poder por sua Aula publica por tempo de um anno para nela ensignar a Lingua Franceza se
no entanto nos pareser conservalo e Sua Magestade não mandar o contrario com cuja
ocupação haverá os Emolumentos que diretamente lhe pertencerem e para firmeza do
Referido jurará perante o Juiz Prezidente... (apud Almeida, 2000: 328).
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Apesar de nada indicar a relação das Provisões acima citadas com a instrução
militar, esta, ao menos formalmente, era na Colônia a única modalidade de formação para a
qual o conhecimento daquela Língua se fazia necessário
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. No Reino, a partir do período
pombalino (1750-1777) – isto é, durante os anos em que o Marquês de Pombal, como
ministro plenipotenciário do Rei D. José I, praticamente governou Portugal
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–, os
Estabelecimentos de instrução militar tiveram importância fundamental na divulgação e
aplicação do conhecimento científico então disponível, representado pelas Matemáticas e
pelas Ciências Físicas e Naturais.
Visando formar o cristão útil aos seus propósitos, e desejoso de colocar o Reino
lusitano em condições políticas e econômicas que lhe permitissem competir com as nações
estrangeiras, o gabinete de D. José I, representado pela figura de Pombal, buscou
modernizar o Estado português, reformulando um dos setores mais estratégicos para seu
almejado progresso: as Milícias de Terra e Mar, e a opção que se fez foi pela formação do
“perfeito militar”. O grau de perfeição, no entanto, conforme o entendimento do governo
pombalino, confundia-se com o de nobreza, fazendo com que as Luzes advindas da
instrução militar se restringissem a certas “classes de pessoas”, como se pode observar nos
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A segunda Provisão, concedida pelas mesmas autoridades e nos mesmos termos da primeira, foi passada a
João José Tascio em 18 de março de 1789 (apud Almeida, 2000: 328).
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Convém lembrar que a historiografia educacional brasileira tem procurado atribuir ao Seminário de Olinda,
aberto em 1800 por Azeredo Coutinho (1742-1821), ex-aluno da Universidade reformada de Coimbra, bispo e
governador da Capitania de Pernambuco, a iniciativa pioneira da aplicação de “princípios ilustrados” no seu
plano de estudos, o qual teria incluído, além das Ciências Físicas e Naturais, as Línguas Vivas, embora não
apresente documentos para tal comprovação. Os Estatutos do Seminário, escritos pelo seu fundador e
publicados em Lisboa em 1798, não fazem qualquer referência ao ensino das Línguas Vivas em sua terceira
parte, dedicada ao Plano de Estudos da instituição (Alves, 2001).
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Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782) foi diplomata em Londres (1738-1744) e em Viena (1745-
1749), sendo nomeado Secretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra com a ascensão de D. José I, em
1750, e depois Secretário dos Negócios do Reino, em 1755. Em 1759, recebeu o título de Conde de Oeiras, e
em 1769 o de Marquês de Pombal. De acordo com Maxwell (1996: 1), Pombal “para todos os efeitos
governou Portugal entre 1750 e 1777”. Falcon (1993: 381), por sua vez, afirma: “se é habitual atribuir-se ao
monarca então reinante, D. José I, a condição de chefe do Estado, pois, ele de fato o era, juridicamente, não
menos comum é fazer-se o juízo a respeito de sua efetiva presença em termos negativos, como que ofuscada
em grande parte pela pessoa e pela ação do seu Secretário, autêntico ‘primeiro-ministro’, vontade onipresente,
verdadeiro governo, em suma”. Sua autoridade teria se consolidado depois do terremoto de Lisboa, em 1755,
quando assumiu o projeto de reconstrução da cidade, com uma nova arquitetura, e da restauração da ordem,
com uma política autoritária, rígida e radical em seus objetivos.
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