Senhora Laia Pereira Bueno, disserta sobre as mudanças ocorridas na organização
curricular da escola, realizadas a partir da Lei Orgânica do Ensino Industrial. Ela afirma
que a escola era muito procurada, realizando anualmente vestibulares, uma vez que não
atendia a demanda e que os cursos foram organizados respeitando a especificidade de
escola feminina e as determinações da Lei Orgânica do Ensino Industrial com disciplinas
de cultura geral e disciplinas de cultura técnica
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, práticas educativas de educação física e
educação musical (canto orfeônico) e também educação doméstica
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.No último relatório,
de 1948, a diretora alerta a Superintendência do Ensino que os programas escolares já não
atendiam às exigências comerciais e industriais, pois os cursos eram os mesmos da época
de inauguração da escola. Segundo a diretora, outras profissões surgiram que ofereciam
mais vantagens às trabalhadoras. Era necessário então providenciar cursos novos e novas
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Sobre este aspecto a diretora escolar insiste para que as disciplinas da cultura geral sejam diminuídas, pois
não tinham uma aplicação imediata e deveriam ter sua carga reduzida: “suprimidas sem prejuízo ao preparo
cultural de nossas alunas.” (Relatórios dos Trabalhos Escolares,1944:7). Em 1946 solicita uma ampliação no
horário das disciplinas relacionadas à cultura técnica, afirmando que a orientação da Lei Orgânica do Ensino
Industrial de 1942 abalou a procura pelos cursos profissionais, pois esta não dava ênfase a esta parte do
currículo. A única disciplina de cultura geral considerada adequada pela diretora era a de Português. A
observação mais específica em relação a esta disciplina encontrava-se na má influencia da língua estrangeira
que exercia “na linguagem das alunas os vícios da linguagem dos pais, que em grande parte são estrangeiros ou
filhos de estrangeiros”. (São Paulo. Estado. Relatórios dos Trabalhos Escolares, 1946:4). Outras disciplinas,
como a Matemática e Ciências foram consideradas inadequadas às artes femininas. Mas para a senhora Laia
Pereira Bueno o curso de Educação Doméstica e Dietética para Donas de Casa era o de maior importância para
a escola, apesar de, segunda ela, a Lei Orgânica do Ensino Industrial ter relegado este “a um segundo plano”
(São Paulo. Estado.Relatórios dos Trabalhos Escolares, 1946:8). Para ela, os frutos dessa formação eram
colhidos junto à família das alunas, pois eram capazes donas de casa. O curso também ajudava as alunas como
profissionais, já que elas demonstravam “eficiência junto a refeitórios particulares, hospitais, creches ou
colégios, onde tem sido chamadas para prestar serviços.” (São Paulo. Estado.Relatórios dos Trabalhos
Escolares, 1946:11). Muitas alunas eram chamadas para ocupar a direção e organização de restaurantes,
refeitórios, creches, entre outros locais. Já nos textos de 1944, a diretora relata que o papel da escola era o de
manter “a exata noção do relevante papel que a mulher desempenha em todos os setores da sociedade e a
consciência do destacado valor que, de futuro terão, na sociedade, no seio da família, como donas de casa, mães
e esposas.” (São Paulo. Estado.Relatórios dos Trabalhos Escolares, 1944:9).
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A grade curricular da escola assim era composta
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: A) Cursos Industriais: Curso de Corte e Costura; Curso de
Chapéus, Flores e Ornatos; Curso de Cerâmica; Curso de Pintura – o objetivo era ensinar um oficio.
B) Cursos de Mestria: Curso de Corte e Costura; Curso de Roupas Brancas e Rendas e Bordados; Flores,
Chapéus, Arranjos; Desenho Profissional e Plástico; Formação de Mestras de Educação Domestica; Auxiliares
em Alimentação - o objetivo era formar como mestres os egressos do ensino industrial.
Além desses mantinha cursos extraordinários, conforme determinado no art. 12, da Lei Orgânica do Ensino
Industrial:
C) Cursos Noturnos: Costura; Chapéus; Flores; Pintura, Cartazes e Letreiros; Datilografia e Taquigrafia. O
objetivo era proporcionar uma qualificação profissional a jovens e adultos diplomados ou não.
D) Cursos de Aperfeiçoamento: Desenho Profissional e Plástico; Auxiliar de Alimentação;
E) Cursos de Continuação: Confecções; Chapéus; Comercio; Pintura.
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