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MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA
CURSO DE MESTRADO EM ZOOLOGIA
AVALIAÇÃO DE CINCO MÉTODOS DE CAPTURA DE
LAGARTOS EM DIFERENTES AMBIENTES NA
AMAZÔNIA.
Marco Antônio Ribeiro Júnior
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
Zoologia, Curso de Mestrado, do
Museu Paraense Emílio Goeldi e
Universidade Federal do Pará
como requisito para obtenção do
grau de mestre em Zoologia.
Orientadora: Dr
a
. Teresa
Cristina Sauer de Ávila Pires.
Belém, Pará
2006
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2
Marco Antônio Ribeiro Júnior
AVALIAÇÃO DE CINCO MÉTODOS DE CAPTURA DE LAGARTOS EM DIFERENTES
AMBIENTES NA
AMAZÔNIA.
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
Zoologia, Curso de Mestrado, do
Museu Paraense Emílio Goeldi e
Universidade Federal do Pará
como requisito para obtenção do
grau de mestre em Zoologia.
Orientadora: Dr
a
. Teresa
Cristina Sauer de Ávila Pires.
Belém, Pará
2006
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3
LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN
4
Dedico este trabalho ao mestre e pesquisador
Toby Alan Gardner
5
Agradecimentos
Ao Museu Paraense Emílio Goeldi por proporcionar este trabalho, além de exercer papel
fundamental em minha formação como Zoólogo.
À CAPES, pelo apoio financeiro através da bolsa cedida.
À Jari Celulose S.A. e grupo ORSA FLORESTAL pela logística fornecida para execução deste
trabalho.
Pelo apoio financeiro, University of East Anglia, Natural Environment Research Council e Darwin
Initiative.
A Marinus Hoogmoed, Maria Cristina dos Santos Costa e Ana Lúcia da Costa Prudente pelas
sugestões dadas no projeto de qualificação deste trabalho.
À turma de mestrado em zoologia do MPEG pelo companheirismo e ajuda nestes dois anos.
Aos velhos amigos, que sem dúvida são MINAS de apoio e ajuda constante. Agradecimentos
GERAIS faço a todos. Vocês estiveram longe neste período, mas nunca saíram de mim.
Às secretárias da pós-graduação, Anete, por me ajudar a rir mesmo em processos burocráticos, e
Dorotéa, pela ajuda e carinho. Vocês foram essenciais neste período.
Aos amigos que de alguma forma contribuíram para este trabalho, Juliana, Alessandro, Sidclay,
Flávio, Ana Lima, Janaína, Nora e Jos.
Aos pesquisadores e companheiros dos 5 meses em campo, Jos, Sandra, Rafael, Edivar, Luis, Luke
e Toby, pela amizade, paciência, momentos de descontração e por fazer este longo período se tornar
pequeno e inesquecível.
Aos amigos Daniela, Danni, Juliana, Ana, David e Nancy pelo ombro cedido nos momentos em
que nada mais fazia sentido.
A Toby Alan Gardner pela ajuda “constante e interminável” na realização deste trabalho,
companheirismo e paciência em campo, ajuda com as análises, texto, e principalmente por ser um
grande amigo. Sem sua ajuda esta dissertação não existiria hoje.
A minha família pelo apoio e incentivo a esta louca jornada a vida amazônica.
Aos amigos e colegas de mestrado David Candiani e Ana Lima por absolutamente TUDO. Vocês
foram essenciais neste período me ajudando a rir, trabalhar, melhorar, ser forte, não ter medo de
chorar, caminhar, começar, e não mais parar. Obrigado, este trabalho se deve em grande parte ao
incentivo e carinho de vocês.
À minha orientadora TC pela paciência, confiança e respeito. Você se tornou pedra fundamental em
meu futuro como exemplo de profissionalismo, sensibilidade e dedicação.
E principalmente aos meus pequenos brilhantes, Breno e Felipe, por acharam sempre o máximo a
vida de um biólogo, tornando meu coração mais leve e completo.
6
Sumário
Capítulo 1 – Comparação entre métodos de captura de lagartos em diferentes ambientes na
Amazônia.
Resumo ………………………………………………………………………. vii
Abstract ……………………………………………………………………… viii
1)
Introdução ………………………………………………………………….. 1
1.1) Objetivos …………………………………………………………………….. 10
1.1.1) Objetivo geral ……………………………………………………………….. 10
1.1.2) Objetivos específicos ………………………………………………………...
10
2)
Materiais e métodos ………………………………………………………... 12
2.1) Área de estudo ………………………………………………………………. 12
2.1.1) Relevo e geologia da área ................................................................................ 14
2.1.2) Clima ................................................................................................................ 14
2.1.3) Vegetação ......................................................................................................... 15
2.1.4) Histórico de ocupação da área ......................................................................... 20
2.2) Metodologia ..................................................................................................... 21
2.3) Análise dos dados ............................................................................................ 27
2.3.1) Riqueza de espécies registrada por cada método nos diferentes ambientes .... 27
2.3.2) Abundância das espécies registrada por cada método nos diferentes
ambientes ......................................................................................................... 27
2.3.3) Sucesso de captura dos métodos nos três ambientes ....................................... 28
2.3.4) Gastos por unidade de esforço e espécime capturado....................................... 29
2.3.5) Seletividade (complementaridade) na amostragem de cada método ............... 30
2.3.6) Registro de espécies por cada método em períodos menores de amostragem.. 30
2.3.7) Diferença entre o tamanho dos espécimes capturados por cada método …..... 31
2.3.8) Taxa de mortalidade ………………………………………………………….
31
3)
Resultados ....................................................................................................... 32
3.1) Riqueza de espécies registrada por cada método nos diferentes ambientes .... 34
3.2) Abundância das espécies registrada por cada método nos diferentes
ambientes ......................................................................................................... 38
3.3) Sucesso de captura dos métodos nos três ambientes ....................................... 44
3.4) Gastos por unidade de esforço e espécime capturado....................................... 48
3.5) Seletividade (complementaridade) na amostragem de cada método ............... 50
3.6) Registro de espécies por cada método em períodos menores de amostragem.. 56
3.7) Diferença entre o tamanho dos espécimes capturados por cada método ......... 61
3.8) Taxa de mortalidade ………………………………………………………….
61
4)
Discussão .........................................................................................................
63
5)
Conclusões ......................................................................................................
69
6)
Referências bibliográficas ............................................................................. 71
Apêndice ........................................................................................................... 79
7
Sumário
Capítulo 2 – A influência da localização das armadilhas de cola no sucesso de captura de
lagartos na Amazônia.
Resumo……………………………………………………………………… 83
Abstract……………………………………………………………………... 84
1)
Introdução..………………………………………………………………... 85
1.1) Objetivos…..………………………………………………………………... 87
1.1.1) Objetivo geral...……………………………………………………………... 87
1.1.2) Objetivos específicos...………………………………………………………
87
2)
Materiais e métodos……...………………………………………………… 89
2.1) Área de estudo…...………………………………………………………….. 89
2.2) Metodologia..................................................................................................... 89
2.2.1) Riqueza e abundância das espécies nos registros de armadilhas de cola em
matas secundária e primária, e sucesso de captura do método em diferentes
substratos.........................................................................................................
89
2.2.2) Sucesso de captura das armadilhas de cola por ambientes e microambientes
em mata primária............................................................................................. 91
2.3) Análise dos dados............................................................................................
92
3)
Resultados...................................................................................................... 94
3.1) Riqueza e abundância das espécies nos registros de armadilhas de cola em
matas secundária e primária, e sucesso de captura do método em diferentes
substratos......................................................................................................... 94
3.2) Sucesso de captura das armadilhas de cola por ambientes e microambientes
em mata primária.............................................................................................
100
4)
Discussão........................................................................................................
102
5)
Conclusões......................................................................................................
107
6)
Referências bibliográficas............................................................................. 109
8
CAPÍTULO 1
COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE CAPTURA DE LAGARTOS EM
DIFERENTES AMBIENTES NA
AMAZÔNIA.
9
Resumo
Devido à necessidade de se obter bons inventários compreendendo eficientes listas de
riqueza, abundância e composição da diversidade faunística de uma determinada região,
estudos sobre o sucesso de metodologias de captura se tornam imprescindíveis. Embasado
nesta necessidade foram comparadas a eficiência de cinco métodos de captura de lagartos,
sendo eles armadilha de interceptação e queda (AIQ) com baldes de 35 l, AIQ com baldes
de 62 l, armadilhas de cola, armadilhas de funil e transeção (coleta ativa delimitada por
tempo-espaço), no período de janeiro a junho de 2005, na área pertencente à Jari Celulose
S.A., localizada no município de Almeirim, norte do estado do Pará. As cinco técnicas
foram aplicadas em três ambientes, sendo monocultura de eucalipto, mata secundária e
primária, contando com cinco réplicas para cada ambiente. Com um esforço total de 2.100
estações.noite de AIQ de 35 l, 630 estações.noite de AIQ de 62 l, 3.324 armadilhas.noite de
cola, 4.900 armadilhas.noite de funil e 150 horas.homem de transeção, foram registrados
1.472 lagartos pertencentes a 29 espécies em toda a área da Jari, sendo 11 espécies em
eucalipto, 15 em mata secundária e 25 em mata primária. Em comparação padronizada por
números de indivíduos coletados as AIQ de 35 l e 62 l apresentaram a maior riqueza de
espécies registrada em todos os ambientes. Quanto à abundância relativa das espécies
capturadas as armadilhas de cola e funil registraram predominantemente uma espécie,
enquanto as AIQ apresentaram uma melhor distribuição dos indivíduos por espécie
capturada nos três ambientes. As famílias Gymnophthalmidae e Teiidae foram melhor
registradas pelas AIQ, enquanto que lagartos arborícolas ou semi-arborícolas
(Polychrotidae) foram mais coletados pelas armadilhas de cola. Quando comparados os
sucessos de captura de um mesmo método entre plantação de eucalipto, mata secundária e
primária, as AIQ de 35 l apresentaram sucesso similar entre os ambientes, enquanto as AIQ
de 62 l e armadilhas de funil apresentaram sucesso de captura maior em plantação de
eucalipto, e armadilhas de cola e transeção em ambientes de mata. Porém quando o sucesso
por unidade de captura foi comparado em um mesmo ambiente uma hora.homem de
transeção se mostrou a unidade mais eficiente, assim como o melhor retorno com relação
ao custo/benefício por unidade de captura e espécime capturado. As AIQ de 35 l e 62 l não
apresentaram diferenças quanto à porção capturável da comunidade em todos os três
ambientes, obtendo uma composição similar de registros. As armadilhas de cola obtiveram
registros complementares às AIQ, com uma composição da comunidade registrada
diferente. O tamanho do balde das AIQ não influenciou no registro de lagartos, obtendo
riqueza de espécies, abundância e composição da comunidade similares em todos os
ambientes, porém as AIQ de 35 l apresentaram custo por unidade de captura e espécime
coletado menor que as AIQ de 62 l. No caso de um inventário de curta duração (AER) as
AIQ de 35 l apresentaram as maiores riqueza de espécies registradas em todos os
ambientes, sendo esta técnica aconselhada para uma Avaliação Ecológica Rápida. As
armadilhas de funil registraram os maiores lagartos, enquanto que as transeções os
menores. Quanto à taxa de mortalidade apresentada pelos métodos, as armadilhas de cola
obtiveram os maiores valores, sendo aconselhada a revisão das armadilhas mais de uma
vez ao dia a fim de diminuir a perda de exemplares. Através deste trabalho pretende-se
fornecer subsídios para futuros planejamentos de inventário de lagartos, assim como
auxiliar planos de manejo para o grupo.
Palavras-chave: métodos de captura; Reptilia; lagartos; Amazônia.
10
Abstract
An understanding of the performance of different sampling techniques is an essential pre-
requisite for effective biodiversity surveys concerned with measuring patterns of species
richness, abundance and community composition. The aim of this study was to compare
the effectiveness of five potentially complementary sampling methods for neotropical
forest lizards, namely 35l pitfall trap stations, 62l pitfall trap stations, glue traps, funnel
traps and time constrained transect searches. The study was conducted in the region of Jari,
Pará, Brazil between January and June 2005. All five sampling methods were tested in
three forest types comprising primary, secondary and plantation (Eucalyptus) forests, with
five spatially independent sites in each habitat. With a total effort of 2,100 trap nights for
35 l pitfalls, 630 trap nights for 62 l pitfall trap stations, 3,324 glue trap nights, 4,900
funnel trap nights and 150 man-hours of transect searches, 1,472 lizards were captured,
registering 29 species, with 11 species in Eucalyptus plantations, 15 in secondary forest
and 25 in primary forest. Standardizing for differences in abundance 35l and 62l pitfall
trapping stations captured the greatest number of species. Glue traps and funnel traps were
effective only at capturing a limited number of species, thus presenting an uneven species-
abundance distribution. In contrast, 35l and 62l pitfall trapping stations were effective at
capturing many more species, thereby providing a less biased description of abundance
distributions among species. The majority of lizards from the families Gymnophthalmidae
and Teiidae were recorded from pitfall traps, whilst the majority of arboreal and semi-
arboreal (Polychrotidae) were captured in glue traps. Comparing the capture success of the
same method across different forest types, 35l pitfall stations were equally effective in all
habitats, 62l pitfall stations and funnel traps were slightly more effective in Eucalyptus
plantations, whilst glue traps and transect searches in forest sites. Comparing the overall
trap success of each method for a single unit of trapping effort, one trap station night
(transect search) was the most cost-effective method. With respect to patterns of species
composition, trapping stations of both 35l and 62l pitfalls recorded similar lizard
communities in each forest type. Glue traps were highly complementary to the pitfall
trapping stations, with a different community registered. There was no difference in
species richness, abundance or community composition recorded from using 35l or 62l
pitfall trapping stations. For the purposes of rapid biodiversity assessments (RAP), this
study recommends that 35l pitfall trap arrays are used as the most effective method
available for capturing the greatest richness of lizards in the minimum amount of time. In
general funnel traps captured larger lizards whilst transects recorded small animals.
Individual mortality was highest in glue traps, although this problem could be reduced if
traps were checked more than once a day.
Key-words: sampling methods; Reptilia; lizards; Amazonia.
11
1) Introdução
A Floresta Amazônica ocupa cerca de 60% do território brasileiro, com uma área de
aproximadamente seis milhões de km
2
, sendo a maior floresta tropical do mundo
(CAPOBIANCO, 2002). Sua vegetação compreende um mosaico de fitofisionomias,
consistindo de florestas de terra firme, várzea e igapó, além de formações abertas, como
campinas e cerrado. Essa riqueza estrutural é em grande parte responsável pela diversidade
da fauna da região (VITT, 1996). Mas essa diversidade ainda é subamostrada, como é
demonstrado nas várias contribuições em CAPOBIANCO et. al. (2001).
O grupo das aves é tido como o mais bem estudado na Amazônia brasileira, OREN
(2001) encontrou 247 pontos de inventários com um número mínimo de 100 espécimes
capturados no local. A partir do mapeamento desses pontos, o autor identificou o sul do
estado do Maranhão, todo o estado do Tocantins, os médios e altos cursos dos rios de
médio e pequeno porte da Bacia Amazônica, o escudo das Guianas e todo o arco do
desmatamento ao sul da Floresta Amazônica como áreas com lacunas de informação para
aves. Para mamíferos,
SILVA et. al. (2001) verificaram que as coletas estão associadas aos
cursos do Rio Amazonas e seus principais afluentes, sendo deficiente em praticamente
todas as regiões de interflúvios. Os anfíbios foram enfocados por A
ZEVEDO-RAMOS &
GALATTI (2001), os quais listaram 29 localidades inventariadas em tempos recentes, sendo
que destas somente 13 corresponderam a inventários com duração superior a dois meses.
Das 163 espécies de anfíbios registradas, somente cinco ocorreram em mais de 80% das
localidades, indicando a alta diversidade beta desse grupo e a impossibilidade de se
generalizar inventários de poucas localidades.
Da mesma forma que para os demais grupos, estudos de répteis na Amazônia ainda
são muito incompletos (VOGT et. al. 2001). Os jacarés e parte dos quelônios, por serem
12
pouco diversos e tradicionalmente consumidos pelas populações locais, são os grupos mais
bem conhecidos. Entre os Squamata, os lagartos são o grupo mais bem estudado. ÁVILA-
PIRES (1995), com uma revisão sistemática e de distribuição dos lagartos, trouxe um
grande avanço para o estudo desse grupo no bioma amazônico brasileiro e países
limítrofes. Uma análise mesmo que superficial dos mapas de distribuição apresentados
nesse trabalho deixam claro, contudo, que as mesmas lacunas de amostragem apontadas
para outros grupos existem para os lagartos. Todos esses estudos evidenciam o quanto falta
para se conhecer um ecossistema tão dinâmico e com dimensões continentais como o
Amazônico.
CAPOBIANCO (2002) apontou a definição de planos de ação e linhas de pesquisa em
inventários faunísticos como os melhores recursos para o conhecimento, preservação e
conservação da biodiversidade. Estes programas fornecem a sustentação para a pesquisa
aplicada, e servem de base para o entendimento da composição das comunidades
biológicas e dos relacionamentos evolutivos entre os grupos. Coleções provindas de
materiais de inventários, além disso, são essenciais para outros estudos, como importantes
fontes de informação biológica (A
CEVEDO et. al. 2005). Segundo o MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE (2002), novos levantamentos na região amazônica são inadiáveis, sendo
imprescindíveis planos estratégicos para a sua execução, incluindo análise de metodologias
eficientes.
Tradicionalmente os répteis são amostrados através de coleta ativa, buscando-se nos
ambientes mais propícios ao seu encontro. C
ORN & BURY (1990) e VANZOLINI &
PAPAVERO (1967) aconselharam a procura minuciosa dos espécimes em troncos caídos e
pedras, revirando-os, além de olhar embaixo de cascas de árvores, bromélias, folhiço,
forquilhas de árvores e arbustos, buracos no solo, margens de brejos e cursos d’água.
Contudo, apesar de ainda ser o método que permite uma amostragem mais ampla dos
13
répteis de uma área, é extremamente dependente da habilidade e experiência do coletor.
Isso dificulta estudos comparativos e limita as possibilidades de coleta. Com a crescente
necessidade de bons inventários em períodos relativamente curtos, e de dados quantitativos
que permitam comparar diferentes áreas ou ambientes, ampliou-se a busca por armadilhas
que se mostrem eficientes em projetos de inventários.
