Download PDF
ads:
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
A Informática na inclusão de pessoas portadoras de necessidades
especiais: a
Síndrome de Down e a Escola Comum
WARLLEY FERREIRA SAHB
Belo
Hori
zonte
2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Warlley Ferreira Sahb
A Informática na inclusão de pessoas portadoras de necessidades
especiais: a
Síndrome de Down e a Escola Comum
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Minas,
como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Educação.
Área de Concentração
: Sociologia e História Docente e da
Educação Escolar
Linha de Pesquisa
: Educação: direito à educação e políticas
educacionais
Orientador
: Prof. Dr. C
arlos Roberto Jamil Cury
Belo Horizonte
-
MG
2005
ads:
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autor
: Warlley Ferreira Sahb
Trabalho
:
A informática na inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais: a
Síndrome de Down e a Escola Comum.
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós-
Graduação
em Educação da PUC Minas.
Linha de Pesquisa
: Educação: direito à educação e políticas educacionais.
Belo Horizonte, 23 de setembro de 2005.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
______________
Prof. Dr. Júlio Romero Ferreira
-
UNIMEP
_____________________________________________
Prof. Dr. Simão Pedro Pinto Marinho
PUC Minas
_____________________________________________
Prof. Dr. Carlos Roberto Jamil Cury
Orientador
Dedico este trabalho a minha MÃE, exemplo de força e
determinação, em quem procuro me espelhar.
A meu PAI, mesmo ausente, sua presença se faz marcante
e sensível, inclusive nos ensinamentos que me deixou.
A PRISCILLA, que me fez e faz viver as melhores emoções
e os melhores sentimentos possíveis, pela paciência e
companheirismo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS, por tornar possível esta caminhada junto a pessoas tão especiais.
A todas as pessoas de minha família que, às vezes, mesmo sem perceberem, estavam
contribuindo para a realização deste percurso. Meu porto seguro.
Ao Prof. Dr. Cury, meu orientador e amigo, por utilizar sua “tesoura” nos momentos
necessários e, sobretudo, por me incentivar e inspirar em diversos outros, propor
cionando
oportunidades de aprendizagem incríveis. Obrigado por despertar em mim aquele “japonês”.
À Profa. Dra. Íris Amâncio, pessoa amiga, amável e profissional exemplar, por ter me apoiado
nesta caminhada. Obrigado por compreender a dispersão em determi
nados momentos.
À Laíse, pelas dicas de português e pela presteza que lhe é peculiar.
À Mary Ramos, pela alegria e amizade.
A todos os meus amigos de trabalho, pelas contribuições e pela paciência.
Ao Prof. Dr. José Wilson da Costa, por ter me oportunizado adentrar no campo da pesquisa e
pelo incentivo.
Ao Prof. Dr. Júlio Romero (UNIMEP), pelas referências e envio de trabalhos, mesmo à
distância.
A minha amiga Angela, pelos momentos alegres e inteligentes.
A todos os companheiros e amigos do Mestrado
, pelas discussões e idéias.
A todos da APAE Contagem, pessoas e profissionais que me acolheram muito bem naquele
espaço. Obrigado.
A todos os que colaboraram direta e indiretamente para a realização deste trabalho, sobretudo
às pessoas entrevistadas.
Ao
Ralph Augusto, consultor da Secretaria de Educação Especial do MEC, pela atenção,
profissionalismo e disponibilidade em atender minhas solicitações, disponibilizando
informações importantes para este trabalho.
“Senti e experimentei não
ser para admirar que o pão, tão
saboroso ao paladar saudável, seja enjoativo ao paladar
enfermo, e que a luz, amável aos olhos límpidos, seja
odiosa aos olhos doentes”.
Santo Agostinho
RESUMO
As discussões que envolvem o tema Educação Especial vêm ganhando destaque no campo de
estudos em Educação. Neste trabalho de pesquisa, procurou-se abarcar parte dessas
discussões, sobretudo, no que cabe ao debate das concepções da chamada escola inclusiva,
perpassando por temas controversos, tais como o próprio conceito de inclusão, integração,
exclusão e marginalização. Porém, toda essa discussão faz sentido à luz da legislação
nacional a respeito do tema. Foi isso que se propôs a fazer quando se lançou mão de uma
análise das normas legais que regem a educação nacional e também quando se fez isso numa
perspectiva histórica a respeito do campo educacional. Ao mesmo tempo, optou-se por
realizar uma análise da incorporação da utilização da tecnologia no espaço educacional,
sobretudo, porque se buscou analisar o impacto que o uso dos recursos da Informática, em
especial o computador, pode causar no processo de inclusão de portadores de necessidades
especiais na escola comum. Com esse intento, então, descreve-se o caso de Davi, um aluno
atendido pela APAE Contagem, participante de um projeto de extensão universitária realizado
pela PUC Minas Contagem, o Projeto APAE. Nesse espaço de investigação, Davi participou
de um curso básico de Informática oferecido por iniciativa de uma parceria entre a APAE
Contagem e a PUC Minas Contagem. Analisando o trabalho realizado com Davi nesse projeto
e juntando-se a isso informações recolhidas com uma profissional da educação na APAE
Contagem, com a mãe de Davi e estagiárias do Projeto APAE, pôde-se fazer um estudo a
respeito do aprendizado de Davi e as contribuições que tal aprendizado lhe trouxeram. Seu
processo de inclusão na escola comum e também nos demais espaços de sua convivência
indicou que a Infortica, trabalhada metodicamente, traz resultados efetivamente positivos
para tal processo. Na medida em que ajuda a desenvolver aspectos importantes para a
efetivação da chamada escola inclusiva, a Informática torna-se auxílio significativo para o
processo de equalização de pessoas com necessidades especiais.
Palavras
-
chave
: Educação Especial, Inclusão escolar, Tecnologia educacional, Infortica
na Educação e Legislação educacional.
ABSTRACT
The discussions involving the theme Special Education have been on the spotlight in
Education. This research work aimed at enveloping part of these discussions, mainly in
relation to the debate of the conceptions of the so-called inclusive school, treading through
controversial themes such as the concept of inclusion itself, integration, exclusion, and
marginalisation. Nevertheless, all this discussion only makes sense considering the national
legislation about the theme. In this sense, an analysis of the legal rules which regulate the
national education and its historical perspective about the educational field were relevant. At
the same time, an analysis of the incorporation of technology utilisation in the educational
space was an option above all due to the analysis of the impact the use of Computer Science
resources, especially the computer, can cause on the process of including people with special
needs in regular schools. Purposefully, there is a description of Davi’s case, a student
attending APAE Contagem who participates of a university extension project developed by
PUC Minas Contagem, the APAE Project. Within this investigation field
, David took part in a
basic course on Computer Science offered by a partnership between APAE Contagem and
PUC Minas Contagem. Analysing Davi’s work made in this project and adding information
gathered from a professional of education in APAE Contagem, Davi’s mother, and the APAE
Project trainees, a study about Davi’s learning and the contributions such learning brought to
him were possible. His inclusion process in a regular school and in other living spaces has
pointed that the Computer Science, methodically worked, brings effectively positive results to
such process. Whilst it helps develop important aspects to the effectivation of the so-
called
inclusive school, Computer Science becomes a meaningful aid to the equalisation process of
people with special
needs.
Key
-
words:
Special Education, School Inclusion, Education Technology, Computer Science
in Education and Education Legislation.
RESUMEN
Las discusiones que rodean el tema Educación Especial ganan destaque en el campo de los
estudios en Educación. En este trabajo de investigación, se buscó abarcar parte de esas
discusiones, sobre todo, en lo que se refiere al debate de las concepciones de la nombrada
escuela inclusiva, perpasando los temas polémicos como el propio concepto de inclusión,
integració
n, exclusión y marginalización. Sin embargo, toda esa discusión sólo tiene sentido a
la luz de la legislación nacional sobre el tema. Esa ha sido la propuesta cuando se recorrió a
un análisis de las normas legales que rigen la educación nacional y también cuando se lo hizo
en una perspectiva histórica a respeto del campo educacional. Al mismo tiempo, se optó por
realizar un análisis de la incorporación de la utilización de la tecnología en el espacio
educacional, sobre todo, porque se buscó analizar el impacto que el uso de los recursos de la
Informática, en especial la computadora, puede causar en el proceso de inclusión de
portadores de necesidades especiales en la escuela normal. Con ese intento, entonces, se
describe el caso de Davi, un alumno de la APAE Contagem y participante de un proyecto de
extensión universitaria realizado por la PUC Minas Contagem, el Proyecto APAE. En ese
espacio de investigación, Davi participó de un curso básico de Informática ofrecido por
iniciativa de una sociedad entre la APAE Contagem y PUC Minas Contagem. Analizando el
trabajo realizado con Davi en ese proyecto y uniéndoselo a las informaciones recogidas con
una profesional de la educación en la APAE Contagem, su madre y las practicantes del mismo
proyecto, se pudo hacer un
estudio sobre el aprendizaje del alumno y las contribuciones que el
aprendizaje le proporcionaron. Su proceso de inclusión en la escuela normal, e, incluso, en los
demás espacios de su convivencia señaló que la Informática, trabajada metódicamente, trae
resultados efectivamente positivos para tal proceso. A medida que ayuda a desarrollar
aspectos importantes para la efectividad de la llamada escuela inclusiva, la Informática se
hace auxilio significativo para el proceso de ecualización de personas con nec
esidades
especiales.
Palabras Clave
: Educación Especial, Inclusión en la escuela, Tecnología educacional,
Informática en la Educación e Legislación educacional.
LISTA DE TABELAS E QUADROS
T
A
BELA
1
E
STABELECIMENTOS DE
E
DUCAÇÃO
E
SPECIAL
................................
......................
33
T
ABELA
2
E
VOLUÇÃO DE
M
ATRÍCULAS DE
A
LUNOS COM
N
ECESSIDADES
E
SPECIAIS
.............34
T
A
BELA
3
N
ÚMERO DE ESTABELECIM
ENTOS E MATRÍCULAS N
O SISTEMA ESTADUAL D
E ENSINO
DE
M
INAS
G
ERAIS
................................
................................................................
......................
36
T
ABELA
4
– NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E MATRÍCULAS E
M
E
DUCAÇÃO
E
SPECIAL
M
UNICÍPIO DE
C
ONTAG
EM
MG
................................
................................
..............................
37
T
ABELA
5
-
C
RESCIMENTO DE
M
ATRÍCULAS DE
A
LUNOS DE
E
DUCAÇÃO
E
SPECIAL
..................39
T
ABELA
6
N
ÚMERO DE
M
ATRÍCULAS POR
T
IPO DE
N
ECESSIDADE
A
NO
2004
......................
40
Q
UADRO
1
-
P
ESSOAS ENVOLVIDAS NA
COLETA DE DADOS
........................................................
26
Q
UADRO
2
-
C
ONC
EPÇÕES E NOÇÃO DE IN
TELIGÊNCIA E COGNIÇÃ
O ATRAVÉS DOS TEMPOS
.
.....43
Q
UADRO
3
Q
UADRO GERAL DO
P
ROJETO
APAE
................................
................................
...118
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 NÚMERO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS 1998
2004
................................................................
................................
................................
..........38
GRÁFICO 2 A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- E
XPRESSÃO
E
SCRITA
P
ARTICIPAÇÃO
................................
................................................................
.........................
153
GRÁFICO 3 – A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- E
XPRESSÃO
O
RAL
A
RGUMENTAÇÃO E
E
LABO
RAÇÃO
................................
................................
...........................
156
GRÁFICO 4 – AVALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- E
XPRESSÃO
O
RAL
P
ARTICIPAÇÃO
................................
................................................................
.........................
157
GRÁFICO 5 - A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- H
ABILIDADES
A
RTÍSTICAS
C
OOPERAÇÃO
................................
................................................................
.......................
157
GRÁFICO 6 - A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTR
E
/2003
- E
XPRESSÃO
E
SCRITA
P
ARTICIPAÇÃO
................................
................................................................
.........................
165
GRÁFICO 7 - A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- E
XPRESSÃO
E
SCRITA
U
TILIZAÇÃO DOS
R
ECURSOS
................................
................................
................................
....167
GRÁFICO 8 - A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- E
XPRESSÃO
E
SCRITA
R
EVISÃO DOS
P
RÓPRIOS
T
EXTOS
................................
................................
.............................
167
GRÁFICO 9 - AVALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- F
AMILIARIZAÇÃO
T
ECNOLÓGICA
C
OMPREENSÃO DAS
F
INALIDADES
................................................................
170
GRÁFICO 10 - A
VALIAÇÃO COMPARATIVA
E
SEMESTRE
/2003
- F
AMILIARIZAÇÃO
T
ECNOLÓGICA
A
UTONOMIA
................................
................................
................................
..172
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APAE
Associação de Pais e Amigos dos Excepc
ionais
Art.
Artigo
CEB
Câmara de Educação Básica
CEE
MG
Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais
CFE
Conselho Federal de Educação
CENESP
Centro Nacional de Educação Especial
CEP
Comitê de Ética em Pesquisa
CNE
Conselho Nacional de Educação
C
NS
Conselho Nacional de Saúde
CONADE
Conselho Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência
CORDE
Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
Educom
Educação por Computadores
FNDE
Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação
GRAF.
Gráfico
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Inc.
Inciso
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INES
Instituto Nacional de Educação de Surdos
INFOC
Informática para Comunidade
LDB
Lei Diretrizes e
Bases da Educação Nacional
MEC
Ministério da Educação e Cultura
NEPI
Núcleo de Estudo e Pesquisa em Inclusão
OEA
Organização dos Estados Americanos
ONU
Organização das Nações Unidas
PNDH
Programa Nacional dos Direitos Humanos
PNE
Plano Nacional de
Educação
PNEDH
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
PROINESP
Projeto de Informática na Educação Especial
Proinfo
Programa Nacional de Informática da Educação
PUC Minas
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
SEE
MG
Secretaria de E
stado de Educação de Minas Gerais
SEESP
Secretaria de Educação Especial
SEI
Secretaria Especial de Informática
SINAES
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Especial
TAB.
Tabela
TIC
Tecnologias da Informação e Comunicação
UFMG
Universidade Federal
de Minas Gerais
UFPE
Universidade Federal de Pernambuco
UFRGS
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Cult
ura e a Ciência
OIT
Organização Internacional do Trabalho
ENDIPE
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
ANPED
Associação Nacional dos Pesquisadores em Educação
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
................................
........................................................................................
18
CAPÍTULO I A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA: ASPECTOS
HISTÓRICOS E ATUAIS
................................
................................
................................
........32
1.1
PANORAMA ATUAL
DA EDUCAÇÃO ESPECIA
L NO
BRASIL
............................
32
1.2
CONSIDERAÇÕES
ACERCA DA EDUCAÇÃO E
SPECIAL E SUA EVOLUÇ
ÃO
..40
1.3
HISTÓRICO DA L
EGISLAÇÃO EDUCACIONA
L BRASILEIRA
.............................
51
1.4
-
A ATUAL LEGISL
AÇÃO EDUCACIONAL EM
NÍVEL FEDERAL..........................
62
1.5
ACERCA DE ALGUMAS POLÍTICAS PÚBLIC
AS
................................
....................
75
1.6
A NORMATIZAÇÃO
NOS ESTADOS DA REGI
ÃO SUDESTE
................................
81
1.7
-
A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL DO ESTADO
DE MINAS GERAIS....................
83
CAPÍTULO II – A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO E O PROJETO APAE CON
TAGEM
................................
................................................................
................................
..................91
2.1
A INFORMÁTICA
NA EDUCAÇÃO
................................
................................
............91
2.2
INFORMÁTICA ED
UCACIONAL NO BRASIL:
AÇÕES GOVERNAMENTAI
S
....98
2.3
A INFORMÁTICA
NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
................................
......................
102
2.4
SOBRE
O PROJETO APAE
................................................................
.........................
113
2.5
O PORTADOR DA
SÍNDROME DE DOWN
................................
..............................
121
2.6
SÍNTESE E ALGU
MAS REFLEXÕES
................................
................................
........128
CAPÍTULO III
DIALO
GANDO COM OS SUJEITO
S
................................
......................
132
3.1
-
UMA INTRODUÇÃO
................................
................................
................................
...132
3.2
AS CATEGORIAS
................................
................................
................................
........138
3.2.1
-
1ª C
ATEGORIA
: O
CONCEITO DE INCLUSÃO
DOS SUJEITOS
................................
........138
3.2.2
-
2ª C
ATEGORIA
: O
PROCESSO DE INCLUSÃO
SOCIAL DE
D
AVI
................................
....151
3.2.3
3ª C
ATEGORIA
:
A MELHORIA DO RENDIM
ENTO ESCOLAR DE
D
AVI
...........................
162
CONCLUSÕES
................................
................................................................
......................
177
REFERÊNCIAS
................................
................................................................
......................
186
APÊNDICE A CRITÉRIOS UTILIZADOS PELA COORDENADORIA DE EXTE
NSÃO
DA PUC MINAS CONTAGEM PARA AVALIAÇÃO DO PROJETO APAE E FICHA DE
ACOMPANHAMENTO E AVA
LIA
ÇÃO
................................
................................
............200
ANEXO A PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA E MODELO DO TERMO DE
CONSENTIMENTO LIVRE
E ESCLARECIDO................................
................................
..215
ANEXO B
CONVÊNIO Q
UE
ESTABELECE O PROJET
O APAE
................................
.
219
ANEXO C
ROTEIROS DE
ENTREVISTAS E QUEST
IONÁRIOS
................................
..224
18
INTRODUÇÃO
Começar um trabalho de pesquisa requer, entre outras coisas, motivação pessoal e
profissional para seguir em um campo, a priori, desconhecido em seus pormenores técnicos e
conceituais. Devo ressaltar que meu interesse pelo objeto desta pesquisa, ou seja, em
investigar as possibilidades efetivas de utilização do computador na inclusão escolar de
portadores de necessidades educacionais especiais, tem ligação direta com minha área de
atuação, uma vez componho a equipe de execução do Projeto APAE, desenvolvido pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) em Contagem, em parceria
com a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Contagem, Minas Gerais,
projeto que é objeto deste estudo.
O fato de integrar essa equipe tem me dado oportunidade de participar de Congressos
e Seminários sobre
inclusão dos portadores de necessidades educacionais especiais. Um artigo
apresentado e publicado nos anais do III Congresso Ibero-americano de Informática na
Educação Especial, no ano de 2002, conta com minha autoria e a de outros dois pesquisadores
da PU
C Minas.
Além disso, o trabalho dessas instituições foi objeto de apresentação no I Congresso
Brasileiro de Educação Especial, realizado na Universidade Federal de São Carlos, em São
Paulo, em 2003, tendo um artigo apresentado nesse evento, onde se relatam as experiências
desse Projeto.
Em minha formação profissional, propriamente dita, houve outra oportunidade de me
aproximar desse tema. Tendo concluído o curso de Licenciatura em Matemática na metade do
ano de 2001, resolvi ingressar em uma pós-
graduação
l
ato sensu
em Informática na Educação,
19
cuja ênfase era a elaboração e avaliação de
softwares
educativos. A escolha por este curso se
pautou em minha experiência, em tempos de graduação, no trabalho com o desenvolvimento
desses programas computacionais educa
tivos.
Nesse período, cursava essa Especialização e, ao mesmo tempo, lecionava Matemática
para alunos do ensino fundamental e médio da rede estadual de educação de Minas Gerais,
aprovado que tinha sido num recente concurso público de ingresso.
No Curso de Especialização, fui convidado por um professor do mesmo a participar de
um projeto de extensão universitária que esse professor estava implantando na PUC Minas
Contagem, que é o Projeto APAE, acima citado. Então, no ano de 2002, começamos a
trabalhar na elaboração e execução desse projeto, tendo as atividades se iniciado em março
daquele mesmo ano.
Desse modo, é que começo a tomar contato com as pessoas portadoras de necessidades
especiais, pois era esse o perfil dos alunos encaminhados pela APAE Contagem que
participariam do projeto em questão. Era um novo tipo contato que eu teria de ter com essas
pessoas, um contato no espaço escolar.
Isso era algo novo para mim, apesar de, em minha família, haver um caso de uma
pessoa com Síndrome de Down. Essa situação originária seria diversa da existente no Projeto,
em novo ambiente de trabalho que se iniciava então.
Com o passar do tempo, na execução desse trabalho na PUC Minas Contagem, outras
oportunidades foram surgindo, ao ponto de haver me afastado das aulas de Matemática nas
escolas da rede estadual de ensino, para dedicar mais tempo ao trabalho com esses alunos do
Projeto APAE.
Daí, depois de terminado o Curso de Especialização e de ter adquirido, como resultado
da prática e de novos estudos a respeito, alguma experiência profissional e pessoal, resolvi
20
fazer dessa experiência um projeto de pesquisa que apresentaria para concorrer na seleção aos
novos alunos do Mestrado em Educação, uma vez que via, naquele Projeto, questões que
precisavam ser discutidas e ap
rofundadas.
Mas não se tratava apenas de discutir a questão do uso das ferramentas
computacionais como auxiliar na inclusão escolar de portadores de necessidades educacionais
especiais na rede regular de educação, era também preciso discutir questões relevantes no
âmbito das políticas públicas a esse respeito. Sendo assim, encaminho meu projeto à seleção
de uma vaga na linha de pesquisa que trata dessa questão.
Com esse entendimento, esta pesquisa também se justifica pela necessidade de discutir
e, sobretudo, efetivar a democratização e a equiparação de oportunidades educacionais
escolares para igualar os direitos de todos à educação, com ênfase nos portadores de
necessidades educacionais especiais.
Acredita
-se também que as conclusões desse trabalho, sem ge
neralizá
-las, possam
contribuir para que se entenda melhor como essa inclusão escolar possa vir a se realizar,
respeitados sempre os contextos e os aspectos diferenciadores de cada realidade pesquisada. O
domínio da tecnologia da Informática, nos espaços escolares, pode trazer contribuições ao
desenvolvimento desses sujeitos, alunos que cooperam com um processo contínuo de inclusão
escolar e conseqüente socialização.
A intensificação do uso das tecnologias da Informação e da Comunicação, nos mais
diversos setores da sociedade, exige de todos o desenvolvimento de novas habilidades,
competências e valores cognitivos e forçam a uma constante atualização e aprendizagem.
Nessa perspectiva, acredito que seja relevante o entendimento do modo como o uso
dos recursos dessa nova tecnologia, em especial o computador, pode oferecer ao processo de
inclusão escolar e igualdade de oportunidades, numa situação que atenda a todas as pessoas.
21
O desafio agora é democratizar esta educação, de forma a atender toda e qualquer
dive
rsidade que possa se apresentar na escola, concretizando o objetivo de oferecer uma
educação de qualidade para todos, uma educação como direito de todos.
O Brasil vem despendendo esforços na elaboração e execução de políticas públicas
que, atendendo ao ordenamento jurídico, abram as portas das salas comuns das escolas
regulares comuns às pessoas portadoras de necessidades educacionais especiais.
Desse modo, que se enfatizar que o intento principal desse trabalho é discutir os
pressupostos e também verificar a efetividade do uso dos recursos computacionais nesse
processo de inclusão escolar do portador de necessidades especiais.
Nesse sentido, um recorte específico do conceito de inclusão que incide sobre a
educação escolar. Com isso, tomo, como ambiente de investigação, o Projeto APAE e, em
especial, o aluno Davi, um adolescente portador da Síndrome de Down e que, na ocasião,
freqüentava regularmente a escola comum.
Procurou
-se, então, compreender e verificar os resultados e efeitos que a participaç
ão
de Davi nesse Projeto possa ter gerado, ou seja, saber se realmente o aprendizado de Davi, no
Curso de Informática do Projeto APAE, tem conseqüências em sua vida cotidiana, na vida
social e, sobretudo, na vida escolar. Trata-se, portanto, de também saber se a Informática, em
especial o contato com o computador, tem impacto direto nos resultados dessa sua vivência
escolar.
Importante, também, destacar a tipificação deste trabalho, visto que pesquisas deste
gênero, com esse enfoque recaindo sobre as pessoas portadoras de Síndrome de Down, numa
perspectiva de análise sobre os efeitos que o uso metódico dos recursos tecnológicos podem
trazer no processo de inclusão dessas pessoas escola comum.
22
Logo, na realização desse trabalho, faz parte do percurso, a ser seguido, levantar
questões e, para isso, a metodologia possui importância especial, na medida em que colabora
sobremaneira para o alcance dos objetivos propostos, norteando o processo de investigação.
Para tanto, a definição e a elaboração do problema, a ser investigado e analisado, são
fundamentais. Na concepção de Boaventura (2004, p.64):
Uma cadeia deve ser estabelecida entre o problema e a metodologia. O problema
tipifica a natureza do estudo, que pode ser mais quantitativo ou mais qualitativo,
descri
tivo ou explicativo. O uso de fontes, os processos e as técnicas devem permitir
a definição do referencial metodológico.
A investigação a que essa pesquisa se propõe inicia-se no âmbito da pesquisa
descritiva.
A
pesquisa descritiva intenta fazer a enumeração, o levantamento ou a coleta dos
caracteres manifestos de uma população, suas interações, seus comportamentos, seus
problemas. O desejo do pesquisador em conhecer todas essas relações e interações sociais de
uma comunidade ou mesmo de um determinado sujeito é que o leva a escolher esse tipo de
pesquisa, que Gil (1999, p. 44) assinala como sendo a que levanta as características que: “(...)
têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou
fenômeno ou o estabelecimen
to de relações entre variáveis”.
Começar pela pesquisa descritiva é fazer opção por encontrar uma entrada que se abra
para a realidade mais profunda que supõe a captação daquilo que é mais manifesto. O
manifesto é a porta de entrada e, a partir daí, é poss
ível
desvelar conceitos e estabelecer
relações entre as possíveis variáveis encontradas, num determinado ambiente.
O mesmo grau de relevância é dado à descrição dos sujeitos desta pesquisa - aluno,
família e funcionários da APAE Contagem, além de estagiários (monitores) do Projeto APAE
23
- suas relações sociais, familiares, as condições que estes encontram na escola e a relação com
seus pares e, nessa perspectiva, justifica-se a escolha da realização de uma pesquisa
descritiva.
Aos dados trazidos pela pesquisa descritiva, optou-se por aliá-los aos achados de um
estudo de caso. De acordo com Triviños (1987, p. 133), o estudo de caso: “É uma categoria de
pesquisa cujo objeto é uma
unidade
que se analisa aprofundadamente”.
Trata
-se de uma estratégia vinculada à pesquisa qualitativa, cuja preocupação está
centrada na percepção e interpretação da realidade. Sobre o estudo de caso, Laville e Dionne
(1999, p.156) enfatizam que:
A vantagem mais marcante dessa estratégia de pesquisa repousa, é claro, na
possibilidade
de aprofundamento que oferece, pois os recursos se vêem
concentrados no caso visado, não estando submetido às restrições ligadas à
comparação do caso com outros casos.
Ainda sobre a definição de estudo de caso, Tosta (2004, p.1) assim se posiciona: “O
Est
udo de Caso (...), seja ele simples e específico ou complexo e abstrato, (...) é sempre bem
delimitado e deve ter seus contornos bem definidos no desenrolar da pesquisa”.
Uma outra característica, não menos importante do estudo de caso, é a possibilidade
de se aprofundar mais no objeto a ser estudado. Por se analisar um caso específico, esse maior
aprofundamento, no ambiente do objeto de pesquisa, traz vantagens como, por exemplo, a
possibilidade da interpretação detalhada de certas variáveis em um determinado contexto, a
relação destas variáveis com os sujeitos ou situações podem ser reveladoras e determinadoras
de comportamentos importantes para interpretação do fenômeno.
Com esse mesmo entendimento e de forma complementar, Roese (1998, p.192)
acrescenta:
24
O estudo de caso permite responder como e por que aquelas características
específicas que observamos são possíveis, em um quadro teórico mais amplo, como
as grandes tendências se manifestam, ou não, em realidades sociais concretas.
Portanto a especificidade do caso é o traço diferenciador desta técnica o que, ao
contrário de ser uma característica fragilizadora, é a sua grande força.
Por se tratar de um estudo de caso, faz-se necessário explicitar a unidade empírica de
análise, ou seja, o lugar onde se pretende realizar a pesquisa, que, nesse caso, será o projeto
realizado pela PUC Minas Contagem em parceria com a APAE Contagem. Desse modo,
pretende
-
se estudar as relações dos alunos, dos monitores que fazem parte do Projeto, dos pais
dos alunos beneficiados e, todas essas, ligadas pelo fio condutor da importância que a
Informática pode ter na inclusão de portadores de deficiência na escola regular.
Nessa perspectiva, entende-se o estudo de caso como técnica de pesquisa apropriada a
esta pesquisa, uma vez que o aprofundamento na compreensão do assunto específico da
questão é essencial. Conhecer e estabelecer as relações, as nuanças e peculiaridades que
envolvem os sujeitos desta pesquisa em suas relações, em sentido amplo, serão de importância
patente.
Para tornar real este estudo, foi necessário selecionar pessoas que pudessem colaborar
para sua realização. Desse modo, foram selecionadas pessoas ligadas diretamente e
indiretamente ao Projeto APAE.
Tal seleção se justifica no sentido de que é fundamental, para
análise da efetividade do
cumprimento dos objetivos deste trabalho, que se recolhessem dados, informações acerca do
Projeto APAE e posições sobre suas atividades, contemplando percepções e recolhendo
depoimentos de todas as partes envolvidas em sua execuç
ão.
Em primeiro lugar, destacamos a participação de um aluno do Projeto APAE - um
jovem de 16 anos, portador da Síndrome de Down, selecionado e convidado a colaborar com
25
este trabalho, prestando depoimentos acerca de sua participação no referido projeto. S
ua
escolha se justifica por sua postura questionadora, seu comprometimento na realização das
atividades propostas e sua efetiva participação no trabalho desenvolvido à época.
A partir de seus relatos, comparados com os dos outros sujeitos e sob a ótica de
uma
revisão da literatura a respeito do tema, será feito o encadeamento conceitual dos discursos
recolhidos dos outros colaboradores para com este trabalho, para análise.
Dentre as pessoas que possuíam ligação direta com o referido projeto, pode-se dar
des
taque à participação das duas estagiárias, que exerciam função de monitoras de turma e
que responderam a um questionário.
que se ressaltar, com igual relevância, a participação de duas outras pessoas, sendo
uma delas a mãe do aluno beneficiário do Projeto e uma pedagoga da APAE Contagem. À
pedagoga, solicitou-se o preenchimento de um questionário, enquanto aquela colaborou na
concessão de entrevistas.
A mãe do aluno beneficiário foi escolhida pela efetiva participação e
acompanhamento de seu filho no Projeto e a pedagoga da APAE Contagem, pelo seu
envolvimento profissional com o Projeto APAE.
É importante destacar que, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) - do Ministério da Saúde - que aprova diretrizes e normas
regulame
ntadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, tivemos o cuidado de trabalhar
com o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” para efeito de coleta de dados com os
sujeitos envolvidos, sendo assim garantido o respaldo do Comitê de Ética em Pesquisa des
ta
Universidade
1
.
Também em cumprimento ao estabelecido pela referida Resolução, os nomes dos
sujeitos envolvidos, neste estudo, serão alterados, para efeito de preservar suas identidades
1
Cf. modelo desse termo e o parecer de aprovação do projeto de pesquisa junto ao Comitê de Ética em Pesq
uisa
no Anexo A deste trabalho.
26
originais. Sendo assim, o quadro abaixo traz os nomes fictícios dos envolvidos, suas
respectivas idades e funções:
Quadro 1
-
Pessoas envolvidas na coleta de dados
Relação de pessoas envolvidas na coleta de dados deste estudo
Nome
2
Idade
Função/Atividade
Davi
16
Aluno beneficiário do Projeto
APAE
Maria
--
Mãe de Davi
Ester
25
Monitora do Projeto APAE
Rute
23
Monitora do Projeto APAE
Lia
43
Pedagoga da APAE
que se ressaltar que o contato com Davi e Maria, num primeiro momento, foi
intermediado pela Pedagoga da APAE - Lia - sendo que posteriores encontros foram
realizados sem esta intermedição. com Ester e Rute, o contato se deu em encontros entre
estas e o pesquisador, uma vez que essa interação se no próprio ambiente de realização do
Projeto.
Para a concretização deste trabalho, utilizaram-se também as seguintes técnicas de
pesquisa: a análise documental, a aplicação de questionário e a realização de entrevista. São
outras formas de aproximação do objeto de estudo.
A análise documental constitui-se em uma técnica de abordagem de dados qualitativos
e quantitativos, podendo complementar outras informações ou, até mesmo, introduzir novos
aspectos a serem analisados no objeto pesquisado.
A análise documental é assim definida por Gil (1999, p.66):
2
Optou-se por utilizar nomes bíblicos, com o intuito de preservar a identidade dos sujeitos envolvidos neste
trabalho.
27
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única
diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica
se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre
determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam
ainda
tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os
objetivos da pesquisa.
Esse tipo de dado pode ser obtido em documentos escritos, estatísticas, vídeos e outras
formas de documentos. Para este estudo, privilegiaram-se documentos tais como: a
Constituição Federal (atual e anteriores), a LDB (Lei Diretrizes e Bases da Educação
Nacional)
- atual e anteriores - o Estatuto da Criança e do Adolescente, as Leis, os Decretos,
os Pareceres e as Resoluções do CNE (Conselho Nacional de Educação) e do CEE-
MG
(Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais) a respeito de Educação Especial, entre
outros documentos, com a finalidade de um levantamento legal e histórico do tema.
Neste âmbito da pesquisa documental, cumpre aqui destacar que também s
erão
utilizados dados componentes das avaliações realizadas no Projeto APAE, durante sua
execução. Tais avaliações foram realizadas em dois momentos, a saber: uma avaliação ao
final do primeiro semestre, quando se finalizam as atividades da primeira etapa e, a outra, no
encerramento do Projeto
3
.
Na pesquisa bibliográfica, pode-se incluir a revisão de literatura. Essa revisão se faz
necessária para delimitação do objeto pesquisado e, também, para a construção de um
arcabouço teórico consistente acerca do tem
a abordado.
Boaventura (2004, p.46) caracteriza desse modo a revisão de literatura:
A revisão de literatura objetiva demonstrar o que foi escrito sobre o tema. Consiste
na análise e síntese das informações, visando definir as linhas de ação para abordar o
3
As fichas de avaliação e os critérios utilizados para sua realização se encontram no Apêndice A deste
trabalho.
28
assunto ou problema e gerar idéias novas e úteis. (...) A revisão não é um amontoado
do que se leu, e tão pouco uma coleção de resumos. Revisão de literatura é discussão
do que foi encontrado e relacionado com o problema.
Percebe
-se, então, que questões pertinentes à Educação Especial têm sido
incansavelmente discutidas por diversos autores, tais como: Ferreira e Guimarães (2003)
quando trazem amplas discussões acerca da trajetória da concepção de deficiência e discutem
termos como inclusão e integração; Carvalho (1977, 1997, 2000), tratando de questões mais
pontuais em relação ao processo de aprendizagem de portadores de necessidades especiais;
Bueno (1993, 2001, 2003), sobre políticas públicas e concepções a respeito de educação de
pessoas deficientes ao longo do tempo, o que também faz, pertinentemente, Ferreira (1994,
1998, 2003), ao discutir políticas e normas legais em relação a LDB e concepções acerca da
excepcionalidade; e Plaisance (2000), que traz, em nível internacional, a discussão sobre a
denom
inação de ‘especial’ dada a esse tipo de educação e a seus sujeitos.
Há, também, que se destacar os trabalhos de Santarosa (1998, 2004), em relação ao
uso da tecnologia nesse âmbito; de Mazzotta (2001), ao tratar de aspectos legais e históricos
da Educação Especial Brasileira; Mantoan (1998), ao trazer considerações sobre a educação
dos deficientes mentais; Valente (1991, 1993, 1995), que trabalha com o uso da tecnologia na
educação de portadores de deficiência e discute os efeitos dessa tecnologia; Jannuzzi (1985,
2001, 2004), que trata das políticas sociais e do espaço da criança excepcional no ambiente
social, além trazer importante trabalho na linha histórica da Educação Especial nacional; e,
ainda, Voivodic (2004), que levanta a questão das perspectivas
de escolaridade do portador da
Síndrome de Down na escola comum, entre vários outros que surgirão no decorrer das
discussões deste trabalho.
A inclusão de alunos portadores de necessidades especiais, no âmbito da educação
regular, é um assunto que se faz presente. Essa questão tem importância ímpar nas
29
discussões do campo educacional, uma vez que essas pessoas têm o direito e o dever de
exercer sua cidadania.
Uma outra cnica a ser utilizada para a realização do trabalho será o questionário. De
acordo
com Marconi e Lakatos (1999, p.100): “Questionário é um instrumento de coleta de
dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito
e sem a presença do entrevistador”.
Ainda de acordo com Richardson (1999, p.189),
pode
-se entender desse modo as
funções do questionário:
Geralmente, os questionários cumprem pelo menos duas funções: descrever as
características e medir determinadas variáveis de um grupo social. (...) As
informações obtidas por meio de questionário permitem cumprir diversos
objetivos.
Aqui o questionário terá como função o levantamento de dados com pessoas com as
quais não foi possível realizar entrevistas e também, de modo análogo, em situações em que
pareceu não ser necessário um maior detalhamento dos dados obtidos, de sorte que se utilizou
o questionário em situações mais genéricas.
Da mesma forma que o questionário foi utilizado como técnica complementar à
análise documental, também a entrevista foi realizada com os sujeitos desta pesquisa.
Emprego
u-se essa técnica para recolher informações mais elaboradas e detalhadas
sobre o tema pesquisado, as impressões dos profissionais da APAE e demais entrevistados
acerca do desenvolvimento dos alunos e de suas relações com seus pares.
Optou
-se, portanto, pelo uso da entrevista do tipo semi-estruturada. Triviños (1987,
p. 146) define assim esse tipo de entrevista:
30
Podemos entender por entrevista semi-
estruturada
, em geral, aquela que parte de
certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à
pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do
informante.
Uma vantagem significativa da entrevista é exatamente trabalhar com a linguagem do
sujeito entrevistado. Vejamos o que Biklen e Bogdan (1994, p.134) acrescentam a esse
respeito: “(...) a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio
sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira
como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”.
Esse tipo de entrevista permite um roteiro de realização, aberto a intervenções
inerentes em relações que envolvam diretamente pesquisador e pesquisado.
Desse modo, passaremos a “dialogar“ com os sujeitos dessa pesquisa, procurando
destacar, nessa interação, por meio da análise do conteúdo dos dados recolhidos, opiniões e
constatações relevantes para análise dos objetivos propostos por este trabalho investigativo.
Então, com vistas a trazer, com clareza, as questões suscitadas neste estudo, optou-
se
por fazer a divisão de seu conteúdo em quatro capítulos, antecedidos por esta introdução,
onde também se explicitam as opções metodológicas adotas.
No primeiro capítulo, faz-se uma retrospectiva histórica da construção da legislação
educacional brasileira, tomando o cuidado de colocar esta análise em nível regional. Ao se
examinar a normatização da Educação Especial na Região Sudeste, em nível estadual, passa-
se em revista a legislação do Estado de Minas Gerais a respeito desse campo e, por fim, ao
âmbito municipal, quando se toma para estudo a legislação educacional do município de
Contagem, por intermédio de sua Lei Orgânica.
O segundo capítulo traz uma análise acerca da Informática na Educação, seus
pressupostos, um pouco da história de sua implantação, teorias, marcos legais e discute
31
algumas políticas públicas implantadas, com ênfase também na Infortica na Educação
Especial. Em outros momentos desse capítulo, faz-se uma descrição do Projeto APAE, espaço
de investigação deste trabalho; realiza-se, ainda, uma descrição da Síndrome de Down, suas
características mais marcantes e, por fim, uma síntese de todos os tópicos deste capítulo.
no terceiro capítulo, apresenta-se a fala dos sujeitos participantes deste estudo. Aqui
se discutem com os entrevistados suas impressões acerca da inclusão, da importância do uso
da Informática nesse processo e suas percepções a respeito da efetividade dessa medida.
E, por fim, nas considerações finais, apresentamos os resultados deste estudo,
chegando a constatações e apontamentos para futuras discussões.
32
CAPÍTULO I
A Legislação Educacional Brasileira: aspectos históricos e atuais
1.1
Panorama atual da Educação Especial no Brasil
A Educação Especial, temática deste estudo ora apresentado, tem sido objeto de
muitas pesquisas, reflexões e alvo de muitas mudanças ao longo do tempo, devido a políticas
de ações mobilizadoras de esforços, na perspectiva de construção de uma sociedade mais justa
e eqüitati
va.
No Brasil, seja em decorrência das políticas públicas, seja por conseqüência de uma
crescente conscientização da sociedade civil e suas ações, a Educação Especial vem ganhando
corpo e espaço nos mais diversos meios. Isso pode ser comprovado, ao se analisarem dados
estatísticos, produzidos por alguns institutos e pesquisadores da área de educação.
Segundo dados no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira), pode-se avaliar o crescimento do número de instituições de aten
dimento
educacional para portadores de necessidades especiais.
Uma primeira aproximação da situação da Educação Especial pode ser vista pelos
dados oficiais do INEP, na TAB. 1:
33
Tabela 1
Estabelecimentos de Educação Especial
Estabelecimentos com Edu
cação Especial
Abrangência
Geográfica
Ano
Dependência
Administrativa
Total de Escolas
Privada
1.670
Pública
4.666
1999
Total
6.336
Privada
1.844
Pública
4.906
Brasil
2000
Total
6.750
Privada
1.989
Públic
a
4.786
2001
Total
6.775
Privada
2.026
Pública
4.769
2002
Total
6.795
Privada
2.104
Pública
4.836
Brasil
2003
Total
6.940
Fonte: MEC/INEP
-
2004
De acordo com dados da TAB. 1, pode-se notar maior crescimento dos
estabelecimentos de Educação Especial na esfera privada, mantendo-se o número de escolas
que delegam sua administração à esfera pública (Federal, Estadual ou Municipal) sem
aumento expressivo em seus números. Isso é reflexo, como se verá mais adiante, da recente
preocupação estatal com a questão da educação dos portadores de deficiência na rede pública
de ensino.
Com relação ao surgimento e expansão dos serviços e políticas relacionados à
Educação Especial, Bueno (1993, p.17) destaca:
O surgimento e a expansão da educação especial na sociedade industrial moderna
têm sido analisados quase que exclusivamente sob a ótica da expansão de
oportunidades educacionais aos excepcionais, assim considerados aqueles que, em
34
virtude de características pessoais geradas por essa condição, não conseguiram
usufruir processos regulares de ensino.
Concomitantemente ao crescimento do número de estabelecimentos de atendimento à
Educação Especial, pode-se esperar, como conseqüência, o aumento do número de matrículas
nessa modalidade de ensino.
Vejam
os outra tabela do INEP, com os números da evolução de matrículas na
Educação Especial, agora divididos por tipo de deficiência, destacando a visual, a auditiva, a
física, a mental, as deficiências múltiplas e as condutas típicas:
Tabela 2
Evolução de M
atrículas de Alunos com Necessidades Especiais
Número de matrículas de alunos com necessidades especiais por tipo de deficiência
Ano
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Tipo de
Necessidade
Quantidade
Alunos
Quantidade
Alunos
Quantidade
Alunos
Quantidade
Alunos
Quantidade
Alunos
Quantidade
Alunos
Visual
15.473
18.629
8.019
8.570
20.257
24.185
Auditiva
42.584
47.810
35.545
36.055
52.422
56.024
Física
16.463
17.333
10.764
12.182
21.352
24.658
Mental
181.377
197.996
178.005
189.499
231.021
251.506
Múlt
ipla
42.582
46.745
41.726
47.086
56.166
62.283
Condutas
Típicas
8.994
9.223
7.739
9.190
13.670
16.858
Altas
Habilidades/
Superdotados
1.187
1.228
454
692
1.110
1.675
Outras
28.666
35.165
18.268
20.125
52.603
66.850
Total Brasil
337.326
374.129
300.520
323.399
448.601
504.039
Fonte: MEC/INEP/SEESP
-
2004
Nessa exposição de dados, pode-se analisar o crescimento do número de matrículas de
alunos portadores de necessidades especiais, de acordo com os diferentes tipos de
necessidades que possam possuir. Pe
rcebe
-se, em qualquer ano que se tome como referência,
35
que o maior número de matrículas é o de portadores de deficiência mental, enquanto o menor
número pertence aos superdotados.
Outro entendimento que se pode obter na consulta aos dados da tabela anterior é o
notável aumento na matrícula, se se tomar como parâmetro o ano inicial da TAB. 2, 1998, e o
último ano de análise, ou seja, o ano de 2003. Isso se justifica, em grande parte, pela
aprovação, no ano de 1996, da LDB
4
, que traz, em seu texto, uma política mais abrangente,
com relação à Educação Especial, que as legislações anteriores.
Deslocando essa análise em nível dos Estados, com dados do mesmo INEP
5
, pode-
se
notar que a maior concentração de matrículas de alunos portadores de necessidades especiais
se na Região Sudeste do País, com 162.015 alunos matriculados. A segunda região
brasileira, em número de matrículas é a Região Sul, com 86.101 alunos. Em seguida, Região
Nordeste com 62.291 matrículas; depois Centro-Oeste, com 26.604; por último, com 21
.887
alunos portadores de necessidades especiais matriculados, a Região Norte.
