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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
SÍLVIA PATRICIA CAVALHEIRO DE ANDRADE
A CULTURA ORGANIZACIONAL E A EXPRESSÃO DA
CRIATIVIDADE NO PRODUTO MODA VESTUÁRIO INFANTIL:
UM ESTUDO DE CASO
FLORIANÓPOLIS
2006
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Sílvia Patricia Cavalheiro de Andrade
A CULTURA ORGANIZACIONAL E A EXPRESSÃO DA
CRIATIVIDADE NO PRODUTO MODA VESTUÁRIO INFANTIL:
UM ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Administração.
Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de
Pós-Graduação em Administração. Área de
concentração em Políticas e Gestão Institucional.
Orientadora: Profª. Suzana da Rosa Tolfo, Dra.
FLORIANÓPOLIS
2006
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Andrade, Sílvia Patrícia Cavalheiro de
A553c A cultura organizacional e a expressão da criatividade no produto moda
vestuário infantil: um estudo de caso / Sílvia Patrícia Cavalheiro de Andrade. –
Florianópolis, 2006.
192 f.
Orientador: Suzana da Rosa Tolfo
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Santa
Catarina
- Centro Sócio-Econômico – Curso de Pós-Graduação em Administração
1. Cultura organizacional. 2. Criatividade. 3. Produto moda.
CDD 658.406
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Sílvia Patricia Cavalheiro de Andrade
A CULTURA ORGANIZACIONAL E A EXPRESSÃO DA
CRIATIVIDADE NO PRODUTO MODA VESTUÁRIO INFANTIL:
UM ESTUDO DE CASO
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Grau de Mestre em
Administração na Área de concentração em Políticas e Gestão Institucional do Curso de
Pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina e aprovada,
em sua forma final, em 23 de fevereiro de 2006.
__________________________________
Prof. Dr. Holf Hermann Erdmann
Coordenador do Curso
Apresentada à Comissão Examinadora composta pelos professores:
________________________________
Profa. Dra. Suzana da Rosa Tolfo
Universidade Federal de Santa Catarina
_________________________________
Profa. Dra. Edinice Mei Silva
Universidade Federal de Santa Catarina
__________________________________
Profa. Dra. Elaine Di Diego Antunes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
“Porque DELE e por ELE
e para ELE são todas as coisas.
A ELE a glória para sempre. Amém”
(BÍBLIA, N.T. Romanos, 11:36).
0
AGRADECIMENTOS
A Cristo, o meu melhor amigo, eterno porto seguro e eterna fonte de sabedoria.
Aos meus pais, Paulo e Nadiles, pelo amor incondicional.
As minhas irmãs, Aninha e Ju, e ao meu cunhado, Fofo, pelas brincadeiras e palavras de
estímulo nos momentos de dúvida.
Ao meu amigo e pastor, Dennes, pelas conversas e ensinamentos durante esta caminhada.
Aos amigos que partilharam comigo o cumprimento de mais esta etapa da minha vida. Em
especial à amiga, Tatala, pelo incentivo a trilhar esta jornada; às amigas, Ana, Pri, Cris (in
memoriam), Michele, Lílian, Tânia e Rô pelas conversas e por orarem por mim. Às
amigas, Geane e Andréia, que mesmo distantes fisicamente sempre me estimulavam
dizendo: quando terminar vem nos visitar. Gurias, acredito que apenas comecei, mas
visitarei vocês.
À Profa. Suzana, orientadora deste trabalho, por acreditar no meu potencial e pela amizade.
À Profa. Edinice, pelas valiosas idéias, pela amizade, por sempre me incentivar a trilhar
novos caminhos.
A minha colega e amiga, Jerusa, pelo carinho com que sempre me recebeu em sua casa
quando precisei visitar a empresa pesquisada.
Á Profa. Maria Chalfin, por compartilhar comigo seus conhecimentos durante o estágio de
docência.
Aos colegas do mestrado e do Núcleo de Estudos do Trabalho e Constituição do Sujeito
NETCOS por contribuírem para o meu crescimento acadêmico. Em especial aos colegas:
Beatrice, Cláudia, Grasiely, Ivana, Carla, Davi, Andréia, Montserrat, Fernanda e Joana
pela parceria.
Às colegas do Núcleo de Estudos de Cenários, Criatividade, Consumo, Aprendizagem e
Artes – NECCCAA pelos conhecimentos compartilhados.
Aos funcionários da Empresa Dedal & Agulha pela receptividade, em especial aos
entrevistados e às funcionárias Suzana e Alda (Departamento de Recursos Humanos) pelo
carinho e atenção.
Ao Curso de Pós-Graduação em Administração da UFSC, a todos os professores e
funcionários, pelo apoio. Em especial à professora Valeska pelo incentivo e aos
funcionários Graziela e Ivo que nunca se furtaram em ajudar nos momentos solicitados.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pelo apoio
financeiro.
RESUMO
ANDRADE, Sílvia Patrícia Cavalheiro de. A cultura organizacional e a expressão da
criatividade no produto moda vestuário infantil: um estudo de caso. 2006. 192 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) Curso de Pós-graduação em Administração,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
Orientadora: Suzana da Rosa Tolfo, Dra.
Defesa: 23/02/2006
O objetivo principal deste estudo foi avaliar o potencial da cultura organizacional para a
expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha.
Trata-se do estudo de um fenômeno, por meio de um caso, exploratório-descritivo, com
uma abordagem predominantemente qualitativa. A população estudada foi composta pelos
funcionários da Empresa Dedal & Agulha e os sujeitos da pesquisa foram selecionados
intencionalmente, sendo entrevistados vinte e seis empregados pertencentes aos níveis de
diretoria, gerência, chefia, e operacional. Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de
entrevistas semi-estruturadas, observação livre não-participante e análise de documentos da
organização. Para a análise dos dados primários foi utilizada a análise de conteúdo e os
dados secundários foram analisados por meio da análise documental. A cultura
organizacional foi investigada por meio das subdimensões: formação de identidade,
liderança, regras não-escritas e orientação externa. As quatro subdimensões avaliadas na
empresa apresentaram tanto características desfavoráveis quanto favoráveis à criatividade.
Características desfavoráveis estavam mais fortemente presentes na subdimensão regras
não-escritas. Quanto às características que tendem a favorecer a criatividade, estas foram
mais significativas na subdimensão orientação externa e, com uma significação mediana,
na categoria liderança. A subdimensão formação de identidade revelou características na
sua maioria favoráveis à expressão da criatividade, mas com alguma tendência
desfavorável devido à variável comunalidade. A expressão dessa criatividade foi
constatada no produto investigado por meio da análise das dimensões: novidade, resolução,
e elaboração e síntese. Com isso, de modo geral, a cultura organizacional da Empresa
Dedal & Agulha apresenta uma preponderância de características favoráveis ao
desenvolvimento da criatividade; sendo que essa criatividade se expressa no produto moda
vestuário infantil.
Palavras-chave: Cultura organizacional; Criatividade; Produto moda.
ABSTRACT
ANDRADE, Sílvia Patrícia Cavalheiro de. A cultura organizacional e a expressão da
criatividade no produto moda vestuário infantil: um estudo de caso. 2006. 192 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) Curso de Pós-graduação em Administração,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
Orientadora: Suzana da Rosa Tolfo, Dra.
Defesa: 23/02/2006
The main objective of this study was to evaluate the potential organizational culture for the
creativity expression on children’s garment fashion product of Dedal & Agulha Company.
It is a study about a phenomenon, through an exploratory-descriptive case with a
predominant qualitative approach. The studied population was compounded by Dedal &
Agulha Company employees and the subjects of the research were selected intentionally,
being interviewed twenty-six employees belonged to the board of directors, management,
chieftainship, and operational levels. The research data were obtained through semi-
structure interviews, non-participant free observation and organization document analysis.
For the primary data analysis was used the content analysis and the secondary data were
analyzed through documental analysis. The organizational culture was analyzed through
sub-dimensions: identity formation, leadership, non-written rules and external orientation.
The four sub-dimension evaluated in the company presented as much unfavorable
characteristics as favorable to creativity. Unfavorable characteristics were more heavily
present on the non-written rules sub-dimension. According to the characteristics that tend
to favor the creativity, they were more significant on the external orientation sub-
dimension and with a medium signification on leadership category. The identity formation
sub-dimension reveled most of the characteristics favorable to creativity expression, but
with some unfavorable trend due to communality variables. The expression of this
creativity was confirmed on the investigated product through dimension analysis: novelty,
resolution, and elaboration and synthesis. In a general sense, the organizational culture of
Dedal & Agulha Company presents a preponderancy of favorable characteristics to the
creativity development; being that this creativity is expressed on children´s garment
fashion product.
Key-word: Organizational Culture; Creativity; Fashion Product.
0
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 – Intercessão da teoria cultural e teoria organizacional.......................................20
Quadro 2 – Abordagens sobre criatividade..........................................................................29
Quadro 3 Estímulos e barreiras da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade...........................................................................................................................60
Quadro 4 – Definição operacional de cultura organizacional..............................................69
Quadro 5 - Definição operacional de criatividade................................................................70
Quadro 6 O potencial da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade.........................................................................................................................149
Quadro 7 - Relação entre os estímulos e barreiras da cultura organizacional para o
desenvolvimento da criatividade, os valores organizacionais esposados e compartilhados e
as características do produto moda vestuário infantil........................................................158
Tabela 1 – Perfil dos sujeitos entrevistados sobre a cultura organizacional........................74
Tabela 2 – Perfil dos sujeitos entrevistados sobre a criatividade no produto.......................75
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................11
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................11
1.2 OBJETIVOS............................................................................................................13
1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................................13
1.2.2 Objetivos Específicos.............................................................................................13
1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................13
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO.......................................................................16
2 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................17
2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL..........................................................................17
2.1.1 Linhas de pesquisa sobre cultura organizacional...............................................17
2.1.2 Definições de cultura organizacional ...................................................................21
2.1.3 Elementos constitutivos da cultura organizacional e sua análise......................23
2.2 CRIATIVIDADE.....................................................................................................28
2.2.1 Abordagens sobre criatividade.............................................................................28
2.2.2 Definições de criatividade .....................................................................................30
2.2.3 O produto criativo .................................................................................................33
2.2.4 A criatividade no ambiente organizacional.........................................................37
2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E CRIATIVIDADE ........................................41
2.3.1 Formação da identidade........................................................................................45
2.3.2 Liderança................................................................................................................49
2.3.3 Regras não-escritas................................................................................................54
2.3.4 Orientação externa ................................................................................................57
2.4 PELOS CAMINHOS DA MODA...........................................................................60
3 MÉTODO...............................................................................................................65
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA..................................................................65
3.2 PERGUNTAS DE PESQUISA ...............................................................................66
3.3 DEFINIÇÃO DOS TERMOS E DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE ..................67
3.3.1 Definição constitutiva dos termos da pesquisa....................................................67
3.3.2 Definição operacional das categorias de análise .................................................68
3.4 DEFINIÇÃO DA EMPRESA-ALVO DA PESQUISA ..........................................70
3.5 SUJEITOS DA PESQUISA.....................................................................................72
3.6 TÉCNICA DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS ..............................................76
3.6.1 Articulação entre objetivos, categorias de análise e roteiro de entrevistas......78
3.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..............................................................................79
4 APRESENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO..........................................................81
4.1 A EMPRESA DEDAL & AGULHA.......................................................................81
4.1.1 O produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha ....................83
5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.............87
5.1 A CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA DEDAL & AGULHA E A
CRIATIVIDADE.................................................................................................................87
12
5.1.1 Formação de identidade........................................................................................88
5.1.2 Liderança..............................................................................................................110
5.1.3 Regras não-escritas..............................................................................................126
5.1.4 Orientação Externa..............................................................................................140
5.1.5 A expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da Empresa
Dedal & Agulha................................................................................................................150
5.1.5.1 Novidade................................................................................................................150
5.1.5.2 Resolução...............................................................................................................153
5.1.5.3 Elaboração e Síntese .............................................................................................154
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................159
6.1 CONCLUSÕES.....................................................................................................159
6.2 RECOMENDAÇÕES............................................................................................166
REFERÊNCIAS...............................................................................................................167
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA CULTURA ORGANIZACIONAL175
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA CRIATIVIDADE NO PRODUTO180
ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES
HUMANOS.......................................................................................................................182
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............184
ANEXO C - CÓDIGO DE ÉTICA DA EMPRESA......................................................185
ANEXO D – ORGANOGRAMA DA EMPRESA........................................................192
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
A sobrevivência das empresas pode ser mantida como cada vez mais ameaçada
pelos avanços tecnológicos e a dinâmica do mercado (globalização, mudanças,
competitividade e outros). Dentre os fatores que podem apresentar-se como ameaçadores a
essa sobrevivência destaca-se a concorrência que se nivela em termos de oferta de produtos
e serviços e os consumidores que parecem tornar-se cada vez mais exigentes. Nesse
contexto, a criatividade tem sido apontada por estudiosos como uma habilidade essencial
na construção de um sistema organizacional competitivo.
Contudo, teóricos como Bruno-Faria e Alencar (1996), Martins e Terblanche
(2003), Predebon (1997) e outros explicam que a cultura da organização pode estimular ou
dificultar o desenvolvimento da criatividade dentro das empresas. Alencar (1996),
considerada a maior autoridade brasileira no estudo de criatividade, aponta a filosofia e os
valores organizacionais como uma das barreiras para a introdução do novo na organização.
A autora enfatiza que a criatividade dentro da empresa depende de processos de
pensamento que têm suas raízes mais profundas na cultura organizacional. Esta representa
um dos fatores que afetam o grau de abertura à expressão da criatividade; constituindo-se
em um obstáculo ao desenvolvimento da mesma quando não é aberta a novas idéias,
predomina o autoritarismo, é contrária a assumir riscos, rígida, acomodada, não tolera
erros, e resiste a mudanças (BRUNO-FARIA; ALENCAR, 1996). Terra (2000) corrobara
ao salientar que a criatividade normalmente é encontrada e se origina na própria cultura das
empresas.
Autores como Alencar (1993, 1995, 1996 e 1998), Predebon (1997), Kao (1997),
Carr (1997) e outros afirmam que é primordial possibilitar a expressão da criatividade
dentro das organizações, pois a mesma representa a contribuição mais importante que as
pessoas podem conceder para o êxito organizacional. Alencar (1993) explica que o
interesse por criatividade nas empresas ocorre, sobretudo, pelo fato de que elas precisam
12
sobreviver e expandir, necessitando, muitas vezes, diversificar seus produtos, antecipar as
demandas de mercado, recrutar e reter bons empregados e melhorar a qualidade de seus
produtos e serviços. Duailibi e Simonsen (1990) salientam que quando a empresa se recusa
a ser criativa, não desenvolvendo produtos, estruturas ou sistemas, ou não estando sensível
às novas descobertas está fadada a ser superada rapidamente. Quando a empresa estimula a
criatividade, inovando seus produtos e serviços, ela pode maximizar seus resultados,
mantendo-se competitiva num mercado onde a competição empresarial é forte e as
mudanças representam uma constante.
O binômio cultura organizacional e criatividade é a base desta pesquisa. As
variáveis da cultura organizacional desenvolvidas por Volberda (1998) foram adotadas
como referenciais para relacionar cultura organizacional e criatividade. O ambiente
organizacional é estudado pelo autor com base em três grandes dimensões: tecnologia
organizacional, estrutura organizacional e cultura organizacional. Volberda (1998, p. 174)
estuda a flexibilidade organizacional e avalia-se que as suas considerações sobre o assunto
têm estreita relação com a criatividade; visto que, segundo o mesmo, as variáveis da
cultura organizacional abordadas em seus estudos são aquelas que determinam “o potencial
da cultura para flexibilidade ou inovação”. Nesta direção, Kruglianskas (1996) afirma que
a criatividade é a fonte para a inovação; enquanto Carr (1997) destaca que a empresa para
ser criativa precisa conservar a flexibilidade. Alencar (1998) corrobora ao enfatizar que o
cultivo de uma cultura organizacional a qual se caracterize pela flexibilidade é uma das
maneiras de se alcançar um ambiente ideal para a criatividade.
Carr (1997) destaca que a criatividade vai além do desenvolvimento de novos
produtos, mas nas empresas ela está associada principalmente à criação de produtos e
serviços. Kao (1997) enfatiza que mentes abundantes de idéias nada significam se essas
idéias não forem traduzidas em produtos e serviços de valor. Nesta pesquisa foi investigada
a expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil por meio do modelo de
avaliação do produto criativo proposto por Besemer e Treffinger (1981). O produto moda
caracteriza-se por ser produzido em lotes pequenos, com preços considerados altos e
distribuição seletiva, realizada apenas em grandes centros urbanos e em canais
especializados; sendo que a sua criação é ditada por uma tendência e coordenada por um
estilista ou designer de moda (GOULART; JENOVEVA, 1997; RECH, 2001 e
TREPTOW, 2003). Enfatiza-se que a investigação sobre a cultura organizacional e o seu
potencial para o desenvolvimento da criatividade teve como objeto central de interesse a
13
organização como um todo. Contudo, a avaliação da expressão da criatividade no produto
foi realizada junto aos responsáveis diretos pela criação do mesmo.
Dado o exposto, pretende-se responder à seguinte pergunta de pesquisa:
Qual o potencial da cultura organizacional para a expressão da criatividade
no produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Avaliar o potencial da cultura organizacional para a expressão da criatividade no
produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha.
1.2.2 Objetivos Específicos
Caracterizar a cultura organizacional da Empresa Dedal & Agulha;
Avaliar o potencial da cultura organizacional da empresa para o
desenvolvimento da criatividade;
Verificar a expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da
empresa pesquisada.
1.3 JUSTIFICATIVA
Atualmente o contexto das organizações é caracterizado por um momento de
muitas turbulências que exigem saltos estratégicos organizacionais criativos e inovadores,
onde os despreparados ou mais resistentes aos novos tempos podem desaparecer ou se
tornar meros detentores de pequenas fatias de mercado. Nesse contexto, conforme muitos
autores, a criatividade representa um dos diferenciais competitivos mais fortes; de modo
que posturas estratégicas criativas têm se caracterizado como um dos recursos mais
importantes para a obtenção de uma posição competitiva no mercado. Alencar (1998)
afirma que a criatividade tem recebido uma atenção crescente porque a origem da inovação
reside nas idéias criativas dos indivíduos. A autora salienta que o ambiente de trabalho
14
deve possibilitar a expressão de novas idéias (ALENCAR, 1998). Kao (1997) enfatiza que
esta é a era da criatividade e que o século XXI é orientado para a criatividade pois, dentre
outros fatores, as empresas são obrigadas a reinventar rapidamente a si mesmas para
crescer. O autor destaca que os valores da empresa são essenciais para adoção de uma
postura criativa, sendo necessário que as culturas organizacionais oportunizem ocasiões
para o desenvolvimento de comportamentos criativos. Com isso, considerando que a
cultura organizacional pode exercer uma função essencial na expressão da criatividade
dentro de uma empresa e, conseqüentemente, no desenvolvimento de produtos criativos, o
desafio está em possuir uma cultura organizacional que possibilite a expressão dessa
criatividade.
Lopez (1996) afirma que estudar a cultura organizacional não é tarefa simples, o
que pode levar meses ou até anos para ser completamente efetuado. Contudo, o autor
salienta que pesquisar a cultura organizacional não significa, necessariamente, conhecê-la
nos mínimos detalhes, visto que considerar pelo menos algumas de suas características é
relevante aos tomadores de decisão a fim de que estes possam evitar ou minimizar
problemas oriundos da falta de conhecimento da cultura a que pertencem. Barbosa (1996)
enfatiza que o estudo da cultura organizacional ajuda a desmistificar a idéia de que o
mundo dos negócios e da administração é regido por uma lógica, exclusivamente,
pragmática.
Bruno-Faria e Alencar (1996) destacam que embora existam trabalhos na área de
criatividade nas organizações, muitos aspectos ainda devem ser explorados,
principalmente, com referência aos fatores pessoais e ambientais que influenciam o
comportamento criativo dos empregados. Para as autoras, na maioria das vezes, esses
estudos têm como foco as características de personalidade de pessoas criativas. Wechsler
(1998) enfatiza que são raros os estudos brasileiros na área de criatividade nas empresas e
as pesquisas realizadas sobre o desenvolvimento da criatividade no Brasil têm se limitado
ao ambiente escolar. Todavia, cabe ressaltar que nos últimos anos, dentre as produções
acadêmicas (CORREIA, 2004; PAROLIN, 2001; ZANELLA, 2002b; e outras), foi
constatado um aumento significativo nas investigações sobre criatividade nas empresas.
Esse fato demonstra a importância que a temática tem assumido na teoria organizacional.
Parolin e Albuquerque (2004) afirmam que a importância do tema criatividade para as
organizações é crescente e emergente em função das respostas rápidas requeridas pelo
ambiente altamente competitivo do mercado globalizado. Os autores identificam o
15
estímulo à criatividade dentro das organizações como um aspecto relevante na obtenção do
comprometimento individual.
Quanto ao binômio cultura organizacional e criatividade, Martins e Terblanche
(2003) salientam que é necessário a realização de estudos empíricos que abordem essa
relação. Volberda (1998) destaca que o maior número de estudos sobre cultura
organizacional tem investigado sua relação com variáveis como estratégia, controle,
eficiência ou desempenho. Nos estudos de West e Farr (1990) é apresentada uma relação
entre cultura organizacional e a variável inovação. Na literatura nacional o que se tem visto
é que apesar de existirem estudos sobre as temáticas cultura organizacional (FLEURY,
1988, 1996; FLEURY; SHINYASHIKI; STEVANATO, 1997; FLEURY; SAMPAIO,
2002; FREITAS, 1990, 1991, 1996; MOTTA; CALDAS, 1997 e outros) e criatividade
(ALENCAR 1993, 1995, 1996, 1998; BRUNO-FARIA; ALENCAR 1996; PREDEBON
1997; WECHSLER 1998; e outros) em particular, são raras as investigações que abordem
a relação existente entre ambas. Essa relação é abordada nos estudos de Alencar (1996);
entretanto a autora não investiga de forma aprofundada o binômio.
Em relação à avaliação de um produto criativo, Besemer e Treffinger (1981)
enfatizam que a análise dos produtos criativos representa um problema desafiador no
estudo da criatividade. Os autores destacam a falta de precisão de alguns conceitos, as
percepções de outras pessoas sobre o produto criativo e a aplicação prática de um
instrumento de julgamento como fatores que dificultam o estudo da temática. Talvez por
isso, apesar de existirem produções acadêmicas abordando essa problemática (CASTRO,
2004; ZANELLA, 2002b), elas ainda são raras, e o modelo de avaliação proposto por
Besemer e Treffinger continua sendo o mais aplicado.
Portanto, a realização deste estudo justifica-se na medida que a sua finalidade
primordial é avaliar o potencial da cultura organizacional para a expressão da criatividade
nas empresas. Deste modo, acredita-se que ele poderá contribuir no preenchimento de uma
importante lacuna no campo teórico, além de proporcionar à organização pesquisada, como
também a outras organizações, um entendimento mais aprofundado sobre a dinâmica que
se estabelece na interação entre cultura organizacional e criatividade nas organizações, e a
expressão dessa criatividade no produto fabricado pela empresa. As informações obtidas
nesta pesquisa poderão ser utilizadas, se for o caso, como instrumento de reflexão e
orientação a fim de que a cultura das empresas potencialize o desenvolvimento da
criatividade e a sua expressão nos produtos desenvolvidos pelas organizações. Como toda
análise de um objeto de estudo complexo e multifacetado, como são as organizações, não
16
se pretende apreender o objeto total, mas fornecer algumas contribuições para uma
compreensão da dinâmica que se estabelece entre cultura organizacional e criatividade.
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
O presente trabalho está estruturado em seis capítulos. No primeiro capítulo, faz-
se a introdução do estudo, com apresentação do tema e do problema de pesquisa, dos
objetivos, geral e específicos, e da justificativa teórica e prática para a realização do
mesmo. O segundo capítulo apresenta a revisão da literatura que serviu de fundamentação
para a pesquisa. Ele está dividido em quatro partes. A primeira trata da temática cultura
organizacional, e nela são apresentadas suas linhas de pesquisa, as definições, os elementos
que a compõem e sua análise. A segunda revisa a temática da criatividade, onde são
expostos os tipos de abordagens sobre o tema, as definições, o conceito de produto
criativo, e a criatividade no ambiente organizacional. A terceira parte é dedicada à relação
entre cultura organizacional e criatividade, na qual são expostas e caracterizadas, conforme
a proposta de Volberda (1998), as subdimensões da cultura organizacional. Por fim, na
quarta parte, são apresentados os conceitos sobre moda.
O terceiro capítulo trata do método e está dividido em sete partes. Inicialmente é
feita a caracterização da pesquisa, seguida da apresentação das perguntas de pesquisa e na
terceira parte são definidos os termos e categorias de análise (definição constitutiva e
operacional). A quarta parte relata os critérios para definição da empresa-alvo da pesquisa.
A quinta e sexta partes abordam os sujeitos da pesquisa e a técnica de coleta e análise de
dados, sendo que na sexta parte é feita uma articulação entre objetivos, categorias de
análise e roteiro de entrevistas. Finalizando, são apresentadas as limitações da pesquisa.
No quarto capítulo caracteriza-se a organização estudada e o produto moda
vestuário infantil produzido pela mesma. O capítulo cinco trata da apresentação, análise e
interpretação dos dados. Nele faz-se a caracterização da cultura organizacional e avaliação
do seu potencial para o desenvolvimento da criatividade de acordo com quatro categorias
de análise (formação de identidade, liderança, regras não-escritas e orientação
externa). Em seguida é feita a verificação da expressão da criatividade no produto moda
vestuário infantil da empresa investigada, conforme as dimensões usadas para identificar
criatividade no produto (novidade, resolução, elaboração e síntese). No capítulo seis
constam as considerações finais com as conclusões e as recomendações.
2 REVISÃO DA LITERATURA
A fundamentação teórica aborda quatro dimensões que são a cultura
organizacional, a criatividade, a relação entre cultura e criatividade, e a moda. Ela
fundamenta o trabalho e subsidia a análise dos dados coletados.
2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL
Na dimensão cultura organizacional são apresentadas as linhas de pesquisa sobre
cultura organizacional; os conceitos de cultura organizacional; e os elementos constitutivos
da cultura organizacional e sua análise.
2.1.1 Linhas de pesquisa sobre cultura organizacional
Uma grande variedade de tratamentos e de definições foi, e ainda é, atribuída à
cultura. Motta e Caldas (1997) explicam que as raízes do conceito cultura são encontradas
na antropologia e na sociologia. Os autores destacam que as principais visões acerca do
conceito são: a) a cultura é o modo pelo qual uma comunidade supre suas necessidades
materiais e psicossociais por meio da relação que estabelece com o meio ambiente; b) é o
modo pelo qual uma comunidade estabelece seu estilo próprio em relação à necessidade de
adaptação ao meio; c) outro modo de ver a cultura é a partir do inconsciente humano, local
onde todas as combinações culturais estariam presentes; d) a cultura é definida, ainda, a
partir das formas diversas de cognição que caracterizam diferentes comunidades. Como os
indivíduos, as comunidades optam por determinadas maneiras de pesquisar, perceber e
compreender a realidade. O estudo dessas formas de cognição, suas origens,
transformações e simbolismos representa o estudo da cultura.
Os autores enfatizam que os diferentes modos de conceber a cultura não esgotam
outras possibilidades teóricas e metodológicas do estudo da cultura. Entretanto, constituem
18
as principais formas de análise que estão na base de grande parte dos estudos a respeito de
cultura, cultura nacional, cultura brasileira e cultura organizacional e empresarial.
Freitas (1991) afirma que os trabalhos desenvolvidos em torno da cultura
organizacional seguem uma base de conceitos encontrada na Antropologia Cultural. Essa
base de conceitos fundamenta-se em diversas correntes teóricas, como por exemplo, a
antropologia cognitiva que trata o conceito como os conhecimentos compartilhados no
grupo social; a antropologia simbólica cujo fundamento está nos significados
compartilhados; e a antropologia estrutural que define a cultura como fruto das
manifestações e expressões dos processos psicológicos inconscientes.
Os critérios utilizados para adoção de uma ou outra corrente teórica, segundo
Smircich (1983)
1
, se originam nos pressupostos básicos que os pesquisadores têm sobre o
que é organização, cultura e natureza humana. A autora acrescenta que a partir da
combinação desses pressupostos, as pesquisas desenvolvidas compreendem a cultura
organizacional de dois modos: como uma metáfora, ou seja, a cultura representa algo que a
organização é; ou como uma variável, a cultura representa algo que a organização tem.
Esses dois modos de conceber a cultura organizacional possibilitam identificar cinco áreas
básicas de pesquisa cultural (SMIRCICH, 1983):
a) Administração Comparativa (across societies): o interesse está em
conhecer a cultura social que envolve a organização e sua influência
sobre os membros da organização. Essa cultura é importada pelos
membros para o ambiente interno da organização e as atividades são
organizadas com base no que foi importado. A cultura é tratada como
uma variável externa.
b) Cultura Corporativa: nesta área a cultura é tratada como uma variável
interna. Além de produzirem bens e serviços, as organizações também
produzem artefatos culturais como rituais, lendas e cerimônias. Os
estudos realizados dentro desta área se baseiam, freqüentemente, na
estrutura da Teoria dos Sistemas. O maior número de pesquisas,
principalmente os relacionados às questões de mudança e
desenvolvimento organizacional, se concentram nesta corrente.
1
Smircich é considerada por diversos autores (FLEURY; SAMPAIO, 2002; FREITAS, 1991; SILVA, 2001;
e outros) como quem melhor coloca a questão da grande variedade de tratamentos ao assunto ou como quem,
conforme Cavedon e Fachin (2000, p.01), procura “ordenar o caos”.
19
A autora explica que essas correntes teóricas, apresentadas anteriormente, se
inserem no paradigma funcionalista e compreendem a cultura como uma variável a partir
de alguns pressupostos que lhes são comuns: a realidade social se impõe com base em
relacionamentos gerais e circunstanciais; a organização é vista como um organismo.
As demais áreas apresentadas a seguir partem do pressuposto que a cultura é algo
que a organização é. Dentro dessa visão, as organizações são entendidas como
manifestações da consciência humana, ou seja, são entidades expressivas, ideacionais e
simbólicas. O fenômeno organizacional é explorado como uma experiência subjetiva, na
qual se deve averiguar as estruturas que viabilizam os eventos organizados (SMIRCICH,
1983).
c) Cognição Organizacional: busca esclarecer quais são as regras que
orientam a atuação dentro da organização e qual a visão de mundo dos
seus membros. A cultura organizacional é compreendida como um
master contract que inclui a auto-imagem da organização e as
regras que norteiam as crenças e ações conforme esta auto-imagem.
d) Simbolismo Organizacional: procura conhecer o discurso simbólico,
sendo necessário decifrar a organização. O objetivo principal é
verificar de que forma a experiência se torna significativa. Assim é
fundamental compreender como os indivíduos compreendem e
interpretam suas experiências e como as vinculam à ação; como os
grupos compartilham interpretações de experiências para que as
atividades possam ser organizadas; como mantêm um senso de
organização e de interpretações comuns das situações que influenciam
as ações. Aqui, a liderança é a responsável pela administração de
significados e modela as interpretações.
e) Processos Inconscientes e Organização: enfatiza que a cultura é uma
projeção da infra-estrutura universal da mente, ou seja, o formato e
ações das pessoas nas organizações são projeções dos seus processos
psicológicos inconscientes.
O quadro apresentado a seguir descreve como cada uma destas áreas se relaciona
com as correntes antropológicas e os respectivos conceitos de organização na teoria das
organizações.
20
Conceitos de Cultura na
Antropologia
Temas de pesquisa
Organizacional e
Administrativa
Conceitos de Organização na
Teoria das Organizações
Cultura é um instrumento a
serviço das necessidades
biológicas e psicológicas do
homem.
Ex.: Funcionalismo-Malinovski
Cross-culture” ou
Administração Comparativa
Organizações são instrumentos
sociais para a realização de
tarefas.
Ex.: Teoria Clássica da
Administração
Cultura funciona como um
mecanismo adaptativo-
regulador. Ela unifica o
indivíduo nas estruturas sociais.
Ex.: Funcionalismo-Estrutural
Radcliffe-Brown
Cultura Corporativa Organizações são organismos
adaptativos existentes nos
processos de troca com o
ambiente.
Ex.: Teoria Contingencial
Cultura é um sistema de
cognições compartilhadas. A
mente humana gera a cultura
pelo significado de um número
finito de regras.
Ex.: Etnociência-Goodenough
Cognição Organizacional Organizações são sistemas de
conhecimentos. A organização
repousa na rede de significados
subjetivos que os membros
organizacionais compartilham.
Ex.: Teoria da Cognição
Organizacional
Cultura é um sistema de
símbolos e significados
compartilhados. A ação
simbólica necessita ser
interpretada, lida e decifrada
para ser entendida.
Ex.: Antropologia Simbólica-
Geertz
Simbolismo Organizacional Organizações são modelos de
discurso simbólico. A
organização é mantida através de
formas simbólicas, tais como a
linguagem que facilita
compartilhar os significados e as
realidades.
Ex.: Teoria do Simbolismo
Organizacional
Cultura é uma projeção da infra-
estrutura universal da mente.
Ex.: Estruturalismo-Levi-Strauss
Processos Inconscientes e
Organização
Formas e práticas
organizacionais são
manifestações de processos
inconscientes.
Ex.: Teoria da Transformação
Organizacional
Fonte: Adaptado de Smircich (1983).
Quadro 1 - Intercessão da teoria cultural e teoria organizacional
Freitas (1991) afirma que a falta de consenso quanto à contribuição da
Antropologia Cultural nas pesquisas sobre Cultura Organizacional dificultam um
tratamento homogêneo à classificação e correspondência destas pesquisas com as
abordagens correspondentes na Antropologia Cultural. Fleury e Sampaio (2002, p. 287)
enfatizam que possivelmente todas essas linhas de trabalho constituem uma abordagem
correta sobre a visão de cultura, pois segundo os autores, “essas visões não são
mutuamente exclusivas, mas também não podem ser apenas justapostas. Cada uma delas
privilegia formas de pesquisa e análise de informações diferentes para o entendimento de
21
sua abordagem de cultura”. Silva (2001) corrobora ao destacar que quando se analisam as
diferentes possibilidades de abordagens teóricas para tratar a cultura nas organizações se
constata que não existe uma hegemonia para tratar da temática. Para fins desta dissertação
concorda-se com estes autores. Assim, não foi adotada uma única abordagem teórica para a
análise da cultura organizacional. Após a apresentação das linhas de pesquisa sobre cultura
organizacional, são apresentados os conceitos atribuídos à mesma.
2.1.2 Definições de cultura organizacional
Freitas (1990 e 1991) explica em seus estudos que o tema cultura organizacional
passou a ser mais abordado na literatura a partir de 1983. Nessa época a Administrative
Science Quarterly e a Organizational Dynamics dedicaram números especiais ao assunto.
Entretanto, o tema havia sido tratado em anos anteriores à década de 80. A explicação
dada para o aumento de interesse pelo assunto, foi o declínio da produtividade dos Estados
Unidos da América e o ganho de competitividade dos japoneses. Devido ao milagre
japonês muitas organizações contrataram serviços de consultoria para aplicar as técnicas de
gestão japonesas, as quais enfatizam o coletivo. Entretanto, a autora destaca que ainda
uma explicação diferente para a popularidade do tema, a qual sugere que as pesquisas
realizadas nessa área são, na sua maioria, respostas a problemas práticos identificados
pelas gerências.
O conceito de cultura foi emprestado da antropologia, onde não existe consenso
sobre o seu significado. Então, não deveria ser surpresa que há também uma diversidade de
opiniões sobre a sua aplicação em estudos organizacionais (SMIRCICH, 1983). Para a
autora, a cultura expressa os valores ou idéias sociais (ideologias organizacionais) e as
crenças que os membros organizacionais compartilham e são manifestados por esquemas
simbólicos, tais como: mitos, rituais, estórias, lendas e linguagem especializada.
Schein (1984), um dos autores mais reconhecidos da área, explica que a cultura
organizacional é o conjunto de premissas básicas, tais como conceitos, princípios, regras,
formas de comportamento e soluções que foram estabelecidas e descobertas no processo de
aprendizagem de solução de problemas de adaptação externa e integração interna, e que
por funcionarem suficientemente bem foram consideradas válidas e ensinadas aos outros
membros da organização como a maneira certa de agir em relação a esses problemas. A
definição de cultura apresentada pelo mesmo foi adotada neste estudo como a definição
22
constitutiva desse termo. O autor salienta que a cultura organizacional determina a
estratégia, os objetivos e o modo de operação da empresa, influenciando fortemente nos
valores e no modo de pensar dos indivíduos dentro das organizações (SCHEIN, 2001).
Beyer e Trice (1986 apud FLEURY, 1996, p.19) afirmam que a cultura
organizacional corresponde a uma 'rede de concepções, normas e valores, que são tão
tomadas por certas que permanecem submersas à vida organizacional'”. Fleury (1988,
p.1715) define a cultura organizacional conforme:
[...] um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em
elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir
significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como
elemento de comunicação e consenso como ocultam e instrumentalizam
as relações de dominação.
Freitas (1991) compreende a cultura organizacional como um mecanismo que
busca moldar e homogeneizar condutas, maneiras de pensar e viver na organização. Para
tanto, a autora afirma que a organização tenta passar uma imagem positiva, onde todos são
iguais, encobrindo as diferenças e anulando a reflexão.
A cultura organizacional é a forma expressiva de repasse de um projeto,
de uma missão, a que os membros de uma organização devem/querem
aderir [..]; é a cultura organizacional quem comunica quais são os
comportamentos, as prioridades e as ações que darão sustentação à
construção desse projeto; é ela quem diz quais os valores que o ou não
compatíveis com essa construção e a que crenças devem os membros
organizacionais se agarrar; é ela, ainda, quem determina os modelos que
devem ser seguidos, aplaudidos, reconhecidos, [...] é ela, ainda, quem
uma nova estética à linguagem organizacional, exercendo por exemplo
uma função política através das festas, das comemorações, dos
discursos, da celebração dos heróis e mesmo dos ‘desviantes’ adequados.
É, ainda, a cultura organizacional quem cria, pelo reforço da palavra
repetida, sustentada ou não em atos [...] a idéia de comunidade, de
orgulho de pertencimento ao grupo exclusivo ou de club dos raros
(FREITAS, 1996, p.533).
Cavedon (2000 apud CAVEDON, 2004, p. 448) define cultura organizacional
como “'a rede de significações que circulam dentro e fora do espaço organizacional, sendo
simultaneamente ambíguas, contraditórias, complementares, díspares e análogas,
implicando ressemantizações que revelam a homogeneidade e a heterogeneidade
organizacional.'” Para Volberda (1998), a idéia de cultura organizacional comporta o
somente os elementos contidos no campo simbólico, o qual criam a identidade
organizacional; mas também inclui os mecanismos culturais desenvolvidos para manter e
23
mudar esses elementos. Esses mecanismos são denominados de liderança, regras não-
escritas e orientação externa. A liderança exerce um papel crítico na criação de uma
ideologia que serve de base aos ideais do universo organizacional; sendo que as regras não-
escritas solidificam as crenças sobre a maneira adequada de se comportar e proceder. A
orientação externa se refere à maneira como a organização relaciona-se com o ambiente
macro-social. “[...] cultura são os grupos de idéias desenvolvidos e mantidos pela
identidade da organização, liderança, regras não-escritas e orientação externa”
(VOLBERDA, 1998, p. 164).
Com isso, a cultura organizacional é representada por um conjunto de elementos
que configuram o modo de fazer e comportar-se dos membros da organização que foi
entendido como a maneira correta para alcançar os resultados desejados. Esses elementos
que a constituem são explicitados abaixo, bem como algumas propostas para analisá-los.
2.1.3 Elementos constitutivos da cultura organizacional e sua análise
A cultura organizacional é descrita a partir de elementos que a constituem. Esses
elementos correspondem aos valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônias,
estórias e mitos, tabus, heróis, normas e processos de comunicação (FREITAS, 1990 e
1991).
A autora explica que os valores compartilhados correspondem ao que é
importante para a organização alcançar o sucesso, ou seja, o que ela valoriza para ser bem
sucedida. Eles fornecem um senso de direção comum para todos os seus membros,
servindo como um manual para o comportamento diário, a fim de se alcançar os resultados
esperados.
Schein (1984) assinala que a travessia dos valores ditos esposados para a condição
de valores arraigados ou compartilhados na práxis de uma organização, via testes da
realidade bem sucedidos, produz pressupostos básicos da cultura organizacional. As
crenças e pressupostos básicos são tidos como sinônimos e representam o que é tido como
verdade na organização, as certezas tácitas sobre o que é correto e válido dentro da
empresa. Segundo Schein (2001), eles são a essência da cultura organizacional, os pontos
centrais da cultura, e resultam de um processo de aprendizagem em conjunto, sendo
compartilhados e tidos como corretos à medida que a organização continua a ter sucesso.
Fleury; Shinyashiki e Stevanato (1997) explicam que os pressupostos básicos dizem
24
respeito aos padrões de emoções e fantasias inconscientes compartilhadas pelos membros
do grupo e que influenciam no comportamento do mesmo, ou seja, são os determinantes
emocionais inconscientes da vida grupal que vão determinar como os membros do grupo
percebem, pensam e sentem.
Quanto aos ritos, rituais e cerimônias, estes consistem em um conjunto de
atividades planejadas que combinam várias formas de expressão cultural, as quais têm
conseqüências práticas e expressivas, tornando a cultura organizacional mais tangível e
coesa (FLEURY, 1988 e FREITAS, 1991). Ao desempenhar um rito as pessoas se
expressam através de diversos símbolos como certos gestos, linguagem, artefatos, entre
outros. De acordo com Beyer e Trice (1984), os ritos mais comuns são:
Ritos de passagem: utilizados para facilitar a mudança de status, como no
caso da inserção do indivíduo no meio organizacional ou no re-treinamento
de pessoal;
Ritos de degradação: utilizados para dissolver identidades sociais e retirar
seu poder. Ex.: demissão, afastamento, denúncia de falhas publicamente e
outros.
Ritos de reforço: utilizados para divulgar e exteriorizar os resultados
positivos e o sucesso. Ex.: seminários para reforçar a identidade social e seu
poder de coesão.
Ritos de renovação: utilizados para renovar as estruturas sociais e
aperfeiçoar o seu funcionamento por meio de programas de assistência ao
empregado, de desenvolvimento organizacional e outros;
Ritos de redução de conflitos: utilizados para criar meios para a
convergência de opiniões ou posições organizacionais/sociais, restaurar o
equilíbrio de relações sociais perturbadas e reduzir os níveis de conflito e
agressão. Ex.: processos de negociação coletiva.
Ritos de integração: utilizados para manter os indivíduos comprometidos
com o sistema social ao qual pertencem, por meio do enaltecimento de
sentimentos comuns e de espaços para integração.
Quanto aos mitos e estórias, estes constituem importantes elementos de
veiculação cultural. Os mitos são interpretações de valores não sustentados por fatos, é
uma narrativa dramática de eventos imaginados, usada para explicar origens ou
transformações das coisas; enquanto que as estórias são baseadas em eventos que de fato
25
ocorreram e que procuram mostrar quais comportamentos são esperados pelos membros da
organização (FREITAS, 1990 e 1991).
As estórias são tidas como muito poderosas porque são experiências de
outras pessoas que podem ser usadas para preencher lacunas em nossa
própria vida; em apresentando detalhes concretos, elas são geralmente
bastante persuasivas; são mais rápida e longamente memorizadas que
idéias abstratas isoladas (FREITAS, 1991, p.28-29).
A autora explica que as estórias funcionam como mapas, pois auxiliam os
indivíduos a saber como as coisas são feitas por determinado grupo. Além de servirem
como mapas, elas simbolizam os valores que unificam os membros da organização. As
estórias também são interpretadas como scripts que dizem aos empregados os tipos de
atitudes e decisões aceitáveis em determinadas situações (FREITAS, 1991).
Os tabus também possuem um papel de orientar o comportamento individual e
coletivo, colocando em evidência o aspecto disciplinar da cultura por meio da ênfase no
que é proibido. Freitas (1991) menciona a dificuldade de se obter bibliografia referente ao
assunto na área organizacional e explica que os textos existentes apresentam os tabus como
rituais discriminatórios que prejudicam o desenvolvimento das funções relativas aos
cargos. Como exemplo cita-se a exclusão de mulheres e grupos minoritários. A autora
destaca que os tabus, também, são apresentados como subprodutos de uma análise mais
profunda sobre tragédias ocorridas em algumas corporações.
Os heróis personificam os valores, fortalecendo a força da organização. Eles
fazem aquilo que todos almejam, mas têm medo de tentar, ou seja, são corajosos e
persistentes, além de serem intuitivos, visionários, experimentadores, e outros (DEAL;
KENNEDY, 1982 apud FREITAS, 1991). Os heróis podem ser natos ou criados, os natos
têm uma influência ampla e filosófica sob os membros da organização; e os criados são
heróis situacionais, ou seja, assumem o palco durante determinado tempo. Ambos podem
ser carismáticos ou não (FREITAS, 1991).
As normas dizem respeito à maneira de fazer as coisas, ao comportamento
aprovado e prescrito. Elas são veiculadas por meio dos sistemas formais de comunicações,
dos heróis, ritos, rituais, estórias, mitos e outros (FREITAS, 1990 e 1991).
Quanto ao sistema de comunicação, a autora afirma que a criação, sustentação,
transmissão e mudança da cultura ocorre por meio de atividades baseadas na troca de
mensagens e na definição de significados. Com isso, as organizações são tidas como
‘fenômeno de comunicação’. Deal e Kennedy (1982 apud FREITAS, 1991) abordam o
26
processo comunicativo sob o enfoque de rede de trabalho (networking) que é representada
pelos seguintes papéis informais: contadores de estórias, interpretam os fatos ajustando-os
à sua própria percepção; padres, procuram fazer com que todos permaneçam unidos;
confidentes, constroem um vasto sistema de contatos e detêm o poder indiretamente;
fofoqueiro, transmitem estórias carregadas de conteúdo dramático e entusiasmado,
provendo entretenimento; espiões, mantêm seus chefes informados a respeito do que
ocorre na organização; conspiradores, se reúnem em secreto para traçar um objetivo
comum. É importante destacar, também, os aspectos não-verbais do processo de
comunicação, como o ambiente físico que é representado pelo modo como os indivíduos se
vestem, a decoração e o tamanho das salas, estacionamentos, refeitórios e outros.
Dentre as propostas para desvendar a cultura de uma organização, destaca-se o
método de Schein. O autor explica que a cultura organizacional pode ser analisada em três
níveis. O primeiro nível é constituído pelos artefatos e criações visíveis, tais como
arquitetura, tecnologia, decoração, padrões visíveis e audíveis de comportamento, layout,
tipos de vestuário, estruturas, documentos públicos e outros. Aqui, é fácil obter os dados
mas difícil de interpretá-los. O segundo vel diz respeito aos valores que influenciam e
justificam os comportamentos adotados em determinadas situações. Apesar desse nível
oferecer um maior grau de conscientização é necessário, ainda, uma análise mais profunda
para desvendar a cultura. Finalmente no terceiro nível, o mais profundo e que revela a
essência da cultura organizacional, têm-se os pressupostos básicos que são inquestionáveis,
invisíveis, pré-conscientes e determinam como os membros do grupo percebem, pensam e
sentem (SCHEIN, 1984). Para identificar os pressupostos básicos, o autor estabeleceu
cinco categorias de análise: a) Relacionamento com o ambiente, reflete como os membros-
chave da organização percebem a relação desta com o ambiente externo (dominação,
submissão, harmonia, indiferença ou outros); b) Natureza da realidade e verdade, revela as
regras de lingüística e de comportamento que definem o que é transmitido como real ou
não, o que é um fato ou uma mera versão, como e por quem a “verdade” da organização é
determinada e se ela é ou não revelada, ou seja que premissas são consideradas verdadeiras
dentro da organização; c) Natureza da natureza humana, avalia-se a concepção que se tem
dentro da organização em relação ao ser humano, se esse é considerado bom ou mau, se
prevalece a Teoria X ou a Teoria Y; d) Natureza da atividade humana; enfoca-se qual a
ação correta a ser tomada, com base nos pressupostos sobre ambiente, realidade e natureza
humana, ou seja, ser reativo, pró-ativo, buscar o autodesenvolvimento, ou outros; e)
Natureza dos relacionamentos humanos, investiga-se o modo considerado mais apropriado
27
para as pessoas se relacionarem umas com as outras, ou seja, os relacionamentos baseiam-
se na cooperação, na competição, no individualismo, no autoritarismo, ou outros.
Schein (1984) explica, ainda, que para detectar os pressupostos básicos é preciso
analisar a organização sob o ponto de vista histórico, investigando quais foram os valores,
crenças e certezas dos fundadores e dos líderes que a tornaram bem-sucedida. O autor
propõe, também, a investigação acerca do processo de socialização, dos incidentes críticos
da história da organização e das observações surpreendentes descobertas durante as
entrevistas.
Fleury (1988) sugere, como abordagem para desvendar a cultura, a análise dos
seguintes fatores: histórico da organização, investigar a forma de criação e de fundação da
organização e sua inserção no contexto político e econômico e os incidentes críticos já
vividos pela organização (crises, expansões, fracassos e sucessos); processo de
socialização de novos membros, verificar os critérios utilizados para recrutamento e
seleção de novos membros e os programas de treinamento e integração; política de
recursos humanos, analisar as políticas e práticas explícitas e implícitas de recursos
humanos; processo de comunicação, identificar os meios, instrumentos, veículos de
comunicação (formais e informais, orais e escritos) e a relação entre os agentes
comunicadores; organização do processo de trabalho, caracterizar as relações de poder
entre as categorias de empregado e entre áreas da organização.
