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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CAMPUS DE TOLEDO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E
AGRONEGÓCIO
ELIZÂNGELA MARA CARVALHEIRO
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E IMPACTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL
TOLEDO
2005
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ELIZÂNGELA MARA CARVALHEIRO
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E IMPACTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – Campus Toledo, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Erneldo Schallenberger
TOLEDO
2005
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ELIZÂNGELA MARA CARVALHEIRO
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E IMPACTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – Campus Toledo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________
Prof. Dr. Prof. Dr. Erneldo Schallenberger
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
___________________________________________
Prof. Dr. Pery Francisco Assis Shikida
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
___________________________________________
Prof. Dr. Aldomar A. Rückert
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Toledo, 23 de Abril de 2005.
“Dedico este trabalho aos meus familiares e
amigos, que em todo período de estudos
compreenderam minha ausência e nunca
faltando com solidariedade, incentivo e muito
carinho.
“Não há saber mais ou saber menos,
há saberes diferentes.”
Paulo Freire
AGRADECIMENTOS
À Deus que em grandeza e supremacia me deu a graça de existir. Que nos momentos de
desânimo e cansaço me deu sabedoria e forças para prosseguir.
À meus pais, Mário e Celina, mestres da arte de viver, que mesmo distantes mantiveram-se ao
meu lado, lutando comigo, manifestando sua força, amor, carinho, dedicação e confiança nos
momentos mais difíceis e felizes dessa trajetória.
Ao meu querido irmão, Márcio, pelo seu constante incentivo e apoio.
Àqueles que dedicaram seu tempo e compartilharam seus conhecimentos científicos e
experiências profissionais para que a minha formação fosse também um aprendizado de vida,
o meu carinho e agradecimento.
Agradecimentos especiais ao mestre-amigo Professor Erneldo Schallenberger pela
orientação com clareza e integridade, que será sempre lembrado.
Aos amigos e companheiros da primeira turma de mestrado em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio, pelo apoio, compreensão, aprendizado, espírito de conhecimento, e
principalmente pelo vínculo de amizade, que a distância traga saudades, mas nunca o
esquecimento.
Aos amigos e Professores Weimar, Jefferson, Pery, Ricardo, Erneldo, Silvio, Edson, Alfredo,
Yonissa e Miguel pelas discussões, polêmicas e soluções dos temas estudados.
E a nossa querida secretaria Clarice pela paciência e dedicação.
A todas as pessoas que contribuíram, diretas ou indiretamente, motivando-me a prosseguir.
Inclusive os amigos “distantes”, que contribuíram com palavras e carinho, que foram
indispensáveis nesta etapa de minha vida.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio
financeiro.
CARVALHEIRO, Elizângela Mara. A agroindústria canavieira do Paraná: evolução histórica
e impactos sobre o desenvolvimento local. 2005. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
RESUMO
O trabalho tem como escopo analisar os principais aspectos caracterizadores da evolução
histórica da agroindústria canavieira paranaense desde sua origem até os dias de hoje. Dessa
forma, o desenvolvimento da atividade canavieira e a formação da agroindústria paranaense,
vistas a partir de um horizonte amplo, considerando os aspectos políticos, econômicos, sociais
e ecológicos, proporcionou ao Paraná uma posição de destaque no cenário nacional, sendo
superado apenas pelo Estado de São Paulo. Como corolário, quatro pontos se destacam:
primeiro refere-se a reconstrução histórica do processo de instalação das unidades produtivas,
em que se verifica que a produção canavieira contribuiu para mudar o ambiente econômico e
cultural das mesorregiões onde se instalou. No segundo está presente o fato de que as
empresas ao se fixaram num determinado município, agregam uma série de transformações,
seja no ambiente social ou no econômico, gerando um processo de substituição da vocação
local. Dessa forma, os municípios detentores das unidades produtivas, em sua maioria,
vivenciam uma espécie de dependência produtiva da agroindústria canavieira. O terceiro
mostra que diante do processo de desenvolvimento da agroindústria e o crescente processo de
modernização/industrialização da agricultura, o que se verifica no cenário canavieiro é um
conjunto de mudanças para os agentes envolvidos no processo produtivo, o que pode ser
percebido, sobretudo, através das relações de produção que se configura a partir da expansão
das áreas ocupadas com a cultura de cana-de-açúcar. Já o quarto, refere-se à transformações
geradas no ambiente social. Em se tratando das usinas e destilarias, percebe-se a ocorrência de
uma acirrada e violenta opressão sobre os trabalhadores, e, de modo especial, sobre os
cortadores de cana, que vivem, a cada dia, a incerteza da manutenção de seu trabalho, uma
vez que, os usineiros, estão, cada vez mais, buscando a adoção de mecanização na área
agrícola e, até mesmo, a introdução das máquinas no corte da cana.
Palavras-chave: modernização/industrialização, desenvolvimento local, agroindústria.
CARVALHEIRO, Elizângela Mara. The sugar cane agribusiness of Paraná: historical
evolution and impacts on the local development. 2005. Dissertation (Master of Science
Desenvolvimento Regional e Agronegócio) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
ABSTRACT
The work has as mark to analyze the main aspects of the historical evolution of the sugar cane
agribusiness paranaense from his/her origin to the days today. Thus, the development of the
sugar cane activity and some formations of the agribusiness paranaenses dress a to leave of a
wide horizon, considering the aspects political, economical, social ecological of and, to the of
it provided Paraná a prominence position any national of scenery, being just overcome by the
of State São Paulo. Corollary of the, four points stand out: The first refers the historical of
reconstruction of the process of installation of the productive units, in that it is verified that to
suck cane production contributed to change the economical atmosphere and of the “regions”
where he cultural settled. Of the second is of according to the fact that the companies to the
noticed in the certain municipal district, they join to series of transformations, be ambient
social or economical, generating the process of the vocation inhabitant's substitution. Of that
forms, the municipal districts holders of the productive units, majority of yours of in they live
the type of productive dependence of the suck cane agribusiness. The third display that before
he makes process of development of the agribusiness and the crescent process of
“modernization/industrialization” of the agriculture, what is verified any to suck cane of
scenery is the group of changes it goes the involved agents any productive of process, what
can be noticed, above all, through the production relationships that it is configured the to
leave of the expansion of the busy areas with one of culture sugar cane. Already the fourth
refers to generated transformations of the ambient social. In if treating of the factories and
distilleries, it is noticed an occurrence of an intransigent one and it force hard-working
oppression of the sober, and, manners of the cane cutters special, sober, live that, the day of
each, an uncertainty of the maintenance of his work, that once and goes all of adds to suck
mill owners of the they plows, once and goes all of each, looking is the mechanization
adoption in the agricultural area and, even of until, adds machines of the one of introduction
any cane of the one of cut.
Key-words: modernization/industrialization, development local, agribusiness
.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS..............................................................................................................x
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................................xiii
LISTA DE MAPAS ...............................................................................................................xiv
LISTA DE QUADROS...........................................................................................................xv
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16
1.1 Justificativa.........................................................................................................................21
1.2 Objetivo..............................................................................................................................23
1.3 Referencial Metodológico ..................................................................................................24
1.3.1 Delimitação da área de estudo.........................................................................................28
2 ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA
NACIONAL .........................................................................................................................31
3 A EVOLUÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA PARANAENSE...................47
3.1 A evolução da agroindústria canavieira paranaense: da gênese até 1980 - expansão
modesta...............................................................................................................................47
3.2 A evolução da agroindústria canavieira paranaense: do pós-segunda fase do
PROÁLCOOL aos dias de crise desse programa - expansão acelerada.............................60
4 DESENVOLVIMENTO LOCAL X PRODUÇÃO AÇUCAREIRA
PARANAENSE....................................................................................................................
76
4.1 Caracterização de Desenvolvimento Local ........................................................................76
4.2 Desenvolvimento da Agroindústria no Paraná...................................................................83
5 DESENVOLVIMENTO DAS MESORREGIÕES PARANAENSES...........................89
5.1 - Caracterização Sócio-Econômica da Mesorregião Norte-Central ...................................92
5.2 - Caracterização Sócio-Econômica da Mesorregião Noroeste.........................................100
5.3 Inserção da Agroindústria Canavieira ..............................................................................105
5.3.1 Grupo Santa Terezinha..................................................................................................109
5.3.2 Usina Vale do Ivaí S/A..................................................................................................143
5.3.3 Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí Ltda - COOPERVAL...................................164
5.3.4 Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu Ltda - COFERCATU.........180
5.3.5 Cooperativa Agropecuária de Rolândia Ltda - COROL ...............................................194
5.3.6 Cooperativa dos Cafeicultores de Mandaguari Ltda. - COCARI..................................205
6 CORRELAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO COM OS MUNICÍPIOS DA
INDÚSTRIA CANAVIEIRA............................................................................................214
6.1 Perspectivas da Atividade Canavieira para as Próximas Safras.......................................224
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................228
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................232
ANEXOS ...............................................................................................................................243
ANEXO I – QUESTIONÁRIO............................................................................................244
ANEXO II - TABELAS DE VALOR DA PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA ...........252
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dados das Mesorregiões do Estado do Paraná........................................................29
Tabela 2 - A produção de açúcar nas usinas do Estado do Paraná 1943/44 a 1950/51
(sacos de 60 quilos)................................................................................................54
Tabela 3 - Indicadores históricos da produção de açúcar, álcool e aguardente no
Paraná – safra 1943/44 a 1947/48 ..........................................................................55
Tabela 4 - Indicadores históricos da cana-de-açúcar no Paraná - pós-1937.............................56
Tabela 5 - Indicadores históricos da produção de açúcar e álcool do Paraná - 1951/52 a
1964/65...................................................................................................................56
Tabela 6 - Indicadores históricos da cana-de-açúcar do Paraná - pós-1978.............................62
Tabela 7 - Evolução do número de unidades produtoras de cana moída no Paraná, safra
1978/79 a 2001/02..................................................................................................65
Tabela 8 - Unidades produtivas da agroindústria canavieira paranaense, municípios e
diretores..................................................................................................................68
Tabela 9 - Distribuição espacial da área e da produção de cana-de-açúcar no Estado do
Paraná – 2002 .........................................................................................................69
Tabela 10 - Evolução das exportações paranaenses de açúcar, 1992 a 2001...........................71
Tabela 11 - Taxa de crescimento anual do PIB, no Paraná e no Brasil – 1970/2005...............86
Tabela 12 - Indicadores selecionados para as mesorregiões geográficas
paranaenses – 2000.................................................................................................
90
Tabela 13 - Indicadores da evolução histórica da área colhida e da moagem, álcool e
açúcar da Usina Santa Terezinha - 1971 a 1987...................................................121
Tabela 14 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COVAPI – 1983/84 a 1987/88 .............................................................................
122
Tabela 15 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e
açúcar da Usina São José – 1988/89 a 2000/01....................................................123
Tabela 16 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COTAL – 1983/84 a 1987/88...............................................................................
123
Tabela 17 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e
açúcar da Usina Julina – 1988/89 a 2000/01........................................................124
Tabela 18 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COPICAR – 1988/89 a 1990/91...........................................................................125
xi
Tabela 19 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e
açúcar da Usina Ivaté – 1988/89 a 2000/01..........................................................126
Tabela 20 - Indicadores da evolução histórica da área colhida, da moagem e da produção
álcool e açúcar do Grupo Santa Terezinha - 1987 a 1995....................................127
Tabela 21 - Relação de área plantada com o número de empregos do Grupo Santa
Terezinha..............................................................................................................132
Tabela 22 - Comercialização dos produtos e faturamento do Grupo Santa Terezinha ..........135
Tabela 23 - Indicadores da evolução histórica das cana moída e da produção de álcool
hidratado e anidro da Usina Vale do Ivaí - 1982 a 1992......................................148
Tabela 24 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool
(hidratado e anidro) e açúcar da Usina Vale do Ivaí - 1993 a 2004.....................149
Tabela 25 - Evolução da capacidade instalada diária da Usina Vale do Ivaí.........................152
Tabela 26 - Evolução da produtividade da Usina Vale do Ivaí..............................................153
Tabela 27 - Evolução do emprego direto gerado na Usina Vale do Ivaí................................154
Tabela 28 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área
total da Usina Vale do Ivaí e da área plantada em relação a área total do
Município – safra 2003/04...................................................................................154
Tabela 29 - Resumo geral das propriedades por distância da Usina Vale do Ivaí - safra
2003/04.................................................................................................................155
Tabela 30 - Exportação de açúcar bruto Usina Vale do Ivaí..................................................157
Tabela 31 - Exportação de álcool Usina Vale do Ivaí............................................................158
Tabela 32 - Indicadores da evolução histórica da área plantada, cana moída e da
produção de álcool hidratado e anidro da Usina COOPERVAL - 1981 a 1995 ..
168
Tabela 33 - Indicadores da evolução histórica da área plantada, cana moída e da
produção de álcool e açúcar da Usina COPERVAL - 1996 a 2004.....................
170
Tabela 34 - Evolução da produtividade da Usina COOPERVAL..........................................171
Tabela 35 - Evolução do emprego direto gerado na Usina COOPERVAL............................172
Tabela 36 - Resumo geral das propriedades por distância da Usina COOPERVAL -
safra 2003/04 ........................................................................................................172
Tabela 37 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área
total da Usina COOPERVAL e da área plantada em relação a área total do
Município – safra 2004/05...................................................................................
173
Tabela 38 - Evolução do faturamento da empresa em reais da Usina COOPERVAL...........174
Tabela 39 - Investimentos agrícola e industrial da Usina COOPERVAL..............................177
xii
Tabela 40 - Alguns indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de
álcool hidratado da COFERCATU – safra 1986/87 a 1992/93............................183
Tabela 41 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de açúcar,
álcool hidratado e anidro da COFERCATU – safra 1993/94 a 2003/04..............184
Tabela 42 - Evolução da produtividade da Usina COFERCATU..........................................186
Tabela 43 - Evolução do emprego direto gerado na Usina COFERCATU............................186
Tabela 44 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área
total da COFERCATU - safra 2003/04 ................................................................187
Tabela 45 - Exportação de Açúcar da Usina COFERCATU..................................................190
Tabela 46 - Indicadores da evolução histórica cana moída e da produção de álcool da
COROL – safra 1982/83 a 1992/93......................................................................198
Tabela 47 - Alguns indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de
álcool e açúcar da COROL – safra 1993/94 a 2002/03........................................
198
Tabela 48 - Indicadores da evolução histórica cana moída e da produção de álcool da
COCARI – safra 1983/84 a 2000/01 ....................................................................210
Tabela 49 - Indicadores dos municípios detentores das unidades produtivas do
Paraná – 2000 .......................................................................................................218
Tabela 50 - Unidades produtivas da agroindústria canavieira no Estado do Paraná, seus
respectivos municípios e microrregiões homogêneas ..........................................219
xiii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Produção total de cana-de-açúcar, açúcar e álcool do Estado do Paraná – 1979/80
a 2003/04 ................................................................................................................72
Gráfico 2 - Participação das mesorregiões na produção e na área de abrangência da cana-de-
açúcar – 2001/02.....................................................................................................91
Gráfico 3 - Moagem de cana-de-açúcar do Grupo Santa Terezinha......................................128
Gráfico 4 - Produção de açúcar do Grupo Santa Terezinha...................................................128
Gráfico 5 - Produção de álcool (anidro e hidratado) do Grupo Santa Terezinha...................129
Gráfico 6 - Rendimentos no corte de cana - tonelada de cana cortada/homem/dia................131
Gráfico 7 - Rendimentos industriais.......................................................................................132
Gráfico 8 - Mudanças no perfil do faturamento do Grupo Santa Terezinha..........................134
Gráfico 9 - Evolução do investimento e faturamento da Usina Santa Terezinha...................137
Gráfico 10 - Vendas e preços médios do álcool hidratado – Jan./Dez. de 2003 ....................176
Gráfico 11 - Receita bruta e lucro bruto da Usina COFERCATU.........................................189
Gráfico 12 - Investimentos realizados pela Usina COFERCATU.........................................191
xiv
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Localização dos municípios que detêm as usinas e/ou destilarias nas mesorregiões
do Estado do Paraná ..................................................................................................30
Mapa 2 - Municípios paranaenses produtores de cana-de-açúcar – safra 2002/03..................66
Mapa 3 - Municípios onde estão localizadas as unidades produtivas da agroindústria
canavieira do Paraná, safra 2002/03..........................................................................67
Mapa 4 - Região de abrangência da Usina Santa Terezinha ..................................................112
Mapa 5 - Região de abrangência da Usina de Álcool e Açúcar Ivaté S.A.............................114
Mapa 6 - Região de abrangência da Usina São José S.A.......................................................116
Mapa 7 - Região de abrangência da Destilaria Julina S.A. ....................................................117
Mapa 8 - Região de abrangência da Usina no Município de Terra Rica................................119
Mapa 9 - Região de abrangência da Usina Vale do Ivaí S/A.................................................144
Mapa 10 - Região de abrangência da Usina COOPERVAL..................................................166
Mapa 11 - Região de abrangência da Usina COFERCATU ..................................................181
Mapa 12 - Região de abrangência da Usina COROL.............................................................196
Mapa 13 - Região de abrangência da Destilaria COCARI.....................................................206
xv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Evolução dos indicadores do setor sucroalcooleiro do Paraná em comparação
com o Brasil - 1996 a 2000.....................................................................................70
Quadro 2 - Fases do desenvolvimento regional paranaense.....................................................84
Quadro 3 - Histórico da intervenção governamental no setor de açúcar e álcool..................105
1 INTRODUÇÃO
O sistema de transformação da cana-de-açúcar é uma das mais antigas
atividades econômicas do Brasil, e está ligado aos principais eventos históricos, representando
um dos mais importantes pilares da economia colonial, uma vez que o açúcar constitui-se num
produto conjuntural responsável pela definição do modelo agro-exportador brasileiro
(BUESCU, 1977). Sua importância na formação econômica brasileira reside na definição da
estrutura fundiária (latifúndio monocultor dependente) e na construção das relações sociais
escravistas que permitiram uma formação social patrimonialista (oligárquica e patriarcal).
No entanto, a guerra entre a Holanda e Inglaterra, após o Ato de Navegação
Cromwell (1651), cujo resultado foi a perda da hegemonia do capitalismo comercial dos
holandeses para os ingleses, a expulsão holandesa do Brasil e a transferência dos centros
produtores para as Antilhas e, ainda, o rápido esgotamento do solo, motivado pelo baixo nível
da técnica de manejo e de produção, formara as causas da decadência da produção açucareira
do Nordeste no século XVI. Com isso, o Brasil passou, então, pela primeira grande crise
econômica. Entretanto, na medida em que se acentuava a crise açucareira, ativava-se a
atividade bandeirante, dando origem ao ciclo do ouro e do diamante, que sustentariam a
economia colonial do século XVIII (KOSHIBA & PEREIRA, 1979).
A corrida do ouro e o baixo nível de tecnologia utilizado na mineração
levaram ao rápido esgotamento das jazidas. A pecuária, atividade subsidiária da mineração,
enquanto fornecedora de força de tração animal, de proteínas para a alimentação e de
vestuário e utensílios derivados do couro, promoveu o povoamento do interior e a formação
do latifúndio de criação. A decadência da mineração fez emergir atividades de subsistência
compensatórias, antes providas pela importação. Núcleos de povoamento e atividades
17
diversificadas (gêneros alimentícios, tabaco, anil, algodão, açúcar, entre outras) passaram a
integrar o novo cenário econômico do Brasil. A Revolução Industrial (século XVIII)
promoveu a superação do pacto colonial. O regime monopolista e o sistema colonial entraram
em crise. É neste contexto político das relações metrópole-periferia que se criaram novos
mercados consumidores. Assim, o Brasil, a partir da sua inserção na dinâmica do capitalismo
industrial, passou a fornecer uma gama maior de produtos para o mercado, diversificando a
sua produção.
Os antigos mineradores abandonaram seus escravos, tornando-se
faiscadores, na esperança de descobrir novas lavras (SILVA & BASTOS, 1976).
Nessa fase, no final do século XVIII, ocorreu a volta do desenvolvimento da
produção canavieira, que pode ser atribuída, também, a fatores conjunturais externos, tais
como a reabertura dos mercados consumidores internacionais para o açúcar brasileiro e o
declínio da produção haitiana (SILVA & BASTOS, 1976). Vale destacar, no entanto, que a
importância da exploração mineral (ouro e diamante) e do café (final do século XIX e
primeira metade do século XX) ofuscaram a importância da exploração canavieira, que, além
do mais, ficou presa às arcaicas relações de produção.
Conforme apresenta Calmon (1935), o açúcar era um produto que exigia
capitais, muitas posses e braços. Sua cultura era solidária (latifúndios) e a indústria cara e
complexa. Neste sentido, faltaram, no Paraná-Colonial, exatamente estes atributos para que a
cana-de-açúcar pudesse lograr sucesso na região, isto naquele momento histórico. Diante
deste contexto, a produção de açúcar paranaense destinava-se basicamente à tarefa de suprir o
consumo interno, não apresentando praticamente expressão alguma em termos de cultura
canavieira nacional. Era comum a necessidade de importar açúcar da região paulista.
Foi somente a partir dos anos 1970 que a agroindústria canavieira passou
por importante transformação, no tocante à sua diversificação de produtos, deixando de ser
18
exclusivamente voltada para o setor de alimentos, para destinar-se ao setor energético, através
do Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL). Este, fomentou o destino da cana também
para produção de combustível, tendo efeito positivo no aumento da competitividade do
sistema como um todo. Neste contexto, o país tornou-se o maior produtor mundial de cana-
de-açúcar, um dos maiores produtores e exportadores de açúcar, além de ser o único a
implantar em larga escala um combustível alternativo - o álcool.
Na produção de cana-de-açúcar brasileira, basicamente, existem dois
subsistemas regionais: um no Centro/Sul (C/S) e outro no Norte/Nordeste (N/Ne), sendo o
primeiro mais competitivo e dinâmico que o segundo. As vantagens que os produtores do
subsistema do C/S tem é a de estarem na região considerada como a de melhores
características edafo-climáticas existentes, terem um parque industrial forte, uma base para
pesquisa agropecuária tradicional e, acima de tudo, tradição. Com relação ao N/Ne, este
também possui vantagens consideráveis, pois possui uma localização para atender ao mercado
local de açúcar e álcool, e o acesso a cotas especiais de exportação, principalmente para o
mercado norte-americano.
Diante dessa conjuntura, a região Centro-Sul do Brasil tornou-se um
destacado centro comercial, com a centralização da produção canavieira principalmente no
Estado de São Paulo, que historicamente teve um processo forte de expansão canavieira
iniciada em Piracicaba, desde os engenhos centrais até a instalação de usinas de grande porte
(RAMOS, 1999).
Com essas vantagens, em que se destaca os fatores locacionais (tais como a
maior proximidade dos grandes centros consumidores nacionais), condições edafo-climáticas
favoráveis e uma maior concentração técnica-econômica em torno da agroindústria
canavieira, além de uma razoável tecnologia de produção, contribuíram para tornar São Paulo
19
numa hegemonia em termos produção canavieira, tornando-se o maior produtor nacional
(SHIKIDA, 1997).
Esse crescimento interno paulista, a Segunda Guerra Mundial (que gerou
desabastecimento do C/S) e uma demanda nacional insatisfeita forçaram a expansão do
parque açucareiro e da lavoura canavieira para áreas que até então importavam a maior parte
do produto que consumiam, mais especificamente os Estados de Minas Gerais e o Paraná.
No Estado do Paraná, a cultura de cana-de-açúcar ingressou pelo norte
pioneiro, ocupando áreas nos municípios vizinhos do Estado de São Paulo, como Jacarezinho,
Cambará, Andirá, Bandeirantes, Porecatu, entre outros, onde se instalaram as primeiras usinas
de açúcar. Na região de Maringá, adequada à lavoura canavieira, o cultivo da cana-de-açúcar
foi iniciado no ano de 1961 (GUERRA, 1995).
Segundo Padis (1981), o Norte do Paraná representou 86% da produção
canavieira obtida pelo Estado no período de 1964/68.
Durante os cinco primeiros anos das décadas de 1950 e 1960, as usinas que
se destacaram, em termos de transformação da cana em açúcar e álcool, foram: Bandeirantes,
Central Paraná, Jacarezinho e Morretes (ANUÁRIO AÇUCAREIRO, 1956 e 1967). Mesmo
sendo vários os municípios paranaenses produtores de cana-de-açúcar, dois apresentaram
certo destaque: Porecatu (onde se situa a Usina Central Paraná) e Bandeirantes (onde está
localizado a Usina Bandeirantes). Estes municípios produziram 70% da produção da região
norte e mais da metade do total estadual. A unidade produtiva de Jacarezinho situa-se ao norte
do Estado, enquanto Morretes fica situada mais próxima ao litoral paranaense.
Com a política de Vargas de promover o desenvolvimento da indústria
nacional, a discussão das fontes energéticas criou corpo e culminou, ainda que tardiamente,
no PROÁLCOOL, que foi apresentado como um programa alternativo e que alterou
20
significativamente o espaço agrícola estadual, gerando uma considerável expansão da
produção de cana. No Paraná, os produtores de cana-de-açúcar, localizados, sobremaneira, em
áreas mais dinâmicas do Estado, vêm sendo “(...) incentivados a desenvolverem sempre novas
experiências com a cana, na busca de maior lucratividade e de rendimentos crescentes na
produção, mesmo quando o cultivo se processa em áreas pequenas” (GUERRA, 1995, p.92).
Atualmente, a agroindústria canavieira paranaense apresenta-se no cenário nacional como de
perfil moderno, adotando novas técnicas e insumos, sendo superada, neste aspecto, apenas por
São Paulo (SHIKIDA, 1997).
De fato, o Paraná vem se destacando nacionalmente pela sua produtividade
média de 78 t/ha (safra 2000/03), enquanto que a média nacional girava em torno de 69
toneladas no período, pelo seu 2
o
lugar nas produções nacionais de cana-de-açúcar e álcool,
sendo responsável por 7,53% da produção canavieira e por 7,85% da produção alcooleira do
País, e pelo seu o terceiro lugar na produção de açúcar (contribuindo com 6,55% no total
brasileiro) - safra 2002/03 (HISTÓRICO produção Brasil, 2004; SEAB/DERAL, 2003).
A fase atual evidencia o quadro de desregulamentação da agroindústria
canavieira, consubstanciada por dois elementos básicos: primeiro, na constatação de que o
governo foi ineficiente em seu papel de planejador e regulador desta atividade. Segundo, a
tônica de “reestruturação” do Estado, vigente no País, sobretudo após o governo Collor
(1990), ligada a uma tendência de favorecimento às leis de mercado, não poupou setores
como o do álcool e do açúcar (RICCI et al. 1994). Esses fatos contribuíram para alavancar as
mudanças tecnológicas nas unidades produtivas e, conseqüentemente, nos municípios onde
estas estão instaladas.
21
1.1 Justificativa
A agroindústria canavieira foi a atividade econômica matricial que definiu o
modelo de assentamento e de exploração agrícola no Brasil colonial. Cultivada sob uma base
latifundiária e monocultora, a cana foi manejada e processada a partir da força de trabalho
escravista. O cultivo extensivo, em virtude da baixa capacidade de inversão de capitais, e a
mão-de-obra de baixo custo inseriram a agroindústria e, sobretudo, o produto por ela gerado –
o açúcar – no circuito do comércio desenvolvido a partir da política mercantil da metrópole
portuguesa. O caráter monopolista deste comércio imprimiu à economia colonial um modelo
agro-exportador e dependente.
Em termos de agroindústria canavieira no Paraná, observa-se que a sua
implementação não foi expressiva no período colonial. Contudo, a crise do petróleo de 1973
obrigou o Brasil a incentivar a utilização de fontes alternativas de energia, surgindo então o
PROÁLCOOL, que tinha o intuito de substituir parcialmente a gasolina por álcool carburante.
Essa crise do petróleo propiciou um “gargalo” no processo produtivo. Aliado a isto, ocorreu a
crise da agroindústria canavieira, decorrente da baixa dos preços do açúcar e do excesso de
oferta, além da sobre-capacidade instalada de produção, feita ao final dos anos de 1960 e
início dos de 1970. Estes fatores foram determinantes para que a “orquestração” de interesses
levasse o Estado a optar pela implementação do PROÁLCOOL. Esta “orquestração” envolveu
os empresários das usinas e destilarias, o próprio Estado, o setor de máquinas e equipamentos
e a indústria automobilística (SHIKIDA, 1997).
Em um segundo momento, especificamente entre 1980-1985 o
PROÁLCOOL evidenciou um aprofundamento do “gargalo”, mediante segunda crise do
petróleo, que gerou um ambiente ainda mais favorável para o lançamento de um novo produto
(o álcool hidratado). Nessa fase, o PROÁLCOOL foi impulsionado por um elenco de políticas
22
de crédito, subsídio e preços. Não obstante, a partir dessa segunda fase, houve uma certa
alteração geográfica da produção alcooleira nacional, onde estados sem nenhuma tradição na
agroindústria canavieira brasileira passaram a ter relativo destaque. Foi nesse período que a
agroindústria canavieira do Paraná efetivou com vigor a sua entrada no PROÁLCOOL e
passou a ter sua representatividade no contexto nacional. Dados da época confirmam esta
evolução: houve um aumento considerável da área cultivada de cana-de-açúcar neste Estado,
que passou de 57.990 ha, em 1980, para 140.772 ha, em 1986, ultrapassando a casa dos
300.000 ha a partir de meados dos anos 1990; a participação percentual da área colhida e da
quantidade produzida em termos nacionais passou de 2,2% e 3,0%, respectivamente, em
1980, para 7,6% e 7,3%, respectivamente, em 1999/2000.
Fato importante a ser considerado é que da segunda metade dos anos 1990
até o ano 2000 o setor sucroalcooleiro foi duramente atingido pelo processo de ajuste fiscal da
economia brasileira. Por ser de implantação recente, a quase totalidade das empresas esteve
com grau de endividamento elevado, em função de investimentos realizados na expansão e
diversificação da produção industrial e de novos plantios de cana-de-açúcar, e tiveram sua
liquidez dificultada ao extremo. Entretanto, apesar destes problemas, a agroindústria
canavieira paranaense apresenta-se no cenário nacional como de perfil moderno (adotando
novas técnicas e insumos), fato que pode corroborar para a melhoria de suas condições infra-
estruturais.
Neste sentido, a agroindústria canavieira paranaense teve um impulso
extraordinário após o PROÁLCOOL. Fato que pode ser comprovado pela contextualização
histórica. Entretanto, diante deste contexto de busca por inovações de produtos e processos
vivenciado pela agroindústria canavieira do Paraná, torna-se premente realizar uma análise de
relevância histórica sobre a evolução das unidades processadoras de cana-de-açúcar no
Estado, e os impactos provocados pela implantação e evolução dessas unidades processadoras
23
nos municípios paranaenses. Vale dizer que a infra-estrutura necessária para a instalação de
usinas necessita de um grande aparato, seja no aspecto financeiro como no estrutural,
resultando em alterações no processo de desenvolvimento da região onde estão inseridas –
especificamente os municípios “canavieiros”.
Neste sentido, com a implantação das usinas nos municípios paranaenses
houve mudanças consideráveis nas relações econômicas e sociais, ou seja, mudou a infra-
estrutura local, uma vez que estes municípios se adequaram a nova realidade agrícola e
industrial gerada pelas unidades processadoras de cana-de-açúcar. Neste ínterim, torna-se
necessário verificar quais foram os fatores motivadores que propiciaram a implantação das
usinas e/ou destilarias nos municípios do Estado do Paraná e o que sua localização passou a
representar em termos de retornos e/ou custos para os municípios onde estas foram
instaladas.
1.2 Objetivo
O presente estudo tem por objetivo maior analisar os principais aspectos
caracterizadores da evolução histórica da agroindústria canavieira paranaense –
especificamente as usinas e/ou destilarias – visando, com isso, um maior entendimento sobre
as questões ligadas à algumas das evoluções observadas em cada município paranaense em
que estas unidades operam.
Para tanto, cabe também apontar outros propósitos que se pretende alcançar
com a elaboração da presente dissertação:
24
a) Identificar os impactos gerados pela implantação do parque industrial das
unidades produtivas nos municípios “canavieiros” de Jandaia do Sul, São Pedro do Ivaí,
Porecatu, Florestópolis, Rolândia, Colorado, Astorga, Marialva, Maringá, Ivaté, Tapejara e
Cidade Gaúcha;
b) Identificar os principais fatores da formação histórica de cada usina e/ou
destilaria do Estado do Paraná, analisando as conseqüências e/ou benefícios para os
municípios canavieiros, em três momentos:
- no ambiente
1
gerado na constituição das unidades produtivas;
- no ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque
industrial e agrícola das usinas; e,
- no ambiente atual, onde as inovações tecnológicas adotadas pelas usinas
acarretam mudanças estruturais, seja no âmbito econômico como no social;
c) verificar até que ponto a implantação das usinas e o seu desenvolvimento
proporcionou retornos, sejam positivos ou negativos, para os municípios onde se instalaram;
1.3 Referencial Metodológico
Com o intuito de desenvolver uma análise sobre a formação da agroindústria
canavieira do Paraná, enfocando os principais aspectos caracterizadores de sua evolução
histórica, especificamente a esfera que tange a implantação das usinas e/ou destilarias (desde
1
A menção ao ambiente, refere-se ao cenário vivenciado pelas unidades produtivas paranaenses, ou seja, as
empresas procuram estar em harmonia com o mundo em sua volta, primando por manter seus sensores ligados e
sintonizados com a realidade atual. Dessa forma, a análise se torna mais eficiente se for considerado
separadamente a fase da constituição, aprimoramento e a atual.
25
sua origem até os dias de hoje), visando assim, um maior entendimento sobre as questões
ligadas às evoluções observadas em cada município paranaense em que estas unidades
operam, foi realizada uma pesquisa descritiva com uma abordagem qualitativa, voltando o
foco para a historicidade das transformações provocadas pelas unidades produtivas (usinas e
destilarias) nos municípios paranaenses.
De acordo com as argumentações de Gil (2000), a pesquisa descritiva tem
como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou
fenômeno ou, ainda, o estabelecimento de relações entre variáveis. Dessa forma, Cervo &
Bervain (1983) relatam ainda que através deste método de pesquisa pode-se observar,
analisar, registrar e correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.
Neste sentido, para complementar a análise descritiva, Oliveira (1997)
mostra que um bom instrumento seria a abordagem qualitativa, que não tem pretensão de
numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. Esta tem a finalidade de poder
descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de
certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos, experimentados por grupos
sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de
determinado grupo e permitir em um grau de profundidade a interpretação das
particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.
Diante deste contexto, numa primeira etapa, apresenta-se os aspectos
relativos à caracterização histórica do processo de instalação das unidades processadoras de
cana-de-açúcar no Estado do Paraná, considerando os demais aspectos como fontes de
informações. Com isso, pretende-se compreender os fatores que influenciaram no processo
histórico da agroindústria canavieira no Estado do Paraná e analisar a localização dessas
indústrias em determinados municípios. Para tanto, utilizou-se uma revisita à bibliografias
pertinentes ao tema da pesquisa, que é marcada por um constante processo de idas e vindas.
26
Assim, o trabalho comporta uma fase “histórico-descritiva”, através do uso de dados
secundários, coletados de diversas fontes no levantamento de dados, informações e
bibliografias, fazendo uso de acervos ligados a órgãos como Associação dos Produtores de
Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (ALCOPAR), Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Numa segunda etapa da pesquisa, foi desvelada a memória de cada empresa
e referenciado o seu perfil. Para tanto, realizou-se uma análise empírica, através da pesquisa
de campo, que caracteriza uma área da pesquisa dedicada ao tratamento da “face empírica e
factual da realidade; produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle
empírico e factual” (DEMO, 2000, p. 21). A valorização desse tipo de pesquisa é pela
possibilidade que oferece de maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa
ser a base factual. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas
estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação
prática (DEMO, 1994). Neste caso a pesquisa "ligada à práxis, ou seja, à prática histórica,
em termos de conhecimento científico para fins explícitos de intervenção; não esconde a
ideologia, sem perder o rigor metodológico". Alguns métodos qualitativos seguem esta
direção, como por exemplo, a pesquisa participante, a pesquisa-ação, em que, via de regra, o
pesquisador faz a devolução dos dados à comunidade estudada para as possíveis intervenções
(DEMO, 2000, p. 22). Assim sendo, optou-se por uma pesquisa qualitativa, considerando-a
como o instrumental adequado, por “seguir uma tradição compreensiva ou interpretativa”, em
que a subjetividade dos sujeitos (pesquisador e pesquisados), interfere nos significados que
precisam ser desvelados, por meio da análise das inter-relações que compõem um
determinado contexto.
Dessa forma, a coleta de informações para este trabalho se deu por
intermédio de pesquisas de campo (field study), através de entrevistas por pautas (com um
27
certo grau de estruturação). Este tipo de pesquisa “tem por objetivo a coleta de elementos não
disponíveis, que, ordenados sistematicamente de acordo com processos adequados,
possibilitam o conhecimento de uma determinada situação, hipótese ou norma de
procedimento” (MUNHOZ, 1989, p.85). Ou seja, com o estudo de campo buscou-se uma
imagem mais completa e real dos fatos que tendem a caracterizar o problema que está sendo
pesquisado (FERRARI, 1982).
Quanto ao instrumental técnico utilizado na pesquisa, utilizou-se a
entrevista. Optou-se por esta técnica de investigação pela relevância que apresenta em
permitir a captação imediata e corrente da informação desejada, sobre os mais variados
tópicos. Escolheu-se este método pelo fato de possibilitar a aproximação dos atores principais,
e permitir correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam, sobremaneira, eficaz na
obtenção das informações desejadas.
Conforme Yin (2002), o avanço desta análise depende da experiência e do
raciocínio crítico do investigador para construir descrições e interpretações que possibilitem a
extração cuidadosa das conclusões. Neste ínterim, a forma de coleta dos dados se deu via
análise de documentos, entrevistas informais (feitas com maior liberdade entre o entrevistado
e o entrevistador), depoimentos pessoais, observação espontânea, observação participante e
análise de dados sobre o objeto em estudo (disponível em outra fonte de consulta), na qual
foram buscados informações pertinentes ao processo de implantação das usinas e sua
influência nos municípios onde se localizam.
Para obter o maior número de informações e resguardar a fidelidade do
objeto pesquisado, as entrevistas foram realizadas obedecendo a um roteiro (Anexo I). É o
caso da aplicação de uma entrevista semi-estruturada, com o intuito de conhecer as relações
históricas das usinas e/ou destilarias com os municípios.
28
Com base nestas informações a terceira etapa da pesquisa se propôs a uma
comparação e/ou cruzamento das informações, verificando os pontos que se destacam entre as
usinas e município sob análise, destacando desta forma o referencial desta pesquisa que é o
desenvolvimento local.
1.3.1 Delimitação da área de estudo
Ao ter como base de análise o estudo das relações existentes entre a fase de
implantação das unidades produtivas paranaenses e os municípios onde as mesmas se
instalaram, sendo a delimitação geográfica os municípios paranaense detentores de usinas
e/ou destilarias, procurou-se determinar a sua localização em termos de mesorregião. Assim, a
área de abrangência da pesquisa limitou-se à mesorregião Norte-Central e uma parte da
mesorregião Noroeste.
Dessa forma, a análise da mesorregião Norte-Central se deu em virtude da
mesma concentrar um expressiva quantidade de unidades produtivas de cana-de-açúcar de
grande porte, totalizando 9 usinas/destilarias (Alto Alegre, Central Paraná, COCARI,
Cofercatu, Cooperativa Nova Produtiva, COOPERVAL, COROL, Vale do Ivaí e Santa
Terezinha), que correspondem juntas a 42,5% do total da produção paranaense na safra
2000/01. Entretanto, como a Usina Santa Terezinha é a matriz de um grupo de 4 empresas, as
três (São José, Julina e Ivaté) localizadas na mesorregião Noroeste, também se tornaram
objeto deste estudo. Somando a participação das 12 empresas, obtêm-se aproximadamente
60% de participação no total da produção de cana-de-açúcar do Estado do Paraná, conforme
apresentado na Tabela 1 e Mapa 1.
29
Vale destacar que a Tabela 1 apresenta informações sobre as 10
mesorregiões, divididas de acordo com o IBGE, em que a região Norte Pioneiro corresponde
79 municípios dos quais 9 serão abordados nesta pesquisa, e ainda 3 municípios da
mesorregião Noroeste.
Tabela 1 – Dados das Mesorregiões do Estado do Paraná
Mesorregião
Total de
municípios
População
total
Área
total
(km
2
)
Hab/km
2
Principal (is)
município(s)
Participação
da
População
no Estado
(%)
Noroeste 61 641.084 24.600 26,06
Paranavaí;
Umuarama e
Cianorte
6,70
Centro-Ocidental 25 346.648 11.942 29,03
Campo Mourão e
Goioerê
3,62
Norte-Central 79 1.829.068 24.556 74,48 Londrina e Maringá 19,13
Norte Pioneiro 46 548.190 15.799 34,70
Jacarezinho e Cornélio
Procópio
5,73
Centro-Oriental 14 623.356 21.952 28,39 Ponta Grossa 6,52
Oeste 51 1.138.582 22.840 49,85
Foz do Iguaçu,
Cascavel e Toledo
11,91
Sudoeste 36 472.626 11.687 40,44
Pato Branco e
Francisco Beltrão
4,94
Centro-Sul 29 533.317 26.506 20,12
Guarapuava,
Laranjeira do Sul
5,58
Sudeste 21 377.274 16.977 22,22 União da Vitóri e Irati 3,94
Metropolitana de
Curitiba
37 3.053.313 22.863 133,55
Curitiba, Campo
Largo, São José dos
Pinhais
31,93
Paraná 399 9.563.458 199.722 47,88 - 100
Fonte: STAMM, 2003
Para aprimorar as informações apresentadas na Tabela acima, o Mapa 1 retrata a
localização dos municípios onde estão presentes as unidades produtivas da agroindústria
canavieira e suas respectivas mesorregiões.
Mapa 1 – Localização dos municípios que detêm as usinas e/ou destilarias nas mesorregiões do Estado do Paraná
Fonte: STAMM, 2003
Noroeste Paranaense
Centro-Ocidental Paranaense
Sudoeste Paranaense
Sudeste Paranaense
Centro-Sul Paranaense
Oeste Paranaense
Centro-Oriental Paranaense
Norte Pioneiro Paranaense
Norte-CentralParanaense
Metropolitana de Curitiba
LEGENDA
Cambará
Bandeirantes
Ja c arezin ho
Ibaiti
Po re c a t u
Florestópolis
Ro l â nd ia
Colorado
Ma ring á
São Pedro do Iv
Asto rga
Mandaguari
Jandaia do Sul
Moreira Sales
Perobal
Tapejara
Rondon
Cidade
Gaúcha
Iva té
Nova
Lo nd rin a
Pa ra n a c it y
Sã o Ca rl o s
do Iv
Sã o Tomé
Jussa r a
En g e n h e i ro
Bel t r ã o
30
2 ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA NACIONAL
A descoberta do Brasil em 1500 marcou o início da “ocupação civilizada”
do território que viria a se chamar Brasil, sob os moldes do absolutismo europeu e do sistema
colonial. Antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, o território brasileiro era ocupado por
povos nativos, organizados em grandes nações, divididas em tribos, que se mantinham ligadas
por laços de parentesco e conviviam com a natureza, servindo-se dos seus abundantes frutos e
dádivas. Esses nativos, chamados equivocadamente de indígenas pelos colonizadores
europeus, que acreditavam terem chegado às Índias e não a uma nova terra, deixaram traços
na cultura brasileira, especialmente na arte, na alimentação e nas formas de cultivo agrícola
(ÁVILA, 2004).
O sistema colonial implantado no novo território baseou-se inicialmente na
exploração do pau-brasil. O chamado pau-brasil se caracterizou como uma especiaria, pois
tratava-se de uma árvore da qual se extraía tintura vermelha para tecidos, mercadoria de
grande procura na Europa. De acordo com Prado Júnior (1998, p. 25) a extração rudimentar
do pau-brasil “não deixou traços apreciáveis, a não ser a destruição impiedosa e em larga
escala das florestas nativas”, pois essa madeira era traficada ativamente na costa brasileira.
Entretanto, foi rápida a decadência da exploração do pau-brasil. Em alguns
decênios esgotaram-se as matas costeiras e o negócio perdeu interesse. Com o rareamento da
madeira e o monopólio do produto, impuseram-se novas formas de desenvolvimento
econômico do litoral e os colonos lançaram-se a um novo projeto: a agricultura.
Foram imensas as dificuldades para a implantação da agricultura e de
atividades extrativas no período do Brasil-Colônia. Para atrair o colono, que deveria superar
as dificuldades da zona tropical, era necessário oferecer-lhe grandes propriedades de terra
32
como recompensa pelo grande sacrifício. Convencidos da necessidade de ocupação das terras
brasileiras, os portugueses dividiram-na em lotes, denominados capitanias hereditárias, e
deram início à produção agrícola na forma de plantation. O Brasil conheceu, então, certo
florescimento econômico, mas que não se deu de maneira regular e linear, e sim sob a forma
de ciclos econômicos (LACERDA et al., 2000).
Na história econômica brasileira, o conceito de ciclos econômicos é
utilizado para identificar os movimentos de crescimento e declínio das atividades extrativas
como ressaltado anteriormente (ciclo do pau-brasil), da produção agrícola (borracha, cana-de-
açúcar, cacau, café) e mineradora (ouro).
A produção de cana-de-açúcar foi introduzida, oficialmente, no país por
Martim Affonso de Souza, que em 1532 trouxe as primeiras mudas ao Brasil e iniciou seu
cultivo na Capitania de São Vicente. Lá ele próprio construiu o primeiro engenho de açúcar,
denominado de "Governador" e depois "São Jorge dos Erasmos". Mas foi efetivamente no
Nordeste do Brasil, principalmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia, que os
engenhos de açúcar se multiplicaram; região em que a cana encontra condições climáticas
favoráveis à sua cultura, alcançando rápido desenvolvimento e tornando-se o principal
produto local e de exportação (MACHADO, 2003). Na perspectiva logística, as distâncias
menores em relação ao mercado europeu proporcionavam transporte mais barato.
Como essa cultura exigia uma gama extensiva de mão-de-obra, houve a
necessidade da substituição da mão-de-obra nativa para a negra. Esse processo foi mais rápido
na região Nordeste, principalmente na Bahia e em Pernambuco, dois grandes núcleos iniciais
que demandavam a força de trabalho proveniente da África. Em um segundo estágio viriam os
vizinhos do Rio de Janeiro e São Vicente. Ao redor de Pernambuco, a mudança da mão-de-
obra estendeu-se tanto nos eixos norte-sul como para o interior. Pode-se detectar sua expansão
33
até a fronteira com o Rio Grande do Norte. No mais, só surgiram pequenos núcleos de menor
importância no Maranhão e na foz do Rio Amazonas (LACERDA et al., 2000).
No resto do país, a implantação do sistema foi mais lenta. Seu custo fora das
zonas nobres do eixo econômico era alto, pois as condições de viagem e os maus-tratos
impostos aos escravos reduziam seus quadros pela metade, aumentando seu valor. Resolvido
o fator trabalho, a monocultura pôde iniciar-se; eram extensas unidades com grande número
de braços locando a produção, sob o olhar ameaçador de um feitor, homem de confiança do
proprietário. O engenho, cuja função era produzir açúcar, constituía o centro dessas fazendas.
Lá, manipulava-se a cana e criava-se o produto final. Com o passar do tempo, o conceito de
engenho se estendeu a todas as terras e culturas, tornando-se equivalente a propriedade
canavieira. As extensas áreas de terras eram ocupadas principalmente com as grandes
plantações, mas também com a agricultura de subsistência e pastagem dos animais
(BUESCU, 1977).
Vale destacar que a cultura da cana somente se prestava, economicamente, a
grandes plantações. Já para desbravar convenientemente o terreno tornava-se necessário o
esforço reunido de muitos trabalhadores, assim não era para empresa de pequenos
proprietários isolados. Dessa forma, a plantação, colheita e o transporte da cana até os
engenhos onde se preparava o açúcar, só eram rentáveis quando realizado em grandes
volumes. Nestas condições, o pequeno produtor não poderia existir. Essas circunstâncias
determinam o tipo de exploração agrária adotada no Brasil: a grande propriedade (latifúndios)
(PRADO JÚNIOR, 1998). Além disso, conforme apresenta Lobo (1977, p. 70), pode-se
afirmar a presença da monocultura com a “grande propriedade como um complexo produtivo
com aparelhos mecânicos como a moenda, a caldeira e a casa de purgar açúcar e
aguardente, e que necessitava, além da casa-grande do senhorio e da senzala para os
34
escravos, de instalações acessórias, oficinas, estrebarias e um santuário, elemento ideológico
de dominação colonial”.
No período compreendido entre 1530 a 1650, denominado “ciclo do
açúcar”, a produção e comercialização do açúcar tornaram-se o ponto alto da economia
brasileira. A produção, em 1580, era de aproximadamente 200.000 arrobas, das quais já se
exportavam anualmente mais de 120.000 (BRITO, 1980). Com conseqüência deste
desenvolvimento, havia grandes riquezas na colônia e o luxo começava a imperar,
principalmente para os denominados “senhores de engenho”.
Após um início repleto de dificuldades e tentativas frustradas, a produção de
açúcar prosperou e, passados menos de cinqüenta anos, o Brasil já detinha o monopólio
mundial da produção, assegurando a Portugal e também aos holandeses, que comercializavam
o açúcar, uma elevada lucratividade. A Europa, enriquecida pelo ouro e prata oriundos do
Novo Mundo, demandava cada vez mais açúcar. As regiões produtoras, que hoje
compreendem desde a Bahia até os estados do Nordeste, se beneficiaram e cidades como
Salvador e Olinda rapidamente prosperaram. Na Europa as refinarias se multiplicavam, como
exemplifica o fato das autoridades de Lisboa terem proibido a construção de novas refinarias
em 1559, pelo excessivo consumo de lenha e clara de ovos, esta usada como clarificante do
caldo, assim como, sangue de boi, ossos e gordura de galinha (MACHADO, 2003).
Sendo uma atividade extremamente rentável, no século XVI, a ponto de
poder autofinanciar uma duplicação de sua capacidade produtiva cada dois anos, a cana-de-
açúcar expandiu a sua área de influência, quer direta ou indiretamente, por quase toda a
extensão da América portuguesa, alimentando ciclos econômicos subsidiários como o do
fumo e o do gado, influenciando a vida de núcleos mais longínquos dedicados, por falta de
uma atividade econômica mais rentável, à economia de subsistência (ANDRADE, 1987).
35
Após a Guerra Holandesa (1630-54), e devido a concorrência da produção
de açúcar nas Antilhas e Ilhas do Caribe (a partir do início do século XVIII), o Brasil perdeu
grande fração de seu principal mercado (a Europa), deixando de ser inclusive o maior
produtor mundial, o que teve reflexos na vida econômica não só do Nordeste, mas também de
toda a Colônia. Dessa forma, a cana-de-açúcar passou a atravessar uma fase difícil de
estacionamento e até de retração, desde a segunda metade do século XVII até o início do
século XIX.
É interessante mencionar que a queda nas exportações de açúcar não
ocorreu devido à falta de melhorias tecnológicas no Brasil, pois o custo do açúcar brasileiro
ainda era 30% menor do que o das plantações inglesas no Caribe. A causa do declínio foi o
desenvolvimento de uma crescente quantidade de oferta do produto nas colônias inglesas,
holandesas e francesas, que tinha acesso preferencial aos respectivos mercados dos países de
origem (BAER, 1996).
Frente a crise, os produtores locais tiveram de começar a investir em outros
produtos. O tabaco não só teve boa receptividade na Europa como cumpria papel similar à
aguardente no escambo feito na costa africana. Sintomaticamente, sua decadência se deu à
época da proibição do tráfico negreiro, no século XIX.
Diante dessa contextualização, surgiu uma nova fase que se iniciou em
1690, com a descoberta de ouro na região onde hoje é o Estado de Minas Gerais. Apesar da
precariedade do sistema de comunicação da época, a notícia do descobrimento espalhou-se
rapidamente e logo a região, antes desabitada, estava repleta de migrantes que buscavam o
precioso metal. A produção de ouro cresceu continuamente entre 1690 e 1760 (havia também
alguma produção de diamantes, embora em menor escala). Nessa época, século XVIII,
afirma-se que o Brasil foi responsável pela metade da produção mundial de ouro (BAER,
1996).
