante para preservar a
propriedade da empresa, e são medidas completamente diferentes.
102
Na RBS, para profissionalizar a empresa, medidas foram adotadas primeiramente
para profissionalizar a família, através de ações como o Conselho de Família, reuniões
periódicas sobre os valores, dar a oportunidade de todos se manifestarem como estão fazendo.
Na profissionalização da propriedade, observa-se a importância de se ter uma visão de sócios
e acionistas, não mais de executivos, e entender qual é a diferença dessa visão, tratando
adequadamente a organização societária através de empresas holding para dar estabilidade ao
controle acionário. Na empresa, a profissionalização explicitou as regras, o que não significou
a família fora, e sim significa que, se tem família dentro, o membro da família tem que ser
bom o suficiente para assumir aquela posição, que não pode ganhar mais que a posição
proporciona, e que pode ser mandado embora. A RBS criou os mecanismos processuais para
evitar a indicação familiar e avaliações emocionais, tais como supor que porque o indivíduo é
pertencente à família, possua pré-requisitos de competência, de dedicação, de desempenho, e
que, acima de tudo, pode demitir um membro da família da empresa.
Com a entrada de Pedro Parente houve num primeiro momento um
distanciamento dos círculos, mais precisamente dos círculos de família e propriedade em
relação ao circulo da gestão. Para Eduardo Sirotsky Melzer, “a propriedade se afastou, a
empresa passou a andar de forma separada dos demais subsistemas e a família saiu do
processo”. Hoje são claros os limites entre os três sistemas, propriedade, família e empresa,
cada um com sua independência, mas ao mesmo tempo muito clara sua intersecção, porque,
segundo Eduardo Sirotsky Melzer, essa intersecção, e a capacidade de maximizar essa
intersecção, é que dá uma vantagem competitiva para um organismo como o nosso”.
Observa-se também, que há uma maturidade na família, do ponto de vista de
entender que precisa permanecer junta. O maior é o projeto empresarial e a condição
necessária, é continuar juntos independente das diferenças e questões pontuais, e manter a
capacidade de evolução. Esta questão também fez parte da historia da empresa. Segundo
Sérgio Sirotsky, seu pai, Jayme, após a morte de Maurício, buscou a manutenção da união na
família e na empresa, e sua frase na época até hoje é lembrada: “somos muito mais juntos do
que separados”.
Um exemplo de maturidade, proveniente da observação dos resultados da
pesquisa, é o depoimento de Geraldo Corrêa sobre a participação da holding FEC, liderada
pelo seu pai:
temos a vio de não ser um incômodo para a empresa (...). Minha trajetória sempre
se pautou pelo profissionalismo (...). Normalmente esqueço que sou acionista. Não
visto o chapéu de acionista. Faço questão de não participar de nenhum fórum que
103
o seja o fórum de executivos da empresa.o acho saudável participar de um
fórum que é ascendente aos meus chefes.
A processo de governança requer a existência, de fato, um conselho de acionistas.
Existe de fato um conselho de administração, com três membros externos, agenda mais rígida,
maior intimidade com o negócio e uma Diretoria Executiva que opera a empresa, e observa-se
que existe mais respeito entre os três elementos. A Diretoria Executiva sabe que tem que
prestar informações para o conselho, mas ao mesmo tempo, não está devidamente acostumada
a ter um conselho formal que manda. Neste processo de governança, os papéis do conselho de
administração são mais claros.
O próprio Conselho de Administração antigamente possuía pouca influência, pois
era formado somente pelos membros da família, depois passou a ter dois membros externos,
mas que eram ausentes, e o conselho era pouco processual, baseado muito mais na troca de
informações. No atual modelo de governança, há um conselho atuante, que busca a maior
intimidade possível com a operação, tem agenda fixa, fala diretamente com a auditoria
externa, exigem do presidente algumas coisas e tem responsabilidades importantes. Há
efetivamente uma processualização, mesmo com muitas das mesmas pessoas, e
principalmente, há um respeito pelo Conselho, que agora atua, questiona e interfere.
As mudanças na empresa foram estruturais, com o agrupamento de TVs e Canal
Rural, pois são pontos de relacionamento com a Rede Globo; agrupamento de jornais edios,
que são frente de expansão nacional da RBS. Segundo Geraldo Corrêa, “os movimentos feitos
de melhoria na Zero Hora fizeram com que os acionistas apostassem mais recursos no meio, e
hoje lideram o projeto de expansão da empresa”. São separadas as áreas de gestão e de
finanças. A primeira agrupando áreas com envolvimento com toda a empresa: jurídica,
eventos, recursos humanos, estratégia, TI, marketing corporativo e relações sindicais. A
segunda reunindo as áreas de suprimentos, investimentos, operações financeiras, credito e
cobrança, e contabilidade e controle.
De 2000 a 2005, o crescimento da RBS é apresentado através do Quadro 5.
Quadro 5 – Crescimento da RBS de 1991 a 1998
2001 Criação da ViaLOG, empresa de logística com operação na Região Sul;
Lançamento da gravadora Orbeat Music - voltada para a cena musical da Região
Sul.
2002 a RBS lança o Diário de Santa Maria - sexto jornal do grupo, o quarto lançado no
104
Rio Grande do Sul.
2003 É criada a Rede Itapema FM.
2004 A Rádio Metrô FM, de Porto Alegre é adquirida.
2005 É adquirida a 18ª emissora de TV aberta do Grupo, localizada em Joaçaba;
É adquirida a Nossa Rádio em São Paulo (SP), representando a expansão da RBS
para o mercado de São Paulo;
RBS cria a Vice-Presincia de Tecnologia e Inovação, voltando-se para o e-
business, e prepara para abril de 2006 o lançamento de um portal de negócios.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Aqui cabe uma análise de um elemento importante relacionado ao crescimento.
Após o período de ajustes e definições na relação família, empresa e propriedade, a
organização vota seu foco para o negócio principal, empresas de mídia. Contudo, sem
descuidar do processo de inovação e entrada em novos mercados, a empresa cria uma nova
vice-presidência para identificar oportunidades de crescimento em meio a Internet. Isso pode
ser um reflexo do modelo de Governaa, baseado na importância que o Conselho de
Acionistas e Conselho de Administração passaram a ter nodesenho” para o crescimento e
desenvolvimento da empresa. Os momentos críticos presentes na evolução da RBS, que
marcam estágios dentro do ciclo de vida, podem ser representados pela Figura 13.
Figura 13 – Momentos Críticos no Ciclo de Vida da RBS
Fonte: elaborado pelo autor, com base no resultado da pesquisa.
SISTEMA FAMILIAR
SISTEMA DE PROPRIEDADESISTEMA EMPRESARIAL
1. Início
2. Ex
p
ansão
/
Formaliza
ç
ão
3. Maturidade
1. Jovem Família Em
p
resária
2. Entrada na Em
p
resa
3. Trabalho Con
j
unto
4. Passa
g
em do Bastão
1. Pro
p
rietário Controlado
r
2. Sociedade entre iros
3. Consórcio de
primos
1991
1991
1998
1971
1957
1968
1986
2001
2001
2001
105
Legenda
1957 Maurício compra a Rádio Gaúcha, começa informalmente a empresa.
1968 Recompra da TV Gaúcha, constituição da sociedade entre irmãos, início da
empresa familiar.
1971 Crise financeira na empresa, entrada da segunda geração na empresa, consultoria
de João Bosco Lodi.
1986 Falecimento do primeiro fundador, iro assume a presidência, propriedade se
encontra no estágio intermediário entre Sociedade de Irmãos e Consórcio de
Primos.
1991 Segunda geração (Nelson) assume o comando, empresa entra num processo de
crescimento diversificado e expansão, consolidação da constituição acionária.
1998 Crise financeira de causada pelo processo de diversificação e entrada em novos
negócios.
2001 Contratação de John Davis e efetivação do processo de profissionalização e
governança corporativa. A empresa está na maturidade, a propriedade é
oficializada como consórcio de primos e a família começa a preparar uma
possível sucessão.
Já o novo acordo de acionistas que caminha para sua conclusão, é um instrumento
de gaveta, que prevê todas as possíveis situações de ruptura, com vistas a proteger os sócios
minoritários. Numa empresa como a RBS que possui uma divisão de capital equilibrada, é
importante que o controlador tenha muito respeito pelo capital e a relação seja transparente. O
acordo é forte nas alterações da estrutura de capital, relacionado a estabelecer procedimentos
para as decisões do controlador, e como se alinham essas decisões, que dispositivos se criam
para amarrar as decies que alteram a estrutura de capital com o consenso da maioria do
capital. O acordo é detalhado e técnico, pois versa sobre cada uma destas hipóteses, e se
pressupõe que não será usado, a não ser que não haja consenso.
4.3 EVOLUÇÃO DOS 7 Ss AO LONGO DO CICLO DE VIDA
A medida para avaliação do comportamento passa pelo estabelecimento de
indicadores. Estes indicadores nos dizem o que avaliar, o que observar. A utilização do 7 Ss
106
Framework estabelece um modelo de alise, como um checking list de pontos que fornecem
um panorama geral da organização.
Os entrevistados, ao tratar do tema da evolução e maturidade da empresa, são
claros ao afirmar que o estágio de maturidade que a RBS atingiu também é resultado de uma
conjuntura, mas principalmente resultado de um projeto empresarial com visão estratégica e
do envolvimento da família. Eduardo Sirotsky Melzer cita que a família teve a capacidade de
entender o que era importante, de “comprar” o desafio, sentir a dor que era pra sentir, muito
em função da competitividade externa.
A partir da observação de cada um dos elementos do modelo e de sua evolução
histórica, passamos à análise dos mesmos, seguindo a seqüência:
A) Valores Compartilhados (Shared Values ou Superordinate Goals);
B) Estrutura (Structure);
C) Estratégia (Strategy);
D) Sistemas e Processos (Systems);
E) Equipe de Direção ou Top Management Team (Staff)
F) Estilo de Gestão (Style);
G) Habilidades e Competências (Skills)
A) Valores Compartilhados (Superordinate Goals)
Dentro da análise dos conceitos que guiaram e permearam as relações na
organização, é necessário considerar que a herança familiar dos fundadores da RBS vem de
uma família de origens judaicas, que sempre valorizou os laços familiares, num sentido de
gostar de estar juntos”.
Nos primórdios da organização, a empresa era guiada para ser uma empresa de
comunicação. Com o início do processo de crescimento, considerando a recompra da TV
Gaúcha e a compra do Jornal Zero Hora, a empresa muda seu foco para multimídia. E passa, a
partir daí, a estabelecer um dos conceitos que iria guiar a sua atividade até os dias atuais.
Na etapa que começa com a crise de 1998, observa-se um valor intrínseco aos três
círculos, que é o sentimento de propriedade e o compromisso de longo prazo com a empresa.
Antonio Tigre cita isto como “não pular do barco, e sim consertar o barco.
107
Além disso, se faz presente a visão para a responsabilidade social. No início da
década de 80, Maurício Sirotsky já levantara a questão da responsabilidade social de sua
empresa. Para Afonso Motta, ética e responsabilidade social, desde os fundadores, sempre foi
um referencial importante.
Outro elemento presente é a característica de uma empresa voltada para a
inovação. A RBS sempre enviou membros para participar de eventos e congressos no exterior,
relacionados ao seu negócio, sempre procurou ter pessoas-chave em instituições (Maurício,
depois Jayme, e agora Nelson na presidência da Associão Nacional de Jornais, Jayme na
presincia da Associação Mundial de Jornais), numa tentativa de liderar, estar à frente.
Como exemplos se tem o pioneirismo em empresa de Internet no Brasil, a criação de uma
rede regional de televisão. O pesquisador teve acesso ao material do curso de John Davis
realizado em Harvard em novembro de 2005. Ao verificar as fichas dos participantes, foi
observado que a única empresa a enviar membros não-familiares para o encontro foi a RBS.
Isso mostra também o protagonismo da empresa. Segundo Eduardo Sirotsky Melzer,
“isso mostra o DNA de inovar. Houve fases com mais e com menos apetite de tentar
(...) Nós não podemos ter medo de tentar. Essa é uma herança da família, ao estilo
‘vamos que dá’. Uma responsabilidade saudável. Não sei se quando meu avo fundou
isso, sabia no que iria dar”.
Segundo Afonso Motta, desde os fundadores, o objetivo da empresa era estar no
estado da arte. As experiências que a RBS adquiriu ao longo de sua trajetória foram
incorporadas, sustentaram projetos e foi objeto de aprendizado interno. A inovação de
natureza tecnológica é uma das razões da sustentação da RBS (rede integrada, cabo,
digitalização, internet). Collins (2002) cita que a tecnologia quando utilizada corretamente se
torna um acelerador de velocidade, mas esta tecnologia em si não é causa principal da
excelência ou do declínio. Para Afonso Motta, “todas as iniciativas envolvendo novas
tecnologias, novos meios, sempre foram fruto de uma visão, e, mais que uma visão, de uma
prática de estar no estado da arte do negócio, ou seja, sempre se antecipando”.
O setor de mídia tem a inovação como um dos seus principais insumos. A RBS
parece possuir uma “vocação” para o crescimento, arraigada em sua cultura, que a
velocidade com que as coisas estão acontecendo, aumenta o tamanho do desafio de inovar.
Segundo Eduardo Damasceno, “inovação é um insumo natural do negócio de mídia, mas
temos de aprender a lidar com a crescente velocidade das coisas. Boa parte dos ingredientes
108
está ligada às pessoas. A tecnologia é meio e conseqüência, fruto do pensamento das
pessoas”.
Junto com esta “vocação para o crescimento” aparece a capacidade de correr
riscos, uma característica do fundador que permeia a empresa até hoje. Os entrevistados
consideram que até mesmo a contratação de um CEO outsider (Pedro parente) é uma ousadia
em termos de empresa familiar.
Os valores que guiaram a empresa ao longo de sua história estão fundamentados
em varáveis chave. Desde o princípio, a predisposição ao crescimento (e com ele a capacidade
de correr riscos), o foco em comunicação (depois multimídia), o localismo, a intenção de estar
sempre no “estado da arte” (levando consigo o alinhamento para a tecnologia e inovação), e
mais tarde a importância da responsabilidade social, formam o conjunto de elementos que se
tornaram os conceitos-guia da organização. Soma-se a isto o forte sentimento de propriedade.
B) Estrutura (Structure)
Até 1991 a organização apresenta-se totalmente descentralizada, onde cada
unidade (TV, Jornal e Rádio) possuía áreas financeiras, cobrança e marketing, mantendo
apenas o caixa centralizado. A operação de planejamento também era descentralizada. Hoje
há uma condução mais centralizada, muito mais enxuta em cima, mantendo-se as gestões de
produto e comercialização descentralizadas em cada Unidade de Negócio. Antes da chegada
de Pedro Parente, havia oito Vice-Presidentes que se reportavam ao Presidente Nelson
Sirotsky, e atualmente são quatro que se reportam ao Vice-Presidente Executivo. Para Davis
et al (1997), na fase em que a organização familiar entra na maturidade, pode adotar
diferentes formas estruturais, variando de divisão funcional tradicional, unidades de necio,
com ou sem subunidades funcionais, ou experimentando diferentes modelos.
As figuras 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 mostram as mudanças estruturais ao longo
da história. Não existem organogramas em arquivos, com exceção do atual, que possam
mostrar o desenho estrutural da empresa ao longo de sua história. Os materiais disponíveis
para isto são de fontes secundárias, tais como publicações, dissertações, arquivos pessoais do
autor.
