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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Área de Concentração: Gestão de Negócios
AGLOMERAÇÃO INDUSTRIAL DE EMPRESAS DO
VESTUÁRIO NO MUNICÍPIO DE LONDRINA
Dissertação de Mestrado
MARCO AURÉLIO ARBEX
Londrina
2005
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MARCO AURÉLIO ARBEX
AGLOMERAÇÃO INDUSTRIAL DE EMPRESAS DO VESTUÁRIO NO
MUNICÍPIO DE LONDRINA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Administração – Mestrado, da
Universidade Estadual de Maringá e
Universidade Estadual de Londrina, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª Drª Marcia Regina Gabardo
da Camara.
Londrina
2005
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MARCO AURÉLIO ARBEX
AGLOMERAÇÃO INDUSTRIAL DE EMPRESAS DO VESTUÁRIO NO
MUNICÍPIO DE LONDRINA
Dissertação aprovada para obtenção do grau de
mestre no Programa de Pós Graduação em
Administração, Universidade Estadual de
Maringá e Universidade Estadual de Londrina,
pela seguinte banca examinadora:
Aprovada em 08 de agosto de 2005
_____________________________________________
Profª Dr.ª Márcia Regina Gabardo da Câmara (PPA/UEL)
_____________________________________________
Profª Dr.ª Maria de Fátima Sales de Souza Campos (UEL/ECO)
______________________________________________
Profº Drº Luiz Antonio Félix (PPA/UEL)
“Um passo a frente, e você não estará mais no mesmo lugar”
Chico Science
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pelo incondicional apoio.
À minha orientadora, Márcia, principalmente pela confiança. E também pela
constante disposição em contribuir com o desenvolvimento deste trabalho.
À Hionara, por ter vivenciado comigo alegrias e dificuldades nestes últimos
anos. Obrigado pelo incentivo e compreensão.
Aos amigos, Alex Gengiskhan da Silva Serra e Paulo Alexandre Nunes, pela
valiosa colaboração na execução deste trabalho.
A todos os meus amigos, pois os momentos juntos sempre ajudam a tornar as
coisas mais fáceis e os dias mais felizes.
A todas as pessoas que cruzaram meu caminho nesses últimos anos e que, de
alguma forma, contribuíram para meu crescimento profissional e pessoal.
RESUMO
ARBEX, Marco Aurélio. Aglomeração industrial de empresas do vestuário no município
de londrina. 2005. 200 f. Dissertação de mestrado – Programa de Pós Graduação em
Administração, Universidade Estadual de Maringá, Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2005.
O crescimento das aglomerações de empresas – em diferentes setores e regiões do Brasil –
tem estimulado a realização de estudos sobre o assunto. O objetivo do trabalho é realizar um
estudo com as indústrias do vestuário do município de Londrina, buscando identificar na
localidade, a existência de uma aglomeração de empresas do setor e realizar inferências sobre
seu grau de desenvolvimento. Partindo de pesquisa anterior realizada pelo IPARDES (2003) –
que identificou a micro-região de Londrina-Cambé como importante aglomeração de
indústrias do citado setor produtivo – o presente estudo busca dar um passo adiante,
realizando uma pesquisa de campo no principal município da micro-região para o setor
escolhido. Os procedimentos metodológicos envolveram a realização de revisão de literatura
sobre aglomerações e pesquisas bibliográficas sobre o ambiente local. A base de dados da
RAIS foi utilizada para obter dados sobre número de empregos e estabelecimentos do setor
na região, e para calcular o quociente locacional (índice de especialização produtiva).
Posteriormente foi realizada uma pesquisa de campo com as indústrias locais do vestuário,
para identificar suas características, contexto e relacionamentos entre firmas e outros agentes.
Os resultados indicaram a existência de uma aglomeração de indústrias do vestuário em
Londrina. Observou-se também que a aglomeração é composta principalmente por micro e
pequenas empresas, com grau incipiente de cooperação entre si, presença de governança em
rede e algumas relações de subcontratação (características comuns a outras aglomerações do
mesmo setor, localizadas em outras regiões do país). Não obstante Londrina possua uma
infra-estrutura desenvolvida, com a presença de instituições de apoio às empresas, os elos
entre os agentes são pouco desenvolvidos e não há uma identidade cultural entre os
empresários, como fator facilitador de relações de cooperação. Concluiu-se que a região
possui um elevado potencial para o desenvolvimento de um arranjo produtivo desenvolvido
(podendo, inclusive, se tornar um sistema inovativo), embora atualmente configure-se apenas
uma aglomeração informal, ou arranjo produtivo em desenvolvimento.
Palavras-chave: aglomerações de empresas; indústria do vestuário; desenvolvimento local.
ABSTRACT
The growth of the agglomerations of firms - in different sectors and regions of Brazil - has
stimulated the accomplishment of studies on the subject. The objective of the work is to carry
through a study with the industries of clothes in the city of Londrina, aiming to identify in the
locality, the existence of an agglomeration of companies of the sector and to carry through
inferences on its degree of development. Starting from a previous research carried through by
the IPARDES (2003) – which has identified the micron-region of Londrina-Cambé as an
important agglomeration of clothing industries – this study aims to give a step ahead, carrying
through a research in the main city of the micron-region for the chosen sector. The method
procedures had involved a literature revision on agglomerations and research on the local
environment. The RAIS database was used to supply the number of jobs and establishments
of the sector in the region, and to calculate the “quociente localcional” (index of productive
specialization). A research with the local clothing industries was carried through to identify its
characteristics, context and relationships between firms and other agents. The results had
indicated that an agglomeration of industries of clothes in Londrina exists. The agglomeration
is composed mainly for micro and small companies, with incipient degree of cooperation
between them, presence of networked governance and some relations of subcontracting
(characteristic common to other agglomerations of the same sector, located in other regions of
the country). Although Londrina possess a developed infrastructure – with the presence of
institutions of support to the companies – the links between the agents are note developed,
and there is no cultural identity between the entrepreneurs, to help in the cooperation
relationships. The results had indicated that the local posses a high potential for the growing
of a developed local productive arrangement (capable of if becoming a innovative system).
But, currently, only one informal agglomeration (or local productive arrangement, in
development) is configured.
Key-words: agglomeration of firms, clothing industry, local development.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Relação entre os objetivos da pesquisa e as questões do instrumento de coleta
de dados............................................................................................................................16
QUADRO 2 – Quadro-resumo da metodologia .......................................................................23
QUADRO 3 – Articulação entre questões de pesquisa, objetivos específicos, conceitos-chave
e resultados esperados ....................................................................................................24
QUADRO 4 - Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais .......................................................................................................................50
QUADRO 5 – Formas de ação conjunta entre empresas aglomeradas ....................................64
QUADRO 6 – Características de aglomerações sem governança local definida......................75
QUADRO 7 – Principais características de aglomerações com governança local de grandes
empresas ...........................................................................................................................77
QUADRO 8 – Alguns aspectos comuns nas abordagens sobre aglomerações locais..............79
QUADRO 9 – Características de aglomerações informais, organizadas e inovativas.............84
QUADRO 10 – Aglomerações industriais no Paraná em 2002 .............................................122
QUADRO 11 – Articulação entre objetivos específicos do estudo e sessões do presente
capítulo ...........................................................................................................................132
QUADRO 12 – Caracterização das empresas do vestuário de Londrina (2005) ...................140
QUADRO 13 – Opinião das empresas do vestuário de Londrina sobre a adequação do
ambiente local (2005).....................................................................................................142
QUADRO 14 – Relações de cooperação entre as empresas do vestuário de Londrina
(2005) ............................................................................................................................144
QUADRO 15 – Relacionamentos das empresas do vestuário de Londrina, com demais
instituições locais (2005)...............................................................................................147
QUADRO 16 – Fontes de inovação e aprendizado das empresas do vestuário de Londrina
(2005)..............................................................................................................................150
QUADRO 17 – Características de aglomerações sem governança local definida (paralelo
entre a literatura e o observado na pesquisa)..................................................................157
QUADRO 18 – Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais (paralelo entre a literatura e o observado na pesquisa)...............................158
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Maiores exportadores mundiais de têxteis - Participação nas exportações
mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %)................................................................98
TABELA 2 - Maiores importadores mundiais de têxteis - Participação nas exportações
mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %)................................................................99
TABELA 3 - Maiores exportadores mundiais de confeccionados - Participação nas
exportações mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %)..........................................100
TABELA 4 - Maiores importadores mundiais de confeccionados - Participação nas
importações mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %) .........................................101
TABELA 5 - Importância das exportações e importações da CTC nas exportações e
importações totais de economias selecionadas em 2003 (em %) ...................................102
TABELA 6- Número de estabelecimentos na CTC por regiões naturais do Brasil entre 1995 e
2003 ................................................................................................................................110
TABELA 7- Dez principais Estados brasileiros em número de estabelecimentos e empregos
no setor do vestuário em 2003........................................................................................111
TABELA 8 - Exportação, importação e saldo comercial brasileiros de produtos têxteis e
confeccionados em 2004 (em 1000 US$ - FOB)............................................................112
TABELA 9 - Exportação, importação e saldo comercial brasileiros de confeccionados em
2004 (em 1000 US$ - FOB) ...........................................................................................113
TABELA 10 - Dez principais países de destino das exportações brasileiras de têxteis e
confecções em 2004 (em US$ FOB)..............................................................................113
TABELA 11 - Dez principais países de origem das importações brasileiras de têxteis e
confecções em 2004 (em US$ FOB)..............................................................................114
TABELA 12 – Dez principais Estados brasileiros exportadores de têxteis e confecções em
2004 (em US$ FOB).......................................................................................................114
TABELA 13 – Número de estabelecimentos do setor do vestuário no Paraná, entre 1995 e
2003 ................................................................................................................................124
TABELA 14 – Número de empregos do setor do vestuário no Paraná, entre 1995 e 2003...125
TABELA 15 – Quociente locacional para o setor do vestuário no município de Londrina,
entre 1995 e 2003 ...........................................................................................................134
TABELA 16 – Quociente locacional para os demais segmentos da CTC em Lodrina, exceto
confecções de artigos do vestuário, em 2003 .................................................................138
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ABIT – Associação Brasileira das Indústrias Têxteis e de Confecção
ACIL – Associação Comercial e Industrial de Londrina
ACIM – Associação Comercial e Industrial de Maringá
APEX BRASIL – Agência de Promoção de Exportações do Brasil
APLS – Arranjos Produtivos Locais
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
C&T – Ciência e Tecnologia
CODEL – Companhia de Desenvolvimento de Londrina
CNAE - Classificação Nacional da Atividade Econômica
CNI – Confederação Nacional da Industria
CTC – Cadeia Têxtil e de Confecções
DRT – Delegacia Regional do Trabalho
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
IEL – Instituto Euvaldo Lodi
IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
MPEs – Micro e Pequenas Empresas
MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMC – Organização Mundial do Comércio
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PIB – Produto Interno Bruto
PMEs – Pequenas e Médias Empresas
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais
REDESIST – Sistema de Informações de Arranjos Produtivos Inovativos Locais
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SIVEPAR – Sindicato Intermunicipal das Industrias do Vestuário do Paraná
SPILs – Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
STI – Secretaria de Tecnologia Industrial
SUDENE – Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste
TICs - Tecnologias de Informação e Comunicação
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento
VESTPAR – Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário
WTO – World Trade Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................1
1.1 O Problema de pesquisa ...................................................................................................3
1.2 Objetivo geral ...................................................................................................................4
1.3 Objetivos específicos........................................................................................................4
1.4 Justificativa e relevância...................................................................................................5
1.5 Resultados esperados........................................................................................................5
1.6 Estrutura da dissertação....................................................................................................6
2 METODOLOGIA...........................................................................................8
2.1 Questões de pesquisa........................................................................................................8
2.2 Delineamento da pesquisa ................................................................................................9
2.3 População escolhida .......................................................................................................13
2.4 Coleta de dados...............................................................................................................14
2.5 Análise dos dados...........................................................................................................17
2.6 Metodologia para identificação de aglomeração produtiva no município de Londrina.18
2.7 Limitações da pesquisa...................................................................................................22
3 AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS E COMPETITIVIDADE................25
3.1 Aglomerações e Estratégias Empresariais......................................................................25
3.1.1 Pensando globalmente e agindo localmente............................................................25
3.1.2 Marshall e as economias externas ...........................................................................32
3.1.3 Principais linhas de pensamento sobre aglomerações.............................................38
3.2 Inovação e aprendizado ..................................................................................................43
3.3. Ambiente institucional , elos de confiança, elos de cooperação e competitividade......55
3.3.1 Confiança, imersão social e ambiente institucional ................................................55
3.3.2 Cooperação e competição em aglomerações...........................................................61
3.4 Políticas públicas e aglomerações ..................................................................................66
3.5 Estruturas de governança e coordenação em aglomerações...........................................72
3.6 Aglomerações de empresas: tipologias e caracterizações ..............................................78
3.6.1 Aglomerações informais, organizadas e inovativas ................................................82
3.6.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais.................85
4 CADEIA TÊXTIL E DE CONFEÇÕES......................................................89
4.1 As etapas da CTC ...........................................................................................................89
4.2 Evolução da CTC em âmbito internacional....................................................................94
4.3 A evolução recente da CTC no Brasil ..........................................................................104
4.4 Competitividade na CTC e perspectivas para o Brasil.................................................115
4.5 Reconfiguração industrial no Paraná e a CTC..............................................................121
4.6 Síntese de alguns estudos em aglomerações relacionadas a confecções e vestuário....126
5 AGLOMERAÇÃO DE EMPRESAS DO VESTUÁRIO EM LONDRINA:
ANÁLISE DOS RESULTADOS....................................................................132
5.1 Identificação da aglomeração.......................................................................................133
5.2 Caracterização do ambiente local.................................................................................135
5.3 Caracterização das empresas pesquisadas....................................................................139
5.4 Adequação do ambiente local sob a ótica das empresas pesquisadas ..........................140
5.5 Relações de cooperação com outras empresas .............................................................143
5.6 Relacionamentos com demais instituições locais.........................................................145
5.7 Fontes de aprendizado e inovação................................................................................148
5.7.1 Implementação de inovações.................................................................................151
5.8 Presença de políticas públicas ......................................................................................155
5.9 Estruturas de governança presentes na aglomeração....................................................155
5.10 Classificação da aglomeração.....................................................................................158
CONCLUSÕES................................................................................................164
REFERÊNCIAS..............................................................................................170
APÊNDICES....................................................................................................180
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO UTILIZADO PARA COLETA DE DADOS ...........181
APÊNDICE B - INFORMAÇÕES REFERENTES À CTC BRASILEIRA.....................184
APÊNDICE C - INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO ÀS EMPRESAS DO VESTUÁRIO
DE LONDRINA....................................................................................190
1 INTRODUÇÃO
O interesse pelo estudo de aglomerações geográficas de empresas tem se intensificado nas
últimas décadas, em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil. No final do
século XIX, Alfred Marshall já chamara a atenção para potenciais vantagens que as empresas
podem obter ao localizarem-se próximas umas das outras (as chamadas economias de
aglomeração). O tema ganhou novo fôlego no século XX a partir das experiências norte-
americana e italiana, uma vez que as aglomerações de empresas lá localizadas tornaram-se
exemplo de desenvolvimento local para o restante do mundo.
Nos Estados Unidos, o chamado Vale do Silício – onde hoje se localizam algumas das mais
importantes empresas de alta tecnologia do mundo
1
– surgiu no inicio dos anos 50, a partir de
uma iniciativa da Universidade de Stanford. Ela estava buscando levantar recursos para a
instituição e arrendou parte de seu terreno a empresas que tinham interesse em construir no
local suas plantas industriais
2
. As empresas que ali se instalaram – buscando inicialmente a
redução de custos – foram atraindo outras do mesmo setor (alta tecnologia), que passaram a
enxergar no local não só vantagens relativas a custos, mas também oferta de mão-de-obra
qualificada e fontes de aprendizado e inovação.
A experiência americana mostrou uma aglomeração que se desenvolveu através de empresas
de alta tecnologia e a experiência italiana revelou que o desenvolvimento regional deu-se pelo
agrupamento de pequenas empresas de setores tradicionais (intensivos em mão-de-obra, e que
utilizaram tecnologia aquém da fronteira). Uma medida do governo italiano – que forçaria os
empresários a conceder mais benefícios aos trabalhadores – ensejou a desverticalização das
1
O Vale do Silício abriga atualmente firmas como IBM, Microsoft, Apple e Hewlett Packard, entre outras.
2
Ver o texto de Garcia (2003).
2
empresas e a conseqüente formação de pequenas firmas, que com o apoio do governo (e fortes
laços de confiança entre os membros) cresceram e levaram desenvolvimento à região
3
,
conhecida como Terceira Itália
4
.
Nos distritos industriais italianos – denominação a partir da qual ficaram conhecidas as
aglomerações de empresas naquele país – destacam-se a cooperação, o senso de comunidade,
a confiança, a ação dos sindicatos e as associações de produtores; no Vale do Silício
destacam-se o grande contingente de mão-de-obra qualificada, a presença de centros de
pesquisas de alta tecnologia, a grande oferta de produtos e serviços complementares e a
demanda por produtos e serviços sofisticados
5
.
Conceitos como economias externas, cooperação, competitividade, confiança, presença de
empresas e instituições correlatas, coordenação interna, mão-de-obra qualificada e ação do
setor público (todos ilustrados nos dois casos emblemáticos acima expostos) formam o
arcabouço institucional e relacional que cerca o debate sobre aglomerações de empresas. Em
torno de todos estes elementos encontra-se a busca pelo aprendizado e pela inovação,
elementos centrais para o desenvolvimento de aglomerações.
A discussão a respeito das aglomerações localizadas é realizada no momento em que o
sistema produtivo mundial passa por profundas e importantes transformações
6
. A promessa da
globalização “homogeinizadora do espaço econômico e generalizadora dos benefícios
sociais” passa a ser contestada
7
; empresas (e mesmo países) passam a se unir numa espécie de
3
Ver Paiva Jr. e Barbosa (2001).
4
Lastres et. alii (1999) mostram que o termo “Terceira Itália” fora cunhado para definir a região italiana da
Emilia-Rogmana, diferente tanto do norte mais rico, quanto do sul mais pobre.
5
Ver Santos et alii (2004).
6
Ver Cassiolato e Lastres (2001) a respeito.
7
Ver Diniz (2001, grifo nosso).
3
associativismo competitivo, onde a cooperação e competição são balanceadas em busca de
competitividade e desenvolvimento
8
. A competição, então, passa a ocorrer não só entre
empresas, mas entre regiões (ocorrendo através da cooperação e coordenação de ações entre
as empresas locais). Observa-se assim, que o desenvolvimento de aglomerações locais não é
endógeno, mas sistêmico, pois depende de diversos agentes externos às empresas para sua
consolidação, inclusive de fatores relacionados à trajetória histórica local.
Recentemente, observam-se esforços no Brasil no sentido de identificar e entender a dinâmica
evolutiva de aglomerações produtivas e inovativas. Instituições – tanto do setor público
quanto do setor privado – têm promovido debates, seminários e pesquisas de campo em torno
deste tema, no sentido de identificar a existência de tais aglomerações e todo o contexto que
as cercam. Cada aglomeração possui especificidades que demandam estudos “in loco” para a
compreensão de sua dinâmica evolutiva e seu contexto particular, sendo que de acordo com o
arcabouço estrutural e relacional existente na aglomeração, esta pode mostrar-se bastante ou
pouco desenvolvida.
1.1 O Problema de pesquisa
O presente trabalho realiza um estudo nas indústrias do vestuário do município de Londrina.
Procura-se inicialmente verificar a existência de uma aglomeração do setor no local, para
posteriormente realizar inferências sobre seu grau de desenvolvimento. O setor escolhido é
importante para a região, principalmente pela capacidade de geração de empregos (IPARDES,
2003) e foi um dos mais atingidos pelo processo de abertura da economia brasileira no inicio
8
Ver Tironi (2001, grifo nosso).
4
da década de 1990, data a partir da qual os empresários do setor passaram a buscar novas
formas de se organizarem e competirem (KUPFER, 1998).
O problema de pesquisa pode ser assim enunciado: há no município de Londrina uma
aglomeração de indústrias do vestuário? Qual seu grau de desenvolvimento?
1.2 Objetivo geral
Investigar a existência de uma aglomeração de indústrias do vestuário no município de
Londrina e verificar seu grau de desenvolvimento.
1.3 Objetivos específicos
a) Caracterizar o ambiente local, as empresas do setor e verificar se existe uma aglomeração
de indústrias do vestuário no local;
b) Analisar a existência e o grau de intensidade das relações de cooperação e interação entre
as empresas locais do ramo e entre estas e outros agentes;
c) Identificar as fontes e a intensidade dos processos de aprendizado e inovativos observados
localmente;
d) Identificar e descrever ações governamentais realizadas em prol do desenvolvimento das
empresas do setor;
e) Identificar e descrever as formas de coordenação (governança) presentes entre as empresas;
f) Caso verifique-se a existência de aglomeração, classificá-la de acordo com as tipologias
propostas por Mytelka e Farinelli (2000) e Casssiolato e Lastres (2001; 2004).
5
1.4 Justificativa e relevância
Uma primeira justificativa para a pesquisa reside no fato de que o interesse por aglomerações
de empresas tem crescido nos últimos anos – tanto por universidades e institutos de pesquisa,
quanto pelo setor público, que vêem nestes arranjos uma importante fonte para o
desenvolvimento local. O fato de a pesquisa se dar na cidade de Londrina e estar relacionada à
indústria do vestuário justifica-se pelo fato de que, em estudo prévio de mapeamento de
arranjos produtivos localizados no Paraná, o IPARDES (2003) identificou a micro-região de
Londrina-Cambé
9
como importante aglomeração de indústrias do citado setor produtivo.
Embora tenha havido esse mapeamento prévio, não houve pesquisa de campo “in loco” para
identificar as especificidades de cada aglomeração e seu grau de desenvolvimento. Dada a
amplitude necessária, no presente trabalho não se realiza uma pesquisa em todos os 21
municípios da micro-região Londrina-Cambé. O estudo se limita a estudar a cidade de
Londrina, considerada a mais importante economicamente da micro-região
10
.
1.5 Resultados esperados
Inicialmente, espera-se identificar a existência de uma aglomeração de indústrias de
confecção de artigos do vestuário e acessórios no município de Londrina, contribuindo para as
pesquisas nesta temática. Espera-se ainda fornecer uma caracterização das empresas do setor
em questão na cidade de Londrina, bem como do contexto que cerca tais organizações e suas
relações com outros agentes relevantes. Com isso, espera-se não somente fornecer uma
9
A região Londrina-Cambé abrange os seguintes municípios (IPARDES, 2003): Alvorada do Sul, Arapongas,
Bela Vista do Paraíso, Cafeara, Cambé, Centenário do Sul, Florestópolis, Guaraci, Ibiporã, Jaguapitã, Londrina,
Lupionópolis, Miraselva, Pitangueiras, Porecatu, Prado Ferreira, Primeiro de Maio, Rolândia, Sabáudia,
Sertanópolis e Tamarana.
10
Estudo recente – nos mesmos moldes deste – foi realizado recentemente por Campos (2004), que investigou a
aglomeração de indústrias do vestuário da cidade de Cianorte, no Paraná. Analogamente, o IPARDES (2003)
havia identificado a micro-região Umuarama-Cianorte como importante aglomeração do setor do vestuário no
Paraná.
6
contribuição teórica para a gestão de negócios, mas ainda prover contribuições de ordem
prática, como informações que auxiliem na gestão empresarial, no delineamento de políticas
públicas regionais, na realização de ações institucionais diversas ou ações coletivas por parte
dos empresários presentes na aglomeração.
1.6 Estrutura da dissertação
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: O capítulo 1 apresenta a introdução; o
capitulo 2 discute a metodologia utilizada na execução do estudo; o capitulo 3 realiza uma
revisão de literatura onde são abordados os conceitos relacionados a aglomerações produtivas
e inovativas localizadas; o capítulo 4 discorre sobre a cadeia têxtil e de confecções; o capítulo
5 apresenta e analisa os resultados obtidos. Por fim, seguem as conclusões do estudo. A
Figura 1 ilustra a estrutura do presente estudo.
7
FIGURA 1- Estrutura da dissertação
-Políticas públicas
-Governança
Conceitos-chave sobre
aglomerações:
-Competitividade
-Confiança e cooperação
-Inovação e aprendizado
-Ambiente institucional
Tipologias de
aglomerações
CAPÍTULO 1
- Introdução e contextualização do problema de
pesquisa
- Objetivos
- Justificativa
- Resultados esperados
CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5
- Análise dos resultados
o Relação entre os resultados obtidos e
objetivos do estudo
- Metodologia
o Questões de pesquisa
o Delineamento da pesquisa
o População e coleta de dados
o Análise dos dados coletados
o Método para identificar aglomeração
produtiva
o Limita
ções da pesquisa
CAPÍTULO 6
- Conclusões
CAPÍTULO 3
- A cadeia têxtil e de confecções (CTC)
o As etapas da CTC
o A CTC em âmbito internacional
o Evolução recente da CTC no Brasil
o Competitividade na CTC
o A indústria no Paraná e a CTC
o Síntese de estudos em aglomerações do
setor do vestuário e confecções
2 METODOLOGIA
Neste capítulo é apresentada a metodologia utilizada na presente pesquisa. Inicialmente, são
expostas as questões de pesquisa, e em seguida o delineamento desta. Posteriormente é
apresentada a descrição da população escolhida, bem como os métodos de coleta e tratamento
dos dados. Em seguida, é exposta a metodologia utilizada para identificação de aglomeração
município de Londrina; posteriormente, é delineado um Quadro-resumo da metodologia
seguido das limitações da pesquisa.
2.1 Questões de pesquisa
Para se definir as questões de pesquisa, partiu-se da pergunta inicial do trabalho: há no
município de Londrina uma aglomeração de indústrias do vestuário? Qual seu grau de
desenvolvimento?
A partir do problema inicial, algumas questões foram elaboradas como auxilio. Triviños
(1995, p.105) afirma que “as hipóteses, em geral, pertencem ao campo dos estudos
experimentais. Os outros tipos de estudo, descritivos e exploratórios, aceitam, geralmente,
questões de pesquisa, perguntas norteadoras”.
Assim, foram delineadas as seguintes questões:
a) Como se caracterizam as indústrias do vestuário em Londrina?
b) É possível afirmar que existe no local uma aglomeração de empresas do setor?
c) O ambiente local é propício ao desenvolvimento de uma aglomeração?
9
d) Verificam-se relações de cooperação e interação entre as empresas do setor e outras
instituições locais? Com que intensidade?
e) Como se dão os processos de inovação e aprendizado pelas empresas do setor no município
de Londrina?
f) Existem ações governamentais em prol das empresas locais do setor?
g) Como se caracterizam as formas de governança (coordenação) presentes entre as
empresas?
h) Verificando-se a existência de uma aglomeração de empresas do setor no município de
Londrina, como esta pode ser classificada?
2.2 Delineamento da pesquisa
A literatura especializada sugere que não existe uma única maneira de se realizar pesquisas
cientificas, mas sim uma variedade de métodos e estratégias, cujas particularidades indicam as
maneiras mais ou menos adequadas para cada tipo de pesquisa. A presente pesquisa
caracteriza-se como descritiva quanto aos fins; quanto aos meios a pesquisa pode ser
caracterizada como pesquisa de campo, bibliográfica, ex post facto e de levantamento. De
acordo com Richardson (1989), pesquisas descritivas têm como objetivo investigar as
características de um fenômeno, com a possibilidade de ordenação e classificação destes.
A pesquisa descritiva pode ainda identificar relações entre variáveis, bem como definir sua
natureza (VERGARA, 2004). Gil (1996) alerta que, neste caso, a pesquisa descritiva
aproxima-se da explicativa. Ainda: “uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra
descritiva, posto que a identificação dos fatores que determinam um fenômeno, exige que este
esteja suficientemente descrito e detalhado” (GIL, 1996 : 47).
10
No mesmo sentido, Vergara (2004) afirma que a pesquisa descritiva é a base para a pesquisa
explicativa: enquanto a pesquisa descritiva levanta as características de determinado
fenômeno, a pesquisa explicativa visa identificar fatores que de alguma forma contribuem
para a ocorrência deste fenômeno. Para Gil (1996), à medida que pesquisas descritivas
possibilitam que determinado fenômeno seja visto sob novas perspectivas, estas se
aproximam das pesquisas exploratórias.
A pesquisa caracteriza-se ainda como ex post facto, no que se refere ao controle das variáveis
pelo pesquisador (COOPER e SCHINDLER, 2003). Neste tipo de pesquisa, o pesquisador
não tem controle sobre as variáveis. Para Gil (1996 : 56), as ciências sociais utilizam-se muito
deste tipo de pesquisa: “o estudo das crises econômicas, do desenvolvimento das estruturas
políticas e das diversas formações sociais conduzem inevitavelmente a este tipo de
delineamento”.
O presente estudo ainda é considerado como transversal. Para Richardson (1989 : 93), em um
estudo com corte transversal, “os dados são coletados em um ponto no tempo, com base em
uma amostra selecionada para descrever uma população nesse determinado momento
11
”.
Este estudo utiliza tanto pesquisa bibliográfica quanto pesquisa de campo em sua análise.
Pesquisa bibliográfica é definida como o “estudo sistematizado, desenvolvido com base em
material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao
público em geral” (VERGARA, 2004 : 48). Já a pesquisa de campo é a “investigação
empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos
11
Grifo do autor.
11
para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação
participante ou não” (VERGARA, 2004 : 47-48).
Esta pesquisa ainda caracteriza-se como survey (COOPER e SCHINDLER, 2003) ou
levantamento (GIL, 1996). Para Gil (1996), pesquisas descritivas geralmente assumem a
forma de pesquisa de levantamento, caracterizadas pela “interrogação direta das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer” (GIL, 1996 : 56). Assim, esta pesquisa pode ser descrita
como a obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de
determinado grupo de pessoas, por meio de um instrumento de pesquisa, normalmente um
questionário
12
.
Para Gil (1996), as vantagens da pesquisa de levantamento são:
a) conhecimento direto da realidade, à medida que são as próprias pessoas investigadas no
estudo que fornecem as informações necessárias à pesquisa. Segundo o autor, tal fato exime a
pesquisa de subjetividades ou interpretações do pesquisador;
b) economia e rapidez, pois possibilita a obtenção de grande quantidade de dados em pequeno
espaço de tempo. Especificamente, quando o instrumento de coleta de dados é um
questionário, os custos tornam-se relativamente baixos;
c) possibilidade de quantificação, uma vez que este tipo de pesquisa enseja a utilização de
tratamento estatístico aos dados pesquisados.
Gil (1996) ainda aponta algumas limitações deste método de pesquisa:
a) ênfase nos aspectos perceptivos, ou seja, “os levantamentos recolhem dados referentes à
percepção que as pessoas têm acerca de si mesmas” (GIL, 1996 : 57). O mesmo autor sugere
12
Gil (1996) observa que, na maioria dos levantamentos, não são pesquisados todos os integrantes da população
estudada: em geral, seleciona-se para investigação uma amostra significativa do universo pesquisado, sendo que
os resultados obtidos podem ser projetados para a totalidade deste universo.
12
que a forma com que as perguntas são formuladas pelo pesquisador e colocadas aos
respondentes podem reduzir esta distorção e, de certa forma, exercer um controle sobre os
respondentes, a fim de evitar respostas ambíguas ou indesejadas.
b) pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais. De acordo com Gil
(1996), a pesquisa de survey mostra-se pouco adequada para a investigação profunda dos
fenômenos sociais, que “são determinados, sobretudo por fatores interpessoais e
institucionais” (GIL, 1996 : 58);
c) limitada apreensão do processo de mudança, dada a visão estática do fenômeno estudado
que as pesquisas de levantamento proporcionam. Para Gil (1996 : 58), este tipo de “pesquisa
não indica tendências do fenômeno em estudo, nem possíveis mudanças estruturais”.
Em suma, Gil (1996: 58) afirma que as pesquisas do tipo survey são adequadas para estudos
descritivos, como é o caso da presente pesquisa: os levantamentos mostram “inapropriados
para o aprofundamento dos aspectos psicológicos e psicossoais mais complexos, porém muito
eficazes para problemas menos delicados”.
Cooper e Schindler (2003) sugerem três abordagens de comunicação com possibilidade de
serem utilizadas na aplicação do survey: entrevista pessoal, entrevista telefônica e surveys
auto-administrados (por correspondência). Para evitar o erro de não-resposta, Vergara (2004)
recomenda que todo o processo seja auxiliado – caso mostre-se necessário – por outras
abordagens de comunicação.
O presente estudo utilizou tanto a abordagem pessoal, quanto a abordagem por
correspondência e por correio eletrônico (e-mail). A entrevista pessoal foi a mais utilizada na
pesquisa.
13
2.3 População escolhida
O termo população é definido em trabalhos científicos como “um conjunto de elementos
(empresas, produtos, pessoas, por exemplo) que possuem características que serão objeto de
estudo” (VERGARA, 2004 : 50). De acordo com Gonçalves (2002), quando um estudo é
realizado tomando como base toda uma população, está se realizando um censo. Quando se
trabalha com amostras representativas desta população, está se realizando um levantamento
por amostragem.
A população escolhida é composta pelas indústrias do setor de confecções localizadas em
Londrina, presentes no cadastro do SIVEPAR, totalizando 177 empresas.
Optou-se por realizar um levantamento por amostragem, objetivando trabalhar com a menor
margem de erro possível (3%). O cálculo da amostra é realizado da seguinte maneira, de
acordo com Dutra et alii (2003):
ZN =o ² * p (1 – p) n = N o
1 + N o
N
Onde:
No = Número dimensionado
Z = Distribuição normal (1,96)
p = probabilidade (0,50)
D = margem de erro escolhida
n = tamanho da amostra
N = Tamanho da população
14
Assim, para a meta inicial de 3% de erro, a amostra deveria ser composta por 151,8 empresas;
para um erro de 5%, a amostra deveria ser composta por 121,15 empresas; para um erro de
10%, a amostra deveria ser composta por 62,2 empresas.
Ao decorrer do trabalho, alguns problemas surgiram com relação à população: i) diversos
endereços inexistentes no cadastro utilizado; ii) alguns estabelecimentos presentes no cadastro
que pertenciam a outro ramo de atividade (como empresas do ramo de comércio, decorações,
empresas de bordados, escolas de moda, transportes, etc.); iii) empresas que apareciam mais
de uma vez na lista.
Eliminando-se do cadastro, as empresas que não se adequavam à pesquisa, a população de
177 empresas passou para 146 empresas. Assim, para um erro de 3%, a amostra deveria ser
composta por 128,41 empresas; para um erro de 5%, a amostra deveria ser composta por
105,78 empresas; para um erro de 10%, a amostra deveria ser composta por 57,91 empresas.
2.4 Coleta de dados
O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário, que, de acordo com Richardson
(1989), deve satisfazer ao menos duas funções: descrever características e mensurar
determinadas variáveis dentro de um grupo social. Não existem normas claras quanto à
redação de um questionário (VERGARA, 2004; GIL, 1996; RICHARDSON, 1989), sendo
que estes podem ser abertos – pouco ou não estruturados, onde as repostas são dadas
livremente pelos respondentes; ou fechados – onde o respondente faz escolhas ou pondera
diante de opções propostas. Embora as perguntas abertas facilitem a resposta e sejam de fácil
15
codificação, perguntas abertas mostram-se necessárias quando o pesquisador possui poucas
informações ou deseja conhecer algum assunto (RICHARDSON, 1989).
O questionário utilizado é composto por três blocos: o bloco “A” contém informações sobre
características das empresas, contendo tanto questões abertas quanto fechadas; o bloco “B”
visa captar informações sobre o contexto e inter-relações das empresas, e é composto por
questões com escalas ordinais de cinco pontos; o bloco “C” tem como objetivo captar
informações sobre a implementação de inovações, sendo composto por questões fechadas.
O questionário foi elaborado com base nos trabalhos de Suzigan et alii (2001), Campos (2004)
e no modelo de questionário para empresas de arranjos produtivos da RedeSist (2003). Com
esse instrumento de pesquisa, busca-se não somente captar características individuais das
empresas, mas as relações que estas mantêm entre si, além de especificidades do ambiente
institucional e estrutural que as cercam.
O modelo utilizado de questionário encontra-se no apêndice A. O Quadro 1 relaciona os
objetivos do estudo com as questões do instrumento de pesquisa.
No pré-teste, foram enviados 10 questionários por correspondência e cinco por e-mail
(acompanhados de telefonemas, em ambos os casos), além da realização de visitas pessoais às
empresas; foram obtidos quatro questionários respondidos. Após a realização do pré-teste,
concluiu-se que os questionários eram muito extensos, demandando alterações no mesmo para
a coleta final de informações.
16
QUADRO 1 – Relação entre os objetivos da pesquisa e as questões do instrumento de
coleta de dados
Objetivo geral Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
Investigar a existência de uma aglomeração
de indústrias do vestuário no município de
Londrina e verificar seu grau de
desenvolvimento.
Questões: Todas Questões: Todas Questões:
Todas
Objetivos específicos Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
a) Caracterizar o ambiente local, as empresas
do setor e verificar se existe uma
aglomeração de indústrias do vestuário no
local;
Questões: 1 a 14 Questões: 1, 2,
6, 7, 8, 25, 26,
27, 29
b) Analisar a existência e o grau de
intensidade das relações de cooperação e
interação entre as empresas locais do ramo e
entre estas e outros agentes;
Questões: 3, 4,
5, 15, 16, 17, 18,
19, 20, 21, 28
c) Identificar as fontes e a intensidade dos
processos de aprendizado e inovativos
observados localmente;
Questões: 9, 10,
11, 12, 13, 14,
Questões:
Todas
d) Identificar e descrever ações
governamentais realizadas em prol do
desenvolvimento das empresas do setor;
Questões: 22,
23, 24
e) Identificar e descrever as formas de
coordenação (governança) presentes entre as
empresas;
Questões: 8 e 9 Todas
f) Classificar a aglomeração estudada de
acordo com as tipologias propostas por
Mytelka e Farinelli (2000) e Casssiolato e
Lastres (2001; 2004).
Questões: Todas Questões: Todas Questões:
Todas
A coleta de dados final iniciou-se nos primeiros dias de abril. Durante a coleta de dados final,
optou-se pela coleta pessoal e via e-mail, sendo que apenas quatro questionários retornaram
por correio eletrônico (de um total de 90 enviados). Os questionários restantes foram todos
respondidos através de visitas pessoais às empresas. Além do autor, outras duas pessoas –
treinadas para a realização da tarefa – ficaram encarregadas de coletar os dados junto às
empresas.
Embora as visitas pessoais potencialmente reduzam o erro de não-resposta, encontrou-se
dificuldade em obter os questionários preenchidos. Em diversas empresas, marcou-se horário
17
com o proprietário ou gerente mais de três vezes, sendo que em nenhuma delas as respostas
eram obtidas; em outras, os questionários eram deixados no local para resposta posterior, o
que não acontecia, mesmo oferecendo prazo suficiente para tal (de uma a duas semanas); em
outras, os gerentes diziam que não responderiam em hipótese alguma, alegando falta de tempo
ou recomendação do contador (embora em nenhum momento, haja solicitação de informações
acerca de valores referentes a faturamento, lucro, ou qualquer outro indicador contábil).
No final, foram coletadas informações em 40 empresas, atingindo um erro de 13,2% - acima
do esperado. Optou-se por aceitar essa margem de erro, devido ao excessivo número de
respostas negativas (mesmo com grande insistência) face ao prazo para término do trabalho.
2.5 Análise dos dados
De acordo com Vergara (2004), é possível tratar os dados de forma tanto qualitativa quanto
quantitativa no mesmo estudo. Richardson (1989) afirma que a pesquisa qualitativa mostra-se
adequada para estudar a natureza de um fenômeno social. O autor ainda aponta três situações
em que os estudo qualitativos são indicados:
a) Quando é clara a necessidade de substituir uma simples informação estatística por dados
qualitativos;
b) Quando há a necessidade de se compreender aspectos psicológicos cujos dados não podem
ser coletados de modo completo por outros métodos devido à sua complexidade;
c) Quando observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento de
estruturas sociais.
18
Segundo Richardson (1989), o método quantitativo caracteriza-se pela quantificação – seja na
coleta ou na interpretação dos dados – podendo incluir tanto técnicas simples (como média,
porcentagem, desvio-padrão, etc) quanto técnicas complexas (como correlação, análise de
regressão, etc.). “O método quantitativo representa, em princípio, a intenção de garantir a
precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando,
conseqüentemente, uma margem de segurança sobre as inferências” (RICHARDSON, 1989 :
29).
O presente trabalho utiliza tanto o método quantitativo quanto o qualitativo em suas análises.
A quantificação é aqui utilizada através de cálculos de freqüência, percentual, média e
segmentação por porte das empresas. O objetivo é proporcionar uma sistematização e uma
exposição clara de resultados obtidos.
A análise qualitativa é realizada relacionando-se os conceitos levantados na revisão
bibliográfica com características e comportamentos observados na pesquisa de campo, através
do questionário.
As conclusões utilizarão as informações da análise quantitativa e da qualitativa, conceitos
levantados na revisão de literatura, informações obtidas via pesquisa bibliográfica sobre o
ambiente local, e informações obtidas via base de dados da RAIS, comentada a seguir.
2.6 Metodologia para identificação de aglomeração produtiva no município de Londrina
Suzigan (2001) sugere que pesquisas em aglomerações de empresas devem abordar dois
estágios distintos: inicialmente deve-se identificar e existência de tais aglomerações para em
19
seguida realizar uma avaliação “in loco” para capturar as especificidades desta aglomeração, e
assim, seu estágio de desenvolvimento. Complementando tal informação, IEDI (2002) afirma
que a identificação prévia da aglomeração é o passo inicial nesse tipo de estudo, porém
apenas a pesquisa de campo consegue captar as especificidades locais.
Para o estágio inicial, o autor sugere a utilização da base de dados da RAIS – Relação Anual
de Informações Sociais (Ministério do Trabalho) para a aplicação de um índice de
especialização, “definido estatisticamente de modo a indicar a concentração relativa de uma
dada indústria numa micro-região comparativamente ao grau de concentração da mesma
indústria no Estado como um todo” (ibid. : 58). Este índice é conhecido como Quociente
Locacional (QL).
