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Universidade Estadual Paulista - UNESP
Programa Institucional em Ciência e Tecnologia de Materiais
POSMAT
Rebeca Delatore Simões
“ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE BLENDAS DE
PVDF/LÁTEX
VISANDO APLICAÇÃO COMO BIOMATERIAL”
Presidente Prudente
2005
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Rebeca Delatore Simões
“PROPRIEDADES FÍSICAS DE BLENDAS DE PVDF/LÁTEX
VISANDO APLICAÇÃO COMO BIOMATERIAL”
Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação
Institucional em Ciência e Tecnologia de Materiais da
UNESP, área de concentração em Engenharia de Materiais e
Metalurgia (materiais não-metálicos), como requisito à
obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de
Materiais, sob a orientação do professor Dr. Carlos Jo
Leopoldo Constantino.
Presidente Prudente
2005
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Ficha catalográfica elaborada por
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO
UNESP - Bauru
Simões, Rebeca Delatore
Estudo das propriedades físicas de blendas de
PVDF/látex visando aplicação como biomaterial / Rebeca
Delatore Simões. - - Bauru : [s.n.], 2005.
73 f.
Orientador: Carlos José Leopoldo Constantino.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Ciências, 2005.
1. Borracha natural. 2. Espalhamento - Raman. 3.
Análise térmica. 4. Microscopia eletrônica de varredura. I –
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II -
Título.
Dedico este trabalho aos meus pais e amigos
que acreditaram na concretização
deste sonho.
Agradecimentos
Trabalhar em uma dissertação deveria ser como compor uma música. As primeiras
descobertas como notas musicais, as primeiras anotações como um acorde, de forma que, a cada
mês nascesse um hino e a cada ano uma sinfonia. Mas compor uma música não é fácil,
especialmente a de uma dissertação. Muitos acordes levam tempo para serem definidos, a
melodia que parece estar concluída inesperadamente pode mudar. Há horas em que você fica
pensando se é mesmo possível compor. Sou profundamente grata aos amigos e professores que
arregaçaram as mangas e me ensinaram o melhor tom para se compor esta dissertação.
Ao Casé por sua dedicação, paciência e orientação.
Ao professor Chú do IFSC/USP pela acolhida e carinho no início deste trabalho.
Aos professores Aldo e Neri pela amizade e orientação.
Aos professores Dante L. Chinaglia e José A. Malmonge pelas medidas elétricas e
discussões.
Ao professor Giacometti pelo apoio e contribuição na discussão dos resultados.
Ao professor José Carlos Camargo Filho pela colaboração.
Ao Xuxa do IFSC/USP por agilizar a moagem do PVDF.
Aos professores, funcionários e colegas do DFQB, muito obrigada!!
FAPESP e IMMP/CNPq.
“ A consciência do dever cumprido infundo em nossa alma uma doce alegria”
George Herbert.
RESUMO
O principal objetivo deste trabalho de mestrado foi a obtenção e caracterização estrutural de um
material com propriedades físico-químicas compatíveis com aquelas requeridas por um
biomaterial. Filmes contendo diferentes volumes de látex de borracha natural em uma massa fixa
de poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF), na forma de pó foram fabricados por
compressão/aquecimento de uma mistura de ambos os materiais sem o uso de qualquer solvente.
Este é um fator importante considerando o uso destes filmes no futuro próximo como biomateriais
em diferentes aplicações (indução do crescimento do tecido ósseo, por exemplo), uma vez que os
solventes convencionais usados para dissolver o PVDF têm se mostrado tóxicos ao organismo
humano. Os filmes foram submetidos a um tratamento via descarga corona de forma que amostras
com e sem tal tratamento foram caracterizadas através das técnicas de espectroscopia vibracional
via espalhamento Raman e absorção no infravermelho (FTIR), análise térmica via
termogravimetria (TG), calorimetria exploratória diferencial (DSC) e análise dinâmico-mecânica
(DMA) e microscopias ótica e eletrônica (MEV). As medidas termomecânicas mostraram que os
filmes obtidos possuem características mecânicas similares àquelas encontradas no osso humano e
boa estabilidade térmica considerando-se a aplicação desejada. As medidas via espectroscopia
vibracional indicaram que o PVDF e o látex não interagem quimicamente, compondo uma blenda
polimérica. Além disto, os resultados obtidos via micro-Raman mostraram que o aumento da
quantidade de látex na blenda permite uma melhor dispersão deste látex na matriz de PVDF
quando da produção dos filmes. Em termos de morfologia, a blenda apresenta regiões lisas e
rugosas, sendo que nestas o látex é disperso de forma bastante homogênea na matriz de PVDF
enquanto que naquelas o látex encontra-se mais concentrado. Entretanto, à medida que o volume
de látex na blenda é aumentado de 0,3 para 1,0mL, as regiões lisas tornam-se mais difíceis de
serem encontradas. Esta morfologia é confirmada por imagens de MEV não somente para a
superfície do filme, mas também ao longo do seu volume. Vale destacar que um estudo básico via
espalhamento Raman da transição de fase
α
Ö
β
de filmes comerciais de PVDF, os quais foram
estirados e submetidos a tratamento com descarga corona, foi realizado como suporte para os
estudos que vieram em seguida envolvendo as blendas de PVDF/látex.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Borracha natural. 2. Espalhamento - Raman. 3. Análise térmica. 4.
Microscopia eletrônica de varredura.
ABSTRACT
The main goal of this work was to obtain and characterize structurally a material with physical-
chemical properties compatible with those required for a biomaterial. Films containing different
volumes of latex of natural rubber in a fixed mass of poly (vinylidene fluoride) (PVDF) powder
were fabricated by compressing/annealing a mixture of both materials without using any solvent.
This is an important issue having in mind to use these films in the future as biomaterials in
different applications (growing of the bone tissue, for instance) once the solvents used to dissolve
the PVDF are toxic to human being. The films were submitted to a corona discharge treatment in a
way that samples with and without such treatment were characterized using micro-Raman
scattering and Fourier transform infrared absorption (FTIR) spectroscopies, thermo-mechanical
techniques using thermogravimetry (TG), differential scanning calorimetry (DSC) and dynamical-
mechanical analysis (DMA) and optical and scanning electron microscopies (SEM). The thermo-
mechanical measurements revealed that the films present mechanical properties close to that
found for the human bone and high thermal stability considering the desired applications. The
vibrational spectroscopies showed that the latex and PVDF do not interact chemically leading to
the formation of a polymeric blend. Besides, the results recorded using the micro-Raman
technique revealed that the higher the amount of latex in the blend, the better the miscibility
between both materials. In terms of morphology, the blend surface is formed by two domains: one
is rougher and contains the latex well dispersed into the PVDF matrix while the other is smoother
and contains both materials as well but in a less homogeneous dispersion. However, as the volume
of latex is increased from 0.3 to 1.0 mL, the smoother domains become rarer to be found. This
morphology trend is confirmed by SEM not only along the film surface but also in the transversal
section. It must be mentioned that a basic study using Raman scattering of the
α
Ö
β
phase
transition of PVDF commercial films, which were stretched and submitted to corona discharge
treatment, was carried out as a support to the next study involving the blends containing
PVDF/latex.
KEYWORDS: 1. Natural rubber. 2. Micro-Raman scattering. 3. Thermal Analysis. 4. Scanning
electronic microscopy.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: estrutura molecular do PVDF. Cadeia helicoidal fase α (a) e cadeia planar fase β (b).
Figura 2: apresentação das quatro fases cristalinas do PVDF,
α
(não polar) ou II, fase
β
(polar)
ou I, fase
γ
(polar) ou III e a fase
δ
(
α
p
= alfa polar) IIp.
Figura 3: diagrama esquemático mostrando as inter-relações entre as quatro fases do PVDF
onde T, temperatura; P, pressão; E, campo elétrico [39].
Figura 4: estrutura molecular do cis-1,4-isopreno.
Figura 5: modos de vibração molecular. Os sinais + e - indicam movimentos para fora e para
dentro do plano do desenho, respectivamente.
Figura 6: diagrama de energia mostrando diferentes transições de uma molécula para um
modelo considerando dois estados eletrônicos de energia.
Figura 7: esquema básico do triodo de corona com corrente constante.
Figura 8: esquema do triodo de corona destacando a região entre a base e a amostra.
Figura 9: prensa utilizada para fabricação dos filmes de PVDF/látex, a qual dispõe de um
controlador de temperatura.
Figura 10: bastão de 0.5NR/PVDF.
Figura 11: espalhamento Raman obtido com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-
α
sem
estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem diferentes comprimentos em
relação ao comprimento inicial.
Figura 12: difração de raio-x para filmes de PVDF-
α
sem estiramento e estirados a 5,0mm/min
até atingirem diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
Figura 13: DSC para filmes de PVDF-
α
sem estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem
diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
Figura 14: espalhamento Raman obtido com laser em 785nm para filmes de PVDF-
α
estirados
4x com diferentes velocidades de estiramento.
Figura 15: espalhamento Raman obtidos com laser em 514,5nm polarizado circular, paralelo e
ortogonalmente à direção de estiramento do filme utilizando-se o PVDF-
α
estirado
4x.
Figura 16a: espalhamento Raman para menores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 4x com e sem descarga
corona. A: PVDF-
α
, B: PVDF-
α
polarizado, C: PVDF-
α
estirado 4x e D: PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
Figura 16b: espalhamento Raman para maiores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 4x com e sem descarga
corona. A: PVDF-
α
, B: PVDF-
α
polarizado, C: PVDF-
α
estirado 4x e D: PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
Figura 17: espalhamento Raman obtidos com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 6x ambos com e sem tratamento via descarga corona.
Figura 18: DSC de filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 4x e 6x com e sem tratamento via
descarga corona.
Figura 19: espalhamento Raman para o PVDF ao longo das etapas de processamento que
envolvem a fabricação dos filmes prensados.
Figura 20: espalhamento Raman em diferentes polarizações do laser (circular, paralelo e
ortogonal) para filmes prensados de PVDF.
Figura 21: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.3NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.3NR/PVDF.
Figura 22: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.5NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.5NR/PVDF.
Figura 23: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.7NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.7NR/PVDF.
Figura 24: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 1.0NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 1.0NR/PVDF.
Figura 25: espalhamento Raman para o filme prensado de 0.5NR/PVDF em função da
temperatura.
Figura 26: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para altos e
baixos números de onda.
Figura 27: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para baixos
números de onda.
Figura 28: MEV (10.000x) / filme prensado de PVDF (superfície).
Figura 29: MEV (500x) / filme prensado de PVDF (superfície).
Figura 30: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (superfície).
Figura 31: MEV (1.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (superfície).
Figura 32: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (superfície).
Figura 33: MEV (2.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (superfície, porém dentro da região
lisa).
Figura 34: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (superfície).
Figura 35: MEV (3.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (superfície, porém dentro da região
lisa).
Figura 36: MEV (10.000x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (superfície).
Figura 37: MEV (500x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (superfície).
Figura 38: MEV (10.000x) / filme prensado de NR (superfície).
Figura 39: MEV (1.000x) / filme prensado de NR (superfície).
Figura 40: MEV (10.000x) / filme prensado de PVDF (seção transversal).
Figura 41: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.3NR/PVDF (seção transversal).
Figura 42: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.5NR/PVDF (seção transversal).
Figura 43: MEV (10.000x) / filme prensado de 0.7NR/PVDF (seção transversal).
Figura 44: MEV (10.000x) / filme prensado de 1.0NR/PVDF (seção transversal).
Figura 45: MEV (10.000x) / filme prensado de NR (seção transversal).
Figura 46a: medidas de TG de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 46b: medidas de TG apresentadas na Figura 28a, porém para temperaturas entre 370 e
510
o
C.
Figura 47: medida de DSC em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 48: medida de DMA em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 49: medida de DMA em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
Figura 50: espalhamento Raman para o filme prensado de PVDF com e sem tratamento via
descarga corona.
Figura 51: espalhamento Raman para o filme prensado de 0.5NR/PVDF com e sem tratamento
via descarga corona.
Figuras 52: MEV (10.000x) / filme prensado PVDF (superfície) / corona.
Figuras 53: MEV (10.000x) / filme prensado 0.5NR/PVDF (superfície) / corona.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: quadro comparativo das propriedades de materiais
Tabela II: nomenclatura dos filmes de PVDF, látex e PVDF/látex.
Tabela III: número de onda, largura de banda na metade da intensidade (FWHM) entre
parênteses e intensidade relativa em itálico obtidos por modelagem via função mista
Gauss-Lorentz e atribuições das bandas Raman para os filmes PVDF-
α
, PVDF-
α
polarizado, PVDF-
α
estirado 4x, PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
Tabela IV: atribuições das bandas dos espectros Raman e FTIR de filmes de PVDF-α, sendo
ν
s
:
estiramento simétrico;
ν
a
: estiramento antissimétrico;
δ
: scissoring; w: wagging; t:
twisting; r: rocking.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................
1
CAPÍTULO I – Introdução.............................................................................................
4
1.1 O tecido ósseo.......................................................................................................................... 4
1.2 Polímeros................................................................................................................................. 7
1.3 O látex de borracha natural.................................................................................................... 11
1.4 Calorimetria exploratória diferencial (DSC).......................................................................... 13
1.5 Termogravimetria (TG)........................................................................................................... 14
1.6 Análise dinâmico-mecânica (DMA)........................................................................................ 14
1.7 Espectroscopia vibracional (absorção IR e espalhamento Raman)....................................... 15
a) Espectroscopia de absorção no infravermelho......................................................................... 15
b) Espectroscopia de espalhamento Raman........................................................................................ 17
1.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV).......................................................................... 19
1.9 O triodo de corona com corrente constante............................................................................ 20
CAPÍTULO II – Procedimento experimental...........................................................
22
2.1 Caracterização de filmes comerciais de PVDF...................................................................... 22
2.2 Fabricação e caracterização de filmes prensados de PVDF/látex......................................... 23
2.3 Fabricação dos bastões de PVDF e PVDF/látex destinados a implante................................ 29
CAPÍTULO III – Filmes comerciais de PVDF – estudo básico.........................
32
CAPÍTULO IV – Filmes prensados de PVDF/látex – caracterização..............
