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A teoria sócio-semiótica da linguagem hallidayana define a ‘ocasião de uso da
linguagem’ (Cloran, Butte & Williams, 1996, p.9) em termos de ‘contexto de situação’
e ‘contexto de cultura’. Cada ‘contexto da situação’ é um sistema de ‘relevâncias
motivadoras’ para o uso da linguagem (Hasan, 1996c, p.37), de forma que uma
determinada atividade humana em andamento e a interação entre os participantes são
mediadas pela linguagem. Por conseguinte, a percepção do que é relevante em termos
de uso da linguagem em dada situação é, ao mesmo tempo, um processo individual
(pelo pensamento) e compartilhado (pela interação), que também define o que conta
como ‘contexto’ (p.38). Assim, numa relação dialética, o contexto de situação se
constitui em uma ‘força dinâmica’ na citação e na interpretação do texto (p.41).
Eggins (2004, p. 87) afirma que
assim como todos os textos apontam para um contexto externo, e dependem dele
para sua interpretação, da mesma forma, todos os textos contêm o contexto dentro deles
mesmos. Quando lemos textos, estamos sempre nos deparando com marcadores do
contexto dentro deles, quer estejamos conscientes quanto a isso ou não.
A noção de contexto engloba tudo o que pode ser falado ou escrito,
incluindo o não-verbal e o ambiente como um todo; serve para fazer uma ponte
entre o texto e a real situação na qual ele ocorre. Quanto ao conceito de contexto
de situação, este inclui o ambiente verbal e, também, a situação na qual o texto se
insere. Nesse tipo de abordagem de língua(gem), admite-se uma postura
amplamente pragmática, uma vez que toma-se a língua(gem) em ação, sendo
impossível interpretar a mensagem sem se ter acesso aos elementos do contexto
que estão representados na produção verbal.
Entretanto, segundo Halliday & Hasan (1989), é preciso mais do que o
ambiente imediato; é preciso incluir na análise um aprofundado conhecimento
cultural, o que leva a que se pense que somente o contexto imediato não é capaz
de fornecer todas as bases para a compreensão e análise da linguagem. Daí lançar-
se mão de toda a história cultural dos participantes, que está por trás dos mesmos,
durante o processo da interação verbal. A isso, dá-se o nome de contexto cultural.
Dessa forma, ‘cultura’ seria um conceito extremamente complexo, a
ponto de ser entendido por Motta-Roth (2005, p.184-185) como:
[O] conhecimento compartilhado, por qualquer grupo social, sobre práticas
sociais, (...) identificado por um recorte geográfico e histórico contra o pano de fundo
dos demais locais e tempos; assim como a cultura acadêmica /universitária pode ser
identificada por um recorte profissional-educacional em relação a outros contextos de
trabalho pedagógico; ou a cultura de um hospital, por um recorte
institucional/profissional, que a diferencia daquela de uma escola ou de uma loja de
departamentos e assim por diante.
Todas essas culturas são estruturadas a partir de atividades que fazem nascer
comunidades.
(...) ‘Cultura’, portanto, é um sistema, um conjunto de processos sociais que são
dinâmicos e sujeitos a mudança, pois, não são fixos dentro de fronteiras sociais,
econômicas ou nacionais. ‘Cultura’ é conhecimento aprendido no processo histórico e
social, uma rede complexa que liga o conhecimento, a moral, as crenças, artes, leis,
comportamentos ou qualquer outra capacidade ou hábito que adquirimos como
membros de um grupo, com caráter local e dinâmico, construído via interação
lingüística (Holliday, 1999; Laraia, 1986, apud Motta-Roth, 2005, pp. 184-185).
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