Apesar da existência de catálogos gerais de metodologias de captura de répteis
(CORN & BURY, 1990; FRANCO et al., 2002; LEMA & ARAUJO, 1985; MANZANILLA &
JAIME, 2000; VANZOLINI & PAPAVERO, 1967), e trabalhos que comparam a eficiência de
alguns métodos (BURY & CORN, 1987; BURY & RAPHAEL, 1983; CAMPBELL & CHRISTMAN,
1982; CROSSWHITE et al., 1999; DOAN, 2003; ENGE, 2001; GIBBONS & SEMLITSCH, 1981;
GREENBERG et al., 1994; HOBBS et al., 1994; JONES, 1986; JORGENSEN et al., 1998; RICE et
al., 1994; RYAN et al., 2002; SUTTON et al., 1999; THOMPSON et al., 2005; VOGT & HINE,
1982) poucos são os que padronizam e quantificam a eficiência de diferentes métodos de
captura. O que se tem visto é que nenhuma técnica é suficiente para amostrar todos os
ambientes, buscando-se então combinar diversas técnicas (CORN & BURY, 1990;
C
ROSSWHITE et al., 2004; THOMPSON et al., 2005).
A armadilha mais usada em levantamentos herpetofaunísticos é a de interceptação e
queda (pitfall trap with drift-fence). Ela consiste em baldes enterrados ao nível do solo,
unidos por cercas-guia, onde o animal pode se deparar, alterando seu curso em direção ao
balde, onde espera-se que caia. Os baldes podem ser de plástico ou latão, e variam de
volume de acordo com o trabalho. O número e a distância entre eles dependerá dos
objetivos do trabalho e da área. C
AMPBELL & CHRISTMAN (1982) indicaram a distância
mínima de 100 m entre uma estação e outra, a fim de torná-las independentes. Segundo
CECHIN & MARTINS (2000) e CROSSWHITE et. al. (1999) quanto maior o balde, maiores as
chances de se registrar répteis de grande porte, como quelônios, serpentes de médio porte e
14
lagartos maiores. RICE et al. (1994) afirmaram que o uso de cercas-guia unindo os baldes
potencializa a eficiência da armadilha (Figura 1). Elas podem ser feitas de diversos
materiais, como metal e lonas plásticas, podendo ser usadas em várias combinações,
variando desde a formação de uma linha reta, em formato de cruz, em L , em Y ou em
círculo, em torno de pequenos lagos, poças permanentes ou provisórias (DODD, 1991). Há
também cercas próprias para ambientes aquáticos ou pantanosos, feitas de tela de
polipropileno (silt fencing), mas que oferecem a desvantagem de serem de fácil escalada
por animais que possuem esse hábito (ENGE, 1997). BURY & CORN (1987) encontraram
que cercas-guia maiores que 15 m de comprimento proporcionam uma eficiência maior do
método. Porém CAMPBELL & CHRISTMAN (1982), GREENBERG et al. (1994), HOBBS et al.
(1994) e JORGENSEN et al. (1998) sugeriram a utilização de cercas-guia com comprimento
entre 5 – 7 m, proporcionando maior eficiência ao método.
A
B
Figura 1 – Esquema de uma estação de armadilha de interceptação e queda (A – vista de
cima; B – vista em perspectiva). Os baldes ficam enterrados com a boca ao nível do solo.
Para evitar que alguns animais que tenham caído no balde consigam sair por
escalada, BURY & RAPHAEL (1983) sugeriram o uso de uma borda na boca do balde.
CECHIN & MARTINS (2000) aconselham que os baldes devam ser furados no fundo para que
15
a água da chuva não se acumule dentro deles, evitando a morte de indivíduos por
afogamento.
A eficiência das armadilhas de interceptação e queda é voltada para espécies que
vivem na serrapilheira, que se deslocam pelo chão, ou até mesmo para animais que se
alimentam preferencialmente de artrópodes da liteira (insetívoros) (BURY & CORN, 1987;
FRANCO et al., 2002; GREENBERG et al., 1994). Não são úteis para amostrar espécies
arborícolas ou fossoriais (CROSSWHITE et. al. 1999), ainda que eventualmente algumas
dessas espécies possam ser capturadas nas armadilhas. Essa técnica tem sido utilizada em
estudos buscando determinar a riqueza de uma área, a presença de espécies raras, assim
como estimar a abundância e determinar o habitat de cada espécie (BURY & RAPHAEL,
1983; GEENBERG et al., 1994; RICE et al., 1994; RYAN et al., 2002). SHIELDS (1985)
sugeriu o uso desse tipo de armadilha em projetos de monitoramento ambiental de longo
prazo, tendo em vista que, além de possuir um baixo custo de manutenção, proporciona
recapturas em um mesmo ambiente, fornecendo dados de densidade e flutuações
populacionais. Alguns trabalhos relatam a eficiência do uso da armadilha de interceptação
e queda associada à cercas-guia em levantamentos da herpetofauna para uma determinada
região (B
URY & CORN, 1987; CAMPBELL & CHRISTMAN, 1982; CECHIN & MARTINS, 2000;
C
ROSSWHITE et. al., 1999; CROSSWHITE et. al., 2004; DODD, 1991; ENGE, 2001; GIBBONS
& BENNETT, 1974; GREENBERG et. al., 1994; HOBBS et al., 1994; JORGENSEN et. al., 1998;
RICE et al., 1994; RYAN et al., 2002; SHIELDS, 1985; SUTTON et al., 1999; THOMPSON et
al., 2005).
Outro tipo de armadilha utilizada é a do tipo funil (funnel trap), que consiste num
tubo de plástico ou metal, com uma ou duas entradas em forma de funil para o interior do
tubo (FRANCO et al., 2002). Essa armadilha é colocada rente ao solo, associada ou não às
cercas-guia das armadilhas de interceptação e queda, em número variável de acordo com o
16
trabalho (JORGENSEN et. al. 1998). FITCH (1951) e VOGT & HINE (1982) encontraram que
lagartos foram capturados mais freqüentemente pela armadilha de funil, quando
comparados com a técnica de interceptação e queda. Com exceção desses estudos, o
sucesso das armadilhas de interceptação e queda tem se mostrado maior que aqueles com
uso de armadilhas de funil, amostrando melhor a diversidade, riqueza e abundância da
herpetofauna de uma área (BURY & CORN, 1987; CROSSWHITE et al., 1999; GIBBONS &
SEMLITSCH, 1981; GREENBERG et al., 1994).
Os dois tipos de armadilhas descritos amostram predominantemente a fauna que
anda pelo solo. Para a fauna arborícola uma possibilidade é o uso de armadilhas de cola
(mouse glue trap), onde uma prancha adesiva (usualmente armadilha comercial para ratos)
é fixada em torno de troncos e galhos (BAUER & SADLIER, 1992). A cola é forte o
suficiente para impedir a fuga do animal (PATERSON, 1998; RODDA et. al., 1993). Para a
retirada do animal da prancha adesiva, RODDA et. al. (1993) sugeriram o uso de óleo de
milho, que dissolve o material viscoso, libertando o lagarto.
A eficiência deste tipo de armadilha foi testada por BAUER & SADLIER (1992) onde
as pranchas de cola foram fixadas em dez troncos de árvores, e em três dias de coleta 38
espécimes de Bavayia sauvagii foram capturados. G
LOR et al. (2000), através de
armadilhas de cola, registraram 1.411 répteis, pertencentes a 16 espécies, durante 10
semanas de amostragem na República Dominicana. A taxa de mortalidade registrada foi de
aproximadamente 11 % dos indivíduos coletados, menor que a encontrada por V
ARGAS et
al. (2000) de aproximadamente 48 % em trabalho realizado no Texas, EUA.
Apesar de ser uma armadilha primeiramente utilizada para animais arborícolas,
pode também ser usada em ambientes abertos, com pouca vegetação, instalada no próprio
solo ou na superfície de rochas (DOWNES & BORGES, 1998; GLOR et al., 2000). A
armadilha de cola é uma metodologia de fácil instalação, que se mostrou eficaz em
17
amostrar alguns animais de difícil coleta, e conseqüentemente com poucos exemplares em
coleções, em trabalho de BAUER & SADLIER (1992). O material para as armadilhas é de
baixo custo nos EUA, mas não está disponível para venda no Brasil, necessitando ser
importado, o que dificulta um pouco sua obtenção.
Outros métodos têm sido desenvolvidos e utilizados para capturar espécies
previamente definidas. DOAN (1997), com o objetivo de capturar Tupinambis teguixin
utilizou um tipo de armadilha de alumínio, similar às armadilhas para capturar pequenos
mamíferos, com uma isca de ovos de galinha dentro. Para coletar Varanus timorensis
similis, BEDFORD et. al. (1995) usaram um gancho modificado que capturava o animal no
terço anterior do corpo. REED et. al. (2000) utilizaram um tipo de tela de arame presa a um
tronco com iscas e laços espalhados, onde Varanus indicus atraídos pelas iscas ficavam
presos nos laços. STRONG et. al. (1993) desenvolveram uma vara com laço e uma isca
dentro para capturar Cnemidophorus hyperythrus. Outra técnica usada pelos autores foi
um tubo de plástico (PVC) jogado próximo aos lagartos observados, que coagidos pelos
coletores, entravam para se esconder nos tubos, onde eram capturados. Para capturar
Podarcis muralis, A
LLAN et. al. (2000) utilizaram armadilhas habitat (habitat traps).
Para capturar espécies arborícolas do gênero Anolis, PATERSON (1998) desenvolveu
uma barreira de plástico que envolvia o tronco da árvore, impedindo que o animal passasse
por ela, se tornando mais propício à captura. D
URTSCHE (1996), com o objetivo de capturar
espécies pequenas, juvenis e ágeis, utilizou uma combinação de duas técnicas, montando
uma vara com armadilha de cola na ponta. Ao avistar o animal, o coletor encostava a ponta
da vara no espécime, ficando ele aderido ao material viscoso. DURDEN et. al. (1995)
coletaram Eumeces fasciatus, E. inexpectatus e E. laticeps utilizando uma linha de
pescaria, com anzol e isca (artrópode) na extremidade. WITZ (1996), modificando peças
automobilísticas, criou um mecanismo de presilha e sucção, denominado por ele “pegador
18
de lagartos” (lizard grabber), para capturar Cnemidophorus sexlineatus, Anolis sagrei, A.
carolinensis e Sceloporus undulatus.
ZANI & VITT (1995) desenvolveram uma técnica para capturar Uracentron
flaviceps, que vive em buracos nos troncos de árvores, colocando um tipo de covo feito de
tela (minnow trap) sobre esse buraco. KRYSKO (2000) utilizou uma técnica com linha e
anzol iscado a fim de iscar Anolis equestris.
Como dito anteriormente, todos os tipos de armadilhas focam em determinado
ambiente ou espécies. A coleta ativa (transeção) ainda é usualmente um componente
importante dos inventários herpetofaunísticos, devendo-se buscar formas de torná-la
quantificável (CAMPBELL & CHRISTMAN, 1982). Duas unidades de medida podem ser
utilizadas nesse caso, de forma independente ou conjunta: tempo (estipulando-se um tempo
médio para percorrer todo o percurso) e espaço (demarcando-se um transecto linear ou
quadrado). RICE et. al. (1994) sugeriram uma procura minuciosa por unidade de espaço,
com 10 min/m, a fim de obter um registro mais seguro da herpetofauna de uma
determinada região. DOAN (2003) apontou a transeção como um método eficiente em
longos períodos de amostragem. Segundo B
URY & RAPHAEL (1983) a transeção associada
às armadilhas de interceptação e queda constituem a melhor combinação metodológica na
amostragem da herpetofauna terrestre, fornecendo informação sobre riqueza, abundância e
biomassa deste tipo de fauna presente em uma área.
Contudo, a rápida expansão das atividades humanas resultando na conversão de
florestas em áreas agrícolas, fragmentação de hábitat e expansão urbana, deu início a uma
maior preocupação quanto à necessidade de se obter informação sobre a biodiversidade
como um todo (S
AYRE et al. 2003). Devido à urgência e limitação de recursos para
pesquisa, uma nova metodologia de pesquisa foi implantada pela TNC (The Nature
Conservancy) denominada Avaliação Ecológica Rápida – AER (SOBREVILA & BATH,
19
1992). As AERs se caracterizam por promoverem amostragens rápidas em uma
determinada área, a fim de proporcionar informações para a identificação de sítios
ecológicos importantes.
Para as amostragens de répteis, SOBREVILA & BATH (1992) indicaram a transeção
de 1 km como método a ser realizado em uma AER, fornecendo dados de riqueza,
abundância relativa e diversidade deste grupo, além de proporcionar uma lista dos animais
específicos de um determinado sítio. Segundo SAYRE et al. (2003), apesar da improvável
detecção de répteis em uma AER, são recomendados transeções, parcelas de serrapilheira e
armadilhas de interceptação e quedas, sendo as armadilhas de queda caracterizadas como
um método que consome tempo e só amostra subgrupos de répteis. Contudo dois exemplos
de AER são apresentados, sendo o primeiro com cerca de 20 dias de campo e sem
resultados divulgados, e o segundo com o período de coleta não definido e apresentando
uma única espécie de réptil encontrada. Segundo ENGE (1998; 2002), para se obter uma
lista efetiva das espécies de répteis presente em uma determinada região são necessários
ainda inventários de longa duração.
Apesar dos vários trabalhos já realizados sobre técnicas de captura de lagartos,
percebe-se ainda a necessidade de se comparar essas técnicas, avaliando sua
complementaridade, assim como a eficácia dos métodos em ambientes diferentes, a fim de
se verificar se há necessidade de combinações específicas de técnicas para cada tipo de
ambiente alvo de um inventário. O presente projeto se preocupa ainda em avaliar o sucesso
das técnicas de captura de lagartos em um bioma tropical, já que a maioria dos dados
disponíveis é de regiões temperadas.
20
1.1) Objetivos
1.1.1) Objetivo Geral
Analisar a eficiência de diferentes métodos de captura de lagartos, em diferentes
ambientes, de forma a subsidiar planejamentos futuros de amostragem deste grupo em
outras áreas, assim como atividades de monitoramento de fauna.
1.1.2) Objetivos Específicos
Analisar a riqueza de espécies amostrada por cinco métodos de captura –
armadilhas de interceptação e queda de 35 l, armadilhas de interceptação e queda de
62 l, armadilhas de funil, armadilhas de cola e transeção (coleta ativa delimitada
por tempo-espaço) – , em três ambientes distintos – plantação de eucalipto, mata
secundária e mata primária – , na região amazônica.
Verificar a abundância relativa das espécies capturadas por cada método nos
diferentes ambientes.
Observar a representatividade de cada família de lagarto quanto à riqueza de
espécies e abundância registrada por cada um dos cinco métodos.
Verificar se a mesma técnica apresenta sucesso de captura diferenciado entre os três
ambientes (plantação de eucalipto, matas secundária e primária).
Analisar o sucesso de captura para cada unidade amostral das técnicas, além de
obter uma relação custo/benefício de cada técnica.
Para cada ambiente verificar se as cinco técnicas possuem alguma seletividade de
captura relacionada à comunidade presente na área e tamanho do espécime
21
coletado, caracterizando quais métodos seriam complementares na amostragem
deste grupo.
Verificar o quanto da riqueza total de espécies registrada por cada técnica seria
amostrada caso o período de campo fosse menor, como em 7, 14 e 30 dias de
coleta, fornecendo subsídios para futuros planejamentos de Avaliações Ecológicas
Rápidas.
Oservar a taxa de mortalidade apresentada pelos diferentes métodos.
22
2) Materiais e métodos
2.1) Área de estudo
A área de estudo pertence à Empresa Jari Celulose S.A., situada no distrito de
Monte Dourado, município de Almerim, norte do Pará (00º27’00” – 01º30’00” S,
51º40’00” – 53º20’00” W). É limitada ao norte pela Estação Ecológica do Jari (IBAMA),
ao sul pelo Rio Amazonas, a oeste pelo Rio Paru, e a leste pelo Rio Jari (Figura 2). A
empresa ocupa uma área de aproximadamente 546.000 hectares na região transicional entre
a Planície Amazônica e o Planalto das Guianas (BAUCH et. al., 2004). Em parte dessa área
são plantados eucaliptos em larga escala, para a produção de polpa de celulose (FEARNSIDE
& RANKIN, 1989).
23
Amapá
Pará
Rio Jari
Figura 2 – Localização geográfica da área de estudo, em torno do distrito de Monte
Dourado, Pará, à margem direita do rio Jari, o qual delimita a fronteira entre os estados do
Pará e Amapá.
24
2.1.1) Relevo e geologia da área
A área está situada na Depressão Periférica do Norte do Pará, apresentando-se em
colinas dobradas geralmente em rochas pré-cambrianas, com altitudes em torno de 150 m.
Apresenta-se com cristas de orientação noroeste-sudeste, cujos topos foram cortados por
aplainamento, fazendo com que os rios Jari e Paru apresentem vários trechos em sua
extensão com corredeiras e cachoeiras, principalmente a montante das gargantas. A
depressão periférica do Norte do Pará está incluída no “Domínio Morfoclimático dos
Planaltos Amazônicos Rebaixados ou Dissecados das Áreas Colinosas e Planícies
Revestidas por Floresta Densa” (RADAM BRASIL, 1974).
Na estratigrafia da área, foram identificados gnaisses graníticos, anfibolitos e
granitos do complexo guianense. A região de Monte Dourado é formada
predominantemente de rochas gnáissicas com encraves ocasionais de xistos, quartzitos e
granulitos, sendo litologicamente individualizada como Gnaisse Tumucumaque. Há
presença de falhas e fraturas entre os rios Paru e Jari (RADAM BRASIL, 1974).
A formação geológica da área pertence à formação Monte Alegre, compreendendo
arenito fino a médio, com estratificação horizontal, e ocasionalmente cruzada, com cores
branca, amarela e cinza. Ocorre desde as proximidades de Monte Alegre até o rio Paru
(RADAM BRASIL, 1974).
2.1.2) Clima
O clima, segundo a definição de Köppen, é do tipo Aw e Amw’ (Figura 3),
significando:
25
Amw’ – clima tropical úmido de monção, com temperatura média do mês mais frio nunca
inferior a 18ºC, e precipitação excessiva durante alguns meses, o que compensa a
ocorrência de 1-2 meses com precipitação inferior a 60 mm (RADAM BRASIL, 1974).
Aw – clima tropical úmido, com amplitudes de temperaturas médias mensais menores que
12ºC, e inverno seco, com precipitação média do mês mais seco menor que 60 mm.
(RADAM BRASIL, 1974).
A temperatura média anual para a área é de 26º C, com o mês mais frio ainda maior
que 20º C (RADAM BRASIL, 1974).