41
4.1 Espectroscopia vibracional..................................................................................................... 41
a) Espalhamento Raman................................................................................................................ 41
b) Absorção FTIR.......................................................................................................................... 49
4.2 Medidas de MEV..................................................................................................................... 52
4.3 Medidas de TG........................................................................................................................ 57
4.4 Medidas de DSC...................................................................................................................... 59
4.5 Medidas de DMA..................................................................................................................... 61
4.6 Filmes tratados com descarga corona.................................................................................... 64
CONCLUSÕES............................................................................................................................ 68
REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 71
APRESENTAÇÃO
Nesta dissertação de mestrado é apresentada a caracterização via espectroscopia
vibracional (espalhamento micro-Raman e FTIR), análise termomecânica (TG, DSC e DMA) e
microscopia (óptica e MEV) de blendas de PVDF/látex de borracha natural desenvolvida no
período de agosto/2003 a julho/2005 visando como passo seguinte da pesquisa o implante destes
materiais em cobaias com o objetivo de se estudar a indução do crescimento de tecido ósseo. Este
projeto de mestrado teve origem no meu trabalho de iniciação científica realizado na FCT/UNESP
sob a orientação do professor Neri Alves quando investigamos de forma preliminar a aplicação de
PVDF e compósitos PVDF/CaCO
3
na indução do crescimento de calo ósseo. O projeto de
mestrado foi aprovado originalmente para ter início a partir de março/2003, porém, por estar na
condição de aluna ouvinte no programa Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais do
IFSC/USP, foi solicitada à FAPESP a alteração no início da bolsa que começou a vigorar em
agosto do mesmo ano sob orientação do professor Osvaldo N. de Oliveira Jr. também do
IFSC/USP.
Já no final de 2003 foi solicitada à FAPESP uma mudança tanto de orientador (do
professor Oliveira Jr. para o professor Carlos J. L. Constantino da FCT/UNESP) como de
programa de pós-graduação (do programa Interunidades da USP para o programa
Institucional/POSMAT da UNESP). Além disto, uma nova alteração foi realizada, porém dentro
do próprio projeto. Inicialmente previa-se a fabricação de blendas de PVDF e colágeno, porém,
optamos por substituí-lo por látex de borracha natural. Este material é biocompatível e apresenta
propriedades interessantes relacionadas ao crescimento de tecidos, o que foi amplamente discutido
no I Encontro do Instituto Milênio de Materiais Poliméricos (IMMP, financiado pelo MCT/CNPq)
em palestra proferida pelo professor Joaquim C. Netto da USP de Ribeirão Preto. Além disto, o
látex de borracha natural é objeto de estudo do professor Aldo E. Job da FCT/UNESP no que se
refere às suas propriedades termomecânicas. Desta forma, encontramos um material que é
disponível em abundância, que permite uma estreita interação com outro professor da FCT e que,
em princípio, nos parecia adequado para as aplicações que vislumbrávamos.
A idéia geral do projeto de mestrado então foi a de aproveitar minha experiência na
utilização do PVDF como um biomaterial e possibilitar que eu avançasse neste sentido tanto
trabalhando no processamento do material em si como agregando novas técnicas de
caracterização, conhecimentos importantes para minha formação na área de ciência dos materiais.
Vale destacar que o processo de implante dos bastões em cobaias está em sua fase inicial. O
projeto está tramitando no comitê de ética em experimentação animal da FCT/UNESP e é liderado
pelo professor José Carlos C. Filho do Departamento de Fisioterapia da FCT/UNESP. Estes
resultados não farão parte desta dissertação, mas abrem perspectivas para trabalhos futuros.
Como fruto desta dissertação de mestrado, um artigo foi publicado na revista Applied
Spectroscopy abordando a transição de fase
α
Ö
β
induzida por estiramento em filmes comerciais
de PVDF. Este trabalho surgiu quando no primeiro ano de mestrado tive a oportunidade de
participar do III Encontro do IMMP, o que possibilitou a minha inserção na colaboração existente
entre a FCT/UNESP, o IGCE/UNESP de Rio Claro (professor Dante L. Chinaglia) e o IFSC/USP
de São Carlos (professor Oliveira Jr.). Um segundo trabalho foi recentemente submetido à revista
Journal of Raman Spectroscopy tratando da caracterização dos filmes de PVDF/látex de borracha
natural. Há ainda um outro estudo que segue em paralelo no qual tenho participado em
colaboração com o professor Job e está relacionado ao estudo via TG e DSC da influência do
estabilizante (amônia) nas propriedades físico-químicas do látex e um artigo está em preparação
abordando estes resultados. Todos os trabalhos descritos acima propiciaram ainda a participação
em congressos nacionais e internacionais.
Assim sendo, esta dissertação de mestrado está dividida da seguinte forma: o capítulo I
traz uma descrição dos materiais e os princípios básicos das técnicas de caracterização utilizadas
enquanto o capítulo II traz o procedimento experimental realizado no trabalho de fabricação e
caracterização dos filmes PVDF/látex e bastões para implantes. O capítulo III contém os
resultados e discussão do estudo da transição
α
Ö
β
em filmes comerciais de PVDF, o capítulo IV
apresenta os resultados e discussão da caracterização dos filmes prensados de PVDF/látex de
borracha natural e, por fim, encontram-se as conclusões e as perspectivas futuras.
CAPÍTULO I
Introdução
1.1 O tecido ósseo
O tecido ósseo é um tipo especializado de tecido conjuntivo de sustentação, formado por
células e por material extracelular calcificado, denominado matriz óssea. Além das funções de
apoio ao músculo esquelético e proteção de órgãos vitais e partes moles do corpo, o tecido ósseo
também atua como depósito de cálcio, fosfato e outros íons, armazenando-os ou liberando-os de
maneira controlada. As células que compõem o tecido ósseo são: osteoblastos, produtores da parte
orgânica da matriz óssea (colágeno, proteoglicanas e glicoproteínas adesivas), osteócitos
responsáveis pela manutenção da matriz óssea, e os osteoclastos que são células gigantes, móveis
e multinucleadas que reabsorvem o tecido ósseo participando do processo de remodelação dos
ossos e da regulação dos níveis plasmáticos de cálcio (1). A remodelação é um processo contínuo
de destruição e renovação óssea, que ocorre normalmente ao longo da vida em humanos e outros
mamíferos. A remodelação minimiza os prejuízos dos desgastes rotineiros, mas devido a uma
ineficiência inerente deste mecanismo, há uma perda óssea normal relacionada ao fator etário (2).
É conhecida a influência de fenômenos elétricos nos processos biológicos. A formação de tecido
ósseo é um desses processos em que as interações eletromecânicas agem regulando a proliferação,
diferenciação e função celular (1,2).
O metabolismo das células ósseas é afetado pela energia
mecânica e, sob o ponto de vista eletrofisiológico, o tecido biologicamente hiperativo se torna
eletronegativo (3), proporcionando o aparecimento de pequenas correntes elétricas. Essa geração
de corrente elétrica no osso ocorre devido à propriedade piezelétrica observada em diversos
componentes extracelulares (4), particularmente no colágeno (5).
A piezeletricidade é definida como a propriedade que os materiais têm de converter um
sinal elétrico em deformação mecânica e vice-versa (4). Assim, os materiais piezelétricos são
aqueles que geram correntes elétricas quando submetidos a vibrações mecânicas. Esta propriedade
ocorre em materiais que apresentam uma estrutura cujo centro de cargas positivas não coincide
com o centro de cargas negativas, ou seja, em materiais não centro-simétricos. Quando essa
estrutura é deformada, a separação nos centros de carga positiva e negativa produz uma
polarização real. Esta é uma propriedade presente no colágeno que está imerso na matriz óssea e
confere ao osso a capacidade de gerar correntes elétricas quando submetido a tensões mecânicas.
A função biológica da piezeletricidade é, portanto, gerar correntes elétricas que regulam a
atividade das células osteogênicas (4). Ossos mecanicamente comprimidos geram um potencial
elétrico e o resultado desta deformação mecânica repetida e das contrações musculares é um
aumento de correntes elétricas pulsáteis no osso. A redução de forças deformantes produzirá uma
diminuição da massa óssea principalmente nas regiões de fratura (1,4). A maior dificuldade na
recuperação de pacientes com fraturas reside na falta de forças deformantes sobre o osso devido
ao repouso e as imobilizações inevitáveis durante o tratamento, que reduzem a atividade
eletromecânica e, conseqüentemente, dificultam o processo de reabilitação do paciente. A
aceleração na cicatrização de fraturas pode ser promovida terapeuticamente pela aplicação de
fontes extrínsecas de energia elétrica, induzindo a osteogênese. Essas correntes podem ser obtidas
por ações externas de campos magnéticos, campos elétricos, ultra-som (energia mecânica), entre
outras, ou através de implantes que funcionem como pequenas fontes de corrente elétricas (2,4).
Muitos dos avanços significativos na odontologia e na medicina moderna surgiram em
função da interação multidisciplinar envolvendo a engenharia, a medicina, a química, a física e a
biologia dando origem a ciência dos biomateriais. Um biomaterial é definido como uma
substância ou combinação de duas ou mais substâncias, farmacologicamente inertes, de origem
sintética ou orgânica, capaz de ser utilizado por um período de tempo como parte ou todo de um
sistema, para melhorar, aumentar ou substituir, parcial ou inteiramente, tecidos, órgãos ou funções
do corpo humano (6,7). As principais características dos biomateriais são biocompatibilidade, não
ser tóxico nem carcinogênico, apresentar bioestabilidade, propriedades mecânicas adequadas, peso
e densidade adequados, ter custo relativamente baixo e ser de fácil processamento. Dentre estes,
se destaca a biocompatibilidade que é uma propriedade inerente a certos materiais inertes e
inócuos (biomateriais), que expostos intermitentemente ou continuadamente aos fluidos orgânicos
do corpo humano, como sangue e líquido sinovial, apresenta aceitação e tolerância dos tecidos
envoltórios a sua presença. No entanto, estes materiais não devem causar disfunções no organismo
ao longo do tempo. A FDA (Food and Drug Administration), por exemplo, exige uma segurança
funcional durante um período de 20 anos para que um biomaterial seja liberado para implantes
(6,7).
Com a experiência através dos anos, chegou-se a conclusão que biomateriais modernos
não devem ter apenas a função de preenchimento de espaço. Devem estar associados a uma
resposta biológica particular, disparada por sinais originados em nível molecular que incluem:
correntes elétricas, distribuição eletrônica, conformação molecular, estado de agregação ou
propriedades físico-químicas (7). A classificação dos biomateriais depende da sua natureza
química, dividindo-se em biomateriais naturais que se subdividem em homólogos (quando
originados do próprio indivíduo, como é o caso das pontes de safena), autólogos (quando
originados de outras pessoas) e heterólogos (quando originados de animais e aproveitados em
implantes ou cirurgias) ou biomateriais sintéticos que incluem implantes cirúrgicos, e que se
dividem em metálicos (ferrosos e não ferrosos), cerâmicos, polímeros e compósitos, e que venham
a substituir parcial ou integralmente a função original dos materiais biológicos (6,7). A Tabela1
apresenta um quadro comparativo entre algumas propriedades dos metais, cerâmicas e polímeros
(8).
Tabela 1 - quadro comparativo das propriedades de materiais
Propriedades Polímeros Cerâmicas Metais
Biocompatibilidade Boa Excelente Boa
Resistência Química Boa Excelente Boa
Resistência Térmica Pequena Grande Média
Expansão Térmica Grande Pequena Média
Transmissão de Calor Pequena Média Grande
Dureza Baixa Alta Média
Compressibilidade Pequena Grande Média
Resistência a Tração Pequena Pequena Grande
Fragilidade Pequena Grande Pequena
Moldabilidade Fácil Difícil Normal
Custo Baixo Alto Alto
1.2 Polímeros
A palavra polímero = “poly” (muitas) + “mer“ (partes), é originária do grego e foi criada
por Berzelius, em 1832, para designar compostos de pesos moleculares múltiplos. Isto é, são
macromoléculas caracterizadas por seu tamanho, estrutura química e interações intra e
intermoleculares. Possuem unidades químicas ligadas por covalência, repetidas regularmente ao
longo da cadeia, denominadas meros. Quando um polímero tem somente um tipo de mero, usa-se
a expressão homopolímero e quando há mais de um tipo de mero, é designado copolímero (9).
diversas formas de classificação para os polímeros, que geralmente são apresentados em três
grandes categorias: termoplásticos, termofixos e elastômeros (10).
Em termos de materiais para implantes, os polímeros são uma boa alternativa, visto que
possuem propriedades mecânicas desejáveis. Por exemplo, Fukada, Takamatsu e Yasuda
trabalhando com teflon implantado no fêmur de coelhos constatou a formação de calo ósseo em
apenas duas semanas (11). Ao ser introduzido no organismo, um implante de material polimérico
pode produzir uma reação inflamatória. Se o polímero for inerte, a inflamação será pequena e ele
será encapsulado por tecido fibroso, como a maioria dos implantes metálicos e cerâmicos. No
entanto, apesar de apresentar qualidades desejáveis para agir como um biomaterial, se o polímero
apresentar toxidade, o processo inflamatório se mostrará muito acentuado provocando necrose no
tecido receptor. De modo geral, a toxicidade dos polímeros é consideravelmente maior que a dos
metais e das cerâmicas. A presença de cargas superficiais no polímero é outro fator que influencia
a formação do tecido fibroso. Carga superficial positiva, por exemplo, pode atrair eritrócitos, que
possuem carga superficial negativa, e o contato das células com o material potencialmente
citotóxico pode destruí-las (12).
O PVDF já foi muito estudado devido suas propriedades mecânica, ferroelétrica
(capacidade natural de um material isolante exibir uma polarização espontânea, isto é, na ausência
de campo elétrico) e propriedades elétricas, as quais são adequadas para aplicações eletro-óticas e
eletromecânicas (13,14). Recentemente, o PVDF tem sido usado para uma nova aplicação
tecnológica, em bioengenharia, em que a propriedade eletromecânica é combinada com a
biocompatibilidade (7) para auxiliar a indução de crescimento ósseo, fabricação de tecidos
artificiais e próteses (15). A chave para tal quantidade de aplicações se deve à alta atividade
piezelétrica do PVDF, a qual depende de sua fase cristalina polar. A cadeia molecular do polímero
PVDF é formada pela repetição de unidades –CF
2
-CH
2
- e tem como características básicas um
peso molecular da ordem de 10
5
g/mol, correspondendo à cerca de 2.000 unidades monoméricas
com um comprimento médio de aproximadamente 0,5µm (Figura 1). As cadeias se organizam em
formas de lamelas formando esferulitos que durante o processo de cristalização crescem
radialmente a partir de um ponto comum. O material é constituído em média por 50% de lamelas
cristalinas, que são da ordem de 100Å de espessura e podem atingir até 10µm de comprimento.
