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ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE DUAS AREIAS DE OSÓRIO RS
Leandro Pereira Marcon
Porto Alegre
Dezembro 2005
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LEANDRO PEREIRA MARCON
ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE DUAS AREIAS DE OSÓRIO RS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia na modalidade Acadêmico
Porto Alegre
Dezembro 2005
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M321e Marcon, Leandro Pereira
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de
Osório RS / Leandro Pereira Marcon. 2005.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Escola de Engenharia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
Porto Alegre, RS-BR, 2005.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Bressani
1. Mecânica dos solos - Ensaios. 2. Comportamento mecânico. 3.
Engenharia civil. I. Bressani, Luiz Antônio, orient. II. Título.
CDU-624.131(043)
LEANDRO PEREIRA MARCON
ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE DUAS AREIAS DE OSÓRIO RS
Esta dissertação de mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e pelo Programa de
s-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 09 de dezembro de 2005
Prof. Luiz Antônio Bressani
Doutor, University of London, Reino Unido
Orientador
Prof. Fernando Schnaid
Coordenador do PPGEC/UFRGS
BANCA EXAMINADORA
Prof. Adriano Virgilio Damiani Bica (UFRGS)
Doutor, University of Surrey, Reino Unido
Prof. Cezar Augusto Burkert Bastos (FURG)
Doutor, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof. Juan Antonio Altamirano Flores (UFRGS)
Doutor, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutor, Université de Poitiers, França
À minha família e aos meus amigos.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, o posso deixar de agradecer à minha família, especialmente aos meus
pais, Euclides e Maria da Graça, por todo o apoio recebido, de todas as formas possíveis,
durante este trabalho.
Ao meu orientador, Luiz Antônio Bressani, agradeço não apenas pelas orientações e
conhecimentos transmitidos com muita dedicação, mas também pelo clima de cooperação,
amizade, paciência e fraternidade com o qual sempre fui tratado. Também agradeço aos
professores Adriano Bica e Juan Flores, pela ajuda extremamente relevante dada na
elaboração desta dissertação.
Aos amigos e colegas de curso e de laboratório, especialmente ao Jair, pela ajuda
inestimável que me prestaram e pela paciência que tiveram durante a execução de ensaios e
pelos momentos alegres e divertidos compartilhados.
A todos os meus amigos, aos muitos que tive a oportunidade de fazer durante este
período e aos muitos que tive que permanecer afastado fisicamente, mas que sempre
estiveram próximos em meu pensamento, ao me dar apoio e incentivo durante este tempo.
E a todos em geral que me ajudaram, direta ou indiretamente, de alguma forma na
concretização de mais uma etapa em minha vida, meu mais sincero “Muito Obrigado!”.
Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz
somente até onde os outros foram.
Graham Bell
RESUMO
O comportamento mecânico dos solos arenosos tem sido objeto de numerosos estudos
e os resultados encontram-se bem descritos na literatura. Entretanto, pouco se conhece sobre o
comportamento destes solos quando submetidos a certo grau de alteração de suas
propriedades originais. Esta dissertação apresenta um estudo de dois solos arenosos, com
características distintas, da região litorânea do estado do Rio Grande do Sul.
O trabalho envolveu ensaios de laboratório para verificação de algumas propriedades
mecânicas, como a compressibilidade unidimensional, a resistência ao cisalhamento e o
comportamento tensão-deformação. Foram também realizados ensaios para verificação das
características físicas dos grãos dos solos, por meio de ensaios de difratometria de raios-X,
microscopia eletrônica de varredura e a análise da composição química pelo método de
espectrometria de energia dispersiva (EDS). Estes ensaios especiais tiveram a finalidade de
determinar o tipo de alteração ocorrente nos grãos de areia alterada.
Através das análises, constatou-se que embora os dois solos sejam muito semelhantes
sob o ponto de vista granulométrico e mineralógico, o comportamento mecânico do solo com
alteração é profundamente modificado em relação ao solo sem alteração. Na areia alterada
existe uma camada de material cimentante em torno dos grãos cujos principais elementos
químicos o o ferro e o silício, em forma de lica amorfa. De uma forma geral, o material
cimentante e as ligações entre grãos apresentam um aspecto poroso e fraturado. A alteração
verificada corresponde a uma ação pedogenética responsável pela geração de agentes
cimentantes, sem modificação nas características intrínsecas dos grãos de areia.
Nos ensaios de compressão confinada sob o mesmo índice de vazios, a areia alterada
apresentou maiores deformações e um índice de compressão duas vezes maior do que a areia
sã. A areia alterada teve sua resistência ao cisalhamento bastante alterada pelo grau de
umidade, ao contrário da areia sã, além de não ter apresentado resistência de pico para as
densidades testadas.
ABSTRACT
The mechanical behavior of sandy soils has been investigated by several researchers
and the results are well described in the literature. However, little is known about the
mechanical behavior of these soils when they are subjected to some degree of weathering.
This dissertation presents a study of the mechanical behavior of two soils with different
properties, from the coastal region of the state of Rio Grande do Sul, Brazil.
The work involved laboratory tests to measure mechanical properties such as
unidimensional compressibility, shear strength and the stress-strain behaviour. Tests to verify
the physical properties of the grains have also been carried out, such as X-ray difratometry,
electronic microscopy and energy dispersive spectrometry (EDS) to examine the alteration of
the grains.
The analysis of the data showed that, although the two soils are quite similar in
granulometry and mineralogy, the mechanical behaviour of the weathered soil was strongly
modified as compared to the unweathered soil. The results of confined compression tests at
the same voids ratio showed a larger deformation of the weathered sand and a compression
index which was two times larger than the one of the sound sand. The weathered sand has its
shear strength quite modified by variations in the degree of saturation, in contrast to the other
sand, and it did not show any peak strength during the tests.
The behavior of the weathered soil was strongly modified by the deposition of
chemical elements on the grains surface, particularly the compressibility and the stress-strain
behavior. The micro-photographs showed that there is a layer of cementing material around
the grains in the weathered sand. Its main components are iron and silica in its amorphous
form. In general, this cementing material has a fractured and porous aspect. The presence of a
cementing material results from a pedogenetic action, which does not affect the intrinsic
properties of the sand grain.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TRABALHO
1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4
2.1 Introdução
4
2.2 Teoria do estado crítico
5
2.2.1 Bases da teoria do estado crítico 6
2.2.2 Linha de estado crítico 8
2.3 Características dos materiais granulares
12
2.3.1 Comportamento tensão-deformação de areias 13
2.3.1.1 Comportamento tensão-deformação durante compressão confinada 14
2.3.1.2 Comportamento tensão-deformação durante cisalhamento 19
2.4 Solos estruturados
22
2.4.1 Características básicas dos solos estruturados 23
2.4.2 Efeito de estrutura em solos arenosos 24
3 SOLOS ESTUDADOS E METODOLOGIA
26
3.1 Localização dos solos
26
3.2 Características geológicas dos solos da região litorânea
27
3.3 Descrição dos solos estudados
28
3.4 Programa de ensaios
30
3.4.1 Ensaios de caracterização 31
3.4.2 Ensaios para a determinação das propriedades mecânicas dos solos 32
3.4.2.1 Ensaios de compressão confinada 32
3.4.2.2 Ensaios de cisalhamento direto 35
3.4.2.2 Ensaios de cisalhamento direto 39
4 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
45
4.1 Ensaios de caracterização
45
4.2 Ensaios de compressão confinada
46
4.3 Ensaios de cisalhamento direto
49
4.4 Ensaios triaxiais
60
5 ANÁLISES INICIAIS E PARÂMETROS OBTIDOS
68
5.1 Análise dos ensaios iniciais de caracterização
68
5.2 Análise dos ensaios de compressibilidade
69
5.3 Análise dos ensaios de cisalhamento direto
71
5.4 Análise dos ensaios triaxiais
77
5.5 Análise dos ensaios difratométricos e de microscopia eletrônica
84
5.5.1 Ensaios de difração de raios-X 84
5.5.2 Ensaios de microscopia eletrônica 90
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
102
6.1 Características de localização dos materiais
102
6.2 Resultados de difratometria de raios-X e microscopia eletrônica
103
6.3 Características gerais das areias
106
6.3.1 Características físicas dos solos 107
6.3.2 Características de compressibilidade das areias 108
6.3.3 Características quanto à resistência ao cisalhamento e deformabilidade 111
6.3.3.1 Curva de sucção x grau de saturação 120
6.3.3.2 Características de resistência ao cisalhamento e deformabilidade sob mesmos
índices de vazios
122
7 CONCLUSÕES
126
7.1 Conclusões
126
7.1.1 Ensaios de caracterização 126
7.1.2 Ensaios de compressão confinada 127
7.1.3 Ensaios de cisalhamento direto 127
7.1.4 Ensaios triaxiais 130
7.1.5 Sucção 131
7.1.6 Caracterização por difração de raios-X e microscopia eletnica 131
7.2 Sugestões para trabalhos futuros
133
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
135
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1: Linha de estado crítico (CSL): (a) diagrama e x log p’ e (b) diagrama p’ x q 7
Figura 2.2: Diagrama ν x ln p’. Linha de compressão normal (OACD) e linha de
recompressão (ABC) 8
Figura 2.3: Linha de Estado Crítico (a) em diagrama p’ x q e (b) em diagrama p’ x ν
10
Figura 2.4: Representação da linha de compressão normal e da linha de estado crítico
em função: (a) índice de vazios x log σ
v
. (b) em um diagrama p’, q’ e ν 11
Figura 2.5: Ensaios de compressão triaxial drenados e não-drenados (comportamento
esquematizado de acordo com a teoria do estado crítico) 12
Figura 2.6: Comportamento tensão-deformação de areia (porosidade = 0,375) em
compressão confinada 14
Figura 2.7: Ensaio triaxial drenado realizado em areia densa e fofa do rio
Chattahoochee. (a) linha de estado crítico e linha de compressão normal; (b)
distribuição granulométrica após compressão isotpica e cisalhamento 16
Figura 2.8: Linha de estado crítico apresentando bilinearidade por quebra de grãos 17
Figura 2.9: Compressão isotpica em amostras de areia densa (ν
0
= 1,7) e fofa (ν
0
=
2,0) 18
Figura 2.10: Resultados de ensaios triaxiais drenados (σ
3
= 211kPa) em: (a) amostras
densas (ν = 1,64) e (b) em amostras fofas (ν = 1,84) de areia Brasted
20
Figura 2.11: Idealização do comportamento à compressão de solos estruturados, em
comparação com amostra do mesmo solo submetida a ensaio na condição
remoldada 24
Figura 2.12: Comportamento de areias não-cimentadas e cimentadas artificialmente,
com variações no grau de cimentação
25
Figura 3.1: Localizações: (a) munipio de Osório (RS) e (b) da jazida (aproximada) 26
Figura 3.2: Imagem de satélite, a partir da qual é possível visualizar a jazida (em
destaque, ao centro) 27
Figura 3.3: Locais de coleta de amostras: (a): areia alterada; (b): areia sã, com o ponto
aproximado de coleta em destaque 29
Figura 3.4: Equipamento para ensaio de cisalhamento direto 36
Figura 3.5: Equipamento para ensaio triaxial, ilustrando: (a) prensa, com pedestal
móvel e câmara ao lado; (b) prensa, computador e aparelho controlador de
pressões 40
Figura 3.6: Moldagem de corpo de prova denso: (a) molde bipartido revestido por
membrana e conectado por mangueira à bomba de vácuo; (b) compactação da
amostra por meio de bastão de madeira
42
Figura 3.7: Aspecto da câmara triaxial com corpo de prova após a etapa de percolação
e antes do icio da saturação
43
Figura 4.1: Curvas granulométricas das areias ensaiadas 46
Figura 4.2: Gráfico tensão vertical σ
v
x altura da amostra, amostras em estado inicial
denso
47
Figura 4.3: Gráfico tensão vertical σ
v
x altura da amostra, amostras em estado inicial
fofo 48
Figura 4.4: Variação de índice de vazios das amostras com aplicação de carregamento
vertical 48
Figura 4.5: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã
densa seca 51
Figura 4.6: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã fofa
seca 52
Figura 4.7: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada
seca densa 54
Figura 4.8: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada
seca fofa 55
Figura 4.9: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã
inundada densa 56
Figura 4.10: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã
inundada fofa 57
Figura 4.11: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia
alterada inundada densa 58
Figura 4.12: Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia
alterada inundada fofa 59
Figura 4.13: Resultados dos ensaios triaxiais em areia sã densa 61
Figura 4.14: Corpo de prova de areia sã inicialmente denso após ruptura, sob tensão
confinante de 200kPa
62
Figura 4.15: Resultados de ensaios triaxiais em areia sã fofa 64
Figura 4.16: Resultados de ensaios triaxiais em areia alterada densa 65
Figura 4.17: Corpo de prova de areia alterada inicialmente denso submetido a
deformação axial de 13%.
66
Figura 4.18: Resultados de ensaios triaxiais em areia alterada fofa 67
Figura 5.1: Resultados de ensaios de compressão confinada - índice de vazios x tensão
vertical em escala linear de tensões 70
Figura 5.2: Envoltórias de resistência ao cisalhamento de pico e a grandes
deformações para areia sã seca 74
Figura 5.3: Envoltórias de resistência ao cisalhamento a grandes deformações para
areia alterada seca 75
Figura 5.4: Envoltórias de resistência ao cisalhamento de pico e a grandes
deformações para areia sã inundada 75
Figura 5.5: Envoltória de resistência ao cisalhamento a grandes deformações para areia
alterada inundada 76
Figura 5.6: Resultados de ensaios triaxiais - envoltórias de resistência ao cisalhamento
para areia sã em estado inicial denso
79
Figura 5.7: Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento
para areia sã em estado inicial fofo
80
Figura 5.8: Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento
para areia alterada em estado inicial denso
80
Figura 5.9: Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento
para areia alterada em estado inicial fofo
81
Figura 5.10: Gráfico log s’ x ν para areia 82
Figura 5.11: Gráfico log s’ x ν para areia alterada 82
Figura 5.12: Difratograma de amostra total de areia sã 85
Figura 5.13: Difratograma de amostra total de areia alterada 85
Figura 5.14: Difratograma de ensaio natural em fração fina, areia sã 86
Figura 5.15: Difratograma de ensaio natural em fração fina, areia alterada 87
Figura 5.16: Difratograma de ensaio com amostra glicolada, areia sã 88
Figura 5.17: Difratograma de ensaio com amostra glicolada, areia alterada 88
Figura 5.18: Difratograma de ensaio com amostra calcinada, areia sã 89
Figura 5.19: Difratograma de ensaio com amostra calcinada, areia alterada 89
Figura 5.20: Fotografia de microscopia eletrônica, ilustrando grãos de areia sã, com
ampliação de 200 vezes 92
Figura 5.21: Imagem de grão de areia sã, com ampliação de 600 vezes, onde podem
ser vistos elementos de coloração branca sobre a superfície dos grãos 92
Figura 5.22: Dois grãos de areia alterada ligados por uma ponte de material cimentante
(em detalhe), imagem com ampliação de 200 vezes 92
Figura 5.23: Areia alterada - (a) Imagem ampliada em 200 vezes, ilustrando dois grãos
de areia unidos por uma estrutura delgada; (b) ligação estrutural em detalhe,
com ampliação de imagem de 600 vezes 93
Figura 5.24: Imagem ampliada 200 vezes, com dois grãos de areia unidos por um
estrutura espessa (em detalhe)
94
Figura 5.25: Areia alterada - (a) Imagem de ligação estrutural entre dois grãos de areia
(em detalhe); (b) ponto de leitura de composição química (ponto 1)
96
Figura 5.26: Espectrograma com indicação proporcional dos componentes químicos no
ponto 1, Figura 5.24(b)
96
Figura 5.27: Areia alterada - (a) Imagem ampliada 600 vezes, mostrando grão de areia
alterada com ligação estrutural (em detalhe). (b) Pontos onde foram efetuadas
as leituras por EDS 97
Figura 5.28: Espectrogramas dos cinco pontos analisados (apresentados na Figura
5.26) 98
Figura 5.29: Areia alterada - imagens mostrando: (a) ligação estrutural entre dois
grãos de areia (ampliação de 200 vezes); (b) indicação dos pontos onde foram
feitas as análises químicas (ampliação de 600 vezes) 99
Figura 5.30: Espectrogramas dos pontos analisados (indicados nas Figuras 5.28a e
5.28b) 100
Figura 6.1: Foto do corte do terreno mostrando a variação de cor e possível alteração
das areias com a profundidade 103
Figura 6.2: Aspecto geral do material cimentante dos grãos de areia alterada e de uma
ligação entre grãos 105
Figura 6.3: Imagens comparativas, com ampliação de 200 vezes, ilustrando: (a) grãos
de areia alterada e (b) areia sã 107
Figura 6.4: Variação de índice de vazios das amostras de areia sã fofa (e
0
= 0,74) e
alterada densa (e
0
= 0,75) 110
Figura 6.5: Comparação de resultados de ensaios triaxiais para areia sã, em estados
iniciais densos (e
0
= 0,53) e fofos (e
0
= 0,70) 114
Figura 6.6: Comparação de resultados de ensaios triaxiais para areia alterada, em
estados iniciais densos (e
0
= 0,75) e fofos (e
0
= 0,95) 115
Figura 6.7: Comparação entre os resultados dos ensaios de cisalhamento direto em
areia sã: (a) seca; (b) inundada 117
Figura 6.8: Comparação entre os resultados de areia alterada (a) seca; (b) inundada 119
Figura 6.9: Curva característica de sucção x grau de saturação das areias 121
Figura 6.10: Comparação de resultados de ensaios de cisalhamento direto de areia sã e
alterada sob mesmos índices de vazios – condição inundada 123
Figura 6.11: Ensaios triaxiais em areia sã e alterada sob mesmos índices de vazios 124
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1: Teor de umidade natural dos solos 45
Tabela 4.2: Peso específico dos grãos das areias 46
Tabela 4.3: Índices de vazios inicial e final (após o ensaio) 47
Tabela 4.4: Dados de corpos de prova para ensaio de cisalhamento direto, amostras
secas 49
Tabela 4.5: Dados de corpos de prova para ensaio de cisalhamento direto, amostras
inundadas 50
Tabela 4.6: Ensaios triaxiais, dados sobre os corpos de prova 60
Tabela 5.1: Dados obtidos das curvas granulométricas 69
Tabela 5.2: Índices de compressão (C
c
), de recompressão (C
r
) e coeficiente de
compressibilidade (a
v
) das areias 71
Tabela 5.3: Resultados de ensaios de cisalhamento direto – tensões cisalhantes
máximas, condição seca 72
Tabela 5.4: Resultados de ensaios de cisalhamento direto – tensões cisalhantes
máximas, condição inundada 73
Tabela 5.5: Ângulos de atrito interno calculados a partir dos ensaios de cisalhamento
direto 76
Tabela 5.6: Resultados dos ensaios triaxiais - tensões de pico e tensões a grandes
deformações das areias 78
Tabela 5.7: Parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos através de ensaios
triaxiais 81
Tabela 5.8: Ângulos de atrito interno (em graus) obtidos dos ensaios de cisalhamento
direto e triaxial nas duas areias testadas 83
Tabela 5.9: Concentração de elementos (em %) no ponto 1 [Figura 5.25(b)] 96
Tabela 5.10: Concentração de elementos (em %) nos pontos apresentados na Figura
5.26
99
Tabela 5.11: Concentração de elementos dos pontos apresentados na Figura 5.30 (em
%)
101
Tabela 6.1: Valores obtidos através dos ensaios de compressão confinada 109
Tabela 6.2: Dados das amostras de areia sã nos ensaios de cisalhamento direto 116
Tabela 6.3: Dados das amostras de areia alterada nos ensaios de cisalhamento direto 118
LISTA DE SÍMBOLOS
e: índice de vazios
‘: indicador de tensões efetivas
p’: tensão média [(σ
1
+ 2σ
3
)/3], nos ensaios triaxiais
NCL: linha de compressão normal
q: tensão desvio (σ
1
σ
3
), nos ensaios triaxiais
ν: volume específico (1 + e)
TEC: Teoria do Estado Crítico
M: constante friccional (q/p’)
ø’: ângulo de atrito interno efetivo
σ’: tensão normal efetiva
CSL: Linha de Estado Crítico (Critical State Line)
C
c
: índice de compressão
C
r
: índice de recompressão
a
v
: coeficiente de compressibilidade
e: variação de índice de vazios
∆σ
v
: variação de tensão vertical
e
0
: índice de vazios inicial
τ: tensão cisalhante
σ: tensão normal total
σ
v
: tensão vertical
σ
h
: tensão horizontal
ø
gd
: ângulo de atrito interno a grandes deformações
ø
p
: ângulo de atrito interno de pico
s’: tensão média [(σ
1
+ σ
3
)/2], nos ensaios triaxiais
t: metade da tensão desvio [(σ
1
σ
3
)/2], nos ensaios triaxiais
sen: seno
tg: tangente
ε
a
: deformação axial
ε
v
: deformação volumétrica
s’
p
: tensão média de pico
t
p
: metade da tensão desvio de pico
s’
gd
: tensão média a grandes deformações
t
gd
: metade da tensão desvio a grandes deformações
σ'
1
: tensão principal maior efetiva
σ'
3
: tensão principal menor efetiva
K
0
: coeficiente de empuxo ao repouso (σ
h
/ σ
v
)
log: logarítmo com base decimal
Å: ângstrom
°C: graus Celsius
KeV: quiloelétron-volt
m
v
: módulo de variação volumétrica
σ
vm
: tensão de pré-adensamento
c
v
: coeficiente de adensamento vertical
γ
s
: peso específico dos grãos
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
1
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TRABALHO
O conhecimento das propriedades físicas e do comportamento dos solos é um fator
primordial para a elaboração de projetos geotécnicos eficientes e a resolução de problemas na
prática de engenharia. Desta maneira, torna-se importante não somente determinar, analisar e
compreender o comportamento dos solos, mas também conhecer e interpretar alguns dos
processos que os levam a apresentar determinadas características.
No Brasil, bem como nas regiões tropicais em geral, é comum a ocorrência de solos
alterados por intemperismo, particularmente de origem química, ou submetidos a variados
processos pedogenéticos. As causas e os principais fatores relacionados a estes processos
podem ter origens diversas, porém têm como ponto em comum a significativa modificação
que podem acarretar ao comportamento mecânico dos solos, em comparação com materiais
o alterados, levando ao comprometimento do emprego destes materiais como elementos
geotécnicos sem a adequada averiguação das suas propriedades.
Em solos arenosos, dois dos processos de modificação de propriedades referem-se a
alterações mineralógicas dos grãos de areia por ação de água percolada contendo agentes
químicos dissolvidos e a deposição de elementos na superfície dos grãos, formando uma capa
de material cimentante. Apesar de se tratar de fenômenos usualmente ocorrentes, tem-se
observado a pequena quantidade de estudo a respeito da correlação entre alteração dos grãos e
comportamento do solo quanto às propriedades geotécnicas. Neste contexto, este trabalho se
proe a apresentar dados sobre um solo de características arenosas modificado pela alteração
mineralógica do grão e/ou deposição de elementos químicos cimentantes em sua superfície,
avaliar alguns aspectos do seu comportamento mecânico e contribuir para um melhor
entendimento da correlação entre a alteração dos grãos e comportamento mecânico para
areias.
De maneira geral, pode-se destacar como alguns dos objetivos específicos deste
trabalho:
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
2
Analisar as características de um solo arenoso cujo comportamento apresenta-se
alterado em decorrência da deposição de elementos químicos na superfície granular ou
da alteração mineralógica dos grãos, ou das duas ações em conjunto;
Determinar o tipo de alteração de característica ocorrente no solo alterado (alteração
mineralógica de grãos ou deposição de elementos cimentantes);
Realizar uma comparação entre o material alterado com um material arenoso típico,
o-alterado, no que se refere a algumas das principais propriedades mecânicas do
solo, particularmente a compressibilidade, a resistência ao cisalhamento e o
comportamento tensão-deformação.
A partir da determinação dos dois tipos de solos arenosos com características distintas
a serem analisados, foram apontadas algumas propriedades mecânicas destes materiais a
serem averiguadas e comparadas, por meio de ensaios de laboratório específicos. Em seguida,
procedeu-se às investigações do comportamento mecânico das areias e das diferenças de
características dos materiais, considerando-se o estudo das características mineralógicas
originais dos grãos e características advindas de alterações químicas posteriores. A
verificação destas características foi feita por meio de ensaios laboratoriais especiais, como a
difratometria de raios-X, a microscopia eletrônica de varredura (MEV) e a espectrometria de
energia dispersiva (EDS). Cabe ressaltar que, no momento da escolha dos solos para análise,
o é possível saber qual o tipo de alteração ocorrente, o que deverá ser determinado somente
após a realização dos ensaios especiais.
Torna-se relevante considerar o termo alterado, ao ser empregado neste trabalho, como
uma modificação das características do solo arenoso em análise em relação a um solo arenoso
típico, de composição mineralógica predominantemente quartzosa e comportamento mecânico
característico de areias.
A importância deste trabalho se destaca não somente pelo conhecimento das
propriedades mecânicas de um solo arenoso, mas também do conhecimento e entendimento
dos processos causadores de modificação das características dos grãos, os quais podem
ocorrer em outros tipos de solo. Neste sentido, os solos arenosos foram determinados como
objeto deste trabalho por apresentarem uma maior simplificação trica e de ensaios em
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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relação a solos argilosos. O entendimento do processo de modificação do comportamento
mecânico de um solo arenoso por alterações físicas e químicas de grãos pode servir como
base para a extensão dos conhecimentos adquiridos a outros tipos de solo com composição e
formação mais complexas.
Deve-se considerar que, para que fosse avaliada com maior clareza a influência da
alteração química na modificação do comportamento mecânico da areia, sem a interferência
de outros fatores, procurou-se solos arenosos com propriedades físicas e formação geológica
semelhantes. Desta forma, tanto o solo arenoso alterado como o solo arenoso padrão de
referência foram retirados de locais os mais próximos possíveis, de forma que a diferença
entre ambos ficasse restrita à alteração química granular de uma das areias em relação à outra.
Em relação à estrutura desta dissertação, inicialmente, no Capítulo 2, é feita uma
revisão sobre o comportamento dos solos em geral, seguida de uma revisão específica sobre o
comportamento dos solos arenosos, os quais se constituem em objeto de estudo neste trabalho.
Também é apresentada uma revisão das características de solos estruturados e cimentados,
especialmente sobre solos arenosos nestas condições, visto que a presença de cimentação
torna-se possível em pelo menos um dos solos a serem analisados.
O Capítulo 3 apresenta uma descrição inicial quanto à localização e aspectos básicos
dos solos a serem estudados, bem como é feita uma breve descrição geológica dos solos da
região litorânea do estado do Rio Grande do Sul. Neste capítulo, tamm são descritos o
programa de ensaios e os ensaios de laboratório a serem realizados, bem como os
procedimentos de preparação, moldagem e ensaio dos corpos de prova.
No Capítulo 4, são apresentados os resultados dos ensaios de laboratório executados,
enquanto no Capítulo 5 é feita uma descrição das areias, com a obtenção de alguns dos
principais parâmetros geotécnicos e a apresentação dos resultados dos ensaios especiais de
caracterização, como a difratometria de raios-X e espectrometria de energia dispersiva (EDS),
os quais, pela sua relevância a este trabalho, são descritos e apresentados de maneira separada
em relação aos demais ensaios.
As principais análises comparativas entre os parâmetros geotécnicos das areias e a sua
correlação com as características de alteração química dos grãos são feitas no Capítulo 6,
enquanto as principais conclusões obtidas desta dissertação são apresentadas no Capítulo 7.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A revisão bibliográfica apresentada nesta dissertação tem por objetivo fornecer uma
descrição geral do comportamento dos solos. Por se tratar de um trabalho sobre solos
arenosos, será dada ênfase na descrição do comportamento dos solos arenosos em geral, assim
como serão abordadas características de alguns solos arenosos peculiares, como a presença de
estrutura ou cimentação. A abordagem do comportamento dos solos enfocará características
como compressibilidade, comportamento tensão-deformação e resistência ao cisalhamento.
Para isto, inicialmente serão expostos elementos sicos da teoria de mecânica dos
solos e serão revistas as diferenças de comportamento entre solos remoldados e solos
naturalmente estruturados. Os principais pontos a serem abordados nesta revisão são:
Teorias básicas da mecânica dos solos e entendimento geral do comportamento de
diferentes solos.
Revisão geral do comportamento dos solos arenosos, especialmente quanto às
características de compressibilidade, comportamento tensão-deformação e resistência
ao cisalhamento.
Descrição das características e comportamento de solos arenosos naturalmente
estruturados e/ou alterados, em comparação com solos remoldados.
