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2.4 - APC 579
A proponente desse APC sugere atividades com o gênero textual, crônica, a fim de
despertar o senso crítico nos alunos.
Título: Um olhar captando o "Cotidiano Imaginário"
Texto: Fatos inverossímeis, narrados a partir de uma notícia, fazem com que os alunos percebam a
fantasia e a ironia, marcas sempre presentes nas crônicas de Scliar.
Na análise da crônica, no entanto, podemos levá-los a concluírem que é no discurso que se denota
(sic) as questões éticas e ideológicas.
Refletir sobre essas marcas linguísticas (sic) sempre presentes, em qualquer texto, é necessário para
que nossos alunos se tornem mais críticos.
A título de exemplificar o que acima foi exposto, segue a notícia que deu origem à crônica, a crônica
e a análise da mesma, feita por mim, podendo o professor questionar os pontos levantados, verificar junto
com seus alunos uma outra leitura possível, e ainda, propor a análise de outras crônicas, previamente
selecionadas. Poderá ser um trabalho bem interessante.
CONFLITO ÉTICO
A doação de um rim aceita por um hospital da cidade de Sheffield, Reino Unido, com a condição de
ser transplantado "apenas para brancos" levantou uma discussão ética no país e fez com que o governo
abrisse uma investigação sobre a discriminação racial na rede de atendimento público. O transplante ocorreu
em julho de 98 no Northern Hospital, mas o caso só foi revelado há dois dias, pela TV britânica BBC. Nem o
nome do doador nem o do receptor foram divulgados. A imposição da condição racial teria sido feita pelos
familiares do morto. O transplante seguiu os passos exigidos pela lei de doação de órgãos do Reino Unido: ao
saber da disponibilidade do rim, os médicos avisaram a Unidade de Transplante da região que, ciente da
restrição, indicou um receptor. O diretor do hospital, Paul Taylor, disse que não ficou sabendo da decisão dos
médicos. "Ainda que os médicos tenham agido em nome da urgência em salvar uma vida, este tipo de
discriminação é inaceitável e não condiz com o altruísmo da doação", disse Vivienne Nathanson, da
comissão de ética da Associação dos Médicos Britânicos. O ministro da Saúde, Frank Dobson, anunciou
ontem o início de investigações oficiais. segundo o Ministério do Interior, se confirmado racismo, os
responsáveis podem ser processados com base na Lei de Relações Raciais, que proíbe no país todo tipo de
discriminação racial. A lei britânica
que regula as doações de órgãos reforça a voluntariedade da doação.
Coloca, porém, restrições inter-raciais sob o argumento de que "em alguns casos pode haver rejeição do
órgão por parte do receptor". Ainda segundo a lei, cabe aos médicos decidir se o transplante pode ser feito ou
não. O que a investigação do Ministério da Saúde quer descobrir é se os médicos estavam observando esse
detalhe ao fazer a restrição ou obedecendo simplesmente a um pedido da família do doador. A falta de órgãos
é um problema crescente no reino Unido. em 98, houve 822 doações. em 99, só 212, até agora. O número de
pessoas que estão aguardando transplante atualmente é de 6.628 pessoas, que representa 5% a mais do que na
mesma época do ano passado. Do total na fila de espera, 13% são de origem asiática, o que fez com que o
governo lançasse, em fevereiro, uma campanha para estimular a doação de órgãos por parte de pessoas dessa
origem.
( Sylvia Colombo, Folha de São Paulo, 08/07/99)