Na proposta de análise da cultura apresentada por Volberda (1998), a qual foi
adotada neste estudo por verificar-se que ela tem estreita relação com o problema de
pesquisa apresentado, a cultura organizacional abrange, além dos valores ou idéias sociais
e crenças que criam a identidade da organização e são expressos no campo simbólico, os
mecanismos culturais desenvolvidos para manter e mudar esses valores e crenças,
chamados de liderança, regras não-escritas e orientação externa. A identidade de uma
organização consiste no entendimento compartilhado do que a organização é e como ela
deve operar, sendo manifestada pelos valores amplamente moldados pela história da
organização e sua missão, e pelas práticas culturais (símbolos, heróis e rituais). Quanto à
liderança, os líderes podem ser tanto os criadores quanto os transmissores da cultura pois,
como os fundadores, eles trazem para a organização um conjunto de pressupostos, valores,
perspectivas e artefatos, os quais são impostos aos empregados. As regras não-escritas ou
regras culturais têm a função de orientar os empregados quanto ao que podem ou não fazer
em situações não previstas em regras formais. É exigido que os membros da organização
reconheçam e adaptem-se a essas regras, sendo que as mesmas podem permanecer ao
28
longo da história da organização. Por fim, conforme Volberda (1998), a orientação
externa reflete as crenças dos funcionários sobre o relacionamento da organização com o
ambiente no qual está inserida. O autor sugere que a cultura pode variar em um continuum
de conservadora a inovadora, de acordo com as características das quatro subdimensões
propostas (formação de identidade, liderança, regras não-escritas e orientação
externa).
O objetivo central desta pesquisa é investigar o binômio cultura organizacional e
criatividade. Assim, são expostos a seguir os aspectos relacionados à temática criatividade.
2.2 CRIATIVIDADE
Na dimensão criatividade são apresentadas as abordagens de criatividade; as
definições de criatividade; o conceito de produto criativo; e a criatividade no âmbito
organizacional.
2.2.1 Abordagens sobre criatividade
Durante toda a história da humanidade a geração de novas idéias sempre fez parte
do dia-a-dia do ser humano. Devido à existência de diferentes correntes e diversas linhas
de pensamento, o estudo da criatividade recebe uma série de análises diferenciadas pelos
estudiosos do assunto. Kneller (1978) afirma que a diversidade de abordagens e a
combinação de abordagens científicas e intuitivas seriam inevitáveis em virtude da
complexidade do tema. Com isso, existem diversas abordagens explicativas sobre o ato
criativo as quais são sintetizadas no quadro a seguir com base em Kneller (1978), Schleder
(1999) e Wechsler (1998).
29
Abordagens Principais idéias
Filosóficas tradicionais
Inspiração ou dádiva divina. As raízes dessa noção são
atribuídas a Platão;
Loucura - a criatividade é fruto de um acesso de
loucura. Essa concepção remonta à Antigüidade.
Filosóficas modernas
Criatividade como gênio intuitivo - não pode ser
alcançada pela educação, pois é imprevisível, não
racional e limitada a algumas poucas pessoas. Essa
visão nasceu no fim do Renascimento e estendeu-se ao
século XVIII. Kant, em particular, foi um dos
pensadores que associou criatividade e genialidade;
Criatividade como força inerente à vida - é uma
manifestação do processo organizador presente em toda
vida. O expoente dessa idéia foi o biólogo Edmund
Sinnott;
Criatividade como força cósmica – é uma manifestação
de uma criatividade universal que resiste a tudo que
existe. Essa idéia foi desenvolvida por Whitehead.
Psicológicas
Associacionismo - novas idéias surgem a partir de
idéias antigas por meio de um processo de tentativa e
erro. A origem do associacionismo remonta ao
filósofo John Locke;
Gestalt – o processo criativo busca, por meio de dados
concretos ou imaginados, obter uma gestalt ou forma
completa. O sujeito criativo estaria sempre procurando
soluções para falhas na informação, o fechamento de
uma forma incompleta, ou novas formas de
organização. Os teóricos fundadores dessa abordagem
foram Wertheimer, Koftka e Köhler na Alemanha;
Psicanálise - é considerada a mais importante das
abordagens sobre a criatividade. Ela tem origem na
psicanálise freudiana e apresenta a criatividade como
uma forma inconsciente de solução de conflitos que
surge da mesma fonte que a neurose;
Humanistas - a criatividade é vista como uma tendência
do ser humano à auto-realização, sendo necessárias
certas condições para o potencial criativo vir à tona.
Pode-se citar entre os fundadores dessa visão, Maslow,
Rollo May e Rogers;
Análise fatorial -a mente humana pode fazer as
operações de cognição, memória, produção
convergente, produção divergente e avaliação. O
pensamento criador está relacionado ao pensamento
divergente, pois este busca todas as soluções possíveis
para um problema e é menos atrelado a normas fixas e
mais à originalidade da resposta. O autor dessa idéia foi
Guilford.
Educacional – a criatividade se dá naturalmente em
ambientes facilitadores e, quando impedida, pode ser
ensinada e desenvolvida. Torrance é o expoente dessa
visão.
Psicofisiológicas – enfatizam a relação entre a
criatividade e os hemisférios cerebrais. É importante
destacar que o pensamento criativo se dá por meio do
envolvimento dos dois hemisférios. Torrance é um dos
principais pesquisadores dessa idéia.
Sociológicas
Enfocam o papel do ambiente no desenvolvimento da
criatividade. Defendem que os valores e pressupostos
de uma sociedade impõem uma série de limitações e
restrições ao diferente e original, impedindo o
desenvolvimento do potencial criativo. Amabile é a
expoente dessa visão.
Elaborado pela autora.
Quadro 2 – Abordagens sobre criatividade
30
As informações apresentadas no quadro exposto acima permitem constatar que a
maioria das abordagens sobre criatividade concentra-se na área da Psicologia. Schleder
(1999) salienta que elas correspondem as de maior repercussão dentro do estudo da
temática. Com isso, pode-se explicar o grande número de pesquisas que focam
exclusivamente as características de personalidade de pessoas criativas.
Contudo, a autora destaca que as diferentes abordagens devem ser compreendidas
como complementares, pois cada uma discute um aspecto diferente, dificultando uma
comparação entre elas. Bruno-Faria (1996) analisa a criatividade sob a perspectiva de uma
abordagem interacionista, ou seja, de que tanto os aspectos individuais quanto os
ambientais contribuem para sua expressão. Na mesma direção, Parolin(2001) desenvolve
seus estudos baseados nessa abordagem. Alencar (1996) salienta que a criatividade é
resultante mais de condições sócio-organizacionais que a empresa pode proporcionar aos
seus membros, do que de predisposições unicamente individuais. Assim, nesta pesquisa,
analisou-se a criatividade dentro de uma abordagem interacionista. No próximo item
apresenta-se as definições de criatividade a fim de possibilitar um melhor esclarecimento
sobre o significado da mesma.
2.2.2 Definições de criatividade
Existem diversas definições acerca de criatividade, provavelmente porque ela
pode ser inserida em diversos contextos, tais como meio artístico, meio científico ou
organizacional. Estudiosos da temática defendem que essas diferentes conceituações não
são excludentes, mas complementares. Muitos teóricos sustentam que a criatividade não é
uma capacidade humana exclusiva das Artes, mas que abrange a vida em geral, entre eles
Kneller (1978, p. 25) afirma que “Tão criador quanto o artista é, por exemplo, o cientista”.
Bronowski (1956 apud KNELLER, 1978, p. 25), afirma que “As descobertas da ciência, as
obras de arte são explorações [...]. Este é o ato de criação, no qual nasce um pensamento
original, e é o mesmo ato na ciência original e na arte original”. A expressão da
criatividade, segundo os autores, substancia o ato de pensar e criar o original em qualquer
área de atuação. Na busca da compreensão do que é criatividade, é possível se deparar com
expressões que, muitas vezes, aparecem com o mesmo significado de criatividade. Quanto
a essas expressões têm-se a descoberta, a invenção e a inovação.
31
Para Barbieri (1990), descoberta é a revelação de algum fato já existente na
natureza. Ela amplia os conhecimentos através do esforço intencional ou não e por si só,
sendo uma descoberta científica ou não, não é capaz de produzir efeitos práticos, mas pode
contribuir para que diversas invenções sejam realizadas.
A invenção pode ser entendida de duas formas. Na primeira, ela representa
qualquer atividade mental destinada a criar algo novo ou produzir alterações em produtos e
processos existentes, como características e funções diferentes. Na segunda, ela é vista
como um invento ou um objeto inventado (BARBIERI, 1990). O autor explica que o
objeto inventado “é uma idéia ou modelo que representa ou descreve um produto ou
processo novo ou diferente dos que já existem” (BARBIERI, 1990, p.42). O mesmo
ressalta que a invenção diferencia-se da descoberta, pois é sempre uma ação deliberada
com o intuito de conceber algo que ainda não existe, algo novo; sendo que ela representa
também a primeira fase da inovação.
O termo inovação é considerado importante nesta pesquisa, pois muitas vezes
confunde-se o mesmo com criatividade. A inovação é toda mudança numa dada tecnologia,
“é transformar uma idéia tecnicamente viável (invenção), em produtos ou serviços até sua
aceitação comercial” (BARBIERI, 1990, p. 43). O autor enfatiza que o inventor não é
necessariamente o inovador. Este é sempre uma empresa ou unidade produtiva, enquanto o
inventor pode ser um indivíduo ou equipe, independente ou vinculado a uma organização.
Amabile (1990, p. 146) conceitua inovação como a “implementação com sucesso de idéias
sobre produtos ou processos dentro de uma organização”. West e Farr (1990) definem a
inovação como a “introdução” intencional, dentro de uma função, grupo ou organização,
de idéias, processos, produtos ou procedimentos novos para a unidade, relevante de adoção
e que visa gerar benefícios para o indivíduo, grupo, organização ou sociedade maior.
Alencar (1996, p. 15-16) aborda a inovação nas organizações como “o processo de
introduzir, adotar e implementar uma nova idéia (processo, bem ou serviço) em uma
organização em resposta a um problema percebido, transformando uma nova idéia em algo
concreto”.
O vocábulo criatividade vem do latim creare que significa fazer, e do termo grego
krainen, o qual significa realizar. No Novo Dicionário Aurélio, a criatividade significa
qualidade de criativo, capacidade criadora, engenho e inventividade (FERREIRA, 1987).
Kruglianskas (1996) salienta que a criatividade é fundamental para que ocorra o processo
de inovação. A criatividade é a fonte, é o elemento essencial para se obter a inovação, e
esta é a “aplicação” das novas idéias criadas. Alencar (1993) explica que os conceitos de
32
inovação e criatividade estão intimamente relacionados e têm sido usados, algumas vezes,
como sinônimos. Entretanto, a autora enfatiza que a criatividade é o componente essencial
da inovação, e esta englobaria a “concretização” e “aplicação” das novas idéias. A autora
concebe o termo criatividade quando relacionado a indivíduos e grupos de indivíduos e o
termo inovação quando se trata do ambiente organizacional. Amabile (1990) corrobora
enfatizando que a criatividade diz respeito à “geração” de idéias novas por um indivíduo
ou um grupo pequeno que trabalhem juntos. Os conceitos de criatividade e inovação
apresentados por Alencar (1993) e Amabile (1990) embasaram este estudo. Destaca-se,
aqui, que a criação do produto analisado nesta pesquisa é realizada por um grupo de 12
pessoas.
Alencar (1996, p. 3) também conceitua a criatividade como “[...] um fenômeno
complexo e multifacetado que envolve uma interação dinâmica entre elementos relativos à
pessoa, como características de personalidade e habilidades de pensamento, e ao ambiente,
como o clima psicológico, os valores e normas da cultura e as oportunidades para
expressão de novas idéias”. Duailibi e Simonsen (1990), e Predebon (1997) focalizam a
criatividade como meio de solucionar problemas. Kneller (1978) apresenta uma severa
crítica à definição da criatividade como uma técnica de solucionar problemas. O autor
enfatiza que essa é uma concepção limitada que não condiz com a criatividade e destaca,
ainda, que apesar de muitas soluções de problemas serem criativas nem toda manifestação
criativa é um caso de solução de problemas. Todavia, Alencar (1996, p. 3) ao tratar sobre a
importância crescente da criatividade para as organizações cita uma frase de Katsuya
Hosotani, na qual ele comenta que o valor do ser humano ‘está na sua criatividade e
habilidade em solucionar problemas, e solucioná-los cooperativamente, que é a chave para
a sobrevivência de uma organização em longo prazo. Mais importante ainda, a solução de
problemas promove o ser humano através do aumento da motivação e das habilidades dos
membros da organização’.
Amabile (1990) explica que um produto ou idéia é criativo na medida em que é
tanto original como uma resposta apropriada para uma tarefa. Nesta direção, Alencar
(1996) define criatividade como um processo que resulta na emergência de um novo bem
ou serviço, percebido como útil, satisfatório e/ou de valor por um número significativo de
pessoas em um dado momento. Do mesmo modo, os autores Mirshawka e Mirshawka Jr.
(1992, p. 24) conceituam a criatividade como a “capacidade de dar origem a coisas novas e
valiosas e, além disso, é a capacidade de encontrar novos e melhores modos para fazer as
coisas”. Para Hesketh (1983), criatividade significa trazer à existência um produto novo
33
para o indivíduo, mesmo que apenas para ele, não precisa necessariamente ser novo para
outros indivíduos. A diferenciação entre criatividade e inovação é de extrema relevância
para o presente estudo, pois este foca as condições da cultura organizacional para que a
criatividade se expresse e a sua expressão no produto.
De acordo com Wechsler (1998), a criatividade pode ser analisada sob as
seguintes dimensões: características da personalidade criativa, processo criativo, produto
criativo, ambiente criativo e combinações entre quaisquer dessas categorias. Nesta
pesquisa, considerando o foco da mesma, foram abordadas as dimensões produto criativo e
ambiente criativo; sendo que na dimensão ambiente criativo apresenta-se a criatividade no
ambiente organizacional.
2.2.3 O produto criativo
Nas organizações, a criatividade e inovação são associadas constantemente à
criação de produtos e serviços (CARR, 1997). A análise do produto criativo, segundo
Besemer e Treffinger (1981), constitui um problema desafiador no estudo da criatividade;
sendo que são raras as pesquisas sobre a problemática. Kotler e Armstrong (1991) definem
produto como algo que pode ser oferecido a um mercado para atenção, aquisição, uso ou
consumo e que possa satisfazer a um desejo ou necessidade. Para os autores, o produto
consiste “em qualquer coisa que possa ser lançada no mercado, incluindo objetos físicos,
serviços, pessoas, locais, organizações e idéias” (KOTLER; ARMSTRONG, 1991, p. 173).
Os produtos são classificados conforme Cobra (1986), segundo sua durabilidade
ou tangibilidade, em três grandes grupos que são: Bens duráveis, Bens não-duráveis e
Serviços. Os Bens duráveis são bens tangíveis que podem ser usados por muito tempo
(roupas, móveis, entre outros). Os Bens não-duráveis ou de consumo de massa
correspondem aos bens tangíveis que são consumidos em poucos usos (refrigerantes,
sabão, entre outros). Os Serviços são produtos intangíveis como as atividades, benefícios
ou facilidades que são oferecidos para venda (hospedagem, assistência médica, entre
outros). Treptow (2003) afirma que o produto deve atender a três aspectos: o aspecto
produtivo, ou seja, a produção industrial deve ser tecnicamente possível; o aspecto
mercadológico para que haja aceitabilidade pelo público alvo e o aspecto financeiro para
que ele tenha capacidade de promover retorno lucrativo do investimento. Assim, definindo
34
de forma ampla, um produto corresponde a um bem ou serviço produzido para satisfazer
alguma necessidade.
A abordagem teórica que explica o que vem a ser um produto criativo, segundo
Wechsler (1998), enfatiza a originalidade deste para o indivíduo e a sua relevância para o
meio social. Sendo que o mesmo pode ser avaliado sob diversas formas, principalmente,
pelo impacto que causa em áreas específicas do conhecimento, ou pelo preenchimento de
necessidades sociais existentes. Alencar (1996) afirma que o produto criativo não precisa
ser tangível; deve ser novo, ao menos para o indivíduo que o gerou; e, por fim, deve ser
considerado adequado às demandas da situação ou reconhecido como de valor na
sociedade em questão, mesmo que isso não ocorra de imediato. Besemer e Treffinger
(1981) explicam que não um ‘conjunto de critérios’ conclusivo para avaliar produtos
criativos. Wechsler (1998, p. 67) destaca que a procura em “sistematizar e buscar
consistência nos julgamentos e critérios para avaliação de produto” é preocupação
constante entre os pesquisadores da expressão da criatividade no produto.
Mackinnon (1978 apud Wechsler, 1998) estabeleceu cinco critérios para avaliar o
produto criativo: originalidade, adaptação à realidade, elaboração, solução elegante, e
transformação de princípios antigos. Para o autor, os três primeiros critérios são
obrigatórios. A originalidade se refere às respostas estatisticamente infreqüentes entre a
população. Para o produto ser adaptado à realidade é necessário que ele sirva para resolver
um problema ou para alcançar determinado objetivo. Quanto à elaboração, esta consiste em
que o produto seja desenvolvido e comunicado, a fim de que possa ser avaliado quanto à
sua utilidade para a sociedade. Os critérios solução elegante e transformação de princípios
antigos são opcionais; entretanto, quando existem, tornam o produto muito mais criativo. A
solução elegante se refere ao princípio de estética; e o último critério representa a
capacidade de transcender, transformar ou revolucionar os princípios até então aceitos na
área em questão.
Besemer e Treffinger (1981) desenvolveram uma revisão de literatura extensiva
onde foram consideradas mais de 90 fontes, na qual foram identificados mais de 125
critérios para avaliar um produto criativo. Esses critérios foram agrupados em 14
categorias gerais e essas categorias foram então classificadas em três dimensões gerais:
Novidade, Resolução, e Elaboração e Síntese.
A dimensão Novidade, conforme os autores, diz respeito à contribuição que o
produto traz para a área de atuação e pode ser analisada por meio de três categorias:
Original, Germinal e Transformação.
35
Original: é o critério mais citado da criatividade, e diz respeito à
infreqüência estatística do produto dentro do universo de produtos feitos por
pessoas com treinamento e experiência similares.
Germinal: se o produto influencia no desenvolvimento de outros produtos
criativos.
Transformação: se o produto impõe uma nova ordem, introduz mudança ou
modificação significante na maneira como a realidade é percebida pelos
usuários ou observadores.
Os produtos são ou não considerados novos para o criador mesmo que ele não seja
novo para o contexto sociológico no qual o criador o criou. Os julgamentos sempre devem
ser baseados em normas para a população na qual o criador vive e/ou trabalha, a raridade
deve ser estabelecida para cada situação dada (BESEMER; TREFFINGER, 1981). Estrada
(1992, p. 30) salienta que “É novo o que ocorreu a um indivíduo e o que ele descobriu, e
não importa que, em outro lugar do mundo, outra pessoa tenha chegado ao mesmo
resultado.”
A Resolução, segunda dimensão apresentada, representa a precisão ou exatidão
com que um produto atende às necessidades ou resolve um problema, sendo que ela é
verificada pelas seguintes categorias: Lógico, Adequado, Apropriado, Utilidade e Valioso.
Lógico: o produto segue as regras aceitas ou compreendidas por aquela área
a que se destina.
Adequado: o produto fornece a solução desejada, atende à necessidade da
situação problemática.
Apropriado: o produto é relevante socialmente.
Utilidade: o produto traz aplicações práticas.
Valioso: o produto tem valor por atender uma necessidade social,
econômica, pessoal ou científica.
A dimensão Elaboração e Síntese envolve as qualidades estéticas, é a dimensão
estilística e inclui as categorias: Expressividade, Complexidade, Bem-feito, Atratividade,
Orgânica e Elegância.
Expressividade: mede o sucesso com o qual o criador comunica-se com o
observador.
Complexidade: o produto contém muitos elementos no mesmo nível ou em
níveis diferentes.
Bem-feito: diz respeito à atenção aos detalhes.
36
Atratividade: o produto chama atenção do observador ou usuário por possuir
características inesperadas, surpreendentes.
Orgânico: diz respeito à extensão para a qual um produto tem uma unidade
organizacional e é completo sobre isso.
Elegância:o produto está apresentado de forma refinada e compreensível.
Besemer e Treffinger (1981) explicam que é importante o produto criativo
apresentar as três dimensões propostas, mas não é necessário para o produto se destacar em
todas as 14 categorias apresentadas. Os autores ainda enfatizam que um produto pode ser
classificado em um nível elevado na dimensão novidade, baixo em elaboração e síntese e
alto em resolução; ou baixo na dimensão novidade, alto na elaboração e síntese e na
resolução.
Alguém pode argumentar que o produto não é ‘criativo’ se ele não tem
uma nota alta na escala Novidade. Enquanto é verdade que os maiores
trabalhos criativos poderiam ser concebidos como sendo classificados
com os pontos mais altos das três escalas, também é possível para um
trabalho ser menos uniformemente criativo em todas as dimensões. [...].
Estes produtos menos-que-perfeitamente criativos são, felizmente,
encontrados muitas vezes na vida da maioria das pessoas (BESEMER;
TREFFINGER, 1981, p. 174).
Com isso, a partir dos estudos de Besemer e Treffinger foi desenvolvida a Matriz
de Análise de Produto Criativo (Creative Product Analysis Matrix - CPAM), a qual tem
três grupos de características usadas para identificar criatividade no produto: Novidade,
inclui originalidade e grau de influência que o produto tem em termos de impacto sobre a
sociedade; Resolução, considera a qualidade, utilidade e características de valor do
produto; Elaboração e Síntese, é verificada pela expressividade, elegância, atratividade,
complexidade, isto é, como ele é apresentado (ISAKSEN,1990). Essa matriz é
constantemente utilizada nos estudos que analisam produtos criativos e foi aplicada
também nesta pesquisa. Zanella (2002b, p. 49) enfatiza que “Ao se fazer a análise e
valoração do produto criativo é importante destacar que o produto é desenvolvido para
atender as necessidades do usuário e quando bem elaborado quanto a forma, cor, estrutura
e superfície, fornece informações sobre uso, valor e utilidade e contribui para a melhoria da
qualidade de vida do homem”.
Wechsler (1998) afirma que o ambiente afeta diretamente o desenvolvimento da
criatividade, influenciando a personalidade criativa, o processo de criação e o produto.
Bruno-Faria e Alencar (1996) salientam que a criatividade é um fenômeno universal
37
passível de desenvolvimento e que necessita de determinadas condições para se manifestar.
Essas condições, segundo Alencar (1993), devem estar presentes em qualquer que seja o
domínio onde a criatividade se manifesta (na família, na escola ou trabalho). Isso implica
em conhecer os fatores que influenciam a criatividade dentro das organizações de forma a
proporcionar um ambiente que estimule a sua expressão e desenvolvimento. Com isso,
disserta-se abaixo sobre a criatividade no âmbito da organização.
2.2.4 A criatividade no ambiente organizacional
Diversos estudiosos sustentam a tese de que o potencial criativo é algo inerente ao
indivíduo. “Nunca é demais enfatizar que todos os indivíduos têm potencial criador,
podendo desenvolvê-lo em diferentes níveis de intensidade, mas esse desenvolvimento está
ligado às condições encontradas” (CAMPOS; WEBER, 1987, p. 13). Destaca-se, então,
que o ambiente em que o indivíduo está inserido constitui um elemento que influencia de
forma marcante no desenvolvimento do seu potencial criativo, ou seja, o meio
organizacional representa um elemento fortemente influente na obtenção de uma postura
criativa. Alencar (1996) corrobora com essa afirmação enfatizando que tanto
características do ambiente físico como do ambiente psicológico influenciam no
comportamento humano, contribuindo em maior ou menor grau para a satisfação pessoal e
para a promoção de condições que ajudem o indivíduo a fazer uso de sua capacidade
criativa. O desenvolvimento do potencial criativo está sujeito a fatores internos e externos
ao indivíduo que devem ser analisados de forma a não limitarem o desenvolvimento do
mesmo. Predebon (1997) afirma que a criatividade é a capacidade inata e exclusiva dos
seres humanos em raciocinar construtivamente. O autor comenta que a capacidade criativa
de cada um é utilizada e desenvolvida em função do meio, de seus estímulos, das
limitações que apresenta e dos bloqueios que impõe. Constata-se, assim, que todo o
indivíduo possui capacidade criativa; entretanto, o desenvolvimento dessa capacidade, ou
seja, a expressão dessa capacidade dependerá das suas características pessoais e das
condições do ambiente em que esse indivíduo atua.
Nas organizações, Alencar (1996) enfatiza a emergência da criatividade em razão
do ritmo frenético dos avanços tecnológicos. Estes têm feito com que o conhecimento se
torne obsoleto em um curto espaço de tempo, exigindo uma capacidade de aprendizagem
contínua e permanente. A autora destaca ainda que a criatividade tem papel decisivo para o
38
êxito das organizações frente às mudanças, incertezas, instabilidades, concorrência e
promoção da inovação.
A autora afirma que “a criatividade do indivíduo tem sido considerada o fator
fundamental para a geração da inovação, de interesse da organização, constituindo a
primeira o componente ideacional da inovação [sem grifo no original], enquanto esta
englobaria a ‘concretização’ e a ‘aplicação’ das novas idéias” (ALENCAR, 1995, p. 7).
“Dizem que as empresas bem-sucedidas (ou 'excelentes') são 'dominadas' por valores-
chave, tais como atendimento, qualidade e inovação [sem grifo no original], os quais, por
sua vez, provêem vantagem competitiva” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL,
2000. p.199). Rodrigues e Silva (1998) salientam que por meio do desenvolvimento e da
expressão da criatividade, as empresas podem atingir um melhor desempenho, o que
significa a possibilidade de garantir vantagens competitivas. Com isso, quando a empresa
possibilita o desenvolvimento da criatividade, inovando seus produtos e serviços, ela
maximiza seus resultados, mantendo-se competitiva no mercado.
Bono (1994) afirma que a criatividade, atualmente, é reconhecida como essencial
para todas as esferas na atividade de negócios. O autor explica que a mesma é parte
fundamental da tomada de decisões e seleção de um curso de ação, sendo esta a principal
função administrativa. Nesta função, a criatividade se apresenta sob três aspectos: no
estabelecimento de metas e objetivos; na geração de cursos de ação alternativos entre os
quais será selecionada a ação mais apropriada; e na utilização de dados. O autor, ainda,
apresenta diversas maneiras de obter criatividade no ambiente organizacional, tais como
tomar emprestadas novas idéias dos outros; usar uma agência externa para desenvolver
novos conceitos; empregar pessoas criativas e treinar pessoas para serem mais criativas.
Parolin (2001) enfatiza, em seus estudos sobre liderança e gestão da criatividade,
que a criatividade pode ser diferenciada enquanto dimensão humana e criatividade
empresarial. Enquanto dimensão humana, a criatividade representa a expressão da
capacidade inesgotável do homem de transformar-se e transformar o seu meio. No que diz
respeito à criatividade empresarial, a manifestação da criatividade está diretamente
relacionada aos objetivos organizacionais e deve ser direcionada para o alcance destes.
Sendo que esses objetivos estão intimamente relacionados à estratégia de inovação como
condição de sobrevivência da empresa. Amabile (1999) salienta que se tratando de
criatividade empresarial, de alguma forma a idéia criativa deve influenciar a maneira como
os negócios são realizados, seja, por exemplo, pela melhoria de um produto, seja por uma
nova abordagem de determinado processo. Correia e Dorneles (2003) explicam que a
39
criatividade pode ser concebida como criatividade instrumental, a qual corresponde uma
forma de solucionar problemas e tem como fim o lucro e a funcionalidade; e como
criatividade substantiva, a qual representa um componente intrínseco do ser humano e que
é praticada sem qualquer tipo de justificativa. Parolin e Albuquerque (2004) destacam que
o desenvolvimento da capacidade inovativa não pode prescindir da criatividade
instrumental. Ostrower (1987, p.17) afirma que “[...] a criatividade não seria então senão a
própria sensibilidade. [...], como fenômeno social, a sensibilidade se converteria em
criatividade ao ligar-se estreitamente a uma atividade social significativa para o indivíduo.”
A autora ainda explica que criar é poder dar forma a algo novo em qualquer que seja o
campo de atividade e que o homem elabora seu potencial criador por meio do trabalho.
Este “traz em si a necessidade que gera as possíveis soluções criativas” (OSTROWER,
1987, p. 31). Harman e Hormann (1990, p. 31-32) salientam que:
“[...] o desejo de criar é um anseio básico dos seres humanos.
‘Fundamentalmente, trabalhamos para criar e só por decorrência é que
trabalhamos para comer’. Essa criatividade que pode existir nos
relacionamentos, na comunicação, nos serviços, na arte, ou em produtos
úteis está muito perto de constituir o significado central das nossas vidas.
Assim, é possível inferir que a criatividade enquanto dimensão humana ou
substantiva, mesmo de forma limitada, está presente em atividades onde o que se busca é a
criatividade empresarial ou instrumental. O homem ao desenvolver o seu trabalho, que visa
atender a um fim econômico, também busca expressar o seu eu, transformar-se e
transformar o seu meio.
Gundy (1987 apud Wechsler, 1998) apresenta um modelo de variáveis que afetam
a criatividade e a inovação dentro das organizações e que pertencem às seguintes áreas:
estrutura, pessoa, informação e ambiente. A estrutura é caracterizada pelo nível de poder,
quanto maior for o nível de poder centralizado nas mãos de um indivíduo ou grupo, menor
a tendência à capacidade de inovação; pela formalização, muitas regras e procedimentos
representam barreiras ao processo de inovar; e pela especialização, quando o empregado
não pode nunca exercer outra tarefa dificulta-se o desenvolvimento da criatividade; e pelo
tamanho, que pode ter efeitos negativos quanto à freqüência de inovação na organização.
Quanto ao fator humano, destacam-se os valores dos líderes que vão determinar os
objetivos e ações dentro da organização; os traços de personalidade dos empregados que
influenciam os seus estilos de trabalho e os resultados; a motivação intrínseca e extrínseca
que exercem grande influência na produção de inovações e a postura dos deres diante das
40
novas idéias. Em relação à informação, quanto maior for o número de canais abertos para
comunicação maior será a capacidade de inovar. Por fim, o ambiente refere-se ao clima da
organização e requer autonomia dos membros, recompensa adequada aos méritos de cada
um, coragem de se arriscar, tolerância pelas diferenças individuais, apoio à criatividade
pela direção, responsabilidades divididas em relação à produção de idéias novas, e
estabilidade de emprego.
Os fatores que influenciam a criatividade nas empresas e a sua capacidade de
inovação, segundo Wechsler (1998), são os mesmos que influenciam a criatividade em
qualquer área, assim, os componentes básicos da criatividade devem ser estimulados em
todos os ambientes. Um ambiente propício à expressão da criatividade tende a promover a
auto-realização individual, uma sociedade mais saudável, estimula ao máximo a
capacidade humana para produzir inovações e propor alternativas para velhos problemas.
Alencar (1996) enfatiza que as características de um ambiente criativo estão diretamente
relacionadas a alguns dos direitos da criança divulgados pelo Unicef. Esses são direitos
universais do homem e deveriam ser respeitados em todos os ambientes, sendo eles o
direito à confiança, à liberdade, de mostrar o que sente, de ter confiança. A autora afirma
que oferecer um ambiente favorável ao desenvolvimento da criatividade representa um
grande desafio para as organizações, pois estas estão marcadas por relações de
desconfiança, normas rígidas e precário sistema de comunicação.
Traçar o perfil de uma organização criativa não é, entretanto, uma tarefa
difícil [...] o desafio maior reside em proceder às mudanças que se fazem
necessárias em culturas organizacionais [sem grifo no original]
muito sedimentadas, marcadas pela resistência às novas idéias e
refratárias às exigências do mundo moderno. Outros desafios consistem
em conscientizar os indivíduos de sua capacidade pessoal para criar [...] e
promover mudanças em comportamentos que afetam de forma adversa às
relações interpessoais e o clima no ambiente de trabalho”(ALENCAR,
1996, p.92).
No desafio exposto por Alencar (1996), a cultura organizacional é apresentada
como um fator que influencia fortemente a expressão da criatividade nas organizações.
Assim, é dissertado a seguir sobre esta influência, baseando-se em alguns teóricos que
abordam a temática.
41
2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E CRIATIVIDADE
Na literatura, sobretudo na nacional, é possível constatar que uma lacuna no
que diz respeito às investigações que abordam o binômio cultura organizacional e
criatividade. Alencar (1996) afirma que ao examinar a criatividade no contexto
organizacional constata-se que são vários os fatores que afetam o grau de abertura de sua
expressão. Dentre esses fatores tem-se a cultura organizacional, visto que, segundo a
mesma, a predisposição para a criatividade está relacionada com a existência de
determinados valores, comportamentos e atitudes favoráveis à manifestação das idéias
próprias e a dos outros. A autora explica que a criatividade é um fenômeno complexo que
envolve a interação dinâmica entre elementos relativos à pessoa, como características da
personalidade e habilidade de pensamento; e o ambiente, como o clima psicológico, os
valores e as normas da cultura e as oportunidades para a expressão das novas idéias.
Fleury; Shinyashiki e Stevanato (1997, p. 27) explicam que com o passar do tempo a
cultura pode “cristalizar-se impedindo a emergência de comportamentos criativos ou
inovadores [...]. Como resultado, o grupo ou a organização perderia sua flexibilidade e sua
capacidade de adaptar-se”. Predebon (1997) comenta que existem quatro fatores restritivos
ao desenvolvimento da criatividade dentro das organizações: práticas e tecnologias
obsoletas, organização inadequada, foco na produção e não no consumidor e a cultura da
empresa. Martins e Terblanche (2003) afirmam que os elementos básicos da cultura
organizacional, ou seja, valores e crenças, influenciam a criatividade e inovação dentro da
empresa.
Os autores enfatizam que a cultura organizacional influencia no grau em que são
encorajadas, apoiadas e implementadas soluções criativas. Nesta direção, Kao (1997)
salienta que é necessário que a organização possua uma cultura que possibilite o
desenvolvimento da criatividade.
No trabalho de Alencar (1996) encontra-se um link entre a temática da
criatividade e a da cultura. A autora salienta que as origens mais profundas da cultura estão
associadas aos processos de pensamento, que, por sua vez, apresentam íntima relação com
a criatividade. Segundo a autora, os valores, os tabus, os sistemas de incentivo e punições
influenciam no desenvolvimento da criatividade. Esta afirmação vai ao encontro da
posição de Stoner e Freeman (1999, p. 312), segundo os quais, “[...] as características, os
valores e os processos organizacionais podem apoiar ou inibir o desenvolvimento e o uso
de idéias criativas.” É importante apresentar, conforme Bruno-Faria e Alencar (1996), os
42
obstáculos e estímulos ao desenvolvimento da criatividade existentes nas organizações,
dentre os quais a cultura organizacional destaca-se como um fator inibidor.
As autoras citam como obstáculos os fatores a seguir:
Ambiente físico: existência de ruído, calor, pouca iluminação;
Chefia: postura não receptiva a novas idéias;
Tarefas: repetitivas e excessivamente rotineiras;
Comunicação: deficitária pela dificuldade de acesso a informações e
ausência de canais que possibilitem a democratização das informações;
Cultura organizacional: não aberta a novas idéias, contrária a assumir riscos,
resistente a mudanças, rígida, acomodada, não tolerante a erros;
Estrutura organizacional: autoritária, burocrática, inflexível, rígida, punitiva,
centralizadora, comportamentos padronizados, estrutura hierarquizada;
Falta de liberdade e autonomia: o participação dos funcionários nas
tomadas de decisões e não estímulo à geração de novas idéias;
Falta de recursos tecnológicos e materiais: dificuldade na execução de novas
idéias;
Falta de treinamento: refere-se ao desenvolvimento de habilidades
necessárias para o desempenho das funções exercidas na empresa e
expressão do potencial criador;
Influências político-administrativas: constantes mudanças, redirecionamento
dos objetivos e metas da empresa, ingerências políticas;
Relações interpessoais: falta de diálogo e de atividades em grupo,
desconfiança entre as pessoas, conflitos, não abertura a novas idéias;
Salários e benefícios: baixos, falta de recompensa pelos trabalhos criativos
ou sistema de retribuição não estimulante a correr riscos.
Volume de serviços: excesso de carga de trabalho e pressão de tempo
limitado.
Em contrapartida, as autoras apresentam também os estímulos:
Ambiente físico: agradável, com boa iluminação, mobiliários e ventilação
adequada;
Comunicação: ativa, por meio de canais que facilitam e democratizam a
informação;
Desafios: tarefas desafiadoras e não-rotineiras;
Estrutura organizacional: horizontal, flexível, poder descentralizado;
43
Liberdade e autonomia: decide-se como fazer o próprio trabalho e
responsabiliza-se por ele;
Participação: nos processos de decisão e na solução de problemas,
valorização da iniciativa;
Recursos tecnológicos e materiais: facilitam o processo de produção de
novas idéias;
Salários e benefícios: adequados, existência de um sistema de benefícios e
recompensas como forma de estimular novas idéias;
Suporte da chefia: postura receptiva, flexível, respeito a opiniões
divergentes, estímulo a novas idéias;
Suporte do grupo de trabalho: na apresentação de novas idéias, confiança
entre os membros, reuniões para troca de experiências, comunicação ativa,
descontração;
Suporte organizacional: reconhecimento do trabalho criativo, mecanismos
para o desenvolvimento de novas idéias, planejamento e definição de metas
de trabalho, cultura voltada para a inovação;
Treinamento: desenvolvimento do potencial criador, capacitação dos
funcionários para o trabalho e preparação dos mesmos a fim de estarem
abertos a inovações.
Portanto, quando a cultura organizacional não é aberta a novas idéias
(autoritarismo), é contrária a assumir riscos, rígida, acomodada, não tolera erros e resiste a
mudanças, ela representa um obstáculo ao desenvolvimento da criatividade dentro das
organizações (BRUNO-FARIA; ALENCAR, 1996). O medo de errar, o conformismo, o
comportamento passivo de espectador correspondem a hábitos, valores e bloqueios que
limitam a criatividade nas organizações e que precisam ser rompidos por meio de um clima
de desafio, de abertura e de confiança (SROUR, 1994). Alencar (1996, p. 92) afirma que:
Uma organização criativa é uma organização que valoriza o potencial
para a competência, responsabilidade e ação, indo de encontro com a
prática presente em nossa sociedade de promover um constante
desperdício de potencial criativo. Ela se caracteriza por uma cultura [sem
grifo no original] que reconhece o potencial ilimitado de seus recursos
humanos, que cultiva a harmonia do grupo, que estabelece expectativas
apropriadas, que tolera as diferenças e que reconhece as habilidades e
esforços de cada indivíduo.
44
As subdimensões da cultura organizacional desenvolvidas por Volberda (1998)
nortearam a fundamentação teórica que relaciona cultura organizacional e criatividade. O
autor trabalha a flexibilidade organizacional e acredita-se que as suas considerações sobre
o assunto têm estreita relação com a criatividade. De acordo com Volberda (1998), as
subdimensões da cultura organizacional, abordadas em seus estudos, determinam “o
potencial da cultura para flexibilidade ou inovação” (VOLBERDA, 1998, p. 174).
O autor explica que o desenho organizacional é formado por três dimensões:
tecnologia organizacional, estrutura organizacional e cultura organizacional; sendo que a
composição entre essas dimensões pode determinar o desenvolvimento de três tipos ou
níveis de flexibilidade respectivamentes: operacional, estrutural ou estratégica. Para o
autor, a obtenção dos dois primeiros tipos de flexibilidade (operacional e estrutural) ocorre
por meio da variação na capacidade produtiva, contratação de trabalho temporário, criação
de times multifuncionais, ou desenvolvimento de parcerias externas. Sendo que esses
níveis de flexibilidade significam menor impacto nas dimensões (tecnologia, estrutura e
cultura) que compõem o ambiente organizacional. Contudo, a flexibilidade estratégica a
qual pode envolver, por exemplo, remover a estratégia vigente e deter a entrada de
concorrentes no mercado, diz respeito a características das subdimensões da cultura
organizacional e causa um impacto maior na organização. É importante enfatizar que
Correia (2004), também, desenvolveu um estudo sobre a temática criatividade utilizando as
considerações de Volberda sobre flexibilidade organizacional. Nesse estudo, o autor
construiu uma relação entre estrutura organizacional e criatividade.
Para Alencar (1996), dependendo das características da cultura, um maior ou
menor número de barreiras que bloqueiam a criatividade podem ser observadas, dentre elas
tem-se a rigidez da organização. A autora afirma que o cultivo de uma cultura
organizacional que se caracterize pela flexibilidade possibilita o alcance de um ambiente
ideal para a criatividade (ALENCAR, 1998). Carr (1997) explica que para se ter uma
empresa sempre criativa em um mundo em constante mudança não se pode ter uma cultura
forte baseada em um estreito conjunto de enquadramentos fixos. Para ele é preciso formar
uma cultura com enquadramentos flexíveis, autorizando a imaginação e estimulando a
flexibilidade do pessoal. Segundo Evans e Russel (1989), a flexibilidade é um ingrediente
essencial à criatividade. Kao (1997, p. 97) destaca que “Os gerentes estão sendo cada vez
mais solicitados a exercitar sua autoconfiança, flexibilidade e imaginação, em outras
palavras, sua criatividade”. Estas considerações corroboram com a afirmação abaixo, a
qual expõe o que é preciso para desenvolver uma postura criativa:
45
Precisamos ser capazes de abandonar velhas percepções, velhas atitudes,
velhas maneiras de enxergar [...]. Devemos estar prontos para questionar
todas as nossas idéias acerca de quem somos, para onde vamos, quais são
as nossas reais necessidades e o que é mais importante [...]. Precisamos
nos elevar acima do pensamento rígido e das idéias fixas que tendem a
nos aprisionar
(EVANS; RUSSEL, 1989, p. 28).
Conforme Volberda (1998), a cultura pode variar de conservadora a inovadora.
Em uma cultura conservadora, os valores ou sistema de idéias e as crenças existentes
restringem severamente o potencial para flexibilidade, enquanto que na cultura inovadora
esses elementos realçam esse potencial. O autor explica que as quatro subdimensões da
cultura organizacional (formação da identidade, liderança, regras não-escritas e
orientação externa), desenvolvidas em seu estudo, comportam variáveis e indicadores que
tendem a bloquear ou facilitar o desenvolvimento do potencial de flexibilidade cultural da
organização. Contudo, a simples medição do potencial de flexibilidade da dimensão
cultura não é suficiente para que se possa concluir que a organização pesquisada é ou não
flexível, existem também as dimensões estrutura e tecnologia apresentadas pelo autor,
sendo necessário ainda a análise das capacidades gerenciais e das forças de competição do
ambiente, as quais determinam o nível de turbulência, a dinâmica e complexidade das
mudanças ambientais. O que se busca avaliar, no caso específico da cultura organizacional,
são as características que podem influenciar no potencial de flexibilidade e que dizem
respeito às crenças e aos valores reconhecidos e valorizados pelos membros da
organização.
2.3.1 Formação da identidade
A identidade organizacional compreende o entendimento compartilhado sobre o
que a organização é e como ela deve operar. Ela é manifestada nos valores e nas práticas
culturais, sendo que os valores representam o nível mais profundo da formação da
identidade e as práticas culturais seriam expressões mais superficiais. Essas expressões
mais superficiais consistem em mbolos, heróis, e rituais (VOLBERDA, 1998). Barbosa
(1996) afirma que a identidade de uma organização é o conjunto de elementos que, numa
determinada circunstância e momento histórico, um determinado grupo escolhe para se
autodefinir ou representar.
46
Nesse contexto, o nível mais profundo é moldado pela história da organização e
sua missão:
História – estórias, lendas, anedotas e eventos que realçam e codificam
valores.
Missão organizacional - fundamenta-se em algumas idéias que prevalecem
na organização, as quais os membros compreendem e se identificam com as
mesmas; além do que identificam a relação que a organização possui com
seu ambiente.
No nível mais superficial das “expressões” que constituem a identidade
organizacional, Volberda (1998) menciona:
Símbolos palavras, gestos, quadros ou objetos, que possuem significado
particular dentro de uma cultura;
Heróis ou campeões pessoas, vivas ou mortas, reais ou imaginárias que
possuem características altamente reconhecidas na cultura e que servem
como modelo de comportamento;
Rituais atitudes coletivas que são socialmente essenciais dentro de uma
cultura, mas tecnicamente supérfluas. Ex.: celebrações, funerais.
O autor explica que a identidade organizacional é constituída por três variáveis
que são: a comunalidade da identidade, a extensão e o grau de homogeneidade. Essas
variáveis podem ser analisadas por meio dos indicadores como história, missão, símbolos,
heróis, rituais e valores (bom/mau, normal/anormal, racional/irracional, bonito/feio).
A comunalidade da identidade representa a extensão em que a identidade é
compartilhada e única em uma organização, ou seja, o quanto a identidade é comum entre
os indivíduos. Em uma organização com identidade forte, pode-se encontrar um conjunto
coerente de crenças, valores altamente compartilhados, uma linguagem comum, e um
sentimento de concordância sobre coisas que são apropriadas ao comportamento. Nesse
contexto, a cultura é um mecanismo de integração que quase não deixa espaço para
interpretações desviadas. Entretanto, em organizações com uma identidade fraca não
consenso no que diz respeito a valores essenciais, uma vez que a identidade organizacional
é composta por uma coleção de valores e práticas culturais, algumas das quais podem ser
contraditórias. Isso faz com que alguns valores possam ser inconsistentes com as práticas
culturais, ou ainda pode não haver uma linguagem comum, tendo em vista que as mesmas
palavras carregam significados contrastantes em diferentes contextos.
47
Acredita-se que organizações com uma identidade forte costumam ser
consideradas com uma melhor performance do que as organizações com identidade fraca.
Contudo, segundo Volberda (1998), as organizações com forte cultura geralmente sofrem
de xenofobia, desencorajam o pensamento independente e propostas alternativas originais,
ocasionando perdas no seu potencial de flexibilidade. O autor explica que as organizações
com culturas conservadoras tendem a engajar-se em práticas discriminatórias e muitas
vezes demonstram falta de potencial para flexibilidade. Freitas (1996, p. 535) destaca que:
Uma cultura organizacional forte pode ser uma excelente faca de dois
gumes, [...]. Quanto mais sedimentada, mais freio ela é para incorporar
processos de mudança. Quanto mais ela marca o orgulho de ser ‘este
time’, menor é a possibilidade de se aprender com o exterior; quanto mais
fama ela acrescenta, maior a probabilidade de proporcionar um
narcisismo de tribo, excluindo o outro.
Todavia, a autora salienta também que é possível constatar altos níveis de coesão,
credibilidade na administração, orgulho, satisfação, identificação e desejo de trabalho
árduo em empresas nas quais os valores são fortemente compartilhados (FREITAS, 1991).
Esses fatores podem possibilitar o alcance do comprometimento individual, o qual,
conforme Bruno-Faria e Alencar (1996), favorece o desenvolvimento da criatividade.
A extensão da identidade representa a diversidade de valores e crenças presentes
na identidade organizacional, claramente manifesta na missão organizacional e nos
objetivos. Ela pode ser considerada estreita ou ampla. Nas organizações com uma
identidade mais estreita, a variedade de valores e crenças torna-se mais limitada, podendo
obstruir iniciativas estratégicas valiosas; enquanto que em uma organização com
identidade mais ampla, encontra-se uma variedade de valores e crenças que facilita o alto
potencial de flexibilidade. Por exemplo, uma empresa de transporte aéreo com uma missão
que foca o transporte de alta qualidade, distribuição e serviços de informação cria mais
potencial para flexibilidade que uma missão focada apenas no transporte aéreo
(VOLBERDA, 1998). Martins e Terblanche (2003) destacam que a origem da criatividade
e inovação está no compartilhamento de uma visão e missão que são focalizadas no futuro.
Para os autores, a visão e missão de uma organização criativa e inovadora também são
orientadas para o cliente e para o mercado, visando atender as necessidades dos clientes.
Os autores, ainda, salientam que valores como rigidez, controle, previsibilidade, e
estabilidade impossibilitam a expressão da criatividade dentro da organização.
48
A homogeneidade, última variável dessa subdimensão, representa a existência de
subculturas, convivendo dentro de um “guarda-chuva” mais amplo de uma cultura geral.
Essa variável indica a uniformidade dos diversos esquemas de interpretações dos
funcionários que é identificada a partir dos indicadores: história, missão, símbolos, heróis,
rituais e valores. Volberda (1998) afirma que organizações com uma identidade
homogênea limitam as fontes de mudança e criatividade aos altos tomadores de decisão. A
homogeneidade é essencial para a preservação da ordem, mas não para a habilidade da
organização para mudança. Assim, conforme o autor, a diversidade em subculturas
estimula o potencial para flexibilidade.