36
Dessa forma, o ciclo da exploração do ouro mudou o centro de atividade
econômica do Brasil para o Centro-Sul e migrantes chegavam de todas as partes do país.
Muitos nordestinos, inclusive plantadores de cana que traziam consigo seus escravos
deixavam seu território, em decadência, em busca das regiões do ouro, além de fazendeiros e
rancheiros provenientes do rústico sul e novos migrantes de Portugal. Surgiram muitas novas
cidades nas regiões de mineração que cumpriam a função, às vezes, de centros de serviços
para as atividades de extração e possuíam estruturas operacionais mais complexas do que
aquelas que haviam existido em outras regiões brasileiras. Pela primeira vez, desenvolveu-se
um setor artesanal e sugiram grupos bancários privados, suprindo as necessidades dos setores
de mineração e comercial (ANDRADE, 1987).
A indústria da mineração consubstanciava-se na exploração das jazidas, a
qual se dava, de um lado, nas lavras e de outro, pelo trabalho dos faiscadores – homens livres
e nômades que produziam isoladamente e já faziam parte do cenário europeu. Seu contingente
tendeu a aumentar na fase de decadência do ouro (LACERDA et al., 2000).
Apesar da exploração brasileira da mineração ser de caráter predatório, esta
ocupou um lugar de destaque na história da colônia. No período de sua vigência, foi o foco
das atenções e cresceu às expensas das demais atividades. Houve uma corrida ao ouro de
outras regiões da colônia em direção a Minas Gerais, a qual alterou o quadro populacional
interno, promovendo a ocupação do Centro-Oeste e a mudança do eixo econômico, que até
então estava localizado nas áreas de produção açucareira. Desenvolveram-se também na
região a agricultura e a pecuária como atividades subsidiárias para a manutenção da produção
mineradora.
O século XVIII chegou ao seu final conhecendo a decadência da mineração
brasileira. O ouro que ainda era encontrado, geralmente nos leitos e nas margens dos rios, na
forma de aluvião, diferentemente daquele extraído de rochas matrizes, era pouco abundante, o
37
que explica seu precoce esgotamento. Somava-se a isso a falta de pesquisa ou
aprofundamento de seus conhecimentos. A administração colonial, devido ao seu caráter
exploratório, nunca investira em educação nem na racionalização de processos produtivos,
comportamento que teve reflexos na economia local e acelerou a decadência da mineração
(PRADO JÚNIOR, 1998).
Na segunda metade do século XVIII, a agricultura exportadora voltou a
ocupar posição de destaque na economia colonial. Esse fenômeno foi chamado, pelo
historiador Prado Júnior (1998), de “renascimento da agricultura”. Mas não foi apenas o
esgotamento das jazidas que explica esse renascimento. Outros fatores contribuíram para o
retorno da produção agrícola como principal fonte da economia: de um lado, pode-se atribuir
ao incremento demográfico do século XVIII e, de outro, à grande alteração da ordem
econômica inglesa em meados do século, com a Revolução Industrial.
Com isso, criou-se na Europa uma demanda intensa de produtos agrícolas
para alimentar a população em crescimento. Por outro lado, a Revolução Industrial, que se
iniciou no setor têxtil do algodão, ampliou consideravelmente a demanda por essa matéria-
prima. O fornecedor tradicional do algodão era a Índia, agora incapaz de suprir
satisfatoriamente a crescente demanda. No século XVIII, as colônias sulistas dos atuais EUA,
importantes fornecedoras do algodão, paralisaram suas remessas em virtude de seu
rompimento com a Inglaterra e do início da Guerra de Independência (1776 - 1781). As
pressões das circunstâncias levaram a Inglaterra a se voltar para outros mercados, favorecendo
então o Brasil, que intensificou a produção algodoeira.
A produção açucareira retomou, por seu turno, um ritmo acelerado de
expansão também na segunda metade do século XVIII, em virtude da Revolução Francesa
(1789 - 1799), que estimulou as rebeliões coloniais nas Antilhas, de dominação francesa,
desorganizando aí a produção açucareira, o que veio a favorecer a exportação brasileira.
38
Importantes centros de produção açucareira, como o Haiti (colônia francesa), conheceram
uma agitação sem precedentes. Em razão disso, os engenhos do Brasil foram reativados,
beneficiando-se da nova conjuntura. Por fim, a neutralidade portuguesa diante dos conflitos
europeus, desencadeados com a Revolução Francesa, criou condições para o incremento de
seu comércio colonial (BAER, 1996).
Todos esses acontecimentos contribuíram para alterar a fisionomia
geoagrícola do Brasil. De fato, a nova conjuntura estimulou a diversificação da produção. A
produção do algodão teve como centro o Maranhão. Outras regiões também se dedicaram ao
seu cultivo, embora em menor escala, como o extremo norte do Pará, o Ceará, a região do
agreste nordestino, Minas e Goiás. No caso do açúcar, além dos centros tradicionais
nordestinos, novas áreas foram ativadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em São Paulo o
quadrilátero do açúcar formado pelas cidades de Mogi-Guaçu, Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí
iria preparar, no século XIX, o ingresso da cultura cafeeira (LACERDA et al., 2000). A
estabilidade política e econômica do Império chegariam na década de 1840, coincidindo com
a expansão do café. Este já era produzido no Pará desde o século XVIII, mas se expandiu a
partir do Rio de Janeiro até São Paulo, no século seguinte.
No final do séc. XIX o Brasil vivia a euforia do café, nada menos de 70% da
produção mundial estavam concentrados em suas terras. Após a abolição da escravatura o
governo brasileiro incentivou a vinda de imigrantes europeus com a finalidade de suprir a
mão-de-obra necessária às fazendas de café, que na época já se concentravam no interior
paulista. Esses imigrantes foram, com o passar do tempo, adquirindo glebas de terra e assim
podiam, eles próprios, desenvolver sua atividade agrícola. Parte deles, em sua maioria de
origem italiana, optou então pela produção de aguardente a partir da cana-de-açúcar, produto
de comércio fácil e de boa rentabilidade. Inúmeros engenhos concentraram-se, então, na
região compreendida no quadrilátero formado entre Campinas, Itu, Moji-Guaçu e Piracicaba.
39
Mais ao norte do Estado, nas vizinhanças de Ribeirão Preto, novos engenhos também se
formaram (MACHADO, 2003).
Entretanto, no início do século XIX, aconteceria uma situação política
internacional bastante diferenciada. Com a presença de Napoleão Bonaparte na França e suas
campanhas militares, foi decretado o chamado bloqueio continental. A França pressionou
Portugal a aderir ao bloqueio, contrariando a Inglaterra, que via em Portugal um aliado
precioso (ÁVILA, 2004). Impedido de receber o açúcar de suas colônias ou de outros lugares
além mar, Napoleão incentivou a produção de açúcar a partir da beterraba, graças à técnica
desenvolvida por Andrés Marggraf, químico prussiano, em 1747. Assim, finalmente a Europa
não dependeria mais da importação de açúcar de cana de outros continentes. Por outro lado,
em plena revolução industrial, o uso do motor a vapor acionando as moendas construídas em
aço (John Stewart-1770), a evaporação múltiplo-efeito (Norbert Rillieux-1846), o cozedor a
vácuo (Charles Howard-1812) e as centrífugas para separação do açúcar (Penzoldt-1837),
possibilitaram às novas indústrias, tanto de beterraba, como de cana, um novo patamar
tecnológico de produção e eficiência, impossível de ser atingido pelos engenhos de açúcar de
cana tradicionais, baseados em moendas de madeira movidas por animais ou rodas d’água,
tachos de cozimento abertos, aquecidos a fogo direto e purga de méis por gravidade
(MACHADO, 2003).
Com esses fatores, e o fim da escravatura, sepultava-se definitivamente o
modelo de produção vigente por quatro séculos. Dessa forma, começaram a surgir modernas
fábricas que se multiplicavam em novas regiões produtoras, como na África do Sul, nas Ilhas
Maurício e Reunião, na Austrália e diversas outras, notadamente em colônias inglesas,
francesas ou holandesas (MACHADO, 2003). Entretanto, no Brasil os engenhos tradicionais
ainda persistiam, apesar de estar em curso o processo de sua substituição pelas indústrias
40
modernas nascentes. Somente na metade do século XIX é que medidas para reverter essa
situação começaram a ser tomadas.
Como o imperador do Brasil, D. Pedro II, almejava novas tecnologias, foi
elaborado, em 1857, um programa de modernização da produção de açúcar, baseado em um
novo conceito produtivo. Dessa forma, passaram a ser implantados os engenhos centrais, que
deveriam somente moer a cana e processar o açúcar, ficando o cultivo de cana exclusivamente
por conta dos fornecedores (SZMRECSÁNYI, 1979). Nessa época, Cuba liderava a produção
mundial de açúcar de cana, com 25% do total, e o açúcar de beterraba produzido no Europa e
nos EUA significava 36% da produção mundial. O Brasil contribuía com apenas 5%,
correspondendo a um total de 2.640.000 toneladas de açúcar em 1874 (MACHADO, 2003).
Segundo Ramos (1999), frente às dificuldades pelas quais a economia
açucareira estava passando, questionou-se seriamente a introdução de equipamentos mais
modernos e a divisão do trabalho entre o cultivo da cana e a fabricação do açúcar, de modo a
tornar mais competitivo este setor produtivo. Com este intuito, os governos Imperial, em fins
do século XIX, e Republicano, no início do século XX, na tentativa de erguer o mercado
açucareiro, estimularam o desenvolvimento da agroindústria canavieira contribuindo para
fundar alguns engenhos centrais, através de uma reserva para amparar a indústria.
Pernambuco, à época (1890) o maior centro açucareiro do Brasil, foi o maior beneficiado com
a concessão de recursos para esta finalidade; seguiu-lhe a Bahia, Rio de Janeiro, Alagoas e
Sergipe, que, juntos, concentraram 70% do capital garantido para montagens de Engenhos
Centrais (SZMRECSÁNYI, 1979).
Um total de 87 Engenhos Centrais foi aprovados, mas efetivamente
implantados 12 projetos (ANUÁRIO AÇUCAREIRO, 1935). O primeiro deles, Quissamã,
localizado na região de Campos, que entrou em operação em 1877 e está em atividade até os
dias de hoje. No entanto, a grande maioria não teve a mesmo destino. Fato que contrapôs o
41
estilo de produção da época, em que o desconhecimento operacional dos novos equipamentos,
a falta de interesse dos fornecedores, que preferiam produzir aguardente ou mesmo açúcar
pelos velhos métodos, além de um custo excessivo representado pela aquisição de lenha para
as caldeiras, que muitas vezes era consumida em volume quase que equivalente à da cana
moída, contribuíram decisivamente para a derrocada do modelo proposto para os engenhos
centrais (SZMRECSÁNYI, 1979). Em sua grande maioria acabaram sendo arrematados pelos
próprios fornecedores de equipamentos ou por seus prepostos, como aconteceu com os
engenhos: Central de Piracicaba, Porto Feliz, Raffard e Lorena, adquiridos pelos próprios
franceses que os montaram, surgindo assim, logo no início do séc. XX, a Cia. Sucrerie que
rapidamente se tornou a maior produtora de açúcar de São Paulo.
Segundo Shikida (1997), por fins do século XIX e início do século XX, com
as crescentes irregularidades no abastecimento da cana-de-açúcar, além da necessidade de
introduzir técnicas e equipamentos mais modernos, os engenhos centrais começaram a
desaparecer. A passagem dos engenhos para a fase das usinas foi a vitória da produção
integrada (RAMOS, 1999). A relação de “independência” com relação aos fornecedores e o
maior controle sobre a oferta e preços foram fundamentais para as usinas.
Dessa forma, as novas indústrias, a partir de então constituídas, passaram a
ter cana própria, tornando-se mais independentes de fornecedores. A essas novas unidades
somaram-se outras, de iniciativa privada, tanto no Nordeste, que concentrava o grosso da
produção brasileira, como em São Paulo. Essas novas unidades foram denominadas de "usinas
de açúcar". Mesmo com as novas usinas em operação, não foi possível fazer frente à expansão
do açúcar de beterraba, que por volta de 1900 ultrapassava mais de 50% da produção mundial
(MACHADO, 2003).
Um fato histórico iria alterar esse panorama. A eclosão da I Guerra Mundial,
em 1914, provocou a devastação da indústria européia de açúcar, principalmente a do norte da
42
França. Esse fato culminou com o aumento do preço do açúcar no mercado mundial e
incentivou a construção de novas usinas no Brasil, notadamente em São Paulo, onde muitos
fazendeiros de café desejavam diversificar seu perfil de produção. Neste contexto, a região do
Centro-Sul, que estava em ascensão, começou a competir com a produção da agroindústria
canavieira do Nordeste, com destaque para São Paulo, por estar mais próximo dos grandes
centros consumidores do país e porque sua época de safra não coincidia com a do Nordeste
(SHIKIDA, 1997).
Nesse contexto, a produção do Nordeste, somada à de Campos no norte
fluminense, e a rápida expansão das usinas paulistas acenavam para um risco eminente, a
superprodução. Foi com o intuito de controlar a produção que surgiu, então, o Instituto do
Açúcar e Álcool (IAA), criado pelo governo Vargas, em 1933. O mecanismo de controle
adotado pelo IAA foi o regime de cotas, onde se atribuía à cada usina brasileira uma
determinada quantidade de cana a ser moída, a produção de açúcar e também a de álcool. A
aquisição de novos equipamentos ou a modificação dos existentes tamm tinha de ser
autorizado pelo IAA (MORAES, 2000).
Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, com o risco representado pelos
submarinos alemães à navegação na costa brasileira, as usinas reivindicaram o aumento da
produção para que não houvesse o desabastecimento nos estados. A solicitação foi aceita e
nos dez anos subseqüentes a produção foi ampliada cerca de seis vezes (MACHADO, 2003).
Segundo Alves (2002, p. 7),
essa dificuldade afetou precisamente o açúcar, cujo abastecimento interno
dependia fundamentalmente da produção nordestina, estando os principais
centros consumidores localizados no Centro-Sul do país (...). A demanda
insatisfeita dos principais centros consumidores criou condições favoráveis
para que as usinas do Sudeste reivindicassem o aumento da produção.
43
A forma de intervenção do Estado na agroindústria canavieira, depois de
1930, foi muito forte; a intervenção se fez presente desde a produção de matéria-prima até a
fabricação, distribuição, consumo e exportação do produto acabado, tanto no mercado
nacional quanto no internacional (QUEDA, 1972).
A fase econômica, após criação do IAA, a fase jurídico-institucional-
assistencial, efetivada após o surgimento do Estatuto da Lavoura Canavieira (ELC) em 1941,
e a fase tecnológica, que ocorreu no período 1965/69 a 1971, caracterizam parte da evolução
da agroindústria canavieira (QUEDA, 1972). Vale citar, contudo, que houve interface entre as
fases citadas. Para períodos mais recentes, Shikida (1997) assinala que, entre 1975 e 1999,
fatores como a fragmentação do setor açucareiro mundial e o PROÁLCOOL proporcionaram
à agroindústria canavieira do país uma dinâmica diferente.
A partir da Segunda Guerra Mundial, os esforços da indústria açucareira
brasileira se concentraram na multiplicação da capacidade produtiva, amparada pelas
condições edafo-climáticas. As constantes alterações na cotação do açúcar no mercado
internacional e os equipamentos obsoletos forçaram uma mudança de atitude para a
manutenção da rentabilidade. Coube à Cooperativa dos Produtores da Cana, Açúcar e Álcool
do Estado de São Paulo Ltda. (COPERSUCAR), formada em 1959 por mais de uma centena
de produtores paulistas para a defesa de seus preços de comercialização, a iniciativa de buscar
novas tecnologias para o setor. As indústrias açucareiras da Austrália e da África do Sul
representavam o modelo de modernidade desejada. Do país africano vieram vários
equipamentos considerados modernos até então (MACHADO, 2003).
Na agricultura, a busca por novas variedades de cana, mais produtiva e ao
mesmo tempo mais resistente às pragas e doenças, iniciada em 1926 por ocasião da infestação
dos canaviais pelo mosaico, foi também intensificada, assim como teve início o controle
biológico de pragas. Entidades como a própria COPERSUCAR, o Instituto Agronômico de
44
Campinas (IAC) e o IAA-PLANALÇUCAR (o Programa Nacional de Melhoramento da
Cana-de-açúcar) foram responsáveis por inúmeras inovações na área agrícola. Essa fase de
reformulação culminou com o aumento dos preços do açúcar no mercado internacional a um
patamar considerável, atingindo a marca histórica de mais de US$ 1.000,00 a tonelada. Os
saldos líquidos das exportações foram investidos na criação de um plano ambicioso de
pesquisa canavieira, o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar
(PLANALSUCAR), na modernização do parque industrial e na construção de infra-estrutura,
com os chamados terminais açucareiros. Entre 1970 e 1975, foram realizados investimentos
públicos na ordem de US$ 3 bilhões na modernização e ampliação da capacidade produtiva
do parque açucareiro e a maioria das usinas foi totalmente remodelada (CARVALHO, 1999).
Esses fatos foram de importância fundamental para o próprio Brasil
enfrentar as crises do petróleo que se seguiram a partir de 1973, através do PROÁLCOOL. De
modo semelhante ao que ocorreu em São Paulo a partir do início do século XX, esse
Programa de incentivo à produção e uso do álcool como combustível em substituição à
gasolina, criado em 1975, alavancou o desenvolvimento de novas regiões produtoras como o
Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Em menos de cinco anos a produção de
pouco mais de 300 milhões de litros ultrapassou a cifra de 11 bilhões de litros, caracterizando
o PROÁLCOOL como o maior programa de energia renovável já estabelecido em termos
mundiais, economizando mais de US$ 30 bilhões em divisas (MACHADO, 2003).
Dados obtidos junto à Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL)
mostram aspectos interessantes sobre a distribuição regional dos projetos enquadrados no
PROÁLCOOL até fins de 1985. Os estados que acolheram o maior número de projetos
enquadrados nesse Programa foram: São Paulo (42,5%), Minas Gerais (10,5%), Alagoas
(7,0%), Paraná (6,6%), Goiás (6,3%), Pernambuco (5,9%), Rio de Janeiro (3,0%), Paraíba
(2,7%), Mato Grosso (2,3%) e Mato Grosso do Sul (2,3%). Com a rubrica recursos do
45
PROÁLCOOL, as participações percentuais desse enquadramento de projetos não foram
muito diferentes da exposição anterior. (...) Os estados que mais se destacaram na absorção de
recursos do PROÁLCOOL foram: São Paulo (36,0%), Minas Gerais (10,3%), Alagoas
(8,1%), Paraná (7,9%), Goiás (7,2%), Pernambuco (7,1%), Mato Grosso (3,2%), Rio de
Janeiro (3,0%), Paraíba (2,7%) e Mato Grosso do Sul (2,5%) (SHIKIDA, 1997).
Não obstante, a substancial redução da participação dos investimentos
públicos, principalmente neste Programa, e o desequilíbrio entre oferta e demanda de álcool
combustível nos anos 1990, vem comprometendo o futuro do PROÁLCOOL.
A fase atual vivenciada pela agroindústria canavieira evidencia um quadro
de desregulamentação, consubstanciada por dois elementos básicos: primeiro, na constatação
de que o governo foi ineficiente em seu papel de planejador e regulador desta atividade (seja
na inadequação da política de preços em relação aos custos médios de produção; no sistema
de comercialização de álcool e manutenção de estoques de segurança; nas distorções da
relação entre o capital e o trabalho; entre outros); segundo, a tônica de “reestruturação” do
Estado, vigente no País, sobretudo após o governo Collor (1990), ligada a uma tendência de
favorecimento às leis de mercado, não poupou setores como o do álcool e do açúcar. Foi neste
contexto que o IAA, por meio da Medida Provisória n
o
151, de 15/03/1990, foi extinto -
(RICCI et al., 1994; MORAES, 2000).
Ainda assim, apesar das dificuldades, da globalização e da rápida mudança
de paradigmas a que está submetida, a indústria açucareira brasileira continua crescendo a
largos passos. Sua liderança na produção açucareira mundial, nesta passagem de milênio, é
inconteste. Assim, o agronegócio canavieiro movimenta cerca de R$ 36 bilhões por ano, com
faturamentos diretos e indiretos, o que corresponde a aproximadamente 3,5% do PIB
nacional, além de ser um dos setores que mais emprega no país, com a geração de 3,6 milhões
de empregos diretos e indiretos, e congregar mais de 70 mil agricultores. Este setor faz do
46
Brasil o maior produtor mundial de cana e açúcar e o principal país do mundo a implantar, em
larga escala, um combustível renovável alternativo ao petróleo. Hoje o álcool é reconhecido
mundialmente pelas suas vantagens ambientais, sociais e econômicas e os países do primeiro
mundo estão interessados em nossa tecnologia. Somente na safra 2002/2003 o Brasil obteve
US$ 2,5 bilhões em divisas com as exportações de 13,5 milhões de toneladas de açúcar e 690
milhões de litros de álcool (PROCANA, 2004).
O parque sucroalcooleiro nacional possui 302 indústrias em atividade, sendo
218 na região Centro-Sul e 84 na região Norte-Nordeste, as quais contribuem para sustentar
mais de 1.000 municípios brasileiros. Para se ter uma idéia do potencial deste mercado, basta
citar que mais de 50 mil empresas brasileiras são beneficiadas pelo alto volume destinado a
investimentos, compras de equipamentos/insumos e contratação de serviços por parte das
usinas de açúcar e álcool, volume este que ultrapassou R$ 3,5 bilhões em 2003. Outro
indicador da importância social do agronegócio sucroalcooleiro é o recolhimento de impostos,
que a cada ano soma mais de R$ 4,5 bilhões aos cofres públicos (PROCANA, 2004).
Visto, em caráter preambular, os principais elementos caracterizadores da
evolução da agroindústria canavieira brasileira, desde sua origem até a época recente, pode-se
ter um maior entendimento das mudanças ocorridas na evolução da agroindústria canavieira
paranaense, próxima parte a ser enfocada por este estudo.
3 A EVOLUÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA PARANAENSE
3.1 A evolução da agroindústria canavieira paranaense: da gênese até 1980 - expansão
modesta
Assim como o restante do Brasil, o início da colonização do Estado do
Paraná decorreu da busca de riquezas que se enquadrassem nas demandas do sistema
mercantil. As primeiras expedições aconteceram durante o século XVI, quando espanhóis e
portugueses adentraram o atual território do Paraná, dirigindo-se na direção de Assunção.
Em 1541 o enviado da corte espanhola, Álvar Núñez Cabeza de Vaca,
entrou pela ilha de Santa Catarina e, em companhia dos índios Carijó, tomou rumo ao
primeiro planalto paranaense, atingindo o seu território nas cabeceiras do Iguaçu, daí tomou a
direção do Tibagi e rumou em direção ao Ivaí, para tomar rumo ao sul na direção do Piquiri e
do Iguaçu. Neste percurso tomou contato com inúmeras tribos guaranis que eram horticultoras
e testemunhou a potencialidade da região que denominou de Vera (CABEZA DE VACA,
1995).
Na região do Piquiri, em virtude da escassez de alimentos, a comitiva do
enviado espanhol serviu-se de uma espécie de cana, da qual triturou o miolo.
O jesuíta Antônio Ruiz de Montoya, quando penetrou, em 1612 no antigo
território do Guairá, que corresponde hoje a quase totalidade do Estado do Paraná,
testemunhou que havia entre os índios cultivo da cana-de-açúcar.
Certo índio tinha em sua granja duas plantações de cana-de-açúcar.
Por tratar-se de coisa tão nova ou desconhecida, seus vizinhos lhes
furtaram algumas canas. Colheu ele então os restantes e as levou a
esse Taubici (grande cacique), dizendo-lhe que lhe trazia aquele
pequeno presente, pelo fato de haverem lhe furtado as demais
(MONTOYA, 1985, p. 44).
48
No século XVI os espanhóis fundaram na região cidades, como Outiveros
(1554), Ciudad Real (1557) e Vila Rica do Espírito Santo (1570), que serviram de suporte
para as encomendas, empreendimentos agrícolas que se valiam do trabalho indígena. As
encomendas iniciaram uma intensa exploração da mão-de-obra indígena, que, além das
atividades de subsistência, era empregada na exploração da erva-mate. Encomendeiros e
paulistas desenvolveram atividades comerciais e o tráfego de mão-de-obra indígena para os
engenhos, a partir do desabastecimento da mão-de-obra escrava no período de unificação das
coroas (SCHALLENBERGER, 1997).
Os conflitos coloniais resultantes da exploração indígena e do comércio
ilícito entre os colonos espanhóis e os paulistas exigiram do sistema colonial uma intervenção
pacificadora. Foram, assim, chamados os padres da Companhia de Jesus, que empreenderam
uma obra evangelizadora que resultou na fundação de 13 povoados missioneiros, no período
de 1610 a 1631, conhecidos como reduções jesuíticas. A ação bandeirante em torno do
apresamento dos índios das missões impôs o fim desta experiência civilizatório no atual
território paranaense, relegando-o, pela historiografia oficial, o um vazio demográfico
(SCHALLENBERGER, 2004).
A região do atual Estado do Paraná, no início do processo de colonização
portuguesa no Brasil, sofreu incursões de estrangeiros que buscavam extrair madeira da
região. A ocupação portuguesa passou a efetivar-se a partir da descoberta de ouro nos cursos
dos rios que descem da Serra do Mar, já entre os anos de 1630 e 1640. A atividade
mineradora, tanto de Paranaguá quanto da região das Minas Gerais, atraíram o gado das
estâncias do Sul do Brasil. As cidades portuárias, no entanto, conseguiram resistir ao processo
de êxodo acarretado pela decadência da mineração: tratava-se de regiões de saída das
mercadorias exportadas. Os campos gerais abrigavam povoados resultantes do caminho das
tropas oriundas do Sul do Brasil e destinadas ao abastecimento dos mercados das Minas
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Gerais e de São Paulo. Pertencente à Província de São Paulo, até meados do século XIX, o
território paranaense abrigou atividades econômicas baseadas na pecuária e no extrativismo.
A história oficial do Paraná começou com a Lei 29, de agosto de 1853,
assinada pelo Imperador Dom Pedro II, que desmembrou a região da Província de São Paulo.
A partir deste ano, a implementação de uma malha ferroviária passou a exercer grande
importância na região para o transporte dos produtos de extração madeireira. O café também
passou a ser um produto de grande importância; neste período, a imigração européia surgia na
região, substituindo a mão-de-obra escrava e imprimindo novos caminhos na produção
agrícola.
Alemães e poloneses começaram a desenhar um novo perfil para o
desenvolvimento agrícola a partir da constituição de núcleos de povoamento nos arredores de
Curitiba, no antigo caminho real que ligava Curitiba à Joinville e nos Campos Gerais. A
expansão da colonização nos Campos Gerais (Curitiba, Castro, Lapa, São José dos Pinhais,
Campo Largo, Ponta Grossa e Guarapuava), fez com que em 1854, dos 62.258 habitantes da
Província, 68,8% estavam nestes núcleos do povoamento (SCHALLENBERGER, 2001).
No século XX a história do Paraná teve como marco social importante os
“barões da erva-mate”, donos de engenhos, que ostentavam a opulência nas moradas e no seu
modo de viver. A madeira farta atraía os ingleses, que povoaram os vazios das florestas
derrubadas. Neste mesmo século chegaram os imigrantes não-europeus, como os japoneses na
segunda década. O Paraná viveu o ciclo do ouro, da madeira, da erva-mate e do café, até
finalmente diversificar sua economia, e começar a produzir a cana-de-açúcar, em pequena
escala (POMBO, 1980).
Dessa forma, na região de transição das terras roxas para o arenito
(especificamente da área do Município de Maringá até as barrancas do Rio Paraná), o modelo
fundiário da agricultura familiar diversificada não vingou. Após os primeiros anos de lavoura,
50
a erosão do solo, agravada por outros problemas ambientais, acabou por inviabilizar a
pequena propriedade familiar. A melhor alternativa técnica disponível, na época, foi o plantio
de gramíneas semiperenes, pastagens e cana-de-açúcar. A cana, ao contrário das pastagens,
apresentou resultados econômicos sociais compensadores para a integração da economia
regional.
Na região Norte do Estado do Paraná, a cultura canavieira tornou-se uma
atividade alternativa (GUERRA, 1995). Foi especificamente nessa região que a agroindústria
canavieira encontrou condições favoráveis para o seu desenvolvimento, em áreas próximas
aos ainda incipientes centros urbanos como Londrina e Maringá.
Pode-se afirmar que inicialmente a produção de açúcar paranaense
destinava-se basicamente ao consumo interno (sendo comum a necessidade de importar
açúcar da região paulista), não apresentando praticamente expressão alguma em termos de
cultura canavieira nacional.
Com o auge da produção de açúcar em todo o Brasil, foram decretadas as
implantações de engenhos centrais em determinados pontos do país, por D. Pedro II (1857).
Um destes foi introduzido na cidade de Morretes. O Engenho Central de Morretes foi
implantado na Colônia Nova Itália, com o apoio do poder público (pode contar com a quantia
inicial de 100 contos de réis). Estabelecido um contrato com os colonos da Nova Itália, estes
deveriam produzir a cana e vendê-la somente ao Engenho Central. Descontentes com o baixo
preço que recebiam pela cana-de-açúcar e por considerar o trabalho quase que escravo,
decidiram suspender a venda de cana ao Engenho Central e pediram a construção de um
engenho de aguardente, pois a colônia possuía estrutura para tal. Foi assim que surgiram os
engenhos de alguns imigrantes (BORGES, 1990). Vale destacar que o processo de produção
de açúcar foi substituído pela produção de aguardente na região onde atualmente é o
Município de Morretes. Os pequenos produtores de aguardente começaram a concentrar-se
51
por toda a região, a maioria ao redor do Anhaia e ali se instalaram e desenvolveram seus
alambiques passando a produzir a famosa cachaça morretiana. Nessa época, Morretes possuía
em torno de 40 engenhos de aguardente e sua cachaça foi se popularizando por todo o país,
representando a grande parte da economia da cidade e influenciando diretamente na cultura
dos nativos. Mesmo com uma forte influência econômico-cultural, os engenhos de aguardente
também não resistiram a falta de mão-de-obra, de água, altos impostos, passando a dedicar-se
às novas culturas (mormente maracujá e gengibre) (BORGES, 1990).
Conforme dados apresentados pelo Anuário Açucareiro (1935), até 1935 o
Estado do Paraná possuía somente 316 engenhos (e nenhuma usina) para o processamento do
açúcar e seus derivados como álcool, aguardente e rapadura. Começaram a surgir, em meados
da década de 1930, as usinas com turbina e vácuo e as usinas só com turbina, além dos
engenhos, que, por sua vez, eram construções mais rudimentares. O Paraná, de acordo com
esses indicativos não apresentava nenhum estabelecimento que caracterizasse a agroindústria
canavieira como de tecnificação moderna para os padrões da época. Mesmo em termos de
quantidade de engenhos, a representatividade paranaense era inexpressiva em nível de Brasil,
ou seja, em 1935 os seus engenhos corresponderam a somente 1,27% do total nacional
(KAEFER & SHIKIDA, 2000).
Alves & Shikida (1999), relataram que as participações da área cultivada
(ou colhida) e da quantidade produzida da agroindústria canavieira paranaense sobre os totais
nacionais foram indubitavelmente pouco expressivos em meados dos anos 1930, passando dos
ínfimos 0,1% em termos de participação de área com cana-de-açúcar e de quantidade
produzida no país, para valores próximos a 1,7% e 2,6%, respectivamente, no final dos anos
1950. No entanto, cabe destacar que as principais variedades de cana cultivadas no Paraná
eram a Javanesa, Cristalina e Ubá, sendo predominante a Javanesa (50%), por ser rica em
52
sacarose, produtiva e altamente resistente às moléstias, além de ser a variedade que mais se
adaptou ao tipo de solo do Estado.
Não se verificou no Paraná a fase de engenhos centrais (com exceção da
experiência de Morretes); a evolução tecnológica da agroindústria canavieira neste estado
deu-se através do seguinte esquema: engenhos-engenhos com turbina-usinas.
O quadro periférico que caracterizava o Paraná no contexto da economia
canavieira do Brasil se deu em parte pelo fato de que a produção de açúcar em larga escala
demandava uma quantidade considerável de capitais, terras e mão-de-obra inacessível à
grande parte da sociedade empreendedora, e o Paraná não fugia a esta regra. Além disso, o
maior incentivador para a construção de engenhos centrais no Brasil, o governo, não tinha
interesse em investir em terras paranaenses, de pouca tradição na cultura canavieira e sem
expressão para competir por recursos com estados mais eminentes do cenário nacional, a
exemplo, Alagoas, Pernambuco e São Paulo (KAEFER & SHIKIDA, 2000).
No ano de 1937, as unidades de transformação da cana-de-açúcar no Estado
do Paraná se concentravam em 5 engenhos com turbina, nenhuma usina e 304 engenhos,
perfazendo um total de 309 estabelecimentos produtivos, com uma produção de 14.765 sacas
de 60 quilos de açúcar (safra 1937/38), que representou cerca de 0,25% do açúcar produzido
por engenhos no Brasil. Cabe ressaltar que esses engenhos, na sua maioria, tinham capacidade
de produção anual de até 50 sacas, portanto eram considerados pequenos e insuficiente para
atender às necessidades domésticas de demanda, haja vista os níveis de importação de açúcar
efetuados pelo Paraná no quadriênio 1935-1938, quais sejam, 258.312, 325.650, 316.793 e
385.051 sacas de açúcar (60 quilos), respectivamente. Também existiam 254 alambiques
neste estado produzindo aguardente. Os maiores centros produtores do Paraná eram: Cerro
Azul (42% da produção estadual, de açúcar tipo rapadura); Cambará (31% da produção
estadual, de açúcar tipo bruto); Foz do Iguaçu (8%, do tipo rapadura); Reserva (6%, do tipo
53
bruto); Jataí (3%, do tipo bruto) e Morretes (2%, do tipo bruto) (ANUÁRIO AÇUCAREIRO,
1939).
A transição do engenho para a fase das usinas em terras paranaenses
começou, apenas, na década de 1940. Vários fatores contribuíram para a implantação das
usinas de açúcar e álcool no Paraná, entre eles o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-
45), que gerou um desabastecimento de açúcar no Centro-Sul, que na época era feito em
grande parte pelos produtores do Nordeste. A demanda insatisfeita dos principais centros
consumidores do país, acabou forçando a expansão do parque açucareiro e da lavoura
canavieira para áreas que até então importavam a maior parte do produto que consumiam.
Esses fatores motivaram o IAA a tomar medidas de incentivo, através da abertura de quotas
para a instalação de novas usinas de açúcar nos setores não tradicionais do Centro-Sul (BRAY
& TEIXEIRA, 1985).
Neste sentido, o IAA, no ano de 1942, através da Portaria n. 17, de 3 de
novembro, autorizou a instalação de novas usinas em vários estados da Federação, dentre eles
o Estado do Paraná, com a fundação de duas usinas de açúcar e álcool: a Central Paraná, cuja
montagem só foi concluída em 1945, devido às dificuldades de transporte e da aquisição de
combustível localizada no municípios de Porecatu, e a usina Bandeirantes, fundada em 28 de
novembro de 1942, localizada no Município de Bandeirantes (BRAY & TEIXEIRA, 1985).
Em meados da década de 1940 continuavam os incentivos do IAA para o
aumento da produção de cana-de-açúcar no país. Dessa forma, e em virtude deste novo apoio,
passou a funcionar em Morretes, na Baixada Litorânea, a terceira usina do Estado, em 1947,
denominada de Malucelli. No ano de 1958 houve uma reestruturação e mudou de
denominação, passando a ser Usina Morretes.
Ainda em 1958 foi fundada a quarta usina no Estado, quando o grupo
empresarial paulista Mesquista Filho S.A., proprietário da Cia. Melhoramentos Norte do
54
Paraná S.A., e demais acionistas conseguiram cotas para fundação de outra usina no Norte do
Paraná. A sua implantação se deu no Município de Jacarezinho, que tinha melhor localização
geográfica (limítrofe a São Paulo) e era a porta de entrada para o norte paranaense, além dos
interesses políticos locais. A agroindústria se instalou numa área de 500 alqueires e a sua
primeira produção foi no ano de 1948 (BRAY & TEIXEIRA, 1985).
Os dados apresentados na Tabela 2 retratam as produções das primeiras
usinas na safra 1943/44 a 1950/51.
Tabela 2 - A produção de açúcar nas usinas do Estado do Paraná 1943/44 a 1950/51 (sacos de
60 quilos)
Ano Usina
Bandeirante
Usina Central
Paraná
Usina
Jacarezinho
Malucelli Total do
Estado
1943/44 1.899 - - - 1.899
1944/45 28.587 - - - 28.587
1945/46 47.163 - - - 47.163
1946/47 36.891 13.424 - - 50.315
1947/48 57.116 100.433 22.600 7.967 165.517
1948/49 53.909 90.072 26.822 10.982 185.716
1949/50 65.916 99.542 10.082 18.741 243.927
1950/51 98.267 240.704 30.160 19.169 450.915
Fonte: IAA apud BRAY & TEIXEIRA, 1985
Nos primeiros anos do pós-guerra, as exportações constituíram uma
importante válvula de escape para a super-produção induzida pelo Decreto Lei nº 9827. Mas o
total das exportações não foi suficiente para suprir a demanda açucareira mundial que foi
afetada pela guerra, em virtude disso os preços do açúcar começaram a cair nos mercados
externos. Além de outras medidas, o Governo Federal baixou, em meados de 1948, o Decreto
nº 25.174-A, que implantou “medidas de estímulo à produção alcooleira no país para fins
carburentes”. Este decreto também foi motivado pelos déficits no balanço de pagamentos e
pelo esgotamento das reservas cambiais acumuladas pelo país durante a II Guerra Mundial. O
decreto estabeleceu, também, equivalência de preços entre o açúcar e álcool direto, bem como
55
concessão de bonificações aos produtores sobre o valor do álcool fabricado
(SZMRECSANYI, 1979). Com esses incentivos iniciou-se a produção de álcool no Estado,
conforme pode ser visualizado na Tabela 3.
Tabela 3 - Indicadores históricos da produção de açúcar, álcool e aguardente no Paraná – safra
1943/44 a 1947/48
Safras ou
anos civis
Produção de
açúcar de usina
(sacas de 60 kg)
% no
total
nacional
Produção de
álcool (litros)
% no
total
nacional
Produção de
aguardente
% no
total
nacional
1943/44 1.899 0,01 12.216 0,01 3.906.030 2,81
1944/45 28.587 0,19 304.826 0,25 3.496.294 2,35
1945/46 47.165 0,31 712.837 0,67 4.275.360 2,57
1946/47 50.315 0,27 759.968 0,65 3.614.390 2,05
1947/48 165.517 0,73 878.774 0,63 - -
Fonte: ANUÁRIO AÇUCAREIRO (1947 e 1956)
Dessa forma, tanto a produção de açúcar de usina como a sua participação
no total nacional cresceu consideravelmente. O mesmo pode ser dito para a produção de
álcool que teve uma expansão significativa. E a aguardente teve uma oscilação (Tabela 3).
As informações contidas na Tabela 4 demonstram que a evolução da
agroindústria canavieira do Paraná, no que tange a área cultivada (ou colhida) e a quantidade
local produzida foram pouco expressivas de 1937 a 1949. Entretanto, na década de 1950 em
diante, houve um crescimento da representatividade dos dados analisados ao longo dos anos.
Conforme se pode observar, o Paraná passou de 0,1%, em termos de participação de área com
cana-de-açúcar e de quantidade produzida no Brasil, para valores equivalentes a 7,6% e 8,1%,
respectivamente. Nota-se, também, o crescimento do rendimento agrícola da cana-de-açúcar
no estado, cujo índice mais do que duplicou, e cujos valores foram, amiúde, maiores do que a
média nacional.
56
Tabela 4 - Indicadores históricos da cana-de-açúcar no Paraná - pós-1937
Ano Área
cultiva-
da (ha)
Área
colhida
(ha)
Quantidade
produzida
(t)
Rendimento
médio (PR)
(t/ha)
Rendimento
médio (BR)
(t/ha)
% na área
cultivada ou
colhida
(PR/BR)
%
quantidade
produzida
(PR/BR)
1937 540 ... 17.370 32 34 0,1 0,1
1938 1.011 ... 30.330 30 35 0,2 0,2
1939 1.459 ... 43.770 30 40 0,3 0,2
1947 8.591 ... 362.881 42 38 1,1 1,3
1948 8.531 ... 351.251 41 38 1,0 1,1
1949 9.169 ... 368.830 40 39 1,2 1,2
1957 18.411 ... 1.124.436 61 41 1,6 2,4
1958 19.484 ... 1.207.412 62 41 1,6 2,4
1959 22.505 ... 1.364.619 61 41 1,7 2,6
1967 ... 40.962 2.824.532 69 46 2,4 3,7
1968 ... 38.944 2.676.889 69 45 2,3 3,5
1969 ... 34.822 2.219.817 64 45 2,1 3,0
1977 ... 42.760 2.998.331 70 53 1,9 2,5
Fonte: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL (1939/1940, 1950, 1960, 1970, 1980)
Na conjuntura estadual, as usinas que se destacaram em termos de produção
de cana, açúcar e álcool, durante os cinco primeiros anos das décadas de 1950 e 1960, foram:
Bandeirantes, Central Paraná, Jacarezinho e Morretes (ANUÁRIO AÇUCAREIRO, 1956 e
1967). A produção de açúcar e álcool para esse período é retratada na Tabela 5, que mostra o
crescimento dessas produções.
Tabela 5 - Indicadores históricos da produção de açúcar e álcool do Paraná - 1951/52 a
1964/65
Safras ou anos civis Produção de
açúcar de usina
(sacas de 60 kg)
% no total
nacional
Produção de álcool
(litros)
% no total
nacional
1951/52 488.724 1,83 3.941.620* 2,35
1952/53 503.168 1,63 5.286.773* 2,59
1953/54 488.392 1,46 3.185.515* 1,18
1954/55 672.656 1,89 4.986.770* 1,64
1955/56 673.414 1,90 5.151.000* 1,77
1960/61 1.212.593 2,23 ... ...
1961/62 1.348.032 2,39 10.229.226* 2,44
1962/63 1.409.984 2,76 10.941.504* 2,85
1963/64 1.566.870 3,03 11.611.683* 2,99
1964/65 2.130.450 3,58 11.736.077* 3,12
Fonte: ANUÁRIO AÇUCAREIRO (1956 e 1967)
* Dados para os anos civis de 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1961, 1962, 1963, 1964
57
Vale destacar com relação a Tabela 5 que entre os vários municípios
paranaenses produtores de cana-de-açúcar, destacam-se: Porecatu (onde situa a Usina Central
Paraná) e Bandeirantes (onde situa a Usina Bandeirantes). A unidade produtiva de
Jacarezinho, conforme já citado, está situada ao norte do estado, enquanto Morretes fica
situada mais próxima ao litoral paranaense.
De acordo com os relatos de Szmrecsányi (1979), a década de 1950
transcorreu sob o signo da expansão da agroindústria canavieira do Brasil. Em parte essa
expansão foi determinada pela crescente demanda do mercado interno, devido aos efeitos de
uma intensa industrialização e urbanização no Centro-Sul do país. Esse crescimento da
produção açucareira superou amplamente o seu consumo e fez com que o país voltasse a
figurar entre os grandes exportadores do produto. Entretanto essa expansão da agroindústria
canavieira nacional, tendo respaldo no Estado do Paraná, foi acompanhada e promovida pelo
IAA.
Apesar da expansão da agroindústria canavieira no Brasil ser determinada
pelo aumento do consumo interno, na década de 1950, não ocorreu o surgimento de novas
usinas no Estado, mas sim, a ampliação da produção de açúcar e álcool das usinas já
instaladas.
Em 1960, com a crise econômica, houve uma superprodução de açúcar no
Brasil e a Europa - importante comprador do açúcar brasileiro - teve boas safras de beterraba,
além de poder adquirir açúcar de cana em Cuba, o que fez com que os preços do produto
brasileiro caíssem, formando um estoque de mais de 12 milhões de sacas de 60 quilos de
açúcar. Grande parte dessa produção não teve absorção pelo mercado interno; além disso,
uma grande área plantada com cana permaneceu nos campos sem aproveitamento industrial
(PROCANA, 2004).
58
Aliado a esse fator, e em virtude do desequilíbrio entre a oferta e a demanda
de café em termos mundiais e nacionais (devido à superprodução no setor), no período de
1965 a 1967, o governo brasileiro obrigou-se a efetivar uma política econômica de
erradicação de cafeeiros “cansados”, improdutivos ou localizados em terras impróprias, para
que fosse possível diminuir a produção e adequar a oferta e a demanda efetiva. Portanto,
diante da busca de uma alternativa agrícola que substituísse as lavouras decadentes do café
e ao mesmo tempo gerasse trabalho para as famílias desempregadas na agricultura, nasceu a
idéia da intensificação do cultivo da cana-de-açúcar montando, inclusive, destilarias para a
produção de álcool” (GUERRA, 1995, p.85).
Diante deste contexto, as usinas de Bandeirantes, Central do Paraná,
Jacarezinho, Morretes e Santa Terezinha aumentaram gradativamente sua produção no
qüinqüênio 1961-1965, produzindo 1.213.593 (2,2% da produção nacional), 1.348.032
(2,3%), 1.409.984 (2,7%), 1.566.870 (3%) e 2.130.450 (3,5%) sacas de açúcar (60 quilos),
respectivamente. A produção de álcool hidratado - para o mesmo qüinqüênio - foi de:
10.229.226 (0,42% da produção brasileira), 10.941.504 (0,43%), 11.611.683 (0,42%),
11.736.077 (0,37%), e 14.205.600 (0,56%) litros.
Segundo relatos apresentados por Padis (1981), a região Norte do Paraná foi
responsável por 86% da produção canavieira obtida pelo Estado no período de 1964/68.
Mesmo sendo a grande maioria dos municípios produtores de cana-de-açúcar, dois
apresentaram destaque: Porecatu e Bandeirantes. Estes municípios produziram 70% da
produção da região Norte e mais da metade do total estadual.
A integração da economia paranaense com a nacional recebeu forte impulso,
no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, com a modernização e diversificação dos
setores industriais, estimulados pela instalação de indústrias, em sua maioria de grande porte e
59
de capital transacional, contribuindo para a diversificação de toda a estrutura produtiva-
industrial, agrícola e de serviços no Estado (PADIS, 1981).
A razão maior dos investimentos no setor industrial paranaense na década
de 1970 relaciona-se à superação da crise econômica do final da década de 1960, mais
precisamente entre os anos de 1962 a 1968. Nessa década, a política de industrialização por
substituição de importações experimentava uma estagnação, em relação às décadas anteriores,
enquanto a economia brasileira apresentava problemas estruturais, tais como: altos níveis de
inflação e desequilíbrio do balanço de pagamentos, além de revelar um setor agrícola
extremamente atrasado (PADIS, 1981; BAER, 1993).
A evolução histórica da cana-de-açúcar no Paraná de 1967 a 1979 evidencia
a tendência crescente do aumento de área colhida após 1969 e, embora houvesse oscilação da
produção, também se verificou o aumento desta variável. Mas, o importante a ressaltar deste
período é a tendência crescente para a área colhida no estado e a diminuição relativa da
quantidade produzida em termos de Brasil, que passou de 3,7% em 1967 para 2,3% em 1979.
Desta forma, confirma-se a condição periférica da cultura canavieira no Paraná até início dos
anos 1980, onde esta evoluía em termos estaduais, enquanto em termos nacionais perdia
expressão em razão de maior desenvolvimento de outros estados, no que respeita à área
colhida e quantidade produzida. Contudo, o recrudescimento do PROÁLCOOL no Brasil iria
ter reflexos na agroindústria canavieira paranaense, assunto este dedicado à próxima seção.
Dessa forma, na década de 1980, o crescimento atípico da indústria, em
nível nacional, repercute de modo acentuado no Estado do Paraná por conta do desempenho
do complexo metal-mecânico e agroindustrial. Nesse período, houve uma recessão que atingiu
de forma profunda o setor da construção civil no estado e seus principais fornecedores
industriais. Entretanto, a participação positiva da agropecuária (especialmente do café), das
60
indústrias de alimentos e química (soja e derivados de petróleo e álcool) fez com que seus
efeitos não fossem intensos (VASCONCELLOS et al., 1999).
3.2 A evolução da agroindústria canavieira paranaense: do pós-segunda fase do
PROÁLCOOL aos dias de crise desse programa - expansão acelerada
No período de 1975 e 1995, a agroindústria canavieira do país foi
condicionada fundamentalmente por dois fatores, até então novos para o contexto da
economia canavieira, quais sejam, a fragmentação do setor açucareiro mundial e a
implementação do PROÁLCOOL, cujas fases podem ser divididas nas seguintes etapas:
1975-1979 - expansão “moderada” desse Programa; 1980-1985 - expansão “acelerada”; 1986-
1995 – “desaceleração e crise”; 1996-“2000” – “crise e rearranjo” (SHIKIDA, 2000).
2
O que merece destaque na evolução do PROÁLCOOL, no contexto da
agroindústria canavieira do Paraná, é a alteração geográfica da produção alcooleira nacional
ocorrida basicamente a partir da segunda fase desse programa.
Em se tratando da evolução do número de unidades produtoras de cana
moída no Paraná, observou-se um quadro de forte crescimento inicial (1979/80 à 1985/86,
taxa de crescimento de 212,5%), crescimento moderado (1986/87 à 1990/91, taxa de
crescimento de 11,5%), um período de oscilações (1991/92 à 1993/94) e um de relativa
estabilidade do número de estabelecimentos (1994/95 à 1998/99). Em 1979/80 existiam 8
unidades produzindo cana moída no Paraná, número que passou para 10 em 1980/81, até
atingir o número máximo de 29 unidades produtoras em 1990/91, com gradativo crescimento
no decorrer da década. Por conseguinte, houve uma aparente estabilização do número de
estabelecimentos até 1998/99, quando operavam 28 unidades produtoras (não obstante, destas
2
Segundo SHIKIDA (2000), a fase de “crise e rearranjo” não se encerrou em 2000. Este ano apenas serve como
delimitação temporal de um período analisado, daí a razão das aspas nesse ano.
61
unidades cerca de 4 apresentavam taxas de crescimento da produção negativas no período de
1986/87 a 1998/99) (SHIKIDA, 2001).
Alguns trabalhos que abordaram a questão da agroindústria canavieira no
Estado do Paraná trazem importantes informações sobre a evolução deste segmento, seja em
termos de fontes de crescimento da produção agrícola paranaense (ALVES; SHIKIDA &
SANTOS, 1999), seja em termos de estratégias tecnológicas na agroindústria canavieira do
Paraná, mediante aplicação de questionários enviados via correio (SHIKIDA; ALVES &
PIFFER, 1999).
Não obstante, Shikida (2001) aponta que a cultura canavieira no Paraná vem
evoluindo, tanto no âmbito nacional como no regional, pela sua dinâmica de crescimento
baseada, mormente, no nível tecnológico de seus estabelecimentos produtivos. Apesar de
apresentar este cenário de vantagens, ainda existem problemas setoriais. É o caso dos preços
baixos e políticas inadequadas para o setor, excesso de oferta, e ausência de mercado
consolidado para os subprodutos (que ainda assim vem conseguindo certo espaço), apontados
como fatores que dificultam o aparecimento de novas tecnologias na agroindústria canavieira
do Paraná.
Observou-se, especificamente no fim da década dos anos 90, uma tendência
de concentração/diminuição no segmento produtivo canavieiro, em que três fatores
contribuíram para um quadro não muito favorável para a agroindústria canavieira paranaense:
1) o custo médio de produção da cana permanecera muito alto, enquanto que os agricultores
tiveram o preço reduzido para recebimento do seu produto em torno de 14% só em 1999; 2)
em termos de álcool hidratado e álcool anidro (R$ 0,32 e R$ 0,36, respectivamente), seu custo
foi superior ao preço de venda das distribuidoras (R$ 0,23 e R$ 0,29, respectivamente); 3) não
haviam políticas públicas consistentes, seja em nível federal ou estadual, que pudessem
reequilibrar a razão produção/consumo de álcool combustível.
