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ALEXANDRE GONÇALVES SANTOS
ESTUDOS FARMACOCINÉTICOS DE INIBIDORES BOWMAN-
BYRK DA Macrotyloma axillare EM CAMUNDONGOS SWISS
Ouro Preto, março de 2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ESTUDOS FARMACOCINÉTICOS DE INIBIDORES BOWMAN-
BYRK DA Macrotyloma axillare EM CAMUNDONGOS SWISS
AUTOR: ALEXANDRE GONÇALVES SANTOS
ORIENTADOR: Prof. Dr. Milton Hércules Guerra de Andrade
Disssertação submetida ao programa de Pós-
Graduação do Núcleo de Pesquisas em Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Ouro
Preto, como parte integrante dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Biológicas, área de concentração: Bioquímica
Estrutural e Fisiológica.
Ouro Preto, março de 2006
ii
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Este trabalho foi realizado no LABORATÓRIO DE ENZIMOLOGIA E BIOFÍSICA–
ICEB/NUPEB/UFOP, com auxílio das seguintes instituições:
CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto
iii
Trago sempre comigo a certeza de que tudo
que faço é pela busca de crescer cada vez mais,
já que a vida é um constante aprendizado e
esse aprender deve ser intenso e duradouro.
Dedico este trabalho à Flávia, todos meus
familiares e amigos, grandes responsáveis pelo
meu crescimento e por minha formação pessoal
e profissional.
iv
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, meu grande pai e porto seguro ao qual dedico toda
minha existência, gratidão e confiança de amparo e força nas horas mais difíceis.
A meus pais que em todos os momentos me incentivaram e me apoiaram em meus
estudos de forma incondicional.
A Flávia minha companheira de todos os momentos, sempre atenta, paciente e
tolerante às minhas incertezas, impaciência e fraquezas.
Aos meus irmãos, sobrinhos e cunhados que de uma forma muito carinhosa me
deram força para a realização não só deste trabalho, mas de todos os feitos importantes de
minha vida.
Aos meus grandes amigos e irmãos Juninho e Marquinho que também me deram
muito apoio em todas as minhas decisões.
A meus familiares pelo incentivo e orações.
A todos amigos de Sete Lagoas, grandes companheiros que fizeram e fazem parte
do meu crescimento pessoal.
Aos amigos de graduação que sempre muito presentes e unidos fizemos uma turma
diferente.
Aos amigos e irmãos, inclusive a Dona Neném, da minha segunda e acolhedora
casa, República Móicana, “a tribo na qual eu vivi”.
À família Rezende por toda atenção e receptividade.
Agradeço de uma forma muito especial ao Laboratório de Biofísica nas pessoas
muito especiais do meu orientador Milton Guerra, meus amigos Zé Henrique, Marcos
Aurélio, Marcelo, Célio, Jorgino, Zé Wilson, Daniela, Grazielly, Suedali, Bráulio, Milton
Filho, Thiago, Lucas, Karina e Bruna. Este laboratório não se resume apenas a bancadas
de pesquisa, mas a bancadas de amizade, companheirismo e compreensão.
v
Aos amigos de Ouro Preto que tornaram mais agradável minha estada nessa cidade
tão diferente.
Agradeço a todo o NUPEB por meio de seus laboratórios, orientadores, secretária e
principalmente colegas de pesquisa e pós-graduação. Vocês me ensinaram muito sobre a
ciência e sobre a vida.
Ao pessoal do CNEN/CDTN – UFMG que me acolheram com muita atenção
durante a realização dos estudos com radioisótopos de Iodo, principalmente à D
ra
Raquel
Gouveia com sua paciência e atenção na orientação dos trabalhos com Iodo.
vi
SUMÁRIO
São crescentes as evidências de que o fator alimentar tem forte correlação com o
desenvolvimento de diferentes tipos de câncer. Dentre os componentes da dieta que
apresentam propriedades relacionadas à prevenção do desenvolvimento do câncer,
encontram-se os Inibidores de Bowman-Birk. Isolamos em nosso laboratório preparações
de Inibidores de Bowman-Birk de Macrotyloma axillare dotadas de altas atividades
específicas para inibição sobre tripsina e quimotripsina bovina, principalmente a preparação
de sementes germinadas. Esses inibidores tiveram seus parâmetros farmacocinéticos
determinados e comparados aos de inibidores de sementes de soja, que são os inibidores
dessa classe mais estudados. Os inibidores de Macrotyloma axillare se distribuem
amplamente pelos diversos órgãos de camundongos, porém apresentam uma marcante
diferença, que é uma significativa maior afinidade pelo estômago em relação aos inibidores
de soja. Os inibidores da Macrotyloma axillare se distribuem rapidamente quando
aplicados por via intravenosa, com volumes de distribuição de cerca de quatro vezes o
volume plasmático, porém são eliminados lentamente, com meias-vidas plasmáticas entre 7
e 15 horas. Quando aplicado em alças intestinais isoladas de camundongos Swiss, o
inibidor de soja chega a uma biodisponibilidade de aproximadamente 50%, enquanto os
inibidores de Macrotyloma axillare de sementes e cotilédones chegam a cerca de 30 e 40%
respectivamente. Entretanto a maior potência do inibidor de cotilédones de Macrotyloma
faz com que a atividade disponibilizada seja muito superior (cerca de nove vezes) à
disponibilizada pelo inibidor da soja.
vii
ABSTRACT
There are crowing evidences that dietary factors have a tight correlation with different
kinds of cancer development. Among the compounds of the diet related with cancer
development prevention, we could mention the Bowman-Birk Inhibitors. We isolated in our
laboratory preparations of Bowman-Birk Inhibitors from Macrotyloma axillare showing
high specific inhibitory activities over bovine trypsin and chymotrypsin enzymes, specially
the germinated seeds preparation. These inhibitors had their pharmacokinetics parameters
determinated and compared with soybeans inhibitors parameters, which are by the way, the
most studied inhibitors of this class. Macrotyloma axillare inhibitors are widely distributed
over Swiss mice organs, but they show an important difference in comparison with soybean
inhibitor biodistribution, which is a meaning bigger affinity for the stomach. Macrotyloma
axillare inhibitors when injected intravenously have a fast distribution, with distribution
volumes of approximately four folds the plasmatic volume, but they are eliminated slowly,
with plasmatic half-lifes between 7 and 15 hours. When applied in isolated intestinal loops
of Swiss mice, soybean inhibitors get to almost 50% of bioavailability, while Macrotyloma
axillare inhibitors from seeds and cotyledons get to 30 and 40% respectively. Meanwhile,
the biggest potency of cotyledons inhibitors of Macrotyloma makes available a bigger
activity (approximately nine folds) then soybean inhibitors do.
viii
ÍNDICE
SUMÁRIO vii
ABSTRACT viii
Lista de Abreviaturas xiii
Lista de Figuras xv
Lista de Tabelas xviii
1. INTRODUÇÃO 2
1.1. O câncer e alguns de seus dados estatísticos 2
1.1.1. Definição e alguns dados importantes sobre os estudos do câncer 2
1.1.2. Informações relevantes sobre o câncer segundo o INCA 3
1.1.3. Estimativas de incidência e mortalidade por câncer no Brasil 5
1.1.4. Estudos que apóiam a intervenção dietética no controle do câncer 7
1.2. O que são inibidores do tipo Bowman-Birk, suas características e suas estruturas? 8
1.3.Distribuição dos BBI em angiospermas 10
1.4. Mecanismos de ação antitumoral dos inibidores de Bowman-Birk 12
1.4. Mecanismos de ação antitumoral dos inibidores de Bowman-Birk 12
1.4.1. Atividade antiinflamatória 12
1.4.2. Modulação da produção e liberação de radicais-livres 13
1.4.3. Prevenção do processo de transformação induzida por carcinógenos químicos ou
radiação 13
1.4.4. Reversão da iniciação ou expressão de oncogenes induzida por carcinógenos
químicos ou radiação 14
1.4.5. Controle do processo de apoptose e divisão celular, via inibição do proteassoma
16
1.4.6. BBI como agente terapêutico a atuar nos níveis de expressão de biomarcadores
utilizados no monitoramento da atividade preventiva do câncer 18
1.5. Farmacocinética dos inibidores de Bowman-Birk 19
1.6. Possibilidade de grande absorção de BBI via mecanismo paracelular 20
1.7. Toxicidade dos inibidores de Bowman-Birk 21
ix
1.8. Razões para a utilização de inibidores de Bowman-Birk como quimiopreventivos 23
1.9. A leguminosa Macrotyloma axillare 27
1.10. Classificação Sistemática da Macrotyloma axillare 28
2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS 31
2.1. Justificativas 31
2.2. Objetivo Geral 32
2.3. Objetivos específicos 32
3. MATERIAIS E MÉTODOS 34
3.1. Delineamento Experimental 34
3.2. Isolamento e Purificação dos inibidores 35
3.2.1. Obtenção das Sementes da Macrotyloma axillare 35
3.2.2. Obtenção dos cotilédones da Macrotyloma axillare 35
3.2.3. Preparo do Extrato Bruto de Macrotyloma axillare sementes e cotilédones 35
3.2.4. Precipitação por Tratamento Térmico do EB 20% 36
3.2.5. Precipitação por Etanol a Frio 36
3.2.6. Obtenção do extrato enriquecido (BBIC) soja 37
3.2.7. Dosagem de proteínas 37
3.3. Caracterização do inibidor 37
3.3.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida a 12 e 18% 37
3.3.2. Coloração dos géis de poliacrilamida 39
3.4. Atividades Inibitórias 40
3.4.1. Tripsina Bovina 40
3.4.2. Quimotripsina Bovina 40
3.5. Ensaios Biológicos 41
3.5.1. Estudos farmacocinéticos de BBI-I
125
em camundongos Swiss 41
3.5.2. Estudo da cinética plasmática dos BBIC soja, sementes e cotilédones (Java) em
camundongos Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina 44
x
3.5.3. Medida da absorção in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones de Java em
alças intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina 46
3.6. Análise estatística 48
4. RESULTADOS 50
4.1. Obtenção dos extratos enriquecidos de BBI (BBIC) 50
4.1.1. BBIC sementes e cotilédones de Macrotyloma axillare e de soja 50
4.2. Caracterização das atividades inibitórias das preparações enriquecidas de BBI 52
4.2.1. Atividades específicas para inibição da hidrólise do
DL
-BApNA pela tripsina e
pela hidrólise do
L
-BTpNA pela quimotripsina 52
4.2.3 Estimativa da massa aparente e do grau de enriquecimento das preparações de
inibidores 53
4.3 Ensaios Biológicos 56
4.3.1 Marcação dos BBI de Macrotyloma axillare com I
125
56
4.3.2 Biodistribuição dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
em
camundongos Swiss 57
4.3.3 Análise dos homogenatos dos principais órgãos de camundongos Swiss
administrados com BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
58
4.3.4 Cinética plasmática dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
administrados por via intravenosa e oral em camundongos Swiss 61
4.3.5 Estudo da cinética plasmática dos BBIC soja, sementes e cotilédones (Java) em
camundongos Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina 63
4.3.6. Medida da absorção in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones em alças
intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina 63
5. DISCUSSÃO 71
5.1. Obtenção dos extratos enriquecidos de BBI – BBIC de sementes, de cotilédones
(Macrotyloma axillare) e de soja 71
5.1.1.Obtenção dos BBIC de sementes e de cotilédones (Macrotyloma axillare) 71
xi
5.1.2.Obtenção dos BBIC de soja 72
5.2. Caracterização dos BBIC obtidos 72
5.3. Ensaios biológicos 73
5.3.1.Marcação dos BBI de Macrotyloma axillare com I
125
73
5.3.2.Biodistribuição dos BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
em
camundongos Swiss 73
5.3.3 Análise dos homogenatos dos principais órgãos de camundongos Swiss
administrados com BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
75
5.3.3. Cinética plasmática dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
administrados por via intravenosa e oral em camundongos Swiss 77
Administração intravenosa 77
5.3.4. Estudo da cinética plasmática dos inibidores de sementes, cotilédones e soja via
atividade inibitória sobre tripsina em camundongos Swiss 78
5.3.5. Medida da absorção in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones em alças
intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina 78
6. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 81
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84
Apêndices 95
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
α: constante de distribuição;
β: constante de eliminação;
aa(s): aminoácido(s);
ARE: antioxidant response elements;
AUC: area under curve (área sob a curva)
BApNA: Nα-Benzoil-
DL
Arginil-p-Nitroanilida;
BBI: Bowman-Birk Inhibitors (Inibidores de Bowman-Birk);
BBIC: BBI Concentrate (extrato enriquecido ou concentrado de inibidores de
Bowman-Birk);
Boc-Val-Pro-Arg-MCA: N-tert-Butoxi-carbonil-Valil-Prolil-Arginil 7-Amido-4-
Metilcumarina;
BSA: Soroalbumina Bovina;
BTpNA: Nα-Benzoil-
L
Tirosil-p-Nitroanilida;
CDKs: cyclin-dependent kinases;
CKIs: ciclin-dependent kinase inhibitors;
ConA: lectina da Concanavalina A;
DMSO: dimetilsulfoxido;
EB 20%: Extrato Bruto a 20 % p/v;
ERK: extracellular signal-related kinases;
FDA: Food and Drug Administratrion (USA);
I
125
: radioisótopo de Iodo;
JNK: c-Jun N terminal kinase;
KEAP1: Kelch-like ECH-associating protein;
MAPK: mitogen-activated protein kinase;
MAPK: mitogen-activated protein kinase;
mCi: MilliCurie;
xiii
NRF2: nuclear factor E2-related factor 2;
NT: Não Tratado Termicamente;
PBBI: Purified BBI (Fração purificada de inibidores de Bowman-Birk por técnicas
cromatográficas);
PGPH: peptidil-glutamil peptídeo hidrolítica;
PKC: protein kinase C;
PMN: leucócitos polimorfonucleares;
SDS-PAGE: eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de dodecilsulfato de
sódio (SDS);
t
1/2:
: tempo de meia-vida plasmática;
TGI: trato gastrointestinal;
TPA: 12-O-tetradecanoyl-phorbol-13 acetate;
TT: Tratado Termicamente;
UAI: Unidade de Atividade Inibitória;
VD: volume de distribuição.
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: ilustração do começo e progressão da neoplasia de uma fase intraepitelial até uma
fase invasiva (Go et al., 2001)........................................................................................4
Figura 2: Estimativas de Incidência e Mortalidade para o Câncer no Brasil em 2002 (INCA,
2005)...............................................................................................................................6
Figura 3 : A Estrutura do BBI de soja, como determinado por Odani e Ikeneka (1973). ......9
Figura 4: Modelo postulado para mostrar a interação entre a protease, o inibidor de protease
anticarcinogênico e a expressão de c-myc. ...................................................................15
Figura 5: Aumento do influxo de nutrientes nas células intestinais pela via paracelular
(Daughrty e Mrsny, 1999). ...........................................................................................21
Figura 6: Indutores naturais de enzimas desentoxicantes regulam a expressão de genes que
codificam para tais enzimas através da transcrição do fator NRF2 (nuclear factor E2-
related factor 2).............................................................................................................24
Figura 7: Agentes quimioprotetores geralmente induzem ao estresse oxidativo, com a
“down-regulation” de moléculas anti-apoptóticas como Bcl-2 ou Bcl-x e com a “up-
regulation” de moléculas pró-apoptóticas como Bax ou Bak.......................................25
Figura 8: Macrotyloma axillare............................................................................................28
Figura 9: Ilustração esquemática da Macrotyloma axillare. (1) ramos de folhas e caule, (2)
flor e (3) vagem com sementes (Better Pastures for the Tropics - Axillaris.htm, 2003).