Analisando estes números, mas tomando por base os tipos de deficiência, nota-se que
o maior número de matrículas, em todas as regiões do País, é dos deficientes mentais, com
211
.110 matrículas no total, seguido dos portadores de deficiências múltiplas com 54.643
alunos matriculados e, logo após, os portadores de deficiência auditiva, com 36.242
matrículas.
No Estado de Minas Gerais, o maior número de matrículas, por tipo de defic
iência,
também é dos portadores de deficiência mental, com 28.456 alunos matriculados, seguidos
pelos portadores de deficiências múltiplas, com 11.672 matrículas.
4
Lei 9.493 de 20 de dezembro de 1996, que “Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional”.
5
Estes dados, com a análise e distribuição por região geográfica, até o memento de fechamento deste capítulo
não estavam disponíveis para o Censo Escolar 2004, de modo que foram utilizados os dados do Censo Escolar
2003. Mais detalhes podem ser obtidos consultando-se: BRASIL. INEP. Sinopse estatística da educação
básica
: censo escolar 2003. Brasília: O Instituto, 2003, ou mesmo pela Internet, no
s
ite
www.inep.gov.br.
36
Esses dados e análise podem ser estendidos, com propriedade, também ao Estado de
Minas Gerais, onde, segundo dados da SEE - MG (Secretaria de Estado de Educação de
Minas Gerais), um total de 56.192 de matrículas na Educação Especial, sendo a maioria
destas na rede particular de ensino; outra parte, a segunda em quantidade de matrículas, é da
re
de estadual de ensino, seguida da municipal e com a constatação de que, em todo o Estado
de Minas Gerais, não se conta com nenhuma matrícula de portadores de necessidades
especiais na rede federal de educação
6
. Veja a TAB. 3:
Tabela 3
Número de estabele
cimentos e matrículas no sistema estadual de ensino de
Minas Gerais
Número de Estabelecimentos de Ensino, Matrícula Efetiva na Educação Básica por Nível/Modalidade
de
Ensino, segundo Superintendência,
Município e Dependência Administrativa
-
Minas Gerais
-
2003
Matrículas
Ensino Fundamental
Ensino
Educação
Dependência
Administrativa
Número de
Estabelecimentos
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
Total
Médio
Especial
Total
18.109
1.762.011
1.692.873
3.454.884
937.944
56.192
Estadual
3.925
640.903
1.117.744
1.758.647
794.115
10.238
Federal
29
1.007
1.845
2.852
10.221
-
Municipal
10.354
1.011.265
453.788
1.465.053
30.856
3.015
MINAS GERAIS
Privada
3.801
108.836
119.496
228.332
102.752
42.939
Fonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais
-
2003
Pode
-se perceber, ao analisar os dados referentes ao número de estabelecimentos
existentes no Estado de Minas Gerais, que, apesar de existirem mais estabelecimentos
públicos estaduais de Educação Especial, no total de 3.925, totalizando 10.238 matrículas,
uma diferença significativa deste número em relação à rede particular que, contando com
6
Dados do Censo Escolar 2004, realizado pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, trazem o
número total de matrículas na Educação Especial (Instituições Especializadas e Classes Especiais) somando
57.588 alunos e o núm
ero de incluídos em classes comuns igual a 25.713 alunos.
37
menos escolas que atendem a essa modalidade de ensino, em número de 3.801, atende a
42.939 alunos portadores de algum tipo de necessidade especial.
Em nível m
unicipal
- Contagem, município onde foi realizado este trabalho e onde
estudam os alunos beneficiados pelo Projeto APAE - a análise pode ser feita pelos dados
encontrados na TAB. 4:
Tabela 4
Número de estabelecimentos e matrículas em Educação Especial
Município
de Contagem
MG
Número de Estabelecimentos e Matrículas
-
Município de Contagem
-
MG
Dependência
Administrativa
Número de
Estabelecimentos
Matrículas
Educação Especial
Total
235
610
Estadual
40
-
Municipal
75
352
Contagem
P
rivada
120
258
Fonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais
-
2003
Em Contagem, nota-se a inexistência de alunos, portadores de necessidades especiais,
matriculados na rede estadual, em Educação Especial. Logo, todo atendimento do Município,
para esta modalidade, é realizado pela esfera municipal e privada de ensino, e, sobretudo, o
atendimento efetivo a essa população na rede municipal é maior do que o realizado na rede
privada, o que destoa em relação aos dados estaduais, onde o número de matrículas na rede
privada prevalece.
Como forma de sintetizar esta exposição, pode-
se recorrer a dados do INEP, conforme
Censo 2004, que mostra o crescimento do número de matrículas de alunos portadores de
38
necessidades especiais, na rede pública e privada de ensino comum, comparando os anos de
1998, 2003 e 2004:
GRÁFICO 1
Número de alunos com necessidades educacionais especiais
1998
2004
Fonte: INEP/MEC
-
2004
Aqui se percebe claramente que os portadores de necessidades especiais estão
ingr
essando em número maior em escolas comuns, realidade crescente desde a elaboração e
implantação da LDB de 1996 e demais legislações correlatas.
Ainda utilizando dados do Censo 2004 do INEP, de acordo com a tabela abaixo, pode
-
se inferir o número crescente de matrículas de alunos portadores de deficiências na rede
regular de ensino. Observemos esse crescimento, por tipo de deficiência, na TAB.5:
39
Tabela 5
-
Crescimento de Matrículas de Alunos de Educação Especial
Crescimento de Matrículas de Alunos de
Educação Especial
por Tipo de Deficiência
-
Censo Escolar 2004
Tipo de Deficiência
Crescimento
Global %
Crescimento
Inclusivo %
Visual
85
127
Auditiva
11
30
Física
28
38
Mental
16
58
Múltipla
14
58
Altas habilidades/superdotados
20
73
Condutas Típi
cas
279
597
Fonte: INEP/ MEC
-
2004
Nesse sentido, o aumento de matrículas pode estar evidenciando uma maior
conscientização de pais e familiares nas vantagens de se privilegiar a escola comum como
lócus da educação escolar para os portadores de necessid
ades especiais.
Ademais, tomando ainda, como referência de análise, o mesmo Censo do INEP para o
ano base de 2004, podemos verificar o número efetivo atual de matrículas por necessidades
especiais na TAB. 6:
40
Tabela 6
Número de Matrículas por Tip
o de Necessidade
Ano 2004
Matrícula na Educação Especial por Tipo de Necessidade
Tipo de Necessidade
Nº de Matrículas
%
Cegueira
7.603
1,34
Baixa Visão
37.246
6,57
Surdez
27.389
4,83
Deficiência auditiva
34.934
6,16
Física
31.434
5,55
Mental
291.517
51,44
Múltipla
70.675
12,47
Superdotação
2.006
0,35
Condutas Típicas
63.910
11,28
Total
566.714
100
Fonte: INEP/MEC
-
2004
Toda esta visibilidade estatística necessita, porém, de uma segunda aproximação: a
evolução histórica desta modalidade de e
nsino.
1.2
Considerações acerca da Educação Especial e sua evolução
Na Antigüidade, o tratamento aos portadores de deficiências assumia dois aspectos
básicos: alguns os exterminavam por considerá-los grave empecilho à sobrevivência do grupo
e outros
os protegiam e sustentavam
-
nos para alcançar a simpatia de seus deuses.
A educação dos denominados portadores de necessidades especiais, quase sempre, ao
longo da História da Educação, foi marginalizada em diversos países. Os mais variados
entendimentos acerca da deficiência foram adotados no decorrer do tempo. Durante muito
41
tempo, os portadores de deficiência foram privados até mesmo de tentar a sobrevivência.
Desde os primórdios da sociedade, os homens, sempre vivendo em grupos, procuram entender
as difer
enças a seu modo. Estes procuram meios de conviver com “os diferentes”, comparados
com modelos ideais, que variam de deuses até os reis e superiores.
As mais variadas tentativas e justificativas, em relação aos tratamentos dispensados
aos deficientes, vêm sendo buscadas tanto na religião quanto na mitologia destes povos.
Alguns, ao verem a criança nascer, se percebiam alguma deficiência, logo a condenavam à
morte e executavam-na, por entenderem que ela não teria condições de acompanhar o grupo
em sua evoluç
ão natural.
Outros não tiravam das crianças seu direito de viver, pois consideravam-nas sinais
divinos, sendo preciso mantê-las vivas por algum motivo “superior” que não procuravam
entender.
Também se podem encontrar justificativas para o tratamento dispensado aos
deficientes na Mitologia. Uma das funções dos mitos é a caracterização de um ser ideal,
perfeito, em que os homens miravam seus comportamentos e tentavam segui-los à
pormenorização.
Para exemplificar, recorreu-se ao mito do nascimento do deus grego Hefesto, filho da
deusa Hera. Este, ao nascer, causou grande espanto de decepção à sua mãe, pois era feio,
disforme e coxo, características inaceitáveis para o procedente de uma deusa, que, nessas
circunstâncias, não teria coragem de apresentá
-
lo aos deu
ses do Olimpo.
Hera, envergonhada com o aspecto de seu filho, atirou-o ao mar, agarrando-o por sua
perna mais curta. Ao fim da queda, Hefesto chocou-se numa pedra, ficando deficiente para
sempre. Criado longe de sua mãe, conta a Mitologia, que Hefesto se tornou um grande
artesão. Na Grécia, os artesãos eram discriminados por se tratar de pessoas inaptas para a
guerra, a mais ilustre das atividades que um homem poderia exercer. Posteriormente, quando
42
os artesãos adquiriram
status
, Hefesto foi considerado um deus, por excelência, devido a sua
proximidade com os homens.
também as explicações para discriminação dos portadores de deficiência, calcadas
nas superstições. Estas foram mais comuns na Antigüidade Clássica e na Idade Média, quando
o grande número de guerras e conflitos fazia com que se escolhessem homens perfeitos para o
combate, o que levou muitas crianças deficientes a serem exterminadas, conforme se
comprova no seguinte trecho:
Em Esparta, o processo de seleção para conseguir guerreiros fortes e sadios levou ao
sacrifício de indivíduos que apresentavam deficiências. O povo romano, por sua vez,
sustentava
-os para serem exibidos durante as festas populares (FERREIRA e
GUIMARÃES, 2003, p.65).
Fica evidente, então, que o tratamento dispensado aos portadores de algum tipo de
anormalidade, de deficiência, que fugissem aos padrões de normalidade vigentes a
determinadas épocas, assumiu aspectos diferenciados em sua totalidade. Um quadro
comparativo, apresentado por Ferreira e Guimarães (2003, p. 90) traz as concepções e noção
de inteligência e cognição através dos tempos, o que muito influenciou o tratamento
dispensado a essas pessoas.
43
Quadro 2
-
Concepções e noção de inteligência e cognição através dos tempos.
Período
Concepção
Noção de i
nteligência
Atitude
Até o séc.
XVI
Pré
-
formista
Atribuição das causas da
deficiência a forças sobrenaturais
humanas. A idéia de inteligência
pré
-
formada tira do meio e
do substrato orgânico qualquer
influência no seu desenvolvimento.
Práticas de extermíni
o,
perseguição, rejeição,
negligência, exclusão
dos deficientes.
Séc. XVII
e séc. XVIII
Pré
-
determinista
As causas de deficiência e da
anormalidade estariam
determinadas pelo substrato
biológico. As características
intelectuais do indivíduo dependiam
excl
usivamente da estrutura
genética herdada.
Confinamento dos deficientes
em asilos, hospitais, institutos.
Séc. XIX
Envolvimentalista
A ocorrência dos casos de
excepcionalidade é atribuída à
privação de estímulos. A
hereditariedade e os fatores
biológicos p
-
estruturados do
sistema nervoso são minimizados
em relação aos fatores do meio,
supervalorizados.
Início da educação para as
pessoas deficientes em
instituições , separados de
acordo com a deficiência.
Séc. XX (até
1970)
Interacionista
Entende
-
se que a
hereditariedade
não se opõe ao meio; sem
privilegiar o indivíduo (orgânico)
ou o meio, propõe
-
se a interação de
ambos como a forma mais coerente
de construção do conhecimento.
Democratização da Educação
Básica. Aumento da demanda de
matrículas escolares.
Criação de
classes especiais e de apoio.
Séc. XX
(a partir de
1970)
Modificabilidade
cognitiva (vertente do
Interacionismo)
A inteligência é concebida como
um processo interacional, flexível,
plástico, dinâmico e auto
-
regulado.
Discussão sobre
integração/
inclusão e aumento
do número de inserções de
crianças com deficiência no
sistema regular de ensino.
Fonte: FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação Inclusiva. Rio de Janeiro: DP&A,
2003
Mais recentemente, as complexas mudanças em curso na modernidade, marcadas pelo
processo de globalização econômica e cultural, exigem novas dinâmicas de interação social,
sublinhadas por reflexões críticas acerca dos paradigmas atuais e das práticas sociais que têm
surgido.
Um dos efeitos desse processo de mudanças ocorridas, principalmente no último
século, e que se intensificaram, vertiginosamente, nas últimas décadas, é a exigência de um
novo equacionamento do papel da educação, particularmente o da educação escolar.
44
No Brasil, a Educação Especial tem seu marco inicial na criação do Instituto dos
Meninos Cegos, em 12 de setembro de 1854, por meio do Decreto Imperial 1.428 e do
Instituto dos Surdos - Mudos, em 26 de setembro de 1.857, pela Lei nº 839, ambos no Rio de
Janeiro, então capital nacional. Ma
s, de acordo com Mazzotta (2001, p. 30):
Ainda no Segundo Império, há registros de outras ações voltadas para o atendimento
pedagógico ou médico-pedagógico aos deficientes. Em 1874 o Hospital Estadual de
Salvador, na Bahia, denominado Hospital Juliano Mor
eira
, iniciou a assistência aos
deficientes mentais.
Entretanto, percebe-se nesse período, devido ao cenário político-econômico nacional,
um total descaso pela educação básica, sobretudo, a educação das camadas mais pobres da
população e, nesse aspecto, p
ode
-se incluir o atendimento educacional aos portadores de
deficiência. O governo, à época, investia na educação superior, na ocasião, a educação que
interessava às elites nacionais, que, com investimentos nacionais neste setor, não mais
precisariam mandar
seus filhos ao exterior para estudar.
Reforçando essa concepção, Jannuzzi (1985, p. 25) assim se expressa:
Quanto à educação de deficientes, provavelmente surgiu pelo trabalho promovido
por algumas pessoas sensibilizadas com o problema, que encontraram a
poio
governamental, precário, é verdade, mas num momento em que a elite intelectual
estava preocupada em elevar o país ao nível do século.
Tratando assim desse público, evitariam gastos com hospícios, manicômios, asilos e
penitenciárias, o que muito onerava os cofres públicos e particulares. Mas esse atendimento,
essa educação, veio tomando corpo, sendo percebida como importante com o decorrer do
tempo, até mesmo devido a fatores econômicos.
Também isso [o tratamento dado à educação das pessoas deficientes] redundaria em
benefício dos normais, pois que o desenvolvimento de métodos e processos com os
menos favorecidos agilizaria a educação daqueles cuja natureza não se tratava de
corrigir, mas de encaminhar (JANNUZZI, 1985, p. 43).
45
Ao mesmo tempo em que se não se pode negar um crescimento no número de
iniciativas assistenciais da sociedade civil de atendimentos aos portadores de deficiência,
atrela
-se a essa medida uma concepção assistencialista, de concessão de favores, de proteção
aos desvalidos.
Esse caráter assistencial, marcadamente iniciado para atender às classes menos
favorecidas da população, acompanha por muito tempo e, até hoje, de certo modo, a educação
e a assistência a essas pessoas. Bueno (1993, p.86) assim reforça essa idéia:
O fato de, através de uma política de “favor”, terem sido criadas instituições que,
pelo menos, ofereciam abrigo e proteção a essa parcela da população, cumpria a
função de auxílio aos desvalidos, isto é, àqueles que não possuíam condições
pessoais de exercerem sua cidad
ania.
Em decorrência disso, acampanha-se, no Brasil, do final do século XIX até o início
dos anos 1950, um expressivo aumento no número de instituições, sobretudo, privadas e
algumas filantrópicas, de atendimento aos portadores de deficiência.
Assim, a ampliação dos serviços de atendimento ao anormal, ocorrida na primeira
metade deste século em nosso país, calcados numa concepção de irreversibilidade da
anormalidade, contribuiu decisivamente para a manutenção de uma visão
assistencialista, que colocou
-
os
no rol da filantropia e da caridade pública, excluindo
o atendimento do anormal da discussão sobre os direitos de cidadania (BUENO,
2001, p. 177).
Mesmo internamente, tais instituições tinham também a função de detectar os
“alunos
-problema”, com vistas a criar uma classe homogênea, ideal na concepção de
progresso e desenvolvimento vivenciados nessa época.
Somente a partir da Segunda Guerra Mundial é que a preocupação com atendimento,
tanto escolar quanto social, a essas pessoas veio tomar importância na pauta de discussões de
políticas públicas assistencialistas. O grande número de pessoas mutiladas, durante essa
guerra, despertou a sociedade para a importância dessa discussão.
46
A questão de deficiência, da anormalidade, tomou campo nas discussões sociais,
t
entando
-se estabelecer os limites entre a discriminação, a diferenciação e o preconceito.
Bueno (2001) trata da construção social do deficiente no Brasil, enfatizando que existia uma
noção de que seria necessário segregar o deficiente para educá-lo. Somente afastando-o dos
demais, conseguiriam sucesso em sua educação.
Estava implícita, porém, nesta concepção de necessidade de afastamento e de
segregação social, a preocupação de “proteger” os “normais” em sua educação.
Bueno (2001, p. 175) revela que, para isso, foi preciso criar a idéia da benevolência do
afastamento:
Assim, foi se construindo uma representação social do internato, não pela
população em geral, mas, principalmente, pelos próprios deficientes, como, mais do
que ambiente segregado, um local onde poderiam viver sem ser molestados,
convivendo com seus “iguais”, protegidos contra aqueles que não lhes
compreendem, isto é, criando uma cultura própria em que a instituição total, mais do
que sua algoz, é encarada como sua aliada.
Ess
a concepção de normal e anormal traz em si um amplo campo de debates, na
medida de se tentar entender e, até mesmo, verificar a existência de um padrão de
normalidade, para, por intermédio deste, também determinar um padrão de anormalidade.
O que se pode perceber, com certa evidência, é que esses conceitos são varáveis em
épocas distintas. Portanto:
Assim é que o conceito de anormalidade social não vai, historicamente, apenas se
refinando ou se tornando cada vez mais preciso, mas vai se modificando, na med
ida
em que as condições sociais vão sendo transformadas pela própria ação do homem e
que geram novas necessidades na relação indivíduo-meio social (BUENO, 2001,
p. 166).
Ainda dentro dessa discussão sobre normalidade e anormalidade, Ferreira (1994) tr
az
à tona o conceito de excepcionalidade como uma decorrência natural da mesma. Para ele,
dentro dessa perspectiva, o excepcional seria “alguém que se distancia dos padrões de
47
‘normalidade’ a ponto de requerer ou justificar cuidados especiais” (FERREIRA, 1
994,
p. 13).
Assim, a discussão de determinados termos, tais como segregação, normalização,
integração, exclusão, entre outros, faz muita diferença numa conceituação e determinação de
que tipo de atendimento, educacional ou não, seria o mais indicado em cada situação,
respeitadas as especificidades naturalmente existentes entre as pessoas.
Para Ferreira (1994, p. 11): “Os princípios de normalização e integração significariam,
na educação, a garantia de acesso dos excepcionais ao ensino regular com o mínimo de
segregação possível”. Ainda segundo este autor, ao institucionalizar-se a prática da
“anormalização”, contribui-se significativamente para o aumento da segregação, na medida
em que se colabora para o afastamento dos “anormais” do mundo dos “nor
mais”.
Essa conceituação de excepcionalidade está estritamente relacionada a determinadas
questões, tais como produtividade, autonomia e adaptabilidade do sujeito, em um determinado
meio. Para Ferreira (1994, p. 14):
Tipicamente, a diferença ou deficiência que transforma o diferente em excepcional
tem a ver com os processos de autonomia e independência pessoal e, principalmente,
produtividade. Assim, destacam-se itens que se relacionam com demandas
específicas de adequação às normas sociais; em termos de integração social, de
atuação escolar, de adaptação ao mercado de trabalho.
O próprio termo integração, utilizado aqui com o significado de unir o deficiente ao
não
-deficiente, no sentido de tornar os dois “iguais”, tem um lado ambíguo. O princípio da
inte
gração é assim definido pela Portaria do MEC (Ministério da Educação e Cultura)
69/86:
Integração
- caracterizada como um processo dinâmico e orgânico, envolvendo
esforços dos diferentes segmentos sociais, para o estabelecimento de condições que
possib
ilitam às pessoas portadoras de deficiências, com problemas de conduta e
superdotados, tornar
-
se parte integrante da sociedade como um todo.
48
A ambigüidade referente a este termo, integração, é levantada pelo Parecer da Câmara
de Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação, CNE/CEB nº14/1999, que
trata das “Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Escolar Indígena”, e, segundo este
Parecer, uma política integracionista, surgida no Brasil, a partir dos anos 1980, “começava por
reconhecer a diversidade das sociedades indígenas que havia no país, mas apontava como
ponto de chegada o fim dessa diversidade” (p.4).
Pode
-se estender esse entendimento acerca do termo integração aos portadores de
deficiência, no sentido de que, ao serem integrados à sociedade dos “normais”, teriam aqueles
que igualar-se a estes. Isso somente faria aumentar a segregação até então existente, uma vez
que a igualdade pretendida encontra barreiras que não são superáveis, em curto e médio
prazo, sobretudo considerando
-
se
certas deficiências.
Essa discussão leva ainda a uma outra, rica tanto em concordâncias quanto em
discordâncias, que é a questão do direito e respeito às diferenças. O princípio da igualdade
está expresso de forma clara e, até mesmo, contundente, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948,
em seus artigos I e VII, que proclamam:
Art. I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade.
(...)
Art.
VII
- Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a
igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação.
A educação também faz parte desta declaração, que é lembrada no texto, em seu
artigo XXVI, cuja letra traz o seguinte:
49
Art. XXVI
1.
Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
2.
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos.
Também se pode recorrer a vários outros documentos internacionais que expre
ssam
esse princípio como, por exemplo, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes
,
resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75,
que traz em seu texto o seguinte:
1
- O termo "pessoas deficientes" refere-
se
a qualquer pessoa incapaz de assegurar
por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou
social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou o, em suas
capacidades físicas ou mentais.
2
- As pessoas deficientes gozarão de todos os diretos estabelecidos a seguir nesta
Declaração. Estes direitos serão garantidos a todas as pessoas deficientes sem
nenhuma exceção e sem qualquer distinção ou discriminação com base em raça, cor,
sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem social ou nacional, estado
de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que diga respeito ao próprio
deficiente ou a sua família
.
Nesse documento, além da declaração do direito à igualdade, tem-se a preocupação de
conceituar o termo deficiência, para que, assim, as discordâncias acerca desse conceito sejam,
senão extintas, pelo menos pormenorizadas.
Outro documento, de circulação e validade internacional nesse sentido, é a De
claração
de Direitos do Deficiente Mental, proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em
20 de dezembro de 1971, que vem carregando em seu texto, além do caráter igualitário de
direitos, no artigo 1º: “O deficiente mental deve gozar, no máximo grau possível, os mesmos
direitos dos demais seres humanos”, também traz considerações às diferenças, em seu artigo
7º, explicitando o seguinte:
50
Se alguns deficientes mentais não são capazes, devido à gravidade de suas
limitações, de exercer efetivamente todos os seus direitos, ou se se tornar necessário
limitar ou até suspender tais direitos, o processo empregado para esses fins deverá
incluir salvaguardas jurídicas que protejam o deficiente contra qualquer abuso. Esse
procedimento deverá basear-se numa avaliação da capacidade social do deficiente
por peritos qualificados. Mesmo assim, tal limitação ou suspensão ficará sujeita a
revisões periódicas e reconhecerá o direito de apelação para autoridades superiores.
Em nível nacional, também há vários instrumentos legais que tratam de dar assistência
e proteção jurídica aos portadores de deficiência, inclusive no campo educacional. Para
Ferreira (1994, p. 36):
A legislação educacional “especial” apresenta uma contradição peculiar; de um lado,
está o convencimento de que a criação de legislação específica para pessoas
defi
cientes pode resultar em aumento da segregação e estigmatização dos indivíduos;
de outro, está a crença de que a referência legal é um patamar mínimo para assegurar
o atendimento de direitos básicos dos deficientes, inclusive na área da educação.
Também Bobbio (1992), em sua declarada defesa aos direitos humanos fundamentais,
entre eles a educação, enfatiza que o mais importante hoje não é a declaração formalizada
em leis de direitos proclamados, mas o que evidencia a preocupação dele (Bobbio), e deveri
a
ser de todos, é justamente a efetivação e aplicação desses direitos declarados. Não basta
apenas declarar e assegurar direitos, é preciso, sobretudo, lutar para que esses mesmos direitos
sejam efetivados e cumpridos na prática.
No entanto, é pertinente analisar, paralelamente ao desenvolvimento político-social da
Educação Especial, a evolução política, no que diz respeito ao campo educacional, no País e,
para isso, faremos uma breve retrospectiva histórica da política educacional nacional.
51
1.3 –
Hist
órico da legislação educacional brasileira
Considerando que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos, o
desafio é construir uma sociedade democrática, calcada na igualdade e na liberdade, na qual
os direitos humanos sejam respeitados e protegidos, repudiando-se as desigualdades sociais e
todas as perversas formas de discriminação de qualquer indivíduo.
A formação de uma sociedade com estes preceitos de eqüidade, de igualdade e justiça
social demanda um aporte jurídico consistente, que desaprove toda e qualquer forma de
discriminação. Para tanto, uma evolução tanto do ponto de vista legal quanto cultural deve ser
pano de fundo desse cenário de evolução social.
No Brasil, a proteção legal aos portadores de deficiência tem sua história recente e
ainda em constante desenvolvimento, com vistas a sempre aperfeiçoar este atendimento.
No que confere à proteção ao direito à educação dessas pessoas, segundo Jannuzzi
(1985, p. 19): “A educação dessas crianças surgiu institucionalmente, mas de maneira tímida,
no conjunto das concretizações possíveis das idéias liberais, que tiveram divulgação no Brasil
no fim do século XVIII e começo do XIX”.
Essa foi uma constatação feita em decorrência do sistema vigente à época. O Brasil,
um país basicamente de economia fundada na agricultura, não via uma explicação plausível
que o fizesse investir em educação para as massas, embora na Constituição Política do
Império do Brasil, jurada a 25 de março de 1824, em seu artigo 179, rezasse o seguinte:
Art.
179
- A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros,
que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida
pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte:
(...)
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a
todos os Cidadãos.
XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das
Sciencias, Bellas Letras, e Artes.
52
Nessa perspectiva, está claro que o atendimento às pessoas portadoras de deficiências
estaria relegado a um segundo plano. Se a educação fundamental estava declarada ao alcance
de todos os cidadãos, porém, o complicado, nesse momento, é trazer este conceito de cidadão
para o nosso entendimento de hoje.
Segundo Jannuzzi (1985), esse apagado desenvolvimento do ensino fundamental tr
az
consigo também uma modesta consideração ao atendimento educacional das crianças
deficientes mentais, acarretando no quase nulo número de instituições para atendimento a
essas pessoas.
Ainda segundo essa autora:
No entanto, a sociedade se protegia juridicamente do adulto deficiente na
Constituição de 1824 (Título II, Art. 8°, item 1°), privando do direito político o
incapacitado físico ou moral (Barcellos, 1993). E o atendimento escolar começou
com este deficiente físico, em instituição especializada, particular, em São Paulo,
junto à irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em 1600, portanto ainda no Brasil
Colônia (JANNUZZI, 1985, p. 21).
A sociedade eminentemente rural e, por isso mesmo, muito pouco urbanizada, não
valorizava a educação básica, fundamental, voltada para todas as pessoas. Na época, maior
valor era dado à educação superior, que era a educação da elite brasileira. Nessa perspectiva,
nem mesmo uma definição do que seria deficiência era adotada, tornando até mesmo confuso
diferenciar os
normais dos anormais escolares.
Nesse sentido, Jannuzzi (1985, p. 23) esclarece:
A educação popular, e muito menos a dos “deficientes mentais”, não era motivo de
preocupação. Na sociedade ainda pouco urbanizada, apoiada no setor rural,
primitivamente aparelhado, provavelmente não eram considerados “deficientes”;
havia lugar, havia alguma tarefa que executassem.
O silêncio a respeito do atendimento a essas pessoas era tão grande que até mesmo a
tarefa de identificá-las, em relatos da época, se torna complicado, o que se leva a considerar a
53
ausência de uma definição, senão clara, pelo menos passível de entendimento, sobre a questão
do deficiente.
O que se tem evidente é que a aristocracia, eminentemente rural à época, não tinha o
menor interesse em investir em educação como peça de qualificação de mão-
de
-obra, por dois
motivos claros: em primeiro lugar, por se tratar de serviço claramente braçal, que não exigia
nenhuma qualificação mais seletiva que não fosse física. Em segundo lugar, porque essa
mesma o-
de
-obra era escrava, portanto, pode-se assim considerá-la descartável, tida como
mercadoria, propriedade do aristocrata. Desse modo, à medida que não o servisse mais, era
descartada, trocada por outra. Nesse cenário, os portadores de deficiência nem eram
con
siderados nessa discussão, na medida em que não tinham condições de produzir, de serem
rentáveis, até mesmo pelo tipo de trabalho, que, como se viu, exigia basicamente trabalho
físico.
Passando adiante nessa análise histórica da evolução da legislação educ
acional
brasileira, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada a 24 de
fevereiro de 1891, traz muito progresso em relação à anterior. Nela se percebe o seguinte, em
seus artigos 35 e 72:
Art. 35
-
Incumbe, outrossim, ao Congresso
, mas não privativamente:
1º) velar na guarda da Constituição e das leis e providenciar sobre as necessidades de
caráter federal;
2º) animar no País o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a
imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que tolham a ação
dos Governos locais;
3º) criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados;
4º) prover a instrução secundária no Distrito Federal.
(...)
Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
§ 6º
-
Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
§ - Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de
dependência ou aliança com o Governo da União ou dos Estados.
54
Essa Constituição é omissa em relação à gratuidade da educação, porém não se cala
no que diz respeito à liberdade de ensino, mas, de toda forma, evidencia-se um caráter
descentralizador da função do Estado com relação ao financiamento da educação, ponto esse
de vital importância.
Com esse mesmo entendimento, Cury (2000, p. 572) afirma:
A gratuidade do ensino merece outras considerações, que ela é um modo de
desprivilegiar e tornar comum o acesso à escola. O império a incluía, mas excluía
dela boa parte da população; a Constituição republicana de 1891 cala-se sobre o
assunto pois, radicalizando a autonomia dos estados, deixava essa “faculdade” às
con
stituições dos mesmos.
Tal descentralização das funções do Estado Maior se deu em função da evidente
concepção liberal vista nessa Carta de 1891. Porém, tal liberdade, concedida por essa
crescente autonomia dos Estados federados, tem sua contraposição no seguinte argumento: os
Estados não possuíam, à época, considerável arrecadação, o que conseqüentemente os
impediria de proporcionar educação gratuita e, sobretudo, de qualidade, aos cidadãos.
Isso acarretou, em alguns Estados, a transferência dessa incumbência aos Municípios,
entes ainda mais fracos em arrecadação. A esse respeito, Cury (2000, p. 573) diz:
Sob o regime federativo adotado no país, as constituições estaduais e as leis
orgânicas dos municípios (sobretudo após 1988) são uma importante fonte para se
repensar a legislação, com ênfase especial na sua tradução estadual e no
desvendamento do cotidiano das instituições escolares. Após 1891, muitos estados
assumiram a gratuidade, mas boa parte deles repassou aos Municípios, pobres em
arrecadação de i
mpostos.
Com relação à proteção legal aos portadores de deficiência, essa Carta traz somente o
seguinte, em seu artigo 72, §2º: “Todos são iguais perante a lei”. Então, fica evidente que,
assim como na Constituição de 1824, nada se declara especificamente
sobre essas pessoas.
A Constituição da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, promulgada
em 16 de julho de 1934, traz, em seu texto, grandes avanços sociais. No que compete à
55
educação, ela é ainda mais avançada que as anteriores. Um grande número de artigos é
referente à regulação do sistema nacional de ensino
7
.
Essa constituição, fortemente influenciada pelo espírito da Revolução de 1930, é
marcada por diferenciar-se muito das anteriores, em vários aspectos
8
. Considera-se que o
Estado não pode
se omitir do controle de certos pontos da sociedade, e um deles é a educação,
até mesmo, como medida preventiva na contenção de movimentos rebeldes. Segundo Cury
(2000, p. 573): “A Constituinte de 1933 e a Constituição de 1934 vão se moldar a partir do
espírito de maior interveniência do Estado sobre o social, com o objetivo de tentar minimizar
as desigualdades sociais e impedir a eclosão de movimentos contestatórios”.
Também é a Constituição de 1934 que, pela primeira vez, declara a educação como
direito
de todos e enfatiza que o Estado, em conjunto com a família, tem o dever de oferecê-
la
9
. Este é um passo fundamental na construção de um sistema de ensino que receba todas as
pessoas e, dessa forma, democratize o acesso de minorias, antes discriminadas, e
mbora
sutilmente, à escola.
Ponto fundamental dessa Carta é a, a então, inédita determinação da função do
Estado em elaborar o Plano Nacional de Educação
10
, a criação de um Conselho Nacional de
7
Estes artigos podem ser consultados no próprio texto constitucional de 1934, mas, para facilitar a localização,
segue uma lista deles: art. 5°, art. 48, art. 150, art. 151, art. 152, art. 153, art
. 154, art. 155, art. 156, art. 157 e art.
158.
8
Para maiores esclarecimentos, confira: FÁVERO, Osmar (Org.).
A Educação nas Constituintes brasileiras
1823
-
1988.
Campinas: Autores Associados, 2001.
9
Art. 149 - A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e pelos Poderes Públicos,
cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite
eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da
solidariedade humana.
10
Art. 150
-
Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus
e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País.
56
Educação e também de Conselhos Estaduais de Educação
11
, uma vez que a função da União
seria supletiva, naquilo que os Estados federados não conseguissem alcançar.
Com relação à proteção aos portadores de deficiência, essa Constituição traz consigo
enormes inovações. Araújo (1994, p.67), a esse respeito acrescenta: “A Constituição de 1934
traz o dispositivo que consagra a igualdade no inciso I do artigo 113. Revelando o caráter
social da Constituição de 1934, podemos encontrar o embrião do conteúdo do direito à
integração social da pessoa deficiente”.
Contudo, que se destacar que essa Constituição, em seu artigo 138, contém
dispositivos que podem ser considerados, no mínimo, ambíguos. Vejamos o conteúdo deste
artigo:
Art. 138 - Incumbe União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis
respectivas:
a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os
serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar;
b) estimular a educação eugênica:
(...)
e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono
physico,
moral e intelectual;
f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir mortalidade e a
morbidade infantis; e de hygiene social, que impeçam à propagação das doenças
transmissíveis;
g) cuidar da hygiene mental e incentivar a lucta cont
ra os venenos Sociais.
a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, outorgada pela ditadura do Estado
Novo a 10 de novembro de 1937, não carrega, em seu texto, grandes alterações em relação à
carta anterior. Do ponto de vista da proteção legal aos portadores de deficiência, Araújo
(1994, p.67) acrescenta:
11
Art. 152 - Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Educação, organizado na forma da lei, elaborar o
plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar
necessárias para a melhor solução dos problemas educativos bem como a distribuição adequada dos fundos
especiais.
Parágrafo único - Os Estados e o Distrito Federal, na forma das leis respectivas e para o exercício da sua
competência na matéria, estabelecerão Conselhos de Educação com funções similares às do Conselho Nacional
de Educação e departamentos autônomos de administração do ensino.
57
A Constituição de 1937 não avança na idéia embrionária do texto de 1934
restringindo
-se a proteger, apenas, a igualdade , no inciso I do artigo 122 e, em
linhas gerais, reproduzir a idéia já garantida
pela Constituição anterior, em seu artigo
127(...).
Um retrocesso que deve ser apontado nessa Constituição é a retirada do texto que
vincula recursos estaduais para a manutenção e expansão da educação fundamental e gratuita,
em todo o País. Isso fica cla
ro quando se analisa o texto do artigo 129, que também deixa bem
nítida a proteção governamental à educação profissionalizante, às camadas menos favorecidas
da população. Esse artigo enfatiza em seu texto o seguinte:
Art. 129 - À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à
educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos
Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos
os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas
faculdades, aptidões e tendências vocacionais.
O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é em
matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse
dever, fundando institutos de ensino
profissional e subsidiando os de iniciativa dos
Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e
profissionais.
É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua
especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de
seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que
caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e
subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público.
O artigo 130
desta mesma Carta, de 1937, traz:
Art. 130 - O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não
exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por
ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não
puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa
escolar.
Passando para a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de
setembro de 1946, ela trará algumas discussões, por vezes, não evidentes nas Cartas
anteriores, como a questão do dever da família na educação de suas crianças
12
, questão do
12
Cf. Art. 166.
5
8
ensino religioso nas escolas públicas
13
, subsídios da educação nacional, obrigatoriedade e
gratuidade, financiamento da educação
14
e, finalmente, a discussão sobre as responsabilidades
das esferas o poder público com relação ao ensino (OLIVEIRA, 2001).
Motta (1997) salienta que a Constituição de 1946, em sua essência, é deveras muito
parecida com a Constituição de 1934 e, no que cabe à educação, aquela é mais enxuta que
esta.
Importante, também, no contexto de elaboração e promulgação desta, é o fato de ser
uma época de pós
-
guerra. Nessa perspectiva, Oliveira (2001, p. 153) completa:
Ao final da Segunda Grande Guerra Mundial, os conflitos político-
ide
ológicos são
redefinidos em escala mundial. A alternativa nazi-fascista estava derrotada e, por
todo um período, afastada enquanto possibilidade nas transformações política pelas
quais determinado país viesse passar.
Como se percebe, será num efervescente cenário político que nascerá a Constituição
de 1946. Muitas posições de embates terão de ser contornadas para que se efetivasse as
pretensões existentes. Oliveira (2001, p. 164) esclarece melhor esse ponto, ao salientar que:
“A forma de dominação implantada com a Constituição (de 1946) expressa contradição entre
a manutenção das desigualdades e a emergência das massas populares como agente a ser
considerado”.
Segundo, ainda, Oliveira (2001), pode-se, resumidamente, considerar que os debates
realizados durante a Constituição de 1946 se deram em torno das questões relativas ao ensino
publico e privado e, mais detidamente, na relação entre Estado e Igreja e suas conseqüentes
influências no meio educacional.
Mas essa Constituição também garante o direito à igualdade, no Capítulo II
Dos
Direitos e Garantias individuais
-
em seu artigo 141, quando este traz em seu texto:
13
Cf. Art. 168, inciso V.
14
Cf. Art. 169.
59
Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:
§ 1º Todos são iguais perante a lei.
Com relação ao tratamento educacional aos portadores de deficiência, essa Carta é
omissa, o que se resolverá, em certa medida, mais adiante, com
a aprovação, quinze anos mais
tarde, da Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional
15
, de 20 de dezembro de 1961.
Em se tratando especificamente da educação de portadores deficiência, essa lei dedica
o TÍTULO X, que recebe o nome de Da Educação dos Excepci
onais
, que possui dois artigos
destinados a esse fim, sendo:
Art.
88
- A educação de excepcionais, deve, no que fôr possível, enquadrar-se no
sistema geral de educação, a fim de integrá
-
los na comunidade.
Art. 89 - Tôda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de
educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos
tratamento especial mediante bôlsas de estudo, empréstimos e subvenções (LEI
DIRETRIZES e BASES da EDUCAÇÃO NACIONAL de 1961).
Os artigos supracitados representam um enorme avanço, pelo menos no que diz
respeito à presença, em documentos legais, da necessidade de se ter legislação específica no
tratamento dessas pessoas. Sobretudo no artigo 88, que garante, quando for o caso, a
integraçã
o de portadores de deficiência ao sistema geral de ensino.
Após o Golpe Militar de 1964, depois de três atos institucionais e inúmeras emendas
constitucionais à Constituição de 1946, surge a Constituição do Brasil, de 24 de janeiro de
1967.
Num incipiente cenário político, pode-se ter idéia do calor das discussões acerca da
educação nacional, o mesmo podendo inferir-se com relação ao papel do Poder Legislativo e
do Poder Executivo. Horta (2001, p.237) assim se expressa a esse respeito: “O estudo do
processo
de gestação, elaboração e promulgação da Constituição de 1967 permite, em
15
Cf. Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que : “Fixa as Diretrizes da Educação Nacional”.
60
primeiro lugar, identificar os estreitos limites do Legislativo em um regime de ‘democracia
excludente’”.
Não se pode deixar de considerar o autoritarismo vigente, na época, como o
grande
“guia” a ser seguido, principalmente, no que diz respeito à formulação de leis nacionais. Com
um projeto de educação nacional, não seria de outra forma, ainda mais compreendendo, como
era o caso, a importância da formação intelectual e o “perigo” que isso no fundo representava
para classe dominante, autoritária.
Nesse sentido, Fávero (2001, p.253) faz a seguinte análise:
Tratou
-se de adequar o projeto educacional, em todos os níveis e em todas as
modalidades do ensino e da formação profissional, ao novo projeto nacional. Para
tanto, princípios, diretrizes, experiências, mecanismos e instrumentos foram
abandonados, extintos ou substituídos.
Nesse mesmo cenário, é elaborada a Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que “Fixa
Diretrizes e Bases para o ensino de e graus e, outras providências”. O tratamento
dado à educação de deficientes nesta lei é resumido a dois artigos, que trazem o seguinte em
seus textos:
Art.
- Os currículos do ensino de e graus terão um núcleo comum,
obrigatóri
o em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as
necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos
estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos.
(.
..)
Art.
- Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se
encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os
superdotados deverão receber tratamento especial, de acôrdo com as normas fixadas
pelos competentes Conselhos de Educação (LEI Nº 5.692, de
11 de agosto de 1971).
Louvável, nesse diploma constitucional de 1967, é a Emenda 1
16
, de 17 de outubro
de 1969, que traz grande inovação, ao expressar, pela primeira vez, num texto constitucional,
a proteção à educação de pessoas portadoras de deficiên
cia, ao assim dispor:
16
Publi
cada no Diário Oficial de 20 de outubro de 1969.
61
Art. 175 - A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos
poderes públicos.
(...)
Parágrafo quarto – Lei especial sobre assistência à maternidade, à infância e a
adolescência e sobre a educação de excepcionais.
Há, do mesmo modo, que se ressaltar que é, nesta Constituição de 1967, por meio da
Emenda Constitucional 12
17
, promulgada em 17 de outubro de 1978, que se o mais
importante passo em direção ao atendimento especializado, por exemplo, quando se garante
aos portadores de deficiência a gratuidade desta educação
18
.
Tal mudança de visão e de vigência legal traz consigo um aumento considerável de
possibilidades e de esperanças a essas pessoas, pois ali surgia o princípio de uma mudança de
postura social, mais
inclusiva. Araújo (1994, p. 69) expressa isso muito bem, quando diz:
Na realidade, a inserção da proteção específica dos direitos das pessoas portadoras
de deficiência surgiu após a efetivação dos direitos sociais nos diplomas
constitucionais modernos. (...) é a partir da Segunda Guerra Mundial que se verifica
a necessidade das “prestações positivas do Estado”, momento em que, diante da
quantidade de vítimas do conflito, surge a necessidade de proteger a pessoa
portadora de deficiência.
De acordo Figueiredo (1997), justificava essa Emenda a crescente tomada de
consciência, nos demais países, de que os portadores de deficiência possuem o direito a uma
vida digna e, acima de tudo, de terem o mesmo direito e iguais condições a todas as pessoas e
que, por i
sso, era preciso pôr termo à segregação.
Este é somente um apanhado geral da legislação brasileira, no que cabe à educação e
sua crescente evolução legal. Obviamente, não se tem o intento de esgotar aqui este assunto,
17
Publicada no Diário Oficial de 19 de outubro de 1969.
18
Traz o texto desta Emenda:
Parágrafo único É assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica, especialmente
mediante:
I
educação especial gratuita;
II
assistência, reabilitação reinserção na vida econômica e social do país;
III
proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários;
IV
possibilidade de acesso a edifício
s e logradouros públicos.
62
nem muito menos referendar todas as leis pátrias referentes a essas pessoas. Mas, para isso, a
Editora da Câmara dos Deputados traz, no rol de suas publicações, farto material a respeito
19
.
No entanto, todo esse desenrolar de fatos e acontecimentos históricos, no campo da
política e, mais especificamente, no âmbito da legislação educacional, torna-se necessário
analisar, neste momento, sob quais pressupostos e em que base legal, a educação se encontra
apoiada.