62
Apesar das crises setoriais apresentarem impactos negativos, estas também
contribuem para uma melhor organização do mercado do setor sucroalcooleiro, que é um
importante pilar da economia brasileira, gerando 1,3 milhões de empregos e movimentando
18 bilhões de reais. Somente no Paraná, que é o segundo maior produtor de álcool do Brasil -
responsável por 8,6% da produção nacional - as 27 unidades produtoras de álcool e açúcar
garantem 74 mil postos de trabalho e movimentaram 800 milhões de reais, em 1999 (SETOR
Movimenta R$ 2 Bi no Paraná, 2002).
Conforme os dados apresentados na Tabela 6 podem confirmar dois
aspectos da evolução da agroindústria canavieira do Paraná: houve crescimento considerável
das participações da área colhida e houve um aumento da quantidade produzida ao longo dos
anos analisados. O Paraná passou de 2,0% e 2,3% em termos de participação de área com
cana-de-açúcar e de quantidade produzida no Brasil em 1978, respectivamente, para valores
equivalentes a 7,6% e 7,3%, em 1999/00, respectivamente. O crescimento do rendimento
agrícola da cana-de-açúcar no Estado também foi notório.
Tabela 6 - Indicadores históricos da cana-de-açúcar do Paraná - pós-1978
Ano Área
cultiva-
da (ha)
Área
colhida
(ha)
Quantidad
e
produzida
(t)
Rendimento
médio (PR)
(t/ha)
Rendimen
to médio
(BR)
(t/ha)
% na área
cultivada ou
colhida
(PR/BR)
%
quantidade
produzida
(PR/BR)
1978 ... 47.570 2.988.860 63 54 2,0 2,3
1979 ... 51.425 3.191.353 62 55 2,0 2,3
1987 ... 160.420 11.911.431 74 63 3,7 4,4
1988 ... 156.497 11.856.032 76 63 3,8 4,6
1989 ... 153.539 11.401.852 74 62 3,8 4,5
1996/97
1
... 302.000 24.564.000 81 69 6,2 7,3
1997/98
1
... 334.000 27.900.000 84 69 6,8 8,3
1998/99
2
... 338.940 27.016.957 80 69 6,8 8,0
1999/00
2
... 330.737 22.541.133 78 69 7,6 7,3
Fonte: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL (1980, 1987/1988, 1991)
1
SEAB/DERAL (1998), para anos-safras (1996/97, 1997/98)
2
SEAB/DERAL (2000), para anos-safras (1998/99, 1999/00)
63
Num contexto geral, entre 1975 e 2000, a agroindústria canavieira brasileira
teve dois fatores que contribuíram para a sua evolução, tais como: a fragmentação do setor
açucareiro mundial, dada pela crise de superprodução e o acirramento da concorrência com os
adoçantes sintéticos, e a implementação do PROÁLCOOL.
A fase atual vivenciada pela agroindústria canavieira, especificamente a do
Paraná, evidencia um quadro de desregulamentação consubstanciada pela extinção do IAA.
Dessa forma, a desregulamentação da agroindústria canavieira, ainda que mantendo algumas
práticas como o planejamento de safras, contribuiu para a liberalização do mercado nacional.
Neste sentido, pode afirmar-se que fenômenos como o fim do IAA, a desregulamentação do
setor, e arrefecimento do PROÁLCOOL não impediram o crescimento e a expansão da
agroindústria canavieira paranaense. Esta expansão, no entanto, não se deu de forma
homogênea entre as empresas; algumas se destacaram frente às outras, adotando e
desenvolvendo tecnologias avançadas, tanto no âmbito agrícola, como no industrial
(SHIKIDA, 1997).
Vale destacar que o PROÁLCOOL entrou em crise via sucessivos planos
econômicos, pois os insumos, notadamente os fertilizantes e a mão-de-obra, subiram muito;
os empréstimos na área agrícola foram minimizados a ponto de em novembro/1996 estarem
suspensos no Banco do Brasil e as taxas de juros para manutenção dos estoques sazonais
obrigatórios foram incompatíveis com a margem de contribuição das empresas. Para
completar, o Plano Real congelou por 10 meses o preço do álcool e da cana, manteve as taxas
de juros de 80% ao ano e ainda criou uma defasagem cambial que limitava as exportações
(MENEGUETTI, 2002).
Entretanto, esse panorama de desregulamentação trouxe algumas
conseqüências que merecem destaque, quais sejam: a) contribuiu para desestruturar a oferta
de álcool; b) resultou na falta de competitividade de algumas usinas e destilarias; c) culminou,
64
muitas vezes, com o encerramento da atividade, implicando numa crise social e desemprego;
d) as oscilações nos preços da cana-de-açúcar e seus derivados colaboraram para agravar o
nível de endividamento setorial; entre outras.
O setor, portanto, no final da década de 1990 se encontrava em série
dificuldade financeira, obrigando-se a uma organização intensa em nível nacional, com o
intuito de minimizar os problemas e buscar soluções adequadas, como a criação da BA (Brasil
Álcool) e da BBA (Bolsa Brasileira do Álcool) e também a busca de estratégias para as
unidades produtivas sobreviverem à crise (MENEGUETTI, 2002).
Esses fatores refletem diretamente na evolução do número de unidades
produtoras que o Estado teve no decorrer de sua história. As informações da Tabela 7
mostram que de 1978/79 à 1985/86 ocorreu um forte crescimento inicial de 525%, de 1986/87
à 1990/91 um crescimento moderado, com taxa de crescimento de 11,5%, de 1991/92 à
1993/94 houve uma pequena oscilação e uma relativa estabilidade do número de
estabelecimentos de 1994/95 à 2001/02. Ao longo de período em análise, a taxa geométrica de
crescimento anual foi de 5,4% a.a..
3
Em 1979/80 existiam 8 unidades produzindo cana moída
no Paraná, número que passou para 10 em 1980/81, até atingir o número máximo de 29
unidades produtoras em 1990/91, com gradativo crescimento no decorrer da década. Por
conseguinte, houve uma aparente estabilização do número de estabelecimentos até 1998/99,
quando operavam 28 unidades produtoras (não obstante, destas unidades cerca de 4
apresentavam taxas de crescimento da produção negativas no período de 1986/87 a 1998/99
(SHIKIDA, 2001).
3
Maiores considerações sobre o processo de cálculo desta taxa, ver: HOFFMANN & VIEIRA (1987).
65
Tabela 7 - Evolução do número de unidades produtoras de cana moída no Paraná, safra
1978/79 a 2001/02
Safra Unidades produtoras de cana
moída
Safra Unidades produtoras de cana
moída
1978/79 4 1990/91 29
1979/80 8 1991/92 27
1980/81 10 1992/93 26
1981/82 12 1993/94 27
1982/83 15 1994/95 28
1983/84 21 1995/96 28
1984/85 23 1996/97 28
1985/86 25 1997/98 28
1986/87 26 1998/99 28
1987/88 27 1999/00 28
1988/89 27 2000/01 28
1989/90 28 2001/02 27
Fonte: Dados obtidos junto a ALCOPAR
Quanto a área agricultável no Paraná, pode-se dizer que a participação do
cultivo de cana-de-açúcar corresponde a 2,4% do total, o restante das terras se subdividem em
42,7% para as demais culturas (soja, algodão, café, entre outras) e 54,9% para pastagem. Em
1998, o PIB total paranaense foi de US$ 46,9 bilhões, sendo o setor sucroalcooleiro
responsável por US$ 1,1 bilhão desse total, ou seja, 3,2% (dados obtidos junto a ALCOPAR,
SEAB/DERAL, 2003).
Confirmando esses dados, o Mapa 2 mostra que a cana-de-açúcar está
presente em 132 municípios do Paraná. A região Noroeste do Estado é responsável pela maior
parte da produção paranaense, em função do menor custo da terra e, também, por dispor de
variedades de cana adaptáveis para o solo de arenito do Caiuá, com bons níveis de
produtividade (informações cedidas pela ALCOPAR).
66
Mapa 2 – Municípios paranaenses produtores de cana-de-açúcar – safra 2002/03
Fonte: ALCOPAR
Vale ressaltar que em 2003 o Paraná conta atualmente com 27 indústrias que
processam a cana, sendo 8 unidades produtivas destilarias autônomas e 19 usinas com
destilaria anexa. O Estado tem um destaque nacional em termos de produtividade média (78
t/ha na safra 2002/03 - a média nacional gira em torno de 69 toneladas), fato que reflete
diretamente nos avanços alcançados nas produções cana-de-açúcar e álcool, que o
proporcionou o segundo lugar em termos de produção nacional (sendo responsável por 7,53%
da produção canavieira e por 7,85% da produção alcooleira do País) e o terceiro lugar na
produção de açúcar (contribuindo com 6,55% no total brasileiro) - safra 2002/03
(HISTÓRICO produção Brasil, 2004; SEAB/DERAL, 2003). Ademais, estas unidades
industriais são responsáveis, quando em período de safra, pela geração de 70 mil empregos.
Municípios canavieiros
67
No ano de 2003, o setor movimentou cerca R$ 3 bilhões na economia estadual, recolhendo R$
550 milhões em impostos (PÓLOS, 2004).
Outro fato que merece ser destacado, conforme apresenta o Mapa 3, é a
localização das unidades produtivas. A grande maioria das usinas estão localizadas,
sobremaneira, no norte do Paraná.
Mapa 3 – Municípios onde estão localizadas as unidades produtivas da agroindústria
canavieira do Paraná, safra 2002/03
Fonte: ALCOPAR
No Paraná, embora sejam 27 unidades produtivas efetivamente catalogadas,
segundo ALCOPAR, observa-se, pela Tabela 8, os seguintes apontamentos: a família
Meneguetti possui 4 unidades coligadas; a Melhoramentos e a Jacarezinho são coligadas,
tendo uma diretoria em comum; e a família Rezende preside (é proprietária) duas usinas –
Destilarias Autônomas
Usinas Anexas
Alto
Alegre
Central PR
Cofercatu
Bandeirantes
Dacalda
Casquel
Iva té
Coocarol
Cocamar
Melhoramentos
Perobálcool
Goioerê
Sa b a rá l c o o l
Va le d o Iva í
Coopcana
Nova
Pr o d utiva
Corol
Cocari
Cooperval
Americana
Dail - Ibaiti
Usa c i g a
68
Sabarálcool e Perobálcool. Ademais, a Cooperativa Nova Produtiva, de Astorga, incorporou a
antiga Cocafé (SHIKIDA, 2001).
Tabela 8 – Unidades produtivas da agroindústria canavieira paranaense, municípios e
diretores
Unidades
Municípios onde estão
localizadas as unidades
Diretor Presidente* - Diretor
Superintendente** - Diretor ***
Sta. Terezinha Maringá Ágite Meneguetti **
Ivaté Ivaté Ágite Meneguetti **
São José Paranacity Ágite Meneguetti **
Julina Tapejara Ágite Meneguetti **
COOPCANA São Carlos do Ivaí Anísio Tormena *
Vale do Ivaí São Pedro do Ivaí Carlos Alberto Longo *
COCARI Marialva Décio Bacelar *
COROL Rolândia Eliseu de Paula *
Usaciga Cidade Gaúcha Fiorenço Barêa *
Jacarezinho Jacarezinho Gastão de Souza Mesquita et al. ***
Melhoramentos Jussara Gastão de Souza Mesquita et al.***
COOPERVAL Jandaia do Sul Hélcio Rabassi *
COPAGRA Nova Londrina Ivan Chiamulera *
Central do Paraná Porecatu Jorge Wolney Atalla *
Cooperativa Nova Produtiva Astorga José Carlos de Carli*
COFERCATU Florestópolis José Otaviano de Oliveira Ribeiro *
COOCAROL Rondon Luiz Carlos Barranco Marega *
COCAMAR São Tomé Luiz Lourenço *
Alto Alegre Colorado Oscar Figueiredo Filho **
Dail Ibaiti Reinaldo Martin Ferrari ***
Goioerê Moreira Sales Reinaldo Massao Okamoto **
Sabarálcool Engenheiro Beltrão Ricardo Albuquerque Rezende *
Perobálcool Perobal Ricardo Albuquerque Rezende *
Bandeirantes Bandeirantes Serafim Meneguel *
Dacalda Jacarezinho Sérgio Roberto Fioravante ***
Casquel Cambará Thereza de Jesus Silva Casquel *
Americana Nova América da Colina Wilson Baggio *
Fonte: Compilado de informações primárias das próprias unidades pesquisadas, ALCOPAR e Anuário
Jornalcana (2000), SHIKIDA (2001)
Em todo o Estado, apenas cinco regiões, consideradas pólos, detêm 80% de
toda a matéria-prima consumida pelas usinas e destilarias. Pela ordem, em tamanho de área
cultivada, estão Umuarama, Maringá, Jacarezinho, Paranavaí e Londrina (Tabela 9). Percebe-
se uma distribuição relativamente uniforme das áreas no Estado, fruto da adequação de
interesses conjuntos entre Governo–Cooperativas–Empresas–Produtores, com relação ao uso
69
do solo e o impacto na produção regional de alimentos (SEAB/DERAL, 2003; PÓLOS,
2004).
Tabela 9 - Distribuição espacial da área e da produção de cana-de-açúcar no Estado do Paraná
– 2002
Região Área (ha) % no Paraná Produção (t) % no Paraná
Umuarama 88.400 24,8 6.895.200 23,9
Maringá 54.000 15,1 4.185.000 14,5
Jacarezinho 44.603 12,5 3.920.710 13,6
Paranavaí 44.324 12,4 3.500.000 12,2
Londrina 38.549 10,8 3.739.253 13,0
Cornélio Procópio 37.800 10,6 2.960.925 10,3
Campo Mourão 18.000 5,0 1.440.000 5,0
Ivaiporã 11.036 3,1 927.631 3,2
Apucarana 10.725 3,0 795.093 2,8
Total 347.437 97,4 28.363.812 98,5
Paraná 356.560 100,0 28.800.316 100,0
Fonte: SEAB/DERA,L, 2003
Com cerca de 88,4 mil hectares, a região de Umuarama concentra a maior
área plantada com a cultura da cana-de-açúcar no Paraná, o que se deve à operação de várias
usinas em municípios próximos. Além da filial da Sabarálcool em Perobal, encontram-se
naquela região as unidades do Grupo Santa Terezinha, em Ivaté (Usina Ivaté), e Tapejara
(Julina), a Usaciga, em Cidade Gaúcha, e a Goioerê, em Moreira Salles. Maringá e municípios
vizinhos têm ocupado 54 mil hectares com cana e as unidades industriais que ali atuam são a
Santa Terezinha, em Iguatemi; Sabarálcool, em Engenheiro Beltrão; Vale do Ivaí, de São
Pedro do Ivaí; COOPERVAL, de Jandaia do Sul; COCARI, de Mandaguari: e Nova
Produtiva, de Astorga. Já a região polarizada por Jacarezinho soma 44,6 mil hectares,
destinados à movimentação das empresas Jacarezinho e Dacalda, ambas sediadas naquela
cidade, e Casquel, de Cambará. Paranavaí, em quarto lugar, é o epicentro de uma região que
conta com 44,3 mil hectares de cana, onde atuam a COPAGRA, de Nova Londrina;
COOPCANA, de Paraíso do Norte; COOCAROL, de Rondon; e São José, de Paranacity. Ao
70
redor de Londrina, que detém cerca de 38,5 mil hectares de canaviais, atuam a COROL de
Rolândia; Americana, de Nova América da Colina; e Usiban, de Bandeirantes.
A opção natural pela produção de açúcar, devido aos atrativos do mercado
internacional e segurança dos contratos, vem ocupando o espaço até então destinado ao
álcool. A função de produção se manifesta intensamente no período através das relações de
mercado e o comportamento dos preços internacionais da commodity açúcar. A economia
canavieira paranaense apresenta um dos melhores desempenhos de toda a produção vegetal,
no componente receita versus área (Quadro 1).
Quadro 1 – Evolução dos indicadores do setor sucroalcooleiro do Paraná em comparação com
o Brasil - 1996 a 2000
% de crescimento no período 1996-2002
Indicadores
Paraná Brasil
Área de cana em ha 25,4 9,78
Produção de cana em t. 20,3 14,7
Oferta de açúcar em t. 83,6 76,9
Oferta de álcool em m³ - 11,8 - 1,27
Exportação de açúcar em t. 237,5 146,4
Preço médio de açúcar exportado em US$/t - 46,2 - 47,3
Valor Bruto da Produção de cana a preços
constantes IGP (Índice Geral de Preços)
11,2 n.d.
Rendimento Lavoura (kg/ha) - 3,96 6,92
Fonte: IBGE; DECEX/SECEX apud SEAB/DERAL, 2003
A exportação de açúcar do Paraná cresceu de forma acelerada, passando de
60 mil toneladas, em 1992, para 1.003.619 toneladas, em 2002, e sua participação percentual
no total das exportações paranaenses saltou de 0%, em 1992, para 2,70%, em 2002 (Tabela
10). A representação maior dessas exportações concentra-se no açúcar bruto (77% em média),
que é, também, responsável pelo aumento do faturamento. Contribuiu para a elevação das
71
exportações, além de forma de comercialização via trading, o desenvolvimento dos meios de
transporte – ferroviário, rodoviário ou portuário –, que tiveram uma substancial melhoria e
evolução tecnológica. Tal aspecto contribuiu para uma redução nos custos de “fobagem”
(Free On Board - FOB), que atingiram US$ 32,00/toneladas, em 1995, e caiu para US$
11,00/tonelada, em 2000 (dados obtidos junto a ALCOPAR e SHIKIDA, 2001).
Tabela 10 - Evolução das exportações paranaenses de açúcar, 1992 a 2001
Exportações paranaenses de açúcar (X)
Em Toneladas Em US$ FOB (mil)
Ano
Bruto Refinado Total Bruto Refinado Total
% de X
no total
do PR
1992 60 0 60 91 0 91 0
1993 117 0 117 144 0 144 0
1994 156 31.850 32.006 253 9.763 10.016 0,29
1995 52.842 48.954 101.796 16.756 15.183 31.939 0,9
1996 297.189 189 297.378 84.661 68 84.729 2
1997 518.194 26.121 544.315 141.078 7.722 148.800 3,07
1998 632.462 211.935 844.397 133.434 46.389 179.823 4,25
1999 841.784 228.363 1.070.147 122.439 37.701 160.140 4,07
2000 638.589 126.986 765.575 113.033 25.620 138.653 3,16
2001 771.731 132.127 903.858 152.512 29.014 181.526 3,41
2002 851.760 151.860 1.003.619 128.550 25.371 153.921 2,70
Fonte: SECEX/DECEX elaborado pela ALCOPAR
*2003 - até abril
As usinas paranaenses responderam, em 2002, por 8% do volume
embarcado no País, ficando somente atrás de São Paulo (71%) e Alagoas (10%). Num total
são exportados normalmente 80% de toda a produção, apenas 20% ficam no mercado interno.
Entre os principais clientes estão a Rússia, Nigéria, Emirados Árabes, Egito e Canadá
(ALCOPAR/SIALPAR/SIAPAR, 2003a).
Nesta linha de entendimento, destacam-se os esforços liderados pelas
agroindústrias paranaenses na elaboração e compreensão do funcionamento das atividades de
exportação e no avanço da sua atuação nestas etapas. Outrossim, está em operação um
terminal exclusivo para o setor açucareiro do Paraná; com isto reduziram-se os custos de
72
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
35.000.000
40.000.000
7
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0
4
Safras
Mil toneladas, Mil sacas de 50 Kg e Mil metro
s
cúbicos
Prodão de cana mda
produção deúcar
produção de álcool total
“fobagem”. Este terminal denomina-se Paraná Operações Portuárias Ltda. – PASA –
Terminal de Açúcar à Granel – localizado no Porto de Paranaguá, com capacidade de
expedição de 1.000 t/h, capacidade de recepção de até 750 t/h, graneleiro de 60.000 toneladas
e calado do berço 32 pés (CARVALHEIRO, 2003). As usinas que constituem o capital
acionário no terminal são: Santa Terezinha, com participação de 40,472%; Vale do Ivaí, com
11,700%; Usaciga, 13,784%; Sabarálcool, 7,551%; COROL, 4,171%; Coopagra, 5,756%;
Goioerê, 7,402%; e, COOPERVAL, 9,164% (PASA é o antigo sonho realizado, 2003).
Pelo Gráfico 1, em que é comparada a evolução da produção total de açúcar,
álcool e cana-de-açúcar para o Estado do Paraná, nota-se que as produções de cana-de-açúcar
e açúcar apresentaram evoluções crescentes (taxa de crescimento geométrica de 8,59% ao
ano/safra e 10,87% ao ano/safra, respectivamente) salvo alguns anos-safra de quebra dessa
tendência (em particular da 2000/01); já para o álcool, houve um quadro evolutivo crescente,
com taxa menor que o açúcar (taxa de crescimento geométrica de 9,44% ao ano/safra).
Gráfico 1 – Produção total de cana-de-açúcar, açúcar e álcool do Estado do Paraná – 1979/80
a 2003/04
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004
73
Em se tratando do ambiente institucional, o Paraná possui algumas
entidades de classe representativas na agroindústria canavieira, difundidas a partir da
implantação do PROÁLCOOL, dentre as quais: a Associação de Produtores de Álcool e
Açúcar do Estado do Paraná (ALCOPAR), fundada em 13 de junho de 1981; a Associação
Profissional da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado do Paraná (SIAPAR),
reconhecida em 27 de agosto de 1985; e o Sindicato da Indústria do Álcool do Estado do
Paraná (SIALPAR), reconhecida pelo Ministério do Trabalho em 04 de julho de 1986.
O objetivo destas entidades de classe é, fundamentalmente, a prestação de
serviços à agroindústria canavieira, particularmente aos seus associados. Dentre os seus
serviços destacam-se: o acompanhamento a estudos e pesquisas destinadas ao aprimoramento
técnico da produção de cana, açúcar, álcool e seus derivados; a assistência técnica, jurídica e
econômica; a representação institucional dos sócios perante órgãos governamentais, federais,
estaduais, municipais, autarquias e outros; a manutenção de uma base de informação sobre a
expedição de leis, decretos, regulamentos, resoluções e atos do poder público, relativo à
política sucroalcooleira nacional; e, a promoção de simpósios, seminários, conferências e
encontros, com o escopo de discutir problemas afins (ALCOPAR e SHIKIDA & FRANTZ,
2002).
A produção canavieira tem um potencial de crescimento considerável
quando comparada a outros produtos da pauta nacional. Num trabalho realizado por Alves;
Shikida & Santos (1999), utilizando-se do instrumental shift-share, foi quantificado as fontes
de crescimento da produção agrícola paranaense de 1981 a 1998 (cana-de-açúcar vis-à-vis
seus principais competidores domésticos: algodão, café, soja e milho). Com este pode-se
inferir que a cana-de-açúcar apresentou o maior crescimento das produções verificadas,
9,51%, ocorrido devido ao aumento da área cultivada, diante de sua boa produtividade e do
impulso dado via PROÁLCOOL. As outras culturas que apresentaram taxa anual de
74
crescimento da produção positivas no período sob análise foram: a soja (1,84%); e o milho
(1,10%). Ao revés, as culturas de algodão e café apresentaram declínio, com taxas de -6,87%
e -10,65%, respectivamente.
Entretanto, o destaque da agroindústria canavieira não está somente na
produção de açúcar e álcool; com a crescente utilização de estratégias tecnológicas as
pequenas, médias e grandes plantas existentes na agroindústria estão direcionando especial
para a questão da P&D internas à firma e, conseqüentemente, conseguindo aproveitar
relativamente bem seus subprodutos, o que denota um ambiente em que se procura
maximizar a produção, dando finalidades econômicas a subprodutos outrora descartados:
bagaço - co-geração, torta de filtro - adubação, vinhoto - irrigação, óleo fusel - adubação, CO
2
e leveduras – fabricação de fermento (ALVES & SHIKIDA, 1999).
No ano de 2001, o ambiente do mercado - tanto o doméstico quanto o
internacional, contribuiu para maior interação entre governo e setor privado. Ocorreram
avanços em diferentes e importantes áreas: ações e estudos no sentido de viabilizar a
utilização do álcool anidro em mistura com o óleo diesel como aditivo redutor do nível de
emissão de poluentes; debates e estudos focando alternativas para a utilização do álcool
combustível, em especial, o carro bi-combustível (que poderá ser movido por álcool, ou
gasolina, ou qualquer combinação de mistura de ambos) e o carro movido a célula de
combustível (uma tecnologia ainda em fase inicial de desenvolvimento, mas com resultados
altamente promissores) (ALCOPAR/SIALPAR/SIAPAR, 2003).
Com vistas na melhora deste ambiente institucional, os governadores do
Paraná, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Espírito Santo, Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e
Sergipe, se uniram e formaram a “Coalizão de Governadores Pró-Etanol Brasileiro”, voltada a
criar mecanismos de apoio para a atividade sucroalcooleira. Esta coalizão foi constituída para
75
formalizar as articulações de caráter político e institucional em conjunto com o Governo
Federal visando apoiar o setor sucroalcooleiro, ou seja, são os primeiros passos para a
discussão do retorno do PROÁLCOOL (ALCOPAR/SIALPAR/SIAPAR, 2003b).
Esses fatos vêm de encontro com a realidade nacional, pois, o Brasil possui
um custo de produção de açúcar considerado baixo se comparado com os demais países.
Neste sentido, a Austrália tem um custo estimado de US$ 171,55, a Colômbia de US$ 182,10,
a África do Sul de US$ 193,00, e a Tailândia de US$ 195,30, dentre os países mais
competitivos (abaixo da faixa de US$200,00/toneladas métricas). Internamente observa-se
que o Paraná apresenta um custo estimado de US$ 132,00 por tonelada métrica, seguido de
São Paulo (US$ 139,50) e do Nordeste (US$ 170,00), fato que o torna competitivo e com
vantagens em relação aos demais produtores (dados fornecidos pela ALCOPAR).
De modo geral, conforme retratado nesta parte histórica do estudo, a
agroindústria canavieira no Paraná, que contou com o suporte do PROÁLCOOL para se
projetar no cenário nacional, realça-se, em nível nacional e mundial, pela sua dinâmica de
crescimento calcada no nível tecnológico de seus estabelecimentos produtivos, sendo
competitiva aos padrões de concorrência vigentes no País (SHIKIDA, 2001).
4 DESENVOLVIMENTO LOCAL X PRODUÇÃO AÇUCAREIRA PARANAENSE
4.1 Caracterização de Desenvolvimento Local
Desenvolvimento econômico é um tema que obteve destaque somente no
século XX, mas seu conceito está aquém de ser delimitado. Muitos autores se dedicaram a dar
uma visão acerca deste tema, entre os quais cita-se: Castells (1983); Haddad (1989), Boiser
(2000), Buarque (1999), Arocena (1997), entre outros.
No entanto, existem aproximações que são aceitas, em que autores
sustentam, que o desenvolvimento é, acima de tudo, um processo qualitativo de mudança
estrutural, histórico em sua essência, não apenas porque leva tempo para se materializar, mas
porque configuram uma evolução entre duas ou mais situações estruturalmente diversas.
Na lexicologia, Sandroni (2002) define desenvolvimento como sendo o
crescimento econômico (aumento do produto per capita de um país ou de uma região),
acompanhado por efetivas melhorias do padrão de vida da população e por alterações
fundamentais na estrutura de sua economia, o que segundo o autor acarreta a necessidade de
se assumir que o desenvolvimento é um processo de transformação estrutural no qual os
indivíduos da nação ou região sob análise têm efetiva participação e realmente sentem os
resultados do mesmo, implicando necessariamente em elevação de sua qualidade de vida.
Souza (1999), retrata que o desenvolvimento é determinado pela existência
de crescimento contínuo em um ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo
mudanças de estruturas e melhorias de indicadores econômicos e sociais. Compreende um
fenômeno de longo prazo, implicando o fortalecimento da economia nacional e regional. Ou
77
ainda, que o desenvolvimento deve ser entendido como um processo de aprimoramento das
condições gerais de vida em sociedade, ou seja, de mudança social e de mudança na
organização espacial que ampara as relações de dependência entre as regiões.
Quando se procura compreender um processo de desenvolvimento, muitas
vezes nos deparamos com limites relativos à capacidade de mensurar tal processo, pois, se se
considerar o fato de que a definição de desenvolvimento abrange muitos elementos, dada a sua
amplitude, verifica-se que a abordagem atual do termo é complexa. E se, a estas dificuldades,
próprias da visão holística do termo, forem agregados os indicadores econômicos e sociais,
como elementos componentes da questão (o que realmente são), percebe-se, de forma ainda
mais clara, a complexidade do problema. Vale destacar que não é intuito deste trabalho
explicar detalhadamente o conceito de desenvolvimento, mas contrapor a sua relação com
local.
Às novas estratégias de desenvolvimento que surgem está atrelado o papel
da ciência e tecnologia (C&T), uma vez que se insere nas diferentes dimensões do
desenvolvimento regional. São muitos os pontos do território nacional que estão demandando
apoio às suas variadas tentativas de reestruturação produtiva dos setores agroindustriais,
trazendo novas técnicas de gestão e novos processos tecnológicos. O que se busca com o
desenvolvimento regional é a competitividade dinâmica de empresas e de regiões. É, em
síntese, o melhor equilíbrio no desenvolvimento interno. Dessa forma, as potencialidades do
desenvolvimento de uma região podem estar ligadas ao nível de tecnologia adotada no
processo agroindustrial (ROLIM, 1995).
No entanto, quando se menciona à dimensão regional, tem-se outro
elemento importante que é o espaço. O espaço passa hoje a desempenhar um papel crucial
para se pensar em desenvolvimento, pois a própria sociedade só é concreta com o espaço,
sobre o espaço, no espaço. Desse modo, é quase que impossível transformar as relações
78
sociais sem modificar o espaço social que as condiciona, ou pensar que a sociedade mudará se
as formas e estruturas espaciais mudarem. Portanto, é de grande importância dar atenção ao
desenvolvimento local, pois o localismo teria plenas condições de impulsionar o
desenvolvimento via descentralização, democratização social, participação social, justiça
social e vitalidade econômica (FROELLICH, 1998).
Conforme afirma Martinelli & Joyal (2004), todo o desenvolvimento é
local, seja ele um distrito, uma localidade, um município, uma região, um país ou uma parte
do mundo. A palavra local não é sinônimo de pequeno e não se refere necessariamente à
diminuição ou redução. Com isso, o conceito de local adquire uma conotação sócio-territorial
para o processo de desenvolvimento, quando esse processo é pensado, planejado, promovido
ou induzido. Porém, os autores no Brasil, em geral, quando pensam em desenvolvimento
local, fazem referência a processos de desenvolvimento nos níveis municipais ou regionais,
delimitando assim um espaço geográfico menor. Dessa forma, associa-se, geralmente, "local"
a idéia de proximidade geográfica, a um espaço menor do que "regional", da dimensão de um
conselho ou de um conjunto de conselhos e de alguma forma coincidindo com uma
determinada "bacia de emprego" ou com uma área de forte inter-relação territorial entre
empresas e dentro da qual ocorrem deslocações pendulares casa-trabalho de grande número
de pessoas (MELO, 2002).
Entretanto, Buarque (1999, p.23) um dos especialistas que se atreve a definir
o desenvolvimento local, retrata que este “é um processo endógeno registrado em pequenas
unidades territoriais e agrupamentos humanos capazes de promover o dinamismo econômico
e a melhoria da qualidade de vida da população”. Além disso, mostra que apesar de
constituir um movimento de forte conteúdo interno, o desenvolvimento local está inserido em
uma realidade mais ampla e complexa com a qual interage e da qual receber influencias e
pressões positivas e negativas.
79
O termo local ganhou status estratégico nas economias das nações,
alcançando uma importância vital no tecido econômico, pois, através deste, pode-se destacar a
presença do desenvolvimento das potencialidades individuais, e não globais. Outrossim, para
tornar dinâmica uma potencialidade, é necessário identificar as vantagens que uma localidade
apresenta em relação a outras, tentando verificar quais são as verdadeiras vocações daquela
comunidade. Porém o foco no desenvolvimento econômico não é o bastante. É fundamental
conseguir estimular os demais fatores que afetam o desenvolvimento em termos das
perspectivas sociais, culturais, políticas, morais e éticas (MARTINELLI & JOYAL, 2004)
O desenvolvimento local é considerado um modo de promover o
desenvolvimento que leva em conta o papel de todos os fatores acima apontados, de forma a
tornar dinâmicas as potencialidades que possam ser identificadas, quando se observa uma
determinada unidade sócio-territorial.
Neste contexto vale destacar o conceito genérico de desenvolvimento local
ressaltado por Buarque (1999, p. 25), em que,
desenvolvimento local pode ser aplicado para diferentes cortes territoriais e
aglomerados humanos de pequena escala, desde a comunidade (...) até o município
ou mesmo microrregiões homogêneas deporte reduzido. O desenvolvimento
municipal é, portanto, um caso particular de desenvolvimento local com uma
amplitude espacial delimitada pelo corte político-administativo do município.
A capacidade de um território ser competitivo ou pelo menos, de minorar a
sua falta de competitividade, reside no comportamento dinâmico das suas organizações e
empresas. Como todos, depois de Schumpeter, sabe-se, é a falta deste “espírito de empresa” –
ou empreendedorismo – que está por detrás da maioria das situações problemáticas que algum
território parecem, não conseguir ultrapassar. As empresas não são, no entanto, entidades
desligadas do particular contexto social e da “atmosfera industrial, de negócios ou atividade
80
econômica”, como lhe chamou Alfred Marshall, que cada território produziu na sua trajetória
histórica (MELO, 2002).
A matriz principal que está subordinado a idéia de desenvolvimento local é
o do “desenvolvimento a partir de baixo”. Embora um pequeno território possa crescer e
desenvolver-se a partir de impulsos “vindos de cima” ou “de fora”, como acontece quando o
processo de crescimento é liberado por agentes econômicos (públicos ou privados) de âmbito
espacial (por exemplo, quando se localiza no território uma grande empresa ou uma grande
infra-estrutura pública). É “a partir de baixo” (ou “dentro”) que a questão das políticas de
desenvolvimento local costuma ser posta (MELO, 2002).
A localização de uma grande empresa num determinado território constitui
um impulso exógeno para a melhoria de vida dos seus residentes (mais emprego, mais
rendimento, etc.) esse processo nunca será inteiramente externo ao território: basta reparar na
própria escolha desse território em detrimento de outros dependentes, em boa medida das suas
características intrínsecas (e de processo endógenos).
Além disso, Singer
4
(1976) apud Rippel (2005), sustenta, que a empresa tem
necessidade de se utilizar uma infra-estrutura de produção e de serviços já previamente
estabelecida e especializada, fator que lhe que permite desfrutar e usufruir “economias
externas – ou seja, de estruturas econômico-produtivas já estabelecidas” que redundam em
ganhos de escala. Genericamente falando, os ganhos de escala são os que a empresa passa a
obter por vantagens competitivas que consegue por se inserir numa região onde já se fazem
presentes muitos dos serviços que utilizará.
Contudo,
4
SINGER, P. Migrações internas: considerações teóricas sobre seu estudo. In: Economia política da
urbanização. São Paulo : Editora Brasiliense, 4 edição 1976.
81
O processo de industrialização não consiste apenas numa mudança de técnicas de
produção e numa diversificação maior de produtos, mas também numa profunda
alteração da divisão social do trabalho.(...) A aglomeração espacial da atividade
industrial se deve à necessidade de utilização de uma mesma infra-estrutura de
serviços especializados (de energia, água, esgotos, transporte, comunicações, etc.)
e às economias externas que decorrem da complementaridade entre os
estabelecimentos industriais. Para reduzir os custos de transporte que
consubstanciam estas economias externas, as empresas que realizam intenso
intercâmbio de mercadorias tendem a se localizar próximas umas às outras. Surge
daí a cidade industrial. Uma vez iniciada a industrialização de um sítio urbano, ele
tende a atrair populações de áreas geralmente próximas. O crescimento
demográfico da cidade torna-a, por sua vez, um mercado cada vez mais importante
para bens e serviços de consumo, o que passa a constituir um fator adicional de
atração de atividades produtivas que, pela sua natureza, usufruem de vantagens
quando se localizam junto ao mercado de seus produtos. Tal é o caso das
indústrias de bens de consumo não durável, dos serviços de consumo coletivo
(escolas, hospitais, etc.), de certos serviços de produção (comércio varejista) e
assim por diante (SINGER, 1976, p. 32, apud RIPPEL, 2005).
A empresa não é apenas uma realidade atomística sem história e que navega
livremente pelo espaço em busca dos melhores fatores produtivos. As empresas estão ligadas
ao território que as envolve, pois dependem, para serem eficientes e competitivas, de
condições que são externas à empresa, mas são internas a esse espaço. A competitividade de
uma empresa depende: da quantidade e qualidade e aptidões produtivas da mão-de-obra que
no território se forma (ou que por ele é atraída); do modo como se partilham e difundem nesse
território as inovações; das redes de fornecedores e clientes que aí se desenvolveram; da
imagem externa que o território construiu; da prevalência de valores como honradez nos
negócios; e, da manutenção de um clima favorável para os negócios.
Nas teorias do desenvolvimento local, o desenvolvimento econômico
depende de incrementar a produtividade através da melhoria dos fatores produtivos, mais do
que aumentar o uso desses fatores em aglomerações locais de empresas. A estratégia do
desenvolvimento passa por criar as externalidades - as condições ambientais em cada
localidade - que vão propiciar o incremento da produtividade e competitividade das empresas.
A construção desse ambiente envolve a criação de infra-estrutura física; a melhoria na
escolarização e qualificação da mão-de-obra; a redução dos custos de transação; o
82
estabelecimento de parcerias estratégicas com fornecedores, clientes e concorrentes; a
disponibilização de crédito, inclusive o micro-crédito e o impulso à inovação, Pesquisa &
Desenvolvimento de novos processos, produtos e técnicas de gestão. O fundamental é
desenvolver relações locais de cooperação e concorrência como forma de obter a eficiência
coletiva em uma estratégia de desenvolvimento construída de baixo para cima (CAMPOS,
2003). Vale destacar que não se deve confundir o desenvolvimento local com o endógeno,
este último nasce da idéia de desenvolvimento territorial, ou seja, é um meio par ativar o
potencial de cada território e aumentar sua competitividade. Como ressalta Garafoli
5
(1995)
apud Boiser (2000),
desarrollo endógeno significa, en efecto, la capacidad para transformar el sistema
sócio-económico; la habilidad para reaccionar a los desafíos externos; la
promoción de aprendizaje social; y la habilidad para introducir formas específicas
de regulación social a nivel local que favorecen el desarrollo de las características
anteriores. Desarrollo endógeno es, en otras palabras, la habilidad para innovar a
nivel local
.
Entretanto, todo o processo de desenvolvimento endógeno está vinculado ao
desenvolvimento local de uma maneira assimétrica: o desenvolvimento local é sempre um
desenvolvimento endógeno, mas este pode encontrar-se em escala supra locais, como em
escala regional por exemplo (BOISIER, 2000).
São elementos centrais nessa estratégia de desenvolvimento local o
fortalecimento dos laços de confiança entre os agentes locais (empresários, governo e força de
trabalho) na formação do chamado capital social e a construção de uma sólida articulação
político-institucional.
Parece estranho pensar e escrever sobre o local quando só se falam em
globalização, blocos, macro-políticas. Na verdade, é preciso entender que quanto mais a
5
GARAFOLI, G. Desarrollo econômico, organización de la producción y território. In: A. VÁSQUEZ-
BARQUERO, G. GARAFOLI, G. (ed.) Desarrolo económico local en Europa. Madrid, colégio de Economistas
de Madrid, 1995. (economistas Libros)
83
economia se globaliza mais a sociedade tem também necessidades em criar suas âncoras
locais. Entretanto, em um pequeno território o grau de abertura da economia é muito elevado,
isto é, são muito importantes os fluxos de fatores produtivos, de bens e serviços e os contatos
com os territórios vizinhos, com os quais partilha, em geral, muitas características
economicamente relevantes (o enquadramento institucional, as regras de funcionamento dos
mercados, a estrutura lingüística e cultural, etc.).
De acordo com Buarque (1999) o local dentro da globalização é uma
resultante direta da capacidade de os atores e de a sociedade local se estruturarem e se
mobilizarem, com base na suas potencialidades e na sua matriz cultural, para definir e
explorar suas prioridades e especificidades, buscando a competitividade num contexto de
rápidas e profundas transformações.
Além disso, a idéia fundamental do "desenvolvimento local" e das políticas
que tem por objetivo promovê-lo é, assim, a de que mesmo num mundo onde os espaços
econômicos e os territórios estão muito interligados e são muito interdependentes há alguma
margem de manobra para um pequeno território desvendar e fortalecer processos de melhoria
das condições de vida dos seus habitantes. Essa margem de manobra própria constitui o motor
endógeno do crescimento.
4.2 Desenvolvimento da Agroindústria no Paraná
Segundo Macedo et al. (2002), as fases do desenvolvimento regional
paranaense, conforme sua história, podem ser referenciadas, cada uma em seu tempo,
simplificadas por várias interpretações da economia paranaense, conforme o Quadro 2. No
início do século XX, a indústria do Paraná mantinha-se atrelada aos recursos naturais, como a
erva-mate e a madeira.
84
Quadro 2 – Fases do desenvolvimento regional paranaense
Economia do Mate
Economia Periférica à de São Paulo
- expansão da economia cafeeira
Industrialização complementar à do núcleo dinâmico (São Paulo)
- expansão da metal-mecânica e da agroindústria
- modernização da indústria tradicional (madeira, papel, alimentos, etc.)
Integração à Rede de Núcleo Dinâmicos da Economia Brasileira
- forte diversificação da estrutura industrial e adensamento das relações interindustriais.
Fonte: MACEDO et al. (2002)
A economia do Paraná desenvolveu-se historicamente quase que
exclusivamente em função de estímulos externos – sejam eles de origem nacional ou
internacional, sendo que até o término da terceira década do século XX o Estado do Paraná
não passava de uma economia periférica no sistema econômico brasileiro. O Estado ocupava
uma posição de dependência em relação ao Estado de São Paulo no início de seu
desenvolvimento econômico, pois seu motivador principal de desenvolvimento e integração, a
cultura de café, estava ligado à economia paulista (PADIS, 1981).
Com o crack da bolsa de 1929 e a subseqüente crise mundial, a exportação
de café pelo Brasil e a importação pelas economias centrais são inviabilizados pela falta de
capital. Porém, essa crise mundial teve o efeito de impulsionar positivamente a
industrialização interna do País, que foi concentrada basicamente em São Paulo devido a
acumulação gerada pela cafeicultura, que além de capital formou uma classe de empresários
que se preocupavam com todo o processo de produção e pela existência de mão-de-obra e de
um mercado consumidor para os produtos produzidos internamente. O restante dos estados
chamados periféricos, por não apresentar qualificação para industrializar-se por razões
85
históricas (falta de competitividade), não se integraram de imediato no processo de
industrialização (CASIMIRO FILHO & SHIKIDA, 1999).
Este movimento da economia local acarretou o surgimento de grande
agitação econômica no Estado, principalmente na região norte, essencialmente motivado pela
expansão da cafeicultura, pois a partir de 1945 os cafezais se estenderam por toda a região
norte, garantindo ao Paraná o primeiro lugar entre os produtores nacionais. Este processo,
desencadeado no início do século XX e consolidado até a década de 1930, atraiu para a região
um grande contingente de imigrantes - notadamente paulistas e mineiros –, com a intenção de
ocupar e explorar a nova área produtora do "ouro verde", o café (PADIS, 1981). A economia
paranaense, através da cultura do café no Norte do Estado, absorveu os efeitos dessa
industrialização concentrada de São Paulo como economia dependente do centro dinâmico
brasileiro.
Entretanto, o Estado, por apresentar uma economia fraca, marcada pela falta
de infra-estrutura (estradas, energia elétrica) e incentivos, somada à forte hegemonia da
indústria paulista, deixava que os investimentos dos excedentes econômicos fossem
canalizados para a indústria paulista.
Já no final da década de 1940 e início dos anos 50 praticamente se encerrava
a expansão da cafeicultura do Estado, época em que as poupanças paranaenses começavam a
demandar outras atividades econômicas mais rentosas. Intensificou-se, assim, a transferência
de capitais do Estado para outras regiões do País. Todavia, por essa época, um fenômeno
interessante ocorria dentro do território do Estado: a ocupação do sudoeste (que em sua
classificação abrange a região sudoeste e oeste do Estado).
O incremento acelerado e constante dos excedentes agrícolas favoreceu uma
revolução das forças produtivas. Sendo esta acumulação econômica suficiente para dar a
sustentação ao processo de desenvolvimento industrial da agricultura e das agroindústrias. O
86
desenvolvimento do setor rural e a abertura de estradas possibilitaram maior integração
regional e ampliação do mercado. As plantações de café do Norte paranaense foram cedendo
espaço para as culturas mais dinâmicas, voltadas para a exportação e ligadas aos complexos
agroindustriais, sendo novas áreas incorporadas no Estado como um todo, acarretando a
expansão de novas fronteiras agrícolas.
Apesar do processo de dependência econômica com relação a São Paulo ter
atrasado o desenvolvimento e crescimento industrial do Paraná, não se podem negar os efeitos
positivos dessa ligação com as regiões cafeicultoras do Estado (Norte e Centro-Oeste), pois os
atuais investimentos industriais se devem à acumulação gerada naquele período.
No Paraná a indústria cresceu em 1970 em segmentos específicos e com
pouca amplitude, sendo assim, pouco expressiva em nível nacional e no próprio Estado.
Entretanto, no decorrer dos anos noventa o Estado do Paraná dinamizou e diversificou a sua
base de exportação, atraindo novos investimentos tanto para o setor industrial como para o
setor de agroindustrial, tendo capacidade de absorver parcela relevante tanto da
desconcentração da indústria nacional quanto das novas inversões, e isso pode ser observado
na Tabela 11, que mostra a projeção do crescimento de 6,0% a.a. do PIB estadual entre 1995-
2005, crescimento esse que está acima da taxa da década de 90.
Tabela 11 – Taxa de crescimento anual do PIB, no Paraná e no Brasil – 1970/2005
Períodos Paraná (%) Brasil (%)
1975-80 13,0 7,1
1980-85 2,4 1,1
1985-90 3,3 1,9
1990-94 4,9 2,3
1995-2005
(1)
6,0 5,0
Fonte: ROLIM, 1995
(1) Projeção média elaborada pelo IPARDES
87
Em se tratando da agricultura, no ano de 1970 ocorreu ao inverso da
indústria, pois nesta época já se mostrava extremamente dinâmica e diversificada, pois estava
integrada ao núcleo capitalista da economia brasileira, voltada ao abastecimento do mercado
nacional e à exportação. Entretanto, houve neste período importantes mudanças qualitativas
nas atividades agrícolas e industriais, dentre as quais citam-se: a introdução da mecanização,
de commodities internacional (como a soja, o açúcar, o café, etc.) e a integração entre a
agropecuária e a indústria (PIFFER, 1997).
Dessa forma, o Paraná buscou para si algumas necessidades dos grandes
grupos açucareiros paulistas (ATTALA, principalmente). Estes aproveitaram as condições
favoráveis de solo e clima e a proximidade geográfica com o Estado do São Paulo, para o
desenvolvimento da cultura canavieira, visto que nesse período a economia cafeeira estava em
crise e os agricultores da região necessitavam de um melhor aproveitamento das terras, com
culturas que propiciassem retornos vantajosos (SHIKIDA, 2001). Além disso, havia um
desequilíbrio entre a oferta e a demanda de açúcar.
No entanto, conforme ressaltado anteriormente, a cultura da cana ganhou
ênfase no Estado através das benesses concedidas pelo Governo Federal para a
implementação do PROÁLCOOL, sendo um dos estados mais destacados em termos de
absorção de recursos desse Programa.
Dessa forma, houve uma considerável expansão da produção
sucroalcooleira no Paraná a partir do PROÁLCOOL, alterando significativamente o espaço
agrícola estadual. A agroindústria canavieira paranaense apresenta-se no cenário nacional
como de perfil moderno, sendo superada apenas por São Paulo (SHIKIDA, 1997).
A extinção do IAA e a arrefecimento do PROÁLCOOL, em 1990,
representaram o marco das novas relações entre o setor agroindustrial do açúcar e do álcool e
o Estado brasileiro. As usinas buscam ajustar-se às normas ambientais e investir em modernos
88
processos de produção. Ademais, a fragilização da agroindústria canavieira, dada pelas crises
financeira e fiscal do Estado nas décadas de 1980 e 1990, as variações dos mercados do
açúcar e do álcool, e a desregulamentação do setor contribuíram, entre outros aspectos, para a
indefinição da política industrial do álcool combustível, enquanto componente da matriz
energética brasileira, e pôs fim aos subsídios que acompanhavam este produto. Nesse cenário,
alguns produtores optaram pelo maior desenvolvimento das capacidades tecnológicas de suas
estruturas produtivas, seja no âmbito da operação, do investimento e/ou da inovação,
demarcando uma outra dinâmica nesse processo de evolução da agroindústria canavieira no
Brasil e, em particular, no Paraná.
5 DESENVOLVIMENTO DAS MESORREGIÕES PARANAENSES
A mesorregião geográfica é conceituada como a área individualizada em uma
unidade da federação que apresente formas de organização do espaço definidas pelas
seguintes dimensões: as características sociais e a localização das atividades produtivas como
elementos de articulação espacial. Esses elementos são construídos num processo histórico e
na dinâmica regional das atividades produtivas. Eles dão a mesorregião uma identidade
regional (PIACENTI et al., 2003).
Entretanto, utilizam-se para estudos o recorte territorial das “mesorregiões
geográficas”, definidas pelo IBGE em 1976, que adotou, como critério fundamental definidor,
a estrutura produtiva. Segundo o IBGE, estes recortes visam traduzir, ainda que de maneira
sintética, as diferenças na organização do território nacional quanto às questões sociais e
políticas. Oferecem possibilidades de agregação das informações do âmbito dos municípios
para unidades maiores (IPARDES, 2003c). As mesorregiões geográficas, cujos limites se
mantêm praticamente inalterados, a despeito da dinâmica de emancipação de municípios,
possibilitam a recomposição de séries históricas. Sua concepção, sob critérios idênticos para
todo o território nacional, vem dando suporte a estudos sobre diferentes temáticas em todas as
unidades da federação.
O Paraná tem seus municípios organizados em dez mesorregiões geográficas
(conforme Mapa 1 apresentado na metodologia e Tabela 1).
90
Tabela 12 - Indicadores selecionados para as mesorregiões geográficas paranaenses – 2000
Mesorregião
nº de
municípios
População
total
Taxa cresc.
Pop. 1991-
2000 (%)
Grau de
urbaniza-
ção
Participação no
valor adicionado
fiscal do Estado
Taxa de
desemprego
Noroeste 61 641.084 -0,25 77,3 3,7 10,7
Centro Ocidental 25 346.648 -1,24 72,6 2,2 13,7
Norte-Central 79 1.829.068 1,24 88,4 14,3 12,4
Norte Pioneiro 46 548.190 -0,15 75,1 2,8 11,9
Centro Oriental 14 623.356 1,46 81,2 7,6 14,1
Oeste 50 1.138.582 1,28 81,6 13,8 12,8
Sudoeste 37 472.626 -0,13 59,9 3,5 8,4
Centro-Sul 29 533.317 0,69 60,9 3,9 11,5
Sudeste 21 377.274 0,89 53,6 2,3 9,0
RCM 37 3.053.313 3,13 90,6 45,9 14,7
Paraná 399 9.563.458 1,4 81,4 100 12,8
Fonte: IBGE – Censo Demográfico, SEFA
Nota: Dados trabalhados pelo IPARDES
Essas mesorregiões são heterogêneas em termos de composição municipal,
populacional, grau de urbanização, dinâmica de crescimento, participação na renda da
economia do Estado e empregabilidade, como ilustram seus indicadores gerais da Tabela 12.
As mesorregiões que possuem o maior número de municípios são a Norte-Central e a
Noroeste, entretanto, grande parte destes são pequenos. Assim, em termos de população, a
região metropolitana de Curitiba (RMC), apesar de contar com 37 municípios, é a maior e
com maior grau de urbanização.
Nesta conjuntura, o desenvolvimento recente do Estado tem a marca da
intensa modernização da base produtiva e da sua concentração em alguns pólos regionais,
definindo os contornos dessas disparidades tanto entre regiões como internamente às mesmas.