Além do QL, IEDI (2002) mostra que outras informações devem ser levantadas neste estágio
de identificação prévia da aglomeração, uma vez que o quociente locacional pode ser
inadequado quando usado isoladamente pelos seguintes motivos: a) uma região com baixo
desenvolvimento industrial pode apresentar alto QL, pela simples presença de uma unidade
produtiva; b) o QL apresenta dificuldade em identificar especialização em regiões com
estruturas industriais muito diversificadas.
Assim, além do índice de especialização, a base de dados da RAIS possibilita a obtenção de
dados sobre: i) número de empregados do setor em estudo na localidade; ii) número de
estabelecimentos do setor em estudo na localidade. Estes indicadores complementares,
também utilizados em outros estudos (IEDI, 2002; CAMPOS, 2004) servirão como auxílio ao
QL na identificação da aglomeração de indústrias do vestuário em Londrina.
20
Suzigan et alii (2003) tecem alguns comentários sobre vantagens e limitações da citada base
de dados (RAIS): dentre as vantagens, os autores destacam a alta desagregação setorial e
geográfica dos dados, o que possibilita obter e processar diretamente os dados desagregados
até o nível de municípios (em termos espaciais) e até o nível de classes de indústrias a 4
dígitos da CNAE – Classificação Nacional da Atividade Econômica (em termos setoriais).
Dentre as limitações da RAIS, tem-se que: i) esta cobre apenas relações contratuais formais;
ii) há uma auto-classificação das empresas na coleta das informações primárias; iii) há certa
dificuldade de classificação de empresas multiplantas, que podem declarar todo o emprego em
uma mesma unidade, e multiprodutos, que podem inserir todas as informações na atividade
principal. Embora haja tais limitações, muitos trabalhos recentes vêm utilizando tal base de
dados para estudos semelhantes. Para o segundo estágio, Suzigan (2001) sugere a aplicação de
questionário para os envolvidos na aglomeração (como já proposto neste capítulo).
Assim, para identificar a prévia existência de aglomeração de confecções de artigos do
vestuário e acessórios na cidade de Londrina, as seguintes informações foram coletadas:
a) Informações sobre número de estabelecimento e empregos do setor na localidade em
questão;
b) Comparação destes dados com os mesmos de outros municípios e regiões;
c) Calculo do índice de especialização (quociente locacional) do setor em questão para a
cidade de Londrina em relação ao Estado do Paraná
Nota-se que enquanto as informações “a” e “b” acima buscam verificar a importância para o
setor de cada município da micro-região individualmente; a informação “c” busca indicar se
há especialização produtiva do setor na cidade de Londrina, através do cálculo do quociente
locacional (QL).
21
Assim, a presente pesquisa utiliza a base de dados da RAIS para:
a) Identificar o número de estabelecimentos e número de empregos do setor de confecção de
artigos do vestuário e acessórios (CNAE 4 dígitos – divisão 18
13
) para as cidades pertencentes
à micro-região Londrina-Cambé, de acordo com o IPARDES (2003);
b) Calcular o quociente locacional (QL) do setor de confecção de artigos do vestuário e
acessórios (CNAE 4 dígitos – divisão 18) para a cidade de Londrina em relação ao Estado do
Paraná.
A fórmula abaixo ilustra o calculo do QL, utilizado por diversos autores em estudos com o
mesmo propósito
14
:
QL= empregos no setor i no município j / empregos no setor i na região k
Total de empregos no município j / total de empregos na região k
Onde:
Setor i= Confecção de artigos do vestuário e acessórios (CNAE 4 dígitos – divisão 18)
Município j= Londrina
Região k= Estado do Paraná
O QL é interpretado conforme proposto pela literatura:
Obtendo-se um quociente locacional maior que um, (QL > 1), pode-se afirmar que há
especialização produtiva do setor de confecção de artigos do vestuário e acessórios no
município de Londrina, maior que o observado no Estado do Paraná;
13
Classe 1811: confecção de roupas intimas, blusas, camisas e semelhantes; classe 1812: confecção de outras
peças do vestuário (exceto roupas intimas, blusas, camisas e semelhantes); classe 1813: confecção de roupas
profissionais; classe 1821: fabricação de acessórios do vestuário; classe 1822: fabricação de acessórios para
segurança industrial pessoal.
14
Autores que trabalham com a RAIS, também utilizam o quociente locacional.
22
Obtendo-se um quociente locacional igual a um, (QL = 1), pode-se afirmar que há
especialização produtiva do setor de confecção de artigos do vestuário e acessórios no
município de Londrina, igual ao observado no Estado do Paraná;
Obtendo-se um quociente locacional menor que um, (QL < 1), pode-se afirmar que há
especialização produtiva do setor de confecção de artigos do vestuário e acessórios no
município de Londrina, menor que o observado no Estado do Paraná;
Obtendo-se QL > 1 para Londrina, e havendo nesta mesma cidade número significativo de
estabelecimentos e empregados no setor de confecções de artigos do vestuário e acessórios,
pode-se considerar que há uma aglomeração do setor na localidade.
2.7 Limitações da pesquisa
Uma primeira limitação diz respeito ao numero de empresas informais que ficam excluídas de
cadastros oficiais como a base de dados da RAIS. Outra limitação diz respeito à possível
existência de interconexões entre as empresas estudadas em Londrina, e outras empresas
situadas em cidades vizinhas. Havendo uma espécie de “extensão” da aglomeração para
cidades vizinhas, fica impossibilitada a pesquisa de campo nestas, no presente estudo. Outra
limitação refere-se à estratégia de pesquisa: como o estudo trata de um caso específico, não é
possível generalizar os resultados para outras aglomerações de outras localidades. No mesmo
sentido, o número limitado de empresas pesquisadas também pode ser considerado uma
limitação do estudo. Finalmente, as limitações cognitivas dos respondentes devem ser
consideradas.
23
O Quadro 2 ilustra as etapas a serem seguidas na realização do estudo bem como as atividades
que devem ser desenvolvidas em cada etapa, a saber: planejamento e orientação da pesquisa;
coleta de dados; análise dos dados; e conclusões do estudo.
QUADRO 2 – Quadro-resumo da metodologia
Etapa Atividade correspondente
1-Planejamento e
orientação da pesquisa
-Revisão de literatura e levantamento de conceitos-chave;
-Busca de informações para contextualização e identificação de
aglomeração produtiva no local, como: i)dados sobre infra-estrutura
local (como instituições de educação e pesquisa, instituições de apoio
técnico e tecnológico, associações, transporte, telecomunicações,
saneamento, instituições de financiamento); ii)número de
estabelecimentos e empregos do setor em questão no município;
iii)informações sobre as instituições envolvidas e suas relações com as
empresas da aglomeração.
2-Coleta de Dados -Aplicação de questionário para as empresas da aglomeração.
3-Análise dos dados -Análise das informações sobre infra-estrutura local, emprego e número
de estabelecimentos do setor no município, além do cálculo do índice
de especialização (QL) para confirmar se realmente há uma
aglomeração de empresas do setor em Londrina;
-Caracterização das empresas, contexto e inter-relações, através do
questionário aplicado e das informações obtidas na pesquisa
bibliográfica (revisão de literatura e informações sobre o ambiente
local)
-Classificação da aglomeração estudada de acordo com as tipologias
sugeridas por Cassiolato e Lastres (2001;2004) e Mytelka e Farinelli
(2000).
4-Conclusões do estudo -Demonstrar se os objetivos propostos foram atingidos;
-Discutir os resultados
-Elaborar recomendações
Fonte: elaboração do autor.
O Quadro 3 mostra as questões de pesquisa e sua articulação com os objetivos específicos,
principais conceitos-chave sobre aglomerações, referências utilizadas e resultados esperados.
O próximo capítulo apresenta os conceitos-chave fundamentais para a análise das
aglomerações industriais, seu grau de evolução e grau de competitividade.
24
QUADRO 3 – Articulação entre questões de pesquisa, objetivos específicos, conceitos-chave e resultados esperados
Questões de pesquisa Objetivos específicos correspondentes Conceitos-chave Autores Resultados esperados
Como se caracterizam as indústrias do
vestuário em Londrina?
É possível afirmar que existe no local uma
aglomeração de empresas do setor?
O ambiente local é propício ao
desenvolvimento de uma aglomeração?
a) Caracterizar o ambiente local, as empresas do
setor e verificar se existe uma aglomeração de
indústrias do vestuário no local.
Aglomerações e Estratégias
Empresariais
Pensando globalmente e
agindo localmente
Marshall e as economias
externas
Principais linhas de
pensamento sobr
aglomerações
e
Suzigan (2001); Cassiolato e
Lastres (2001); Schmitz
(2000)
Diniz (2001); Amaral Filho
(2001); IPARDES (2003)
Marshall (1982); Porter
(1998); Krugman (1998)
Ambiente local com estrutura
desenvolvida e presença
satisfatória de instituições;
predominância de empresas
de pequeno porte e de capital
nacional, voltadas
predominantemente para o
mercado interno. Espera-se
ainda encontrar uma
aglomeração do setor na
localidade.
Verificam-se relações de cooperação e
interação entre as empresas do setor e outras
instituições locais? Com que intensidade?
b) Analisar a existência e o grau de intensidade
das relações de cooperação e interação entre as
empresas locais do ramo e entre estas e outros
agentes;
Ambiente institucional, elos de
confiança, elos de cooperação e
competitividade:
Confiança, imersão social e
ambiente institucional
Cooperação e
competitividade
Albagli e Maciel (2002);
Hansen (2003); Santos e
outros (2002)
Schmitz (1995; 1997); Britto
(2004)
Poucas relações de
cooperação, principalmente
entre empresas concorrentes.
Alguma interação com
instituições de apoio e ensino
especificas
Como se dão os processos de inovação e
aprendizado pelas empresas do setor no
município de Londrina?
c) Identificar as fontes e a intensidade dos
processos de aprendizado e inovativos
observados localmente.
Inovação e aprendizado Cassiolato e Lastres (2004);
Lemos (1999); Britto (2004);
Freeman (1994); Lundvall
(2004)
Aprendizado no próprio
processo de trabalho
(learning-by-doing) e pouco
por interação (learning-by-
interacting). Inovação em
design de produto, mas pouca
inovação organizacional.
Existem ações governamentais em prol das
empresas locais do setor?
d) Identificar e descrever ações governamentais
realizadas em prol do desenvolvimento das
empresas do setor.
Políticas públicas em
aglomerações
Suzigan (2001); Suzigan e
outros (2003); Santos e outros
(2004)
Espera-se encontrar algumas
ações públicas para o setor,
oriundas principalmente do
governo municipal ou
estadual.
Como se caracterizam as formas de
governança (coordenação) presentes entre as
empresas?
e) Identificar e descrever as formas de
coordenação (governança) presentes entre as
empresas
Estruturas de governança e
coordenação em
aglomerações
Cassiolato e Lastres (2001);
Markusen (1996)
Ausência de coordenação
formal ou externa entre as
empresas. Espera-se
encontrar estrutura de
governança “em rede”.
Verificando-se a existência de uma
aglomeração de empresas do setor no
município de Londrina, como esta pode ser
classificada?
f) Caso verifique-se a existência de
aglomeração, classificá-la de acordo com as
tipologias propostas por Mytelka e Farinelli
(2000) e Casssiolato e Lastres (2001; 2004)
Aglomerações de
empresas: tipologias e
caracterizações
Cassiolato e Lastres (2001;
2004); Mytelka e Farinelli
(2000)
Espera-se encontrar uma
aglomeração informal ou, no
máximo, organizada (arranjo
produtivo, não inovativo)
Fonte: elaboração do autor.
3 AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS E COMPETITIVIDADE
O presente capítulo apresenta os conceitos-chave relacionados a aglomerações produtivas e
inovativas localizadas bem como algumas tipologias para classificação de tais aglomerações.
A análise dos conceitos-chave (através das tipologias propostas) possibilita inferir sobre o
grau de desenvolvimento da aglomeração e sua capacidade competitiva.
3.1 Aglomerações e Estratégias Empresariais
A seguir discutem-se os principais conceitos acerca de aglomerações, estratégias competitivas
e suas especificidades.
3.1.1 Pensando globalmente e agindo localmente
A discussão sobre aglomerações localizadas de empresas, embora já abordada por Marshall
no século XIX, ganhou novo fôlego e novos enfoques nas últimas duas décadas, devido
parcialmente ao fenômeno da globalização:
O fenômeno contemporâneo denominado globalização vem alterando
profundamente as estruturas produtivas, as relações técnicas e sociais de produção e
os padrões organizacionais e locacionais. Esse processo é, ao mesmo tempo,
resultado e condicionante das mudanças tecnológicas radicais das últimas décadas,
sob a liderança das tecnologias da informação e das comunicações e sua
imprecedente capacidade de atingir e impactar todos os setores ou atividades
produtivas, as relações sociais e políticas (DINIZ, 2001: 5).
Diniz (2001) mostra que alguns autores entendem a globalização como um processo que, sob
a hegemonia do mercado, destruiria as barreiras econômicas, cultuais, políticas e sociais de
países e regiões, criando um mundo desterritorializado e homogêneo. O autor, no entanto,
busca mostrar que tal processo tem se mostrado contraditório, com resultados diferenciados
26
(geográfica e socialmente) na forma e no conteúdo. Isso ocorreria, devido ao fato de que
diferentes localidades possuem distintas heranças históricas, que na visão do autor,
condicionam a recriação de seu próprio espaço social.
Diniz (2001 : 6) sugere que “o espaço é, ao mesmo tempo, uma estrutura subordinada e
subordinante e, portanto, elemento ativo e agente de sua própria construção histórica”. O
autor sugere que a criação de blocos regionais entre nações é uma das grandes contradições do
discurso da globalização como “homogeinizadora do espaço econômico e generalizadora dos
benefícios sociais (DINIZ, 2001 : 6).
Segundo Schmitz (2000), um componente paradoxal do recente debate sobre vantagens
competitivas em mercados globais tem sido a importância dada ao local
15
. Porter (1999)
compartilha do mesmo termo (paradoxal) ao citar o que ele chama de paradoxo da
localização. Por um lado, as mudanças originadas pela globalização têm possibilitado que as
empresas busquem recursos (produtivos, financeiros, tecnológicos) fora da localidade (no
mercado globalizado), o que sugere uma diminuição da importância do local; por outro lado,
as aglomerações locais de empresas têm se mostrado como formas de organização e
competitividade eficientes em muitas regiões de diferentes nações.
Porter (2000) sugere que, ao mesmo tempo em que antigas razões para a existência de
aglomerações localizadas desapareceram com a globalização, outras, de caráter sistêmico,
vêm se manifestando na dinâmica econômica. Para o autor, a globalização e as facilidades de
15
Diniz (2001) entende o “local” como conceito multifacetado, envolvendo escala (tamanho/dimensão),
diferença/especificidade, autonomia e nível de complexidade. Identifica-se o termo também com a idéia de lugar
ou de região (parte do espaço onde as pessoas habitam e realizam suas práticas diárias, ocorrem as
transformações e a reprodução das relações sociais, a construção física e material da vida em sociedade). Desse
modo, o “local” deve ser visto como a complementaridade das dimensões: localização, interação social e herança
cultural.
27
transporte e comunicações têm proporcionado às empresas, caminhos para realocar suas
instalações e recursos em locais de baixo custo. No entanto, estas mesmas forças criaram o
paradoxo da localização (location paradox). O autor sugere que informações e
relacionamentos que podem ser manipulados à distancia (como fax ou e-mail) deixam de
representar vantagens competitivas, uma vez que estão disponíveis a todas as empresas (tais
instrumentos apenas têm o potencial de reduzir desvantagens). Nesse sentido, o autor enfatiza
que estes instrumentos globais não são suficientemente eficientes na busca por produtividade
e inovação: “paradoxalmente, as vantagens competitivas mais duradouras numa economia
global parecem ser locais” (PORTER, 2000 : 32).
IPARDES (2003 : 10) também chama a atenção para essa “relativização do fenômeno da
globalização”. Tal fenômeno – que aparentemente criaria um mundo sem fronteiras
geográficas, dominado pelas grandes organizações – tem, na verdade, possibilitado uma
comunicação direta do local com o global (dadas as melhorias nos sistemas de comunicações
e facilidade de acesso a informações). Desse modo, o processo de globalização pode, ao invés
de homogeneizar espaços econômicos nacionais, agravar diferenças regionais e a competição
entre localidades. Diniz (2001) compartilha dessa visão, afirmando que, devido aos
fenômenos recentes de integração dos mercados mundiais, as atividades econômicas têm
buscado as localidades mais lucrativas, recriando o local e aumentando a competição regional.
Além desta relativização (ou paradoxo, de acordo com Porter) da globalização, IPARDES
(2003: 10) afirma que – na era do conhecimento
16
e da crescente integração em redes – a
região reaparece como “locus da organização produtiva e da inovação”, onde se destaca a
16
O termo “era do conhecimento” enfatiza o processo de geração de novos conhecimentos, e sua importância
estratégica como fator de diferenciação e competitividade, tanto em termos econômicos quanto (geo)políticos
(ALBAGLI e BRITTO, 2003).
28
ação e o aprendizado coletivos, propiciados por meio da cooperação, da interação e da
complementaridade entre organizações locais imersas em um ambiente cultural comum a
todos na localidade. Há, assim, “um processo contínuo de aprendizado regional. Daí, a
importância da proximidade, da flexibilização dos processos e da organização produtiva”
(IPARDES, 2003 : 11).
Hansen (2003) sugere que uma conseqüência do ressurgimento dos conceitos de região e
localidade é que, a escala regional é vista cada vez mais como um espaço funcional de
planejamento e governança econômica e política. As regiões passam a ser conceitualizadas
como aglomerações (em geral urbanas, mas não necessariamente compostas por grandes
cidades), formadoras de sistemas de interdependência econômica e política.
De acordo com IPARDES (2003), estudos teóricos sobre desenvolvimento local destacam
duas abordagens para explicar o processo de concentração e desconcentração local,
caracterizado pela crescente parcela de indústrias de menor porte buscando se instalar em
vários locais:
a) firmas flexíveis e inovativas: produzem bens e serviços com diferenciação em qualidade e
apresentam inovação tecnológica constante. Tais empresas objetivam manter-se à frente em
um mercado considerado cada vez mais competitivo;
b) regiões ágeis e inovativas: espaços territoriais com ambiente favorável à atração de
investimentos e desenvolvimento de negócios, com a presença de instituições (públicas e
privadas) indutoras desse desenvolvimento.
Hansen (2003) sintetiza alguns efeitos locais dos processos globais observados na economia
recente:
29
a) As novas tecnologias e os novos arranjos de trabalho propiciam o surgimento de uma força
de trabalho com maior qualificação e com maior nível de escolarização, o que possibilita ao
trabalhador maior flexibilidade e maior capacidade de assimilar as novas informações;
b) Desconcentração e fragmentação da produção: flexibilidade e especialização,
desindustrialização em antigos centros industriais e surgimento de novos espaços industriais.
Empresas são fragmentadas na produção e na organização, descentralizadas ou com produção
diversificada;
c) Desverticalização e novas oportunidades para pequenas e médias empresas;
d) Desterritorialização e novos padrões de localização da produção: maiores possibilidades de
escolha para localização das empresas, dada a menor dependência em relação aos fatores de
localização tradicionais (mercado, insumos e trabalhadores);
e) Aglomeração de empresas em determinados locais ou regiões, com a presença de relações
baseadas na complementaridade. Existência de redes de conectividade entre cadeias
produtivas localizadas e de contactos pessoais informais;
f) Existência de políticas locais de desenvolvimento, proporcionadas pela descentralização
política e por um ambiente (político) focado no poder auto-regularizador das forças do
mercado e dos indivíduos;
g) Existência de regiões ganhadoras e regiões marginalizadas, incluindo exclusão social.
Amaral Filho (2001) destaca a questão da concentração e da aglomeração de empresas locais.
O autor mostra que tal discussão ficou muito tempo centrada nos autores de origem alemã –
como Von Thünen, Weber, Preddöl, Cristaller, Lösch e Isard – concorrendo paralelamente
com as idéias de autores como Perroux, Myrdal e Hirschman. Sobre estes últimos, Amaral
Filho (2001 : 3-4, grifo do autor) mostra que:
esses três autores passaram a dar maior ênfase aos fatores dinâmicos da
aglomeração, na medida que incorporaram como fator de localização a
“complementaridade” entre firmas e setores, assim como a noção de economia de
30
escala mínima da firma. Poderia ser visto, nesse ponto, uma certa consideração à
preocupação com “economias externas” embora este se dê com caráter mais
“tecnológico” (ou técnico)
17
.
Recentemente, Krugman (1991; 1995) buscou, segundo Amaral Filho (2001), recolocar a
Economia Regional no centro do pensamento econômico, a partir de: i) críticas aos autores
anteriormente citados
18
e; ii) revitalização das idéias de Alfred Marshall sobre as economias
externas, que aparecem com grande importância nas idéias de tais autores. Porter (1998), que
também toma como base as economias externas, enfatizam a importância da proximidade
geográfica no processo de aglomeração de fornecedores, clientes e empresas concorrentes
locais como fontes de vantagens competitivas globais.
Paralelamente, existem os autores da chamada escola evolucionista e institucionalista
19
.
Segundo Amaral Filho (2001), tais autores buscam explicar as forças aglomerativas
localizadas e o desenvolvimento local de modo distinto do proposto por Krugman e Porter,
principalmente no que diz respeito a fatores como proposição de politicas públicas e atitudes
ativas dos agentes locais como formas de imprimir competitividade a uma determinada
aglomeração. De acordo com o mesmo autor, há uma polarização quanto às abordagens sobre
desenvolvimento local em duas grandes tendências entre os autores evolucionistas e
institucionalistas: uma de natureza indutiva e outra considerada dedutiva
20
.
17
Considerações sobre economias externas serão abordadas na seção seguinte.
18
As criticas de Krugman, citadas por Amaral Filho (2001) aos autores da escola alemã sugerem que a escolha
metodológica destes era demasiadamente estática para explicar o processo de localização e endogeneização
regional, dado que não conseguia captar a complexidade dos processos dinâmicos de concentração das atividades
econômicas em uma determinada localidade. Já suas criticas a Perroux (pólos de crescimento), Myrdal (causação
circular cumulativa), Hirschman (efeitos para frente e para trás) residem na falta de formalidade de suas teorias,
embora as considerassem fortes.
19
Amaral Filho(2001) considera como representantes desta escola autores como Becattini, Pyke, Sengenberger,
Storper e Schmitz.
20
De acordo com Lungarzo (1989), a dedução é um processo que possibilita extrair conclusões de informações
inicialmente supostas – as premissas. Já a indução é de certa forma, o processo “inverso” (p.44) da dedução.
Enquanto na dedução tira-se conclusões de casos gerais, na indução, busca-se generalizar casos particulares.
31
Os autores da vertente indutiva são mais descritivos, partindo de estudos específicos para
mostrar as particularidades dos fatores e condições que determinam cada caso de
desenvolvimento local; já os autores da vertente dedutiva partem de idéias mais amplas e
menos especificas para explicar a dinâmica das localidades. Segundo Amaral Filho (2001), os
autores que defendem a tese de que a crise do sistema de produção fordista (produção em
grande escala) encontram-se na corrente dedutiva, o que possibilitou o ressurgimento das
vantagens da pequena produção – a chamada “especialização flexível”
21
.
De acordo com Paiva Jr. e Barbosa (2001 : 3), alguns autores recorrem a tal linha de
pensamento para explicar o surgimento de pequenas e médias empresas na Itália: no final da
década de 1980, naquela localidade, é aprovado o Estatuto dos trabalhadores, segundo o qual
as empresas teriam que delegar certo grau de autoridade aos trabalhadores. Como mecanismo
de defesa, diversas empresas passam a investir em automação e demitir empregados. Assim,
tem início um processo de desverticalização da produção nas indústrias, possibilitando o
surgimento de pequenas e médias empresas, principalmente na região do Centro-Norte da
Itália, conhecida como a Emiglia-Romagna.
Amaral Filho (2001) encontra um ponto comum entre todas as propostas anteriores: a noção
de que, recentemente, novas oportunidades de desenvolvimento têm surgido para localidades
fora dos eixos de grande produção. A diferença entre as diversas formas de pensamento diz
respeito ao modo como cada uma trata fatores como surgimento e desenvolvimento dessas
regiões.
21
De acordo com Harvey (1992), a especialização flexível, entre outros fatores, implica em: produção em
pequenos lotes e baixos estoques; variedade de produtos; aliança entre fornecedores e distribuidores; controle de
qualidade do processo; rejeição de peças com defeitos; redução de tempo; produção voltada para a demanda;
trabalhador multi-tarefas e organização mais horizontal do trabalho; subcontratação; treinamento no trabalho;
ênfase na co-responsabilidade do trabalhador; terceirização da mão-de-obra e serviços.
32
A próxima seção tratará das idéias de Marshall sobre economias externas, com o objetivo de
preparar caminho para que as abordagens recentes sobre aglomerações sejam vistas de forma
mais detalhada, dado que o conceito de economias externas marshallianas encontra-se no
centro de tal debate.
3.1.2 Marshall e as economias externas
O debate recente sobre aglomerações produtivas localizadas tem como epicentro a presença
das economias locais, externas à empresa e internas à aglomeração local, como um dos fatores
que justificam a importância da concentração geográfica entre as firmas (GARCIA, 2003;
SUZIGAN et al., 2003; SCHMITZ, 1995).
De acordo com Garcia (2003), a concentração de empresas de um mesmo setor ou segmento
industrial é capaz de gerar externalidades, que acabam sendo apropriadas pelas firmas, com
potencial de incrementar sua capacidade competitiva. Vantagens aglomerativas (ou
economias de aglomeração) foram inicialmente abordadas por Alfred Marshall, em Principles
of Economics, de 1890. Marshall (1982) esclarece que a presença de economias externas em
certa localidade não beneficia empresas de um único setor, mas de tantos quantos
apresentarem algum grau de interação entre si. Diversos autores contemporâneos partem das
idéias de Marshall para explicar as razões e vantagens da aglomeração entre empresas de uma
mesma localidade. Antes de discutir as idéias de alguns destes autores, será realizada uma
revisão das principais idéias de Marshall acerca da localização e suas economias externas.
Inicialmente, Marshall (1982) afirma ser possível dividir as economias resultantes de um
aumento de escala de produção de qualquer tipo de bens em duas classes: economias externas
33
e economias internas. Enquanto a primeira depende do resultado geral da indústria, a segunda
depende dos esforços de gestão e de disponibilidade de recursos que cada organização
despende nesta indústria. Para o autor, as economias externas podem ser obtidas pela
concentração de firmas similares em certas localidades.
Para Marshall (1982:231), uma indústria concentrada em determinadas localidades é chamada
de “indústria localizada”, sendo que este caráter “localizado” preparou, ao longo do tempo, o
caminho para avanços como a divisão do trabalho na esfera produtiva e administrativa das
organizações. O autor mostra – utilizando exemplos dos distritos industriais ingleses, no
século XIX – que são inúmeros os fatores que levaram a concentração de indústrias:
as indústrias metalúrgicas situaram-se geralmente perto de minas ou em lugares em
que o combustível era barato. A indústria do ferro na Inglaterra procurou primeiro
os distritos de carvão abundante, e depois situou-se na vizinhança das próprias
minas. Em Staffordshire fabricam-se vários tipos de cerâmica, com materiais
importados de regiões longínquas, porem nessa localidade há carvão barato e uma
argila excelente para fazer os pesados potes de cozer porcelana (seggars), em que
se colocam os objetos de cerâmica ao serem levados ao fogo, a indústria de
trançado de palha tem seu centro principal em Bedfordshire, onde a palha tem
precisamente a exata proporção de sílex, capaz de fortalecê-la sem a tornar
quebradiça. As faias de Buckinghamshire fornecem o material para a fabricação de
cadeiras em Wycombe. A cutelaria de Sheffield deve-se principalmente ao arenito
de que são feitas suas pedras de amolar (MARSHALL, 1982 : 232).
Marshall (1982) ainda ressalta em seus exemplos, a presença da corte real em algumas dessas
regiões, ensejando o surgimento de demanda por mercadorias de alta qualidade, o que por sua
vez, atrai operários especializados vindos de outras regiões e ainda educa os trabalhadores
locais. Além disso, a localização de determinada indústria faz surgir nas proximidades deste
local, atividades correlatas que fornecem insumos à indústria principal, organizam seu
comércio e geram economia com materiais diversos. Uma indústria localizada obtém
vantagem sobre indústrias isoladas pelo fato de poder oferecer um mercado constante para
mão-de-obra especializada. Assim, os empresários procuram se instalar em tais lugares por
saberem que encontrarão mão-de-obra especializada, e indivíduos à procura de trabalho
34
procuram emprego em tais lugares por saberem que existem nestes locais empresários à
procura de empregados com tais características.
Determinadas regiões podem oferecer trabalho para apenas determinado tipo de mão-de-obra.
Nesse caso, o autor observa o desenvolvimento de indústrias suplementares em volta
daquelas, para suprir tais necessidades:
nas proximidades das indústrias de mineração e de construção estão freqüentemente
industrias têxteis, que em alguns casos foram atraídas mediante gestões quase
imperceptíveis. Assim, as industrias têxteis agregam-se constantemente na
vizinhança de industrias de mineração, tendo sido atraídas, por vezes, quase que
imperceptivelmente. Em outras regiões, como por exemplo em Barrow, foram
estabelecidas deliberadamente, e em grande escala, para oferecer uma variedade de
empregos onde antes havia pouca procura para o trabalho de mulheres e crianças
(MARSHALL, 1982 : 235).
Marshall (1982) destaca a influência dos meios de comunicação sobre a distribuição
geográfica das empresas. Para o autor, facilidades que surjam para a troca de informações
entre regiões distantes (incluindo custos de transporte), alteram as ações das forças que
determinam a localização das indústrias, seja fazendo com que determinada indústria adquira
de regiões distantes aquilo que precisa, seja proporcionando uma emigração das pessoas de
uma região para outra (inclusive trabalhadores).
Em suma, Marshall mostra que a possibilidade das firmas geograficamente concentradas,
gerarem e se apropriarem de retornos crescentes de escala, está diretamente ligada ao estímulo
à especialização do trabalho nas aglomerações. Tal especialização contribui para a
intensificação do processo de divisão do trabalho entre eles, sendo que a partir deste processo,
as economias externas são geradas e ampliadas, aumentando as possibilidades de incremento
da capacidade competitiva dos produtores locais (GARCIA, 2003).
35
As economias externas marshallianas, oriundas desta especialização dos agentes produtivos
numa dada localidade – chamadas de “incidentais” por Suzigan et alii (2003) – podem ser
sintetizadas em três tipos básicos: a) existência concentrada de mão-de-obra qualificada e com
habilidades específicas no setor em que há especialização das empresas locais; b) presença de
fornecedores especializados de bens e serviços aos produtores locais; e c) possibilidades de
transbordamento (spillovers) de conhecimento e de tecnologia.
A existência concentrada de mão-de-obra qualificada e com habilidades específicas no setor
em que há especialização das empresas locais desencadeia uma série de outras vantagens
como apontado por Garcia (2003: 3-4):
algumas tarefas, como a qualificação e o treinamento de mão-de-obra, representam
custos reduzidos para as empresas locais, que se apropriam de processos de
aprendizado que são exógenos à firma, porém endógenos ao conjunto local de
produtores (...). Deve-se destacar a existência de organismos especializados no
treinamento e na qualificação da mão-de-obra, muitas vezes voltados para o setor
ou segmento em que as empresas locais são especializadas (...). Já no caso de
setores em que a base técnica é relativamente simplificada, como em indústrias
tradicionais (vestuário, calçados, móveis), as habilidades são transferidas quase que
naturalmente, já que as capacitações são formadas no próprio local de trabalho.
A presença de fornecedores especializados de bens e serviços aos produtores locais permite a
geração e a apropriação de economias externas neste caso acontece da seguinte maneira: do
lado dos fornecedores, tem-se que estes encontram mercado estável para seus produtos e
serviços; do lado das empresas locais especializadas, tem-se que estas passam a ter acesso a
mercadorias e serviços a um custo reduzido. Entre os fornecedores locais podem existir
aqueles que oferecem serviços técnicos como assessoria tecnológica ou organizacional,
informações de mercado ou ainda fornecedores de insumos ou serviços diferenciados, o que
pode gerar vantagens locais em termos de concorrência com empresas externas à localidade.
36
Garcia (2003) sugere que a presença de tais fornecedores especializados – além de oferecer
acesso eficiente e rápido, ou até mesmo preferencial a insumos, máquinas e equipamentos
especializados ou serviços diferenciados – estimula a manutenção de relações interativas entre
os agentes (empresas especializadas locais e fornecedores), formando uma rede de relações
que contribui para o processo de aperfeiçoamento do aglomerado. A dimensão local adquire
suma importância, pois tal papel de interação dificilmente seria exercido de forma plena por
fornecedores de localidades distantes.
A existência de possibilidades de transbordamento (spillovers) de conhecimento e de
tecnologia é um fator de desenvolvimento local nas aglomerações. O conceito (spillovers)
apresenta duas conotações: em primeiro lugar, considera-se que existem determinadas
aglomerações industriais que são oriundas de processos de spillovers de empresas locais, que
acabam por exercer o papel de formar um arcabouço de capacitações entre os agentes locais.
Tais capacitações são específicas ao âmbito local, podendo gerar efeitos de trancamento (lock-
in)
22
da aglomeração em uma dada trajetória tecnológica, condicionando as possibilidades de
desenvolvimento dos produtores locais. Garcia (2003) observa que embora tais efeitos de
trancamento limitem o desenvolvimento dos produtores locais individualmente, podem gerar
benefícios para o setor como um todo, devido à especialização do trabalho dos agentes
envolvidos, como firmas, trabalhadores, fornecedores, etc.
Em segundo lugar, tem-se que a proximidade geográfica entre firmas atua como facilitadora e
disseminadora do conhecimento local. Marshall (1982) mostra que tal proximidade entre os
produtores aglomerados é potencialmente capaz de facilitar o processo de circulação de
22
Campos (2004) ilustra que o lock in pode ocorrer uma vez que determinada tecnologia é escolhida por uma
empresa (ou grupo de empresas), existem custos de saída que acabam por mantê-la(s) naquela tecnologia. Assim,
em função da incerteza associada a escolha tecnológica, pode ocorrer o lock in.
37
informações e de conhecimento através da construção de canais próprios de comunicação e de
fontes específicas de informação, gerando transbordamentos (spillovers) de conhecimento.
Além disso, há possibilidade de que novas capacidades, tanto organizacionais quanto
tecnológicas, desenvolvam-se localmente, possibilitando o desenvolvimento de um processo
de aprendizado de caráter local:
Catin (1994) apud Amaral Filho (2001), nota que as economias externas dividem-se em duas
partes: economias externas pecuniárias e economias externas tecnológicas. Enquanto a
primeira deriva da produção e é transmitida através do mercado, a segunda não é transmitida
diretamente pelas empresas especializadas do aglomerado, estando relacionadas às atividades
de distribuição, marketing, compras, serviços de manutenção e outros serviços especializados.
Britto (2002) apud Santos et alii (2004), fornece uma classificação mais elaborada para as
economias externas, dividindo-as em:
1) Externalidades técnicas, resultantes da interdependência técnicas entre os agentes, cujos
efeitos são observados nas características das funções de produção destes agentes;
2) Externalidades pecuniárias, derivadas das estruturas de custos das empresas que refletem
em mudanças nos preços relativos dos fatores;
3) Externalidades tecnológicas associadas aos efeitos de spillovers, que refletem no ritmo de
adoção de novas tecnologias e inovações por empresas de determinada aglomeração;
4) Externalidades de demanda, que ocorrem quando a demanda de produtos ofertados de
forma individual é afetada por alterações na demanda de outras unidades produtivas.
A próxima seção abordará as principais linhas de pensamento sobre aglomerações.
38
3.1.3 Principais linhas de pensamento sobre aglomerações
Cassiolato e Lastres (2001), Schmitz (2000) e Suzigan (2001) apresentam uma síntese da
discussão recente sobre aglomerações localizadas. Cassiolato e Lastres (2001) afirmam que
diversos autores têm constantemente se alimentado das contribuições das diversas correntes
de pensamento em seus trabalhos. Os autores alertam para o fato de que embora a maior parte
da literatura sobre o tema seja relativa às experiências dos países desenvolvidos, diversos
trabalhos em países em desenvolvimento vêm sendo produzidos recentemente, inspirados nos
primeiros. Tal afirmação é também compartilhada por Schmitz (2000).
De acordo com Cassiolato e Lastres (2001), Schmitz (2000) e Suzigan (2001), existem quatro
principais correntes de pensamento vigentes sobre o “local”: i) Economia neoclássica
tradicional (ou Nova Geografia Econômica), com ênfase nos trabalhos de Krugman; ii)
Economia e gestão de empresas, que apresenta Porter como principal autor; iii) Economia
política regional, com destaque para Pyke, Becatini e Sengenberger, Markusen e Scott; iv)
Economia neo-schumpeteriana (ou Economia da Inovação), em cujos trabalhos destaca-se a
preocupação com o processo de inovação e aprendizado localizados. Destacam-se autores
como Lundvall, Cooke e Morgan, Freeman e Audrestch.
Suzigan (2001) sugere que, as diversas abordagens sobre aglomerações locais, podem ser
divididas em duas maiores categorias de análise: uma representada por Porter e Krugman; e
outra representada pelos autores evolucionistas e institucionalistas, citados por Amaral Filho
(2001). Esta última abordagem diferencia-se daquela proposta por Porter e Krugman, em dois
principais pontos: enfatiza o papel de apoio do setor público e a capacidade ativa de ação das
39
firmas aglomeradas como fatores propiciadores do desenvolvimento de aglomerações
(SUZIGAN, 2001).
Sobre os trabalhos de Krugman, Schmitz (2000) afirma que o autor colocou a Geografia
Econômica no centro do pensamento econômico ao abordar a existência de retornos
crescentes de escala em aglomerações. Krugman (1998) considera que a concentração
geográfica de firmas pode proporcionar retornos crescentes de escala a estas, sendo que a
importância da dimensão regional justifica-se pelo fato de que estas externalidades são
apropriadas nos níveis regional e local, não no nacional. Assim, tais retornos crescentes de
escala estão, para o autor, entre os principais fatores que atraem as firmas para as citadas
regiões, contribuindo para o fortalecimento dessas “indústrias localizadas”.
Em seu modelo, Krugman (1998) colocou em dois pólos as forças que afetam a concentração
espacial da atividade econômica: forças centrípetas (positivas) e forças centrifugas
(negativas). Enquanto as forças centrípetas afetariam positivamente a concentração,
contribuindo para a aglomeração de empresas, as forças centrífugas afetariam negativamente
a concentração, contribuindo para a dispersão de empresas. As forças centrípetas são as
próprias economias externas de Marshall, enquanto as forças centrífugas, são: i) mobilidade
dos fatores de produção (terra, recursos naturais e pessoas, em menor escala), que implica em
uma desconcentração devido ao fato de que, algumas atividades devem estar próximas a estes
fatores; ii) renda fundiária, conseqüência da concentração espacial; e iii) deseconomias
externas puras, concretizadas em congestionamentos, poluição, custos de transporte, alto
custo de aluguel, entre outros. Krugman (1998) sugere que, no caso das aglomerações
industriais, predominam as forças centrípetas, o que reforça a idéia de que aglomerações têm
40
o potencial de atrair empresas em busca de apropriação das economias externas e gerar
retornos crescentes de escala.
Segundo Garcia (2003), a abordagem de Krugman é criticada por alguns autores, pelo fato de
seu modelo não considerar a importância de instituições locais, tanto formais quanto
informais para o desenvolvimento das aglomerações locais (mostrando-se reducionista).
Suzigan (2001) ainda sugere que, embora discordante em outros pontos, a abordagem de
Porter (1998) sobre economias externas assemelha-se a de Krugman (1998) no que diz
respeito à ausência de espaço para políticas de apoio em aglomerações.
Embora “concordem” nesse sentido, a abordagem de Porter diferencia-se de Krugman em
outros aspectos: um deles é quanto à presença de outros setores industriais em uma
determinada aglomeração. Porter (1990) afirma que as aglomerações são capazes de atrair
empresas de setores ligados à atividade principal observada naquela aglomeração. Tais setores
são o que o autor chama de indústrias correlatas e de apoio, ligadas – a montante ou a jusante
– à cadeia produtiva especializada da aglomeração. A presença de tais indústrias possibilita às
empresas locais obter acesso a máquinas, matéria-prima e serviços a custos relativamente
menores do que incorreriam se não estivessem aglomeradas, fornecendo às indústrias
especializadas da aglomeração vantagens concorrenciais locais (GARCIA, 2003).
Para Porter (1999), três fatores condicionam o processo de desenvolvimento de uma
aglomeração: i) a intensidade de competição local; ii) o ambiente geral da localidade com
características favoráveis à constituição de novas empresas; e iii) a eficácia dos mecanismos
formais e informais para associação das empresas locais especializadas.
41
A análise de Porter (1990) sobre as indústrias correlatas e de apoio incorpora outros fatores
que não somente a apropriação de economias externas incidentais, acrescentando elementos
resultantes da ação conjunta deliberada dos agentes (tanto empresas especializadas da
aglomeração, quanto indústrias correlatas e de apoio). Nota-se que, neste processo de
aprendizado interativo, não apenas as indústrias especializadas são potenciais beneficiárias de
externalidades positivas, mas também o são, as indústrias correlatas e de apoio que, podem
experimentar crescimento expressivo ao fazer parte de uma aglomeração produtiva.
Segundo Porter (1999), a competição entre as firmas gera uma busca constante por melhorias
tecnológicas no processo (economias internas), e a facilidade de comparação entre firmas
geograficamente próximas, incentiva a mensuração do desempenho, potencializando o
crescimento da produtividade, a redução dos custos totais e a inovação e diferenciação de
produtos e processos. A análise de Porter também é criticada por alguns autores por
privilegiar mais o debate sobre rivalidade do que sobre ação conjunta em aglomerações.
Suzigan (2001) destaca a obra de Schmitz (1995; 1997) e seu conceito de eficiência coletiva
como foco de comparação entre as duas macrolinhas de pensamento sobre aglomerações
(Porter e Krugman de um lado e autores evolucionistas e institucionalistas de outro). Tal
destaque deve-se ao fato de que, tal conceito enfatiza a necessidade de ações coletivas entre as
empresas aglomeradas.
