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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Fabiana Cavallini
A influência de dose subantimicrobiana de
doxiciclina sobre a perda óssea alveolar e a
inserção conjuntiva em periodontite induzida
associada à sobrecarga oclusal em ratas
Taubaté – SP
2006
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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Fabiana Cavallini
A influência de dose subantimicrobiana de
doxiciclina sobre a perda óssea alveolar e a
inserção conjuntiva em periodontite induzida
associada à sobrecarga oclusal em ratas
Dissertação apresentada para obtenção do
Título de Mestre pelo Programa de Pós-
graduação em Odontologia do Departamento
de Odontologia da Universidade de Taubaté.
Área de Concentração: Periodontia
Orientadora: Profa. Dra. Lucilene Hernandes
Ricardo
Taubaté – SP
2006
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FABIANA CAVALLINI
A INFLUÊNCIA DE DOSE SUBANTIMICROBIANA DE DOXICICLINA SOBRE A
PERDA ÓSSEA ALVEOLAR E A INSERÇÃO CONJUNTIVA EM PERIODONTITE
INDUZIDA ASSOCIADA À SOBRECARGA OCLUSAL EM RATAS
Dissertação apresentada para obtenção do
Título de Mestre pelo Programa de Pós-
graduação em Odontologia do Departamento
de Odontologia da Universidade de Taubaté.
Área de Concentração: Periodontia
Data: Taubaté, 21 de junho de 2006
Resultado: Aprovada com distenção
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Yasmin Rodarte Carvalho Universidade UNESP
Assinatura ___________________________
Profa. Dra. Ana Lia Anbinder Universidade de Taubaté
Assinatura ___________________________
Profa. Dra. Lucilene Hernandes Ricardo Universidade de Taubaté
Assinatura ___________________________
Dedico não apenas essa dissertação, mas todas as minhas conquistas
profissionais, aos meus pais, Cyro e Lourdes, que em nenhum momento deixaram
de me apoiar.
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Lucilene Hernandes Ricardo, por seu profissionalismo e exemplo
como pesquisadora, por ter acreditado na minha capacidade e realização deste
estudo, com muita paciência e dedicação como orientadora, que se tornou grande
amiga.
Ao Departamento de Odontologia de Taubaté, sob a chefia do Prof. Dr. João
Baptista de Lima, pela oportunidade da realização de mais uma etapa na minha
formação científica.
Ao Prof. Dr. Antônio Olavo Cardoso Jorge, coordenador do Programa de
Mestrado em Odontologia, pela seriedade na condução do curso.
À Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de São José
dos Campos, em especial Prof. Luiz César de Moraes, responsável pelo
departamento de Radiologia, pela disponibilidade na execução das tomadas
radiográficas e à Profa. Adjunta Yasmin Rodarte Carvalho, por permitir a utilização
do Laboratório de Patologia.
Aos professores Prof. Dr. José Roberto Cortelli, Profa. Dra. Débora Pallos, e
demais professores do Mestrado, pela colaboração e coleguismo.
Ao Prof. Dr. Ulisses Fernando Lodi Salgado, que tem sido meu mestre, por todos
esses anos de profissão.
À minha querida amiga Andrea Sallan, pelos momentos de motivação e
superação de todos os obstáculos enfrentados na realização deste trabalho.
Ao meu amigo Orlando Magalhães Neto, pela amizade e carinho de todos os
momentos.
À minha amiga de profissão Marta do Carmo de Jesus, que em todos esses anos
tem acreditado no meu trabalho.
Às minhas queridas amigas Janine Sallan e Viviane Rosa, pela amizade e
carinho por todos esses anos.
À minha amiga Profa. Daniela Martins de Souza, pela motivação em todos os
momentos.
Aos colegas do mestrado, Maria Cecília Tezelli Bortoline, Sônia Sotto-Maior
Fortes Garcia Rodrigues, Priscilla Campanatti de Almeida Chibebe, Leandro Khuppel
Villas Boas, João Batista Fernandes, Marcello Faria Regueira Alves, Arnaud Alves
Bezerra Júnior pela amizade e troca de experiências valorosas para a realização
deste trabalho.
À técnica do laboratório de Histologia Maria de Fátima Pacheco, pelo
ensinamento e dedicação de confecções de lâmina histológica.
À Profa. Marina Buselli, pela paciência e dedicação na revisão deste trabalho.
Às secretárias Adriana Peloggia e Alessandra Borges Serra, pela colaboração e
orientação nas questões organizacionais do curso.
A vida pode ser compreendida olhando-
se para trás; mas pode ser vivida
olhando-se para a frente.
Soren Kierkegaard
RESUMO
A doença periodontal é uma alteração inflamatória causada por microrganismos e à
influência de fatores de risco. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do uso
sistêmico de dose subantimicrobiana de doxiciclina sobre o suporte ósseo
periodontal (SOP) e perda de inserção (PI) em periodontite induzida associada à
sobrecarga oclusal em ratas. Foram utilizadas 25 ratas (Wistar) com peso
aproximado de 250 g, divididas em cinco grupos (n=5): GC (controle), GL, com
ligadura: GT, com sobrecarga ocusal; GLT, com ligadura e com sobrecarga; GLTD,
com ligadura, com sobrecarga e com medicação. A periodontite foi induzida pela
instalação de ligadura no primeiro molar inferior por 28 dias. Para a sobrecarga
oclusal foi realizado desgaste das superfícies oclusais dos segundos e terceiros
molares superiores. Os animais do grupo GLTD receberam doses diárias de 0,14mg
de doxiciclina administrada por via oral durante o período de indução. Após o
sacrifício, as hemi-mandíbulas direitas foram enviadas para análise radiográfica
digital para a avaliação do SOP, e as esquerdas para o processamento histológico
para avaliação da PI. Os resultados foram submetidos à análise de variância
(ANOVA, Tukey) ao nível de significância de 5%. Os valores médios para GC
(55,49±4,86%) e GT (60,03±3,37%) foram equivalentes entre si para o SOP e
diferentes de GL (46,73±4,80%), GLT (51,69±2,84) e GLTD (57,76±4,50%)
(p=0,001). Em relação à PI, novamente GC (0,11±0,07 mm²) e GT (0,12±0,10 mm²)
foram equivalentes entre si e diferentes de GL (0,41±0,09 mm²), GLT (0,58±0,12
mm²) e GLTD (0,54±0,12 mm²) (p=0,0001). Baseados nestes resultados pode-se
concluir que a utilização de dose subantimicrobiana de doxiciclina não modulou a
perda óssea ou a perda de inserção decorrente da periodontite induzida em ratas
associadas à sobrecarga oclusal.
Palavras chave: Dose subantimicrobiana de doxiciclina. Sobrecarga oclusal.
Periodontite experimental.
ABSTRACT
The periodontal disease is an alteration inflammatory caused by microorganism and
it is the influence of risk factors. The goal of this study is to evaluate the influence of
the systemic usage of subantimicrobial doses of doxycycline on periodontal bony
support (SBP) and the loss of insertion (PI) in induced periodontitis associated with
occlusal overload in female rats. Twenty-five female rats (Wistar) were used weighing
about approximately 250 g each, divided into five groups (n=5): GC (control), without
ligature, overload nor medication; GL, with ligature, no overload nor medication; GT,
without ligature nor medication, but with overload; GLT, with ligature and, but no
medication; GLTD, with ligature, overload and medication. The periodontitis was
induced by the installation of ligature on first molar inferior during 28 days. An
occlusal surface grinding on the second and third superior molars has been
performed for the oclusal overload application. The animals of the GLTD group got
daily oral doses of 0,14 mg of doxycycline during the induction period. After their
sacrifice, the right hemi-mandibles have been sent to digital radiographic analysis for
the SBP evaluation, and the left ones to the histological process for the PI evaluation.
The results have been sent to variance analysis (ANOVA, Tukey) to the level of
significance of 5%. The average results for GC (55,49±4,86%) and GT
(60,03±3,37%) were similar for the SOP and different for GL (46,73±4,80%), GLT
(51,69±2,84%) and GLTD (57,76±4,50%) (p=0,001). Regarding the PI, GC
(0,11±0,07 mm²) and GT (0,12±0,10 mm²) were similar again and different from GL
(0,41±0,09 mm²), GLT (0,58±0,12 mm²) and GLTD (0,54±0,12 mm²) (p=0,0001).
Based on this results, we conclude that the usage of subantimicrobian doses of
doxycycline did not modulate the bone loss and the bone insertion resulting from the
induced periodontitis associated with occlusal overload in female rats.