Disparidades que se revelam nos movimentos da população e nos indicadores econômicos e
sociais, frutos da capacidade de superação de obstáculos naturais, enfrentamento de crises e
otimização de recursos para inserção na dinâmica produtiva paranaense.
91
Produção (t)
32,10%
7,44%
32,80%
26,81%
0,21%
0,2
3
%
0,4
0
%
Noroeste Norte Central Norte Pioneiro Centro Ocidentral Oeste Sudoeste Outros
Área (ha)
34,96%
31,77%
24,04%
7,73%
0,
7
6%
0,
37%
0,3
8
%
Diante deste contexto, o Estado do Paraná aparece com uma dinâmica de
crescimento calcado nos seus padrões produtivos de competitividade, para todo o segmento
produtivo da cadeia do agronegócio. Neste sentido, na conjuntura rural do Paraná, que
começa pela sua própria história econômica baseada nos ciclos da erva-mate, da madeira e do
café, está o verdadeiro foco da ação extensionista oficial. Deve-se levar em conta as
mudanças ocorridas no campo em meados da década de 1970 e que fazem parte da base
estrutural da produção agropecuária atual: redução das áreas cafeeiras pelo incremento na
produção de grãos e conseqüente instalação do parque de processamento de cereais e
oleaginosas, e o processamento da cana-de-açúcar para a transformação em álcool e açúcar,
além da ampliação das áreas de pastagens.
O Gráfico 2 demonstra a produção e a área ocupada com a agroindústria
canavieira, destacando as mesorregiões Norte-Central e Noroeste que detêm o maior
percentual de área (objeto deste estudo).
Gráfico 2 - Participação das mesorregiões na produção e na área de abrangência da cana-de-
açúcar – 2001/02
Fonte: ALCOPAR
92
Em temos de produção da agroindústria canavieira, o Paraná destaca-se em
nível nacional pela sua dinâmica tecnológica aliada as condições edafo-climáticas favoráveis
à produção dessa cultura. Nesta atividade, na safra 2003/04, o Estado obteve um destaque
significativo, sendo o segundo maior produtor nacional, perdendo, apenas, para o Estado de
São Paulo. Outrossim, as unidades processadoras de cana-de-açúcar estão distribuídas em
quadro mesorregiões (Noroeste com 10 empresas, Norte-Central com 9, Centro-Ocidental
com 2 e Norte Pioneiro com 6).
Dessa forma, torna-se necessário realizar uma caracterização sócio-
econômica das mesorregiões Norte-Central e Noroeste, destacando as usinas e/ou destilarias
presentes nelas. No entanto, vale ressaltar que a mesorregião Noroeste será fonte deste estudo
apenas por ter presente em seu território as 4 filiais da Usina Santa Terezinha. Já na
mesorregião Norte-Central buscou-se analisar todas as 9 empresas, mas, dessas, 3 empresas
não permitiram a pesquisa devido a burocracias internas.
5.1 - Caracterização Sócio-Econômica da Mesorregião Norte-Central
A Mesorregião Norte-Central Paranaense teve seu espaço produzido
originariamente por frentes pioneiras oriundas de Minas Gerais e São Paulo no séc. XIX,
ainda que as primeiras entradas foram do exército com o aparecimento da colônia militar de
Jataí (1855), para a proteção contra as tropas paraguaias de Solano Lopes (ROCHA, 2004).
A história da ocupação em larga escala da maior parte dos municípios que
compõem a mesorregião Norte-Central Paranaense, deflagrada essencialmente a partir da
década de 1940, confunde-se com a da expansão acelerada e extensiva da fronteira agrícola
93
estadual, capitaneada pela atividade cafeeira. Desenvolvida em grande parte como um
prolongamento agrícola da economia cafeeira paulista, a expansão fronteiriça paranaense
alastrou-se rapidamente por sobre vastas áreas de terras da mais alta fertilidade, praticamente
desabitadas, que passaram a constituir uma excelente válvula de escape para inversões
lucrativas de amplas parcelas do capital acumulado no núcleo mais dinâmico do capitalismo
nacional, localizado na Região Sudeste do País e centrado em São Paulo (ROCHA, 2004).
O estilo de ocupação da fronteira agrícola que predominou no Paraná, em
particular nas áreas do Norte-Central, baseou-se fundamentalmente no regime de colonização
dirigida, na maior parte dos casos sob os auspícios do capital privado, nacional e mesmo
internacional. Por meio do loteamento das terras para venda em pequenas parcelas, as
empresas de colonização atraíram para a região milhares de trabalhadores, que, juntamente
com suas famílias, formaram pequenas e médias propriedades voltadas à produção para
consumo próprio e para comercialização. Ao mesmo tempo, a ampla oferta de terras baratas e
de ótima qualidade constituiu um forte atrativo ao capital fundiário especulativo, que
incrementava parte dos seus rendimentos lançando mão de contratos de parceria, colonato e
arrendamento. Nesse processo, distintas correntes imigratórias, formadas basicamente por
paulistas, mineiros e nordestinos, mas tamm por imigrantes com origem nas áreas pioneiras
de ocupação do Estado, no leste paranaense, adentraram a vasta região do Norte,
conformando uma onda intensa e acelerada de povoamento que, paulatinamente, desarticulava
a incipiente economia primitiva local (IPARDES, 2003a).
A pequena propriedade rural policultora se instala primeiramente de forma
desordenada e posteriormente de forma planejada pela companhia Melhoramento do Norte do
Paraná. A partir da década de 1860, penetrando pelos cursos superior e médio do Ivaí,
fazendeiros paulistas e mineiros iniciaram plantações de café e a formação de cafezais, os
mateiros que percorriam a região haviam difundido a notícia da existência de manchas de
94
terra roxa. Concessões de terras foram requeridas, a baixo preço, ainda ao Governo Imperial
(ROCHA, 1999b).
Alguns fatores devem ser considerados para a compreensão da instalação de
um novo ciclo produtivo na região. Na década de 1970, o avanço territorial do café encontrou
problemas pedológicos e climáticos. Com a expansão da área produtiva para o oeste e
sudoeste do Estado, os cafeicultores encontraram as manchas de arenito caiuá, bem como as
geadas. Mas ocorreram, também, uma transformação na base técnica da produção,
estimulando os produtores capitalizados.
O café foi a atividade que demarcou a ocupação produtiva da região Norte
Paranaense. Nas primeiras décadas do século XX, a cafeicultura se consolidou e dinamizou a
economia da região, a população cresceu extraordinariamente e vários municípios foram
surgindo e marcando a trajetória do avanço das lavouras de café em direção às novas áreas de
aptidão.
Na década de 1960, o excesso de oferta de café no mercado mundial
provocou forte queda de preço, que, somada às geadas ocorridas nessa época, desencadeou
profunda crise na cafeicultura nacional, levando o governo federal a adotar uma política de
erradicação de 2 bilhões de cafeeiros e conduzir a renovação e racionalização da cafeicultura
brasileira. No Paraná foram erradicados cerca de 470 milhões de cafeeiros, que liberaram 627
mil hectares, reconvertidos principalmente em pastagens, e em menor escala em milho, arroz,
algodão, feijão, cana-de-açúcar, entre outros.
Assim, no início da década de 1970 a mesorregião era a mais populosa do
Paraná, particularmente em termos rurais, concentrando quase 1/4 da população estadual. A
significativa contribuição da economia regional se expressava na elevada participação de
25,2% do valor adicionado fiscal (VAF) do Estado, em 1975 (IPARDES, 2003c).
95
Na região podia ser observado:
(...) um forte crescimento social e econômico. O resultado é, de fato, a
diversificação da produção regional, com a erradicação de milhões de pés
de café, a introdução da pecuária, do binômio soja-trigo e a agroindústria
de transformação. Esta fase demarcou uma efetiva restrição do espaço
produzido aos agricultores não capitalizados. O acesso ao financiamento
para a produção era dado aos produtores capitalizados, para a segurança
dos bancos financiadores, estas transformações estabeleceram um processo
de concentração fundiária no Estado do Paraná como um todo, ocorrendo
de forma menos acentuada no norte paranaense (ROCHA, 1999a, p. 75).
Portanto, a alteração da base técnica da agricultura e a conseqüente
transformação da estrutura fundiária da região foram fatores relevantes para a
heterogeneidade distributiva das populações, levando a uma migração tanto para as cidades
pólo, como para outros estados. A restrição do uso de mão-de-obra para a produção constituiu
uma mobilidade forçada da força de trabalho que não tinha no campo mais a possibilidade de
ocupação.
“Nesse período, a substituição da cafeicultura, principal atividade
econômica até então, pelas culturas de soja e trigo, em função da política
agrícola que passou a priorizar a produção de grãos e oleaginosas, bem
como a geada de 1975 que destruiu os cafezais, constituíram os principais
motivos para a diminuição da população da cidade. As culturas de soja e
trigo, ao requererem unidades fundiárias maiores levando à concentração
da propriedade rural, ocasionou a expulsão de trabalhadores rurais para
as grandes cidades do Estado bem como para outros Estados,
principalmente São Paulo e Mato Grosso” (GRIGORIO JR, 2000, p. 01).
Nesse período, estava também em vigência a política nacional de incentivo à
produção agrícola tecnificada, mediante o uso de insumos modernos, que, a partir dos anos
1970, provocou uma profunda transformação das atividades agropecuárias paranaenses, cuja
essência é dada pelo processo de modernização, o qual teve na soja seu veículo avançado, por
dispor de tecnologia moderna para sua produção e contar com preços favoráveis no mercado
internacional. Além disso, incentivos do Governo para a implantação do PROÁLCOOL
96
forneceram subsídios para o fortalecimento da produção em larga escala de cana-de-açúcar,
matéria-prima da produção de açúcar e álcool.
No âmago do projeto de modernização conservadora implantado no Brasil e
particularmente no Norte-Central Paranaense, existem concepções ideológicas acerca do
desenvolvimento, da cultura, das tradições e da forma de gestão do Estado em suas várias
instâncias, que devem ser avaliados, pois interferem na dinâmica do desenvolvimento local.
Uma noção que pode contribuir para a compreensão desta dinâmica é a de pertencimento
territorial. Grosso modo esta noção diz respeito à relação entre o espaço e o indivíduo. O
conhecimento do espaço local, suas características culturais, sua economia, suas
características geográficas, bem como a construção crítica de uma consciência ecológica,
enfim, construir no indivíduo cidadão local, o conhecimento das especificidades,
particularidades e potencialidades de seu espaço habitado, para que ele, numa relação
democrática, se torne um agente transformador no processo de desenvolvimento.
Um novo cenário configurou-se no Norte-Central, assentado na
modernização agropecuária e no aprofundamento do processo de agroindustrialização. Sua
base agropecuária manteve-se como uma das mais competitivas do Estado, tendo apresentado,
na última década, importante expansão da produção e dos níveis de produtividade, reforçando
sua articulação com a agroindústria e/ou o mercado internacional. Embora esse desempenho
se deva em muito às culturas de soja e milho, há que se destacar o avanço recente de
atividades que constituem alternativas para a produção familiar, particularmente a fruticultura.
Outra característica importante da base produtiva é a sua organização em Cooperativas, com
estrutura gerencial e de mercado comparada à de grandes empresas, alicerçando parcela
expressiva da produção agroindustrial da região e do Estado (IPARDES, 2002).
De acordo com dados apresentados pelo IPARDES (2002), uma
característica importante desta mesorregião no ano de 1999 está no fato de que possui
97
produtividades médias superiores às do Estado nas culturas de soja, milho, trigo, café, aveia e
arroz e produtividades médias inferiores nas culturas de cana, feijão, mandioca e algodão.
Considerando o conjunto da produção regional, os 10 principais produtos em termos de valor
são: soja, milho, bovinos, café, frangos, cana, leite, trigo, aveia e suínos, que responderam por
82% do Valor Bruto da Produção (VBP) regional e 13% do estadual. Isso indica maior
diversificação produtiva do Norte-Central Paranaense em relação ao conjunto das demais
mesorregiões.
É importante ressaltar, no entanto, que grande parte desse dinamismo gerou
efeitos perversos sobre o meio ambiente regional. As altas taxas de desmatamento (95% da
área total da mesorregião), associadas às práticas de atividades agrícolas intensas, revelam o
alto grau de comprometimento ambiental das florestas da região Norte-Central.
A mesorregião apresenta o segundo maior parque industrial do Paraná, que
se particulariza pela diversificação, com importante participação dos gêneros alimentação,
têxtil, mobiliário, açúcar e álcool, além dos novos segmentos, especialmente os de
agroquímicos e embalagens plásticas e equipamentos para instalações industriais e
comerciais. Destaca-se a forte presença do setor serviços na região, com atividades fortemente
concentradas em Londrina e Maringá, particularmente de segmentos que denotam importantes
encadeamentos produtivos, como os serviços de transporte e de apoio à atividade empresarial,
bem como de serviços sociais, como saúde e educação.
Em 1990, a indústria de transformação da mesorregião Norte-Central
empregava 54.064 trabalhadores em 3.595 estabelecimentos, o que corresponde,
respectivamente, a 20,3% e 23,4% do total dessa indústria no Estado. Em 1999, essa indústria
passou a empregar 75.468 trabalhadores em 3.738 estabelecimentos, representando 22,8% e
25,2% do total, denotando alteração positiva na participação da indústria da região no
98
conjunto da indústria estadual, com uma média de 20,2 trabalhadores por estabelecimento
industrial (IPARDES, 2002).
A mesorregião Norte-Central Paranaense, com 79 municípios, depois da
Região Metropolitana de Curitiba, é a região geopolítica mais importante do Paraná,
apresentando uma distribuição populacional heterogênea. Constitui-se nesta região o que
denominamos de eixo dinâmico Londrina/Maringá, um importante corredor para o fluxo de
homens e mercadorias que se situa estrategicamente, viabilizando a integração com a região
sudeste e com o MERCOSUL. Este eixo apresenta um perfil claramente polarizador que
cresce a cada década. Tomando 4 municípios deste eixo (Londrina, Maringá, Apucarana e
Cambé) e considerando os dados de população absoluta no período de 1970 a 2000,
constatamos que de apenas 4 municípios dos 55 da Mesorregião em questão, teve, em 1970,
35,3% da população e no ano de 2000, 59,1 % da população (ROCHA, 2004).
Internamente, houve um deslocamento populacional em direção aos
municípios mais dinâmicos, resultando na conformação de duas importantes aglomerações
urbanas, que se articulam através de um eixo intensamente urbanizado. Os pólos Londrina e
Maringá apresentam, na hierarquia da rede urbana brasileira, níveis de centralidade
caracterizados como muito fortes, articulando uma grande área que abrange parte do interior
paranaense e adentra os Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo. A Norte-Central tem o
segundo maior contingente de população ocupada entre as mesorregiões do Estado, com o
maior número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas, embora essas atividades tenham
um peso relativamente pequeno, comparativamente a outras mesorregiões, em sua estrutura
ocupacional. Em relação a esta estrutura, a mesorregião destaca-se por apresentar a maior
participação da indústria de transformação no total da ocupação, e o crescimento do emprego
formal superior à média do Estado, tendo absorvido 23% do incremento estadual verificado
no período 1996/2001.
99
A rearticulação das atividades no espaço regional, decorrente,
principalmente, do processo de modernização das atividades agropecuárias, imprimiu um
baixo ritmo de crescimento populacional, ao longo das últimas décadas. Sem dúvida, o
componente migratório, no cenário demográfico, teve um peso substantivo. Ainda que os
ganhos populacionais das áreas urbanas tenham sido significativos, no cômputo geral a
mesorregião apresentou perdas populacionais (RIPPEL, 2005).
Além disso, possui um ambiente de Ciência, Tecnologia e Inovação
consolidado, particularmente na área de agropecuária e agronegócio. Ademais, observa-se
uma expressiva estrutura de ensino superior, que se traduz na diversidade de instituições
envolvidas, com destaque para as universidades estaduais, e dos cursos ofertados.
O sistema rodoviário da mesorregião é formado por dois grandes eixos, o da
BR-376 e o que resulta da junção das rodovias BR-369, PR-317 e BR-158. De modo geral,
constatam-se condições satisfatórias de tráfego, particularmente nas áreas que concentram
maior volume de produção. Na porção sul da mesorregião, onde predominam produtores
tradicionais e menor oferta de produção, é nítida a carência de rodovias. A mesorregião
consiste em área de convergência de ramais ferroviários e possui, ainda, uma significativa
estrutura aeroportuária.
Os indicadores relativos à dimensão social apontam para a forte
heterogeneidade entre os municípios. De modo geral, o conjunto de municípios que compõem
o eixo Londrina-Maringá apresenta as situações mais favoráveis em termos do Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), com algumas exceções em municípios
periféricos aos pólos. A porção sul, com proporção ainda importante de residentes rurais
reúne a maior parcela de municípios em posições mais desfavoráveis quanto aos diversos
indicadores sociais. Ao norte/Noroeste da mesorregião observa-se um comportamento
intermediário em termos da situação social da população (IPARDES, 2003c).
100
Entre os componentes do IDH-M, a diferenciação está bastante relacionada
à variável renda per capita, com apenas três municípios situando-se em patamar superior ao
verificado para o Estado e, em alguns municípios da porção sul, inferior ao salário mínimo.
Esse componente expressa as dificuldades de crescimento das economias locais, afetando as
condições de vida da população. Verifica-se, ainda, déficit relacionado ao esgotamento
sanitário, bastante distante dos níveis de atendimento observados em relação ao abastecimento
de água. No caso da educação, apesar do avanço no sentido da universalização do ensino
fundamental, verifica-se a necessidade de ampliar a oferta dos demais níveis de ensino,
principalmente educação infantil e de nível médio, assim como criar condições de incorporar
parte expressiva da população adulta que continua na condição de analfabeta (IPARDES,
2003c).
Esta análise econômico/demográfica da Mesorregião Norte-Central
Paranaense traz à tona a constatação de uma região que apresenta um efetivo desenvolvimento
econômico, mas atingido às custas de um projeto concentrador de terra e capital,
impossibilitando, pela ausência de um processo de planejamento voltado às potencialidades
locais, construir um leque de possibilidades produtivas fundada nas particularidades culturais
de cada uma destas localidades.
5.2 - Caracterização Sócio-Econômica da Mesorregião Noroeste
6
O Noroeste foi a última fronteira de expansão da cafeicultura no Paraná. O
café demarcou a ocupação produtiva e dinamizou a economia da região. A população cresceu
6
Informações retiradas do IPARDES, 2003b.
101
e vários municípios foram surgindo e marcando a trajetória do avanço das lavouras de café
nestas áreas.
Dessa forma, a ocupação da mesorregião Noroeste Paranaense foi
desencadeada a partir dos anos 1940, em função da expansão da fronteira agrícola no Estado,
assentada no avanço da cafeicultura. Entre as mesorregiões que integraram essa fronteira, na
Noroeste se observou a maior dificuldade para transitar da crise cafeeira, dos anos 60/70, para
o novo padrão de modernização da atividade agrícola, dificuldade esta relacionada,
fundamentalmente, às limitações ao uso dos solos, que, devido à alta suscetibilidade à erosão,
determinada pela ocorrência do arenito Caiuá, inviabilizou a expansão mais acentuada de
culturas anuais, fazendo com que a pecuária extensiva fosse a opção ao declínio do café.
Vale destacar que a mesorregião Noroeste integra a vasta região norte do
Paraná, tem nos seus traços históricos de ocupação uma grande semelhança com a ocupação
ocorrida na mesorregião Norte-Central. Assim, pode-se dizer que a ocupação da fronteira
agrícola nas áreas do norte paranaense baseou-se fundamentalmente no regime de colonização
dirigida, como na mesorregião Norte-Central, por meio do loteamento das terras para venda
em pequenas parcelas. As empresas de colonização atraíram para a região milhares de
trabalhadores que, juntamente com suas famílias, formaram pequenas e médias propriedades
voltadas à produção para consumo próprio e para a comercialização.
Conseqüentemente, mesmo com os avanços recentes nas técnicas de manejo
e conservação dos solos e a expansão de algumas culturas agrícolas, a Noroeste se
particulariza pela elevada participação da pecuária no conjunto das atividades desenvolvidas
na região.
Embora seu relevo seja predominantemente plano, a região possui, apenas,
45% dos solos considerados aptos ao desenvolvimento de atividades agrosilvopastoris,
permitindo a mecanização da produção, mas requerendo práticas adequadas de conservação.
102
Em razão do histórico uso inadequado das terras e do intenso desmatamento, a Noroeste
aparece como uma das mesorregiões ambientalmente mais degradadas do Estado, com apenas
4,1% da cobertura florestal original preservada. Esses remanescentes se encontram, em sua
maior parte, em áreas de proteção ambiental, com destaque para o Parque Nacional de Ilha
Grande.
Os dois períodos do processo de ocupação da região – expansão do café e
transição para a pecuária – deixaram sua marca na dinâmica demográfica regional. No início
dos anos 1970 o Noroeste era a segunda mesorregião mais populosa do interior do Paraná e, a
partir de então, passou por intenso processo de decréscimo populacional, ligado
principalmente ao componente migratório, que, inicialmente no meio rural e, mais
recentemente, nas áreas urbanas, apresenta contínuos saldos negativos, consolidando o caráter
expulsor de população (RIPPEL, 2005).
Relativamente, a mesorregião Noroeste fica aquém do padrão médio
estadual, embora se possa perceber desempenhos favoráveis em algumas dimensões. Assim,
apenas Cianorte e Umuarama apresentam valores do IDH-M acima da média estadual,
enquanto 13 municípios encontram-se entre os 100 menores índices do Estado. O componente
do IDH-M que se apresenta mais favorável é o nível de expectativa de vida ao nascer,
reiterado pelo índice de mortalidade infantil, que se situa abaixo da média estadual na maior
parte dos municípios. A maioria dos municípios apresenta, também, desempenho acima da
média estadual quanto à freqüência escolar, nos níveis pré-escolar e fundamental. O desafio
central relaciona-se à superação da pobreza, que envolve 1/4 dos habitantes da mesorregião.
Constatou-se que a mesorregião apresentou, no período 1996/2001, um dos
maiores incrementos relativos no nível de emprego formal no Estado, cabendo destacar o
forte aumento do emprego na indústria têxtil (vestuário), muito em função do dinamismo
deste setor em Cianorte.
103
As atividades agropecuárias mantêm participação expressiva na ocupação da
mão-de-obra regional. Essas atividades apresentam, comparativamente a outras mesorregiões,
indicadores de produtividade mais baixos, e estão estruturadas principalmente em torno da
pecuária bovina. Nesta mesma década, porém, a Noroeste se constituiu em fronteira para a
expansão da soja e do milho, em um sistema que se vale da reforma de pastagens e dos
avanços tecnológicos observados na área de manejo e conservação de solos. Além da
expansão de commodities, observou-se crescimento de produtos direcionados à indústria,
como a cana, mandioca e aves, além da produção estadual destacada de casulos do bicho-da-
seda, café e fruticultura (abacaxi, laranja e manga).
A matriz industrial do Noroeste é fortemente condicionada por dois grupos-
chave. O primeiro, da agroindústria, tem na base agrícola local a matéria-prima principal para
suas atividades, isto é, empresas que industrializam a cana-de-açúcar, bovinos, aves,
mandioca e laranja. Contudo, o potencial agroindustrial não é de todo aproveitado, como se
observa no segmento do couro, uma vez que há poucas unidades manufatureiras de calçados e
malas e outros artefatos de couro, em “dessintonia” com a produção de couro local. O
segundo grupo, de confecções, com a expansão da indústria do vestuário, forma um pólo com
referência nacional. Tem apresentado elevado crescimento na malha produtiva e de postos de
trabalho, já que vem contando com incentivos das prefeituras, por meio de concessão ou
pagamento de aluguel de barracões, isenções de taxas e impostos, que têm proporcionado o
aparecimento de inúmeros estabelecimentos pulverizados pelos municípios da mesorregião, o
que constitui uma alternativa de renda e emprego.
A região não dispõe de infra-estrutura específica para apoiar e estimular as
experiências de Ciência, Tecnologia e Inovação, como incubadoras, agências de
desenvolvimento ou centros tecnológicos. Porém, algumas iniciativas estão em andamento,
104
reunindo diversas entidades empresariais e públicas, relacionadas a alguns segmentos
produtivos da região, principalmente mandioca, couro e moda.
A análise regional indica que a agropecuária do Noroeste vem caminhando
em direção a atividades caracterizadas pela produção em escala, commodities e matérias-
primas industriais, fatores que tendem a garantir níveis de rentabilidade mais elevados aos
produtores, em detrimento das atividades voltadas ao atendimento do consumo doméstico.
Prova disso é que a cana-de-açúcar quadruplicou a produção no período 1990-2001, saltando
de 2,2 milhões para 8,8 milhões de toneladas.
A região Noroeste do Paraná possui 2.481.601,5 hectares, abrangendo 61
municípios, perfazendo 12,4% da área territorial do Estado, sendo que 72% desta área
territorial é formada por pastagens, comportando um rebanho bovino próximo a 3,5 milhões
de cabeças, o que representa quase 40% do plantel estadual (OLIVEIRA et al., 2000).
De modo geral, na maioria dos municípios a pauta agrícola é pouco
diversificada e reproduz o padrão concentrado da mesorregião Noroeste, com predominância
da cana-de-açúcar e da mandioca. Para 19 dos 61 municípios da mesorregião, a cana-de-
açúcar representa mais de 50% do valor da produção agrícola, destacando-se Paranacity, com
87,4%, Ivaté, 83,7%, e Tapejara, 82,1%. Em outros 8 municípios, todos com inserção menor
na produção de cana-de-açúcar, a combinação milho/soja tem peso de mais de 50% no valor
da produção, estando entre eles Jardim Olinda (80%), Brasilândia do Sul (76%) e Japurá
(70,6%). A mandioca aparece com importância destacada nos municípios de São Pedro do
Paraná (70,8%), Santo Antônio do Caiuá (69,3%) e Planaltina do Paraná (61,5%).
A produção de açúcar e álcool é beneficiada pelas características climáticas
da mesorregião, que é detentora da maior área plantada de cana-de-açúcar do Estado. Essa
condição favorável fomentou a formação do maior pólo sucroalcooleiro do Paraná,
congregando 10 usinas-destilarias (contingenciamento de açúcar e álcool): FB Açúcar e
105
Álcool, de Cidade Gaúcha; Usina Santa Terezinha, unidades de Paranacity, Tapejara e Ivaté;
Coopcana, de São Carlos do Ivaí; Cooperativa Copagra, de Nova Londrina; Cooperativa
Coocarol, de Rondon; Cocamar, de São Tomé; Perobálcool, de Perobal e a Destilarias
Melhoramentos, de Jussara, que produzem, além do açúcar, o álcool hidratado combustível de
veículos a álcool) e o álcool anidro (utilizado na mistura com a gasolina) (CARVALHEIRO,
2003).
5.3 Inserção da Agroindústria Canavieira
A história do setor sucroalcooleiro no Brasil é marcada pela presença ativa
do governo na regulamentação e proteção dos preços do açúcar e do álcool (Quadro 3). De
1930 até o final da década de 80, o Estado, por meio do Instituto do Açúcar e do Álcool
(IAA), ditava os preços e as cotas de exportação do açúcar, mitigando os impactos da
instabilidade dos mercados interno e externo.
Quadro 3 - Histórico da intervenção governamental no setor de açúcar e álcool
Década 30 - Criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA)
Década 50 - Estabelecimento de cotas de produção para cada empresa de acordo com
as exportações e com o consumo interno.
Década 60 - Lançamento, em 1964, do “Plano de Expansão da Agroindústria
Canavieira Açucareira Nacional”.
Década 70 - Criação, em 1971, do “Programa de Racionalização da Agroindústria
Canavieira”.
- Criação do “Programa Nacional do Álcool” – PROÁLCOOL.
Década 90 - Extinção do IAA em 1990
- Fim do regime das cotas de exportação do açúcar em 1997
- Liberação do preço do álcool anidro em 1998
- Liberação do preço do álcool hidratado em 1999
Fontes: Neves & Batalha (1998); Arnt (2002)
106
Entretanto, foi somente a partir de 1975, que o produto álcool assumiu
grande importância em nível nacional, com a implantação do PROÁLCOOL. Este foi o único
projeto em nível mundial de alternativa energética renovável, como resposta ao primeiro
choque de petróleo, em 1973, quando os países voltaram-se para pesquisas na busca de
encontrar uma alternativa energética renovável para substituir o petróleo, com o intuito de
economizar divisas e de ser auto-suficiente em energia, por uma questão de segurança
nacional.
Dessa forma, com a implantação deste programa, iniciou-se a primeira fase
de reestruturação produtiva no setor sucroalcooleiro do Brasil. A produção de álcool
carburante no Brasil foi uma das mais eficazes soluções para contornar a instabilidade do
comércio do Petróleo, acentuada em 1979, com o segundo choque, promovido pela OPEP
(Organização dos Países Produtores de Petróleo), fazendo com que o Estado intensificasse a
política de incentivos governamentais ao PROÁLCOOL, caracterizando a sua segunda fase
(MENEGUETTI, 2004).
Portanto, de 1980 até 1985, o programa expandiu-se por todo o país, com a
instalação de destilarias anexas às usinas de açúcar e posteriormente com a implantação de
várias destilarias autônomas, abrindo-se campo para novas fronteiras de produção. Assim
novas regiões canavieiras surgiram em diversos Estados da Federação. Como é o caso do
Estado do Paraná, que foi o pioneiro na implantação de destilarias autônomas por parte das
Cooperativas, tendo uma significativa participação, ocupando áreas para substituir cafezais
devastados pela geada ou áreas em que não poderiam ser mecanizadas, pois conduziria a
erosão – o arenito caiuá.
Remetendo-se a questão do desenvolvimento endógeno, constata-se que a
criação do PROÁLCOOL, em 1975, e sua fase de expansão, após o segundo choque do
petróleo, coincidiram com a articulação de diversos agentes econômicos, que propiciaram a
107
transformação de região em que a cultura da cana-de-açúcar se expandiu. Neste sentido, a
agroindústria canavieira tinha o interesse em diversificar a sua produção, no intuito de reduzir
o risco do investimento produtivo, mantendo, é claro, os seus rendimentos e a estabilidade do
setor. O interesse governamental estava calcado, não só na utilização de uma energia
renovável, mas também na diminuição das desigualdades regionais de renda, na economia de
divisas e na geração interna de emprego, uma vez que o programa iria requerer recursos e
fatores de produção nacionais e principalmente estaduais (MELO & PELIN, 1984). Fato que
vem de encontro com o que ocorreu no Estado do Paraná, em que este teve uma expansão
canavieira e retornos financeiros para seus municípios.
Neste contexto, na década de 1990 iniciou-se uma segunda fase de
reestruturação do setor sucroalcooleiro, com a extinção do IAA e a liberação dos preços da
cana, açúcar e álcool, transformando o setor de oligopólio homogêneo para competitivo
fazendo com que a concorrência se desse via preços e fossem direcionadas novas estratégias
de crescimento das firmas. A indústria passou a contar com um fator adicional de risco na
condução do negócio: o risco de mercado (MENEGUETTI, 2004).
Entretanto, apesar deste cenário de oscilações, riscos e de reestruturação
produtiva o Estado do Paraná buscou a intensiva modernização tecnológica, gerando um
parque sucroalcooleiro moderno aos padrões competitivos do mercado, ampliando seu leque
de abrangência estadual, tendo seu reconhecimento nacional e internacional.
Vale ressaltar que através do funcionamento das unidades produtivas do
complexo agroindustrial canavieiro do Paraná, percebem-se os diversos tipos de produtos
finais que são gerados e o aproveitamento econômico dos resíduos da matéria-prima,
características estas, que diferem este setor de qualquer outro. Neste sentido, conforme
apresenta Bressan Filho (2004), cabe mencionar que:
108
a matéria-prima (caldo da cana-de-açúcar) pode ser destinada à produção
de açúcar ou álcool, produtos que, em geral, são vendidos por preços
compatíveis entre si e proporcionam uma taxa de retorno final bastante
semelhante;
a maioria das usinas tem destilarias anexas e grande flexibilidade na
utilização da matéria-prima, podendo modular o volume de produção de
açúcar ou de álcool em cada ano-safra de acordo com os indicadores de
mercado;
os produtos finais têm natureza física e mercadológica completamente
diferentes e independentes entre si. Enquanto o açúcar destina-se à
alimentação humana, a maior parcela do álcool destina-se ao uso como
combustível de motores veiculares;
ambos os produtos, por diferentes razões, tem um grande interesse
público e devem ser objeto de políticas públicas: - o açúcar pelo grande
valor da receita em divisas que gera nas exportações; e - o álcool por ser
um produto estratégico, de grande consumo e ter uma grande proporção
de seu uso destinado para uma forma cativa de consumo (o álcool anidro
na mistura obrigatória com a gasolina e o álcool hidratado como
combustível dedicado nos veículos com motores programados para sua
utilização);
o funcionamento do complexo industrial utiliza grandes quantidades de
três de tipos de energia: térmica, mecânica e elétrica. Toda essa energia é
autogerada com a queima dos resíduos secos (bagaço) do processamento
da matéria-prima. O aproveitamento mais racional desses resíduos
109
permitiria produzir um grande fluxo de energia elétrica excedente e
disponível para ser comercializada nas redes de distribuição. Estima-se
que essa energia adicional poderia representar até 10% da potência
instalada de geração de energia elétrica no país.
Assim, as unidades produtivas (usinas e/ou destilarias) possuem
características importantes para o desenvolvimento econômico do Município de sua
localização, bem como a região circunvizinha. Neste sentido, cabe ressaltar individualmente a
história das empresas, haja vista que o processo histórico está diretamente relacionado com o
processo de desenvolvimento característico de cada núcleo formado pelas empresas.
Para melhor entendimento da influência das usinas e/ou destilarias segue a
caracterização de cada empresa das mesorregiões Norte-Central e Noroeste em 4 momentos:
primeiro destaca-se a sua região de abrangência (realizando uma breve conceituação histórica
de cada município e a inserção da produção canavieira), segundo nos aspectos históricos e
gerais da usina, terceiro no ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque
industrial e agrícola da usina e no quarto o ambiente das mudanças estruturais.
5.3.1 Grupo Santa Terezinha
A) Região abrangência
7
A usina Santa Terezinha tem sua matriz no Município de Maringá, da
mesorregião Norte-Central, e filiais nos municípios de Ivaté, Paranacity, Tapejara e a Terra
Rica, da mesorregião Noroeste. Nestas regiões o Município de Maringá desempenha uma
7
Informações sobre os municípios foram extraídas do PARANÁCIDADE (2004), sites oficiais e de entrevistas
dirigidas.
110
função polarizadora em virtude de oferecer um leque muito significativo de serviços e de uma
considerável agroindustrialização.
Considerando o Município de Maringá, o seu povoamento iniciou-se por
volta de 1938, mas foi apenas a partir dos primeiros anos da década de 40 que começaram a
ser erguidas as primeiras edificações propriamente urbanas, na localidade conhecida mais
tarde por Maringá Velho. Eram umas poucas e bastante rústicas construções de madeira de
cunho provisório.
Destinavam-se, fundamentalmente, para organizar na região um núcleo
mínimo para o assentamento dos numerosos migrantes que afluíam para essa nova terra. Os
pioneiros chegavam em caravanas procedentes de vários estados do Brasil, organizadas pela
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP). Eram, em sua maioria, colonos
paulistas, mineiros e nordestinos. Nos anos de 1947 e 1949 foram os que mais chegaram
famílias.
No pequeno núcleo urbano emergente, concentravam-se as atividades de
compra e venda de terras, as negociações entre proprietários, hospedagem de colonos recém
chegados e algumas práticas ínfimas de comércio varejista. O local funcionava, também,
como pousada para aqueles que se embrenhavam mato adentro, no rumo desconhecido das
barrancas do Rio Ivaí. A CMNP responsabilizou-se pela venda das terras e lotes, além da
construção de estradas e implantação de núcleos urbanos.
O traçado urbanístico da pequena aldeia refletia os elementos de
provisoriedade do assentamento. Eram logradouros irregulares, sem infra-estrutura e
escoamento, iluminação ou água corrente.
Deve-se observar que desde muito cedo aquele centro pioneiro multiplicou
suas funções conforme avançava a ocupação da região. O Maringá Velho deixava de ser
111
apenas uma área central para desbravamento e tornava-se um local para onde os colonos
convergiam a fim de receber notícias e correspondências, fazer compras e estabelecer a
primitiva rede local de comunicações.
Maringá foi fundada em 10 de maio de 1947 como Distrito de Mandaguari,
em 1948 passou à categoria de Vila, e foi elevada a Município através da Lei nº 790 de
14/11/1951, tendo como Distritos Iguatemi, Floriano e Ivatuba. A categoria de COMARCA
foi conquistada em 1954. A partir de 1998, tornou-se sede da Região Metropolitana,
integrada, além de Maringá, pelos municípios de Sarandi, Paiçandu, Mandaguaçu Marialva,
Mandaguari, Iguaraçu e Ângulo. Maringá é um dos poucos municípios a comemorar sua data
máxima quando da fundação e não de sua emancipação.
Cidade constituída de diversas etnias, forma um meio cultural múltiplo, em
função da corrente migratória, como as colônias japonesas, árabes, portuguesa, alemã e
italiana, que muito enriqueceram a cultura do Município, com a preservação de suas tradições
e folclore. A diversificação de sua economia, aliada ao espírito empreendedor, dinâmico e
laborioso de seus habitantes, assegura boa qualidade de vida a todos.
Na agricultura, sua maior fonte de economia, destaca-se a produção de café,
milho, soja, feijão, arroz, produtos que são comercializados na região, vendidos pela maioria
dos produtores aos revendedores. Tendo em vista que na região existia uma infra-estrutura
com maquinários suficientes para plantio, colheita, beneficiamento e boa rede de armazéns, a
produção é ampliada e comercializada fora dos limites do município sem maiores
dificuldades. A cafeicultura, considerada produção de destaque da região, foi perdendo espaço
para outros tipos de produtos agrícolas, devido as constantes geadas e aparecimento de
doenças, como a ferrugem.
Entretanto, destaca-se que a família Meneguetti, que é pioneira na região de
Maringá, começou a produção de cana-de-açúcar na década de 1960, época em que fundou a
112
Usina de açúcar Santa Terezinha, que passou a fazer parte da história social e econômica do
município. Assim, o café tinha uma cultura que competia em espaço agrícola, pois a cultura
da cana necessita de grandes extensões de terras. Mesmo com o busca de expansão territorial
dos canaviais a empresa tinha que se limitar às quotas estabelecidas pelo IAA. Assim, em
1964 a empresa adquiriu uma quota de produção e transformou o engenho localizado no
Distrito de Iguatemi, Município de Maringá, na usina de açúcar Santa Terezinha.
Esta empresa passou a ser uma fonte dinamizadora do município e da região
circunvizinha (Mapa 4). Considerando a estrutura da Usina Santa Terezinha, esta possui uma
grande importância por ser uma fonte geradora de valor adicionado para o município, caso
viesse a ser desativada o ICMS e a arrecadação do município diminuiriam substancialmente.
Mapa 4 - Região de abrangência da Usina Santa Terezinha
Fonte: Elaborado pelo autor
As principais contribuições para o desenvolvimento do município são: a
arrecadação municipal; geração de empregos (seja na área agrícola, industrial ou
administrativa), injeção nos setores de comércio e serviços e aumento da renda dos munícipes.
Apesar da empresa trazer retornos, existem alguns impactos negativos,
como é o caso das estradas rurais e rodovias, que são bastante danificadas pela quantidade e
113
peso dos caminhões que transportam a cana e, mesmo com todos os cuidados com o meio
ambiente, a empresa ainda gera poluente.
Em relação aos municípios das filiais, a ocupação do território de Ivaté
(onde se situa a Usina de Álcool e Açúcar Ivaté S.A.) foi promovida pela Companhia
Brasileira de Imigração e Colonização (COBRINCO), que oferecia boas condições para a
aquisição de terras aos migrantes, em sua maioria, provenientes de estados do norte brasileiro.
Antes de ser colonizado, o território paranaense era tomado por diferentes
tribos indígenas. Notadamente, na região onde, atualmente, encontra-se Ivaté, existiam os
índios Caingangues, Zoras e Xetás. Com a chegada dos paulistas bandeirantes, no século XVI,
esses índios foram, aos poucos, sendo incorporados pelos colonizadores portugueses. Assim,
quando os primeiros migrantes chegaram na região, ainda encontraram alguns acampamentos.
O nome Ivaté foi dado ao município em homenagem a estes primitivos
habitantes e significa "águas cantantes". Foi criado através da Lei Estadual nº 8.970 de 02 de
março de 1989, e instalado em 01 de janeiro de 1993, foi desmembrado de Umuarama.
Assim, como os demais municípios da mesorregião Noroeste sua economia
foi baseada na produção de café e além da pecuária extensiva, que ocupava a maior parte da
área agricultável. Entretanto, com a decadência do café, surgiram novas culturas, entre as
quais citam-se: a soja, o milho e a cana-de-açúcar.
Outrossim, a cana ganhou maior influência no município e região,
modificando a vocação agrícola e a infra-estrutura local, a partir de 1992 quando a
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Cana de Icaraima Ltda. - COPICAR, foi
adquirida pelo Grupo Santa Terezinha. Em 1994, entrou em operação a Usina de Álcool e
Açúcar Ivaté S.A. Esta empresa veio gerar desenvolvimento municipal e regional.
114
De acordo com o Mapa 5, pode-se observar a região de abrangência da
usina em termos de área plantada com cana-de-açúcar.
Mapa 5 - Região de abrangência da Usina de Álcool e Açúcar Ivaté S.A.
Fonte: Elaborado pelo autor
Com a instalação da Usina ocorreu uma minimização do problema do
desemprego, pois o município tem uma PEA de 6.932 habitantes, e a maior parte da mão-de-
obra disponível é justamente de trabalhadores rurais, que foram empregados na empresa.
Além disso, houve uma melhora na infra-estrutura de saúde e educação oferecidas, devido ao
aumento de arrecadação de impostos gerados pela usina.
Já o Município de Paranacity (onde está sediado a usina São José), teve o
desbravamento da sua área em 1949. Após medição e demarcação foram colocadas a venda
6.400 datas de terra e 200 chácaras. As primeiras construções foram feitas pela própria
empresa imobiliária. O porte do patrimônio formado e a fertilidade das terras oferecidas
atraíram imediatamente várias famílias que chegavam ou para constituir comércio, ou para
labutar nas lavouras.
115
Oficialmente o município foi criado através da Lei Estadual nº 253, de 26 de
novembro de 1954, e instalado em 04 de dezembro de 1955, sendo desmembrado do
Município de Nova Esperança.
A economia está voltada basicamente para a agropecuária, tendo sua
produção voltada para o café. Com a crise do café passou-se a produzir algodão e
posteriormente a cultura da cana-de-açúcar.
Uma característica interessante é que o Município de Paranacity localizado
no Noroeste do Paraná entrou na história da luta organizada dos trabalhadores rurais sem
terra, em virtude da ocupação pelos integrantes do Movimento Sem Terra (MST) na fazenda
Santa Maria. A ocupação na fazenda iniciou-se em 1988, dando origem ao assentamento de
Paranacity. Sua implantação foi efetivada em 1993, contemplando 16 famílias, provenientes
das regiões oeste e sudoeste do Paraná. No início os assentados ocuparam uma área de 98,7
ha, recoberta por lavoras de cana-de-açúcar. Esta área havia sido desapropriada pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a partir de 1988. Como ela estava
arrendada irregularmente, motivou a disputa pela sua posse.
Em agosto de 1987, o Grupo Santa Terezinha adquiriu a Cooperativa
Agrícola dos Produtores de Cana do Vale do Pirapó Ltda. (COVAPI), que posteriormente
passou a operar com o nome de Destilaria de Álcool São José S.A. Por problemas nas
liberações dos recursos para novos plantios de cana, a Usina São José somente entrou em
operação na safra 1988/1989.
Com a chegada da Usina, houve uma mudança na infra-estrutura dos setores
de comércio e serviços. Os produtores da região, com a produção de cana-de-açúcar,
passaram a ter mais uma opção de cultivo e comercialização do seu produto (Mapa 6).
116
Mapa 6 - Região de abrangência da Usina São José S.A.
Fonte: Elaborado pelo autor
Além disso, a usina proporcionou um acréscimo na arrecadação do
Município, que contribuiu com a melhoria das condições de assistência social, saúde e de
oportunidades para os munícipes. Com isso, houve uma redução no nível de desemprego,
melhorando a condição social dos 9.106 habitantes do Município de Paranacity.
No Município de Tapejara (onde está localizado a Destilaria Julina), o
processo de colonização da região iniciou-se na década de 1950, através da Companhia
Imobiliária Tapejara. Colonos paulistas e mineiros, habituados ao cultivo do café, vieram em
grande número, mas o Município recebeu também emigrantes de Santa Catarina, Bahia e
famílias de imigrantes italianos, alemães, japoneses e portugueses.
No ano de 1950, chegava nesta região a família de Joaquim Vicente, que
começou a colonização da Gleba São Vicente. Foi um dos primeiros colonizadores de
Tapejara.
O Município foi criado pela Lei Estadual nº 4.738 de 05 de julho de 1963, e
instalado em 11 de abril de 1964, sendo desmembrado de Cruzeiro do Oeste.
A fonte da economia do Município esteve por muitos anos voltado para a
cafeicultura. Quando este produto teve seu declínio, passou-se a diversificar, tendo na sua
117
pauta de produção a mandioca, o arroz, a soja e uma grande extensão de sua área destinada a
pastagens e forragens.
Dentre as atividades industriais do Município, destaca-se que em 1973 o
industrial Félix Fernandes montou a Serraria Cambé. Além desta, instalou-se a Indústria de
Laticínios Pinheiro Ltda, fundada em 10 de outubro de 1970, pelo empresário industrial
Aparecido Geraldo Pinheiro.
A cultura da cana veio mais tarde, dando uma redenção econômica ao
Município, mudando o quadro existente e criando novas perspectivas de desenvolvimento.
Esta atividade teve ênfase em janeiro de 1989, quando a Cooperativa Agrícola dos Produtores
de Cana de Tapejara Ltda. (COTAL), que processava já cana, foi adquirida pelo Grupo Santa
Terezinha. Esta passou a operar com a razão social de Destilaria Julina S.A.
O investimento à época pelo Grupo Santa Terezinha trouxe euforia e
otimismo na cidade, tanto pela valorização dos imóveis rurais e urbanos, como pelos novos
investimentos que foram feitos em infra-estrutura e melhora da educação e nível social,
trazendo crescimento para a região. Com o aumento da renda média da população, gerado
pela criação de novos empregos, criou-se maior perspectiva de mercado. A área de
abrangência da destilaria em termos de área plantada pode ser visualizado no Mapa 7.
Mapa 7 - Região de abrangência da Destilaria Julina S.A.
Fonte: Elaborado pelo autor
118
A mais recente unidade da usina Santa Terezinha está sendo implantada em
Terra Rica. Este Município teve como primeiro nome "Estrela do Norte" e pertenceu ao
Município de Mandaguari até o ano de 1950, ocasião em que passou a pertencer ao Município
de Paranavaí, quando neste mesmo ano, por força da Lei nº 13 de 05 de agosto de 1950, foi
elevada a categoria de Distrito Administrativo de Paranavaí.
As terras que atualmente formam o Município de Terra Rica pertenceram,
inicialmente, aos senhores Anis Abud e Adhemar de Barros e, posteriormente, passaram a
pertencer a Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná - SINOP.
A SINOP, tendo a frente os Senhores Enio Pipino e João Pedro Moreira de
Carvalho, plantaram no inicio de 1949 os primeiros marcos da cidade. Dessa forma, passaram
a medir e demarcar as datas e sítios, iniciando-se, em 1950, a formação do núcleo
habitacional.
A colonização iniciou-se com a chegada de novas famílias, principalmente
do Estado de São Paulo e também de outros estados que se radicaram no Município, dando
início ao que é hoje a cidade de Terra Rica. Esta passou a crescer sensivelmente com a
chegada de muitas famílias que vinham atraídas pela ótima qualidade de solo para o plantio de
café‚ que foi até a alguns anos o principal produto agrícola. Inicialmente, foram instaladas
serrarias e madeireiras que muito contribuíram para o progresso do Município.
Por força da Lei Estadual nº 253 de 26 de Novembro de 1954 (publicado no
Diário Oficial do Estado nº 217, do dia 02 de dezembro de 1954) foi criado o Município e
instalado solenemente em 04 de Dezembro de 1955.
A economia é voltada basicamente para a agropecuária, com o plantio de
mandioca, café e criação do bicho-da-seda, além da pecuária extensiva, que ocupa a maior
parte da área agricultável. Atualmente o Município conta com uma cultura alternativa, que é a
119
produção de cana-de-açúcar. O Grupo Santa Terezinha está investindo na implantação de
mais uma indústria de açúcar e álcool.
De acordo com o projeto, deverão ser plantados 20 mil hectares de cana na
região para atender a indústria. Na primeira safra a ser colhida, em 2006, quando iniciará a
produção industrial, deverão ser moídas um milhão de toneladas de cana, com crescimento
gradativo até 2008, quando a moagem deve atingir 1,6 milhão de toneladas.
Em entrevista ao Jornal Paraná Açúcar e Álcool, em agosto de 2004, o
prefeito de Terra Rica, Mário Luiz Lanziani enfatizou que o investimento na região significa
a redenção econômica do Município, mudando o quadro existente e criando novas
perspectivas de desenvolvimento”. Para ele, a cana-de-açúcar está trazendo esperança à
região, depois de um longo período de empobrecimento e de perda de população, desde a
década de 70 quando o cultivo do café deixou de ser agente de riqueza. O investimento está
trazendo euforia e otimismo na cidade, não só pela geração de 1.400 empregos diretos,
superando os 2 mil empregos com os indiretos. De acordo com o prefeito, o impacto
econômico já é visível em todos os setores. Os imóveis rurais e urbanos já tiveram uma
valorização de 60% e novos investimentos têm sido feitos, trazendo crescimento para a
região. Com o aumento da renda média da população, cria-se maior perspectiva de mercado e
empresas antes contatadas pela prefeitura, e que nem davam atenção, já fazem planos de
investir na cidade (GRUPO Santa Terezinha investe em nova usina no Paraná, 2004).
Mapa 8 - Região de abrangência da Usina no Município de Terra Rica
Fonte: Elaborado pelo autor
120
Um fato interessante é que quando a usina estiver em funcionamento, a
partir de 2006, devem ser injetados nos setores de comércio e serviços cerca de R$ 1 milhão
mensal, ativando a economia local. Isso sem considerar o crescimento da ordem de 50% na
arrecadação do Município. De acordo com o prefeito “o investimento que será feito equivale a
20 anos de arrecadação do Município”. Terra Rica arrecada R$ 8 milhões por ano.
B) Aspectos históricos e gerais da usina
8
A família Meneguetti faz parte dos pioneiros da região de Maringá que
chegaram antes mesmo que a cidade fosse fundada, a partir de então começaram a produção e,
em 1961, fundaram a usina de açúcar Santa Terezinha.
O primeiro passo para o crescimento do grupo se deu em 1964. A empresa
adquiriu uma quota de produção e transformou o engenho, localizado no Distrito de Iguatemi,
na usina de açúcar Santa Terezinha. O empreendimento cresceu e, em 1971, os registros
históricos da empresa indicavam os seguintes resultados de produção: a moagem de cana era
de 116.000 toneladas, a área plantada era de 1.548 hectares, a produção de álcool era de 633
m
3
e a produção de açúcar era de 8.300 toneladas.
Essa evolução tímida mudou consideravelmente a partir do PROÁLCOOL
instituído em 1975. No ano seguinte a implantação do Programa, a usina Santa Terezinha
implantou o primeiro projeto para produção de 60 m
3
/dia de álcool hidratado. O segundo
projeto de ampliação da produção de álcool hidratado ocorreu em 1981, com a entrada em
operação da unidade produtora de 120 m
3
/dia, totalizando a capacidade nominal de 180
m
3
/dia de álcool carburante. Em paralelo ao aumento da produção de álcool, foi ampliada a
8
Informações retiradas dos sites: http://www.jornalparana.com.br e http://www.usacucar.com.br.
121
produção de açúcar cristal que, na época, era comercializada integralmente no mercado
interno. A Tabela a seguir retrata essa evolução da área colhida, moagem e da produção de
álcool e açúcar no período de 1971 a 1987.
