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Por fim ressalta-se a relevância do trabalho desenvolvido em 1997
127
, que
já indicava algumas premissas iniciais, como o profissionalismo marrome o caráter
mercadoria que assumia o esporte (futebol) em Aracaju, a partir deste clube
(Confiança) e que foram basilares para este trabalho.
Na passagem de Ulisses (Odisséia de Homero)
128
, referente ao Canto das
Sereias, encontrei aspectos de uma subversão: Ulisses ordena a seus marinheiros
(comandados) que tapem os ouvidos com cera para não ouvir o canto, pois ao ouvi-
lo, seriam levados pelo encanto sedutor a se jogarem ao mar; quanto a ele (Ulisses)
ordena que o amarrem ao mastro do navio. Com isso, ele, sem cera nos ouvidos,
pode ouvir o canto. Ulisses, ouviu, sentiu, sem com isso, atirar-se ao mar e morrer.
Isto ocorreu porque ele subverteu a lógica. quem diga que ele se encontrava
numa aporia, pois mutilou-se ao estar amarrado e com isso alienou-se igualmente
como seus comandados. No entanto, pela contravenção, ele de ouvir o
apaixonante canto.
Em contrapartida, este trabalho de pesquisa não traz soluções, mas
caminhos para reflexões a partir de análises críticas. Quem sabe não se consiga
“subverter” a lógica que é imposta por uma sociedade administrada/controlada,
como a nossa, sem que, ao mesmo tempo, tenha que se mutilar alienando-se a si e
aos outros e, com isso, propor práticas esportivas sem levar à barbárie. Pois,
“o homem não é um ser acabado, é um ser em processo
[...]. Acredito no ser humano como potencial criativo
(CELSO FURTADO, Conexão Roberto D`Ávila).
127
Ribeiro (1997).
128
Para reflexão e entendimento acerca do esclarecimento, ver: Adorno e Horkheimer “Dialética do
Esclarecimento” – Ulisses ou Mito e Esclarecimento.
como modalidade maior e isto facilitou o “casamento” entre a Fábrica e o Esporte,
entre a comercialização do produto da fábrica (tecido) e o produto espetáculo, a
partir do esporte.
Fica claro que, no início da formão do clube, não havia por parte de
seus idealizadores uma intenção de marketing. No entanto, esta visão passa a
vigorar até porque o Sr. Joaquim Ribeiro era um empresário e, como tal, tinha uma
visão para além das relações existentes em sua época. Suas ões, na constituição
do clube, provam tal empreendimento. Neste aspecto, não resta dúvida de que as
influências advindas de outro clube de futebol de fábrica Bangu foi crucial para
que o Confiança ganhasse a dimensão que ganhou.
***
Neste estudo, encontrei um “casamento” que foi crucial para entender o
nosso objeto de estudo. Trata-se do casamento do esporte (futebol) com a Mídia.
Esse, talvez, tenha sido o grande “achado” da pesquisa, até porque não se tratava
de uma mídia neutra, que apenas relata os fatos nos jornais, mas, sobretudo,
inspirado pela Virtu”
125
. Ou seja, com a criação da Associação dos Cronistas
Esportivos de Sergipe (ACES)
126
, em 1949, que coincidentemente é o mesmo ano
da entrada do Confiança junto à FSD com sua equipe de futebol, há um impulso
grande à espetacularização do esporte, pois essa Instituição passa a cumprir um
papel diferenciado, realizando torneios, divulgando os jogos, agendando o
espetáculo esportivo. Com isso passou a estabelecer tamm um “elo” entre o
público e o seu clube, como também, entre o comércio e o esporte.
O sentido de grande” que o Confiança alcançou foi impulsionado, em
grande medida, por essa Associação (ACES), seja na mídia impressa, ou na mídia
falada. Assim vai se concretizando o casamento” indissociável entre a mídia e o
esporte-espetáculo.
125
Na Filosofia, encontrei vários significados deste termo, mas foi a Maquiavel “o Príncipe” que
recorri pelo seu sentido dado à potência humana, no sentido de mudar os destinos da Fortuna (do
acaso, da sorte, do fortuito).
126
ACES, como já foi visto, passa a ser o “braço direito” do esporte-espetáculo, mas principalmente,
porque era composta de jornalistas que faziam a imprensa diária e que eram vinculados à um Jornal
de grande circulação no Estado.
do setor terciário. Com isso, dificulta-se a percepção da opressão que atinge não
os trabalhadores, mas à população como um todo.
Não se sabe claramente quem é o opressor, nesta sociedade, ou pelo
menos, fica-se confuso, devido ao processo de dominação do capital, da alienação a
que o homem é submetido, do fetichismo da mercadoria (do bem simbólico da
imagem), do espetáculo. Nesse aspecto, parafraseando Jameson (2001),
compreendo que a divisão de classes está posta, talvez, precisamos pensar numa
forma nova de dizer isto e mostrar para a sociedade as contradições deste processo
de dominação.
***
Não escolhi uma teoria simplesmente para analisar um fenômeno, mas
sobretudo, a realidade apresentou-se como tal. Além disso, a vida material dos
sujeitos que compõem esta História” representa a própria teoria. As contradições
com as quais o capitalismo se apresenta, numa sociedade como a nossa são
suficientes para entender um fenômeno como o da criação de um clube social
esportivo que ganha dimensão (quando há interesse de ordem do capital) junto à
população de uma cidade, mas que está “fadado”
124
a desparecer desta mesma
sociedade quando os interesses vão embora. A premissa da mercadoria de que
quando não “valor de uso” ou “valor”, a mercadoria se frusta”, serve para que se
analise este clube nos dias de hoje.
Neste sentido, a partir dessas contradições, foi possível analisar o
Confiança, considerando o processo de mercadorização, ou seja, na condição de
mercadoria. Mercadoria esta que, devido ao seu fetiche, esconde as relações sociais
que se configuram em sua formação. A vida material dos sujeitos que produziram
este bem, parece ser “engolida” pelo fetiche provocado pelo esporte-futebol-
espetáculo.