Este polímero semicristalino apresenta temperatura de transição vítrea (Tg) por volta de -50ºC e as
moléculas podem apresentar várias conformações (arranjo espacial dos átomos de carbono ao
longo da cadeia). O PVDF é um polímero que exibe diversas fases cristalinas, conhecidas como
α
(não polar) ou II, fase
β
(polar) ou I, fase
γ
(polar) ou III e a fase
δ
(
α
p
= alfa polar) IIp (nesta
pesquisa será usada a notação de
α
,
β
,
γ
e
δ
) apresentadas na Figura 2.
A fase
α
é a mais comum, visto que o material normalmente se cristaliza nesta fase com
conformação helicoidal e sistema cristalino do tipo monoclínico com parâmetros de rede a =
4,96Å, b = 9,64Å e c = 4,62Å. A fase
β
é a mais desejável pela elevada resposta piro e piezelétrica
que apresenta (13) e neste caso a cadeia do PVDF adota uma conformação zigue-zague planar
com sistema cristalino do tipo ortorrômbico e parâmetros de rede a = 8,58Å, b = 4,91Å e c =
2,56Å. Esta conformação dispõe de altos valores de polarização elétrica para a célula unitária,
sendo que o momento de dipolo de uma unidade monomérica é de cerca de 7x10
-28
Ccm (13),
associada a grande diferença de eletronegatividade entre os átomos presentes nas ligações C-F
(Figura 1). A cristalização do PVDF na fase
β
não ocorre diretamente, em condições normais, a
partir do material fundido (13,14), porém diversos procedimentos podem ser usados na conversão
de uma fase para outra (14). Uma das formas mais comum de alcançá-la é através de deformação
mecânica (estiramento) de filmes de PVDF na fase
α
(13,14), porém esta transformação é
altamente influenciada pela temperatura (14) conforme apresenta a Figura 3. Outras possibilidades
menos freqüentes é a aplicação de um campo elétrico muito alto para um filme de PVDF aquecido
acima da Tg (16) ou mesmo utilizando o método de casting em que se deposita uma solução de
PVDF sobre um substrato sólido com uma temperatura controlada (17).
Figura 1: estrutura molecular do PVDF. Cadeia helicoidal fase α (a) e cadeia planar fase β (b).
Figura 2: apresentação das quatro fases cristalinas do PVDF,
α
(não polar) ou II, fase
β
(polar)
ou I, fase
γ
(polar) ou III e a fase
δ
(
α
p
= alfa polar) IIp.
Figura 3: diagrama esquemático mostrando as inter-relações entre as quatro fases do PVDF
onde T, temperatura; P, pressão; E, campo elétrico (14).
1.3 O látex de borracha natural
No início do século passado, o Brasil passou da condição de principal produtor e
exportador, para importador de borracha natural. Atualmente, o Brasil participa de menos de 1%
da produção mundial de borracha natural, o que é insuficiente, pois supre apenas 30% do consumo
interno (18). O interesse pela produção de borracha natural está crescendo sistematicamente
principalmente na região sudeste, onde o estado de São Paulo é o maior produtor de borracha do
país, contando hoje com cerca de 45.000 hectares plantados com seringueira (18,19). É matéria-
prima primordial para a fabricação de vários artefatos desde a indústria de sapato até materiais
bélicos (19) e mantêm sua grande fatia no mercado devido à impossibilidade de se reproduzir
quimicamente um polímero com as mesmas qualidades do polímero natural.
A borracha natural é obtida pela coagulação do látex, um líquido branco leitoso, em
árvores do gênero Hevea brasiliensis através do processo de sangria (18). Esta é essencialmente
composta pelo monômero cis-1,4-isopreno, na qual as unidades monoméricas da molécula são
arranjadas na combinação cabeça-cauda, como é mostrado na Figura 4. Os principais constituintes
do látex, além da borracha, são proteínas, aminoácidos, carboidratos, lipídios e ácidos nucléicos
(20). Os principais componentes ao redor da membrana do látex são os lipídios que apresentam
um papel importante no tempo de estabilidade mecânica do látex estabilizado em amônia (20).
Após tratamentos denominados vulcanização (processo que provoca a transformação das
propriedades plásticas da borracha em elástica), adquire propriedades de elastômeros, redes
poliméricas com ligações cruzadas termicamente estáveis, transformando-se na borracha natural
(18). Estes materiais têm estruturas químicas que permitem grande deformação sob baixa tensão e,
removida a força, retornam quase à condição inicial, sem perda significativa de forma e dimensões
(9). Única entre os produtos naturais, a borracha natural tem características próprias. Exibe
elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste, propriedades isolantes de eletricidade e
impermeabilidade para gases e líquidos. Quando utilizada ou manipulada a baixa temperatura (por
volta de 60°C) conserva suas propriedades cicatrizantes (19,20).
CH
2
CH
2
CH
2
CH
2
CH
2
CH
2
CH
3
CH
3
CH
3
CH
CH
CH
C
C
C
Figura 4: estrutura molecular do cis-1,4-isopreno.
1.4 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)
Na técnica de DSC mede-se a diferença de energia (entalpia) fornecida à substância e a um
material de referência enquanto a substância e o material são submetidos a uma variação
programada de temperatura (21). Isto permite investigar alterações na cristalinidade do material
em função da temperatura. As transições de fase são acompanhadas por alterações de entalpia do
composto, já que alterações na estrutura do material liberam ou absorvem energia pela quebra e
formação de novas ligações ou simplesmente por rearranjos na estrutura cristalina. Para polímeros
semicristalinos, em particular, a técnica de DSC fornece a temperatura de transição vítrea (Tg),
isto é, a transformação reversível da região amorfa de um polímero que muda de uma condição
rígida para uma condição viscosa, menos rígida. Fornece também a temperatura de cristalização
em que os primeiros cristais são formados, a temperatura máxima de cristalização e a temperatura
de fusão. Entre as temperaturas de cristalização inicial (formação dos primeiros cristais) e a
temperatura máxima de cristalização podem ocorrer várias transições de fases cristalinas.
1.5 Termogravimetria (TG)
Nesta técnica a massa de uma substância é medida em função da temperatura (21). Em
polímeros a curva TG apresenta informações sobre a estabilidade térmica do material, o efeito de
aditivos na estabilidade térmica, a estabilidade térmica oxidativa, o perfil térmico, a cinética de
degradação, estudo da decomposição térmica do polímero entre outros. A técnica TG é
classificada como uma técnica quantitativa pelo fato de não identificar qual substância foi
evaporada. Para tais identificações se faz necessário o uso de técnicas complementares através de
acoplamentos no equipamento de TG ou testes qualitativos de bancada.
1.6 Análise dinâmico-mecânica (DMA)
A análise de DMA é capaz de fornecer informações a respeito do comportamento
viscoelástico do sistema, desmembrando em duas componentes: a contribuição elástica e a
contribuição viscosa. A viscoelasticidade em um material pode ser definida como um
comportamento intermediário entre sólido e líquido de forma que parte da energia é armazenada e
parte é dissipada sob forma de calor. Em geral, os polímeros podem apresentar diferentes “estados
mecânicos” em função da temperatura e/ou tempo, por exemplo, um plástico que apresenta uma
certa rigidez à temperatura ambiente, pode tornar-se um material mais flexível se submetido a
uma temperatura mais elevada. Neste tipo de experimento a tensão ou a deformação é uma função
oscilatória e senoidal acompanhada de uma freqüência angular. O princípio da medida envolve a
aplicação em um material de uma deformação senoidal conhecida, sendo a tensão resposta
apresentada em função da variação da temperatura ou da freqüência. Essa tensão resposta irá
depender do comportamento do material. Matematicamente, é possível acompanhar como as
informações a respeito das contribuições elástica e viscosa do material podem ser obtidas (10).
Quando a deformação senoidal coincide em fase com a tensão resposta, isto é, a amplitude da
tensão resposta é máxima, então o material possui um comportamento elástico ideal. Porém, se
deformação senoidal se encontra fora de fase com a tensão resposta, também senoidal, então o
material possui um comportamento viscoelástico. O módulo oriundo da componente da tensão
resposta em fase com a deformação é denominado módulo de armazenamento (E
) e o módulo
oriundo da componente de tensão resposta fora de fase com a deformação é denominado módulo
de perda (E”) (10). A razão entre os valores do módulo de perda, E”, e o módulo de
armazenamento, E’, define uma grandeza denominada tangente de perda, tan δ, isto é, a razão
entre a energia dissipada por ciclo e a energia potencial máxima armazenada durante o ciclo. Em
termos de propriedades de interesse para implante biológico, as medidas de DMA são
importantes, pois não devem existir grandes diferenças entre o módulo de elasticidade do tecido
vivo e dos materiais implantáveis para que as estruturas não deformem de maneira diferente. O
osso, por exemplo, tem módulo de elasticidade entre 8.000 e 24.000MPa (4).
1.7 Espectroscopia vibracional (absorção IR e espalhamento Raman)
a) Espectroscopia de absorção no infravermelho
A partir do espectro da radiação eletromagnética pode-se inferir o mecanismo envolvido
em cada técnica espectroscópica a partir da energia (que é proporcional à freqüência) da radiação
eletromagnética absorvida, espalhada ou emitida pelas moléculas que interagem com a radiação
incidente. As formas das moléculas estocarem energia cinética envolvem não só a translação da
molécula em si, mas também a movimentação de seus elétrons, a vibração de seus átomos e sua
rotação (22). Conseqüentemente, além das transições entre níveis eletrônicos deve-se levar em
consideração também às transições oriundas de vibrações e rotações, cujas energias envolvidas
decrescem nesta seqüência. Tipicamente energias de transições eletrônicas são da ordem de 1 eV,
de vibrações moleculares da ordem de 10
-2
eV e de rotação algo em torno de 10
-5
eV (23,24).
Quando as vibrações moleculares resultam em alterações do momento de dipolo da
molécula, em conseqüência da variação da distribuição eletrônica ao redor das ligações, podem-se
induzir transições entre os níveis vibracionais. Isto é feito com a incidência de radiação
eletromagnética com energia adequada, ou seja, energia da ordem daquela das vibrações
moleculares. Neste caso, as energias associadas aos níveis vibracionais se encontram na região do
infravermelho do espectro eletromagnético. Quando a energia da radiação incidente está em
ressonância com a energia de vibração de uma determinada ligação química da molécula, a
radiação incidente é absorvida por esta ligação, ou, em outras palavras, quando o dipolo oscilante
referente a uma determinada ligação química se encontra em fase com o campo elétrico da
radiação incidente ocorre à transferência de energia da radiação para a molécula resultando em
uma transição vibracional (23,24).
Basicamente, as vibrações moleculares são classificadas em dois tipos: vibrações de
deformação axial (stretching) e de deformação angular (bending), conforme mostrado na Figura 5.
As deformações de estiramento são oscilações radiais das distâncias entre os núcleos enquanto as
deformações angulares envolvem mudanças dos ângulos entre as ligações ou, como no modo de
deformação assimétrica fora do plano, alterações do ângulo entre o plano que contém as ligações e
um plano de referência. As deformações angulares podem ser divididas ainda em scissoring,
rocking, wagging e twisting (Figura 5), cujas traduções são geralmente omitidas.
Figura 5: modos de vibração molecular. Os sinais + e - indicam movimentos para fora e para
dentro do plano do desenho, respectivamente.
b) Espectroscopia de espalhamento Raman
O espalhamento Raman é uma técnica complementar à espectroscopia de absorção no
infravermelho na medida em que também se refere aos modos de vibração molecular, de forma
que modos de vibração que podem ser observados via absorção no infravermelho podem não ser
via espalhamento Raman e vice-versa, o que é determinado pelas regras de seleção (23,24).
Porém, ambas as técnicas espectroscópicas envolvem mecanismos físicos diferentes. Como diz o
próprio nome, uma se refere ao espalhamento da luz e a outra se refere à absorção desta radiação.
No espalhamento Raman, a radiação incidente, geralmente no visível ou no ultravioleta, é
espalhada pela molécula com uma energia ligeiramente diferente da energia da radiação incidente,
daí o espalhamento Raman ser conhecido também como espalhamento inelástico da luz, devendo
induzir este processo uma variação na polarizabilidade da molécula a partir da radiação incidente
(23,24). A diferença entre a radiação incidente e a radiação espalhada está na região do espectro
infravermelho e esta diferença é registrada pelo computador. Ainda no caso Raman, uma outra
abordagem é que a incidência da radiação eletromagnética produz uma perturbação dependente do
tempo, a qual se manifesta por um estado virtual de energia. Quando os estados estacionários final
e inicial são os mesmos, diz-se que o efeito da perturbação é o espalhamento Rayleigh, para o qual
as freqüências das radiações incidente e espalhada são as mesmas. Quando a freqüência da
radiação espalhada é maior que a da radiação incidente, tem-se o espalhamento Raman anti-Stokes
como resultado da transição da molécula para um estado de menor energia. No caso contrário, ou
seja, quando a freqüência da radiação espalhada é menor que a da radiação incidente tem-se o
espalhamento Raman Stokes (24).
O espalhamento Raman Stokes é mais intenso que o Raman anti-Sotkes à temperatura
ambiente, pois sua probabilidade de ocorrer é maior, uma vez que ele se dá para as moléculas
situadas no estado fundamental de energia. No caso Raman anti-Stokes, o espalhamento ocorre
para moléculas situadas em um estado vibracional excitado cuja população é menor que no estado
fundamental a temperatura ambiente, daí sua probabilidade de ocorrer ser menor. Quando a
energia da radiação incidente coincide com uma transição eletrônica da molécula que espalha a
luz tem-se o espalhamento Raman ressonante, o qual aumenta fortemente a probabilidade de uma
transição que resultará em um espalhamento Raman (aumenta a seção de choque do espalhamento
Raman por um fator em torno de 10
6
) (24,25). A Figura 6 apresenta um diagrama de energia
resumindo as transições relacionadas com absorções eletrônicas e vibracionais e espalhamento
Raman e Raman ressonante.