Tabela 13 - Indicadores da evolução histórica da área colhida e da moagem, álcool e açúcar da
Usina Santa Terezinha - 1971 a 1987
Ano
Área colhida
(ha)
Moagem (t)
Álcool (anidro
+ hidratado) m
3
Açúcar cristal
(t)
1971 1.548 116.130 633 8.300
1973 1.640 132.032 864 8.600
1975 1.758 131.885 1.045 9.100
1977 2.120 159.029 1.033 11.200
1979 3.244 243.295 6.015 12.700
1981 5.749 431.171 12.637 20.830
1983 11.791 884.754 41.573 26.485
1985 12.903 967.720 49.440 25.000
1987 8.163 674.194 29.491 19.514
Taxa de crescimento 34,18% 34,59% 86,42% 16,92%
R
2
0,8652 0,8779 0,8936 0,8316
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
Os primeiros diretores da usina de açúcar Santa Terezinha; José, Irineu,
Felizardo, Mauro, Albino e Hélio Meneguetti, tinham uma visão do futuro, e, assim,
prepararam a nova geração para assumir o controle da empresa, com formação superior aliada
à vivência diária da usina. No início dos anos 1980, implantaram o modelo sucessório e de
administração moderna, com a constituição de 6 Companhias de Participação para assegurar a
continuidade dos negócios da empresa.
Na segunda metade dos anos 80, algumas destilarias de produtores de
álcool, implantadas com elevados percentuais de financiamento, se encontravam paralisadas
por problemas técnicos e financeiros. Naquela oportunidade, o Banco Regional de
Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) induziu e apoiou o Grupo Santa Terezinha para
adquirir, sanear e colocar em produção duas dessas destilarias de álcool.
122
A primeira foi a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Cana do Vale do
Pirapó Ltda. (COVAPI), localizada no Município de Paranacity, na mesorregião Noroeste do
Estado do Paraná. No período de 1983/84 a 1987/88, a Cooperativa teve uma redução de
2,37% a.a. na cana moída e de 3,62% a.a. na produção de álcool (Tabela 14). Fato que gerou
crise financeira e a paralisação das atividades industriais.
Tabela 14 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COVAPI – 1983/84 a 1987/88
Safra Cana moída Álcool
1983/84 165.422 11.063
1984/85 32.140 2.459
1985/86 116.754 8.223
1986/87 82.615 4.929
1987/88 91.530 6.501
Taxa de crescimento -2,37% - 3,62%
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004
Dessa forma, em agosto de 1987, o Grupo Santa Terezinha fez a aquisição
da COVAPI, que posteriormente passou a operar com o nome de Destilaria de Álcool São
José S.A. Por problemas nas liberações dos recursos para novos plantios de cana, somente
entrou em operação na safra 1988/1989. No ano de 1993 iniciou-se a instalação da fábrica de
açúcar, e que teve na safra 1994/1995 a sua primeira produção. Assim, a destilaria passou
para a denominação de Usina São José.
123
Tabela 15 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e açúcar
da Usina São José – 1988/89 a 2000/01
Safra Cana moída Álcool (m
3
) Açúcar (scs 50Kg)
1988/89 N.I.* 19.211 -
1989/90 N.I.* 20.303 -
1990/91 282.886 21.376 -
1991/92 269.281 11.063 -
1992/93 261.108 2.459 -
1993/94 348.732 8.223 -
1994/95 483.171 4.929 107.643
1995/96 686.928 6.501 428.603
1996/97 819.003 - 839.320
1997/98 902.084 - 1.097.840
1998/99 1.004.608 19.211 1.745.800
1999/00 1.071.977 20.303 2.226.140
2000/01 1.009.329 21.376 1.861.800
2001/02 1.129.479 22.478 2.002.120
Taxa de crescimento 16,76% - 44,97%
R
2
0,9059 - 0,7708
Fonte: Usina Santa Terezinha e ALCOPAR
* não informado
A segunda foi a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Cana de Tapejara
Ltda. (COTAL), localizada no Município de Tapejara, também na mesorregião Noroeste do
Estado. Apesar da empresa ter um crescimento da cana moída de 45,61% a.a. e da produção
de álcool em 46,08% a.a., esta tinha realizado muitos investimentos e sua situação financeira
não estava muito favorável.
Tabela 16 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COTAL – 1983/84 a 1987/88
Safra Cana moída Álcool
1983/84 86.901 5.292
1984/85 119.816 8.038
1985/86 224.932 16.222
1986/87 281.138 16.983
1987/88 371.594 24.213
Taxa de crescimento 45,61% 46,08%
R
2
0,9702 0,9375
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004
124
Apesar dessa dificuldade, o Grupo Santa Terezinha adquiriu em janeiro de
1989, a COTAL e a integrou ao seu grupo. A nova unidade passou a operar com a razão
social de Destilaria Julina S.A. Essa unidade não teve suas operações paralisadas durante o
processo de transferência do controle acionário. Fato que pode ser comprovado pela grande
evolução dos indicadores de cana moída, álcool e açúcar que tiveram crescimentos
consideráveis (16,79%, 2,49% e 33,56% a.a. respectivamente) (Tabela 17). Vale destacar que
em 1993 foi instalada a fábrica de açúcar, passando então a destilaria à categoria de usina.
Tabela 17 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e açúcar
da Usina Julina – 1988/89 a 2000/01
Safra Cana moída Álcool (m
3
) Açúcar (scs 50Kg)
1988/89 267.445 20.585 -
1989/90 252.369 18.140 -
1990/91 106.686 7.959 -
1991/92 346.439 26.554 -
1992/93 344.217 26.890 -
1993/94 327.723 18.427 183.080
1994/95 577.191 29.089 437.240
1995/96 689.786 32.924 474.700
1996/97 771.515 33.553 739.640
1997/98 896.588 30.357 1.271.480
1998/99 1.015.662 20.600 1.824.680
1999/00 1.068.047 19.590 2.229.640
2000/01 967.171 21.260 1.566.440
2001/02 1.254.254 21.587 1.985.656
Taxa de crescimento 16,79% 2,49% 33,56%
R
2
0,8200 0,0803 0,8546
Fonte: Usina Santa Terezinha e HISTÓRICO produção Paraná, 2004
No final da década de 1980, as economias desenvolvidas estruturaram um
novo modelo econômico para todos os países, com a imposição do livre mercado de produtos
e moedas denominado de globalização. O cenário político e econômico estava definido.
Haveria uma nova realidade para o Brasil. Em função do novo quadro econômico, a diretoria
da usina de açúcar Santa Terezinha estabeleceu três grandes estratégias para orientar as ações
do Grupo na nova trajetória da economia brasileira:
125
• Implantar novo modelo organizacional com nova postura administrativa:
• Consolidar técnica, econômica e financeiramente a empresa;
• Consolidação do parque industrial e aumento da produção de cana-de-
açúcar.
Com vistas no mercado e na nova realidade vivenciada pelas usinas e/ou
destilarias, o Grupo Santa Terezinha fez sua terceira aquisição, a Cooperativa Agroindustrial
dos Produtores de Cana de Icaraima Ltda. (COPICAR). A situação das produções de cana
moída e de álcool desta Cooperativa se mostrava decrescente a cada ano, o que vinha
agravando cada vez mais a situação financeira da mesma (Tabela 18).
Tabela 18 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool da
COPICAR – 1988/89 a 1990/91
Safra Cana moída Álcool
1988/89 148.201 11.815
1989/90 115.619 7.124
1990/91 92.551 5.817
Taxa de crescimento -20,97% -29,84%
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004
Com isso, em 1992, o Grupo adquiriu a COPICAR, que estava paralisada a
mais de dois anos (safras 1991/92 1992/93), com as instalações físicas, equipamentos e
veículos sem condições de operação. Contando com apoio dos maiores bancos credores,
Banco do Brasil S.A. e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
refinanciou os débitos da COPICAR e aportou novos financiamentos para plantio de cana-de-
açúcar e readequação do parque industrial. Em 1994 entrou em operação a nova unidade do
Grupo, a Usina de Álcool e Açúcar Ivaté S.A., localizada no Município de Ivaté, mesorregião
Noroeste do Paraná.
126
Tabela 19 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e açúcar
da Usina Ivaté – 1988/89 a 2000/01
Safra Cana moída Álcool (m
3
) Açúcar (scs 50Kg)
1994/95 432.133 33.137 -
1995/96 545.589 45.110 -
1996/97 802.890 50.243 270.820
1997/98 794.385 30.196 826.440
1998/99 954.913 20.462 1.518.080
1999/00 1.132.381 22.486 2.177.500
2000/01 813.056 19.330 1.287.820
2001/02 998.698 20.689 1.598.587
Taxa de crescimento 11,40% -11,57% 35,24%
R
2
0,6805 0,6505 0,5746
Fonte: Usina Santa Terezinha e ALCOPAR
Em 1996, iniciou a construção da fábrica do açúcar e na safra de 1996/97, já
em operação, teve uma produção de 270.820 sacas de açúcar. Houve um crescimento grande
de 35,24% a.a. até a safra 2000/02. Fato que vem de encontro com a redução da produção de
álcool em 11,57% a.a., haja vista que a empresa passou a destinar sua produção de cana
moída para a produção de açúcar, produzindo assim o álcool residual.
A diretoria da usina de açúcar Santa Terezinha, além das aquisições dessas
unidades de produção, não deixou de investir na ampliação e melhoria dos canaviais,
modernização permanente do parque industrial das usinas e, principalmente, na diversificação
da produção. Entre 1993 e 1996 o Grupo Santa Terezinha implantou 4 novas fábricas de
açúcar, com reconstrução total da unidade de Maringá, além das fábricas das unidades de
Tapejara (1993), Paranacity (1993) e Ivaté (1996). Fato que repercutiu na elevação em grande
escala da produção de açúcar e de álcool (retratado na Tabela 20).
127
Tabela 20 - Indicadores da evolução histórica da área colhida, da moagem e da produção
álcool e açúcar do Grupo Santa Terezinha - 1987 a 1995
Ano
Área colhida
(Ha)
Moagem (t)
Álcool (anidro +
hidratado) m3
Açúcar cristal
(t)
1987 8.163 674.194 29.491 19.514
1988 8.746 618.607 31.512 2.003
1989 14.442 887.797 53.634 15.551
1990 14.276 966.853 55.770 13.138
1991 20.398 1.200.323 80.705 18.085
1992 20.450 1.260.942 82.582 18.663
1993 22.006 1.301.825 71.762 29.514
1994 31.150 2.261.737 131.293 58.227
1995 36.606 2.812.911 150.972 87.410
Taxa de crescimento 20,14% 19,40% 21,70% 34,40%
R
2
0,9546 0,9224 0,9186 0,5819
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
Vale destacar que em dezembro de 1994 foi apresentado ao BNDES o
Projeto de Modernização e Eficiência do Parque Produtivo, com investimentos nas 4
unidades, objetivando o aumento das escalas de produção e a intensificação dos ganhos de
produtividade agrícola e industrial.
O Projeto foi implantado entre 1995 e o primeiro semestre de 1996, com o
apoio dos agentes financeiros Banco do Brasil S.A e o BRDE. Os investimentos nesses dois
anos foram de US$ 56,0 milhões, sendo US$ 12,6 milhões com recursos próprios e US$ 43,4
provenientes de financiamentos para aplicação nos seguintes sub-projetos:
• Implantação de 14.325 ha de lavouras de cana-de-açúcar;
• Modernização do parque produtivo com aumento de 40% na moagem de
cana-de-açúcar, incremento de 240% na produção de açúcar e 14% na produção de álcool;
• Implantação da fábrica de açúcar na Unidade de Ivaté;
• Aumento da produtividade e qualidade em todos os segmentos: agrícola,
industrial e comercial.
128
14%
16%
18%
20%
19%
15%
15%
2.873
3.417
3.596
4.017
4.384
3.847
4.435
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Participação da Usina no Paraná
moagem (t)
A partir de então, o Grupo Santa Terezinha teve uma evolução e se tornou o
maior produtor paranaense. A evolução da produção, em quantidade por produtos, pode ser
visualizada nos Gráficos 3, 4, e 5, além de retratar a participação da Usina Santa Terezinha
Ltda, no total da produção por produtos no Estado do Paraná entre 1995 a 2001, período de
consolidação do Grupo.
Gráfico 3 - Moagem de cana-de-açúcar do Grupo Santa Terezinha
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
23%
27%
32% 32% 32%
16%
19%
87.410
147.522
224.716
334.720
445.581
318.639
429.810
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Participação da Usina no Paraná
Produção de açúcar (t)
Gráfico 4 - Produção de açúcar do Grupo Santa Terezinha
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
129
10%
8% 8%
11%
10%
14%
13%
150.965
156.000
129.692
85.253
85.412
90.970
92.485
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Participação da Usina no Paraná
Produção de álcool (m3)
Gráfico 5 - Produção de álcool (anidro e hidratado) do Grupo Santa Terezinha
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
Atualmente, a missão da Usina Santa Terezinha é a que se segue:
Produção de cana, álcool, açúcar e derivados, atendendo o mercado sucroalcooleiro,
aprimorando produtos e processos, com eficiência, competitividade e lucratividade,
satisfazendo clientes e colaboradores, propiciando melhor qualidade de vida à sociedade”.
Seu foco está centrado emCapitalizar a empresa, reduzindo o
endividamento em níveis que permitam investir no aumento da capacidade de moagem,
logística, armazenagem de açúcar e geração de energia. Dar continuidades as ações que
resultem em redução de custos e aumento da produtividade”.
Os objetivos firmados pela empresa são os de ampliar gradativamente a
capacidade de moagem para 2,0 milhões de toneladas/ano nas 4 Unidades do Grupo,
associada a formação de novas lavouras de cana-de-açúcar e avaliar a alternativa de co-
geração de energia elétrica nas 4 Unidades de Produção, após terem atingido a capacidade de
moagem de 1,5 milhões de toneladas/ano.
As metas permanentes se subdividem em:
130
- Manter e ampliar as ações internas de gestão, objetivando a redução de
custos e aumento da produtividade agrícola e industrial;
- Investir permanentemente em renovação e formação de novos canaviais.
- Dar continuidade ao processo de modernização industrial;
- Aprimorar os processos de gestão, ampliando os programas de
capacitação profissional, orçamento, controles e qualidade total;
- Manter os projetos de valorização dos colaboradores, ampliando
parcerias e associações em áreas de interesse do Grupo;
- Certificar as áreas de produção de cana como ecologicamente corretas e
de certificação ISO nas áreas industrial e comercial.
O plano de investimentos está em função da capacidade de geração de caixa
da empresa para alavancar novos aportes sem perder a lucratividade. O Grupo observa que as
oportunidades para o açúcar e álcool, esse em médio prazo, estão no mercado internacional
em função da competitividade desses produtos. No mercado interno, a co-geração de energia
elétrica desponta como uma oportunidade de médio prazo. E que, da mesma forma, as
ameaças estão na volatilidade dos preços no mercado internacional, na manutenção das
barreiras do livre comércio, protecionismo e riscos nas variáveis macroeconômicas da
economia brasileira (basicamente juros e câmbio).
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
O aumento nos indicadores de produtividade agrícola e industrial foram
expressivos a partir da segunda metade da década dos anos 90. Os fatores que ensejaram esses
131
5,1
6,8
7
7,1
7,7
8,6
8,8
8,9
9,2
0
2
4
6
8
10
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
resultados foram: a) consenso em todo o Grupo de priorizar incrementos de produtividade e
não somente o aumento de produção; b) formação de uma cultura tanto em nível de direção,
gerências e demais colaboradores da empresa, difundindo e operacionalizando novos
procedimentos de trabalho; c) Implantação de rígidos controles de operação com a cobrança
de resultados permanentes.
Os investimentos realizados na área agrícola se destinaram à novos plantios
de cana com o primeiro corte aos 18 meses, substituição da frota de tratores, caminhões e
implementos e, na área industrial, o recurso foi para a aquisição permanente de novos
equipamentos para todas as unidades.
A análise dos gráficos, contendo os indicadores de produtividade agrícola e
industrial mais representativos, demonstra que as ações de caráter estratégico e gerencial
implantadas a partir de 1994 foram determinantes para que esses resultados fossem
alcançados. A queda de produção e produtividade superior a 20% no ano de 2000, foi
resultante da seca que assolou a região Sul e o Estado de São Paulo, em pleno período de
safra.
Gráfico 6 - Rendimentos no corte de cana - tonelada de cana cortada/homem/dia
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
132
129,1
119
131,5
116,5
118
116,1
112,7
118,2
117,1
86,1
79
87,7
77,7
78,7
77,4
75,1
76,1
75,6
0 20406080100120140
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Álcool - litros/t de cana
Açúcar kg/t de cana
Gráfico 7 - Rendimentos industriais
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
O fato de esta empresa adotar uma estratégia de valorização do seu
“colaborador” teve reflexo direto na produtividade dessa mão-de-obra empregada. Vale
lembrar que, na safra 1995, um empregado era responsável por uma produção de 926,3
toneladas de cana moída. Já na safra 2000/01, este número foi de 1.910,2, ou seja, duplicou o
rendimento da mão-de-obra total empregada.
Tabela 21 - Relação de área plantada com o número de empregos do Grupo Santa Terezinha
Ano Área plantada
hectare
Empregos
Número
Área plantada/
Emprego
Média de
produção/
Emprego
1995 35.875 6.865 5,23 926,3
1996 41.790 5.996 6,97 1.323,6
1997 43.565 6.197 7,03 1.378,7
1998 47.075 7.423 6,34 1.223,2
1999 56.630 6.225 9,10 1.897,2
2000 56.800 6.277 9,05 1.458,6
2001 54.599 6.329 8,63 1.910,2
2002 55.490 6.340 8,75 1.587,9
2003 57.875 6.540 8,84 1.789,0
Taxa de crescimento 5,82% -0,25% -
-
R
2
0,8206 0,116 -
-
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
133
Quanto à prática administrativa da Usina Santa Terezinha, observou-se por
meio das características do planejamento, controle e processo decisório, organização do
trabalho, equipamentos e investimentos, produção e programação, qualificação e treinamento,
e relações externas desta empresa, um comportamento peculiar, no qual os níveis
administrativos (estratégico, gerencial e operacional) procuram interagir da melhor forma
possível.
Assim sendo, o agrupamento, orientação e implementação das atividades e
tarefas (agrícola, industrial e administrativa) estão sendo concebidas por um preceito maior de
dinamização da função.
Como o grupo Santa Terezinha é composto por quatro unidades de produção
de açúcar e álcool em Maringá, Paranacity, Ivaté e Tapejara, o crescimento de suas atividades
gerou a necessidade da implantação de uma nova estrutura organizacional e administrativa,
para melhor controle e gerenciamento, a partir de projeto de modernização e consolidação.
Neste sentido, ela contou com o apoio financeiro do BNDES.
Desde 1994, cada uma das unidades passou a ter administração
independente, cabendo ao diretor responsável conduzir o processo de plantio e colheita da
cana-de-açúcar e da produção de açúcar e álcool, de acordo com as políticas, metas e
diretrizes estabelecidas pela administração superior. A empresa holding do grupo é a Santa
Terezinha S.A. – Participações, a qual abrigam todos os acionistas da empresa.
A empresa emprega 9.004 funcionários e faturou R$ 385.182.000,00 em
2003, valor estimado em R$ 400.512.000,00 para o ano de 2005, após a implantação do
Projeto de Modernização. E sua implantação irá propiciar duas grandes vantagens
competitivas para a Usina Santa Terezinha: aumento nas escalas de produção das 4 unidades e
a ampliação na produção de açúcar.
134
Com isso, a empresa passou a dispor de opções para conduzir os processos
de produção de açúcar e álcool em função das perspectivas dos mercados interno e externo.
No ano de 1999, as receitas com exportação de açúcar representaram 82%
do faturamento da empresa e, no ano 2000, em função da recuperação dos preços do álcool, a
receita de exportação recuou para 62% e, em 2001, as exportações representaram 79%.
Gráfico 8 - Mudanças no perfil do faturamento do Grupo Santa Terezinha
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
No mercado internacional, a empresa realiza transações de açúcar com
André & Cie, Coimex, Ed & F Man, Louis Dreyfus, Simab, Tate & Lyle e Tradigrain.
Na busca pela competitividade de seus produtos no mercado internacional, a
Santa Terezinha juntamente com sete outras unidades paranaenses participou, no ano de 2001,
da criação da Paraná Operações Portuárias S/A (PASA). Localizada no Porto de Paranaguá, o
PASA é um moderno terminal de embarque com capacidade para armazenamento de 54 mil
toneladas de açúcar, e no ano de 2003 foi responsável pela logística portuária de 90% do
açúcar paranaense, quantidade esta que viabiliza totalmente esse terminal.
2001
79%
12%
3%
6%
1995
1%
26%
12%
61%
Vendas de Açúcar no
Mercado Externo
Vendas de Álcool
Hidratado
Vendas de Açúcar no
Mercado Interno
Vendas de Álcool
Anidro
135
Tabela 22 - Comercialização dos produtos e faturamento do Grupo Santa Terezinha
Quantidade (tonelada) Faturamento (US$ 1000)
Ano/safra
Produção Exportação
Produção
exportada
%
Total da
empresa (4
unidades)
Exportação
Export. no
faturamento
%
1995 87.410 5.000 6 95.465 1.050 1
1996 147.522 53.650 36 134.045 13.469 10
1997 224.716 185.019 82 124.375 45.851 37
1998 334.720 311.000 93 107.014 61.103 57
1999 445.581 424.119 95 66.835 62.293 93
2000 318.639 300.286 94 95.870 50.841 53
2001 430.000 411.500 96 109.421 78.214 71
Taxa de
crescimento
28,41% 86,85% - -3,11% 76,40% -
R
2
0,809 0,697 - 0,0902 0,6352 -
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
Através de um financiamento superior a R$ 11,9 milhões, firmado entre
BRDE e a Usina de Açúcar Santa Terezinha Ltda., esta pôde investir na ampliação do
Terminal Logístico do Distrito Industrial de Maringá. O projeto contempla a ampliação da
capacidade de armazenamento estática de 150.000 toneladas para 353.000 toneladas mediante
construção de armazém graneleiro em dois módulos e a ampliação da capacidade de carga e
descarga do complexo, gerando um terminal logístico visando a sua utilização como um
pulmão da produção destinada à exportação (BRDE financia expansão da Usina Santa
Terezinha, 2004).
A capacidade de armazenamento ampliada totaliza cerca de 90 dias de
produção, permitindo contornar atrasos de embarque de seus produtos e obter negociação de
preços mais favoráveis em função da sazonalidade destes e da redução de custos de
estocagem. De acordo com o diretor-superintendente do grupo Meneguette, essa ampliação do
Terminal Logístico “será o pulmão regulador de logística para exportação de açúcar
paranaense, integrado ao terminal portuário da PASA, em Paranaguá” (BRDE financia
expansão da Usina Santa Terezinha, 2004).
136
As unidades produtivas Usaciga, em Cidade Gaúcha, a Goioerê, a
Sabarálcool, em Engenheiro Beltrão, a Vale do Ivaí, em São Pedro do Ivaí e a COOPERVAL,
em Jandaia do Sul, se uniram ao Grupo Santa Terezinha para buscar uma logística completa
para o escoamento do açúcar de forma rápida e eficiente, na utilização do moderno terminal
rodo-ferroviário em Maringá. Ou seja, as usinas trazem o açúcar até Maringá e do terminal da
Santa Terezinha a carga sai por ferrovia até Paranaguá (TERMINAL em Maringá supre
embarque nos Portos, 2003).
No caso do álcool, à Usina de Açúcar e Álcool Santa Terezinha Ltda se
juntaram as empresas Cooperativa Agroindustrial Nova Produtiva, Cooperativa de
Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá Ltda., Cooperativa Agrícola Regional de
Produtores de Cana Ltda., Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Nova Londrina, FB –
Açúcar e Álcool Ltda., Destilaria Americana S.A., Cooperativa Agrícola de Produtores de
Cana do Vale do Ivaí Ltda., Usina de Açúcar e Álcool Goioerê Ltda. e constituíram uma
sociedade por ações denominada CPA Trading S.A. (Central Paranaense de Álcool Ltda),
com o intuito de comercializar álcool etílico (anidro e hidratado) para fins carburantes, tanto
no mercado doméstico quanto no mercado externo. Atualmente, essa trading é responsável
pela comercialização de aproximadamente 60% do álcool paranaense.
Essa sociedade busca: (i) promover, atuando como trading company, o
incremento das exportações desses produtos e a abertura de novos mercados no exterior; (ii)
prestar às suas acionistas, bem como a outras produtoras de álcool anidro e hidratado,
determinados serviços destinados ao incremento das vendas e à redução do custo de venda
desses produtos no mercado doméstico, tais como serviços de representação comercial,
planejamento de logística e transporte, gestão de vendas, dentre outros.
137
Além dessa trading, a união das empresas criou a Oceânica Terminal
Portuária, que tem a finalidade de otimizar a logística de exportação do álcool, das unidades
produtoras do Estado do Paraná.
As metas previstas para o ciclo de consolidação foram atingidas, apesar das
dificuldades externas ao ambiente da empresa, crises econômicas da economia brasileira de
1997 a 1999 resultantes dos ajustes do Plano Real e a queda do preço internacional das
commodities. No ano de 2000, a região Sul e o Estado de São Paulo foram assolados pela
seca, que reduziu em mais de 20% a produção do setor sucroalcooleiro nesses Estados.
No período de consolidação, 1995 a 2001, o aumento de produção foi
resultante do volume total de investimento, que ultrapassou R$ 162,0 milhões, gerando
receitas acumuladas de R$ 998,9 milhões. Na média, o sistema de produção gerou R$ 6,17 de
faturamento para cada R$ 1,0 investido. O número de empregos decresceu em função do
processo de aumento de produtividade agrícola e industrial, infelizmente necessário para a
consolidação e competitividade da empresa. O Gráfico 10 retrata a evolução do investimento
e do faturamento da empresa.
Gráfico 9 – Evolução do investimento e faturamento da Usina Santa Terezinha
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados fornecidos pela Usina Santa Terezinha
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
R$ 1.000
Investimentos Faturamento
138
As empresas do setor sucroalcooleiro fazem parte do conjunto das empresas
do agronegócio que têm grande proximidade e responsabilidade para com os seus
colaboradores; mais de 80% da mão-de-obra empregada pelo setor trabalha no plantio e
colheita da cana.
O setor tem mecanismos próprios de atendimento social a seus empregados,
tais como: o Programa de Assistência Social (PAS), que destina recursos próprios da empresa,
1,0% do faturamento do açúcar e 2,0% do álcool para programas sociais, transporte dos
trabalhadores e assistência médica e social para os colaboradores e seus dependentes.
Por ocasião da implantação do Projeto de Consolidação e Modernização do
Parque Produtivo foram previstas e executadas ações na área social com investimentos
superiores a R$ 615,0 mil em treinamento e construção de casas populares.
A política da empresa na área social está concentrada em 3 grandes projetos:
1) o primeiro refere-se ao capital humano. Entre os anos de 1998 e 2000,
foram investidos aproximadamente R$ 820,0 mil em treinamentos na área rural. O Programa
de Capacitação Rural, implantado neste período, tem o intuito de promover cursos
profissionalizantes para 5.920 empregados/ano, resultou entre outros benefícios, no aumento
da produtividade de 7,0 t de cana colhida por homem/dia em 1997 para 8,6 t em 2000,
acréscimo de 23% em 3 anos. Em contrapartida, esses colaboradores passaram a ter aumentos
de renda, dado que o salário é função da quantidade cortada de cana.
A empresa também patrocina cursos avançados como MBA em
administração e finanças e especialização em agronegócios para os colaboradores com
formação universitária.
2) o segundo projeto refere-se a construção de casas populares. Dessa
forma, os trabalhadores rurais da região Norte do Paraná tem características que os
139
diferenciam de outras regiões do Paraná e do País. Uma delas é o desejo obstinado de ter a sua
própria casa. Nesse sentido, a diretoria da usina Santa Terezinha tem como um de seus
objetivos na área social apoiar a construção de conjuntos habitacionais. De um lado doa áreas
para construção de moradias e, de outro, apóia o Governo do Estado para construção dos
conjuntos habitacionais.
Por ocasião da implantação do Projeto de Modernização do Parque
Produtivo, em 1994, a empresa construiu 150 casas populares nos Municípios de Ivaté e
Tapejara.
Nos últimos 4 anos, a diretoria da empresa adquiriu áreas e doou à Cia de
Habitação do Paraná (COHAPAR) para construção de 2 núcleos residenciais com 52 casas em
Ivaté e 130 em Tapajara. Foram também doadas áreas para construção de 4 Vilas Rurais, com
305 casas, nos Municípios de Mandaguaçu, Paranacity, Tapejara e Ivaté.
3) O terceiro e mais atrativo para os colaboradores é o Plano de Participação
dos Empregados nos Resultados da Empresa.
A principal motivação dos empregados de qualquer empresa é o aumento da
renda. Nesse sentido, a diretoria da usina Santa Terezinha Ltda. decidiu, em 1999, pela
implantação do Plano de Participação dos Empregados nos Resultados da Empresa,
justamente no ano mais difícil da trajetória empresarial do Grupo. Mas, de acordo com a
empresa, é na dificuldade que se formam as parcerias que geram compromissos e benefícios
recíprocos.
A concepção do Plano prevê a definição de parâmetros de desempenho a
partir de metas a serem alcançadas como, produtividade agrícola, industrial e resultados
operacionais, que são acompanhados pela empresa e colaboradores. Os parâmetros de
desempenho geram bônus que são convertidos em horas trabalhadas. Os parâmetros são
140
ajustados anualmente em função das metas programadas. Após a formalização, o Plano é
homologado no Sindicato dos Trabalhadores das Categorias.
Para os empregados com remuneração variável, o cálculo dos bônus é
realizado em função das tarefas realizadas. A média dos benefícios concedidos aos
colaboradores beneficiados nos dois anos de existência do Plano é de 1,5 salário / ano por
colaborador.
O Plano beneficiou, em dois anos, 2.961 colaboradores em 1999, 2.958 em
2000 e 3.036 em 2001.
D) Ambiente das mudanças estruturais
A Usina de Açúcar Santa Terezinha Ltda, e o BRDE têm uma parceria que
vem desde 1987, quando o Grupo assumiu o controle das destilarias COPAVI (Paranacity) e
COTAL (Tapejara). Estas unidades estavam paralisadas, provocando enorme desemprego na
região. Na atualidade, cada uma delas produz 170 mil t de açúcar VHP e 32 milhões de litros
de álcool. As duas geram 4.500 empregos diretos. Somando-se as unidades de Maringá e
Ivaté, o grupo Santa Terezinha proporciona acima de 9.000 empregos diretos no Noroeste do
Paraná. Nesta empresa, o funcionário, desde o cortador de cana até o mais alto executivo, é
denominado de colaborador e não empregado ou funcionário.
Buscando ampliar seu parque industrial, aproximadamente R$ 150 milhões
começam a ser investidos pelo Grupo no Município de Terra Rica, no extremo Noroeste do
Estado, onde será construída sua quinta unidade, para o processamento da cana-de-açúcar. O
investimento deve ser concluído no período de cinco anos, beneficiando também vários outros
Municípios, como Guairaça, Itaúna do Sul, Diamante do Norte, Santo Antonio do Caiuá e
Paranavaí. Já foram adquiridos 1.525 hectares em Terra Rica para a instalação da unidade
141
industrial e plantio do canteiro de mudas das diversas variedades de cana-de-açúcar a serem
implantadas na região. De janeiro até agosto foram plantados 800 hectares de cana e pouco
menos de 100 hectares estão sendo reservados para a construção da indústria. A produção de
açúcar e álcool deve começar em 2006, gerando 2 mil empregos e injetando R$ 1 milhão
mensais na economia local (GRUPO Santa Terezinha investe em uma nova usina no Paraná,
2004).
As principais áreas de atuação da P&D da Usina Santa Terezinha
concentram-se na: área agronômica (novas variedades de cana-de-açúcar, adquiridas
sazonalmente em São Paulo, mais especificamente da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar-SP), e de cooperadas da Cooperativa dos Produtores da Cana, Açúcar e Álcool do
Estado de São Paulo Ltda. (COPERSUCAR), e multiplicadas posteriormente na Usina (nos
métodos técnicos agronômicos); industrial (tecnologia industrial de produção de açúcar e
álcool); motomecanização e RH (Recursos Humanos). Esta preocupação com a P&D
demonstra a importância do paradigma tecnológico
9
como forma de definir o que é relevante
para uma situação mais concorrencial.
Os problemas técnicos do processo produtivo da usina são comumente
resolvidos por meio dos próprios funcionários do estabelecimento (que inclusive prestam
serviços a outras unidades) e por assessoria externa, o que demonstra uma integração com
outros pólos de tecnologia sucroalcooleira. Neste sentido, vale frisar que as inovações
9
Com o processo de desregulamentação da década de 90 vivemos uma transição do paradigma subvencionista
para o paradigma tecnológico (SHIKIDA, 1997). Para um maior entendimento do termo tecnologia, DOSI
(1984), retrata que este se refere a um conjunto de partes do conhecimento, práticos e/ou teóricos, que adquire
especificidade ao assumir formas concretas de aplicação a uma determinada atividade. Esse conjunto envolve
desde procedimentos, métodos, experiências, know-how, até mecanismos e equipamentos, sendo à busca de
novas soluções técnicas em processos e/ou produtos caracteristicamente endógena e contínua. E SALLES
FILHO (1993, p.90), ressalta ainda que a identificação da tecnologia sob esta ótica “(...) implica a percepção de
possíveis alternativas atuais e de possíveis desenvolvimentos futuros. Em outras palavras, conforma um
conjunto limitado, mas não bem definido, de caminhos a seguir”.
142
oriundas da melhor capacitação dos recursos humanos têm trazido impactos positivos para a
Usina via implementação de algumas inovações de produtos e processos pontuais.
Uma das inovações recentes do setor administrativo foi a criação do
departamento de planejamento estratégico da empresa, que visa maximizar as potencialidades
e minimizar os limites da empresa.
Quanto aos principais fatores que obstaculizam a adoção de novas
tecnologias, segundo opinião de diretoria e técnicos da Usina, o item que mais realçou foi a
“queda dos preços dos produtos – álcool e açúcar – e a instabilidade provocada pela
desregulamentação do setor”. Na seqüência aparecem, por ordem de importância, os seguintes
itens: “para outros subprodutos da agroindústria canavieira (por exemplo, bagaço de cana)
ainda não há um mercado consolidado a ponto de incentivar o surgimento de novas
tecnologias”; e, “os empresários da agroindústria canavieira, de modo geral, preferem não
assumir riscos”.
No tocante às tecnologias mecânicas adotadas, verificou-se, em várias
ocasiões, uma tendência para o uso de máquinas próprias “combinadas” com de terceiros
(60% própria e 40% de terceiros). A mecanização vai desde máquinas para plantio,
carregamento e caminhões.
Sobre o aproveitamento dos subprodutos da cana-de-açúcar, ficou patente o
uso intensivo do bagaço, vinhoto, leveduras e torta de filtro. O óleo fúsel foi vendido,
enquanto o gás carbônico foi literalmente descartado.
143
5.3.2 Usina Vale do Ivaí S/A
A) Região abrangência
Pelos idos de 1948, chegaram a esta localidade as primeiras famílias vindas
do interior do Paraná e de outras cidades brasileiras, formando um pequeno povoado. A busca
de novas terras para o expansionismo cafeeiro fez com que a região se desenvolvesse
rapidamente, obtendo excelente resultados na colheita do café, devido, principalmente, à
fertilidade do seu solo. A partir de 1963, a agricultura do Município se diversificou,
acrescentado os plantios de algodão, rami, soja, feijão e arroz, entre outros. Criado através da
Lei Estadual nº 253, foi elevado a categoria de Município em 26 de novembro de 1954 e
instalado em 30 de outubro de 1955, sendo desmembrado de Jandaia do Sul, com o nome de
São Pedro do Ivaí.
Na década de 1970, com o constante avanço do capitalismo no campo,
houve necessidade da erradicação dos cafezais e a implantação de novas culturas. Essas
transformações geram mudanças, tanto no aspecto social, como no econômico e
administrativo, motivando a utilização de produtos químicos (defensivos e adubos) em vista
do aumento da produção. Com o avanço do capitalismo no campo, veio a modernização e a
mecanização da agricultura, que exigiu novas tecnologias de produção.
Aliado a essa modernização agrícola, que alavancou as fontes mercantis da
região, surgiram as agroindústrias impulsionadas pelas novas culturas implantadas, como é o
caso da cana-de-açúcar na década de 80, por incentivo do Governo Federal através do
PROÁLCOOL.
Dessa forma, a instalação de agroindústrias em pequenas cidades tem
demonstrado ser um forte atrativo para a população rural da região norte e Noroeste do
144
Paraná, que há mais de duas décadas vem migrando em função das mudanças tecnológicas
significativas e da base produtiva da região.
Neste sentido, a usina Vale do Ivaí veio dar um novo vigor à economia de
São Pedro do Ivaí. As extensas plantações de cana, necessárias para o consumo da destilaria,
cerca de dois mil alqueires cultivados, faz com que um grande número de pessoas sejam
envolvidas nesta modalidade industrial de cultura agroeconômica. Além disso, o crescimento
da empresa fez com que ela se tornasse responsável por cerca de 40% de toda a arrecadação
de ICMS do Município de São Pedro do Ivaí; tal sua importância no contexto econômico
regional (RAINATO, 1997).
Vale destacar que no Mapa 9 está retratada a região de abrangência da usina
no contexto do desenvolvimento do Município, de sua localização e o seu entorno. Assim, a
influência da empresa está presente de forma direta em termos de área para o plantio da cana
em 7 municípios.
Mapa 9 - Região de abrangência da Usina Vale do Ivaí S/A
Fonte: Elaborado pelo autor
A cidade de São Pedro do Ivaí teve um incremento de população urbana, na
última década, 1990, superior à média regional e a do Estado, muito provavelmente em
virtude do início do plantio de cana-de-açúcar em toda a região e transformação do produto
em açúcar e álcool, através da Usina Vale do Ivaí – Açúcar e Álcool S/A.
Quinta
do Sol
Ma rumbi
Itam
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do Iv
Sã o Pedro
do Ivaí
nix
Bo m
Su c e sso
145
Os empregos sazonais na cultura da cana-de-açúcar, bem como os empregos
diretos oferecidos pela Usina e pela unidade de comercialização da COCARI
10
(Cooperativa
dos Cafeicultores de Mandaguari), e os indiretos, fomentados pela atividade industrial, têm
sido determinantes no incremento e fixação da população migrante na cidade de São Pedro do
Ivaí.
Em entrevista realizada em 10/09/2004, o Coordenador Industrial Abidias
Agostinho de Carvalho, que trabalha na empresa desde 1987 e que esta lhe deu condições de
qualificação, investindo na sua graduação e pós-graduação, relatou que: “como sou filho de
São Pedro do Ivaí eu pude notar a diferença que era a cidade antes da Vale do Ivaí e após a
Vale do Ivaí. A usina dinamizou o Município seja na área econômica, social e infra-
estrutural. As pessoas passaram a investir na cidade, melhoraram suas residências e com
isso fortaleceram o comércio”.
O Diretor Presidente Paulo Adalberto Zanetti (em entrevista realizada em
15/08/2004) assegura que: “uma empresa como a Vale do Ivaí, se examinarmos bem, na
verdade ela é uma família. Quando a gente vem aqui em fevereiro ou março, quando não está
em safra, dá uma volta na usina, agente observa os ferro, tijolo, se formos ao campo a gente
vai ver cana, estrada. Aí quando você coloca o ingrediente mais importante que são as
pessoas, aí se percebe o que realmente move uma empresa. Uma empresa toda é formada de
pessoas”. E relata ainda que a usina possui “3 recursos pra explorar e fazer com essa
empresa gire e se torne bem sucedida: a) recursos naturais: terra, água, luz e aquilo que a
natureza nos dá; b) tecnologias: caminhão, máquinas, equipamentos, computador, entre
outros; e, c) recursos humanos: que é responsável por fazer tudo isso girar. Isso reforça o
fato de que se não tiver gente, que fortaleça esse elo, a empresa não existirá. A razão de ser
da Vale do Ivaí são as pessoas”.
10
A COCARI é uma Cooperativa que no Município de São Pedro do Ivaí recebe dos seus 280 associados
produtos como a soja, milho, trigo e algodão, que são destinados a granjas e indústrias do Estado.
146
A visão expressa retrata que o caminho certo para a empresa é crescer,
desenvolver, fazer enriquecer a região e as pessoas que precisam de emprego e renda,
estabelecendo uma relação positiva entre empresa e a comunidade.
B) Aspectos históricos e gerais da usina
1
1
1
1
Como já foi visto anteriormente, a ocupação do norte do Paraná está
intimamente ligada à evolução cafeeira paulista. A região onde se localiza atualmente a
empresa seguia esse padrão e era cercada pelo café, principal fonte geradora de renda.
Entretanto, na década de 60, ocorre um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de café em
termos mundiais, que veio a degradar esse tipo de cultura. Esta situação se agravou com a
geada de 1975, forçando os agricultores a buscar outra fonte alternativa.
Assim, os agricultores da região de São Pedro do Ivaí, capitaneados pela
família Longo, se uniram para buscar uma cultura alternativa que equivalesse ao café e não
sofresse tanto com as intempéries climática. Como naquela época havia um incentivo a
produção da cultura de cana-de-açúcar e seus derivados, fomentado pela criação do
PROÁLCOOL, voltaram a produção para a agroindústria canavieira, mudando a vocação
agrícola que até então se destinava à plantação de grãos.
Neste sentido, o Senhor Jaime Longo, com intuito de promover mudanças
que viessem desenvolver e industrializar o Município de São Pedro do Ivaí e região fundou e
construiu,em 1981, a Destilaria Vale do Ivaí S/A. A produção inicial era tão somente o álcool
hidratado. Atenta ao cenário futuro que se apresentava para o álcool e a necessidade de
crescimento, impulsionou a Empresa, a aproveitar o seu potencial de produção e expandir as
áreas plantadas de cana-de-açúcar.
11
Informações cedidas pelo Diretor Presidente Paulo Adalberto Zanetti, pela Assistente Social Valéria Cristina
da Costa, pelo Coordenador Industrial Abidias Agostinho de Carvalho e captadas através dos sites:
http://www.jornalparana.com.br/anteriores/2002/junho/01.htm e http://www.valedoivai.com.br.
147
Dando novo vigor à economia de São Pedro do Ivaí, a Destilaria de Álcool
Hidrocarburente Vale do Ivaí contou com total apoio da Prefeitura Municipal, através do
Prefeito Silvério Secco. Para viabilizar a instalação da Destilaria, a Prefeitura doou uma área
de seis alqueires de um total de aproximadamente 13 alqueires necessários para sua
implantação. Com Jaime Watt Longo na presidência e Clóvis Roberto Junqueira Franco na
Superintendência e com a incessante trabalho para sua implantação, a Destilaria tornou-se
responsável por aproximadamente 40% de toda a arrecadação de ICM do Município de São
Pedro do Ivaí (RAINATO, 1997).
Diante deste contexto de transformação, em 1989 foi criada a Ivaicana
Agropecuária Ltda, uma empresa controlada pela destilaria, cuja finalidade foi a produção de
cana-de-açúcar que, somada à dos demais produtores, veio a regular o abastecimento de
matéria-prima da indústria, que até então era realizado exclusivamente por produtores
(acionistas
12
) independentes. Com a Ivaicana, a empresa visava eliminar o problema de falta
de matéria-prima para o processamento industrial.
Uma transformação importante ocorreu em 1990, quando a gestão dos
negócios da Vale do Ivaí foi transferida para a família Longo. Com essa transição houve
aumentos sucessivos de capital, viabilizando, assim, a implantação de um plano de
crescimento e diversificação da produção industrial (conforme Tabela 23).
12
No segmento sucroalcooleiro, a existência dos acionistas supridores de cana-de-açúcar, sendo os beneficiários
dos prováveis resultados econômicos obtidos, resulta em maior vigilância sobre o planejamento das estratégias
técnico-produtivas dentre as quais a verticalização do suprimento se coloca, potencialmente, como uma das mais
eficientes (VEGRO & CARVALHO, 2001).
148
Tabela 23 - Indicadores da evolução histórica das cana moída e da produção de álcool
hidratado e anidro da Usina Vale do Ivaí - 1982 a 1992
Álcool produzido em l
Ano Cana moída
Hidratado Anidro
1982 116.153 5.816,279 -
1983 337.512 23.018,521 -
1984 322.100 24.530,622 -
1985 455.375 35.515,571 -
1986 425.935 34.002,343 -
1987 351.268 25.658,273 -
1988 419.300 34.819,005 -
1989 326.866 25.376,964 -
1990 466.607 33.057,107 -
1991 573.188 40.104,223 8.883,540
1992 594.534 38.897,620 10.334,117
Taxa de crescimento 10,23% 11,51% 382,06%
R
2
0,539 0,4462 1
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí e ALCOPAR
Essa diversificação iniciou-se em 1991, quando a destilaria, aproveitando-se
de uma demanda crescente de álcool anidro no Brasil, passou a produzir este novo produto.
Dessa forma, foram instalados equipamentos para a fabricação de álcool anidro, produto que
apresentava maior velocidade de comercialização, do que o álcool hidratado.
Seguindo com o processo de diversificação de sua produção, a Empresa deu
um salto decisivo na sua história, quando, em 1993, entrou em operação a fábrica de açúcar da
Vale do Ivaí, marco importante na estratégia de diversificação da produção, de modo a
depender menos do álcool e a ter em seu portfólio uma commodity comercializada no
mercado mundial e nacional, com nítidas vantagens financeiras sobre o álcool.
Vale destacar que a fábrica de açúcar, quando foi adquirida, já era uma
estrutura montada. Havia uma estrutura em Santa Catarina do grupo Porto Belo que estava
desativada. A empresa foi, até lá e comprou essa fábrica. Entretanto, para que pudesse entrar
em funcionamento, houve a necessidade de uma reforma completa para adequá-la à infra-
estrutura da região.
149
Através da Tabela 24, constata-se que a produção de açúcar cresceu 14,71%
a.a., que o álcool hidratado, teve uma redução de 11,44% a.a., e que o álcool anidro teve uma
elevação de 4,90% a.a..
Tabela 24 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool
(hidratado e anidro) e açúcar da Usina Vale do Ivaí - 1993 a 2004
Álcool produzido em l
Ano Cana moída
Hidratado Anidro
Açúcar produzido
em toneladas
1993 707.973 36.264,392 9.729,146 264.528,00
1994 756.355 32.906,580 9.886,677 445.755,00
1995 993.770 34.568,937 15.391,578 961.246,00
1996 1.001.249 21.937,055 19.844,130 1.109.748,00
1997 1.038.749 21.031,702 17.895,246 1.247.734,45
1998 1.140.855 6.992,853 14.493,525 1.783.358,80
1999 1.025.346 4.248,414 15.969,486 1.827.842,40
2000 1.005.660 11.141,968 18.497,139 1.236.729,00
2001 1.140.210 12.409,296 19.443,142 2.023.183,20
2002 1.204.450 22.034,992 16.003,642 1.884.534,80
2003 1.301.298 6.134,871 32.770,842 2.074.075,80
2004 1.302.745 13.040,447 12.235,117 1.325.387,20
Taxa de crescimento 4,79% -11,44% 4,90% 14,71%
R
2
0,7959 0,3765 0,2737 0,6078
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
Em 1997, foram realizados investimentos significativos na planta industrial,
com objetivo de otimizar a capacidade de produção de açúcar, elevando a capacidade máxima
de produção diária de 500 para 750 toneladas.
Para efetivar e agilizar a comercialização do álcool foi criada, em 2000, a
CPA Trading, por um grupo de 13 unidades produtoras, onde a usina Vale do Ivaí detêm
9,78% do capital.
Em 2002, a usina consolidou a sua política de profissionalizar a gestão dos
negócios. O quadro diretivo passou a ser constituído exclusivamente por executivos
150
contratados. Acionistas controladores permanecem na direção da holding Ivaí Administração
e Participações S/A, que atua na definição de estratégias para as empresas do grupo.
Um novo marco importante foi quando a usina, em parceria com a Alltech,
uma empresa norte-americana, construiu, em 2002, uma nova planta próxima a empresa de
processamento de levedura, que é uma fonte rica em proteína e utilizada na alimentação
animal. Este marco caracteriza a filosofia da Empresa em diversificar e agregar valor à sua
produção.
Visando o mercado internacional do álcool, a usina, no ano de 2003,
ingressou na Oceânica Terminal Portuário, criada com a finalidade de otimizar a logística de
exportação do álcool, tendo um total de 8,3% das ações.
A área total da destilaria abrangendo todas as instalações é de
aproximadamente 50.000 m
2
. Este terreno que abriga a usina foi considerado na década de
1970 como “zona morta” por causa da geada que matou os cafezais, que, por sua vez, deram
lugar aos canaviais que renovaram a região
(RAINATO, 1997). Na Figura 1, tem-se uma
visão aérea das atuais instalações industriais da Usina.
Figura 1 - Foto aérea da Vale do Ivaí S/A – Açúcar e Álcool
Fonte: Usina Vale do Ivaí S/A.
151
Ainda no ano de 2003, a Vale do Ivaí recebeu o Prêmio Produtividade,
conferido pelo Idea, como a empresa de maior produtividade na cultura de cana-de-açúcar do
Centro-Sul e do Brasil.
Atualmente a missão da empresa é “desenvolver e empreender o
agronegócio da cana-de-açúcar com excelência e de forma sustentável, objetivando a
satisfação dos seus acionistas, colaboradores e clientes”. E a visão empresarial do futuro da
empresa mostra-se promissora, e para o ano de 2010, acredita-se que terá “expandido e
otimizado o agronegócio da cana-de-açúcar, alcançado o reconhecimento pela sua
competitividade, diversificado e agregado valor aos seus produtos, promovendo o
desenvolvimento social e econômico”. Tudo isso, com vistas a certificação da ISO 14000.
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
A evolução anual da capacidade instalada diária da Usina Vale do Ivaí foi
positiva para moagem, álcool anidro e açúcar. Entretanto, para álcool hidratado houve uma
redução, isto se deu porque a usina teve que diversificar a produção de álcool, e a redução de
um gerou a elevação do outro. Esta readequação da empresa, em termos de produção, vem de
encontro com a preocupação constante da Usina em ampliar gradualmente sua capacidade de
produção. No entanto, confrontando os dados da Tabela 23 com a 25, nota-se que a utilização
da capacidade instalada ainda não é total devido a fatores como: as oscilações dos preços
internos e externos, que tem causado uma instabilidade no mercado sucroalcooleiro; o
comportamento do arrendamento de terras, e os efeitos do processo de desregulamentação,
que contribui para aumentar o quadro de incerteza quanto aos arranjos institucionais que
vigorarão no novo ambiente desregulamentado.
152
Com capacidade instalada para industrializar 1,5 milhão de toneladas de
cana-de-açúcar por ano, a Vale do Ivaí produz açúcar, álcool anidro e hidratado, e, a partir
deste ano, iniciou a produção de levedura seca, destinada, sobretudo à exportação. Esta
iniciativa é parte do projeto de diversificação que a empresa adota desde o início da década de
1990.
Tabela 25 – Evolução da capacidade instalada diária da Usina Vale do Ivaí
Capacidade instalada diária
Safra
Moagem
Safra (Kg)
Álcool
Hidratado
Litros Diária
Álcool Anidro
Litros Diária
Açúcar
Safra (Kg)
1982 450.000,00 450.000 - -
1984 550.000,00 450.000 - -
1986 620.000,00 450.000 - -
1988 680.000,00 450.000 - -
1990 700.000,00 450.000 - -
1992 750.000,00 450.000 150.000 -
1994 990.000,00 450.000 150.000 1.000.000
1996 1.010.000,00 350.000 200.000 2.000.000
1998 1.050.000,00 350.000 250.000 2.000.000
2000 1.180.000,00 350.000 250.000 2.000.000
2002 1.350.000,00 350.000 250.000 2.000.000
2004 1.450.000,00 350.000 250.000 2.000.000
Taxa de crescimento 5,10% -1,60% 5,05% 6,76%
R
2
0,9731 0,7386 0,8291 0,5664
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
A usina prioriza o açúcar ou o álcool conforme as condições do mercado.
