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UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO
DE CIÊNCIAS RURAIS
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO
ALTERAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE FÓSFORO
DO SOLO PARA O MEIO AQUÁTICO COM O USO DE
DEJETO LÍQUIDO DE SUÍNOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Alexandre Léo Berwanger
Santa Maria, RS, Brasil
2006
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ALTERAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE FÓSFORO
DO SOLO PARA O MEIO AQUÁTICO COM O USO DE
DEJETO LÍQUIDO DE SUÍNOS
por
Alexandre Léo Berwanger
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Área de
Concentração em Processos Químicos e Ciclagem de
Elementos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,
RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Ciência do Solo
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Ceretta
Santa Maria, RS, Brasil.
2006
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a dissertação de Mestrado
ALTERAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE FÓSFORO
DO SOLO PARA O MEIO AQUÁTICO COM O USO DE
DEJETO LÍQUIDO DE SUÍNOS
elaborada por
Alexandre Léo Berwanger
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Ciência do Solo
COMISSÃO EXAMINADORA
:
________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Ceretta
(Presidente/Orientador) - CCR - UFSM
_________________________________
Prof. Dr. Danilo Rheinheimer dos Santos
CCR - UFSM
_________________________________
Prof. Dr. Luciano Colpo Gatiboni
CEO - UDESC
Santa Maria, 22 de fevereiro de 2006
Á meu irmão Marciel
Aos meus pais Gunder e Afonsina
Dedico este trabalho
AGRADECIMENTOS
À minha família pelo incentivo e ajuda em todos os momentos;
A Vanessa pela compreensão e confiança nos momentos de ausência;
Aos professores da Universidade Comunitária de Chapecó, Jorge L.
Mattias e Rosiane B. N. Denardin pelo incentivo em realizar mais um passo em
meus estudos;
Ao pesquisador da Epagri – Chapecó, Leandro P. Wildner pela orientação
e incentivo durante a fase de graduação;
À Universidade Federal de Santa Maria e ao Programa de Pós-Graduação
em Ciência do Solo, pela oportunidade de realização do curso;
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudo;
Ao professor Carlos A. Ceretta pela orientação neste trabalho e também
pela confiança e convivência;
Ao professor Danilo pelo apoio e orientação na realização deste e outros
trabalhos e também pelos mates logo de manhã;
Ao professor Leandro Souza da Silva e Luciano Gatiboni pela ajuda na
realização deste trabalho;
Aos colegas de pós-graduação Rosane, Benjamin, Francisco, André,
Jackson, Celso, Frederico, Gustavo, João e Mattias pela amizade, colaboração e
convívio;
Aos colegas de iniciação científica Isabel, Elizandra, Jaqueline, Eduardo,
Éder, Cledimar e Renan pela ajuda nas analises laboratoriais e a campo;
Aos amigos que conquistei durante essa jornada, pelos momentos de
descontração e convívio;
Aos professores, funcionários e colegas do Departamento de Solo pela
amizade, apoio e aprendizagem;
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil
ALTERAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE FÓSFORO DO
SOLO PARA O MEIO AQUÁTICO COM O USO DE DEJETO
LÍQUIDO DE SUÍNOS
Autor: Alexandre Léo Berwanger
Orientador: Carlos Alberto Ceretta
Local e data da defesa: Santa Maria, 22 de fevereiro de 2006.
Os dejetos líquidos de suínos servem como fonte de nutrientes, porém quando o seu uso
é inadequado pode causar o acúmulo de fósforo no solo e aumentar a transferência para o meio
aquático. O trabalho teve por objetivo avaliar as alterações ocorridas no conteúdo de fósforo no
solo, saturação dos sítios de adsorção e a sua transferência para o meio aquático via escoamento
superficial e percolação com o uso continuo de dejeto líquido de suíno. O trabalho foi desenvolvido
na Universidade Federal de Santa Maria-RS, em área de lavoura sob plantio direto com aplicação
superficial de 0, 40 e 80m
3
ha
-1
de dejeto líquido de suíno por um período de cinco anos, em um
Argissolo Vermelho Arênico distrófico. As alterações no conteúdo de fósforo foram estudadas em
todo o perfil do solo e as isotermas de sorção nas camadas de 0-2,5cm e 30-60cm. Determinou-se
o volume de água transferida e as formas de fósforo solúvel, particulado, particulado biodisponível,
particulado potencialmente biodisponível e total em amostras de água coletadas do escoamento
superficial e percolação. O aumento na dose de dejeto líquido de suíno incrementou os teores de
fósforo extraído por Mehlich-1 em todo o perfil do solo, consequentemente diminuiu a capacidade
máxima de adsorção e a constante de energia relacionada à ligação do fósforo, aumentando
assim a concentração de equilíbrio de fósforo no solo. A aplicação de dejeto líquido potencializou
as transferências de fósforo via escoamento superficial e percolação atingindo concentrações
superiores às estabelecidas pela legislação representando um potencial de contaminação
ambiental por eutroficação.
Palavras-chaves: Água, Contaminação ambiental, Fósforo, Esterco
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil
ALTERAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE FÓSFORO DO
SOLO PARA O MEIO AQUÁTICO COM O USO DE DEJETO
LÍQUIDO DE SUÍNOS
Author: Alexandre Léo Berwanger
Adviser: Carlos Alberto Ceretta
Place and date of the defense: Santa Maria, February 22, 2006.
The pig slurry may work as nutrients source, however when is used is an improper way
can cause accumulation of phosphorus in the soil, that later can be transferred to the aquatic
environment causing eutrophication. Objective of this study was to evaluate alterations in soil
phosphorus content and in sorption isotherms and his transfer for the aquatic environment by
runoff and percolation flow with continue use of pig slurry. The experimental work was developed in
the Federal University of Santa Maria, in a Typic Hapludalf under not tillage with superficial
application of 0, 40 and 80m
3
ha
-1
of pig slurry for a period of five years. The phosphorus content
was measured in the whole soil profile and the sorption isotherms in the 0-2,5cm and 30-60cm
layers. In the runoff water and percolated water, it was determined the volume of transferred water
and the forms of soluble, particulate, particulate bioavailable, particulate potentially bioavailable
and total phosphorus. The increase in applied rate of pig slurry increased the content of extracted
phosphorus by Mehlich-1 in the whole profile, consequently it reduced the maximum capacity of
sorption and the constant of related energy to bound phosphorus, increasing the equilibrium
phosphorus concentration in the soil. The applied of pig slurry potentially increased the phosphorus
transfers by runoff and percolation flow reaching concentrations higher than the legislation
established representing a potential of environmental contamination for eutrophication.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Rebanho brasileiro por região em milhões de cabeças. ....................... 14
Tabela 2- Estimativa da distribuição dos sistemas de produção de suínos no
Brasil. .................................................................................................................... 16
Tabela 3- Produção média diária de dejetos líquidos nas diferentes fases
produtivas dos suínos. .......................................................................................... 17
Tabela 4- Características químicas do solo na profundidade de 0 - 10cm antes da
instalação do experimento..................................................................................... 39
Tabela 5- Análise textural do solo nos diferentes horizontes na área
experimental. ........................................................................................................ 39
Tabela 6- Teor de Matéria seca, nitrogênio e fósforo dos dejetos líquidos de
suínos e quantidade de fósforo aplicada em cada tratamento. ............................. 41
Tabela 7- Produção de matéria seca da parte aérea das culturas........................ 42
Tabela 8- Parâmetros relacionados à isoterma de Langmuir na camada de 0-
2,5cm e 30-60cm com quantidades acumuladas de dejeto líquido de suíno,
durante 4 anos e meio........................................................................................... 59
Tabela 9- Concentração de fósforo na água de escoamento superficial e
porcentagem em relação ao total. Média dos três eventos monitorados (9; 83 e
160 dias após aplicação do dejeto) ....................................................................... 69
Tabela 10- Concentração de fósforo na água escoada nos três eventos
monitorados durante o crescimento das plantas de milho em 2004/2005, com
aplicação de dejeto líquido de suíno. .................................................................... 73
Tabela 11- Concentração de fósforo na água de percolação e porcentagem em
relação ao total. Média dos três eventos monitorados (9; 79 e 160 dias após
aplicação do dejeto). ............................................................................................. 76
Tabela 12 Concentração de fósforo na água percolada nos três eventos
monitorados durante o crescimento do milho 2004/2005, com o uso de dejetos
líquidos de suínos. ................................................................................................ 80
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Precipitações ocorridas e irrigações realizadas durante o período de
outubro de 2004 a abril de 2005. Dados obtidos na Estação Meteorológica da
Universidade Federal de Santa Maria. .................................................................. 46
Figura 2- Desenho do lisímetro (a) e esquema da instalação dos lisímetros (b)
para coleta da solução percolada no solo. ............................................................ 47
Figura 3- Esquema demonstrando os procedimentos do fracionamento físico-
químico de fósforo nas amostras de solução escoada e percolada adaptado
(Pellegrini, 2004). .................................................................................................. 49
Figura 4- Fósforo extraído por Mehlich-1 em profundidades de solo com e sem
aplicação de dejeto líquido de suíno, durante 4 anos e meio................................ 53
Figura 5- Relação entre o fósforo sorvido e o fósforo na solução do solo na
camada 0-2,5cm com aplicação de dejeto líquido de suíno, durante de 4 anos e
meio. Em detalhe mostrando concentração de equilíbrio de fósforo (CEP) e
quantidade de fósforo desorvido com água (Qo). ................................................. 56
Figura 6- Relação entre o fósforo sorvido e o fósforo na solução do solo na
camada 30-60cm com aplicação de dejeto líquido de suíno, durante 4 anos e
meio. Em detalhe mostrando concentração de equilíbrio de fósforo (CEP) e
quantidade de fósforo desorvido com água (Qo). ................................................. 57
Figura 7- Quantidade de água transferida por escoamento superficial em três
coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de dejeto líquido de suíno. .................................................................... 63
Figura 8- Concentração de sedimento transferido por escoamento superficial em
três coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de doses de dejeto líquido de suíno...................................................... 65
Figura 9- Quantidade de sedimento transferido por escoamento superficial em
três coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de doses de dejeto líquido de suíno...................................................... 66
Figura 10- Quantidade de água transferida por percolação em três coletas
realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com aplicação de
dejeto líquido de suíno. ......................................................................................... 67
LISTA DE ANEXOS
Anexo A- Relação entre o teor médio de fósforo solúvel no escoamento com o
teor de fósforo no solo extraído com água destilada em área submetida a
aplicação de dejeto líquido de suínos. .................................................................. 94
Anexo B- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 9 dias na cultura do milho
2004/1005. ............................................................................................................ 95
Anexo C- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 83 dias na cultura do milho
2004/2005. ............................................................................................................ 95
Anexo D- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 160 na cultura do milho
2004/2005 . .......................................................................................................... 96
Anexo E- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
ao volume acumulado de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura
do milho 2004/2005............................................................................................... 97
Anexo F- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
ao volume acumulado de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura
do milho 2004/2005............................................................................................... 97
Anexo G- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
as doses de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura do milho
2004/2005. ............................................................................................................ 98
SUMÁRIO
SUMÁRIO ............................................................................................................ 10
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 14
2.1 Produção e características dos dejetos suínos ........................................ 16
2.2 Uso de dejetos e alterações nas características do solo ......................... 22
2.3 Fósforo no solo ............................................................................................ 25
2.4 Fósforo como poluente no ambiente.......................................................... 28
2.5 Transferência de fósforo para o meio aquático......................................... 31
2.5.1 Transferência de fósforo por escoamento superficial.................................. 33
2.5.2 Transferência de fósforo por percolação..................................................... 35
3 OBJETIVOS...................................................................................................... 38
3.1 Objetivos específicos................................................................................... 38
4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 39
4.1 Coleta de solo e análise............................................................................... 42
4.1.1 Curva de sorção de fósforo ......................................................................... 43
4.2 Análise da solução escoada e percolada................................................... 44
4.3 Análises da solução escoada e percolada................................................. 47
4.3.1 Transferência de sedimento e água ............................................................ 47
4.3.2 Fracionamento físico e químico do fósforo inorgânico nas amostras de
escoado e percolado. ........................................................................................... 47
4.4 Analise estatística ........................................................................................ 50
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 51
5.1 Fósforo no solo ............................................................................................ 51
5.2 Transferência de água e sedimentos via escoamento superficial e
percolação .......................................................................................................... 61
5.2.1 Transferência de água e sedimento via escoamento superficial após cinco
anos de aplicação de dejeto líquido de suíno....................................................... 61
5.2.2 Transferência de água via percolação ........................................................ 67
5.3 Transferência de fósforo por escoamento superficial e percolação após
cinco anos de aplicação de dejeto liquido de suíno ....................................... 68
5.3.1 Transferência de fósforo via escoamento superficial .................................. 68
5.3.2 Transferência de fósforo por percolação..................................................... 75
6 CONCLUSÕES................................................................................................. 81
7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 82
ANEXOS .............................................................................................................. 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 99
1 INTRODUÇÃO
A suinocultura brasileira exibe indicadores de produtividade de primeiro
mundo, sendo considerado o país mais promissor no crescimento da produção
devido a sua grande extensão de terra, a disponibilidade de grandes recursos
hídricos, capacidade de produção de grãos e a alta qualidade genética dos
animais. Neste sentido, a suinocultura é uma atividade agropecuária de grande
importância para o Brasil e principalmente para o sul do país, onde se concentra a
maior parte dos animais.
Nas últimas décadas, devido às crises sofridas pela atividade, foi passado
à idéia ao suinocultor de que quanto mais dejetos fossem produzidos mais lucro
teria no aproveitamento agrícola destes materiais, fazendo com que a
suinocultura mergulhasse em uma cultura de desperdícios.
A utilização dos dejetos em lavouras como fertilizantes ou como forma de
descarte é uma prática rotineira e, às vezes, a única fonte de nutrientes as
culturas comerciais, sendo uma forma de amenizar os custos de produção, com
isso aumentando o lucro das pequenas propriedades rurais.
A atividade suinícola é predominantemente desenvolvida em pequenas
propriedades rurais, principalmente no sul do país, onde a limitação de área e a
topografia acidentada, muitas vezes inviabilizam a aplicação de dejetos de suínos.
Isso, associado a práticas de agricultura intensiva com dois cultivos anuais na
mesma área, torna a aplicação desse dejeto restrita a pequenos períodos do ano,
o que muitas vezes leva os produtores a utilizarem altas doses em pequenas
áreas, o que também é motivada pela dificuldade de viabilizar economicamente
sua distribuição distante do local onde é gerado. Por isso, atualmente discutir
suinocultura implica em considerar seu impacto no ambiente.
Essas situações são preocupantes devido à utilização da mesma área
para altas doses, podendo no futuro próximo haver um acúmulo no solo de
elementos, principalmente os metais pesados e o fósforo, saturando os sítios de
adsorção, o que favoreceria a sua transferência por escoamento superficial ou por
percolação, causando eutroficação de águas superficiais e sub superficiais.
Em paises desenvolvidos, a valorização dos recursos naturais levou ao
desenvolvimento de pesquisas referentes a eutroficação causadas pelo excesso
13
de nitrogênio e fósforo, estabelecendo assim níveis críticos na água e no solo,
número de animais por área e outras restrições estabelecidas pelos governos
para que a situação não se agrave ainda mais. No entanto, no Brasil poucas
pesquisas são realizadas para avaliar a dinâmica de fósforo no solo relacionada
com seu potencial contaminante no ambiente e sobre a transferência de fósforo
do sistema solo para o meio aquático em condições onde dejetos líquidos de
suínos são aplicados sistematicamente e há longo prazo.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A carne suína é a mais produzida no mundo e o Brasil foi responsável em
2003, por 2,8% da produção mundial, representando 2,7 milhões de toneladas.
Com isso, o Brasil se tornou o quarto maior produtor mundial, logo abaixo da
China, União Européia e Estados Unidos. A exportação de carne suína pelo Brasil
atingiu 491 mil toneladas em 2003, representando U$ 546,5 milhões e tendo um
crescimento de 13,5% sobre as exportações de 2002. Um dos motivos para tal é
que a suinocultura Brasileira é uma das mais desenvolvidas do mundo
apresentando alto potencial genético. No Brasil são em média 24 suínos
terminados por matriz anualmente, que alcançam média de 100kg no período de
160 dias (Abipecs, 2003).
É importante observar que o Brasil tem enorme potencial para aumentar
sua participação na produção mundial de carne suína porque apenas 18% da
produção brasileira é exportada. A contribuição da suinocultura à economia
brasileira pode ter reflexo em todo o país porque é praticada com maior ou menor
intensidade em todos os estados, embora 40% esteja concentrada na região Sul
(Tabela 1). Nesta região existem cerca de 13 milhões de cabeças, sendo 31,19%
no Paraná, 29,75% no Rio Grande do Sul e 39,22% em Santa Catarina (Abipecs,
2003).
Tabela 1- Rebanho brasileiro por região em milhões de cabeças.
Região/ Ano 1970 1980 1990 2000 2002 2003
Norte 0,913 0,910 3,813 1,802 2,188 0,720
Nordeste 7,068 7,994 9,691 5,269 7,096 2,900
Sudeste 5,821 6,141 6,085 5,662 5,766 6,131
Centro-Oeste 2,522 2,874 3,459 2,933 3,315 5,080
Sul 15,176 15,264 10,636 15,642 13,649 19,504
Brasil 31,500 34,183 33,684 31,310 32,013 34,500
Fonte IBGE 2003 (ABIPECS, 2003).ICEPA/ABCS, Anuário PorkWorld, 2004.
15
Os dados realmente confirmam que há uma concentração da atividade
nos estados do sul, sendo mais agravante no estado de Santa Catarina, que
contém apenas 1,6% do território nacional e aloja 16,72% das cabeças de suínos
do Brasil.
A suinocultura no Rio Grande do Sul, tradicionalmente é desenvolvida em
pequenas áreas, principalmente em sistema de produção intensivo, juntamente
com a bovinocultura de leite e uma pequena produção de grãos. No período de
1995/96 cerca de 50% do rebanho suíno gaúcho estava distribuído em
propriedades com até 20ha e o restante 80% em propriedades com até 50ha
(ACSURS, 2005).
O marco inicial na produção de suínos foi entre a década de 70 e 80,
quando iniciou o processo de integração e aumento do plantel no sul do país.
Contudo, a integração com a agroindústria e outros avanços como melhoramento
genético, foram responsáveis por um aumento de 135% na produção de carne de
1970 a 2002, enquanto que o plantel cresceu apenas 1,6% (Abipecs, 2003).
No Oeste de Santa Catarina, em 1980 existiam cerca de 67.000
suinocultores, sendo 3.860 integrados, tendo aumentado para 26.176 integrados
em 1986. Em 2002 a quantidade de suinocultores diminuiu para 10 a 20 mil,
sendo que 11.100 são produtores integrados. A quantidade de produtores
integrados foi dividida pela metade e o número total de produtores foi diminuída
em 340%, o que resultou na saída de 52.000 produtores do setor (Testa et
al.,1996). O mesmo fato ocorreu na suinocultura gaúcha, onde a Associação de
Criadores de Suínos (ACSRS) prospecta um aumento no rebanho suínos, porém
uma diminuição no número de suinocultores de 68.020 em 2004 para 62.570 em
2005, revelando uma maior concentração da produção por unidade de área
(Castamann, 2005).
Na década de 90 houve um fortalecimento no processo de integração,
(Tabela 2) e um aumento cada vez maior nos volumes produzidos em parcerias.
Junto com isso grandes indústrias surgiram no mercado, detendo 90% da carne
de suínos produzida em seu domínio. Neste período as propriedades rurais
detinham todo o ciclo de produção (sistema de criação, recria e engorda), sendo
que era mantido um processo de integração com as empresas de abate.
16
Tabela 2- Estimativa da distribuição dos sistemas de produção de suínos no
Brasil.
Sistema/ano 1990 1995 2000
...................................%...................................
Confinado 40,0 48,0 61,0
Semi Confinado 27,0 26,0 21,0
Extensivo 32,8 25,5 17,0
Ar livre 0,2 0,5 1,0
Fonte: Gomes et al., (1992); Perdomo et al., (2001).