O conceito de eficiência coletiva, portanto, parte do princípio de que as economias externas
marshallianas são necessárias, mas não suficientes para explicar o desenvolvimento e a
competitividade de empresas aglomeradas. Para que haja tal desenvolvimento e incremento da
competitividade, as economias incidentais devem ser acompanhadas de ações deliberadas por
42
parte das empresas aglomeradas (entre si e com agentes de apoio) e do setor público.
Enquanto as ações das empresas seriam no sentido de cooperação entre firmas, o setor público
teria a função de elaborar e implementar políticas públicas de apoio ao desenvolvimento local.
Nesse sentido, Schmitz (1995) ainda afirma que a presença de mais atores coletivos em um
determinado local não necessariamente significa mais eficiência coletiva.
Schmitz (1995) ilustra o conceito de eficiência coletiva notando que, embora a proximidade
geográfica de setores produtivos similares gere externalidades positivas, esta tende a trazer
apenas poucos benefícios. Nesse sentido, o autor ressalta a emergência de elementos como:
divisão do trabalho e especialização entre pequenos produtores; fornecimento dos produtos
com rapidez; presença de fornecedores de matérias-primas e insumos; fornecimento de
máquinas e peças sobressalentes; presença de agentes que comercializem com mercados
nacionais e internacionais distantes; existência de fornecedores de serviços técnicos,
financeiros e contábeis; presença de mão-de-obra especializada; formação de associações que
forneçam apoio aos seus membros ou de consórcios para a realização de tarefas especificas.
Para Schimitz (1995 : 4) “quanto mais estes elementos estiverem presentes, mais real se torna
a noção de eficiência coletiva”.
Schmitz (1997) ainda afirma que o conceito de eficiência coletiva extrapola a esfera produtiva
em sentido estrito, uma vez que, a cooperação entre firmas ou as ações de políticas públicas,
podem se dar também no âmbito tecnológico ou inovativo, ilustrado pela formação de
consórcios de exportação, ações de marketing, compras conjuntas, entre outros. Cassiolato e
Lastres (2001) destacam também o papel das interações entre firmas, bem como a ênfase nas
políticas públicas de apoio aos aglomerados, principalmente a partir da década de 1990,
43
quando a noção de aglomeração passou a ser fortemente relacionada ao conceito de
competitividade.
3.2 Inovação e aprendizado
Campos e Vargas (2003) observam que, desde o início da década de 1990, a liberalização do
comércio e dos mercados financeiros e o desenvolvimento no transporte e nas tecnologias de
informação, trouxeram profundas mudanças à organização das atividades produtivas e
inovativas em nações e regiões. Os autores ressaltam que essas mudanças paradigmáticas,
saindo de um modelo de produção em massa – tipicamente fordista – para novas formas de
desenvolvimento industrial e tecnológico, podem ser encaradas no contexto da chamada
economia do conhecimento (knowlwdge-based economy). Para os autores, a principal idéia
por trás de tal conceito é que, atualmente, o desempenho de empresas, nações e regiões são
crescentemente dependentes de suas capacidades de aprendizado.
A introdução de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) nas últimas décadas
vem alterando radicalmente os padrões estabelecidos até então, exercendo forte influência nas
esferas social, econômica, política e cultural da sociedade. Nesse sentido, Lemos (1999: 129)
mostra que “as mesmas são a base técnica do que vem sendo chamado por alguns autores de
revolução informacional
23
, que contribui para a conformação de uma nova Era, Sociedade
ou Economia da Informação, do Conhecimento ou do Aprendizado”.
Nesse cenário, as empresas passam a ser amplamente reconhecidas como organizações que
aprendem (learning organizations) imersas (embedded) em um dado contexto institucional. A
23
Grifo do autor.
44
região passa a ser vista como um espaço cognitivo onde valores compartilhados, confiança e
outros ativos intangíveis contribuem para o sucesso dos processos de aprendizado interativo e
minimizam os custos de transação entre as firmas
24
. (CAMPOS e VARGAS, 2003).
É nesse contexto, portanto, que o conceito de sistema de inovação é inserido. De acordo com
Cassiolato e Lastres (2003), um sistema de inovação pode ser definido como um conjunto de
instituições que tanto conjuntamente, quanto individualmente, contribuem para o aprendizado
e o desenvolvimento e difusão de tecnologias.
O enfoque dos sistemas de inovação objetiva entender a dinâmica de funcionamento dos
agentes produtivos a partir da noção de competitividade, cujo fundamento é a capacidade
inovativa das empresas e instituições localizadas em determinada região. O conceito de
sistemas de inovação baseia-se em outros que fatores locais como aprendizado, interações,
competências, complementaridades, herança histórica local, governança, entre outros.
“Fundamental nesta análise é o entendimento das relações e interações entre os diferentes
agentes visando ao aprendizado, as quais apresentam forte especificidade local”
(CASSIOLATO e LASTRES, 2003 : 3).
Para Lemos (1999), o enfoque dos sistemas de inovação considera que a geração de inovações
e tecnologias é localizada e restrita a fronteiras delimitadas nacional ou regionalmente,
rejeitando a noção de que o fenômeno da globalização ocorre de maneira homogênea em
todos os níveis sociais e econômicos.
24
Campos e Vargas (2003) citam alguns estudos mostrando que empresas de países em desenvolvimento
apresentam maiores dificuldades inovativas em relação a empresas de países desenvolvidos. Isso se dá por dois
principais motivos, relacionados ao seu ambiente institucional: instabilidade macroeconômica e o fato de que a
natureza sistêmica dos processos inovativos não se faz plenamente presente em tais localidades devido
principalmente à instabilidade de mecanismos de aprendizado interativo.
45
Mytelka e Farinelli (2003) observam que a abordagem dos sistemas de inovação também
rejeita a visão tradicional de inovação como um processo de mudança radical em um setor ou
indústria
25
. Essa compreensão ampliada do que é inovação enfatiza a importância de se
considerar o aprimoramento contínuo no design e qualidade de produtos, e as mudanças
organizacionais, gerenciais, rotinas de marketing, entre outras. São as chamadas inovações
incrementais. Para os autores, a inovação passa a ser compreendida como um processo pelo
qual as organizações desenvolvem e implementam design, gerenciamento e produção de bens
e serviços novos para si, independentemente de tais desenvolvimentos serem novos para seus
concorrentes, sejam estes domésticos ou estrangeiros.
Dosi (1988) define inovação como a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento,
imitação e adoção de novos produtos, processos e novas técnicas organizacionais. Vargas
(2000) considera que a inovação é tomada como um processo path-dependent
26
que é
profundamente imerso em aspectos culturais e institucionais, além de outros aspectos
específicos de regiões ou localidades.
Albagli e Britto (2003) notam que, a partir da década de 1970, o conceito de inovação passou
a ser compreendido como um processo, e não mais como um ato isolado. Este passa a ser
compreendido como derivado de interações complexas entre o ambiente sócio-econômico e as
mudanças tecnológicas. A inovação passa a ser definida como um processo não linear,
composto de distintas inter-relações entre as diversas fases, desde a pesquisa básica até a
comercialização e difusão e entre as diferentes instituições envolvidas.
25
Lemos (1999) entende por inovação radical o desenvolvimento e a introdução de um novo produto, processo
ou forma de organização da produção de maneira totalmente nova.
26
O termo “path dependent” indica que as decisões tomadas nas empresas levam em conta a experiência
acumulada ao longo de seu ciclo de vida, sendo que tal experiência não é composta apenas de recursos tangíveis
e intangíveis internos às firmas, mas também daqueles localizados no espaço local socialmente construído
(SANTOS et alii, 2002). Fan e Scott (2003) afirmam que este conceito é oriundo da corrente institucional e
evolucionária da economia e da sociologia econômica.
46
Assim, nem toda inovação tem sua origem clara, sendo conseqüência de diferentes tipos de
processos de aprendizagem envolvidos em diferentes atividades. Dosi (1988) nota o caráter
cumulativo dos processos inovativos, pois para o autor, a capacidade de uma empresa
implementar mudanças e avanços é influenciada fortemente pelas características das
tecnologias normalmente utilizadas por esta empresa, bem como pela experiência acumulada
em sua história.
A capacidade para gerar inovações tem sido identificada como fator crítico de sucesso de
empresas e países. Para Cassiolato e Lastres (2003: 2), tal capacidade é obtida “através de
intensa interdependência entre os diversos atores, produtores e usuários de bens, serviços e
tecnologias, sendo facilitada pela especialização em ambientes socioeconômicos comuns”.
Almeida et alii (2004:1) destacam que a dinâmica tecnológica tem tornado cada vez mais
“míope” o conceito de setor. Nesse sentido, a dimensão espacial deve ser considerada quando
da avaliação do processo de geração de inovação, uma vez que todas as inovações
tecnológicas são localizadas espacialmente e possuem um contexto específico de instituições
econômicas, políticas e sociais.
O ponto é que empresas em qualquer “setor”
27
necessitam ampliar sua base de
conhecimento interno para melhor se apropriar – através de diferentes mecanismos de
interação – da base de conhecimentos externos à firma e existentes num espaço
geográfico delimitado [...] Podemos citar a produção de peixes, em que as principais
tecnologias são baseadas em materiais avançados: o monitoramento depende de
imagens computacionais e tecnologias de reconhecimento, os sistemas de alimentação
e saúde envolvem o uso de robótica, insumos farmacêuticos e conhecimento de
nutrição crescentemente ligados à biotecnologia. Para cada uma dessas atividades e
áreas existem diferentes redes de conhecimento e atores (firmas, instituições de
pesquisa, etc.) que, conjuntamente, buscam e desenvolvem novas tecnologias. Como
corolário percebe-se a fragilidade de uma visão estritamente “setorial”
28
para tratar de
situações cada vez mais complexas (CASSIOLATO e LASTRES, 2001 : 4).
27
Grifo do autor.
28
Grifo do autor.
47
De acordo com Campos (2004), a importância da aprendizagem para as empresas destacou-se
inicialmente com as contribuições de Arrow e o learning-by-doing (aprender fazendo); depois
com Rosemberg e o learning-by-using (aprender usando); e posteriormente com Lundvall e o
termo learning-by-interacting (aprender interagindo
). O autor alerta que, dentro da literatura
neo-schumpeteriana, existem outras formas de aprendizagem menos utilizadas, como o
learning-by-imitating (aprender imitando), learning-by-searching (aprender procurando);
learning-by-subcontracting (aprender subcontratando); e learning-by-advances (aprender
avançando)
29
.
Britto (2004 : 4-5) enfatiza o citado trabalho de Arrow, afirmando que deste deriva o conceito
de aprendizado, “associado a um processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus
estoques de conhecimento, aperfeiçoam seus procedimentos de busca e refinam suas
habilidades em desenvolver ou manufaturar produtos”.
Campos (2004 : 30), citando Freeman (1994) e Tigre (1998), conceitua o termo aprendizagem
como um processo no qual a repetição e a experimentação fazem com que, ao longo do
tempo, as tarefas sejam efetuadas de forma mais rápida e melhor e as novas oportunidades
operacionais sejam efetivamente identificadas e experimentadas. O aprendizado pode ser
originado tanto por fontes internas, quanto externas. Internamente, o desenvolvimento de
habilidades dentro da empresa (design, desenvolvimento de novos produtos e mercados),
associadas aos meios formais de aprendizado já citados (learning-by-doing; learning-by
using; learning-by-interacting), possibilita o acúmulo de conhecimento. Externamente, o foco
está na interação entre os agentes (concorrentes, fornecedores, clientes, institutos de pesquisa,
governo, entre outros).
29
Tradução livre dos termos em inglês citados.
48
Freeman (1994) mostra que o aprendizado pode se dar através da cooperação com outras
empresas (inclusive concorrentes), via troca de informações ou contratos informais com
outras empresas, formação de joint ventures, recrutamento e seleção de pessoal, licenças de
produtos ou processos, participação em feiras e eventos, ou ainda através da prática da
engenharia reversa. Tigre (1998) afirma que o processo de aprendizagem é coletivo e
cumulativo no ambiente da firma, sendo dependente de rotinas organizacionais codificadas ou
tácitas. Para o autor, portanto, o aprendizado demanda códigos comuns de comunicação e
coordenação entre os agentes.
Lundvall (2004) afirma que é neste contexto da “economia do aprendizado” (learning
economy) e na interação entre os agentes que as aglomerações localizadas são abordadas
atualmente. O autor compreende esta economia do aprendizado como a capacidade de
aprender de pessoas, organizações, redes e regiões; aprender a usar o potencial das
tecnologias e a cooperar entre si, inclusive.
Britto (2004) também enfatiza o aprendizado por interação (learning-by-interaction) para
tratar de aprendizado em aglomerações produtivas localizadas. De acordo com o autor, o
aprendizado por interação envolve um processo social, sendo que quanto mais complexo for o
aprendizado, maior será a interação requerida para implementá-lo, dada a maior dificuldade
de compatibilizar padrões cognitivos entre os envolvidos. Nesse sentido, o autor nota que, à
medida que os canais de comunicação vão se desenvolvendo, há maior aprofundamento da
interação, que por sua vez, pode gerar novas combinações para diferentes tipos de
conhecimento.
49
Tais aspectos reforçam a importância da consolidação de um quadro (sócio-econômico e
cultural) comum para que processos interativos de aprendizado aconteçam; e as aglomerações
localizadas caracterizam um cenário propício para que tal interação ocorra.
Malerba (1992) apud Britto (2004) identifica quatro características centrais do processo de
aprendizado. Em primeiro lugar, este é visto como um processo orientado, que envolve um
dado custo, sendo realizado no interior da empresa a partir da mobilização dos diversos níveis
organizacionais e da definição de uma estratégia particular, que aponta as principais diretrizes
para os esforços de capacitação dos agentes. Em segundo lugar, o aprendizado articula-se a
distintas fontes de conhecimento, internas ou externas à firma. Internamente, relaciona-se a
atividades como produção, P&D e marketing; externamente, envolvem articulações com
fornecedores, clientes e com instituições de infra-estrutura científico-tecnológica.
Em terceiro lugar, o aprendizado é um processo intertemporal, cumulativo e capaz de ampliar
continuamente o estoque de conhecimentos da firma. Em quarto lugar, este viabiliza a
incorporação de inovações incrementais (relacionada à maior eficiência dos processos
produtivos) e também a exploração de novas oportunidades – produtivas ou tecnológicas –
propiciando a expansão para novos mercados.
O Quadro 4 sintetiza a pesquisa de Britto (2004) e ilustra algumas características de
processos de aprendizado em arranjos produtivos tradicionais
30
.
30
De acordo com Britto (2004), arranjos de setores tradicionais apresentam forte presença de pequenas e médias
empresas, que se articulam através de redes de relacionamentos verticais ou horizontais. Exemplos desses
arranjos são aqueles ligados aos setores: têxtil, confecções, calçados, cerâmica e móveis.
50
QUADRO 4 - Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais
Dimensões Características
Características e
objetivos do arranjo
Estruturas dispersas com baixo nível de hierarquização interna. Multiplicidade de
relacionamentos horizontais e verticais.
Relações de subcontratação entre montadoras semi-verticalizadas e uma malha de
empresas responsáveis pela produção de componentes, partes e por tarefas específicas
na cadeia de produção.
Redução de custos de produção, através de “especialização flexível”, incluindo a
produção de insumos, partes e componentes..
Conformação
institucional do
ambiente produtivo
local
Forte presença de PMEs.
Possibilidade de coordenação promovida por intermediários envolvidos com a
comercialização (dealers) ou por firmas montadoras mais capacitadas.
Papel relevante da presença de centros de prestação de serviços técnicos
especializados ao nível local.
Importância de associações empresariais..
Desenvolvimento de
recursos humanos
em escala local
Baixas exigências em termos de qualificação formal.
Importância de qualificações informais consolidadas a partir de competências locais.
Importância da montagem de centros de treinamento para qualificação técnica.
Relevância do apoio de instituições voltadas para capacitação técnica (públicas e
privadas).
Aprendizado
Informal –
intercâmbio de
informações
Intercâmbio não sistemático de informação sobre a performance e qualidade de
insumos, componentes e equipamentos.
Importância da normalização do design e outros atributos do produto que
necessitam ser atendidos por fornecedores.
Fluxos de informações simples e uni-direcionais (one-way).
Importância de ações coletivas para disseminação de informações, utilizando
associações empresariais e recorrendo-se a diversos instrumentos (feiras, reuniões, etc.).
Aprendizado
Informal – impactos
da interação
Possibilidade de implementação de ações coletivas concertadas que aumentam a
eficiência do arranjo.
Impactos gerados: upgrade do design de produtos e componentes; difusão de
padrões técnicos; redução de assimetrias em termos de eficiência produtiva; difusão de
procedimentos de controle de qualidade; disseminação de modernas técnicas
organizacionais; provisão de serviços técnicos.
Possibilidade de ganhos na articulação logística com atividades de comercialização.
Padrão de realização
de esforços
inovativos formais
Esforços inovativos de caráter não-sistemático (“innovation without R&D”).
Inovações induzidas por fornecedores de equipamentos e de insumos críticos.
Esforços inovativos de caráter “formal” baseados numa centralização das atividades
de design em firmas mais capacitadas ou em agentes distribuidores.
Possibilidade de articulação entre empresas visando upgrade tecnológico de
produtos e/ou processos (ex:consórcios de exportação).
Possibilidade de expansão para “nichos” mais dinâmicos do mercado que trabalham
com produtos mais sofisticados do ponto de vista tecnológico..
Principais resultados
de esforços
inovativos formais
Inovações incrementais baseadas em mecanismos de aprendizado.
Melhorias funcionais limitadas baseadas em variações no design de produtos e
componentes.
Importância da atualização do design de produtos em função de tendências o
mercado.
Exploração de segmentos mais dinâmicos dos mercados atendidos, vinculados a
produtos com um design mais sofisticado e com maior valor agregado.
Fonte: Britto (2004)
Observa-se em tais arranjos: forte presença de empresas de pequeno porte, com baixo grau de
hierarquização entre elas; flexibilidade de produção (com possibilidades de relações de
51
subcontratação com firmas maiores, que podem exercer ainda alguma coordenação no
arranjo); ausência de mão-de-obra com alto nível educacional, porém valoriza-se a
capacitação informal e cursos técnicos; os fluxos de informações bem como os processos
inovativos tendem a ser informais, enfatizando o papel da ação coletiva (incluindo
associações, a presença em feiras, etc.) na troca de informações e nos processos inovativos –
tanto de produtos quanto de processos; os esforços inovativos resultam, de modo geral, em
inovações incrementais oriundas de mecanismos de aprendizado e melhorias no design dos
produtos, o que possibilita a inserção em novos mercados.
Lundvall et alii (2002) notam que o aprendizado interativo pode ainda estar associado ao
desenvolvimento local de pessoas (recursos humanos), identificando alguns aspectos desta
dimensão: i) nível de qualificação formal da mão-de-obra; ii) requisitos de qualificação –
tanto formais, quanto informais – em função do padrão de especialização das empresas
pertencentes e relacionadas aos arranjos locais; iii) a contribuição formal e técnica oferecida
pelo sistema educacional local para o desenvolvimento de pessoas; iv) os esforços realizados
pelas empresas para o desenvolvimento de pessoas (treinamento da mão-de-obra e política de
contratação; e v) o grau de articulação existente entre as empresas e a infra-estrutura
educacional do local para o desenvolvimento de pessoas.
Campos et alii (2004) afirmam que, em aglomerações de setores tradicionais, com
heterogeneidade no tamanho e nas capacitações das empresas, com pouca especialização e
complementaridade produtiva em nível local e poucos estímulos para as atividades inovativas,
o padrão básico de aprendizagem nas pequenas empresas da aglomeração tende a ser o
learning by doing.
52
Campos et alii (2004:9) sugerem que padrões considerados simples de aprendizagem em
pequenas empresas (inclusive aquelas inseridas em sistemas locais com amplos recursos e
competências), não geram necessariamente um “circulo virtuoso de desenvolvimento de
capacitações tecnológicas” destas pequenas empresas. Tal fato sugere a necessidade da
construção de formas de coordenação públicas e privadas no sentido de estimular tais sistemas
de conhecimento localizados.
Hansen (2003) destaca que o desenvolvimento de uma localidade exige ações comunitárias
chamadas de untraded interdependences
31
. Tais ações compõem os ativos “tácitos”
relacionados ao local. Este conhecimento tácito é baseado em “conhecimentos não-
codificáveis e extremamente difíceis de serem transferidos para outros espaços, ou de serem
exportados para uma outra localidade” (HANSEN, 2003: 17).
Alem do conhecimento tácito, existe o conhecimento codificado (ou explícito). Este é descrito
por Nonaka e Takeuchi (1998) apud Hansen (2003 : 18) como “algo formal e sistemático que
pode ser expresso por meio de palavras e números e, portanto, comunicado e compartilhado
na forma de dados, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou princípios universais”.
A diferença entre o conhecimento tácito e codificado é que o segundo não demanda que os
agentes envolvidos façam parte de um quadro social comum, o que facilita sua disseminação.
Já o primeiro é altamente personalizado e de difícil formalização, o que dificulta sua
disseminação e comunicação para fora de seu contexto. O conhecimento tácito pode ser
compreendido somente por pessoas que vivenciam as mesmas experiências de vida; em outras
31
Untraded interdependences são as relações inter-pessoais e interfirmas existentes em uma dada região,
capazes de criar e recriar o ambiente local. Tais interdependências requerem proximidade tanto física quanto
cognitiva para se realizarem plenamente e darem origem a processos de aprendizado coletivo (SANTOS et alii,
2002).
53
palavras, o conhecimento tácito só se faz presente em agrupamentos de pessoas com alto grau
de ligações sociais e culturais. As aglomerações, portanto, são locais típicos de produção do
conhecimento tácito.
Hansen (2003) observa que ambas as formas de conhecimento (tácito e codificado) são
importantes para o desenvolvimento local. Uma vez que o conhecimento codificado (obtido
através de pesquisas cientificas, por exemplo) é adicionado ao conhecimento tácito (obtido
localmente através da experiência, observação ou conversas informais), as possibilidades de
que as informações compartilhadas localmente sejam reutilizadas de forma diferenciada
ampliam-se.
Entretanto, para que o conhecimento tácito seja comunicado e compartilhado numa
empresa ou região, primeiro este precisa ser convertido em palavras ou números que
qualquer indivíduo possa entender. É precisamente durante esse tempo de conversão –
passagem do conhecimento codificado para tácito e sua re-codificação – quando, de
acordo com Nonaka e Takeuchi (1998), o conhecimento organizacional é criado [...]
A codificação é, portanto, uma condição para a produção e acumulação de
conhecimento como também para a geração de novas oportunidades cognitivas
(HANSEN, 2003 : 19).
Hansen (2003) afirma que os processos de aprendizagem são a base a partir da qual se
viabilizam mudanças tecnológicas e inovações, enfatizando que aprendizagem e
conhecimento são desafios que devem ser enfrentados tanto por regiões de altíssima
tecnologia (como o Vale do Silício) quanto por aglomerações de atividades tradicionais ou
informais localizadas em periferias.
Segundo Albagli e Britto (2003), o conhecimento é a base do processo inovativo e
mecanismo-chave no processo de acumulação de conhecimento, sendo que sua criação e
compartilhamento alimentam a mudança econômica e tecnológica. De acordo com Lemos
54
(1999), o conhecimento não acontece autonomamente: este deve receber investimento para
ser induzido ou provocado.
Helmsing (2001) apud Hansen (2003), destaca que as relações entre mudanças tecnológicas e
aprendizagem podem ser sumariadas em três aspectos: i) a aprendizagem possui uma relação
de dependência com a transmissão de conhecimento, principalmente aquele do tipo tácito; ii)
o novo conhecimento depende da combinação de conhecimentos diversos; e iii) as empresas
podem ter dificuldade em utilizar novos conhecimentos, dada a existência de resistências a
mudanças.
Cassiolato et alii (2004) notam que, a literatura sobre aglomerações tem utilizado uma
abordagem simplificada de “mudança tecnológica”, entendendo tal conceito apenas como o
resultado de aquisição e utilização de bens de capital. Tal visão pode colocar as empresas e
outras instituições locais presentes em aglomerações produtivas “numa posição extremamente
passiva que não corresponde à realidade atual” (CASSIOLATO et alii, 2004 : 2). As
implicações de tais limitações sobre a importância e a natureza da mudança tecnológica e da
construção de capacitações locais levam a um subdimensionamento da importância dos
processos de aprendizado, capacitação e inovação, os quais são crescentemente reconhecidos
como baseados na articulação entre agentes. Esses processos, por sua vez, são cada vez mais
fundamentais para a competitividade sustentada desses agentes – individual e coletivamente
(CASSIOLATO et alii, 2004).
Em suma, Cassiolato e Lastres (2004) afirmam que a compreensão da dinâmica de arranjos
produtivos localizados repousa na compreensão dos processos de aprendizado e inovação
presentes naqueles locais. Com base em Cassiolato e Lastres (1999), os autores observam que:
55
i) a inovação e o conhecimento estão sendo reconhecidos como elementos centrais na
dinâmica e no crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições; ii) a
inovação e o aprendizado são dependentes de interações entre pessoas e organizações e
instituições e, portanto, fortemente influenciados por contextos econômicos, sociais,
institucionais e políticos específicos; iii) existem claras diferenças entre os diversos agentes e
suas capacidades de aprender, que por sua vez, são reflexo e dependentes de aprendizados
anteriores; e iv) por um lado, informações e conhecimentos codificados apresentam condições
crescentes de transferência (considerando a difusão das tecnologias de informação e
comunicações); por outro lado, os conhecimentos tácitos de caráter localizado e específico
têm papel primordial para o sucesso inovativo e apresentam grande dificuldade de serem
transferidos ou compartilhados.
3.3. Ambiente institucional , elos de confiança, elos de cooperação e competitividade
A seguir discutem-se aspectos do ambiente institucional que podem contribuir para o
incremento da competitividade nas aglomerações.
3.3.1 Confiança, imersão social e ambiente institucional
Para Humphrey e Schmitz (1998), a questão da confiança tem posição de destaque no debate
sobre desempenho econômico de empresas, tanto em países desenvolvidos como em
desenvolvimento (sendo que nestes últimos, as discussões iniciaram-se em meados da década
de 1990). Alter e Hage (1993) também enfatizam o papel da confiança, sugerindo que o
desenvolvimento desta é facilitado em comunidades locais, pelo fato de haver uma identidade
cultural local potencial, o que facilita a troca de informações.
56
A confiança entre os agentes locais nasce da interatividade e das transações praticadas
diariamente entre as firmas (que incluem relações de cooperação e competitividade) e entre
tais firmas e os agentes locais. Documento da CNI revela que a existência de tais relações
consolida “a representatividade dos interesses locais perante os agentes institucionais da
esfera estadual e federal, e (...) dinamizam-se as relações entre as empresas locais”. (CNI,
1998 : 12).
Tironi (2001) cita dois fatores culturais presentes nos empresários brasileiros que são
potenciais inibidores de relações de confiança entre empresas: i) apego à formalização das
relações contratuais, fato que segundo o autor, reduz a agilidade na tomada de decisões das
empresas e eleva os custos de transação; e ii) estrutura sindical patronal, cuja constituição
horizontal (setores da indústria) propicia uma visão fragmentada ao empresário, ou seja, ele
não percebe que faz parte de uma cadeia integrada de valor.
Humphrey e Schmitz (1998) sugerem que sendo elevada a dependência mútua em
aglomerações, a exposição ao oportunismo
32
também é alta. Nesse sentido, a imersão
(embeddedness) das empresas nas comunidades locais e os enlaces sócio-culturais têm papel
fundamental como facilitadores da confiança e inibidores de práticas oportunistas. Santos et.
alii (2002) também ressaltam a importância da “imersão social” das empresas no ambiente
local como fator facilitador de interações coletivas. Os autores ressaltam que a noção de
“imersão social” não significa precedência do ambiente sobre as aglomerações, mas sim, uma
32
Sinteticamente, o oportunismo se refere a falta de sinceridade ou honestidade, o que inclui a procura com dolo
do interesse próprio. (WILLIANSON, 1991).
57
interdependência entre ambos; ou seja, “o ambiente local é criado e recriado através das
relações interpessoais e inter-firmas” (SANTOS et. alii, 2002 : 9)
IPARDES (2003) mostra que o esforço e o sucesso da pesquisa, da ação institucional e do
aprendizado, ocorrem de forma coletiva por meio da interação, da cooperação, da
complementaridade e da imersão em um ambiente cultural local, o qual também é resultado
do processo histórico cultural path dependent.
Santos et. alii (2004) mostram que relações de confiança em determinadas localidades podem
ser provocadas pela ação pública, extrapolando o caráter exclusivamente path dependent. Os
autores citam um exemplo de aglomeração no Nordeste do Brasil onde foram desenvolvidas
instituições em contextos pouco propícios, a princípio. Naquela localidade, os produtores,
buscando a competitividade e sobrevivência da produção local, organizaram-se, chamando a
atenção do governo, que passou a exercer papel fundamental na manutenção e no
desenvolvimento das instituições locais.
Esse conjunto de considerações leva ao conceito de “capital social”, definido por Albagli e
Maciel (2002) como um conjunto de instituições formais e informais, incluindo hábitos e
normas sociais, que afetam os níveis de confiança, interação e aprendizado em um sistema
social. A emergência do tema do capital social vincula-se ao reconhecimento da importância
de se considerar a estrutura e as relações sociais como fundamentais para se compreender e
intervir sobre a dinâmica econômica. Para os autores, o “capital social” propicia relações de
cooperação, que favorecem o aprendizado interativo e as ações coletivas entre firmas
aglomeradas e instituições locais. Nesse sentido, Santos et. alii (2002) mostram que para
existir cooperação (e confiança) entre firmas numa aglomeração, é necessário não somente a
58
proximidade física, mas também a proximidade cognitiva. A soma destes dois aspectos é
ilustrada no conceito de “capital social”.
Hansen (2003 : 17) afirma que empresas participantes de uma aglomeração “estão conectadas
por uma série de ligações e redes sociais, institucionais, culturais e técnicas que conduzem à
criação de capital social. Esta noção de capital social local é uma extensão das noções de
capital humano, de infra-estruturas, de instituições ou de capital físico”.
Nas aglomerações de firmas, o ambiente institucional é de extrema importância. Sob a ótica
das aglomerações produtivas, a competição passa a ser entre regiões, e não mais entre
empresas. Para uma empresa, não basta ser competitiva isoladamente – a região como um
todo deve o ser (CASAROTTO FILHO et. alii, 2001). Logo, a imersão de cada empresa no
local é fundamental para o desenvolvimento de uma aglomeração e assim, da região como um
todo. A imersão social, portanto, denota um conjunto de elementos e relacionamentos,
representado por vínculos entre firmas, clientes, instituições de pesquisa, sistema educacional
e demais autoridades locais que interagem de forma cooperativa, gerando e compartilhando
conhecimento e assim criando inovações.
Albagli e Britto (2003) observam que a proximidade geográfica de empresas favorece a troca
de informações, a semelhança de aspectos culturais e psicológicos entre as pessoas, a
freqüência de contatos sociais e a cooperação, a capacidade inovativa, a mobilidade e a
flexibilidade. O ambiente institucional propicia o desenvolvimento de aglomerações (e
regiões) e envolve não somente a existência de firmas similares e correlatas, fornecedores,
mão-de-obra qualificada e instituições de apoio, mas também a interação entre todos estes
agentes, via cooperação e confiança mutua.
59
A importância do ambiente e das relações sociais numa aglomeração é ilustrada por Brown e
Duquid (2002) quando se referem ao Vale do Silício, nos Estados Unidos. Os autores sugerem
que o local ainda persiste como uma região densamente interconectada, apesar do alcance
global de suas empresas e de sua natureza altamente tecnológica. Tal fato persiste devido à
característica do conhecimento inovativo daquele local, que flui mais em redes sociais (social
networks) do que digitais (digital networks).
Cooke e Morgan (1998), apud Hansen (2003), indicam três características-chave de
aglomerações desenvolvidas:
a) Empresas path-dependent, uma rede de ligações horizontais, a existência dos chamados
spin-offs (novas empresas similares a uma empresa principal na aglomeração ou o
desenvolvimento de novas empresas em alguma atividade similar àquela já praticada) e a
presença de empresas que forneçam ativos diversificados na localidade;
b) Noção de que as aglomerações são efeitos de externalidades. Nesse sentido, o
conhecimento acumulado, as habilidades, o aprendizado e a experiência, a competência
organizacional, a capacidade empresarial, as alianças e redes cooperativas – imersas em
pessoas e instituições – tornam-se ativos destas aglomerações; e
c) Existência de infra-estrutura institucional de normas, regras e práticas de rotina na
comunidade, juntamente com os ativos sócio-culturais e políticos que sustentam e melhoram
as atividades de aglomeração.
60
Para Hansen (2003), é nesse ambiente que as vantagens competitivas da aglomeração se
convertem em capital social local, à medida que tais vantagens são reforçadas pela
disseminação das capacidades de aprendizagem e inovação.
Santos et. alii (2002), chamam a atenção para o desenvolvimento de aglomerações de
empresas nos chamados “espaços industriais periféricos”
33
. As especificidades de países em
desenvolvimento podem se tornar entraves ao desenvolvimento de aglomerações produtivas
pois: i) a capacidade inovativa é geralmente inferior à dos países desenvolvidos; ii) as funções
estratégicas principais do ambiente organizacional são geralmente realizadas externamente ao
sistema, prevalecendo uma mentalidade essencialmente produtiva em nível local; iii) o
ambiente institucional (incluindo o macroeconômico) é mais suscetível às variações e
estruturalmente debilitado; e iv) o entorno dos sistemas é de subsistência (apresentado pouca
densidade urbana, baixo nível de renda per capita, baixos níveis educacionais, pequena
complementaridade produtiva e de serviços com o pólo urbano e fraca imersão social).
34
Cassiolato et. alli (2000) notam que diversos estudos realizados em aglomerações no Brasil,
mostram pouca cooperação ou ligações entre firmas, apropriação apenas de externalidades
passivas (como mão-de-obra disponível), inexistência ou baixo desenvolvimento de
instituições locais.
33
Embora considere útil o termo “espaços industriais periféricos”, cunhado pelos autores, Santos et alii (2004)
sugerem que a utilização de tal termo seja inadequada para tratar de todas as regiões do Brasil. Os autores
sugerem uma divisão do termo em duas partes: “espaços industriais semi-periféricos” para tratar de regiões
industriais pertencentes a localidades industriais mais densas de países periféricos; e o termo “espaços industriais
periféricos” para o restante das regiões industriais destes países.
34
Pesquisa de Santos et alii (2002) na aglomeração de produtores de calçados de Nova Serrana (MG) e na
aglomeração dos fornecedores de peças e componentes da FIAT em Belo Horizonte (MG), mostrou que as
restrições típicas de ambientes industriais periféricos encontram-se presentes, em maior ou menor intensidade,
em ambos os arranjos. Embora aparentemente bastante distintos, os arranjos mostraram-se similares uma vez que
não mostraram-se capazes de alavancar o desenvolvimento das capacitações locais, devido às restrições citadas,
típicas de ambientes periféricos.
61
Embora os estudos recentes no Brasil apresentem o quadro acima, Santos et alii (2004)
atentam para o fato de que algumas aglomerações podem ser competitivas e inovativas
mesmo em espaços periféricos. Dois fatores são cruciais para tanto: a cooperação entre os
agentes e o apoio do governo através de políticas públicas que fomentem tal cooperação.
3.3.2 Cooperação e competição em aglomerações
O conceito de eficiência coletiva, segundo Schmitz (1995; 1997) não exclui, como já
mencionado, o caráter de competitividade entre firmas locais, fator considerado necessário ao
desenvolvimento de uma aglomeração. Porter (1999) sugere que a rivalidade local gera uma
pressão por aumento de produtividade, induzindo a redução de custos e a busca por
inovações, além do fato de que há, em âmbito local, uma competição pessoal, além daquela
exclusivamente técnica. A competição local é diferente da competição global, sugerindo que a
proximidade e a relação construída entre agentes locais mostram-se como formas de
vantagem competitiva de empresas de determinadas regiões.
Segundo Porter (2000), o conceito de competição é dinâmico e repousa na inovação e na
busca por diferenciais estratégicos. O desenvolvimento de elos de ligação com consumidores,
fornecedores e outras instituições são importantes não apenas para a busca da eficiência, mas
também para aumentar a capacidade inovativa. O papel da cooperação entre agentes locais
tem particular relevância no desenvolvimento de vantagens competitivas e de inovações –
fatores essenciais para a dinâmica competitiva das empresas.
62
A relação entre competição e cooperação também é destacada por Tironi (2001) ao sugerir o
termo “associativismo competitivo”, que ilustra a busca de empresas organizadas em rede por
vantagens competitivas. Tal processo adquire maior “potencialidade, consistência e
visibilidade” (TIRONI, 2001 : 323) quando se tratam de aglomerações de empresas próximas
geograficamente, pertencentes a um ou mais setores em que os produtos ou processos estejam
relacionados. Tironi (2001) sugere que um agrupamento de empresas pode mostrar-se muito
competitivo em relação às empresas de fora da aglomeração, desde que haja competição
interna (o que gera a busca constante por melhorias de produtos e processos); ao mesmo
tempo a cooperação entre estas para enfrentar a competição externa, configurando o chamado
associativismo competitivo, pois
a proximidade geográfica de um número relativamente elevado de firmas de um
mesmo setor e de tamanhos similares, garante a competição dentro da aglomeração.
É, portanto, do equilíbrio tenso entre o associativismo competitivo e a concorrência
intra e extra aglomeração que emerge a inovação e a competitividade (TIRONI,
2001 : 328).
Lawson (1999) sugere que relações de cooperação inter-firmas em ambiente local auxiliam na
redução de incertezas, através de fatores como: i) coleta e filtragem coletiva de informações
(information gathering e information screening) entre as firmas, incluindo aquelas de
conhecimento técnico; ii) mobilidade de mão-de-obra qualificada dentro da localidade; iii)
processo coletivo de escolha de rotinas de decisão; e iv) processo informal de coordenação de
decisões. Tais fatores estão condicionados à existência uma cultura similar no local, que
possibilita encontros informais entre produtores e usuários (diferentes agentes da cadeia
produtiva) e assim, ligações entre as famílias e associações locais. Tais condições possibilitam
a rápida disseminação de informações entre os agentes locais, permitindo o processamento de
tais informações (transcoding function) de forma veloz e eficiente.
63
Schmitz (2000) cita quatro pesquisas realizadas em quatro diferentes aglomerações, com
contextos diversos, porém com preocupações em comum: necessidade de aumentar a
qualidade, a flexibilidade e a velocidade de tomada de decisão. Uma conclusão foi comum
aos quatro estudos: empresas que apresentaram maior grau de cooperação apresentaram
incremento em sua performance e competitividade.
Britto (2000) nota que a possibilidade de firmas obterem externalidades em aglomerações
gera estímulo para coordenação ex-ante das relações entre estas, sendo que os ganhos
oriundos destas relações são confirmados pela redução de custo, minimização de riscos e
aumento da eficiência por meio das economias de escala.
Camagni (1993 apud BRITTO, 2004) identifica possíveis ganhos decorrentes de práticas
cooperativas: i) sinergias e economias de escala nas atividades da empresa - como produção,
marketing e P&D; ii) economias de escopo
35
e diferenciação de produto; iii) ganhos de
fertilização cruzada
36
entre os agentes, associados ao desenvolvimento de
complementaridades tecnológicas; iv) maior capacidade para agir proativamente frente a
choques externos; v) formação de barreiras específicas à entrada de outras firmas; e vi) o
controle mais direto sobre ativos e competências necessários à viabilização de processos
inovativos.
Segundo Albagli e Britto (2003), a cooperação pode ocorrer: i) por meio de troca de
informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas, seja com clientes, fornecedores ou
35
O conceito de economias de escopo retrata as economias de produção conjunta, insumos comuns, e
complementaridade de custos. O conceito é geralmente utilizado referindo-se à produção de diferentes produtos
em um mesmo processo e estrutura produtiva.
36
O conceito de fertilização cruzada quando trata-se aglomerações localizadas, diz respeito à introdução nesta
aglomeração de indivíduos que tenham conhecimentos superiores ao da média dos integrantes, de modo a
incentivar os processos inovativos e de aprendizado.
64
concorrentes; ii) pela interação entre empresas e outras instituições, através de programas
comuns de treinamento, compras conjuntas de insumos ou realização de eventos em geral; e
iii) integração de competências entre as empresas e entre empresas e outras instituições,
através de ações de melhoria de produtos e processos ou atividades de pesquisa e
desenvolvimento.
Schmitz (1997) mostra que a cooperação entre firmas pode ser tanto bilateral quanto
multilateral, e tanto horizontal quanto vertical. A cooperação bilateral horizontal ocorre
quando duas ou mais empresas concorrentes desenvolvem algum trabalho conjunto, de
natureza produtiva ou não; a cooperação bilateral vertical ocorre quando uma empresa e seus
fornecedores/clientes cooperam para melhoria de algum fator relacionado a alguma etapa da
cadeia produtiva, tanto a montante quanto a jusante; a cooperação multilateral horizontal
ocorre quando as empresas de uma aglomeração, que produzem produtos similares, se unem
em associações cooperativas; e a cooperação multilateral vertical ocorre quando setores que
pertencem a mesma cadeia produtiva se unem para desenvolvimento de algum trabalho
conjunto. Nos quatro estudos citados por Schmitz (2000) houve predominância do tipo de
cooperação bilateral vertical, e baixo nível de cooperação bilateral horizontal. A cooperação
multilateral apresentou grande variação entre os estudos. O Quadro 5 ilustra esta tipologia de
cooperação, fornecendo alguns exemplos como firmas podem cooperar.
QUADRO 5– Formas de ação conjunta entre empresas aglomeradas
Bilateral Multilateral
Horizontal
Compartilhar equipamentos Associações setoriais
Vertical
Desenvolvimento de componentes
por produtores e usuários em
conjunto
Alianças ao longo da cadeia de
valor
Fonte: Schmitz (1997)
65
Estudo de Dadalto (2001), em uma aglomeração de indústrias do vestuário na cidade de
Colatina, mostrou que, existe localmente, uma forte identidade sócio-cultural entre os
empresários do setor e, portanto, uma forte relação de cooperação e de reciprocidade, com
base na confiança mutua. No entanto, no momento da comercialização propriamente dito,
observa-se uma rivalidade intensa entre as firmas. Tal relação de cooperação propicia a
presença de eficiência coletiva naquela aglomeração ao gerar “um ambiente industrial
propício à inovação gerencial, tecnológica e mercadológica que ocorre via intensa
transferência de informação entre funcionário e empresário, entre contratante e subcontratados
e entre empresários” (DADALTO, 2001 : 10).