Muitos argumentariam que uma identidade forte é sempre homogênea, e uma
identidade fraca é sempre heterogênea. Desse modo, a comunalidade e homogeneidade
poderiam ser reduzidas a uma variável. Entretanto, uma organização com uma identidade
heterogênea pode ser composta por um conjunto diversificado de subculturas que
compartilham ou não valores essenciais da cultura dominante. Como exemplo, tem-se uma
organização com muitas subculturas relacionadas às suas diferentes operações (fábrica,
vendas, serviço do consumidor, unidades de negócio), mas com um valor essencial, “tudo é
possível aqui”, que é compartilhado por todos e reflete o orgulho da força coletiva, criando
a integração que sobrepõe a cultura segmentada (VOLBERDA, 1998). Cavedon e Fachin
(2000) enfatizam que a cultura organizacional é representada pela homogeneidade e a
heterogeneidade organizacional. Freitas (1991) explica que as divergências existentes
devido às diferenças hierárquicas e ocupacionais indicam que não há uma única cultura nas
organizações, mas uma variedade de subculturas. Martin e Frost (1996 apud CAVEDON;
FACHIN, 2000) apresentam as diferentes possibilidades de compreensão da cultura
organizacional, enfatizando que a mesma aparece ora como integrada, ora como
diferenciada ou, ainda, fragmentada. A integração sugere que a organização como um todo
possua a mesma cultura. A diferenciação, por sua vez, enfoca as diferenças existentes entre
os diversos grupos que compõe a organização. A fragmentação consiste na idéia de que, na
verdade, o que existe são valores compartilhados temporariamente pelos rios indivíduos
que atuam na organização. Os autores propõem aos estudiosos da cultura organizacional
que adotem ltiplas perspectivas, ou seja, que utilizem diferentes enfoques. Apesar de
que para estes autores, os estudos clássicos realizados na área de Administração, sobre
rituais, histórias e normas, possuem somente uma perspectiva integradora. Contudo, a
integração de múltiplas perspectivas, segundo os mesmos, possibilita conciliar o que a
princípio se mostra enquadrado em compartimentos estanques e contraditórios.
49
Freitas (1991) destaca que as múltiplas culturas são mais compatíveis a um
ambiente complexo e com mudanças freqüentes, como o atual, onde as empresas se tornam
cada vez mais complexas, diversificadas e diferenciadas para sobreviver. Para a autora, as
múltiplas culturas ajudam na eficácia organizacional.
Volberda (1998) explica que uma organização que possui diversas subculturas
singulares desconectadas de uma cultura essencial possui uma cultura heterogênea e fraca.
Estas organizações possuem um potencial ‘ilimitado’ para flexibilidade, mas podem
facilmente ser transformadas em um estado caótico porque não preservam uma cultura
essencial. Esse caso pode ser vislumbrado quando não existe um consenso no que diz
respeito à missão e valores essenciais (flexibilidade potencial descontrolada). Muitos
teóricos, segundo o autor, argumentam que as organizações precisam ao mesmo tempo de
crenças e sistemas de valores com os quais seus membros podem fortemente identificar-se
(identidade forte) e de uma ‘tensão criativa’, na qual diferentes tipos de crenças, atitudes e
abordagens podem manter a sensibilidade a um ambiente de mudanças e a motivação para
mudar. Organizações com uma quantidade alta de crenças essenciais, conjuntamente a uma
heterogeneidade em outros níveis, são tidas como organizações com excelência, nas quais
os seus membros desenvolvem potencial de flexibilidade sem destruir sua identidade
(flexibilidade potencial controlada). Carr (1997) destaca que a criatividade desfocada pode
prejudicar a empresa em vez de ajudá-la, sendo que a criatividade vitoriosa é a criatividade
dirigida. Freitas (1996, p. 535) afirma que “uma boa parte das organizações modernas está
buscando fazer da ‘flexibilidade’ o seu valor principal, mas ser flexível em excesso é tão
prejudicial quanto ser rígido”. Para Volberda (1998), uma organização flexível precisa ter
características que evitem sua rigidez, e, ao mesmo tempo, também precisa de alguma
ordem para evitar o caos. “Ao invés de aceitar a dicotomia entre preservação e mudança,
este paradoxo implica que a flexibilidade organizacional incorpora ambos, mudança e
preservação” (VOLBERDA, 1998, p. 103).
2.3.2 Liderança
A segunda subdimensão da cultura que influencia o seu potencial de flexibilidade
diz respeito à liderança, a qual conforme Stoner e Freeman (1999) representa o processo
de dirigir outras pessoas e influenciar seus comportamentos. Volberda (1998, p.170) afirma
que “o desafio que os líderes enfrentam é o de criar a cultura organizacional que conduza à
50
flexibilidade: uma cultura que encoraje a ‘criatividade’ e a inovação, e a experimentação
de valores”. Alencar (1998) explica que os dirigentes devem estar atentos às condições que
prevalecem no seu ambiente de trabalho, a fim de desfazer possíveis barreiras à
criatividade, maximizando as oportunidades para a sua expressão. Segundo a autora, cabe a
eles “imprimir as condições que facilitariam a emergência das idéias criativas, promovendo
um ambiente de abertura e apoio às idéias inovadoras” (ALENCAR, 1998, p. 23). Kao
(1997) enfatiza que se a surpresa, a diversão e o prazer não existirem nos líderes,
provavelmente não existirão na organização. Wechsler (1998) corrobora ao dizer que os
valores mantidos pelos líderes da organização vão determinar os seus objetivos, ações e a
sua capacidade de inovação. Na mesma direção, Duailibi e Simonsen (1990, p.75),
salientam que “A empresa é a extensão da criatividade de um líder”. Alencar (1998, p.23)
explica que “A cultura organizacional inclui os valores predominantes no ambiente de
trabalho, valores estes que se espelham, sobretudo, nas ações de seus dirigentes e altos
executivos”. Com isso, é possível inferir que a liderança exerce papel fundamental no
desenvolvimento da criatividade dentro da organização. Essa subdimensão é constituída
por três variáveis que são: estilo de liderança, abordagem de planejamento e atitude
gerencial.
O estilo de liderança consiste na combinação do comportamento de direção e
colaboração, na qual o comportamento de direção é orientado para a tarefa, comunicação
unilateral e controle; enquanto que o comportamento de colaboração é orientado para os
empregados, comunicação bilateral e o envolvimento dos colaboradores na tomada de
decisão. Stoner e Freeman (1999) explicam que o estilo orientado para a tarefa corresponde
àquele no qual os líderes supervisionam de perto os seus empregados, tentando garantir
que a tarefa seja executada com êxito. O segundo estilo diz respeito aos líderes que dão
autonomia aos seus empregados, tentando motivá-los, em vez de controlá-los.
Nesse contexto, conforme Volberda (1998), distinguem-se quatro estilos de
liderança: instrutivo, consultivo, participativo e delegativo. É possível constatar, passando
de um estilo para outro, que ocorre um aumento na autonomia dos funcionários. No estilo
instrutivo têm-se uma liderança com muita direção e pouca colaboração, ou seja, as
atividades são especificadas passo a passo e o controle do desempenho das mesmas é
intenso. A liderança do tipo consultivo apresenta muita direção e alguma colaboração, nela
o líder acompanha de perto o desempenho das tarefas, mas pedi alguma contribuição aos
colaboradores na tomada de decisão. No estilo de liderança participativo pouca direção
e uma maior colaboração, ou seja, o líder oferece apenas um “suporte” na execução das
51
tarefas e a tomada de decisão tem uma participação maior dos empregados. Finalmente, o
estilo delegativo apresenta pouca direção e muita colaboração, onde, as decisões sobre as
tarefas bem como a responsabilidade por elas são exclusivamente dos colaboradores. Nesse
último estilo é possível constatar que cada funcionário age por si, ou seja, característica
que remete ao estilo de liderança laissez-faire, um tipo de liderança onde uma
participação mínima do líder e total liberdade ao grupo (LEWIN; WHITE; LIPPITT, 1939
apud FIEDLER; CHEMERS, 1981).
Volberda (1998) explica que o estilo mais apropriado de liderança depende
amplamente do tipo de tarefa a ser desempenhada (rotina ou improviso) e da capacidade e
motivação dos empregados. Assim, conforme o autor, o líder deve estar apto a
desempenhar vários estilos.
O estilo de liderança instrutivo limita o potencial de flexibilidade organizacional,
resultando em uma cultura organizacional monótona na qual a obediência à tarefa é
reforçada e a iniciativa e divergências são proibidas. Por sua vez, um estilo de liderança
delegativo facilita o desenvolvimento do potencial de flexibilidade organizacional, pois
conduz a uma cultura na qual a criatividade, inovação e a experimentação são altamente
valorizadas. Esse estilo de liderança requer colaboradores altamente capazes e motivados,
caso contrário a organização pode se transformar em um lugar caótico (VOLBERDA,
1998).
Duailibi e Simonsen (1990), e Alencar (1996) destacam que atitudes e meio
excessivamente autoritários, no qual os líderes não ouvem os funcionários, valorizam as
próprias idéias, rejeitam qualquer proposta de seus subordinados, relutam em delegar
responsabilidades e restringem a tomada de decisões representam um impeditivo à
criatividade na empresa. Kao (1997) corrobora ao enfatizar que uma cultura criativa não
pode florescer em um ambiente autocrático. A liberdade para decidir como fazer o próprio
trabalho, o senso de responsabilidade sobre o próprio trabalho, maior poder de decisão em
sua área de atuação, participação nos processos de tomada de decisão e na solução de
problemas da organização são estímulos à criatividade (ALENCAR, 1996). A autora
destaca que receptividade, flexibilidade, abertura, aceitação e estímulo a novas idéias são
características essenciais aos líderes a fim de que ocorra o desenvolvimento de uma
organização criativa. Alencar (1993) afirma que a centralização ou concentração de poder
e autoridade é uma barreira à inovação dentro da organização, pois restringe os canais de
comunicação e reduz a informação disponível. Para que uma organização seja criativa, as
pessoas precisam ser ouvidas, receber crédito e recompensa; “sempre que possível, suas
52
idéias devem ser levadas a sério e implementadas” (CSIKZENTMIHALY, 2001, p. 139). É
importante destacar a afirmação feita por Kanter (1983 apud STONER; FREEMAN, 1999,
p. 312), na qual “a geração de idéias tem mais probabilidade de promover inovações
quando essas idéias partem das pessoas que estão na base da organização.” Carr (1997)
afirma que “As empresas criativas compartilham valores, metas e objetivos para apoiar e
realçar a autogestão”. Segundo o autor, apenas o líder pode assegurar que esses valores
entrem em vigor e a seguir permeiem a empresa.
Conforme Volberda (1998), a abordagem de planejamento, segunda variável
desta subdimensão, descreve o modo pelo qual os líderes acreditam que o desenvolvimento
organizacional possa ser planejado. Três abordagens de planejamento são possíveis:
blueprint ou synoptic (modelo esquemático), muddling through (desordenado) e mixed
scanning (rastreamento misto). Essa variável é analisada por meio de alguns indicadores
que são: tomada de decisão de cima para baixo, metas estabelecidas, quantificação de
metas e alcance das metas.
O planejamento blueprint preocupa-se com o estabelecimento de objetivos
estáveis. Nessa abordagem a incerteza no ambiente pode ser reduzida a um nível aceitável.
Assim, as escolhas são predeterminadas pelo planejamento e todas as outras opções o
descartadas. Esse tipo de planejamento apresenta imperfeições que contribuem para a
supercomplexidade e inflexibilidade, como uma obsessão pelos custos e elementos
quantitativos, não com elementos qualitativos e valores; e uma aversão a erros e à
possibilidade de experimentação.
Esse modelo ‘curto e grosso’ de gestão, o qual despreza os ‘atalhos’, desperdiça
possibilidades de usar outras formas de solução de problemas e novas situações para a
descoberta de novas oportunidades (PREDEBON, 1997). O autor afirma que a estrita
obediência a números é uma inimiga da criatividade, ou seja, uma permanente cobrança de
‘dados fundamentados’ e a dependência excessiva de informações exatas cria uma inibição
para o desenvolvimento de comportamentos criativos dentro da organização. O autor ainda
destaca a cobrança de acertos e a punição dos erros como fatores que bloqueiam o
comportamento criativo. Terra (2000) afirma que para estimular a criatividade dentro da
empresa é necessário saber conviver com o erro. Na mesma direção, conforme Duailibi e
Simonsen (1990), a busca excessiva de certeza, cultivando-se o medo de correr riscos e a
pouca confiança para lidar com a mudança, impede o desenvolvimento da criatividade
dentro da empresa. Para os autores, “O executivo tem de se convencer de que é melhor
53
fazer qualquer coisa, mesmo com riscos, do que não fazer nada” (DUAILIBI;
SIMONSEN, 1990, p. 81).
A abordagem muddling through enfatiza a natureza iterativa do planejamento, a
necessidade de fazer e refazer o planejamento com inúmeras opções que devem ser
mantidas em aberto. Apesar do elevado potencial de flexibilidade, essa estratégia pode
levar a sérias dificuldades e desastres.
Uma abordagem considerada meio termo entre o blueprint e o muddling through
seria o mixed-scanning, na qual os líderes desenvolvem uma ampla visão de longo prazo
(decisão fundamental) e procedem passo a passo em uma visão de curto prazo (decisão
incrementada). Seria portanto um muddling through com uma visão global. Oliveira (1993)
afirma que o planejamento estratégico relaciona-se com objetivos de médio e longo prazo.
Volberda (1998) explica que a escolha do planejamento apropriado depende do
tipo de flexibilidade exigida dentro da organização. Assim, quanto mais a organização
estiver envolvida em um ambiente de incerteza, mais necessitará de espaço para
flexibilidade como complemento ao planejamento. Entretanto, quando somente a
flexibilidade operacional é exigida, o nível de incerteza é razoavelmente baixo porque os
sinais e o feedback do ambiente são muito mais claros e diretos, fazendo com que uma
abordagem blueprint seja suficiente. Todavia, quando o nível de incerteza é alto e os sinais
do ambiente são muito ambivalentes se requer uma abordagem mais flexível, muddling
through ou mixed-scanning. Fischmann e Almeida (1991) salientam que atividades
relacionadas à moda são mais flexíveis.
Por fim, Volberda (1998) apresenta a atitude gerencial como a última variável
dessa subdimensão. Essa variável revela se os líderes consideram a administração como
uma atividade rotineira, heurística ou improvisada. Sua análise baseia-se em indicadores
como a especificação de procedimentos e rotinas, procedimentos de urgência e atividades
improvisadas.
O autor explica que quando a liderança adota a rotinização do trabalho o foco está
contido na especificação de procedimentos e atividades, resultando em uma limitação do
potencial de flexibilidade. As rotinas podem até mesmo ser deficientes e ainda
representarem uma barreira para a criatividade. Na atitude gerencial heurística o
reconhecimento de que não é possível especificar tudo com antecedência, mas algumas
prioridades podem ser estabelecidas para redução de incertezas, existindo algum espaço
para improvisação. Para lidar com a flexibilidade estratégica, mesmo uma atitude
heurística não é suficiente, pois os problemas relacionados a esse tipo de flexibilidade são
54
por definição não estruturados ou rotineiros. Geralmente, o futuro não é uma extensão do
passado, podendo mostrar quebras de tendências e descontinuidades. Nesse caso, tais
problemas exigem uma atitude gerencial dirigida a novos valores e normas ou improviso
que tendem a aumentar o potencial de flexibilidade.
De acordo com Bruno-Faria e Alencar (1996), tarefas repetitivas, sem desafios,
com excesso de rotinas representam um obstáculo à criatividade. Neste mesmo sentido,
Kao (1997, p. 29) afirma que a “improvisação é um modelo expressivo para as empresas
prontas para abraçar a importantíssima prática da criatividade”. O autor explica que a
maior parte das interações humanas exige plantas, rituais, mapas, roteiros ou seja qual for o
instrumento específico, mas também exige improvisação. Para ele, o gerente que improvisa
sabe como estimular, provocar e inspirar novos níveis de imaginação e conquistas, criando
o desafio que acende a chama da inovação. “Tarefas ou missões desafiantes estimulam a
expressão do potencial criador” (BRUNO-FARIA; ALENCAR, 1996, p.52). Carr (1997)
enfatiza que gente criativa e trabalho de rotina e repetitivo são inimigos mortais. Contudo,
o autor explica que apesar do trabalho de rotina e repetitivo precisar ser feito, ele pode ser
reduzido e delegado aos computadores ou empresas de fora, pois um trabalho sempre
rotineiro sufoca os funcionários que querem ser criativos. Segundo o autor, o ideal é
equilibrar trabalho rotineiro e criativo, pois um pouco de atividade rotineira ajuda a
contrabalançar a tensão e o estresse do trabalho verdadeiramente criativo.
Com isso, conclui Volberda (1998), uma liderança com um estilo instrutivo, uma
abordagem de planejamento blueprint e uma atitude gerencial rotineira restringe o
potencial para flexibilidade e resulta em uma cultura conservadora. Por outro lado, um
estilo de liderança delegativo com uma abordagem de planejamento muddling through
e uma atitude gerencial favorável à improvisação realça o potencial para flexibilidade e
resulta em uma cultura inovadora.
2.3.3 Regras não-escritas
A terceira subdimensão da cultura organizacional que, segundo Volberda (1998),
determina o potencial da cultura para flexibilidade refere-se às regras não-escritas,
também chamadas de regras culturais. Essas regras são amplas e tacitamente
compreendidas, sendo que têm como função orientar os empregados quanto ao que podem
ou não fazer em situações não previstas em regras escritas. O conteúdo e volume das regras
55
não-escritas são moldados pela disciplina dominante, processos de socialização, atitude
entre o formal e o real por parte dos membros da organização e a tolerância à
ambigüidade (VOLBERDA, 1998).
O autor explica que a disciplina dominante descreve a extensão em que as regras
não-escritas, dentro da organização, são dominadas pelos valores e práticas de uma certa
área ou profissão. Ela pode ser classificada como forte (inibe o potencial de flexibilidade)
ou fraca (favorece o potencial de flexibilidade) e é analisada em termos de quantidade de
empregados que apresentam a mesma formação, mesma experiência e mesmo nível de
idade. Para o autor, as culturas ocupacionais têm um efeito enorme nos valores da
organização. Entrar em um campo ocupacional significa a aquisição de valores e práticas,
como acontece na escola ou na universidade, entre a infância e a idade de iniciação ao
trabalho. Esses valores ocupacionais são reforçados por encontros, cursos e eventos sociais
de associações ocupacionais. Carr (1997) afirma que a diversidade empresarial parte da
diversidade ocupacional e funcional. Alencar (1996) explica que a criatividade na empresa
é estimulada quando há uma composição de grupos que se caracterizam pela diversidade
de formação e experiência. A autora ainda enfatiza que onde predomina a homogeneidade
entre os membros, a criatividade será certamente reprimida. Martins e Terblanche (2003)
corroboram ao salientarem que a diversidade dentro da organização é de extrema
importância para o desenvolvimento da criatividade.
A socialização descreve a extensão em que as regras não-escritas são
minuciosamente explicadas e mantidas dentro da empresa. Essas regras podem ser
incorporadas pela doutrinação dos recém chegados (ritos de iniciação), planos de carreira,
programas de recompensa, treinamentos, critérios de recrutamento, entre outros. Em uma
organização com alto grau de socialização o potencial para comportamentos divergentes e
para novas idéias é mínimo, ou seja, inibe-se o potencial para flexibilidade. Por outro lado,
um baixo grau de socialização possibilita um espaço maior para mudanças, realçando o
potencial para flexibilidade (VOLBERDA, 1998).
A variável atitude formal-real reflete a extensão da diferença de valores dos
membros da organização entre a organização formal e real. Ela ajuda a compreender a
atitude dos membros da organização em relação às regras formais e regras não-escritas,
podendo apresentar-se como equívoca ou inequívoca. Quatro posições podem ser
distinguidas dentro dessa variável: a organização real faz parte da organização formal, a
organização formal é uma parte da organização real, a organização formal e a real se
sobrepõem, a organização formal e real não se sobrepõem.
56
Na primeira posição, os membros aderem fervorosamente às regras formais e o
medo de violar essas regras resulta em mais formalidade do que é exigido. Não regras
não-escritas fora da área definida pelas regras formais. Aqui, a cultura é chamada de
cultura de realce e considerada devastadora para o potencial de flexibilidade. Quando a
organização formal é uma parte da organização real os membros aderem às regras formais,
mas desenvolvem, também, um conjunto não conflitante de regras não-escritas. Nessa
cultura, chamada ortogonal, as regras formais não podem especificar todas as
contingências, então as regras não-escritas são desenvolvidas para ações apropriadas sob
contingências não especificadas. Na cultura de sobreposição, algumas regras formais são
confirmadas pelas regras não-escritas, enquanto outras regras formais estão somente no
papel. também regras não-escritas que derivam de regras formais. Essa situação,
conforme Volberda (1998), garante algum potencial para flexibilidade. Quando a
organização formal e a real não se sobrepõem todas as regras formais conflitam com as
regras não-escritas da cultura organizacional. Essa contracultura garante um grande
potencial para flexibilidade, mas muitas vezes leva a uma organização caótica. Entretanto,
quanto mais os membros tentam reduzir o espaço entre o formal e o real, ou seja quanto
mais inequívoca for essa atitude, enfatizando as regras formais, mais limitado é o potencial
para flexibilidade. Alencar (1996) destaca que regras, políticas e relações extremamente
formais são um obstáculo ao desenvolvimento de um comportamento criativo dentro da
organização. Conforme Gundy (1987 apud ALENCAR, 1993), a formalização inibe a
inovação, visto que o comportamento padronizado tende a dificultar a geração de novas
propostas e a busca de novas fontes de informação.
Finalmente, a tolerância à ambigüidade, última variável dessa subdimensão,
descreve a extensão em que as regras não-escritas possibilitam a liberdade de ação.
Quando há uma baixa tolerância à ambigüidade, as regras não-escritas são bem definidas,
estáveis e imutáveis. Essa estabilidade pode ser adequada à flexibilidade operacional, que é
amplamente previsível, mas não à flexibilidade estratégica que exige alta tolerância à
ambigüidade e regras não-escritas que permitam um alto grau de liberdade. Dentre os
indicadores que determinam a flexibilidade potencial dessa variável têm-se o nível de
novas idéias e opiniões diferentes, comportamentos divergentes e a previsibilidade ou não
da forma como os membros se relacionam dentro da organização.
Conforme Alencar (1996) e Duailibi e Simonsen (1990), a hostilidade para com a
pessoa divergente, que difere dos demais membros do grupo, seja na sua maneira de
pensar, seja nas suas ações ou por não se enquadrar no modelo uniforme dos demais, bem
57
como a baixa receptividade a novas idéias representam um fator inibidor à criatividade na
organização. Da mesma forma, Martins e Terblanche (2003), e Srour (1994), também
enfatizam que sem o cultivo das diferenças é difícil obter comportamentos criativos dentro
das organizações. Carr (1997, p. 65-67) afirma que:
A empresa deve aceitar e lidar abertamente com as diferenças e o conflito
potencial se quiser usar a diversidade como fonte de múltiplas
perspectivas e, portanto, de criatividade. [...]. Quanto mais diversidade a
empresa for capaz de administrar, tanto maior será seu potencial de
perspectivas múltiplas, e concomitantemente, o potencial de
flexibilidade e criatividade [sem grifo no original] contínua.
Desse modo, Volberda (1998) enfatiza que uma forte disciplina dominante,
fortes processos de socialização, uma atitude inequivocada entre o formal e real, e uma
baixa tolerância à ambigüidade contribuem para um potencial mínimo de flexibilidade
das regras não-escritas. Todavia, uma disciplina dominante fraca, fracos processos de
socialização, uma atitude equivocada entre o formal e real, e uma alta tolerância à
ambigüidade possibilitam um elevado potencial de flexibilidades nessa subdimensão.
2.3.4 Orientação externa
A orientação externa é a última subdimensão da cultura organizacional,
apresentada por Volberda (1998), que tende a bloquear ou facilitar o desenvolvimento do
potencial de flexibilidade cultural da organização. Essa subdimensão reflete as crenças
sobre o relacionamento da organização com seu ambiente total e apresenta três variáveis de
análise: foco, abertura e atitude de planejamento.
O autor explica que a variável foco descreve o compartilhamento de idéias entre
os membros da organização a respeito do tempo de referência em relação à visão de futuro.
Essa visão pode ser de curto, médio ou longo prazo. Quando os membros têm um foco em
curto prazo, o potencial para flexibilidade é limitado porque há interesse apenas pelo
desenvolvimento em curto prazo com feedback imediato. Um foco em curto prazo pode ser
apropriado para a flexibilidade operacional, enquanto a flexibilidade estratégica exige um
foco em longo prazo. Fischmann e Almeida (1991) explicam que o horizonte estratégico
varia conforme o ramo de negócios. Os autores afirmam que em um horizonte de longo
prazo podem ser estabelecidos dois pontos no futuro como 05 a 10 anos.
58
A abertura descreve o quanto os membros da organização consideram a empresa
sensível às mudanças do ambiente na qual está inserida. A organização com uma
orientação externa fechada é considerada insensível às mudanças que ocorrem no mercado,
a modificações nos regulamentos do governo e tantas outras mudanças que ocorrem em
seu meio. Esse tipo de organização implementa regras invioláveis, ignora os sinais que
podem ameaçar sua sobrevivência, sua atenção é voltada exclusivamente para a otimização
dos processos, sendo que as mudanças nos processos são dirigidas pela tecnologia e seus
membros têm interações mínimas com as pessoas de fora da organização. Entretanto, uma
organização com uma orientação externa aberta é considerada altamente sensível às
mudanças do meio em que atua. Esse tipo de empresa adapta-se constantemente às
mudanças a fim de sobreviver, estando atenta aos sinais advindos do ambiente, focando
sua atenção no produto em vez do processo, sendo que mudanças no produto são dirigidas
pelo mercado, e interage constantemente com os clientes. Assim, a orientação externa
aberta permite um potencial enorme para flexibilidade (VOLBERDA, 1998).
Para Evans e Russel (1989), o futuro é incerto e por isso as organizações devem
manter-se abertas a fim de responderem criativamente ao imprevisto quando este surgir.
Wechsler (1998) destaca que a organização deve estar sempre aberta às novas tecnologias
e descobertas que possam abrir mais as suas fronteiras e a sua capacidade de inovar. Carr
(1997) afirma que a empresa passa a ser menos criativa quando ignora as mudanças
cruciais no meio e que é fundamental incluir clientes e fornecedores nos processos
decisórios, pois estes são uma fonte de novas idéias.
Por fim, a atitude de planejamento descreve as crenças dos membros sobre o
quanto a organização pode controlar seu ambiente ou ser sujeita as suas forças. Essa
variável pode assumir quatro posições: reativa, inativa, proativa e interativa.
Quando assume uma atitude reativa, a organização tenta manter a posição atual
(divisão de mercado, clientes, produtos e outros), o seu planejamento visa preservar as
realizações anteriores e a orientação externa é baseada no passado. Na atitude inativa, o
ambiente é considerado incontrolável, a organização age de forma passiva, o planejamento
é considerado inútil e a orientação externa é baseada no presente. Em relação à atitude
proativa, a organização tenta adaptar-se a um futuro possível, o planejamento representa
um meio de antecipar esse futuro e a orientação externa é baseada em um futuro provável.
Na atitude interativa, através de uma visão de longo prazo e um quadro idealizado do
futuro, a organização busca adaptar-se e controlar esse futuro ideal e a orientação externa é
baseada nesse futuro desejado (VOLBERDA, 1998).
59
Assim, o autor explica que as atitudes de planejamento reativa e inativa
destroem qualquer potencial para flexibilidade. Em uma atitude proativa, a organização
tenta se adaptar a um futuro provável, mas quando o futuro torna-se diferente do que foi
previsto, a possibilidade de adaptação é mínima. Com isso, um forte comprometimento
com um futuro provável reduz o potencial de flexibilidade da organização. Na abordagem
interativa de planejamento, o potencial de flexibilidade baseia-se em uma visão de longo
prazo e na idealização de um quadro futuro. Essa idealização pode nunca ser alcançada,
mas tenta-se conseguir isso tanto quanto for possível, ou seja, o planejamento interativo
encoraja a organização não somente a adaptar-se como na abordagem proativa, mas
também a controlar seu ambiente para atingir um futuro desejado. Carr (1997) enfatiza que
as empresas criativas estão qualificadas para criar seu futuro, segundo o autor, elas
pesquisam o horizonte.
Volberda (1998) explica que um foco em curto prazo, uma orientação externa
fechada, uma atitude de planejamento reativa inibem o potencial de flexibilidade,
enquanto que um foco em longo prazo, uma orientação externa aberta, e uma atitude de
planejamento interativa estimulam o potencial de flexibilidade.
Após a caracterização da cultura organizacional, quanto aos diferentes aspectos
apresentados por Volberda (1998), pode ser identificada uma cultura conservadora ou
inovadora. A cultura conservadora, conforme Volberda (1998), apresenta uma identidade
forte e homogênea dentro de uma extensão estreita. O líder aplica um estilo de liderança
instrutivo e o conteúdo e o volume das regras não-escritas são influenciados por uma
forte disciplina dominante, fortes processos de socialização e uma baixa tolerância à
ambigüidade. Esse tipo de cultura tem uma orientação externa fechada, com foco de
curto prazo e reativa. Entretanto, uma cultura inovadora tem uma identidade fraca e
heterogênea com uma ampla extensão. Os líderes que aplicam um estilo de liderança
delegativo são direcionados à improvisação. As regras não-escritas são moldadas por uma
baixa disciplina dominante (livre troca de conhecimento e informação entre as várias
áreas e profissões), fracos processos de socialização e uma alta tolerância à
ambigüidade. Exceções envolvendo violações às regras formais o possíveis. A
orientação externa é muito aberta e focada no longo prazo.
No quadro abaixo são expostas as características da cultura organizacional que,
segundo os teóricos da criatividade (ALENCAR, 1996; CARR, 1997; DUAILIBI;
SIMONSEN, 1990; MARTINS; TERBLANCHE, 2003; PREDEBON, 1997; e outros),
podem estimular ou bloquear a criatividade dentro da organização.
60
Estímulos da cultura organizacional para o
desenvolvimento da criatividade
Barreiras da cultura organizacional para o
desenvolvimento da criatividade
Missão e visão focalizadas no futuro,
orientadas para o cliente e o mercado;
Valores organizacionais que estimulam a
experimentação, improvisação, abertura,
aceitação e apoio às novas idéias,
receptividade, aceitação dos erros,
mudança, correr riscos, desafios,
diversidade, comprometimento, confiança,
relacionamentos informais,
comportamentos divergentes.
Missão e visão que não focalizam o
futuro, o cliente e o mercado;
Valores organizacionais que estimulam
a previsibilidade, estabilidade,
autoritarismo, comodismo, a resistência
à mudança, rigidez, controle,
rotinização, relações extremamente
formais, comportamentos
padronizados.
Elaborado pela autora.
Quadro 3 - Estímulos e barreiras da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade
Os estímulos e barreiras da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade são aspectos importantes de serem verificados neste estudo, visto que o
mesmo avaliou o potencial da cultura da empresa para a expressão da criatividade no
produto moda vestuário infantil. Com isso, são expostos a seguir alguns conceitos do
mundo da Moda.
2.4 PELOS CAMINHOS DA MODA
A palavra moda vem do latim modus que significa modo, maneira (LIMA, 2002).
Apesar dessa palavra levar o leitor a pensar diretamente em roupas e vestuário, visto que
este foi o primeiro e mais assíduo segmento a usar o termo, ela pode ser aplicada em quase
todos os segmentos; e, atualmente, muitos setores giram em torno dela.
Lima (2002) explica que a moda surgiu no período do Renascimento entre os
séculos XIV e XV na Europa Ocidental quando as roupas adquiriram novas formas, sendo
diferenciadas segundo os sexos, dando base para a distinção da moda feminina e masculina
até os dias atuais. Ela foi resultado de mudanças socioculturais e econômicas, como a
intensificação das trocas comerciais, a prosperidade das cortes do norte da Itália e a
emergência da noção de indivíduo, permitindo mudanças cada vez mais aleatórias e
freqüentes da indumentária.
Difundindo-se por toda a Europa com o crescimento das cidades e intercâmbio
entre os países, a moda expandiu-se cada vez mais. Nos séculos XVII e XVIII a classe
dominante, social e economicamente, era aquela que iniciava um determinado costume, e
61
que mandava fazer suas roupas em costureiras particulares ou alfaiates de senhoras. No
século XVII a burguesia se lançou na competição pelo poder, imitando o estilo de vestir e a
aparência da elite (RECH, 2001).
Com a Revolução Comercial, a burguesia enriqueceu e tinha, também,
acesso a tecidos trazidos do oriente. Em busca de ascensão social os
comerciantes compravam títulos de nobreza, e conseqüentemente
adotavam outra forma de vestir. A classe dos nobres e dos comerciantes
tornou-se numerosa. Como se diferenciar de tanta gente? Como se
destacar dentre os demais na corte? A resposta estava nas roupas, e aqui e
acolá começavam a surgir detalhes de vestimenta, que eram copiados
muitas vezes pela influência do usuário (TREPTOW, 2003, p.25).
Entretanto, Souza (1987, p. 21) afirma que “é no século XIX, quando a
democracia acaba de anular os privilégios de sangue, que a moda se espalha por todas as
camadas e a competição, [...], acelera a variação dos estilos, que mudam em espaços de
tempos cada vez mais breves”. Caldas (1999) destaca que nos anos 60 surgem alguns
pensadores sobre o fenômeno moda e identificam dois movimentos que estão na base do
seu funcionamento: a imitação e a diferenciação. Para o autor Identificar-se e diferenciar-
se: é o jogo permanente entre esses dois pólos antagônicos e complementares que define os
fenômenos de moda” (CALDAS, 1999, p. 33). Treptow (2003) explica que a moda surge
no momento histórico em que o homem passa a valorizar-se pela diferenciação dos demais
por meio da aparência, o que podemos traduzir em individualização. Contudo, essa
diferenciação de uns, visa uma identificação com outros, pois a moda, segundo a autora, se
dá por meio da cópia do estilo
2
daqueles a quem se admira.
Segundo Caldas (1999, p. 39), “Moda hoje não é só roupa, mas também os lugares
que são freqüentados, o que se e se escuta, o modo como se vive. [...]”. Atualmente, a
moda pode ser analisada como um fenômeno que compreende mudanças sociológicas,
psicológicas e estéticas ocorridas em diferentes áreas como arquitetura, artes visuais,
música, religião, literatura, vestuários, entre outras (RECH, 2002). O conceito apresentado
por Rech (2002) foi utilizado como defenição constitutiva do termo moda. Para Ferreira
(1987, p. 1146), a moda corresponde a um “fenômeno social ou cultural que consiste na
mudança periódica de estilo, de caráter mais ou menos coercitivo, e cuja vitalidade se
explica pela necessidade de conquistar ou manter uma determinada posição social”.
2
O estilo é a capacidade de filtrar as tendências e transformá-las, produzindo novas propostas que
manifestam características pessoais, ou seja, manifestam uma identidade (TREPTOW, 2003).
62
Para que algo se torne moda, é preciso que exista um consenso, pessoas que
acreditem, concordem e consumam essa ou aquela idéia (TREPTOW, 2003). Sendo que é
na formação desse consenso que são trabalhadas as tendências.
Rech (2002, p. 39) explica que a coordenação das tendências de moda no
vestuário é “o planejamento e a promoção eficaz da mensagem estilo, em relação a cores,
materiais e formas, em toda a extensa cadeia industrial, da fiação, passando pelas
tecelagens, confecções, indústrias de acessórios, complementos, atacado até varejo”. A
autora afirma que as tendências servem de inspiração e visualização para a “criatividade”,
abrem as portas da imaginação. Caldas (2004, p. 50) explica que idéia de tendência é tida
como “profecia auto-realizável”.
O princípio é simples: os atores que fazem parte da cadeia têxtil –
industriais das fiações, tecelagens, confecções, especialistas, etc.-
‘conversam’ entre si e trocam informações, de modo a diminuir os riscos.
Além disso, são consultados comitês de cores internacionais, birôs
3
de
estilo e tendências, salões profissionais, estabelecendo padrões que serão
mais ou menos seguidos pelos produtores. Nesse caso, as tendências
possibilitam a construção dos fluxos de orientação que determinam a
‘moda’.
Quanto ao produto moda aqui investigado, ele pode ser conceituado como
“qualquer elemento ou serviço que conjugue as propriedades de criação (design e
tendência de moda), qualidade (conceitual e física), vestibilidade, aparência (apresentação)
e preço a partir das vontades e anseios do segmento de mercado ao qual o produto se
destina” (RECH, 2001, p. 31). O vestuário padrão, segundo Goulart e Jenoveva (1997),
engloba a produção de artigos padronizados, não muito sujeitos à oscilação da moda e se
caracterizam pelo grande volume de vendas com o conceito de qualidade fortemente
associado à durabilidade. Em relação ao vestuário moda, os autores afirmam que ele
“abrange artigos cuja produção é fortemente segmentada em pequenos lotes, obedecendo a
desenhos, cores, formas, estruturas e detalhes, ditados pelas tendências da moda
(GOULART; JENOVEVA, 1997, p. 57).
3
Birôs de estilo são cadernos de tendências que proporcionam diretrizes básicas, as quais refletem os anseios
do mercado. Cor, tecidos, aviamentos, formas e componentes essenciais da moda são providos em cadernos
específicos a cada patamar industrial, em datas rigorosas para garantir uma ação coordenada de todos (RECH
2001).
63
Para Treptow (2003), as características do produto moda são: inspiração, cores,
tecidos, aviamentos
4
e design que inclui silhueta, linha, textura, harmonia, equilíbrio e
outros. Segundo os teóricos da moda (RECH, 2001; TREPTOW, 2003 e outros), os
produtos moda são produzidos em lotes pequenos, os preços são considerados altos e a
distribuição é seletiva, realizada apenas em grandes centros urbanos e em canais
especializados.
Nesta pesquisa foi analisado o produto moda vestuário infantil. Quanto a esse
produto, Lurie (1997) explica que durante a Idade Média e Renascença, as crianças
vestiam-se com todas as inconveniências da moda adulta. A autora enfatiza que na segunda
metade do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau apresentou uma nova visão da infância,
como um estado natural e separado, e a criança como um ser com valor próprio, ao invés
de um adulto imperfeito e reduzido. As idéias de Rousseau requeriam uma mudança não
apenas no modo de educar as crianças, mas também na maneira de vestir, não mais como
um adulto. Em pouco tempo, tal visão começou a se manifestar em uma nova aparência
das crianças. Contudo, durante o culo XX a indumentária infantil voltou a observar
características do período medieval, e apesar de se reconhecer a infância como uma fase
separada, o traje infantil passou a ser novamente semelhante ao traje utilizado pelos
adultos. Moutinho e Valença (2000) salientam que à medida que a moda foi ganhando
complexidade, a imitação das roupas dos adultos virou uma regra geral na confecção dos
trajes infantis.
Nos caminhos da moda, especificamente da moda no vestuário, também se faz
necessário caracterizar a função daquele que elabora as coleções
5
, faz pesquisas e
acompanha o desenvolvimento do produto, ou seja, o estilista ou designer de moda. Rech
(2001) ao conceituar designer de moda, explica que ele direciona sua criação para o perfil
da empresa, de seu mercado, e da tecnologia que dispõe para produção, enfatizando que a
função do estilista ou designer de moda é a criação de um produto com conceitos de
tendências de moda. Moraes (1996, 117) explica que o designer de moda é “propulsor de
novas idéias, no sentido de ‘criatividade’, [...]”.
4
Os aviamentos são materiais utilizados na confecção de uma roupa além do tecido base. Eles podem ser
classificados quanto à função e visibilidade. Quanto à função classificam-se em duas categorias: os de cunho
meramente decorativo (franjas, etiquetas decorativas, puxadores de zíper decorativos e outros); e os
componentes, esses são essenciais à roupa (linhas, zíperes, botões funcionais, etiquetas de composição e
outros). Quanto à visibilidade podem ser aparentes (visíveis após a peça confeccionada), e não aparentes
(ficam no interior da peça, como entretelas e elásticos) (TREPTOW, 2003).
5
Coleção é um “'conjunto de produtos, com harmonia do ponto de vista estético ou comercial, cuja
fabricação e entrega são previstas para determinadas épocas do ano'” (RECH, 2002, p.68).
64
Assim, o produto moda vestuário infantil possui características que o diferenciam
dos demais produtos de vestuário como preço elevado, produção em pequenos lotes e
distribuição seletiva. A sua criação é orientada por uma tendência e desenvolvida por um
estilista ou designer de moda. Esse produto é direcionado ao público infantil.
O referencial teórico que orientou esta pesquisa permite verificar que as variáveis
estudadas são complexas e multifacetadas. A fim de esclarecer quais os procedimentos
metodológicos empregados para o desenvolvimento do estudo, é apresentado em seqüência
o método.
3 MÉTODO
Neste capítulo são apresentados os procedimentos que foram adotados para o
desenvolvimento do estudo. Primeiramente, é feita a caracterização da pesquisa, onde se
expõem as especificidades do método, o tipo de corte e o vel de análise. Posteriormente,
são apresentadas as perguntas de pesquisa; em seguida, a definição constitutiva e
operacional dos termos e das categorias de análise; a forma de definição da empresa-alvo
do estudo; os critérios para escolha dos sujeitos; e as técnicas de coleta e análise dos dados.
Por fim, são expostas as limitações do estudo.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa proposta neste trabalho é de natureza exploratória-descritiva, pois
associa dois tipos de pesquisas dentre aquelas apontadas pelos teóricos. A pesquisa é de
natureza exploratória em função da necessidade de esclarecer conceitos e idéias sobre a
relação entre cultura organizacional e criatividade, e de natureza descritiva por descrever
as características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre
variáveis (GIL, 1994). Trata-se de uma pesquisa exploratória porque busca ampliar e
aprofundar conhecimentos em uma temática pouco explorada, e descritiva porque busca
conhecer e descrever a realidade presente no campo de estudo (TRIVIÑOS, 1987).
Quanto à abordagem do problema, as pesquisas científicas podem apresentar-se
como quantitativas ou qualitativas. Aqui, a pesquisa assumiu uma perspectiva
predominantemente qualitativa, visto que a abordagem qualitativa procura identificar a
presença ou ausência de algo, e “envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas,
lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada,
procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos
participantes da situação em estudo” (GODOY, 1995a, p. 58). “(...) a abordagem
qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e das relações humanas, um
lado não perceptível e o captável em equações, médias e estatísticas” (MINAYO, 1994,
66
p. 22). A pesquisa qualitativa é caracterizada pelo contato direto com o ambiente natural
em que ocorrem os fatos, tem o pesquisador como observador da realidade, é basicamente
descritiva, privilegia o método indutivo na análise dos dados, onde parte do entendimento
do fenômeno no todo para corroborar com a teoria, buscando compreender o significado
desse fenômeno para as pessoas e os efeitos sobre as suas vidas (TRIVIÑOS, 1987).
O modo de investigação adotado foi o estudo do fenômeno por meio de um
estudo de caso que, conforme Godoy (1995b), é adequado quando os pesquisadores
procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há
pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados, e quando o foco de interesse é
sobre fenômenos atuais, que poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
Triviños (1987) afirma que o estudo de caso é uma categoria das mais relevantes em
pesquisa qualitativa, na qual se analisa intensivamente um objeto/unidade, permitindo que
se obtenha um grande número de informações de um único caso. Nesta pesquisa, o nível
de análise foi o organizacional, visto que, conforme Vieira (2004), o objeto central de
interesse da pesquisa é a organização. Todavia, salienta-se que na investigação sobre a
expressão da criatividade no produto considerou-se apenas os sujeitos envolvidos na
criação do mesmo. Assim, tem-se, aqui, o que o autor apresenta como unidade de análise,
ou seja, uma unidade de observação dentro do nível de análise.
O tipo de corte adotado é o seccional ou transversal, pois os dados foram
coletados em um determinado ponto no tempo com base em um grupo de sujeitos
selecionados para descrever uma população nesse determinado momento. O tipo de corte
representa a extensão da análise do desenvolvimento do fenômeno pesquisado. Neste
estudo, o fenômeno foi analisado no momento atual. No corte seccional ou transversal a
população é identificada e os sujeitos escolhidos para então a pesquisa ser realizada
(RICHARDSON, 1999).
3.2 PERGUNTAS DE PESQUISA
A fim de orientar a pesquisa, considerando o problema e os objetivos da mesma,
foram elaboradas algumas questões. Conforme Triviños (1987, p. 107) “A Questão de
Pesquisa representa o que o investigador deseja esclarecer.” As questões norteadoras deste
estudo foram:
Como se caracteriza a cultura organizacional da Empresa Dedal & Agulha?
67
Qual o potencial da cultura organizacional da empresa para o
desenvolvimento da criatividade?
Como a criatividade se expressa
no produto moda vestuário infantil da
empresa pesquisada?
3.3 DEFINIÇÃO DOS TERMOS E DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE
Marconi e Lakatos (1990) explicam que a definição dos termos é importante para
deixar claro todas as expressões que possam dar margem a interpretações errôneas,
contribuindo para uma melhor compreensão da realidade observada. Geralmente são
apresentados dois tipos de definições: definição constitutiva e definição operacional.
A definição constitutiva, conforme Vieira (2004), refere-se ao conceito dado por
algum autor ao termo que se vai utilizar, sendo que esse conceito emerge da
fundamentação teórica utilizada. Quanto à definição operacional o autor explica que esta
diz respeito a como aquele termo ou categoria será identificado, verificado ou medido, na
realidade.
3.3.1 Definição constitutiva dos termos da pesquisa
Apresenta-se abaixo a definição constitutiva dos termos expostos neste estudo:
Inovação: é a “concretização” e “aplicação” com sucesso de idéias sobre
produtos ou processos dentro de uma organização (ALENCAR, 1993 e
AMABILE, 1990).
Criatividade: é o componente essencial da inovação e diz respeito à
“geração” de idéias novas por um indivíduo ou um grupo pequeno que
trabalhem juntos (ALENCAR, 1993 e AMABILE, 1990).
Cultura Organizacional: é o conjunto de premissas básicas, tais como
conceitos, princípios, regras, formas de comportamento e soluções que
foram estabelecidas e descobertas no processo de aprendizagem de solução
de problemas de adaptação externa e integração interna, e que por
68
funcionarem suficientemente bem foram consideradas válidas e ensinadas
aos outros membros da organização como a maneira certa de agir em
relação a esses problemas (SCHEIN, 1984).
Moda: corresponde a um fenômeno que compreende mudanças
sociológicas, psicológicas e estéticas ocorridas em diferentes áreas como
arquitetura, artes visuais, música, religião, literatura, vestuários, entre outras
(RECH, 2002).
Produto moda: é produzido em lotes pequenos, com preços considerados
altos e distribuição seletiva, realizada apenas em grandes centros urbanos e
em canais especializados; sendo que a sua criação é ditada por uma
tendência e coordenada por um estilista ou designer de moda (GOULART;
JENOVEVA, 1997; RECH, 2001 e TREPTOW, 2003).
3.3.2 Definição operacional das categorias de análise
Nesta pesquisa avaliou-se o potencial da cultura organizacional para a expressão
da criatividade no produto moda vestuário infantil. Com isso, a cultura organizacional foi
verificada conforme o quadro 4:
69
Categoria Analítica e variáveis Classificação
Cultura Organizacional
Conservadora Inovadora
Formação de identidade
História (estórias, lendas,
anedotas, eventos ), Missão
(declaração), Símbolos
(linguagem, objetos...), Heróis
(pessoas significativas), Rituais
(celebrações, comemorações),
Valores compartilhados
(bom/mau, racional/irracional,
normal/anormal, bonito/feio).
Comunalidade
Extensão
Homogeneidade
Liderança
Estilo de liderança
Grau de direção
Grau de colaboração
Abordagem de planejamento
Atitude gerencial
Regras não-escritas
Disciplina dominante
Empreg. mesma formação
Empreg. mesma idade
Empreg. mesma experiência
Socialização
Instrução aos iniciantes
Políticas RH (recompensas,
cargos e salários, recrutamento,
treinamento, entre outros)
Atitude formal-real
Regras formais/escritas
Regras não-escritas
Tolerância à ambigüidade
Novas idéias e opiniões
Comportamento divergente
Previsibilidade de
relacionamentos
Orientação externa
Foco
Idéia de futuro
Tempo de referência
Abertura
Sensibilidade aos desenv. ext.
Orient. para meios ou resultados
Direc. tecnologia ou mercado
Interação com elementos ext.
Atitude de planejamento
Posição em relação ao ambiente
Forte..................................................................................................Fraca
Estreita.............................................................................................Ampla
Homogênea............................................................................Heterogênea
Instrutivo...............Consultivo................Participativo..............Delegativo
Blueprint..............…......Mixed-scanning.......…..........Muddling through
Rotina.................................Heurística....................................Improvisada
Forte..................................................................................................Fraca
Forte..................................................................................................Fraca
Inequívoca...................................................................................Equívoca
Baixa...................................................................................................Alta
Curto prazo..........................Médio prazo..............................Longo prazo
(03 meses a 01 ano) (02 a 04 anos) (05 a 10 anos)
Fechada............................................................................................Aberta
Reativa....................Inativa.....................Proativa.......................Interativa
Fonte: Adaptado de Volberda (1998).
Nota: Na variável Foco, a definição de curto, médio e longo prazo foi realizada segundo a realidade
da empresa investigada.
Quadro 4 - Definição Operacional da Cultura Organizacional
70
A criatividade foi investigada conforme as variáveis apresentadas no quadro 5.
Estas variáveis foram desenvolvidas a partir dos estudos de Besemer e Treffinger (1981).
Categoria Analítica Variáveis
Criatividade
Produto criativo
Novidade (originalidade e grau de
influência que o produto tem em termos
de impacto sobre a sociedade),
Resolução (qualidade, utilidade e
características de valor do produto),
Elaboração e Síntese (expressividade,
elegância, atratividade,
complexidade/qualidades estéticas).
Elaborado pela autora.
Quadro 5- Definição Operacional da Criatividade
3.4 DEFINIÇÃO DA EMPRESA-ALVO DA PESQUISA
Na escolha da empresa a ser pesquisada alguns critérios básicos foram
contemplados a fim de garantir as condições necessárias ao desenvolvimento do estudo.
Com isso, foi necessário um trabalho de campo, no qual o campo de pesquisa representa “o
recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica
a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação”
(MINAYO, 1994, p. 53).
Os critérios definidos para a escolha da organização foram:
Empresa que atuasse no Estado de Santa Catarina. Este critério foi definido
pela acessibilidade e pelo interesse da pesquisadora em conhecer a sua
realidade mais próxima. Segundo Vergara (1997, p. 49) “longe de qualquer
procedimento estatístico, seleciona-se elementos pela facilidade de acesso a
eles”.
