Por isso, também não nos parece relevante a discussão sobre a sinceridade ou não
do poeta em relação ao que canta, sobre a veracidade ou não da experiência de vida que
vira motivo de poesia. A vida, no sentido biográfico, não nos parece ser aquilo que
impulsiona a poesia de Azevedo, daí porque não cabe procurarmos em seus textos
sinceridade e fidelidade à experiência ou criticá-lo por ser um adolescente ingênuo que quer
se fazer passar por pervertido
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.
Dos dados biográficos, aquele que nos assemelha o mais pertinente para
alcançarmos a compreensão do projeto criador de Álvares de Azevedo é o que diz respeito
à sua verdadeira obsessão pela leitura e pelo conhecimento literário. Luciana Stegagno-
Picchio, na sua História da literatura brasileira, de 1997, comenta a gênese da poesia de
Álvares de Azevedo como estreitamente ligada às influências literárias do autor:
Paulista de nascimento e de aculturação acadêmica,
iria concluir aos vinte e um anos incompletos, ceifado
por um tumor, uma parábola literária nascida sob o
signo de Byron e em geral dos românticos ingleses,
mas nutrida de cultura francesa (Musset, Nerval,
Vigny, Gautier, mas também Lamartine e Victor Hugo),
alemã (Hoffmann e Goethe) e quiçá também italiana
(Leopardi).(STEGAGNO-PICCHIO, 2000, p. 98)
Já Silvio Romero identificava como grande qualidade de Azevedo o fato de que
arranca-nos de vez da influência exclusiva portuguesa (ROMERO, 1980, p. 949), por ser
leitor voraz dos bons escritores gregos, latinos, ingleses, italianos, alemães e franceses,
especialmente Shakespeare, Tasso, Byron, Werner, Musset, Victor Hugo e Sand, seus
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Mário de Andrade foi o que mais o criticou quanto ao que chamava de fingimento: “É o caso ainda
especialmente de Álvares de Azevedo. E tendo morrido moços, no geral poetaram como moços, muito
embora finjam às vezes formidável experiência de vida. Como é ainda especialmente o caso do nosso
Macário.” (ANDRADE, 1978, p. 203)
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