2.1 INTRODUÇÃO
Os principais fundamentos da mecânica dos solos clássica têm sua origem nos
trabalhos pioneiros de Terzaghi, Casagrande e Hvorslev, que reconheceram a importância do
índice de vazios no comportamento geral dos solos e o fato da compressão ao longo da linha
de compressão normal (Normal Compression Line NCL) ser essencialmente irreversível,
enquanto as deformações ao longo das linhas de expansão e correspondentes linhas de
recompressão têm caráter reversível. Porém, foi a partir de 1958 que Roscoe, Schofield e
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Wroth, a partir das teorias até então conhecidas, propuseram os fundamentos do que se tornou
usualmente conhecido como Mecânica dos Solos do Estado Crítico, cujos conceitos passaram
a fazer parte do que seria denominado Teoria do Estado Crítico (TEC). Os conceitos incldos
na teoria do estado crítico, como plastificação (yielding) e estado crítico são de extrema
importância para compreender e analisar o comportamento dos solos, tendo adquirido
aceitação generalizada (Leroueil, 1997).
2.2 TEORIA DO ESTADO CRÍTICO
Com o objetivo de entender a Teoria do Estado Crítico, a qual adquiriu grande
importância para o entendimento do comportamento dos solos, serão revistos e apresentados a
seguir alguns conceitos básicos, os quais são baseados em trabalhos de Atkinson & Bransby
(1978) e Leroueil (1997), além de considerações feitas por Martins (2001).
A Teoria do Estado Crítico advém do conceito de estado crítico para solos, o qual teve
o início de sua formulação durante os anos 50 do século XX, particularmente em Cambridge,
Inglaterra. O conceito de estado crítico foi estudado em diversos modelos, os quais
encontram-se atualmente desenvolvidos e consolidados, sendo aceito amplamente em análises
sobre comportamento dos solos.
A Teoria do Estado Crítico, em sua essência, foi formulada com base principalmente
em ensaios realizados em amostras reconstitdas e isotropicamente consolidadas de argila,
por serem representativas de solos saturados isotrópicos e não sofrerem influência de fatores
como velocidade de deformação ou presença de estrutura. Portanto, a TEC, como formulada
inicialmente, descreve o comportamento de solos considerados “ideais”, negligenciando
qualquer efeito relativo à presença de estrutura natural, como cimentação ou arranjo entre
grãos. Neste sentido, os conceitos contidos na teoria do estado crítico podem ser considerados
como propriedades intrínsecas aos solos. Alguns autores têm desenvolvido modelos
especialmente para solos cimentados, baseados em modelos de comportamento de solos
estruturados propostos por Leroueil & Vaughan (1990). Recentemente, outros autores têm
empregado a Teoria do Estado Crítico para analisar resultados experimentais obtidos em solos
granulares (Martins, 2001).
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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Todavia, após os anos 70, foram identificados alguns aspectos importantes do
comportamento dos solos os quais não são expressos pelos conceitos de estado crítico. Dentre
rios, podem ser citados a anisotropia da resistência ao cisalhamento e da deformabilidade; o
desenvolvimento de deformações plásticas dentro de curvas limite; o efeito de quebra de
grãos nas curvas de estado crítico de solos granulares; efeitos de velocidade de deformação e
de temperatura; presença de descontinuidades e a influência da sucção (Ferreira, 2002).
2.2.1 Bases da Teoria do Estado Ctico
Quando um solo argiloso com teor de umidade próximo ao seu limite de liquidez é
submetido a um carregamento isotpico, seu índice de vazios decresce ao longo da linha de
compressão normal (Normal Compression Line - NCL), que consiste em uma linha reta em
um gráfico índice de vazios por logaritmo da tensão efetiva média (e x log p’), conforme
ilustrado na Figura 2.1a, onde a NCL é representada pelo segmento ABC. Quando o solo é
carregado até o ponto B e posteriormente descarregado, uma pequena expansão ao longo
da linha BR, que também pode ser considerada uma linha reta no gráfico e x log p’. Havendo
novo acréscimo de tensões a partir do ponto R, o solo terá comportamento elástico do ponto R
ao ponto B e em seguida seguirá a trajetória ao longo da linha de compressão normal (trecho
BC), onde as deformações o predominantemente plásticas. Para um solo no ponto R, o
ponto B pode ser considerado um ponto de plastificação, ou um estado limite, a partir do qual
começam a ocorrer deformações plásticas.
Em um gráfico p’ x q, o solo carregado até o ponto A sob uma tensão isotrópica
efetiva p’
a
define uma região na qual o comportamento é elástico. Esta zona é limitada pela
curva de plastificação ou curva de estado limite passando pelo ponto A, de acordo com a
Figura 2.1b. Para trajetórias de tensão como a trajetória LM, dentro da região delimitada pela
curva de estado limite, o comportamento é elástico. Para trajetórias de tensão como LT, o
comportamento do solo é elástico entre os pontos L e S, e deformações plásticas ocorrem
somente entre os pontos S e T. Para um solo carregado isotropicamente até o ponto B, na
Figura 2.1b, a nova curva de estado limite está associada com a deformação volumétrica
plástica acumulada e a sua forma é semelhante, independente da trajetória de tensões ao longo
da qual a curva foi gerada (Ferreira, 2002).
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(a)
(b)
Figura 2.1 – Linha de estado crítico (CSL): (a) diagrama e x log p’ e (b) diagrama p’ x q
(Ferreira, 2002).
Em um gráfico ν x ln p’, onde ν é definido como volume específico, (ν = 1 + e), a
linha de compressão normal, representada na Figura 2.2 pelo segmento OACD, pode ser
caracterizada pela seguinte expressão:
'ln pN
=
λ
ν
2.1
Onde λ
λλ
λ representa a inclinação da reta e N é o valor de ν
νν
ν para uma tensão efetiva
média de 1 kPa. O trecho ABC pode ser denominado como um segmento da reta de expansão,
a qual é representada pela seguinte expressão:
'ln p
K
=
κνν
2.2
Onde κ
κκ
κ é a inclinação da reta ABC e ν
νν
ν
k
é o valor de ν
νν
ν para uma tensão efetiva média
de 1 kPa. Segundo a TEC, os valores de N, λ
λλ
λ e κ
κκ
κ são constantes para um determinado solo e a
linha de compressão normal é única, com sua posição no diagrama ln p’ x ν sendo definida
por N e λ
λλ
λ. Como o solo pode ser descarregado sob qualquer tensão p’, o valor de ν
νν
ν
k
é
variável, porém a inclinação κ
κκ
κ da reta de expansão é invariável para um determinado solo,
independente dovel de tensões onde ocorre o descarregamento.
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Figura 2.2 – Diagrama ν x ln p’. Linha de compressão normal (OACD) e linha de
recompressão (ABC) (Martins, 2001).
A partir das equações 2.1 e 2.2, pode-se determinar o volume específico de uma
amostra do solo quando submetida à compressão isotpica, a partir da história de
carregamento e descarregamento da amostra. Durante descarregamento, a amostra pode estar
situada a qualquer ponto à esquerda da NCL. Durante compressão virgem, a amostra se situa
sobre a NCL. Porém, segundo a TEC, sob nenhuma condição a amostra pode se situar à
direita da NCL. Logo, a NCL representa um estado limite do solo para a compressão
isotrópica. Qualquer solo situado sobre a NCL está em um estado normalmente adensado,
sendo que pontos à esquerda da NCL representam estados de pré-adensamento.
2.2.2 Linha de Estado Crítico
O estado crítico pode ser obtido em ensaios de cisalhamento drenados e não drenados
com amostras de argila normalmente adensadas ou levemente pré-adensadas, sendo atingido
com grandes deformações, ao mesmo tempo em que a tensão desvio máxima é atingida. Em
amostras fortemente pré-adensadas, o estado crítico é atingido com grandes deformações,
porém após ser atingida uma tensão desvio de pico e posterior amolecimento (strain
softening).
Levando-se em consideração resultados obtidos a partir da ruptura de amostras de
argila, as quais foram isotropicamente consolidadas e em seguida carregadas em ensaios
triaxiais drenados e não-drenados, e locando-se em um gráfico p’ x q os pontos de tensão-
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desvio q máxima, obtém-se uma única linha de pontos de ruptura. Esta linha é única, tanto em
um gráfico p’ x q, quanto em um gráfico p’ x ν , independente da condição de drenagem ou
da trajetória de tensões seguida pela amostra durante o ensaio. Esta linha é definida como
linha de estado crítico (Critical State Line - CSL), a qual está representada nos diagramas p’ x
q, e p’ x ν ilustrados na Figura 2.3a e 2.3b respectivamente. A propriedade crucial da linha de
estado crítico indica que a ruptura de amostras inicialmente carregadas isotropicamente
ocorrerá quando o estado de tensões da amostra atingir a linha, independentemente da
trajetória de tensões seguida durante o ensaio.
Segundo Atkinson & Bransby (1978), a projeção da linha de estado crítico no gráfico
p’ x q é descrita pela equação 2.3.
'pMq
=
2.3
A equação 2.3 determina a constante friccional M, a qual relaciona a tensão desvio e a
tensão efetiva média durante o estado crítico. De acordo com esta equação, a linha de estado
crítico em um diagrama p’ x q é representada por uma reta. A linha de estado crítico
apresentada em um gráfico ν x ln p’ é representada pela equação 2.4:
'ln p
Γ
=
λ
ν
2.4
Onde Γ é definido como o valor de ν correspondente a uma tensão média efetiva p’ de
1 kPa. A equação 2.3 define o critério de ruptura de Mohr-Coulomb representado no plano p’
x q, sendo o valor de M diretamente relacionado ao ângulo de atrito interno ø’ do material. No
caso de ensaios onde ocorra compressão axial, M é dado pela equação 2.5:
'sen3
'sen6
φ
φ
=M
2.5
Para casos de ensaios triaxiais onde haja extensão axial, M é dado pela equação 2.6:
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'sen3
'sen6
φ
φ
+
=M
2.6
A equação 2.4 determina que o volume específico ocupado por um volume unitário de
partículas sofre um decréscimo com o aumento da tensão efetiva média p’, visto que o valor
de Γ é uma constante para determinado solo. A equação 2.4 indica que a linha de estado
crítico é representada por uma reta em um gráfico ν x ln p’, enquanto em um diagrama ν x p’,
a linha de estado crítico se apresenta como uma curva, localizada abaixo da linha de
compressão normal, conforme ilustrado na Figura 2.3b.
(a) (b)
Figura 2.3 – Linha de Estado Crítico (a) em diagrama p’ x q e (b) em diagrama p’ x ν
(Atkinson & Bransby, 1978).
Sendo a linha de compressão normal e a linha de estado crítico representadas no
mesmo diagrama (e x log σ’), a CSL se localiza à esquerda da NCL. Havendo deformações de
cisalhamento no solo em amostras inicialmente carregadas isotropicamente, o estado de
tensões converge de um ponto sobre a NCL para um ponto sobre a CSL, onde se caracteriza a
ruptura do solo. Estas duas linhas são admitidas como sendo paralelas, como representado na
Figura 2.4a. Ao se trabalhar com um diagrama e x log σ’, os parâmetros da NCL sofrem uma
ligeira alteração em relação aos parâmetros das equações 2.1 e 2.2. O parâmetro N é
substitdo por e
0
e o parâmetro λ substituído por C
c
ndice de compressão). No caso da reta
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de expansão, o parâmetro κ indicador da declividade da reta passa a ser denominado C
r
ndice de recompressão).
A posição da linha de estado crítico de um solo é função de q, p’ e ν, podendo desta
forma ser representada em um espaço tri-dimensional p’ x q x ν, como indicado na Figura
2.4b. Para q = 0, tem-se a linha de consolidação normal (NCL). Com o aumento de q, um
aumento da tensão efetiva média p’ e uma diminuição do volume específico ν.
(a)
(b)
Figura 2.4 – Representação da linha de compressão normal e da linha de estado crítico em
função: (a) índice de vazios x log σ
v
. (b) em um diagrama p’, q’ e ν (Martins, 2001;
Atkinson & Bransby, 1978).
Os conceitos de linha de compressão normal (NCL) e linha de estado crítico (CSL),
juntamente com outros conceitos, como os de superfícies de Roscoe e Hvorslev, constituem-
se na base da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. Leroueil (1997) apresenta uma
aplicação destes conceitos a partir resultados de ensaios de compressão triaxial, mostrados na
Figura 2.5. Os ensaios referem-se a duas amostras normalmente consolidadas até o ponto M e
em seguida descarregadas a diferentes razões de pré-adensamento, representadas pelos pontos
A e B. A amostra representada pelo ponto A está em um estado de leve pré-adensamento,
enquanto a amostra representada por B está em estado de forte pré-adensamento. O solo
apresenta comportamento elástico até atingir as curvas de estado limite (nos pontos A
1
, B
1
, C
1
e D
1
) e em seguida move-se progressivamente em direção à linha de estado crítico. Pode ser
notado que o ensaio drenado com a amostra levemente pré-adensada (trajetória AA
1
A
2
)
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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apresenta comportamento dútil enquanto o mesmo ensaio com a amostra fortemente pré-
adensada (trajetória BB
1
B
2
) mostra um comportamento frágil (strain softening).
Figura 2.5 – Ensaios de compressão triaxial drenados e não-drenados (comportamento
esquematizado de acordo com a teoria do estado crítico) (Leroueil, 1997).
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS GRANULARES
Os materiais granulares, como as areias, apresentam como características principais a
alta condutividade hidráulica e se comportam com características de drenagem livre (Ortigão,
1995). Os solos arenosos apresentam grãos geralmente em contato tangencial, formando uma
malha tridimensional. Normalmente, os solos arenosos são assim denominados em função do
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tamanho dos grãos, sendo o tamanho dos grãos variável entre 0,06mm e 2mm. O material
areia, definido entre entres valores, concentra uma vasta variedade no tamanho dos grãos.
Grãos com diâmetro de 2mm apresentam volume da ordem de 35000 vezes superior a grãos
com diâmetro de 0,06mm. Por conta desta variação, é comum na prática de engenharia e em
classificação de solos arenosos, que areias sejam classificadas como areia grossa, média e
fina. Segundo a classificação das frações constituintes do solo, empregada pela ABNT (NBR
6502/95), areias finas possuem grãos com diâmetro médio variando entre 0,06mm e 0,20mm.
Areias médias possuem diâmetro médio variando entre 0,20mm e 0,60mm, enquanto areias
grossas apresentam diâmetro médio dos grãos entre 0,60mm e 2,0mm. Como produto final da
decomposição das rochas matrizes, as areias possuem uma faixa de variação de tamanho dos
grãos delimitada pela textura original das rochas das quais se originam.
Os solos arenosos, quando desprovidos de material fino, têm seu comportamento
quanto à resistência vinculado ao atrito entre grãos e ao grau de intertravamento entre estes,
o havendo características de atração físico-química entre partículas. Com isto, a
característica de resistência ao cisalhamento é determinada fundamentalmente pelo atrito, sem
características de coesão entre grãos. A fim de melhor compreender o comportamento de
solos arenosos, será feita uma revisão do comportamento de areias quanto ao comportamento
tensão-deformação, assim como o comportamento à ruptura.
2.3.1 Comportamento tensão-deformação de areias
A deformação experimentada por materiais granulares como as areias pode ser
explicada através de mecanismos ocorrentes nas partículas do solo. A distorção e a quebra de
partículas, e o movimento relativo entre partículas, como resultado de escorregamento e
deslizamento. Entretanto, estes mecanismos raramente são independentes um do outro.
Enquanto o movimento relativo entre partículas causa as maiores deformações ocorrentes no
solo, este movimento não ocorreria caso não houvesse distorção entre partículas. Modelos
simplificados para explicar a interação entre partículas foram propostos, usando teorias
considerando as partículas do solo como esferas elásticas (Lambe & Whitman, 1979).
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O comportamento tensão-deformação dos materiais granulares pode ser analisado a
partir de duas situações, as quais serão enfocadas nesta revisão: o comportamento durante
compressão confinada e o comportamento durante o cisalhamento.
2.3.1.1 Comportamento tensão-deformação durante compressão confinada
O comportamento de um material granular submetido à compressão confinada pode
ser melhor entendido através da análise de ensaios feitos com este material. A Figura 2.6
descreve o comportamento de uma areia com grãos de quartzo, de granulometria uniforme e
grãos médios a grossos, estando inicialmente em um estado denso. Os resultados mostrados
são compostos de uma série de ensaios oedométricos, realizados em equipamentos
convencionais para pequenas tensões e equipamentos especiais para altas tensões (Lambe &
Whitman, 1979).
Figura 2.6 – Comportamento tensão-deformação de areia (porosidade = 0,375) em
compressão confinada (Lambe & Whitman, 1979).
Segundo os dados mostrados na Figura 2.6, o comportamento tensão-deformação para
esta areia pode ser considerado em duas etapas:
Para tensões verticais até aproximadamente 15MPa, a areia tem sua rigidez aumentada
com o aumento das tensões. Esta forma de comportamento pode ser denominada como
travamento (Lambe & Whitman, 1979), sendo característica dos sistemas particulados.
As deformações resultam principalmente do rolamento de grãos e escorregamento
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entre partículas. Cada movimento resulta em um arranjo mais rígido de partículas, até
que um estágio é atingido onde as tensões nos pontos de contato entre grãos se tornam
altas, levando à quebra de grãos.
A partir de uma tensão aproximada de 15MPa, um ponto de plastificação,
decorrente da quebra de grãos, o que permite uma reorientação de partículas. Com o
aumento do número de partículas, a força entre grãos diminui e o espaço intergranular
aumenta, permitindo um novo arranjo de grãos. A partir do início da quebra dos grãos,
ocorrendo um subseqüente aumento de tensões verticais, novamente ocorre
aproximação dos grãos e adensamento da amostra. O fenômeno de quebra de grãos é
importante para determinar o comportamento de areias. Para a maior parte dos solos
arenosos, a tensão para quebra de grãos é superior às tensões usualmente ocorrentes
em obras de engenharia. Porém, para determinados tipos de solos arenosos, compostos
por grãos menos resistentes, este fenômeno pode ser importante.
Cornforth (1974) aponta algumas situações que podem levar a erros de medidas em
ensaios de compressão confinada em areias, tais como: a compressibilidade dos componentes
da prensa, a existência de espaços vazios no contato entre o solo e o anel durante a moldagem
dos corpos-de-prova e a dificuldade de se obter contatos planos entre o solo e as pedras
porosas inferior e superior. Para minimizar estes efeitos, o autor apresenta um programa de
ensaios para o estudo da compressibilidade da areia de Brasted, a partir da consolidação de
amostras na condição K
0
, em um aparelho triaxial convencional, com medição da variação de
volume da amostra por meio de uma bureta graduada. Foram realizados uma série de ensaios
com diferentes valores de densidade relativa. Os resultados apresentados mostram uma
variação parabólica do volume com relação à tensão vertical efetiva, com as amostras com
menor densidade relativa apresentando maior variação volumétrica. Amostras com densidade
relativa aproximadas apresentam curvas de compressibilidade virtualmente coincidentes. Os
resultados também indicam que um aumento de 20 pontos percentuais na densidade relativa
reduz a variação de volume da areia em aproximadamente um terço.
O fenômeno de quebra de grãos em materiais granulares, particularmente em areias,
adquire especial importância por modificar consideravelmente as características do solo,
principalmente a resistência ao cisalhamento e a compressibilidade. A compressão de
materiais granulares, principalmente a altas tensões confinantes e o subseqüente cisalhamento
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induzem a quebra de grãos. Em areias, a quebra dos grãos pode ser verificada através da
análise granulométrica de amostras submetidas à compressão e posterior cisalhamento, como
ilustrado na Figura 2.7a, onde são mostrados ensaios triaxiais realizados por Vesic & Clough
(1968) apud Leroueil (1997) em amostras de areia do rio Chattahoochee. Estas amostras
foram levadas à compressão isotrópica em tensões de 2,1MPa, 21MPa e 63MPa e subseqüente
cisalhamento a tensões confinantes de 21MPa e 63MPa. A distribuição granulométrica deste
material, antes da consolidação, bem como antes e após o cisalhamento é representada na
Figura 2.7b, a qual indica que, para tensões confinantes crescentes, uma diminuição do
tamanho dos grãos. Durante a etapa de cisalhamento, nota-se novamente a tendência de
diminuição de tamanho dos grãos com o aumento da tensão confinante.
(a)
(b)
Figura 2.7 – Ensaio triaxial drenado realizado em areia densa e fofa do rio Chattahoochee. (a)
linha de estado crítico e linha de compressão normal; (b) distribuição granulométrica após
compressão isotpica e cisalhamento (Vesic & Clough, 1968, apud Leroueil, 1997).
A quebra dos grãos influencia o ângulo de atrito interno medido, bem como a linha de
estado crítico em um diagrama e x log p’, ilustrada na Figura 2.7a. Mesmo considerando-se
que, para este ensaio a linha de estado crítico é uma aproximação, algumas características
podem ser destacadas, tais como:
A linha de estado crítico apresenta uma descontinuidade em algum ponto entre as
tensões de 1MPa e 2MPa, e este fato está provavelmente associado à quebra de grãos
de areia ao se atingir estes valores de tensão efetiva média.
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A linha de estado crítico, bem como a linha de compressão normal, apresentam
concavidade para cima sob altas tensões (superiores a 10MPa), o que se torna lógico,
considerando-se o fato do índice de vazios se tornar muito reduzido e não poder
assumir valores negativos.
De acordo com a Figura 2.8, para tensões efetivas isotpicas menores do que a tensão
p
c
, denominada tensão de quebra de grãos, a inclinação da linha de estado crítico é
representada por λ. Para tensões superiores a p
c
, a linha de estado crítico passa a ser
representada por λ
c
. Com isto, em decorrência da quebra de grãos, a linha de estado crítico
pode ser considerada bi-linear, com um valor de tensão efetiva média claramente delimitado,
no qual ocorre a descontinuidade da linha. A tensão de quebra de grãos pode variar entre
500kPa e 2000kPa, sendo o valor de pc influenciado pela mineralogia e pela angularidade dos
grãos, bem como pela distribuição granulométrica do material (Leroueil, 1997).
Figura 2.8 – Linha de estado crítico apresentando bilinearidade por quebra de grãos (Konrad,
1997, apud Leroueil, 1997).
Os resultados dos ensaios apresentados na Figura 2.7 podem ser visualizados em
forma de um diagrama ln p’ x ν (Figura 2.9). De acordo com o diagrama, são representados
dois ensaios com índices de vazios diferentes, consistindo em uma amostra em estado inicial
denso (ν
0
= 1,7) e uma amostra em estado inicial fofo (ν
0
= 2,0). Ambas amostras apresentam
baixa compressibilidade para veis de tensão usualmente empregados em ensaios de
laboratório e na prática de engenharia, porém a amostra em estado inicial fofo está mais
próxima da linha de compressão normal (segmento AB) do que a amostra em estado inicial
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denso. O gráfico indica que independentemente do índice de vazios inicial, as amostras
convergem para a linha de compressão normal, sob altas tensões, de forma que amostras com
maiores índices de vazios atingem a linha de compressão normal em menores níveis de
tensão. O comportamento quanto à compressão de areias com índices de vazios mais baixos
equivale ao aumento da razão de pré-adensamento de argilas, com pequena variação
volumétrica com o aumento do nível de tensão efetiva média até que se atinja a linha de
compressão normal, a partir de onde as deformações são de maior magnitude.
Figura 2.9 – Compressão isotrópica em amostras de areia densa (ν
0
= 1,7) e fofa (ν
0
= 2,0)
(Vesic & Clough, 1968, apud Atkinson & Bransby, 1978).
O comportamento de areias quando submetidas a descarregamento e posterior
recarregamento pode ser estimado conforme os conceitos apresentados sobre linha de
compressão normal e linha de expansão. Ao ser descarregada, apenas uma parte das
deformações que ocorrem durante o carregamento é recuperada durante o subseqüente
descarregamento, sendo esta parte recuperada decorrente da energia elástica armazenada pelas
partículas durante o carregamento, enquanto as deformações resultantes do escorregamento
entre partículas ou da quebra de grãos são plásticas. Durante o descarregamento, a amostra
situa-se sobre a linha de expansão. Havendo posterior carregamento, a amostra se torna mais
gida, até que se atinja o maior vel de tensões experimentado pelo material. Ao ser
submetido a maiores tensões, a amostra se situa novamente sobre a linha de compressão
normal (Lambe & Whitman, 1979).
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
19
Quanto ao efeito do tempo no comportamento à compressão de areias, toda a
compressão, exceto uma pequena porcentagem, ocorre nos primeiros minutos. Para altos
veis de tensão, suficientes para causar quebra de grãos, a compressão pode durar um tempo
maior, em escala de horas. Em solos fracamente estruturados ou com grãos pouco resistentes,
a variação de volume pode ocorrer durante por um grande intervalo de tempo, mesmo para
baixos níveis de tensão (Lambe & Whitman, 1979).
A compressibilidade de areias é considerada usualmente na prática de engenharia
como sendo função exclusiva da densidade relativa do material. A idéia de que a densidade
relativa fornece uma base comum para caracterização do comportamento dos solos granulares
ainda não foi confirmada por meio de ensaios de laboratório. Para areias uniformes, Makhlouf
& Stewart (1988) apud Clayton et al (1985) encontraram um acréscimo no módulo tangente
inicial em ensaios de compressão triaxial de 30%, para um aumento de 0% a 88% na
densidade relativa. Para areias bem graduadas, aumentos muito maiores no módulo de
deformação são encontrados para uma igual variação de densidade relativa. Clayton et al
(1985), listam uma série de fatores que afetam a compressibilidade de solos arenosos, tendo
cada fator um índice de influência no comportamento dos solos. Segundo os autores, os
fatores com maior influência nos efeitos na compressibilidade de areias são o índice de
vazios, o pré-carregamento, o formato das partículas e a densidade relativa.
2.3.1.2 Comportamento tensão-deformação durante cisalhamento
O comportamento de um solo arenoso durante o cisalhamento pode ser descrito a
partir de resultados de ensaios triaxiais e ensaios de cisalhamento direto. Em ensaios de
cisalhamento direto convencionais, a maior parte das deformações ocorre numa zona de
pequena espessura da amostra. As deformações nesta zona, as quais determinam a resistência
ao cisalhamento, são significativamente diferentes das deformações ao longo do restante da
amostra. Segundo Lambe & Whitman (1979), os dados obtidos de ensaios de cisalhamento
direto e a análise de tensão-deformação são de natureza qualitativa, tornando-se difícil uma
análise quantitativa.
Para a compreensão do comportamento de um solo arenoso durante o cisalhamento, é
conveniente considerar dados de ensaios triaxiais. A Figura 2.10 ilustra dados de ensaios em
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duas amostras de areia Brasted, com diferentes índices de vazios iniciais. Uma amostra se
encontra em estado denso (e = 0,64) e a segunda amostra apresenta um estado fofo (e = 0,84).
(a) (b)
Figura 2.10 – Resultados de ensaios triaxiais drenados (σ
3
= 211kPa) em: (a) amostras densas
(ν = 1,64) e (b) em amostras fofas (ν = 1,84) de areia Brasted (Bishop & Henkel, 1962 apud
Atkinson & Bransby, 1978).
O primeiro estágio do ensaio é caracterizado por uma rigidez inicial, com um
expressivo aumento da tensão desvio com pequenos veis de deformação axial. Esta rigidez é
maior na amostra densa, onde ocorre uma maior aproximação e maior intertravamento dos
grãos. Um segundo estágio pode ser identificado, onde começa a ocorrer a plastificação do
material e um pico de resistência ao cisalhamento é atingido. Para amostras fofas, a
resistência de pico se mantém constante à medida que novas deformações ocorrem. Para
amostras densas, a tensão desvio atinge um valor de pico, sendo o valor de q no pico
denominado resistência ao cisalhamento de pico do solo.
Para elevados veis de deformação axial, as amostras de areia densa e fofa tendem a
atingir um valor único de tensão desvio, o que leva à importante característica dos solos
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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arenosos de apresentarem igual resistência ao cisalhamento para elevados níveis de
deformação, independente do índice de vazios inicial da amostra. O índice de vazios dos solos
arenosos também tende a um valor único para grandes deformações.
Quanto à variação volumétrica, as amostras inicialmente fofas apresentam redução de
volume, enquanto as areias inicialmente densas apresentam aumento de volume durante o
cisalhamento. Este aumento de volume é referido como dilatância. O comportamento quanto à
variação volumétrica de amostras densas e fofas de areias é similar ao comportamento
apresentado por amostras de argila pré-adensadas e normalmente adensadas, respectivamente,
o que remete a uma similaridade de comportamento entre areias e argilas (Atkinson &
Bransby, 1978).
Coop (1990) apresenta e analisa resultados de ensaios triaxiais efetuados sob veis
usuais e sob alto nível de tensões isotrópicas efetivas, de valores até 8MPa, em amostras de
areia carbonatada, com alto teor de carbonato de cálcio. Os resultados indicam que o
comportamento mecânico deste solo é similar ao comportamento observado em outros solos
arenosos, apesar do efeito de quebra de grãos ter sido observado para ensaios sob altas
tensões.