1.4
-
A atual legislação educacional em nível federal
A educação é um elemento fundamental para a realização da pessoa humana. Não
apenas a educação escolar, mas a educação no seu sentido amplo, pensada num sistema geral,
que implica a educação escolar, mas que não se basta nela, porque o processo educativo
começa com o nascimento e termina apenas no momento da morte do ser humano. Isso pode
ocorrer no âmbito familiar, na comunidade, no trabalho, junto aos amigos, nas igrejas e em
outros ambientes. Os processos educativos permeiam a vida das pessoas
20
. A educação é um
ato político, na medida em que envolve relações pessoais, interpessoais e também de grupos
de indivíduos. Discutir essa temática implica também referenciar aspectos legais que a
abranjam, pois a educação escolar é um direito garantido por lei a todas as pessoas.
O direito à educação é uma área rica em debates e ganha espaço a cada dia.
Atualmente, pode-se considerar que quase não países em que a educação não seja
considerada um direito garantido em lei. A esse respeito, acrescenta Bobbio (1992, p.75):
19
Consultar www.camara.gov.br, entretanto, uma boa referência acerca do conjunto legal a esse respeito pode
ser encontrada em: BRASIL. Legislação brasileira sobre pessoas portadoras de deficiência. Brasília: Câmara
dos Deputados,
2004.
20
Cf. Art. 1º da LDB, Lei nº 9.394/96.
63
Não existe atualmente nenhuma carta de direitos, para darmos um exemplo
convincente, que não reconheça o direito à instrução – crescente, de resto, de
sociedade para sociedade primeiro elementar, depois secundária, e pouco a pouco
até mesmo universitária.
Com este mesmo entendimento, porém, numa visão mais ampla, vejamos o que
Monteiro (2003, p.769) acrescenta, numa definição do conteúdo do direito à educação:
O direito à educação é um direito de “toda pessoa”, sem discriminação alguma e sem
limites de tempo ou espaços exclusivos para o seu exercício. É direito da criança e
do adulto, da mulher e do homem, seja qual for a sua capacidade física e mental, a
sua condição e situação.
Por se tratar de um direito reconhecido, é preciso que seja garantido, reconhecido e,
para isso,
tem
-se de assegurar que ele esteja inscrito em lei de caráter nacional, no caso do
Brasil, a Constituição Federal. Nessa Carta Magna, uma seção é reservada à educação e, em
seu artigo 205, ela diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Este artigo define os objetivos da educação nacional, dá ênfase à formação e ao
desenvolvimento da pessoa, a sua preparação para o trabalho e a sua efetiva formação cidadã.
Nesse mesmo sentido, Vieira (2001, p.14) ressalta:
Com relação à política educacional, a Constituição Federal de 1988 concede amplos
direitos, confirmando e ampliando o interesse social pela educação. Desde a
Constituição monárquica de 1824, a primeira Constituição brasileira, a educação
irrompe o fundamento da política social, que só alcança maior abrangência durante o
século XX.
Também Cury (2002, p.
259) se expressa a esse respeito:
A declaração e a garantia de um direito tornam-
se imprescindíveis no caso de países,
como o Brasil, com tradição elitista e que tradicionalmente reservam apenas às
camadas privilegiadas o acesso a este bem social. Por isso, declarar e assegurar é
mais do que uma proclamação solene. Declarar é retirar do esquecimento e
64
proclamar aos que não sabem, ou esqueceram, que eles continuam a ser portadores
de um direito importante. Disso resulta a necessária cobrança deste direito q
uando
ele não é preservado.
Mas é, em seu artigo 208, no § , que essa Lei declara o acesso ao ensino
fundamental obrigatório e gratuito como direito público e subjetivo. Antes de passarmos,
especificamente, à educação das pessoas portadoras de necessidades especiais, vamos explicar
em que consiste esse direito.
A esse respeito, Cury (2000, p.21) esclarece:
Direito público subjetivo é aquele pelo qual o titular de um direito pode exigir direta
e imediatamente do Estado o cumprimento de um dever e de uma obrigação. O
titular deste direito é qualquer pessoa, de qualquer idade, que não tenha tido acesso
à escolaridade obrigatória na idade apropriada ou não.
A educação, como obrigação do Estado, é um direito subjetivo por ser direito de toda
pessoa, inerente a qualquer um, mesmo não estando essa pessoa em idade escolar, que a
Constituição de 1988 garante o ensino público e gratuito do ensino fundamental a qualquer
pessoa
21
. E recebe o nome de direito público, na medida em que se trata de uma regra jurídica
que serve para regular os interesses dos poderes públicos, elevando, dessa forma, o Estado
como sujeito da ação de oferecer o que a lei garante.
É com o nascimento do Estado de direito que ocorre a passagem final do ponto de
vista do príncipe para o ponto de vista dos cidadãos. No Estado despótico, os
indivíduos singulares têm deveres e não direitos. No Estado absoluto, os
indivíduos possuem, em relação ao soberano, direitos privados. No Estado de direito,
o indivíduo tem, em face do Estado, não direitos privados, mas também direitos
públicos. O Estado de direito é o Estado dos cidadãos (BOBBIO, 1992, p. 61).
O direito subjetivo potencializa o indivíduo para a exigência do cumprimento desse
direito que lhe é ofertado e garantido por lei. Do mesmo modo, a respeito do tratamento da
educação, como direito público e subjetivo, Motta (1997, p.184) acrescenta: “No § do art.
21
Art. 208 inc. I “ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para
todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria”.
65
208, o direito de acesso ao ensino obrigatório e gratuito deixa de ser uma simples tese ou
faculdade, para se transformar, efetivamente, em um direito público subjetivo, isto é, viável
de prestação jurisdicional”.
Quando se diz que o direito à educação é viável de prestação jurisdicional, entende-
se
que a não efetivação deste é passível de punição judicial, ou seja, estão os meios legais à
disposição de quem se sentir prejudicado em seu direito, público e subjetivo, que é a
educação. A esse respeito, o artigo 5º da LDB assim traz em seu texto:
Art. 5º - O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo
qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público,
acionar o poder público para exigi
-
lo.
(...)
§ 3
º
Qualquer das partes mencionadas no
caput
deste artigo tem legitimidade para
peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2
o
do art. 208 da Constituição
Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o
oferecim
ento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de
responsabilidade
.
Também vale ressaltar que o Brasil é signatário de acordos e declarações de âmbito
internacional que garantem, entre outras coisas, o direito a uma educação de qualidade pa
ra
todas as pessoas. Nesse sentido, Vieira (2001, p.17) enfatiza:
Relativamente à educação, o Brasil submete
-
se a pactos internacionais, firmados por
ele, como por exemplo, só na década de 1990: a Conferência Internacional de
Educação para Todos, Jomtien,
Tailândia, 1990; a Declaração de Nova Delhi, Índia,
1993; a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, Cairo,
Egito, 1994; a Cúplula Mundial de Desenvolvimento Social, Copenhague,
Dinamarca, 1995; a Conferência sobre a Mulher, Beijing, China, 1995; a
Afirmação de Aman, Jordânea, 1996; a 45ª Conferência Internacional da Unesco,
Genebra, Suíça, 1996 e a Declaração de Hamburgo, Alemanha, 1997.
O Brasil tem definido e participado de processos de elaboração de políticas públicas
de promoção da igualdade de direitos e oportunidades de educação inclusiva. Destaca-
se,
ainda, a adesão do Brasil em outros dois documentos internacionais, a saber: a Declaração de
66
Salamanca, em 1994 e a Convenção Interamericana para Eliminação de todas as Formas de
Discriminação contras as Pessoas Portadoras de Deficiência, em 1999
22
, também conhecida
como Convenção da Guatemala na qual o Brasil teve atuação mais destacada em sua
formulação e aplicação, o que afirma a posição brasileira de sintonia com movimentos
internacionais de defesa dos direitos humanos.
A Convenção da Guatemala vem reafirmar a garantia das pessoas portadoras de
deficiência de terem os mesmos direitos e deles usufruírem assim como todas as demais
pessoas. Em seu artigo I, item 2 letra a, trata de estabelecer a definição de “discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência”, quando expressa:
o termo "discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência" significa toda
diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de
deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência
presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência
de seus di
reitos humanos e suas liberdades fundamentais.
Ao passo que, a letra
b
desse mesmo item, faz uma distinção e assegura o seguinte:
Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado
Parte para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos
portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si
mesma o direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar
tal diferenciação ou preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a
declaração de interdição, quando for necessária e apropriada para o seu bem-
estar,
esta não constituirá discriminação.
Em seu artigo II completa: “Esta Convenção tem por objetivo prevenir e eliminar
todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua
plena integração à sociedade”.
A transformação do sistema de ensino é caminho certo a ser seguido para que se
alcance esse fim. A atual política educacional brasileira compreende, em suas metas, a
22
O Brasil promulga tal Convenção atr
avés do Decreto nº 3.956, de 08 de outubro de 2001.
67
inclusão de crianças e jovens portadores de deficiência na escola regular, com apoio de
atendimento educacional especializado, quando necessário.
Tratando
-se de educação, o objetivo essencial de tal inclusão é a equiparação de
oportunidades educacionais para se igualarem os direitos de todos à educação, com ênfase nos
alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, com apoio necessário e recursos
adequados.
A legislação brasileira determina que a Educação Especial deva ser oferecida,
preferenc
ialmente, na rede regular de ensino, indicando claramente a concretização de uma
política de inclusão.
Na Carta Magna de 1988, o artigo 208 é que faz referência ao atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, quando diz “atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino”
(art. 208
inc. III).
Trata
-se de reconhecer, cada vez mais, a importância e a necessidade de se
proporcionar a essas pessoas direitos e oportunidades iguais, no que se refere à formação e
educação. Segundo Motta (1997, p.182): “Esse dever é conseqüência da conscientização, cada
vez maior, da importância de se respeitar as diferenças individuais e o direito à igualdade de
oportunidades”.
O inciso III desse artigo 208 é o resultado de uma crescente evolução no tratamento
que a sociedade vem dispensando aos portadores de deficiências, ou melhor, aos portadores
de necessidades especiais, incluindo os superdotados, buscando uma crescente visão
inclusiva, nã
o só nos âmbitos escolares e sociais como também no respeito às diferenças.
que se ressaltar, também, em nível nacional, ações de outras leis e decretos que
ajudam a regular a prestação do serviço educacional, assegurando o direito à
68
educaç
ão. Cite-se o Estatuto da Criança e do Adolescente
23
, em seu artigo 53, inciso V, que
declara:
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho, assegurando
-
se
-
lhes:
(...)
V
acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Em seu art. 54, inc. III, esse Estatuto faz referência ao atendimento educacional aos
portadores de deficiência:
Art. 54
-
É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
(...)
III
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Art. 54, Inc. III).
A esse respeito, Munir Cury, Mende
s e Silva (2000, p.179), comentam:
Aos portadores de deficiência é assegurado o atendimento educacional especializado,
que deve ser preferência e acertadamente feito através da rede regular de ensino,
com o que se procura evitar toda e qualquer discri
minação que erradamente se queira
fazer com relação aos deficientes. É o que depreende da leitura do inciso III.
Atualmente, conta-se com o aporte legal da LDB, aprovada como Lei 9493 de 20
de dezembro de 1996, que trata de estabelecer as diretrizes e bases do sistema educacional
brasileiro, em todos os níveis de ensino.
A atual LDB foi aprovada após 25 anos de vigência da LDB 5.692/71, ficando oito
anos em tramitação no Congresso Nacional .
Essa é uma lei de dimensão nacional, por isso é difícil de se conciliá-la com a
pluralidade de Estados, com a multiplicidade de Municípios que têm dificuldades, sobretudo,
23
Cf. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 que “Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências”.
69
em dialogar com as instituições públicas e privadas. O texto dessa lei é “enxuto”, de
interpretação flexível, ficando mais vulnerável às políticas de plantão, o que exige um
posicionamento crítico perante as iniciativas deturpadoras de seus princípios.
É importante destacar que, mesmo apesar de todas as ressalvas, a nova LDB reservou
um capítulo à Educação Especial, revelando, assim, o reconhecimento social dos trabalhos
realizados na área, sendo fruto das lutas pelos avanços e conquistas de direitos para as pessoas
com necessidades especiais, historicamente discriminadas na sociedade.
Motta (1997, p.402) ainda acrescenta sobre a Educação Especial
:
A educação especial é abordada, hoje, pela LDB, não no inciso III do art. 4º, que
é semelhante ao inciso III do art. 208 da Constituição Federal, mas em todo o
capítulo V (formado por três artigos, quatro parágrafos e cinco incisos), com um
conteúdo
aberto aos princípios universais e às orientações aprovadas pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e a Ciência –
UNESCO e
pela Organização Internacional do Trabalho
OIT.
Situado dentro do espectro de abrangência do Título V Dos Níveis e Modalidades de
Educação e Ensino - esse capítulo, que recebe o número V e o nome de Da Educação
Especial
, começa assim definindo essa modalidade de ensino, em seu artigo 58: “Entende-
se
por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades
especiais” (LEI DIRETRIZES e BASES da EDUCAÇÃO NACIONAL, de 20 de
DEZEMBRO de 1996).
De acordo com a atual LDB, todas as pessoas portadoras de necessidades especiais
têm direito à matrícula, sem discriminação de turnos, nas escolas regulares, com os objetivos
de integrar equipes de todos os níveis e graus de ensino com as equipes de Educação Especial,
em todas as residências administrativas pedagógicas do sistema educativo e de desenvolver
ações integradoras nas áreas de ação social, educação, saúde e trabalho.
70
Os artigos 58 e 59 dizem que a Educação Especial, para efeitos dessa lei, é uma
modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, a
partir da educação infantil (de zero a seis anos), apropriando-a no sentido de criar condições
de inclusão e conscientização da necessidade escolar dessas crianças. Ressalta-se, também,
que, caso não seja possível incluí-las nas classes comuns do ensino regular, serão oferecidos a
elas atendimentos educacionais em classes, escolas ou serviços especializados.
Em referência ao artigo 59 da LDB, acrescenta Souza (1997, p.94
-
95):
Este artigo trata da organização específica
da educação especial, ressaltando que para
atender a esses alunos, devem ser também concebidos currículos, métodos, técnicas e
recursos educativos diferenciados.
Nessa organização, devem ser consideradas as diversas necessidades especiais, de
modo que venham a ser previstas desde a terminalidade especial, antecipada, do
ensino fundamental, até a aceleração de estudos para contemplar os superdotados,
quando for o caso (artigo 59, I e II).
Em seu art. 60 afirma que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos, com
necessidades especiais: currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organizações às
suas necessidades no que diz respeito ao apoio técnico e financeiro dado pelo Poder Público,
com a aplicação dos atendimentos na própria rede pública reg
ular de ensino.
Ademais, em nível federal, cabe ainda destacar a Lei 7.853/89
24
, inclusive, por
reafirmar a oferta obrigatória e gratuita de Educação Especial, em escolas públicas, lei essa
que seria regulamentada pelo Decreto 3.298, de 20 de dezembro d
e 1999
25
.
Esse decreto traz em seu artigo 1° o seguinte:
24
Lei de 24 de outubro de 1989, que: “Dispõe sobre o apoio às pessoas portado
ras de deficiência, sua integração
social, sobre a Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a
tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Públ
ico,
define crimes, e dá outras providências”.
25
Regulamenta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.
71
A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
compreende o conjunto de orientações normativas que objetivam assegurar o pleno
exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência
(Decreto n°3.298, de 20 de dezembro de 1999).
Nota
-se uma clara preocupação, por parte do Estado, em efetivar e assegurar proteção
aos portadores de deficiência, proporcionando a estes plenas condições de desenvolvimen
to
social. Esse mesmo decreto trata da educação para essas pessoas. Em seu Capítulo VII,
DA
EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES, na Seção II, DO ACESSO À EDUCAÇÃO, este
decreto torna evidente a preocupação com a igualdade de oportunidades educacionais entre
todas as pessoas, inclusive as portadoras de deficiência.
Em seu artigo 24, inciso II, esse instrumento jurídico assegura: “a inclusão, no sistema
educacional, da educação especial como modalidade de educação escolar que permeia
transversalmente todos os níveis e modalidades de ensino”. Permear transversalmente indica
uma clara preocupação em habilitar todos os níveis de ensino ao atendimento de portadores de
necessidades especiais e também em integrar equipes que possam vir a atuar em todas essas
situações e mo
dalidades.
Também, por ser recente e de importância inquestionável, pode-se destacar a Lei
10.845, de 05 de março de 2004, que “Institui o Programa de Complementação ao
Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiências, e ou
tras
Providências”, no âmbito do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), que
expressa esforços políticos na defesa dos direitos dessas pessoas
26
.
Outros documentos, além dos supracitados, foram elaborados e servem como marco
regulatório dessa modalidade de ensino. Entre eles, pode-se citar: “As Diretrizes Nacionais
26
Tal Lei foi promulgada em resposta a uma discussão em torno do repasse de verba porveniente do FUNDEF
(Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental). A questão era a seguinte: as escolas e
instituições especializadas, não-governamentais, estavam a pleitear os recursos desse fundo, como forma de se
manterem. Porém, como reza o § do artigo 212 da Constituição Federal de 1988, com redação dada pela
Emenda Constitucional 14 de 1996, os recursos desse fundo são destinados somente para as escolas públicas de
ensino fundamental dos sistemas federal
, estadual e municipal de ensino. Então, o Governo Federal, como forma
de atender às instituições não-governamentais que requeria receber recursos do FUNDEF, cria a Lei 10.845, de
05 de março de 2004, como f
orma de atender a tal demanda de recursos.
72
para a Educação Especial na Educação Básica” da Câmara de Educação Básica, do Conselho
Nacional de Educação
27
, com o intuito de regular e instituir leis que alicercem essa
modalidade
de ensino.
De acordo com esse documento:
Em todo mundo, durante muito tempo, o
diferente
foi colocado à margem da
educação: o aluno com deficiência, particularmente, era atendido apenas em
separado ou então simplesmente excluído do processo educativo, com base em
padrões de normalidade; a educação especial, quando existente, também se mantinha
apartada em relação à organização e provisão de serviços educacionais
(DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO
BÁSICA, 2001, p. 5).
Esse documento traz muito evidente a preocupação em construir, acima de tudo, uma
sociedade inclusiva, isto é, capaz de reconhecer, em todas as pessoas, as diferenças e,
sobretudo, não fazer dessas diferenças motivos de discriminação. Vejamos:
A construção de uma socie
dade inclusiva é um processo de fundamental importância
para o desenvolvimento e a manutenção de um estado democrático. Entende-se por
inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em
sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à
diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na
equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com qualidade, em todas as
dimensões da vida (DIRETRIZES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO ESPECI
AL
NA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2001, p. 20).
Além desses documentos, outros tantos pareceres e resoluções emitidos pelo
CNE/CEB podem ser acessados pela Internet, no
site
do MEC
28
. Entre eles, é de muita
validade ressaltar o Parecer CNE/CEB nº 04/2002, que traz como assunto de interesse:
“Recomendação ao Conselho Nacional de Educação que tem por objeto a educação inclusiva
de pessoas portadoras de deficiência”, tratando exatamente do respeito às diferenças.
27
O referido material é composto por outros dois documentos expedidos pelo CNE, através de sua CEB, sendo
eles: o Parecer CNE/CEB 17/2001 que tem como relatores os conselheiros Kuno Paulo Rhoden e Sylvia
Figuei
redo Gouvêa e a Resolução 02/2001, de 11 de Setembro de 2001, que traz em seu título: “Institui
Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica”.
28
Cf. www.mec.gov.br
73
Nesse mesmo sentido, de inclusão e direito à educação especial de qualidade e
integradora, o Governo Federal lançou o documento: “Direito à educação: necessidades
educacionais especiais: subsídios para atuação do Ministério Público”, organizado e editado
pelo MEC, por intermédio da SEESP (Secretaria de Educação Especial), no ano de 2001. A
referida publicação apresenta uma coletânea de textos que tratam da Política Educacional no
âmbito da Educação Especial.
Ainda em relação à atuação do Ministério Público, a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de
1989, estabelece a tutela jurisdicional de interesses coletivos e difusos dessas pessoas e
disciplina a atuação deste órgão da justiça e define os crimes passíveis de punição. Essas
medidas trazem em si um avanço importante, na medida em que possibilita o uso de medidas
judici
ais para garantir a efetividade dos direitos fundamentais aos portadores de necessidades
especiais, além da possibilidade de responsabilizar criminalmente os infratores.
Por fim, pode-se ressaltar ainda o Plano Nacional de Educação
29
(PNE). Essa lei tem
com
o finalidade instituir marcos e parâmetros legais para os rumos da educação, isto é, para o
sistema educacional brasileiro, em todos os seus níveis.
Esse documento traz, em seu texto, alguns objetivos e prioridades. Citemos algumas
delas (PLANO NACIONAL d
e EDUCAÇÃO, 2001, p. 16):
1)
elevação do nível de escolaridade da população;
2)
a melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis;
3)
a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à
permanência, com sucesso, na educação pública e;
4)
democ
ratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais,
obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na
elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades
escolar e local em conselhos escola
res ou equivalentes.
Assim, esse documento também contempla a Educação Especial em todos seus
aspectos, ou seja, desde o direito de todos os portadores de necessidades especiais em
29
Instituído pela Lei nº 10.172, de 09 de Janeiro de 2001.
74
freqüentar classes regulares, até os objetivos e metas dessa modalidade de ensino. Vejamos,
ainda, o que ele assegura:
A educação especial se destina às pessoas com necessidades especiais no campo da
aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial, mental ou múltipla,
quer de características como altas habilidades, superdotação ou talentos (PLANO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001, p. 98).
Analisando o teor dessa lei, pode-se notar que ela é bem ampla e geral ao deixar claro
que sua validade independe do tipo de deficiência que a pessoa possa possuir, isso é
indiferente
no que toca ao cumprimento da lei.
Citando mais algumas metas deste Plano, temos (PLANO NACIONAL de
EDUCAÇÃO, 2001, p. 101
-
103):
1)
Organizar, em todos os Municípios e em parceria com as áreas de saúde e
assistência, programas destinados a ampliar a oferta da estimulação precoce
(interação educativa adequada) para as crianças com necessidades educacionais
especiais, em instituições especializadas ou regulares de educação infantil,
especialmente em creches;
2)
Assegurar a inclusão, no projeto pedagógico das unidades escolares, do
atendimento às necessidades educacionais especiais de seus alunos, definindo
recursos disponíveis e oferecendo formação em serviço aos professores em
exercício;
3)
Articular as ações de educação especial e estabelecer mecanismo de
cooperaç
ão com a política de educação para o trabalho, em parceria com
organizações governamentais e o-governamentais, para o desenvolvimento de
programas de qualificação profissional para alunos especiais, promovendo sua
colocação no mercado de trabalho. Definir condições para a terminalidade para os
educandos que não puderem atingir níveis ulteriores de ensino.
Pode
-se considerar que todos os documentos, leis, decretos, entre outros, dos quais se
tratou, têm essa mesma perspectiva de ressaltar as diferenças como algo positivo e,
principalmente, a idéia de combater a discriminação, a relevância dada às diferenças como
critérios de discriminação e seleção, em qualquer meio, tendo como princípio promover o
processo de inclusão na escola e, num aspecto mais amplo,
a inclusão social.
75
1.5 –
Acerca de algumas Políticas Públicas
Depois de se tratar, em nível federal, dos documentos normativos que regulamentam e
orientam a educação nacional, faz-se necessário também refletir acerca das políticas públicas
que vêm sendo formuladas e implantadas nesse setor, com o intuito de promovê-las e ampliá-
las.
Nesse sentido, é pertinente trazer ao entendimento o que vem a ser uma política
pública. De acordo com Rodrigues (2005, p. 50), essas políticas são: “(...) o resultado da
dinâ
mica do jogo de forças que se estabelece no âmbito das relações de poder dos grupos
econômicos, políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil”. E segue,
ainda, pontuando a esse respeito: “Essas relações vão determinar um conjunto de a
ções
atribuídas à instituição estatal, que conseqüentemente provocam o direcionamento dos rumos
dos investimentos na escala social e produtiva da sociedade” (RODRIGUES, 2005, p. 50).
Sendo assim, na perspectiva de que as políticas públicas têm seu motor no jogo de
poder e de luta é que, segundo Mazzotta (2001), vão surgir, a partir da década de 1950, as
primeiras campanhas nacionais a favor dos movimentos de defesa dos portadores de
deficiência, com vistas a atender demandas surgidas à época.
Jannuzzi (2004) relata que a década de 1970 foi um grande marco na evolução da
Educação Especial, pois nela ocorrem determinados acontecimentos que colocarão o assunto
em evidência; entre alguns destes acontecimentos, o processo de formulação de políticas
públicas focal
izadas, direcionadas aos portadores de deficiência.
Com esse mesmo entendimento se expressa Carvalho (1977, p.20), quando salienta:
“Foi em 1972 que o governo decidiu eleger a Educação Especial como área de ação
76
prioritária. Essa decisão foi concretizada com a elaboração e a incorporação do Projeto
Prioritário nº 35 ao Plano Setorial de Educação e Cultura 1972/74”.
Entretanto, ações voltadas para a formulação de políticas públicas e criação de órgãos
que as instituíssem aparecem, com mais clareza, a partir da criação do CENESP (Centro
Nacional de Educação Especial) em 1973, quando a Educação Especial realmente ganhou um
órgão para definição e implementação de metas governamentais específicas.
O interesse no avanço dessa área de atendimento educacional e, sobretudo, de
atendimento e assistência social, vinha ganhando relevância em diversos países, sobretudo
em prol do desenvolvimento, a fim de tornar essas pessoas úteis à sociedade, como de fato
constava na Declaração sobre Desenvolvimento e Progresso Social, em 1969 (JANNUZZI,
2004).
Com relação ao CENESP, órgão criado pelo Decreto 72.424, de 03 de julho de
1973
30
e às suas finalidades, o texto legal traz, em seu artigo 2º:
Art. - O CENESP atuará de forma a proporcionar oportunidades de educação,
propondo e implementando estratégias decorrentes dos princípios doutrinários e
políticos, que orientam a Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de
e graus, superior e supletivo, para os deficientes da visão, audição, mentais,
físicos,
educandos com problemas de conduta para os que possuam deficiências
múltiplas e os superdotados, visando sua participação progressiva na comunidade.
Importante, também, destacar, nesse quadro de formulação de políticas públicas e de
órgãos que as implementem, a criação da CORDE (Coordenadoria para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência), através do Decreto 93.481, de 29 de outubro de 1986
31
, que, de
acordo com seus artigos 4º e 5º, dispõe:
30
Decreto 72.425 de 03 de Julho de 1973 que: “Cria o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), e
outras providências”.
31
Decreto este que viria ser revogado pelo Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, supracitado.
77
Art. - É instituída, no Gabinete Civil da Presidência da República, a
Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
-
CORDE.
Parágrafo único. A CORDE subordinar-
se
ao Ministro de Estado Chefe do
Gabinete Civil e atuará sob sua direta e imediata supervisão.
Art. 5º
-
À CORDE competirá:
I -
elaborar os planos e programas objeto do artigo 2º;
II
- propor as medidas necessárias à completa implantação e ao adequado
desenvolvimento desses planos e programas, inclusive as pertinentes a recursos e as
de caráter legislativo;
III
- acompanhar e orientar a execução, pela Administração Federal, dos planos,
programas e medidas a que alude este artigo;
IV
- manter com os Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, estreito
relacionamento, objetivando à soma de esforços e recursos para a integração social
das pessoas portadoras de deficiências;
V
- sugerir a efetivação de acordos, contratos e convênios entre a União, ou ente a
ela vinculado, e outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado;
VI
- opinar sobre os demais acordos, contratos e convênios a serem firmados, pela
União ou entidade a ela vinculada, relativamente às matérias a seu cargo.
Ainda a respeito da CORDE, Jannuzzi (2004, p. 164) assim enfatiza:
Assim surgiu outro órgão nascido também forte, visto que era ligado ao g
abinete
Civil da Presidência da República (...). Enquanto o CENESP sofreu transformações
sempre vinculadas ao MEC, a CORDE, com objetivos mais amplos, passou por
diversos ministérios, e após nove anos se vinculou ao Ministério da Justiça
32
.
E, ressaltando a maior abrangência da CORDE, em relação ao CENESP, Jannuzzi
(2004, p.167) completa: “A CORDE, visando aspecto mais abrangente que o CENESP, e
numa época de nova tentativa de redemocratização nacional, traz também a marca de alguma
participação dos próprio
s deficientes, o que não acontecia anteriormente”.
Essa coordenadoria (CORDE) vem editando, publicando e divulgando materiais com
orientações destinados aos portadores de deficiência e à sociedade como um todo. Porém a
falta de recursos e de informação ainda prejudica em muito seu trabalho em nível federal
(JANNUZZI, 2004).
Posteriormente, seria criado o CONADE (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa
Portadora de Deficiência), através do Decreto nº 3.076, de 01 de junho de 1999, que tem seus
objetivos e c
ompetências expressos no artigo 2º deste decreto:
32
Mudança instituída pelo Decreto 3.076, de 01 de junho de 1999. Esse decreto também foi revogado pelo
Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999.
78
Art. 2º
-
Compete ao CONADE:
I
- zelar pela efetiva implantação e implementação da Política Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;
II
- acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políticas setoriais de
educação, saúde, trabalho, assistência social, política urbana e outras relativas à
pessoa portadora de deficiência;
III
- acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária do Ministério
da Justiça, sugerindo as modificações necessárias à consecução da Política
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;
IV
- zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo dos direitos da
pessoa portadora de deficiência;
V
- acompanhar e apoiar as políticas e as ações dos Conselhos dos Direitos da
Pessoa Portadora de Deficiência no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios;
VI
- propor a elaboração de estudos e pesquisas que objetivem a melhoria da
qualidade de vida da pessoa portado
ra de deficiência;
VII
- propor e incentivar a realização de campanhas visando à prevenção de
deficiências e a promoção dos direitos da pessoa portadora de deficiência;
VIII
- aprovar o plano de ação anual do órgão da Administração Pública Federal
respon
sável pela coordenação da Política Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência;
IX
- acompanhar, mediante relatórios de gestão, o desempenho dos programas e
projetos do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação
da
Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência.
X
-
elaborar o seu regimento interno.
Aqui fica clara a função do CONADE em implementar e efetivar uma Política
Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, além de aprovar planos anuais de
ação de órgãos do governo federal responsáveis por ações de integração dessas pessoas.
Faz
-se igualmente necessário e importante destacar o PNDH
33
(Programa Nacional de
Direitos Humanos) da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Ministério da Justiça.
Esse programa contribui para a gradativa inserção e ativa participação do Brasil no sistema
global e regional de proteção aos direitos humanos, como por exemplo a ONU (Organização
das Nações Unidas) e OEA (Organização dos Estados Americanos).
Atualmente em sua segunda versão - PNDH II - esse programa servirá também de
parâmetro e orientação para definição dos programas sociais a serem desenvolvidos no País
até 2007, ano em que se procederia a nova revisão do PNDH que traz como seguintes metas
de Garantia do Direito à Educação:
33
Criado pelo Decreto nº 1.904, de 13 de maio de 1996.
79
contribuir para a formulação de diretrizes e normas para a educação infantil de modo a
garantir padrões básicos de atendimento em creches e pré
-
escolas;
contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas educativas, além
da construção de propostas educativas que respondam às necessidades das crianças e de
seus familiares nas diferentes regiões do país;
promover um ensino fundado na tolerância, na paz e no respeito às diferenças, que
contemple a
diversidade cultural do país;
promover a eqüidade nas condições de acesso, permanência e êxito escolar do aluno no
ensino fundamental, por meio da ampliação de programas de transferência direta de renda
vinculada à educação (bolsa
-
escola) e de aceleração
da aprendizagem;
apoiar a criação, nas universidades, de cursos de extensão e especialização voltados para a
proteção e promoção de direitos humanos.
Ainda vale dar destaque ao PNEDH (Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos), instituído pela Portaria nº 66, de 12 de maio de 2003, da SEDH (Secretaria
Especial de Direitos Humanos). De acordo com este documento,
Educar em Direitos Humanos é fomentar processos de educação formal e não-
formal, de modo a contribuir para a construção da cidadania, o conhecimento dos
direitos fundamentais, o respeito à pluralidade e à diversidade sexual, étnica, racial,
cultural, de gênero e de crenças religiosas (p. 7).
O objetivo desse plano é assim expresso: “(...) o PNEDH foi concebido com o objetivo
de contribuir para a vigência de um Estado Brasileiro realmente democrático, embasado em
uma proposta de governo que prioriza as políticas públicas em busca da melhoria das
condições de vida da população” (p.11).
Mas, ainda, ressaltando sua condição de política pública, re
força:
80
O PNEDH, na condição de política pública, apresenta-se como um instrumento
orientador e fomentador de ações educativas, no campo da educação formal e não-
formal, nas esferas pública e privada. O PNEDH reflete as ações que estão em
desenvolvimento no país, envolvendo iniciativas de instituições públicas,
organizações da sociedade civil e contribuições recebidas por meio de consulta
pública e das recomendações do documento da UNESCO que estabelece a Década
das Nações Unidas para a Educação em Direitos Humanos e para uma Cultura de
Paz (1995
-
2004) (p. 11
-
12).
O PNEDH tem como pano de fundo a construção de uma sociedade democrática em
que os princípios de respeito às diferenças estejam realmente presentes e, sobretudo, que se
prevaleça a concretização d
e um Estado Democrático de Direito.
Diversas outras políticas públicas vêm sendo propostas e executadas no sentido de se
construir uma sociedade mais inclusiva e, ao mesmo tempo, atender às demandas da
sociedade civil. Dentre elas, pode
-
se ressaltar, some
nte no âmbito da SEESP/MEC
34
:
políticas de apoio técnico e pedagógico aos sistemas de ensino;
o PROINESP
-
Projeto de Informática na Educação Especial;
o Projeto Educar na Diversidade nos Países do Mercosul;
o PROESP
-
Programa de Apoio à Educação Especial
;
um programa de Apoio à Educação Profissional;
um programa de Apoio à Educação Infantil;
um programa de Apoio à Educação de Alunos com Surdez;
um programa de Apoio à Educação de Alunos com Deficiência Visual;
o Programa Educação Inclusiva: Direito à Di
versidade.
34
O detalhamento de cada um dos programas desta secretaria pode ser acessado em:
http://portal
.mec.gov.br/seesp
81
Tais iniciativas estatais são importantes no momento em que se propõem a servir, ao
mesmo tempo, de ponto de partida e de apoio ao compromisso de se estabelecerem políticas
públicas que promovam a construção de sistema escolar e social inclusi
vo.
1.6
A Normatização nos Estados da Região Sudeste
Os Estados Brasileiros têm autonomia legislativa garantida pelo princípio
constitucional expresso no artigo 18 da Constituição Federal de 1988. Eles podem estabelecer
suas próprias Constituições estaduais e, aos Municípios, cabe a tarefa de elaborarem suas Leis
Orgânicas. Diz o artigo 18 da Constituição Federal de 1988 que: “A organização política-
administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito
Federal e o
s Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”.
Mas também reza o artigo 25 desta mesma Constituição que essa autonomia, dos
Estados membros da República Federativa do Brasil, deve obedecer aos princípios instituídos
pela Lei Maior do País, isto é, as Constituições Estaduais devem estar adequadas aos limites
impostos pela Constituição Federal. Nessa perspectiva, é importante realizar uma análise
sobre as normas estabelecidas à educação pela Constituição do Estado de Minas Gerais e
demais leis
estaduais vigentes.
Bueno e Ferreira (2003) apresentam o trabalho
35
intitulado: “Políticas Regionais de
Educação Especial”, em que analisam, em cada região do Brasil, as políticas que regulam a
35
Trabalho apresentado na 26ª Reunião Anual da ANPED, realizada de 05 a 08 de novembro de 2003, em Poços
de Caldas. Documento disponível em: www.anped.org.br/26/outrostextos/tegt15.doc
82
Educação Especial, com base em leis estaduais e documentos dos Conselhos Estaduais de
Educação de cada Estado.
Segundos esses autores, com relação aos princípios norteadores da Educação Especial,
nesses Estados analisados, pode
-
se dizer que:
Todos os Estados, apesar de algumas diferenças, partem do princípio da não
segregação dos alunos deficientes, reportando-se a princípios éticos básicos como os
de respeito à dignidade humana, da igualdade de oportunidades educacionais, no
exercício da cidadania e na garantia de direitos, na igualdade de condições para
acesso e pe
rmanência na escola (BUENO e FERREIRA, 2003, p.55).
Quanto à normatização das políticas educacionais dos Estados da Região Sudeste, os
autores trazem alguns pontos de análises, dividindo
-
os em tópicos, tais como:
conceituação de Educação Especial em cada
Estado;
conceituação do alunado;
níveis de ensino abrangidos pela Educação Especial;
estrutura organizacional de atendimento;
organização curricular e pedagógica aqui cabendo uma análise mais detalhada
quanto a: relação às classes regulares e em relação às classes e/ou escolas
especiais;
serviços, procedimentos e material de apoio;
professores
tipo de formação e requisitos para docência;
educação profissional.
Esses são os pontos que servem de base para que se façam as devidas comparações e
análises em relação às políticas estaduais de educação no Estado do Espírito Santo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e, por fim, São Paulo.
83
Vale analisar, mais detidamente, a política educacional do Estado de Minas Gerais,
uma vez que o estudo em questão se realiza nesta unidade administrativa brasileira. Desse
modo, serão concentrados olhares mais analíticos em documentos legais, mais
especificamente a Constituição Estadual, leis estaduais e documentos do Conselho Estadual
de Educação deste Estado.
1.7
-
A legislação
educacional do Estado de Minas Gerais
A Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989, também, destina uma seção de seu
texto para tratar da educação. O Título IV recebe o nome DA SOCIEDADE, o Capítulo I é
intitulado
DA ORDEM SOCIAL
e sua Seção III
DA EDUCAÇÃO
.
Essa parte, destinada a tratar da educação, começa com o artigo 195 repetindo o
disposto no artigo 205 da Constituição Federal de 1988, trazendo em seu texto:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incen
tivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
(CONSTITUIÇÃO do ESTADO de MINAS GERAIS, art. 195).
Pode
-se perceber uma concepção convergente, no que diz respeito às finalidades da
educação. Esta é tida como passo fundamental na formação da pessoa, na construção de sua
cidadania e em seu preparo para o mundo do trabalho, garantindo esses passos a todas as
pessoas e declarando-os como determinantes na formação do homem para a vida em
sociedade.
84
No que se refere ao tratamento dado aos portadores de necessidades especiais, na
Constituição do Estado de Minas Gerais, pode
-
se notar, em seu artigo 198, o seguinte:
Art. 198 –
A garantia de educação p
elo Poder Público se dá mediante:
(...)
III
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino, com garantia de recursos humanos
capacitados e material e equipamentos públicos adequados, e de vaga em escola
próxima à sua residência;
XIV
programas específicos de atendimento à criança e ao adolescente
superdotados, na forma da lei.
Nesse ponto, há dois importantes tópicos a serem ressaltados. Em primeiro lugar,
comparando o artigo 208, inciso III, da Constituição Federal de 1988 e o artigo 198, inciso III
da Constituição Estadual de Minas Gerais de 1989, nota-se uma diferença substancial, que é a
seguinte: o texto da primeira traz a obrigatoriedade de existência de vaga ao portador de
deficiênc
ia em escola próxima à sua residência, em atendimento ao exposto no inciso. Isso é
de fundamental importância, uma vez que o deslocamento dessas pessoas pode ser dificultado
de acordo com o tipo de deficiência que possa ter, o que não consta no texto da segunda. O
segundo ponto a ser analisado é o inciso XIV do art. 198 da Constituição Estadual. Ele trata
exclusivamente do atendimento ao superdotado, o que não aparece como tal no texto do artigo
208 da Constituição Federal de 1988, em nenhum inciso.
Essas diferenças de amplitude de abrangência se justificam na medida em que o
Brasil, justamente por proporcionar automonia político-administrativa a seus Estados
federados, naturalmente confere a estes, na mesma proporção, maior possibilidade de prever e
atender
a especificidades que, porventura, possam ocorrer. Dada maior proximidade com os
cidadãos, ficam os Estados e os Municípios mais habilitados a proverem tais particularidades.
Por conseqüência disso, pode-se, também, estender essa análise em nível de munic
ípio,
ficando, assim, este o responsável pela elaboração de suas Leis e, por extensão, do Plano
Municipal de Ensino. A esse respeito, declara o artigo 29 da Constituição Federal de 1988:
85
O Município reger-
se
por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal,
que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
Constituição do respectivo Estado(...).
Mas, em razão do acima exposto, vale uma análise mais detalhada da legislação
estadual, que remeta às questões da educação, especificamente referente à Educação Especial.
O Estado de Minas Gerais vem desenvolvendo ações no sentido da elaboração de um
Plano Decenal de Educação. Este Plano, que será elaborado em conjunto com os Municípios
do Estado e, em função destes, conta com a colaboração de uma equipe de consultores
externos, requisitados pela Secretaria de Estado de Educação
36
.
No endereço eletrônico dessa Secretaria
37
, pode-se ter acesso a textos, elaborados
pelos consultores externos, responsáveis pela elaboração do Plano Estadual de Ensino, de
duração decenal. Esses textos, de certo modo, refletem a concepção pedagógica que serve
como pano de fundo deste plano. Neles podem-se perceber certos aspectos, tais como
compromisso com a qualidade, com a eqüidade e a efetivação da construção de uma escola
cidadã.
Importante, também, destacar a atuação do Conselho Estadual de Educação do Estado
de Minas Gerais (CEE-MG). Este Conselho tem sua importância e suas atribuições
explicitadas na Constituição Estadual, em seu artigo 206
38
, mas, em linhas gerais, sua função
é deliberar sobre assuntos pertinentes ao âmbito educacional.
36
Em uma consulta ao Centro de Referência dos Professores, órgão ligado à Secretaria de Estado de Educação
de Minas Gerais foram obtidas as informações constantes neste parágrafo.
37
Cf. www.educacao.mg.gov.br
38
Art. 206. Compete ao Conselho Estadual de Educação, sem prejuízo de outras atribuições a ele conferidas em
lei e observadas as diretrizes e bases estabelecidas pela União:
I
baixar normas disciplinadoras dos sistemas municipal e estadual de educação;
II
interpretar a legislação de ensino;
III
autorizar e supervisionar o funcionamento do ensino
particular e avaliar
-
lhe a qualidade;
IV
desconcentrar suas atribuições, por meio de comissões de âmbito municipal.
86
A Educação Especial, como modalidade de ensino, não deixou de ser objeto de análise
deste Conselho. Este órgão expediu o Parecer CEE/MG 424/03, de 27 de maio de 2003
que: “Propõe norma para a Educação Especial na Educação Básica, no sistema de Ensino de
Minas Gerais”, bem aos moldes do Parecer 17/2001 do CNE/CEB, como não poderia
de
ixar de ser, vista sua posição frente à hierarquia legal vigente em nosso país.
Alguns pontos importantes na leitura deste parecer devem ser destacados, por
exemplo:
A Educação Especial deixa de ser “o locus” para onde se encaminham os alunos
portadores de deficiência e torna-se modalidade “de chegada”, disponível,
preferencialmente, na escola próxima à residência do aluno. Inserida no projeto
pedagógico da escola, é uma estratégia institucional de combate à discriminação e
à exclusão educacional. Fundamen
tado
-se nos princípios da dignidade humana, da
igualdade de oportunidades educacionais, no exercício da cidadania e na garantia
de direitos, faz-se presente no processo educacional, onde, quando e como se fizer
necessária (PARECER CEE/MG n° 424/03, p. 3).
Aqui se percebe a notória preocupação com a eliminação de qualquer discriminação
que possa existir em relação ao lugar onde essa educação deve ser oferecida. Traz os termos
“dignidade humana” e “igualdade de oportunidades educacionais”, pré-
requisitos
fun
damentais para a construção de uma sociedade realmente inclusiva. Esse parecer finaliza,
enfatizando, ainda, o seguinte: “Dignidade humana, igualdade de oportunidades e inclusão
social e educacional é o que se espera na sociedade de todos”.
Decorrência do Parecer CEE/MG 424/03, do Conselho Estadual de Educação de
Minas Gerais é a Resolução CEE/MG 451/03, de 27 de maio de 2003 que: “Fixa normas
para a Educação Especial no Sistema Estadual de Ensino”. Essa resolução traz, em sua
introdução, o que segue
abaixo:
O Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais, no uso de suas atribuições, e em
cumprimento ao disposto nas Leis Federais nºs 7.863/89, 8.069/90, nos artigos 58 a
60 da Lei Federal nº 9.394/96, no Decreto Federal nº 3.298/99, no Parecer CEB/CNE
87
17/2001, na Resolução CEB/CNE 02/2001, bem como no Parecer CEE 424,
de 27.5.03, e considerando:
a) o disposto na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, na
Constituição do Estado de Minas Gerais, de 1989, na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9.394/96 e na Declaração Mundial de Salamanca, 1994;
b) os princípios éticos, políticos e estéticos da educação em uma sociedade
democrática, justa, igualitária e plural para todos;
c) o dever de proporcionar a igualdade de opor
tunidade aos alunos com necessidades
educacionais especiais para acesso, percurso e permanência na educação escolar;
d) a necessidade de desenvolver, em Minas Gerais, políticas educacionais inclusivas
que pressupõem o cumprimento da função escolar para com todos os alunos, sem
discriminação ou segregação, e amplo respeito às diferenças educacionais que os
alunos possam apresentar no processo de aprendizagem escolar;
e) a necessidade de normatizar a Educação Especial oferecida no Estado (...)
(RESOLUÇÃO CEE/
MG nº 451/03, p. 1).
