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I
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
Estudo da atividade antioxidante do ácido caféico e da PIH:
um polifenol natural e um quelante sintético
Angelo de Queiroz Mauricio
Dissertação apresentada como
requisito para a obtenção do título de
Mestre em Química Analítica pelo
Instituto de Química da Universidade
de Brasília
Orientador
Prof. Dr. Marcelo Hermes Lima
IB – UnB
Brasília – DF
Brasil
2006
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II
folha aprovação
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III
Dedico este trabalho ao Senhor Jesus Cristo, o único que é
verdadeiramente digno de ser chamado de Mestre
A minha família, Cauê, Ana Terra e Dhyana, pelo
compromisso que representam com meu passado e meu
futuro
IV
“Não estamos mais cansados por causa do ontem.
Somos outros, não mais quem
éramos antes.
As calamidades de ontem, as
dificuldades de ontem, eram válidas
para o dia de ontem.
Não para o dia de hoje!”
Cinema Uenebê
V
Agradecimentos
À Deus, por tudo.
À minha família, pelo alto preço que tem pago.
À todos meus amigos, pelas orações e apoio.
Em especial ao Nanshiu, Cézar, Rodrigo, Natacha, Janini, Ricardo, Thiago.
Ao Prof. Luis Carlos Behring Nasser.
Ao Prof. Marcelo Hermes-Lima, por confiar em mim todo este tempo
VI
Resumo
As Éspécies Reativas de Oxigênio EROs, dentre as quais se incluem os
radicais hidroxil e superóxido, têm participação crucial nas reações
bioquímicas de dano oxidativo à sistemas fisiológicos. A formação destas
espécies reativas depende em grande escala da presença de íons
metálicos, em especial íons do elemento químico ferro. Desta forma, a
caracterização de novas substâncias capazes de inibir a formação de
EROs ou mesmo minimizar as reações de dano oxidativo é de relevante
interesse bioquímico. O presente trabalho se propõe a estudar duas
substâncias com potencial antioxidante, o polifenol ácido caféico AC, e
a piridoxal isonicotinoil hidrazona PIH. Demonstramos que o mecanismo
de ação da PIH se deve à sua capacidade formar um complexo estável
com íons Fe(III), o qual seria menos suscetível a participar de reações
geradoras de radicais hidroxil. A PIH foi capaz de inibir a oxidação do
ascorbato, a formação do radical ascorbil (medido por RPE), e a
degradação oxidativa da deoxiribose (2-DR). Esta inibição é dependente
das concentrações de Fe(III), da natureza do quelante ao qual o Fe(III)
está previamente complexado e do tempo de pre-incubação da PIH com o
complexo Fe(III)-quelante. Com relação ao ácido caféico, este polifenol se
mostrou capaz de eficientemente inibir a formação de radicais hidroxil a
partir de íons Fe(II) e peróxido de hidrogênio, e o consequente dano
oxidativo à 2-DR. Verificou-se que esta inibição é dependente do pH do
meio reacional e da temperatura de incubação da reação. Propõem-se
que a ação antioxidante do AC está relacionada à habilidade deste
polifenol em quelar íons Fe(II), tendo sido observada a formação de um
complexo com íons ferrosos através do sítio catecol do AC. Curiosamente
incubando-se o meio reacional a 98ºC, foi verificado um efeito pró-
oxidante do AC, sendo este efeito correlacionado à interações deste
composto com íons ferro.
Palavras-chave : PIH, Cafeico, Polifenol, Fenton, Antioxidante, Quelante,
Ferro
VII
Abstract
Reactive Oxygen Species ROS, including hydroxyl and superoxide
radicals, play a significant role in all biochemical reactions that cause
oxidative damage to phisiological systems. Formation of these species are
usually mediated by metal ions, specially iron ones. Thus, the
caracterization of new molecules capable of inhibiting oxyradical formation
are of relevant interest. This present work focuses on two compounds with
potential antioxidant activity : Cafeic Acid CAF, and Pyridoxal
isonicotinoyl hydrazone PIH. We demonstrate the PIH´s antioxidant
action is due to its ability to form an stable complex with iron(III), wich is
less suceptible to undergo reduction and consequently form oxyradicals by
Fenton reaction. PIH was able to inhibit iron-mediated ascorbate oxidation
and also ascorbil radical formation, as well as oxidative deoxyribose
damage. It was found that this inhibitory action of PIH was dose-
dependent and also depends on pre-incubation time (between PIH and
iron ions) and on the nature of a co-chelator previously complexing
iron(III). Relating to Cafeic Acid, it was observed that this polifenolic
compound was able to efficiently inhibit oxyradical formation by Fenton
reaction and consequent damage to deoxyribose. It was also found that
this inhibition was pH-dependent, as well as dependent of the incubation
temperature of the reaction systems. We propose that the antioxidant
activity showed by CAF is related to its ability to complex iron(II) ions,
being observed the formation of a complex with iron involving catechol
sites of CAF. Surprisingly, it was also observed that CAF presents a pro-
oxidant activity when reaction media is incubated at 98°C, being this
behaviour associated to temperature-mediated interactions between iron
and CAF.
Key words : PIH, Cafeic, poliphenol, antioxidant, Fenton, chelator, iron
VIII
Sumário
Objetivos .............................................................................................. 01
1. Introdução ....................................................................................... 02
1.1 Radicais Livres ............................................................................ 02
1.1.1 Conceitos ............................................................................... 02
1.1.2 Radicais livres e suas reações .............................................. 05
1.1.3 Técnicas analíticas de detecção ............................................ 07
1.1.4 Antioxidantes ......................................................................... 09
1.2 PIH .............................................................................................. 11
1.2.1 Histórico ................................................................................. 11
1.2.2 A ação antioxidante da PIH .................................................... 12
1.2.3 Fatos novos acerca da PIH .................................................... 14
1.3 Polifenóis ..................................................................................... 17
1.3.1 Dieta e biodisponibilidade ....................................................... 19
1.3.2 Ação antioxidante ................................................................... 22
1.3.3 Toxicidade .............................................................................. 26
1.3.4 Ácido Caféico ......................................................................... 27
1.3.4.1 Aspectos estruturais ......................................................... 28
2. Materiais e Métodos ....................................................................... 32
2.1 Oxidação do ascorbato ................................................................ 32
2.2 RPE do radical ascorbil ............................................................... 33
2.3 Dano oxidativo a 2-DR ................................................................ 33
2.4 Redução do complexo Fe(III)-(PIH)
2
promovida pelo ascorbato. 34
3. Resultados e Discussão ................................................................ 35
3.1 Estudos sobre a ação antioxidante da PIH .................................. 35
3.1.1 Influência da natureza do co-quelante na atividade
antioxidante da PIH ............................................................... 35
3.1.2 Influência do tempo de pré-incubação na atividade
antioxidante da PIH ................................................................ 41
3.1.3 Influência da concentração de PIH e da proporção
entre os Ligantes (PIH e co-quelantes) e o Fe ...................... 44
IX
3.1.4 Efeito da ação redutora do ascorbato sobre o
complexo Fe(III)-(PIH)
2
.......................................................... 47
3.2 Estudo da ação do ácido caféico ................................................ 48
3.2.1 Atividade antioxidante do ácido caféico (AC) e efeito
do pH ..................................................................................... 48
3.2.2 Estudos espectrofotométricos da ligação de íons
Fe(II) ao AC ........................................................................... 51
3.2.3 Efeito da temperatura de incubação ...................................... 55
3.2.4 Efeito da pré-incubação ......................................................... 58
3.2.5 Efeito dos íons Fe(III) sobre a degradação da 2-DR
e sobre o AC .......................................................................... 60
3.2.6 Efeito da concentração de AC e 2-DR ................................... 65
4. Conclusão ...................................................................................... 69
5. Bibliografia ..................................................................................... 75
ANEXO I ........................................................................................... 83
X
Lista de abreviaturas e acrônimos
2-DR 2-deoxi-D-ribose
Abs Absorbância
AC Ácido caféico
AT Ácido Tânico
ATP Adenosina trifosfato
DFO Desferoxamina
DNA Ácido desoxiribonucléico
EDTA Ácido etileno-diamino-tetracético
RPE Ressonância paramagnética eletrônica
EROs Éspécies Reativas de Oxigênio
HEPES Ácido N-(2-hidroxietil)piperazina-N-(2-etenosulfonico)
HPLC Cromatografia líquida de alta eficiência
LDL Lipoproteínas de baixa densidade
MES Ácido 2-(N-morfolino)etanosulfonico
NTA Ácido nitrilo-acético
PIH Piridoxal isonicotinoil hidrazona
SOD Superoxido dismutase
TBARS Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
TEAC Capacidade antioxidante equivalente ao Trolox
XI
Lista de tabelas
TABELA 1
Distribuição dos principais
polifenóis em alguns alimentos
Página 20
TABELA 2
Percentual de proteção da PIH
contra oxidação da 2-DR com
diferentes co-quelantes
Página 39
TABELA 3
Efeito da concentração de PIH na
formação do radical ascorbil
Página 45
XII
Lista de figuras
FIG. 1
Representação esquemática da Piridoxal
Isonicotinoil Hidrazona – PIH
Página 13
FIG. 2
Representação esquemática dos flavanóides
Página 18
FIG. 3
Representação esquemática dos ácidos
hidroxicinâmicos
Página 19
FIG. 4
Representação da estrutura básica dos
flavonóis
Página 23
FIG. 5
Precursores biosintéticos do ácido caféico
Página 28
FIG. 6 Mecanismo proposto para oxidação do AC
Página 29
FIG. 7 Mecanismo alternativo para oxidação do AC
Página 30
FIG. 8
Esquema da decomposição do AC mediada
por íons Fe(III)
Página 31
FIG. 9
Dependência da oxidação do ascorbato com
a concentração de Fe-NTA
Página 35
FIG. 10
Dependência da oxidação do ascorbato com
a concentração de Fe-EDTA
Página 36
FIG. 11
Dependência da formação do radical ascorbil
com a concentração de Fe-EDTA (dados de
RPE)
Página 37
FIG. 12
Efeito da PIH na redução do sinal do radical
ascorbil com diferentes co-quelantes
Página 39
FIG. 13
Efeito da pré-incubação de Fe(III)-EDTA e
PIH na oxidação do ascorbato
Página 41
FIG. 14
Efeito da pré-incubação de Fe(III)-EDTA e
PIH na formação do radical ascorbil
Página 42
FIG. 15
Efeito da pré-incubação de Fe(III)-EDTA e
PIH na degradação da 2-DR
Página 43
FIG. 16
Efeito da concentração de PIH na oxidação
do ascorbato em dois diferentes tempos de
pré-incubação
Página 45
FIG. 17
Efeito da concentração de PIH na oxidação
Página 46
XIII
do ascorbato em duas diferentes proporções
Fe-EDTA
FIG. 18
Efeito da presença de AC na degradação da
2-DR
Página 48
FIG. 19a
Perfil espectral do AC puro e do AC em
presença de Fe(II) em pH 4,0
Página 51
FIG. 19b
Perfil espectral do AC em presença de Fe(II)
em pH 7,2
Página 52
FIG. 19c
Perfil espectral do AC em presença de Fe(II)
em pH 5,6
Página 52
FIG. 19d
Reimpressão dos dados das figuras 17 a, b e
c em escala ampliada
Página 53
FIG. 20
Acompanhamento temporal da formação de
espécie química a 604 nm
Página 54
FIG. 21
Efeito da presença de AC na degradação da
2-DR a 98ºC
Página 55
FIG. 22
Efeito do tempo de pré-incubação sobre a
degradação da 2-DR
Página 58
FIG. 23a
Efeito do AC sobre a reação de degradação
da 2-DR promovida por Fe(III) e peróxido de
hidrogênio
Página 61
FIG. 23b
Comparação das reações de degradação da
2-DR promovidas por peróxido de hidrogênio
e Fe(II) (Reação de Fenton) ou por Fe(III)
Página 62
FIG. 24a
Comparação do perfil espectral de sistemas
contendo Fe(II) ou Fe(III)
Página 63
FIG. 24b
Reimpressão dos dados da figura 22a em
escala ampliada na região de comprimento
de onda de interesse
Página 63
FIG. 25a
Efeito da variação da concentração de 2-DR
Página 65
FIG. 25b
Percentual de proteção oferecido pelo AC
contra a degradação da 2-DR em diferentes
concentrações da molécula alvo
Página 66
FIG. 26
Efeito da variação da concentração de AC em
diferentes concentrações de 2-DR
Página 68
1
Objetivos
Fornecer evidências adicionais de que o mecanismo antioxidante in
vitro demonstrado pela Piridoxal Isonicotinoil Hidrazona PIH, se deve
principalmente à inibição da reação de redução do Fe(III), principal
contribuinte fisiológica das reações de Fenton que inevitavelmente
acompanham patologias relacionadas à superexposição férrica.
Investigar o potencial antioxidante in vitro do polifenol Ácido Caféico,
verificando seu comportamento e mecanismo de ação face a presença
de íons ferrosos em solução aquosa a pH fisiológico, elementos
cruciais na geração de Espécies Reativas de Oxigênio EROs, no
organismo.
2
1. Introdução
1.1 Radicais Livres
1.1.1. Conceitos
Em níveis fisiológicos de oxigênio, supõe-se que cerca de 0,1 % de todo o
O
2
reduzido na mitocôndria irá formar o radical livre superóxido [Hermes-
Lima 2004]. Esta afirmação abrange três aspectos importantes da
bioquímica de radicais livres, quais sejam: A relação dos radicais livres
com a presença do oxigênio, o paradoxo vida/morte inerente a este gás e
a inevitabilidade destes radicais que neste caso, os mesmos estão
associados ao ato intrínseco de respirar.
Exatamente por ser imprescindível à maioria dos organismos (exceto no
caso daqueles anaeróbicos), se torna obscurecido o fato de que o
oxigênio é um gás tóxico e mutagênico, responsável por diversas
situações de severo stress fisiológico ao qual todos estamos
inevitavelmente submetidos. Neste sentido, é curioso observar que dado
às suas características, as quais serão abordadas adiante, o oxigênio é
indispensável para a produção de energia nas cadeias de transporte de
elétrons, mas leva também à oxidações celulares danosas e por vezes
letais.
Esta energia relacionada à presença de O
2
é derivada da oxidação dos
combustíveis metabólicos sendo convertida em ATP, uma solução
bioquímica para o “armazenamento” e rápida mobilização energética na
célula. Em organismos eucarióticos sob condições aeróbicas, o ATP é
gerado como resultado de um mecanismo conhecido como cadeia
transportadora de elétrons. Tal cadeia é constituída por quatro complexos
enzimáticos, que atuam em uma série de reações de oxidação e redução,
“conduzindo” os elétrons ao longo da membrana mitocondrial, de um
complexo para o outro, até estes alcançarem seu destino final: a
3
combinação com o oxigênio molecular, reduzindo-o a duas moléculas de
água.
Por outro lado, o O
2
exerce também um papel deletério em diversos
sistemas biológicos. Exposição ao oxigênio em altas pressões,
frequentemente causa toxicidade aguda do sistema nervoso central
produzindo convulsões, o que é de especial interesse em atividades como
mergulho e permanência em estações espaciais e submarinos. A
exposição de humanos ao oxigênio puro por 24 horas, leva em todos os
casos reportados ao dano alveolar nos pulmões e conseqüente edema,
em decorrência da morte de células epiteliais dos alvéolos, degradação
das barreiras capilares e vazamento do plasma para o espaço intersticial
[Halliwell e Gutteridge 2000]. A exposição prolongada também é
responsável pela denominada fibrose pulmonar, impedindo
permanentemente as trocas gasosas.
Assim, durante o processo evolutivo (acredita-se que inicialmente a
atmosfera continha pequena quantidade de O
2
), os organismos
desenvolveram complexos sistemas de defesa antioxidante, como forma
de proteção contra os efeitos tóxicos do O
2
. Por muito tempo esta
toxicidade estava apenas associada à capacidade de inibir a produção ou
a ação de enzimas celulares [Haugard 1968]. De fato, a perda da
atividade de enzimas tais como a nitrogenase em Clostridium
pasteurianum se deve, por exemplo, à ação direta do O
2
.
Porém Gilbert, traçando um paralelo entre os efeitos do oxigênio e
aqueles causados por radiações ionizantes, propôs que a maior parte da
atividade danosa deste gás podia ser atribuída à formação de espécies
denominadas radicais livres de oxigênio [Gilbert 1981]. Por exemplo, a
inibição do crescimento observada em E.coli exposta à O
2
em alta
pressão está associada à ação de uma espécie reativa de oxigênio, o
radical superóxido (O
2
-
), o qual neste caso inibe a síntese da valina [Flint
1993].
4
Espécies reativas de oxigênio (EROs) é um termo usado para designar
mais amplamente tanto radicais de oxigênio (como o superóxido ou o
hidroxil - HO
), quanto derivados não radicalares do oxigênio, tais como
peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
), ácido hipocloroso (HClO) e ozônio (O
3
).