A Figura 14 mostra o período imediatamente anterior ao falecimento do fundador,
onde as posições chave são ocupadas pela família e acionistas.
109
Figura 14 – Estrutura da RBS no período anterior a 1986
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
A Figura 15 capta o momento em que a configuração se transforma pela sucessão
involuntária do fundador, mas as posições-chave são ocupadas por Jayme (irmão), Nelson e
Pedro (filhos), Marcos e Carlos (genros) e Fernando Ernesto (sócio).
Figura 15 – Estrutura da RBS em 1986
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
O diagrama (Figura 16) apresenta modificações decorrentes do novo estilo e nova
estrutura adotada pela empresa. Observa-se que os familiares continuam a ocupar posições-
chave, mas o grupo começa a ser complementado com outros profissionais, oriundos da
estrutura interna, ou, especificamente no caso de Afonso Motta, proveniente do mercado.
Estes três profissionais, como demonstrado pela Figura 17, a partir de 1996 deixam de ser
superintendentes para passar à condição de Vice-Presidentes.
Presidente
(Maurício Sirotsky)
Vice-Presidente
(Jayme Sirotsky)
Vice-Presidente
(F. E. Corrêa)
Superintendente
(N. Sirotsky)
Superintendente
(C. Melzer)
Superintendente
(P. Sirotsky)
Superintendente
(M. Dvoskin)
Conselho de
Acionistas
Presidente
(Jaime Sirotsky)
Superintendente
(Carlos Melzer)
Superintendente
(Pedro Sirotsky)
Superintendente
(Marcos Dvoskin)
Vice-Presidente
(Ne
l
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S
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Vice-Presidente
(
F
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E
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Co
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êa)
Fundação
Social
110
Figura 16 – Estrutura da RBS em 1991
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Figura 17 – Estrutura da RBS em 1996
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados secundários
Em 2001, após a reorganização causada pela tentativa frustrada no projeto RBS
Interativa, a organização é estruturada sob a divisão entre o negócio tradicional e o negócio
“sobrevivente” do projeto interativo, como representado pela Figura 18.
Pres. Conselho Adm.
(Jayme Sirotsky)
Presidente
(Nelson Sirotsky)
VP Finaas
(Carlos Melzer)
VP Santa Catarina
(Pedro Sirotsky)
VP Jornais
(Marcos Dvoskin)
VP Mídia Eletr.
(F. E. Corrêa)
Superint.
(C. A. Barichelo)
Superint.
(A. Motta)
Superint.
(W. Bergesch)
Pres. Conselho Adm.
(Jayme Sirotsky)
Presidente
(Nelson Sirotsky)
VP Finan.
C. Melzer
VP SC
P. Sirotsky
VP Jornais
M. Dvoskin
VP
FE Corrêa
VP TV
W. Bergesh
VP Planej.
C.A. Baric.
VP Adm.
A. Motta
111
Figura 18 – Estrutura da RBS em 2001
Fonte: arquivo do autor, originariamente fornecida pela RBS em 2001.
Legenda
RBS Plus Unidade de Negócio voltada para a comercialização multimídia
RBS Mídias Agrupando as mídias de TV, Jornais e Rádios do Grupo.
RBS Mira Denominação para agrupamento de Mídia Impressa e Rádios
RH Recursos Humanos
TI Tecnologia da Informação
BSP Sigla para Business Solution Provider
DBM/CRM Siglas para Database Marketing e Customer Relationship Management
112
Figura 19 – Estrutura da RBS em 2004
Fonte: RBS
Figura 20 – Estrutura Detalhada da RBS em 2004
Fonte: RBS
113
Legenda:
FMSS – Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho
N.A.S. – Núcleo e Apoio aos Acionistas.
O organograma modelo (Figura 19) demonstra os níveis hierárquicos da empresa.
São três níveis, que agrupam, primeiramente a Diretoria Executiva, sendo o Presidente, Vice-
Presidente Executivo, Vice-Presidente de Televisão, Vice-Presidente de Jornais e Rádios,
Diretor Executivo de Gestão e Diretor Executivo de Administração e Finanças. O segundo
nível agrupa a Diretoria, composta de diretores gerais e comerciais das unidades de negócio e
unidades centralizadas do grupo. O terceiro nível agrupa os gerentes executivos das unidades
de negócios e unidades centralizadas do grupo. a Figura 20 detalha a estrutura do eixo da
empresa da RBS dentro do processo de governança corporativa.
A RBS possuía uma estrutura em que o presidente da empresa cuidava das duas
áreas – editorial e operações, além de uma diretoria corporativa e um comitê executivo,
envolvendo diretores de áreas menores. Após a chegada de Pedro Parente, a estrutura tomou
uma configurão de uma diretoria executiva, e que os membros da diretoria executiva tem o
mesmo peso, no voto, embora oferecendo ao presidente da empresa mais funcionalidade. A
diferenciação entre Vice-Presidentes e Diretores Executivos na coalizão dominante se dá pela
senioridade dos membros, ou seja, os vice-presidentes têm mais tempo de empresa, e os
diretores executivos são mais jovens, tem menos tempo de empresa.
Pedro Parente sustenta que “quando eu vim pra RBS, primeiro lugar eu não trouxe
ninguém, eu tinha o direito de trazer quem eu quisesse pra mudar toda a diretoria, eu preferi
chegar aqui e conhecer as pessoas, conhecer a cultura, eu vim com aquela idéia de que tem
que agregar valor”.
Segundo Antônio Tigre, hoje existe muito mais coordenação, ganho de escala,
especialização em coisas importantes. A empresa hoje é mais achatada do que era no passado,
apesar de ter hierarquia forte. Hoje existem menos níveis hierárquicos. Neste contexto,
observa-se que a primeira mudança forte foi em 1992, e a segunda em 1998. foram extintos os
níveis de coordenação (downsizing). Para Antônio Tigre, “a RBS tem dificuldade de cortar
fatias verticais. Tiram-se fatias horizontais. O problema disso é que falta conhecimento na
base e isso pode ser feito se existir processo qualificado. Não pode achatar sem processo”.
Para Geraldo Corrêa, a descentralização (através das Unidades de Negócio) tornou
mais transparente e eficaz a gestão, com o estabelecimento de métricas comparáveis. A
rentabilidade nunca deixou de ser um assunto relevante, junto com crescimento e inovação,
114
mas observa-se que a empresa tende ao equilíbrio entre rentabilidade e investimento no
produto. Para Geraldo Corrêa,a vantagem é que o acionista está próximo e isso dá uma visão
de longo prazo (...). A empresa tem sido muito bem sucedida em identificar este ponto de
equilíbrio, um projeto rentável com retorno para o acionista e o objetivo de longo prazo”.
Eduardo Damasceno aponta como mudança fundamental na estrutura o ano de
1998. Até então, como já dito, a empresa operava de forma mais descentralizada. Na época, a
empresa possuía quatro diretores financeiros (mídia eletrônica, dia impressa, NET,
Corporativo). Após a crise de 1998, houve uma centralização forte, caracterizada pela
existência de apenas um Vice-Presidente de Mídias (Geraldo Corrêa) e um Vice-Presidente da
Interativa (Francisco Valim), e uma diretoria financeira. Para o entrevistado, nesta época
também se percebeu que a distribuição era desequilibrada, onde os negócios de menor porte
ficavam à deriva.
A atual estrutura da empresa é um misto de centralização e descentralização. As
Vice-Presidências de negócios tem gestão sobre produção e comercialização. Estas partes são
descentralizadas. As áreas administrativas e financeiras são claramente centralizadas. Para
Eduardo Damasceno, “o modelo hoje é mais funcional. As funções centralizadas têm
coordenação centralizada. Mercado e produto são descentralizados”.
Em termos estruturais, a empresa está muito mais formalizada hoje. Para Afonso
Motta, “a RBS é uma empresa aberta, as pessoas têm a hierarquia apenas como um
referencial, e mesmo tendo uma multiplicidade de veículos, há uma certa articulação entre
eles. Isto é positivo e a estrutura acaba respondendo por isto”. Observa-se que além desta
formalização, há um distanciamento maior do Presidente das atividades operacionais.
A estrutura da RBS seguiu um caminho partindo de um modelo empreendedor,
onde a gestão era centralizada. Com o crescimento da empresa, a forma funcional passou a ser
adotada, passando depois à forma divisional. Esta forma divisional chegou através do desenho
por unidades de negócio, num trabalho amparado pela consultoria Booz, Allen and Hamilton.
Charan, Hofer e Mahon (1980) alerta que a empresa pode cometer erros em seu processo de
modificação estrutural, baseados numa variedade de razões: maus conselhos de consultores,
implementação de idéias populares, ou mudança muito rápida.
Aqui há um elemento de fundamental importância. Mesmo com o crescimento da
empresa acontecendo nos períodos em que a gestão estava sob o comando da primeira
geração, é a partir de 1991 que começa o redesenho estrutural baseado na descentralização da
empresa. Esta descentralização pode ter sido importante no momento em que o objetivo foi a
diversificação de negócios. Contudo, a diversificação foi conduzida de forma descentralizada,
115
cujas conseqüências não foram as mais satisfatórias. E isso ocorreu, como citado por Geraldo
Corrêa, num momento em que os gurus da gestão pregavam a diversificação. Quando a
empresa passa por um novo realinhamento estrutural, chega a uma nova forma, que pode ser
chamada de híbrida, reunindo centralização de atividades financeiras e de gestão, com
manutenção do comando de produto e comercialização nas unidades de negócio.
C) Estratégia (Strategy)
Ao tratar-se do comportamento estratégico da empresa, observou-se que nos
primórdios, segundo Antônio Tigre, era o “vamos fazendo pra ver como fica”. Contudo, a
partir de 1991, houve pelo menos três ciclos de consultoria fortes, que consistiram na maneira
mais clássica possível. Segundo Antônio Tigre, era o modelo do “pára todo mundo e vai pra
uma sala para ver como fica o negócio”. Afonso Motta cita que houve um período em que as
coisas foram acontecendo, muito baseado na visão dos fundadores: criação de um grupo
multimídia, criação de uma rede regional de televisão, filiação com a Rede Globo, existiam de
forma precária, mas estavam presentes dando o direcionamento. Depois, foi mais centralizada,
pois a Diretoria Executiva trabalhava muito pxima, todos no mesmo local, no mesmo andar
e possuíam uma intimidade que fazia com que a condução estratégica e a execução fossem
muito próximas. Mas nos últimos 15 anos a empresa sempre teve missão e vio explícitas e
um plano estratégico de busca desta visão (após Nelson assumir a Presidência). Este plano
possuía caráter participativo e era exteriorizado.
A empresa nunca passou por verdadeiras rupturas estratégicas. O pano de fundo
da estratégia sempre foi “como crescer”. De acordo com Antônio Tigre,
tudo se construiu a partir da oportunidade. Se surgia a oportunidade, mudava-se a
estratégia. Entrou-se no cabo porque alguém pediu algumas concessões (...). Internet
foi quando se comprou uma pequena empresa. Não fazia parte de um desenho (...).
RBS Interativa (2000) foi no papel. A empresa o foi virada, não foi focada para
isto.
Nesta linha, Antônio Tigre sustenta que a RBS parecia não ser dona natural de seu
crescimento, pois quando surgiam negócios em locais diversos, estavam sujeitos a serem
comprados. Uma das provas disto é que a empresa possuía até 2003 uma participação de 30%
na TV Gazeta do Espírito Santo, o que não caracterizava relação com sua estratégia de
negócios, tampouco com sua estrutura geográfica.
116
Na década de 90 houve tentativas estratégicas em setores como o de
telecomunicações, que, segundo Geraldo Corrêa, se tivesse dado certo, possivelmente seria
uma outra empresa, a RBS Telecomunicações. A RBS Interativa, durante o boom da internet,
tornou-se outra Unidade de Negócio. Neste ínterim, rádio, TV e jornal sempre foram a linha
central da empresa, e durante estes períodos de tentativas, o crescimento destas unidades
talvez tenha sido prejudicado. A energia e os recursos humanos estavam direcionados para as
novas áreas. Geraldo Corrêa, contudo, cita que “vejo isso positivamente, é uma característica
de empresa ousada e arrojada”.
Atualmente há uma clareza na empresa de que o seu negócio é sobre ativos e o
crescimento passa ou por novos ativos ou por alguma operação de escala nacional. Isso é
confirmado por Eduardo Sirotsky Melzer ao citar que o Grupo quer e vai adquirir empresas no
interior de São Paulo, no Para, em Minas Gerais e em Brasília, mas negocia com cautela,
buscando desestimular especulações e também as chamadas super avaliações, femeno
comum quando se sabe de uma empresa com recursos querendo ampliar seu raio de atuação..
Crescimento, como afirmado, sempre permeou o comportamento estratégico da empresa.
Eduardo Damasceno sustenta que
começo a notar uma percepção da necessidade da mudança de comportamento.
Temos uma estratégia de crescimento que por definição passa por situação
geográfica e passa por aquisição, e não temos ainda na RBS um cacoete de empresa
compradora.o é uma empresa que compre operações de grande porte. Sempre
houve parcerias, há uma habilidade ‘negocial’ quando se trata do caráter comercial,
mas não há estrutura, política e processos montados para desempenhar um papel de
sucesso em formações de sociedades. Isso requer uma prática que só agora nos
damos conta que é preciso ter.
Já as decisões estratégicas na empresa levam em conta o norteador estabelecido
pelos acionistas. O corpo executivo da empresa tem idéias e propostas que podem se alinhar
ou não com a orientação superior, e elas passam por cada um dos níveis de alçada para serem
perseguidas (ou não). Para Parente,
se antes nos fomos capazes de extrair bons resultados do Conselho de
Administração, agora em que a gente vive um momento histórico da empresa que é a
aprovação da sua organização societária, nos passamos a existir como um grupo de
fato e de direito, o que pressupõe a existência de um Conselho de Administração
formal, com as prerrogativas, direitos e obrigações concedidos por lei, então isso eu
acredito que vai ficar melhor ainda.
Do ponto de vista estratégico, portanto, o órgão máximo o Conselho de
Acionistas – é representado por 100% do capital da empresa, formado pelas holdings IMA,
117
JAMA e FEC. Este conselho define as linhas gerais da empresa, qual o projeto para o seu
capital. Este direcionamento então é passado para o Conselho de Administração, e o Conselho
de Administraçãoforma para isso. Se os acionistas querem um projeto de crescimento, se
estão dispostos a investir e ao mesmo tempo tem uma demanda por dividendos ou avero a
risco. Geraldo Corrêa cita que a essência da estratégia não mudou, é top down. Só que hoje
um envolvimento maior do corpo executivo neste processo. A Diretoria Executiva tem
condições de interferir na formulação e na execução da estratégia.