A suinocultura nesta década passou por crises bastante severas, onde
grande parte das pequenas propriedades rurais tiveram que optar por gerenciar
parte do sistema do produção, surgindo assim as parcerias de criação e parcerias
de terminação de suínos. A verticalização do processo de produção de suínos,
está muito semelhante ao de produção de aves, onde o produtor rural recebe os
animais, ração e medicamentos para fazer a engorda ou a produção dos leitões.
2.1 Produção e características dos dejetos suínos
O esterco líquido de suínos, também chamado de dejeto líquido, liquame
ou chorume, oriundo dos sistemas de confinamento é composto por fezes, urina
resíduos de ração, do excesso da água dos bebedouros e higienização, dentre
outros componentes decorrentes do processo criatório (Konzen et al., 1997). O
termo mais adequado para designar as dejeções dos animais seria o termo
estrume, que compreende dejeções misturadas a restos de alimentos e palhas
(Cassol, 1999). Entretanto, sem entrar no mérito da literatura brasileira o termo
“dejetos” tem sido mais utilizado perante os pesquisadores.
O sistema de produção utilizado em cada granja é o que define o grau de
diluição dos dejetos e suas características físico-químicas (Castamnn, 2005).
Porém, para Cheverry et al. (1986), as diferenças encontradas na composição
físico-química do esterco provêm das variações dos seguintes itens: idade dos
animais, manejo, alimentação e tipo de estocagem (Sherer et al.,1995).
A quantidade total de esterco produzido por um suíno em determinada
fase do seu desenvolvimento é fundamental no planejamento das instalações de
17
coleta e estocagem (Schimit, 1995). Para um suíno que consome em média 2,4kg
de ração e 5 litros de água por dia, foi constatado que apenas 30% dos alimentos
(ração e água) ingeridos são convertidos pelo organismo em forma de
crescimento e ganho de peso, sendo os 70% restantes eliminados pelas fezes e
urina (Konzen et al.,1997). No caso do fósforo, Barnett (1994) encontrou que 77%
do fósforo ingerido foi excretado no dejeto.
Nesse sentido pode-se inferir que a quantidade total de dejetos produzida
por um animal depende essencialmente da sua alimentação, da água
desperdiçada nos bebedouros, volume de água utilizado na higienização das
instalações e dos animais, desempenho dos animais, ganho de peso e da
eficiência de transformação dos nutrientes (Latiminer 1993; Oliveira 1994; Penz,
2000). Em termos gerais, cada litro de água ingerida por suínos resulta em 0,6
litros de dejeto (Oliveira, 1995).
A quantidade de dejeto líquido produzida por suíno variam de 7 a 9 litros
dia
-1
para animais nas fases de crescimento e terminação. A produção de esterco
em suínos na fase de crescimento/terminação (25 a 100kg) é de 2,3kg dia
-1
correspondendo a 7 litros dia
-1
de dejeto líquido. O mais agravante ocorre em
matrizes em lactação que produzem 6,4kg dia
-1
de esterco, mas o total de dejetos
líquidos produzidos é de 27litros matriz
-1
dia
-1
segundo a Tabela 3 (Oliveira, 1994;
Konzen et al., 1997).
Tabela 3- Produção média diária de dejetos líquidos nas diferentes fases
produtivas dos suínos.
Categoria Esterco
kg dia
-1
Esterco + Urina
kg dia
-1
Dejeto líquido
litros dia
-1
Suínos 25 a 100 kg 2,30 4,90 7,00
Porcas em gestação 3,60 11,00 16,00
Porcas lactação + leitões 6,40 18,00 27,00
Cachaço 3,00 6,00 9,00
Leitões na cresce 0,35 0,95 1,40
Média 2,35 5,8 8,60
Fonte: Oliveira, 1994.
18
Estudos realizados com 118 amostras de dejetos coletados em oito dos
principais municípios produtores de suínos de Santa Catarina, Sherer et al.
(1995), constataram que o maior problema foi o desperdício de água na criação e
outros problemas de construção civil, onde a água do telhado entrava diretamente
nas canaletas de coleta dos dejetos. Para diluir ainda mais os dejetos, 76% das
esterqueiras amostradas não continham telhado, resultando que 50% das
amostras analisadas continham menos de 2% de matéria seca, sendo que a
média final de matéria seca foi de 3%. Em um estudo semelhante no estado da
Pennsylvania - EUA, Kleinman et al. (2005), constataram em 140 amostras de
dejetos animais que 85% das amostras de dejeto líquido de suínos continham
menos de 10% de matéria seca, sendo 8% a média de todas a categorias de
animais.
No mesmo estudo, Sherer et al.(1995), constataram que os teores e
formas de nutrientes variaram conforme a forma de estocagem e, no caso de
esterqueiras, aproximadamente dois terços do fósforo estava em forma não
solúveis em água, fazendo parte das estruturas orgânicas.
As formas de fósforo encontradas nas bioesterqueiras ou esterqueiras
estão relacionadas com a dieta fornecida aos animais (Barnett, 1994; Sherer et
al.,1995; Dourmad et al., 1999; Leytem et al., 2004; Kleinman et al., 2005). Devido
a isso e outros fatores, existe uma grande variação nos teores de nutrientes
encontrados nos dejetos e esta variação pode ser até mesmo dentro da própria
granja (Perdomo et al., 2001). Portanto, é difícil a caracterização dos dejetos de
suínos uma vez que as diferentes formas sólida, líquida ou pastosa, podem variar
consideravelmente, conforme o grau de diluição.
O conteúdo de matéria seca das dietas tem influência direta na excreção
de fósforo e, para demonstrar isso, Barnett (1994) observou que o aumento de 0,4
para 1% de matéria seca na dieta fez com que os suínos aumentassem de 0,8
para 2,1g de fósforo animal
-1
dia
-1
excretado. Para o autor, o maior problema na
análise é a variação na concentração de nutrientes, sendo os mesmos problemas
relatados já anteriormente. As frações de fósforo (orgânico e inorgânico) no dejeto
segundo esse trabalho podem variar de 10 a 80% do total.
Em relação as formas de fósforo no dejeto, Barnett (1994), obteve um
dejeto de reprodutor com 272g kg
-1
de matéria seca a quantidade total de fósforo
19
de aproximadamente 29,1g kg
-1
, sendo que destes 54,7% encontravam-se na
forma inorgânica (Pi), 29,7% na forma de hexafosfato de inositol (Po), 15,2% na
forma de ácidos nucléicos (Po) e 0,4% na forma de fosfolipídios (Po).
A quantidade de fósforo excretada pelos suínos é alta porque os cereais
usados nas rações (millho e trigo), contém grandes quantidade de fósforo
orgânico (80 a 90%) na forma de ácido fitico (hexafosfato de inositol) (Leytem et
al., 2004; Minggang et al., 1997; Turner et al., 2002; Lei & Porres, 2003). Os
suínos são ineficientes na utilização destes compostos porque são animais
monogástricos e não contém no sistema gastrointestinal enzimas fitases para
hidrolisar esses compostos. Por isso que apenas uma pequena parte do fósforo
presente nos cereais é disponível para os animais, fazendo com que haja a
necessidade de suplementos minerais contendo fósforo, o que favorece a
ocorrência de altos teores de fósforo nos dejetos de suínos produzidos (Smith, et
al., 2004a).
Os suínos não assimilam a totalidade dos nutrientes contidos nas rações.
Em média são absorvidos de 30 a 55% do nitrogênio, 20 a 50 % do fósforo e 5 a
20% do potássio, sendo as taxas de excreção de 45 a 60% para o nitrogênio, 50 a
80% para o fósforo e 70 a 95% para o potássio (Kornegay & Harper, 1997). Para
melhor avaliar estes indicadores, Lovatto et al. (2005) desenvolveram um trabalho
com modelagem da ingestão, retenção e excreção de nitrogênio e fósforo na
suinocultura gaúcha e constataram que o consumo total de nitrogênio pela
suinocultura gaúcha é de aproximadamente 34 mil toneladas por ano, sendo que
24 mil toneladas são excretadas (70%). Os mesmos autores inferem que para o
fósforo o consumo é de 8 mil toneladas por ano, sendo que 6 mil toneladas são
excretadas (74%).
O conhecimento de alguns procedimentos em nutrição pode aumentar a
absorção dos nutrientes, consequentemente reduzir as perdas. Entre eles está o
entendimento da composição nutricional dos ingredientes; a digestibilidade dos
nutrientes; os níveis de exigência de cada um deles nas diferentes fases de
produção e em cada sexo e tipo de genótipo; o programa alimentar empregado;
entre outros (Penz, 2000). Segundo vários relatos da literatura, conhecer estas
variáveis permite uma redução de perda de nitrogênio e de fósforo na ordem de
30 a 40%, porém o desconhecimento de fatores como a composição nutricional
20
dos cereais usados nas rações faz com que sejam utilizadas quantidades muito
acima do exigido pelos animais, como forma de manter uma margem de
segurança na alimentação. A composição total dos nutrientes nos cereais também
não é suficiente, devendo-se utilizar a quantidade disponível para os animais
(Penz, 2000). Este autor cita que estudos mais apurados mostram que a
formulação de rações à base de aminoácidos digestíveis é menos propensa às
excreções de fósforo do que quando estas são baseadas apenas em proteína
bruta.
A metodologia para a determinação da digestibilidade de fósforo nos
ingredientes não é muito simples, pois vários são os fatores que podem interferir
nos valores encontrados. Entre eles podem ser citados, o estádio de maturação
dos grãos, a idade dos animais e a fonte de fósforo usada para a comparação da
digestibilidade. Comumente, utiliza-se para fins de cálculo que 1/3 do fósforo
contido nos vegetais seja digestível. As primeiras tabelas apresentadas na
literatura sobre a disponibilidade de fósforo encontram-se em NRC (1988). Pode-
se citar que grãos de milho, que compõe 70 a 80% da ração, contém uma
disponibilidade do fósforo de 15%, mas quando os grãos de milho estão com alta
umidade passa a ser 49%, enquanto que para o farelo de trigo é de 35%, para
farelo de soja 38% e farelo de cevada 31% (Murphy & Lange, 2004). Essa é uma
das justificativas para o crescente uso na suinocultura de rações com alta
umidade (silagem de grãos de milho úmido), (Lima et al., 1999).
Por mais eficientes que os processos de redução de poluição possam ser
considerados, é através da nutrição que grandes avanços podem ser obtidos
(Penz, 2000; Murphy & Lange, 2004). A utilização de enzimas exógenas é um dos
meios mais práticos para melhorar a digestibilidade dos nutrientes presentes nas
rações, porém o custo destas enzimas pode inviabilizar o seu uso (Hauschild et
al. 2004). Devido a isso, a utilização de plantas com baixa quantidade de ácidos
fiticos (Leytem et al., 2004), tratamento dos dejetos com AlCl
3
(Moore & Miller,
1994; Moore et al., 1999; Moore et al., 2000; Smith et al., 2004a; Smith et al.,
2004b; Smith & Moore, 2005) e até plantas mutantes estão sendo empregadas
nos estudos mais recentes (Wienhold & Miller, 2004).
As principais enzimas usadas nas dietas suínas são fitases, lípases e
enzimas que digerem os polissacarídeos não amídicos (Penz, 2000). Com a
21
utilização de enzimas fitases nas dietas suínas a quantidade de fósforo total na
ração pode ser diminuída de 20 a 60% (Harper et al., 1997). A introdução de
fitases na ração de aves no Mississipi resultou em uma diminuição de 50% do
fósforo transferido por escoamento superficial, comparado com dietas normais
(Smith et al., 2004b). O uso de enzimas exógenas e a substituição do milho por
triguilho foi estudado por Hauschild et al. (2004) e os autores constataram que
houve uma redução significativa de 19% na excreção de fósforo e um aumento de
39% na absorção de fósforo pelos animais, porém não houve uma redução com o
uso da enzima. Segundo os autores alguns cereais tais como o trigo e seus
subprodutos apresentam intrinsecamente atividade fitática. Na regressão linear
para cada grama de triguilho adicionada na ração houve uma redução de 0,05g
de fósforo nas fezes. Smith et al., (2004a) estudando o uso de dietas contendo
fitases e AlCl
3
, constataram uma redução de 17% na concentração total de fósforo
no dejeto de suíno, comparados com dietas normais sem uso de enzimas.
Estudos com plantas mutantes com baixa quantidade de ácido fitico foram
desenvolvidos por Leytem et al. 2004. Os grãos de cevada utilizados na dieta dos
suínos apresentavam uma redução de 32, 59, 97% de ácido fitico, porém o
fósforo total dos grãos utilizados na dieta foi semelhante. Conforme os autores o
uso de plantas com baixo teor de ácido fitico reduziu a concentração de fósforo
nos dejetos em 36%. Em estudos semelhantes, porém utilizando plantas de milho
com baixa quantidade de ácido fitico, Wienhold e Miller (2004) constataram uma
redução de 41% no fósforo dos dejetos comparados com o um hibrido de milho
semelhante. A utilização de grãos de milho com baixo ácido fitico aumentou a
relação de N/P de 3,3 para 4,5 no dejeto, o que significa tornar o dejeto mais
balanceado para a utilização na agricultura.
Trabalhos recentes utilizando o tratamento dos dejetos com AlCl
3
e
também com o uso de enzimas fitases, apresentaram bons resultados (Smith &
Moore, 2005), tanto na redução do fósforo solúvel nos dejetos como na redução
da emissão de gases produzidos pelos dejetos (Smith et al., 2004c). Moore at al.,
(1999) constataram uma redução de 99% do fósforo solúvel com o tratamento de
AlCl
3
em esterco de aves, e também uma redução de 87% no fósforo transferido
por escoamento superficial. Trabalhos semelhantes ao de Moore et al., (1999)
porém utilizando dejetos líquidos de suínos foram desenvolvidos por Smith et al.
22
(2004a), os quais constataram uma redução de 73% no fósforo solúvel reativo
com tratamento de AlCl
3
e, quando combinados os tratamentos com AlCl
3
e uso
de fitases nas dietas a redução do fósforo solúvel reativo foi de 84%. No mesmo
estudo os autores quantificaram as transferências de fósforo por escoamento
superficial com chuva simulada e constataram uma redução de 53% no fósforo
solúvel reativo no escoamento com o uso de AlCl
3
(5,66 para 2,65mg L
-1
) e o uso
conjunto de AlCl
3
mais enzimas a redução foi de 73%.
2.2 Uso de dejetos e alterações nas características do solo
A utilização de dejetos como fertilizantes orgânicos tem sido realizada
porque este contém uma série de elementos químicos prontamente disponíveis,
ou que após o processo de mineralização estarão disponíveis e poderão ser
absorvidos pelas plantas. A substituição dos fertilizantes químicos por dejetos
suínos pode ser parcial ou total, dependendo das condições existentes e dos
propósitos do agricultor. Porém, devido a sua composição ser muito
desbalanceada e variada conforme a alimentação, manejo da água, condições de
armazenamento e idade dos animais (Konzen, 1983; Scherer et al., 1995; Schimit,
1995; Cheverry et al., 1986; Konzen et al., 1997) dificultando assim uma
recomendação padronizada.
A produção de suínos no Brasil está associada a pequenas propriedades
rurais e a utilização de dejetos, em muitos casos excede as doses utilizadas nos
experimentos. Neste caso, Evans et al. (1977), trabalhando com a cultura do
milho nos Estados Unidos durante dois anos consecutivos, aplicaram 636Mg ha
-1
de esterco (base úmida) sobre um solo fraco siltoso, comparando com adubação
química e testemunha e obtiveram um incremento de 2642kg ha
-1
na
produtividade de grãos de milho em relação a testemunha, não tendo havido
diferença entre a utilização de esterco e adubação mineral.
A aplicação de dejetos normalmente é realizada em culturas anuais mas
em determinadas épocas do ano essas áreas estão sendo ocupadas e muitos
agricultores optam em aplicar os dejetos em pastagem natural. Isso foi realizado
por Durigon et al., (2002) em um estudo com aplicação de dejetos de suínos em
pastagem natural no Rio Grande do Sul. Estes autores constataram que houve
23
maior produção de matéria seca na pastagem em todas as estações do ano com
a aplicação do dejeto líquido de suínos, mas os incrementos foram maiores no
verão e na primavera, quando existe maior insolação e temperaturas mais altas
que favorecem o crescimento vegetativo. Nesse trabalho a dose de 20m
3
ha
-1
proporcionou aumentos de 109% na produção de matéria seca ao final de 48
meses, já com a dose de 40m
3
ha
-1
houve acréscimos de 155%, porém os autores
relatam a possível contaminação ambiental causada pela dose 40m
3
ha
-1
.
O aumento de produtividade com o uso de adubos orgânicos está
relacionado com uma melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do
solo. A aplicação de dejetos no solo é justificável em virtude dos efeitos
proporcionados na matéria orgânica (Kiehl, 1985). Para esse autor e outros esses
efeitos podem ser divididos em efeitos físicos, químicos e biológicos. Os físicos
são caracterizados pelas modificações na estrutura do solo, pelo aumento da
capacidade de retenção de água e pela manutenção de temperaturas mais
amenas. Os efeitos químicos são aumento da capacidade de troca catiônica,
aumento do poder tampão, formação de compostos orgânicos como quelatos e,
evidentemente, como fonte de nutrientes. Já os efeitos biológicos seriam através
da intensificação da atividade microbiana e enzimática do solo.
A aplicação de dejetos líquidos de suínos aumenta a matéria orgânica do
solo (Kiehl, 1985; Castro & Costa, 2002), porém em trabalhos desenvolvidos por
Ceretta et al. (2003), com aplicação de dejeto líquido de suínos constataram que
houve um aumento no teor de carbono apenas na camada de 0 a 2,5cm.
Entretanto, esses autores consideraram a possibilidade de efeito da interferência
da amostragem sobre esses resultados, já que os resíduos vegetais ou esterco
misturam-se com o solo nesta camada. Para os autores o fato da aplicação de
esterco não resultar em incrementos nos teores de carbono e nitrogênio total nas
camadas mais profundas deve-se, provavelmente, ao aumento na atividade
microbiana do solo. Outro fator importante é que os resíduos eram retirados do
experimento, diminuindo assim o aporte de material orgânico.
Em relação às condições físicas do solo com aplicação de dejeto líquido
de suíno existem contradições em relação ao assunto. A presença de compostos
hidrofóbicos provocaria uma diminuição na taxa de infiltração e,
consequentemente, aumento da perda de solo (Henklain et al., 1994). Campelo
24
(1999) estudou a influência da aplicação de águas residuárias de suinocultura nas
características físicas de um Podzólico Vermelho-amarelo em Viçosa - Mg,
utilizando cinco concentrações de sólidos totais (0; 0,3; 4,9; 16,3 e 27,7g L
-1
). O
autor constatou que a aplicação de grandes lâminas de águas residuárias com
concentrações de sólidos totais superior a 15mg L
-1
provocam forte selamento
superficial. Em área de pastagem, Edwards & Daniel (1993) compararam a
aplicação de esterco de aves e esterco suínos com chuva simulada de 50mm h
-1
e
demonstraram que o escoamento superficial nas parcelas com aplicação de
esterco líquido de suínos foi três vezes maior que a observada com aplicação de
esterco de aves e na testemunha. Para os autores, isso pode ser atribuído à
adição de água via dejeto e ao selamento da superfície do solo pelas finas
partículas contidas no dejeto líquido de suíno.
Por outro lado, aspectos positivos da utilização de dejetos de suínos são
relatados quanto à diminuição nas perdas de sedimento (Bundy et al., 2001;
Andraski et al., 2003; Gessel et al., 2004). No experimento desenvolvido por
Bundy et al. (2001), com uso de dejetos houve uma redução de 60% no volume
escoado e uma diminuição de 76% nos sedimento.
Em experimentos sob plantio direto utilizando cinco doses de dejeto de
suíno aplicando chuva simulada de 70mm h
-1
no norte do Paraná, Castro & Costa
(2002) constataram que as perdas de água diminuíram com o aumento da dose
de dejeto. Consequentemente, as menores perdas de solo ocorreram nas maiores
doses de dejeto (60, 90 e 120m
3
ha
-1
). Contudo, os autores relatam que no
terceiro ano de avaliação, as maiores perdas de solo ocorreram com aplicação de
60m
3
ha
-1
. No mesmo sentido, Gessel et al. (2004) em três anos de estudos em
Minnesota, em um solo com 12% de declividade e com a aplicação de três doses
de dejeto líquido de suíno (18,5; 37 e 74m
3
ha
-1
ano
-1
) e mais testemunha (sem
aplicação) constataram que houve uma redução significativa na perda de água
durante o período de verão na maior dose de dejeto aplicada. Porém na dose de
37m
3
ha
-1
ano
-1
não foi observado uma redução significativa nas perdas de solo.