Monte Dourado
Belé
m
Ama
á
Figura 3 – Distribuição das variações climáticas (Aw’ e Amw’) na região da Jari (RADAM
BRASIL, 1974).
2.1.3) Vegetação
Segundo BAUCH et. al. (2004) a cobertura vegetal da área de estudo compreende:
26
Floresta Densa (Mata primária): ou floresta ombrófila tropical, é caracterizada,
sobretudo, por grandes árvores, por vezes com mais de 50 m de altura, que sobressaem no
estrato arbóreo uniforme de 25 a 35 m de altura (Figura 4). Ocupa a maior porção da área
da Jari com cerca de 224.300 hectares.
Neste ambiente estão localizadas cinco áreas de coleta, sendo elas:
Bituba (1
o
11’ 28’’ S – 52
o
38’ 51’’ W).
Quaruba (1
o
1’ 32’’ S – 52
o
54’ 17’’ W).
Castanhal (0
o
41’ 25’’ S – 52
o
49’ 09’’ W).
Estação (0
o
35’ 27’’ S – 52º 44’ 09’’ W).
Pacanari (1
o
01’ 33’’ S – 52
o
34’ 02’’ W).
Figura 4 – Fotografia de mata primária (área Bituba) na Jari.
27
Mata secundária: formações provenientes do desmatamento da floresta para fins
madeireiros, agricultura e silvicultura (RIOS, 2001), cobrindo uma área de 3.377 hectares.
Quando a área é abandonada, entra em processo de regeneração natural, com ervas e
arbustos heliófilos de larga distribuição, seguidos de grandes arbustos, árvores e palmeiras
de crescimento rápido, provenientes de sementes de florestas vizinhas. As capoeiras da
área possuem de 10 a 20 anos. Encontram-se por toda a área, na forma de clareiras e
circundando a região de Monte Dourado (Figura 5).
Neste ambiente se encontram cinco áreas de coleta, sendo elas:
Área 55: desmatada em 1974 para o plantio de Gmelina e posteriormente
Eucalyptus. Encontra-se em pousio (mata secundária) desde 1990 (0
o
35’ 13’’ S –
52
o
39’ 31’’ W).
Área 56: desmatada em 1975 para o plantio de Gmelina; encontra-se em pousio
desde 1985 (0
o
42’ 42’’ S – 52
o
40’ 00’’ W).
Área 75: desmatada em 1976 para o plantio de Gmelina e posteriormente
Eucalyptus. Encontra-se em pousio desde 1989 (0
o
42’ 08’’ S – 52
o
38’ 08’’ W).
Área 86: desmatada em 1977 para o plantio de Gmelina; encontra-se em pousio
desde 1987 (0
o
36’ 14’’ S – 52
o
39’ 09’’ W).
Área 91: desmatada em 1978 para o plantio de Gmelina; encontra-se em estado de
pousio desde 1991 (0
o
42’ 33’’ S – 52
o
46’ 57’’ W).
28
Figura 5 – Fotografia de mata secundária.
Plantações de eucalipto: formação florestal de espécies do gênero Eucalyptus
provenientes de plantio (silvicultura), e que ocupam uma área originalmente de mata nativa
(cerca de 182.466 hectares). Os eucaliptos foram inseridos na região em substituição a
antigas plantações de Gmelina arborea e Pinus caribaea, como fonte de abastecimento de
polpa para a fábrica de celulose, pois essas culturas estavam passando por problemas com
pragas e lentidão de crescimento (FEARNSIDE, 1988). Atualmente 100 % da produção de
polpa é proveniente de eucaliptos da espécie Eucalyptus urograndis. Contudo, o ciclo de
carbono nessas plantações é menor que em florestas secundárias, pela pouca formação de
liteira, além de que o solo fica mais exposto ao intemperismo, sofrendo com processos de
erosão e lixiviação (CALLISTO et. al. 2002) (Figura 6).
Neste ambiente se encontram cinco áreas de coleta, sendo elas:
29
Área 10: desmatada em 1970 para o plantio de Gmelina, seguida de Pinus, e hoje
encontra-se na 4ª rotação de cultura com plantio de Eucalyptus (0
o
49’ 58’’ S – 52
o
35’ 39’’ W).
Área 14: desmatada em 1970 para o plantio de Gmelina, seguida de Pinus, e hoje
encontra-se na 5ª rotação de cultura com plantio de Eucalyptus (0
o
49’ 58’’ S – 52
o
39’ 29’’ W).
Área 52: desmatada em 1973 para o plantio de Gmelina, seguida de Pinus, e hoje
encontra-se na 4ª rotação de cultura com plantio de Eucalyptus (0
o
53’ 16’’ S – 52
o
50’ 41’’ W).
Área 95: desmatada em 1979 para o plantio de Pinus, e hoje encontra-se na 4ª
rotação de cultura com plantio de Eucalyptus (0
o
41’ 45’’ S – 52
o
48’ 32’’ W).
Área 127: desmatada em 1980 para o plantio de Pinus, e hoje encontra-se na 4ª
rotação de cultura com plantio de Eucalyptus (0
o
50’ 09’’ S – 53
o
02’ 49’’ W).
Figura 6 – Fotografia de plantação de eucalipto.
30
2.1.4) Histórico de ocupação da área.
Segundo LINS (2001), o projeto de produzir celulose na área da Jari se iniciou com
Daniel Keith Ludwig, que em 1967 compra uma área equivalente a 1.632.121 hectares,
sendo 1.174.391 hectares no estado do Pará e 457.730 no Amapá. Através de um
planejamento que contava com a construção de uma infra-estrutura adequada à produção
de celulose, foi fundado o distrito de Monte Dourado, pertencente ao município de
Almeirim (PA), implantados um sistema de transporte fluvial, aéreo e terrestre, além da
criação da Empresa Jarí Florestal e Agropecuária Ltda. Um projeto florestal com 200 mil
hectares de Gmelina arborea e Pinus caribaea foi implantado como suprimento de
madeira para a fábrica de polpa e papel.
Em 1973 começaram a aparecer os problemas nas plantações de Gmelina e Pinus,
em decorrência da baixa fertilidade do solo e ataque de pragas. Isso fez com que, em 1980,
estas culturas fossem substituídas por eucalipto, com economia no tempo de crescimento
além da boa aceitação de sua polpa no mercado. A área inicial plantada foi de 2.668
hectares e a produção diária de celulose foi de 750 toneladas.
Devido à falta de madeira para a fabricação de celulose, ocasionada pela pobreza do
solo e constante ataque de pragas, em 1983 Ludwig vende a empresa Jari para 27 firmas
brasileiras. Em 1992 a produção da Jarí alcançou 280.000 toneladas por ano, com um
plantio de Eucalyptus urograndis em escala industrial, com 100% da produção de celulose
a partir dessa espécie. Em 2000, uma nova empresa se tornou responsável pela
reestruturação do capital da empresa, após sucessivas perdas econômicas frente ao não
planejamento das plantações. Em 2001 a produção anual de celulose bateu seu recorde,
com uma produção de 326.300 toneladas de celulose no ano, sendo acompanhada pelo
crescimento da área plantada.
31
2.2) Metodologia
O presente trabalho está incluído no projeto denominado “O Valor Biológico e
funcional de Florestas Primárias, Secundárias e Monocultivadas na Amazônia”, uma
parceria entre o Museu Paraense Emílio Goeldi, University East Anglia (UEA) e Jari
Celulose S.A. Esse projeto pretende, através de um levantamento multidisciplinar,
identificar os mecanismos de resposta da fauna frente a diferentes distúrbios ambientais,
buscando oferecer suporte para programas futuros de conservação da fauna. A comparação
entre os métodos de captura de lagartos faz parte do levantamento de herpetofauna da área,
complementando o projeto com uma análise da riqueza de espécies, abundância registrada,
sucesso de captura e complementaridade das técnicas utilizadas em diferentes ambientes.
Para isso cinco técnicas de captura de lagartos foram analisadas, a saber: armadilhas
de interceptação e queda com baldes de 35 l, armadilhas de interceptação e queda com
baldes de 62 l, ambos dispostos em formato de Y; armadilhas de funil; armadilhas de cola;
e transeções (coleta ativa delimitada por tempo-espaço). As armadilhas foram instaladas ao
longo de transectos lineares de 1,3 km, em 15 áreas da área da Empresa Jarí Celulose S.A.
Dos 15 pontos, cinco estão situados em ambiente de plantação de eucalipto, cinco em mata
secundária e cinco em mata primária (Figuras 7 e 8).
32
Plantação de eucalipto
Mata secundária
Mata primária
Base de campo
RIO JARI
RIO AMAZONAS
RIO PARU
12
3
4
5
6
78
9
10
11
12
13
14
15
Figura 7 – Imagem de satélite da área de estudo com a localização dos pontos de coleta (1
= Área 10; 2 = Área 14; 3 = Área 95; 4 = Área 127; 5 = Área 52; 6 = Área 55; 7 = Área 56;
8 = Área 75; 9 = Área 91; 10 = Área 86; 11 = Bituba; 12 = Quaruba; 13 = Castanhal; 14 =
Estação; 15 = Pacanari).
CONFIGURACAO
ESPACIAL DO
DESENHO
AMOSTRAL
Figura 8 – Figura esquemática da distribuição das áreas de coleta nos diferentes ambientes.
CONFIGURACAO
ESPACIAL DO
DESENHO
AMOSTRAL
Mata PrimáriaMata PrimáriaMata Primária
Capoeiras
Eucalyptus
Capoeiras
Monte Dourado
Eucalyptus
Capoeiras
Eucalyptus
Monte Dourado
Mata primária
Mata secundária
Plantação de eucalipto
Monte Dourado
0
510
15 km
0
510
15 km
33
Em cada área foram instaladas 10 estações de armadilhas de interceptação e queda
de 35 l, contando com 40 baldes no total, e três estações de 62 l, com 12 baldes no total. A
disposição dos baldes foi em formato de Y, com quatro baldes em cada estação, ligados por
seis metros de cerca-guia (Figura 9). O comprimento da cerca foi delimitado de acordo
com CAMPBELL & CHRISTMAN (1982), GREENBERG et al. (1994), HOBBS et al. (1994) e
JORGENSEN et al. (1998), os quais consideraram cercas com comprimento entre 6 – 7 m
eficientes. A altura das cercas foi de 50 cm. Cada estação esteve distante 100 m uma da
outra, num conjunto linear contínuo de 1,3 km, caracterizando-se como unidades
independentes (CAMPBELL & CHRISTMAN, 1982). É importante ressaltar que nenhuma
estação foi instalada a menos de 200 m da margem do ambiente de plantação de eucalipto,
nem a menos de 500 m da borda dos ambientes de mata secundária e primária, a fim de
eliminar o efeito de borda na amostragem, como sugerem BURY & CORN (1987).
Figura 9 – Fotografia de uma estação de uma armadilha de interceptação e queda em
arranjo de Y.
34
Foram utilizadas 30 armadilhas de funil (Minnow trap – Frabill®) dispostas junto
às cercas-guia (em paralelo) das estações de interceptação e queda de 35 l, sendo três
armadilhas por estação (Figura 14). A combinação armadilhas de interceptação e queda e
funil é tida por CAMPBELL & CHRISTMAN (1982), GREENBERG et al. (1994) e JORGENSEN et
al. (1998) como a melhor combinação entre métodos para o registro de répteis.
Figura 10 – Fotografia de uma armadilha de funil associada à cerca-guia da armadilha de
interceptação e queda.
Quanto às armadilhas de cola (mouse glue traps – Victor® – 22 x 14 cm), foram
fixadas 20 pranchas de cola em cada área, distantes 50 m uma da outra. Em plantação de
eucalipto todas foram instaladas nos troncos das árvores, já em mata secundária e primária
as armadilhas foram fixadas em troncos caídos, troncos de árvores vivas ou cipós,
dependendo da disponibilidade destes substratos nos pontos demarcados. A altura variou
entre base do tronco (próximo ao solo) e 2 m nos cipós e troncos de árvores vivas. No total
35
foram utilizadas 300 armadilhas, sendo 100 pranchas por ambiente (plantação de eucalipto,
mata secundária e mata primária) (Figura 11).
Figura 11 – Fotografia de uma prancha de armadilha de cola fixada em um cipó.
A coleta ativa delimitada por tempo-espaço (transeção) foi feita em transectos
lineares de 0,5 km, e o tempo delimitado para trilhar todo o percurso foi de uma hora.
Foram mantidos 2 coletores em todo o período amostral, sendo percorridas 10 transeções
para cada área, com dias alternados entre os coletores. As transeções de uma hora foram
realizadas entre 7:00 h e 13:00 h, considerando que foram amostradas três áreas em um
mesmo dia. No total foram feitas 50 transeções em cada um dos três ambientes.
Um esquema da disposição das estações de armadilha de interceptação e queda,
armadilhas de cola e funil, e coleta ativa (transeção) é apresentada na figura 12.
36
100 m
50 m
500 m
Conjunto da estação de armadilha de interceptação e queda de 35 l e armadilhas de funil
Percurso da transeção
Estação de armadilha de interceptação e queda de 62 l
Armadilhas de cola
100 m
50 m
500 m
100 m
50 m
100 m
50 m
500 m
Conjunto da estação de armadilha de interceptação e queda de 35 l e armadilhas de funil
Percurso da transeção
Estação de armadilha de interceptação e queda de 62 l
Armadilhas de cola
Conjunto da estação de armadilha de interceptação e queda de 35 l e armadilhas de funil
Percurso da transeção
Estação de armadilha de interceptação e queda de 62 l
Armadilhas de cola
Figura 12 – Figura esquemática da disposição das armadilhas de interceptação e queda de
35 l e de 62 l, armadilhas de cola e funil, além do percurso da transeção.
As coletas de lagartos foram realizadas de janeiro a junho de 2005, com 14 dias
contínuos de capturas pelas armadilhas de interceptação e queda de 35 l, 62 l e armadilhas
de funil, 12 dias contínuos de armadilhas de cola e 10 dias de transeção em cada uma das
15 áreas, totalizando para cada ambiente 70 dias de coleta das armadilhas de interceptação
e queda e armadilhas de funil, 60 dias de armadilhas de cola e 50 dias de transeção. O
esforço total de cada metodologia nos três ambientes é dado na tabela 1.
Tabela 1 – Esforço dispendido por cada metodologia nos diferentes ambientes e total. As
unidades de esforço são: armadilhas de interceptação e queda (AIQ) = estações.noite;
armadilhas de cola e funil = armadilhas.noite; transeção = horas.homem.
Eucalipto Mata secundária Mata primária Total
AIQ de 35 l 700 700 700 2100
AIQ de 62 l 210 210 210 630
Cola 1100 1044 1180 3324
Funil 1372 1652 1876 4900
Transeção 50 50 50 150
37
Os espécimes coletados foram mortos e fixados em formol a 10 % e conservados
em álcool a 70 %, de acordo com a licença do IBAMA 040/05-CGFAU/LIC processo
02001.006765/03. O material coletado foi depositado na coleção do Museu Paraense
Emílio Goeldi, Belém, Pará.
2.3) Análise dos dados
2.3.1) Riqueza de espécies registrada por cada método nos diferentes ambientes.
Para as análises de riqueza de espécies foram utilizadas curvas de rarefação
baseadas no número de indivíduos coletados por espécie, elaboradas a partir do programa
EstimateS Versão 7.0 (COLWELL, 2004). A comparação entre as curvas foi realizada a
partir de um número padronizado de indivíduos (GOTELLI & COLWELL, 2001), sendo este
referente ao número máximo de indivíduos capturados pelo método que registrou o menor
número de exemplares. Estas curvas, segundo SCHEINER (2003) e THOMPSON et al. (2003)
fornecem excelentes subsídios para se comparar riqueza de espécies entre as amostras. As
riquezas foram consideradas diferentes quando o intervalo de confiança (95 %) da amostra
mais rica não se sobrepôs às demais curvas (MAGURRAN, 2004).
Considerando a representatividade das famílias de lagartos coletadas por cada
método, foi construído um histograma com a quantidade de espécies por família registrada
em cada técnica, comparando com o total de espécies capturadas pertencentes à mesma
família.
2.3.2) Abundância relativa das espécies registradas por cada método nos diferentes
ambientes.
38
Para as análises de abundância das espécies em cada método, foram construídas
curvas de dominância das espécies baseadas no log da abundância relativa (abundância da
espécie pela abundância total registrada pelo método). Estas curvas evidenciam se um
determinado método registra uma equitabilidade da comunidade da área, através da
quantidade de indivíduos por espécie capturada, ou se a metodologia possui eficiência
maior para determinadas espécies, sendo estas dominantes. Observa-se que os dados de
equitabilidade e dominância referem-se aos resultados do método, podendo ou não refletir
a estrutura da comunidade existente na área.
A fim de verificar se existe correlação entre a abundância relativa das espécies
capturadas entre as técnica, aplicou-se o teste de correlação de Spearman entre amostras
pareadas, com resultados significativos para p < 0,05. Este teste foi realizado através do
programa SPSS v. 11.5 (SPSS, Chicago, Illinois).
De forma a verificar se alguma família de lagarto teria sua abundância registrada
predominantemente por algum método, foi construído um histograma com a proporção (%)
de indivíduos capturados por cada técnica pelo total de espécimes capturados pertencentes
à mesma família.
2.3.3) Sucesso de captura dos métodos nos três ambientes.
Para as análises de sucesso de captura, a quantidade de indivíduos registrados em
cada método foi dividida pelo esforço de coleta de cada técnica, multiplicado por 100. Este
cálculo foi feito para cada uma das 15 áreas de coleta. Em seguida a média e erro padrão
do sucesso de captura do método foi extraído para cada ambiente. Um histograma foi
construído com estes dados.
39
A fim de verificar se existe diferença entre o sucesso de determinada técnica entre
os diferentes ambientes, foi aplicado o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, com
grupamento entre amostras independentes. Já para comparar o sucesso do método entre
dois tipos de ambientes foi utilizado o teste de Mann-Whitney para duas amostras
independentes.
Com o intuito de verificar se as unidades de captura (uma única estação.noite de
armadilha de interceptação e queda, uma armadilha.noite de cola e funil, ou uma
hora.homem de transeção) apresentam sucessos diferenciados entre si em um mesmo
ambiente, aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis. O mesmo foi feito para unidades de captura
pareadas em um mesmo ambiente através do teste de Mann-Whitney. Após verificar quais
métodos não apresentavam diferenças significativas do sucesso em sua unidade amostral,
calculou-se quantas unidades amostrais dos métodos menos eficientes seriam necessárias
para que seu sucesso se igualasse as mais eficientes. Para a aplicação destes testes foi
utilizado o programa SPSS v. 11.5 (SPSS, Chicago, Illinois) e resultados significativos
quando p < 0,05.