Keywords: Subantimicrobial dose of doxycycline. Occlusal overload. Experimental
periodontitis.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Grupos experimentais 40
Tabela 2 – Estatística descritva de SOP (%) 49
Tabela 3 - Resultados das comparações múltipla de Tukey entre 49
os grupos
Tabela 4 - Posição dos grupos homogêneos pela análise de Tukey 50
Tabela 5 - Estatística descritiva de PI (mm²) 51
Tabela 6 - Resultado de comparações múltiplas de Tukey dos valores 51
médios por grupos experimentais para perda de inserção
Tabela 7 - Grupos homogêneos através da análise de Tukey para perda 52
inserção
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Representativo de SOP para todos os grupos experimentais 50
Gráfico 2 – Valores médios de perda de inserção plotados dos grupos 52
experimentais
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Esquema dos grupos experimentais 41
Figura 2 – Instalação da ligadura 42
Figura 3 – Desgaste oclusal 43
Figura 4 – Aplicação da dose subantimicrobiana de Doxiciclina 44
Figura 5 – Análise radiográfica 45
Figura 6 – Fórmula para cálculo do SOP 46
Figura 7 – Medida linear 47
Figura 8 – Análise dos grupos sem ligadura 55
A fragmento com três molares inferiores do GC com aumento 25x
HE, B vista interproximal dos 1° e 2° MI do GC, D dentina, OA
osso alveolar, JCE união cemento-esmalte, 1
11
1 fibras transeptais,
1 inserção conjuntiva com aumento com 200x HE; C fragmento
com três molares inferiores do GT, aumento com 25x HE; D vista
inter proximal dos 1° e 2° MI do GT, D dentina, JCE união
cemento-esmalte, 1
11
1 fibras transeptais, 1 inserção conjuntiva com
aumento 200x HE
Figura 9 – Análise dos grupos com ligadura 56
A fragmento com três molares inferiores do GL com aumento com 25x
HE, B vista interproximal do 1° e 2° MI do GL; D dentina, 1
11
1 fibras
transeptais, E epitélio juncional, OA osso alveolar, JCE união cemento-
esmalte, 2
22
2 inserção conjuntiva com aumento com 200x HE; C
fragmento com três molares inferiores do GLT; D vista interproximal do
1° e 2° MI do GLT, D dentina, 1
11
1 fibras transeptais, E epitélio juncional,
JCE união cemento-esmalte, 2
22
2 inserção conjuntiva com aumento com
200x HE; E fragmento com três molares inferiores do GLTD; F vista
interproximal do 1° e 2° MI do GLTD; D dentina, 1
11
1 fibras transeptais, E
epitélio juncional, OA osso alveolar, JCE união cemento-esmalte, 2
22
2
inserção conjuntiva com aumento com 200x HE
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Ca
2+
Íons cálcio
CD Clodronato
CGRP Peptídeos relacionados ao gene da calcitonina
CMT-1 Tetraciclina quimicamente modificada
DOXY Doxiciclina
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
GC Grupo Controle
GL Grupo Ligadura
GT Grupo Trauma
GLT Grupo Ligadura e trauma
GLTD Grupo Ligadura, trauma e doxicIclina
IC
50
Concentração inibitória
IL-1 Interleucina1
LPS Lipopolisacarideos
MMP Metaloproteinase da matriz extracelular
mRNAs Síntese de mensageiro de ribonúcleico
NCI Nível clínico de inserção
PI Perda de inserção
P S Profundidade de sondagem
PgE
2
Prostaglandina E
2
PGI Grupo Porphyromonas gingivalis
SDD Dose subantimicrobiana de doxiciclina
SDF Subdose de ibuprofeno
SOP Suporte ósseo periodontal
TIMPS Inibidores teciduais endógenos
TNF-1 Fator de necrose tumoral alfa
TRAP Fosfatase ácida tartarato resistente
Zn
2+
Íons zinco
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
16
2 REVISÃO DA LITERATURA
19
2.1 Patogênese da Doença Periodontal 19
2.2 Fatores predisponentes da Doença Periodontal
21
2.3 Carga oclusal e Doença Periodontal 25
2.4 Dose subantimicrobiana de Doxiciclina 29
2.5 Periodontite experimental
36
3 PROPOSIÇÃO
39
4 MATERIAL E MÉTODO
40
4.1 Animais
40
4.2 Anestesia
41
4.3 Indução da periodontite
42
4.4 Aplicação de sobrecarga oclusal
43
4.5 Tratamento
43
4.6 Sacrifício
44
4.7 Análise radiográfica
45
4.8 Análise histológica
46
4.9 Análise estatística
47
5 RESULTADOS
49
5.1 Análise radiográfica
49
5.2 Análise histomorfométrica
51
5.3 Análise histológica descritiva
54
6 DISCUSSÃO 57
7 CONCLUSÃO
63
REFERÊNCIAS
64
ANEXO A
68
1 INTRODUÇÃO
A doença periodontal é uma alteração inflamatória causada por aumento de
colonização de microrganismos periodontopatogênicos. Embora estes patógenos
sejam necessários para causar a doença, a degradação dos tecidos periodontais é
uma conseqüência da interação entre o parasita e o hospedeiro.
O hospedeiro, frente à agressão microbiana, por meio das células da resposta
imune celular e humoral, secreta mediadores pró-inflamatórios, como prostaglandina
E
2
(PgE
2
), interleucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-1234 5674 8ão
capazes de induzir reabsorção óssea, característica da doença periodontal.
Alguns estudos têm sido direcionados para a identificação dos fatores
ambientais e do hospedeiro que estão envolvidos no início e na progressão da
doença tais como: fumo, trauma oclusal, diabetes, entre outros (KINANE, 2001;
NOCITI JÚNIOR et al., 2000). Dentre os fatores do hospedeiro, a presença de
trauma oclusal é associada a um aumento na perda óssea alveolar. Estudos que
avaliaram o trauma oclusal de forma isolada, sem doença periodontal,
demonstraram que as alterações ósseas apresentavam-se como reversíveis após a
remoção deste fator (CARRANZA, 2004).
O periodonto é uma unidade biológica e funcionalmente bem definida e
adaptada, principalmente, a resistir e se acomodar às pressões mastigatórias. O
tecido conjuntivo do ligamento periodontal é mais denso e consistente quando
comparado com o tecido conjuntivo pulpar. As fibras de Sharpey partem das
proximais da lâmina dura e se inserem no cemento. Estas fibras apresentam
disposições anatômicas diferentes para se adaptarem a diferentes movimentos dos
dentes. Grande quantidade de fibras colágenas está distribuída em todas as áreas
do ligamento periodontal para manter a estabilidade e a ancoragem dos dentes no
osso alveolar, para amortecer os contatos mastigatórios, os contatos oclusais que
ocorrem durante a deglutição e os que se originam de atividade bruxística. O
ligamento periodontal tem então importante função na homeostasia dos tecidos do
periodonto de sustentação. A ocorrência de sobrecarga oclusal pode interferir no
equilíbrio das funções de homeostasia do ligamento periodontal e
conseqüentemente gerar um aumento na reabsorção óssea alveolar para que ocorra
uma adaptação destas estruturas sem que se altere a inserção conjuntiva das fibras
do ligamento. Porém, dentro dos eventos da patogenia periodontal, a associação
desta condição local à ocorrência de processo inflamatório pode alterar de forma
irreversível as estruturas do periodonto, gerando a desinserção de fibras colágenas
e o aprofundamento do sulco gengival (CARRANZA, 2004).
A doxiciclina aplicada em doses subantimicrobiana tem demonstrado sua
ação anticolagenolítica. Este medicamento tem sido utilizado em doenças crônicas
como artrite, com protocolo de longos períodos de prescrição. Da mesma forma, a
utilização deste medicamento na modulação da perda óssea, decorrente da doença
periodontal, tem sido alvo de alguns estudos (BEZERRA et al., 2000; PRESHAW et
al., 2004).
A utilização de modelos animais, especialmente ratos, permite a realização de
avaliações sensíveis e diferenciadas, com o controle de algumas variáveis sobre a
influência de determinado fator de risco, acompanhando o início e a evolução da
doença periodontal.
Desta forma, a avaliação da possível influência do uso de dose
subantimicrobiana de doxiciclina com o objetivo de modulação da perda óssea
alveolar em periodontite associada à presença de sobrecarga oclusal pode ser
relevante.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Patogênese da Doença Periodontal
A doença periodontal apresenta uma evolução histopatológica característica e
peculiar. Este processo se inicia a partir de uma infecção microbiana por patógenos
com diferentes graus de virulência. Em resposta a esta agressão, o hospedeiro inicia
um processo inflamatório que se manifesta pela resposta celular e humoral no
combate a este agressor. É a interação entre a agressão microbiana e a resposta do
hospedeiro a principal responsável pela degradação tecidual que se manifesta na
doença periodontal. A destruição de proteínas constituintes dos tecidos periodontais
pode ocorrer de forma direta, quando causada por enzimas provenientes dos
microrganismos ou indireta quando causada por enzimas produzidas pelo próprio
hospedeiro. A degradação das estruturas periodontais se inicia próximo ao sulco
gengival envolvendo apenas periodonto de proteção. No entanto, a continuidade
deste processo leva à degradação das estruturas do periodonto de sustentação,
caracterizando-se pela reabsorção óssea, perda de inserção conjuntiva e
aprofundamento do sulco gengival (CARRANZA, 2004).
No processo biológico de degradação tecidual, as metaloproteinases da
matriz extracelular (MMP) são de fundamental importância, sendo produzidas por
células residentes ou do infiltrado inflamatório, presentes em todos os tecidos
periodontais. Estas enzimas o responsáveis pela degradação de moléculas da
matriz extracelular como colágeno, elastina, desempenhando uma etapa crucial na
degradação do tecido conjuntivo e na reabsorção óssea. São sintetizados em uma
forma inativa e ativados no meio extracelular, sendo esta ativação controlada por
inibidores teciduais endógenos (TIMP) ou por inibidores sintéticos como os agentes
quelantes, por exemplo, o EDTA ou análogos da tetraciclina. O papel destas
enzimas na patogênese parece depender do equilíbrio da enzima e do inibidor local
(RYAN; RAMAMURTHY; GOLUB, 1996).
Paquette e Williams (2000) comentam que o conceito de tratamento
periodontal para a doença periodontal, foi baseado na compreensão de que os
microorganismos e seus produtos estão primeiramente ligados à destruição dos
tecidos periodontais. Este conceito mudou quando pesquisas demonstraram não
o papel dos patógenos, bem como, o papel dos mediadores de inflamação, que por
sua vez, estão envolvidos na destruição local do periodonto inflamado. Isto é
percebido clinicamente, por exemplo, na perda óssea alveolar.
O fator etiológico da inflamação gengival é o biofilme dental. Associado a este
fator, podemos encontrar outros fatores de risco que podem interferir na instalação,
desenvolvimento e prognóstico desta doença. Entre estes fatores, podemos citar
algumas doenças sistêmicas (diabetes), fatores locais como má-oclusão,
(alinhamento irregular dos dentes), fumo, trauma oclusal entre outros (HINRICHS,
2004).