Tamanho da organização; acredita-se que empresas maiores em tamanho
possuem uma complexidade maior em suas dimensões, o que possibilitaria
uma melhor contribuição para o estudo.
71
Empresa que nos últimos anos não tivesse sido objeto de estudo em muitas
pesquisas acadêmicas, a fim de possibilitar a descoberta de novas realidades
organizacionais e maior contribuição para o desenvolvimento científico.
Os primeiros contatos foram feitos em fevereiro/2005, via e-mail, com duas
organizações que estavam dentro dos critérios definidos. O e-mail continha a apresentação
do interesse em realizar a pesquisa, bem como em anexo a proposta do estudo. Com uma
das empresas contactadas houve dificuldades de comunicação, tanto em relação ao contato
com os responsáveis bem como quanto ao entendimento da proposta de trabalho pelos
mesmos. Todavia, a empresa escolhida,
considerada der do segmento de confecção
infantil do país, respondeu ao e-mail enviado, solicitando que uma visita fosse marcada
para maiores especificações sobre o estudo. Assim, foi realizado pela pesquisadora um
contato por telefone a fim de agendar a visita.
A primeira visita foi realizada em 04 de abril de 2005 onde foram apresentados
detalhes do estudo à Chefe de Planejamento do Departamento de Recursos Humanos da
empresa, a qual informou que a diretoria tinha interesse pelo desenvolvimento da pesquisa
pois os mesmos consideraram a temática abordada no estudo relevante para a organização.
Contudo, foi solicitado que o nome da empresa não fosse divulgado. Com isso, a empresa
foi tratada com a denominação fictícia de Empresa Dedal & Agulha. Aqui, é importante
destacar que a pesquisa foi realizada na matriz da empresa. Alguns funcionários da Área de
Recursos Humanos ficaram responsáveis em dar todo o apoio necessário à realização do
estudo, informações, acesso à organização e agendamento de entrevistas.
Após receber a resposta positiva, verificou-se que a organização escolhida havia
sido premiada diversas vezes no segmento da moda pelo produto aqui pesquisado, o que
revelou a possibilidade de trilhar também caminhos para além da Ciência da
Administração, conhecendo-se assim os caminhos da Moda. Segundo Goulart e Jenoveva
(1997, p. 57), as indústrias de vestuário moda se caracterizam pela “flexibilidade e enorme
agilidade para que possam atender e acompanhar os movimentos rápidos, fugazes e, não
raro, erráticos da moda”.
Quanto ao tamanho da organização, na matriz da empresa, onde foi realizada esta
pesquisa, em média 2.214 funcionários. Essa realidade reflete uma complexidade maior
em suas dimensões, favorecendo o estudo.
72
3.5 SUJEITOS DA PESQUISA
Nesta pesquisa, foram considerados como a população envolvida todos os
funcionários da empresa pesquisada, pertencentes aos níveis de diretoria, gerência, chefia,
e operacional. Empregados terceirizados não foram considerados como sujeitos. Na
definição dos sujeitos entrevistados não se fez uso de formas aleatórias de seleção, ou seja,
houve uma escolha deliberada dos participantes da pesquisa.
De acordo com Marconi e Lakatos (1990), o tipo mais comum de escolha
deliberada dos sujeitos da pesquisa é a denominada intencional, nela o investigador dirige-
se intencionalmente às pessoas, cuja opinião, ação e intenção está interessado. Como a
intenção da pesquisa qualitativa não é a generalização no sentido estatístico, esta escolha é
a mais apropriada para este tipo de estudo. Minayo (1994, p. 43) explica que:
A pesquisa qualitativa não se baseia no critério numérico para garantir
sua representatividade. Uma pergunta importante neste item ‘é quais
indivíduos sociais têm uma vinculação mais significativa com o problema
a ser investigado?’ A amostragem boa é aquela que possibilita abranger a
totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões.
Os sujeitos da pesquisa foram agrupados em dois grupos: sujeitos entrevistados
sobre cultura organizacional; e sujeitos entrevistados especificamente sobre criatividade no
produto.
Com isso, os critérios utilizados na seleção dos participantes entrevistados sobre
cultura organizacional foram:
Funcionários com pelo menos 10 anos na empresa, pertencentes aos níveis
de diretoria, gerência, chefia e operacional.
Os participantes deveriam ser reconhecidos pelo Departamento de Recursos
Humanos como um legítimo portador da cultura da empresa. Estes
participantes teriam que ter vivenciado ou participado de momentos
considerados críticos ou relevantes na história da organização.
Os sujeitos entrevistados sobre criatividade no produto foram selecionados por
estarem diretamente envolvidos na criação do produto investigado. Antes da aplicação dos
instrumentos de coleta de dados junto a estes, foi realizado um pré-teste por meio de quatro
entrevistas, duas para a primeira categoria de entrevistados e duas para segunda. “O pré-
teste de um instrumento de coleta de dados tem por objetivo assegurar-lhe validade e
precisão” (GIL, 1994, p. 133). Segundo o autor, o pré-teste possibilita evidenciar possíveis
73
falhas na elaboração do instrumento de coleta de dados, tais como: complexidade das
questões, questões desnecessárias, constrangimentos ao informante, entre outros. A
aplicação do pré-teste possibilitou uma melhor familiarização com termos de linguagem
utilizados pelos participantes, bem como a simplificação e eliminação de algumas
questões. A partir da aplicação do pré-teste surgiu a necessidade de se conhecer melhor
detalhes sobre aspectos de gestão da empresa; então foi agendada uma entrevista com
alguns dos funcionários da Área de Recursos Humanos, bem como com o Gerente de
Marketing e Produto a fim de obter maiores informações sobre o produto investigado.
Após a validação dos instrumentos, a quantidade de entrevistas foi determinada pela
saturação dos conteúdos, ou seja, assim que os depoimentos começaram a se repetir e as
informações foram suficientes para compreender a organização, sob a perspectiva do
problema de pesquisa apresentado, foi finalizada a coleta de dados (QUIVY;
CAMPENHOUDT, 1998).
As entrevistas, gravadas e transcritas, foram realizadas com vinte e seis (26)
empregados da empresa. Tanto na realização do pré-teste quanto nas entrevistas com os
sujeitos da pesquisa foram explicados os objetivos do estudo e os entrevistados assinaram
um Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) cujo modelo consta no Anexo B.
Em relação à cultura organizacional foram entrevistados dezoito (18) empregados e quanto
à criatividade no produto (8) empregados. Sendo que um dos empregados, a stylist
6
participou das duas categorias de entrevistados por estar dentro dos critérios definidos para
seleção dos sujeitos de ambas as categorias.
Foram entrevistados sobre a cultura organizacional: quatro (4) Diretores (Diretor
Financeiro, Diretor de Marketing, Diretor Industrial e Diretor de Franchising); quatro (4)
Gerentes (Gerente de Controladoria, Gerente de Unidade de Manufatura, Gerente Regional
de Vendas e Gerente de Marketing e Produto); quatro (4) Chefes (Chefe de
Beneficiamento, Chefe de Estamparia, Chefe de Mostruário, Chefe de Planejamento de
RH); cinco (5) Costureiras; uma (1) Stylist. Pretendia-se também entrevistar o Diretor
Comercial, mas não foi possível devido a problemas de agenda, pois o mesmo está em
constantes viagens, devido ao processo de internacionalização em que a organização se
encontra.
Quanto à criatividade no produto foram entrevistados: três (3) Estilistas; uma (1)
Desenhista; duas (2) Modelistas; dois (2) Coordenadores de Marca e uma (1) Stylist.
6
A stylist é responsável em coordenar a criação do produto analisado nesta pesquisa.
74
O perfil geral dos entrevistados é apresentado a seguir na Tabela 1 (perfil dos
sujeitos entrevistados sobre a cultura organizacional) e Tabela 2 (perfil dos sujeitos
entrevistados sobre a criatividade no produto).
Tabela 1 - Perfil dos sujeitos entrevistados sobre a cultura organizacional
Variável Descrição Freqüência Absoluta
Sexo
Masculino
Feminino
10
8
Idade
28 a 37 anos
38 a 47 anos
48 a 57 anos
6
8
4
Tempo de Empresa
6 anos
7 anos
10 a 15 anos
16 a 20 anos
21 a 25 anos
26 a 30 anos
31 a 35 anos
1
2
5
6
1
2
1
Escolaridade
1º grau incompleto
1º grau completo
2º grau completo
3º grau completo
Pós-graduação/Especialização
1
3
3
2
9
Fonte: Entrevistas.
Nota: O sujeito com 6 anos de empresa foi selecionado pois o mesmo é filho do “atual presidente”
e sobrinho do “fundador” possuindo uma vinculação significativa com o problema investigado.
Dentre os dois sujeitos com 7 anos de empresa, 1 também é filho do “atual presidente” e 1 gerencia
a Área de Marketing e Produto, sendo um sujeito significativo para a pesquisa.
Quanto à variável sexo, o percentual revela um equilíbrio na quantidade entre
homens (10) e mulheres (8) que participaram da pesquisa. Os sujeitos da pesquisa
concentraram-se em três faixas etárias. A maior parte dos entrevistados (8) tem entre 38 e
47 anos. Em seguida, têm-se sujeitos entre 28 e 37 anos (6), e 48 e 57 anos (4). Esses
percentuais indicam uma concentração entre sujeitos de meia idade.
Em relação ao tempo de trabalho na empresa, a maioria dos entrevistados (6) tem
entre 16 e 20 anos o que pode indicar uma permanência significativa dos funcionários
dentro da organização. Em seguida estão concentrados os funcionários que têm entre 10 e
15 anos (5). Alguns possuem 7 anos de empresa (2), e 26 e 30 anos (2). Os demais
apresentam 6 anos (1), 21 e 25 anos (1), e 31 e 35 anos (1).
Quanto à escolaridade dos sujeitos, metade (9) tem pós-graduação em nível de
especialização, sendo dois (2) chefes, três (3) gerentes e quatro (4) diretores. Os cursos de
pós-graduação na sua totalidade são da área de administração de empresas, sendo que há
75
uma diversidade na graduação dos entrevistados, tanto dos apenas graduados como dos
sujeitos com pós-graduação. Essa diversidade é representada por cursos de administração,
contábeis, psicologia, publicidade, arquitetura e moda. Em seguida, uma concentração
nos níveis de 1º grau completo (3) e 2º grau completo (3). Com escolaridade em nível de 1º
grau completo estão três (3) costureiras. No nível de grau completo dois (2) chefes e
uma (1) costureira. Alguns sujeitos têm 3º grau completo sem pós-graduação (2). Estes são
representados por um (1) gerente e a stylist. O restante (1) possui grau incompleto (1
costureira).
Na Tabela 2 é apresentado o perfil dos sujeitos entrevistados sobre a criatividade
no produto moda vestuário infantil.
Tabela 2 - Perfil dos sujeitos entrevistados sobre a criatividade no produto
Variável Descrição Freqüência Absoluta
Sexo
Masculino
Feminino
1
8
Idade
18 a 27 anos
28 a 37 anos
38 a 47 anos
2
5
2
Tempo de Empresa
01 a 05 anos
06 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
21 a 25 anos
5
2
-
1
1
Escolaridade
2º grau completo
3º grau incompleto (cursando)
3º grau completo
Pós-graduação/Especialização
3
2
1
3
Fonte:Entrevistas.
Nota: Esta tabela totaliza 09 sujeitos entrevistados, pois a stylist também foi inclusa nela.
Contudo, no total geral de sujeitos entrevistados ela é considerada apenas uma vez, totalizando 26
sujeitos (17 entrevistados na categoria sobre a cultura organizacional, 08 na categoria sobre
criatividade no produto e 01 entrevistado/stylist nas duas categorias).
Em relação à variável sexo, a maioria dos entrevistados sobre criatividade no
produto é do sexo feminino (8). Os sujeitos concentraram-se em três faixas etárias. A
maior parte dos entrevistados (5) tem entre 28 e 37 anos. Em seguida, têm-se sujeitos entre
18 e 27 anos (2), e 38 e 47 anos (2). Esses percentuais indicam uma concentração em uma
faixa etária jovem.
Quanto ao tempo de trabalho na empresa, a maioria dos entrevistados (5) têm
entre 01 e 05 anos. Em seguida estão concentrados os funcionários que têm entre 06 e 10
76
anos (2). Os demais apresentam 16 e 20 anos (1) e 21 e 25 anos (1). Nenhum dos
entrevistados tem de 11 e 15 anos.
Em relação à escolaridade dos sujeitos, uma concentração no nível de grau
completo (3), sendo uma (1) desenhista e duas (2) modelistas; e em pós-
graduação/especialização (3). Os cursos de pós-graduação em nível de especialização são
em moda (uma estilista) e administração (dois coordenadores de marca). Existem
entrevistados (duas estilistas) que estão cursando o grau (1), e o restante (stylist) tem
grau completo (1). Os cursos de graduação que prevalecem são moda, administração e
engenharia têxtil.
3.6 TÉCNICA DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS
Na coleta dos dados foram utilizadas fontes de dados primários e secundários.
Para a coleta dos dados primários aplicou-se entrevistas semi-estruturadas e observação
livre não- participante, sendo que os dados secundários foram coletados mediante análise
documental. A coleta de dados foi realizada no período de julho a setembro de 2005.
Triviños (1987, p. 146) explica que “[…] a entrevista semi-estruturada, ao mesmo
tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis
para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias enriquecendo a
investigação”. Para o registro da fala dos entrevistados foi utilizado o gravador. O autor
salienta que a gravação possibilita o registro de todas as informações verbais fornecidas
pelo pesquisado, o que, muitas vezes, não seria possível com outro meio, além disso
possibilita uma análise de conteúdo mais rica (TRIVIÑOS, 1987). As entrevistas tiveram
duração média de uma hora e meia.
A observação livre do desenvolvimento de determinada situação é usualmente
empregada pela pesquisa qualitativa. Quando se observa, o objetivo é apreender
aparências, eventos e/ou comportamentos, confirma Godoy (1995b). Ainda, segundo
Godoy (1995b, p. 27), “a observação pode ser de caráter participante ou não-participante”.
Aqui foi utilizada a observação de caráter o-participante, onde, o pesquisador atuou
apenas como espectador atento. A observação livre não-participante possibilitou a
apreensão de comportamentos, linguagem utilizada, modo de vestir, características do
ambiente, e características do produto pesquisado. Durante as visitas à empresa, a
pesquisadora participou dos momentos de refeição dos funcionários, o que contribuiu para
77
uma melhor aproximação com os mesmos e verificação dos seus comportamentos.
A coleta dos dados secundários ocorreu por meio da análise documental, sendo
que esses dados encontravam-se disponíveis em jornais da empresa, Perfil Institucional,
recortes de revistas e jornais, fitas institucionais, Código de Ética e outros. Richardson
(1999, p. 230) afirma que “a análise documental consiste em uma série de operações que
visam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais
e econômicas com as quais podem estar relacionados”.
A análise e interpretação dos dados na abordagem qualitativa “se desenvolve em
interação dinâmica, retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que
por exemplo, a Coleta de Dados num instante deixa de ser tal e é Análise de Dados, e esta,
em seguida, é veículo para nova busca de informações” (TRIVIÑOS, 1987, p. 137).
Kerlinger (1979, p.353) explica que “Análise é a categorização, ordenação, manipulação e
sumarização de dados”. Por meio dela se reduz grandes quantidades de dados brutos para
uma forma interpretável e mensurável a fim de que as características de situações,
acontecimentos, e de pessoas possam ser descritas e as relações entre as variáveis
estudadas e interpretadas. As principais técnicas utilizadas na análise e interpretação dos
dados foram a análise de conteúdo e a análise documental. Embora as duas formas de
análise possam ter determinadas operações semelhantes (codificação de informação e
estabelecimentos de categorias), Richardson (1999) enfatiza que a análise de conteúdo
trabalha sobre mensagens e a documental sobre documentos.
Pelo volume de informações obtidas, foi necessária uma organização do trabalho:
O primeiro passo foi a leitura geral dos documentos disponíveis (Perfil
Institucional, recortes de jornais e revistas, e outros);
No segundo passo, todas as 26 entrevistas foram transcritas e impressas;
O terceiro passo foi uma primeira leitura das transcrições impressas, a fim
de organizar as informações em palavras-chave por categorias de análise,
colocando-as em um mural de modo a facilitar a posterior análise;
O quarto passo foi a leitura das observações registradas;
No quinto passo, as transcrições receberam uma segunda leitura e foram
organizadas, conforme as categorias de análise pré-definidas e a base teórica
desenvolvida, no capítulo referente à apresentação, análise e interpretação
dos dados.
Por fim, as informações dos documentos disponíveis e as observações
registradas receberam uma segunda leitura e também foram organizadas de
78
acordo com as categorias de análise desenvolvidas e correlacionadas com a
fundamentação teórica apresentada.
Contudo, quando as informações coletadas não se apresentaram suficientemente
claras, novos contatos foram realizados com os sujeitos entrevistados a fim de buscar
melhor compreensão dos fatos. Os contatos para checagem dessas informações foram
realizados por telefone ou via e-mail.
3.6.1 Articulação entre objetivos, categorias de análise e roteiro de entrevistas
Os objetivos específicos 01 e 02, ou seja, a caracterização da cultura
organizacional da Empresa Dedal & Agulha, bem como a avaliação do seu potencial para o
desenvolvimento da criatividade foram realizadas por meio da análise das subdimensões da
cultura organizacional propostas por Volberda (1998). O autor explica que a cultura
organizacional abrange além dos valores ou idéias sociais e crenças que criam a identidade
organizacional e são expressos no campo simbólico, os mecanismos culturais que mantêm
e mudam esses valores e crenças, chamados de liderança, regras não-escritas e orientação
externa. Essas subdimensões, formação de identidade, liderança, regras não-escritas e
orientação externa tendem a bloquear ou facilitar o desenvolvimento do potencial de
flexibilidade ou inovação da cultura organizacional, fazendo com que a cultura da
organização se apresente como conservadora ou inovadora. No Apêndice A consta as
questões aplicadas no roteiro da entrevista para o alcance destes objetivos.
A primeira subdimensão da cultura, representada pela formação de identidade, é
manifestada nos valores e nas práticas culturais. Os valores são moldados pela história da
organização (estórias, lendas, anedotas e eventos) e pela missão. As práticas culturais
consistem em símbolos (termos especiais, quadros e outros), heróis (pessoas significativas)
e rituais (celebrações, confraternizações e outros). Essa dimensão foi analisada por meio
das questões 01,02,03 e pelas variáveis comunalidade/identidade única (questão 04),
extensão/diversidade de valores (questões 05) e homogeneidade/formação de subculturas
(questão 06,07,08,09,10).
A segunda subdimensão é denominada de liderança e foi investigada por meio da
questão 11 e pela análise das variáveis estilo de liderança/grau de direção e de
colaboração (questão 12), abordagem de planejamento (questões 13,14,15,16) e atitude
gerencial (questão 17). A terceira dimensão, denominada de regras não-escritas, foi
79
analisada por meio das questões 18 e 19 e pelas variáveis disciplina dominante (questões
20 e 21), socialização (questões 22,23,24,25,26,27,28), atitude formal-real/regras formais
e não-escritas (questões 29,30,31) e tolerância à ambigüidade (questões 32,33,34).
A quarta e última subdimensão que corresponde à orientação externa foi
investigada por meio da questão 35 e pela análise das variáveis foco (questão 36),
abertura (questões 37,38,39,40,41,42) e atitude de planejamento (questão 43).
O terceiro objetivo específico, ou seja, a verificação da expressão da criatividade
no produto moda-vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha foi realizada por meio das
questões que constam no roteiro de entrevista apresentado no Apêndice B. As questões 01
e 02 tratam de aspectos referentes à criação desse produto. A questão 03 avalia se as
dimensões Novidade, Resolução, Elaboração e Síntese, que caracterizam um produto
criativo, estão presentes no produto investigado. A questão 04 trata da dimensão Novidade.
Na questão 05 e 06 investiga-se a dimensão Resolução. A questão 07 analisa a dimensão
Elaboração e Síntese. Nas questões 08 e 09 busca-se obter informações sobre aspectos da
Moda. Sendo que as questões 10 e 11 representam um link entre os roteiros.
3.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Kerlinger (1979) enfatiza que estudos empíricos, principalmente, em ciências
sociais e humanas, enfrentam limitações em especial pela complexidade dos fatos
estudados. Desta forma, é importante apresentar as principais limitações deste estudo.
Esta pesquisa adota o estudo de caso como modo de investigação do fenômeno. O
estudo de caso permite por um lado uma análise ampla e detalhada da questão estudada,
mas por outro limita a generalização das conclusões obtidas para outras realidades
organizacionais.
A expressão da criatividade é analisada apenas com foco no produto e em um dos
aspectos do ambiente organizacional, ou seja, a cultura organizacional. Contudo sabe-se
que ela envolve outras dimensões (personalidade criativa, processo criativo e outros
aspectos do ambiente criativo) não tratadas nesta pesquisa.
O período para o desenvolvimento do estudo e conseqüentemente o tempo de
permanência no campo de pesquisa pode indicar outra limitação. Acredita-se que um
período maior de observação poderia enriquecer mais os dados obtidos, principalmente por
tratar-se de uma análise da cultura organizacional. Entretanto, cabe salientar que apesar
80
destas limitações apresentadas, os objetivos propostos no trabalho foram plenamente
alcançados.
4 APRESENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
Este capítulo apresenta a organização estudada a Empresa Dedal & Agulha. A
contextualização da organização é realizada, bem como a caracterização do produto moda
vestuário infantil produzido na empresa.
4.1 A EMPRESA DEDAL & AGULHA
A fim de conhecer melhor a organização estudada resgatou-se seu histórico, bem
como informações sobre sua situação atual. A contextualização foi realizada por meio da
análise de documentos institucionais como o Perfil Institucional; registros do
Departamento de Recursos Humanos; jornal interno da empresa; documentos disponíveis
no Centro de Memórias da empresa que reúne máquinas, recortes de jornais e revistas,
catálogos, troféus, fotografias, filmes institucionais e outros; home page da empresa; e
informações obtidas nas entrevistas realizadas.
A Empresa Dedal & Agulha, localizada no Vale do Itajaí em Santa Catarina,
iniciou suas atividades em 1964 como uma pequena fábrica de chapéus de praia. A
diversificação das atividades começou em 1968 com a incorporação de uma pequena
fabricante de malhas de algodão. A linha de chapéus foi desativada por pressão do
mercado, pois usar chapéus estava ficando em desuso, e passou-se exclusivamente à
fabricação de malhas. Assim, o Contrato Social alterou a estrutura da sociedade por cotas
de responsabilidade Limitada para Sociedade Anônima (S.A), surgindo então a Empresa
Dedal & Agulha Indústria do Vestuário.
Em 1975, a Empresa Dedal & Agulha passou a produzir em seu novo parque
fabril, então com área construída de 5.000 m², elevando sua capacidade de produção de
algodão para 25 toneladas/mês. Nos anos seguintes, a empresa verticalizou sua produção e
abriu novas unidades de confecção em cidades vizinhas à matriz. Desta forma foram
espalhadas pela região nove unidades fabris. Atualmente a empresa possui cinco unidades,
incluindo a matriz.
82
A empresa trabalhava com uma única marca, sendo que em 1986 lança uma marca
destinada exclusivamente ao público feminino adulto. Em 1991 lança a “marca F” para o
público feminino infantil; 1993 a “marca M para o público masculino infantil. Os
produtos destas duas marcas infantis são aqui analisados. No ano de 1995 lança uma marca
destinada ao público masculino adulto, adquire uma indústria têxtil na região onde está
instalada; e constitui a Empresa Dedal & Agulha Argentina S.A. Em 1998 implanta uma
nova unidade, também no segmento do vestuário, no nordeste do Brasil.
No ano de 2000 constitui a Empresa Dedal & Agulha Franchising Ltda para
operacionalizar o projeto de franquia da rede de lojas da “marca F” e “marca M”. Adquire
empresas de calçados no estado do Rio Grande do Sul, ingressando no setor de calçados
infantis, e então em 2001 constitui a Empresa Dedal & Agulha Calçados Ltda. Nesse
mesmo ano lança uma marca direcionada para o público jovem tanto masculino como
feminino, diversifica seu portifólio de produtos com a implantação da Unidade de
Negócios Meias, obtém a certificação ISO 14001.
A Empresa Dedal & Agulha, organização aqui pesquisada, controla as demais
empresas, Empresa Dedal & Agulha Nordeste (Têxtil), Empresa Dedal & Agulha Calçados
e Empresa Dedal & Agulha Franchising, e tem negócios em mais de 20 países.
Atualmente, de acordo com o seu Perfil Institucional, os parques fabris da matriz em Santa
Catarina e unidades de confecção das cidades vizinhas ocupam uma área de 278.813 m²,
sendo 88.046m² de área construída, operada por mais de 3.000 colaboradores, possuindo
capacidade instalada para produzir 25 milhões de peças de roupas por ano, destinadas ao
mercado nacional e internacional. A Empresa Dedal & Agulha é considerada uma das mais
modernas e competitivas indústrias de confecções e a terceira maior fabricante de roupas
do país. Hoje, a empresa possui 08 marcas ao todo, sendo 03 marcas para o público
infantil, 01 marca para o público adulto feminino, 01 marca para o público adulto
masculino, 01 marca para o público jovem masculino e feminino, 01 marca para o público
teenager masculino, e 01 marca para o público teenager masculino e feminino. A empresa
é líder do segmento de confecção infantil do país.
A Empresa Dedal & Agulha concentra a produção das marcas para o segmento
adulto, jovem e teenager no nordeste do país, e as marcas infantis em Santa Catarina. Os
calçados são produzidos no estado do Rio Grande do Sul. Esta pesquisa foi desenvolvida
na matriz da empresa em Santa Catarina, na qual são criados e produzidos os produtos
moda vestuário infantil que são investigados neste estudo.
83
“Encantar clientes e consumidores no segmento do vestuário”
7
é a missão da
Empresa Dedal & Agulha; e ela tem como visão “Vestir o corpo e a alma das pessoas”.
Acionistas, Colaboradores, Prontidão às Mudanças e Atualização Tecnológica, Relação
com Fornecedores/Prestadores de Serviços, Comunidade, Meio Ambiente, Clientes e
Consumidores, Comunicação com o Consumidor são os valores organizacionais
apresentados em seu Código de Ética que sucedeu o documento denominado Princípios
Empresa Dedal & Agulha. Esses princípios são: Transparência e foco em resultados,
Gestão participativa e comprometimento, Prontidão às mudanças, Satisfação do cliente,
Atualização tecnológica e competitiva, Cooperação com fornecedores, Desenvolvimento
da comunidade e Respeito ao meio ambiente.
Ao longo da história a empresa recebeu diversos prêmios, homenagens e
destaques. Os mais relevantes são: prêmios Mérito Lojista
8
na categoria Moda (Confecção
Infantil), na categoria Moda (Confecção Feminina) e na Categoria Comunicação
(Campanha Publicitária). O prêmio Abit
9
Fashion nas categorias “Empresa do Ano” e
“Confecção”; e Prêmio de Excelência em Serviços ao Cliente, como melhor SAC do Brasil
no segmento moda.
Após a contextualização da organização investigada, é caracterizado o produto
moda vestuário infantil da empresa que foi, além da cultura organizacional, analisado neste
estudo. Esta caracterização é feita com base na literatura apresentada e nos dados coletados
por meio das entrevistas, observação livre não-participante e análise de documentos.
4.1.1 O produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha
O produto vestuário infantil, objeto deste estudo, abrange artigos cujos desenhos,
cores, formas, estruturas e detalhes são ditados pela tendência da moda, caracterizando-se
assim, segundo Goulart e Jenoveva (1997), como um produto moda. O conteúdo do
discurso de um dos entrevistados ilustra essa realidade.
7
O termo clientes diz respeito aos lojistas, enquanto o termo consumidores refere-se ao consumidor final.
8
O Prêmio Mérito Lojista surgiu em 1980 com o propósito de reconhecer os fornecedores de produtos e
serviços que melhor atendem as expectativas do comércio lojista. O indicado tem um conjunto de ações
analisadas, em que a qualidade, a venda, o serviço, o atendimento, a assistência técnica, a promoção, a
propaganda e o preço são quesitos fundamentais para se tornar um forte candidato ao Prêmio Mérito Lojista
do ano.
9
ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.
84
O desenvolvimento de uma coleção começa com a pesquisa das
tendências a nível mundial (Entrevistado 25/ Criatividade).
Os produtos aqui investigados são fabricados em pequenos lotes, os preços dos
produtos são altos, a distribuição é seletiva, características essas, que conforme os
estudiosos da moda (RECH, 2001; TREPTOW, 2003 e outros) definem um produto moda.
Nesta pesquisa, esses produtos foram identificados como produtos da “marca F(produto
moda vestuário infantil feminino) e “marca M” (produto moda vestuário infantil
masculino).
A “marca F” e a marca M” é muito mais segmentado, nós fazemos um
trabalho de depuração para que elas estejam apenas nas melhores
butiques de roupa infantil, nas menores lojas que respeitem uma
quantidade geográfica de pessoas, um índice de potencial de consumo
realmente elevado. A outra marca infantil não, a outra marca infantil é
uma marca que nós temos o objetivo de realmente ter 10.000, 12.000
pontos de vendas, diferente da marca F” e da “marca M” que nosso
objetivo é trabalhar com 3.000 pontos de venda (Entrevistado
13/Cultura).
Conforme documentos analisados na organização e as entrevistas realizadas, a
idéia da criação da“marca F” nasceu de um contrato de licenciamento que a Empresa
Dedal & Agulha tinha com uma marca infantil de outra empresa. Devido ao sucesso
conquistado pelos produtos dessa marca, a empresa decidiu pelo desenvolvimento de uma
marca própria, e então nasceu a “marca F”. Ao desenvolver a “marca F” definiu-se que não
seria apenas uma marca, mas a construção de um personagem, ‘uma personagem com
alma’, com uma história, um ambiente familiar, um perfil psicológico. A “marca F” então é
lançada em abril de 1991. Dois anos após o lançamento da “marca F”, nasce a “marca M”
direcionada para o público infantil masculino e também caracterizada por um personagem.
Os produtos dessas marcas são direcionados para crianças de 03 meses a 12 anos,
sendo criados e produzidos no estado de Santa Catarina, e distribuídos em lojas nos estados
do RS, SC, PR, SP, RJ, MG e ES. São lançadas seis (6) coleções por ano desses produtos,
sendo três (3) coleções no primeiro semestre e três (3) no segundo semestre. A célula
responsável pela criação dessas coleções possui uma (1) stylist, três (3) estilistas, quatro (4)
desenhistas e duas (2) modelistas. Nessa célula ainda dois (2) coordenadores de marca
responsáveis pelas informações de mercado, ou seja, as informações sobre a concorrência,
clientes e consumidores. A stylist é responsável por trazer as informações sobre tendências
de moda e coordenar a criação, sendo que essa função existe na célula de criação dos
85
produtos aqui analisados. São realizadas duas viagens ao ano para o exterior a fim de
pesquisar as tendências de moda; a stylist participa das duas viagens e as estilistas
revezam-se entre si. Rech (2002) explica que a função do designer de moda ou estilista é o
desenvolvimento de produtos com conceitos e tendências de moda, o que é confirmado por
um dos entrevistados, conforme conteúdos em seqüência:
A estilista tem a informação de tendência de moda [...] (Entrevistado
25/Criatividade).
A criação desses produtos inicia-se com uma pesquisa de tendências de moda,
onde são realizadas pesquisa em birô (Promostyl), em revistas nacionais e internacionais,
internet, viagens internacionais, e outros. O birô utilizado na empresa pesquisada está entre
os birôs mais conhecidos mundialmente. Assim, é criado um tema ou história para o
personagem, sendo que essa história fundamenta a criação de todas as coleções do
semestre. Treptow (2003) explica que essa história é o argumento, a inspiração de uma
coleção. Conforme a autora, uma marca de moda é mais ou menos como uma Escola de
Samba, ou seja, a cada coleção traz um novo samba enredo, uma nova história a contar,
mas mantém as características que são atributos da marca, ou seja, o estilo, a sua
identidade. Assim, o que varia de uma estação para a outra é o tema de coleção, que numa
Escola de Samba seria o samba enredo.
[...] existe pesquisa de tendência em birô, a partir dessa pesquisa, a gente
tem pesquisa de mercado para ver qual é a nossa realidade, a gente traz o
que é de tendência, temas para o universo dessa criança, desse menino da
“marca M”, a gente cria uma historinha. [...], a gente adapta, transforma
para o universo da criança. [...]. A gente às vezes faz até viagem e traz
referências, a gente vai mais afundo. [...], não para ti pegar na internet
e em livro, tu tens que ir lá e ver como é que é, e aí a gente transfere todas
essas informações, formas, cores. [...] (Entrevistado 19/Criatividade).
Por exemplo, nas três (3) coleções do segundo semestre de 2005, ou seja, Coleção
Verão 2005, a história que fundamenta as coleções desses produtos é sobre uma viagem de
férias dos personagens da “marca F” e da “marca M” para Florianópolis. O tema central
para a criação das três coleções do semestre foi Magia Tropical, sendo que cada uma das
coleções do semestre é uma interpretação do tema central.
A tendência internacional, segundo os entrevistados, foi adaptada para o universo
do personagem por meio dessa viagem. Nos produtos da “marca F” destacam-se, nessas
coleções, elementos como a renda, as fitas de cetim, o tule, formas artesanais, o rústico. Na
86
“marca M”, os sinais de trânsito, os grafites, inscrições rupestres, animais marinhos,
mosaicos, o surf. Segundo um dos entrevistados, o que influencia a criação do produto
pode ser resumido da seguinte forma:
A gente traduz o que acontece fora para o mercado nacional, quer
dizer, a gente mistura tendência. A gente não trabalha o que é bom
fora, o que vai acontecer lá fora, mas a gente estuda um pouco da
regionalidade ou uma coisa mais nacional, para ser comercial no nosso
mercado (Entrevistado 25/Criatividade).
Para Treptow (2003) uma coleção não deve se limitar a reproduzir as tendências
pesquisadas no exterior, ou seja, ela deve ir além apresentando uma ‘cara’ própria. Assim,
o designer deve pesquisar o tema escolhido, buscando elementos de inspiração.
Após a contextualização da empresa e a caracterização do produto pesquisado, são
apresentados, a seguir, os dados coletados conforme os objetivos definidos no estudo, a
revisão de literatura e as categorias de análise pré-definidas. Assim, é caracterizada a
cultura da Empresa Dedal & Agulha, avaliado o seu potencial para o desenvolvimento da
criatividade e verificada a expressão da criatividade no produto estudado.
5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Neste capítulo são apresentados, analisados e interpretados os dados coletados na
Empresa Dedal & Agulha. Primeiramente, é dissertado sobre a cultura organizacional e
criatividade, e em seguida aborda-se a expressão da criatividade no produto moda
vestuário infantil da empresa.
5.1 A CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA DEDAL & AGULHA E A
CRIATIVIDADE
Conforme os procedimentos metodológicos definidos para este estudo, a cultura
organizacional da Empresa Dedal & Agulha foi analisada por meio da análise de quatro
subdimensões que foram: formação de identidade, liderança, regras não-escritas e
orientação externa. Essas subdimensões, de acordo com Volberda (1998), tendem a
bloquear ou facilitar o desenvolvimento do potencial de flexibilidade cultural da
organização, fazendo com que a cultura varie em um continuum de conservadora a
inovadora. Em uma cultura conservadora, as crenças e valores existentes na organização
restringem fortemente seu potencial de flexibilidade, no caso de uma cultura inovadora,
as crenças e valores mantidos pela organização e por seus membros contribuem para o
crescimento de seu potencial de flexibilidade, aqui analisado como potencial de
criatividade. Um ponto que merece destaque é que a simples medição do potencial de
flexibilidade, segundo o autor, não é suficiente para que se possa concluir que a
organização pesquisada é ou não inovadora. Para isso, o autor salienta que seria necessária
a análise das capacidades gerenciais e das forças de competição do ambiente, as quais
determinam o nível de turbulência, a dinâmica e complexidade das mudanças ambientais.
Assim, o que se busca avaliar com a análise dos potenciais são as características
organizacionais que podem facilitar ou dificultar a flexibilidade da organização. No que
diz respeito à cultura organizacional, as características que podem influenciar no potencial
de flexibilidade referem-se às crenças e aos valores subjacentes que são reconhecidos e
valorizados pelos membros da organização. Enfatiza-se, aqui, a afirmação de Carr (1997),
88
na qual o autor salienta que uma empresa só é verdadeiramente criativa quando sua
criatividade se torna a maneira diária de fazer as coisas. Quando ela passa a ser um sistema
criativo, ou seja, a ter criatividade em sua totalidade.
5.1.1 Formação de identidade
Volberda (1998) explica que a identidade organizacional representa o
entendimento que os membros da organização compartilham entre si sobre o que a
organização é e de como ela deve operar; sendo que ela é manifestada nos valores e nas
práticas culturais. Os valores correspondem ao nível mais profundo da cultura e são
moldados pela missão da organização e sua história (estórias, lendas, anedotas, eventos).
As práticas culturais consistem em símbolos (palavras, gestos, quadros ou objetos), heróis
e rituais. Primeiramente são apresentados a missão, história, valores, mbolos, heróis e
rituais da Empresa Dedal & Agulha. Em seguida, analisou-se as variáveis comunalidade,
extensão e heterogeneidade que formam essa subdimensão e caracterizam o seu potencial
de flexibilidade ou potencial de criatividade.
A missão organizacional, um dos fatores que molda os valores organizacionais,
corresponde a um conjunto de idéias as quais os membros compreendem e se identificam
com as mesmas. Esse conjunto de idéias reflete a relação que a organização possui com seu
ambiente (VOLBERDA, 1998). A missão da organização pesquisada é “Encantar clientes
e consumidores no segmento do vestuário”, e a sua visão é “Vestir o corpo e a alma das
pessoas”. Além da missão que envolve a empresa como um todo, as diversas áreas da
Empresa Dedal & Agulha possuem uma missão específica, bem como valores para cada
setor que compõem essas áreas. Ambos são explicitados para todos os funcionários e
expostos em murais. Na Área Industrial, por exemplo, a sua missão é “Fornecer produtos
acabados aos clientes dentro das expectativas de flexibilidade, velocidade de entrega,
qualidade e custos, utilizando com inteligência os recursos disponíveis”. Na Área de
Recursos Humanos, a missão é “Ser o parceiro mobilizador das pessoas para cultivar uma
Organização vencedora”.
Entre os funcionários entrevistados foi possível constatar que todos conhecem a
missão e a visão da organização, e os mesmos enfatizavam constantemente a importância
de ambas como um norteador para suas ações. Os relatos que se sucedem procuram ilustrar
a dimensão concebida à missão e à visão.
89
[...] o meu comportamento tem que seguir exatamente a visão e a missão
da empresa. Eu tenho que me comportar de acordo com esses parâmetros
que são definidos por elas [...]. É um padrão, é um referencial que a
empresa dá para os seus colaboradores, para que sigam, e que a gente use,
pratique, busque trabalhar realmente dessa forma (Entrevistado
15/Cultura).
[...] eu pelo menos faço todo possível e busco a cada dia ficar dentro do
foco da missão da empresa, eu faço isso diariamente (Entrevistado
02/Cultura).
De acordo com os sujeitos entrevistados,
praticar a missão e a visão
organizacional diariamente é algo que já faz parte da cultura da empresa. Segundo o
entrevistado 09 ‘já entra numa coisa de piloto automático’.
Aqui a gente tem uma cultura de sempre relembrar muito quais são tanto
a missão como a visão da corporação, e principalmente as pessoas que
estão na parte estratégica da empresa são sempre demandadas a nunca
esquecerem [...] (Entrevistado 09/Cultura).
Para mim não é muito difícil com trinta anos de empresa, já está na raiz,
está no sangue, essa cultura, essa visão da empresa (Entrevistado
07/Cultura).
Além de ter a missão e a visão da empresa como referenciais para o agir dentro da
organização, os entrevistados destacaram também a importância dos clientes e
consumidores para o negócio da empresa. Sendo que estes são o foco da visão e da missão
organizacional.
Isso no dia-a-dia nosso a gente trabalha diretamente com isso, não dá para
deixar de lado. Então a gente está sempre preocupada em fazer, atender e
encantar. É muito forte tanto que no meu trabalho eu sempre tenho que
ter aquela visão de estar preocupada com o cliente, de fazer o melhor [...]
(Entrevistado 12/Cultura).
Eu procuro fazer o máximo né, fazer as coisas com boa qualidade para
que os clientes e até eu mesma chegue na loja e compre um bom produto,
de boa qualidade (Entrevistado 17/Cultura).
Para
Martins e Terblanche (2003), a origem da criatividade e inovação está no
compartilhamento de uma visão e missão cujo foco é o futuro. Além disso, segundo os
autores, a visão e missão de uma organização criativa e inovadora também são orientadas
para o cliente e para o mercado, focalizando a solução dos problemas dos clientes. Alencar
(1996), Carr (1997), Duailibi e Simonsen (1990), Rodrigues e Silva (1998) e outros
90
enfatizam que o foco no cliente é um fator que favorece a busca da criatividade na
empresa.
Os conteúdos apresentados a seguir foram expostos pelos sujeitos envolvidos
diretamente na criação do produto moda vestuário infantil e visam evidenciar a influência
da missão da empresa na criação desse produto.
Então eu procuro sempre colocar alguma coisa que fique mais
engraçadinha, que desperte alguma coisa a mais do que simplesmente
ter a roupa para vestir, porque o primeiro objetivo é vestir mas tem que
encantar, tem que ter alguma coisa a mais (Entrevistado 20/Criatividade)
.
[...] é passar de uma história de cobrir o corpo e sim de encantar; e para
encantar você tem que ser diferente, tem que ser criativo, tem que
entender os anseios do consumidor, tem que falar diretamente com ele, é
isso que eu acho que a gente consegue (Entrevistado 26/Criatividade).
A história da organização, conforme Volberda (1998), também molda os valores
organizacionais e pode ser identificada por meio das estórias, lendas, anedotas, eventos.
Para a maioria dos entrevistados observou-se que houve alguns eventos ocorridos ao longo
da história da organização que foram marcantes. Dentre esses eventos se destacam a
comemoração dos 40 anos da empresa, onde se iniciou um projeto de voluntariado
desenvolvido pelos colaboradores; algumas crises passadas pela organização; a
diversificação de produtos e lançamento de novas marcas, em destaque os produtos
analisados nesta pesquisa; e a implantação do programa Inova Empresa Dedal & Agulha’
em 1993.
O aniversário de 40 anos da empresa em 2004 foi o evento mais citado entre a
maioria dos entrevistados. Segundo eles, foi um evento marcante, principalmente, pelo fato
que se iniciou um projeto de voluntariado desenvolvido pelos colaboradores da
organização.
[...] o dia do voluntariado em 2004, uma ão que conseguiu congregar
uma série de fatores que caracterizam muito a Empresa Dedal & Agulha.
A gente aproveitou a comemoração dos 40 anos da empresa e convidou
os colaboradores, os fornecedores, as pessoas enfim que estão ligadas
com a atividade fim da empresa para que fizessem um trabalho de
voluntariado, ou seja, doassem dentro das suas atribuições o seu dia a fim
de beneficiar a comunidade como um todo, a comunidade mais carente
[...]. A empresa entrou com os recursos fabris [...] e os colaboradores
doaram o seu tempo [...]. A imagem da empresa como um todo cresceu
diante da opinião pública, mais uma vez o nosso colaborador como parte
integrante da comunidade se sentiu valorizado por fazer parte desse
91
movimento. Nos anos recentes talvez esse seja um dos pontos mais
relevantes (Entrevistado 09/Cultura).
Um fato muito marcante para os funcionários da empresa e isso envolveu
bastante a comunidade, foi a comemoração dos 40 anos da empresa no
ano passado, onde apoiado num trabalho de voluntariado a empresa
promoveu uma ação junto aos funcionários com o objetivo de doação de
roupas. Isso fez com que a vibração dessa empresa naquele período fosse
uma coisa sensacional. As pessoas realmente ficaram envolvidas a ponto
de superar os objetivos propostos e foi muito bom [...], tudo isso foi
coroado com um show[...], a gente resultados até hoje, por conta disso
grupos de voluntariado foram formados aqui dentro da empresa [...]
(Entrevistado 13/Cultura).
As comemorações realizadas pelas organizações são consideradas rituais pelos
estudiosos da cultura organizacional (BEYER;TRICE, 1984; FLEURY 1988 e FREITAS,
1991). Os rituais, de acordo com Freitas (1991), fornecem um senso de segurança e
identidade comum. A autora afirma que eles tornam a cultura organizacional mais tangível
e coesa. Aqui, ainda, é importante destacar, conforme o discurso dos entrevistados, que a
‘responsabilidade social’ é um valor fortemente compartilhado entre muitos deles, sendo
que o desenvolvimento da comunidade é um valor esposado formalmente pela empresa.
Em segundo lugar, no que tange a eventos da história que foram marcantes, foram
citados os períodos de crise da empresa. Segundo a maioria dos entrevistados, eles foram
vividos da seguinte forma:
Nós tivemos durante toda a história da empresa três anos em que ela deu
prejuízo, foram momentos difíceis, foi em 81, 91, 2002. Mas eles
serviram para gente de repente parar e rever o que a gente estava fazendo,
porque às vezes quando você acha que tudo vai bem, você entra numa
zona de conforto e acomoda, sempre que uma virada dessas, serve
para você acordar e dar um salto (Entrevistado 07/Cultura).
Uma coisa que eu acho que não foi boa como ação, que trouxe um
aprendizado muito grande para empresa foi um determinado momento de
crise, que algumas ações precisavam ser feitas para redução de custos. A
empresa com muita seriedade, responsabilidade que a caracteriza, mas ela
tomou uma decisão de demitir com o foco no financeiro, na redução de
custos. [...] e depois ao longo do tempo viu que isso teve conseqüências
importantes naquilo que era o seu maior bem, que era justamente a
qualidade (Entrevistado 16/Cultura).
Quando fazia uns 04 anos que eu estava aqui na Empresa Dedal &
Agulha, houve uma crise mas não foi mandado ninguém embora, eles
procuraram manter o pessoal, foi feito banco de horas e dadas férias
antecipadas para as pessoas (Entrevistado 05/Cultura).
92
Os produtos aqui estudados foram lançados quando a empresa passava por um
momento de crise. O relato disposto a seguir procura evidenciar a influência desse
momento e sua relação com o produto moda vestuário infantil.
Analisando o histórico da Empresa Dedal & Agulha, um dos grandes
momentos de muita felicidade, de decisões da empresa, foi o momento
que ela buscou nichos de mercado, desenvolvendo marcas para cada um
desses segmentos. Foi daí por exemplo que nasceu uma “marca F”,
nasceu uma “marca M” e das diversas marcas que a empresa tem hoje, ‘F
& M são o maior sucesso, são as marcas Top do mercado de roupa
infantil’, ‘é a grife do setor infantil’, e está sendo lançada hoje
mundialmente e se expandindo para o mundo. Mas foi atrás que foi
decidido, num momento de crise, de dificuldade, a empresa tinha tido
prejuízo no ano e a partir daí ela decidiu realmente buscar os nichos com
cada uma das suas marcas. Foi uma decisão estrategicamente bastante
interessante e de para a empresa vem crescendo bastante. Em 91
teve prejuízo e foram lançadas as grandes marcas (Entrevistado
15/Cultura).
Com base na fala dos entrevistados é possível verificar que predomina uma
perspectiva de que as crises são momentos de aprendizado e superação. Fleury (1988) e
Schein (1984) destacam a importância dos incidentes críticos da história da organização.
Para Schein (1984), a cultura organizacional é o conjunto de premissas básicas que foram
estabelecidas e descobertas no processo de aprendizagem de solução de problemas de
adaptação externa e integração interna, e que por funcionarem suficientemente bem foram
consideradas válidas e ensinadas aos outros membros da organização como a maneira certa
de agir em relação a esses problemas. Martins e Terblanche (2003) salientam que os erros
podem ser ignorados, encobertos, usados para castigar alguém ou percebidos como uma
oportunidade de aprendizagem. Kneller (1978) enfatiza que uma das principais condições
para o desenvolvimento da criatividade é saber aprender com o erro.
A diversificação de produtos com o lançamento de novas marcas também foi um
dos eventos que, conforme os entrevistados, marcou a história da empresa. Os conteúdos
dispostos na seqüência visam retratar esse momento.
Em determinado momento a Empresa Dedal & Agulha mudou um pouco
seu rumo para elevar um pouco a marca, para atingir um outro público, aí
nesse momento aconteceu que ela começou a diversificar muito os seus
produtos. [...]. Isso tudo eu vivi e me marcou, a gente ficava até em
dúvida, será que esse novo passo vai dar certo, será que a gente não vai
acabar voltando para uma linha mais popular (Entrevistado 06/Cultura).
93
A Empresa Dedal & Agulha tem vários momentos felizes, para
destacar alguns, como por exemplo o lançamento de algumas marcas, no
momento que a empresa resolveu escolher nichos de mercado para atuar,
pois no começo era uma marca, desde de bebê até adulto era a mesma
marca. Então no momento que a Empresa Dedal & Agulha começou a
explorar nichos de mercado e a usar marcas como a “marca F” por
exemplo que hoje realmente é um sucesso, as crianças querem isso, tem
um clube que tem 160 mil sócias. Isso é algo fantástico para empresa, ela
participou do Fashion Rio, primeira vez que uma grife infantil participa
[...] (Entrevistado 07/Cultura).
Aqui é importante enfatizar que com a diversificação dos produtos da empresa
nasceram os produtos moda vestuário infantil investigados nesta pesquisa. Esses são
considerados, segundo os entrevistados, o ‘xodozinho da empresa’, ‘o coração da
empresa’. Alguns entrevistados que participam diretamente da sua criação destacaram a
influência da cultura da empresa nos personagens que caracterizam esses produtos.