Em relação às condições biológicas do solo com aplicação de compostos
orgânicos a literatura traz uma vasta quantidade de trabalhos. Na maioria dos
casos há um benefício na atividade microbiana do solo. Normalmente, as
propriedades biológicas do solo são alteradas com a aplicação de compostos
25
orgânicos (Campelo, 1999). Os materiais orgânicos servem como fonte de
alimento e energia para os organismos heterotróficos do solo. Esses
microorganismos dependem do material orgânico para obtenção de energia
necessária à sua sobrevivência (Aita, 1984).
2.3 Fósforo no solo
O fósforo é um dos elementos essenciais para as plantas e animais. Em
solos altamente intemperizados a disponibilidade de fósforo pode ser muito baixa,
assim necessitando aplicação de fertilizantes (Novais & Stmyth 1999). Entretanto,
a crescente preocupação com a preservação ambiental e melhor entendimento
dos fenômenos biológicos está fazendo com que a pesquisa em Ciência do solo
tome novos rumos. Estudos relacionados com o ciclo de elementos e sua
transferência para o meio aquático tem-se tornado promissores. (Rheinheimer et
al., 1999).
O ciclo do fósforo no solo envolve as plantas, os animais e os
microorganismos. Inclui-se nesse sistema processos de absorção pelas plantas,
reciclagem pelos resíduos de plantas e animais, reciclagem biológica pelos
processos de mineralização-imobilização, reações de sorção pelas argilas e
óxidos e hidróxidos do solo e solubilização de fosfatos pela atividade de
microorganismos e plantas. Quando os solos são cultivados o ciclo é alterado,
pois há adição de elementos com as adubações, e remoção quando da colheita
ou ocorrência de erosão ou percolação (Stevenson, 1994).
No solo o fósforo pode ser dividido em duas formas, orgânico e
inorgânico, dependendo da natureza do composto a que está ligado. As
proporções das duas formas podem variar com o grau de intemperismo do solo,
dentre outros. O grupo do fósforo inorgânico pode ser separado em três partes, o
fósforo dos minerais primários ou estruturais e o fósforo adsorvido, e também o
fósforo da solução do solo que é encontrado em pequenas quantidades. O outro
grupo é o fósforo orgânico, que pode representar 20 a 80% do fósforo total do
solo (Dalal, 1977). O fósforo orgânico é originário dos resíduos vegetais e animais
aplicados no solo, do tecido microbiano e dos seus resíduos de decomposição
(Gatiboni, 2003). As principais formas de fósforo orgânico no solo são fosfato de
26
inositol, que compõem de 10 a 80% do fósforo orgânico total, os fosfolipídios (0,5
a 7%), ácidos nucléicos (3%) e outros ésteres fosfato (< 5%) (Dalal, 1977).
Em solos do Rio Grande do Sul, foi constatado que os grupos de fosfatos
do tipo monoésteres são predominantes e possuem alta interação com os
colóides do solo, uma vez que dois oxigênios do fosfato continuam com alta
reatividade, sendo assim a principal forma de acumulação no solo (Rhenheimer,
2000; Gatiboni, 2003). Por outro lado, o grupo diésteres podem ser mais
facilmente mineralizados pelos microorganismos. Entretanto, os dois grupos de
fosfatos orgânicos podem ser mineralizados pelas enzimas fosfatases,
aumentando assim o fósforo na solução do solo.
As formas de fósforo mencionadas acima interagem como a matriz do
solo. Sendo assim, o solo pode ser considerado como fonte ou dreno de fósforo,
dependendo das características relacionadas ao grau de intemperismo. O solo
serve como fonte de fósforo às plantas quando ainda possui reservas naturais ou
pela adição de fertilizantes, enquanto que quando apresenta um grau de
intemperismo avançado ou baixas reservas naturais atua como dreno (Novais e
Smith, 1999).
A dessilicação intensa provocada pelo intemperismo nos solos tropicais e
subtropicais concentra, principalmente, óxidos de ferro e alumínio, os quais são
responsáveis pela característica de alta capacidade de sorção de fósforo,
tornando o solo um dreno de fósforo (Parfitt, 1978; Novais e Smith, 1999). O
termo sorção refere-se a transferência de íons da solução para a fase sólida
McBride, (1994) ou à retenção de íons em superfície sólida (Sparks, 1995). O
termo sorção compreende processo de adsorção, precipitação e polimerização
(Sparks, 1995). Normalmente, devido a alta afinidade do fósforo pelas superfícies
minerais, formam-se complexos de esfera-interna, onde não há moléculas de
água entre os grupos funcionais de superfície e o ânion (Sposito, 1989), devido a
isso a reversibilidade é mais difícil (Parfitt, 1978).
Os estudos da relação de fósforo sorvido/solução (isotermas) são
utilizados para avaliar a capacidade de sorção dos solos. A equação Langmuir é
largamente utilizada em solo, isso porque permite estimar a Capacidade Máxima
de Adsorção de Fósforo (CMAP) e a constante relacionada com a energia de
ligação (k) (Novais & Smith, 1999). O processo de sorção inicial é rápido, há uma
27
atração eletrostática inicial, seguida por uma troca de ligantes (quimiossorção),
sendo uma ligação predominantemente covalente (Parfitt, 1978; Sposito, 1989).
A capacidade de sorção de fósforo no solo depende da quantidade de
sítios adsortivos. Estes são dependentes da mineralogia, da área superficial
específica e da cristalinidade dos constituintes minerais do solo. A capacidade de
sorção de um solo é influenciada pelo pH, pela quantidade de fósforo previamente
sorvida e pela presença de ânions orgânicos, entre outros (Sposito, 1989; Novais
& Smith, 1999; Meurer et al., 2000; Rheinheimer, 2000). À medida que a
quantidade de fósforo adsorvido aumenta, diminui a energia de ligação (Barow,
1978).
Em pH baixo a uma alteração no potencial elétrico dos grupos OH
2
e OH
monocoordenados e, devido isso, aumenta a capacidade de sorção de fósforo.
Rheinheimer (2000) constatou que a adição prévia de fósforo em plantio direto é o
principal mecanismo de diminuição da sorção, em média o fósforo previamente
sorvido representou 31% da capacidade máxima de sorção do solo. Os ácidos
orgânicos podem ser adsorvidos às superfícies dos óxidos, assim, impedindo a
sorção do fósforo (Agbenin & Tissen, 1994). A matéria orgânica do solo também
pode ser retida nas arestas dos minerais, a qual se torna mais negativa,
aumentando a repulsão dos grupos fosfatos Stevenson (1994) e também
assumindo um papel de bloqueadora dos sítios de absorção, dificultando assim o
acesso do fósforo aos minerais (Almeida et al., 2003).
A aplicação de fosfatos no solo cultivado sob plantio direto pode causar
uma saturação dos sítios de sorção, aumentando assim o fósforo disponível ou
lábil no solo (Rheinheimer, 2000), que por sua vez pode ser transferido para o
meio aquático. A aplicação sistemática de dejetos suínos no solo também causa o
acúmulo de fósforo no solo, isso devido a quantidade de dejetos aplicados estar
normalmente relacionada com o teor de nitrogênio do dejeto (McDowell &
McGregor 1984; Sharpley, 1985; Sharpley et al. 1992; Sharpley & Halvorson,
1994; Heathwaite et al., 2000; Houtin et al., 2000; Motavalli & Miles, 2002; Vietor
et al., 2004).
Em experimento realizado em Missouri – EUA com aplicação de dejetos
no solo há mais de 111 anos causou aumento em todas as formas de fósforo
estudadas (Motavalli & Miles, 2002). A aplicação específica de dejeto líquido de
28
suíno há 14 anos também aumentou o pool de fósforo em todo o perfil e em todas
as formas estudadas (Houtin et al., 2000). Os autores relatam que o total de
fósforo orgânico lábil é 1,8 vez maior que o solo sem aplicação.
A movimentação de fósforo em profundidade foi observada em trabalho
desenvolvido sobre pastagem natural num Alissolo Crômico Órtico típico, na
região fisiográfica da Depressão Central do Rio Grande do Sul, sendo aplicado
doses de 0, 20, 40m
3
ha
-1
, em um intervalo de tempo de 45 a 60 dias,
correspondendo em um total de 28 aplicações durante os quatro anos do período
experimental. Os autores notaram migração de fósforo em profundidade até 40cm
de profundidade com as doses de dejeto (Ceretta et al., 2003). Os autores relatam
que o teor de fósforo disponível (Mehlich-1) na camada de 0 a 10cm aumentou
45,4 e 69,8 vezes em um período de 48 meses, com aplicação de 20 e 40m
3
ha
-1
,
respectivamente.
O acúmulo de fósforo na camada superficial do solo é um dos principais
motivos de transferência via escoamento superficial. Isso é demonstrado em
alguns estudos de Durigon et al. (2002); Ceretta et al. (2003); Ceretta et al.
(2005a); Cerreta et al. (2005b), onde apenas 16,7; 13,7 e 10,2% do fósforo
aplicado na forma de dejeto líquido de suíno é recuperado pelas plantas nas
doses de 20, 40 e 80m
3
ha
-1
respectivamente, apresentando assim um acréscimo
considerável de fósforo no solo. O acréscimo de fósforo disponível (Melhich-1) em
solos dos EUA pela aplicação de dejetos líquidos foi de aproximadamente 27%
(Sharpley & Halvorson, 1994).
2.4 Fósforo como poluente no ambiente
A preocupação com a qualidade do ambiente aumenta a cada ano e um
dos principais motivos é que a água potável no mundo vem diminuindo
drasticamente, sendo a agricultura apontada com uma importante fonte
causadora desses problemas (Sharpley & Halvorson, 1994; Hartwing & B
Øckman,
1994; Sharpley et al., 1996; Sims et al., 1998; Novais & Smyth, 1999).
A produção animal é considerada um dos principais fatores dessa
contaminação, podendo contaminar a água de três maneiras: A primeira, pelo
escoamento superficial após a aplicação do dejeto no campo, pela percolação de
29
nutrientes em função de excessivas aplicações, ou nos próprios tanques de
armazenamento sem nenhum revestimento. A segunda, pela poluição do ar em
função de gases e odores liberados na decomposição do dejeto. A terceira, pela
poluição do solo causada pelas aplicações excessivas de certos nutrientes, tendo
como conseqüência um desbalanço em determinados elementos e que podem
refletir negativamente no crescimento das plantas (Sharpley et al., 1996).
A percolação de elementos através do perfil do solo e o transporte do via
escoamento superficial são os principais caminhos de transferências de
elementos para o meio aquático. Os elementos chaves para o desenvolvimento
dos organismos aquáticos é o nitrogênio e o fósforo. A percolação de nitrato é um
dos principais caminhos de transferência para água subsuperficiais, e sendo o
fósforo transfererido por escoamento superficial.
Regiões dos Estados Unidos e da Europa, onde a criação de animais é
demasiada e intensiva, os dejetos tornaram-se a maior fonte de eutroficação de
águas superficiais (Novais & Smyth, 1999; Sharpley & Halvorson, 1994). Grande
parte dos problemas com relação ao fósforo é devido as doses de dejetos serem
baseadas no teor de nitrogênio. Entretanto, como a demanda de nitrogênio se
repete após cada cultivo, ao contrário do fósforo, essa continua aplicação de
dejeto na mesma área geralmente eleva os teores de fósforo no solo (King et al.,
1990; Sharpley & Halvorson, 1994; Ceretta et al. 2003). Com isso é diminuída a
capacidade de sorção do solo, agravando ainda mais as transferências de fósforo
pelo fluxo lateral e vertical de água no solo.
O acúmulo ocorre devido ao desbalanço no teor de nitrogênio e fósforo
dos dejetos que pode ser de 2:1 a 6:1, enquanto que o consumo das culturas é de
7:1 a 11:1, e esse desbalanço é mais afetado quando ocorrem perdas de
nitrogênio por volatilização (Sharpley & Halvorson, 1994; Sharpley et al. 1996).
O excesso de fósforo em muitos solos de países do primeiro mundo tem
proporcionado preocupação crescente quanto a problemas ambientais causados
pela eutroficação de águas superficiais, pelo transporte de fósforo do sistema solo
para os sistemas aquáticos. Com isso, poderá criar condições nutricionais
favoráveis ao crescimento exagerado de algas (eutroficação), microrganismos e
plantas aquáticas superiores (Novais & Smyth, 1999; Correll, 1998; Sharpley &
Menzel, 1987). A conseqüência deste excesso de fósforo e o aumento das áreas
30
agrícolas e urbanas é a descarga de mais de 33x10
9
kg ano
-1
de fósforo nos
oceanos (Howarth et al., 1995; Sharpley et al., 1995). O crescimento exagerado e
morte das algas que se desenvolvem na superfície dos lagos, traz como
conseqüência o desenvolvimento de organismos aeróbicos para a decomposição
das algas, tornando assim o meio anaeróbico. Este tipo de população microbiana
não degrada o material orgânico completamente, sendo acumulados produtos
metabólicos intermediários como metano, etileno, ácido butírico e outras
substâncias de baixo peso molecular, que são tóxicos para outros organismos.
Com a eutroficação ocorre a diminuição da claridade da água, produção
de espumas, morte de peixes, aumento de pH, liberação de gás de amônia e
metano, entre outros, que acarretam na diminuição ou fim da potabilidade da
água e também comprometem sua qualidade para outros usos (Sharpley &
Menzel, 1987; Daniel et al., 1998).
No Brasil pouca atenção se tem dado à eutroficação das águas
superficiais (Pellegrini, 2005). Porém em paises europeus, EUA e Canadá, desde
a primeira metade do século XX trabalhos de monitoramento estão sendo
desenvolvidos (Sim et al, 1998). Por esses e outros motivos, a maior parte dos
trabalhos relacionados à eutroficação de águas superficiais são provenientes
destes países.
No Brasil a legislação do CONAMA, 2005 estabelece que o nível crítico de
fósforo total na água é de 0,020 – 0,025; 0,030 – 0,050 e 0,050 – 0,075mg L
-1
nas
Classes 1, 2 e 3 respectivamente. Para (USEPA, 1971) o nível crítico de fósforo
total não pode exceder 0,025mg L
-1
.
Em outros paises e na maioria do meio científico utiliza-se o valor crítico
de 0,020mg L
-1
(Correll, 1998; Heckrath et al. 1995; Haygarth & Sharpley, 2000).
Em lagos na Inglaterra, onde o homem não desenvolveu atividades, a
concentração de fósforo é de 0,005 e 0,01mg L
-1
e em lagos na Itália de múltiplo
uso a concentração é de 0,01 e 0,1mg L
-1
. Assim, a concentração crítica
estabelecida para efeitos de eutroficação foi de 0,02 – 0,035mg L
-1
(Heckrath et
al., 1995).
31
2.5 Transferência de fósforo para o meio aquático
A transferência de fósforo do sistema terrestre para o ambiente aquático
ocorre principalmente por dois caminhos, escoamento superficial e percolação no
perfil. As formas de fósforo transferidas para o ambiente aquático podem ser:
solúvel (PS) e particulado (PP) (Sharpley & Halvorson, 1994; Sharpley et al.,
1995), porém o fósforo particulado encontra-se ligado aos colóides minerais e
orgânicos, caracterizando o fósforo com inorgânico e orgânico.
A metodologia usada normalmente para a separação do fósforo solúvel e
o particulado é a filtração das amostras em membranas com diâmetro de poros
inferiores a 0,45µm (Sharpley & Halvorson, 1994; Haygarth & Jarvis, 1999).
O fósforo solúvel encontra-se na forma inorgânica de ortofosfato reativo e
orgânico reativo, sendo que estas formas estão prontamente disponíveis para a
absorção dos organismos biológicos (Sharpley et al., 1995). Alguns autores usam
o termo molybidate-reative phosphorus (MRP) ou fósforo dissolvido reativo (PDR)
para referir-se ao ânion ortofosfato que reage com o molibidato de amônio e
forma cor (Murphy & Riley, 1962; Haygarth & Jarvis, 1999). Porém Lean (1973),
relata que matérias coloidais menores que 0,45µm podem superestimar o teor de
fósforo solúvel, segundo o autor esse aumento é devido ao deslocamento dos
íons de fosfato ligados aos colóides menores que 0,45µm.
O fósforo particulado encontra-se ligado à fase sólida, incluído fósforo
sorvido em partículas de solo e material orgânico erodido e esta forma representa
75 a 90% do fósforo transportado em solos cultivados (Sharpley & Halvorson,
1994; Sharpley et al., 1992). Esta forma de fósforo acumula-se nos leitos dos rios
e serve como uma fonte ou dreno. Sua disponibilidade está associada aos
processos físico-químicos de dessorção (Haygarth & Sharpley, 2000) e
normalmente sua liberação é gradual (Correll, 1998).
A utilização de análises baseadas no teor fósforo total e fósforo solúvel
reativo foram muito utilizadas (Sharpley & Halvorson, 1994), porém em muitos
casos não representam o potencial poluente, porque não representa a quantidade
de fósforo disponível. O avanço nos estudos com solo (extratores específicos
para determinar a disponibilidade dos nutrientes às plantas) fez com que
pesquisas com a disponibilidade e biodisponíbilidade dos elementos na água
32
fossem iniciadas e, com isso, tornou-se possível estimar corretamente os
impactos da agricultura sobre as águas (Haygarth & Sharpley, 2000).
A metodologia utilizada para determinar a biodisponíbilidade do fósforo
em água é complexa, mas muito semelhante a do solo, porém a terminologia
utilizada é um pouco diferenciada, isso porque se refere a uma quantidade de
fósforo disponível aos organismos aquáticos (biodisponível) (Haygarth &
Sharpley, 2000). O fósforo biodisponível é composto por grande parte do fósforo
solúvel e parte do fósforo particulado. A fração do fósforo particulado que faz
parte do biodisponível é aquela que está fracamente ligada aos colóides.
Normalmente sedimentos ricos em fósforo apresentam baixa energia de ligação,
por conseqüência disto tamponam facilmente a solução, porém sedimentos
pobres em fósforo apresentam alta energia de ligação e baixa capacidade de
dessorção, consequentemente seu potencial poluidor é menor e atuam como
dreno (Correll, 1998).
A estimativa do fósforo biodisponível por métodos utilizando algas envolve
um longo tempo de incubação (Sharpley & Halvorson, 1994), por esse motivo
métodos alternativos foram desenvolvidos para predizer o desenvolvimento dos
microorganismos. Os extratores usados para quantificar o fósforo biodisponível
são NaOH, NH
4
F, Resina de Troca Aniônica, Papel de Troca Aniônica (Sharpley &
Halvorson, 1994; Sharpley, 1995) e o fósforo total particulado é estimado
realizando a digestão da amostra com H
2
SO
4
+ H
2
O
2
.
A utilização da Resina de Troca Aniônica para estimar ou predizer o
desenvolvimento de algas foi estudado por (Uusitalo & Ekholm 2003). Neste
trabalho foram analisados 14 eventos de escoamento superficial na Finlândia.
Segundo os dados obtidos pelos autores, a relação entre o desenvolvimento de
algas e extração de fósforo pela RTA foi de 92% e o método da resina mostrou-se
eficiente para este uso. Porém, para Correll (1998), a determinação apenas do
fósforo total e do fósforo particulado não demonstra a capacidade real de
eutroficação das águas, isso porque a liberação do fósforo pode ser gradual.
Segundo este autor, a cinética de liberação de fósforo dos sedimentos pode ser
rápida (poucas horas) ou lenta (vários dias).
Neste sentido, para estimar a quantidade de fósforo que é potencialmente
disponível McDowell et al. (2001) utilizou a técnica de extrações sucessivas de
33
RTA nos sedimentos. Porém, McKean & Warren (1996); Rheinheimer, (2000);
Gatiboni (2003) adaptaram a metodologia de uso de extrações sucessivas de
RTA do solo para a utilização nos sedimentos, sendo que uma nova terminologia
foi utilizada para caracterizar esta forma de fósforo. A utilização da terminologia
de Fósforo Particulado Potencialmente Biodisponível (Pppb), pretende estimar o
potencial de dessorção de fósforo dos sedimentos durante o percurso da solução
até o leito dos rios. A partir da obtenção de curvas de dessorção pode-se obter a
quantidade máxima de fósforo dessorvido e a constante de dessorção,
predizendo assim a capacidade potencial de eutroficação das águas.