Eickholz et al. (2004) realizaram um estudo comparando dois métodos de
avaliação radiográfica de defeitos infra-ósseos quanto à sua morfologia e ao
prognóstico destes defeitos após terapia de regeneração tecidual guiada. Foram
avaliadas radiografias de cinqüenta defeitos ósseos antes do procedimento cirúrgico
e, três e seis meses após a cirúrgia. Uma das técnicas considerava a distância linear
entre a crista óssea e a união cemento esmalte observada na radiografia (Técnica 1)
e a outra avaliava a angulação formada entre a superfície radicular na extensão
descrita anteriormente a uma projeção da parede do defeito ósseo (Técnica 2). Os
autores compararam o valor preditivo destas cnicas para o estabelecimento de
prognósticos 24 meses após a cirúrgia. Juntamente com as avaliações radiográficas
foram anotados os parâmetros clínicos periodontais de profundidade de sondagem,
nível clínico de inserção, sangramento à sondagem, índice de placa e índice
gengival. Os resultados mostraram que a Técnica 2 apresentou melhor valor
preditivo quanto ao preenchimento ósseo do defeito após 24 meses. Os autores
concluíram que referências anatômicas, como a união cemento-esmalte e a crista
óssea, podem ser consideradas na avaliação radiográfica como referenciais de
perda óssea, porém as avaliações da angulação formada pelas paredes do defeito
podem atuar com melhor valor preditivo para o preenchimento ósseo após cirúrgia
de regeneração tecidual guiada.
2.2 Fatores predisponentes a Doença Periodontal
Sabe-se que um número de fatores predisponentes deve interagir com o
sistema de defesa do hospedeiro e tornar o paciente suscetível à doença
periodontal.
Nociti Júnior et al. (2000) investigaram as possíveis influências da nicotina na
perda óssea na região de furca devido à indução de periodontite por ligadura em
ratos. Foram incluídos vinte machos adultos de ratos (Wistar). Após a anestesia, o
dente foi aleatoriamente designado para receber a ligadura de algodão na área
sulcular, enquanto os dentes contra laterais permaneceram sem ligadura. Foram
utilizadas injeções intraperitoneais diárias e os animais foram designados para um
dos seguintes tratamentos: grupo A, 2 µl/g de peso corporal de solução salina; grupo
B, 2 µl/g de peso corporal de solução de nicotina com 0,13 µl de nicotina/ ml de
solução salina; grupo C, 2 µl/g de peso corporal de solução de nicotina com 0,19 µl
de nicotina/ ml de solução salina; e grupo D, 2 µl/ g de peso corporal de solução de
nicotina com 0,26 µl de solução de nicotina/ ml de solução salina. Após trinta dias do
experimento, os animais foram sacrificados e as peças obtidas foram processadas.
As análises intergrupos revelaram maior perda óssea nos dentes com as ligaduras
do grupo B(1,01 ± 0,61 mm²), grupo C (1,14 ± 0,72 mm²), e grupo D (1,36 ± 0,6 mm²)
quando comparados com grupo A (0,64 ± 0,62 mm²) (p<0,01). Entretanto, nenhuma
diferença estatisticamente significativa na perda óssea foi encontrada no meio dos
grupos B, C e D. Além disso, nenhuma perda óssea foi observada para dentes não
induzidos (p>0,01). Os autores concluíram que, dentro dos limites do estudo a
nicotina acentuou os efeitos dos fatores desencadeantes da doença periodontal de
maneira dose não dependente. Entretanto, a administração de nicotina não produziu
perda óssea periodontal por si só.
Segundo Benatti et al. (2003), a nicotina e o estress estão diretamente ligados
ao desenvolvimento da doença periodontal como fatores de risco. Neste estudo foi
investigado o efeito de estresse associado à indução de periodontite com
administração de nicotina em ratos. Foram utilizados vinte animais (ratos Wistar),
com indução de periodontite por meio de ligadura inserida no primeiro molar inferior.
Os animais foram divididos em quatro grupos com cinco animais; grupo A recebia
solução salina, grupo B recebia 0,73 mg de nicotina diária, grupo C indução de
estresse (ficavam imobilizados durante duas horas / dia) mais solução salina, grupo
D recebia 0,73 mg de nicotina mais a indução do estresse. Após quarenta dias,
foram sacrificados e as peças obtidas foram encaminhadas para análise histológica.
Para avaliação do efeito do estresse e da nicotina, os autores mensuraram a perda
óssea na região de bifurcação dos primeiros molares inferiores, por meio de
utilização de um programa de leitura de imagens que quantificou o volume ósseo
nesta região. Os resultados mostraram perda óssea significativa nos animais do
grupo D (0,50 ± 0,45%), quando comparado ao grupo C (0,15 ± 0,09%), ao grupo B
(0,23 ± 0.09%) e ao grupo A (0.13 ± 0.04%). Entre os grupos A, B e C não foram
observadas diferenças estatísticas significativas. Os autores concluíram que o
estresse e a nicotina por si não o capazes de atuar como fator de risco para
doença periodontal, podendo estar associados à doença ou má higiene oral.
Nociti Júnior et al. (2001) investigaram os efeitos da administração da nicotina
em doença periodontal experimental em ratos. Foram utilizados vinte ratos machos
adultos nos quais a periodontite foi induzida através de ligadura no primeiro molar
inferior. Após sete dias do começo do experimento, os animais foram divididos em
grupos nos quais receberam dose injetáveis para a avaliação (grupo A controle,
grupo B recebeu dose 0,37 mg/kg de nicotina, grupo C dose de 0,57 mg/kg de
nicotina, grupo D dose de 0,73 mg/kg de nicotina) após trinta dias foram sacrificados.
As mandíbulas foram removidas e fixadas com 4% de formalina neutra por 48 horas,
avaliados através da análise histométrica (descalcificado por 50% de acido fórmico e
20% de acido cítrico por 45 dias). Os autores observaram que o aumento na dose de
nicotina aplicada gerou um aumento na destruição dos tecidos periodontais em uma
forma dose dependente.
Gaspersic et al. (2003) fizeram um estudo com objetivo de avaliar os efeitos
da ligadura (indução da periodontite) e do estresse (isolamento) em ratas. Foram
utilizadas trinta ratas da raça Wistar, com peso dio de 200 g. A ligadura foi
posicionada ao redor do segundo molar superior direito, onde foi mantida por quatro
semanas. Os animais foram divididos aleatoriamente em três grupos de dez animais
cada. Para indução do estress foram colocados dois animais em um recipiente de
tamanho reduzido, com a impossibilidade de movimentos (estimulação do estresse).
O grupo G1 foi exposto ao estresse, por 12 horas (20 h até as 8 h), G2 exposto por 2
h 30 min (20 h até as 22 h 30 min), G3 foi o grupo controle. A avaliação do peso
corporal de cada animal que inicialmente era similar, após o experimento
demonstrou que apenas o grupo G3 que não sofreu nenhum tipo de estresse teve
ganho de peso. Após o período de indução foi feito o sacrifício dos animais e
preparados para análise morfométrica, usando microscopia de luz. Os resultados
demonstraram que houve uma diferença estatística significativa em relação ao peso
dos animais submetidos ao estresse, a reação inflamatória era mais nítida no lado
onde foi instalada a ligadura pronunciada vaso dilatação e caracterizando um
processo inflamatório crônico. Os autores concluíram que o estresse por si o
resulta em doença periodontal, mas pode modular os processos inflamatórios da
inflamação periodontal instalada, resultando na aceleração do processo de
destruição dos tecidos periodontais.
2.3 Carga oclusal e doença periodontal
Alterações na estrutura de suporte e proteção, bem como o aumento de
mobilidade dental, podem ser detectadas clínica e radiograficamente. O aumento do
espaço do ligamento periodontal, o aumento da espessura da lâmina dura e a
intensificação do trabéculado óssea são manifestações do aumento da carga oclusal
que podem ser observadas radiograficamente. Estas adaptações teciduais são
observadas na ausência do processo inflamatório na busca do equilíbrio entre
eventos que levam a neo-formação e reabsorção óssea. Clinicamente este quadro
se manifesta pelo aumento da mobilidade dental sem que ocorra um
aprofundamento do sulco gengival. Este quadro clínico é possível de ser revertido na
medida em que se estabelece um equilíbrio entre as cargas de compressão e tensão
(LINDHE; NYMAN; ERICSSON, 1999).
Num estudo avaliando a reabsorção óssea e a reabsorção radicular, Lu et al.
(1999) realizaram um experimento em que era aplicada força intrusiva em molares
de ratos. Foram utilizados 38 animais, sendo fixado um dispositivo ajustado para a
aplicação de força intrusiva de 50 g em um dos primeiros molares superiores,
permanecendo o contra lateral como controle, mantido por um período de sete, 14 e
21 dias. A reabsorção óssea e radicular foi avaliada histometricamente na região
apical e na bifurcação radicular em cortes histológicos corados em hematoxilina e
eosina e a atividade de reabsorção foi avaliada pela quantificação de lulas
marcadas para fosfatase ácida tartarato resistente (TRAP). Os resultados mostraram
níveis mais elevados de células TRAP+ nas regiões inter-radiculares que nas
periapicais, principalmente nas segunda e terceira semanas. As células TRAP+
estavam mais relacionadas à superfície óssea que à superfície radicular. Já a
reabsorção radicular observada foi maior na região apical. Baseados nestes
resultados os autores sugerem que a reabsorção óssea mais evidente na região
periapical pode ocorrer independentemente dos níveis de células TRAP+
considerando que o cemento celular presente nesta região apresente maior
componente orgânico e menor componente mineral.
A sobrecarga oclusal aplicada em estruturas periodontais na presença de
inflamação gera alterações com características de irreversibilidade. O desequilíbrio
entre as forças de tensão e compressão é associado à reabsorção óssea decorrente
do processo inflamatório. Como conseqüência, a degradação das fibras colágenas
do ligamento leva à perda de inserção conjuntiva.
Nunn e Harrel (2001) realizaram um estudo retrospectivo para avaliar a
associação de discrepância oclusal e doença periodontal em indivíduos tratados em
clínica privada. Participaram deste estudo indivíduos que tivessem seu prontuário
periodontal com todas as anotações incluindo análise de oclusão durante um ano.