......................................................................................................................................29
Figura 10: fluxograma do delineamento experimental (Kumar et al., 2002; Yavelow et al.,
1985).............................................................................................................................34
Figura 11: Banho de órgão contendo jejuno-íleo de camundongo Swiss aplicado de BBIC
imerso em solução de Tyrode a 37ºC com borbulhamento de ar. ................................47
Figura 12: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do BBIC
sementes (linha 1) e padrão de massa molecular (PMM) de ConA (linha 2)..............50
Figura 13: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do padrão de
massa molecular (PMM) de ConA (linha 1) e BBIC cotilédones (linha 2) ................51
xv
Figura 14: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do padrão de
massa molecular (PMM) de ConA (linha 1) e BBIC soja (linha 2) . As setas
vermelhas correspondem a bandas de contaminantes e não de BBI.............................51
Figura 15: Razão das atividades específicas os BBI de cotilédones de Java e de sementes de
soja em relação ao BBI de sementes de Java pela inibição da hidrólise do
DL
-BApNA
por tripsina e
L
-BTpNA por quimotripsina .................................................................52
Figura 16: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE de BBIP
sementes (linha 1); BBIP cotilédones (linh2); padrão de massa molecular (PMM) de
ConA (linha 3); BBIC sementes (linha 4); BBIC cotilédones (linha 5) e BBIC soja
(linha 6) César et al. (2006)..........................................................................................54
Figura 17: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 12% SDS-PAGE da fração 60-
80% proveniente de precipitação com etanol (60-80), frações purificadas em Q-
Sepharose (Q1-Q5) e padrão de massa molecular (PMM) de ConA; sem tratamento
com o agente redutor 2-mercaptoetanol (Oliveira, 2004).............................................56
Figura 18: Médias e desvios (n=5) da biodistribuição dos inibidores de cotilédones e
sementes marcados com I
125
por grama de órgão de camundongos Swiss em relação à
dose total aplicada.........................................................................................................57
Figura 19: Perfil de eluição do padrão de BBI e homogenatos dos principais órgãos após
três horas da administração oral do inibidor de sementes marcado com I
125
em
camundongos Swiss. Coluna de exclusão molecular Sephadex G-50. .........................59
Figura 20: Perfil de eluição do padrão de BBI e homogenatos dos principais órgãos após
três horas da administração oral do inibidor de cotilédones marcado com I
125
em
camundongos Swiss. Coluna de exclusão molecular Sephadex G-50. ........................60
Figura 21: Cinética plasmática do BBI de sementes marcado com I
125
administrado por via
intravenosa em camundongos Swiss (n = 5).................................................................61
Figura 22: Cinética plasmática do BBI de cotilédones marcado com I
125
administrado por
via intravenosa em camundongos Swiss (n = 5)...........................................................62
Figura 23: Níveis de biodisponibilidade em 7 horas de contato BBIC sementes, cotilédones
e soja com íleos isolados de camundongos Swiss.........................................................64
xvi
Figura 24: Absorção in vitro de BBI de sementes e de cotilédones de Macrotyloma axillare
e de soja na dosagem de 8mg, expressa em UAI em função do tempo em jejuno-íleos
isolados de camundongos Swiss. ..................................................................................65
Figura 25: Absorção in vitro do inibidor de sementes em função do tempo em jejuno-íleos
isolados de camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção............66
Figura 26: Absorção in vitro do inibidor de cotilédones em função do tempo em jejuno-
íleos isolados de camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção...67
Figura 27: Absorção in vitro do inibidor de soja em função do tempo em jejuno- íleos
isolados de camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção............68
Figura 28: Biodistribuição de BBI -I
125
soja em camundongos Swiss (Billings, et al. 1992).
......................................................................................................................................74
Figura 29: Seqüência dos inibidores DE-3 e DE-4 (isoformas) obtidos de sementes de
Macrotyloma axillare (Joubert et al., 1979).................................................................76
xvii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Plantas florescentes que apresentam inibidores de proteases BBI, suas famílias e
designação no banco de dados do GenBank (Mello et al., 2002).................................11
Tabela 2: Quadro de rendimento e enriquecimento dos BBIC de sementes, cotilédones
(Macrotyloma axillare) e soja - Inibição da hidrólise do
DL
-BApNA pela tripsina (T) e
do
L
-BTpNA pela quimotripsina (Q)...........................................................................53
Tabela 3: Estimação da massa aparentes dos inibidores obtidos de sementes, de cotilédones
(Macrotyloma axillare) e de soja pelos deslocamentos das bandas de cada inibidor
substituídos na equação da reta.....................................................................................54
Tabela 4: Perda de atividade inibitória pelos inibidores após sua marcação com I
125
..........56
Tabela 5: Comparação entre as médias de acúmulo de inibidores de sementes e cotilédones
em cólon, rim e bexiga de camundongos Swiss (p < 0,05)...........................................58
Tabela 6: Percentagem de radiação presente em cada órgão processado a homogenato, após
3 horas da administração oral do inibidor marcado de sementes. ................................59
Tabela 7: Percentagem de radiação presente em cada órgão processado a homogenato, após
3 horas da administração oral do inibidor marcado de cotilédones..............................60
Tabela 8: Parâmetros farmacocinéticos determinados para BBI de M. axillare marcados
com I
125
administrado por via intravenosa em camundongos Swiss (n = 5).................63
Tabela 9: Comparação entre as médias de absorção dos BBI de Macrotyloma axillare e de
soja (n =5 e p < 0,05)................................................................................64
Tabela 10: Áreas sob as curvas de biodisponibilidade dos BBI de Java e de soja...............69
xviii
1. Introdução
Introdução
1. INTRODUÇÃO
1.1. O câncer e alguns de seus dados estatísticos
1.1.1. Definição e alguns dados importantes sobre os estudos do câncer
Câncer é resultado de um processo multi-eventos, no qual o acúmulo de sucessivas
modificações genéticas e moleculares leva a uma gradual transição, geralmente através de
décadas, de um grau normal a aumentados graus de displasia que culminam num fenótipo
invasivo e de metástase (Crowell, J.A., 2005).
Nos anos 60 do século passado e início dos 70
a maioria dos pesquisadores focou
suas pesquisas na hipótese viral para o desenvolvimento do câncer. Segundos eles, vírus e
outros agentes infecciosos como o HPV, poderiam alterar o metabolismo causando um
crescimento incontrolável de tumores que se espalhariam e causariam a metástase. Nas
duas últimas décadas, uma nova concepção sobre câncer vem sendo adotada: as células
cancerosas seriam então geradas por eventos genéticos sucessivos que resultam de
exposição a fatores ambientais, alimentares, sociais e agentes infecciosos; não só apenas
agentes infecciosos como se pensava anteriormente (Go et al., 2001).
O desenvolvimento do câncer tem forte correlação com danos e reparos do DNA
celular e um dos mais importantes mecanismos que contribui para tal desenvolvimento é o
dano oxidativo do DNA. Se uma célula contém um dano no seu DNA e se divide antes
desse dano ser reparado, se estabelece então uma alteração genética permanente que
consiste no primeiro passo para a carcinogênese (Reddy, L. et al., 2003).
Segundo o quadro de especialistas do American Institute for Cancer Research e do
World Cancer Research Fund, existe um consenso na hipótese de que os cânceres são
amplamente passíveis de prevenção. A maioria dos meios efetivos de redução dos riscos
compreende, evitar o tabaco, uma dieta apropriada e uma limitação à exposição a fatores
cancerígenos ambientais e ocupacionais. O mesmo quadro de especialistas estima que 30 a
40% dos casos de câncer ao redor do mundo são passíveis de prevenção, principalmente
com os hábitos alimentares.
Os dados a seguir (1.1.2 e 1.1.3) foram obtidos no site do Ministério de Saúde em
2
Introdução
parceria com o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2005); estes foram os dados mais
atuais encontrados.
1.1.2. Informações relevantes sobre o câncer segundo o INCA
Câncer é um conjunto doenças que têm em comum o crescimento desordenado ou
maligno de células que invadem tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para
outras regiões do corpo.
Os tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Outras
características que os diferenciam entre si são a velocidade de multiplicação das células e a
capacidade invasiva sobre tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).
Suas causas são variadas, externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-
relacionadas. Causas externas relacionam-se ao meio ambiente e hábitos ou costumes
próprios de um ambiente social e cultural. Causas internas são, na maioria das vezes,
geneticamente pré-determinadas, ligadas à capacidade do organismo de se defender das
agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a
probabilidade de transformações malignas nas células normais.
A interação entre fatores de risco e de proteção a que as pessoas estão expostas pode
resultar, ou não, na redução da probabilidade delas adoecerem.
Nem sempre a relação entre a exposição a um fator de risco e o desenvolvimento de
uma doença é facilmente reconhecível, especialmente se presume que a relação se dê com
comportamentos sociais comuns (o tipo de alimentação, por exemplo).
Nas doenças crônicas, as primeiras manifestações podem surgir após muitos anos de
exposição única (a radiações ionizantes, por exemplo) ou contínua (radiação solar ou
tabagismo, por exemplo) aos fatores de risco. Por isso, é importante considerar-se o
conceito de período de latência, isto é, o período de tempo compreendido entre a exposição
ao fator de risco e o surgimento da doença.
As células alteradas multiplicam-se de maneira descontrolada e mais rapidamente
do que as células normais do tecido à sua volta, invadindo-o. Formam novos vasos
sanguíneos que as nutrirão e manterão as atividades de crescimento descontrolado e o
acúmulo dessas células forma os tumores malignos. Adquirem a capacidade de se
3
Introdução
desprender do tumor e de migrar. Invadem inicialmente os tecidos vizinhos, podendo
chegar ao interior de um vaso sangüíneo ou linfático e através desses disseminar-se,
chegando a órgãos distantes do local onde o tumor se iniciou formando as metástases
(fig.1).
Figura 1: ilustração do começo e progressão da neoplasia de uma fase intraepitelial até uma fase invasiva (Go
et al., 2001).
O processo de carcinogênese em geral se dá lentamente, pode levar vários anos para
que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor visível. Para isso ela passa
pelos seguintes estágios:
Estágio de iniciação
É o primeiro estágio da carcinogênese. Nele as células sofrem o efeito de agentes
cancerígenos ou carcinógenos que provocam modificações em alguns de seus genes. Nesta
fase as células se encontram geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se
detectar um tumor clinicamente.
Estágio de promoção
Segundo estágio da carcinogênese. Nele as células "iniciadas" sofrem o efeito dos
agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é transformada
em célula maligna de forma lenta e gradual. Para que ocorra essa transformação é
4
Introdução
necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor. A
suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse
estágio. Alguns componentes da alimentação e a exposição excessiva e prolongada a
hormônios são exemplos de fatores que promovem a transformação de células iniciadas em
malignas.
Estágio de progressão
Último estágio se caracteriza pela multiplicação descontrolada e irreversível das
células alteradas. Nesse estágio o câncer já está instalado e evolui até o surgimento das
primeiras manifestações clínicas da doença.
Os fatores que promovem a iniciação ou progressão da carcinogênese são chamados
agentes oncoaceleradores ou carcinógenos. O fumo é um carcinógeno completo, pois
possui componentes que atuam nos três estágios da carcinogênese.
A integridade do sistema imunológico, a capacidade de reparo do DNA danificado
por agentes cancerígenos e a ação de enzimas responsáveis pela transformação e eliminação
de substâncias cancerígenas introduzidas no corpo são exemplos de mecanismos de defesa.
Alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados protooncogenes, que a
princípio são inativos em células normais. Quando ativados, os protooncogenes
transformam-se em oncogenes, responsáveis pela transformação maligna das células
normais. Essas células diferentes são denominadas cancerosas.
1.1.3. Estimativas de incidência e mortalidade por câncer no Brasil
As Estimativas da Incidência e Mortalidade por Câncer no Brasil em 2002,
elaboradas pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), indicam que neste ano deveriam ser
registrados no Brasil 337.535 casos novos de câncer, dos quais 165.895 entre homens e
171.640 entre mulheres. Espera-se que o câncer cause 122.600 mortes, sendo 66.060 em
homens e 56.540 em mulheres.
O câncer figura como a terceira principal causa de morte no Brasil (12,32 % do total
dos óbitos), superada apenas pelas doenças cardiovasculares e causas externas (acidentes de
trânsito somado à violência urbana). É importante registrar que muitos fatores contribuem
5
Introdução
para o crescimento do câncer no país, entre eles o envelhecimento da população, decorrente
das ações de saúde que evitam mortes prematuras por doenças infecciosas ou parasitárias.
O desenvolvimento socioeconômico, no entanto, modifica hábitos da população:
não existe sociedade sem câncer, mas os tipos de câncer mudam de acordo com o
desenvolvimento do país, e muitos deles podem ser evitados pela conscientização.
Estimativas de Incidência no Brasil em 2002
Estimativa de incidência - homens
cólon e reto 6%
esôfago 4%
leucemias 3%
pele melanoma
1%
outros 31%
estômago
9%
pulmão
10%
prostata
16%
pele não
melanoma 20%
Estimativas de incidência - mulheres
esôfago
1%
leucemias 1%
pele melanoma
1%
colo do útero
10%
cólon e
reto 6%
estômago 4%
pulmão 4%
mama feminina
22%
pele não
melanoma
18%
outros 33%
Estimativas de Mortalidade no Brasil em 2002
Estimativas de mortalidade - homens
outros 39%
pulmão
17%
boca 4%
esôfago 6%
cólon e reto
5%
próstata
12%
estômago
11%
pele melanoma
1%
leucemias 4%
pela não
melanoma 1%
Estimativas de mortalidade - mulheres
leucemias 4%
colo do útero
7%
esôfago 2%
boca
1%
pelao
melanoma
1%
pele melanoma
1%
outros 46%
cólon e reto
7%
mama feminina
16%
estômago 7%
pulmão 8%
Figura 2: Estimativas de Incidência e Mortalidade para o Câncer no Brasil em 2002 (INCA, 2005).
6
Introdução
1.1.4. Estudos que apóiam a intervenção dietética no controle do câncer
A quimioprevenção é uma área inovadora na pesquisa do câncer que atua na
prevenção através de intervenções farmacológicas, biológicas e nutricionais (Sporn, M.B.,
1976; Watternberg L.W., 1985). Os obstáculos para os benefícios da quimioprevenção
chegarem à confiança plena, dependem da segurança da intervenção e do custo da mesma,
o que vem se tornando uma consideração de extrema importância para o desenvolvimento
de um agente como quimiopreventivo ou quimioprotetor (Crowell J.A., 2005). A
identificação de um agente potencial como quimioprotetor é conduzida por uma sistemática
revisão bibliográfica de dados epidemiológicos e experimentais em colaboração com
indústrias farmacêuticas, de nutrição e biotecnologia.
As taxas de morbidade e mortalidade pelo câncer variam muito ao redor do mundo e
acredita-se numa grande influência de fatores alimentares nessa variação (Grobstein et al.,
1982; Doll et al., 1981; Correa et al., 1981; Phillips et al., 1975). O site científico de busca
PubMed apresenta 6019 citações para: “diet cancer prevention”, mostrando a importância
científica dada ao fator alimentação e dieta na gênese do câncer.
Estudos epidemiológicos sugerem uma importante participação de componentes
vegetais, especialmente legumes (Correa et al., 1981), na redução de incidência de
diferentes tipos de câncer. Existem evidências para uma particular correlação entre a
ingestão de sojas e a baixa incidência e taxas de mortalidade por cânceres de mama, cólon e
próstata em países orientais (Tominaga et al., 1985). Ao passo que orientais migrantes para
o ocidente, principalmente para os Estados Unidos, passam a desenvolver cânceres comuns
em populações ocidentais e em taxas semelhantes às dos americanos (Dunn et al., 1975;
Haenszel e Kurihara, 1968; Buel et al., 1973). Essas observações sugerem que a
susceptibilidade a diferentes tipos de câncer, especialmente de próstata, mama e cólon, não
são devidas a diferenças genéticas, mas sim a modificações de hábitos alimentares.
As sojas são conhecidas por conterem altos níveis de inibidores de proteases e de
outros componentes com reconhecida ação anticarcinogênica, incluindo ácido fítico, esterol
β-sitosterol, saponinas e isoflavonóides (Messina e Barnes, 1991), porém os inibidores de
Bowman-Birk são de longe os mais potentes agentes antitumorais das sojas (Kennedy et
7
Introdução
al., 1995). A partir dessa observação surgiu a hipótese de uma baixa taxa de incidência de
câncer estar associada a uma alta ingestão de inibidores de proteases indiretamente, por
meio da ingestão de sojas.
1.2. O que são inibidores do tipo Bowman-Birk, suas características e suas
estruturas?
Os inibidores do tipo Bowman-Birk, comumente chamados de BBI, são inibidores
protéicos de serino-proteases. Apresentam estrutura em cadeia única, rica em resíduos de
cisteína que lhes confere uma estrutura rígida e bastante conservada nas diferentes espécies
do reino vegetal, cerca de 87% (Morh et al., 1987); do qual eles são exclusivos.
Os BBI foram descobertos por Bowman na década de 40 do século passado, e
purificados por Birk na década de 60 (Bowman, 1946; Birk et al 1963). Nesta ocasião eles
trabalharam com BBI de sementes de soja.
São proteínas de baixo peso molecular, aproximadamente 8KDa, possuem 14
resíduos de cisteína formando sete ligações dissulfeto em sua molécula (fig.3A, referente ao
BBI das sementes de soja).
Suas estruturas química e tridimensional lhes permitem interações com serino-
proteases tais que as atividades catalíticas dessas proteases ficam comprometidas na
presença dos mesmos; por isso a denominação de inibidores de proteases. As principais
enzimas inibidas por BBI são tripsina e quimotripsina, uma vez que sua estrutura possui
dois loops ou duas “cabeças de inibição”, sendo uma para tripsina e outra para
quimotripsina, respectivamente (fig.3B, referente ao BBI das sementes de soja). Mas além
dessas enzimas, BBI podem inibir ainda a catepsina G, elastase (Larionova et al., 1993) e
quimase (Ware et al., 1997).
Ao nível estrutural, molecular e de outras propriedades químicas e físicas o BBI de
soja (Glicine max)que é o mais bem estudado, se assemelha bastante ao BBI da
Macrotyloma axillare que apresenta uma seqüência de aminoácidos de elevado grau de
homologia.
8
Introdução
Figura 3 : A Estrutura do BBI de soja, como determinado por Odani e Ikeneka (1973).
Em tom de cinza do lado direito o sítio inibitório para quimotripsina e do lado esquerdo o sítio inibitório para
tripsina. B Simulação computacional da estrutura 3D do BBI em solução. O BBI é uma proteína de 71 aas. A
porção COOH-terminal em roxo representada pelo aa 71; ao passo que a porção N-terminal em amarelo é
representada pelo aa1. O sítio inibitório para quimiotripsina está representado em verde pelos aas 43 e 44;
enquanto o sítio inibitório para tripsina está representado em azul pelos aas 16 e 17 (Kennedy, A.R., 1998).