Portanto, o caráter mercadoria que se materializou, nessa formão, foi
um dos motivos que fizeram com que as práticas do Basquetebol e Voleibol fossem
desaparecendo. Não o clube, mas a própria sociedade havia adotado o futebol
124
Hoje, como a maioria dos clubes de futebol no Nordeste, o Confiança vive financeiramente
“oprimido” pelo capital, pois agora, os interesses são para o esporte tele-espetáculo. Cabe aqui uma
análise mais ampla dessas afirmações.
ideologia que se configurava naquele tempo e que, com o passar dos anos, vai
ganhando outras características com a dimensão provocada pela Indústria Cultural
que esconde dos homens o modo real que as relações sociais foram produzidas. Ou
seja, como explica Chauí (1981), ocultando” a realidade social e principalmente, as
formas sociais de exploração (econômica e política).
O futebol hoje mostra outra cara, mas, guarda no seu interior,
comportamentos de sua origem, como mercadoria. Nos tempos de hoje
presenciamos uma “explosão desses novos comportamentos como explica Betti
(1997, p.13):
a violência e a transgressão às regras no futebol e outras modalidades
resultam de fatores econômicos e políticos característicos do esporte
moderno, que vem experimentando, nas últimas décadas, uma crescente
integração à economia de mercado, ênfase na competição internacional e
aumento de sua importância como fator de afirmação nacional. O futebol é
um grande negócio, e a vitória significa muito lucro, para os atletas e os
investidores.
Interessante perceber como a ideologia, na criação dos mitos, esconde
(fetiche) dos sujeitos, a sua posição efêmera diante de uma sociedade de consumo,
principalmente, no tocante ao esporte que é comercializado. A exigência por
resultados rápidos, por criar/substituir mitos
123
o quanto mais cedo, garante que se
terá retorno financeiro precocemente, causa, de certa forma, portanto, uma
“pressão” sobre os atletas, levando-os às condições de extremo desgaste
emocional. O resultado, o título e a medalha tornam-se mais importantes que o
próprio atleta.
Neste sentido quando analisei o contexto social, político, econômico de
Aracaju, percebi, claramente, a separação das classes. O lado dos pobres, o lado
dos ricos, os trabalhadores e os patrões, os clubes da elite e os da periferia. Estas
separações, que entendo como são causadas pelo capital, aparecem na atualidade,
mascaradas, tendo em vista o processo de automação das indústrias e o aumento
123
Este é o caso de Ronaldinho Gaúcho (hoje no Barcelona da Espanha), Diego e Robinho (ex-
jogadores do Santos) etc. Na Copa São Paulo de Futebol Júnior, realizada no período de janeiro, é
obrigatória a presença dos olheiros e empresários para capturar, o quanto mais cedo, os futuros
talentos. A Revista ISTOÉ de 16/02/2005, traz uma reportagem “FUTEBOL MOLEQUE” em que
fica evidente a captura de futuros craques de bola. No caso específico, um garoto de nove anos de
idade, já é considerado um “diamante bruto”, desperta o interesse de empresários, clubes como
Mancheste United, Porto (p. 52-53).
- para se tornar um produto mais apreciado pelo público
122
consumidor. No caso da
Associação Desportiva Confiança, suas modificações foram determinantes: a
mudança de preferência de modalidade do basquetebol para o futebol; a contratação
dos melhores jogadores”; o espetáculo produzido; a criação de identidade com as
camadas mais pobres da sociedade; tudo isso o levou a constituir-se como um bem
dotado de valor (simbólico) e a fetichizar, não aos apaixonados, mas tamm a
toda a sociedade. Como bom exemplo, vale frisar o episódio ocorrido com o
Confiança em 1955, que após se retirar do Campeonato Oficial do Estado, retornou
devido à força simbólica que já exercia entre as massas.
Parece-me que, ao mesmo tempo em que se cria uma paixão, cria-se
também uma indiferença para com aqueles que constróem, como trabalhadores
diretos, a sua história, pois as reverências e os apelos para sua volta, no exemplo
acima referido, foram para o “patrono”, aquele que detém o poder nas mãos (os
meios), com isso, a relação social que compõe o bem é assassinada. Percebe-se,
que com o passar dos anos e com o gradativo aumento da comercialização do
esporte (futebol) no Estado (SE), a idéia de uma prática moderna, tendo o fair play,
como princípio ético e moral, foi dando lugar a uma disputa competitiva em que vale
tudo. O interesse pelo esporte/futebol muda, radicalmente, a partir das novas
relações da sociedade e, principalmente, pelo caráter mercadoria que esse assume
em Aracaju.
***
Outra consideração a ser feita, refere-se a ideologia. Neste trabalho estive
a todo instante, a ela me referindo, seja diretamente ou de forma implícita. Assim,
quando iniciei a análise (Capítulo III), contextualizando o Estado, a Cidade e,
principalmente, as fábricas têxteis com seus “Patronos”, estava tentando expor que a
história não se factualmente e de forma fragmentada, mas, envolvida em um
contexto político, econômico e social. Pois entendo que não é do nada que surgem
os fenômenos sociais, como a Associação Desportiva Confiança; tudo isso é fruto de
uma construção de homens em seu tempo. Era crucial, então, contextualizar a
122
A autora estabelece como referência a sociedade americana (Estados Unidos), onde é criado o
Basquetebol.
Essas considerações o importantes, pois, nesta sociedade, em que a
meta é explorar a força de trabalho e obrigar o sujeito a vendê-la quando se precisa,
porém a joga fora, como qualquer outra mercadoria descartável e sem valor, quando
não mais se precisa ou perde seu valor de uso, fica evidente que o homem, como ao
longo de sua história, cria subversões para sobreviver. Principalmente, numa região
em que as condições de emprego são escassas, essa subversão, utilizando-se
deste bem da cultura (o esporte/futebol), à procura de sobrevivência, constitui-se um
indicador na produção da existência, pois como explica Chauí (1981, p. 74), “a
história é o real e o real é o movimento incessante pelo qual os homens, em
condições que nem sempre foram escolhidas por eles, instauram um modo de
sociabilidade [...]”.
O fetiche produzido pela mercadoria esporte-espetáculo (que seduz seus
consumidores e produtores; que encobre, pelo poder simbólico, a sua relação social;
que impede, aos homens, de verem as contradições que se materializam em sua
construção - alienação), é condição necessária para que o esporte, enquanto tal,
obtenha êxito. Parafraseando Adorno (2000), é como se os sentidos, os órgãos
humanos, fossem fetichizados. As conquistas, os feitos realizados por este clube
(Associação Desportiva Confiança), enquanto mercadoria, a sua aparente
independência, tudo isso, parece conduzir para um caminho: esconder a relação
social que torna possível a sua existência.