Quando a ênfase é dada ao açúcar, podem ser produzidas 135 mil toneladas de açúcar anuais e
30 milhões de litros de álcool. Já quando o álcool apresenta melhores condições de mercado, é
possível produzir cerca de 100 mil toneladas de açúcar e 50 milhões de litros de álcool.
Alguns indicadores de produtividade da Usina não retrataram taxas de
crescimento anuais expressivas. Assim, a eficiência de extração cresceu 0,18% a.a. e a
eficiência de fermentação decresceu 0,12% a.a. O rendimento agrícola apresentou uma taxa
de crescimento de 2,02% a.a.. Essas informações vêm de encontro com a visão empresarial de
153
futuro da empresa que é a “expansão e a otimização do agronegócio da cana-de-açúcar,
alcançado o reconhecimento pela sua competitividade, diversificando e agregando valor aos
seus produtos, promovendo o desenvolvimento social e econômico”.
Tabela 26 – Evolução da produtividade da Usina Vale do Ivaí
Produtividade Safra
Rendimento
Agrícola
Eficiência de
extração
Eficiência de
fermentação
1982 70 92,41 88,60
1984 75 93,67 90,17
1986 80 93,87 85,95
1988 96 94,73 90,50
1990 88 95,06 90,27
1992 92 96,41 88,68
1994 91 95,87 87,88
1996 95 95,50 89,61
1998 98 94,62 86,73
2000 89 94,78 88,98
2002 96 94,77 89,31
2004 98 96,02 85,96
Taxa de crescimento
2,02% 0,18% -0,12%
R
2
0,640 0,4732 0,0647
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
A Usina Vale do Ivaí está integrada ao Município de São Pedro do Ivaí, e
busca absorver os trabalhadores desempregados do Município. Com isso, acaba gerando e
atraindo colaboradores de outras regiões. Num contexto geral, cresceram ao longo do período
enfatizado, sobretudo na área industrial e administrativa. O mesmo ocorreu com o número de
empregos na área agrícola, que teve uma taxa de crescimento de 3,87%, em função do
processo de expansão da moagem total da empresa e da preocupação de adotar a colheita
manual em seus canaviais.
154
Tabela 27 – Evolução do emprego direto gerado na Usina Vale do Ivaí
Emprego
Safra
Agrícola
Industrial e
administrativo
Total
1981/82 1.285 26 1.311
1983/84 1.305 179 1.484
1985/86 1.780 204 1.984
1987/88 1.240 210 1.450
1989/90 1.200 278 1.478
1991/92 1.015 267 1.282
1993/94 1.600 337 1.937
1995/96 1.650 339 1.989
1997/98 1.650 264 1.914
1999/00 1.700 265 1.965
2000/01 1.790 262 2.052
2001/02 1.980 279 2.259
2002/03 2.027 273 2.300
Taxa de crescimento 3,87% 10,48% 4,18%
R
2
0,4817 0,3438 0,7959
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
O setor agrícola da usina é totalmente monitorado desde de 1989 pela
Ivaicana e compreende todas as etapas da produção da matéria-prima da indústria, ou seja, a
cana-de-açúcar. São cerca de 8.092 hectares de cana de açúcar cultivados no Município de
São Pedro do Ivaí e vários outros municípios vizinhos, sendo que, deste total, mais de 75% é
produção da Ivaicana Agropecuária e o restante de produtores rurais.
Tabela 28 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área total da
Usina Vale do Ivaí e da área plantada em relação a área total do Município – safra
2003/04
Município Área plantada (ha) %
São Pedro do Ivaí 8.092,13 50,65%
Marumbi 2.103,82 13,17%
Fênix 2.103,82 13,17%
São João do Ivaí 1.343,45 8,41%
Bom Sucesso 1.297,35 8,12%
Itambé 1.005,81 6,30%
Quinta do Sol 28,78 0,18%
Total 15.975,16 100,00%
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
155
Por ser uma Cooperativa, a Vale do Ivaí está atenta a redução de custos de
transporte, para evitar custos de transação
13
pela especificidade da cultura da cana-de-açúcar.
Para tanto, concentra a grande maioria de sua área de plantação num raio de 25 km da
indústria (vide Tabela 29).
Tabela 29 - Resumo geral das propriedades por distância da Usina Vale do Ivaí - safra
2003/04
Distância Nº de propriedades Área (ha)
0 – 10 Km 104 5.214,91
11 – 15 Km 54 2.814,80
16 – 20 Km 30 1.986,44
21 – 25 Km 23 790,06
A partir de 26 Km 17 1.980,59
Total 228 12.813,80
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
O clima da região é privilegiado pelas chuvas regulares e abundantes. Este
fator, aliado a fertilidade da terra e a uma boa topografia, proporciona uma alta longevidade
do canavial com uma boa estabilidade na produção. Essas características facilitam na hora do
processo de colheita, que começa com a queima da cana (que facilita o corte e evita o contato
dos trabalhadores com animais e insetos peçonhentos). O corte é todo manual, o que garante o
emprego a mais de 2.300 funcionários, ajuda na distribuição de renda e contribui com o
desenvolvimento do Município e região. O carregamento e o transporte, operações
motomecanizadas, são totalmente terceirizadas e criam mais de uma centena de outros postos
de trabalho. Com esse processo, a usina dá maior mobilidade para as suas atividades, e
garante a diminuição dos gastos com a produção.
Na área agrícola são realizados tratos culturais na cana, com a aplicação de
fertilizantes e herbicidas, de forma a ter um canavial nutrido e sem a presença de plantas
13
Os custos de transação foram definidos por Williamson apud Zylbersztajn (1995), como os custos ex-ante de
preparar, negociar e salvaguardar um acordo, bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações quando
a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas. Em suma, são os custos
de conduzir o sistema econômico.
156
daninhas. Todo este processo é feito com acompanhamento técnico da Ivaicana, responsável
em garantir o bom andamento de todas atividades, de acordo com as especificações
agronômicas e com a legislação ambiental.
A Vale do Ivaí, além de possuir um parque industrial moderno e dotado de
alta tecnologia, possui também uma grande versatilidade na sua produção, sendo capaz de
produzir os açúcares do tipo VHP e cristal, seja à granel, em big bags, sacas de 50 kgs ou
empacotado, além do álcool anidro, álcool hidratado e derivados de levedura.
A empresa visa continuamente a redução de custo, através da uma política
de crescimento da produção, modernização do parque industrial, utilização de novas
variedades de cana com alto potencial de produtividade, dentre outras.
Dentro de nova linha de trabalho, a Vale do Ivaí S/A Açúcar e Álcool,
consolidou sua política de profissionalizar a gestão dos negócios. Os acionistas controladores
permanecem na direção da holding Ivaí Administração e Participações S/A, com sede em São
Paulo, e o quadro diretivo passou a ser constituído exclusivamente por executivos
contratados. Essa holding atua na definição de estratégias para as empresas do grupo e os
executivos colocam os projetos em desenvolvimento.
A comercialização obedece a um cronograma de produção, que é baseado
nos números da produção de cana-de-açúcar, capacidades de moagem da indústria e
condições de mercado para os produtos finais, os álcoois anidro, hidratado e o açúcar VHP.
A comercialização do açúcar é realizada pelo Departamento Comercial da
Vale do Ivaí S/A através de tradings, que funcionam como agentes de mercado, para
identificar possibilidades para colocação do produto em nível mundial. A logística se dá
através de vendas antecipadas tipo “pré-pagamento”. Esta forma de comercialização evidencia
uma posição de aversão ao risco, pois com o tipo “pré-pagamento” a empresa busca garantir o
157
preço de seu produto antecipadamente, podendo deixar de ganhar caso haja uma casual
elevação de preços, mas, não perde numa situação de casual diminuição de preços. Com este
tipo de prática contratual procura-se ter maior segurança quanto às expectativas de receitas e,
conseqüentemente, menos incerteza.
Subordinado ao Departamento Comercial está o Departamento de Logística,
ao qual compete a execução e o acompanhamento do transporte dos produtos desde a usina
até o porto de Paranaguá, no caso do açúcar e do álcool para exportação.
Assim, o açúcar, no ano de 2003, ultrapassou a marca de 106.000 toneladas,
dos quais 83% foram comercializados no mercado internacional, através de uma logística de
distribuição, que compreende o transporte rodoviário e/ou ferroviário e o PASA. As
evoluções das exportações podem ser acompanhadas pela Tabela 30. Para este mercado
externo o destino do açúcar é a Rússia, Marrocos, Irã, Arábia Saudita, Canadá e Egito. Em
média o custo do transporte para a exportação de açúcar é de R$ 60,00 a tonelada. Em se
tratando da comercialização interna, o açúcar bruto é enviado para refinarias, indústrias
alimentícias (refrigerantes, doces, etc).
Tabela 30 - Exportação de açúcar bruto Usina Vale do Ivaí
Ano
Toneladas US$ FOB (mil)
Preço Médio
Unit US$/t
2001 74.015 12.858 173,72
2002 82.781 13.279 160,41
2003 88.000 12.803 145,49
2004* 90.000 13.954 155,04
Total 334.796 52.894 -
Fonte: dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
* previsão
Neste sentido, buscando a competitividade de seus produtos no mercado
internacional, a Vale do Ivaí juntamente com outras unidades paranaenses criaram o PASA
158
em 2001, e sua cota acionária é de 13,18%. Com esse investimento foi possível reduzir
expressivamente as tarifas portuárias.
Em 2003 a Vale do Ivaí comercializou, também, 22.900 t de creme de
levedo e 4.549 t de levedura seca com a Alltech.
Vale destacar que a Usina Vale do Ivaí, com o intuito de facilitar e agilizar o
processo de comercialização de seus produtos, bem como a garantia de mercado, se juntou a
outras empresas na constituição da CPA Trading S/A no ano de 2000. Esta visa prospectar
negócios e agregar valor ao produto álcool através da terceirização das áreas comerciais das
unidades, o que reduz o custo. Com isso, toda a logística do álcool, é realizada pela CPA
Trading S/A, que tem a função de uma Trading/corretora, responsável pela comercialização
do álcool nos mercados internos e externos.
Além disso, com uma visão de futuro no mercado internacional do álcool, a
Usina, em 2003, ingressou na Oceânica Terminal Portuário, criada com a finalidade de
otimizar a logística de exportação do álcool.
Com todo este suporte logístico, a empresa, que em 2003 produziu mais de
40 milhões de litros de álcool, comercializou um total de 3,6 milhões de litros destinados ao
mercado internacional. E para o ano de 2004 a comercialização foi de um volume de 5
milhões de litros (Tabela 31). O destino deste álcool é a Coréia, Japão e Suécia, tendo um
custo de Transporte do Álcool para a exportação de R$ 58,00 p/m
3
.
Tabela 31 - Exportação de álcool Usina Vale do Ivaí
Anos
Volume
(m
3
)
Receita
US$ FOB (mil)
Preço Médio
Unit US$/m
3
2003 3.579 690 192,79
2004 5.000 1.023 204,60
Total 8.579 1.713 -
Fonte: Dados fornecidos pela Usina Vale do Ivaí
159
No caso do álcool e do açúcar para o mercado interno, as vendas são
realizadas na condição “PVU – Posto Usina”, correndo por conta do comprador os custos com
transporte. A negociação interna é realizada com as Companhias distribuidoras baseadas nos
Estado do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
A criação destes artifícios de comercialização de produtos advindos da
agroindústria canavieira resultam do espírito de companheirismo (criado a partir do processo
de desregulamentação do setor sucroalcooleiro) e da ajuda mútua de unidades paranaenses
que viram nestas parcerias uma forma de otimização da sua comercialização e de redução nos
custos de logística, aumentando assim, a sua competitividade.
Um novo marco importante para a inovação da Usina foi em 2002, quando a
empresa firmou uma parceria com a Alltech, uma empresa norte-americana, com a matriz em
Curitiba, no Paraná, e uma filial em São Pedro do Ivaí (única no Brasil). A partir desta
parceria construiu uma nova planta de processamento de levedura
14
, que é uma fonte rica em
proteína e utilizada na alimentação animal. Este marco caracteriza a filosofia da Empresa em
diversificar e agregar valor à sua produção.
Esta parceria consiste na exclusividade do fornecimento à Alltech do creme
de levedo, vapor, água e energia. Além de processar a levedura da fermentação da sua
indústria, a empresa processa também a levedura de várias usinas e destilarias do Paraná,
utilizando, inclusive, o levedo da fermentação da AMBEV. Assim, o levedo líquido é
transformado em sólido pela empresa americana. É interessante ressaltar que até recentemente
o subproduto da industrialização da cana era descartado com a vinhaça e usado na adubação
14
A O fermento que garante o pão e a cerveja, a levedura clássica, Saccharomyces, além de um conteúdo de
proteína de 40% a 50% do peso seco, contém ainda 5% gordura insaturada (maiormente triglicerídios e
fosfolipídios dos saudáveis ácidos palmitoleico (75%) e olêico (25%) e ainda um complexo de vitaminas: B1
tiamina, B2 riboflavina, B6 piridoxina e PP niacina. Alimento nobre tanto para fins humano quanto animal na
forma de proteína unicelular ou SCP, Single Cell Protein (e.g., ração para peixes). Para cada litro de mosto
fermentado até etanol restam 13 g de levedura seca e este título de biomassa microbiana de alto valor nutricional
pode ser incrementado em até 4 x, se aprimorada e redirecionada a tecnologia fermentativa. De subproduto, a
levedura vai assumindo contornos negociais de probiótico (FONTANA, 2004).
160
do solo. Com a nova fábrica a levedura passa por um processo de secagem, agregando-se
valor ao produto da cana.
A empresa é formada eminentemente de pessoas, e a Vale do Ivaí tem
consciência disso. É uma grande fonte geradora de empregos da região. São mais de 2.600
empregos diretos, que, somados aos empregos gerados na parceira com a Alltech e os postos
de trabalhos gerados com a terceirização das atividades motomecanizadas totalizam mais de
2.800 empregos, “fazendo da Vale do Ivaí um celeiro de trabalho, esperança e progresso
para São Pedro do Ivaí e toda a região” palavras do diretor presidente Paulo Adalberto
Zanetti.
Todos os funcionários da Vale do Ivaí são registrados, percebendo todos os
seus direitos trabalhistas, sendo que o controle de jornada é totalmente automatizado, fazendo
da empresa uma referência no assunto.
Além de uma política salarial justa e equilibrada com o mercado, a Empresa
desenvolve também, há mais de três anos, um fator motivacional importante que agrega ainda
mais no desempenho dos seus funcionários. O Plano de Participação nos Resultados (PPR)
que é um programa no qual o colaborador, ao atingir metas pré-determinadas, garante uma
remuneração adicional.
A Empresa busca através do Setor de Formação de Pessoas, a seleção de
profissionais habilitados aos cargos oferecidos, e melhoria na capacitação do colaborador,
promovendo o seu crescimento profissional, através do desenvolvimento de suas habilidades e
competências, visando uma melhoria contínua no seu desempenho.
A política social da empresa objetiva satisfação e a qualidade de vida dos
seus funcionários e da comunidade. Com este intuito a usina oferece uma gama de benefícios
que compreende plano de saúde com atendimento completo aos funcionários e dependentes,
161
bolsas de estudo e transporte escolar para cursos superiores e técnicos que garantem a
empresa um ótimo nível de qualificação de seus funcionários e um completo e moderno
restaurante onde são oferecidos aos funcionários refeições a baixo custo e com
acompanhamento de nutricionistas.
Através da CANAPAR os trabalhadores da área agrícola tem atendimento
médico, ambulatorial, odontológico e farmacêutico.
A empresa também se empenha na luta pela erradicação do trabalho infantil
disponibilizando as instalações necessárias ao funcionamento do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (PETI).
A empresa tem preocupação com a segurança do trabalhador, afinal são
mais de 2600 vidas sob sua responsabilidade, por isso a empresa mantêm uma equipe de
profissionais habilitados que supervisionam todo o trabalho dos funcionários, orientando e
treinando quanto a correta utilização dos equipamentos de proteção individual oferecidos pela
empresa e realizando o trabalho preventivo de saúde ocupacional, através de palestras e
distribuição de informativo e consultas individuais.
A Vale do Ivaí iniciou em 2000 uma política agressiva de terceirização.
Destaca-se hoje como uma das mais terceirizadas em operações moto-mecanizadas, com
apreciável redução dos custos de produção. Preocupada com o impacto social dessa política e
simultaneamente com o desenvolvimento de São Pedro do Ivaí, a usina implantou esse projeto
seguindo um programa de financiamento e treinamento em parceria com o Banco do Brasil e
o Sebrae. O resultado foi que muitos empregados passaram a ser pequenos empresários ao
adquirir máquinas e equipamentos e constituir as suas empresas para prestar serviços à usina.
Essa foi a forma que se encontrou para que recursos e empregos ficassem na cidade, criando
assim oportunidades para o crescimento do comércio local.
162
De acordo com a assistente social Valéria (entrevistada em 10/09/2004) “a
empresa não só favorece as pessoas de São Pedro do Ivaí, onde ela está localizada a 3 KM,
mas todas a região. Atende funcionários de vários municípios e distritos, entre os quais
citam-se: Bom Sucesso, Kaloré, Borrazópolis, Marumbi, Luisiania, Terra Boa, Itambé,
Jardim Alegre, Quinta do Sol, São João do Ivaí, Ubaúba, Santa Luzia, Lunardeli, Ivaipoirã,
Barboza Ferraz, entre outros”. A Usina está intimamente ligada a formação educacional dos
seus colaboradores, “absorve não só trabalhadores já formados, mas as pessoas que já estão
empregados na empresa recebem apoio para a sua qualificação. Para tanto a empresa
fornece bolsa de estudo de até 50% da mensalidade e do transporte”.
A Usina busca, ainda, a melhoria da qualidade de vida dos seus
colaboradores, sendo realizado um projeto juntamente com o Governo do Estado, Caixa
Econômica, COAPAR e a Vale do Ivaí, para a construção de mais de 70 casas, única e
exclusivamente para funcionários da empresa.
D) Ambiente das mudanças estruturais
A empresa visa continuamente a redução de custo, através da uma política
de crescimento da produção, modernização do parque industrial, utilização de novas
variedades de cana com alto potencial de produtividade, dentre outras.
Neste sentido, busca a plena utilização dos subprodutos gerados pela
transformação da cana-de-açúcar em um produto elaborado. Dessa forma, o bagaço, resultante
da moagem, é pré-secado e utilizado como combustível nas caldeiras gerando energia que
movimenta seus maquinários, tornando o processo auto-suficiente. A pré-secagem garante
uma sobra de bagaço que possibilita novos projetos de co-geração de energia elétrica.
163
Já a vinhaça, que é um dos subprodutos da destilação na produção do álcool,
é utilizada na fertirrigação da cana e sua distribuição é feita através de equipamentos e
tubulações especiais, bombas e canais em gravidade.
A levedura é comercializada com a Alltech, e é utilizada como insumo na
indústria de alimentos e na indústria de ração animal. “É o suplemento protéico mais barato
até hoje encontrado” (conforme afirma o coordenador industrial Abidias Agostinho de
Carvalho).
Em se tratando da torta de filtro, esta é destinada a adubação orgânica na
plantação e para a formação do canavial. O óleo fusel é todo para a comercialização. A usina
tem uma parceria com empresa Oxteno (indústria de produtos farmacêuticos e cosméticos),
para qual é destinado este subproduto. E para o CO
2
a usina tem um trabalho de recuperação
do álcool que é expelido com o gás.
Está em fase de negociação uma Joint Venture para a produção de fermento,
em que será despendido um investimento de 9,5 milhões de dólares. Com isso a empresa
pretende duplicar a produção de leveduras, ampliando o seu leque de comercialização.
Conforme apresenta Azevedo (1997, p. 69) a Joint Ventureé uma prática que se constitui na
associação de duas ou mais empresas para o exercício de um negócio específico. (...) No que
se refere a comercialização de produtos agroindustriais, o uso desta prática está associado a
expansão de multinacional das empresas. Assim a associação de capitais representa uma
associação interesses, em que os pontos fortes de cada empresa se complementam”.
164
5.3.3 Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí Ltda - COOPERVAL
A) Região de abrangência
15
No ano de 1924, um grupo de capitalistas Ingleses, chefiados por Lord
Lovat, em visita ao Norte do Paraná, deparou-se com as maravilhosas terras roxas aqui
existentes. Impressionados com a feroz floresta, onde eram comuns o cedro, a peroba, o pau
d’alho e a figueira branca, os componentes da comitiva ficaram bem impressionados. Tal foi o
entusiasmo inicial que resolveram adquirir grande porção da gleba que representa hoje a
maior parte do território dos municípios que compõem a região norte do Paraná.
Assim, entre os anos de 1925 a 1927, esse grupo adquiriu por escritura
pública junto ao Governo do Estado do Paraná, uma área de 500.000 alqueires entre os rios
Paranapanema, Tibagi e Ivaí. Para realizar esse empreendimento, o grupo montou a
Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP), com sede em Londrina, tendo como sua
maior acionista a empresa Britânica Paraná Plantation Ltda., com sede em Londres.
A companhia colonizadora lançava-se ao extraordinário plano de povoação
da região, a partir da criação definitiva da cidade de Londrina, em 1931.
O Município de Jandaia surgiu obedecendo a um programa traçado pela
CTNP, que fez a divisão do território em pequenas propriedades, nunca ultrapassando a
quinze ou vinte alqueires. Usualmente, todos os lotes eram planejados de forma a terem a sua
água. Também era costume a própria Companhia abrir as primeiras estradas e os carreadores.
A forma de pagamento dos lotes obedecia mais ou menos o seguinte sistema: 40% de entrada
e o restante em dois anos.
15
Informações cedidas através de entrevistas e do PARANACIDADE (2004)
165
O região de Jandaia do Sul, localizado na margem esquerda do estradão que
caminhava sempre para oeste, foi uma das últimas realizações daquela organização.
Patrimônio aberto em 1942, Jandaia do Sul tornou-se logo um centro de convergência de
agricultores, vindos dos mais diferentes e distantes rincões do Estado e do País.
Jandaia do Sul, pelo seu desenvolvimento, tornou-se logo distrito de
Apucarana e, em 1949, distrito Judiciário com a instalação do Cartório de Paz. Foi elevado à
categoria de Município a 14 de novembro de 1951, pela Lei Estadual n.º 790, e sua instalação
ocorreu exatamente um ano após, ou seja, 14 de dezembro de 1952. Face ao grande
desenvolvimento da região até 1954, o território do Município teve desmembrados os distritos
de Bom Sucesso e São Pedro do Ivaí.
São escassas as referências históricas quanto ao território de Jandaia do Sul.
Entretanto, as atividades de implantação civilizadora do Município estão definitivamente
ligadas à história do norte do Paraná, e do Brasil. Município situado em região privilegiada,
por onde hoje se estende a BR 369, Jandaia encontra-se no centro da coluna vertebral da
economia do Estado. Liga-se por via asfáltica e ferroviária aos maiores centros comerciais,
industriais e culturais do País. Curitiba, Paranaguá, São Paulo, Santos e Rio de Janeiro são
alcançados tanto por ferrovia quanto por rodovia, saindo-se de Jandaia, e de onde se viaja por
asfalto, para todas as regiões mais densamente povoadas do Brasil, até o extremo sul, o
Planalto Central e o extremo norte.
Está na agricultura sua maior fonte de economia, onde se destaca a produção
de café, milho, soja, feijão, arroz, produtos que são comercializados na região, vendidos pela
maioria dos produtores aos revendedores.
O café, outrora a maior das riquezas do Município, aos poucos foi sendo
substituído por outros produtos agrícolas. Constantes geadas e, ainda, o aparecimento de
ferrugem, prejudicou e enfraqueceu a cafeicultura da região. O plantio de cana-de-açúcar
166
iniciou-se somente em 1980, época da implantação da Usina de Álcool da COOPERVAL,
como uma alternativa de cultura, bem como a principal matéria-prima para a transformação
de álcool.
Atualmente a empresa COOPERVAL dinamiza a região, gerando um campo
de influência que vai além do Município de Jandaia do Sul, em termos de área plantada com
cana-de-açúcar. Fato que pode ser observado através do Mapa 10.
Mapa 10 - Região de abrangência da Usina COOPERVAL
Fonte: Elaborado pelo autor
Além disso, o Município conta com várias indústrias importantes no âmbito
social e econômico, entre as quais citam-se: Indústria Missiato de Bebidas Ltda (Caninha
Jamel) – considerada uma das maiores do Brasil, a Agrícola MK Ltda e a Café Jandaia; além
da COOPERVAL.
Considerando a estrutura da Usina COOPERVAL, esta possui uma grande
importância por ser a principal empresa em valor adicionado para o Município.
A usina se destaca em três importantes aspectos para o desenvolvimento do
Município, quais sejam: arrecadação municipal; geração de empregos; e renda. Entretanto, os
impactos negativos proporcionados à região são: as estradas rurais bastante danificadas pelos
caminhões que transportam a cana e o fator mais importante é a poluição ambiental.
167
B) Aspectos históricos e gerais da usina
16
No início de 1980, quando estava terminando a primeira fase do
PROÁLCOOL, um produtor da região de Jandaia do Sul, que viria a ser associado da
Cooperativa, participou da fundação de uma Cooperativa semelhante em Tapejara (que hoje
pertence ao grupo Santa Terezinha) onde também possuía uma propriedade. Com a
experiência criada com a implantação da usina em Tapejara, esse produtor trouxe a idéia para
o prefeito Hermínio Vinholi. Logo o prefeito buscou parceria com alguns produtores rurais da
região e prefeitos dos quatro municípios vizinhos (Bom Sucesso, Cambira, Marumbi e
Kaloré), para a formação de uma unidade de processamento de cana-de-açúcar.
Formou-se, então, um grupo de 100 produtores, que se aproveitando das
expectativas positivas do PROÁLCOOL, especificamente da sua segunda fase, quando a
cana-de-açúcar adquiria grande importância para o país como nova opção de fonte energética
em função das sucessivas crises mundiais apresentadas pelo petróleo, constituíram a
Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí Ltda (COOPERVAL), em 05 de julho de 1980.
No dia 04 de abril de 1981, houve o lançamento da Destilaria de Álcool,
iniciando-se a construção dessa indústria. Ainda em 1981, iniciou-se o projeto de implantação
do canavial (haja vista que não existia o cultivo de cana-de-açúcar na região). Inicialmente
foram plantados 1.475,86 hectares, estabelecendo-se um plano gradativo de aumento da área
plantada até atingir, no ano de 1997, a marca de 10.838,33 hectares efetivamente plantados.
Para 1998, houve a consolidação dos objetivos iniciais da COOPERVAL, com uma área de
plantio de 11.401,26 hectares. Fato que pode ser apresentado na Tabela 32 e 33.
16
Informações cedidas pelo Diretor Presidente Hélcio Rabassi e através do site oficial da empresa
<http//www.COOPERVAL.com.br>.
168
Tabela 32 - Indicadores da evolução histórica da área plantada, cana moída e da produção de
álcool hidratado e anidro da Usina COOPERVAL - 1981 a 1995
Álcool produzido em l
Ano
Área plantada
hectare
Cana moída
Hidratado Anidro
1981 1.475,86 - - -
1982 2.603,63 - - -
1983 2.917,94 182.340.125 11.680.959 -
1984 3.361,18 250.578.457 18.540.970 -
1985 3.754,87 275.971.525 20.509.129 -
1986 4.073,00 297.512.890 21.741.662 -
1987 4.598,51 215.617.416 14.993.582 -
1988 3.999,29 312.942.805 22.939.346 -
1989 3.895,01 259.260.593 20.021.966 -
1990 4.315,87 251.112.007 14.993.582 3.908.198
1991 4.873,54 270.761.679 18.659.846 4.031.851
1992 5.643,29 352.074.760 22.951.514 4.615.689
1993 6.699,89 333.642.533 16.992.888 6.760.847
1994 8.011,82 427.948.974 24.851.848 5.159.212
1995 9.180,61 566.559.130 45.035.963 -
Taxa de crescimento 9,93% 6,22% 5,05% 11,33%
R
2
0,8675 0,646 0,3566 0,5845
Fonte: COOPERVAL, 2003
Outro aspecto, que pode ser extraído da Tabela 32, retrata a evolução da
quantidade de cana moída e da quantidade de álcool hidratado e anidro produzidos no período
de 1981 a 1995, que tiveram uma taxa de crescimento significativa (6,22%; 5,05% e 11,33%
respectivamente).
Com esses dados pode-se confirmar o fato de que a COOPERVAL surgiu
única e exclusivamente para a produção de álcool hidratado, que teve uma evolução
considerável neste período, especificamente no ano de 1995, chegando a 45.035 mil litros. Em
se tratando do álcool anidro, este teve apenas um período de 5 anos de produção, iniciado em
1990.
Em 1989, a ALCOPAR, juntamente com o governo estadual, conseguiu
para o Estado do Paraná cotas para a produção de açúcar pelas destilarias; tendo a
COOPERVAL conseguido também sua cota para produzir açúcar, fato que envidou grandes
esforços para início da construção da Fábrica de Açúcar. Esses esforços se viram coroados
169
quando em 20 de julho de 1996 ocorreu sua inauguração, proporcionando à COOPERVAL
nova fonte de receitas, através da exportação do açúcar, trazendo, conseqüentemente, divisas
para o País.
Para que fosse possível a construção da fábrica do açúcar buscou-se
recursos junto ao BNDES, através do Banestado. Esses recursos foram destinados à
reconstrução da unidade produtiva, pois a Cooperativa era uma destilaria pequena para o
processamento de 300 mil toneladas de cana e 18 milhões de litros de álcool por ano (safra
1993 e 1994). Para atender a nova demanda da fabricação do açúcar, houve a necessidade de
ampliar a produção de cana para 1 milhão de toneladas, tendo em vista a capacidade instalada
de moagem da indústria (além de ampliar a geração de vapor, energia, entre outros). Como
relatou o atual Diretor Presidente da destilaria Hélcio Rabassi (entrevista 20/08/2004): “foi
praticamente a construção de uma fábrica nova dentro da velha, utilizamos a estrutura
antiga para expandir”.
O sistema montado na usina é um dos processos mais elaborados existentes.
Funciona com um sistema de vácuo contínuo, não o convencional que é sistema de bateladas.
O Sistema de vácuo contínuo é francês, chamado Lê Grincé. Na época da sua montagem, em
1996, existia apenas 4 usinas deste tipo.
A evolução da produção de açúcar desde a implantação da fábrica até a hoje,
pode ser visualizada pela Tabela 33. Houve uma expansão considerável da produção até 1999,
quando no ano 2000 e 2001 foi interrompida, devido a uma grande geada que assolou a
região, fazendo com que a cana perdesse a sacarose e a produtividade da usina caísse. O
crescimento foi retomado em 2002.
170
Tabela 33 - Indicadores da evolução histórica da área plantada, cana moída e da produção de
álcool e açúcar da Usina COPERVAL - 1996 a 2004
Álcool produzido em l
Ano
Área
plantada
hectare
Cana moída
Hidratado Anidro
Açúcar
produzido
sacas 50 Kg
1996 9.174,89 717.383.212 42.604.497 2.860.016 266.582
1997 10.838,33 715.937.117 38.405.653 - 603.798
1998 10.087,79 969.521.939 37.479.766 - 1.147.204
1999 11.401,26 799.844.210 31.414.138 - 1.150.023
2000 9.375,20 557.687.328 26.929.711 - 328.998
2001 9.461,64 660.735.680 24.559.512 - 961.800
2002 9.335,43 644.332.384 20.222.210 - 1.082.141
2003 9.775,97 901.420.000** 34.727.473 - 1.270.102
2004* 10.711,43 920.000.000** 27.818.391 - 1.421.560
Taxa de crescimento -0,05% 1,13% 5,64% - 15,49%
R
2
0,003 0,0277 0,4368 - 0,4128
Fonte: COOPERVAL, 2003
* valor previsto
** cana bruta
A COOPERVAL contou, ao longo de sua história, com 3 diretores
presidentes. O primeiro, que fundou a Cooperativa, foi o senhor Hermínio Vinholi (1980); o
segundo, foi o senhor Camilo Marques Toledo, que permaneceu como diretor por dois
mandatos (1981-1988); terceiro e atual presidente é o senhor Hélcio Rabassi, que está a 16
anos no cargo, mas acompanha a usina desde a sua fundação, ocupando cargo com diretor
secretário nesta época.
Atualmente a missão da COOPERVAL está firmada no “objetivo de
promover o desenvolvimento sócio-econômico de seus Cooperados, Colaboradores e da
Região, por meio de Assistência Técnica na produção de Cana-de-Açúcar, produzindo e
comercializando Alimentos e energia Renovável, com tecnologia avançada e qualidade
superior, objetivando a satisfação do Cliente, respeitando o indivíduo, a sociedade e o meio
ambiente”.
171
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
A capacidade instalada diária para a safra 2003/2004 é de 300 mil toneladas
de cana moída, 300 m
3
de álcool e 14.000 quilos de açúcar.
Em se tratando da questão da produtividade da usina, pode-se inferir que
para alguns indicadores de produtividade da Usina, conforme os dados da Tabela 34, tiveram
taxas de crescimento positiva. A eficiência de extração cresceu 0,67% a.a. e a eficiência de
fermentação 0,81% a.a. Com relação ao rendimento agrícola, este apresentou uma taxa de
crescimento expressiva de 10,66% a.a..
Tabela 34 – Evolução da produtividade da Usina COOPERVAL
Produtividade
Safra
Rendimento
Agrícola
Eficiência de
extração
Eficiência de
fermentação
1999 59,49 93,00 84,14
2000 69,83 94,74 85,94
2001 69,02 94,78 88,98
2002 92,21 94,77 89,31
2003 85,89 96,02 85,96
Taxa de crescimento 10,66% 0,67% 0,81%
R
2
0,8114 0,7931 0,2551
Fonte: COOPERVAL, 2003
A empresa não possui dados históricos referentes ao número de
colaboradores. Neste sentido, foi possível, tão somente, a coleta de dados das três últimas
safras. Com estes dados, pode-se dizer que a empresa demanda uma quantidade expressiva de
mão-de-obra do Município de São Pedro do Ivaí e do seu entorno. Para o emprego agrícola
obteve-se um crescimento de 4,45% a.a., para o industrial e administrativo o crescimento foi
de 7,35% a.a. para os anos analisados. Este aumento do número de empregos vem de encontro
com o objetivo da empresa “de promover o desenvolvimento sócio-econômico de seus
Cooperados, Colaboradores e da Região”.
172
Tabela 35 – Evolução do emprego direto gerado na Usina COOPERVAL
Emprego
Safra
Agrícola
Industrial e
administrativo
Total
2001/02 1.100 440 1.540
2002/03 1.104 438 1.542
2003/04 1.115 430 1.545
Taxa de crescimento 4,45% 7,35% 5,46%
Fonte: COOPERVAL, 2003
A empresa utiliza apenas cana dos cooperados e de uma pequena produção
própria, em torno de 10% do total, desenvolvido em terras arrendadas. O cooperado planta,
também, cana em áreas próprias e arrendadas. “Sendo uma Cooperativa pode-se dizer que
tudo é cana própria”, sentencia do diretor presidente.
A colheita é toda manual; nada é mecanizado. Assim, cabe ao produtor
somente o cultivo e algumas vezes o sulco quando vai realizar o plantio. A empresa se
encarrega da queima, corte e transporte de toda a produção, realizando uma prestação de
serviços para o produtor. Com isso, garantiu a padronização da matéria-prima para o
processamento industrial.
Considerando a produção da destilaria COOPERVAL, observa-se que a
empresa tem uma grande preocupação com o custo de transporte. Concentra, para tanto,
grande parte de sua área a 25Km da indústria. Além de reduzir custos, evita perda de sacarose
no tempo gasto para a cana cortada chegar à indústria para ser processada (Tabela 36).
Tabela 36 - Resumo geral das propriedades por distância da Usina COOPERVAL - safra
2003/04
Distância Nº de propriedades Área (ha)
0 – 10 Km 130 3.682,11
11 – 15 Km 106 3.393,63
16 – 20 Km 51 2.270,65
21 – 25 Km 12 404,71
A partir de 26 Km 17 960,33
Total 316 10.711,43
Fonte: COOPERVAL, 2003
173
A distribuição destas propriedades por Município pode ser visualizada na
Tabela 37, que retrata o demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a
área total da Cooperativa e da área plantada em relação a área total do Município – safra
2004-2005. Um fato interessante que deve ser destacado nesta Tabela é que o Município de
Jandaia do Sul, que cedia a indústria COOPERVAL, não é o que se destaca em termos de
fornecimento de área para o plantio da cana. Perde para dois municípios (Bom Sucesso e
Marumbi) que detêm, juntos, 65,66% em termos de área plantada. Isso se dá,
fundamentalmente, porque o Município de Jandaia do Sul possui a Indústria Missiato de
Bebidas Ltda, que produz a caninha Jamel e que também necessita da cana para extração da
cachaça. Esta empresa torna-se, dessa forma, “receptora” de matéria-prima, que resulta
diretamente na diminuição da participação de cana plantada destinada para a Destilaria
COOPERVAL.
Tabela 37 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área total da
Usina COOPERVAL e da área plantada em relação a área total do Município –
safra 2004/05
Município
Área plantada
(ha)
% do município
na área total da
usina
Área total do
Município (ha)
% de cana
plantada/área do
Município
Bom Sucesso 4.499,57 42,01% 32.310,00 13,93%
Marumbi 2.533,41 23,65% 21.447,01 11,81%
Jandaia do Sul 2.128,02 19,87% 18.820,00 11,31%
Cambira 472,21 4,41% 14.759,99 3,20%
Kaloré 353,98 3,30% 19.419,99 1,82%
Mandaguari 392,00 3,66% 33.510,00 1,17%
Itambé 133,45 1,25% 25.374.50 0,53%
São Pedro do Ivaí 42,09 0,39% 32.300,00 0,13%
Apucarana 84,1 0,79% 54.438,99 0,15%
Itacolomi 72,6 0,68% 16.012,00 0,45%
Total 10.711,43 100,00% 268.392,48 3,99%
Fonte: COOPERVAL, 2003
Um fato positivo dessa interação entre as empresas produtoras de álcool e
cachaça está na ampliação da extensão da área da produção de cana, o que gera uma gama de
174
recursos financeiros e sociais para os municípios circunvizinhos às indústrias, haja vista que
são municípios pequenos e que sua economia está voltada para a produção agrícola. A
agroindústria canavieira tornou-se, portanto, uma grande geradora de empregos. Considerado
a área total dos municípios, constata-se que em Bom Sucesso a participação da cana é de
13,93%, Marumbi 11,81% e Jandaia do Sul 11,31%.
A empresa para conseguir se manter no mercado tem que ter ganhos de
escala e produtividade. O setor não remunera a ineficiência de ninguém, afirma o Diretor
Presidente Hélcio. E assegura ainda: “Pra se ter uma idéia, antigamente quando o controle
do preço era feito pelo Governo, as usinas eram muito ineficientes em termos de rendimentos.
Sempre que os negócios não iam bem se resolvia o preço com o Governo. Hoje o mercado é
livre, você coloca a mercadoria na porta daí pra fora quem manda é o mercado. O
empresário tem que ser bom da porta pra dentro, da porta pra fora não tem poder, ele não
manda”. Para confirmar a rentabilidade da empresa, a Tabela 38 mostra uma evolução
crescente do nível de faturamento a partir de 1999.
Tabela 38 - Evolução do faturamento da empresa em reais da Usina COOPERVAL
Ano Faturamento % de aumento
1999 32.928.946
2000 38.100.302 7,65
2001 43.052.294 15,7
2002 50.587.216 16,0
2003 61.901.578 17,5
Total 226.570.336 -
Fonte: COOPERVAL, 2003
Em se tratando da gestão financeira, a empresa possui um departamento
financeiro, que trabalha com um orçamento anual, que é elaborado pela própria equipe da
empresa, e que faz, por seu turno, um monitoramento mensal.
175
A COOPERVAL vem investindo continuadamente em equipamentos
modernos e ampliando suas instalações, visando atingir sua capacidade ideal. Ciente do
acirrado aumento da competitividade e da concorrência iniciou, em agosto de 1996, a
implantação do Programa de Qualidade Total, com o objetivo de investir também na
capacitação e auto-desenvolvimento de seus colaboradores e cooperados, ou seja, gerar uma
mudança na mentalidade do quadro funcional, trabalhando com treinamentos constantes.
A empresa adota a estratégia de produção “de baixo para cima” (bottom-up),
em que as melhorias na produção constroem a estratégia cumulativamente, ou seja, o que a
experiência diária sugere que as operações deveriam fazer (SLACK et al., 2002).
No ano de 2002 foi implantado o Plano de Participação nos Resultados
(PPR), que é uma forma de valorizar a participação efetiva do colaborador na melhoria da
competitividade da empresa, trata-se de uma forma adicional de remuneração, que resulta em
crescimento e afirmação no mercado.
Um dos objetivos que a Cooperativa tem no momento é a Qualificação e
Certificação para a ISO 9000 e, posteriormente, para a ISO 14000. Para que esse objetivo se
torne realidade, a empresa vem trabalhando no sentido de promover a mudança de
mentalidade de seus colaboradores e na reformulação da estrutura organizacional. Chiavenato
(1998), mostra que as empresas estão voltadas no nível operacional, predominantemente, para
a busca e manutenção da sua eficiência e, no nível institucional, para a adequação da
organização às necessidades do seu ambiente de tarefa. Essa dupla preocupação com a
eficácia e a eficiência da organização está presente no processo de planejamento, organização,
direção e controle administrativo.
Destacam-se do aspecto administrativo da Usina estudada a co-
responsabilidade, o trabalho em equipe e entre equipes (dinamismo nos fluxos de informação)
e a educação continuada como forma de melhor capacitar o profissional da empresa.
176
A comercialização do açúcar se dá em grande parte para o mercado externo,
e as transações são realizadas pela Trading Ed & Man do Brasil S/A. Assim, a Cooperativa
manda o seu produto para o armazém da Usina Santa Terezinha, em Maringá, e esta se
encarrega de fazer o embarque para o porto, através do Terminal Logístico rodo-ferroviário.
Em se tratando do álcool etílico, as decisões mercadológicas referentes à
comercialização são realizadas pela CPA Trading, localizada, também, no Município de
Maringá. Esta faz, por sua vez, a venda e determina a qual distribuidora a empresa deve
entregar a sua produção de álcool. A evolução dos preços médios do álcool hidratado para o
ano de 2003 pode ser analisada através do Gráfico 10.
1.725 1.748
1.570
577
2.337
784
1.241
1.479
2.114 2.142
1.140
5.791
890
949
878
927
821
661
602
653
571
609
676
596
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
Álcool hidratado Pro Médio R$/m3
Gráfico 10 - Vendas e preços médios do álcool hidratado – Jan./Dez. de 2003
Fonte: Relatório da diretoria, 2003
“Hoje dos quatro agentes da cadeia, apenas dois estão ganhando dinheiro:
que é o distribuidor e o posto de abastecimento. O consumidor e o produtor, que se
encontram nas extremidades, estão perdendo consideravelmente em relação aos outros dois”
assegura o Diretor Presidente da COOPERVAL.
177
O maior investimento realizado pela empresa foi a reconstrução da destilaria
para montar a fábrica do açúcar. Na área agrícola, investiu-se em transporte e renovação do
equipamento já existente, fato que pode ser observado na Tabela 39.
Tabela 39 - Investimentos agrícola e industrial da Usina COOPERVAL
Agrícola Industrial
Ano
Direto Indireto Direto Indireto
Total
2002 8.274.653,61 2.217.000,00 32.447.220,54 3.813.559,00 46.752.433,15
2003 6.126.604,45 1.104.981,00 21.999.804,00 2.467.061,00 31.698.450,45
Fonte: Relatório da diretoria, 2003
Em termos de inovações tecnológicas, a usina tem um convênio com o
Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA/UFPR), da Universidade
Federal do Paraná, que faz parte da Ridesa
17
. O Programa está voltado para as novas
tecnologias, aumento de produtividade e o mapeamento do solo, para a extração das suas
potencialidades.
A Usina COOPERVAL, no que diz respeito ao seu Departamento de
Recursos Humanos, tem como princípio de trabalho proporcionar o crescimento pessoal e
profissional dos seus funcionários. Existem constantes treinamentos internos (onde são
enfatizados a transmissão de informação, o desenvolvimento de habilidades, atitudes e
conceitos) e externos (financiados integralmente pela Usina), e o requisito da escolaridade
mínima está ficando cada vez maior (isto faz parte da sistematização da certificação da ISO
9000). O trabalho infantil é um fato que não existe nessa empresa.
A melhoria das condições de trabalho e qualidade de vida é outra
preocupação dessa unidade. Neste sentido, o fornecimento de refeições subsidiadas (existe
restaurante próprio na área industrial), atendimento odontológico, assistência médica,
17
Rede que congrega as universidades federais com pesquisa relacionadas com cana-de-açúcar, como
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Campus Araras – SP e a Universidade Federal do Paraná.
178
assistência social (combate de vícios – bebida, jogos, etc. – orientação familiar), lazer (es
sendo construída a sede da Associação de Funcionários da Usina) e transporte coletivo são os
serviços desenvolvidos pela empresa, visando o bem-estar do colaborador.
Ademais, buscando dar agilidade à produção, a COOPERVAL está
desenvolvendo um programa de participação de resultados, que prevê a integração de todo o
seu quadro funcional. Quando esses objetivos forem atingidos a empresa compromete-se a
distribuir os resultados entre os quadros do processo que conquistaram os índices previstos.
Com este tipo de política de recursos humanos ela procura estar em
harmonia com o mundo em sua volta, primando por manter seus sensores ligados e
sintonizados com a realidade atual.
A Cooperativa tem como objeto social promover o estímulo, o
desenvolvimento progressivo e a defesa das atividades econômicas e sociais, de caráter
comum de seus cooperados, bem como realizar a venda de álcool e do açúcar, produzidos das
mudas de cana-de-açúcar e da semente de sorgo sacarino e da produção agropecuária de seus
cooperados nos mercados locais, nacionais e internacionais. Contribuem, ainda, na
distribuição e comércio de álcool etílico carburante e seus derivados, produzidos ou
adquiridos pela Cooperativa, e na importação, aquisição, distribuição e comércio de produtos
de petróleo e seus derivados. Promove, também, a prestação de serviços atribuídos aos seus
setores especializados, incluindo, mas não se limitando, às áreas de: compras, contabilidade,
economia, finanças, informática, medicina, operações, publicidade, recursos humanos,
serviços industriais, tributos, vendas e no agenciamento de navios, explorando os serviços de
transportes e entregas de seus produtos e derivados mencionados.
Dessa forma, com base na colaboração recíproca de seus cooperados, está
presente em todas e quaisquer atividades necessárias ou correlatas aos seus objetivos.
179
D) Ambiente das mudanças estruturais
Num contexto geral a empresa tem uma preocupação continuada com a
redução dos custos de produção, para tanto tenta adotar um política de crescimento,
modernização e utilização de novas variedades.
Em se tratando de P&D a Usina COOPERVAL vem buscando
melhoramentos genéticos de variedades de cana-de-açúcar na área agronômica e tecnologia
industrial. A busca gradativa por produtividade faz com a empresa se preocupe em
desenvolver os seu RH e adotar a motomecanização (que somente não é aplicada na colheita
da cana).
Visando um melhor aproveitamento dos subprodutos, a empresa os utiliza
de forma intensiva. O bagaço resultante da moagem é pré-secado e utilizado como
combustível nas caldeiras, gerando energia que movimenta seus maquinários, tornando o
processo auto-suficiente. A pré-secagem garante uma sobra de bagaço que possibilita novos
projetos de co-geração de energia elétrica.
Da mesma forma, a vinhaça, que é um dos subprodutos da destilação na
produção do álcool, é utilizada na fertirrigação da cana e sua distribuição é feita através de
equipamentos e tubulações especiais, bombas e canais em gravidade.
A levedura é comercializa com a Usina Vale do Ivaí, e é utilizada como
insumo na indústria de alimentos e na indústria de ração animal. É o suplemento protéico
mais barato até hoje encontrado.
Em se tratando da torta de filtro, esta é destinada a adubação orgânica na
plantação e para a formação do canavial. O óleo fusel é todo destinado para a
comercialização. A usina tem uma parceria com a empresa Oxteno (indústria de produtos
180
farmacêuticos e cosméticos), para qual é destinado este subproduto. E para o CO
2
a usina tem
um trabalho de recuperação do álcool que é expelido com o gás.
5.3.4 Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu Ltda - COFERCATU
A) Região abrangência
A primeiras penetrações sertanejas para a região onde se encontra
Florestópolis ocorreram na década de 1940. O início do povoamento aconteceu quando da
derrubada das matas existentes para o plantio do café e da cana-de-açúcar. Inicialmente
denominado de Patrimônio São João, quando Sr. João Dias dos Reis, possuidor de uma gleba
de terra resolveu dividi-la em lotes rurais e urbanos e vendê-los com grandes prazos, no
intuito de formar a nova cidade.
Florestópolis tornou-se Município através da Lei n° 790, de 14 de novembro
de 1951, e instalado oficialmente em 14 de dezembro de 1952, sendo desmembrado de
Porecatu.
Com a implantação da COFERCATU, em 1963, o Município passou a obter
um maior controle da comercialização dos produtos, inicialmente denominados pela produção
de café, que estava no seu auge.
Atrelado a produção cafeeira estava a produção de cana-de-açúcar, que era
estimulada pela Usina Central Paraná localizada no Município Porecatu. Somente em 1980, o
Município passou a se auto-sustentar e a processar esse produto.
181
A Cooperativa COFERCATU responde hoje por 72% de todos os tributos
arrecadados pela Prefeitura de Florestópolis. É também a maior fonte geradora de emprego da
cidade: são 260 empregos na área industrial e mais 1.300 na área agrícola, além de mais de
1.000 empregos indiretos. Os trabalhadores volantes vêm de várias cidades da região, como
Porecatu, Miraselva, Alvorada do Sul, Centenário do Sul, Prado Ferreira, Jaguarapitã, Bela
vista do Paraíso, Primeiro de Maio e Cambe, ampliando assim o leque de abrangência da
Usina no desenvolvimento local da região.
Em termos de área cultivada com cana, a Usina COFERCATU atinge 7
municípios, conforme o Mapa 11.
Mapa 11 - Região de abrangência da Usina COFERCATU
Fonte: Elaborado pelo autor
Vale destacar que Florestópolis foi um Município pequeno, cuja população
estimada, em 2004, é de 12.190 habitantes.
B) Aspectos históricos e gerais da usina
A COFERCATU foi fundada em 11 de junho de 1963 por um grupo de 28
cafeicultores da região, insatisfeitos com o sistema de comercialização de sua produção, sob
182
a denominação de Cooperativa dos Cafeicultores de Porecatu Ltda. O grupo fundou a
Cooperativa com o objetivo de beneficiar, rebeneficiar, padronizar, vender e exportar a
produção de seus cooperados. Em 1965 ampliou seu quadro para 130 associados. Recebia, à
época, o montante de 200 mil sacas de café para comercialização e fornecia em torno de mil
toneladas de adubo.
No ano de 1964 adquiriu um terreno de 28.000 m² e iniciou a construção do
seu armazém para estocagem de 250.000 sacas de café beneficiado e instalação de máquinas
de benefício e padronização. No ano posterior, já contando com 130 cooperados, recebia
200.008 sacas de café para comercialização e fornecia em torno de 1.000 toneladas de adubo.
Adquiriu em 1968, das Casas Blanc S/A o prédio onde atualmente é sua
sede social em Porecatu e iniciou a atividade de fornecimento de gêneros e utilidades aos
cooperados para distribuição aos seus empregados rurais, na época residentes nas
propriedades.
A COFERCATU atingiu um estágio em que foi considerada a Cooperativa
brasileira com o maior estoque de café disponível e com 1.400 cooperados. Em meados da
década de 1960, a Cooperativa passou a atuar, também, na área de grãos. Foram construídos
dois entrepostos no Estado que se destacaram como os primeiros a usar silos metálicos.
Em 1970, com alteração estatutária, passou sua razão social para
Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu Ltda. No ano de 1972 movimentava
em torno de 280.000 sacas de café beneficiado, 1.300 toneladas de fertilizantes, inseticidas,
fungicidas e outros e um valor correspondente ao dobro destes insumos em gênero e
utilidades, além de repassar os financiamentos do Banco do Brasil para todos os cafés
estocados. Nesta época a ferrugem nos cafeeiros já provocava grandes estragos, o que obrigou
a Cooperativa a importar da Alemanha 200 toneladas de oxicloreto de cobre, operação inédita
para Cooperativas.