Risco também tem sido uma constante na história da empresa, desde o momento
em que os fundadores resolveram arriscar, passando pelos momentos de investimento em
telefonia ou na RBS Interativa, representaram riscos. No passado os fundadores definiam para
onde e como, e tiveram a habilidade intuitiva de lidar com os riscos. Depois, através da
liderança do Presidente da empresa. Agora, no atual modelo de Governança da empresa,
quem define o risco é o acionista. Define a tomada de decisão a partir do risco. A própria
contratação de um CEO profissional é um demonstrativo do apetite pelo risco. É o Conselho
de Acionistas que tem que dizer o risco que quer tomar, já que é o detentor do capital. Depois
disso, o fluxo desce ao degrau do Conselho de Administração, que ajuda a montar as políticas,
valida as diretrizes e aí a gestão da empresa, a Diretoria Executiva, é que executa tudo isso e
cria o efeito de realimentar o processo, pela proximidade com a base. Ou seja, o Conselho de
Acionistas determina o que quer, o Conselho de Administração fiscaliza isso a uma certa
distância, e a diretoria executiva junto à execução. A decisão estratégica sai do Conselho de
Acionistas, passa pelo Conselho de Administração e vai para a Diretoria Executiva e da
Diretoria Executiva, sobe para o Conselho de Administração e vai para o Conselho de
Acionistas. Esse fluxo é que faz a governança da RBS funcionar.
Segundo Eduardo Sirotsky Melzer, não há necessariamente um delay ou um gap
entre estratégia e execução, pois a empresa possui uma diretriz muito clara dos acionistas, tem
um controle muito forte e efetivo do conselho de administração e um processo muito bem
estabelecido da diretoria executiva para a implementação dessa estratégia. Mas a essência da
estratégia está na figura do Presidente e do Vice-Presidente Executivo, pois distribuem a
estratégia.
O comportamento estratégico da empresa, já na gestão Pedro Parente, se
caracteriza por uma definição de uma estratégia de longo prazo, buscando o crescimento da
empresa, com estratégias de médio prazo e táticas explicitas, que podem ter pesos diferentes
para chegar no objetivo de crescimento, com atenção especial à área de gestão financeira.
118
Aqui há uma mudança, contemplando delegação, descentralização e maior cobrança. Segundo
Pedro Parente,
o que procuramos fazer foi definir um planejamento em função da situação
financeira cujas linhas de saída ou digamos, o condicionante básico, era um
condicionante de natureza econômico-financeira, e a partir do momento em que
você alcançasse determinadas metas, vo poderia ir ajustando as prioridades, até
pesar adequadamente as prioridades relativas ao crescimento, e foi exatamente o que
aconteceu. Tivemos a felicidade de juntar duas coisas que foi o processo de ajuste
interno a uma recuperação de receitas, e isso permitiu que nos tivéssemos uma
recuperação potencializada e que no permitiu então fazer esse tipo de ajuste no
processo estratégico. Então agora nos estamos sem os cuidados do econômico
financeiro e estamos tratando do crescimento com muita ênfase.
Na visão de Pedro Parente, o crescimento da empresa passa pelo entendimento de
que na área de televisão o crescimento é limitado e condicionado pelas diretrizes da Rede
Globo, e que as oportunidades estão nas áreas de jornais, rádios e internet. Pedro Parente
sustenta que a RBS “é uma empresa que tem espírito empreendedor e tem crescimento linear
e, digamos, tinha um paradigma que funcionava como uma âncora, que era o paradigma da
atuação na sua base geográfica atual”.
A RBS deverá abrir capital, mas os entrevistados não sabem dizer quando (ouo
abriram a informação). Os entrevistados sustentam que a ambição e vocação para o
crescimento exigem que se abra o capital, pois para financiar o crescimento os sócios deverão
partir para capital próprio, o que significa mercado de capitais, pois partir para capital de
terceiros seria contrair mais dívidas, o que não parece ser a opção da empresa. Para Davis
(1997, p. 122), as empresas “que querem crescer depressa costumam abrir seu capital para
conseguir fundos”.
A empresa trata o lucro como condição para a existência da atividade empresarial,
onde todo o esforço que, segundo os entrevistados, é feito, deve convergir para resultados. Ao
mesmo tempo, os entrevistados afirmam que a visão de longo prazo tem sido um diferencial
competitivo da RBS. Geraldo Corrêa cita que é necessário “olhar lá na frente e ver uma
empresa maior e mais lucro”.
Em termos de comportamento estratégico, a RBS segue a linha comum da
empresa familiar. Num primeiro momento, a estratégia serve para amparar uma visão de
sobrevivência. Depois passa a sustentar uma vocação de crescimento, primeiro tomando as
decisões e definindo rumos para posteriormente avaliar se deu certo. Quando a empresa entra
na sua fase de expansão, ao lado da segunda geração no comando, passam a existir três ciclos
de consultoria, com estabelecimento de planejamento estratégico com missão e valores
119
definidos. Mesmo assim, haviam movimento de crescimentos baseados em oportunidades que
muitas vezes não estavam relacionadas com o negócio central da organização, caracterizando
perda e depois, recuperação de foco. A empresa chega ao momento de processos de
governança devidamente claros, onde a estratégia é direcionada pelo Conselho de
Administração, que faz a intermediação entre o que querem os acionistas e os planos e
implementações estratégicas na Diretoria Executiva.
Aqui há uma avaliação importante a ser feita. No momento em que se torna
financeiramente saudável, a empresa volta a apostar em crescimento. Este crescimento é o que
deve garantir o aumento na complexidade da organização, de forma que continue a gerar
oportunidades e dividendos para a família. E isto, por sua vez, faz com que os acionistas
reforcem seu compromisso com a empresa, apostando em mais crescimento. Além disso, por
mais que a McKinsey ainda esteja dando suporte como consultora em estratégia, o que se
observa é uma RBS mais criteriosa quando o assunto é crescimento. E isto pode ser um
reflexo da processualização e do crescimento de importância do Conselho de Administração.
D) Sistemas e Processos (Systems)
Pelo estudo do caso, observa-se que a natureza do negócio de comunicação tende
a desconsiderar muitos processos de gestão porque o que importa é sempre o resultado
(manter a audiência, por exemplo). Segundo Afonso Motta, “sempre foi culturalmente difícil
assimilar a necessidade de ter processos rígidos e ter uma gestão mais detalhada quanto a sua
organização”.
Observa-se que a empresa não é uma indústria de processo-orientado. A busca
sempre foi por confiabilidade e controle do que está acontecendo. Os sistemas de execução
são menos elaborados que os sistemas de gestão, e isto mostra um viés da empresa no controle
e consistência dos dados, no nível administrativo. Os sistemas de produção são muito mais
descentralizados. Todos os dias a Diretoria Executiva consegue enxergar todas as empresas do
grupo. Já o esquema comercial dos veículos é mais uma coisa dos líderes de cada Unidade de
Negócio do que da empresa. Segundo Parente, a mudança nos processos começou,
a partir de um quadrinho que eu achei muito interessante que chama: fatores de
sucesso para qualquer empreendimento. São três os fatores, liderança, conhecimento
de negócios e metodologia com o processo. Olhando essas coisas eu comecei a ver
que a RBS era muito forte em liderança. Ainda é, o Nelson é um ótimo presidente
120
executivo. Conhecimento do negócio – não chegariam aonde chegaram sem o
conhecimento do negócio. Mas em termos de processos uma empresa muito
informal, então eu entendi que o que eu poderia trabalhar aqui sem prejudicar os
aspectos positivos da cultura da empresa, liderança, conhecimento do negócio,
agilidade, eu deveria aumentar o nível de metodologia empregada na gestão do
negócio. E foi isso que eu fiz.
Observa-se que há um verdadeiro divisor de águas na empresa a partir deste
momento. Os entrevistados tratam isto como uma “marca dos novos tempos”, dada a sua
repercussão econômica. A organização sempre procurou investir no seu produto (audiência,
conteúdo), mas a processualização trouxe o estabelecimento de referenciais e critérios com
relação a todo o conjunto de investimentos. Para Afonso Motta, os processos ainda são menos
importantes, mas contam muito.
Dentro do estabelecimento de processos, a empresa criou a área de relações com
investidores, que é uma atividade que tem crescido em importância na área empresarial,
principalmente as empresas de capital aberto. A RBS não negocia seus papéis na bolsa, não
tem capital aberto, mas possui títulos investidos no exterior, o que requer um relacionamento
regular com os investidores desses títulos de dívida. Eduardo Damasceno cita que a RBS é
uma empresa orientada a fluxos, e não a saldos. Olha-se o EBITDA (sigla em inglês para
Earnings Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization, o que em português é
traduzido como Lucros Antes de Juros, Impostos, Deprecião e Amortização), mas não se
olha para o tamanho do capital investido. Esta é apontada pelo entrevistado como uma
deficiência da empresa.
Para Geraldo Corrêa, o processo de profissionalização ficou evidenciado com a
vinda de Pedro Parente, que trouxe uma visão mais processualista para a empresa, e cita que
os processos estão trazendo mais eficácia à energia da empresa. Há um melhor
direcionamento para a energia”.
Já os processos de comunicação, vale a expressão “casa de ferreiro, espeto de
pau”, pois a empresa apresenta dificuldades e deficiências, sem ter até então conseguido uma
satisfação geral a respeito. Parente cita que “tem muito que mudar ainda. Se já mudamos,
ótimo, mas ainda é insuficiente. Estamos trabalhando nisso, melhorar a comunicação dentro
da empresa”. A comunicação na RBS atualmente é formalizada, mas ainda há uma visão
truncada, que não flui. Existem canais formais e informais de comunicação. Desde 1983 havia
uma tentativa de ter canais formais (CI – comunicação interna, jornal interno da empresa).
Entrevistados atestam que naquela época a empresa era menor, e era mais fácil conversar com
as pessoas.
121
No começo, uma empresa totalmente informal focada em resultados. Depois, uma
empresa com fortes sistemas de gestão, mas fraca em sistemas de execução. Quando a
empresa se lançou para oportunidades não relacionadas ao seu negócio central, é possível
sugerir que a falta dos sistemas de execução pode ter desempenhado um papel importante nos
insucessos. Mas o aspecto fundamental é que a empresa chegou num ponto onde existem
processos formalizados dentro de cada eixo do modelo tridimensional. Do ponto de vista da
família, o Conselho de Família e a Constituição da Família ditam as regras. Na propriedade, o
Conselho de Acionistas e o Acordo de Acionistas definem as diretrizes para os negócios. No
sistema da empresa, o desenvolvimento do conceito de método, ou metodologia, trouxe uma
formalização para a organização. Cabe ressaltar aqui também a contratação da empresa de
consultoria INDG (Instituto de Desenvolvimento Gerencial) para desenvolver um trabalho
focado em processualização. O processo é uma parte, é bem verdade, mas uma parte que
ganhou muita importância neste momento da empresa.
E) Top Management (Staff)
Até 1990, o TMT (top management team) da empresa era formado por pessoas
que comaram juntos e 20 anos depois comandavam a empresa. Era formado por pessoas
que possuíam intimidade muito grande com a empresa, com os donos da empresa, mas
familiares em sua maioria. Essa geração acabou durante a década de 90. Era até este período,
caracterizado pela existência de pessoas com autonomia e alto poder de decisão, menos
formais nas questões do que poderia e não poderia ser feito. Segundo Annio Tigre, estas
eram as “habilidades RBS”. Eduardo Sirotsky Melzer comenta que era muito importante
naquela época confiança, mais importante do que a competência era a confiabilidade.
Schirmer (2002) atesta isso ao afirmar que Carlos Melzer, casado com filha mais velha do
fundador, guardava a chave do cofre que ficava no gabinete de Maurício.A gestão foi se
caracterizando por pessoas que começaram em níveis mais baixos da estrutura (como
vendedores, por exemplo), e que viviam em função da RBS. Geraldo Corrêa, atual Vice-
Presidente, começou na empresa como estagiário na área jurídica, saiu para um mestrado na
London School of Economics, retornando para assumir uma posição de novos negócios
quando a empresa estava diversificando suas atividades, já representando uma mudança no
perfil deste grupo, a partir de 1991.
122
Com as mudanças ocorridas na chegada de Nelson Sirotsky à liderança da
empresa, há um processo de reposição, que leva ao surgimento de um novo perfil no TMT.
No período em que Nelson lidera, e que perdura até os dias de hoje, o TMT da empresa é
considerado profissional, no sentido de distanciamento e técnica. Há uma clareza e definição
nos job descriptions. As relações são de troca, as pessoas precisam ser treinadas para estarem
atualizadas, e dessa forma acabam mantendo sua empregabilidade, num contexto geral. As
relações são mais processuais e mais organizadas. A formação das pessoas é valorizada e as
habilidades podem ser encontradas no mercado, pois o executivo traz consigo uma bagagem,
segundo Antônio Tigre. Eduardo Sirotsky Melzer complementa que “quando a empresa
entendeu, quando a família entendeu, quando os acionistas da empresa entenderam que o
mercado mudou, havia a necessidade de uma dinâmica mais competitiva para um projeto mais
ambicioso e agressivo, e nessa revisão de papéis a família saiu”.
Observa-se uma valorização de títulos como MBA e há uma tecnicidade nas
avaliações. Mas não há uma linha muito clara de sucessão. Os processos de identificação de
sucessores primam por pessoas que estejam alinhadas com o core da empresa (editorial,
jornalístico). Mesmo com a caracterização de que as relações são atualmente mais
profissionais, observa-se que a empresa não possui planos claros para retenção de pessoas,
muito embora as recompensas já sejam formalizadas. Este movimento, segundo Antônio
Tigre, é caracterizado por duas transições, a primeira com a assunção de Nelson Sirotsky à
Presincia e a segunda com a chegada de Pedro Parente, onde há uma formalização de tudo.
De acordo com Eduardo Damasceno,
a realidade RBS era mais dinâmica, mais informal, mais flexível. Nos dava um
dinamismo de fazer acontecer com uma velocidade invejável, mas por outro lado,
até pela informalidade, havia uma dificuldade muito grande de replicar processos
decisórios. As coisas aconteciam sem registro, sem modelo, sem discussão
aprofundada (...). Característica da escassez da racionalidade.
Ao longo da historia, observa-se também mudança no que tange ao
desenvolvimento gerencial. Nos primórdios da empresa até meados da década de 90, existiu a
chamada primeira linha, compreendendo os “bons que ficaram e os ruins que saíram”,
oportunista. Num determinado momento, houve uma transição para pessoas que
desenvolveram suas capacidades pessoais, auto-desenvolvimento, pessoas que se prepararam.
Segundo Antônio Tigre, a empresa “está no meio da mudança entre o oportunista e o
planejado”. As pessoas das áreas de gestão ingressam na empresa por um programa de
trainees, de forma planejada, e são moldados para assumir funções-chave. Segundo Antônio
123
Tigre, “daqui a 10 anos será tudo planejado. A vinda do Pedro Parente foi planejada”, numa
clara tentativa de profissionalização.
O grupo do TMT é heterogêneo em formação e pensamento, mas é muito similar
em carreira. No grupo que dirige a empresa, não um especialista editorial, ou de mercado.
Os membros da coalizão dominante representam muito mais as Unidades de Necio como
um todo, muito mais do que a funcionalidade. Segundo Antônio Tigre, “a empresa é
presidencialista. O presidente manda, decide. O grupo é heterogêneo em modelo mental é e
homogêneo de natureza de informão”.
Observa-se ao longo da historia do TMT, que os mais bem-sucedidos foram os
insiders”, pessoas formadas dentro da própria empresa, e o atual Vice-Presidente Executivo,
Pedro Parente foi o único outsider que entrou diretamente da Diretoria Executiva da
organização. Dos atuais 30 diretores, somente 5 deles estão a menos de 5 anos na empresa.
Isto, segundo Antônio Tigre, atribui-se à dificuldade de trazer pessoas não alinhadas aos
valores. Considera-se que a oxigenação intelectual é limitada, mas, para Antônio Tigre, para
o negócio atual, este modelo tem mais ganhos do que perdas”.