2.5.1 Transferência de fósforo por escoamento superficial
As transferências de fósforo por escoamento superficial ocorrem por
vários fatores e o principal é a água que pode transportar materiais orgânicos,
inorgânicos e partículas em suspensão. A taxa de infiltração de água no solo
juntamente com a intensidade e duração da chuva, rugosidade superficial e a
topografia são quem irão determinar a magnitude do escoamento superficial. Para
Sharpley et al. (1992), as quantidades e as formas de fósforo transferidas variam
de evento para evento pluviométrico, por causa da variação da intensidade,
duração, intervalo de tempo, estádio da cultura e grau de cobertura, entre outros.
O transporte de fósforo em superfície tem início com a degradação e
dissolução das partículas do solo e dos resíduos vegetais pela ação da água da
chuva, a qual interage com uma fina camada da superfície do solo, antes de
iniciar o escoamento superficial (Sharpley, 1985). O transporte de fósforo por
escoamento superficial pode ocorrer na forma solúvel ou ligada a fração sólida.
Em sistemas de preparo convencional (lavração e gradagem) a forma partícula é
a predominante (75-90%) e em floretas, pastagens naturais e áreas com proteção
o fósforo solúvel é predominante (Sharpley & Halvorson, 1994; Sharpley et al.,
1995).
Estudos mostram que a concentração de fósforo ligado aos colóides é
maior no sistema convencional, sendo o plantio direto eficiente na redução dessas
perdas (McDowell & McGregor 1984; Amado et al., 1989; Seta et al., 1993; Bertol
et al., 2003; Leite et al., 2004; Bertol et al., 2004). Porém, para Seta et al., (1993);
34
Yli-Halla et al., (1995); Heathwaite et al., (2000), as medidas de conservação que
reduzem a erosão do solo, não necessariamente reduzem a eutroficação, pois as
transferências de fósforo solúvel continuam altas.
A proteção física da superfície tem um papel importante na redução das
perdas de água e solo por escoamento superficial. Essa proteção da superfície do
solo (viva ou morta) ameniza o impacto da gota da chuva, evitando a
desagregação e o transporte de partículas, tendo uma maior influência sobre as
perdas de solo do que água (Alves et al., 1995). As chuvas de baixa intensidade
são tão ou mais importantes que as de alta intensidade para o transporte de
fósforo, isso devido a que grande parte do fósforo transferido pode estar
associado a colóides de pequeno tamanho (Quinton et al., 2001). Esse fato
também foi observado por Smith et al. (1992) após estudarem áreas de pastagem
onde frações mais leves, como argila e matéria orgânica coloidal, foram
transportados.
O sistema de plantio tem grande efeito sobre as transferências de
nutrientes e solo. Trabalho comparando sistemas de preparos (plantio direto,
cultivo mínimo e convencional) em cultivo de milho com adubação de 170kg ha
-1
de nitrogênio e 44kg ha
-1
de fósforo, demonstrou que as concentrações de fósforo
(PO
4
-3
) foram em 225% e 222% aumentadas no sistema plantio direto, quando
comparadas com cultivo mínimo e plantio convencional. Porém, as perdas totais
de fósforo foram aumentadas em 172% e 248% no plantio convencional
comparadas com o plantio direto e o cultivo mínimo (Seta et al., 1993). Andraski
et al. (2003), em estudo semelhante, porém utilizando aplicação de dejetos da
gado leiteiro (90 Mg ha
-1
durante três anos), constaram que a concentração total
de fósforo não foi aumentada significantemente, porém as concentrações de
fósforo solúvel e fósforo biodisponível aumentaram significantemente. No mesmo
sentido que Seta et al., (1993), Andraski, et al. (2003) demonstram que a
concentração de fósforo é aumentada, mas a quantidade de fósforo transferida é
menor no sistema de plantio direto e com o uso dos dejetos. O uso de práticas
conservacionistas associadas com a aplicação de dejetos de suínos diminui a
transferência de fósforo ligado às partículas de solo, porém aumenta o fósforo
solúvel (McDowell & McGregor, 1984; Sharpley & Halvorson, 1994; Sharpley et al.
1995; Bundy et al. 2001; Andraski et al. 2003).
35
A transferência de fósforo para o meio aquático é predominantemente via
escoamento superficial, isso está evidente em vários trabalhos na literatura
(Edwards & Daniel, 1993; Sharpley et al., 1993; Pote et al., 1996; Sharpley et al.,
1996; Ginting et al., 1998; Hodkinson et al., 2002; Andraski et al., 2003; Vietor et
al., 2004; Loboski & Lamb, 2004; Gessel et al., 2004), porém na literatura nacional
poucos são os trabalhos encontrados, podendo ser citados Basso (2003) e
Ceretta et al., (2005a).
2.5.2 Transferência de fósforo por percolação
As transferências de fósforo por percolação têm recebido pouca atenção
(Heathwaite et al., 2000; Toor et al. 2003). Comparativo ao nitrato, a mobilidade
do fósforo no solo é muito pequena, e por isso, as perdas por percolação em
solos agricultáveis são consideradas insignificantes.
O tipo de solo é um importante fator que controla a movimentação vertical
do fósforo no perfil do solo, pois dependendo desse, pode haver maior interação
entre o solo e solução que percola no perfil, aumentando assim a possibilidade de
adsorção do fósforo. A percolação de fósforo em solos com textura argilosa e com
altas concentrações de alumínio é reduzida (Sims et al., 1998). Segundo os
autores, solos com altos teores de óxidos de ferro e alumínio também favorecem
a adsorção de fósforo, com isso diminuem as transferências por percolação.
Porém, trabalho desenvolvido por Eghball et al. (1996) mostrou não haver
correlação entre o poder de adsorção de fósforo e mobilidade do fósforo no solo,
essa constatação demonstra que a forma de fósforo transportada apresenta
interação não-significativa como os sítios de adsorção de fósforo do solo, sendo
assim, o deslocamento na vertical de fósforo no solo pode ser
predominantemente por caminhos preferenciais (Beauchemin et al., 1996; Stamm
et al., 1998; Basso et al., 2005).
A transferência de fósforo no perfil muitas vezes é pequena, segundo
Sims et al. (1998); Eghball et al. (1990); Hooda et al. (1999); Basso et al. (2005),
não chegando à média de 7% do fósforo aplicado. Porém, em alguns casos, a
perda de fósforo em kg ha
-1
é baixa, mas a concentração de fósforo encontrada
em profundidade ultrapassa os limites estabelecidos na legislação. Nesse sentido,
36
Hooda et al. (1999) encontraram concentrações de 2,5 e 1,8mg L
-1
de fósforo
(moliybdato reativo) em área de pastagem natural cultivada com trevo e com três
aplicações de 50m
3
ha
-1
de dejeto.
A transferência de fósforo pode ser maior quando associada a altas doses
de fertilização mineral e com adição de resíduos orgânicos (Kao & Blanchar 1973;
Sims et al., 1998; Hountin et al., 2000). A aplicação continua de dejetos e
fertilizantes por 82 anos fez com que houvesse uma migração significativa de
fósforo disponível até as profundidades de 1,0 a 1,4m (Kao & Blanchar, 1973). No
mesmo experimento foram feitas comparações de percolação entre a aplicação
de resíduo orgânico e fertilizantes e os autores constataram que houve uma maior
percolação de fósforo associado aos resíduos orgânicos. Segundo Novais &
Smyth, (1999); Toor et al., (2003); Mozaffari & Sims, (1994) e Eghball et al.,
(1996), as formas orgânicas solúveis, como fosfato diéster, são responsáveis pela
mobilidade do fósforo no perfil do solo. Devido a essa característica, existe a
possibilidade de redistribuição do fósforo no perfil do solo e isso pode ter
implicações desfavoráveis.
A transferência de fósforo orgânico por percolação, utilizando doses de
superfosfato triplo (45kg ha
-1
de fósforo) e dejetos de bovinos leiteiros (200kg ha
-1
de N) foi estudado por Toor et al. (2003). Onde foi aplicado superfosfato, a
transferência de fósforo total não reativo foi de 0,082mg L
-1
e nos lisimetros onde
foram aplicados os dejetos bovinos a concentração de fósforo não reativo chegou
a 0,221mg L
-1
. No mesmo estudo Toor et al. (2003) analisaram quais as formas
de fósforo que estavam sendo transferidas nos lisímetros onde tinham sido
aplicado os dejetos e constataram que 88% do fósforo encontrava-se na forma
orgânica e 12% na forma inorgânica (ortofosfato). Nas formas orgânicas houve
predomínio dos monoésteres com 67,4% e diésteres com 20,2%.
No Brasil, estudos com percolação de fósforo com aplicação de dejeto de
suínos são poucos e recentes, sendo que alguns trabalhos foram desenvolvidos
por Basso (2003). Basso et al. (2005) aplicaram três doses de dejeto líquido de
suíno (20, 40 e 80m
3
ha
-1
) em Argissolo e os resultados encontrados convergem
com os dados da literatura, porém as concentrações de fósforo total encontradas
no primeiro ano de cultivo foram baixas, mas apresentam uma tendência de
aumento aos 12 e 21 dias após a aplicação do dejeto. Segundo os autores este
37
incremento pode estar relacionado ao fluxo preferencial, isto porque na dose de
40 m
3
ha
-1
esse aumento não foi observado.
Nesse sentido, tem-se duvidas sobre as formas de fósforo transferidas e
também sobre o potencial contaminante do uso continuo de dejetos líquidos de
suíno.
3 OBJETIVOS
O trabalho se propõe a verificar a possível contaminação ambiental
causada pela transferência de fósforo para o meio aquático com aplicação de
dejeto líquido de suíno no solo.
3.1 Objetivos específicos
Estudar as alterações causadas no fósforo do solo em diferentes
profundidades pela aplicação de dejeto líquido de suíno.
Avaliar as transferências de água e sedimentos via escoamento
superficial e percolação durante o crescimento de plantas de milho.
Estudar as principais formas de fósforo transferidas para o meio aquático
com aplicação de dejeto líquido de suíno.
Verificar se há risco de eutroficação causada pela transferência de fósforo
para as águas superficiais e subsuperficiais com a aplicação de dejeto líquido de
suíno.
4 MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho foi desenvolvido na área experimental do Departamento de
Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Santa Maria, RS, na região
fisiográfica da Depressão Central do Estado, em Argissolo Vermelho Distrófico
arênico, (Hapludalf) (Embrapa, 1999) com declividade média de 4%.
O clima da região é subtropical úmido, tipo Cfa 2, conforme classificação
de Köppen. As médias anuais de temperatura, precipitação e umidade relativa do
ar correspondem a 19,3ºC, 1561 mm e 82%, respectivamente. Maio, junho e
outubro são considerados os meses mais chuvosos, enquanto novembro,
dezembro e março, os menos chuvosos. Julho é considerado o mês mais frio,
com temperatura mínima média de 9,3ºC, e janeiro, o mês mais quente, com
temperatura máxima média de 31,8ºC.
O experimento foi instalado em maio de 2000, sendo que esta área já
estava sendo manejada sob plantio direto há oito anos. O delineamento
experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições e as parcelas de 4 x
3,5m, totalizando uma área útil de 14m
2
. As características químicas do solo antes
da implantação do experimento são mostradas na Tabela 4 e as características
granulométricas são mostradas na Tabela 5.
Tabela 4- Características químicas do solo na profundidade de 0 - 10cm antes da
instalação do experimento.
CTC Textura Argila
pH-
H2O
Índice
P
(1)
K
(1)
M.O.
(1)
Al
Ca Mg H+Al
Efetiva pH7
g kg
-1
1:1 SMP mg L
-1
mg L
-1
g kg
-1
mg L
-1
cmol
c
L
-1
3 240 4,7 5,5 15,0 96,0 16 0,8 2,7 1,1 5,6 4,8 9,6
Adaptado: Basso, (2003).
(1)
Os teores de fósforo e potássio são considerados médio e alto,
respectivamente, conforme recomendação CQFS-RS/SC (2004).
Tabela 5- Análise textural do solo nos diferentes horizontes na área experimental.
Horizontes do
solo
Argila Silte Areia
total
Areia
fina
Areia
grossa
--------------------------------------------- g kg
-1
----------------------------------------
Ap 170 300 530 266 196
A 170 340 490 276 184
AB 210 340 450 274 193
Bt 290 370 340 252 125
40
As doses utilizadas no experimento foram de 0, 20, 40 e 80m
3
ha
-1
de
dejetos. Durante os cinco anos de condução as doses foram aplicadas em
superfície com auxilio de regadores, antes da implantação de cada uma das
culturas e coletada amostra do dejeto e analisada no laboratório de química e
fertilidade do solo da UFSM. Porém para esse estudo foram utilizadas as doses 0,
40 e 80m
3
ha
-1
.
A análise de pH do dejeto foi realizada logo após a coleta do material “in
natura” (fração líquida + pastosa). Para as determinações dos teores de nutrientes
do dejeto “in natura”, houve a necessidade de uma separação das frações
líquidas e pastosas, seguindo o proposto por Scherer et al. (1996). Para isso,
aproximadamente 50 gramas de dejeto foram centrifugadas durante 20 minutos a
2500 rpm, obtendo-se as frações líquida e pastosa. Esse procedimento é
necessário para calcular a proporção de ambas as frações que deverão ser
observadas durante a pesagem das amostras para avaliação de nutrientes,
reconstituindo-se assim as duas frações originalmente presentes no dejeto. O
fósforo total foi obtido com a digestão das amostras na presença de ácido
sulfúrico concentrado e de uma mistura de digestão (Na
2
SO
4
+ CuSO
4
. 5H
2
O),
conforme descrito em Tedesco et al. (1995). As análises de fósforo total na base
seca foram feitas após a secagem do dejeto em estufa a 65ºC até obter matéria
constante, onde então realizou-se a digestão de 0,2g de amostra conforme
descrito em Tedesco et al. (1995). Algumas características dos dejetos aplicados
no experimento encontram-se na Tabela 6.
A sucessão cultural implantada no experimento foi a seguinte: aveia
preta/milho/nabo forrageiro (2000/2001), aveia preta/milho/nabo forrageiro
(2001/2002), aveia preta/milheto/feijão (2002/2003), aveia preta+ervilhaca/milho
(2003/2004) e aveia preta+ervilhaca/milho (2004/2005). A produção de matéria
seca da parte aérea das culturas durante o período experimental encontra-se na
Tabela 7, para maiores esclarecimentos sobre a sucessão cultural consultar
Basso (2003).
A cultura do milho de 2004/2005 foi semeada no dia 27 de outubro de
2004, em um espaçamento de 0,70m entre linha e 7 a 8 sementes por metro
linear. Posteriormente, foi realizado um desbaste deixando-se de quatro a cinco
41
plantas por metro linear, perfazendo uma população aproximada de 60.000
plantas por hectare.
Tabela 6- Teor de Matéria seca, nitrogênio e fósforo dos dejetos líquidos de
suínos e quantidade de fósforo aplicada em cada tratamento.
Características dos dejetos Doses m
3
ha
-1
Ano
Agrícola
Culturas
M.S N total
(a)
P total
(b)
20
(c)
40 80
-------------------% ------------------- Total de P aplicado kg ha
-1
2000/2001 Aveia preta 1,9 0,10 2,40 9,0 18,0 36,0
Milho 9,9 0,70 2,10 42 84,0 168,0
Nabo forrageiro 0,8 0,10 4,10 3,4 6,8 13,6
2001/2002 Aveia preta 1,1 0,10 1,50 3,3 6,6 13,2
Milho 3,7 0,20 1,60 12,0 24,0 48,0
Nabo forrageiro 1,2 0,20 1,30 3,1 6,2 12,4
2002/2003 Aveia preta 0,47 0,017 2,12 1,99 3,99 7,99
Milheto 6,68 0,324 1,18 15,79 31,59 63,19
Feijão 4,8 0,26 2,94 28,34 56,68 113,37
2003/2004 Aveia+ervilhaca 2,3 0,28 3,39 16,10 32,21 64,42
Milho 2,0 0,40 3,31 13,73 27,46 54,93
2004/2005 Aveia+ervilhaca 1,0 0,05 4,19 8,39 16,78 33,57
Total de fósforo aplicado em 4,5 anos 235,15 310,32 628,67
Milho 7,2 0,39 5,55 79,96 159,93 319,86
Total de fósforo aplicado em 5 anos 315,11 470,25 948,53
(a)
Nitrogênio total, análise e cálculos em base úmida.
(b)
Fósforo total, análise e cálculos em base
seca.
(c)
Foi incluída a dose 20m
3
ha
-1
para oferecer mais informações uma vez que é uma dose
usual.
42
Tabela 7- Produção de matéria seca da parte aérea das culturas.
Culturas Dose de dejeto m
3
ha
-1
Ano
Agrícola
0 20
(a)
40 80
Produção de matéria seca Mg ha
-1
2000/2001 Aveia preta 1,90 3,99 5,10 5,91
Milho 3,56 7,73 12,50 13,50
Nabo forrageiro 0,94 1,88 2,42 3,56
2001/2002 Aveia preta 2,70 4,22 4,81 6,32
Milho 1,94 3,00 4,80 6,00
Nabo forrageiro 0,80 1,04 1,72 3,12
2002/2003 Aveia preta 1,82 1,97 2,93 3,18
Milheto 9,00 10,90 10,00 23,40
Feijão 0,68 1,38 2,20 3,07
2003/2004 Aveia+ervilhaca 4,71 7,94 8,28 13,51
Milho 6,56 8,94 10,69 12,12
2004/2005 Aveia+ervilhaca 2,4 3,48 3,68 4,48
Milho 5,13 8,04 10,92 15,08
Total dos 5 anos
42,14 64,51 80,05 113,25
(a)
Foi incluída a dose 20m
3
ha
-1
para oferecer mais informações uma vez que é uma dose usual.
4.1 Coleta de solo e análise
O solo foi coletado no ano agrícola de 2004/2005 antes da implantação da
cultura do milho. Foram coletadas amostras nas camadas de 0 a 2,5cm; 2,5 a
5cm; 5 a 7,5cm; 7,5 a 10cm; 10 a 15cm; 15 a 30cm e 30 a 60cm de profundidade,
sendo coletado aproximadamente 400 gramas de solo em cada profundidade. As
coletas foram realizadas com auxilio de uma pá-de-corte até 20cm de
profundidade e a partir deste ponto realizaram-se as coletas com o auxilio de um
trado holandês. O solo foi seco em estufa a 65ºC e posteriormente foi destorroado
com auxilio de um rolo e peneirado a 2mm, correspondendo a terra fina seca ao
ar (TFSA).
O fósforo foi extraído pelo método por Mehlich-1 CQFS-RS/SC (2004),
que é composto por uma mistura de ácido clorídrico (0,05mol L
-1
) e ácido sulfúrico
(0,0125mol L
-1
), sendo que o teor obtido representa o fósforo na solução e o
fósforo adsorvido aos colóides com energia passível de dessorção pelo duplo
ácido (CQFS-RS/SC, 2004).
43
Procedeu-se a extração do fósforo do solo pesando uma grama de solo,
que foi colocada em tubos de ensaio e onde se adicionou 10ml da solução
extratora de Melhich-1. Após, as amostras foram agitadas por 5 minutos e
deixadas em repouso durante 16 horas, qunado foi retirado uma alíquota para
posterior determinação, conforme o método de (Murphy & Riley 1962).
4.1.1 Curva de sorção de fósforo
As curvas de sorção de fósforo foram realizadas nas amostras de solo de
0 a 2,5cm e 30 a 60cm de profundidade. A escolha destas profundidades foi
devido a relação com a transferência de fósforo por escoamento superficial e
percolação, sendo que os lisímetros estão colocados a 60cm de profundidade.