Concordo com Silva (1991), ao explicar que quando se instaura o
processo de mercadorização do esporte, fica difícil vê-lo fora da esfera da circulação
de mercadorias, ou do mercado. Sendo assim logo percebi que o Confiança poderia
gerar boas rendas nos Estádios e sabemos que gerou. Quando não, a sua imagem
refletia a imagem da fábrica, numa relação ambígua em que clube e fábrica se
fundiam e se completavam. Evidentemente não quero ser reducionista a ponto de
ver, neste fenômeno, apenas o aspecto econômico. É claro que o futebol, no Brasil,
revela inúmeras possibilidades de abordagens, como explica Gastaldo (2002), ser
brasileiro pode ser revelado dentro de um estádio de futebol. Mas, vê-se tamm
que a “paixão” pelo futebol é fetichizada na forma de espetáculo/mercadoria.
No trabalho de Silva (1991) há evidências de como o esporte, no caso o
basquetebol, vai modificando suas estruturas regras, técnicas, táticas, gestos etc.,
cultura para o consumo em massa, ou, como explica Thompson (1998), que o bem
seja disponível para uma pluralidade de indivíduos. Portanto, se manifesta a
espetacularização imagética do esporte que é efêmera, a partir da mídia, segundo
uma lógica de mercado.
***
Outra consideração tem a ver com os motivos que levaram a construção
humana/social, deste fenômeno, ou seja: Por que foi possível a formação dessa
equipe e a sua projeção no cenário futebolístico estadual e nacional Por que os
jogadores (melhores) se submetiam a integrar essa equipe Que motivos levaram à
construção, por parte deste clube social, de uma poderosa equipe de futebol Por
que a vontade de ser “grande”
Evidentemente tem-se que pôr as contradições à vista, para que se
elucidem tais indagações. É possível que um dos fatores, ao meu ver, o mais
importante, seja o econômico, principalmente numa relação de trabalho e capital,
numa região em que as condições de emprego eram escassas e que a produção da
existência, para as classes pobres, dependia da “bondade” da classe
economicamente dominante. Neste sentido, “jogar bola” e ao mesmo tempo, garantir
sua existência representava, em certa medida, uma subversão para manter-se vivo.
Abaixo, vemos a Crônica alertando para a necessidade da profissionalização do
futebol, bem como, na fala dos entrevistados, como os jogadores associavam-se à
fábrica e ao clube:
Por Hildebrando de Souza Lima
“[...] Sabemos, [...] nossos jogadores são rapazes pobres e precisados,
porém, conhecemos muito bem os nossos desportistas e como são
capazes de gastar dinheiro com a sonegação de um jogador [...]” (p.3).
Sergipe Jornal. 28/12/1954.
E
97-4
- [...] o sujeito ganhava um salário para trabalhar e jogava era bola.
E
97-1
[...] ele investiu muito em atletas do interior, trouxe para trabalhar
com ele, dando emprego e a parte esportiva a complementação [...].
E
04-1
[...] alguns trabalhavam, trabalhavam “vírgula”, na fábrica. O Dr.
Joaquim teve condições de manter [...].
de emprego e a renda dos brasileiros, bem como a qualidade dos jogadores e a dos
jogos.
E
04-4
[...] porque toda hora você tem jogos pela televisão. O cara marca o
campeonato dia de domingo, aí tem jogo tal, então bota prá sábado, tem
também, aí fica difícil.
Percebe-se que, nos tempos de hoje, a criação dos mitos passa
significamente, pela televisão e com isso, aos nossos olhos aparecem outros mitos
construídos Ronaldinho’s, Romário’s, entre outros que se sobrepõem aos mitos
locais e apagam os do passado. Hoje, poucos se lembram de “Ruiter”, “Debinha”,
“Lipiu”, “Luiz Manoel” e muitos outros, até porque quem controla tem a supremacia
sobre o espetáculo, o “gerente da usina contemporânea do mitos”
120
está no controle
(poder simbólico) da Televisão. A velocidade com que se cria uma “imagem no
esporte, a partir dos meios de comunicação como este é espantosa, pois a
necessidade que o capital tem de criar/recriar os mitos esportivos o quanto mais
precoce possível, é imperativa para sua realização. Parece-me que este processo de
criação assemelha-se a uma linha de montagem com uma eficiente produtividade,
haja vista as escolinhas, divisões de base, super-salas de treinamento, especialistas
de toda a ordem, empresários que cuidam de tudo e ainda,
As recompensas financeiras tornam-se cada vez maiores com a associação
à mídia [...]. A vitória é supervalorizada, e o atleta submete-se a uma
crescente pressão por força de interesses financeiros e políticos. [...], os fins
tornaram-se mais importantes que os meios [...]. Aumenta a violência, a
fraude, o doping [...]
(BETTI, 1997 p.13 ).
A exigência que se impõe a um atleta, hoje, talvez seja humanamente
impossível. Sua composição física é quimicamente modificada. Caminha-se, no
futuro, talvez, para um esporte híbrido
121
meio humano, meio máquina. As TIC´s,
que expressam significativamente as comunicações, se direcionam para as
mudanças, uma melhor performance, do movimento humano.
Percebe-se que é com a Indústria Cultural que se concretiza esse
processo, ou seja, a transformação de tudo em imagem, o processo que banaliza a
120
Bucci e Kehl (2004, p.19).
121
Aqui, apenas como uma “especulação futurista”, haja vista os avanços tecnológicos terem se
configurado em nosso tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história não é sucessão de fatos no tempo,
não é progresso das idéias, mas o modo como
os homens determinados em condições
determinadas criam os meios e as formas de
sua existência social, reproduzem ou
transformam essa existência social que é
econômica, política e cultural (MARILENA
CHAUÍ, 1981 p. 74).