A contratação mais recente na Diretoria Executiva é Silvia de Jesus, que assumiu
a nova função de Vice-Presidente de Internet e Inovação. Silvia de Jesus trabalhou na RBS
durante o período em que a empresa detinha a propriedade da NutecNet, posteriormente
denominada Zaz, o primeiro portal de internet do País. Quando a RBS vendeu o Zaz para o
Grupo Telefónica, da Espanha, Silvia foi junto para liderar o negócio, que passou a se chamar
Terra (www.terra.com.br). Posteriormente, de Presidente da empresa no Brasil, Sílvia se
tornou CEO do portal Terra na América Latina. Observa-se que a empresa foi buscar um ex-
insider para uma área em que era necessário um outsider. Ou seja, trata-se de um outsider que
já conhecia a empresa. Para Antônio Tigre, a RBS “gosta disso”. Antônio Tigre complementa
que o grupo executivo da RBS é muito forte. Geraldo Corrêa cita que,
um crescente processo de profissionalização e qualificação como executivos da
empresa. A medida em que a empresa cresce, percebo uma dinâmica positiva de
qualificação dos executivos, de valorização de curculo, da experiência. A empresa
está tendo também a condição de desenvolver equilíbrio entre executivos que
crescem internamente – e isso tem um aspecto muito saudável, pois crescem com os
valores da empresa muito arraigados, incorporados, mesmo de forma inconsciente –,
e simultaneamente agregando pessoas de fora (ao referir-se a Pedro Parente elvia
de Jesus) (...). Oxigenávamos a empresa muito através de consultoria, agora no dia-
a-dia da empresa temos conseguido isso.
Do ponto de vista da formação e desenvolvimento de pessoas, Nelson Sirotsky
sustenta que a RBS incentiva a formação de seus líderes através de,
124
um conjunto de ações formais dentro da organização que procuram estimular a idéia
de treinamento das lideranças da empresa. São programas formais e emrios níveis
(...) Também temos programas de apoio e suporte a MBA no Exterior. A cada dois
anos fazemos um processo de seleção interna, quando são selecionados potenciais
profissionais do futuro e a empresa financia integralmente o processo de MBA em
formação de nível de pós-graduação no exterior. Enfim, temos programas
extremamente abrangentes e programas específicos. Os nossos diretores
permanentemente são estimulados ao auto-aperfeiçoamento. Temos um programa no
setor de Recursos Humanos que monitoramos todos os esforços que são feitos,
individuais para os executivos da empresa voltados para o seu processo contínuo de
aperfeiçoamento. Estes programas são analisados por um comitê de Recursos
Humanos e são alocados recursos e definidas as prioridades (...)o temos um
único programa, mas sim uma filosofia que é aplicada no dia-a-dia.
Afonso Motta sustenta que “acho que a RBS é uma referencia internacional. Por
que todo o processo de desenvolvimento sempre foi uma visão de muitos anos e acabou
resultando na formação de um verdadeiro celeiro de profissionais”. Observa-se a convicção da
afirmação ao observar-se que 10 trainees ocupam cargos de direção na empresa, sendo que 2
deles ocuparam cargos na Diretoria Executiva (Antônio Tigre, que permanece até hoje; e
Francisco Valim, que saiu da empresa em 2001), as pessoas permanecem na empresa por
muito tempo e os processos de desenvolvimento estão mais formalizados. Afonso Motta cita
que “quando nós criamos a direção de RH, a formalização era muito menor. Atualmente, da
avaliação do comportamento ao processo de recompensas tudo é mais formalizado”.
No aspecto das recompensas, observa-se que quando Nelson Sirotsky assume, em
1991, a empresa inicia um projeto denominado PPR (Plano de Participação nos Resultados)
para seus colaboradores. Neste momento começa a se valorizar a remuneração variável, o que
até então só existia para os operadores comerciais. Este foi também um marco que ajudou a
mudar a visão da empresa. Atualmente o PPR é um dos principais instrumentos da
determinação das metas.
Sob a gestão dos fundadores, o TMT da empresa era baseado na confiança e
intimidade. Quando muda o perfil de liderança, sob o comando da segunda geração, começa a
mudar também o perfil dos integrantes do TMT, com valorização da formação e presença de
profissionais formados internamente ou contratados de fora, havendo relações mais
processuais. O desenvolvimento gerencial começa a desenvolver uma passagem de
oportunista para planejado, no momento em que a segunda geração comanda a empresa. Mas
um dos aspectos mais importantes é a capacidade que a empresa possui de desenvolver as
pessoas e criar internamente seus gestores e líderes, mostrando a importância de possuir
pessoas no comando que tenham sido moldadas com os valores e cultura da empresa. Além
125
disso, a empresa chega num ponto em que há a processualização nas avaliações
comportamentais e recompensas, coincidindo com o momento em que a relação entre os
sistemas de família, empresa e propriedade também são mais formalizados, dando sinais
claros de profissionalização, deixando os familiares executivos sob as mesmas regras.
John Davis, na entrevista, citou que ao se observar o grupo de gestão, percebe-se
que alguns são compostos por membros internos. Neste caso, o grupo ajuda a manter a
maneira tradicional que a organização olha para o mundo. Outros têm membros externos,
outsiders e uma das coisas que eles fazem é trazer informações e perspectivas de fora para o
modo que a empresa pensa. Então, isto pode causar grande impacto na cultura da organização.
O board afeta a administração e a liderança da empresa e esta tem grande influência na
cultura.
F) Estilo de Gestão (Management Style)
Da fundação da empresa, até o momento em que Nelson Sirotsky assume, a
referência familiar era predominante na RBS, onde as relações chefe-subordinado eram
paternalistas e as normas eram subjetivas. Segundo Afonso Motta, naquela cultura deu certo,
pois se vinha do zero e isso acabou prevalecendo. No entanto, depois do falecimento de
Mauricio, que simbolizava o pai, o fundador, a empresa tomou o caminho da
profissionalização. Até 1995 a família sempre esteve presente de forma acentuada. Os homens
(pessoas do sexo masculino) da segunda geração participavam todos da diretoria e do comitê
executivo. A família hoje é representada pelo Conselho de Sócios. Geraldo Corrêa, no
entanto, faz uma ressalva, “acho que o racional empresarial do Maurício o era paternalista.
Era de um grande empreendedor (...). Sempre enxergou que uma empresa como a RBS
precisava de pessoas talentosas (...). Era tudo muito centralizado no Maurício, então as
pessoas confundiam o carisma com paternalismo”.
No que tange à orientação para tarefas e pessoas, observa-se que a empresa está
em meio a um ciclo incompleto, com poticas que valorizam a formão e o desenvolvimento
de pessoas, denotado pela característica da RBS de desenvolver internamente muito mais do
que trazer de fora. Para Eduardo Damasceno, “há uma política de desenvolvimento de
recursos humanos muito arraigada na cultura da empresa”. Ao mesmo tempo, observa-se que
o ciclo é transitório, pois não há uma filosofia de gestão que coloca as pessoas acima de
126
qualquer coisa. E os entrevistados afirmam não saber se a empresa um dia terá esta filosofia.
A fala de um dos entrevistados apresenta bem a questão: “não se deve tomar decisões
paternalistas por que é bom para as pessoas. É bom para as pessoas se for bom para o negócio,
porque se não existir negócio, as pessoas estarão em outro lugar”.
Antônio Tigre, contudo, observa que a orientação para tarefas ou pessoas foi
sempre um pêndulo, dependendo do momento. A RBS sempre teve um estilo, e, por
conseguinte, uma estrutura que valorizava o personalismo. Os jobs descriptions eram
ajustados de acordo com as pessoas, algo comose esta pessoa resolve, vamos em frente”. O
quem” e oque” sempre se sobrepuseram ao “como”, numa valorização das capacidades
individuais. Afonso Motta cita que tarefa e pessoas sempre conviverem de forma harmoniosa,
mas há uma predomincia por resultados, pois há uma cobrança rigorosa. Observa-se que a
empresa tem feito movimentos neste sentido, tais como pesquisa de clima organizacional e
estabelecimento de prioridades no desenvolvimento de recursos humanos, mas tem sido uma
tarefa complexa, pois a RBS é marcadamente voltada para resultados.
Esta orientação para resultados é uma tônica na empresa. A orientação para
processos, após várias tentativas no passado, existe de fato com a chegada de Pedro Parente,
trazendo da administração publica onde processo é tudo. O foco da empresa hoje, e isto é
observável pelo comportamento simbólico dos gestores, é resultado com processo, eo mais,
como no passado, resultado a qualquer custo. Segundo Eduardo Damasceno, o objetivo é
repetir sucessos e evitar fracassos através da replicação de processos. Pedro Parente sustenta
que:
a liderança é muito voltada para os resultados, agora não quer dizer necessariamente
que você tivesse uma coisa umbilicalmente ligada à outra. Ela é voltada a resultados
com algum processo, mas tem ênfase em resultado, não em processo, e certamente
menos ênfase em pessoas, que é uma coisa que a gente está querendo mudar.
Antônio Tigre sustenta que a orientação da empresa sempre foi para resultados,
sempre teve foco em resultados. Os meios eram da mesma importância do que os fins, mas a
linha de pensamento era algo como “a gente quer chegar lá... e depois vai ajustando o
processo para ver o que acontece”. Para Antônio Tigre, a RBS “foi uma empresa de heróis,
pessoas que metiam a mão”, mas afirma que hoje “não há mais espaço para heróis na
empresa”.
Afonso Motta sustenta que uma das marcas da empresa sempre foi o
direcionamento para resultados. Os processos eram mais informais e deixavam a desejar na
127
avaliação dos resultados. E os resultados em si sempre foram de natureza muito econômica a
atualmente mantém esta natureza, mas são considerados outros princípios, tais como placar de
performance e acompanhamento por indicadores.
Segundo Eduardo Damasceno, várias mudanças foram implementadas a partir da
entrada de Pedro Parente. Houve uma “despassionalização” do processo de tomada de
decisão, com a chegada de uma pessoa (Pedro Parente) com legitimidade e disposta a arcar
com as conseqüências das decisões gerenciais, e que não possuía vínculo com o passado da
empresa. De acordo com Eduardo Damasceno, isso trouxe uma “injeção de racionalidade que
nos faltava”. Pedro Parente introduziu metodologia dentro de uma organização que não estava
habituada, sem correr risco de cair no outro extremo, de criar uma catarse decisória na
empresa. Além disso, o atual Vice-Presidente Executivo não trouxe ninguém novo, tudo foi
feito com o grupo que já estava na empresa, ou seja, insiders, e as pessoas absorveram isso
como um voto de confiança. As recompensas foram formalizadas, tais como PPR pleno, o que
motivou as pessoas do TMT e da empresa como um todo.
Desde os tempos do fundador da empresa havia uma preocupação com a
contratação de consultores com uma visão de profissionalização e gestão, mas que a mudança
fundamental acabou sendo uma das medidas do processo de profissionalização, que foi a
contratação do Vice-Presidente outsider. Para Pedro Parente, “esse é o grande processo
evolutivo, mas contínuo. E nesse momento há uma mudança discreta, há uma ruptura em uma
trajetória contínua para um novo patamar de maior grau de profissionalização e todo um
processo de, digamos, melhorias progressivas”. A empresa continua tendo um presidente que
é membro da família, mas um grande grau de autonomia é consentido ao vice-presidente
executivo, que só consulta o Presidente em relação a assuntos operacionais, quando ele
decidir fazê-lo. Para Parente
não sei porque iria dispensar a opinião do Nelson. De maneira nenhuma. Uma
pessoa que conhece a empresa 35 anos, eno me valho muito dos bons conselhos
que o Nelson me dá. Sigo se eu quiser, no que diz respeito às questões operacionais.
As questões estratégicas e editoriais são todas do Nelson, nessas eu dou palpite.
A vinda de Pedro Parente mostra uma aceleração no processo de
profissionalização. Entrevistados afirmam que paternalismo ainda existe, pois alguns gestores
são paternalistas e isso é estilo pessoal. Eduardo Damasceno sustenta que “acho que a gente
tem de ser paternalista, pois não existe uma maturidade na massa de pessoas para decidir seu
destino”.
128
Em termos de comportamento simbólico, observa-se que, primeiramente, a
coalizão dominante é a mesma, mas há um processo de evolução. Em segundo lugar,
externamente há uma percepção da separação entre propriedade e gestão, e que as estruturas
de governança estão operando. Eduardo Damasceno afirma que poucas empresas do porte da
RBS têm o crédito (volume de dinheiro) que a mesma possui, e cita “nós somos a única
empresa de dia que trabalha com bancos brasileiros. Os bancos não o fazem pela
característica do setor (volatilidade, medida estatística de incerteza, predominantemente
familiar, sujeito à dicotomia de interesses). Isso porque a simbologia foi absorvida”.
O estilo de gestão está relacionado à personalidade do líder, então, a RBS
marcadamente passou (ou vem passando) por diferentes estilos:
- Mauricio Sirotsky Sobrinho, era um líder muito carismático. Segundo os
entrevistados, seu carisma era natural e singular, quase que um feitiço. Era uma liderança
legítima e, mais do que legítima, idolatrada. Era um autodidata, um comunicador;
- Jayme Sirotskyformação profissional de larga experiência e postura
profissional, uma pessoa reconhecida nacional e internacionalmente. É visto pela coalizão
dominante como uma referência na liderança e uma personalidade, conceitos atribuídos
devido ao que as pessoas consideram uma “visão de mundo”.
- Nelson Sirotsky – considerado pelos membros da coalizão dominante como um
executivo arrojado, que gosta de correr riscos, questionador, verbalizador, polêmico,
realizador, idealizador e com muito conhecimento da RBS. Os entrevistados observam que
Nelson herdou de seu pai a capacidade de liderança, o gosto e a vocação pela comunicação.
- Pedro Parente – considerado um der sereno, com formação muito mais
técnica, e que não possuía intimidade com o negócio. Exerce a liderança ao estilo low profile
através de muita delegação e gestão do tempo.
A observação mostra que a empresa gravitava em torno do Maurício. Nelson
Sirotsky, por sua vez, possui um perfil mais técnico, e procurou trazer conceitos de gestão
para a administração da empresa. Segundo Geraldo Corrêa, o arrojo não se perdeu, e
complementa “o que não se perdeu neste processo foi o DNA de crescimento da empresa. O
Maurício tinha muito presente isso (...). O Jayme também tinha isso. Esta mesma vocação a
gente encontra hoje dentro da RBS, só que está mais caracterizado por fazer um crescimento
sustentado num modelo de gestão”. Finalmente, Pedro Parente assume a operação da empresa
e passa a determinar a disseminação da metodologia e formalização da empresa em torno
desta metodologia.
129
G) Habilidades e Competências (Skills)
Habilidades e competências tratam de um elemento que se modificou ao longo do
tempo. No começo, tratava-se de uma empresa de comunicação que necessitava de pessoas de
talento “no microfone”. Quando o negócio começou a crescer, habilidades de gestão
precisaram ser desenvolvidas, e o era feito através da utilização de membros da família. Isto é
exemplificado pelo movimento do primeiro fundador, Maucio, de chamar o irmão para o
negócio. Segundo Sérgio Sirotsky, esta era a complementaridade, e cita que “o pai era o irmão
das contas”. Há uma “sociedade do trabalho”, característica típica da empresa familiar.