Ainda ao nível estrutural, estudos de cristalografia com raios-X e Ressonância
Magnética Nuclear demonstram que os BBI são formados de dois subdomínios simétricos,
9
Introdução
de alinhamento bem próximo, com uma homologia do tipo tandem que resulta no motivo
chamado “gravata-borboleta” (fig. 3A).
Suas estruturas secundárias são dominantemente aperiódicas, com um leve grau de
estruturas ordenadas na forma de duas regiões de folhas β-pregueadas, uma em cada
domínio.
A característica estrutural mais interessante dos BBI é a ausência de uma “cavidade
hidrofóbica”, marcante em proteínas globulares e maior responsável pelo arranjo e
estabilidade dessas proteínas. Os BBI têm essa estabilidade estrutural garantida
principalmente pelas suas sete pontes dissulfeto.
Dentre os diversos BBI estudados o primeiro e o melhor caracterizado é o BBI da
soja. Este inibidor teve toda sua estrutura resolvida por técnicas como a cristalografia de
difração de Raios-X e seqüenciamento de aminoácidos.
BBI tem sido utilizado em estudos na forma purificada (PBBI) ou na forma de um
extrato enriquecido ou concentrado de BBI (BBIC). Para preparações da soja, ambas as
formas apresentam atividades semelhantes em os processos carcinogênicos estudados em
sistemas in vitro e in vivo.
1.3.Distribuição dos BBI em angiospermas
As plantas contêm uma grande variedade de inibidores de serino-proteases divididos
em 16 classes (Ryan et al., 1990). Os inibidores do tipo Bowman-Birk são encontrados
principalmente em leguminosas e nessas assumem um papel fisiológico de regulação
endógena de proteinases de sementes, estoque de aminoácidos sulfurosos e defesa a ataques
de insetos e patógenos (Ryan et al., 1994).
A família de inibidores do tipo Bowman-Birk é largamente distribuída em plantas
angiospermas (tab.1) e estudos sugerem que eles derivaram de um ancestral dotado de uma
única cabeça de inibição e por duplicações e mutações genéticas surgiu então uma estrutura
com dupla cabeça de inibição para proteases (Tan et al., 1971).
Existem trabalhos que mostram uma diminuição na atividade inibitória de inibidores
das sementes durante seu desenvolvimento por ação de proteinases (Lorensen et al., 1981).
10
Introdução
A ação de proteinases leva ao aparecimento de novas espécies ativas de inibidores. Esses
novos inibidores possuem migrações eletroforéticas semelhantes aos BBI encontrados em
outras partes da planta, inclusive nos cotilédones, indicando que esse novos inibidores são
originados de transformações pós-traducionais e não pela síntese de novo (Sreerama et al.,
1998).
Tabela 1: Plantas florescentes que apresentam inibidores de proteases BBI, suas famílias e designação no
banco de dados do GenBank (Mello et al., 2002).
Espécie da planta Família Designação
Arachis hypogaea Fabaceae
ARAHY
Canavalia lineata Fabaceae
CANLI
Ciox lacryma-jobi Poaceae
COILA
Dioclea glabra Fabaceaea
DIOGL
Dipteryr alata Fabaceaea
DIPAL
Dolichos biflorus Fabaceaea
DOLBI
Dolichos lablab Fabaceaea
DOLLA
Erythrina variegata Fabaceaea
ERYVA
Glicine max Fabaceaea
SOYBN
Hordeum vulgare Poaceae
LONCA
Macrotyloma axillare Fabaceaea
DOLAX
Medicago sativa Fabaceaea
MEDSA
Medicago scutellata Fabaceaea
MEDSC
Oryza sativa Poaceae
ORYSA
Phaseolus lunatus Fabaceaea
PHALU
Phaseolus vulgaris Fabaceaea
PHAVU
Pisum sativum Fabaceaea
PEA
Saccharum officinarum Poaceae
SACOF
Setaria itálica Poaceae
SETIT
Torresea acreana Fabaceaea
TORAC
Torresea cearensis Fabaceaea
TORCE
Triticum aestivum Poaceae
WHEAT
Vicia faba Fabaceaea
VICFA
Vicia faba sativa sub. nigra Fabaceaea
VICAN
Vigna angulares Fabaceaea
PHAAN
Vigna mungo Fabaceaea
VIGMU
Vigna radiata Fabaceaea
PHAAV
Vigna unguiculata Fabaceaea
VIGUN
Zea mays Poaceae
MAIZE
11
Introdução
1.4. Mecanismos de ação antitumoral dos inibidores de Bowman-Birk
São encontradas na literatura várias citações sobre a atividade anti-tumoral dos
inibidores de Bowman-Birk. Entretanto, os mecanismos ainda não foram totalmente
elucidados.
Os efeitos em mecanismos relacionados aos processos tumorais são:
Atividade antiinflamatória;
Modulação da produção e liberação de radicais-livres;
Prevenção do processo de transformação induzida por carcinógenos químicos ou
radiação;
Reversão da iniciação ou expressão de oncogenes induzida por carcinógenos químicos
ou radiação;
Controle do processo de apoptose e divisão celular, via inibição do proteassoma;
Possibilidade de sua utilização como agente terapêutico a atuar no nível de expressão de
biomarcadores.
1.4.1. Atividade antiinflamatória
Relatos mostram ter BBI uma alta atividade antiinflamatória (St. Clair et al., 1990).
Em estudos com animais foi observado a redução dos níveis de agregados linfóides ou
infiltrados linfocíticos que estão diretamente correlacionados com um declínio na formação
de tumores (Von Hofe et al., 1991; St Clair et al., 1990a). O mecanismo preciso pelo qual
tal efeito é atingido ainda não é bem conhecido, apesar de inúmeras reações poderem estar
envolvidas. Um possível mecanismo é via da inibição da quimase de mastócitos por BBI,
uma vez que esta protease desempenha funções pró-inflamatórias como a ativação de pró-
colagenase (Saarinen et al., 1994) e a ativação de citocinas inativas a citocinas ativas
(Mizutani et al., 1991).
Os inibidores de proteases são capazes de prevenir o influxo de leucócitos
polimorfonucleares (PMN) a focos inflamatórios, bem como a liberação de espécies ativas
de oxigênio por estas células, contribuindo com a atividade antiinflamatória (Goldstein et
al. 1979).
12
Introdução
1.4.2. Modulação da produção e liberação de radicais-livres
Tem sido sugerido que inibidores de proteases são capazes de suprimir a
carcinogênese por prevenir modificações celulares induzidas por radicais-livres, assim
como o bloqueio da produção desses em ovos de ouriços-do-mar e células de mamíferos
(Coburn et al., 1981).
Alguns inibidores inibem o influxo de PMN a focos inflamatórios, bem como a
liberação de radicais-livres pelas PMN em resposta ao carcinógeno químico TPA
(Goldstein et al., 1979).
De forma geral o BBI tem apenas uma habilidade limitada para lidar com radicais-
livres e seus efeitos biológicos, agindo principalmente por meio de um decréscimo dos
danos oxidativos. O papel dos radicais-livres na carcinogênese permanece obscuro, mas
sabe-se que a inibição da liberação do ânion superóxido e de H
2
O
2
por PMN por inibidores
de proteases é bem correlacionado com a atividade anticarcinogênica (Frenkel et al., 1987).
1.4.3. Prevenção do processo de transformação induzida por carcinógenos químicos ou
radiação
A maioria dos dados sobre atividade anticarcinogênica de inibidores de proteases
vem de estudos da habilidade desses agentes em suprimir a transformação induzida por
carcinógenos in vitro. Os inibidores de proteases com atividade anticarcinogênica têm a
habilidade de prevenir ou suprimir completamente transformações morfológicas em
sistemas de células de roedores (Kennedy et al., 1993).
Inibidores de proteases com atividade anticarcinogênica podem suprimir a
transformação decorrente de radiação quando aplicados em culturas irradiadas até mesmo
após duas semanas da exposição à irradiação (Kennedy et al., 1985).
Alguns trabalhos utilizam a antipaína como inibidor de protease anticarcinogênico.
Esses trabalhos demonstram que a antipaína leva aos mesmos efeitos sobre o sistema de
transformação por radiação in vitro, apresentados pelos inibidores do tipo Bowman-Birk.
Porém a maior diferença reside no fato de BBI alcançar efeitos comparáreis em
13
Introdução
concentrações molares bem inferiores. O mecanismo exato de tal efeito ainda é
desconhecido. Experimentos mostram que células expostas a carcinógenos químicos e
radiação, apresentam um elevado grau de eventos de iniciação na expressão de genes. Essa
mudança na expressão gênica conferida à célula aumenta a probabilidade dessa mesma
célula passar para um estágio subseqüente, que é a transformação. Kennedy et al. (1982)
confirmaram a capacidade dos inibidores de protease em reverter essa mudança na
expressão gênica.
1.4.4. Reversão da iniciação ou expressão de oncogenes induzida por carcinógenos
químicos ou radiação
Pesquisadores comprovaram que os inibidores de proteases são potentes agentes
inibitórios na expressão oncogênica. Vários protooncogenes e oncogenes foram
pesquisados em relação à atividade antitumoral de inibidores de proteases: c-fos, c-myc, c-
erb B, c-H-ras, etc. Porém, apenas c-myc e c-fos foram estudados até o momento de forma
mais detalhada. BBI não alterou os níveis normais de c-myc em células, mas foi capaz de
retornar aos níveis normais a expressão de c-myc em células de expressão elevada. Em
cólon irradiado os níveis de c-myc RNA estavam aumentados.
Em sistemas cólons irradiados e expostos ao BBI, os níveis de c-myc RNA eram
comparáveis a sistemas não irradiados, assim como em sistemas expostos apenas ao BBI. A
expressão do oncogene c-myc pode ser controlada em células nas quais o processo de
transformação ainda não ocorreu, dessa forma parece que os inibidores de protease
anticarcinogênicos agem em um ou mais pontos centrais do processo de transformação
maligna (St. Clair et al., 1990).
Um importante modelo de como inibidores de proteases anticarcinogênicos podem
afetar a expressão de c-myc está ilustrado na figura 4.
14
Introdução
Figura 4: Modelo postulado para mostrar a interação entre a protease, o inibidor de protease
anticarcinogênico e a expressão de c-myc.
O modelo sugere a expressão de c-myc aumenta em tumores induzidos por radiação in vivo (Sawey et al.,
1987), os níveis de proteases aumentados em tecidos carcinogênicos tratados in vivo (Messadi et al., 1986) e
os inibidores de proteases anticarcinogênicos retornando as proteases a níveis normais (Messadi et al., 1986)
(Kennedy, A.R., 1998).
A protease na ausência do inibidor pode degradar a proteína regulatória envolvida
na expressão de c-myc, por se ligar à região promotora do gene. Os tratamentos com
carcinógenos levam a um aumento nos níveis de proteases, levando a um decréscimo nos
níveis da proteína regulatória, decréscimo da ligação dessa à região promotora e com
conseqüente aumento da expressão de c-myc. Alguns modelos evidenciam essa proposta:
Carcinógenos induzem elevados níveis de atividade proteolítica (Kennedy et al., 1987);
Radiação aumenta a expressão de c-myc (St. Clair et al., 1990);
Expressão do gene c-myc em tumores irradiados em sistemas in vivo (Sawey et al.,
1987).
Estudos sugerem que a transformação maligna requer cooperação entre a
superexpressão do gene c-myc e outros oncogenes que é abolida na presença de inibidores
de proteases anticarcinogênicos pela regulação dos níveis anormais de expressão de c-myc.
A expressão de oncogenes pode ser inibida por inibidores de proteases, inclusive por BBI
através de interferência na amplificação gênica (Heilbronn et al., 1985).
15
Introdução
1.4.5. Controle do processo de apoptose e divisão celular, via inibição do proteassoma
O sistema ubiquitina-proteassoma é essencial para a manutenção da maquinaria
celular eucariota desempenhando um papel central na proteólise de proteínas intracelulares
(Bochtler et al., 1999).
O sistema proteassoma é conhecido por atuar na regulação de vários processos
fisiológicos e considerado um alvo emergente para a terapia do câncer (Dou et al., 1999).
O proteassoma possui três atividades proteolíticas (Loidl et al., 1999) chamadas:
trypsin-like;
chymotrypsin-like;
peptidil-glutamil peptídeo hidrolítica (PGPH) .
A inibição da atividade proteassômica influencia em muitos processos celulares,
resultando em ação antiinflamatória, anticarcinogênica, antiproliferativa e apoptótica em
células cancerosas.
O bloqueio do sitio chymotrypsin-like do proteassoma causa uma grande redução na
taxa de quebra de proteínas e essa atividade está associada com a sobrevivência de tumores
e resistência a drogas (An et al., 1998).
Modelos experimentais mostraram que inibidores chymotrypsin-like do proteassoma
(Lopes et al., 1997) são responsáveis pela indução de apoptose de células cancerosas
diminuindo o crescimento de tumores (Lenz, H.J. 2003). Tais experimentos sugerem que a
inibição do sistema proteassoma pode prevenir o câncer.
A família das MAPKs tem papéis críticos para a conversão de diversos sinais
extracelulares em respostas biológicas e esses sinais modulam muitos processos celulares.
A dinâmica da modulação de três sub-famílias das MAPKs (p42/44 extracellular
signal-related kinases (ERK1/2), c-Jun N terminal kinase (JNK) e p38 quinase) é
responsável pelo destino da célula quando essas são submetidas a apoptose, diferenciação
ou proliferação (Jonhson et al., 2002).
O balanço entre as MAPKs e suas fosfatases têm importante função no controle de
sua ativação. A cascata de transdução de sinais mais estudada, que está relacionada com a
16
Introdução
proliferação celular, é a via da ERK e sua ativação pode estar fortemente correlacionada
com o aumento da morte celular (Ishikawa et al., 1999).
Existem especulações quanto à atividade do BBI na inibição da atividade
chymotrypsin-like do proteassoma 26S que pode estar relacionada a sua atividade na
carcinogênese. A inibição desse sítio do proteassoma 26S gera o acúmulo de substratos
proteassômicos seguido por uma diminuição da expressão de ciclinas regulatórias do ciclo
celular, como: p27
Kip1
e p21
Cip1/WAF1
(Chen et al., 2005).
O tratamento com BBI induz ao aumento de substratos proteassômicos poli-
ubiquitinados, o que implica em deflagração do processo de apoptose. O tratamento de
células cancerosas com BBI, como mostrado anteriormente leva a um acúmulo de
inibidores de kinases ciclina-dependentes (CKIs) e isso trás como conseqüência uma
diminuição de expressão de ciclinas, como a ciclina D1 e ciclina E. A down-regulation das
ciclinas D1 e E levam as células cancerosas a pararem seu processo de divisão na fase
G1/S após 24 horas de contato com BBI. BBI também suprimiu a expressão de ERK1/2,
que é uma via de transdução de sinais bem caracterizada e envolvida na proliferação
celular. Essa supressão se dá de forma dose-dependente e tempo-dependente (Jonhson et
al., 2002).
Pesquisadores sugerem a ativação das MAPKs estar correlacionada com o aumento
da expressão de moléculas de ciclina, como por exemplo a ciclina D1 (Blain et al., 1997;
Aktas et al., 1997). A inibição de MAPKs pode aumentar a susceptibilidade de células
cancerosas a citotoxicidade de drogas pela modulação do ciclo de progressão celular e/ou
pela interferência com eventos subseqüentes da cascata. Dessa forma, BBI certamente atua
atenuando a atividade ERK1/2, acompanhada de uma down-regulation da ciclina D1 e
possivelmente seguida por uma desregulação da progressão do ciclo celular (Chen et al.,
2005).
17
Introdução
1.4.6. BBI como agente terapêutico a atuar nos níveis de expressão de biomarcadores
utilizados no monitoramento da atividade preventiva do câncer
Os biomarcadores indicam a exposição a agentes carcinogênicos e podem ser
utilizados em estudos de prevenção e tratamento do câncer, demonstrando quando uma
intervenção levou a um decréscimo nos níveis de produtos associados a um risco
aumentado de desenvolvimento de câncer (Lippman et al., 1990).
Muitos biomarcadores são usados como indicadores de danos oxidativos ao DNA
(Frenkel et al., 1992). Inibidores de proteases como BBI, são conhecidos por levarem a
uma redução de danos oxidativos a células (Frenkel et al., 1987; Frenkel et al., 1992), daí a
possibilidade da aplicação de BBI como agente terapêutico a atuar no nível de expressão de
biomarcadores.
A utilização do BBI também foi sugerida por causa de um alto nível de atividade
proteolítica em tecidos humanos pré-malígnos (Billings et al., 1987; Manzone et al., 1995;
Kennedy et al., 1998). Essa atividade proteolítica se encontra elevada em vários tecidos
com risco aumentado de desenvolvimento de câncer (Kennedy et al., 1998). Uma serino-
endopeptidase de 70KDa é capaz de quebrar o substrato Boc-Val-Pro-Arg-MCA e essa
endopeptidase pode ser inibida por BBI. A endopeptidase de 70KDa pode ser considerada
um biomarcador e a atividade inibitória dos BBI está correlacionada com esse biomarcador.