Um trabalho como este, que visa compreender um fenômeno como o
futebol, a formação de um clube de fábrica, que dialoga com sujeitos em seu tempo
histórico, seja, em sua própria narrativa, seja a partir do conteúdo da mídia impressa,
certamente deixará muitas lacunas. Neste sentido, a intenção, a partir de agora, é
estabelecer conexões entre pontos que configuram o objetivo (questões
investigativas), retomando, sob o pano de fundo da base teórico-metodológica, as
análises temáticas que, necessariamente, ultrapassaram meu olhar sobre o
passado, criticando o presente e projetando o futuro.
A primeira consideração a ser feita refere-se à percepção de que Aracaju
parecia estar vivendo uma outra história, principalmente no ano de 1950, quando da
realização da Copa do Mundo de Futebol. Foram poucas as notícias envolvendo a
campanha da Seleção Brasileira. Segundo depoimentos, no dia da final da Copa do
Mundo, houve um amistoso em Aracaju, entre Cotinguiba e Confiança:
E
97-3
[...] tem até uma curiosidade nesse dia, [...] da final da copa em
1950, houve um jogo de futebol aqui, entre Cotinguiba e Confiança, quatro
a zero para o Confiança, na mesma hora, na mesma data. [...] e teve
torcedor, a televisão foi que modificou tudo.
De certa forma, o futebol parecia poder se sustentar: grande público,
estádios cheios, boas rendas e bons jogos. Alguns entrevistados acreditam que foi
com a inserção da televisão que tudo mudou e o blico deixou de comparecer aos
Estádios. É claro que a ela, somam-se a violência, os preços dos ingressos, o nível
12/10/65 Confiança x América (SE) 1.214.600,
00
02/11/65 Sergipe x Santa Cruz (SE)
553.600,0
0
09/11/65 América x Cotinguiba 612.400,0
0
classificação para final
19/04/66 Confiança x Sergipe 2.548.000,
00
(Renda excepcional)
03/06/66 Sergipe x Estanciano (SE)
321.000,0
0
Campeonato Sergipano
04/06/66 Cotinguiba x América (SE)
255.000,0
0
Campeonato Sergipano
07/06/66 Confiança x Sergipe 1.253.000,
00
Campeonato Sergipano
14/06/66 Confiança x Cotinguiiba 910.000,0
0
Campeonato Sergipano
21/06/66 Confiança x América (SE) 757.300,0
0
Campeonato Sergipano
Fonte: Jornais impressos conforme Anexo II, desta Dissertação
perdeu para Pelé. Primeiro lugar foi Pelé [...] que era imbatível naquela
época, em segundo, Ruiter.
E
97-2
[...] Considerado um craque excepcional, na taça do Brasil ele
competiu com Pelé [...]. Chegou a ser o vice artilheiro.
E
97-6
– [...] o atleta Ruiter, foi o artilheiro, fazendo mais gol do que Pelé [...].
Quadro nº 7 rendas de alguns jogos no período de 60 a 69
05/04/60 Confiança x Santa Cruz (SE) 46.960,00 Título do Estadual de 59
28/03/61 Confiança x Santa Cruz (SE) 81.650,00 Ref. Ao campeonato de 60
28/03/61 Sergipe x Vasco 8.855,00
04/04/61 Outros jogos 2.000,00
09/05/61 Sergipe x Santa Cruz (SE) 51.940,00 1º jogo das finais
18/05/61 Sergipe x Santa Cruz (SE) 243.200,00 Último jogo das finais
03/01/63 Confiança x Sergipe 122.880,00 Maior renda camp. Sergipano 62
30/03/63 Confiança x Sergipe 180.020,00 Campeonato de 62
01/05/63 Confiança x Sergipe 272.672,00 Recorde do campeonato de 62
28/05/63 Confiança x Vasco (SE) 278.310,00 Finais do campeonato de 62
05/06/63 Confiança x Vasco (SE) 333.510,00 Finais do Campeonato de 62
20/11/63 Confiança x Sergipe 450.150,00 Campeonato de 63 – recorde
28/01/64 Confiança x Sergipe 465.100,00 Campeonato de 63 – recorde
31/03/64 Confiança x Cotinguiba 470.100,00 Campeonato de 63 – recorde
14/04/64 Confiança x Sergipe 907.450,00 1º jogo final de 63 – Recorde
21/04/64 Confiança x Sergipe 930.300,0
0
jogo final de 63
Recorde
05/05/64 Confiança x Sergipe 956.250,0
0
jogo final de 63
Recorde
12/05/64 Confiança x Sergipe 1.096.300,
00
Último jogo (finais) 63
Recorde
18/08/65 Confiança x Sergipe 1.680.000,
00
Campeonato sergipano
25/05/65 Própria x América (SE) 390.000,0
0
Clássico da cidade de
Própria-SE
25/05/65 Confiança x Olímpico 940.000,0
0
05/10/65 Confiança x Cotinguiba 1.179.200,
00
Nesta “expansão” do Confiança, vários jogadores se destacaram e foram
pretendidos (“exportados”) por equipes da Região Centro-Sul, mas um entre tantos,
merece atenção: Ruiter. Este jogador, representava para o Confiança o que hoje
representa um Ronaldinho Gaúcho para o Barcelona. Sua trajetória foi brilhante e
com destaque internacional, um vez que, fora jogar na França, na equipe do
Bordeaux. Fora artilheiro da Taça do Brasil ao lado de Pelé. É reconhecidamente, o
“grande” nome do Confiança neste período (60 a 64). A sua presença no jogo, após
ser fetichizado como ídolo da equipe, era sinônimo de vitória, de espetáculo e de
gols e tamm de polêmica, como foi o caso do jogo decisivo contra a equipe do
Ceará, na Taça Brasil que já relatamos. Destaca-se aqui apenas alguns
depoimentos dos entrevistados e o período de sua negociação, pois, cristaliza-se a
“mercadoria valiosa” e o seu fetiche.
– Ticarlos e Ruiter Despedem-se do Sensacional “Derby
“[...] custando os mesmos a soma de 6 milhões e 500 mil cruzeiros.
[...] luvas de 400 mil cruzeiros e vencimentos livres de 80 mil cruzeiros [...].
Quanto ao dianteiro pernambucano (Ruiter, grifo meu), terá 500 mil de
luvas e 100 mil livre e ainda estudo gratuito”. Gazeta de Sergipe.
16/09/1964. (p.3).