Segundo eles, os personagens são ‘politicamente corretos’, ‘ecologicamente corretos’,
‘possuem uma alma’. Foram destacadas, ainda, as seguintes características desses
produtos: ‘produto de qualidade’, ‘produto durável’, ‘é novidade’, ‘produto diferenciado’,
‘atende a necessidade do cliente’, ‘encanta o cliente’
.
A implantação de um programa chamado ‘Inova Empresa Dedal & Agulha’ em
1993 se destacou, nas entrevistas, como um marco na história da empresa, como um
‘divisor de águas na história da empresa’. Esse programa, conforme informações obtidas
junto à organização, foi implantado após algumas mudanças ocorridas na empresa durante
os anos de 1991 e 1992. Essas mudanças foram: profundo trabalho de down-sinzing,
aumento da produção, investimentos em modernização do parque fabril. O programa foi
desenvolvido por uma consultoria, e representava um guarda-chuva’ para a implantação
de ações que visavam motivar e alcançar o comprometimento dos funcionários. As
principais ações foram: qualificação das lideranças e equipes, implantação do Programa de
Participação dos Colaboradores nos Resultados/Lucro da Empresa (PPCRLE ), e
implantação dos CCQs. Todas as lideranças foram treinadas dentro da Teoria das
Restrições
10
.
10
A Teoria das Restrições foi desenvolvida por Goldratt. Segundo o autor, existem diversos tipos de
restrições que impossibilitam a organização alcançar sua meta. Estas podem ser físicas, como uma máquina
com baixa capacidade produtiva, despreparo ou baixo número de empregados, ou então restrições não físicas,
como as restrições de política da empresa, comportamentais, culturais ou de mercado. Entretanto, o autor
salienta que as restrições físicas podem ser consideradas, na maioria das vezes, como reflexos das restrições
comportamentais ou de procedimentos da organização (GOLDRATT, 2002).
94
Faz-se importante destacar o comentário de um funcionário, o qual enfatizou que
antes da implantação desse programa os funcionários eram revistados antes de sair da
empresa, e para ir ao banheiro precisavam pedir a chave a um monitor. Os relatos que
seguem ilustram o que foi esse programa e a conseqüente repercussão dentro da
organização.
Teve uma fase importante que merece ser citada, foi uma ‘revolução
cultural’ que nós fizemos no ano de 1993. Então até 1993, a Empresa
Dedal & Agulha tinha uma espécie de administração mais sisuda, com
menos liberdade e a partir de 1993 nós passamos a ter uma ‘liberdade
com responsabilidade’. Então isso foi um marco que mudou muito o
comportamento das pessoas. Era uma ação que se chamava Inova
Empresa Dedal & Agulha’, foi uma quebra de paradigmas que s
tínhamos dentro da empresa. Imagina que até 1993 se tivesse alguém por
exemplo ouvindo um rádio dentro da empresa seria tachado de alguma
coisa totalmente proibida. A partir daí foi liberado isso, foi mostrado que
isso podia ter sem afetar a produção; imagina fazer ginástica laboral ou
coisa parecida, isso era coisa impensada até aquele momento. Foi
exatamente dia 30 de Julho de 1993 [...], onde se começou a quebrar
alguns paradigmas que nós realmente tínhamos como dogma, ah! isso não
pode fazer, isso é errado. A partir de um trabalho mais ou menos
programado, a gente mudou muito a filosofia de como a empresa
trabalhava antes e depois desta data. A partir daí muitos muros caíram.
[...]. Essa ‘revolução cultural’ é que trouxe essa abertura, as pessoas hoje
podem montar um presépio dentro do setor para comemorar o Natal, elas
podem fazer uma festa do dia da costureira, elas podem trazer um bolo
para comemorar o aniversário de quem quiser, hoje isso é muito natural
(Entrevistado 02/Cultura).
Nós tivemos uma vez um programa Inova Empresa Dedal & Agulha, a
gente teve uma mudança grande em relação a comportamentos, mudanças
administrativas. Tem coisas que a gente fez lá e vai aplicando. [...].
Mexeu com toda a estrutura, a empresa toda se envolveu. A gente teve
um dia bem especial que todo mundo teve liberdade para organizar o seu
setor, aquele dia foi muito bom, a gente tirou muita coisa boa por muito
tempo (Entrevistado 12/Cultura).
Abrangeu todas as áreas, foi um movimento grande, tinha que abolir
papel, tinha que abolir um monte de coisa, foi lançado vários programas,
programa de limpeza e organização, de corte de custo, papelada. Teve a
fase também de se tirar as barreiras entre os setores, foram abolidas as
paredes, teve todo esse movimento[...]. É um dos eventos que também
mudou a história. [...] (Entrevistado 18/Cultura).
Com isso, pode-se inferir, conforme os conteúdos expressos pela maioria dos
entrevistados, que a inovação tem um papel fundamental na empresa e que é reconhecido
por exemplo por meio da implantação desse programa. Mintzberg; Ahlstrand e Lampel
(2000, p.199) enfatizam a seguinte afirmação: “Dizem que as empresas bem-sucedidas (ou
95
'excelentes') são 'dominadas' por valores-chave, tais como atendimento, qualidade e
inovação [sem grifo no original], os quais, por sua vez, provêem vantagem competitiva”.
O valor ‘empresa inovadora’ é fortemente compartilhado por grande parte dos
entrevistados. Sendo que, ainda, a Inovação representa uma das competências utilizadas na
avaliação de competências desenvolvida pela organização. A inovação, como palavra, foi
um termo de linguagem que constantemente apareceu no discurso dos entrevistados.
Ainda, dissertando sobre a história da organização, verificou-se que a empresa
possui dentro das suas dependências um Centro de Memórias onde a sua história é revelada
por meio de objetos, quadros, documentos, fotos, filmes e outros. Segundo Schein (1984),
os artefatos visíveis têm um papel importante na disseminação e manutenção da cultura.
A missão e os principais eventos da história da organização definem o nível mais
profundo da cultura que são os valores organizacionais (VOLBERDA, 1998). Na empresa
pesquisada, os valores estão declarados de forma clara em seu Código de Ética. Sendo eles:
Acionistas (orientação para resultados), Colaboradores (as pessoas fazem a diferença),
Prontidão às Mudanças e Atualização Tecnológica (atenção às sinalizações dos ambientes
internos e externos), Relação com Fornecedores/Prestadores de Serviços (harmonia e
transparência visando a garantia de qualidade e confiabilidade), Comunidade (estimular o
desenvolvimento sociocultural), Meio Ambiente (minimizar os impactos ambientais),
Clientes e Consumidores (satisfazer e superar suas expectativas), Comunicação com o
Consumidor (clareza e transparência).
A Empresa Dedal & Agulha explicita também no seu Código de Ética, o que ela
denomina de Princípios Empresa Dedal & Agulha, sendo eles: Transparência e foco em
resultados, Gestão participativa e comprometimento (Liberdade com responsabilidade),
Prontidão às mudanças, Satisfação do cliente, Atualização tecnológica e competitiva,
Cooperação com fornecedores, Desenvolvimento da comunidade, Respeito ao meio
ambiente. Esses princípios antecederam a formulação do Código de Ética da empresa.
Os valores fortemente compartilhados entre a maioria dos entrevistados foram:
‘foco no cliente’, ‘empresa empreendedora’, ‘empresa inovadora’, ‘foco na qualidade’,
‘valoriza os seus colaboradores’, ‘tem responsabilidade social’, ‘empresa ética’, ‘empresa
dinâmica’, ‘empresa sólida’, ‘a empresa é uma família’, ‘empresa humana’, ‘tem um
produto diferenciado’, ‘tem um bom ambiente de trabalho’, ‘empresa que transmite
confiança’. Muitos desses valores vão ao encontro com os valores explicitados no Código
de Ética da empresa. Conforme alguns entrevistados, o Código de Ética nasceu de valores
que já eram adotados mas não estavam formalizados.
96
[...] não tivemos nenhum impasse, nenhum impacto de constrangimento
para implantar, pois acontecia, ele tomou forma, formalizou
(Entrevistado 16/Cultura).
[...] o que existe de fato é quase que uma unidade em torno dos
princípios, isso sim. Até porque os princípios e os valores da Empresa
Dedal & Agulha não foram impostos, houve a participação de várias
pessoas para construir isto. E depois de construído foi repassado. Por
exemplo, quando foi passado os princípios foi feita reunião com todos os
colaboradores da empresa e naquela época quem fez a reunião foi o nosso
presidente com todos eles. Não foi alguma coisa que alguém empurrou
para baixo [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Por meio das falas dos entrevistados foi possível constatar que tanto os dirigentes
como os demais funcionários procuram adotar esses valores na sua prática diária. Os
relatos que surgem imediatamente evidenciam a ênfase reportada aos valores esposados
pela organização.
[...] para mim, sempre que eu estou tomando alguma decisão sobre algum
determinado assunto, alguma decisão estratégica, mesmo de
comportamento, me vem à mente sempre essa questão de valores, dos
princípios, para ver se a gente es coerente com aquilo que a gente
definiu como estratégia (Entrevistado 11/Cultura).
Para mim é simples adotar esses valores [...], é uma prática diária
(Entrevistado 18/Cultura).
Os valores dos diversos setores estão também expostos em murais. Na Área
Industrial, por exemplo, esses valores o: reconhecimento, abertura, iniciativa, interesse
genuíno, responsabilidade, espírito de equipe, ética profissional, persistência, disciplina.
As crenças da Área de Recursos Humanos, segundo um documento exposto no mural do
departamento, são:
As pessoas podem ser desenvolvidas,
As pessoas fazem a diferença no resultado da Organização,
É imprescindível compreender as necessidades das pessoas,
O alinhamento entre os interesses dos colaboradores e da Empresa gera
maior produtividade,
Os Líderes são responsáveis pela Gestão de Pessoas,
O RH é agente facilitador no desenvolvimento das pessoas,
A comunicação eficaz e transparente é vital para a Organização,
A diversidade deve ser estimulada.
No discurso dos entrevistados e nas práticas de gestão verifica-se que a
organização está alinhada com as perspectivas de Gestão de Pessoas tratadas na literatura
97
atual (BITENCOURT, 2004). É importante destacar que a maioria dos entrevistados
enfatizou os valores ‘valoriza os seus colaboradores’ e ‘empresa humana’. Sendo que,
Gestão de Pessoas é uma das competências
11
utilizadas na avaliação de competências
aplicada pela empresa. As palavras ‘colaboradores’, ‘gestão participativa’,
‘comprometimento’ foram termos que se destacaram bastante na fala de muitos
entrevistados. Com isso, constata-se que uma tentativa de uniformizar e coletivizar a
compreensão do papel das pessoas na empresa e que o discurso da maioria dos
entrevistados é apropriado a essa prática. Os estudiosos da temática criatividade
(ALENCAR, 1996; CARR, 1997; DUAILIBI; SIMONSEN, 1990; e outros) salientam que
o foco nas pessoas facilita o desenvolvimento da criatividade na organização.
Martins e Terblanche (2003) destacam que valores como rigidez, controle,
previsibilidade, e estabilidade dificultam a expressão da criatividade dentro da
organização. Valores esses que não correspondem aos esposados pela organização
investigada e compartilhados pela maioria dos entrevistados.
No nível das práticas culturais, Volberda (1998) menciona os símbolos, heróis e
rituais que correspondem às expressões mais superficiais da cultura. Os símbolos
(palavras, gestos, quadros ou objetos) puderam ser identificados em palavras que refletiam
o pensamento existente dentro da organização. No discurso dos entrevistados destacaram-
se termos como ‘colaboradores’, ‘gestão participativa’, ‘inovação’, ‘comprometimento’,
‘participação nos resultados’, ‘liberdade com responsabilidade’, ‘família Empresa Dedal &
Agulha’, ‘qualidade’, ‘bom ambiente de trabalho’. Ao analisar os valores esposados pela
empresa em seu Código de Ética, bem como os valores compartilhados pela maioria dos
entrevistados é possível constatar que muitas destas palavras estão relacionadas com os
mesmos. Destaca-se que a ‘liberdade com responsabilidade’ é um dos princípios tidos
como política central da valorização do ser humano dentro da organização.
Os quadros expostos na organização possuem em geral referência à missão e
valores das áreas. Os objetos usados para decoração são na sua maioria objetos pessoais e
coloridos. Esta característica pode dar ao ambiente um aspecto mais familiar, humano e
agradável, o que também reflete os valores disseminados formalmente pela organização e
compartilhados pelos sujeitos da pesquisa.
11
Competência corresponde a “um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos que
permitem ao indivíduo desempenhar com eficácia determinadas tarefas, em qualquer situação” (RABAGLIO,
2001, p. 03).
98
Outro elemento necessário à compreensão da identidade organizacional são os
heróis ou campeões. Eles são reconhecidos pelos funcionários e servem como modelo de
comportamento.
Dois foram os personagens que mais se destacaram entre os entrevistados, “o
fundador” e o “atual presidente”. Os relatos que se sucedem revelam a importância desses
dois personagens para os sujeitos da pesquisa.
[...] a forma de pensar desses dois é muito semelhante, muito baseado em
princípios éticos, em princípios de justiça, de igualdade e com foco
sempre no resultado; mas não naquele resultado financeiro
especificamente, no resultado global do negócio, imaginando assim a
sustentabilidade no sentido da continuidade da empresa por muitos e
muitos anos [...] (Entrevistado 08/Cultura)
O “fundador” da empresa é considerado uma pessoa bondosa, humana, simples,
humilde, extremamente dedicada, ética, justa, segura, com foco no sucesso da empresa
como um todo. Segundo um dos entrevistados ele tinha um estilo ‘mais paternalista’. Os
relatos dispostos na seqüência procuram evidenciar algumas dessas características.
Uma grande pessoa é o próprio “fundador”, apesar de que hoje ele não
está mais na empresa, já está aposentado mas ele sem dúvida foi uma
pessoa que fez a Empresa Dedal & Agulha [...]. A sua própria pessoa de
bondade, pessoa que sempre esteve voltada para os interesses muito mais
da empresa do que particulares. Foi uma pessoa, no tempo que esteve
aqui dentro da empresa, de extrema dedicação que para mim marcou
muito, porque é uma pessoa que nunca se preocupou com o ter dela e sim
com o ter da empresa. Tudo que ele fez sempre foi se preocupando com a
empresa, a sua dedicação extra, horas e horas às vezes de perda de sono;
era a primeira pessoa a chegar na empresa, era a última a sair. Então, a
sua extrema dedicação, a forma como ele via a empresa, eu acho que um
pouco de exemplo disto ele deixou em algumas pessoas (Entrevistado
02/Cultura).
[...] nós temos unidades de costura fora, várias vezes as pessoas
chegavam no turno, às 05 horas da manhã, as costureiras para
trabalhar, e encontravam na porta da fábrica o “fundador” esperando e
cumprimentando uma a uma [...]. Eu não vi depois dele ninguém mais
fazer isso [...]. Perguntava como estavam, queria ver o local de trabalho,
se faltava alguma coisa e fazia isso costumeiramente [...], quando a
gente chegava às 07:30 a mesa estava cheia de bilhetes com
recomendações de todos os lados. [...]. É um grande exemplo
(Entrevistado 07/Cultura).
O nosso “fundador”, ele foi a pessoa que idealizou esse negócio todo, a
característica principal dele era a humildade. Um senhor que a gente
conversava e entendia dele o quanto ele era responsável por esse negócio
99
todo, mas o quanto ele era humilde para aceitar que as pessoas o
orientassem sobre algumas coisas que ele não conhecia. Como por
exemplo, ele conhecia muito bem o lado produtivo do negócio e discorria
sobre isso de uma maneira extremamente fácil e enquanto que em termos
de gestão, de administração, novos mercados, ele não conhecia tão a
fundo como a área produtiva mas tinha humildade de buscar pessoas que
pudessem orientar nesse sentido [...] (Entrevistado 11/Cultura).
Algumas dessas características são constatadas em uma fala do “fundador” citada
por Campos (1994):
[...]. O meu sonho é na verdade trabalhar, trabalhar bastante. Desde o
amanhecer até após o anoitecer, não tenho grandes ambições, minha
principal ambição é o trabalho, o trabalho intenso, eu nem saberia fazer
outra coisa hoje [...]. Considero o trabalho como o primeiro e o mais
importante passo, é necessário bastante humildade também ’.
A autora destaca ainda a disciplina, introspecção, simplicidade, calma e
tranqüilidade como características do fundador”. Embora no ambiente físico da empresa,
a imagem fotográfica do fundador não seja algo presente ou evidente, a existência de um
Centro de Memórias e as estórias a ele relacionadas, servem para manter vivos os seus
ideais. Schein (1984) e Volberda (1998) salientam que o papel do fundador é essencial na
criação da cultura, pois ele traz para a organização um conjunto de pressupostos, valores,
perspectivas e artefatos, os quais são referenciais para os empregados.
O “atual presidente” da empresa, irmão do “fundador”, é considerado pelos
entrevistados como uma pessoa empreendedora, visionária, extremamente dedicada ao
trabalho, que transmite bastante confiança, dinâmica, objetiva, prática, determinada,
persistente, serena, otimista, arrojada, apaixonada. Os entrevistados destacaram que com a
presença do “atual presidente”, a Empresa Dedal & Agulha teve ‘um pouco de mudança
em termos de cultura’, pois o foco da organização que segundo eles era, até então, voltado
para produção passou para foco no mercado, ‘visão mais de número, de resultado’. Aqui, é
importante destacar, conforme dados coletados em documentos, que as mudanças ocorridas
a partir do ano de 1991, bem como a implantação do programa Inova Empresa Dedal &
Agulha’ foram realizadas com a entrada do “atual presidente” na gestão da empresa. Sendo
que na época, o mesmo ocupava o cargo de vice-presidente da empresa.
[...] o nosso diretor presidente, eu vejo ele como uma pessoa muito
empreendedora, uma pessoa que não tem medo de arriscar, ele vai e
arrisca, ele tem um objetivo, ele tem uma visão do todo que realmente dá
inveja e faz com que as pessoas também acreditem no que ele realmente
quer e traz para empresa. Então, o presidente hoje da Empresa Dedal &
Agulha é uma pessoa em quem se espelhar, o modo empreendedor dele,
100
como ele toca a empresa, pensando no futuro, no progresso, sempre
crescer, se atualizar. [...] A empresa só vai crescer se realmente ele
acompanhar o que está no mercado. A gente a isto pelos
investimentos que são feitos nas áreas, isso leva a empresa para cima
(Entrevistado 01/Cultura).
Dentro da organização, a pessoa marcante aqui, que conduz, que leva esta
empresa e trouxe esta empresa ao longo dos anos ao posicionamento que
ela está, é o presidente; uma pessoa extremamente visionária,
empreendedora, extremamente dedicada ao trabalho, e que transmite
bastante confiança a todos os seus colaboradores, a todos os seus gestores
e que dá dinâmica a esta organização (Entrevistado 03/Cultura).
Tem hoje a figura do “atual presidente”, não é por ser presidente, mas ele
tem uma característica diferente. Ele tem uma visão de mercado
extremamente forte, conseguiu colocar uma série de mudanças e uma
dinâmica espantosa. É um referencial neste sentido, é uma pessoa
extremamente atualizada, muito ágil, objetiva, prática, então a gente
aprendeu muito com ele [...] (Entrevistado 07/Cultura).
As características do “atual presidente”, citadas pela grande parte dos entrevistados,
estão associadas ao perfil de competências ideal apresentado na literatura. Nesse perfil
destacam-se o empreendedorismo, foco em resultados, agilidade, determinação, entre
outras características (RABAGLIO, 2001).
Os rituais que também constituem as práticas culturais podem ser observados na
empresa pesquisada por meio de diversas celebrações, comemorações e confraternizações
realizadas pela mesma. Conforme Volberda (1998), os rituais são atitudes coletivas que são
socialmente essenciais dentro de uma cultura. Beyer e Trice (1984) explicam que os rituais
de integração são utilizados para manter os indivíduos comprometidos com o sistema
social ao qual pertencem, por meio do enaltecimento de sentimentos comuns e de espaços
para integração.
A empresa possui uma Sede Recreativa na qual são realizadas diversas ações
culturais, esportivas e sociais, tais como: Homenagem por Tempo de Serviço,
Comemoração de Maio, Festa da Criança, Excursões, Jantares Dançantes, Gincanas,
Bingos, Festival da Canção, Fim de Semana Legal para os filhos dos funcionários, entre
outros. Dentre os entrevistados os principais rituais relatados foram: Homenagem por
Tempo de Serviço e de Maio. É importante salientar que esses rituais reforçam o caráter
da empresa como uma extensão da família dos funcionários. Conforme Fleury (1996), a
imagem da grande família é constantemente utilizada pelas empresas a fim de reforçar o
clima de camaradagem, confiança e o comprometimento das pessoas com os objetivos
organizacionais. Destaca-se aqui que o valor a empresa é uma famíliarepresenta um
101
valor fortemente compartilhado entre a maioria dos sujeitos da pesquisa, e a expressão
‘família Empresa Dedal & Agulha’ esteve presente constantemente nos relatos dos
entrevistados.
A Homenagem por Tempo de Serviço é dedicada aos colaboradores que
completam 10, 15, 20, 25, 30 e 35 anos. Os funcionários que completam 10, 15 e 20 anos
recebem como prêmio 1 salário nominal e um quadro onde constam diploma e medalha de
Mérito Profissional. Os colaboradores que completam 25 anos, recebem como prêmio um
relógio em ouro, bem como o quadro com o diploma e medalha de Mérito Profissional.
Para os colaboradores que completam 30 e 35 anos a Empresa Dedal & Agulha presenteia-
os com jóias e relógio e também o quadro com o diploma e medalha de Mérito
Profissional. O evento acontece próximo ao aniversário da empresa no Salão de Festas da
Recreativa e, além do Presidente, participam da homenagem os Diretores, Gerentes,
Chefes e companheiros dos homenageados. No ano de 2005 foram homenageados 147
funcionários com 10 anos de empresa, 51 com 15 anos, 22 com 20 anos e 7 funcionários
com 25 anos. Os conteúdos expostos em seguida procuram retratar a importância desse
ritual para os entrevistados.
A mais importante é aquela onde nós fazemos uma premiação por tempo
de serviço, a partir de 10 anos de 05 em 05 anos ela faz uma homenagem
[...].Eu destaco como mais importante, e eu percebo isso, a emoção das
pessoas porque vem a pessoa homenageada com o esposo ou esposa,
namorado, namorada [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Uma que eu entendo que é marcante nesse processo todo é a própria
homenagem por tempo de serviço [...], acaba sempre tendo um número de
homenageados muito grande pois acontece uma vez por ano [...]. A
empresa reconhece o valor, até porque se discutiu muito essa história de
que bacana era você passar por um monte de empresa para você ganhar
experiência, ganhar bagagem e essa forma da Empresa Dedal & Agulha
homenagear vai justamente contra isso; e eu acho extremamente
interessante, é a pessoa aprendendo [...]. Talvez seja a homenagem que
tem uma carga emotiva maior (Entrevistado 09/Cultura).
Na comemoração de de Maio é realizada uma festa com um bingo na Sede
Recreativa da empresa, onde são oferecidos diversos prêmios. Os relatos apresentados na
seqüência visam destacar a importância desse ritual para os sujeitos da pesquisa.
Outro que talvez é muito importante é o Dia do Trabalhador, de Maio,
onde realmente a Empresa Dedal & Agulha consegue reunir a expressiva
maioria com premiações muito grandes [...](Entrevistado 07/Cultura).
102
[...] acho que a festa mais marcante para os colaboradores é o 1º de Maio,
onde existe o bingo, quase todo mundo participa desta festa, onde sempre
tem um churrasco, a gente brinca bastante (Entrevistado 06/Cultura).
Após a apresentação dos valores e das práticas culturais que constituem a
subdimensão formação da identidade, disserta-se sobre as variáveis que caracterizam o
potencial dessa subdimensão para flexibilidade (comunalidade, extensão e
homogeneidade), no caso deste estudo o potencial de criatividade.
A comunalidade representa o quanto a identidade organizacional é comum entre
os membros da organização, sendo que se pode encontrar um conjunto de valores e
práticas culturais altamente compartilhados ou não. Quando altamente compartilhados têm-
se uma identidade forte e não havendo consenso no que diz respeito a valores essenciais,
tem-se uma identidade fraca.
Muitos são os valores altamente compartilhados que puderam ser observados a
partir das entrevistas com os membros da organização, sendo que muitos vão ao encontro
dos valores explicitados no Código de Ética da empresa. Os valores compartilhados que se
destacaram foram ‘foco no cliente’, ‘empresa empreendedora’, ‘empresa inovadora’, ‘foco
na qualidade’, ‘valoriza os seus colaboradores’, ‘tem responsabilidade social’, ‘empresa
ética’, ‘empresa dinâmica’, ‘empresa sólida’, ‘a empresa é uma família’, ‘empresa
humana’, ‘tem um produto diferenciado’, ‘tem um bom ambiente de trabalho’, ‘empresa
que transmite confiança’. Os relatos expostos a seguir visam destacar esses valores.
Os colaboradores vêem a Empresa Dedal & Agulha como uma empresa
que produz produtos de qualidade, eles vêem uma empresa associada à
solidez financeira, vêem a Empresa Dedal & Agulha como uma
oportunidade de crescimento e desenvolvimento profissional e vêem a
empresa também fazendo o seu papel social (Entrevistado 03/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha é como se fosse uma família, a gente
trabalha nela, a gente pega o sustento para gente. Eu trabalho com todo
amor aqui dentro. É uma família boa de se conviver aqui dentro. Eu gosto
muito de trabalhar na Empresa Dedal & Agulha, estou a 20 anos aqui,
não tenho reclamações (Entrevistado 04/Cultura).
A primeira imagem que me vem é de uma empresa moderna, inovadora,
porque ‘os produtos da Empresa Dedal & Agulha sempre buscam
apresentar esta característica, de sempre ser algo diferente do que existe
no mercado’. Olhando o produto por trás disso a gente sente a imagem da
inovação, da ‘flexibilidade’, da renovação constante (Entrevistado
07/Cultura).
103
Dentre os valores fortemente compartilhados pela maioria dos entrevistados,
destaca-se o valor ‘empresa sólida’, quanto a ele é importante destacar que, conforme
Duailibi e Simonsen (1990), empresas em processo de decadência econômica e financeira
raramente conseguem ser empresas criativas, com isso esse valor pode estimular a
criatividade dentro da organização pesquisada. Um outro valor que merece destaque é ‘a
empresa é uma família’, pois o sentimento de pertencimento, segundo Alencar (1998), é
um fator que favorece o desenvolvimento da criatividade. Destacam-se também valores
como: ‘empresa ética, ‘empresa que transmite confiança’, ‘valoriza os seus colaboradores’,
‘empresa humana’, pois para Rodrigues e Silva (1998), a confiança e valorização dos
funcionários são fatores que incentivam a expressão da criatividade. Na mesma direção,
Alencar (1996) e Srour (1994) enfatizam que a confiança no ambiente do trabalho estimula
a criatividade. Quanto ao valor ‘empresa dinâmica’, Bruno-Faria e Alencar (1996)
salientam que o dinamismo representa um fator que facilita o desenvolvimento da
criatividade. O valor ‘tem um produto diferenciado’ também é intensamente compartilhado
por grande parte dos entrevistados. Treptow (2003, p 87) afirma que “A diferenciação é
uma vantagem competitiva que pode e deve ser utilizada pelas confecções”. Para Porter
(1993), a diferenciação consiste em proporcionar ao comprador um valor extraordinário no
que diz respeito à qualidade do produto, características especiais ou serviços de assistência.
Conforme o autor, a diferenciação representa uma vantagem competitiva. Além do valor
‘tem um produto diferenciado’, enfatiza-se também o valor ‘foco na qualidade’
compartilhado por muitos dos entrevistados. Sendo que a palavra qualidade esteve presente
na maioria dos conteúdos das entrevistas, e manter elevados padrões de qualidade dos
produtos e serviços é um dos objetivos organizacionais explicitados em seus documentos.
Alencar (1993) assinala que na busca da qualidade de produtos e serviços, a criatividade é
estimulada. O conteúdo exposto abaixo busca retratar essa busca de diferenciação e
qualidade em relação aos produtos aqui analisados.
A “marca F” e a “marca M” são marcas que as pessoas desejam comprar;
e segundo eles m uma expectativa muito grande de que a Empresa
Dedal & Agulha sempre compareça com alguma novidade porque a
empresa ao longo dos anos procurou oferecer isso, a diferenciação. O
cliente quando recebe o representante da empresa e a coleção, senão
tiver alguma coisa diferente, nova, pode ter certeza que ele se decepciona,
porque a qualidade é uma coisa básica, quem não tem qualidade não
sobrevive. No passado nós fomos muitos distinguidos pela qualidade do
produto, da malha, mas hoje com a tecnologia isso quase que está muito
parecido. Hoje o que se espera é a diferenciação (Entrevistado
07/Cultura).
104
O conteúdo dos discursos da grande parte dos entrevistados revela uma
comunalidade com um conjunto coerente de crenças, valores fortemente compartilhados e
uma linguagem comum. Com isso, a organização apresenta uma identidade forte, o que,
segundo Volberda (1998), usualmente é um indicador que limita o potencial de
flexibilidade. Todavia, Freitas (1991 e 1996) salienta que uma cultura organizacional forte
pode não dificultar os processos de mudança, mas também possibilitar coesão,
credibilidade, orgulho, satisfação, identificação e desejo de trabalho árduo. Esses fatores
podem estimular o comprometimento individual, o qual representa um fator que, segundo
Bruno-Faria e Alencar (1996), facilita a expressão da criatividade. Com base na literatura,
essa característica pode representar um paradoxo nas organizações. Contudo, essa situação
poderá também facilitar a expressão da criatividade instrumental, ou seja, da criatividade
de interesse da empresa.
A extensão revela se a organização apresenta uma rica diversidade de valores e
crenças, podendo classificar-se como ampla ou estreita. Os dois fatores essenciais para sua
compreensão são a missão e os objetivos organizacionais. A missão da empresa
investigada está focada na satisfação e superação das expectativas dos clientes e
consumidores. Martins e Terblanche (2003) enfatizam que a missão de uma organização
criativa é orientada para o cliente.
Os objetivos da organização, conforme documentos analisados, são: assegurar o
nível de exatidão das informações; cumprir rigorosamente os prazos internos e externos;
elevar a capacidade competitiva; eliminar os desperdícios; garantir a lucratividade; manter
elevados padrões de qualidade dos produtos e serviços; e reduzir o ciclo de produção.
Esses objetivos são apresentados como um “processo de aprimomarento contínuo”.
Freitas (1991) explica que a missão e os objetivos organizacionais são
influenciados pelos valores e crenças. Os valores, conforme a autora, correspondem ao que
é importante para a organização obter o sucesso. Quanto aos valores da Empresa Dedal &
Agulha esses estão explícitos no Código de Ética e são na sua maioria fortemente
compartilhados entre os funcionários. A empresa pesquisada apresenta também no seu
Código de Ética, o que ela chama de Princípios Empresa Dedal & Agulha; sendo que esses
princípios antecederam a formulação do Código de Ética da empresa.
As crenças representam as certezas tácitas sobre o que é correto e válido dentro da
organização (SCHEIN 2001). A Empresa Dedal & Agulha possui, segundo os documentos
analisados junto à mesma, as seguintes crenças:
105
Acreditamos que para realizar uma grande mudança é preciso crer e
sonhar, para então transformá-la numa nova realidade.
A crença que a mudança é importante se revela em valores explicitados (Prontidão
às mudanças) pela empresa e compartilhados entre os entrevistados. Martins e Terblanche
(2003) afirmam que estimular a mudança é um valor que favorece a criatividade dentro da
organização.
Acreditamos que são as pessoas os grandes agentes das mudanças e que
elas sempre podem superar os seus limites.
Essa crença se revela em valores esposados pela organização
(Colaboradores/Gestão Participativa) e compartilhados pela maioria dos entrevistados.
Esses valores mostram o foco nas pessoas, bem como o incentivo à liberdade, e se
manifestam nas políticas de gestão de pessoas adotadas pela empresa. Uma organização
criativa, segundo Alencar (1996, p. 92),“se caracteriza por uma cultura [sem grifo no
original] que reconhece o potencial ilimitado de seus recursos humanos.Bruno-Faria e
Alencar (1996) salientam que uma organização que se compromete com seus funcionários,
bem como os encoraja a agir, facilita a expressão da criatividade. Carr (1997), Duailibi e
Simonsen (1990), Martins e Terblanche (2003) enfatizam que a gestão participativa
estimula o desenvolvimento da criatividade.
Acreditamos que o sucesso do negócio é diretamente proporcional ao
grau de envolvimento e comprometimento das pessoas.
A crença de que o comprometimento individual é primordial para o sucesso
organizacional se reflete na palavra ‘comprometimento’ identificada na maioria das falas
dos entrevistados. Sendo que ele também corresponde a um dos princípios explicitados no
Código de Ética da empresa. Bruno-Faria e Alencar (1996) afirmam que o
comprometimento individual é um fator que estimula a criatividade. O comprometimento
individual se destaca também nos relatos dos entrevistados sobre a criatividade no produto.
Os relatos dispostos na seqüência visam evidenciar esta constatação.
[...] desde a costureira, é todo mundo empenhado em fazer o melhor para
o produto sair legal, para sair da forma que a gente procura, eu não vejo
as pessoas trabalhando aqui para ganhar dinheiro. Ah! eu vou na Empresa
Dedal & Agulha para ter meu emprego, para trabalhar, a gente vê a
106
preocupação delas para fazer algo a mais, se puder melhorar o que já está
bom, elas fazem (Entrevistado 25/Criatividade).
[...]. Essa coisa de vestir a alma, então a gente tenta buscar atender isso.
(Entrevistado 22/Criatividade).
A crença de que o cliente é primordial para o negócio da organização também é
explicitada nos documentos da empresa. É importante lembrar que o cliente é o foco da
missão e da visão organizacionais.
Acreditamos que o cliente não tem razão. Ele é a própria razão. Por isso,
precisamos não só satisfazê-lo, mas encantá-lo.
A preocupação com o cliente se manifesta ainda nos valores esposados pela
empresa e compartilhados pela maioria dos entrevistados. Martins e Terblanche (2003)
destacam que a preocupação com o cliente é característica de uma empresa criativa.
Acreditamos que para distribuir é preciso antes gerar a riqueza. Por isso,
precisamos obstinada e equilibradamente gerar lucro.
Quanto a essa crença esposada pela organização, foi possível constatar que no
discurso da maioria dos entrevistados se destaca a expressão ‘participação nos resultados’.
A garantia de lucratividade também é apresentada como um objetivo e um valor explícito
no Código de Ética da empresa. Para os teóricos da criatividade, como Duailibi e Simonsen
(1990), o exercício da criatividade possibilita o alcance do lucro, ou seja, do resultado para
qual o empreendimento foi criado. Os autores salientam que a receita da criatividade
parece funcionar a partir do momento em que o objetivo passa a ser realmente o lucro,
sendo que essa aparente correlação entre criatividade e desempenho começou a despontar
em 1967, como tendência, e firma-se nas décadas seguintes.Ao tratar dos valores e das
crenças esposados formalmente pela organização, destaca-se, ainda, o valor Relação com
Fornecedores. Carr (1997) enfatiza que é essencial incluí-los nos processos decisórios, pois
eles são uma fonte de novas idéias.
Para Martins e Terblanche (2003), valores como rigidez, controle, previsibilidade,
e estabilidade impedem o desenvolvimento da criatividade dentro da organização, sendo
que esses valores não correspondem aos disseminados formalmente pela organização
investigada e compartilhados pela maioria dos entrevistados. Com isso, fundamentando-se
nos dados coletados nas entrevistas, uma ampla extensão de crenças e valores que
107
sustentam a missão e os objetivos organizacionais. Essa característica é favorável à
expressão da criatividade.
Por fim, a homogeneidade é a última variável a ser analisada referente ao
potencial de flexibilidade da formação de identidade organizacional. Essa variável diz
respeito à uniformidade dos diversos esquemas de interpretações dos funcionários que é
identificada por meio da história, missão, símbolos, heróis, rituais e valores; podendo
apresentar-se como homogênea ou heterogênea.
Na Empresa Dedal & Agulha foi possível identificar, analisando os dados das
entrevistas bem como por meio da observação livre não-participante, que existem
subculturas relacionadas às diferentes áreas da organização (Produto, Financeira,
Industrial, Marketing e outros). Contudo, os valores essenciais e práticas culturais são
fortemente compartilhados por todos, criando a integração que sobrepõe a cultura
segmentada. Nesse caso, Volberda (1998) salienta a existência de uma identidade forte e
heterogênea, possibilitando a existência de um potencial de flexibilidade controlado. Nesta
direção, Cavedon e Fachin (2000) afirmam que a cultura organizacional é representada
pela homogeneidade e a heterogeneidade organizacional. Martin e Frost (1996 apud
CAVEDON; FACHIN, 2000) salientam que a cultura organizacional aparece algumas
vezes como integrada, e em outras como diferenciada ou, ainda, fragmentada. A integração
sugere que a organização como um todo possua uma cultura única. A diferenciação, por
sua vez, enfatiza as diferenças existentes entre os diversos grupos que formam a
organização. A fragmentação defende a idéia da existência de valores compartilhados
temporariamente pelos vários indivíduos que atuam na organização. Os autores sugerem
que sejam utilizados diferentes enfoques para analisar a cultura organizacional.
Volberda (1998) enfatiza que organizações com uma quantidade alta de crenças
essenciais, conjuntamente a uma heterogeneidade em outros níveis, são tidas como
organizações com excelência, nas quais os seus membros desenvolvem potencial de
flexibilidade sem destruir sua identidade (flexibilidade potencial controlada). Os conteúdos
das entrevistas apresentados em seguida revelam a existência dessa heterogeneidade.
Quando se ‘liberdade com responsabilidade’, se a liberdade para as
pessoas pensarem, emitirem sua opinião e não apagarem os seus
princípios e de fato exporem. [...]. Nesse sentido não é característica
exclusiva da Empresa Dedal & Agulha, mas em qualquer empresa existe
aquele desencontro de idéias da Área Financeira com Produto, Marketing,
Comercial e Industrial. De fato existem desencontros, o que é a coisa
mais normal do mundo, o que se deve de fato fazer é balancear e pensar
108
exatamente naquele resultado que é o melhor para a empresa [...]
(Entrevistado 08/Cultura).
Embora a Empresa Dedal & Agulha tenha uma filosofia, trabalho onde
você tem liberdade de expressão, onde você tem direito a opinar sobre
qualquer assunto em relação ao teu trabalho; mas diferencia sim por
exemplo uma determinada área, uma gerência, ou uma diretoria conforme
o estilo gerencial dela (Entrevistado 06/Cultura).
[...] pelo tamanho da empresa, pelos vários departamentos que têm
existem sentimentos, decisões diferentes de um para outro, tenho certeza
que existem, mas eu acho que sempre vai ter. Mas o que predomina é que
todos nós sabemos da missão da Empresa Dedal & Agulha, todos nós
chefes, gerentes, colaboradores em geral, a gente sabe qual o caminho
que a Empresa Dedal & Agulha quer seguir. [...] é de interesse de todo
mundo que a Empresa Dedal & Agulha certo, que ela venda bastante,
que ela tenha lucro. [...] (Entrevistado 12/Cultura).
Destaca-se, aqui, uma consideração feita por um dos entrevistados: ‘Cada setor é
tipo uma mini tribo’
(Entrevistado 20/Criatividade).
Foi possível identificar, ainda, nos
relatos apresentados, a existência do ‘grupo dos arrojados’ e dos ‘conservadores’.
Aqui existe o grupo dos mais arrojados e dos menos arrojados e é natural,
e eu também vejo sempre como uma forma natural porque a Empresa
Dedal & Agulha vinha numa velocidade de crescimento e depois se
imprimiu outra velocidade de crescimento. Evidentemente em um
contingente de pessoas tão grande, existem pessoas com características
diferentes; então eu acho que o equilíbrio das duas frentes o grupo dos
arrojados e dos conservadores é extremamente importante. Você precisa
das duas coisas, você precisa ter agressividade, arrojo em uma
determinada intensidade, agora prudência também é importante
(Entrevistado 09/Cultura).
Tem perfis diferentes, por exemplo, na Área de Marketing e
Desenvolvimento de Produto existe uma característica de uma postura
mais arrojada, uma coisa mais solta, menos regrada; a gente vê ao tipo
de barulho que tem na área; se tu entras na Área Financeira aquilo é um
silêncio, uma concentração, uma densidade na forma das pessoas se
portarem, parece mais pesado, mais sério. Tu entras na Área de Produto e
Marketing, o próprio físico, as mesas são cheias de colorido, cheias de
bonequinhos, penduricalhos; tu entras aqui no RH é muita falação, muita
conversa; tu entras na Área Comercial é um misto de tensão, mas também
não tem muita conversa, tem muita ação, a gente que as pessoas estão
constantemente funcionando. Eu acho que na Empresa Dedal & Agulha
fica bem caracterizado a área (Entrevistado 16/Cultura).
[...] essas diferenças se constituem principalmente pelo perfil
preponderante dos colaboradores que integram essas áreas. Também fica
claro que algumas áreas, onde a maioria dos colaboradores é jovem e tem
pouco tempo de empresa, predomina um estilo diferente de se comportar
e de se vestir, inclusive como muitos deles com adornos, homens com
109
cabelos mais longos, tatuagem, entre outros. Na minha área,
especificamente, o estilo é mais conservador visto que são poucos
colaboradores e a maioria com idade superior a 30 anos, o que os torna
mais conservadores em relação a outros departamentos (Entrevistado
11/Cultura).
Os funcionários entrevistados sobre criatividade no produto destacaram
características da área onde ele é criado que também refletem essa heterogeneidade. Os
conteúdos das falas em seqüência buscam ilustrar essa realidade.
Tem boneca, tem revistinha em quadrinho, a gente mantém todo o clima,
a gente entra de cabeça no negócio, e o nosso ambiente é legal, tu tens
liberdade, você cria, tu podes escutar uma música, tu podes parar um
pouquinho. Ah! agora eu vou ver na internet o que tem, vou dar uma
olhadinha no jogo, ah! tu recebes uma revistinha infantil, tu podes
comprar joguinho, brinquedo, tu podes ler. Vem criança para prova de
roupa e a gente conversa com ela (Entrevistado 19/Criatividade).
Querendo ou não é um ambiente mais descontraído, justamente por estar
mexendo com criatividade, com produto [...] (Entrevistado
26/Criatividade).
Duailibi e Simonsen (1990) afirmam que um ambiente descontraído conduz a um
nível maior de criatividade. Os autores ainda destacam que “É preciso um certo tempo
livre, de ócio, para que surjam condições de criatividade” (DUAILIBI; SIMONSEN, 1990,
p. 77). Bruno-Faria (1996) explica que a questão da necessidade de se ter um tempo para
criar é muito ressaltada na literatura sobre criatividade, onde o indivíduo possa brincar com
as idéias e, até mesmo, se isolar para melhor elaborá-las. Uma característica importante
também de destacar é que, segundo um dos entrevistados sobre criatividade no produto,
devido à dinâmica da área ‘as pessoas se viram nos 30 mesmo’ pois estão envolvidas na
criação de várias coleções, ou seja, são diversas atividades sendo realizadas paralelamente.
Bruno-Faria e Alencar (1996) destacam que o dinamismo, brincadeira, liberdade, prazer e
disponibilidade de recursos são alguns dos estímulos à criatividade.
Dentre as características específicas da célula que cria o produto moda infantil, é
importante enfatizar a existência de uma stylist, além das estilistas, que é responsável pela
coordenação do processo de criação. Na célula responsável pela criação dos produtos da
outra marca infantil, que não são classificados como produtos moda, não existe essa
pessoa, apenas a figura da estilista.
Assim, considerando as diferenças, pela própria natureza de suas atividades,
existentes entre as diversas áreas que formam a organização; bem como a existência,
110
segundo os entrevistados, do ‘grupo dos arrojados’ e dos ‘conservadores’; a variável
homogeneidade pode ser classificada como heterogênea. É importante destacar a afirmação
de Volberda (1998), na qual o autor assinala que muitos teóricos argumentam que as
organizações precisam ao mesmo tempo de crenças e sistemas de valores com os quais
seus membros possam identificar-se fortemente (identidade forte) e de uma ‘tensão
criativa’, na qual diferentes tipos de crenças, atitudes e abordagens podem manter a
sensibilidade a um ambiente de mudanças e a motivação para mudar. Carr (1997) salienta
que a criatividade desfocada pode prejudicar a empresa em vez de ajudá-la. O autor explica
que a criatividade vitoriosa é a criatividade dirigida. Para Volberda (1998), uma
organização flexível precisa ter características que evitem sua rigidez, e, ao mesmo tempo,
também precisa de alguma ordem para evitar o caos. O autor sugere que a flexibilidade
organizacional é o meio termo entre a rigidez e a reatividade excessiva, ou seja,
flexibilidade sem estabilidade resulta em um estado caótico. Freitas (1996, p. 535) enfatiza
que “É verdade que uma boa parte das organizações modernas está buscando fazer da
‘flexibilidade’ o seu valor principal, mas ser flexível em excesso é tão prejudicial quanto
ser rígido [...].”
Com base nos conteúdos expressos pelos entrevistados foi possível constatar que
a formação da identidade organizacional da Empresa Dedal & Agulha, ou seja, a
compreensão que os membros da organização possuem sobre o que a organização é e do
como ela deve operar, analisada em relação a sua comunalidade (forte), extensão (ampla)
e a sua homogeneidade (heterogênea), reflete uma condição inovadora com alguma
tendência à conservadora devido à variável comunalidade. Com isso, constata-se que a
subdimensão formação de identidade possui na sua maioria características favoráveis ao
desenvolvimento da criatividade.
5.1.2 Liderança
Volberda (1998) afirma que os líderes enfrentam um desafio que é o de
possibilitar a existência de uma cultura que encoraje a criatividade, a inovação e a
111
experimentação de valores. O autor explica que a liderança é essencial para criar uma
cultura que possibilite o potencial para flexibilidade, pois suas crenças e valores são
impostas aos funcionários. Essa subdimensão é constituída por três variáveis que são:
estilo de liderança, abordagem de planejamento e atitude gerencial.
Bruno-Faria (1996, p. 147) salienta que “uma vez que a organização não é algo
abstrato, mas um conjunto formado por todos os indivíduos que dela fazem parte, suas
normas, regras e estratégias são criadas e repassadas através dos níveis hierárquicos mais
elevados para os inferiores”. Caso a surpresa, a diversão e o prazer não existam nos líderes,
conseqüentemente não existirá na organização (KAO, 1997). Amabile (1999) afirma que
cabe aos líderes da organização enfatizar valores que deixem claro que os esforços
criativos são uma prioridade importante.
O estilo de liderança, primeira variável analisada, diz respeito ao modo como o
líder se posiciona em relação aos empregados para o alcance das metas. O líder pode ser do
tipo instrutivo, consultivo, participativo e delegativo, conforme indicadores como o grau de
direção e colaboração. Ao passar de um estilo para outro ocorre um aumento na autonomia
dos funcionários. No estilo instrutivo, a liderança apresenta muita direção e pouca
colaboração, nele as atividades são especificadas passo a passo e o controle do
desempenho das mesmas é intenso. Na liderança do tipo consultivo muita direção e
alguma colaboração, o líder acompanha de perto o desempenho das tarefas, mas pedi
alguma contribuição aos colaboradores na tomada de decisão. O estilo de liderança
participativo possui pouca direção e uma maior colaboração, ou seja, o líder oferece apenas
um “suporte” na execução das tarefas e a tomada de decisão tem uma participação maior
dos empregados. Por fim, o estilo delegativo apresenta pouca direção e muita colaboração,
onde, as decisões sobre as tarefas bem como a responsabilidade por elas são
exclusivamente dos colaboradores. Volberda (1998) enfatiza que o estilo mais apropriado
de liderança depende amplamente do tipo de tarefa a ser desempenhada (rotina ou
improviso) e da capacidade e motivação dos empregados. Assim, o líder deve estar apto a
desempenhar vários estilos.
Em um manual da empresa pesquisada constam informações de que a mesma
adota uma forma de gestão participativa. Essas informações são citadas na seqüência:
A Administração Participativa é a disseminação da cultura ‘liberdade
com responsabilidade’ sendo praticada por meio de:
A Empresa Dedal & Agulha emprega diversas ferramentas para medir o
nível de satisfação dos colaboradores em relação ao clima interno, o
112
ambiente de trabalho e as relações interpessoais. Uma das ferramentas é a
abertura que os colaboradores têm com sua chefia (imediata ou não).
Outra ferramenta é a Pesquisa de Ambiente Organizacional, realizada por
consultoria externa, a cada três anos. Através da pesquisa, todos
colaboradores expressam sua opinião sobre diversos aspectos da empresa.
Os resultados da pesquisa são divulgados a todos os colaboradores,
através de reuniões formais com a gerência/diretoria, e geram ações de
melhorias a serem implantadas.
Os colaboradores da Empresa Dedal & Agulha são incentivados a
participar de decisões que podem afetar o seu trabalho e seu bem estar na
empresa. Para isto existe uma ferramenta denominada CCQ (Círculos de
Controle de Qualidade) onde a participação direta e voluntária dos
colaboradores. O CCQ é formado por um grupo de pessoas, geralmente
da mesma área, que se reúnem em cada 15 dias, em horário de trabalho, e
propõem melhorias relacionadas à produtividade, qualidade e ambiente.
Além destas melhorias alguns grupos de CCQ estão realizando trabalhos
voluntários no que diz respeito à ajuda a comunidades carentes.
Os colaboradores que integram os Comitês Operacionais têm uma grande
responsabilidade, pois se reúnem a fim de examinar estratégias da
Empresa nos assuntos que dizem respeito às suas áreas de atuação,
participando inclusive da formulação de propostas e projetos que
proporcionam melhorias para o colaborador e a empresa.