Figura 6: diagrama de energia mostrando diferentes transições de uma molécula para um modelo
considerando dois estados eletrônicos de energia.
1.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
O uso desta técnica tem sido cada vez mais freqüente por fornecer informações detalhadas
de uma amostra, com confiabilidade, com aumentos de até 300.000x. A imagem é formada através
da incidência de um feixe de elétrons gerado em um canhão focalizado sobre a amostra, que varre
uma pequena região da mesma, sob condição de vácuo. Como conseqüência, uma série de sinais é
emitida, dos quais destacamos os elétrons secundários que fornecem a imagem da superfície
ionizada do material em tons de cinza, sendo que os tons mais claros representam as faces do
material orientadas para o detector. Os elétrons secundários oferecem melhor resolução espacial e
também melhor visualização da morfologia superficial da amostra. A resolução obtida
corresponde ao diâmetro do feixe de elétrons incidente, que pode variar de acordo com o
equipamento utilizado na análise. Um fator relevante é a condição de calibração do equipamento,
tal como a intensidade da corrente e condições de vácuo. As possibilidades de utilização são muito
maiores do que a simples aquisição e exibição destes sinais. As grandes oportunidades
introduzidas pela microscopia de varredura (em todas as suas formas) são a disponibilidade de um
sinal e de uma imagem eletrônica aos quais podem ser aplicados todos os recursos modernamente
disponíveis para processamento de sinais e de imagens (26).
1.9 O triodo de corona com corrente constante
O triodo de corona com corrente constante foi desenvolvido no então Grupo de Eletretos,
atual Grupo de Polímeros, do IFSC/USP e tem sido aplicado nas medidas das propriedades
ferroelétricas de polímeros (14). A Figura 7 mostra o desenho esquemático do triodo de corona. O
sistema experimental consiste basicamente de uma ponta metálica P onde é aplicada uma alta
tensão elétrica através da fonte V
c
, uma grade metálica G usada para distribuir a tensão aplicada
de maneira uniforme sobre a superfície da amostra, o suporte para as amostras e o eletrômetro E,
usado para medir a corrente através da amostra, a qual é realimentada pela fonte V
g
para manter a
corrente de carga constante. Sejam E(x,t) e ρ(x, t) o campo elétrico e a densidade de carga
espacial na região entre a amostra e a grade, respectivamente, conforme apresenta a Figura 8, se a
fonte V
g
mantiver a corrente elétrica constante, E(x,t) e ρ(x, t) serão independentes do tempo.
Neste caso a diferença de potencial V
ρ
, que se estabelece entre a grade e a amostra, também é
constante [14,27]. Pela regra de Kirchhoff, o valor de V
ρ
é dado por:
sg
VtVtV = )()(
ρ
onde V
s
é o potencial da superfície da amostra (14). Assim, no triodo de corona com corrente constante, a
evolução do potencial de superfície da amostra pode ser obtido diretamente da medida do
potencial da grade, desde que V
ρ
seja conhecido. O valor de V
ρ
depende da configuração do
sistema e das condições de operação, como umidade da câmara, corrente de carregamento e de
corona e da distância entre a grade e a amostra.
Figura 7: esquema básico do triodo
de corona com corrente constante.
Figura 8: esquema do triodo de
corona destacando a região entre a
base e a amostra.
CAPÍTULO II
Procedimento experimental
2.1 Caracterização de filmes comerciais de PVDF
Amostras comerciais de filmes de 50µm de espessura de PVDF na fase
α
, adquiridas da
Bemberg Folien, Alemanha, foram estiradas e tratadas com descarga corona pelo professor Dante
L. Chinaglia da UNESP/Rio Claro. Um primeiro lote foi estirado a temperatura de 80ºC e
velocidade de estiramento de 5,0mm/min (motor de passo controlado por computador) até o filme
chegar a diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial (2 a 6 vezes o comprimento
inicial), ou seja, as amostram tinham um comprimento inicial de 3cm e depois de estiradas
ficaram com 6, 9, 12, 15 e 18cm. Após o estiramento, as amostras foram metalizadas com
alumínio para garantir a superfície de contato durante o processo de polarização. Os filmes foram
polarizados em um sistema carregado com um triodo de corona (27) sob atmosfera de ar e baixa
umidade. A irradiação por corona foi realizada na superfície não-metálica utilizando um potencial
negativo de –10kV, e o potencial da grade de –5kV e a corrente da corona de 10µA. As amostras
foram mantidas sob descarga corona por 5 minutos. Um segundo lote de amostras foi produzido
estirando-se filmes de PVDF-
α
até 4x, também sob temperatura constante de 80ºC, porém
variando-se a velocidade de estiramento de 2,0 a 7,0mm/min (2,0; 3,0; 4,0; 5,0; 6,0 e 7,0mm/min).
O processo de polarização adotado para este segundo lote foi o mesmo do primeiro lote. O
espalhamento Raman (Stokes) foi obtido usando o laser com comprimento de onda de 632,8nm
em um espectrógrafo micro-Raman RM2000 da marca Renishaw (Laboratório do professor
Ricardo Zanatta do IFSC/USP) e também usando lasers com comprimentos de onda 514,5 e
785nm em um espectrógrafo micro-Raman In-Via da marca Renishaw. Ambos são equipados com
um microscópio ótico da marca Leica (série DMLM), cuja objetiva 50x utilizada permite uma
resolução espacial da ordem 1,0µm
2
, detector CCD Peltier (resfriado a -70
o
C), plataforma
motorizada XYZ (motor de passo – 0,1µm) onde são posicionadas as amostras. Em todos os casos
a potência do laser na amostra é da ordem de µW. Em ambas etapas do trabalho foi utilizado o
laser do equipamento Raman polarizado linearmente, no entanto, para se obter resultados
consistentes, os filmes estirados foram sempre colocados com a direção de estiramento paralela ao
campo elétrico do laser.
Em alguns experimentos foram coletados espectros usando diferentes polarizações do
campo elétrico do laser incidente com o objetivo de verificar uma possível anisotropia em relação
à orientação molecular induzida pelo estiramento do filme. É importante mencionar que em
experimentos complementares foi observado que a potência do laser sobre a amostra não induz
qualquer mudança na morfologia das amostras de PVDF. Complementarmente, medidas de DSC
foram realizadas em um equipamento Netzsch modelo 204, atmosfera de gás N
2
(10mL/min) e
razão de aquecimento de 10ºC/min e medidas de difração de raio-x foram obtidas em um
difratômetro Rigaku RU-200B com variação de 2θ entre 10 e 30º (IFSC/USP).
2.2 Fabricação e caracterização de filmes prensados de PVDF/látex
O PVDF utilizado na fabricação dos filmes prensados foi o FLORAFON F4000 HD
adquirido da Atochem na forma de pequenos tarugos. Este PVDF foi então moído em dimensões
de aproximadamente 0,03mm de diâmetro em um moinho criogênico no Departamento de
Engenharia de Materiais (DEMA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Já o látex foi
coletado em abril de 2002 a partir de seringueiras do clone RRIM 600 da fazenda experimental da
EMBRAPA, localizada na cidade de Indiana, região de Presidente Prudente, SP. O látex foi
extraído de diferentes árvores, armazenado em vidros escuros previamente limpos e então
estabilizado a partir da adição de amônia 2% em massa. Esta estabilização é necessária para evitar
que num curto período de tempo o látex coagule e perca suas propriedades. A vidraria utilizada
em cada experimento foi lavada com água e detergente neutro, em seguida com solução
sulfocrômica quando necessário, enxaguada em água corrente, depois água destilada e, por fim,
em acetona e seca em estufa.
O PVDF geralmente é dissolvido em solventes como dimetilacetamida (DMA),
dimetilformamida (DMF) ou dimetilsulfóxido (DMSO). Porém, estes solventes são altamente
tóxicos ao organismo humano (28) e segundo pesquisas do professor Camargo Filho, quando
utilizados na fabricação dos implantes induzem um processo infeccioso acelerado (29). Portanto,
na busca por uma alternativa para a fabricação de filmes sem a utilização de solventes, optou-se
por diferentes procedimentos. O primeiro processo de fabricação consistiu em preparar-se o filme
de PVDF aquecendo-o (por volta de 180ºC) até fundi-lo para então se depositar uma fina camada
de látex sobre uma das superfícies do PVDF fundido formando uma espécie de “sanduíche” de
PVDF/látex/PVDF. Este “sanduíche” era rapidamente prensado sob alta temperatura na
expectativa de que o látex se misturasse ao PVDF de maneira uniforme, o que não aconteceu.
Quando o látex de borracha natural é aquecido suas características físicas mudam, sua aparência
passa de um líquido viscoso e branco para uma película amarelada, elástica e pegajosa devido ao
processo de vulcanização da borracha, o que impedia a sua difusão através da matriz de PVDF.
O processo seguinte testado foi à fabricação de uma “pasta” de PVDF e látex a partir da
mistura em um almofariz do látex adicionado ao pó de PVDF. Após a mistura manual, a pasta foi
levada à prensa obtendo-se um filme com propriedades mecânicas aparentemente satisfatórias.
Este processo foi otimizado por meio de modificações nos parâmetros de fabricação: quantidade
de látex adicionada ao PVDF, temperatura da prensa, pressão exercida sobre a blenda, tempo de
prensagem e tipo de molde, o qual pode influir na espessura e homogeneidade da amostra devido
às características da prensa utilizada. Foi fabricado um molde constituído por uma placa de
alumínio retangular com 0,5mm de espessura; 8,5cm de comprimento e 9,5cm de largura, com
uma área vazada de 5,0cm de comprimento por 4,0cm de largura. Estas dimensões foram
escolhidas por propiciarem filmes mais homogêneos à medida que minimizam os gradientes de
temperatura e pressão ao longo do volume do filme e facilitam o corte destes filmes nos tamanhos
adequados requeridos para o implante. O molde onde se deposita o material permanece entre duas
placas de alumínio de 3,0mm de espessura e 12,0x12,0cm que proporciona uma maior
regularidade da superfície do filme. Para facilitar a retirada do filme após a prensagem e
proporcionar superfície mais lisa colocou-se uma folha de Kapton de 10,0x10,0cm de área de cada
lado do molde isolando-o das placas externas de alumínio. Utilizou-se para a fabricação dos
filmes uma prensa hidráulica de até 15 toneladas da Prensa Forte Charllot monitorada por um
controlador de temperatura modelo PXV marca Contempcom (Figura 9).
Foram fabricados vários filmes até que o procedimento de fabricação fosse otimizado e,
após esta etapa, fabricaram-se os dois lotes estudados nesta dissertação. Em um primeiro lote,
foram preparados quatro filmes em diferentes proporções, utilizando o método de prensagem a
quente: PVDF puro; látex puro; 2,0g de PVDF para 1,0mL de látex e 2,0g de PVDF para 0,5mL
de látex. Depois de realizadas medidas de caracterização com este primeiro lote, fabricou-se e
caracterizou-se um segundo lote com seis filmes. Neste segundo lote, quatro dos seis filmes
possuíam a mesma proporção de PVDF/látex presentes no primeiro lote e as outras duas
proporções foram 2,0g de PVDF para 0,3mL de látex e 2,0g de PVDF para 0,7mL de látex. Para
padronizar a descrição dos filmes utilizou-se a nomenclatura dada na Tabela II, a qual também
apresenta a % em massa de borracha seca no látex (40% (19)) em relação à massa total de ambos
polímeros na blenda (2,0g de PVDF + 0,40 x massa correspondente ao volume de látex na
blenda).
Figura 9: prensa utilizada para fabricação dos filmes de PVDF/látex, a qual dispõe de um
controlador de temperatura
Tabela II - nomenclatura dos filmes de PVDF, látex e PVDF/látex.
Filmes % em massa de NR em relação
à massa total da blenda
Nomenclatura
PVDF PVDF
Látex de borracha natural NR (natural rubber)
2,0g de PVDF/0,3mL de látex 94,5% de PVDF/5,5% de NR 0.3NR/PVDF
2,0g de PVDF/0,5mL de látex 91,1% de PVDF/8,9% de NR 0.5NR/PVDF
2,0g de PVDF/0,7mL de látex 88,0% de PVDF/12,0% de NR 0.7NR/PVDF
2,0g de PVDF/1,0mL de látex 83,7% de PVDF/16,3% de NR 1.0NR/PVDF
Abaixo são dados descritos os parâmetros utilizados em cada etapa da prensagem dos
filmes de PVDF, 1.0NR/PVDF, 0.7NR/PVDF, 0.5NR/PVDF e 0.3NR/PVDF:
- Temperatura da prensa: ~ 180
o
C
- Primeira prensagem: 2 minutos, 6 toneladas
- Segunda prensagem: 1 minuto, 4 toneladas
- Terceira prensagem: 3 minutos, 6 toneladas
Para o filme de NR, o parâmetro utilizado na prensagem foi modificado para que o filme
não sofresse degradação térmica:
- Temperatura da prensa: ~ 150
o
C
- Primeira prensagem: 1 minuto, 4 toneladas
- Segunda prensagem: 2 minutos, 6 toneladas
Abaixo é descrita a fabricação de todos os filmes, sendo que no processo de prensagem
fez-se um alívio de aproximadamente 5 segundos entre cada prensagem para liberação das bolhas
de ar presentes no filme quando prensado.
9 PVDF: pesou-se 3,0g do PVDF em pó que foi colocado diretamente sobre a folha de
Kapton no centro do molde, entre as placas de alumínio e prensado de acordo com os parâmetros
de prensagem descritos acima.
9 NR: aqueceu-se num agitador magnético 5,0mL do látex a temperatura de
aproximadamente 50
o
C mexendo levemente até atingir-se uma consistência pegajosa. Este
processo leva cerca de 15 minutos, após o qual deposita-se este material no centro do molde a ser
prensado com os parâmetros de prensagem descritos acima para NR.
9 Filmes NR/PVDF: o filme 1.0NR/PVDF foi obtido adicionando-se 2,0g do PVDF na
forma de pó a 1,0mL de látex em um almofariz e misturando-se manualmente por
aproximadamente 20 minutos para homogeneizar e obter uma mistura com aspecto pastoso, a qual
foi depositada sobre a folha de Kapton no molde de alumínio e prensada segundo os parâmetros
descritos acima. Os demais filmes foram obtidos seguindo-se o mesmo procedimento, porém
adicionando-se 0,7; 0,5 e 0,3mL de látex aos 2,0g de PVDF para a fabricação dos filmes
0.7NR/PVDF, 0.5NR/PVDF e 0.3NR/PVDF, respectivamente. Após a fabricação, os filmes foram
cortados para que fossem tratados com descarga corona (27) e caracterizados através de
espalhamento Raman e MEV.