Os indivíduos que preenchessem estes critérios foram divididos em: grupo não
tratado (trinta), nos quais nenhum tratamento periodontal foi proposto; grupo
parcialmente tratado (18), nos quais foi realizada apenas a raspagem; grupo
totalmente tratado (41), nos quais todos os tratamentos recomendados, inclusive
tratamento cirúrgico foi concluído. Os dados referentes a cada dente e a cada
paciente foram inseridos em uma base de dados e analisados para testar a
associação entre discrepância oclusal inicial e vários parâmetros clínicos
periodontais iniciais. Os resultados mostraram que as discrepâncias oclusais iniciais
estavam significativamente associadas a bolsas periodontais mais profundas.
Também foi observada associação entre a discrepância oclusal inicial em indivíduos
com boa higiene oral. Quando os dados foram ajustados para fatores de risco
conhecido como fumo e higiene oral deficiente os resultados também demonstraram
que a discrepância oclusal estava associada a doença periodontal. Os resultados
observados levaram os autores a concluir que existe uma forte associação entre
discrepância oclusal inicial e vários parâmetros clínicos relevantes para diagnóstico
e prognóstico da doença periodontal.
Harrel e Nunn (2001) descreveram que o efeito da discrepância oclusal na
evolução do tratamento da doença periodontal tem algumas controvérsias. O trauma
e a oclusão são considerados fatores primários para progressão da doença
periodontal; o ajuste oclusal é considerado no tratamento periodontal. Foi feito
estudo em uma clínica privada, com 89 pacientes sendo todos incluídos em um
critério de exclusão, com periodontite crônica severa, no período de um ano. Foram
divididos em grupos; sem tratamento recomendado (trinta); tratados
periodontalmente, mas sem atos cirúrgicos (18); tratamento periodontal completo
com atos cirúrgicos (41) considerado controle. Foi analisado através de todos
comparativos entre os critérios: idade, gênero, higiene oral, fumantes, hábitos para-
funcionais, história dica, diabetes, discrepância oclusal. Os resultados
demonstraram que 60% dos dentes inicialmente sem presença de discrepância
oclusal apresentaram mobilidade comparados aos que não receberam tratamentos
em relação à discrepância oclusal, e que 40% dos dentes inicialmente sem presença
de discrepância oclusal apresentaram mobilidade em relação aos dentes que
receberam tratamento de ajuste oclusal. A diferença entre grupos foi pouco
significativa em relação à discrepância oclusal e a progressão da doença
periodontal.
Harrel (2003), em uma revisão de literatura, descreveu a dificuldade na
realização de estudo em humanos para se investigar a influência das forças oclusais
sobre a progressão da doença periodontal. O autor comenta que a maioria dos
estudos sobre discrepância oclusal e doença periodontal são estudos retrospectivos.
Os resultados observados nos estudos revisados pelo autor demonstraram que
dentes que apresentaram discrepância oclusal e mobilidade estavam associados
com maiores profundidades de sondagem e maiores perdas de inserção. Desta
forma, o autor concluiu que a interferência oclusal tem um efeito negativo sobre o
periodonto e tende a aumentar a velocidade da formação da bolsa periodontal e
piorar o prognóstico destes casos quando comparados a dentes que não estão
expostos a interferências oclusais. O autor conclui que na presença de interferência
oclusal sem doença periodontal a terapia pode se restringir à remoção desta
interferência. Porém, quando a doença periodontal for associada à interferência
oclusal a terapia deve abranger, além dos procedimentos periodontais de rotina, o
ajuste oclusal que elimine esta interferência.
Nogueira-Filho et al. (2004) investigaram o efeito da nicotina na perda óssea
alveolar em ratos com periodontite induzida associada a trauma oclusal. Neste
estudo, foram analisados trinta animais nos quais era aplicada ligadura em um dos
primeiros molares de cada arco, sendo o dente contra lateral considerado como
controle. Nos animais em que seria aplicada a sobrecarga oclusal foram
desgastados os segundos e terceiros molares permanecendo o contato apenas
entre os primeiros molares. Os animais foram divididos em: grupos A, recebia 0,44
mg/kg de solução de nicotina e trauma oclusal (dez); grupo B, trauma oclusal (dez);
grupo C, solução salina como controle (dez). Após trinta dias os animais foram
sacrificados e as peças cirúrgicas foram descalcificadas em EDTA 10%, e
processadas para a coloração com hematoxilina e eosina. Os autores utilizaram um
programa de leitura de imagem para avaliar a perda óssea na região da bifurcação
radicular considerando a área ocupada entre a crista óssea inter-radicular e o
cemento radicular. Essa característica foi mensurada em cinco cortes por espécime
e os valores médios expressos em mm
2
permitiram uma análise intra-grupos e inter-
grupos. Os resultados mostraram perda óssea significativamente maior para o grupo
A quando comparados os dentes que receberam ligadura. Na comparação dos
dentes contra laterais, a perda óssea foi equivalente entre os grupos A e B e
maiores que o grupo C. Os autores concluíram que a nicotina influencia a perda
óssea alveolar em ratos com periodontite induzida e associada à sobrecarga oclusal.
2.4 Dose subantimicrobiana de Doxiciclina
A terapia periodontal de rotina baseia-se no controle mecânico do biofilme
dental por meio dos recursos de escovação dentária, da limpeza interdentária e da
raspagem e aplainamento radiculares com ou sem acesso cirúrgico. Algumas
alternativas podem complementar estes procedimentos como o controle químico do
biofilme dental ou a utilização de medicamentos que apresentam a propriedade de
modulação da resposta do hospedeiro.
As tetraciclinas compreendem uma família de medicamentos que, além de
sua ação antibiótica, apresentam o potencial de inibir a ação de MMP derivadas do
hospedeiro e, portanto, apresentam um grande potencial de aplicação como terapia
adjunta à terapia mecânica para a resolução da doença periodontal. Estas
substâncias têm a capacidade de fixar íons Ca
2+
e Zn
2+
e, desta forma promover
uma inibição direta da atividade das MMP. Este medicamento pode ainda inibir a
conversão de p - MMP em MMP ativa, na matriz extracelular (RYAN;
RAMAMURTHY; GOLUB, 1996). Dentre as tetraciclinas a doxiciclina é o
medicamento que apresenta esta propriedade com maior aplicabilidade clínica para
a inibição das colagenases. Este medicamento apresenta concentrações mínimas
inibitórias (IC
50
= 15µM) menores que as minociclinas (IC
50
= 190µM) ou que as
tetraciclinas (IC
50
= 350µM) indicando que seria necessária uma dose muito menor
deste medicamento para inibir em 50% os níveis de colagenase de um determinado
sítio quando comparadas com as doses necessárias de minociclinas ou tetraciclina.
Além disso as CMT modula a resposta do hospedeiro, a inibição da formação de
radicais oxigenados derivados de neutrófilos, a regulação da expressão de
mediadores pró inflamatórios e citocinas, o aumento da produção de colágeno, a
ativação dos osteoblastos e da formação óssea (PRESHAW et al., 2004).
A habilidade da doxiciclina em controlar a atividade da colagenase tem
apontado para um novo protocolo de terapia periodontal. Preshaw et al. (2004)
comentaram que a utilização de dose subantimicrobiana de doxiciclina (20 mg/2xdia)
por um período prolongado, associado à terapia periodontal, tem demonstrado
melhora nos parâmetros clínicos sem que se evidenciasse a ocorrência de espécies
resistentes à tetraciclina ou a outros antibióticos.
Karimbux et al. (1998) estudaram os efeitos da periodontite na expressão de
colágeno tipos I e XII e investigaram os efeitos da tetraciclina quimicamente
modificados e da doxiciclina na expressão dessas moléculas em modelo de
periodontite induzida. O Colágeno tipo I é o maior componente do tecido conjuntivo
gengival e do ligamento periodontal e o colágeno tipo XII tem sido encontrado em
formas maduras desses tecidos. A remodelação de tecido é um estado dinâmico o
qual alcança a homeostase entre a quebra proteolítica e síntese da matriz
extracelular. A periodontite experimental em ratos (Sprague-Dawley fêmeas adultas)
foi induzida através das bactérias do tipo Porphyromonas gingivalis de humanos. Os
animais com periodontite induzida por P. gingivalis foram subdivididos em grupos:
Grupo PGI servindo como controle, infectados e não tratados; Grupo DOXY foi
tratado com doxiciclina; e Grupo CMT-1 foi tratado com tetraciclina-1 quimicamente
modificada. Grupo NIC contendo animais infectados que serviram de controles. A
expressão do mRNAs para o colágeno tipo I e XII foi examinada pela hibridização
em cada grupo, com a co-expressão destas moléculas representando tecido
gengival conjuntivo desenvolvido (maduro) e funcional. No grupo NIC, a expressão
de colágenos α2(I) ou α1(XII) foi encontrada distribuída uniformemente através do
tecido conjuntivo periodontal. O grupo PGI mostrou pequena hibridização nas áreas
de infecção, enquanto ambos os grupos DOXY e CMT-1 mostraram co-expressão de
amostras α2(I) e α1(XII) no tecido conjuntivo gengival e parte coronal do ligamento
periodontal. Este estudo demonstra que doxiciclina e CMT-1 moderam ou reduzam
os efeitos inibitórios da infecção periodontal na expressão do mRNAs para colágeno
tipo I e tipo XII. Estes resultados sugerem que doxiciclina pode reduzir a destruição
periodontal pela reversão do efeito inibitório da infecção periodontal na síntese do
colágeno.
Ashley (1999) realizou um estudo com novas estratégias, com o objetivo de
analisar a ação de bactérias e ao mesmo tempo modular a resposta do hospedeiro,
responsáveis pela destruição dos tecidos do periodonto, controlando a ação
destrutiva da doença periodontal. Neste estudo, os autores avaliaram o tratamento
com dose subantimicrobiana de doxiciclina como inibidor das MMP na doença
periodontal em humanos. Foram utilizados 437 indivíduos com periodontite os quais
receberam orientação de higiene oral e foram submetidos à profilaxia, que
receberam aleatoriamente doxiciclina ou placebo durante 12 semanas. Os indivíduos
foram avaliados segundo parâmetros clínicos, radiográficos e segundo a atividade
enzimática da colagenase no fluido gengival. As avaliações foram repetidas no
período de dois, quatro, oito e 12 semanas visando analisar a redução da atividade
de colagenase no sulco gengival e a mudança em relação aos níveis de inserção.