- ESPORTE EM NOTÍCIA – “Milhões”
[...] Rubens Chaves declarou que marcará uma reunião do Conselho
Proletário a fim de ser discutida a fórmula de empregar os milhões
recebidos com as vendas de Ticarlos e Ruiter e ainda os que surgirão com
a venda de Jurandir”. Gazeta de Sergipe. 19/09/1964. (p. 5).
– Ruiter Vendido ao Futebol Europeu
“O atacante Ruiter que em nossa cidade defendeu a equipe da
A.D.Confiança acaba de ser negociado ao futebol europeu. O craque foi
negociado [...] ao BORDEAUX da França, pela quantia de 25 mil dólares,
Correspondendo em 55 milhões de Cruzeiros. Gazeta de Sergipe.
28/10/1966.
E
97-3
- [...] o Confiança virou o jogo, Ruiter fez 3 gols [...] o locutor disse
assim, é eu avisei que esse jogador era “garapeiro” [...], quer dizer
oportunista. Ele fez três gols quando o Confiança ganhou de 4 a 2. [...]
pela Copa Brasil, naquele tempo chamava Taça Brasil. Primeiro jogo aqui
no estádio de Aracaju, eu me lembro bem [...], antes do jogo você
conversava com os colegas de imprensa, [...] você notou o Confiança, tem
um artilheiro, [...] da Copa do Brasil, da Taça do Brasil do ano passado,
dúvida: os outros pararam mais (sic) o Confiança prossegue [...]
(grifo meu)” (p.5). Gazeta de Sergipe. 31/05/1964.
Inegavelmente, o Confiança tornou-se expressão hegemônica do futebol
sergipano e os anos que se seguiram ratificaram sua posição. Destaca-se,
conforme Quadro 7, a sua relação com a renda e percebe-se a diferenciação
entre seus jogos e o das outras equipes: suas rendas eram sempre maiores. Fica
evidente, que isso se deu pelo posicionamento profissional que sempre existiu,
desde sua criação, na formação de suas equipes. O papel de um empresário,
capitalista, patrono, com uma visão diferenciada aos demais clubes no Estado de
Sergipe, proporcionou esta desenvoltura. Sem contar e, principalmente, o apoio da
Fábrica de Tecidos. E assim, o clube ia sendo administrado, como se fosse a própria
fábrica.
– Campeonato Pegará Fogo Amanhã - O Super Clássico de Amanhã
“Denominar-se ao sensacional Confiança x Sergipe de super-cssico,
não será evidentemente, superestimar [...]. Para sermos francos,
Confiança x Sergipe [...]. Pela posição que atingiu [...] será super-clássico
sempre. Uma espécie de Vasco x Flamengo no Rio [...].Ao contrário dos
demais jogos, Sergipe x Confiança, é um embate onde as torcidas
prefeririam perder os pontos, do que perder o jogo [...]. O resto, é
prestigiar ao super-clássico”. Gazeta de Sergipe. 15/05/1965.
(p.5).
– Fracasso de Ruiter e Beto Resultou na Queda do Confiança.
Meia-cancha
“A campanha promocional que o Confiança vem fazendo, além
fronteiras, em benefício do futebol sergipano, é de um valor inestimável
para o progresso deste. [...] Sergipe (o Estado, grifo meu), é um ilustre
desconhecido, que somente após a primeira participação do Confiança na
Taça Brasil, passou a ter alguns olhares voltados a si, como que surpresa
pela espécie de futebol que aqui se joga! A campanha do Confiança na V
Taça Brasil, revelou pelo menos ao nordeste, fatos então desconhecidos,
até mesmo para nós mesmos aqui de Sergipe. Mostrou que o futebol
sergipano não é tecnicamente inferior [...].As trajetórias do Confiança na V
e VI Taça Brasil, mostra de quanto é capaz [...]. E é um exemplo a ser
seguido [...]”.Gazeta de Sergipe. 13/08/1964. (p. 5).
– Ruite Afirma: Confiança é Cartaz do Nordeste
“[...] o Confiança é um clube de elevado prestígio por aquelas bandas
[...]”.Gazeta de Sergipe. 10/10/1964. (p. 4). (Obs: Da Paraíba Ruiter
(agora, ex-jogador do Confiança) informa que o Estado está prestigiado no
Nordeste, com o Confiança).
resolvida, mesmo até, a pagar aos seus atletas. Sendo assim, será o
primeiro clube de nossa capital, a adotar o não-amadorismo.
Parabéns, CONFIANÇA, que esta idéia não entre no rol do
esquecimento: vamos pra frente, que o esporte sergipano precisa
(grifo meu). Correio de Aracaju. 19/11/1959.
A partir de 1960 até 1963/64, com o profissionalismo, como já foi exposto,
o Confiança organiza uma das melhores equipes do futebol sergipano (contratação
de jogadores, preparador físico, médico, técnicos, dirigentes). Pela primeira vez na
história do futebol sergipano uma equipe de futebol ganha dimensões para além de
suas fronteiras territoriais. Torna-se Bi-campeão sergipano em 1962/3 e na Taça
Brasil, foi a melhor representação de uma equipe de futebol do Estado.
- CONFIANÇA É CARTAZ
“O Confiança desfruta atualmente de muito prestígio no cenário
futebolístico nordestino [...]” (p.5). Correio de Aracaju. 11/10/1963.
– Meia-Cancha
“Ainda com o returno classificatório em fase de conclusão, já se nota
na Associação Desportiva Confiança, as mesmas características
apresentadas na brilhante campanha de 1962. [...], O Confiança repetiu
o certame anterior, conquistando a fase de classificação [...]. E é na forma,
segura com que se apresentou no período de classificação [...]. Este
panorama pode entretanto vir a metamorfosear-se com a subida de
produção de um ou mais dos quadros que participarão da fase final. Tal
não ocorrendo, o Bi-campeonato proletário seponto pacífico, pos (sic) é
o Confiança detentor de meios para tanto. Por enquanto é apenas o
favorito [...]” (p.7). Gazeta de Sergipe. 14/02/1964.