BBI também está correlacionado com um outro biomarcador, o neu oncogene
(Kraus et al., 1985 e 1987; Slamon et al., 1989; Tandon et al., 1989; Brandt-Rauf et al.,
1995; Smit et al., 1996; Meden et al., 1997; Reese et al., 1997).
Elevados níveis da proteína neu, uma proteína de 185KDa chamada de p185, foram
detectados no soro de pacientes com vários tipos de câncer, dentre eles o de mama, ovário,
próstata, estômago, pâncreas, cólon, fígado e pulmão (Brandt-Rauf et al., 1995; Brandt-
Rauf et al., 1994; Tokunaga et al., 1995). Em alguns casos, altos níveis séricos dessa
proteína são detectados em pacientes cujo diagnóstico clínico ainda não foi realizado,
sugerindo o uso de tal proteína como um biomarcador. Os níveis séricos dessa proteína
estão correlacionados com a atividade inibitória dos BBI, o que marca a importância desses
inibidores em estudos com biomarcadores.
18
Introdução
Wan et al., (1999), observaram que os níveis séricos da proteína neu estavam
significativamente correlacionados com a modificação da atividade proteásica na mucosa
oral; uma vez que a proteólise do domínio extracelular da proteína neu leva a um aumento
nos níveis séricos dessa proteína. O tratamento com BBI e sua atividade antiproteásica
acarreta alterações nos níveis séricos e orais da proteína neu.
Portanto a atividade proteásica sobre a proteína neu pode ser utilizada com um
importante biomarcador para os estudos de câncer em humanos e BBI tem forte correlação
na utilização desse marcador.
1.5. Farmacocinética dos inibidores de Bowman-Birk
Acreditava-se que pequena quantidade dos inibidores de proteases da soja,
administrados via oral poderia chegar à corrente sangüínea e se distribuírem para os órgãos,
fora do TGI. Kennedy et al. (1993) mostraram que BBI administrado pela via oral pode sim
alcançar a corrente sangüínea em concentrações consideráveis, com a subseqüente
distribuição pelos órgãos fora do TGI, exceto cérebro (Billings et al., 1992).
Segundo Billings (1992) e Yavelow (1983) cerca de 50% do BBI administrado por
via oral alcançam a corrente sangüínea e se distribui pelo corpo, isso graças à habilidade do
BBI de resistir à ação de enzimas digestivas e chegar com mais de 90% na forma intacta ao
cólon.
Estudos com animais (Kennedy, 1998) indicam que aproximadamente metade do
BBI administrado por via oral é excretado de forma inalterada nas fezes, enquanto o resto
atravessa as células do epitélio intestinal (Billings et al., 1992) ou cruza o lúmen intestinal
via mecanismo paracelular (Billings et al., 1991).
Após 3 horas da administração oral de BBI-I
125
de soja, em camundongos, o mesmo
é largamente distribuído e encontrado na forma nativa na maioria dos órgãos internos,
exceto cérebro. Sabe-se que pequena parte do BBI administrado por via oral é excretado no
urina e ainda apresenta atividade inibitória sobre proteases (Billings et al., 1992; Yavelow
et al., 1983).
19
Introdução
Quando BBI de soja é administrado via oral, a meia-vida sérica é de 10 horas tanto
em ratos como em hamsters (Kennedy, 1998).
Cerca de 50 a 60% é absorvido, por via oral, entre 2 e 3 horas. Após 3 horas o
inibidor está amplamente distribuído pelo organismo alcançando 2 a 5% do BBI
administrado na circulação e 1 a 2% em órgãos como: esôfago, fígado, pulmão, rins e
estômago. A radioatividade medida nestes órgãos corresponde a moléculas de massa
molecular equivalente ao padrão do inibidor marcado determinada em filtração molecular
(Billings et al., 1992).
O tráfego do BBI no TGI, desde sua ingestão até excreção nas fezes, é de cerca de 5
horas. Uma vez na corrente sangüínea, ele passa rapidamente por um processo de
clearance. Quando administrado por via intravenosa, esse clearance é de apenas 30
minutos com total desaparecimento em 24 horas (Persiani et al., 1991).
Estudos têm sido realizados a fim de se estimar a relação entre a dose biodistribuída
e o potencial antitumoral do BBI (Kennedy, 1998).
1.6. Possibilidade de grande absorção de BBI via mecanismo paracelular
As duas principais funções do intestino são a digestão e absorção de alimentos,
nutrientes, vitaminas e co-fatores (Turner e Madara, 1995). Em geral, glicose e
aminoácidos, como o triptofano, são absorvidos do lúmem intestinal via transportadores
acoplados ao sódio. Porém macromoléculas não são facilmente absorvidas pela via
transcelular, mas podem ser absorvidas pela via paracelular.
Quando esses transportadores acoplados ao sódio estão funcionando na sua
capacidade máxima, como após a ingestão de alimentos, uma grande quantidade de sódio
penetra no citosol e ocorre um conseqüente influxo de água. Em seguida surgem eventos
celulares em resposta à penetração de sódio e água, dentre eles o efluxo de sódio via troca
por potássio, pela Na
+
/ K
+
ATPase, e por cálcio. Em resposta aos níveis aumentados de
cálcio no citosol, a quinase de cadeia leve da miosina é ativada resultando na contração do
anel apical de actina. Essa contração pode levar a uma leve abertura do espaço paracelular
20
Introdução
provocada pela tensão no citoesqueleto associado a tight-junctions, com conseqüente
aumento da absorção de moléculas maiores como os BBI (Daughrty e Mrsny, 1999),
conforme mostra a figura 5.
Figura 5: Aumento do influxo de nutrientes nas células intestinais pela via paracelular (Daughrty e Mrsny,
1999).
1.7. Toxicidade dos inibidores de Bowman-Birk
Os inibidores de proteases da soja foram considerados no passado como os agentes
responsáveis pela toxicidade pancreática e pelo efeito potencial de inibir o crescimento de
animais jovens (Kennedy, 1998). No entanto, esse efeito tem sido contestado por vários
pesquisadores. O efeito de promoção de crescimento atípico de pâncreas de ratos não é
esperado acontecer em humanos (Kennedy et al., 1993; Birk et al., 1993).
21
Introdução
Os efeitos tóxicos potenciais dos inibidores de proteases no pâncreas de ratos são
devidos à atividade inibitória sobre tripsina e não sobre quimotripsina (Birk et al., 1976,
1985, 1993). Já a atividade anticarcinogênica está mais fortemente associada com inibição
sobre quimotripsina (Yavelow et al., 1985; Kennedy et al., 1993).
Porém outros estudos mostraram que a atividade proteolítica da tripsina tem forte
correlação com a agressividade do tumor. Uma vez que ela pode aumentar os níveis de
crescimento de alguns tipos celulares ativando receptores de trombina e plasminogênio e
possivelmente receptores de crescimento e de integrinas (Miyata et al., 1998; Burger et al.,
1970), além de receptores ativados por proteinase (PAR-2) (Alm et al., 2000). PAR-2 está
correlacionado com a adesão e proliferação de carcinomas em células gástricas humanas
via indução pela tripsina (Miyata et al., 2000). Portanto a inibição da atividade proteásica
sobre tripsina pelos BBI também tem sua importância na carcinogênese.
A administração por via oral de BBIC não leva a efeitos patológicos em nenhum
órgão, incluindo pâncreas em três espécies animais: camundongos, ratos e hamsters
(Kennedy et al., 1993) e em duas espécies animais: ratos e cães, segundo Page e
colaboradores (dado não publicado).
Mesmo em doses elevadíssimas de BBIC nenhuma alteração histopatológica foi
observada em cães e ratos. Utilizando uma base de comparação por peso corporal, a dose
necessária para prevenção de desenvolvimento do câncer em humanos está muitas vezes
abaixo da dose que pode levar ao surgimento de anormalidades no pâncreas de ratos. BBIC
de soja quando utilizado em estudos de atividade em animais está em uma dosagem duas
vezes ou mais superior a dosagem utilizada em estudos com humanos (Kennedy, 1998).
Armstrong e colaboradores (2000) realizaram estudos com pacientes portadores de
leucoplasia oral e observaram que os pacientes submetidos ao tratamento com BBIC de
soja toleraram bem a administração oral do concentrado; não apresentando reações
alérgicas, sinais de toxicidade nem alterações significativas de exames laboratoriais.
22
Introdução
1.8. Razões para a utilização de inibidores de Bowman-Birk como
quimiopreventivos
O desenvolvimento do câncer é um processo demorado, depende de eventos
carcinogênicos que ocorrem passo a passo em uma determinada área do corpo, podendo se
disseminar durante o estágio de metástase.
Com as crescentes evidências epidemiológicas e patológicas sugerindo a
possibilidade de prevenção do câncer e desaceleração da sua progressão, existem então
possibilidades para uma intervenção e prevenção da progressão da carcinogênese nos seus
primeiros estágios (Weistein, I.B., 1991).
Pelo fato de existirem três estágios diferentes compreendidos na carcinogênese, a
iniciação, promoção e a progressão, muitos agentes potenciais protetores cancerígenos
(quimioprotetores) podem ser largamente caracterizados como agentes bloqueadores, que
impedem o estágio de iniciação, ou agentes supressores, que interrompem ou revertem a
promoção e progressão do câncer. Tais resultados se devem a perturbações em fatores
cruciais como o controle da proliferação celular, diferenciação, senescência ou apoptose
(Grupo de Trabalho de Quimioprevenção da American Association for Cancer Research,
1999).
Os efeitos antitumorais desses compostos podem ser atribuídos à combinação de
seus efeitos citoprotetores em células normais e citotóxicos em células pré-neoplásticas
e/ou neoplásticas.
O sistema de metabolismo de drogas compreende a ação de enzimas que atuam na
fase I (oxidação, redução e hidrólise) e a fase II (glucorunidação, sulfatação, acetilação,
metilação e conjugação com glutationa). Essas enzimas podem ser categorizadas como
enzimas ativadoras ou desentoxicantes, baseado nas suas atividades metabólicas que levam
à produção ou desintoxicação de carcinógenos. O balanço fisiológico entre essas enzimas,
incluindo seus níveis de expressão e potencial polimorfismo genético, pode ditar a
sensibilidade ou risco de um indivíduo exposto a uma espécie carcinogênica.
23
Introdução
Compostos fenólicos e sulfurados, que podem incluir os BBI, moléculas
extremamente ricas em enxofre, são os dois maiores grupos de agentes dietéticos que
induzem enzimas desintoxicantes (Kelloof et al., 2000) (fig. 6).
Figura 6: Indutores naturais de enzimas desentoxicantes regulam a expressão de genes que codificam para
tais enzimas através da transcrição do fator NRF2 (nuclear factor E2-related factor 2).
A função e localização de NRF2 é regulada por um via de quinases que é ativada por indutores de enzimas de
desentoxicação. A fosforilação de NRF2 por MAPKs e PKC (protein kinase C) levam à dissociação de NRF2
de KEAP1. NRF2 se desloca para o núcleo, interage com proteínas Maf e MafK e liga elementos de resposta
antioxidante (ARE) a regiões que codificam muitas proteínas citoprotetoras. Níveis elevados de enzimas
desentoxicantes facilitam a desintoxicação e eliminação de carcinógenos, reativos intermediários e protege as
células e o organismo de carcinógenos químicos (Chen e Kong, 2005).
24
Introdução
Outros compostos naturais, como indóis, diterpenos, cumarinas, lactonas e selênio
podem também levar a indução de enzimas desintoxicantes.
A indução de apoptose e parada do ciclo celular podem ser considerados excelentes
pontos de atuação para quimioprotetores vegetais pela inibição da promoção e progressão
da carcinogênese e ainda por remover das células os corpos danificados, pré-iniciados ou
neoplásticos (fig. 7).
Figura 7: Agentes quimioprotetores geralmente induzem ao estresse oxidativo, com a “down-regulation” de
moléculas anti-apoptóticas como Bcl-2 ou Bcl-x e com a “up-regulation” de moléculas pró-apoptóticas como
Bax ou Bak.
Agentes quimioprotetores podem causar um desbalanço entre as ciclinas, que são reguladoras do ciclo celular.
Um bom exemplo é a indução de expressão de p21 que é um inibidor de CDK, interrompendo o ciclo celular
em G1-S ou G2-M (Chen e Kong, 2005).
25
Introdução
Muitos agentes supressores da carcinogênese obtidos pela dieta parecem induzir
apoptose por uma via mediada pela mitocôndria. Sinais de estresse gerados por esses
compostos quimioprotetores regulam o tráfico de proteínas pró-apoptóticas ou anti-
apoptóticas (Li et al., 1997).
A citotoxicidade de agentes quimioprotetores pode ser então monitorada por seus
efeitos na mitocôndria, caspases e outras proteínas apoptóticas.
Muitos componentes alimentares considerados quimioprotetores, inclusive
compostos sulfurosos induzem seus efeitos antitumorais através da indução de apoptose, o
que possibilita uma possível inserção do BBI nesse grupo.
A transição entre as fases G1-S ou G2-M funciona como uma checagem para a
divisão celular. A perturbação das quinases e inibidores de quinases envolvidas na
progressão do ciclo celular por quimioprotetores encontrados na dieta, podem
potencialmente afetar e bloquear a proliferação contínua de células tumorais (Weinstein,
I.B., 2000).
É interessante ressaltar que a indução de apoptose in vivo e /ou a perturbação da
maquinaria do ciclo pelos quimioprotetores alimentares ocorre principalmente em células
pré-neoplásticas ou neoplásticas, mas não em células normais (Gupta et al., 2001; Perkins
et al., 2002). Isso poderia ser resultado de um mau funcionamento ou desregulação dos
eventos de transdução de sinais nas células neoplásticas em formação.
Baseado nestes aspectos existe a busca por agentes quimioprotetores, entretanto os
custos da síntese e produção de produtos farmacêuticos que possam atuar na
quimioprevenção, são sem dúvida um obstáculo. Porém, a indústria da biotecnologia pode,
através de suas pesquisas, alcançar produtos com atividade biológica desejada com menores
efeitos colaterais freqüentes na terapêutica atual.
Considerando que os BBI representam uma importante solução na prevenção do
câncer, tornam-se relevantes estudos que utilizam formas diferentes desses inibidores,
explorando as propriedades farmacocinéticas e especificidade da sua relação estrutura-
atividade.
26
Introdução
1.9. A leguminosa Macrotyloma axillare
A Macrotyloma axillare (figs.8 e 9) é uma leguminosa rasteira, perene, constituída
de caules pilosos e com folhas verdes brilhantes trifoliadas. Suas flores são amarelas
esverdeadas e as vagens pilosas são ligeiramente reclinadas, contendo de sete a oito
sementes por vagem. M. axillare é uma planta de origem africana, com distribuição
abundante na África Tropical, podendo assim, ser cultivada em países de clima tropical e
subtropical. (United States Department of Agriculture - Plants Database, 2003). Esta
leguminosa é utilizada normalmente como forragem, ou seja, como pastagem e alimentação
para o gado. Apresenta boa produtividade em solos argilosos ricos em fosfatos. A M.
axillare cresce vigorosamente no verão, continua crescendo durante o outono, suportando
bem as estações secas, como o inverno e continua crescer na primavera (Better Pastures for
the Tropics - Axillaris.htm, 2003).
Em função da facilidade de obtenção das sementes da Macrotyloma axillare em
grandes quantidades e da importância biotecnológica do BBI, torna-se evidente o interesse
em desenvolver metodologias de isolamento e caracterização do concentrado de BBI da
Macrotyloma axillare, para uma possível aplicação futura na quimioprevenção de tumores,
uma vez que BBI de soja é tratado como um fármaco pela FDA (Kennedy, A.R., 1998).
27
Introdução
Figura 8: Macrotyloma axillare.
Foto da planta adulta, foto das vagens à direita e à esquerda foto das sementes utilizadas nesse trabalho para a
produção do concentrado de BBI (FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE
UNITED NATIONS, 2003).
1.10. Classificação Sistemática da Macrotyloma axillare
Sinonímia: Dolichos axillaris (E. Meyer); Clitoria vividiflora (Boulton);
Nomes Comuns: Archer (Austrália), Grama de cavalo (Perenial horsegram);
Informações Taxonômicas (United States Department of Agriculture - Plants
Database, 2003):
1. Reino: Plantae - Plantas
2. Sub-Reino: Tracheobionta - Traqueófita (plantas vasculares)
3. Superdivisão: Spermatophyta - Plantas com sementes
4. Divisão: Magnoliophyta - Plantas com Flores
5. Classe: Magnoliopsida - Dicotiledôneas
6. Sub-classe: Rosidae
28
Introdução
7. Ordem: Fabales
8. Família: Fabaceae - Família das ervilhas
9. Gênero: Macrotyloma (Wight & Arnott) Verdc.
10. Espécie: Macrotyloma axillare (E. Meyer) Verdc.
Figura 9: Ilustração esquemática da Macrotyloma axillare. (1) ramos de folhas e caule, (2) flor e (3) vagem
com sementes (Better Pastures for the Tropics - Axillaris.htm, 2003).