O texto introdutório dessa resolução deixa evidente o propósito a que ela se destina:
promover uma educação, de qualidade, para todas as pessoas de uma sociedade como parte
constituinte de um projeto de sociedade igualitária, respeitadora das diferenças e,
principalmente, calcado na valorização e no respeito à dignidade humana.
Importância relevante é dada à estrutura e procedimentos inerentes a uma real
efetivação dessa modalidade de ensino. Pode-se perceber isso, analisando o art. e também
o art. 11 da Resolução CEE/MG nº 451/03, que trazem em seus textos
39
:
Art. - O atendimento ao aluno na Educação Especial será efetivado com base nos
seguintes procedimentos:
I
pesquisas e estudos científicos para aprimorar os processos pedag
ógicos;
II
-
avaliação educacional realizada por uma equipe pedagógica composta no mínimo
por professor, supervisor e/ou orientador educacional;
III
diagnóstico multidisciplinar, envolvendo profissionais da área da Educação e
Saúde, quando for o caso, e
com a participação da família;
IV
relatório circunstanciado das informações básicas que justifiquem a oferta;
V
plano de desenvolvimento individual do aluno.
(...)
39
Com relação à real efetivação dessas políticas de inclusão no Estado de Minas Gerais, há que se fazer
referência à Dissertação de Mestra
do de Sonia Maria Rodrigues, defendida na Faculdade de Educação da UFMG
no ano de 2005. Nesse estudo, analisam-se as políticas públicas da educação inclusiva, na percepção dos
docentes desse Estado. Constatou-se que esforços vêm sendo despendidos nesse sentido, embora, ainda segundo
a autora: “Talvez pelo caráter inovador da inclusão, o Estado ainda tem muito que fazer para acertar o
direcionamento de suas discussões e realizações neste setor” (p.126). Mas, quando se toma como referência o
entendimento e a preparação docente para lidar com esta questão da inclusão escolar, percebe-se, segundo a
autora do trabalho, que as escolas pesquisadas ainda trabalham na perspectiva da integração, em oposição à
inclusão. Segundo ela: “A maioria dos docentes ainda acredita que esses alunos precisam ser preparados nas
classes e escolas especiais, para depois freqüentarem as classes comuns” (p.126). Ainda a título de lembrança, é
justamente esta questão levantada pelo estudo de Sonia Maria Rodrigues que vem ganhar destaque no conteúdo
do Parecer CNE/CEB nº 04/2002.
88
Art. 11 - As instituições e os serviços que oferecem Educação Especial deverão
contar co
m:
I
profissionais com especialização adequada ou capacitação na área;
II
espaços físicos acessíveis;
III
mobiliário e equipamentos adequados às necessidades especiais e à faixa etária
dos usuários dos serviços;
IV
equipe multiprofissional, quando for o caso, constituída mediante parcerias nas
áreas de educação, saúde, assistência social e outras;
V
proposta político
-
pedagógica que inclua os serviços de apoio oferecidos à escola
regular, aos alunos e a suas famílias e contenha plano de capacitação continuada dos
profissionais.
Outros artigos que compõem a Constituição do Estado de Minas Gerais trazem o
espírito de proteção e de eliminação de diferenças discriminatórias relativas aos portadores de
necessidades especiais, não cabendo analisá
-
los nes
te trabalho, devido aos seus objetivos
40
.
Também há que se destacar, nesse princípio de descentralização do poder, a legislação
vigente no município de Contagem, em Minas Gerais. A Lei Orgânica
41
deste município trata
de estabelecer as normas para educação,
quando traz em seu artigo 140, o seguinte:
Art. 140 - A educação, direito de todos, dever do Poder Público e da Família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento do cidadão, tornando-o capaz de refletir criticamente sobre a
realidade e qualificando-o para o trabalho (LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE
CONTAGEM, de 20 de março de 1990).
Essa lei traz em seu âmbito o tratamento à Educação Especial:
Art. 142 - O dever do Município para com a educação será concretizado mediante a
garantia de:
(...)
IV
atendimento educacional especializado ao portador de deficiência, sem limite
de idade, na rede regular de ensino, com garantia de recursos humanos capacitados,
material e equipamentos públicos adequados e de vaga em escola próxima à sua
residência,
XV
cessão de serviços especializados para atendimento às fundações públicas e
entidades filantrópicas e comunitárias sem fins lucrativos, de assistência ao menor e
aos excepcionais, como dispuser a lei.
40
A título de referência, confira: art. 10, art. 11, art. 28, art. 121, art. 190, art. 198, art. 213, art. 218, art. 224, art.
226 e art. 295 da Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989.
41
Cf. Lei Orgânica
do Município de Contagem, de 20 de março de 1990.
89
Justifica citar a Lei Orgânica do Município de Contagem, por ser este o Município
onde se desenvolve o projeto em questão, que será detalhado mais adiante neste trabalho,
além de ser esta a Lei que rege o Sistema Municipal de Ensino de Contagem.
Esses direitos, expressos em leis, são frutos de processos democráticos que indicam o
reconhecimento da cidadania dessas pessoas. Nessa perspectiva, Vieira (2001, p.13) ressalta
esse posicionamento discorrendo sobre a conquista da cidadania:
Por outro lado, é certo que os direitos de cidadania historicamente nascem na
sociedade, que nascem entre os trabalhadores, entre os miseráveis, entre os
despossuídos. Eles reivindicam seus direitos e conseguem ao longo de mais de dois
séculos para cá alcançar alguns deles.
Essa reflexão aponta para a importância de estratégias de apoio para a construção de
uma educação inclusiva, em que se busque a ampliação do entendimento das necessidades dos
alunos, sua inserção nas atividades do cotidiano escolar e no ambiente social.
Vejamos o posicionamento de Agostinho dos Reis Monteiro, citando F. Przetacznik,
quando diz:
Entre os direitos individuais do homem, o direito à educação é o mais importante,
com a única excepção do direito à vida, fonte de todos os direitos do homem. O
direito à educação é uma condição prévia ao verdadeiro gozo de quase todos os
direitos do homem por uma pessoa individual. Este direito é uma pedra angular de
todos os direitos do homem, pois, se uma pessoa não é correctamente educada, ele ou
ela é incapaz de gozar verdadeiramente os outros direitos do homem. Em
conseqüência, a realização do direito à educação é a tarefa mais elevada que se
impõe, tanto a cada indivíduo como ao Estado em que esse indivíduo vive
(PRZETACZNIK
apud
MONTEIRO, 2003, p.766).
Nesse novo milênio, vi
vem
-
se
novos tempos, uma época de transição entre as práticas
de integração e as de inclusão social. Os dois processos coexistem, ou seja, algumas das
velhas práticas ainda sobrevivem, enquanto as novas vão sendo incentivadas.
Nesse caminho para a instituição de uma igualdade democrática de acesso e
permanência do portador de necessidades especiais na escola regular, faz-se necessário um
9
0
aporte legal, isto é, a criação, implantação e aplicação de uma legislação educacional
específica, que garanta os direitos das pessoas interessadas e envolvidas nesse processo
inclusivo.
Também há que se analisar, no âmbito das transformações do espaço escolar, os
impactos que a inserção das novas tecnologias da informática acarretam nesse espaço.
Passaremos a estudar, agora, a inserção desses novos recursos informacionais, em
especial o computador, no ambiente escolar com base numa perspectiva histórica e atual e,
sobretudo, respaldada em políticas públicas nessa área.
91
CAPÍTULO II
A Informática na Educação e o Projeto AP
AE Contagem
2.1
A Informática na Educação
A educação, nos dias atuais, está passando por um processo de renovação de espaços,
de (re)significação de conteúdos e de valores, tendo, como ponto de partida, todas as
mudanças ocorridas na sociedade.
A escola, como instituição integrante e atuante dessa sociedade e desencadeadora do
saber sistematizado, não pode ficar fora ou à margem do dinamismo da revolução tecnológica
e informacional. Marinho (1998, p. 46) faz uma análise do papel da escola e sua eviden
te
mudança:
A escola não é mais a (principal) depositária do conhecimento mais sistematizado,
principalmente através do professor. A escola deve reconhecer que, como as fontes
de informação tornam-se mais e mais ampliadas e o acesso a elas está cada vez m
ais
facilitado, não precisa mais manter seu papel de agência informadora.
Nessa mesma perspectiva de interpretação das mudanças necessárias à escola,
Maturana
apud
Costa e Paim (2004, p.17) se posiciona:
É nessa ótica de mudança que a escola (...), deve assimilar as NTs
42
, visando a que
novos instrumentos de mediação contribuam para a transformação de práticas
pedagógicas, levando-as à superação de abordagens reducionistas de conhecimento
e à instauração de uma abordagem que explique as relações sujeito/ob
jeto como um
processo permanente e inerente à própria vida.
42
A sigla NTs é utilizada como significante de Novas Tecnologias.
92
O papel relevante que as novas tecnologias da Informação e da Comunicação poderão
desempenhar, no sistema educacional, depende de vários fatores. Além de uma infra-
estrutura
adequada de comunicação, de modelos sistêmicos bem planejados e projetos teoricamente
bem formulados, o sucesso de qualquer empreendimento nessa área depende,
fundamentalmente, de investimentos significativos que deverão ser feitos na formação de
recursos humanos, em tomadas de decisões políticas apropriadas e oportunas, amparadas por
forte desejo de capacidade de realização e financiamento.
Para Marinho (1998, p. 74 - 75), tal planejamento deve levar em conta,
necessariamente, que:
A informática não é panacéia para resolver todos (nem para a maior parte,
talvez) dos problemas atuais da escola. Antes de serem informáticos ou tecnológicos,
muitos dos atuais problemas da escola são de ordem social e pedagógica;
é absolutamente indispensável a revisão das práticas pedagógicas adot
adas na
escola, na perspectiva da elaboração de um novo projeto de fazer pedagógico, no
qual seja possível a construção do conhecimento pelo próprio educando, ao invés da
mera e tradicional transmissão;
nessa perspectiva, é importante que a introdução do computador não
inviabilize a contínua busca de outras alternativas para a melhoria da prática
pedagógica que dispensem o próprio computador. O computador não é por si
suficiente para mudar a prática na escola. Existem outras formas eficientes capazes
de
assegurar uma aprendizagem mais ativa às quais o computador pode e deve se
integrar;
o computador é uma ferramenta que pode gerar as condições para que esse
novo tipo de aprendizagem ocorra, permitindo que o aluno deixe de ser um agente
passivo do processo para ser o autor da construção, ao permitir o desenvolvimento
de um ciclo que envolve descrição execução reflexão depuração descrição,
como bem enfoca Valente (1993b). (...);
a possibilidade do uso do computador instrumento de aprendizagem
pode/d
eve ser encaminhada na perspectiva de trabalhos
interdisciplinares/multidisciplinares, com a escolha de “temas integradores” que
podem ser explorados também com o uso do computador. (...);
o computador não deveria ser introduzido através de uma nova e espe
cífica
matéria
43
sob responsabilidade de professores de informática - no ensino de
informática ou mesmo usando computador para “resolver” problemas de matérias
específicas. Essa máquina deveria ser incorporada como ferramenta para o trabalho
de professores
das matérias curriculares nos ensinos fundamental e médio.
Entretanto, para que se possam combinar esses elementos num modelo de
planejamento sistêmico, adequado e exeqüível, se faz necessário melhor compreender as
43
A palavra “matéria” aqui significa o corpo de conhecimentos de determinada disciplina.
93
diferentes realidades educacionais, a gravidade dos problemas que afetam a educação e suas
relações de interdependência com os outros sistemas e os novos cenários mundiais que estão
sendo desenhados e redesenhados pelo processo de globalização.
Nesses cenários estão incluídas as novas tendências que vêm afetando a economia, a
política, o meio-ambiente, as maneiras de viver e conviver, as formas como as sociedades se
organizam, levando a perceber o quanto a área educacional pode se beneficiar das
significativas modificações nos processos de ensino-aprendizagem trazidas por essas
tecnologias.
Também entendendo que a inserção do computador na escola pode trazer benefícios à
qualidade e efetividade na educação, La Taille (1990, p.30) acrescenta, ainda, a utilidade do
computador na implementação da denominada cultura geral, senão vejamos: “O computador
parece
-nos ser, hoje, um excelente instrumento para, de forma moderna e motivadora,
implementar o que se costuma chamar de ‘cultura geral’ sem transformá-la numa bagagem
pesada e desconectada da realidad
e”.
Fazendo
-se uma retrospectiva ao longo do tempo, é, a partir das grandes Guerras
Mundiais, ocorridas no século XX, que se pode observar um aumento virtuoso dos
investimentos em novas tecnologias de comunicação. Não dúvidas de que as guerras, cujo
car
áter maléfico é indiscutível, acabam por gerar saltos no desenvolvimento da ciência e da
tecnologia. No que se refere à Informática não foi e não é diferente.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, tem-se o início de uma corrida pela conquista
do espaço. A corrida armamentista era um constante mover de peças, sempre visando ao
domínio de tecnologias que pudessem superar as existentes. A conseqüência imediata foi
um redobrado investimento em pesquisas científicas. A Guerra Fria, travada entre Estados
Unidos
e União Soviética, ensejou enormes montantes de investimento na indústria bélica.
94
Segundo Lucídio Bianchetti, em seu artigo: “Dilemas do Professor Frente ao Avanço
da Informática na Escola”
44
, pode-se dizer que, com o fim da Guerra Fria, a globalização
pas
sou a ocupar os espaços mundiais com desenvolvimento da Comunicação e da
Informática.
Sendo assim, definir quem seriam os produtores de tecnologias e quem seriam os
consumidores destas, passou a ser muito importante. É nesse cenário que se justifica a
nec
essidade da Informática na escola, bem como a trajetória para se chegar até lá, pois as
escolas, além de grandes consumidoras, são também formadoras de consumidores de
tecnologias.
As novas formas de conhecimento, de informação e suas tecnologias ganham
im
portância fundamental na compreensão do mundo atual. Segundo Costa (2002, p.11): “O
mundo contemporâneo tem passado por profundas transformações nos âmbitos social,
econômico, político e tecnológico, o que se reflete nas culturas, nos costumes, nas relaçõe
s
interpessoais, na educação e no trabalho”.
Nesse sentido, ao pensar na inclusão de portadores de necessidades especiais, essa
questão da reorganização da escola se faz ainda mais necessária, pois a sociedade, cada vez
mais, exige uma familiarização com a tecnologia, com uma nova forma de comportamento
que exige mais autonomia, poder de decisão e capacidade de aprender.
A necessidade de um reposicionamento da educação, diante dos novos padrões de
produtividade, de competitividade e de cooperação, decorrentes dos avanços científicos e
tecnológicos e da compreensão das economias modernas, indica que um novo caminho deve
ser tomado, no que diz respeito à concepção de educação, de inclusão e de responsabilidade
social.
44
Cf. BIANCHETTI, Lucídio. Dilemas do professor ao
avanço da Informática na escola. Anais do X ENDIPE,
2000.
95
Essas mudanças têm de ser entendidas como importantes para a educação, em
qualquer nível, na medida em que uma nova concepção de saber está sendo posta na realidade
escolar, uma concepção embasada em novas relações com a tecnologia.
Com esse entendimento, Lévy (1993, p.126) ressalta que:
O essencial, porém, reside num novo estilo de pedagogia que favoreça, ao mesmo
tempo, os aprendizados personalizados e o aprendizado cooperativo em rede. Nesse
quadro, o docente vê-
se chamado a tornar
-
se um animador da inteligência coletiva de
seus grupos de aluno
s, em vez de um dispensador direto de conhecimento.
Então, com base num processo educacional que favoreça o aprendizado coletivo, é
fundamental compreender e definir o papel de todos os envolvidos no processo de ensino, seja
na escola e fora dela.
Numa concepção de educação coletiva, em que os sujeitos do processo ensino-
aprendizagem interagem entre si e, ao mesmo tempo, com a tecnologia no meio educacional,
torna
-
se importante entender o conceito de construção do conhecimento.
Compreender os novos processos de aquisição e construção do conhecimento é
básico para tentarmos superar este impasse. Esta compreensão, por outro lado,
empurra
-
nos
necessariamente
para considerarmos fundamental a introdução das
chamadas tecnologias da comunicação e informação nos processos de ensino-
aprendizagem (PRETTO, 1999, p. 80).
Se, conforme Jean Piaget
45
, as crianças são construtoras de seu próprio conhecimento,
quando portadoras de deficiência, essa construção pode ser limitada pela restrita interação das
mesmas com o ambiente social e mesmo físico. E é, nesta interação, que, segundo Papert
(1994), por intermédio da ação física ou mental do indivíduo, se dão as condições para a
construção do conhecimento. Sobre a importância, para o aprendizado, das interações no
mundo, enfatiza Papert (1994, p. 128): “O Construcionismo, minha reconstrução pessoal do
45
Cf. COUTINHO, Maria T. da Cunha; MOREIRA, Mércia.
Psicologia da Educação
: um estudo dos processos
psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, voltados para a educação: ênfase na abord
agem
construtivista. Belo Horizonte: Lê, 2001.
96
Construtivismo, atribui especial importância ao papel das construções no mundo como apoio
para o que ocorreu na cabeça, tornando-se, deste modo, menos uma doutrina puramente
menta
lista”.
Ainda se posicionando a respeito do paradigma construcionista, e dessa denominação
dada por Papert, Valente (1993, p.7
-
8) enfatiza:
Ele usou este termo para mostrar um outro nível de construção do conhecimento: a
construção do conhecimento que aco
ntece quando o aluno constrói um objeto de seu
interesse, como uma obra de arte, um relato de experiência ou um programa de
computador. Na noção de construcionismo de Papert existem duas idéias que
contribuem para que esse tipo de conhecimento seja diferente do construtivismo de
Piaget. Primeiro, o aprendiz constrói alguma coisa, ou seja, é o aprendizado através
do fazer, do “colocar a mão na massa”. Segundo, o fato de o aprendiz estar
construindo algo de seu interesse e para o qual ele está bastante motivado. O
envolvimento efetivo torna a aprendizagem mais significativa.
Costa e Paim (2004), também, enfatizam que é interagindo com os objetos do
conhecimento que o sujeito constrói novos conhecimento, formando uma espécie de espiral
que favorece e também faz parte do processo de aprendizagem. Isso demanda um novo olhar
da escola sobre todo este processo de construção do conhecimento. Enfatizando, esses
mesmos autores se posicionam:
Assim, demanda-se um novo modelo de ensino que privilegia o sujeito em sua
interação com o conhecimento, reconhecendo-se a necessidade de se constituir um
aprender novo, que pode ser traduzido em um sistema a distância, mas que é
caracterizado, fundamentalmente, por um processo dialético, coletivo, de interação,
nas redes do ciber
espaço (COSTA e PAIM, 2004, p. 35).
Se o sujeito constrói seus conhecimentos, por meio de sua interação com o outro, com
o meio e com os objetos, precisa-se entender como a inserção de novas tecnologias, em
especial o computador, no âmbito escolar, interfere nesse processo contínuo de construção do
conhecimento.
97
Sobre essa necessária reorganização da educação, frente às inovações das tecnologias,
Collins e Sakamoto
apud
Marinho (1998, p.66) trazem algumas razões para que a escola
incorpore essas inovações,
sobretudo o computador, em seu âmbito. São elas:
1.
sociais
os computadores são importantes na sociedade e, assim, os
estudantes devem ser preparados para lidar com eles;
2.
vocacional
– os estudantes devem usar os computadores de forma a se
prepararem para
o trabalho futuro;
3.
pedagógica
os computadores podem melhorar o ensino de assuntos
tradicionais;
4.
catalítica
– os computadores provocarão amplas modificações no sistema
educacional e modificarão a natureza do ensino e de aprendizagem;
5.
industrial
– mantendo-se computadores nas escolas estará se ajudando a
construir um mercado que possibilitará o desenvolvimento de uma capacidade
interna ao país de produção de
hardware
e
software
e, finalmente
6.
de custo-
benefício
computadores podem substituir professores ou alguns
dos custos com professores.
Em relação ao item 6 do exposto acima, entende
-
se que o uso do computador na escola
não deve ser encarado como processo de substituição do professor na sala de aula.
O computador tem de ser compreendido como uma ferramenta auxiliar do professor
em sua missão educativa, na medida que pode servir como instrumento de apoio na mediação
da relação entre sujeito e objeto, podendo até ser usado como objeto dessa mediação.
Interpretando o papel do professor nesse cenário de transformação do sistema
educacional, Pretto (1999, p.79) posiciona
-
se:
Assim, a transformação do sistema educacional passa, necessariamente, pela
transformação do professor. Não podemos continuar pensando em formar
professores com teorias pedagógicas que se superam cotidianamente, centradas em
princípios totalmente incompatíveis com o momento histórico.
Todas essas mudanças, especificamente a incorporação de novas tecnologias no meio
social, precisam ser entendidas no âmbito escolar, uma vez que inclusão passa por este
ambiente, para, assim, chegar a ponto de efetivar ações inclusivas.
98
Nesse sentido, também, políticas públicas foram lançadas, com o intuito de alavancar
o uso dessas tecnologias na escola. Ainda, segundo Pretto (1999, p.80):
Os projetos políticos de implantação de complexos tecnológicos de comunicação e
informação sempre buscaram na educação elementos complementares para sua
sustentação. Inúmeros decretos foram promulgados com o objetivo de identificar e
estimular possíveis usos na área educac
ional deste sistema de rede.
Nesse sentido, a discussão sobre a inserção da tecnologia na escola, suas origens,
causas e efeitos são importantes no desenvolvimento deste trabalho, uma vez que tem
influência, direta e indiretamente, na inclusão de pessoas com necessidades especiais, tanto na
escola, quanto no mundo do trabalho, ou no meio social.
2.2
Informática educacional no Brasil: ações governamentais
No Brasil, a partir da década de 1970, a política de informatização dos setores
produtivos, adotada pelo governo nacional, começou a exigir o desenvolvimento de uma
capacitação tecnológica, demandando investimentos na área educacional para que esta
pudesse dar o suporte à pretendida informatização
46
.
De acordo com Oliveira, Tosta e Xavier (2004), datam do início dos anos 1970, as
primeiras iniciativas no âmbito da informática educativa no país, com a realização da
46
Cf. O aprender e a Informática: a arte do possível na formação do professor. Coleção Informática para a
mudança na Educação. SED/MEC.
99
Conferência Nacional de Tecnologia Aplicada ao Ensino Superior, discutindo o uso da
Informática no ensino de Física
47
.
Ainda conforme essas
autoras:
Um marco importante na história da informática educativa no Brasil dá-se na
década de 80, com a criação da Secretaria Especial de Informática (SEI), que tinha
como objetivo desenhar os rumos para a educação na área tecnológica (OLIVEIRA,
TOSTA e
XAVIER, 2004, p. 42).
A partir da década de 1980, ocorre a introdução da Informática no sistema de ensino
público, quando o Ministério da Educação patrocinou o Projeto Educom (Educação por
Computadores). Este projeto tinha como objetivo desenvolver pesquisas e metodologias sobre
o uso dos computadores como recurso pedagógico
48
.
O Educom foi implantado nas universidades públicas, mais especificamente na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O projeto
realizado nessas instituições propôs o uso da Informática na formação de cidadãos reflexivos,
críticos e capazes de utilizar os recursos tecnológicos na busca de informações que os
ajudassem na construção de seus conhecimentos.
47
De acordo com Oliveira, Tosta e Xavier (2004) pode
-
se estabelecer a seg
uinte seqüência de passos, no que diz
respeito à estruturação política da informática educacional no Brasil:
i.
1981
-
I Seminário Nacional de Informática Educativa (MEC/CNPq);
ii.
1982
-
II Seminário de Informática na Educação, na Bahia;
iii.
1984
-
implantação do Pr
ojeto Educom;
iv.
1986
-
criação do Comitê Assessor de Informática na Educação;
v.
1989
-
criação do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfe);
vi.
1990
-
extinção do Projeto Educom;
vii.
1997
início de uma nova perspectiva de ação com o Programa Nacional de Informática na Educação
(Proinfo).
48
Segundo Oliveira, Tosta e Xavier (2004), o Projeto Educom pode ser considerado como uma iniciativa
pioneira na informática educacional brasileira.
100
A partir da criação do Projeto Educom, o que se constata é que, cada vez mais, se têm
realizado pesquisas com o intuito de aperfeiçoar o uso do computador como ferramenta
auxiliar no processo educacional.
Contudo, é a partir dos anos 1980, que, segundo Pretto (1999), se de perceber um
crescente aumento da capacidade de análise de dados, ou seja, um virtuoso avanço dos
recursos tecnológicos, associado ao barateamento dos equipamentos, até pelo aumento de seu
consumo. De acordo com Pretto (1999, p.76): “A enorme diminuição dos custos dos
equipamentos eletrônicos foi impulsionando a área, com importantes reflexos em toda a
sociedade”.
Pode
-se perceber isso a partir do número cada vez maior de pessoas que possuem
computador em suas residências. Outro reflexo visível é o número crescente de pessoas
usuárias da
Internet
, a rede mundial de computadores, que, inicialmente, atendia somente à
comun
idade acadêmica. Ainda tomando Pretto (1999, p.76) como referência:
A Internet passa a fazer parte da realidade do mundo acadêmico e, rapidamente, vai
despontando como importante elemento de conexão entre equipamentos, que
consegue desenvolver um protocolo de comunicação que viabiliza a troca de dados
entre computadores distantes e, mais significativo, de natureza distintas (...). Com
isso, introduzem
-
se novas formas de se produzir conhecimento e cultura.
Pode
-se inferir, a partir dessa nova perspectiva de produção de conhecimento e de
cultura, que a sociedade faz parte desse processo evolutivo e, sobretudo, tem lugar
privilegiado nesse sistema, mutante por natureza. Nesse sentido, a educação ocupa lugar de
destaque, uma vez que tais mudanças passam, es
sencialmente, por ela.
Tais mudanças precisam ser acompanhadas com determinados critérios de verificação,
para que o processo não se torne distante da realidade da escola e, numa perspectiva mais
ampla, de todo o sistema educacional e social.
101
A qualidade, associada à implementação de novas tecnologias, é um caminho a ser
seguido e em constante expansão. Nessa perspectiva, o Governo Federal institui o Proinfo
(Programa Nacional de Informática na Educação), que, a esse respeito, determina o seguinte
em seu te
xto:
Os dados mundiais sobre educação permitem associar, de um modo geral, situações
sociais críticas a países que não oferecem educação básica de qualidade a suas
populações, não priorizando, dessa forma, a dime
nsão humana do desenvolvimento.
Nas sociedades democráticas que dispõem de fortes programas de capacitação de
recursos humanos e sistemas educacionais em expansão, geralmente o cenário é
outro: estabilidade econômica e menores desigualdades sociais decorrem de um
progresso baseado cada vez mais no uso intensivo de tecnologia e na circulação
cada vez mais rápida de um crescente volume de informações (Proinfo, 1997, p. 1).
Oliveira, Tosta e Xavier (2004, p. 44) se posicionam dessa forma sobre este programa:
“Seu objetivo principal está centrado na democratização e no emprego intensivo das novas
tecnologias da informação e da comunicação, no nível dos ensinos fundamental e dio, da
rede pública de ensino”.
Mudanças nos sistemas de conhecimento da sociedade implicam transformações em
operações pro
dutiv
as, levam à criação ou substituição de produtos e à racionalização de
procedimentos decisórios. O conhecimento acelera e transforma processos, torna instantâneas
inúmeras ações de interesse econômico e gera um novo quadro organizacional caracterizado,
prin
cipalmente, pela flexibilidade decorrente da utilização de equipamentos informatizados e
programáveis.
Este quadro determina profundas alterações no mercado de trabalho, no ambiente
escolar, em suma, enseja mudanças de paradigmas sociais. Nessa perspectiva, o Proinfo
(1997, p.1) traz em seu texto:
Os avanços tecnológicos trazem consigo mudanças nos sistemas de conhecimento,
novas formas de trabalho e influem na economia, na política e na organização das
sociedades. São responsáveis pelas principais características do modus operandi
da
“aldeia global”: internacionalização da produção, globalização das finan
ças,
102
mudança internacional do trabalho, movimentos migratórios do Sul para o Norte e
competição amb
i
ental.
Nesse panorama social, no ano de 2000, o MEC lança, por intermédio da SEESP, o
PROINESP (Projeto de Informática na Educação Especial) com o objetivo de
contemplar
escolas ligadas a instituições não-governamentais que atendem portadores de necessidades
educativas especiais” (PROINESP, 2000, p. 2).
Ain
da, segundo o documento desse projeto, percebe
-
se:
Dessa forma, em harmonia com as diretrizes do Proinfo, a SEESP busca incentivar
o uso educacional das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) pelos
portadores de necessidades educativas especiais. Tal incentivo dar-
se
-
á,
basicamente, por meio de financiamento às instituições contempladas para a
capacitação dos professores e aquisição de equipamentos.
(...)
Nesse âmbito da utilização, inserem-se aspectos relacionados à necessidade de
considerar o potencial das Tecnologias da Informação e Comunicação para o
desenvolvimento/crescimento de portadores de necessidades especiais, no sentido
de inserir esses alunos no contexto das políticas nacionais, favorecendo o acesso e a
apropriação dessas tecnologias e contemplando, na diversidade, o real sentido da
“educação para (com) todos” (PROINESP, 2000, p. 2).
É nessa perspectiva de inclusão social, utilizando-se dos benefícios trazidos pela
incorporação dessas novas tecnologias, que o Projeto realizado na PUC Minas Contagem, em
parceria com a APAE local, vem atuando, com o objetivo de auxiliar no processo de inclusão
de portadores de necessidades especiais por meio do ensino de Informática.
2.3
A Informática na Educação Especial
O acelerado desenvolvimento tecnológico e sua evidente penetração, nas instituições
sociais, vêm provocando transformações na sociedade, na cultura e, principalmente, na
103
educação que, não podendo permanecer alheia a este processo, passou a se utilizar dessas
tecnologias como mais um recurso para a inserção de pessoas portadoras de necessidades
especiais na sociedade, permitindo
-
lhes descobrir novas maneiras de ver o mundo e aprender.
A Informática tem trazido grandes possibilidades de mudanças na área educacional.
Algumas dessas vêm ocorrendo e é, a partir delas, que se têm discutido alguns pontos, tais
como a importância e o papel do professor e do aluno nesse processo.
Entretanto, que se ressaltar que a incorporação dos recursos da Informática, em
especial, o computador, no âmbito da sala de aula pode ser fator de avanços na aprendizagem,
tanto para alunos portadores de necessidades especiais quanto para alunos não portadores
destas necessidades. Segundo Valente (1991), por ser uma ferramenta de trabalho com a qual
se escreve, desenha-se e resolvem-se problemas, o computador significa para o deficiente
mental um objeto desafiador das suas capacidades intelectuais.
Na Educação Especial ou em qualquer outro processo educacional inclusivo, no qual
alunos, com necessidades especiais, façam parte do contexto da sala de aula comum, o
computador poderá trazer grandes vantagens, pois, com os recursos de que este instrumento
dispõe (tais como som, animação, efeitos especiais, entre outros), o aprendizado pode tornar-
se mais atrativo, significativo, evidenciador de habilidades e interessante, tendo em vista que
este material pode ser facilmente adaptado ao nível intelectual e ao ritmo de cada um.
Para Costa e Paim (2004, p. 17): “Nesse contexto informacional, as relações com o
conhecimento
adquirem nova dimensão que o sujeito cognitivo é constituído em ambientes
que incorporam novas relações com os objetos do conhecimento”. Com esse entendimento,
conclui
-se que o aspecto fundamental da tecnologia é o fato de o aluno poder estar em contat
o
com o objeto de aprendizagem.
Respeitado o ritmo particular de cada aluno, as possibilidades de sucesso, no processo
de construção do conhecimento deste, são consideravelmente boas. O mesmo ocorre no caso
104
dos portadores de necessidades especiais, uma vez que o fato de estas pessoas terem seu ritmo
de aprendizagem respeitado, já constitui avanço e incentivo significativo para seu processo de
construção do conhecimento.
A mudança na função do computador para o ensino deve estar respaldada sob uma
abordagem
que respeite o ritmo e a capacidade de cada aluno, de modo que contribua para o
desenvolvimento global destes, valorizando e evidenciando aspectos cognitivos, sociais,
afetivos e emocionais.
Desse modo, Valente (1991) salienta que esta ferramenta não deve ser o foco de um
novo processo, mas um instrumento que permita a complementação, aperfeiçoamento e
possível transformação e mudança para a qualidade do ensino.
Ainda, de acordo com Valente (1995, p.1):
O uso de computadores em educação especial tem permitido o desenvolvimento de
uma educação verdadeiramente especial. Através da metodologia Logo de ensino-
aprendizagem foi possível criar ambientes de aprendizagem baseados no computador
para um grande número de crianças deficientes, como deficientes físicos
(Goldenberg, 1979; Weir, Russell e Valente, 1982; Valente 1983; Weir, 1987;
Murphy, 1991; Ferraz e Garcia, 1991; Valente, 1991; Valente, 1991; Guerreiro,
1991), deficientes auditivos (Goldenberg, 1979; Battro, 1986; Battro e Denham,
1989; Valente e Gagliardi, 1991; Barrella, 1991), deficientes visuais (Marin, 1991;
Gasparetto et al, 1991), autistas (Weir e Emanuel, 1976; Goldenberg, 1979; Weir,
1987), deficientes mentais (Weir, 1981) e crianças com problema de aprendizagem
(Weir e Watt, 1981; Weir, 1987). Ne
sses ambientes essas crianças puderam aprender
e se desenvolver intelectualmente graças à metodologia educacional adequada a cada
uma dessas populações e a presença do computador, enriquecendo o ambiente de
ensino
-
aprendizagem.
Com o uso do computador, os alunos poderão exercitar a capacidade de construir seu
próprio conhecimento a partir de ações físicas ou mentais, realizadas no ambiente onde foram
inseridos. Nesse processo, a função do professor deverá ser a de criador de ambientes de
aprendizagem, facilitador e mediador no processo de construção do conhecimento pelo aluno,
ou seja, efetivar o real significado da aprendizagem.
Dessa forma, na medida em que o trabalho se consolida, os professores encontram
formas e estratégias de usar a tecnologia modificando a sua prática instrucional, o significado
105
da aprendizagem e das relações entre professor e aluno, aluno e aluno, desenvolvendo um
ambiente criativo, contextualizado e repleto de condições e alternativas para uma educação
inclusiva.
Outra questão a ser tratada é que o aluno tem de criar um determinado grau de
autonomia na construção de seu conhecimento. Essa autonomia não significa, de modo algum,
que o papel do professor tenha sido reduzido ou até mesmo dispensado. Conforme Valente
(1991, p. 1), pode
-s
e salientar o seguinte:
As crianças com deficiência (física, auditiva, visual ou mental) têm dificuldades que
limitam sua capacidade de interagir com o mundo. Estas dificuldades podem impedir
que estas crianças desenvolvam habilidades que formam a base do seu processo de
aprendizagem.
De acordo com essa posição, percebe-se a importância do professor no processo de
aprendizagem do aluno. O professor adquire, nesse contexto de introdução de novas
tecnologias no ambiente escolar, importância fundamental na medida em que sua atuação
passa a ser de mediador do processo de ensino-aprendizagem e, até mesmo, no processo de
inclusão social.
Nessa perspectiva, ressalta Lévy (1999, p.171) que:
Os professores aprendem ao mesmo tempo que os estudantes e atualizam
cont
inuamente tanto os seus saberes ‘disciplinares’ como suas competências
pedagógicas. A partir daí, a principal função do professor não pode mais ser uma
difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios.
Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o
pensamento.
Se a ênfase do processo educacional está no indivíduo, no "sujeito coletivo"
49
, na
aprendizagem, na construção do conhecimento, no desenvolvimento da compreensão, na
49
A expressão sujeito coletivo é utilizada aqui com o intuito de indicar que o sujeito da aprendizagem tem seu
leque de possibilidades de interações altamente ampliado com o uso das tecnologias da Informação e
Comunicação, em especial o computador, o que pode ensejar um processo mais amplo de solidariedade grupal.
106
necessidade de construção e reconstrução do homem e do mundo, então a educação, usando
as novas instrumentações eletrônicas, deverá estar voltada para o desenvolvimento humano.
Não resta dúvida de que os avanços tecnológicos são de fundamental importância para
todos, não somente no âmbito educacional como também no uso doméstico e profissional.
Nessa perspectiva, o PROINESP propõe como objetivo geral:
O Proinesp visa a incentivar o uso pedagógico das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) na Educação dos alunos portadores de necessidades especiais
matriculados em escolas especializadas mantidas por organizações não-
governamentais sem fins lucrativos, por meio da disponibilização de recursos
tecnológicos e, concomitantemente, da qualificação de professores destas escolas
(PROINESP, 2000, p. 10).
O PROINESP ressalta que as Tecnologias da Informação e da Comunicação podem
intervir no perfil de competência das pessoas portadoras de necessidades especiais. De acordo
com esse documento, uma intervenção se dá na pré-formação ou formação profissional dessas
pessoas. Nesse sentido, a utilização de sistemas utilitários e de aplicativos abre possibilidades
de atuação no mercado de trabalho através da formação de jovens, amenizando, assim, a
discriminação e, ao mesmo tempo, promovend
o a inclusão social.
Nessa perspectiva, uma nova visão de formação do cidadão é assinalada por Matsuura
(2002, p. 172):
Não se trata, apenas, de proporcionar educação na nova sociedade do
conhecimento, mas também para essa nova sociedade. A sociedade rápida e
conectada a que estamos chegando exige uma nova ênfase na capacitação
necessária para adaptar-se e responder às mudanças, para tratar com fluxos de
informação ágeis e crescentes.(...) Estes serão os novos “fundamentos”, essenciais
para lidar com a t
axa acelerada de acumulação do conhecimento.
Com esse mesmo entendimento, e ainda de acordo com o PROINESP, pode-
se
destacar:
107
Estudos e investigações, em âmbito internacional, vêm revelando a importância e o
potencial que as TIC assumem no campo da Educação Especial. Tem-se observado
que a utilização pedagógica dessas tecnologias vem produzindo maiores/melhores
efeitos na Educação Especial quando comparada à Educação de modo geral.
Também tem-se verificado que grande parte do que é planejado/aplicado para
portadores de necessidades especiais, principalmente na área de
software
, resulta em
benefícios a outros usuários, estendendo
-
se seu uso de modo generalizado.
(PROINESP, 2000, p. 2).
Além dessas dificuldades, muitas pessoas portadoras de deficiência, por diversos
problemas, como por exemplo, as barreiras arquitetônicas e também problemas de ordem
social, obrigam-se a interromper a sua formação, ficando no isolamento, sem possibilidades
de desenvolvimento e autoformação.
Na perspectiva da valorização do desenvolvimento de um cidadão, capaz de realizar
sua própria formação e de estar sempre se atualizando, é importante destacar o que traz em
seu documento o PROINESP:
No limiar do século XXI estamos assistindo a uma sociedade regida pela
informação. Se até aqui o importante era o controle e a detenção da informação,
agora ressalta-se um outro aspecto que diz respeito à atualização e à rapidez com
que se processa a criação e troca de informação. Podemos afirmar que o século XX
caracterizou
-se pelo crescimento tecnológico ligado à indústria da informação,
acentuada principalmente nos últimos 20 anos. A associação da Informática com as
telecomunicações vem transformando o mundo numa aldeia global e mudando o
próprio conceito de sociedade (PROINESP, 2000, p. 3).
Segundo Neila Maria Melo Campos (2002), apresentando painel sobre o
PROINESP
50
, no III Congresso Ibero-americano de Informática na Educação Especial, pode-
se assim definir este projeto:
O Projeto de Informática na Educação Especial foi desenvolvido para ampliar o
acesso dos alunos com necessidades educacionais especiais as TIC
Tecnologias de
Informação e Comunicação. Neste contexto, o objetivo maior do PROINESP é
incentivar o uso pedagógico da Informática na Educação dos alunos com
necessidades educacionais especiais matriculados em instituições especializadas
não governamentais, que, por não integrarem a rede pública de ensino, não podem
50
O texto
completo deste painel pode ser acessado consultando
-
se os Anais do III Congresso Ibero
-
americano de
Informática na Educação Especial, promovido pelo MEC e realizado em Fortaleza, de 20 a 23 de agosto de 2002.
108
ser beneficiados por ações do Programa Nacional de Informática na Educação -
Proinfo.
Uma educação, seja em qualquer nível, de boa qualidade, continua sendo a condição
relevante para a evolução social. Tanto no Brasil como em qualquer parte do mundo, as
condições educacionais da população têm implicações diretas no desenvolvimento
econômico, na melhoria das condições de vida, na construção de uma cidadania mais
participativa e solidária
51
.
Para isso, a escola não pode se privar dos avanços tecnológicos e, sendo assim, seu
papel passa a ser reformulado com a incorporação constante das novas tecnologias.
Com esse mesmo entendimento e, até justificando-o, assim se posiciona o Proinfo,
trazendo em seu texto:
O acesso à informação é imprescindível para o desenvolvimento de um estado
democrático. Uma nova sociedade jamais será desenvolvida se os códigos
instrumentais e as operações em redes se mantiverem nas mãos de uns poucos
iniciados. É, portanto, vital para a sociedade brasileira que a maioria dos indivíduos
saiba operar com as novas tecnologias da informação e valer
-
se destas para resolver
problemas, tomar iniciativas e se comunicar. Uma boa forma de se conseguir isto, é
usar o computador como prótese da inteligência e ferramenta de investigação,
comunicação, construção, representação, verificação, análise, divulgação e
prod
ução do conhecimento. E o
locus
ideal para deflagrar um processo dessa
natu
reza é o sistema educacional (PROINFO, 1997, p. 2).
Também há que se destacar que o Plano Nacional de Educação traz, como parte
constante de suas metas, a implantação dos recursos oriundos das inovações tecnológicas. Em
seu texto, a
meta número 14 traz o seguinte:
Ampliar o fornecimento e uso de equipamentos de informática como apoio à
aprendizagem do educando com necessidades especiais, inclusive através de
parceria com organizações da sociedade civil voltada para esse tipo de atend
imento
(PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001, p. 102).
51
A insistência no solidário se apóia na Constituição Federal de 1988 e, de certo modo, se contrapõe e, ao
mesmo tempo, corrige distorções de um ponto de vista baseado apenas no mercado.
109
Aqui se percebe que este documento tem claro que a Informática não tem o papel de
solucionar, por si só, os problemas de aprendizagem dos alunos portadores de necessidades
especiais. As inovações tecnológicas recebem a função de atuar como ferramentas auxiliares
nesse contínuo processo de melhoria da qualidade no sistema educacional.
Nesse sentido, Marinho (1998, p. 64) assim se posiciona sobre o fato de se depositar
no computador a expectativa de fator de
mudança, por si só, na educação:
O uso do computador com finalidade educacional poderá se dar em escola, qualquer
que seja a sua abordagem pedagógica. A qualidade do uso estará definida pelo tipo
de educação e não pelo simples uso do computador. Trazer o computador para a
escola pode representar a confirmação de um modelo pedagógico, conformando-
se a
escola como é, ou, ser estratégia numa mudança da escola, reformando-a. Qualquer
papel é possível para o computador, de conformador a reformador.
Com essa p
ercepção de que há que se ter instrumentos eficientes para se trabalhar com
o computador, diversos
softwares
vêm sendo desenvolvidos com o intuito de facilitar a
inclusão digital dessa população, tentando, senão eliminar, ao menos minimizar as barreiras
qu
e porventura venham a aparecer
52
.
A seguir, segue uma lista com alguns destes programas computacionais, ou seja, de
softwares
e suas respectivas funcionalidades
53
:
52
Com esse intuito, podem-se apontar várias outras iniciativas ou serviços que se ocupam de trazer mais
informações
sobre pessoas portadoras de deficiência. Dentre alguns, destacam-se aqui alguns
sites
tais como:
www.nied.unicamp.br
- endereço eletrônico do Núcleo de Informática Aplicada à Educação, da UNICAMP, que
se ocupa a estudar e realizar pesquisas acerca desse t
ema, incluindo trabalho na área da Informática na Educação
Especial; também o endereço
http://www.usp.br/sibi/produtos/braille.htm
- que é um Catálogo Coletivo
Informatizado, com informações dobre livros em Braille e livros falados dos acervos das bibliotecas da Grande
São Paulo externas à USP - esse serviço é disponibilizado pela Universidade de São Paulo (USP); e ainda o
REINTEGRA (Rede de Informações Integradas sobre Deficiência) que é parte do Programa de Cooperação
Universidade Comunidade, da USP, que está disponível em http://www.cecae.usp.br/pcuc/reinteg.htm; e, por
último, nessa lista destaca-se o
site
do Núcleo de Informática na Educação Especial (NIEE), da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que foi criado com a transformação do CIES/EDUCOM, que, ao longo
dos últimos 13 anos, desenvolveu experiências, pesquisas,
softwares
e formação de recursos humanos na área de
Informática na Educação Geral e Especial e está disponível para acesso no endereço
http://www.niee.ufrgs.br/geral.htm. Todos
esses endereços eletrônicos foram acessados em 08/07/2005.
53
Uma lista, mais detalhada e com maior variedade de softwares, pode ser encontrada no endereço eletrônico da
REDE SACI, no
site
<www.saci.org.br> Acesso em: 10/09/04.
110
1.