– Meia-Cancha
“O tempo passa, e os clubes citadinos continuaram sem qualquer
movimentação que os levem a renovação das suas equipes profissionais
[...]. E o que mostrarão a esse blico? Os mesmos plantéis de rios
anos atrás, sem nada de novo que possa ser observado. Voltamos a
afirmar [...] que futebol profissional requer possibilidade financeiras, não
sendo tão fácil a qualquer clube realizar boas contratações. O que não é
verdade menor entretanto, é que ao torcedor não interessa isto. E paga e
quer ver recompensada plenamente a importância que dispendeu. [...]
agrada-lhe ver novos jogadores em seu clube [...].Esta história, de ver
todos os anos as mesmas figuras, vestindo as mesmas camisas, entedia e
satura o torcedor [...].Mas aqui está o que poderá parecer um
contraste: justamente o Confiança que além de Bi-Campeão, possui o
maior esquadrão do atual futebol sergipano, é que pensa em melhor
o seu plantel, contratando vários “cobras” para o seu “butantã”. Não
“O mundo esportivo citadino já está começando a agitar-se com a vinda à
nossa capital da equipe do Bonsucesso do Rio de Janeiro [...] com
Associação Desportiva Confiança, marcando com chave de ouro a
reentrée dos proletários nos quadros vigentes da Federação Sergipana de
Desportos [...]”.Correio de Aracaju. 16/02/1957.
– A Batalha Bonsucesso x Confiança. Gazeta Socialista. 16/02/1957.
re-entrée do Confiança à Federação
– Confiança 3 x Bonsucesso 1
“Depois de perseguir durante mais de 30 anos o enorme tabu de não
vencer um clube carioca, finalmente que o football sergipano vibrou
feliz com o feito da Associação Desportiva Confiança [...] ficará para
sempre na história do football entre nós 17 de fevereiro de 1957
como a data em que, os grilhões da sorte foram rebentados no
espetacular feito do Confiança [...] poder desse clube magnífico que
é sem dúvida o Confiança. [...] foi o Confiança senhor absoluto do
gramado [...]. Negar méritos a vitória do Confiança é deslustrar a
página mais bonita dentro do football sergipano [...]. Foi realmente
uma tarde magnífica, e dígna realmente do grande público a assisti-
la. Debaixo do espoucar (sic) dos foguetes. Ouvindo aquele vozerio
tremendo a lhe incentivar, o Confiança teve no 1 jogador o
torcedor um forte fator a lhe empurrar para o triunfo” (grifo meu).
(p.3). Gazeta Socialista. 20/02/1957.
– Confiança e Náutico do Recife. Correio de Aracaju. 06/04/1957.
(Obs: refere-se ao Confiança, inegavelmente o melhor conjunto do futebol
sergipano).
- O Confiança sagra-se campeão do torneio início. Correio de
Aracaju.15/04/1957.
Portanto, a partir de 1957, o Confiança inicia mais um momento para se
tornar hegemônico que acontece com a profissionalização em 1960, até 1964. Em
1959, sagra-se campeão da cidade, mas perde o título absoluto. Este é um ano
muito significativo no tocante à profissionalização. Neste sentido, o Confiança que
sempre teve o perfil profissional, prepara-se fortemente, para nova etapa do futebol
sergipano. Uma rie de amistosos é realizada visando preparar sua equipe e ao
mesmo tempo, manter o espírito do espetáculo.
– O Confiança mudará sua linha de Ataque
“Comenta-se que a direção da A.D.CONFIAA, está estudando, um
meio para mudar a sua linha de ataque, pois acha que este ano os
frentistas do quadro operário não produziram como deviam, e está
e nada dá certo, porque o dedo destruidor está ali, e tem uma
preocupação, observar quando aparece um elemento de outro clube que
tenha “pinta de jogador”, para buscá-lo, custe o que custar, brigando,
incompatibilizando uns com os outros, para no fim, não ter um quadro que
possa apresentar ao público. E de fato uma peregrinação horrível esta do
CONFIANÇA. Entretanto, para o contento geral, surge o PALESTRA, um
quadro pequeno, de gente humilde, sem dinheiro e sem haveres, mas, que
tem uma rapaziada forte, sadia, sem máscara e sem ambição. Foi a
cancha enfrentar o grande”. Sabia que o massacre era impiedoso[...].
Correio de Aracaju. 21/07/1953.
– “Venceu com grande autoridade o onze do Confiança”
O JOGO [...] contrariando a opinião dos “contras” a imprensa, na
maioria da vezes levanta a moral de qualquer iniciativa, empreendimento
seja qual for a sua origem e procedência. O Dr. CONFIANÇA [...] desta
vez o CONFIANÇA se apresentou muito bem. Correio de Aracaju.
18/08/1953.
A Soberba atuação do “Confiança” empolgou o público esportivo da
cidade Domingo passado.
Por Souza Lima:
“Sempre, agimos com justiça [...] criticando merecidamente [...] e louvando
do mesmo modo [...] o CONFIANÇA, que vinha sofrendo durante as
nossas críticas [...] entusiasmou todo público presente ao “Estádio de
Aracaju” [...]. De muito que não assistimos tão belo espetáculo, e o
público se sentia cansado de tanto jogo ruim [...]. Na tarde de Domingo,
lembramos mais uma vez a bonita figura do CONFIANÇA ao enfrentar a
equipe do MADUREIRA, do Rio de Janeiro [...]”.Correio de Aracaju.
09/10/1953.
Em 1954, o Confiança sagra-se campeão e tinha a pretensão de ser bi-
campeão em 1955, que, no cenário esportivo e político local, constituía-se em um
ano muito importante, pois, tratava-se do aniversário (centenário) da cidade
(Aracaju). Como foi visto, reforça sua equipe e prepara-se para ser campeão;
inaugura seu Estádio e começa sua jornada imbatível. No entanto, conforme o
episódio das finais de 1955, desliga-se da Federação e retorna no final de 1957, de
forma espetacular. Destaque para o amistoso com a equipe do Bonsucesso do Rio
de Janeiro que representa um dos grandes acontecimentos histórico em sua vida e
para o futebol sergipano. O Confiança retornava ao futebol sergipano como “estrela”
e ainda, aclamado por todos:
– Bonsucesso x Confiança a atração de Domingo
grande equipe, principalmente, colocando em dúvida os princípios éticos da
realização desse feito. Parece-me que depois de sua estréia” e conseqüentemente
sua ratificação como uma das melhores equipes do Estado, o Confiança não podia
mais fraquejar. Deveria sempre estar vencendo e convencendo.