Depois, o fundador chama o filho mais velho, depois o genro casado com a filha mais velha,
depois o filho mais novo, amigos próximos, pessoas de confiança, e assim vão se criando as
‘habilidades RBS’. A entrada da segunda geração pelo mesmo meio (rádio) em que os
fundadores começaram, mostra o viés da empresa neste período.
Os entrevistados sustentam que no momento a principal habilidade está
justamente relacionada à capacidade de crescimento, mas houve um tempo em que a
necessidade era do controle e acompanhamento. Outra habilidade citada de forma ampla pelos
entrevistados é a capacidade de relacionamento com o mercado. Mercado como um todo,
envolvendo o publicitário e também comunidades onde a empresa atua.
Observação feita pelos entrevistados diz que as habilidades requeridas ao longo da
história sempre foram mais comportamentais. Eduardo Damasceno cita que as pessoas do
corpo executivo que trabalharam com os fundadores atestam que eles tinham muita
capacidade de liderança, e o mesmo é valido para Nelson Sirotsky, cuja característica
comportamental ou interpessoal valorizava os relacionamentos. Eduardo Sirotsky Melzer cita
que
“temos pessoas que conhecem bastante o nosso negócio, e pessoas que conhecem
ainda pouco o nosso negócio, mas com uma grande capacidade executiva (...). A
Diretoria Executiva hoje está alinhada com o que a empresa está buscando. O
extrato que sai da cúpula é positivo (...). Há um processo de evolução e as pessoas
têm de ir se re-adaptando para a agressividade do projeto da empresa”.
Com a chegada do CEO externo, Pedro Parente, o TMT teve que adquirir ou
colocar em pratica habilidades que talvez não fossem tão exigidas anteriormente
(metodologia, replicabilidade de processos). Eduardo Damasceno cita que “isso mudou
bastante, tivemos de nos adaptar, tive de re-visitar minha formação técnica (...). Todas as
funções no decorrer do tempo começam a ficar contaminadas ou lapidadas muito em função
130
do negócio da empresa e é natural que a gente vá perdendo o caráter absoluto de
pragmatismo. A chegada do Pedro provocou uma revisão, uma ‘despassionalização’”.
Eduardo Damasceno salienta, também, que hoje a RBS não possui a habilidade de
trabalhar em sociedades de grande porte, com acionistas do mesmo peso e isto hoje não é uma
competência fundamental, mas no futuro deverá ser.
No inicio de 2005, a RBS criou um núcleo dentro da unidade de RH para cuidar
do desenvolvimento de executivos, e, na metade do ano, contratou a empresa HayGroup,
especializada em desenvolvimento de pessoas para realizar um mapeamento de competências
dos executivos. Este mapeamento tem o pano de fundo das prioridades estratégicas do Grupo,
que são expansão, liderança de mercado e solidez de resultados.
No começo, uma empresa que precisava pessoas com vocação para o seu produto
principal, comunicação. Num segundo momento, quase paralelo, as “habilidades” eram ser da
família ou ter começado junto. Quando a empresa começa a crescer, pessoas com capacidade
de gestão e inovação são chamadas para dar sustentação do crescimento. Neste momento a
gestão está próxima das pessoas relacionadas ao produto ou a comercialização. Depois os
especialistas em gestão assumem áreas centralizadas e unidades de negócio. A nova estrutura
da empresa, com o Vice-Presidente Executivo na operação, simboliza o desenvolvimento da
capacidade processual, e uma mudança no comportamento dos gestores.
4.4 TRANSFORMAÇÕES E ALTERAÇÕES NOS ELEMENTOS
Nesta seção serão descritas as alterações em cada um dos elementos do 7Ss
Framework ao longo da história da RBS, assim como as mudanças na composição família,
propriedade e empresa. Fez-se uma divisão cronológica em períodos distintos:
1. De 1957 a 1968, da fundação até a caracterização como empresa familiar;
2. De 1968 a 1971, época de turbulência e mudanças;
3. De 1971 a 1986, período de crescimento que culmina com o falecimento do
primeiro fundador;
4. De 1986 a 1991, período de gestão de Jayme Sirotsky;
5. De 1991 a 1998, período de expansão que culmina com a crise da telefonia;
6. De 1998 a 2000, período de turbulência e reorganização da empresa;
7. De 2001 a 2005, na implantação do processo de Governança Corporativa.
131
1) De 1957 a 1968
O primeiro período na história da RBS (1957 a 1968) é marcado pela “pedra
fundamental”, que é a compra da Rádio Gaúcha, há um movimento de compra e venda da TV
Gaúcha e no final deste período configura-se a empresa familiar com os irmãos tornando-se
sócios. Segundo Davis et al (1997), este é um movimento típico de uma ação empreendedora
que se configura como empresa familiar.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o De Proprietário Controlador para Sociedade Entre Irmãos dentro da mesma
geração;
o Não há uma configuração de empresa propriamente, e sim Maurício começa
com a sua participação acionária a participar da gestão da rádio, depois há a
compra da TV e venda da TV.
Elementos do 7Ss Framework
o Nãoo encontradas variáveis suficientes para caracterizar adequadamente os
elementos neste período, já que a empresa efetivamente começa em 1968.
2) De 1968 a 1971
O segundo período da história (1968 a 1971) é caracterizado pela criação da
empresa familiar, quando Maurício chama Jayme para trabalhar junto e começam a dar o
contorno da empresa, e formam a “sociedade do trabalho”, através do irmão artista e do irmão
das contas, com alto grau de complementaridade, uma característica típica, segundo Davis et
al (1997), de empresa familiar de primeira geração.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o Sociedade Entre Irmãos dentro da mesma geração;
o Não há definição de quanto é a participação de cada um dentro do negócio.
Fica subentendido, de acordo com o que fora hipotecado, que Maurício é o
132
acionista majoritário, tendo Jayme e Fernando Ernesto com o restante das
ações.
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) – começa a busca por um conceito multimídia, que
viria permear a organização ao longo de sua história. Destaque para a ousadia
para riscos e busca pelo crescimento;
o Estilo de Gestão – Maurício se configura como líder carismático e personalista;
o Top Management basicamente os dois iros, cuidados das questões de
produto, administrativas e comerciais, mais Fernando Ernesto Corrêa;
o Habilidades e competências“comunicação” é a competência chave, dando
ênfase a profissionais de produto;
o Estratégia – intuitiva, com características de estratégia processual;
o Estrutura – Centralizada, Maurício toma as decisões importantes;
o Sistemas e Processos – informais;
O segundo momento na história da RBS pode ser representado pelos diagramas
das Figuras 21 e 22, que mostram a configuração dos elementos do 7Ss Framework.
Figura 21 – Modelo Tridimensional no Período 2
Fonte: elaborado pelo autor com base na pesquisa
SISTEMA FAMILIA
R
SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
A
EMPRESARIAL
1. Pro
p
rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
p
resa
3. Trabalho Con
j
unto
1. Início
2. E
xpansão/Formalização
3.
Maturidade
4. Passa
g
em do Bastão
3. Consórcio d
e
primos
133
Figura 22 – Configuração dos Elementos no Período 2
Fonte: elaborado pelo autor com base na pesquisa
Nesta etapa o controle das decisões estratégicas está na mão do primeiro fundador,
como mostra a estrutura centralizada, corroborando a teoria de Davis et al (1997) ao citar que
o controle acionário do fundador permite o controle das decisões estratégicas e operacionais.
O TMT é formado basicamente de familiares. As políticas e procedimentos são informais,
confirmando a teoria de Davis et al (1997), da mesma forma que são lançadas as crenças
sobre crescimento e posicionamento, influenciadas pelos princípios do fundador.
3) De 1971 a 1986
O terceiro período da história (1971 a 1986) é um período de mudanças
significativas na organização, e é marcado pela primeira grande crise financeira: a quase-
falência do jornal Zero Hora, o que obrigou movimentos ousados para salvar a operação. O
patriarca da família entra no processo para avalizar o empréstimo que viria a salvar o jornal. A
orientação passou a ser de sobrevivência.
Valores:
Multimídia
Crescimento
Sistemas:
Informais
Estilo de
Gestão:
Personalista
TMT:
Família
Estrutura:
Centralizada
Habilidades:
Comunicação
Estratégia:
Processual
134
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o Entrada da segunda geração na empresa pelo lado de Maurício (Nelson
Sirotsky, Carlos Melzer, Marcos Dvoskin), num movimento típico de empresa
familiar em que o fundador traz os filhos e genros para ajudar, independente da
qualificação;
o Começam a ser estabelecidos processos mais formais da relação família e
empresa. Os acionistas começam a tentar organizar a empresa, mas as
tentativas eram frustradas devido à informalidade;
o Gestão executiva – 100% de pessoas pertencentes à família e propriedade;
o Contratação de João Bosco Lodi, o primeiro consultor especializado em
empresas familiares no Brasil, com a visão de ser uma empresa familiar
profissional.
o Incêndios da TV Gaúcha em 1972 e Zero Hora em 1973, e o início das
operações em Santa Catarina, em 1979, numa estratégia intuitiva, de crescer
baseado no localismo, com visão multimídia e presença da questão familiar, do
filho dando continuidade ao empreendimento, comando o negócio em outro
Estado.
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) – permanece o conceito multimídia. A empresa
continua a alimentar sua vocação pelo risco e pelo crescimento e lança suas
bases no que viria a se tornar um dos guias principais, a valorização do local.
Surge o valor intrínseco de ser uma empresa familiar profissionalizada,
comprometimento familiar com o negócio. Surge também a visão da empresa
voltada para causas sociais e comunitárias;
o Estilo de Gestão – liderança forte e carismática, relações paternalistas e
personalistas;
o Top Management – presença marcante da família na administração da
empresa. Os três círculos são um;
o Habilidades e competências – competência multimídia, capacidade de gestão,
focadas em comportamentais;
o Estratégia – intuitiva, com características de estratégia processual;
o Estrutura – Funcional, com falia em funções chave;
o Sistemas e Processos – informais;
135
O terceiro momento na história da RBS é demonstrado pela Figura 23 e a
configuração dos elementos do 7Ss Framework, pela Figura 24:
Figura 23 – Modelo Tridimensional no Período 3
Fonte: elaborado pelo autor com base na pesquisa
Figura 24 – Elementos do 7Ss Framework no período 3
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Valores:
Multimídia
Crescimento
Localismo
Res
p
. Social
Sistemas:
Informais
Estilo de
Gestão:
Personalista
TMT:
Família
Estrutura:
Centralizada
Habilidades:
Multimídia
Capac. Gestão
Estratégia:
Processual
SISTEMA FAMILIA
R
SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
A
EMPRESARIAL
1. Pro
p
rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
p
resa
3. Trabalho Con
j
unto
1. Início
2. E
xpansão/Formalização
3.
M
aturidade
4. Passa
g
em do Bastão
3. Consórcio d
e
primos
136
A Figura 24 mostra a configuração dos elementos, demonstrando através dos
círculos escuros aqueles que sofreram modificação do período anterior para este.
Começa a haver uma orientação para a capacidade de gestão neste período, já que
com o crescimento, a empresa necessita de habilidades que vão além da competência no
produto, ou seja, passam a existir habilidades técnicas que dão suporte às comportamentais.
Como citado por Davis et al (1997), nesta etapa os proprietários preferem promover
relacionamentos íntimos, em termos individuais, com os dirigentes principais. Os processos
continuam informais, e novos elementos vão se juntando aos valores da organização. Neste
caso especificamente, de acordo com o que Davis et al (1997) sugere, a evolução e o
crescimento da empresa faz com que a família passe a mudar o estilo de vida e assumir muitas
vezes um papel filantrópico na comunidade. Ainda o existem regras para entrada da família
no negócio. De fato há um processo de expansão que coincide com a entrada da segunda
geração.
4) De 1986 a 1991
O período quatro (1986 a 1991) é marcado pela sucessão involuntária, ocasionada
pelo falecimento do primeiro fundador, Maurício Sirotsky Sobrinho. Surge a sociedade dos
filhos e esposa do Mauricio com o Jayme e a composição societária é estruturada. Jayme
Sirotsky assume a presidência da empresa, tendo Ione Pacheco Sirotsky, viúva do fundador,
no Conselho de Acionistas e na lideraa da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o Modelo de transição – o irmão assume a empresa e começa a preparar o filho
do fundador para assumir em breve;
o Estruturação societária, acordo de acionistas em construção, identificação das
convergências societárias;
o Criação do Conselho de Administração misto, com membros da família em sua
quase totalidade, muito embora fosse somente para “dar carimbo”;
o Gestão da empresa caminha para a profissionalização;
o Maturidade da família.
137
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) – o conceito multimídia continua presente, assim
como a vocação para o crescimento, responsabilidade social e valorização do
local;
o Estilo de Gestão – tentativa de romper com o estilo personalista. Transição.
Indícios de que o “quem” e o “que” se sobrepunham aocomo”;
o Top Management – família e proprietários ocupam 2/3 do TMT. O restante era
formado por pessoas que começaram juntos com os donos (insiders) e agora
comandavam a empresa, pessoas que possuíam intimidade com os donos da
empresa, com autonomia e alto poder de decisão e menos formais nas questões
do que poderia e não poderia ser feito. O desenvolvimento era oportunista;
o Habilidades e competências – capacidade de controle e gestão, habilidades
técnicas dando suporte às comportamentais;
o Estratégia – processual – “vamos fazendo pra ver como fica”;
o Estrutura – descentralizada;
o Sistemas e Processos – informais;
A Figura 25 mostra o modelo tridimensional no período 4, e a Figura 26 mostra a
configuração dos elementos.
Figura 25 – Modelo Tridimensional no Período 4
Fonte: elaborado pelo autor com base na pesquisa
SISTEMA FAMILIA
R
SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
A
EMPRESARIAL
1. Pro
p
rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
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3. Trabalho Con
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1. Início
2. E
xpansão/Formalização
3.
Maturidade
4. Passa
g
em do Bastão
3. Consórcio d
e
primos
138
Mais uma vez, osrculos escuros mostram os elementos que mudaram em
relação ao período anterior. O circulo em cinza, por sua vez, mostra o elemento que havia
mudado no período anterior, mas que se manteve neste período.
Figura 26 – Elementos do 7Ss Framework no período 4
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Observa-se o amadurecimento da família, num ponto que pode ser considerado
crucial para a continuidade da RBS, que foi o posicionamento da viúva do fundador, passando
o bastão para o irmão, esperando até que o filho estivesse devidamente preparado para
assumir a empresa. Há uma transição para uma etapa de transição. No entanto, os valores
permanecem inalterados, mas a empresa coma a dar sinais mais claros de sua intenção de
profissionalização quando tenta romper com o estilo personalista de gestão. Durante este
período de transição, há um aumento no número de integrantes do TMT, mas a família e
proprietárioso ocupam todo os assentos. Alguns profissionais assumem postos importantes,
é bem verdade, em sua maioria que começaram junto com os fundadores. A estrutura da
empresa começa a ser descentralizada, os processos são informais e a estratégia ainda é
processual.