Segundo Halliwel, a expressão “reativo” é relativa, que nem O
2
-
ou
H
2
O
2
são particularmente reativos em solução aquosa [Halliwell 2000].
o termo radical livre é usado num sentido bastante abrangente e
simples, para designar qualquer espécie capaz de existência
independente (daí a palavra “livre”) e que possua em sua estrutura
eletrônica um ou mais elétrons desemparelhados. Um elétron
desemparelhado é aquele que ocupa sozinho um orbital atômico ou
molecular. A existência destes elétrons desemparelhados é justamente a
causa do principal interesse nestas espécies, que os mesmos
usualmente conferem a estes radicais uma alta reatividade frente a outras
moléculas (apesar de a reatividade química dos radicais variar
enormemente).
Outra característica advinda do desemparelhamento eletrônico é a
capacidade que elétrons desemparelhados têm de interagir com campos
magnéticos. Esta característica, reportada como paramagnetismo,
propicia uma aplicação metodológica importante na detecção de radicais
livres: A técnica de Ressonância Paramagnética Eletrônica, RPE, a qual
será discutida adiante.
Deste modo, segundo o conceito supracitado, diversas espécies podem
ser classificadas como radicais livres, entre elas o hidrogênio atômico, o
cloro atômico gerado pela homólise do gás cloro e até mesmo metais de
transição como Ferro e Cobre [Halliwell e Gutteridge 2000]. No entanto,
dado o interesse eminentemente biológico deste trabalho, principal
atenção será dada aos radicais derivados do oxigênio, em especial o
radical hidroxil.
5
1.1.2. Radicais livres e suas reações
Apenas a título de ilustração, descreve-se a seguir esquemas que
representam tanto a geração de radicais quanto as reações das quais
estes tomam parte.
Formação de radicais
De um modo geral, radicais são formados pela cisão homolítica de uma
ligação covalente, normalmente sendo necessário para tanto, o
fornecimento de considerável quantidade de energia oriunda de processos
tais como aquecimento ou radiação eletromagnética. Um bom exemplo
são as reações iniciadas em câmaras de radiação UV ou mesmo as
reações de combustão. No entanto, dependendo das espécies presentes
no meio, processos catalíticos podem ocorrer, permitindo que a reação
ocorra por mecanismos outros, os quais possuam menor energia de
ativação.
Dentro deste contexto, de especial interesse é a reação de Fenton,
importante tributária da geração in vivo de espécies reativas de oxigênio
(esta reação é um bom exemplo de reações de formação de radicais livres
catalisadas por metais de transição). Um sistema contendo H
2
O
2
e um sal
de Fe(II) é capaz de oxidar diversas moléculas orgânicas, tendo sido
Henry Fenton o primeiro a reportar seu comportamento frente à amostras
de ácido tartárico [Fenton 1894]. Apesar de mais de 100 anos terem se
passado desde então, ainda discussões sobre o mecanismo exato de
oxidação de moléculas orgânicas pelo sistema de Fenton . O mais
provável é que estejam envolvidas diversas espécies oxidantes, entre elas
o radical hidroxil, conforme a equação 1:
11
1
3
22
2
58int
++
=+++ sMkOHHOFesermediáriocomplexosOHFe
(equação 1)
Constante k
1
segundo Chen (Chen et al. 2002)
6
Esta reação é termodinamicamente favorecida uma vez que os potenciais
padrão de redução das semi-reações, corrigidos para pH 7, são
aproximadamente 0,32 V (H
2
O
2
/HO
) e 0,11 V (Fe
3+
/Fe
2+
) [Halliwell 2000].
Atuando paralelamente à reação de Fenton, traços de Fe(III) podem reagir
com peróxido de hidrogênio especialmente se estiverem ligados a certos
quelantes, embora esta seja uma reação mais lenta que aquela com
Fe(II), conforme a equação 2:
11
22
2
22
3
02,02int
+
++
=+++ sMkHOFesermediáriocomplexosOHFe
*
(equação 2)
Gutteridge reporta que HO
pode ser formado a partir de sistemas
contendo certos quelatos de Fe(III) (por exemplo, EDTA férrico) e H
2
O
2
,
aparentemente envolvendo O
2
-
uma vez que esta reação é inibida pela
presença da enzima superóxido dismutase - SOD [Gutteridge 1990].
Desta forma, os sistemas de Fenton o especialmente relevantes em
patologias nas quais se verifica o acúmulo de ferro, como por exemplo a
hemocromatose e a beta-talassemia, sendo bem conhecida a
correlação existente entre estas enfermidades e os efeitos oriundos de
danos oxidativos [Bacon e Britton 1990].
Reações de radicais
Caso duas espécies radicalares reajam entre si, como resultado obtém-se
a reação inversa daquela descrita como cisão homolítica. Ocorre neste
caso a formação de um novo orbital molecular no qual podem ser
encontrados ambos os elétrons anteriormente desemparelhados,
formando-se portanto uma nova ligação covalente e a conseqüente
extinção das espécies radicalares originais.
*
Constante k
2
segundo Chen (Chen et al. 2002)
7
No entanto, caso a espécie radicalar reaja com um não-radical, o produto
é um novo radical, e diferentemente da situação anterior, -se início a
uma série de reações em cadeia, que prosseguem até que seja alcançada
uma etapa usualmente descrita como terminação.
As equações de 3 a 6, representam como estas reações com espécies
não-radicalares podem ocorrer :
a) Adição de um radical a outra molécula
+ YXYX (equação 3)
b) Redução da espécie não-radicalar, por transferência de elétron
+
++ YXYX (equação 4)
c) Oxidação da espécie não-radicalar por abstração de elétron
+
++ OHPRHOPR (equação 5)
d) Abstração de H de uma ligação R-H
OHRHORH
2
++
(equação 6)
Em células, as reações radicalares podem fornecer radicais livres do tipo
tio, oxigênio, carbono ou nitrogênio-centradas, devido à presença de
grupos SH, OH, NH e CH nas mais variadas estruturas químicas
encontradas nas proteínas [Hermes-Lima 2004]. Tem sido reportadas
como principais reações in vivo, as reações de peroxidação lipídica e de
degradação ao DNA.
1.1.3 Técnicas analíticas de detecção
As características físico-químicas das espécies radicais presentes no meio
reacional, podem ser utilizadas no desenvolvimento de cnicas analíticas
de detecção de radicais de oxigênio. No entanto, devido à sua reatividade
8
frente a outras moléculas e, por conseguinte a seu curto período de
existência, é difícil a medida direta destes radicais in vivo.
A espectroscopia da ressonância paramagnética eletrônica (por vezes
também chamada ressonância de spin eletrônico RSE) permite a
detecção direta de radicais livres, baseada na interação existente entre
um campo magnético externo e o elétron desemparelhado do radical livre.
Se considerarmos que o elétron possui rotação em torno de seu próprio
eixo, pode-se atribuir à esta partícula um momento angular. Uma vez que
o elétron possui carga, o seu vetor momento angular ( ) está
necessariamente associado a um momento magnético ( ). Na presença
de um campo magnético externo, momentos magnéticos tendem a se
alinhar ao campo buscando atingir um estado de mínima energia.
Mediante a aplicação deste campo magnético, ocorre então uma
separação dos níveis de energia dos estados de spin, chamada de efeito
Zeeman. A condição de ressponância se dá quando a diferença de
energia E entre os estados de spin é igual à energia do fóton da radiação
eletromagnática, ocorrendo assim a absorção de energia e o consequente
espectro de ressonância paramagnética eletrônica [Rettori 2000].
Esta técnica é geralmente pouco sensível para a medição direta de
radicais instáveis do tipo HO
e O
2
-
em sistemas vivos, sendo por outro
lado, suficientemente sensível para medir diretamente espécies mais
estáveis, como por exemplo o radical ascorbil. Um espectro típico do
radical ascorbil pode ser visto na Fig. 10. Contudo, esta dificuldade em
relação aos radicais hidroxil e superóxido pode ser contornada
empregando-se a estratégia chamada spin-trapping”, na qual estes
radicais são capturados por certas moléculas diamagnéticas (por exemplo
o 5,5-dimetil-1-pirroline-n-oxido - DMPO), no intuito de formar espécies
radicalares mais estáveis chamadas de “spin adduct”, e portanto passíveis
de detecção por RPE [Rice-Evans 1991]. A técnica do spin-trapping pode
ser usado também para gerar produtos hidroxilados mensuráveis por
η
S
µ
9
fluorescência, como por exemplo, o benzoato, cujo derivado hidroxilado
fornece um sinal característico a 512 nm [Gutteridge 1987].
Outra alternativa metodológica para a detecção de radicais é o uso de
técnicas de fingerprinting, cujo princípio se baseia na detecção de
produtos de degradação formados pela ação oxidativa das espécies
reativas de oxigênio, os quais são, em sua maioria, compostos
diamagnéticos. Esta é portanto uma detecção indireta, que não se
mede a espécie radicalar propriamente dita, mas sim o dano por elas
causado. Como exemplo cite-se o ensaio das substâncias reativas ao
ácido tiobarbitúrico (conhecido como TBARS) empregado neste trabalho,
ensaio este que mede a degradação oxidativa do açúcar 2-deoxi-D-ribose
[Halliwell 1987 e Gutteridge 1981].
1.1.4 Antioxidantes
Considerando a toxicidade do O
2
e a extensão na qual o mesmo é
utilizado nos processos metabólicos, pode-se supor que os organismos
aeróbicos somente são capazes de sobreviver sob uma atmosfera rica em
O
2
, graças ao desenvolvimento de eficientes sistemas de defesa
antioxidante. A existência de substâncias capazes de minimizar os efeitos
oxidantes deste gás sobre os componentes celulares é portanto de crucial
importância para a manutenção da vida aeróbica na terra.
Por outro lado, autores que mencionam que uma proteção demasiada
por parte destes antioxidantes pode ser conflituosa do ponto de vista
evolutivo, que esta defesa excessiva poderia prevenir alterações
oxidativas do DNA as quais poderiam levar a mutações gênicas e
eventualmente à outras estruturas celulares [Harman 1981].
A definição exata de antioxidante é pouco clara, por ser este um termo
bastante abrangente e arraigado em diversas áreas do conhecimento, as
quais vão desde a curadoria de museus e restauração de obras de arte, à
indústria petroquímica, passando pela ciência de alimentos. Cada uma
10
destas áreas tem sua própria visão sobre o que seria um bom
antioxidante. Em termos biológicos, propõem-se comumente que um
antioxidante é “qualquer substância que, quando presente em baixas
concentrações comparadas àquelas de um substrato oxidável,
significativamente previne a oxidação deste substrato” [Halliwell e
Gutteridge 2000]. O termo “substrato oxidável” se refere a todo tipo de
molécula encontrada in vivo.
De qualquer modo, os sistemas de defesa antioxidante dos organismos
vivos podem ser divididos em quatro subclasses [Hermes-Lima 2004]:
i) Defesas antioxidantes primárias de natureza enzimática e não-
enzimática, que estão diretamente relacionadas às espécies reativas
de oxigênio. Como exemplo cite-se a atividade das enzimas catalase
(ação sobre H
2
O
2
), e superóxido dismutase – SOD, (ação sobre O
2
-
),
além das vitaminas E (alfa-tocoferol, com ação sobre radicais peroxil)
e C (ácido ascórbico, com ação sobre ozônio e hidroxil).
ii) Defesas auxiliares que dão suporte ao funcionamento das defesas
antioxidantes primárias, por exemplo, reciclando ou sintetizando
substratos de enzimas antioxidantes. É o caso também da vitamina C
a qual participa da reciclagem de alfa-tocoferol.
iii) Proteínas complexantes de metais (ferritina e transferrina) ou
compostos de baixa massa molar que previnem ou minimizam a
participação de metais na geração de radicais, devido a sua ação
quelante (Desferoxamina – DFO);
iv) Sistemas de reparo enzimático capazes de reconstituir biomoléculas
degradadas, especialmente DNA oxidado (endonucleases e DNA
glicosilases).
É importante ressaltar que a maioria das defesas antioxidantes não-
enzimáticas não são sintetizadas endogenamente por animais, devendo
ser obtidas a partir da dieta. Portanto verifica-se a existência de uma
relação íntima entre nutrição e defesa antioxidante. O reino vegetal dispõe
de uma imensa gama de compostos com potencial atividade antioxidante
11
in vivo (apesar de muitos outros compostos oriundos de plantas
apresentarem também atividade pró-oxidante in vitro). Estes compostos
vegetais têm em geral grande importância na dieta, como é o caso dos
polifenóis, discutidos ao longo deste trabalho.
1.2 PIH
1.2.1 Histórico
A piridoxal isonicotinoil hidrazona (PIH) foi descrita originalmente em 1954
por Sah, em estudos de síntese orgânica, sendo produto de uma reação
de condensação do piridoxal com a isoniazida [Sah 1954]. Porém
somente a partir de 1979 o interesse por esta substância cresceu
consideravelmente, quando Ponka e outros pesquisadores relataram a
capacidade da PIH em mobilizar ferro acumulado em reticulócitos e induzir
a excreção biliar deste metal em ratos [Ponka et al. 1979 e Cikrt et al.
1980]. Neste ponto é interessante mencionar que tal descoberta se deu
em grande parte graças a uma “serendipidade”, uma vez que Ponka
estudava o metabolismo de ferro em ratos tratados concomitantemente
com um co-fator da vitamina B6 (piridoxal-5-fosfato) e com ácido
isoniazídico, uma droga usada no tratamento da tuberculose.
A partir de então diversos estudos clínicos foram conduzidos com a PIH
numa tentativa de caracterizar seu potencial farmacológico como
alternativa eficiente no tratamento de doenças correlacionadas ao
acúmulo de ferro, tais como beta-talassemia e hemocromatose. Neste
contexto, apenas a substância Desferoxamina (DFO) era usada como
fármaco, em um processo terapêutico relativamente caro e de baixo
rendimento em termos de absorção intestinal [Pippard 1989]. Estudos
recentes apontam também para o uso clínico da substância Deferiprona
(DFP) combinada com o DFO no tratamento destas doenças [Kattamis
12
2005 e D´Angelo 2004]. Atualmente, novos modos de administração do
DFO foram desenvolvidos, o que propiciou um considerável incremento na
comodidade do tratamento [Yarali et al. 2006]. Porém o tratamento
continua tendo um alto custo, o que dificulta sua popularização.
A PIH revelou-se ser um potente ligante de ferro intracelular, com alta
afinidade e seletividade por este metal, além de possuir estabilidade em
condições fisiológicas e razoável permeabilidade à biomembranas,
facilitando sua absorção e excreção [Johnson et al. 1982 e Brittenham
1990]. Estas características, aliadas à inexistência de efeitos colaterais
em estudos toxicológicos, são extremamente desejáveis do ponto de vista
clínico.
Conforme discutido anteriormente a respeito da reação de Fenton, a
habilidade de um composto em induzir balanço negativo de ferro no
organismo, é especialmente importante na prevenção de danos oxidativos
em estruturas celulares causados por EROs. Na medida em que o ferro
exerce papel preponderante na formação de oxi-radicais, estando
envolvido em diversas patologias de cunho oxidativo, um eficiente
quelante de ferro é um potencial agente antioxidante.
Diante deste cenário, Schulman e Hermes-Lima investigaram as
propriedades antioxidantes da PIH in vitro, correlacionando-as à sua
capacidade quelante [Schulman 1995 e Hermes-Lima et al. 1998].
Estudos com simulacros biológicos evidenciaram a habilidade da PIH em
prevenir danos ao DNA [Hermes-Lima et al. 1998] e inibir a peroxidação
lipídica em mitocôndrias [Santos 2001].
1.2.2 A ação antioxidante da PIH
A PIH é um ligante tridentado que forma um complexo bastante estável
com Fe(III) [Avramovich-Grisaru 1985] (Fig. 1).
13
Conforme o modelo de simulação, os seis sítios do cátion Fe(III) estão
coordenados formando um complexo [Fe(PIH)
2
]
2+
, sendo o grupo
carbonila, o nitrogênio da hidrazona e a hidroxila fenólica, os principais
sítios ligantes (apesar do nitrogênio da piridina ser usualmente um bom
sítio complexante, supõem-se que devido a um impedimento estérico tal
não ocorra no caso da PIH).
Em meios aquosos com pH próximo de 7 a literatura relata que podem ser
encontradas coexistindo as seguintes substâncias : H
2
L (forma neutra) e
HL
-
(forma monodesprotonada) [Murphy et al 1985]. Cada uma destas
espécies de PIH pode coordenar-se aos íons férricos gerando um
complexo numa proporção ligante:metal igual a 2:1. Gomes relata a
formação de pelo menos dois complexos diferentes a partir da oxidação
do complexo ferroso [Gomes 2005].