Medidas de DSC foram realizadas num equipamento Netzsch modelo 204 com razão de
aquecimento de 10ºC/min e N
2
como gás de arraste na faixa de temperatura de -100 a +200°C.
Também foram realizadas medidas de DSC com razão de aquecimento de 5ºC/min com o objetivo
de verificar o comportamento térmico dos filmes quando submetido a duas razões de aquecimento
diferentes. As medidas de TG foram realizadas em dois equipamentos diferentes. O primeiro lote
num equipamento Netzch modelo 209, com razão de aquecimento de 10ºC/min e N
2
como gás de
arraste na faixa de temperatura de -120 a 200°C. Já as medidas de TG do segundo lote foram
realizadas num equipamento TA Instruments, nas mesmas condições do experimento anterior, no
Laboratório do professor Éder Cavalheiro do IQSC/USP, uma vez que o TG Netzch modelo 209
foi enviado à Alemanha para manutenção. Medidas de DMA foram realizadas num equipamento
Netzch modelo 242 com razão de aquecimento de 5ºC/min, freqüência de 10Hz e N
2
como gás de
arraste na faixa de temperatura de -120 a +200°C. No equipamento de DMA também foram
realizadas diversas medidas, ora mudando a freqüência de vibração, ora mudando a razão de
aquecimento. Para tanto, inicialmente realizou-se medidas fixando a razão de aquecimento em
5ºC/min e mudou-se a freqüência para 1Hz. Depois se fixou a freqüência em 10Hz e mudou-se a
razão de aquecimento para 10ºC/min utilizando a mesma faixa de temperatura (-120 a 200°C).
Medidas de FTIR foram realizadas num espectrômetro Bruker modelo Vector 22 no modo ATR,
detector DTGS, 32 scans, resolução espectral de 4cm
-1
e atmosfera ambiente. Raman foi realizado
no espectrógrafo micro-Raman da Renishaw modelo in-Via descrito na seção 2.1. Foram
investigadas diferentes regiões da amostra de forma sistemática, colhendo-se simultaneamente
informações tanto químicas como morfológicas com uma resolução espacial da ordem de 1µm
2
a
partir do acoplamento do espectrógrafo Raman ao microscópio Leica. Os espectros Raman foram
obtidos ainda para amostras submetidas a diferentes temperaturas e a tratamento com descarga
corona (27). As medidas em função da temperatura foram realizadas em um acessório Linkan
modelo 600 apropriado para acoplar-se ao espectrógrafo micro-Raman com os seguintes
parâmetros: razão de aquecimento de 5ºC/min entre 25 e 180ºC com espectros sendo coletados a
cada 25ºC até 150ºC e a cada 10ºC entre 150 e 180ºC. As medidas de MEV foram realizadas num
equipamento Zeizz West Germany modelo DSM-960 no IFSC/USP (tensão 20KV). Inicialmente
foi necessário secar as amostras em estufa a 60ºC por aproximadamente 15 minutos e metalizá-las
com ouro até uma espessura do recobrimento de aproximadamente 20nm. Esta metalização foi
realizada num equipamento Balzers modelo SCD050 Sputter Coater (IFSC/USP). A descarga
corona foi realizada com corona negativa, tensão de 20KV durante duas horas. A tensão foi
aplicada nas duas superfícies do filme. Os parâmetros para o tratamento dos bastões com descarga
corona foram os mesmos que se realizaram com os filmes.
2.3 Fabricação dos bastões de PVDF e PVDF/látex destinados a implante
Quando desenvolvi meu trabalho de iniciação científica, foram estudados vários processos
de fabricação de uma prótese óssea, de material polimérico, para implante em coelhos. O melhor
método encontrado naquele momento foi por prensagem à quente, onde o PVDF era dissolvido
em DMA e depositado na cavidade superior de um molde vertical. Este dispositivo era prensado e
o material impulsionado a extremidade inferior do molde que possui formato cilíndrico com
diâmetro 2,0mm. Como no trabalho de mestrado optou-se por não utilizar solvente, o processo de
fabricação adotado no trabalho de iniciação científica tornou-se inviável. Um outro processo foi
então tentado, no qual, o material é prensado horizontalmente e diretamente no molde cilíndrico.
Porém, com este processo também não se obteve sucesso devido ao comprometimento da
homogeneidade das blendas.
A saída encontrada para este problema foi fabricar filmes prensados mais espessos,
alterando apenas as dimensões do molde utilizado na fabricação dos filmes e blendas de 0,5mm.
Fabricou-se um novo molde constituído por uma placa de alumínio quadrada com 2,5mm de
espessura, 10,0cm de comprimento e 10,0cm de largura, com uma área vazada de 2,5cm de lado.
Após fabricação dos filmes eles foram cortados em tiras de 2,0mm de largura e conservou-se o
comprimento de 2,5cm. Com uma lixadeira elétrica arredondaram-se as extremidades das peças e
usando uma furadeira elétrica e lixas finas deu-se o acabamento ao bastão. O controle do diâmetro
foi dado com régua e paquímetro conforme mostra a Figura 10. As dimensões dos bastões são de
4,5mm de comprimento e diâmetro em torno de 3,0mm.
Não serão fabricados bastões com todas as proporções porque isto pode requerer uma
quantidade muito grande de animais em virtude da abordagem estatística necessária para validar
os resultados. Pretende-se escolher o filme de PVDF puro para servir como referência e o filme
0.5NR/PVDF por apresentar homogeneidade e desempenho mecânico mais adequado. Devem-se
utilizar como cobaias para os implantes 32 ratos da espécie Rattus novergicus albinus da
variedade Wistar, machos, fornecidos pelo Biotério da UNESP de Botucatu. Os procedimentos já
foram encaminhados ao Comitê de Ética da FCT/UNESP. Em 16 animais devem ser implantados
16 cilindros tratados com corona sendo 4 de PVDF e 4 de 0.5NR/PVDF na região intercondiliana
do fêmur e os outros 4 de PVDF e 4 de 0.5NR/PVDF no músculo reto abdominal. Em outros 16
ratos devem ser realizados os mesmos implantes, porém com cilindros não tratados com corona. O
período de estudo da consolidação óssea foi fixado em seis semanas para permitir uma
comparação com a literatura (15). Em (15), Callegari; Belangero realizaram um trabalho
implantando bastões de PVDF piezelétrico e não piezelétrico no fêmur de ratos com o objetivo de
analisar a interface formada entre o PVDF (piezelétrico e não piezelétrico) e o tecido ósseo do
rato. Em ambos os tipos de bastão (piezelétrico e não piezelétrico) foi constatado a cicatrização da
pele e tecidos moles sem formação de cápsula fibrosa ao redor dos implantes. Nos bastões de
PVDF não piezelétricos não foi observado crescimento de tecido ósseo. Já nos bastões de PVDF
piezelétrico pode-se observar a formação de tecido ósseo na superfície interna do bastão. Isto foi
atribuído à deposição de cargas negativas apenas na parede interna do material e cargas positivas
na parede externa. Em nosso trabalho, tomamos este artigo como referência para seguir os
mesmos parâmetros utilizados no implante de forma que seja possível realizar comparações dos
resultados.
Figura 10: bastão de 0.5NR/PVDF.
CAPÍTULO III
Filmes comerciais de PVDF – estudo básico
O objetivo principal deste trabalho com filmes comerciais foi fazer um estudo básico via
espalhamento Raman da transição entre as fases do PVDF a partir de uma amostra conhecida, até
para que servisse como base para o trabalho envolvendo as blendas de NR/PVDF. Para este estudo
foi induzida transição de fase
α
Ö
β
a partir de filmes PVDF-
α
estirados mecanicamente em
atmosfera aquecida a 80
o
C. Posteriormente, e de forma complementar, foi investigado o efeito da
descarga corona sobre estes filmes. A Figura 11 apresenta as medidas de espalhamento Raman
com laser 632,8 nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados de 2 a 6 vezes o comprimento
inicial. A transição para a fase
β
pode ser acompanhada, principalmente, pela variação da
intensidade relativa entre as bandas 794 cm
-1
(intensa na fase
α
) e 839 cm
-1
(intensa na fase
β
). As
atribuições das bandas do espectro Raman são dadas na Tabela III (30). Também é observado na
Figura 11 que nos filmes estirados 2x já é possível visualizar a transição
α
Ö
β
. Tais resultados
foram confirmados através de medidas de difração de raios-X e medidas de DSC, técnicas estas
bem estabelecidas em se tratando de PVDF (31). A Figura 12 apresenta o pico de difração em
19,9º característico da fase
α
tendendo para o pico 20,4º característico da fase
β
, para filmes de
PVDF-
α
estirados. Os picos 17,6º e 18,3º presentes nos filmes de PVDF-
α
desaparecem nos
filmes de PVDF-
α
estirados 2x, o que corrobora os resultados de espalhamento Raman. O mesmo
foi observado nas medidas de DSC, Figura 13, onde o filme de PVDF-
α
sem estiramento
apresentou um pico endotérmico em 175,0ºC característico da fusão cristalina da fase
α
e o filme
de PVDF-
α
estirado 2x apresentou um pico em 167,6ºC característico da fusão cristalina da fase
β
(17).
500 1000 1500
2000 2500 3000
α
-PVDF
α
-PVDF + 2x
α
-PVDF + 3x
α
-PVDF + 4x
α
-PVDF + 5x
α
-PVDF + 6x
Numero de onda /cm
-1
Raman 632,8nm
Intensidade/u.a.
794
839
α
+
β
α
Figura 11: espalhamento Raman obtido com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-
α
sem
estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem diferentes comprimentos em relação ao
comprimento inicial.
10 15 20 25 30
0
5000
10000
15000
20000
25000
α
-PVDF + 5x
α
-PVDF + 4x
α
-PVDF + 3x
α
-PVDF + 2x
α
-PVDF
Intensidade/u.a.
2θ (graus)
α
-PVDF + 6x
20.4°
19.9°
10 15 20 25 30
0
5000
10000
15000
20000
25000
α
-PVDF + 5x
α
-PVDF + 4x
α
-PVDF + 3x
α
-PVDF + 2x
α
-PVDF
Intensidade/u.a.
2θ (graus)
α
-PVDF + 6x
20.4°
19.9°
Figura 12: difração de raio-x para filmes de PVDF-
α
sem estiramento e estirados a 5,0mm/min
até atingirem diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
40 60 80 100 120 140 160 180
Temperatura /
o
C
endo
α
-PVDF
α
-PVDF + 2x
α
-PVDF + 3x
α
-PVDF+ 4x
α
-PVDF + 5x
α
-PVDF + 6x
175.0
o
167.6
o
40 60 80 100 120 140 160 180
Temperatura /
o
C
endo
α
-PVDF
α
-PVDF + 2x
α
-PVDF + 3x
α
-PVDF+ 4x
α
-PVDF + 5x
α
-PVDF + 6x
175.0
o
167.6
o
Figura 13: DSC para filmes de PVDF-
α
sem estiramento e estirados a 5,0mm/min até atingirem
diferentes comprimentos em relação ao comprimento inicial.
O efeito da velocidade de estiramento foi verificado por medidas de espalhamento Raman
com laser 785nm para o filme de PVDF-
α
estirado 4x com diferentes velocidades. A Figura 14
apresenta tais espectros e, pela semelhança entre eles para as diferentes velocidades, pode-se
concluir que, dentro do intervalo de velocidades utilizado, este parâmetro não influência na
transição
α
Ö
β
.
Número de onda / cm
-1
Intensidade/u.a.
400
600 800 1000 1200 1400
α
-PVDF
Raman 785nm
α
-PVDF + 4x 2mm/min
α-PVDF + 4x 3mm/min
α
-PVDF + 4x 4mm/min
α
-PVDF + 4x 5mm/min
α
-PVDF + 4x 6mm/min
α
-PVDF + 4x 7mm/min
Número de onda / cm
-1
Intensidade/u.a.
400
600 800 1000 1200 1400
α
-PVDF
Raman 785nm
α
-PVDF + 4x 2mm/min
α-PVDF + 4x 3mm/min
α
-PVDF + 4x 4mm/min
α
-PVDF + 4x 5mm/min
α
-PVDF + 4x 6mm/min
α
-PVDF + 4x 7mm/min
Figura 14: espalhamento Raman obtido com laser em 785nm para filmes de PVDF-
α
estirados 4x
com diferentes velocidades de estiramento.
Complementarmente, foi investigada a possível anisotropia em termos da orientação
molecular induzida no filme pelo processo de estiramento. Para estas medidas escolheu-se o filme
de PVDF-
α
antes e depois de estirado 4x a uma velocidade de 5,0mm/min e utilizou-se a técnica
de espalhamento Raman com o campo elétrico do laser (514,5nm) polarizado circular, paralelo e
ortogonalmente à direção de estiramento. No caso dos filmes de PVDF-
α
não foram observados
mudanças espectrais significativas (figura não mostrada), provavelmente pela distribuição
randômica dos monocristais. Porém, conforme mostra a Figura 15, mudanças espectrais são
observadas dependendo da polarização do campo elétrico do laser incidente como o aumento
significativo na intensidade relativa da banda em 1278cm
-1
e a variação na relação entre a
intensidade das bandas 839 e 794 cm
-1
de 4,0 para 3,5 para 2,7, respectivamente, para as
polarizações no modo paralelo, circular e perpendicular, evidenciando o alinhamento das cadeias
poliméricas pelo processo de estiramento.
400 600 800 1000 1200 1400
circular
perpendicular
paralelo
PVDF α -4x
Número de onda / cm
-1
Intensidade/u.a.
Raman 514,5nm
Figura 15: espalhamento Raman obtidos com laser em 514,5nm polarizado circular, paralelo e
ortogonalmente à direção de estiramento do filme utilizando-se o PVDF-
α
estirado 4x.