Para essas análises foi pesada uma grama de solo, que foi colocada em tubos de
ensaio, e onde foi adicionado 10ml de CaCl
2
0,001mol L
-1
contendo doze
concentrações de fósforo (0; 0,78; 1,56; 3,13; 6,25; 12,5; 25; 50; 100; 200; 300 e
400mg L
-1
), que corresponde ao equivalente a 0; 7,8; 15,6; 31,3; 62,5; 125; 250;
500; 1000; 2000; 3000 e 4000mg kg
-1
de solo, respectivamente. As amostras
foram agitadas por 16 horas a uma temperatura de ±25ºC em agitador tipo sem
fim a 33rpm, centrifugadas a 2500rpm por 10 minutos e onde no sobrenadante foi
determinado o fósforo conforme o método de (Murphy & Riley 1962). O fósforo
sorvido foi estimado pela diferença entre a quantidade adicionada e a quantidade
determinada na solução. Posteriormente os dados foram ajustados pelo modelo
de Langmuir, descrito por Barrow (1983) e que é baseada na presença de um
único tipo de sítio de adsorção e com a mesma energia.
k*Psolução
*Psoluçãok*P
Psorvido
+
=
1
max
onde, Pmax = capacidade máxima de sorção de fósforo; k = constante
relacionada a energia de sorção e Psolução = concentração de fósforo na solução.
A concentração de equilíbrio de fósforo (CEP) foi obtida pelo ajuste dos
dados pelo modelo de Langmuir modificado por Koski-Vähälä & Hartikainem
(2001). Esses autores introduziram a quantidade de fósforo dessorvido em água
destilada (Qo). Visualmente representada pelo ponto da intersecção no eixo das
ordenadas e CEP a intersecção no eixo x.
44
PsoluçãoK
Qo*PsoluçãoP
Psorvido
+
=
max
4.2 Análise da solução escoada e percolada.
A solução escoada superficialmente foi coletada através da instalação,
em cada parcela, de uma armação metálica com 0,75m de comprimento e 0,50m
de largura, onde em uma das extremidades há uma calha coletora conectada
através de uma mangueira a um recipiente de armazenamento com capacidade
de 23 litros.
Após cada evento (chuva ou irrigação) a solução escoada era
quantificada e uma alíquota era levada para o laboratório para análise. As
amostras para avaliar o escoamento superficial foram coletadas em três eventos
pluviométricos durante o crescimento da cultura do milho (2004/2005),
correspondendo aos 9; 83 e 160 dias após a aplicação do dejeto.
O dejeto foi distribuído no dia 26 outubro de 2004, no dia seguinte foi feita
a semeadura do milho e, 9 dias após, foi realizada a primeira coleta, sendo que o
solo encontrava-se com cobertura de aveia+ervilhaca, cultivadas anteriormente ao
milho. Aos 83 dias a cultura do milho encontrava-se em pleno florescimento e o
volume pluviométrico foi semelhante ao primeiro. No último evento (160 dias após
a aplicação do dejeto) a cultura do milho encontrava-se em senescência. Na
Figura 1 é mostrada a quantidade de chuva e irrigação ocorridas durante o
período experimental. É importante salientar que na safra 2004/2005 houve uma
estiagem severa, por isso usou-se irrigação por micro aspersão no experimento.
Os micro aspersores apresentam uma vazão máxima de irrigação de 7,6mm h
-1
.
A coleta da solução percolada foi realizada com o uso de lisímetros com
dimensões de 0,40m de largura e 0,60m de comprimento, construídos de chapas
de PVC de 4mm de espessura e de mangueiras a favorecer o fluxo de água para
o recipiente coletor com capacidade de 5 litros (Figura 2a). Foram instalados dois
lisímetros por parcela, com intuito de diminuir a variabilidade de coleta, por isso,
cada repetição dos resultados representa a média dos dois lisímetros. Esse tipo
de estrutura para coleta da solução do solo oferece potencialmente uma medida
mais real do transporte de solutos no perfil do solo, por que não envolve paredes
que poderiam criar fluxos preferenciais, além de trabalhar em condições de
45
estrutura de solo não deformada, amostrando-se a solução que é conduzida
através do espaço poroso (Basso, 2003). Para maiores esclarecimentos sobre a
instalação e confecção dos lisímetros consultar (Basso 2003 e Jemison & Fox
1994).
A retirada da solução do solo do coletor era feita por sucção utilizando-se
bomba de vácuo (Figura 2b). Após a medida do volume, as amostras de cada
lisímetro eram homogeneizadas e uma alíquota da amostra era levada ao
laboratório para análise.
As amostras para avaliar a percolação foram coletadas em três eventos
pluviométricos durante o crescimento da cultura do milho (2004/2005),
correspondendo aos 9; 79 e 160 dias após a aplicação do dejeto. Sendo que aos
79 dia após aplicação do dejeto foi simulado uma chuva de 24h, para que
ocorresse o fenômeno de percolação.
46
Outubro 2004
9 1013161719242831
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Precipitação
Novembro 2004
3 4 5 9 10 11 16 27 28 29
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Precipitação
Irrigação
Dezembro 2004
2 4 6 16182025
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Irrigação
Precipitação
Janeiro 2005
4 6 10 11 12 15 16 21 23 25 27 29
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Irrigação
Precipitação
Fevereiro 2005
1235111213161923252728
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Irrigação
Precipitação
Março 2005
6 13141522232430
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Precipita
Irrigação
Abril 2005
1 2 3 6 7 8 9 1012131415192025
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Precipitação
Figura 1- Precipitações ocorridas e irrigações realizadas durante o período de
outubro de 2004 a abril de 2005. Dados obtidos na Estação Meteorológica da
Universidade Federal de Santa Maria.
Precipitação - mm
Dias
47
Lisímetro
Í Coletor da
solução do solo (5
litros)
ÍAcesso ao coletor para
extração da solução do solo
com bomba de vácuo
60 cm
3,0 cm
3,2 cm
60 cm
40 cm
4,5 cm
7,0 cm
(a) (b)
Figura 2- Desenho do lisímetro (a) e esquema da instalação dos lisímetros (b)
para coleta da solução percolada no solo.
4.3 Análises da solução escoada e percolada
4.3.1 Transferência de sedimento e água
Após a coleta de solução escoada e percolada as amostras eram
encaminhadas para o laboratório de química de solo para proceder às devidas
análises.
A determinação da quantidade de sedimento transferida por escoamento
superficial era realizada secando uma alíquota de 100ml de amostra
homogeneizada. Os 100ml da suspensão água + sedimentos eram colocados em
tubos de snap-cap, pesados e colocados em estufa a 65ºC até atingir matéria
constante, que ocorreu após aproximadamente 72h. Para estas análises utilizou-
se quatro repetições a campo e duas laboratoriais, sendo que, em alguns eventos
pluviométricos de baixo volume realizou-se apenas as repetições de campo.
4.3.2 Fracionamento físico e químico do fósforo inorgânico nas amostras de
escoado e percolado.
O fracionamento físico e químico utilizado baseou-se na metodologia
empregada por Sharpley et al. (1995) e Haygarth et al. (1998), acrescido das
adaptações no fracionamento químico do fósforo no solo, feitas por (Rheinheimer
48
2000; Gatiboni 2003; Pellegrini, 2004). A descrição da técnica e das adaptações
efetuadas encontram-se na Figura 3.
4.3.2.1 Fósforo Solúvel (Ps)
A estimativa do teor de fósforo solúvel foi realizada logo após a chegada
das amostras no laboratório. As amostras foram homogeneizadas e retirada uma
alíquota de 40 a 50mL para realizar a filtração. As membranas de celulose usadas
continham poros de 0,45μm de diâmetro (HAWP 04700). O fósforo foi
determinado nas amostras filtradas através do método descrito por (Murphy &
Riley 1962).
4.3.2.2 Fósforo total (Ptot)
O fósforo total foi determinado usando uma digestão ácida (H
2
SO
4
+
H
2
O
2
) na presença de MgCl
2
saturado conforme (Brookes & Polwson, 1982). Uma
alíquota de 15ml de água+sedimento foram colocadas em tubos de digestão com
1ml de MgCl
2
saturado mais 3ml de ácido sulfúrico concentrado (H
2
SO
4
) e
aquecidos a 110ºC por 1,5 hora. Após esse aquecimento adicionou-se 1ml de
água oxigenada (H
2
O
2
) permanecendo por 2 horas à temperatura de 130ºC.
Determinou-se os teores de fósforo pelo método de (Murphy & Riley 1962).
49
Figura 3- Esquema demonstrando os procedimentos do fracionamento físico-
químico de fósforo nas amostras de solução escoada e percolada adaptado
(Pellegrini, 2004).
4.3.2.3 Fósforo Particulado Biodisponível (Ppb)
O fósforo particulado biodisponível foi estimado com uma extração de
resina trocadora de ânions (RTA). Para realizar esta extração foi utilizado RTA
(placas AR 103 QDR 434) e os procedimentos de extração e determinação do
fósforo estão descritos abaixo. Uma alíquota de 10mL de água + sedimento
(homogeneizada) foi colocada em tubos de ensaio com tampa sob pressão, onde
colocou-se uma RTA saturada com NaHCO
3
0,5mol L
-1
. Os tubos contendo a
solução + resina foram agitados por 16 horas, em agitador sem fim (tipo end-
oven-end), a 33 rpm e temperatura de ±25ºC. Após o tempo de agitação as
resinas foram colocadas em tubos de ensaio contento 10mL de HCl 0,5mol L
-1
onde permaneciam por 90 minutos sem a presença de tampa e posteriormente
eram tampados e agitados por 30 minutos em um agitador horizontal para liberar
Água
+
Sedimento
Filtrado
0,45μm
Fósforo Particulado Biodisponível – Ppb
Fósforo Particulado Potencialmente Biodisponível – Pppb
Fósforo Total – Ptot
Fósforo Solúvel – Ps
FRACIONAMENTO FÍSICO-QUÍMICO
Fósforo Particulado não Biodisponível – Ppnbd = Pp - Pppb
Ppnbd = Pp – Ppb (percolado)
Fósforo Biodisponível – Pbd = Ppb + Ps
Fósforo Particulado – Pp = Ptot - Ps
50
o fósforo extraído da amostra. As resinas eram retiradas da solução de HCL
0,5mol L
-1
e recuperadas conforme Miola (1995). A determinação de fósforo foi
realizada na solução de HCL 0,5mol L
-1
, conforme metodologia descrita por
(Murphy & Riley 1962).
4.3.2.4 Fósforo Particulado Potencialmente Biodisponível – Pppb
O Pppd foi estimado na solução percolada e escoada em dois eventos, ou
seja, aos 9 e 160 dias após aplicação do dejeto. O procedimento consiste de três
extrações diárias sucessivas usando RTA conforme Rheinheimer (2000). Os
dados de fósforo dessorvido foram Após ajustou-se a equação de cinética de
primeira ordem proposta por Mckean & Warren (1995):
Pdesorvido= β-( β- α)e
-қt
, onde β é o fósforo particulado potencialmente
disponível, α o fósforo biodisponível particulado, қ é a taxa de dessorção
constante de fósforo e t é o tempo de extração em 24 horas.
Na solução de percolado o fósforo particulado potencialmente
biodisponível foi considerado igual ao fósforo particulado biodisponível, isto
devido às baixas concentrações de fósforo encontradas e também devido à
concentração de fósforo ser zerada com a primeira extração de resina.
4.4 Analise estatística
Os resultados de fósforo no solo foram submetidos à analise de variância,
sendo as variáveis analisadas como bifatorial (concentração de fósforo extraído
por Mehlich-1 em cada profundidade X dose de dejeto) e as médias comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. A falta de controle de algumas
variáveis envolvidas como o volume e intervalo das precipitações não satisfazem
o critério estatístico. Por isso, se optou em realizar a média e o desvio padrão das
concentrações de fósforo no escoado e no percolado.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Fósforo no solo
Os teores de fósforo disponíveis nos Argissolos com horizonte A arenoso
em condição natural de campo nativo variam de 1,0 a 3,0mg kg
-1
Gatiboni (2003),
sendo menor ainda no horizonte Bt. Onde não foi aplicado dejeto, os teores de
fósforo extraídos por Mehlich-1 do solo da camada 0–10cm eram de 15mg kg
-1
no
início do experimento (Tabela 4), indicando que esse solo estava recebendo
doses adequadas de fósforo, pois o nível crítico estabelecido pela CQFS-RS/SC
(2004) é de 12mg kg
-1
. Como esse solo foi cultivado por vários anos sob cultivo
convencional, os teores de fósforo são relativamente homogêneos até 20cm e
abaixo dessa profundidade, os níveis estão próximos ao solo natural (Figura 4).
Contudo, o cultivo durante 4 anos e meio sem aplicação de dejetos fez com que
os teores de fósforo disponível na camada de 0-10cm diminuíssem para 10mg kg
-
1
, representando uma produção de 37Mg ha
-1
de matéria seca (Tabela 7). Essa
diminuição é devida principalmente a exportação através das culturas e as
transferência por escoamento, enquanto que seu teor no solo foi mantido,
provavelmente pelo processo de mineralização do solo.
A capacidade máxima de adsorção (CMAP) e fósforo foi de 311 e 405mg
kg
-1
no solo nas camadas superficiais (0-2,5cm) e subsuperficiais (30 – 60cm),
respectivamente (Figuras 5, 6 e tabela 8). Estes valores estão coerentes aos
encontrados por Rheinheimer (2000), num argissolo semelhante ao do presente
estudo e submetido ao sistema de plantio direto para o qual o autor estimou em
338mg dm
3
a CMAP do solo da camada de 0-2,5cm. A menor CMAP do solo na
camada superficial é função de adições prévias de fósforo que paulatinamente vai
saturando os sítios de maior avidez por fosfatos (Rheinheimer 2000), aos
menores teores de argila e provavelmente a presença de óxidos de ferro (Parfitt et
al., 1978), aos maiores teores de matéria orgânica, cujo os grupos funcionais
orgânicos podem competir com o fosfato pelos sítios de adsorção dos óxidos e
arestas quebradas das argilas 1:1 (Sibanda & Yong, 1986; Almeida et al., 2003).
Embora a equação de Langmuir seja limitada pelo fato de considerar a presença
52
de apenas um sítio de adsorção, os parâmetros como constante relacionada a
energia de ligação de fósforo ao solo (k), quantidade de fósforo dessorvido com
água destilada (Qo) e concentração de equilíbrio de fósforo no solo (CEP) são
melhores indicadores da dinâmica do fósforo sob o ponto de vista ambiental do
que a CMAP, pois ambas estão relacionadas à manutenção da concentração de
fósforo em solução e, conseqüentemente, a da água que sai do sistema solo.
A constante média relacionada a energia de ligação do fosfato aos sítios
de adsorção é aproximadamente 10 vezes maior na camada de 0-2,5cm
comparativamente ao solo na camada de 30 – 60cm (0,05 e 0,50 L mg
-1
,
respectivamente). A quantidade de fósforo extraído com água é 2,5 vezes maior
(3,49 e 1,32 mg L
-1
) e a concentração de equilíbrio de fósforo é 33 vezes maior
(0,199 e 0,006 mg L
-1
) na camada de 0–2,5cm em relação a de 30-60cm (Tabela
8). Esses resultados confirmam a hipótese que o fósforo reage rapidamente com
grande energia de adsorção nas proximidades do local de aplicação. No caso da
aplicação de fósforo a lanço na superfície do solo ou mesmo na semeadura e
adoção do sistema plantio direto, os teores de fósforo disponíveis do solo dessa
camada aumentam bruscamente e os parâmetros de dessorção tornam-se
favoráveis à transferência desse elemento para os mananciais de água, sendo
muito mais problema ambiental do que uma alternativa produtivista (Rheinheimer
2000, Durigon et al. 2002; Ceretta et al. 2003).
A aplicação continua de doses de dejeto líquido de suínos durante um
período de 4 anos e meio com doses de 40 e 80m
3
ha
-1
significou a adição de
aproximadamente 480 e 960m
3
ha
-1
, correspondendo a 310 e 618kg de fosfato
por ha
-1
, sendo que todas as doses foram aplicadas em superfície, devido isso os
teores de fósforo extraído por Mehlich-1 atingiram valores extremamente altos
(Figura 4).
53
Fósforo em solo mg kg
-1
0 102030405060708090100110120130140150
Profundidade - cm
0
4
8
12
16
20
24
28
32
36
40
44
48
Testemunha
480m
3
ha
-1
= 310kg P ha
-1
960m
3
ha
-1
= 628kg P ha
-1
DMS (p<0,05)
Figura 4- Fósforo extraído por Mehlich-1 em profundidades de solo com e sem
aplicação de dejeto líquido de suíno, durante 4 anos e meio.
A aplicação acumulada de 460 e 960m
3
ha
-1
totalizou 310 e 628kg de
fosfato ha
-1
nos 4 anos e meio, resultando no aumento de 13mg kg
-1
, que era a
dose inicial, para 71 e 140mg kg
-1
na camada de 0 a 2,5cm, respectivamente,
significando aumentos de 446 e 976%.
O acúmulo de fósforo no solo está relacionado com a quantidade de
fósforo adicionada ao solo através dos dejetos, do tipo de solo, transferências e
as exportações das culturas (Ceretta et al., 2003). Por isso os incrementos de
fósforo no solo são tão variáveis e os porcentuais de incrementos no solo podem
ser semelhantes ao desse trabalho mesmo com a aplicação contínua de dejetos
de bovinos em cultivos sucessivos de milho por 111 anos, quando os teores de
fósforo inorgânico e orgânico lábil acrescidos do moderadamente lábil (pelo
fracionamento de Hedley et al. (1982) aumentaram no solo em 844% e 222%,
respectivamente na camada de 0-20cm e cujo aumento foi menor quando
utilizada a rotação de culturas milho-trigo-trevo vermelho (Motavalli & Miles,
2002). Por usa vez, Ceretta et al. (2003), encontraram incrementos de 3.943 e
54
6.710% no fósforo do solo extraído por Mehlich-1 na camada de 0-10cm,
aplicando doses acumuladas de 560 e 1120m
3
ha
-1
em um período de 48 meses.
Os incrementos foram maiores na superfície pela capacidade do fósforo
em interagir, especialmente com a fração mineral, e isso justifica a diminuição
drástica do fósforo com a profundidade onde foi aplicado dejeto (Figura 4). O teor
de fósforo foi maior com quando o acumulado foi de 960m
3
ha
-1
(628kg de P ha
-1
),
em todas as profundidades, em relação a onde não foi aplicado dejeto, mas o fato
de não ter havido diferença estatística no teor de fósforo entre o acumulado de
960 e 480m
3
ha
-1
(628kg e 310kg de P ha
-1
), na camada de 15-30cm, pode estar
relacionado com a variação na coleta e também devido a transição de horizontes
entre A1 e A2.
A migração de fósforo é observada em todas as profundidades onde
foram aplicadas as quantidades acumuladas de 480 e 960m
3
ha
-1
, mas até 15cm
fica evidente o maior acúmulo de fósforo com o uso de 960m
3
ha
-1
, pois com
480m
3
ha
-1
o teor no solo foi praticamente a metade. Os teores indicam que o
fósforo aplicado com os 480 e 960m
3
ha
-1
, acumulados durante os 4 anos e meio,
supre as exigências das culturas, conforme CQFS-RS/SC (2004) e a quantidade
excedente aplicada com dejetos vai acumulando no solo. A continuidade das
aplicações de dejeto líquido de suíno nesta área provavelmente elevará cada vez
mais os teores de fósforo no solo, bastando para isso observar que com uma
quantidade acumulada de 560m
3
ha
-1
, durante 4 anos, Ceretta et al. (2003)
obtiveram 1664 mg dm
3
de fósforo disponível em solo na camada de 0 - 2,5cm em
área de pastagem natural, sobre a qual Durigon et al. (2002) relatam que a
quantidade de fósforo absorvida pelas plantas da pastagem natural é muito
pequena em relação à aplicada pelo dejeto, tanto que o máximo que encontraram
do P acumulado em plantas de pastagem natural foi de 8,1% do total de P
aplicado com uma quantidade acumulada de dejeto de suíno de 560m
3
ha
-1
,
durante 4 anos e isso justificaria o acúmulo no solo no presente trabalho.
A média ponderada de fósforo extraído na camada de 0-10cm foi de 41,3
e 77,0mg kg
-1
nos volumes acumulados de 480 e 960m
3
ha
-1
, respectivamente,
atingindo valores extremamente altos de fósforo disponível no solo, pois teores
acima de 24 mg dm
3
são considerados altos para esta condição de textura de solo
(CQFS-RS/SC, 2004).