Todos os grupos tratados após quatro semanas apresentaram redução de atividade
colagenase no sulco gengival. A doxiciclina, quando associada ao tratamento clínico
mecânico, mostrou reduzir os níveis de colagenase no sulco gengival mantendo os
níveis de inserção clínica e reduzindo o sangramento à sondagem associado à
diminuição na perda óssea alveolar.
Caton et al. (2000) realizaram um estudo multicentro, duplo-cego controlado
por placebo para a verificação da eficácia e segurança do uso de dose
subantimicrobiana de doxiciclina (SDD) associada à raspagem e aplainamento
radicular na melhora dos parâmetros clínicos em pacientes com periodontite do
adulto. Participaram deste estudo 190 indivíduos, que receberam a terapia
periodontal associado à prescrição de 20 mg de doxiciclina duas vezes ao dia por
nove meses. Os parâmetros clínicos avaliados no exame inicial e a cada três meses
foram o nível clínico de inserção (NCI) e a profundidade de sondagem (PS). Os
indivíduos foram estratificados segundo a gravidade da doença no exame inicial
baseando-se nos valores de perda de inserção. Os autores também avaliaram a
segurança deste protocolo com relação à ocorrência de espécies resistente a
doxiciclina e a outros antibióticos. Observou-se melhora significativa nos parâmetros
clínicos nos indivíduos tratados com SDD na avaliação após três, seis e nove meses
e que, esta melhora foi mais evidente aos nove meses em indivíduos que
apresentaram maior perda de inserção no exame inicial. Não foi observada
resistência bacteriana à doxiciclina ou à outros antibióticos nem houve modificação
na microbiota periodontal normal. Os autores concluíram que este protocolo
apresentou-se eficaz e seguro, representando assim uma nova opção para o
monitoramento longitudinal de indivíduos com periodontite do adulto.
Bezerra et al. (2002) utilizaram trinta ratos (Wistar), que receberam dose
subantimicrobiana de doxiciclina com objetivo de inibir a perda óssea alveolar
induzida por periodontite em molares superiores. Os animais foram divididos em
cinco grupos, sendo que três deles receberam diferentes doses de doxiciclina (2.5, 5
e 10 mg/kg) associada à indução de doença periodontal por ligadura, outro apenas
com a indução e outro como controle. Após sete dias de experimento os animais
foram sacrificados e as peças cirúrgicas foram processadas para avaliação
histológica e macroscópica para mensuração da perda óssea alveolar. A avaliação
histométrica quantificou o número de osteoclastos, intensidade do infiltrado
inflamatório e a integridade do processo alveolar e cemento radicular. Os resultados
demonstraram uma inibição da reabsorção óssea nos animais tratados com
doxiciclina de maneira dose dependente. Além disso, foi observado que o grupo
controle teve perda óssea alveolar significativa e aumento do número de
osteoclastos. Esses dados mostram que a doxiciclina inibe a resposta dos
osteoclastos e, conseqüentemente, diminui a perda óssea alveolar.
Preshaw et al. (2004) considerou o mecanismo de raspagem radicular e
polimento como padrão de tratamento da doença periodontal. Recentes pesquisas
mostraram que os maiores componentes da destruição de tecidos duros e moles
resultam da resposta inflamatória do hospedeiro através dos mediadores pró-
inflamatóros e enzimas como as metaloproteinases da matriz extracelular (MMP).
Novos tratamentos visam combinar terapias convencionais com terapias
modulatórias da resposta inflamatória do hospedeiro. Neste estudo, os autores
avaliaram a eficácia e a dose de segurança da doxiciclina, considerando os
parâmetros clínicos analisados em estudos que envolvem a associação desta
terapia a uma terapêutica convencional. Os autores sugerem que a terapia
convencional é eficaz no controle das modificações teciduais geradas pela
microbiota e que, quando se pretende um tratamento individualizado para
determinados fatores de risco, a associação de dose subantimicrobiana de
doxiciclina pode ser um protocolo aceitável.
Lee et al. (2004) investigaram a eficácia clínica da prescrição de dois
medicamentos moduladores da resposta do hospedeiro na diminuição dos níveis
gengivais de enzimas colagenolíticas em pacientes com periodontite crônica.
Participaram deste estudo 19 pacientes com periodontite crônica que tinham
indicação de cirurgia de retalho mucoperióstico bilateral no arco superior. Os
indivíduos foram divididos em três grupos: dose subantimicrobiana de flurbiprofeno
(SDF) 50 mg/4xdia, dose subantimicrobiana de doxiciclina (SDD) 20 mg/2xdia ou,
uma combinação das duas (COMB). A biópsia de tecido foi obtida durante a cirurgia
primeiramente do lado direito, depois se iniciava a prescrição dos medicamentos e,
três semanas após, era realizado o procedimento do lado esquerdo. As análises
realizadas tiveram o objetivo de quantificar a atividade da colagenase, gelatinase, e
elastase no tecido gengival. Os resultados mostraram que SDD isolada reduziu os
níveis de metaloproteinases da matriz extracelular e, a SDF não reduziu estas
enzimas. Os melhores resultados foram observado no grupo COMB para todas as
enzimas testadas. Baseados nestes resultados os autores concluíram que o uso
combinado destes medicamentos pode apresentar ação sinérgica na modulação das
metaloproteinases da matriz extracelular e de outras proteases neutras em pacientes
portadores de periodontite crônica.
Gapski et al. (2004) fizeram um estudo sobre o aspecto da resposta biológica
causada pela doxiciclina em concentração de baixa dose na inibição de
metaloproteinases na modulação do reparo na doença periodontal. Em um período
de 12 meses foram analisados pacientes com periodontite crônica severa, que
apresentassem dez dentes em função, ausência de sensibilidade à tetraciclina, fora
do período de gestação ou de lactação, não fumantes, sem doenças infecciosas,
que não estivessem tomando medicamentos esteroidais. Neste estudo duplo-cego,
teste e placebo, randomizado, os autores avaliaram parâmetros clínicos de
profundidade de sondagem, sangramento à sondagem, análise microbiana e do
fluído gengival. As avaliações foram executadas no período de três, seis, nove e 12
meses, sendo que no período de seis meses iniciais, foram administradas 20 mg de
doxiciclina para o grupo teste e 20 mg de cápsula de placebo no grupo controle. Os
pacientes tratados com dose subantimicrobiana de doxiciclina apresentaram uma
redução mais significativa nos parâmetros clínicos com retalho no palato em sítios
com mais de 6 mm. Não houve diferença estatística significativa na redução de
patógenos entre os grupos. Estes resultados sugerem que dose subantimicrobiana
de doxiciclina em combinações com cirurgias a retalho pode melhorar a resposta da
terapia cirúrgica e reduzir a profundidade de sondagem na doença periodontal
crônica severa, com redução na reabsorção óssea.
Salvi e Lang (2005), em sua revisão de literatura, evidenciaram que a terapia
periodontal não cirúrgica e administração de 20 mg de dose subantimicrobiana de
doxiciclina, duas vezes por dia no prazo de 12 meses, beneficiou a modulação da
resposta do hospedeiro sobre a perda óssea alveolar em pacientes com periodontite
crônica.
2.5 Periodontite experimental
A doença periodontal apresenta uma patogenia de difícil estudo em humanos, por
motivos éticos, pois a evolução da doença bem como os reparos dos tecidos após
a terapia não podem ser avaliados por algumas ferramentas sensíveis como as
avaliações histológicas, histométricas e imunohistoquímicas. Dentre os animais
em que se podem estudar a periodontite experimental, o rato (Rattus Novergicus),
tem apresentado vantagens, como seu baixo preço e fácil manipulação e a
possibilidade de obtenção da condição germ-free. Os molares apresentam
características histológicas muito parecidas com as dos humanos, tendo como
variação principal a queratinização do epitélio do sulco gengival. Nestes animais a
distância entre a junção cemento-esmalte e a crista alveolar permanece constante
na superfície vestibular no periodonto sem doença, entretanto, uma alteração
fisiológica idade dependente pode ser observada na face lingual e palatina. Sendo
assim, o uso de animais com a mesma idade é um detalhe importante para evitar
fatores de confusão quando estas referências anatômicas forem utilizadas como
ferramentas de avaliação. Além disso, informações relacionados à quantificação
do infiltrado inflamatório, da perda de inserção e da atividade de osteoclastos
podem ser levantadas diretamente a partir de estudo histológico em modelos
animais. Outro aspecto importante é a combinação de vários métodos de
avaliação para cada objetivo do estudo da evolução da doença periodontal,
considerando aplicabilidade de mais de uma ferramenta para abordagem de
diferentes aspectos da doença periodontal (KLAUSEN, 1991).
Klausen, Evans e Sfintescu (1989) fizeram um estudo com 25 ratos com
doença periodontal experimetal no qual avaliaram métodos radiográficos para
detectar defeitos ósseos interproximais e métodos morfométricos para avaliar perda
óssea horizontal. Foi utilizado microscópio óptico (lupa estereoscópica) para medir a
distância da junção amelocementária à crista óssea alveolar em 36 locais da boca
de cada animal. Nas radiografias mandibulares foram observados defeitos no osso
alveolar de suporte; localizado no ápice distalmente aos primeiros molares, sendo
todas as medidas realizadas em duas sessões separadas. No segundo experimento,
50 maxilas de ratos foram também avaliadas por esses métodos e a correlação foi
estimada pela análise de Spearman. A reprodução de ambos os métodos foi
satisfatória. Concluíram que futuros estudos podem ser beneficiados pelos métodos
para avaliar perda ósseo-alveolar em ratos.
Galvão et al. (2003) apresentaram uma técnica e um método de descrição
das características histológicas da doença periodontal induzida em ratos. Fez-se a
indução de periodontite com o uso de ligaduras, com ou sem dieta rica em sacarose.
