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contundentes do movimento da contracultura. Ao comentar esse relatório, o autor
faz algumas considerações que são esclarecedoras, e que neste momento vale a
pena sintetizar.
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(a) A possibilidade de perceber o lugar de destaque que a técnica e a ciência
ocupam na sociedade moderna, mas, principalmente, o desvio da questão
ambiental, enquanto questão cultural
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e política, e sua absorção pela lógica
técnico-científica que estava sendo criticada. (b) As tensões e aproximações entre
perspectivas mais técnico-científicas e outras mais explicitamente preocupadas
com questões políticas e culturais tornaram-se mais perceptíveis no interior do
ambientalismo. (c) O crescimento da consciência de que o modelo em curso
colocava em risco todo o planeta, portanto, toda humanidade. Em outras
palavras, acreditava-se existir um risco global sobrepondo-se aos riscos locais
que, até então, eram sentidos apenas nos bairros pobres, ou regiões mais pobres
tanto nos países ricos como nos países pobres. (d) A questão ambiental é
globalizada ao se tentar submeter toda a humanidade a um mesmo estilo de vida,
comandada pela mesma lógica econômica que contém em si mesma o caráter da
desigualdade. A humanidade toda, mesmo de modo desigual, vê-se submetida a
riscos originados de ações decididas por alguns poucos, e para o benefício de
poucos, sendo assim, na sua essência, injusto.
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O mesmo autor comenta, também, os efeitos negativos de se tomar como
referência o modelo de vida da sociedade norte-americana:
A promessa moderna de que os homens e mulheres, sendo iguais por princípio, são iguais na
prática não pode concretamente ser realizada se a referência de estilo de vida para essa igualdade
for o american way of life. Mais do que nunca vemos que a modernidade é colonial, não só na
medida em que não pode universalizar seu estilo de vida, mas pelo modo como, pela colonização
dos corações e mentes, procura instilar a idéia de que é desejável e, acima de tudo, possível que
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PORTO-GONÇALVES, C. W. O desafio ambiental. (org.) Emir Sader. [Os porquês da desordem
mundial. Mestres explicam a globalização.] Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 28.
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A origem do ambientalismo no movimento da contracultura criticava o consumismo como estilo de
vida, o militarismo, exatamente lá no centro do domínio capitalista em seu pólo mais desenvolvido, nos
EUA e na Europa Ocidental. E quando Porto-Gonçalves se refere à cultura, ele a entende como um
conjunto de saberes e valores que atribui sentido às práticas sociais; logo, a contracultura indica,
precisamente, a busca de outros sentidos para a vida.
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Não se pretende entrar na discussão sobre o processo de globalização, mas tomamos como pressuposto
que uma visão efetivamente crítica da globalização leva em consideração que ela é uma condição
histórica concreta e, portanto, permeada de contradições (produtivas e não-produtivas), que é um
fenômeno multidimensional, que diz respeito não só ao domínio econômico, mas, também ao domínio
político, social, cultural, socioambiental, tecnológico e educacional.