29
2. Justificativas e Objetivos
Justificativas e Objetivos
2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
2.1. Justificativas
Inibidores BBI obtidos de sementes de leguminosas apresentam-se como agregados,
geralmente diméricos. Cotilédones de brotos de cinco dias de plantas do gênero
Macrotyloma possuem BBI na forma monomérica e mais ativa que nas sementes (Sreerama
et al., 1998; César et al., 2006).
Conforme observado em trabalhos prévios realizados por nosso grupo de pesquisa,
o inibidor de sementes germinadas de Macrotyloma axillare apresenta alta atividade
inibitória sobre serino-proteases, menor massa molecular e menor tamanho em relação ao
inibidor de sementes dormentes. Uma vez que são parcialmente hidrolisados nas suas
porções N e C terminais e se apresentam exclusivamente na forma de monômeros. Além
disso, foi confirmada por nosso grupo de pesquisa a menor carga líquida e maior
hidrofobicidade da molécula, tendo em vista que estes ficam mais retidos na fase
estacionária reversa (C18 de HPLC) em relação ao inibidor de sementes dormentes
(Oliveira, et al., 2005).
Essas características colocam os BBI de broto de Macrotyloma como inibidores de
absorção e distribuição favorecidas, que podem apresentar maior atividade farmacológica
no câncer. Além disso, a possibilidade de maior penetração no proteassoma 26S e a maior
atividade sobre a tripsina e quimotripsina justificam ainda mais a importância desses
estudos.
Assim sendo, baseado no fato de que os inibidores do tipo Bowman-Birk são
moléculas freqüentemente empregadas em estudos de prevenção do câncer e que sua ação
preventiva decorre principalmente da capacidade desses inibidores em inibir serino-
proteases; o presente trabalho tem como objetivo verificar as propriedades farmacocinéticas
de inibidores BBI da Macrotyloma axillare e compará-los com o BBI das sementes de soja.
31
Justificativas e Objetivos
2.2. Objetivo Geral
Estudar a farmacocinética de inibidores Bowman-Birk de sementes dormentes e
germinadas de Macrotyloma axillare em camundongos Swiss, comparando o perfil desses
inibidores aos inibidores de soja, tentando descobrir vantagens da sua utilização.
2.3. Objetivos específicos
1. Produzir BBIC de soja, de sementes e de cotilédones de Macrotyloma axillare em
quantidades preparativas para as determinações farmacocinéticas.
2. Estudar o perfil de biodistribuição dos BBI de sementes e cotilédones de
Macrotyloma axillare por meio de marcação com Iodo radioativo (I
125
).
3. Estudar a cinética plasmática dos inibidores radioativos de Macrotyloma axillare
administrados por via intravenosa.
4. Medir por meio da atividade inibitória sobre tripsina os níveis de absorção intestinal
in vitro dos BBIC de sementes de soja e de sementes e cotilédones de Macrotyloma
axillare.
32
3. Materiais e Métodos
Materiais e Metodologias
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Delineamento Experimental
Em nossos trabalhos utilizamos concentrados de BBI de soja, produzidos conforme
a metodologia proposta por Yavelow et al.(1985); extratos enriquecidos e frações
purificadas de sementes (dormentes e germinadas por 120 horas) da Macrotyloma axillare.
Os concentrados de soja e de Macrotyloma axillare, sementes e cotilédones,
apresentam atividade inibitória tanto sobre a tripsina e quimotripsina.
De posse dessas preparações, o presente trabalho foi realizado conforme
apresentado no seguinte delineamento experimental:
Figura 10: fluxograma do delineamento experimental (Kumar et al., 2002; Yavelow et al., 1985).
34
Materiais e Metodologias
3.2. Isolamento e Purificação dos inibidores
3.2.1. Obtenção das Sementes da Macrotyloma axillare
As sementes da Macrotyloma axillare foram gentilmente fornecidas pela empresa
Matsuda Sementes Ltda localizada na cidade de Álvares Machado, interior de São Paulo,
através do Dr. Alberto Takashi (Depto. Técnico).
Esse cultivar foi obtido do cruzamento artificial de dois cultivares comerciais da
Macrotyloma: Archer (Austrália) e Guatá (IZ). O nome comercial do cultivar lançado
comercialmente no ano de 2004 e por nós utilizado é Java.
3.2.2. Obtenção dos cotilédones da Macrotyloma axillare
As sementes foram selecionadas com o objetivo de descartar as danificadas. Em
seguida foram moderadamente escarificadas por meio de uma lixa d’água nº100 para
facilitar a penetração da água e deixá-las túrgidas para promover a quebra da dormência de
maneira homogênea. As sementes escarificadas foram imersas em água destilada por 24
horas, peneiradas e colocadas sobre papel de filtro à temperatura ambiente, e monitoradas
por 120 horas, mantendo-se a umidade sempre elevada pela pulverização periódica de água.
3.2.3. Preparo do Extrato Bruto de Macrotyloma axillare sementes e cotilédones
As melhores condições para extração protéica das sementes moídas e cotilédones
triturados em liquidificador foram determinadas a partir de provas preliminares para obter
de maneira otimizada o extrato rico em inibidores.
Dessa maneira, o extrato bruto foi preparado a partir de uma suspensão a 20% p/v
em tampão Glicina-HCl 0,1M pH 2,5 deixado em agitação overnight por 12 horas a 4°C.
Após o período de extração, a suspensão foi filtrada em gaze e o filtrado submetido à
centrifugação a 4724g por 30 minutos a 4°C para remoção de fibras insolúveis presentes.
Esse extrato foi denominado Extrato Bruto a 20 % p/v (EB 20%).
35
Materiais e Metodologias
3.2.4. Precipitação por Tratamento Térmico do EB 20%
A temperatura e o tempo de incubação foram testados de maneira que a perda de
atividade inibitória específica do EB 20% fosse a menor possível. Após várias tentativas, as
condições experimentais foram predefinidas como sendo 85 ºC por 30 minutos.
Decorrido esse tempo de incubação a suspensão era resfriada em banho de gelo e
submetida a uma nova centrifugação a 4724g por 30 minutos a 4 °C para remoção das
proteínas precipitadas pelo calor. O sobrenadante foi então denominado Extrato Bruto
Tratado Termicamente (EB TT).
3.2.5. Precipitação por Etanol a Frio
Aos volumes de EB TT de sementes e cotilédones foram acertados os pHs para 7,5
com hidróxido de amônio concentrado e adicionadas quantidades crescentes de etanol PA a
95,5 ºGL, resfriado a aproximadamente -20°C, para atingir concentrações finais de etanol
de 60 e 80%. Após a adição de cada volume de etanol, a suspensão era mantida em banho
de gelo e repouso por 15 minutos, centrifugada a 4°C por 30 minutos a 4724g.
Os volumes de etanol necessários para a precipitação de cada fração foram
calculados segundo a equação:
2
12
100
)(1000
)(
C
CC
mlV
=
; onde:
V, é numericamente igual ao volume de etanol a ser adicionado a uma solução
líquida pronta contendo C
1
%v/v, para que a concentração se torne C
2
%v/v; para um litro de
solução inicial.
O precipitado obtido na concentração de 60%v/v era descartado. O sobrenadante era
submetido a uma nova etapa de precipitação para que a concentração final de etanol v/v
fosse de 80%. Com isso, o precipitado obtido se encontra numa faixa de concentração de
etanol entre 60 e 80%v/v. Para retirar possíveis proteínas insolúveis nesse concentrado, o
mesmo era ressuspenso em tampão NH
4
HCO
3
0,01M pH 8,5 e submetido a nova
centrifugação a 4724g por 30 minutos a 4°C. O material era isolado para posterior
liofilização e demais estudos com o então chamado Concentrado de BBI ou BBIC.
36
Materiais e Metodologias
Em alguns estudos foram utilizadas frações purificadas, ou seja, submetidas a
técnicas de cromatografia. Foram elas Q
5
S
2
NT sementes e BQ
1
S
2
NT cotilédones. Tais
frações foram obtidas no trabalho de César et al.,(2006).
3.2.6. Obtenção do extrato enriquecido (BBIC) soja
O pó de sementes trituradas de soja passou primeiramente por um processo de
delipidação com 10 volumes de acetona P.A. O pó remanescente do processo anterior foi
levado a extração em 10 volumes de etanol 60% a 55ºC com agitação constante por 1 hora.
O extrato foi filtrado em gaze e centrifugado 4724g por 30 minutos para remoção
das fibras insolúveis. Em seqüência o extrato foi acidificado ao pH 5,3 com HCl
concentrado e precipitado com 2 volumes de acetona P.A. e centrifugação a 4724g por 30
minutos, sendo que o precipitado obtido foi depois ressuspendido em água destilada,
dialisado e por fim liofilizado.
3.2.7. Dosagem de proteínas
As dosagens de proteínas foram determinadas pelos métodos colorimétricos
utilizando os reagentes de Folin-Ciocalteau (Lowry et al., 1951) e Biureto (Scopes, 1987).
O padrão de proteína utilizado como referência foi a soro albumina bovina (BSA) Merck,
em soluções de 20 a 100μg/mL para obtenção de retas-padrão, apresentadas no apêndice 3.
3.3. Caracterização do inibidor
3.3.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida a 12 e 18%
Preparação dos Géis de Separação e Concentração
Os suportes eletroforéticos utilizados eram géis de poliacrilamida de separação a 18
e 12% e de concentração a 5%, preparados em condições desnaturantes (com dodecilsulfato
de sódio ou SDS), segundo o método de Laemmli, 1970.
Assim, os géis foram preparados pela mistura dos seguintes reagentes:
solução tampão tris-hidroximetilamino-metano;
solução de acrilamida 30%p/v + bis-acrilamida 0,8%p/v;
37
Materiais e Metodologias
solução de SDS a 10%p/v;
solução de persulfato de amônio a 10% (preparo recente);
N,N,N’,N’- tetrametil-etilenodiamina a 99%;
água destilada q.s.p.
Utilizou-se tris-(hiroximetilamino)-metano 1,5M pH 8,8 no gel de separação e o
mesmo agente tamponante a 0,5M pH 6,8 no gel de concentração. Os volumes da mistura
acrilamida e bis-acrilamida eram alterados para obterem-se as diferentes concentrações
finais de acrilamida.
Preparo das Amostras para Eletroforese
As amostras provenientes das etapas de purificação foram preparadas em
concentrações finais de aproximadamente 1mg/mL em tampão NH
4
HCO
3
0,01M pH 8,3 e
diluídas no tampão da amostra 1:1, contendo tris-hidroximetilamino-metano 0,125M pH
6,8; azul de bromofenol 0,002%p/v, SDS 4%p/v e Glicerol 20%v/v e o agente redutor 2-
mercaptoetanol 10%v/v.
As amostras foram tratadas em banho de água fervente por cinco minutos para
desnaturação total das proteínas. O tampão de corrida eletroforética continha tris-
hidroximetilamino-metano 0,025M, Glicina 0,192M e SDS 0,1%p/v pH 8,2 e ainda
1,0%v/v de 2-Mercaptoetanol para evitar a reoxidação dos resíduos de cisteína, o que
implica em uma migração atípica das bandas de proteína, uma vez que essa reoxidação faz
com que o SDS não interaja adequadamente com as proteínas.
Utilizou-se uma mistura de isoformas de Concanavalina A (ConA) de massas
moleculares 30,0; 28,0; 23,0; 17,0 e 13,0KDa como padrão de massa molecular. As
eletroforeses foram realizadas em uma corrente elétrica de 20mA por placa, durante
aproximadamente 90 minutos.
38
Materiais e Metodologias
3.3.2. Coloração dos géis de poliacrilamida
Protocolo de Coloração pelo Nitrato de Prata
Foi procedida a coloração do gel de poliacrilamida após a corrida das amostras
primeiramente com a fixação do gel com Solução Fixadora contendo 50mL de metanol,
12mL de ácido acético, 40μL de formaldeído e água destilada q.s.p.100mL. Essa fixação
foi realizada por pelo menos uma hora de contato do gel com a solução fixadora.
Em seguida o gel foi lavado por três vezes com água destilada, sendo que as
lavagens duravam 7 minutos cada. Depois o gel foi imerso em Solução de Tiossulfato de
Sódio a 0,04%p/v, por um minuto, em seqüência era procedida uma nova lavagem como a
procedida anteriormente.
Após a lavagem o gel foi imerso por 20 minutos em Solução de Nitrato de Prata
contendo 0,1g de AgNO
3
, 75μL de formaldeído e água destilada q.s.p. 100mL. Para
finalizar essa etapa foi feita uma rápida lavagem com água destilada.
A revelação foi realizada na presença da Solução de Desenvolvimento na qual se
observava o aparecimento das bandas de proteínas. A solução era constituída de 6g de
Na
2
CO
3,
50μL de formaldeído, 2mL de solução tiossulfato de sódio (mesma produzida
anteriormente) e água destilada q.s.p. 100mL.
Após o aparecimento das bandas o gel era colocado em contato com a solução de
parada, cuja composição era 50mL de metanol, 12mL de ácido acético e água destilada
q.s.p. 100mL.
Protocolo de Coloração pelo Comassie-Blue
Procedeu-se a coloração pelo tratamento do gel de eletroforese com uma solução de
Coomassie Blue R-250 a 0,025% em metanol 40% contendo 7% de ácido acético, por 3
horas. Os géis foram então descorados por meio de uma solução de metanol 40% contendo
7% de ácido acético até a visualização plena das bandas.
39
Materiais e Metodologias
3.4. Atividades Inibitórias
3.4.1. Tripsina Bovina
A determinação da atividade tripsínica foi feita de acordo adaptação do método
descrito por Erlanger et al. (1961). O substrato usado foi o cloridrato de N-α-benzoil-
DL
-
arginil-p-nitroanilida (
DL
-BApNA), que foi preparado dissolvendo-se 196 mg do composto
em 5 mL de dimetilsulfóxido (DMSO) para obter 9 x 10
-2
M. Esta solução foi mantida no
congelador como solução estoque e diluída no momento do uso com tris-hidroximetil-
aminometano (Tris-HCl) 0,1M contendo CaCl
2
20mM pH 8,1 para a concentração de 9 x
10
-4
M.
O tubo teste era constituído dos seguintes reagentes:
DL
-BApNA 1000μL, tripsina
100μL a uma concentração de 0,05mg/mL e 20-100μL das frações de purificação do
inibidor, previamente diluídas em tampão NH
4
HCO
3
0,01M pH 8,5.
O tubo branco era constituído de 1000μL de substrato e 120-200μL de água,
enquanto que o tubo controle de atividade enzimática continha 1000μL de substrato, 100μL
de enzima e 20-100μL de água.
Os tubos de reação foram agitados em vortex e incubados em banho-maria a 37ºC
por aproximadamente 40 minutos. Após esse tempo, adicionaram-se 250μL de ácido
acético 60%v/v para paralisar a reação e posteriormente quantificar a atividade enzimática
pela medida da absorvância a 410nm.
Os dados obtidos com essas atividades inibitórias foram utilizados para a
determinação do rendimento e enriquecimento das preparações de Macrotyloma axillare e
soja.
As atividades inibitórias foram expressas em UAI: Unidade de Atividade Inibitória.
3.4.2. Quimotripsina Bovina
A determinação da atividade quimotripsínica foi feita de acordo adaptação do
método descrito por Erlanger et al (1961). O substrato usado foi o cloridrato de N-α-
benzoil-
L
-tirosil-p-nitroanilida (
L
-BTpNA) que foi preparado dissolvendo-se 182mg do
40
Materiais e Metodologias
composto em 5mL de DMSO para obter 9 x 10
-2
M. Esta solução foi mantida no congelador
como solução estoque e diluída no momento do uso com Tris-HCl 0,1M contendo CaCl
2
20mM pH 8,1 e DMSO na proporção de 80% e 20% respectivamente, para a concentração
de 9 x 10
-4
M.
O tubo teste era constituído dos seguintes reagentes:
L
-BTpNA 1000μL,
quimotripsina 100μL a uma concentração de 0,05mg/mL e 20-100μL das frações de
purificação do inibidor, previamente diluídas em tampão NH
4
HCO
3
0,01M pH 8,5.
O tubo branco era constituído de 1000μL de substrato e 120-200μL de água,
enquanto que o tubo controle da atividade enzimática era constituído de 1000μL de
substrato, 100μL de enzima e 20-100μL de água.
Os tubos de reação foram homogeneizados e incubados em banho-maria a 37ºC por
aproximadamente 40 minutos. Após esse tempo, adicionaram-se 250μL de ácido acético
60%v/v para paralisar a reação e posteriormente quantificar a atividade enzimática pela
medida da absorvância a 410nm.
Os dados obtidos com essas atividades inibitórias foram utilizados para a
determinação do rendimento e enriquecimento das preparações de Macrotyloma axillare e
soja.
3.5. Ensaios Biológicos
3.5.1. Estudos farmacocinéticos de BBI-I
125
em camundongos Swiss
Os animais utilizados em todos ensaios biológicos pesavam entre 25 – 35 gramas.
Marcação dos BBI de sementes e cotilédones da
Macrotyloma axillare com NaI
125
O protocolo de marcação utilizava como princípio a atividade enzimática da
lactoperoxidase que gera espécies reativas de iodo no meio na presença de peróxido de
hidrogênio. Essas espécies reativas de iodo se ligam covalentemente aos anéis aromáticos
dos resíduos de tirosina (Morrison e Achonbaum, 1976).