Foram incluídas vinte e quatro ratas (Wistar) adultas (sessenta dias) e estas foram
divididas em quatro grupos: Grupo 1, ou controle (recebeu dieta padrão), Grupo 2
(recebeu ligadura ao redor dos segundos molares superiores e dieta padrão), Grupo
3 (recebeu dieta rica em sacarose) e Grupo 4 (recebeu ligadura ao redor dos
segundos molares superiores e dieta rica em sacarose). Os animais foram
acompanhados por um período de trinta dias, ao final do qual foram sacrificados. Os
segundos molares superiores foram removidos e processados; fez-se análise
histológica por método descritivo. Os animais com ligadura (Grupo 2 e 4) mostraram
características histológicas de periodontite como epitélio juncional aumentado, tecido
conjuntivo com número de células e vasos aumentado, fibras do ligamento inseridas
apicalmente à crista óssea alveolar sendo esta irregular e apresentando lacunas de
Howship, enquanto animais sem ligadura não apresentaram sinais de destruição
periodontal. O uso de ligaduras, no presente estudo, foi capaz de promover
processo inflamatório crônico nas ratas, independentemente do tipo de dieta. A
análise fatorial de correspondência serviu como método para mostrar tais
características, sendo mais uma ferramenta para uso em pesquisa básica.
Kuhr et al. (2004) tiveram o propósito de avaliar a destruição periodontal
marginal, periodontite induzida experimentalmente em ratos por ligadura no segundo
molar superior num período de sessenta dias. Foram utilizados 35 ratos, Sprague-
Dawley, com idade entre quatro e 4,5 meses, divididos em cinco grupos divididos
segundo os prazos de sacrifícios: grupo 1 - cinco dias, grupo 2 15 dias, grupo 3
trinta dias, grupo 4 sessenta dias, grupo 5 controle sem indução. Os espécimes
de maxila foram avaliados em relação a distância união cemento esmalte em
medidas lineares e de área de exposição radicular. Após o sacrifício, foram feitas
análises medindo a distância da junção cemento-esmalte e crista óssea alveolar e a
área da exposição de superfície dos molares. Os resultados encontrados
demonstraram que o grupo 1 comparado com o grupo 4 demonstrou perda óssea
alveolar em ambas análises. Ambos os métodos demonstraram que a ligadura
induziu a perda óssea significativa no primeiro prazo de sacrifício e que ocorreu
uma estagnação da destruição óssea no decorrer dos sessenta dias. Os autores
concluíram que a aplicação deste modelo é recomendada em curto período
experimental.
3 PROPOSIÇÃO
O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do uso sistêmico de dose
subantimicrobiana de doxiciclina sobre a perda óssea alveolar e a inserção
conjuntiva em periodontite induzida associada à sobrecarga oclusal em ratas.
4 MATERIAL E MÉTODO
4.1 Animais
Para este experimento foram utilizadas 25 ratas (Rattus novergicus, variação
albinus, Wistar) com dez semanas de idade pesando ao redor de 250g, mantidas em
gaiolas, em temperatura ambiente, alimentadas com água e ração ad libitum,
fornecido pelo biotério do Instituto Básico de Biociência da Universidade de Taubaté.
As ratas foram divididas em cinco grupos: grupo 1 (controle), sem ligadura, sem
sobrecarga e sem medicação; grupo 2, com ligadura, sem sobrecarga e sem
medicação; grupo 3, sem ligadura, com sobrecarga e sem medicação; grupo 4 , com
ligadura, com sobrecarga e sem medicação: grupo 5, com ligadura, com sobrecarga
e com medicação (Tabela 1 e Figura 1). Este trabalho foi realizado de acordo com os
princípios éticos para experimentação animal adotados pelo Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal (COBEA) e foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
Animal da UNITAU, protocolo número 010/2005 (Anexo A).
Tabela 1 - Grupos experimentais
Grupos Ligadura
Trauma
Medicação
GC Sem Sem Sem
GL Com Sem Sem
GT Sem Com Sem
GLT Com Com Sem
GLTD Com Com Com
GC- controle, GL- ligadura, GT- trauma, GLT- ligadura e
trauma, GLTD- ligadura, trauma e doxiciclina
Figura 1 - Esquema dos grupos experimentais
Grupo 1(controle), sem ligadura, sem sobrecarga e sem medicação; grupo 2, com ligadura,
sem sobrecarga e sem medicação; grupo 3, sem ligadura, com sobrecarga e sem
medicação; grupo 4, com ligadura, com sobrecarga e sem medicação: grupo 5, com
ligadura, com sobrecarga e com medicação
4.2 Anestesia
Para a inserção de ligadura, os animais foram pesados e anestesiados, com
anestesia geral e relaxante muscular.
A solução anestésica foi composta de cloridrato de xilazina (Anasedan, do
laboratório Vetbrands) com o relaxante muscular com Ketamina base (Dopalen, do
laboratório Vetbrands) como anestésico geral, na proporção de 1: 0,5 ml, utilizando
0,1 ml para cada 100 g de peso do animal (RICARDO, 2002).
Sobrecarga
oclusal
Indução da
Periodontite
2
Doxiciclina
1 Controle
5
4
3
4.3 Indução da periodontite
Os animais foram pesados antes da colocação das ligaduras para determinar
se houve o ganho ou a perda de peso após a inserção da ligadura e para a
quantificação do anestésico geral e relaxante muscular, que foram utilizados para
anestesia. Para a indução da periodontite, os animais receberam a inserção de um
fio de linha de algodão marca corrente, 10, em torno do primeiro molar inferior do
lado direito. A ligadura foi atada no lado mesial mantendo-se subgengival nas faces
distal e lingual e na face vestibular (Figura 2).
A ligadura foi mantida por um prazo de 28 dias. Durante este período os
animais passaram por uma verificação semanal da estabilidade da ligadura dentro
do sulco gengival.
Figura 2 - Instalação da ligadura
4.4 Aplicação da sobrecarga oclusal
Para a aplicação da sobrecarga oclusal sobre os primeiros molares, foi
realizado um desgaste das superfícies oclusais dos segundos e terceiros molares
superiores para a eliminação dos contatos oclusais, sem exposição pulpar. Esta
condição foi mantida nos grupos experimentais números 3, 4 e 5 (Figura 3).
Figura 3 - Desgaste oclusal
4.5 Tratamento
Os animais pertencentes ao grupo 5, receberam doses diárias de 0,14 mg de
doxiciclina na concentração de 0,7 mg/ml, aplicadas por via oral durante o período
de indução da doença periodontal (Figura 4).
Figura 4 - Aplicação de dose subantimicrobiana de Doxiciclina
4.6 Sacrifício
Para o sacrifício, os animais foram anestesiados e decapitados com uma
guilhotina e as mandíbulas foram removidas e mantidas no formol a 10%. As
hemimandíbulas do lado direito foram encaminhadas para análise radiográfica e o
lado esquerdo encaminhadas para análise histológica.
4.7 Análise radiográfica
As peças cirúrgicas foram submetidas à avaliação radiográfica utilizando o
Sistema de imagem Radiográfica intraoral Digital RVG ® (RADIOVISIOGRAPHY
Trophy radiology inc. Marietta / USA), o qual emprega Dispositivos de Carga
Acoplada (sensor CCD) para captura direta das imagens. As tomadas
radiográficas foram realizadas utilizando aparelho de raios x digital Gendex 765DC®
(Gendex, Dentisply, Internacional, USA), com o tempo de exposição 0,08 segundos
com distância focal do sensor de trinta centímetros.
Foram fixados pontos para mensuração do suporte ósseo periodontal. Os
pontos foram colocados na porção mais coronária da cúspide dental distal, na ponta
da crista óssea ou defeito ósseo e no ápice radicular, estes pontos foram
transportados como medidas lineares para mensuração do suporte ósseo
periodontal (SPO) demonstrado na Figura 5 (KLAUSEN; EVANS; SFINTESCU,
1989). O cálculo teve como resultado um valor percentual expresso pelas
proporções entre as medidas obtidas (Figura 6).
C
B
A
C
A
B
Figura 5 -
Análise radiográfica
Figura 6 - Fórmula para cálculo do SOP
4.8 Análise histológica
As peças encaminhadas para o processamento histológico foram
descalcificadas em solução de EDTA 17%, sendo consideradas descalcificadas por
meio do teste de penetração de agulha. As peças descalcificadas foram incluídas em
parafina com a face vestibular voltada para o plano de corte. Foram realizados
97848784744344874ésio-distal nos quais foi avaliada a perda de
inserção conjuntiva na face distal do primeiro molar inferior. Os pontos de referência
considerados para a mensuração da perda de inserção foram a junção esmalte-
cemento e o início da inserção de fibras do ligamento periodontal no cemento
radicular. Sendo assim, toda extensão de cemento sem a inserção de fibras
colágenas foi considerada como área de perda de inserção.
SOP =
AB
AC
x 100
C
A
B
C
A
B
O procedimento de mensuração foi realizado em duplicata e foi feita uma
média entre as medidas para cada animal e posteriormente para cada grupo
experimental. Para a análise histométrica foi utilizado um software de leitura de
imagens, Image Tool versão 2.0, de domínio público (Figura 7).
Figura 7 - Medida Linear
4.9 Análise estatística
Os dados obtidos à partir das avaliações realizadas foram analisados
estatisticamente para as variáveis: ligadura, sobrecarga oclusal e medicamento. Os
valores médios obtidos por grupo experimental foram submetidos à análise de
variância (ANOVA). Quando observadas diferenças estatísticas significativas, estes
dados foram submetidos ao teste de comparação múltipla de Tukey para a
verificação da influência das variáveis sobre os resultados observados. Foi adotado
o nível de significância de 5%.
5 RESULTADOS
5.1 Análise radiográfica
Na análise radiográfica avaliamos o suporte ósseo periodontal (SOP),
Expressado na tabela 2.
