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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA E
CIÊNCIAS HUMANAS
A TEORIA, A PERCEPÇÃO E A PRÁTICA DO
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
Maria Inês Lemos Coelho Ribeiro
Ribeirão Preto – SP
2005
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A TEORIA, A PERCEPÇÃO E A PRÁTICA DO
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
Maria Inês Lemos Coelho Ribeiro
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Enfermagem Psiquiátrica do
Departamento de Enfermagem Psiquiátrica
e Ciências Humanas da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
Linha de Pesquisa: Educação em Saúde e
Formação de Recursos Humanos.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Jorge Pedrão
Ribeirão Preto – SP
2005
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Ribeiro, Maria Inês Lemos Coelho
A teoria, a percepção e a prática do relacionamento
interpessoal.
Ribeirão Preto, 2005. 106p.
Tese de Doutorado, apresentada à Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto/USP – Depto. Enfermagem Psiquiátrica.
Orientador: Pedrão, Luiz Jorge
4
FOLHA DE APROVAÇÃO
Maria Inês Lemos Coelho Ribeiro
A teoria, a percepção e a prática do relacionamento interpessoal.
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Enfermagem Psiquiátrica do
Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e
Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
para obtenção do Título de Doutor.
Aprovado em: _____/_____/_____.
Banca Examinadora
Prof. Dr._______________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr. _______________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr. _______________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________
Instituição:________________________ Assinatura:___________________
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DEDICATÓRIA
Ao José Luiz, Isabela e Camila, meu esposo e filhas, com amor,
admiração e gratidão, pelo carinho, compreensão, ajuda e incentivo
À minha mãe Wilza, meus irmãos, Luiz Henrique, Sandra e Tânia
pelo imenso carinho e apoio constante nesta minha caminhada
À vovó Nenza, por seu exemplo e orações que são essenciais em minha
vida
6
AGRADECIMENTOS
Ao professor doutor Luiz Jorge Pedrão, pela orientação, apoio
e estímulo no desenvolvimento deste trabalho, na busca do saber e do
conhecimento e pela amizade conquistada a cada dia...
Aos diretores e funcionários do CEFAN, especialmente
Alessandra e Sabrina, pela disposição e gentileza em facilitar o
desenvolvimento deste trabalho.
Às professoras Ana, Cila, Rosa e Evânia, pela disponibilidade,
interesse e valiosas contribuições científicas que trouxeram para este
estudo.
Às alunas do curso de Técnico em Enfermagem, Sirlene e
Terezinha, pela ajuda e disponibilidade.
Às secretárias do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e
Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto e da Pós-
graduação, pela atenção prestada.
À Santa Casa de Misericórdia de Passos e ao Hospital Otto
Krakauer por ter permitido a realização do presente trabalho.
À Elexandra, Valisete e Raquel, amigas e companheiras nesta
caminhada.
À CAPES pelo apoio financeiro.
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RESUMO
RIBEIRO, M.I.L.C. A teoria, a percepção e a prática do relacionamento
interpessoal. 2005. 106p. Tese Doutorado – Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
O presente estudo tem como objetivos investigar junto a pacientes de clínica
médica, cirúrgica e psiquiátrica sua compreensão sobre Relacionamento
Interpessoal, qual a importância desta habilidade, como ela ocorre entre os
técnicos e auxiliares de enfermagem com os pacientes das referidas clínicas, o
motivo que os levou a este relacionamento e a freqüência desta interação. A
metodologia adotada foi a descritivo-exploratória na abordagem qualitativa. O
estudo foi realizado em dois hospitais que atendem pacientes conveniados ao
Sistema Único de Saúde (SUS), em Passos, Minas Gerais, sendo um hospital
geral com clínicas médica e cirúrgica e o outro um hospital psiquiátrico.
Fizeram parte do estudo oitenta e sete (87) pacientes dos quais quinze (15)
foram submetidos à uma entrevista prévia e setenta e dois (72) foram
observados por observadores treinados que a prática da habilidade descrita
acima desenvolvida pelos técnicos e auxiliares de enfermagem referidos. Os
resultados das entrevistas apresentaram a visão dos pacientes de como são
tratados pelos técnicos e auxiliares de enfermagem que trabalham nos referidos
hospitais, os conteúdos de suas conversas com esses profissionais, como essas
conversas os ajudam, seus sentimentos, o que mais valorizam para o seu bem
estar e suas sugestões para melhorar a assistência de enfermagem. Evidenciou-
se que apesar dos pacientes relatarem que são bem tratados, suas falas levam ao
entendimento de que eles evitam fazer comentários negativos da assistência por
medo de serem mal tratados e também por medo de ofender os profissionais.
As conversas que ocorreram foram breves, superficiais e mecânicas.
Constatou-se a predominância por parte dos técnicos e auxiliares de
enfermagem em realizar as técnicas, deixando evidente sua formação
instrumental, não sendo incluído nesta o relacionamento interpessoal como
técnica. Ficou claro seu despreparo para se comunicarem ou se relacionarem
com os pacientes, apesar desses relatarem que um dos fatores que mais
influenciam em seu bem estar é o relacionamento interpessoal.
Palavra-chave: Relacionamento Interpessoal, Técnicos e Auxiliares de
Enfermagem.
8
SUMMARY
RIBEIRO, M.I.L.C. The theory, the feeling and the practicing of relationship.
2005. 106p. Doctorate Thesis – Nursing School of Ribeirão Preto, University
of São Paulo, Ribeirão Preto.
The objective of this present study was to investigate the relationship among
patients from medical, surgical and psychiatrist clinics, their understanding
about this subject, what is the importance of this hability, how it happens
between nursing technicians and nursing assistants and the patients from those
clinics, the reason that these professionals decided to apply this relation and
how often it has been applied. The metodology adopted was the exploratory –
descriptive with qualitative research. The study was performed in a psychiatrist
hospital and in a hospital where there were medical and surgical clinics. Both
of hospitals attend patients connected to Basic Heath Units, in Passos, Minas
Gerais. 87 patients participated in this study, 15 of them were interviewed and
72 patients were observed by trained observers. The results of these interviews
related what the patients really think about the way they are treated by the
nursing technicians and the nursing assistants that work at those hospitals, and
the content of their talks with those professionals, how these talks help them,
their feelings, their well being and their suggestions to improve the nursing
assistance. Even though the patients reported that they are well treated by the
nursing technicians and the nursing assistants it was realized that they tend to
avoid making negative comments about the assistance afraid of offending the
professionals and being bad treated by them. The talks were brief, superficial
and mechanic. It was showed the predominance / willingness of those nursing
technicians and assistants in appling the technics, their instrumental formation
clearly. Relationship was not include as a technic. What it was also clear was
that they were not prepared to communicate or to have a relationship with
those patients, even though the patients say relationship is one of the reasons
that most brought them their well being.
Key – words: nursing technicians, nursing assistants
9
RESUMEN
RIBEIRO, M.I.L.C. La teoria, la percepción y la práctica de la relación interpersonal.
2005. 106p. La tesis del doctorado- la Escuela de Enfermería de Ribeirão Preto, la
Universidad de São Paulo, Ribeirão Preto.
El presente estudio tiene como objetivos investigar junto a pacientes de clínica
médica, quirúrgica y psiquiátrica su comprensión sobre Relación Interpersonal, cual
la importancia de esta habilidad, como ella ocurre entre los técnicos y auxiliares de
enfermería con los pacientes de las referidas clínicas, el motivo que los llevó a esta
relación y la frecuencia de esta interacción. La metodología adoptada fue el
descriptivo exploratorio en el abordaje cualitativo. El estudio fue realizado en dos
hospitales que atienden pacientes del convenio del Sistema Único de Salud (SUS), en
Passos, Minas Gerais, siendo un hospital general con clínicas médica y quirúrgica y
el otro un hospital psiquiátrico. Formaron parte del estudio ochenta y siete (87)
pacientes de los cuáles quince (15) fueron sometidos a la una entrevista previa y
setenta y dos (72) fueron observados por observadores entrenados que la práctica de
la habilidad descrita arriba desarrollada por los técnicos y auxiliares de enfermería
referidos. Los resultados de las entrevistas presentaron la visión de los pacientes de
como son tratados por los técnicos y auxiliares de enfermería que trabajan en los
referidos hospitales, los contenidos de sus conversaciones con esos profesionales,
como esas conversaciones los ayudan, sus sentimientos, lo que más valoran para su
solaz y sus sugerencias para mejorar la asistencia de enfermería. Se evidenció que a
pesar de los pacientes que relaten que son bien tratados, sus hablas llevan a la
comprensión de que ellos evitan hacer comentarios negativos de la asistencia por
miedo de que tengan mal tratos y también por miedo de ofender los profesionales.
Las conversaciones que ocurrieron fueron breves, superficiales y mecánicas. Se
constató la predominancia por parte de los técnicos y auxiliares de enfermería en
realizar las técnicas, dejando evidente su formación instrumental, no siendo incluido
en esta la relación interpersonal como técnica. Se quedó claro su no preparo para que
se comuniquen o que se relacionen con los pacientes, a pesar de esos que relaten que
uno de los factores que más influencian en su solaz es la relación interpersonal.
La palabra importante: La relación Interpersonal, Técnicos y Auxiliares de
Enfermería.
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Visão dos pacientes de como são tratados pelas pessoas que
trabalham no hospital. 51
Quadro 2 Categoria 1- Percepção dos pacientes de como são tratados. 52
Quadro 3 Respostas dos pacientes sobre os conteúdos das conversas
com os técnicos e auxiliares de enfermagem e as situações em que elas
ocorrem .
53
Quadro 4 Categoria 2- Conteúdo e circunstâncias da interação 54
Quadro 5 Respostas dos pacientes de como são tratados pelos técnicos e
auxiliares de enfermagem. 57
Quadro 6 Categoria 3- Percepção do tratamento oferecido pelos técnicos
e auxiliares de enfermagem. 57
Quadro 7 Respostas dos pacientes de como a conversa ajuda no seu
tratamento. 60
Quadro 8 Categoria 4- Contribuições das conversas no tratamento. 60
Quadro 9 Respostas dos pacientes sobre como eles se sentem quando
técnicos ou auxiliares de enfermagem conversam com eles. 62
Quadro 10 Categoria 5 - Sentimentos do paciente frente à comunicação
com os técnicos e auxiliares de enfermagem. 62
Quadro 11 O que os pacientes mais valorizam para o seu bem estar. 65
Quadro 12 Categoria 6 - Aspectos que contribuem para o bem estar do
paciente. 66
Quadro 13 Sugestões dos pacientes para melhorar assistência de
enfermagem.
68
Quadro 14 Categoria 7 Sugestões destacadas para melhorar a
assistência de enfermagem. 69
Quadro 15 Síntese das observações realizadas na clínica médica. 74
Quadro 16 Síntese das observações realizadas na clínica cirúrgica. 79
Quadro 17 Síntese das observações realizadas na clínica psiquiátrica. 84
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 01
2. O ENSINO DO RELACIONAMENTO INTERPESSOAL NO NÍVEL
MÉDIO DE ENFERMAGEM, SUA IMPORTÂNCIA E SUA APLICABI -
LIDADE
21
3. MODELOS BÁSICOS DE ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL
3.1 MODELO MÉDICO
3.2 MODELO COMPORTAMENTAL
3.3 MODELO PSICODINÂMICO
3.4 MODELO PREVENTIVISTA
3.5 MODELO SOCIAL
3.6 MODELO EXISTENCIAL
3.7 MODELO COGNITIVO
3.8 MODELO HOLÍSTICO
3.9 MODELO HUMANISTA OU INTERPESSOAL
28
29
30
30
32
33
33
34
35
35
4. OBJETIVOS 39
5. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 40
5.1 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO
5.2 CONTEXTO DO ESTUDO
5.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO
5.4 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
5.5 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS
5.6 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
40
41
42
43
44
48
50
7. CONCLUSÕES 87
8. REFLEXÕES FINAIS 93
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10 APÊNDICES
11. ANEXO
96
10
2
105
12
1 INTRODUÇÃO
A equipe de saúde cada vez mais vem mostrando a sua necessidade de
aprimoramento e seu desempenho é alvo de estudo. Para alcançar o sucesso na
assistência ao paciente, sua busca pelo aperfeiçoamento do cuidado prestado vem se
tornando uma constante em diversas unidades assistenciais.
Essa preocupação deveria estar presente na prestação do cuidado em
todas as instituições de assistência à saúde, sejam elas públicas, privadas, ou de
ensino. Devido a complexidade do assunto e a importância que tem na qualidade da
assistência, faz-se necessário o desenvolvimento de estudos buscando maior
aproximação dessa temática.
O saber em enfermagem vem ganhando espaço, sendo este constituído
pelo conhecimento, instrumentos e condutas e pelas relações sociais, tornando-se a
base para o cuidado de enfermagem (SILVA, 1999). Matos (1995), descreve que
espera-se um “equilíbrio dinâmico e dialético entre a teoria e a prática. A teoria dá
forma à prática e esta, por sua vez, questiona a teoria”. A busca de enfermeiros
através de pesquisas envolvendo a questão das relações interpessoais na prática do
13
cuidado para além da técnica, mostra a crescente preocupação com a qualidade da
assistência, voltada a cuidados individualizados e de forma integral.
Sabe-se que a qualificação profissional e a formação em serviço ocupam
lugar de destaque no mercado de trabalho. Nesse sentido, dentre as funções sociais
prioritárias exercidas pela educação, emerge a necessidade de atuação na formação
de cidadãos capazes de atender as exigências que estão sendo postas. Diante das
novas exigências, discute-se a formação e a qualificação técnico-profissional, não
como uma alternativa para o sistema educacional básico e de nível médio, mas como
um complemento deste. As relações profissionais e as condições de trabalho
vivenciadas pelo nível médio têm forte influência em sua prática o que muitas vezes
provoca um distanciamento entre a aprendizagem durante o ensino e sua execução na
prática, além de enfatizar que as influências do curso sobre a formação e atuação dos
profissionais de nível médio de enfermagem são vistas por ele como significativas
para seu crescimento como pessoa e cidadão (STUTZ, 1999).
No trabalho realizado por Santiago, Lopes & Caldas (2002) em que os
autores fizeram uma revisão da produção científica dos enfermeiros sobre Educação
em Enfermagem, observa-se que nos vários temas abordados estes se voltam para a
promoção, aperfeiçoamento, atualização e ampliação do saber, contribuindo assim
para melhor desempenho e competência, tendo como atenção a atualização no
processo de globalização e dos avanços tecnológicos.
Souza (1997) escreve que o enfermeiro é um dos componentes
fundamentais para a melhoria da prática assistencial e que também contribuiu, de
fato, para uma conquista da profissionalização em Enfermagem, sendo responsável
14
pela formação, educação permanente e capacitação de sua equipe, tornando-o um
agente transformador da realidade.
O mercado de trabalho busca profissionais versáteis, com capacidade de
decisão, senso de responsabilidade, autonomia, autoconfiança, espírito crítico,
cooperação e capacidade de comunicação. Isto leva a reflexões sobre mudanças que
apontam para novos rumos da educação (MACHADO, TAKAMATSU & FILOCRE,
1998).
Acredita-se que a valorização da dignidade humana, a afeição, o
compromisso com o desenvolvimento do homem, e os princípios éticos, são as luzes
para o desenvolvimento de um método e uma tecnologia humanística aplicadas ao
cuidado. Essas luzes proporcionam a ampliação e otimização do conhecimento
científico e tecnológico e poderão viabilizar o salto qualitativo da Enfermagem e a
valorização cada vez maior das relações e do cuidado humano no terceiro milênio
(WOLFF, GONÇALVES & YEDE, 1998).
De acordo com Cadah (2000) a equipe de enfermagem representa o
maior grupo que tem contato com o paciente; portanto os pacientes, com freqüência
julgam as organizações pela qualidade do serviço de enfermagem. Diversos trabalhos
têm sido desenvolvidos relacionados à avaliação da assistência de enfermagem em
instituições de saúde. Nestes, pode-se observar que a avaliação da qualidade da
assistência implica numa abordagem sistemática dos cuidados prestados.
Na saúde, a qualidade vem sofrendo várias alterações ao longo dos anos;
antes era medida pelos índices de mortalidade, morbidade e tempo de permanência
no hospital. Hoje, são adotadas outras medidas de resultados relativos ao estado do
paciente, como: condições funcionais de saúde; indicadores psicológicos, incluindo o
15
bem estar, a auto-estima e o domínio do comportamento; aplicação de conhecimento;
motivação e até a satisfação do paciente.
A qualidade em saúde é ressaltada no cuidado, é o que maximiza o bem
estar do paciente. Portanto, a satisfação total poderia ser avaliada como uma soma
dos aspectos de tratamento técnico, das características da atenção interpessoal e as
conseqüências fisiológicas, psicológicas e sociais.
Outro aspecto a ser considerado é que vários autores como Bittes Júnior
(1996), Cadah (2000), Piagge (1998) entre outros, destacam que a moderna teoria da
qualidade é centrada no paciente, focalizando assim a satisfação e as expectativas
deste. Portanto, coordenar os cuidados para atender a estas expectativas permitirá à
equipe de enfermagem obter sucesso na melhoria da qualidade de assistência
percebida pelo paciente e familiares.
Martins (1996), escreve que atualmente existe um crescente empenho dos
profissionais e instituições de saúde em aperfeiçoar a qualidade dos serviços
prestados à comunidade, tendo ocorrido gradativamente a incorporação de noções
vinculadas à cidadania, direitos dos usuários e à responsabilidade ética dos
profissionais no campo da assistência à saúde.
São os pacientes e seus familiares que melhor avaliam os cuidados
recebidos, e assim, se tornam os melhores avaliadores da qualidade destes cuidados.
O paciente destaca que o foco principal de sua avaliação não costuma ser a parte
técnica e sim a humana, estando relacionado à simpatia, paciência, respeito e
atenção. Assim é necessário estabelecer este relacionamento interpessoal com o
cuidador, pois, quanto mais atender às suas perspectivas de cuidado, mais ele se
sentirá cuidado e mais satisfeito ficará.
16
Entende-se que o ponto de partida para verificação das expectativas do
cliente é saber ouví-lo. Sendo assim, o enfermeiro necessita desenvolver
competência específica para conhecer o paciente, e é importante desenvolver suas
habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal para também orientar a
equipe de enfermagem nestas habilidades.
O desenvolvimento dessas habilidades, em especial a percepção da
atenção e cortesia envolvida no relacionamento são fundamentais para o sucesso dos
processos de qualidade em relação à satisfação do paciente.
Acredita-se que a melhor forma para que os profissionais de enfermagem
se aproximem do paciente é a prática da empatia, pois esta prática implicará numa
revisão dos próprios valores do enfermeiro, levando em consideração o esquema de
valores do outro.
Embora os pacientes busquem cada vez mais uma atenção carinhosa e
sensível, as exigências comerciais têm levado os profissionais de saúde à uma
atenção pouco humana; mesmo sabendo que o atendimento das necessidades
emocionais do paciente o levam a ter uma cura mais rápida e o deixa mais satisfeito.
Cadah (2000) cita estudos que mostram a diferença de visão de qualidade
do cuidado de enfermagem entre os enfermeiros e pacientes. Os profissionais vêem a
competência dos cuidados técnicos como qualidade da assistência, enquanto os
pacientes percebem a qualidade desta como os cuidados decorrentes do
relacionamento interpessoal.
Pode-se dizer que a eficiência e a produtividade de um grupo estão
estreitamente relacionadas não somente com a competência, mas também com a
dinâmica das relações interpessoais, com o seu grau de interação, com influências
17
políticas e sociais. Essa integração da equipe leva ao envolvimento, compromisso das
pessoas em que sentimentos e emoções são considerado no processo de trabalho,
pois, a medida que estes fatores são ignorados, a tarefa passa a ser executada
mecanicamente, automaticamente, sem motivação e assim diminuindo a sua
qualidade (FERRAZ, 1982).
Sabe-se que o paciente faz parte do processo do cuidado, o qual está
estreitamente ligado ao sucesso das ações de enfermagem. É importante ouvir e
atender as pessoas envolvidas neste processo, que usufruem dos serviços de saúde.
Atualmente, tem-se observado que o paciente tem conquistado maior espaço na
busca de seus direitos e a evidência disto é a utilização do Código de Defesa do
Consumidor. Também, constata-se, a importância do paciente através de citações do
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, declarando ter o cliente/paciente
o direito de decidir sobre seu tratamento e seu bem estar (MATSUDA, ÉVORA &
BOAN, 2000).