Valores:
Multimídia
Crescimento
Localismo
Res
p
. Social
Sistemas:
Informais
Estilo de
Gestão:
Em transi
ç
ão
TMT:
Família 2/3
“Amigos” 1/3
Estrutura:
Descentralizada
Habilidades:
Capac. Gestão
Estratégia:
Processual
139
5) De 1991 a 1998
O período cinco na história da organização (1991 a 1998) é mercado pela
organização societária, da efetivação do Conselho de Administração, da constituição das três
holdings (IMA, JAMA e FEC). A RBS passa a ter uma estratégia mais clara, auxiliada por
empresas de consultoria internacionais, são constituídos missão e valores, as investidas
passam a ser a mudança de patamar da empresa, começam movimentos de diversificação (TV
a cabo, empresa de sistemas, incorporadora), políticas de recursos humanos e de recompensas
comam a ser formalizadas, a empresa é re-estruturada a partir de Unidades de Negócio
(profit centers), são adicionados processos e meritocracia, é feita a primeira emissão de títulos
no mercado internacional, melhora na rentabilidade e a empresa dobra de tamanho. Este
período culmina com a maior crise na história do grupo, a crise de 1998. O final do ciclo é um
período de turbulências na JAMA.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o Segunda geração assume a presincia do grupo;
o Consolidação da composição acionária;
o Conselho de Administração com membros externos “pra valer”. A gestão
presta contas ao Conselho – há um esboço de profissionalização;;
o É criado o Comitê Executivo;
o São constituídas as alçadas definitivas;
o São constituídas as holdings;
o Holding JAMA passa por turbulências e inicia um trabalho forte de consultoria
que viria a acelerar o processo rumo à profissionalização.
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) – o conceito multimídia continua presente, mas o
crescimento passa a ser o elemento chave que guia as ações da empresa.
Responsabilidade social e valorização do local continuam presentes;
o Estilo de Gestão – delegação com estabelecimento de alçadas – não há mais
espaço para o “tapinha nas costas”;
o Top Management – o TMT agora é composto por 50% da família. Contudo, os
não-familiares que comam a ocupar o espaço da direção executiva são
140
profissionais “criados” dentro da empresa (insiders). Não mais os amigos de
confiança. O desenvolvimento dos executivos passa a ser planejado;
o Habilidades e competências – Controle;
o Estratégia – clássica, com a predominância da oxigenação através de empresas
de consultoria;
o Estrutura – unidades de negócio;
o Sistemas e Processos – mais complexos, sistemas informatizados, porém, ainda
longe da formalização. Os sistemas de execução são menos elaborados que os
sistemas de gestão, mostrando o foco no controle;
Aqui novamente a Figura 27 mostra a evolão da organização dentro do modelo
tridimensional, e a Figura 28 mostra a configuração dos elementos.
Figura 27 - Modelo Tridimensional no Período 5
Fonte: elaborado pelo autor com base na pesquisa
Mais uma vez, osrculos escuros mostram os elementos que alteraram do
peodo anterior para este, e o circulo cinza mostra o elemento que vem se mantendo. Surge
uma constatação. No momento que o diagrama tridimensional aponta para uma transição entre
o período de expansão para o período de maturidade, os elementos do 7Ss Framework,
excetuando-se valores, mudam.
SISTEMA FAMILIA
R
SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
A
EMPRESARIAL
1. Pro
p
rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
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3. Trabalho Con
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1. Início
2. E
xp
ansão/Formalização
3.
Maturidade
4. Passa
g
em do Bastão
3. Consórcio de
primos
141
Figura 28 - Elementos do 7Ss Framework no período 5
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Aqui está presente um panorama da evolução da empresa familiar, que mostra
algumas características específicas deste estágio, segundo Davis et al (1997). Primeiramente,
há uma maior complexidade da empresa e muitas diretrizes e poticas são formalizadas, tais
como os sistemas de gestão. Os desafios estão relacionados à aquisição de capital, questões de
mercado e produto, e planejamento estratégico (DAVIS et al, 1997). É nesta etapa que as
empresas de consultoria na questão estratégica passam a estar presentes no dia a dia da
empresa. Além de contar com a Booz, Allen and Hamilton, a RBS também procurou
conselhos do especialista em tecnologia e inovação, Nicholas Negroponte, do MIT –
Massachussets Institute of Technology.
A organização começa a entrar num processo de formalização, e há a
reorganização por unidade de negócios e localização geográfica. O crescimento nesta etapa
foi oriundo da diversificação e entrada em novos mercados, pressionando as operações e fluxo
de caixa, levando a empresa a um endividamento considerável.
Valores:
Multimídia
Crescimento
Localismo
Res
p
. Social
Sistemas:
Formais na
gestão
Informais na
execução
Estilo de
Gestão:
Mais
meritocracia
TMT:
Família 50%
Gestores
formados 50%
Estrutura:
Unidades de
Negócio
Habilidades:
Controle
Estratégia:
Clássica
142
6) De 1998 a 2001
O sexto período na história da RBS (1998 a 2001) inicia a partir da crise que se
instaurou na empresa em 1998 por conta da tentativa frustrada de entrada na área de telefonia.
A empresa vinha num crescente de endividamento por conta de investimentos no setor de TV
paga, e o movimento da compra da CRT agravou o quadro. É um período de suspensão de
investimento. Há uma mudança de rumos na estratégia, com a venda de alguns negócios (Zaz,
NET) e a volta do foco para os negócios de comunicação na região Sul. É um momento que
acelera a maturidade empresarial das famílias acionistas. Em 1999, começa um novo processo
de consultoria, com a empresa americana McKinsey.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o A holding JAMA começa um trabalho forte com Renato Bernhoeft, depois a
IMA segue o mesmo caminho. São movimentos que viriam a iniciar o fim
deste estágio e lançar as bases para o estágio seguinte.
o No lado da empresa, a crise provoca demissões, e o “braço” de TV paga é
retirado.
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) –os valores não mudam, crescimento moderado;
o Estilo de Gestão – delegação com estabelecimento de alçadas;
o Top Management a configuração do TMT apresenta basicamente a mesma
distribuição, com exceção da unidade de TV paga;
o Habilidades e competências – controle;
o Estratégia – clássica;
o Estrutura – unidades de negócio;
o Sistemas e Processos – sistemas informatizados, porém, ainda longe da
formalização. Os sistemas de execução continuam menos elaborados que os
sistemas de gestão;
A Figura 29 faz a representação do estágio em que a organização se encontra, e a
Figura 30 demonstra a configuração dos elementos. Como demonstrado pelos círculos em
cinza, os elementos do 7 Ss Framework não apresentam modificações nesta transição. Isto se
deve ao período após crise em que a empresa começa a buscar alternativas de direcionamento.
143
Figura 29 - Modelo Tridimensional no Período 6
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Figura 30 - Elementos do 7Ss Framework no período 6
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
SISTEMA FAMILIA
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SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
A
EMPRESARIAL
1. Pro
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rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
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3. Trabalho Con
j
unto
1. Início
2. E
xpansão/Formalização
3.
Maturidade
4. Passa
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em do Bastão
3. Consórcio de
primos
Valores:
Multimídia
Crescimento
Localismo
Res
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. Social
Sistemas:
Formais na
gestão
Informais na
execução
Estilo de
Gestão:
Mais
meritocracia
TMT:
Família 50%
Gestores
formados 50%
Estrutura:
Unidades de
Negócio
Habilidades:
Controle
Estratégia:
Clássica
144
Marcadamente há um novo estágio de transição na empresa. Só que desta vez o
desencadeador foi a crise financeira de 1998, vindo a se encerrar quando a empresa dá os
passos definitivos para a profissionalização, num movimento gerado pelo lado da holding
JAMA, acionistas minoritários que visavam a estruturação da relão societária.
7) De 2001 a 2005
O sétimo período na história da RBS (2001 a 2005) na verdade continua em
andamento. É um momento que começa com a contratação do especialista em empresas
familiares e professor da Harvard Business School, John Davis, e é onde começa a definição
da estrutura que a organização possui atualmente. Começam as definições de regras para
familiares que trabalham na empresa, até o final de 2002 são tomadas medidas efetivas de
profissionalização com a contratação de Pedro Parente, um executivo proveniente do mercado
para gerir a operação da empresa. Foi desenhada a nova governança da empresa que hoje é
constituída de uma diretoria executiva, de um conselho de administração, de um conselho de
acionistas. É quando a família reafirma seu compromisso com o negócio.
Sistema Família, Propriedade, Empresa:
o Valorização das relações entre sócios e conselho de família;
o decio de profissionalizar efetivamente a empresa;
o As holdings laam um membro para ser representante no Conselho de
Administração;
o Depuração dos valores da primeira, segunda e terceira gerações e como levá-
los para as próximas;
o Critérios objetivos com vistas a separar a emoção do processo;
o Criação de um Conselho de Família e construção da Constituição da Família;
o Formalização do Conselho de Acionistas, reuniões regulares entre novos,
acordo de acionistas, definição de diretrizes para os negócios, definição de
matérias de voto qualificado, política de dividendos, missão e valores da e
empresa, alçadas da Diretoria Executiva; acompanhamento do programa de
capacitação de acionistas e da terceira geração na empresa;
o Regras para ingresso da terceira geração no negócio;
145
o Regras para atividades profissionais fora da RBS;
o Criação do sistema de informações para acionistas;
o Conselho de Administração e Diretoria Executiva, profissionalizados;
o Vice-presidência executiva;
o Formalização do estatuto geral da empresa e do plano geral de alçadas.
Elementos do 7Ss Framework
o Valores (guiding concepts) – reafirmação dos valores da empresa, volta do
crescimento como prioridade, responsabilidade social, compromisso de longo
prazo e sentimento de propriedade;
o Estilo de Gestão – profissional e totalmente formalizado;
o Top Management – Em 2003, de um total de 6 membros, a diretoria executiva
conta com apenas um membro da família Sirotsky;
o Habilidades e competências – focados em metodologia e processo;
o Estratégia – clássica, acompanhamento de consultorias, Conselho de
Administração define plano estratégico e Diretoria Executiva se encarrega da
implementação;
o Estrutura – misto de centralização (áreas de gestão e finanças) e
descentralização (produto e comercialização nas unidades de negócio);
o Sistemas e Processos – formalização total dos sistemas e processos.
Desenvolvimento de novas metodologias de controle da gestão e execução de
atividades;
A Figura 31 mostra a empresa no eixo da empresa no seu estágio de maturidade,
onde a renovação é premente, e no eixo da propriedade, a empresa caminha para o consórcio
de primos. A Figura 32 mostra a configuração dos elementos, e mais uma vez, os círculos
escuros demonstram as modificações ocorridas nesta transição de estágios. Ao observar as
mudanças nos elementos ao longo do ciclo de vida, esta transição é a que os elementos sofrem
mais alterações, dando indícios de que a profissionalização da empresa coma a se efetivar.
146
Figura 31 - Modelo Tridimensional no Período 7
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Figura 32 - Elementos do 7Ss Framework no período 7
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa
Este estágio marca a profissionalização efetiva da organização, nos seus três
sistemas: família, empresa e propriedade. E o início deste estágio está onde a família reafirma
Valores:
Crescimento
Localismo
Resp. Social
Pro
p
riedade
Sistemas:
Formais na
gestão e na
execução
Estilo de
Gestão:
Profissional
TMT:
Família 1
Gestores
profissionais 5
Estrutura:
Unidades de
Negócio com
centralização
Habilidades:
Processo
Metodologia
Estratégia:
Clássica,
orientada
pelo CA
SISTEMA FAMILIA
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SISTEMA DE PROPRIEDADE SISTEM
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EMPRESARIAL
1. Pro
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rietário Controlador
1. Jovem Família
2. Sociedade entre iros
2. Entrada na Em
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1. Início
2. E
xpansão/Formalização
3.
Maturidade
4. Passa
g
em do Bastão
3. Consórcio de
primos
147
seu compromisso com a empresa e cria os dispositivos e mecanismos necessários para
profissionalizar a empresa. Os valores que guiaram a organização são reafirmados, e salienta-
se o sentido de propriedade (ownership). A gestão passa a ser totalmente profissional e
formalizada, há uma redução significativa dos familiares da Diretoria Executiva, ou seja, dos
seis membros, apenas o presidente pertence à família. A estratégia passa a ser dirigida pelo
Conselho em conjunto com a Diretoria Executiva e os processos de gestão e execução
obedecem a uma metodologia aprofundada.
Segundo Davis et al (1997), quando a empresa familiar chega a este estágio, pode
ser entendido que enfrentou com sucesso os desafios que lhe foram impostos. As empresas
neste estágio precisam de um grande volume da capital para avançar em seus interesses, e isto
pode significar a necessidade de buscar capital próprio, ou seja, através da abertura de capital.
A família e acionistas optaram por manter um familiar na liderança da empresa,
tendo um Vice-Presidente Executivo proveniente de fora, profissional. Da mesma forma, com
Jayme Sirotsky na presidência do Conselho, tem o foco de representar o interesse dos
acionistas.
148
Quadro 6 – Evolução da RBS ao longo do ciclo de vida
1968 a 1971 1971 a 1986 1986 a 1991
Família - fundadores
- primeira geração
- entrada da segunda geração
(NS)
- falecimento do fundador
- maturidade
Propriedade - Maurício, Jayme e
Fernando Ernesto
- Maurício, Jayme e
Fernando Ernesto
- consolidação das ações
- Conselho de Adm.
Empresa - endividamentos
- crescimento
- inovação
- crescimento
- inovação
- Irmão assume a presidência
- modelo de transição
Valores - Valorização do local
- Multimídia
- Crescimento
- Valorização do local
- Multimídia
- Crescimento
- Multimídia
- Crescimento
- Localismo
- Resp. Social
Estrutura - Centralizada - Funcional - Descentralizada
Estratégia - Processual - Processual - Processual
Processos - Informais - Informais - Informais
TMT - 100% família e propriedade
- 100% família e propriedade
- Homogêneo
- Família e prop. ocupam 2/3
- 1/3 de gestores
Estilo de Gestão - Paternalista
-Liderança carismática
- Paternalista
-Liderança carismática
- Transição
Competências - Multimídia
- Localismo
- Multimídia
- Regionalização
- Localismo
- controle
- Comportamentais
- técnicas dão suporte
1991 a 1998 1998 a 2001 2001 a 2005
Família - Segunda geração assume a
presidência do grupo;
- Conselho Adm. com
membros externos
- família abalada com a crise
- Família se profissionaliza
- Conselho de família;
- Assembléia de família.
149
Propriedade - Consolidação da
composição acionária;
- São constituídas as
holdings;
- Holding JAMA passa por
turbulências
- JAMA contrata consultoria
- Holdings indicam para o
Conselho
- Acordo de acionistas
- definição de diretrizes
Empresa - É criado o Comitê
Executivo;
- São constituídas as alçadas
definitivas;
- Crise telefonia
- bolha da internet
- consultoria
- RBS Interativa
- Diretoria executiva
profissionalizada;
- Vice-presidência executiva
- Estatuto da empresa
Valores - Multimídia
- Localismo
- Resp. Social
- Multimídia
- Localismo
- Resp. Social
- Crescimento
- Multimídia
- Localismo
- Resp. Social
- Crescimento
- Ownership
Estrutura - Descentralizada
- Unidades de Neg.