183
Após as grandes geadas de 1975, foi autorizada em assembléia a execução
do projeto para construção de graneleiros ou silos para abrigar a atividade de produção de
cereais, que então atraía os produtores de café, desestimulados pelos preços e aumento de
custos. A Cooperativa chegou, então, a ter em estoque mais de 500.000 sacas de café
beneficiado, necessitando para tanto dos armazéns da AGEF (Armazéns Gerais Ferroviários
S/A) e do IBC (Instituto Brasileiro do Café) da região. Em 1976 já contava com duas
Unidades de cereais, em Florestópolis e Prado Ferreira, e com a instalação das primeiras
baterias de silos metálicos do Brasil em nível de Cooperativa, com capacidades de 15.000
toneladas estáticas de armazenamento cada uma.
Tentando driblar essa crise provocada pela geada, que queimou
praticamente toda a plantação de café do norte do Paraná, no ano de 1980 foi aprovado o
projeto de construção da Destilaria de Álcool pelo programa PROÁLCOOL. Foi assim que a
COFERCATU instalou a sua destilaria de cana-de-açúcar em Florestópolis.
A destilaria de álcool COFERCATU iniciou suas atividades na safra
1986/87, com uma produção de 228,094 toneladas de cana moída e 14.119.581 litros de
álcool hidratado (Tabela 40).
Tabela 40 - Alguns indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool
hidratado da COFERCATU – safra 1986/87 a 1992/93
Safra
Cana Moída
(t)
Álcool hidratado (m
3
)
86/87 228.094 14.120
87/88 298.426 21.701
88/89 277.566 22.750
89/90 304.681 24.315
90/91 316.591 22.538
91/92 378.376 31.181
92/93 445.962 32.415
Taxa de crescimento 9,79% 12,15%
R
2
0,878 0,8114
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004
184
Devido à necessidade de diversificação de produtos oriundos da cana-de-
açúcar, a Destilaria COFERCATU iniciou, no ano de 1994, a produção de açúcar, passando a
ser uma usina de açúcar e álcool. Nesta safra a empresa esmagou cerca de 440 mil toneladas
de cana-de-açúcar, produzindo 32.915 m
3
de álcool (hidratado e anidro), e 12,1 mil sacas de
açúcar (cristal e VHP).
Tabela 41 - Indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de açúcar, álcool
hidratado e anidro da COFERCATU – safra 1993/94 a 2003/04
Safra
Cana Moída
(t)
Açúcar
scs 50 Kg
Álcool
hidratado (m
3
)
Álcool anidro
(m
3
)
1993/94 437.023 12.127 32.915 -
1994/95 521.282 217.281 32.634 -
1995/96 650.700 402.182 38.583 -
1996/97 629.215 368.020 40.023 -
1997/98 566.397 418.700 32.570 -
1998/99 658.709 522.180 17.743 12.503
1999/00 527.689 560.380 12.804 11.899
2000/01* 423.824 400.340 19.822 12.985
2001/02* 489.810 479.019 15.301 10.191
2002/03* 505.150 444.009 19.046 7.646
2003/04* 547.861 528.000 18.631 12.269
Taxa de crescimento
-0,64% 22,94% -8,78% -4,63%
R
2
0,0209 0,3873 0,5756 0,1978
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004 e * COFERCATU, 2001 a 2003
Em 1996 foi concretizada a securitização das dívidas originadas do crédito
rural; do valor securitizado 2/3 referem-se as altas taxas de juros praticadas a partir de 1994,
decorrentes da política de juros adotada pelo país após o Plano Real. Foi ampliada a
capacidade de moagem de cana e de produção de açúcar e álcool. Para o ano de 1998, a Usina
passou a produzir, paralelamente, o de álcool hidratado e o álcool anidro.
Para se manter competitiva no mercado, foi aprovada a participação da
COFERCATU em duas novas empresas: Paraná Ecológico S/A (PESA) e Paraná Operações
Portuárias S/A (PASA). A empresa PESA foi constituída por Cooperativas e Usinas de açúcar
185
e álcool para produzir o aditivo AEP-102
18
. A empresa PASA foi igualmente constituída
pelas Cooperativas e usinas de açúcar e álcool para viabilizar a participação destas empresas
em futuras licitações que envolvessem terminais portuários. Além disso, foi aprovada a
participação no Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária
(RECOOP).
Atualmente a COFERCATU continua atuando com o foco voltado para
novos métodos e tecnologia que possam agregar qualidade e rentabilidade à produção de seus
cooperados e parceiros.
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
A capacidade instalada diária da safra 1995/96 a 2003/04 é de 5 mil
toneladas de cana moída, 320 m
3
de álcool (sendo possível a fabricação de 240 mil litros de
álcool hidratado e 180 mil litros de álcool anidro, ou vice-versa) e 4.100 sacas de açúcar.
Com relação a produtividade da usina, pode-se inferir que os indicadores de
produtividade tiveram taxas de crescimento positivas, o rendimento agrícola cresceu 5,85%
a.a. e a eficiência de fermentação 1,13% a.a. O auge da produtividade para a empresa se deu
no de 2003, quando obteve um maior grau de rendimento e eficiência.
18
O aditivo AEP-102, processado a partir do óleo de soja, é biodegradável, possui alto índice de cetano e
excelentes propriedades lubrificantes e solubilizantes. Adicionado ao álcool, permite que este possa ser
misturado ao diesel obtido do petróleo, obtendo-se mistura que, como ocorre com o biodiesel, não exige
qualquer modificação dos motores aos quais é destinada e provoca sensível redução de emissão de poluentes.
Para que seja eficaz, a mistura deve conter 89,4% de óleo diesel, 8% de etanol anidro e 2,6% de AEP-102
(Diesel aditivado aceita álcool, 2004).
186
Tabela 42 – Evolução da produtividade da Usina COFERCATU
Ano Rendimento agrícola Eficiência de fermentação
1999 65,81 80,72
2000 60,61 83,94
2001 68,91 83,26
2002 74,25 80,87
2003 79,03 87,00
Taxa de crescimento
5,85% 1,13%
R
2
0,7592 0,3343
Fonte: HISTÓRICO produção Paraná, 2004 e * COFERCATU, 2001 a 2003
A usina COFERCATU está localizada no Município de Florestópolis e
conta com o apoio dos municípios da região, onde busca absorver os trabalhadores
desempregados e alterar a infra-estrutura local. O quadro de evolução dos empregos diretos
fornecidos pela usina estão retratados na Tabela 43. Os dados retratam que o nível de
emprego da indústria aumentou em apenas 1,27% a.a. devido a necessidade de especialistas
para operar os equipamentos com alta tecnologia que a empresa utiliza. Em se tratando dos
empregos da área administrativa, estes tiveram uma redução de 7,98% a.a. O mesmo ocorreu
com o número de empregos na área agrícola, que tiveram um decréscimo de 0,85%. Mesmo
com essa pequena redução do emprego agrícola a empresa tem uma preocupação com o social
e, ainda, adota a colheita manual em seus canaviais.
Tabela 43 – Evolução do emprego direto gerado na Usina COFERCATU
Safra Agrícola Industrial Administrativo Total
1994/95 1.294 238 35 1.567
1995/96 1.236 238 32 1.506
1996/97 1.482 229 21 1.732
1997/98 1.276 235 19 1.530
1998/99 1.383 254 18 1.655
1999/00 1.332 254 18 1.604
2000/01 1.060 256 18 1.334
2001/02 1.195 247 17 1.459
2002/03 1.273 261 16 1.550
2003/04 1.302 260 15 1.577
Taxa de crescimento
- 0,85% 1,27% - 7,98% - 0,62%
R
2
0,0846 0,671 0,774 0,0724
Fonte: Dados fornecidos pela COFERCATU
187
A área cultivada com canaviais é de 7.430 hectares, sendo 5.290
pertencentes a 43 associados, em 72 propriedades, e 1.762 hectares de parceria agrícola, em
11 propriedades, abrangendo 8 municípios, conforme pode ser observado na Tabela 44. O
parque industrial da usina se localiza no Município de Florestópolis, que detêm 50% de toda a
área plantada, seguido pelo Município de Porecatu, com 14,93%, onde se destaca a presença
da primeira Usina do Paraná, a Central Paraná. Um fato interessante desta empresa é que ela
conta com a área do Município de Taciba, localizado na região de São Paulo, que contribui
com 5,35% do total de área plantada da Usina.
Tabela 44 - Demonstrativo das áreas plantadas em cada Município com relação a área total da
COFERCATU - safra 2003/04
Município Área plantada (ha) %
Florestópolis 3.715,20 50,00
Porecatu 1.109,15 14,93
Miraselva 595,69 8,02
Alvorada do Sul 591,13 7,96
Centenário do Sul 553,34 7,45
Prado Ferreira 427,41 5,75
Taciba (região de São Paulo) 397,83 5,35
Jaguarapitã 40,66 0,55
Total 7.430,41 100
Fonte: Dados fornecidos pela COFERCATU
Em termos de localização da área agrícola, a empresa se preocupa com a
especificidade elevada deste produto, seja locacional ou temporal. Assim, a cana que é
processada tem sua localização, na grande maioria, em área cuja distância é inferior a 20 Km
da indústria (conforme o Mapa 11), reduzindo os custos com transporte e minimizando o
problema de perda de sacarose por permanência da cana no campo após as queimadas. Todos
esses cuidados visam aumentar a produtividade agrícola e a eficiência industrial.
Pode-se dizer que a COFERCATU, nesta região, vem apresentando, desde a
sua fundação, modernas e inovadoras metodologias na condução de seus negócios. Deste
188
modo, mantém-se preocupada com as estratégias a curto e em longo prazo, a fim de aproveitar
todas as oportunidades oferecidas pelo mercado e pela economia. Na verdade, a essência de
toda e qualquer estratégia se apóia na realização de três investimentos inter-relacionados – na
produção, na distribuição e numa estrutura gerencial para planejar e coordenar as operações
do grupo. Com isso, a Cooperativa reúne estratégias de crescimento e diversificação de
produtos e serviços conseguindo, assim, a sua consolidação no cenário empresarial.
“A satisfação dos desejos dos associados com a prestação de serviços
eficientes e de qualidade, dentro dos princípios cooperativistas, é preocupação permanente
da administração da Cooperativa, o que nos leva sempre a procurar alternativas de negócios
e estudos de investimentos, porém calcados nos tradicionais critérios de prudência,
segurança e rigor financeiro”, conforme afirma o presidente José Otaviano de Oliveira
Ribeiro (entrevista dia 10/10/2004).
A melhoria dos preços dos produtos nos últimos anos permitiu que a
Cooperativa passasse a utilizar, em suas operações, capital de giro próprio, reduzindo os
custos e melhorando os resultados. A cana-de-açúcar, um dos principais produtos cultivados
pelos associados da COFERCATU, teve uma evolução considerável de rendimento na receita
bruta considerável. Entretanto, para o período de 2001 a 2003 houve uma redução na receita.
Quando se analisa o lucro bruto, observa-se que a melhoria em tecnologias e produtividade
fizeram com que a Cooperativa obtivesse um lucro bem maior em 2003, se comparado com o
de 2001 (Gráfico 11).
189
35.712.013
11.719.553
34.231.572
13.140.091
34.564.312
15.623.616
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
35.000.000
40.000.000
2001 2002 2003
Receita Bruta
Lucro Bruto
Gráfico 11 - Receita bruta e lucro bruto da Usina COFERCATU
Fonte: COFERCATU, 2001, 2002 e 2003
Para se manter competitiva no mercado, a COFERCATU faz parte do PASA,
que foi constituído, como já foi dito, pelas Cooperativas e usinas de produção de açúcar e
álcool para viabilizar a participação destas empresas em futuras licitações que envolvam
terminais portuários. Assim, a comercialização dos produtos da Cooperativa se dão através de
uma bem estruturada logística de distribuição, que compreende o transporte rodoviário,
ferroviário e o portuário (através do PASA).
Em termos de exportação de açúcar, a Cooperativa começou a atuar no
mercado internacional a partir do ano de 2000, fato que está retratado na Tabela 45. Pode-se
observar, dessa forma, que o total exportado mais que duplicou de 2000 a 2001. Após este
período, houve uma considerável quebra no volume exportado. Essa queda foi devido a
necessidade da empresa em destinar o açúcar produzido para o mercado interno, mais
especificamente para as empacotadoras. O açúcar VHP que é exportado tem destino para a
Europa, Ásia e Arábia Saudita.
190
Tabela 45 - Exportação de Açúcar da Usina COFERCATU
Anos
Açúcar Bruto
(Toneladas)
2000 9.633,8
2001 21.963,5
2002 17.588,3
2003 10.529,6
Fonte: Dados fornecidos pela COFERCATU
O álcool é destinado, em sua totalidade, ao mercado interno para as
distribuidoras, que se encarregam para o abastecimento dos postos para o consumidor final.
Esse processo de comercialização, de acordo com o presidente José Otaviano de Oliveira
Ribeiro, não beneficia a usina. Segundo ele, a distribuidora acaba ficando com os lucros
maiores. Para o ano 2004, a empresa iniciou a exportação de álcool carburente, do que se
espera o aumento da lucratividade.
Sendo uma Cooperativa com perspectiva no futuro, a COFERCATU busca
cada vez mais melhorias na sua infra-estrutura e na sua tecnologia agrícola e industrial,
atendendo as necessidades dos seus cooperados. Neste sentido, tende a realizar investimentos
nas áreas que julga necessária. No ano de 2000, a Cooperativa estava atenta ao término da
construção da oficina mecânica na destilaria, bem como na aquisição e trocas de caminhões
canavieiros, produção de mudas de cana e café, ampliação dos equipamentos e veículos para
as unidades de cereais, consumo e assistência técnica, ampliação dos sistemas de informação
e comunicação e simplificação, racionalização e reestruturação de setores e sistemas
operacionais. Para o ano de 2001, os investimentos aumentaram em 50%, o destino deste
capital foi a aquisição e troca de caminhões canavieiros, produção de mudas de cana,
ampliação dos equipamentos para as unidades de cereais, adequação tecnológica dos sistemas
de informação e comunicação, simplificação, racionalização e reestruturação de setores e
sistemas operacionais e a exportação de álcool (Gráfico 12).
191
600
900
(50,0%)
2.000
(122,2%)
1.853
(-7,4%)
3.800
(105,1%)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
investimentos (R$ mil)
2000 2001 2002 2003 2004
Gráfico 12 – Investimentos realizados pela Usina COFERCATU
Fonte: Dados fornecidos pela COFERCATU
Com um aumento de 122,2% no total investido para o ano de 2002, foi
construído um almoxarifado para a destilaria, produzidos mudas de cana, ampliados os
equipamentos para as unidades de cereais e realizada uma adequação tecnológica dos sistemas
de informação e comunicação. Em 2003, os investimentos foram reduzidos em 7,4%, mas,
mesmo assim, a Cooperativa investiu na ampliação da área de cana em terras arrendadas, na
aquisição, substituição e ampliação de equipamentos de processamento de dados
(informática), na compra de móveis, utensílios, ferramentas e outros bens para os locais de
trabalho e atendimento aos cooperados, máquinas, equipamentos e melhorias para os setores
operacionais e início da ampliação do recebimento de cereais das unidades de Prado Ferreira e
Centenário do Sul.
Para se manter no mercado competitivo, houve a necessidade de
melhoramentos na unidade Industrial de Açúcar e Álcool em 2004, acompanhado da compra e
manutenção de veículos e máquinas agrícolas, e, a produção de mudas de cana para melhoria
do teor de sacarose, visando obter melhor retorno industrial em áreas arrendadas.
192
Durante toda a sua existência, a usina sempre procurou investir em
modernos equipamentos, tecnologias de ponta para produção de açúcar e álcool e,
principalmente, na educação de seus funcionários, oferecendo-lhes cursos que possibilitassem
um aprimoramento, tanto do ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista administrativo,
com ênfase na educação para a qualidade. Esta filosofia de trabalho, além do crescimento da
empresa em termos de moagem e produção, promoveu o desenvolvimento de valores que
foram se fortalecendo e solidificando ao longo do tempo.
Investindo constantemente em treinamento e especializações com avançadas
técnicas de conhecimento, a empresa busca suprir as necessidades da qualificação, do
desenvolvimento e da formação de seus funcionários, tanto na sua atualização técnica
profissional como no âmbito pessoal e intelectual. Hoje o índice de analfabetismo na empresa
é zero.
Norteada pelo aprimoramento constante das relações de trabalho, tendo
como foco principal a saúde de seus funcionários, a empresa conta com profissionais
altamente capacitados e equipes médica e de segurança do trabalho. Dispõem de um centro
médico e uma unidade móvel totalmente equipada que realiza atendimento aos funcionários
do campo, bem como os exames de rotina.
D) Ambiente das mudanças estruturais
A contínua busca da eficiência operacional, a rígida administração dos
recursos financeiros e a redução de custos nos diversos setores, a melhora dos preços
agrícolas (com exceção do café) e, principalmente, a normalização da comercialização do
álcool e açúcar, garantem para a Cooperativa e, conseqüentemente, para os seus cooperados,
193
qualidade, segurança e tranquilidade em suas operações, que são as três bases que a
Cooperativa adota para obter sucesso.
Dessa forma, o produtor, para sobreviver, precisa ser eficiente e, para isto,
deve estar preparado e amparado para atuar no mercado. Assim lhe é garantida a segurança de
vender bem a sua produção; receber o valor da venda sem qualquer atrapalho ou perda, sem
preocupação; obter informações agronômicas e veterinárias confiáveis, sem se preocupar que
por trás disto haja um interesse comercial em venda de insumos; adquirir os inúmeros
insumos exigidos na produção, cuidando para que sejam verdadeiros, eficazes, controlados
desde a origem e fabricação, não considerando apenas os seus preços e defender política,
econômica e financeiramente suas atividades.
A qualidade é uma das bases para se produzir e comercializar os produtos. A
Cooperativa a considera um quesito fundamental na obtenção de informações agronômicas e
veterinárias, sem ter a preocupação de que haja interesse comercial por trás disto; na aquisição
de insumos, no recebimento, benefício, preparo, classificação, armazenamento e embarque de
sua produção; e na comercialização da produção.
A liberdade é outro quesito valorizado, pois não adiantaria o cooperado ter
segurança e qualidade para comercializar seus produtos se não tivesse a oportunidade de
escolha. Neste sentido, a Cooperativa busca incentivar o cooperado a vender bem sua
produção, quando assim desejar; acompanhar o mercado constantemente através da
Cooperativa, sabendo que os preços são obtidos consultando no mínimo cinco empresas
compradoras, o mesmo ocorre na escolha dos insumos mais adequados à sua produção,
levando em consideração a segurança e a qualidade.
Além da melhoria dos processos de fermentação (onde a biotecnologia tem
ampla margem de atuação) e destilação, a racionalização da geração e uso de energia, a
redução de custos passa, também, pelo aproveitamento dos subprodutos, tais como bagaço e
194
palha e os derivados dos processos de produção. Hoje, esses subprodutos passaram a ter
importância significativa no quadro de receita da usina. O bagaço é principalmente utilizado
como combustível na geração de energia elétrica, ou seja, na produção de vapor para a própria
indústria. Deve-se considerar o potencial do bagaço num país em que energia vem se tornando
um bem cuja oferta não tem podido acompanhar a demanda crescente, especialmente se levar
em conta que o bagaço está disponível na mesma época em que a escassez de chuvas reduz a
já restrita oferta de energia hidroelétrica.
A torta de filtro, as cinzas da caldeira e o carvão, retirado na lavagem das
chaminés, são utilizados como biofertilizantes. O vinhoto, ou vinhaça, antes considerado
altamente poluente, já é amplamente utilizado na fertirrigação.
Um aspecto importante, ressaltado pelo Diretor-Presidente da
COFERCATU, José Otaviano de Oliveira Ribeiro (entrevista dia 10/10/2004), é de que não
há perspectivas de grandes investimentos no setor sucroalcooleiro, em curto prazo. Com
relação a mecanização da atividade canavieira, assegura que é uma tendência "e não há como
escapar: temos que pensar nisso, mais em longo prazo".
5.3.5 Cooperativa Agropecuária de Rolândia Ltda - COROL
A) Região abrangência
O início do povoamento de Rolândia data de 1932, quando ali chegaram os
primeiros colonos alemães. A cidade foi fundada pela CTNP, subsidiária da “Paraná
Plantation Ltda”, cujos donos eram ingleses. No dia 29 de junho de 1934, iniciou-se a
construção da primeira casa no perímetro urbano, o Hotel Rolândia. Daí para frente às
construções se sucederam e uma próspera vila emergiu no local da mata.
195
O nome de Rolândia é de origem germânica, dado em homenagem a
Roland, legendário herói alemão, um dos doze pares da França, que na Idade Média guerreava
ao lado de Carlos Magno e seu lema era lutar pela “Liberdade e Justiça”.
A fama da fertilidade da “Terra Roxa” se espalhou por todos os rincões do
País e o norte do Paraná ficou sendo conhecido como a Canaã Brasileira. Logo, mineiros,
paulistas, nordestinos e filhos de imigrantes alemães radicados em Santa Catarina e Rio
Grande do Sul estavam povoando e construindo Rolândia. Os imigrantes estrangeiros foram
direcionados a se estabelecerem no local, ou por alguma sociedade que cuidava da imigração,
ou por orientação da própria Companhia de Terras. Dos imigrantes estrangeiros que
colaboraram no desenvolvimento de Rolândia, destacam-se japoneses, alemães, italianos,
portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, húngaros, suíços, poloneses, tchecos, austríacos, entre
outros.
Através da Lei Estadual n° 199, de 30 de dezembro de 1943, foi criado o
Município, que foi instalado oficialmente em 01 de janeiro de 1944, sendo desmembrado de
Londrina.
No começo, os cafezais é que geravam a riqueza; hoje, a diversificação da
agricultura se faz presente com destaque na soja, milho, trigo, cana-de-açúcar e laranja.
Rolândia conta, ainda, com uma pecuária expressiva e um parque industrial em franco
desenvolvimento.
A produção de cana-de-açúcar ganhou força após a década de 1980, quando
foi instalado junto a Cooperativa COROL uma indústria de processamento para a fabricação
do álcool e depois a de açúcar. Como a cultura da cana é demandante de uma quantidade
expressiva de mão-de-obra, esta dinamizou o Município de Rolândia e, conseqüentemente, o
seu entorno.
196
A área de abrangência da produção canavieira gerada pela Usina Cofercatu
pode ser visualizado através do Mapa 12. Por meio deste constata-se, de certa forma, um pólo
sucroalcooleiro.
Mapa 12 - Região de abrangência da Usina COROL
Fonte: Elaborado pelo autor
A movimentação financeira para o Município é de R$ 820 mil em ICMS e
R$ 4,8 milhões em tributos diversos no ano de 2003. A Usina é uma das empresas geradoras
de empregos, recursos e tributos da mesorregião Norte-Central. A COROL gerou na safra
2002/03, 1.548 empregos diretos e 1.357 na entressafra.
B) Aspectos históricos e gerais da usina
A história da Cooperativa Agropecuária de Rolândia Ltda teve início nos
áureos anos 1960, época em que foi aberta uma concorrência para a instalação de 50 novas
usinas de açúcar no Brasil. Neste cenário, um grupo de 60 pessoas, ligadas à Associação
Rural de Rolândia, ganhou uma concessão e se preparava para fundar a “Usina de Açúcar
Terra Roxa”. Neste mesmo contexto, 25 pessoas do mesmo grupo fundaram em 30 de outubro
197
de 1963 a Cooperativa Agrícola dos Cafeicultores de Rolândia Ltda, inicialmente com a
finalidade de beneficiar, rebeneficiar, padronizar, vender e exportar a produção de café dos
seus associados. Entretanto, a grave crise vivida pelo país após o golpe militar de 1964,
gerando mudanças político-econômicas, fez com que o governo brasileiro cancelasse as
concessões/concorrências e impedisse a implantação da usina, naquele momento. No entanto,
a COROL prosseguiu, tendo como principal atividade o café, o que faria de Rolândia a
"Rainha do Café" por vários anos.
Com o passar do tempo, a diversificação tornou-se imperativa e, em 1974,
foi mudada a razão social da entidade para a Cooperativa Agropecuária de Rolândia Ltda
(COROL), que contava com 496 associados.
A geada de 1975, que arrasou a cafeicultura do norte do Paraná, motivou a
diversificação agrícola. A partir de então, teve início a implantação de novas culturas,
semeando na COROL uma forte vocação voltada para à diversificação de atividades e ao
processo de agroindustrialização (fábrica de rações e suplementos minerais, unidade de
beneficiamento de algodão e arroz, torrefadora de café, fecularia de mandioca e o ingresso no
projeto de citricultura). Com essas novas culturas a Cooperativa construiu, em 1976, o seu
primeiro graneleiro. A COROL começava a crescer e a se modernizar. Em 10 de dezembro de
1977 foi criado o primeiro comitê educativo, integrando todos na vida da Cooperativa.
Na década de 80, com a criação do PROÁLCOOL, pelo Governo, a
COROL construiu a sua destilaria de álcool, mais especificamente no ano de 1982. A Tabela
46 retrata a evolução da produção de álcool da destilaria. Na primeira safra, a destilaria
processou 204.308 toneladas de cana e produziu 13.654.868 litros de álcool. Já para a safra
1992/93 foi processada mais que o dobro de cana, e obtendo quase o triplo de álcool em
relação a primeira safra.
198
Tabela 46 - Indicadores da evolução histórica cana moída e da produção de álcool da
COROL – safra 1982/83 a 1992/93
Safras Cana moída (t) Álcool (litros)
1982/83 204.308 13.653.868
1983/84 298.105 20.871.868
1984/85 295.228 22.604.385
1985/86 404.298 32.105.398
1986/87 331.814 24.224.996
1987/88 335.797 25.381.341
1988/89 257.439 20.500.000
1989/90 282.187 22.200.000
1990/91 313.706 23.510.000
1991/92 401.099 31.470.000
1992/93 490.691 37.620.000
Taxa de crescimento
4,45% 5,54%
R
2
0,365 0,4336
Fonte: JornalCana, julho de 2000, p. 19
Mas foi somente no ano de 1994, com a implantação da fábrica de açúcar,
que se concretiza o projeto tão sonhado dos pioneiros da Usina de Açúcar Terra Roxa, razão e
início de tudo. Assim, a COROL passou a diversificar a sua produção na área de cana-de-
açúcar produzindo açúcar e álcool. A evolução da produção pode ser acompanhada através da
Tabela 47.
Tabela 47 - Alguns indicadores da evolução histórica da cana moída e da produção de álcool e
açúcar da COROL – safra 1993/94 a 2002/03
Safras Cana moída(t) Álcool (litros) Açúcar (scs 50 Kg)
1993/94 484.172 29.660.000 169.280
1994/95 461.958 25.769.105 165.060
1995/96 533.185 29.510.776 317.954
1996/97 570.663 30.673.853 446.842
1997/98 460.742 23.324.518 327.576
1998/99 534.730 25.476.073 456.162
1999/00 619.895 29.188.294 643.359
2000/01 660.000 26.120.000 725.000
2001/02 665.521 25.653.584 715.215
2002/03 685.625 27.365.254 789.254
Taxa de crescimento
4,42% 0,87% 19,70%
R
2
0,7408 0,0888 0,8865
Fonte: JornalCana, julho de 2000, p. 19
199
No parque industrial, onde está instalada a Usina de açúcar e álcool está em
funcionamento uma fecularia que processa a raiz de mandioca para a extração do amido, com
capacidade de moagem de oito toneladas de raiz por hora, utilizando a energia elétrica, água e
vapor gerados pela usina.
Hoje a empresa tem várias atividades: recebimento, armazenamento,
beneficiamento, industrialização e comercialização de produtos agrícolas, fornecimento de
insumos e produção de sementes. A COROL trabalha com as culturas de soja, trigo, milho,
cana-de-açúcar, café, laranja e mandioca. possui várias agroindústrias como destilaria de
álcool, usina de açúcar, fábrica de rações e suplementos minerais, torrefação de café, fecularia
de mandioca e fábrica de suco concentrado e congelado de laranja.
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
A unidade produtora de álcool e açúcar está localizada no distrito de São
Martinho. Absorve 1 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, produzidos numa área de 8 mil
hectares de cana-de-açúcar, pertencente a 125 produtores em projeto integrado, donos de 185
propriedades, cuja produtividade média é de 96 toneladas por hectare.
A empresa não possui dados históricos referentes ao número de
colaboradores. Neste sentido, não foi possível a coleta de dados referentes ao número de
empregos diretos gerados pela empresa. A única referência é para o ano de 2000, em que a
usina gerou 998 empregos.
Todas as lavouras pertencem aos cooperados e cada um efetua o preparo do
solo de sua propriedade com tratores e implementos próprios (aração, subsolagem, gradagem,
etc.), sob a orientação do departamento técnico da Cooperativa. Em função das pequenas
200
áreas, a COROL mantém um departamento de motomecanização, prestando serviços inerentes
à aplicação de calcário, sistematização e conservação de solos, sulcação, carregamento e
transporte de mudas e de cana para a moagem. Entretanto, não prevalece o interesse
individual. Conforme relato do senhor Antônio Sérgio de Oliveira, diretor secretário da
COROL, em uma entrevista ao Jornal Cana (Junho de 2000), o produtor tem que abrir mão
da vontade própria em função do grupo. Toda a parte agrícola é gerenciada pela
Cooperativa como se fosse uma única propriedade”.
A Usina COROL conduz as socas com tanto cuidado que consegue obter
rendimentos surpreendentes: canaviais com 8 ou 9 cortes chegam a produzir em torno de 96
toneladas de cana por hectare. O que impulsiona na COROL o rendimento e a longevidade
das plantações de cana para o topo, acima da média nacional, é o solo argiloso, bastante fértil.
Cada produtor cuida muito bem do seu pedaço de terra, seguindo as orientações da
Cooperativa. “Nas socas, são aplicados 55% da adubação, durante a tríplice operação, no
cultivo, e 45% no final do perfilhamento”.
Segundo Jair Bernadi Zerbinatti, chefe do departamento técnico, através do
controle dos canaviais é montado um programa de corte baseado na maturação da cana. Os
canaviais são compostos de variedades como a cana super precoce e precoce (42% do
canavial), a cana de maturação média (32%) e a cana de maturação tardia (26%). Dessa
forma, tem-se uma área de cana plantada própria para o corte em momentos diferentes, o que
permite seu manejo e maior produtividade, ou seja, sem perda de sacarose por espera no
campo para o transporte.
No canavial, após o corte, a preocupação da usina - que faz a colheita
manual - é com o tempo de espera da cana queimada na lavoura. Para tanto, busca-se utilizar a
cana em 48 horas, considerando o tempo gasto entre a queima e a industrialização. Faz-se,
para isto, o manejo da colheita, deixando o mínimo de estoque no campo, para que não ocorra
201
perda de Açúcar Total Recuperável (ATR) e nem haja contaminações. A usina conta, em sua
estrutura de colheita, com três colhedoras de cana, no entanto, a opção preferencial é pela
colheita manual, com o objetivo de atender os aspectos sociais da região.
A COROL conta com um sistema de informações gerenciais informatizado
denominado Sistema Pera, que proporciona o planejamento e controle da execução, através de
relatórios e avaliações do desempenho da safra atual, comparados com os obtidos na safra
anterior e projetados para a próxima safra.
Em 2000, a cana representava 12% do faturamento da Cooperativa,
ocupando menos de 1% da área de sua abrangência.
A Usina está equipada para atender o mercado externo na produção do
açúcar demerara (VHP), tendo iniciado a produção na safra 1999/00. O açúcar foi
comercializado via trading, operando em diversos países como Reino Unido, Holanda,
Emirados Árabes, Egito, entre outros.
O produto exportado é escoado pelo Porto de Paranaguá, distante cerca de
500 km da Usina. O transporte é feito por rodovia e/ou ferrovia. O terminal ferroviário dista
15 km da Cooperativa, considerando-se que o modal ferroviário propicia um forte diferencial
nos custos de transporte, que ficam, em média, US$ 29,00 por tonelada de açúcar, tendo em
vista as taxas do porto e o embarque no navio.
A Cooperativa prioriza para o mercado interno o empacotamento do açúcar
cristal e vendas no varejo, além de enviar o açúcar bruto para refinarias, indústrias
alimentícias (refrigerantes, doces, entre outras).
A empresa tem feito grandes investimentos para iniciar o processo de
certificação, pelas normas ISO 9002, da usina de açúcar e álcool. Um deles foi na área
202
industrial, em 2000, com a automotização completa da peneira rotativa, para melhorara a
condição do caldo e também da evaporação.
Além disso, a COROL está operando, a partir da safra 2003, com o
Torqmax® modelo A52/BZ 2x 85, acionado por turbina a vapor, no 1º terno de sua moenda
37" x 66", com potência de 610 kW e capacidade de torque de 85 toneladas x metro. De
acordo com Sr. Elizeu de Paula (16/11/2004), presidente da COROL, “a usina vai aumentar a
capacidade de moagem de cana-de-açúcar e necessitava de um novo terno de moenda”.
Preocupada com o social, a qualidade de vida do trabalhador e sua formação
escolar, a COROL investe em seus empregados. São oferecidos inúmeros benefícios
assistenciais para todos os trabalhadores, com atendimento gratuito inclusive para seus
dependentes. Todos os empregados contam com custeio de 50% de bolsas de estudo para
cursos de interesse da usina, assistência odontológica e ticket-alimentação completos. Na
indústria não há nenhum trabalhador que não tenha terminado o ensino médio e entre os
cortadores de cana, nenhum é analfabeto.
A preocupação com a formação escolar dos trabalhadores tem influenciado
até mesmo na educação de outros moradores da cidade. Visando melhorar as condições de
trabalho e diminuir os riscos de acidente, a empresa oferece aos trabalhadores um médico do
trabalho, dois engenheiros do trabalho e três técnicos de segurança no trabalho, enfermeiro,
além de exames médicos periódicos, na admissão e demissão e atendimento ambulatorial,
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (CIPA), também no meio rural
(CIPATR) e obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção individual, uniformes e
transporte gratuito para os funcionários em ônibus próprio.
Além disso, a Cooperativa adota um sistema de condomínio, o objetivo
deste no início foi o de organizar e regulamentar o vínculo da mão-de-obra rural, com os
produtores integrados de cana-de-açúcar, mandioca e laranja. Nesse sistema cada produtor
203
integrado responde pelas obrigações trabalhistas, na proporção de seu volume de produção em
cada safra, nas diversas atividades.
Em função da implantação do condomínio, obteve-se melhor qualificação da
mão-de-obra rural permitindo, conseqüentemente, um aumento da eficiência na colheita, onde
são utilizados 730 cortadores, trabalhando em regime de folga 5X1, o que proporciona uma
redução no tempo de queima, melhorando a qualidade da matéria-prima. Os trabalhadores são
transportados em ônibus e preparados para atividade conforme determinações legais. A
empresa busca incentivar, também, o trabalhador distribuindo prêmios para os que não
faltarem e atingirem os melhores índices de produção.
D) Ambiente das mudanças estruturais
A COROL dispõe de uma estrutura informatizada que monitora todas as
suas atividades, tanto na área agrícola, como na industrial.
Conforme relato do Diretor Secretário da COROL, os programas existentes
rodam em rede local (LAN) com o sistema operacional Windows NT 4.0. A área agrícola
opera com o Sistema Integrado para Gerenciamento Agrícola (SIAGRI), com os módulos de
planejamento de safra e controle de colheita, de entrada de matéria-prima, controle
agronômico, Sistema de Informação Agrogeográfica (GIS) e outros, possibilitando a interação
com outros sistemas e, também, com o sistema de gerenciamento industrial.
A área industrial utiliza o Sistema de Informação para o Gerenciamento
Industrial (SIGIND), um sistema parametrizado que possibilita o acesso à dados analíticos e
informações de produção em tempo real como ferramentas gerenciais diárias, semanais,
mensais e acumulados.
204
Esses sistemas de controles gerenciais (indústria e agrícola) possibilitam
avaliações apoiadas num planejamento, cruzando sempre com os parâmetros e as metas
estabelecidos pela empresa.
Sobre o aproveitamento dos subprodutos da cana-de-açúcar, a Cooperativa
tem um uso intensivo do bagaço para a geração de energia para sustentar a indústria. A
vinhaça é utilizada em sua totalidade para a fertirrigação da lavoura de cana-de-açúcar. O
transporte desta para áreas de aplicação é feito por caminhões, em 40% das lavouras, e a
distribuição é por aspersão (rolão). A levedura é comercializada com a Usina Vale do Ivaí.
Com relação a torta de filtro, esta é destinada a adubação orgânica na plantação. O óleo fusel
é todo para a comercialização, para o que a usina tem uma parceria com empresa Oxteno. E
para o CO
2
a usina tem um trabalho de recuperação do álcool que é expelido com o gás.
A COROL tem como principal objetivo maximizar a quantidade de açúcar
por hectare produzido. Para tanto, investiu, através do departamento técnico, em variedade e
clones, buscando materiais avaliados como os mais ricos e produtivos das siglas RB, SP e
IAC. Além disso, a empresa mantém convênio com a Universidade Federal do Paraná
(UFPR), que faz parte da RIDESA (rede que congrega algumas universidades federais com
pesquisas relacionadas com cana-de-açúcar), para otimizar o potencial das variedades,
buscando maior rendimento.
Os subprodutos da cana ganham a atenção do mercado e chegam até mesmo
a ameaçar a importância dos produtos principais, o açúcar e o álcool. A energia co-gerada a
partir da queima do bagaço de cana é vista como alternativa à ameaça de desabastecimento e
já atrai o interesse de distribuidores internacionais. Já os resíduos de produção - como a
vinhaça e a torta de filtro - têm sido cada vez mais utilizados como fertilizantes, com bons
resultados para a agricultura.
205
A agroindústria de cana deu uma alavancada na Cooperativa, demonstrando
as vantagens da transformação dos produtos primários. O setor sucroalcooleiro induziu a
verticalização da produção.
5.3.6 Cooperativa dos Cafeicultores de Mandaguari Ltda. - COCARI
A Cooperativa COCARI tem sua sede no Município de Mandaguari e
entrepostos localizados em regiões circunvizinhas. Neste sentido, o destaque desta pesquisa se
deu no entreposto situado no Município de Marialva, que se destaca na recepção e
transformação da cana-de-açúcar em álcool carburente.
A) Região abrangência
Marialva nasceu da idealização e do planejamento da CTNP que optou por
criar um patrimônio, no meio do caminho, às margens de uma estrada que ligavam duas
cidades já povoadas, Mandaguari e Maringá.
As primeiras famílias chegaram ao patrimônio de Marialva em 1937, após a
abertura de novas frentes de colonização feitas através da CTNP, ampliando, assim, o espaço
para o plantio do café. O Município se desenvolveu em decorrência da expansão da cultura
cafeeira.
Os pioneiros vieram de diferentes regiões brasileiras com o intuito de
trabalhar a terra, cultivando-a para seu sustento e para comercialização de sua produção.
206
Oficialmente Marialva foi constituído Município através da Lei Estadual nº
790, de 14 de novembro de 1951, e instalado em 14 de dezembro de 1952, sendo
desmembrado de Mandaguari.
A região não possuía a tendência para o cultivo e produção de cana-de-
açúcar. As intempéries climáticas provocavam constantemente fortes geadas tornando muito
vulnerável a produção de café. Assim, a cana-de-açúcar começou a ganhar espaço entre os
agricultores e pecuaristas em função do rápido desenvolvimento desta cultura, estando menos
sujeita à intempéries do tempo. Aliado a isto, está o fato do governo incentivar a produção de
cana através do PROÁLCOL. Vale destacar que, além da cultura canavieira, o Município é
um grande produtor de uva, tornando-se capital da uva fina.
Na década de 1980 houve significativas mudanças no cenário agrícola local
e regional. A COCARI investiu significativamente no setor sucroalcooleiro e na
reestruturação produtiva para atender as necessidades de matéria-prima da indústria
(conforme apresenta o Mapa 13). A destilaria está localizada estrategicamente próxima aos
municípios de Jandaia do Sul (onde está presente a Usina COOPERVAL) e de São Pedro do
Ivaí (onde se localiza a Usina Vale do Ivaí), e se aproveitou da rede de produção de cana já
criado por estas empresas nos municípios vizinhos.
Mapa 13 - Região de abrangência da Destilaria COCARI
Fonte: Elaborado pelo autor
207
As contribuições positivas que a Cooperativa gerou para o Município de
Marialva, especificamente no segmento canavieiro, traduzem-se nas pressões sofridas por
parte dos governantes em estruturar as cidades, com o intuito de oferecerem qualificação à
classe trabalhadora ociosa, na melhora da infra-estrutura com água, esgoto, energia, etc. Essas
mudanças melhoraram sensivelmente a qualidade de vida das zonas urbanas, dando
acomodação ao contingente de migrantes das zonas rurais. Essa acomodação só aconteceu
com o aquecimento da economia nacional, despertando, assim, outras atividades econômicas
que os antigos trabalhadores rurais pudessem desenvolver.
Como contribuições negativas, os casos mais graves, no princípio, foram a
falta de empregos nas cidades que utilizavam mão-de-obra com o perfil do trabalhador
agrícola, oferta de habitação menor que a demanda exigida, falta de saneamento básico, e de
escolas, enfim, todos os problemas sociais acarretados pelo crescimento desordenado. E,
ainda, a questão da poluição ambiental, motivada pelas queimadas dos canaviais.
B) Aspectos históricos e gerais da usina
Na década de 1960, o norte do Paraná liderava a produção cafeeira nacional.
Dado este cenário, 21 produtores de café da região de Mandaguari necessitavam de maior
segurança para comercializar o seu produto. Aliado a esse ideal estava o apoio dado pelo
Senador Nelson Maculan (Capixaba) e Paulo Carneiro Ribeiro (Mineiro) que comandavam o
IBC, pelo Jair Martins, que era gerente do Banco do Brasil de Mandaguari e pelo Engenheiro
Agrônomo Gabriel Neves Caleffi, que incentivaram e estimularam a criação das Cooperativas
dos Cafeicultores no Paraná e no Brasil. Foi neste cenário que no dia 07 de fevereiro de 1962
foi criada a Cooperativa COCARI.
208
A Cooperativa surgiu com o ideal de solidariedade, segurança na
comercialização, onde os inegáveis resultados da compra e venda em comum e igualdade
deveriam ficar entre os associados, fossem eles grandes ou pequenos, sem preconceito de
raça, cor ou religião. A primeira diretoria contou com diretor presidente Dr. Oripes Rodrigues
Gomes, com gerente Dr. Gabriel Neves Caleffi e com secretário José Luiz da Silva.
Para iniciar suas atividades foi necessário arrendar as instalações da
Máquina de Café do Sr. Antonio Galera Gonçalles, onde já no primeiro ano recebeu e
beneficiou aproximadamente 64.000 sacas de café limpo. Em dois anos recebeu 200.000
sacas, que foram alojadas em vários barracões existentes na cidade, além do primeiro
armazém já construído pela COCARI, denominado de nº 1. Todo esse estoque era controlado
pelo Sr. Deotildes R. de Lima, fiel depositário do Banco do Brasil.
Essa safra foi responsável pelo primeiro grande momento da Cooperativa,
quando informada pelos Corretores em Santos (SP), Srs. Reynaldo G. Franco e Álvaro Vieira
da Cunha, reteve os seus estoques, com muito sacrifício, em virtude da política inteligente de
mercado adotada pelo IBC. Para se ter uma idéia, os preços que giravam em torno de Cr$ 7,00
a saca, atingiram o valor de Cr$ 32,00 a saca, tendo feito a Cooperativa a média de venda de
Cr$ 22,00, resultado esse que modificou profundamente a vida econômica dos associados.
Com este recurso, a COCARI construiu os demais armazéns denominados de 2, 3, 4 e 5 e o
número de cooperados cresceu sensivelmente. Este salto nos preços devem-se, à política
comercial inteligente do IBC que estrategicamente soube aproveitar os baixos estoques
mundiais e proteger o abastecimento nacional, permitindo inclusive a retirada de cafés já
entregues pelas Cooperativas. Foram retirados na época 40.000 sacas em cinco dias, para a
venda posterior no mercado.
Com as abundantes colheitas de café, as instalações da Cooperativa que
inicialmente eram modestas foram, em 1965, transferidas para a sede própria, onde funcionam
209
até hoje. Com o passar do tempo, as perspectivas de crescimento da Cooperativa foram se
concretizando, através da diversificação dos serviços oferecidos a seus cooperados e, também,
graças a sua expansão geográfica de atuação. Com o crescimento da Cooperativa, a unidade
de café operava em várias estâncias, do recebimento ao beneficiamento, da armazenagem à
comercialização da produção dos cooperados e clientes.
Em 1973, foi construído o primeiro armazém em Mandaguari. Já em 1975
foi fundado o primeiro entreposto da COCARI, em Itambé, e, em 1976, o entreposto de
Marialva. Na década de 80 houve um crescimento vertiginoso, com a fundação de entrepostos
nos municípios de Jandaia do Sul, Bom Sucesso, Marumbi, São Pedro do Ivaí, Aquidaban,
Kaloré, Mariza e São Luiz.
Na década de 80, a COCARI decidiu investir na industrialização de
produtos, agregando valor à produção de seus cooperados. Com isso, surgiu três importantes
indústrias, Destilaria, Fiação e Fábrica de Rações.
Com a instituição do PROÁLCOOL, a COCARI, consultando seus
cooperados, passou a estudar a possibilidade de implantar uma destilaria de álcool na região.
Nesta época, estava ocorrendo no Estado do Paraná uma grande expansão do cultivo da cana-
de-açúcar.
Neste contexto histórico, os cooperados concordaram com a idéia e, em
1983, foi iniciada a construção da Destilaria COCARI. Como a Cooperativa tinha vários
entrepostos, ficou decido implantar a destilaria no Distrito de São Miguel do Cambuí,
Município de Marialva.
A primeira produção da Cooperativa foi na safra 1983/84, com um resultado
de 168 mil toneladas de cana moída e de 10.252 litros de álcool hidratado (Tabela 48). Vale
210
destacar que a destilaria iniciou suas atividades através da produção de álcool hidratado, com
a produção de 150 mil litros por dia, número que dobrou em apenas 2 anos.
Tabela 48 - Indicadores da evolução histórica cana moída e da produção de álcool da
COCARI – safra 1983/84 a 2000/01
Safras Cana moída (t) Álcool (m
3
)
1983/84 168.379 10.252
1984/85 251.200 18.263
1985/86 296.540 24.144
1986/87 251.315 19.991
1987/88 209.544 15.720
1988/89 251.790 19.584
1989/90 258.875 21.491
1990/91 300.809 20.427
1991/92 361.134 28.202
1992/93 350.835 27.387
1993/94 360.198 27.279
1994/95 331.117 25.658
1995/96 477.642 38.696
1996/97 575.679 47.342
1997/98 529.494 43.688
1998/99 460.862 35.567
1999/00 462.863 31.946
2000/01 343.458 23.553
2001/02 397.587 27.587
2002/03 401.698 32.698
Taxa de crescimento
5,34% 5,59%
R
2
0,7021 0,5914
Fonte: Histórico produção Paraná, 2004 e dados fornecidos pela COCARI
Desde a sua fundação, a destilaria teve uma expansão na produção de cana
moída, que caiu apenas na safra 2000/01, devido às intempéries climáticas. Em média teve
uma taxa de crescimento anual de 5,34%. A produção do álcool teve oscilações no período,
mas, mesmo assim, apresentou um crescimento de 5,59% a.a.
Com os investimentos nas lavouras de cana-de-açúcar com tratos culturais
adequados, aplicação de maturadores e novas variedades, foi possível obter um crescimento
considerável na produção de álcool, o que levou, conseqüentemente, a investimentos na área
industrial, com renovação da destilaria para a fabricação do álcool anidro.
211
Atualmente a Destilaria COCARI opera em três turnos de trabalho, com
capacidade de produção anual de até 50.000.000 litros de álcool. Todo esse processo chega a
gerar anualmente mais de 1.000 empregos em período de safra.
A missão da Cooperativa é “promover o desenvolvimento econômico, social
e cultural dos cooperados, colaboradores e seus familiares, através da agregação de valor a
produção agropecuária, preservando o meio ambiente”.
C) Ambiente resultante do funcionamento e aprimoramento do parque industrial e
agrícola da usina
Com a mecanização do plantio e da colheita, a cultura canavieira evolui
constantemente, registrando a cada safra superação do volume de matéria-prima. Com a
mecanização no campo, a usina resolveu o problema de falta de mão-de-obra na região e
otimizou o trabalho no campo. O transporte da cana conta com uma frota terceirizada de
caminhões.
No complexo sede, localizado em Mandaguari, funciona a administração
central da Cooperativa, responsável pelo suporte operacional, industrial, financeiro, contábil,
recursos humanos, comercialização e informática, fornecendo toda a base de apoio para os
entrepostos e indústrias. Fazem parte desse complexo as unidades de recebimento e
beneficiamento de café, sementes e laboratório de análise de sementes e o entreposto de
Mandaguari.
Com relação aos Recursos Humanos, a Cooperativa tem como objetivo estar
em sintonia com os negócios da empresa, respeitanto suas particularidades, buscando cada
vez mais o comprometimento entre seus colaboradores e a sua identificação com a missão,
com as metas e com os objetivos da Cooperativa.
212
A qualidade oferecida pela Cooperativa à seus cooperados e fornecedores
deve-se aos investimentos em cursos, palestras e módulos de qualificação de seus
profissionais, além do compromisso com ações sociais que beneficiam, de um modo geral,
toda comunidade onde a COCARI está instalada.
A COCARI acredita que o verdadeiro valor está no ser humano. Esse é o
caminho para a construção de um mundo melhor, e, nesse processo, a responsabilidade social
é um elemento que não pode faltar.
Entre os projetos nas áreas de responsabilidade social e ambiental
desenvolvidos pela destilaria estão o projeto “COCARINHO Cultivando Cidadania” (que visa
o bem-estar da comunidade carente na área de ação da Cooperativa), programa de apoio à
graduação e extensão universitária (com o intuito de garantir o acesso de colaboradores à
universidade e à cursos de especialização), convênios com creches e o Centro Tecnológico
COCARI (que conta com 18 hectares, para promover eventos com produtores para difusão
tecnológica).
A COCARI é pioneira no Paraná em projetos ambientais dentro do setor
sucroalcooleiro, criou em 2000 o Projeto Remar de Reflorestamento do Rio Marialva,
afluente do Rio Ivaí, antecipando-se ao Programa Florestas Municipais, lançado pelo Governo
do Estado no Paraná. Até agora já foram plantadas mais de 80 mil mudas de árvores nativas
nas margens do rio adotado pela Cooperativa e soltos 63 mil alevinos. Neste ano estão sendo
produzidas e implantadas mais 30 mil mudas, número que deve totalizar, até 2008, 250 mil
novas árvores em praticamente toda a extensão do Rio Marialva, já que grande parte das
propriedades que o margeiam pertencem a cooperados da Cooperativa.
Em se tratando dos colaboradores, a destilaria contou com 1.200 na safra
1999/00, 1.118 na safra 2000/01 e 1025 na safra 2001/02. Traçando uma relação dos
empregos gerados com as informações da Tabela 1, tem-se que para a safra 1999/00 um
213
colaborador era responsável por 286,2 toneladas de cana moída e 82,3 m
3
de álcool, e para a
safra 2002/03 cada empregado produzia 391,9 toneladas de cana moída e 83,4 m
3
de álcool.
Na comercialização, a empresa conta, apenas, com o produto álcool e este é
totalmente comercializado no mercado interno. As vendas são realizadas na condição “PVU –
Posto Varejo Usina”, correndo por conta do comprador os custos com transporte. Somente em
2003 as destilarias paranaenses se reuniram e fundaram a CPA Trading, que realizou a
primeira venda do álcool para mercado externo.
A empresa busca continuamente agregar valor aos seus produtos, através da
qualidade do álcool produzido, da melhora na produtividade da cana e da utilização
econômica dos seus subprodutos (o bagaço é utilizado na fabricação de energia, o óleo fusel e
a torta de filtro são destinados a adubação do solo, a vinhaça vai para irrigação e o creme de
levedo é vendido para a Usina Vale do Ivaí).