Tabela 2 - Estatística descritiva de SOP(%)
Grupos N Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
GC 5 48,64 61,92 55,492 4,8688
GL 5 40,25 51,44 46,738 4,8004
GT 5 55,94 64,03 60,032 3,3774
GLT 5 48,07 54,80 51,698 2,8489
GLTD 5 52,99 63,64 57,766 4,5000
GC (controle), GL (com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD
(com ligadura, trauma e doxiciclina)
Os dados foram submetidos à análise da variância (ANOVA) e como
resultados desta análise observaram-se diferenças estatísticas (p = 0,001).
Demonstrado as diferenças dos grupos pelo método de análise múltiplas
comparações de Tukey Tabela 3.
Tabela 3 - Resultados das comparações múltiplas de Tukey entre os grupos
Grupos
Comparações
p
GC GL
0.025*
GT
0.442
GLT
0.609
GLTD
0.907
GL
GT
0.001*
GLT
0.357
GLTD
0.004*
GT
GLT
0.035*
GLTD
0.908
GLT
GLTD
0.184
GC (controle), GL (com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD
(com ligadura, trauma e doxiciclina)
O grupo controle teve diferença significativa em relação ao grupo ligadura,
provando a indução da doença periodontal. No grupo ligadura apresentou diferenças
com os grupos GT e GLTD, e o grupo GT teve diferença com o grupo GLT entre os
grupos GLT e GLTD não apresentou diferença significativa. Através da análise de
Tukey descrevemos os grupos homogêneos (Tabela 4).
Tabela 4 - Posição dos grupos homogêneos pela análise de Tukey
Grupos Média ± Desvio Padrão (%) Grupos Homogêneos*
GL 46,738 ± 4,8004 A
GLT 51,698 ± 2,8489 A B
GC 55,492 ± 4,8688 B C
GLTD 57,766 ± 4,5000 B C
GT 60,032 ± 3,3774 C
* Letras iguais representam ausência de diferença estatística significativa GC (controle), GL
(com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD (com ligadura, trauma
e doxiciclina)
Valores de SOP plotados no o gráfico (Gráfico 1) descrevem a relação entre
os grupos experimentais.
Gráfico 1 - Representativo de SOP para todos os grupos experimentais
GC
GL
GT
GLT
GLTD
SOP x grupo experimental
0
10
20
30
40
50
60
70
S
O
P
(%)
C
C
C
B
A
B
A
B
5.2 Análise histomorfométrica
A análise histomorfométrica (Tabela 5), expressa medidas lineares da perda
de inserção.
Tabela 5 – Estatística descritiva de PI (mm²)
Grupos N Mínimo Máximo Média
Desvio
Padrão
GC
5
0,04 0,23 0,1163 0,07432
GL
5
0,28 0,55 0,4115 0,09500
GT
5
0,04 0,31 0,1216 0,10922
GLT
5
0,47 0,75 0,5847 0,12118
GLTD
5
0,41 0,67 0,5444 0,12237
GC (controle), GL (com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD
(com ligadura, trauma e doxiciclina)
Temos comparações múltiplas dos grupos na Tabela 6. Sendo p = 0,0001.
Tabela 6 - Resultado de comparações múltiplas de Tukey dos valores médios por grupos
experimentais para perda de inserção
Grupos Comparações
P
GC GL
0.002*
GT
1.000
GLT
0.000*
GLTD
0.000*
GL
GT
0.003*
GLT
0.111
GLTD
0.309
GT
GLT
0.000*
GLTD
0.000*
GLT
GLTD
0.973
GC (controle), GL (com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD
(com ligadura, trauma e doxiciclina)
O grupo controle teve diferença significativa em relação aos grupos GL, GLT
e GLTD, e o grupo GL teve diferença significativa em relação ao grupo GT, e o grupo
GT apresentou diferença significativa com os grupos GL, GLT e GLTD.
Com análise de Tukey podemos demonstrar as diferenças dos grupos (Tabela
7).
Tabela 7 - Grupos homogêneos através da análise de Tukey para perda de inserção
Grupos Média ± Desvio Padrão Grupos Homogêneos*
GC
0.1163 ± 0.07432 A
GT
0.1216 ± 0.10922 A
GL
0.4115 ± 0.09500 B
GLTD
0.5444 ± 0.12237 B
GLT
0.5847 ± 0.12118 B
GC (controle), GL (com ligadura), GT (com trauma), GLT (com ligadura e trauma), GLTD
(com ligadura, trauma e doxiciclina)
Expresso pelo gráfico a perda de inserção nos grupos experimentais (Gráfico
2).
Gráfico 2 - Valores médios de perda de inserção plotados dos grupos experimentais
PI (mm)
Perda de inserção x grupo experimental
GC
GL GT
GLT
GLTD
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
A
A
B
B
B
5.3 Análise histológica descritiva
A análise histológica foi realizada por microscopia óptica, na qual foram
observados cortes que apresentavam fragmento de mandíbula contendo primeiro,
segundo e terceiro molares. Os cortes foram realizados no sentido mésio-distal e
apresentaram características histológicas diferentes. Foram selecionados os
primeiros cortes em que se observou o desaparecimento da raiz mediana do
primeiro molar em que se visualizava a raiz distal deste dente de forma que
permitisse a avaliação da inserção de fibras do ligamento periodontal.
O grupo controle, utilizado como parâmetro de referência em relação aos
outros grupos, apresentou característica de um periodonto saudável, o qual
apresentava a região inter-proximal entre primeiro e segundo molar preenchida com
a papila gengival com formato triangular, revestida por epitélio pavimentoso
estratificado não queratinizado. Nestes cortes o epitélio juncional encontrava-se
posicionado sobre o espaço ocupado pelo esmalte dental e sua porção mais apical
coincidindo com a junção cemento-esmalte. Nestes cortes o cemento radicular
apresentava-se com fibras do ligamento periodontal inseridas em toda a sua
extensão. Na região de bifurcação do primeiro molar observou-se um preenchimento
por tecido ósseo mais compacto e ligamento periodontal com dimensões uniformes
em todo teto da bifurcação. Da mesma forma estas características histológicas
puderam ser observadas no grupo trauma, no teto da bifurcação o tecido ósseo
apresentou superfície irregular com área de reabsorção (Figura 8).
nos grupos GL, GLT e GLTD o espaço interproximal mostrou-se
preenchido por papila gengival com formato côncavo também revestida por epitélio
pavimentoso estratificado não queratinizado. Nestes cortes o observou-se que o
epitélio estava sobre o cemento radicular, em posição apical à união esmalte
cemento, caracterizando a perda de inserção de fibras do ligamento sobre o
cemento nesta região. O tecido conjuntivo sub-epitelial apresentou-se
moderadamente infiltrado por células inflamatórias mononucleadas. Na região de
bifurcação radicular do primeiro molar observou-se um aumento do espaço do
ligamento periodontal no grupo ligadura. No GLT além da perda óssea e do aumento
do espaço periodontal observou-se em alguns cortes presença de epitélio junto ao
teto da bifurcação caracterizando a perda de inserção nesta região. no grupo
GLTD, observou irregularidade no septo ósseo inter-radicular com aumento do
espaço do ligamento, porém não foi observado presença de epitélio (Figura 9).
Figura 8 - Análise dos grupos sem ligadura
A fragmento com três molares inferiores do GC com aumento 25x HE, B vista
interproximal dos 1° e 2° MI do GC, D dentina, OA osso alveolar, JCE união
cemento-esmalte, 1
11
1 fibras transeptais, 1 inserção conjuntiva com aumento com
200x HE; C fragmento com três molares inferiores do GT, aumento com 25x HE; D
vista inter proximal dos 1° e 2° MI do GT, D dentina, JCE união cemento-esmalte, 1
11
1
fibras transeptais, 1 inserção conjuntiva com aumento 200x HE
A
B
C
D
D
D
1
11
1
1
11
1
OA
JCE
JCE
2
22
2
2
22
2
Figura 9 Análise dos grupos com ligadura
A fragmento com três molares inferiores do GL com aumento com 25x HE, B vista
interproximal do 1° e 2° MI do GL; D dentina, 1
11
1 fibras transeptais, E epitélio juncional, OA
osso alveolar, JCE união cemento-esmalte, 2
22
2 inserção conjuntiva com aumento com 200x
HE; C fragmento com três molares inferiores do GLT; D vista interproximal do 1° e 2° MI do
GLT, D dentina, 1
11
1 fibras transeptais, E epitélio juncional, JCE união cemento-esmalte, 2
22
2
inserção conjuntiva com aumento com 200x HE; E fragmento com três molares inferiores do
GLTD; F vista interproximal do 1° e 2° MI do GLTD; D dentina, 1
11
1 fibras transeptais, E
epitélio juncional, OA osso alveolar, JCE união cemento-esmalte, 2
22
2 inserção conjuntiva
com aumento com 200x HE
A
B
D
1
11
1
OA
E
C
D
D
E
1
11
1
E
D
F
E
1
11
1
OA
JCE
JCE
JCE
2
22
2
2
22
2
2
22
2
6 DISCUSSÃO
O presente estudo procurou avaliar o efeito modulatório de dose
subantimicrobiana de doxiciclina no suporte ósseo alveolar e perda de inserção
conjuntiva decorrente da periodontite induzida por ligadura associada à sobrecarga
oclusal em molares de ratas.
O controle de fatores de confusão que ocorre nos estudos em humanos em
relação à doença periodontal pode ser uma indicação importante para o uso de
modelos animais em estudos que avaliam a instalação e a evolução da doença
periodontal bem como, a resposta a procedimentos terapêuticos. Klausen (1991)
comentava a importância de superar as limitações, dificuldades e interferências
destes fatores nos estudos em humanos. Da mesma forma, Benatti (2003) e Nociti
Júnior et al. (2000, 2001) comentaram que a utilização de ratos, quando da
realização de estudos experimentais, pode favorecer avaliação da influência de
determinados fatores de risco sobre a instalação e o agravamento da doença
periodontal.