- Profit Centers
- unidades de negócio - Misto de centralização com
descentralização
Estratégia - Cssica - Clássica - Clássica
Processos - Formais na gestão;
- Informais na execução
- Sistemas de gestão ainda
mais elaborados que os de
execução
- 100% formais
TMT - família 50%
- gestores 50%
- família 50%
- gestores 505
- 1 familiar em meio a 6
executivos
Estilo de Gestão - Delegação - Delegação
- Meritocracia
- Profissional
Competências - Controle
- Comportamentais
- técnicaso suporte
- Controle - Metodologia e processos
150
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Conclusões
Este estudo teve como principal objetivo analisar o processo de profissionalização
de uma empresa familiar ao longo do seu ciclo de vida observado a partir da relação entre
família, empresa e propriedade, baseando-se num caso empírico, o grupo RBS. A idéia
fundamental girava em torno da descrição do ciclo de vida da empresa na ótica dos sistemas
de família, empresa e propriedade, baseando-se na teoria de Davis et al (1997). A partir do
desenvolvimento do ciclo de vida que contemplasse os três sistemas, a pesquisa foi conduzida
no sentido de identificar momentos críticos e movimentos sucessórios e verificar se as
dinâmicas da estrutura de propriedade ou da estrutura familiar causaram mudanças na
empresa, observando isto através dos elementos do 7 Ss Framework: valores, estratégia,
estrutura, TMT, estilo de gestão, sistemas e habilidades em cada uma das fases, além de
buscar o entendimento de como isso pode ter influenciado o processo de profissionalização.
Os momentos críticos e movimentos sucessórios precisaram ser identificados a
partir de situações vividas em qualquer um dos três sistemas (família, empresa e propriedade),
pois, de acordo com Davis et al (1997), os dilemas enfrentados pela organização familiar são
causados pela passagem do tempo, e englobam mudanças na empresa, na família e na
distribuição da propriedade. Também é interessante observar como a empresa familiar se
altera na medida em que as pessoas se movimentam nos limites internos do sistema.
A observação mais imediata destes momentos críticos deu-se através dos
integrantes da coalizão dominante da empresa, que descreveram os fenômenos por seu maior
e mais direto conhecimento, incluindo neste grupo também o Presidente do Conselho de
Administração e os Diretores da empresa para Santa Catarina e São Paulo, por se tratarem de
familiares proprietários, integrantes da primeira, segunda e terceira geração respectivamente.
No atendimento aos objetivos específicos, ao descrever o ciclo de vida da empresa
familiar RBS, sob a ótica dos eixos de família, empresa e propriedade, a primeira observação
importante, é que o caso estudado mostra a evolução da empresa numa seqüência de estágios,
cujo foco para a mudança estiveram nos fatores internos relacionados à maturidade da
organização, com alguma influência externa em alguns casos. Ainda sob o aspecto dos
objetivos específicos, ao verificar quais foram os momentos críticos e movimentos
151
sucessórios ao longo do ciclo de vida, observa-se que a separação entre o primeiro e o
segundo estágio ocorre pela constituição efetiva da empresa familiar, passando de proprietário
controlador para sociedade entre irmãos dentro da primeira geração. Já na transição seguinte,
há uma crise financeira gerada pelo endividamento, mas também marcada pela entrada da
segunda geração na empresa. Os próximos momentos de transição ocorrem respectivamente
pelo falecimento do fundador, numa sucessãoo planejada; posteriormente quando o irmão
assume, e mais tarde pelo filho assumindo o comando da empresa. O momento que separa o
sexto do sétimo peodo também é provocado por um elemento de maturidade, a busca pela
profissionalização efetiva. A conclusão que se chega, neste aspecto, é que as mudanças na
estrutura de propriedade e na estrutura familiar efetivamente impulsionaram mudanças na
empresa, com ênfase para as alterações na família.
Em linhas gerais, a empresa, desde sua origem tem sido guiada pelo controle
familiar direto, que segundo Davis et al (1997) existe quando o principal executivo é um
membro da família que controla organização. A observação do processo de profissionalização
sugere que dentro de algum tempo, o controle familiar passará a ser indireto, pois os indícios
mostram que o principal executivo será um membro externo à família. De qualquer forma, e
corroborando com Allen e Panian (1982), a família deve continuar no controle, pois terá seu
comando baseado no Conselho de Administração. Ainda no aspecto do entendimento do ciclo
de vida, um elemento importante, e que confirma a teoria de Dyer (2003) e Denison (2004)
que o legado, identidade e valores são criados e passados através de gerações numa mesa de
jantar, o que pode significar uma postura diferenciada, são os momentos de entrada da
segunda geração, baseados num compromisso familiar psicológico, com os filhos sendo
induzidos a entrar no negócio.
Em termos de evolução no ciclo de vida, a teoria mostra que a mudança de um
estágio para outro pode ser gradual ou drástica. De acordo com Davis et al (1997), essa
mudança pode ocorrer de forma súbita e, muitas vezes, em resposta a eventos provocadores.
A RBS viveu claramente esta mudança brusca com o falecimento do primeiro fundador, em
1986. O mecanismo que deu origem à sucessão do fundador pelo seu irmão, já preparando
Nelson Sirotsky para a sucessão seguinte corrobora Davis et al (1997) que sustenta que a
transição nas empresas familiares tende a começar com opções a respeito da participação
acionária. Como Jayme era acionista, mas detinha uma parcela menor, o movimento natural
seria de Nelson assumir a presidência. Este estágio está alinhado também com Davis et al
(1997) que sugere que o conselho de administração existe apenas “no papel”, composto
geralmente por membros da família.
152
A evolução da RBS como empresa familiar também está de acordo com algumas
características específicas sugeridas por Davis et al (1997). A empresa, na medida em que se
tornou maior e mais complexa, passou a contar com a formalização de diretrizes de controle e
gestão. Entretanto, a expansão e reestruturação não coincidem com a entrada da segunda
geração. A entrada da segunda geração se dá num momento de crise pela sobrevivência. A
expansão mais acentuada acontece com a segunda geração na presidência de empresa, assim
como a reorganização por unidade de negócios. É nesta etapa que os sistemas de informação e
poticas de recursos humanos são ajustados. O crescimento nesta etapa é provocado pela
entrada em novos mercados e diversificação de atividades, começa a mudar o perfil do TMT,
com os gestores sendo formados internamente, ao passo que passam a necessitar de novos
conhecimentos e qualificações profissionais. A empresa entra numa fase de delegação e a
estratégia deixa de ser processual e passa a ser clássica. Isso confirma Govindarajan (1989)
que afirma que a estratégia está relacionada à orientação gerencial.
A RBS como qualquer empresa familiar, passou pelo estágio de expansão e, ao
passar pela crise de 1998, deixou de crescer. Nesta ocasião, os proprietários e a família
reavaliaram seu compromisso com a empresa e a direcionaram rumo à efetiva
profissionalização. Foi a chegada da maturidade e o desafio de renovação (DAVIS, 2003).
Esta profissionalização foi marcada pela existência de práticas administrativas mais racionais
(LODI, 1998). Foi o início da separação entre emoção e processo. Observa-se que, de acordo
com Bernhoeft (1987), a família continua no comando, e o movimento foi “de dentro para
fora”, mantendo os membros da família que se adequaram às novas regras.
A empresa chega ao estágio de consórcio de primos. Nelson lidera a holding IMA
como sócio-gerente, paralelamente a Marcelo Sirotsky na holding JAMA. A existência de
sócio-gerente significa que as decisões devem ser consensuais. Quandoo o são, o voto de
definição é dele. Da mesma forma, a organização da estrutura de propriedade determina que
sempre a liderança da empresa será conduzida pela holding IMA. A família conduz o
desenvolvimento de políticas para proteger os interesses da empresa, e o Conselho de
Administração passa a existir de fato e profissional.
O caso da RBS está alinhado também com o que descobriram Gallo e Lacueva
(1983), ao citar que empresas familiares passam por diversos momentos críticos e
movimentos sucessórios, e sua estrutura e estratégia se adaptam num ciclo de acontecimentos.
Ainda no que tange aos objetivos específicos, são identificáveis as mudanças no
hardware da organização: estrutura, estratégia, sistemas e processos. Também são
identificáveis mudanças no software: valores (embora de forma senvel), top management,
153
estilo de gestão e habilidades. Este aspecto é concluído a partir da evolução da empresa. Nos
primórdios, a RBS apresenta as características gerais de uma empresa familiar sugeridas por
Bernhoeft (1987), envolvendo confiança mútua, laços afetivos e atributos emocionais. Era
uma empresa informal que começa pela “sociedade do trabalho”, sem uma clareza de quanto
pertence a cada uma, são lançados os conceitos que iriam orientar a organização ao longo de
sua história, relacionados a crescimento, vocação multimídia, valorização do local, ousadia e
inovação. Segundo Davis et al (1997), este é um estágio onde são lançadas as raízes para a
centralidade da empresa familiar: cultura, estratégia e valores. As crenças sobre crescimento,
diversificação, controle acionário e posicionamento foram certamente influenciadas pelos
prinpios do primeiro fundador, Maucio Sirotsky.
No que tange à observação dos valores que guiaram a trajetória da organização, a
observação do caso mostra que o crescimento tem sido a pauta da empresa ao longo de sua
vida. O caso empírico vai de acordo com a teoria de Geller (1980), que afirma que estratégias
relacionadas a investimento e ao crescimento eram implementadas com melhor eficácia por
gestores com predisposição ao risco e estilo inovador. Isso pode confirmar a percepção de que
a RBS é uma empresa inovadora. Confirma também a teoria de Gallo e Tàpies e Cappuyns
(2004), que sugere que as preferências pessoais relacionadas ao crescimento, risco e controle
de propriedade são as driving forces por trás da lógica peculiar das empresas familiares. Além
disso, ainda em valores, a RBS é uma empresa de comunicação, e isso é muito claro para as
pessoas que dela fazem parte, e que, por sua vez, teve início no fundador. Isso corrobora as
teorias de Peters e Waterman (1982) e Pettigrew (1996) que afirmam que os valores estão
relacionados ao papel e personalidade do líder. Também confirma o que Katz e Kahn (1978),
trazem como valores, que são justificações e aspirações ideológicas mais generalizadas.
Observando-se outros elementos, tem-se que a liderança exercida pelo primeiro
fundador possuiu características carismáticas e personalistas, a estratégia era intuitiva, com
decisão centralizada e processos informais. Isso está alinhado com Dyer (1986) que sugere
que empresas familiares passam pelo estilo paternalista. Isto também se alinha à teoria de
Gonçalves (2000), ao sugerir que as famílias tendem a adotar nas suas empresas um
comportamento paternalista. Na medida em que evolui, há uma clareza do comportamento
dos proprietários em promover relacionamentos individualizados com os dirigentes principais
(DAVIS et al, 1997), o que é representado pelos momentos onde o TMT deixou de ser
totalmente familiar para englobar alguns dos que “comaram juntos”. Charan, Hofer e
Mahon (1980) também citam o repertório inadequado de técnicas e treinamento gerencial e
atmosfera paternalista, típicos da organização familiar.
154
O comportamento estrutural da organização ao longo de sua história mostra a
evolução de uma estrutura centralizada para uma estrutura funcional e, finalmente, para a
estrutura divisional (CHARAN, HOFER e MAHON, 1980), denotando uma mistura de
atividades centralizadas e descentralizadas ao mesmo tempo (MINTZBERG, 1990). A adoção
do modelo descentralizado ocorre no momento da adoção de estratégias de diversificação
(NOHRIA, 1995), que se dá num período de turbulências (HALL, 2004).
A estratégia, ou o comportamento estratégico da empresa é observável a partir da
conceitualização sugerida por Whittington (2002). Do seu início até o momento em que a
segunda geração assume o poder, a estratégia tem configuração processual, que de acordo
com Whittington (2002), emerge com muita confusão e a passos pequenos. A abordagem de
diz que a estratégia é descoberta durante a ação. No momento em que a segunda geração
assume, a característica da estratégia passa a ser clássica, com o auxilio de consultorias
internacionais. A gestão de Nelson foi fortemente acompanhada por consultorias
internacionais, com acertos e erros. Na teoria, a abordagem clássica estava calcada em
premissas básicas (Mintzberg, 1990) que sugere um processo consciente e controlado de
pensamento, que fica nas mãos do Presidente e a implementação é uma fase distinta no
processo da estratégia. Esta evolução da estratégia mostra também que o caso corrobora a
teoria de Ward (1994) que diz que em determinadas empresas, a formulação do plano
estratégico é de responsabilidade do conselho e em outras são elaborados pela gerência com a
implementação supervisionada pelo conselho. De qualquer forma, o processo como um todo é
orientado pelos proprietários.
Peters e Waterman (1981) sustentam que, muito embora a figura do 7 Ss
Framework possua os valores (guiding concepts) como elemento central, quaisquer dos
demais elementos podem ser os motivadores das mudanças na empresa. Essa constatação é
clara no caso da RBS, que teve a mudança de liderança, e por seqüência do TMT, como
motivadora das alterações nos demais elementos. No entanto, esta mudança na lideraa foi
marcada por mudanças no sistema familiar e de propriedade. Contudo, a RBS apresenta uma
estrutura de gestão mais homogênea. Keck (1997), sustenta que equipes com diferentes
formações irão “escanear” o ambiente mais amplamente e produzir um leque maior de
soluções. Contudo, esta característica da empresa de fazer uso prioritariamente de insiders
familiarizados com a cultura, se mostrou pouco efetiva no momento da diversificação de
atividades e de criação da RBS Interativa. Se nestes epidios houvesse um TMT mais
heterogêneo, talvez o resultado fosse outro. Isso mostra que não adianta uma estrutura
155
diferenciada para amparar uma nova estratégia de diversificação se as habilidades do grupo
não são compatíveis, o grupo é homogêneo e não existem processos de execução.
Respondendo aos objetivos específicos, ao observar-se o processo de
profissionalização, tem-se que o estágio que acelera a profissionalização possui as
características da empresa familiar complexa (DAVIS et al, 1997): maior número de membros
da família acionistas, gerenciamento de informações para os acionistas informados, Conselho
de Administração com membros externos, a empresa mantém seu foco estratégico, é
disciplinada, um dos proprietários mantém-se no comando, e sinais claros de uma possível
abertura de capital para adquirir o volume necessário para avançar em seus interesses.
No que tange à profissionalização, a história da RBS, embora recente, está focada
na transição interfamiliar entre gerações (LEVINSON, 1971; DYER, 1986; LANSBERG,
1988; HANDLER, 1990). Contudo, a partir de 2001, quando se dá a aceleração da
profissionalização, as questões mais importantes passaram por saber se o sucessor seria
interno ou externo (KESNER e SEBORA, 1994). Ao definir pelo membro externo, na
chegada de Pedro Parente, observa-se que as modificações ocorridas corroboram a teoria de
Grusky (1963) onde o outsider conseguiu processualizar a organização, o que é
complementado por Burton e Khurana (2000) ao observar-se que o outsider trouxe uma
rotina mais formalizada, relacionada às regras e disciplina alinhadas às metas e objetivos da
empresa. E isto, por sua vez, confirma Wiersema (1992) mostrando que foram mudanças
significativas na empresa, já que Pedro Parente trouxe habilidades oriundas de suas
experiências anteriores, e com isso, diferentes perspectivas. A nova gestão da empresa tem
características mais relacionadas à área de finanças do que à área de produto, corroborando
Smith e White (1987).
Ainda do ponto de vista do entendimento do processo de profissionalização,
alguns comentários são necessários. Primeiramente, quando a empresa em 1971 trouxe João
Bosco Lodi para auxiliar na preparação da segunda geração. Em seguida, no falecimento do
fundador, o exemplo de maturidade pela decisão da viúva de entregar para o irmão até que o
filho estivesse devidamente preparado. Posteriormente, a transição entre Jayme Sirotsky e
Nelson Sirotsky, com a definição da composição acionária da organização e posteriormente
constituição de holdings. Há também um movimento de um dos lados da família de cuidar
mais dos investimentos da empresa do que da operação, representado pela mudança de
Marcelo Sirotsky. E, finalmente, quando após uma crise de grandes proporções, sistemas de
família e de propriedade buscam um consultor externo, simplesmente o maior especialista da
atualidade em empresas familiares, para auxiliar na efetivação da profissionalização, e, além
156
disso, tomam todas as medidas para que o processo ocorra da melhor forma, seguindo os
critérios necessários.
