RESUMO
OBJETIVOS: Analisar comparativamente a estrutura dos tratos cerebrais de
substância branca por meio da imagem do tensor de difusão e a composição
metabólica de áreas encefálicas através da espectroscopia de prótons por
ressonância magnética em crianças autistas e crianças normais, visando a
esclarecer a fisiopatologia do autismo.
POPULAÇÃO E MÉTODOS: A amostra deste estudo de casos-controles incluiu 10
meninos autistas (idade mediana 9,53 ± 1,80 anos), com critérios diagnósticos
estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª
edição - Texto revisado (DSM-IV-TR) e 10 meninos sadios (idade mediana 8,52 ±
1,42 anos) para a realização da espectroscopia de prótons. Utilizou-se voxel único
de 8 cm
3
, com tempo de eco de 30 ms e tempo de repetição de 1.500 ms em
scanner de 1,5T e analisou-se as seguintes áreas cerebrais: cíngulo anterior, lobo
frontal esquerdo, estriado esquerdo e hemisfério cerebelar esquerdo. Estudaram-se
os picos e as razões dos metabólitos N-acetil-aspartato, colina, creatina e mio-
inositol. Em seguida realizou-se a imagem do tensor de difusão em 8 casos (idade
mediana 9,53 ± 1,83 anos) e 8 controles (idade mediana 9,57 ± 1,36 anos) no
mesmo equipamento clínico, e analisou-se a anisotropia fracionada das seguintes
regiões cerebrais: cerebelo, substância subcortical frontal, cíngulo anterior, corpo
caloso, núcleos basais, cápsula interna, tratos fronto-pontino e córtico-espinhal,
radiação óptica e fascículos longitudinais superiores e inferiores, bilateralmente.
RESULTADOS: No exame de espectroscopia, as crianças autistas apresentaram
elevação significativa dos picos de mio-inositol (p = 0,021) e colina (p = 0,042) no
cíngulo anterior e da razão mio-inositol/creatina no cíngulo anterior (p = 0,037) e no
estriado esquerdo (p = 0,035) em comparação aos controles. Não houve diferença
estatisticamente significativa nos valores encontrados no cerebelo e no lobo frontal
entre os dois grupos. Na imagem do tensor de difusão, os achados foram de
redução significativa do valor de anisotropia fracionada na parte anterior do tronco
do corpo caloso (p = 0,008), trato córtico-espinhal direito (p = 0,044), perna posterior
da cápsula interna direita (p = 0,003), perna posterior da cápsula interna esquerda (p
= 0,049), pedúnculo cerebelar superior esquerdo (p = 0,031), pedúnculo cerebelar
médio direito (p = 0,043) e pedúnculo cerebelar médio esquerdo (p = 0,039).
Encontramos valor aumentado de anisotropia fracionada no putame esquerdo dos
casos (p = 0,038).
CONCLUSÕES: Os achados da espectroscopia por ressonância magnética sugerem
disfunção do giro do cíngulo e estriado esquerdo, enquanto os resultados da
imagem do tensor de difusão revelam comprometimento da microestrutura da
substância branca no corpo caloso, cápsula interna e pedúnculos cerebelares
superior e médio no transtorno autista.
Palavras-chave: Autismo, criança, transtorno do espectro autista, espectroscopia de
prótons, imagem do tensor de difusão, ressonância magnética, neuroimagem.