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Identifico-me em especial com esta situação, acredito que todas as perguntas
tenham sido respondidas, em algum tempo, em algum lugar, e que portanto as
respostas não sejam encontradas só na releitura do cânone, de novo e sempre, mas na
busca do que é diferente, e na sua aplicação para o que é usual. Em outras palavras,
acredito ser essa a busca da tradução, não a perfeição, não um ideal de equivalência,
mas o pouco que possamos transportar até aqui, até hoje. Sem procurar transformar o
outro em nós mesmos, ou o oposto. Mais por uma vontade de continuar um processo,
um estudo, que atingir uma verdade. Em conversa informal, Maria Tymoczko diria,
com desculpas a possíveis falhas em minha interpretação: “Interessante, sobre os
estudos medievais, é que nunca paremos de aprender línguas”.
A Idade Média, nome bastante apropriado, é uma conexão, uma encruzilhada
de muitos caminhos, que tanto se tenta reduzir ao hoje, como conseqüência direta,
mas é provavelmente em nossa limitação que deixamos de compreendê-la, pois trata-
se de objeto tão mais abrangente.
É em um retrato incompleto que resumo meu trabalho, um retrato incompleto
dentre tantos outros, com imensas dificuldades. Em tantos outros trabalhos sobre essa
Idade, e em alguns especificamente sobre essa pequena batalha de Maldon, vi ainda os
aspectos dessa transição serem reduzidos a conceitos contemporâneos de crença,
tradição e nação. Procuro mostrar, um pouco mais, sobre como reduzimos,
esquecemos, freqüentemente na tradução, este objeto em função do óbvio de “nosso”
tempo, encerrado em um padrão então inexistente. Aprendi a ler o texto medieval
germânico em parte de sua simbólica simplicidade e escolhi um breve texto para
demonstrá-la. Procurei estudar suas línguas, sua poética, seu contexto e reproduzí-los,
no melhor de minha habilidade. O Brasil também ficou marcado pela mesma transição
inacabada da Idade Média, que não ocorreu aqui, mas resultou aqui.
Escolho um poema um tanto ignorado para uma tradução comentada, um
poema que, entretanto chamaria a atenção de poucos e grandes especialistas como
Scragg ou Tolkien. Maldon possui certo atrativo: compõe o seleto grupo de poemas
tradicionais de guerra, um gênero sem equivalente nas demais línguas indo-européias,
exceto pelo galês e gaélico, conhecido por representações vívidas e diálogos (embora
este não seja exatamente o caso), reforçados em sua simplicidade em padrões de
versificação, estrutura e dicção. Sua simbologia e padrões de conduta são, no entanto
mais complexos, aqui intercambiados e mesclados a valores cristãos e continentais. O
poema em si talvez não seja difundido, mas alguns de seus temas recorrem e ecoam