Sayão & Ratton (1994) apresentam resultados de ensaios triaxiais drenados realizados
em dois tipos de areias, ambas com granulometria uniforme e grãos sub-arredondados, porém
com composições mineralógicas distintas, sendo uma delas compostas por grãos de quartzo e
a outra composta por grãos calcáreos, ambas de depósitos litorâneos. Os resultados dos
ensaios mostraram um crescimento significativo do módulo de deformabilidade e da
resistência ao cisalhamento com o aumento da tensão confinante e da densidade relativa. Em
todos os ensaios, as amostras apresentaram pequena contração inicial, seguida de expansão
volumétrica. As areias apresentaram curvas tensão-deformação semelhantes para mesmos
veis de tensão e densidade relativa. Os resultados de ensaios tamm demonstraram que não
houve divergência entre as duas areias quanto às envoltórias de resistência ao cisalhamento,
sugerindo desta forma que a mineralogia não influiu nos parâmetros de resistência ao
cisalhamento.
Santos Jr. et al. (2002) descrevem a realização de ensaios de cisalhamento direto com
solos arenosos, de grãos quartzosos e granulometria uniforme, localizados em campos de
dunas no estado do Rio Grande do Norte, tendo realizado ensaios com diferentes índices de
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vazios iniciais, variando entre valores próximos aos índices de vazios máximo e mínimo e
empregando índices de vazios intermediários. Os resultados encontrados apontam para uma
relação aproximadamente linear entre o índice de vazios inicial e o ângulo de atrito interno de
pico, para solos arenosos.
Vargas (1998) estudou a característica de diversas areias de praias e rios brasileiros,
analisando-as quanto às suas características de sedimentologia, granulometria, compacidade e
resistência ao cisalhamento. Quanto às características granulométricas, foi verificada uma
clara distinção entre areias de praia e dunas e areias de rio e várzeas. As areias de praia e de
campos de dunas apresentam granulometria uniforme, enquanto areias de rios e várzeas são
bem graduadas. Quanto à resistência ao cisalhamento, foram executados uma série de ensaios
triaxiais e de cisalhamento direto, com amostras de areia em estado fofo e denso, próximos
aos índices de vazios máximo e nimo, respectivamente. Para areias de dunas ou de
ambientes de praia, as amostras em estado denso apresentaram valores de ângulo de atrito
interno de pico variando entre 35° e 45°. Para areias em estado fofo, foram obtidos valores de
ângulo de atrito interno variando entre 29° e 35°. Foram executados ensaios de cisalhamento
direto em amostras saturadas e secas. Os valores de ângulo de atrito interno obtidos indicam
que o estado de saturação da amostra influi no valor do ângulo de atrito interno quando as
areias de praia estão em estado inicial denso.
Segundo Been & Jefferies (1985), a tensão confinante modifica o comportamento das
areias, de forma que areias densas, quando submetidas a cisalhamento sob altas tensões
confinantes, terão comportamento similar a areias fofas. Logo, as propriedades das areias não
podem ser expressas com relação apenas à densidade relativa, mas também ao nível de
tensões.
2.4 SOLOS ESTRUTURADOS
Os solos encontrados in situ, em grande parte das vezes apresentam algum tipo de
estrutura. É usualmente aceito que a estrutura é formada durante a deposição, quando fatores
químicos, sicos e biológicos são responsáveis pela formação de algum tipo de estrutura nos
solos. O termo estrutura é usado para designar um arranjo ou cimentação entre partículas do
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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solo e, por simplicidade, engloba todas as características do solo que são diferentes daquelas
observadas em solos reconstitdos (Liu & Carter, 1999). O conceito de estrutura pode ser
associado a um ganho de resistência que não pode ser explicado pela história de tensões ou
pelo índice de vazios do solo. Ao contrário da história de tensões do solo, a estrutura natural
o pode ser restitda uma vez danificada, já que está associada à cimentação entre partículas
e ao arranjo entre grãos (Martins, 2001).
2.4.1 Características básicas dos solos estruturados
Há um número significativo de dados experimentais que sugerem que a estrutura,
assim como a história de tensões, o fatores de grande influência no comportamento dos
solos. Também é reconhecido que modificações, como o intemperismo, a retirada de solo do
seu local original e o carregamento geralmente modificam a estrutura original dos solos (Liu
& Carter, 1999).
A presença de estruturas no solo pode ser decorrente de diversos fatores, como a
deposição de lica nos contatos entre partículas em areias, por fusão entre os pontos de
contato entre partículas a altas pressões, pela deposição de carbonatos, hidróxidos e material
orgânico e a recristalização de minerais durante o intemperismo. Apesar de poder ser
origiria de fatores diversos, a presença de estrutura em solos podem levá-los a apresentar
uma tendência única de comportamento, que envolve um comportamento inicial rígido,
seguido de uma plastificação, a qual pode ser descrita de modo similar à plastificação
ocorrente pelo processo de pré-adensamento, embora sejam fenômenos distintos (Leroueil &
Vaughan, 1990).
O comportamento quanto à compressão isotrópica de um solo estruturado pode ser
melhor compreendido quando comparado ao comportamento do mesmo solo na condição
remoldada. Uma idealização do comportamento de um solo estruturado está representado na
Figura 2.11. Na Figura, está representada a linha de compressão normal, em um diagrama e x
ln p’, de um solo reconstitdo e também está representada a linha de compressão normal do
mesmo solo na condição indeformada. Pelo gráfico, para tensões efetivas médias superiores a
p’
0
, o índice de vazios do solo estruturado é superior ao do solo remoldado. Ao se iniciar a
quebra de estrutura, o índice de vazios adicional suportado pelo solo estruturado decresce e a
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curva de compressão deste solo tende a convergir para a linha de compressão normal do solo
remoldado, isto é, a influência da estrutura tende a diminuir com o aumento das tensões (Liu
& Carter, 1999).
Segundo Liu & Carter (1999), o índice de vazios para um solo estruturado (e), pode
ser expresso em função do correspondente índice de vazios para o solo remoldado (e*),
acrescido de um componente devido à presença da estrutura (e). Segundo os autores, as
propriedades dos solos reconstitdos são denominadas propriedades intrínsecas. Com isto, a
influência da estrutura no comportamento do solo pode ser tomada em conta por comparação
com o comportamento intrínseco. Esta metodologia tem sido amplamente empregada para
distinguir o comportamento de solos naturais e reconstitdos (Leroueil & Vaughan, 1990).
Figura 2.11 – Idealização do comportamento à compressão de solos estruturados, em
comparação com amostra do mesmo solo submetida a ensaio na condição remoldada (Liu &
Carter, 1999).
2.4.2 Efeito de estrutura em solos arenosos
A evidência da presença de estruturas em solos arenosos tem sido observada tanto em
campo como em laboratório. Leroueil & Vaughan (1990) citam uma série de trabalhos
comprovando a ocorrência de estrutura em amostras de areia submetidas a altas pressões. São
relatados aumentos na resistência à penetração com o tempo em depósitos arenosos recentes e
em depósitos compactados por vibro-compactação, tendo como causa principal a dissolução e
precipitação de elementos nos contatos entre partículas, especialmente sílica (Mitchell &
Solymar (1984) apud Leroueil & Vaughan (1990).
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Clough et al. (1981) apud Leroueil & Vaughan (1990) apresentam resultados de
ensaios para areias naturalmente e artificialmente cimentadas, mostrados na Figura 2.12. A
cimentação aumenta a resistência de pico e a rigidez inicial, além de propiciar alguma
resistência à tração ao solo.
Figura 2.12 – Comportamento de areias não-cimentadas e cimentadas artificialmente, com
variações no grau de cimentação (Clough et al., 1981, apud Leroueil & Vaughan, 1990).
O termo estrutura para areias tem sido freqüentemente associado ao fenômeno de
cimentação entre grãos, enquanto o efeito de arranjo de grãos tem sido negligenciado.
Entretanto, o efeito de arranjo de grãos pode ter grande influência no comportamento de solos
arenosos considerados estruturados. Cuccovillo & Coop (1999) descrevem uma investigação
detalhada com dois solos arenosos estruturados, com um solo apresentando a cimentação
entre grãos como agente principal de estrutura e outro solo apresentando o arranjo de grãos
como responsável pelo comportamento estruturado. O solo cujo componente principal era a
cimentação entre grãos era constitdo por uma areia calcárea, com grãos frágeis, ocos e
angulosos, porém com forte cimentação entre grãos. O solo cujo componente principal era o
arranjo de grãos apresentou grãos maciços, arredondados a sub-arredondados, compostos
predominantemente por quartzo, com cimentação fraca de óxido de ferro e alto grau de
intertravamento entre grãos. Segundo os autores, as areias cujas estruturas decorrem da
cimentação de grãos apresentam comportamento ao cisalhamento coesivo, sendo que
comportamento friccional seria observado somente para tensões suficientemente altas para
causar a quebra da cimentação. As areias com estrutura decorrente do arranjo de grãos, com
fraca cimentação apresentam comportamento predominantemente friccional.
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3 SOLOS ESTUDADOS E METODOLOGIA
Este capítulo tem como objetivo apresentar uma descrição dos solos a serem
analisados e algumas de suas características de localização, bem como descrever o programa
de ensaios a ser executado para a determinação das propriedades mecânicas destes solos.
3.1 LOCALIZAÇÃO DOS SOLOS
Neste trabalho, são analisados dois solos arenosos distintos, ambos localizados na
região litorânea do estado do Rio Grande do Sul. Os solos escolhidos para análise, bem como
o local de extração de amostras, foram selecionados com base em inspeção visual prévia na
região citada. As amostras dos solos foram retiradas de uma jazida de extração de areia no
munipio de Osório (RS), localizada próximo ao quilômetro 04 da rodovia RS 389 (Estrada
do Mar). As Figuras 3.1a e 3.1b indicam a localização do munipio em relação ao estado e a
localização aproximada da jazida no munipio. Na Figura 3.2 é mostrada uma imagem de
satélite da área de coleta, pela qual a jazida pode ser claramente observada.
(a)
(b)
Figura 3.1 – Localizações:(a) munipio de Osório (RS) e (b) da jazida (aproximada).
Esc 1:100000
Esc 1:50000
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Figura 3.2 – Imagem de satélite, a partir da qual é possível visualizar a jazida (em destaque,
ao centro). (fonte: Google Earth).
3.2 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS DOS SOLOS DA REGIÃO
LITORÂNEA
De acordo com descrições feitas por Tomazelli & Villwock (2000), a região litorânea
do estado do Rio Grande do Sul é constituída por uma bacia sedimentar marginal aberta,
denominada Bacia de Pelotas, a qual foi formada durante o Cenoico, com origem nos
eventos geotectônicos que levaram à fragmentação do continente do Gonduana e à abertura do
Atlântico Sul. A porção mais superficial desta Bacia é denominada Planície Costeira do Rio
Grande do Sul, uma região de terras baixas com área aproximada de 33.000 km² que se
estende por uma distância de aproximadamente 620 km, desde a região da cidade de Torres,
ao norte, até o Arroio Chuí, ao sul, atingindo em alguns pontos a largura de 100 km,
constituindo-se na maior planície costeira do país. A carga sedimentar desta bacia é
proveniente de duas fontes principais. Na porção central e sul, de rochas ígneas e
metamórficas do Escudo Uruguaio-Sul riograndense e ao norte, de rochas sedimentares e
vulcânicas da Bacia do Paraná.
A formação sedimentária desta placie aponta para a existência de dois sistemas
principais, com origens distintas. Um sistema de leques aluviais e uma série de sistemas do
RS 389
BR 101
BR 290
RS 030
Osório
RS 389
Esc: 1:125000
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tipo barreira-laguna. O sistema de leques aluviais situa-se na porção ocidental da planície,
adjacente às terras altas, sendo formado por sedimentos provenientes de rochas do Escudo
Sul-riograndense e da Bacia do Paraná. Ao centro e a leste da planície, situam-se quatro
sistemas do tipo barreira-laguna, cada um formado pela deposição de sedimentos em períodos
de aumento e subseqüente diminuição do vel do mar. Estes ciclos de transgressão e
regressão marinha deram origem à grande parte dos solos da região da planície, sendo
também responsável pela formação dos lagos e lagoas existentes atualmente próximos ao
litoral.
A área de coleta de amostras deste trabalho situa-se no sistema denominado barreira-
laguna III, o qual está associado a um terceiro período de elevação e posterior recuo do vel
do mar. Segundo Tomazelli et al (1982), este sistema é composto por sedimentos arenosos de
origem marinha, recobertos por depósitos arenosos oriundos de deposição eólica (campos de
dunas). Os sedimentos de origem marinha são compostos por areias quartzosas claras, finas,
bem selecionadas e estratificações bem desenvolvidas. As areias eólicas de cobertura, em
alguns casos, apresentam coloração mais avermelhada, apresentando-se às vezes bioturbadas
por raízes.
Giovannini (1995) apresenta uma descrição das características do solo na área onde
está localizada a unidade de triagem e compostagem de resíduos sólidos do munipio de
Osório. Esta unidade situa-se a aproximadamente 4km do ponto de coleta de amostras. Neste
local, o solo é composto por sedimentos de coloração castanho claro, não consolidados,
permeáveis, de origem lica, com aproximadamente 1,5m de espessura, sendo esta camada
sobreposta a uma camada de sedimentos arenosos de origem marinha.
3.3 DESCRIÇÃO DOS SOLOS ESTUDADOS
Em uma rápida análise preliminar, através de inspeção tátil e visual, foi constatado que
os solos da área de coleta possuem aspecto característico de solos com grande predominância
de areia, com pouca presença de finos. Igualmente foi observado que os solos apresentam
uma notável diferença de coloração. O primeiro solo averiguado consiste em uma areia de
coloração clara e aspecto característico de areias de depósitos de dunas de regiões litorâneas,
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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enquanto o segundo solo analisado apresenta coloração mais escura, em tom castanho-
avermelhado.
A distância entre os pontos de coleta dos solos é de aproximadamente trinta metros.
Por terem sido retirados de pontos próximos entre si, os solos apresentam a mesma formação
geológica, com composição mineralógica original de grãos similar. Desta forma, antes da
execução dos ensaios de laboratório para comprovação, julgou-se que os solos em questão
seriam adequados para os objetivos da pesquisa, por se tratarem de solos de aspecto arenoso,
com origem e propriedades físicas semelhantes, porém com perfis pedogenéticos distintos.
O solo arenoso de coloração avermelhada foi coletado a uma profundidade
aproximada de um metro em relação ao vel do terreno, sendo retirado próximo a um corte
de escavação previamente existente no local, enquanto o solo arenoso de coloração clara foi
retirado de um corte de escavação, a uma profundidade de cerca de 3 a 4 metros em relação à
superfície original do terreno. Pelas Figuras 3.3a e 3.3b, pode-se localizar o ponto de coleta
das amostras de ambas as areias. A princípio, o solo de coloração clara de ser tomado como
padrão de comportamento mecânico de solos arenosos, por não apresentar sinais iniciais
aparentes de alteração, servindo de referência para comparação com o comportamento do solo
arenoso alterado.
(a)
(b)
Figura 3.3 – Locais de coleta de amostras: (a): areia alterada; (b): areia não alterada, com o
ponto aproximado de coleta em destaque.
Como forma de referência aos materiais, a areia de coloração clara foi denominada
areia sã, por não apresentar sinais aparentes de alteração, enquanto a areia de coloração
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avermelhada foi denominada areia alterada. Deve-se frisar que estas denominações, bem
como as considerações tricas sobre a composição dos solos e possível ocorrência de
alteração por intemperismo ou perfis pedogenéticos distintos foram feitas de maneira
preliminar, com base em inspeção visual inicial, sendo investigadas posteriormente através do
programa de ensaios proposto.
Ao se determinar os solos a se estudar e os pontos de coleta, foram retiradas amostras
deformadas de ambos os solos, em quantidade suficiente para a execução dos ensaios
planejados. Para a retirada, foram empregadas pás e assim que foram retiradas, as amostras
foram acondicionadas em sacos plásticos especiais para amostragem, os quais foram mantidos
vedados a fim de manter as condições naturais de umidade do solo durante o transporte e
posterior armazenamento em laboratório. Tomou-se o cuidado de remover possíveis
impurezas presentes no material coletado, como detritos e raízes de gramíneas.
A coleta das amostras foi realizada durante o mês de março de 2004 e, por inspeção
visual, verificou-se que apresentavam baixo teor de umidade, em função do período de
estiagem em que foram retiradas e de não haver presença de lençol freático próximo à
superfície.
3.4 PROGRAMA DE ENSAIOS
Para esta dissertação, foram previstos três conjuntos de ensaios, com o prosito de
analisar características específicas dos solos. Em cada conjunto, foram realizados ensaios em
função das características dos solos que se desejava determinar.
O conjunto inicial de ensaios constituiu-se na execução de ensaios de laboratório para
caracterização de solos, visando determinar as principais propriedades sicas naturais das
areias. Neste conjunto, foram previstos ensaios para a determinação da umidade natural, peso
específico dos grãos, limites de Atterberg e ensaio granulométrico das areias. A execução de
cada ensaio é regida por normas brasileiras específicas.
O segundo conjunto de ensaios tem a finalidade de determinar as propriedades
mecânicas dos solos, particularmente a compressibilidade e a resistência ao cisalhamento das
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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areias. Para este conjunto, foram previstos ensaios de compressão confinada, ensaios de
cisalhamento direto e ensaios triaxiais convencionais drenados.
O terceiro conjunto de ensaios compreendeu a análise microscópica e mineralógica das
areias, com a finalidade de determinar a composição e formato de grãos, assim como a
verificação da ocorrência de intemperização dos grãos e a ocorrência de materiais recobrindo
a superfície dos grãos. Estes ensaios englobam a visualização de grãos por microscopia
eletnica e a determinação de composição mineralógica dos solos com o emprego da
difratometria de raios-X. Os ensaios especiais de caracterização, pela sua importância para o
trabalho e por terem sido executados após a determinação das propriedades mecânicas das
areias, serão descritos e terão os resultados apresentados no Capítulo 5.
3.4.1 Ensaios de caracterização
Foi realizada inicialmente a determinação das seguintes propriedades dos solos:
umidade natural de campo, granulometria, peso específico dos grãos e limites de liquidez e
plasticidade. A determinação da umidade natural de campo das amostras foi feita através de
ensaio descrito pela norma brasileira NBR 6457/86 (ABNT, 1986) para obtenção de umidade
de amostras de solo. Os ensaios granulométricos foram executados visando a obtenção da
curva granulométrica das areias, com base na norma brasileira NBR 7181/84 (ABNT, 1984).
Levando-se em consideração que a inspeção tátil-visual prévia indicou que os dois solos são
predominantemente arenosos, sem haver evidência de ocorrência de material fino em
quantidades expressivas, foram previstas inicialmente somente a execução das etapas de
peneiramento grosso e fino como prescrito em norma, não sendo prevista inicialmente a
realização da etapa de sedimentação.
A execução dos ensaios para determinação do peso específico dos grãos foi baseada na
norma brasileira NBR 6508/84 (ABNT, 1984). Os resultados obtidos por estes ensaios foram
empregados posteriormente no processo de cálculo do índice de vazios de cada corpo de
prova, durante a moldagem das amostras para os ensaios de cisalhamento direto, triaxiais e de
compressão confinada.
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Inicialmente, previu-se a realização de ensaios para a determinação de limites de
liquidez e de plasticidade, baseando-se nas normas brasileira NBR 6459/84 e NBR 7180/84
(ABNT, 1984), respectivamente. Porém, por se tratar de material com predominância
acentuada da fração areia, com porcentagem de finos reduzida, não foi possível a realização
dos ensaios, tendo ambos os solos apresentado características não-plásticas.
3.4.2 Ensaios para a determinação das propriedades mecânicas dos solos
Foram previstos três ensaios para a análise das propriedades mecânicas dos solos:
ensaios de compressão confinada, para a determinação das características de
compressibilidade e ensaios de cisalhamento direto e triaxiais drenados, para a determinação
da resistência ao cisalhamento e o comportamento tensão-deformação das areias.
3.4.2.1 Ensaios de compressão confinada
O ensaio de compressão confinada consiste em submeter uma amostra de solo em
formato cilíndrico, confinada por um anel de aço, à aplicação de cargas verticais incrementais.
A amostra apresenta como dimensões 5cm de diâmetro e 2cm de altura. O confinamento pelo
anel impõe deformações laterais nulas, simulando situação freqüentemente encontrada in situ
durante a formação de solos sedimentares. A carga vertical é transmitida por meio de uma
placa de distribuição gida, para uniformização das deformações ao longo da superfície da
amostra. Para cada carga incremental, procede-se à medição da variação de altura do corpo de
prova em intervalos de tempo regulares, por meio da leitura de um deflectômetro, cuja base é
posicionada em contato com a placa de distribuição.
Para solos argilosos saturados, devido à baixa condutividade hidráulica, a aplicação de
incrementos de carga deve ocorrer após o término do adensamento primário do estágio de
carga anterior, ou seja, ao término da dissipação da poro-pressão gerada. Para solos
usualmente encontrados, a norma brasileira NBR 12007/90 (ABNT, 1990) recomenda que
cada estágio tenha duração de pelo menos 24 horas, podendo se estender por período maior de
tempo, até que o adensamento primário cesse completamente. No caso de solos arenosos, pela
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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característica de drenagem livre, a dissipação de poro-pressões ocorre em um tempo
extremamente reduzido, embora estes solos possam ser suscetíveis a processos de
deformações lentas (creep).
Os principais parâmetros obtidos através do ensaio de compressão confinada são:
módulo de variação volumétrica (m
v
), tensão de pré-adensamento do solo (σ
vm
), coeficiente
de adensamento vertical (c
v
), índice de compressão (C
c
) e índice de recompressão (C
r
). Neste
trabalho, por se tratar da análise de solo arenoso, de rápida drenagem e reduzido tempo de
adensamento, não serão considerados os índices físicos referentes ao adensamento, como
coeficiente de compressibilidade volumétrica (m
v
) e coeficiente de adensamento (c
v
). Serão
feitas somente considerações sobre os parâmetros índice de compressão (C
c
) e índice de
recompressão (C
r
). Tendo em vista as características predominantemente arenosas dos solos
em estudo, cada etapa de carregamento será aplicada por um tempo de 60 minutos, podendo
ser estendida por um tempo maior, caso não haja estabilização das deformações verticais.
Os ensaios de compressão confinada com as duas areias foram realizados em prensas
mecânicas da marca Wykeham Farrance, do Laboratório de Geotecnologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, tendo sido realizados todos os ensaios com amostras
inundadas. Para a preparação das amostras, inicialmente foi deixada uma quantidade de solo
em secagem em estufa por um período de 24 horas e após este período, as areias foram
deixadas em contato com atmosfera por aproximadamente 12 horas, até que se atingisse o
equilíbrio entre a umidade do solo e a umidade atmosférica. A secagem inicial teve por
objetivo proporcionar uma melhor condição de moldagem das amostras nos anéis metálicos,
especialmente para a moldagem de corpos de prova compactos.
Para cada areia, foram realizados ensaios com dois índices de vazios iniciais, com a
finalidade de se determinar a influência do índice de vazios inicial na compressibilidade das
areias. Cada índice de vazios corresponde a um grau de compactação, representando um
estado inicial denso e um estado inicial fofo dos solos. O estado inicial denso corresponde ao
menor índice de vazios alcançado por meio de compactação das areias durante a moldagem
dos corpos de prova e, de forma análoga, o estado inicial fofo foi tomado como o maior índice
de vazios obtido durante a moldagem. Procurou-se, como meta inicial, que os índices de
vazios das duas areias para um mesmo grau de compactação (denso ou fofo) se mantivesse o
mais próximo possível, durante a moldagem dos corpos de prova.
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
34
As amostras em estado inicial fofo foram moldadas através do despejo da areia no
interior do anel de ensaio, com a ajuda de um funil. A altura de queda dos grãos foi de
aproximadamente 1cm em relação ao vel do corpo de prova, tomando-se a precaução de
evitar movimentos que causassem vibração ao anel e conseqüente compactação do material.
A areia foi despejada até que se atingisse uma altura levemente superior à altura da borda
superior do anel. Em seguida, utilizando-se uma régua metálica, o corpo de prova foi rasado e
o seu vel foi igualado à altura da borda superior do anel, mantendo a altura do corpo de
prova igual à altura do anel.
As amostras em estado inicial denso foram preparadas por meio de moldagem em
camadas, cada uma com espessura de aproximadamente 0,50cm. Para cada camada, procedeu-
se à compactação por meio de vibração do solo com o emprego de um bastão de madeira,
aplicando-se pequenos golpes na parede lateral do anel e diretamente sobre o topo da
amostra. Após a moldagem de cada camada, foi aplicada uma pequena carga vertical com um
cilindro metálico, para a regularização e nivelamento horizontal das camadas.
Para a moldagem dos corpos de prova, inicialmente foram determinadas as dimensões
(diâmetro e altura) e a massa do anel de ensaio. A massa do anel foi tomada considerando-se a
massa do cilindro metálico vazio juntamente com a pedra porosa sobre a qual este foi
posicionado. A este conjunto, denominou-se anel-pedra porosa, e a massa deste conjunto foi
denominada M
1
. Sendo o corpo de prova moldado diretamente dentro do anel de ensaio, o
volume da amostra foi considerado igual ao volume interno do anel.
As o preenchimento do anel com o solo e rasamento do corpo de prova, o anel
preenchido com solo, juntamente com a pedra porosa, foi pesado, sendo a massa deste
conjunto denominada M
2
. Desta maneira, a massa de solo contida no anel (M
s
) era obtida pela
diferença entre a massa do conjunto anel + solo e a massa do anel (M
2
M
1
). Determinada
desta forma a massa de solo seca, o índice de vazios de moldagem de cada amostra (e
0
) foi
obtido através da expressão 3.1:
1
0
=
S
S
M
V
e
γ
3.1
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
35
Onde: e
0
é o índice de vazios inicial, γ
γγ
γ
s
é o peso específico dos grãos, V é o volume do
corpo de prova e M
s
é a massa do corpo de prova. Como as dimensões do anel foram
constantes para todos os ensaios, o volume de todos os corpos de prova foi de 39,25cm³. Por
se tratar de moldagem de amostras previamente secas em estufa, o teor de umidade foi
desconsiderado no cálculo do índice de vazios.
Os índices de vazios iniciais dos corpos de prova foram calculados através da
expressão 3.1, tomando em consideração o volume inicial da amostra. Os índices de vazios
finais são obtidos através da mesma expressão, considerando-se o volume final da amostra.
Como não variações da seção transversal da amostra e da massa da amostra, a variação de
volume está diretamente relacionada à variação de altura da amostra, a qual é medida durante
o ensaio pelo defletômetro.
3.4.2.2 Ensaios de cisalhamento direto
O ensaio de cisalhamento direto é considerado um dos ensaios pioneiros no estudo das
propriedades do solo, tendo sido idealizado por Coulomb, em 1776, permitindo o estudo da
resistência ao cisalhamento dos solos em um único plano de ruptura imposto mecanicamente a
uma amostra.
O início do ensaio consiste em colocar uma amostra de solo, de formato cilíndrico,
com dimensões de 6cm de diâmetro e 2cm de altura, no interior de uma caixa bipartida. Para
facilitar a drenagem da água dos vazios do solo, são colocadas duas pedras porosas, no topo e
na base da amostra. Sobre a amostra, é aplicada uma tensão vertical σ
v
, por meio de pesos e
transmitida por meio de braços mecânicos e de uma placa rígida de distribuição de cargas.
Aplica-se em seguida uma força tangencial T na amostra, pelo deslocamento da parte
inferior da caixa em relação à parte superior, a qual reage contra uma célula de carga,
responsável pela leitura da força cisalhante ocorrente no plano de ruptura da amostra.
Transdutores de deslocamento permitem a medição dos deslocamentos horizontal e vertical da
amostra durante o ensaio. A força tangencial é aplicada até que ocorra a ruptura do solo, ou
até um determinadovel de deslocamento horizontal entre as partes da amostra.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
36
Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados em equipamento específico, marca
Wykeham Farrance, localizado no Laboratório de Geotecnologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, mostrado na Figura 3.4. Para os ensaios de cisalhamento direto, foram
previstos ensaios com amostras nas condições seca e inundada, com a finalidade de avaliar os
parâmetros de resistência ao cisalhamento das areias obtidos sob dois teores de umidade
distintos. Da mesma forma como descrito para os ensaios de compressão confinada, foram
executados ensaios com os dois solos nas condições de estado inicial denso e estado inicial
fofo e os critérios adotados para definir amostras nestas condições de estado foram
semelhantes aos adotados na descrição dos ensaios de compressão confinada.
Como complemento à avaliação do comportamento mecânico quanto à resistência ao
cisalhamento sob teores de umidade distintos, foi proposta a determinação das curvas
características de sucção das areias. Os métodos de ensaio e os resultados obtidos são
apresentados no Capítulo 6, em conjunto com a análise dos resultados de ensaios de
cisalhamento direto.
Figura 3.4 – Equipamento para ensaio de cisalhamento direto.