2.3.4) Gastos por unidade de esforço e espécime capturado.
Foram calculados os custos referentes à instalação e manutenção de cada método de
captura durante a execução deste projeto, sendo depois divididos pelo esforço total do
método a fim de verificar quanto foi gasto por unidade de captura. O mesmo foi feito por
espécime coletado por cada técnica, proporcionando assim uma comparação entre o
custo/benefício obtido por cada uma. Os gastos com transporte não foram considerados, já
que proporcionou a verificação de todas as armadilhas.
40
2.3.5) Seletividade (complementaridade) na amostragem de cada método.
A fim de verificar se os métodos possuíam seletividade no registro da porção
capturável da comunidade de cada ambiente, observando quais métodos obteriam registros
complementares, foi construído um MDS (Multidimensional Scaling) a partir da matriz de
similaridade de Bray-Curtis. Através da análise de similaridade (ANOSIM - CLARKE &
WARWICK, 2001) pôde-se verificar se a composição dos registros de cada método
apresentavam diferenças significativas. Quanto à similaridade das amostras dentro de um
mesmo grupo (método de captura), foi calculada a média e erro padrão das similaridades
fornecidas pela matriz de Bray-Curtis para as amostras pertencentes a cada técnica, e em
seguida apresentados em um histograma. Através deste pôde-se avaliar a seletividade de
um método em capturar determinada comunidade e se este apresentaria variações entre as
áreas pertencentes a um mesmo ambiente. Estas análises foram realizadas no programa
Primer 5 versão 5.2 (CLARKE, & GORLEY, 2001).
2.3.6) Registro de espécies por cada método em períodos menores de amostragem.
Considerando que este trabalho fosse realizado em um período menor de
amostragem, como em 7 dias, 14 dias e 30 dias de coleta, procurou-se saber o quanto da
riqueza de espécies total capturada por cada método seria registrada com esses períodos
menores de amostragem, além de saber qual a técnica mais eficiente no registro da riqueza
de espécies do ambiente neste períodos de campo. Para isso curvas de rarefação baseadas
na riqueza de espécies estimada para cada dia de coleta foram geradas, e as estimativas
apresentadas em cada período foram comparados (através de porcentagem) com o total
41
registrado para cada método. Desta forma pôde-se verificar o quanto determinado método
teria registrado da riqueza de espécies total nos diferentes períodos de coleta.
2.3.7) Diferença entre o tamanho dos espécimes capturados por cada método.
A fim de verificar se existe diferença no tamanho (comprimento rostro-cloacal) dos
lagartos capturados por cada técnica, foi utilizada uma ANOVA com o auxílio do
programa SPSS v. 11.5 (SPSS, Chicago, Illinois) comparando as médias do tamanho dos
espécimes registrados em cada metodologia, com resultado significativo quando p < 0.05.
2.3.8) Taxa de mortalidade.
Calculada pela proporção de índivíduos encontrados mortos em relação ao total
coletado por cada método multiplicado por 100.
42
3) Resultados
No período de janeiro a junho de 2005, com um esforço de 2.100 estações.noite de
armadilhas de interceptação e queda com baldes de 35 l, 630 estações.noite de armadilhas
de interceptação e queda com baldes de 62 l, 3.324 armadilhas.noite de cola, 4.900
armadilhas.noite de funil e 150 horas.homem de transeção, foram registradas na área de
estudo 1.472 lagartos distribuídos em 29 espécies pertencentes a sete famílias (Teiidae,
Gekkonidae, Gymnophthalmidae, Scincidae, Polychrotidae, Iguanidae e Tropiduridae)
(Apêndice I). O esforço de coleta de cada método, número de espécies e número de
indivíduos capturados em cada ambiente (plantação de eucalipto, mata secundária e
primária) são apresentados na tabela 2.
Tabela 2 – Número de espécies, indivíduos e esforço de captura de cada método nos três
ambientes (unidades de esforço: armadilhas de interceptação e queda [AIQ] 35 l e 62 l =
estações.noite; armadilhas de cola e funil = armadilhas.noite; transeção = horas.homem).
Plantação de eucalipto
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
N
o
de espécies 9 7 3 4 5
N
o
de indivíduos 286 111 16 64 67
Esforço de captura 700 210 1100 1372 50
Mata secundária
N
o
de espécies 10 7 3 3 9
N
o
de indivíduos 117 36 70 8 165
Esforço de captura 700 210 1044 1652 50
Mata primária
N
o
de espécies 19 12 9 5 16
N
o
de indivíduos 184 41 150 6 151
Esforço de captura 700 210 1180 1876 50
43
A partir dos dados gerais de cada ambiente foram construídas curvas de rarefação
baseadas no número de indivíduos por espécie registrada a fim de comparar a riqueza de
espécies entre os três ambientes. Para um mesmo número de indivíduos coletados, mata
primária possui riqueza de espécies superior aos outros ambientes, seguida por mata
secundária e plantação de eucalipto (Figura 13).
0
5
10
15
20
25
30
1 31 61 91 121 151 181 211 241 271 301 331 361 391 421 451 481 511 541 571 601
Eucaliptos
Mata Secundária
Mata Primária
N
o
de espécies
N
o
de indivíduos
Figura 13 – Curvas de rarefação baseadas no número de indivíduos por espécie em cada
ambiente, incluindo os respectivos intervalos de confiança (95 %). A barra vertical indica o
ponto de comparação entre as curvas.
Apesar da mata primária possuir maior riqueza de espécies, plantação de eucalipto e
mata secundária possuem alguns registros únicos, com três espécies registradas somente
em plantação de eucalipto e uma em mata secundária. Mata primária detém 10 espécies
não registradas nos outros ambientes e conta com cerca de 86 % da riqueza de espécies de
toda a área amostrada na Jari.
44
3.1 ) Riqueza de espécies registrada por cada método nos diferentes ambientes.
Considerando a riqueza de espécies registrada em plantação de eucalipto por cada
método utilizando número padronizado de indivíduos capturados, pode-se notar que as
armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l apresentam riqueza de espécies similar à
total registrada nesse ambiente. Devido ao pequeno número de indivíduos amostrados
pelas armadilhas de cola neste ambiente, este método não foi considerado nas análises das
curvas de rarefação. Dentre os métodos considerados, aquele que registrou a menor riqueza
de espécies foi o funil (Figura 14).
0
2
4
6
8
10
12
14
1 15 29 43 57 71 85 99 113 127 141 155 169 183 197 211 225 239 253 267 281 295
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Funil Transeção Total registrado
N
o
de espécies
N
o
de indivíduos
Figura 14 – Curvas de rarefação baseadas nomero de indivíduos por espécie para cada
método de captura em plantação de eucalipto, incluindo o intervalo de confiança de 95 %
da armadilha de interceptação e queda (AIQ) de 35 l. A barra vertical indica o ponto de
comparação entre as curvas.
45
Em mata secundária apesar da transeção ter registrado o maior número de
indivíduos, as armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l registraram maior riqueza
de espécies no ambiente, sendo suas curvas indistinguíveis à curva geral, padrão este
parecido com o apresentado em plantação de eucalipto (Figura 15). Pelo fato das
armadilhas de funil não terem sido consideradas nas análises de riqueza de espécies deste
ambiente, devido ao pequeno número de indivíduos coletados, o método que registrou o
menor número de espécies foi a armadilha de cola.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 109 118 127 136 145 154 163 172 181 190
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Transeção Total registrado
N
o
de indivíduos
N
o
de espécies
Figura 15 – Curvas de rarefação baseadas nomero de indivíduos por espécie para cada
método de captura em mata secundária, incluindo o intervalo de confiança de 95 % da
armadilha de interceptação e queda (AIQ) de 35 l. A barra vertical indica o ponto de
comparação entre as curvas.
Em mata primária, para um mesmo número de espécimes capturados, as armadilhas
de interceptação e queda de 35 l registraram o mesmo número de espécies que as
46
armadilhas de interceptação e queda de 62 l, além de amostrar toda a riqueza de espécies
do ambiente. A transeção e as armadilhas de cola capturaram uma quantidade menor de
espécies, apesar da transeção apresentar um aumento em potencial no registro de novas
espécies com o aumento do número de indivíduos coletados (Figura 16). O funil não foi
considerado nesta análise devido à pequena amostragem neste ambiente.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 109 118 127 136 145 154 163 172 181 190
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Transeção Total registrado
N
o
de indivíduos
N
o
de espécies
Figura 16 – Curvas de rarefação baseadas nomero de indivíduos por espécie para cada
método de captura em mata primária, incluindo o intervalo de confiança de 95 % da
armadilha de interceptação e queda (AIQ) de 35 l. A barra vertical indica o ponto de
comparação entre as curvas.
Quanto a registros exclusivos, todas as espécies capturadas por apenas um método,
com exceção de Anolis ortonii, foram representadas por um ou dois indivíduos, indicando
serem raras ou amostradas ocasionalmente por qualquer método (Tabela 3). Os registros de
Anolis ortonii apenas pelas armadilhas de cola sugerem que este método seja o mais
47
indicado para a captura e estudo da espécie. Através da figura 17 pode-se notar que existe
uma tendência de lagartos da família Polychrotidae em ser registrados nas armadilhas de
cola.
Tabela 3 – Relação das espécies capturadas em toda a área da Jari por um único método
(AIQ = armadilhas de interceptação e queda).
Espécies AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
Anolis ortonii 6
Anolis punctatus
1
Alopoglossus angulatus
1
Arthrosaura kockii
2
Arthrosaura reticulata
2
Neusticurus bicarinatus
1
Neusticurus rudis
2
Iguana iguana
1
Tupinambis teguixin
2
N
o
de espécies
0
2
4
6
8
10
14
AIQ de 35 l AIQ de 62 l
Cola Funil
Transeção Total
12
Gym Gek Tei Pol Tro Igu Sci
Figura 17 – Número de espécies de lagartos distribuídos por famílias registrados em cada
método e no total de registros (AIQ = armadilha de interceptação e queda; Gym =
Gymnophthalmidae; Gek = Gekkonidae; Tei = Teiidae; Pol = Polychrotidae; Tro =
Tropiduridae; Igu = Iguanidae; Sci = Scincidae).
48
3.2) Abundância relativa das espécies registradas por cada método nos diferentes
ambientes.
Observando as abundâncias relativas das espécies capturadas em plantação de
eucalipto, fica evidente o registro predominante de uma espécie, Ameiva ameiva, pelas
armadilhas de funil, correspondendo a 88 % do total registrado pelo método (Figura 18).
As armadilhas de interceptação e queda (AIQ) de 35 l, 62 l e transeção registraram uma
equitabilidade melhor da comunidade da área. As armadilhas de cola não foram
consideradas nesta análise pelo baixo número de capturas neste ambiente.
Log da abundância relativa
N
o
de espécies
-3
Figura 18 – Log da abundância relativa das espécies registradas em armadilhas de
interceptação e queda (AIQ) de 35 l, AIQ de 62 l, armadilhas de funil e transeção em
plantação de eucalipto.
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
012345678910
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
Funil
Transeção
49
Em mata secundária duas espécies corresponderam à grande maioria dos registros,
sendo Gonatodes humeralis responsável por 96 % dos registros das armadilhas de cola,
Coleodactylus amazonicus por 56 % das capturas em armadilhas de interceptação e queda
de 35 l, e ambas espécies por 93 % dos registros em transeção. As armadilhas de
interceptação e queda de 62 l não favoreceu a captura de nenhuma espécie em particular
(Figura 19). As armadilhas de funil não foram consideradas nesta análise devido ao baixo
número de capturas em mata secundária.
Log da abundância relativa
N
o
de espécies
Figura 19 – Log da abundância relativa das espécies registradas em armadilhas de
interceptação e queda (AIQ) de 35 l, AIQ de 62 l, armadilhas de cola e transeção em mata
secundária.
Em mata primária segue-se o mesmo padrão de mata secundária no caso das
armadilhas de cola e transeção, com Gonatodes humeralis representando 67 % das capturas
em cola, e G. humeralis e Coleodactylus amazonicus 76 % dos registros em transeção. As
-2.5
-2
.5
-1
.5
0
024681012
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
-0
Cola
Transeção
-1
50
armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l não registraram espécies predominantes
no ambiente, apresentando uma distribuição melhor dos indivíduos pelas espécies, quando
comparados aos outros métodos (Figura 20). As armadilhas de funil novamente não foram
consideradas nesta análise.
Figura 20 – Log da abundância relativa das espécies registradas em armadilhas de
interceptação e queda (AIQ) de 35 l, AIQ de 62 l, armadilhas de cola e transeção em mata
primária.
Através do teste de correlação de Spearman, procurou-se verificar se existe
correlação da abundância relativa das espécies entre os métodos. Os resultados
significativos entre os métodos (p < 0.05) para os três ambientes são apresentados na tabela
4, seguida pelas figuras para as correlações entre armadilhas de interceptação e queda de
35 l e 62 l em plantação de eucalipto e mata primária (Figuras 21 e 23, respectivamente), e
-2.5
-2
-1.5
-1
.5
0
0 2 4 6 8 101214161820
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
-0
Cola
Transeção
Log da abundância relativa
N
o
de espécies
51
entre armadilhas de interceptação e queda de 35 l e transeção em mata secundária (Figura
22).
Tabela 4 – Correlações significativas da abundância relativa das espécies entre métodos
nos três ambientes (ρ = coeficiente de Spearman).
Eucalipto
Pitfall 62 l Funil Transecto
Pitfall 35 l ρ = 0,818; p = 0,002 ρ = 0,873; p = 0,000 ρ = 0.847; p = 0.001
Pitfall 62 l ρ = 0,855; p = 0,001 ρ = 0,877; p = 0,000
Funil ρ = 0,850; p = 0,001
Mata secundária
Pitfall 35 l ρ = 0,533; p = 0,027 ρ = 0,560; p = 0,020
Mata primária
Pitfall 35 l ρ = 0,787; p = 0,000 ρ = 0,459; p = 0,021
Pitfall 62 l ρ = 0,533; p = 0,006
Cola ρ = 0,408; p = 0,043
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
Abundância relativa AIQ de 35 l
Abundância relativa AIQ de 62 l
Figura 21 – Correlação (e linha de regressão) entre a abundância relativa das espécies
registradas pelas armadilhas de interceptação e queda (AIQ) de 35 l e 62 l em plantação de
eucalipto (r
2
= 0,96).
52
0.00.10.20.30.40.50.6
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
Abundância relativa AIQ de 35 l
Abundância relativa Transeção
Figura 22 – Correlação (e linha de regressão) entre a abundância relativa das espécies
registradas pelas armadilhas de interceptação e queda (AIQ) de 35 l e transeção em mata
secundária (r
2
= 0,43).
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30
-0.05
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
Abundância relativa AIQ de 35 l
Abundância relativa AIQ de 62 l
Figura 23 – Correlação (e linha de regresão) entre a abundância relativa das espécies
registradas pelos pitfalls de 35 l e 62 l em mata primária (r
2
= 0,85).
53
A proporção do número de indivíduos pertencentes a cada família de lagartos
capturados pelos cinco métodos é dada pela figura 24. Percebe-se que a maioria (mais de
50 % do total registrado) dos Gymnophthalmidae e Teiidae foram capturados em
armadilhas de interceptação e queda (AIQ) de 35 l, assim como a armadilha de cola é
responsável por cerca de 60 % dos indivíduos da família Polychrotidae. A abundância da
família Gekkonidae é bem representada por três métodos, sendo eles a transeção, a cola e a
armadilha de interceptação e queda (AIQ) de 35 l. Pode-se perceber também que as
armadilhas de funil e as de interceptação e queda (AIQ) de 62 l não registram com
eficiência a abundância de nenhuma família em especial. Os 100 % de Iguanidae coletados
pela armadilha de interceptação e queda (AIQ) de 62 l representam um único indivíduo
capturado. Para Scincidae os registros foram exclusivos da transeção e cola. Já para
Tropiduridae o único método que não registrou indivíduos dessa família foi o funil.
% de indivíduos
0
20
40
60
80
Figura 24 – Proporção de indivíduos capturados por família em cada método (AIQ =
armadilha de interceptação e queda; Gym = Gymnophthalmidae; Gek = Gekkonidae; Tei =
Teiidae; Pol = Polychrotidae; Tro = Tropiduridae; Igu = Iguanidae; Sci = Scincidae).
100
0
Gym Gek Tei Pol Tro Igu Sci
12
AIQ de 35 l AIQ de 62 l
Cola Funil
Transeção
54
3.3) Sucesso de captura dos métodos nos três ambientes.
A fim de verificar se o mesmo método apresentaria sucesso diferenciado
dependendo do ambiente onde o mesmo foi utilizado, os sucessos de captura para cada
método referente a cada um dos três ambientes foi calculado (Figura 25).
Sucesso de captura (%)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
Plantação de eucalipto
Mata Secundária
Mata Primária
Figura 25 – Média e erro padrão do sucesso dos métodos em plantação de eucalipto, mata
secundária e mata primária.
Através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis os sucessos de cada método
entre os três ambientes foi comparado, e pode-se verificar que somente a armadilha de
interceptação e queda de 35 l não apresentou diferença significativa do sucesso entre os
ambientes (Tabela 5). Quando comparações pareadas entre o sucesso da metodologia em
dois ambientes foram realizadas, através do teste de Mann-Whitney, pôde-se perceber que
nenhum método apresentou sucesso com diferença significativa entre mata secundária e
primária. Devido ao maior sucesso das armadilhas de interceptação e queda de 62 l em
55
plantação de eucalipto, comparações deste ambiente com os outros de mata apresentaram
diferenças significativas. O mesmo ocorreu com as armadilhas de funil. O oposto
aconteceu com a cola, que devido ao baixo sucesso apresentado em plantação de eucalipto
proporcionou diferenças significativas do sucesso neste ambiente em comparação com os
de mata secundária e primária.
Tabela 5 – Comparações do sucesso de uma mesma metodologia entre os três ambientes
(Kruskal-Wallis - H), e entre ambientes pareados (Mann-Whitney - U), com resultados
significativos para p < 0.05 (*). (E = plantação de eucalipto; MS = mata secundária; MP =
mata primária).