Baseado na comparação da PIH com outros ligantes metálicos e com
seqüestradores de oxi-radicais clássicos, Hermes-Lima e colaboradores
sugerem que o mecanismo de ação antioxidante da PIH se deve à sua
habilidade quelante, apesar de não excluir a possibilidade de reação
direta da PIH com o radical hidroxil via hidroxilação do anel aromático
[Hermes-Lima et al. 1998].
Fig. 1. Representação esquemática da Piridoxal Isonicotinoil Hidrazona –
PIH,
evidenciando os sítios ligantes de íons Fe.
14
Consideremos que sistemas contendo Fe(III)-EDTA, ascorbato e oxigênio
dissolvido são capazes de gerar radicais hidroxil, segundo as reações
descritas nas equações 7-10 :
ascorbilEDTAIIFeAscorbatoEDTAIIIFe ++ )()( (equação 7)
++
22
)()( OEDTAIIIFeOEDTAIIFe (equação 8)
2222
22 OOHHO ++
+
(equação 9)
+++ HOOHEDTAIIIFeEDTAIIFeOH )()(
22
(equação10)
Foi então proposto que o PIH quebraria a cadeia de reações acima
descrita, removendo o íon férrico do co-quelante EDTA e formando o
mencionado complexo mais estável [Fe(PIH)
2
]
2+
conforme a equação 11 :
2
)(2)( PIHIIIFeEDTAPIHEDTAIIIFe ++ (equação11)
Tal complexo seria estável o suficiente para minimizar de forma relevante
a redução do Fe(III), suprimindo portanto a formação do radical hidroxil,
produto final das reações de 7 a 10.
1.2.3 Fatos novos acerca da PIH
As características ferro-mobilizadoras e antioxidantes relatadas acerca da
PIH desde a década de 80, aliadas à sua capacidade de se comportar
com desenvoltura em sistemas biológicos, sem dúvida nenhuma alçaram
este composto à condição de “bom mocinho” em avaliações clínicas para
fins terapêuticos. No entanto, diversos estudos recentes tem revelado que
os efeitos biológicos deste quelante, entre eles a sua toxicidade in vivo,
têm sido sistematicamente subestimada [Buss 2002]. Desta forma, um
lado menos benéfico da PIH tem ficado obscurecido desde a descoberta
de 1979.
15
Uma das principais causas desta avaliação inconsistente do
comportamento bioquímico da PIH se deve principalmente à capacidade
deste composto em sofrer reações de hidrólise, quer em meio ácido, quer
em meio básico. Estudos espectrofotométricos revelaram que os produtos
desta reação são na verdade os precursores sintéticos da PIH,
estebelecendo-se portanto um equilíbrio químico entre a hidrólise e a
condensação [Buss e Ponka 2002].
Buss descreve que em função desta reação, as concentrações efetivas de
PIH nos experimentos de mobilização de Fe provavelmente são bem
menores menores do que as originalmente relatadas, uma vez que estes
experimentos foram conduzidos em condições nas quais a hidrólise ocorre
em uma extensão significativa. Por outro lado, no caso dos estudos de
toxicidade, a concentração de PIH nos quais se verificou inibição do
crescimento celular foram subestimadas, que as concentrações de PIH
remanescente no meio reacional são bem menores que as concentrações
iniciais. De qualquer forma, a hidrólise da PIH não tem significativo
impacto e relevância para fins deste presente trabalho, que em pH
próximo do neutro, a reação de hidrólise ocorre muito mais
vagarosamente [Richardson et al. 1989].
Adicionalmente, em estudos subsequentes descreve-se a capacidade da
PIH e análogos em induzir a apoptose em células hematopoiéticas devido
à suas propriedades de quelante de ferro [Buss et al. 2003]. Nesse
referido estudo, é estabelecida uma relação entre a toxicidade celular da
PIH e a sua interação com o ferro intracelular, que o tratamento de
linfócitos Jurkat T com complexos Fe(III)-(PIH)
2
, levou à morte celular.
Considerando que a PIH é capaz de mobilizar ferro de células, ocorre em
consequência uma acumulação do complexo Fe-quelante no citosol
(acumulação esta aumentada com a lipofilicidade do complexo). Desta
forma, presume-se que o estresse oxidativo causado pelo acúmulo
intracelular do complexo Fe-quelante seja o responsável pela toxicidade
verificada [Buss et al. 2004].
16
Somando-se aos efeitos indesejados da PIH, Gomes relata que apesar da
PIH ter apresentado eficiente ação antioxidante na autoxidação de Fe(II),
foi verificado um significativo efeito pró-oxidante em baixas
concentrações de tampão fosfato [Gomes 2005]. Sistemas contendo Fe(II)
e PIH promoveram uma maior degradação da 2-DR quando as
concentrações de tampão fosfato ficaram abaixo de 1 mmol/L.
Similarmente, em estudos de EPR Gomes e colaboradores verificaram
que em baixas concentrações de fosfato, ocorre a formação de espécies
radicalares quando em presença de PIH.
Outro fato observado por Gomes é que a PIH promove a oxidação do
Fe(II), na presença de tampão fosfato, sem permitir no entanto que esta
oxidação esteja envolvida em uma excessiva formação de EROs [Gomes
2005]. Esta oxidação do Fe(II) pode possivelmente ser causada pela
própria PIH, tendo sido observada a formação de um complexo ferroso
(na proporção 1:1) menos estável que o férrico. Foi então postulado que o
complexo Fe(II)-PIH é rapidamente oxidado a Fe(III)-(PIH)
2
, em
decorrência da PIH promover a diminuição do potencial redox do par
Fe
2+
/Fe
3+
. Assim, o Fe(II) presente no meio seria rapidamente convertido
ao complexo férrico de PIH. Eliminando-se o Fe(II) ou mesmo Fe(II)-PIH
presente para reagir com o peróxido de hidrogênio gerado in situ, a
produção de EROs ficaria desta forma inibida.
É interessante notar que em estudos espectrofotométricos, Gomes aponta
que o complexo formado entre Fe(III) e PIH a partir da oxidação de Fe(II)
é estruturalmente diferente daquele formado pela reação direta de Fe(III)
com a PIH.
17
1.3 Polifenóis
Os compostos polifenólicos, ou simplesmente polifenóis, são geralmente
descritos na literatura como aqueles pertencentes a um vasto grupo de
compostos encontrados na natureza, os quais possuem como
característica principal a presença de múltiplos grupos funcionais do tipo
fenol [Tuckmantel 1999]. Os polifenóis estão usualmente presentes em
plantas como produtos do metabolismo destas, exercendo papel
importante na morfologia e fisiologia vegetais, na medida em que estão
relacionados a diversos aspectos do crescimento e reprodução vegetal
[Bravo 1998]. Entre uma de suas funcionalidades mais interessantes está
a capacidade de proteger as plantas contra patógenos e predadores
herbívoros (alguns compostos podem atuar como toxinas naturais ou
conferir sabor indesejado ao alimento tornando-o menos palatável) [Bravo
1998] e principalmente contra estresse fotossintético e formação de
espécies reativas de oxigênio [Yang et al. 2001].
Baseado em sua estrutura química, os polifenóis podem ser divididos em
pelo menos dez diferentes classes, sendo que as principais são os
flavonóides, taninos e ácidos fenólicos e derivados.
Flavonóides
Classe com maior número de substâncias conhecidas e cuja estrutura
básica consiste de dois anéis aromáticos ligados entre si por três
carbonos os quais geralmente formam um heterociclo oxigenado.
Subdividem-se em flavonas, catequinas, isoflavonas, flavonóis e
antocianinas [Bravo 1998]. A Fig. 2 apresenta as fórmulas estruturais
básicas dos flavanóis, flavonóis e isoflavonas, principais subclasses dos
flavonóides.
18
Taninos
São compostos de massa molar relativamente alta e se apresentam
intensamente hidroxilados. Podem formar complexos insolúveis com
carboidratos e proteínas, inclusive as proteínas salivares, sendo esta a
razão de sua característica adstringente ao paladar. Um composto de
especial interesse no que diz respeito à capacidade antioxidante é o ácido
tânico - AT, que demonstrou possuir efeito em reações oxidativas
mediadas por íons metálicos [Lopes et al. 1999].
Ácidos Fenólicos
Classe subdivida em ácidos hidroxibenzóicos e hidroxicinâmicos. Nas
plantas usualmente ocorrem na forma de ésteres os quais podem ser
ambos solúveis (acumulando-se em vacúolos) ou insolúveis
(componentes da parede celular). Dentre os ácidos hidroxibenzóicos os
mais importantes são os ácidos elágico e gálico, os quais estão presentes
principalmente em frutas vermelhas e castanhas/nozes [Maas 1991].
Fig. 2. Representação esquemática dos flavanóis, flavonóis e isoflavonas, principais
subclasses dos flavonóides (Yang et al. 2001).
19
Os representantes mais importantes dos ácidos hidroxicinâmicos são o
ácido caféico (AC) e o ácido ferúlico presentes no café e em diversas
frutas.
Os derivados dos ácidos hidroxicinâmicos são também muito abundantes,
tais como o ácido clorogênico (originário da reação do ácido caféico com o
ácido quínico), o qual representa cerca de 7% do conteúdo dos grãos do
café e é um importante substrato na oxidação enzimática responsável
pelo escurecimento de frutas como maçã e ra [Yang et al. 2001]. Este
derivado caféico está especialmente presente em grande quantidade nos
diversos grãos e sementes [Sondheimer 1958]. Os principais compostos
da sub-classe dos ácidos hidroxicinâmicos estão representados na Fig. 3
abaixo:
1.3.1 Dieta e biodisponibilidade
Por estarem amplamente distribuídos nas mais diversas espécies de
vegetais, os polifenóis constituem-se em um importante componente da
dieta humana. A tabela 1 a seguir, fornece dados quantitativos da
distribuição dos principais polifenóis em alguns alimentos selecionados
[King e Young 1999]. Salienta-se que enquanto a maioria dos compostos
descritos na tabela 1 têm suas quantidades expressas em partes por
milhão (ppm ou mg/kg), os ácidos hidroxicinâmicos quantificados no café
em grãos estão expressos em g/kg, evidenciando sua forte presença
neste fruto.
Fig. 3. Representação e
squemática do ácido caféico (1), ácido ferúlico (2) e ácido
clorogênico (3), principais componentes dos ácidos hidroxicinâmicos.
(1) (2) (3)
20
Classes e
Subclasses
Compostos Alimentos Quantidade
Flavonóides
Azeitona
270-830 mg/kg
Cebola
347 mg/kg
Alface
308 mg/kg
Tomate Cereja
17-203 mg/kg
Brócolis
102 mg/kg
Maçã
21-72 mg/kg
Feijão
49 mg/kg
Endívia
46 mg/kg
Chá (folhas)
30-45 g/kg
Flavonóis
Quercetina, kaempferol,
miricetina
Chá (preto)
20 mg/L
Aipo
130 mg/kg
Flavonas Apigenina, Luteolina
Azeitona
6-29 mg/kg
Pêra
70-420 mg/kg
Vinho tinto
274 mg/L
Chá (folhas)
128-226 g/kg
Vinho branco
35 mg/L
Flavanóis Catequina, Epicatequina
Maçã
23-30 mg/kg
Soja (grão seco)
888-2407 mg/kg
Tofu
280-499 mg/kg
Miso
256-540 mg/kg
Proteína Text.
Soja
1175-1191
mg/kg
Isoflavonas Genisteina, Daidzeina
Leite soja
105-251 mg/L
Ácidos Fenólicos
Mirtilo
1881-2112 mg/kg
Cereja
290-1280 mg/kg
Pêra
44-1270 mg/kg
Maçã
2-258 mg/kg
Laranja
21-182 mg/kg
Batata
100-190 mg/kg
Grapefruit
25-60 mg/kg
Ácidos
Hidroxicinâmicos
Caféico, Ferúlico,
Clorogênico,
Neoclorogênico
Café (grãos)
56 g/kg
Framboesa
19-102 mg/kg
Ácidos
Hidroxibenzóicos
Elágico, Gálico
Morango
21-89 mg/kg
Lentilha
3800 mg/kg
Vinho tinto
2567 mg/L
Vinho branco
239 mg/L
Taninos
Polímeros da Catequina
e Epicatequina
Suco maçã
8-87 mg/L
Tabela 1. Distribuição dos principais polifenóis em alguns alimentos
21
Por diversas razões, incluindo a grande diversidade estrutural, a ausência
de métodos analíticos devidamente validados e a significativa variação na
composição que ocorre em cada alimento, tem sido extremamente difícil
estimar a média de ingestão diária de polifenóis [Scalbert e Williamson
2000]. Grande parte dos autores se refere a dados publicados cerca de 30
anos atrás, quando foi estimada uma ingestão fenólica diária total de 1 g
em dietas ocidentais [Kuhnau 1976]. Tem sido relatado que frutas
geralmente são mais ricas em polifenóis que vegetais, razão pela qual
uma grande fonte alimentar de polifenóis é o consumo regular de bebidas
tais como café, vinho tinto e sucos de frutas, além de chás [Scalbert 2000
e Macheix et al. 1990]. Os ácidos fenólicos compreendem cerca de um
terço dos compostos fenólicos da dieta humana, sendo os outros dois
terços correspondentes à ingestão de flavonóides. Porém esta proporção
depende fortemente do consumo de café [Clifford 1999], uma vez que
consumidores inveterados desta bebida estarão ingerindo mais ácidos
fenólicos que flavonóides.
No entanto, independentemente da ingestão, as propriedades biológicas
dos polifenóis somente serão aproveitadas se a biodisponibilidade dos
mesmos for favorável. A estrutura química dos polifenóis e a composição
da microflora intestinal determinam a taxa e a extensão da absorção e a
natureza dos metabólitos circulantes no plasma [Scalbert 2000]. A medida
direta da concentração destes compostos no plasma e urina e a medida
do aumento da capacidade antioxidante do plasma após sua ingestão,
podem fornecer evidências de sua absorção no trato gastrointestinal.
Estudos apontam para o fato de que principalmente polifenóis de alta
massa molecular ou aqueles ligados a fibras alimentares e proteínas e
que permanecem insolúveis em solventes do tipo água, metanol ou
acetona aquosa, são menos biodisponíveis. Um exemplo é o caso de
taninos condensados, que normalmente se apresentam na forma de
oligômeros ou polímeros [Bravo 1998]. No entanto a enorme variedade de
compostos do grupo dos polifenóis, bem como a sua ocorrência natural
sob a forma de misturas complexas de compostos fenólicos em diversas
22
matrizes, tem sido uma dificuldade no estudo da biodisponibilidade destas
substâncias.
1.3.2 Ação antioxidante
Exatamente por se constituírem em fundamentais contribuintes da dieta,
os primeiros estudos dos polifenóis estavam em sua maioria relacionados
ao efeitos antinutricionais destes compostos, como por exemplo à
diminuição na absorção e digestibilidade de alimentos devido a
capacidade destes compostos de se ligar e precipitar minerais e
macromoléculas tais como proteínas e carboidratos [Yang et al. 2001].
Mais recentemente o interesse principal tem recaído sobre o fato de que
diversos compostos deste grupo revelaram possuir atividades
antioxidantes, antiinflamatória e anticarcinogênicas.
Diversos estudos epidemiológicos tem sugerido associações entre uma
dieta com alimentos ricos em polifenóis e a prevenção de doenças: O
consumo de chá pode evitar o câncer [Steinmetz 1996] e disfunções
cardíacas [Tjiburg 1997], assim como o consumo de uva e derivados
pode prevenir doenças cardiovasculares [Criqui 1994]; frutas e verduras
estão muito associadas à prevenção de cânceres [Steinmetz 1996 e
Renaud et al. 1992] e a soja pode impedir o aparecimento de câncer de
mama e osteoporose [Adlercreutz et al.1997].
Muitos destes efeitos benéficos relacionados à prevenção de diversas
enfermidades estão associados à própria natureza química deste grupo
de compostos: devido à sua estrutura, polifenóis são em geral bons
agentes redutores e juntamente com outros agentes redutores
encontrados na dieta tais como vitamina C, vitamina E e carotenóides,
podem proteger tecidos e estruturas celulares contra danos oxidativos.
Deste modo, a habilidade destes compostos em prevenir doenças
conhecidamente associadas ao estresse oxidativo, tais como cardiopatias,
23
alguns tipos de câncer e processo inflamatórios podem estar vinculadas
às propriedades antioxidantes dos polifenóis reportadas recentemente.
Proteção contra a peroxidação de LDL pode ser útil no caso de doenças
cardíacas, enquanto que compostos com potencial de proteção contra
danos oxidativos ao DNA podem ser relacionados ao tratamento contra
cânceres ou disfunções genômicas.
Como discutido, vários mecanismos antioxidantes responsáveis pelo
decréscimo da toxicidade de oxigênio celular podem estar operando em
sistemas biológicos. No entanto os principais contribuintes da ação
antioxidante total são i) à habilidade de moléculas em capturar espécies
radicalares e ii)habilidade em quelar íons metálicos envolvidos na geração
destas mesmas espécies radicalares.