41
Materiais e Metodologias
Protocolo de marcação
30μg de PBBI de cotilédones e 30μg de PBBI purificado de sementes (previamente
obtidos em nosso laboratório) pela pipetagem de 30μL de soluções de BBI 1mg/mL
em tampão fosfato 0,1M pH 6,80 e dispensação em tubos eppendorf;
0,2mCi de I
125
, obtidos pela pipetagem de 6μL de NaI
125
(Amersham Biosciences)
em capela com tijolos de chumbo com anteparo para a radiação emitida;
5μL de lactoperoxidase (Sigma) 250μg/mL;
adição de 5μL de H
2
O
2
1/50000 no tempo zero, quando se liga o motor de sucção da
capela;
adição de 5μL de H
2
O
2
1/50000 no tempo um, (1 minuto);
adição de 199μL de tampão fosfato 0,1M pH 6,80 adicionado de 0,1% de BSA no
tempo dois (2 minutos).
Separação da proteína marcada do I
125
-livre
A separação da proteína marcada do iodo livre se deu por aplicação dos 250μL dos
produtos reacionais em coluna de Sephadex G25
®
- Pharmacia LKB Biotechnology de
dimensões 0,7cm x 30cm equilibrada com tampão Fosfato 0,2M pH 6,80 adicionado de
0,1% de BSA, colhendo-se frações entre os volumes de 3 e 5mL, utilizando o mesmo
tampão como eluente.
Foram retiradas alíquotas de 5μL antes e depois da cromatografia tanto do inibidor
marcado de sementes como de cotilédones para a determinação da recuperação de proteínas
após a cromatografia, através da contagem da radiação em contador gama.
Após a cromatografia uma nova alíquota de 5μL era levada a cromatografia, em
papel Whatman n°1 de 20cm, com aplicação da amostra a 1,5cm da base inferior do papel e
eluição por 40 minutos em solução saturada de KI em metanol. O papel era recortado em
20 partes de 1cm e cada parte era contata em contador gama para determinação de iodo
radioativo incorporado e livre.
42
Materiais e Metodologias
Além disso, as atividades inibitórias sobre tripsina e quimotripsina foram
determinadas antes e depois da marcação dos BBI para precisar a influência da marcação na
funcionalidade das moléculas.
Biodistribuição dos inibidores marcados com I
125
Juntamente com os inibidores obtidos de sementes e de cotilédones marcados foram
utilizados inibidores não marcados, chamados proteínas frias, em uma dose considerada
terapêutica. Esses inibidores foram administrados por via oral pelo método de gavage em
cinco animais para cada inibidor. Passadas 3 horas da administração dos inibidores os
animais foram sacrificados por deslocamento cervical para retirada dos órgãos, lavagem,
secagem e pesagem dos mesmos, para posterior contagem da radiação em contador gama.
Foi montado um esquema de dose constituído de 8mg de BBI frio e BBI marcado
em quantidade suficiente para gerar uma contagem de aproximadamente 1x10
6
cpm. Como
a radiação total do material de sementes foi de 1,16x10
8
cpm em 2,0mL foi necessário um
volume de 17μL desse material para gerar a contagem desejada no material de partida. No
material de cotilédones a radiação total foi de 2,79x10
7
cpm em 2,0mL, necessitando então
de 72μL para atingir a contagem desejada e solução fisiológica de Tyrode (apêndice 1)
q.s.p 500μL para ambos.
Os órgãos analisados foram: intestino delgado, cólon, estômago, fígado, rim,
pulmão, bexiga e sangue.
Fígado e rim foram processados a homogenatos por meio de maceração com grau e
pistilo na presença de nitrogênio líquido e posteriormente homogeneizados em
homogeneizador de órgãos Potter (em tubos e pistilos esmerilhados Potter), com o aparelho
funcionado na velocidade mínima. Os homogenatos reunidos em pools, de cada órgão e do
plasma de todos os animais relativos aos inibidores de sementes e de cotilédones, foram
aplicados num volume de 200μL em uma coluna de Sephadex G50
®
- Pharmacia LKB
Biotechnology de dimensões de 0,9cm x 30cm. Um padrão de BBI-I
125
de sementes e outro
de cotilédones contendo 1mg de proteína fria e cerca de 4x10
5
cpm em solução fisiológica
de Tyrode q.s.p. 200μL também foram aplicados na coluna para observação e comparação
43
Materiais e Metodologias
do perfil cromatográfico do inibidor encontrado em cada um desses órgãos. Foram
recolhidas 40 frações de 1mL de cada órgão dos animais que foram administrados o
inibidor de sementes e o inibidor de cotilédones para contagem em contador gama.
Cinética plasmática dos inibidores de sementes e cotilédones
Foram administrados BBI-I
125
de sementes e cotilédones por via intravenosa para a
determinação da cinética plasmática dos inibidores.
Para a administração intravenosa foram preparadas doses contendo 1mg de BBI frio
de sementes para um grupo de três animais e também 1mg de BBI frio de cotilédones para
outro grupo de três animais, ambos adicionados de BBI marcado em quantidade suficiente
para gerar uma radiação de aproximadamente 3,5x10
5
cpm e solubilizados em tampão
Fosfato 0,2M pH 6,80 q.s.p. 25μL.
As aplicações dos 25μL preparados anteriormente se deram no plexo retroocular
dos camundongos, assim como as punções, porém no olho não aplicado. As punções eram
realizadas com o auxílio de tubos capilares heparinizados rendendo 15μL de plasma a cada
punção que era realizada intervalos de tempo pré-determinados, até 3 horas após a
administração. O plasma era obtido após a centrifugação dos tubos capilares cheios de
sangue em centrifuga para capilares por 6 minutos. Dessa forma, o plasma foi levado à
contagem da radiação em contador gama.
Os dados obtidos permitiram calcular os parâmetros farmacocinéticos: constante de
distribuição, constante de eliminação, meia-vida plasmática, volume de distribuição e área
sob a curva (Rowland e Tozer, 1995).
3.5.2. Estudo da cinética plasmática dos BBIC soja, sementes e cotilédones (
Java) em
camundongos
Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina
Foi feito um estudo piloto in vitro no qual BBIC de sementes e cotilédones de
Macrotyloma axillare e de sementes de soja, com atividades conhecidas foram adicionados
ao plasma de camundongos. Em seguida precipitaram-se os inibidores endógenos pelo
tratamento térmico a 85º por 15 minutos ou tratamento térmico e precipitação por etanol
44
Materiais e Metodologias
numa concentração final de 50%. Já se sabia que os BBIC são estáveis nessas condições, e
posteriormente foi feita a determinação da presença do inibidor pela atividade inibitória.
Utilizou-se nesse estudo sistemas formados por 100μL de BBIC na concentração de
2,0mg/mL em tampão acetato de amônio 0,01M pH 7,4 adicionados de 40μL de plasma.
Nesses sistemas foram procedidos os tratamentos térmicos ou tratamento térmico e
precipitação por etanol. O controle em vez de plasma possuía 40μL de água destilada. Após
os tratamentos o material foi precipitado em tubos eppendorf por centrifugação a 14000rpm
por 6 minutos. O sobrenadante foi submetido ao ensaio de inibição sobre tripsina.
No estudo in vivo utilizando camundongos, os animais sofreram injeções no plexo
retroocular de 25μL de solução salina contendo 5mg de BBIC.
Em seqüência, em intervalos de tempo pré-definidos, foram feitas punções no plexo
retroocular, dos olhos que ainda não tinham sofrido injeções, de 50μL de sangue em
capilares heparinizados. As punções rendiam, após centrifugação por 6 minutos em
centrifuga de capilar, 20μL de plasma. Procedida à precipitação dos possíveis inibidores de
proteases endógenos foram feitas determinações dos BBIC pela atividade inibitória sobre
tripsina. Neste caso o controle do ensaio em vez de 20μL de plasma possuía 20μL de água
destilada.
Para uma melhor precipitação dos inibidores de proteases endógenos foram tentados
outros métodos de precipitação dos inibidores endógenos utilizando ácido acético a 7,5%,
ácido tricloracético a 10% e ácido perclórico a 7% em relação aos volumes finais dos
sistemas das precipitações.
Foram realizadas ainda cromatografias de exclusão molecular. Após as
precipitações térmicas e precipitação térmica seguida de precipitação por etanol, os
sobrenadantes resultantes foram aplicados em colunas de filtração molecular de dimensões
6,0cm x 1,5cm de Sephadex G50
®
- Pharmacia LKB Biotechnology equilibrada com
tampão acetato de amônio 0,01M pH 7,4. O volume da coluna era de 3mL de resina, com
capacidade de aplicação de 0,5mL de amostra e com pico de proteína eluído no volume de
2mL após aplicação.
45
Materiais e Metodologias
O material recolhido da coluna era levado a secagem em Speed-Vac, em seguida
ressuspenso em 100μL de tampão acetato de amônio 0,01M pH 7,4, sendo que 20μL eram
levados para detecção dos BBIC via teste de inibição sobre tripsina.
3.5.3. Medida da absorção
in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones de Java em alças
intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos
Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina
Dissecação das alças intestinais
Para se proceder ao isolamento das alças intestinais de camundongos Swiss, os
animais eram deixados em jejum por pelo menos 16 horas e mortos por deslocamento
cervical. Em seqüência os animais eram fixados em suporte de isopor na posição de supino.
Eram feitas incisões abdominais no sentido caudal-cranial para exposição das vísceras. Os
jejuno-íleos eram isolados por cortes nas suas junções junto ao intestino grosso na porção
mais caudal e cortes nas junções ao duodeno na porção mais cranial dos animais. Na
medida em que as extensões dos órgãos eram obtidas pelo dissecamento, os mesmos eram
imersos em solução fisiológica de Tyrode, para a garantia a vitalidade dos órgãos. Os
jejuno-íleos isolados eram medidos para homogeneidade do experimento e cada órgão
apresentava 30cm de extensão.
Lavagem das alças de jejuno-íleo
As alças eram lavadas internamente e externamente, após seus isolamentos, com
solução fisiológica de Tyrode com o auxílio de uma piseta. Tais lavagens serviam para
garantir que nenhum resto alimentar fosse encontrado nos órgãos.
Preparação do BBI para determinação da absorção
in vitro nas alças jejuno-íleo isoladas
Os inibidores concentrados (BBIC) de sementes, cotilédones de Macrotyloma
axillare e de soja eram pesados de acordo com as dosagens pré-determinadas para os
experimentos. 2-20mg/mL de BBIC solubilizados em 1,10mL de solução de Tyrode; sendo
46
Materiais e Metodologias
que 1,0mL foi o volume aplicado em cada alça independentemente de sua concentração e
0,1mL restante foi utilizado para as determinações de atividades inibitórias sobre tripsina.
Experimentos de absorção dos BBIC
Os experimentos de absorção foram realizados em cubas de 50mL contendo
50,0mL de solução de Tyrode a 37ºC, temperatura alcançada com o auxílio de um banho-
maria. Era borbulhado ar no interior do béquer para oxigenação do órgão. Dentro das cubas
eram alojados os jejuno-íleos aplicados em seus interiores de 1,0mL de solução de BBIC,
por 7 horas. As extremidades dos órgãos eram fixadas nas bordas das cubas com a
colocação de pedaços de algodão embebidos em Tyrode.
Figura 11: Banho de órgão contendo jejuno-íleo de camundongo Swiss aplicado de BBIC imerso em solução
de Tyrode a 37ºC com borbulhamento de ar.
Bolhas brancas representam o ar e as vermelhas o BBIC que se exterioriza.
Em intervalos determinados de tempo, até 7 horas após a aplicação, foram retiradas
alíquotas de 500μL das soluções contidas nas cubas para determinação do BBIC absorvido,
pela atividade inibitória sobre tripsina. Essas alíquotas de 500μL foram repostas com mais
500μL de solução fresca de Tyrode para evitar uma concentração do possível BBIC
presente no lado externo do órgão.
Os órgãos eram observados ao longo das 7 horas de experimento para verificação da
vitalidade. Essa vitalidade era determinada pela coloração dos órgãos, motilidade ou
peristaltismo, cheiro e aspecto do banho de órgãos; sendo que após o término do
experimento era verificada ainda a integridade dos órgãos para garantir que não havia furos
o que poderia permitir a livre passagem de BBIC para o lado externo dos órgãos.
47
Materiais e Metodologias
Ao término do experimento as alíquotas retiradas dos banhos de órgãos tinham sua
atividade inibitória sobre tripsina determinada.
3.6. Análise estatística
Teste t-student para amostras independentes pequenas (Levin, J. Estatística Aplicada a
Ciências Humanas, 2ª edição – Harbra).
S
2
comb = (n
1
-1)S
2
1
+ (n
2
-1)S
2
2
/ n
1
+ n
2
– 2
S
2
comb(1/n
1
+1/n
2
)
T = X – Y /
T tabelado = T n
1
+ n
2
- 2 (GL) p< 0,05
T observado > T tabelado médias diferentes.
T observado < ou = T tabelado médias iguais.
48
4. Resultados
Resultados
4. RESULTADOS
4.1. Obtenção dos extratos enriquecidos de BBI (BBIC)
4.1.1. BBIC sementes e cotilédones de Macrotyloma axillare e de soja
BBIC de sementes de
Macrotyloma axillare
A extração das sementes em pH ácido levou a obtenção de um material rico em
inibidores de massa molecular característica de BBI em SDS-PAGE a 18% na presença de
2-mercaptoetanol 1% v/v no tampão eletroforético. Foi então obtido uma preparação com
boa atividade específica (tab. 2) e satisfatório grau de pureza.
Figura 12: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do BBIC sementes (linha 1) e
padrão de massa molecular (PMM) de ConA (linha 2).
BBIC de cotilédones de
Macrotyloma axillare
A preparação obtida de cotilédones provenientes da germinação das sementes por
120 horas é um concentrado de BBI de baixa massa molecular bastante enriquecido, com
elevada atividade específica (tab. 2) e um bom nível de pureza.
50
Resultados
Figura 13: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do padrão de massa molecular
(PMM) de ConA (linha 1) e BBIC cotilédones (linha 2) .
BBIC de soja
O enriquecido de BBI de sementes de soja, obtido pelo método descrito por
Yavelow et al. (1985), rendeu um produto com boa atividade específica e baixa massa
molecular. Entretanto, o grau de pureza é menor do que aquele apresentado pelos inibidores
de
Macrotyloma axillare.
Figura 14: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE do padrão de massa molecular
(PMM) de ConA (linha 1) e BBIC soja (linha 2) . As setas vermelhas correspondem a bandas de
contaminantes e não de BBI.
51
Resultados
4.2. Caracterização das atividades inibitórias das preparações enriquecidas
de BBI
4.2.1. Atividades específicas para inibição da hidrólise do
DL
-BApNA pela tripsina e pela
hidrólise do
L
-BTpNA pela quimotripsina
O concentrado de BBI de cotilédones apresentou uma atividade específica para
tripsina em torno de 40 vezes maior que o concentrado de sementes de Macrotyloma e de
20 vezes em relação ao concentrado de soja. Soja apresentou atividade sobre tripsina de
cerca de duas vezes superior ao inibidor de sementes, porém aproximadamente 30% menos
atividade inibitória sobre quimotripsina como pode ser visto na figura 15.
1
39,1
2,26
1
50,04
0,68
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30
33
36
39
42
45
48
51
sementes cotilédones soja
razão UAI/UAI sementes
tripsina
quimotripsina
Figura 15: Razão das atividades específicas os BBI de cotilédones de Java e de sementes de soja em relação
ao BBI de sementes de Java pela inibição da hidrólise do
DL
-BApNA por tripsina e
L
-BTpNA por
quimotripsina .
Esta figura deixa claro que soja e sementes de Java têm atividades inibitórias
específicas com valores próximos ao passo que cotilédones de Java têm atividades muito
superiores.
De acordo com o quadro de rendimento e enriquecimento (tab. 2) nota-se uma
ativação, com aumento do rendimento para 466% na atividade sobre a tripsina, da
52
Resultados
preparação submetida ao tratamento térmico e precipitada com etanol na faixa de 60-80%
(EB20% TT 60-80%). Observa-se também que amostras não tratadas termicamente
(EB20% NT 60-80%) possuem atividades específicas muito menores em decorrência de
não terem sido ativadas.
Tabela 2: Quadro de rendimento e enriquecimento dos BBIC de sementes, cotilédones (Macrotyloma
axillare) e soja - Inibição da hidrólise do
DL
-BApNA pela tripsina (T) e do
L
-BTpNA pela quimotripsina (Q).
