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1 INTRODUÇÃO: NOVOS AFAZERES POÉTICOS
O advento do Concretismo, justificado com o lançamento do Plano-piloto para a poesia
concreta em 1958, subscrito pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari,
fundou uma nova forma de fazer poesia, em um período quando a referência da produção poética
brasileira voltara a ser o Parnasianismo, “o triunfo da fôrma sobre a forma”, conforme analisa o
crítico paulista Ivan Junqueira, em O signo e a Sibila. (JUNQUEIRA, 1993, p. 3). O mesmo trio,
em 1965, publicou pela Edições Invenção a Teoria da poesia concreta na qual ratificam e
ampliam suas propostas.
O Concretismo foi consumado como “a única pesquisa sistematizada, feita depois de 22,
em torno da palavra poética”, conforme Cassiano Ricardo. (1962, p. 7). É importante retomar
pontos da intenção poética da tríade concretista para deixar claro o propósito deste trabalho, que
é destacar a relevância da produção do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989), que
despontou na segunda metade do século XX, pára-raio das elaborações do movimento na
elaboração do poema, acrescentando emoção em cada verso, ampliando o manifesto concretista.
Leminski, que escreveu minibiografias
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e traduziu, entre outros, Sol e aço, de Yukio
Mishima, desenvolveu apurada sensibilidade para o haicai. Leminski, que disse ter começado
concreto antes mesmo dos irmãos Campos e de Décio Pignatari, depois – na tradição japonesa, a
qual pertenceu Bashô e com a qual Leminski se identificou, entre outras afinidades linguísticas e
comportamentais –, assumindo-se como uma espécie de rônin (samurai sem dono) e ajudou a
construir a poesia brasileira da segunda metade do século XX. Identificou-se, então, com as
características fundamentais sobre “a poesia mais nova” que estava sendo escrita, conforme Bosi.
1) Ressurge o discurso poético e, com ele, o verso, livre ou metrificado – em
oposição à sintaxe ostensivamente gráfica.
2) Dá-se nova e grande margem à fala autobiográfica, com toda a sua ênfase na
livre, se não anárquica, expressão do desejo e da memória – em contraste com o
desdém pela função emotiva da linguagem que o experimentalismo formal
programava.
3) Repropõe-se com ardor o caráter público e político da fala poética – em
oposição a toda teoria do autocentramento e auto-espelhamento da escrita.
Subordina-se a construção do objeto à verdade (real ou imaginária) do sujeito e
do grupo.
(BOSI, 1994, p. 487).
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LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Souza : Bashô : Jesus : Trotski. Porto Alegre: Sulina, 1990.