Dentre as características anátomo fisiológicas dos ratos em relação à
patogenia da doença periodontal, um fator a ser considerado é a continuidade da
erupção dentária e o desgaste oclusal dos molares nestes animais, que ocorre com
o avançar da idade. Sendo assim, o uso de animais com a mesma idade é um
detalhe importante para evitar fatores de confundimento quando estas referências
anatômicas são utilizadas como ferramentas de avaliação. No presente estudo, este
foi um critério adotado e os animais tiveram idade e peso equivalentes em todos os
grupos experimentais.
A indução da periodontite por meio de instalação de uma ligadura tem sido
utilizada em estudos em ratos, por vários autores (GALVÃO et al., 2003;
GASPERSIC et al., 2003; KLAUSEN, 1991; NOCIT JÚNIOR et al., 2001). Nesses
estudos têm sido avaliadas as alterações nos tecidos periodontais tanto por meio
radiográfico (KLAUSEN; EVANS; SFINTESCU, 1989); morfométricos (GASPERSIC
et al., 2003); histomorfométrico (NOCITI JÚNIOR et al., 2001); biologia molecular
(KARIMBUX et al., 1998). Independentemente da metodologia utilizada, estes
autores comprovam em seus estudos, alterações dentre outras, como a reabsorção
óssea alveolar e a perda de inserção conjuntiva (GALVÃO et al., 2003; LU et al.,
1999).
A periodontite induzida em ratos pode ser avaliada pelos métodos
radiográficos, histométrico, histológico e morfométrico. É importante enfatizar que
nenhum dos métodos isoladamente é capaz de abranger todos os aspectos da
doença periodontal e que, dependendo da proposição do estudo, várias
combinações de análise podem ser aplicadas (KLAUSEN, 1991). Desta forma, este
estudo optou por combinar algumas das metodologias citadas acima a fim de avaliar
estes aspectos complementares.
No presente estudo, a periodontite induzida por ligadura também gerou
alterações no SOP, observadas radiograficamente e na perda de inserção,
observadas histologicamente. Este resultado tornou possível a avaliação da
influência da aplicação de um fator de risco e de um procedimento terapêutico sobre
as estruturas periodontais.
A analise radiográfica utilizada neste estudo foi a que identifica o suporte
ósseo periodontal remanescente da raiz distal do primeiro molar (KLAUSEN;
EVANS; SFINTESCU, 1989). Sua vantagem é o fato de ser um dado percentual em
relação ao comprimento do dente, diminuindo assim distorções decorrentes da
dificuldade de padronização da posição das amostras para obtenção das imagens
radiográficas. Por outro lado, ocorre uma dificuldade de identificação exata dos
pontos de referências a serem avaliados sendo necessários que as mensurações
sejam repetidas para a calibração de examinador.
Outro aspecto a ser considerado foi o período experimental. Kuhr et al. (2004)
observou em seu estudo que as alterações teciduais decorrentes da periodontite
induzida podem ser observadas até o décimo quinto dia após a instalação da
ligadura, e que a partir deste prazo, estas alterações se mantiveram ao prazo de
observação de sessenta dias. No presente estudo o prazo de 28 dias de indução foi
suficiente para avaliação da perda óssea nos animais que receberam ligadura.
Porém, este prazo também foi suficiente para a adaptação oclusal dos animais em
que foi realizado o desgaste oclusal dos segundos e terceiros molares superiores
para a criação de sobrecarga oclusal dos primeiros molares inferiores. A partir desta
adaptação e extrusão, a região inter proximal entre o primeiro e segundo molar
inferior apresentou alterações no SOP, caracterizadas pelo acompanhamento da
crista óssea nos animais em que não foi instalada a ligadura.
A utilização de sobrecarga oclusal como fator de risco para doença
periodontal foi o modelo experimental do estudo de Nogueira-Filho et al. (2004). Os
autores avaliaram as alterações na bifurcação de primeiros molares inferiores,
utilizando modelos animais em que a sobrecarga era criada devido ao desgaste
oclusal dos segundos e terceiros molares. Neste estudo, a região avaliada foi a
bifurcação radicular que, mesmo considerando a adaptação oclusal, apresentou
diferenças estatísticas entre os grupos que associaram sobrecarga oclusal a ligadura
e a nicotina. No presente estudo, a área escolhida para avaliação das alterações do
periodonto foi a face distal do primeiro molar inferior e por estar próximo à região de
adaptação oclusal dos dentes extruidos, pode ter sofrido alguma interferência no que
diz respeito à avaliação radiográfica do SOP.
A presença de trauma oclusal como fator de risco para doença periodontal
foi um tema amplamente discutido por Harrel (2003) em revisão de literatura. Nessa
revisão, os autores comentaram que as alterações decorrentes à sobrecarga oclusal
o observadas no periodonto de forma irreversível quando associadas ao
biofilme dental.
Segundo Gaspersic et al. (2003), o agravamento da doença periodontal pode
ser desenvolvido por fatores de risco, do tipo estresse ou trauma, os quais de uma
forma individualizada, não teriam potencial para iniciarem a doença. No presente
estudo, as características observadas no grupo trauma apresentaram-se
equivalentes àquelas observada no grupo controle, tanto nas avaliações do SOP
como na perda de inserção. Em relação à avaliação radiográfica, pôde se observar
que os valores médios de SOP do grupo trauma foram inclusive numericamente
maiores que os do grupo controle. considerando a avaliação histológica, a
principal característica observada foi que os animais que receberam sobrecarga sem
instalação da ligadura não apresentaram perda de inserção significativa quando
comparados aos animais do grupo controle. Esta característica histológica vem
justificar os argumentos de Gaspersic et al., pois, a ausência de perda de inserção
está diretamente associada à ausência de doença periodontal que foram
observada nos animais nos quais foi inserida ligadura.
Quando a associação da presença de ligadura e sobrecarga oclusal foi
comparada com os grupos que apenas receberam ligadura, observou-se que houve
agravamento das alterações. Porém, os valores médios dos referidos grupos quando
submetidos à análise estatística apresentaram-se equivalentes entre si. Esses
resultados podem ser devido ao pequeno número de animais por grupo e à
variabilidade dentro de cada grupo que gerou a ocorrência de um desvio padrão em
relação a médio de cada grupo.
A modulação da resposta do hospedeiro reduzindo as alterações teciduais
decorrentes da doença periodontal foi revisada por Salvi e Lang (2005). Nesta
revisão os autores discutem a habilidade do protocolo terapêutico com a utilização
de dose subantimicrobiana de doxiciclina na modulação da perda óssea por meio
inibidores sintéticos da atividade enzimática de MMP teciduais.
O período de utilização deste medicamento tem sido pesquisado quanto à
ocorrência de bactérias resistentes. Da mesma forma, Preshaw et al. (2004),
discutiram por meio de revista de literatura que a doxiciclina usada em doses
subantimicrobiana e por período prolongado tem sido associada à melhora nos
parâmetros clínicos sem a ocorrência de resistência das bactérias à tetraciclina. Esta
modulação havia sido apresentada por Ashley (1999), num protocolo de utilização
de 12 semanas de terapia com dose subantimicrobiana de doxiciclina associada à
terapia periodontal mecânica com raspagem e alisamento radicular. Da mesma
forma, a modulação da ação enzimática da colagenase sobre a inserção conjuntiva
foi evidenciada por Karimbux et al. (1998). o estudo de Bezerra et al. (2002),
observou em um período curto de administração da dose subantimicrobiana de
doxiciclina, obteve um efeito inibitório da resposta do hospedeiro no periodonto.
No presente estudo a modulação das alterações periodontais decorrentes da
periodontite induzida associada à sobrecarga oclusal não foram evidenciadas tanto
pela análise do SOP como pela avaliação histológica da perda de inserção. Como
observados nos resultados, o valor médio de SOP no grupo que recebeu dose diária
de doxiciclina foi numericamente maior que o grupo sem medicação, porém estes
valores foram estatisticamente equivalentes. Da mesma forma, na avaliação
histológica as características observadas nos animais que receberam doses diárias
de doxiciclina apresentaram diminuição da extensão de cemento sem a inserção de
fibras do ligamento periodontal e ausência de epitélio junto ao teto da bifurcação
radicular nos molares em que foi inserida a ligadura. No entanto, a quantificação
destas alterações quando submetida ao teste estatístico também mostrou valores
médios equivalentes entre os grupos tratados ou não com doxiciclina. Sendo assim,
neste modelo experimental não foi possível a comprovação dos achados da
literatura na verificação da modulação da perda óssea e perda de inserção em
periodontite experimental induzida em ratas e associada ao fator de risco
representado pela sobrecarga oclusal. A utilização deste protocolo com maior
número de animais e com a utilização de ferramentas mais sensíveis como a
biologia molecular para a dosagem de mediadores inflamatórios pode ser um
recurso favorável na verificação destes achados e tema para futuros estudos que
testem à eficácia deste protocolo terapêutico.
7 CONCLUSÃO
A utilização sistêmica de dose subantimicrobiana de doxiciclina não modificou
a perda óssea alveolar e a inserção conjuntiva no periodonto de ratas com
periodontite induzida associada à sobrecarga oclusal. O trauma não agravou a
doença periodontal no grupo com e sem ligadura.
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periodontal diseases. J. Clin. Periodontol., Birminghan, v. 32, p. 108-129, 2005,
(suppl.6).
ANEXO A
Cavallini, Fabiana
A influência de dose subantimicrobiana de doxiciclina sobre a
perda óssea alveolar e a inserção conjuntiva em periodontite
induzida associada à sobrecarga oclusal em ratas / Fabiana
Cavallini. - 2006.
68f. : il.
Dissertação (Mestrado) Universidade de Taubaté,
Departamento de Odontologia, 2006.
Orientação: Profa. Dra. Lucilene Hernandes Ricardo,
Departamento de Odontologia.
1. Dose subantimicrobiana de doxiciclina. 2. Sobrecarga
oclusal. 3. Periodontite experimental. I. Título.
Autorizo cópia total ou parcial desta
obra, apenas para fins de estudo e
pesquisa, sendo expressamente veda-
do qualquer tipo de reprodução para
fins comerciais sem prévio autoriza-
ção específica do autor.
Fabiana Cavallini
Taubaté, junho de 2006.
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