Inibidor Etapa
Enzima
Atividade
específica
(UAI/mg/mL)
Rendimento
(%)
Enriquecimento
EB20% T
Q
4641,4
2169,6
100
100
1
1
Cotilédones
EB20%TT
60-80%
T
Q
222829,0
± 25228,2
97046,9
466
131,6
48,01
44,73
EB20%NT
60-80%
T
Q
15305,0
6861,1
---
---
7,05
1,47
EB20% T
Q
2913,7
1239,5
100
100
1
1
Sementes
EB20%TT
60-80%
T
Q
5689,4
±583,3
2866,4
17,1
20,2
1,95
2,31
Soja
concentrado
T
Q
12962,8
± 3144,1
1939,4
---
---
---
---
4.2.3 Estimativa da massa aparente e do grau de enriquecimento das preparações de
inibidores
Utilizando padrões primários de massa molecular, determinamos as massas
aparentes das cinco bandas apresentadas nos géis de eletroforese pela ConA, que se tornou
um padrão secundário de peso molecular bastante confiável, uma vez que o perfil
eletroforético de tais bandas é bem reprodutível.
53
Resultados
De posse desse padrão, pôde se estimar as massas aparentes dos inibidores de
sementes, de cotilédones (Java) e de soja (tab. 3) por meio da substituição das medidas de
deslocamento das respectivas bandas na reta padrão determinada pela ConA (apêndice 2).
Tabela 3: Estimação da massa aparentes dos inibidores obtidos de sementes, de cotilédones (Macrotyloma
axillare) e de soja pelos deslocamentos das bandas de cada inibidor substituídos na equação da reta.
Inibidor
Massa Molecular Aparente
Sementes
13KDa
Cotilédones
10KDa
Soja
10KDa
Tais determinações podem ser observadas na figura que se segue, onde pode-se
notar o posicionamento mais abaixo da linha 5 correspondente ao BBIC de cotilédones.
Figura 16: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 18% SDS-PAGE de BBIP sementes (linha 1);
BBIP cotilédones (linh2); padrão de massa molecular (PMM) de ConA (linha 3); BBIC sementes (linha 4);
BBIC cotilédones (linha 5) e BBIC soja (linha 6) César et al. (2006).
54
Resultados
Essa observação da banda de BBIC de cotilédones (linha 5, fig. 16) na parte
correspondente a uma massa aparente inferior ao inibidor de sementes, foi confirmada por
determinação das massas moleculares desses inibidores por meio de espectrometria de
massas (César et al., 2006), que apresentam massas em torno de 8KDa para sementes e
entre 6 – 7KDa para cotilédones.
Quanto ao enriquecimento dos inibidores o inibidor de cotilédones é o que apresenta
uma maior riqueza de BBI com uma banda extremamente concentrada.
O inibidor obtido de sementes (linha 4, fig. 16) apresenta outras bandas menos
concentradas indicando que esse material não é tão enriquecido quanto o de cotilédones,
mas bem mais purificado que a preparação de soja (linha 6, fig. 16).
As linhas 1 e 2 (fig. 16) correspondem respectivamente aos inibidores purificados
(PBBI) de sementes e cotilédones de Java, e vêm a confirmar as observações sobre a massa
molecular e enriquecimento de ambos inibidores.
Anteriormente as SDS-PAGE às quais eram aplicadas amostras de BBI
apresentavam um perfil atípico de migração no qual as revelações dos géis mostravam
essas proteínas em regiões de massa molecular aparente correspondente a 30KDa (fig. 17)
inconsistente com a massa molecular em torno de 8KDa esperada para esses inibidores. Tal
problema foi solucionado pela adição de 1% do agente redutor 2-mercaptoetanol no tampão
de corrida dos géis para garantir a redução das sete pontes dissulfeto presentes na estrutura.
55
Resultados
30KDa
28KDa
23KDa
17KDa
Figura 17: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida a 12% SDS-PAGE da fração 60-80% proveniente de
precipitação com etanol (60-80), frações purificadas em Q-Sepharose (Q1-Q5) e padrão de massa molecular
(PMM) de ConA; sem tratamento com o agente redutor 2-mercaptoetanol (Oliveira, 2004).
4.3 Ensaios Biológicos
4.3.1 Marcação dos BBI de Macrotyloma axillare com I
125
Para os estudos com I
125
foram utilizados frações purificadas (PBBI) de sementes e
de cotilédones de M. axillare. Esses materiais conforme mostrou a análise em SDS-PAGE
apresentaram-se satisfatoriamente enriquecidos e preparados para um bom procedimento de
marcação de proteínas com radioisótopos: 83% de rendimento para a marcação dos
inibidores de sementes e 70% de rendimento para a marcação dos inibidores de cotilédones
de Macrotyloma axillare.
Os procedimentos de marcação praticamente não influenciaram as atividades
inibitórias sobre tripsina e quimotripsina, conforme observado na tabela abaixo.
Tabela 4: Perda de atividade inibitória pelos inibidores após sua marcação com I
125
Enzima inibida Sementes Cotilédones
Tripsina 0,9% 0,8%
Quimotripsina 5% 10%
56
Resultados
O material marcado se mostrou bastante estável, pois 20 dias após a marcação, nova
determinação de proteína marcada e iodo livre, mostrou um perfil semelhante ao observado
logo após a marcação.
4.3.2 Biodistribuição dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
em
camundongos
Swiss
Após 3 horas da administração oral dos inibidores de sementes e cotilédones
marcados com I
125
observou-se o seguinte perfil de biodistribuição pelos principais órgãos
de camundongos Swiss.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
sangue int.delgado cólon estômago fígado rim pulmão bexiga
órgãos
% rad. / g órgão / rad. dose
cotílédones sementes
Figura 18: Médias e desvios (n=5) da biodistribuição dos inibidores de cotilédones e sementes marcados com
I
125
por grama de órgão de camundongos Swiss em relação à dose total aplicada.
O sangue é o tecido no qual maior parte do material marcado se acumula, seguido
pelo estômago. Nos demais órgãos a distribuição é homogênea, com os valores de acúmulo
girando em torno de 1 a 2%. A comparação estatística (teste t-student n = 5 e p < 0,05)
entre as médias de biodistribuição dos inibidores pelos órgãos segue na tabela 5.
57
Resultados
Tabela 5: Comparação entre as médias de acúmulo de inibidores de sementes e cotilédones em cólon, rim e
bexiga de camundongos Swiss (p < 0,05).
Órgãos Médias
cólon
sementes > cotilédones
rim sementes = cotilédones
bexiga sementes = cotilédones
sangue sementes = cotilédones
int. delgado sementes = cotilédones
estômago sementes = cotilédones
pulmão sementes = cotilédones
fígado sementes = cotilédones
Dentre os órgãos cujos níveis de acúmulo de BBI marcado são próximos de 1 a 2%,
o único que apresentou diferença significativa entre as médias foi o cólon, sendo a média de
sementes superior à média de cotilédones.
4.3.3 Análise dos homogenatos dos principais órgãos de camundongos Swiss
administrados com BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
Os homogenatos dos principais órgãos mostraram volumes de eluição das proteínas
marcadas e iodo livre semelhantes para todos os órgãos analisados, tanto para inibidores de
sementes como de cotilédones.
A região de eluição da proteína marcada é em torno da fração 10 e a de eluição de
iodo livre em torno da fração 25.
58
Resultados
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
0 5 10 15 20 25 30 35 40
frações
cpm
plasma fígado rim BBI
BBI
Iodo livre
Figura 19: Perfil de eluição do padrão de BBI e homogenatos dos principais órgãos após três horas da
administração oral do inibidor de sementes marcado com I
125
em camundongos Swiss. Coluna de exclusão
molecular Sephadex G-50.
A análise dos homogenatos e da biodistribuição permitiu determinar as
porcentagens de radiação presentes no plasma, fígado e rim, conforme apresentado na
tabela 6 para BBI de sementes e tabela 7 para BBI de cotilédones de Java.
Tabela 6: Percentagem de radiação presente em cada órgão processado a homogenato, após 3 horas da
administração oral do inibidor marcado de sementes.
órgão (processado a homogenato após 3
horas da administração oral do BBI
% radioatividade (presente no órgão em
relação à radioatividade administrada)
plasma 14,5%
fígado 0,37%
rim 0,17%
59
Resultados
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
11000
12000
0 5 10 15 20 25 30 35 40
frações
cpm
plasma fígado rim BBI
BBI
Iodo livre
Figura 20: Perfil de eluição do padrão de BBI e homogenatos dos principais órgãos após três horas da
administração oral do inibidor de cotilédones marcado com I
125
em camundongos Swiss. Coluna de exclusão
molecular Sephadex G-50.
Tabela 7: Percentagem de radiação presente em cada órgão processado a homogenato, após 3 horas da
administração oral do inibidor marcado de cotilédones.
órgão (processado a homogenato após 3
horas da administração oral do BBI
% radioatividade (presente no órgão em
relação à radioatividade administrada)
plasma 18,9%
fígado 0,47%
rim 0,35%
60
Resultados
4.3.4 Cinética plasmática dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
administrados por via intravenosa e oral em camundongos
Swiss
Administração intravenosa
Após a administração intravenosa os inibidores marcados de sementes e cotilédones
decaem rapidamente do compartimento vascular (dados mostram um modelo de dois
compartimentos: central ou vascular e periférico).
Esse decaimento é bastante pronunciado até 30 minutos da administração para BBI
de sementes, quando apresenta uma constante de distribuição (α) de 4% min
-1
, ou seja, com
um minuto de administração 4% do inibidor tende a sair do compartimento vascular e ser
distribuído pelos diversos órgãos do animal. A constante de eliminação (β) é 0,08% min
-1
e
o tempo de meia vida plasmática (t
1/2
) de 14,4 horas.
Cinética - sementes
4,5
4,7
4,9
5,1
5,3
5,5
5,7
0 30 60 90 120 150 180
tempo (minutos)
log cpm
distribuição e
eliminação
eliminação
distribuição
Figura 21: Cinética plasmática do BBI de sementes marcado com I
125
administrado por via intravenosa em
camundongos Swiss (n = 5).
O BBI de cotilédones decai mais rapidamente do compartimento vascular,
possuindo uma fase de distribuição mais rápida por esse inibidor com uma constante de
distribuição de 9% min
-1
e eliminação com uma constante de 0,16% min
-1
(t
1/2
7,2 horas).
As curvas de distribuição e eliminação são apresentadas na figura 22.
61
Resultados
Cinética - cotilédones
4,5
4,7
4,9
5,1
5,3
5,5
5,7
0 30 60 90 120 150 180
tempo (minutos)
log cpm
distribuição e
eliminação
eliminação
distribuição
Figura 22: Cinética plasmática do BBI de cotilédones marcado com I
125
administrado por via intravenosa em
camundongos Swiss (n = 5).
Os parâmetros farmacocinéticos foram calculados a partir dos dados acima e estão
apresentados na tabela 8.
62
Resultados
Tabela 8: Parâmetros farmacocinéticos determinados para BBI de M. axillare marcados com I
125
administrado por via intravenosa em camundongos Swiss (n = 5).
Parâmetro Farmacocinético Sementes Cotilédones
α (constante de distribuição)
4,05%/min. 9,38%/min.
β (constante de eliminação)
0,08%/min. 0,16%/min.
VD (volume de distribuição) *0,16mL/g *0,18mL/g
t
1/2
(meia vida plasmática) 14,4 horas 7,2 horas
AUC (área sob a curva) 36,29 34,25
* considerando que um camundongo pesa em média 30 gramas
4.3.5 Estudo da cinética plasmática dos BBIC soja, sementes e cotilédones (Java) em
camundongos
Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina
Não foi possível determinar a cinética plasmática dos BBIC sementes, cotilédones
de Macrotyloma axillare e soja através da atividade inibitória sobre tripsina dos inibidores
presentes no plasma devido a grande interferência de inibidores endógenos.
4.3.6. Medida da absorção
in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones em alças
intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos
Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina
Os experimentos de absorção in vitro apresentaram os seguintes níveis de
biodisponibilidade após as 7 horas de experimento (fig. 23).
63
Resultados
0
10
20
30
40
50
60
2 4 8 10 12 20
dosagem (mg)
biodisponibilidade (%)
sementes
cotilédones
soja
Figura 23: Níveis de biodisponibilidade em 7 horas de contato BBIC sementes, cotilédones e soja com íleos
isolados de camundongos Swiss.
Os inibidores de Macrotyloma axillare apresentam seus máximos de absorção em
dosagens entre 8 e 12mg, ao passo que o inibidor de soja com 2mg já apresenta altos níveis
de biodisponibilidade. Para soja a absorção decresce com o aumento das dosagens e torna a
aumentar em 20mg.
A tabela 9 mostra a comparação estatística entre as médias de absorção dos BBI de
Macrotyloma axillare e de soja.
Tabela 9: Comparação entre as médias de absorção dos BBI de Macrotyloma axillare e de soja
(n =5 e p < 0,05).
dosagem comparação entre as médias de absorção
2mg
soja > sementes > cotilédones
4mg
soja > cotilédones > sementes
8mg
soja > cotilédones = sementes
10mg
cotilédones > sementes > soja
12mg
cotilédones > sementes
20mg
soja > cotilédones > sementes
64
Resultados
Para evidenciar as diferenças de atividade disponibilizada, relacionada à potência de
inibição dos inibidores da soja e dos cotilédones de Macrotyloma, são apresentadas na
figura 26 as curvas de absorção dos dois inibidores em função das unidades de atividade.
Desta forma, pode ser observado que níveis muito maiores de atividade atingem o
organismo quando se administra BBI de cotilédones, uma vez que este possui atividade
específica 20 vezes maior que os inibidores da soja.
-15000
15000
45000
75000
105000
135000
165000
195000
225000
255000
285000
01234567
tempo (horas)
UAI
sementes
cotilédones
soja
Figura 24: Absorção in vitro de BBI de sementes e de cotilédones de Macrotyloma axillare e de soja na
dosagem de 8mg, expressa em UAI em função do tempo em jejuno-íleos isolados de camundongos Swiss.
Velocidade aparente de absorção do inibidor de sementes
As velocidades foram determinadas em porcentagem de absorção da dose do
inibidor aplicada ao jejuno-íleo em função do tempo em horas versus concentração.
Dentre os três inibidores pelos quais determinamos a absorção intestinal in vitro, o
BBIC sementes é o que apresenta a menor atividade específica para tripsina e tem
velocidade máxima de absorção de aproximadamente 6 % da dose / hora em concentrações
em torno de 8 a 10mg/mL.
65
Resultados
Biodisponibilidades - sementes
0
5
10
15
20
25
30
35
01234567
tempo (horas)
biodisponibilidade (%)
2mg
8mg
10mg
12mg
20mg
0
2
4
6
8
0 4 8 12 16 20
concentração (mg/mL)
velocidade (%/h)
Figura 25: Absorção in vitro do inibidor de sementes em função do tempo em jejuno-íleos isolados de
camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção.
66
Resultados
Absorção do inibidor de cotilédones
BBIC cotilédones é o que apresenta a maior atividade específica dos três inibidores
em estudo, tanto para tripsina como para quimotripsina. Sua velocidade máxima de
absorção é um pouco superior à apresentada pelo inibidor de sementes, cerca de 7% da dose
/ hora e também se dá em torno da concentração de 10mg/mL.
Assim como para as sementes, com 10mg/mL observa-se a absorção máxima de
BBIC de cotilédones, no intervalo entre 2 e 4 horas, quando se tem inclinações máximas
das curvas de absorção.
Biodisponibilidades - cotilédones
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
01234567
tempo (horas)
biodisponibilidade (%)
2mg
10mg
12mg
20mg
0
2
4
6
8
0 4 8 12 16 20
concentração (mg/mL)
velocidade (%/h)
Figura 26: Absorção in vitro do inibidor de cotilédones em função do tempo em jejuno-íleos isolados de
camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção.
67
Resultados
Absorção do inibidor de soja
BBIC soja apresentou os maiores níveis de absorção intestinal, isso pode ser
explicado pelo fato dele também apresentar as maiores velocidades de absorção em relação
aos BBIC de M. axillare (9% da dose / hora). É importante ressaltar que essas velocidades
se dão em concentrações mais baixas, próximas a 5mg/mL.
Biodisponibilidades - soja
0
10
20
30
40
50
60
01234567
tempo (horas)
bioisponibilidade (%)
2mg
4mg
8mg
10mg
20mg
0
2
4
6
8
10
0246810
concentração (mg/mL)
velocidade (%/h)
Figura 27: Absorção in vitro do inibidor de soja em função do tempo em jejuno- íleos isolados de
camundongos Swiss. Inserto das velocidades iniciais de absorção.
A tabela 10 mostra os valores das áreas sob as curvas de biodisponibilidade dos BBI
de sementes e cotilédones de Macrotyloma axillare e sementes de soja em função do
tempo.
68
Resultados
Tabela 10: Áreas sob as curvas de biodisponibilidade dos BBI de Java e de soja.
inibidor
dosagem
BBI de Sementes
(Java)
BBI de Cotilédones
(Java)
BBI de soja
2mg 445,6 445,6 397,6
4mg --- --- 724,9
8mg 473,4 --- 1318,7
10mg 283,3 1025,9 283,3
12mg 590,5 318,9 ---
20mg 101,7 251,7 661,2
As determinações das áreas sob as curvas confirmam que os BBI de soja são
realmente os inibidores de maior absorção, dentre os inibidores estudados. Em seguida vêm
os BBI de cotilédones e depois os BBI de sementes de Macrotyloma axillare.