O Gerenciamento pelas Diretrizes é mais uma das formas de
administração participativa praticada pela Empresa Dedal & Agulha.
Consiste na introdução de metas e diretrizes anuais, que são desdobradas
na forma de projetos específicos em cada área da empresa, visando o
atingimento das metas globais.
Outras formas de Administração Participativa são praticadas no Programa
SOL (Segurança, Organização e Limpeza), CIPA e Brigadas de Incêndio.
Aqui, é importante enfatizar que Rodrigues e Silva (1998) citam a ênfase na
formação de Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) como um fator que estimula a
criatividade dentro da organização. Os conteúdos expressos pelos entrevistados
corroboram com as informações coletadas junto aos documentos da empresa. Contudo,
muitos enfatizaram que dependendo da situação pode se aplicar estilos de liderança
diferentes.
A liderança é exercida de forma bastante participativa [...]. A Empresa
Dedal & Agulha dissemina a liderança participativa desde o presidente
até o chefe, busca sempre dentro do seu processo a participação quer seja
através dos comitês operacionais, quer seja a partir dos comitês de
gestores, a oportunidade de exercer esse processo de liderança. Nestes
comitês nós temos inseridas pessoas de todos os níveis da organização e
isso faz com que você participe muitas vezes da decisão, a decisão o é
unilateral, ela obrigatoriamente passa por esse processo justamente para
disseminar a gestão participativa e eu entendo que a Empresa Dedal &
Agulha exerce bastante bem este papel da gestão participativa. [...].
Porém existem situações, logicamente dependendo do tipo da atividade,
em que se requer uma atuação um pouco mais orientativa, onde você
estabelece quais são os pontos, quais são os passos que devem ser
113
executados na atividade e exerce o controle; mas na sua grande maioria o
que predomina é o processo da tomada de decisão em conjunto com os
colaboradores (Entrevistado 03/Cultura).
Não dá pra dizer que existe um estilo sozinho em destaque porque o líder
às vezes especifica passo a passo, às vezes sim e outras vezes não,
depende da situação. Às vezes quando é alguma coisa que deve ser
planejada e buscada sim eu acho que é importante a definição dos
passos e o líder colabora para que isso seja feito dessa forma. Nada
impede que às vezes o líder deixe que as pessoas executem as tarefas e
depois apresentem o resultado também. Então, o estilo de liderança
depende muito da situação, se a situação é mais tranqüila que ele delega
isso para alguém e esse alguém é totalmente capaz e no final vai
apresentar os resultados, é excelente. Agora se ele precisa de maior
acompanhamento é feita uma forma de passo a passo. Eu acho que todas
as quatro formas de alguma maneira a gente percebe (Entrevistado
02/Cultura).
[...] o controle é feito baseado nos itens de controle que a gente tem, não é
exercido um controle rígido, extremo, assim, estou em cima, estou vendo,
não é assim. É liberdade com responsabilidade, uma vez definido o
caminho a gente dá liberdade para as pessoas agirem e é claro que a gente
acompanha algumas etapas do processo (Entrevistado 06/Cultura).
Nos documentos da empresa também consta as “Características do verdadeiro
líder Empresa Dedal & Agulha”. Essas características são: saber ouvir; elogiar; estar
comprometido e incentivar; motivar e saber estimular o grupo; dar e receber feedback; ser
sensível às pessoas; ser flexível, ponderar outras opiniões; conhecer seus subordinados; ser
seguro, justo e imparcial; estar sempre atualizado, ser criativo e inovador; decidir.
Algumas dessas características estão relacionadas com as competências que, conforme
Parolin e Albuquerque (2004), possibilitam aos gestores a obtenção de um ambiente
criativo e inovador. Essas competências são: estar aberto às idéias da sua equipe, orientar,
valorizar a iniciativa, saber lidar com o feedback, dialogar frente ao erro, favorecer um
ambiente de confiança, ter clareza na comunicação face a face, crer na capacidade criativa
dos funcionários.
A liberdade para decidir como fazer o próprio trabalho, o senso de
responsabilidade sobre o próprio trabalho, maior poder de decisão em sua área de atuação,
participação nos processos de tomada de decisão e na solução de problemas da organização
são estímulos à criatividade (ALENCAR, 1996). O grau de liberdade dos funcionários para
participarem de decisões e resolverem problemas determina o vel de criatividade e
inovação em uma organização (MARTINS; TERBLANCHE, 2003).
114
Conforme os conteúdos expressos pelos entrevistados e os documentos da
empresa sobre gestão participativa verificou-se que prevalece o estilo participativo com
alguma tendência ao consultivo. A existência de alguma tendência ao estilo consultivo
pôde ser averiguada no conteúdo de algumas entrevistas nas quais se manifestou o valor
controle. Esse valor pode limitar a expressão da criatividade. Contudo, ele não é um valor
esposado pela organização e nem fortemente compartilhado pelos sujeitos da pesquisa. O
relato a seguir procura evidenciar uma situação onde esse valor se manifesta.
Eles cobram muito assim, negócio de produção, produção. Eu acho que
em primeiro lugar é a qualidade porque não adianta eles cobrarem
produção, produção. A pessoa está ali, estamos ali com aquele tira tempo
com aquele reloginho e a pessoa não se sente bem. [...]. Eu acho mais
importante do que a produção, é deixar aquela pessoa ali calma, ela faz
aquele serviço com mais tranqüilidade, né. Então ela não se apavora, ela
não fica muito nervosa, eu acho sim que nesse ponto a Empresa Dedal &
Agulha tem que olhar muito nisso aí, porque é muito cobrada a produção.
A pessoa faz rápido, rápido e aquilo conserto às vezes, depois não
qualidade boa. Eu acho que eles deveriam deixar aquela pessoa com mais
tempo, ela fazer assim serviço com mais calma, não tem que chegar e
cobrar, claro que a pessoa não vai matar tempo ali numa máquina né,
trabalhar a gente é obrigado trabalhar, mas deixa essa pessoa com tempo
para fazer essa peça. [...] (Entrevistado 14/Cultura).
Assim, pode-se inferir que apesar de existir alguma tendência para o estilo
consultivo prevalece o estilo participativo de gestão na variável estilo de liderança.
Contudo, devido à presença de uma tendência ao estilo consultivo, essa variável possibilita
o desenvolvimento de um potencial de flexibilidade mediano.
Os relatos que aparecem de imediato procuram retratar a relação entre essa
variável e a criação do produto pesquisado. Destaca-se que foi possível verificar, por meio
dos conteúdos apresentados na maioria das entrevistas sobre criatividade no produto, uma
maior abertura para participação entre os funcionários que criam o produto moda vestuário
infantil.
A gente faz uma reunião com o coordenador da marca que tem o foco de
mercado, a stylist que dá sempre o direcionamento na parte de criação, as
estilistas e os desenhistas. Todo mundo participa, a gente vê o que a gente
acha mais legal, ah!isso aqui tem mais a cara, isso aqui está bem
interessante, ah! então vamos introduzir isso numa história para criança
da “marca F” e da “marca M”, daí é aquela coisa brainstorm, vai
jogando, vai jogando em um painel
12
e depois a gente cria a historinha
12
O painel é um compilado de informações, agrupadas de maneira a facilitar a percepção visual dos
profissionais de criação (TREPTOW, 2003).
115
todo mundo junto. a gente faz depois painéis de visualização, cria o
nome da coleção [...].O ambiente estimula nesse sentido, o grupo é unido,
tem uma troca. É dada uma certa liberdade necessitada para que a coisa
aconteça e é estimulado; e tu tens que ter iniciativa também (Entrevistado
19/Criatividade).
A Empresa Dedal & Agulha bastante campo para as estilistas criar, a
modelista tem abertura para sugerir (Entrevistado 24/Criatividade).
É uma relação de confiança, muitas das coisas ele (o líder) delega mesmo
porque ele acredita, confia no time que ele tem. Muita coisa fica a nosso
critério. Nós trabalhamos em célula, então muita coisa a gente procura
resolver entre nós dentro da célula. [...]. Tem coisas que ele até consegue
acompanhar, mas tem coisas que ele nem começa acompanhar porque a
coisa vai desenrolando dentro da célula. A gente sabe como funciona;
em coisas específicas ele está presente, como um projeto novo, algo
específico que a gente vai precisar fazer naquela vez, algo especial
(Entrevistado 18/Criatividade).
Duailibi e Simonsen (1990) explicam que o brainstorm representa uma técnica
para estimular a criatividade. Ele consiste em uma reunião na qual são apresentadas,
livremente, idéias para uma situação específica. West e Farr (1990) destacam que a
participação, o envolvimento dos membros do grupo na tomada de decisão e o
compartilhar de informações permitem maior desenvolvimento de idéias criativas. Amabile
(1999, p. 114) corrobora ao afirmar que a “Autonomia no processo estimula a criatividade,
pois, ao permitir que as pessoas decidam como fazer seu trabalho, estimula sua motivação
intrínseca e seu sentimento de ser proprietário daquilo”. Bruno-Faria e Alencar (1996)
citam o debate, comunicação e trabalho em equipe como estímulos à criatividade. Zanella
(2002a) também salienta a importância do trabalho em equipe como um fator facilitador da
criatividade. A autora afirma que “é muito mais prazeroso produzir onde existe
colaboração e compartilhamento, pois a informação flui e a criação se multiplica”
(ZANELLA, 2002a, p. 129). Parolin e Albuquerque (2004, p 12) afirmam que “O clima
favorável entre colegas e de incentivo a novas idéias, é componente básico no
encorajamento à expressão da criatividade”.
Assim, verifica-se que a variável estilo de liderança, na qual prevalece o estilo
participativo, se relaciona com a criação do produto moda pelo fato dos entrevistados que
criam esse produto enfatizarem que todos participam das discussões quanto à criação, e
têm abertura para apresentar suas idéias e colocá-las em prática. Todavia, destaca-se que
em diversos conteúdos das entrevistas a liberdade é apresentada como algo que a empresa
116
concede e pode tirar. Com isso, constata-se que existe uma “pseudo-liberdade”, uma
“pseudo-participação”.
A abordagem de planejamento descreve o modo pelo qual os líderes acreditam
que o desenvolvimento organizacional possa ser planejado. Essa variável pode assumir três
posições: blueprint (esquemático), muddling through (desordenado) e mixed-scanning
(rastreamento misto). Ela é analisada por meio de alguns indicadores que são: tomada de
decisão de cima para baixo, metas estabelecidas, quantificação de metas e alcance das
metas.
No blueprint o estabelecimento de objetivos estáveis, uma obsessão por custos
e elementos quantitativos, uma aversão a erros e à possibilidade de experimentação,
buscando-se reduzir a incerteza a um nível aceitável. O muddling through enfatiza a
necessidade de fazer e refazer o planejamento com inúmeras opções em aberto. O mixed-
scanning seria uma posição intermediária entre o blueprint e o muddling through, nele
uma visão de longo prazo a qual fundamenta as decisões que são tomadas passo a passo de
modo incremental. É portanto um muddling through com uma visão global. Na Empresa
Dedal & Agulha, uma das falas do entrevistado mostra a importância do planejamento
dentro da organização.
O planejamento é mais ou menos conhecido como a Bíblia porque ele vai
nos dizer exatamente o que nós faremos (Entrevistado 02/Cultura).
O planejamento da Empresa Dedal & Agulha é desenvolvido com a participação
de todas as áreas. Nele é projetada uma visão de longo prazo (05 anos), mas o
planejamento estratégico é trabalhado para médio prazo (03 anos) e desenvolvido planos
táticos ou planos de ações que constituem as ações de curto prazo (03 meses a 01 ano).
Existe o planejamento estratégico e aí vai para o tático [...]. Ele é feito em
longo prazo e revisado, corrigido a curto e médio prazo [...]. No ramo
têxtil essa visão de longo prazo fica meio comprometida pelo contexto
que ela está inserida (Entrevistado 16/Cultura).
Monta-se grupos táticos para trabalhar em cima de cada área, de cada
ponto que são definidos [...] Uma coisa muita boa e que funciona muito
bem dentro da Empresa Dedal & Agulha é o planejamento; então se você
perguntar pelo menos para as pessoas que precisam saber quais são os
próximos passos da Empresa Dedal & Agulha para o ano que vem, onde
ela quer estar no ano 2010, onde ela quer estar no ano 2007, eu imagino
que todas elas saberiam ti responder [...]. O planejamento é muito forte
nesse sentido [...](Entrevistado 11/Cultura).
117
[...] a gente trabalha com uma visão de três anos [...]. É a matéria prima
para os planejamentos táticos, que é como a gente chama os
planejamentos que são feitos durante o ano, e ao desenvolver esses
planejamentos táticos muitas rotas o redirecionadas para uma visão de
curto prazo, quando são rotas para médio e longo prazo acabam voltando
para revisão do planejamento de médio e longo prazo (Entrevistado
09/Cultura).
Nós trabalhamos com um horizonte da ordem normalmente de três anos,
porém ele é revisado anualmente, isso é uma necessidade dado muito
às questões econômicas, políticas, até mesmo do próprio mercado faz-se
necessários ajustes. Então um barco conduzido em um rumo, muitas
vezes existem ventos contrários que requerem um ajuste da direção para
se contornar e chegar ao porto. O horizonte é estabelecido como ponto de
chegada porém ele é revisado constantemente para que a gente faça as
correções necessárias e adequadas (Entrevistado 03/Cultura).
Volberda (1998) explica que a escolha do planejamento apropriado depende do
tipo de flexibilidade exigida dentro da organização. Quanto mais a organização estiver
envolvida em um ambiente de incerteza, mais necessitará de espaço para flexibilidade
como complemento ao planejamento. Quando somente a flexibilidade operacional é
exigida, o nível de incerteza é razoavelmente baixo porque os sinais e o feedback do
ambiente são muito mais claros e diretos, fazendo com que uma abordagem blueprint seja
suficiente. Entretanto, quando o vel de incerteza é alto e os sinais do ambiente são muito
ambivalentes se requer uma abordagem mais flexível, muddling through ou mixed-
scanning. Oliveira (1993) explica que o horizonte do planejamento estratégico é sempre
maior que o do planejamento tático. Assim, segundo o autor, o planejamento estratégico
relaciona-se com objetivos de médio e longo prazo e o planejamento tático com objetivos
de curto prazo. Fischmann e Almeida (1991) afirmam que um planejamento de longo prazo
estabelece um horizonte estratégico de 05 a 10 anos. Contudo, os autores enfatizam que
as
atividades mais flexíveis, como aquelas relacionadas com moda, podem ter um horizonte
estratégico mais curto.
A partir dos dados apresentados, a abordagem de planejamento organizacional
parece corroborar a idéia de que as características do modelo mixed-scanning são
provalvemente as mais vigentes, visto que se estabelece uma visão de longo prazo e
procede-se passo a passo em ações de curto e médio prazo. Pode-se inferir, então, com
base nos dados coletados na investigação que a variável abordagem de planejamento
indica um nível intermediário para o potencial de flexibilidade.
118
Os discursos dos entrevistados revelam que a internacionalização, a qual constitui
uma estratégia de longo prazo, está diretamente relacionada com o produto moda vestuário
infantil. Os conteúdos das entrevistas expostos na seqüência visam expressar essa relação.
A gente tem uma internacionalização muito forte baseada na “marca F”,
uns franquiados que investem muito [...]. Então se a gente erra num tema,
erra num percurso, num caminho, o risco é maior [...]. Os franquiados são
100% “marca F” e “marca M”; por exemplo, na outra marca infantil se
você faz uma coleção que o agrade tanto, o nosso lojista multimarca
compra de outras marcas e tudo bem; o franquiado não, ele vive
exclusivamente dessas marcas (Entrevistado 26/Criatividade).
Hoje a nossa visão de longo prazo é 2010, então nós colocamos como
foco 2010 e tem metas específicas onde por exemplo uma delas é
dobrar o faturamento, é aumentar a nossa participação no comércio
internacional que hoje está a 7% e chegar a 20% [...] (Entrevistado
07/Cultura).
Ainda, dentro da análise da variável abordagem de planejamento, é importante
destacar algumas colocações dos entrevistados referentes à preocupação com os custos; à
postura em relação aos erros e às tentativas de experimentação. Em relação à preocupação
com os custos, constata-se que a Empresa Dedal & Agulha tem controles rígidos sobre os
gastos. Sendo que eles são um dos medidores no Programa de Participação nos Resultados.
Contudo, como pode ser averiguado nas falas dos sujeitos, a maioria deles enfatizou que o
benefício e não o custo de um investimento é que determina a sua realização ou não.
A questão deixa de ser analisada sob a ótica do custo a partir do momento
que ela se torna um investimento e que tenha uma rentabilidade. Cada
decisão, cada projeto novo que você vai analisar, você vai analisá-lo sob
esta ótica, o quanto isto vai trazer de benefício para a empresa no sentido
de melhorar um processo. Muitas vezes pode não ser somente para
melhorar a margem de lucratividade mas para melhorar a qualidade dos
produtos que conseqüentemente vão gerar mais negócios para a
organização, mais conceito no mercado, mas a preocupação sempre vai
ser com o retorno sob aquele investimento [...]. Um retorno quer seja de
ordem financeira, ordem de qualidade ou melhoria de alguma instalação,
ou melhoria das condições de trabalho dos colaboradores [...], mas o
valor dele o vai implicar em não fazer ou fazer, o que vai determinar é
o benefício que ele vai trazer (Entrevistado 03/Cultura).
Na verdade ela é uma empresa que tem extrema preocupação com os
custos [...] mas independente do custo prevalece o benefício [...]. A nossa
luta pelo custo é clara para aumentar a rentabilidade, tendo mais
rentabilidade podemos fazer tudo que é objetivo da empresa. O primeiro
objetivo da empresa é a geração do lucro para poder financiar o seu
119
próprio negócio, para poder pagar o salário dos funcionários, para poder
atender todas as demandas [...] (Entrevistado 09/Cultura).
Por meio da observação livre não-participante verificou-se que são feitos
investimentos em equipamentos, móveis, edificações, restaurante, jardins e outros, pois os
mesmos são modernos e tornam o ambiente físico agradável. Os entrevistados sobre o
produto moda vestuário infantil também evidenciaram essa postura em relação aos custos.
O relato a seguir visa enfatizar que os benefícios e não os custos determinam um
investimento na criação desse produto.
Normalmente a gente tem um pouco mais de prioridade quando é o uso
de recursos especiais, ah! é laser, normalmente é mais aberto para “marca
F” e “marca M”; não que as outras células não possam utilizar, mas elas
utilizam em menor grau. Então a gente tem uma abertura maior para
aviamentos, o que se compra de outros, a gente tem essa abertura maior
para facilitar a criação. Como a gente trabalha a tematização, para poder
enriquecer a peça nos recursos externos se abre mais (Entrevistado
18/Criatividade).
Bruno-Faria e Alencar (1996) afirmam que as condições físicas do ambiente de
trabalho influenciam na expressão da criatividade. As autoras também salientam que a
disponibilidade de recursos é um estímulo à criatividade.
Quanto à postura em relação aos erros, a Empresa Dedal & Agulha é caracterizada
pelos entrevistados como bastante tolerante aos erros e que busca fazer do erro uma
aprendizagem. Os relatos apresentados na seqüência retratam essa realidade.
Eu acho assim, sinceramente, que às vezes até a Empresa Dedal &
Agulha é condescendente demais com os erros. Eu acho que ela tem uma
tendência a não punir o erro, considerar isso um aprendizado, é claro que
tem limites também mas eu acho que ela mais boazinha do que o outro
lado. Tanto que normalmente o nosso presidente quando as coisas por
alguma razão não caminham bem, a primeira coisa que ele diz na reunião
é o seguinte: não vamos identificar culpados, sabemos que as coisas não
foram como deviam ser, vamos ver o que s temos que fazer para isso
mudar e ir para frente [...] (Entrevistado 07/Cultura).
[...] eu acho que é bem mãezona para algumas coisas [...], o pessoal fala
que é muito escola, a Empresa Dedal & Agulha é uma escola, ti ensina, ti
deixa, ah! erra, conserta, arruma, sei eu acho que até ela é bem
tolerante, tem bastante tolerância (Entrevistado 18/Cultura).
Ela aceita os erros e busca no que está errado aperfeiçoar as coisas. Eles
correm atrás, verificam o que aconteceu para melhorar as coisas
(Entrevistado 04/Cultura).
120
Teóricos como Bruno-Faria e Alencar (1996), Kneller (1978) e Terra (2000)
enfatizam que a tolerância ao erro é um dos fatores essenciais ao desenvolvimento da
criatividade. Os erros, segundo Martins e Terblanche (2003), podem ser ignorados,
encobertos, usados para castigar alguém ou percebidos como uma possibilidade de
aprendizagem. O conteúdo da entrevista apresentada a seguir visa evidenciar essa atitude
em relação à criação do produto analisado.
[...] o início da coleção começa com a coleção anterior, com os erros e
acertos [...] (Entrevistado 26/Criatividade).
No que diz respeito às tentativas de experimentação, estas acontecem mas devem
ir ao encontro dos objetivos organizacionais. Os relatos expostos a seguir visam ilustrar
esta constatação.
O que eu percebo que a gente estimula bastante é a experimentação; ah!
vamos fazer, traz a proposta, vamos discutir e vamos trabalhar focados no
resultado [...]. A gente quer atingir orçamento ‘x’ e nós temos que vestir a
alma das pessoas. [...] (Entrevistado 13/Cultura).
[...] se for uma coisa que vai ter uma boa aceitação no mercado com
certeza ela vai apoiar. Se for uma coisa que vai proporcionar lucro para
empresa com certeza ela vai apoiar (Entrevistado 05/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha por ser uma empresa inovadora no mercado,
e reconhecida como tal, ela logicamente precisa fomentar
permanentemente a questão e estimula o processo da experimentação.
Nós estamos permanentemente buscando novas formas de realizar o
trabalho, procurando desenvolver novos produtos, buscando alternativas
de ganhos de produtividade, de melhorias da qualidade. Enfim, sempre
estimulamos o processo de experimentação, nós temos os grupos de
melhorias, os CCQs, que estão permanentemente buscando novas formas
de desenvolver o trabalho para que a gente tenha condição de inovar com
produtos e processos (Entrevistado 03/Cultura).
Alencar (1996) destaca que receptividade, flexibilidade, abertura, aceitação e
estímulo a novas idéias são características essenciais aos líderes a fim de que ocorra o
desenvolvimento de uma organização criativa. No entanto, aqui, é importante salientar os
estudos de Parolin (2001) sobre liderança e gestão da criatividade, onde a autora enfatiza
que a criatividade pode ser diferenciada enquanto dimensão humana e criatividade
empresarial. Como dimensão humana, a criatividade representa a expressão da capacidade
121
inesgotável do homem de transformar-se e transformar o seu meio. Enquanto criatividade
empresarial, a manifestação da criatividade está diretamente relacionada aos objetivos
organizacionais e deve ser direcionada para o alcance destes. Sendo que esses objetivos
estão intimamente relacionados à estratégia de inovação como condição de sobrevivência
da empresa. Amabile (1999) assinala que em se tratando de criatividade empresarial, de
alguma forma a idéia criativa deve influenciar a maneira como os negócios são realizados,
seja, por exemplo, pela melhoria de um produto, seja por uma nova abordagem de
determinado processo. Ostrower (1987) explica que a criatividade é a própria
sensibilidade. Sendo que a sensibilidade como fenômeno social se transformaria em
criatividade dentro de uma atividade social significativa para o indivíduo. A autora ainda
destaca que criar é poder dar forma a algo novo em qualquer que seja o campo de
atividade. Assim, é possível afirmar que a criatividade enquanto dimensão humana, mesmo
de forma limitada, está presente em qualquer atividade. O homem ao desenvolver o seu
trabalho, que visa atender a um fim econômico, também busca expressar o seu eu,
transformando-se e transformando o seu meio. Na fala de um dos entrevistados, envolvido
na criação do produto moda vestuário infantil, foi possível constatar que a expressão do
seu eu se faz presente na realização da sua atividade.
[...], eu procuro tirar de dentro de mim, eu procuro tirar a essência deles
de alguma coisa de mim, amanhã ou depois outra pessoa vai fazer, mas
vai ficar diferente, não vai ficar com aquela essência (Entrevistado
20/Criatividade).
Treptow (2003) enfatiza que uma coleção não deve se limitar a reproduzir as
tendências pesquisadas no exterior. Ela deve apresentar uma proposta de estilo do seu
criador, uma cara’ própria. Assim, a expressão da criatividade, enquanto dimensão
humana ou substantiva, está presente no produto analisado. Salienta-se, ainda, que
conforme Campos e Weber (1987), Correia e Dorneles (2003), Parolin (2001) e Predebon
(1997), a criatividade é inerente ao homem.
Os entrevistados sobre a criatividade no produto também destacaram que a
possibilidade de experimentação existe, mas deve estar voltada para os interesses da
organização. Os relatos dispostos em seguida buscam evidenciar esse aspecto.
Eu acho que existe abertura para o novo, claro que tu tens que ter as
necessidades supridas, aquela coisa das peças chaves, mas existe abertura
para o novo [...]. Claro que às vezes acontece aquela coisa: ah! mas não
122
dá, mas sempre se tenta, nunca se desiste de primeiro de uma idéia
(Entrevistado 19/Criatividade).
Não vou dizer assim: Ah! pode ser o que quiser porque não é o que quiser
[...].A gente tem abertura, mas é uma liberdade meio condicionada, a
gente teve um caso recentemente sobre o inverno, a gente queria colocar
um gorro a mais de tricô para a “marca M” e “marca F”, foi uma
dificuldade para conseguir colocar porque não estava no papel, um
acha que porque não está no papel não vai [...]. No fim negociamos,
negociamos, mas o gorro não foi, e essas coisas todas são medidas por
meta (Entrevistado 18/Criatividade).
Assim, ao analisar os dados referentes à preocupação com os custos; à postura em
relação aos erros e às tentativas de experimentação, constata-se que a organização
investigada apresenta uma postura favorável ao desenvolvimento da criatividade. Contudo,
é importante ressaltar que as tentativas de experimentação devem estar voltadas aos
interesses da empresa.
Finalizando, a atitude gerencial seria a última variável pertencente à análise da
liderança. Ela revela se os líderes consideram a administração como uma atividade
rotineira, heurística ou improvisada. A análise dessa variável é feita por meio de
indicadores como a especificação de procedimentos e atividades, procedimentos de
urgência, e atividades improvisadas.
Na rotinização do trabalho o foco está na especificação de procedimentos e
atividades. Numa atitude heurística, alguns procedimentos são estabelecidos, contudo há
possibilidade de improviso. Na improvisação, as atitudes são tomadas de forma
improvisada.
Na Empresa Dedal & Agulha, dependendo da natureza da atividade, a atitude
gerencial pode assumir diferentes formas. Todavia, observa-se que prevalece uma posição
intermediária entre rotineira e improvisada.
Eu diria que coluna do meio, existem sim procedimentos, e talvez a
empresa tenha procedimentos demais, principalmente no que diz respeito
à parte operacional. Mas na questão liderança, na gestão, não existe
tantos documentos escritos da forma como deve acontecer, ou seja,
rotinas pré-definidas (Entrevistado 08/Cultura).
Existem as rotinas estabelecidas, mas no seu dia-a-dia existem
freqüentemente condições em que se precisa utilizar a ‘criatividade’, nem
para tudo existe regras e normas estabelecidas. Tem situações que se
precisa usar de sua ‘criatividade’ e de suas competências para
eventualmente improvisar (Entrevistado 03/Cultura).
123
Você tem áreas distintas, você tem áreas que existe uma certa rotina, que
é possível se seguir uma certa rotina. Você pega por exemplo uma
gerência das nossas unidades de Confecção, que envolve um grande
grupo, ele não tem como inventar muito freqüentemente porque existe
uma rotina pré-determinada. Mas você imagina por outro lado por
exemplo uma Área de Logística, ela tem que buscar alternativa a todo
momento; uma Área de Produto nem se fala, então eu diria assim que vai
muito da característica da área essa questão. Mas os gerentes que podem
ter talvez o conforto da rotina são absolutamente a minoria, a maioria
precisa sair da casinha, tanto que se pegar uma descrição de cargo de um
gerente ela é extremamente genérica; e se você buscar os procedimentos
que ele tem que seguir são muito poucos que estejam escritos, são
algumas linhas gerais, no mais ele tem que criar, tem que buscar
alternativas de acordo com a circunstância [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Desta maneira, se pode observar que a atitude gerencial não se posiciona em
nenhum dos pontos extremos da análise, apresentando-se numa posição rotineira com
alguma tendência para a improvisação. Com isso, de acordo com os dados obtidos na
pesquisa, é possível inferir uma tendência maior para uma atitude heurística a qual
representa um ponto intermediário da análise.
A característica dessa variável pode ser manifestada na criação do produto moda
pela constatação de que esse produto é criado com base num briefing
13
. Esse briefing é
aprovado pela diretoria, nele está descrito o mix de produto, ou seja, informações sobre
quantidade e tipo de peças que serão fabricadas, mas segundo os entrevistados ele
apenas um caminho, não é rígido. Abaixo são apresentados relatos que ilustram essa
realidade.
Na coleção anterior, nós coordenadores vamos a campo analisar a
aceitação da coleção, o que faltou no mix, se faltou mais blusas, se a
referência tal não agradou, a cor cinza era muito triste e assim por diante.
Então quando a gente vai fazer o briefing da próxima estação a gente
resgata todas essas informações, [...], e a partir disso a gente define o mix.
Vão ser cinco blusinhas, três shorts, de acordo com o que a gente escutou
no mercado, [...]e daí surge o mix que é aprovado pela diretoria [...]. O
briefing tem uns comentários gerais e esses comentários falam, por
exemplo: Atenção especial para as calças de tecido plano
14
, ainda
estamos recebendo reclamações quanto ao quadril e a cintura que está
estreita; o modelo de blusa da referência tal agradou bastante, na linha tal
eu preciso que tenha na coleção um macacão curto com manga e uma
proposta de três sortimentos. O briefing um caminho para seguir na
próxima coleção, são direcionamentos. Na realidade eu não posso dar
muito direcionamento senão eu acabo tolhendo, eu acabo cortando a
‘criatividade’ das estilistas, mas eu preciso passar um direcionamento
13
O briefing de coleção engloba a definição de público alvo, preços estimados, volume de vendas esperado,
quantidade de peças, condições ambientais/tendências (TREPTOW, 2003).
14
Os tecidos planos são os tafetás de seda ou poliéster, sarja, cetim, veludo e outros.
124
para não ficar ao léu porque daqui a pouco as estilistas que têm o perfil de
viajar um pouco mais fazem uma coleção fora da necessidade do
mercado. Então a gente tem que falar, olha tem que ter uma blusinha
regata, tem que ter uma blusa de manga curta porque senão vai faltar.
Daqui a pouco elas descobrem um filão que a cinco oitavos é tendência,
fazem cinco oitavos. Então a gente meio que dá uma direcionada, é
claro que se preocupando em não cortar a ‘criatividade’, tanto é que
quando a gente passa o briefing, a gente discute junto com elas o briefing:
oh! vamos fazer assim, eu pego o catálogo da coleção passada, explico
como foi a aceitação. [...], e eu falo: Se você tiver uma outra proposta,
ah! eu gostaria de uma calça capri mas se por acaso a tendência for
pescador me fala, a gente negocia, não é tão rígido, mas é um
direcionamento, [...]. Ah! eu vejo que a tendência agora é boina a gente
tem boné na coleção, faltou boina, posso fazer um extra-mix?. Faz, a
gente um jeito, eu tento negociar e acrescento [...]. Porque quando eu
faço o briefing é muito tempo antes, elas nem começaram a estudar, a
interpretar as novas tendências para próxima coleção, então a gente não
sabe o que vem por aí, daí ela percebe uma necessidade no decorrer do
estudo dela. Daí então a gente negocia, é uma coisa que não é tão rígida
até porque a gente está falando de moda, moda não pode ser rígida, ainda
mais a “marca F” que é uma marca que já nem quase segue tendência, ela
mesmo faz a tendência dela (Entrevistado 26/Criatividade).
A gente passa um briefing para as estilistas, direciona bastante a coleção,
como ela deve ser, só que a gente não tolhe a ‘criatividade’, a gente deixa
elas trabalharem de acordo com o que elas acham que é bom
(Entrevistado
25/Criatividade).
Além do briefing, existe um cronograma
15
que indica as etapas para a criação do
produto (pesquisa de temas, montagem de cartazes, escolhas das cores, tecidos,
aviamentos...). Entretanto, não um procedimento escrito que defina como essas etapas
devem ser desenvolvidas.
Metodologia existe, mas não é uma coisa sempre assim, sempre assim,
tem os passos que a gente sempre segue. Digamos, existe pesquisa de
tendência em birô, a partir dessa pesquisa, a gente tem pesquisa de
mercado para ver qual é a nossa realidade, a gente traz o que é de
tendência, temas para o universo dessa criança, desse menino da “marca
M”, a gente cria uma historinha. [...], a gente adapta, transforma para o
universo da criança. [...]. A gente às vezes faz até viagem e traz
referências, a gente vai mais afundo. [...], não para ti pegar na internet
e em livro, tu tens que ir lá e ver como é que é, e aí a gente transfere todas
essas informações, formas, cores. [...].Existe um cronograma geral para
todas as marcas, para as questões dos prazos e a gente se adapta a esses
prazos. Esses prazos, por exemplo de pesquisa de tendência, durante esse
período de pesquisa de tendência a gente pode fazer essa viagem que não
15
O cronograma “serve para organizar todas as atividades previstas, atribuindo-lhes datas de execução de
forma que a coleção possa ser concluída até um prazo final estipulado” (TREPTOW, 2003, p. 96). As etapas
para o desenvolvimento de uma coleção vão desde a pesquisa de tendências de moda até a produção de
material de apoio (folders, catálogos e outros).
125
está no cronograma. [...]. Temos a pesquisa de tendência, é um período
grande, legal para fazer, depois a gente parti para escolha das malhas,
das cores, aviamentos, tecidos planos; a gente faz todo o
planejamento do material que a gente vai utilizar em cima da pesquisa.
Depois fechamos isso, daí agora a gente tem uma pesquisa de modelos, aí
você o que está acontecendo com marcas do exterior e depois você
começa a desenhar a tua coleção (Entrevistado 19/Criatividade).
Tem algo escrito, mas não é uma coisa que é metódica, ah!agora vamos
fazer isso, agora aquilo, acontece naturalmente. A gente sabe que para
começar uma criação primeiro você precisa ter um tema para pesquisar,
pesquisa o tema e se aprofunda no tema. Então é uma coisa que se
naturalmente, não é assim agora tal, agora tal, agora tal. Existe um
cronograma todo, mas são as etapas de criação, define o período para
cada etapa. Muitas vezes a gente está em casa, no final de semana, você
lembra de alguma coisa e anota, está andando na rua e uma pessoa
passando, e que tem um detalhe na roupa, e você anota, acontece de
várias formas (Entrevistado 20/Criatividade).
As coisas vão acontecendo [...]. vamos supor, ah! a gente vai viajar,
ah! vamos para Florianópolis, não tem regra, a gente vai tirar o nosso
tema [...] (Entrevistado 21/Criatividade).
Os relatos expostos pelos entrevistados envolvidos na criação do produto estudado
evidenciam que são bastante utilizadas atitudes de improviso nessa atividade, o que
representa, segundo Kao (1997), um estímulo à criatividade. Além do fator improviso,
constata-se, por meio dos relatos, que o desafio também está presente na criação desses
produtos. Bruno-Faria e Alencar (1996) destacam que o desafio é um fator que facilita o
desenvolvimento da criatividade dentro da organização. Na mesma direção, Srour (1994)
também o cita como um estímulo à expressão da criatividade.
No que tange à subdimensão liderança, a interpretação dos dados da
investigação permitem demonstrar que ela é caracterizada por um estilo participativo com
alguma tendência para o consultivo; a abordagem de planejamento organizacional
apresenta características do modelo mixed-scanning e a atitude gerencial posiciona-se
como heurística. Com isso, essa subdimensão indica um nível intermediário para o
potencial de flexibilidade cultural, possuindo características que estimulam a criatividade.
Destaca-se, ainda, conforme os relatos dos sujeitos entrevistados sobre criatividade no
produto, que existe uma participação mais significativa na tomada de decisão e uma
considerável possibilidade de improviso nas atividades de criação do produto moda
vestuário infantil.
126
5.1.3 Regras não-escritas
As regras não-escritas que são representadas pelas variáveis disciplina
dominante, socialização, atitude formal versus real e tolerância à ambigüidade
representam as regras amplas e tacitamente compreendidas. Estas têm como função
orientar os empregados quanto ao que podem ou não fazer em situações não previstas em
regras formais (VOLBERDA, 1998).
A disciplina dominante refere-se à extensão em que os valores e as práticas de
uma certa área ou profissão dominam as regras não-escritas da organização. Ela pode
apresentar-se como forte ou fraca e é analisada em termos de quantidade de empregados
que apresentam a mesma formação, mesma idade e mesma experiência.
A organização investigada por atuar na área têxtil tem um grande mero de
costureiras; mas analisando no geral, os funcionários possuem formações diferentes
(Engenharia, Contabilidade, Administração, Psicologia, Publicidade, Arquitetura, Moda e
outros). Essa característica, segundo o entrevistado 11, ‘é um caldo cultural muito bom’.
É bem diversificado, nas áreas de apoio uma diversificação muito
grande [...]. No nosso caso a atividade em si não demanda uma
predominância, o maior contingente de pessoas nosso aqui são de
costureiras por exemplo; e nas áreas administrativas onde existe uma
formação técnica não tem um predomínio, você tem engenheiros,
contadores, administradores, não para dizer que tem uma categoria
predominante (Entrevistado 07/Cultura).
Nós temos uma diversidade, aporque a Empresa Dedal & Agulha é
extremamente verticalizada [...]. Ela é multifuncional, hoje não prevalece
uma atividade específica porque são muitas as frentes que nós estamos
abrindo e daí seus profissionais têm qualificações bastante distintas [...]
(Entrevistado 09/Cultura).
Uma das funções que é considerada estratégica para a organização, é a
costureira porque nós precisamos de uma quantidade grande, ela é
considerada uma função estratégica e esta atividade é bastante difícil.
Tanto é que a gente tem centros de treinamento interno, a gente forma
mão-de-obra, mas uma mão-de-obra bastante concorrida principalmente
aqui na região (Entrevistado 03/Cultura).
A formação dos entrevistados que participam da criação do produto moda
vestuário infantil também é diversificada. Tem-se formação em Moda, Desenhista,
Modelista, Administração e Engenharia Têxtil. Os conteúdos expostos a seguir procuram
evidenciar essa realidade
.
127
A gente faz uma reunião com o coordenador da marca que tem o foco de
mercado, a stylist que dá sempre o direcionamento na parte de criação, as
estilistas e os desenhistas (Entrevistado 19/Criatividade).
A estilista cria um negócio, chega a modelista e diz: Pô! inventei um
lance melhor para ficar mais barato, ou para ficar mais legal, um detalhe
para melhorar o produto, traz para nós então; show, vamos lançar
(Entrevistado 25/Criatividade).
Martins e Terblanche (2003) enfatizam que a diversidade dentro da empresa
estimula o desenvolvimento da criatividade. Na mesma direção, Rodrigues e Silva (1998)
salientam que o envolvimento no trabalho de pessoas com diferentes habilidades facilita a
expressão da criatividade. Zanella (2002a) também destaca que grupos formados por
pessoas com funções diferentes estimulam a criatividade.
Contudo, foi possível constatar que uma tendência, entre as lideranças e os
funcionários envolvidos com as atividades administrativas, em realizar s-graduação na
área da Administração de Empresas. Esse fator pode levar a uma homogeneidade entre os
membros da organização, limitando a criatividade.
Em relação à idade dos funcionários, os entrevistados classificaram a empresa
como uma ‘empresa jovem’. Na empresa em geral uma concentração na faixa de 20-35
anos, sendo que entre as lideranças predomina o intervalo de 30-45 anos. Duailibi e
Simonsen (1990) destacam que um ambiente jovial pode estimular a alegria, possibilitando
um nível maior de criatividade. O relato disposto a seguir salienta esse perfil.
Aqui na verdade o perfil é acima de tudo jovem (Entrevistado
09/Cultura).
Constatou-se, também, que entre os sujeitos envolvidos na criação do produto
analisado uma concentração na faixa etária de 28-37 anos. Essa característica define um
perfil de funcionários, na sua maioria, jovens.
A experiência dos funcionários é influenciada pela idade, pela formação
educacional, e pelas práticas exercidas ao longo da vida. Assim, pode-se inferir que ela
também é diversificada. Para Alencar (1996), grupos que se caracterizam pela diversidade
de formação e experiência estimulam a criatividade na empresa. A autora salienta que onde
predomina a homogeneidade entre os membros, a expressão criativa será certamente
reprimida.
128
No depoimento dos entrevistados também é enfatizada a importância de todas as
áreas, ou seja, não nenhuma área, segundo eles, considerada mais importante que a
outra.
Hoje todas as pessoas dentro da Empresa Dedal & Agulha, desde o início
lá na tecelagem até o produto final, até na própria loja são importantes, as
pessoas hoje são a peça mais importante da Empresa Dedal & Agulha.
Não existe um grupo que seja o mais importante, ou aquela estilista, ou
aquele tintureiro; são todos os que trabalham (Entrevistado 01/Cultura).
Aqui dentro se trata cada departamento como um departamento
importante para que aquele produto saia no final. Desde a malharia, a
Empresa Dedal & Agulha trabalha em cima disso, ela precisa da malharia
para fazer o produto final, da estamparia, do corte [...]. Acho que a
Empresa Dedal & Agulha trabalha muito isso, da necessidade da Área
Industrial, como da Área Administrativa, da importância de tudo dentro
do processo (Entrevistado 12/Cultura).
Todavia, observou-se que em algumas circunstâncias como, por exemplo, no que
diz respeito ao local das refeições dos funcionários, existe um restaurante para os
dirigentes e outro para os demais membros da organização. Um dos funcionários salientou
que a separação existe, pois possibilita uma maior privacidade aos gerentes e diretores que
muitas vezes precisam tratar de assuntos referentes ao trabalho na hora da refeição.
Segundo o mesmo, não diferença no cardápio, apenas a disposição dos pratos é
diferente e há mais opções de bebidas como refrigerantes.
Assim, por meio da análise dos indicadores que constituem a variável disciplina
dominante verifica-se que uma diversidade no indicador formação, mas com alguma
tendência para a homogeneidade. Uma concentração de idade entre jovens, sendo que a
experiência dos funcionários pode ser diversificada. Contudo, não é possível afirmar que a
disciplina dominante seja totalmente forte ou fraca. Enfatiza-se, aqui, que dentre os
sujeitos da pesquisa responsáveis pela criação do produto prevalece uma diversidade na
formação dos mesmos, o que favorece a expressão da criatividade.
A socialização descreve a extensão em que as regras não-escritas são
minuciosamente explicadas e mantidas dentro da empresa, ou seja, corresponde aos meios
utilizados para transmitir essas regras, que são: os ritos de iniciação, avaliação de
desempenho, programas de recompensa, treinamentos, critérios de recrutamento, entre
outros. Ela pode ser classificada em forte ou fraca. Schein (1984) e Fleury (1988)
enfatizam que o processo de socialização é um fator essencial para manutenção da cultura.
129
Na Empresa Dedal & Agulha quando os funcionários são contratados eles passam
por um rito de iniciação. Conforme Beyer e Trice (1984) esse rito é denominado de rito de
passagem e utilizado para inserir o indivíduo no meio organizacional. No 1º dia de trabalho
é realizado um encontro pela Área de Recursos Humanos. Nesse encontro, todos os novos
funcionários participam de dinâmicas de integração e recebem informações sobre a missão,
visão e valores da empresa, bem como sobre os procedimentos, benefícios, segurança, e
outros. Durante os três primeiros meses de experiência o funcionário passa pelo que a
organização chama de ILT (Integração no Local de Trabalho), que diz respeito ao
conhecimento da sua área de atuação (missão e valores da área, pessoas, ambiente,
atividades, segurança, limpeza, qualidade), sendo que a ILT é responsabilidade do chefe da
área. O relato que segue abaixo descreve o rito de iniciação da empresa.
O dia de trabalho é dedicado à integração, então o se tem contato
com as atividades ainda. No dia a pessoa vem para empresa e sempre
vem o grupo que está entrando naquele dia, independente da função, seja
um operacional, seja um gerente, eles ficam na mesma sala escutando as
mesmas coisas. [...], eles têm um momento de integração entre eles e
depois eles têm uma série de informações [...]. Não é improvisado esse
momento, inclusive na Área de RH tem uma pessoa que coordena essa
atividade, [...]. Depois, acontece em três meses o que a gente chama de
ILT (Integração no Local de Trabalho). A chefia tem que cumprir com
ele um determinado ritual que vai desde a apresentação para as pessoas
que trabalham com ele, o espaço físico, como é que ele se dirige daquela
área onde ele está trabalhando para o restaurante, qual é o caminho que
normalmente é feito, em que horário isso deve acontecer, onde são os
banheiros [...] (Entrevistado 16/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha possui um plano de cargos e salários formalizado e
um Plano de Sucessão para os cargos de chefias e lideranças. Existe uma política de
remuneração que prevê três níveis salariais, um inicial, um de efetivação no cargo e um
padrão de cargo. Além da remuneração fixa existe a participação nos resultados, sendo que
no Call Center e na Área Comercial existe um sistema de premiação baseado no alcance de
metas. De acordo com documentos que foram analisados na organização pesquisada, o
Programa de Participação dos Colaboradores nos Resultados/Lucro da Empresa (PPCRLE)
é desenvolvido desde 1994, sendo destinado aos funcionários parcelas de até 10% do lucro
líquido do exercício. Do valor total a ser pago, 50% são distribuídos proporcionalmente ao
salário nominal de cada colaborador e os outros 50% proporcional ao nível de atingimento
dos objetivos estabelecidos.
130
A avaliação de desempenho está associada à participação nos resultados e é
medida por área, na qual os critérios avaliados são: reduzir turnover, índice de acidentes,
cumprir os prazos de projetos, não ultrapassar gastos gerais no orçamento. Entretanto, hoje
a organização está em fase de estudo para implantar a avaliação de desempenho de 360°,
bem como começou a desenvolver a avaliação por competências com os candidatos que
pretendem atuar na empresa, com funcionários que vão mudar de cargo, e com a liderança.
As competências são: Flexibilidade Intercultural, Inovação, Trabalho em Times, Foco em
Resultados, Foco do Cliente, Comunicação Eficaz, Gestão de Pessoas, Gestão Operacional
e de Processos, Visão de Mercado, Habilidade de enxergar o cenário Empresa Dedal &
Agulha de forma sistêmica (empresa em âmbito internacional, fornecedores, concorrentes,
clientes, comunidades, entre outros) e numa perspectiva de longo prazo. Rodrigues e Silva
(1998, p.64) afirmam que “o desenvolvimento de competências relacionadas à capacidade
de pensar, resolver problemas e implantar novas ações está vinculado à capacidade criativa
das pessoas, e oferece oportunidades para gerar vantagens competitivas”. Os teóricos da
criatividade (ALENCAR, 1996; CARR, 1997; DUAILIBI; SIMONSEN, 1990;
RODRIGUES; SILVA, 1998; e outros) destacam que a ênfase na realização de trabalhos
em times, foco em resultados, foco no cliente, foco nas pessoas, comunicação eficaz, visão
de mercado, e visão sistêmica da empresa são fatores que estimulam a criatividade na
organização. Com isso, pode-se inferir que essas competências vão ao encontro dos valores
compartilhados pela maioria dos entrevistados, valores esses que estimulam o
desenvolvimento da criatividade.
Constatou-se que a política de avaliação de desempenho associada à participação
nos resultados influencia na criação do produto estudado. O conteúdo apresentado a seguir
evidencia
essa influência.
[...]. você chega assim, ah! tudo bem, ah! vamos fazer, vamos fazer,
tudo bem; aí chega aqui na frente, no outro setor que da seqüência no
trabalho, ah! mas na minha meta aqui se eu fazer isso vai baixar minha
participação nos lucros [...]. São coisas amarradas que impedem, eu
entendo que tem que ter freio no negócio, mas tem coisa assim que talvez
a tua participação nos lucros fosse muito maior se aquele negócio
entrasse [...] (Entrevistado 18/Criatividade).
Geis (1988 apud BRUNO-FARIA, 1996) salienta que os ambientes de trabalho
mais receptivos à expressão da criatividade são aqueles em que os prêmios financeiros pelo
sucesso são considerados como menos importantes do que a oportunidade de se trabalhar
131
em projetos desafiantes. Para Martins e Terblanche (2003), a administração deve ser
sensível para qual método de recompensa e reconhecimento inspira o pessoal a fim de que
sejam mais criativos e inovadores.
Em relação aos treinamentos, todos os funcionários recém contratados pela
empresa passam por um treinamento inicial que acontece no próprio local de trabalho
chamado de TLT (Treinamento no Local de Trabalho) e é considerado o treinamento
básico. Nele os funcionários recebem orientações sobre a natureza das suas atividades,
sendo que o TLT também é realizado para mudanças de métodos e processos. A Empresa
Dedal & Agulha realiza o LNT (Levantamento das Necessidades de Treinamento), no qual
cada departamento elabora anualmente o seu. Este passa posteriormente por uma avaliação
do Departamento de Recursos Humanos que realiza os treinamentos de acordo com as
necessidades levantadas. Existe, ainda, o Programa de Formação de Facilitadores e Chefias
(PFF/PFC). O PFF e PFC são direcionados para os profissionais que possuem cargos de
liderança ou em Plano de Sucessão. Os cursos desenvolvem habilidades técnicas,
comportamentais e de processo. A empresa mantém convênio com o SENAI por meio do
qual realiza um programa de formação de costureiras, visando formar mão-de-obra
especializada em Costura Industrial. Ela concede também bolsas de estudo para ensino
fundamental, médio, cursos de graduação e pós-graduação.