Foram previstos ensaios de cisalhamento em quatro veis de tensões normais: 50kPa,
100kPa, 200kPa e 300kPa. Com isto, para cada areia, foram executados ensaios em dois graus
de compactação, com dois teores de umidade e quatro valores de tensão normal, perfazendo
um total de 32 ensaios de cisalhamento direto executados.
As amostras foram moldadas diretamente dentro da caixa metálica bipartida. O contato
entre as partes da caixa foi lubrificado com silicone líquido, para diminuir a influência do
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
37
atrito entre as partes durante a etapa de cisalhamento. Antes da moldagem, foi colocada a
pedra porosa na parte inferior da caixa, para permitir a drenagem do solo nos ensaios em
condição inundada e manter o topo do molde na posição normal para ensaio. A moldagem dos
corpos de prova, nas condições densa e fofa, para o ensaio de cisalhamento direto foi feita de
forma análoga à descrita para o ensaio de compressão confinada. Todas as amostras tiveram
dimensões de 6cm de diâmetro e 2cm de altura. A aferição da altura da amostra durante a
moldagem foi feita por um paquímetro.
Antes do icio da moldagem, foi tomada a massa da caixa de cisalhamento, a qual foi
denominada M
C
. Após a moldagem dos corpos de prova, foi tomada a massa da caixa,
juntamente com a massa do corpo de prova, a qual foi denominada M
T
. A massa do corpo de
prova é dada pela diferença entre M
T
e M
C
.
Os índices de vazios iniciais de cada amostra foram calculados de acordo com a
expressão 3.2:
1
0
=
CT
S
MM
V
e
γ
3.2
Onde: e
0
é o índice de vazios, γ
γγ
γ
s
é o peso específico dos grãos, em gf/cm³, V é o
volume do corpo de prova, em cm³, M
T
é a massa do conjunto caixa-solo, em g e M
C
é a
massa da caixa de cisalhamento, em g. Como o volume do corpo de prova é constante para
todos os ensaios, seu valor é fixo em 56,52cm³. Após a moldagem e medição da massa de
solo, foram colocados uma pedra porosa na parte superior da amostra e um cabeçote metálico
sobre a pedra porosa.
Todos os ensaios foram efetuados em duas fases. Na primeira fase, denominada fase
de consolidação, foi aplicada a tensão vertical de ensaio na amostra, por meio de um pendural
metálico apoiado sobre o cabeçote localizado no topo do corpo de prova. Neste pendural,
foram posicionados pesos metálicos, calculados previamente para que a tensão normal fosse
dada pela razão entre a somatória da carga do pendural e a área de seção transversal da
amostra. A fase de consolidação deve ter duração suficiente para permitir toda a deformação
vertical da amostra e até que a altura da amostra seja estabilizada. Para a medição das
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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deformações verticais nesta etapa, é posicionado um transdutor de deslocamento do tipo
resistivo no topo do pendural. Por se tratar de dois solos arenosos, o tempo de adensamento é
curto, da ordem de alguns minutos. Para todos os ensaios de cisalhamento realizados, foi
estipulado um tempo mínimo de 30 minutos para esta fase do ensaio, ou superior, caso fosse
necessário, até que os deslocamentos verticais se tornassem estáveis.
A segunda fase do ensaio é denominada fase de cisalhamento, durante a qual o corpo
de prova é levado à ruptura pelo deslocamento relativo entre as duas partes da caixa de
cisalhamento. A duração desta etapa é dependente da velocidade relativa de deslocamento
entre as partes da caixa, a qual é fixada por meio de um sistema de engrenagens do
equipamento. Para todos os ensaios realizados, a velocidade de deformação foi estipulada em
2,195mm/h, a qual foi considerada suficiente para permitir a drenagem da amostra, sem
geração de excesso de poro-pressão. Os ensaios foram conduzidos até que se atingisse um
deslocamento relativo aproximado de 6mm entre as partes da caixa.
A preparação da etapa de cisalhamento ocorre com o posicionamento da célula de
carga e de um transdutor de deslocamento na posição horizontal, para leitura das deformações
horizontais, ambos em contato direto com a caixa de cisalhamento. Para os ensaios na
condição inundada, antes da etapa de cisalhamento, foi feito o preenchimento da caixa de
cisalhamento com água destilada, até que toda a amostra estivesse inundada. Foi tomado um
tempo até que o vel d’água na caixa se estabilizasse, o que indicaria a estabilização do
volume de água nos vazios da amostra.
A leitura dos dados foi feita automaticamente, por meio de transdutores e célula de
carga conectados a um computador. A célula de carga foi responsável pela medição da carga
no plano de ruptura e os transdutores de deslocamento foram responsáveis pela leitura dos
deslocamentos vertical e horizontal durante o ensaio. A tensão cisalhante no plano de ruptura
foi calculada a partir da leitura da célula de carga e da área de seção transversal da amostra.
Para fins de cálculo de tensões, foi feita a correção da área das amostras em função do
deslocamento horizontal. Os dados foram transmitidos até um computador, onde foram
interpretados e armazenados por meio do software HP-VEE.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
39
3.4.2.3 Ensaios triaxiais
O ensaio triaxial pode ser considerado o ensaio padrão em mecânica dos solos, por
permitir o estudo da resistência e das relações tensão-deformação nos solos, além de permitir
a aplicação de trajetórias de tensões diversas. As diversas trajetórias de tensões possíveis de
serem obtidas neste ensaio são determinadas por meio da variação das tensões, em especial a
tensão confinante, a qual pode ser fixa ou variável. Uma grande parte dos ensaios é realizada
sob tensão confinante constante, porém alguns ensaios especiais podem ser efetuados com
tensão confinante variável.
De maneira geral, três procedimentos básicos para a execução dos ensaios triaxiais
de compressão axial. O procedimento inicial consiste em inundar a amostra, por meio de
percolação, de água destilada, com a finalidade de saturá-lo. Utiliza-se a contra-pressão para
garantir a completa saturação da amostra, de modo a permitir as leituras de variação
volumétrica e de poro-pressão. Em seguida, aplica-se uma tensão confinante σ
c
, a qual atua
em toda a superfície do corpo de prova. Na terceira etapa, denominada etapa de cisalhamento,
mantém-se constante o valor da tensão confinante e aumenta-se o valor da tensão axial σ
1
,
através da aplicação de uma carga axial por um pistão.
A amostra é posicionada sobre um pedestal. A carga axial é aplicada pelo pistão e a
pressão confinante corresponde à pressão hidrostática da água no interior da célula. Entre o
pedestal e a amostra, é utilizada uma pedra porosa, a fim de possibilitar a drenagem do corpo
de prova. O corpo de prova é envolvido por uma membrana de borracha, vedada no topo e na
base por anéis de borracha, com a finalidade de evitar contato com a água e variações de
umidade da amostra durante o ensaio. Utiliza-se papel filtro entre a amostra e a pedra porosa,
para evitar a colmatação da pedra por partículas de solo.
Ao se realizar o ensaio em condições drenadas, onde se faz necessária a medição da
variação do volume da amostra, é empregada para este fim uma bureta graduada, através da
qual se observa a variação do nível de água. Com o corpo de prova saturado, a variação do
vel da bureta corresponde à variação do volume de água nos vazios da amostra.
Os ensaios triaxiais propostos para esta dissertação foram executados no Laboratório
de Geotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em uma prensa hidráulica
modelo Wille Geotechnik UL60, a qual é mostrada na Figura 3.5a. Em conjunto com a
prensa, foram empregados outros equipamentos, os quais consistem em: um reservatório para
água destilada, uma câmara triaxial com célula de carga interna, um aparelho controlador de
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pressões responsável pela aplicação de tensão confinante e contra pressão, um compressor,
um computador, juntamente com o software STS Triax 2003, desenvolvido pela fabricante da
prensa para aquisição e processamento de dados, e um sistema de equipamentos composto por
célula de carga e transdutores de deslocamento, responsável pela leitura e envio de dados de
ensaio até o computador. Alguns dos equipamentos e procedimentos de ensaio são descritos
por Bica et al. (1986). O conjunto dos equipamentos utilizados na realização dos ensaios está
mostrado na Figura 3.5b.
(a)
(b)
Figura 3.5 – Equipamento para ensaio triaxial, ilustrando: (a) prensa, com pedestal móvel e
câmara ao lado; (b) prensa, computador e aparelho controlador de pressões.
A prensa utilizada consiste em um equipamento com uma viga de reação na parte
superior e um pedestal. Entre estas duas peças, é posicionada a câmara triaxial contendo a
amostra. No pedestal, seis registros localizados na parte frontal e um registro localizado na
parte anterior. Pelos seis registros frontais, a câmara triaxial é preenchida com água e são
aplicadas as pressões de confinamento e poro-pressão, bem como é realizada a percolação e
drenagem de água do corpo de prova. O registro localizado na parte anterior está acoplado a
um transdutor de poro-pressão e tem a finalidade de monitorar a poro-pressão na base do
corpo de prova.
O deslocamento vertical do corpo de prova é medido através de um transdutor do tipo
resistivo, com curso suficiente para assegurar a medição das deformações axiais estipuladas
para os ensaios. A leitura da variação de volume do corpo de prova foi feita através de um
transdutor de pressão diferencial contido em uma bureta graduada.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
41
Os dados de variação de volume, deformações e carga axiais são lidos por transdutores
e enviados ao computador, sendo processados por meio de um software. Todas as etapas de
ensaio, bem como as tensões confinantes e contrapressão, assim como a velocidade de
deformação axial, são gerenciadas pelo software, que transmite os comandos à prensa por
meio de um aparelho controlador de pressões. Este aparelho apresenta dois canais
independentes, cada um com a função de regular o fornecimento de pressão a uma fonte
específica. Nos ensaios triaxiais executados, um canal foi responsável pela contrapressão e
outro pela tensão confinante.
Inicialmente, foram propostos ensaios nas condições iniciais densa e fofa, para cada
tipo de areia, propondo-se valores de índice de vazios de moldagem dos corpos de prova
próximos aos valores obtidos das amostras nos ensaios de cisalhamento direto. Para cada grau
de compactação (denso e fofo), foi proposta a execução de ensaios com tensão confinante
efetiva de 50kPa, 100kPa e 200kPa, em um total de doze ensaios, sendo seis para cada tipo de
solo.
Por se tratar de ensaios realizados em solo não coesivo, os corpos de prova foram
moldados com a utilização de um molde cilíndrico metálico bipartido, aberto nas
extremidades. O molde foi posicionado sobre o pedestal da prensa e em seguida revestido
internamente com a membrana de borracha, conforme mostrado na Figura 3.6a. Ao se revestir
o molde com a membrana, foi aplicado vácuo entre a membrana e o molde, por meio de uma
bomba de vácuo conectada ao molde por uma mangueira plástica. A aplicação de cuo
internamente ao molde teve a finalidade de promover a aderência da membrana à parede
interna do molde, garantindo desta forma o formato cindrico da amostra, sem
descontinuidades e irregularidades na superfície do corpo de prova.
As amostras em estado inicial denso foram compactadas no interior do molde com o
auxílio de um bastão de madeira, por meio de vibração da amostra, como ilustrado na Figura
3.6b. Tomou-se o cuidado de tomar um bastão cilíndrico de diâmetro reduzido em relação ao
diâmetro da amostra e do emprego de golpes vibratórios suaves, para evitar possível quebra
de grãos e de cimentação. A massa de solo seco a ser moldada foi calculada em função do
índice de vazios estipulado para o ensaio, os quais consistem em valores aproximadamente
iguais aos calculados nos ensaios de cisalhamento direto.
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(a)
(b)
Figura 3.6 – Moldagem de corpo de prova denso: (a) molde bipartido revestido por membrana
e conectado por mangueira à bomba de vácuo; (b) compactação da amostra por meio de
bastão de madeira.
As a moldagem dos corpos de prova, procedeu-se ao início do ensaio. Os ensaios
foram realizados em quatro etapas: percolação, saturação, adensamento e cisalhamento. A
etapa de percolação foi realizada segundo prescrições da norma britânica BS 1377 (BS, 1990).
As posicionado o corpo de prova, já com suas dimensões de ensaio, foi percolado um
volume de água destilada pelo seu interior, equivalente a pelo menos duas vezes o volume da
amostra, sendo a água percolada pela base do corpo de prova em direção ao topo. Esta etapa
teve a duração necessária até que fosse percolado todo o volume de água citado, constituindo-
se em uma etapa preliminar e auxiliar no processo de saturação. A Figura 3.7 ilustra a
condição de um dos corpos de prova após a etapa de percolação.
O objetivo da etapa de saturação é garantir que os espaços vazios do solo sejam
preenchidos totalmente por água. Isto geralmente é obtido através da aplicação de uma contra-
pressão no corpo de prova, por meio de água destilada, até um valor alto o suficiente para que
todo o ar contido nos poros do solo seja dissolvido na água.
Seguindo prescrição da norma britânica BS 1377 (BS, 1990), a etapa de saturação foi
realizada por meio da aplicação de incrementos de contrapressão, sendo esta aplicada em
etapas, com o incremento de 50kPa em cada etapa. A pressão confinante na câmara foi
aumentada no mesmo valor do incremento de contrapressão, de tal forma que a tensão efetiva,
considerada a diferença entre a pressão confinante e a contrapressão, durante esta etapa foi
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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mantida em um valor constante de 20kPa. Por limitações na capacidade de carga da câmara
triaxial, o valor máximo de contrapressão estipulado para a saturação foi de 560kPa. O grau
de saturação do corpo de prova foi medido através da leitura do parâmetro B no final desta
etapa.
Figura 3.7 – Aspecto da câmara triaxial com corpo de prova após a etapa de percolação e
antes do icio da saturação.
A etapa de adensamento é iniciada imediatamente após o término da etapa de
saturação. A consolidação dos corpos de prova foi isotpica e conduzida por um tempo
suficiente para que o excesso de poro pressão gerado fosse dissipado e, conseqüentemente, as
deformações volumétricas fossem estabilizadas. Nos ensaios realizados, foi tomado um tempo
mínimo de 30 minutos para todas as amostras.
Durante a etapa de cisalhamento, a pressão confinante foi mantida constante, enquanto
a amostra era cisalhada a uma velocidade de deformação axial constante e suficientemente
baixa para permitir a dissipação de qualquer excesso de poro-pressão, até que ocorresse a
ruptura. Por se tratar de ensaio drenado, a drenagem de água do interior da amostra e a
decorrente variação de volume da amostra eram permitidos. A variação do volume do corpo
de prova era medida a partir da variação do volume de uma bureta graduada, conectada ao
corpo de prova pela sua base.
A velocidade de deformação axial foi calculada em função do coeficiente de
adensamento do solo, conforme preconizado pela norma britânica BS 1377. Por se tratar de
solo arenoso de alta condutividade hidráulica e rápida dissipação de poropressão, a velocidade
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de deformação, para ambos os solos, foi tomada como a velocidade necessária para ocorrer a
deformação axial estipulada para o ensaio, por um período mínimo de duas horas de ensaio.
Com isto, a velocidade de deformação axial, para uma taxa de deformação axial de 25%, foi
calculada em 0,2 mm/min. Os ensaios triaxiais foram levados a veis de deformações axiais
situados entre 16% e 25%. O ponto de parada era estipulado após a ruptura do material ou até
que fosse atingido um estágio de não variação de volume ou de resistência.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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4 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
Neste capítulo, serão apresentados os resultados obtidos através dos ensaios de
caracterização inicial e de avaliação do comportamento mecânico (compressão confinada,
cisalhamento direto e triaxiais). As etapas dos ensaios, bem como o processo de moldagem
dos corpos de prova foram descritos no capitulo 3, enquanto a posterior análise dos dados
obtidos será realizada nos capítulos 5 e 6.
4.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO
A primeira característica física determinada foi o teor de umidade natural das areias,
seguindo-se as prescrições da norma brasileira NBR 6457/86 (ABNT, 1986). Os valores
obtidos estão indicados na Tabela 4.1, sendo estes valores correspondentes à média de três
leituras de teor de umidade de cada areia. De acordo com a tabela, a areia apresenta um
teor de umidade inferior ao teor da areia alterada.
Tabela 4.1 – Teor de umidade natural dos solos.
Tipo de solo Umidade Natural (%)
Areia sã 2,3
Areia alterada
6,1
A curva granulométrica de cada areia foi obtida por meio de ensaios granulometria por
peneiramento fino, conforme prescrições da norma brasileira NBR 7181/84 (ABNT, 1984).
Através de uma análise prévia, foi constatada, para ambas as areias, a existência de uma
reduzida quantidade de material passante pela peneira de número 200 (grãos com diâmetro
inferior a 0,075mm). Desta forma, em virtude da pequena quantidade de finos, foi realizada
apenas a etapa de peneiramento, avaliando-se somente a fração grossa dos materiais. As
curvas granulométricas das duas areias estão ilustradas na Figura 4.1, juntamente com a escala
de classificação das frações do solo estipulada pela ABNT.
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0.01 0.10 1.00 10.00
Diâmetro de parculas (mm)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Porcentagem passante
pedregulhoareia grossaareia médiaareia finasilte
Solos
Areia alterada
Areia sã
Figura 4.1 – Curvas granulométricas das areias ensaiadas.
Os ensaios para a determinação do peso específico dos grãos foram efetuados
seguindo-se a norma brasileira NBR 6508/84. Foram realizados quatro ensaios com cada tipo
de areia e os valores são indicados na Tabela 4.2. Estes valores foram tomados como a média
dos resultados obtidos e considerados satisfatórios de acordo com a norma.
Tabela 4.2 – Peso específico dos grãos das areias.
Tipo de solo
Peso específico
dos grãos (kN/m³)
Areia sã 26,10
Areia alterada 26,38
4.2 ENSAIOS DE COMPRESSÃO CONFINADA
Foram realizados quatro ensaios de compressão confinada, sendo dois ensaios para
cada areia, em dois graus de compactação distintos (estado denso e fofo). A moldagem dos
corpos de prova e a descrição do ensaio foram detalhados no item 3.3.2. Na Tabela 4.3, são
apresentados a massa de solo de cada corpo de prova após a moldagem, bem como dois
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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valores de índices de vazios calculados: antes do icio do ensaio (índice de vazios inicial e
0
),
e finais (índice de vazios final e
f
), determinados após o final da etapa de descarregamento.
Para cada areia, as amostras com maior massa referem-se ao estado inicial denso.
Tabela 4.3. – Índices de vazios inicial e final (após o ensaio).
Material Massa (g)
Índice de vazios
de moldagem (e
0
)
Índice de vazios
após ensaio (e
f
)
68,52 0,524 0,496
Areia sã
59,93 0,742 0,685
60,13 0,755 0,652
Areia alterada
55,44 0,904 0,760
As Figuras 4.2 e 4.3 apresentam os gráficos da variação da altura do corpo de prova
em função das tensões verticais atuantes nos corpos de prova durante o ensaio. Nestes
gráficos, foi usada a variação da altura do corpo de prova como referência, visto que, pelos
valores da Tabela 4.3, uma diferença entre os índices de vazios inicial das areias e
alterada, tanto em estado inicial denso como em estado inicial fofo. Deve-se ressaltar que esta
diferença foi verificada, apesar de terem sido empregados os mesmos métodos de moldagem
para as duas areias. A variação do índice de vazios para cada amostra ensaiada, em função do
carregamento vertical aplicado, está representada na Figura 4.4.
1 10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
1.72
1.76
1.80
1.84
1.88
1.92
Altura da amostra (cm)
Areia sã
Areia alterada
Figura 4.2 – Gráfico tensão vertical σ
v
x altura da amostra, amostras em estado inicial denso.
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1 10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
1.72
1.76
1.80
1.84
1.88
1.92
Altura da amostra (cm)
Areia sã
Areia alterada
Figura 4.3 – Gráfico tensão vertical σ
v
x altura da amostra, amostras em estado inicial fofo.
1 10 100 1000 1000
0
Tensão vertical (kPa)
0.40
0.60
0.80
1.00
índice de vazios
Solos
Areia sã fofa
Areia sã densa
Areia alterada fofa
Areia alterada densa
Figura 4.4 – Variação de índice de vazios das amostras com aplicação de carregamento
vertical.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
49
Pelo gráfico da Figura 4.2, a areia alterada apresentou um maior deslocamento vertical
total, com variação de altura de 0,12cm, enquanto a variação de altura da areia foi de
aproximadamente 0,04cm, ambos valores tomados após o último estágio de carregamento.
Em estado fofo (Figura 4.3), as areias alterada e apresentaram variação de altura de 0,16cm
e 0,08cm, respectivamente. Durante a etapa de descarregamento, ambas as amostras
apresentaram expansão de altura de aproximadamente 0,02cm.
4.3 ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO
As Tabelas 4.4 e 4.5 apresentam a massa de cada corpo de prova, o índice de vazios
após a moldagem e o índice de vazios atingido após a etapa de adensamento, para as
condições seca e inundada, respectivamente. Os valores de massa maiores referem-se às
amostras em estado inicial denso.
Tabela 4.4 – Dados de corpos de prova para ensaio de cisalhamento direto, amostras secas.
Material
Tensão normal
de ensaio (kPa)
Massa (g)
Índice de vazios
de moldagem
Índice de vazios
após adensamento
50 101,6 0,51 0,48
100 102,0 0,50 0,45
200 101,3 0,51 0,43
300 103,0 0,49 0,43
50 86,3 0,78 0,73
100 86,7 0,77 0,70
200 84,2 0,82 0,73
Areia sã
300 87,8 0,75 0,67
50 89,5 0,73 0,69
100 89,3 0,73 0,58
200 88,8 0,74 0,55
300 91,1 0,70 0,45
50 77,2 1,00 0,93
100 71,0 1,18 0,97
200 76,3 1,03 0,89
Areia
alterada
300 77,4 1,00 0,84
Procurou-se, durante a moldagem, manter os índices de vazios de cada areia e em cada
grau de compactação, o mais próximo possível dos valores obtidos nos ensaios de compressão
confinada. Os valores apresentados indicam valores médios de índices de vazios para estado
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
50
fofo de 0,80 para a areia e 1,05 para a areia alterada. Os valores de índice de vazios para
estado denso foram de aproximadamente 0,50 para a areia sã e 0,72 para a areia alterada.
Tabela 4.5 – Dados de corpos de prova para ensaio de cisalhamento direto, amostras
inundadas.
Material
Tensão normal
de ensaio (kPa)
Massa (g)
Índice de
vazios
de moldagem
Índice de vazios
após adensamento
50 100,7 0,52 0,48
100 103,0 0,49 0,44
200 103,2 0,49 0,43
300 101,9 0,51 0,44
50 84,1 0,82 0,75
100 86,2 0,78 0,71
200 86,0 0,78 0,67
Areia sã
300 85,4 0,80 0,68
50 90,9 0,70 0,58
100 91,6 0,69 0,47
200 89,8 0,72 0,46
300 89,4 0,73 0,49
50 70,1 1,17 0,72
100 71,0 1,12 0,72
200 77,6 0,99 0,57
Areia
alterada
300 77,0 1,01 0,46
As Figuras 4.5 e 4.6 apresentam os resultados de ensaios de cisalhamento direto
realizados em amostras secas de areia sã, sendo que a Figura 4.5 ilustra os resultados de
ensaio com amostra em estado inicial denso e a Figura 4.6 indica os resultados de ensaio com
amostras em estado inicial fofo.
De acordo com a Figura 4.5, nota-se a existência de uma tensão cisalhante de pico,
com posterior queda de tensão, para todos os veis de tensão normal. A partir de
deslocamentos horizontais de 4mm, as amostras tendem à estabilização de tensões cisalhantes.
Observa-se também um aumento de altura para as quatro amostras ensaiadas. Para pequenos
deslocamentos horizontais as alturas das amostras se reduzem e a partir de deslocamentos
horizontais de 1mm, ocorre um aumento de altura, atingindo-se deslocamentos verticais
situados entre 0,3mm e 0,5mm. A partir de um deslocamento horizontal de 3mm, as amostras
atingem estabilização de deslocamentos verticais.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
51
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão cisalhante (kPa)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.2
0.0
0.2
0.4
0.6
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 4.5 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã densa seca.
Pela Figura 4.6, as amostras de areia seca em estado fofo experimentam aumentos
de tensão cisalhante até que sejam atingidos deslocamentos horizontais de 2mm a 3mm. A
partir destes valores, as tensões cisalhantes se estabilizam, de maneira que as tensões de
estabilização equivalem às tensões ximas atingidas durante o ensaio. Quanto ao
deslocamento vertical, as amostras em estado inicial fofo apresentam redução inicial de altura,
seguida de aumento e estabilização em um momento seguinte. Para as amostras com tensão
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
52
normal de 50kPa e 200kPa, a variação total de altura ao longo do ensaio é próxima de zero,
enquanto para as amostras com tensões normais de 100kPa e 300kPa, há uma pequena
redução de altura ao final do ensaio, de aproximadamente 0,1mm.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão Cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.20
0.00
0.20
0.40
0.60
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.6 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã fofa seca.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
53
Nas Figuras 4.7 e 4.8, são ilustrados os resultados de ensaios com amostras de areia
alterada seca, em estado inicial denso e fofo, respectivamente. Pela Figura 4.7, as amostras
com tensões normais de 100kPa, 200kPa e 300kPa apresentam aumento de tensão cisalhante
durante todo o ensaio, sem ocorrer estabilização, até umvel de deformação horizontal
máximo de 6mm. Também é observada uma redução de altura até que se atinjam
deslocamentos horizontais próximos a 4mm. A partir deste ponto, a tendência de
estabilização, com deslocamentos verticais totais entre 0,4mm e 0,7mm. Para a amostra com
tensão normal de 50kPa, verifica-se um pequeno pico de resistência, da ordem de 40kPa, com
pequena queda de tensão cisalhante subseqüente. Quanto às deformações verticais, uma
redução inicial de altura, com posterior aumento, até a estabilização de deformações verticais,
com aumento de altura total de 0,3mm.
De acordo com a Figura 4.8, as amostras de areia alterada em estado inicial fofo têm
as tensões cisalhantes estabilizadas ao final dos ensaios. Os deslocamentos verticais foram de
0,2mm para amostras com tensão normal de 200kPa e 300kPa e de 0,6mm para a amostra
com tensão normal de 100kPa, sendo, nos três casos, deformações de contração. Para a
amostra com tensão normal de 50kPa, é observada uma redução de 0,1mm de altura, seguida
de expansão de igual magnitude, apresentando ao final do ensaio, variação total de altura
próxima a zero.
Os resultados de ensaios realizados com amostras de areia inundadas são mostrados
nas Figuras 4.9 e 4.10. Na Figura 4.9, referente aos ensaios com amostras em estado inicial
denso, verificam-se picos de resistência, seguido de queda de tensão cisalhante. As quatro
amostras apresentam tendência à estabilização de tensão cisalhante para deslocamentos
horizontais superiores a 5mm, além de diminuição de altura no estágio inicial do ensaio, para
deslocamentos horizontais de até 1mm. A partir deste ponto, um aumento de altura, com
variação expansiva total de aproximadamente 0,4mm.
Na Figura 4.10, são ilustrados os ensaios em areia inundada, em estado inicial fofo.
As amostras ensaiadas revelam um comportamento típico de solos arenosos em estado fofo,
sem a formação de pico de resistência ao cisalhamento, com estabilização das tensões
cisalhantes para grandes deslocamentos horizontais. A amostra com tensão normal de 100kPa
apresenta uma redução inicial de altura, seguida de expansão, com variação total de altura
durante o ensaio próxima a zero. As amostras com tensões normais de 200kPa e 300kPa
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
54
apresentam comportamento similar, com redução de altura, seguida de leve expansão. A
amostra com tensão normal de 50kPa apresentou redução de altura de 0,15mm, com posterior
estabilização.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.7 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada seca
densa.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
55
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão cisalhante (kPa)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 4.8 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada seca
fofa.
A Figura 4.11 apresenta os resultados de ensaios em amostras de areia alterada
inundada, em estado inicial denso. Pela figura, as amostras mantém um aumento constante de
tensão cisalhante, até o final do ensaio, sendo este fenômeno melhor exposto nos ensaios com
veis de tensões normais de 200kPa e 300kPa. As deformações verticais foram negativas,
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
56
indicando redução de altura durante todo o ensaio, com tendência de estabilização a altos
valores de deslocamento horizontal. A amostra com tensão normal de 300kPa apresenta a
maior redução de altura, com valor de 1,1mm, enquanto os demais ensaios indicam
deslocamentos verticais relativamente próximos, entre 0,4mm e 0,6mm.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.20
0.00
0.20
0.40
0.60
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.9 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã inundada
densa.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
57
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão Cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.20
0.00
0.20
0.40
0.60
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.10 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia sã inundada
fofa.
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
58
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-1.20
-1.00
-0.80
-0.60
-0.40
-0.20
0.00
0.20
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.11 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada
inundada densa.