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
E-MS-MP
Η
= 5,790
p = 0,055
Η
= 6,644
p = 0,036 *
Η
= 10,278
p = 0,006 *
Η = 9,586
p = 0,008 *
Η
= 6,177
p = 0,046 *
E-MS U = 3,000
p = 0,056
U = 2,000
p = 0,032 *
U = 1,000
p = 0,016 *
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 1,500
p = 0,016 *
E-MP U = 5,000
p = 0,151
U = 2.000
p = 0,032 *
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 4,000
p = 0,095
MS-MP U = 5,000
p = 0,151
U = 12,000
p = 1,000
U = 4,000
p = 0,095
U = 10,000
p = 0,690
U = 9,000
p = 0,548
Analisando cada ambiente separadamente, procurou-se saber se uma unidade de
captura, ou seja uma única estação.noite, armadilha.noite ou homem.hora, se apresentaria
com sucesso diferenciado dentro de um mesmo ambiente. Para isso os sucessos por
unidade de captura foram calculados e são apresentados na figura 26. A partir destes dados
aplicou-se o teste de Kruskal Wallis entre os sucessos dos cinco métodos em cada
ambiente. Tanto em plantação de eucalipto, quanto em mata secundária e primária foram
obtidos resultados significativos (respectivamente H = 19,525 e p = 0,000; H = 16,680 e p
= 0.001; H = 19,836 e p = 0,002) para a diferença do sucesso por unidade de captura entre
os métodos.
56
Sucesso de captura (%)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Plantação de eucalipto Mata Secundária Mata Primária
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
Cola
Funil
Transeção
Figura 26 - Média e erro padrão do sucesso por unidade de captura dos cinco métodos em
plantação de eucalipto, mata secundária e mata primária.
Comparações pareadas entre os métodos em um mesmo ambiente foram feitas a
partir do teste de Mann-Whitney (Tabela 6). O sucesso de uma estação.noite de armadilha
de interceptação e queda de 35 l e de uma de 62 l não se mostrou diferente em nenhum dos
três ambientes. Em plantação de eucalipto o sucesso de uma armadilha.noite de cola não
apresentou diferença significativa com uma armadilha.noite de funil. Nos ambientes de
mata secundária e primária o sucesso de uma estação.noite de armadilha de interceptação e
queda de 35 l não se mostrou diferente de uma armadilha.noite de cola, assim como uma
estação.noite de armadilha de interceptação e queda de 62 l e uma armadilha.noite de cola.
Uma armadilha.noite de funil se mostrou com sucesso diferente a todas as outras unidades
de captura, sendo a eficiência deste método menor. Uma hora.homem de transeção
apresentou sucesso de captura maior a todas as outras unidades de captura nos três
ambientes.
57
Tabela 6 – Análises pareadas (Mann-Whitney - U) entre o sucesso das unidades de captura
de cada metodologia nos três ambientes (AIQ = armadilhas de interceptação e queda).
Resultados significativos para p < 0.05 (*).
AIQ de 62 l Cola Funil Transecto
Eucalipto
AIQ de 35 l U = 7,000
p = 0,310
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 1,000
p = 0,016 *
AIQ de 62 l
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 2,000
p = 0,032 *
Cola
U = 3,000
p = 0,056
U = 0,000
p = 0,008 *
Funil
U = 3,000
p = 0,047 *
Mata secundária
Pitfall 35 l U = 11,000
p = 0,841
U = 4,000
p = 0,095
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
Pitfall 62 l
U = 7,000
p = 0,310
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
Cola
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
Funil
U = 0,000
p = 0,008 *
Mata primária
Pitfall 35 l U = 8,000
p = 0,421
U = 3,000
p = 0,056
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
Pitfall 62 l
U = 9,000
p = 0,548
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 0,000
p = 0,008 *
Cola
U = 0,000
p = 0,008 *
U = 1,000
p = 0,008 *
Funil
U = 0,000
p = 0,008 *
58
Embasado nestes resultados, que mostram qual método em sua unidade de captura
possui sucesso de captura diferenciado dos demais, além de apontar qual possui maior
sucesso, calculou-se quantas unidades amostrais dos métodos menos eficientes seriam
necessárias para que seu sucesso se igualasse ao mais eficiente. A transeção, em sua
unidade de captura de uma hora.homem, apresentou o maior sucesso em todos os
ambientes. Seriam necessários cinco estações.noite de armadilhas de interceptação e queda
de 35 l, quatro estações.noite de 62 l, 138 armadilhas.noite de cola e 42 armadilhas.noite de
funil para que estes métodos obtivessem sucesso de coleta similar à uma hora.homem de
transeção. Em mata secundária seriam necessárias 22 estações.noite de armadilhas de
interceptação e queda de 35 l, 22 de 62 l, 53 armadilhas.noite de cola e 864
armadilhas.noite de funil para se igualarem ao sucesso de uma hora.homem de transeção. E
para mata primária haveria necessidade de 13 estações.noite de armadilhas de interceptação
e queda de 35 l, 16 de 62 l, 26 armadilhas.noite de cola e 970 armadilhas.noite de funil
para ser obtido sucesso de captura similar à uma hora.homem de transeção.
3.4) Gastos por unidade de esforço e espécime capturado.
Foram gastos nos cinco meses de estudo para a instalação e manutenção das
armadilhas de interceptação e queda de 35 l R$ 5.791,48, com as armadilhas de
interceptação e queda de 62 l R$ 2.410,66, armadilhas de cola R$ 799,00, armadilhas de
funil R$ 2.025,00 e nada com as transeções, já que estas foram realizadas pelo próprio
pesquisador, sem gastos extras com armadilhas. Os gastos por unidade de esforço e
espécime capturado são apresentados na tabela 7.
59
Tabela 7 – Custos por unidade de esforço e por espécie coletada referentes à instalação e
manutenção de cada método em toda a área de estudo (AIQ = armadilhas de interceptação
e queda; unidades de captura: AIQ de 35 l e 62 l = estações.noite; cola e funil =
armadilhas.noite)
Custos por unidade de esforço Custos por espécime coletado
AIQ de 35 l R$ 2,76 R$ 9,87
AIQ de 62 l R$ 3,83 R$ 12,82
Cola R$ 0,24 R$ 3,39
Funil R$ 0,41 R$ 25,97
Total R$ 7,49
Através dos custos referentes às unidades de capturas e espécimes coletados pôde-
se verificar que apesar das armadilhas de funil apresentarem unidades de esforço com
baixos custos, o retorno, através de espécimes coletados, foi o mais alto. As armadilhas de
cola proporcionaram o melhor retorno embasado nos gastos por espécime coletado. Quanto
as armadilhas de interceptação e queda, as de 62 l apresentaram custos por unidade de
esforço e espécime capturado maiores que as com balde de 35 l.
Considerando que na área de estudo a transeção obteve o maior sucesso por
unidade de captura, foram calculados quantas unidades de captura dos outros métodos
seriam necessárias para que os mesmos obtivessem um sucesso de captura similar a da
transeção em cada ambiente, e o quanto seriam gastos para que este sucesso se tornasse
similar (Tabela 8).
60
Tabela 8 – Quantidade de unidades de captura (N) que seriam necessárias para se obter um
sucesso de captura equivalente ao obtido pela transeção, e custos ($) referentes a essa
quantidade (AIQ = armadilhas de interceptação e queda; unidades de captura: AIQ de 35 l
e 62 l = estações.noite; armadilhas de cola e funil = armadilhas.noite).
Eucalipto Mata secundária Mata primária
N $ N $ N $
AIQ de 35 l 5 R$ 13,80 22 R$ 60,72 13 R$ 35,88
AIQ de 62 l 4 R$ 15,32 22 R$ 84,26 16 R$ 61,28
Cola 138 R$ 33,12 53 R$ 12,72 26 R$ 6,24
Funil 42 R$ 17,22 864 R$ 354,24 970 R$ 397,70
Embasado nesses dados verifica-se que em ambiente de plantação de eucalipto um
grande esforço, e consequentemente custeio, seria necessário para que as armadilhas de
cola obtivessem um sucesso similar à transeção neste ambiente. Já em ambientes de mata,
para um sucesso satisfatório das armadilhas de funil, seria necessário um esforço bem
maior, referente a unidades de captura, quando comparados aos outros métodos, além do
gasto que aumentaria substancialmente.
3.5) Seletividade (complementaridade) na amostragem de cada método.
Através de um MDS construído a partir da matriz de similaridade de Bray-Curtis,
com as amostras organizadas em registros pelas técnicas de captura para cada uma das
cinco áreas de plantação de eucalipto, percebe-se uma separação apresentada por alguns
grupamentos de métodos (Figura 27). A análise de similaridade (ANOSIM) obtida entre
todos os cinco grupamentos de métodos apresentou uma diferença significativa na estrutura
61
(p = 0,001), mas quando a mesma análise foi feita entre pares de grupamentos obteve-se
somente uma separação significativa entre armadilhas de interceptação e queda de 35 l e
cola (p = 0,008), armadilhas de interceptação e queda de 35 l e funil (p = 0,008),
armadilhas de interceptação e queda de 62 l e cola (p = 0,016), e cola e funil (p = 0,008).
Estas diferenças significativas entre os grupamentos de métodos fica mais evidente quando
se observa a figura 27. Todas as outras análises pareadas não apresentaram diferenças
significantes, com p > 0,07.
Figura 27 – MDS gerado a partir da matriz de similaridade de Bray-Curtis com as amostras
agrupadas em métodos de captura de lagartos para o ambiente de plantação de eucalipto
(AIQ = armadilhas de interceptação e queda) (stress = 0.08).
Quando calculados a média e erro padrão das similaridades, a partir da matriz de
similaridade de Bray-Curtis, obtidas entre as amostras pertencentes a um mesmo
grupamento metodológico percebe-se o quanto o método seria seletivo na amostragem, e se
2
a
dimensão
1
a
m
AIQ de 62 l AIQ de 35 l Cola Funil Transeção
ensdi ão
62
esta seria independente das áreas amostradas. Com isso pôde-se verificar que as armadilhas
de interceptação e queda de 35 l, 62 l e armadilhas de funil apresentam uma similaridade
alta nos registros entre as áreas de plantação de eucalipto. O contrário é apresentado pelas
armadilhas de cola, que por registrarem uma seleta comunidade se tornam mais
susceptíveis às variações entre as áreas (Figura 28).
Similaridade de Bray-Curtis
0
10
20
30
80
50
40
60
70
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
Figura 28 – Média e erro padrão das similaridades dos grupamentos gerados pela matriz de
similaridade de Bray-Curtis para o ambiente de plantação de eucalipto (AIQ = armadilhas
de interceptação e queda).
Em mata secundária percebe-se uma separação maior entre os grupamentos de
métodos em comparação à plantação de eucalipto (Figuras 27 e 29). A análise de
similaridade (ANOSIM) apresentou resultado significativo para a diferença nos registros
dos quatro grupos de métodos (p = 0,001), acompanhado pela maioria das análises
pareadas entre os grupamentos (todas com p < 0,032). Essa diferença só não foi verificada
63
entre armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l (p = 0,262), que mesmo no MDS
se apresentam de forma indiferenciada, como um único grupamento (Figura 29).
Figura 29 – MDS gerado a partir da matriz de similaridade de Bray-Curtis com as amostras
agrupadas em métodos de captura de lagartos em ambiente de mata secundária (AIQ =
armadilhas de interceptação e queda) (stress = 0.12).
2
a
dimensão
1
a
dimensão
AIQ de 62 l AIQ de 35 l Cola Transeção
Quando analisadas as similaridades das amostras pertencentes a um mesmo
grupamento, percebe-se que as armadilhas de cola apresentaram registros similares entre as
áreas considerando a porção da comunidade de lagartos encontrados no ambiente,
evidenciando uma seletividade e constância nas capturas em mata secundária (Figura 30).
O contrário pôde ser visto com as armadilhas de interceptação e queda de 62 l, que
apresentaram menor seletividade na amostragem e foram mais susceptíveis às variações
entre a composição dos seus registros.
64
Similaridade de Bray-Curtis
0
80
Figura 30 – Média e erro padrão das similaridades dos grupamentos gerados pela matriz de
similaridade de Bray-Curtis para o ambiente de mata secundária (AIQ = armadilhas de
interceptação e queda).
Em mata primária pôde-se verificar através do MDS uma separação mais evidente
dos grupamentos (Figura 31), que o apresentado para plantação de eucalipto e mata
secundária. A análise de similaridade entre os quatro grupos apresentou resultado
significativo (p = 0,001) para a diferença entre as porções da comunidade do ambiente
registrada por cada método. Com as análises de similaridades entre grupamentos pareados,
somente entre armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l essa diferença não
persistiu (p = 0,119), o que pode ser visto na figura 31 onde os dois métodos se apresentam
em um único bloco. Entre as demais análises obteve-se para armadilhas de interceptação e
queda de 35 l e transeção p = 0,032, e para as demais p = 0,008.
10
20
30
70
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Transeção
60
50
40
65
Figura 31 – MDS gerado a partir da matriz de similaridade de Bray-Curtis com as amostras
agrupadas em métodos de captura de lagartos em ambiente de mata primária (AIQ =
armadilhas de interceptação e queda) (stress = 0.19).
S
1
a
dimensão
2
a
dimensão
AIQ de 62 l AIQ de 35 l Cola Transeção
Quanto às similaridades das amostras dentro dos grupamentos pôde-se verificar que
as armadilhas de cola possuem a maior média, sugerindo uma maior seletividade e
constância de registros (Figura 32). A transeção se apresenta de forma similar. Já para as
armadilhas de interceptação e queda de 62 l pôde-se verificar uma variação maior no
conteúdo amostrado nas diferentes áreas de mata primária, sugerindo que este método seja
menos seletivo e mais vulnerável à diferenças entre áreas de mata primária.
66
Similaridade de Bray-Curtis
0
80
70
60
50
20
10
30
40
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Transeção
Figura 32 – Média e erro padrão das similaridades dos grupamentos gerados pela matriz de
similaridade de Bray-Curtis para o ambiente de mata primária (AIQ = armadilhas de
interceptação e queda).
3.6) Registro de espécies por cada método em períodos menores de amostragem.
Através de curvas de rarefação baseadas na riqueza estimada em cada dia de coleta
para cada método de captura em plantação de eucalipto, percebe-se que independente do
período (7, 14 ou 30 dias), as armadilhas de interceptação e queda de 35 l registram a
maior riqueza de espécies e as armadilhas de cola a menor (Figura 33). Tanto para o
período de 7 dias quanto de 14 dias, as armadilhas de interceptação e queda de 62 l e as
transeções registrariam riqueza de espécies similar. No caso das transeções, a riqueza de
espécies estimada para 14 e 30 dias de coleta foi similar à registrada pelo período total de
67
amostragem no ambiente, evidenciando que o esforço de 50 dias de coleta (50
horas.homem) foi maior que o necessário para o ambiente.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
Cola
Funil
Figura 33 – Curvas de rarefação baseadas na riqueza de espécies estimada em cada dia de
coleta para cada método de captura em plantação de eucalipto. A barra vertical indica o
ponto de comparação nos períodos de 7, 14 e 30 dias de coleta.
Considerando a porcentagem de espécies registradas referente ao total capturado
pelos métodos em plantação de eucalipto, em 7 dias a transeção possuiu o melhor
aproveitamento com 73 % da riqueza de espécies que poderia ser amostrada pelo método
neste ambiente (Tabela 9). Em 7 e 14 dias as armadilhas de cola e funil registraram a
menor eficiência, considerando o que estes métodos poderiam registrar no total da coleta.
Com exceção das transeções, percebe-se que para todos os outros métodos quanto maior o
esforço em dias de campo, maiores os sucessos destes métodos em registrar novas
espécies.
1 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 704
Transeção
Dias de coleta
Riqueza estimada
68
Tabela 9 – Porcentagem do quanto da riqueza de espécies estimada para cada período
representa da total capturada por cada método em plantação de eucalipto (AIQ =
armadilhas de interceptação e queda).
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
7 dias 53 % 49 % 32 % 43 % 73 %
14 dias 64 % 65 % 54 % 57 % 92 %
30 dias 77 % 81 % 82 % 79 % 100 %
Em mata secundária as armadilhas de interceptação e queda de 35 l e as transeções
apresentaram riqueza de espécies estimada similares no período de 7 e 30 dias de coleta,
sendo os métodos que também registraram as maiores riqueza de espécies em todos os
períodos. Para 7 e 14 dias de captura as armadilhas de funil apresentaram a menor riqueza
de espécie entre os métodos, mas com 30 dias de coleta e subsequentes este método
registrou riqueza de espécie similar às armadilhas de cola, sendo ambos os métodos com
menores eficiências no registro da riqueza de espécie nestes períodos (Figura 34).
0
2
4
6
8
12
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
Cola
Funil
10
Figura 34 – Curvas de rarefação baseadas na riqueza de espécie estimada em cada dia de
coleta para cada método de captura em mata secundária. A barra vertical indica o ponto de
comparação nos períodos de 7, 14 e 30 dias de coleta (AIQ = armadilhas de interceptação e
queda).
1 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 704
Transeção
Dias de coleta
Riqueza estimada
69
Considerando a porcentagem da riqueza de espécies registrada em cada período
referente ao total que a técnica poderia capturar, percebe-se que nenhum método chega aos
50 % do total de espécies no período de 7 dias (Tabela 10). Para 14 dias em campo o
sucesso no registro de espécies fica em torno dos 50 % para todos os métodos exceto
armadilhas de funil (40 %).
Tabela 10 – Porcentagem do quanto a riqueza de espécies estimada para cada período
representa da total capturada por cada metodologia em mata secundária (AIQ = armadilhas
de interceptação e queda).
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
7 dias 40 % 35 % 43 % 22 % 40 %
14 dias 57 % 53 % 52 % 41 % 54 %
30 dias 75 % 74 % 70 % 72 % 79 %
Em ambiente de mata primária as armadilhas de interceptação e queda de 35 l
apresentaram a maior riqueza de espécies estimada para todos os períodos, seguidas pelas
transeções. Já para armadilhas de cola e de interceptação e queda de 62 l a riqueza de
espécies para 7 e 14 dias de coleta foi similar, com aumento do número de espécies
registradas pelas armadilhas de interceptação e queda de 62 l em relação às armadilhas de
cola para o período de 30 dias. As armadilhas de funil apresentaram a menor riqueza de
espécies em todos os períodos. (Figura 35).
Em comparação à mata secundária e plantação de eucalipto, o sucesso de todos os
métodos no registro de espécies no período de 7 dias foi menor em mata primária,
evidenciando um maior esforço necessário dos métodos para este ambiente. Cola
apresentou o maior valor referente ao que este mesmo método poderia registrar (Tabela
11). Para os períodos de 14 e 30 dias as armadilhas de cola, armadilhas de interceptação e
70
queda de 35 l e transeção, nesta ordem, apresentaram os maiores valores, mesmo que não
ultrapassando os 80 % das espécies possíveis.