Estudo de Motta (2001) na aglomeração calçadista da cidade de Franca (SP) mostrou que os
problemas de qualidade, preço e prazo de entrega – fatores apontados pelos empresários –
poderiam ser minimizados, caso tais empresas desenvolvessem trabalhos cooperativos com as
outras empresas da cadeia, uma vez que todas se encontram na citada aglomeração. Segundo a
autora, não há grande comprometimento e envolvimento entre as empresas do setor,
dificultando a prática de relações de cooperação.
Estudos realizados nos distritos industriais da Terceira Itália – principalmente nas décadas de
1970 e 1980 – mostraram que a inserção das empresas aglomeradas (a maioria de pequeno
porte) em melhores patamares de desempenho e competitividade se deu em um ambiente que
mesclava competição e cooperação entre firmas.
Santos et alii. (2004) também citam a experiência italiana e sugerem que relações
multilaterais de cooperação (como observado no caso italiano) geralmente envolvem
66
pequenas e médias empresas com importante participação em alguma etapa da cadeia
produtiva. Os autores também mostram que este tipo de cooperação tende a funcionar melhor
na presença de três fatores: i) proximidade entre empresas; ii) alto nível de confiança; e iii)
senso de comunidade.
Britto (2004 : 2-3) identifica três impactos básicos da consolidação de práticas cooperativas:
a)
b)
Dupla dimensão do processo: a cooperação constitui, simultaneamente, um
instrumento eficaz de processamento de informações e uma alternativa importante
para viabilizar a aglutinação de competências complementares;
Importância da cooperação como instrumento, que possibilita à empresa
melhor enfrentamento de turbulências ambientais, e melhor identificação e
exploração de novas oportunidades tecnológicas; e
c) Dimensão intertemporal do processo de cooperação, conferindo-lhe um caráter
path dependent". A continuidade da cooperação ao longo do tempo facilita a
comunicação entre os agentes, permitindo a integração das respectivas
competências, a consolidação de princípios de “confiança mútua” e maior
sincronização das ações e estratégias adotadas por estes agentes.
3.4 Políticas públicas e aglomerações
Cassiolato (2001) mostra que a evolução da indústria nacional ao longo das duas últimas
décadas tem sido caracterizada pela busca constante (do Estado e da sociedade) de como
promover a reestruturação desta indústria no sentido de captar efetivamente a evolução
tecnológica vigente
37
. Para o autor, a indústria brasileira – de modo geral – adentrou nessa
“revolução” (no inicio da década de 80) desprovida de mecanismos que permitissem sua
evolução e competitividade potencial para os anos posteriores, como a capacitação das
empresas para desenvolver novos processos e produtos, existência de um padrão de
especialização da indústria brasileira e integração significativa com o mercado internacional.
37
Cassiolato (2001) considera por esta evolução tecnológica, as mudanças radicais relacionadas à revolução das
tecnologias de informação e comunicações a partir da década de 1980.
67
Observou-se, na década de 1990, uma nova “tendência de localização espacial da indústria
para fazer frente aos requisitos de competitividade” (IPARDES, 2003 : 15). Nesse cenário,
observou-se o movimento de capitais buscando níveis mais altos de eficiência e uma
aproximação maior com os núcleos indutores de inovação, como mão-de-obra especializada,
instituições de ensino e pesquisa e serviços de apoio industrial
38
.
A abertura econômica e o processo de globalização intensificado na década de 90 impactaram
fortemente na economia brasileira. Houve entre 1988 e 1993, significativo processo de
liberalização, o que reduziu o grau de proteção da indústria local e a expôs à concorrência
com indústrias estrangeiras, que passaram a ofertar seus produtos no Brasil em grande
quantidade (CAMARGO e GUILHOTO, 2002).
Para Gorini e Martins (1998), o impacto da abertura variou em intensidade de acordo com o
porte e a atualização tecnológica de cada empresa: por um lado, as grandes empresas (que em
geral já se encontravam expostas à competição internacional e mostravam-se mais
competitivas em termos de custos, tecnologia e gestão) tiveram menores dificuldades de
adaptação às novas condições de mercado; por outro lado, as pequenas e médias empresas
(que atuavam predominantemente no mercado interno e apresentavam parque fabril atrasado
tecnologicamente) sofreram maiores impactos com a abertura. Cassiolato (2001) nota que os
impactos sobre essas empresas de pequeno porte (pertencentes a diversos setores da
economia) poderiam ter sido reduzidos caso a abertura comercial brasileira viesse
acompanhada de políticas que permitissem gerar condições de reestruturação e posterior
incremento de sua competitividade.
38
Para o texto do IPARDES (2003), a estrutura produtiva do Paraná acompanhou tal movimento. , acelerando o
processo de concentração setorial e espacial (localidade) das atividades.
68
Nos anos 90 (principalmente a partir do Plano Real)
39
, a política industrial saiu da agenda da
política econômica do governo e a cooperação existente entre o setor público e privado
desapareceu: “acreditou-se que a atração das empresas transnacionais seria suficiente para
integrar a economia brasileira no mundo globalizado e que elas trariam consigo a tecnologia
necessária a modernização” (CASSIOLATO, 2001 : 41)
No entanto, a partir desta mesma década de 90, o conceito de aglomerações produtivas passa a
ser associado à idéia de competitividade, o que explica em parte o apelo para formuladores de
políticas neste campo (CASSIOLATO, 2001). De acordo com Bonelli e Veiga (2003), tais
políticas de apoio a aglomerações produtivas a partir da década de 1990, também surgiram,
em parte, como conseqüência de uma avaliação positiva (por parte dos formuladores
brasileiros de políticas públicas) das experiências internacionais de políticas de apoio a tais
formas organizacionais. Nesse cenário, constatou-se que as práticas da grande maioria das
pequenas empresas (principais agentes presentes nas aglomerações) não induziam à
consolidação de aglomerações desenvolvidas
40
. Tal cenário sugeria que as políticas públicas
poderiam ser necessárias para dinamizar as aglomerações já existentes espontaneamente e
ainda incentivar o surgimento de outras.
Suzigan (2001) sugere que políticas locais (i.e., descentralizadas e regionalizadas) apresentam
menos restrições que àquelas de abrangência nacional, mostrando-se como opções altamente
relevantes para a promoção de investimentos, crescimento econômico, emprego, exportações
e desenvolvimento tecnológico. A aglomeração produtiva, de acordo com Cassiolato (2001),
passa a ser ao mesmo tempo unidade de análise e unidade de ação de políticas.
39
O Plano Real entrou em vigor em 1995, no mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.
40
Por aglomerações desenvolvidas, entende-se aquela que apresente uma rede de cooperação entre agentes e
entre outros atores; facilidade de fluxo de informações entre os agentes, proporcionando o aprendizado coletivo e
a inovação; presença de um ambiente institucional propicio à cooperação e à ação conjunta; presença de
instituições de apoio e industrias correlatas, como fonte de externalidades positivas (BONELLI e VEIGA, 2003).
69
Suzigan et alii (2003 : 11) falam sobre a importância de se direcionar politicas públicas a
aglomerações produtivas:
Os sistemas (ou arranjos) locais de produção possuem características que permitem
alçá-los à condição de vetores de desenvolvimento – setorial, regional e social.
Ademais, podem oferecer valiosa contribuição também para o esforço de dar
sustentação ao balanço de pagamentos, na medida em que possam ter as suas
capacidades produção complementadas com novos atributos comerciais e que elas
sejam direcionadas para novos mercados.
Cassiolato (2001 : 40) mostra que a partir da década de 90, observou-se, ao nível mundial,
uma alteração no modo de se formular e de se enxergar políticas públicas, que passaram a ser
vistas de maneira sistêmica. Houve: a) crescente convergência entre políticas industriais e
outras, com destaque para as destinada ao comércio exterior; b) reconhecimento da
importância dos processos interativos locais de inovação e de aprendizado; e c) nova ênfase
de políticas a blocos como arranjos produtivos.
Para Suzigan et alii (2003), as ações de políticas públicas devem buscar oferecer condições
para que os agentes (empresas, trabalhadores, entidades públicas e privadas e as associações
formais ou informais) possam se comportar como sujeitos ativos no desenvolvimento local. A
política deve atuar em conjunto com tais agentes, e não simplesmente substituí-los na função
de promoção de tal desenvolvimento. Em outras palavras, deve haver uma gestão local
compartilhada entre o setor público e o setor privado.
No entanto, Suzigan et alii (2003) destacam que os chamados embriões de arranjos
produtivos
41
deveriam ter prioridade no foco das ações políticas, de modo a propiciar
condições para seu desenvolvimento, dado o baixo desenvolvimento dos mecanismos de
41
Para os autores, os embriões de arranjos produtivos são aglomerações ainda de pouca importância, tanto para
o seu setor quanto para a sua região.
70
cooperação observados nas aglomerações já estudadas no Brasil
42
. Suzigan et alii (2003 : 15)
mostram que ações políticas podem criar condições para fortalecer:
i) o tecido social local e o associativismo; ii) as bases da cooperação; e iii) ações
coletivas mais efetivas. Isso se daria através dos incentivos das ações politicas em
associação ao envolvimento local e aos compromissos assumidos coletivamente.
Finalmente, sugerem que as ações de uma política industrial para aglomerações
deveriam atentar-se para “a criação de espaços e instituições coletivas, com gestão
compartilhada, financiados com recursos públicos (decrescentes) e privados
(crescentes)”.
Cassiolato (2001 : 38) mostra que ações de políticas semelhantes são utilizadas em países
desenvolvidos e no sudeste asiático: “essas novas políticas são fundamentadas no tripé:
descentralização das políticas, cooperação entre os diversos agentes e mobilização coordenada
das diversas instâncias responsáveis”. Suzigan (2001 : 61) atenta para o fato de que “não
existe um padrão único sob o qual as políticas devem ser aplicadas em aglomerações”; no
entanto, o autor sugere que, genericamente, estas devem orientar os agentes privados em
busca da ação conjunta e buscar o aproveitamento de economias externas localizadas,
buscando desenvolver vantagens competitivas locais.
Para Santos et alii (2004), a ação pública em aglomerações não tem como única função
aumentar a representatividade dos agentes, mas também fomentar a união entre estes, criando
as condições para relações de cooperação. Os autores citam que o poder público pode exercer
algumas atividades de apoio a aglomerações produtivas, como: i) fornecimento de infra-
estrutura para o desenvolvimento; ii) apoio ao ensino e treinamento de mão-de-obra, bem
como a atividades e centros de P&D; iii) incentivo à cooperação entre os agentes locais; iv)
realização de investimentos não atrativos para o setor privado, potencialmente geradores de
42
Embora façam tal recomendação, os autores reconhecem que, uma vez que as aglomerações podem surgir e
desenvolver-se autônoma e espontaneamente, ações de políticas mal implementadas podem sufocar o
desenvolvimento de tais aglomerações e suas forças sociais. Desse modo, as ações políticas devem ser muito
bem focadas nas necessidades de cada localidade.
71
externalidades positivas aos agentes da aglomeração; e v) atuação como agente de
estruturação e interlocução junto a entidades representativas dos empresários do aglomerado.
IPARDES (2003) sugere algumas ações específicas do poder público, no sentido de
potencializar o desenvolvimento de aglomerações produtivas, como: i) auxiliar na busca pela
especialização flexível e eficiência coletiva; ii) facilitar o acesso ao crédito para fomentar os
investimentos; iii) auxiliar na ampliação da cadeia produtiva (insumos, bens de capital e
serviços) e na identificar nichos de mercado; iv) formar e capacitar recursos humanos; v)
investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico; e vi) garantir ambiente institucional que
propicie a articulação entre as entidades empresariais e o poder público.
Scott (1998), apud Suzigan (2001), sugere que as políticas em aglomerações devem ser
implementadas em três frentes distintas: em primeiro lugar, deve garantir suprimento de
insumos e serviços básicos para as atividades locais. Para o autor, tais ações adquirem maior
importância quando há um sub-investimento por parte das empresas ou quando as atividades
locais demandam ativos muito específicos
43
. Em segundo lugar, as ações devem estimular a
cooperação entre empresas, a fim de melhorar sua eficiência interativa e o autor sugere que
algum tipo de governança seria desejável (como por exemplo, a formação de consórcios
industriais locais ou parcerias público-privadas). Em terceiro lugar, ressalta-se a importância
da formação de fóruns locais de ação, formados por trabalhadores, empregados, consórcios e
governo local. Tais fóruns podem auxiliar no registro de marcas, conduzir negociações,
constituir conselhos econômicos, entre outras atividades.
43
Suzigan (2001) considera ativos específicos fatores como: pesquisa tecnológica para os processos ou produtos
locais; treinamento de trabalhadores para atender requisitos de qualificação demandados em nível local;
informações sobre os diversos mercados para os produtos locais; fixação de marcas locais ou regionais;
marketing de produtos locais.
72
As ações de políticas públicas sugeridas pelos autores citados neste capítulo podem ser parte
de programas em qualquer um dos três níveis de governo. No entanto, como observado por
Suzigan (2001), a descentralização de políticas públicas para os níveis estadual ou municipal
tem o potencial de reduzir eventuais barreiras e facilitar sua implementação.
3.5 Estruturas de governança e coordenação em aglomerações
Cassiolato et alii (2004) afirmam que, devido ao fenômeno da globalização, as (possíveis)
articulações entre os agentes locais inevitavelmente relacionam-se e dependem de articulações
com agentes localizados externamente ao território. Ao abordar aglomerações produtivas
localizadas, deve-se buscar compreender sob que sistema de coordenação as relações entre
empresas e instituições locais (e destas com aquelas localizadas externamente) podem ser
estabelecidas. É nesse sentido que o conceito de governança mostra sua importância.
De acordo com Albagli e Britto (2003), o conceito genérico de governança diz respeito às
formas pelas quais indivíduos e instituições públicas ou privadas gerenciam – formal ou
informalmente – seus problemas comuns, alocando interesses conflitantes e realizando ações
de cooperação. Para o caso específico de aglomerações localizadas, o conceito de governança
trata dos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação nos processos de
decisão locais, dos diferentes agentes (Estado, em seus vários níveis, empresas, cidadãos e
trabalhadores, organizações não-governamentais etc.). Também aborda as diferentes
atividades que envolvem a organização dos fluxos de produção e o processo de geração,
disseminação e uso de conhecimentos diversos. Para Cassiolato et alii. (2004 : 6), o conceito
de governança para aglomerações parte da noção geral do:
estabelecimento de práticas democráticas locais por meio da intervenção e
participação de diferentes categorias de atores – Estado, em seus diferentes níveis,
73
empresas privadas locais, cidadãos e trabalhadores, organizações não-governamentais
etc. – nos processos de decisão locais.
No entanto, os autores ressaltam que se deve considerar a possibilidade de que grandes
empresas localizadas externamente à aglomeração “coordenem as relações técnicas e
econômicas, ao longo da cadeia produtiva, condicionando significativamente os processos
decisórios locais” (CASSIOLATO et alii, 2004: 6). O surgimento de estruturas de governança
depende de uma série de fatores que caracterizam cada sistema ou arranjo e, nem sempre, as
formas de governança podem ser criadas ou induzidas localmente.
A literatura identifica duas principais formas de governança em aglomerações produtivas
locais: a hierárquica e aquela na forma de “redes”. A primeira é caracterizada por apresentar
autoridade internalizada em grandes empresas (com real ou potencial capacidade de coordenar
as relações econômicas e tecnológicas no ambiente local). Já a governança na forma de
“redes” é caracterizada pela ausência de grandes empresas coordenando as atividades
econômicas e tecnológicas. Geralmente formados por MPEs (micro, pequenas e médias
empresas), os arranjos produtivos locais que apresentam esta forma de governança são
marcados pelas relações de alta intensidade entre grande número de agentes, onde nenhum
deles domina. Em outras palavras, não há uma estrutura de governança definida.
De acordo com Cassiolato et alii (2004), existem dois casos em que a governança em rede
pode ser observada. No primeiro, as MPEs surgem a partir da presença local de expressivas
instituições científico-tecnológicas, caracterizando a aglomeração como de base tecnológica,
com empresas especializadas em diversas áreas como biotecnologia, tecnologias da
informação e comunicações, materiais avançados, entre outros. Embora possam ser
observados programas de estímulo, como financiamentos de capital de risco ou incubadoras,
estes tendem a ser insuficientes para ensejar o desenvolvimento das empresas e de suas
74
relações e interações. Assim, a governança em nível local passa a ser realizada pela
combinação de estímulos públicos com ações privadas.
O segundo caso de aglomerações com governança em rede assemelha-se ao dos chamados
distritos industriais italianos, caracterizados pela aglomeração de MPEs especializadas em
setores tradicionais como calçados, vestuário, móveis, etc. (CASSIOLATO et alii, 2004). O
Quadro 6 ilustra algumas características de aglomerações sem governança local definida.
Nota-se que, por tratar de aglomerações sem governança definida, a cooperação produtor-
usuário e o governo têm importante papel na promoção e desenvolvimento de ações
coordenadas.
Já a governança do tipo hierárquica é observada na literatura em duas situações distintas,
segundo Markusen (1996): o primeiro caso trata de aglomerações caracterizadas pela presença
de uma ou algumas grandes empresas que funcionam como “âncora” para a economia da
região – são as chamadas aglomerações “hub-and-spoke” (MARKUSEN, 1996), conhecidas
ainda como “centro-radiais” (SANTOS et alii, 2002). Assim, enquanto estas grandes
empresas atuam como âncora ou centro (hub) na região, os fornecedores e as atividades
correlatas locais encontram-se dispersas à sua volta, como os aros (spoke) de uma roda.
Cassiolato et alii (2004 : 7) observam que nesta situação, as empresas-âncora “estabelecem
relações técnicas e econômicas com fornecedores locais, criando um circuito virtuoso que
estimula o desenvolvimento de capacitações e estabelece uma competitividade sistêmica”.
75
QUADRO 6– Características de aglomerações sem governança local definida
Características
Aglomerações de PMEs sem
governança local
Aglomerações de PMEs
surgidas a partir da
infraestrutura de C&T
Economias de escala Baixas Altas
Nível de atividade das
empresas locais
Alto Baixo ou nenhum
Comércio intra-aglomerado Altamente desenvolvido
Alto entre instituições e
fornecedores
Investimentos-chave Decisão local
Decisão no governo local ou
externa ao aglomerado
Cooperação produtor-usuário Importante Baixa
Cooperação com firmas
externas ao aglomerado
Baixa Alta com instituições
Regulação das relações Longo prazo Curto prazo
Fontes de financiamento Internas ao aglomerado Externas
Possibilidades de crescimento
de longo prazo
Boas
Depende das instituições
governamentais
Papel do governo local Importante
Fraco na promoção
Alto em infraestrutura
Fonte: Cassiolato e Lastres (2001)
Já a governança do tipo hierárquica é observada na literatura em duas situações distintas,
segundo Markusen (1996): o primeiro caso trata de aglomerações caracterizadas pela presença
de uma ou algumas grandes empresas que funcionam como “âncora” para a economia da
região – são as chamadas aglomerações “hub-and-spoke” (MARKUSEN, 1996), conhecidas
ainda como “centro-radiais” (SANTOS et alii, 2002). Assim, enquanto estas grandes
empresas atuam como âncora ou centro (hub) na região, os fornecedores e as atividades
correlatas locais encontram-se dispersas à sua volta, como os aros (spoke) de uma roda.
Cassiolato et alii (2004 : 7) observam que nesta situação, as empresas-âncoras “estabelecem
relações técnicas e econômicas com fornecedores locais, criando um circuito virtuoso que
estimula o desenvolvimento de capacitações e estabelece uma competitividade sistêmica”.
76
Santos et alii (2002) observam que nestas configurações, as funções estratégicas no arranjo
(como design, marketing, P&D) são centralizadas na empresa-âncora, ou em menor escala,
nos fornecedores de primeiro nível; e as atividades produtivas são descentralizadas para as
pequenas empresas especializadas da aglomeração.
Outra característica deste tipo de configuração é o fato de que a empresa-âncora não se
encontra totalmente imersa no ambiente local, e estabelece importantes relações com outros
atores localizados fora do arranjo, como fornecedores, clientes e concorrentes. Assim, quando
existem relações cooperativas, estas são determinadas pelas empresas-âncora
44
.
Em geral, grandes oligopolistas são empresas-âncora em aglomerações locais. As pequenas
empresas podem se beneficiar das vantagens aglomerativas propiciadas pela presença de uma
grande firma no local, sem manter relações com esta e, portanto, apresentar menor grau de
dependência.
O segundo caso de governança hierárquica é aquele chamado de “plataforma industrial
satélite”, caracterizado pela presença, em nível local, de plantas industriais de empresas cujas
sedes encontram-se fora do aglomerado(MARKUSEN, 1996). Nesse caso, decisões de
investimento se dão fora do aglomerado e as empresas “plataforma satélites” podem ficar
“espacialmente independentes das operações para frente e para trás da cadeia produtiva”
(CASSIOLATO e LASTRES, 2001).
44
Santos et alii (2002) notam que este tipo de estrutura de governança de arranjos locais encaixa-se no conceito
de cadeia global dominada pelo produtor (producer-driven chains). Esse tipo de cadeia produtiva, segundo
Schmitz (2000), é governada por grandes empresas de tecnologia intensiva que atuam internacionalmente, tendo
poder de coordenar as ligações para frente e para trás na cadeia. Schmitz ainda cita as cadeias globais dominadas
pelo comprador (buyer-driven chains), observadas em indústrias caracterizadas pelo trabalho intensivo.
77
A diferença fundamental destes dois casos refere-se ao tipo de ação local
empreendida por parte das grandes empresas lideres: ou elas funcionam como
âncoras e permitem a alavancagem dos processos locais virtuosos de adensamento
da cadeia produtiva, aprendizado e desenvolvimento de capacitações tecnológicas;
ou, então, apenas se aproveitam de vantagens espúrias de localização, tais como
incentivos fiscais e baixos custos de insumos, em particular aqueles ligados à
capacitação ou especialização da mão-de-obra (CASSIOLATO e LASTRES,
2001:6).
O Quadro 7 ilustra as principais características de aglomerações locais com governança de
grandes empresas, incluindo as empresas-âncora e as empresas do tipo plataforma-satélite.
Nota-se que as decisões e dinâmica dos arranjos com este tipo de governança, encontram-se
condicionadas às empresas controladoras, que podem estar dentro ou fora da aglomeração.
QUADRO 7 – Principais características de aglomerações com governança local de
grandes empresas
Características
Aglomerações Controladas
por Grandes Empresas com
Sede Local (empresas-âncora)
Aglomerações Controladas
por Grandes Empresas tipo
Plataforma Industrial Satélite
Economias de escala Altas Altas
Nível de atividade das
empresas locais
Baixo (exceto serviços) Baixo a moderado
Comércio intra-aglomerado
Entre grande firma e
fornecedores
Mínimo
Investimentos-chave Decisão local Decisão externa
Cooperação produtor-usuário
Baixa, podendo crescer
significativamente
Praticamente nula
Cooperação com firmas
externas ao aglomerado
Alta Alta com empresa matriz
Regulação das relações Longo prazo Curto prazo
Fontes de financiamento Empresa grande Externas
Possibilidades de
crescimento de longo prazo
Depende da grande empresa
Ameaçada pela relocalização
das atividades
Papel do governo local Importante Importante
Fonte: Cassiolato e Lastres (2001)
78
3.6 Aglomerações de empresas: tipologias e caracterizações
OCDE (2001) apud Marco (2003) mostra que, tanto forças econômicas quanto sociais são
capazes de promover a concentração geográfica de empresas. O documento da OCDE coloca
como alguns fatores econômicos, a abundância de recursos naturais, a disponibilidade de
mão-de-obra qualificada, a presença de fornecedores de insumos e máquinas, as economias de
escala de produção, a proximidade dos mercados, a infraestrutura compartilhada entre os
agentes locais, os menores custos de transação e outras externalidades.
Dentre os fatores sociais, são citadas: a identidade cultural, a interdependência e interações
entre empresas e instituições locais e a confiança mútua. Schmitz (1997) nota que a literatura
sobre aglomerações de empresas tem destacado a importância destas formas organizacionais
como instrumentos de auxílio para pequenas empresas aumentarem sua competitividade e
atingirem novos mercados
45
.
Cassiolato e Lastres (2001) observam que o conceito de aglomerações tornou-se mais
articulado nos últimos anos, à medida que outros conceitos, como os de rede e do de cadeia de
valor, passam a ser associados à noção de aglomeração. Nesse sentido, diversas formas
organizacionais – como clusters, distritos industriais, as próprias redes de firmas, entre
outros
46
– passaram a constituir a idéia de aglomerações. Embora algumas destas formas
sejam semelhantes e alguns autores tratem-nas como sinônimos, parte da literatura
especializada tem procurado definir cada uma delas (GARCEZ, 2000; HANSEN, 2003;
CASSIOLATO e LASTRES, 2001).
45
Nesse sentido destaca-se o caso das aglomerações de pequenas empresas na Itália que tornou-se símbolo de
modelo desenvolvimento, com sua forte base de cooperação e relações interativas entre as firmas (GARCEZ,
2000).
46
Outras denominações são: complexos, parques tecnológicos, milieu inovativo e tecnópolis, cujo
aprofundamento conceitual não interessa para o presente trabalho.
79
BDNES (2004 : 13) mostra que “essas diversas denominações têm em comum a ênfase na
importância dos aspectos locais para o desenvolvimento e a competitividade das empresas”. O
Quadro 8 apresenta algumas semelhanças existentes entre as diferentes abordagens de
aglomerações. Os fatores citados no quadro podem estar presentes em determinadas
aglomerações, mas não em outras.
QUADRO 8 – Alguns aspectos comuns nas diversas abordagens sobre aglomerações
locais
Localização
Proximidade ou concentração geográfica
Atores
Grupos de pequenas empresas; pequenas empresas nucleadas por grande
empresa; associações, instituições de suporte, serviços, ensino e pesquisa,
fomento, financeiras, etc.
Características
Intensa divisão de trabalho entre as firmas; flexibilidade de produção e de
organização; especialização; mão-de-obra qualificada; competição entre
firmas baseada em inovação; estreita colaboração entre as firmas e demais
agentes; fluxo intenso de informações; identidade cultural entre os agentes;
relações de confiança entre os agentes; complementaridades e sinergias
Fonte: Lemos (1997) apud Cassiolato et alii (2004).
A seguir discutem-se alguns conceitos selecionados sobre aglomerações e suas
particularidades :clusters, distritos industriais e redes de firmas; posteriormente analisam-se as
tipologias.
Clusters
Para Porter (1999 : 211), o cluster é definido como um “agrupamento geograficamente
concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área,
vinculadas por elementos comuns e complementares” Galvão (2000, p.6) define os clusters
como "todo tipo de aglomeração de atividades geograficamente concentradas e setorialmente
80
especializadas – não importando o tamanho das unidades produtivas, nem a natureza da
atividade econômica desenvolvida".
IEDI (2002) sugere que o cluster também deve ser geograficamente caracterizável, com um
conjunto relevante de empresas não verticalizadas, produzindo o mesmo produto ou produtos
similares, bem como seus fornecedores e prestadores de serviços. Embora sob diferentes
formas possíveis – redes autônomas de empresas, empresas líderes operando redes de
pequenas empresas terceirizadas, dentre outras – alguma coordenação entre as empresas está
presente, para a qual é fundamental a proximidade geográfica.
Para IPARDES (2003), os clusters industriais apresentam determinadas características
genéricas: i) uma grande empresa ou uma concentração de empresas semelhantes e a
identificação das suas relações ao longo da cadeia produtiva; ii) setores que utilizam
fornecedores comuns ou ofereçam produtos ou serviços complementares; iii) presença de
instituições que fornecem qualificações especializadas, tecnologias, informações, capital ou
infra-estrutura; e iv) presença do poder público exercendo alguma influência sobre as
empresas da aglomeração.
Segundo Garcez (2000), embora a cooperação não necessariamente exista num cluster,
externalidades devem surgir à medida que existe a concentração de empresas. Tais
externalidades estariam relacionadas à emergência de fornecedores de matéria-prima,
componentes e máquinas; ou ainda, à emergência de trabalhadores com habilidades
específicas em determinada atividade.
81
Outras externalidades que podem surgir da aglomeração estariam relacionadas ao surgimento
de agentes que atingem mercados distantes e de serviços especializados (como técnicos,
financeiros e contábeis).
Distritos industriais
O conceito de distrito industrial surgiu a partir dos trabalhos de Marshall no final do século
XIX
47
e ganhou notoriedade a partir do sucesso das aglomerações de pequenas empresas na
Itália (GARCEZ, 2000). O distrito industrial denota uma aglomeração um pouco mais
desenvolvida que um cluster – em sua definição mais simples, cuja característica é a
especialização e divisão do trabalho entre firmas – tendo como características a emergência de
“formas implícitas e explícitas de colaboração entre agentes econômicos locais no interior dos
distritos, incrementando a produção local e às vezes a capacidade de inovação” (GARCEZ,
2000: 357) e a emergência de associações setoriais expressivas.
Santos et alii (2002) apresentam uma caracterização sintética dos distritos industriais: a)
proximidade geográfica; b) especialização setorial; c) predominância de PMEs; d) cooperação
inter-firmas; e) competição inter-firmas determinada pela inovação; f) troca de informações
baseada na confiança socialmente construída; g) organizações de apoio ativas na oferta de
serviços; e h) parceria estreita com o setor público local.
Embora forneça definições distintas para clusters e distritos industriais, Garcez (2000)
também afirma que os clusters podem apresentar características de distritos industriais, uma
47
A partir do trabalho de Marshall, as aglomerações de firmas ficaram conhecidas como distritos marshallianos
ou distritos industriais marshallianos.
82
vez que existem distintos graus ou intensidades dos aspectos supracitados. A autora ainda
atenta para o fato de que embora os distritos industriais estejam, à primeira vista, associados a
pequenas empresas, as relações e interações inter-firmas podem incluir uma ou mais grandes
empresas.
Redes de firmas
De acordo com Garcez (2000) as redes de firmas são caracterizadas pela cooperação entre
firmas, aprendizado e inovações coletiva, sem necessariamente haver limitação geográfica.
Em outras palavras, as empresas que compõe uma rede podem apresentar eficiência coletiva
mesmo sem estarem posicionadas no mesmo local. A autora nota que, não obstante as
externalidades tenderem a ser restritas, os ganhos através da ação conjunta podem ser
expressivos.
3.6.1 Aglomerações informais, organizadas e inovativas
A tipologia de aglomerações proposta por Mytelka e Ferinelli (2000) é interessante porque
permite captar o grau de desenvolvimento da aglomeração. Para as autoras, aglomerações
pouco desenvolvidas são classificadas como aglomerações informais. As mais desenvolvidas
são classificadas como organizadas e inovativas.
As aglomerações produtivas informais caracterizam-se por serem, geralmente, compostas por
PMEs, com baixo nível tecnológico (em relação à fronteira), capacidade gerencial incipiente,
força de trabalho com baixo nível de qualificação e ausência de treinamento ou
aprimoramentos sistematizado desta mão-de-obra. As formas de coordenação, interação e
83
relações de cooperação inter-firmas e entre os diversos agentes são pouco evoluídas, havendo
baixa presença de relações de confiança (e troca de informações) e predomínio da competição
predatória. O ambiente institucional é pouco desenvolvido, não contando com serviços de
apoio ao desenvolvimento sustentado da aglomeração – como serviços financeiros,
instituições de ensino e pesquisa, centros de produtividade e treinamento, entre outros. As
barreiras à entrada de novas firmas, portanto, são baixas neste tipo de aglomeração. Santos et
alii (2002) notam que, em aglomerações informais, o aumento do número de firmas não
necessariamente reflete positivamente em aumento da capacidade de gestão, investimento em
novas tecnologias de processo, melhoramento da qualidade e diversificação do produto ou
direcionamento da produção para o mercado internacional.
Quanto às aglomerações organizadas, sua principal característica – de acordo com Mytelka e
Farinelli (2000) – é a capacidade de coordenação entre as empresas. Estas aglomerações
normalmente se mostram atualizadas em relação à fronteira tecnológica vigente, possuem
mão-de-obra em constante treinamento e capacidade gerencial sempre em aprimoramento.
Santos et alii (2002) notam que o principal problema deste tipo de aglomeração é a
dificuldade em expandir sua atuação para outros setores, potencialmente geradoras de
inovação (com uma base tecnológica ampliada e mais ligações à montante e à jusante na
cadeia produtiva). Não obstante tal característica, os autores sugerem que tais aglomerações
possuem competitividade suficiente para ter acesso ao mercado em nível nacional ou mesmo
internacional. Mytelka e Farinelli (2000) notam que aglomerações organizadas são
potencialmente inovativas. As aglomerações inovativas apresentam como principal
característica, a capacidade de criação de um ambiente inovativo, aproximando-se do conceito
evolucionista dos sistemas de inovação.
84
Santos et alii (2002 : 11) caracterizam as aglomerações inovativas a partir dos seguintes
elementos:
a) grande número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação, bem
como alto nível de qualificação da mão-de-obra; b) constantes trocas de pessoal
entre fornecedores e usuários; c) encadeamentos extensivos à jusante, à montante e
horizontais; d) presença de associações de classe e associações comerciais,
fornecedoras de infra-estrutura coletiva em gerenciamento, treinamento, marketing,
assistência técnica, financeira, etc.; e) intensa cooperação entre firmas competidoras,
com o objetivo de compartilhar riscos, buscar inovações e estabilizar o mercado; e f)
intensa cooperação entre usuários e produtores, através do desenvolvimento de
produtos e processos, troca de informação, etc. As relações de cooperação neste tipo
de arranjo sustentam-se no médio e no longo prazo, uma vez que se encontram
alicerçadas em relações de confiança altamente desenvolvidas.
Santos et alii (2002) sugerem que dadas suas características, este tipo de aglomeração tende a
apresentar uma dinâmica diferenciada em relação às aglomerações organizadas, fazendo com
que, mesmo indústrias tradicionais (como têxteis, calçados, móveis, etc.), presentes em
aglomerações inovativas, tenham um dinamismo diferenciado. O Quadro 9 resume as
principais características de aglomerações informais, organizadas e inovativas.
QUADRO 9 – Características de aglomerações informais, organizadas e inovativas
Características
Aglomerações
informais
Aglomerações
organizadas
Aglomerações
inovativas
Liderança Baixo Baixo e Médio Alto
Tamanho das firmas Micro e pequena MPME MPME e Grandes
Capacidade inovativa Pequena Alguma Continua
Confiança interna Pequena Alta Alta
Nível de tecnologia Pequena Média dia
Ligações entre agentes Algum Algum Difundido
Cooperação Pequena Alguma e alta Alta
Competição Alta Alta Média e alta
Novos produtos Poucos ou nenhum Alguns Continuamente
Exportação Pouco ou nenhum Media e alta Alta
Fonte: Mytelka e Farinelli (2000) adaptado de UNCTAD (1998 : 7).
85
3.6.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
A segunda taxonomia de aglomerações abordada foi proposta pela RedeSist
48
e contempla os
conceitos de arranjos produtivos locais (APLs) e sistemas produtivos e inovativos locais
(SPILs). De acordo com Cassiolato e Lastres (2004), a idéia de inovação e mudança
tecnológica está no centro da compreensão dos APLs e SPILs. A ênfase nessas formas
organizacionais proporciona melhor investigação de: relações entre conjuntos de empresas e
destes conjuntos com outros atores (visão sistêmica); fluxos de conhecimento, principalmente
o conhecimento tácito; bases dos processos de aprendizado para capacitações produtivas,
organizacionais e inovativas; importância da proximidade geográfica e identidade histórica,
institucional, social e cultural como fontes de diversidade e vantagens competitivas. De
acordo com a RedeSist (CASSIOLATO e LASTRES, 2004 : 5):
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – SPILs – designam conjuntos de agentes
econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo
atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de interação,
cooperação e aprendizagem. SPILs geralmente incluem empresas – produtoras de
bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de
serviços, comercializadoras, clientes, etc., cooperativas, associações e representações
- e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos,
informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento. Já o
termo Arranjos Produtivos Locais designa aqueles casos de sistemas fragmentados e
que não apresentam significativa articulação entre os agentes
49
.
Cassiolato e Lastres (2004) sugerem que metodologicamente, o enfoque de APLs e SPILs
funciona como uma ferramenta de auxilio na superação de problemas observados em
48
A RedeSist é uma rede de pesquisa interdisciplinar sediada no Instituto de Economia da UFRJ, que pesquisa
aglomerações e desenvolvimento local desde 1997, ano de sua fundação.
49
Albagli e Britto (2003) detalham a definição da RedeSist para APLs: arranjos produtivos locais são
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e
a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos
e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas
formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas
para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa,
desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.
86
abordagens tradicionais, como aquelas que tratam apenas unidades produtivas individuais,
setores ou cadeias produtivas. Cassiolato e Lastres (2004: 6-7) justificam o uso da abordagem
através de APLs e SPILs da seguinte maneira::
a) É importante considerar as especificidades locais das diferentes atividades, uma
vez que a dinâmica produtiva de determinado bem pode ser diferente em distintas
regiões;
b) Deve-se reconhecer que a base de competitividade das empresas em determinado
arranjo produtivo não é restrita a um único setor, estando relacionadas atividades ao
longo de toda a cadeia produtiva e a uma série de atividades inter-setoriais, ligadas à
geração, aquisição e difusão de conhecimentos; e
c) Visões baseadas na classificação tradicional de setor, mostram-se restritas e não
captam situações em que as fronteiras desses setores encontram-se em processo de
mudança. Assim, a mudança técnica mostra-se dependente de conhecimentos de
outros setores e tecnologias-chave, bem como de várias etapas da cadeia produtiva.
Cassiolato e Lastres (2001) sugerem que empresas tendem a participar de uma aglomeração
geográfica de três maneiras distintas. Primeiramente, através de uma aglomeração geográfica
de firmas especializadas localmente em atividades pertencentes a uma mesma base técnica,
onde as empresas pertencentes ao aglomerado apenas aproveitam economias simples de
aglomeração (relacionadas à existência de mão-de-obra disponível). As barreiras à entrada são
baixas e observam-se somente ligações eventuais inter-firmas, pouca ou nenhuma cooperação
e as instituições locais são inexistentes ou pouco desenvolvidas. Este tipo de aglomeração é
bastante semelhante às aglomerações informais, propostas por Mytelka e Farinelli (2000).
Uma segunda forma de aglomeração contempla uma evolução em relação à anterior no que
diz respeito ao aprofundamento da especialização da produção, o que implica numa
reestruturação das empresas e organizações locais, porém sem alteração substancial na
organização da produção e padrão de relações inter-firmas. As estratégias nesses arranjos
visariam a um aumento na qualidade do produto, que quando obtida, ensejaria a busca pela
87
especialização de produtos do mesmo setor e o reposicionamento das estratégias em busca de
nichos de mercado
50
.
Nestes casos, apesar de que as empresas, individual ou coletivamente, possam obter
um aumento significativo na sua capacidade produtiva, inclusive com ganhos de
aprendizado tecnológico voltado à produção propriamente dita, elas não serão capazes
de gerar processos de aprendizado interativo voltados à inovação. Neste caso, as
ligações inter-firmas não se aprofundarão, nem se estenderão a uma rede complexa,
mas se manterão horizontais e ocasionais. A implicação principal é o grau limitado de
reorganização interna do sistema obtido a partir de tal evolução, sendo que a competi-
tividade do sistema local será extremamente limitada (CASSIOLATO e LASTRES,
2001 : 10).
Esse segundo tipo de aglomeração enquadra-se no que a RedeSist chama de arranjos
produtivos locais (APLs), e guarda semelhança com o que Mytelka e Farinelli (2000) chamam
de aglomerações organizadas. Um terceiro estágio em que as aglomerações podem chegar, é
aquele dotado de visão sistêmica e alta capacidade inovativa. De acordo com Cassiolato e
Lastres (2001), estes sistemas são caracterizados pela diversificação de produtos em setores
diferentes, havendo reorganização da produção de empresas e organizações locais. As
ligações inter-firmas – tanto verticais quanto horizontais – tornam-se mais intensas e um
“sistema” de firmas e instituições mais completo passa a se desenvolver. O principal aspecto é
a incorporação na área geográfica de atividades produtivas “para frente” e “para trás”, o que
promove uma mudança de um arranjo ou aglomerado industrial monoproduto para um
sistema produtivo industrial local.
A evolução do aglomerado dar-se-á através de mudanças verticais em direção a
produtos, setores e capacitações complementares, para frente e para trás. As ligações
inter-firmas (verticais e horizontais) se tornam mais intensas e surgirá o
desenvolvimento de um “sistema”
51
de firmas e instituições mais completo. As
empresas, individual e coletivamente, avançam em direção a produção de bens mais
complexos tecnologicamente, graças ao estabelecimento da rede de relações técnicas
e econômicas. Neste caso, a implicação mais importante refere-se à necessidade de
50
Cassiolato e Lastres (2001) mostram que tem sido (implicitamente) a estratégia adotada por aglomerados que
optam pela integração em cadeias de commodities globais, como o aglomerado de calçados de Bento Gonçalves,
no Rio Grande do Sul. Tais cadeias, como proposto por Schmitz (2000), podem ser governadas pelos
compradores (buyer-driven chains), no caso de industrias de setores tradicionais ou pelos produtores (producer-
driven chains), no caso de setores que utilizam tecnologias de ponta.
51
Grifo do autor.
88
uma coordenação multi-organizacional da formação de capacitações que,
evidentemente, adquirem importância crítica (CASSIOLATO e LASTRES, 2001 :
10).
Esse tipo de aglomeração corresponde ao que a RedeSist chama de Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais (SPILs), e guarda algumas semelhanças com as aglomerações inovativas de
Mytelka e Farinelli (2000). Cassiolato e Lastres (2001) sintetizam algumas condições
necessárias à existência de tais sistemas: i) alto número de empresas e outros agentes
especializados em alguma atividade produtiva; ii) presença de mão-de-obra local qualificada;
iii) existência de atividades correlacionadas ao longo da cadeia produtiva, com
interdependência entre as empresas do sistema e outros agentes locais; iv) articulação do
sistema local com o exterior; e v) presença de instituições locais (comunitárias e públicas),
capacitadas para compreender e sustentar o sistema (através da cooperação, confiança e
reciprocidade) e promover seu desenvolvimento, principalmente através da inovação.