A Figura 4.12 ilustra os resultados de ensaios em amostras de areia alterada inundada,
em estado inicial fofo. As amostras apresentam aumento de tensão cisalhante durante todo o
ensaio, sem ocorrer estabilização de tensão até o vel máximo de deslocamento horizontal de
ensaio. Também não ocorre estabilização das deformações verticais, com redução constante
de altura para todos os níveis de tensão normal. Para a amostra com tensão normal de 50kPa,
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
59
verifica-se a maior diminuição de altura, com deslocamentos superiores a 1mm. Para a
amostra com tensão normal de 200kPa, ocorre a menor redução de altura, com
aproximadamente 0,6mm de deslocamento, enquanto as demais amostras apresentam redução
de altura com valores intermediários.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-1.20
-1.00
-0.80
-0.60
-0.40
-0.20
0.00
0.20
Deslocamento vertical (mm)
Tensão normal
50 kPa
100 kPa
200 kPa
300 kPa
Figura 4.12 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de areia alterada
inundada fofa.
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
60
4.4 ENSAIOS TRIAXIAIS
As considerações sobre os métodos de moldagem e procedimentos de ensaio foram
feitos no item 3.4.2.3. A Tabela 4.6 apresenta a massa e o índice de vazios inicial, obtido após
a moldagem, assim como o índice de vazios após a etapa de cisalhamento. Para todos os
ensaios, o volume dos corpos de prova foi considerado constante, com valor de 196,25cm³.
Todas as amostras apresentaram iguais dimensões, sendo 5cm de diâmetro e 10cm de altura.
O diâmetro das amostras foi delimitado pelo molde cilíndrico e a altura da amostra foi aferida
pela medição, por meio de um paquímetro. A medição de altura foi efetuada até que se
atingisse a altura padrão de 10cm. Todos os corpos de prova foram moldados com areia seca
em estufa. Logo, a umidade dos corpos de prova foi considerada igual a zero.
Tabela 4.6 – Ensaios triaxiais, dados sobre os corpos de prova.
Material
Tensão confinante
de ensaio (kPa)
Massa (g)
Índice de vazios
inicial
Índice de vazios -
após cisalhamento
50
338,75 0,54 0,57
100
340,80 0,53 0,57
200
342,72 0,53 0,57
50
305,00 0,71 0,71
100
308,30 0,69 0,71
Areia sã
200
310,84 0,66 0,68
50
305,00 0,73 0,68
100
301,50 0,75 0,69
200
298,00 0,77 0,75
50
269,25 0,96 0,85
100
266,80 0,97 0,86
Areia
alterada
200
269,25 0,96 0,89
As Figuras 4.13 a 4.16 indicam as variações do parâmetro t e deformação volumétrica
em função da deformação axial ε
a
. O valor de t refere-se à metade da tensão desvio, sendo
expresso por t = (σ
1
- σ
3
)/2. As deformações axiais e volumétricas referem-se à altura e ao
volume das amostras, respectivamente, após a etapa de adensamento e antes das deformações
de cisalhamento. As deformações volumétricas com valores positivos no gráfico indicam
expansão volumétrica, enquanto valores negativos no gráfico apontam contração de volume.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
61
Os resultados de ensaios triaxiais realizados em amostras de areia em estado inicial
denso são apresentados na Figura 4.13, os quais indicam um comportamento típico das areias
para este grau de compactação.
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
0
100
200
300
400
500
t (kPa)
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
-1
0
1
2
3
4
5
Def. Volumétrica (%)
Tensão Confinante
50 kPa
100 kPa
200 kPa
Figura 4.13 – Resultados dos ensaios triaxiais em areia sã densa.
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
62
De acordo com os gráficos, para uma tensão confinante de 50kPa, o valor de
parâmetro t de pico é de aproximadamente 135kPa, sendo atingido a uma deformação axial de
aproximadamente 3%. Para a tensão confinante de 100kPa, o valor de parâmetro t de pico é
de 241kPa, com deformações axiais de 6%. Para a tensão confinante de 200kPa, o pico de
parâmetro t é de aproximadamente 460kPa, para um vel de deformação axial da ordem de
5%. Para todos os veis de tensão confinante, há um pico de tensão desvio, após o qual
ocorre queda, seguida de estabilização. Os valores estabilizados do parâmetro t para as
tensões confinantes de 50kPa, 100kPa e 200kPa são de 115kPa, 170kPa e 290kPa,
respectivamente, sendo obtidos em um vel de deformação axial variável entre
aproximadamente 7%, para a tensão confinante de 50kPa e 11%, para as tensões confinantes
de 100 e 200kPa.
A Figura 4.14 mostra o corpo de prova de areia em estado inicial denso, ensaiado
sob uma tensão cisalhante de 200kPa e a ocorrência de um tido plano de ruptura. Para as
amostras densas da areia sã, este mesmo comportamento é verificado para as demais tensões
confinantes.
Figura 4.14 – Corpo de prova de areia sã inicialmente denso após ruptura, sob tensão
confinante de 200kPa.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
63
O comportamento verificado quanto à variação volumétrica nos três ensaios realizados
em estado inicial denso foi acentuadamente dilatante, conforme indica o gráfico deformação
axial ε
a
x deformação volumétrica ε
v
. Para os três veis de tensão confinante, as amostras
apresentam uma pequena redução inicial de volume, para valores de deformação axial entre
1% e 2%, a partir dos quais ocorre expansão de volume, com magnitude variável em função
da tensão confinante. Para as amostras ensaiadas sob tensões confinantes de 50kPa, 100kPa e
200kPa, as deformações volumétricas de expansão foram de 1,3%, 2% e 3,5%,
respectivamente, revelando um aumento das deformações com o aumento das tensões
confinantes.
A Figura 4.15 apresenta os gráficos deformação axial x parâmetro t e deformação
axial x deformação volumétrica obtidas com os ensaios realizados com areia em estado
inicial fofo. De acordo com os gráficos apresentados, não a ocorrência de tensão de pico.
Os valores ximos de parâmetro t são de 90kPa, 159kPa e 265kPa, para tensões confinantes
de 50kPa, 100kPa e 200kPa respectivamente, sendo mantidas aproximadamente constantes a
partir de deformações axiais da ordem de 10%. O gráfico deformação volumétrica x
deformação axial indica que, para a tensão confinante de 50kPa, a variação total de volume é
aproximadamente igual a zero, apresentando uma contração inicial, até um vel de
deformação axial de 5%. A partir deste vel, uma expansão, de tal forma que a variação
total de volume ao término do ensaio foi nula. O comportamento de contração inicial seguida
de expansão volumétrica se repete para os demais veis de tensão confinante, sendo que para
as tensões confinantes de 100kPa e 200kPa, a variação volumétrica total durante o ensaio é
positiva, indicando um pequeno aumento de volume da amostra. Em tensão confinante de
100kPa, o aumento de volume é de 0,4%, ocorrendo a partir de 3% de deformação axial, e em
tensão confinante de 200kPa o aumento de volume é de 1,3%, com aumento de volume a
partir de 2,5% de deformação axial. Para as duas condições de compactação, é interessante
observar que o aumento de volume é maior para os maiores níveis de tensões confinantes.
Na Figura 4.16, estão representados os resultados de ensaios triaxiais obtidos da areia
alterada em estado inicial denso, enquanto a Figura 4.17 ilustra um corpo de prova de areia
alterada em estado inicial denso, com deformação axial de aproximadamente 13%, ensaiado a
uma tensão confinante de 200kPa. Pela imagem, o é observada a ocorrência de um plano de
ruptura, com o corpo de prova apresentando o mesmo aspecto verificado para os corpos de
prova de areia sã em estado fofo.
__________________________________________________________________________________________
Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
64
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
0
100
200
300
400
500
t (kPa)
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
-1
0
1
2
3
4
5
Def. Volumétrica (%)
Tensão confinante
50 kPa
100 kPa
200 kPa
Figura 4.15 – Resultados de ensaios triaxiais em areia sã fofa.
De acordo com a Figura 4.16, embora as amostras estivessem em estado inicialmente
denso, não a ocorrência de um pico do parâmetro t para nenhum vel de tensão
confinante. um aumento dos valores de parâmetro t até que se atinjam deformações axiais
aproximadas de 13%, onde ocorre estabilização de tensão para os três ensaios. Os valores
máximos de parâmetro t obtidos são de 67kPa, 127kPa e 232kPa, para tensões confinantes de
50kPa, 100kPa e 200kPa respectivamente. As três amostras apresentam contração de volume
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
65
para um vel de deformação axial de até 10%. A partir deste vel, um pequeno aumento
de volume até o final dos ensaios. Porém, a variação total de volume ao longo de todo o
ensaio é negativa para as três amostras, sendo de 4% para amostra com tensão confinante de
100kPa, 3,5% para tensão confinante de 50kPa e de 2,5% para tensão confinante de 200kPa.
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
0
100
200
300
400
t (kPa)
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
Def. Volumétrica (%)
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
Tensão confinante
50 kPa
100 kPa
200 kPa
Figura 4.16 – Resultados de ensaios triaxiais em areia alterada densa.
__________________________________________________________________________________________
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66
Figura 4.17 – Corpo de prova de areia alterada inicialmente denso submetido a deformação
axial de 13%.
A Figura 4.18 ilustra os resultados de ensaios triaxiais obtidos da areia alterada em
estado inicial fofo, na qual se visualiza um aumento constante do parâmetro t até que
deformações altas, da ordem de 15%, sejam atingidas, verificando-se a partir de então uma
tendência de estabilização. Os valores ximos de parâmetro t encontrados são de 57kPa,
101kPa e 212kPa para as tensões confinantes de 50kPa, 100kPa e 200kPa respectivamente.
Quanto à deformação volumétrica, as amostras ensaiadas em tensão confinante de 50kPa e
100kPa apresentam contração ao longo de todo o ensaio, com tendência de estabilização de
deformações volumétricas a deformações axiais altas, de aproximadamente 15%. O ensaio
realizado com tensão confinante de 200kPa, a partir de um vel de deformação axial de 13%
apresenta um leve aumento de volume a partir deste ponto, até o final do ensaio.
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
67
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
0
100
200
300
400
t (kPa)
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
Def. Volume (%)
Tensão confinante
50 kPa
100 kPa
200 kPa
Figura 4.18 – Resultados de ensaios triaxiais em areia alterada fofa.
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68
5 ANÁLISES INICIAIS E PARÂMETROS OBTIDOS
O presente capítulo tem como objetivo analisar preliminarmente os resultados de
ensaios apresentados no capítulo 4 e obter os principais parâmetros dos solos, referentes às
características de compressibilidade e resistência ao cisalhamento. Neste capítulo, também
serão apresentados os resultados dos ensaios especiais de caracterização, os quais fornecerão
ferramentas mais precisas para a compreensão do comportamento mecânico dos solos
arenosos estudados e suas causas.
5.1 ANÁLISE DE ENSAIOS INICIAIS DE CARACTERIZAÇÃO
Os ensaios iniciais de caracterização realizados apontam para a ocorrência de dois
solos predominantemente arenosos. As curvas granulométricas apresentadas na Figura 4.1,
bem como a Tabela 5.1, indicam que ambos os solos possuem distribuições granulométricas
caracterizadas por uma marcante uniformidade no tamanho dos grãos, que pode ser constatada
pelo baixo coeficiente de uniformidade. Por se tratar de solos pouco profundos e com
distribuição uniforme de grãos, as areias apresentam características típicas dos depósitos
eólicos comumente encontrados na região.
A diferença mais significativa observada a partir da curva granulométrica refere-se à
predominância da fração areia média (grãos com diâmetro entre 0,20mm e 0,60mm) no solo
arenoso com alteração, enquanto o solo arenoso são apresenta areia fina (grãos com diâmetro
entre 0,06mm e 0,20mm) como fração predominante. O diâmetro efetivo médio das
partículas, definido como o diâmetro correspondente à retenção de 90% dos grãos de solo no
ensaio de peneiramento, encontrado para a areia alterada foi levemente superior ao diâmetro
efetivo médio dos grãos de areia sã. A Tabela 5.1 fornece os principais dados extraídos das
curvas granulométricas dos solos arenosos.
De acordo com a Tabela 4.2, os valores de peso específico médio dos grãos são de
2,661g/cm³ para a areia e 2,689g/cm³ para a areia alterada, o havendo diferença
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
69
significativa entre os valores encontrados. Isto sugere, como estimativa inicial, que ambas as
areias tenham grãos com semelhante composição mineralógica. Segundo resultados de
ensaios apresentados por Vargas (1998) para diversas areias de praias e rios brasileiros, os
valores de peso específico de grãos variaram entre 2,63g/cm³ e 2,67g/cm³, o que, segundo o
autor, indicaria a predominância de grãos de quartzo.
Tabela 5.1 – Dados obtidos das curvas granulométricas.
Propriedades / Material
Areia sã Areia alterada
Diâmetro efetivo médio
10
)
0,10mm 0,15mm
Coeficiente de
uniformidade
1,8 1,3
Fração areia grossa 0 0,1%
Fração areia média 30,4% 77,1%
Fração areia fina 69,6% 22,8%
5.2 ANÁLISE DE ENSAIOS DE COMPRESSIBILIDADE
Tendo sido realizados quatro ensaios de compressão confinada com as duas areias, nas
condições iniciais densa e fofa, observa-se inicialmente pela Tabela 4.3, que os índices de
vazios máximo e mínimo para os procedimentos de moldagem adotados (estados fofos e
densos, respectivamente) dos corpos de prova de cada areia são significativamente diferentes,
de forma que foram atingidos índices de vazios acentuadamente superiores para a areia
alterada em comparação com a areia sã, tanto em estado fofo como em estado compacto,
tendo sido empregados os mesmos procedimentos de moldagem para ambos os solos.
Ao se comparar a variação de altura dos corpos de prova em função das tensões
verticais (Figuras 4.2 e 4.3), verifica-se que a areia alterada apresenta maiores deformações
em relação à areia sã, tanto em estado inicial denso como em estado inicial fofo. Uma análise
inicial permite apontar que as maiores deformações da areia alterada se explicam pela
diferença de índices de vazios entre os dois materiais, para um mesmo grau de compactação.
Durante as etapas de carregamento de ensaio, foi verificado que a areia apresenta
rápida estabilização de deslocamento vertical para cada estágio de carregamento. Para a areia
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
70
alterada, foi observado um tempo de estabilização ligeiramente superior, porém sendo inferior
a trinta minutos para todos os estágios de carregamento.
Para fins de comparação da compressibilidade entre as areias, foi proposta a obtenção
de parâmetros de compressibilidade, na forma de índices de compressão (C
c
) e de
recompressão (C
r
) e também do coeficiente de compressibilidade (a
v
), o qual é definido como
a razão entre a variação do índice de vazios e a variação da tensão vertical (a
v
= ∆e/∆σ
v
). Os
índices de compressão e recompressão foram determinados com base no gráfico apresentado
na Figura 4.4, de maneira que os valores obtidos referem-se aos níveis mais altos de tensões
verticais, entre 400kPa e 1600kPa, onde as variações de índices de vazios são
aproximadamente lineares, com inclinação de reta mais bem definida. Os coeficientes de
compressibilidade foram calculados para a etapa de carregamento e obtidos a partir da Figura
5.1, que apresenta o gráfico de tensão vertical x índice de vazios, em escala linear de tensões e
os valores são referentes ao mesmo intervalo de tensões arbitrado para a obtenção dos índices
de compressão e recompressão. Os parâmetros citados são apresentados na Tabela 5.2.
0 400 800 1200 1600
Tensão vertical (kPa)
0.40
0.60
0.80
1.00
índice de vazios
Solos
Areia sã fofa
Areia alterada fofa
Areia sã densa
Areia alterada densa
Figura 5.1 – Resultados de ensaios de compressão confinada - índice de vazios x tensão
vertical em escala linear de tensões.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
71
Tabela 5.2 – Índices de compressão (C
c
), de recompressão (C
r
) e coeficiente de
compressibilidade (a
v
) das areias.
Material / estado inicial
C
c
C
r
a
v
(x10
-6
m²/kN)
Areia sã densa 0,033 0,012 16,4
Areia sã fofa 0,054 0,013 27,3
Areia alterada densa 0,108 0,011 54,1
Areia alterada fofa 0,138 0,011 69,2
5.3 ANÁLISE DOS ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO
Os resultados de ensaios de cisalhamento direto foram expressos por meio de gráficos
tensão cisalhante x deslocamento horizontal e deslocamento vertical x deslocamento
horizontal, apresentados nas Figuras 4.5 a 4.12. De acordo com os resultados, o
comportamento da areia é esperado para solos arenosos, com a formação de um pico de
resistência quando ensaiada na condição densa, seguido de uma queda de tensão cisalhante até
a ocorrência da estabilização das tensões cisalhantes no plano de ruptura, sob grandes
deslocamentos horizontais. Na condição fofa, não a formação de um pico de resistência,
tendo sido atingida uma tensão cisalhante máxima, a qual permanece constante com o
aumento do deslocamento horizontal, até o final dos ensaios. Para a areia alterada, tanto em
estado inicial mais denso como no estado inicial fofo, não é verificada a formação de tensões
de pico. Em alguns ensaios, mesmo sob grandes deslocamentos horizontais, da ordem de
6mm, é mantida uma tendência de aumento da tensão cisalhante.
Quanto às deformações verticais, a areia sã em estado denso apresenta um tido
aumento da altura das amostras, seguido de estabilização de variação de altura. Quando
ensaiada em estado inicial fofo, ocorre redução de altura. Em alguns ensaios, é verificada uma
expansão de altura após a redução inicial, de modo que a variação total de altura durante o
ensaio se mantém próxima a zero. a areia alterada apresenta redução de altura para as duas
condições de compactação (densa e fofa), em todos os veis de tensão normal, exceto nos
ensaios com tensão normal de 50kPa na condição seca, onde se observa um ligeiro aumento
de altura.
Os ensaios de cisalhamento direto, da mesma forma como os ensaios de compressão
confinada, confirmam a tendência da areia de apresentar um comportamento semelhante ao
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comportamento normal dos solos arenosos convencionais, enquanto o comportamento da
areia alterada é consideravelmente diverso. Igualmente ao ocorrido nos ensaios de
compressão, é verificado que os índices de vazios de moldagem são superiores para a areia
alterada, em ambos os graus de compactação.
As Tabelas 5.3 e 5.4 apontam as tensões cisalhantes verificadas nos ensaios com
amostras secas e inundadas, respectivamente. As tensões cisalhantes a grandes deformações
correspondem às tensões estabilizadas após a tensão de pico, no caso das amostras de areia
densa, e às tensões máximas atingidas para as areias alterada e fofas, já que as tensões
cisalhantes de pico foram verificadas somente nos ensaios com areia sã no estado inicial
denso. Para as amostras de areia alterada sem estabilização de tensão cisalhante ao fim do
ensaio, foi tomado o valor máximo verificado ao final do ensaio, sem haver extrapolação do
valor de tensão cisalhante. Por se tratar de ensaios em materiais arenosos sob valores de
tensão normal pequenos, não foi observada a ocorrência de intercepto coesivo, sendo a
resistência dos materiais definida apenas por seus ângulos de atrito interno efetivos (pico e
grandes deformações).
Tabela 5.3 – Resultados de ensaios de cisalhamento diretotensões cisalhantes máximas,
condição seca.
Tensão cisalhante (kPa)
Material
Tensão normal
de ensaio
(kPa)
Estado inicial
de
compactação
pico grandes deformações
50 fofo
---------
36,59
100 fofo
---------
70,08
200 fofo
---------
127,24
300 fofo
---------
216,71
50 denso 48,41 37,43
100 denso 106,56 71,92
200 denso 192,28 138,23
Areia sã
300 denso 286,31 202,71
50 fofo
---------
42,90
100 fofo
---------
77,55
200 fofo
---------
167,46
300 fofo
---------
245,30
50 denso
---------
49,55
100 denso
---------
90,63
200 denso
---------
174,45
Areia alterada
300 denso
---------
231,21
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
73
Tabela 5.4 – Resultados de ensaios de cisalhamento diretotensões cisalhantes máximas,
condição inundada.
Tensão cisalhante (kPa)
Material
Tensão normal
de ensaio
(kPa)
Estado inicial
de
compactação
pico grandes deformações
50 fofo
---------
34,33
100 fofo
---------
68,31
200 fofo
---------
133,64
300 fofo
---------
199,65
50 denso 51,12 37,99
100 denso 96,27 69,33
200 denso 191,77 140,18
Areia sã
300 denso 300,99 180,98
50 fofo
---------
34,08
100 fofo
---------
65,59
200 fofo
---------
130,36
300 fofo
---------
187,63
50 denso
---------
29,52
100 denso
---------
59,56
200 denso
---------
121,78
Areia alterada
300 denso
---------
198,94
A partir das tensões cisalhantes calculadas e das tensões normais de ensaio, foram
determinados os ângulos de atrito de cada areia, pelo ajuste dos pontos tensão normal x tensão
cisalhante por uma reta, a qual é representada pela equação 5.1, que define o critério de
ruptura de Mohr-Coulomb para solos não coesivos.
φ
σ
τ
tg
=
' 5.1
Onde τ
ττ
τ é a tensão cisalhante, σ
σσ
σ é a tensão normal efetiva e ø é o ângulo de atrito
interno do solo. Nas Figuras 5.2 a 5.5 (tensão cisalhante x tensão normal dos ensaios) estão
plotados os dados numéricos das Tabelas 5.3 e 5.4. O ângulo de atrito interno ø representa o
próprio ângulo da reta em relação ao eixo das tensões normais.
Na Figura 5.2, estão representados: (a) os pontos de tensão cisalhante de pico e tensão
cisalhante a grandes deformações dos corpos-de-prova de areia seca no estado denso; (b) as
tensões cisalhantes a grandes deformações para a areia fofa. A linha tracejada representa o
ajuste dos pontos de tensão cisalhante a grandes deformações, enquanto a linha cheia
representa o ajuste dos pontos de tensão cisalhante de pico. Conforme mostrado na figura,
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ambas as retas passam pela origem dos eixos, o que indica a o ocorrência de intercepto
coesivo, mesmo para a areia em estado denso. A Figura 5.2 indica também que os pontos
representando a areia em estado inicial fofo estão localizados próximos aos pontos de areia
sã em estado inicial denso a grandes deformações. Isto indica que o ângulo de atrito interno da
areia sã a grandes deformações é invariável, independente do grau de compactação inicial.
Um gráfico semelhante foi constrdo para a areia alterada seca (pontos de tensão
cisalhante máximos para as condições iniciais densa e fofa), conforme apresentado na Figura
5.3. Nota-se que as envoltórias de resistência ao cisalhamento para o estado denso e para o
estado fofo são coincidentes, indicando que existe um único ângulo de atrito interno,
independente da densidade inicial.
As Figuras 5.4 e 5.5 apresentam as envoltórias de resistência ao cisalhamento das
areias e alterada, respectivamente, na condição inundada. Observa-se que o comportamento
é similar ao descrito para os ensaios em condição seca, com a areia apresentando ângulo de
atrito interno de pico e ângulo de atrito interno a grandes deformações bem definidos,
enquanto a areia alterada apresenta envoltórias de resistência ao cisalhamento
aproximadamente coincidentes para as duas condições.
0 100 200 300 400
Tensão normal (kPa)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
Areia sã fofa
Areia sã densa - pico
Areia sã densa - GD
Figura 5.2 – Envoltórias de resistência ao cisalhamento de pico e a grandes deformações para
areia sã seca.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
75
0 100 200 300 400
Tensão normal (kPa)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
Areia alterada fofa
Areia alterada densa
Figura 5.3 – Envoltórias de resistência ao cisalhamento a grandes deformações para areia
alterada seca.
0 100 200 300 400
Tensão normal (kPa)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
Areia sã fofa
Areia sã densa - pico
Areia sã densa - GD
Figura 5.4 – Envoltórias de resistência ao cisalhamento de pico e a grandes deformações para
areia sã inundada.
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76
0 100 200 300 400
Tensão normal (kPa)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
Areia alterada fofa
Areia alterada densa
Figura 5.5 – Envoltória de resistência ao cisalhamento a grandes deformações para areia
alterada inundada.
Os ângulos de atrito interno obtidos pelo ajuste das retas aos pontos são indicados na
Tabela 5.5 para todas as condições de ensaio (estado inicial denso e fofo, nas condições
inundada e seca). Para a areia sã, o ângulo de atrito interno de pico é de aproximadamente
44°, enquanto o ângulo de atrito interno a grandes deformações, tanto para o estado inicial
denso como para o estado inicial fofo é semelhante. Na condição seca, o valor médio obtido
foi de 34,7° e na condição inundada o valor médio foi de 33,1°, indicando a pouca influência
do grau de saturação nos parâmetros de resistência ao cisalhamento.
Tabela 5.5 – Ângulos de atrito interno calculados a partir dos ensaios de cisalhamento direto.
Ãngulo de atrito (graus)
Material
Grau de
compactação
Condição de
umidade
pico (ø
p
)
grandes deformações
gd
)
Seca 44,0 34,5
Denso
Inundada 44,7 32,4
Seca ------- 34,9
Areia sã
Fofo
Inundada ------- 33,7
Seca ------- 39,4
Denso
Inundada ------- 32,7
Seca ------- 39,1
Areia
alterada
Fofo
Inundada ------- 32,5
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
77
Em contrapartida, os ensaios com areia alterada mostram que os ângulos de atrito
interno a grandes deformações não são afetados pelo grau de compactação inicial dos corpos
de prova, mas são fortemente influenciados pelo teor de umidade, apresentando tida
diferença no ângulo de atrito interno, com valores aproximados de 39º na condição seca e
32,5° na condição inundada.
5.4 ANÁLISE DOS ENSAIOS TRIAXIAIS
Os resultados de ensaios triaxiais foram apresentados no item 4.4, com base em
gráficos parâmetro t x deformação axial e deformação volumétrica x deformação axial. Os
ensaios foram realizados com trajetórias de tensão convencionais (compressão axial com
tensões confinantes constantes). A análise dos resultados obtidos será feita de forma
comparativa entre os materiais, pela análise dos parâmetros de resistência do solo. As
envoltórias de resistência ao cisalhamento determinadas com base nos ensaios triaxiais, assim
como nos ensaios de cisalhamento direto, foram obtidas através da consideração do critério de
ruptura de Mohr-Coulomb para solos não coesivos.
Analisando-se as Figuras 4.13 a 4.16, observa-se um comportamento dos solos
semelhante ao observado nos ensaios de cisalhamento direto. Os corpos de prova de areia
em estado denso apresentam um pico de resistência ao cisalhamento, seguido de uma queda e
posterior estabilização da tensão desvio. Portanto, da mesma forma como ocorrido com os
ensaios de cisalhamento direto, foram obtidos dois parâmetros de resistência distintos para a
areia em estado denso: o ângulo de atrito interno de pico
p
) e o ângulo de atrito interno a
grandes deformações (ø
gd
), sendo que a areia em estado fofo não apresenta resistência de
pico, assim como os corpos de prova de areia alterada, tanto em estado denso como em estado
fofo. Para esta areia, foram calculados apenas os parâmetros de resistência ao cisalhamento a
grandes deformações (ø
gd
).
As envoltórias de resistência ao cisalhamento são expressas em gráficos s’ x t, onde s’
= (σ
1
+ σ
3
)/2 e t = (σ
1
- σ
3
)/2 com as trajetórias de tensão formando um ângulo de 45° em
relação ao eixo s’. Nos gráficos de envoltória de resistência ao cisalhamento, são apresentados
os pares de pontos s’ x t para valores de pico e a grandes deformações, os quais são
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apresentados na Tabela 5.6. Os valores de t são obtidos dos gráficos t x ε
a
, ilustrados nas
Figuras 4.13 a 4.16, enquanto os valores de s’ representam as tensões efetivas médias
correspondentes aos valores do parâmetro t. Na Tabela 5.6, os valores referentes ao estado de
tensões de pico são representados por s’
p
e t
p
, enquanto os valores referentes ao estado de
tensões a grandes deformações são expressos por s’
gd
e t
gd
.
Tabela 5.6 – Resultados dos ensaios triaxiais - tensões de pico e tensões a grandes
deformações das areias.
Material
Grau de
compactação
Tensão confinante
(kPa)
s'
p
(kPa)
t
p
(kPa)
s'
gd
(kPa)
t
gd
(kPa)
50 188,3 135,9 161,3 107,1
100 290,9 200,3 276,5 171,1
denso
200 658,5 460,9 482,2 288,8
50 -------- -------- 144,0 90,9
100 -------- -------- 259,5 159,7
Areia sã
fofo
200 -------- -------- 462,1 264,8
50 -------- -------- 66,9 116,9
100 -------- -------- 127,8 227,8
denso
200 -------- -------- 258,6 458,6
50 -------- -------- 107,5 57,5
100 -------- -------- 201,1 101,1
Areia alterada
fofo
200 -------- -------- 411,5 211,5
Na Figura 5.6 podem ser observadas as envoltórias de resistência ao cisalhamento
obtidas para a amostra de areia em estado inicial denso. A linha tracejada indica a
envoltória de resistência ao cisalhamento de pico, enquanto a linha cheia indica a envoltória
de resistência ao cisalhamento para valores de deformação axial maiores do que 12%,
representando o valor de t estabilizado a grandes deformações. Os pontos pelos quais foram
ajustadas as duas retas são determinados através dos valores da Tabela 5.6 referentes à areia
em estado inicial denso. As envoltórias de resistência ao cisalhamento podem ser
consideradas retas, as quais passam pela origem dos eixos, assumindo a inexistência de
intercepto coesivo. De acordo com a inclinação de cada reta, o ângulo de atrito interno de pico
para a areia foi estimado em 44,4°, enquanto o ângulo de atrito interno a grandes
deformações da areia sã foi de aproximadamente 37,4°.