55
No estado de Delaware nos EUA, teores acima de 120mg kg
-1
de fósforo
extraído por Mehlich-1 são considerados como teores críticos de fósforo em solo,
sendo que, não é recomendado aplicar fósforo de qualquer origem até que seus
teores diminuam significativamente (Sharpley et al.,1996). Porém, Sharpley &
Halvorson (1994), atestam que valores entre 50 a 120mg kg
-1
são considerados
muito altos, independentemente da cultura. No estado de Wisconsin, onde a
aplicação de dejetos é mais freqüente, a metodologia prática utilizada para
restringir ou diminuir o uso de dejetos é o teste do teor de fósforo no solo pelo
extrator Bray-1. Quando atingir 75mg kg
-1
é recomendado reduzir a aplicação de
dejetos e realizar rotação com plantas exigentes em fósforo, porém quando o teor
ultrapassar 150mg kg
-1
, não se deve utilizar qualquer fonte de fósforo e deve-se
suspender a aplicação de dejetos (Sharpley et al.,1996).
Os teores de fósforo extraído por Mehlich-1 na profundidade de 30 - 60cm
na dose 0 foi de 1,4mg kg
-1
a 2,0 e 2,7mg kg
-1
com as quantidades acumuladas
de 480 e 960m
3
ha
-1
, respectivamente, o que representa um aumento significativo
de 42 e 99% (Figura 4). No aspecto agronômico este aumento não é
considerável, isto por que os valores extraídos são muito inferiores ao
estabelecido pela CQFS-RS/SC (2004) para a nutrição de plantas. Porém
ambientalmente este aumento pode representar um maior risco de contaminação.
Em solo semelhante, Ceretta et al. (2003), também constataram um aumento
significativo de fósforo disponível na profundidade de 20 - 40cm após quatro anos
com aplicação de dejeto líquido de suíno em área sob pastagem natural. No
Canadá em solos Glei a aplicação de 30, 60, 90 e 120m
3
ha
-1
ano de dejeto
líquido de suíno por um período de 14 anos também aumentou o teor de fósforo
lábil e moderadamente lábil pelo fracionamento Hedley et al. (1982) nas
profundidades de 0 -100cm (Hountin et al., 2000).
A aplicação de dejetos de suínos em quantidades equivalentes a 310 e
628kg de P ha
-1
atenuou a curvatura da isoterma de adsorção do solo comparado
com o solo onde não foi aplicado dejeto (Figuras 5 e 6). Esse comportamento está
de acordo com a maioria dos trabalhos publicados, especialmente com aquele de
Barrow et al. (1998), onde adições subseqüentes de fósforo tenderam a diminuir a
curvatura das isotermas de sorção. A saturação paulatina dos sítios de adsorção
em fosfato altera o comportamento físico-químico dos colóides inorgânicos e da
56
solução do solo e, consequentemente, o solo não é mais o mesmo (Barrow, 1999)
e até pode-se considerar que não houve reaplicação de dejetos suínos nas
mesmas parcelas, mas que após cada aplicação, o solo atingiu um novo
equilíbrio, favorável à maior disponibilidade de fósforo aos organismos e
enriquecendo a água que sai do solo rumo aos mananciais de água superficiais.
Fósforo na solução mg L
-1
0 20406080100
Fósforo sorvido - mg kg
-1
-50
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Testemunha
480m
3
ha
-1
= 310kg P ha
-1
960m
3
ha
-1
= 628kg P ha
-1
0,00 0,80 1,60 2,40 3,20 4,00
-40
-30
-20
-10
0
10
Qo
CEP
Figura 5- Relação entre o fósforo sorvido e o fósforo na solução do solo na
camada 0-2,5cm com aplicação de dejeto líquido de suíno, durante de 4 anos e
meio. Em detalhe mostrando concentração de equilíbrio de fósforo (CEP) e
quantidade de fósforo desorvido com água (Qo).
O aumento no teor de fósforo na camada superficial do solo com
aplicação de dejeto líquido de suíno alterou o comportamento da curva
relacionando o fósforo na solução com o fósforo sorvido. Na de camada de 0 –
2,5cm sem aplicação de dejeto líquido de suíno a inclinação da curva com relação
ao fósforo sorvido é menor que nas doses de dejeto suíno. Isso é, devido a
afinidade entre adsorvente e absorvato, já que onde não foi aplicado dejeto existe
menor quantidade de fósforo previamente adsorvido, apresenta maior energia de
ligação, comparado com as situações onde houve aplicação de dejeto.
57
Fósforo na solução mg L
-1
0 20406080100
Fósforo sorvido - mg kg
-1
-50
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Testemunha
480m
3
ha
-1
= 310kg P ha
-1
960m
3
ha
-1
= 628kg P ha
-1
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020
-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
Qo
CEP
Figura 6- Relação entre o fósforo sorvido e o fósforo na solução do solo na
camada 30-60cm com aplicação de dejeto líquido de suíno, durante 4 anos e
meio. Em detalhe mostrando concentração de equilíbrio de fósforo (CEP) e
quantidade de fósforo desorvido com água (Qo).
As capacidades máximas de sorção de fósforo do solo na camada de 0 -
2,5cm foram de 264 e 193mg kg
-1
solo para a aplicação de 480 e 960m
3
ha
-1
,
respectivamente, correspondendo a 1553 e 1135mg kg
-1
de argila,
respectivamente. Comparando-se com o solo que não recebeu dejeto, houve uma
diminuição da capacidade máxima de sorção de fósforo de 15 e 38% na camada
de 0-2,5cm para as duas quantidades de dejeto utilizadas. A saturação dos sítios
de adsorção foi menor na camada de 30-60cm, representando apenas 8 e 10%,
cuja a capacidade máxima de adsorção foram de 373 e 365 mg kg
-1
de solo.
Esses resultados mostram que, independente forma de P aplicado, a capacidade
máxima de adsorção de fósforo diminui e o grau de saturação de fósforo no solo
aumenta, quando as entradas superam as saídas do sistema solo. (Sharpley
1995; Sharpley et al., 1996; Pote et al., 1996; Nair et al., 1998; Sims et al., 1998;
Daniel et al., 1998; Pote et al., 1999; Pautler & Sims 2000; Loboski & Lamb,
2004).
58
Vários autores desenvolveram trabalhos tentando estabelecer o índice
crítico de saturação de fósforo no solo, que está baseado na capacidade máxima
de adsorção de um solo virgem ou que não recebeu aplicação de dejetos. As
metodologias utilizadas pelos autores são diferenciadas, porém existe um
consenso de que o nível crítico de saturação esteja entre 20 e 25%. Na Holanda e
alguns estados dos EUA o índice crítico de saturação de fósforo no solo foi
estabelecido em 25% (Sharpley et al., 1996). Deve-se considerar que este valor
está correlacionado também com os teores de fósforo disponível no solo por um
determinado extrator e a quantidade de fósforo transferida por escoamento
superficial.
Quanto maior a dose de dejeto aplicada menor foi a capacidade máxima
de adsorção em ambas as camadas estudadas. O aumento no volume acumulado
de 310 para 960m
3
ha
-1
resultou numa diminuição de 1,3 vez na capacidade
máxima de adsorção de fósforo na camada de 0-2,5cm, enquanto que o acúmulo
de fósforo extraído por Mehlich-1 na mesma camada foi o dobro. Isso demonstra
que onde a quantidade acumulada de dejeto aplicada foi 960m
3
ha
-1
,
os sítios de
maior avidez já estão saturados com fósforo previamente sorvido, potencializando
assim as transferências por escoamento superficial.
A diminuição na avidez de adsorção de fósforo pode ser observada pela
diminuição da energia de ligação (k) (Tabela 8), que apresenta o mesmo
comportamento em relação a capacidade máxima de adsorção de fósforo, onde
diminui com a aplicação de dejeto líquido de suíno em ambas as camadas. A
diminuição da constante relacionada a energia de ligação do fósforo ao
absorvente é 1,5 e 1,4 vez menor com aplicação acumulada de 960 m
3
ha
-1
na
camada de 0-2,5cm e na camada de 30-60cm, respectivamente. Esta constatação
também foi feita por Loboski & Lamb (2004) estudando 15 solos diferentes com
aplicação de dejetos em Minnesota, onde constataram uma diminuição na
concentração de fósforo extraído em água com o aumento na energia de ligação
do fósforo ao solo. Para os autores o índice crítico relacionado a energia de
ligação do fósforo ao solo é de 0,178L mg
-1
, este valor de energia de ligação
corresponde a liberação de 1,0mg L
-1
de fósforo do solo com água destilada.
59
Tabela 8- Parâmetros relacionados à isoterma de Langmuir na camada de 0-
2,5cm e 30-60cm com quantidades acumuladas de dejeto líquido de suíno,
durante 4 anos e meio.
CMAP
1
CMAP
1
k
2
Qo
3
CEP
4
Volume total de
dejeto aplicado
m
3
ha
-1
mg kg
-1
de
solo
mg kg
-1
de
argila
L mg
-1
mg L
-1
0 – 2,5 cm
0 (0)
5
311 1829 0,053 - 3,489 0,199
480 (310) 264 1553 0,045 -13,147 0,921
960 (628) 193 1135 0,035 -32,638 3,532
30 – 60 cm
0 (0)
5
405 1928 0,504 -1,320 0,006
480 (310) 373 1776 0,389 -1,729 0,011
960 (628) 365 1738 0,350 -1,749 0,013
1
capacidade máxima de adsorção de fósforo;
2
constante relacionada à energia de ligação de
fósforo;
3
ponto de intersecção no eixo das coordenadas;
4
concentração de equilíbrio de fósforo;
5
Total de fósforo aplicado em kg ha
-1
.
Os valores da energia de ligação são baixos no argissolo estudado
quando comparados a outros solos, isto é devido ao tipo e qualidade mineralógica
do solo, pois este apresenta uma considerável proporção de minerais cauliníticos.
Estes minerais apresentam baixa área especifica, são poucos expansivos (1:1) e
tem um ponto de carga zero considerado baixo em relação aos óxidos de ferro.
Por conseqüência, apresentam uma baixa avidez por grupos fosfatos, quando
comparados com óxidos em geral.
Provavelmente, outro fator importante relacionado à diminuição da
energia de ligação (k) e diminuição da capacidade máxima de adsorção de fósforo
com aplicação de dejeto líquido de suíno é a existência de formas de fósforo
orgânico nos dejetos. A maioria dos cereais usados nas rações para suínos
acumula hexafosfato de inositol (ácido fitico) como fonte de reserva para a sua
germinação. Porém, quando estes cereais são usados nas dietas suínas o
conteúdo de fósforo é superestimado, porque esta forma de fósforo é considerada
pouco disponível para os animais monogástricos, que não apresentam enzimas
específicas para hidrolisar o fosfato orgânico. Como conseqüência, os dejetos
produzidos por estes animais terão quantidades significativas de fósforo orgânico
(hexafosfato de inositol). Entretanto, os fosfatos monoésteres (hexafosfato de
60
inositol, açucares fosfatados, mononucleotídios e fosfato de colina) são
adsorvidos com alta energia no solo, devido a elevada energia residual (Anderson
1980; Rheinheimer, 2000; Turner et al., 2002; Gatiboni, 2003). Por conseqüência
disto, são pouco hidrolizados no solo, o que justifica que esta forma de fósforo
compreenda a maior parte do fósforo orgânico em solos do Rio Grande do Sul
(Rheinheimer, 2000; Gatiboni, 2003).
A diminuição da energia de ligação (k) e capacidade máxima de absorção
de fósforo pode estar também relacionada com o aumento de matéria orgânica e
maior ciclagem de nutrientes na camada de 0-2,5cm com aplicação de dejeto
líquido de suínos (Tabela 8). Porém esse fato é bastante polêmico e contraditório
com os dados da literatura. Para Almeida et al. (2003) a matéria orgânica atua
como uma bloqueadora dos sítios de adsorção de fósforo, por conseqüência
diminui a capacidade máxima de adsorção de fósforo e a energia de ligação. Para
Rheinheimer (2000) esta diminuição está relacionada com o teor de fósforo
previamente adsorvido, e não diretamente relacionada com o aumento da matéria
orgânica do solo, pois a constante relacionada com a energia de ligação é
negativamente correlacionada com a matéria orgânica nos latossolos e
positivamente no argissolo. Segundo o autor o incremento de matéria orgânica
pode aumentar a disponibilidade de fósforo, por diminuir a energia de ligação sem
alterar a capacidade máxima de adsorção de fósforo.
Comparando-se com as áreas onde não foi aplicado dejeto líquido de
suíno, a aplicação de quantidades acumuladas de 480 e 960m
3
ha
-1
resultou num
aumento de 3,8 e 9,3 vezes na dessorção de fósforo com água na camada de 0-
2,5cm, respectivamente chegando a valores de 13,15 e 32,64mg L
-1
de fósforo no
solo onde recebeu dejeto líquido de suíno (Figura 5b e tabela 8). Na camada de
30-60cm o aumento foi de 1,3 vez para ambas as quantidades, chegando a
valores de 1,73 e 1,75mg L
-1
, mostrando assim a susceptibilidade de dessorção
de fósforo do solo onde foi aplicado dejeto líquido de suíno. Para Sharpley et al.
(1996) e Pote et al. (1996), o fósforo dessorvido ou extraído com água
correlaciona-se significativamente com o teor de fósforo dissolvido carreado
durante os períodos de precipitação e também é um valor utilizado para calcular o
índice de saturação de fósforo no solo.
61
Em decorrência do aumento da quantidade de fósforo dessorvido em
água e a diminuição da capacidade máxima de sorção de fósforo, com aplicação
de dejeto líquido de suíno, a concentração de equilíbrio de fósforo no solo foi
aumentada com a aplicação de dejetos. Os aumentos chegaram a 4,6 e 17 vezes
comparados com a situação onde não foi aplicado dejeto na camada de 0-2,5cm,
enquanto na camada de 30-60cm estes aumentos chegaram a 1,8 e 2,1 vezes,
demonstrando assim haver uma migração de fósforo em profundidade (Figura 4),
consequentemente alterando os índices mensurados. Apesar de haver estas
alterações na camada de 30-60cm, estas são consideradas muito menores que
as ocorridas na camada de 0-2,5cm, onde a concentração de equilíbrio de fósforo
chegou a valores de 3,53mg L
-1
, demonstrando assim uma suscetibilidade de
risco de eutroficação das águas superficiais pela dessorção e liberação do fósforo
contido na superfície do solo e, em menor instância, uma transferência de fósforo
por percolação.
5.2 Transferência de água e sedimentos via escoamento superficial e
percolação
5.2.1 Transferência de água e sedimento via escoamento superficial após cinco
anos de aplicação de dejeto líquido de suíno.
Nos três eventos monitorados durante o crescimento do milho, pode-se
observar que houve um desvio padrão considerável na transferência de água por
escoamento. Porém, observando as médias dos eventos, houve uma diminuição
na transferência de água via escoamento superficial com a quantidade acumulada
de 1040m
3
ha
-1
de dejeto de suíno aplicados durante os cinco anos de condução
do experimento (Figura 7). As diferenças são menos acentuadas entre as doses
de dejeto e a testemunha, devido ser avaliado apenas o ciclo de desenvolvimento
da cultura do milho. Diferenças mais acentuadas na transferência de água entre a
dose de 80m
3
ha
-1
,
que corresponde a 1040m
3
ha
-1
nos cinco anos, são
demonstradas por Ceretta (2005
1
).
1
Comunicação pessoal.
62
Aos 9 dias após a aplicação do dejeto houve uma precipitação de 45mm
(Figura 1) e, onde não se aplicou dejeto, a quantidade de água escoada foi de
5,7mm comparado com 4,0 e 1,7mm nas quantidades acumuladas de 520 e
1040m
3
ha
-1
, respectivamente. A quantidade de água escoada representou 12,7;
9,0 e 3,8% da quantidade precipitada, demonstrando que com a aplicação do
dejeto existe maior infiltração de água no solo. A justificativa para isso está no fato
de que nesta área há cinco anos são aplicados os dejetos nas mesmas parcelas e
isso tem permitido maiores produções de matéria seca das culturas onde os
dejetos são aplicados (Tabela 7) e isso favorece tanto a estruturação do solo
quanto a maior quantidade de resíduos na superfície, já que representam uma
barreira física ao escoamento e também tem-se constatado melhorias na
estruturação do solo (Albuquerque et al., 1995). Em relação a infiltração da água
no solo Kiehl (1985) relata que os parâmetros físicos que apresentam maiores
mudanças são a densidade, a porosidade, a condutividade hidráulica e a
estabilidade de agregados. Outro exemplo é um experimento conduzido durante
111 anos com aplicação de dejetos, no qual foi constatada uma diminuição
expressiva na densidade do solo com aplicação de dejetos (Motavalli & Miles,
2002).
No período de novembro de 2004 a fevereiro de 2005 houve uma
diminuição drástica na pluviosidade em todas as regiões do Rio Grande do Sul,
sendo que a irrigação no experimento era quase diária (Figura 1). Quando a
cultura do milho encontrava-se em florescimento foi realizada uma irrigação de
24horas, com o intuito de forçar os fenômenos de escoamento e percolação de
água. Entretanto, como o solo encontrava-se com um grande déficit hídrico e a
vazão dos aspersores era pequena apenas houve percolação. O evento de
escoamento superficial ocorreu quatro dias após a irrigação, quando houve uma
precipitação de 35,7mm.
O escoamento aos 83 dias após a aplicação do dejeto foi pequeno,
representando 9,9; 7,4 e 1,8% da chuva ocorrida nas quantidades acumuladas de
0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente. O menor escoamento ocorrido aos 83
dias após aplicação do dejeto, comparado aos 9 dias, foi devido a maior cobertura
de solo pelas plantas de milho e também devido a precipitação ter sido menor.
Outro fator importante relacionado a este evento é que todas as parcelas onde
63
não se aplicou dejeto suíno apresentaram escoamento superficial, enquanto que
onde foi aplicada uma quantidade acumulada de 520m
3
ha
-1
, em três das quatro
repetições, houve escoamento e com 1040m
3
ha
-1
em apenas uma parcela das
quatro repetições houve escoamento. O menor escoamento ocorrido com 1040m
3
ha
-1
também está relacionado com a maior demanda de água pelas plantas de
milho, pois foi com esta quantidade acumulada que houve maior produtividade de
grãos e maior produção de matéria seca (Tabela 6).
Dias após aplicação do dejeto
916160
mm de água escoada
0
2
4
6
8
10
40
45
50
55
60
Testemunha
520m
3
ha
-1
= 470kg P ha
-1
1040m
3
ha
-1
= 949kg P ha
-1
Figura 7- Quantidade de água transferida por escoamento superficial em três
coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de dejeto líquido de suíno.
A quantidade de água transferida por escoamento superficial foi muito alta
no último evento pluviométrico monitorado porque aos 160 dias choveu 105,2mm
com alta intensidade. As transferências de água por escoamento superficial
chegaram a 51,3; 54,0 e 39,3% da quantidade de chuva onde as quantidades
acumuladas foram de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente. A menor
transferência de água no volume acumulado de 1040 m
3
ha
-1
comparado com a
testemunha e 520m
3
ha
-1
, pode estar relacionado com a constatação prática, de
que aos 160 dias com 1040m
3
ha
-1
as plantas de milho apresentaram maior
64
crescimento e alongaram seu ciclo, proporcionando maior proteção ao solo e
conseqüentemente menor escoamento.
A concentração de sedimento por escoamento superficial apresenta um
comportamento diferenciado em relação a quantidade de água transferida e
apresentaram grandes variações (Figura 8). No primeiro evento monitorado
percebe-se que onde foram aplicadas as quantidades acumuladas de 520 e
1040m
3
ha
-1
a concentração de sedimentos é 1,8 e 1,7 vez maior comparado com
onde não foi aplicado dejeto. Em conseqüência disto, a quantidade de sedimento
transferida foi maior na quantidade de 520m
3
ha
-1
, chegando a valores de 13,3kg
ha
-1
, enquanto que na dose 80m
3
ha
-1
os valores formam de 5,8kg ha
-1
e 8,8kg ha
-
1
na testemunha (Figura 9). O fato que pode ter ocorrido é que quando aplica-se
o dejeto em superfície do solo, causa-se uma perturbação e até um desarranjo na
cobertura do solo. Consequentemente, quando ocorre a precipitação, as
partículas de dejeto que se encontram sobre a cobertura vegetal e o solo são
transferidas por escoamento superficial. Para Henklain et al. (1994) a aplicação
de dejeto líquido de suíno pode causar selamento superficial devido os dejetos
conterem substâncias hidrofóbicas, porém este fato não se concretiza totalmente,
quando se analisa a quantidade de água transferida por escoamento superficial,
demonstrado na figura 7.