0
2
4
6
8
20
AIQ de 35 l
AIQ de 62 l
18
Cola
Funil
16
Figura 35 – Curvas de rarefação baseadas na riqueza de espécies estimada em cada dia de
coleta para cada método de captura em mata primária (AIQ = armadilhas de interceptação
e queda).
Tabela 11 – Porcentagem do quanto a riqueza de espécies estimada para cada período e
método representa da total registrado por cada técnica em mata primária (AIQ =
armadilhas de interceptação e queda).
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
7 dias 39 % 25 % 41 % 21 % 34 %
14 dias 56 % 44 % 57 % 39 % 50 %
30 dias 77 % 74 % 78 % 71 % 76 %
10
12
14
1 4 7 101316192225283134374043464952555861646770
Transeção
Dias de coleta
Riqueza estimada
71
3.7) Diferença entre o tamanho dos espécimes capturados por cada método.
Através de uma ANOVA comparando as médias de tamanho (CRC) dos espécimes
registrados por cada técnica, pôde-se observar um resultado significativo para a diferença
entre os tamanhos (F = 46,933; p = 0,000). As armadilhas de funil registram os maiores
lagartos, enquanto que as transeções os menores (Figura 36).
Média do CRC
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
AIQ de 35 l AIQ de 62 l Cola Funil Transeção
Figura 36 – Média e erro padrão do tamanho (CRC em cm) dos lagartos capturados por
cada método (AIQ = armadilhas de interceptação e queda).
3.8) Taxa de mortalidade.
Através da proporção de indivíduos encontrados mortos pelo total de capturas em
cada método fica evidente que as armadilhas de cola possuem a maior taxa de mortalidade,
sendo a principal causa a predação. Já para as armadilhas de interceptação e queda as
72
principais causas foram a insolação em ambiente de plantação de eucalipto, afogamento
devido a dias com altos índices de pluviosidade, e predação por artrópodes de solo.
Nenhum animal foi encontrado morto no momento das transeções (Tabela 12).
Tabela 12 – Número total de registros, número de indivíduos encontrados mortos, taxa de
mortalidade (%) e principais causas da morte (AIQ = armadilhas de interceptação e queda;
C = cola; F = funil; T = transeção).
N
o
registros N
o
mortes Mortalidade Principais causas
AIQ de 35 l 588 22 3.7 % Afogamento, predação e insolação
AIQ de 62 l 188 15 8 % Afogamento, predação e insolação
C 236 41 17.4 % Predação
F 78 1 1.3 % Insolação
T 446 0 0
73
4) Discussão
Segundo RYAN et al. (2002) e THOMPSON et al. (2005) a armadilha de interceptação
e queda é o método mais eficiente no registro do número de espécies presente em uma
determinada área. CECHIN & MARTINS (2000) apontam que entre 60 e 100 % das espécies
presentes em uma área podem ser registradas através deste método. O presente estudo
concorda com estes trabalhos, evidenciando que a técnica de interceptação e queda, dentre
todas as comparadas, registrou a maior riqueza de espécies nos três ambientes analisados.
Além disto as armadilhas de interceptação e queda de 35 l apresentaram quatro espécies
(Alopoglossus angulatus, Arthrosaura kockii, Arthrosaura reticulata e Neusticurus rudis)
não capturadas pelos outros métodos, e as de 62 l uma espécie (Iguana iguana). Apesar do
número de indivíduos exclusivos de cada espécie ser de no máximo 2 exemplares, ainda
sim fica explícita a importância da técnica na amostragem da riqueza de espécies de uma
área. CAMPBELL & CHRISTMAN (1982), GREENBERG et al. (1994) e JORGENSEN et al.
(1998) também verificaram que o método de interceptação e queda é o mais eficiente na
determinação da riqueza de espécies, acrescentando à área espécies não registradas por
outros métodos.
Segundo BURY & CORN (1990), BURY & RAPHAEL (1983), FRANCO et al. (2002) e
THOMPSON et al. (2005) o método de interceptação e queda é voltado principalmente para
espécies terrestres, evidenciado pela maior riqueza de espécies e abundância registradas
neste estudo das famílias predominantemente terrestres (Teiidae e Gymnophthalmidae).
Quanto à abundância total registrada, pôde-se verificar que o método apresentou a melhor
caracterização da estrutura da comunidade, com uma composição similar à obtida nos
dados gerais para a área, apontando as espécies mais abundantes assim como indicando as
raras ou pouco amostradas (CORN & BURY, 1990).
74
Quanto ao método de armadilhas de cola, apesar deste não compor uma lista
eficiente da riqueza de espécies de uma área, foi o único método a capturar Anolis ortonii,
num total de seis indivíduos, sugerindo ser esta técnica a mais indicada para o registro da
espécie, assim como foi responsável pelo único registro de Anolis punctatus. Estes
resultados concordam com BAUER & SADLIER (1992) e GLOR et al. (2000) que apontam o
método como auxiliar a outros no registro de espécies de lagartos arborícolas e semi-
arborícolas.
Segundo CORN & BURY (1990) a caracterização de técnicas que registrem uma
maior abundância de alguma espécie (dominante) é importante pois podem no futuro
subsidiar estudos de populações destas espécies. KRYSKO (2000) e PATERSON (1998)
mencionam que há uma dificuldade em se obter técnicas que registrem com eficiência
populações específicas. Dentre os cinco métodos comparados neste trabalho, as armadilhas
de cola registraram predominantemente uma espécie, Gonatodes humeralis,
correspondendo a cerca de 84 % de todos os indivíduos capturados pelo método. Portanto,
esta técnica poderia ser adequada para o estudo dessa espécie.
Segundo G
REENBERG et al. (1994) e JORGENSEN et al. (1998) as armadilhas de funil
não proporcionam capturas que complementem listas de espécies de uma determinada área,
detectando lagartos que poderiam ser registradas por outros métodos, o que foi evidenciado
também no presente estudo. Além disso, com exceção de Ameiva ameiva em plantação de
eucalipto, este método não colaborou com dados de abundância relativa a nenhuma
espécie. Contudo, F
ITCH (1951) e VOGT & HINE (1982) encontraram que as armadilhas de
funil registram riqueza de espécies maior que as armadilhas de interceptação e queda e as
transeções.
Quanto à riqueza de espécies registrada pelas transeções, pôde-se notar que esta
técnica esteve intimamente relacionada com a riqueza de espécies total do ambiente,
75
obtendo sua melhor eficiência em mata primária (que detém o maior número de espécies
dentre os três ambientes). Contudo, neste ambiente o método não foi responsável pelo
registro de nenhuma espécie não capturada pelos outros métodos. RICE et al. (1994) e
BURY & RAPHAEL (1983) encontraram que o sucesso em registrar a riqueza de espécies de
uma área através das transeções é similar à apresentada pelas armadilhas de interceptação e
queda, resultado este não verificado no presente trabalho.
Quanto à abundância das espécies registrada pelas transeções, pôde-se verificar que
o método complementa as armadilhas de interceptação e queda na determinação da
estrutura da comunidade, compondo um cenário faunístico similar ao observado para toda
a área da Jari, através de uma estimativa da comunidade de lagartos mais próxima da real
em uma determinada área (BURY & RAPHAEL, 1983; CORN & BURY, 1990). Contudo,
quando analisados o sucesso em capturar lagartos apresentados pelos cinco métodos,
através da comparação da eficiência obtida pelas unidades de esforço, pôde-se verificar que
uma hora.homem de transeção obteve o maior sucesso de coleta por unidade dispendida
em todos os ambientes. Esta técnica apresentou também o menor gasto relacionado ao
custo/benefício de sua execução. Porém, como dito anteriormente, esta técnica sozinha não
fornece dados satisfatórios sobre a estrutura da comunidade de lagartos de uma
determinada região, sendo aconselhada a utilização de métodos complementares. Segundo
BURY & RAPHAEL (1983) e CORN & BURY (1990), a técnica complementar mais adequada
seria a de interceptação e queda.
CECHIN & MARTINS (2000) apontam que armadilhas de interceptação e queda com
baldes maiores proporcionam maior eficiência de coleta que baldes menores, contudo neste
trabalho os autores utilizaram somente baldes de 100 – 200 l e compararam seus resultados
com a literatura disponível, onde os estudos foram realizados com baldes de 20 – 35 l.
Estes trabalhos, porém, foram realizados em diferentes biomas (Amazônia, Cerrado e
76
Campos Sulinos), em períodos diferentes (1996 – 2000), épocas de amostragens diferentes
(chuvosa – seca), além de alguns serem realizados as margens de represas hidrelétricas em
enchimento. GIBBONS & SEMLITSCH (1981) mostraram que a distância de fatores críticos,
como água, além de espaçamento temporal e estruturas físicas da área (fitofisionomias),
poderiam influenciar no sucesso de captura deste método, o que torna comparações como
as realizadas por CECHIN & MARTINS (2000) de difícil interpretação. No presente estudo,
onde o sucesso de captura dos dois tipos de armadilhas de interceptação e queda foram
analisados de forma padronizada, não foram encontradas diferenças na riqueza de espécies,
abundância relativa, sucesso por unidade de esforço e seletividade na amostragem de
determinada comunidade de lagartos. Porém, as armadilhas de interceptação e queda de 35
l apresentaram um gasto por unidade de esforço menor que as de 62 l, além de obter maior
benefício através do custo por espécime capturado. Segundo SHEIL (2001), devido às
limitações existentes no custeio de pesquisas para fins conservacionistas, inventários
faunísticos devem ser preparados com responsabilidade, incluindo planejamento dos gastos
e retornos na forma de trabalhos que auxiliem efetivamente no processo de conservação.
Portanto, sugere-se a utilização de baldes de 35 l em inventários de lagartos.
Segundo G
IBBONS & SEMLITSCH (1981) e CROSSWHITE et al. (1999) a escolha das
técnicas de captura a serem empregadas em uma determinada área devem considerar a
ecologia e comportamento das possíveis espécies presentes, podendo assim obter uma
melhor amostragem da comunidade. Neste estudo pôde-se verificar que as armadilhas de
cola apresentaram uma grande seletividade no registro dos lagartos, capturando uma
porção da comunidade diferente dos demais métodos. Além disso, a técnica apresentou o
menor gasto por unidade de esforço e espécime capturado dentre as armadilhas analisadas.
Em contrapartida, as armadilhas de interceptação e queda de 35 l foram
responsáveis pelo registro de uma porção da comunidade não capturada pelas armadilhas
77
de cola, apresentando estas duas técnicas juntas, complementaridade no registro da fauna
de lagartos em todos os ambientes estudados na Jari. Associada às duas técnicas, sugere-se
ainda o método de transeção com nenhum gasto adicional, a fim de se obter uma melhor
estrutura da comunidade, fornecida com dados eficientes da abundância das espécies
encontradas na área. Como a utilização de armadilhas de cola na amostragem de lagartos é
uma técnica recente (BAUER & SADLIER, 1992), CAMPBELL & CHRISTMAN (1982)
apontaram a combinação armadilhas de funil e interceptação e queda como os métodos que
obtinham a melhor complementaridade na amostragem de uma região.
Em uma Avaliação Ecológica Rápida (AER), SAYRE et al. (2003) e SOBREVILA &
BATH (1992) indicaram a transeção como método que forneceria melhores dados de
riqueza de espécies, abundância relativa e diversidade do grupo, caracterizando as
armadilhas de interceptação e queda como um método que consome muito tempo para
instalação e amostra apenas subgrupos de répteis. Porém, o presente estudo encontrou que
as armadilhas de interceptação e queda de 35 l apresentaram melhores estimativas de
riqueza de espécies em períodos curtos de amostragem, seguidas pelas transeções. RYAN et
al. (2002) citaram o método de interceptação e queda como indispensável em inventários
de curta duração. Quanto ao tempo dispendido para a instalação das estações, contando
com quatro auxiliares de campo, somente um dia foi necessário para a instalação de 13
estações de armadilhas de interceptação e queda no presente estudo. Com isso fica evidente
que havendo mão de obra disponível a instalação desse tipo de armadilha não consome
muito tempo em campo.
Quanto aos objetivos das AERs (SOBREVILA & BATH, 1992) de identificar espécies
raras, vulneráveis ou em perigo de extinção, em um curto período de amostragem, além de
coletar informação sobre biologia e habitat das espécies, definir seus status e limites de
distribuição geral, fica a dúvida se é possível alcança-los com um período menor que 30
78
dias de campo. Uma Avaliação Ecológica Rápida deve ser analisada com cautela,
principalmente quanto ao tempo de amostragem em uma determinada área, para que a lista
de espécies fornecida após o levantamento não transforme uma área potencial para a
conservação de espécies importantes em simplesmente uma área que possua espécies
comuns, facilmente encontradas em um curto período de campo. Segundo ENGE (1998;
2002), amostragens de longa duração ainda são necessárias para se obter o registro da
composição de espécies melhor elaborada de uma determinada região, sendo esta capaz de
fornecer subsídios para a efetiva conservação da fauna ali presente.
Considerando a taxa de mortalidade observada nos cinco métodos, as armadilhas de
cola apresentaram os maiores valores, com cerca de 17,4 % de indivíduos encontrados
mortos na armadilha. Essa taxa é intermediária à apresentada na literatura, com 10,9 %
encontrada por GLOR et al. (2000) e 47,6 % por VARGAS et al. (2000). A maior causa das
mortes ocorridas na cola foi devido à predação, principalmente por formigas, também
verificado por GLOR et al. (2000). A fim de diminuir estas perdas aconselha-se a revisão
das armadilhas de cola mais de uma vez ao dia.
As principais causas das mortes ocorridas nas armadilhas de interceptação e queda
foram insolação em plantação de eucalipto (devido à pequena cobertura do dossel),
predação (principalmente por formigas), e afogamento, onde mesmo os baldes estando
furados houve acúmulo de água após dias de chuva intensa. A única morte observada nos
funis foi em plantação de eucalipto, e supõe-se que tenha sido devido à incidência direta do
sol sobre a armadilha. Aconselha-se a verificação das armadilhas mais de uma vez ao dia.
Não houve nenhum caso de morte acidental durante as coletas nas transeções.
79
5) Conclusões
Dentre os cinco métodos analisados, as armadilhas de interceptação e queda de 35 l e
62 l foram responsáveis pelas maiores riquezas de espécies registradas nos três
ambientes (plantação de eucalipto, mata secundária e primária).
As técnicas de armadilhas de cola e funil (este em plantação de eucalipto) registraram
melhor a abundância de algumas espécies (dominantes), enquanto que as armadilhas de
interceptação e queda obtiveram uma melhor distribuição dos indivíduos pelas espécies
capturadas. A transeção ofereceu suporte aos outros métodos, complementando dados
de abundância dos lagartos.
Considerando a riqueza de espécies e abundância, as famílias de lagartos representadas
em sua maioria por lagartos de hábito terrestre (Teiidae e Gymnophthalmidae) foram
melhor registradas pelas armadilhas de interceptação e queda, enquanto que as
armadilhas de cola acessaram uma fauna principalmente arborícola (Polychrotidae).
O sucesso de captura das armadilhas de interceptação e queda de 35 l independeu do
ambiente onde as mesmas foram instalados, apresentando sucesso similar em plantação
de eucalipto, mata secundária e primária. As armadilhas de interceptação e queda de 62
l e armadilhas de funil apresentaram sucesso de captura maior em plantação de
eucalipto, enquanto que as armadilhas de cola e transeções obtiveram sucessos
similares nos ambientes de mata secundária e primária e maior que o encontrado em
plantação de eucalipto.
Uma hora.homem de transeção se mostrou mais eficiente, quanto ao sucesso de
captura, em todos os ambientes, quando comparada aos outros métodos. Quanto aos
custos para realização, este método apresentou a melhor relação custo/benefício dentre
as técnicas.
80
Quanto à seletividade de cada método em registrar a comunidade de lagartos, as
armadilhas de interceptação e queda de 35 l e 62 l não apresentaram diferenças na
composição das espécies capturadas. As armadilhas de cola registraram uma fauna de
lagartos diferente das armadilhas de interceptação e queda, caracterizando uma
complementaridade entre as técnicas.
O tamanho do balde das estações de interceptação e queda não foi responsável por
diferenças entre riqueza e abundância relativa das espécies capturadas, sucesso por
unidade de captura e seletividade na amostragem da composição dos lagartos nos
diferentes ambientes. Porém o custo apresentado pelas unidades de esforço e espécimes
capturados pelas armadilhas de interceptação e queda de 62 l foi maior, aconselhando-
se assim a utilização de baldes de 35 l em inventários de lagartos.
No caso de um inventário rápido (Avaliação Ecológica Rápida) aconselha-se a
utilização de armadilhas de interceptação e queda de 35 l como método que registra
melhor a riqueza de espécies de lagartos de uma determinada região. Contudo, a fim de
se obter uma avaliação melhor elaborada de uma determinada região, aconselha-se que
inventários de longa duração sejam realizados.
Os maiores lagartos foram capturados por armadilhas de funil, enquanto os menores
pelas transeções.
A fim de diminuir a taxa de mortalidade dos exemplares, aconselha-se a revisão das
armadilhas em mais de uma vez ao dia.
81
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89
Apêndice
90
Lista de espécies e suas respectivas abundâncias registradas por cada método nos diferentes ambientes (E = eucalipto; MS =
m
= mata primária; To = total).
Pitfall 35 l Pitfall 62 l Cola Funil Transecto
Espécies
E MS MP E MS MP E MS MP E MS MP E MS MP
To
Coleodactylus amazonicus 19 66 56 6 8 11 1 5 62 54 288
Gonatodes humeralis 9 7 28 6 4 4 10 67 101 4 89 60 389
Gonatodes sp. 2 2 1 5
Lepidoblepharis heyerorum 1 8 1 12 1 1 24
Thecadactylus rapicauda 1 6 2 9
Alopoglossus angulatus 1 1
Arthrosaura kockii 2 2
Arthrosaura reticulata 2 2
Bachia flavescens 2 8 1 3 1 15
Cercosaura ocellata 45 4 3 10 4 2 6 1 75
Iphisa elegans 1 12 2 1 2 18
Leposoma guianense 1 29 1 6 4 41
Leposoma percarinatum 1 1 1 1 4
Neusticurus bicarinatus 1 1
Neusticurus rudis 1 1 2
Ptychoglossus brevifrontalis 2 1 3
Tretioscincus agilis 16 2 6 2 1 27
Iguana iguana 1 1
Anolis fuscoauratus 3 2 2 26 1 16 50
Anolis nitens 2 2 4
Anolis ortonii 4 1 1 6
Anolis punctatus 1 1
Mabuya nigropunctata 2 2 4
Ameiva ameiva 180 14 3 67 56 3 1 12 5 1 342
Cnemidophorus cryptus 28 20 2 3 40 93
Kentropyx calcarata 14 8 9 4 4 3 1 3 2 48
Tupinambis teguixin 2 2
Plica plica 1 1 2
Plica umbra 1 5 3 3 1 13
N
o
de indivíduos 286 117 184 111 36 41 16 70 150 64 8 6 67 165 151 1472
N
o
de indivíduos portodo 587 188 236 78 383
91
92
CAPÍTULO 2
A INFLUÊNCIA DA LOCALIZAÇÃO DAS ARMADILHAS DE COLA NO
SUCESSO DE CAPTURA DE LAGARTOS NA
AMAZÔNIA.