69
5. Discussão
Discussão
5. DISCUSSÃO
5.1. Obtenção dos extratos enriquecidos de BBI – BBIC de sementes, de cotilédones
(Macrotyloma axillare) e de soja
5.1.1.Obtenção dos BBIC de sementes e de cotilédones (Macrotyloma axillare)
As extrações dos BBI de Macrotyloma axillare foram feitas em pH ácido com o
objetivo de preservar o inibidor de ataques de enzimas proteolíticas, uma vez que em
estudos prévios constatou-se que grande parte da atividade proteolítica é inativada em pH
2,5. Esse procedimento rendeu preparações com maiores atividades específicas como
mostrado nos resultados. A amostra foi submetida ao tratamento térmico no mesmo pH de
extração e nessa condição, ocorreu uma ativação da atividade inibitória, resultando e um
ganho típico de aproximadamente 4,5 vezes no rendimento da atividade inibitória da
tripsina nas preparações de cotilédones do broto. A análise das atividades específicas
mostra um ganho notável de atividade na preparação de broto que se mostrou até 50 vezes
maior que a atividade da preparação da semente e 20 vezes maior que a da soja. Esses
dados confrontam com resultados anteriores de preparações submetidas ao tratamento
térmico em pH 7,0 que possuíam atividades apenas de cinco vezes maior que o enriquecido
de semente. Esse dado equivale ao resultado encontrado para o broto não tratado
termicamente.
Ainda não é possível explicar claramente como ocorreu a ativação e o aumento
notável da atividade específica observada em cinco experimentos de extrações
independentes, mas considerou-se a possibilidade da ativação ser mediada por enzimas
ácidas presentes nos extratos de broto.
A germinação das sementes de Macrotyloma axillare leva ao surgimento de
espécies de inibidores de Bowman-Birk mais ativas. Essa ativação parece decorrer por
proteólises por proteases endógenas que hidrolisam porções ricas em aspartato e glutamato
das caudas C e N terminais (Sreerama et al., 1998). As espécies geradas não apresentam
diferenças apenas em suas atividades inibitórias sobre serino-proteases, mas também na
mobilidade em SDS-PAGE; onde suas bandas tendem a migrar para regiões de mais baixa
71
Discussão
massa molecular. Essa observação é justificada pela menor massa molecular apresentada
por esses inibidores, em decorrência de quebras das porções C e N terminais por ação de
proteinases, conforme comprova a determinação da massa real por espectrometria de
massas (César et al., 2006).
5.1.2.Obtenção dos BBIC de soja
BBIC soja foi obtido por técnica descrita por Yavelow et al. (1985) e rendeu um
material com boa atividade específica para a inibição de tripsina e quimotripsina (tab. 2) e
um bom rendimento em massa de proteínas. Porém essa técnica não garante uma
purificação tão refinada quanto à utilizada para a produção de extratos concentrados de BBI
de Macrotyloma axillare (fig. 14).
5.2. Caracterização dos BBIC obtidos
Os procedimentos de isolamento dos concentrados de BBI de Macrotyloma axillare
possibilitaram a obtenção de um material com maior teor de pureza em relação ao material
de soja conforme observado na figura 16. Esses resultados mostram um BBIC de
cotilédones praticamente puro e com uma banda dessa proteína altamente enriquecida na
região de menor massa molecular. O BBIC de sementes não mostra o mesmo grau de
pureza e enriquecimento, entretanto em relação à preparação de soja que foi amplamente
utilizada em muitos trabalhos da literatura pertinente (Kennedy, 1998; Yavelow et al.,
1985; etc) o enriquecido de semente é muito mais concentrado em BBI. Além disso, a
banda de soja apresenta bastantes sinais de impurezas em regiões de massas moleculares
superiores às dos BBI.
Quanto à caracterização pela massa aparente determinada em géis de SDS-PAGE,
BBIC de cotilédones (Java) e soja apresentam a mesma massa aparente que é de 10KDa e
sementes (Java) 13KDa. O valor inferior observado para BBIC cotilédones era esperado
pelo fato desse inibidor ser menor em função de sua degradação parcial durante a
germinação das sementes (Kumar et al., 2002).
72
Discussão
Massas moleculares superestimadas são artefatos de técnica muito freqüentes em
eletroforeses SDS-PAGE de amostras de BBI. As determinações de massa das amostras de
Macrotyloma em protocolos habituais geraram resultados de 30KDa, inconsistentes com a
expectativa de 8KDa calculada pela seqüência de aminoácidos ou pelos dados de
espectrometria de massa. A migração alterada das bandas pode ser explicada pelas
possibilidades de reoxidações das diversas pontes de dissulfeto presentes no BBI, mesmo
após tratar as amostras com agente redutor. As reoxidações podem não permitir a
associação integral do SDS com a cadeia peptídica do BBI gerando uma razão carga /
massa diferente dos padrões. A utilização do 2-mercaptoetanol no tampão de corrida
corrige a migração das bandas de BBI para posições próximas do esperado (fig. 16 e 17).
5.3. Ensaios biológicos
5.3.1.Marcação dos BBI de Macrotyloma axillare com I
125
Nossos procedimentos de marcação de PBBIC cotilédones e sementes de
Macrotyloma axillare com I
125
foram bem sucedidos, pois esses inibidores após as
marcações apresentaram praticamente as mesmas atividades inibitórias sobre tripsina e
quimotripsina de antes das marcações (tab.4).
5.3.2.Biodistribuição dos BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
em
camundongos
Swiss
Grande parte dos inibidores BBI de soja marcados administrados aos camundongos
por via oral se concentra no conteúdo luminal e o restante, cerca de 50%, cai na corrente
sangüínea e se distribui para os diversos órgãos (Billings et al., 1992).
73
Discussão
Figura 28: Biodistribuição de BBI -I
125
soja em camundongos Swiss (Billings, et al. 1992).
Para os BBI de Macrotyloma axillare administrados por via oral, observamos uma
concentração significativa de BBI marcado no sangue, que inclusive apresenta as maiores
médias seguido de estômago, os demais órgãos apresentaram níveis semelhantes de
acumulação (fig. 18). Entre sementes e cotilédones não foram constatadas diferenças
significativas de acúmulo de material marcado entre os diversos órgãos, exceto para cólon,
onde BBI de sementes apresentam uma média significativamente superior aos BBI de
cotilédones (tab. 5).
Billings et al., (1992) averiguou com seus experimentos de biodistribuição de BBI-
I
125
soja que o sangue foi o tecido de maior acúmulo de material marcado e os demais
órgãos apresentaram níveis bem mais baixos e semelhantes entre si.
Em nossos experimentos encontramos uma diferença marcante: além do alto
acúmulo no sangue encontramos uma significativa quantidade de material radioativo no
estômago, tanto para o BBI de sementes como de cotilédones (Java). Essa diferença é
muito interessante no que diz respeito a estudos de quimioprevenção, uma vez que
neoplasias de estômago figuram entre as mais importantes. O câncer de estômago segundo
74
Discussão
estimativa para 2002, feita pelo Ministério da Saúde Brasileiro é uma neoplasia que ocupa
primeiras posições nas taxas de incidência e mortalidade. Em todas regiões do Brasil o
câncer de estômago ocupa lugares entre as cinco primeiras posições de incidência de novos
casos e óbitos por câncer (INCA, 2005).
Estudos recentes mostram que a atividade tripsínica é responsável pela
agressividade de tumores de células gástricas (Miyata et al., 1998; Burger et al., 1970; Alm
et al., 2000; Miyata et al., 2000). Dessa forma, encontramos resultados que motivam a
realização de futuros experimentos com inibidores da Macrotyloma axillare em modelos de
estudos de câncer vislumbrando maior atividade de quimioprevenção.
Outra inferência que podemos fazer é a de que os BBI de Macrotyloma axillare se
distribuem bem por todo organismo. Todos os órgãos analisados apresentaram acúmulo de
material marcado, inclusive pulmão e cólon que também são órgãos importantes de
desenvolvimentos de câncer, cujas neoplasias resultam em alta mortalidade (INCA, 2005).
5.3.3 Análise dos homogenatos dos principais órgãos de camundongos
Swiss
administrados com BBI de sementes e cotilédones marcados com I
125
Após 3 horas da administração oral dos inibidores marcados, a analise de
cromatogramas de filtração molecular de homogenatos do rim e fígado e plasma, mostra as
frações metabolizadas e a radioatividade incorporada às proteínas. As percentagens de BBI
de broto e sementes Macrotyloma presentes nos órgãos puderam ser calculadas utilizando o
fator que converte radioatividade total em a radioatividade incorporada à proteína. Os BBI
de cotilédones de brotos apresentaram uma maior fração de radioatividade incorporada nos
órgãos citados acima.
BBI-I
125
sementes foi mais susceptível a metabolização: de 83% de iodo
incorporado ao BBI administrado aos animais, 45% foram recuperados nos órgãos cujos
homogenatos foram submetidos à cromatografia de filtração molecular (fig. 19 e tab. 6). A
alta taxa de perda de radioatividade pelo inibidor marcado de sementes pode ser explicada
por uma possível metabolização da porção N terminal da proteína, rica em resíduos de
75
Discussão
histidina que servem de base para uma incorporação secundária de I
125
(Morrison e
Schonbaum, 1976) em relação à tirosina que é o sítio preferencial de incorporação do iodo.
Para cotilédones a perda de radiação incorporada à proteína foi bem menor (fig. 20 e
tab. 7). O inibidor padrão marcado tinha em média 70% de radioatividade incorporada e os
homogenatos dos órgãos analisados mostraram em média 60% de radiação incorporada.
Essa observação vem fortalecer a hipótese levantada anteriormente sobre a metabolização
da porção N terminal do BBI de sementes, pois BBI de cotilédones por ação de proteases
endógenas das sementes tem partes de suas porções C e N terminais degradadas. Desta
maneira, espera-se que a marcação desse inibidor tenha ocorrido nos resíduos de tirosina
situados fora das regiões que sofrem degradação (fig. 29).
Figura 29: Seqüência dos inibidores DE-3 e DE-4 (isoformas) obtidos de sementes de Macrotyloma axillare
(Joubert et al., 1979).
76
Discussão
5.3.3. Cinética plasmática dos inibidores de sementes e cotilédones marcados com I
125
administrados por via intravenosa e oral em camundongos
Swiss
Administração intravenosa
A administração intravenosa dos inibidores marcados nos permitiu determinar
importantes parâmetros farmacocinéticos dos BBI de Macrotyloma axillare em
camundongos Swiss, como as constantes de distribuição e eliminação, tempo de meia-vida
plasmática, volume de distribuição e área sob a curva (tab.8).
Ambos inibidores tendem a se distribuir rapidamente pelo organismo, mas algumas
diferenças foram notadas: BBIC de cotilédones distribui-se com o dobro da velocidade em
relação ao BBIC de sementes. As constantes de eliminação são baixas, gerando valores
elevados de meias-vidas plasmáticas (14,4 horas para BBIC sementes e 7,2 horas para
BBIC cotilédones).
As diferenças entre os parâmetros dos BBI de sementes e cotilédones para a
distribuição e eliminação podem ser explicadas pela diferença de estrutura: o BBI de
cotilédones menor e mais hidrofóbico do que o BBI de sementes dormentes em decorrência
da remoção de aminoácidos carregados como aspartato e glutamato (Sreerama et al., 1998 e
Oliveira et al., 2005), com isso o BBIC cotilédones apresenta distribuição e eliminação
cerca de duas vezes mais rápidas.
O fato do BBIC de cotilédones ter uma maior difusibilidade pelo organismo não o
torna diferente do BBIC de semente quanto à distribuição global pelo organismo do
camundongo. Ambos apresentam volumes de distribuição bem próximos de quatro vezes o
volume plasmático de 1,25mL.
77
Discussão
5.3.4. Estudo da cinética plasmática dos inibidores de sementes, cotilédones e soja via
atividade inibitória sobre tripsina em camundongos
Swiss
A determinação da cinética plasmática dos diferentes inibidores de Bowman-Birk
em estudo, por meio de medidas das atividades inibitórias sobre tripsina geraria resultados
reais de farmacocinética, pois a presença da atividade é prova irrefutável da presença desse
inibidor. Entretanto, essa determinação não pôde de ser realizada, tendo em vista a presença
de inibidores endógenos de serino-proteases, como α
2
-macroglobulina e α
1
-
antiquimotripsina que interferiram nas medidas de fundo das nossas determinações,
prejudicando a análise majorando variações e erros analíticos.
5.3.5. Medida da absorção in vitro de BBIC soja, sementes e cotilédones em alças
intestinais inteiras compreendida pelo jejuno-íleo até a junção com o cólon de
camundongos
Swiss pela medida da atividade inibitória sobre tripsina
A atividade inibitória é prova cabal da presença do inibidor nos compartimentos de
análise, baseado nisso determinamos a absorção in vitro dos BBIC sementes, cotilédones
Java e soja em alças intestinais isoladas de camundongos Swiss.
Os estudos de absorção devem ser olhados de forma criteriosa, pois nem sempre
uma elevada biodisponibilidade corresponde aos maiores valores de atividade
farmacológica disponibilizada. Dessa forma, os estudos comparativos da absorção e
biodisponibilidade mostram que o inibidor de soja apresenta os maiores valores de
biodisponibilidade, cerca da 50%, seguido por cotilédones (Java) com 40% e sementes
(Java) com 30% (fig.23). Entretanto, em todas concentrações empregadas, BBIC
cotilédones disponibiliza os maiores valores de inibição sobre tripsina (fig. 24), mostrando
ser esta preparação aquela que disponibiliza, de maneira notável, a maior atividade para o
organismo.
Uma observação interessante é que todos inibidores em análise apresentaram um
decaimento nos valores de biodisponibilidade na concentração de 20mg, sugerindo alguma
intoxicação, forte interação BBIC-muco, agregação do lado externo ao íleo ou até mesmo
uma interação com a superfície externa do órgão (fig. 25, 26 e 27).
78
Discussão
Os dados mostram que as velocidades crescem até determinados valores de
concentração, mas apresentam uma fase de estabilização e de queda para concentrações
maiores (incertos fig. 25, 26 e 27). O formato da curva sugere uma difusão, provavelmente
por processo paracelular. Porém ocorre uma alteração do modelo cinético com saturação e
até mesmo quedas das velocidades para concentrações maiores dos inibidores por motivos
desconhecidos.
79
6. Conclusões e Perspectivas
Conclusões e Perspectivas
6. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Conclusões
A técnica de extração e tratamento térmico em pH ácido de extratos de
Macrotyloma axillare levou à obtenção de extratos enriquecidos de BBI
dotados de altas atividades inibitórias específicas sobre tripsina e
quimotripsina, principalmente as preparações de sementes germinadas.
Estudos farmacocinéticos de frações purificadas de BBI de Macrotyloma
axillare mostraram em comum com a preparação de soja (Billings et al.,
1992) uma vasta distribuição do inibidor marcado pelos diversos órgãos de
camundongos. Porém, os BBI de Java apresentam uma notável maior
afinidade pelo tecido estomacal.
Determinações de biodisponibilidade in vitro com diferentes concentrações
de inibidores de Macrotyloma axillare e soja mostraram que esses inibidores
sofrem boa absorção. A preparação enriquecida de cotilédones disponibiliza
ao organismo uma atividade até nove vezes superior à disponibilizada pelo
BBIC de soja
Os parâmetros farmacocinéticos determinados para os inibidores de
Macrotyloma revelaram que estes inibidores possuem boa difusibilidade
pelo organismo.
81
Conclusões e Perspectivas
Perspectivas
Os parâmetros farmacocinéticos determinados serão úteis na formulação de regimes
posológicos necessários para a manutenção de níveis corporais adequados de BBI Java a
fim de observar suas atividades quimiopreventivas.
Isso vem de encontro com a perspectiva deixada pela realização do presente
trabalho que é o desenho de um modelo experimental, no qual regimes posológicos e suas
respostas farmacológicas serão analisados em animais com tumores induzidos
quimicamente.
82
7. Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Wan, X.S., Meyskens, F.L., Armstrong, W.B., Taylor, T.H., Kennedy, A.R. (1999).
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Biomarkers and Prevention, v. 8, p. 601 – 608.
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soybean protease inhibitor as an anticarcinogen. Cancer Res., v. 43, p. 2454 – 2459.
93
8. Apêndices
Apêndices
APÊNDICES
Apendice1
Solução fisiológica de Tyrode
-
NaCl 80g;
-
KCl 10% 20mL;
-
MgSO
4
.7H
2
O 5% 26mL;
-
NaH
2
PO
4
.2H
2
0 5% 13mL;
-
glicose 10g;
-
NaHCO
3
10g;
-
CaCl
2
(Molar) 18mL;
-
água destilada q.s.p. 10,0L.
95
Apêndices
Apêndice 2
Determinação da equação da reta padrão de massa molecular de ConA
y = 0,0254x + 0,4921
R
2
= 0,9916
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
25 30 35 40
deslocamento (mm)
Log PM
96
Apêndices
Apêndice 3
Curvas padrão de BSA
Curva padrão de BSA - Biureto
y = 0,0501x - 0,0013
R
2
= 0,9885
0
0,005
0,01
0,015
0,02
0,025
0,03
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
concentrão de proteína (mg/mL)
A540nm
Curva padrão de BSA - Lowry
y = 0,8213x + 0,0386
R
2
= 0,9607
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
concentração de proteína (mg/mL)
A660nm
97
Apêndices
98
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