De acordo com os conteúdos expressos pelos entrevistados, foi possível constatar
que os treinamentos com a liderança enfocam principalmente aspectos comportamentais
como relacionamento e humanas. Todavia, com os demais funcionários são realizados
treinamentos mais técnicos. Segundo Bruno-Faria (1996), treinamentos destinados apenas
aos funcionários que ocupam cargos de chefia podem limitar a expressão da criatividade
em outros níveis. Duailibi e Simonsen (1990) enfatizam que quanto mais treinadas, menos
criativas serão as pessoas, se tomarmos como treinamento técnico a absorção de
conhecimentos formais e específicos. Bono (1994) salienta que a vantagem dos
treinamentos é proporcionar um conhecimento específico, e a desvantagem é a
uniformidade de pensamento e técnicas. Com isso, esta uniformidade pode aproximar as
regras não-escritas ou culturais das regras formais, reduzindo o potencial de flexibilidade.
Foi possível averiguar também que a organização não realiza treinamentos específicos para
o desenvolvimento da criatividade. Terra (2000, p. 43) salienta que os treinamentos para
criatividade podem possibilitar o desenvolvimento de “hábitos e condutas de pensar que
fazem aparecer a capacidade latente de criar”. Para Alencar (1996), a realização de
132
treinamentos visando o desenvolvimento do potencial criador representa um estímulo à
criatividade. Os relatos dispostos na seqüência visam ilustrar estas constatações.
Nós do corpo gerencial, nos últimos dois anos tivemos a possibilidade de
desenvolver uma série de treinamentos e de cursos voltados para o lado
da gestão, para o lado humano, para o lado do relacionamento e que
realmente ajudou bastante a convivermos com o processo de crescimento
e de mudança da empresa; de sermos mais questionadores e realmente
nos abrirmos para discussão e buscarmos um trabalho em equipe. Nesse
aspecto, para o corpo de liderança se trabalharam treinamentos mais
específicos e não tanto racionais, trabalhando com o lado mais da emoção
e da gestão. Mas hoje os modelos que tem na empresa para
acompanhamento de funcionários, ou as metodologias específicas de
implantação e de evolução dos trabalhos são bem mais técnicos
(Entrevistado 13/Cultura).
[...] o RH foca mais no nível das competências gerenciais, as
competências também técnicas mas principalmente comportamentais.
[...]. Se vê mais no nível das áreas uma formação mais técnica. Os
treinamentos comportamentais são mais para gerências e chefias. [...].
Existem esporadicamente também treinamentos em conjunto com o RH
no sentido de desenvolver a questão comportamental para todos
(Entrevistado 03/Cultura).
Verificou-se junto aos sujeitos envolvidos na criação do produto que também não
são realizados treinamentos voltados para o desenvolvimento do potencial criativo. Bruno-
Faria e Alencar (1996) salientam que treinamentos voltados à criatividade favorecem o
desenvolvimento do potencial criador a fim de que os indivíduos estejam abertos a
inovações. Todavia, os entrevistados salientaram que a empresa estimula a criação do novo
por meio de viagens, participação em feiras e eventos, acesso a materiais (revistas, livros,
internet e outros) e troca de idéias.
O lance da criatividade’ é bem incentivado aqui dentro, a gente não tem
limites para isso, a gente usa as viagens internacionais, viagens nacionais,
revistas, a gente tem diversas assinaturas, internet, informações de
concorrentes, a equipe de vendas nos traz informações de catálogos, de
concorrentes em nível de preço, em nível de produto, em nível de coisas
que estão acontecendo [...] (Entrevistado 25/Criatividade).
A Empresa Dedal & Agulha realiza o recrutamento interno e externo, sendo que
segundo os entrevistados a preferência é pelo recrutamento interno. Os conteúdos expostos
de imediato procuram evidenciar esse aspecto.
133
Existe uma política preferencialmente de recrutamento interno para dar
oportunidade das pessoas se desenvolverem internamente e não havendo
esta possibilidade passa-se para um processo externo (Entrevistado
03/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha tem uma predileção pelo recrutamento
interno por um valor aí de que as pessoas possam ser promovidas, possam
ser aproveitadas por conta de fazerem parte da empresa. Então todas as
vagas que surgem, a primeira pergunta que é feita para o chefe é se ele
pode fazer recrutamento interno, se isso for possível então se desencadeia
esse processo com anúncios nos murais, e-mail para as áreas dizendo que
tem vaga. que nós somos bem rígidos em relação aos critérios porque
não há diferença entre interno e externo para o cumprimento dos critérios
para aquela vaga. Isso para que fique bem claro para as pessoas que a
oportunidade interna é para quem espreparado para a oportunidade e
não é um benefício da empresa ocupar um determinado cargo porque faz
parte da empresa. A visão que a gente procura colocar é que a
oportunidade existe porque você ocupa esse espaço e se preparou para
esta oportunidade. Então não distinção, tem que cumprir os requisitos
porque esses requisitos é que garantem que vai haver o total atendimento
do que se espera com aquele profissional [...] (Entrevistado 16/Cultura).
A preferência pelo recrutamento interno pode representar uma política que
incentiva a manutenção da cultura vigente na empresa. Os indivíduos que atuam na
organização conhecem os valores e crenças esposados pela mesma, ou seja, estão “mais
enquadrados”. Freitas (1991) explica que definir perfis compatíveis com os valores
organizacionais, no recrutamento e seleção, é um dos meios pelo qual a Administração de
Recursos Humanos mantém a consistência interna da cultura.
A organização possui ainda como mecanismo de socialização cinco veículos que
fazem a comunicação da empresa com o público interno. São eles, o jornal interno da
empresa, um informativo, indoors, murais e intranet. O jornal interno dos colaboradores da
Empresa Dedal & Agulha tem periodicidade mensal e existe desde 1989. Os assuntos
abordados nele são variados como lazer, tecnologia, treinamento, saúde, educação,
segurança, qualidade e informações sobre a empresa.
O informativo é de circulação interna
com comunicações especiais e urgentes, geralmente circulam em torno de 2 a 4
informativos semanais.
Com o objetivo de transmitir mensagens aos colaboradores,
divulgar eventos e datas comemorativas, a Empresa Dedal & Agulha também possui os
indoors (outdoors internos). Estes estão localizados em pontos estratégicos na matriz da
empresa. A cada ano é feito um planejamento dos 24 indoors que serão apresentados,
sendo que cada um deles tem periodicidade de 15 dias. um mural central localizado
próximo ao restaurante da matriz e que apresenta assuntos relacionados a Eventos,
134
Oportunidades (compra, venda), CCQ, Sede Recreativa, Saúde e Segurança. Nos
departamentos da empresa existem os murais internos para divulgação de assuntos de
interesse geral das áreas.
O mais recente veículo de comunicação interna da Empresa Dedal
& Agulha é a intranet que está em funcionamento desde abril de 2000. Além da lista de e-
mails, telefones, cardápio do restaurante e dicas de saúde e nutrição, a intranet traz
informações sobre as áreas da empresa. Por meio da observação livre não-participante
constatou-se que o layout dos departamentos facilita a comunicação e a integração dos
indivíduos. A separação dos setores é feita apenas por divisórias que permitem o contato
visual e favorecem a comunicação entre os funcionários; sendo que a disposição das mesas
e demais móveis em semicírculo ou em círculo possibilita a integração. Para Bruno-Faria e
Alencar (1996), um ambiente físico que facilite a comunicação e a integração entre os
indivíduos estimula o desenvolvimento da criatividade.
Contudo, diante dos dados gerais analisados na variável socialização, observa-se
que as regras não-escritas ou regras culturais são minuciosamente explicadas e mantidas
dentro da empresa. Esta característica possibilita inferir que a socialização é forte, o que
inibe o potencial para flexibilidade.
A variável seguinte que também caracteriza as regras não-escritas é a atitude
formal-real. Ela reflete a extensão da diferença de valores que moldam as regras formais e
as regras não-escritas, podendo apresentar-se como equívoca ou inequívoca. quatro
posições que podem ser distinguidas dentro dessa classificação: a organização real faz
parte da organização formal (cultura de realce), a organização formal é uma parte da
organização real (cultura ortogonal), a organização formal e a real se sobrepõem, e a
organização formal e real não se sobrepõem (contracultura) (VOLBERDA, 1998). Na
empresa investigada foi possível identificar algumas regras não-escritas.
Por exemplo, você não vai achar em lugar nenhum escrito que se a pessoa
tem um compromisso a concluir ela tem que ficar depois do final do
expediente para terminar. Isso não está escrito em lugar nenhum, está
escrito que o horário dela terminar é 17:18, mas você na maioria não
precisa pedir para pessoa ficar. Ela sabe que se tem que entregar esse
trabalho amanhã, ela tem comprometimento e ela faz isso
espontaneamente. Isso é muito forte, não está escrito mas acontece, a
disposição em ajudar, em colaborar, quando alguém precisa de alguma
coisa, a disponibilidade também é muito forte. Tem outras coisas que
digamos assim, você não diz em algum lugar que o teu comportamento lá
fora tem que ser A, X, Y, Z, você não escreve isso, mas as pessoas sabem
que elas fora também representam um pedacinho da Empresa Dedal &
Agulha e que o comportamento delas na comunidade é importante para
empresa. É importante que ele seja um comportamento bom, que ela
135
procure se envolver em atividades, participar e assim por diante. Então
existem estas coisas que o pessoal conhece, sabe que a empresa gosta que
seja dessa maneira, valoriza isso de alguma forma embora o esteja
escrito em lugar nenhum (Entrevistado 07/Cultura).
Tem muita coisa já definida, então a gente vai cada vez mais definindo
essa questão de regras. Tem ainda alguma coisa que eu diria que não é
definida, que não está escrita, que não é formal, mas que informalmente
as pessoas sabem como funciona. Então é assim, por exemplo, a gente
tem horários, a Empresa Dedal & Agulha é tida como uma empresa
extremamente cumpridora de horários, se você marca uma reunião às 09
horas da manhã, dificilmente se você marcar com cinco pessoas dentro da
organização essas pessoas não estão na sala às 09, então as pessoas vêm
para reunião às 09. Se nós pedirmos para as pessoas definirem uma
determinada tarefa para o dia tal, as pessoas apresentam esta tarefa no dia
tal. Mas não está escrito que você tem que fazer isso, isso, isso, mas
cumprimento de prazo dentro da organização é algo que mesmo que o
esteja escrito ele é muito forte informalmente. A questão de qualidade no
próprio serviço, a qualidade no produto é algo que está definido, mas
qualidade no serviço a gente também tem isso como princípio, mas não
está escrito lá: ah!no teu relatório não pode ter erro, não pode acontecer
isso, não pode acontecer aquilo, as pessoas se preocupam como
apresentar. Objetividade também é uma característica forte da
organização que não está escrita, mas as pessoas procuram exercer isso
no dia-a-dia, enxergam isso informalmente como valor também da
organização (Entrevistado 11/Cultura).
Normalmente aqui dentro da Empresa Dedal & Agulha essas regras estão
baseadas em princípios fortes de ética, de respeito, de liberdade, de
responsabilidade, princípios de igualdade. Algumas regras estão
descritas, mas existem também as informalidades que daí estão muito em
cima da cultura da empresa (Entrevistado 08/Cultura).
Com base nos dados coletados, pode-se inferir que os valores da organização real
e formal são semelhantes, visto que as regras não-escritas se fundamentam em valores
esposados no Código de Ética da organização, como, por exemplo, a liberdade com
responsabilidade e o comprometimento. Na fala da maioria dos entrevistados é possível
constatar que os mesmos enfatizam a importância de seguir as normas e regras formais.
Para eles, as regras não-escritas devem ser tratadas como uma exceção.
Depende da situação, você tem que fazer a avaliação do que é melhor ali,
naquele momento você seguir as regras que estão estabelecidas ou
procurar um outro caminho desde que esse caminho não vá prejudicar em
nada o teu produto ou pessoas. Acontece muito é a gente seguir mais as
regras escritas, prevalece bem mais o que está nas regras. [...], são poucos
as exceções, que saem daquilo, são coisas previsíveis e o que sai é pouca
coisa que você tem que sair fora daquilo que está direcionado
(Entrevistado 01/Cultura)
.
136
Eu procuro respeitar as regras escritas e sem dúvida afinal elas estão aí
para isso, e se eventualmente eu não concordo com alguma regra escrita
eu vou tentar modificar essa regra. Mas eu também acho que ninguém
deve ser cego a tal ponto de querer levar tudo ao pé da letra, o teu
conhecimento do fato permite que você crie exceções até dentro daquilo
que está escrito, quer dizer, que você de alguma forma desobedeça aquilo
que está escrito, consciente que você desobedeceu, mas ao mesmo tempo
sabendo que isso não vai prejudicar a empresa. Então, eu não tenho
nenhum constrangimento e nenhum receio, se for o caso, se eu achar que
é válido contrariar uma regra escrita, agora como uma exceção, como
regra, como eu disse se a regra não está boa vamos derrubar a regra
(Entrevistado 07/Cultura).
As regras foram escritas por uma razão, se elas não servem devem ser
rediscutidas, [...], se de fato houver um algum desrespeito da regra escrita
tem que ter uma razão forte para isso e entra a liberdade com
responsabilidade (Entrevistado 08/Cultura).
Verificou-se ainda que na organização uma preocupação em formalizar tudo
(procedimentos, formas de conduta, regras e outros). Assim, a Empresa Dedal & Agulha
possui uma cultura mais inequívoca, ou seja, com uma mínima diferença de valores entre
atitude formal-real. As informações repassadas pelos entrevistados possibilitam constatar
que essa variável assume a posição de cultura ortogonal, na qual, de acordo com Volberda
(1998), a organização formal é uma parte da organização real. Nela os membros aderem às
regras formais, mas desenvolvem, também, um conjunto não conflitante de regras não-
escritas. As regras formais não podem especificar todas as contingências, então as regras
não-escritas são desenvolvidas para ações apropriadas sob contingências não especificadas.
O autor explica que quanto mais os membros da organização tentam reduzir o espaço entre
o formal e o real; enfatizando as regras formais, mais limitado é o potencial para
flexibilidade. O conteúdo expresso por um dos entrevistados sobre criatividade no produto
procura evidenciar a influência dessa característica na criação do produto pesquisado.
É gente botando regra, botando norma, então limita (Entrevistado
18/Criatividade).
Por fim, a última variável referente às regras não-escritas diz respeito à tolerância
à ambigüidade. Ela demonstra a extensão na qual as regras não-escritas podem facilitar ou
dificultar a liberdade de ação, podendo se apresentar como baixa ou alta. Dentre os
indicadores que determinam a flexibilidade potencial desta variável têm-se o nível de
novas idéias e opiniões diferentes, comportamentos divergentes e a previsibilidade ou não
da forma como os membros se relacionam dentro da organização.
137
Quanto ao nível de novas idéias e opiniões diferentes, verificou-se na Empresa
Dedal & Agulha que abertura à exposição de idéias diferentes. Entretanto, salienta-se
que essas idéias devem estar em cima de temas do trabalho, ‘dentro de uma idéia
construtiva’, ou seja, que sejam idéias direcionadas para os interesses organizacionais.
Bastante gente pensa diferente, mas se adaptam aos objetivos da empresa
(Entrevistado 05/Cultura).
[...] diferentes opiniões podem muitas vezes a princípio causar um
espanto, mas com certeza elas geram novas oportunidades, melhorias,
incentiva-se até uma análise crítica da situação [...] (Entrevistado
06/Cultura).
Cada um a sua opinião, a opinião que quer, daí eles analisam, vêem a
melhor forma de se fazer, de agir, é natural, cada um a sua opinião
(Entrevistado 17/Cultura).
Torna-se importante destacar, ainda, a fala de um dos entrevistados quanto à
postura da empresa diante de opiniões diferentes e choque de idéias. O conteúdo dessa fala
revela que na empresa investigada não ocorrem muitos conflitos, pois não uma grande
divergência de opiniões.
[...] não é uma empresa de muito conflito, não existem opiniões
confrontadoras, confrontos intensos. [...]. Existe um certo enquadramento
do grupo como um todo, de limites que não devam ser ultrapassados;
então eu acho que isso é que segura um pouco os grandes confrontos,
mais uma coisa assim de que é uma empresa harmônica. Mas essa
harmonia, não vejo ela em alguns momentos como bem vinda, nem digo
isso como uma coisa boa, acho que às vezes precisaria ter mais confronto,
mais defesa de posicionamentos (Entrevistado 16/Cultura).
Aqui é interessante destacar um valor fortemente compartilhado pelos sujeitos ‘a
empresa é uma família’ que pode favorecer essa “harmonia”, impedindo que alguns
conflitos de idéias se estabeleçam. Esse valor se expressa pelo menos em três aspectos.
Primeiramente, na questão afetiva, relatada pelos entrevistados, que permeia as relações
estabelecidas entre os funcionários. Em segundo lugar, o entendimento de que a empresa é
uma família repercute no fato de que a política de valorização dos funcionários em termos
de perspectivas futuras prioriza os “da casa”. Tal fato é evidenciado na composição do
atual quadro de dirigentes da empresa. Dois diretores são filhos do presidente da empresa,
este é irmão do fundador, e os demais diretores fizeram carreira dentro da organização.
Uma outra política adotada pela organização, a qual permite a contratação de esposo e
138
esposa, pode sustentar ainda mais a idéia de ‘Família Empresa Dedal & Agulha’ e facilitar
a manutenção da cultura vigente. Além disso, é notória a expectativa existente por parte
dos entrevistados de que os seus filhos possam trabalhar futuramente na empresa.
A imagem da grande família é freqüentemente utilizada pelas
organizações para reforçar o clima de camaradagem e confiança que se
pretende e o comprometimento das pessoas com os objetivos
organizacionais. Na ‘grande família da empresa’, o conflito entre capital
e trabalho é substituído pela cooperação [...]. (FLEURY, 1996, p. 122).
Todavia, a autora salienta que essa cooperação está pontuada por algumas
situações de conflito interpessoal. O mito da família, conforme a mesma, revela duas faces
presentes nas relações de trabalho: a face visível de solidariedade, de cooperação, e a face
oculta da dominação e submissão. Enfatiza-se, aqui, que a visão positiva dos funcionários
em relação à organização pode ser determinada pelo contexto no qual a empresa está
inserida. Neste prevalece a cultura germânica, a organização ocupa um papel de destaque
junto à comunidade pela relação que estabelece com a mesma e por ser uma das
responsáveis pelo desenvolvimento da região.
Destaca-se entre os entrevistados responsáveis pela criação do produto, também,
essa abertura para novas idéias e opiniões diferentes. Contudo, essas idéias devem vir ao
encontro dos objetivos organizacionais.
[...] quando a gente passa o briefing, a gente discute junto com elas o
briefing, oh! vamos fazer assim, eu pego o catálogo da coleção passada,
explico como foi a aceitação. [...], e eu falo: Se você tiver uma outra
proposta, ah! eu gostaria de uma calça capri mas se por acaso a tendência
for pescador me fala, a gente negocia [...] (Entrevistado 26/Criatividade).
Em relação aos comportamentos divergentes foi possível constatar que existe
tolerância aos mesmos. Os relatos expostos abaixo visam ilustrar essa realidade.
A Empresa Dedal & Agulha trabalha e lida bem com estas situações, a
questão do vestir diferente, lidar com pessoas bem diferentes, a gente tem
vários exemplos dentro da organização. Não tem nenhuma restrição com
relação a isso, ela lida bem com esta situação (Entrevistado 03/Cultura).
A empresa hoje já é uma empresa que trabalha bem com essas diferenças,
com a liberdade de expressão seja ela através da forma de se vestir, seja
através de comportamentos [...] (Entrevistado 09/Cultura).
Todavia, alguns entrevistados destacaram que devido à organização estar inserida
em uma região de cultura germânica, uma ‘cultura tradicional’, algumas vezes o diferente
139
causa algum espanto, mas as adaptações ocorrem com a convivência. Os relatos dispostos
na seqüência evidenciam essa característica.
[...] o que predomina mais na região é a cultura alemã, então é aquele
pessoal mais do interior, mais retraído, mais conservador. Então quando
via as estilistas, que são pessoas digamos modernas, mais liberais,
diferentes, fashion, vêm com aquelas roupas esquisitas para eles; então
fica aquela coisa, aquele ar de puxa o que é isso aí! que mundo nós
estamos! Mas mudou bastante, hoje a convivência é mais normal. Até
porque a cidade em si está mudando [...] (Entrevistado 01/Cultura).
Um rapaz todo tatuado, com brinco, piercing, aqui causou algum choque
inicial, o rapaz também se adaptou ao jeito germânico de ser da cidade,
de fato é bem diferente da cultura de uma cidade de São Paulo [...]. Ele se
sentiu melhor usando uma camiseta um pouco mais fechada, deixar os
piercings em casa e não aparentar assim tão impactante[...].Existe
abertura, mas também existe um balanceamento, não pode ser muito
diferente [...] (Entrevistado 08/Cultura).
Verificou-se que na organização investigada os relacionamentos são informais.
Por meio da observação livre não-participante constatou-se que no dia-a-dia os
funcionários, inclusive os dirigentes, vestem-se de modo informal, como, por exemplo,
com jeans e camiseta. A linguagem e forma de relacionarem-se também são informais. Foi
possível presenciar muitas conversas descontraídas. A informalidade também pôde ser
observada na decoração das mesas e armários nos quais existem objetos pessoais coloridos
como bibelôs, porta-retratos, porta-recados, vasos decorativos, entre outros. O conteúdo a
seguir retrata essa informalidade.
Normalmente a gente é informal, a empresa é informal [...].A formalidade
é para alguns momentos, principalmente quando se tem a presença de
algum cliente, alguma situação que exige que você se comporte de uma
forma mais formal, mas entre os colegas a gente é bem informal
(Entrevistado 15/Cultura).
Segundo os entrevistados, aceitar o diferente e ser informal são características
necessárias visto que a empresa está ‘voltada para o mundo da moda’. Aqui, destaca-se a
fala de um dos sujeitos quanto a uma característica específica de um dos profissionais da
moda.
As estilistas são pessoas muito questionadoras por estarem envolvidas
com a moda, [...], elas são pessoas que trabalham a argumentação muito
forte (Entrevistado 13/Cultura).
140
Essa característica de personalidade dos profissionais de criação pode favorecer a
diversidade de opiniões e o conflito. A diversidade de opiniões e o conflito, segundo Carr
(1997), Martins e Terblanche (2003), são fontes de criatividade.
Assim, a partir da análise dos dados pode-se inferir que existem características
que facilitam a tolerância à ambigüidade. Apesar de não se apresentar em nenhum dos
extremos da classificação, baixa ou alta, a tolerância à ambigüidade existe e
conseqüentemente aumenta o potencial de flexibilidade. Carr (1997, p.65) afirma que “A
empresa deve aceitar e lidar abertamente com as diferenças e o conflito potencial se quiser
usar a diversidade como fonte de múltiplas perspectivas e, portanto, de criatividade. [...].”
Contudo, pode-se inferir, de modo geral, na subdimensão regras não-escritas
predominam características que estimulam a previsibilidade, estabilidade, controle,
comportamentos padronizados. Essas características, conforme os teóricos da criatividade
(ALENCAR, 1996; CARR, 1997; DUAILIBI e SIMONSEN, 1990; e outros), dificultam o
desenvolvimento da criatividade. Assim, as quatro variáveis aqui caracterizadas, disciplina
dominante num ponto intermediário; socialização forte; atitude formal-real mais para
inequívoca e uma tolerância à ambigüidade mediana revelam que as regras não-escritas
possuem características que em grande parte são desfavoráveis à expressão da criatividade.
Entretanto, cabe ressaltar que dentre os sujeitos da pesquisa, envolvidos na criação do
produto moda estudado, uma maior diversidade quanto à formação dos mesmos, e uma
maior tolerância à ambigüidade.
5.1.4 Orientação Externa
A orientação externa é a última subdimensão da cultura organizacional,
apresentada por Volberda (1998), que tende a bloquear ou facilitar o desenvolvimento do
potencial de flexibilidade cultural da organização. Essa subdimensão reflete as crenças dos
funcionários sobre o relacionamento da organização com seu ambiente e apresenta três
variáveis de análise: foco, abertura e atitude de planejamento.
O foco diz respeito às idéias compartilhadas pelos funcionários a respeito do
futuro e do projeto de tempo que eles aplicarão no futuro. Ele pode variar de curto ao longo
prazo. Os conteúdos expressos em seqüência revelam como se caracteriza essa variável.
141
O futuro é projetado para 05 anos, projetamos o futuro de onde nós
estamos e onde queremos chegar, quais são as novas oportunidades de
negócios, quais o os negócios que nós vamos investir mais ou investir
menos, isso em cima das oportunidades, das ameaças, do ambiente e dos
mercados [...] (Enrevistado 11/ Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha independente do planejamento estratégico
ser de 03 anos ela tem um plano de onde ela quer chegar em 2010, mas
ele é um plano que vai ser construído a partir do próprio planejamento
estratégico mas com a visão de 2010.[...]. As ões estratégicas são de
três anos e a visão de 05 anos (Entrevistado 02/Cultura).
Hoje por exemplo já estamos preparando na nossa área o layout para
2010, isso já diz que a gente pensa para frente. Existe quase um projeto já
pronto para a Estamparia por exemplo sobre o que ela vai ser, onde ela
vai estar, quantas marcas vai ter em 2010. Acredito que a Empresa Dedal
& Agulha pensa muito em longo prazo, embora a execução depois em
curto prazo sofra algumas alterações, adaptações conforme a necessidade.
Mas acredito que o longo prazo predomina (Entrevistado 06/Cultura).
Assim, a fala dos sujeitos da pesquisa caracteriza uma visão de futuro com um
foco em longo prazo, o que possibilita um potencial grande para flexibilidade. Bruno-Faria
(1996) enfatiza que a criatividade é considerada fundamental para o sucesso organizacional
em longo prazo.
Algumas características do produto pesquisado, citadas pelos entrevistados,
podem possibilitar à organização manter-se competitiva no mercado por um longo período
de tempo. Os relatos apresentados em seguida evidenciam essas características.
A qualidade é uma exigência que tem que estar no produto, é uma
obrigação da empresa. A gente tem o pós-venda, o cliente é muito bem
tratado, o cliente é que manda, ele que vai dizer se está legal ou não está.
Se a gente deixar de cumprir isso, a marca vai por água abaixo e a
empresa também (Entrevistado 21/Criatividade).
Inovação e criatividade são duas coisas que tem que estar associadas
direto mesmo, se você não tiver uma diferenciação no mercado você é
mais uma marca, e a “marca M” e a “marca F” não são mais uma marca,
são as marcas (Entrevistado 25/Criatividade).
A abertura, próxima variável a ser analisada, indica o quanto os membros da
organização consideram a empresa sensível às mudanças do ambiente na qual está inserida
(mercado, clientes, concorrentes, regulamentações governamentais, tecnologia e outros).
Ela pode apresentar-se como fechada ou aberta.
Diante dos dados coletados, pode-se inferir que a Empresa Dedal & Agulha se
apresenta de forma aberta às mudanças que ocorrem no ambiente, ou seja, está sensível ao
142
mercado, foca sua atenção no produto, está próxima do cliente e atenta à concorrência.
Essa abertura é justificada pelos entrevistados, principalmente, por produzirem também
produtos moda. Evans e Russel (1989) enfatizam que o futuro é incerto e por isso as
organizações devem manter-se abertas a fim de responderem criativamente ao imprevisto
quando esse surgir.
A Empresa Dedal & Agulha por trabalhar com produtos de moda ela está
muito condicionada à variável do mercado, então ela realmente tem que
se adaptar muito rapidamente mais às questões de mercado (Entrevistado
03/Cultura).
Ela se posiciona e precisa se posicionar de forma aberta, porque hoje as
oscilações do mercado são bastante significativas, sempre as empresas
precisam estar atentas a sinalizações desse mercado. [...]. No caso da
Empresa Dedal & Agulha, ela é uma empresa muito dinâmica que vive de
mudanças, ela não é fechada, ela sempre está aberta às mudanças do
mercado (Entrevistado 03/Cultura).
Hoje nós estamos preocupados com o mercado, o que o mercado quer é o
que nós precisamos produzir, conseqüentemente nós vamos buscar
tecnologia baseada no que o mercado nos diz. É o mercado que dita a
máquina que a gente vai comprar [...] (Entrevistado 06/ Cultura).
Na organização pesquisada, o foco está no produto. As mudanças realizadas no
processo produtivo visam a melhoria desse produto.
[...] a predominância, o que prevalece na hora de decidir é o produto, o
produto final, o processo de alguma forma vai ter que se adequar a esse
produto. Embora a gente nunca deixe de trabalhar no processo porque
para você fazer um produto atender a necessidade de um resultado final
você tem que estar constantemente olhando para esse processo; para ver
se você pode melhorá-lo, aperfeiçoá-lo [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Ela se preocupa com o que o mercado sinaliza para o produto final. D
ela vai buscar o que precisa no processo. Vamos supor, existe uma
tendência de usar um acabamento, uns apliques de flor. Então, a Empresa
Dedal & Agulha busca no processo, tecnicamente como vai aplicar
aquilo, existe uma tendência de fazer bordado a lazer; então a empresa
busca implantar (Entrevistado 12/Cultura).
Existe muita mudança no processo visando o produto final (Entrevistado
13/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha possui instrumentos para estar próxima dos clientes e
consumidores como o Projeto Consumidor, no qual um grupo de auditores das diversas
143
áreas da empresa responsáveis pelo projeto e por levar informações às áreas e unidades
fabris. Por meio do Projeto Consumidor a organização busca despertar a atenção de todos
os funcionários para o cliente. Existem, ainda, outras ferramentas como o Call Center,
pesquisas de mercado, clube de relacionamento, e os próprios representantes comerciais e
coordenadores de marca buscam informações junto aos clientes e consumidores. Nesse
ano, a empresa conquistou, pelo segundo ano consecutivo, o prêmio de Excelência em
Serviços ao Cliente, como melhor SAC do Brasil no segmento moda. Para Carr (1997), a
empresa torna-se mais criativa quando está atenta às mudanças do meio e é primordial
incluir clientes nos processos decisórios, pois estes representam uma fonte de novas idéias.
Os entrevistados, em suas falas, enfatizaram constantemente a importância de se
colocarem no papel do consumidor. Constatou-se por meio da análise de documentos da
empresa que esse discurso é disseminado pelo Projeto Consumidor. O relato a seguir busca
ilustrar esse discurso.
Uma empresa não existe sem o seu cliente; então basicamente tudo o que
se faz dentro da organização é no sentido de buscar atender, superar as
expectativas e os anseios desse cliente. [...]. Nós temos o nosso programa
que a gente chama de Projeto Consumidor, onde nós temos um
relacionamento direto com o nosso consumidor final através do call
center ou através de entrevistas que a gente realiza junto ao mercado,
visando estar atento realmente ao nível de satisfação dos nossos clientes.
Como nós temos também uma rede de lojas e franquias, onde a gente tem
um canal de distribuição mais direto com o consumidor, nós temos a
condição realmente de ter uma comunicação bastante direta com o
consumidor e com o cliente também, através dos representantes
comerciais. As próprias equipes de produtos de lançamento que estão
freqüentemente em contato com os clientes e consumidores no sentido de
identificar eventualmente se estas necessidades são supridas ou
eventualmente acolher sugestões, críticas, propostas de melhoria dos
produtos (Entrevistado 03/Cultura).
O cliente tem que ser ouvido sempre, constantemente, tanto que nós
temos vários canais desde o nosso representante que está na casa do
cliente, como nós temos o nosso pessoal da área de produto que
constantemente vai ao encontro dos clientes para ver as novidades, temos
o call center que está aberto para receber opiniões, sugestões e críticas
dos clientes e consumidores (Entrevistado 07/Cultura).
A gente está sempre analisando, ah! o que o lojista ou então o que o
consumidor vai achar disso, vai causar dano para a criança [...]. Tem uma
preocupação grande com isso, o que a mãe fala, o que a lojista falou
também, o que a criança às vezes comentou. Então, tem uma preocupação
grande nesse sentido, sempre se adequar [...] (Entrevistado
18/Criatividade).
144
Além do relacionamento com os clientes e consumidores, destaca-se também a
relação com os fornecedores. Os entrevistados a caracterizaram como uma relação de
parceria; sendo que a Relação com Fornecedores é um valor esposado pela organização em
seu Código de Ética. Carr (1997) enfatiza que os fornecedores são uma fonte de novas
idéias. O relato que segue retrata essa relação de parceria com os fornecedores.
Ele é um parceiro muito forte, procuramos trabalhar com os fornecedores
em nível de parceria para que você também possa ter atendimento na hora
certa, para que ele possa trazer coisas diferentes (Entrevistado
07/Cultura).
Conforme informações coletadas nos documentos da organização investigada, foi
possível constatar que a empresa possui um programa estruturado que abrange visitas de
Empresas, Entidades, Escolas/Universidades, Familiares e Clientes. A visita de outras
empresas tem por objetivo a troca de informações, principalmente a respeito de tecnologia,
recursos humanos e qualidade. A Empresa Dedal & Agulha realiza também benchmarking
possibilitando aos seus funcionários, quando do desenvolvimento de projetos, visitas a
outras empresas visando o intercâmbio de informações.
Se o nosso concorrente não estivesse na nossa porta, nós estaríamos
muito acomodados. [...]. Ele não nos deixa se acomodar, porque se nos
acomodarmos a gente perde espaço. Existe hoje também uma abertura
entre os concorrentes, a gente troca idéias, troca tecnologias, troca
conhecimentos, isso é extremamente aberto. A Empresa Dedal & Agulha
é uma empresa aberta. [...] (Entrevistado 06).
Você não tem como deixar de analisar o comportamento da sua
concorrência [...]. Nós observamos o concorrente naquilo que é possível,
mas nós acreditamos muito mais na força do nosso produto, da nossa
marca, do que especificamente no preço do concorrente, na atitude do
concorrente; pelo contrário a gente procura se possível fazer alguma coisa
antes dele, inovar, para que ele busque se referenciar em nós. Agora claro
que se tem uma ação interessante no mercado concorrente vai se olhar e
se faz essa confrontação inclusive de preços de produto, mas muito mais
para diferenciar do que pra brigar com ele, para conhecer e tentar fazer
diferente [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Nós procuramos monitorar bastante os nossos concorrentes, a gente acha
que concorrência é extremamente importante e salutar para o
desenvolvimento e a gente senti isso porque a Empresa Dedal & Agulha
tem uma séria de marcas distintas. s temos marcas onde nós somos
líderes com muita folga no mercado, nós temos marcas em que nós somos
líderes do mercado, mas com concorrentes muito próximos, nós temos
marcas que não somos líderes e brigamos por mercado e nós temos
marcas que estamos correndo atrás do líder que está lá longe da gente.
145
Então nós fazemos hoje a gestão de marcas que vivem momentos muitos
distintos, a gente consegue a partir disso ver o quão é interessante a
observação do concorrente nesse processo [...] (Entrevistado 09/Cultura).
Duailibi e Simonsen (1990) explicam que a pressão dos concorrentes sobre a
empresa é condição essencial para o desenvolvimento da criatividade na empresa. “Os
monopólios, as reservas e as situações cômodas de mercado são reconhecidamente menos
criativos, quer sejam resultantes da superioridade sobre a concorrência, quer resultantes, de
acordos entre os componentes de um setor” (DUAILIBI; SIMONSEN, 1990, p. 76).
Portanto, por meio das entrevistas, é possível afirmar que os membros da
organização a consideram atenta aos sinais advindos do ambiente e interagindo
constantemente com os clientes, consumidores, fornecedores e concorrentes. Enfatiza-se,
ainda, que a Habilidade de enxergar o cenário Empresa Dedal & Agulha de forma
sistêmica (empresa em âmbito internacional, fornecedores, concorrentes, clientes,
comunidades, entre outros.) e numa perspectiva de longo prazo corresponde a uma das
competências utilizadas na avaliação de competências aplicada na organização. Assim,
quanto à variável abertura esta se posiciona como aberta, o que, conforme Volberda
(1998) permite um potencial elevado de flexibilidade.
A relação entre essa variável e a criação do produto pesquisado pode ser
verificada na preocupação com as tendências de moda, em produzir um produto
diferenciado, satisfazer o cliente e estar à frente da concorrência. Aqui, destaca-se a função
do coordenador de marca que é responsável por trazer as informações do mercado
(clientes, consumidores, concorrentes). Os discursos dos entrevistados sobre criatividade
no produto expostos na seqüência ilustram essa realidade.
A gente vê muito o que está no mercado (Entrevistado 22/Criatividade).
Geralmente, cada estilista uma vez por ano vai numa viagem
internacional. A stylist vai sempre. [...]. As “marcas F e M” são ícones
das marcas infantis, e a gente sabe que a gente tem que sempre inovar
(Entrevistado 20/Criatividade)
.
[...] a gente usa as viagens internacionais, viagens nacionais, revistas, a
gente tem diversas assinaturas, internet, informações de concorrentes, a
equipe de vendas nos traz informações de catálogos, de concorrentes em
nível de preço, em nível de produto, em vel de coisas que acontecem
[...] (Entrevistado 25/Criatividade).
146
Treptow (2003, p. 18) explica que o profissional de criação “deve manter olhos
atentos às novidades da moda, mas, sobretudo, conhecer profundamente o seu mercado
consumidor, seu público alvo”. A autora destaca que o profissional de moda deve procurar
satisfazer os desejos e necessidades das pessoas. Quanto à preocupação em estar atenta às
sinalizações do mercado e satisfazer o cliente, é importante lembrar que a empresa
pesquisada utiliza ainda um birô internacional para conhecer as tendências de mercado.
Rech (2001 e 2002) explica que a utilização de birôs possibilita atender melhor os desejos
dos consumidores, e as tendências servem de inspiração e visualização para a criatividade,
abrem as portas da imaginação.
Finalmente, a última variável a ser analisada, a atitude de planejamento,
descreve as crenças dos membros sobre o quanto a organização pode controlar seu
ambiente ou ser sujeita as suas forças. Essa variável pode assumir quatro posições: reativa,
inativa, proativa e interativa.
Quando assume uma atitude reativa, a organização tenta manter a posição atual
(divisão de mercado, clientes, produtos), o seu planejamento visa preservar as realizações
anteriores e a orientação externa é baseada no passado. Na atitude inativa, o ambiente é
visto como incontrolável, a organização age de forma passiva, o planejamento é
considerado inútil e a orientação externa é baseada no presente. Em relação à atitude
proativa, a organização tenta adaptar-se a um futuro possível, o planejamento representa
um meio de antecipar esse futuro e a orientação externa é baseada em um futuro provável.
Na atitude interativa, por meio de uma visão de longo prazo e um quadro idealizado do
futuro, a organização busca adaptar-se e controlar esse futuro ideal, e a orientação externa
é baseada nesse futuro desejado (VOLBERDA, 1998).
Na Empresa Dedal & Agulha, constatou-se, entre os entrevistados, a crença da
existência de uma atitude de planejamento proativa com tendências para interatividade. Os
conteúdos dos discursos apresentados em seguida procuram evidenciar esta constatação.
Ela está entre proativa e interativa, no sentido de que a gente fica de olho
no ambiente, mas a gente não se deixa envolver por ele, nós procuramos
ter o nosso caminho [...] (Entrevistado 07/Cultura).
Nós somos proativos e um proativo bastante agressivo no
estabelecimento de metas, mas nós não temos ainda muito controle sobre
o futuro. Por exemplo, a Empresa Dedal & Agulha é líder do segmento de
confecção infantil do país que pelos números oficiais a empresa tem
1,5% do mercado, então você tem muito, mas também não tem quase
nada. Então a gente controla pouco, a gente tem pouca autonomia para
147
ditar para o mercado, para ditar para os nossos agentes de contato como é
que vai funcionar a regra do jogo, a gente tem que se sujeitar à regra do
jogo e tentar ser agressivo na conquista de mais espaço. Mas ainda não
estamos em condição, já estamos um pouquinho melhor do que talvez
tivemos em algum momento, mas ainda muito, muito longe, de conseguir
praticar a interatividade de uma maneira como se desejaria (Entrevistado
09/Cultura).
A Empresa Dedal & Agulha está cada vez mais olhando para frente, está
puxando o mercado, só dizer que ela controla o seu futuro isso não é uma
verdade. Ela hoje tem uma visão do que pode acontecer no futuro e ela
direciona toda a sua frente de batalha em direção aquilo, mas existe ainda
muita experimentação, muita coisa nova que a empresa experimenta,
que ela está puxando, ela está se puxando, está se mexendo [...]
(Entrevistado 13/Cultura).
Portanto, a atitude de planejamento por apresentar, segundo os entrevistados,
características de proatividade com tendências para interatividade, eleva o potencial de
flexibilidade cultural. Carr (1997) afirma que as empresas criativas estão aptas a criar seu
futuro. Os conteúdos expressos nas falas a seguir buscam refletir a relação entre a variável
atitude de planejamento e o produto investigado.
[...] ela em alguns caminhos, em alguns assuntos ela é uma empresa
extremamente proativa com pitadas até de interatividade, eu acho que a
situação das lojas da “marca F”, da rede de franquias é justamente
buscando ter um controle do seu futuro [...] (Entrevistado 13/Cultura).
Em relação aos produtos da “marca F” e “marca M”, na verdade nós
somos quase que os lançadores, os outros estão praticamente copiando
o que nós fazemos. Então, você se sente sempre na frente, o desafio, a
responsabilidade é grande (Entrevistado 23/Criatividade).
A “marca F” e a “marca M” como são marcas já posicionadas, são
marcas que tem seguidores, o pessoal está copiando [...]
(Entrevistado 25/Criatividade).
Treptow (2003) salienta que o profissional de moda deve estar à frente do seu
tempo. Ele deve tentar antever preferências futuras e lançar novas tendências a partir de
criativas propostas de estilo.
Com isso, a orientação externa possui um foco em longo prazo, está aberta ao
ambiente e apresenta uma atitude de planejamento proativa com tendência para
interatividade. Essas características possibilitam a existência de um potencial de
flexibilidade cultural elevado, o que favorece o desenvolvimento da criatividade.
148
A partir dos dados coletados e analisados, referentes à cultura organizacional,
verifica-se que a Empresa Dedal & Agulha possui na subdimensão formação de
identidade uma condição inovadora com alguma tendência para conservadora devido à
variável comunalidade. Essa subdimensão foi analisada em relação a sua comunalidade
(forte), extensão (ampla) e a sua homogeneidade (heterogênea).
A liderança é caracterizada por um estilo participativo com alguma tendência
para o consultivo. Quanto à abordagem de planejamento organizacional, as
características do modelo mixed-scanning são as mais vigentes e a atitude gerencial
posiciona-se como heurística. Assim, essa subdimensão indica um nível intermediário
entre conservadora e inovadora. Nessa subdimensão, destacou-se nos conteúdos das falas
dos entrevistados sobre criatividade no produto, uma maior abertura para participação, bem
como uma possibilidade de improviso mais significativa em suas atividades.
Na subdimensão regras não-escritas são identificadas características que
direcionam para um baixo nível do potencial de flexibilidade cultural. As quatro variáveis
que compõem essa subdimensão foram assim caracterizadas: disciplina dominante num
ponto intermediário; socialização forte; atitude formal-real mais para inequívoca e uma
tolerância à ambigüidade mediana. A análise desta subdimensão revelou que entre os
entrevistados envolvidos na criação do produto investigado uma maior diversidade na
formação dos mesmos. Entre esses sujeitos foi possível constatar, também, que talvez por
características específicas de personalidade, a diversidade de opiniões e o conflito podem
ser mais facilmente estimulados, favorecendo a expressão da criatividade.
Por fim, a subdimensão orientação externa possibilita um elevado nível de
potencial para flexibilidade. Essa subdimensão possui um foco em longo prazo, está
aberta ao ambiente e apresenta uma atitude de planejamento proativa com tendência
para interatividade.
Portanto, pode-se inferir que a cultura da Empresa Dedal & Agulha não assume
nenhuma das posições extremas, ou seja, conservadora ou inovadora. Todavia, possui
características em suas subdimensões que a colocam numa posição mediana com tendência
para inovadora. As características da subdimensão formação de identidade, na sua
maioria, a colocam numa posição inovadora com alguma tendência para conservadora. A
subdimensão liderança classifica-se numa posição intermediária entre conservadora e
inovadora. A subdimensão regras não-escritas apresenta o maior número de
características que a classificam como conservadora. Na subdimensão orientação externa
são encontradas características que a colocam numa posição de inovadora.
149
O quadro a seguir demonstra a posição em que se encontra a Empresa Dedal &
Agulha quanto ao potencial da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade.
Cultura Organizacional Conservadora Inovadora
Formação de identidade
Comunalidade
Extensão
Homogeneidade
Forte
Fraca
Estreita
Ampla
Homogênea
Heterogênea
Liderança
Estilo de liderança
Abordagem de planejamento
Atitude gerencial
Instrutivo Consultivo
Participativo Delegativo
Blueprint Mixed-scanning Muddling through
Rotineira Heurística Improvisada
Regras não-escritas
Disciplina dominante
Socialização
Atitude formal-real
Tolerância à ambigüidade
Forte
Fraca
Forte
Fraca
Inequívoca
Equívoca
Baixa
Alta
Orientação externa
Foco
Abertura
Atitude de Planejamento
Curto prazo Médio Prazo
Longo Prazo
Fechada
Aberta
Reativa Inativa Proativa
Interativa
Elaborado pela autora
Quadro 6 - O potencial da cultura organizacional para o desenvolvimento da criatividade
A proposta desta pesquisa foi avaliar o potencial da cultura organizacional para a
expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha.
Os relatos descritos a seguir buscam sintetizar a visão dos funcionários - entrevistados
sobre a criatividade no produto moda vestuário infantil e que estão diretamente envolvidos
na criação do mesmo - quanto à relação da cultura organizacional com a criação do
produto.
[...] existe abertura para o novo e anda bem legal; e até digamos de
chefia, de organização a abertura é bem legal e até com os outros
departamentos. Se tu tens o novo, e tu queres que aconteça, o pessoal
corre atrás. Eles percebem, eles sabem que o mercado exige, por isso tem
essa harmonia (Entrevistado 19/Criatividade).
Você tem que se empenhar em ser diferente; então essa é a missão de
todo mundo, tentar buscar o diferencial, esse é o desafio, nós sempre
temos que buscar o diferente, não se conformar (Entrevistado
23/Criatividade).
150
A gente cria realmente para encantar o cliente, para vestir a alma das
pessoas [...]. É uma cultura que favorece a criação de produtos criativos
(Entrevistado 25/Criatividade).
Destaca-se que todos os entrevistados sobre criatividade no produto enfatizaram
que a cultura da Empresa Dedal & Agulha é favorável à criação de produtos criativos
principalmente por ser uma cultura ‘aberta para o novo’. Alencar (1996 e 1998) e Srour
(1994) destacam a abertura como um estímulo à criatividade. Contudo, foram analisadas
em seqüência as características identificadas no produto dentro da perspectiva teórica sobre
o que é um produto criativo.
5.1.5 A expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da Empresa
Dedal & Agulha
A análise da cultura organizacional revelou em grande parte características
favoráveis ao desenvolvimento da criatividade. Assim, a expressão dessa criatividade no
produto moda vestuário infantil foi verificada por meio da Matriz de Análise de Produto
Criativo (CPAM). O CPAM tem três dimensões usadas para identificar criatividade no
produto: Novidade, inclui originalidade e grau de influência que o produto tem em termos
de impacto sobre a sociedade; Resolução, considera a qualidade, utilidade e características
de valor do produto; Elaboração e Síntese, é verificada pela expressividade, elegância,
atratividade, complexidade, isto é, pelas suas qualidades estéticas, como ele é apresentado
e pode ser usado (ISAKSEN,1990). Essa matriz foi desenvolvida a partir dos estudos de
Besemer e Treffinger (1981). Esses autores salientam que a análise dos produtos criativos
constitui um problema desafiador no estudo da criatividade devido à falta de precisão de
alguns conceitos, às percepções de outras pessoas sobre o produto criativo e a aplicação
prática de um instrumento de julgamento. Isso talvez explique a existência de poucas
pesquisas sobre a problemática. Destaca-se, ainda, que o modelo de avaliação proposto
pelos mesmos é o mais aplicado pelos pesquisadores da temática.
5.1.5.1 Novidade
Quanto à dimensão novidade, analisada por meio dos indicadores de originalidade
e grau de influência que o produto tem em termos de impacto sobre a sociedade, foi
151
possível verificar que todos os entrevistados salientaram que uma busca por novidades.
O relato exposto abaixo procura evidenciar essa busca .
Tu estas sempre assim numa busca constante, é muito bom. É novidade, é
o que está na tendência fora e daqui a pouco você transforma, então
você não repete (Entrevistado 23/Criatividade).
Nesses produtos, a originalidade existe principalmente, segundo os entrevistados,
pela existência de um personagem e de uma história construída para esse personagem a
qual fundamenta o desenvolvimento das coleções; onde tanto a “marca F” quanto a “marca
M” possuem um personagem e um tema exclusivo. Ainda em relação à originalidade, os
mesmos destacaram a utilização de elementos diferenciados para a ‘decoração’ que
correspondem aos aviamentos, acabamento, estampas, etiquetas, relevos, bordados,
aplicações e outros que fazem parte da ‘zona focal’
16
do produto. Treptow (2003) afirma
que o profissional de moda deve olhar além daquilo que existe e encontrar uma “nova”
combinação de idéias e materiais.
A marca M” veio num processo que ela está muito original, muito ela e
a “marca F”. Eu acho que o que ajuda isso é essa coisa da história, da
historinha, do universo que a gente cria que na outra marca não tem, que
o cara ali da esquina não tem, é muito dos personagens [...]. A gente tem
a oportunidade de trabalhar com tecidos diferenciados que a “marca M” e
a “marca F” podem ter e que as outras marcas não conseguem pelo custo.