93
Resumo
A utilização de armadilhas de cola como método de captura de lagartos é uma técnica
recente, portanto algumas questões quanto ao sucesso de captura do método precisam ser
melhor estudadas. Este trabalho procura verificar quais variáveis referentes a localização
das armadilhas poderiam influenciar no sucesso de captura do método. Para isso foram
selecionados 10 pontos de amostragem, sendo cinco em mata secundária e cinco em mata
primária, em uma área localizada no município de Almeirim, norte do estado do Pará. No
período de janeiro a junho de 2005, com um esforço total de 3.096 armadilhas.noite foram
registrados 244 lagartos pertencentes a 12 espécies. Duas espécies, Gonatodes humeralis e
Anolis fuscoauratus, foram dominantes no registro do método, sendo esta técnica indicada
para o estudo de população destas espécies. As armadilhas fixadas em troncos caídos
apresentaram maior riqueza de espécies e sucesso de captura quando comparadas as
pranchas fixadas em cipós e troncos de árvores vivas. Porém em troncos de árvores vivas
foi capturada uma espécie (Anolis ortonii) não registrada nos outros substratos. Quando
comparados os sucessos de capturas entre as armadilhas que envolviam todo o substrato e
as que deixavam uma passagem livre para o animal, pôde-se notar que o sucesso de captura
foi maior nas pranchas que não circundavam todo o substrato, evidenciando que o lagarto é
capturado não por bloqueio de passagem, mas por atração à prancha adesiva,
provavelmente pela presença de artrópodes aderidos a elas. A altura das armadilhas de cola
nos troncos de árvores vivas não influenciou na taxa de captura do método, sendo
apresentado sucesso similar entre as armadilhas na base das árvores até as localizadas a 2
m de altura. Os diferentes níveis de pluviosidade não influenciaram no sucesso de captura
do método. Apesar de um decréscimo no sucesso de captura de uma mesma prancha
adesiva no decorrer dos dias em campo, pôde-se perceber que o método possui eficiência
de captura até o 12º dia de campo. Quanto ao sucesso de captura entre ambientes e
microambientes de mata primária não foi encontrada diferença significativa entre o sucesso
de captura do método no entorno de corpos d’água (igarapé) e longe dos mesmos, assim
como entre armadilhas fixadas no solo, arbustos e troncos de árvores. As armadilhas no
solo proporcionaram registros extras de lagartos de serrapilheira que dificilmente seriam
registrados nas armadilhas fixadas nas árvores e arbustos. Com este estudo pôde-se notar
que a técnica de armadilhas de cola funciona como uma ferramenta a mais em estudos da
biodiversidade de lagartos em ambientes de mata.
Palavras-chave: armadilhas de cola; Reptilia; lagartos; sucesso de captura; Amazônia.
94
Abstract
The use of glue traps as method of sampling lizard communities is a recently applied
technique in herpetology. However, there is currently a poor understanding of the potential
benefits of glue traps in the study of lizard ecology. The aim of this study was to evaluate
how trap capture success could be influenced by the localization of traps in the study of a
neotropical lizard fauna. Ten sites were selected, five in primary rainforest and five in
naturally regenerating secondary forest in the region of Jari, Pará, Brasil. The study was
conducted between January and June 2005. In both forest types traps were set on vertical
tree trunks, fallen logs and lianas. Trapping effort totaled 2096 trap nights, capturing 244
individuals of 12 species. Two species, Gonatodes humeralis and Anolis fuscoauratus
comprised more than 80% of the total number of captures, indicating that glue trapping is a
useful technique for population studies of these species. Traps set on fallen trunks
measured a higher level of species richness and capture success than traps set on tree
trunks or lianas. Although one species (Anolis ortonii) was captured in tree trunks which
was not recorded from other trap locations. A higher trap success was recorded from traps
which did not completely encircle the trunk or fallen log, indicating that the presence of a
gap where animals could pass unhindered did not reduce the effectiveness of the method. It
is likely that captured animals are frequently attracted to the trap due to the presence of
previously captured arthropods which can act as effective bait. Trap success was not
influenced by the height of the trap above the ground (0-2 m). We found no correlation
between trap success and the amount of rainfall fallen at a site during the previous 24
hours. Moreover, trap success did not diminish significantly over time, and animals were
still being captured on the 12
th
day of trapping. In an additional trapping campaign in a
single primary forest site, traps were placed near to a creek and on a dry plateau -
distributed evenly between ground, shrub and trunk placements in each location. No
differences were found in trap success with respect to either site location or trap placement,
although traps placed on the ground exclusively captured two species of leaf litter lizard.
These results indicate that glue trapping can provide an important and useful addition to
other sampling methods in the study of neotropical forest lizards.
Key-words: glue traps; Reptilia; lizards; capture success; Amazonia.
95
1) Introdução
A herpetofauna brasileira é uma das mais ricas conhecidas no mundo, sendo o
bioma Amazônico com maior relevância considerando sua riqueza e número de espécies
endêmicas (VITT, 1991). Para lagartos e anfisbenas são conhecidas 109 espécies, sendo 81
lagartos endêmicos da Amazônia (RODRIGUES, 2005). Contudo, devido à dimensão
continental deste bioma, várias lacunas de informação ainda são encontradas (VITT, 1996).
Outro problema encontrado se refere à dificuldade no registro de lagartos que possuem um
hábitat específico, como os arborícolas, devido à falta de métodos eficientes na captura
destes animais (KRYSKO, 2000; PATERSON, 1998).
Para a fauna arborícola e semi-arborícola uma possibilidade é o uso de armadilhas
de cola (mouse glue traps), onde uma prancha adesiva (usualmente armadilha comercial
para ratos) é fixada a um substrato que se pretende amostrar (BAUER & SADLIER, 1992). A
aderência da cola é forte o suficiente para impedir a fuga do animal (PATERSON, 1998;
RODDA et. al., 1993) (Figura 1).
Figura 1 – Thecadactylus rapicauda aderido à armadilha de cola.
96
O primeiro trabalho a relatar o uso de armadilhas de cola na amostragem de
lagartos arborícolas foi BAUER & SADLIER (1992). Neste trabalho os autores fixaram as
armadilhas em 10 árvores, com duas e quatro pranchas, de forma a circundar todo o tronco,
e obtiveram 38 espécimes de Bavayia sauvagii em 3 dias de coleta. ZANI & VITT (1995),
em estudo sobre qual método registraria com eficiência a abundância da espécie
Uracentron flaviceps na Amazônia Equatoriana, obtiveram quatro indivíduos em apenas
um dia de coleta de armadilha de cola. A utilização de minnow trap, no mesmo período,
contudo, se mostrou mais eficiente, com registro de 23 indivíduos. WHITING (1998), a fim
de comparar a eficiência das armadilhas de cola com e sem isca (inseto vivo), utilizou 74
armadilhas de cola, das quais metade possuíam uma isca no centro da prancha adesiva.
Foram capturados 46 espécimes em colas com isca e 10 nas sem iscas, evidenciando que os
lagartos tendem a ser atraídos à armadilha pela presença de alimento. O trabalho foi feito
na Namíbia, África.
Apesar da cola de ser uma armadilha primeiramente utilizada para animais
arborícolas, pode também ser usada em ambientes abertos, com pouca vegetação, instalada
no próprio solo ou na superfície de rochas. D
OWNES & BORGES (1998) registraram cerca de
30 indivíduos por hora com estas armadilhas colocadas no chão, na região urbana de
Sidney, Austrália. Durante 10 dias de amostragem na República Dominicana, G
LOR et al.
(2000) registraram, através de armadilhas de cola fixadas em quatro microambientes (solo
distante 1 m da árvore mais próxima; solo na base de uma árvore; tronco de árvore a 1 m
de altura; tronco de árvore a 2 m de altura), 1.411 répteis, pertencentes a 16 espécies. Neste
trabalho o sucesso de captura em árvores foi maior que no solo, e apresentou taxa de
mortalidade de aproximadamente 11 %. Porém, VARGAS et al. (2000) verificou uma taxa
de mortalidade maior, aproximadamente 48 % dos indivíduos capturados.
97
A armadilha de cola é uma técnica de fácil instalação, que se mostrou eficaz em
amostrar alguns animais de difícil coleta, e conseqüentemente com poucos exemplares em
coleções, em trabalho de BAUER & SADLIER (1992). O material para as armadilhas é de
baixo custo nos EUA, porém não está disponível para venda no Brasil, necessitando ser
importado, o que dificulta um pouco sua obtenção.
1.1) Objetivos
1.1.1) Objetivo geral
Através da utilização de armadilhas de cola no registro de lagartos em ambientes de
mata, verificar quais variáveis referentes à localização do método poderiam influenciar no
sucesso de captura neste ambiente.
1.1.2) Objetivos específicos
Observar o sucesso do método em capturar lagartos em ambientes de mata secundária e
primária na Amazônia.
Verificar se alguma espécie de lagarto é mais susceptível à captura por este método.
Verificar se há diferença na riqueza de espécies e sucesso de captura das armadilhas de
cola dependendo do substrato em que a mesma foi fixada (tronco de árvore viva, cipó
ou tronco caído).
Verificar se o sucesso do método está relacionado à armadilha circundar ou não todo o
substrato onde a mesma foi fixada.
98
Comparar os sucessos de captura das armadilhas de cola em diferentes categorias de
altura em troncos de árvores vivas, a fim de descobrir se existe uma altura ideal que
proporcione melhores taxas de captura.
Verificar a durabilidade de uma mesma armadilha de cola, através do sucesso de
captura obtido no decorrer dos dias de coleta.
Verficar se existe correlação entre diferentes níveis de pluviosidade e o sucesso de
captura do método.
Verficar a taxa de mortalidade entre os lagartos capturados e quais suas principais
causas.
Em mata primária, analisar o sucesso de captura do método em entornos de corpos
d’água (igarapé) e longe dos mesmos, assim como entre diferentes microhábitats (solo,
arbustos e troncos de árvores).
99
2) Materiais e métodos
2.1) Área de estudo
O presente trabalho foi realizado em uma área de aproximadamente 546.000
hectares pertencente à Empresa Jari Celulose S.A., situada no distrito de Monte Dourado,
município de Almerim, norte do Pará (00º27’00” – 01º30’00” S, 51º40’00” – 53º20’00”
W). Esta região encontra-se na transição entre a Planície Amazônica e o Planalto das
Guianas (BAUCH et. al., 2004) e está situada no “Domínio Morfoclimático dos Planaltos
Amazônicos Rebaixados ou Dissecados das Áreas Colinosas e Planícies Revestidas por
Floresta Densa”, na depressão periférica do norte do Pará (RADAM BRASIL, 1974). Possui
altitude em torno de 150 m, temperatura média anual de 26º C, e segundo a definição de
Köppen com clima variando entre tropical úmido de monção (Amw’) e tropical úmido
(Aw) (RADAM BRASIL, 1974). Na área são encontradas formações vegetais de mata
primária (Floresta Ombrófila Densa, com cerca de 224.300 hectares) e mata secundária
(capoeiras, com aproximadamente 3.300 hectares), além de plantação de eucalipto.
2.2) Metodologia
2.2.1) Riqueza e abundância de espécies nos registros de armadilhas de cola em matas
secundária e primária, e sucesso de captura do método em diferentes substratos.
Foram selecionados 10 pontos de amostragem em toda a área, sendo cinco destes
em mata secundária e cinco em mata primária (Figura 2).
100
Mata secundária
Mata primária
Base de campo
RIO JARI
RIO AMAZONAS
RIO PARU
1
2
3
4
5
10
9
6
7
8
Figura 2 – Imagem de satélite da área de estudo com a localização dos pontos de coleta (1-
Bituba; 2-Quaruba; 3-Castanhal; 4-Estação; 5- Pacanari; 6-área 55; 7-área 56; 8-área 75; 9-
área 86; 10-área 91).
As coordenadas geográficas para cada ponto de coleta em mata secundária são: área
55 (0
o
35’ 13’’ S – 52
o
39’ 31’’ W), área 56 (0
o
42’ 42’’ S – 52
o
40’ 00’’ W), área 75 (0
o
42’ 08’’ S – 52
o
38’ 08’’ W), área 86 (0
o
36’ 14’’ S – 52
o
39’ 09’’ W), e área 91 (0
o
42’
33’’ S – 52
o
46’ 57’’ W). Para mata primária são: Bituba (1
o
11’ 28’’ S – 52
o
38’ 51’’ W),
Quaruba (1
o
1’ 32’’ S – 52
o
54’ 17’’ W), Castanhal (0
o
41’ 25’’ S – 52
o
49’ 09’’ W),
Estação (0
o
35’ 27’’ S – 52º 44’ 09’’ W), e Pacanari (1
o
01’ 33’’ S – 52
o
34’ 02’’ W).
Em cada área foram instaladas 20 armadilhas de cola (mouse glue traps – Victor®)
distantes 50 m uma da outra em um transecto linear, fixadas em troncos de árvores vivas,
cipós ou troncos caídos, dependendo da disponibilidade destes substratos nos pontos
demarcados (Figura 3). A altura variou entre a base dos cipós/troncos de árvores vivas e 2
m. Todos os substratos tiveram seu diâmetro medido, assim como a altura das armadilhas
nos cipós e troncos de árvores vivas. No total foram utilizadas 200 armadilhas, com
esforço total de coleta de 2.224 armadilhas.noite.
101
2.3) Análise dos dados
CA B
Figura 3 – Armadilhas de cola fixadas nos três diferentes substratos (A = cipó; B = tronco
caído; C = tronco de árvore viva).
2.2.2) Sucesso de captura das armadilhas de cola em diferentes ambientes e
microambientes em mata primária.
Na área de mata primária (Floresta Ombrófila Densa) denominada Estação (0
o
35’
27’’ S – 52º 44’ 09’’ W) foram utilizadas 72 pranchas de armadilha de cola, sendo 36
fixadas no entorno de um igarapé e 36 em um platô. A distância entre estes dois ambientes
foi de 500 m. Em cada ambiente as 36 colas foram distribuídas em 12 conjuntos, distantes
50 m um do outro. Cada conjunto constava de uma armadilha fixada no solo, uma em um
arbusto de no máximo 2 m, e outra em um tronco de árvores viva (Figura 4), todas em um
quadrante de 3 x 3 m.
102
A B C
Figura 4 – Armadilhas de cola nos três microambientes (A = solo; B = arbusto; C = troncos
de árvores vivas).
Os espécimes foram retirados da cola com o auxílio de óleo vegetal, fixados em
formol a 10 %, conservados em álcool a 70 %, e encontram-se tombados no Museu
Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, de acordo com a licença do IBAMA 040/05-
CGFAU/LIC processo 02001.006765/03.
2.3) Análise dos dados
Para a comparação da riqueza de espécies registrada pelo método nos diferentes
substratos, curvas de rarefação baseadas no número de indivíduos coletados por espécie
foram construídas a partir do programa EstimateS versão 7.0 (COLWELL, 2004), sendo
comparada a riqueza de espécies através de um número padronizado de indivíduos
(GOTELLI & COLWELL, 2001).
Para análise de abundância das espécies registradas utilizou-se a proporção de
indivíduos capturados pelo total registrado pelo método (abundância relativa).
103
O sucesso de captura foi calculado a partir dos dados de abundância do grupo
analisado (registros em matas, diferentes substratos, diferentes diâmetros, alturas,
ambientes e microambientes) divididos pelo esforço do método pertencente ao mesmo
grupo, multiplicado por 100. A fim de verificar se os valores de sucessos dentro de um
mesmo grupo analisado eram significativamente diferentes, utilizou-se os testes não-
paramétricos de Mann-Whitney, para duas amostras independentes, e de Kruskal-Wallis,
para mais de duas amostras independentes.
A partir dos níveis de pluviosidade obtidos para cada dia em campo, com o auxílio
de um pluviômetro colocado no início de cada linha de pesquisa (área), buscou-se verificar
se o sucesso do método observado por dia de coleta seria influenciado pelos diferentes
níveis de pluviosidade. Para isso utilizou-se do teste de correlação de Spearman entre duas
variáveis. O mesmo teste foi aplicado para verificar se existia correlação entre os dias de
coleta (contínuos em campo - do 1º ao 12º) e o sucesso de captura apresentado pelas
armadilhas em cada dia.
Todos os testes foram realizados através do programa SPSS v. 11.5 (SPSS,
Chicago, Illinois), com os resultados considerados significativos quando p < 0,05.
104
3) Resultados
3.1) Riqueza e abundância das espécies nos registros de armadilhas de cola em matas
secundária e primária, e sucesso de captura do método em diferentes substratos.
Com um esforço de coleta de 2.224 armadilhas.noite foram registrados 219 lagartos
pertencentes a nove espécies (28 indivíduos de Anolis fuscoauratus, dois de A. ortonii, um
de A. punctatus, 167 de Gonatodes humeralis, seis de Thecadactylus rapicauda, três de
Plica umbra, dois de Mabuya nigropunctata, quatro de Kentropyx calcarata, seis de
Tretioscincus agilis). Este esforço permitiu um registro eficiente dos lagartos da área
capturáveis por este método, o que pode ser notado pela curva de rarefação baseada no
número de espécies por dia de coleta (Figura 5).
0
1
2
3
4
5
6
8
7
es
9
10
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 97 103 109
N es i
Dias de coleta
péc de
Figura 5 - Curva de rarefação baseada no número de espécies por dias de coleta nos dois
tipos de mata (secundária e primária), sendo que cada dia de coleta representa um esforço
de 20 armadilhas de cola.
105
Através da abundância relativa das espécies capturadas, percebe-se que o método
registra melhor duas espécies, sendo elas Gonatodes humeralis e Anolis fuscoauratus, que
juntas correspondem a 89 % dos registros (Figura 6).
Abundância relativa (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Gonatodes
humerali s
Anolis
fuscoauratus
Thecadactylus
rapicauda
Tretioscincus
agilis
Kentropyx
calcarata
Plica umbra Anolis ortonii Mabuya
ni gropunctata
Anolis punctatus
Figura 6 – Abundância relativa das espécies de lagartos capturadas por armadilhas de cola
em mata secundária e primária.