Durante toda a sua existência, a COCARI primou pela produção de álcool
de excelente qualidade. Sempre procurou, para tanto, investir em modernos equipamentos,
tecnologias de ponta, e, principalmente, na educação de seus funcionários, oferecendo-lhes
cursos que possibilitassem um aprimoramento, tanto do ponto de vista técnico, quanto do
ponto de vista administrativo, com ênfase na educação para a qualidade. Esta filosofia de
trabalho, além do crescimento da empresa, em termos de moagem e produção, promoveu o
desenvolvimento de valores que foram se fortalecendo e se solidificando ao longo do tempo,
tornando-se uma cultura da empresa.
6 CORRELAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO COM OS MUNICÍPIOS DA
INDÚSTRIA CANAVIEIRA
Na estratégia de desenvolvimento local o fortalecimento dos laços de
confiança entre os agentes locais (empresários, governo e força de trabalho) na formação do
chamado capital social e a construção de uma sólida articulação político-institucional, são
elementos centrais. É nessa perspectiva que os usineiros caminham para se tornarem
competitivos, buscando apoio de todas as estâncias que regem a administração pública,
fazendo alianças com outras empresas, seja do mesmo segmento ou fornecedoras de insumos
e maquinários e, principalmente, buscando uma maior integração entre mão-de-obra e
empresa.
Para uma melhor caracterização da relação que as empresas sucroalcooleiras
tem no desenvolvimento de uma região, foi necessário se ater a elementos históricos que
retratassem, de forma simples, como a agroindústria canavieira se desenvolveu exercendo
influência sobre a região de sua localização, transformando a paisagem local e a gerando uma
nova vocação agrícola.
As duas mesorregiões que foram analisadas apresentam características
semelhantes. Entretanto, a região Noroeste tem uma peculiaridade em relação a fertilidade do
seu solo. Possui, apenas, 45% da extensão do seu solo considerados aptos ao desenvolvimento
de atividades agroindustriais, apesar do clima propício à cultura, o que permitiu à região uma
rica produção agroindustrial. O mesmo pode-se dizer da mesorregião Norte-Central, que traz
todas as características necessárias para o crescimento agroindustrial.
215
Um outro fator importante para a presente análise é que estas regiões eram
constituídas de latifúndios da produção de café e com a decadência deste produto, como a
vocação da região era a de grandes propriedades, buscou-se adequar uma cultura que tivesse
características semelhantes e que se adequasse às condições edafo-climáticas. A cultura da
cana-de-açúcar se apresentava com maior viabilidade, uma vez que já era um produto
conjuntural da colonização do País, e apresentava melhores condições de adaptabilidade, além
de ser uma grande fonte de absorção de mão-de-obra liberada pelos cafezais.
Um fator que contribui com a introdução da cana-de-açúcar no Estado do
Paraná foi a proximidade do grande produtor, São Paulo (maior produtor de cana, açúcar e
álcool do Brasil), já que se observa que a maior parte das empresas se localizam na região
norte. A expansão da cultura canavieira paulistana, a Segunda Guerra Mundial - que gerou
desabastecimento do Centro-Sul - e uma demanda nacional insatisfeita forçaram os paulistas a
expandir seu parque açucareiro e a lavoura canavieira para áreas que até então importavam a
maior parte. Assim, o Paraná, pela sua localização, foi um dos Estados que expandiu a cultura
da cana alicerçado pelo maior produtor nacional.
A observação da dinâmica do desenvolvimento local permite destacar que o
desenvolvimento das potencialidades individuais de cada Município residiu,
fundamentalmente, no comportamento dinâmico das suas organizações e empresas. A
localização de uma grande empresa num determinado território constitui um impulso exógeno
para a melhoria de vida dos seus residentes (mais emprego, mais rendimento, etc.). Neste
sentido, além do aumento da extensão territorial da produção paulista, o Paraná necessitava de
apoio para que a cana entrasse na pauta de produtos conjunturais. Assim, através do grande
incentivo gerado pelo PROÁLCOOL, que deu condições financeiras e estruturais para esta
nova atividade, diversificando a cultura local e gerando uma reformulação na estrutura de
216
desenvolvimento das regiões, que as usinas e/ou destilarias, com exceção das Usinas Santa
Terezinha, Central Paraná e Alto Alegre (filial em São Paulo), foram constituídas.
Além disso, o que emerge desta análise é que na mesorregião Norte-Central,
das 9 empresas de processamento de cana-de-açúcar, 5 são Cooperativas que se ocupavam da
recepção e do beneficiamento do café, e foram obrigadas a diversificar pelas dificuldades
climáticas que esta cultura encontrou na região. Dessa forma, valeram-se do PROÁLCOOL
para a implantação do parque industrial de fabricação de álcool carburante. Essas 5
Cooperativas, a COOPERVAL, COROL, COFERCATU e a Vale do Ivaí, diversificaram
ainda mais sua produção e anexaram à destilaria a fábrica de açúcar e a COCARI continuou,
apenas, fabricando o álcool. Vale destacar que no Estado do Paraná as Cooperativas
respondem por 23% da fabricação de açúcar e álcool e ampliam a cada ano sua importância
no segmento. Ao todo são oito Cooperativas que trabalham com cana-de-açúcar, dessas cinco
industrializam álcool e açúcar e três atuam na produção de álcool (COOPERATIVAS
respondem por 23% da produção sucroalcooleira do Paraná, 2004).
Já a mesorregião Noroeste, onde foram analisadas três empresas (Julina,
Ivaté e São José), se percebe que estas já surgiram como Cooperativas de recepção e
processamento da cana-de-açúcar. Mesmo depois da transferência para o Grupo Santa
Terezinha, essas Cooperativas continuaram na atividade canavieira, o que, de certa forma,
tornou-se uma barreira para a entrada de novas culturas nos municípios de Tapejara, Ivaté e
Paranacity.
Diante desta conjuntura, pode-se dizer que o PROÁLCOOL certamente foi
o programa de geração de combustíveis alternativos ao petróleo que foi bem sucedido, e foi o
grande precursor da expansão canavieira paranaense. Além disso, deve-se levar em conta a
volumosa quantidade de empregos gerados, mesmo que sazonais, a maior conservação do
meio-ambiente nas grandes cidades, e o estímulo a engenharia e a agronomia nacional no
217
rumo do desenvolvimento tecnológico (principalmente com a viabilização do motor a álcool
com um nível razoável de eficiência e rentabilidade, isto em menos de uma década).
Na década de 1990 o ambiente de negócios mudou, e a agroindústria passou
a vivenciar um processo de desregulamentação do segmento canavieiro, que veio colaborar
com a liberalização do mercado nacional. Dessa forma, o fim do IAA (órgão regulador do
Governo), a desregulamentação do setor, a discussão sobre a volta do programa de incentivo
PROÁLCOOL, deram suporte ao crescimento e a expansão da agroindústria canavieira
paranaense. Entretanto, esta expansão não se deu de forma homogênea entre as empresas;
algumas se destacaram frente as outras, adotando e desenvolvendo tecnologias avançadas
tanto no âmbito agrícola como no industrial. Constata-se, assim, que as mudanças e a busca
de adaptação às novas regras que regem o mercado competitivo da cana-de-açúcar, geradas
pela liberalização do Estado, constituem os novos desafios para a agroindústria canavieira do
Estado do Paraná.
Todo esse novo contexto fez com que os empresários da indústria canavieira
se deparassem com um ambiente cada vez mais atribulado, em que as rápidas mudanças do
mercado globalizado passassem a exigir das instituições, imediatas e precisas estratégias de
mudanças e/ou adequações aos fatores internos e externos à empresa. Isso gerou em muitas
empresas um crescimento dos seus limites empresariais, como é o caso da Usina Santa
Terezinha, que busca sempre expandir e aumentar seu parque industrial com a instalação de
novas filiais pela região norte do Estado do Paraná.
Ao traçar um enfoque mais local, retratando a localização da usinas e/ou
destilarias, percebe-se que dos 9 municípios sob análise, apenas 1 é considerado grande e foge
da realidade vivenciada pelos demais, é o caso de Maringá (Tabela 49). Apesar deste ser a
sede da Usina Santa Terezinha, a produção canavieira não é principal atividade na conjuntura
da produção das culturas temporárias; ela perde espaço para a cultura da soja, do milho e do
218
trigo (Tabela 7 do Anexo II). Além disso, o Município agrega outras indústrias de
transformação, que geram riquezas e retornos para o desenvolvimento desta região pólo.
Tabela 49 - Indicadores dos municípios detentores das unidades produtivas do Paraná – 2000
Municípios Usina/Destilaria População PEA
Colaboradores
da Usina e/ou
destilaria
%
colaboradores
na PEA
São Pedro do Ivaí Vale do Ivaí 9.473 4.547 1.965 43,22
Florestópolis COFERCATU 12.190 5.544 1.604 28,93
Jandaia do sul COOPERVAL 19.676 10.126 1.540 15,21
Marialva COCARI 28.702 15.238 1.200 7,88
Rolândia COROL 49.410 25.684 998 3,89
Maringá Sta. Terezinha 288.653 151.652 6.277* -
Tapejara Julina 13.120 6.538 - -
Ivaté Ivaté 6.925 3.218 - -
Paranacity São José 9.109 4.358 - -
Fonte: IBGE – Censo Demográfico, 2000
* Grupo Santa Terezinha
Já os municípios onde estão localizadas as filiais do Grupo Santa Terezinha
(Tapejara, Ivaté e Paranacity), a produção de cana-de-açúcar é predominante, em relação ao
valor da produção e da área ocupada (Anexo II). Realidade que também é constatada em São
Pedro do Ivatí, Florestópolis e Jandaia do Sul. Esses municípios são pequenos e grande parte
da população é empregada na produção canavieira, fazendo com que esta atividade se torne
predominante e o desenvolvimento do Município fique atrelado a este tipo de agroindústria.
Para Rolândia e Marialva, a produção canavieira tem destaque entre as
demais culturas, mas não é a principal. A plantação de soja domina a área plantada. A cana
vem perdendo gradativamente espaço para a produção de grãos (Tabela 14 e 18, Anexo II).
Esses municípios analisados estão diretamente relacionados com região a
que pertencem. Trata-se, portanto, de 9 microrregiões que possuem distintas características
em seus processos de desenvolvimento. A produção canavieira está presente em 6 delas
(Tabela 50). Essas, pelo seu desenvolvimento, podem ser definidas como regiões pólos.
219
Tabela 50 - Unidades produtivas da agroindústria canavieira no Estado do Paraná, seus
respectivos municípios e microrregiões homogêneas
Unidade produtiva Município
Microrregião
homogênea
Ranking de
Produção
COOPERVAL Jandaia do Sul Apucarana 9
Vale do Ivaí São Pedro do Ivaí Ivaiporã 8
Central Paraná Porecatu Londrina 5
COPERCATU Florestópolis Londrina 5
COROL Rolândia Londrina 5
Alto Alegre Colorado Maringá 2
COCAFÉ Astorga Maringá 2
COCARI Marialva Maringá 2
Santa Terezinha Maringá Maringá 2
São José Paranacity Paranavaí 4
Ivaté Ivaté Umuarama 1
Julina Tapejara Umuarama 1
Fonte: SEAB/DERAL (2002)
Contrapondo a Tabela 50 com a Tabela 9, observa-se que os pólos da
produção canavieira do Estado do Paraná estão localizados entre as quatro principais regiões,
Umuarama, Maringá e Paranavaí, e, apenas duas empresas se localizam nos pólos de menor
produção. Entretanto, o tamanho dos pólos canavieiros não minimizam a sua importância para
o desenvolvimento da região que eles abrangem.
As empresas pesquisadas têm uma preocupação crescente com o bem-estar
de seus colaboradores, proporcionando-lhes oportunidades de qualificação, com incentivos
para o aperfeiçoamento (bolsas de estudos integrais ou parciais), além dos projetos nas áreas
de responsabilidade social e ambiental, desenvolvidos pelas usinas e destilarias paranaenses,
como convênios com hospitais, assistência odontológica, transporte gratuito de funcionários
para o local de trabalho, programas de erradicação do trabalho infantil, convênios com
creches, conscientização dos produtores para a necessidade de recomposição das matas
ciliares e áreas de preservação permanente, entre outros.
Essa preocupação de melhoria na educação dos seus colaboradores
repercutiu na cidade como um todo, pois, com melhor qualificação, as pessoas passam a ter
220
um maior senso crítico e procuram melhorar sua condição infra-estrutural, a exemplo dos
moradores que trabalham na usina e/ou destilaria.
A Oceânica Terminal Portuária Ltda, a CPA Trading e a PASA são
empresas resultantes do espírito de empreendedor dos empresários, buscando a ajuda mútua
através de parcerias e conseqüentemente obtendo ganhos. Com isso, pretendem gerar uma
otimização da comercialização e uma redução nos custos de logística, aumentando, assim, a
competitividade das unidades produtivas paranaenses nos mercados interno e externo.
Além disso, a união dos estados através da coalizão dos governadores Pró-
Etanol Brasileiro, uma idéia nascida na ALCOPAR, está gerando maior motivação para que o
setor continue a ser um dos pilares da economia paranaense e imprima desenvolvimento a
muitos municípios.
As estratégias de diferenciação do produto e otimização nos sistemas de
logística têm sido adotadas pelas empresas mais competitivas, com o intuito de redução dos
custos e obtenção de maiores ganhos. Muitas atividades passaram a ser terceirizadas
(verticalização), com o intuito de viabilizar a produção e implantar novas tecnologias de
produtos e processos.
Grande parte do potencial de redução de custos na produção de açúcar e
álcool está concentrada na parte agrícola. Atentas a isso, as empresas se utilizam da
tecnologia no campo, que vai desde as máquinas para plantio, carregamento e caminhões para
o transporte. Entretanto, para o corte da cana ainda não são utilizadas máquinas pelas
empresas pesquisadas. Uma das principais preocupações sobre a mecanização da colheita da
cana-de-açúcar diz respeito aos impactos diretos e indiretos na geração de empregos. Além
disso, a empresa tem que mudar seu processo de gestão tem que dar suporte ao treinamento de
mão-de-obra (capacitação dos colaboradores), verificar qual é técnica adequada, o
221
planejamento do plantio à colheita, entre outros. Portanto, não é um processo fácil, mas
inevitável para o futuro.
Muitos municípios enfrentaram sérios problemas com uma redução drástica
do nível de emprego para os seus munícipes. Exemplo disso é o caso do Município de São
Pedro do Ivaí, que é pequeno, onde 43,22% da PEA está empregada na agroindústria
canavieira, especificamente na Usina Vale do Ivaí. Com a introdução das máquinas, serão
muitos pais de família que passarão dificuldades. O mesmo pode-se dizer de Florestópolis,
onde 28,93% da PEA trabalham na Usina COFERCATU, e de Jandaia do Sul com 15,21% da
PEA na Usina COOPERVAL. Mesmo não tendo dados separados para Tapejara, Ivaté e
Paranacity, que detêm empresas do Grupo Santa Terezinha, a realidade destes municípios não
foge à regra, uma vez que são pequenos e dependem da produção de canavieira para suprir as
demandas de emprego.
A tendência deste setor gerar ao longo do tempo um volume menor de
empregos e utilizarem uma mão-de-obra mais qualificada, está relacionada ao processo de
desenvolvimento das economias modernas, ou seja, uma diminuição na participação das
pessoas empregadas pelos setores primário e secundário e um aumento desta participação no
setor terciário da economia.
A transação de venda de cana entre produtores e usinas está se tornando um
ponto a ser cuidado pelo setor. As relações estão se diversificando e a cana passa a ter
concorrência em termos de área plantada com outras culturas. Neste sentido, as empresas
estão optando por parceiros, ou no caso das Cooperativas, cooperados, que garantem a entrega
da matéria-prima. Conforme dados apresentados no Anexo II, Tabela 10 a 18, pode-se notar
que, em termos de área plantada, a cana está perdendo espaço para os grãos, especificamente
a cultura da soja (salvo algumas exceções como o Município de Tapejara, Ivaté e Paranacity).
Isso se dá devido a elevação dos preços pagos aos produtores de grãos, o que tornou essa
222
atividade atrativa, além do fato de ser uma cultura mais prática, em que o produtor não
necessita demandar uma grande quantidade de mão-de-obra para obter uma considerável
receita.
Assim, a preocupação dos usineiros reside no controle de produção da
matéria-prima para o processo de transformação. Neste sentido, muitos produtores estão
buscando transformar a produção dos fornecedores em produção de cana própria, evitando
assim, redução no abastecimento da indústria. No caso das Cooperativas, a solução está no
incentivos e na preservação dos cooperados.
Para sanar o problema do abastecimento, as empresas estão oferecendo,
cada vez mais, um pacote tecnológico e de serviços aos produtores, visando a garantia do
produto, como é o caso das Cooperativas. As vendas de produtos para aplicação na lavoura e
a otimização das máquinas e equipamentos de aplicação possibilitam redução nos custos de
produção e se constituem um fator de ajuda e de alternativa para a continuidade na atividade
para os pequenos produtores.
Para Farina & Zylbersztajn (1998), os ativos envolvidos nesta transação são
de elevada especificidade. A cana-de-açúcar tem elevada especificidade locacional, uma vez
que a mais de 50 km da usina inviabiliza o seu processamento, devido aos altos custos de
transporte. Além da especificidade locacional, existe a especificidade temporal, pois a cana
queimada precisa ser esmagada rapidamente, sob pena de ir perdendo qualidade. Isto faz com
que esta transação seja, pelos fatores envolvidos, bastante delicada. De outro lado, a usina
representa um grande investimento específico para o esmagamento de cana e sua realocação
para outra atividade torna-se praticamente impossível.
Esses fatores vêm de encontro com a preocupação das empresas, que são
obrigadas a agregar valor e reduzir custos. Em função disto, a maior parte do canavial deve
localizar-se próximo da usina e/ou destilaria, para facilitar o transporte e reduzir a perda de
223
sacarose pela demora da entrega da cana para o processamento. Estas relações complexas têm
relação concreta com o desenvolvimento humano local e regionais.
Vale destacar que as empresas estão ligadas diretamente ao território que as
abrangem e dependem dos fatores exteriores para se tornarem mais eficientes e competitivas.
A indústria canavieira possui um grau de absorção de inovações produtivas que fazem com
que seu leque de influência se estenda por uma área considerável ao seu entorno.
Em suma, a partir deste estudo pode-se constatar que, para os municípios
em foco, as indústrias de processamento de açúcar e de álcool geram dois tipos de efeito: o
direto, que é dado no segmento econômico, e indireto, que está ligado ao segmento social. No
primeiro, a empresa se instala e passa a gerar renda através da arrecadação e geração de
empregos. Com o aumento da receita municipal inicia-se o processo de investimentos para
melhorar a infra-estrutura local, seja em termos de saúde, de lazer e educação. Com mais
empregos os moradores começam a ter poder de consumo e dinamizam comércio local. A
usina e/ou destilaria procura, também, investir em programas sociais de ajuda à comunidade e
na qualificação dos seus funcionários. Esses fatos vêm colaborar para melhora na qualidade
de vida da população, gerando a mudança social.
Entretanto, deve se considerar que a produção canavieira gera alguns pontos
negativos, tais como uma forte dependência para uma única cultura, barreiras a entrada de
outra atividade e a grandes extensões de terras para a sua produção gerando concentração de
rendas. Fato que pode ser constatado com a implantação do PROÁLCOOL que foi um grande
indutor da concentração fundiária num processo sem precedentes de expropriação de sitiantes.
E a transformação no ambiente social que é a princípio pasa a ser favorecida
por programas sociais, sofre muita opressão com a mecanização e exclusão social, pois o
trabalho na colheita de cana é muito desgastante além de ser considerado inferior pela
sociedade moderna a qual se está inserido.
224
E o próprio conceito de desenvolvimento local também tem problemas, pois
este parece nos remeter para aqueles grupos que não estão sendo inseridos na nova dinâmica,
o que ocorre é que muitos não participam do processo de desenvolvimento. Esse processo de
desenvolvimento local se repete nos mesmos velhos conhecidos mecanismos da acumulação
de capital a base da expropriação de fatores de produção e da exclusão social.
6.1 Perspectivas da Atividade Canavieira para as Próximas Safras
A economia mundial encontra-se em um momento difícil em razão de uma
série de problemas, como os conflitos (por exemplo, do EUA com o Iraque), a elevação da
taxa de desemprego, a estagnação econômica em alguns países, a retração do consumo, o
recrudescimento do terrorismo, entre outros. Embora no Brasil os reflexos sejam menos
graves, vários setores da economia vivem uma fase de dificuldades, como a aviação, a mídia e
a energia elétrica, apesar do Estado do Paraná sentir menos impacto dessa crise pela força e
riqueza de sua agricultura, que inclui o segmento sucroalcooleiro. Cumpre dizer que esse setor
vive um novo e promissor momento.
Aumenta, cada vez mais, o número de países que se mobilizam para tentar
reduzir os índices de poluição ambiental, em atendimento ao Protocolo de Kyoto (só vai poder
continuar poluindo quem tiver cota de carbono), o que abre caminho para o aproveitamento de
combustíveis limpos, provenientes de fontes renováveis, como é o caso do álcool produzido a
partir da cana-de-açúcar.
Essa preocupação já está tendo reflexo no setor, assim que em 2003 foi
realizado o primeiro embarque de álcool para o mercado internacional (especificamente o
225
mercado europeu, em que foi assinado um contrato pela CPA Trading que prevê a embarque
de 350 milhões de litros de álcool em cinco anos). O mundo, afinal, tão saturado dos efeitos
poluentes e da dependência dos combustíveis de origem fóssil, anseia por alternativas mais
condizentes com os modernos padrões que orientam a economia. Propostas como o álcool,
obtido de fonte renovável e ecologicamente adequado, são cada vez mais aceitas pelos países
desenvolvidos.
Desta forma, a geração de álcool deve ser continuamente apoiada mediante
investimentos, pesquisa e aprimoramento tecnológico. Por outro lado, é preciso aprimorar o
uso do álcool carburante em veículos de transportes de massas como ônibus e caminhões,
possibilitando que o uso dos recursos públicos tenha relações com o desenvolvimento
sustentável.
Em entrevista a ALCOPAR, o pesquisador da Embrapa Soja, Julio César
Franchini, relatou que a cana tem um potencial enorme para seqüestrar carbono, sendo mais
eficiente que a soja ou outras culturas na absorção do gás durante o processo da fotossíntese.
Sem a queima da cana, toda a área cultivada com a cultura tem o potencial de seqüestrar 1,34
milhão de toneladas de carbono por ano (ALCOPAR/SIALPAR/SIAPAR, 2003a).
Esse fato, além da busca pela preservação do meio ambiente, vem de
encontro a tendência do setor, que é a utilização de máquinas para a colheita da cana. O
emprego de máquinas deverá ser impulsionado, no Paraná, pelas dificuldades cada vez
maiores que a legislação impõe à realização da queimada
19
. Atualmente, a prática está restrita
ao período noturno e só é permitida mediante autorização dos órgãos ambientais competentes.
19
A principal norma que se refere à Legislação Ambiental é a Lei nº 11241/02 que dispõe sobre a eliminação
gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar. Por essa Lei fica regulamentado que as áreas mecanizáveis são
aquelas com no mínimo 150ha e com declividade menor ou igual a 12%. Os prazos para a eliminação da queima
nessas áreas são: 20% de redução imediata da área cortada; 30%, a partir de 2006; 50%, a partir de 2011; 80%, a
partir de 2016;100%, em 2021. Para as áreas não mecanizáveis, ou seja, aquelas com no máximo 150ha ou com
226
O mercado cobra cada vez mais a competitividade das usinas e/ou
destilarias, assim, “mais cedo ou mais tarde”, a mecanização da atividade canavieira será uma
realidade, ou seja, é uma tendência "e não há como escapar". No entanto, a introdução da
colheita mecânica numa área de cana é complexa, pois há a necessidade da mudança do
processo de gestão para que se mantenha a produtividade.
Além disso, pode-se dizer que a introdução de máquinas na lavoura de cana-
de-açúcar terá como conseqüências mais imediatas a redução do tempo de realização de
determinadas tarefas, da quantidade de mão-de-obra empregada e da força de trabalho
residente na propriedade, bem como a introdução de uma mudança qualitativa na demanda
por trabalhadores, na medida em que passaram a utilizar aqueles com maior grau de
especialização (tratoristas, motoristas e operadores de máquinas agrícolas), ocasionando
mudanças na organização do trabalho.
Entretanto, a mecanização traz consigo o custo social, que se traduz na
liberação de um grande número de trabalhadores rurais, na queda do valor real do salário, e,
conseqüentemente, na redução da qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias. Mas,
como dizia Keynes
20
apud De Masi (1999, p. 95), vivemos na era do desemprego tecnológico,
isso significa dizer que o desemprego resultante da descoberta de instrumentos que
economizam mão-de-obra caminha mais rapidamente do que a nossa capacidade de
encontrar novos empregos para a mesma mão-de-obra”.
Com relação a produção açucareira, as conquistas brasileiras na
Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação ao fim dos subsídios europeus ao
açúcar, trarão uma expectativa promissora com a tendência do aumento gradual das vendas. A
conquista de novos mercado/clientes dependerá de negociações intermediárias, envolvendo
declividade maior do que 12%, os prazos para a eliminação das queimadas são: 10% de redução a partir de 2011;
20%, a partir de 2016; 30%, a partir de 2021; 50%, a partir de 2026; 100%, em 2031.
20
KEYNES, J. M. Perspectivas econômicas para os nossos filhos. Texto transcrito por De Mais proferido numa
conferência em Madri, em junho de 1930.641
227
países europeus, o Acordo do Livre Comércio das Américas (ALCA) e o Mercado Comum do
Sul (MERCOSUL).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como escopo analisar os principais aspectos
caracterizadores da evolução histórica da agroindústria canavieira paranaense desde sua
origem até os dias de hoje, visando, com isso, um maior entendimento sobre as questões
ligadas às evoluções observadas em cada município paranaense em que estas unidades
operam.
No Brasil colonial o plantio de cana-de-açúcar serviu, antes de qualquer
coisa, como dispositivo encontrado pela metrópole para integrar a colônia, atendendo assim a
dois objetivos básicos: em primeiro lugar, cumprir as necessidades de colonização; e, em
segundo lugar, possibilitar grandes lucros à coroa portuguesa. A instalação da empresa
açucareira no País exigia a aplicação de grandes somas de capitais para a compra de escravos,
o plantio de cana-de-açúcar e a instalação dos engenhos.
O papel da agroindústria canavieira, de um lado, geradora de enormes
divisas para o país, especialmente através da exportação dos produtos derivados, e, de outro,
agente motivador de um processo de concentração fundiária, foi agravando as desigualdades
sócio-econômicas, submetendo milhares de trabalhadores a viverem na miséria. Além desse
cenário social, houve implicações avassaladoras sobre o meio ambiente, com a prática da
monocultura, as queimadas dos canaviais, a destruição das matas ciliares, o assoreamento dos
cursos d’água e, além de outros, o uso de agrotóxicos que é uma prática que agravou o
descompasso entre produção canavieira e equilíbrio ambiental.
Neste ínterim, no Paraná a produção canavieira só teve êxito a partir do
PROÁLCOOL, período em que houve o aparecimento da maior parte das unidades produtivas
229
hoje existentes. Com esse programa foi possível a expansão da produção sucroalcooleira
alterando o espaço agrícola estadual.
O desenvolvimento da atividade canavieira e a formação da agroindústria
paranaense, vistas a partir de um horizonte amplo, considerando os aspectos políticos,
econômicos, sociais e ecológicos, proporcionou ao Paraná uma posição de destaque no
cenário nacional, sendo superado apenas pelo Estado de São Paulo. A cultura da cana passou,
então, a ser uma motriz no processo de desenvolvimento da região norte paranaense.
Com toda essa evolução, pode-se extrair quatro relações importantes que se
sobressaem desta análise. A primeira refere-se ao fato de que através da reconstrução histórica
do processo de instalação das unidades produtivas, percebeu-se que a produção canavieira
contribuiu para mudar o ambiente econômico e cultural das mesorregiões onde se instalou.
Dessa forma, com a história empresarial, pode-se diagnosticar e analisar o conjunto de ações e
medidas adotadas pelas usinas e/ou destilarias durante toda a sua existência. Fato que
possibilitou ressaltar a cultura e as transformações desencadeadas pelo seu processo de
evolução nas relações entre empresas e municípios produtores.
A segunda retrata que as empresas, ao se fixaram num determinado
município, agregaram uma série de transformações, seja no ambiente social ou no econômico,
gerando um processo de substituição da vocação local. Dessa forma, os municípios detentores
das unidades produtivas, em sua maioria, vivenciam uma espécie de dependência produtiva da
agroindústria canavieira, gerando modificações no modo de vida das pessoas, de um lado, e
de outro, a concentração e a centralização do poder nas mãos do empresariado agroindustrial.
Elementos estes que passaram a interferir diretamente no desenvolvimento local. Essa
interferência se faz desde o segmento econômico (arrecadação, investimentos e geração de
emprego) até o segmento social (melhoria na qualidade de vida).
230
A terceira relação existente mostra que diante do processo de
desenvolvimento da agroindústria e o crescente processo de modernização/industrialização da
agricultura, o que se verificou no cenário canavieiro foi um conjunto de mudanças para os
agentes envolvidos no processo produtivo, o que pode ser percebido, sobretudo, através das
relações de produção que se configuraram a partir da expansão das áreas ocupadas com a
cultura de cana-de-açúcar. Recentemente, os impactos da concorrência da produção de grãos
têm reflexos sobre o processo do desenvolvimento local, tais como: alteração do processo de
formação agroindustrial com a redução da área de cultivo da cana e, conseqüentemente,
redução do número de trabalhadores (projeto de implantação da colheita mecânica) e aumento
da receita industrial e municipal, dando suporte para uma alteração na infra-estrutura local.
Na quarta, está presente a transformação do ambiente social. Em se tratando
das usinas e destilarias, percebe-se a ocorrência de uma acirrada e violenta opressão sobre os
trabalhadores e, de modo especial, sobre os cortadores de cana, que vivem, a cada dia, a
incerteza da manutenção de seu trabalho, uma vez que, os usineiros estão cada vez mais
buscando a adoção de mecanização na área agrícola e, até mesmo, a introdução das máquinas
no corte da cana. Apesar de a análise das empresas ter demonstrado que o corte da cana ainda
é feito pelo processo manual, a introdução da máquina é um fato poderá ser real e gerará um
custo social para os municípios onde se localizam estas empresas, com impactos sobre toda a
região por elas polarizada.
As usinas e destilarias ainda estão enfrentando um mercado livre, com a
incorporação de estruturas e práticas gerenciais voltadas para marketing (nacional e
internacional). Em uma época de distanciamento governamental das atividades produtivas,
talvez este seja o grande eixo estratégico de ganho de competitividade da agroindústria
canavieira. A incorporação de procedimentos de qualidade total e ações voltadas para o
231
mercado poderá suprir e até orientar as organizações a demandarem, com maior eficácia,
apoio governamental em questões específicas e direcionadas.
O aumento da competitividade do álcool como aditivo ou combustível
renovável e menos poluente, pela introdução de novas tecnologias; a utilização dos
subprodutos da cana para aumento de eficiência das usinas e diversificação da produção,
especialmente o bagaço e a palha, considerados, hoje, de grande importância na geração de
energia elétrica; e a modernização, quer seja pela mecanização da lavoura canavieira, quer
pelo aumento da produtividade da mão-de-obra existente, com a adoção de equipamentos para
o trabalhador, adequados às tarefas desenvolvidas, são mecanismos que refletem uma
perspectiva moderna de gestão empresarial, que toma em conta, sobretudo, a competitividade.
Não só a diminuição de custos de produção e o aumento dos índices de produtividade são
indispensáveis para a sobrevivência do setor, mas também a introdução de novos produtos.
Isso implicaria, certamente, na adoção de estratégias mais adequadas a um mercado nacional e
mundial globalizado e competitivo, o que se constitui em desafio para a assunção de uma
nova postura a ser adotada por empresários, órgãos de pesquisa, instituições correlatas e
governo diante de uma conjuntura em constante mudança.
Por fim, a amplitude e a complexidade do assunto sugerem novas pesquisas
para o enfrentamento de questões importantes que possam abrir o leque da compreensão em
torno não só dos impactos econômicos da agroindústria canavieira do Paraná, mas também
dos socioambientais, das relações sociais e de poder que se construíram a partir dela, bem
como de aspectos não privilegiados por esta pesquisa sobre a questão das suas influências no
processo de desenvolvimento local.
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SHIKIDA, P. F. A.; FRANTZ, R. L. Estratégias de atuação da ALCOPAR (PR) em face da
desregulamentação setorial e da globalização da economia. In: MONTOYA, M. A.;
242
ROSSETO, C. R. (Orgs.); Abertura econômica e competitividade no agronegócio
brasileiro: impactos regionais e gestão estratégica. Passo Fundo: Editora UPF, 2002.
p.181-205.
SILVA, F. A.; BASTOS, P. I. A. História do Brasil: colônia império e república. São Paulo:
Moderna, 1976.
SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
STAMM, C. Análise dos fatores que influenciaram a localização das indústrias no Estado do
Paraná. Toledo, 2003. 92p. Monografia (graduação). Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE.
SZMRECSÁNYI, T. O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975).
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TERMINAL em Maringá supre embarque nos Portos. JornalCana. Setor em destaque, p. 64.
Maio de 2004.
VASCONCELLOS, M. A. S. de Sistemas de contabilidade social: contas nacionais do Brasil.
In: MONTORO FILHO et al. (Edit.). Manual de economia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
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VASCONCELLOS, M. A. S.; GREMAUD, A. P. de; TONETO Jr. R. Economia brasileira
contemporânea. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
VEGRO, C. L. R.; CARVALHO, F. C. DE. Verticalização na agroindústria sucroalcooleira
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ZYLBERSZTAJN, D. Estruturas de governança e coordenação do agribusiness: uma
aplicação da nova economia das instituições. 1995. 238p. Tese (Livre Docência) – Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e Métodos. Tradução de: Daniel Grassi. Porto
Alegre: Bookman, 2001, 205 p.
ANEXOS
244
ANEXO I – QUESTIONÁRIO
245
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Data da visita técnica ____/____/____
IDENTIFICAÇÃO
Nome da empresa:___________________________________________________________
Localização:________________________________________________________________
Natureza:__________________________________________________________________
1 – O empresário:
1.1 – Nome:_________________________________________________________________
Idade:________ Estado civil:___________________ Nº de Filhos:_________
Procedência: ( ) Paraná ( ) São Paulo ( ) Outro. Qual?____________________
Se não era paranaense, em que ano veio para o Estado? __________________________
1.2 – Motivação para investir na região
( ) Financeira ( ) Fiscal
( ) Familiar/Identitário ( ) Socioambiental
( ) Solo/Clima/Relevo ( )Outro. Qual?________________________
1.3 – Qual foi a cultura que iniciou?
( ) produção de grãos
( ) produção pecuária
( ) produção de cana
( ) Outra. Qual?________________________________________________________
2 – A Empresa
2.1 Origem:
Empresa existente ( ) Sim ( ) Não Ano________________________
Ramo de atividade principal: Comercialização de Grãos ________________
Transformação de Cana-de-açúcar __________
Outros_________________________________
Empresa criada para transformação da cana-de-açúcar. ( ) Sim ( ) Não
Ano da constituição ________________________
Qual a natureza da empresa?
( ) Privada
( ) Familiar
( ) Cooperativa
( ) Sociedade Anônima
( ) Outras. _________________________________________________________
Quais foram os incentivos?
( ) Federais________________________________________________________
( ) Estaduais _______________________________________________________
( ) Municipais______________________________________________________
3 – A empresa mantém um sistema de a integração? ( ) Sim ( ) Não
( ) Em relação aos fornecedores
( ) Em relação a outra Usina
( ) Em relação a outra empresa (terceirização) Tipo___________________________
Setores_________________________
246
4 – Qual o grau de tecnificação na área:
a) industrial _________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Etapas de evolução____________________________________________________________
____________________________________________________________
b) na agrícola________________________________________________________________
________________________________________________________________
Etapas de evolução____________________________________________________________
____________________________________________________________
Existe utilização de máquinas na colheita da cana?___________________________________
5 – Caracterização física da produção de álcool e açúcar? (Série histórica, desde a
constituição)
PRODUÇÃO
Tabela 1 – Evolução da produção realizada da Usina
Produção Realizada Safra
AÇÚCAR – sacas
50KG
AEHC - M³ AEAC - M³
Tabela 2 – Evolução da capacidade instalada diária da Usina
Capacidade instalada diária
Safra
Moagem Álcool Hidratado Álcool Anidro Açúcar
247
Tabela 3 – Dados gerais sobre a matéria –prima da Usina
Matéria-prima
Origem da cana
Safra
Própria Acionistas Fornecedores
Tabela 3.1 – Dados gerais sobre a matéria–prima da Usina
Distância da lavoura a indústria
Safra
Área colhida Área plantada
10 Km 15 Km 20 Km
+
20Km
Tabela 4 – Evolução da produtividade da Usina
Produtividade
Safra
Rendimento
Agrícola
Teor de
sacarose
Eficiência de
extração
Eficiência de
fermentação
248
Tabela 5 – Evolução do emprego gerado na Usina
Emprego
Safra
Agrícola Industrial Administrativo Total
SUBPRODUTOS
Tabela 6 - Assinale com um x, no quadro abaixo, como foram aproveitados os subprodutos
derivados da cana-de-açúcar (a partir de que safra começou a sua utilização)
Subprodutos
Venda
Usado
intensivamente
na produção
Usado
parcialmente
na produção
Em fase de
pesquisa para
possível
aproveitamento
Descartado
A
partir
de qual
safra?
Bagaço
Vinhoto
Óleo fusel
CO2
Levedura
Torta de filtro
Outros (............)
Período
Subprodutos Venda
Usado
intensivamente
na produção
Usado
parcialmente
na produção
Em fase de
pesquisa para
possível
aproveitamento
Descartado
Qual
safra?
Bagaço
Vinhoto
Óleo fusel
CO2
Leveduras
Torta de filtro
Outros (............)
249
ASPECTOS ADMINISTRAÇÃO
a) Qual é a gestão financeira?
b) Políticas de redução de custo e/ou maximização de receitas?
c) Utilização econômica de subprodutos?
d) Políticas de vendas e marketing?
e) Outros aspectos? Qual?
ASPECTOS DA COMERCIALIZAÇÃO
a) como é a logística de vendas?
b) Como é feito o transporte interno?
c) Como é feito o transporte para a exportação?
d) Destino do mercado – externo e/ou interno?
Álcool
( ) Interno.
Destino________________________________________________________________
( ) Externo
Destino________________________________________________________________
Açúcar
( ) Interno
Destino________________________________________________________________
( ) Externo
Destino________________________________________________________________
250
VOLUME COMERCIALIZADO
Tabela 7 - EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR
Toneladas Em US$ FOB (mil) ano
Bruto Refinado Total Bruto Refinado Total
Tabela 8 -EXPORTAÇÃO DE ÁLCOOL
Anos
Volume
(litros)
Receita
US$ FOB
Preço Médio
Unit US$/l
251
CUSTOS
Custos (por exemplo, moagem, fermentação, destilação, transporte, obras, maquinário, mão-
de-obra, etc.).
Se é possível mensurar os custos da produção agrícola quando foi constituída e nos dias
atuais?
os custos do Transporte
os custos da Infra-estrutura
Tabela 9 - Investimentos – período
Ano Setor Agrícola Setor Industrial Setor Administrativo
252
ANEXO II
TABELAS DE VALOR DA PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA
253
Tabela 1 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de São Pedro do
Ivaí (em mil reais)
ano
Cana-
de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991
591
51,75 61 5,38 184 16,13 157 13,77 1141
1993
158
52,16 33 10,87 64 21,15 21 6,91 302
1995
7.017 51,21 1.790 13,06 2.148 15,68 434 3,17 13.703
1997
8.676 56,87 374 2,45 4.969 32,57 1.024 6,71 15.256
1999
7.779 52,56 1.038 7,01 4.079 27,56 1.404 9,49 14.801
2001
16.455 59,38 1.367 4,93 5.670 20,46 2.504 9,04 27.712
2003
25.453 57,00 2.432 5,45 11.806 26,44 4.384 9,82 44.658
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 2 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Rolândia (em
mil reais)
Ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991 536 25,68 644 30,85 393 18,85 237 11,34 2.087
1993 156 29,08 184 34,39 82 15,25 100 18,59 536
1995 5.322 28,79 6.475 35,03 3.295 17,83 2.379 12,87 18.484
1997 5.338 22,14 11.673 48,42 3.162 13,12 3.391 14,07 24.106
1999 4.779 15,85 14.044 46,58 5.349 17,74 5.616 18,63 30.149
2001 9.260 21,26 17.784 40,83 8.798 20,20 7.425 17,05 43.558
2003 12.242 17,08 36.429 50,82 9.907 13,82 12.048 16,81 71.680
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 3 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Florestópolis
(em mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991 298,6 51,71% 113,4 19,64% 66,2 11,47% 24,5 4,24% 577,4
1993 113,1 69,95% 22,1 13,65% 17,8 10,99% 4 2,47% 161,6
1995 5.395 67,43% 1.635 20,43% 639 7,99% 24 0,30% 8.001
1997 6.019 59,06% 980 9,62% 2.948 28,92% 211 2,07% 10.192
1999 4.711 51,99% 1.017 11,22% 2.353 25,97% 576 6,36% 9.062
2001 10.838 63,12% 867 5,05% 2.970 17,30% 1.890 11,01% 17.170
2003 10.841 43,16% 1.783 7,10% 7.758 30,89% 3.507 13,96% 25.118
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
254
Tabela 4 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Tapejara (em
mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
mandioca
% do
total VP
Total
1991 299 75,32 13 3,24 - - 36 9,18 396
1993 79 58,62 2 1,55 - - 46 34,13 134
1995 2.627 56,92 126 2,73 - - 1.320 28,60 4.615
1997 7.124 78,70 501 5,53 - - 1.134 12,53 9.052
1999 8.301 81,44 352 3,45 - - 1.339 13,14 10.193
2001 13.920 82,67 708 4,20 454 2,70 1.592 9,45 16.838
2003 18.312 75,39 658 2,71 2.306 9,49 2.772 11,41 24.289
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 5 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Paranacity (em
mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
mandioca
% do
total VP
Total
1991 193 50,02 11 2,85 - - 1 0,17 385
1993 94 70,15 2 1,50 - - 4 3,23 134
1995 4.440 73,74 72 1,20 - - 150 2,49 6.021
1997 13.481 93,37 319 2,21 80 0,55 252 1,75 14.438
1999 8.348 87,47 293 3,07 105 1,10 558 5,85 9.544
2001 18.085 93,22 291 1,50 125 0,64 266 1,37 19.400
2003 31.505 87,98 829 2,32 1.122 3,13 1.008 2,82 35.808
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 6 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Marialva (em
mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991 296 17,96 49 2,96 487 29,52 765 46,38 1648
1993 90 20,95 52 12,06 235 54,55 52 12,14 431
1995 3.771 18,78 2.010 10,01 9.542 47,53 4.489 22,36 20.076
1997 6.976 22,86 2.025 6,64 16.721 54,80 4.046 13,26 30.514
1999 5.059 15,25 5.202 15,69 19.049 57,44 3.413 10,29 33.164
2001 6.580 15,84 5.371 12,93 21.267 51,19 7.790 18,75 41.544
2003 7.462 10,23 13.932 19,09 38.088 52,20 12.795 17,54 72.968
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
255
Tabela 7 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Maringá (em
mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991 296 17,96 49 2,96 487 29,52 765 46,38 1648
1993 90 20,95 52 12,06 235 54,55 52 12,14 431
1995 3.771 18,78 2.010 10,01 9.542 47,53 4.489 22,36 20.076
1997 6.976 22,86 2.025 6,64 16.721 54,80 4.046 13,26 30.514
1999 5.059 15,25 5.202 15,69 19.049 57,44 3.413 10,29 33.164
2001 6.580 15,84 5.371 12,93 21.267 51,19 7.790 18,75 41.544
2003 7.462 10,23 13.932 19,09 38.088 52,20 12.795 17,54 72.968
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 8 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Jandaia do Sul
(em mil reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do
total VP
Milho
(grão)
% do
total VP
Soja
(grão)
% do
total VP
Trigo
(grão)
% do
total VP Total
1991 129 37,86 55 16,07 26 7,65 35 10,36 340
1993 29 36,35 18 22,77 11 13,16 0,00 80
1995 1.972 42,34 885 19,00 81 1,74 75 1,61 4.658
1997 2.546 51,06 1.178 23,63 497 9,97 54 1,08 4.986
1999 2.587 44,85 1.752 30,37 623 10,80 119 2,06 5.768
2001 3.145 49,72 1.511 23,89 878 13,88 125 1,98 6.326
2003 5.151 36,49 2.659 18,84 4.198 29,74 1.151 8,15 14.115
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 9 - Valor de produção das principais culturas da lavoura temporária de Ivaté (em mil
reais)
ano
Cana-de-
açúcar
% do total
VP
Milho
(grão)
% do total
VP
Soja (grão)
% do total
VP
Total
1993 4,8 28,08 2,4 14,09 - 17,1
1995 3.661 76,65 101 2,11 - - 4.776
1997 7.058 91,13 248 3,20 - 7.745
1999 6.926 81,51 229 2,70 394 4,64 8.497
2001 8.417 86,57 221 2,27 268 2,76 9.723
2003 24.244 93,14 374 1,44 - 26.029
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
256
Tabela 10 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de São
Pedro do Ivaí (mil reais)
Ano
Lavoura
temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-
açúcar
4.500 3.550 4.200 3.887 5.720 6.350 3.622 7.230 7.480 7.480 8.865 8.190 8.865 9.230
Milho
(grão)
1.435 2.250 2.800 3.950 4.900 6.000 2.000 1.500 1.200 2.000 1.164 2.500 2.000 2.000
Soja (grão)
11.900 7.520 5.560 6.000 6.200 5.900 6.000 7.000 7.200 6.000 7.500 7.000 7.000 7.500
Trigo
(grão)
9.800 4.800 5.500 4.250 2.500 1.700 3.200 4.000 4.000 3.600 2.500 4.500 5.500 4.500
Total 29.731 21.413 22.282 21.243 21.357 23.701 16.227 20.081 20.575 19.992 20.730 22.764 24.197 23.525
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 11 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Jandaia
do sul (mil reais)
Ano
Lavoura
temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-
açúcar
1.056 1.017 1.010 1.010 1.418 1.644 1.948 1.800 2.135 2.330 1.900 1.842 1.720 2.130
Cebola
10 15 13 12 - 2 2 - - - - - - -
Milho (grão)
1.540 1.920 1.340 2.020 2.250 2.450 2.750 2.850 2.500 2.600 2.357 2.620 1.900 1.800
Soja (grão)
1.600 1.000 300 1.000 1.000 250 950 800 1.100 1.000 1.500 1.300 2.000 2.500
Trigo (grão)
1.800 1.140 770 - 500 250 350 200 320 290 304 200 590 1.220
Total
7.713 7.111 6.098 6.355 7.218 7.205 7.402 6.788 7.178 7.273 6.674 6.663 6.961 8.273
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 12 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Maringá
(mil reais)
Ano Lavoura
temporári
a
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-
açúcar
1.372 1.077 1.255 1.086 1.284 1.290 1.251 1.188 845 1.251 1.267 1.179 1.256 1.249
Milho
(grão)
1.650 2.000 2.600 7.800 11.200 11.000 7.900 9.600 9.200 14.000 14.836 14.700 11.350 14.500
Soja
(grão)
21.150 21.300 21.300 21.515 22.150 22.350 22.500 22.700 23.040 23.100 23.200 22.820 23.600 24.000
Trigo
(grão)
21.000 13.000 18.890 8.500 11.000 5.500 8.000 6.500 6.500 8.200 5.717 7.050 9.000 7.020
Total
45.657 37.836 44.845 39.266 45.855 40.483 40.054 40.328 39.822 46.733 45.574 46.194 45.424 47.517
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
257
Tabela 13 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Ivaté (mil
reais)
Ano
Lavoura temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar -
- - 220 - 3.550 3.815 5.072 6.584 6.662 7.052 6.239 10.417 12.360
Milho (grão) -
- - 450 700 500 550 850 550 600 360 650 450 420
Soja (grão) -
- - - - - - - 722 676 454 454 24 -
Total -
- - 2.160 3.488 6.434 5.913 6.914 9.565 8.894 9.339 8.309 11.659 13.616
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 14 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Rolândia
(mil reais)
Ano
Lavoura
temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar
3.098 3.510 3.789 4.190 4.463 4.061 4.606 3.795 3.403 3.625 3.757 3.900 4.564 4.397
Milho (grão)
6.000 8.300 9.200 7.150 6.500 6.200 6.300 7.000 6.500 7.800 8.128 8.800 5.500 5.910
Soja (grão)
18.350 16.450 15.300 16.200 17.100 17.500 18.050 18.050 19.000 20.000 20.000 19.000 21.000 22.120
Trigo (grão)
12.600 7.855 10.700 8.510 10.050 7.050 10.000 9.000 12.000 12.000 9.036 11.000 11.048 12.890
Total
43.010 39.598 41.808 37.109 39.397 36.711 39.773 40.163 41.911 44.208 41.325 43.172 42.718 46.275
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 15 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de
Florestópolis (mil reais)
Ano
Lavoura temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar
2.865 3.421 3.347 3.748 4.190 4.674 5.482 5.055 5.396 5.217 4.798 5.200 3.992 5.191
Milho (grão)
1.300 2.760 2.900 3.200 3.000 4.300 1.550 3.900 2.500 2.000 2.379 1.800 1.600 2.400
Soja (grão)
2.480 2.705 1.700 1.700 1.800 1.800 3.780 4.000 3.500 3.500 3.500 3.300 4.000 4.100
Trigo (grão)
1.500 1.230 900 450 400 100 470 600 600 1.200 2.135 2.800 3.000 3.000
Total
9.149 11.396 9.815 9.612 9.915 11.389 11.627 13.680 12.506 12.805 13.321 13.853 13.505 15.630
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
258
Tabela 16 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Tapejara
(mil reais)
Ano
Lavoura temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar
1.174 2.090 2.547 3.277 3.390 3.100 4.331 5.855 6.225 8.705 8.453 8.484 9.268 9.472
Mandioca
1.500 2.000 2.400 3.000 3.100 2.500 1.250 1.400 1.301 1.200 1.505 905 805 700
Milho (grão)
400 600 500 350 500 600 1.010 1.300 820 850 1.130 1.400 800 850
Soja (grão)
72 - - - - - - - 180 - 240 600 1.000 1.550
Total
5.079 6.288 7.282 7.687 7.632 7.230 7.408 9.122 9.113 11.049 11.671 11.626 12.083 12.787
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 17 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de
Paranacity (mil reais)
Ano
Lavoura temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar
1.627 1.643 2.183 3.197 4.077 4.805 5.465 5.942 6.180 8.018 9.018 9.986 10.931 13.517
Mandioca
350 80 250 300 600 300 270 280 290 500 400 300 600 280
Melancia
- - -------- - - - -
Milho (grão)
900 600 200 470 360 350 350 900 450 580 617 550 710 860
Soja (grão)
35 - -----225150150 250 150 360 726
Total
5.865 6.539 6.326 7.319 7.344 7.876 7.343 7.952 7.855 9.600 10.720 11.611 13.182 16.183
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
Tabela 18 - Área plantada (hectare) das principais culturas da lavoura temporária de Marialva
(mil reais)
Ano
Lavoura
temporária
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Cana-de-açúcar
2.099 2.237 2.140 2.378 3.253 3.086 4.125 4.448 4.574 4.571 3.633 3.466 2.927 2.788
Milho (grão)
800 1.200 1.550 7.000 7.500 6.750 7.000 6.600 6.000 10.000 10.272 9.500 9.000 12.700
Soja (grão)
24.000 24.000 23.850 22.070 22.600 22.850 24.000 24.500 25.000 25.500 26.500 25.500 26.500 27.600
Trigo (grão)
22.500 16.000 18.050 4.300 16.000 15.000 15.000 14.000 14.025 10.000 15.865 13.140 15.420 15.050
Total
50.042 44.115 46.360 35.967 49.440 47.764 50.280 49.786 49.952 50.407 57.277 52.238 54.102 58.560
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2005
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