As tipologias de aglomeração propostas neste capítulo enquadram-se na linha evolucionista
dos estudos sobre aglomerações localizadas de firmas, pois consideram as relações entre os
agentes, o aprendizado por interação e a inovação como um processo coletivo. Tais tipologias
serão utilizadas para classificar as empresas pesquisadas neste trabalho
52
.
O próximo capítulo versará sobre a Cadeia Têxtil e de Confecções (CTC), foco deste estudo.
52
A ótica institucionalista (que encontra-se relacionada a linha evolucionista) não é aprofundada neste estudo.
4 CADEIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES (CTC)
O presente capítulo aborda a cadeia têxtil e de confecções a partir da literatura internacional e
nacional. Este encontra-se subdividido em 6 partes: a primeira apresenta as principais etapas
da cadeia; a segunda, a evolução em âmbito internacional; a terceira discute a evolução
recente da CTC no Brasil; a quarta analisa a competitividade na CTC e perspectivas para o
Brasil, e a quinta, as perspectivas da indústria paranaense; a sexta enfoca os principais estudos
empíricos brasileiros que analisam cadeias têxteis em aglomerados industriais.
4.1 Etapas da CTC
O termo cadeia produtiva pode ser definido como “um conjunto de etapas consecutivas pelas
quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos” (KUPFER e
HASENCLEVER, 2002 apud CAMPOS, 2004 : 62). Cada etapa apresenta especificidades e
contribui para o desenvolvimento do próximo elo do produto.
A cadeia têxtil é caracterizada por uma descontinuidade de operações, onde o resultado de
cada etapa origina o principal insumo da etapa posterior. Essa condição de linearidade indica
baixo encadeamento do setor com outras cadeias, uma vez que grande parte da produção
destina-se ao consumo intermediário dentro da própria cadeia, notadamente o segmento de
confecções, que adquire quase todos os insumos anteriormente trabalhados. Podem ser
observados encadeamentos significativos apenas com o complexo químico e com a
agroindústria. Prochnik (2003) também ilustra esta relação, destacando a cultura do algodão
(agroindústria) e a produção de fibras e filamentos químicos (complexo químico).
90
IEMI (2001) segmenta a CTC em três níveis: o primeiro segmento é aquele fornecedor de
fibras e filamentos químicos que, juntamente com as fibras naturais, produz matérias-primas
básicas que alimentam as indústrias do segundo segmento (o setor de manufaturados têxteis,
como fios, tecidos e malhas) e do terceiro segmento (confecção de bens acabados, incluindo
vestuário, cama, mesa e banho, etc.). As etapas produtivas da CTC envolvem vários
segmentos produtivos:
Indústria mecânica/química: a indústria mecânica fornece máquinas para o restante
da cadeia, enquanto a indústria química produz desde filamentos (artificiais e
sintéticos) a corantes. Ambas atuam servindo o setor rural e químico fornecendo
insumos (CAMPOS, 2004);
Insumos: sementes, fertilizantes, produtos químicos, maquinas e equipamentos. Os
insumos possibilitam a produção de fibras naturais e fibras químicas (artificiais e
sintéticas). As fibras naturais podem ser tanto de origem animal (lãs, pêlos, crinas e
casulos), vegetal (algodão, linho, cânhamo, rami, sisal e juta) ou mineral (amianto). As
fibras químicas podem ser artificiais (cujas matérias-primas são celulose originada da
pasta de madeira ou do linter do algodão) e sintéticas (poliamida [náilon], poliester,
elastano [lycra], acrílico, entre outras) de origem petroquímica (CAMPOS, 2004;
FINEP, 2004);
Beneficiamento da produção rural (fibras naturais): o objetivo desta etapa é
facilitar o transporte e armazenamento da produção (CAMPOS, 2004);
Fiação: refere-se à transformação de fibras em fios (FINEP, 2004). O produto final da
fiação é insumo para a tecelagem – que origina os tecidos planos – e para a malharia –
que origina as malhas (CAMPOS, 2004). Garcia (1994) apud Campos et alii (2000)
91
afirma que é comum ocorrerem misturas das fibras naturais e artificiais na fase de
fiação (possibilitando a produção de fios mistos para a diversificação de produtos).
Tecelagem e malharia: Tanto a tecelagem quanto a malharia têm o objetivo de
entrelaçar fios e transformá-los em tecidos (CAMPOS, 2004). A tecelagem é realizada
com os chamados tecidos planos (ou tecidos comuns), caracterizados pelo
entrelaçamento de dois conjuntos de fios em ângulo de 90º utilizando-se do tear. Já a
malharia consiste na produção de um tipo de tecido chamado malha, que apresenta
maior elasticidade em relação aos tecidos planos. A malha é o tecido resultante da
formação de laços que se interpenetram e se apóiam lateral e verticalmente,
provenientes de um ou mais fios. Tal processo pode ser manual (como no tricô) ou
mecânico, através de maquinas especificas (GLOSSÁRIO DE MODA, TÊXTIL E
CURIOSIDADES, 2005)
53
.
Acabamento: Esta etapa trata de um conjunto de operações para o beneficiamento do
tecido cru, podendo apresentar métodos químicos ou mecânicos. O objetivo desta
etapa é fornecer conforto, durabilidade e propriedades específicos ao produto – como
resistência, controle de encolhimento e retenção da cor (CAMPOS, 2004; FINEP
2005).
Confecção: Engloba desenho, confecção de moldes, montagem, corte e costura dos
tecidos, sendo esta última (corte e costura), a principal etapa da confecção,
concentrando a maioria das operações (CAMPOS, 2004; FINEP 2005). Os produtos
confeccionados são utilizados em consumo doméstico (revestimento de pisos, paredes
e artigos de cama, mesa e banho etc.), produtos industriais (feltros para limpeza, filtros
53
Além dos tecidos planos e das malhas, existem outros tipos de tecidos: os Tecidos de Laçada são obtidos por
processos de entrelaçamento que se aproximam da malha e do tecido comum, diferenciando-se pela forma de
entreleçamento dos fios (exemplo: rendas e cobertores). Os Não-Tecidos ("Non Woven") são desenvolvidos sem
a utilização do tear, e obtidos diretamente de camadas de fibras que se prendem umas às outras por meios físicos
e/ou químicos (exemplos: feltro e Perfex
®
). Já os tecidos especiais são obtidos por processos que geram estrutura
mista de tecido comum, malha e não-tecido (exemplos: laminados e filmes) [GLOSSARIO DE MODA, TEXTIL
E CURIOSIDADES, 2005].
92
industriais, embalagens, revestimento para móveis e veículos etc.), usos especiais
(aplicação ao meio ambiente, confecção de roupas especiais e construção de balões) e
vestuário (roupas em geral). Dentro da etapa de confecção, tem-se o segmento do
vestuário como o mais representativo, uma vez que: i) agrega um número significativo
de produtores
54
; ii) apresenta-se intensivo em mão-de-obra; iii) possui processo de
produção dinâmico em função das mudanças de moda e; iv) está em constante
processo de desenvolvimento de design (CAMPOS et alii, 2000);
Distribuição: Etapa através da qual o produto final chega ao consumidor (CAMPOS,
2004).
Embora considere esta seqüência para as etapas da CTC, Prochnik (2003) afirma que, na
prática, há grande diversidade no setor, sendo que cada etapa pode ser composta por grande
número de segmentos diferenciados
55
. Tal segmentação é decorrente de: i) grande variedade
de insumos utilizados; ii) uso diversificado que caracteriza os produtos e, iii) diferentes
estratégias empresariais. Como a estratégia central das empresas da CTC é a diferenciação do
produto, observa-se uma tendência de constante ampliação da diversidade nessa cadeia. A
Figura 2 ilustra o fluxograma da CTC.
54
De acordo com SDP/MDIC (2000) o elo de confecções (que inclui o vestuário) responde por praticamente
metade do volume de negócios da CTC.
55
A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), por exemplo, considera 905 diferentes categorias de produtos
têxteis, a oito dígitos.
93
FIGURA 2- Fluxograma da CTC
Fonte: Arpan e Toyone (1984); Rodrigues (1997) apud Campos et alii, 2000.
A CTC caracteriza-se pelo alto grau de imitação, devido principalmente ao fato de que as
possibilidades de proteção das inovações são baixas. Neste segmento, considera-se que o
conhecimento tecnológico é difundido. Com isso, há certa estabilidade no paradigma
tecnológico e os processos de aprendizagem são potencialmente ativos entre as empresas.
Além disso, as formas de proteção como patentes, as curvas de aprendizagem, o lead time e
segredos da profissão “são insuficientes para garantir por muito tempo a apropriabilidade dos
resultados dos processos inovativos” (CAMPOS et alii, 2000 : 350).
Dentro deste contexto, a tacitividade é reduzida. O conhecimento que sustenta o
desenvolvimento tecnológico é em grande parte padronizado, codificado,
simplificado, onde publicações, formulários, licença, manuais etc. constituem
importantes formas de transmissão do conhecimento. Além disso, os tipos informais
de conhecimento, como o específico e o tácito, que ocorrem através das pessoas, não
encontram grandes obstáculos para transmissão, tendo em vista não requerem
domínio de conhecimento complexo. Logo, a tacitividade reduz-se na capacidade de
promover adaptação incremental, de produto e processo, de fontes externas de
inovações. Diante destas considerações, ganha importância nesta indústria os
94
processos de aprendizagem tecnológica postos nas formas de aprender fazendo,
usando e interagindo (CAMPOS et alii., 2000 : 350).
Quanto ao segmento de confecções e vestuário, especificamente, Abreu (1997) apud
Cavalcanti Filho et alii (2004) destaca que, em primeiro lugar, sua estrutura industrial é
heterogênea. Devido à diversidade de produtos; à segmentação de mercado (moda praia,
infanto-juvenil, feminina, etc.) e às baixas barreiras à entrada (paradigma tecnológico
difundido e baixos custos de investimento inicial), o ambiente se torna favorável ao aumento
do número de empresas, com destaque as de pequeno e médio porte.
Em segundo lugar, empresas de maior porte, tendem a canalizar seus produtos para mercados
mais padronizados (produção em maior escala), possibilitando às MPEs, a exploração de
nichos específicos de mercado, dada sua flexibilidade e proximidade com o consumidor final.
Em terceiro lugar, pelo fato de a produção industrial do segmento estar baseada na relação
"máquina de costura-operador" (principalmente na fase de costura), a atividade é intensiva em
mão-de-obra. Em quarto lugar, sendo o processo de produção altamente divisível e havendo
presença de uma cadeia de subcontratação, as perdas são divididas por todos os agentes da
cadeia.
4.2 Evolução da CTC em âmbito internacional
De acordo com FINEP (2004), a indústria têxtil-vestuário passou por processos de
reestruturação produtiva e de mudanças organizacionais em nível mundial a partir da década
de 1970. Tais processos, que alteraram o seu padrão de concorrência e provocaram mudanças
nas formas de produção e comercialização, implicaram em: i) acirramento da concorrência; ii)
incorporação no processo produtivo de novos métodos (como o just-in-time) e de novas
95
tecnologias (de base microeletrônica); iii) desenvolvimentos de novos produtos (fibras
sintéticas); iv) segmentação da cadeia (com deslocamento da produção para regiões ou países
que possibilitem custos inferiores). Cada vez mais as grandes empresas da CTC mundial
passam a abrir mão das atividades produtivas propriamente ditas, para focar seus esforços nos
ativos intangíveis (marca, desenvolvimento de produto, marketing, canais de distribuição e
comercialização), com o objetivo de obter maior força de comando e maiores ganhos na
cadeia.
Os avanços tecnológicos das últimas décadas (baseados na microeletrônica) representam na
CTC um potencial produtivo radicalmente superior aos saltos tecnológicos anteriores. Como
resultado, notam-se significativos ganhos de produtividade e uma maior automatização do
processo têxtil. Houve na CTC, a partir da década de 1980, melhorias significativas no
diagnóstico e capacidade de monitoramento da produção; redução do tempo de parada das
máquinas; mudança de modelos, padrões ou cores dos produtos; reparo de fios rompidos,
entre outros fatores que contribuíram na redução de custos e aumento da qualidade dos
produtos (FINEP, 2004).
Na indústria do vestuário, especificamente, as maiores inovações se deram no design do
produto e na organização da produção e marketing. De acordo com Mytelka (1991) apud
FINEP (2004), as empresas deste segmento estão despendendo cada vez mais atenção à moda,
o que as torna mais intensivas em design e melhora potencialmente o produto – embora o
segmento de vestuário ainda apresente-se como intensivo em mão-de-obra.
96
Campos et alii (2000) notam que as empresas estão se esforçando para captar variações nos
gostos dos consumidores, identificando tendências e antecipando os lançamentos de produtos
em relação aos concorrentes. Ao utilizar a marca como estratégia de mercado, as empresas
buscam maior identificação com o consumidor – através do desenvolvimento de um estilo,
qualidade e serviços próprios – como diferenciais em relação aos concorrentes, além de
explorar a lealdade do consumidor à marca como opção estratégica. Nesse sentido, as
empresas buscam ainda obter informações sobre mudança de mercado, participando de feiras,
congressos, seminários e eventos em geral.
FINEP (2004) observa um deslocamento, nas últimas décadas, das atividades produtivas para
regiões/países onde o custo do trabalho é menor (notadamente em segmentos intensivos em
mão-de-obra, como o vestuário), sendo que tal deslocamento da produção pode se dar de duas
maneiras: via investimento direto ou por meio de subcontratação (que vem se tornando a
forma mais freqüente). Nesse sentido, observou-se deslocamento da produção do Japão para
os Tigres Asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura) a partir da década de
1970. Já em meados da década de 1980, notou-se outra relocalização da produção, que migrou
dos Tigres Asiáticos para o Sudeste Asiático e China. Campos et alii (2000) nota que
empresas estabelecidas em países da Ásia, como Coréia do Sul e Taiwan, beneficiaram-se
inicialmente dos baixos custos da mão-de-obra para penetrar em mercados de produtos menos
sofisticados.
No entanto, com os posteriores processos de reestruturação produtiva interna e o
encarecimento da mão-de-obra, tais países começaram a direcionar sua produção para
produtos com maior valor agregado. Ao mesmo tempo, instalaram unidades industriais em
97
outros países asiáticos (como Singapura, Indonésia, China) para continuar produzindo bens de
menor sofisticação (explorando os benefícios dos baixos custos de produção reduzidos).
Já na década de 1990 (especialmente devido à consolidação dos blocos comerciais e acordos
bilateriais entre nações) observou-se uma relocalização produtiva da indústria têxtil-vestuário
dos Estados Unidos para a América Central e o Caribe (principalmente para o México em
função do NAFTA) e relocalização da produção da região da União Européia para os países
do Leste Europeu (após a queda do Muro de Berlim) [CRUZ-MOREIRA, 2003 apud FINEP,
2004].
Os países desenvolvidos (como EUA e Japão) destacam-se pela produção de têxteis, enquanto
aqueles em desenvolvimento (como Taiwan, China e Coréia do Sul) destacam-se pela
produção de confeccionados. Campos et alii. (2000) mostram que na safra de 2000/2001, o
Brasil foi o quinto maior produtor de algodão do mundo. A China, primeira colocada tanto em
consumo quanto em produção, produziu quase cinco vezes mais algodão que o Brasil no
referido período
56
.
Em 2003, o comércio mundial de têxteis movimentou US$ 169 bilhões e apresentou
crescimento de 11% em relação ao montante movimentado em 2002. Já o comércio mundial
de vestuário movimentou em 2003, US$ 226 bilhões e apresentou crescimento de 12% em
relação ao montante movimentado em 2002 (WTO, 2004).
A Tabela 1 mostra a evolução das exportações dos maiores países exportadores de têxteis, em
anos selecionados, entre 1980 e 2003. Destaca-se, ao longo dos anos, o expressivo
56
Depois da China, os maiores produtores de algodão foram: Estados Unidos, Índia e Paquistão (CAMPOS et
alii. 2000)
98
crescimento das exportações da China, que detinha 4,6% das exportações mundiais em 1980 e
passou a responder por 15,9% em 2003. Houve queda significativa das exportações japonesas
e dos países da União Européia, mas outros países asiáticos como a Indonésia, a Turquia e o
Paquistão destacaram-se positivamente ao longo dos anos como exportadores mundiais de
têxteis.
TABELA 1 - Maiores exportadores mundiais de têxteis - Participação nas exportações
mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 ( %)
País ou região 1980 1990 2000 2003
União Européia (UE) 49,4 48,7 34,3 34,8
China(a) 4,6 6,9 10,5 15,9
Outros europeus (excluindo UE) 15 14,5 14,0 15,6
Estados Unidos 6,8 4,8 7,1 6,4
Coréia(b) 4,0 5,8 8,2 6,0
Taiwan 3,2 5,9 7,7 5,5
Índia(b) 2,4 2,1 3,9 3,8
Japão 9,3 5,6 4,5 3,8
Paquistão 1,6 2,6 2,9 3,4
Turquia 0,6 1,4 2,4 3,1
Indonésia 0,1 1,2 2,3 3,7
Canadá 0,6 0,7 1,4 1,3
Tailândia(b) 0,6 0,9 1,3 1,3
México(a) 0,2 0,7 1,7 1,2
República Tcheca(c) - - 0,8 1,0
Fonte: WTO (2004)
Notas:
(a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo
(b) Inclui estimativas das Secretarias
(c) Importações valoradas pelo F.O.B.
(d) 2002 ao invés de 2003
Estudo da UNICAMP (2002) mostra que a predominância de países em desenvolvimento nas
exportações mundiais de têxteis reflete a relocalização da produção e a divisão internacional
do trabalho na CTC, com as empresas dos países em desenvolvimento comprando insumos
têxteis dos países desenvolvidos e devolvendo-lhes confecções, via exportação.
99
A Tabela 2 mostra a evolução das importações dos maiores países importadores de têxteis, em
anos selecionados, a partir de 1980. A União Européia (como no caso das exportações),
perdeu espaço no comércio internacional de têxteis, o que pode indicar uma maior
comercialização entre os países pertencentes ao bloco. Uma queda nas importações ao longo
dos anos também foi verifica na Austrália. A maioria dos países, no entanto, aumentou suas
importações têxteis ao longo dos anos, com destaque para os Estados Unidos, México e
China.
TABELA 2 - Maiores importadores mundiais de têxteis - Participação nas exportações
mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 ( %)
País ou região 1980 1990 2000 2003
União Européia 46,5 46,7 29,9 29,3
Outros europeus (excluindo
UE)
14,0 13,2 10,7 11,2
Estados Unidos 4,5 6,2 9,8 10,2
China(a) 1,9 4,9 7,9 7,9
México(a,c) 0,2 0,9 3,6 3,1
Japão 2,9 3,8 3,0 2,8
Canadá(c) 2,3 2,2 2,5 2,2
Turquia 0,1 0,5 1,3 1,9
Polônia 0,5 0,2 1,5 1,7
Coréia(b) 0,7 1,8 1,1 1,6
Romênia - 0,1 1,1 1,6
Vietnã(b) - - 0,8 1,6
Emirados Árabes(b,d) 0,8 0,9 1,3 1,3
Rússia(b) - - 0,8 1,1
Austrália(c) 2,0 1,3 1,0 0,9
Fonte: WTO (2004)
Notas:
(a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo
(b) Inclui estimativas das Secretarias
(c) Importações valoradas pelo F.O.B.
(d) 2002 ao invés de 2003
A Tabela 3 mostra a evolução das exportações dos maiores países exportadores de
confeccionados, em anos selecionados, a partir de 1980. A exemplo das exportações têxteis, a
União Européia apresentou significativa queda nas exportações de vestuário ao longo dos
anos. A Coréia também apresentou queda expressiva nas exportações. Novamente, a China
100
destaca-se como grande exportadora do setor, tendo aumentado 475% sua participação nas
exportações mundiais de confeccionados desde 1980. Destaca-se ainda a evolução de países
como a Turquia, o México e outros asiáticos, como Bangladesh, Indonésia, Índia, Tailândia,
Paquistão, e Vietnã.
TABELA 3 - Maiores exportadores mundiais de confeccionados - Participação nas
exportações mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %)
País ou região 1980 1990 2000 2003
União Européia (UE) 42,0 37,7 24,1 26,5
China(a) 4,0 8.,9 18,3 23,0
Outros europeus (excluindo UE) 10,4 10,5 7,4 8,4
Turquia 0,3 3,1 3,3 4,4
México(a) 0,0 0,5 4,4 3,2
Índia(b) 1,7 2,3 3,1 2,9
Estados Unidos 3,1 2,4 4,4 2,5
Bangladesh (b) 0,0 0,6 2,1 1,9
Indonésia 0,2 1,5 2,4 1,8
Romênia - 0,3 1,2 1,8
Tailândia (b) 0,7 2,6 1,9 1,6
Coréia(b) 7,3 7,3 2,5 1,6
Vietnã (b) - - 0,9 1,6
Marrocos (a,b) 0,3 0,7 1,2 1,2
Paquistão 0,3 0,9 1,1 1,2
Fonte: WTO (2004)
Notas:
(a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo
(b) Inclui estimativas das Secretarias
(c) Importações valoradas pelo F.O.B.
(d) 2002 ao invés de 2003
A Tabela 4 mostra a evolução das importações dos maiores países importadores de
confeccionados, em anos selecionados, a partir de 1980. Nesse aspecto, destaca-se novamente
a União Européia como a economia que apresentou queda significativa no comércio
internacional da CTC. A Suíça também se destaca como um país que reduziu sua participação
mundial nas importações de confeccionados. Como países que aumentaram suas importações
ao longo dos anos, destacam-se os Estados Unidos e o Japão.
101
TABELA 4 - Maiores importadores mundiais de confeccionados - Participação nas
importações mundiais em 1980, 1990, 2000 e 2003 (em %)
País ou região 1980 1990 2000 2003
União Européia 54,3 50,6 38,7 42,9
Outros europeus (excluindo UE) 23,0 25,2 22,9 25,6
Estados Unidos 16,4 24,0 32,4 30,2
Japão 3,6 7,8 9,5 8,3
Canadá(c) 1,7 2,1 1,8 1,9
Suíça 3,4 3,1 1,6 1,7
Rússia (b) - - 1,3 1,6
México(a,c) 0,3 0,5 1,7 1,3
Coréia(b) 0,0 0,1 0,6 1,1
Austrália(c) 0,8 0,6 0,9 0,9
Fonte: WTO (2004).
Notas:
(a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo
(b) Inclui estimativas das Secretarias
(c) Importações valoradas pelo F.O.B.
Estudo da UNICAMP (2002) afirma que o Brasil, além de ter baixa participação no comércio
internacional, exporta mais têxteis do que confecções, lembrando que estas são mais
dinâmicas e de maior valor agregado que os produtos têxteis.
O Gráfico 1 ilustra a participação do Brasil nas exportações mundiais de têxteis e
confeccionados entre 1990 e 2003. O Brasil apresentou queda de 11,1% nas exportações de
têxteis entre 1990 e 2003 e de 42,5% nas exportações de confeccionados. O gráfico a seguir
não apresenta séries de dados homogeneizados em relação às tabelas anteriores, pois o próprio
documento da WTO forneceu os dados apenas para os anos citados.
Além da baixa participação no comércio internacional, as exportações e importações da CTC
têm atualmente pouca importância na pauta do comércio exterior brasileiro. No ano de 2003,
tanto as exportações quanto as importações de têxteis, representaram apenas 1,5% da pauta do
comércio exterior brasileiro. As exportações de confeccionados representaram 0,4% das
exportações brasileiras, enquanto as importações de confeccionados representaram 0,3%.
102
GFICO 1 - Participação brasileira nas exportações
mundiais de têxteis e confeccionados, em 1990, 1995, 2001,
2002 e 2003 (em %)
0,737
0,656
0,582
0,553
0,655
0,228
0,188
0,144
0,109
0,131
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1990 1995 2001 2002 2003
Ano
%
xteis
Vestuário
Fonte: calculado pelo autor a partir de WTO (2004)
A Tabela 5 ilustra as informações do parágrafo acima, mostrando também a importância das
exportações e importações da CTC na pauta do comércio exterior de outros países
selecionados, no ano de 2003. Destaca-se a força exportadora da Índia (tanto em têxteis
quanto em confeccionados) e a importância da CTC na economia do Paquistão, cujas
exportações de têxteis e confeccionados representam juntos 71,4% das exportações do país. A
China destaca-se principalmente pela exportação de confeccionados.
TABELA 5 - Importância das exportações e importações da CTC nas exportações e
importações totais de economias selecionadas em 2003 (em %)
País Têxteis Confeccionados
Exportações Importações Exportações Importações
Brasil
1,5 1,5 0,4 0,3
China
6,1 3,4 11,9 0,3
Índia
11,6 1,5 11,5 0,0
Paquistão
48,7 2,0 22,7 0,1
Fonte: Calculado pelo autor a partir de WTO (2004)
103
Para Campos (2004), a alta participação relativa dos países em desenvolvimento nas
exportações e a alta participação relativa dos países desenvolvidos nas importações, podem
ilustrar tanto relações de parceria, quanto de subcontratação no comércio mundial de têxteis e
confecções.
Campos et alii. (2000) afirmam que as recentes formações de redes de cooperação, a
constituição de agentes organizadores da cadeia de produção e a adoção de estratégia ofensiva
pelos varejistas e lojas de departamento em escala mundial, são exemplos do novo padrão de
competição que está se estabelecendo na CTC mundial (baseada na qualidade, flexibilidade e
diferenciação do produto). Observa-se ainda que, a demanda mundial por fibras químicas
(principalmente as sintéticas) tem se elevado significativamente, principalmente a partir de
1997, quando as fibras sintéticas passaram a apresentar maior demanda que as fibras naturais.
Para Campos et alii (2000), a maior flexibilidade da produção tem origem na incorporação de
inovações no processo produtivo e mudanças organizacionais:
A produção realizada em grandes plantas industriais com volume de produção
significativo, lote mínimo de cor e de estamparia, reduzido grau de especialização
na cadeia produtiva etc., foi substituída pela produção realizada em plantas
industriais menores com máquinas e equipamentos que permitem com baixo custo,
reprogramar, redesenhar e introduzir mudanças nas ordens de produção (Campos et
alii, 2000: .352).
Para os autores, tal característica consiste num dos fatores de determinantes da
competitividade das empresas do setor, uma vez que: i) possibilita o atendimento de
demandas específicas do mercado; ii) permite capacidade de resposta às mudanças de moda e
tendências do mercado; iii) proporciona redução dos custos de manutenção de estoques; iv)
promove a especialização em distintas etapas da cadeia produtiva; v) proporciona a ampliação
da diferenciação dos produtos.
104
Campos et alii (2000) destacam que é importante para o sucesso concorrencial da indústria
têxtil-vestuário, a eficiência de todas as empresas pertencentes à cadeia. Para os autores, a
formação de redes de cooperação entre as empresas, tem levado a um estreitamento de
relações entre as firmas de diferentes etapas da CTC:
Esta forma de integração de cooperativa de empresas tem reduzido os estoques
intermediários, diminuído as perdas decorrentes da liquidação de estoques, exigido
maior de planejamento para compra de produtos, possibilitado desenvolvimento
tecnológico conjunto, aumentado a capacidade de resposta empresarial para atender
às variações na quantidade demandada e às variações nas preferências dos
consumidores (CASTRO GARCIA, 1996 apud CAMPOS et alii, 2000: 353).
Os autores alertaram que na América Latina, de modo geral, o desenvolvimento da CTC não
foi orientado para uma inserção no comércio internacional, como no caso asiático. Ou seja,
observou-se na América Latina um desenvolvimento voltado ao mercado interno, com níveis
elevados de integração vertical, produção baseada em fibras naturais e especializações
regionais. Fracas interações entre os agentes e os baixos fluxos de informação tecnológica têm
limitado as possibilidades de desenvolvimentos de relações ao longo da cadeia.
4.3 A evolução recente da CTC no Brasil
Historicamente, o período 1844-1913 pode ser considerado a fase de efetiva implantação da
atividade têxtil no Brasil. Em 1881, o parque têxtil possuía 44 fábricas e propiciava cerca de
cinco mil empregos; em 1920, o setor como um todo representava 41% do emprego na
indústria de transformação; sua participação no produto industrial em 1940 era de 23%. O
setor começou a passar por transformações com a fase de industrialização do país nos anos
50; em 1980, as indústrias de vestuário, calçados e artefatos de tecido empregavam 9,1% do
pessoal da indústria de transformação brasileira (MONTEIRO FILHA e CORRÊA, 2002).
105
Kupfer (1998) identifica dois choques no ambiente competitivo da indústria brasileira na
década de 1990: o primeiro devido à abertura da economia (liberalização comercial a partir de
1990) e o segundo devido à estabilização monetária iniciada em 1994. Analisando as
mudanças estruturais ocorridas sob três perspectivas (composição do produto e do emprego,
inserção externa e estratégias empresariais), o autor observa que diferentes setores da
indústria reagiram distintamente a estes dois choques dentro do período pesquisado (entre
1985 e 1996). Especificamente na indústria têxtil, Kupfer (1998:161) observou certa
dificuldade do setor em responder positivamente aos choques no ambiente competitivo,
colocando tal segmento (juntamente com os segmentos vestuário e calçados) como os
“principais perdedores” do período, nos três aspectos analisados.
Campos et alii (2000) mostram que a data da abertura comercial brasileira coincidiu com a
expansão dos países asiáticos no mercado internacional de têxteis-vestuário e com o quadro
de recessão no mercado doméstico, o que dificultou a capacidade de respostas das empresas –
que estavam voltadas essencialmente para o mercado interno.
Grande parte dos ganhos de qualidade e produtividade obtidos no período estudado originou-
se a partir de “um movimento de compressão de custos através da simplificação das operações
industriais – o chamado downsizing, operado com grande agilidade pelo setor empresarial”
(KUPFER, 1998 : 152). O autor ainda afirma que futuras trajetórias de reestruturação da
indústria exigiriam novas práticas além do observado (enxugamento da estrutura
organizacional, corte de custos e terceirização), devendo ser pautadas na “coordenação dos
esforços, elevada solidariedade entre os agentes ao longo das cadeias produtivas e sinalização
e apoio por parte da política industrial” (KUPFER, 1998 : 165).
106
O trabalho de Kupfer (1998) ainda sugere que, nos setores em que há maior presença de
pequenas e médias empresas, teria havido maior dificuldade de crescimento dentro do período
analisado. Gorini e Martins (1998) também fazem tal afirmação, observando que pequenas e
médias empresas do setor têxtil caracterizavam-se pela atuação em uma base geográfica muito
reduzida e um parque fabril atrasado tecnologicamente. Tais empresas foram as mais
atingidas pelo aumento das importações, principalmente aquelas provenientes dos países
asiáticos. Dada a nova realidade na década de 90, as empresas passaram a buscar a redução de
custos e a racionalização dos investimentos, a realização de fusões de empresas e a adoção de
novas formas de gestão.
Gorini (2000) resume os principais impactos da abertura da economia e da estabilização da
moeda sobre a CTC brasileira:
a) Alta concentração da produção no segmento têxtil (de capital intensivo), fato que não
ocorreu no segmento de confecção, onde se observou grande pulverização da produção;
b) O alto volume de investimentos levou ao aumento da relação capital/trabalho na indústria
têxtil, o que novamente, não ocorreu no segmento de confecções, intensivo em mão-de-obra;
c) O processo de reestruturação implicou em queda da produção em determinados segmentos,
cuja conseqüência foi a falência de muitas empresas (principalmente os produtores de tecidos
artificiais e sintéticos – mais atingidos pelas importações da Ásia) e a substituição da
produção de tecidos planos pela produção de malhas de algodão (que demandam menores
investimentos e apresentam menores custos);
d) Deslocamento regional para o Nordeste do Brasil, principalmente, com a presença de
cooperativas de trabalho e menores custos de mão-de-obra; e
107
e) Alteração do “mix” de produção das empresas, com algumas firmas reduzindo a variedade
de produtos e aumentando as escalas de produção, investindo em equipamentos de ponta e
produzindo com custos baixos em regiões de incentivos da SUDENE; outras empresas
buscaram intensificação na terceirização da sua produção, com foco na diferenciação dos
produtos e na comercialização (incluindo o gerenciamento da marca, atividades de logística,
maior proximidade do cliente final através de franquias ou lojas próprias); outras empresas
ainda buscaram atuação em redes, enquanto outras buscaram enfocar o mercado externo.
O segmento da CTC que mais recebeu investimentos entre 1990 e 2004 foi o de fiação (US$
2,8 bilhões), seguido do segmento de confecções, com US$ 1,9 bilhões investidos. Os
segmentos de tecelagem e malharia receberam US$ 1,6 bilhões cada um, enquanto o
segmento de beneficiamento recebeu investimento de US$ 1,7 bilhões no período. O Gráfico
2 ilustra tais informações.
GRÁFICO 2 - Investimentos por segmento na CTC
brasileira entre 1990 e 2004 (em US$ bilhões)
2,8
1,6 1,6
1,7
1,9
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Fiação Tecelagem Malharia Beneficiamento Confecção
Segmento
$
Fonte: IEMI (2005) apud Karan (2005).
A CTC gerou 65.265 empregos em 2004, sendo o segmento de confecções, o maior gerador
de empregos da cadeia (65% dos empregos da CTC em 2004). Somente em janeiro de 2005, a
108
CTC gerou mais empregos que em todo o ano de 2003 – ano ruim não só para a CTC, mas
para a economia brasileira como um todo (mais informações encontram-se disponíveis no
apêndice B).
Houve significativa redução no número de estabelecimentos da cadeia têxtil brasileira na
década de 1990, com crescimento apenas no segmento de malharia, que cresceu 45,2% no
período. As empresas do segmento de fiação foram reduzidas em 69,2%; as de tecelagem
reduziram-se em 70,4% e as de confecções em 6,6% no período (mais informações
encontram-se disponíveis no apêndice B). Em contrapartida, as empresas remanescentes
melhoraram a capacidade produtiva, aumentando o número de máquinas e passando a utilizar
máquinas mais eficientes. Tal fato foi possível, em função do aumento das importações de
máquinas na década de 1990 (CAMPOS, 2004).
Campos et alii (2000), observam que, entre 1994 e 1997, houve um aumento nos
investimentos em máquinas para a CTC, causado por: i) expectativas favoráveis dos
empresários quanto à melhoria da economia interna; ii) apoio do governo ao crédito (através
de um programa especial do BNDES); iii) queda do preço dos bens de capital (uma vez que a
maioria das máquinas é de origem estrangeira o real encontrava-se valorizado em relação ao
dólar; e iv) obsolescência do parque fabril instalado.
Para Campos (2004), dois efeitos positivos das importações de máquinas no período foram: i)
a melhoria da tecnologia utilizada; e ii) a redução da idade média das máquinas no país. A
abertura da economia e a valorização do real também geraram períodos de déficit na balança
comercial da CTC brasileira (de 1994 até 2000, quando o saldo comercial passou a ser
superavitário novamente). Em 2004, o saldo comercial da CTC foi o maior desde 1992 (US$
109
657 milhões). A tabela que mostra a balança comercial da CTC entre 1990 e 2004 encontra-se
no apêndice B.
Campos et alii (2000) notam que os problemas da CTC na década de 1990 desencadearam
uma série de ações, tanto por parte das empresas, quanto por parte do governo. Nesse sentido,
destacaram-se os incentivos ao cultivo do algodão (cotonicultura), o aumento temporário de
alíquotas de importação, o estabelecimento de cotas de importação para alguns produtos e
incentivos ao investimento em modernização produtiva.
Dentre os principais incentivos à cotonicultura, podem ser citados: aumento de tarifas de
importação; um programa do BNDES para financiar as aquisições de algodão pela indústria
têxtil; a difusão de tecnologia criada pela EMBRAPA e um programa do Estado do Mato
Grosso (onde a política do governo estadual e o interesse empresarial aliaram-se para explorar
a cultura do algodão nas terras do Estado, que por serem planas, facilitam a utilização de
máquinas).
Tais incentivos obtiveram êxito: o plantio de algodão no cerrado brasileiro é o segundo mais
competitivo do mundo, em custos de produção (ficando atrás apenas do algodão chinês). Por
outro lado, o Brasil reduziu os investimentos em fibras químicas na década de 1990. Como já
observado, a demanda mundial por fibras sintéticas intensificou-se a partir de meados da
citada década, ultrapassando as fibras naturais
57
; porém o Brasil continuou priorizando as
fibras naturais, principalmente o algodão (CAMPOS et alii, 2000).
57
As fibras químicas têm como vantagens a garantia do abastecimento – pois não estão sujeitas a alterações
climáticas – e o fato de se assemelharem-se as fibras naturais quanto ao conforto e serem melhores quanto ao
uso, pois acumulam menos sujeira, passam melhor e demandam menores cuidados na lavagem (UNICAMP,
2002).
110
A década de 1990 presenciou uma relocalização da produção da CTC nas regiões brasileiras:
entre 1995 e 2003 a região Sudeste manteve-se como a maior detentora de estabelecimentos
da CTC no Brasil, seguida da região Sul e da região Nordeste. Ao longo do período, no
entanto, a região Sudeste foi a que menos aumentou o número de estabelecimentos do setor.
No segmento têxtil, a região que mais se desenvolveu foi a região Centro-Oeste; no segmento
do vestuário, a região que mais se desenvolveu foi a região Norte. A Tabela 6 ilustra estas
informações.
TABELA 6 – Número de estabelecimentos na CTC por regiões naturais do Brasil entre
1995 e 2003
Ano
Região
Segmento
Norte Nordeste Sudeste Sul
Centro-
Oeste
Têxtil 57 828 5.565 2.516 176
1995
Vestuário 167 2.856 20.725 6.866 1.487
Têxtil 124 2.114 9.310 5.321 452
1997
Vestuário 619 8.300 37.189 17.438 3.617
Têxtil 151 2.234 9.256 5.434 555
1999
Vestuário 789 8.715 37.607 19.198 4.126
Têxtil 190 2.358 10.362 5.892 608
2001
Vestuário 873 9.806 40.797 21.910 5.339
Têxtil 186 2.418 10.639 6.187 697
2003
Vestuário 1.004 10.816 43.061 23.609 5.881
Têxtil 226,31 192,02 91,17 145,90 296,02
% 1995-2003
Vestuário 501,19 278,71 107,77 243,85 295,49
Fonte: MTE/RAIS: 1995; 1997; 1999; 2001; 2003.
Campos (2004) mostra que entre 1990 e 2002 o Sudeste perdeu participação relativa para o
Sul e Nordeste na produção total da CTC brasileira. A região Nordeste, principalmente,
experimentou um crescimento significativo no setor de malhas e confecções, em relação à
produção nacional (em 1990, o Nordeste detinha 2,8% da produção nacional de malhas,
chegando a 11,2% em 2002); quanto à produção de confecções, a região aumentou a
111
participação de 8% para 12% na produção nacional (mais informações encontram-se no
apêndice B).
A Tabela 7 mostra os dez principais Estados brasileiros em número de estabelecimentos do
setor do vestuário, no ano de 2003. O Estado de São Paulo lidera tanto em número de
estabelecimentos quanto em numero de empregos; o Estado do Paraná é o quarto em ambos
os quesitos. Destaque para o Rio Grande do Sul, que é o quinto em número de
estabelecimentos, mas apenas o oitavo em número de empregos. Já o Estado do Espírito Santo
aparece como o nono Estado em número de empregos, mas não aparece na lista dos dez
principais, em número de estabelecimentos.
TABELA 7 - Dez principais Estados brasileiros em número de estabelecimentos e
empregos no setor do vestuário em 2003
Estabelecimentos Empregos
São Paulo 25.899 São Paulo 177.592
Minas Gerais 10.063 Santa Catarina 101.742
Santa Catarina 9.754 Minas Gerais 82.570
Paraná 7.020 Paraná 74.304
Rio Grande do Sul 6.835 Rio de Janeiro 54.937
Rio de Janeiro 5.279 Ceará 45.035
Goiás 4.552 Goiás 28.723
Ceará 4.213 Rio Grande do Sul 21.388
Pernambuco 2.093 Espírito Santo 21.353
Bahia 1.960 Pernambuco 15.296
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
Na região Sul, especificamente, o Estado do Paraná foi o que mais evoluiu no período
compreendido entre 1995 e 2003, no que se refere ao número de estabelecimentos e empregos
no setor do vestuário. Quanto ao número de estabelecimentos, o Paraná apresentou
crescimento de 66,78% no período, contra 53,51% de Santa Catarina e 27,28% do Rio Grande
112
do Sul. Quanto ao número de empregos, o Paraná apresentou crescimento de 107,418% no
período, contra 25,58% de Santa Catarina. O Rio Grande do Sul apresentou no referido
período, queda de 5,33% no número de empregos do setor (mais informações encontram-se
no apêndice B).
No que diz respeito ao comércio exterior, dados de 2004 destacam a exportação de confecções
como o principal produto brasileiro da CTC. As fibras (impulsionadas pelo algodão) também
têm um papel relevante nas exportações brasileiras. Importante notar ainda que o Brasil é um
grande importador de filamentos, conforme a Tabela 8.
TABELA 8 - Exportação, importação e saldo comercial brasileiros de produtos têxteis e
confeccionados em 2004 (US$ 1000 - FOB)
Descrição Exportações Importações Saldo
Fibras 530.424,81 268.947,53 261.477,28
Fios 151.174,58 73.151,58 78.023
Filamentos 73.596,94 400.904,74 -327.307,8
Tecidos 369.533,81 278.626 90.907,81
Linhas de costura 8.542,11 1.189,22 7.352,89
Confecções 718.966,32 171.969,34 546.996,98
Outras manufaturas 227.178,14 227.420,15 -242,01
Total 2.079.416,71 1.422.208,56 657.208,15
Fonte: Adaptado de ABIT (2005)
No segmento de confecções, especificamente, dados de 2004 – ilustrados na Tabela 9 –
destacam as exportações de cama, mesa e banho como principal filão deste segmento. As
roupas de malha também apresentam um papel importante no comércio exterior da CTC. O
saldo comercial do segmento de vestuário e acessórios não é tão expressivo devido ao alto
montante de importações neste segmento.