A Figura 5.7 ilustra a envoltória de resistência ao cisalhamento para a areia em
estado inicial fofo. De acordo com os pontos no gráfico, a envoltória pode ser aproximada por
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
79
uma reta, apresentando ângulo de atrito interno efetivo de 35,9°, sem a ocorrência de
intercepto coesivo.
0 200 400 600 800
s' (kPa)
0
200
400
600
800
t (kPa)
tensão de pico
tensão a grandes deformações
t = 0,6995.s'
t = 0,6077.s'
Figura 5.6 – Resultados de ensaios triaxiais - envoltórias de resistência ao cisalhamento para
areia sã em estado inicial denso.
O mesmo procedimento empregado para a obtenção dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento da areia foi utilizado para a areia alterada. Como a areia alterada em estado
denso não apresentou resistência de pico, será considerado apenas o valor máximo do
parâmetro t observado, o qual foi atingido somente ao final dos ensaios.
Nas Figuras 5.8 e 5.9 são apresentadas as envoltórias de resistência ao cisalhamento
das areias alteradas, em estado inicial denso e fofo, respectivamente. De acordo com as
figuras, para ambas as condições de compactação, os pontos foram ajustados por retas,
passando pela origem. Em estado inicial denso, o ângulo de atrito interno obtido foi de 34,3°,
enquanto para a areia alterada em estado inicial fofo, o ângulo de atrito interno estimado foi
de 30,9°.
A Tabela 5.7 indica os valores de ângulo de atrito interno efetivo obtidos para as duas
areias, nas condições densa e fofa. Para a areia sã, são apresentados os valores referentes ao
ângulo de atrito interno de pico e ao ângulo de atrito interno a grandes deformações.
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80
0 200 400 600 800
s' (kPa)
0
200
400
600
800
t (kPa)
tensão a grandes deformações
t = 0,5864.s'
Figura 5.7 – Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento para
areia sã em estado inicial fofo.
0 200 400 600
s' (kPa)
0
200
400
600
t (kPa)
tensão a grandes deformações
t = 0,5643.s'
Figura 5.8 – Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento para
areia alterada em estado inicial denso.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
81
0 200 400 600
s' (kPa)
0
200
400
600
t (kPa)
tensão a grandes deformações
t = 0,5128.s'
Figura 5.9 – Resultados de ensaios triaxiais - envoltória de resistência ao cisalhamento para
areia alterada em estado inicial fofo.
Tabela 5.7 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos através de ensaios triaxiais.
Ângulo de atrito interno (graus)
Material
Grau de
compactação
pico grandes deformações
denso 44,4 37,4
Areia sã
fofo --------- 35,9
denso --------- 34,3
Areia alterada
fofo --------- 30,9
Em relação ao comportamento tensão-deformação, há uma variação no
comportamento dos materiais como pode ser visto nas Figuras 5.10 e 5.11 que ilustram a
variação de volume específico n das areias (ν = 1 + e) em função da tensão efetiva média s’
(escala logarítmica), para a areia e a areia alterada, respectivamente. Nos gráficos, são
indicadas também as curvas de compressão e recompressão obtidas dos ensaios de
compressão confinada, com as curvas em linha cheia representando a condição fofa e em
linha tracejada indicando a condição compacta. Para a aplicação dos valores obtidos dos
ensaios de compressão confinada em um diagrama de tensões efetivas médias, foi feita uma
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estimativa das tensões horizontais durante a compressão confinada, por meio do cálculo do
coeficiente K
0
para cada areia segundo a Equação de Jaky, válida para areias finas uniformes
(K
0
= 1 – sen ø’).
1 10 100 1000
log s' (kPa)
1.40
1.60
1.80
2.00
ν
50 kPa - fofa
100 kPa - fofa
200 kPa - fofa
50 kPa - densa
100 kPa - densa
200 kPa - densa
Figura 5.10 – Gráfico log s’ x ν para areia sã.
1 10 100 1000
log s' (kPa)
1.40
1.60
1.80
2.00
ν
50 kPa - fofa
100 kPa - fofa
200 kPa - fofa
50 kPa - densa
100 kPa - densa
200 kPa - densa
Figura 5.11 - Gráfico log s’ x ν para areia alterada.
Os resultados da areia (Figura 5.10) indicam que os pontos iniciais das curvas ν x
log s’ tendem a acompanhar as curvas de compressão confinada, iniciando-se próximo das
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
83
mesmas. Durante o ensaio triaxial das amostras fofas, observou-se uma pequena diminuição
inicial do volume específico, seguida de expansão, enquanto que nas amostras densas uma
expansão volumétrica mais acentuada. É interessante observar que as maiores deformações de
expansão são verificadas para as maiores tensões confinantes.
Para a areia alterada (Figura 5.11) as deformações apresentadas por todos os ensaios
são acentuadamente de compressão, inclusive para amostras densas. Observa-se que o
aumento da tensão confinante inicial causa uma redução na magnitude da deformação de
compressão, em particular para as amostras inicialmente densas.
A fim de permitir uma comparação direta entre os parâmetros calculados, a Tabela 5.8
apresenta os valores de ângulo de atrito interno obtidos através dos ensaios de cisalhamento
direto e triaxiais. Os valores referem-se ao ângulo de atrito interno para grandes deformações,
incluindo o ângulo de atrito interno de pico para a areia densa, o qual é expresso entre
parênteses.
Tabela 5.8 – Ângulos de atrito interno (em graus) obtidos dos ensaios de cisalhamento direto
e triaxial nas duas areias testadas.
Cisalhamento direto
Material
Grau de
compactação
inicial
areia seca
areia inundada
Triaxial
(saturada)
denso (44,0) 34,5
(44,7) 32,4 (44,4) 37,4
Areia sã
fofo 34,9 33,7 35,9
denso 39,4 32,7 34,3
Areia alterada
fofo 39,1 32,5 30,9
Com base nos dados apresentados na Tabela 5.8, pode-se fazer uma comparação direta
entre os ensaios a partir dos parâmetros obtidos no ensaio triaxial e no ensaio de cisalhamento
direto na condição úmida. Com exceção do ensaio em areia alterada na condição fofa, os
resultados obtidos a partir dos ensaios triaxiais foram ligeiramente superiores aos resultados
obtidos através dos ensaios de cisalhamento direto. Para a areia sã, o valor de ângulo de atrito
interno de pico obtido foi igual em ambos os ensaios, o que permite admitir que o ângulo de
atrito interno de pico da areia é de aproximadamente 44°. Os valores de ângulo de atrito a
grandes deformações, de acordo com o ensaio e a condição inicial de compactação, variam
entre 32° e 37°, gerando um valor médio em torno de 35°.
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5.5 ANÁLISE DOS ENSAIOS DIFRATOMÉTRICOS E DE MICROSCOPIA
ELETRÔNICA
Os ensaios de difratometria de raios-X e de microscopia eletnica foram realizados
com a finalidade de se investigar as possíveis causas da variação do comportamento mecânico
entre as duas areias.
5.5.1. Ensaios de difração de raio-X
A realização de ensaios de difratometria de raios-X nos solos testados teve a finalidade
de determinar os minerais constituintes dos grãos e determinar a possível presença de outros
compostos químicos relevantes que pudessem influenciar no comportamento mecânico das
areias.
O ensaio foi realizado empregando-se dois modos de preparação de amostras. No
primeiro modo, uma pequena quantidade de solo, com aproximadamente 50 gramas, foi
triturada, até que se obtivesse um material em forma de . Com este material pulverizado, foi
realizado o ensaio padrão de difratometria. Por constituir-se de análise sobre a fração fina,
juntamente com a fração granular moída, esta etapa foi denominada análise total.
Os difratogramas dos ensaios de análise total são apresentados nas Figuras 5.12 e 5.13,
para areia e alterada, respectivamente. Em ambos os difratogramas, a ocorrência de um
pico de intensidade predominante, de aproximadamente 3,34Å, correspondente ao quartzo
(SiO
2
). Foi observado um pico de intensidade secundário de 3,23Å, correspondente ao
mineral feldspato (KAlSi
3
O
8
). Pela comparação entre as duas figuras, observa-se que os
difratogramas apresentam uma grande semelhança, com picos correspondentes aos minerais
quartzo e feldspato. Uma análise dos difratogramas obtidos, em conjunto com as
características dos solos locais, sugere que o quartzo seja o mineral dominante, com o
feldspato ocorrendo em menor proporção. Os resultados de difratometria em amostra total não
mostram a presença de argilominerais ou de elementos cimentantes entre os grãos, os quais
podem não ser detectados neste ensaios devido às suas propriedades amorfas.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Figura 5.12 – Difratograma de amostra total de areia sã.
Figura 5.13 – Difratograma de amostra total de areia alterada.
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A segunda etapa dos ensaios difratométricos foi realizada apenas com a fração fina dos
solos, separada previamente da fração granular, com a finalidade de verificar a presença de
argilominerais e verificar se estes ocorrem em quantidades significativas. Nesta etapa, para
ambos os solos, foram efetuados ensaios em três condições: amostras em condição natural,
amostras glicoladas e amostras calcinadas.
O ensaio na condição natural foi efetuado colocando-se diretamente, sem preparo
especial, uma porção da fração fina do solo em mina e executando-se o teste. Os
difratogramas das areias e alterada são apresentados nas Figuras 5.14 e 5.15,
respectivamente. Para a areia sã, foram observados pequenos picos correspondentes aos
minerais ilita e caolinita, enquanto para a areia alterada, foram observados picos de
intensidade correspondentes aos argilominerais vermiculita e caolinita. Contudo, mesmo
tomando-se apenas a fração fina das areias, constatou-se que ambos os solos apresentaram
predominância de quartzo, tendo a areia apresentado uma maior proporção de quartzo na
fração fina em comparação à areia alterada. Na amostra de areia também foi observada a
ocorrência de feldspato na fração fina.
Figura 5.14 – Difratograma de ensaio natural em fração fina, areia sã.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
87
Figura 5.15 – Difratograma de ensaio natural em fração fina, areia alterada.
Os ensaios com amostras glicoladas foram feitos utilizando-se etilenoglicol para a
hidratação das partículas de argila. Sob esta condição, foram obtidos os difratogramas
apresentados nas Figuras 5.16 e 5.17, respectivamente para as areias sã e alterada. Para a areia
sã, não são observados picos de intensidade referentes a argilominerais, sendo encontrados
apenas picos de quartzo e feldspato. Para a areia alterada, ocorrem picos de intensidade
referentes à vermiculita e à caolinita, da mesma forma como observado no ensaio com
amostra natural. Os picos referentes a estes minerais não sofreram alteração, indicando que
o houve expansão dos minerais com a hidratação. Para a areia sã, os pequenos picos
correspondentes aos argilominerais, observados nas amostras naturais, não foram observados
na amostra glicolada.
Os ensaios com amostras calcinadas foram feitos levando-se amostras a um forno,
onde a temperatura é aumentada até que se atinja aproximadamente 500°C. Este
procedimento destrói os minerais do grupo caolinita e é responsável por alterações em outros
argilominerais, pela eliminação da água adsorvida nas partículas. Os difratogramas referentes
às amostras calcinadas são ilustrados nas Figuras 5.18, para a areia sã, e 5.19 para a areia
alterada. Na Figura 5.18 é observado um pequeno pico de intensidade referente à ilita, sendo
observada a ocorrência dos picos predominantes de quartzo e feldspato. Na Figura 5.19, o
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88
difratograma apresenta a ocorrência de um pico predominante de quartzo, com um pequeno
pico de vermiculita colapsada. Em ambos os solos, a caolinita não foi observada nas amostras
calcinadas, por tornar-se amorfa a altas temperaturas. A ilita presente na areia não sofreu
alteração com a calcinação e a vermiculita presente na areia alterada foi alterada com a
calcinação, ocorrendo uma mudança de distância basal de 14Å para 10Å.
Figura 5.16 – Difratograma de ensaio com amostra glicolada, areia sã.
Figura 5.17 – Difratograma de ensaio com amostra glicolada, areia alterada.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Figura 5.18 – Difratograma de ensaio com amostra calcinada, areia sã.
Figura 5.19 – Difratograma de ensaio com amostra calcinada, areia alterada.
Os resultados de difratometria permitem concluir que os dois solos apresentam
composição mineralógica com grande semelhança. Para ambas as areias, o quartzo se
constitui como mineral predominante na constituição dos grãos, tendo sido verificada a
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ocorrência de feldspato alcalino em quantidades reduzidas na composição granular. Quanto à
composição mineralógica da fração fina das areias, foi verificado que a areia apresenta uma
pequena quantidade de ilita e caolinita, enquanto a areia alterada apresenta pequenas
quantidades de vermiculita e caolinita. Porém, em ambas as areias, os argilominerais ocorrem
em quantidades muito reduzidas em comparação à ocorrência dos minerais quartzo e
feldspato.
Os ensaios de difração o apontaram a ocorrência de outros elementos componentes
dos grãos ou de qualquer outro elemento que pudesse estar associado a material cimentante
entre grãos. Entretanto, elementos amorfos na forma de óxidos e hidróxidos, os quais podem
fazer parte da composição dos materiais cimentantes e estruturais, não são detectáveis por
meio de ensaios difratométricos.
5.5.2. Ensaios de microscopia eletrônica
Para verificar a possível ocorrência de outros elementos ou arranjo de grãos, foram
utilizadas técnicas de microscopia eletnica. As imagens de microscopia foram tomadas no
Centro de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo sido
realizadas em duas etapas.
Durante a primeira etapa, foi preparada uma amostra de cada areia para visualização e
aquisição de imagens por meio de microscópio eletnico convencional de varredura JEOL,
modelo JEM 1200ExII. A segunda etapa de análise foi realizada em um microscópio
eletnico de varredura JEOL, modelo JSM 5800 e consistiu de visualização e verificação de
composição química de alguns elementos estruturais entre grãos, os quais foram observados
durante a primeira etapa. Cabe ressaltar que a primeira e a segunda etapa de análise por
microscopia eletnica foram realizadas em equipamentos distintos, visto que o equipamento
no qual foram tomadas as imagens da primeira etapa não possuía equipamento para execução
de análises pelo método EDS.
O princípio de funcionamento do microscópio eletnico consiste em dirigir um feixe
de elétrons acelerado por um campo elétrico, para a superfície de uma amostra em
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
91
observação, em um ambiente com cuo. O feixe de elétrons, chocando-se contra a superfície
da amostra, distribui-se irregularmente. Uma parte dos elétrons é refletida, enquanto outra
parte penetra a uma pequena profundidade da superfície, sendo posteriormente defletidos de
volta à superfície da amostra com energia suficiente para escaparem desta. Certa parte destes
elétrons são recebidos por um coletor e transformados em energia luminosa por um cintilador.
A luz proveniente do cintilador é levada a um fotomultiplicador e um amplificador de vídeo,
que transformam a energia luminosa em energia elétrica. Um tubo de raios catódicos reproduz
a imagem da área observada da amostra, em função da varredura do feixe de elétrons na
superfície da amostra.
Para a primeira etapa, foi preparada uma amostra de cada areia. A preparação consistiu
na colagem de uma pequena quantidade de cada areia sobre peças cilíndricas de alumínio
(stubs). Para permitir a aderência dos grãos e a condutividade elétrica necessária, a peça foi
revestida previamente com fita dupla-face de carbono. As a colagem inicial, a amostra
sofreu um processo de metalização com carbono, a fim de proporcionar a condução elétrica
necessária. As a moldagem e metalização, as peças foram levadas ao microscópio. Para
cada amostra, foram feitas visualizações com imagens ampliadas em 200, 600 e 1400 vezes.
A Figura 5.20 mostra uma imagem de grãos de areia sã, com ampliação de 200 vezes.
Na imagem, podem ser vistos grãos de formato arredondado a subarredondado, segundo
classificação proposta por Müller (1967) apud Mitchell (1976), com superfície lisa, não sendo
encontrados qualquer evidência de material entre grãos. Alguns grãos de areia
apresentaram uma pequena quantidade de material depositado sobre a superfície, conforme
mostra a Figura 5.21. Pela imagem, com ampliação de 600 vezes, pode-se notar a presença de
pequenos elementos de coloração clara sobre a superfície do grão, o que pode indicar o
princípio de ocorrência de alteração no material.
Na Figura 5.22, pode-se observar um grão de areia alterada, com ampliação de 200
vezes. O formato do grão apresenta semelhança em relação ao grão de areia sã, porém pode-se
verificar uma rugosidade acentuada em sua superfície. Esta rugosidade deve-se à presença de
um material depositado, o qual reveste a superfície do grão, formando uma película
cimentante. A análise da imagem também sugere que houve um segundo grão, unido ao grão
apresentado na imagem (formato do material aderido indica um possível encaixe de grãos).
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Figura 5.20 – Fotografia de microscopia eletnica, ilustrando grãos de areia sã, com
ampliação de 200 vezes.
Figura 5.21 – Imagem de grão de areia sã, com ampliação de 600 vezes, onde podem ser
vistos elementos de coloração branca sobre a superfície dos grãos.
Figura 5.22 – Dois grãos de areia alterada ligados por uma ponte de material cimentante (em
detalhe), imagem com ampliação de 200 vezes.
Grão
Grão
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
93
A comparação das Figuras 5.20 e 5.22 indica que o tamanho dos grãos de areia
alterada é ligeiramente maior em relação ao grão de areia sã, fato constatado pela análise das
curvas granulométricas. Observa-se tamm que a presença do material recobrindo o grão de
areia alterada contribui para que seja acusado o aumento de diâmetro de grãos.
Outros grãos de areia alterada foram analisados, com a finalidade de observar a
possível presença de grãos unidos por alguma forma de estrutura. A Figura 5.23a apresenta
uma imagem com ampliação de 200 vezes, ilustrando um grão de areia alterada ao centro,
com cinco grãos localizados em torno do grão central. Observa-se na imagem o formato
irregular do grão, variando entre subarredondado e subangular. Este formato sugere que
previamente houve outro grão de areia ligado a este através do ponto onde são observadas
irregularidades na superfície do grão. No detalhe da figura, nota-se a ocorrência de uma
estrutura delgada de ligação entre dois grãos, a qual possui uma rigidez que a mantém íntegra
mesmo após a manipulação da amostra. Esta estrutura é melhor visualizada na Figura 5.23b, a
qual apresenta uma imagem da ligação estrutural com ampliação de 600 vezes.
(a)
(b)
Figura 5.23 – Areia alterada - (a) Imagem ampliada em 200 vezes, ilustrando dois grãos de
areia unidos por uma estrutura delgada; (b) ligação estrutural em detalhe, com ampliação de
imagem de 600 vezes.
Na Figura 5.24, são visualizados dois grãos unidos por material cimentante, porém a
estrutura observada é mais espessa, recobrindo uma maior área da superfície dos grãos. Com
isto, observa-se a ocorrência de diferentes tipos de estruturas, variando desde ligações
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delgadas a ligações cimentantes com maior espessura. Observa-se novamente a rugosidade da
superfície dos grãos pela presença da cimentação superficial aderida.
Figura 5.24 – Imagem ampliada 200 vezes, com dois grãos de areia unidos por um estrutura
espessa (em detalhe).
A análise inicial de imagens coletadas de ambos os materiais indicou que a areia
apresenta grãos com superfície lisa, o sendo encontrado material cimentante entre grãos.
Isto condiciona o comportamento mecânico desta areia apenas às condições de formato de
grãos, composição mineralógica e características físicas como densidade, sem a influência de
estrutura ou cimentação. A areia alterada apresenta um material cimentante recobrindo os
grãos individualmente, bem como servindo de material de ligação entre dois ou mais grãos, o
que condiciona o comportamento mecânico desta areia a estas estruturas.
Tendo sido comprovada a ocorrência de cimentação entre grãos da areia alterada,
foram realizadas novas visualizações por microscopia eletnica em conjunto com o emprego
da análise de espectrometria de raios-X por energia dispersiva (EDS Energy Dispersive
Spectrometry), por meio de um espectrômetro, com o objetivo de determinar a composição
química do material de ligação.
O espectrômetro de energia dispersiva consiste em um equipamento acoplado a um
microscópio eletnico de varredura, que permite a análise de composição química de
materiais visualizados por meio do microscópio. A análise é efetuada pela medição da energia
e distribuição de intensidade de sinais de raios-X gerados por uma corrente de elétrons
aplicada em determinado ponto do material em análise. A corrente de elétrons gerada pelo
Grão
Grão
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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microscópio eletnico e direcionada à superfície a ser analisada, ao atingir a superfície do
material, gera um fluxo de raios-X a partir do contato do fluxo de elétrons com os átomos do
material analisado. O vel de energia dos raios-X emitidos é característico de cada elemento
químico constituinte do material. O equipamento EDS coleta os raios-X emitidos, identifica a
quantidade de raios e o nível de energia de cada um, automaticamente identificando os
elementos presentes.
O resultado da análise é fornecido por meio de um gráfico, onde a contagem de raios-
X é representada em função do espectro de energia de raio-X processado pelo espectrômetro.
O espectro de energia de raio-X processado pelo espectmetro varia de 0 a 10 keV, sendo
que cada elemento apresenta um valor específico de energia. Pela posição no eixo que
representa o vel de energia, pode-se determinar qual o elemento presente. O eixo de
contagem indica a quantidade de raios-X captados em cada ponto do espectro de energia.
Desta maneira, os elementos mais abundantes na amostra apresentam uma maior contagem e
portanto, maiores picos no gráfico. O software responsável pela aquisição e interpretação dos
dados fornece os elementos químicos encontrados, bem como a concentração de cada
elemento em cada ponto analisado. O espectrômetro permite uma análise química acurada,
com erro relativo entre 1 e 2%, em áreas de verificação com diâmetros de 0,5 a 3
micrômetros.
A primeira análise pelo método EDS foi efetuada na estrutura indicada na Figura
5.25ba. Na imagem, a cimentação entre dois grãos aparece em destaque, enquanto a Figura
5.25b indica o ponto exato (ponto 1) onde foi efetuada a leitura dos componentes químicos.
Na Figura 5.26, é mostrado o espectro de energia de raios-X emitidos a partir do ponto1,
indicando os componentes químicos presentes no ponto. Pela figura, bem como pela Tabela
5.9, que indica a concentração de elementos no ponto, nota-se um pico de energia de valor
1,87 keV, correspondente ao vel de energia do elemento sicio (Si), sendo este nível de
energia o mais encontrado na contagem dos raios-X. Logo, o elemento químico predominante
neste ponto foi o silício. Como segundo elemento predominante na contagem de raios-X, tem-
se o ferro (Fe), com números de energia característicos de 6,40 keV e 7,11 keV, dependendo
dos íons existentes (Fe
+2
ou Fe
+3
). Observa-se a predomincia do elemento silício, ocorrendo
também a presença de átomos de oxigênio, o que indica a combinação entre estes dois
elementos, levando à ocorrência de lica (SiO
2
) no ponto analisado. Observa-se tamm a
presença, em menor proporção, de elementos secundários como alumínio (Al) e enxofre (S).
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Deve-se frisar que não se considera nesta análise o elemento carbono, pois a presença do
mesmo se deve ao processo de metalização das amostras.
(a)
(b)
Figura 5.25 – Areia alterada - (a) Imagem de ligação estrutural entre dois grãos de areia (em
detalhe); (b) ponto de leitura de composição química (ponto 1).
Figura 5.26 – Espectrograma com indicação proporcional dos componentes químicos no
ponto 1, Figura 5.25(b).
Tabela 5.9 – Concentração de elementos (em %) no ponto 1 [Figura 5.25(b)].
Ponto / elementos
C O Al Si S Fe
Ponto 1 45.51 20.30 4.96 16.98 1.10 11.14
O segundo ponto analisado é apresentado na Figura 5.27a, o qual consiste em uma
ligação estrutural entre dois grãos de areia, sendo mostrado em destaque na figura. A análise
1
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
97
por EDS foi feita no material componente desta ligação. Nesta análise, foram realizadas cinco
leituras de composição química em pontos distintos (pontos 1 a 5), indicados na Figura 5.27b.
(a)
(b)
Figura 5.27 – Areia alterada - (a) Imagem ampliada 600 vezes, mostrando grão de areia
alterada com ligação estrutural (em detalhe). (b) Pontos onde foram efetuadas as leituras por
EDS.
Nesta análise, são tomadas duas localizações diferentes. Os pontos 1 e 2 fazem parte
da estrutura de ligação entre dois grãos, enquanto os pontos 3 e 4 situam-se sobre a superfície
de um dos grãos, tratando-se, portanto, de leitura de composição de material de recobrimento
de grão. O ponto 5 situa-se sobre uma segunda ligação estrutural entre grãos, observada ao
fundo da imagem. Pelas imagens, a ligação estrutural entre grãos possui o aspecto de um gel,
assumindo um formato de placa fraturada de pequena espessura, com trincas e fraturas.
A Figura 5.28 mostra os espectrogramas dos cinco pontos analisados, enquanto a
Tabela 5.10 mostra a proporção de elementos químicos encontrados em cada ponto indicado.
Pela análise dos gráficos e da tabela, os pontos 1 e 2, referentes à ligação estrutural entre
grãos, apresentam uma concentração predominante de ferro, com valores percentuais acima
de 92% e pouca ocorrência de outros elementos. Nos pontos 3 e 4, referentes ao elemento
cimentante sobre a superfície do grão, um predomínio do elemento silício, o que indica a
ocorrência de lica amorfa recobrindo a superfície do grão. O ponto 5, também referente a
uma ligação entre grãos, apresenta predominância do elemento ferro (aproximadamente 93%
em concentração atômica), o que indica que as duas ligações estruturais analisadas são
semelhantes quanto à composição química.
2
5
1
4
3
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Figura 5.28 – Espectrogramas dos cinco pontos analisados (apresentados na Figura 5.26).
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Tabela 5.10 – Concentração de elementos (em %) nos pontos apresentados na Figura 5.26.
Pontos / elementos
C O Al Si K Ca Ti Fe Br Au
Ponto 1 0.82
2.06 97.13
Ponto 2 3.87 1.06
1.54 93.54
Ponto 3 16.75
5.57 23.99
1.90
16.35
1.78 33.65
Ponto 4 20.62
17.76
33.50
1.81
0.97 1.99 14.71
0.00 8.64
Ponto 5 2.05
5.00 92.95
Nesta segunda análise, fica caracterizada a presença de ferro nas ligações entre grãos,
enquanto que no material de recobrimento do grão ocorre a presença predominante de lica,
havendo portanto uma distinção nas composições químicas dos materiais de ligação
intergranular e de recobrimento superficial do grão.
O terceiro ponto analisado representa a ligação, com formato filamentar, entre dois
grãos de areia alterada. A Figura 5.29a apresenta uma imagem com ampliação de 200 vezes,
onde podem ser visualizados os dois grãos e, em destaque na Figura 5.29b, a ligação
estrutural.
(a)
(b)
Figura 5.29 – Areia alterada - imagens mostrando: (a) ligação estrutural entre dois grãos de
areia (ampliação de 200 vezes); (b) indicação dos pontos onde foram feitas as análises
químicas (ampliação de 600 vezes).
Foram efetuadas cinco leituras de composição química desta estrutura, sendo os
pontos 1, 2 e 3 tomados sobre o material de ligação entre os grãos, enquanto os pontos 4 e 5
são pontos situados sobre o material de recobrimento de um dos grãos. A Figura 5.30
apresenta os espectrogramas dos cinco pontos analisados, enquanto a Tabela 5.11 indica a
proporção de elementos químicos encontrados em cada ponto.
5
4
1
2
3
__________________________________________________________________________________________
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100
Figura 5.30 – Espectrogramas dos pontos analisados (indicados nas Figuras 5.28a e 5.28b).
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101
Tabela 5.11 – Concentração de elementos dos pontos apresentados na Figura 5.30 (em %).
Pontos / elementos
C O Al Si S K Ti Fe Br
Ponto 1 58.92 14.88 7.15 11.32 4.42 0.46 0.27 2.57
Ponto 2 79.68 7.20 11.60 1.15 0.38
Ponto 3 34.09 33.70 24.94 2.18 0.92 0.67 3.50 0.00
Ponto 4 40.82 30.50 23.76 1.06 0.70 0.29 2.86 0.00
Ponto 5 25.49 29.71 33.79 1.80 1.63 1.19 6.40 0.00
Pela análise dos gráficos e da tabela, observa-se a predominância de silício em
combinação com oxigênio, o que indica a ocorrência de lica como composto predominante,
tanto na ligação entre grãos como no material de recobrimento. Deve-se observar, entretanto,
que no ponto 2 foi observada uma significativa ocorrência de enxofre (S), sendo observada
também a ocorrência de bromo (Br). Picos de energia correspondentes ao elemento bromo
foram observados nos cinco espectrogramas, o que sugere que o elemento tenha sido
encontrado nos cinco pontos analisados, embora a concentração atômica deste elemento nos
pontos 3, 4 e 5 não tenha sido determinada. Embora a presença de enxofre tenha sido
detectada nos cinco pontos, a presença significativa deste elemento foi observada somente no
ponto 2.