DOSVOX
- primeiro programa de leitura de tela feito no Brasil, é um sistema
destinado a auxiliar o deficiente visual a fazer uso do computador através de
um aparelho sintetizador de voz. O sistema foi desenvolvido no Núcleo de
Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vem sendo
aperfeiçoado a cada nova versão por programadores deficientes visuais;
2.
Virtual Vision
- Outro programa leitor de tela brasileiro, o Virtual Vision foi
desenvolvido pela
MicroPower
. O Virtual Vision é totalmente adaptado para o
uso do sistema operacional
Windows
e seus aplicativos e não requer
sintetizador de voz externo. O programa utiliza o Delta Talk, a tecnologia de
síntese de voz que garante, segundo o seu fabricante, a qualidade de áudio
como o melhor sintetizador de voz em português;
3.
Jaws
- Considerado atualmente o leitor de tela mais popular do mundo, o
Jaws
for
Windows
da norte-
americana
Freedom Scientific possui um software
sintetizador de voz que utiliza a própria placa de som do computador. O
Jaws
roda em diversos idiomas, inclusive em português;
4.
Dicionário Digital de Português e LIBRAS
Língua Brasileira de Sinais
dicionário de sinais disponibilizado pelo INES (Instituto Nacional de
Educação de Surdos), pela
Internet
, na versão 1.0/2001
54
;
5.
Sign Talk
– um bate-papo entre surdos e ouvintes: é uma ferramenta que
possibilita a comunicação a distância
entre surdos e ouvintes, surdos e surdos e
54
Uma versão mais atual deste material se encontra disponível no
site
<www.ines.org.br/libras/index.htm>
Acesso em: 10/09/04.
111
ouvintes e ouvintes. Tal comunicação é realizada por intermédio da Língua
Portuguesa e da escrita da Língua Brasileira de Sinais;
6.
CantaLetras
é um sistema multimídia para apoio ao processo de leitura e
escrita
onde, por meio de uma interface auditiva, impressão Braile e
características interativas, facilita a aprendizagem da leitura e da escrita para
cegos. Esse sistema trabalha com letras, números, sílabas e fonemas.
Estas são apenas algumas opções de recursos disponíveis para o atendimento aos
portadores de deficiência e, entre eles, os portadores de necessidades educacionais especiais,
como alternativas de ferramentas auxiliares em determinadas tarefas educativas.
Além disso, existe uma enorme quantidade de recursos físicos, ou seja,
hardware
,
adaptados para atender aos portadores de deficiência física que possuem, por exemplo,
dificuldades de locomoção, de limitação de certos movimentos. De modo simplificado,
podem
-
se classificar desta forma os recursos exist
entes:
1.
Adaptações físicas ou órteses - são todos os aparelhos ou adaptações fixadas e
utilizadas no corpo do aluno e que facilitam a interação do mesmo com o
computador.
2.
Adaptações de
hardware
de modo geral, todos os aparelhos ou adaptações
presentes nos componentes físicos do computador, nos periféricos, ou mesmo,
quando os próprios periféricos, em suas concepções e construção, são
especiais e adaptados.
3.
Softwares especiais de acessibilidade - os componentes lógicos das TIC
quando construídos como Tecnologia Assistiva, ou seja, são os programas
112
especiais de computador que possibilitam ou facilitam a interação do aluno
portador de deficiência com a máquina.
Muitas são as possibilidades de adaptação disponíveis para atender a essas pessoas, o
que muito os auxilia na tarefa de, por exemplo, digitar um texto, locomover o
mouse
, entre
outras ações indispensáveis no manuseio de um computador.
Nesse sentido, Santarosa
apud
PROINESP (2000, p.5), traz estas duas grandes
categorias de investigação nessa área, divi
dindo
-as, de forma simplificada, em duas áreas, a
saber:
Assim, de forma bastante simplificada, pode-se apontar uma das categorias como a
de “prótese física” e a outra como a de “prótese mental”.
(1) Como “prótese sica” entende-se o conjunto de dispositivos e procedimentos
que visam ao desempenho de funções que o corpo não pode ou tem dificuldades de
executar devido a deficiências. São também chamadas de ajudas técnicas, cuja
gama existente varia para atender às diferenciadas deficiências no campo motor,
visual, auditivo, etc. de portadores de necessidades especiais. Nessa área, inserimos
todas as formas de acesso às TIC que envolvam simuladores, acionadores, sensores,
entre outros dispositivos que possibilitam efetivar o processo de
interação/comunicação
, desse tipo de usuário, com a vasta produção de sistemas e
software desenvolvidos. Pode ser citado, a titulo de exemplo, o software
que
possibilitou o ingresso na UFRGS de um aluno com paralisia cerebral.
(2) Como “prótese mental” inserimos todo o processo de intervenção sobre
portadores de necessidades especiais visando ao seu desenvolvimento cognitivo,
sócio
-afetivo e de comunicação, utilizando os recursos da Informática. Nesse
sentido, refere-se de modo especial, aos ambientes de
aprendizagem/desenvolvi
mento computacionais ou informatizados, criados com a
finalidade de intervir sobre processos e estruturas mentais do indivíduo portador de
necessidades especiais.
É preciso esclarecer que as próteses físicas têm a finalidade de auxiliar o uso das
próteses
mentais, que aqui são entendidas como o processo de intervenção que se realiza com
o intuito de favorecer o desenvolvimento cognitivo do portador de necessidades especiais.
A prótese mental agrupa todos os recursos de
softwares
utilizados com a função
edu
cativa. Dessa forma, é preciso analisar, com mais detalhes, o trabalho realizado pelo
Projeto APAE, pois este consiste justamente em proporcionar aos alunos portadores de
113
necessidades especiais o domínio dos recursos computacionais, utilizando-se, sobretud
o,
dessa concepção do uso, das assim chamadas, “próteses” mentais
55
.
2.4
Sobre o Projeto APAE
Entende
-se que não faz sentido tratar do Projeto APAE sem referenciar a estrutura que
o acompanha e, sobretudo, a sustentação necessária para seu desenvolvimento. Isso
significa fazer uma breve apresentação da PUC Minas Contagem e da sua Coordenadoria de
Extensão, local onde se desenvolve esse Projeto.
Instalada em Contagem, uma das regiões industriais mais importantes do Estado de
Minas Gerais, a PUC Minas Contagem, criada em 1990, conta com Biblioteca, Setor de
Estágio, Apoio Comunitário, Posto Médico, seis laboratórios de Informática e um laboratório
de Cartografia, que oferecem suporte aos cursos de Administração, Ciências Contábeis,
Comércio Exterior, Direito, Geografia com ênfase em Geoprocessamento, Serviço Social,
Engenharia Mecânica e Sistemas de Informação.
Procurando estar sempre em contato com a comunidade, a PUC Minas de Contagem
desenvolve diversos projetos, por intermédio da sua Coordenadoria d
e Extensão e também por
iniciativas de professores e alunos da entidade, como é o caso do Programa Bolsa Dignidade,
que realiza atividades interdisciplinares com estudantes de sete escolas do ensino fundamental
55
Neste trabalho, o termo “prótese mental” é utilizado metaforicamente, querendo indicar como prótese, na
verdade, todo e qualquer movimento que indique uma intervenção, uma mediação. O Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa traz o seguinte significado para a palavra prótese: “dispositivo implantado no
corpo para suprir a falta de um órgão ausente ou para restaurar uma função comprometida”. É exatamente como
possibilidade de restauração de um perfeito, ou melhor funcionamento de umas das funções cerebrais, que
usamos aqui o termo “prótese mental”. A mediação a que esse tipo de “prótese” se propõe é atuar na direção de
auxiliar o processo de se restaurar a atividade mental, seja em atividades cotidianas, no processo construção do
conhecimento, ou mesmo no processo de ensino-
aprendizagem.
114
da rede municipal de Contagem. Os participantes são estudantes de e séries que
apresentam dificuldade de aprendizagem e somam, atualmente, cerca de 250 alunos
beneficiários.
Nessa linha, de programas e projetos de extensão, desenvolve-se o Programa INFOC
(Informática para Comunidade), que tem como um de seus “braços” o Projeto APAE,
envolvendo alunos da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Contagem (APAE -
Contagem), que aprendem Informática, com o intuito de promover a inclusão sociodigital
56
e
escolar.
Além disso, em sintonia com os avanços, no que tange à Educação Especial e à
construção de uma sociedade mais justa e igual, a PUC Minas vem despendendo esforços no
sentido de minimizar as dificuldades dos portadores de deficiência física, sensorial e mental.
Assim, realizou três “Seminários Sociedade Inclusiva”, de âmbito internacional, nos anos
2000, 2001 e 2003 que contaram com o aporte de pesquisadores renomados da referida área.
que se ressaltar, também, que a Instituição vem oferecendo, entre outras ações,
acesso facilitado aos portadores de deficiências físicas, intérpretes para os surdos e o
atendimento especializado para os cegos.
Uma das atividades desenvolvidas, que buscam uma aproximação, em todos os níveis,
com a comunidade são as ações de extensão universitária. É consenso que a atividade
acadêmica se torna mais eficiente, se pautada na articulação com a prática, o que faz colocar
em execução o “tripé” ensino
-
pesquisa
-
extensão.
Na Lei 10.861, de 14 de abril de 2004 que “Institui o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior SINAES e outras providências”, fica evidente que um
dos pontos a serem avaliados pelo MEC, por meio do SINAES, é a responsabilidade social,
justificando
-
se assim em seu art. 1º, §1º:
56
Aqui o termo sociodigital indica que se trabalha com a inclusão social e, concomitantemente, com a inclusão
digi
tal.
115
O SINAES tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação superior, a
orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua eficácia
institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do
aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de
educação superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos
valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da
autonomia e da identidade institucional.
Trabalhando dentro desse panorama, a atividade extensionista da PUC Minas é pautada
por alguns pressupostos
57
, dentre os quais, destacam
-
se:
entendimento da extensão universitária como prática acadêmica que promove a interação
da universidade com a sociedade para a problematização e busca de respostas às q
uestões
sociais, visando à garantia dos direitos sociais e ao exercício pleno da cidadania por todos
os membros da sociedade;
a extensão possibilita a saída da comunidade acadêmica de seu espaço, assim como a
entrada de grupos, não acadêmicos, neste mesmo espaço, através de suas demandas e
questionamentos. Ela não pode ser entendida como mero campo de aplicação de
conhecimentos. poderá ser frutífera se compreendida em sua dimensão dialética, teoria
e prática, modificando
-
se simultânea e continuamente;
a
universidade tem a responsabilidade de produzir conhecimentos e de fazê-los circular na
sociedade. A extensão é uma via privilegiada de cumprimento desse dever/vocação da
universidade; ela promove a contínua realimentação dos currículos dos cursos e demais
atividades acadêmicas, realiza a democratização do conhecimento, possibilita a
participação efetiva da comunidade na vida da universidade, produzindo a síntese
resultante do confronto dessas múltiplas realidades;
57
Disponível em: http://www.proex.pucminas.br/pressupostos.php. Acesso em: 23/07/2004.
116
a extensão abriga, em si mesma, uma dimensão pedagógica. Realizar atividades de
extensão possibilita a reflexão acerca do conhecimento, sua produção e seu destino. A
cena da extensão é construída a partir de três atores: professores universitários, alunos e
membros da sociedade. As múltiplas relações entre eles desenvolvem-se de tal maneira
que quem ensina aprende e quem aprende ensina. Esse fluxo estabelece a troca de saberes
sistematizados, o acadêmico e o popular e tem, como conseqüência, a produção do
conhecimento resultante da interação com a
realidade brasileira e regional;
a extensão universitária além, de revelar o compromisso social da universidade, é também
parte integrante e necessária à formação de profissionais sensíveis à realidade social;
portanto, ela deve ser integrada às atividades de ensino e de pesquisa, produzindo, assim,
uma prática pedagógica crítica e renovada;
as práticas de extensão, além de possibilitarem o processo dialético entre teoria e prática,
têm caráter inter, multi e transdisciplinar, extrapolando a abordagem própria de cada área
de conhecimento ou especializada de cada curso, favorecendo a visão integrada do social.
A Coordenadoria de Extensão da PUC Minas Contagem, para seu desenvolvimento e
concepção de projetos de extensão universitária, que visem, entre outras coisas, atender os
pressupostos acima mencionados, segue as diretrizes básicas
58
para este fim, dentre elas
podem
-
se destacar:
promoção do desenvolvimento e/ou difusão das diferentes produções culturais, visando ao
resgate e a preservação de valores e tra
dições;
desenvolvimento, em parceria com o poder público (federal, estadual e municipal) e
organizações não-governamentais, de programas e projetos voltados para a geração de
58
Disponível em http://www.proex.pucminas.br/diretrizes.php. Acesso em: 23/07/2004.
117
emprego e renda, qualificação para o trabalho, reorientação profissional e a capacitação de
gestores de políticas públicas;
estabelecimento de estratégicas de promoção dos direitos à educação, saúde, trabalho,
lazer, cultura, liberdade de locomoção e expressão dos excluídos da sociedade.
Essas diretrizes expressam pontos fundamentais que norteiam os projetos de extensão
universitária realizados pela PUC Minas e, também, em prolongamento, pela PUC Minas
Contagem.
Assim compreendido, o Projeto APAE é de extensão universitária, realizado pela PUC
Minas Contagem, em parceria
59
com a APAE Contagem. Em atividade desde 2002, este
atende, atualmente, a 20 pessoas. Sua metodologia privilegia a familiarização tecnológica, a
partir da realização de atividades lúdico-pedagógicas em dois encontros semanais, totalizando
uma carga horária de 4 horas/au
la por semana.
As atividades são elaboradas com a colaboração da APAE, por meio do processo de
interação com seus profissionais e dão ênfase ao desenvolvimento de aspectos como a
socialização, a criatividade, a coordenação motora e o apoio à alfabetização.
A seguir, segue um quadro que traz, em síntese, o que é o Projeto APAE, mostrando
seus objetivos, público alvo e mais alguns itens:
59
Esta parceria é firmada por meio da assinatura de Convênio, conforme documento
do Anexo B deste trabalho.
118
Quadro 3
Quadro geral do Projeto APAE
ESTRUTURA
DESCRIÇÃO
OBJETIVO GERAL
Promover a inclusão sociodigital de port
adores de necessidades
especiais na área da Informática.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
Desenvolver o ensino da tecnologia de Informática junto a alunos
portadores de necessidades especiais, focalizando o uso do
Paint
,
editor de texto, planilha eletrônica e Intern
et;
Preparar o aluno para o trabalho com a Informática nas empresas,
viabilizando seu acesso a um mercado cada vez mais seletivo e
excludente;
Promover a integração e a inclusão social desses alunos, por meio
do emprego das diversas ferramentas e linguagem
computacionais;
Aumentar a auto-estima dos alunos, favorecendo sua convivência
sociocultural.
PÚBLICO
-
ALVO
O público
-
alvo é constituído de alunos assistidos pela APAE
-
Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Contagem.
AÇÕES /
ATIVIDADES
Dinâmi
cas principais:
Integração com o grupo, valoração da auto
-
estima e participação;
Leitura: elaboração de textos feitos pelo monitores;
Produção de textos: atividades multidisciplinares;
Familiarização tecnológica: atividades que promovam maior
interação alu
no / tecnologias;
Produção artística: atividades através de
softwares
de desenho de
modo a promover e estimular habilidades artísticas e culturais.
RESULTADOS
Maior senso de participação, elevada auto-estima, promoção da
inclusão sociodigital.
CRONOGRAMA
Março a dezembro de cada ano
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003.
Por estar localizada numa região eminentemente industrial, a PUC Minas Contagem
tem seus cursos de graduação voltados para o atendimento à demanda de seu entorno.
Percebendo isso, e em conjugação com outros fatores, propôs-se realizar uma parceria para a
realização de um projeto com a APAE de Contagem, que visasse qualificar alguns de seus
beneficiados que já vinham tendo experiências de inserção no mercado de trab
alho local.
Com essa perspectiva, é que surge o projeto de extensão denominado Projeto APAE.
Inicialmente sua proposta era qualificar mão-
de
-obra para abastecer as indústrias locais, que
119
se viam na obrigação de oferecer aos portadores de deficiência colocação, recolocação e
manutenção de postos de trabalhos, em cumprimento à determinação estipulada pelo artigo
93
60
da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 que “Dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social e dá outras providências”.
Vale aqui dar destaque à Constituição Federal de 1988, que, em seu texto, já evidencia
cobertura legal a esta lei, quando expressa em seu artigo 37
61
:
Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
(...)
VIII
- a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá o
s critérios de sua admissão.
Enfim, o importante era que a oportunidade havia aparecido e, juntando os interesses
da PUC Minas Contagem e da APAE local, no ano de 2002, o Projeto foi instituído
atendendo, inicialmente, a 10 alunos encaminhados pela APAE, que queriam se qualificar
para o ingresso no mercado de trabalho.
Já a partir do ano de 2003, o público alvo do Projeto em questão foi alterado, passando
este a receber, via APAE local, alunos com até 16 anos de idade, o que forçou também a
mudar a concepç
ão metodológica utilizada no ano anterior.
Com esse perfil de beneficiários, o Projeto passou a ter como objetivo a inclusão
digital, social e escolar, que agora os alunos que ele atendia eram semi-alfabetizados e
alguns já freqüentavam a escola regular
.
60
Art. 93. A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois por cento a cinco por
cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na
seguinte proporçã
o:
I
-
até 200 empregados .......................... 2%
II
-
de 201 a 500 ..................................... 3%
III
-
de 501 a 1.000 ................................. 4%
IV
-
de 1.001 em diante .......................... 5%
61
Outro artigo desta Carta M
agna se expressa a esse respeito, confira o
art. 7º, inc.
XXI.
120
Sendo assim, passou-se a privilegiar uma maior valorização da abordagem de
conteúdos escolares, uma vez que o princípio norteador do Projeto agora era, além de
promover a inclusão digital, contribuir para o efetivo aprendizado do aluno beneficiado, o
qu
e, por conseqüência, o ajudaria a realizar a outra inclusão, a social e, sobretudo, a escolar,
que agora também passava a ser preocupação de atendimento do Projeto APAE.
Nessa perspectiva, passou-se a trabalhar a Informática, mais especificamente os
recurs
os computacionais, com vistas a auxiliar o processo de aprendizagem desses alunos na
escola regular, pois esta era uma exigência dos familiares destes e também da norma legal
brasileira.
Mais ainda, entendeu-se a Informática como meio de inclusão e conferiu-se maior
privilégio à linguagem dos próprios beneficiários, menos técnica, utilizando-se de jogos, de
contação de histórias, como uma ferramenta de inclusão escolar e, ampliando ainda mais esta
perspectiva, de inclusão social.
A esse respeito, Matsuura (
2002, p. 170) reforça:
A liberdade de expressão, o direito à educação e o acesso à informação são
acentuados na Declaração Universal dos Direitos Humanos como pedras
fundamentais da participação efetiva do cidadão na sociedade civil. Hoje, as
tecnologias
da informação e comunicação abrem possibilidades antes inexistentes
para implementar esses direitos fundamentais.
E, ainda, segundo esse mesmo autor: “As tecnologias da informação e comunicação
podem habilitar os indivíduos e oferecer-lhes um meio de alcançar a soberania pessoal”
(MATSUURA, 2002, p. 170).
Sendo assim, tendo esse mesmo entendimento acerca do valor dos recursos
computacionais e, sobretudo, de uma educação que valorize aspectos humanos, ao mesmo
tempo em que forma, para uma sociedade mais informada e informatizada, uma nova
perspectiva se abriu, no que diz respeito ao progresso do Projeto APAE, que, nesse momento,
121
passa a enfatizar aspectos relevantes, não para uma formação escolar cidadã, mas para uma
inclusão que ocorra, de fato, em todas
as áreas da sociedade.
2.5
O Portador da Síndrome de Down
Síndrome de Down, segundo Voivodic (2004), é uma denominação que, como o
nome diz, abarca uma síndrome estudada por um médico inglês chamado John Langdon
Down. O nome foi dado à doença como
forma de homenageá
-
lo pelo sucesso de seus estudos.
O senhor Dr. John Langdon Down viveu entre 1832 e 1896 e, apesar do tom racista
62
de seus estudos, próprios da época, deixou um legado importante para se compreender tal
enfermidade recente naquela ocasião
.
Desse modo, em primeiro lugar, vejamos a definição constante no item 1 da
Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, aprovada em resolução pela Assembléia
Geral da Organização das Nações Unidas, em 09/12/75:
1
- O termo "pessoas deficientes" refe
re
-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar
por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou
social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas
capacidades físicas ou mentais.
62
“O Dr. John Langdon Down, trabalhando em uma instituição para crianças com retardo mental em Surrey, na
Inglaterra, foi o primeiro a descrever um grupo de crianças que apresentavam características semelhantes,
denominando
-
as
mongolóides
. Esse termo inapropriado foi criado por Down por acreditar que estas crianças se
assemelhavam ao povo da Mongólia, que até então era tido por apresentar um atraso em seu desenvolvimento.
Este insulto étnico caiu em desuso no meio científico através das pesquisas genéticas asiáticas da década de 60,
sendo criada a denominação
síndrome de Down
”.
Cf. Bento, Sanchez e Thomé (1999). Síndrome de Down e o Otorrinolaringologista: características gerais e
aspectos otológicos (Parte I
).
Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia, São Paulo, v.3, n.3, jul. ago. set.
1999. D
isponível em
: <http://www.hcnet.usp.br/otorrino/arq33/down.htm> Acesso em: 01/07/2005.
122
Nessa perspectiva, tem-se clara a necessidade de um atendimento diferenciado a essas
pessoas, que, por possuírem determinado tipo de deficiência, podem estar impossibilitadas
de gozar da totalidade de seus direitos e obrigações.
Ademais, outro documento internacional, referente ao atendimento e proteção ao
portador de deficiência, mais especificamente o portador de deficiência mental, é a
Declaração de Direitos do Deficiente Mental, proclamada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 20 de dezembro de 1971, que traz uma salutar lista de artigos que visam declarar
proteção social e legal a essa população. Em seus dois primeiros artigos, já se afirma o
seguinte:
Art. - O deficiente mental deve gozar, no máximo grau possível, os mesmos
direitos dos demais seres humanos.
Art.
- O deficiente mental tem o direito à atenção médica e ao tratamento físico
exigidos pelo seu caso, como também à educação, à capacitação profissional, à
reabilitação e à orientação que lhe permitam desenvolver ao máximo suas aptidões
e possibilidades.
É importante salientar, nesta declaração, o direito ao tratamento diferenciado, que
respeite as especificidades de cada pessoa, lembrando seu artigo 7º, onde consta:
Art. 7º
-
Se alguns deficientes mentais não são capazes, devido à gravidade de suas
lim
itações, de exercer efetivamente todos os seus direitos, ou se se tornar
necessário limitar ou até suspender tais direitos, o processo empregado para esses
fins deverá incluir salvaguardas jurídicas que protejam o deficiente contra
qualquer abuso. Esse procedimento deverá basear-se numa avaliação da
capacidade social do deficiente por peritos qualificados. Mesmo assim, tal
limitação ou suspensão ficará sujeita a revisões periódicas e reconhecerá o direito
de apelação para autoridades superiores.
Em termos nacionais, o Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que
“r
egulamenta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para
a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e outras
providê
ncias”, traz esta caracterização de deficiência, em seu artigo 3º:
123
Para os efeitos deste Decreto, considera
-
se:
I
- deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
II
- deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de
que se altere, ape
sar de novos tratamentos; e
III
- incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida.
Pode
-se considerar que, nesse caso, a norma legal divide em três níveis a abrangência
da questão da conceituação, procurando-se açambarcar, ao máximo, a cobertura de todos os
casos de deficiência.
Uma classificação ainda mais detalhada, nesse decreto, se encontra no artigo 4º, onde
se procuram determinar os tipos de deficiências em que uma pessoa pode se enquadrar. Nesse
sentido, esta norma traz a
seguinte definição de deficiência mental:
Art 4º - É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas
seguintes categorias:
(...)
IV
- deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior à
média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou
mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer
; e
h) trabalho;
V
-
deficiência múltipla
-
associação de duas ou mais deficiências.
O portador da Síndrome de Down, sujeito específico dessa pesquisa, está inserido
nesta classificação, que é um caso de deficiência mental que requer cuidados especiais, se
não rotineiramente, pelo menos em casos determinados.
A Síndrome de Down é a forma mais freqüente de retardo mental e é causada por uma
aberração cromossômica, microscopicamente demonstrável. É caracterizada por história
124
natural e aspectos fenotípicos bem definidos. É causada pela ocorrência de três (trissomia)
63
cromossomos 21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele e, por isso, também é
chamada de “Trissomia do Cromossomo 21”.
Segundo Blasco, Hernández e Sampedro (1993, p. 225):
Na criança com Síndrome de Down, a divisão celular apresenta uma distribuição
defeituosa dos cromossomos: a presença de um cromossomo suplementar, três em
vez de dois, no par 21. É por isso que esta síndrome é também denominada de
trissomia 21.
E ainda: “A maioria das alterações orgânicas acontece durante o desenvolvimento do
feto, pelo que o diagnóstico pode ser feito no momento do nascimento, o que é uma
vantagem, pois possibilita uma intervenção precoce” (BLASCO, HERNÁNDEZ,
SAMPEDRO, 1993, p. 227).
As pessoas com Síndrome de Down costumam ser menores e ter um desenvolvimento
físico e mental mais lento que as pessoas sem a síndrome. A maior parte dessas pessoas tem
retardo mental leve a moderado; algumas não apresentam retardo e se situam entre as faixas
limítro
fes e médias baixas, outras ainda podem ter retardo mental severo.
Existe uma grande variação na capacidade mental e no progresso desenvolvimental
das crianças com Síndrome de Down. O desenvolvimento motor destas crianças também é
mais lento. Enquanto as crianças sem síndrome costumam caminhar com 12 a 14 meses de
idade, as crianças afetadas geralmente aprendem a andar com 15 a 36 meses. O
desenvolvimento da linguagem também é bastante atrasado
64
.
63
O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa traz o seguinte significado explicativo para a palavra
trissomia: “condição de um núcleo, célula ou organismo no qual um dos pares de cromossomos homólogos
apresenta um cromossomo a mais”. É causadora de diversas anomalias em humanos, tal como a síndrome de
Down.
64
I
nformações obtidas em < http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?393> Acesso em: 10/09/04.
125
Segundo Mantoan (1998, p. 104):
Estudos funcionais da atividade mental do sujeito psicológico, aplicados ao
comportamento intelectual da pessoa com deficiência mental, esclarecem as
questões relativas à sua aprendizagem, garantindo-lhes melhores e maiores
condições de inclusão escolar.
Nessa perspectiva, pode-se compreender que a inclusão escolar é o caminho para o
desenvolvimento e inclusão social dessas pessoas. A educação inclusiva é a chave para tentar
solucionar esse problema da segregação e da exclusão. Ainda segundo essa autora:
A educação inclusiva implica a criação de alternativas metodológicas que
contenham, em seus princípios e na sua operacionalização, meios de se
proporcionar experiências de escolarização que se adaptem às exigências
curriculares, às características e às especificidades do processo educativo dos
aprendizes, diminuindo ou eliminando os obstáculos do meio escolar que produzem
as inadaptações escolares dos alunos em geral, deficientes e não-
deficientes
(MANTOAN, 1998, p. 104).
A instituição escolar que atenda a pessoas portadoras de deficiência precisa ter clareza
nas definições, para, assim, construir seu projeto político-pedagógico de maneira a atender
todos os seus alunos. É preciso entender que os alunos portadores de deficiência ou não, têm
seu modo particular de construção de conhecimento, que pode se dar na interação deste com o
objeto ou na sua interação com seu par. De acordo com Padilha (2000, p.215): “Qualquer
modificação na Educação Especial, qualquer inovação que se queira precisa radicalizar, isto é,
ter o olhar radicalmente voltado para ver o sujeito como alguém que vai se apropriando da
cultura e não somente somando hábitos”.
Nessa perspectiva, também se posiciona Mantoan (1998, p. 94):
O reconhecimento do papel dos fatores ambientais e dos que são internos aos
indivíduos, no processo interativo de produção de inadaptações, expressa-se em
todas as inovações conceituais citadas. As características do indivíduo foram
durante muito tempo a única meta das intervenções educativas, mas, hoje, nenhum
modelo educativo pode ignorar as
características do funcionamento das pessoas que
apresentam incapacidades intelectuais, sem considerar a interação destas com o
meio.
126
Pode-se concluir, portanto, que a escola precisa ser um espaço que valorize as relações
sociais, que favoreça a interação entre seus alunos, enfim, ser um lugar que propicie não
somente a aquisição de conhecimento, mas que também seja um espaço de troca de
experiências, de convívio entre os pares. Para Padilha (2000, p.206): “Não é possível
questionar o cotidiano das escolas especiais ou das instituições, ou mesmo dos atendimentos
clínicos, se não estivermos convencidos de que a análise que se deve fazer é análise das
relações, das interações, do jogo da interlocução”.
E ainda: “O deficiente não é deficiente por si só, o tempo todo, como uma entidade
abstrata. A deficiência está contextualizada e marcada pelas condições concretas de vida
social” (PADILHA, 2000, p.206).
Vale destacar que, segundo dados do INEP, o número de matrículas de alunos na
Educação Especial é de 337.442 alunos e, mais interessante ainda, o número de alunos desta
modalidade, incluídos na escola comum, é de 163.296, o que totaliza 500.738 alunos,
portadores de algum tipo de deficiência, matriculados em estabelecimentos de educação pelo
Brasil
65
.
Fica evidente o expressivo número de matrículas no sistema educacional brasileiro,
que mostra a crescente conscientização sobre a importância da educação para todos e,
também, extensiva aos portadores de deficiência.
Contudo, ainda é necessário aumentar esse número de matrículas, ainda mais se se
considerarem os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que, de
acordo com o Censo Demográfico de 2000, indica que o número de brasileiros com, pelo
menos, umas das deficiências pesquisadas na ocasi
ão é de 24.600.256 pessoas.
65
Estes dados podem ser obtidos no
site
do INEP, www.inep.gov.br, acessando os “Resultados Preliminares do
Censo escolar 2004”.
127
Concomitantemente a isso, saliente-se a importância da mudança de concepção
pedagógica por parte das escolas, na medida em que estas têm de receber, da melhor forma
possível, essas pessoas. Nessa perspectiva, Jannuzzi (2004, p.
191) enfatiza que:
Em educação especial há a defesa da inserção e da qualidade do ensino dos
deficientes como influenciadores nesse processo de transformação social, na
medida em que o torna consciente dos condicionamentos existentes e proporciona-
lhe meios de se apropriarem dos conhecimentos necessários à vida e à
transformação social.
Então, pode-se considerar que a qualificação dos profissionais, a reestruturação
político
-pedagógica, as mudanças estruturais e, até mesmo as físicas, do ambiente escolar, se
fazem necessárias no processo de melhoria da qualidade de ensino ofertado aos portadores de
deficiência, assim como a todas as pessoas freqüentadoras da escola e seus familiares.
Com esse mesmo entendimento, Mantoan (1998, p.96) expressa o seguinte:
A pesquisa pedagógica deverá empenhar-se no sentido de promover a autonomia
das pessoas com deficiência mental, o que supõe o uso de habilidades intelectuais
alternativas, ou seja, comportamentos que são compatíveis com a capacidade
intelectiva de cada sujeito, em um dado momento e perante um determinado
conteúdo.
A esse respeito, também, se posiciona Padilha (2000, p. 204):
A exclusão, a denominação de “deficiente”, a expressão de morbidez, por um lado
dificultam, atrasam (quando não impedem) avanços na construção de
conhecimentos dos diferentes campos do saber, tais como a psicologia e a
pedagogia; por outro lado, é um convite desafiador para que pesquisadores dessas
áreas de conhecimento esclareçam pontos fundamentais sobre o desenvolvimento e
a aprendiz
agem de pessoas com comprometimentos graves.
Nesse sentido, o que se pode inferir, de acordo com o exposto acima, é que muito se
tem a caminhar para construção de uma escola inclusiva e, mais ainda, de uma sociedade
também com essa característica e que, principalmente, proporcione a todas as pessoas as
128
mesmas oportunidades de acesso e permanência, não na escola, mas na sociedade e no
mundo do trabalho.
2.6
Síntese e algumas reflexões
Procurando sintetizar o exposto neste capítulo, primeiramente, t
entou
-se analisar a
inserção da tecnologia, em especial computador, no ambiente escolar. Uma retrospectiva a
respeito dessa inserção se mostra necessária, com o intuito de indicar sob quais aspectos se
pensou o uso do computador na escola. Ao mesmo tempo,
torna
-se necessário destacar os
impactos e mudanças que tal inserção carrega consigo.
Sendo assim, apresentamos uma análise sucinta, pois não é o propósito deste trabalho
a premência das mudanças de concepções no que cabe à formação do professor, sobretudo
,
mudanças na formação inicial e contínua destes
66
, frente às novas tecnologias.
Alterações nas relações professor-aluno, aluno-aluno, professor-professor se fazem
evidentes, na medida em que o espaço escolar se encontra alterado, expandido, com o uso do
co
mputador e de seus recursos.
A inserção das tecnologias de comunicação e informação, no ambiente escolar no
Brasil, se a partir dos anos 1970. na década de 1980, com a criação do Projeto Educom,
as universidades brasileiras começam a trabalhar com os recursos computacionais na
perspectiva de desenvolverem pesquisas e metodologias acerca do uso pedagógico deste
equipamento.
66
Cf. Parecer CNE/CP 09/2001 e também o Plano Nacional de Educação, metas números 16, 22, 23, 24, 25
27 do Capítulo IV
Magistério da Educação Básica.
129
Tudo isso, aliado ao crescente processo de informatização da sociedade, em todos os
âmbitos, favorece o fortalecimento da concepção da escola informatizada, que visa preparar
seus alunos para a vida em uma sociedade cada vez mais embrenhada nos conceitos de
produtividade, de trabalho .
Nesse contexto, nada mais natural que apropriar-se destas novas tecnologias da
Informática, em especial, os recursos computacionais, como ferramenta adicional no processo
de inclusão de portadores de necessidades especiais na escola comum.
Para tanto, projetos e programas governamentais como, por exemplo, o PROINESP e
o Proinfo vêm sendo elaborados e implantados com o intuito de subsidiar iniciativas no
sentido de incentivar o uso do computador em projetos de cunho inclusivo.
Diversos recursos são usados com essa finalidade. Entre eles, destacam-
se
softwares
e
hardwares
adaptados, próteses, entre outros diversos recursos, com a finalidade de
proporcionar e facilitar o acesso de portadores de necessidades especiais a essas inovações
tecnológicas.
Todas essas alternativas são desenvolvidas com o propósito de se possibilitar a
inclusão escolar e social, visto que o domínio dessas ferramentas computacionais é muito
importante para que esse processo de inclusão venha a ocorrer efetivamente, tanto no espaço
escolar quanto social.
Nesse ponto é que se apresenta o Projeto APAE, realizado pela PUC Minas Contagem
po
r intermédio de sua Coordenadoria de Extensão, que visa promover a inclusão sociodigital
de portadores de necessidades especiais encaminhados ao projeto pela APAE Contagem,
entidade também parceira na sua realização.
Recebendo os alunos da APAE duas vezes por semana, nos laboratórios de
Informática da PUC Minas Contagem, o Projeto se desenvolve com o objetivo de realizar uma
130
familiarização tecnológica dos alunos com os recursos das novas tecnologias da comunicação
e da informação, em especial o computador.
Sem a finalidade de ser um curso de Informática, que utiliza linguagem mais técnica,
as atividades desenvolvidas com os alunos, oriundos da APAE, se dão em formatos
alternativos, procurando privilegiar a linguagem dos próprios beneficiários, com a utilizaç
ão
de jogos, de contação de histórias, fazendo com que as aulas não se tornem maçantes aos
olhos dessas crianças e jovens.
que se ressaltar, também, a preocupação desse Projeto no que tange à inclusão de
seus beneficiários na escola comum. Com isso, tor
na
-se essencial que tais atividades
desenvolvidas, durante o Projeto, incluam, em seu planejamento, ações que promovam e
efetivem a inclusão dessas pessoas.
Este trabalho tem o objetivo de investigar os efeitos que o domínio dos recursos da
Informática podem trazer na inclusão de portadores de necessidades especiais, porém com
uma peculiaridade: trata
-
se de analisar o caso de uma pessoa portadora da Síndrome de Down.
Cumpre salientar, no entanto, que a legislação nacional e internacional trata de
garantir d
ireito a essas pessoas, além de trazer definições e classificações a seu respeito.
Nessa perspectiva, torna-se necessário evidenciar e esclarecer definições constantes
em documentos legais acerca desse público. Logo, trazem-se à luz normas nacionais e
inte
rnacionais que visam garantir direitos e regular a efetivação destes.
O importante em toda esta problemática é esclarecer pontos passíveis de dúvidas e
incentivar a discussão com vistas à promoção e à garantia de uma sociedade mais justa, de
uma escola que
aceite todos com o mesmo respeito, o respeito ao direito à diferença.
Nesse sentido, estudar as estratégias e as possibilidades de ações inclusivas, pautadas
no uso do computador no âmbito escolar, é sumariamente importante, visto que esse
instrumento po
de e deve contribuir na realização de um projeto de inclusão na e pela escola.
131
No próximo capítulo, passaremos a ‘ouvir’ e a dialogar’ com os sujeitos envolvidos
neste trabalho, com o intuito de avançarmos na discussão a respeito do processo de inclusão
escolar e, também, acerca das possibilidades de uso da Informática para que se alcance essa
finalidade.
132
CAPÍTULO III
DIALOGANDO COM OS SUJEITOS
3.1
-
Uma introdução
Os dados coletados, por meio de entrevistas e questionários, para este trabalho, fora
m
organizados e submetidos a uma análise exploratória. Utilizou-se a técnica da análise de
conteúdo que, segundo Bardin (1995, p. 31): “(...) é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações”, e que Berelson
apud
Bardin (1995, p. 36) assim define: “(...) uma técnica de
investigação que através de uma descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo
manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas
comunicações”.
Para
Laville e Dionne (1999), a análise de conteúdo
aplica
-se a uma gama diversa de
materiais.
Partindo desse princípio, essa técnica lida com a interpretação do discurso, seja ele
escrito ou falado. Assim, há que se trabalhar com a separação dos temas presentes nas
entrevistas e nos questionários em categorias, visando à melhor interpretação desses
discursos, desses posicionamentos.
Para tanto, seguiu
-
se, nesse trabalho a seguinte ordenação:
1.
transcrição das entrevistas e junção destas aos questionários aplicados;
2.
realização de uma leitura flutuante do material recolhido, leitura essa que,
segundo Bardin (1995, p. 96), consiste em: “(...) estabelecer contacto com os
documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por
133
impressões e orientações”; logo, é a leitura de reconhecimento do material, é a
primeira leitura;
3.
definição das categorias de análise do conteúdo;
4.
interpretação, com base nos procedimentos acima descritos, do conteúdo do
material, a saber: análise das entrevistas realizadas e dos questionários
respondidos.
Sendo assim, depois de transcrever as entrevistas gravadas e reuni-las ao material
obtido por meio dos questionários, realizou-se uma leitura flutuante e, posteriormente,
definiram
-se as categorias para realização da análise, buscando-se melhor expor a riqueza dos
conteúdos.
De
ssa forma, as categorias de análise a que se chegou foram as seguintes:
inclusão dos sujeitos: pretende-se aqui analisar o que os sujeitos envolvidos
entendem por inclusão;
inclusão social de Davi: verificar e interpretar o processo de inclusão de Davi,
aluno beneficiário do Projeto APAE, na visão dele mesmo e dos outros
sujeitos;
rendimento escolar de Davi
: discutir a melhoria do rendimento escolar de
Davi em função de sua participação no Projeto APAE e de acordo com o relato
dos outros sujeitos envolvido
s.
Antes de partir, porém, para a análise do conteúdo, seria importante conhecer um
pouco mais sobre cada um dos sujeitos participantes desta pesquisa. Com esse intuito, segue,
134
abaixo, uma pequena descrição de cada um deles e sua ligação com o Projeto APAE, objeto
de investigação deste trabalho.
O aluno beneficiário do Projeto APAE
Davi
Desde os três anos de idade, quando começou a ser atendido pela APAE Contagem,
em sua Clínica de Intervenção Precoce, Davi freqüenta a escola comum, por iniciativa de sua
família. Ele estudou as quatro séries iniciais do ensino fundamental na Escola Municipal
Maria Aparecida e, agora, na 6ª série, ele já estuda há dois anos na Escola Municipal
Vicentina Ferreira
67
, onde pretende cursar até a 8ª série do Ensino Fundamen
tal.
Davi, no ano de 2003, foi selecionado e encaminhado pela APAE Contagem, com o
consentimento e apoio da sua família, para participar do Projeto APAE.
que se destacar, também, que Davi, em certo momento de seu desenvolvimento,
começa a se questionar e questionar as outras pessoas a respeito de sua deficiência. Ele
mesmo, em certos momentos, passa a não aceitar ser como as outras crianças, a conviver com
as outras crianças da APAE, o que reflete, em determinada medida, que Davi não se
reconhecia como uma criança portadora de deficiência. E Mello (2004, p.78) refere-se a esse
fato da seguinte forma: “O percurso de Marcos
68
nesta instituição foi marcado por momentos
em que sua questão girava em torno da própria deficiência, negava-a a todo custo. (...) O q
ue
Marcos, de certa forma, também reivindicava, apontava para a questão da diferença”.
67
O nome da Escola Municipal Maria Aparecida e o da Escola Municipal Vicentina Ferreira são fictícios, com
vistas a preservar os nomes reai
s destas instituições.
68
Nesse artigo, a preservação do anonimato se fez atribuindo a Davi o nome fictício de Marcos.
135
Isso atrapalhava seu convívio, sua socialização, pois, no momento em que ele não se
reconhece como parte integrante desse ambiente, por se julgar diferente dos outros,
não
iguais a ele” e, por isso mesmo, inferiores a ele, Davi não se dava ao convívio com as outras
crianças, o que prejudicava sobremaneira seu processo de inclusão nesse espaço.
Também é Mello (2004) quem relata parte desse desenvolvimento em um artigo sob
re
Davi. se conta também a chegada de Davi e de sua família à APAE Contagem, relatando,
inclusive, a questão da superação familiar pelo fato de terem uma criança portadora de
deficiência.
Hoje, com dezesseis anos de idade, Davi é um jovem questionador, apesar de um
pouco tímido e, às vezes, meio ressabiado, esquiva-se de opinar sobre alguma coisa que lhe é
inquirida. Mas, de modo geral, ele é comunicativo e, de certa forma, um caso especial dentro
da APAE Contagem, por seu desenvolvimento e pelo apoio qu
e recebe da família.
Maria
a mãe de Davi
Maria se destacou, junto a Davi, no Projeto APAE, pela sua participação, seu interesse
em acompanhar o filho, saber de seu desenvolvimento e de suas dificuldades. Na escola em
que Davi estuda, sua participação é marcante, fazendo Maria parte do Colegiado da escola,
sendo representante dos pais de alunos.
Maria, além de e, é uma grande companheira de Davi em todos os espaços de sua
convivência, mas faz questão de deixar claro que, em momento algum, se permite interferir na
autonomia de seu filho, dando a ele responsabilidades e deveres próprios de sua vivência.
136
Mello (2004) traz à discussão esse relacionamento entre Davi e sua família,
especialmente, com a mãe, que é quem o acompanha com maior freqüência até a
APAE.
Mello (2004) relata uma convivência de supervalorização, talvez de esperança que Maria
deposita em Davi, um sentimento de superioridade com referência as outras crianças, também,
portadoras da Síndrome de Down. Isso fica claro nessa fala que Maria concede a Mello: “(...)
a gente foi vendo que ele, apesar da síndrome, era uma criança normal, ele é síndrome de
Down, mas é melhor que os outros” (MELLO, 2004, p. 78).
Entretanto, deve-se destacar o papel importante de Maria junto aos professores de
Davi, pois tais professores encontram em Maria um ponto de referência para esclarecimento
de determinadas questões que possam vir a aparecer com relação ao convívio deles com Davi
e em relação a Davi e seus colegas de classe.
As estagiárias/monitoras do Projeto
APAE
Ester e Rute
Estudantes do curso de Serviço Social da PUC Minas em Contagem, Ester, com 25
anos, e Rute, com 23 anos, foram monitoras do Projeto APAE no ano de 2003, sendo a
primeira, estagiária com atuação durante todo ano, e, a segunda, durante o semestre deste
mesmo ano.
Sempre muito atentas e mantendo um bom relacionamento com os alunos do Projeto,
elas desenvolviam diversas atividades relacionadas ao ensino de Informática, dinâmicas de
grupo com vistas a estimular a socialização e a valorização da auto-estima. Elas também
realizavam abordagens reflexivas, por meio da leitura e construção de textos lúdicos, com o
intuito de realizarem um trabalho colaborativo no processo de inclusão desses alunos.
137
É importante destacar que essas atividades realizadas por elas, no Projeto APAE,
foram desenvolvidas visando atender às especificidades de cada aluno, respeitando o ritmo de
cada um. Nesse sentido, a participação das estagiárias também se dava na preparação dessas
atividades, em reuniões semanais com o coordenador do Projeto e, também, em encontros
com a equipe pedagógica da APAE Contagem, que, freqüentemente, realizava visitas ao local
onde aconteciam as atividades do Projeto.