113
TABELA 9 - Exportação, importação e saldo comercial brasileiros de confeccionados
em 2004 (US$ 1000- FOB)
Descrição Exportações Importações Saldo
Roupas de malha 197.419,45 52.024,37 145.395,08
Vestuário e acessórios 142.967,14 96.207,02 46.760,12
Cama, mesa e banho 327.019,53 4.711,62 322.307,91
Cortinas 842,75 1.722,98 -880,23
Outros artigos confeccionados 50.717,45 17.303,35 33.414,10
Fonte: Adaptado de ABIT (2005)
Em 2004, os principais países de destino para as exportações brasileiras foram os Estados
Unidos e a Argentina. A Tabela 10 mostra os dez principais países que receberam exportações
da CTC brasileira em 2004. A Tabela 11 mostra os dez principais países de origem das
importações da CTC brasileira. Nota-se que grande parte das importações brasileiras são
oriundas da China e de outros países asiáticos (Taiwan Indonésia, Coréia do Sul, Índia).
Destaca-se ainda a presença dos Estados Unidos e da Argentina como países importantes na
pauta de importações da CTC brasileira.
TABELA 10 - Dez principais países de destino das exportações brasileiras de têxteis e
confecções em 2004 (US$ FOB)
País Valor
Estados Unidos 504.781,179
Argentina 375.679,128
Chile 71.389,593
Alemanha 68.411,872
Japão 68.232,197
Indonésia 63.934,367
Colômbia 60.665,977
Espanha 54.332,427
Peru 54.237,491
Uruguai 44.438,264
Fonte: Adaptado de ABIT (2005)
114
TABELA 11 - Dez principais países de origem das importações brasileiras de têxteis e
confecções em 2004 (US$ FOB)
País Valor
China 251.112,684
Estados Unidos 220.005,660
Argentina 126.575,196
Taiwan 122.225,761
Indonésia 97.812,077
Coréia do Sul 91.986,689
Paraguai 55.279,681
Itália 54.078,180
Índia 49.271,102
Alemanha 39.893574
Fonte: Adaptado de ABIT (2005).
A Tabela 12 mostra os dez principais Estados brasileiros exportadores em 2004. O Estado de
São Paulo vem em primeiro lugar, seguido de Santa Catarina e do Estado do Mato Grosso. O
Paraná foi o nono maior exportador da CTC brasileira em 2004. Interessante notar que, em
número de estabelecimentos e empregos, o Paraná foi, em 2003, o quarto principal Estado
brasileiro, como já exposto; por outro lado, os Estados do Mato Grosso, Ceará e Paraíba, que
não aparecem entre os dez maiores de 2003 – em número de estabelecimentos e empregos –
figuram na lista dos dez maiores exportadores.
TABELA 12 - Dez principais Estados brasileiros exportadores de têxteis e confecções em
2004 (em US$ FOB)
Estado Valor
São Paulo 531.375,118
Santa Catarina 354.136,293
Mato Grosso 266.992,757
Bahia 154.787,155
Minas Gerais 147.131,762
Ceará 144.366,981
Paraíba 108.959,372
Rio Grande do Sul 95.934.894
Paraná 90.199,994
Rio de Janeiro 51.304,271
Fonte: Adaptado de ABIT (2005)
115
4.4 Competitividade na CTC e perspectivas para o Brasil
Campos et alii (2000 : 350) mostram que diferentes segmentos da CTC têm apresentado
diferentes rotas de dinamismo tecnológico. Nesse sentido verifica-se que:
a) no segmento de fiação: desenvolvimento de espessura e resistência de fios,
atendimento a especificações físico-químicas, diferenciação de fibras;
b) no segmento de tecelagem; aumento da velocidade, redução de perdas com
manutenção, maior facilidade na gravação de parâmetros estabelecidos dos teares;
c) no setor de acabamento: redução do consumo de energia, melhora da conservação,
maior controle ambiental, controle de temperatura da água e da variação na
composição da mistura química para tingimento,
d) no setor de confecções: melhorias nos moldes de base com diversos tamanhos,
planos de corte, integração de operações e ampliação e flexibilidade das operações
etc.
FINEP (2004) mostra que os ativos intangíveis são cada vez mais essenciais na
competitividade da CTC, incluindo: design, desenvolvimento de produto, engenharia,
marketing, canais de comercialização, marcas (preferivelmente globais), logística,
manutenção e assistência aos fornecedores, capacidade de administração e coordenação da
cadeia.
Prochnik (2003a) afirma que a CTC brasileira é muito competitiva na cultura do algodão e na
sua fiação e tecelagem, observando que, nesta última etapa, um pequeno grupo de grandes
empresas, com forte capacidade competitividade e exportadora, lidera a cadeia
58
. O autor
analisa que a adesão do Brasil à ALCA e a implantação de acordos tarifários com a UE, são
importantes para estas empresas, pois possuem concorrentes internacionais que podem se
beneficiar de tais acordos.
58
As três maiores empresas (Santista, Vicunha e Coteminas) são responsáveis por quase um terço de todas
exportações da CTC brasileira (Prochnik, 2003a).
116
Para Prochnik (2003a), existem dois problemas que se superpõem, na CTC brasileira: a
existência de uma grande quantidade de empresas ineficientes e uma “sub-cadeia” menos
competitiva, composta por produtos a base de fibras químicas – que se encontra em
desenvolvimento em nível mundial, porém recebe ainda pouca atenção no Brasil. O autor
observa que, por um lado, deve-se evitar assumir compromissos de longo prazo que podem,
eventualmente, expor as empresas menos competitivas a uma concorrência externa agressiva.
Por outro lado, a formação de acordos internacionais pode auxiliar setores ainda pouco
desenvolvidos no Brasil, como o de fibras químicas.
Segundo Prochnik (2003a), as principais assimetrias observadas atualmente na regulação dos
fluxos comerciais internacionais, e principais fatores desfavoráveis à posição brasileira são:
a) Tendência de aumento do consumo mundial de fibras químicas em relação a fibras
naturais, ponto forte da produção brasileira;
b) Tarifas de importação cobradas por produtos da CTC pelos países desenvolvidos são
maiores do que as tarifas para outros produtos industriais; e os níveis destas tarifas
prejudicam as exportações brasileiras da cadeia;
c) Expansão de acordos regionais entre países (favorecendo acesso aos mercados e
reduzindo-se tarifas). Para o autor, países em desenvolvimento beneficiados por
acordos internacionais obtiveram maior êxito em aumentar sua participação no
comércio em relação àqueles fora de acordos entre nações;
d) Assimetria comercial: o Brasil tem pouca importância para UE e EUA, mas estes têm
alta relevância para o Brasil;
e) Crescente divisão do trabalho na cadeia têxtil, com os países desenvolvidos
produzindo tecidos e países em desenvolvimento produzindo confecções, como
subcontratados dos desenvolvidos. Em seguida, os países desenvolvidos importam o
117
produto final, produzido com custos menores que se produzidos em seu próprio
território;
f) Existência de apoio dos governos de países desenvolvidos para sua produção (como
exemplo, tem-se os subsídios que são pagos aos produtores de algodão dos EUA
59
);e
g) Crescimento do número de concorrentes internacionais.
Prochnik (2003) aponta algumas tendências do consumo e produção mundial na CTC:
a) Tendência de maior consumo de fibras químicas e produção de tecidos mistos (fibras
naturais e químicas);
b) Maior dependência dos produtos às variações da moda. A influência da moda tende a
valorizar a produção perto dos centros consumidores (com sistemas de produção
integrados). Nota-se que o Brasil está distante dos principais centros consumidores
(EUA e UE), em relação a alguns concorrentes;
c) Os determinantes da competitividade podem ser encontrados nas formas de
relacionamento entre empresas ao longo das cadeias, e não no nível das empresas
consideradas individualmente. Para o autor, tal afirmação encontra-se relacionada a
crescente difusão do supply chain management (gestão da cadeia de suprimentos) em
nível internacional; e
d) Relocalização de atividades da cadeia têxtil, principalmente no setor de confecções,
mais intensivo em mão-de-obra e menos exigente em escalas de produção.
Prochnik (2003) tece alguns comentários sobre a situação da CTC brasileira com relação à
implantação da ALCA e a acordos com a UE. Em geral, o comércio internacional é muito
59
Prochnik (2003) nota que a pressão do algodão norte-americano nos mercados internacionais tem contribuído
para diminuir o seu preço, prejudicando os países em desenvolvimento. O autor nota que enquanto a área
plantada no mundo caiu, nos EUA, aumentou aproximadamente 10% entre 1998 e 2001. De acordo com o
Ministério das Relações Exteriores, os subsídios ao algodão americano passaram dos US$ 3 bilhões em 2002.
118
assimétrico e os acordos parecem ser essenciais para assegurar a continuidade das exportações
dos grandes grupos envolvidos. No entanto, as importações dos EUA e da UE devem
continuar aumentando; ambos têm preferências comerciais estabelecidas com outros
parceiros, excluindo o Brasil. As empresas americanas e européias estão montando esquemas
de produção internacional que não passam pelo Brasil, além do fato de o Brasil ser um
parceiro de pouca expressão no comércio internacional da CTC. Além destes fatores, devem
ser levados em conta, os subsídios à produção nacional dos países desenvolvidos.
Prochnik (2003) sugere que os acordos como a ALCA ou com a UE podem beneficiar as
empresas mais competitivas (caso haja alguma proteção nos países desenvolvidos contra uma
eventual invasão de produtos asiáticos). A questão é que a CTC brasileira é bastante
heterogênea, com diversos segmentos pouco competitivos; a implantação da ALCA e a
realização de acordos com a UE podem levar a retração da oferta interna (como ocorrido na
década de 1990). O autor recomenda ênfase em politicas em prol da competitividade das
empresas da CTC, com o objetivo de reduzir os efeitos negativos esperados de tais acordos.
Espera-se ainda um aumento das importações brasileiras com tais acordos, pois tanto os EUA
quanto a UE estimam que podem incrementar de forma significativa suas exportações para o
Brasil com o fim de restrições ao comércio internacional – como o ATV (Acordo sobre
Têxteis e Vestuário).
O ATV substituiu, em 1995, o acordo multi-fibras (AMF, que ficou vigente 21 anos), tendo
como objetivo, elaborar meios que permitam a integração da CTC às regras do GATT,
contribuindo para o objetivo de maior liberalização do comércio (NORDÅS, 2004). O acordo
foi feito prevendo eliminação das cotas de importação em dez anos. Nota-se que o ATV não
previa eliminação das tarifas de importação, mas somente das cotas (MAYER, 2004).
119
O processo de liberalização do comércio ocorreu em três estágios, sendo que o último (que
integrou totalmente a CTC às regras do GATT) ocorreu em 1° de janeiro de 2005
60
. O acordo
ainda previa que, mercados que comprovassem danos sofridos pelo fim das contenções,
poderiam lançar mão de restrições para proteger o comércio local até 2008. A liberalização
visava eliminar anomalias no comércio internacional de têxteis e vestuário (pois países com
vantagens comparativas nesses setores têm sido prejudicados pelas cotas de exportação para
outras nações) e beneficiar o consumidor com preços mais baixos (estima-se queda de 15%
nos preços internacionais entre 2005 e 2006) [NORDÅS, 2004]. De acordo com a revista The
Economist (2004), as quotas restringiram as exportações de alguns países, mas em outros,
criou uma indústria exportadora que, sem as cotas, não existiriam.
As estimativas apontam para um incremento significativo de produtos chineses no mundo
(inclusive no Brasil). Outro país que tem sido apontado como “ganhador”, com o fim do
ATV, é a Índia, que tem uma indústria têxtil muito bem estruturada. Países caracterizados
como importadores, ou com a indústria têxtil mal estruturada, ou ainda que não tenham
acordos preferenciais de comércio com outros países serão os mais prejudicados com o fim do
ATV (NORDÅS, 2004; THE ECONOMIST, 2004; MAYER, 2004).
O Brasil, portanto, entra em posição pouco vantajosa neste novo cenário, pois: i) não possui
uma indústria têxtil bem desenvolvida (em sua totalidade), apresentando baixa participação no
60
Tomando como base os volumes de importação em 1990, e abrangendo as categorias de fios, tecidos,
vestuários e revestimentos, o acordo estabeleceu que em 1° de janeiro de 1995, pelo menos 16% do volume total
das importações do país membro, deveria estar integrado às regras do GATT (estágio 1); em 1° de janeiro de
1998, ao menos outros 17% do volume de importações deveria estar integrado às regras do GATT; em 1° de
janeiro de 2002, ao menos outros 18% do volume do total das importações deveria estar integrado às regras do
GATT; e em 1° de janeiro de 2005, todo o setor deve estar integrado ao GATT, o que obriga os países membros
a uma integração dos 49% restantes.
120
comércio internacional; ii) privilegia têxteis a confecções (as confecções têm maior valor
agregado em relação aos têxteis); e iii) não possui acordos firmados com países
essencialmente importadores (principalmente países desenvolvidos, como os Estados Unidos
e países da União Européia).
Mayer (2004) sugere que a criação de uma capacidade de produção verticalmente integrada e
competitiva e a formação de redes de contato facilitadoras do comércio externo, são as opções
mais recomendadas para lidar com os ajustes do novo cenário. A manutenção de preferências
tarifárias, principalmente com os EUA e a UE, é uma boa forma de países em
desenvolvimento manterem-se competitivos.
De acordo com Gorini (2000), o mercado têxtil nacional apresenta atualmente grande
potencial de crescimento, destacando que há uma demanda reprimida de produtos da CTC no
Brasil
61
. A autora observa que um dos gargalos ao crescimento do setor tem sido a dificuldade
na formação de relações de cooperação entre empresas, tanto no varejo, como no
desenvolvimento e produção conjunta de novos produtos. Michellon (1999) apud Pitelli
(2002) também se refere a tal questão, afirmando que pequenos confeccionistas têm
dificuldades em consolidar pólos do setor por falta de visão de longo prazo, interesses
conflituosos e falta de unidade a favor de um projeto maior.
Monteiro Filha e Corrêa (2002) observaram que a maioria das empresas da CTC no Brasil
caracteriza-se por: i) ausência de parcerias e/ou alianças estratégicas, tanto com empresas
atuantes na mesma etapa da cadeia, quanto com empresas que atuam em outras etapas da
61
Para ilustrar tal informação, Gorini (2000), mostra que o consumo per capita de têxteis no Brasil cresceu de
8,3 kg/habitante em 1990 para 9,5 kg/habitante em 1999, apresentando crescimento acumulado superior ao da
população. No entanto, tal montante é considerado baixo em relação ao consumo médio dos grandes mercados
mundiais.
121
cadeia produtiva; ii) baixo nível de informação e idem capacidade de buscá-las de modo
rápido; iii) pouca agilidade e grande dificuldade para produzir em lotes pequenos; iv)
comercialização ineficiente, com equipe de vendas geralmente pequena e inexperientes no
mercado internacional, que encontra-se restrito a poucas empresas; v) baixo investimento em
desenvolvimento de produto e design.
O projeto de apoio à instalação do Fórum de Competitividade da Cadeia Têxtil (SDP/MDIC,
2000) identificou a ausência de clusters consolidados, como um dos problemas a serem
tratados no setor – caracterizados pela cooperação entre agentes e pela possibilidade de gerar
inovações.
4.5 Reconfiguração industrial no Paraná e a CTC
IPARDES (2003) mostra houve, nos últimos anos, uma reconfiguração da base produtiva no
Estado do Paraná, com a presença de dois eixos de dinamismo industrial: i) implantação de
unidades montadoras na Região Metropolitana Sul-Curitiba, que contou com fortes incentivos
fiscais e acionários do governo do Estado e; ii) recentes investimentos e potencial de
expansão do agronegócio paranaense. Além destes dois aspectos, a maioria dos investimentos
que tem ocorrido em outras regiões do Estado não é de grande expressão, caracterizando-se
como desdobramentos da estrutura produtiva local. Entretanto, embora o dinamismo da
indústria paranaense apresente como eixo de expansão o pólo automotivo e a agroindústria,
“os segmentos responsáveis pela geração de emprego e renda de regiões do interior do Estado
são os segmentos tradicionais da indústria de vestuário e de mobiliário, carnes e
desdobramento de madeira” (IPARDES, 2003 : 76).
122
Alguns segmentos da indústria tradicional, como o segmento moveleiro e de vestuário
(anteriormente caracterizados por indústrias isoladas), estão mudando culturalmente e
integrando-se em um sistema de produção organizado, onde podem se apropriar de economias
de aglomeração e de interação. “Essas indústrias se agrupam em um ambiente de cooperação
e interdependência, utilizando fatores de produção comuns e organizando-se em bloco para
enfrentar o mercado”. (IPARDES, 2003 : 51).
O estudo do IPARDES buscou caracterizar aglomerações industriais em todo o Estado,
identificando as atividades desenvolvidas e suas regiões. O Quadro 10 apresenta as
aglomerações industriais identificadas no Paraná.
QUADRO 10 – Aglomerações industriais no Paraná em 2002
Atividade Região
Vestuário
Londrina-Cambé, Maringá-Sarandi, Umuarama-
Cianorte e Francisco Beltrão-Pato Branco
Carnes
Cascavel-Foz do Iguaçu, Toledo-Marechal Cândido
Rondon e Francisco Beltrão-Pato Branco
Transformados plásticos
Londrina-Cambé
Metalmecânica e de minerais não-metálicos
Metropolitana Sul-Curitiba e Metropolitana Norte-
Paranaguá
Esmagamento de soja e agroquímico
Metropolitana Sul-Paranaguá e Ponta Grossa-Castro
Celulose, papel e papelão
Ponta Grossa-Castro
Desdobramento de madeira
Guarapuava-Pitanga-Palmas e Irati-União da Vitória
Fonte: Adaptado de IPARDES (2003).
IPARDES (2003) mostra que a micro-região Londrina-Cambé apresenta-se como a terceira
maior aglomeração industrial do Estado. Na citada região, os maiores empregadores são os
segmentos tradicionais, com destaque para o vestuário, o setor mobiliário e o desdobramento
123
de madeira. O setor de vestuário na região Londrina-Cambé é considerado uma aglomeração
tradicional (pertencente a setores tradicionais da economia) em ambiente propício à inovação,
devido a boa estrutura física e institucional presente na região
62
.
Segmentos considerados tradicionais (como vestuário, móveis, madeira) utilizam recursos
(materiais e não-materiais) e mão-de-obra regionais, apresentando como fatores indutores da
localização, as vantagens aglomerativas e de interação. “Tais características têm delineado
uma nova dinâmica regional, com ganhos de representatividade dessas atividades, (...) por
serem absorvedoras de conhecimento e mão-de-obra especializada” (IPARDES, 2003 : 76).
O estudo ainda nota que “a nova dinâmica concorrencial de mercados crescentemente
globalizados exige das empresas eficiência técnico-produtiva e capacidade inovativa”
(IPARDES, 2003 : 77). Assim, as empresas – de modo geral – têm paulatinamente ampliado
seu grau de dependência por competências retidas por outras empresas e agentes
complementares, o que demanda relações de cooperação entre as firmas de diversos
segmentos. Verifica-se no Paraná o que já se vem observando em âmbito geral: a idéia de que
relações de cooperação e competição podem coexistir entre firmas; e tais relações têm
propiciado “a formação de um crescente número de relações em rede e alianças estratégicas
entre empresas, definindo um novo padrão de aglomeração espacial e setorial da indústria”
(IPARDES, 2003 : 77).
No setor do vestuário, especificamente, o Paraná respondia em 2003, por 8,32% dos
estabelecimentos e por 11,09% dos empregos no Brasil. A classe do vestuário era, em 2003, é
62
O IPARDES (2003) calculou o QL (quociente locacional) para o setor de vestuário na micro-região Londrina-
Cambé. Tal índice mede a especialização produtiva em determinada região. Utilizando dos dados da RAIS de
2000, o IPARDES chegou no valor de 1,39 para o QL da região Londrina-Cambé, no que refere-se ao setor do
vestuário. Quando o resultado do QL é maior que 1 (um), pode-se afirmar que há especialização produtiva do
setor em questão em determinada região.
124
a décima terceira principal atividade do Estado, em número de estabelecimentos, e a décima
quinta em número de empregos (MTE/RAIS, 2003)
O município de Londrina detinha, em 2003, 6,6% dos estabelecimentos e 10,1% dos
empregos do setor do vestuário no Paraná No município de Londrina, a classe do vestuário
era, em 2003, a décima segunda em número de estabelecimentos e a sétima em número de
empregos (MTE/RAIS, 2003).
Entre os municípios paranaenses com maior atividade no setor do vestuário, Londrina foi o
que apresentou o menor crescimento da atividade, entre 1995 e 2003. No período, observou-
se crescimento de 25% no número de estabelecimentos do vestuário no município; em
Apucarana esse número foi de 140,42%, contra 96,20% em Cianorte e 103,3% em Maringá.
Nos outros municípios do Paraná, em conjunto, esse crescimento foi de 58,8%. A Tabela 13
contém estas informações.
TABELA 13 - Número de estabelecimentos do setor do vestuário no Paraná, entre 1995
e 2003
Municípios 1995 1997 1999 2001 2003
% -
1995/2003
Apucarana 188 263 342 440 452 140,42
Cianorte 343 350 497 596 673 96,20
Londrina 372 360 376 429 465 25,00
Maringá 424 445 558 767 862 103,3
Outros 2.882 3.090 3.400 1.008 4.568 58,50
Fonte: MTE/RAIS: 1995; 1997; 1999; 2001; 2003.
O município de Londrina ainda apresentou redução de 11,26% no número de empregos do
vestuário, no período compreendido entre 1995 e 2003. Maringá apresentou crescimento de
126,79%, contra 117,35% de Cianorte e 106,90% de Apucarana no período. Nos outros
125
municípios do Paraná, em conjunto, esse crescimento foi de 160,84%. A tabela 14 ilustra
estas informações.
TABELA 14 - Número de empregos do setor do vestuário no Paraná, entre 1995 e 2003
Municípios 1995 1997 1999 2001 2003
% -
1995/2003
Apucarana 3.431 4.611 4.707 5.760 7.099 106,90
Cianorte 2.621 3.716 4.110 4.716 5.697 117,35
Londrina 8.510 6.696 6.563 6.562 7.551 -11,26
Maringá 4.415 5.318 6.840 8.885 10.013 126,79
Outros 16.847 20.369 25.248 34.715 43.944 160,84
Fonte: MTE/RAIS: 1995; 1997; 1999; 2001; 2003.
Importante notar que, juntos, esses quatro municípios (Apucarana, Cianorte, Londrina e
Maringá), eram em 2003, responsáveis por 34,92% dos estabelecimentos e por 40,85% dos
empregos do vestuário no Paraná (MTE/RAIS, 2003).
Na região Londrina-Cambé, especificamente, é possível observar uma concentração dos
estabelecimentos e empregos do vestuário no município de Londrina. O município abrigava
em 2003, 69,6% dos empregos e 62,4% dos estabelecimentos do vestuário na região
Londrina-Cambé (mais informações encontram-se disponíveis no apêndice B).
Estudo de Atora (2003) com 124 indústrias do vestuário da região de Londrina, mostrou
algumas características destas empresas: 92% delas são micro-empresas e empresas de
pequeno porte; a empresas são relativamente novas (68% das empresas estudadas têm até 11
anos de atuação no mercado); 74% das empresas são confeccionistas, 18% são
confeccionistas e faccionistas e 8% são faccionistas; 61% das empresas terceirizam funções
como bordado, estamparia e costura; apenas 5% delas exportam.
126
4.6 Síntese de alguns estudos em aglomerações relacionadas a confecções e vestuário
Esta seção apresenta sinteticamente alguns estudos realizados no Brasil em aglomerações de
vestuário e confecções.
Vale do Itajaí (SC)
Em estudo na aglomeração têxtil-vestuário do Vale do Itajaí (SC), Campos et alii (2000)
identificaram uma aglomeração com predominância de pequenas e médias empresas, e
significativo número de instituições de apoio, como escolas e instituições de ensino superior.
Embora haja estrutura diversificada de recursos na região, estes são mais utilizados pelas
médias e grandes firmas. Não existem fortes estímulos a processos inovativos e de
aprendizagem devido ao baixo grau de interação entre os agentes. As maiores vantagens para
as pequenas empresas naquele local são: i) a origem histórico-cultural comum dos agentes, o
que gera relações de confiança; ii) a existência de mão-de-obra qualificada e em grande
volume; iii) a presença de representantes comerciais dos fornecedores; e iv) a proximidade
com médias e grandes firmas e a presença local de instituições de apoio e coordenação das
atividades.
Cianorte (PR)
Em estudo realizado por Campos (2004) no município de Cianorte (PR), verificou-se que,
apesar do grande número de firmas, do alto volume de produção e das ações de instituições de
apoio, não há um arranjo produtivo e inovativo consolidado no local. O autor notou baixo
desenvolvimento tecnológico das empresas e baixa qualificação da mão-de-obra, associados a
127
um ambiente não propício à aprendizagem. Observou, também, a existência de relações
incipientes intra e inter firmas, bem como entre as firmas e outras instituições; e a falta de
uma estrutura de governança, concluindo que não há eficiência coletiva naquela aglomeração.
Nova Friburgo (RJ)
Em estudo de Lemos at alii (2004), na cidade de Nova Friburgo (RJ) – região responsável
atualmente por cerca de 25% da produção nacional de moda íntima foi identificada uma
aglomeração com predominância de MPEs familiares (formais e informais), contando com o
apoio de diversas instituições locais, contribuindo para a institucionalização e imersão da
aglomeração na localidade. Destaca-se ainda a existência de linhas de financiamento e crédito
especiais para os integrantes da aglomeração. O produto principal (moda íntima) é parte da
tradição e história da região. As autoras verificaram pequena cooperação estruturada entre os
empresários locais, embora existam ações do poder público para fomento da interação e
cooperação entre os agentes locais. “O alto nível de verticalização das empresas e a ausência
de complementaridade de suas produções, já haviam sido apontados por estudos anteriores
como um dos elementos que dificultam a articulação entre esses agentes” (LEMOS et allii,
2004 : 34). Parte significativa das iniciativas atualmente em curso de promoção da
aglomeração tem enfatizado o apoio à exportação.
Campina Grande (PB)
Em estudo na aglomeração de confecções de Campina Grande (PB), Cavalcanti Filho et alii.
(2004) notaram que: i) as fontes de informação para o aprendizado inovativo (internas ou
externas às empresas) são pouco exploradas; ii) há baixa utilização de formas de cooperação
128
ou relações de parceria importantes, com agentes internos ou externos à aglomeração. Um
consórcio entre concorrentes tem alto potencial de sucesso na aglomeração, embora ainda
pouco desenvolvido, por ainda contar com o apoio de poucas empresas locais do setor; iii)
descontinuidades das políticas públicas e incerteza que geram comportamentos estratégicos
conservadores por parte dos agentes, como redução de investimento e da linha de produtos;
iv) hiato entre demanda observada na região e produtos ofertados localmente: os produtores
locais querem ofertar produtos finos, o que gera concorrência direta com produtos oriundos de
todo o Brasil, desprezando o mercado de vestuário mais simples, de alta demanda na região e
de baixa concorrência externa; v) embora haja grande número de agentes financeiros na
região, nenhum deles possui linhas de financiamento ou programas voltados especificamente
para empresas locais do setor; e vi) a presença de aglomerações similares próximas (no
Estado de Pernambuco) representa tanto um desafio competitivo quanto uma vantagem, dadas
as oportunidades de aprendizado e cooperação.
Jaraguá (GO)
No município de Jaraguá (GO), Castro (2004) identificou uma aglomeração de confecções
com predominância de MPEs, sem significativa relação hierárquica entre elas e com produção
destinada ao mercado nacional. A horizontalidade da aglomeração possibilita a troca de
informações entre as empresas, gerando relações de interação e alguma cooperação informal,
muito embora os empresários não percebam vantagens no estabelecimento das relações de
cooperação com os demais agentes. As políticas públicas na aglomeração têm conseguido
gerar alguma capacidade de coordenação no arranjo e despertar as empresas para a
importância da cooperação. A pesquisa ainda mostra que as firmas não possuem qualquer
forma estruturada de desenvolvimento tecnológico interno. “As empresas aprendem e inovam
129
no próprio desenvolvimento da produção, e/ou na incorporação de novos equipamentos e
softwares, e no esforço para utilizá-los adequadamente” (CASTRO, 2004 : 46).
Dentre as potencialidades da aglomeração, observam-se: i) mão-de-obra constituída de
trabalhadores jovens e com nível de escolaridade superior a média nacional; ii) o arranjo tem
alta importância para a região, uma vez que a indústria de confecções é responsável por cerca
de 40% dos empregos da região; dessa forma, tal segmento encontra-se culturalmente imerso
no local. Por fim, o autor nota que há necessidade de disponibilidade adequada de crédito para
o desenvolvimento da aglomeração, associada a programas para a capacitação gerencial.
Natal e “Grande Natal” (RN)
Estudo de Santana e Apolinário (2004) na aglomeração de confecções no município de Natal
(e Região Metropolitana) verificou que esta apresenta predominância de micro empresas e
não possui uma especialização produtiva, mostrando-se pulverizado quanto à oferta de
produtos. Poucas relações horizontais entre as empresas são observadas; observou-se ainda
que existem casos de MPEs na aglomeração que funcionam como subcontratadas de médias e
grandes empresas, ou que produzem sob encomenda para grandes varejistas.
Estudo realizado em 2002 no local revelou que 91,3% das micro-empresas não mantinham
atividades cooperativas com outras empresas ou agentes, enquanto dentre as de pequeno
porte, 27,3% mantinham atividades desta natureza. Já as relações de cooperação mostraram-se
enfáticas nas médias e grandes empresas, uma vez que 66,7% das médias e 100% das grandes
mantinham atividades cooperativas. Verificou-se ainda que, há na região, mão-de-obra
qualificada e fornecedores adequados de matérias-primas e insumos; apenas as médias e
130
grandes empresas implementam processos inovativos com certa constância; há alguma ação
de políticas públicas e de instituições de apoio, para o desenvolvimento da aglomeração.
Tobias Barreto (SE)
Estudo de Melo e Hansen (2004) em Tobias Barreto (SE), identificou uma aglomeração
constituída essencialmente por micro e pequenas empresas, em unidades de produção familiar
e tradição histórica na atividade de confecções. Duas externalidades importantes são
verificadas no arranjo, relacionadas à tradição do setor de confecções na região: a) mão-de-
obra qualificada, inclusive entre os mais jovens, e a existência de uma feira de confecções que
atrai potenciais intermediários para o local.
A aglomeração ainda conta com grande número de instituições de apoio e com a presença de
atacadistas que garantem o suprimento de matérias-primas e insumos. As relações de
cooperação e as redes de relações horizontais encontram-se em desenvolvimento. As
inovações mais freqüentes encontram-se relacionadas à aquisição de novos equipamentos. Em
geral, observa-se pouca estrutura de coordenação do arranjo, que é guiado pelas relações de
confiança entre os agentes, principalmente os de pequeno porte.
Colatina (ES)
Dadalto (2001), em estudo do aglomerado de indústrias do vestuário em Colatina (ES),
conclui que o citado arranjo produtivo guarda grandes semelhanças com os distritos
industriais italianos, excetuando-se pela omissão dos governos estadual e municipal em ações
para seu desenvolvimento. A autora notou na região, um ciclo constante de inovação e
131
aprendizado, respaldado pela forte cooperação entre os diversos agentes presentes e na
imersão da atividade na região.
Um ponto fraco do arranjo é a inexistência de fornecedores adequados de matérias-primas e
insumos, o que atrasa o ciclo de produção. No entanto, tal deficiência é sanada pela presença
freqüente de representantes das indústrias de tais insumos e matérias-primas. Alguns destes
residem no município e estabelecem vínculos sociais com a comunidade e com as instituições
envolvidas no arranjo, que atuam de forma ativa para a promoção do mesmo.
Região do Barro Preto, Belo Horizonte (MG)
O estudo de Dias Filho(2001) na aglomeração de indústrias do setor de confecções no Barro
Preto revela uma aglomeração com predominância de micro e pequenas empresas, com baixo
grau de interação e cooperação entre elas. Como não há complementaridade entre as empresas
(são em geral do mesmo estágio da cadeia produtiva), existe um alto nível de concorrência
entre elas. Embora não hajam relações de cooperação institucionalizadas, alguma interação é
observada na aglomeração. Destacam-se atividades de promoção das vendas, que são
realizadas em conjunto por diversas firmas e a troca de informações entre grande parte das
empresas aglomeradas. Quanto à presença de instituições de apoio, o estudo mostrou que
embora haja certo número de instituições financeiras e de pesquisa, não há ações direcionadas
especificamente para a aglomeração.
O próximo capítulo apresenta e analisa os resultados obtidos na pesquisa.
5 AGLOMERAÇÃO DE EMPRESAS DE VESTUÁRIO EM
LONDRINA: ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo apresenta e analisa os resultados obtidos no estudo, buscando responder cada um
dos objetivos específicos propostos. Inicialmente, busca-se comprovar a existência de uma
aglomeração do setor de confecções do vestuário no município de Londrina através dos dados
da RAIS. Em seguida, é realizada uma descrição do ambiente local (infra-estrutura e
instituições), utilizando informações coletadas através de pesquisa bibliográfica e junto às
empresas pesquisadas. Posteriormente, realiza-se uma caracterização das empresas
pesquisadas, seus inter-relacionamentos e inovações. São levantadas ainda informações sobre
a estrutura do arranjo – como forma de governança observada, presença de políticas públicas
e tipificação da aglomeração, segundo as tipologias propostas na revisão de literatura. O
Quadro 11 relaciona as sessões deste capítulo e os objetivos específicos contemplados.
QUADRO 11 – Articulação entre objetivos específicos do estudo e sessões do presente capítulo
Objetivo específico Sessões do capítulo
a) Caracterizar o ambiente local, as empresas do setor
e verificar se existe uma aglomeração de indústrias do
vestuário no local;
5.1, 5.2, 5.3, 5.4
b) Analisar a existência e o grau de intensidade das
relações de cooperação e interação entre as empresas
locais do ramo e entre estas e outros agentes;
5.5, 5.6
c) Identificar as fontes e a intensidade dos processos
de aprendizado e inovativos observados localmente;
5.7, 5.7.1
d) Identificar e descrever ações governamentais
realizadas em prol do desenvolvimento das empresas
do setor;
5.8
e) Identificar e descrever as formas de coordenação
(governança) presentes entre as empresas;
5.9
f) Caso verifique-se a existência de aglomeração,
classificá-la de acordo com as tipologias propostas
por Mytelka e Farinelli (2000) e Casssiolato e Lastres
(2001; 2004).
5.10
Como já notado na metodologia, as questões do bloco “B” do questionário foram elaboradas
através de uma escala ordinal de cinco pontos, onde o número um (1) representa o mais baixo
133
grau de utilização ou importância para a empresa, enquanto o número cinco (5) representa o
mais alto grau de utilização ou importância para a empresa. Algumas questões, portanto, são
analisadas através desta escala.
5.1 Identificação da aglomeração
Esta sessão visa comprovar a existência uma concentração de confecções de artigos do
vestuário no município de Londrina. Para tanto, foi utilizada a base de dados da RAIS (MTE),
para obter informações sobre o número de estabelecimentos e empregos do setor no local e
para realizar o cálculo do quociente locacional (QL).
O primeiro passo para verificar a existência de uma aglomeração de indústrias do setor do
vestuário em Londrina é o cálculo do quociente locacional (QL). O critério utilizado para a
definição do setor foi a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE - 1995) do
IBGE. Como já observado anteriormente, pode-se afirmar que há especialização produtiva de
determinado setor em determinada região, quando o resultado do QL para aquele setor
naquela região for maior que um (QL>1).
A Tabela 15 ilustra o QL do setor de confecções de artigos do vestuário e acessórios em
Londrina, entre 1995 e 2003. Embora tenha ocorrido uma queda no índice ao longo dos anos
(52,8% no ano de 2003, em relação a 1995), pode-se afirmar, através do critério QL, que há
especialização do setor no município de Londrina. A redução do QL ao longo dos anos reflete
as informações apresentadas no capítulo anterior, que mostram um crescimento baixo do
número de estabelecimentos e uma redução no número de empregos gerados no setor do
vestuário, em Londrina, entre 1995 e 2003. Observa-se ainda que os segmentos de roupas
134
profissionais, e acessórios para segurança industrial e pessoal, ainda são pouco explorados no
município.
TABELA 15 – Quociente locacional para número de empresas para o setor do vestuário
no município de Londrina, entre 1995 e 2003
Ano
Classe 1811
Confecção de
roupas intimas,
blusas, camisas
e semelhantes
Classe 1812
Confecção de
outras peças do
vestuário
(exceto roupas
intimas, blusas,
camisas e
semelhantes)
Classe 1813
Confecção de
roupas
profissionais
Classe 1821
Fabricação de
acessórios do
vestuário
Classe 1822
Fabricação de
acessórios para
segurança
industrial e
pessoal
Total
1995
1,346 3,965
0,551
1,461
0,000
3,496
1996 0,839
3,702
0,914
1,421
0,000
3,228
1997
1,436 2,748
0,862
1,760
0,000
2,478
1998
1,356 2,598
0,971
1,506
0,166
2,368
1999
1,794 2,149
0,688
1,827
0,071
2,003
2000 0,982
2,151
0,973
1,392
0,000
1,908
2001 0,811
1,892 1,038 1,111
0,000
1,677
2002
1,236 1,946
0,852 0,955 0,000
1,727
2003
1,111 1,914
0,466 0,814 0,000
1,647
Fonte: RAIS-MTE (2003). Calculado pelo autor.
Como já observado, a utilização do QL como único indicador de especialização produtiva em
dada região, pode se mostrar inadequado (IEDI, 2002). Assim, optou-se por levantar dados de
emprego e número de estabelecimentos do setor de vestuário em todos os municípios que
compõem a micro-região de Londrina-Cambé.
Outros dados – obtidos através da RAIS (2003) – confirmam a existência de especialização
regional para o setor de vestuário no município de Londrina. As informações levantadas no
capítulo anterior mostram que: i) a classe do vestuário foi a décima segunda atividade em
número de estabelecimentos e a sétima em número de empregados no ano de 2003 em
Londrina; ii) do total de empregos do vestuário na micro-região Londrina-Cambé em 2003,
69,6% concentravam-se em Londrina; do total de estabelecimentos do setor na micro-região,
135
62,4% encontram-se em Londrina, no ano de 2003; iii) Londrina respondia em 2003, por
6,6% do número de estabelecimentos, e por 10,1% do número de empregos do setor do
vestuário no Paraná.
5.2 Caracterização do ambiente local
Esta sessão realiza, através de pesquisa bibliográfica, uma caracterização do ambiente local –
no que diz respeito à infra-estrutura, presença de instituições de apoio e ações em prol do
desenvolvimento do setor de confecções na região.
De acordo com o IBGE (2005), Londrina possuía população estimada de 480.822 habitantes
em 2004. Em 2002/2003 existiam 181 estabelecimentos de saúde e 52 agências bancárias. Em
2001 havia 10.856 estabelecimentos comerciais, 683 empresas de transporte, armazenagem e
telecomunicações e 3.707 empresas com atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados
a outras empresas. De acordo com a CODEL (2004), Londrina possuía em 2003, quatro
universidades e 10 estabelecimentos de ensino superior; possuía ainda, 3.107 indústrias,
pertencentes a 24 setores, com destaque para os segmentos de alimentos, têxtil, químico e de
telecomunicações. De acordo com a PNUD (2004), o Índice de Desenvolvimento Humano
63
(IDH-M) de Londrina foi de 0,824 em 2000; o IDH-M EDUCAÇÃO foi de 0,91. Ambos os
índices são considerados altos.
Londrina ainda conta com a presença de órgãos de apoio às empresas e ao trabalhador (como
o SEBRAE, SENAI e SESC) e abriga a sede do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do
Vestuário do Paraná (SIVEPAR), relacionado ao setor em questão neste estudo. O SIVEPAR
63
http://www.pnud.org.br/atlas (Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento).
136
é um dos nove sindicatos associado ao VESTPAR (Associação Paranaense da Indústria Têxtil
e do Vestuário), criado em 2002, com o objetivo de unificar ações e gerar desenvolvimento
para os setores de confecção, fiação e couros no Paraná. Entre os colaboradores do VESTPAR
estão instituições como a APEX BRASIL, SEBRAE, FIEP, ACIL, ACIM, ABIT, SENAI e
Governo do Estado do Paraná.
Ações coordenadas pelo VESTPAR vêm sendo desenvolvidas na região, em prol do
desenvolvimento do setor de confecções. Nesse sentido o SIVEPAR (2005) destaca:
programas de apoio à exportações (como o “Programa Setorial Integrado” – PSI – que conta
com apoio financeiro da APEX) e cursos do SENAI, iniciados em 2005 (modelagem
industrial básica, básico de operador de máquina industrial reta e aprendizagem em confecção
industrial). A Agência SEBRAE de Notícias (2005), destaca o “Programa de Competitividade
do Vestuário de Londrina”
64
, desenvolvido pelo SEBRAE e pelo SIVEPAR, com o objetivo
de imprimir maior competitividade para o setor têxtil de Londrina e região (auxiliando a
definir foco e estratégias de mercado, além de melhorias no processo produtivo).
Os sindicatos também articularam em 2004, juntamente com a Delegacia Regional do
Trabalho do Paraná (DRT/MTE), a realização em Londrina do “Fórum sindical do vestuário
contra a informalidade e a precarização do trabalho”, com o objetivo de reduzir a
informalidade e a subcontratação entre as indústrias de confecções (MTE, 2005). Foi
realizado no mesmo ano o “Fórum Permanente do Vestuário”, com o objetivo de monitorar e
propor ações voltadas para a indústria do vestuário no Paraná (MTE, 2005a). A ACIL – em
parceria com VESTPAR, SIVEPAR, CODEL, SEBRAE, SENAI e FIEP – é a responsável
64
http://www.sivepar.com.br/projetos.htm
137
pela realização do “Estação Fashion Londrina”, evento que vem reunindo desde 2003 no
município, comerciantes do setor de confecções de diversos países.
Londrina ainda possui, desde 1997, o curso superior de “Estilismo em Moda”, na
Universidade Estadual de Londrina (UEL). Desde 1999, o Laboratório de Design de Moda da
UEL (intermediado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UEL) realiza o “Projeto
Milano”, cujo objetivo é melhorar a qualidade dos produtos nacionais e tornar o setor de
confecção mais competitivo. O projeto é acompanhado por uma professora do curso de
“Estilismo em Moda” da UEL, e é desenvolvido através de palestras, visitas culturais e visitas
a indústrias de confecção e bibliotecas especializadas em Milão e em Paris (PROJETO
MILANO, 2005).