– “Desta vez quem estar(sic) se acabando é o Confiança”
“O quadro do CONFIANÇA é incontestavelmente, uma incógnita. [...],
existe um dedo destruidor [...]. Mas, o que nos levanta suspeitas, as mais
coerentes, embora, e de ter o CONFIANÇA ultimamente caído de maneira
drástica, absurda e que não se justifica pelo plantel ora existente. Tudo
isso, porém, tem um fundo lógico. Todos sabemos que o grêmio da zona
norte da cidade é o único que pode oferecer vantagens no sentido melhor
possuir um quadro valente. Com esses fatores favoráveis, qual seja,
colocação para os jogadores, facilidades em bichos, pela fartura de
recursos, criou-se um choque de ambição entre si e era natural que assim
procedesse, e de igual modo o interesse despertado surgiria
ressentimentos no seio dos atletas e aqueles mais aptos nos segredos do
“association”, por certo, teria o seu logar(sic) no onze e daí a formação de
um potente quadro, capaz de representar o nosso Estado, todas as vezes
e logares (sic) que se fizerem necessário. Isso é o que pensamos.
Entretanto, permita-nos que diga, às bolas estão totalmente invertidas, o
lado positivo para o negativo, pois essa história de querer acabar com os
outros, termina quase sempre, acabando com sigo mesmo. O dispêndio
com a aquisição de elementos não está resolvendo. Basta dizer que a
produção da equipe nunca mais chegou a convencer de maneira plena, ao
público, e, pensamos nós, aos seus dirigentes também. Difícil, muito difícil,
o CONFIANÇA repetir aquela soberba atuação, quando enfrentou em
nosso Estádio” o esquadrão do MADUREIRA, do Rio de Janeiro, que
deixou todo nosso público entusiasmado e orgulhoso, por ter um quadro
que bem poderia ser o máximo para todos os efeitos. Daí, para , o
CONFIANÇA começou a tropeçar, não definiu-se e está se acabando aos
poucos, como se acaba todo homem ambicioso que deseja açambarcar
tudo e no fim volta a estaca zero, sem nada, perdendo o seu tempo,
dinheiro, ficando zangado com todos, como se estes fossem culpados dos
seus erros e presunção, o que é muito pior. Como dissemos, o
CONFIANÇA, bem poderia ser um quadro de valor respeitável, de boa
aparência, criando seus próprios valores, como fazem os outros, sem
cometer erros condenáveis de avançar nos elementos alheios numa
política desigual a força do metal. Se bem que todos têm os seus próprios
interesses, mas, não é com a pretenção (sic) do potencialismo de má
que se vence todas as batalhas nem se transpõe todos os obstáculos. A
verdade nua e crua é essa que estamos vivendo. E assim vai o
CONFIANÇA marchando a-ré, com os ventos soprando ao contrário e a
sua nave, balançando ao sabor das ondas enfurecidas, capaz de destruí-
lo, pois está parecendo que até a estrutura desapareceu. Enquanto isso,
nos bastidores a panela está fervendo, esperando uma vítima que se
disponha a queimar. Entra diretor, sai técnico; contrata-se novo preparador
Registramos com a maior satisfação que afinal conseguimos ver o quadro
do Bairro Industrial [...]”.Sergipe Jornal. 05/12/1951.
A A. D. CONFIANÇA sagrou-se campeão absoluto do Estado do ano de
1951 – derrotado espetacularmente a equipe do Passagem 7 x 1
Por Souza Lima:
“A atuação do onze do CONFIANÇA [...] deu-nos a impressão que
estávamos assistindo [...] a repetição da exibição do clássico Madureira x
Confiança [...]. O CONFIANÇA contentou o público com uma exibição
convincente [...]”.Correio de Aracaju. 10/12/1951.
Portanto, foi exposto uma síntese que marca ou configura a Associação
Desportiva Confiança, como uma equipe que “Já Nasceu Grande”. Principalmente,
por enfrentar as grandes equipes do Estado e vencê-las, todas.
Em 1952, realiza várias contratações e vários amistosos entre equipes
locais e interestaduais. Esteve a um passo do Bi-campeonato, mas, perde e afasta-
se das finais. Neste ano, parece-me que o Confiança após a conquista do título
1951 – e após ratificar sua hegemonia, “relaxa” o que gerou várias críticas da
crônica esportiva. Agora, a Crônica Esportiva, pretensamente em nome da
sociedade, acostumada a vê-lo espetacularmente e ganhando, aumenta a cobrança
sobre suas atuações.
– O CONFIANÇA foi um quadro acéfalo na peja de Sábado à noite
“O blico esportivo continua numa incógnita: se deve ou não acreditar
no quadro do CONFIANÇA [...]. O CONFIANÇA, continua mentindo ao
público esportivo, fazendo-se passa por um grande quadro, quando na
realidade não é. Isso dizemos sem receio de controrsias [...]. A verdade
é que, o CONFIANÇA tem uma coleção de jogadores, verdadeiros valetes
de pau, que apesar de serem figuras bonitas, com gravações etc., o
consegue armar um quadro que inspira o seu nome” no conceito do
público esportivo da cidade [...]”.Correio de Aracaju. 15/07/1952. (Obs: o
Jogo foi empate 1 x 1).
Confirmando o seu desacerto e a falta de orientação técnica, o
Confiança perdeu o prélio de Domingo à tarde
“[...] Se o alto comando do CONFIANÇA não tomar sérias providências,
teremos, em dias que o estão muito longe, uma deblacle total da
equipe, perdendo o nosso futebol[...]”Correio de Aracaju. 23/07/1952.
A partir desse quadro, em 1953 chama-me a atenção uma matéria escrita
por Souza Lima, que expõe uma crítica à postura do Confiança em formar sua
“Os meios esportivos da cidade se encontram agitados, com a realização
Sábado à noite [...], do clássico mero um, Olímpico x Confiança [...].
Esse encontro [...] muito está sendo aguardado com ansiedade [...], e
ainda por serem considerados os melhores quadros da cidade
[...]”.Correio de Aracaju. 27/09/1951.