Nas duas primeiras análises feitas, a presença destes dois elementos foi extremamente
reduzida. Na terceira análise, foi constatada a ocorrência destes elementos em quantidades
maiores, o que sugere que a área de coleta das amostras de areia com alteração pode ter
sofrido o ataque de materiais contaminantes por fontes externas. A presença do enxofre pode
ser proveniente de produtos derivados de hidrocarbonetos, como gasolina ou óleo diesel, bem
como de produtos empregados como fertilizantes. O bromo é um elemento presente em
produtos empregados como defensivos agrícolas ou em compostos aditivados à gasolina. A
presença destes elementos sugere uma possível contaminação da área por gases provenientes
da queima de combustíveis ou por elementos empregados como agrotóxicos ou fertilizantes
em áreas de cultivo próximas à área de coleta das amostras, os quais podem ter se fixado à
estrutura encontrada nas areias.
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6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo analisa as principais características físicas e mineralógicas dos solos
arenosos estudados neste trabalho, as quais foram apuradas através da difratometria de raios-
X, a microscopia eletnica por varredura (MEV) e a espectrometria de energia dispersiva
(EDS). Ademais, o capítulo também analisa a maneira como algumas destas características se
encontram relacionadas com o comportamento mecânico das areias verificado através dos
ensaios de laboratório, descrito e analisado nos capítulos anteriores. Também é feita uma
análise comparativa entre as propriedades das areias, com relação aos parâmetros geotécnicos.
6.1 CARACTERÍSTICAS DE LOCALIZAÇÃO DOS MATERIAIS
As amostras de areia alterada foram coletadas a uma pequena profundidade, não
superior a um metro, em relação à superfície do terreno, enquanto as amostras de areia
foram coletadas a profundidade superior a dois metros. Portanto as areias representam dois
materiais distintos em relação ao perfil pedogenético.
A Figura 6.1 indica um corte do terreno próximo ao ponto de coleta das amostras. Pela
imagem, observa-se uma variação na coloração do material, constituindo-se em uma areia
com coloração mais escura próximo à superfície e tornando-se de coloração mais clara com o
aumento da profundidade. Isto pode representar a presença maior de elementos depositados na
superfície dos grãos nas camadas de areia mais próximas à superfície do terreno,
especialmente elementos compostos por ferro, que dariam às areias superficiais a coloração
avermelhada, enquanto o solo mais profundo (areia sã), encontra-se menos suscetível ao
contato com os agentes químicos transportados pela água superficial infiltrada.
Para as areias estudadas, é constatado que a modificação de característica da areia
alterada consiste em um processo pedogenético de deposição de compostos de sílica e ferro na
superfície dos grãos, sem alteração de formato ou de composição mineralógica dos mesmos.
uma alteração de textura da superfície dos grãos, a qual é recoberta por uma camada
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
103
cimentante de aspecto coloidal que se estende a grãos adjacentes. Assim, os grãos de areias da
área em estudo possuem características intnsecas invariáveis ao longo da profundidade,
sendo a única modificação ocorrente na superfície dos grãos, com a deposição de elementos
que posteriormente se constituem em uma estrutura intergranular, de forma que este
fenômeno mais intenso nas camadas arenosas mais próximas à superfície.
Figura 6.1 – Foto do corte do terreno mostrando a variação de cor e possível alteração das
areias com a profundidade.
6.2 RESULTADOS DE DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X E MICROSCOPIA
ELETRÔNICA
Os ensaios de difratometria de raios-X e microscopia eletnica, em conjunto com o
emprego de análise de composição química pelo método EDS, constitram-se em
importantes ferramentas empregadas na caracterização dos solos estudados, pois permitiram o
levantamento de propriedades e características de grande relevância para o esclarecimento do
comportamento mecânico observado através dos ensaios de laboratório.
A seguir, serão feitas considerações sobre as principais características apuradas por
meio dos ensaios de difração de raios-X e microscopia e como as características evidenciadas
se relacionam com o comportamento mecânico dos solos ensaiados. Deve-se ter em conta,
contudo, que as considerações sobre a inter-relação entre algumas das propriedades do solo e
o seu comportamento mecânico são interpretativas, baseadas apenas nos dados e propriedades
averiguados e coletados ao longo deste trabalho. Para a apuração mais acurada da correlação
entre as características do solo e os comportamentos verificados, deve-se levar em
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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consideração aspectos adicionais aos verificados neste trabalho, como levantamento e
mapeamento geológico detalhado da área, levantamento pedológico detalhado, com a
descrição morfológica dos perfis da região, levantamento e estudo do regime hidrológico da
região, o qual é condicionante das condições de percolação no solo, levantamento de
ocupação do solo e atividades humanas realizadas na região de coleta dos materiais, entre
outros.
A primeira característica determinada, por meio dos ensaios de difração de raios-X, foi
a composição mineralógica dos grãos das areias. A partir destes ensaios, foi observado que
ambas as areias apresentam grãos com acentuada predomincia de quartzo em sua
composição, sendo constatada também a presença em pequena quantidade de feldspato
alcalino não alterado. A proporção entre estes dois minerais foi aproximadamente a mesma
em ambas as areias, o que permite concluir que os dois solos arenosos são semelhantes quanto
à composição mineralógica dos grãos. A semelhança entre suas composições mineralógicas é
em um forte indicador de que as areias tenham origem geológica semelhante, constituindo-se
em materiais resultantes da desagregação mecânica de uma matriz rochosa em comum. A
presença de quartzo como mineral predominante das areias pode indicar uma idade geológica
elevada deste material, pois outros minerais possivelmente constituintes dos grãos podem ter
sido alterados e desagregados por intemperismo químico ao longo do tempo. Os ensaios
difratométricos também permitiram verificar que as areias apresentam uma quantidade
reduzida de argilominerais, o que é condizente com a curva granulométrica dos materiais.
A visualização dos materiais por meio de microscopia eletrônica (ver Figura 6.2)
permitiu identificar a principal característica de diferenciação entre as areias que é a presença
de um material cimentante recobrindo a superfície dos grãos da areia alterada. Embora alguns
sinais de presença deste material tenham sido observados na superfície de grãos de areia sã, a
pequena quantidade encontrada não indica que haja influência deste material no
comportamento mecânico da areia sã. Por outro lado, a freqüência com que foi observada e a
quantidade de material cimentante presente na areia alterada permite concluir que a sua
presença é significativa e determinante no comportamento mecânico desta areia.
Uma característica relacionada à presença do material de recobrimento dos grãos de
areia alterada refere-se às diferentes formas em que ocorrem as ligações entre os grãos.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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Através das imagens coletadas, detectou-se a presença de um material que recobre os grãos de
areia alterada individualmente, bem como promove sua interligação com grãos adjacentes.
As ligações estruturais não apresentam uma forma única, tendo sido observadas diferentes
tipos de ligações, as quais variam de ligações delgadas até ligações com grande espessura. Em
alguns grãos foram observadas formas ncavas arredondadas no recobrimento, indicando
que nestes locais havia um encaixe de grãos rompido pela manipulação do material. Foi
constatado que as ligações entre grãos, de forma geral, apresentam um aspecto coloidal, com a
presença de trincas e poros e a ocorrência de cimentação com superfície rugosa e fraturada em
alguns pontos (Figura 6.2).
Figura 6.2 – Aspecto geral do material cimentante dos grãos de areia alterada e de uma
ligação entre grãos.
Quanto à composição química, o material componente da estrutura entre grãos tem
como elementos químicos predominantes o silício e o ferro, embora tenha havido uma
variação da composição das ligações cimentantes de ponto para ponto. Esta estrutura
apresenta também outros elementos em quantidades pouco significativas. Apesar de o ser
possível determinar com exatidão quais compostos constituem este material, mas apenas os
elementos químicos presentes, a presença de silício e ferro como elementos predominantes
indica que nos pontos analisados, os prováveis compostos das ligações estruturais sejam lica
amorfa e hidróxido de ferro, os quais não são detectáveis por meio de ensaios de difração de
raios-X por serem compostos amorfos. A presença de ferro em quantidades significativas,
como observado nos espectrogramas, é responsável pela coloração castanho-avermelhada
Grão
Material
cimentante
Ligação entre
grãos
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apresentada pela areia alterada, coloração típica de solos com grande quantidade de
compostos de ferro.
Em um dos pontos de ligação entre grãos analisados pelo método EDS (e somente
naquele ponto), foi constatada a presença de enxofre e bromo em quantidades significativas,
dois elementos não ocorrentes nos demais pontos verificados. A presença destes elementos
como constituintes do material de estrutura entre grãos não pode ser explicada pela
decomposição química prévia dos minerais constituintes dos grãos de areia, pois os minerais
componentes das areias não apresentam estes dois elementos químicos em suas composições.
Assim, é provável que estes elementos constituam-se em contaminantes do solo local. É
possível que alguns pontos da jazida onde houve a coleta de material possa ter havido
contaminação do solo, por meio da percolação de água de superfície. Uma possível causa da
presença de enxofre e bromo é a contaminação do ar da região por gases oriundos da queima
de combustíveis como gasolina e óleo diesel ou o uso de defensivos agrícolas. Ressalta-se que
o ponto de coleta o está distante mais do que 200m da rodovia estadual pavimentada RS
389 (Estrada do Mar), a qual apresenta fluxo elevado de veículos, particularmente durante o
período do verão.
De uma forma geral, pode-se afirmar que o material cimentante encontrado na
superfície dos grãos de areia alterada apresenta características homogêneas em relação à
composição química, sendo composto predominantemente por dois elementos (silício e ferro),
porém em proporções variáveis de ponto para ponto. Em algumas análises, uma pequena
tendência de predomínio do ferro nas ligações entre grãos e do silício no material de
recobrimento individual do grão. A presença de outros elementos se deu em quantidades
pouco significativas.
6.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS AREIAS
Nos itens seguintes, se feita uma comparação entre os resultados de ensaios
realizados com as duas areias, salientando-se as condições nas quais a cimentação torna-se
responsável pela variação de resultados.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
107
6.3.1 Características físicas dos solos
Os ensaios preliminares de investigação de propriedades físicas das areias haviam
indicado serem solos arenosos com distribuição granulométrica e composição de grãos
semelhantes. As posteriores visualização dos grãos por meio de microscópio eletnico e
análise por difratometria de raios-X permitiram a averiguação destas propriedades com maior
clareza.
Com a finalidade de permitir a comparação entre as principais características dos grãos
das areias, são apresentadas na Figura 6.3 duas imagens, cada uma representando uma areia,
ambas com aumento de 200 vezes. Na Figura 6.3a podem ser vistos grãos de areia alterada,
enquanto a Figura 6.3b apresenta grãos de areia sã. A comparação direta entre as duas
imagens permite afirmar que as dimensões do grão de areia alterada são ligeiramente
superiores às dimensões do grão de areia e que ambas apresentam uma uniformidade de
grãos, especialmente a areia sã. Observa-se também a superfície rugosa do grão de areia
alterada, em contraste com os grãos com superfície lisa da areia sã.
(a)
(b)
Figura 6.3 – Imagens comparativas, com ampliação de 200 vezes, ilustrando: (a) grãos de
areia alterada e (b) areia sã.
Os ensaios de difratometria de raios-X forneceram informações adicionais à
visualização microscópica das amostras. Através da difratometria, foi constatado que os solos
em questão são arenosos, com reduzida quantidade de argilominerais presentes, o que condiz
com a pouca quantidade de material fino encontrado durante a caracterização inicial. Foi
igualmente constatado que os solos apresentam acentuada semelhança quanto à composição
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mineralógica, grãos compostos predominantemente por quartzo, com a ocorrência de
feldspato alcalino em quantidades reduzidas.
As a execução dos ensaios preliminares e complementares de caracterização, pode-
se apontar que, como características gerais, a areia apresenta grãos arredondados a
subarredondados, compostos predominantemente por quartzo, com presença de feldspato
alcalino não alterado em menor escala, sem a ocorrência de material cimentante ou qualquer
tipo de estrutura entre grãos em quantidades que pudessem acarretar em alteração no
comportamento mecânico do material. A areia alterada apresentou grãos compostos por
quartzo e feldspato alcalino, na mesma proporção encontrada para a areia sã, porém com uma
marcante ocorrência de material cimentante composto principalmente por lica e elementos
compostos de ferro. Na areia alterada foi verificada uma pequena variação de formato de
grãos, em relação à areia sã, com grãos subarredondados a subangulares, com tamanhos
ligeiramente superiores aos grãos de areia sã. A pronunciada uniformidade de tamanho dos
grãos indica uma provável origem eólica, o que está de acordo com as características dos
solos arenosos da região. Na região onde os solos estão situados, a ocorrência de solos
arenosos licos para profundidades de até aproximadamente 10 metros, profundidade a partir
da qual os solos arenosos tem características predominantes de sedimentação marinha.
A análise das propriedades físicas dos solos arenosos permite concluir que ambos são
semelhantes quanto à composição mineralógica, bem como à distribuição granulométrica,
sendo a diferença mais marcante referente à presença do material cimentante na superfície dos
grãos de areia alterada, o que leva este material a apresentar uma marcante irregularidade na
superfície dos grãos e dimensões levemente superiores aos grãos de areia sã, além de um
comportamento mecânico alterado em relação ao observado para a areia sã.
6.3.2. Características de compressibilidade das areias
As a execução dos ensaios de compressão confinada e obtenção dos parâmetros de
compressibilidade das areias ndices de compressão e recompressão e coeficiente de
compressibilidade), pode-se visualizar os principais dados referentes aos ensaios na Tabela
6.1. Na tabela, são apontados os índices de vazios obtidos em moldagem, os valores
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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calculados após o último estágio de carregamento (1600kPa) e após o descarregamento. São
também apontados os índices de compressão (C
c
) e recompressão (C
r
), e os coeficientes de
compressibilidade (a
v
) calculados para cada areia, em cada grau de compactação.
Tabela 6.1 – Valores obtidos através dos ensaios de compressão confinada.
Índices de vazios
Material
Grau de
compactação
Moldagem
Final
carregamento
Após
descarregamento
Cc Cr
a
v
(m²/kN)
denso 0,52 0,48 0,50
0,033
0,012 16,4
Areia sã
fofo 0,74 0,67 0,68
0,054
0,012 27,3
denso 0,75 0,64 0,65
0,108
0,011 54,1
Areia
alterada
fofo 0,90 0,74 0,76
0,138
0,011 69,2
Inicialmente, é observada uma diferença significativa de índices de vazios para as
areias moldadas sob mesmos métodos de compactação (condições densas e fofas de
compactação), de forma que a areia alterada apresenta maiores índices de vazios, tanto para
amostras fofas como para amostras compactas. Em condições nas quais não houvesse a
presença de cimentação entre grãos, os índices de vazios das duas areias, para um dado grau
de compactação, deveriam ser aproximadamente iguais, visto que suas propriedades sicas
são semelhantes. No entanto, a presença do material cimentante entre os grãos da areia
alterada conduz a uma diferença entre os índices de vazios para mesmos métodos de
compactação dos solos, ao impedir a aproximação dos grãos, mantendo-os sob um certo
afastamento. Como a areia não possui esta estrutura cimentante, a aproximação dos grãos é
livre, permitindo que sejam reduzidos os espaços intergranulares pelos processos de
moldagem e, conseqüentemente, permitindo menores índices de vazios.
Foi observada uma clara diferença entre os coeficientes de compressibilidade das
areias, apresentando a areia alterada valores expressivamente superiores aos valores
calculados para a areia sã, para um mesmo grau de compactação, o que pode ser explicado
pelos maiores índices de vazios das amostras de areia alterada. É interessante observar que,
em relação aos módulos dos estágios de recompressão das duas areias, os valores foram
bastante próximos, independente do grau de compactação inicial.
Ao se tomar a areia em estado inicial fofo e a areia alterada em estado inicial denso,
observa-se que os índices de vazios são aproximados, com valores de 0,74 e 0,75,
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respectivamente. Levando-se em conta que a areia fofa e a areia alterada densa estão sob
índices de vazios próximos, concluiu-se que a areia alterada ainda mantém-se em um estado
real fofo mesmo sob processo de densificação, durante a moldagem das amostras, semelhante
ao aplicado à areia sã, devido à impossibilidade de quebra de todas as ligações cimentantes.
Desta forma, torna-se relevante compreender o termo denso, ao ser aplicado à areia alterada,
como referente apenas a um estado de maior densidade relativa (ou grau de compactação)
desta areia em relação ao estado fofo do mesmo material.
Foi observado que as areias, sob mesmos métodos de compactação, apresentam
diferenças de deformação vertical, devido aos maiores índices de vazios das amostras de areia
alterada. Ao se comparar amostras sob índices de vazios próximos, observa-se a ocorrência de
variação de comportamento entre os materiais. A Figura 6.4 ilustra as curvas de compressão
das duas areias em índices de vazios próximos. Pelo gráfico, torna-se clara a diferença de
comportamento das areias, sendo a areia alterada mais compressível em comparação à areia
sã, mesmo quando testadas com índices de vazios iniciais semelhantes.
1 10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
0.60
0.65
0.70
0.75
0.80
índice de vazios
Solos
Areia sã fofa
Areia alterada densa
Figura 6.4 – Variação de índice de vazios das amostras de areia sã fofa (e
0
= 0,74) e alterada
densa (e
0
= 0,75).
Pelo gráfico da Figura 6.4, a compressibilidade das areias é aproximadamente igual
para valores de tensão normal de até 100kPa, pelo paralelismo das curvas de compressão. A
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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partir deste valor, a diferença de compressibilidade entre as duas areias aumenta
consideravelmente, de forma que para valores de tensão normal entre 400kPa e 1600kPa, o
coeficiente de compressibilidade da areia alterada é duas vezes superior ao coeficiente da
areia sã. Com isto, a presença da cimentação na areia alterada não conduz a alterações no
comportamento quanto à compressibilidade até valores de tensão normal próximos à 100kPa.
A diferença de compressibilidade verificada para veis de tensões verticais acima deste valor
sugere que um vel de tensões verticais a partir do qual ocorre um princípio de quebra de
cimentação e a areia alterada experimenta maiores deformações verticais em comparação à
areia sã. Ao final do estágio de carregamento, a areia alterada apresenta maior redução de
índice de vazios em comparação à areia com mesmo índice de vazios inicial, porém ainda
apresenta maior índice de vazios do que a areia em estado inicial denso, o que indica que a
aplicação de um carregamento de 1600kPa não foi suficiente para romper totalmente a
estrutura entre os grãos, remanescendo ligações estruturais que impedem que os índices de
vazios das amostras de areia alterada e sã em estado inicial denso se aproximem.
6.3.3. Características quanto à resistência ao cisalhamento e deformabilidade
Os dois solos arenosos estudados neste trabalho apresentam diferenças em relação à
resistência ao cisalhamento, da mesma forma como foi verificado em relação ao
comportamento quanto à compressibilidade. Os resultados dos ensaios de cisalhamento direto
em termos de ângulos de atrito interno (Tabela 5.5) mostram comportamentos distintos entre
as duas areias. É importante ressaltar que, assim como verificado nos ensaios de compressão
confinada, amostras de areia e alterada com mesmos graus de compactação (densas e fofas)
mantém índices de vazios diferentes, embora preparadas com o mesmo todo de
compactação (Tabelas 4.4 e 4.5), pela presença de cimentação na superfície dos grãos de areia
alterada.
Como características principais observadas nos ensaios de cisalhamento direto, pode-
se afirmar que o comportamento da areia é diferenciado em relação ao comportamento da
areia alterada. Ambas as areias apresentam parâmetros de resistência ao cisalhamento a
grandes deformações independentes do grau de compactação inicial (densidade relativa), o
que condiz com o comportamento conhecido de areias.
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Os ensaios em areia sã, tanto em estado seco como em estado inundado, evidenciam
um comportamento típico de solos arenosos quanto à resistência ao cisalhamento. Foram
caracterizadas duas densidades distintas, com um estado compacto e índice de vazios inicial
médio aproximado de 0,45 e em um estado fofo com índice de vazios inicial médio
aproximado de 0,70, ambos os valores obtidos após a etapa de adensamento do ensaio. Foi
verificada a ocorrência de uma resistência de pico para as amostras em estado inicial denso e
uma resistência constante bem definida a grandes deformações para amostras densas e fofas.
De acordo com a Tabela 5.5 e a Figura 5.2, a areia apresenta um pronunciado
ângulo de atrito interno de pico (44°), o que pode ser explicado pelo baixo índice de vazios
obtido na moldagem dos corpos de prova densos, sendo que este valor não apresentou
alteração significativa com a variação do teor de umidade. Verificou-se também que o ângulo
de atrito interno a grandes deformações para este material é de aproximadamente 34° para as
amostras secas e 33° para as amostras inundadas, o que revela a pequena variação dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento da areia em função do teor de umidade das
amostras.
Com relação à areia alterada, a Tabela 5.5 revela que as amostras em estado denso de
areia alterada não apresentam picos de tensões cisalhantes. Ao se analisar as Tabelas 4.4 e 4.5,
verifica-se que os índices de vazios das amostras de areia alterada em estado inicial denso,
após a etapa de adensamento do ensaio de cisalhamento direto, ainda são superiores aos
valores verificados para a areia densa, o que contribui para seu comportamento típico de
areia em estado fofo, sem apresentação de resistência ao cisalhamento de pico. Foi verificada
que o ângulo de atrito interno apenas para grandes deformações se mantém independente do
grau de compactação inicial, mas é expressivamente influenciado pelo teor de umidade das
amostras. Foram calculados os ângulos de atrito interno de 39° para as amostras secas e 32,5°
para as amostras inundadas, revelando um aumento significativo da resistência com a
diminuição do teor de umidade.
Comparando-se diretamente os parâmetros dos dois solos, na condição inundada, os
ângulos de atrito interno das areias e alterada são aproximadamente iguais para grandes
deformações, entre 32° e 33°, tanto para condições iniciais densas como fofas. Desta forma,
pode-se afirmar que a presença da cimentação em torno dos grãos de areia alterada não causa
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
113
influência no ângulo de atrito interno a grandes deformações das areias em condição de
inundação, mesmo que a presença deste material tenha levado a areia alterada a apresentar
índices de vazios superiores aos índices de vazios da areia o cimentada. Na condição seca, a
resistência ao cisalhamento da areia alterada é significativamente superior à resistência da
areia sã na mesma condição.
Os ângulos de atrito interno calculados a partir dos ensaios triaxiais, ilustrados na
Tabela 5.7, mostram que o ângulo de atrito interno de pico da areia é de aproximadamente
44° e o ângulo de atrito a grandes deformações é de aproximadamente 37º para amostras
inicialmente densas e 36° para amostras inicialmente fofas. Para as amostras de areia alterada,
os valores obtidos são de aproximadamente 34° para amostras inicialmente densas e 31° para
amostras inicialmente fofas, indicando uma pequena variação em função do grau de
compactação inicial. Da mesma forma como observado nos ensaios de cisalhamento direto,
o são observadas tensões de pico para amostras de areia alterada inicialmente densas.
Observa-se que os ângulos de atrito interno calculados através dos ensaios de cisalhamento
direto com amostras inundadas e através dos ensaios triaxiais não apresentam diferenças
significativas, embora tenha sido observado que os valores calculados por meio dos ensaios
triaxiais são ligeiramente superiores.
A Figura 6.5 apresenta os dados de ensaios triaxiais em areia sã, em estado inicial
denso, com índice de vazios médio inicial de 0,53 e em estado inicial fofo, com índice de
vazios inicial médio de 0,70. Pelo gráfico, é possível verificar novamente um comportamento
característico de solos arenosos, tanto em relação à mobilização de tensões como em relação
às deformações volumétricas. Pode-se perceber que os valores estabilizados de tensão desvio
a grandes deformações são levemente superiores para as amostras inicialmente densas em
comparação ao mesmo valor obtido com as amostras inicialmente fofas.
Na Figura 6.6, são mostrados os gráficos com os resultados de ensaios triaxiais em
areia alterada em estado inicial denso, com índice de vazios dio aproximado de 0,75 e em
estado inicial fofo, com índice de vazios médio de 0,96. Observa-se a ausência de tensões de
pico para as amostras densas e o comportamento contrativo para todas as amostras, da mesma
forma como verificado nos ensaios de cisalhamento direto.
Com relação às deformações volumétricas, para a areia sã, são verificadas
deformações de expansão volumétrica nos ensaios em estado inicial denso e pequenas
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deformações de contração inicial, seguidas de expansão para as amostras inicialmente fofas,
de modo que as deformações totais ao final dos ensaios foram levemente expansivas. Foi
observado que as deformações foram maiores para tensões confinantes maiores, tanto para
amostras densas como para amostras fofas.
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
0
100
200
300
400
500
t (kPa)
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
-1
0
1
2
3
4
5
Def. Volumétrica (%)
Tensão Confinante / Grau de compactação
50 kPa - densa
100 kPa - densa
200 kPa - densa
50 kPa - fofa
100 kPa - fofa
200 kPa - fofa
Figura 6.5 – Comparação de resultados de ensaios triaxiais para areia sã, em estados iniciais
densos (e
0
= 0,53) e fofos (e
0
= 0,70).
Para a areia alterada, as deformações volumétricas foram acentuadamente de
compressão, sendo que as amostras fofas apresentam maiores reduções de volume. É
observado também que as amostras inicialmente fofas apresentam uma tendência de
estabilização de deformações, enquanto para as amostras inicialmente densas, um
comportamento expansivo para níveis de deformação axial superiores a 10%.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
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A expressiva redução volumétrica ocorrida nas amostras de areia alterada indica que,
durante o cisalhamento, a cimentação dos grãos deste material sofre uma considerável quebra,
o que leva a uma aproximação dos grãos e conseqüente redução de volume e de índices de
vazios. A redução de volume no decorrer do ensaio leva as amostras de areia alterada a
índices de vazios mais próximos aos verificados para a areia sã, proporcionando a verificação
de ângulos de atrito interno aproximadamente iguais a grandes deformações para os dois
materiais. uma grande redução de índice de vazios das amostras de areia alterada densa, o
que faz com que este material, com este grau de compactação inicial, apresente uma pequena
expansão de volume para deformações axiais mais elevadas.
0 5 10 15 20
Deformação axial (%)
0
100
200
300
400
500
t (kPa)
0 5 10 15 20
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
Def. Volumétrica (%)
Tensão Confinante / Grau de compactação
50 kPa - densa
100 kPa - densa
200 kPa - densa
50 kPa - fofa
100 kPa - fofa
200 kPa - fofa
Figura 6.6 – Comparação de resultados de ensaios triaxiais para areia alterada, em estados
iniciais densos (e
0
= 0,75) e fofos (e
0
= 0,95).
O programa de ensaios apresentado contemplou a análise do comportamento mecânico
das areias quando ensaiadas sob dois teores de umidade distintos, comparando os resultados
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obtidos nestas duas condições. As Figuras 6.7 e 6.8 apresentam comparações diretas entre os
resultados de ensaios entre areias em estado seco e inundado, para ambas as areias.
A Tabela 6.2 apresenta os índices de vazios ao icio da etapa de cisalhamento de cada
amostra de areia sã, bem como a tensão cisalhante verificada a grandes deformações,
enquanto a Figura 6.7 mostra uma comparação entre os resultados de areia sã, nas condições
seca e inundada. A Figura 6.7a mostra os gráficos de deslocamento horizontal x tensão
cisalhante e deslocamento horizontal x deslocamento vertical para as amostras de areia em
estado seco, nas condições inicialmente densa e inicialmente fofa e a Figura 6.7b mostra os
mesmos gráficos obtidos nas amostras de areia na condição inundada. Pela Tabela 6.2, os
valores médios de índice de vazios das amostras foram de 0,45 na condição densa e 0,70 na
condição fofa, de forma que as amostras secas e inundadas foram ensaiadas a partir dos
mesmos índices de vazios.
Tabela 6.2 – Dados das amostras de areia sã nos ensaios de cisalhamento direto.
Condição de
Umidade
Grau de
compactação
inicial
Tensão
normal
(kPa)
Índice de
vazios
Tensão cisalhante
a grandes
deformações (kPa)
50 0,47 37,43
100 0,45 71,92
200 0,43 138,23
Denso
300 0,43 202,71
50 0,73 36,59
100 0,70 70,08
200 0,73 127,24
Seca
Fofo
300 0,67 216,71
50 0,48 37,11
100 0,44 70,32
200 0,43 139,26
Denso
300 0,44 180,89
50 0,75 34,33
100 0,71 68,31
200 0,67 133,64
Inundada
Fofo
300 0,68 199,65
Observa-se que não houve variação significativa dos resultados, tanto com respeito às
tensões cisalhantes como em relação à deformação das amostras ao longo do ensaio, em
função dos diferentes teores de umidade. Nota-se claramente a ocorrência de tensões de pico e
a expansão de volume das amostras inicialmente densas, observando-se também que as
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
117
tensões cisalhantes das amostras inicialmente densas e inicialmente fofas, para uma mesma
tensão normal, convergem para um valor único a grandes deslocamentos horizontais.