Os compostos polifenólicos são reconhecidos por possuir atividade
antioxidante devido a sua habilidade em “seqüestrar” radicais livres,
interrompendo por exemplo a reação radicalar em cadeia da peroxidação
lipídica [Rice-Evans 1996]. Estes compostos interferem nas reações de
oxidação de lipídios e outras moléculas por meio de uma rápida
transferência de átomos de hidrogênio aos radicais como por exemplo
hidroxil e peroxil.
Em termos estruturais, os principais responsáveis por esta atividade são
os dois grupos hidroxila na posição 3´,4´ do anel B, a dupla ligação em
conjugação com um grupo cetônico no carbono 4 do anel C e os grupos
hidroxila dos carbonos 5 e 7 do anel A, no caso dos flavonóis (Fig. 4).
Fig.4. Representação dos anéis A, B e C e dos carbonos da estrutura básica dos flavonóis
24
Considerando o caso dos ácidos fenólicos, a estrutura hidroxifenólica
conjugada com a dupla ligação da cadeia de ramificação, tem sido
reportada como o principal componente da atividade antioxidante [Rice-
Evans 1996].
Segundo Rice-Evans et al. em ensaios de TEAC
(capacidade
antioxidante equivalente ao Trolox) de modo geral, a inserção de um
grupo etilênico entre um anel fenólico contendo um grupo p-hidroxila e o
grupo carboxilato, tem um efeito fortemente favorável nas propriedades
redutoras do grupo OH e portanto na capacidade de estabilizar uma
espécie reativa de oxigênio. Curiosamente os mesmos estudos indicaram
também que a introdução de mais um grupo hidroxila em posição vicinal
ao grupo p-hidroxi diminui a atividade antioxidante em fase aquosa
segundo o ensaio da TEAC, porém aumenta a atividade antioxidante em
sistemas lipofílicos [Rice-Evans 1996]. Este fatos têm grande impacto no
mecanismo de ação do AC, conforme será discutido ao longo desta
seção.
Seja como for, nestes casos em que polifenóis tem sua capacidade
antioxidante devido a sua ação como seqüestradores de radicais, pode-se
dizer que em geral a eficiência dos mesmos em prevenir danos oxidativos
depende diretamente da sua habilidade em formar intermediários estáveis
após reação com os radicais.
Outro mecanismo de ação antioxidante dos compostos polifenólicos de
especial relevância é a sua capacidade de se ligar a metais tais como íons
ferro e cobre, impedindo ou minimizando a participação destes em
reações de Fenton. É o caso do AT, para o qual foi demonstrada sua
habilidade em inibir a formação de radicais hidroxil devido a sua ação
complexante de íons ferro [Lopes et al. 1999].
O valor TEAC é definido como a concentração milimolar (mmol/L) de uma solução de Trolox, que
possua a mesma capacidade antioxidante de 1 mmol/L da solução da substância em estudo.
25
No entanto, dicotomicamente a interação dos polifenóis com metais pode
conferir aos mesmos uma característica pró-oxidante em alguns casos.
Compostos dos grupos dos flavonóides e ácidos fenólicos por exemplo,
demonstraram ser antioxidantes inibindo a formação de radicais peroxil e
hidroxil em diferentes sistemas oxidantes, porém na presença de Cu
2+
os
mesmos se revelaram pró-oxidantes [Cao et al. 1997 e Yamanaka 1997],
provavelmente devido a reações de redução de Cu
2+
a Cu
+
induzidas pelo
polifenol, abrindo caminho para reações do tipo Fenton. Andrade Jr, em
estudos sobre a capacidade do AT em prevenir danos oxidativos ao DNA
induzidos por íons cobre, verificou um efeito pró-oxidante deste polifenol e
também do complexo AT-Cu em presença de DNA [Andrade Jr 2004].
Esta atividade pró-oxidante induzida por metais, pode desempenhar um
papel central nas já referidas patologias metalo-acumuladoras.
No entanto é importante ressaltar que uma proteção contra a ação de
algumas espécies radicais in vitro, não necessariamente implica em
proteção contra danos oxidativos em células. Por exemplo, Pool-Zobel
descreve que tanto compostos isolados quanto amostras complexas de
plantas contendo várias antocianinas e antocianidinas se mostraram
potentes antioxidantes in vitro. Porém, pelo menos em células tumorais do
colon humano, este grupo de compostos não foi capaz de minimizar o
dano oxidativo endógeno ao DNA [Pool-Zobel 1999].
Da mesma forma, pequena atividade antioxidante in vitro, também não
necessariamente significa que um composto não seja responsável por
ação antioxidante in vivo. Cite-se o fato de que a interação de flavonóides
tais como quercetina e catequina, com espécies antioxidantes
intracelulares do tipo glutationa peroxidase (GPx) pode aumentar
significativamente a atividade antioxidante destas [Ferguson 2001 e
Nagata 1999]. Neste sentido, a indução de enzimas também pode ter
papel importante, como por exemplo no caso da genisteina que pode
induzir a expressão de metalotioneina (uma proteína ligante de metais
com propriedades antioxidantes) em células Caco-2 [Kuo et al. 1999 ].
26
1.3.3 Toxicidade
A despeito de diversos estudos revelarem uma gama de efeitos benéficos
dos polifenóis, principalmente relacionados às propriedades antioxidantes
destes compostos, cabe referenciar a antiga afirmação atribuída a
Paracelso a respeito do uso terapêutico de qualquer substância : “a
diferença entre o veneno e o remédio está na dose administrada”.
Infelizmente, os potenciais efeitos xicos decorrentes da excessiva
ingestão de flavonóides são comumente ignorados. Em doses altas,
flavonóides podem agir como mutagênicos, geradores de radicais livres, e
inibidores de enzimas chave do metabolismo de hormônios [Skibola et al.
2000].
Diversos estudos recentes tem revelado que além da atividade
antioxidante apresentada pelos polifenóis, estes compostos uma vez
presentes em sistema biológicos, podem possuir outros mecanismos de
ação. Galati relata toxicidade mitocondrial associada a uma capacidade
dos polifenóis em promover o colapso do potencial da membrana
mitocondrial [Galati et al. 2004]. Skibola, descreve a habilidade de
flavonóides em inibir enzimas associadas ao DNA, como por exemplo a
topoisomerase [Skibola 2000]. A síntese de tiroxina também é inibida por
certos polifenóis, os quais agem como substratos alternativos na
iodinação da tirosina, dando lugar a formação de mono, di ou tri-iodo-
isoflavonas [Divi et al. 1996]. Neste mesmo estudo, demonstrou-se que os
flavonóides podem inibir irreversivelmente a tireoide-peroxidase, a qual é
essencial para a síntese do hormônio da tireóide.
Apesar da toxicidade mitocondrial estar associada a uma atividade
anticarcinogênica (alterações na permeabilização da membrana
mitocondrial estão relacionadas à promoção de apoptose, sendo que a
indução da apoptose por sua vez, suprime o desenvolvimento do câncer),
os comportamentos acima descritos abrem espaço para uma melhor
avaliação do potencial tóxico dos mesmos.
27
Neste sentido, curiosamente compostos fenólicos podem ser ambos
antioxidantes ou pró-oxidantes, o que sugere que uma dieta rica em
flavonóides e outros polifenóis pode se constituir mais em um risco
oxidativo que em benefício [Decker 1997]
Tem sido verificado que compostos fenólicos presentes na dieta, podem
agir como pró-oxidantes em sistemas contendo metais com potencial
redox fisiologicamente relevante. Na presença de oxigênio, metais de
transição tais como cobre e ferro catalisam o ciclo redox de polifenóis,
levando a formação de EROs e radicais fenoxil que podem atacar o DNA,
lipídeos e outras moléculas biológicas [Galati 2004]. Em presença de
metais de transição, foi verificado que flavonois com grupos galoil ou
catecol também são capazes de se autoxidar levando à degradação de
LDL [Galati 2004]. No mesmo estudo, o composto epigalocatequin-galato,
se mostrou capaz de induzir a geração de H
2
O
2
e o subseqüente dano ao
DNA celular.
Tais comportamentos pró-oxidantes serão de relevante interesse na
discussão dos resultados obtidos neste trabalho.
1.3.4 Ácido caféico
Dentre os ácidos hidroxicinâmicos, aquele mais comumente encontrado e
de maior representatividade na dieta é o ácido caféico (AC), composto
sensível ao calor [Dimberg et al. 1996] e produzido a partir da L-
fenilalanina ou L-tirosina, conforme a Fig. 5.
28
Apesar do nome que o remete ao café, pode também ser encontrado em
frutas e vegetais como maçã, ameixa, uvas e tomates, sendo possível
isolá-lo das folhas de Alsophila spinulosa, uma pteridófita originária da
China, com propriedades descritas para o tratamento de hepatite, gota
e reumatismo [Chiang et al. 1994].
Os estudos acerca dos efeitos fisiológicos do AC incluem relatos sobre a
sua capacidade de atuar como antiinflamatório [Chen et al. 1995], inibidor
da xantina-oxidase [Chiang 1994], ligante metálico [Nardini et al. 1995] e
como agente protetor contra citotoxicicidade induzida por peróxido de
hidrogênio [Nakayama 1994]. Estudos com AC em sistemas lipídicos
indicaram um potencial deste polifenol em atenuar a oxidação de
lipoproteínas de baixa densidade [Castellucio et al. 1996 e 1995] e mesmo
inibir a oxidação de LDL catalisada por íons metálicos [Nardini 1995].
1.3.4.1 Aspectos estruturais
No que diz respeito ao potencial antioxidante do AC, sua atividade anti-
radical está intrinsecamente correlacionada à sua estrutura molecular,
tanto em função de sua capacidade de estabilizar por ressonância o
radical fenoxil gerado pela doação do seu H fenólico, quanto em função
Fig.5. Precursores biosintéticos do ácido caféico (Rice-Evans 1996)
29
de sua capacidade de interagir com metais indutores de reações de dano
oxidativo.
Estudos de análise conformacional por métodos ab initio (otimização da
geometria da molécula e cálculo de suas freqüências vibracionais, por
meio de métodos computacionais), revelam que as energias calculadas
para o AC e moléculas similares sugerem uma clara preferência por uma
geometria planar em um sistema completamente conjugado [Fiúza et al.
2004 e VanBesien et al. 2003]. Segundo estes estudos, esta preferência
pela planaridade é previsível, uma vez que favorece a deslocalização de
elétrons através de um sistema π expandido, estabilizando a molécula e
fornecendo energias conformacionais mais baixas. Esta estabilidade
molecular por deslocalização de elétrons em sistemas π conjugados, está
fortemente correlacionada a capacidade antioxidante do AC,
principalmente no que diz respeito a estabilização de radicais fenoxil.
Hotta por meio de estudos eletroquímicos demonstrou que o número n de
elétrons envolvidos nas reações de oxidação do AC é igual a 2 em pH
menor do que 7, porém este número aumenta consideravelmente com o
aumento do pH [Hotta 2001]. O número de 2 elétrons obtido por ensaios
voltamétricos é consistente com o numero de hidroxilas fenólicas deste
composto e, portanto com o mecanismo proposto na Fig. 6 abaixo:
Os valores de n mais altos observados em pH maior que 7 sugerem que
em meio alcalino os polifenóis com grupos catecol estão sujeitos à alguma
reação química (a qual se revelou irreversível segundo os estudos
voltamétricos). Isto de algum modo altera sua estrutura, provavelmente
em termos do número de hidroxilas [Hotta 2001]. Foi então proposto uma
reação de dimerização como principal geradora dos produtos de oxidação
Fig.6. Mecanismo proposto para oxidação do AC (Hotta 2001)
30
do AC em pH alcalino. Esta reação está em concordância com dados de
espectroscopia Raman os quais confirmam a possibilidade da existência
de estruturas diméricas (também previstas nos cálculos ab initio)
[VanBesien 2003], corroborando o sugerido por Kokhar (diminuição no
efeito quelante com o aumento da concentração de polifenóis devido à
reações paralelas de dimerização) [Kokhar 2003].
Outra possível explicação para os elétrons adicionais envolvidos na
reação de oxidação do AC em pH maior que 7, é dada conforme o
mecanismo a seguir, expresso pela Fig. 7:
HO
O
O
R
H
O
O
R
HO
H
O
O
R
HO
+
H
No entanto, como uma das espécies formadas nesta reação é o hidreto, a
energia dos produtos gerados seria bastante alta, o que torna improvável
que a oxidação do AC ocorra por meio deste mecanismo.
Apesar dos estudos iniciais sobre a relação estrutura/atividade de ácidos
fenólicos terem se concentrado na importância do grupo catecol [Chen
1997 e Moon 1998], indicando ser este um grupo importante tanto na
estabilização de radicais livres [Hotta 2001] quanto na complexação de
metais [Kokhar 2003, Hynes et al.2004 e Boilet et al. 2005], o papel do
grupo etilênico e do grupo carboxílico devem também ser avaliados.
Teoricamente a dupla ligação seria importante para a atividade
antioxidante na medida em que a mesma é imprescindível na
estabilização de radicais fenoxil por conjugação, conforme discutido
[Rice-Evans 1996]. Porém no caso do AC, foi verificado que sua
habilidade antioxidante é relativamente menor que a de análogos sem a
presença da dupla ligação [Hotta 2001 e Rice-Evans 1996]. Esta
observação poderia estar relacionada a impossibilidade do grupo etilênico
Fig.7. Mecanismo alternativo para oxidação do AC
31
em efetuar rotações livremente, diminuindo assim a eficiência estérica da
molécula em formar quelatos metálicos [Fiúza et al. 2004].
Em relação ao grupo carbolico, estudos tem demonstrado sua
participação central em algumas reações de complexação do AC com
metais [Boilet 2005 e Khvan 2001], uma vez que esta interação tende a
ser facilitada em meio neutro ou levemente alcalino. Adicionalmente,
estudos espectroscópicos por UV e IR, realizados por estes autores
confirmam a existência de estruturas metal:AC, nas proporções 1:1 (no
caso do metal Pb
2+
) , 1:2 (no caso dos metais Cu
2+
e Zn
2+
), 2:1 (também
no caso dos metais Pb
2+
e Cu
2+
) e 1:3 (no caso de Al
3+
).
Cabe no entanto salientar que os diversos estudos da interação do AC
com diferentes metais demonstram justamente que extrapolações de um
complexo para outro não podem ser utilizadas no que diz respeito ao sítio
ligante e aos mecanismos de complexação, posto que a natureza do
complexo varia com o íon considerado.
Por fim vale mencionar que a capacidade do AC em interagir com Fe(III)
depende da concentração deste metal. Conforme reportado por Deiana
[Deiana et al. 1995], o AC é capaz de reduzir Fe(III), formando o-quinona
ou decompondo-se completamente. A literatura relata ainda uma
decomposição gradual de complexos Fe(III)-AC [Hynes 2004], conforme o
mecanismo proposto na Fig. 8 a seguir :
Fig.8. Esquema da decomposição do AC mediada por íons Fe(III) (Hynes 2004)
32
Foi ainda verificada a pouca eficiência do AC em remover Fe(III) de outro
quelante típico, a Desferoxamina [Solinas et al. 1996]. Estas
características do AC podem ser de relevante interesse uma vez que
espécies férricas estão intimamente correlacionadas à presença de
EROS, e influem grandemente na capacidade antioxidante das
substâncias (vide item 1.2 a respeito da PIH).
2. Materiais e Métodos
2.1 Oxidação do Ascorbato
A taxa de oxidação do ascorbato induzida por íons férricos, fornece uma
avaliação indireta da extensão da redução de íons Fe(III) a Fe(II), redução
esta de relevante interesse bioquímico por gerar o reagente de Fenton e
permitir a posterior formação de EROs. As absorbâncias de sistemas
contendo Fe(III) previamente ligado à um co-quelante (EDTA, NTA ou
citrato conforme o caso), tampão Hepes a pH 7,2 e PIH seguido da adição
de ascorbato, foram medidas a 265 nm (comprimento de onda no qual
ocorre absorção de luz por parte do ascorbato) durante 3 minutos. As
respectivas inclinações da reta foram então calculadas, obtendo-se assim
a taxa de oxidação de ascorbato em Abs./min, sendo que os controles
correspondem a sistemas sem adição de PIH. A menos que
expressamente indicado nas figuras, o tempo entre a adição de PIH e
ascorbato foi de cerca de 8 minutos.
Neste ensaio foram utilizadas soluções estoque recém preparadas de PIH
(0,5 e 2 mmol/L) e cloreto férrico (1mmol/L em solução diluída de HCl),
além de soluções de tampão Hepes (20 mmol/L) e Fe(III)-co-quelantes
(EDTA, NTA e Citrato). Todas as medições foram realizadas em
espectrofotômetro Hitachi U-2001 a temperatura ambiente.