De acordo com a CODEL (2005), Londrina possui uma produção média de 10 milhões de
peças de confecções por ano, tendo recebido do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria
e Comércio (MDIC) em 2003, o título de “Pólo Nacional da Confecção”. De acordo com a
Revista Têxtil (2005), Londrina é responsável por aproximadamente 25% da produção de
confeccionados no Paraná. Além do segmento do vestuário, o município abriga empresas de
outras etapas da CTC, o que ilustra o potencial de desenvolvimento da aglomeração em
estudo. A Tabela 16 ilustra esta informação, apresentando o cálculo do QL para os demais
setores da CTC em Londrina. Pela metodologia do QL, há especialização produtiva em mais
seis segmentos da CTC no município de Londrina. Destacam-se como segmentos em
crescimento: beneficamento de algodão (embora apresente oscilações bruscas ao longo dos
anos); fiação de fibras artificiais ou sintéticas; e acabamentos em fios, tecidos e artigos
têxteis, por terceiros. Outros sete segmentos contam com unidades produtivas, embora não se
possa afirmar que exista especialização produtiva no local. Um outro elemento a ser
138
considerado é o grau de diversificação da indústria local, que pode contribuir para um
quociente locacional inferior (IEDI, 2002).
TABELA 16 – Quociente locacional para número de empresas para os demais
segmentos da CTC em Londrina, exceto confecções de artigos do vestuário
65
, 1995/2003
Código
QL
(1995)
QL
(1996)
QL
(1997)
QL
(1998)
QL
(1999)
QL
(2000)
QL
(2001)
QL
(2002)
QL
(2003)
17116 0,027 0,000 0,322 0,000 0,071
7,734 4,923
0,000
7,287
17191 0,710 0,524 0,915
1,668 1,976 1,713 2,614 2,003
0,272
17213 0,537 0,486 0,746 0,857 0,716 0,000 0,000 0,606 0,000
17221
6,771 7,211 6,874 6,144 6,362 7,025 6,345 5,718 5,183
17230 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
7,035 5,678
17248 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
17310 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
17329
4,448
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
17337 0,068 0,050 0,061 0,061 0,062 0,000 0,000 0,000 0,000
17418 0,546 0,379 0,447 0,151 0,376 0,188 0,128 0,138 0,208
17493
5,516 6,056 4,031 3,895 3,566 3,131 3,543 4,228 4,478
17507 0,164 0,075
3,137 4,275 5,946 3,849 4,143 3,815 2,755
17612
1,026
0,843
1,493 2,071 2,441 1,816 1,937 2,187 1,259
17620 0,054 0,041 0,041 0,090 0,270 0,366 0,613 0,882 0,323
17639 0,000 0,000 0,392 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
17647
8,402 16,496
0,563 0,000 0,000
5,153
0,000 0,000 0,503
17698 0,939
1,988
0,244 0,454 0,312
3,483
0,150 0,227 0,393
17710 7,633 1,456 1,830 1,527 2,801 2,020
0,643 0,281 0,373
17728 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
17795 0,695 0,557 0,087 0,472 0,642 0,278
2,756
0,717 0,134
Fonte: RAIS/MTE (1995; 1996; 1997; 1998; 1999; 2000; 2001; 2001; 2003). Calculado pelo autor
65
Setores analisados:17116-Beneficiamento de algodão; 17191-Beneficiamento de outras fibras têxteis
naturais; 17213- Fiação de algodão; 17221- Fiação de fibras têxteis naturais, exceto algodão; 17230- Fiação
de fibras artificiais ou sintéticas; 17248- Fabricação de linhas e fios para costurar e bordar; 17310- Tecelagem de
algodão; 17329- Tecelagem de fios de fibras têxteis naturais, exceto algodão; 17337- Tecelagem de fios e
filamentos contínuos artificiais ou semelhantes; 17418- Fabricação de artigos de tecido de uso doméstico;
17493- Fabricação de outros artefatos têxteis incluindo tecelagem; 17507- Acabamentos em fios, tecidos e
artigos têxteis, por terceiros; 17612- Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos - exceto vestuário;
17620- Fabricação de artefatos de tapeçaria; 17639- Fabricação de artefatos de cordoaria; 17647- Fabricação de
tecidos especiais - inclusive artefatos; 17698- Fabricação de outros artigos têxteis - exceto vestuário; 17710-
Fabricação de tecidos de malha; 17728- Fabricação de meias; 17795- Fabricação de outros artigos do vestuário
produzidos em malha.
139
5.3 Caracterização das empresas pesquisadas
Conforme apontado pela literatura, em aglomerações tradicionais há predominância de micro
e pequenas empresas e a aglomeração em estudo corrobora tal afirmação. Das empresas
pesquisadas, 28 (72,5%) são micro-empresas, nove (22,5%) são empresas de pequeno porte,
uma (2,5%) é empresa de médio porte e uma (2,5%) é empresa de grande porte
66
. Todas as
empresas pesquisadas atuam no segmento de confecção, sendo que destas, uma também
trabalha com estamparia e outra com tinturaria.
A maioria das empresas é varejista (52,5%). Oito empresas comercializam apenas através de
representantes e quatro atuam somente no atacado. A maioria das empresas destina seus
produtos apenas para o mercado local ou regional (29 empresas); seis empresas vendem
apenas em outros Estados; quatro empresas atuam, além do município e da região, em outras
regiões do Estado e em outros Estados. Apenas uma empresa (micro-empresa) exporta.
A maioria das empresas (60%) indicou não submeter os trabalhadores regularmente a
treinamentos. Apenas 17,5% das empresas indicaram realizar treinamentos regularmente com
os trabalhadores. As pequenas empresas foram as que indicaram realizar mais treinamentos
entre todos os portes, seguidas das empresas de médio/grande porte (mais informações
disponíveis no apêndice C). O Quadro 12 resume as informações apresentadas sobre a
caracterização das empresas. Os resultados indicam características típicas de aglomerações de
setores tradicionais, pouco desenvolvidas.
66
De acordo com o critério da RAIS/MTE.
140
QUADRO 12 – Caracterização das empresas do vestuário de Londrina (2005)
Principais características -Predominância de micro e pequenas empresas
-Destino dos produtos é local ou regional
-Ausência ou presença não significativa de empresas
exportadoras
-Trabalhadores não são submetidos regularmente a
treinamentos.
Realização, pelas empresas, de treinamentos
regularmente com os trabalhadores (escala
de 1 a 5)
-Micro-empresas: média 2,0
-Empresas de pequeno porte: média 3,3
-Empresas de médio/grande porte: média 3,0
Fonte: pesquisa do autor
5.4 Adequação do ambiente local sob a ótica das empresas pesquisadas
Esta sessão visa captar informações sobre o ambiente local, sob a ótica das empresas
pesquisadas. As questões aqui propostas denotam necessidades específicas das empresas, e
buscam levantar informações acerca da adequação do ambiente a tais necessidades.
Quanto à adequação dos fornecedores (tanto de máquinas e equipamentos quanto de
insumos), as empresas mostraram-se pouco satisfeitas, embora parte significativa das compras
sejam realizadas na região (aproximadamente um terço das empresas compram
exclusivamente de fornecedores de outras localidades; cerca de 35% compram
exclusivamente de fornecedores locais; o restante compra tanto de fornecedores locais quanto
de outras localidades).
A maioria das empresas (70%) mostrou estar insatisfeita com os fornecedores locais (de
máquinas e equipamentos e de insumos); cinco empresas consideram-se satisfeitas com os
141
fornecedores de máquinas e equipamentos, sete empresas consideram-se satisfeitas com os
fornecedores locais de insumos.
Sobre a facilidade de encontrar mão-de-obra especializada na região, a grande maioria das
empresas (82,5%) indicou não encontrar pessoal qualificado com facilidade. Apenas três
empresas disseram encontrar mão-de-obra qualificada com facilidade.
Quanto às condições para obtenção de crédito na região (taxa de juros, prazo e facilidade de
acesso), a maioria dos respondentes indicou haver más condições; apenas 5% das empresas
indicaram haver boas condições para obtenção de crédito. É importante ainda notar, que as
empresas não participam ou desconhecem linhas específicas de financiamento para o setor do
vestuário.
Buscou-se ainda verificar se os respondentes entendem que existe uma “marca” (imagem ou
característica marcante) comum entre confeccionados locais. Metade dos respondentes
indicou não perceber de forma clara a existência de uma “marca” local dos confeccionados;
poucas empresas (sete) indicaram perceber tal “marca” de forma clara.
A pesquisa buscou, ainda, identificar se as empresas percebem se as tendências de design e
desenvolvimento dos produtos têm origem local. A maioria (mais de 70% das empresas)
entende que tais tendências não são desenvolvidas na região; pouco mais de 10% (cinco
empresas) apontaram para a idéia de que tais tendências têm origem local. Seis empresas
mantiveram-se em uma posição intermediária, o que pode indicar que parte dos produtos tem
seu design e características desenvolvidos na região, ou ainda, que estes apenas sofrem
modificações incrementais no local.
142
As empresas foram questionadas se o sucesso de outras empresas locais do setor foi um fator
motivador para a sua instalação no local. Apenas 10% das empresas indicaram tal fator como
claro motivador de sua instalação no local. Para a maioria (mais de 70%), tal fator não foi
motivador para sua a escolha pela região de Londrina (primeiro ou segundo grau da escala). O
Quadro 13 resume as principais informações obtidas junto às empresas, no que se refere à
opinião destas sobre a adequação do ambiente local. Destaque para as médias gerais, que não
ultrapassaram 2,4 (na escala de 1 a 5). Outras informações sobre esta sessão encontram-se
disponíveis no apêndice C.
QUADRO 13 – Opinião das empresas do vestuário de Londrina sobre a adequação do
ambiente local (2005)
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de
um a cinco)
Adequação dos fornecedores
Dificuldades em encontrar
fornecedores locais
adequados; parte significativa
das empresas realiza a
aquisição dos produtos
localmente
Média geral para máquinas e
equipamentos: 1,9
Média geral para insumos: 2,2
Adequação da mão-de-obra
Dificuldades em encontrar
mão-de-obra qualificada
disponível
Média geral: 2,2
Crédito e financiamento
Condições pouco adequadas
para a obtenção de
financiamentos e crédito na
região
Média geral: 2,0
Existência de uma “marca” dos
confeccionados locais
Maioria não percebe de forma
clara a existência de uma
“marca” característica das
confecções locais
Média geral: 2,4
Tendências de design e
desenvolvimento dos produtos
Maioria indica que tais
tendências não têm origem
local
Média geral: 2,1
Sucesso de outras como fator
motivador da escolha do local
Para a maioria, o sucesso de
outras firmas locais do setor
não atuou como fator
motivador, quando da escolha
do local para a fundação.
Média geral: 2,0
Fonte: pesquisa do autor
143
5.5 Relações de cooperação com outras empresas
Esta sessão busca identificar os elos de cooperação entre as empresas pesquisadas, e entre
estas e outras que não sejam concorrentes.
Inicialmente, as empresas foram indagadas sobre a existência de cooperação com empresas
concorrentes locais. Esta cooperação pode estar relacionada à troca de equipamentos,
desenvolvimento de produtos, treinamento de mão-de-obra, compra da matéria-prima,
compartilhamento de riscos, aquisição de conhecimentos, atuação no mercado externo, entre
outros fatores. Observou-se que não há relações de cooperação alicerçadas entre as empresas,
uma vez que apenas duas empresas sinalizaram enfaticamente cooperar com outras; pouco
mais de 10% das empresas indicaram manter alguma relação de cooperação, de forma menos
expressiva. Observou-se ainda, que as empresas de porte médio/grande apresentaram maior
iniciativa de cooperação entre as pesquisadas.
As empresas foram também questionadas sobre suas relações de cooperação com outras
empresas da região que não fossem concorrentes – como empresas de outros setores,
empresas fornecedoras ou localizadas em outras etapas da CTC. Como na questão anterior,
poucas empresas (apenas três) indicaram manter relações expressivas de cooperação com tais
firmas; 15% das empresas indicaram manter alguma relação de cooperação, de forma menos
expressiva. Ao abordar a mesma questão, considerando o porte das empresas, observou-se
novamente maior incidência cooperativa entre as empresas de médio/grande porte, em relação
às demais.
144
Buscou-se ainda identificar se existe uma troca informal de informações entre os empresários
da região. Para tanto, os respondentes foram questionados se costumam visitar ou receber
visitas informais de outros empresários locais, para troca de informações. A maioria das
empresas (mais de 60%) indicou não manter relacionamentos desta natureza; 25% das
empresas indicaram manter alguma troca de informações nesse sentido (casual). Cinco
empresas disseram manter tais relacionamentos de forma mais expressiva. Estas informações
indicam baixa identidade cultural entre os empresários do setor e fraca imersão das empresas
no local (conforme HUMPHREY e SCHMITZ, 1998; ALBAGLI e BRITTO, 2003;
HANSEN, 2003).
Ao se relacionar esta mesma questão com o porte das empresas, destacaram-se as empresas de
médio/grande porte, por manter tais contatos de forma enfática. O Quadro 14 resume as
principais informações obtidas sobre as relações de cooperação entre as empresas
pesquisadas. Destaque para as médias gerais dos quesitos, que não ultrapassou 2,1 – na escala
de 1 a 5. Outras informações sobre esta sessão encontram-se disponíveis no apêndice C.
QUADRO 14 – Relações de cooperação entre as empresas do vestuário de Londrina
(2005)
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de um a
cinco)
Cooperação com
concorrentes
Não há no local, cooperação
institucionalizada entre as
empresas concorrentes do
setor.
Média geral: 1,8
Micro-empresas: 1,8
Pequenas empresas: 1,3
Empresas de médio/grande porte: 3,0
Cooperação com não-
concorrentes
não há no local, cooperação
institucionalizada entre as
empresas pesquisadas e outras
que não sejam concorrentes.
Média geral: 1,8
Micro-empresas: 1,3
Pequenas empresas: 1,7
Empresas de médio/grande porte: 3,0
Existência de trocas
informais de informação
há no local baixa propensão
para a troca informal de
informações.
Média geral: 2,1
Micro-empresas: 2,1
Pequenas empresas: 1,7
Empresas de médio/grande porte: 4,5
Fonte: pesquisa do autor
145
5.6 Relacionamentos com demais instituições locais
Esta sessão busca identificar os relacionamentos das empresas com instituições locais, como
universidades, sindicatos e órgãos de apoio em geral.
Inicialmente, buscou-se verificar o grau de desenvolvimento das relações das empresas com
universidades ou centros de pesquisa. A grande maioria das empresas (90%) indicou não
manter relações com tais instituições. Não houve nenhuma empresa que sinalizou manter
relações com universidades e centros de pesquisa da região de modo expressivo, sendo que
10% das empresas mostraram haver algum grau de relacionamento com tais instituições. Não
houve diferenças significativas nos resultados para empresas de diferentes portes.
Quanto aos relacionamentos com o sindicato representante do setor – para aquisição de
informações e apoio em geral – apenas três empresas indicaram manter relacionamentos
expressivos com o sindicato; seis empresas apontaram manter algum relacionamento com o
sindicato, mas não de forma expressiva. O restante das empresas indicou não manter
relacionamentos com o sindicato. Não há diferença significativa neste quesito, entre empresas
de diferentes portes.
As empresas foram ainda questionadas sobre o grau de desenvolvimento de relações com
instituições de apoio técnico e suporte, a saber: SEBRAE, SENAI, ACIL e FIEP. Em geral,
todas as quatro instituições são pouco utilizadas pelas empresas. O SEBRAE é – dentre as
quatro instituições – a mais utilizada (seis empresas mostraram se relacionar com esta
instituição de forma regular); em seguida vem o SENAI (utilizada por cinco empresas de
146
forma regular); duas empresas indicaram manter relacionamentos freqüentes com a ACIL e
com a FIEP.
Ao associar esta questão com o porte das empresas, notou-se que as pequenas empresas
destacam-se nos relacionamentos com o SEBRAE (ainda que de forma modesta, em termos
absolutos), enquanto as empresas de porte médio/grande destacam-se nos relacionamentos
com a ACIL, com a FIEP e com o SENAI (sendo com este último, de forma mais enfática).
As empresas foram ainda questionadas se mantinham relacionamentos com outros sindicatos
ou instituições de apoio ligadas ao setor têxtil e confecções. Apenas uma empresa mostrou
haver relacionamentos alicerçados com instituições dessa natureza; outras sete empresas
indicaram manter algum relacionamento (casual) com estas. O restante das empresas indicou
não manter tais relacionamentos. Considerando-se o porte das empresas na análise, não foi
possível detectar diferenças significativas entre empresas de diferentes portes.
Buscou-se verificar se as empresas consideram um ponto forte de sua localização na região,
os relacionamentos com instituições de apoio – como o SEBRAE, SENAI, sindicatos,
associações e instituições de ensino e pesquisa. Apenas três empresas consideram, de forma
enfática, tais relacionamentos como um ponto forte da localização na região. A grande
maioria (85% das empresas) não considera a existência de tais relacionamentos, um ponto
forte de sua localização. Isso denota a baixa imersão das empresas no local (conforme
HUMPHREY e SCHMITZ, 1998; ALBAGLI e BRITTO, 2003; HANSEN, 2003).
Considerando o porte das empresas, nota-se que as pequenas empresas mostraram perceber de
forma mais clara a presença destes relacionamentos como um ponto forte da localização,
147
porém ainda de forma pouco expressiva. O Quadro 15 resume as informações obtidas junto às
empresas, no que se refere aos relacionamentos destas com demais instituições locais.
Destaque para a baixa média nos quesitos (na escala de 1 a 5), principalmente das micro-
empresas. Outras informações sobre esta sessão encontram-se no apêndice C.
QUADRO 15 – Relacionamentos das empresas do vestuário de Londrina com demais
instituições locais, 2005
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de um a
cinco)
Relacionamentos com
universidades ou centros
de pesquisa
Elos incipientes.
Média geral: 1,5
Micro-empresas: 1,3
Pequenas empresas: 2,0
Em
p
resas de médio/
g
rande
p
orte: 2
,
0
Relacionamentos com o
sindicato representante
Elos incipientes.
Média geral: 1,9
Micro-empresas: 1,6
Pequenas empresas: 2,4
Empresas de médio/grande porte: 2,5
Relacionamentos com
instituições de apoio, como
SEBRAE, SENAI, ACIL,
FIEP.
Elos incipientes.
Média geral
SEBRAE: 2,0
SENAI: 1,8
ACIL: 1,8
FIEP: 1,6
Micro-empresas
SEBRAE: 1,7
SENAI: 1,5
ACIL: 1,7
FIEP: 1,6
Pequenas empresas
SEBRAE: 3,0
SENAI: 2,2
ACIL: 1,8
FIEP: 1,8
Empresas de médio/grande porte
SEBRAE: 2,0
SENAI: 4,0
ACIL: 3,0
FIEP: 3,0
Fonte: pesquisa do autor
148
QUADRO 15 – Relacionamentos das empresas do vestuário de Londrina com demais
instituições locais, 2005 (Continuação)
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de um a
cinco)
Relacionamentos com
outros sindicatos ou
instituições de apoio
ligadas ao setor têxtil e
confecções
Elos incipientes.
Média geral: 1,7
Micro-empresas: 1,6
Pequenas empresas: 1,8
Empresas de médio/grande porte: 2,5
Relacionamentos com as
instituições locais como um
ponto forte da localização
da empresa
A maioria não considera tais
relacionamentos como um
ponto forte de sua localização.
Média geral: 1,8
Micro-empresas: 1,5
Pequenas empresas: 2,9
Empresas de médio/grande porte: 2,0
Fonte: pesquisa do autor
5.7 Fontes de aprendizado e inovação
Esta sessão aborda a questão do aprendizado e da inovação entre as empresas. Buscou-se
identificar as principais fontes de aprendizado e inovação das empresas pesquisadas.
As empresas foram questionadas sobre a participação em feiras, workshops e eventos em
geral ligados ao setor têxtil e vestuário, para a aquisição de conhecimentos e inovações. Um
terço das empresas indicou participar de tais eventos regularmente, enquanto pouco mais de
10% indicou participar de forma não-regular ou eventual. O restante das empresas mostrou
que não costuma participar de feiras ou workshops.
Ao segmentar as empresas por porte, observou-se maior participação destes eventos por parte
das empresas de médio/grande porte; as pequenas empresas mostraram que também utilizam
as feiras e workshops, porém de forma menos enfática que as médias e grandes empresas.
149
Buscou-se também saber se as empresas utilizam bibliotecas e publicações especializadas
como fonte de conhecimentos e inovações. A maioria das empresas (pouco mais de 60%) não
costuma utilizar tais fontes de informação, enquanto um quarto das empresas mostrou utiliza-
las de forma expressiva; pouco mais de 10% das empresas indicou usar moderadamente tais
recursos. Ao segmentar as empresas por porte, destacaram-se as empresas de porte
médio/grande na utilização de tais fontes.
Buscou-se também identificar se as empresas utilizam informações obtidas junto a
fornecedores, clientes e concorrentes para a obtenção de informações. Em linhas gerais, as
empresas utilizam moderadamente os fornecedores e clientes para obter informações, mas
muito pouco os concorrentes.
Quanto aos fornecedores, 40% das empresas indicaram utilizar os fornecedores de forma
freqüente para a obtenção de informações. Quanto aos clientes, 45% das empresas indicaram
utiliza-los de forma freqüente. Quanto às informações obtidas junto aos concorrentes, 20%
das empresas indicaram utilizar tais fontes de forma freqüente.
Ao segmentar as empresas por porte, destacaram-se as empresas de porte médio/grande, em
relação à utilização das informações obtidas junto a fornecedores e clientes. As empresas de
pequeno porte também destacaram-se no que se refere à utilização de informações obtidas
junto a clientes.
Buscou-se ainda identificar se as empresas utilizam serviços de consultoria para a aquisição
de conhecimentos e inovações. Pouco mais da metade das empresas (55%) apontou não
150
utilizar esse tipo de serviço. Pequena parte das empresas (20%) indicou utilizar os serviços de
consultoria de forma freqüente, enquanto um quarto das empresas indicou utilizar tais
serviços de forma eventual ou esporádica. Não foi possível perceber diferenças significativas
entre as empresas de portes distintos, quanto a este quesito.
Finalmente, as empresas foram questionadas se percebiam a imitação de seus produtos como
uma prática comum realizada pelos concorrentes. Metade das empresas indicou não perceber
tal prática, enquanto 25% apontaram perceber tal prática de maneira expressiva. Outros 25%
indicaram perceber tal prática, porém com menos ênfase. O Quadro 16 resume as informações
contidas nesta sessão. Destaque para as empresas de médio/grande porte, que apresentaram
média alta em diversos quesitos (na escala de 1 a 5). Em geral, nenhum quesito obteve média
geral superior a 3,0 (sendo que as menores médias foram obtidas pelas micro-empresas).
Outras informações sobre esta sessão encontram-se no apêndice C.
QUADRO 16 – Fontes de inovação e aprendizado das empresas do vestuário de
Londrina (2005)
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de um a
cinco)
Participação em feiras,
workshops e eventos em
geral ligados ao setor têxtil
e vestuário
Existe alguma participação,
porém baixa.
Média geral: 2,6
Micro-empresas: 2,2
Pequenas empresas: 3,1
Empresas de médio/grande porte: 4,5
Utilização de bibliotecas e
publicações especializadas
Existe alguma utilização,
porém baixa.
Média geral: 2,4
Micro-empresas: 2,2
Pequenas empresas: 2,4
Empresas de médio/grande porte: 4,0
Fonte: Pesquisa do autor
151
QUADRO 16 – Fontes de inovação e aprendizado das empresas do vestuário de
Londrina, 2005 (Continuação)
Quesito Principais resultados
Média do quesito (escala de um a
cinco)
Utilização de informações
obtidas junto a
fornecedores, clientes e
concorrentes
Utilização moderada dos
fornecedores e clientes;
utilização baixa de
informações obtidas junto a
concorrentes.
Média geral
Fornecedores: 2,9
Clientes: 3,0
Concorrentes: 2,2
Micro-empresas
Fornecedores: 2,5
Clientes: 2,4
Concorrentes: 1,6
Pequenas empresas
Fornecedores: 3,6
Clientes: 4,2
Concorrentes: 3,1
Empresas de médio/grande porte
Fornecedores: 4,5
Clientes: 4,5
Concorrentes: 3,5
Utilização de serviços de
consultoria
Existe alguma utilização.
Baixa taxa de utilização
freqüente.
Média geral: 2,4
Micro-empresas: 2,1
Pequenas empresas: 3,1
Empresas de médio/grande porte: 3,0
Percepção de que os
concorrentes imitam os
produtos da empresa
Há uma percepção moderada,
mas não generalizada de que
há imitação.
Média geral: 2,6
Fonte: Pesquisa do autor
5.7.1 Implementação de inovações
Esta sessão tem como objetivo identificar inovações realizadas pelas empresas nos últimos
cinco anos. Em linhas gerais, percebe-se baixa atividade inovativa entre as empresas (tanto de
produto quanto de processo). Dentre as empresas pesquisadas, 55% realizaram alguma
alteração no desenho/estilo do produto, nos últimos cinco anos. De modo geral, as empresas
152
indicaram estar fazendo constantes alterações nesse sentido. Entre as micro-empresas, pouco
mais da metade realizou alguma inovação nesse sentido nos últimos cinco anos; entre as
médias, esse número é de 55,5%. A empresa de porte médio a de porte grande também
inovaram o desenho/estilo do produto nos últimos cinco anos.
Pouco mais da metade das empresas (52,5%) introduziu algum novo produto nos últimos
cinco anos. Entre as micro-empresas, pouco menos da metade (44,8%) introduziu novos
produtos nos últimos cinco anos; entre as pequenas, esse número é de aproximadamente dois
terços (66,6%). Tanto a empresa de médio quanto a de grande porte inovaram, pois lançaram
novos produtos nos últimos cinco anos.
Pouco mais de um terço das empresas (35%) introduziram novos equipamentos nos últimos
cinco anos. Entre as micro-empresas, apenas seis (20,7%) introduziram novos equipamentos
nos últimos cinco anos; entre as empresas de pequeno porte, esse número é um pouco maior:
cerca de dois terços (66,6%). Tanto a empresa de médio quanto a grande porte introduziram
novos equipamentos nos últimos cinco anos.
Pouco menos de um terço das empresas (30%) introduziram novas matérias-primas em seus
produtos. Entre as micro-empresas, pequena parte o fez (17,8%), contra pouco mais da
metade das empresas de pequeno porte (55,5%). Tanto a empresa de porte médio quanto a de
porte grande introduziram novos equipamentos nos últimos cinco anos.
Não foram observadas relações entre as empresas inovadoras (que realizaram alguma
alteração no desenho/estilo do produto ou introduziram novos produtos nos últimos cinco
anos) e a existência de relacionamentos mais fortes com universidades ou centros de pesquisa,
153
relações cooperativas com concorrentes ou não-concorrentes, utilização de feiras e eventos
ligados ao setor ou de bibliotecas e publicações especializadas.
Apenas um quarto das empresas implementou alguma inovação organizacional nos últimos
cinco anos (como: células de produção, just-in-time, CAD/CAM, 5s, TQM, círculos de
qualidade, planejamento estratégico, sistema ABC de custeio, círculos de qualidade, Kaizen,
Kanban). Destas, cinco empresas implementaram entre uma ou quatro inovações
organizacionais; e outras cinco empresas implementaram cinco ou mais inovações
organizacionais nos últimos cinco anos, caracterizando-se como empresas inovativas, células
de desenvolvimento local.
Entre as que implantaram entre uma e quatro inovações organizacionais, duas são micro-
empresas, duas são empresas de pequeno porte e uma é empresa de médio porte. Entre as que
implantaram cinco ou mais inovações organizacionais, duas são micro-empresas, duas são
empresas de pequeno porte e uma é empresa de grande porte.
Das micro-empresas, 13,8% implantaram, portanto, alguma inovação organizacional nos
últimos cinco anos; entre as empresas de pequeno porte, esse número chega a 44,4% das
empresas. Tanto a empresa de médio porte quanto a de grande porte implantaram alguma
inovação organizacional nos últimos cinco anos.
Dentre aquelas que implantaram cinco ou mais inovações organizacionais, observou-se maior
utilização de bibliotecas e de publicações especializadas como fonte de aquisição de
154
conhecimentos (80% indicaram utilizar com freqüência tais fontes de informação, assinalando
o quarto grau da escala de um a cinco).
Ainda entre essas empresas, observou-se maior utilização de feiras e eventos ligados ao setor
(todas assinalaram entre o terceiro e quinto grau da escala). Não foram observados – entre as
empresas com mais inovações organizacionais – relacionamentos mais fortes com
universidades ou centros de pesquisa, relações cooperativas com concorrentes e não-
concorrentes.
Pode-se concluir desta sessão, que: i) pouco mais da metade das empresas realizou alguma
alteração no desenho/estilo do produto ou incluíram novos produtos nos últimos cinco anos;
ii) a maioria das empresas não introduziu novos equipamentos ou matérias-primas em sua
produção, nos últimos cinco anos; iii) a maioria não realizou qualquer inovação
organizacional nos últimos cinco anos; iv) observou-se uma relação positiva entre as
empresas que realizaram mais inovações organizacionais e a utilização de bibliotecas,
publicações especializadas e feiras ou eventos ligados ao setor; v) as pequenas empresas
mostraram-se mais inovativas que as micro-empresas em todos os aspectos.
Há pouca inovação na aglomeração. Mesmo as inovações de produto – mais freqüente entre
as empresas – encontram-se em patamar baixo, dadas as características do segmento do
vestuário (naturalmente inovativo, pois é dirigido pelo consumidor). Outras informações
sobre esta sessão encontram-se no apêndice C.
155
5.8 Presença de políticas públicas
Esta sessão busca identificar se as empresas identificam ações do poder público (municipal,
estadual e federal) em apoio ao setor de confecções local. Como já observado anteriormente,
algumas ações do poder público vêm sendo observadas em prol do setor têxtil e de confecções
em Londrina. Entretanto, as empresas mostraram, em linhas gerais, não estar sentindo o efeito
de políticas públicas para o setor.
O governo municipal apresentou a maior taxa de respostas negativas entre os três (92,5% das
empresas concentraram suas respostas no primeiro ou segundo grau da escala – que varia de
um a cinco). Nenhuma empresa assinalou o quinto grau da escala. As médias dos quesitos
foram: 1,5 para o governo municipal; 1,9 para o governo estadual; e 1,6 para o governo
federal (mais informações encontram-se disponíveis no apêndice C).
5.9 Estruturas de governança presentes na aglomeração
As relações de subcontratação observadas nas aglomerações de empresas fornecem os
principais subsídios para a identificação das formas de governança presentes. Na aglomeração
pesquisada, três empresas (7,5%) afirmaram subcontratar outras empresas para atividades
como acabamento, bordados, tecelagem e malharia. Todas as subcontratadas localizam-se na
região (município de Londrina e cidades vizinhas).
Outras nove empresas (22,5%) afirmaram atuar como subcontradas de outras empresas. Uma
das empresas realiza serviços de estamparia para a subcontratante, enquanto as outras oito
realizam serviços de confecção/facção. Destas nove, sete afirmam que a empresa
156
subcontratante localiza-se no município de Londrina ou nas cidades vizinhas. Uma
subcontratante localiza-se em outras regiões do Estado, e a outra localiza-se em outro Estado.
Ao relacionar porte da empresas com as relações de subcontratação, observou-se que, das
empresas que subcontratam, duas são micro-empresas e uma é empresa de grande porte. Das
empresas que atuam como subcontratadas, quatro são micro-empresas, quatro são empresas
de pequeno porte e uma é empresa de médio porte.
Embora duas empresas sejam subcontratadas de firmas externas à aglomeração e haja uma
empresa de grande porte interna ao arranjo, exercendo papel de subcontratante, a baixa
incidência de tais relações não permite afirmar que exista uma estrutura de governança
hierárquica no local.
A forma de governança observada, portanto, é aquela “em redes”, caracterizada pela ausência
de grande empresa (interna ou externa à aglomeração) exercendo coordenação sobre as
atividades econômicas e tecnológicas locais. A literatura mostra que a governança “em rede”
pode surgir a partir da presença de uma infra-estrutura de C&T no local, que atrai as MPEs e
caracteriza a aglomeração como de base tecnológica; ou ainda a partir da simples
aglomeração de MPEs de setores tradicionais, como calçados, móveis ou vestuário,
independentemente da infra-estrutura tecnológica local. A aglomeração em estudo encaixa-se
nessa segunda forma de governança “em rede”.
O Quadro 17 faz um paralelo entre o observado por Cassiolato e Lastres (2001) sobre
aglomerações sem estrutura de governança definida, e o observado na presente pesquisa. É
possível notar diversos pontos de convergência entre ambos, com algumas exceções: a
157
cooperação produtor-usuário mostrou-se pouco desenvolvida no presente estudo e as ações do
governo na aglomeração em estudo, ainda não estão presentes de forma expressiva, embora a
pesquisa bibliográfica tenha mostrado que determinadas ações vêm sendo desenvolvidas a
favor do setor do vestuário londrinense. Cassiolato e Lastres (2001) destacam a importância
desses dois aspectos como principais fontes de coordenação em aglomerações com esta
estrutura de governança.
QUADRO 17 – Características de aglomerações sem governança local definida (paralelo
entre a literatura e o observado na pesquisa)
Características
Aglomerações sem
governança local definida
(Cassiolato e Lastres, 2001)
Características observadas
na pesquisa
Economias de escala Baixas
Baixas
Nível de atividade das
empresas locais
Alto
Alto
Comércio intra-aglomerado Altamente desenvolvido
Altamente desenvolvido
Investimentos-chave Decisão local
Decisão local
Cooperação produtor-usuário Importante
Baixa
Cooperação com firmas
externas ao aglomerado
Baixa
Baixa
Regulação das relações Longo prazo
Longo prazo
Fontes de financiamento Internas ao aglomerado
Internas ao aglomerado
Possibilidades de crescimento
de longo prazo
Boas
Boas
Papel do governo local Importante
Pouco presente
Fonte: Adaptado de Cassiolato e Lastres (2001) e pesquisa do autor
158
5.10 Classificação da aglomeração
Antes de classificar a aglomeração em estudo, de acordo com as tipologias propostas por
Mytelka e Farinelli (2001) e por Cassiolato e Lastres (2001; 2004), é apresentado um quadro
comparando algumas características de arranjos tradicionais com características observadas na
aglomeração pesquisada neste estudo.
O Quadro 18 faz um paralelo entre as informações fornecidas por Britto (2004) - Quadro 4 - e
os resultados da aglomeração em estudo. Notam-se algumas similaridades entre características
da aglomeração pesquisada e àquelas colocadas por Britto (2004). De modo geral, o arranjo
londrinense apresenta baixa presença de ações coletivas e de processos inovativos e os fluxos
de informação entre as empresas também se mostraram limitados na aglomeração em estudo,
em relação às observações de Britto (2004).
QUADRO 18 – Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais – paralelo entre a literatura e o observado na pesquisa
Britto (2004)
-Estruturas dispersas com baixo nível de hierarquização interna. Multiplicidade de
relacionamentos horizontais e verticais;
-Relações de subcontratação entre montadoras semi-verticalizadas e uma malha de
empresas responsáveis pela produção de componentes, partes e por tarefas específicas na
cadeia de produção;
-Redução de custos de produção, através de “especialização flexível”, incluindo a
produção de insumos, partes e componentes.
Resultados da pesquisa
Características e
objetivos do
arranjo
-Estruturas dispersas, com baixo nível de hierarquização interna. Poucos relacionamentos
horizontais e verticais (apenas no sentido estrito da comercialização);
-Poucas relações de subcontratação;
-Não observam-se claramente características da especialização flexível, como
coordenação entre as empresas e descentralização da produção (incluindo terceirização e
subcontratação); introdução de novas tecnologias; inovações organizacionais;
polivalência do trabalhador.
Fonte: Britto (2004) e pesquisa do autor
159
QUADRO 18 – Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais – paralelo entre a literatura e o observado na pesquisa (Continuação)
Britto (2004)
-Forte presença de PMEs;
-Possibilidade de coordenação promovida por intermediários envolvidos com a
comercialização (dealers) ou por firmas montadoras mais capacitadas;
-Papel relevante da presença de centros de prestação de serviços técnicos especializados
ao nível local;
-Importância de associações empresariais.
Resultados da pesquisa
Conformação
institucional do
ambiente
produtivo local
-Forte presença de micro e pequenas empresas;
-Possibilidade de coordenação dos dealers em nível individual (unidade empresarial),
dirigida pela demanda do consumidor. Possibilidades remotas de coordenação do arranjo
como um todo;
-Centros de prestação de serviços técnicos especializados com potencial papel relevante.
Ainda pouco utilizados;
-Importância potencial de associações empresariais. Ainda poucas relações
institucionalizadas.
Britto (2004)
-Baixas exigências em termos de qualificação formal;
-Importância de qualificações informais consolidadas a partir de competências locais;
-Importância da montagem de centros de treinamento para qualificação técnica;
-Relevância do apoio de instituições voltadas para capacitação técnica (públicas e
privadas).
Resultados da pesquisa
Desenvolvimento
de recursos
humanos em
escala local
-Baixas exigências em termos de qualificação formal;
-Importância de qualificações informais consolidadas a partir de competências locais;
-Pouca preocupação com treinamento da mão-de-obra. Existência de instituições
voltadas para a capacitação técnicas, porém pouco utilizadas.
Britto (2004)
-Esforços inovativos de caráter não-sistemático (“innovation without R&D”).
-Inovações induzidas por fornecedores de equipamentos e de insumos críticos.
-Esforços inovativos de caráter “formal” baseados numa centralização das
atividades de design em firmas mais capacitadas ou em agentes distribuidores.
-Possibilidade de articulação entre empresas visando upgrade tecnológico de
produtos e/ou processos (ex:consórcios de exportação).
-Possibilidade de expansão para “nichos” mais dinâmicos do mercado que
trabalham com produtos mais sofisticados do ponto de vista tecnológico.
Resultados da pesquisa
Padrão de
realização de
esforços
inovativos
formais
-Esforços inovativos isolados de caráter não-sistemático; Fornecedores como
fonte de informações para inovações (pouco utilizados pelas micro-empresas);
-Inexistência de articulação entre as empresas para inovações de produtos ou
processos; Sem ocorrência de atuação em “nichos” mais dinâmicos do mercado.
Fonte: Britto (2004) e pesquisa do autor.
160
QUADRO 18 – Características de processos de aprendizado em arranjos produtivos
tradicionais – paralelo entre a literatura e o observado na pesquisa (Continuação)
Britto (2004)
-Intercâmbio não sistemático de informação sobre a performance e qualidade de
insumos, componentes e equipamentos;
-Importância da normalização do design e outros atributos do produto que necessitam ser
atendidos por fornecedores;
-Fluxos de informações simples e uni-direcionais (one-way);
-Importância de ações coletivas para disseminação de informações, utilizando
associações empresariais e recorrendo-se a diversos instrumentos (feiras, reuniões, etc.).
Resultados da pesquisa
Aprendizado
Informal –
intercâmbio de
informações
-Existência de intercâmbio não sistemático de informação sobre a performance e
qualidade de insumos, componentes e equipamentos. No entanto, os elos informais entre
as empresas concorrentes são incipientes. Há busca de informações junto a fornecedores
e clientes, principalmente entre as empresas de maior porte. Pouco intercâmbio entre as
micro-empresas;
-Não há uma coordenação entre as empresas para estabelecer normas de design ou outras
características dos produtos;
-Poucos fluxos de informações entre empresas;
-Poucas ações coletivas para a disseminação de informações. Algumas ações partem de
instituições como VESTPAR, SIVEPAR ou SEBRAE, que organizam fóruns e eventos.
A participação das empresas em feiras é moderada, e as relações destas com tais
instituições de apoio, pouco desenvolvidas.
Britto (2004)
-Possibilidade de implementação de ações coletivas concertadas que aumentam a
eficiência do arranjo;
-Impactos gerados: upgrade do design de produtos e componentes; difusão de padrões
técnicos; redução de assimetrias em termos de eficiência produtiva; difusão de
procedimentos de controle de qualidade; disseminação de modernas técnicas
organizacionais; provisão de serviços técnicos;
-Possibilidade de ganhos na articulação logística com atividades de comercialização.
Resultados da pesquisa
Aprendizado
Informal –
impactos da
interação
-Poucas ações coletivas das empresas. Algumas de instituições de apoio;
-Algumas ações em nível individual. Poucos upgrades nos produtos (dado o tipo de
cadeia, dirigida pelo consumidor); poucas inovações organizacionais; provisão de
serviços técnicos, mas pouco utilizados.
Britto (2004)
-Inovações incrementais baseadas em mecanismos de aprendizado.
-Melhorias funcionais limitadas baseadas em variações no design de produtos e
componentes.
-Importância da atualização do design de produtos em função de tendências o mercado.
-Exploração de segmentos mais dinâmicos dos mercados atendidos, vinculados a
produtos com um design mais sofisticado e com maior valor agregado.
Resultados da pesquisa
Principais
resultados de
esforços
inovativos
formais
-Inovações incrementais baseadas em mecanismos de aprendizado (pouco aprendizado
por interação);
-Melhorias funcionais limitadas baseadas em variações no design de produtos;
-Importância da atualização do design de produtos em função de tendências o mercado.
Entretanto, as taxas de atualizações são baixas em função do tipo de negócio.
- Não ocorrência de exploração de segmentos mais dinâmicos e de maior valor agregado
pelas empresas.
Fonte: Britto (2004) e pesquisa do autor.
161
Mytelka e Farinelli (2000) classificam as aglomerações em informais, organizadas e
inovativas. Tomando como base tal tipologia, é possível afirmar que a aglomeração em estudo
caracteriza-se como informal, com potencial para tornar-se organizada. Dentre as principais
características das aglomerações informais, expostas no Quadro 9, nota-se como pontos de
convergência com a aglomeração em estudo: i) baixa capacidade de liderança (coordenação)
na aglomeração; ii) pequena confiança interna; iii) baixo nível tecnológico; iv) apenas
algumas ligações entre agentes; v) baixa incidência de práticas cooperativas; vi) alta
competição inter-firmas; vii) poucos novos produtos; e viii) pouco ou nenhum nível de
exportação.