Conduzir o processo de avaliação, também, se constituía em atividade das
monitoras
do Projeto. Essas avaliações se realizavam no final de cada etapa do trabalho, ou seja, ao final
de cada semestre, quando se procurava discutir o progresso geral da turma, por meio de
relatório individual sobre o desenvolvimento de cada aluno. Os critérios utilizados nessa
avaliação se encontram no Apêndice A deste trabalho.
Lia
a Pedagoga da APAE
Lia é pedagoga da APAE Contagem e exerce essa atividade há 12 anos. Como
profissional dessa Instituição, Lia tem acompanhado a evolução e o acolhimento de diversas
crianças naquele espaço. Ela, ainda, integra o NEPI (Núcleo de Estudo e Pesquisa em
Inclusão), grupo que tem produzido importante material a respeito da inclusão.
Como pedagoga responsável, junto a outras profissionais da APAE Contagem, p
elo
acompanhamento dos alunos desta Instituição, participantes do Projeto APAE, Lia realizou,
naquela ocasião, esse trabalho com muita dedicação e afinco, na medida em que participava
ativamente de reuniões com a equipe pedagógica do Projeto, com as monitoras estagiárias e,
inclusive, com as mães desses alunos.
138
Nesse sentido, que se destacar a importância do trabalho de acompanhamento de
Lia como pedagoga, pelo modo como se propunha trabalhar de acordo com as necessidades e
as especificidades de cada aluno, pois ela, como profissional da APAE, pôde ajudar
sobremaneira no planejamento e execução desse Projeto.
3.2
As categorias
Passaremos, então, a analisar o discurso dos sujeitos de acordo com as categorias
analíticas assinaladas, com vistas a facilitar a exposição e interpretação deste. A partir da
análise desse material, e com a complementação a posicionamentos oriundos de uma revisão
da literatura, construiremos a argumentação deste trabalho.
3.2.1
-
1ª Categoria: O conceito de inclusão dos
sujeitos
O processo de inclusão tem sido muito discutido em diversos ambientes e por
variados meios de comunicação. Primeiramente, vejamos que significado traz o Dicionário
Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa
69
a respeito do termo inclusão:
69
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa – Versão 1.0 de Dezembro de 2001, produzido e
distribuído pela Editora Objetiva Ltda
.
139
ato ou e
feito de incluir (
-
se);
estado daquilo ou de quem está incluso, inserido, metido, compreendido dentro de
algo, ou envolvido, implicado em; introdução de uma coisa em outra, de alguém em
um grupo etc.
Nessa definição, trazida pelo Dicionário, pode-se perceber que a inclusão trata do ato
de inserir alguém em um grupo do qual este antes não fazia parte. É a introdução de uma coisa
qualquer ou de alguém em um ambiente, um espaço, anteriormente, não acessível a ele.
É a noção de ‘incluir’ que, segundo o mesmo Dicionário, vem significar o mesmo que
“f
azer figurar ou fazer parte de um certo grupo, uma certa categoria de pessoas; pôr”, donde
se apreende, claramente, a noção de inclusão de um certo grupo de pessoas em um outro
determinado grupo.
nesse ponto, é possível estabelecer uma relação entre o conceito que Ester,
monitora do Projeto APAE, tem do que seria esse processo de inclusão e o significado trazido
pelo Dicionário, pois ambos apresentam a idéia de incluir quem está ‘fora’ da sociedade. Ester
diz que a
inclusão
É possibilitar às pessoas marginalizadas ou estigmatizadas a participarem de forma
efetiva nas relações sociais, usufruindo dos direitos que também cabem à eles. É
erradicar o pré-conceito de que pessoas com alguma deficiência devem ficar “fora”
da sociedade, visto que são pessoas capazes de participar e compor a rede social.
70
O discurso de Ester é carregado por conta de sua formação acadêmica - Curso de
Serviço Social - como referenciado anteriormente, e que pode trazer definições pré-
conce
bidas, de acordo com sua área de atuação. Todavia, é, com respaldo nesses conceitos,
nessas definições pré
-
estabelecidas que iremos nos deter mais um pouco, com mais rigor.
Ela [Ester] traz, pelo menos, dois conceitos interessantes de se analisar em separa
do,
que são o de marginalização e o conceito, este mais extenso, que é justamente a idéia de
70
Optou-se por transcrever literalmente os depoimentos recolhidos para este trabalho, preservando, assim,
eventuais distorções gramaticais.
140
usufruto e efetivação de direitos sociais, resultado de lutas historicamente reconhecidas, como
os direitos trabalhistas, a previdência social, a proclamação dos direitos humanos, entre outros
e que possuem estreita relação com a recente noção de exclusão social
71
.
Nota
-se aqui a questão da inclusão, ao se tratar de pessoas marginalizadas
72
- à
margem de algum lugar “ideal” ou, pelo menos, “estabelecido como o ideal” - e, por isso,
marginais, que precisam ser reconhecidas, inseridas, aceitas num espaço comum de
convivência, onde possam fazer uso dos mesmos direitos de todos os outros.
Com esse mesmo entendimento, Oliveira (2004, p.82) se posiciona:
71
Cf. Martins (1997) e Martins (2002).
72
Martins (2002) trata da situação de marginalização social. Pondera ele que, em tempos de modernização
tecnológica e industrial, alcançaram-se pontos extremos e contraditórios de riqueza e concentração de recursos,
de um lado, e de outro, traços de pobreza eminentes e marginalização social. Também, nesse mesmo trabalho,
discute
esse conceito numa perspectiva mais ampla, tomando-o no espaço do conceito de exclusão social. O
marginal seria alguém que, por questões que, não necessariamente, o termo exclusão consegue abarcar, é
confundido com o excluído. Aliás, para Martins (2002), o termo exclusão, apresentado como categoria: “(...) é o
resultado de uma metamorfose nos conceitos que procuravam explicar a ordenação social que resultou do
desenvolvimento capitalista” (p.27). Esse mesmo autor trabalha o conceito de exclusão como uma pe
ça
fundamental do sistema capitalista, na medida em que, nesse sistema, a exclusão faz parte de seu processo de
funcionamento; exclui para poder incluir de forma progressivamente degradante. Desse modo, Martins (2002)
chama a atenção para o seguinte: o problema dessa exclusão capitalista está justamente, em tempos recentes, na
demora que o excluído leva para se re-incluir. É esse movimento exclusão/inclusão a espinha dorsal do
capitalismo moderno, pois, para se situar numa análise rasteira (diferente de Martins), se todos forem excluídos
do sistema de produção capitalista, não haveria consumidores e, não havendo para quem vender a produção, o
sistema viria abaixo, pois os dois atores principais na lógica capitalista são justamente o produtor e o
consumid
or. Sobre a marginalização, Martins (2002) esclarece: “Nos anos sessenta começaram a ser tratados
como marginalizados sociais (os não-
operários)
isto é, como populações com possibilidades limitadas e lentas
de entrada no mercado de trabalho formal e no caráter contratual da sociedade contemporânea” (p. 32). Nesse
sentido, o conceito de exclusão estaria estreitamente ao ponto de vista do outro, do não excluído. Assim, esse
conceito: “É, antes, uma impressão superficial sobre o outro por parte daqueles que se consideram ‘incluídos’
(humanizados) e não o são de fato” (MARTINS, 2002, p.43). Numa citação longa, mas essencial, Martins (2002,
p.46) se faz melhor entender: “Há processos sociais excludentes, mas não exclusões consumadas, definitivas,
irremediáve
is. Uma sociedade cujo núcleo é a acumulação de capital e cuja contrapartida é a privação social e
cultural tende a empurrar ‘para fora’, a excluir, mas, ao mesmo tempo, o faz para incluir ainda que de forma
degradada, ainda que em condições sociais adversas. O ‘excluído’ é, na melhor das hipóteses, a vivência pessoal
de um momento transitório, fugaz ou demorado, de exclusão-integração, de ‘sair’ e ‘reentrar’ no processo de
reprodução social”. Enfim, o que Martins (2002) quer deixar claro é que não é prudente preocupar-se com a
exclusão, pelo menos com esse conceito de exclusão vazio de sentido e inconsistente que se discute por aí.
Entretanto, a questão passa a ser discutir o processo de re-inclusão social, inerente ao processo capitalista, que,
na maior parte dos casos, se dá de maneira incompleta, pelo menos no sentido de que o excluído, para retornar a
seu
status
anterior de incluído no trabalho e no mercado de consumo, aceita condições degradantes de trabalho e
convívio social, justamente porque esse pro
cesso demora cada vez mais. Ou seja, vale tudo para estar “colocado”
entre os incluídos, mesmo que precariamente, sem valer e poder reivindicar situações condizentes com o mínimo
de decência moral e social. Inclusive é o próprio Martins (2002) que, como exemplo disso, cita o caso de
menores prostitutas em Fortaleza (mas poderia ser em qualquer lugar) que, consideradas excluídas socialmente,
sustentam suas famílias com a renda de suas atividades, moralmente condenadas, quando, na verdade, essas
menores prostitutas estão incluídas no mercado consumidor e fazem das pessoas de suas famílias também
incluídas nessa categoria
.
141
(...) a identificação do indivíduo como ser de “limitações”, “anormal” ou “incapaz”
tem como base a sua não-identificação na “normalidade” que é a “identidade
pressuposta” socialmente. Essa identidade é também construída, através das relações
concretas de discriminação vivenc
iadas no contexto social
.
Dessa forma, é igualmente preciso considerar o conceito de inclusão que compõe o
texto das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), que
carrega um significado mais abrangente do processo geral de condições para que ocorra tal
inclusão, abarcando reflexões acerca de um modelo social pretendido. Vejamos tal definição:
Entende
-se por inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da
vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de
acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de
esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com
qualidade, em todas as dimensões da vida (DIRETRIZES NACIONAIS PARA
EDUCAÇÃO ESPE
CIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2001, p. 20).
Mais congruente com o conteúdo das Diretrizes Nacionais, que traz, muito
pertinentemente, a questão da garantia do acesso contínuo à vida em sociedade a todos,
encontra
-se a opinião de Rute, que abrange termos como cidadania, igualdade de acesso e
oportunidades, quando essa assim se expressa sobre a inclusão: “É o efetivo exercício da
cidadania, no qual se assegura a todos indivíduos a igualdade de acesso e tratamento,
possibilitando a todas pessoas maior participação
na sociedade”.
Pode
-se notar que os relatos, de um modo geral, se ajustam ao posicionamento oficial,
o das Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, que interpretam a
norma legal. Percebe-se que a fala de Rute tem mais a “cara” do entendimento oficial, quando
trata do direito de vida igualitária em condições, numa sociedade que garanta igualdade de
oportunidades a todos, indiscriminadamente.
É importante destacar que a igualdade que se defende no discurso da prática da
inclusão não é a igualdade dos sujeitos - o que poderia significar um igualitarismo - mas a
142
igualdade de direitos entre os sujeitos de uma mesma sociedade - o que pode resultar em
preservação e respeito à pluralidade do gênero humano.
O direito à igualdade deve ser acompanhado do direito à diferença, pois, ao mesmo
tempo em que as pessoas devem ser reconhecidas como iguais, e iguais em direito, elas
também têm de ter suas diferenças reconhecidas e, sobretudo, respeitadas. Negar a diferença é
negar a própria natureza human
a, una e diversa.
Quando se passa a analisar o conceito que Maria possui acerca do que viria a ser
inclusão, pode-se notar uma visão mais prática, marcada pela experiência cotidiana
experimentada, pois ela retrata, em seu discurso, a questão do pré-
conceit
o, da vinculação
excessiva do tema inclusão na mídia e o que isso tem resultado:
Ta geral né... inclusão pra tudo agora.
Ah... a inclusão pra mim é assim, eu entendo dessa forma, vou falar o que eu entendo
né... vou colocar o que eu entendo. Eu entendo da
inclusão mais para uma sociedade,
é uma aceitação entre as pessoas, é... como se diz... especiais. Hoje em dia a
sociedade, eles têm muito assim... um preconceito muito grande...tinham
antigamente... mas agora devido as inclusões, muitas coisas divulgadas
, é televisão, é
jornal, parece que a sociedade está assim...aceitando mais, então o que entendo é
assim (...).
E segue, ainda, dizendo:
E principalmente na área do mercado, né... também no colégio, parece que em quase
todos os lugares que pintou ali... a criança apareceu... muda o clima, tem um
clima diferente... então eu aceito isso mais assim, como uma rejeição que parece que
eles têm, talvez seja isso... Mas eu acredito e ponho fé que daqui pra frente, os anos
vão se passando e a inclusão vai aumentando... o mundo, o povo, a sociedade vão
aceitar tudo isso.
Dessa forma, nota-se que Maria expõe, em sua fala, a marca do pré-conceito, da
discriminação, que ela “conquistou”, “adquiriu” a partir de sua vivência, sua experiência
cotidiana com seu filho Davi, seja no ambiente escolar ou no social, embora, para ela, isso
venha diminuindo com o passar do tempo, até mesmo por influência da propaganda veiculada
em diversas mídias.
143
Traz, também, o tema da aceitação social das pessoas diferentes, mediante a inclusão
destas, seja no âmbito do mercado de trabalho, seja no ambiente escolar. Ademais, ela relata a
mudança resultante da “chegada” de uma pessoa deficiente em um ambiente estranho, onde,
pela reação da maioria “normal”, o estranho passa a ser a pess
oa com deficiência.
É importante notar, também, que sua fala é marcada pela esperança, pela de que,
com o passar do tempo, essa situação melhore, e que, aliadas a isso, as campanhas
publicitárias possam, de algum modo, contribuir para a modificação dess
e quadro social.
Aqui, é importante ressaltar a discussão acerca da escola inclusiva. Com essa
preocupação, vejamos o que traz a Declaração de Salamanca (1994), na parte referente às
Orientações para Ações, em níveis regionais e internacionais:
Princípio
fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem
aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades
ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder
às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um
currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso
e parceria com as comunidades.
Logo,
na concepção que orienta os princípios da escola inclusiva, se tem claro que o
importante é que o ambiente escolar se torne adequado para receber todas as pessoas,
independente de quaisquer diferenças que possam ter.
O conceito de escola inclusiva implica uma nova postura da escola comum, que
propõe, no projeto pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na
atitude dos educadores, ações que favoreçam a interação própria do ambiente escolar e a
adequação do mesmo ao estudante.
Segundo
as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001,
p. 26), “A inclusão escolar constitui uma proposta que representa valores simbólicos
144
importantes, condizentes com a igualdade de direitos e oportunidades educacionais para
todos, mas
encontra ainda sérias resistências”.
Nesse sentido, Oliveira (2004, p. 71), destaca que “A educação inclusiva desloca o
enfoque centrado no/a aluno/a, para a escola, reconhecendo no seu interior a diversidade de
diferenças: individuais, físicas, culturais
e sociais”.
E, ainda, segundo essa mesma autora, “No Brasil, o movimento em favor da
‘educação para todos’ caracteriza-se pela luta pelo ensino público e gratuito e pela busca em
garantir
-se o direito à educação a todos os indivíduos como um direito à cida
dania”
(OLIVEIRA, 2004, p. 73).
Nessa perspectiva, pode-se destacar a semelhança entre o que salienta Oliveira (2004)
e os discursos de Rute e de Ester em relação à inclusão. De acordo com a fala da primeira, a
inclusão tem ligação direta com a questão do direito, da luta pelo direito de participar de uma
sociedade como iguais, sem discriminação de qualquer ordem e, conforme a fala da segunda,
a inclusão significa o pleno exercício da cidadania como direito de toda e qualquer pessoa.
A escola inclusiva, cuja função precípua é alcançar a efetividade da educação
inclusiva, tem, na opinião de Oliveira (2004, p. 74-76), como principais metas a serem
conquistadas:
1.
romper com a situação de exclusão e de discriminação que as pessoas com
necessidades especiais vive
m no contexto educacional e social;
2.
superar a desvinculação existente entre a educação comum e educação
especial e o caráter de subsistema presente nesta modalidade de ensino e, por
fim,
3.
a democratização do espaço escolar.
145
Esse processo de crescente implementação da política de inclusão, de acordo com as
Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001), é marcado pela
ruptura com a ideologia da exclusão. E, ainda: “Hoje, a legislação brasileira posiciona-se pelo
atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais preferencialmente em
classes comuns das escolas, em todo os níveis, etapas e modalidades da educação e ensino”
(p. 21).
Acredita
-se que, a partir da conquista desses três pontos acima referidos, seja
realmente possível a construção de um espaço escolar onde se encontre construída e
respeitada a inclusão escolar e, por conseguinte, a escola inclusiva, que, na verdade, que
fazer parte, numa concepção holística, de uma sociedade inclusiva.
Nesse momento, que se ressaltar a declaração de Lia, pedagoga da APAE, quando
destaca, a respeito da inclusão, que: “A escola, a empresa, enfim a sociedade precisa se
preparar para receber pessoas portadoras de deficiência. Isso significa uma mudança de
postura. Essa preparação se na prática dos mesmos (das pessoas incluídas), atendendo a
suas necessidades”.
Aqui se percebe, pelo discurso de Lia, que é marcado, sobretudo, por sua prática
profissional, que a inclusão possui um lado que precisa ser destacado, que é justamente a
face
de sua real efetividade, de sua possibilidade de realização, na medida em que será somente a
partir da mudança de pensamento, da alteração de práticas pedagógicas e sociais, da quebra de
paradigmas que se poderá realmente realizar esse movimento inclu
sivo.
Ao que parece, seria pertinente, neste momento, tratar do conceito de integração, por
oposição ao conceito de inclusão. O movimento de integração, segundo Jannuzzi (2004,
p. 181), pode também ser chamado de
mainstreaming
, que consiste na “(...) integração
progressiva na corrente da vida com os considerados normais, de modo que o deficiente fosse
aceito na escola e na sociedade (...)”.
146
Isso se na medida que o movimento de integração tem seu foco voltado para a
adaptação do aluno, da pessoa portadora de deficiência, obrigando as pessoas a se adaptarem
ao meio social. Oliveira (2004, p. 66) faz uso da metáfora da cascata para se referir ao
movimento de integração, em que: “(...) todos seguem o mesmo fluxo da água (...)”.
Enquanto que, por oposição, vem o movimento da inclusão, no sentido de que, neste
movimento, é o espaço escolar que tem de se adaptar para receber, acolher e incluir o aluno, a
pessoa portadora de deficiência. O movimento da inclusão desloca o enfoque do individual
para o ambient
e acolhedor.
Ainda Oliveira (2004, p. 79) utiliza aqui, ao se referir à inclusão, a metáfora do
calidoscópio, querendo exprimir que: “(...) precisa de todos os pedaços que o compõem”. Daí
entende
-se que todos têm o mesmo peso, a mesma relevância na composição de um sistema,
de uma sociedade inclusiva.
Isso significa dizer que, ao não se valorizarem as diferenças, as pessoas enquanto
indivíduos singulares, estarão desmontando esse calidoscópio, no sentido de que, para
composição desta figura, todas as partes são importantes e necessárias, mesmo não sendo
iguais. É no reconhecimento e valorização das diferenças de suas peças que resulta a
harmonia da figura do calidoscópio. Nesse sentido, Oliveira (2004, p. 79) opina:
(...) é na interação com o diverso, no contato com as diferenças individuais e
culturais, que o indivíduo se desenvolve como ser humano e adquire valores
democráticos, que contribuem para a superação da segregação das pessoas que
apresentam necessidades especiais.
E Lia continua, ainda, dizendo a respeito do processo de inclusão, quando questionada
a respeito desse processo na escola comum, a partir de sua atuação no NEPI:
Não é fácil. Está em processo. O movimento inclusivo está acontecendo, não tem
como prever, precisa acontecer. Todas as escolas deverão contemplar no Projeto
Político Pedagógico como acolher a pessoa portadora de deficiência. A LDB veio
147
amparar a formação continuada, que é muito importante para troca de experiência e
aquisição de conhecimentos.
Nesse ponto, Lia revela uma outra questão, que não deixa de estar ligada à anterior,
que é a importância da formação dos profissionais da educação e também da educação
continuada desses profissionais. Ora, se se está lidando com um movimento em construção e,
ao que se parece, sempre se estará, a formação de profissionais da educação também deve se
atualizar constantemente.
Assim sendo, pôde-se apreender desses posicionamentos que o processo de inclusão,
independente da formalização conceitual que possa ter recebido, se trata realmente de
um
processo, não está posto e nem será um modelo pronto e acabado a ser alcançado. Sua
construção é constante.
Neste ponto, porém, que se fazer referência a uma discussão pertinente para o
completo entendimento da questão da inclusão de portadores de necessidades especiais na
rede regular de ensino, sobretudo, nas classes comuns. Os resultados de tais discussões podem
e devem indicar os rumos das políticas estatais de inclusão.
Essa discussão é bem posta no Parecer CNE/CEB nº 04/2002, citado neste tra
balho.
O referido perecer, que responde a uma “Recomendação ao Conselho Nacional de Educação
tendo por objeto a educação inclusiva de pessoas portadoras de deficiência”, traz, em seu
texto, a discussão acerca das seguintes questões:
a)
estariam as escolas discriminando seus alunos ao oferecerem currículos diferenciados
e adaptados, ou ao oferecerem espaços especializados de atendimento a pessoas
portadoras de deficiência?
b)
os atendimentos especializados, realizados excepcionalmente e com o consentimento
da família, se constituiriam em formas de discriminação e segregação de alunos
portadores de algum tipo de deficiência?
148
O que se argumenta nesse Parecer, com muita propriedade, é que as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, como o próprio nome indica,
constitui
-se de normas, de diretrizes para o atendimento a pessoas portadoras de necessidades
especiais no lócus da educação básica, ou seja, na escola comum, como atesta o próprio artigo
2º da Resolução CNE/CEB nº 02/2001 ao constar que “O atendimento aos alunos com
necessidades educacionais especiais dever ser realizado em classes comuns do ensino regular,
em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica”.
Ademais, pode-se ainda tomar como outro argumento, para discutir tal questão, o
de
tratar, sem distinção, os iguais e diferentemente os desiguais. Mello (2003, p. 35), a esse
respeito, assim se posiciona: “Ora, o princípio da isonomia preceitua que sejam tratadas
igualmente as situações iguais e desigualmente as situações desiguais”.
Nesse sentido, ao argumentar que o fato de termos tratamentos diferenciados, para
casos diferenciados, dentro de uma mesma escola, se constituiria em ato discriminatório,
estaríamos não aceitando o fato de sermos diferentes e de termos determinadas caracte rísticas
que são próprias, peculiares
73
. Desse modo, não se estaria respeitando o princípio da
isonomia, que garante o tratamento igual a todas as pessoas perante a lei.
É o caso de considerar, com relação ao direito ao tratamento diferenciado conforme
sua
s necessidades, por exemplo, o disposto no artigo 11 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, quando este traz, em seu texto, o seguinte: “§ - A criança e o adolescente
73
É interessante também destacar que referências em relação a discussões nesse sentido no Parecer do
Conselho Federal de Educação (CFE) 848/72, aprovado em 10 de agosto de 1972. Tal parecer deixa
evidente que: “A matéria (a educação de excepcionais) surge como um caso de ensino regular, em larga medida
classificável na linha das diferenças individuais, sujeita naturalmente a tratamento especial”. Nesse momento, já
se nota uma preocupação, por parte do Conselho Federal, em garantir o respeito às diferenças individuais e, ao
mesmo tempo, aceitar o tratamento especial que diminua eminentemente tais diferenças que, por ventura, se
torn
em discriminatórias. E esse mesmo parecer segue ainda enfatizando que: “(...) o tratamento especial,
individualizado, cuja função não deixa de visar a restituí-lo àquele convívio e à normalidade, que esta a
normalidade crescente do excepcional, e não a s
ua marginalização
é a finalidade última a alcançar”.
que se ressaltar também que, nesse tempo, anos 1970, o conceito de normalização era recorrente, nesse
ambiente de discussão, de acordo com Jannuzzi (2004).
Cf. também Ferreira (1994), especialmente,
p. 36 e 37.
149
portadores de deficiência receberão atendimento especializado”. Como se vê, também,
nesse
texto legal, garante
-
se o atendimento especializado, quando for o caso e se fizer necessário.
Outro fato é que ao assegurar a possibilidade de que, transitoriamente, alunos com
dificuldades acentuadas de aprendizagem sejam atendidos em espaços especializados, dentro
das escolas comuns ou em outros espaços que possibilitem tal atendimento, as Diretrizes não
estão contrariando o princípio da igualdade e, portanto, não agindo de forma discriminatória.
Essa determinação de atendimento extra-espaço da classe comum está, na verdade,
propiciando oportunidades adequadas de atendimento educacional a essas pessoas, pois, caso
contrário, não teriam a mesma possibilidade de atendimento educacional.
Nessa perspectiva, encontramos o seguinte posicionamento no referi
do Parecer:
As diretrizes insistem na sala comum da escola regular. Esta é a orientação eixo
tanto para condizer com a norma quanto com a concepção contemporânea de
inclusão. Os alunos com necessidades educacionais especiais, ordinariamente (no
sentido
de não apresentar condição particular), devem ser matriculados em escolas
comuns das redes de ensino e dirigidos para as salas comuns das escolas. O Parecer,
de maneira sábia, diz que apenas extra – ordinariamente o serão em salas especiais e
mais extraordinariamente ainda em escolas especiais. O advérbio de modo
(preferencialmente) que está no art. 208, III da CF e no art. , III da LDB é o que
possibilita, por contraste, o advérbio de modo (extraordinariamente) (PARECER
CNE/CEB nº 04/2002, p. 14).
Pode
-se aqui tratar-se de uma discriminação positiva, no momento em que se faz uma
distinção de espaços, de currículos adaptados para atender às necessidades específicas de uma
determinada demanda, de uma determinada deficiência. Nesse sentido, é que se deve
co
nsiderar a participação da família no cumprimento do princípio da gestão democrática da
escola.
E, como argumento de consolidação do exposto acima, citemos ainda um outro trecho
desse Parecer:
A rede regular de ensino é aquela comum a todos os estudantes,
sendo que as escolas
ou salas especiais representam um modo pedagógico de possibilitar um
atendimento
150
complementar ou alternativo
74
com a oferta de recursos e convênios com serviços
especializados, dentro
desta rede substantiva. As salas especiais e mesmo as escolas
especiais, quando indispensáveis, têm por finalidade reduzir ou eliminar uma
diferença limitadora, criando uma discriminação positiva e justificada
75
para efeito
de um melhor acompanhamento pedagógico de todos e que signifiquem também o
caminho d
e uma igualdade de resultados (PARECER CNE/CEB nº 04/2002, p.18).
Então, o que volta à tona, neste momento, é a discussão acerca dos termos integração
e inclusão, aplicados às Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica.
Isso se porque que os críticos a esse documento ressaltam que, ao tratarmos desigualmente
os desiguais, estaríamos voltando ao princípio da integração, em que o aluno, portador de
deficiência, é que deve adaptar
-
se à escola, a seus meios e ambientes.
Porém, em oposição ao conceito de integração, instituem-se, nessas Diretrizes, o
conceito e a prática da inclusão escolar. Para esse entendimento, basta considerar que, ao
possibilitarmos o atendimento especializado a portadores de necessidades especiais, em
espaços extra-escolares, em casos extraordinários, estaríamos respeitando as diferenças e
capacidades individuais dos alunos.
Quando se oferece, em caráter transitório, o atendimento educacional em espaços
especializados, não se está ferindo, em momento algum, o princíp
io inclusivo da escola. Pode
-
se, aqui, entender-se tal medida como uma modalidade prevista na LDB de 1996, em seus
artigos 23 e 24, inc. V alíneas
b
,
c
e
e:
Art. 23- A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos
semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos o-
seriados,
com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização,
sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar
76
.
Art. 24 - A educação básica nos níveis fundamental e médio, será organizada de
acordo com as seguintes regras comuns:
(...)
74
Grifo nosso.
75
Grifo nosso.
76
Grifo nosso.
151
V
– a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
(...)
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado;
(...)
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ap período
letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
institui
ções de ensino em seus regimentos.
É pertinente lembrar que tais recursos pedagógicos são estendíveis a todo e qualquer
estudante, pois, na verdade, estariam proporcionando oportunidades diferenciadas às pessoas
em situações distintas das demais. É a escola, com seus múltiplos espaços, se adaptando às
condições dos alunos, o que, de fato, significa tornar o espaço escolar um ambiente inclusivo,
respeitador das diferenças individuais e, sobretudo, adequado ao atendimento a essas
diferenças.
Neste ponto, pe
rcebe
-se que a construção de uma sociedade inclusiva é feita, somente,
na base de debates e entendimentos acerca do tema e que os discursos, sobre o conceito desse
processo de inclusão, trazem consigo o entendimento de que a efetivação de uma sociedade
in
clusiva só se dará mediante a aceitação e o respeito às diferenças individuais.
3.2.2
-
2ª Categoria: O
processo de inclusão social de Davi
Pretende
-se destacar aqui a efetividade do trabalho realizado no Projeto APAE,
referente ao caso de Davi, quanto à análise dos dados recolhidos das entrevistas e dos
questionários, confrontados, também, com os dados da avaliação, realizada durante a
execução do Projeto APAE.
152
Diante de tantas mudanças que hoje se observam na crescente evolução da sociedade,
-se que o movimento da inclusão é conseqüência da visão de um mundo democrático, no
qual respeitar direitos e deveres é premente.
Assim, entende-se por inclusão social o movimento de participação efetiva de todas as
pessoas, visando à construção de uma sociedade em que não haja mais diferenciações de
qualquer ordem e espécie, em que a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas
sociais, o diferente.
Nesse sentido, para analisar o processo de inclusão de Davi, faz-se necessário
acompanhar o desenvolvimento de suas relações sociais ao ingressar no Projeto e ao final
deste, para assim poder avaliar a efetividade desse processo.
Assim sendo, vejamos o que Rute declara sobre a participação de Davi no Projeto
APAE: “Davi foi um aluno presente e participativo, sendo bastante esforçado em todas as
atividades propostas. A princípio, o aluno não interagia com os outros colegas, mas com o
passar do tempo tornou
-
se mais aberto nas convivências”.
Percebe
-se aqui o relato de uma crescente socialização de Davi, na medida em que
ele, no início das atividades do Projeto, não interagia com seus pares e, no término das
atividades, sentia
-
se mais à vontade com seus colegas de curso.
A estagiária Ester posiciona-se nesse mesmo sentido: “Inicialmente no curso, Davi
ficava
somente ao lado do Warlley, era inseguro e quase não interagia com os demais colegas
(...)”. E continua, dizendo: “(...) a timidez e a falta de interação com o grupo foi se traduzindo
em grandes avanços bem significativos, sendo que ao final havia se relacionado muito
bem”.
Aqui se nota um crescimento nas relações entre Davi e seus colegas. A timidez vai
passando e se traduzindo em avanços em seu desenvolvimento dentro do próprio Projeto e na
153
vida social, pois constata-se melhor interação com as outras pessoas se se comparar com seu
comportamento no início do Projeto.
A questão da auto-estima se faz presente nesses dois discursos iniciais, trata-se de
uma valorização do “eu”, no campo pessoal, perante as outras pessoas, processo esse que
pode ser notado q
uando se evidencia maior relação de Davi com ou outros.
Pode
-se perceber essa elevação da auto-estima também, interpretando o GRAF. 2, que
traz o resultado da avaliação do critério Expressão Escrita, no que se refere à participação dos
alunos nesse item
77
:
GRÁFICO 2
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Expressão Escrita
Participação
0
2
4
6
8
10
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Escrita
Participação
Semestre
Semestre
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
Ele (Davi) ultrapassa a barreira do individual e passa conviver numa relação maior,
com possibilidades mais amplas de contatos e, como conseqüência quase imediata disso ele se
impõe nesse meio como ser atuante e comunicativo.
77
Há que se ressaltar que os dados da Avaliação realizada durante a execução do Projeto APAE, utilizados neste
trabalho, são referente a toda a turma do projeto, não indicando o desempenho de Davi
em particular, muito
embora reflitam, também, o comportamento e o desempenho deste.
154
Pode
-se, também, destacar, como resultado desse processo, a maior socialização de
Davi em seu meio e, ainda, que ele passa a fazer parte de outros meios que não mais somente
o familiar e o escolar, começando melhor relacionar
-
se com seus colegas da APAE.
Dentro desse resultado, Maria assim se posiciona a respeito dessa socialização,
quando questionada em que o Projeto APAE pode ter contribuído no desenvolvimento de
Davi:
Olha, pra mim o projeto melhorou assim... nesta questão de a pessoa ser assim mais
solidária uma com a outra né... procura ajudar o colega, ele também tinha essa mania
assim: “eu vou fazer sozinho”... Não, vamos trabalhar em grupo. Isso pra mim, o
trabalho em grupo com ele, pra mim foi muito bom. Então, isso ele trouxe de lá.
Agora eu não sei como foi o método que o curso trouxe pra que eles... Então... isso
foi muito bom, estimula muito o trabalho ... na escola, nas amizades, então
assim, o bate-papo, falar sobre o conhecimento, não da escola como de outras
coisas... Para o Davi foi ótimo. E espero que os outros também teve os mesmos
proveitos.
E segue, ainda, dizendo sobre o comportamento de Davi com relação aos amigos da
escola:
Ele mesmo se tornava responsável ao se preocupar com o outro, mesmo que talvez
ele se saísse melhor que o outro... na relação dele com os amigos, ele às vezes fala
que no curso era assim e assim... ele menciona, ele fala em qualquer oportunidade
que surge em casa ele esta sempre lembrando do que ele aprendeu no projeto, pra
fazer uso no dia
-a-
dia, não só com ele como com os colegas também.
Fica claro, nesses dois depoimentos de Maria, que Davi alcançou maior grau de
socialização durante e depois de sua participação no Projeto APAE. Ela evidencia que houve
um rompimento com a individualidade que ele insistia em manter. Nesse sentido, suas
amizades, na Escola e na própria APAE, foram ampliadas, em decorrência dessa mudança de
comportamento.
155
Segundo ela, esse processo de socialização despertou em Davi maior grau de
solidariedade, que se traduz num comportamento de ajuda a seus amigos de Escola e do
Projeto a realizarem suas atividades
78
.
A questão da auto-
esti
ma, também, aqui se faz presente, na medida em que Davi
socializa suas experiências adquiridas no Projeto com seus amigos de outros meios que não o
da APAE, sentindo-se melhor e se impondo, o que se percebe na fala de Maria sobre a
autoconfiança de Davi em
divulgar sua participação no Projeto APAE:
E não deixa de divulgar né, ele ta sempre lembrando: “onde eu fiz isso, eu fiz isso
assim e assim...”. Ele comenta onde foi feito... e ele sabe se apresentar bem, e se
alguma pessoa faz alguma pergunta pra ele, ele ta sempre assim, como se diz... de
peito aberto pra falar né... ele se sentiu muito assim.... muito ele, muito pessoa pra
falar.
Isso realmente significa uma mudança de comportamento, na medida em que, antes,
Davi preferia realizar suas atividades individualmente, mesmo quando essas deveriam ser
realizadas em grupo. Depois, ele começa a realizá-las coletivamente, passando a colaborar e
aceitar colaborações de outras pessoas, além de sua própria mudança de atitude frente a seus
pares.
Com esse entendimento, Santarosa (2004, p. 5) diz: “Ressaltamos, principalmente, o
enfoque social da interação com o ‘objeto social’, buscando romper com o ‘individualismo’
que tem caracterizado, de modo geral, o âmbito da Educação Especial”.
Nota
-se, então, que esse processo de isolamento, de individualidade, tem sido uma
característica da Educação Especial, em aspecto amplo, e que o uso das ferramentas
computacionais pode ajudar a mudar esse quadro, como se viu acima, quando a autora fala da
interação com o que ela chama de objeto social, que significa, na verdade, interagir com o
78
Touraine (2003) ressalta que a solidariedade: “não se impõe como um instrumento de integração social e de
paz civil, mas como um meio de dar a cada um a autonomia e a segurança (...)” (p.171). Esse conceito dado por
Touraine corrobora com o sentido da fala de Maria. Rompendo com a individualidade, Davi passa a construir,
em conjunto, sua autonomia e, mais ainda, a contribuir para a construção da autonomia de seus pares ta
mbém.
156
ambiente externo, sair da individualidade, dentro de um projeto pedagógico coletivo, previsto
em lei, normatizado pelos Conselhos de Educação, disposto em Planos de Educação e
presente nos currícu
los das Instituições de Ensino Superior.
Isso vem confirmar a interpretação da avaliação realizada durante o desenvolvimento
do Projeto APAE. Nesse Projeto, são feitas duas avaliações anuais, uma ao final de cada
semestre e, nesse caso, vejamos o que traz
a avaliação do item A
rgumentação e Elaboração:
GRÁFICO 3
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Expressão Oral
Argumentação e Elaboração
0
2
4
6
8
10
12
Número de
Alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Oral - Argumentação e Elaboração
2º Semestre/2003
1º Semestre/2003
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
-
2003
De acordo com o resultado dessa avaliação, se pode notar uma melhora
significativa no que diz respeito à capacidade de expressão da turma do Projeto, de um modo
geral. Considerando esse critério, o da argumentação e elaboração de idéias no processo de
comunicação, como um pré-requisito essencial ao processo de inclusão, essa avaliação traz
dados importantes para se constatar avanços no processo.
Essa evolução, também, pode ser notada, quando se avalia o item Participação dos
alunos beneficiários do Projeto APAE. O avanço, nesse critério, indica progresso quanto à
15
7
inclusão desses sujeitos, uma vez que, para ser incluído, que se participar desse processo
de maneira efetiva. Observemos o que indica GRAF. 4 com relação a isso:
GRÁFICO 4
Avaliação comparativa 1º e 2º se
mestre/2003
Expressão Oral
Participação
0
2
4
6
8
10
12
Números de
Alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Oral - Participão
2º Semestre/2003
1º Semestre/2003
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
O mesmo pode ser percebido, ao se tomar para análise os resultados constantes no
GRAF. 5, que avalia o quesito Cooperação
no processo de realização das atividades artísticas:
GRÁFICO 5
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Habilidades Artísticas
Cooperação
0
5
10
15
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Habilidades Artísticas
Cooperação
2º Semestre
1º Semestre
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
158
O próprio Davi diz que o Projeto o ajudou em suas relações. Quando questionado se
achava que o aprendizado do projeto tinha colaborado em alguma coisa na escola, ele disse:
“Ajudou muito... e também com os colegas”. Mas deixa claro que, nem sempre, antes de ele
participar do Projeto, era assim: “Não, na escola era diferente também... eles me xingavam...aí
eu bato neles, a professora dá ocorrência”.
Sendo assim, quando perguntado se sua participação fez esse quadro de
relacionamento mudar, Davi respondeu: “Mudou, mudou pra melhor”. Apesar de sua fala ser
curta, suas respostas são bem claras em sentido, ou seja, o trabalho realizado com Davi, no
sentido de estimular sua convivência com o grupo, mostrou resultados, mesmo antes de sua
participação nesse Projeto chegar ao fim, quando se nota que até sua relação com os amigos
da Escola passou a ser mais tranqüila, melhor.
Esse trabalho de socialização reflete várias mudanças em Davi, quando se pôde
evidenciar o seguinte:
1.
maior facilidade de trabalhar em grupo o que Maria chama de maior
colaboração. Depois da participação de Davi no Projeto, Maria percebeu que
ele passou a se preocupar mais com seus pares, amigos de escola e de outros
meios de sua convivência;
2.
elevação da auto-
estima
- na medida em que Davi se sentia capaz de ajud
ar
seus pares a realizar tarefas, isso quando não terminava seu trabalho antes dos
demais e passava a colaborar com os outros e também quando se sente mais à
vontade de se apresentar, de falar de sua experiência e de seu aprendizado;
3.
maior socialização o que se fez evidente no momento em que Davi passou a
aceitar maior contato com seus pares, havendo um aumento de suas relações
interpessoais, seja com seus colegas de Escola e de Projeto, seja com os
159
monitores do Projeto e com as professoras da Escola e, no final, até acaba
dizendo que a qualidade de suas relações mudou para melhor.
que se ressaltar aqui o que Valente (1991, p.7) diz a respeito da autonomização
que o uso do computador pode trazer:
(...) estes trabalhos mostram como as atividades desenvolvidas através do
computador podem ajudar os deficientes a adquirirem idéias poderosas para, de
maneira independente, explorar e executar suas próprias ações. Estas atividades têm
provocado um impacto marcante na vida destas crianças, enriquecendo sua
cap
acidade intelectual, seu sentido de auto-estima, e colocando-os em contato com
sua capacidade de aprender e de desenvolver cognitiva e emocionalmente.
Esse texto de Valente corrobora com o que se pôde constatar acima por meio dos
discursos dos sujeitos. A elevação da auto-estima vem, na verdade, acompanhando uma série
de mudanças, ou melhor dizendo, de progressos, entre os quais se pode destacar o maior grau
de socialização, o aumento e melhoria das relações entre os pares e, até mesmo, dentro da
própria f
amília.
Ainda Valente (1991, p. 73), relatando a experiência com uma criança de 7 anos de
idade, um autista, utilizando
-
se da ‘Linguagem LOGO’ de computador, ressalta que:
O trabalho com Donald mostrou que as atividades Logo constituíram num poderoso
cata
lisador das interações de Donald com o mundo dos objetos e das pessoas.
Inicialmente Donald tinha muita dificuldade em interagir com pessoas. Ele tinha
dificuldade em estabelecer contato olho a olho, responder perguntas, iniciar conversa
e envolver
-
se em q
ualquer atividade.
Nessa perspectiva, pode-se estender esse entendimento de Valente ao caso de Davi, na
medida que este, no início das atividades do Projeto APAE, tinha esse mesmo
comportamento: dificuldade em manter relações com seus pares, dificuldade, também, em
comunicar
-
se e sentia
-
se, de certo modo, tímido frente a pessoas estranhas ao seu convívio.
160
Mas como se pode notar, com base nos relatos acima, com o passar do tempo e com
seu desenvolvimento no Projeto, Davi passou a lidar melhor com essas situações de
convivência e a se expressar com mais facilidade. Sobretudo, ele se sentiu mais confiante de
seu potencial, no momento que passa fazer parte, ativamente, de trabalhos colaborativos, a
realizar trabalhos em grupos, o que não fazia antes.
Isso tudo, como decorrência de seu crescimento como pessoa, além de ser peça
fundamental vem ao encontro de sua maior socialização e conseqüente crescimento no
processo de inclusão escolar.
Nesse sentido, observemos o que Lia diz a respeito da participação de Davi e dos
outros alunos beneficiários do Projeto APAE, quando destaca as contribuições que este trouxe
àqueles:
ampliou o conhecimento de mundo desses alunos;
contribuiu para o processo de alfabetização e também no aspecto da inclusão
social;
contribuiu com o processo de inclusão no trabalho, dando-lhes oportunidade de
concorrer em igualdade a uma vaga no mercado de trabalho.
Logo, o que Lia declara a respeito do avanço no processo de inclusão de Davi, como
também dos outros alunos participantes do Projeto APAE, vem ao encontro do que os outros
sujeitos e mesmo o próprio Davi afirmaram. O que também comprova Maria, quando
inquirida sobre sua opinião quanto ao proveito que Davi tirou de sua participação no Projeto
APAE. Assim ela se expressa:
Eu... pra mim foi bom assim... porque o Davi apesar que ele está na inclusão na
escola, ele vai na escola regular, quando ele começou a fazer este projeto, esta
inclusão lá na PUC, ele não tinha assim... interesse de conhecimento de palavras, de
161
poesias, de ler, e depois disso eu achei, não achei como tenho certeza que o Davi
assim... ele se dedicou mais em querer saber das coisas, em escrever... divulgar, faz
pergunta né, faz trabalho com a irmã, pergunta até mesmo no computador, então foi
uma coisa assim...inesperada e eu acho que ele desenvolveu muito, não na área
do computação que ele se atuou também como em divulgar, ele comenta...
comentava com os amigos: “To fazendo computação na PUC, lá eu tenho um
professor assim e a professora... to aprendendo isso, eu faço isso...” e fazia
trabalhinhos lá também, levava pra casa, mostrava, divulgava pros colegas.
A ampliação do conhecimento, a contribuição na alfabetização e, até mesmo, a
melhoria de possibilidade de inclusão no mercado de trabalho, este último numa visão ma
is
adiantada, são requisitos que fazem parte da conquista de espaço pessoal numa sociedade
pautada pela concorrência, pela disputa e que, em determinados momentos, trabalha com
valores excludentes.
O reconhecimento do indivíduo passa, então, a ser papel da escola e da sociedade.
Nessa linha de raciocínio, vejamos o que o Parecer CNE/CEB
79
11/2000 traz a respeito da
função da escola nesse processo de reconhecimento, deixando claro que este mesmo papel
não é exclusividade desse espaço:
O término de uma tal discriminação não é uma tarefa exclusiva da educação escolar.
Esta e outras formas de discriminação não têm o seu nascedouro na escola. A
educação escolar, ainda que imprescindível, participa dos sistemas sociais, mas ela
não é o todo destes sistemas. Daí que a busca de uma sociedade menos desigual e
mais justa continue a ser um alvo a ser atingido em países como o Brasil (p. 7).