33
2.2 RPE do Radical ascorbil
A formação do radical ascorbil em sistemas reacionais tamponados por 20
mmol/L Hepes a pH 7,2, contendo Fe(III)-EDTA e PIH em diferentes
concentrações, seguidos da adição de ascorbato foi acompanhada por
meio de estudos de ressonância paramagnética eletrônica. A
quantificação do radical ascorbil formado em cada reação foi proporcional
à altura do pico obtido nos espectros, medido em unidades arbitrárias e
considerada uma linha base do sinal igual a 0,5 unidades arbitrárias. As
medidas foram realizadas em um equipamento Bruker ESP 300 do
Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás - UFG, nas seguintes
condições instrumentais: freqüência de microondas de 9,42 GHz,
freqüência de modulação igual a 100 kHz, potencia de microondas de 10
mW amplitude de modulação igual a 0,25 G e um ganho de 6,3.10
5
.
Todos os sistemas foram incubados à temperatura ambiente, sendo a
medição iniciada sempre 3,5 minutos após a adição de ascorbato e os
espectros obtidos por acumulação de duas varreduras.
2.3 Dano oxidativo a 2-DR
Utilizou-se o ensaio do TBARS que consiste na degradação oxidativa do
açúcar 2-Deoxi-D-ribose (2-DR) por espécies reativas de oxigênio,
formando entre outros produtos o malondialdeido (MDA), o qual reage em
meio ácido com o ácido tiobarbitúrico (TBA) na proporção de 2:1 formando
um éster com absorção característica a 532 nm [Halliwell 1987 e
Gutteridge 1981].
Neste ensaio utilizaram-se soluções estoque de 2-DR 125 mmol/L
mantidas sob refrigeração, solução de TBA 1% em NaOH 50 mmol/L
preparada a cada 5 dias e solução de ácido fosfórico a 4%. As soluções
estoque de AC 0,5 mmol/L foram preparadas diariamente por dissolução
do composto em água à 45º C. O dano oxidativo à 2-DR foi induzido por
um sistema gerador de radicais, do tipo Fenton, utilizando-se solução de
34
peróxido de hidrogênio preparada diariamente e solução de sulfato de
ferro (apenas nos experimentos descritos nas figuras 16 e 19, foi utilizado
sulfato de ferro amoniacal) preparada também diariamente.
No caso específico dos ensaios com PIH, não houve adição de reagentes
de Fenton (peróxido e Fe(II)) e sim os precursores, Fe(III) e ascorbato.
Como etapas do ensaio, o açúcar foi colocado no meio contendo a reação
de Fenton, incubando-se a reação a 3C (ou 10C) em banho-maria e
posteriormente adicionando-se 500 µL de TBA e ácido fosfórico. O meio
resultante foi levado a fervura por 15 minutos, ao final do qual se
obtiveram soluções cuja coloração é proporcional ao dano oxidativo
causado pelas espécies reativas geradas, podendo-se desta forma
mensurar suas absorbâncias a 532 nm em espectrofotômetros Hitachi U-
2001 e Milton Roy. Utilizaram-se como brancos, dois sistemas : um
contendo todos os reagentes exceto ferro e outro sem DR.
Nos ensaios do AC as reações foram pré-incubadas na presença de Fe(II)
por 15 minutos, exceto quando expressamente mencionado outros
tempos de pré-incubação. Nestes ensaios, todos os sistemas foram
tamponados utilizando-se soluções de uma mistura equimolar de Hepes e
MES com concentrações finais iguais a 20 mmol/L e 8 mmol/L (apenas
nos estudos espectrofotométricos) em dois diferentes pHs : 5,6 e 7,2.
Os dados correspondem à média de três experimentos independentes
(diferentes dias), cada um realizado em triplicata, a menos que
expressamente indicado.
2.4 Redução do complexo Fe(III)-(PIH)
2
promovida pelo ascorbato
A redução do complexo Fe(III)-(PIH)
2
promovida pelo ascorbato foi medida
espectrofotométricamente acompanhando-se durante 45 minutos a
diminuição da absorbância a 476 nm, de sistemas contendo Fe(III) e PIH
seguidos da adição de quantidades variáveis de ascorbato (0,1 a 50
mmol/L). A região de 476 nm corresponde ao pico de absorção do
35
complexo Fe(III)-(PIH)
2
, conforme descrito na literaura (Hermes-Lima et al.
2000). Os meios reacionais foram mantidos em pH 7,2 pela adição de 5
mmol/L de tampão fosfato. As soluções foram previamente borbulhadas
com gás nitrogênio de modo a prevenir a re-oxidação de íons Fe(II).
3. Resultados e Discussão
3.1 Estudos sobre a ação antioxidante da PIH
3.1.1 Influência da natureza do co-quelante na atividade antioxidante da
PIH
Sistemas contendo 20 mmol/L de tampão Hepes em pH 7,2 e 100 µmol/L
de ascorbato demonstram que 100 µmol/L da PIH conseguem inibir em
cerca de 100%, a oxidação de ascorbato causada por até 20 µmol/L de
Fe-NTA (Fig 9). Porém, a partir deste ponto esta inibição promovida pela
PIH decresce com o aumento da concentração de Fe-NTA, na medida em
que a taxa de oxidação do ascorbato aumenta proporcionalmente.
[Fe(III)-NTA] (µ
µµ
µM)
0 20 40 60 80 100
Oxidação do Ascorbato (A
265
x min
-1
)
0,00
0,05
0,10
0,15
[ Fe(III)-NTA ]
0 25 50 75 100
% Inibição pelo PIH
25
50
75
100
100 µ
µµ
µM PIH
controle
A B
Fig. 9. Dependência da oxidação do ascorbato com a concentração de Fe-
NTA
(Quadro A). Concentrações finais : ascorbato ( 100
µmol/L), Hepes 20 mmol/L pH
7,2), PIH (0 e 200 µmol/L ), Fe-
NTA (variáveis sempre na proporção 1:2). O quadro B
é uma reapresentação dos mesmos dados do quadro A, mostrando o percentual de
inibição da reação de oxidação do ascorbato pela PIH em relação aos controles (sem
PIH).
36
Comparando estes resultados com aqueles obtidos em sistemas contendo
Fe-EDTA (na proporção 1:1) (Fig 10), observa-se que a proteção da PIH
decresce abruptamente com aumento das concentrações de Fe, sendo
esta proteção diminuída para apenas 20% em concentrações iguais a 20
µmol/L .
% Inibição pelo PIH
0 20 40 60 80
0
25
50
75
100
0 15 30 45 60 75
0,00
0,03
0,06
0,09
0,12
Oxidação do Ascorbato (A
265
x min
-1
)
[ Fe(III)-EDTA ] (µM)
[ FeIII-EDTA ]
100 µM PIH
controle
A
B
Estes resultados são comparáveis àqueles obtidos em ensaios de RPE,
nos quais a extensão da reação de oxidação do ascorbato é
acompanhada por meio da medição do radical ascorbil gerado in situ. A
Fig. 11 , utilizando a técnica da RPE, demonstra que a eficiência da PIH
(200 µmol/L) em prevenir a formação de ascorbil é inversamente
proporcional à concentração de Fe-EDTA.
Fig. 10. Dependência da oxidação do ascorbato com a concentração de Fe-
EDTA
(Quadro A). Concentrações finais : ascorbato ( 100
µmol/L), Hepes 20 mmol/L pH
7,2), PIH (0 e 200 µmol/L ), Fe-
EDTA (variáveis sempre na proporção 1:1). O quadro
B é uma re
apresentação dos mesmos dados do quadro A, mostrando o percentual de
inibição da reação de oxidação do ascorbato pela PIH em relação aos controles (sem
PIH).
37
[Fe(III)-EDTA ] (µ
µµ
µM )
0 10 20 30 40 50
1
2
3
4
5
6
7
0 10 20 30 40 50
% inibição
10
15
20
25
ALTURA DO PICO (unids. arbitrárias)
controle
200 µM PIH
Conforme os resultados expressos nas figuras 9, 10 e 11 foi observado
que a presença da PIH de fato causou um efeito inibitório na oxidação do
ascorbato, porém a eficiência do PIH em prevenir esta oxidação é
dependente da concentração de Fe e principalmente da natureza da
substância co-quelante previamente ligada aos íons férricos. A presença
deste co-quelante de Fe(III) nos sistemas experimentais delineados para
este trabalho é importante pois além de íons Fe(III) serem insolúveis no
pH utilizado, pretendeu-se nestes experimentos simular condições
fisiológicas, nas quais estes íons também não são encontrados em sua
forma livre.
Propõem-se que as reações expressas nas equações 12-15 e 9
descritas a seguir estariam em curso no meio reacional utilizado :
Fig. 11. Dependência da formação do radical ascorbil com a concentração de Fe-
EDTA (dados de RPE). Concentrações finais : ascorbato ( 1mmol/L, adicionado após
30 minutos de pré-incubação), Hepes (20 mmol/L pH 7,2), PIH (0 e 200 µmol/L ), Fe-
EDTA (variáveis sempre na proporção 1:1). O “inset” é uma reapresentação dos
mesmos dados do quadro A, mostrando o percentual de inibição da reação de
oxidação do ascorbato pela PIH em relação aos controles (sem PIH). Dados obtidos
a partir de 4 experimentos independentes
38
ascorbilQuelanteIIFeAscorbatoQuelanteIIIFe ++ )()(
(equação 12)
orbatodehidroascAscorbatoAscorbil +2 (equação 13)
++
22
)()( OQuelanteIIIFeOQuelanteIIFe (equação 14)
2222
22 OOHHO ++
+
(equação 9)
+++ HOOHQuelanteIIIFeQuelanteIIFeOH )()(
22
(equação 15)
Dentro deste cenário, a PIH estaria formando um complexo estável com
os íons Fe(III), competindo pelo ferro com os co-quelantes. Este complexo
Fe-PIH de alguma maneira seria menos suscetível à sofrer redução do
que os complexos com EDTA e NTA, inibindo portanto a reação de
oxidação do ascorbato. No entanto, os resultados da Figura 9, 10
demonstram que a PIH não é capaz de remover Fe(III) do co-quelante
EDTA tão eficientemente como o faz quando o co-quelante é o NTA.
Adicionalmente, a influência do co-quelante também pode ser identificada
pelos espectros de RPE da Fig. 12, nos quais se verifica que na presença
de 5 µmol/L de Fe-NTA (na proporção 1:2) (A e B), a PIH foi capaz de
inibir drasticamente a formação da espécie ascorbil (0,9 Unidades
Arbitrárias – UA, contra 2,33 UA observados nos controles sem PIH, o que
significa cerca de 61% de inibição). Contrariamente, sistemas contendo
PIH em presença de mol/L de Fe-EDTA (na proporção 1:1),
apresentaram apenas cerca de 25%de inibição (Fig 12, C e D).
39
Além disto, tanto os resultados das figura 9, 10 e 11 quanto aqueles da
figura 12, estão plenamente de acordo com os dados obtidos em ensaios
de dano oxidativo à 2-DR (utilizando-se o método do TBARS, no lugar
dos métodos de oxidação do ascorbato e RPE, percebe-se que a
complexação da PIH com Fe(III) também depende da natureza do co-
quelante). Estes dados estão expressos na tabela 2 a seguir :
Percentual de proteção contra oxidação da 2-
DR em relação aos controles
Concentração
PIH
Fe(III)-
EDTA
(10 µMol/L)
Fe(III)-NTA
(10 µMol/L)
Fe(III)-
Citrato
(10 µMol/L)
20 µMol/L 14% 48% 32%
100 µMol/L 32% 83% 93%
Tabela 2. Percentual de proteção da PIH contra oxidação da 2-DR com diferentes co-
quelantes. Concentrações finais : 2-
DR ( 5 mmol/L), ascorbato ( 0,7 mmol/L). As
reações foram tamponadas em pH 7,2 (10 mmol/L tampão fosfato) e pré-
incubadas
por 10 minutos antes da adição do ascorbato.
Fig. 12. Efeito da PIH na redução do sinal do radical ascorbil com diferentes co-
quelantes. Conc
entrações finais : ascorbato ( 1mmol/L), Hepes (20 mmol/L pH 7,2),
PIH (200 µmol/L ), Fe-NTA (5 µmol/L na proporção 1:2 A e B), Fe-
EDTA (5 µmol/L
na proporção 1:1
C e D. Os espectros foram obtidos por acumulação de 2
varreduras. Os quadros A e C correspondem aos controles sem PIH.
Campo magnético (G)
Campo magnético (G)
Campo magnético (G) Campo magnético (G)
40
Nestes ensaios, em meios contendo tampão fosfato (pH 7,2) e 10 µmol/L
Fe-NTA (ou Fe-Citrato, sendo o citrato um ligante fisiológico de ferro,
encontrado em pools” intracelulares deste metal [Britton et al. 1994], a
eficiência da PIH (20 µmol/L ) em prevenir a degradação da 2-DR foi cerca
de 2 a 3 vezes maior que em meios contendo igual concentração de Fe-
EDTA.
Estes resultados como um todo, sugerem que uma vez formado um
complexo de Fe com a substância co-quelante EDTA, NTA ou Citrato, a
PIH é capaz de remover o íon Fe deste complexo, formando um novo
complexo, possivelmente do tipo Fe-(PIH)
2
. Esta remoção é tanto mais
difícil ou demorada, quanto maior for a afinidade do co-quelante pelo
metal. De fato, avaliando-se as constantes de formação reportadas na
literatura [Roche et al. 1990] para Fe(III)-EDTA (log β
11
= 25,5), Fe(III)-
NTA (log β
11
= 8,3) e Fe(III)-Citrato (log β
11
= 7,3) [Konigsberger et al.
2000], percebe-se que NTA e Citrato formam complexos de certa forma
mais “fracos”, dos quais é mais fácil a remoção do íon Fe para posterior
complexação com a PIH (log β
11
= 24,8) [Webb et al. 1988 e Vitolo et al.
1990]. Apenas a título de comparação, a constante de formação Fe(III)-
DFO foi calculada como log β
11
= 30,6 [Hou 1994].
Estes resultados, se encontram em harmônica associação com aqueles
descritos nas seções seguintes, como se verá, levando à uma evidência
experimental adicional de que o mecanismo de ação antioxidante da PIH
se deve a sua complexação com íons Fe(III). Neste sentido, a PIH ao
substituir o co-quelante no complexo com Fe(III), é capaz de formar uma
estrutura tal que o novo complexo Fe-(PIH)
2
apresenta capacidade menor
de promover a oxidação do ascorbato.
41
3.1.2 Influência do tempo de pré-incubação na atividade antioxidante da
PIH
A fim de investigar o comportamento da PIH ao longo do tempo nas
reações descritas pelas equações de 7 a 10, foi testado o efeito da pré-
incubação sobre : i) a oxidação do ascorbato; ii) a formação do radical
ascorbil e iii) degradação da 2-DR. O tempo de pré-incubação
corresponde ao intervalo antes da adição de ascorbato ao meio reacional
contendo o metal e o PIH, que esta substância é responsável por iniciar
a reação.
Aumentando o tempo de pré-incubação de 0 para 85 minutos, de um
sistema contendo 100 µmol/L de PIH e 20 µmol/L de Fe-EDTA (na
proporção 1:1), observa-se um aumento de quase o dobro da inibição do
PIH sobre a oxidação do ascorbato (Fig. 13).
Tempo pré-incubação (min)
0 20 40 60 80
Oxidação do Ascorbato (A
265
x min)
0,025
0,030
0,035
0,040
0,045
0,050
0 20 40 60 80
% inibição pelo PIH
10
20
30
40
50
100 µ
µµ
µM PIH
Controle
A
B
Tempo pré-incubação (min)
Fig. 13. Efeito da pré-incubação de Fe(III)-
EDTA e PIH na oxidação do ascorbato
(Quadro A). Concentrações finais : ascorbato ( 100
µmol/L), Hepes (20 mmol/L pH
7,2), PIH (0 e 100 µmol/L ), Fe-EDTA (20 µmol/L na propor
ção 1:1). O ascorbato foi
adicionado após cada período de pré-
incubação à temperatura ambiente. O quadro B
é uma reapresentação dos mesmos dados do quadro A, mostrando o percentual de
inibição da reação de oxidação do ascorbato pela PI
H em relação aos controles (sem
PIH).
42
Empregando a RPE, foram obtidos os resultados da Fig. 14, os quais
corroboram os achados anteriores. Estes resultados mostram que
sistemas contendo PIH e Fe-EDTA pré-incubados por 90 minutos antes
da adição de ascorbato, apresentaram percentual de inibição sobre a
geração do radical ascorbil igual a 72%, contra apenas 8% de inibição de
sistemas sem pré-incubação.