Observam-se ainda alguns pontos de convergência entre a aglomeração em estudo e a
tipologia de aglomerações organizadas e inovativas - expostas no Quadro 9: i) presença de
firmas de porte médio e grande; e ii) alguma capacidade inovativa (embora ainda baixa para
considerar uma aglomeração inovativa). Tal capacidade inovativa refere-se no caso em estudo
principalmente a alterações no desenho/estilo do produto e em ações isoladas de inovações
organizacionais.
Para Mytelka e Farinelli (2000), a principal característica de aglomerações organizadas é a
capacidade de coordenação entre as empresas envolvidas. Além disso, normalmente existe
mão-de-obra em constante treinamento, capacidade gerencial sempre em aprimoramento e
atualização tecnológica em relação à fronteira. Embora a aglomeração em estudo no
município de Londrina não apresente tais características de forma desenvolvida, pode vir a ser
uma aglomeração organizada, à medida que ações conjuntas forem se desenvolvendo no local,
considerando que o ambiente (desenvolvimento, estrutura e instituições) da aglomeração em
estudo não se mostra como um fator limitador ao desenvolvimento desta. De acordo com
162
Mytelka e Farinelli (2000), à medida que a aglomeração passa a caracterizar-se como
organizada, ela também passa a ser potencialmente inovativa.
Cassiolato e Lastres (2001) sugerem que empresas tendem a participar de uma aglomeração
geográfica de três maneiras distintas: i) através de uma simples aglomeração geográfica; ii)
como um APL (presença de instituições e elos entre os agentes, mesmo que eventuais ou
incipientes); iii) como um SPIL (interações desenvolvidas entre os diversos agentes locais
(econômicos, políticos e sociais). No primeiro caso, as empresas são especializadas em
atividades pertencentes a uma mesma base técnica, apropriando-se apenas de economias
simples de aglomeração (relacionadas à existência de mão-de-obra disponível,
principalmente). As barreiras à entrada são baixas e observam-se somente ligações eventuais
inter-firmas, pouca ou nenhuma cooperação e as instituições locais são inexistentes ou pouco
desenvolvidas.
A não ser pelo desenvolvimento das instituições locais (existente em Londrina) e pela
presença de empresas de outras etapas da cadeia produtiva de CTC (como observado através
dos dados da RAIS), as outras características descrevem de modo adequado a aglomeração
em estudo. No entanto, alguns fatores caracterizam a aglomeração em estudo como um APL
em desenvolvimento: i) o desenvolvimento do ambiente local (em termos de infra-estrutura,
presença de instituições de ensino e de apoio técnico); ii) a presença de empresas de outra
base técnica e de outras etapas da CTC; iii) a existência de ações, embora ainda poucas, em
prol do desenvolvimento da aglomeração; e iv) a importância da aglomeração londrinense
para o setor de confecções paranaense.
163
Para o desenvolvimento do arranjo, é necessário desenvolver sua capacidade de ação coletiva
e inovativa. Como já observado, o ambiente local é propício ao desenvolvimento da
aglomeração, em termos de infra-estrutura, educação e existência de instituições. As
interações entre os agentes, no entanto, são pouco desenvolvidas, inibindo a capacidade
inovativa e o aprendizado interativo no local.
CONCLUSÕES
O objetivo principal deste trabalho foi identificar a existência de uma aglomeração de
indústrias de confecção de artigos do vestuário e acessórios no município de Londrina; uma
vez identificada, buscou-se captar suas características e contexto, de modo que possibilitasse
alguma inferência sobre seu estagio de desenvolvimento.
O trabalho mostrou que existe uma aglomeração de empresas do setor no município, porém
ainda pouco desenvolvida. A pesquisa confirma a afirmação da literatura, de que em
aglomerações de setores tradicionais (como o de confecções), há predominância de empresas
de micro e pequeno porte.
A revisão de literatura também mostrou que as relações entre as empresas e o contexto em
que estão inseridas, são fatores determinantes para sua competitividade. Nesse sentido, a
identidade cultural e o senso de comunidade entre as empresas (imersão social) facilitam as
relações de confiança entre elas, que por sua vez, facilitam as relações de cooperação –
apontadas pela literatura como indutoras de competitividade para as empresas. A proximidade
geográfica entre as empresas, portanto, é fator necessário, mas não suficiente para alavancar a
confiança e a cooperação entre as empresas: a proximidade cognitiva (cultura e senso de
comunidade) é primordial.
O trabalho mostrou que existem poucos relacionamentos entre as empresas, bem como entre
estas e outros agentes locais (como sindicatos, universidades e instituições de apoio em geral).
O ambiente local apresenta-se estruturado, não obstante o setor de vestuário londrinense tenha
evoluído muito pouco nos últimos anos (em número de estabelecimentos e empregos).
165
Estas relações com empresas concorrentes e os elos com instituições de apoio e universidades
são importantes meios para a aquisição de conhecimentos e inovação, em uma aglomeração.
E, como aponta a literatura, tais processos de aprendizado são os pontos centrais para a
compreensão da dinâmica evolutiva e competitiva de aglomerações.
Dois aspectos merecem destaque: i) a inovação e o aprendizado dependem de interações entre
pessoas, organizações e instituições, pois são influenciados por contextos econômicos,
sociais, institucionais e políticos específicos; e ii) por um lado, informações e conhecimentos
codificados apresentam condições crescentes de transferência (considerando a difusão das
TICs); por outro lado, os conhecimentos tácitos de caráter localizado e específico têm papel
primordial para o sucesso inovativo e apresentam grande dificuldade de serem transferidos ou
compartilhados.
É nesse sentido que o paradoxo da localização toma forma. Embora em nível global haja um
crescimento constante de inovações, é em nível local que tais inovações são apropriadas e
geram conhecimento, ou seja, são decodificadas e passam influenciar a dinâmica de
organizações, instituições e regiões. Assim, conclui-se que, em aglomerações produtivas, a
falta de identidade cultural potencialmente inibe a confiança entre os agentes, que dificulta a
cooperação e a troca de informações, que por sua vez, dificulta o aprendizado por interação
(gerador do conhecimento tácito) e a capacidade inovativa.
Não apenas o conhecimento tácito é fonte de inovações. O conhecimento codificado tem
papel relevante no processo inovativo, à medida que possibilita aos agentes o acesso a
informações em geral. Assim, a utilização de bibliotecas, publicações especializadas, Internet,
entre outros instrumentos, contribuem para a construção de processos inovativos.
166
A aglomeração estudada mostrou-se pouco inovativa (em termos de produtos e,
principalmente, em termos de processos). Além disso, a principal forma de aprendizado é o
learning-by-doing, quando a literatura mostra ser o learning-by-interacting a forma ideal para
a aquisição e difusão do conhecimento tácito, localizado (embora o primeiro seja bastante
observado em arranjos tradicionais). Os produtos não têm seu design originado localmente, e
a imitação e a competição predatória passam a ser práticas freqüentes na aglomeração. A
pesquisa mostrou que pouco mais da metade das empresas introduziu, nos últimos cinco anos,
inovações nos produtos ou mesmo novos produtos no mercado. Para uma cadeia dirigida pelo
consumidor (buyr-driven chain), o percentual inovativo é baixo.
As inter-relações entre empresas e demais agentes (como universidades e instituições de apoio
técnico) mostraram-se fracas; e a utilização de bibliotecas, feiras e serviços de consultoria,
pouco freqüentes. É nesse sentido que a aglomeração pode ser considerada um arranjo
produtivo informal, em desenvolvimento.
O trabalho também buscou realizar uma comparação entre as empresas do arranjo,
considerando seu porte. Nesse sentido, observou-se que as empresas de médio/grande porte
apresentam maior iniciativa de cooperação que as de menor porte; estas também utilizam de
forma expressiva, as feiras e eventos ligados ao setor, bibliotecas e publicações
especializadas, e informações obtidas junto a clientes e fornecedores.
As micro-empresas ficaram abaixo da média em relação às demais, no que diz respeito à
realização de treinamentos com os trabalhadores, relacionamentos com universidades/centros
de pesquisa, relacionamentos com o sindicato representante e com o SEBRAE (cuja atuação
167
encontra-se voltada para micro e pequenas empresas). Observou-se ainda, que as empresas de
pequeno porte, mostraram-se mais inovativas que as micro-empresas em todos os aspectos
(embora o grau de inovação do arranjo seja baixo, em termos absolutos).
Em linhas gerais, pode-se afirmar que as características do ambiente local são propícias ao
desenvolvimento do arranjo, porém os elos entre os agentes são pouco desenvolvidos – em
termos de cooperação e em termos de relacionamentos alicerçados com universidades,
sindicatos, fornecedores, empresas não-concorrentes, e instituições de apoio técnico. Tais
fatores dificultam a coordenação entre os agentes e a aquisição de conhecimentos e inovação.
Havendo maior coordenação, a aglomeração torna-se potencialmente organizada; havendo
maior aprendizado, aquisição e difusão de conhecimentos, a aglomeração torna-se
potencialmente inovativa.
Sobre a ausência de coordenação, a literatura mostra que em aglomerações sem estrutura de
governança definida, o governo deve exercer importante papel de liderança e coordenação. A
literatura também mostra que, políticas descentralizadas e regionalizadas apresentam menos
restrições que àquelas de abrangência nacional, sendo alternativas relevantes para a promoção
de investimentos, crescimento econômico, emprego, exportações e desenvolvimento
tecnológico em aglomerações – juntamente com os agentes da aglomeração; ou seja, deve
haver uma gestão local compartilhada entre o setor público e o setor privado.
Na aglomeração em estudo, onde predominam micro e pequenas empresas, com baixa
capacidade organizativa (governança “em rede”), o papel do governo é pouco presente.
Algumas ações do governo estadual e federal encontram-se em estágio inicial de
desenvolvimento, ainda insuficientes para fortalecer o tecido social, as bases de cooperação e
168
ações coletivas mais efetivas. Ações do poder público em outros âmbitos (financiamentos,
investimentos em infra-estrutura, fortalecimento da “imagem” local) podem mostrar-se
inócuas na ausência de tais fatores. Assim, a cultura local, as relações entre os diversos
agentes (capacidade organizativa) e a capacidade inovativa são fatores inter-relacionados, de
modo que a aglomeração só pode ser entendida de forma sistêmica, ou seja, através da
interdependência entre estes diversos fatores.
Alguns aspectos ilustram a afirmação acima: em primeiro lugar, há um programa do MDIC
para o desenvolvimento do pólo de confecções londrinense, mas encontra-se parado; há uma
iniciativa do VESTPAR com a APEX, para a promoção de exportações entre as empresas
locais de confecções, mas poucas participam; as empresas mostraram na pesquisa, que sentem
dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada, mas poucas submetem os funcionários a
treinamentos, de forma regular. As próprias empresas da aglomeração não enxergam a
existência de uma “marca” dos confeccionados londrinenses; e não consideram que o sucesso
de outras empresas locais, tivesse sido um fator motivador para sua instalação no local. Estes
fatores ilustram a baixa imersão social das empresas no ambiente.
Os maiores desafios para o desenvolvimento da aglomeração estudada concentram-se nas
ações das empresas e suas relações, com o devido apoio do poder público (principalmente
municipal e estadual). Como observado, a capacidade organizativa e inovativa do arranjo são
fracas, o que enseja uma atuação mais presente do poder público. Alguns nichos de mercado
(como vestuário de segurança, roupas profissionais, acessórios) têm sido pouco explorados, e
como já observado, o ambiente local é propício ao desenvolvimento de novas empresas. A
presença em Londrina do VESTPAR, de instituições de apoio (como o SEBRAE e SENAI), e
169
do curso de Estilismo em Moda da UEL mantém o canal aberto para o desenvolvimento do
arranjo no município.
Trabalhos futuros podem ser desenvolvidos a partir de informações preliminares obtidas nesta
pesquisa. Como exemplo, podem ser citados:
- Expandir a pesquisa de campo para toda a região Londrina-Cambé e para outros pólos
de confecções no Paraná;
- Estudar a competitividade das empresas, a partir das informações obtidas sobre suas
características e sobre a atual capacidade organizativa e inovativa da aglomeração;
- Estudar questões relacionadas às necessidades específicas das empresas, no que diz
respeito ao ambiente local (como mão-de-obra qualificada, fornecedores, instituições
de apoio);
- Estudar as técnicas de produção e comercialização das empresas (especialização
flexível versus modelo fordista);
- Estudar a natureza das relações de cooperação existentes;
- Estudar os desenvolvimentos e impactos de processos inovativos das empresas
(produtos e processos)
- Estudo sobre a conformação de politicas públicas para o setor na região;
- Realização de estudos comparativos entre o arranjo de Londrina e outros do mesmo
setor.
REFERÊNCIAS
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Disponível em:
http://www.abit.org.br/content/area/default.asp?nCodAreaConteudo=17
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APÊNDICES
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO UTILIZADO PARA COLETA DE DADOS
BLOCO A- Caracterização da empresa
1)Razão Social:........................................................ 1.1)Nome de fantasia:...............................................................
2)Ano de fundação: .......................................
3)Nome do respondente: ...................................................................................... Cargo:..........................................
4)Escolaridade Completa: ( ) 1
o
. Grau ( ) 2
o
. Grau ( ) 3
o
. Grau ( ) Pós-graduação
5) Tipo de gestão: ( ) Familiar ( ) Profissional ( ) Mista
6) Número total de funcionários:.......................
7)Indique o percentual de processo realizado na empresa para cada item abaixo:
( ) Fiação ( ) Tecelagem/Malharia ( ) Tinturaria ( ) Confeccção ( ) Facção
( ) Acabamento ( ) Outros: ................................
8)Indique o percentual da produção realizado por empresas subcontratadas para cada item:
( ) Fiação ( ) Tecelagem/Malharia ( ) Tinturaria ( ) Confeccção ( ) Facção
( ) Acabamento ( ) Outros: ................................
8.1) Caso exista, a(s) empresas subcontratadas localizam-se em que localidade? (indicar o percentual):
( ) Local (Londrina) ( ) Regional (cidades vizinhas) ( ) Outras regiões do Estado
( ) Outros Estados brasileiros ( ) Exterior
9) Indique o percentual da produção realizada por sua empresa como subcontratada de outras para cada item:
( ) Fiação ( ) Tecelagem/Malharia ( ) Tinturaria ( ) Confeccção ( ) Facção
( ) Acabamento ( ) Outros: ................................
9.1) Caso exista, a empresa que subcontrata a sua empresa localiza-se em que localidade? (indicar o percentual)
( ) Local (Londrina) ( ) Regional (cidades vizinhas) ( ) Outras regiões do Estado
( ) Outros Estados brasileiros ( ) Exterior
10) Quanto aos canais de comercialização utilizados pela empresa, indique o percentual de cada item abaixo:
( ) Venda direta no atacado ( ) Venda direta no varejo ( ) Venda por representantes
11)Indique o percentual de vendas destinado a cada mercado citado abaixo, no ano de 2004:
( ) Local (Londrina) ( ) Regional (cidades vizinhas) ( ) Outras regiões do Estado
( ) Outros Estados brasileiros ( ) Exterior
12) Indique a evolução percentual do faturamento total da empresa, em relação ao ano anterior:
OBS: não é necessário colocar valores em R$, apenas os índices de crescimento. Havendo crescimento negativo
em relação ao ano anterior, indicar com um sinal negativo.
Ano 2000 2001 2002 2003 2004
% de crescimento do faturamento
13) Quanto aos fornecedores de máquinas/equipamentos para sua empresa, indique onde se localizam (em
percentual): ( ) Local (Londrina) ( ) Regional (cidades vizinhas) ( ) Outras regiões do Estado
( ) Outros Estados brasileiros ( ) Exterior
14) Quanto aos fornecedores de insumos para a produção de sua empresa, indique onde se localizam (em
percentual): ( ) Local (Londrina) ( ) Regional (cidades vizinhas) ( ) Outras regiões do Estado
( ) Outros Estados brasileiros ( ) Exterior
182
BLOCO B – Contexto e inter-relacionamentos
Responda as questões abaixo de acordo com a atual situação da empresa.
NOTA: Escala de 1 a 5 – o número 1 representa o mais baixo grau e o número 5 representa o mais alto grau de
concordância com a afirmação, importância, freqüência ou utilização pela empresa.
1- Há fornecedores de máquinas/equipamentos adequados na região
(quanto a preço, qualidade, informações sobre equipamentos, condições de
pagamento, entre outros fatores)
1 2 3 4
5
2- Há fornecedores de insumos para a produção adequados na região
(quanto a preço, qualidade, entrega, condições de pagamento, entre outros
fatores)
1 2 3 4
5
3- A empresa mantém relações de cooperação com concorrentes (para
fatores como troca de equipamentos, desenvolvimento de produtos,
treinamento de mão-de-obra, compra da matéria-prima, compartilhamento
de riscos, aquisição de conhecimentos, atuação no mercado externo, etc.)
1 2 3 4
5
4- A empresa mantém relações de cooperação com outras empresas da
região que não sejam concorrentes (para fatores como troca ou
arrendamento de equipamentos, desenvolvimento de produtos, treinamento
de mão-de-obra, compartilhamento de riscos, aquisição de conhecimentos,
atuação no mercado externo, etc.)
1 2 3 4
5
5- A empresa costuma visitar ou receber visitas informais (sociais) de
outros empresários locais do ramo para discutir assuntos diversos
1 2 3 4
5
6- Normalmente existe mão-de-obra especializada em confecções
disponível na região (inclusive que migram de uma empresa para outra)
1 2 3 4
5
7- A empresa submete seus trabalhadores a treinamentos regularmente 1 2 3 4
5
8- De modo geral, existem boas condições de financiamento na região
(bons prazos, boa taxa de juros, facilidade de acesso)
1 2 3 4
5
9- A empresa utiliza-se de feiras, workshops e outros eventos para a
aquisição de conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de
processos)
1 2 3 4
5
10- A empresa utiliza-se de bibliotecas ou publicações especializadas para
a aquisição de conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de
processos)
1 2 3 4
5
11- A empresa utiliza-se de serviços de consultoria para a aquisição de
conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de processos)
1 2 3 4
5
12- A empresa utiliza-se de conversas com fornecedores para a aquisição
de conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de processos)
1 2 3 4
5
13- A empresa utiliza-se de conversas com clientes para a aquisição de
conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de processos)
1 2 3 4
5
14- A empresa utiliza-se de conversas com concorrentes para a aquisição
de conhecimentos e inovações (gerenciais, de produtos e de processos)
1 2 3 4
5
15- Existe facilidade de troca informal de informações (conhecimentos e
inovações) entre as empresas de confecção da região
1 2 3 4
5
16- A empresa mantém relações com universidades ou centros de pesquisa
da região
1 2 3 4
5
17- A empresa mantém uma relação ativa com o sindicato representante
(para a realização de eventos ou cursos, negociações coletivas,
aproximação com fornecedores, troca de informações, entre outros)
1 2 3 4
5
18- A empresa mantém relações regulares com o SEBRAE (para a
aquisição de conhecimentos e apoio em geral)
1 2 3 4
5
19- A empresa mantém relações regulares com o SENAI (para a aquisição
de conhecimentos e apoio em geral)
1 2 3 4
5
20- A empresa mantém relações regulares com a ACIL (para a aquisição
de conhecimentos e apoio em geral)
1 2 3 4
5
21- A empresa mantém relações regulares com a FIEP (para a aquisição de
conhecimentos e apoio em geral)
1 2 3 4
5
183
22- A empresa mantém relações regulares com outros sindicatos ou
instituições ligadas ao setor de confecções (para a aquisição de
conhecimentos e apoio em geral)
1 2 3 4
5
23- As ações do governo municipal têm sido importantes para a empresa 1 2 3 4
5
24- As ações do governo estadual têm sido importantes para a empresa 1 2 3 4
5
25- As ações do governo federal têm sido importantes para a empresa 1 2 3 4
5
26- Você percebe que existe uma “marca” (característica marcante) comum
entre os artigos produzidos pelas empresas do ramo na região
1 2 3 4
5
27- As tendências para o desenho e desenvolvimento dos produtos do setor
são lançados na região
1 2 3 4 5
28- O sucesso de outras empresas do setor nesta região serviram como
incentivo para a abertura da empresa
1 2 3 4 5
29- Um ponto forte da localização da empresa nesta região encontra-se nos
relacionamentos com instituições de apoio a esta atividade (SEBRAE,
sindicatos, ACIL, SENAI, instituições de ensino e pesquisa)
1 2 3 4 5
30- A imitação de meus produtos e processos por concorrentes é uma
prática comum
1 2 3 4 5
BLOCO C – Implementação de inovações
Responda sobre inovações implementadas pela sua empresa nos últimos cinco anos, assinalando com um “X” a
resposta (“SIM” ou “NÃO”). Quando responder “SIM”, indicar o ano.
Inovação implementada nos últimos cinco anos NAO SIM Quando? (ano)
Alterações no desenho/estilo do produto
Novos produtos
Incorporação de novos equipamentos na planta industrial
Introdução de novas matérias-primas
Técnicas organizacionais- Células de produção
Técnicas organizacionais- Just-in-time (JIT)
Técnicas organizacionais- CAD/CAM
Técnicas organizacionais- 5s
Técnicas organizacionais- Qualidade total (TQM)
Técnicas organizacionais- Kaisen
Técnicas organizacionais- Kanban
Técnicas organizacionais- Círculos de qualidade
Técnicas organizacionais- Planejamento estratégico
Técnicas organizacionais- Custeio por atividade (ABC)
Outras (especificar):
APÊNDICE B – INFORMAÇÕES REFERENTES À CTC BRASILEIRA
TABELA B.1 - Evolução do número de estabelecimentos da CTC brasileira, por
segmentos, entre 1990 e 2002
Ano Fiação Tecelagem Malharia Confecção
1990 1179 1458 2246 n.d.
1991 1123 1428 2308 n.d.
1992 990 1264 2239 n.d.
1993 954 1183 2076 n.d.
1994 939 1083 2147 n.d.
1995 661 986 3019 n.d.
1996 617 834 2891 n.d.
1997 550 682 2830 19014
1998 427 521 2932 19009
1999 389 439 3098 17378
2000 360 434 3195 18797
2001 360 425 3250 18438
2002 363 431 3261 17766
Fonte dos dados: Gonçalves e Souza (1998) para aos anos compreendidos entre 1990 e 1996; ABIT (2003) para
o período compreendido entre 1997 e 2002 apud Campos (2004).
TABELA B.2 – Exportações, importações e saldo da balança comercial do setor têxtil e
confecções entre 1990 e 2004 (em milhões de US$)
Ano Exportações Importações Saldo
1990 1.248 463 785
1991 1.382 569 813
1992 1.491 535 956
1993 1.382 1.175 207
1994 1.403 1.323 80
1995 1.441 2.286 (845)
1996 1.292 2.310 (1.018)
1997 1.267 2.416 (1.149)
1998 1.113 1.923 (810)
1999 1.010 1.443 (433)
2000 1.222 1.606 (384)
2001 1.306 1.233 73
2002 1.185 1.033 152
2003 1.656 1.061 595
2004 2.079 1.422 657
Fonte: Adaptado de Abit (2005)
185
TABELA B.3 -Participação das regiões brasileiras na produção da CTC, em 1990 e 2002
(em %)
Segmento Sudeste Sul Nordeste Outras
1990 2002 1990 2002 1990 2002 1990 2002
Fios 55,2 37,2 17,2 22,5 24,9 39,8 2,7 0,5
Tecidos 65,6 63,1 12,8 12,5 17,6 21,6 4,0 2,8
Malhas 39,9 31,7 55,7 55,7 2,8 11,2 1,6 1,4
Confec. 66,6 52,6 21,6 26,7 8,0 12,0 3,8 8,7
Fonte: Prochnik (2003) para o ano de 1990; ABIT (2003) para o ano de 2002, apud Campos (2004)
GRÁFICO B.1 - Número de empregos gerados na
CTC brasileira entre 2000 e 2005
40.642
6.775
22.531
1.377
65.265
3.676
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005
(janeiro)
Ano
Empregos gerados
Fonte: Adaptado de Abit (2005a)
GRÁFICO B.2 - Empregos gerados no Brasil em 2004 - comparativo
entre o segmento de confeccoes e o restante da cadeia têxtil
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Mês
Empregos gerados
Confeccoes
Textil
Fonte: Adaptado de ABIT (2005a)
186
GRÁFICO B.3 - Empregos gerados no Brasil entre janeiro e julho de
2004 no segmento de confecções
6.263
17.187
712
929
467
0
3.000
6.000
9.000
12.000
15.000
18.000
Confec.de roupas
intimas, blusas,
camisas e
semelhantes
Confec.de pas
do vestuário
(exceto roupas
intimas, blusas,
camisas e
semelhantes)
Confec.de roupas
profissionais
Fabric.de
acessórios do
vestuário
Fabric.de
acessórios para
segurança
indsutrial
Segmento
Empregos gerados
Fonte: Adaptado de Abit (2005a)
TABELA B.4 - Número de estabelecimentos do setor do vestuário na região Sul do país,
entre 1995 e 2003
1995 1997 1999 2001 2003
% -
1995/2003
Paraná 4.209 4.508 5.173 6.240 7.020 66,78
Santa Catarina 6.362 7.167 8.129 9.209 9.754 53,31
Rio Grande do Sul 5.370 5.763 5.896 6.461 6.835 27,28
Fonte: MTE/RAIS: 1995; 1997; 1999; 2001; 2003.
TABELA B.5 - Número de empregos do setor do vestuário na região Sul do país, entre
1995 e 2003
1995 1997 1999 2001 2003
% -
1995/2003
Paraná 35.824 40.710 47.468 60.638 74.304 107,41
Santa Catarina 81.014 67.801 76.669 94.904 101.742 25,58
Rio Grande do Sul 22.594 18.366 18.444 21.592 21.388 -5,33
Fonte: MTE/RAIS: 1995; 1997; 1999; 2001; 2003.
187
QUADRO B.1 – Quinze principais classes de atividade no Paraná, em número de
estabelecimentos, 2003
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos 161.676
Serviços prestados principalmente as empresas 35.277
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 28.712
Atividades associativas 28.555
Alojamento e alimentação 28.438
Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas; e comércio a
varejo de combustíveis
26.439
Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio 23.915
Construção 15.142
Saúde e serviços sociais 14.411
Transporte terrestre 14.059
Atividades imobiliárias 12.265
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 7.499
Confecção de artigos do vestuário e acessórios 7.020
Atividades recreativas, culturais e desportivas 6.678
Atividades de informática e serviços relacionados 5.375
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
QUADRO B.2 – Quinze principais classes de atividade no Paraná, em número de
empregos, 2003
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos 388.346
Administração publica, defesa e seguridade social 367.018
Serviços prestados principalmente as empresas 248.287
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 145.789
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 134.799
Construção 122.224
Atividades associativas 101.689
Transporte terrestre 94.658
Saúde e serviços sociais 90.658
Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio 89.700
Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas; e comércio a
varejo de combustíveis
89.252
Alojamento e alimentação 87.752
Educação 85.321
Fabricação de produtos de madeira 79.670
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
74.304
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
188
QUADRO B.3 – Quinze principais classes de atividade em Londrina, em número de
estabelecimentos, 2003
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos 9.391
Serviços prestados principalmente as empresas 2.659
Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio 1.934
Alojamento e alimentação 1.582
Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas; e comércio a
varejo de combustíveis
1.452
Atividades imobiliárias 1.392
Atividades associativas 1.277
Saúde e serviços sociais 1.188
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 1.095
Construção 990
Transporte terrestre 592
Confecção de artigos do vestuário e acessórios 465
Educação 433
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 428
Atividades de informática e serviços relacionados 402
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
QUADRO B.4 – Quinze principais classes de atividade em Londrina, em número de
empregos, 2003
Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos 28.045
Serviços prestados principalmente as empresas 17.126
Educação 12.320
Construção 11.197
Saúde e serviços sociais 9.419
Administração publica, defesa e seguridade social 7.600
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
7.551
Atividades associativas 7.295
Alojamento e alimentação 6.739
Transporte terrestre 6.501
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 6.493
Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas; e comércio a
varejo de combustíveis
6.150
Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio 5.689
Atividades imobiliárias 5.263
Agricultura, pecuária e serviços relacionados 4.197
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
189
QUADRO B.5 – Distribuição espacial do número de estabelecimentos e empregos do
setor do vestuário entre as cidades da micro-região Londrina-Cambé, 2003
Município Estabelecimentos Empregos
Alvorada do Sul - -
Arapongas 44 250
Bela Vista do Paraíso 30 397
Cafeara - -
Cambe 81 932
Centenário do Sul 9 297
Florestópolis 1 -
Guaraci 4 107
Ibiporã 22 628
Jaguapitã 3 3
Londrina 465 7551
Lupionópolis 1 15
Miraselva 1 -
Pitangueiras 5 76
Porecatu 6 13
Prado Ferreira 2 -
Primeiro de Maio 6 21
Rolândia 40 223
Sabáudia 2 41
Sertanópolis 19 281
Tamarana 2 -
Fonte: MTE/RAIS, 2003.
APÊNDICE C – INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO ÀS EMPRESAS DO
VESTUÁRIO DE LONDRINA
NOTA: Escala de 1 a 5 – o número 1 representa o mais baixo grau e o número 5 representa o
mais alto grau de concordância com a afirmação, importância, freqüência ou utilização pela
empresa.
- Caracterização das empresas
TABELA C.1 – Realização de treinamentos regularmente com os trabalhadores
Escala
%
f
1
25
10
2
35
14
3
22,5
9
4
15
6
5
2,5
1
Total
100
40
Média
2,4
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.2 – Realização de treinamentos regulares com os trabalhadores, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
10 12 5 1 1 29
2,0
Pequeno
0 2 2 5 0 9
3,3
Médio/Grande
0 0 2 0 0 2
3
Fonte: Pesquisa do autor
- Ambiente local
TABELA C.3 – Opinião sobre a presença no local de fornecedores adequados de
máquinas e equipamentos
Escala
%
f
1
57,5
23
2
12,5
5
3
17,5
7
4
5
2
5
7,5
3
Total
100
40
Média
1,9
Fonte: Pesquisa do autor
191
TABELA C.4 – Opinião quanto a presença no local de fornecedores adequados de
insumos
Escala
%
f
1
37,5
15
2
32,5
13
3
12,5
5
4
12,5
5
5
5
2
Total
100
40
Média
2,2
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.5 – Facilidade em encontrar mão-de-obra qualificada na região
Escala
%
f
1
2
8
2
47,5
19
3
25
10
4
5
2
5
2,5
1
Total
100
40
Média 2,2
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.6 – Condições para obtenção de crédito e financiamento
Escala
%
f
1
37,5
15
2
37,5
15
3
20
8
4
2,5
1
5
2,5
1
Total
100
40
Média
2,0
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.7 – Percepção da existência de uma “marca” dos confeccionados locais
Escala
%
f
1
25
10
2
35
14
3
22,5
9
4
10
4
5
7,5
3
Total
100
40
Média
2,4
Fonte: Pesquisa dos autores
192
TABELA C.8 – Verificação da idéia de que as tendências de design e desenvolvimento de
produtos têm origem local
Escala
%
f
1
40
16
2
32,5
13
3
15
6
4
7,5
3
5
5
2
Total
100
40
Média
2,1
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.9 – Sucesso de outras empresas locais do setor como fator motivador da
região para instalar a empresa
Escala
%
f
1
37,5
15
2
35
14
3
17,5
7
4
10
4
5
0
0
Total
100
40
Média
2,0
Fonte: Pesquisa do autor
- Relações de cooperação entre as empresas
TABELA C.10 – Existência de relações de cooperação com concorrentes
Escala
%
f
1
45
18
2
37,5
15
3
12,5
5
4
5
2
5
0
0
Total
100
40
Média
1,8
Fonte: Pesquisa do autor
193
TABELA C.11 – Existência de relações de cooperação com concorrentes, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
12 11 5 1 0 29
1,8
Pequeno
6 3 0 0 0 9
1,3
Médio/Grande
0 1 0 1 0 2
3,0
Fonte: pesquisa do autor
TABELA C.12 – Relações de cooperação com empresas que não sejam concorrentes
Escala
%
f
1
47,5
19
2
30
12
3
15
6
4
7,5
3
5
0
0
Total
100
40
Média
1,8
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.13 - Relações de cooperação com empresas que não sejam concorrentes, por
porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
15 7 5 2 0 29
1,3
Pequeno
4 4 1 0 0 9
1,7
Médio/grande
0 1 0 1 0 2
3,0
Fonte: pesquisa do autor
TABELA C.14 – Existência de visitas informais e troca informal de informações entre
empresários locais
Escala
%
f
1
42,5
17
2
20
8
3
25
10
4
7,5
3
5
5
2
Total
100
40
Média
2,1
Fonte: Pesquisa do autor
194
TABELA C.15 – Existência de visitas informais e troca informal de informações entre
empresários locais, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
11 7 9 1 1 29
2,1
Pequeno
6 1 1 1 0 9
1,7
Médio/Grande
0 0 0 1 1 2
4,5
Fonte: Pesquisa do autor
- Relacionamentos com outras instituições locais
TABELA C.16 –Relacionamentos com universidades e centros de pesquisa
Escala
%
f
1
57,5
23
2
32,5
13
3
10
4
4
0
0
5
0
0
Total
100
40
Média
1,5
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.17 – Relacionamentos com universidades e centros de pesquisa, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
20 8 1 0 0 29
1,3
Pequeno
3 3 3 0 0 9
2,0
Médio/Grande
0 2 0 0 0 2
2,0
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.18 – Relacionamentos com o sindicato representante
Escala
%
f
1
50
20
2
27,5
11
3
15
6
4
2,5
1
5
5
2
Total
100
40
Média
1,9
Fonte: Pesquisa do autor
195
TABELA C.19 – Relacionamentos com o sindicato representante, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
18 6 4 0 1 29
1,6
Pequeno
2 4 1 1 1 9
2,4
Médio/Grande
0 1 1 0 0 2
2,5
Fonte: Pesquisa do autor
SENAI FIEP
TABELA C.20 – Relacionamentos com o SEBRAE, SENAI, ACIL e FIEP
SEBRAE ACIL
Escala % f Escala % f Escala % f Escala % f
1
55
22 1
52,5
21 1
45
18 1
52,5
21
2 13 2 16
17,5
7 2
32,5 40
16 2
40
3
12,5
5 3
2,5
1 3
10
4 3
2,5
1
4
5
2 4
10
4 4
2,5
1 4
5
2
5
10
4 5
2,5
1 5
2,5
1 5
0
0
Total
100
40 Total
100
40 Total
100
40 Total
100
40
Média
2,0 Média
1,8 Média
1,8 Média
1,6
Fonte: Pesquisa do autor
SEBRAE
TABELA C.21– Relacionamentos com o SEBRAE, SENAI, ACIL e FIEP, por porte
Porte
1 3
Média
2 4 5 Total
Micro
20 3 3 2 1 29
1,7
Pequeno
2 2 2 0 3 9
3,0
Médio/Grande
0 2 0 0 0 2
2,0
SENAI
Porte
1 2 3
Média
4 5 Total
Micro
18 9 1 1 0 29
1,5
Pequeno
3 4 0 1 1 9
2,2
Médio/Grande
0 0 0 2 0
4,0
2
ACIL
Porte
1 2 3 4 5 Total
Média
Micro
14 12 2 0 1 29
1,7
Pequeno
4 3 2 0 0 9
1,8
Médio/Grande
0 1 0 1 0
3,0
2
FIEP
Porte
1 2 3 Total 4 5
Média
Micro
16 11 1 1 29 0
1,6
Pequeno
4 4 0 1 0 9
1,8
Médio/Grande
0 1 0 1 0 2
3,0
Fonte: Pesquisa do autor
196
TABELA C.22 – Relacionamentos com outros sindicatos ou instituições de apoio ligadas
ao setor têxtil e confecções
f
Escala
%
1
55
22
2
25
10
3
17,5
7
4
2,5
1
5
0
0
Total
100
40
Média
1,7
Fonte: Pesquisa do autor
5 Média
TABELA C.23 – Relacionamentos com outros sindicatos ou instituições de apoio ligadas
ao setor têxtil e confecções, por porte
Porte 1 2 3 4 Total
Micro
8
17 3 1 0 29
1,6
Pequeno
5 1 3 0 0 9
1,8
Médio/Grande
0 1 1 0 0 2
2,5
Fonte: Pesquisa do autor
f
TABELA C.24 – Relacionamento com instituições de apoio como um ponto forte da
localização da empresa na região
Escala
%
1
45
18
2
40
16
3
7,5
3
4
2,5
1
5
5
2
Total
100
40
Média
1,8
Fonte: Pesquisa do autor
5
TABELA C.25 – Relacionamento com instituições de apoio como um ponto forte da
localização da empresa na região
Porte 1 2 3 4 Total Média
Micro
0
16 12 1 0 29
1,5
Pequeno
2 2 2 1 2 9
2,9
Médio/Grande
0 2 0 0 0 2
2,0
Fonte: Pesquisa do autor
197
- Fontes de aprendizado e inovação
%
TABELA C.26 – Utilização de feiras e eventos ligados ao setor para aquisição de
conhecimentos e inovações
Escala f
1
32,5
13
2
25
10
3
12,5
5
4 6
5
100
15
15
6
Total 40
Média
2,6
Fonte: Pesquisa do autor
3
TABELA C.27 – Utilização de feiras e eventos ligados ao setor para aquisição de
conhecimentos e inovações, por porte
Porte 1 2 4 5 Total Média
Micro
12 8 2 4 3 29
2,2
Pequeno
1 2 3 1 2 9
3,1
Médio/Grande
0 0 0 1 1 2
4,5
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.28 – Utilização de bibliotecas e publicações especializadas como fonte de
conhecimentos e inovações
Escala
%
f
1
30
12
2
32,5
13
4 9
40
3
12,5
5
22,5
5
2,5
1
Total
100
Média
2,4
Fonte: Pesquisa do autor
3
TABELA C.29 – Utilização de bibliotecas e publicações especializadas como fonte de
conhecimentos e inovações
Porte 1 2 4 5 Total Média
Micro
9 11 4 4 1 29
2,2
Pequeno
3 2 1 3 0 9
2,4
Médio/Grande
0 0 0 2 0 2
4,0
Fonte: Pesquisa do autor
198
TABELA C.30 – Utilização de conversas com fornecedores, clientes e concorrentes como
fonte de conhecimentos e inovação
Fornecedores Clientes Concorrentes
Escala
%
F Escala
%
f Escala
%
f
1
22,5
9 1
30
12 1
42,5
17
2
30
12 2
17,5
7 2
27,5
11
3
7,5
3 3
7,5
3 3
10
4
4 4
20
8 4
17,5
7
12,5
5
5
20
8 5
27,5
11 5
7,5
3
Total
100
40 Total
100
40 Total
100
40
Média Média
2,9 Média
3,0
2,2
Fonte: pesquisa do autor
TABELA C.31 – Utilização de conversas com fornecedores, clientes e concorrentes como
fonte de conhecimentos e inovação, por porte
Fornecedores
Porte Total 1 2 3 4 5 Média
Micro
9 9 2 5 4 29
2,5
Pequeno
9
0 3 1 2 3
3,6
Médio/Grande
0 0 0 1 1 2
4,5
Clientes
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
12 6 2 4 5 29
2,4
Pequeno
0 1 1 2 5 9
4,2
Médio/Grande
0 0 0 1 1 2
4,5
Concorrentes
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
15 10 4 0 0 29
1,6
Pequeno
2 1 3 0 3 9
3,1
Médio/Grande
0 0 1 1 0 2
3,5
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.32 – Utilização de serviços de consultoria como fonte de conhecimentos e
inovações
Escala
%
f
1
37,5
15
2
17,5
7
3
25
10
4
7,5
3
5
12,5
5
Total
100
40
Média
2,4
Fonte: Pesquisa do autor
199
TABELA C.33 – Utilização de serviços de consultoria como fonte de conhecimentos e
inovações, por porte
Porte 1 2 3 4 5 Total Média
Micro
13 6 5 3 2 29
2,1
Pequeno
2 1 3 0 3 9
3,1
Médio/Grande
0 0 2 0 0 2
3,0
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.34 – Percepção das empresas quanto à imitação de seus produtos por
concorrentes
Escala
%
f
1
30
12
2
20
8
3
25
10
4
7,5
3
5
17,5
7
Total
100
40
Média
2,6
Fonte: Pesquisa do autor
- Implementação de inovações
TABELA C.35 - Número de empresas que realizaram alguma inovação no
desenho/estilo do produto nos últimos cinco anos, por porte
Porte Número % entre as do mesmo
p
orte
Micro
15 51
,
7
Pequena
5 55,5
Média
1 100
Grande
1 100
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.36 - Número de empresas que introduziram algum novo produto nos
últimos cinco anos, por porte
Porte Número % entre as do mesmo
p
orte
Micro
13 44
,
8
Pequena
6 66,6
Média
1 100
Grande
1 100
Fonte: Pesquisa do autor
200
TABELA C.37 - Número de empresas que introduziram novos equipamentos na planta
industrial nos últimos cinco anos, por porte
Porte f % entre as do mesmo porte
Micro 6 20,7
Pequena 6 66,6
Média 1 100
Grande 1 100
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.38 - Número de empresas que introduziram novas matérias-primas nos
últimos cinco anos, por porte
Porte f % entre as do mesmo
p
orte
Micro
517
,
8
Pequena
5 55,5
Média
1 100
Grande
1 100
Fonte: Pesquisa do autor
TABELA C.39 – Empresas que realizaram alguma inovação organizacional nos últimos
cinco anos, por porte
Entre uma e quatro inovações organizacionais Cinco ou mais inovações organizacionais
Porte f
% entre as do
mesmo porte
Porte f
% entre as do
mesmo porte
Micro 2 6,9 Micro 2 6,9
Pequena 2 22,2 Pequena 22,2 2
Média 1 100 Média 0 0
Grande 0 0 Grande 1 100
Fonte: pesquisa do autor.
TABELA C.40 – Benefícios percebidos de políticas públicas dos governos municipal,
estadual e federal
Municipal Estadual Federal
Escala
%
f Escala
%
f Escala
%
f
1
60
24 1 16 1
50
40
20
2
32,5
13 2
37,5
30
12 2 15
3
7,5
3 3 11 3
12,5
27,5
5
4
0
0
0 4
2,5
1 4
0
5
0
0 5
0
0 5
0
0
Total
100
40 Total
100
40 Total
100
40
Média
1,5 Média
1,9 Média
1,6
Fonte: Pesquisa do autor
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