Uma outra forma de se induzir transição de fases
α
Ö
β
em filmes de PVDF é através da
polarização elétrica e, para tanto, utilizou-se descarga corona. A Figura 16a apresenta espectros de
Raman para região de baixo número de onda obtidos com laser em 632,8 nm para os filmes de
PVDF-
α
, PVDF-
α
polarizado (
α
-PVDF+P), PVDF-
α
estirado 4x (
α
-PVDF+4x) e de PVDF-
α
estirado 4x e polarizado (α-PVDF+4x+P). A Figura 16b apresenta os mesmos espectros da Figura
6a, porém para a região de maior número de onda. A Tabela III contém o comprimento de onda, a
largura da banda na metade de sua intensidade (FWHM) entre parênteses e a intensidade relativa
em itálico, para cada um dos espectros da Figura 16. Para facilitar a análise dos dados da Tabela
III, às bandas 794 cm
-1
(característica da fase α) e 839 cm
-1
(característica da fase β) atribuiu-se
uma intensidade relativa de 100%.
Aparentemente, a descarga corona proporciona, ao contrário do que seria esperado em um
primeiro momento, uma melhor resolução sinal/ruído das bandas relativas à fase
α
, seja para os
filmes de PVDF estirados ou não. Porém, no caso dos filmes estirados, quanto maior o
comprimento final do filme, menor o efeito da descarga corona, conforme apresenta a Figura 17
que contém os espectros Raman obtidos com laser em 632,8 nm para os filmes de PVDF-
α
,
PVDF-
α
polarizado (
α
-PVDF+P), PVDF-
α
estirado 6x (
α
-PVDF+6x) e de PVDF-
α
estirado 6x e
polarizado (α-PVDF+6x+P). Esta observação é confirmada pelos resultados de DSC apresentados
na Figura 18 obtidos utilizando-se os filmes de PVDF-
α
, PVDF-
α
estirado 4x com e sem
polarização e PVDF-
α
estirado 6x também com e sem polarização via descarga corona.
A intensificação das bandas relativas à fase
α
sugere que o campo elétrico da descarga
corona age preferencialmente sobre a fase
α
remanescente no filme. Isto pode ser compreendido
considerando que o campo elétrico gerado pela descarga corona é perpendicular à superfície da
amostra, conseqüentemente é perpendicular às cadeias poliméricas alinhadas durante o
estiramento do filme e que compõem a fase
β
e é paralelo aos momentos de dipolo desta cadeia.
Desta forma, pouca alteração deveria ser esperada em relação ao alinhamento das moléculas que
compõem os domínios de fase
β
. Por outro lado, os domínios de fase α devem ser pouco afetados
pelo estiramento, de forma que podem ser influenciados pela corona da mesma maneira tanto
antes quanto depois do estiramento. O fato de um maior estiramento de o filme minimizar o efeito
da corona ajuda a confirmar a possibilidade do campo elétrico da corona agir sobre a fase
α
, pois
um filme mais estirado produziria um maior alinhamento das cadeias, ajudando na transição
α
Ö
β
. Assim sendo, menos fase
α
, menos evidente os efeitos sofridos por esta fase.
Tabela III - número de onda, largura de banda na metade da intensidade (FWHM) entre
parênteses e intensidade relativa em itálico obtidos por modelagem via função mista Gauss-
Lorentz e atribuições das bandas Raman para os filmes PVDF-
α
, PVDF-
α
polarizado, PVDF-
α
estirado 4x, PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
α
-PVDF
α
-PVDF + P
α
-PVDF + 4x
α
-PVDF + 4x + P
Atribuições
262 (8) 9 263 (12) 24
β CF
2
t
284 (9) 24 283 (8) 28 276 (29) 4 284 (16) 18
α CF
2
t ; CF
2
w
410 (10) 24 409 (9) 26 413 (16) 2 411 (15) 14
α CF
2
r ; CH
2
r
484 (10) 9 483 (6) 12 487 (45) 10
CF
2
δ ; CF
2
w
510 (9) 12
β CF
2
δ
533 (15) 10 533 (9) 12
α CF
2
δ
609 (8) 32 608 (6) 39 602 (22) 2 609 (11) 25
α CF
2
δ; CCC δ
764 (12) 6 765 (8) 4 763 (13) 3
α CF
2
δ; CCC δ
794 (8) 100 793 (6) 100 796 (20) 24 798 (14) 38
α CH
2
r
837 (9) 11 837 (6) 10 839 (9) 100 839 (8) 100
CH
2
r ; CF
2
ν
a
872 (7) 24 871 (6) 27
α CCν
s
; CCC δ
881 (20) 19 879 (18) 21 879 (18) 20 879 (20) 61
α CC ν
a
; CF
2
ν
s
β CC ν
s
; CF
2
ν
s
973 (16) 5 973 (10) 5 CH
2
t
1055 (17) 14 1055 (16) 12
α CF
2
ν
s
; CH
2
w
1070 (20) 10 1073 (17) 24
CC ν
a
; CF
2
w ;
CH
2
w
1144 (17) 7 1144 (16) 6
α CC ν
a
; CF
2
ν
s
1196 (14) 16 1196 (12) 16 1186 (52) 4 1193 (29) 11
α CF
2
ν
a
; CH
2
w
ombro ombro 1278 (32) 6 1277 (18) 45
CF
2
ν
s
; CC ν
s
;
CCC δ
1291 (26) 11 1291 (17) 11 1292 (21) 16
α CF
2
ν
a
; CF
2
r
1401 (5) 3 1401 (8) 2 1400 (11) 6
CH
2
δ ; CH
2
w ;
CC
ν
a
1426 (10) 33 1425 (8) 30
α CH
2
δ; CH
2
w
1432 (4) 10 1432 (11) 18 1432 (11) 43 1431 (13) 75
CH
2
δ ; CH
2
w
2972 (25) 51 2971 (24) 29 2975 (23) 115 2974 (29) 164
CH
2
ν
s
2985 (12) 90 2985 (12) 53
α (CH
2
) ν
s
3016 (23) 34 3017 (35) 48
β CH
2
ν
a
3023 (18) 39 3023 (20) 39
α CH
2
ν
a
ν
s
: estiramento simétrico;
ν
a
: estiramento antissimétrico;
δ
: scissoring; w: wagging; t: twisting; r: rocking.
200 400 600 800 1000 1200 1400
Número de onda / cm
-1
A
B
C
D
Raman 632,8nm
Intensidade/u.a.
284
410
609
764
794
1196
β
β
β
484
α+β
α
α
α+β
α
α+β
α+β
α
α
α+β
α+β
αα
α
α
α
α
α
839
200 400 600 800 1000 1200 1400
Número de onda / cm
-1
A
B
C
D
Raman 632,8nm
Intensidade/u.a.
284
410
609
764
794
1196
β
β
β
484
α+β
α
α
α+β
α
α+β
α+β
α
α
α+β
α+β
αα
α
α
α
α
α
839
Figura 16a: espalhamento Raman para menores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados por 4x com e sem descarga corona. A:
PVDF-
α
, B: PVDF-
α
polarizado, C: PVDF-
α
estirado 4x e D: PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
2900
2950 3000 3050 3100
2985 α
3016 β
3023 α
2972 α+β
Raman 632,8nm
A
B
C
D
Número de onda / cm
-1
Intensidade/u.a.
Figura 16b: espalhamento Raman para maiores comprimentos de onda obtidos com laser em
632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados por 4x com e sem descarga corona. A:
PVDF-
α
, B: PVDF-
α
polarizado, C: PVDF-
α
estirado 4x e D: PVDF-
α
estirado 4x e polarizado.
Intensidade/u.a.
α
-PVDF
α
-PVDF + P
α
-PVDF + 6x
α
-PVDF + 6x + P
Número de onda / cm
-1
Raman 632,8nm
β
284
410
609
764
794
1196
484
β
400 600 800 1000 1200 1400
Figura 17: espalhamento Raman obtidos com laser em 632,8nm para filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 6x ambos com e sem tratamento via descarga corona.
40 60 80 100 120 140 160 180
α
-PVDF+ 4x
α
-PVDF
α
-PVDF + 6x
α
-PVDF + 4x + P
α
-PVDF + 6x + P
Temperatura /
o
C
Endo
40 60 80 100 120 140 160 180
α
-PVDF+ 4x
α
-PVDF
α
-PVDF + 6x
α
-PVDF + 4x + P
α
-PVDF + 6x + P
Temperatura /
o
C
Endo
Figura 18: DSC de filmes de PVDF-
α
e PVDF-
α
estirados 4x e 6x com e sem tratamento via
descarga corona.
CAPÍTULO IV
Filmes prensados de PVDF/látex - caracterização
4.1 Espectroscopia vibracional
a) Espalhamento Raman
A técnica de espectroscopia via espalhamento Raman foi utilizada neste trabalho com três
objetivos principais: i) verificar a estabilidade do PVDF quanto à degradação molecular e fase
cristalina ao longo de cada um dos processos a que ele foi submetido até a obtenção dos filmes
prensados a quente; ii) investigar possíveis interações químicas entre os polímeros (PVDF e NR)
que constituem o filme e iii) obter informações quanto à homogeneidade dos filmes em nível
microscópico pelo uso do microscópio ótico acoplado ao espectrógrafo. Além da imagem ótica, o
microscópio permite focalizar o laser em uma área de cerca de 1µm
2
, proporcionando assim a
obtenção de espectros dentro deste nível de resolução espacial.
A estabilidade estrutural do PVDF após cada etapa envolvida no processo de fabricação
dos filmes prensados a quente foi acompanhada por medidas Raman, uma vez que estas etapas
envolvem severas solicitações de natureza mecânica e térmica. A Figura 19 apresenta os espectros
do PVDF após cada uma das seguintes etapas: tarugo
ÖÖ filme prensado. Observou-se que os
espectros não diferem entre si, seja quanto ao centro do máximo de intensidade da banda, seja
quanto às intensidades relativas, mostrando que os processos envolvidos na fabricação do filme
prensado não modificam o PVDF. Os espectros são dominados pelas bandas correspondentes à
fase α, as quais são destacadas na Figura 19 e cuja atribuição é dada na Tabela IV (30).
400 600 800 1000 1200 1400
Intensidade/u.a.
mero de onda / cm
-1
PVDF - tarugo
PVDF -
PVDF - filme prensado
Raman 785nm
795 α
871 α
400 600 800 1000 1200 1400
Intensidade/u.a.
mero de onda / cm
-1
PVDF - tarugo
PVDF -
PVDF - filme prensado
Raman 785nm
795 α
871 α
Figura 19: espalhamento Raman para o PVDF ao longo das etapas de processamento que
envolvem a fabricação dos filmes prensados.
Tabela IV: atribuições das bandas dos espectros Raman e FTIR de filmes de PVDF-α, sendo
ν
s
:
estiramento simétrico;
ν
a
: estiramento antissimétrico;
δ
: scissoring; w: wagging; t: twisting; r:
rocking.
Raman (514,5nm) FTIR Atribuições
285 CF
2
t ; CF
2
w
411 CF
2
r ; CH
2
r
484
CF
2
δ ; CF
2
w
536
CF
2
δ
610 613
CF
2
δ ; CCC δ
764 762
CF
2
δ ; CCC δ
795 795 CH
2
r
836
CH
2
r ; CF
2
ν
a
873 871
CC ν
s
; CCC δ
973 975 CH
2
t
1057 1067
CF
2
ν
s
; CH
2
w
1144 1145
CC ν
a
; CF
2
ν
s
Raman (514.5nm) FTIR Atribuições
1198 1179
CF
2
ν
a
; CH
2
w
1212
CH
2
δ ; CH
2
w
1292
CF
2
ν
a
; CF
2
r
1381
CH
2
δ ; CH
2
w
1401 1404
CH
2
δ ; CH
2
w ; CC
ν
a
1426
CH
2
δ ; CH
2
w
2969
CH
2
ν
s
2986
CH
2
ν
s
3025
CH
2
ν
a
A Figura 20 apresenta espectros do filme prensado de PVDF obtidos para diferentes
polarizações do laser incidente (paralelo, ortogonal e circular) com o objetivo de verificar-se uma
possível anisotropia na orientação das cadeias poliméricas induzida pelo processo de prensagem.
Estas direções da polarização do laser são em relação a uma marca feita na amostra para que todos
os espectros fossem coletados com o filme sempre na mesma posição, uma vez que o processo de
prensagem não envolve, em princípio, nenhuma direção preferencial nos planos paralelos à
superfície do filme. Não se observou diferença significativa entre os espectros, o que era esperado
pelo exposto acima em relação ao processo de prensagem. A exceção fica por conta da banda em
2986 cm
-1
atribuída ao estiramento simétrico do grupo CH
2
cuja intensidade relativa diminui para
o modo ortogonal. Porém, no caso dos filmes que misturam PVDF e látex, a influência da direção
do campo elétrico sobre o espalhamento Raman foi ainda menos significativa. Assim sendo,
optamos pela utilização do modo paralelo, tanto para o laser em 785 quanto em 514,5nm.
500 1000 1500 2000 2500 3000
Raman 514,5nm
circular
paralelo
ortogonal
Número de onda / cm
-1
PVDF prensado
795
873
Intensidade/u.a.
285
411
484
610
536
1057
1198
1292
1426
836
2900 2950 3000 3050 3100
3025
2969
2986
500 1000 1500 2000 2500 3000
Raman 514,5nm
circular
paralelo
ortogonal
Número de onda / cm
-1
PVDF prensado
795
873
Intensidade/u.a.
285
411
484
610
536
1057
1198
1292
1426
836
2900 2950 3000 3050 2900 2950 3000 3050 3100
3025
2969
2986
Figura 20: espalhamento Raman em diferentes polarizações do laser (circular, paralelo e
ortogonal) para filmes prensados de PVDF.