Observa-se também a estabilização das deformações volumétricas para um mesmo valor de
deslocamento horizontal para o qual se inicia a estabilização das tensões cisalhantes no plano
de ruptura das amostras.
A comparação direta dos resultados, apresentada na Figura 6.7, permitiu caracterizar
um comportamento mecânico típico dos solos arenosos para a areia sã, tanto em estado inicial
denso como em estado inicial fofo. Os materiais apresentam os mesmos índices de vazios nas
condições seca e inundada e revelam o mesmo comportamento mecânico durante o
cisalhamento, o que leva a concluir que o comportamento deste material sofre reduzida
influência da condição de saturação.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.2
0.0
0.2
0.4
0.6
Deslocamento Vertical (mm)
50 kPa densa
100 kPa densa
200 kPa densa
300 kPa densa
50 kPa fofa
100 kPa fofa
200 kPa fofa
300 kPa fofa
(a)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-0.2
0.0
0.2
0.4
0.6
Deslocamento Vertical (mm)
50 kPa densa
100 kPa densa
200 kPa densa
300 kPa densa
50 kPa fofa
100 kPa fofa
200 kPa fofa
300 kPa fofa
(b)
Figura 6.7 – Comparação entre os resultados dos ensaios de cisalhamento direto em areia sã:
(a) seca; (b) inundada.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
118
A Tabela 6.3 apresenta os índices de vazios ao icio da etapa de cisalhamento das
amostras de areia alterada, bem como as tensões cisalhantes aproximadas obtidas a grandes
deformações. Os ensaios em areia alterada, ao contrário do comportamento verificado para a
areia sã, mostram uma grande variação de índice de vazios ao término da etapa de
adensamento, levando as amostras com maiores tensões normais a apresentarem maior
redução de índice de vazios. Assim, as amostras de areia alterada, para uma mesma condição
de umidade e compactação, iniciam a etapa de cisalhamento sob diferentes índices de vazios.
Tabela 6.3 – Dados das amostras de areia alterada nos ensaios de cisalhamento direto.
Condição de
Umidade
Grau de
Compactação
Inicial
Tensão
normal
(kPa)
Índice de
vazios de
moldagem
Índice de
vazios após
adensamento
Tensão cisalhante
a grandes
deformações (kPa)
50 0,73 0,69 49,55
100 0,73 0,59 90,63
200 0,74 0,55 174,45
Denso
300 0,70 0,45 231,21
50 1,00 0,93 42,90
100 1,18 0,97 77,55
200 1,03 0,89 167,46
Seca
Fofo
300 1,00 0,84 245,30
50 0,70 0,58 29,52
100 0,69 0,47 59,56
200 0,72 0,46 121,78
Denso
300 0,73 0,49 198,94
50 1,17 0,72 34,08
100 1,12 0,63 65,59
200 0,99 0,57 130,36
Inundada
Fofo
300 1,01 0,46 187,63
A Figura 6.8 ilustra os resultados de ensaios de cisalhamento em areia alterada, onde é
possível comparar o efeito da saturação neste material. A Figura 6.8a apresenta os resultados
de ensaios em areia alterada seca e a Figura 6.8b apresenta os resultados de ensaios em areia
alterada inundada. As amostras de areia alterada inundadas, para uma mesma tensão normal e
compactação inicial, apresentam maior redução de índice de vazios em comparação às
amostras secas, revelando que a areia alterada pode apresentar diferença de compressibilidade
com a variação do teor de umidade. Nota-se também que a areia alterada na condição seca
apresentou maiores tensões cisalhantes, o que se refletiu no maior ângulo de atrito interno
verificado nesta condição.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
119
Durante os ensaios de cisalhamento direto a areia alterada na condição inundada
apresentou maiores deformações de redução de volume em relação à areia alterada seca.
Através das Tabelas 4.4 e 4.5, constata-se que os índices de vazios das amostras de areia
alterada seca no icio da etapa de cisalhamento são superiores aos índices de vazios das
amostras do mesmo material na condição inundada, com valores médios aproximados de 0,55
para a areia seca densa e 0,48 para a areia inundada densa. Na condição fofa, os valores
médios foram de 0,90 para amostras secas e 0,60 para amostras inundadas, pois houve uma
grande variação dos índices de vazios na etapa de carregamento vertical.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-1.2
-1.0
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
Deslocamento Vertical (mm)
50 kPa densa
100 kPa densa
200 kPa densa
300 kPa densa
50 kPa fofa
100 kPa fofa
200 kPa fofa
300 kPa fofa
(a)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-1.2
-1.0
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
Deslocamento Vertical (mm)
50 kPa densa
100 kPa densa
200 kPa densa
300 kPa densa
50 kPa fofa
100 kPa fofa
200 kPa fofa
300 kPa fofa
(b)
Figura 6.8 – Comparação entre os resultados de areia alterada (a) seca; (b) inundada.
Quando ensaiadas na condição inundada as duas areias apresentaram ângulos de atrito
para grandes deformações semelhantes, com o valor entre 32° e 34°, tanto para condições
iniciais densas como fofas. A areia teve um pequeno aumento do ângulo de atrito interno
na condição seca quando comparado com a condição inundada, assumindo valores de
aproximadamente 34, na condição seca. Por outro lado, a areia alterada apresentou um
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
120
considerável aumento do ângulo de atrito interno na condição seca, com ângulo de atrito de
39° quando seca e 32,5° no caso inundado.
6.3.3.1 Curva de sucção x grau de saturação
A fim de se obter uma melhor compreensão sobre as possíveis causas das diferenças
apontadas, foi determinada a curva de sucção das areias a partir da determinação dos valores
de sucção média para diferentes teores de umidade. Para se obter a curva de cada areia, foram
obtidos experimentalmente sete pontos em um gráfico teor de umidade x sucção média a
partir de corpos de prova moldados com a mesma técnica de compactação utilizada
anteriormente, a diferentes teores de umidade.
O primeiro teor de umidade refere-se ao teor de umidade das amostras secas ao ar, o
qual corresponde ao teor de umidade das amostras ensaiadas na condição seca. Para a
determinação deste valor, foi efetuada a medição do teor de umidade de cada areia após
secagem em estufa e posterior período de exposição ao ar. O valor de umidade mais alto
corresponde ao teor de umidade alcançado por cada areia após inundação. Para ambas as
areias, este valor foi determinado após a execução de dois ensaios de cisalhamento direto
inundados, onde foram tomadas amostras das areias ensaiadas e medido o teor de umidade
conforme prescrições da Norma Brasileira NBR 6457/86 (ABNT, 1986). Os cinco pontos
intermediários foram tomados com teores de umidade uniformemente distribuídos dentro da
faixa de variação entre os teores de umidade mínimo e máximo.
As a determinação dos teores de umidade, foram moldadas amostras de cada areia,
com o mesmo índice de vazios, em moldes cilíndricos com dimensões padrão de 2cm de
altura e 5cm de diâmetro. Todas as amostras foram moldadas com índice de vazios de 0,75,
correspondente a um estado denso da areia alterada e um estado fofo da areia sã. Para a
determinação da sucção, foi empregado o método do papel filtro, o qual é descrito com
detalhes por Rodrigues (1997). As amostras foram moldadas em estado seco com posterior
umedecimento, até se atingir os graus de saturação estipulados para o ensaio.
A Figura 6.9 mostra as curvas de sucção obtidas para ambas as areias (grau de
saturação x sucção média). Observa-se inicialmente que não foi possível atingir um estado de
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
121
saturação completo das amostras, visto que os valores máximos de saturação observados do
gráfico, referentes à condição de inundação, encontram-se em 70% para a areia sã e 60% para
a areia alterada. As curvas de saturação x sucção são bastante semelhantes para ambas as
areias até graus de saturação de 25%. A partir deste valor de saturação ocorre um pronunciado
incremento de sucção até valores de 30-40MPa. A partir de 25% de saturação, a areia alterada
já passa a ter grandes valores de sucção enquanto que a areia apresenta este aumento para
valores inferiores a 15% (o um ponto intermediário na curva). Portanto, a areia alterada
apresenta influência da sucção em um intervalo de grau de saturação bem mais amplo do que
a areia sã.
Deve-se ressaltar que, por o haver um ponto intermediário entre os pontos
correspondentes aos graus de saturação 15% e próximo a zero, o se pode definir com
exatidão, a partir da curva obtida, o grau de saturação para o qual ocorre o aumento da sucção
na areia sã, havendo a possibilidade de que este grau de saturação seja inferior a 15%.
1 10 100 1000 10000 100000
Suão média (kPa)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Grau de saturação (%)
Solos
Areia sã
Areia alterada
Figura 6.9 – Curva característica de sucção x grau de saturação das areias.
O material que envolve os grãos da areia alterada, às vezes tendo um papel cimentante,
apresenta um aspecto poroso e fraturado, o que faz com que esta areia tenha uma curva de
sucção bastante diferenciada da areia sã. Para baixos veis de umidade, formam-se meniscos
capilares nos poros e fissuras do material, o que promove um aumento da resistência deste
material aderido e resulta em um aumento da resistência ao cisalhamento do solo alterado. A
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
122
variação do ângulo de atrito da areia alterada em função do grau de saturação foi de cerca de
7°.
A areia não apresenta material cimentante entre os grãos, o que faz com que os
meniscos sejam formados somente em um pequeno número de reentrâncias da superfície dos
grãos para baixos valores de umidade. Desta forma, não mudança do ângulo de atrito
interno entre grãos para baixos teores de umidade.
6.3.3.2 Características de resistência ao cisalhamento e deformabilidade sob mesmos
índices de vazios
Uma análise complementar dos resultados de ensaios de cisalhamento direto foi feita
ao se comparar o comportamento das areias submetidas a ensaios sob índices de vazios e
tensões normais semelhantes. A Figura 6.10 apresenta os gráficos tensão cisalhante x
deslocamento horizontal e deslocamento vertical x deslocamento horizontal para quatro
amostras de areia, sendo duas de areia e duas de areia alterada. A figura mostra dois
ensaios com tensões normais de 50kPa em dois corpos de prova com índices de vazios em
torno de 0,73, um de cada areia e outros dois ensaios com tensão de 300kPa com índices de
vazios de 0,45 também com os dois materiais. Todos os ensaios foram executados em
condições de inundação e os índices de vazios foram determinados após a aplicação da carga
vertical do ensaio.
O exame dos resultados mostra que ocorrem diferenças significativas de
comportamento entre amostras comparáveis. As duas areias ensaiadas sob tensão normal de
300kPa, e índice de vazios de 0,45, apresentam tensões cisalhantes a grandes deformações
idênticas, de aproximadamente 180kPa. Porém, o comportamento quanto à resistência
mobilizada durante o ensaio foi sensivelmente diverso. A areia sã apresenta um pico de
resistência pronunciado, com posterior queda de tensão até que se atingisse a tensão
cisalhante constante. A areia alterada não apresenta pico de resistência, mas um crescimento
contínuo até os valores máximos verificados. Em relação à variação volumétrica, a areia
apresenta comportamento dilatante, enquanto a areia alterada apresenta redução de volume.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
123
Para as areias ensaiadas sob tensão normal de 50kPa, e índice de vazios de 0,73, o
comportamento de mobilização de resistência ao cisalhamento durante o ensaio foi muito
semelhante, com curvas praticamente sobrepostas. No entanto, praticamente não variação
de volume da amostra de areia ao final do ensaio, enquanto a redução de volume da areia
alterada é acentuada. Assim, nos ensaios de cisalhamento direto a areia alterada apresenta
redução volumétrica em todos os veis de tensão vertical e índices de vazios testados, o que
se entende como resultado da quebra do material ligante entre os grãos durante o
cisalhamento.
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
0
100
200
300
400
Tensão cisalhante (kPa)
0 2 4 6 8
Deslocamento horizontal (mm)
-1.20
-1.00
-0.80
-0.60
-0.40
-0.20
0.00
0.20
0.40
0.60
Deslocamento vertical (mm)
Material
Areia sã (e=0,44)
Areia alterada (e=0,46)
Areia sã (e=0,75)
Areia alterada (e=0,72)
Figura 6.10 – Comparação de resultados de ensaios de cisalhamento direto de areia sã e
alterada sob mesmos índices de vazios – condição inundada.
A Figura 6.11 apresenta uma comparação entre ensaios realizados com amostras de
areia e alterada com índices de vazios aproximados e para mesmas tensões confinantes. São
apresentados dois pares de resultados, um com tensão confinante de 50kPa e o outro com
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
124
tensão confinante de 200kPa. Para os ensaios em 50kPa, a amostra de areia apresentou
índice de vazios de 0,71 e a amostra de areia alterada apresentou índice de vazios de 0,73.
Para as amostras submetidas à tensão confinante de 200kPa, os índices de vazios da areia e
alterada foram de 0,68 e 0,72, respectivamente. Para os dois veis de tensão, as amostras de
areia encontravam-se em estado inicial fofo enquanto as amostras de areia alterada
encontravam-se em estado inicial denso.
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
0
100
200
300
400
500
t (kPa)
0 5 10 15 20
deformação axial (%)
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
Def. Volumétrica (%)
Material
Areia alterada (e=0,73)
Areia sã (e=0,71)
Areia alterada (e=0,72)
Areia sã (e=0,68)
Figura 6.11 – Ensaios triaxiais em areia sã e alterada sob mesmos índices de vazios.
Apesar de estarem em estado inicial denso, as amostras de areia alterada não
apresentam tensões de pico, além de apresentarem redução acentuada de volume. Igualmente,
ao se comparar os resultados dos ensaios das duas areias, observa-se uma menor rigidez
inicial das amostras de areia alterada. Assim, ao contrário do comportamento verificado em
solos estruturados, o material ligante presente entre os grãos de areia alterada causa uma
__________________________________________________________________________________________
Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
125
redução da rigidez em relação à areia sã. Isto indica que a cimentação verificada para a areia
alterada consiste em uma cimentação a vel de grãos. O solo, ao ser submetido a
cisalhamento, apresenta uma pequena restrição a movimento apenas em relação aos grãos que
se encontram unidos pelo material de cimentação. Entretanto, como este material é mais
compressível que os grãos de areia, o comportamento global da amostra torna-se menos
gido. Isto explicaria porque a rigidez do conjunto torna-se menor, o que foi evidenciado
pelos ensaios de cisalhamento direto e triaxiais.
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126
7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
7.1 CONCLUSÕES
Os solos arenosos da região da planície costeira do estado do Rio Grande do Sul têm
sido bastante estudados em relação às suas características geológicas, especialmente quanto a
sua origem e formação. Entretanto, constatou-se a ausência de trabalhos referentes às
principais propriedades geotécnicas destes solos. Com isto, este trabalho se apresenta como
uma contribuição ao levantamento inicial das características do comportamento mecânico dos
solos arenosos litorâneos e de alguns dos processos de modificação da sua composição e
estrutura.
As principais conclusões que foram estabelecidas nesta dissertação foram:
7.1.1. Ensaios de caracterização
Pela análise das curvas granulométricas das duas areias, conclui-se que ambos os solos
são predominantemente arenosos, com pouca presença de finos. As duas areias
apresentam acentuada uniformidade na distribuição de grãos, o que constitui uma
característica típica de solos arenosos de depósitos eólicos.
A areia com alteração apresenta grãos com diâmetro efetivo dio e peso específico
ligeiramente superiores à areia sã, bem como uma maior irregularidade da superfície
dos grãos. Constatou-se que a areia alterada é constitda predominantemente da
fração areia média, enquanto a areia é constitda predominantemente da fração
areia fina.
A moldagem de corpos de prova das areias permitiu verificar que, para procedimentos
idênticos de moldagem e densidades relativas semelhantes, os índices de vazios das
areias são consideravelmente diferentes. De modo geral, foi constatado que o índice de
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
127
vazios mínimo obtido para a areia alterada é aproximadamente igual ao índice de
vazios máximo da areia sã. Deve-se ressaltar que as definições de índices de vazios
máximo e mínimo aqui empregadas referem-se aos valores obtidos por meio dos
procedimentos adotados para moldagem durante este trabalho, não se referindo aos
procedimentos definidos por norma para obtenção destes parâmetros. Posteriormente,
concluiu-se que a presença de um material cimentante em torno dos grãos de areia
alterada constitui-se em uma barreira sica, impondo uma restrição à aproximação dos
grãos, impedindo que se atinjam índices de vazios iguais aos obtidos para a areia sã,
para um mesmotodo de compactação.
7.1.2. Ensaios de compressão confinada
Nos ensaios de compressão confinada, a areia alterada apresenta maiores deformações
do que a areia quando preparada com o mesmo método de compactação, já que está
sob maiores índices de vazios. Mais ainda, quando comparados ensaios de compressão
confinada das duas areias sob índices de vazios próximos (aproximadamente 0,75), as
deformações verticais da areia alterada são superiores. Nesta situação, os índices de
compressão calculados para a areia e alterada, para veis de tensão entre 400kPa e
1600kPa, são 0,054 e 0,108, respectivamente.
Para veis de tensão vertical inferiores a 100kPa, as areias apresentam
comportamento similar, sob índices de vazios aproximados, o que pode ser observado
pelo paralelismo das curvas de compressão.
Quanto aos índices de recompressão, os valores são aproximadamente iguais, com
valores próximos a 0,011, indicando que o diferença significativa de
comportamento entre os dois materiais durante o descarregamento.
7.1.3. Ensaios de cisalhamento direto
As principais conclusões acerca do comportamento dos solos quando submetidos ao
ensaios de cisalhamento direto podem ser tomadas separadamente, para cada areia, e
comparativamente, entre os dois materiais.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
128
Quanto à areia sã, as principais conclusões extraídas dos ensaios de cisalhamento
direto são:
O comportamento de mobilização da resistência foi pico dos solos arenosos, com a
ocorrência de pico de resistência, seguido de queda e estabilização de tensões
cisalhantes, para corpos de prova densos. Para corpos de prova fofos, foram atingidos
valores máximos de tensão cisalhante, os quais permaneceram estáveis até o final dos
ensaios.
Não foi verificada a ocorrência de intercepto coesivo, mesmo para as amostras em
estado denso. As envoltórias de resistência ao cisalhamento a grandes deformações no
estado denso são muito próximas às envoltórias definidas com amostras em estado
fofo, indicando que o ângulo de atrito interno da areia sã, a grandes deformações, é
único, independente da densidade inicial.
Não foi observada variação significativa de comportamento da areia com relação às
condições de umidade dos ensaios. A areia na condição inundada apresenta
comportamento similar ao observado na condição seca. O ângulo de atrito interno de
pico e a grandes deformações não é influenciado pela variação de umidade empregada
neste trabalho.
A areia apresenta ângulos de atrito interno de pico e a grandes deformações
distintos e bem definidos (valores de 44° e 32,4°, respectivamente).
As amostras densas apresentam marcante aumento de altura de amostra, refletindo
uma expansão volumétrica. As amostras fofas tendem a apresentar variação nula de
volume ao final dos ensaios.
Com relação à areia alterada, as principais características observadas dos ensaios de
cisalhamento direto foram:
Não são verificados picos de resistência, tanto para corpos de prova mais densos como
para corpos de prova mais fofos. Em alguns ensaios, foi constatada a tendência de
aumento de tensões cisalhantes mesmo para grandes valores de deslocamento
horizontal.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
129
Para um mesmo teor de umidade, as amostras de areia alterada densas e fofas
apresentam envoltórias de resistência ao cisalhamento coincidentes, indicando que a
resistência a grandes deformações mobilizada durante o ensaio independe dos graus de
compactação iniciais.
uma grande influência da saturação dos corpos de prova no comportamento
mecânico da areia alterada. Na condição seca, este solo tem ângulo de atrito interno
consideravelmente superior à condição inundada (39° e 32,5°, respectivamente).
Para mesmos métodos de compactação e condição de umidade, as amostras ensaiadas
sob maiores tensões normais apresentam maior redução de índice de vazios na etapa
de consolidação. Foi observado que uma maior redução de altura das amostras
inundadas, em comparação às amostras secas, revelando que a compressibilidade da
areia alterada pode variar em função do teor de umidade.
Todas as amostras, independente da densidade inicial, apresentaram contração de
volume durante o cisalhamento, com as amostras inicialmente fofas apresentando
maiores variações de altura de amostra em relação às amostras inicialmente densas.
Uma análise comparativa do comportamento dos dois solos permite extrair as
seguintes conclusões:
Ambas apresentam parâmetros de resistência ao cisalhamento a grandes deformações
independentes da densidade inicial, o que condiz com o comportamento de solos
arenosos.
Somente a areia apresentou resistência ao cisalhamento de pico, o que se explica
pelos baixos índices de vazios obtidos para as amostras deste solo em estado denso
(aproximadamente 0,50). A areia alterada apresentou índices de vazios de
aproximadamente 0,75 das amostras densas, similar aos valores máximos obtidos das
amostras fofas de areia sã. Desta forma, a areia alterada não apresentou índice de
vazios baixo o suficiente para induzir à ocorrência de tensões de pico.
A variação de umidade imposta às areias neste trabalho não influencia o
comportamento da areia sã. No entanto, uma grande variação de ângulo de atrito
interno é observada na areia alterada.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
130
Na condição inundada, ambas as areias apresentaram ângulos de atrito interno a
grandes deformações aproximados, com valor entre 32° e 33°.
7.1.4 Ensaios triaxiais
As principais conclusões com respeito aos ensaios triaxiais realizados são:
Ambas as areias apresentaram comportamento similar ao verificado por meio dos
ensaios de cisalhamento direto, quanto à mobilização de resistência e deformações
volumétricas. Nos ensaios triaxiais, o foram observadas tensões de pico para a areia
alterada, enquanto a areia apresentou um pico de resistência e queda posterior de
resistência bem definidos.
Para a areia sã, o ângulo de atrito interno de pico calculado é de 44,4°, próximo ao
observado nos ensaios de cisalhamento direto. Para grandes deformações, foram
obtidos valores entre 36° e 37°, ligeiramente superiores aos valores calculados através
dos ensaios de cisalhamento direto.
A areia alterada apresentou uma perceptível variação do ângulo de atrito a grandes
deformações com relação à densidade inicial. As amostras inicialmente densas
apresentam ângulo de atrito interno de 34°, enquanto as amostras inicialmente fofas
apresentam ângulo de atrito interno de 31°.
Foi observado um marcante comportamento dilatante das amostras de areia densa.
As amostras deste material em estado fofo apresentaram ligeira tendência à dilatação
volumétrica. Em ambas as condições de densidade, foi verificada uma tendência de
aumento de dilatação volumétrica das amostras de areia com o aumento das tensões
confinantes.
A areia alterada apresentou redução de volume em todas as amostras, com as amostras
inicialmente fofas apresentando maiores reduções em comparação às amostras
inicialmente densas. As amostras com maiores tensões confinantes apresentaram uma
redução na magnitude da contração.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
131
A areia alterada apresenta rigidez inicial inferior à rigidez da areia sã, para mesmas
tensões confinantes e mesma densidade. Para amostras com mesmos índices de vazios
iniciais, esta situação também é verificada.
7.1.5 Sucção
A partir da obtenção da curva de sucção das duas areias, concluiu-se que:
As curvas características de sucção x grau de saturação de ambas as areias são
semelhantes para graus de saturação superiores a 25%.
Para graus de saturação inferiores a 25%, é verificado um aumento da sucção da areia
alterada, até que se atinjam valores entre 30 e 40MPa, os quais foram próximos aos
observados para areia em grau de saturação próximo a zero. No entanto, o grau de
saturação para o qual o incremento de sucção da areia não pode ser determinado
com precisão através da curva obtida. Somente pode-se concluir que este grau de
saturação é igual ou inferior a 15%, que não pontos intermediários entre os graus
de saturação 15% e zero.
Comparando-se as duas curvas características, a areia alterada apresenta influência de
sucção em um intervalo de grau de saturação mais amplo do que a areia sã. Para a
areia alterada, a partir de 25% e para a areia sã, somente para valores inferiores a 15%.
A presença de um material envolvendo os grãos de areia alterada leva a um aumento
da resistência ao cisalhamento deste material para baixos teores de umidade, pela
formação de meniscos capilares nos poros e fissuras deste material. Isto é consistente
com o aumento de resistência ao cisalhamento da areia alterada seca em relação ao
mesmo solo na condição inundada. Para a areia sã, que não apresenta este material em
quantidade significativa, não é verificada variação de resistência ao cisalhamento com
a saturação.
7.1.6 Caracterização por difração de raios-X e microscopia eletrônica
Os ensaios difratométricos permitiram que se conclsse que:
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
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Ambos os solos apresentam quartzo e feldspato alcalino como minerais componentes
dos grãos. Os difratogramas, bem como as características dos solos locais, sugerem
que o quartzo constitui-se no mineral predominante, com a ocorrência de feldspato
alcalino em quantidades menores. Os difratogramas igualmente indicam que a
proporção de ocorrência entre os minerais é a mesma em ambas as areias, o que
conduz à conclusão de que os grãos das areias solos são semelhantes quanto à
composição mineralógica.
Foi verificada a ocorrência de alguns argilominerais como componentes das partículas
da fração fina, como ilita, caolinita e vermiculita. Na análise dos difratogramas de
fração fina, também são observados picos referentes ao mineral quartzo.
A análise por meio de microscopia eletnica de varredura, em conjunto com a
espectrometria de energia dispersiva permitiu as seguintes avaliações:
Os grãos das areias são uniformes e a areia alterada apresenta grãos ligeiramente
maiores que a areia sã, ratificando-se as conclusões obtidas através das curvas
granulométricas.
uma semelhança entre o formato dos grãos das duas areias, porém a areia alterada
apresenta uma rugosidade acentuada na superfície, que não se deve ao formato do
grão, mas à presença de um material cimentante aderido à superfície dos grãos de areia
alterada.
Foi observada a significativa ocorrência de material cimentante recobrindo os grãos de
areia alterada. Verificou-se pelas imagens que este material, em alguns pontos, era
responsável pela união de dois ou mais grãos. O mesmo material foi observado em
alguns grãos de areia sã, mas em quantidades pouco significativas.
Como as duas areias são semelhantes quanto à composição mineralógica e
características físicas de grãos, as diferenças de comportamento mecânico entre os
dois solos decorre da presença de um material externo de recobrimento dos grãos de
areia alterada.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
133
A composição química do material de recobrimento e das ligações entre grãos varia de
ponto para ponto. Porém, os dois elementos predominantes neste material foram a
lica e hidróxidos de ferro, os quais não podem ser detectados por meio da difração de
raios-X por apresentarem características amorfas.
A presença de ferro em grande quantidade como componente do material cimentante
torna-se responsável pela marcante tonalidade castanho-avermelhada da areia alterada.
De uma forma geral, o material cimentante e as ligações entre grãos apresentam um
aspecto poroso e fraturado, porém com uma rigidez suficientemente grande que
permite que as ligações intergranulares sejam preservadas mesmo após a manipulação
das amostras para ensaio.
7.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Tendo em consideração que este trabalho teve características de levantamento e
verificação inicial de dados, sugere-se que alguns procedimentos e estudos sejam realizados
posteriormente, a fim de aprimorar e consolidar os conhecimentos sobre as características
pedológicas e geotécnicas das areias da região litorânea, integrando estes conhecimentos a
outras áreas, especialmente a geologia. São apresentadas também algumas sugestões quanto à
complementação de alguns ensaios já executados neste trabalho. Algumas sugestões para
temas de trabalhos futuros são:
Obtenção de parâmetros geotécnicos complementares das areias, como o índice de
vazios máximo e mínimo, através de ensaios normalizados ou por métodos
encontrados na literatura.
Verificação da compressibilidade das areias com a variação do teor de umidade.
Realização de ensaios de cisalhamento direto com diferentes teores de umidade das
amostras, verificando a influência da variação do teor de umidade da areia alterada na
sua resistência ao cisalhamento.
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Leandro Pereira Marcon. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2005.
134
Verificação da ocorrência de materiais contaminantes do solo local, com determinação
de possíveis fontes e mecanismos de contaminação e a ocorrência de outros elementos
contaminantes do solo local, e a extensão da contaminação com a verificação da área
de contaminação e quantidade de elementos contaminantes presentes.
Execução de ensaios sob níveis mais altos de tensões, para avaliar o comportamento
mecânico da areia com alteração quando submetida a veis de tensões mais elevados
e investigar a ocorrência de quebra de cimentação.
Avaliação do comportamento mecânico do material ao longo do perfil do terreno.
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Estudo comparativo do comportamento mecânico de duas areias de Osório – RS
135
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NBR 7181. Rio de Janeiro, 1984 13p.
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