Justamente com esse entendimento de que o processo de exclusão não tem sua origem
e, muito menos sua solução, só no ambiente escolar, é que se destaca a importância de
projetos como esse realizado pela APAE Contagem, em parceria com a PUC Minas da mesma
localidade, quando desenvolvem ações que visam não eliminar parte dessa exclusão,
promovendo a inclusão de pessoas portadoras de deficiência, mas que levantam, sobretudo, as
discussões sobre esse processo, num esforço para que se discutam esses fatores de exclusão e,
79
Parecer nº 11/2000 Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, aprovado em 10/05/2000
que traz como assunto: “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos”.
162
principalmente, contribuindo na escolha de mecanismos que promovam a inclusão escolar e
social.
3.2.3
3ª Cate
goria: a
melhoria do rendimento escolar de Davi
Tendo discutido o conceito que os sujeitos colaboradores desta pesquisa possuem
sobre os processos de inclusão escolar e social e a percepção do próprio Davi sobre seu
progresso dentro desse ambiente evolutivo, passaremos agora a analisar a melhoria do
rendimento escolar deste último e a contribuição que a Informática pode ter trazido para esse
intento.
Diversos autores, tais como Valente (1991, 1993, 1995), La Taille (1986 e 1990), Joly
(2002), entre outros, vêm analisando e discutindo a importância que tem a Informática para a
melhoria da qualidade da educação, sobretudo no que se refere à efetividade no processo de
aprendizagem.
Com esse entendimento, Santarosa,
apud
La Taille (1990, p. 74), enfatiza:
Kal
ache e Coelho (1974) afirmam que o uso do computador ‘estimula a motivação
dos estudantes criando situações ativas de aprendizagem e estabelece uma interação
onde aspectos desejáveis de qualquer professor estão sendo simulados (...)’.
Ademais, promove uma interação individualizada, respeitando o ritmo próprio de
cada aluno e seu nível intelectual.
E, ainda, Pinto,
apud
Eiterer (2005, p. 30), segue dizendo, nessa mesma linha de
pensamento: “O uso do computador também favoreceria tanto aluno quanto professor no que
tange à observação dos ritmos de aprendizagens individuais”.
163
No campo da leitura, o uso do computador, como ferramenta complementar no
processo de ensino-aprendizagem, tem proporcionado significativos avanços, sobretudo no
campo do letramento que, de acordo com Soares,
apud
Eiterer (2005, p. 30), pode ser
entendido como: “(...) uma característica das sociedades que se organizam a partir da escrita;
é uma condição social determinada pelo domínio dos procedimentos típicos da cultura
escrita”.
E, ainda, essa mesma autora segue dizendo acerca do uso do computador como
ferramenta auxiliar no processo de letramento: “Além das múltiplas possibilidades de uso
social da escrita, poderíamos dizer que há muitas possibilidades de letramento: literário,
matemátic
o, digital, entre outros possíveis” (SOARES
apud
EITERER, 2005, p. 30).
Isso indica que o uso do computador, nesse processo de construção do conhecimento,
não se limita a uma área de atuação, tendo reflexos amplos no campo das relações entre as
disciplinas
, por exemplo, no âmbito escolar.
Quando se trata de alunos portadores de necessidades especiais, não é diferente.
Valente (1991) tem esse mesmo entendimento. O computador, por se tratar de uma ferramenta
educacional, que, de certo modo, torna possível individualizar o processo de aprendizagem, se
faz muito útil, na medida em que traz a possibilidade de cada aluno aprender em seu próprio
ritmo, em seu tempo. Esse autor segue enfatizando: “O computador tem sido usado como um
importante aliado do professor no processo de individualização do ensino especial”
(VALENTE, 1991, p.72).
E é justamente com essa mesma compreensão que Maria se manifesta, quando
perguntada em que o aprendizado de Informática que Davi adquiriu, em função de sua
participação no Projeto APAE, ajudou
-
o em seu processo de aprendizagem na escola:
Começando pela escrita, pelo conhecimento também do alfabeto, nele ligar o
computador e ter que escrever ele vai catando, quer dizer a letra E, o F, que
formam palavras, então ele despertou muito nisso ai, como se fosse, como eu
164
tinha falado, uma alfabetização dele, ele teve um bom desempenho mesmo, um
conhecimento dele na informática que ajudou na escola... até mesmo a querer a
ler. Ele tem uma dificuldade de leitura, mas através do relacionamento que teve
nesse projeto para ele foi bom porque até o conhecimento mesmo das próprias
palavras, das letras, ele teve conhecimento ótimo... eu achei.
Então, aqui, pode
-
se notar que Maria relata que as atividades desenvolvidas com Davi,
durante sua participação no Projeto APAE, trouxeram contribuições no processo de
aprendizagem de seu filho. Isso trouxe melhora em seu rendimento na escola comum, onde
estuda, sobretudo no processo de leitura e escrita.
Nessa mesma linha de pensamento, Costa e Bastos,
apud
Eiterer (2005, p. 32),
destacam: “O texto ressalta que os recursos computacionais têm marcado o surgimento de
novas possibilidades de comunicação, interatividade e aprendizagem, desafiando a sociedade
e trazendo conseqüências para o campo da educação”. Ou seja, o uso das ferramentas
computacionais traz ganhos significativos no desenvolvimento de capacidades vitais ao
processo de socialização, isto é, de convívio social.
Nesse ponto, faz-se uso dos resultados obtidos na avaliação realizada durante a
execução
do Projeto APAE, quando foi analisado o desenvolvimento da Expressão Escrita, no
quesito Participação:
165
GRÁFICO 6
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Expressão Escrita
Participação
0
2
4
6
8
10
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Escrita
Participação
Semestre
Semestre
Fonte: Coordenadoria de
Extensão
PUC Minas Contagem
2003
No GRAF. 6, pode
-
se notar um aumento na participação dos alunos do Projeto APAE,
com referência a atividades de expressão escrita, o que se entende como um fator que revela
uma maior confiança - novamente com reflexos no trabalho com a auto-
estima
- em suas
produções, de modo especial, na produção de textos.
Joly (2002) ressalta que o computador traz um alto grau de colaboração no
desenvolvimento da capacidade de escrita. Os programas processadores de texto têm
importân
cia ímpar nessa situação:
As facilidades de correções e edição, associadas aos recursos gráficos e
organizadores dos processadores de texto, têm sido consideradas, pelas pesquisas
realizadas com esses programas, como evidências de que a produção escrita d
os
alunos que utilizam processadores de texto é melhor, tanto em qualidade quanto em
quantidade, quando comparada aos que compõem seus textos com lápis e papel
(JOLY, 2002, p. 131).
Os processadores de texto podem ser usados quase que como um meio natural de
explorar a linguagem do aluno, sendo possível trabalhar, posteriormente, com facilidade, com
as correções que, porventura, possam ser necessárias, valorizando-se, num primeiro momento,
a linguagem ‘natural’ do aluno.
166
O próprio Davi ressalta esse aspecto. Quando questionado sobre o que ele aprendeu
no Projeto APAE, ele diz: “Eu aprendi a ligar a internet, a ligar o computador... aprendi a
mexer com o texto... e muitas coisas lá. Aprendi a mexer com a internet. Aprendi a desenhar”.
Ele, ainda, segue respondendo, em quais matérias ele melhorou na Escola, depois de
ter participado do Projeto APAE: “Na escrita... gosto de escrever... se for deixar eu fico até
tardão só escrevendo”.
Logo, pode-se perceber que Davi, realmente, obteve melhoras em seu processo de
produção de texto, pelo menos na motivação de realizar as atividades que envolvem produção
escrita, o que pode ser entendido como contribuição em seu processo de inclusão social e
escolar, na medida que isso facilita sua comunicação com o mundo e com as p
essoas.
Também é Davi que ressalta que o computador colaborou no processo de construção
de seus textos, quando responde que o computador o ajudou a ler melhor: “Ah... sim ajudou”.
E prossegue dizendo sobre o processo de leitura e escrita: “Sim, ajudou a conhecer as letras, a
trabalhar com as mãos... Eu gosto de ler, a preguiça não deixa. Estudar eu gosto”. que se
explicar que, quando Davi diz “mexer com as mãos”, ele se refere à digitação do texto.
Isso pode ser visualizado, também, ao apresentarmos o GRAF. 7, que traz os
resultados da avaliação do item Utilização dos Recursos na produção de textos:
167
GRÁFICO 7
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Expressão Escrita
Utilização dos Recursos
0
2
4
6
8
10
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Escrita
Utilização dos Recursos
Semestre
Semestre
Fonte: Coordenadoria
de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
Nota
-se que a utilização de recursos computacionais, na construção de textos, elevou-
se ao se compararem os resultados da avaliação feita no final do primeiro semestre com as
realizadas ao final do segundo semestre
-
término do Projeto APAE.
O que, em determinada medida, também se pode concluir, ao se analisar o GRAF. 8,
que traz a avaliação do item Revisão dos Próprios Textos:
GRÁFICO 8
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Expressão Escrita
Revisão dos
Próprios Textos
0
2
4
6
8
10
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Expressão Escrita
Revisão dos Próprios Textos
2º Semestre
1º Semestre
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
168
Mas esse processo de aprendizado não acontece somente na produção de textos. E
quem diz é o próprio Davi, quando responde se tinha melhorado seu desempenho em
Matemática, ao que ele, de pronto, diz: “Também melhorou. É a que mais gosto”. E, quando
questionado se depois de sua participação no Projeto APAE, ele passou a gostar mais dessa
disciplina, ele responde: “Gostei... me ajudou mais na matemática”.
Com essa compreensão, também se expressa Maria, quando inquirida se aquilo que
Davi aprendeu na Informática, ele faz uso como ferramenta de complementação de sua
aprendizagem na escola:
Até mesmo a fazer as tarefas de casa, os trabalhinhos, as pesquisas, ele tem mais
entusiasmo, “ah vou fazer uma pesquisa, a professora falou que eu posso procurar
no computador eu sei procurar, então eu vou.” Então ele busca, ele busca e se ele
tem alguma vida ele procura a irmã ou até mesmo o pai. “Nossa eu estou em
dúv
ida eu quero fazer isso, eu quero fazer aquilo, mas como que eu faço?” Então,
o pai só fala isso é assim... “ah é mesmo... eu aprendi”. Então pra mexer no
computador ele dificilmente ele traz uma dúvida pra gente. Ele desempenhou em
fazer o trabalho dele... não coisas assim... ele gosta muito de fazer poesias, ele
busca no computador, ele faz com os trabalhos da escola. Acho que ajudou para os
trabalhos da escola. Nos trabalhos da escola principalmente. Daí ele ia pegou o
pezinho e daí pra frente o incen
tivo dele continua.
Então fica evidente que Davi faz essa ponte, esse relacionamento, entre o que
aprendeu de Informática no Projeto APAE e as possibilidades do uso de seu aprendizado para
auxiliá
-
lo em seu desenvolvimento na escola comum.
Quando Maria responde se o processo de aprendizagem de Davi melhorou depois da
sua participação no Projeto, ela diz: “Aprimorou mais com certeza”. E continua, relatando
como notou isso:
Notei, porque quando ele foi, eu falei, não sei como que o Davi vai conseguir se sa
ir
nessa informática, porque ele tem assim... o conhecimento que ele tem
principalmente no alfabeto é pouquíssimo, então como vai ser? Fiquei preocupada
com a pessoa que iria atendê-lo, os professores, como que ia ser pra eles? Não tinha
assim aquele conhecimento, então eu fiquei super apreensiva... depois eu entrando,
conhecendo, vendo como era o projeto, eu falei que eu acho que ele vai se dar muito
bem. Parece que é diferente do que eu estava imaginando e foi assim, realmente ele
se achou dentro e foi realmente né, surpreendeu através disso. “Não mãe isso é o
169
A, isso é o B, e eu vou escrever mamãe” e foi onde que eu notei que ele estava
trazendo era de lá, porque daqui não foi. Foi através disso daí.
E, ainda, se Davi trazia atividades da escola para fazer utilizando-se do computador,
responde:
Nossa, com certeza, os trabalhinhos que ele fazia lá em casa também fazia no projeto
e quando chegava em casa ele mostrava. “Hoje eu fiz isso assim”, ele levava aquelas
poesias, aquelas estrofes, fazia em casa também, fazia questão da gente ler, às vezes
com dificuldade ele lia também.
Lia, também, se expressa a respeito da importância da Informática nesse processo de
inclusão e melhoria de rendimento escolar, via conhecimentos de Informática, dizendo:
“Contri
bui sim, e muito, desde que a diversidade seja respeitada. A inclusão é um movimento
que precisa avançar, principalmente com a tecnologia, para que as pessoas portadoras de
deficiência sempre caminhem com os avanços sociais”.
que se ressaltar, também, a importância de se fazer a correspondência do
aprendizado adquirido no Projeto e na Escola com as atividades do cotidiano. É a própria
Maria que relata isso, quando esclarece se Davi consegue fazer relação do que aprendeu no
Projeto APAE com questões de se
u dia
-a-
dia:
Ele consegue fazer essa relação no dia-a-dia, na escola, com os amigos. Ele faz
trabalhinhos. “Eu fiz isso assim. Isto aqui eu aprendi na PUC”. Porque é assim que
eles falam, eles não falam no projeto, eles falam na PUC. Deixa lembranças ond
e
você aprende as coisas é lógico que sempre fica.
Quanto ao fato de se relacionarem os conhecimentos, pode-se fazer mais uma leitura
de resultados da avaliação, realizada durante a execução do Projeto APAE, agora referente ao
critério Familiarização Tecn
ológica, analisando
-
se o item Compreensão das Finalidades:
170
GRÁFICO 9
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Familiarização Tecnológica
Compreensão das Finalidades
0
2
4
6
8
10
Número de
alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Familiarização Tecnológica
Compreensão das Finalidades
2º Semestre
1º Semestre
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contage
m
2003
Ao analisar os resultados desse gráfico, percebe-se que houve um considerável
crescimento no que diz respeito à compreensão das finalidades específicas de cada recurso de
software
do computador, o que possui relação direta com a aplicabilidade deste em outras
atividades que não as propostas no momento de sua utilização.
Por exemplo, ao realizar uma atividade em que se solicita ao aluno a elaboração de
um texto, utilizando o programa editor de texto, se esse aluno compreende a finalidade desse
prog
rama, em um outro momento, ele poderá usar tal programa para elaborar uma lista de
compras, ou de materiais escolares.
Com esse mesmo entendimento, Joly (2002), ao relatar uma experiência realizada por
Sullivan (1998), em que esse coloca em interação alunos do ensino básico com universitários
por meio do correio eletrônico, enfatiza: “Os resultados mostraram benefícios relativos ao
aumento da leitura independente e da sua vinculação às situações reais do cotidiano, tanto
para crianças quanto para adultos” (
JOLY, 2002, p. 121).
Isso se torna visível no cotidiano de Davi, como sua mãe mesmo afirma. Ele utiliza o
computador para fazer trabalhos de escola, o que é uma outra aplicação desse instrumento,
171
diferentemente do que se fazia no Projeto APAE, onde as atividades nem sempre tinham
relação com as ações escolares de seus alunos.
O próprio Davi relata isso ao contar que fez uma estória no computador, a pedido de
um professor da Escola. Vejamos sua declaração: “Um trabalho eu fiz uma estória, o
professor deixou eu fazer no computador, eu fiz, eu e minha irmã”. Na própria APAE
Contagem, Davi já realizou trabalho semelhante, quando decidiu, por sua conta, que iria
digitar um trabalho realizado em grupo na sala de aula, uma história que seus companheiros
de
atividades ilustraram com base no que sua professora lhes contou oralmente.
De certa maneira, com base no exposto acima, pode-se notar que tais avanços se dão à
medida que os alunos vão adquirindo autonomia, vão se sentindo mais confiantes de suas
habilid
ades diante do computador.
Isso, também, possui relação com a valorização de sua auto-estima, na proporção em
que o aluno vai se permitindo construir novas atividades, inventar novos caminhos, dando
vazão à sua criatividade.
Esse progresso e a conquista dessa autonomia podem ser notados consultando-se o
GRAF. 10, onde justamente esse item é avaliado no critério Familiarização Tecnológica, a
saber:
172
GRÁFICO 10
-
Avaliação comparativa 1º e 2º semestre/2003
Familiarização Tecnológica
Autonomia
0
2
4
6
8
10
Nº de Alunos
A B C D E
Conceitos
Projeto APAE 2003
Familiarização Tencnológica
Autonomia
2º Semestre
1º Semestre
Fonte: Coordenadoria de Extensão
PUC Minas Contagem
2003
Com referência à elevação da autonomia de Davi, que pode ser também percebida no
GRAF. 10, Maria volta a relatar isso quando esclarece se a participação de seu filho, no
Projeto APAE, trouxera ganho em seu processo de inclusão social e de melhoria na Escola.
Ela diz: “Na escola o Davi se saiu muito bem, em se tratando do projeto da informática que
ele fez... no decorrer do ano passado e agora no início desse já tem alguma coisa que eu posso
dizer, que pra ele foi muito bom o projeto”.
E segue, ainda, respondendo, quando inquirida se o relacionamento dele na Escola
melhorou:
Em tudo. Questões que ele trazia para casa do projeto da PUC falando “fulano está
fazendo isso, fazendo aquilo”. Olha o que você faz Davi, chega lá amanhã e
conversa com ele. E no outro dia ele falava que não tinha problema . Ele mesmo
se tornava responsável ao se preocupar com o outro, mesmo que talvez ele se saísse
melhor que o outro.
Então, quando o próprio Davi passa a resolver seus problemas autonomamente, isso já
se reflete em ganhos no relacionamento entre ele e seus pares, no sentido de que uma
possibilidade de diálogo, de comunicação se fez possível nessa situação.
173
Quando Maria foi perguntada se essa mudança no comportamento da Davi, na Escola,
resultou, também, melhorias no rendimento escolar, ela assim responde: “Sim, melhora na
escola, no dia-a-dia, no relacionamento dele com os colegas, na questão de saber que a gente
tem que compartilhar,
ele com os outros, isso tudo ele trouxe do projeto, com certeza que foi”.
Quando questionada se Davi usa o aprendizado adquirido no Projeto APAE, também,
nas matérias da escola, ela responde:
Sim, nas matérias da escola, e sobre as matérias ele já logo tem aquele despertar “oh
mãe vou fazer aquilo que eu aprendi no projeto, vou entrar na internet...”. Aquilo pra
ele, falar que vai entrar na internet é coisa de louco. “Aprendi entrar na internet foi
no projeto” assim ele fala então pra ele é gostoso de ent
rar.
Nesse ponto, Maria ressalta que Davi tem muita motivação ao acessar a
Internet,
dizendo que seu filho se sente mais à vontade, mais enturmado e dentro de um ambiente em
que ele se reconhece como parte.
Pode
-se considerar que o uso da
Internet
possui papel muito importante nesse
processo de inclusão e socialização. A este respeito, Joly (2002, p. 119) assim se posiciona:
“O acesso à Internet propicia ao aluno a oportunidade de aperfeiçoar sua proficiência em
leitura e escrita e realizar inúmeras atividades educacionais, cujas metas são voltadas para a
aplicação do conhecimento”.
Eiterer (2005, p. 36) assim se pronuncia a respeito da utilização da
Internet
em
atividades educacionais: “(...) traria inúmeras oportunidades de contato tanto com
informações quanto com pessoas distantes, o que, mais uma vez, atuaria sobre o processo
criativo de produção, além de trazer um enriquecimento cultural pessoal”.
174
Também Santarosa (2004, p.4) destaca um trabalho realizado utilizando a
Internet
para criar um ambiente tel
emático
80
de aprendizagem, ressaltando os resultados deste trabalho
abaixo:
No plano
cognitivo,
podemos salientar os seguintes benefícios, resultantes das
atividades propostas:
maior nível de compreensão/ interpretação das mensagens escritas;
melhor expres
são/rapidez na comunicação (assíncrona e síncrona);
interpretação adequada das idéias apresentadas nos textos;
reconhecimento das próprias falhas e tentativas de superá
-
las;
realização de maior número de associações, inferências e antecipações.
No plano
s
ócio
-
afetivo
, os registros observados revelam:
crescimento nas relações interpessoais, pela troca de conhecimentos e
experiências;
desenvolvimento de atividades em colaboração com o outro;
expressão de sentimentos e sensações, de forma escrita;
maior au
tonomia, iniciativa e autoconfiança.
No plano
lingüístico,
as observações registradas revelam:
melhor nível de expressão escrita, com um melhor padrão de comunicação;
apresentação de textos mais coerentes e maior capacidade de abstração;
apresentação do t
ema de forma mais definida e real;
formulação das idéias com maior clareza;
organização textual mais adequada e melhor noção da construção frasal e de
seus elementos constituintes;
maior desenvoltura no tratamento de dificuldades gramaticais;
melhor empreg
o de termos do mesmo campo semântico e de vocábulos;
atenção aos aspectos formais do texto: acentuação, pontuação e ortografia.
Os resultados desse trabalho realizado vêm confirmar o que se pôde notar no processo
de desenvolvimento social e escolar de Davi. Notou-se, com evidência, que o trabalho
realizado durante o Projeto APAE foi importante nesse sentido.
Assim como no texto de Santarosa (2004), percebeu-se que Davi, a partir do
aprendizado dos recursos computacionais, também pôde se desenvolver com relação aos
aspectos cognitivos, sócio-afetivos e lingüísticos, aspectos esses essenciais a serem
despertados e desenvolvidos em crianças portadoras de deficiência que estão em processo de
inclusão escolar e social.
80
Utilizando a significação do termo ‘telemático’ encontrada ao se consultar o Dicionário Eletrônico Houaiss da
Língua Portuguesa, um ambiente telemático seria o mesmo que um
conjunto de serviços informáticos fornecidos
através de uma rede de telecomunicações.
175
Nessa perspectiva também se pronuncia Joly
(2002, p. 133) ao trazer o seguinte:
(...) a utilização do computador leva a uma aprendizagem mais eficiente que a
convencional, não somente por proporcionar avaliação e retorno imediato desta
aprendizagem ao aluno, aumentar a motivação e individualizar o ritmo da instrução,
mas, principalmente, por possibilitar melhora nas habilidades de decodificação e
fluência, por meio da leitura independente associada simultaneamente à pronúncia
correta das palavras e ainda por colocar o aluno como agente de sua apren
dizagem,
por interação com textos eletrônicos e produção escrita.
E ainda, assim, se coloca Joly (2002, p. 134), sobre as relações suscitadas pelo uso do
computador:
Os computadores estabeleceram uma nova relação entre o aluno, seu processo de
aprendizag
em e o conhecimento resultante, impondo novas maneiras de ensinar a
aprender. Faz-se necessário, portanto, pesquisar o quanto essa tecnologia
educacional tem favorecido a formação de pessoas autônomas e criativas que
internalizaram a importância e o prazer
de ler, escrever e aprender para suas vidas.
Esse é realmente o ponto essencial, pois aprender para a vida é o objetivo que se
procura alcançar em trabalhos como esse que Santarosa (2004), entre outros pesquisadores,
vem realizando. O que se espera, portanto, é que se faça um uso social responsável da
tecnologia, visando à formação de pessoas autônomas e que, ao mesmo tempo, sejam pessoas
ativas na sociedade.
Esse foi, ao que se pôde notar, o trabalho que se realizou com Davi e com os outros
alunos da APAE Contagem, no Projeto APAE aqui analisado. Percebeu-se que Davi, ao final
de sua participação neste Projeto, obteve melhoras em diversos campos, seja na escola, seja
em suas relações sociais, seja no meio familiar.
O aprendizado de certos recursos computacionais foi realmente importante no
desenvolvimento de Davi na escola comum, na medida que seu rendimento e seu interesse por
determinadas disciplinas aumentou. Houve, também, melhoras em seu processo de inclusão,
ao ponto em que essas atividades trabalharam com sua capacidade de comunicação e
176
expressão, a elevação de sua auto-estima, seu processo de produção de texto, enfim, sua
capacidade de interagir com outras pessoas, o que se faz peça fundamental para o processo de
inclusão, seja social ou escolar.
177
C
ONCLUSÕES
Inicia
-se a conclusão de um trabalho, como o que ora se apresenta, com a certeza de
que desenvolver uma pesquisa coloca o pesquisador num caminho de incertezas e descobertas
constantes, o que é uma oportunidade de conhecimento importante e desa
fiadora.
O que se tomou como foco de investigação desse trabalho foi a importância e a
efetividade do uso da Informática, em especial, dos recursos computacionais, na inclusão de
portadores de necessidades especiais na escola comum.
O estudo se deu a partir da análise de um projeto de extensão universitária, o Projeto
APAE, onde alunos com as características acima descritas são encaminhados pela APAE
Contagem à PUC Minas em Contagem para participarem desse Projeto, num curso básico de
Informática.
Para analisar a efetividade dessa experiência, tomou-se, como sujeito dessa análise,
um aluno desse projeto - Davi - que com Síndrome de Down, estuda numa escola comum,
atualmente cursando a 6ª série do ensino fundamental.
Por meio de entrevistas e questionários, procurou-se dar voz a várias pessoas, tais
como a profissional da APAE Contagem, às monitoras do Projeto APAE, à família de Davi,
por intermédio da participação de sua mãe e também do próprio Davi.
Ao começar o trabalho, proporcionando um panorama atual da Educação Especial no
Brasil, através de dados estatísticos oficiais, procurou-se mostrar seu evidente crescimento em
números efetivos, através de dados oficiais. Pôde-se notar que o número de matrículas de
portadores de necessidades especiais vem aumenta
ndo a cada ano.
178
Entretanto, um apanhado histórico desse quadro também se fazia pertinente. E foi isso
que se fez, ao se relatar o progresso da legislação educacional brasileira, procurando realçar a
questão da evolução dos direitos dos portadores de defici
ência nos textos legais.
Pôde
-se constatar que, somente em tempos recentes, essas pessoas vêm alcançando
progressos em relação à garantia normativa de seus direitos fundamentais, tais como o direito
à educação, ao tratamento igualitário, entre diversos outros. Constatou-se, também, que é
recente a formulação de políticas públicas que visam atender e garantir o direito à educação,
de qualidade, aos portadores de necessidades especiais.
Com relação à garantia ao direito a educação, somente com a Constituição Federal de
1988, cujo teor foi explicitado e complementado pela LDB de 1996, é que essas pessoas
viram suas lutas históricas terem resultado, com a conquista de um capítulo específico nessa
lei para tratar do tema.
Desse modo, considerando a Constituição Federal de 1988, portadora de enormes
progressos e conquistas
81
, principalmente no âmbito dos direitos sociais e também com base
em pesquisas recentes, utilizadas neste trabalho, pôde-se notar que a grande propulsora do
número efetivo de matrículas dos portadores de necessidades educacionais especiais foi
mesmo a LDB de 1996.
Optou
-se, também, por realizar uma revisão sobre a evolução do pensamento e
concepções acerca da questão da deficiência. O que se percebeu é que essas pessoas, com o
passar dos anos e com os avanços da Ciência, passam a ser mais respeitadas, a partir do
momento em que o conceito de sua deficiência sai da impressão do senso comum e até
mesmo da superstição, para alcançar lugar, senão de respeito efetivo, pelo menos de
progressos para que se alcance esse fim. De aberrações da natureza, passam, ao menos nos
discursos, a pessoas com os mesmos direitos e deveres, respeitadas suas limitações.
81
Esta Carta Magna de 1988 incorpora, em seu preâmbulo, a constituição de um país formado por uma
sociedade respeitadora da fraternidade e da pluralidade.
179
Importante destacar, ainda, a ligação deste trabalho com a questão das novas
tecnologias, uma vez que se analisa aqui a contribuição da Informática para a inclusão desses
sujeitos na escola comum.
Desse modo, dedicamos parte deste estudo para analisar a inserção da Informática no
âmbito escolar e a relação que a mesma pôde ter no desenvolvimento da aprendizagem dos
alunos. Nessa perspectiva, notou-se que a Informática, mais especificamente o computador,
tem ganhado espaços, em diversos lugares, inclusive nos meios escolares.
Há uma evidente mudança de paradigma, em que a escola agora é ambiente de
formação cidadã e, também, de formação de futuros trabalhadores para os mercados de
trabalho cada vez mais seletivos. Nessa perspectiva, faz-se necessário, também, que os
espaços da Educação Especial, de modo idêntico, absorvam essas mudanças, essas evoluções,
pois a
s pessoas que a freqüentam têm direito a uma formação plena.
Nesse sentido, foi importante percorrer os momentos relevantes e decisivos, do ponto
de vista experimental, da implantação da Informática e seus variados recursos no espaço
educacional brasileiro, tal como o ocorrido com o Projeto Educom, para, a partir dele, poder
ressaltar e constatar a importância que tais implementações podem trazer ao espaço
educacional.
Do mesmo modo, percebeu-se a importância de destacar as ações governamentais
referentes ao uso da Informática na educação e na inclusão de portadores de necessidades
especiais, na medida em que se perpassou o discurso oficial brasileiro, através do PROINESP,
do Proinfo, entre outros programas estatais e a fala de estudiosos do assunto em quest
ão.
Uma sociedade de base inclusiva tem, em seus alicerces, a crença de que todas as
pessoas têm direito à participação ativa nas relações sociais, contribuindo, de alguma forma,
para o seu desenvolvimento. No processo de inclusão, buscam-se dissipar as barreiras e os
180
estigmas consolidados em relação a grupos socialmente marginalizados, dos quais podem
fazer parte os portadores de deficiência.
O conceito de inclusão, tratado por Martins (1997), é cotejado com o conceito de
desigualdade, sob a ótica da sociedade de classes no capitalismo e dentro de uma vertente
propriamente sociológica.
o autor trabalha com a inclusão como uma realidade inerente ao capitalismo por
sua natureza, sobretudo, quando considera suas duas frentes: o trabalho e o consumo. Nesse
sentido o conceito de exclusão corresponderia, na verdade, à idéia de privação social, de
privação do trabalho como força disponível e excessiva, privação do mercado de consumo e
estimulação ao mesmo tempo, privação de vários bens sociais e, até mesmo, a privação de
direitos declarados.
Nesse sentido, Martins (1997) trata da exclusão, não numa visão economicista
(econômico
-social), mas num aspecto mais amplo, abordando a questão numa linha de
pensamento, por ele afirmada, como sociológico-política, em que a verdadeira exclusão não
se somente em conseqüência de fatores econômicos, mas seu foco é, sobretudo, a
desigualdade social que se manifesta por meio de múltiplas realidades, entre as quais a que
hoje se dissemina sob o termo exclusão.
Ora, no nosso caso, estamos tratando de uma inclusão tipificada, na qual o tratamento
sociológico da exclusão/inclusão não pode ser estendido sem as devidas mediações aos
portadores de deficiência, mais especificamente aos portadores da Síndrome de Down. Essa
síndrome não é privativa de nenhuma classe social, etnia, gênero ou outra distinção
econômica ou cultural.
Garantir direitos aos portadores de necessidades especiais e estendê-los a todo e
qualquer indivíduo é uma forma de inclusão tipificada, que visa reparar uma dis
criminação
que oprime e propor um processo de discriminação positiva, decorrente de uma deficiência
181
manifesta. Bobbio (1992) denomina de processo de especificação aqueles direitos que buscam
assegurar: (...) ulterior determinação dos sujeitos titulares de direito” (p.62), tais como os de
gênero, os relativos às fases da vida e os concernentes: “(...) à diferença entre estado normal e
estados excepcionais da existência humana” (p.62).
A rigor, Bobbio (1992) retoma o princípio de que, ao tratarmos desigualmente os
desiguais, estamos libertando-os de uma discriminação ou barreira, e, libertando-os, estamos
igualando
-
os. Esse autor aponta para uma relação dialética entre igualdade e liberdade
82
.
Então, ao garantirmos o direito à especificação, está-se, de toda forma, buscando
assegurar o respeito às diferenças
83
. A discriminação positiva legal, nesse caso, é justificada
por uma redução e eliminação de barreiras que geram desigualdades
84
.
Em síntese, podemos, então, destacar, com relação ao conceito de inclusão aqui
utilizado, que ele implica a igualdade de oportunidades, sobretudo perante ao exercício do
respeito dos direitos constitucionais expressos no art. 1º, incisos II e III e, também, no art. 3º,
incisos I, III e IV da Constituição Federal de 1988, cuja efetividade é um caminho para a
própria crítica às formas mais profundas de desigualdade.
A igualdade de oportunidades se ampara no direito à educação, sobretudo e,
preferencialmente, na escola comum, onde se declara o direito em acolher todas as pessoas
em seu espaço. Concomitantemente, também, é preciso buscar o amparo na declaração e na
defesa da cidadania, sob o direito à especificação justificada. É ela que corrobora a noção de
inclusão, que permeia as discussões acerca da chamada escola inclusiva.
82
Cf. Bobbio, Reformismo, Socialismo,Igualdade.
In:
Novos Estudos Cebrap, dez. 1987, n. 19, p. 23, SP:
Cebrap.
83
Cf. artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Trata-se, na verdade, do reconhecimento e efetividade dos
Direitos Civis.
84
Cury (2004) a esse respeito assim se manifesta completando: “Só quando articulada à igualdade, a defesa das
diferenças não-arbitrárias ganha seu real valor e pode se situar no âmago de uma teoria democrática de
sociedade” (p.14). Cf. também Mello (2003).
182
É sob essa noção, cujo ponto crucial é o respeito às diferenças, que estudiosos e
pesquisadores as afirmam como caminho no sentido de uma justiça comutativa
85
.
O princípio da democratização das oportunidades e condições, no âmbito educacional,
trouxe consigo uma crescente abertura no espaço escolar. Novas concepções, novas
metodologias, novos aportes teóricos carregam em si, também, a necessidade da presença da
tecnologia, marca de uma sociedade cada vez mais dependente do conhecimento aplicado.
Assim, o espaço escolar se obrigado a partilhar cada vez mais as novas tecnologias da
Informática e da Comunicação, encarnadas, sobretudo, na figura do computador.
O Governo Federal, mesmo que ainda de forma tímida, vem despendendo esforços
para implantação de um programa que efetive o uso das novas tecnologias, em especial, o
computador, como ferramenta auxiliar, não só no processo de ensino-aprendizagem, mas
também como ferramenta de inclusão social.
Então, neste trabalho, passamos a analisar o uso desta ferramenta e, de fato, pôde-
se
verificar a efetividade da contribuição que o uso, planejado e contextualizado da Informática,
sobretudo o computador, pode trazer ao processo de aprendizagem de diversas pessoas,
inclusive das pessoas portadoras de necessidades especiais.
De
acordo com avaliações e apontamentos dos sujeitos desta pesquisa, pudemos
evidenciar a evolução de Davi em seu processo de inclusão social e escolar, como também
constatar sua melhoria de rendimento e de comportamento na escola comum.
Os relatos e os resultados das avaliações apresentados, neste trabalho, vêm ao
encontro dos depoimentos das pessoas envolvidas no processo de desenvolvimento social e
escolar de Davi. Ao tomarmos, portanto, para análise o desempenho e a participação deste no
Projeto APAE, pudemos evidenciar sua elevação de auto-estima, seu aumento de motivação
85
Cf. Cury (2004).
183
em produzir textos, seu ganho em interesse e produtividade em outras disciplinas escolares e
em usar a
Internet
como ferramenta de comunicação e aprendizagem.
Nesse sentido, também, obtiv
eram
-se ganhos efetivos no momento em que Davi eleva
sua auto-estima e, ainda, se sente mais participativo em seu espaço de convivência, junto à
família, junto a seus amigos, enfim, em seu meio social.
Ao passo em que ele se mais preparado, mais atuante, sua participação, no meio
social, se torna mais natural. Isso pode ser percebido quando lançamos mão, por exemplo, das
avaliações e depoimentos dos sujeitos com relação ao ganho obtido em sua capacidade de
elaboração e argumentação de idéias; o que evidencia uma melhora em seu processo de
comunicação, fator essencial em estabelecimentos de relações interpessoais e peça chave no
processo de inclusão.
Essas relações também sofreram alterações, no momento em que se pôde constatar
uma sensível melhora em sua capacidade de trabalhar em grupo. Isso se clarificou e
evidenciou
-se, no momento em que Davi passa a trabalhar, participativamente, em grupo com
seus pares, tanto em atividades do Projeto APAE, quanto em atividades propostas e realizadas
na escola e na APA
E.
Sendo assim, o que se constatou com este trabalho é que a informática, trabalhada
metodicamente, traz enormes contribuições no que diz respeito ao processo de ensino-
aprendizagem de pessoas portadoras de necessidades especiais, tanto no ambiente escola
r
como no espaço social.
Muito embora possamos concluir e evidenciar, com base nos dados trazidos neste
trabalho, a partir de uma indução progressiva, ancorada no estudo do caso de Davi, que o uso
do computador contém um potencial de efetivos benefícios no processo de inclusão escolar de
portadores de necessidades especiais, que se ressaltar que não podemos fazer
generalizações a respeito do uso dessa ferramenta na educação, sobretudo, porque, no caso
184
analisado, trata-se de um tipo determinado de deficiência, o que
apriori
nos impede a
conclusões generalizadas e abrangentes com relação aos demais casos específicos.
Desse modo, para finalizarmos este trabalho, é preciso realizar, ainda, mais algumas
reflexões e apontamentos.
Primeiramente, é preciso constatar que muito se avançou com relação à concepção
acerca da deficiência, mas muito ainda se precisa caminhar para a construção de uma
sociedade mais justa, em que todos sejam respeitados, mesmo os detentores de diferenças
marcantes e que tais diferenças não
se transformem em princípio discriminativo.
Em segundo lugar, algumas questões ficam levantadas, à espera de uma investigação
mais ampla a seu respeito. Isso, por exemplo, pode se aplicar à questão do uso efetivo do
computador, como ferramenta auxiliar no processo de educação e inclusão, com relação às
crianças superdotadas. Isso se aplica também às outras formas de necessidades especiais,
sejam psíquicas ou físicas.
Ainda pode-se levantar outra questão, esta, mais ligada à Educação Especial num
âmbito geral, que é a questão do financiamento desta modalidade de ensino, em nível federal
e, até mesmo, regional, seja na esfera Estadual ou Municipal.
Outro ponto a ser explorado é a relação existente entre as escolas comuns onde os
alunos portadores de necessidades especiais são matriculados e suas famílias e, até que ponto
e, sob quais perspectivas, essa relação pode auxiliar no processo de inclusão escolar e social.
Enfim, vários são os caminhos que se abrem a partir deste trabalho e que necessitam ser
percorri
dos para construção dessa sociedade inclusiva.
E, por fim, com base neste trabalho, entendemos que pensar e efetivar uma sociedade
para todos, na qual se respeite a diversidade humana é, na verdade, alicerçar o direito que
todas as pessoas têm de participar, ativamente, nas relações sociais, em todos os aspectos e
185
níveis de abrangência. É pensar em um outro paradigma, fundado numa base sólida de
respeito, tolerância, solidariedade e efetivação de direitos, muitas vezes já declarados.
A consolidação desse novo paradigma, composto de concepções, práticas, atitudes e
comportamentos em relação às pessoas com deficiência, depende do crescimento de uma
consciência coletiva, que leve adiante a inclusão de todos, deficientes ou não, nas atividades
de exercício da cidadania plena, condição essencial da existência humana consciente e
solidária.
186
REFERÊNCIAS
LEGISLAÇÃO E DOCUMENTOS EDITADOS POR ÓRGÃOS OFICIAIS
ABREU, Mariza.
E
studo e proposição legislativa para assegurar apoio governamental à
inclusão de crianças e
jovens portadores de deficiência no sistema público de ensino
regular
. Brasília: Consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, 2004.
ARAUJO, Luiz Alberto David.
A proteção Constitucional das pessoas portadoras de
deficiência
. Brasília: CORDE, 1994.
BA
LEEIRO, Aliomar.
Constituições Brasileiras
: 1891. Brasília: Senado Federal e
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001. (Coleção
Constituições Brasileiras, v.2)
BALEEIRO, Aliomar; LIMA SOBRINHO, Barbosa.
Constituições Brasil
eiras
: 1946.
Brasília: Senado Federal e Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos
Estratégicos, 2001. (Coleção Constituições Brasileiras, v.5)
BALEEIRO, Aliomar; CAVALCANTI, Themístocles Brandão; BRITO, Luiz Navarro de.
Constituições Brasileiras
: 1967. Brasília: Senado Federal e Ministério da Ciência e
Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001. (Coleção Constituições Brasileiras, v.6)
BRASIL.
Constituições Brasileiras
: 1967
Vol. VIa. Brasília: Senado Federal e Ministério
da Ciência e
Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 1999. (Coleção Constituições
Brasileiras, Vol. VIa)
BRASIL. Constituição (1988).
Constituição da República Federativa do Brasil
.
Brasília:
Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004.
BRASIL.
Diretr
izes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica
.
Brasília:
MEC/SEESP, 2001.
187
BRASIL.
Educação Inclusiva
: fundamentação filosófica. Brasília: MEC/SEESP, 2004.
(Série Educação Inclusiva, v.1)
BRASIL.
Educação Inclusiva
: a escola. Brasília: MEC/SEES
P, 2004. (Série Educação
Inclusiva, v.3)
BRASIL.
Direito à educação
:
necessidades educacionais especiais: subsídio para atuação do
Ministério Público. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
BRASIL.
Direito à educação
: subsídios para a gestão dos sistemas educacionai
s: orientações
gerais e marcos regulatórios. Brasília: MEC/SEESP, 2004.
BRASIL.
Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional
.
Brasília: MEC, 2002.
BRASIL. Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
Diário Ofi
cial da União
, Brasília, 27 dez. 1961
.
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e
2º graus, e dá outras providências.
Diário Oficial da União
, Brasília, 12 ago. 1971.
BRASIL. Lei nº 10.845, de 05 de março
de 2004. Institui o Programa de Complementação ao
Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, e dá outras
providências.
Diário Oficial da União
, Brasília, 08 mar. 2004.
BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõ
e sobre o apoio às pessoas portadoras
de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses
coletivos ou difusos dessas pessoas, disci
plina a atuação do Ministério Público, define crimes,
e dá outras previdências.
Diário Oficial da União
, Brasília, 25 out. 1989.
BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24
de outubro de 1989, dispõe sobre a Polí
tica Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.
Diário Oficial da
União
, Brasília, 21 dez. 1999.
BRASIL. Decreto nº 3.956, de 08 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Intern
acional
para Eliminação de Todas as Formas de discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência.
Diário Oficial da União
, Brasília, 09 out. 2001
188
BRASIL.
Estatuto da Criança e do Adolescente
. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de
Edições Técni
cas, 2003.
BRASIL
.
Plano Nacional de Educação
.
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de
Publicações, 2002.
BRASIL.
PROINESP
:
Projeto de Informática na Educação Especial.
Brasília: MEC/SEESP,
2000.
BRASIL.
Legislação brasileira sobre pessoas portad
oras de deficiência
. Brasília: Câmara
dos Deputados, 2004.
BRASIL.
PROINFO
:
Programa Nacional de Informática na Educação. Brasília:
MEC/SEED,
1997.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Sinopse
estatística da edu
cação básica
: censo escolar 2002. Brasília: O Instituto, 2002.
BRASIL.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
.
Sinopse
estatística da educação básica
: censo escolar 2003. Brasília: O Instituto, 2003.
BRASIL.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
.
Sinopse
estatística da educação básica
: censo escolar 2004. Disponível em: <www.inep.gov.br>.
Acesso em: 03/10/04
BRASIL. Ministério da Justiça.
Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre
neces
sidades educativas especiais
: acesso e qualidade. Brasília: Corde, 1994.
BRASIL.
Conselho Nacional de Saúde
. Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer nº 11, de 10
de maio de 2000
. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos.
Diário Oficial da União
, Brasília, 09 jun. 2000, p.15.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer nº 14, de 14
de setembro de 1999. Diretrizes Curricular
es Nacionais da Educação Escolar Indígena.
Diário
Oficial da União
, Brasília, 18 out. 1999, p.12.
189
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer nº 04, de 29
de janeiro de 2002. Recomendação ao Conselho Nacional de Educação tend
o por objeto a
educação inclusiva de pessoas portadoras de deficiência.
Diário Oficial da União
, Brasília,
22 fev. 2002, p.23.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer nº 09, de 08
de maio de 2001. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
Diário Oficial
da União
, Brasília, 18 jan. 2002, p.31.
BRASIL. Ministério da Justiça.
Programa Nacional de Direitos Humanos
. Disponí
vel em:
<
http://www.mj.gov.br/sedh/dpdh/gpdh/pndh/principal.htm
> Acesso em: 15/01/2005.
BRASIL. Comitê Nacional de educação em Direitos Humanos
.
Plano Nacional de educação
em Direitos Humanos
. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Ministér
io da
Educação, 2003.
BRASIL.
Projeto de Lei do Senado nº 6, de 2003
. Institui o Estatuto da Pessoa Portadora de
Deficiência e dá outras providências.
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Conselho de Ensino de 1º e 2º Graus. Parecer nº
848/72, de 10 de agosto d
e 1972. Educação de Excepcionais.
Revista Documenta
, Brasília, n.
141, p. 241, ago. 1972.
Declaração Mundial sobre Educação para Todos
. Plano de ação para satisfazer as
necessidades básicas de aprendizagem. Nova Iorque: WCEFA, 1990.
MINAS GERAIS.
Constit
uição do Estado de Minas Gerais
. 11ª ed. Belo Horizonte:
Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2003.
MINAS GERAIS. Conselho Estadual de Educação.
Parecer nº 424, de 27 de maio de 2003
.
Propõe normas para a Educação Especial na Educação Básica,
no Sistema Estadual de Ensino
de Minas Gerais. Disponível em < www.cee.mg.gov.br/parecercee.htm > Acesso em:
30/06/2004.