As Figuras 21, 22, 23 e 24 trazem os espectros Raman dos filmes 0.3NR/PVDF,
0.5NR/PVDF, 0.7NR/PVDF e 1.0NR/PVDF, respectivamente, as imagens ópticas de cada um
deles obtidas com objetiva de 50x, além dos espectros dos filmes de PVDF e NR utilizados como
referência. Para uma melhor análise comparativa dos resultados fez-se linha de base em todos os
espectros. É destacada na superfície da amostra a região na qual o laser incide para que se possa
ter uma melhor compreensão do que queremos dizer com obtenção de espectros com resolução
espacial em escala micrométrica. De modo geral, a superfície dos filmes que contêm NR/PVDF
apresenta duas regiões distintas, uma mais lisa e outra mais rugosa. As imagens ópticas nas
Figuras 21, 22, 23 e 24 mostram as áreas com as regiões lisas e rugosas de onde foram coletados
espectros Raman. No caso dos espectros coletados na região lisa, além das bandas relativas ao
PVDF, foram observadas algumas bandas relacionadas à NR, com destaque para as bandas em
1680cm
-1
atribuída ao estiramento C=C da cadeia de cis poli(isopreno) (32) e em torno de
2900cm
-1
atribuídas ao estiramento C-H dos grupos CH
2
e CH
3
(33). Já para os espectros
coletados na região rugosa, as bandas do PVDF dominam completamente os espectros. Porém, é
importante destacar que no caso de filmes de NR/PVDF fabricados com maiores volumes de
látex, a quantidade de regiões lisas diminui ao longo da superfície do filme. Isto mostra que as
regiões rugosas também possuem NR, porém nestas regiões deve haver uma melhor dispersão da
NR na matriz de PVDF obtida durante o processo de fabricação da blenda (passo anterior à
prensagem, em que o látex é misturado ao pó de PVDF) proporcionada pela maior quantidade de
látex. Isto faz com que as bandas Raman da NR não se sobressaiam em relação às bandas Raman
do PVDF. Já nas regiões lisas, pela maior concentração de NR, tais bandas conseguem aparecer.
Como destaque final, um aspecto importante a ser observado em todos os filmes está relacionado
com as quantidades de NR nas regiões lisas dos filmes. Averiguou-se que existe certa
irregularidade com respeito à concentração de NR nas regiões lisas e isto foi comprovado em
diversas medidas em que se observa que existem regiões lisas onde as bandas Raman da NR são
mais intensas e outras onde são menos intensas. Isto já não foi observado para as regiões rugosas,
onde os espectros de PVDF dominam e se mostram bastante semelhantes. Daí serem mostrados
dois espectros para cada região nas Figuras 21, 22, 23 e 24 os quais são os mais distintos
encontrados entre todos os obtidos.
500 1000 1500 2000 2500 3000
Número de onda / cm
-1
NR
Região lisa
Região lisa
Região rugosa
Região rugosa
PVDF
Blenda 0.3NR/PVDF
Raman 514,5nm / linha de base
Imagem ótica 50X
0.3NR/PVDF
Intensidade/u.a.
Figura 21: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.3NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.3NR/PVDF.
500 1000 1500 2000 2500 3000
Número de onda / cm
-1
NR
Região lisa
Região lisa
Região rugosa
Região rugosa
PVDF
Blenda 0.5NR/PVDF
0.5NR/PVDF
Imagem ótica 50X
Raman 514,5nm / linha de base
Intensidade/u.a.
Figura 22: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.5NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.5NR/PVDF.
500 1000 1500 2000 2500 3000
Número de onda / cm
-1
NR
Região lisa
Região lisa
Região rugosa
Região rugosa
PVDF
Blenda 0.7NR/PVDF
Imagem ótica 50X
0.7NR/PVDF
Raman 514,5nm / linha de base
Intensidade/u.a.
Figura 23: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 0.7NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 0.7NR/PVDF.
500 1000 1500 2000 2500 3000
Número de onda / cm
-1
-
NR
Região lisa
Região lisa
Região rugosa
Região rugosa
PVDF
Blenda 1.0NR/PVDF
Imagem ótica de 50X
1.0NR/PVDF
Raman 514,5nm / linha de base
Intensidade/u.a.
Figura 24: espalhamento Raman para filmes prensados de PVDF, 1.0NR/PVDF e NR e imagem
ótica do filme de 1.0NR/PVDF.
Medidas de Raman em função da temperatura foram realizadas com o objetivo de
acompanhar o comportamento dos filmes em relação à homogeneidade e estabilidade química
quando submetidos a uma programação contínua de temperatura. Tal estudo é relevante porque,
entre outros motivos, no caso de implantes existem processos de esterilização em que se utilizam
altas temperaturas. Para tanto, escolheram-se os filmes de PVDF e 0.5NR/PVDF de forma
proposital por serem estas as proporções que serão utilizadas como implantes em cobaias. A
Figura 25 apresenta os espectros de espalhamento Raman em função da temperatura para o filme
de PVDF. De forma geral, observa-se uma diminuição da intensidade das bandas Raman com o
aumento da temperatura, o que é esperado pela influência negativa da agitação térmica
(espalhamento de fundo (phonon background)) sobre a eficiência do espalhamento Raman (34).
Os espectros coletados mostram que o filme é bastante estável, não apresentando mudanças
espectrais significativas, até atingir a temperatura de fusão cristalina do PVDF (por volta de
170ºC). Talvez a informação mais importante seja a constatação de que o filme, resfriado a partir
do fundido, volta a cristalizar-se na fase α e sem qualquer prejuízo para a sua estrutura molecular.
Tais resultados complementam as medidas de DSC a qual serão apresentadas juntamente com
outras medidas de análise térmica.
Figura 25: espalhamento Raman para o filme prensado de PVDF em função da temperatura.
b) Absorção FTIR
A técnica de absorção no IR consiste numa boa forma de caracterização do PVDF, pois a
absorção de energia das configurações cis e trans das moléculas do PVDF ocorrem em diferentes
comprimentos de onda. As diferentes fases cristalinas do PVDF, ou o predomínio de alguma
delas, também podem ser identificadas com relativa facilidade pelas técnicas absorção no IR e
Raman, pois possuem bandas com intensidades relativas características (30). O estudo do filmes
via absorção por infravermelho (FTIR) foi realizado de forma complementar às medidas de
espalhamento Raman. Nas Figuras 26 e 27 são apresentados os espectros de FTIR obtidos no
modo ATR dos filmes prensados de PVDF, NR e das composições NR/PVDF. No espectro de
FTIR do PVDF foram destacados algumas bandas principais correspondentes à fase α (17), cuja
atribuição é dada na Tabela IV. Os espectros dos filmes que contêm PVDF e NR demonstram não
haver interação química entre os polímeros, pois não apresentaram qualquer banda nova, assim
como nenhum deslocamento em freqüência ou qualquer variação significativa na intensidade
relativa entre as bandas. O espectro dos filmes contendo NR/PVDF é uma sobreposição de bandas
relacionadas ao PVDF e à NR, característico de ausência de interação química, indicando que tais
filmes compõem na realidade uma blenda.
Um detalhe deve ser mencionado. De modo geral, os filmes apresentam um lado mais liso
que o outro. Como todas as medidas de FTIR foram realizadas no modo ATR, surgiu uma dúvida
quanto à possibilidade dos espectros de absorção serem diferentes se tomados de um lado ou de
outro do filme caso a diferença na rugosidade das superfícies estivesse relacionada à dispersão da
NR no PVDF. Para sanar esta dúvida, foram realizadas medidas para os dois lados do filme. Os
espectros obtidos são idênticos (resultados não mostrados), o que sugere que a diferença na
rugosidade da superfície do filme deve-se ao processo de prensagem dos filmes e não da
homogeneidade da composição NR/PVDF em si. Além das medidas apresentadas nas Figuras 26 e
27, foram realizadas medidas com varredura de 64 scans e resolução espectral de 2cm
-1
, para as
quais os espectros também se mostraram praticamente idênticos aos medidos com 32 scans e
resolução espectral de 4cm
-1
apresentados nas Figuras 26 e 27.
Intensidade
FTIR (modo ATR) / linha de base
1000 1500 2000 2500 3000 3500
Número de onda / cm
-1
PVDF
NR
0.5NR/PVDF
1.0NR/PVDF
795
α
871
α
Figura 26: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para altos e baixos
números de onda.
600 800 1000 1200 1400
NR
PVDF
1.0NR/PVDF
0.7NR/PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
Número de onda / cm
-1
Intensidade
FTIR (modo ATR)
613
762
795
871
975
1067
1145
1179
1212
1381
1404
600 800 1000 1200 1400
NR
PVDF
1.0NR/PVDF
0.7NR/PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
Número de onda / cm
-1
Intensidade
FTIR (modo ATR)
613
762
795
871
975
1067
1145
1179
1212
1381
1404
Figura 27: espectros de FTIR de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas para baixos
números de onda.
4.2 Medidas de MEV
Medidas de MEV foram realizadas com o objetivo principal de comparar a morfologia das
blendas na superfície e ao longo do volume (seção transversal). As Figuras de 28 a 45 mostram
imagens com diferentes aumentos para a superfície e para o volume (obtidas após fratura frágil).
Comparando-se as imagens com aumento de 10.000x, pode-se observar que a morfologia da
superfície assemelha-se com aquela do volume. Esta informação é importante porque permite
extrapolar para o volume do material a análise feita para a superfície via espalhamento Raman no
que se refere à dispersão da NR na matriz de PVDF. Além disto, as imagens da superfície para
aumentos menores que 10.000x mostram uma boa concordância com aquelas obtidas por
microscopia ótica, revelando ainda alguns detalhes das regiões que denominamos como lisa e
rugosa.
Figura 28: MEV (10.000x) / filme
prensado de PVDF (
superfície).
Figura 29: MEV (500x) / filme prensado
de PVDF (superfície).
Figura 30: MEV (10.000x) / filme prensado
de 0.3NR/PVDF (
superfície).
Figura 31: MEV (1.000x) / filme
prensado de 0.3NR/PVDF (superfície).
Figura 32: MEV (10.000x) / filme
prensado de 0.5NR/PVDF (
superfície).
Figura 33: MEV (2.000x) / filme prensado
de 0.5NR/PVDF (superfície, porém dentro
da região lisa
).
Figura 34: MEV (10.000x) / filme
prensado de 0.7NR/PVDF (
superfície).
Figura 35: MEV (3.000x) / filme prensado
de 0.7NR/PVDF (superfície, porém dentro
da região lisa
).
Figura 36: MEV (10.000x) / filme
prensado de 1.0NR/PVDF (
superfície).
Figura 37: MEV (500x) / filme prensado
de 1.0NR/PVDF (superfície).
Figura 38: MEV (10.000x) / filme
prensado de NR (
superfície).
Figura 39: MEV (1.000x) / filme prensado
de NR (superfície).
Figura 40: MEV (10.000x) / filme
prensado de PVDF (
seção transversal).
Figura 41: MEV (10.000x) / filme prensado
de 0.3NR/PVDF (seção transversal).
Figura 42: MEV (10.000x) / filme
prensado de 0.5NR/PVDF (
seção
transversal
).
Figura 43: MEV (10.000x) / filme
prensado de 0.7NR/PVDF (seção
transversal
).
Figura 44: MEV (10.000x) / filme
prensado de 1.0NR/PVDF (
seção
transversal
).
Figura 45: MEV (10.000x) / filme
prensado de NR (
seção transversal).
4.3 Medidas de TG
As medidas de TG foram realizadas com o objetivo de verificar a estabilidade térmica dos
filmes, visto que para serem aplicados como um biomaterial é necessário ser altamente estável não
só no intervalo de temperatura do corpo humano, mas principalmente em intervalos de
temperatura mais elevados que envolvem os processos de esterilização. A Figura 46a mostra as
curvas de TG obtidas a uma razão de aquecimento de 10
o
C/min para os filmes prensados de
PVDF, NR, 0.3NR/PVDF, 0.5NR/PVDF, 0.7NR/PVDF e 1.0NR/PVDF. Como as curvas das
blendas apresentam-se superpostas, é mostrada na Figura 46b uma ampliação da região entre 370
e 510
o
C. Uma excelente estabilidade térmica do PVDF e da NR bem como das blendas pode ser
observada. A degradação química devido ao aquecimento em atmosfera ambiente somente se
inicia por volta de 450ºC para o PVDF, 200°C para NR e em torno de 360°C para as blendas
NR/PVDF, temperatura na qual cerca de 60% de sua massa total é perdida. Isto mostra que as
blendas podem constituir corpos de prova adequados em termos da aplicação desejada no que se
refere à estabilidade física e química. Os estudos relacionados à degradação da NR estão em
desenvolvimento no DFQB sob a coordenação do professor Job através da técnica de TG acoplada
ao FTIR. O objetivo principal é determinar quais substâncias são degradadas ao aquecer-se
gradativamente (10ºC/min) o látex até a temperatura em que sua perda de massa seja completa.
Duas outras observações podem ser feitas ainda considerando as Figuras 46 (a) e (b): i) a
proximidade entre as curvas de PVDF puro e das blendas é fruto da pouca % em massa de NR
presente na blenda; ii) a maior proximidade entre as curvas do PVDF puro e das blendas com
maior quantidade de NR é algo que, em um primeiro momento, contraria nossas expectativas.
Porém, isto talvez possa ser explicado pelo fato de que as blendas com maiores quantidades de
NR permitem uma melhor dispersão desta na matriz de PVDF, como mostrado pelos resultados de
micro-Raman. Isto possibilitaria uma maior interação física (interações secundárias) entre estes
materiais, levando a uma maior estabilidade térmica das blendas com maior quantidade de NR (a
NR ficaria “trapeada” entre as cadeias do PVDF).
0 100 200 300 400 500 600
0
25
50
75
100
Massa / %
Temperatura /
o
C
TG
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
NR
10
o
C/min
Figura 46a: medidas de TG de filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
380 400 420 440 460 480 500
40
50
60
70
80
90
100
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
Massa / %
Temperatura /
o
C
10
o
C/min
380 400 420 440 460 480 500
40
50
60
70
80
90
100
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
Massa / %
Temperatura /
o
C
10
o
C/min
Figura 46b: medidas de TG apresentadas na Figura 28a, porém restringidas para temperaturas
entre 370 e 510
o
C.
4.4 Medidas de DSC
A identificação das fases cristalinas do PVDF e principalmente suas possíveis transições,
além da temperatura de transição vítrea (Tg) e da própria temperatura de fusão cristalina (T
m
)
foram investigadas por medidas de DSC. Na Figura 47 são apresentadas as medidas de DSC para
os filmes prensados de PVDF, NR, 0.3NR/PVDF, 0.5NR/PVDF, 0.7NR/PVDF e 1.0NR/PVDF
obtidas com razão de aquecimento de 10°C/min e faixa de temperatura de –100 a 200°C. A curva
do PVDF e das blendas apresentaram um pico endotérmico (
) de fusão cristalina em torno de
167°C que pode ser atribuída à fase α do PVDF (17). Vale destacar que o processo de fabricação
da amostra e sua história térmica podem influenciar fortemente a temperatura de fusão cristalina
do PVDF (17). A certeza de que tal fusão refere-se à fusão da fase α vem das medidas de Raman,
uma vez que a temperatura de fusão das fases α e β são próximas, dificultando a identificação.
para a medida de DSC da amostra de NR observou-se um “ombro” próximo a -70
o
C que
corresponde a sua Tg. No caso das blendas, pela falta de interação química entre os materiais, a
curva do DSC reproduz o comportamento do PVDF para o intervalo de temperatura considerado.
