RESUMO
Introdução: Os elementos da linguagem cinematográfica são criativamente colocados
em contato uns com os outros e dessa relação surgem novos significados. Todos esses
elementos formam a mise en scène. Objetivo: Ao partir da investigação sobre a
produção do filme Cidade de Deus, o objetivo deste trabalho é analisar como a voz -
loudness, velocidade, entoação, prolongamento e pausa - se relaciona com os demais
elementos da linguagem cinematográfica - interpretação, cenário, iluminação, figurino,
cores, velocidade e movimentos da câmera, montagem, trilha musical e outros sons - em
três trechos do filme e verificar os efeitos dessa relação na mise en scène. Método: A
primeira parte traz um
LEVANTAMENTO DO CONTEXTO do filme Cidade de Deus, que se
refere à investigação dos momentos de pré-produção, produção e pós-produção,
incluindo entrevista com as fonoaudiólogas que trabalharam no filme. A segunda parte
traz a
ANÁLISE DE TRECHOS do filme em que os elementos da dimensão visual
analisados foram: câmera (movimentos, velocidade, planos), fotografia (cenário, cores,
iluminação), figurino e montagem, e os elementos da dimensão auditiva foram: voz
(loudness, velocidade, entoação, prolongamento e pausa), sound effects e trilha musical.
Resultados: Os atores não trabalharam com o texto (roteiro) e por isso não
memorizaram ou fizeram marcações de ações ou recursos vocais. Foi um trabalho livre
com a máxima valorização da atuação do ator, em que os outros elementos se adaptaram
à interpretação. A voz foi trabalhada pelas fonoaudiólogas com alguns atores para que
esses pudessem se fazer entender devido a alterações de articulação e projeção. No
trecho 1 é estabelecida uma relação intrínseca da velocidade, loudness e entoação aos
movimentos da câmera, ao ritmo da interpretação, à montagem, às cores, à iluminação,
ao figurino, à música e aos sons. No trecho 2 as vozes acompanham o ritmo da
interpretação e da montagem, possuem dinâmicas diferenciadas que expressam as
características de cada uma das personagens. A situação cênica e a voz privilegiaram a
personagem Zé Pequeno demonstrando sua força, impondo sua subjetividade,
interferindo por meio das entoações, pausas, loudness e velocidade, em todas as outras
personagens presentes. No trecho 3, dividido em três partes, foi possível observar que a
linguagem cinematográfica, a interpretação e as vozes se modificam em cada uma delas.
Conclusão: O filme analisado foi realizado seguindo uma diferenciação de linguagem
em cada uma das partes da história e, dessa forma, o roteiro, a cinematografia, as
músicas, a montagem, a interpretação, assim como a voz, seguiram um estilo específico
em cada uma delas. A análise possibilitou pensar num trabalho fonoaudiológico com o
ator para além do texto, que poderia ser realizado para que o ator, ao ativar alguma
experiência vivida por ele, análoga à experiência que precisa vivenciar em cena,
encontrasse gestos e manifestações vocais resultantes dessas experiências psíquicas ou
emocionais. A técnica entraria para lapidar esse estado anterior e fundamental no
trabalho do ator. O texto (palavras) surgiria de um outro texto, tecido pelas intenções,
idéias, emoções e sentimentos, ou seja, o texto e a voz nasceriam do subtexto.
Palavras-chave: Fonoaudiologia, voz, cinema, arte.