T e m p o p ré -in c u b a ç ã o (m in )
0 3 0 6 0 9 0
ALTURA DO PICO (unids. arbitrárias)
1
2
3
4
5
2 0 0 µM P IH
C o n tro le
Apenas para confirmação foi utilizado o ensaio da 2-DR também em
sistemas contendo PIH e Fe-EDTA pré-incubados. Assim como nos
experimentos anteriores, a eficiência do PIH em prevenir a reação de
redução de Fe(III) ( e no caso deste ensaio, a eficiência em prevenir o
dano a 2-DR por espécies radicalares oriundas desta reação), aumenta
com o tempo. O dano à 2-DR decresce em mais de 50% após 2 horas de
pré-incubação (Fig. 15).
Fig. 14. Efeito da pré-incubação de Fe(III)-
EDTA e PIH na formação do radical
ascorbil. Concentrações finais : ascorbato ( 1 mmol/L), Hepes (20 mmol/L pH 7,2),
PIH (0 e 200 µmol/L ), Fe-EDTA (10 µmol/L na proporção 1
:1). O ascorbato foi
adicionado após cada período de pré-incubação à temperatura ambiente.
43
Degradação 2-Desoxi-ribose (A
532
)
Controle
Tempo pré-incubação (min)
As Figuras 13, 14 e 15 analisadas em conjunto demonstram que a
habilidade da PIH em prevenir tanto a oxidação do ascorbato, quanto o
dano à 2-DR ou a formação radical ascorbil, todos induzidos por espécies
férricas, é dependente do tempo de pré-incubação da PIH com o
complexo Fe-co-quelante. Quanto maior o tempo em a PIH permanece em
contato com o complexo Fe(III)-coquelante, maior a habilidade protetora
da PIH contra a oxidação do ascorbato.
Sugere-se portanto que a remoção de íons Fe(III) do co-quelante pela PIH
e a posterior formação do complexo Fe(III)-(PIH)
2
é um processo lento, e
tão mais lento o será, quanto maior for a afinidade do co-quelante pelo íon
metálico. Estudos de pré-incubação de PIH com Fe-NTA em condições
idênticas, revelaram que não houve alteração da oxidação do ascorbato
em função do tempo de pré-incubação, sugerindo que a remoção de Fe
Fig. 15. Efeito da pré-incubação de Fe(III)-EDTA e PIH na degradação da 2-
DR.
Concentrações finais : ascorbato ( 0,7 mmol/L), Hepes (10 mmol/L pH 7,2), PIH (0 e
200 µmol/L ), Fe-EDTA (10 µmol/L na proporção 1:1). O ascorbato e a 2-
DR foram
adicionados após cada período de pré-incubação à temperatura ambiente.
44
neste caso é bastante rápida, o que está em bom acordo com as
observações relatadas no item 3.1.1.
Desta forma, considera-se que tais resultados são explicáveis pelo fato de
estar em curso uma competição entre a PIH e o co-quelante pela
complexação com os íons Fe(III), em um sistema reacional onde co-
existam estes três componentes. É portanto esperado que seja mais
difícil (e por conseguinte mais demorado) para a PIH, remover íons Fe(III)
de co-quelantes com altas constantes de formação.
Neste sentido, Hermes Lima determinou as velocidades de remoção de
íons Fe(III) do EDTA e do NTA pela PIH e a conseqüente formação do
complexo Fe(III)-(PIH)
2
[Hermes Lima et al. 2000]. Acompanhando a
formação deste complexo a 476 nm, foi relatado que o mesmo é formado
em poucos segundos quando se utiliza NTA como co-quelante,
diferentemente do caso do EDTA, onde somente se observa formação do
complexo com PIH após cerca de 30 minutos nas condições
experimentais ali descritas. Estes resultados, em conjunto com aqueles
apresentados neste trabalho, explicam a diferença de comportamento da
PIH em ralação a sistemas contendo EDTA ou NTA ou mesmo outro
ligante de Fe(III) tal como Citrato.
3.1.3 Influência da concentração de PIH e da proporção entre os ligantes
PIH e co-quelantes) e o Fe.
Verificou-se que o efeito da PIH tanto na oxidação do ascorbato quanto
na formação do radical ascorbil dependem das concentrações deste
quelante, sendo a ação antioxidante da PIH, diretamente proporcional a
sua concentração.
A Fig. 16 demonstra o efeito da concentração de PIH sobre a taxa de
oxidação do ascorbato em dois diferentes tempos de pré-incubação
45
(círculos fechados = 8 minutos; círculos abertos = 2 horas). O valor do I
50
em soluções pré-incubadas por 2 horas é igual a 90 µmol/L de PIH, em
contraste com àquele obtido para soluções pré-incubadas por 8 minutos
(I
50
igual a 500 µmol/L de PIH).
[P IH ] (µ M )
0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0
0 ,0 0 9
0 ,0 1 5
0 ,0 2 1
0 ,0 2 7
Oxidação Ascorbato (A
265
x min)
A tabela 3 a seguir, indica o mesmo perfil em relação à formação do
radical ascorbil, observando-se um I
50
igual a 375 µmol/L de PIH em
soluções contendo 5 µmol/L de Fe-EDTA e pré-incubadas por 30 minutos.
Concentração de PIH
(µmol/L)
Intensidade do sinal RPE
(unidades arbitrárias)
0 3,75 ± 0,41
100 3,11 ± 0,17
200 2,79 ± 0,36
300 2,21 ± 0,17
390 1,93 ± 0,15
Fig. 16
. Efeito da concentração de PIH na oxidação do ascorbato em dois diferentes
tempos de pré-incubação. Concentrações finais : ascorbato ( 100
µmol/L), Hepes (20
mmol/L pH 7,2), PIH (variáveis), Fe-EDTA (10 µmol/L na propor
ção 1:1). O ascorbato
foi adicionado após cada período de pré-
incubação à temperatura ambiente. Circulos
fechados = 8 minutos e círculos abertos = 2 horas pré-incubação.
Tabela 3. Efeito da concentração de PIH na formação do radical ascorbil.
Concentrações finais : ascorbato ( 1 mmol/L), Hepes (20 mmol/L pH 7,2), PIH
(variáveis), Fe-EDTA (5 µmol/L na proporção 1:1). O ascorbato foi adicionad
o após
30 minutos de pré-incubação à temperatura ambiente.
8 min
2 h
46
A necessidade de concentrações relativamente mais altas de PIH para
produzir um efeito antioxidante eficiente quando utilizadas soluções de Fe-
EDTA está em total conformidade com a discussão apresentada no item
3.1.1. a respeito da natureza do co-quelante e sua afinidade com os íons
de Fe(III). Teoricamente quanto mais forte for a interação entre os íons
ferro e o co-quelante, maior quantidade de PIH será necessária para a
produção de um efeito antioxidante.
Um fato de relevante interesse é o comportamento do PIH frente a
diferentes proporções entre os íons férricos e o EDTA. Conforme o
esperado, verificou-se que a habilidade da PIH em prevenir a oxidação do
ascorbato é significativamente menor quando a proporção Fe:EDTA
aumenta para 1:5 (Fig. 17).
[PIH] (µM)
0 20 40 60 80 100
Oxidação do Ascorbato (A
265
x min)
0,010
0,015
0,020
0,025
0,030
0,035
proporção 1:1
proporção 1:5
Fig. 17
. Efeito da concentração de PIH na oxidação do ascorbato em duas diferentes
proporções Fe-EDTA. Concentrações finais : ascorbato ( 100
µmol/L), Hepes (20
mmol/L pH 7,2), PIH (variáveis), EDTA (10 µmol/L na proporção
1:1 e 50 µmol/L na
proporção 1:5). O ascorbato foi adicionado após 2 horas de pré-
incubação à
temperatura ambiente.
47
Incrementos na concentração de PIH não alteram este comportamento,
pois mesmo em meios contendo 100 µmol/L de PIH e 50 µmol/L de EDTA
(na proporção 1:5 em relação ao Fe), a taxa de oxidação do ascorbato é
cerca de 40 % maior em relação à meios contendo Fe-EDTA na proporção
1:1. Semelhantemente ao discutido para os resultados obtidos na pré-
incubação (figuras 13, 14 e 15) e na titulação de PIH (figura 16 e tabela 3),
percebe-se que quanto mais favorecida for a interação entre o co-quelante
o os íons rricos, menor será o efeito protetor da PIH. Obviamente o
favorecimento desta interação depende fortemente da concentração de
co-quelante no meio reacional. Assim, uma provável explicação para a
menor proteção da PIH quando se utiliza Fe-EDTA na proporção 1:5, é
que a presença de excesso de EDTA não complexado ao Fe tornaria a
formação do complexo Fe(III)-(PIH)
2
mais difícil devido a competições
mecanísticas.
3.1.4 Efeito da ação redutora do ascorbato sobre o complexo Fe(III)-(PIH)
2
Considerando que a presença de ascorbato é capaz de reduzir íons Fe(III)
mesmo estando estes complexados à moléculas quelantes do tipo EDTA
(vide resultados dos controles figura 10), o efeito da ação redutora do
ascorbato sobre o complexo Fe(III)-(PIH)
2
foi investigada. Com base na
afinidade da PIH por íons férricos e nos resultados relatados, presume-
se que o Fe(III) complexado ao PIH é menos suscetível a sofrer redução.
À soluções contendo 50 µmol/L Fe(III) e 100 µmol/L da PIH, adicionaram-
se quantidades crescentes de ascorbato, acompanhando-se então
durante 30 minutos o comportamento do sistema a 476 nm (região do
espectro correspondente ao pico de absorção do complexo Fe(III)-(PIH)
2
).
Concentrações de ascorbato variando de 0,1 a 2,5 mM, não foram
capazes de reduzir em larga escala o ferro ligado. Na verdade, apenas
16% do ferro ligado foi reduzido por 2,5mM de ascorbato após 15 minutos
de reação. No entanto, 5, 10 e 50 mM de ascorbato provocaram
respectivamente 70%, 92% e 100 % de redução após 0,5 minuto.
48
Estes resultados parecem concordar com os anteriores, uma vez que a
julgar pelo comportamento do PIH em relação à taxa de oxidação do
ascorbato verificada nos experimentos relatados, espera-se que a
redução do complexo Fe(III)-(PIH)
2
ocorra mais lentamente que no caso
dos complexos Fe-NTA, Fe-Citrato e mesmo Fe-EDTA.
3.2 Estudo da ação do ácido caféico
3.2.1 Atividade antioxidante do ácido caféico (AC) e efeito do pH
0,360
0,590
0,169
0,267
0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
pH 5,6 pH 7,2
Abs. (532 nm)
0 AC
200 umol/L AC
A fim de caracterizar o potencial antioxidante do AC foi medida a
capacidade do mesmo em prevenir o dano oxidativo à 2-DR induzido por
Fig. 18. Efeito da presença de AC na degradação da 2-DR. Concentrações finais : 2-
DR (10 mmol/L), Tampão Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2 e 5,6), H
2
O
2
(100 µmol/L),
Fe(II) (30 µmol/L). O peróxido foi adicionado após 15 minutos de pré-i
ncubação de
AC e Fe(II) à temperatura ambiente. Após a adição de peróxido, todo o sistema foi
incubado à 37ºC por 20 minutos.
49
30 µmol/L de Fe(II) em uma típica reação de Fenton. Os meios reacionais
contendo 200 µmol/L de AC, incubados a 3 C apresentaram uma
proteção de cerca de 71% em relação ao controle sem AC em pH 7,2
(Fig. 18), evidenciando que este polifenol eficientemente inibe a
degradação oxidativa da 2-DR.
em sistemas tamponados em pH 5,6 observou-se que esta proteção
cai para cerca de 26% em relação ao controle sem AC. Estas
observações estão em bom acordo com os estudos relatados por Boilet,
onde nenhuma complexação de AC com Pb(II) ocorre quando a função
carboxílica e o grupo catecol estão totalmente protonados, como por
exemplo em metanol puro [Boilet 2005].
É interessante notar que a reação de Fenton sem a presença de AC,
propicia maior dano oxidativo à 2-DR em pH 7,2 que em pH 5,6.
Em estudos com o acido elágico (AE) foi verificado semelhantemente que
a habilidade antioxidante deste composto também depende do pH. Em
sistemas de Fenton, observou-se que o AE é mais eficiente em inibir
reações de degradação oxidativa em pHs mais altos, tendo sido este fato
correlacionado com a desprotonação deste polifenol [Ginani 2005].
Os resultados descritos na figura 18, em associação com aqueles
reportados por Boilet, demonstram que o pH exerce papel importante no
mecanismo de ação antioxidante do AC. Propõe-se aqui que este efeito
do pH seria devido ao favorecimento da formação de um complexo Fe(II)-
AC pela desprotonação do grupo carboxila e das hidroxilas fenólicas, em
meios alcalinos.
Considerando que o pKa
1
e pKa
2
do AC são iguais à 4,36 e 8,48
respectivamente [Silva et al. 2000], estima-se que em pH 7,2 ocorra a
desprotonação de parte das hidroxilas fenólicas. Os estudos
espectrofotométricos descritos a seguir fornecem evidências adicionais de
que a complexação depende substantivamente do grupo catecol.
50
Uma vez que foi observado um incremento significativo na proteção
oferecida pelo AC em pH 7,2 , e considerando que tanto em pH 5,6
quanto em pH 7,2 o grupo carboxila está quase que completamente
desprotonado, sugere-se que o grupo catecol do anel tenha grande
influência na ligação com íons Fe(II).
Na verdade, em face dos valores das constantes de dissociação ácida
medidos por potenciometria [Silva et al. 2000], é bem provável que a
complexação ocorra no grupo catecol, conforme a Fig. 8 descrita
anteriormente, especialmente em pH 7,2.
No entanto, não pode ser descartada a hipótese de que a complexação
com íons Fe(II) esteja ocorrendo também em função do grupo carboxila.
desprotonado. Analogamente ao reportado por Khvan em sistemas
contendo Cu
2+
[Khvan 2001], é possível que a formação de um complexo
Fe(II)-AC esteja ocorrendo por meio de um mecanismo iônico de
complexação pelo grupo carboxila, acompanhado pela liberação de
prótons conforme a equação 16:
+++
++ HFeACFeACH
22
(equação 16)
De qualquer forma, independentemente do grupo considerado, postula-se
que a desprotonação de um ou mais hidrogênios exerceria forte influência
na estabilização do complexo Fe(II)-AC, em função da deslocalização
eletrônica ao longo da molécula do AC. Esta deslocalização permitiria
escrever estruturas de ressonância envolvendo as hidroxilas fenólicas, o
anel aromático, o grupo etilênico e a carboxila, todos em conjugação.
No entanto, a identificação precisa dos sítios ligantes do AC em relação
aos íons Fe(II) carece ainda de aprofundamentos, devendo ser
empregadas outras técnicas analíticas tais como difração de raio-X,
espectroscopia de infra-vermelho, cromatografia, e ressonância magnética
nuclear.
51
3.2.2 Estudos espectrofotométricos da ligação de íons Fe(II) ao AC
Com o objetivo de investigar o efeito do pH sobre a habilidade
antioxidante do AC, foram conduzidos alguns estudos
espectrofotométricos na região do UV-VIS.
As Figuras 19 a,b,c representam o espectro de absorção típico das
espécies presentes no meio reacional. Considerando que o sistema tem
coloração azulada, supõem-se que o complexo formado tenha absorção
na região do visível. Por esta razão a Figura 19 d foi composta, sendo a
mesma apenas uma ampliação das escalas das figuras 19 a,b,c na região
de interesse.
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
1,400
0 200 400 600 800 1000
Comprim. Onda (nm)
Abs.
AC
AC + Fe
Fig. 19
a. Perfil espectral do AC puro e do AC em presença de Fe(II) em pH 4,0.
Concentrações finais : Fe(II) (8
µmol/L), AC (80 µmol/L). Os sistemas foram
incubados à temperatura ambiente por até 90 minutos.
52
-0,500
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
0 500 1000
Comprim. Onda (nm)
Abs.
Tampão+ Fe(II)
Tampão + AC
Tampão + AC + Fe(II)
-0,500
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
0 500 1000
Comprim. Onda (nm)
Abs.
Tampão+ Fe(II)
Tampão + AC
Tampão + AC + Fe(II)
Fig. 19
b. Perfil espectral do AC em presença de Fe(II) em pH 7,2. Concentrações
finais : Fe(II) (8 µmol/L), AC (80 µmol/L), Tampão Hepes/MES (8
mmol/L e pH 7,2).
Os sistemas foram incubados à temperatura ambiente por até 90 minutos.
Fig. 19c. Perfil espectral do AC em presença de Fe(II) em
pH 5,6. Concentrações
finais : Fe(II) (8 µmol/L), AC (80 µmol/L), Tamp
ão Hepes/MES (8 mmol/L e pH 5,6).
Os sistemas foram incubados à temperatura ambiente por até 90 minutos.