A gente pode ter mais processos de decoração [...]. Eu acho que é mais
aquela coisa do personagem, do encanto das roupas, da historinha e do
universo. (Entrevistado 19/Criatividade).
[..]camiseta todo mundo faz, que a gente entra com o personagem,
com o tema que é original, não vou dizer que a gente faz uma blusa que
nunca ninguém fez, mas a gente coloca a decoração, um aplique, é uma
coisa que é desenvolvida exclusiva [...]. A originalidade vem mais por
saber como colocar esses temas, como explorar essa decoração, saber
escolher o tema correto, daí tudo vem dali [...]. Eu acho que nessa marca
a coisa está mais mesmo na decoração, você tem que colocar um bolso
diferente, que tenha a ver com a coerência do tema que você está usando
(Entrevistado 18/Criatividade).
Além da originalidade, foi possível constatar que o impacto na sociedade ocorre
principalmente devido à relação que se estabelece entre os consumidores e os personagens
que caracterizam esses produtos. Destaca-se, também, a utilização desses produtos por
profissionais que prestam serviços a crianças com a finalidade de obter uma maior
152
aproximação com as mesmas. Esta constatação pode ser ilustrada com a fala de um dos
entrevistados.
É original, é extremamente diferenciado; a personagem ajuda muito, ela
tem um carisma, então quando você olha uma estampa com a personagem
da “marca F” e a personagem fazendo alguma ação você se identifica, é
delicada, romântica. Hoje não tem nenhuma marca infantil que transmita
essa originalidade e uma relação muito estreita com o consumidor. A
gente recebe cartas das meninas perguntando o que a personagem gosta
de comer, onde a personagem mora, trata a personagem como uma
amiga. A gente vai à loja e percebe o encantamento que existe das roupas
com as crianças [...], pediatras que usam camisetas para ficar mais
próximas das crianças; as estudantes de moda que usam as bolsas [...]
(Entrevistado 26/Criatividade).
Kneller (1978) enfatiza que em toda definição de criatividade é preciso incluir o
elemento essencial de novidade, sendo que essa novidade pode representar o novo apenas
para a pessoa que o criou. Besemer e Treffinger (1981) destacam que os produtos são ou
não considerados novos para o criador mesmo que eles não sejam novos para o contexto
sociológico no qual foram criados. Os julgamentos sempre devem ser baseados em normas
para a população na qual o criador vive e/ou trabalha, a raridade deve ser estabelecida para
cada situação dada. Alencar (1996) corrobora ao afirmar que o critério fundamental para
definir um produto como criativo é que ele seja novo pelo menos para o indivíduo que o
criou. Na mesma direção, Estrada (1992) e Hesketh (1983) afirmam que o novo diz
respeito ao criador e não necessariamente aos demais indivíduos. Ainda em relação a esses
produtos, os entrevistados destacaram que ‘busca-se o diferencial sempre’.
[...] se você não tiver uma diferenciação no mercado você é mais uma
marca, e a “marca M” e a “marca F” não são mais uma marca, são as
marcas (Entrevistado 25/Criatividade).
Treptow (2003) salienta que as confecções podem e devem utilizar a
diferenciação. Esta, para a autora, corresponde a uma vantagem competitiva. Porter (1993)
enfatiza que quando a empresa compete com estratégia de diferenciação, tem de encontrar
muitas maneiras novas de aumentar essa diferenciação. Assim pode-se inferir, por meio
dos dados coletados, que os produtos da “marca F” e “marca M” são produtos originais e
causam impacto na sociedade, ou seja, os produtos aqui analisados são produtos que
possuem a dimensão novidade.
16
A zona focal diz respeito à parte visível do produto na qual são colocados os elementos decorativos
153
5.1.5.2 Resolução
A dimensão resolução considera a qualidade, utilidade e características de valor
do produto. Alencar (1996) enfatiza que, além de ser novo ao menos para o indivíduo que
o criou, um outro critério o qual define o produto como criativo, diz respeito à necessidade
de que ele seja considerado adequado às demandas da situação ou reconhecido como de
valor na sociedade onde o indivíduo vive. Amabile (1999, p. 110) explica que:
Tendemos a associar o conceito de criatividade às artes e a considerá-la
expressão de idéias altamente originais. Nos negócios, entretanto,
originalidade não basta. Para ser criativa, uma idéia também deve ser
adequada, ou seja, útil e executável.
A autora destaca a novidade e apropriação como elementos que caracterizam um
produto criativo. O relato disposto em seguida ilustra, conforme a concepção do
entrevistado, a presença do elemento apropriação no produto analisado.
Quando a gente fala em criação, existe criação viajante e criação
adequada. Não acho que isso prejudique a criação, nada mais é do que
pensar no consumidor final, nele usando aquilo, nós fazemos roupas para
serem usadas, para serem confortáveis, para ter qualidade (Entrevistado
26/Criatividade).
Segundo todos os entrevistados, existe um preocupação muito grande em oferecer
produtos de qualidade e que atendam a necessidade do cliente. As falas apresentadas na
seqüência procuram evidenciar essa preocupação.
A gente está o tempo todo fazendo teste de vestibilidade, se a malha
incomoda, se puxa fio [...] (Entrevistado 19/Criatividade).
A gente se preocupa muito com a qualidade dos produtos, se um
detalhezinho que a gente coloca vai machucar ou não a criança, a gente
sempre se preocupa porque não pode soltar, tem que estar bem costurado
porque senão a criança pode comer. Os produtos suprem a necessidade de
quem compra, tanto pelo visual, que é bonitinho, você vai vestir a “marca
F” e a “marca M” que já é uma marca; e tanto por esse lado do conforto e
qualidade que a gente preza tanto na malha como nos aviamentos. É tudo
testado muitas vezes antes de colocar, passa por várias etapas dos testes,
(bordados, estampas, aplicações e outros).
154
teste de solidez, se não vai descorar, soltar os detalhes, a gente se
preocupa muito com isso (Entrevistado 20/Criatividade).
Eu tenho que ver se aquilo vai vestir bem, se vai dar conforto na criança.
[...]. Eu tenho que me preocupar quando eu estou fazendo em vestir o
corpo, e que a criança vai ter movimento (Entrevistado 23/Criatividade).
Rech (2001, p. 69) explica que “Uma coleção de moda deve preconizar a
praticidade e a funcionalidade das roupas. Os produtos de moda devem ser exeqüíveis e
desenvolvidos com o objetivo de garantir conforto, de possibilitar movimentos e de se
adequar ao local onde devem ser usados (cidade, praia, campo)”. Treptow (2003, p. 88)
salienta que quando se refere à “Estilismo Industrial devemos pensar em roupas com
compromisso de vendas, pois o são meras criações artísticas, mas sim produtos de cuja
comercialização depende toda a indústria”. Goulart e Jenoveva (1997) explicam que o
conceito de qualidade nos produtos moda vestuário estão fortemente associados à
atualidade dos modelos, cores e estampas, ao toque e caimento de tecidos, ao cuidado nas
costuras (ausência de pregas, ondulações, falhas e outras), e acabamento.
Além da busca da qualidade, identificou-se também uma preocupação em obter
informações junto aos clientes e consumidores quanto as suas necessidades e satisfação em
relação ao produto. Aqui, enfatiza-se a função do coordenador de marca e também das
ferramentas como o Call Center, Projeto Consumidor, pesquisas de mercado e outras
utilizadas para obter essas informações. Com isso, constata-se que os produtos da “marca
F” e “marca M” possuem a dimensão resolução pois são considerados, por todos os
entrevistados, como produtos de qualidade, que atendem às necessidades do público alvo e
possuem valor de uso.
5.1.5.3 Elaboração e Síntese
Quanto à dimensão
elaboração e síntese, essa é verificada pela expressividade
(mede o sucesso com o qual o criador comunica-se com o observador); elegância (produto
apresentado de forma refinada e compreensível); atratividade (possui características
inesperadas, surpreendentes); e complexidade (contém muitos elementos no mesmo nível
ou em diferentes níveis). Essas características correspondem às qualidades estéticas do
produto, ou seja, como ele é apresentado. Rech (2001) destaca que a estética no produto
moda vestuário diz respeito à noção do belo quanto à forma, cores, estampas e aviamentos.
155
Os elementos que definem a aparência do produto, segundo os entrevistados, são
‘extremamente importantes’, ‘enriquecem mais o produto’, ‘são fundamentais’,
‘diferenciam o produto’.
A gente trabalha sempre com harmonia de cores, de coordenações de
peça, então sempre vai estar harmonioso. A “marca F” sempre tem aquele
negócio de doce, parece que tu estás numa sorveteria, ti aquela
vontade, ai que lindo, que gostoso [...]. É um produto bem apresentado,
tem um diferencial, a questão dos detalhes, dos aviamentos, dos efeitos
de decoração, a questão de brinde com peça, é muito atrativo
(Entrevistado 19/Criatividade).
Ele é bem elaborado, cheio de estampas, de detalhes, o é uma peça
fácil de se fabricar. A “marca M” é totalmente diferente. É a calça que é
cheia de recorte, é calça que é cheia de bolso, é calça que chega com a
correntinha, é a calça que chega com o chaveiro. Tem que ter um cuidado
todo diferente, porque ele é todo diferente, é a peça mais demorada, mais
cara, mais elaborada [...] (Entrevistado 24/Criatividade).
Tem produtos bem elaborados, com vários bolsos, vários apliques, com
várias estampas, várias lavagens [...].A gente tem que trabalhar uma
modelagem diferenciada, bolsos ou recortes assimétricos, alguma coisa
que você olhe para o jeans e consiga diferenciar só no olhar, esse detalhe,
esse bolso está mais enviesado e com volume. Alguma coisa a gente tem
que botar que seja diferente, etiquetas aplicadas, onde vai evidenciar bem
claro que esse produto é especial, não é um jeans qualquer. Se tu fores
comparar produto com produto não muita diferença é quase um
mercado de commodities, o que você faz para deixar um produto
diferente do outro é trabalhar a marca de uma forma diferente dentro do
produto, com aviamentos, com pequenos detalhes, mas que você torna o
produto especial. O legal é pegar uma calça e você põe a primeira vez e
acha ela legal, na segunda você começa a descobrir que tem um bolso
funcional, uma assinatura em relevo, então a peça começa a crescer, você
encanta a pessoa mais do que ela esperava, ela achava que era legal, mas
aquela calça é muito mais legal, e os pequenos detalhes que ela vai
descobrindo aos poucos é que fazem o produto ficar diferente
(Entrevistado 25/Criatividade).
Uma etiqueta que tenha um link com a estampa, por exemplo, exige toda
uma coordenação. Uma etiqueta diferenciada, um botão, um lacinho de
cetim, tudo faz a diferença, um bordado com lantejoulas. Agora eu estou
lançando a coleção amarela e o bebê está bem romântico, então passa
numa jardineira jeans uma fita de cetim dando um laço, um bordado de
flor em lantejoula [...]. É muito perceptível os detalhes diferenciados. A
gente usa justamente os aviamentos, o lacinho, o bordado, o detalhe para
encantar mais, então se perceber escheio de detalhes, a nossa marca é
muito detalhe e são muito importantes esses detalhes para deixar ela com
mais carinha de grife e encantar mais a mãe. Lacinho de cetim, miçangas
[...], a gente precisa muito dos aviamentos, da parte da decoração para
fazer esse diferencial. Então para “marca F” é extremamente importante
(Entrevistado 26/Criatividade).
156
As qualidades estéticas, que compõem a dimensão elaboração e síntese, além de
serem destacadas pelos sujeitos da pesquisa, também foram identificadas no produto por
meio da observação realizada pela pesquisadora. Assim, o produto investigado, conforme
os dados coletados, comunica-se com sucesso junto ao consumidor (expressividade). O
produto é apresentado de forma refinada (elegância). Ele possui características inesperadas
(atratividade); e corresponde a um produto cheio de detalhes (complexidade).
Besemer e Treffinger (1981) afirmam que um produto criativo pode ser
classificado com um índice alto na dimensão de novidade, alto em resolução e baixo em
elaboração e síntese; ou baixo na dimensão novidade, alto na resolução, e elaboração e
síntese. Enfim, segundo os autores, é importante que o produto criativo possua as três
dimensões, mas não é necessário que ele se destaque em todas com um índice elevado. O
relato de um dos entrevistados, posto de imediato, visa ilustrar essa consideração dos
autores.
Ah! eu vou criar. [...]. Vai dizer assim que a gente vai fazer uma coisa
que ah!é uma coisa que nunca ninguém viu, eu acho que são detalhes,
sutilezas, são coisas assim que dão um acabamento melhor, muita criança
tem curiosidade, ela gosta porque brilha ou porque balança, ou porque
tem cor [...]. É um tecido confortável, muitas vezes junta o conforto do
tecido com a decoração, com a cor, é isso, um conjunto de várias coisas
(Entrevistado 18/Criatividade).
A observação do produto estudado também permitiu identificar algumas
características que são interessantes de serem destacadas. Essas características são: saias
cujo bolso vira bolsa, cinto que vira bandana e também pode ser usado como um detalhe na
blusa, blusa que vira bolsa, e blusa que pode ser usada com duas estampas diferentes.O
conteúdo da fala que aparece a seguir procura ser representativo da criatividade expressa
nesse produto.
A gente tem como meta ser criativo. [...]. Se você olhar um produto
nosso, você não vai encontrar similar no mercado, você pode até ter uma
leve lembrança porque é tendência [...] (Entrevistado 25/Criatividade).
Enfatiza-se, ainda, que o produto moda vestuário infantil, segundo todos os
entrevistados sobre criatividade (9 sujeitos) é um ‘produto de qualidade’. Dois (2) sujeitos
destacaram que trata-se de um ‘produto durável’. Todos afirmaram que o produto ‘é
novidade’, é um ‘produto diferenciado’,‘atende a necessidade do cliente’e ‘encanta o
157
cliente’
.
Conclui-se, então, que o produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal &
Agulha, de acordo com o referencial teórico pesquisado e os dados coletados, pode ser
classificado como um produto criativo.
O quadro 7 reúne os estímulos e barreiras da cultura organizacional para a
expressão da criatividade dentro das organizações; os valores esposados pela organização
pesquisada; os valores compartilhados pela maioria dos entrevistados; e as características
do produto moda vestuário infantil. A apresentação deste quadro é realizada com a
finalidade de sugerir uma relação entre as características da cultura organizacional que
estimulam e dificultam o desenvolvimento da criatividade, os valores da empresa
investigada e as características do produto analisado.
Estímulos da
cultura
organizacional
para o
desenvolvimento
da criatividade
Barreiras da
cultura
organizacional
para o
desenvolvimento
da criatividade
Valores esposados
pela organização
Valores
compartilhados
pelos
entrevistados
Características
do produto
moda
vestuário
infantil
158
Missão e visão
focalizadas no
futuro, orientadas
para o cliente e o
mercado;
Valores
organizacionais que
estimulam a
experimentação,
abertura, aceitação
e apoio às novas
idéias,
receptividade,
aceitação dos erros,
mudança, correr
riscos, desafios,
diversidade,
comprometimento,
confiança,
relacionamentos
informais,
comportamentos
divergentes.
Missão e visão
que não focalizam
o futuro, o cliente
e o mercado;
Valores
organizacionais que
estimulam a
previsibilidade,
estabilidade,
autoritarismo,
comodismo, a
resistência à
mudança, rigidez,
controle, rotinização,
relações
extremamente
formais,
comportamentos
padronizados.
Acionistas/Resultados,
Colaboradores/Gestão
participativa e
comprometimento
(Liberdade com
responsabilidade),
Prontidão às
Mudanças e
Atualização
Tecnológica, Relação
com Fornecedores/
Prestadores de
Serviços,
Comunidade, Meio
Ambiente, Clientes e
Consumidores,
Comunicação com o
Consumidor.
‘empresa sólida’,
‘empresa ética’,
‘empresa que
transmite
confiança’, ‘foco
na qualidade’,
‘valoriza os seus
colaboradores’, ‘a
empresa é uma
família’, ‘empresa
humana’, ‘tem um
bom ambiente de
trabalho’, ‘empresa
dinâmica’,
empresa
empreendedora’,
‘empresa
inovadora’, ‘tem
um produto
diferenciado’, ‘tem
responsabilidade
social’, ‘foco no
cliente’, controle.
‘produto de
qualidade’,
‘produto
durável’, ‘é
novidade’,
‘produto
diferenciado’,
‘atende a
necessidade do
cliente’, ‘encanta
o cliente’.
Elaborado pela autora.
Nota: O valor controle não foi fortemente compartilhado pelos entrevistados, mas pôde ser
identificado nos conteúdos de algumas entrevistas.
Quadro 7 - Relação entre os estímulos e barreiras da cultura organizacional para o
desenvolvimento da criatividade, os valores organizacionais esposados e compartilhados e
as características do produto moda vestuário infantil
As informações do quadro exposto acima possibilitam constatar que os valores
esposados e compartilhados na empresa investigada, os quais correspondem a valores que
estimulam a expressão da criatividade, se refletem nas características do produto moda
vestuário infantil citadas pelos entrevistados. Com isso, é possível inferir que o
desenvolvimento da criatividade na empresa pesquisada é favorecido pela maioria das
características da cultura organizacional e essa criatividade se expressa no produto
estudado. Contudo, salienta-se que se busca dentro das organizações uma criatividade a
qual possibilite o alcance dos objetivos organizacionais, ou seja, uma criatividade
empresarial. No próximo capítulo são feitas as considerações finais sobre o potencial da
cultura organizacional para a expressão da criatividade no produto.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações finais são apresentadas conforme as constatações obtidas na
investigação e que vão ao encontro do problema de pesquisa e dos objetivos da mesma. A
seguir são expostas algumas conclusões e em seguida algumas recomendações para futuras
pesquisas.
6.1 CONCLUSÕES
Dentro de um cenário no qual a cada dia podem surgir novos produtos, novas
demandas e onde a competição empresarial é acirrada, possibilitar a expressão da
criatividade passa a representar uma das prioridades para a manutenção das empresas no
mercado. Contudo, o desenvolvimento da criatividade dentro das empresas depende de
fatores do ambiente organizacional. Dentre esses fatores destaca-se a cultura
organizacional a qual, segundo estudiosos da temática (ALENCAR, 1993, 1995, 1996 e
1998; MARTINS; TERBLANCHE, 2003; PREDEBON, 1997, entre outros), é considerada
primordial para a expressão da criatividade. Assim torna-se necessário criar culturas que
possibilitem oportunidades e ocasiões para essa expressão.
Nesse contexto, este estudo teve como objetivo principal avaliar o potencial da
cultura organizacional para a expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil
da Empresa Dedal & Agulha. Destaca-se a relevância científica e social desta investigação,
pois são raras as que abordam o binômio cultura organizacional e criatividade,
principalmente a avaliação da criatividade no produto. Com isso, acredita-se que esta
pesquisa contribui para o preenchimento dessa lacuna. Enfatiza-se, ainda, que a
criatividade de interesse da organização, segundo os teóricos (PAROLIN, 2001;
PAROLIN; ALBUQUERQUE, 2004 e CORREIA; DORNELES, 2003), é aquela
direcionada aos objetivos organizacionais, ou seja, aquela que possibilita, por exemplo, a
melhoria de um produto ou de um processo.
160
Os objetivos específicos desta pesquisa foram: caracterizar a cultura
organizacional da Empresa Dedal & Agulha; avaliar o potencial da cultura da empresa para
o desenvolvimento da criatividade e verificar a expressão da criatividade no produto moda
vestuário infantil da empresa pesquisada.
Dentre os elementos que caracterizam a cultura organizacional da empresa
investigada, conforme a proposta de análise apresentada por Volberda (1998), destaca-se a
missão organizacional, os eventos da história da organização, os valores que são
compartilhados pelos sujeitos da pesquisa, os símbolos, os heróis e os rituais. A empresa
define como sua missão: “Encantar clientes e consumidores no segmento do vestuário”.
Quanto aos eventos da história, os sujeitos do estudo enfatizaram a comemoração dos 40
anos da empresa, onde se iniciou um projeto de voluntariado desenvolvido pelos
colaboradores; algumas crises passadas pela organização; a diversificação de produtos e
lançamento de novas marcas, na qual são destacados os produtos analisados nesta
pesquisa; e a implantação do programa ‘Inova Empresa Dedal & Agulha’ em 1993. No que
diz respeito aos valores compartilhados pelos entrevistados foi identificado a
predominância
de
solidez, ética, confiança, qualidade, foco nas pessoas, bom ambiente de
trabalho, dinamismo, empreendedorismo, inovação, diferenciação, responsabilidade social,
foco no cliente. Em relação aos símbolos (palavras, gestos, quadros ou objetos) têm-se
termos de linguagem constantemente citados entre os sujeitos da pesquisa, tais como,
colaboradores, gestão participativa, inovação, comprometimento, participação nos
resultados, liberdade com responsabilidade, família Empresa Dedal & Agulha, qualidade,
bom ambiente de trabalho. Constata-se que muitas destas palavras estão relacionadas com
os valores disseminados formalmente pela organização e compartilhados pela maioria dos
entrevistados. Os quadros expostos na organização possuem em geral referência à missão e
valores das áreas. Os objetos usados para decoração são na sua maioria objetos pessoais e
coloridos. Essa característica pode dar ao ambiente um aspecto mais familiar, humano e
agradável, o que também reflete os valores compartilhados. Conforme o conteúdo das
entrevistas, o “fundador” e o “atual presidente” representam os heróis ou campeões
organizacionais. Dentre os rituais realizados pela organização foram identificados os
seguintes: Homenagem por Tempo de Serviço, Comemoração de Maio, Festa da
Criança, Jantares Dançantes, Gincanas, Bingos, Festival da Canção, Fim de Semana Legal
para os filhos dos funcionários, entre outros. A Homenagem por Tempo de Serviço e a
Comemoração de Maio foram citadas pela maioria dos entrevistados como os principais
rituais realizados pela organização.
161
Na avaliação do potencial da cultura organizacional para o desenvolvimento da
criatividade buscou-se identificar características da cultura favoráveis e desfavoráveis à
criatividade. Essas características dizem respeito às crenças e aos valores compartilhados
pelos membros da organização. A avaliação do potencial da cultura organizacional para o
desenvolvimento da criatividade foi realizada por meio da análise das subdimensões da
cultura apresentadas por Volberda (1998). O autor sugere que a cultura pode variar em um
continuum de conservadora a inovadora, de acordo com as características das quatro
subdimensões propostas. Essas subdimensões são: formação de identidade, liderança,
regras não-escritas e orientação externa.
A formação de identidade foi analisada por meio das variáveis comunalidade,
extensão e homogeneidade. Na análise da variável comunalidade, identificou-se valores
e crenças fortemente compartilhados entre a grande parte dos entrevistados. A extensão
revelou uma ampla gama de valores. A variável homogeneidade mostrou que existem na
organização subculturas devido às diferentes operações de cada área, mas que
compartilham valores essenciais. Conforme Volberda (1998), organizações com excelência
apresentam uma quantidade alta de valores essenciais, conjuntamente a uma
heterogeneidade em outros níveis. Destaca-se que os valores fortemente e amplamente
compartilhados pelos sujeitos da pesquisa favorecem a expressão da criatividade, visto que
os mesmos estão focalizados no futuro, orientados para o cliente e para o mercado;
estimulam a experimentação, abertura, aceitação e apoio às novas idéias, receptividade,
aceitação dos erros, diversidade, comprometimento, confiança, relacionamentos informais,
comportamentos divergentes.
Assim, conforme os dados coletados, as características predominantes na
subdimensão formação de identidade indicam uma posição inovadora com alguma
tendência à conservadora. Essa tendência para conservadora se deu devido à variável
comunalidade que foi classificada como forte. Contudo, enfatiza-se que uma identidade
forte não pode representar um obstáculo para o novo, mas também proporcionar coesão,
credibilidade e satisfação. Esses fatores podem possibilitar o comprometimento individual
e conseqüentemente estimular a criatividade dentro da empresa. Volberda (1998) salienta
que uma organização flexível precisa ter características que evitem sua rigidez, mas
também precisa de alguma ordem para evitar o caos. Assim, conforme o autor, esse
paradoxo implica que a flexibilidade organizacional deve incorporar uma tensão criativa’
e valores essenciais com os quais os membros da organização podem fortemente
identificar-se.
162
A liderança, outra subdimensão da cultura organizacional, é constituída pelas
variáveis estilo de liderança, abordagem de planejamento e atitude gerencial. Essa
subdimensão mostra que os líderes favorecem de forma mediana o desenvolvimento da
criatividade dentro da empresa.
A variável estilo de liderança, segundo os conteúdos expressos pelos
entrevistados, revela que predomina o estilo participativo de gestão com alguma tendência
para o estilo consultivo. Os deres permitem uma participação dos funcionários na tomada
de decisão, mas dependendo da atividade essa participação é mais limitada. Aqui, destaca-
se a existência do valor controle manifesto em alguns discursos apesar de não ser esposado
pela organização e nem compartilhado pela maioria dos sujeitos. Em relação à variável
abordagem de planejamento, essa se caracteriza como um planejamento mixed-scanning.
Os líderes definem uma visão de longo prazo e procedem dentro dessa visão em ações de
curto prazo. A atitude gerencial classificou-se como heurística, ou seja, numa posição
intermediária entre rotineira e improvisada. A liderança reconhece que não é possível
especificar tudo com antecedência, mas algumas rotinas e procedimentos devem ser
estabelecidos, havendo alguma possibilidade para improvisação.
Com isso, a subdimensão liderança possui características que a classificam
numa posição intermediária entre conservadora e inovadora. Dentre as três variáveis que
compõem essa subdimensão, o estilo de liderança e atitude gerencial são as que possuem
algumas características que parecem dificultar o desenvolvimento da criatividade. Assim,
quanto ao estilo de liderança, um maior incentivo e abertura por parte dos líderes para que
os funcionários tenham uma efetiva autonomia na tomada de decisão contribuiria para o
desenvolvimento de uma organização mais criativa. Em relação à atitude gerencial,
sugere-se que, de modo geral, haja mais espaço para o improviso. Cabe ressaltar que nos
relatos dos sujeitos envolvidos na criação do produto, constatou-se que a participação na
tomada de decisão é mais significativa e as atitudes de improviso são mais utilizadas. Esses
são fatores que estimulam a criatividade.
A subdimensão regras não-escritas foi analisada por meio das variáveis
disciplina dominante, socialização, atitude formal-real e tolerância à ambigüidade.
Essa subdimensão revela que o conteúdo e o volume dessas regras são fortemente
influenciados pelos valores disseminados formalmente na organização. Constatou-se ainda
que na organização uma preocupação em formalizar tudo (procedimentos, formas de
conduta, regras e outros), o que pode dificultar o desenvolvimento da criatividade.
163
Na variável disciplina dominante, primeira variável que compõe a subdimensão
regras não-escritas, verifica-se entre os sujeitos da pesquisa a existência de um perfil
jovem com formação profissional diversificada, mas com alguma tendência para
homogeneidade. A tendência à homogeneidade ocorre devido à realização de cursos de
pós-graduação, exclusivamente, em Administração de Empresas; embora os entrevistados
possuam experiências diferentes. Essa variável não assume nenhuma das posições
extremas do continuum. Destaca-se que entre os envolvidos na criação do produto
pesquisado, verificou-se uma maior diversidade quanto à formação, faixa etária indicando
um perfil jovem entre a maioria, o que provavelmente possibilita a vivência de
experiências diversas. Esses são fatores que favorecem a expressão da criatividade. A
segunda variável investigada, socialização, é classificada como forte, pois existem
diversos instrumentos para disseminar e manter as regras não-escritas ou culturais dentro
da organização. A atitude formal-real revela que pouca diferença entre os valores das
regras formais e das regras não-escritas, apresentando-se como inequívoca e assumindo
uma posição de cultura ortogonal (a organização formal é uma parte da organização real).
Em relação às variáveis socialização e atitude formal-real, foi possível verificar, dentre
os entrevistados envolvidos na criação do produto, que algumas políticas de Recursos
Humanos como associar a avaliação de desempenho à participação nos resultados e o
excesso de regras formais limitam o desenvolvimento da criatividade. A tolerância à
ambigüidade, última variável dessa subdimensão, existe, mas de forma mediana, visto que
as idéias devem vir ao encontro dos interesses organizacionais, não existem muitos
conflitos e opiniões diferentes, alguns comportamentos mesmo que diferentes se
“enquadram” dentro do desejado. Enfatiza-se nessa variável, como fator favorável à
criatividade, a informalidade no modo de vestir, na linguagem e nos relacionamentos.
Destaca-se que os sujeitos responsáveis pela criação do produto possuem características de
personalidade as quais podem favorecer a diversidade de opiniões e o conflito, facilitando
o desenvolvimento da criatividade.
Assim, a subdimensão regras não-escritas, em relação às outras subdimensões
que formam a cultura organizacional, apresenta um número maior de características
desfavoráveis à criatividade. Nessa subdimensão, pode-se identificar características que na
sua maioria favorecem a previsibilidade, estabilidade, controle, comportamentos
padronizados. Essas características dificultam a expressão criatividade. Na variável
disciplina dominante, chama-se a atenção para a tendência da realização de cursos de pós-
graduação na área de Administração de Empresas por parte das lideranças e funcionários
164
da área administrativa. Sugere-se que os funcionários sejam estimulados também a
participarem de cursos em outras áreas. Quanto à variável socialização, poderiam ser
realizados treinamentos voltados à criatividade, visando o exercício de alguns valores e
comportamentos que possibilitem ao indivíduo e à equipe desenvolverem o seu potencial
criativo. Em relação à variável atitude formal-real, outra variável que se destaca pela
presença de características desfavoráveis ao desenvolvimento da criatividade, acredita-se
que uma diminuição das regras formais e uma reavaliação permanente das mesmas a fim
de mantê-las flexíveis poderia favorecer o desenvolvimento de uma organização mais
criativa. Quanto à tolerância à ambigüidade, sugere-se uma conscientização de que as
diferenças e o conflito podem ser fontes de criatividade.
A orientação externa, última subdimensão da cultura analisada, é composta pelas
variáveis foco, abertura e atitude de planejamento. Essa subdimensão mostra que os
sujeitos compartilham a crença de que a organização está atenta às mudanças do mercado;
o que pode estimular a expressão da criatividade.
A variável foco indica que a visão de futuro que prevalece entre os sujeitos
entrevistados é em longo prazo. Quanto à abertura verifica-se que a organização, na visão
dos entrevistados, está sensível ao mercado, foca sua atenção no produto, está próxima do
cliente e atenta à concorrência. A variável atitude de planejamento revela que os sujeitos
da pesquisa acreditam que a organização possui uma atitude proativa com tendências para
interatividade, ou seja, a organização procura adaptar-se a um futuro provável e em
algumas situações busca controlá-lo. A subdimensão orientação externa é a que mais
possui características que possibilitam o desenvolvimento de uma organização criativa. As
características dessa subdimensão, com base nos dados coletados, refletem-se na criação
do produto moda vestuário infantil, por meio da preocupação com as tendências de moda,
em produzir um produto que satisfaça o cliente e estar à frente da concorrência. Essas
características favorecem a criatividade.
Assim, a cultura da Empresa Dedal & Agulha não assume nenhuma das posições
extremas, ou seja, conservadora ou inovadora, mas possui características em suas
subdimensões que a colocam numa posição mediana com tendência para inovadora. Essas
características podem possibilitar o desenvolvimento da criatividade dentro da
organização.
A verificação da expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil foi
realizada por meio da Matriz de Análise de Produto Criativo (Creative Product Analysis
165
Matrix - CPAM). Essa matriz apresenta três grupos de características para identificar
criatividade no produto: Novidade, Resolução, e Elaboração e Síntese.
A Novidade inclui originalidade e grau de influência que o produto tem em
termos de impacto sobre a sociedade. A originalidade existe principalmente, segundo os
entrevistados envolvidos na criação do produto, pela existência de um personagem e de
uma história construída para esse personagem a qual fundamenta o desenvolvimento das
coleções. Ainda em relação à originalidade, os mesmos destacaram a utilização de
elementos diferenciados como acabamentos, estampas, etiquetas, relevos, bordados,
aplicações e outros. O impacto sobre a sociedade é constatado, conforme os conteúdos das
entrevistas, pela relação que se estabelece entre o consumidor e os personagens que
caracterizam esses produtos. Enfatiza-se ainda a utilização dos produtos por profissionais
que prestam serviços para crianças a fim de obterem uma maior aproximação com as
mesmas. Quanto à Resolução, a qual diz respeito à qualidade, utilidade e características de
valor do produto, foi possível verificar que existe uma preocupação em oferecer produtos
de qualidade e que atendam a necessidade do cliente. Essa preocupação se revela por meio
dos diversos testes que de acordo com os entrevistados são realizados para verificar a
qualidade; e pela busca de informações, junto aos clientes e consumidores, sobre a
satisfação e necessidades dos mesmos. A Elaboração e Síntese são identificadas pela
expressividade, elegância, atratividade, complexidade, isto é, pelas qualidades estéticas do
produto, como ele é apresentado. Conforme os sujeitos entrevistados sobre criatividade no
produto, os elementos que definem a aparência do mesmo são extremamente importantes
pois permitem que este seja mais bem elaborado. Foi possível constatar que o produto
investigado comunica-se com sucesso junto ao consumidor (expressividade); é apresentado
de forma refinada (elegância); possui características inesperadas (atratividade); e
corresponde a um produto com muitos detalhes (complexidade).
Com isso, ao analisar o produto, nas três categorias: Novidade, Resolução, e
Elaboração e Síntese, o mesmo caracterizou-se como um produto criativo. Os entrevistados
responsáveis pela criação do produto identificam como principais características deste: a
qualidade, a durabilidade, a novidade, a diferenciação, a atenção à necessidade do cliente e
o seu encantamento
.
Então, salienta-se que os valores compartilhados entre os sujeitos da
pesquisa, identificados como valores que na sua maioria possibilitam a expressão da
criatividade, se expressam no produto investigado. Finalizando, pôde-se constatar que a
cultura organizacional da Empresa Dedal & Agulha apresenta em geral características
166
favoráveis ao desenvolvimento da criatividade; sendo que essa criatividade se expressa no
produto investigado.
6.2 RECOMENDAÇÕES
Com base nas conclusões apresentadas, recomenda-se a realização de futuros
estudos:
Estudos que desenvolvam o tema criatividade e estrutura organizacional, e
criatividade e tecnologia organizacional, em especial, dentro da empresa
investigada nesta pesquisa.
Pesquisas tendo como tema criatividade e as subdimensões da cultura aqui
apresentadas parecem ser bem importantes. Acredita-se que possibilitariam
uma avaliação mais aprofundada das subdimensões, enriquecendo a análise
da realidade organizacional.
Estudos que abordem a relação entre a dimensão cultura organizacional e as
demais dimensões da criatividade não apresentadas nesta pesquisa. Destaca-
se que neste estudo se investigou apenas a expressão da criatividade em uma
das suas dimensões, ou seja, a criatividade no produto. Todavia, segundo
estudiosos da temática, a criatividade pode ainda ser analisada sob as
seguintes dimensões: características da personalidade criativa, processo
criativo, ambiente criativo e combinações entre quaisquer dessas categorias.
Amabile (1999) salienta que a criatividade pode beneficiar todas as funções
da organização, não só a criação do produto.
Pesquisas que investiguem a relação de outros fatores do ambiente
organizacional com o desenvolvimento da criatividade. Aqui,
destaca-se o
caráter muldimensional da criatividade no contexto das organizações, pois
são vários os fatores do ambiente de trabalho que servem como estímulos e
barreiras a sua emergência e desenvolvimento. Neste estudo, investigou-se
apenas um dos seus fatores, a cultura organizacional.
Para aqueles que se dispuserem a trilhar novos caminhos, além da Ciência
da Administração, poderão investigar a influência dos conceitos da Moda no
comportamento do “consumidor infantil”.
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174
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& Sons. 1990.
175
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA CULTURA ORGANIZACIONAL
Nome:
Cargo:
Departamento em que atua:
Idade:
( ) 28 a 32 ( )33 a 37 ( ) 38 a 42 ( )43 a 47 ( )48 a 52 ( )53 a 57
( ) 58 a 62 ( ) acima de 62 anos
Sexo:
( ) Masculino ( )Feminino
Escolaridade:
( ) 1º grau completo ( )2º grau incompleto ( )2º grau completo
( ) 3º grau incompleto ( )3º grau completo
( ) Pós-graduação/Especialização ( )incompleta ( )completa
( ) Pós-graduação/Mestrado ( )incompleta ( )completa
( ) Pós-graduação/Doutorado ( )incompleta ( )completa
Tempo de empresa:
( )10 a 15 anos ( )16 a 20 anos ( )21 a 25 anos ( )26 a 30 anos
( )31 a 35 anos ( ) mais de 35 anos
1. Formação da identidade
A identidade de uma organização consiste no entendimento compartilhado do que a
organização é e como ela deve operar, representa a consciência de um estilo. É o conjunto
de elementos que um determinado grupo escolhe para se autodefinir ou representar. Ela é
manifestada pelos valores amplamente moldados pela história da organização e sua missão,
e pelas práticas culturais (símbolos, heróis e rituais).
1. Pense na empresa, qual a imagem que lhe é transmitida?
2. E para os clientes e consumidores qual a imagem que ela transmite?
3. E para os fornecedores? Público em geral/comunidade?
Comunalidade:
4. Se fosse para pedir que a maioria dos colaboradores caracterizasse a empresa, o que
seria identificado como principais características?
176
Extensão:
5. Considerando que a organização como instituição possui uma missão e objetivos, como
estes influenciam o seu comportamento?
Homogeneidade:
6. Você poderia relatar algumas estórias, lendas e eventos (sucessos, fracassos, crises) da
organização que são identificados como importantes para você e para a empresa?
7. Existem termos especiais de linguagem/expressões constantemente utilizadas ou gestos
utilizados freqüentemente dentro da empresa e que possuem um significado particular?
Quais?
8. Pense em pessoas que trabalham ou trabalharam na empresa (vivas ou mortas), as quais
você considera significativas para a organização, pessoas que servem como modelo de
comportamento e cite suas características.
9. A organização realiza confraternizações/comemorações/celebrações? Quais?
10. Predominam modos diferentes de pensar na organização (formação de subculturas) ou
há uniformidade? Como a organização lida com isso?
2. Liderança
Líderes podem ser tanto os criadores quanto os transmissores da cultura pois, como os
fundadores, os líderes trazem para a organização um conjunto de pressupostos, valores,
perspectivas e artefatos, os quais são impostos aos empregados.
11. O que você poderia falar a respeito de liderança na empresa? Como é exercida?
Estilo de liderança:
12. Você poderia caracterizar um estilo de liderança predominante na organização? Dentre
os citados há um ou mais de um que é representativo do tipo de liderança: O líder
especifica passo a passo o que deve ser feito e exerce um controle extremo das tarefas;
pede alguma contribuição aos funcionários na tomada de decisão e segue de perto o
desenvolvimento das atividades; toma a decisão conjuntamente com os funcionários,
dando apenas um suporte na execução das tarefas; deixa que os funcionários decidam e
desenvolvam as atividades? E no seu departamento?
Abordagem de planejamento:
13. Como é desenvolvido o planejamento da empresa?
177
14. Como você caracterizaria a empresa em termos de um continuum que vai desde a
“extrema preocupação” até a “não preocupação” com os custos? Como isso se reflete no
trabalho?
15. Em relação aos erros, como você caracterizaria a organização em um continuum cujos
extremos vão desde a “aceitação” até a “aversão” em relação aos mesmos? Comente:
16. E quanto às tentativas de experimentação de novas idéias, novos projetos, em um
continuum que vai desde “estimula” a “evita”, como você caracterizaria a empresa?
Comente:
Atitude gerencial:
17. Como você caracteriza as ações do gerentes/líderes? Eles procuram agir de forma
rotineira (todos os procedimentos são especificados), estabelecem algumas prioridades ou
improvisam? Comente:
3. Regras não escritas
As regras não-escritas têm a função de orientar os empregados quanto ao que podem ou
não fazer em situações que não estão descritas nas regras formais; são regras tacitamente
compreendidas, não explicitadas formalmente.
18. Além das regras escritas que possam existir em manuais, em circulares ou outros meios
de comunicação, quais as regras que não estão escritas mas regem o comportamento dos
colaboradores na empresa e em seu departamento?
19. É exigido que os membros da organização reconheçam e adaptem-se a essas regras
não-escritas?
Disciplina dominante:
20. Existe algum perfil de empregado predominante na organização? No que diz respeito à
formação profissional, experiência, idade há um perfil predominante? Qual?
21. Qual a forma de pensar desses grupos? Alguma área é considerada mais ou menos
importante? Há algum perfil predominante em determinada área?
Socialização:
22. Como é o processo de integração de um novo funcionário?
23. Como funciona a política de recrutamento e seleção?
24. Como funciona o sistema de remuneração (gratificações/recompensas)?
25. Como funciona o sistema de premiações, avaliação e de carreira (plano de cargos e
salários)?
178
26. Os critérios utilizados nestes sistemas consideram a competência e o desempenho do
funcionário ou o tempo de serviço?
27. Como funcionam os programas de treinamento? Eles envolvem aspectos técnicos ou
comportamentais? O que enfatizam (o novo ou o que já se conhece)?
28. Quando você entrou na empresa como você a via e como a vê hoje?
Atitude formal-real:
29. As normas escritas são seguidas à risca?
30. Como vocês lidam com situações fora da rotina, não previstas em regras escritas?
31. Você adere mais às regras escritas ou não-escritas? Por quê?
Tolerância à ambigüidade:
32. Qual a postura da empresa diante de opiniões diferentes e choque de idéias?
33. Você sente-se à vontade para agir de forma diferente dos demais? Como vocês lidam
com comportamentos divergentes?
34. Pense em sua relação com os colegas, como você a caracterizaria em um continuum
que vai de sempre “formal” até “nunca formal”? Comente:
4. Orientação externa
A orientação externa reflete as crenças dos funcionários sobre o relacionamento da
organização com o ambiente no qual está inserida.
35. Quando você pensa no relacionamento da organização com o ambiente qual a idéia que
lhe surge? Mercao? Clientes e consumidores? Fornecedores? Público em
geral/comunidade?
Foco:
36. Em relação ao planejamento organizacional, este está voltado ao curto prazo (03 meses
a 01 ano), ao médio prazo (02 a 04 anos), ao longo prazo (05 a 10 anos)?
Abertura:
37. Como você caracterizaria a sua empresa em termos de postura que ela assume em
relação às mudanças do ambiente, em um continuum cujos extremos vão de “aberta” a
“fechada”? Comente:
38. A organização e o seu departamento estão voltados para a otimização/melhoria dos
processos ou para a melhoria do produto? Por quê?
179
39. As mudanças são dirigidas pela tecnologia ou pelas necessidades do mercado? Por
quê?
40. Qual o papel dos clientes e consumidores no planejamento e desenvolvimento
organizacionais? Esta influência é forte ou fraca, de que maneira influenciam?
41. E dos fornecedores? Concorrentes? Governo? Inovações tecnológicas? Público em
geral/comunidade?
42. Há uma interação com clientes e consumidores para tomar conhecimento de suas
percepções/opiniões em relação à organização? E com fornecedores? E com o público em
geral/comunidade?Quais os instrumentos utilizados (0800, caixa de sugestões, e outros) e o
que se faz com as informações coletadas?
Atitude de planejamento:
43. Qual a posição que a organização assume em relação a controlar o ambiente ou
sujeitar-se a ele? Reativa (tenta manter a posição atual), inativa (age de forma
passiva/ambiente incontrolável), proativa (adapta-se a um futuro provável) ou interativa
(adapta-se e controla um futuro ideal)?
180
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA CRIATIVIDADE NO PRODUTO
Nome:
Cargo:
Departamento em que atua:
Idade:
( ) 28 a 32 ( )33 a 37 ( ) 38 a 42 ( )43 a 47 ( )48 a 52 ( )53 a 57
( ) 58 a 62 ( ) acima de 62 anos
Sexo:
( ) Masculino ( )Feminino
Escolaridade:
( ) 1º grau completo ( )2º grau incompleto ( )2º grau completo
( ) 3º grau incompleto ( )3º grau completo
( ) Pós-graduação/Especialização ( )incompleta ( )completa
( ) Pós-graduação/Mestrado ( )incompleta ( )completa
( ) Pós-graduação/Doutorado ( )incompleta ( )completa
Tempo de empresa:
( )10 a 15 anos ( )16 a 20 anos ( )21 a 25 anos ( )26 a 30 anos
( )31 a 35 anos ( ) mais de 35 anos
1. Fale sobre a concepção desses produtos:
2. Existe algum procedimento escrito que defina o método para criar esses produtos? Em
caso positivo descreva-o:
3. Caracterize esses produtos: (Novidade, Resolução, Elaboração e Síntese)
4. A empresa estimula a criação de produtos diferenciados dos existentes no mercado?
Como ela estimula? (Novidade)
5. A empresa tem algum modo de pesquisar as necessidades, desejos, o vel de satisfação
dos seus clientes e consumidores em relação a esses produtos? (Resolução)
6. Ela utiliza as informações repassadas pelos clientes e consumidores para criar,
modificar, adaptar ou redesenhar esses produtos? (Resolução)
7.Qual o grau de importância dos elementos que constituem a parte visível desses
produtos, ou seja, elementos que definem a sua aparência? Cite esses elementos:
(Elaboração e Síntese)
8. Em relação a esses produtos cria-se “Roupa” ou “Moda”? E em relação aos produtos da
outra marca infantil? Comente:
9. Quais as fontes utilizadas a fim de obter informações sobre as tendências de moda para
criar esses produtos? (Revistas de moda, lojas de atacado e de varejo, vídeos de moda/
181
coleções nacionais e internacionais, feiras e salões de moda, vitrines de loja, museus,
papelarias, brechós, teatro/espetáculos musicais, bancas de jornal/livrarias, galerias de arte,
cinema, lojas de discos, mercado público/camelódromo, supermercado, clubes/danceterias,
rua...)
10. Na sua opinião, qual a influência da cultura organizacional na criação desses produtos?
11. alguma diferença entre a cultura do departamento de criação do produto e a cultura
das demais áreas? Comente:
182
ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES
HUMANOS
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARNA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO - TRINDADE CEP: 88040-900 -
FLORIANÓPOLIS - SC TELEFONE (048) 234-1755 - FAX
(048) 234-4069
PARECER CONSUBSTANCIADO - PROJETO
140/2005
I-IDENTIFICAÇÃO
Título do projeto: "A cultura organizacional e a expressão da criatividade no
produto moda vestuário infantil: um estudo de caso.”
Área: Administração
Pesquisador Responsável: Prof.ª Suzana da Rosa Tolfo
Pesquisador Principal: Silvia Patrícia Cavalheiro de Andrade.
Data da coleta dos dados: julho de 2005 a setembro de 2005
Instituição em que será realizado o estudo: Empresa Dedal & Agulha ( A
organização pesquisada solicitou que o seu nome não fosse divulgado).
II - Objetivos
Geral: Caracterizar a influência da cultura organizacional na expressão da criatividade
no produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha.
Específicos: Caracterizar a cultura organizacional da Empresa Dedal & Agulha; Avaliar o
potencial da cultura organizacional da empresa para o desenvolvimento da criatividade;
Verificar a expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da empresa
pesquisada.
111 - SUMÁRIO DO PROJETO: Trata-se de um projeto de dissertação de mestrado
qualitativo em Administração. Para a coleta de dados serão entrevistados no máximo 26
sujeitos da empresa (funcionários e dirigentes - chefes) sobre cultura e criatividade na
empresa.
IV - COMENTÁRIO: A pesquisa proposta no projeto tem relevância científica. O
protocolo da pesquisa contém os documentos necessários para sua análise e exigidos pela
legislação. Apresenta um orçamento detalhado, o cronograma de atividades e os
procedimentos experimentais de coleta de dados. Os pesquisadores listados no projeto têm
currículo condizente com o tema de investigação proposto.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) apresenta-se inadequado, sendo
necessário ser mais elucidativo.
183
184
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Meu nome é Sílvia Patricia Cavalheiro de Andrade e estou desenvolvendo a
pesquisa denominada “A cultura organizacional e a expressão da criatividade no produto
moda vestuário infantil: um estudo de caso”, sob a orientação da Profª. Drª. Suzana da
Rosa Tolfo, com o objetivo de caracterizar a influência da cultura organizacional na
expressão da criatividade no produto moda vestuário infantil da Empresa Dedal & Agulha.
Este estudo é importante porque contribuirá para o campo teórico, além de proporcionar à
organização pesquisada, como também a outras organizações, um entendimento mais
aprofundado sobre a relação entre cultura organizacional e criatividade nas organizações.
A coleta das informações se dará por meio de entrevistas, as quais serão gravadas e
posteriormente transcritas para fazer uma análise qualitativa de seus conteúdos. Isto não
deverá trazer riscos ou desconfortos, mas trará como benefícios a construção de
conhecimentos.
Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo ou não quiser fazer parte do
mesmo entre em contato pelo telefone(48)2282478/(48)3318575/(48)3318577 ou pelo e-
mail: silviapcandrade@yahoo.com.br. Se você tiver de acordo em participar, posso garantir
que as informações fornecidas serão confidenciais e só serão utilizadas neste trabalho.
Agradeço antecipadamente sua participação.
________________________
Assinatura (Pesquisadora)
Eu,_________________________________________________________fui
esclarecido(a) sobre a pesquisa “A cultura organizacional e a expressão da criatividade no
produto moda vestuário infantil: um estudo de caso”, e concordo que as informações que
repasso possam ser utilizadas na realização da mesma.
____________________,___de________________de 200__.
Assinatura:__________________________
RG:________________________________
185
ANEXO C - CÓDIGO DE ÉTICA DA EMPRESA
186
187
188
189
190
191
192
ANEXO D – ORGANOGRAMA DA EMPRESA
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