Os enfermeiros atribuem ao paciente um significado predominantemente
técnico quando se referem a ele como um doente que exige cuidados, recursos
humanos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, categorizando-o como um ser
dependente, instável biologicamente, cheio de tubos, sangramentos e feridas. Por
outro lado, e contraditoriamente, também lhes atribuem a condição de pessoa ou de
Ser Humano ao reportarem suas dificuldades às características de ordem humana, por
meio de emoções como o medo, a ansiedade, a preocupação e, principalmente, a falta
da família. Acreditam que o bem-estar, para ele, esteja ligado à perspectiva humana,
quais sejam: estar ao lado da família, sentir-se o mais próximo possível de sua vida
normal e cotidiana e, ainda, a certeza de estar sendo cuidado por outro Ser Humano.
18
Portanto, além de perceber o bem-estar do paciente, através de indicadores humanos,
como um olhar ou uma expressão facial, possui outras atitudes humanas ao respeitar
a privacidade e a individualidade do paciente, aproximar-se dele, conversar buscando
pontos em comum, com o intuito de proporcionar o seu bem estar (PIAGGE,1998).
Espera-se que seja incorporado, no meio acadêmico, o sentir e não
apenas o saber. Afinal para ser enfermeiro (“cuidador”) não é necessário, apenas,
saber: saber tudo, saber sempre, saber melhor, mas, conforme destaca Piagge (1998),
é absolutamente necessário e a todo instante: ser disponível, ser pessoa, ser humano.
Assim, reforçando os aspectos discorridos acima Bittes Júnior (1996,
p.37), relata que
“Via de regra, à medida em que o paciente percebe ou
sente alguma necessidade que não consegue atender,
seja para alimentar-se ou para trocar curativos, ele
chama, solicita a presença daquele que pode ajudá-lo
mas, não somente quando tem necessidades físicas; as
necessidades sociais e emocionais também passam pelo
mesmo processo. Chamei de necessidades emocionais,
as necessidades em que os entrevistados demonstravam
necessitar mais do que de um simples procedimento. O
que eles pareciam identificar como necessário, era a
presença do outro, para se sentirem seguros e
acompanhados. Como alguns não dispunham de
familiares acompanhantes, requisitavam os cuidadores
do hospital, chegando a achar que o atendimento desta
necessidade colaborava com sua tranqüilidade e
segurança em relação à sua recuperação”.
O paciente cria uma expectativa de ser bem atendido quando está
internado e entende que este atendimento, quando bom, tem semelhança com o
cuidado que receberia de familiares, sendo a qualidade da relação entre
cuidador/cuidado a garantia do sentir-se cuidado. Mesmo em instituição com número
restrito de cuidadores, há o destaque para o relacionamento que diz respeito a ambas
19
as partes, mas de iniciativa do profissional, mesmo porque este comportamento diz
respeito as suas ações profissionais, e, quando bem aplicado, leva o paciente a uma
satisfação e segurança, culminando em uma sensação de acolhimento e de melhora
(BITTES JÚNIOR, 1996).
O amor e carinho são necessários para que os cuidados sejam feitos de
maneira adequada proporcionando assim consideração pela pessoa cuidada e sucesso
em sua ação, denotando-se compromisso e envolvimento com a ação cuidativa. Além
disso, percebem-se as técnicas de enfermagem e as ações cuidativas, na maioria das
vezes, como influências positivas à sua recuperação, perceptível na valorização das
atividades e levantado pelos pacientes como premissas básicas e requisitos relevantes
para sentirem-se cuidados, evidenciando o valor que o paciente dá ao relacionamento
interpessoal. Por outro lado, relata-se também, que a pressa, a falta de paciência e
atenção, levam o profissional a executar um cuidado desqualificado, e que,
“O paciente quer estabelecer um
relacionamento com um cuidador que tenha
amor e carinho por ele, paciente, e por sua
profissão, que seja uma pessoa que tenha
paciência, que dá orientações e
informações, que faça perguntas para
levantar suas necessidades e para saber
como está e que execute técnicas e ações
cuidativas que o levarão a ter emoções e
sentimentos positivos por estar
recuperando sua autonomia e recuperando
sua vida” (BITTES JÚNIOR, 1996, p.82-
3).
De acordo com Piagge (1998) os enfermeiros expressam o desejo de
efetuar, em seu cotidiano de trabalho, algumas mudanças, sendo a maioria delas
voltadas para o aspecto relacional e humano. A satisfação no trabalho está ligada a
20
fatos técnicos, como o bom planejamento e andamento do plantão e a estabilidade e a
melhoria das condições do paciente como resultado da intervenção do enfermeiro.
Bettinelli, Waskievicz & Erdmann (2003) relatam sobre a humanização
das relações e do cuidado ao ser humano como uma preocupação dos profissionais de
saúde, compreendendo que neste deva estar incluido as atribuições técnicas e a
capacidade de perceber e compreender a identidade de cada ser humano. Afirmam
que freqüentemente convivemos em ambientes pouco humanizados, cujo
funcionamento se restringe às técnicas, cujo centro da atenção é a “doença” e as
pessoas são transformadas em objetos de trabalho. Entendem que o processo de
cuidado precisa ocorrer numa relação, onde ocorre troca de informações,
compromisso ético, participação ativa do paciente com seus valores morais e
pessoais. Propõem que o cotidiano do cuidado passe por transformações efetivas em
sua prática, que os profissionais de saúde ampliem sua compreensão, resgatem seus
princípios e valores éticos para melhor convivência tanto na equipe multiprofissional
como entre essa e o paciente. Ainda complementando relatam que o grande desafio
dos profissionais de saúde é cuidar do ser humano nas dimensões física, psíquica,
social e espiritual, com competência tecnocientífica e humana.
Segundo Miranda, Rodrigues & Scatena (1996) o enfermeiro apreende o
paciente como objeto de seu controle, passível de sua intervenção, dependência e de
dominação, ignorando suas necessidades emocionais. Por outro lado, os enfermeiros
que estão preocupados em assistir de forma mais humana sentem-se despreparados e
inseguros para este relacionamento. Quando se propõe refletir sobre a prática
profissional, sobre os atos e sobre a forma com que se relaciona com o paciente, se
exerce uma atitude de saúde mental e também de saúde social.
21
Boff (1999) escreve que o cuidado humano deve ser baseado na relação
sujeito-sujeito e não sujeito-objeto, valorizando seus valores, de intensa convivência
e nunca de intervenção, proporcionando assim interação entre ambos.
Entende-se que o Relacionamento Interpessoal seja essencial na
prestação de cuidados aos usuários dos serviços de saúde e que este aparece como
mola propulsora do cuidado humano na enfermagem.
Sempre a convivência humana tem sido difícil e desafiante, com
interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não,
constituindo o processo de interação humana. Este processo é complexo e ocorre
permanentemente com pessoas, sob a forma de comportamentos manifestos ou não,
verbais ou não, pensamentos, sentimentos, reações mentais e ou físico-corporais
(SOUZA, 1990).
Capra apud Madeira et al. (1996) afirma que hoje se pensa,
fundamentado na abordagem holística, a qual preconiza a visão do ser humano na
sua totalidade, se interrelacionando e em interdependência com todos os fenômenos,
nos aspectos físicos, psicológicos, biológicos, sociais e culturais. Nessa proposta,
considera-se o homem como constituído de corpo, mente e espírito em harmonia e
integração com o meio. Portanto, é necessário ver o trabalhador de forma global,
corpo, mente e espírito, participando e interagindo no seu ambiente de trabalho,
interrelacionando-se com a natureza, com as pessoas e em constante busca pelo seu
crescimento.
Rogers & Rosenberg (1977) comentam que se podem utilizar os
conhecimentos sobre o comportamento do homem nas suas relações cotidianas,
escravizando as pessoas, despersonalizando-as, controlando-as, sem que elas tenham
22
consciência disso, pode-se também fazer homens felizes, bem comportados e
produtivos, obedecendo a um programa pré-preparado e traçado para que as pessoas
possam segui-lo. Outra forma seria libertar as pessoas para desenvolverem a
criatividade, ajudá-las a serem elas próprias, tendo condições para criar adaptações,
dinamicamente, em suas vidas.
A teoria de Rogers (1978) dá ênfase às relações interpessoais e ao
crescimento que delas resulta e que estas facilitam a aprendizagem, permitindo que
as pessoas assumam o encargo de seguir novas direções de acordo com seus
interesses, desencadeando o senso de pesquisa, indagação e análise, reconhecendo
que tudo se acha em processo de mudança.
Aquino (2000) afirma que todas as atividades humanas estão baseadas no
relacionamento interpessoal, sendo isso imperioso para que todas as pessoas possam
conviver satisfatoriamente, pois o ser humano vive em grupo e, portanto, tem
necessidade primária de relacionar-se com o outro, ou seja, na família, na escola ou
no trabalho.
A enfermagem é uma profissão que lida com o ser humano, interage com
ele e requer o conhecimento de sua natureza física, social, psicológica e suas
aspirações espirituais. A relação com o outro ser envolve sentimentos ao cuidar e,
portanto, ao se relacionar com o outro, dispõe-se a conhecê-lo (WALDOW, 1998).
O que qualifica a enfermagem é o seu caráter relacional, conforme
atestam algumas teorias clássicas da enfermagem. Apesar desse enfoque, na relação
afetiva com o paciente, a prática mostra-se contraditória, sendo estes muitas vezes
tratados com indiferença pela equipe de enfermagem (PIAGGE, 1998).
23
Americanas como Peplau (1952) e Travelbee (1982) estudaram e se
dedicaram ao tema “Relacionamento Interpessoal”, referindo-se com profundidade
aos princípios humanísticos, inerentes à abordagem da relação de pessoa a pessoa, o
que inicialmente parece bastante rotineiro e familiar, no nosso campo de atuação. O
relacionamento interpessoal, aparentemente muito simples, é de grande
complexidade visto que são pessoas em interação, cada uma com suas características
pessoais, sociais e culturais (RIBEIRO et al., 2003).
Destacando o papel do enfermeiro no processo de cuidar, Travelbee
(1982) considera que ele pode ser o agente responsável em promover o
relacionamento entre os componentes da equipe de trabalho, para que os mesmos
possam respeitar o paciente como ser humano único. O privilégio de uma relação de
pessoa a pessoa é de todos: paciente, enfermeiro, técnicos e auxiliares de
enfermagem e os demais membros da equipe.
A teoria de Peplau (1952) se baseia nas relações enfermeiro-paciente e
descreve a enfermagem como um processo interpessoal terapêutico, onde o processo
de cuidar do paciente encerra um aspecto profissional, a relação enfermeiro-paciente,
ou seja, o enfermeiro precisa reconhecer, definir e compreender o que acontece e
quando ocorre relações com o paciente. Para ajudar um paciente é necessário
compreender como ambos podem perceber a si mesmo, ao outro e a cada situação. A
autora destaca que falar com o paciente é fácil quando não há preocupações com os
efeitos de nossas palavras e ações sobre o comportamento deste. Portanto, a interação
só se torna efetiva e terapêutica quando o enfermeiro está consciente de sua
comunicação e assume responsabilidade sobre esta.
24
Para Rodrigues (1991) o relacionamento enfermeiro-paciente é uma
relação entre o profissional e a pessoa que requer ajuda, sendo que esta relação se dá
através de um processo terapêutico, com início, meio e final, objetivando a resolução
do problema. O sujeito não é tratado como objeto nem do conhecimento nem da
ação, mas como alguém que enfrenta dificuldades. Considera que toda pessoa possui
uma tendência positiva no sentido de se reorganizar, de se dirigir, de se preservar, o
que o leva à busca do equilíbrio, do crescimento e do amadurecimento saudável.
O cuidado de enfermagem ocorre através das interações entre duas
pessoas: uma que precisa de ajuda e outra que proporciona ajuda. A relação de ajuda
é uma interação planejada, com objetivos definidos, na qual as pessoas que
participam desta, modificam seu comportamento construtivamente com a evolução
do processo de relacionamento. O enfermeiro se une ao paciente para ajudá-lo a
revelar e compreender sua experiência, e, a partir daí, desenvolver um
relacionamento, dando-lhe a oportunidade de observar sua própria experiência,
analisar seus elementos, reconhecer o que está ocorrendo, expressar isto com outras
pessoas através da comunicação e de examiná-la numa perspectiva adequada
(TRAVELBEE 1982).
Avaliar seu desempenho durante o contato com a pessoa que requer ajuda
é um hábito que a enfermagem não tem desenvolvido. Entretanto, este se reverte em
inúmeras oportunidades para adequação do seu procedimento técnico tendo em vista
as conseqüências benéficas para o outro (RIBEIRO et al., 2003).
O relacionamento interpessoal merece atenção especial pelo fato de que
envolver duas personalidades distintas em interação, o que exige do profissional
conhecimento específico. Cada interação é singular, não podendo ser repetida ou
25
imitada. A relação enfermeira-paciente é uma experiência que se inicia de diferentes
maneiras e que não se estabelece somente pela linguagem, mas por um conjunto de
atitudes técnicas e afetivas. Toda interação tem um início, um desenvolvimento e um
fim (GATTÁS, 1984).
As ações de cuidar propiciam que cuidadores e pacientes interajam,
apesar destas parecerem se tornar cada vez mais impessoal, mecanizada e rotinizada,
sendo comum o fato de muitos profissionais não saberem como iniciar ou manter
uma conversação adequada com o paciente (RIBEIRO & PEDRÃO, 2001).
Rudio (1990) enfatiza que o procedimento terapêutico diante da realidade
do outro, não é de interpretar, avaliar ou julgar, mas de tentar compreender o que o
outro está tentando comunicar com palavras, gestos e mímicas, buscando seu
significado pessoal. As atitudes e os sentimentos do terapeuta são mais importantes
do que a sua orientação teórica. Portanto, o exercício profissional deve ser
humanizado para a melhoria da qualidade da assistência prestada com a obtenção de
um nível ótimo de satisfação pessoal e profissional.
Todo o relacionamento interpessoal humanista consiste no ato de assistir
ao ser humano, no seu processo vital, ajudando-o a aproximar-se de sua própria
unicidade e singularidade. O ser humano necessita compreender-se melhor e ao
outro, conscientizando-se de sua atuação no grupo, pois quando entendemos o outro
e a nós mesmos, o relacionamento torna-se mais espontâneo e efetivo. As atividades
humanas baseiam-se no relacionamento interpessoal e quando esse acontece no
ambiente hospitalar, tende a ser mais difícil, em geral, pelo clima tenso que mobiliza
ansiedade, devido a natureza das atividades que ali costumam ser desenvolvidas
(AQUINO, 2000).
26
Furegato (1999) escreve que se têm percebido que os enfermeiros de
várias especialidades, originários de diferentes regiões do país, estão buscando algo
mais do que simplesmente a execução de tarefas para atender às exigências de suas
unidades. Eles querem tratar o paciente como ser humano e querem ser reconhecidos
como seres humanos que ajudam os necessitados a terem uma vida melhor, apesar da
doença ou do transtorno apresentado no momento. Ela enfatiza que o paciente é uma
pessoa, um ser humano único, que no momento requer a ajuda profissional. O
enfermeiro também é uma pessoa e um ser humano único, que adquiriu
conhecimentos e habilidades específicas para cuidar dos outros e dispõe-se a isso, e,
através da comunicação interpessoal, ambos poderão atingir seus objetivos.
A pessoa hospitalizada sofre um processo de despersonificação que,
segundo Armelin & Scatena (2000), deriva da fragmentação dos procedimentos, e o
hospital, através de seus profissionais, pode ajudar as pessoas hospitalizadas a
crescerem em direção à saúde, devendo, para isso, oferecer condições de promoção
de bem estar físico, emocional e social.
Observa-se também, a despersonalização das pessoas agredindo o
respeito pela dignidade dos doentes. O conceito de humanização aproxima-se do
respeito. É necessário perceber o doente como único, insubstituível, e que merece ser
tratado com dignidade. O respeito é o componente e o antecedente para cuidar e
humanizar cuidados (CATARINO, CASSIANO & SILVA, 1996).
Não se concebe prestar um cuidado de enfermagem mecanicamente, pois
não se pode substituir nem o enfermeiro, nem os técnicos e auxiliares de
enfermagem, nem o paciente por máquinas, que, ao contrário destas, as relações
humanas são insubstituíveis. O contato com o paciente se dá quase sempre no
27
desenvolvimento de algum procedimento, com raros momentos de comunicação e
relacionamento, sendo que isto contribui para a visão do paciente e seus familiares de
que a assistência de enfermagem é fria e desumana. Entende-se que um olhar, um
toque ou um carinho associados a um procedimento técnico farão a diferença em
uma prestação de cuidados. O paciente não evidencia quem executa melhor um
procedimento, mas quem é mais gentil e atencioso para com ele (RIBEIRO &
FUREGATO, 2003).
Angerami & Mendes (1988) salientam que os clientes requerem cuidados
holísticos; a enfermagem atende-os através de uma prática fundamentada em
conhecimentos científicos e valores humanísticos, pois ambos sustentam a ciência do
cuidar, e “o cuidar é tido como um fenômeno social universal que só é efetivamente
praticado de modo interpessoal”.
Segundo Lalanda (1995) importa olhar a prática dos cuidados como uma
interação social, e refletir sobre essa interação é em parte se posicionar na estrutura
existente. Isto leva a considerar a identidade profissional como uma reconstrução
contínua, ou seja, refletir sobre o que se faz e como se faz, acaba por ser um ato de
saúde mental e de saúde social.
Para Daniel (1981) o relacionamento deve ocorrer como um processo
terapêutico de interação, afinidade, compreensão, aceitação entre os profissionais de
enfermagem e o paciente por meio de conhecimento recíproco, o que possibilita uma
assistência individualizada.
Uma boa comunicação também é importante para que possam ocorrer
trocas de experiências entre a equipe de enfermagem, favorecendo o conhecimento
mútuo, abordado nas relações interpessoais (KREUTZ, 1993).
28
A comunicação é vista na enfermagem como um instrumento básico e
também como uma competência do enfermeiro e uma habilidade a ser desenvolvida
através do aprendizado da teoria da comunicação, técnicas e medidas de enfermagem
(SADALA & STEFANELLI, 1996). A comunicação interpessoal está dividida em
verbal, associada à palavras e não-verbal que inclui as formas de comunicação que
não envolvem as palavras, um olhar, um sorriso, um gesto ou até mesmo o silêncio
(PEREIRA, 1999).
Por outro lado, não é possível existir equipe eficiente sem liderança. Para
que esta ocorra são necessários dois fatores básicos: a coordenação por um
enfermeiro, no planejamento, ministrando e avaliando a assistência individual; e a
comunicação eficaz para garantir a continuidade da assistência (NAKAO, 1985).
Acrescenta-se à estes fatores o relacionamento interpessoal entre os integrantes da
equipe de enfermagem e os pacientes, para que a eficácia do trabalho de enfermagem
seja garantido.
A comunicação é parte integrante do cuidar; portanto, é um instrumento
de trabalho do enfermeiro e sua equipe, que precisa ser pesquisado para que seus
resultados possam contribuir para os avanços esperados no campo da assistência à
saúde (SOUZA, 1990).
Moscovici (1993) relata que competência interpessoal é a habilidade de
lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma
adequada às necessidades de cada um e às exigências da situação, e que o
relacionamento interpessoal pode se tornar harmonioso trocando conhecimentos e
experiências permitindo trabalho cooperativo e em equipe.
29
Pereira (1999) salienta que nas relações interpessoais, a percepção do
outro é um processo cognitivo no sentido de que cada um dos lados está percebendo
e sendo percebido ao mesmo tempo, julgando e sendo julgado, informando e
coletando informações para dar o próximo passo. No exercício da enfermagem, a
comunicação é a base de sua existência, onde estão as relações humanas, com o
paciente e com a equipe de trabalho.
A relação do homem com o trabalho e com as outras pessoas vem sendo
muito discutida nos últimos anos pela necessidade que existe de torná-la mais
harmoniosa e prazerosa. Moscovici (1993) demonstra em seus estudos que, para o
ambiente de trabalho ser agradável e estimulante, é necessário que as relações
interpessoais influenciem-no, e que essa influência seja uma meta a ser atingida por
todos da organização.
Quando o enfermeiro mantém o grupo coeso, direcionado para o
atendimento ao cliente, os conflitos existirão, mas o grupo terá condições de elaborar
os conflitos e estes não serão suficientes para impedir que o grupo funcione. O
relacionamento pessoal é algo difícil de entender e lidar, porém estabelecendo uma
relação de coleguismo e confiança levará ao aproveitamento satisfatório de todos
(ERDMANN & PINHEIRO, 1998).
Embora a enfermagem psiquiátrica tenha se detido mais na consideração
do relacionamento interpessoal, esta atitude profissional não é terreno exclusivo.
Todo enfermeiro, seja ele generalista ou especialista, pode e deve introduzir tal
relacionamento no seu dia-a-dia profissional. Esta é uma das formas de conservar a
enfermagem na sua linha humanística, afastando-a do excesso de tecnicismo
(GATTÁS, 1984).
30
Cabe portanto, às instituições formadoras, proporcionar o
desenvolvimento de habilidades e atitudes específicas, assim como oferecer
conhecimentos a fim de que a enfermagem torne efetivas as relações terapêuticas
através do relacionamento interpessoal (MIRANDA, RODRIGUES & SCATENA,
1996).
Ao aprender técnicas sobre o relacionamento interpessoal, o estudante
aprende sobre si mesmo à medida que começa a entender suas próprias reações a um
comportamento e a empregar tais conhecimentos nos relacionamentos com seus
colegas e pacientes, facilitando a compreensão mútua e aperfeiçoando as habilidades
de comunicação. Estas habilidades precisam ser treinadas, praticadas e desenvolvidas
para maior eficiência de resultados. Acredita-se que o conhecimento teórico das
relações interpessoais pode ser adquirido através do ensino-aprendizagem e de
educação continuada (SOUZA, 1990).
Segundo Bachion (1994), os docentes referem que o conteúdo de
comunicação interpessoal é pequeno, e que são poucas as disciplinas que abordam
este tema. Pode-se fazer uma analogia ao relacionamento interpessoal, quando os
docentes desconsideram que este conteúdo faz parte de todas as disciplinas de um
modo geral, já que as relações humanas se dão em qualquer especialidade da
enfermagem.
A profissão de enfermagem, partindo de um relacionamento flexível e
democrático, promoverá saúde mental, estimulando o desenvolvimento de
personalidades sadias, substituindo práticas tradicionais que impedem o desempenho,
como a velha e rígida disciplina, o tratamento frio e formal, por um relacionamento
mais participante, mais humano. Enfim, urge que as variáveis relevantes e de
31
controle no relacionamento enfermeiro-paciente sejam trabalhadas com mais
atenção, porque é através do próprio relacionamento que podemos promover a saúde
mental das pessoas (MANZOLLI, 1983).
Na visão de Gilioli (2000), para que a enfermagem seja ativa na sua
própria humanização é necessário competência técnica, clareza política e estar
centrada em valores como: respeito ao ser humano, solidariedade, honestidade,
integridade, responsabilidade, cooperação, compreensão, prudência, interação,
integração, disponibilidade, integrando dessa forma, o saber, o saber ser e o saber
fazer.
No processo de cuidar, um aspecto relevante é a necessidade de se
estabelecer uma relação interpessoal efetiva entre os técnicos e auxiliares de
enfermagem e os pacientes, podendo tornar-se terapêutica, sendo capaz de repercutir
positivamente na recuperação do bem estar e da saúde. Destacam-se várias questões
que possam contribuir para o desenvolvimento desta postura profissional, como o
estímulo e a reflexão do pensamento crítico, desde sua formação e até mesmo em
atividades de educação continuada ao longo da atuação profissional (BECK, 1997).
32
2 O ENSINO DO RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
NO NÍVEL MÉDIO DE ENFERMAGEM, SUA
IMPORTÂNCIA E SUA APLICABILIDADE
É importante destacar que a compreensão sobre a abordagem do
relacionamento interpessoal na formação de nível médio de enfermagem (técnicos e
auxiliares) surgiu desde os estudos de graduação, seguiu-se na vivência hospitalar,
exercendo funções de enfermeira supervisora, chefe de unidade e responsável por
treinamento de pessoal. Atuando como docente em uma escola técnica observou-se
que a formação oferecida aos auxiliares e técnicos em enfermagem é mais
instrumental, ou seja, focaliza o aspecto físico, indicando cuidados para atendimento
das necessidades do paciente, do que expressiva, que engloba o aspecto psicossocial.
A inquietação sobre a assistência mais humanizada e a deficiência do relacionamento
interpessoal motivou o aprofundamento deste tema no mestrado (RIBEIRO, 2002).
As observações anteriormente discorridas partiram do estudo de Ribeiro
(2002) que investigou como os professores dos cursos de Técnicos e Auxiliares de
Enfermagem abordavam o conteúdo do Relacionamento Interpessoal em suas
disciplinas; a importância que era dada pelos alunos destes cursos a respeito do
33
Relacionamento Interpessoal; e como os Auxiliares e Técnicos de
Enfermagem estavam aplicando o conteúdo de Relacionamento Interpessoal,
aprendido durante sua formação, em suas atividades profissionais. Os sujeitos do
estudo foram 14 docentes do nível médio de enfermagem do Centro de Formação
Profissional de Nível Médio (CEFAN), 33 alunos de nível médio da referida escola,
e 21 auxiliares ou técnicos de enfermagem, funcionários da Santa Casa de
Misericórdia, ambos da cidade de Passos, Estado de Minas Gerais, e cada um desses
três grupos de sujeitos responderam aos questionários que seguem cada um deles
contendo em sua parte inicial seus dados pessoais.
Docentes do curso de Técnico e Auxiliar de enfermagem
1 – Partindo do princípio de que o inter-relacionamento pessoal é base para as ações
de enfermagem, como esse conteúdo é abordado na disciplina que você ministra?
2 – Como você avalia o preparo dos seus alunos para interagirem com o paciente?
3 – Como formador de Auxiliares e Técnicos de enfermagem, o que você sugere
para uma assistência mais humanizada?
Alunos do curso de Técnico e Auxiliar de enfermagem
1 – Como você considera o relacionamento interpessoal no exercício de futuras
funções?
2 – Durante o seu curso de formação, em quais disciplinas e como este conteúdo foi
abordado?
3 – Como formando de Auxiliar Técnico de enfermagem, o que você sugere para
uma assistência mais humanizada?
Técnicos e Auxiliares de enfermagem
1 – Você inclui o relacionamento Interpessoal nos procedimentos técnicos que
desenvolve com pacientes?
2 – Como você considera o conteúdo sobre inter-relacionamento pessoal aprendido
durante o seu curso de formação profissional?
34
3 – Como Auxiliar ou Técnico de enfermagem, o que você sugere para uma
assistência mais humanizada?
Os alunos que aceitaram participar do estudo, responderam o referido
questionário em sala de aula, os professores responderam em local e hora combinada
previamente, sendo que a pesquisadora esteve presente durante as respostas aos
questionários para esclarecimentos a possíveis dúvidas.
Para aplicação dos questionários aos técnicos e auxiliares de
enfermagem, foi treinada uma enfermeira do próprio hospital para este fim devido à
facilidade de acesso aos diversos setores e turnos (matutino, vespertino e noturno),
da escala de serviço, além do seu melhor entrosamento com o referido grupo.
Tratou-se de uma pesquisa social, pois refletiu posições frente à
realidade, preocupações e interesses da enfermagem. Foi um estudo descritivo-
exploratório, com uma proposta de trabalho teórico-metodológica para abordagem
qualitativa.
Os resultados do estudo mostraram a predominância do sexo feminino na
enfermagem nas três categorias entrevistadas, sendo, desta forma, semelhante ao que
ocorre nesta profissão, de maneira geral, e os sujeitos participantes do estudo
estavam dentro de uma faixa etária que pode ser considerada como de grande
produtividade, com grandes chances de busca de aperfeiçoamento profissional nas
suas categorias.
Sobre a primeira pergunta feita aos sujeitos, constatou-se que 11
professores abordam o relacionamento interpessoal em suas disciplinas, 29 alunos
consideram este conteúdo indispensável, fundamental, ou prioritário, e, dos 21
auxiliares ou técnicos de enfermagem, 20 responderam que incluem este tema nos
35
procedimentos técnicos. Estes dados mostraram que os professores abordam o tema
em suas disciplinas, os alunos relatam a sua importância e os auxiliares e técnicos
relatam a utilização desta habilidade em seus procedimentos técnicos.
Com relação à segunda pergunta, 3 professores consideraram bom o
preparo dos alunos para interagirem com o paciente, 3 acreditam que este preparo
está em evolução, 2 responderam que este preparo é inadequado e 6 interpretaram a
pergunta de forma incoerente com o estudo.
Dos alunos sujeitos, 20 citaram a psicologia como a disciplina que mais
aprofundou o tema, mas citaram mais 13 outras disciplinas que abordaram o tema em
seu curso. Dentre os funcionários entrevistados, 13 acreditam que o conteúdo
aprendido sobre o tema foi ótimo, muito bom, ou bom; 5 responderam que este foi
regular, vago, básico e rápido; e 3 responderam que não evidenciaram este conteúdo
nos seus cursos. Isto confirma o comentário feito anteriormente sobre a fragmentação
do conteúdo abordado nas diversas disciplinas, levando as dificuldades para
identificar o real conteúdo ministrado, aprendido e aplicado.
Na terceira pergunta, que pede sugestões para uma assistência mais
humanizada, observamos que as 3 categorias de sujeitos deram respostas mais claras
e extensas. São coincidentes nas respostas destes, as sugestões de acompanhamento
psicológico para a equipe de enfermagem, estudos, capacitação e educação
continuada.
Essas sugestões pertencem de certa forma, ao conteúdo geral de
relacionamento interpessoal e deveriam estar sendo aplicadas rotineiramente na
prática profissional. No entanto, as formas fragmentadas do ensino deste tema em
pouco contribuem para que exista uma prática sistematizada e efetiva deste
36
procedimento, que é tido como base para as ações de enfermagem, embora não haja
indicação precisa de como ele efetivamente ocorre.
Os alunos consideram de fundamental importância o relacionamento
interpessoal no exercício de suas funções e ocorreu uma predominância na resposta
de que “todas” as disciplinas abordaram o tema demonstrando que apesar de ser uma
preocupação entre os professores, este conteúdo talvez não seja significativo ou
pouco esclarecido, sendo justificado também o fato da segunda parte da questão de
como o conteúdo é abordado ter sido respondida apenas por 3 alunos.
Sobre a percepção e atuação dos técnicos e auxiliares de enfermagem
observou-se que não há referência nas respostas de que se aplica o relacionamento
interpessoal em momento específico, separado de procedimentos técnicos.
Questionou-se, pois que, se o relacionamento interpessoal estivesse sendo aplicado
nas ações de enfermagem já se teria mostra, mesmo que pequena, da humanização da
assistência, pois o cuidado humano não pode ser prescrito e não segue receitas. Ele é
vivido, sentido e exercitado. Outro questionamento que achou-se necessário fazer foi
sobre o fato de que se o ensino da habilidade de relacionamento interpessoal foi tido
pela maioria dos profissionais como “bom”, porque não se conseguiu transformar a
realidade da assistência de enfermagem mecanizada, predominante nos serviços de
saúde, em uma assistência humanizada?
Apesar das respostas dos três grupos de sujeitos entrevistados
demonstrarem a importância do relacionamento interpessoal, observou-se uma
tendência em associar o tema com algum procedimento ou técnica executada pela
enfermagem.
37
Constatou-se que os professores buscaram abordar o tema, a maioria dos
alunos confirmou que aprenderam o conteúdo, e, também, a maioria dos
profissionais de nível médio afirmou que o tema visto em seus cursos foram bons. As
falas dos sujeitos em suas respostas levaram a acreditar que o discurso é diferente da
prática, ou que o cuidado ideal é diferente da realidade vivida. Será que este
conteúdo não foi abordado e assimilado superficialmente, tornando-se pouco
significante para os sujeitos? Ou será que o tema foi apenas falado, mas não vivido
pelos profissionais de saúde e pelos educadores? A formação instrumental ainda es
sobressaindo sobre a formação expressiva? São questionamentos que não se pode
responder com certeza.
Entende-se que a produtividade de um grupo assim como sua eficiência
estão estreitamente relacionadas com a competência e com as relações interpessoais
de seus membros. Sendo assim, o enfermeiro precisa visualizar cada membro de sua
equipe como um ser único, com capacidades e dificuldades, para atingir a eficiência.
Acredita-se que o conhecimento das necessidades interpessoais dos membros de um
grupo é imprescindível para o bom entrosamento e a produtividade do seu trabalho
(SAWADA et al. 2000).
Na formação profissional em enfermagem, pode-se ver que o conteúdo
relativo ao relacionamento interpessoal é pouco abordado, e este tem como alvo de
abordagem o paciente, e raramente tal conteúdo é apresentado e discutido como
recurso de qualificação do relacionamento nos integrantes da equipe de enfermagem
e, consequentemente, qualificação do trabalho (PIROLO, 1999).
Assim, hoje, iniciando o 3
o
milênio, onde busca-se resgatar valores até
então adormecidos, relacionados à visão de integralidade da pessoa humana, a
38
enfermagem deve buscar uma séria reflexão de sua prática profissional na formação
dos recursos humanos necessários neste processo do cuidar, pois a experiência
prática mostra a deficiência com que a equipe de enfermagem se relaciona com os
pacientes.
Desta forma, estimulado pelos resultados do estudo ora descrito, sentiu-
se a necessidade de continuar estudando este tema, investigando a percepção do
paciente sobre o Relacionamento Interpessoal como técnica voltada à recuperação da
sua saúde.
39
3 MODELOS BÁSICOS DE ASSISTÊNCIA EM SAÚDE
MENTAL
Para conhecer melhor alguns aspectos das relações interpessoais faz-se
necessário rever resumidamente fundamentos teóricos de alguns modelos de
assistência, dentre os quais o modelo médico, o modelo comportamental, o modelo
psicodinâmico, o modelo preventivista, o modelo social, o modelo existencial, o
modelo cognitivo, o modelo holístico e o modelo humanista, pois sabe-se que todos
estes modelos contribuíram para a compreensão da saúde e da assistência ao paciente
psiquiátrico, influenciando nas instituições, na sociedade, e na sua assistência. A
revisão destes fundamentos teóricos foi baseada em estudos de Kaplan (1997), Luque
& Villagran (2000), Stuart & Laraia (2001), Furegato (1999), Giovani (2005),
Guimarães (2005) e Teixeira (2005).
40
3.1 Modelo médico
É o mais antigo dos modelos e exerce grande influência na assistência
pois suas bases estão nas causas naturalistas, ou seja, nas causas físicas para explicar
as doenças mentais, classificando-as e definindo diagnóstico e tratamento.
As rupturas de comportamento resultam de uma doença biológica,
portanto, determina-se deste modo que o observado no corpo, é também observado
na mente, e qualquer pessoa que apresenta algum distúrbio é denominada doente.
Assim, a doença pode ser diagnosticada, classificada e o tratamento é baseado na
história do doente, através de drogas, químicas, hormônios, vitaminas, sedativos,
psicocirurgias, e eletroconvulsoterapia. O terapeuta utiliza apenas o diagnóstico da
doença e prescreve a conduta terapêutica.
A prática de enfermagem vive uma relação de dominação por parte do
poder médico, aparecendo neste modelo como submissa, e sua atuação deve ser
universalista, específica, afetivamente neutra e de orientação coletiva. Diante do
grande avanço tecnológico, a enfermagem se especializa e se torna cada vez mais
tecnicista, mostrando, assim, uma atitude profissional de distanciamento e
envolvimentos nas relações humanas.
A crítica que se faz a este modelo é que ele tem uma visão reducionista e
biologicista considerando o transtorno mental como um desequilíbrio biológico, não
descrevendo assim uma visão completa do mesmo e as explicações para as causas
desse transtorno não são adequadas para a conduta psicopatológica.
41
3.2 Modelo comportamental
É baseado nas teorias de aprendizagem, na psicologia e fisiologia. Seus
principais representantes são Pavlov, Skinner e Staats, sendo estes responsáveis por
vários estudos de comportamentos. Este modelo determina que o comportamento é a
expressão de um organismo, podendo ser observado, descrito, recordado e
reelaborado. Determina que o comportamento é aprendido e pode ser também
desaprendido. O terapeuta baseia o tratamento no conhecimento e aplicação dos
princípios da aprendizagem, além de alguns métodos auxiliares utilizados como:
relaxamento, hipnose e drogas. Encara a terapia como um processo educativo.
O terapeuta ensina o paciente sobre a conduta comportamental, ajuda a
desenvolver a hierarquia de comportamento e reforça os comportamentos desejados.
Pouca ênfase é dada a essa linha comportamental na enfermagem, os que atuam neste
modelo devem ter conhecimento do tratamento, paciência e conduta de ação
contínua.
Este modelo pode receber críticas por se fundamentar em teorias de
aprendizagem, que são questionáveis, ignora os aspectos da psíquica e que a
experiência humana se reduz a um simples registro de dados observados.
3.3 Modelo psicodinâmico
Tem como principal representante Freud, que partindo de conceitos de
fisiologia, neurologia e neuropatologia, aplicou-os na psicanálise. Responsável pela
criação da psicanálise, solidificou a idéia de que os traumas causadores das
42
perturbações provocadas pelo libido enquanto energia vital, impulsos reprimidos na
infância, e a não solução dos conflitos seria responsável pelas neuroses. Pesquisou os
sistemas da psique, consciente, inconsciente e pré-consciente, e as estruturas id, ego
e superego, a energia, os mecanismos de defesa e os instintos de vida e de morte.
No modelo psicanalítico o tratamento é focalizado no relacionamento
terapeuta-paciente. É de longa duração e visa descobrir as raízes dos conflitos através
dos relatos do paciente que verbaliza todos os pensamentos e sonhos e leva em
consideração as interpretações do terapeuta, que permanece distante para estimular o
desenvolvimento da transferência e interpreta os pensamentos e sonhos do paciente
em relação aos conflitos, à transferência e à resistência. As técnicas mais usadas são
a livre-associação, interpretações dos sonhos e o insight na busca do conhecimento,
na superação das resistências e na alteração do ego.
São raras as participações da enfermagem nas atividades psicanalíticas, e
o que se encontra mais comumente, são atuações como co-terapeutas, conselheiros,
visitadores ou ego-auxiliares, mesmo assim, é essencial o conhecimento destes
fundamentos psicanalíticos para o oferecimento de uma boa assistência.
Críticas a este modelo podem ser feitas no sentido de questionar a
psicanálise como teoria e ciência, devido à impossibilidade de se verificar
empiricamente suas propostas, além de ser considerada uma terapia de pouca eficácia
terapêutica.
43
3.4 Modelo preventivista
Seus maiores representantes são Level e Clark na medicina preventiva e
Caplan na psiquiatria. Inclui equipes multiprofissionais, participação de comunidades
e governo. Utilizam-se conceitos de psiquiatria, de comunidade, de psiquiatria social
e teoria de sistemas. O enfoque deste modelo é a saúde, ou seja, a prevenção de
doenças, e o fundamento de que toda pessoa em algum momento de sua vida passa
por dificuldades esperadas ou acidentais. As ações deste modelo estão centradas em
três níveis de prevenção: prevenção primária que visa manter e promover a saúde;
prevenção secundária, que visa diminuir o tempo de doença, eliminá-la o mais rápido
possível restabelecendo a saúde, evitando seqüelas e invalidez; e a prevenção
terciária, que busca manter a integridade do doente como pessoa, através da
reabilitação, utilizando suas capacidades e potencialidades mesmo quando a doença
deixou seqüelas e invalidez.
O tratamento é baseado no conhecimento e aplicação de princípios da
medicina social, preventiva e teoria dos sistemas. Neste modelo, a enfermagem não
tem ainda seu papel totalmente definido devido às amplas atividades que podem
ocorrer desde a prevenção, à cura e à reabilitação do paciente psiquiátrico, mas em
qualquer um destes a ação da enfermagem é fundamental para ajudar o indivíduo.
Este modelo necessita de grande aplicação de recursos financeiros por
parte do governo, e, de um modo geral, nesse meio, apenas parte dos planos
elaborados tem sido aplicada, já que estas ações nem sempre geram lucros para a
sociedade capitalista.
44
3.5 Modelo social
Os principais representantes deste modelo são Szasz e Caplan onde se
acredita que fatores sociais e ambientais criam o estresse, que provoca ansiedade,
resultando na formação do sintoma. O paciente recebe ajuda para lidar com o sistema
social, e pode-se utilizar a intervenção de crise, a manipulação ambiental e estimular
o apoio dos amigos. O paciente apresenta ativamente o problema ao terapeuta e
trabalha com este no sentido da solução. São utilizados recursos comunitários e o
terapeuta explora o sistema social do paciente, ajudando-o a usar os recursos
disponíveis ou criar novos recursos.
Importante salientar, que este modelo não tem seus fundamentos
baseados em estudos e métodos de conhecimento científico, além de reduzir toda
conduta humana no âmbito social.
3.6 Modelo existencial
A vida tem sentido quando a pessoa aceita-se plenamente. O desvio de
comportamento ocorre quando o indivíduo é tolhido no seu esforço para encontrar-se
e aceitar-se. No processo terapêutico a pessoa é estimulada a ser autêntica no
relacionamento. A terapia é freqüentemente conduzida em grupos. O paciente
assume a responsabilidade pelos comportamentos e participa em experiências para
aprender sobre seu eu real. O terapeuta ajuda o paciente a reconhecer seu próprio
valor. O terapeuta esclarece as realidades da situação e introduz o paciente aos
45
sentimentos genuínos e à consciência expandida. Os principais representantes deste
modelo são Peris, Glasser, Ellis, Rogers e Frankl.
Críticas a este modelo podem ser feitas no sentido de que há dificuldades
em se construir uma linguagem científica e com uma terminologia clara, ou seja pode
prevalecer a utilização de metáforas nas descrições dos comportamentos (fenômenos)
observados (CASTILLA DEL PINO, 1991).
3.7 Modelo cognitivo
A perturbação psíquica está baseada em uma disfunção do pensamento.
São objetos de estudo: a atenção, a percepção, a memória, as intenções, as atitudes,
os sentimentos e tudo que faz parte da estrutura do conhecimento e participam de sua
aquisição e transformação. Em saúde mental se define em três fatores: a habilidade
de se adaptar as demandas, a capacidade para equilibrar a adaptação e atualização e
as atitudes de autonomia funcional. A descrição das condutas anormais se revela nas
respostas das distorções cognitivas. O tratamento é a aplicação da técnica de terapia
cognitiva, mas é empregado também como método de estudo do funcionamento dos
processos cognitivos (atenção, percepção e memória), seus conteúdos (atribuições e
categorias) e consciência. Seus principais representantes são Beck e Ellis.
O modelo cognitivo pode receber críticas pela sua postura filosófica que
está implícita na perspectiva funcionalista, com manejo de símbolos e aplicação de
regras, com o paradigma cognitivo superando os mecanismos afetivos.
46
3.8 Modelo holístico
Representa um novo paradigma científico e filosófico no qual o homem é
visto como “inteiro” ou “todo” e integram o conjunto entre a mente, o corpo e o
espírito. Chamado modelo biopsicosocial este engloba o nível biológico, psicológico
e o social. Este modelo se baseia na inter-relação dos fenômenos no qual o humano
tem ligação com todo o universo. As doenças são vistas como um desequilíbrio em
um ou mais componentes do indivíduo, exteriorizando os distúrbios internos na
esfera física, psíquica e ou social.
A crítica que se faz a este modelo é quanto a sua intenção de descobrir,
mais do que de explicar, a conduta humana anormal, sendo de pouco valor para a
investigação dos transtornos mentais.
3.9 Modelo humanista ou interpessoal
Privilegia a pessoa como centro da atenção de saúde e vem se
desenvolvendo desde que existe a preocupação do corpo-mente do homem,
valorizando-o pelo que ele é. Visam seu relacionamento com o mundo, as relações
interpessoais na família, no trabalho e no mundo. Supõe que uma pessoa é mais ativa
e produtiva na medida em que conhece a si mesma, seus sentimentos e atitudes.
Apresenta várias formas de tratamento, cujas terapias visam o auto-
conhecimento, valoriza conceitos como a aceitação e a empatia, fundamentais tanto
ao paciente quanto ao terapeuta, para que ambos se transformem em uma relação.
47
Este modelo promove transformações na organização, administração e
prestação da assistência, e exige da enfermagem uma nova postura, ou seja,
comportamentos humanistas, que é baseado na relação de ajuda e na interação
enfermeiro-paciente, onde o paciente precisa de segurança e satisfação que decorrem
de relacionamentos interpessoais positivos. A enfermagem utiliza sua pessoa como
instrumento para ajudar o paciente a encontrar soluções próprias para suas
necessidades. A atuação da enfermagem é de compreensão, colocando o paciente no
centro da assistência, podendo ouvi-lo, buscando ajudá-lo para suas necessidades
(PEPLAU, 1952; TRAVELBEE, 1982; FUREGATO, 1999).
Espera-se que toda a atuação da enfermagem deva ocorrer de maneira
compreensiva, privilegiando o paciente como centro da assistência, já que este
profissional surgiu da necessidade de se ter pessoas cuidadoras dos doentes. Neste
modelo, o terapeuta desenvolve um relacionamento estreito com o paciente; utiliza a
empatia para perceber os sentimentos do paciente e utiliza o relacionamento como
uma experiência interpessoal corretiva.
Silva et al. (2001) investigando enfermeiros que associaram o cuidado de
enfermagem à realização de procedimentos, onde esses profissionais demonstraram
entender o cuidado como administração de medicamentos, técnicas de higiene e
curativo, dentre outros, verificaram que apesar da grande prevalência dos
procedimentos técnicos, os enfermeiros também salientaram que seu cuidado
profissional é permeado pela relação interpessoal entre enfermeiro e paciente,
citando carinho, paciência e educação como manifestações de cuidado.
O presente estudo tem uma forte relação com este modelo de assistência
e buscou neste a base para o seu desenvolvimento, análise de dados e conclusões.
48
Contudo, como nos outros modelos, alguns aspectos no sentido crítico devem ser
destacados. Conhecer-se a si é um pré-requisito importante para o desenvolvimento
de um boa relação interpessoal, e isso nem sempre é levado em consideração nos
serviços de assistência em saúde, principalmente em se tratando de profissionais de
nível médio enfermagem. As supervisões, associadas à educação continuada em
serviço, de certa forma daria aos referidos profissionais uma condição melhor de
abordagem e o estabelecimento, manutenção e término de um relacionamento
interpessoal. Ocorre que, os serviços de assistência nos meios hospitalares
brasileiros, ainda não estão atentos para isso, e, desta forma, as relações, quando são
estabelecidas, deixam a desejar no sentido de se saber se estão sendo realizadas de
forma adequada e perde-se grandes oportunidades de ajustes e avanços na busca da
utilização deste relacionamento como um instrumento extremamente terapêutico.
Enfim, nesse sentido, há um caminho longo a percorrer até que os serviços adotem
medidas que garantam a inclusão de técnicas como esta em suas atividades
terapêuticas, garantindo também os treinamentos para isso, e, as escolas,
principalmente as de ensino no nível médio de enfermagem, com base nas de nível
superior, também passem a valorizar de vez esses aspectos.
Entende-se que os modelos de assistência em saúde mental contribuem
de maneira ímpar para a construção da enfermagem como ciência e também na
aplicação de seus fundamentos no cuidado direto ao paciente. Há predominância do
modelo médico, pois o diagnóstico é privilegiado na maioria das instituições de
saúde e também nas de ensino, e a assistência, de modo geral, tem sua base neste
diagnóstico, privilegiando a formação instrumental, com aplicação de técnicas e
procedimentos. O modelo preventivista tem destaque nas atuações do Programa de
49
Saúde da Família. Os conceitos do modelo psicodinâmico, como consciente,
inconsciente, história familiar constituem-se em bases para programar ações de
enfermagem. O modelo interpessoal permite planejar a assistência centrada nas
necessidades do paciente, onde a enfermagem pode realizar seu papel terapêutico.
Atualmente o modelo cognitivo-comportamental tem sido utilizado na
assistência de diversos quadros psicopatológicos, principalmente os provenientes da
ansiedade. Os simpatizantes do modelo holístico têm aumentado, principalmente
após a ampliação dos serviços abertos de assistência psiquiátrica e o aparecimento de
novas modalidades terapêuticas, buscando a integração corpo, mente e espírito.
Enfim, a assistência de enfermagem e particularmente a enfermagem psiquiátrica
busca apoio em todos os modelos, pois procura se adequar a evolução da psiquiatria,
que hoje pede uma visão ampliada de seus profissionais, em todas as áreas de
atuação, objetivando uma assistência integrada.
A enfermagem precisa assistir os pacientes com ética e dignidade,
utilizando conhecimentos científicos e técnicos, sendo criativa, procurando
humanizar este atendimento, com menores riscos. O cuidado exige observação
contínua, atendimento com calor humano, permitindo que todos os aspectos
relacionados ao cliente façam parte do cuidado, para manter uma adequada e
capacitada relação profissional, o que consiste se constituem um grande desafio.
50
4 OBJETIVOS
Investigar junto a pacientes de clínica médica, cirúrgica e psiquiátrica sua
compreensão sobre Relacionamento Interpessoal e qual a importância desta
habilidade; observar como ocorre o Relacionamento Interpessoal entre auxiliares e
técnicos de enfermagem com os pacientes das referidas clínicas, o motivo que os
levou a este relacionamento e a freqüência desta interação; comparar os dados
obtidos da percepção do paciente com a observação direta dos técnicos e auxiliares
de enfermagem.
51
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
5.1 Características do estudo
Trata-se de uma pesquisa social, pois reflete posições frente à realidade,
preocupações e interesses de classes e de grupos determinados, a enfermagem. É a
continuação de um estudo realizado no Mestrado sobre o Relacionamento
Interpessoal, sendo este, um estudo descritivo-exploratório, com uma proposta de
trabalho teórico-metodológica para abordagem qualitativa. A abordagem
metodológica qualitativa justifica-se por não ser possível operacionalizar em
números e variáveis um trabalho que envolve relações humanas e sociais no campo
da saúde, buscando explicar os meandros das relações sociais consideradas essência
e a atividade humana que pode ser apreendida através do cotidiano, da vivência e da
explicação do senso comum.
Para Minayo (2000) “qualquer investigação social implica considerar
sujeito de estudo gente, em determinada condição social, pertencente a determinado
grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados”. Ainda, segundo a
autora, existe hoje, uma valorização dos significados que fortificam a introspecção
52
do homem, a observação de si mesmo e se ressaltam questões antes passadas
despercebidas.
Sabe-se que a saúde é uma preocupação comum a todos os cidadãos,
independente de sua classe social e cultura, sendo esta influenciada pelos aspectos
físicos, psicológicos, ambientais, sociais e econômicos, e, desta forma firma-se um
comprometimento em tentar atingir os objetivos já propostos sobre o tema e
expressar a realidade obtida através deste estudo.
5.2 Contexto do estudo
O estudo foi desenvolvido na cidade de Passos, Estado de Minas Gerais,
que possui 98570 habitantes, com três (3) hospitais (Hospital São José, Hospital Otto
Krakauer e Santa Casa de Misericórdia), um Pronto Socorro Municipal, oito (8)
Unidades Básicas de Saúde e 17 equipes do Programa de Saúde da Família.
A obtenção da coleta dos dados foi centrada em duas instituições:
1- Santa Casa de Misericórdia de Passos (SCMP): trata-se de um hospital
geral, regional, filantrópico, com 213 leitos que atende pacientes de convênios, SUS
e particulares. Tem uma média de 1500 internações/mês, divididas nas
especialidades médico-cirúrgicas, obstetrícia e neonatologia, pediatria e terapia
intensiva. As clínicas médicas e cirúrgicas, escolhidas para este estudo, consistem de
enfermarias com três (3) leitos e atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Departamento de Enfermagem desta instituição é composto por 223 funcionários,
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que compõem a equipe de
enfermagem. A jornada de trabalho destes é de oito (8) horas diárias, sendo que o
53
turno da manhã inicia as 6:45 horas e termina 15:15 horas, da tarde inicia 14:45
horas e termina 23:15 horas e noturno inicia 22:45 horas e termina 7:15 horas.
2- Hospital Otto Krakauer: trata-se de um hospital psiquiátrico, com 120
leitos, que atende pacientes conveniados ao SUS, tendo como taxas de ocupação a
seguinte distribuição: cinqüenta por cento dos pacientes são portadores de psicose e
cinqüenta são dependentes químicos (alcoolistas). A jornada de trabalho da equipe de
enfermagem é de seis horas no turno matutino inicia 7:00 horas e termina 13:00
horas, vespertino inicia 13:00 horas e termina 19:00 horas e noturno que inicia 19:00
horas e termina 7:00 horas.
A escolha destas instituições ocorreu pelo fato dos dois hospitais
atenderem especialidades médicas distintas, possibilitando assim, a escolha de
pacientes de clínicas diferentes para este estudo e também por serem locais utilizados
para atividades clínico-práticas da pesquisadora e de alunos tanto de curso de
graduação em enfermagem, quanto de cursos de nível médio desta profissão.
5.3 Participantes do estudo
Fizeram parte deste estudo, pacientes conveniados ao SUS, internados
nas clínicas médica e cirúrgica da Santa Casa de Misericórdia de Passos e pacientes
psiquiátricos do Hospital Otto Krakauer, também do SUS, que estiveram internados
durante o período estipulado para entrevista e observação. Foram utilizados dez (10)
pacientes para entrevista nas Clínicas Médica e Cirúrgica da Santa Casa e cinco (5)
no Hospital psiquiátrico. Para a observação, foram utilizados quarenta e oito (48)
pacientes da Santa Casa, sendo vinte e quatro (24) da Clínica Médica e vinte e quatro
(24) da Clínica Cirúrgica, sendo que foram observados os pacientes em cada
54
enfermaria, nos seus respectivos leitos. Do Hospital Psiquiátrico foram observados
vinte e quatro (24) pacientes, para se manter o mesmo número de pacientes
observados em cada especialidade.
Fizeram parte, também, profissionais de nível médio de enfermagem,
auxiliares e técnicos de enfermagem, presentes nos plantões escolhidos para
observação, sendo oito (8) na clínica médica, sete (7) na clínica cirúrgica e cinco (5)
na clínica psiquiátrica. Os enfermeiros foram excluídos do estudo por não estarem
presentes continuamente nas clínicas médica, cirúrgica e psiquiátrica, devido sua
função de supervisão em mais de uma clínica.
5.4 Procedimentos éticos
Os sujeitos do estudo foram convidados de forma verbal a responderem a
uma entrevista (Apêndice 1) que foi também gravada. Nesta oportunidade, foi
esclarecido a eles os motivos e objetivos da pesquisa, a importância de sua
contribuição, e feito uma justificativa de sua escolha como entrevistado. Foi
garantido também o seu anonimato e o sigilo de suas respostas (Apêndices 2 e 3).
Foi solicitado também à direção de cada instituição a autorização para
pesquisar nas unidades, explicando seus objetivos, as entrevistas e as observações
que foram realizadas. Em seguida foram realizadas visitas nas unidades onde ocorreu
a pesquisa para explicar às chefias de enfermagem e suas equipes a intenção desta e
deixar claro que não se buscava avaliar ou julgar suas atividades, mas que se
almejava a coleta de alguns dados específicos.
55
A coleta de dados ocorreu do dia dezessete de janeiro à dezoito de
fevereiro de dois mil e cinco após o projeto ter sido aprovado pelo Comitê de Ética
da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Anexo
1).
5.5 Procedimentos para a coleta dos dados
Para a coleta de dados do presente estudo, foram realizadas entrevistas
(Etapa A) pela pesquisadora com dez (10) pacientes da Santa Casa e cinco (5)
pacientes do Hospital Otto Krakauer. Com esta finalidade foi utilizado um roteiro de
entrevista semi-estruturada com questões abertas e específicas, para ser aplicado ao
grupo de pacientes selecionados (Apêndice 1) e um minigravador. Salienta-se que
antes de ser aplicado nos sujeitos do estudo, este instrumento foi analisado
previamente, por dois juizes experientes em pesquisa que o consideraram adequado e
foi realizado um pré-teste com pacientes que não fizeram parte da amostra final da
pesquisa.
Para Minayo (2000) a entrevista semi-estruturada visa apreender o ponto
de vista dos atores sociais, orienta uma “conversa com finalidade”, facilita, amplia e
aprofunda a comunicação. Ainda conforme esta autora este tipo de entrevista
combinando perguntas estruturadas e abertas oferece ao entrevistado a possibilidade
de discorrer sobre o tema.
As entrevistas foram realizadas nas enfermarias das clínicas médica e
cirúrgica no período matutino, de dez às onze horas e trinta minutos, conforme
sugestão das enfermeiras chefe de unidade, e no hospital psiquiátrico às treze horas,
56
horário também sugerido pela enfermeira coordenadora , sendo este o horário que
não causaria transtorno na rotina das unidades.
De acordo com Triviños (1994, p.146), a entrevista semi-estruturada é
aquela:
“...que parte de certos questionamentos básicos,
apoiados em teorias e hipóteses que interessam à
pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão
surgindo à medida que se recebem respostas do
informante.”
Foram utilizados também observações e registros contínuos das
atividades desenvolvidas pelos auxiliares e técnicos de enfermagem com os pacientes
selecionados, etapa B da coleta de dados. Para Furegato (1999), a necessidade de
captar o que acontece na relação enfermeiro-paciente, através da “observação direta”,
busca captar o sentido da ação humana através da constatação de fatos e se faz na
tentativa de diminuir a distância entre a teoria e a prática, pela aquisição de
conhecimentos, refletindo-se sobre a prática profissional, estimulando e promovendo
transformações.
As observações foram realizadas pela pesquisadora e por duas alunas do
curso de técnico em enfermagem que foram previamente treinadas para executar tal
função, denominadas a partir daqui de monitoras. Para esta finalidade utilizou-se
uma definição operacional de “Relacionamento Interpessoal” feita com base na
descrição de Furegato (1999, p.55): habilidade a ser desenvolvida ao se executar
qualquer procedimento de enfermagem, ou seja, em qualquer aproximação entre o
integrante da equipe de enfermagem e o paciente na enfermaria ou em outro lugar do
hospital (corredor, pátio, etc), com o propósito de prover alguma necessidade de
57
conforto, higiene, medicação e outros. Outra forma é quando ocorre o
relacionamento terapêutico, sendo que o enfermeiro coloca-se a disposição do
paciente com o objetivo de ajudá-lo, caracterizando uma relação de ajuda, com
início, desenvolvimento e desfecho, como por exemplo, em uma situação de crise ou
de sofrimento.
Essas monitoras, utilizando a definição operacional do “Relacionamento
Interpessoal”, as observaram durante plantões da equipe de enfermagem, por duas (2)
horas em cada plantão, a maneira como ocorria o relacionamento interpessoal entre
os técnicos e auxiliares de enfermagem e os pacientes. Registraram continuamente
todos os comportamentos que ocorreram na enfermaria selecionada com o paciente e
com os técnicos e auxiliares de enfermagem, e ainda, o motivo desse relacionamento,
procurando interferir o mínimo possível na rotina do serviço. Cada monitora
observou apenas uma enfermaria contendo no máximo três (3) pacientes por dia na
Santa Casa. No Hospital Psiquiátrico, cada monitora acompanhou e observou apenas
um paciente por vez, seguindo-o onde ele ia. A duração das observações também foi
de duas horas. As monitoras registraram suas observações em um caderno de campo.
O horário para se fazer as observações foi escolhido de acordo com as
rotinas dos hospitais, ou seja, elas foram realizadas em um período em que a equipe
de enfermagem tinha possibilidades de realizar a habilidade de relacionamento
interpessoal. Evitou-se o início da manhã, horário de almoço, de visitas e de
passagem de plantão, devido a equipe estar envolvida com diversas atividades nestes
momentos. Dessa forma, o horário ideal para as observações nos dois hospitais,
esteve entre 15:00 horas e 17:00 horas, sendo assim este o período escolhido.
Importante destacar que as alunas de enfermagem, observadoras, foram convidadas
58
para tal atividade por serem alunas que tiveram destaque no curso técnico em
enfermagem. As chefias de enfermagem das clínicas pesquisadas foram previamente
contatadas por telefone no sentido de informar a realização da atividade de coleta de
dados do presente estudo. Diariamente para as finalidades deste estudo foi passada
visita em todas as enfermarias, masculina e feminina, e a sua escolha para
observação de seus pacientes foi aleatória.
Nas duas clínicas, médica e cirúrgica, o plantão da enfermagem é
passado na porta de cada enfermaria, pelos técnicos e auxiliares de enfermagem
escalados para o plantão. As enfermeiras chefes das referidas clínicas passam o
plantão para a enfermeira supervisora no posto de enfermagem. Segundo a escala na
clínica médica e cirúrgica o plantão da tarde é composto por sete ou oito
profissionais de nível médio de enfermagem, escalados para o período da tarde. Cada
técnico ou auxiliar de enfermagem fica responsável por duas enfermarias, aplicando
cuidado integral, ou seja, responsável por toda assistência desses pacientes.
As observações iniciaram-se pela clínica médica. O número de pacientes
masculinos e femininos, observados em cada enfermaria desta clínica foi de três (3)
que pertenciam às enfermarias denominadas M1, M2, M3, M4, M5, M6, M7 e M8,
onde observou-se vinte e quatro pacientes. Em seguida, passou-se para a clínica
cirúrgica, nas enfermarias denominadas C1, C2, C3, C4, C5, C6, C7, C8, e C9, cujo
número de pacientes observados masculinos e femininos, variou de um à três
conforme disponibilidade daquele momento, totalizando vinte e quatro observações.
Estes pacientes foram identificados com números de 1 a 48.
No hospital psiquiátrico, faz parte da escala de enfermagem uma
enfermeira supervisora para atender tanto a clínica feminina quanto a masculina e
59
estão escalados cinco (5) auxiliares de enfermagem em cada clínica. As observações
realizadas nos vinte e quatro pacientes psiquiátricos, masculinos e femininos,
denominados de 49 a 72, ocorreram no pátio, na sala de televisão, nas enfermarias e
até mesmo nos consultórios médicos, conforme a movimentação de cada paciente.
Em todos os pacientes observados preocupou-nos anotar a freqüência
com que os auxiliares e técnicos de enfermagem entravam em contato com estes
pacientes e descreveu-se o motivo pelo qual este ocorria, conforme detalhado na
apresentação dos resultados.
5.6 Procedimento de análise de dados
Gil (1994) afirma que a análise dos dados tem a finalidade de organizar e
resumir os dados obtidos durante a investigação possibilitando assim, o fornecimento
de respostas ao problema proposto.“A análise é desenvolvida através da discussão
que os temas e os dados suscitam....e da relação entre as hipóteses de trabalho e sua
confirmação ou não na pesquisa” (VICTORA, KNAUTH & HASSEN, 2000).
Para interpretação dos dados coletados utilizou-se como referencial
teórico a análise de conteúdo que se define por uma técnica que busca descrever o
conteúdo das mensagens, de maneira objetiva, sistemática, com finalidade de
interpretá-los e “alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de
documentos, textos literários, biografias, entrevistas e observações” (MINAYO,
2000). A autora propõe alguns passos para a análise dos dados coletados:
1º- ordenação dos dados, incluiu-se nesta etapa a transcrição das fitas
gravadas seguida de uma cuidadosa leitura do material coletado nas observações e
nas entrevistas. Durante a análise dos dados coletados buscou-se não só enxergar os
60
conteúdos explícitos nas falas e observações, mas também os subjetivos, contidos nas
entrelinhas.
2º- classificação dos dados, constituída de leitura repetida dos textos, o
que permite apreender as idéias centrais do tema e posteriormente reagrupá-las em
categorias. As respostas dos sujeitos pesquisados foram separadas e agrupadas com
base na aproximação das idéias e expressões contidas no seu conteúdo. Trechos
descritivos (do próprio sujeito) ilustraram a apresentação dos resultados e a discussão
dos mesmos. Foram também computados a freqüência e os motivos das interações
ocorridas entre as equipes e os pacientes.
3º- análise final, inclui o objeto, o sujeito do conhecimento e as
interrogações daquele momento, sugerindo que ao final do trabalho possam ser
indicadas mudanças, avaliação de programas, transformação de relações e outros.
61
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a análise do conteúdo dos dados coletados, optou-se por apresentar
os resultados em quadros que permitem uma melhor visualização, classificando as
respostas em categorias, com agrupamento por unidade de registro (palavras)
considerando a freqüência com as quais elas aparecem no discurso dos entrevistados.
Em seguida, partiu-se para os discursos com base na literatura pertinente.
Os quadros numerados de 1 a 14 referem-se aos conteúdos das respostas
dos sujeitos, identificados como P1 até P15, nas entrevistas (Apêndice 1). Os quadros
apresentados de 15 a 17 referem-se às sínteses das observações realizadas.
62
Quadro 1 Visão dos pacientes de como são tratados pelas pessoas que trabalham no
hospital.
PACIENTE COMO É TRATADO
P1 Bem.
P2 Até agora muito bem
P3 Muito bem tratado, não tenho reclamação
P4 Bem, sempre bem
P5 ... tudo bem, eles são bons demais, ...
P6 Eu sou tratado muito bem aqui.
P7 Bem, graças a Deus.
P8 Graças a Deus eu sou bem tratado por todos,
...
P9 Sou muito bem tratada
P10 Super bem.
P11 Sou tratado bem.
P12 Eles me tratam bem.
P13 Bem, não tem nada a reclamar de ninguém.
P14 Sou bem tratado, graças a Deus.
P15 Tudo bem, é ótimo
Nota-se que dos quinze pacientes entrevistados todos relataram serem
bem tratados. Apesar desta fala geral, alguns pacientes referiram medo de
brutalidade, falta de educação e de atenção, principalmente no hospital psiquiátrico,
conforme os trechos:
63
“eu respondo na hora certa, quando tem brutalidade comigo, porque tem
pessoa que não tem educação”. (P13)
“Tratam bem. Elas não dão atenção. Até eu fui conversar com um
enfermeiro e elas mandaram eu sair”. (P11)
Considerando os conteúdos da fala geral dos pacientes e os outros dizeres
complementares que apareceram também nas respostas durante as entrevistas, foi
feito um reagrupamento que resultou na categoria 1 apresentada no quadro a seguir:
Quadro 2 Categoria 1- Percepção dos pacientes de como são tratados.
PERCEPÇÃO POSITIVA
(15)
“... bem”/ “ ....não tenho reclama
ç
ão”/ “
...eles são bons demais”/ “... Gra
ç
as a
Deus”/ “...nada a reclamar de ninguém”/ “
...é ótimo”/ “ ...o que podem fazer,
fazem.”
PERCEPÇÃO NEGATIVA
(2)
“ ... brutalidade”....não têm educa
ão...”/
“...não dão atenção... mandaram, eu sair.”
Durante as entrevistas foi possível perceber um certo constrangimento
dos pacientes, dificuldade em fazer queixas do serviço, como se os mesmos não
tivessem direito de fazer pedidos e até mesmo de exigir uma assistência de saúde
adequada, independente da classe econômica que pertencem, conforme as falas:
“... como aqui é parte dos pobres, do SUS, tá a mesma coisa do
particular”. (P5)
“ Eu acho que o quê vocês podem fazer vocês fazem, não precisa nem
pedir”. (P8)
64
Entende-se que quaisquer que sejam as condições em que se desenvolve
a prestação de cuidados, os comportamentos profissionais devem ocorrer com o
propósito central de promover, fomentar e manter, nos utilizadores dos serviços, os
direitos inerentes às pessoas (CATARINO et al., 1996).
Outra constatação é a de que ainda nos dias atuais o cuidado é visto como
um ato de caridade, ligado á espiritualidade das pessoas, freqüentemente referido
com sentimentos de gratidão, expressando emoção, como o paciente três (3), que no
momento em que foi perguntado como é tratado, este começou a chorar e disse que
não precisava melhorar em nada o tratamento, “só agradecimento”.
“Graças a Deus eu sou bem tratado por todos, graças a Deus” (P8).
Quadro 3 Respostas dos pacientes sobre os conteúdos das conversas com os técnicos
e auxiliares de enfermagem e as situações em que elas ocorrem .
Pacientes Contato
Tipo de
conversa
Situações da
conversa
Conteúdo da
conversa
P1 Não Não Não Não
P2
Entra e
conversa
Breve e
freqüente
Medicação e
visita
Brincadeiras
P3 Conversam Perguntas Técnica Tratamento
P4 Conversam Breve Visita Tratamento
P5 Conversam Agradável
Manhã e noite
e medicação
Brincadeiras
P6 Conversam Legal
Medicação e
visita
Tratamento
P7 Conversam Alegre
Ajuda e
medicação
Tratamento
65
P8 Conversam Breve Visita Tratamento
P9 Conversam Breve
Técnica e
relatório
Tratamento
P10 Conversam Acalmar
Medicação e
visita
Tratamento,
família,
comida,
profissão
P11 Não Não Não Não
P12
Conversam
pouco
Breve e
superficial
Refeições Brincadeiras
P13 Conversam Amigável Pátio Tratamento
P14 Conversam Breve Pátio Tratamento
P15 Conversam Alegre Postinho Brincadeiras
Quadro 4 Categoria 2- Conteúdo e circunstâncias da interação
ENTRA EM CONTATO (13) “... entra e conversa”/ “
....conversam”/ “ ...conversam
pouco”/ ”
NÃO ENTRAM EM CONTATO (2) “ ...não ”
TIPO DE CONVERSA (14) “ ... breve”/ “....não/ “... freqüênte”/
“...perguntas”/ “... “ “...agradável”/ “
...aclamar” / “ ...legal”/ “...alegre”
SITUAÇÕES DA CONVERSA (19) “... medicação”/ “ ....visita”/ “
...técnica”/ “...pátio”/ “...relatório”/ “
....postinho”/
CONTEÚDO DA CONVERSA (18) “... tratamento”/ “ ....brincadeira”/ “
...não”/ “...família”/ “...comida”/ “
66
....profissão”/
Dos quinze pacientes entrevistados, doze (12) responderam que a
enfermagem conversa com eles, um (01) respondeu que conversa pouco, e dois (02)
relataram que não conversam. Para Travelbee (1982), é tarefa do enfermeiro
estimular o paciente a se expressar verbalmente, o que permite ao outro conhecer-se
melhor e possibilita experimentar novos comportamentos.
Quando questionados sobre o tipo desta conversa, seis pacientes
relataram tratar-se de uma conversa breve, um disse que é em forma de perguntas
sobre o tratamento dele, P5 informou ser uma conversa agradável sempre relacionada
com brincadeiras, P7 e P15 disseram ser alegre, P6 que é legal e P13 que esta é
amigável e P10 que é uma conversa que acalma.
“Conversam, eles perguntam como é que passou”(P8).
“Agradável e é sempre assim... em torno da doença”(P6).
“Isso depende, se elas estiverem muito apertadas demora só um
pouquinho”(P4).
Quando observa-se no quadro as situações em que ocorrem as conversas,
nota-se que nos pacientes de clínica médica e cirúrgica ela está sempre relacionada à
realização de técnicas e procedimentos, ou seja, na área instrumental. Nos
psiquiátricos ocorre nos momentos de refeições, no pátio ou no posto de
enfermagem. De qualquer forma observa-se que são conversas superficiais,
descompromissadas, até mesmo mecânicas, coincidentes com outras atividades,
refeição, medicação, lazer, e outras, portanto não existe um momento em que a
67
conversa ocorra somente com a finalidade de ser terapêutica, com o objetivo de
ajudar o paciente.
“...ela entra para trazer o medicamento, e para também as vezes perguntar
como é que eu tô, se estou sentindo bem”(P2).
“entra, conversa, mede pressão, dá remédio pro coração, tudo”(P5).
“... para ajudar o paciente, trazer remédio...”(P7).
“É muito pouco contato. O nosso contato é na hora da janta , do
lanche”(P12).
“É na hora que eu tô jogando paciência, aí eles chegam e
conversam”(P14).
Matos (1995), relata que o momento da execução do cuidado é também
uma oportunidade de relacionamento entre a enfermagem e o paciente, o que o torna
responsável pelo sucesso da assistência.
Alguns pacientes justificaram a ocorrência de pouca conversa alegando
pouco tempo disponível da enfermagem e falta de atenção da equipe.
Com relação ao conteúdo das conversas, nove pacientes disseram ser
sobre o tratamento deles, ou seja alguma coisa sobre sua doença. Quatro
responderam que estas conversas são sobre brincadeiras, e um ainda relatou que se
fala sobre família, comida e profissão. Mais uma vez se reforça o fato de ser uma
conversa técnica e mecânica, direcionada ao tratamento. Sobre o conteúdo ser
brincadeiras entende-se que este conteúdo é bom por deixar o paciente mais alegre,
tornar o ambiente hospitalar mais agradável e assim ser mais suportável aquele
tratamento em que o paciente está sendo submetido. Por outro lado, essas
brincadeiras poderiam ser uma forma dos profissionais de enfermagem não se
envolverem, evitando assim uma conversa mais profunda, terapêutica com o
68
paciente. Poderiam ser também por falta de conhecimento e não saberem como
conduzir uma conversa.
Sabe-se que não é incomum que muitos profissionais desconhecem como
iniciar uma conversação e como mantê-la de forma criativa. O estudo realizado por
Waldow (1998), com pacientes internados em clínica cirúrgica, mostra pouca crítica
sobre o cuidado técnico; não que ele não seja importante, mas parece inerente à
profissão. Já o cuidado humano, a demonstração de afeto, o interesse foram bastante
enfatizados. Ainda este estudo mostra também que algumas cuidadoras parecem se
envolver, se interessar e se dedicar mais aos pacientes, sendo assim mais solicitadas
por estes e seus familiares. Isto leva a indagar se este fato ocorre apenas por serem
estas cuidadoras mais sensíveis e terem mais experiência, não só profissional, como
também de vida, e não somente uma proposta real de trabalho.
Quadro 5 Respostas dos pacientes de como são tratados pelos técnicos e auxiliares
de enfermagem.
Paciente Como é tratado pela enfermagem?
P1 Eles conversam com delicadeza, bem
educados.
P2 Até agora eu fui bem tratada pela
enfermagem...
69
P3 Trata muito bem.
P4 Bem.
P5 Trata muito bem.
P6 Eu diria muito bem. Eles são atenciosos...
P7 Tratam muito bem. Eu sou sempre bem
recebido.
P8 Eles tratam a gente muito bem, gra
ç
as a
Deus.
P9 Eles fazem cara boa para a gente... Não
maltrata...
P10 Super bem.
P11 Tratam bem... Não dão atenção.
P12 Sou mais ou menos bem tratado.
P13 Muito bem.
P14 Me trata bem, tudo normal, tudo certinho.
P15 Trata muito bem.
Quadro 6 Categoria 3- Percepção do tratamento oferecido pelos técnicos e auxiliares
de enfermagem.
INTERAÇÃO POSITIVA
(12)
“... trata muito bem”/ “ ....conversam com
delicadeza”/ “...são atenciosos”/ “... faz
cara boa”/ “...não maltrata”/ “ ...não é
tratamento cinco estrelas”/
INTERAÇÃO NEGATIVA
(4)
“... tratam bem e não dão aten
ão” / “...
sou mais ou menos bem tratado” / “...
podia melhorar”/
70
De acordo com os quadros 5 e 6, evidencia-se que dos quinze pacientes
entrevistados, um respondeu ser super bem tratado, sete muito bem tratados, seis bem
tratados, inclusive um deles (P1) refere que “eles conversam com delicadeza e bem
educados”, e, outros pacientes relatam que,
“... eles fazem cara boa pra gente e conversa. Não maltrata a gente, não
conversa com a gente de cara ruim, conversa satisfeita, alegre”(P9).
“Inteirou duas vezes que eu tô aqui, nunca fui mal tratado por ninguém,
nunca tive que reclamar”(P8).
“Os da enfermagem não tem nenhum bruto pra mim, são tudo
educado”(P15).
Poderia-se pensar que estes pacientes, oriundos de uma classe econômica
baixa, ficam satisfeitos na forma como são tratados apenas pelo fato da equipe ter
“cara boa” ou simplesmente não maltratá-los. Tratar com educação e respeito é ou
pelo menos deveria ser o mínimo obrigatório no tratamento com qualquer pessoa,
ainda mais se tratando de uma pessoa doente, hospitalizada, e com necessidade de
assistência pelo serviço de saúde.
E apenas um paciente (P12) informa ser mais ou menos bem tratado,
conforme no trecho seguinte:
E- E só o pessoal da enfermagem como é que eles te tratam? ...
P12- Uai... Não é aquele tratamento cinco estrelas.
E- Sei...
P12- Sou mais ou menos bem tratado.
E- Mais ou menos bem tratado?
P12- É, podia melhorar.
E- Você acha que precisava melhorar no quê?
P12- Tinha que dar mais atenção. A gente chega ali na porta, vai fazer uma
pergunta eles viram as costas pra gente. Não liga, tem que ficar chamando. E eu sou
educado, eu sempre peço por favor. Tem dia que eu chego ali vou perguntar alguma
coisa eles não dão bola e saem. Às vezes eu preciso de alguma coisa e eles saem. Aí
eu também saio se não eu fico nervoso.
71
Em um estudo realizado por Waldow (1998), os pacientes relataram
como atributos necessários ao cuidador atitudes como: paciência, atenção e carinho.
Entende-se que para tratar bem uma pessoa é necessário dar atenção ao
que ela fala, e as suas necessidades. Não é possível tratar bem se ouvir o que a pessoa
está perguntando ou verificar o que está precisando. A fala do P11 evidencia essa
incoerência conforme se observa a seguir:
“Tratam bem. Elas não dão atenção. Até eu fui conversar com um
enfermeiro que estava conversando com elas e elas mandaram eu sair.”
Percebe-se uma contradição neste discurso (P11) quando relata que “trata
bem, mas é mal educado” demonstrando que há por parte do entrevistado receio de
expressar sua percepção real sobre o tratamento, denotando possivelmente o medo de
não ser cuidado ou de sofrer “retaliações”. Assim, o “poder” da equipe sobre o
paciente fica implícito no seu discurso, como o paciente é psiquiátrico mostra como
este paciente tem medo do castigo, que é o grande ameaçador. Isso nos revela que se
por um lado existe um discurso de desinstitucionalização e humanização do
atendimento, ainda persiste, como “pano de fundo,” a repressão, a ameaça, o poder
sobre a doença e o doente.
Silva et al. (2001) descrevem em seu estudo com pacientes, que estes
expressaram que esperam ser atendidos nas suas necessidades, sendo que, para isso,
desejam que seus chamados sejam atendidos imediatamente após solicitação.
72
Quadro 7 Respostas dos pacientes de como a conversa ajuda no seu tratamento.
Pacientes Como a conversa ajuda no tratamento
P1 Valorizando e melhorando.
P2 Anima.
P3 Anima.
P4 Ajuda.
P5 Anima.
P6 Anima.
P7 Alegra e anima.
P8 Alegra.
P9 Dá uma força.
P10 Acalma, relaxa.
P11 Ia melhorar se acontecesse.
P12 Melhora.
P13 Ajuda.
P14 Ajuda porque é bom para a cabeça da gente,
alivia.
P15 Distrai a memória.
Quadro 8 Categoria 4- Contribuições das conversas no tratamento.
73
PERCEPÇÃO POSITIVA
(18)
“... anima”/ “ ....alegra”/ “...ajuda”/ “...
melhora”/ “...alivia a cabeça”/ “ ...distrai a
memória”/ “...valoriza”/ “... dá uma força” /
PERCEPÇÃO NEGATIVA
(1)
“... ia melhorar se acontecesse” /
Segundo os quadro 7 e 8 quatorze pacientes responderam que a conversa
com a enfermagem ajuda no seus tratamentos e um, que se ela acontecesse ia
melhorar. Dentre os quatorze, seis deles afirmam que animam com este contato, dois
citam que melhora ou alegra, que dá força, aclama, relaxa, alivia e distrai a memória.
Os trechos a seguir ilustram melhor esta análise:
“... a gente tá vendo que aquela pessoa tá fazendo conta da gente. Tem
atenção de conversar com a gente. Só da pessoa ir conversando com a gente, parece
que a gente vai panhando uma melhora” (P1).
“Anima mais... a recuperação é mais fácil” (P2).
“...eles estando conversando com a gente e mostrando uma cara satisfeita a
gente também fica” (P9).
“Ajuda porque é bom pra cabeça da gente, alivia o que a gente tá sentindo”
(P14).
Embora os pacientes busquem cada vez mais uma atenção carinhosa e
sensível, as exigências comerciais têm levado os profissionais de saúde à uma atenção
pouco humana, mesmo sabendo que o atendimento das necessidades emocionais do
paciente o deixa mais satisfeito e influenciam favoravelmente a uma melhora mais
rápida. Sabe-se que todo sentimento de “amor” faz bem a saúde, portanto observa-se
que o paciente ao perceber esse sentimento, quando cuidado, ele consequentemente
sentirá que está sendo valorizado e beneficiado com a assistência (RIBEIRO, 2002).
74
Quadro 9 Respostas dos pacientes sobre como eles se sentem quando técnicos ou
auxiliares de enfermagem conversam com eles.
Paciente Sentimentos quando alguém da enfermagem
conversa
P1 ... bem melhor. Parece que o cora
ç
ão da gente
alegra mais.
P2 Me sinto bem, .... a gente vê que eles estão
preocupados.
P3 Eu sinto normal. É melhor, eu sinto bem.
P4 Sinto melhor porque distrai.
P5 Eu sinto mais animada.
P6 Eu me sinto bem.
P7 Sinto muita alegria e sinto melhor.
P8 Sinto muito bem, graças a Deus.
P9 Eu sinto satisfa
ç
ão e sinto que as coisas estão
75
melhorando.
P10 Sinto mais relaxada, fico menos nervosa.
P11 Eu ia sentir muito bem se acontecesse.
P12 Levanta o astral porque dá mais aten
ç
ão pra
gente.
P13 Eu sinto muito bem porque eles são muito bons.
P14 A gente sente um alívio porque sente que tá sendo
bem tratado.
P15 Eu fico com alegria.
Quadro 10 Categoria 5 - Sentimentos do paciente frente à comunicação com os
técnicos e auxiliares de enfermagem.
SATISFAÇÃO (14) “... bem”/ “ ....melhora”/ “... ânimo”/ “...
distração”/ “...alegria ”/ “ ...satisfação”/ “
relaxamento”/ “ ...alívio”/
INSATISFAÇÃO (1)
“... ia sentir muito bem se acontecesse.”
Quatorze pacientes responderam que a conversa com a enfermagem lhes
desperta satisfação cinco responderam que se sentem bem, três que se sentem melhor
quando conversam com a enfermagem, e outros três que essa conversa provoca
alegria, que se sentem mais relaxados, valorizados, que distraem, ou que ficam
satisfeitos.
Um paciente (P14) respondeu que fica aliviado por ser bem tratado. Essa
resposta demonstra mais uma vez o medo que as pessoas têm de serem maltratados
76
ou se depararem com auxiliares e técnicos de enfermagem mal-educados. A
exigência por parte da maioria dos usuários de um serviço de saúde, principalmente
público, é muito pequena. Quando um paciente faz um pedido ou reclamação
pertinente à uma situação este deveria ser atendido prontamente, ou pelo menos
deveria ser-lhe dado um motivo do porque isto não ocorreu. O paciente treze (P13)
relatou que:
“Eu sinto muito bem porque eles são muito bons. Tem um que é muito bom.
Eu vou reclamar as coisas pra ele e ele resolve na hora. Aqui eu sinto muito bem,
não tenho nada a reclamar.”
A paciente onze (P11) expressou sua insatisfação e desejo de que alguém
da enfermagem conversasse com ela conforme trecho:
“Eu ia sentir muito bem. Toda vez que eu vou conversar com elas, elas
acham que eu estou doente e eu não estou. Ninguém vem conversar comigo, elas
falam: sai daqui porque senão eu vou errar.”
Apesar de nem sempre se queixarem, os pacientes P11, P13 e P14
mostraram claramente a forma desumana que muitas vezes o paciente psiquiátrico é
tratado, evidencia a necessidade de reflexão sobre a atuação profissional da
enfermagem, a necessidade de se buscar novas formas de atendimento, de
desenvolver a habilidade de lidar com as pessoas, e de tratar o outro com o respeito
que gostaria de ser tratado.
A paciente P11 queixou-se da enfermagem, que a considera doente.
Entende-se que a saúde mental das pessoas varia muito, de acordo com os momentos,
e as situações vividas e questiona-se também a avaliação dos pacientes de acordo
com a sua saúde mental, feita pelos técnicos e auxiliares de enfermagem devido ao
pouco contato que estes têm com eles, e desta forma o pouco diálogo. Deste modo, a
comunicação enquanto instrumento terapêutico parece-nos distante da prática dos
77
técnicos e auxiliares de enfermagem, na medida em que estão permeados por
qualificativos preconceituosos, pejorativos, dirigidos, principalmente aos portadores
de sofrimento psíquico.
Quadro 11 O que os pacientes mais valorizam para o seu bem estar.
Pacientes Paciente mais valoriza para o seu bem estar
P1 Se tivesse a conversa a gente sentiria mais
aliviada.
P2 Eu acho que mais é o diálogo... Eles serem
educados...
P3 Mais importante é saber como a gente tá
passando...
78
P4 O tratamento,... é o remédio...
P5 O que eu dou mais valor aqui dentro são os
enfermeiros.
P6 Acho que são os remédios.
P7 Ser bem tratado.
P8 Tudo envolvido.
P9 Ser bem recebido por todos. Pela enfermagem,
todos.
P10 ...só deles deixarem a gente a vontade já é
muito importante.
P11 É conversar com os outros...
P12 Eu acho que se eles dessem mais aten
ç
ão pra
gente.
P13 ... o almo
ç
o,...chuveiro...tudo limpinho, os
funcionários tratam a gente muito bem.
P14 É a amizade com todo mundo, com os colegas e
com a enfermagem.
P15 ...é quando a T.O. está aberta, ocupa o
tempo...pra mim é uma alegria.
79
Quadro 12 Categoria 6 - Aspectos que contribuem para o bem estar do paciente.
COMUNICAÇÃO (3)
“... conversa”/ “ ....diálogo”/
ATITUDE (7)
“...saber como a gente ta
passando”/ “... ser bem tratado”/
“... tudo ta envolvido”/ “...ser bem
recebido por todos”/ “...deixam a
gente a vontade”/ “...mais
atenção”/ “...amizade com todo
mundo”/ “...serem educados”/
TERAPIAS ALTERNATIVAS (1)
“... quando a TO está aberta”/
ASSISTÊNCIA INSTRUMENTAL (5) “... tratamento”/ “ ....remédio”/ “
...almoço”/ “ ...chuveiro”/
“...funcionários”/
RECURSOS HUMANOS (4)
“...enfermagem”/
Observa-se que das quinze respostas dadas, nove delas, P1, P2, P3, P7,
P9, P10, P12, P13 e P14, relatam conteúdos relacionados á comunicação e
relacionamento interpessoal. Em um estudo realizado por Silva et al. (2001) os
80
pacientes expressaram carinho, paciência e educação como manifestações de
cuidado, eles esperando que o cuidador tivesse disposição para atendê-los em suas
necessidades como ser humano.
A compreensão sobre como entender a forma de pensar do outro ajuda a
evitar atritos e solucionar problemas, promovendo, assim, relações saudáveis, onde a
sinergia, o respeito e a empatia estão presentes. Com o advento da globalização e da
forte competitividade, o que conta hoje no mundo do trabalho não são apenas os seus
conhecimentos técnicos, mas também talento laboral e idéias criativas. É importante,
também, desenvolver a sua capacidade de interagir construtivamente com pessoas
que estão inseridas em seu meio profissional ( MEDEIROS, 2005).
Constata-se assim, a valorização dos pacientes na forma como são
tratados, dois pacientes ainda reforçaram a importância atribuídos a enfermagem
conforme a resposta do paciente nove (P9) e quatorze (P14) e no trecho descrito
abaixo, segundo a fala do paciente cinco (P5):
“ ...você não vê nenhum entrando aqui de cara ruim...ás vezes eles medicam
um, outro, corre, vem na cama da gente e brinca, conversa com a gente e quando
eles saem a gente fica mais alegre. È bom demais”.
Moscovici (1993) também enfatiza o valor de se tratar bem os clientes e
comenta que a competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com
relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às
necessidades de cada um e às exigências da situação.
É necessário argumentar as idéias com firmeza e entusiasmo, porém,
deve-se observar a educação, respeito, equilíbrio emocional, falar menos e ouvir
mais. Atualmente, não basta apenas expandir conhecimentos técnicos e habilidades.
É vital saber proteger, com educação, seus interesses em seus relacionamentos, fazer
81
seu marketing pessoal, mas também agir com ética, sinergia em equipe e respeito a
qualquer pessoa que esteja engajada em sua vida profissional (MEDEIROS, 2005).
Uma boa comunicação é essencial na relação interpessoal. As relações
devem ser cultivadas e estabelecidas da melhor maneira possível, principalmente, em
ambientes onde o cuidado e o atendimento às pessoas fragilizadas são os principais
enfoques. A qualidade e a humanização do atendimento estão diretamente
relacionadas com a afetiva comunicação (verbal e não verbal).
Assim, considerando o agrupamento na categoria 6, aparece com freqüência
importante a valorização do cuidado instrumental em relação ao expressivo.
A seguir, no quadro 13, apresenta-se os recortes do discurso dos pacientes
com relação às sugestões que possam melhorar a assistência de enfermagem.
Quadro 13 Sugestões dos pacientes para melhorar assistência de enfermagem.
Paciente Sugestões
P1 Não, já tá bom.
P2
Serem sempre educados com o
paciente, ter bastante diálogo...
P3 Não, só agradecimento.
P4 Mais remédios, mais doutor.
P5 Pra mim não tem nada que mudar.
P6
Pode ser que exista, mais eu acho que
tá muito bom assim.
P7 Não, não sei.
P8 Eu acho que o que vocês podem fazer
82
vocês fazem, não precisa nem pedir.
P9
Tem que estudar bastante para poder
melhorar e fazer as coisas bem feitas.
P10
Continuando assim tá bom... o
tratamento aqui tá bom.
P11 Não.
P12 Separar as internações por patologias.
P13
Melhorar mais aqui não precisa... Pra
nossa classe não.
P14 Separar as internações por patologias.
P15 Não.
Quadro 14 Categoria 7 Sugestões destacadas para melhorar a assistência de
enfermagem.
SEM ALTERAÇÕES (8) “... não, já ta bom”/ “ ....não, só
agradecimento”/ “... não tem nada
que mudar”/ “...acho que tá muito
bom”/ “... o que vocês podem,
vocês fazem”/ “ ...continuando
assim tá bom”/ “ ...melhorar aqui
mais não precisa”/ “ ...pra nossa
classe tá bom”/
INTERAÇÃO/COMUNICAÇÃO (1)
“...ter bastante diálogo”/
SEM POSICIONAMENTO (3)
“... não, não sei”/ “...não”/
CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA (2) “... separar as interna
ç
ões por
83
patologias”/
TRATAMENTO (2)
“... mais remédios”/ “ ...mais
médicos” /
CAPACITAÇÃO (1)
“... estudar bastante... pra fazer as
coisas bem feitas” /
Nestas respostas, oito pacientes relataram que não precisa mudar nada
(P1, P3, P5, P6, P7, P10, P11 e P15), isto reforça o entendimento de que os pacientes
têm receios de desagradar ou de reclamar do serviço, e serem penalizados, não
cuidados, conforme a fala do paciente P8, que considera a assistência prestada a eles
boa, já por pertencerem à uma classe social mais baixa (P13). Denota também o
conformismo desses pacientes, que revelam a concepção que a população menos
favorecida sócio economicamente faz do Sistema Único de Saúde (SUS), como um
modelo que veio para atender apenas o pobre, assim, qualquer benefício a mais
oferecido, torna-se, para este usuário, motivo de reverência ao profissional que o
atende.
Os pacientes têm uma tendência a enxergar o profissional de saúde com
propriedades poderosas e onipotentes, semelhantes às que as crianças acham que os
pais possuem, quando ainda responsáveis por elas e por seu cuidado. O paciente
sente-se pequeno, desamparado e à mercê do profissional; a crença no poder do
profissional permite-lhe sentir-se seguro na situação de perigo (MARTINS, 1996).
84
Isso difere da fala do paciente nove (P9), quando, tratando de uma forma
generalizada sugeriu que os profissionais de enfermagem estudassem bastante para
melhorar a assistência. Autores como Takahashi e Fernandes (2001), afirmam que o
ensino de enfermagem deve prover condições sustentáveis para o aluno incorporar
novos conhecimentos e valores, rompendo com o ato mecânico, permeados pela
humanização e por condutas éticas daquele que assiste para aquele que é assistido.
Sabe-se que várias mudanças têm sido feitas nos currículos dos cursos de
enfermagem, o que sem dúvida é um avanço, mas, ainda há muito que se mudar na
formação dos auxiliares e técnicos de enfermagem, que é extremamente tecnicista e
que ainda hoje, enfatiza pouco o relacionamento interpessoal como uma habilidade
que tem que ter fundamentos teóricos e exercício prático contínuo. É também
necessário que a filosofia das instituições mudem na valorização dos recursos
humanos e na educação permanente dos profissionais de saúde, pois, não basta
oferecer isto na formação escolar se não houver perpetuação e aperfeiçoamento
constante dos profissionais.
Constata-se também a insatisfação dos pacientes alcoolistas (P12 e P14)
em serem tratados no mesmo ambiente físico que outros pacientes portadores de
transtornos psiquiátricos.
A seguir, os resultados das observações, serão apresentados na íntegra,
conforme foram registrados, por serem seus conteúdos sintéticos, tendo em vista o
pouco contato estabelecido pelos auxiliares e técnicos de enfermagem com os
pacientes. A forma destacada mostra descritivamente o registro feito e
posteriormente, os quadros 8, 9 e 10 apresentam uma síntese para melhor
visualização.
85
Observações da Clínica Médica
Enfermaria M1: Foram observadas três pacientes (1,2,3) e o auxiliar de
enfermagem entrou duas vezes no quarto, todas por iniciativa própria..
- A auxiliar de enfermagem entrou uma vez no quarto, trocou a fralda da paciente,
acomodou-a, e saiu.
- Duas auxiliares de enfermagem entraram no quarto, cumprimentaram dizendo “boa
tarde”, e saíram.
Enfermaria M2: Observadas três pacientes (4,5,6) e o auxiliar de enfermagem
entrou uma vez no quarto, por iniciativa própria.
- Auxiliar de enfermagem entrou apenas uma vez, explicou que iria retirar o jelcro
(acesso venoso), pois as medicações seriam via oral, e saiu.
Enfermaria M3: Observados três pacientes masculinos (7, 8, 9) e o auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto , todas por iniciativa própria..
- O auxiliar de enfermagem passou visita, perguntou a cada paciente desta como
estava passando e saiu.
- O auxiliar de enfermagem entrou, perguntou se estava tudo bem, fez uma insulina
subcutânea e saiu.
- O auxiliar de enfermagem perguntou pelo nome do paciente porque ia fazer uma
medicação. Pediu para este se sentar para fazer o “remedinho” para a dor. Fez a
medicação endovenosa, o paciente perguntou qual era a medicação que estava sendo
feita e este respondeu que era o zylium. O paciente perguntou se estava adiantada a
medicação, o funcionário respondeu que sim, e ao terminar o procedimento disse que
estava pronto, e saiu.
Enfermaria M4: Foram observados três pacientes masculinos (10,11,12) e o técnico
ou o auxiliar de enfermagem entrou cinco vezes no quarto, todas por iniciativa
própria.
- O auxiliar de enfermagem entrou na enfermaria mas não verbalizou nada com os
pacientes e nem com os acompanhantes.
- Uma auxiliar de enfermagem entrou na enfermaria, verificou o gotejamento do soro
de um paciente, sem nada verbalizar, e saiu.
- O técnico de enfermagem entrou na enfermaria, perguntou se o paciente precisava
de alguma coisa enquanto verificava o gotejamento do soro. No segundo paciente,
apenas verificou o gotejamento do soro. Com o terceiro paciente nenhum
procedimento foi realizado nem falou-se nada.
- O técnico de enfermagem entrou novamente no quarto, verificou o soro de um
paciente, perguntou a este se estava “tudo certinho”, o mesmo pediu para abaixar a
86
cabeceira da cama, o funcionário abaixou, perguntou se estava bom e se ele não
estava com “falta de ar”, o paciente respondeu que não e o funcionário saiu.
- O técnico de enfermagem entrou para fazer uma medicação endovenosa, perguntou
se a veia estava doendo, o paciente respondeu que não então o funcionário diz que
estava fazendo um antibiótico e que se doesse era pra ele avisá-lo. Controlou o
gotejamento do soro, se despediu dizendo que qualquer coisa para lhe chamar, e saiu.
Enfermaria M5: Foram observadas três pacientes femininas (13,14,15) e o técnico
ou o auxiliar de enfermagem entrou três vezes no quarto, sendo uma por iniciativa
própria e duaspor iniciativa do acompanhante.
- A técnica de enfermagem entrou no quarto para se despedir dos pacientes e
acompanhantes pois seu plantão tinha terminado.
- A acompanhante chamou a auxiliar de enfermagem orientou a outra acompanhante
para não dar nada via oral já que a paciente estava com sonda naso-entérica.
- A acompanhante chamou a auxiliar de enfermagem porque a dieta da sonda naso-
entérica já tinha acabado. Esta desligou a dieta, aproveitou para controlar o
gotejamento do soro e perguntou à acompanhante se a paciente estava tomando
alguma coisa na veia. A mesma respondeu que não e a auxiliar de enfermagem saiu.
Enfermaria M6: Foram observadas três pacientes femininas (16,17,18) e o técnico
ou o auxiliar de enfermagem entrou quatro vezes no quarto, sendo três por iniciativa
própria e uma por iniciativa do acompanhante.
- A técnica de enfermagem avisou a paciente que iria trocar a fralda. Pediu ajuda á
acompanhante e disse que mesmo tendo terminado seu horário ela iria trocá-la
porque a fralda tinha acabado de chegar. Acomodou a paciente, verificou a
temperatura porque a paciente estava com febre às 11 horas. A paciente começou a
mexer na sonda naso-entérica e a técnica de enfermagem orientou para ela não mexer
pois a sonda era para o bem dela.
- Outra acompanhante pediu a mesma funcionária que verificasse a pressão arterial
da paciente, esta realizou o procedimento e disse que tinha abaixado um pouquinho.
A funcionária perguntou à paciente se ela toma medicação em casa e explicou- lhe
que devagar iria abaixando.
- A auxiliar de enfermagem ajudar a levar a paciente ao banheiro esta perguntou se
ela não queria fazer na fralda, ela respondeu que não. Assim a auxiliar de
enfermagem levou a paciente ao banheiro, retirou a fralda, aguardou ter diurese, mas
não verbalizou nem com a paciente nem com a acompanhante. Acomodou a paciente
na cadeira e saiu.
- A auxiliar de enfermagem entrou, disse para a paciente que ia deitá-la para colocar
o soro na bomba de infusão, e saiu.
Enfermaria M7: Observados três pacientes masculinos (19,20,21) e a auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto.
- A auxiliar de enfermagem chegou e cumprimentou muito rápido o paciente de alta,
desligou o soro, disse para esperar porque está com um jelcro mais calibroso. Retirou
o soro e que iria sangrar muito depois saiu.
87
- Auxiliar de enfermagem chegou, só trocou a dieta, chamou-o pelo nome, mais
nada.
- Auxiliar de enfermagem chegou, conversou com o paciente, chamando pelo nome,
cumprimentou.
Enfermaria M8: Observados três pacientes masculinos (22,23,24) e a auxiliar de
enfermagem entrou cinco vezes no quarto.
-Entrou uma auxiliar de enfermagem olhou e saiu.
- Auxiliar de enfermagem entrou, cumprimentou um paciente, passou a mão na
cabeça dele(paciente) e saiu.
- Auxiliar de enfermagem entrou, verificou o gotejamento do soro do primeiro
paciente, conversou com o segundo paciente, perguntou se ele melhorou, retirou o ar
do frasco de soro, posicionou o terceiro paciente, colocou um travesseiro debaixo de
sua perna e saiu.
- Auxiliar de enfermagem entrou e colocou um travesseiro debaixo da cabeça o
primeiro paciente e lhe explicou que assim ele não teria dor no pescoço. Disse que se
precisar de algo é só chamar. Trocou a água do copo de oxigênio do terceiro paciente
e saiu.
- Auxiliar de enfermagem entrou, olhou o soro do primeiro paciente, a filha do
terceiro paciente solicitou que ele fizesse tricotomia na face do pai dela e o auxiliar
de enfermagem respondeu que fará. Depois ele saiu.
Quadro 15 Síntese das observações realizadas na clínica médica.
Pacientes Freqüência Motivo do contato
1,2,3 2 vezes - higiene e visita
4,5,6 1 vez - medicação
7,8,9 3 vezes - visita, medicação (2 vezes)
10,11,12 5 vezes - observação, medicação (4 vezes)
13,14,15 3 vezes - despedir, orienta
ç
ão, dieta e medica
ç
ão
,
88
visita
16,17,18 4 vezes - higiene e ssvv, ssvv, higiene, orientar
medicação
19,20,21 3 vezes - orientação de alta, dieta e visita
22,23,24 5 vezes - observa
ç
ão, visita, medica
ç
ão e confort
o
conforto e oxigênio, medicação
Um hospital geral apresenta diferentes espaços que se distinguem pelo
trabalho técnico produzido, prevalecendo algumas características que identificam
cada tipo de clínica. No caso da clínica médica ocorre uma predominância pelos
cuidados ou técnicas de higienização, dietoterapia, oxigenoterapia, sinais vitais
(ssvv) e conforto. A observação destes e dos sinais e sintomas apresentados
constituem a base em que os técnicos e auxiliares de enfermagem se fundamentam
para avaliar a melhora e a recuperação do paciente, ou a regressão do quadro clínico,
e por isso é freqüente o contato da enfermagem com os pacientes, já que estes
necessitam de cuidados com diferentes complexidades (pequena, média ou alta).
Das vinte e seis vezes em que os técnicos e auxiliares de enfermagem
entraram em contato com o paciente, quatro vezes a iniciativa ocorreu por solicitação
do acompanhante do paciente, é o que se nota no segundo e terceiro registros de
observação de M5 e no segundo de M6.
Evidencia-se também que mesmo ocorrendo o contato, muitas vezes este
se deu de forma não verbal, conferindo se o paciente estava no leito ou não e o
gotejamento do soro, quando necessário, ou no momento de passar visita. Este
procedimento chamado de “corrida de leito”, é uma das tarefas dos profissionais de
nível médio de enfermagem no momento em que se inicia o plantão.
89
O quadro evidencia que são raros os momentos de interação ou de
relação interpessoal em que os técnicos e auxiliares de enfermagem aproximam-se do
paciente apenas para ouví-lo ou conversar com ele. Chama a atenção o primeiro
registro de observação de M5 no qual descreve uma técnica de enfermagem que
entrou no quarto para se despedir dos pacientes, seu plantão já tinha terminado, já
não era mais obrigação dela cuidar daqueles pacientes, mas a funcionária criou um
vínculo de amizade com estes e seus acompanhantes. Silva et al. (2001) salientam
que no momento em que os profissionais de enfermagem e paciente se aproximam
nas situações de cuidado, estabelecem a relação interpessoal, que se dá quando
ambos têm disposição para estar-com-o-outro.
Observações da Clínica Cirúrgica
Enfermaria C1: Foram observados três pacientes (25,26,27) e a auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto, sendo duas por iniciativa própria e uma por
iniciativa do paciente.
- A auxiliar de enfermagem entrou no quarto, olhou os pacientes e saiu.
- O auxiliar de enfermagem entrou no quarto, disse “Boa tarde” á todos os pacientes,
cumprimentou com um aperto de mão um paciente, perguntou como ele estava
passando, se estava melhor, despediu do paciente dizendo para ele ficar com Deus e
saiu.
- A campainha do quarto tocou, a auxiliar de enfermagem entrou, perguntou o que
foi , o paciente respondeu que o soro estava acabando, ela controlou gotejamento. A
auxiliar de enfermagem perguntou ao outro paciente se ele tinha urinado, este
respondeu que não, ela disse que iria ajudá-lo, ele pediu um funcionário do sexo
masculino, ela disse que iria chamá-lo, depois retornou ao mesmo paciente
perguntando se ele não dava conta de segurar o papagaio porque aí ela iria entregá-
lo. O paciente aceitou, a auxiliar esperou o paciente terminar, desprezou a diurese
perguntou se estava bem assim e saiu.
Enfermaria C2: Foram observados três pacientes (28,29,30) e o técnico ou o
auxiliar de enfermagem entrou duas vezes no quarto, sendo uma por iniciativa
própria e uma por iniciativa do acompanhante.
- A auxiliar de enfermagem entrou no quarto, olhou os pacientes, abriu o armário e
saiu.
- A acompanhante chamou a técnica de enfermagem para ver um curativo que tinha
sangrado, ela posicionou a paciente e disse que não iria trocar o curativo porque
90
tinha feito a cirurgia naquele dia e a conduta era trocar no outro dia. Acomodou a
paciente no leito colocando travesseiro e mantendo o pé esquerdo elevado, orientou a
acompanhante que o pé deveria ficar naquela posição e saiu.
Enfermaria C3: Foram observados três pacientes (31,32,33) e o auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto, sendo uma por iniciativa própria e uma por
iniciativa do paciente.
- Auxiliar de enfermagem passou no quarto, conversou rápido com as pacientes,
perguntou como estavam passando e saiu.
- Outra auxiliar de enfermagem entrou no quarto e saiu.
- Paciente chamou a auxiliar de enfermagem, e esta perguntou o que precisava, a
paciente respondeu que o soro está vazando, então ela controlou gotejamento e saiu.
Enfermaria C4: Foram observados três pacientes (34,35,36) e o auxiliar de
enfermagem entrou quatro vezes no quarto, sendo três por iniciativa própria e uma
por iniciativa do paciente.
- Auxiliar de enfermagem passou uma visita, perguntando como o paciente está
passando.
- Auxiliar de enfermagem entrou no quarto, abriu o armário, fechou e saiu.
- Paciente chamou a auxiliar de enfermagem e perguntou para ele o que precisava,
verificou o soro e saiu.
- Auxiliar voltou, o paciente achou que o soro não estava correndo, ele disse para ela
ver a incisão que ele acha que está vazando, mas não estava, ela disse que trocaria
mais tarde.
Enfermaria C5: Foram observados três pacientes (37,38,39) e o auxiliar de
enfermagem entrou seis vezes no quarto, sendo cinco por iniciativa própria e uma
por iniciativa do paciente.
- Auxiliar de enfermagem entrou, cumprimentou os pacientes, disse ao primeiro que
ele ia tomar inalação, entregou a ele. Colocou termômetro no segundo paciente,
explicou que era para ver a temperatura e disse que ia à farmácia e voltaria. Saiu.
- Auxiliar entrou, conferiu a pressão arterial do segundo paciente, perguntou à irmã
do primeiro o porque da internação, ao que ela respondeu que era câncer. A auxiliar
perguntou ao segundo paciente se ele sente alguma dor, ele disse que não. Ela
perguntou ao primeiro paciente se ele era diabético ele disse que não; perguntou se
ele era hipertenso, ele disse que sim, perguntou qual remédio ele toma, ele disse
Propanolol. Perguntou se ele era alérgico a algum remédio e ele disse que não. Ela
despediu e saiu.
- Auxiliar entrou, perguntou quem acionou a campainha, o paciente disse que estava
com dor e saiu.
- Auxiliar entrou, fechou a porta, disse que ia fazer uma injeção para dor. Pediu
licença, abaixou um pouco o shorte do paciente e aplicou a injeção no glúteo.
- Auxiliar de enfermagem entrou, explicou ao primeiro paciente que ia fazer uma
medicação no tree- way, pergunta como ele estava, ele disse que estava preocupado
com a glicose, estava com medo de abaixar muito, porque ele tomou injeção de
91
insulina. Ela disse para ele ficar tranqüilo porque a médica estava fazendo o controle.
Ele perguntou se tinha como acelerar o gotejamento do soro, ela disse que as gotas
tinham a quantidade certa. Ela olhou o acesso venoso e disse que buscaria o
esparadrapo para ficar melhor. Cumprimentou o segundo paciente e brincou com ele
que logo ele irá embora. Saiu.
- Auxiliar entrou, fixou o jelcro na mão do primeiro paciente, perguntou se estava
doendo, ele disse que não. Saiu.
Enfermaria C6: Foi observado um paciente (40) e o auxiliar de enfermagem entrou
três vezes no quarto.
- Auxiliar de enfermagem entrou, olhou o gotejamento do soro, paciente queixou
dor, disse que ela estava demorando com o remédio, ela saiu e disse que ia buscar
comentou que estava demorando a acabar e saiu.
- Auxiliar entrou, explicou ao paciente que ia aplicar insulina, perguntou onde ele
estava acostumado a fazer, ele disse que era na barriga. Então ela aplicou a insulina,
disse que não ia doer. Perguntou se doeu, ele disse que não. Ela se despediu e saiu.
- Auxiliar entra, fechou soro porque acabou, disse ao paciente que iria ligar outro
soro. Perguntou se ele viu onde estava a tampinha do tree- way e ele lhe mostrou. Ela
conversa um pouco com ele, retirou o ar do equipo, perguntou se estava ardendo,
controlou o gotejamento e saiu.
Enfermaria C7: Foram observados três pacientes (41,42,43) e o auxiliar de
enfermagem entrou cinco vezes no quarto, sendo quatro por iniciativa própria e uma
por iniciativa do acompanhante.
- A auxiliar de enfermagem entrou no quarto, perguntou ao paciente por que ele
estava sem soro, ele disse que era porque tinham tirado, então ela respondeu que ia
colocar de novo para ele fazer mais “xixi” e o paciente sorriu e perguntou “ mais
ainda?”, a auxiliar de enfermagem confirmou que sim. Perguntou ao outro paciente
como estava o soro, ele disse que tudo bem. Passou para o paciente e controlou o
gotejamento. Saindo do quarto disse que qualquer coisa era para chamar.
- A auxiliar retornou ao quarto porque o acompanhante chamou dizendo que o soro
não estava pingando. Ela controlou gotejamento, disse que era bem lento, disse que
estava pronto e saiu.
- A auxiliar de enfermagem veio controlar novamente o gotejamento do soro do
paciente, perguntou por que ele ainda não tinha ido embora, ele respondeu que não
sabia. A auxiliar de enfermagem, perguntou se ele já estava cansado do hospital, ele
disse que sim. A auxiliar de enfermagem sorriu para ele e saiu. Outro paciente
brincou que eles não estavam bem, a auxiliar de enfermagem sorriu e disse que
naquele quarto estavam todos ótimos e saiu.
- Novamente entrou no quarto a auxiliar de enfermagem para controlar gotejamento
do soro dos três pacientes, sem dizer nada.
- A auxiliar de enfermagem entrou sem dizer nada e entregou a medicação oral para
o paciente, esperou ele tomar e saiu.
Enfermaria C8: Foram observados dois pacientes (44,45) e o auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto.
92
- A auxiliar de enfermagem entrou no quarto sorrindo, pedindo um pouco de
paciência porque hoje está terrível o movimento na ala. Perguntou o nome do
paciente, preparou material para instalar soroterapia, perguntou se ele estava com
dor, este respondeu que sim, ela disse que iria medicá-lo. Orientou o paciente sobre a
punção venosa, ele disse que as veias estavam ruins, ela disse que estavam boas e
que em um instantinho já estaria pronto, pediu para ele não puxar a mão, controlou o
gotejamento. Disse que estava pronto e já poderia relaxar a mão.
- A auxiliar de enfermagem perguntou o nome do outro paciente e disse que já
voltaria com o soro dele.
- A auxiliar de enfermagem entrou, olhou os soros e saiu.
Enfermaria C9: Enfermaria com três pacientes (46,47,48) e o auxiliar de
enfermagem entrou três vezes no quarto, sendo uma por iniciativa própria e duas por
iniciativa do paciente.
- A auxiliar de enfermagem entrou porque foi chamada pela acompanhante que
informou que o soro tinha terminado, então ela desligou o soro e saiu.
- Auxiliar entrou porque o paciente tocou a campainha, perguntou o que ele
precisava e ele disse que queria ir para a cama, a auxiliar disse que iria chamar uma
colega para ajudar e saiu.
- A auxiliar e a enfermeira entraram, falaram para o paciente que o levariam da
cadeira para perto da cama. Ele pegou debaixo dos braços do paciente e a enfermeira
pegou nas pernas e o transportaram para a cama. O paciente agradeceu e elas saíram.
Quadro 16 Síntese das observações realizadas na clínica cirúrgica.
Pacientes Freqüência Motivo do Contato
25,26,27 3 vezes - observação, visita, relatório
28,29,30 2 vezes - observação e conforto
31,32,33 2 vezes - visita e medicação
93
34,35,36 4 vezes - visita (2 vezes), observa
ç
ão, medica
çã
37,38,39 6 vezes - inala
ç
ão e ssvv, ssvv e história do pct
e
queixa dor, medica
ç
ão (2 vezes), confo
r
(gêlo)
40 3 vezes - medicação (3 vezes)
41,42,43 5 vezes - visita e medica
ç
ão, medica
ç
ão (4 vez
e
44, 45 3 vezes - visita e medica
ç
ão (2 vezes), medica
çã
46,47,48 3 vezes -acompanhante chamou (2 vezes),
transporte do paciente
No caso da clínica cirúrgica ocorreram uma predominância pelos
cuidados ou técnicas de administração de medicação, principalmente analgésicos e
soroterapia, curativos, atendimento às queixas de dor, observações de diurese,
verificação dos sinais vitais (ssvv), entre outros. É através destes que os auxiliares e
técnicos de enfermagem se baseavam para avaliar a melhora e recuperação do
paciente, ou a regressão do quadro cirúrgico.
Das trinta e uma vezes os técnicos e auxiliares de enfermagem entraram
em contato com o paciente, quatro vezes a iniciativa partiu do próprio paciente
conforme o terceiro registro de observação de C1, o segundo de C3, o terceiro de C4
e C5. Quatro vezes a iniciativa partiu do acompanhante do paciente evidenciado no
segundo registro de C2, no segundo de C7, no primeiro e segundo registros de C9.
Fica claro que o contato ocorreu por iniciativa do paciente, e, assim sendo, pode-se
questionar se ele ocorreria caso essa iniciativa do paciente não existisse.
94
Observou-se também a presença de conversas técnicas, ou seja, com o
objetivo de obter informações sobre o tratamento, a evolução do quadro, ilustrado
pelo segundo registro de C5 e de C6. Em apenas um momento, terceiro registro de
C7, observou-se o tipo de conversa técnica associada a tentativa de descontrair o
paciente, onde os técnicos e auxiliares de enfermagem expressaram um sorriso.
Entende-se que o respeito no relacionamento implica em primeiramente
saber respeitar as pessoas em todos os níveis, talento para falar na hora certa e
simpatia para manter o respeito e o bom humor (MEDEIROS, 2005). Afinal a
qualidade de um serviço assistencial está diretamente associada à qualidade da
relação interpessoal que ocorre entre os pacientes e os profissionais encarregados da
assistência.
Observações do Hospital psiquiátrico
Paciente 49: O auxiliar de enfermagem teve contato com a paciente três vezes,
sendo duas por iniciativa própria e uma por iniciativa do paciente.
- A paciente pergunta para a auxiliar de enfermagem se ela estava feliz, ela
respondeu que sim e que estava pensando alto.
- Outra auxiliar de enfermagem passou e a paciente perguntou se estava desfilando,
ela respondeu que não.
- A paciente entrou para atendimento médico e na sala estava a auxiliar de
enfermagem que ajudou ao atendimento médico ajudando a dar as informações sobre
o paciente.
Paciente 50: O auxiliar de enfermagem teve contato com a paciente cinco vezes,
todas por iniciativa própria.
- A paciente saiu do consultório nervosa, derrubando a cama e chorando. Uma
auxiliar veio depressa e a segurou dizendo para ela se acalmar. Outra auxiliar veio e
a levou para uma sala para se acalmar. Ela não se acalmou, derrubou outra cama e
mais uma auxiliar veio ajudar acalmá-la, conversando com ela. O médico também
estava presente. Auxiliar saiu e deixou a paciente somente com o médico.
- Auxiliar chegou na porta do quarto, olhou e deixou a porta semicerrada e saiu.
95
- Paciente correu atrás do médico, uma auxiliar observou, o médico chegou perto,
chamou-a para conversar e explicou-lhe que ela precisa tomar os remédios nas horas
certas.
- A paciente estava sentada e uma auxiliar chegou, brincou com ela e disse que ela
não precisava ficar nervosa. A paciente perguntou se iria tomar injeção e a auxiliar
disse que não pois ela já estava calma.
- A auxiliar veio buscar a paciente para a T. O., ela não queria ir, a auxiliar a abraçou
e a convenceu a ir.
Paciente 51: A técnica de enfermagem entrou em contato com a paciente uma vez,
por iniciativa própria.
- A técnica de enfermagem veio, verificou a pressão arterial de algumas pacientes,
chamou-as pelo nome, veio uma por um.
Paciente 52: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com a
paciente
Paciente 53: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com a
paciente
Paciente 54: O auxiliar de enfermagem entrou em contato com a paciente duas
vezes, por iniciativa própria.
- Auxiliar de enfermagem conversou com paciente, ela estava com hematomas nas
pernas, auxiliar estava vigiando para ela não juntar com as outras pacientes que ela
estava brigando, ela tentou acalmá-la e permaneceu por mais ou menos quinze
minutos, auxiliar foi muito calma com ela.
- Auxiliar veio procurar paciente para consultar, chamou-a pelo nome, ela estava sem
sapato, auxiliar pegou, jogou no chão, paciente respondeu que ela foi malcriada com
ela.
Paciente 55: A auxiliar de enfermagem entrou em contato com a paciente uma vez
por iniciativa própria.
- A auxiliar de enfermagem chamou a paciente para verificar a pressão arterial, ela
falou que estava boa, e a paciente saiu.
Paciente 56: A paciente foi para a T.O., fez alguns trabalhos e voltou para a
enfermaria. A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente quatro vezes,
sendo uma por iniciativa própria e três por iniciativa do paciente.
- A auxiliar de enfermagem chamou a paciente e a abraçou, depois saiu.
96
- A paciente foi no posto de enfermagem e pediu para uma funcionária arrumar um
cigarro para ela. A auxiliar não deu atenção.
- A paciente voltou no posto de enfermagem e pediu para a funcionária arrumar um
cigarro para ela. A funcionária disse que agora não tinha. A paciente voltou para o
quarto.
- A auxiliar de enfermagem estava conversando com outra funcionária, a paciente
chegou, elas continuaram conversando e não deram atenção a ela. Uma funcionária
saiu e a outra foi para o posto de enfermagem, a paciente foi atrás pedindo cigarro e
nenhuma funcionária respondeu. Ela pediu de novo e uma auxiliar pegou um cigarro
para ela.
Paciente 57:- O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 58: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 59: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 60: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 61: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 62: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez, por
iniciativa própria.
- O auxiliar de enfermagem chegou próximo do paciente, olhou e saiu.
Paciente 63::A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez, por
iniciativa própria.
- O auxiliar de enfermagem olhou e saiu
Paciente 64: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez por
iniciativa do paciente.
97
- Paciente confuso procurou a enfermeira para conversar, brincou, a enfermeira
continuou a brincadeira do paciente que pedia café e queria dar dinheiro, e este saiu.
A enfermeira perguntou se estava tudo certo este respondeu que sim e saiu.
Paciente 65: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez por
iniciativa própria.
- O auxiliar de enfermagem chegou próximo do paciente, olhou e saiu.
Paciente 66: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez por
iniciativa do paciente.
- O paciente apontou para o frasco de medicação e o auxiliar de enfermagem
reconheceu-o dando ao paciente mais uma dose do medicamento para funcionar o
intestino. O paciente disse que não estava urinando, o auxiliar disse para ele tomar
bastante líquido.
Paciente 67: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 68: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Paciente 69: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente duas vezes, por
iniciativa própria.
- Paciente gritou com o outro paciente, ficou agitado, o auxiliar de enfermagem o
pegou pelo braço e saiu levando- o para o quarto.
O paciente retornou ao pátio ainda nervoso, outro auxiliar de enfermagem veio
conversar com ele, perguntando o que tinha acontecido, o paciente relatou que o
outro paciente estava chamando-o de bandido e que ele não estava fazendo nada mas
não queria ser chamado assim. O auxiliar de enfermagem pediu para ele ficar calmo,
que o outro não estava bem e para ele evitar ficar próximo deste paciente. Continuou
pedindo para ele ficar calmo, não ficar nervoso e saiu.
Paciente 70: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez.
- O auxiliar de enfermagem se aproximou do paciente, observou-o, não verbalizou
nada e saiu.
Paciente 71: A auxiliar de enfermagem teve contato com o paciente uma vez, por
iniciativa própria.
98
- O auxiliar de enfermagem se aproximou do paciente brincando com o mesmo,
dizendo que estava chique, que era bonzinho, e saiu.
Paciente 72: O técnico ou o auxiliar de enfermagem não entrou em contato com o
paciente.
Quadro 17 Síntese das observações realizadas na clínica psiquiátrica.
Pacientes Freqüência Motivo do Contato
49 3 vezes pcte fez contato(2 vezes), auxiliar inform
o
50 5 vezes Acalmar pcte, observação (2 vezes),
Brincar com pcte, levar para T.O.
51 1 vez Verificar ssvv
52, 53, 57, 58, 59
,
60, 61, 67, 68,72
0 _________________________
54 2 vezes Diálogo e acalmar, buscar p/ consulta
55 1 vez Verificar ssvv
56 4 vezes Chamou e abraçou, pcte fez contato
(3 vezes)
62 1 vez Observação
63 1 vez Observação
64 1 vez Pcte fez contato
65 1 vez Observação
66 1 vez Pcte procurou medicação
69 2 vezes Contato físico e conversa p/ acalmar
70 1 vez Observação
99
71 1 vez Brincar com pcte
No caso da clínica psiquiátrica deveria ocorrer uma predominância de
técnicas ou habilidade de relacionamento interpessoal, relação de ajuda,
comunicação e interação entre duas pessoas, uma vez que há aquela que necessita de
ajuda e outra que deveria se dispor a ajudá-la. Isso não quer dizer que outras técnicas
sejam exclusivas da clínica psiquiátrica, elas podem e devem ser aplicadas em todas
as clínicas ou especialidades, mas é através destas que os técnicos e auxiliares de
enfermagem se baseiam para obter informações mais precisas sobre a melhora e a
recuperação do paciente, ou a regressão do quadro mental, para transmitir os dados
obtidos ao enfermeiro e à equipe multiprofissional.
O quadro mostra que dos vinte e quatro pacientes, dez deles não tiveram
nenhum tipo de abordagem pelos técnicos e auxiliares de enfermagem (P52, P53,
P57, P58, P59, P60, P61, P67, P68 e P72), e nos outros, observa-se uma freqüência
muito baixa deste contato. Evidencia-se também que mesmo ocorrendo o contato, em
quatro pacientes (P62, P63, P65 e P70) este se restringiu apenas à observação, sem
nenhum diálogo. Com apenas três pacientes, (P54, P56 e P69), ocorreu uma
abordagem mais terapêutica, com objetivo de ajudá-los, apresentando situações de
diálogo ou demonstração de afeto, como um abraço.
Observou-se também que nos pacientes denominados P49, P56, P64, e
P66, o contato que existiu partiu dos próprios pacientes, ou seja, não foi uma
iniciativa dos técnicos e auxiliares de enfermagem.
Diante desses resultados constata-se o quanto está deficiente, precária e
até desumana a assistência aos pacientes psiquiátricos observados no presente estudo.
100
Não se pode ajudar um paciente se não se aproxima dele, se não existem momentos
de interação, pois entende-se que é através do relacionamento interpessoal que se
procura atender suas necessidades. Silva et al. (2001), consideram que o cuidado de
enfermagem está associado à satisfação das necessidades do paciente, à promoção de
seu bem estar, e ainda que, o cuidado de enfermagem, é permeado pela relação
interpessoal estabelecida entre enfermagem e paciente.
Revela-se assim, o quanto o discurso da humanização está apenas na
intenção e distante da ação. Os profissionais de enfermagem, principalmente que
trabalham com pacientes psiquiátricos, deveriam ter habilidades centradas no
relacionamento interpessoal, na comunicação terapêutica, necessidades estas
primordiais e essenciais para ajudar o paciente a sair da crise. Certamente, a atitude
terapêutica deve e precisa ter lugar nas ações do cuidado. Este estudo mostra a
necessidade de se repensar a formação dos técnicos e auxiliares de enfermagem, bem
como, do enfermeiro.
Avaliar seu desempenho durante o contato com a pessoa que requer
ajuda, é um hábito que a enfermagem não tem desenvolvido. Entretanto, este reverte-
se de inúmeras oportunidades para adequação do seu procedimento técnico, tendo em
vista as conseqüências benéficas para o outro (RIBEIRO et al., 2003).
Sabe-se que o relacionamento é um desafio constante, mas pode-se
ajudar e ajudar o próximo. Melhorar o julgamento sobre si mesmo e sobre outras
pessoas auxilia na compreensão do relacionamento humano, pois promove a auto-
análise (MEDEIROS, 2005).
101
102
7- CONCLUSÕES
Independente da clínica onde foram realizadas as entrevistas ou
observações, notou-se que apesar dos pacientes relatarem que são bem tratados o
conteúdo de suas falas não são convincentes no sentido de que essas ocorrem da
forma como relatam, o que leva ao entendimento de que eles tem medo de serem mal
tratados, de ter contato com pessoal sem educação, medo de ofender, e até mesmo de
reclamarem seus direitos de uma boa assistência de saúde, além de oferecerem
poucas sugestões que poderiam contribuir para melhorar seu tratamento. Importante
considerar também que, nesta cidade, estes são os únicos hospitais que acolhem estes
pacientes quando necessitam de cuidados à sua saúde e isso reafirma o fato deles não
trazerem a realidade nos conteúdos de suas falas.
As conversas que ocorreram, foram classificadas como sendo de breve
duração, superficiais, mecânicas, descompromissadas, na maioria das vezes com
conteúdo relacionados ao tratamento. Constatou-se, assim, uma predominância pelas
características do modelo médico, uma preocupação por parte dos técnicos e
103
auxiliares de enfermagem em realizarem as técnicas, as medicações e, em manter
uma distância do paciente, evitando envolvimentos com estes, deixando evidente que
sua formação ainda é predominantemente instrumental (técnica) onde não é incluído,
nem como técnica o relacionamento interpessoal.
Ao se utilizar a definição operacional de relacionamento interpessoal
com base na descrição de Furegato (1999), este estudo mostrou que esta habilidade
foi desenvolvida sempre relacionada com a execução de algum procedimento
técnico, não ocorrendo o relacionamento terapêutico, que deve se estabelecer quando
os técnicos e auxiliares de enfermagem colocam-se a disposição do paciente com
objetivo de ajudá-lo através do diálogo, caracterizando uma relação com início,
desenvolvimento e fim.
A afirmativa de Vila (2001) atesta este fato quando descreveu que a
equipe de enfermagem percebe o relacionamento entre equipe e paciente de maneira
escassa, salientando-o nos momentos de realização de atividades, procedimentos ou
rotinas próprias do serviço.
Ficou evidente o despreparo dos técnicos e auxiliares de enfermagem
para se comunicarem ou se relacionarem com os pacientes, tendo em vista que estes
várias vezes tiveram contato com os pacientes, mas apenas observaram, não
dialogando ou quando este era estabelecido ocorria apenas em termos de
brincadeiras.
Entretanto, há uma contradição entre os resultados deste estudo em
relação àqueles encontrados por (Ribeiro, 2002) quando os técnicos e auxiliares de
enfermagem afirmaram que aplicam a técnica de relacionamento interpessoal no
exercício de suas atividades profissionais. Além disso, ainda neste estudo, alunos de
104
um curso de enfermagem de nível médio afirmaram que aprenderam esta habilidade
nos conteúdos das disciplinas estudadas, assim como seus professores também
relataram que esta habilidade está presente nos conteúdos de suas disciplinas.
Neste caso, é de difícil compreensão as preocupações e os
questionamentos acerca da qualidade e humanização da assistência ao paciente, visto
que esses aspectos fazem parte do conteúdo ministrados nos cursos de formação e
declarados como apreendidos e aplicados (RIBEIRO, 2002). Assim sendo, existe um
distanciamento entre o que se propõe teoricamente, o que é realmente desenvolvido
em prática e o que é relatado por aquele a quem é destinado esta habilidade, ou seja,
o paciente.
Segundo Matsuda, Évora & Boan (2000) espera-se que os profissionais
de saúde procurassem capacitar-se e efetuar leituras, participar de palestras, ou seja,
estudos e exercícios que possibilitassem trabalhar a auto percepção, além de
habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal para que, na prática,
pudessem ter melhor desempenho profissional, entendendo que a enfermagem não
pode se ater apenas a parte técnica, mas que os aspectos humanos abordados através
do relacionamento interpessoal são também extremamente importantes. Assim, a
situação levantada neste estudo nos leva ao entendimento de que torna-se
imprescindível o oferecimento de educação continuada em serviço por parte dos
hospitais, para desenvolver esta habilidade e aplicá-la com mais facilidade.
Trevelbee (1982) reforça a importância da comunicação quando relata que esta afeta
ambos os participantes, e a forma de relacionar-se com os outros proporciona
satisfação e crescimento pessoais.
105
Ficou clara a valorização que os pacientes dão às conversas ocorridas
com os técnicos e auxiliares de enfermagem e como estas ajudam em seus
tratamentos, despertando sentimentos positivos, apesar destas terem sido tão pouco
presentes neste estudo. Mesmo os pacientes não conhecendo a definição de
relacionamento interpessoal, temas atribuídos a esta habilidade, assim como de
comunicação, foram destacados como importantes para o seu bem estar.
Chamou-nos atenção, que em todas as clínicas envolvidas no estudo, a
freqüência do contato com os pacientes foi pequena, e, partindo do princípio de que a
pessoa internada é aquela que requer ajuda e atendimento às suas necessidades, leva-
nos a refletir o “caos” em que se encontra a assistência de enfermagem, enquanto
pensado numa visão de integralidade, holística e humanizado.
Surpreendentemente a situação encontrada no atendimento da clínica
médica e cirúrgica, não difere daquela do hospital psiquiátrico, no qual o
relacionamento interpessoal e a comunicação terapêutica, não se constituem apenas a
base de referência para assistir o outro, é a própria ação, que associada ao
medicamento e ao atendimento de outros profissionais da equipe de saúde, propiciam
o tratamento do paciente psiquiátrico.
Esperava-se, assim, observar a aplicação da habilidade de relacionamento
interpessoal no horário proposto para a observação dos pacientes, ou seja de quinze
às dezessete horas, já que neste período há menos ocorrência de cuidados prescritos
como banho, curativo, dieta, atendimentos de equipe multiprofissional; entretanto,
aquele que seria um dos momentos apropriados para os técnicos e auxiliares de
enfermagem se dedicarem a aplicação da habilidade em questão, não ocorreu.
Entende-se, que cabe ao enfermeiro, valorizar quando sua equipe dispensa atenções
106
individuais, privilegia o respeito às necessidades dos pacientes, preocupa-se com seu
estado e estimula a comunicação entre enfermagem e paciente. No entanto, mesmo
com a facilitação do horário, a aplicabilidade da referida habilidade não foi
verificada, não sendo constatada também a presença do próprio enfermeiro no
sentido de estímulo para que ela ocorresse.
Vila (2001) demonstrou em sua dissertação de mestrado, através de
entrevistas realizadas em CTI, que existe a dificuldade da equipe de enfermagem
para romper padrões culturais perpetuados e compartilhados pela equipe de saúde
como um todo. Apesar destas conceituarem o cuidado humano de forma adequada,
os informantes mencionaram atitudes e comportamentos tidos como desumanos e
mecânicos, o que ressalta a dicotomia entre a teoria e a prática, e ainda que nem
sempre o que é dito é feito, destacando, deste modo, a importância da abordagem
humanística e os aspectos científicos para um cuidado de qualidade.
Estes fatos preocupam pois, se a enfermagem busca continuamente uma
assistência mais humanizada não somente aos clientes psiquiátricos, mas a todos, o
que se vê é uma prestação de cuidados que não valorizam esse aspecto incluindo a
falta de atenção por parte da enfermagem, desvalorizando a dignidade humana.
Poderia-se, pensar, que estes profissionais de nível médio de enfermagem não estão
preparados ou qualificados para a aplicação da habilidade de relacionamento
interpessoal? Importante salientar que Trevelbee (1982) já referia que um dos fatores
que pode interferir no relacionamento interpessoal seria justamente a falta de treino
na execução dessa técnica. Assim, parece-nos ocorrer exatamente isto, ou seja, esses
conteúdos mesmo constando em programas de formação dos profissionais dos
técnicos e auxiliares de enfermagem, a sua prática exige um treinamento e um
107
estímulo contínuo, o que deve ser feito no próprio local de assistência (programas de
educação continuada).
Experiências relatadas por Santos & Reis (2001) em um Curso de
Extensão com o tema relacionamento interpessoal e os trabalhadores de saúde com o
intuito de fornecer subsídios teóricos, possibilitaram rever noções básicas do
Relacionamento Interpessoal como instrumento de assistência e propiciaram
melhorias no trabalho em equipe e no atendimento ao paciente.
Como sugestão para elevar a motivação no trabalho de enfermagem foi
relatado o “Relacionamento interpessoal” como um aspecto do trabalho que pode ser
transformado através de investimentos na área de recursos humanos e de mudanças
na política organizacional. O desejo dos profissionais quanto às mudanças merece
atenção, pois, proporciona oportunidade para que a motivação do profissional seja
refletida no alcance dos objetivos da organização (PEREIRA & FÁVERO, 2001).
Entende-se que o técnico e o auxiliar de enfermagem bem formados
através de uma formação humanística e científica, sejam capazes de dominar a
tecnologia, que é mutável, rápida e inconstante. Em compensação, valores como
respeito, ética e atenção, devem estar sempre presentes em qualquer relação de
pessoas, pois não são mutáveis, nem rápidos ou inconstantes.
Sabe-se o quanto é importante respeitar a individualidade de cada pessoa
e o quanto é imprescindível utilizar-se a relação pessoa a pessoa ao lidar-se com
indivíduos acometidos por uma doença clínica, cirúrgica, psiquiátrica ou de qualquer
outra especialidade. Percebeu-se que todo paciente deseja ser bem tratado, obter
atenção e ser valorizado como ser humano. O relacionamento interpessoal pode, sem
dúvida, garantir isso a ele.
108
8 REFLEXÕES FINAIS
Ao pensar em saúde mental deve-se considerar um conjunto de fatores
relacionados entre si que, a primeira vista, não parecem problemas de “saúde
mental”, mas que influenciam no bem estar das pessoas (DESJARLAIS, 1997).
Nesta pesquisa ficou evidente que um dos fatores que mais influenciam no bem estar
é o relacionamento interpessoal, daí a importância de seu estudo, aperfeiçoamento e
aplicabilidade, principalmente por parte dos auxiliares e técnicos de enfermagem,
que tem o privilégio de estar junto ao paciente um período de tempo maior que os
outros profissionais da equipe, incluindo o enfermeiro.
Criar integração entre pessoas e grupos só será possível através da
aplicação de dinâmicas de relações interpessoais, que favorece o aprendizado do
diálogo, e, consequentemente, favorece o entrosamento e o aumento de
produtividade no trabalho. Portanto, ao se avaliar a produtividade temos que
relacionar a competência dos membros do grupo e suas relações (RIBEIRO, 2002).
A qualidade e a humanização do atendimento estão diretamente ligadas
com o efetivo relacionamento interpessoal entre os profissionais de enfermagem e o
paciente, pois todas as atitudes do profissional repercutem sobre ele e terão
109
significado terapêutico ou não segundo as vivências que despertarão no paciente e
nele, profissional (MARTINS, 1996).
Entende-se que o tema desta pesquisa não se esgotou tamanho a
complexidade de sua aplicação, mas deseja-se que este possa contribuir para
despertar mudanças na assistência prestada pelos serviços de saúde e motivar os
técnicos e auxiliares de enfermagem a buscarem continuamente conhecimentos que
possam melhorar seu desempenho profissional, contribuir para que ele se sinta
motivado a desenvolver, junto ao paciente de qualquer especialidade clínica, a
habilidade de relacionamento interpessoal, que certamente vai contribuir muito para
a recuperação de sua saúde, uma volta mais rápida à vida ativa e produtiva, e com
menor custo aos serviços de saúde de um modo geral.
Por outro lado, é necessário possibilitar às instituições formadoras a
reflexão sobre o ensino do relacionamento interpessoal , de forma a proporcionar ao
profissional de enfermagem segurança no desenvolvimento desta habilidade, que
também é terapêutica e deve associar-se ao tratamento, recuperação e reabilitação do
paciente.
Para as instituições de saúde pública e privadas, a contribuição que este
estudo pode possibilitar, é no sentido de se buscar a implantação e implementação da
educação permanente através da capacitação contínua dos profissionais, como forma
das mais importantes, para garantir uma assistência de qualidade, humanizada.
E, finalmente, que as instituições de saúde, tenham um olhar também
humanizado para os recursos humanos, pois, não adianta querer que o profissional
seja humano no seu relacionamento, quando o próprio ambiente de trabalho e
relações humanas são adversas e não motivam o técnico e o auxiliar de enfermagem.
110
É preciso cuidar de quem cuida da saúde, pois, muitas vezes, aqueles que cuidam
podem estar mais doentes do que os que são cuidados, ou seja, os pacientes; para
tanto, é preciso humanizar as práticas de gerenciamento de pessoal.
111
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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117
10 APÊNDICES
APÊNDICE 1
¾ ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM O
PACIENTE
1- Como o Sr(a) é tratado pelas pessoas que trabalham aqui?
2- O pessoal de enfermagem tem contato, conversa com o Sr(a)?
Como é esta conversa/contato? Em que situações ocorre? Sobre o que
é esta conversa?
3- Como o Sr(a) é tratado pelo pessoal de enfermagem?
4- Como essa conversa/contato ajuda no tratamento do Sr(a) ?
5 - O que o Sr(a) sente quando alguém da enfermagem conversa com
o Sr(a)?
6 - De tudo que ocorre no hospital o que o Sr(a) valoriza mais para o
seu bem estar.
7 – Quais suas sugestões para melhorar a assistência de enfermagem.
118
APÊNDICE 2
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Pacientes)
Sou enfermeira, trabalhei durante dez anos em hospitais como chefe de unidade e
supervisora, hoje ensino no curso de Técnico em Enfermagem e estou fazendo outro
curso, o Doutorado, onde vou desenvolver uma pesquisa. Quero estudar o
relacionamento dos técnicos e auxiliares de enfermagem com os pacientes internados, e
pretendo saber o que os pacientes entendem sobre esta relação, como ela acontece, o
motivo que os levou a esta interação e como eles valorizam este relacionamento.
Para isto, contarei com a ajuda de três alunos um curso de Técnico em
enfermagem que vão observar e anotar durante duas horas em uma tarde de que forma os
auxiliares e técnicos de enfermagem atendem aos pacientes internados. Serão feitas
também algumas perguntas para completar o estudo, sendo que suas respostas serão
gravadas.
Os resultados desse estudo serão importantes para melhorar, no hospital, o
atendimento das pessoas que necessitam, e também para melhorar o ensino dos
estudantes de Enfermagem, por isso, posteriormente, deverão ser divulgados em eventos
científicos e publicados em revistas específicas da área da saúde.
Você participa se estiver de acordo. Não haverá gastos, desconfortos e nenhum
prejuízo a você, como nenhuma remuneração por sua participação. Poderá solicitar
esclarecimentos a qualquer momento, e se quiser entrar em contato com a pesquisadora o
telefone está anotado abaixo. Se desejar poderá desistir de participar sem que o seu
tratamento seja interrompido. Posso garantir que todas as informações colhidas serão
respeitosamente utilizadas para essa pesquisa, e que seu nome não será identificado.
Caso concorde em participar, preencha seus dados pessoais:
Nome: _____________________________________RG:__________
Assinatura: ________________________________Data:___________
Enfª Pesquisadora: Maria Inês Lemos Coelho Ribeiro RG: M-3.068.286
COREn: MG-48560
Endereço: R. Noruega nº 38 – Bairro Novo Mundo – Passos-MG Tel.: 3522-1632
119
APÊNDICE 3
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Enfermagem)
Sou enfermeira, trabalhei durante dez anos em hospitais como chefe de unidade e
supervisora, hoje ensino no curso de Técnico em Enfermagem e estou fazendo outro
curso, o Doutorado, onde vou desenvolver uma pesquisa. Quero estudar o
relacionamento dos técnicos e auxiliares de enfermagem com os pacientes internados, e
pretendo saber o que os pacientes entendem sobre esta relação, como ela acontece, o
motivo que os levou a esta interação e como eles valorizam este relacionamento.
Para isto, contarei com a ajuda de três alunos do curso de Técnico em
Enfermagem que vão observar e anotar durante duas horas em uma tarde de que forma
os auxiliares e técnicos de enfermagem atendem os pacientes internados.
Gostaria de pedir a sua colaboração, pois, os resultados desta pesquisa serão
importantes e poderá contribuir tanto na melhoria do ensino de enfermagem como na
assistência prestada ao cliente. Serão também publicados em revistas e apresentados em
congressos.
Você participa se estiver de acordo. Asseguro que não haverá riscos,
desconfortos, gastos ou prejuízos de qualquer natureza, como também nenhuma
remuneração por sua participação. Poderá solicitar esclarecimentos quando necessário no
endereço e telefone que está anotado abaixo, além de se retirar do estudo em qualquer
momento, sem que haja penalização. Posso garantir que todas as informações colhidas
serão respeitosamente utilizadas e assegurar que você não será identificado com seu
nome.
Caso concorde preencha seus dados pessoais:
Nome: ___________________________________________
Identidade: ________________________ Data: __________
Assinatura: ________________________________________
Enfª Pesquisadora: Maria Inês Lemos Coelho Ribeiro
Identidade: M-3.068.286 Coren: MG 48.560
Endereço: Rua Noruega nº 38 – Bairro Novo Mundo – Passos-MG Telefone: 3522-1632
120
11 ANEXO
121
ANEXO 1
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