65
Dias após aplicação do dejeto
983160
Concentração de sedimento - mg L
-1
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
Testemunha
520m
3
ha
-1
= 470kg P ha
-1
1040m
3
ha
-1
= 949kg P ha
-1
Figura 8- Concentração de sedimento transferido por escoamento superficial em
três coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de doses de dejeto líquido de suíno.
Aos 83 dias após a aplicação do dejeto a concentração de sedimento e a
quantidade de sedimento transferido onde foi aplicado dejeto líquido de suíno são
menores comparado ao evento aos 9 dias. Este fato foi devido a menor
intensidade e volume pluviométrico e também pela maior extração de água pelas
plantas onde o dejeto foi aplicado. A concentração de sedimento onde não foi
aplicado dejeto é 2,5 e 2,4 vezes maior comparado com as situações onde as
quantidades acumuladas foram de 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente (Figura 8),
enquanto que a transferência de sedimento foi 2,0 e 8,3 vezes menor onde foi
aplicado dejeto (Figura 9). Porém, é importante salientar que na quantidade
acumulada de 1040m
3
ha
-1
, a média da concentração de sedimento foi de 110mg
L
-1
e a transferência atingiu 5,9kg ha
-1
, entretanto, apenas uma das parcelas
apresentou transferência de água, por este motivo o desvio padrão chegou a
220mg L
-1
.
66
Dias após aplicação do dejeto
983160
Transferência de sedimentos - kg ha
-1
0
4
8
12
16
20
120
160
200
240
280
320
Testemunha
520m
3
ha
-1
= 470kg P ha
-1
1040m
3
ha
-1
= 949kg P ha
-1
Figura 9- Quantidade de sedimento transferido por escoamento superficial em
três coletas realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com
aplicação de doses de dejeto líquido de suíno.
No último evento monitorado a concentração de sedimentos onde não foi
aplicado dejeto, atingiu 463,3 mg L
-1
, sendo 1,9 e 2,2 vezes maior que nas
quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente.
Consequentemente, a transferência de sedimentos foi menor onde foi aplicado
dejeto, sendo que a redução chegou a 1,8 e 2,1 vezes, com as quantidades
acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente.
Em geral a transferência de água foi diminuída apenas com a dose de
80m
3
ha
-1
(1040m
3
ha
-1
nos cinco anos) nas precipitações de menor intensidade e
a concentração de sedimento não apresentou grande diferença com o uso de
doses de dejeto líquido de suíno é diminuída com a aplicação com doses de
dejeto líquidos de suínos.
67
5.2.2 Transferência de água via percolação
Nos três eventos monitorados a quantidade de água transferida por
percolação foi semelhante nas situações onde houve ou não a aplicação de
dejeto (Figura 10).
A média de água transferida por percolação nas quantidades acumuladas
de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, nos três eventos monitorados, foi de 15,9; 16,9 e 10,2%
da precipitação ocorrida, respectivamente. O aumento das transferências de água
por percolação com aplicação de dejeto líquido de suíno nas doses 120; 240 e
560m
3
ha
-1
foi observado por Basso, (2003) nos dois primeiros anos de condução
do experimento.
Dias após aplicação do dejeto
979160
mm de água percolada
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Testemunha
520m
-3
ha
-1
= 470kg P ha
-1
1040m
-3
ha
-1
= 949kg P ha
-1
Figura 10- Quantidade de água transferida por percolação em três coletas
realizadas durante a fase de crescimento do milho (2004/2005) com aplicação de
dejeto líquido de suíno.
A transferência de água por percolação no primeiro evento monitorado foi
de 5,0; 5,6 e 2,4mm representando 11,2; 12,4 e 5,36% da chuva ocorrida onde as
quantidades acumuladas foram de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente. Apesar
68
da chuva ocorrida ter sido de baixa intensidade e pluviosidade a porcentagem de
água transferida foi superior aos demais eventos monitorados.
Aos 79 dias após a aplicação dos dejetos foi realizada irrigação e a
quantidade de água aplicada foi de 170mm, porém com baixa intensidade, o que
favoreceu a percolação. Como o solo encontrava-se em déficit hídrico a
quantidade de água transferida foi de 4,7; 4,8 e 4,7mm, representando 2,7; 2,8 e
2,8% da chuva ocorrida nas doses de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente.
Na última precipitação ocorrida na cultura do milho, as transferências
foram menores comparados com os outros eventos, representando 2,0; 2,4 e
2,1% da chuva ocorrida nas quantidades acumuladas de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
,
respectivamente. Esta menor transferência ocorreu porque a chuva foi de alta
intensidade, favorecendo assim as transferências de água e sedimentos por
escoamento superficial (Figuras 7).
No geral, com as quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
de
dejetos líquidos de suíno em um período de cinco anos, não houve grande
diferença na transferência de água por percolação e isto está relacionado com o
grande desvio padrão no volume de água transferida.
5.3 Transferência de fósforo por escoamento superficial e percolação após
cinco anos de aplicação de dejeto liquido de suíno
5.3.1 Transferência de fósforo via escoamento superficial
A aplicação de quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
de dejeto
líquido de suíno, que corresponde a 470 e 949kg de fosfato ha
-1
respectivamente,
aumentou as transferências de fósforo via escoamento superficial em todos os
eventos monitorados (Tabela 9), demonstrando assim o seu potencial poluente.
Os valores encontrados são muito superiores ao nível crítico de fósforo
estabelecido pelo Conselho Nacional Do Meio Ambiente - COMANA, (2005) e
United States Environmental Protection Agency - USEPA (1971). No estudo
realizado por Pellegrini (2005) e Gonçalves (2003) em uma microbacia do Rio
Grande do Sul as concentrações de fósforo encontradas também foram
69
superiores ao índice crítico estabelecido pela legislação na maioria das coletas
efetuadas.
Tabela 9- Concentração de fósforo na água de escoamento superficial e
porcentagem em relação ao total. Média dos três eventos monitorados (9; 83 e
160 dias após aplicação do dejeto)
Fósforo biodisponível
Sedimento Fósforo
total
Fósforo solúvel Volume total
aplicado
m
3
ha
-1
mg L
-1
%
1
mg L
-1
%
1
0 (0)
2
304,58 1,41 0,97 68,32 0,65 46,05
520 (470) 225,42 12,59 11,57 86,12 10,34 78,07
1040 (949) 213,89 18,64 17,37 93,05 15,09 81,77
1
Porcentagem em relação ao fósforo total;
2
Total de fósforo aplicado em kg ha
-1
Onde não foi aplicado dejeto, os teores de fósforo no solo extraído por
Mehlich-1 atingiram valores de 13,0mg kg
-1
na camada de 0-2,5cm (Figura 4),
enquanto que as concentrações de fósforo em água atingiram valores de 1,4; 0,9
e 0,6mg L
-1
de fósforo total (Ptot), fósforo biodisponível (Pbd) e fósforo solúvel
(Ps). Essa transferência de fósforo na camada superficial está relacionada com a
diminuição da energia de ligação entre os colóides do solo, já que esta área
estava sendo manejada há 8 anos sob plantio direto e recebendo adubações
fosfatadas, o que justifica que os teores de fósforo no solo, mesmo onde não foi
aplicado dejeto, enquadrarem-se na classe de média disponibilidade, conforme a
CQFS-RS/SC (2004). Esses dados tornam-se ainda mais relevantes por que a
média ponderada de fósforo extraído na camada de 0-10cm do solo é de 10mg
kg
-1
, enquanto o nível crítico de fósforo no solo, preconizado pela CQFS-RS/SC
(2004), é de 12mg dm
3
, demonstrando que o nível crítico de fósforo agronômico,
neste tipo de solo, não condiz com o nível crítico ambiental.
A concentração de sedimentos onde não foi aplicado dejeto também
contribuiu para aumentar os teores de fósforo na solução escoada, evidenciando
assim a natureza seletiva da erosão (Sharpley, 1985). A menor proteção de solo
onde não foi aplicado dejeto favoreceu o transporte de fósforo particulado e,
consequentemente, diminuindo a porcentagem de fósforo biodisponível,
comparado com onde as quantidades acumuladas foram de 520 e 1040m
3
ha
-1
.
Por outro lado, os aumentos de fósforo no solo extraído por Mehlich-1 foram 5,4 e
70
10,7 vezes com as quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, comparado
com onde não foi aplicado dejeto. Os aumentos de fósforo total atingiram 8,9 e
13,2 vezes com as quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, e o aumento
de fósforo biodisponível foi de 11,9 e 18,1 vezes, demonstrando que as
transferências de fósforo por escoamento são mais potencializadas que os
aumentos nos teores de fósforo no solo.
A porcentagem de fósforo biodisponível representou 68,3; 86,1 e 93,0%
do fósforo total nas quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
,
respectivamente (Tabela 9). Estas porcentagens são mais expressivas onde foi
aplicado dejeto líquido de suíno, pois grande parte do fósforo estava na forma
solúvel. A porcentagem de fósforo solúvel prontamente disponível para a
absorção dos organismos biológicos representou 78,0 e 81,7% da concentração
total de fósforo nas quantidades de 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente.
Em trabalhos desenvolvidos por Edwards & Daniel (1993) esta
porcentagem variou de 80 a 90% do fósforo total. Em geral, os dados obtidos são
coerentes com os dados relatados na literatura para o sistema de plantio direto
(Sharpley & Halvorson, 1994; Sharpley et al., 1995) e confirmam que o uso de
práticas conservacionistas associadas com a aplicação de dejetos de suínos,
diminui a transferência de fósforo ligado às partículas de solo, porém potencializa
as transferências de fósforo solúvel (McDowell & McGregor, 1984; Sharpley &
Halvorson, 1994; Sharpley et al., 1995; Bundy et al., 2001; Andraski et al., 2003).
O aumento do fósforo extraído com água no solo (Qo) de 3,48 para 13,14
e 32,63mg L
-1
(Tabela 8), correspondeu a uma relação exponencial entre o teores
médios de fósforo solúvel em água que foram 0,67; 10,34 e 15,09mg L
-1
nas
quantidades acumuladas de 0; 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente (Tabela 9 e
anexo A). Para Sharpley et al. (1996) e Pote et al. (1996) o fósforo dessorvido ou
extraído com água correlaciona-se significativamente com o teor de fósforo
dissolvido escoado durante os períodos de precipitação.
Na tabela 10 e anexo B; C e D pode-se observar a grande variação nos
teores de fósforo transferidos por escoamento superficial nos três eventos
monitorados, porém observa-se que os teores de fósforo diminuíram nas últimas
coletas. As precipitações de baixa intensidade também podem causar o
transporte de fósforo para o meio aquático (Quinton et al.,2001; Smith et al. 1992).
71
As maiores concentrações de fósforo foram observadas aos 9 dias após a
aplicação do dejeto e isto foi devido ao transporte de partículas de dejeto que
estavam na superfície do solo ou sobre os resíduos vegetais. Este fato também
foi observado por Basso (2003) nos primeiros anos de condução do experimento,
onde as maiores concentrações de fósforo disponível também foram encontradas
nos primeiros eventos pluviométricos.
As concentrações de fósforo total na água escoada foram de 1,34; 1,51 e
1,37mg L
-1
nos três eventos pluviométricos na área onde não foi aplicado o dejeto,
mostrando assim haver pouca relação entre o crescimento da cultura do milho e
as concentrações de fósforo no escoado e isso também foi observado por
Pellegrini (2005) numa microbacia com a cultura do fumo no RS. Para a
quantidade acumulada de 520m
3
ha
-1
, as concentrações de fósforo total escoado
diminuíram com o crescimento das plantas de milho mesmo que a intensidade e a
pluviosidade da chuva ocorrida aos 160 dias tenha sido maior, comparados aos
outros dois eventos. Entretanto, com a quantidade acumulada de 1040m
3
ha
-1
este fato não foi observado, e isto, provavelmente, foi devido aos altos teores de
fósforo dessorvido com água e também a alta concentração de equilíbrio de
fósforo no solo (Tabela 8). A menor concentração de fósforo total na quantidade
acumulada de 1040m
3
ha
-1
foi de 2,63mg L
-1
e foi observada aos 83 dias após a
aplicação do dejeto, e isso pode ser justificado pelo fato de que ocorreu
escoamento superficial em apenas uma das parcelas de coleta, embora, nesta
parcela a concentração de fósforo total tenha sido de 10,5mg L
-1
.
O fósforo biodisponível teve um comportamento diferenciado nos três
eventos e nas três doses monitoradas. Onde não foi aplicado dejeto, aos 9 dias,
81,5% do fósforo estava na forma biodisponível, enquanto que com as
quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, 94,7 e 96,2% do total estavam na
forma biodisponível para os organismos biológicos. Isso demonstra o grande
potencial poluente desta água transferida por escoamento superficial. As
concentrações de fósforo biodisponível diminuíram aos 160 dias após a aplicação
do dejeto. Consequentemente, as porcentagens em relação ao fósforo total
baixaram para 41,3; 69,2 e 84,9% nas doses 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
respectivamente. Esta diminuição está relacionada com o aumento na
concentração de sedimentos na água, evidenciando que houve uma diminuição
72
da concentração de fósforo solúvel e um aumento na concentração de fósforo
particulado.
Uma das alternativas para diminuir os teores de fósforo solúvel no dejeto
e também a transferência de fósforo solúvel por escoamento superficial é o uso
de fitases na ração mais o tratamento dos dejetos com AlCl
3
(Moore & Miller,
1994; Moore et al., 1999; Moore et al., 2000; Smith et al., 2004a; Smith et al.,
2004b; Smith & Moore, 2005). A utilização de fitases na ração é uma prática que
vem recebendo muita importância, isto por que aumenta a disponibilidade de
fósforo para os suínos, fazendo com que diminua a quantidade de fósforo
excretado nos dejetos. Quantitativamente, o uso combinado de fitases e o
tratamento dos dejetos com AlCl
3
pode diminuir em até 73% o fósforo solúvel no
escoamento superficial (Smith et al., 2004a). Técnicas mais modernas de
melhoramento genético vegetal (transgênia), também estão sendo usadas para
diminuir a quantidade de ácido fitico nos grãos usados nas rações (Leytem et al.,
2004; Wienhold & Miller, 2004). Nos EUA, a empresa Pioneer Hi-Bred
International já contém uma variedade de milho que apresenta baixa quantidade
de acido fitico e está sendo usada nas pesquisas (Wienhold & Miller, 2004).
Outro mecanismo mais simples e possível de se realizar no Brasil é o uso
de grãos com alta umidade (silagem de grão úmido), técnica esta que possibilita
maior digestibilidade dos nutrientes contidos nas rações (Lima et al., 1999) e
também a inserção na dieta de grãos de plantas trigo e triguilho, que contém
atividade fitatica (Hauschild et al., 2004).
73
Tabela 10- Concentração de fósforo na água escoada nos três eventos
monitorados durante o crescimento das plantas de milho em 2004/2005, com
aplicação de dejeto líquido de suíno.
Número de dias após a aplicação de dejeto líquido de suínos
Volume total de
dejeto aplicado
m
3
ha
-1
9 dias % 83 dias % 160 dias %
-------------------------- Fósforo total, mg L
-1
--------------------------
0 (0)
3
1,34 - 1,51 - 1,37 -
520 (470) 27,83 - 5,75 - 4,20 -
1040 (949) 37,89 - 2,63 - 15,41 -
------------------- Fósforo biodisponível, mg L
-1
---------------------
0 (0)
3
1,09 81,49
1
1,24 82,17
1
0,57 41,30
1
520 (470) 26,38 94,78 5,43 94,38 2,91 69,20
1040 (949) 36,45 96,21 2,58 97,97 13,09 84,97
----------------------- Fósforo solúvel, mg L
-1
--------------------------
0 (0)
3
0,67 50,07 0,79 52,11 0,49 35,96
520 (470) 23,30 83,72 5,14 89,38 2,57 61,10
1040 (949) 32,75 86,44 2,47 93,65 10,05 65,22
-------------------------Fósforo particulado, mg L
-1
-------------------
0 (0)
3
0,67 49,93 0,72 47,89 0,88 64,04
520 (470) 4,53 16,28 0,61 10,62 1,63 38,90
1040 (949) 5,14 13,56 0,17 6,35 5,36 34,78
----------- Fósforo particulado biodisponível, mg L
-1
-----------
0 (0)
3
0,42 62,92
2
0,45
62,76
2
0,07 8,34
2
520 (470)
3,08 67,94 0,29 47,10 0,34 20,83
1040 (949)
3,70 72,02 0,11 68,03 3,04 56,78
Fósforo particulado potencialmente biodisponível, mg L
-1
0 (0)
3
0,03 3,85
2
Nd -
0,06 6,97
2
520 (470)
0,28 6,18
Nd -
0,07 4,41
1040 (949)
0,55 10,63
Nd -
0,12 2,17
--------- Fósforo particulado não biodisponível, mg L
-1
------
0 (0)
3
0,22 33,23
2
Nd -
0,74 84,69
2
520 (470)
1,17 25,88
Nd -
1,22 74,76
1040 (949)
0,89 17,35
Nd -
2,20 41,05
1
% de fósforo em relação ao fósforo total,
2
% de fósforo em relação ao fósforo particulado;
3
Total
de fósforo aplicado em kg ha
-1
.
74
Onde foi aplicado dejeto líquido de suíno, pode-se observar que a
porcentagem de fósforo solúvel foi sempre maior do que o fósforo particulado,
representado ambientalmente uma liberação imediata de fósforo para os
organismos aquáticos.
Aos 9 dias após a aplicação do dejeto, a concentração de fósforo
particulado potencialmente biodisponível, que representa a quantidade de fósforo
que vai ser liberada durante o percurso ou quando o sedimento se encontrar no
fundo dos riachos, representou 3,8; 6,18 e 10,6% do fósforo particulado com as
quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente (Tabela 10).
Neste evento, a maior concentração foi observada com 1040m
3
ha
-1
, devido ao
transporte seletivo de partículas de solo com alto teor de fósforo e com baixa
energia de ligação. Entretanto, o fósforo particulado potencialmente biodisponível
não foi muito representativo em relação ao total, pois correspondeu a 1,9; 1,0 e
1,4% com as quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente.
Aos 160 dias após a aplicação dos dejetos, as porcentagens de fósforo
particulado potencialmente biodisponível chegaram a 7,0; 4,4 e 2,2% do fósforo
particulado. Apesar de haver o maior transporte de partículas de solo aos 160
dias, estas apresentam menor potencial de biodisponíbilidade. Isto foi devido as
partículas conterem menor quantidade de fósforo ou apresentarem maior energia
de ligação entre o fósforo e os colóides, comparados com o evento aos 9 dias
após a aplicação do dejeto.
Como foi ressaltado anteriormente, grande parte do fósforo transferido
está na forma solúvel e menos da metade na forma particulada, porém aos 9 dias
após a aplicação do dejeto 62,9; 67,9 e 72,0% do fósforo particulado encontrava-
se biodisponível e 33,2; 25,8 e 17,3% em formas de fósforo particulado não
biodisponível com as quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
,
respectivamente. No último evento monitorado, a porcentagem de fósforo
particulado biodisponível diminuiu para 8,3; 20,8 e 56,7% do fósforo particulado,
aumentando assim para 84,6; 74,7 e 41,0% o fósforo particulado não
biodisponível. Isso demonstra que quanto mais distante da aplicação de dejeto,
menos fósforo solúvel é transportado, restando percentualmente mais fósforo
particulado não biodisponível. Estes dados assemelham-se aos obtidos por
75
Pellegrini (2005) e Sharpley et al. (1995), os quais, estudando a dinâmica do
fósforo em microbacias, encontraram em média 85 e 79% do fósforo total na
forma de fósforo particulado não biodisponível. Nota-se que onde não foi aplicado
dejeto, as concentrações de fósforo particulado não biodisponível foram menores,
porém seus percentuais em relação ao fósforo particulado foram maiores
comparados com as doses de dejeto. Esta forma de fósforo particulado não
biodisponível, pode conter fósforo orgânico e inorgânico que se encontra com alta
energia de ligação aos colóides, ou até mesmo uma fração de fósforo que
constitui parte dos minerais primários do solo. Contudo, esta forma de fósforo
apresenta pouca importância, em relação às demais, do ponto de vista ambiental.