Este processo é reforçado ao observar-se que há aproximadamente cinco anos
existe diferença na relação da família com os sócios, seja no entendimento ou agregação da
família, no acordo de acionistas, na saída de familiares da operação, manutenção de alguns
familiares, executivo de operação profissional, fortalecimento do Conselho de Administração
e fortalecimento do Conselho de Acionistas. Contudo, este modelo somente se mantém se
houverem dividendos, pois a família só funciona se for remunerada. Davis et al (1997) alerta
que a empresa tem de produzir lucros, sentimento de controle e orgulho, mas acima de tudo é
fundamental continuar dando resultado. No passado havia pouco entendimento do papel de
cada um dos três círculos. A questão da segunda geração ficou resolvida e a empresa fez um
trabalho de casa começando pela própria família para adequar a entrada da terceira geração no
processo. Os movimento ocorridos corroboram Chua, Chrisman e Sharma (1999) que traz que
o padrão de propriedade, governança, gestão e sucessão, influenciam as metas, estratégias,
estrutura e a forma da organização.
Pode-se sugerir que a RBS é uma empresa de sucesso, que passou pelas
transições complexas e manteve sua lógica de crescimento. E deve isso aos valores que a
guiaram ao longo de sua historia e que foram desenvolvidos nos primórdios, baseados nos
fundadores e em suas características familiares. Pode-se dizer que ao longo da história, a
família fez muito mais bem do que mal. A família geralmente cresce mais do que o negócio,
mas o grande mérito da RBS foi resolver o círculo da família e agora, a aplicação e execução
de um modelo de governança. A partir da profissionalização, o grande desafio com a família
mais ausente passa a ser o de garantir o controle dos riscos.
A evolução mostra que nos últimos 15 anos, a RBS parece ter sido mais família
do que empresa, e há um rompimento disto com a chegada de Pedro Parente no posto de
Vice-Presidente Executivo. Observa-se uma mudança, pois, por mais que as pessoas fossem
competentes em suas atribuições, eram familiares, havia agendas paralelas e os interesses se
misturavam. A percepção que se tem é que hoje a RBS é mais empresa do que foi no passado.
Na metade dos anos 90, a RBS se tornou maior que os controladores. E este foi o
divisor de águas em sua história. No entanto, ao observar que, no futuro, a complexidade da
família deveser maior que a complexidade da empresa, dois caminhos precisavam ser
adotados. O primeiro era de profissionalizar a família, fazer os ajustes necessários para
separar a emoção do processo. O segundo foi de reorganizar a empresa, no sentido de
incorporar padrões internacionais relacionados à estrutura, processos, modelos de gestão,
157
estratégia, competências, TMT, mas mantendo seus valores centrais que vêm guiando a
organização, e assim partir para a viabilização de um projeto de crescimento, baseado na
abertura de capital.
Pode-se sugerir que a RBS só chegou aonde chegou pela família que tem.
Primeiro um fundador visionário que queria correr riscos, queria crescer. Depois uma
sociedade entre irmãos que queria ter uma empresa familiar profissionalizada. No falecimento
de um dos fundadores, a maturidade familiar da viúva e do filho, engrandecida pela
experiência anterior, e a empresa sendo liderada pelo irmão, acionista minoritário. Depois,
assume a empresa o filho que conseguiu captar do pai e do tio os valores fundamentais da
empresa. É possível também sugerir que o movimento por parte da JAMA marcou o início da
aceleração rumo à profissionalização. É importante salientar, contudo, que mesmo com a
segunda geração sendo induzida a entrar no negócio, a consolidação da profissionalização
passou pela abertura para discussão de projetos pessoais, e de permanência ou não na
empresa. A pesquisa conclui também que as sucessões pelas quais a RBS passou foram muito
mais orientadas pelas competências dos indivíduos que exerceram o comando do que
necessariamente pelos fatores familiares.
Davis et al (1997) citam que para cada mudança na estrutura de propriedade
ocorrem outras correspondentes, nas dinâmicas da empresa e da família, no nível de poder
detido por acionistas funciorios e não-funciorios e nas demandas financeiras feitas sobre
a empresa. Esta variável também aparece na evolução da RBS, especificamente nas mudanças
na composição acionária após o falecimento do fundador. Porém, e esta talvez seja a grande
contribuição para a teoria sobre empresas familiares, o caso da RBS mostra que a organização
da empresa rumo à profissionalização começou pela organização da família. Assim, sugere-se
que o primeiro passo para organizar a empresa é organizar a família. É fundamental
profissionalizar primeiro a família, pois isto iamparar todo um manancial de tomada de
decisões difíceis do ajuste societário e de profissionalização da empresa que só se tomam com
a família profissionalizada, sabendo qual caminho irá seguir. A RBS pode ser considerada
uma empresa que conseguiu ser eficaz no seu processo de profissionalização, e, isto tem
raízes nos valores que a guiaram, e foram, por sua vez, desenvolvidos por seus fundadores.
Em síntese, em resposta ao objetivo geral deste trabalho, a profissionalização da
RBS começou pelo comportamento e pelas mudanças ocorridas no sistema familiar, mas não
é possível afirmar se isto se deve às características familiares, sua origem. Ou seja, será que o
movimento de profissionalização teria sido diferente se a família tivesse outra origem e outro
tipo de relação? Esta é certamente uma recomendação básica que este estudo permite oferecer
158
aos futuros pesquisadores: relacionar a evolução do processo de profissionalização à luz das
diferentes origens e características da família. Anexe-se a isto o fato de que as experiências
familiares vividas pela empresa em questão, antes da origem da própria empresa, foram
importantes nas decies tomadas pela família ao longo da evolução. E isto pode se tornar
objeto de uma nova pesquisa, levando em conta estes referenciais familiares. Além disso, em
virtude da presença marcante dos conceitos guias (valores) estabelecidos pela família que
detém o negócio ao longo do ciclo de vida, sugere-se um estudo da relação entre os valores
organizacionais e a profissionalização.
Outro elemento encontrado pelo caso em estudo é a importância do planejamento
estratégico pessoal, ou seja, o entendimento do que os membros da família buscam para suas
carreiras e suas vidas. No caso da RBS, o movimento que acelerou a profissionalização partiu
de um dos lados da família, da segunda geração, através de uma reavaliação do que estavam
fazendo e do que buscavam para o futuro. Este aprendizado com o apoio de um consultor
externo para ajudar a “enxergar”, deu início a um ciclo mais forte de profissionalização,
comprovando que o movimento deve começar pela família. Assim, sugere-se um estudo sobre
a importância do planejamento estratégico pessoal para o processo de profissionalização.
O caso estudado mostra uma empresa que passou de proprietário controlador para
sociedade entre irmãos dentro da primeira geração, o que ter sido decisivo para sua
predisposição à profissionalização. Assim, recomenda-se uma alise de empresas que
passaram pela mesma situação, no sentido de identificar similaridades, ou seja, se com estas
características, o processo de profissionalizar a empresa é facilitado ou não.
Outra recomendação passa pela combinação da utilização do modelo
tridimensional e do 7 Ss Framework como ferramentas de análise de uma organização
familiar ao longo do ciclo de vida, de forma a entender como se comportaram os elementos do
modelo: valores, estratégia, estrutura, processos, top management, estilo de gestão e
habilidades. Esta ferramenta, levada em paralelo com o modelo de desenvolvimento
tridimensional, pode fornecer um panorama mais completo da evolução da empresa familiar,
e de como isso afeta de alguma forma sua capacidade de tornar-se profissional.
Além disso, esta pesquisa poderia servir de base para se observar empresas
familiares em processo de profissionalização que optaram por manter um membro da família
na condição de executivo que lidera a operação, no sentido de observar a configuração dos
elementos, de forma a servir de comparação com este trabalho e fornecer uma referência para
outros futuros trabalhos sobre empresas familiares.
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175
APÊNDICE
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Perguntas com vistas ao descobrimento de momentos críticos e movimentos sucessórios
ao longo do ciclo de vida:
1. Como você descreveria o ciclo de vida da RBS em etapas?
2. Dentro do que você conhece/sabe do início da RBS, quais os momentos críticos que,
na sua avaliação, a empresa enfrentou (vale tudo: crises, sucessões de gestão, etc.)?
3. O que mudou na RBS após cada um destes momentos? Que fases distintas vo
destacaria?
4. Como você definiria as variáveis criatividade e inovação em cada uma destes
momentos?
5. Como você definiria o planejamento e a coordenação em cada fase?
6. Como você definiria a flexibilidade e a “abertura para o novo” em cada um destes
momentos?
7. Como você avaliaria o crescimento da empresa em cada uma destas etapas?
8. Como você descreveria as comunicações internas em cada fase?
9. Você considera que em algum momento a empresa foi caracterizada por um sentido de
família e cooperação?
10. Qual o período que você destacaria como momentos em que regras e procedimentos
foram a tônica das relações intraorganizacionais?
11. Em que momentos a produtividade e eficncia foram mais cobradas? Existiu uma
forte orientação para metas?
12. Em que períodos a RBS trabalhou com fortes sistemas de controle?
13. Em sua avaliação, quando a RBS passou a ser profissionalizada?
14. A gestão hoje possui características profissionais ou familiares?
Perguntas visando o entendimento das mudanças provocadas pela família e/ou
propriedade:
1. Quais foram as mudanças na(s) família(s) proprietária(s) que provocaram alguma
mudança na empresa?
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2. Quais foram as mudanças na estrutura de propriedade que provocaram alguma
mudança na empresa?
3. Como está configurada a estrutura de propriedade da empresa atualmente e como foi
no passado?
Perguntas objetivando avaliação da estrutura da empresa:
1. Há uma hierarquia administrativa na empresa? Como ela é? O que mudou? Quando?
2. Você considera que a tomada de decisões na RBS é centralizada ou descentralizada?
Sempre foi assim? Quando isso foi diferente?
3. Como você definiria a liderança da RBS? Orientada à tarefa ou orientada às pessoas?
Quando isso foi diferente?
4. Como você definiria a estrutura da empresa? Formalizada ou flexível?
5. Você diria que a RBS é uma empresa orientada para processos ou para resultados?
6. Quais as mudanças na estrutura da empresa ao longo da hisria que você destacaria?
7. Como estava configurada a estrutura ao longo da história? Funcional, divisional ou
matricial?
Perguntas objetivando a verificação do comportamento estratégico:
1. Como você caracterizaria o comportamento estratégico da empresa neste momento? E
ao longo da história?
2. Você diria que ao longo de sua história a estratégia da empresa foi emergente? Ou era
sempre condicionada a planos formais?
3. Qual o sentido que a empresa dá para o lucro?
4. Qual a autonomia que os dirigentes possuem de definir as estratégias de crescimento?
5. A RBS possui missão e visão claras? Desde quando?
6. Quem decide o curso das ações estratégicas? Sempre foi assim?
Perguntas com vistas a entender os sistemas e processos:
1. Qual a incidência de novos programas (sistemas gerenciais, reengenharia, orientação
para o mercado, etc.) na RBS? Com que freqüência?
2. Como eram os sistemas e processos na empresa no passado e como são agora?
Simples, complexos, formalizados ou flexíveis?
3. Quando a intuição gerencial foi predominante e quando foram introduzidos sistemas
informatizados?
177
4. Como são os sistemas de RH, contábeis e orçamentários? Sempre foram assim?
Perguntas com vistas ao entendimento dos valores da organização (noções amplas de
direção para o futuro):
1. Como você descreveria a personalidade do fundador e quais os “valores” do fundador
que você destacaria?
2. Quais são os símbolos, ideologias, linguagem, crenças, rituais e mitos e estórias da
RBS ou de seu fundador que você conhece?
3. Quais destes valores vêm sendo os “guiding concepts”, ou seja, que nortearam ou vêm
norteando a empresa?
4. Estes valores permanecem até hoje ou mudaram em algum momento? Quando
ocorreram estas mudanças de valores?
5. Como você definiria a cultura da RBS? Quais variáveis o levaram a esta conclusão?
Sempre foi assim?
Perguntas objetivando o entendimento da variável TMT:
1. Como são os sistemas de avaliação do top management? O que mudou?
2. Como são os programas de treinamento do TMT? O que mudou?
3. Como você definiria a homogeneidade e a heterogeneidade do TMT?
4. Como vem sendo a relação entre insiders e outsiders ao longo da história no TMT?
Perguntas objetivando o entendimento da variável estilo de gestão:
5. Como é e como foi o comportamento em relação ao risco dos gestores da empresa?
6. Os gestores são inovadores ou conservadores? Sempre foi assim? O que mudou?
7. Como você desprende seu tempo? O que lhe ocupa mais?
8. Qual destes estilos de gestão marcaram a empresa ao longo dos anos? Paternalista,
Laissez-faire, Participativa, Profissional?
9. Como vem sendo o comportamento simbólico do TMT ao longo do ciclo de vida? (ex.
empresa que pensa marketing/jornalismo/finanças).
Perguntas objetivando o entendimento da variável “habilidades e competências”:
1. Como são / foram os processos de recrutamento e seleção na RBS?
2. Qual a importância dada ao treinamento e desenvolvimento? Sempre foi assim?
3. Como vem sendo o desenvolvimento gerencial? Acidental, oportunista ou planejado?
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4. Como as pessoas são motivadas e recompensadas? Quando isso foi diferente?
5. Quais as grandes competências ou habilidades dos profissionais da gestão da RBS?
6. Você poderia afirmar que as competências ou habilidades são as mesmas desde a
fundação da empresa? Se não, quando se destacaram habilidades ou competências
diferentes?
7. Você considera que estas habilidades são ou foram críticas ou essenciais para o
desempenho da empresa?
8. Estas habilidades são / foram de natureza mais técnica ou comportamental?
(entrevistador explica a questão).
9. Estas habilidades são / foram de natureza mais genérica ou eram específicas à
necessidade do negócio em que a RBS atua (comunicação,dia)?
Perguntas complementares
01. Como foi sua entrada na RBS? Quando? Como foi o seu crescimento na organização?
02. Como foi a transição Ione para Jayme? O que levou Ione a tomar a decisão?
03. O que caracterizou a gestão do seu pai, Jayme?
04. Nelson assumir era condição sine qua non?
05. Quando a RBS passou de proprietário controlador para sociedade entre irmãos? E de
sociedade entre irmãos para consórcio de primos?
06. Quando a RBS criou a holding RBS participações? Por quê?
07. Quando foram criadas as holdings IMA, JAMA e FEC?
08. Como é a holding IMA?
09. Como é a relação com a FEC?
10. Como é estabelecida a relação entre IMA e JAMA?
11. Quem manda na empresa? qual o ramo dominante?
12. Quais os critérios de sucessão?
13. Qual a sua relação com o conselho de acionistas?
14. Qual a sua relação com o conselho de família?
15. Como é o conselho de família? Que tipo de assuntos são discutidos?
16. Quando o Bernhoeft trabalho com a RBS?
17. Por que a família Sirotsky procurou o John Davis?
18. Quando você considera que a RBS foi definitivamente profissionalizada?
19. Que fatores você considera que foram fundamentais para isso?
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20. Você pode dar detalhes de como é o acordo de acionistas?
21. E a constituição da família?
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