MINAS GERAIS. Conselho Estadual de Educação.
Resolução nº 451, de 27 de maio de
2003
. Fixa normas para a Educação Especial no Sistema
Estadual de Ensino. Disponível em
<
www.cee.mg.gov.br/resolucoescee.htm
> Acesso em: 30/06/2004.
190
NOGUEIRA, Octaciano.
Constituições Brasileiras
: 1824. Brasília: Senado Federal e
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001. (
Coleção
Constituições Brasileiras, v.1)
LIVROS
ADRIÃO, Thereza; OLIVEIRA, Romualdo Portela de (Orgs.).
Gestão, financiamento e
direito à educação
: análise da LDB e da Constituição Federal. São Paulo: Xamã, 2001.
(Coleção legislação e política educacion
al)
__________.
Organização do ensino no Brasil
: níveis e modalidades na Constituição
Federal e na LDB. São Paulo: Xamã, 2002. (Coleção legislação e política educacional, v.2)
AZEVEDO, Janete M. Lins de.
A Educação como política pública
. Campinas, SP: Au
tores
Associados, 1997.
BARDIN, Laurence.
Análise de Conteúdo
. Lisboa: Edições 70, 1995.
BATISTA, Cristina A. Mota; MANTOAN, Maria Tereza E.
Educação Inclusiva
:
atendimento educacional especializado para deficiência mental. Brasília: MEC/SEESP, 2005.
BI
KLEN, Sari; BOGDAN, Robert.
Investigação qualitativa em educação
:
uma introdução à
teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994
.
BOAVENTURA, Edivaldo M.
Metodologia da pesquisa
: monografia, dissertação, tese. São
Paulo: Atlas, 2004.
BOBBIO, N.
A Era
dos direitos
. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BOBBIO, Norberto; BOVERO, Michelangelo.
Sociedade e Estado na Filosofia Política
Moderna
. São Paulo: Brasiliense, 1986.
BUENO, José Geraldo.
Educação Especial brasileira
: integração/segregação do aluno
diferent
e. São Paulo: EDUC, 1993.
191
__________.
A Educação Especial nas Universidades Brasileiras
. Brasília: MEC/SEESP,
2002.
CARVALHO, Rosita Edler.
A nova LDB e a Educação Especial
.
Rio de Janeiro: WVA,
1997.
__________.
Removendo barreiras para aprendizagem
. P
orto Alegre: Mediação, 2000.
CATANI, Afrânio Mendes; OLIVEIRA, Romualdo Portela de.
Constituições estaduais
brasileiras e educação
. São Paulo: Cortez, 1993.
COMPARATO, Fábio Konder.
A afirmação histórica dos direitos humanos
. 2ª ed, ver. e
ampl. São Paul
o: Saraiva, 2004.
CURY, Munir; SILVA, Antônio Fernando da Amaral e; MENDEZ, Emílio Garcia (Coord.).
Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado
: Comentários Jurídicos e Sociais. 3ª ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
CUNHA, Helenice Rego dos San
tos.
Padrão PUC Minas de normalização
: normas da
ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e monografias. Belo
Horizonte: PUC Minas, 2005.
DEMO, Pedro
. Metodologia Científica em Ciências Sociais
.
3ª ed. São Paulo: Atlas, 1995.
DI DIO, Renato Alberto Teodoro.
Contribuição à sistematização do Direito Educacional
.
Taubaté: Editora Universitária, 1982.
FÁVERO, Osmar (Org.).
A Educação nas Constituintes brasileiras 1823
-
1988
. Campinas:
Autores Associados, 2001.
FERREIRA, Júlio Rome
ro.
A exclusão da diferença
: a educação do portador de deficiência.
2ª ed. Piracicaba: UNIMEP, 1994.
FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly.
Educação Inclusiva
.
Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
GIL, Antônio Carlos
. Métodos e técnicas de pesquisa socia
l.
5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.
192
GÜENTHER, Zenita.
Educação de Pessoas
.
Belo Horizonte: UCMG/FUMARC, 1980.
HAGUETTE, Teresa M. Frota.
Metodologias Qualitativas na Sociologia
. 10ª ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.
JANNUZZI, Gilberta M
.
A luta pela educação d
o deficiente mental no Brasil
. Campinas:
Autores Associados, 1985.
__________.
A educação do deficiente no Brasil
: dos primórdios ao início do século XXI.
Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
JOLY, Maria Cristina R. A.
A Tecnologia no Ensino
: implicaç
ões para a aprendizagem. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
KARAGIANNIS, Anastasios; STAINBACK, Susan; STAINBACK, Willian.
Visão Geral
Histórica da Inclusão.
In: STAINBACK, Susan.
Inclusão
:
um guia para educadores. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
LA TAILLE, Yves de.
Ensaio sobre o lugar do computador na educação
. São Paulo: Iglu,
1990.
__________.
Computador e ensino
: uma aplicação à Língua Portuguesa. São Paulo: Ática,
1986.
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean.
A construção do saber
:
manual de met
odologia de
pesquisa em ciências humanas.
Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda; Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1999.
LÉVY, Pierre.
Cibercultura
.
São Paulo: Editora 34, 1999.
__________.
As tecnologias da inteligência
. São Paulo: Editora 34, 1993.
LISITA, Verbena Moreira S. de S.; SOUSA, Luciana Freire E. C. P.
Políticas educacionais,
práticas escolares e alternativas de inclusão escolar
. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
MARCONNI, M. de A.; LAKATOS, E. M.
Técnicas de Pesquisa
. 4ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
193
MATSUURA, Koichiro.
A UNESCO e os desafios do novo século
. Brasília: UNESCO,
2002.
MARSHALL, T. H.
Cidadania, classe social e status
. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
MARTINS, José de Souza.
Exclusão Social e a Nova Desigualdade
. São Paulo: Paulus,
1997.
__________.
A sociedade vista do abismo
: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes
sociais. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
MAZZOTTA, Marcos José Silveira.
Educação Especial no Brasil
:
história e políticas
públicas.
São Paulo: Cortez, 2001
.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de.
O Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade
. 3ª
Ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
MOTTA, Elias de Oliveira.
Direito Educacional e educação no século XXI
.
Brasília:
UNESCO,
1997.
OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de.
Sabere
s, imaginários e representações na educação
especial
:
a problemática ética da diferença e da exclusão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PAPERT, Seymour.
A máquina das crianças
:
repensando a escola na era da informática.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
PES
SOA, Fernando.
Livro do desassossego
: composto por Bernardo Soares, ajudante de
guarda
-
livros na cidade de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
PESSOTTI, Isaías.
Aqueles cães malditos de Arquelau
. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora 34,
1994.
RICHAR
DSON, Roberto Jarry.
Pesquisa Social
:
métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
ROUSSEAU, Jean
-
Jacques.
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens
. São Paulo: Martin Claret, 2005. (Coleção A obra
-
prima de cada autor)
194
_____
_____.
Do Contrato Social
. São Paulo: Martin Claret, 2004. (Coleção A obra
-
prima de
cada autor)
SANTOS, Boaventura de Sousa.
Introdução a uma ciência pós
-
moderna
.
Rio de Janeiro:
GRAAL, 2000.
SAVIANI, Demerval.
Educação: do senso comum à consciência filo
sófica
.
São Paulo:
CORTEZ, 1980.
SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de.
Como entender e aplicar a nova LDB
:
lei nº 9.394/96.
São Paulo: Pioneira, 1997.
TOURAINE, Alain.
Poderemos viver juntos?
: iguais e diferentes. 2ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003.
TRIVIÑ
OS, Augusto W. S.
Introdução à pesquisa em ciências sociais
:
a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VALENTE, José Armando (Org.).
Liberando a mente
:
computadores na educação especial.
Campinas: UNICAMP, 1991.
__________.
Computadores
e conhecimento
: repensando a educação. Campinas:
UNICAMP, 1993.
VOIVODIC, Maria Antonieta.
Inclusão escolar de crianças com Síndrome de Down
.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
ARTIGOS EM REVISTAS E PERIÓDICOS
BOAVENTURA, Edivaldo M. Um ensaio de sistemati
zação do direito educacional.
Revista
de Informação Legislativa
,
Brasília, n. 131, p.31
-
57, jul./set. 1996.
CARVALHO, Rosita Edler. Inclusão, Educação para Todos e Remoção de Barreiras para a
Aprendizagem.
Tecnologia Educacional
, Rio de Janeiro, v. 30, n.
155, p.36
-
44, out./dez.
2001.
195
CURY, Carlos Roberto Jamil. Direito à diferença: um reconhecimento legal.
Educação em
Revista
, Belo Horizonte, n. 30, p.7
-
15, dez. 1999.
_________. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença.
Cadernos de
Pe
squisa da Fundação Carlos Chagas
, São Paulo, n. 116, p.245
-
262, jul. 2002.
DRAIBE, Sônia. M. As políticas sociais e o neoliberalismo. In:
Revista USP
, São Paulo,
n.17, p. 86
-
101, mar./abr. 1993.
EITERER, Carmem Lúcia. Informática na educação: limites e p
ossibilidades.
Presença
Pedagógica
, Belo Horizonte, v. 11, n. 62, p.26
-
37, mar/abr. 2005.
FERREIRA, Júlio Romero
.
A nova LDB e as necessidades educativas especiais
.
Caderno
CEDES
, Campinas, v.19, n.46, p.7
-
15, set. 1998.
MANTOAN, Maria Tereza E. Educação
escolar de deficientes mentais: Problemas para a
pesquisa e o desenvolvimento.
Caderno CEDES
, Campinas, v.19, n. 46, p.93
-
107, set. 1998.
MONTEIRO, Agostinho dos Reis. O Pão do Direito à Educação. Educação e Sociedade
,
Campinas, vol.24, n. 84, p.763
-
789,
set. 2003.
PADILHA, Anna M. Lunardi. Práticas educativas: perspectivas que se abrem para a educação
Especial.
Educação & Sociedade
, Campinas, ano. XXI, n. 71, p.197
-
220, jul. 2000.
PRETTO, Nelson. Educação e inovação tecnológica: um olhar sobre as polít
icas públicas
brasileiras.
Revista Brasileira de Educação
, São Paulo, n.11, p.75
-
85,
mai./jun./jul./ago.1999.
SAHB, Warlley Ferreira; SANTOS, Eunides Nogueira. O computador no processo de
desenvolvimento dos adolescentes: a experiência do Projeto Vida.
Re
vista da FAEEBA
Educação e Contemporaneidade
, Salvador, v.13, n.22, p.353
-
363, jul./dez. 2004.
SANTAROSA, L. M.C.; SOARES, Marlene.
Experiência interativa em microcomputador
com deficientes mentais educáveis.
Revista de Tecnologia Educacional
, Rio de Ja
neiro,
n. 17 (83
-84), p
. 7
-
20, jul./out. 1988.
VIEIRA, Evaldo. A Política e as Bases do Direito Educacional.
Caderno CEDES
, Campinas,
n. 55, p.9
-29, nov. 2001.
196
CAPÍTULO DE LIVRO
BLASCO, Gloria M. G.; HERNÁNDEZ, Ana M. M.; SAMPEDRO, Maria F. A c
riança com
Síndrome de Down. In: BAUTISTA, Rafael (Coord.).
Necessidades Educativas Especiais
.
Lisboa: Dinalivro, 1993.
BONETI, Lindomar Wessler.
As políticas educacionais, a gestão da escola e a exclusão
social. In: AGUIAR, Márcia Angela da S.; FERREIRA,
Naura Syria Carapeto (Orgs.).
Gestão da Educação
: impasses, perspectivas e impasses. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
BUENO, José Geraldo.
A produção social da identidade do anormal. In: FREITAS, Marcos
Cezar de.
História Social da Infância no Brasil
. Sã
o Paulo: Cortez, 2001.
CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão.
In: BELFIORE
-
WANDERLEY, Mariângela;
BÓGUS, Lucia; YAZBEK, Maria C. (Orgs.).
Desigualdade e a questão social
. São
Paulo:EDUC, 2000.
COSTA, J.W.; MOREIRA, Mercia; OLIVEIRA, Celina C. Ambient
es informatizados de
aprendizagem. In: COSTA, José W.; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora M. (Orgs.).
Novas
Linguagens e Novas Tecnologias
:
educação e sociabilidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
COSTA, J.W.; PAIM, Isis. Informação e conhecimento no processo edu
cativo. In: COSTA,
José W.; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora M. (Orgs.).
Novas Linguagens e Novas
Tecnologias
:
educação e sociabilidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
CURY, Carlos Roberto Jamil. A Educação como desafio na ordem jurídica. In: TEIXEIRA
LOPES, E
liane Marta; FARIA FILHO, Luciano Mendes de.; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.).
500 anos de Educação no Brasil
. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A Pessoa Portadora de Deficiência e o princípio da
Igualdade de Oportunida
des no Direito do Trabalho. In: FIGUEIREDO, Guilherme José
Purvin de (Org.).
Direitos da pessoa portadora de deficiência
. São Paulo:Max Limonad,
1997.
HORTA, José Silvério Baía. A Constituinte de 1934: Comentários. In: FÁVERO, Osmar
(Org.).
A Educação nas
Constituintes brasileiras 1823
-
1988
. Campinas: Autores
Associados, 2001.
197
JANNUZZI, Gilberta M. As políticas e os espaços para a criança excepcional. In: FREITAS,
Marcos Cezar de.
História Social da Infância no Brasil
. São Paulo: Cortez, 2001.
OLIVEIRA,
Romualdo Portela. A Educação na Assembléia Constituinte de 1946. In:
FÁVERO, Osmar (Org.). A Educação nas Constituintes brasileiras 1823-
1988
. Campinas:
Autores Associados, 2001.
OLIVEIRA, Maria A. M.; TOSTA, Sandra F. P.; XAVIER, Andressa. A informática
na
educação
Um estudo do Proinfo em Belo Horizonte. In: COSTA, José W.; OLIVEIRA,
Maria Auxiliadora M. (Orgs.).
Novas Linguagens e Novas Tecnologias
:
educação e
sociabilidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PLAISANCE, Eric. Les mots de l’éducation spéci
ale. In: PLAISANCE, Eric; CHAUVIÉRE,
Michel.
L’école face aux handicaps
: Éducation spéciale ou education intégrative? Paris:
PUF, 2000.
ROESE, Mauro. A metodologia do estudo de caso. In: NEVES, Clarissa Eckert B.;
CORRÊA, Maíra Baumgarten.
Pesquisa Social
Empírica
:
métodos e técnicas. Porto Alegre:
PPGS/UFRGS, 1998. Cadernos de Sociologia n.9, p. 189
-
199.
SADER, Emir. A refundação do Estado e da política.
In: NOVAES, Adauto (Org.).
A Crise
do Estado
-
Nação
. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
T
RABALHOS APRESENTADOS EM EVENTOS
BUENO, José G.; FERREIRA, Júlio R. (Coord.).
Políticas regionais de educação especial
no Brasil
. In: 26º Reunião Anual da ANPED: Poços de Caldas, 2003.
CURY, Carlos Roberto Jamil.
Da Diferença e da Igualdade
. Caxambu: A
NPED, 2004.
Texto de Conferência proferida durante a 27ª Reunião da ANPED, Caxambu, 21 a
24/11/2004. 30p. (Mimeo)
MELLO, Mônica Maria F. de. Do Encontro com o Real que a Deficiência à Retificação do
Desejo. In:
Anais do Colóquio Ética da Inclusão
. Belo Ho
rizonte: Armazém das Idéias,
2004.
198
DISSERTAÇÕES E TESES
CAMARGO, Evani Andreatta Amaral.
Concepções da Deficiência Mental por Pais e
Profissionais e a Constituição da Subjetividade da Pessoa Deficiente
. 2000. 144f. Tese
(Doutorado)
-
Universidade de Ca
mpinas, Faculdade de Educação, Campinas.
CARVALHO, Rosita Edler.
Estudo da Estrutura e Funcionamento da Educação Especial
nos Sistemas Estaduais de Educação do Brasil
. 1977. 139f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Aplicada)
-
Fundação Getúlio Vargas, Ri
o de Janeiro.
COSTA, José W.
Informação, aprendizagem e conhecimento
: a tríplice aliança no contexto
da educação à distância. 2002. 178f. Tese (Doutorado)
-
Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Ciência da Informação, Belo Horizonte.
GOMES, Mar
co Antonio.
A escola frente às novas políticas e ao discurso da inclusão
:
perspectivas educacionais do Estado e das APAES em Minas Gerais. 2002. 133f. Dissertação
(Mestrado)
-
Universidade Metodista de Piracicaba, Faculdade de Educação, São Paulo.
MARINHO
, Simão Pedro Pinto.
Educação na era da Informação
: os desafios na
incorporação do computador à escola. 1998. 274f. Tese (Doutorado)
-
Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Faculdade de Educação, São Paulo.
ROCHA, Roberta Muriel Cardoso.
Análise
do processo de implantação do plano de
desenvolvimento institucional
: uma contribuição à gestão no ensino superior no Brasil.
2005. 134f. Dissertação (Mestrado em Administração)
-
Faculdades Integradas de Pedro
Leopoldo, Pedro Leopoldo.
RODRIGUES, Sonia M
aria.
Educação Inclusiva
: das políticas públicas às percepções
docentes. 2005. 138f. Dissertação (Mestrado em Educação)
-
Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
XAVIER, Evelise Cristina Couto. Mais falares sobre a inclusão
: diferenças ou re
petições?
2003. 77f. Dissertação (Mestrado em Educação)
-
Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Educação, Campinas.
199
DOCUMENTOS DE FONTE ELETRÔNICA
Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes
.
Resolução aprovada pela Assembléia
Geral da O
rganização das Nações Unidas em 09/12/75.
Disponível em: < http://www.cedipod.org.br/w6ddpd.htm> Acesso em: 10/10/2004.
Declaração de Direitos do Deficiente Mental
.
Proclamada pela Assembléia Geral das
Nações Unidas em 20 de dezembro de 1971.
Disponível e
m: < http://www.cedipod.org.br/w6ddpd.htm> Acesso em: 10/10/2004.
SANTAROSA, L. M.C.
Escola Virtual” para pessoas com Síndrome de Down
:
ambientes
de aprendizagem telemáticos como alternativa de desenvolvimento. 2004.
Disponível em: < http://www.inf.ufsc.
br/sbc
-
ie/revista/nr2/Santarosa02.htm>
Acesso em: 12/04/2005.
VALENTE, José Armando.
O uso do computador em uma experiência com crianças
carentes
. 1995. Disponível em: <www.nied.unicamp.br/publicacoes/separatas/sep.2.pdf >
Acesso em: 01/04/2005.
NOTAS D
E AULA
TOSTA, Sandra Pereira.
Anotações sobre metodologias qualitativas
.
Belo Horizonte, PUC
Minas. 2004. 14p. (Mimeo)
200
APÊNDICE A CRITÉRIOS UTILIZADOS PELA COORDENADORIA DE
EXTENSÃO DA PUC MINAS CONTAGEM PARA AVALIAÇÃO DO PROJETO
APAE E FICHA DE ACO
MPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
201
PROGRAMA INFOC (Informática para Comunidade)
2003
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
-
PROJETO APAE
202
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: expressão oral
Objetivos:
Compreender o sentido nas mensagens orais: saber atribuir significado;
Util
izar a linguagem oral com eficácia, sabendo adequá-la a intenções e situações
comunicativas que requeiram conversar num grupo, expressar sentimentos e opiniões,
defender pontos de vista, relatar acontecimentos, expor sobre temas estudados;
Participar de diferentes situações de comunicação oral, acolhendo e considerando as opiniões
alheias e respeitando os diferentes modos de falar.
Conteúdos a serem avaliados:
Participação em situações de intercâmbio oral que requeiram: ouvir com atenção, intervir sem
sai
r do assunto tratado, formular e responder perguntas, explicar e ouvir explicações,
manifestar e acolher opiniões, adequar as colocações às intervenções precedentes, propor
temas.
Manifestação de experiências, sentimentos, idéias e opiniões de forma clara
e ordenada.
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: expressão oral
Critérios de Avaliação
Argumentação / elaboração
A)
Aquele que tem idéias concatenadas e consegue sustentar suas opiniões.
B)
Tem boas idéias e dificuldades para exprimi
-
las.
C)
Tem dificuldades em expor sua
s idéias.
D)
Idéias desordenadas e confusas.
E)
Não consegue argumentar.
203
Vocabulário
A)
Fala corretamente.
B)
Apresenta dificuldades na concordância.
C)
Troca as palavras, faz uso da linguagem coloquial.
D)
Usa gírias.
E)
Tem vocabulário de baixo calão.
Interpretação
A)
Qua
ndo as respostas condizem com as perguntas.
B)
Necessita de explicação para entender, e assim consegue responder.
C)
Necessita de maiores explicações e suas respostas, nem sempre, são satisfatórias.
D)
A resposta não condiz com a pergunta, mesmo após a explicação.
E)
Não consegue interpretar, mesmo após várias explicações.
Dicção / entonação / ritmo
A)
Tem boa pronúncia, fala pausadamente, tem bom tom de voz.
B)
Tem dificuldades na pronúncia, fala pausadamente, tem bom tom de voz.
C)
A pronúncia é rápida, o que dificulta o en
tendimento.
D)
Não consegue pronunciar algumas palavras e troca outras.
E)
Altera a voz, tem algum distúrbio.
Participação
A)
Faz comentários, discute os temas, faz as tarefas propostas.
B)
Faz o que é proposto quando solicitado / estimulado.
C)
Participa raramente.
D)
Pa
rticipa quando está disposto.
E)
Não participa.
204
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: expressão escrita
Objetivos:
Compreender o sentido nas mensagens escritas: saber atribuir significado;
Ler textos.
Conteúdos a serem avaliados:
Escuta de textos lidos pelo profess
or.
Atribuição de sentido, coordenando texto e contexto (com ajuda).
Utilização de recursos para resolver dúvidas na compreensão: consulta ao professor ou aos
colegas, formulação de uma suposição a ser verificada adiante, etc.
Socialização das experiências
de leitura.
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: expressão escrita
Critérios de Avaliação
Interpretação de textos lidos / digitados
A)
Demonstra ter compreendido o texto (lido por alguém ou por ele próprio) de maneira
global e não fragmentada.
B)
Necessita de explicaç
ão para compreender o texto.
C)
Necessita de maiores explicações para compreender o texto.
D)
Sua compreensão não condiz com o texto (lido por alguém ou por ele próprio), mesmo
após a explicação.
E)
Não consegue interpretar, mesmo após várias explicações.
205
Revi
sar os próprios textos com o objetivo de aprimorá
-
los
A)
Revisa os textos digitados durante e após concluir a tarefa, identificando e corrigindo
erros.
B)
Com auxílio do monitor, revisa os textos digitados após concluir a tarefa,
identificando e corrigindo erro
s.
C)
Solicita auxílio para efetuar a revisão dos textos digitados e, após orientações,
consegue fazê
-
lo.
D)
Necessita de maiores explicações para efetuar a revisão dos textos digitados.
E)
Não consegue identificar erros e efetuar correções, mesmo após várias expli
cações.
Utilização de recursos para facilitar a compreensão
A)
Utiliza recursos para resolver dúvidas na compreensão: consulta ao monitor ou aos
colegas, formulação de uma suposição a ser verificada adiante, etc.
B)
Necessita de explicação para compreender o processo da utilização de recursos para
auxiliar sua compreensão do texto.
C)
Necessita de maiores explicações para compreender o processo da utilização de
recursos para auxiliar sua compreensão do texto.
D)
Mesmo após as explicações e orientações, apresenta dificuldades na utilização de
recursos para auxiliar sua compreensão do texto.
E)
Não utiliza nenhum recurso para auxiliar sua compreensão do texto.
Leitura independente
A)
O aluno textos cujo conteúdo (assunto) conhece, conseguindo resgatar o seu
significad
o e compreender a idéia global.
B)
Necessita de explicação para conseguir ler textos cujo conteúdo (assunto) já conhece.
C)
Necessita de maiores explicações para ler textos cujo conteúdo (assunto) já conhece.
D)
Sua leitura não condiz com o texto, mesmo após a expl
icação.
E)
Não consegue ler sozinho, mesmo após várias explicações.
206
Participação
A)
Faz comentários, discute os temas, faz as tarefas propostas.
B)
Faz o que é proposto quando solicitado / estimulado.
C)
Participa raramente.
D)
Participa quando está disposto.
E)
Não par
ticipa.
FAMILIARIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Objetivos:
Utilizar editores de textos (
Microsoft
): O processador de textos pode ser uma ferramenta
essencial em projetos de produção de textos
Utilizar editor de imagem (
Microsoft Paint Brush
).
Utilizar a Internet como meio de informação e entretenimento (Microsoft Internet Explorer
):
A navegação pela Internet pode ser um procedimento sistemático na formação de um leitor
que domina os caminhos do hipertexto.
Aplicar tecnologias da comunicação e da informação em situa
ções relevantes.
Conteúdos a serem avaliados:
Aplicar as tecnologias da informação na escola e em outros contextos relevantes para sua
vida.
Relacionar o manuseio do computador a casos reais seja no mundo do trabalho, na escola e na
vida privada.
O aluno deverá construir a competência tanto de acessar criticamente as diferentes fontes de
informação (sites e portais), quanto de aplicá
-
las na resolução de problemas.
207
FAMILIARIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Critérios de Avaliação
Identificação dos equipamentos (
hard
wares
)
A)
Identificar os principais equipamentos de informática (hardwares), reconhecendo-
os
de acordo com suas característica e funções.
B)
Necessita de explicações para identificar os equipamentos.
C)
Necessita de maiores explicações para identificar os equipame
ntos.
D)
Sua identificação dos equipamentos apresenta dificuldades, mesmo após a explicação.
E)
Não consegue identificar os equipamentos, mesmo após várias explicações.
Compreensão das finalidades dos
softwares
A)
Compreende as finalidades específicas dos princi
pais
softwares
utilizados, tais como:
sistema operacional, editor de texto, editor de imagem e Internet.
B)
Necessita de explicações para compreender as finalidades dos
softwares.
C)
Necessita de maiores explicações para compreender as finalidades dos
softwares.
D)
Sua compreensão das finalidades dos
softwares
apresenta dificuldades, mesmo após a
explicação.
E)
Não consegue compreender as finalidades dos
softwares
, mesmo após várias
explicações.
Compreensão das funções dos
softwares
A)
Compreende as funções básicas, específicas de cada um dos
softwares
utilizados, tais
como: sistema operacional, editor de texto, editor de imagem e Internet.
B)
Necessita de explicações para compreender as funções dos
softwares.
C)
Necessita de maiores explicações para compreender as funções dos
softwares.
D)
Sua compreensão das funções dos
softwares
apresenta dificuldades, mesmo após a
explicação.
E)
Não consegue compreender as funções dos
softwares
, mesmo após várias explicações.
208
Autonomia
A)
Consegue utilizar de forma autônoma os recursos disponíveis
(
hardwares
e
softwares
).
B)
Necessita de explicações para utilizar com certa autonomia os recursos disponíveis
(
hardwares
e
softwares
).
C)
Necessita de maiores explicações para utilizar com certa autonomia os recursos
disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
D)
Mesmo com explicações, apresenta dificuldade para utilizar com certa autonomia os
recursos disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
E)
Não consegue utilizar de forma autônoma os recursos disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
Participação
A)
Faz comentários, discute os tem
as, faz as tarefas propostas.
B)
Faz o que é proposto quando solicitado / estimulado.
C)
Participa raramente.
D)
Participa quando está disposto.
E)
Não participa.
209
Questões específicas
Elemento
Componente
Grau de dificuldade /
familiaridade
Teclado
Mouse
Monitor
Hardware
CPU
Microsoft Windows
Microsoft Word
Microsoft Paint Brush
Software
Microsoft Internet Explorer
Referência:
1
Utiliza com bastante facilidade
2
Utiliza com certa facilidade
3
Utiliza razoavelmente
4
Utiliza com dif
iculdade
5
Utiliza com grande dificuldade
HABILIDADES ARTÍSTICAS (Artes Visuais)
Objetivos:
Expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou
coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao
realizar e fruir produções artísticas;
Interagir com os recursos disponíveis em artes, experimentando-os e conhecendo-os de modo
a utilizá
-
los nos trabalhos pessoais;
Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento
estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga
uma multiplicidade de procedimentos e soluções.
Conteúdos a serem avaliados:
Criar formas artísticas demonstrando algum tipo de capacidade ou habi
lidade.
Estabelecer relações com o trabalho de arte produzido por si e por outras pessoas sem
discriminações estéticas, artísticas, étnicas e de gênero.
210
HABILIDADES ARTÍSTICAS
Critérios de Avaliação
Criatividade
A)
O aluno desenvolve um percurso de criação articulando percepção, imaginação,
emoções e idéias, na experimentação com materiais e suportes.
B)
Com algum auxílio, consegue produzir criativamente.
C)
Necessita de maior auxílio para produzir criativamente.
D)
Mesmo com auxílio, apresenta dificuldades em produ
zir criativamente.
E)
Não consegue produzir criativamente.
Busca de aprimoramento
A)
Retorna aos trabalhos desenvolvidos durante e após concluir a tarefa, mostrando
empenho em superar
-
se.
B)
Com auxílio do monitor, efetua melhorias e aprimoramentos nos trabalhos
desenvolvidos, após concluir a tarefa.
C)
Solicita auxílio para efetuar melhorias e aprimoramentos nos trabalhos desenvolvidos
e, após orientações, consegue fazê
-
lo.
D)
Necessita de maiores explicações para efetuar melhorias e aprimoramentos nos
trabalhos desen
volvidos.
E)
Não consegue efetuar melhorias e aprimoramentos, mesmo após várias explicações.
Autonomia
A)
Consegue utilizar de forma autônoma os recursos disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
B)
Necessita de explicações para utilizar com certa autonomia os recursos disponíveis
(
hardwares
e
softwares
).
C)
Necessita de maiores explicações para utilizar com certa autonomia os recursos
disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
211
D)
Mesmo com explicações, apresenta dificuldade para utilizar com certa autonomia os
recursos disponíve
is (
hardwares
e
softwares
).
E)
Não consegue utilizar de forma autônoma os recursos disponíveis (
hardwares
e
softwares
).
Cooperação
A)
Participa cooperativamente na relação de trabalho com colegas e monitores,
respeitando o processo de criação pessoal.
B)
Coopera
com os colegas quando solicitado / estimulado.
C)
Coopera raramente.
D)
Coopera quando está disposto.
E)
Não coopera com os colegas.
Participação
A)
Faz comentários, discute os temas, faz as tarefas propostas.
B)
Faz o que é proposto quando solicitado / estimulado.
C)
Par
ticipa raramente.
D)
Participa quando está disposto.
E)
Não participa.
FICHA TÉCNICA
Elaboração:
ALVES, Natália C. Ribeiro (PUC Contagem
Coordenadoria de Extensão; PUC Betim).
SAHB, Warlley Ferreira (PUC Contagem
Coordenadoria de Extensão).
Supervisão:
AMÂNCIO, Íris Maria da Costa (PUC Contagem, Coordenadoria de Extensão - PUC
Contagem).
Colaboração:
CORREA, Rosa Maria (PUC Betim, Sociedade Inclusiva PUC Minas).
212
Fontes
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: introd
ução
aos parâmetros curriculares nacionais
. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
_______________________________________.
Parâmetros curriculares nacionais: língua
portuguesa.
Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
1997.
_______________________________________.
Parâmetros curriculares nacionais: arte.
Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Brasil. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. “Parte II
-
Parte II
-
Linguagens,
Códigos e suas Te
cnologias”.
Parâmetros curriculares nacionais (Ensino Médio)
. Brasília:
MEC/SEMT, 2000.
Programa Bolsa Dignidade.
Ficha de Acompanhamento Individual.
PUC Minas Contagem:
Coordenadoria de Extensão, 2003.
________________________.
Critérios de Avaliação
Relatório Final
(Língua Portuguesa:
expressão oral; Língua Portuguesa: expressão escrita; Matemática). PUC Minas Contagem:
Coordenadoria de Extensão, 2003.
213
213
PPORGRAMA INFOC
2003
FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL
PROJETO APAE
ALUNO (A):
PERÍODO:
Argumentação e
elaboração
Vocabulário
Interpretação
Dicção / entonação /
ritmo
Participação
EXPRE
SSÃO ORAL
OBSERVAÇÕES:
Interpretação
Revisão dos próprios
textos
Utilização de recursos
Leitura Independente
Participação
EXPRESSÃO
ESCRITA
OBSERVAÇÕES:
COORDENADOR PEDAGÓGICO
MONITOR
214
214
ALUNO (A):
PERÍODO:
Criatividade
Busca de aprimoramento
Autonomia
Cooperação
Participação
HABILIDADES
ARTÍSTICAS
OBSERVAÇÕES:
Identificação dos
equ
ipamentos
Compreensão das
finalidades
Compreensão das
funções
Autonomia
Participação
FAMILIARIZAÇÃO
TECNOLÓGICA
OBSERVAÇÕES:
Questões Específicas:
Legenda
Hardware
Grau de dificuldade /
familiaridade
Software
Grau de dificuldade /
familiaridade
1
Utiliza
com bastante facilidade
Teclado
Microsoft Windows
2
Utiliza com certa facilidade
Mouse
Microsoft Word
3
Utiliza razoavelmente
Monitor
Microsoft Paint Brush
4
Utiliza com dificuldade
CPU
Microsoft Internet Explorer
5
Utiliza com g
rande
dificuldade
Observações:
COORDENADOR PEDAGÓGICO
MONITOR
215
ANEXO A
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA E MODELO DO TERMO DE
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
216
217
Pró
-
reitoria de Pesquisa e de Pós
-
graduação
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
N.º Registro CEP: 2004/138
Título do Projeto: EDUCAÇÃO ESPECIAL: A IMPORTÂNCIA DA INFORMÁTICA NA INCLUSÃO DE
PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS.
Este termo de consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao pesquisador que explique as
palavras ou informações não compreendidas completamente.
1) Introdução
Você está sendo convidada a participar da pesquisa “EDUCAÇÃO ESPECIAL: A IMPORTÂNCIA DA
INFORMÁTICA NA INCLUSÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS”. Se decidir
participar dela,
é importante que leia estas informações sobre o estudo e o seu papel nesta pesquisa.
Você foi selecionado a partir da uma escolha entre o corpo de funcionários da APAE Contagem. Esta escolha se
justifica no momento em que foi tomado como referência a efetividade do acompanhamento profissional que
você exerceu durante a execução do Projeto APAE. Ressaltamos que sua participação não é obrigatória. A
qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum
pre
juízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição
.
É preciso entender a natureza e os riscos da sua participação e dar o seu consentimento livre e esclarecido por
escrito.
2) Objetivo
O objetivo deste estudo é analisar as contribuições que o domínio dos recursos da informática, em especial os
computacionais, podem ter na inclusão de pessoas com necessidades especiais no âmbito escolar e social e, ao
mesmo tempo, analisar a efetividade da
s políticas públicas de Inclusão na escola regular.
3) Proc
edimentos do Estudo
Se concordar em participar deste estudo você será solicitado a responder a um questionário, para que se possa
recolher alguns dados com o objetivo de realizar este estudo.
4) Riscos e desconfortos
No curso do questionário, caso haja algum dado que, por motivo pessoal possa lhe constranger, sinta-se à
vontade para não revelar.
5) Benefícios
O conhecimento que você adquirir a partir da sua participação na pesquisa poderá beneficiá-lo com informações
e orientações futuras em relação a sua situação de vida ou profissional, especialmente em relação ao
aperfeiçoamento do conhecimento dos recursos sobre o tema e suas implicações, beneficiando-o de forma direta
e indireta.
6) Custos/Reembolso
Você não terá nenhum gasto ou reembolso com a sua p
articipação no estudo.
7) Caráter Confidencial dos Registros
Algumas informações obtidas a partir de sua participação neste estudo não poderão ser mantidas estritamente
confidenciais. Além dos profissionais envolvidos, o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição onde o
estudo está sendo realizado, pode precisar consultar seus registros. Você não será identificado quando o material
de seu registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica ou educativa. Ao assinar este
consentimento
informado, você autoriza as consultas em seus registros pelos profissionais envolvidos e pelos
membros do CEP. Este questionário será registrado e mantido em condições de segurança.
8) Participação
Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder um questionário. É importante que você esteja
consciente de que a participação neste estudo de pesquisa é completamente voluntária e de que pode recusar
-
se a
218
participar ou sair do estudo a qualquer momento, sem penalidades ou perda de benefícios aos quais você tenha
direito de alguma outra forma. Em caso de você decidir retirar-se do estudo, deverá notificar ao profissional
e/ou pesquisador que esteja atendendo
-
o.
9) Para obter informações adicionais
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador principal, podendo
tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Caso você venha a sofrer
algum dano relacionado ao estudo, ou tenha mais perguntas sobre o estudo, por favor, ligue para o Sr. Warlley
Ferreira Sahb, no telefone (31) 3423
-
7905 ou através do endereço eletrônico [email protected]
10) Declaração de consentimento
Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este termo de
consentimento. Declaro que fui informado sobre os métodos aplicados neste estudo, as inconveniências, riscos,
benefícios e eventos adversos que podem vir a ocorrer em conseqüência dos procedimentos.
Declaro que tive tempo suficiente para ler e entender as informações acima. Declaro também que toda a
linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi
respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste formulário de
consentimento. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem perda de
benefícios ou qualquer outra penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade e sem reservas para participar como paciente deste
estudo.
Nome do participante:
Data:
Assinatura do participante ou representante legal
Atesto que expliquei cuidadosamente a natureza e o objetivo deste estudo, os possíveis riscos e benefícios da
participação no mesmo, junto ao participante e/ou seu representante autorizado. Acredito que o participante e/ou
seu representante recebeu todas as informações necessárias, que foram fornecidas em uma linguagem adequada e
compreensível e que ele/ela compreendeu essa explicação.
Nome:
Endereço:
Telefone:
Data:
Assinatura do pesquisado
r
219
ANEXO B
CONVÊNIO QUE ESTABELECE O PROJETO APAE
220
22
1
222
223
224
ANEXO C
ROTEIROS DE ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS
225
QUESTÕES ORIENTADORAS PARA ENTREVISTA SEMI
-
ESTRUTURADA COM
MARIA
-
ENTREVISTA 1
IDENTIFICAÇÃO
Nome:
Idade:
Profissão:
1)
Seu filho participou do Pr
ojeto APAE em que ano?
2)
Como foi a reação dele ao saber da possibilidade de sua participação no Projeto?
3)
Qual era a reação dele no dia-a-dia, ao freqüentar as aulas? Como ele se comportava
fora das atividades do Projeto?
4)
Quais as dificuldades seu filho possuía em relação ao Projeto? Ele comentava sobre
problemas ou reclamava de algo? O que mais chamava a atenção dele, do que ele mais
gostava?
5)
Como a Senhora classificaria a relação dele com a equipe de monitores (estagiários),
colaboradores na execução do Projeto? Havia alguma resistência dele por algum (a)
desses (as) monitores (as)? Havia alguma preferência?
6)
Como a Senhora avaliaria a participação de seu filho no Projeto?
7)
Na sua opinião, que tipo de proveito ele tirou do conteúdo do Projeto em sua vida
coti
diana (vida familiar, e social)?
8)
Na sua opinião, o aprendizado de alguns recursos computacionais, ou seja, algum
domínio da informática, contribuiu ou ainda continua contribuindo para a inclusão de
seu filho na escola comum?
9)
Em caso afirmativo, como isso pode ter acontecido? Em que seu filho melhorou na
escola que a Senhora atribui ao Projeto?
10)
A escola seu filho estuda (ou estudava) têm outros alunos na mesma situação (com o
mesmo problema, deficiência) dele?
11)
Considerando que o tema Inclusão está em voga, gostaria de saber o que a Senhora
entende por Inclusão?
12)
Como acontece esse processo de inclusão na escola que seu filho estuda (estudava)?
Ele sempre estudou na mesma escola?
13)
O que a Senhora acha das políticas de Inclusão que são utilizadas e divulgadas nas
escolas? Na escola em que seu filho estuda as professoras são preparadas ou é tudo
muita novidade para todo mundo?
226
QUESTÕES ORIENTADORAS PARA ENTREVISTA SEMI
-
ESTRUTURADA COM
MARIA
-
ENTREVISTA 2
1.
Quais foram as escolas em que seu filho estudou e em
quais anos?
2.
que a senhora afirma, sobre a participação dele no Projeto, que: “nossa, pra mim foi
surpreendente, eu não imaginava que ele fosse tão bem o quanto ele foi”, o que esses
progressos o ajudaram e ajudam no processo de aprendizagem de seu filho
na escola?
3.
O que seu filho aprendeu na Informática que ele usou e usa para ajudar ou
complementar sua aprendizagem na escola?
4.
Isso trouxe melhora em seu desempenho escolar? Como a Senhora notou isso?
5.
O que pode ter faltado no projeto e que poderia ter ajudado mais seu filho no processo
de inclusão?
6.
Com relação ao seu interesse em acompanhar seu filho, em que consiste esta sua
participação nas escolas?
7.
A senhora mantém constantes contatos com as professoras de seu filho? Qual a
importância disso?
8.
As professoras davam e dão algum tipo de retorno sobre o desempenho, o progresso
de seu filho na escola?
9.
A senhora elogiou muito o trabalho feito com seu filho aqui na APAE. A senhora acha
que o processo de inclusão dele seria diferente sem o apoio dado pela APAE? P
or
quê?
10.
A senhora acha que a escola daria conta desse processo de inclusão sem a o apoio de
instituições como a APAE? Por quê?
11.
Com relação ao processo de inclusão ocorreu no Projeto e na escola?
227
QUESTÕES ORIENTADORAS PARA ENTREVISTA SEMI
-
ESTRUTURADA
C
OM DAVI
1.
Você gostou de participar do Projeto?
2.
Porque você quis participar dele?
3.
O que você aprendeu no Projeto?
4.
Como você usa o que aprendeu no Projeto na Escola?
5.
Em que você acha que melhorou na Escola?
6.
Em quais matérias você melhorou?
7.
Existia alguma coi
sa no Projeto de que você não gostava?
8.
Como era sua relação com seus colegas de Projeto?
9.
E como era sua relação com os “professores” do Projeto?
10.
Você acha que aprender alguma coisa de computação te ajudou na escola?
11.
Em que você usa o computador para suas a
tividades escolares?
228
QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS MONITORAS DO PROJETO APAE
IDENTIFICAÇÃO
Nome: ______________________________________________
Idade: __________
Curso: _________________________________
Tempo de exercício na função de estagiária monitora: _
_______________
Descreva sucintamente as atividades que você desenvolveu como monitora durante o estágio
no Projeto APAE:
QUESTÕES
1)
Como você, na função de monitora, avaliaria a participação de Davi no Projeto?
2)
Na sua opinião, quais eram as dificuldades que Davi possuía em relação ao Projeto?
Ele comentava sobre problemas ou reclamava de algo? O que mais chamava a atenção
dele, do que ele mais gostava?
3)
Como você classificaria a relação Davi com a equipe de monitores do Projeto? Havia
alguma resistência dele por algum (a) desses (as) monitores (as)? Havia alguma
preferência?
4)
Na sua opinião quais os progressos que Davi alcançou ao final de sua participação no
Projeto APAE? Que dificuldades ele superou no decorrer no Projeto?
5)
Como você avalia, em função de seu acompanhamento e participação, o papel e a
importância do Projeto para os alunos que dele participaram?
6)
Você conhece as políticas de inclusão de portadores necessidades especiais em escolas
comuns da rede de ensino?
7)
Considerando que o tema
Inclusão
está na pauta atual de discussões, tanto
educacionais quanto sociais, gostaria de saber o que você entende por Inclusão.
8)
Na sua opinião, essas políticas de Inclusão funcionam mesmo? Quais são suas falhas e
quais os pontos positivos?
229
QUESTIONÁRIO APLICADO À PED
ADGOGA DA APAE CONTAGEM
IDENTIFICAÇÃO
Nome: ______________________________________________
Idade: __________
Profissão: ____________________
Tempo de exercício na função: ________________
Descreva sucintamente suas atividades na APAE:
QUESTÕES
1)
Como você avalia, em função de seu acompanhamento e supervisão, o papel e a
importância do Projeto para os alunos que dele participaram?
2)
Na sua opinião, em que medida o aprendizado de recursos computacionais, ou seja,
um certo domínio da Informática, contribui para a inclusão de pessoas portadoras de
deficiências na escola comum?
3)
Em caso afirmativo, como isso pode ter acontecido? Em que os alunos da APAE
participantes do Projeto, em especial o Davi, melhoraram na escola comum e também
na vida social, de acordo co
m suas observações?
4)
Você conhece políticas de inclusão de portadores de NEE em escolas comuns da rede
de ensino?
5)
Considerando que o tema Inclusão está na pauta atual de discussões, tanto
educacionais quanto sociais, gostaria de saber o que você entende por
Inclusão.
6)
Através de seu trabalho no NEPI (Núcleo de Estudo e Pesquisa em Inclusão) desta
APAE, como você esse processo de Inclusão da pessoa portadora de deficiência na
escola comum?
7)
O que a você acha das políticas de Inclusão que são utilizadas e divulgadas nas
escolas?
8)
Na sua opinião, essas políticas de Inclusão na escola comum funcionam mesmo?
Quais são suas falhas e quais os pontos positivos?
This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com.
The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo