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Desse modo, o cliente, que antes era passivo, contribuiu com o resgate de
seus direitos para provocar transformações culturais no ambiente hospitalar, sendo,
talvez, a principal delas a mudança do foco da doença para o do usuário, sem,
contudo, levar à perda da especificidade das funções de hospital.
O hospital, como prestador de serviços, apresenta algumas características
relativas ao seu produto, ou seja, à assistência prestada, tais como: o serviço é
produzido simultaneamente ao consumo, portanto não pode ser estocado e por ser
intangível não pode ser avaliado antes de ser comprado. O cliente espera que tenha
qualidade, mas como depende de atitudes pessoais, mesmo sendo padronizado, o
que vai prevalecer é o comportamento do profissional que produz o atendimento.
Como o serviço é prestado por pessoas que se relacionam com pessoas, o
resultado vai depender de fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos dos
envolvidos, além da maneira que a cultura e o clima da organização hospitalar
influem na atitude do profissional
143
. Por esse motivo, o hospital passou a ter
novas preocupações, não só com a sua estrutura física e sua relação com a criação
do ambiente físico, tangível, mas especialmente com o ambiente intangível,
percebido pelo cliente e sua família, ou seja, o clima organizacional, levando-o a
rever as suas formas de gestão.
O hospital privado, em geral administrado de forma centralizadora e por
profissionais médicos, sem o conhecimento adequado de administração, tendia a ser
mais controlador
144,
sem nenhuma preocupação em desenvolver as competências
nos seus profissionais, alguns vistos mais como mão-de-obra submissa e sem
capacidade de tomar decisões, porém adequados à também passividade do
paciente. Nessa conjuntura, os médicos, sentindo-se com poder para ditar as regras,
não permitindo a interferência do paciente ou de outros profissionais da saúde, não
levavam em consideração as diretrizes administrativas. Essa falta de integração
entre os diversos profissionais acabou gerando uma desarmonia no ambiente de
trabalho, dificultando a visão interdisciplinar, tão necessária no processo de
atendimento hospitaleiro ao cliente.
A partir do momento em que o paciente deixou de ser passivo e tornou-se
mais exigente, os profissionais que prestam atendimento tiveram de se adequar às
143 SIQUEIRA; PIZZINATTO; SPERS. Administração: evolução, desafios, tendências. São Paulo:
Cobra, 2001, p. 120.
144 CABRERA, L. C. Q. Visões tradicionais e modernas de empresa, trabalho e pessoas. In: BOOG,
G.; BOOG, M. (Coords.). Manual de gestão de pessoas e equipes. São Paulo: Gente, 2002, p. 49.