O sucesso de captura para os dois tipos de mata foi de 9,85 %, com 6,7 % para mata
secundária e 12,63 % para mata primária.
A fim de verificar se a eficiência do método poderia ser influenciada pela
localização das armadilhas, calculou-se o sucesso de captura separadamente para cipós,
troncos de árvores vivas e troncos caídos. As armadilhas em troncos caídos apresentaram
um sucesso de captura maior (21,33 %) que as demais (cipós 8,68 % e troncos de árvores
vivas 7,16 %). Através do teste de Kruskal-Wallis pode-se concluir que os sucessos de
captura foram significativamente diferentes nos três substratos (H = 6,861; p = 0,032). Já
106
quando comparações pareadas são feitas, através do teste de Mann-Whitney, percebe-se
que a diferença persiste somente entre o sucesso da cola em troncos caídos e troncos de
árvores vivas (U = 17,000; p = 0,012). Entre cipós e troncos de árvores vivas tem-se U =
18,500 e p = 0,661, e entre cipós e troncos caídos U = 7,000 e p = 0,106.
Considerando a riqueza de espécies capturada pelo método em cada substrato onde
as armadilhas de cola foram fixadas, tem-se que as armadilhas em troncos caídos registram
riqueza de espécies maior que as demais (Figura 7).
0
2
4
6
8
10
12
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 97 103 109
Troncos de árvores vivas Cipós Troncos caídos
N de espécies
N de indivíduos
Figura 7 - Curva de rarefação baseada no número de indivíduos por espécie coletados pelas
armadilhas de cola em cada um dos três substratos, com intervalo de confiança de 95 % da
curva correspondente à maior riqueza de espécies registrada.
Considerando o sucesso do método em relação ao diâmetro do substrato onde a
armadilha foi fixada, duas categorias foram escolhidas a partir do critério da mesma
envolver ou não todo o tronco/cipó. Para que a armadilha pudesse circundar todo o
107
substrato, seria necessário um diâmetro igual ou inferior a 8,4 cm. A categoria 1 é referente
a diâmetros iguais ou inferiores a 8,4 cm, e a categoria 2 para diâmetros maiores que 8,4
cm. O sucesso de captura calculado para cada categoria nos três substratos é apresentado
na Tabela 1.
Tabela 1 – Número de registros, esforço (armadilhas.noite) e sucesso de captura para cada
categoria de diâmetro nos diferentes substratos (1 = igual ou inferior a 8,4 cm; 2 = maior
que 8,4 cm).
Troncos de árvores vivas Cipós Troncos caídos
Categorias
1 2 1 2 1 2
N
o
de registros 37 77 11 12 15 67
Esforço 673 902 144 96 96 313
Sucesso 5,73 % 8,39 % 8,26 % 13,89 % 13,89 % 23,42 %
O sucesso de captura total para a categoria 1, independente do substrato, foi de 9,29
%, e para diâmetros maiores que 8,4 cm (categoria 2) foi de 15,23 %. Através do teste de
Mann-Whitney verificou-se que os sucessos das armadilhas são diferentes (U = 114,500; p
= 0,013), com o método apresentando eficiência maior quando não circunda o tronco/cipó.
Considerando cada substrato separadamente, em troncos de árvores vivas e cipós a
diferença entre os dois diâmetros não foi significativa (respectivamente U = 34,500 e p =
0,247; U = 4,000 e p = 0,100), ao contrário dos troncos caídos onde os sucessos foram
diferentes (U = 18,500; p = 0,028), sendo maior para as armadilhas que não envolviam o
tronco.
Considerando apenas as colas localizadas nos troncos de árvores vivas, procurou-se
saber se o sucesso do método seria influenciado pela altura em que as armadilhas eram
fixadas. Para isso quatro categorias de altura foram selecionadas (1 = 0-0,5 m; 2 = 0,51-1,0
108
m; 3 = 1,01-1,5 m; 4 = 1,51-2,0 m) e o sucesso da metodologia para cada uma delas foi
calculado (Tabela 2). Através do teste de Kruskal-Wallis pôde-se verificar que os sucessos
referentes à cada categoria de altura não foram diferentes (H = 6,737; p = 0,081).
Tabela 2 – Número de registros, esforço e sucesso de captura (%) referente às diferentes
categorias de altura das armadilhas de cola em troncos de árvores vivas.
0-0,5 m 0,51-1,0 m 1,01-1,5 m 1,51-2,0 m
N
o
de registros 9 38 48 13
Esforço 132 676 503 240
Sucesso 7,36 % 5,64 % 9,97 % 4,51 %
Quanto à durabilidade de uma mesma armadilha de cola em campo, foi calculado o
sucesso de captura referente a cada dia de coleta e estes foram correlacionados com a
ordenação de dias de uma mesma prancha em campo. Através do teste de correlação de
Spearman pôde-se verificar a existência de uma correlação negativa e significativa entre o
sucesso de captura e os dias de coleta (ρ = -0,897; p = 0,000) (Figura 8). Este descréscimo
no sucesso de captura pode ser observado na figura 9.
02468101214161820
0
2
4
6
8
10
12
14
Dias de coleta
Sucesso de captura
Figura 8 - Correlação (e linha de regressão) entre os dias de coleta a média do sucesso de
captura (%) para cada dia (r
2
= 0,72).
109
Sucesso de captura (%)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
123456789101112
Dias de coleta
Figura 9 – Sucesso de captura (%) das armadilhas de cola referente a cada dia de coleta em
campo.
Considerando o sucesso do método e os diferentes índices de pluviosidade no
período de coleta, aplicou-se o teste de correlação de Spearman entre as duas variáveis,
buscando verificar se a cola, quando molhada, seria menos eficiente. Nenhum tipo de
correlação foi encontrada (ρ = -0,003; p = 0,987).
Quanto à taxa de mortalidade, de 217 lagartos capturados 37 encontravam-se
mortos, representando cerca de 17 % do total.
110
3.2) Sucesso de captura das armadilhas de cola em diferentes ambientes e microambientes
em mata primária.
Durante 13 dias de coleta e esforço de 872 armadilhas.noite em mata primária,
foram capturadas oito espécies de lagartos, sendo cinco espécies no entorno do igarapé e
cinco no platô (Tabela 3).
Tabela 3 – Espécies capturadas no entorno do igarapé e no platô e suas respectivas
abundâncias.
Espécies Igarapé Platô Total
Anolis fuscoauratus
3 11 14
Anolis nitens
1 1 2
Anolis ortonii
1 1
Gonatodes humeralis
4 4
Thecadactylus rapicauda
1 1
Plica umbra
1 1
Arthrosaura reticulata
1 1
Leposoma guianense
1 1
Total 7 18 25
O sucesso do conjunto de armadilhas no entorno do igarapé foi de 1,76 %, e no
platô foi de 3,93 % (Tabela 4). Aplicando o teste de Mann-Whitney percebe-se que não há
diferença significativa do sucesso do método entre estes dois ambientes (U = 1,000; p =
0,200). Desconsiderando a subdivisão por ambiente e analisando somente os
microambientes tem-se para as armadilhas de cola no solo um sucesso de captura de 2,75
%, nos arbustos de 1,31 % e nos troncos das árvores de 4,49 %. O teste de Kruskal-Wallis
111
não apontou diferença significativa do sucesso entre os três microambientes (H = 1,544 e p
= 0,462), apesar do valor do sucesso nos troncos ser maior.
Tabela 4 – Esforço de captura (armadilhas.noite), número de indivíduos capturados (N
o
),
sucesso de captura (%) em cada microambiente e ambiente. O esforço menor em alguns
microambientes, como solo, refletem a inutilização de algumas pranchas no decorrer do
estudo.
Esforço N
o
Sucesso por microambiente Sucesso por ambiente
Igarapé Solo 110 3 2,73 %
Arbusto 156 2 1,28 %
Tronco 156 2 1,28 %
1,76 %
Platô Solo 144 4 2,78 %
Arbusto 150 2 1,33 %
Tronco 156 12 7,69 %
3,93 %
Total 872 25 2,85 %
112
4) Discussão
Considerando que o método de cola enfocou ambientes que propiciavam a captura
de lagartos arborícolas e semi-arborícolas, como árvores, cipós e troncos caídos, uma
eficiência satisfatória do método foi encontrada. Para os ambientes de matas secundária e
primária na Jari foram observadas 10 espécies de lagartos que possuem esse hábito, sendo
que 9 destas foram registradas pela cola. A única espécie observada na área mas não
capturada pela cola foi Plica plica, o que poderia ser explicado pela ausência da armadilha
em árvores de grande porte (mais de 0,5 m de diâmetro), além desta espécie ser geralmente
observada a uma altura acima da selecionada neste trabalho para fixação das colas (3,9 ±
0,70 m) (VITT, 1991).
O método proporcionou um registro predominante de 2 espécies, Gonatodes
humeralis e Anolis fuscoauratus, respondendo por cerca de 89 % de todos os espécimes
capturados. Devido à dificuldade de se obter métodos eficientes no estudo de populações
específicas (KRYSKO, 2000; PATERSON, 1998), a armadilha de cola se apresentou como
uma técnica em potencial para estudos mais detalhados destas duas espécies.
Pôde-se observar também que a armadilha fixada a uma variedade maior de
substratos proporcionou um registro mais diverso dos lagartos que se mantida em um único
local. Tronco caído se mostrou o melhor substrato, com maior riqueza de espécies e
sucesso de captura registrada. De acordo com VITT et al. (1997b) Kentropyx calcarata e
Mabuya nigropunctata são mais comumente encontradas neste substrato, quando
comparados a outros microhábitats em mata. Além destas duas espécies, Anolis punctatus e
Tretioscincus agilis foram capturadas somente nas armadilhas em troncos caídos, contando
com quatro espécies exclusivamente registradas pelo método neste substrato, ainda que as
duas últimas espécies sejam encontradas mais comumente em troncos em pé (ÁVILA-PIRES,
113
1995). Armadilhas em troncos de árvores vivas, por outro lado, capturaram uma espécie
exclusiva (Anolis ortonii), evidenciando a importância de se colocar armadilhas neste local.
Quanto às análises de sucesso relacionado ao diâmetro do substrato, era esperado
que os troncos e cipós totalmente circundados pela armadilha (diâmetros menores que 8,4
cm) obtivessem um sucesso maior que as armadilhas que deixavam uma passagem livre
para o animal (diâmetros maiores que 8,4 cm) (BAUER & SADLIER, 1992). Porém o
contrário foi encontrado, com sucesso maior para as armadilhas que não circundavam
completamente o substrato (maiores que 8,4 cm). Quando as mesmas análises foram feitas
para cada substrato separadamente (troncos de árvores vivas, cipós e troncos caídos),
somente em troncos caídos essa diferença persistiu. Com isso percebe-se que o sucesso do
método não está enfocado na interrupção da passagem do animal, além de não oferecer
repulsa aos lagartos. Supõe-se que os lagartos sejam atraídos à cola atrás de alimento
(WHITING, 1998), já que uma quantidade grande de artrópodes também fica aderida à
prancha. Quanto aos valores do sucesso em troncos caídos serem maiores em diâmetros
maiores que 8,4 cm, acredita-se que em troncos maiores a possibilidade de se encontrar
uma maior diversidade e abundância de presas seja também maior. Esta hipótese é ainda
reforçada por triagem, a nivel de famílias, dos artrópodes aderidos às armadilhas, onde foi
encontrada para este substrato uma diversidade maior que em outros locais (Figura 10).
Figura 10 – Fotografia de uma armadilha de cola fixada em tronco caído, evidenciando a
grande quantidade de artrópodes aderidos à prancha.
114
Considerando apenas a altura onde a armadilha foi fixada nos troncos de árvores
vivas, não foi encontrada diferença significativa entre o sucesso do método nas diferentes
categorias. Devido ao sucesso da armadilha ser baseado na abundância registrada, e 103
dos 108 lagartos capturados nas quatro categorias serem das espécies Gonatodes humeralis
e Anolis fuscoauratus, a armadilha reflete o sucesso de captura destas duas espécies. Tanto
uma quanto a outra possui como hábito se movimentar dentro das quatro categorias de
altura definidas no trabalho, sendo G. humeralis mais abundante nas categorias 1 e 2 (entre
0 e 1 m do solo) e A. fuscoauratus em todas as quatro categorias (0 a 2 m do solo) (VITT et
al., 1997a; VITT et al., 2003).
Quanto a durabilidade de uma mesma prancha de cola em campo, os dados deste
trabalho contradizem a literatura existente, que aponta uma vida útil do método por uma
média de dois dias (GLOR et al., 2000; RODDA et al., 1993; ZANI & VITT, 1995). Pôde-se
verificar que apesar de uma queda no sucesso de captura no decorrer dos dias em campo,
ainda assim o método continuou registrando lagartos até o 12º dia em campo. Associado a
este dado, pôde-se notar a não correlação dos índices de pluviosidade com o sucesso do
método, evidenciando que a cola não perde totalmente sua capacidade de aderência,
mesmo após dias de intensa pluviosidade (em desacordo com R
ODDA et al., 1993 e ZANI &
VITT, 1995). Aconselha-se portanto o uso de mais de dois dias contínuos de uma mesma
armadilha em campo.
Quanto à taxa de mortalidade dos indivíduos nas armadilhas, foi observado neste
trabalho uma taxa intermediária (17 %) à existente na literatura, que oscila entre 11 %
(GLOR et al., 2000) e 48 % de indivíduos coletados mortos (VARGAS et al., 2000). A maior
causa de mortes foi a predação, principalmente por formigas (Figura 11). Este problema
poderia ser contornado com a revisão das armadilhas em mais de uma vez ao dia.
115
Figura 11 – Fotografia de um Gonatodes humeralis aderido à armadilha de cola sendo
predado por formigas.
Considerando as análises referentes ao ambiente em mata primária que a cola
esteve presente (entorno do igarapé ou platô), não foi verificada diferença significativa no
sucesso entre os dois ambientes, apesar do sucesso no platô ser ligeiramente maior que no
entorno do igarapé. Acredita-se que devido ao esforço menor ocorrido pela inutilidade de
algumas armadilhas fixadas no solo no entorno do igarapé, o sucesso neste ambiente tenha
sido menor. Das oito espécies amostradas, porém, apenas duas foram comuns aos dois
ambientes. Das espécies não comuns, três em cada ambiente, Arthrosaura reticulata e
Leposoma guianense são encontradas com mais frequência em baixios (ÁVILA-PIRES,
1995), concordando com o ambiente onde foram encontradas. Contudo, estas espécies
foram pouco representadas, impossibilitando a conclusão efetiva referente aos seus
registros nestes ambientes.
Quanto ao microhábitat em que a armadilha foi fixada, percebe-se a importância de
se colocar a cola tanto nas árvores quanto no solo (DOWNES & BORGES, 1998). As espécies
Arthrosaura reticulata e Leposoma guianense, registradas em armadilhas no solo,
116
dificilmente seriam capturadas em troncos de árvores ou arbustos, por serem espécies de
serrapilheira (ÁVILA-PIRES, 1995). Um fato interessante foi a mudança da espécie mais
abundante registrada pelo método, de Gonatodes humeralis, quando as armadilhas de cola
foram colocadas somente em troncos e cipós, para Anolis fuscoauratus. Isto se deve
provavelmente à maior distribuição das pranchas de cola entre os microhábitats, incluindo
desta vez o solo e arbustos. Uma maior movimentação de A. fuscoauratus entre estes
microambientes, em relação a G. humeralis, foi observado neste trabalho e em literatura
VILA-PIRES, 1995; VITT et al., 2003). Isso indica a necessidade de se testar o sucesso das
armadilhas em alturas superiores a 2 m em árvores, além de outros microambientes, como
superfície de rochas dentro de mata.
Para a retirada do indivíduo da armadilha o óleo vegetal se mostrou altamente
eficiente, podendo o animal ser retirado da prancha sem danos a ambos (animal e
armadilha), mesmo que o lagarto seja pertencente à família Gekkonidae, que possui
epiderme mais delicada que os demais lagartos (PIANKA & VITT, 2003). No dia seguinte à
retirada do animal da prancha não foi constatada perda da aderência na armadilha.
Quanto à relação ao custo/benefício apresentado pela armadilha de cola,
considerando o esforço total de amostragem nos ambientes de mata secundária e primária
(3.096 armadilhas.noite), valor da armadilha de cola (R$ 2.25) e quantidade total de
indivíduos registrados (234), tem-se um custo de R$ 0,20 por armadilha.noite e cerca de
R$ 4,25 por indivíduo capturado, um custo razoável considerando a dificuldade e os gastos
referentes a um levantamento faunístico eficiente.
117
5) Conclusões
O método de armadilhas de cola registrou com eficiência os lagartos arborícolas e
semi-arborícolas.
O uso do método é aconselhável no estudo de populações de Gonatodes humeralis
e Anolis fuscoauratus, pois possui alta taxa de captura destes indivíduos.
Aconselha-se a distribuição das pranchas em troncos caídos, além de arvores vivas.
Estes dois substratos podem oferecer uma complementaridade quanto à riqueza de espécies
registrada em um ambiente de mata.
O sucesso do método não se mostrou dependente à prancha circundar todo
substrato, revelando um sucesso de captura maior nas armadilhas de cola fixadas em
substratos com diâmetro maiores que 8,4 cm.
A altura da armadilha na árvore não se mostrou um fator limitante ao sucesso de
captura, podendo esta estar localizada entre a base do tronco e 2 metros de altura.
Aconselha-se o uso do método em mais de dois dias de coleta contínua, já que o
mesmo continuou registrando indivíduos até o 12º dia de campo.
A utilização da prancha de cola em entornos de corpos d’água não perde em nada
na sua efeciência quando comparadas a locais longe dos mesmos.
A fixação das pranchas no solo pode ocasionar registros extras de espécies,
podendo assim capturar espécies de serrapilheira.
Aconselha-se estudos da eficiência do método em partes mais altas das árvores,
como dossel, a fim de verificar o sucesso da metodologia nestes locais, além de averiguar
se espécies desse hábitat seriam susceptíveis de captura por este método.
A fim de diminuir a taxa de mortalidade, sugere-se mais de uma visita diária à
armadilha.
118
Os diferentes índices de pluviosidade não se mostraram como fator limitante ao
sucesso de captura do método.
O óleo vegetal se mostrou eficiente na retirada do lagarto da prancha adesiva.
A utilização de armadilhas de cola apresentou um custo relativamente baixo, tanto
por unidade de esforço quanto por indivíduo capturado, podendo ser utilizadas em projetos
de inventário que possuam restrições orçamentárias para a sua execução.
119
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