53
-0,010
0,000
0,010
0,020
0,030
0,040
0,050
0,060
0,070
0,080
400 500 600 700 800
Comprim. Onda (nm)
Abs.
pH 4
pH 5,6
pH 7,2
Segundo as figuras 19 a,b,c e d percebe-se que o perfil espectral das
espécies pode ser caracterizado por : i) AC (pico duplo bem definido na
região de 300-400 nm e nenhum pico observável na região de 600 nm); ii)
AC + Fe(II) em pH 7,2 (pico único com ombro discreto na região de 300-
400 nm e pico largo duplo na região de 600 nm); iii) AC + Fe(II) em pH 5,6
(pico duplo bem definido na região de 300-400 nm e pico único
extremamente discreto na região de 600 nm), sugerindo que em meios
mais ácidos a complexação é desfavorecida ou ocorre mais lentamente.
Conforme o observado por Garcia, o espectro de absorção de soluções de
AC o oxidado, às quais foi adicionado ferro, mostram um pico discreto
na região de 600 nm [Garcia et al. 1996]. Shindo também reportou nesta
mesma região, um pico largo correspondente ao complexo Fe-catecol
[Shindo e Huang 1984]. A figura 19 d revela claramente que tal pico
aparece principalmente em um sistema contendo AC e ferro cujo pH é 7,2,
Fig. 19
d. Reimpressão dos dados das figuras 17 a, b e c em escala ampliada. Os
dados correspondem aos sistemas contendo Fe(II) (8 µmol/L), AC (80 µmol/L), e
Tampão Hepes/MES (8 mmol/L) em diferentes pHs.
54
sendo observada apenas uma formação exrtremamente reduzida em pH
5,6 ou 4,06. Tal fato está consistente com a proposta de que a formação
do complexo Fe(II)-AC é favorecida pela desprotonação do grupo catecol
após a desprotonação da carboxila.
A Fig. 20 representa a formação ao longo do tempo (medida a 604 nm),
de uma espécie que originalmente não estava presente em solução
aquosa de AC, formação esta iniciada pela adição de Fe(II) (o tempo zero
corresponde a leituras realizadas imediatamente antes da adição de íons
ferrosos). Neste ensaio as concentrações de AC e Fe(II) foram as
mesmas já descritas para a figura 18.
-0,020
0,000
0,020
0,040
0,060
0,080
0,100
0,120
0,140
0,160
0,180
0 0,17 1 15 30 60 105
Tempo de pré-incubação (min.)
Abs. (604 nm)
pH 7,2
pH 5,6
pH 4,0
Considerando o resultado da Fig. 20 e as observações de Garcia e
Shindo, sugere-se que a absorbância medida a 604 nm corresponde à
formação de um complexo Fe-AC através do sítio ligante catecol.
Conforme anteriormente mencionado, é interessante reiterar que a
Fig. 20
. Acompanhamento temporal da formação de espécie química a 604 nm.
Concentrações finais : Tampão Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2 e 5,6), Fe(II) (30
µmol/L) e AC (200 µmo
l/L). O curso temporal da reação foi acompanhado à
temperatura ambiente.
55
formação deste complexo parece ocorrer mais rapidamente em pH
levemente alcalino, provavelmente porque a desprotonação do AC gera
cargas eletrônicas delocalizadas ao longo de sua estrutura, facilitando a
interação do sitio ligante com cátions Fe(II). A inexistência de absorção
em pH 4,0 (pH da solução de AC puro), também está consistente com a
proposta de que em pH levemente alcalino, a complexação com íons
ferrosos é facilitada. Desta forma, propõem-se que a complexação Fe-AC
ocorra preferencialmente quando o AC se encontrar em sua forma bi-
desprotonada.
3.2.3 Efeito da temperatura de incubação
Curiosamente, incubando-se a 98º C a mesma reação descrita na figura
18, foi verificado um efeito pro-oxidante do AC. A Fig. 21 revela que em
pH 7,2 a presença de AC promove um incremento na oxidação da 2-DR
de cerca de 176% em relação ao controle sem AC.
0,847
0,389
0,473
1,306
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
1,400
1,600
pH 5,6 pH 7,2
Abs. (532 nm)
0 AC
200 umol/L AC
Fig. 21. Efeito da presença de AC na degradação da 2-
DR a 98ºC. Concentrações
finais : 2-DR (10 mmol/L), Tampão Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2 e 5,6), H
2
O
2
(100 µmol/L), Fe(II) (30 µmol/L). O peróxido foi adicionado após 15 minutos de pré-
incubação de AC e Fe(II) à temperatura ambiente. Após a adição de peróxido, todo
o sistema foi incubado à 98ºC por 20 minutos.
56
É notoriamente sabido que o aumento da temperatura favorece a
ocorrência de reações endotérmicas, podendo neste caso estar ocorrendo
paralelamente uma série de reações simultâneas responsáveis pelo
aumento da oxidação da 2-DR. Seria ainda possível a degradação térmica
da 2-DR, induzida por outras espécies geradas in situ. Entretanto, como
os sistemas controle sem AC forneceram valores consideravelmente
menores que aqueles com 200 µmol/L de AC, supõe-se de algum modo
ser o AC o responsável pelo “dano oxidativo extra”. Ressalta-se que os
controles utilizados foram iguais, tanto em reações à 37ºC quanto em
reações a 98ºC, em qualquer dos valores de pH.
Dimberg et al. utilizando ensaios de HPLC, relata que a quantidade de AC
presente em grãos de aveia decresce significativamente após
processamento térmico de grãos hidratados, por aquecimento em forno à
100º C por 10 minutos, processo este que simula o tratamento industrial
de aveia [Dimberg 1996]. Com base nestes resultados Dimberg e King
[King e Young 1999] propõem que o AC é sensível ao calor, podendo dar
lugar a produtos de sua decomposição térmica.
Hota et al, utilizando cnicas de eletrólise verificou que o número de
elétrons (n) envolvidos na oxidação de ácidos fenólicos aumenta
dramaticamente com o aumento do pH. Este resultado foi correlacionado
à possibilidade de formação de um radical semiquinona. Este radical, por
ser termodinamicamente estabilizado por estruturas de ressonância,
estaria em maior abundância, permitindo que reações de polimerização
envolvendo 4 elétrons, ocorressem preferencialmente [Hotta 2001].
Assim, é possível que o aumento da temperatura associado ao pH
alcalino, promova estas reações de dimerização ou polimerização. Porém
foi verificado em outros experimentos deste trabalho, que a presença de
ferro no sistema é de fundamental importância para o curso destas
prováveis reações e o conseqüente aparecimento do efeito pró-oxidante.
Neste sentido, duas soluções distintas de AC puro preparadas à 37ºC e à
98ºC, foram testadas em um ensaio de TBARS e em estudos
57
espectrofotométricos. As soluções de AC puro preparadas à 37º e a 98ºC
não apresentaram diferença significativa no espectro UV-VIS obtido.
Adicionalmente, ambas as soluções (AC preparado a 3 e a 98ºC),
quando utilizadas em um ensaio de TBARS à 37º C se mostraram
antioxidantes, não havendo diferença significativa entre os dois
resultados. Tais resultados indicam que não é a degradação térmica do
AC puro, a responsável pelo efeito pró-oxidante. Desta forma propõem-se
que AC e íons ferro a altas temperaturas sofram reações e modificações
estruturais tais que promovam o aparecimento do efeito pró-oxidante
observado.
Uma outra possível explicação para o comportamento pró-oxidante do AC
em altas temperaturas, além das reações de dimerização, é a ocorrência
de uma reação redox por meio de um mecanismo de esfera externa. O
Fe(II) presente no meio reacional ao ser oxidado pelo peróxido, produz
Fe(III) o qual se complexa com o AC. Neste mecanismo, ocorreria uma
transferência de elétrons aos íons férricos do complexo Fe(III)-AC,
formando-se então um complexo do tipo Fe(II)-AC. O Fe(II) presente
neste complexo, poderia de alguma forma participar da formação de
radicais hidroxil, embora em menor escala em relação à sua forma livre
(íons em solução).
A ocorrência desta reação redox por esfera externa, depende de uma
certa quantidade de energia requerida para levar os reagentes envolvidos
ao estado de transição (energia de ativação) [Mingos 1998]. Gerloch
menciona que esta energia de ativação está relacionada aos
comprimentos de ligação entre o metal e o ligante, sendo que geralmente
complexos de íons ferrosos tem ligações mais longas que àquelas de íons
férricos [Gerloch e Constable 1994]. Desta forma, estados de transição
onde os reagentes possuem comprimentos de ligação assimétricos
possuem energia de ativação mais alta, de modo que quanto maior a
diferença nestes comprimentos, maior a energia de ativação requerida
[Cotton e Wilkinson 1978].
58
Esta reação redox depende também de uma quantidade adicional de
energia requerida para rearranjar as esferas de solvatação dos
complexos, de modo a acomodar as novas dimensões dos mesmos
[Douglas et al. 1983] (a transferência de elétrons implica em mudança nas
dimensões dos íons envolvidos). Assim, quando se aquece o sistema
reacional a 98ºC, esta reação redox por esfera externa é grandemente
favorecida, justificando-se assim o grande efeito pró-oxidante verificado à
altas temperaturas.
3.2.4 Efeito da pré-incubação
A pré-incubação de AC com Fe(II) antes da adição de peróxido de
hidrogênio como iniciador da reação de Fenton, indica não haver variação
na habilidade protetora do AC com o tempo, a partir de 1 minuto (Fig. 22).
Neste estudo, foram utilizadas as mesmas condições relatadas na figura
16 e no ensaio de DR descrito no item materiais e métodos.
0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
0,800
1 30 105
Tempo de pré-incub. (min)
Abs. (532 nm)
pH 5,6 / AC 200
pH 7,2 / AC 200
pH 5,6 / AC zero
pH 7,2 / AC zero
Fig. 22. Efeito do tempo de pré-incubação sobre a degradação da 2-
DR.
Concentrações finais : 2-
DR (10 mmol/L), Tampão Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2 e
5,6), H
2
O
2
(100 µmol/L), Fe(II) (30 µmol/L). O per
óxido foi adicionado após cada
tempo de pré-incubação de AC e Fe(II) à temperatura ambiente. Após a ad
ição de
peróxido, todo o sistema foi incubado por 20minutos a 37ºC.
59
A pequena variação na proteção do AC observada com o incremento do
tempo de pré-incubação a partir de 1 minuto, pode sugerir que a reação
de complexação é bastante rápida em pH 7,2. Uma possível explicação
seria a de que todo o AC disponível para interagir com Fe(II) teria se
complexado antes de 1 minuto.
Tais resultados estão consistentes com aqueles descritos na figura 20,
onde não mais se observa incrementos na absorbância em 604 nm
(formação do complexo Fe-catecol) a partir de 1 minuto. Entretanto,
segundo os resultados da figura 20, seria esperado pequeno aumento no
poder antioxidante do AC em pH 5,6 com até 30 minutos de pré-
incubação, o que não foi verificado.
Considerando os resultados obtidos com a pré-incubação do ácido nico
AT, [Lopes et al. 1999], observou-se aumento no poder antioxidante da
molécula estudada em função do tempo de pré-incubação na presença de
íons ferro. Este estudo revela que a reação de complexação deste ligante
com íons ferro é significativamente lenta.
É importante notar que estes resultados de pré-incubação podem apontar
para a possibilididade de que o AC também esteja agindo como
seqüestrador de radicais. Se hipotéticamente considerarmos que a
complexação do AC com íons ferrosos é bastante lenta ou mesmo
inexistente, a proteção observada seria exclusivamente devida a
habilidade seqüestradora do AC, sendo portanto justificável o efeito
protetor independente do tempo de pré-incubação.
Outro ponto de interesse é o fato de que em pH 7,2 parece haver grande
influência do tampão na inibição da degradação da 2-DR especialmente
se considerada uma reação de longo curso (após 1 hora e 45 minutos de
pré-incubação apenas com tampão, a absorbância relativa ao dano
oxidativo na 2-DR cai cerca de 30%).
60
Tal resultado pode ser explicado pela possibilidade de um dos
componentes do tampão estar ligando ferro, ou funcionando como
seqüestrador de oxi-radicais .
Outra possibilidade é a de que o tampão esteja promovendo a
autoxidação de Fe(II), fazendo com que menor quantidade de íons
ferrosos estejam presentes para reagir com o peróxido de hidrogênio
adicionado posteriormente. Este efeito do tampão sobre as taxas de
autoxidação de Fe(II) foram também relatadas por Aust num estudo onde
se demonstrou que em pHs mais altos, a autoxidação é favorecida ao
longo do tempo [Aust et al. 2002].
3.2.5 Efeito dos íons Fe(III) sobre a degradação da 2-DR e sobre o AC
Considerando que Fe(III) pode exercer papel importante na formação de
EROs conforme discutido anteriormente, foi estudado o efeito destes
íons no sistema reacional e sua interação com o AC (Figuras 23a , b ).
Nas mesmas condições experimentais relatadas na figura 18, substituiu-
se o Fe(II) por cloreto férrico na concentração final de 30 µmol/L. Os
resultados revelam que :
a) Em sistemas contendo Fe(III) e peróxido de hidrogênio, a presença de
200 µmol/L de AC não demonstra proteção significativamente diferente
em relação aos controles sem AC (Fig. 23a). Cabe neste ponto
referenciar um estudo similar realizado com o composto polifenólico
verbascosídeo [Zhao et al. 2005]. Diferentemente do AC, o polifenol
verbascosideo foi capaz de inibir dano oxidativo ao DNA tanto em
presença de Fe(II) quanto Fe(III).
61
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
pH 7,2 pH 5,6
Abs. (532 nm)
0 AC
200 umol/L AC
b) O dano observado em sistemas contendo Fe(III) é significativamente
menor, quando comparado com sistemas clássicos de Fenton com
íons ferrosos nas mesmas condições experimentais (Fig. 23b). Tais
observações estão consistentes com a proposta das equações
anteriormente discutidas, que prevêem a geração de EROs a partir de
Fe(III), porém em escala menor que no sistema clássico de Fenton
com Fe(II).
Fig. 23a. Efeito do AC sobre a reação de degradação da 2-
DR promovida por Fe(III) e
peróxido de hidrogênio. Concentrações finais : 2-
DR (10 mmol/L), Tampão
Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2 e 5,6), H
2
O
2
(100 µmol/L), Fe(III) (30 µmol/L diluido
em 10mmol/L HCl). O peróxido foi adicionado após 15 minutos de pré-
incubação de
AC e Fe(III) à temperatura ambiente. Após a adição de peróxido a reação foi
incubada por 20minutos a 37ºC.
62
0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
pH 7,2 pH 5,6
Abs. (532 nm)
Sistema Fe(II)
Sistema Fe(III)
A fim de investigar o comportamento do AC em presença de íons Fe(III),
foi realizada uma varredura na região de comprimento de onda de
interesse, de um sistema contendo 8 mmol/L de tampão (pH 7,2), 80
µmol/L de AC, 8 µmol/L de Fe(III) e 800 µmol/L de EDTA (Fig. 24a).
Considerando que o sistema contendo Fe(III) tem coloração esverdeada,
prevê-se a formação de um complexo, o qual tenha absorção na região do
visível. Por esta razão a Figura 24b foi composta, sendo a mesma apenas
uma ampliação na escala dos mesmos dados descritos na figura 24a.
Fig. 23b. Comparação das reações de degradação da 2-
DR promovidas por peróxido
de hidrogênio e Fe(II) (Reação de Fenton) ou por Fe(III). Condições experimentais
idênticas às das figuras 18 e 23a.
63
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
0 200 400 600 800 1000
Comprim. Onda (nm)
Abs
Tampão + AC + FeIII
Tampão + AC + Fe(II)
Tampão + AC + FeIII +
EDTA
0,000
0,010
0,020
0,030
0,040
0,050
0,060
0,070
0,080
400 500 600 700 800
Comprim. Onda (nm)
Abs
Tamo + AC + FeIII
Tamo + AC + Fe(II)
Tamo + AC + FeIII +
EDTA
Fig. 24
a. Comparação do perfil espectral de sistemas contendo Fe(II) ou Fe(III).
Concentrações finais : Tampão Hepes/MES (8 mmol/L pH 7,2)
, Fe(III) (8 µmol/L
diluído em 10mmol/L HCl), AC (80 µmol/L), EDTA (800 µmol/L).
Fig. 24b. Reimpressão dos dados da figura 24
a em escala ampliada na região de
comprimento de onda de interesse.
64
Das figuras 24 a e b, observa-se que o espectro de soluções contendo AC
e Fe(III) é razoavelmente diferente daquele contendo Fe(II). Com base
nestes espectros, conclui-se que ocorre a formação tanto do complexo de
AC com Fe(II) quanto com Fe(III), sendo observados picos de absorção
dos complexos a 610 nm e 600 nm respectivamente. Cabe ressaltar que
apesar das concentrações de Fe(II) e Fe(III) serem idênticas nos dois
sistemas (8 µmol/L), as absorbâncias verificadas nos meios contendo
Fe(III) são cerca de metade daquelas referentes aos sistemas com Fe(II)
(Fig. 24b).