A aplicação continua de dejeto líquido de suíno com as quantidades
acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
representa um risco de contaminação
ambiental pela transferência de fósforo para o meio aquático, a maior proporção
de fósforo transferido está na forma biodisponível sendo grande parte composto
por fósforo solúvel.
5.3.2 Transferência de fósforo por percolação.
Em geral, a transferência de fósforo por percolação apresenta grandes
variações e isso é demonstrado nos gráficos apresentados nos anexos E; F e G,
onde observa-se alto desvio padrão em cada forma de fósforo monitorada.
O principal caminho de transferências de fósforo é por escoamento
superficial (Heathwaite et al., 2000); Toor et al., 2003), porém alguns autores
relatam a possibilidade de transferência por percolação (Kao & Blanchar 1973;
Beauchemin et al., 1996; Sims et al., 1998; Stamm et al., 1998; Hooda et al., 1999
Novais & Smyth, 1999; Basso et al., 2005). Os resultados mostrados na tabela 11
evidenciam a possível transferência de fósforo por percolação, porém as
concentrações de fósforo total são menores que as encontradas na solução de
escoamento (Tabela 9). Entretanto, as concentrações médias de fósforo total
foram de 0,09; 0,12 e 0,27mg L
-1
com as quantidades acumuladas de 0; 520 e
1040m
3
ha
-1
, respectivamente, significando aumentos de 1,3 e 3,0 vezes onde a
aplicação acumulada de dejeto foi de 520 e 1040m
3
ha
-1
.
Estas concentrações
são maiores que o nível crítico estabelecido pela legislação, que é de 0,02mg L
-1
.
76
Porém estas concentrações são menores que as encontradas por Hooda et al.
(1999), os quais, trabalhando num Gley contendo 26% de argila e com três
aplicações de 50m
3
ha
-1
de dejeto encontraram uma média anual de 0,64 mg L
-1
de fósforo total
Tabela 11- Concentração de fósforo na água de percolação e porcentagem em
relação ao total. Média dos três eventos monitorados (9; 79 e 160 dias após
aplicação do dejeto).
Fósforo biodisponível
Volume total
aplicado m
3
ha
-1
Fósforo
total
Fósforo solúvel
mg L
-1
%
1
mg L
-1
%
1
0 (0)
2
0,09 0,08 86,81 0,05 61,73
520 (470) 0,12 0,10 84,75 0,07 63,50
1040 (949) 0,27 0,23 86,36 0,18 68,92
1
Porcentagem em relação ao fósforo total;
2
Total de fósforo aplicado em kg ha
-1
.
A aplicação de dejeto líquido de suíno por um período de cinco anos
potencializou as transferências de fósforo por percolação. Fenômenos
semelhantes também foram relatados na literatura (Kao & Blanchar, 1973;
Beauchemin et al., 1996; Stamm et al., 1998; Hooda et al. 1999). Normalmente,
os autores relatam que essas transferências de fósforo por percolação ocorrem
através de fluxo preferencial (Beauchemin et al., 1996; Stamm et al., 1998; Hooda
et al. 1999; Basso et al., 2005). No estudo de Beauchemin et al. (1996) os autores
comentam que apesar de haver grande capacidade de sorção de fósforo no
horizonte B, não necessariamente é criada uma barreira para o fósforo, mesmo
assim a transferência de fósforo por percolação está mais associada com as
condições físicas do solo e as formas de fósforo. Eghball et al. (1996)
constataram não haver correlação entre o poder de adsorção de fósforo e a sua
mobilidade no solo. No trabalho de Stamm et al. (1998) o fluxo preferencial de
fósforo foi causado principalmente por galerias construídas pelas minhocas, as
quais chegaram a 0,8m de profundidade, fazendo com que a concentração de
fósforo aumentasse na solução percolada.
As concentrações médias de fósforo total, biodisponível e solúvel
demonstram haver fluxo preferencial de fósforo onde o fósforo transferido não
interage com os colóides de solo, por que, segundo Sims et al. (1998),
77
normalmente o fósforo é transferido por macroporos que possuem uma proteção
em suas paredes, dificultado assim a interação entre a solução e as partículas de
solo. No caso estudado se o fósforo interagisse com os colóides do solo
provavelmente iria ficar sorvido no solo. Isto é demonstrado observando os dados
de concentração de equilíbrio, energia de ligação e a capacidade máxima de
absorção na camada de 30-60cm.
Os porcentuais médios de fósforo biodisponível são de 86,8; 84,7 e 86,3 e
os de fósforo solúvel são de 61,7; 63,5 e 68,9% do fósforo total com as
quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
, respectivamente. Esses
valores são menores que os encontrados no escoamento superficial, onde o
aumento da dose de dejeto representou aumento nas porcentagens de fósforo
biodisponível e fósforo solúvel (Tabela 9 e 10). Isto demonstra que as formas de
fósforo transferidas por percolação são menos contaminantes biologicamente ao
meio aquático, comparadas com as transferidas por escoamento.
Apesar da aplicação de dejeto ter aumentado as concentrações de fósforo
na solução percolada, as porcentagens das formas de fósforo foram semelhantes
com ou sem aplicação do dejeto. Este fato pode estar associado com o acúmulo
de fósforo orgânico no solo, pois segundo Dalal, (1977) este pode variar de 20 a
80% do total do solo e pode ser percolado no perfil (Novais & Stmyth 1999; Turner
et al. 2002; Toor et al. 2003). Toor et al. (2003), estudando as formas orgânicas
de fósforo transferidas por percolação com aplicação de 45kg de fósforo ha
-1
ano
-1
e mais 4 aplicações de dejetos leiteiros por ano na base de 200kg de nitrogênio
ha
-1
, encontraram valores semelhantes de fósforo total ao da quantidade
acumulada de 1040m
3
ha
-1
(0,26mg L
-1
), porém deste, 84,7% encontrava-se em
formas de fósforo total não reativos. Em 51 eventos monitorados 12% do fósforo
encontravam-se na forma inorgânica e 88% na forma orgânica, destes 67,4% na
forma de monoésteres e 20,2% como diésteres.
Aos 9 dias após a aplicação do dejeto, as concentrações das formas de
fósforo avaliadas foram menores comparadas com os outros dois eventos (Tabela
12), demonstrando haver uma tendência de aumento nas concentrações com o
passar do tempo, sendo o contrário das transferências por escoamento superficial
(Tabela 10). Isso também foi constatado por Basso, (2003) nos dois primeiros
anos de condução do trabalho. O aumento nas concentrações de fósforo com o
78
passar do tempo pode estar relacionado com o transporte de fósforo dos dejetos
para as camadas mais profundas, devido a mineralização e liberação do fósforo
do tecido microbiano.
A concentração de fósforo biodisponível foi menor aos 9 dias após
aplicação dos dejetos comparados com os outros eventos (Tabela 12). Com a
quantidade acumulada de 1040m
3
ha
-1
houve maior quantidade de fósforo
biodisponível (79,1% do fósforo total), enquanto 30,5% do fósforo total
encontrava-se particulado (Tabela 12). Isso demonstra que 68,2% desse fósforo
particulado não é biodisponível, e isso pode estar associado ao transporte de
fósforo ligado a colóides com alta energia de ligação ou até mesmo formas
orgânicas de fósforo (Toor et al., 2003).
As maiores concentrações de fósforo foram observadas aos 79 dias após
a aplicação do dejeto, e os aumentos no fósforo total chegaram a 1,2 e 2,9 vezes
nas quantidades acumuladas de 520 e 1040m
3
ha
-1
, em relação a onde não foi
aplicado dejeto. Estas maiores concentrações ocorreram devido a grande
quantidade de água aplicada no solo com baixa intensidade (irrigação), e não
ocorrer o fenômeno de escoamento superficial. Por conseqüência disto, causou
um encharcamento no solo e uma possível dessorção de fósforo de camadas
mais superficiais e posterior transporte através de fluxo preferencial até os
lisímetros de coleta. Foi também aos 79 dias que o fósforo particulado apresentou
as maiores porcentagens em relação ao total.
Aos 160 dias após aplicação do dejeto, o fósforo biodisponível
representou 96,9; 79,9 e 96,7% do fósforo total com as quantidades acumuladas
de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
. Comparado com os outros eventos foi o que apresentou
a maior biodisponíbilidade, exceto para o acumulado de 520m
3
ha
-1
. Esta maior
biodisponíbilidade pode estar associada a mineralização do fósforo no solo e
também a sua menor extração pelas plantas. As proporções de fósforo solúvel
aumentaram em relação aos outros eventos, conseqüentemente diminuiu o
fósforo particulado. Entretanto 93,2; 44,7 e 98,2% do fósforo particulado era
biodisponível com as quantidades acumuladas de 0, 520 e 1040m
3
ha
-1
,
respectivamente, reforçando que o fósforo transfererido por percolação é mais
biodisponível depois de transcorrido mais tempo a partir da aplicação do dejeto.
79
Os parâmetros mensurados no solo na camada de 0-2,5cm com
aplicação acumulada de 960m
3
ha
-1
de dejeto líquido de suíno em um período de
4 anos e meio causou alterações com relação ao fósforo no solo. É importante
ressaltar que os solos onde a suinocultura é desenvolvida são de topografia
acidentada e em muitos casos são solos rasos e que recebem aplicações
sucessivas de dejeto líquido de suíno, sem nenhum controle das quantidades
aplicadas. Nesse sentido com os parâmetros avaliados no solo e na água
transferida em relação ao fósforo pode-se afirmar que este solo apresenta grande
capacidade de transferência de fósforo por escoamento superficial com o uso das
três doses continuamente, pois as concentrações de fósforo encontradas na
solução escoada são superiores ao requerido pela legislação.
Na camada de 30-60cm, as alterações no conteúdo de fósforo foram de
menor magnitude, estando bem abaixo dos parâmetros relatados pela literatura,
entretanto em solos mais rasos deve-se tomar cautela na aplicação de dejeto
líquido de suíno. Outro fator muito importante e também relatado na literatura é
que apesar do solo apresentar grande capacidade de sorção de fósforo, não
elimina o fato de haver transferências por percolação. No entanto, as
concentrações de fósforo encontradas na solução percolada são superiores a
exigida pela legislação, mas são biologicamente menos problemáticos que as
formas transferidas por escoamento superficial.
80
Tabela 12 Concentração de fósforo na água percolada nos três eventos
monitorados durante o crescimento do milho 2004/2005, com o uso de dejetos
líquidos de suínos.
Número de dias após a aplicação de dejeto líquido de suínos
Volume total de
dejeto aplicado
m
3
ha
-1
9 dias % 79 dias % 160 dias %
---------------------------- Fósforo total -----------------------------
0 (0)
3
0,06 - 0,14 - 0,09 -
520 (470) 0,08 - 0,18 - 0,11 -
1040 (949) 0,15 - 0,41 - 0,30 -
---------------- Fósforo biodisponível, mg L
-1
---------------
0 (0)
3
0,04 71,06
1
0,12 92,46
1
0,09 96,91
1
520 (470) 0,07 89,17 0,14 85,13 0,09 79,97
1040 (949) 0,11 79,16 0,31 83,19 0,29 96,78
---------------------- Fósforo Solúvel, mg L
-1
---------------------
0 (0)
3
0,04 69,92
1
0,08 60,93
1
0,05 54,35
1
520 (470) 0,07 88,10 0,08 47,15 0,06 55,26
1040 (949) 0,09 69,45 0,18 49,47 0,26 87,85
--------------------- Fósforo particulado, mg L
-1
-----------------
0 (0)
3
0,02 30,08
1
0,05 39,07
1
0,04 45,65
1
520 (470) 0,01 11,90 0,09 52,85 0,05 44,74
1040 (949) 0,04 30,55 0,19 50,53 0,04 12,15
--------- Fósforo particulado biodisponível, mg L
-1
---------
0 (0)
3
0,00 3,78
2
0,04
80,70
2
0,04
93,22
2
520 (470) 0,00 8,98 0,06 71,86 0,03 55,23
1040 (949) 0,01 31,79 0,13 66,74 0,03 98,20
------Fósforo particulado não biodisponível, mg L
-1
------
0 (0)
3
0,02 96,22
2
0,01 19,30
2
0,00 6,78
2
520 (470) 0,01 91,02 0,02 28,14 0,02 44,77
1040 (949) 0,03 68,21 0,06 33,26 0,00 1,80
1
% de fósforo em relação ao fósforo total,
2
% de fósforo em relação ao fósforo particulado;
3
Total
de fósforo aplicado em kg ha
-1
.
6 CONCLUSÕES
O aumento na dose de dejeto líquido de suíno incrementou os teores de
fósforo extraído por Mehlich-1 em todo o perfil do solo estudado.
A capacidade máxima de adsorção e a constante de energia relacionada
a ligação do fósforo foram diminuídas com o aumento das quantidades
acumuladas de dejeto líquido de suíno, aumentando assim a concentração de
equilíbrio de fósforo no solo.
A transferência de água por escoamento superficial foi diminuída apenas
quando foi utilizada continuamente a dose de 80m
3
ha
-1
(1040m
3
ha
-1
nos cinco
anos) nas precipitações de menor intensidade.
A transferência de água via percolação e a concentração de sedimento
via escoamento superficial não apresentaram grandes diferenças com o uso de
doses acumuladas de dejeto líquido de suíno.
A maior proporção do fósforo na solução escoada encontra-se
biodisponível nas áreas onde foi aplicado dejeto líquido de suíno, e este é
composto principalmente por fósforo solúvel. O aumento na dose de dejeto
diminuiu o fósforo particulado na solução escoada, porém aumentou a fração de
fósforo particulado biodisponível.
A aplicação de dejeto líquido potencializou as transferências de fósforo
via escoamento superficial e percolação atingindo concentrações superiores às
estabelecidas pela legislação, representando assim um potencial de
contaminação ambiental.
82
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93
ANEXOS
94
y=7,450*ln(x)-8,580
R
2
=0,9963
Fósforo extraído com água - mg kg
-1
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Fósforo solúvel - mg L
-1
0
5
10
15
20
Anexo A- Relação entre o teor médio de fósforo solúvel no escoamento com o
teor de fósforo no solo extraído com água destilada em área submetida a
aplicação de dejeto líquido de suínos.
95
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Ppnbd
Anexo B- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 9 dias na cultura do milho
2004/1005.
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Anexo C- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 83 dias na cultura do milho
2004/2005.
96
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
40,00
42,00
44,00
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Ppnbd
Anexo D- Concentração das formas de fósforo na solução escoada em relação
ao volume acumulado de dejeto aplicado aos 160 na cultura do milho 2004/2005.
97
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,40
0,45
0,50
0,55
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Ppnbd
Anexo E- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
ao volume acumulado de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura
do milho 2004/2005.
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Ppnbd
Anexo F- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
ao volume acumulado de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura
do milho 2004/2005.
98
Dose de dejeto líquido de suíno m
3
ha
-1
0 520 1040
Concentração de fósforo - mg L
-1
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,45
0,50
0,55
Ptot
Pbd
Ps
Pp
Ppbd
Ppnbd
Anexo G- Concentração das formas de fósforo na solução percolada em relação
as doses de dejeto aos 9 dias após a aplicação do dejeto na cultura do milho
2004/2005.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A suinocultura brasileira a cada ano que passa bate recordes de
produtividade e exportação. Com este aumento na demanda de carnes no mundo
o Brasil torna-se um dos paises mais promissores para o crescimento, isto porque
possui grande extensão de terra, vastos recursos naturais, genética animal
apurada e mão-de-obra disponível.
Com o avanço das relações entre paises e a globalização da economia, a
atividade suinícola e outras atividades ganham um mercado cada vez maior.
Entretanto, estas atividades ficam cada vez mais suscetíveis às variações de
preços. Estas variações de preços na carne suína fizeram com que a atividade
suinícola passasse por crises. Disso resultou um novo modelo de criação de
suínos, onde a verticalização da produção torna-se semelhante a criação de aves,
onde o produtor faz parte do sistema de criação no qual ele recebe todos os
insumos necessários para a produção, tornando-se assim “dependente” da
empresa integradora. Neste sistema o produtor passa a receber apenas pela
mão-de-obra aplicada na criação dos suínos, sendo considerado um tomador de
preço, isso devido ele não deter a produção de insumos e nem parte da
industrialização dos produtos.
É importante salientar que o produtor recebe pela mão-de-obra aplicada
na criação de suínos, bem como recebe um valor razoavelmente baixo para o
capital inicial para realizar este tipo de integração, o que possibilita o aumento da
criação de animais por propriedade. O lucro ou prejuízo obtido pelos produtores
neste sistema é bastante variado, porém um lucro considerado “certo” é os
dejetos produzidos, que por sua vez apresentam na sua composição nutrientes
essenciais para o crescimento das culturas. A relação entre os efeitos nutricionais
e o efeito poluente nos dejetos é estreita. Em muitos casos para os produtores,
os dejetos são vistos apenas como um problema ou algo que deve ser removido
do local de produção por que se caso ocorram perdas para o ambiente ele poderá
ser multado.
O uso contínuo de áreas como descarte dos dejetos gera locais pontuais
de contaminação ambiental, que ao se somarem com outros locais, podem causar
a contaminação de águas superficiais e sub superficiais em toda uma microbacia.
A contaminação ambiental causada pelo uso inadequado de dejetos no solo é um
problema complicado de se resolver porque envolve fatores econômicos, sociais,
mão-de-obra familiar e as agroindústrias do setor.
A melhor solução seria não gerar os dejetos, mas como grande parte das
coisas realizadas pelo homem é sem um planejamento prévio, anda-se quase
sempre atrás de resolver problemas que poderiam ter sido evitados no passado.
Uma simples observação antes da implantação da criação de suínos seria a de
verificar se o produtor tem área disponível onde fosse possível distribuir os
dejetos.
É preciso unir forças de todos os segmentos vinculados à criação de
suínos para tentar diminuir a quantidade e o potencial poluente dos dejetos
gerados. Grandes avanços devem vir da área zootécnica, na qual o
melhoramento animal composição das rações e tratamento de dejetos vem
tomando grande importância nas pesquisas. Na área de solos deve-se selecionar
as áreas prioritárias para realizar a distribuição destes dejetos, onde a cobertura
de solo, práticas conservacionistas e outros mecanismos para aumentar a
capacidade de suporte do solo são essenciais.
Para finalizar, o uso de dejetos em solo apresenta um potencial
fertilizante, porém quando manejados inadequadamente apresentam potencial
poluente. Por isso que pelo conhecimento dos locais onde a suinocultura é
desenvolvida, os dejetos hoje são considerados mais poluentes que fertilizantes.
E ai o problema é multar o produtor rural que está contaminando o ambiente pelo
uso continuo de dejetos? Certa parte sim, por que existem produtores que utilizam
rios como ambiente para descarte dos dejetos. Contudo, a maioria dos produtores
são obrigados a aplicar altas doses de dejetos em pequenas áreas da
propriedade, tornando assim as áreas fontes pontuais de contaminação. Outro
fator importante na aplicação de dejetos são os custos dos equipamentos para
manejar os dejetos. Normalmente as propriedades não possuem estes
equipamentos, necessitando assim das prefeituras ou empresas terceirizadas
para realizar a aplicação, encarecendo ainda mais os custos. Para resolver estes
impasses a ajuda de custos de toda a cadeia deve ser direcionada para o manejo
dos resíduos gerados, e também deve haver um consenso de que os resíduos
gerados não são problemas apenas do produtor e sim de toda a cadeia produtiva.
Em relação a trabalhos futuros, pesquisas relacionadas aos tratamentos
dos dejetos para diminuir seu potencial poluente tem se mostrando muito
importantes. Em relação ao solo um levantamento sobre as condições químicas
do solo nas propriedades onde os dejetos estão sendo utilizados podem ajudar a
mapear as principais áreas que contribuem para a poluição ambiental.
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