Este experimento também foi realizado para a razão de aquecimento de 5ºC/min
(resultados não mostrados) na tentativa de se observar a Tg do PVDF (por volta de -40
o
C) e de
cada uma das blendas, uma vez que esta não pode ser identificada pelas medidas mostradas na
Figura 47. Porém, devido a dificuldades experimentais para estabilizar a temperatura de início da
medida (-100ºC), optou-se por investigar a Tg do PVDF e das blendas via medidas de DMA. De
qualquer forma, a mudança da razão de aquecimento no DSC foi importante para acompanhar o
comportamento dos filmes a uma razão de aquecimento diferente. Os resultados para ambas as
razões de aquecimento mostraram-se semelhantes em relação aos valores de T
m
do PVDF, porém
a região da curva referente à Tg se apresentou ainda menos definida.
-50 0 50 100 150 200
exo
NR
1.0NR/PVDF
0.7NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.3NR/PVDF
PVDF
Temperatura / ºC
DSC
10ºC/min
167ºC
Figura 47: medida de DSC em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
4.5 Medidas de DMA
Os espectros de relaxação dinâmico-mecânica do PVDF são muito estudados e podem
apresentar até quatro relaxações: γ (-70˚C) atribuída aos movimentos de rotações das cadeias e
limitados à fase amorfa; β (-40˚C) correspondente à transição vítrea; γ (+50˚C) devido à fase
amorfa e atribuída a movimentos de “torção” das cadeias moleculares e a relaxação α (+100˚C)
cuja origem ainda é uma questão aberta na literatura, sendo atribuída a movimentos na parte
amorfa ou, de forma contraditória, à fase cristalina (35). As medidas de DMA foram realizadas
buscando-se determinar o módulo de elasticidade (E’) da blenda para diferentes temperaturas e
compará-lo ao E’ do osso humano, pois seria interessante que os corpos de prova a serem
implantados tivessem E’ compatível com o do osso humano. Além disto, através da curva de tanδ
(módulo de perda), obter a Tg dos polímeros envolvidos. As Figuras 48 e 49 apresentam,
respectivamente, as curvas de E’ e tanδ obtidas com razão de aquecimento de 5ºC/min e
freqüência de 10Hz para os filmes prensados de PVDF, NR e das blendas 0.3NR/PVDF,
0.5NR/PVDF, 0.7NR/PVDF e 1.0NR/PVDF. A Figura 48 mostra que todas as blendas possuem
valores de E’ acima de 2.000MPa na temperatura de aplicação da blenda como implante ósseo
(entre 0 e 50ºC), o que não é tão distante do intervalo entre 8.000 e 24.000MPa encontrado para o
E’ do osso humano (4). Os valores de tanδ na Figura 49 mostram que a NR (inset) apresenta um
pico nítido e acentuado por volta de -73ºC, o qual é relacionado à sua Tg. Já o PVDF apresenta
um pico mais atenuado e em torno de -40˚C atribuído à sua Tg (35). As curvas das blendas
possuem pico com característica “alargada” e que parece conter em realidade uma sobreposição
dos picos referentes às Tg do PVDF e da NR. Esta sobreposição de picos é o resultado da ausência
de interação química entre a NR e o PVDF, como determinado pela espectroscopia vibracional.
Porém, o comportamento das sobreposições é inconclusivo. Vale lembrar que a reprodutibilidade
destes resultados foi confirmada pela repetição destas medidas sob as mesmas condições
experimentais e que também foram realizadas medidas onde se fixou a freqüência e variou-se a
razão de aquecimento e medidas onde se fixou a razão de aquecimento e variou-se a freqüência
(resultados não mostrados).
-100 -50
0
50 100 150 200
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
10Hz 5ºC/min
E’ / MPa
Temperatura/ºC
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
NR
DMA
-50
Figura 48: medida de DMA em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
-100 -50 0 50 100 150 200
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
NR
-100 -50 0 50 100 150 200
-0,06
-0,03
0,00
0,03
0,06
0,09
0,12
Tan δ
Temperatura / °C
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
-41.8ºC
-39.9ºC
-18.9ºC
-24.4ºC
DMA
-72.9ºC
-100 -50 0 50 100 150 200
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
NR
-100 -50 0 50 100 150 200
-0,06
-0,03
0,00
0,03
0,06
0,09
0,12
PVDF
0.3NR/PVDF
0.5NR/PVDF
0.7NR/PVDF
1.0NR/PVDF
-41.8ºC
-39.9ºC
-18.9ºC
-24.4ºC
-72.9ºC
10Hz 5ºC/min
Figura 49: medida de DMA em filmes prensados de PVDF, NR e das blendas de NR/PVDF.
4.6 Filmes tratados com descarga corona
Como a aplicação final deste trabalho visa o implante em ratos de bastões de PVDF puro e
das blendas, com e sem tratamento corona, foram realizadas medidas de espalhamento Raman em
filmes tratados com corona com o objetivo de verificar possíveis alterações na superfície destes
filmes. Devido à espessura do filme, não é esperada uma polarização ao longo do seu volume.
Porém, mudanças na superfície do filme podem ser significativas considerando o processo de
estímulo à formação do calo ósseo. As Figuras 50 e 51 mostram espectros Raman obtidos para os
filmes de PVDF e 0.5NR/PVDF com e sem tratamento corona, além das respectivas imagens
óticas (objetiva de 50x). Os resultados indicam que não há mudanças químicas na estrutura
superficial dos filmes tratados com corona. Porém, observam-se diferenças no espalhamento de
fundo (phonon background) dos espectros da blenda com e sem tratamento corona, as quais se
relacionam à rugosidade da superfície do filme. Já as imagens óticas para as blendas sugerem uma
certa padronização das regiões antes denominadas lisa e rugosa enquanto a imagem ótica do filme
de PVDF não se altera com o tratamento via corona. Provavelmente, o tratamento feito com a
corona (20KV por duas horas) altera a morfologia das superfícies pelas colisões com os íons
negativos, os quais devem ter uma elevada energia cinética. Porém, as imagens de MEV com
10.000x de aumento para os filmes de PVDF (Figura 52) e 0.5NR/PVDF (Figura 53) parecem não
indicar alterações significativa numa escala espacial menor.
Figura 50: espalhamento Raman para o filme prensado PVDF com e sem tratamento via
descarga corona.
Figura 51: espalhamento Raman para o filme prensado de 0.5NR/PVDF com e sem tratamento
via descarga corona.
Figuras 52: MEV (10.000x) / filme
prensado PVDF (superfície) / corona
Figuras 53: MEV (10.000x) / filme
prensado 0.5NR/PVDF (superfície) /
corona
Em termos de caracterização elétrica, o professor José A. Malmonge da UNESP de Ilha
Solteira, após sua participação na banca de qualificação deste trabalho, realizou algumas medidas
para verificar a capacidade ou não que estas blendas têm em armazenar carga. Os filmes de
PVDF, NR e blendas foram metalizados com ouro em uma das faces. Descarga corona foi feita na
face não metalizada por aproximadamente 20 minutos. Este tempo foi utilizado porque é muito
mais do que suficiente para carregar o PET (10 minutos), material que serve como referência para
o professor Malmonge. A tensão na ponta foi de -9KV e na grade -300V. A distância ponta/grade
foi de aproximadamente 3,0cm e grade/amostra foi de 3,0mm. Os resultados mostram que o
PVDF puro basicamente não "segura" carga. Ao ser carregado com uma tensão de -300V, o
potencial de superfície estava por volta de -30V ao ser retirado da corona e descarregou em menos
de 10 minutos. A NR também foi carregada até -300V, mas também descarregou rapidamente. Em
cerca de um minuto o potencial caiu para -250V e foi para -18V em 3 horas. Para a blenda
1.0NR/PVDF, o potencial chegou a -100V e caiu para -60V num tempo de aproximadamente 1
minuto e descarregou completamente por volta de meia hora. A blenda 0.7NR/PVDF carregou até
-70V e descarregou completamente em aproximadamente 30 minutos. Portanto, nem as blendas,
nem os polímeros puros são bons eletretos, isto é, mantêm a carga depositada. No teste com o
PET, por exemplo, ele carregou a -300V e caiu para -30V em 24 horas, ficando exposto as
condições ambientais. No caso das medidas das blendas, NR e PVDF puros, após carregar e medir
o potencial, elas foram guardadas em placa de Petri com tampa para evitar que a amostra
descarregasse devido a íons ou poeira na atmosfera. As medidas do potencial de superfície foram
realizadas em um equipamento Isoprobe Electrostatic Voltimeter, Model 244, fabricado pela
Monroe Electronics, INC, o qual utiliza o método do capacitor vibrante.
CONCLUSÕES
Um estudo básico da transição de fase
α
(apolar)
Ö
β
(polar) do poli(fluoreto de
vinilideno) (PVDF) foi realizado utilizando-se a espectroscopia micro-Raman e complementada
via medidas de DSC e difração de raios-x. Filmes de PVDF-
α
foram estirados a uma temperatura
de 80ºC sob duas condições: i) a diferentes velocidades de estiramento mantendo-se o
comprimento final; ii) até atingir-se diferentes comprimentos finais sendo estirados a uma
velocidade constante. Além disto, estes dois lotes de amostras foram submetidos a tratamento com
descarga corona. A transição
α
Ö
β
nos filmes de PVDF foi acompanhada, principalmente,
através da diminuição da intensidade relativa da banda 794cm
-1
do Raman, característica da fase
α, e o aumento da intensidade relativa da banda 839cm
-1
do Raman, característica da fase
β
. Pode-
se constatar que a fase
β
já é induzida nos filmes estirados até atingirem o dobro do comprimento
inicial, e tal resultado é independente da velocidade do estiramento no intervalo estudado (de 2,0 a
7,0mm/min). Tais resultados foram confirmados por DSC e difração de raio-x, cujos experimentos
foram realizados em amostras de PVDF que se encontravam nas mesmas condições daquelas
utilizadas para o espalhamento Raman. Em relação à descarga corona, o efeito é pouco
significativo em relação aquele induzido via estiramento e é restrito à fase
α
, de forma que quanto
mais estirado o filme, menor ainda é o efeito da corona.
Em relação às blendas, apresentaram-se resultados relacionados à fabricação de filmes de
PVDF com látex de borracha natural (NR) e suas caracterizações via espectroscopia vibracional
(FTIR e Raman) e técnicas termomecânicas (TG, DSC e DMA), tendo como referência os filmes
puros de PVDF e NR. A dificuldade inicial de se encontrar um processo adequado para a
fabricação dos filmes sem adição de solventes foi superada através da fabricação de filmes
prensados a quente, cuja otimização foi realizada considerando-se a homogeneidade da blenda e
suas propriedades mecânicas.
Os resultados de espectroscopia vibracional (FTIR e Raman) mostraram que não há
interação química entre o PVDF e a NR nos filmes que contêm ambos os polímeros, compondo
assim uma blenda polimérica, e que tais materiais não sofrem degradação durante a fabricação dos
filmes, mesmo sendo aquecidos a temperaturas em torno de 180
o
C. A microscopia ótica revelou
que os filmes com PVDF e NR possuem algumas áreas que são morfologicamente homogêneas e
outras que apresentam irregularidades (regiões lisas e rugosas, respectivamente). Porém, as
medidas de Raman mostraram que os espectros coletados da região rugosa, região presente na
maior parte do filme, eram dominados pelas bandas relativas ao PVDF. Já os espectros coletados
nas regiões lisas, além de apresentarem bandas referentes ao PVDF, também apresentaram bandas
atribuídas à NR, porém com diferentes intensidades relativas de região lisa para região lisa.
Porém, em ambas regiões (rugosa e lisa) encontram-se PVDF e NR. O que ocorre é que nas
regiões lisas a NR não deve estar tão homogeneamente dispersa na matriz de PVDF quanto está na
região rugosa. Isto pode ser confirmado através das medidas de MEV e microscopia ótica, cujas
imagens revelaram que o número de regiões lisas diminui com o aumento do volume de látex
adicionado à blenda.
Os resultados de DMA mostraram que é possível conseguir filmes da blenda NR/PVDF
com módulo de elasticidade (E’) da ordem de grandeza do osso humano. A variação do valor de
E’ em função da quantidade de NR no PVDF é consideravelmente grande. O gráfico do módulo
de perda (tanδ) revelou a Tg das amostras, sendo que no caso das blendas elas parecem se
superpor (ausência de interação química). Esta característica pode também ser confirmada pelas
medidas de DSC para a fusão cristalina do PVDF, a qual não se altera pela presença da NR. A
estabilidade química das blendas estudadas via TG é satisfatória, passando a degradar-se para
temperaturas acima de 350
o
C.
Finalmente, gostaria de destacar nestes dois anos de bolsa o aprendizado e/ou
aperfeiçoamento do processo de preparação de filmes, do manuseio dos equipamentos, dos
princípios e potencialidades de cada técnica. É importante ressaltar também a vivência no
laboratório, se deparando com o ambiente da pesquisa acadêmica, aprendendo a trabalhar em
grupo, a manusear objetos delicados, produtos químicos, equipamentos de alto custo usados para
caracterização dos filmes e interpretação dos resultados. Tal experiência é uma condição
fundamental para o bom andamento dos trabalhos que se seguirão.
Em continuidade a este trabalho, pretendemos concluir o processo de implante dos bastões
de PVDF e 0.5NR/PVDF de forma a estudar a interface tecido ósseo – biomaterial através de
análise histológica e acompanhar via espalhamento Raman a integridade do material após período
destinado ao implante. Também está em julgamento, junto a FAPESP, um processo de pedido de
bolsa de doutorado a qual destina-se a continuidade deste trabalho prevendo a fabricação de filmes
de PVDF e do seu copolímero P(VDF-TrFE) adicionando outros materiais de origem natural.
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