A comprovação da ocorrência do complexo com Fe(III) é fornecida
quando EDTA é adicionado ao meio reacional contendo Fe(III) e AC.
Neste caso, não se verifica o pico característico na região de 600 nm.
Estes dados demonstram que o EDTA é capaz de remover íons férricos
complexados previamente com AC, desfazendo o complexo originalmente
formado.
Das observações acima expostas, surgem duas possiveis explicações
para a ineficiência do AC em proteger a 2-DR contra danos oxidativos
quando em presença de íons Fe(III), quais sejam :
a) O AC reduz Fe(III), conforme já discutido no item 1.3.4.1 [ Deiana et al.
1995 ] e a forma oxidada deste polifenol não é capaz de complexar
eficientemente o Fe(II) gerado in situ, deixando-o livre para catalisar a
formação de oxiradicais. Neste caso haveria uma pequena atividade
pró-oxidante do AC quando em presença de íons férricos, que o
Fe(II) gerado in situ poderia participar de reações de Fenton
subseqüentes;
b) Mesmo complexado ao AC, os íons ferro são capazes de catalisar a
formação de radicais hidroxil. O complexo Fe(III)-AC poderia de
alguma forma sofrer reações de esfera externa, nas quais o AC
funcionaria como uma espécie de ponte para a transferência de
elétrons ao Fe(III). Através de seu sistema π conjugado, o AC poderia
65
estar promovendo a transferência de elétrons aos íons férricos por
meio de um mecanismo de esfera externa, resultando em um
complexo do tipo Fe(II)-AC. O Fe(II) deste último complexo, apesar de
menos suscetível a participar de reações de Fenton do que o próprio
Fe(II) livre, poderia ainda assim catalisar o formação de radicais
hidroxil.
3.2.6 Efeito da concentração de 2-DR e AC
A Fig. 25a mostra a variação no perfil de proteção do AC em função das
diferentes concentrações de 2-DR, molécula alvo da ação oxidativa dos
radicais hidroxil gerados in situ.
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
0 5 10 25
[DR] mmol/L
Abs. (532 nm)
200 umol/L AC
0 AC
Fig. 25a. Efeito da variação da concentração de 2-
DR. Concentrações finais :
Tampão Hepes/MES (20 mmol/L pH 7,2), H
2
O
2
(100 µmol/L), Fe(II) (30 µmol/L). O
peróxido foi adicionado após 15 minutos de pré-
incubação de AC e Fe(II) à
temperatura ambiente. Após a adição de peróxido a reação foi incubada por
20minutos a 37ºC.
66
Como o esperado verifica-se um aumento na degradação da 2-DR,
proporcional ao aumento da concentração deste açúcar no meio
reacional. No entanto, verifica-se adicionalmente que para uma mesma
concentração de AC (200 µmol/L), o percentual de proteção deste
polifenol decresce proporcionalmente ao aumento da concentração de 2-
DR, verificando-se que meios contendo 25 mmol/L de 2-DR apresentaram
uma proteção cerca de 27% menor que meios contendo 5 mmol/L (Fig.
25b).
69,6
74,2
53,9
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
5 10 25
[DR] mmol/L
% de proteção pelo AC
Tais resultados sugerem que o AC pode apresentar em sua ação
antioxidante uma componente seqüestradora de oxi-radicais. Este
comportamento não seria de todo inesperado, que a estrutura do AC,
conforme anteriormente discutido, é capaz de estabilizar por conjugação,
um possível radical fenoxil gerado pelo ataque de radicais hidroxil
diretamente ao AC.
Fig. 25b. Percentual de proteção oferecido pelo AC contra a degradação da 2-
DR em
diferentes concentrações da molécula alvo. Os dados correspondem àqueles
apresentados na figura 25a.
67
Se o AC funcionasse apenas como quelante de ferro, não haveria
diferença significativa no percentual de proteção em relação aos
controles, em diferentes concentrações da 2-DR. Neste caso, o AC não
estaria interferindo na reação entre oxiradicais e a 2-DR, e sim impedindo
a própria formação do radical e por conseguinte agindo antes da colisão
deste com a molécula alvo. Este é justamente o caso da PIH, conforme
verificado no já referido trabalho [Hermes-Lima et al. 2000].
Uma pequena ação seqüestradora do AC é relatada em ensaios da TEAC
[Rice-Evans et al. 1996]. Tal ensaio é comumente utilizado para medir a
capacidade de substâncias em seqüestrar oxi-radicais. Entretanto, neste
estudo observou-se que a atividade seqüestradora do AC, apesar de
existente, é significativamente menor que a de outras substâncias
análogas, como por exemplo ácido ferúlico, ácido p-cumárico, ácido 3,4-
dihidroxi-fenilacético. A atividade do AC também foi menor que a aquela
apresentada por flavonóides como catequina, quercetina, ácido gálico e
epigalocatequina galato (estes dois últimos, flavonóides
reconhecidamente seqüestradores de oxi-radicais). Neste sentido, em
outros estudos de TEAC [Kokhar et al 2003] sugere que características
estruturais de compostos com alta eficiência em ligar ferro são opostas às
características existentes em compostos com atividade seqüestradora de
radicais , exceto pela presença de grupos 3,4 dihidroxi, importantes tanto
para quelação quanto para a captura de radicais.
Considerando o exposto, sugere-se que o AC atue tanto como
seqüestrador de oxi-radicais quanto como quelante, sendo esta última no
entanto, a principal componente da atividade antioxidante do AC. Tal
observação está em bom acordo com as conclusões reportadas em
relação ao AT [Andrade et al 2005].
A Fig. 26 apresenta o comportamento do sistema em diferentes
concentrações de AC, mostrando que a eficiência deste polifenol em inibir
a degradação da 2-DR é dependente da concentração. Considerando três
diferentes meios reacionais contendo 5 mmol/L, 10 mmol/L e 25 mmol/L
68
de 2-DR, 100 µmol/L de AC foi capaz de inibir, respectivamente 57%, 54%
e 40% da reação de degradação em relação aos controles. Tais
resultados, corroborando aqueles descritos na figura 25b, demonstram
que quanto menor a concentração de 2-DR, maior a eficiência do AC em
inibir o dano oxidativo.
Com uma concentração apenas três vezes superior à concentração de
íons Fe(II) presentes no meio, o AC é capaz de reduzir o dano oxidativo à
2-DR em mais de 50% (considerando [PIH]=100 µmol/L, [Fe]= 30 µmol/L e
[DR]= 10 mmol/L). Comparando-se estes resultados com àqueles obtidos
em condições similares com um antioxidante clássico, a Desferoxamina
(DFO), percebe-se que a ação antioxidante do AC é também eficiente.
Em sistemas contendo concentrações idênticas de Fe(II) e peróxido de
hidrogênio, 100 µmol/L de DFO apresentou um percentual de inibição de
58% em relação aos controles [Hermes lima et al. 1999].
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0 50 100 200
[AC] umol/L
Abs. (532 nm)
5 mM DR
10 mM DR
25 mM DR
Fig. 26
. Efeito da variação da concentração de AC em diferentes concentrações de
2-DR. Concentrações finais : 2-
DR (5,10 e 25 mmol/L), Tampão Hepes/MES (20
mmol/L pH 7,2 e 5,6), H
2
O
2
(100 µmol/L), Fe(II) (30 µmol/L). O per
óxido foi
adicionado após 15 minutos de pré-
incubação de AC e Fe(II) à temperatura
ambiente. Após a adição de peróxido
a reação foi incubada por 20minutos a 37ºC.
69
4. CONCLUSÃO
Em relação à atividade antioxidante da PIH, verificou-se que a mesma
está inequivocamente relacionada à capacidade deste composto em
prevenir a redução de íons férricos a ferrosos.
Com base nos resultados obtidos verificou-se que esta capacidade diz
respeito à habilidade da PIH em remover íons ferro previamente
complexados a outros quelantes (por exemplo citrato, em meio fisiológico).
Por conseguinte a atividade antioxidante da PIH depende fortemente de:
a) tempo de pré-incubação da PIH com os íons Fe(III), uma vez que
maiores tempos de pre-incubação fornecem menores taxas de
redução do Fe(III) e conferem maior proteção contra danos oxidativos;
b) natureza do co-quelante de ferro, que foi verificado que esta
atividade antioxidante é tanto maior quanto menor for a afinidade do
co-quelante em relação à íons Fe(III);
c) concentração do co-quelante de ferro e sua proporção em relação aos
íons férricos, que proporções mais baixas permitem maior proteção
contra danos oxidativos.
Com base nestas observações experimentais, demonstra-se que o
mecanismo de ação antioxidante da PIH in vitro, se deve à sua habilidade
em se ligar à íons Fe(III), segundo a equação 11 :
2
)(2)( PIHIIIFeEDTAPIHEDTAIIIFe ++ (equação11)
e consequentemente impedir que as reações descritas nas equações de
7 a 10 tomem parte em sistemas nos quais íons Fe(III) e ascorbato
estejam presentes.
ascorbilEDTAIIFeAscorbatoEDTAIIIFe ++ )()( (equação 7)
++
22
)()( OEDTAIIIFeOEDTAIIFe (equação 8)
70
2222
22 OOHHO ++
+
(equação 9)
+++ OHOHEDTAIIIFeEDTAIIFeOH )()(
22
(equação10)
A similaridade e harmonicidade de comportamento da PIH quer seja como
inibidor da reação de oxidação do ascorbato, quer seja como inibidor da
formação de radical ascorbil ou da degradação da 2-DR, claramente
demonstram que a ação antioxidante da PIH se deve principalmente à
inibição da reação descrita na equação 7. Quanto menor taxa de
oxidação do ascorbato mediada por Fe(III), menor a concentração de
Fe(II) presente no meio reacional e por conseguinte, menor a extensão da
reação de Fenton e a conseqüente formação de radicais hidroxil.
Verifica-se que o complexo Fe(III)-(PIH)
2
formado é substancialmente
menos suscetível a sofrer redução, ou em outras palavras, a promover a
oxidação do ascorbato. Propõem-se então que tal característica se deve
ao fato de que ao ocupar todos os seis sítios ligantes do Fe(III) com
grupos funcionais de alta densidade eletrônica [Murphy 1985 e
Avramovici-Grisaru 1985], a PIH inibe a transferência de elétrons do
ascorbato para o íon rrico. Tal transferência somente ocorre a taxas
relevantes, em altas concentrações de acorbato.
No que diz respeito à atividade antioxidante do AC, verifica-se que este
composto é capaz de eficientemente inibir reações de degradação
oxidativa causada por espécies reativas de oxigênio, geradas via reações
de Fenton.
Em caráter hipotético propõe-se que tal atividade antioxidante possa ser
explicada pela capacidade do AC em complexar Fe(II), e
subsequentemente ser atacado pelo radical hidroxil antes que este ataque
a 2-DR ou qualquer outro substrato oxidável. Assim, as seguintes reações
descritas nas equações 17, 18 e 19 poderiam estar acontecendo :
71
Fe(II) + AC Fe(II)-AC (equação 17)
Fe(II)-AC + H
2
O
2
Fe(III)-AC + HO
+ OH
-
(equação 18)
Fe(III)-AC + HO
Fe(III)-AC
+ OH
-
(equação 19)
Tal proposta encontra paralelo nas proposições de Andrade e Ginani, em
estudos com os polifenóis AT e AE respectivamente (Andrade et. al 2005
e Ginani 2005). Porém para o aprofundamento de tal proposta seria
necessário um estudo adicional envolvendo a caracterização do radical
AC em presença de 2-DR ou outro substrato oxidável alvo dos radicais
hidroxil.
Outra possível explicação para a atividade antioxidante do AC seria a de
que ela se deve em especial à capacidade deste composto em formar
complexos estáveis com cátions de ferro, os quais, semelhantemente ao
já discutido para a PIH, se tornam inaptos a participar da reação de
Fenton.
Adicionalmente, propõem-se que a complexação do AC com íons ferro é
fortemente influenciada pela desprotonação do grupo catecol e carboxila ,
uma vez que a eficiência do AC em inibir reações de degradação oxidativa
depende em grande escala do pH do meio reacional. O seguinte esquema
é então sugerido :
a) ACH
2
: não ocorre complexação;
b) ACH
-
: não ocorre complexação ou a mesma é lenta ou com
interações fracas;
c) AC
2-
: ocorre complexação efetiva envolvendo o grupo catecol.
Com base no aparecimento de um pico na região de 604 nm para
sistemas ferro-AC, propõem-se que a complexação ocorra no sítio catecol.
No entanto não pode ser descartada a possibilidade de estar sendo
formado um quelato bidentado envolvendo uma hidroxila fenólica
desprotonada e o grupo carboxilato, ou mesmo um mecanismo de
72
complexação nica envolvendo apenas a carboxila. Os resultados
apontam também para uma maior afinidade do AC por íons Fe(II), que
nenhuma proteção significativa foi observada em reações de Fenton
induzidas por íons Fe(III) (em presença de íons Fe III, o AC não se
mostrou eficiente em prevenir danos oxidativos à 2-DR).
Verificou-se também um comportamento pro-oxidante do AC em altas
temperaturas de incubação da reação de Fenton (9C), provavelmente
devido à degradação térmica do AC induzida por íons ferro. Tal fato
poderia ser também causado pela capacidade do AC em reduzir íons
férricos [Deiana et al. 1995] gerados in situ pela ação do peróxido de
hidrogênio, possibilitando assim a reciclagem de Fe(II) e conseqüente
dano adicional por reação de Fenton.
É possível que a reação de dimerização do AC anteriormente referida, em
função dos 4 elétrons envolvidos poderia de algum modo provocar a
redução de Fe(III), o qual em presença de H
2
O
2
poderia novamente gerar
radicais hidroxil via Fenton. Desta forma, em um meio reacional à altas
temperaturas, as seguintes reações poderiam estar ocorrendo
simultaneamente, levando a um ciclo redox, expresso pelas equações 20,
21, 22 e 9:
Fe(III) +AC Fe
2+
+ AC (forma oxidada inapta a ligar íons ferrosos) (equação 20)
Fe(II) + O
2
Fe(III) + O
2
-
(equação 21)
2O
2
-
+ 2H
+
H
2
O
2
+ O
2
(equação 9)
Fe(II) + H
2
O
2
Fe(III) + HO
+ OH
-
(equação 22)
Além de das reações descritas nas equações 23 e 24 :
Fe(III) + H
2
O
2
Fe(II) + O
2
-
+ 2H
+
(dependente do ligante de ferro) (equação 23)
H
2
O
2
+ O
2
-
O
2
+ OH
-
+ HO
(equação 24)
73
Uma outra alternativa mais provável para explicar o comportamento pró-
oxidante do AC em altas temperaturas, é a ocorrência de uma reação
redox por meio de um mecanismo de esfera externa. Neste mecanismo,
ocorreria uma transferência de elétrons aos íons rricos, formando-se um
complexo do tipo Fe(II)-AC. O Fe(II) presente neste complexo, apesar de
menos suscetível a participar de reações de Fenton do que o próprio
Fe(II) livre, poderia ainda assim catalisar o formação de radicais hidroxil.
Considerando que a transferência de elétrons por meio de mecanismos de
esfera externa possuem uma consideravel energia de ativação, justifica-se
o grande efeito pró-oxidante quando o sistema é aquecido a 98ºC.
Este mecanismo explicaria inclusive o comportamento ineficiente do AC
em proteger a oxidação da 2-DR diante de íons Fe(III), que o complexo
Fe(II)-AC formado nesta transferência de elétrons poderia propiciar uma
pequena formação de oxiradicias.
Por fim, propõe-se neste trabalho que as condições de preparo das
soluções estoque de AC bem como as condições reacionais, não são fator
trivial no que diz respeito ao estudo das propriedades deste polifenol. Na
literatura existente, a maior parte das referências bibliográficas sequer
menciona a forma e as condições de preparo de soluções de AC.
Considerando que o AC é :
a) razoavelmente insolúvel em água pura (solubilidade em etanol a
quente é de 50 mg/mL conforme Merck Index, 12th ed., #1673);
b) sensível a variações de pH (além do efeito do pH relatado neste
trabalho, estudos preliminares do AC em nosso laboratório revelam
que quando o mesmo é preparado em meio básico adição de NaOH
1 mol/L para propiciar solubilização – a capacidade antioxidante é
bastante diminuída);
c) sensível a grandes variações de temperatura em presença de íons
ferro.
74
propomos que as propriedades deste polifenol é grandemente afetada
pela forma de preparo de suas soluções, sendo necessário um estudo
mais criterioso a respeito, especialmente no que concerne ao seu
comportamento frente a íons de ferro em altas temperaturas.
75
5. BIBLIOGRAFIA
Adlercreutz H. e Mazur W. Phitoestrogens and western diseases. Ann Med
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Andrade Jr. R.G. Mecanismos de ação antioxidante e pró-oxidante do
polifenol AT na presença de íons cobre. Dissertação de
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