“Confirmado as nossas previsões veiculadas nestas colunas [...] de que o
grande árbitro pernambucano Argeniro Félix (Sherlock), apitará o clássico
número um da cidade [...]”. Correio de Aracaju. 29/09/1951.
Reconquistou o Confiança a posição privilegiada de líder do certame
oficial – pelo escore mínimo, foi abatido o esquadrão do Olímpico
Por Souza Lima:
“Arbitragem boa de Sherlock Recode de bilheteria Antes de tudo,
temos que louvar a conduta do nosso público esportivo [...] é de ter
prestigiado o clássico número um da cidade [...]. De fato, assistimos uma
grande exibição [...]”.Correio de Aracaju. 30/09/1951.
Campeão o Confiança justa e merecida a sua vitória o Vasco fez o
que poude (sic). Correio de Aracaju. 29/10/1951.
A. D. CONFIANÇA conquistou o título de campeão da cidade do ano de
1951. Correio de Aracaju. 31/10/1951.
Por Souza Lima:
“[...] A campanha terminada agora pelos proletários, queiram ou o,
merece ser olhada como uma prova indiscutível de que seu esquadrão é o
melhor atualmente de nossas canchas [...], poderá representar muito bem
o nome esportivo de Sergipe, em além das fronteiras. [...] a vitória do
CONFIANÇA, foi produto do valor da sua equipe [...]. Um brilhante feito,
aliado a grande campanha que encetaram no campeonato [...]”.
(Obs: Campeão antecipado antes da última rodada. O encerramento deu-
se em 11/11/1951).
Primeira partida da série melhor de três pelo título absoluto. Confiança x
Passagem. Correio de Aracaju. 21/11/1951.
– Empatado o Campeonato Absoluto. Sergipe Jornal. 27/11/1951.
(Obs: Na melhor de três a primeira partida entre Confiança x Passagem,
foi 2 a 2).
– Domingo o 2º Jogo Confiança x Passagem. Sergipe Jornal. 30/11/1951.
Espera o público que o Confiança reapareça em boa forma, contando
com os PLAYRS Sandoval e Dunga “. Sergipe Jornal. 01/12/1951. (p.3)
– Arrazado o Passagem.
- Vitória do Confiança por Sete a Um
“[...] Desta Feita, porém, o espectador eterno sofredor saiu satisfeito,
[...] o Confiança, que fez uma boa exibição [...]. Agradou a sua exibição[...].
– Espetáculo empolgante o clássico “Sergipe x Confiança”.
“Prélio disputadíssimo que culminou com a vitória do Confiança pelo
placar de 4 x 3 [...]. Récord de bilheterias – Cr$ 7.464,00
Correio de Aracaju. 03/09/1951. (Obs: Na crônica de Souza Lima,
ressalta-se: relembrar os bons clássicos e casa cheia).
Em junho de 1951, Confiança impondo sua força sobre o adversário
Cotinguiba (clube da zona sul, da elite) faz com que este, abandone o campo de
futebol antes do jogo acabar. Embora pareça uma informação sem sentido que
aparece nas páginas dos jornais, vale ressaltar, no entanto, que se trata do mesmo
clube (Cotinguiba), vendo o poderio do Industrial do Sr. Thales Ferraz, reuniu
esforços para impedir o avanço daquela equipe de futebol em 1919, como fora
relatado. O Confiança passa a simbolizar o a sua força, mas, principalmente,
que é um clube forte e de periferia, ou seja, da classe mais pobre da cidade. Aqui,
evidencia-se uma contra-hegemonia frente a elite do futebol sergipano/Aracaju. Pois,
agora, um clube de operários passava a dominar e a assustar, este cenário da
cidade, como um espectro.
– Não terminou no tempo regulamentar o clássico Confiança e Cotinguiba
“Domingo último, por ocasião da realização do clássico [...], deu-se um
fato bastante curioso [...], o veterano COTINGUIBA, uma das restantes
tradições do nosso futebol [...] sem uma justificação, siquer(sic), sem
razão de ser, numa deselegância esportiva sem limites [...]. O
COTINGUIBA abandonou a cancha quando estava perdendo por 3x2[...]
faltava ainda quatro minutos e meio”. Correio de Aracaju. s/d/06/1951.
Para garantir que sua equipe chegasse às finais do campeonato sem ser
prejudicada, o Sr. Joaquim Ribeiro, dono do Clube, manda buscar um árbitro da
Bahia, de renome nacional, com despesas todas pagas por ele e mais a quantia de
Cr$ 2.000,00, que receberia o árbitro para apitar o jogo semi-final do campeonato.
Assim, o Confiança ratifica sua posição e sagra-se campeão antecipado, na
penúltima rodada, do campeonato de Aracaju
119
e em 10/12/51, sagra-se campeão
absoluto do Estado.
– Grande expectativa em torno do maior encontro do campeonato de
1951: Confiança versus Olímpico
119
Até 1959, o Campeonato Sergipano era dividido em duas etapas, o campeão da capital decidia o
título absoluto, contra o campeão do interior.
- “O confiança arrazou o Sergipe, sete tentos contra zero”. Correio de
Aracaju 04/12/1950.
– “O Confiança desabafou no Sergipe escore arranha céu 7 x 0.
Correio de Aracaju 05/12/1950.
Foram Selecionados esses resultados, para identificar o poderio” diante
das equipes adversárias, pois o Sergipe já se constituía numa das grandes equipes
do Estado e tradicionalmente, das mais antigas.
No ano de 1951 ratifica sua posição de “grande” no Estado. Já no início do
ano sagra-se campeão do Torneio Início do Campeonato Oficial do Estado, evento
este, como vimos, promovido pela ACES.
– O “Confiança” sagrou-se campeão do torneio início de 1951. Correio
de Aracaju. 26/03/1951.
Continua realizando uma série de amistosos e estabelecendo a quebra de
recordes em público e renda. Chama à atenção um amistoso realizado em
28/04/1951 contra a equipe do Madureira do Rio de Janeiro. Neste jogo revela para
a sociedade sergipana que seu potencial poderia ir além das fronteiras do Estado.
Esse jogo serviu de parâmetro à crônica esportiva local para fazer referência a
outras equipes, bem como o Confiança, quando uma equipe jogava “bem ou “mal”.
Vejamos, abaixo, a partir do jogo contra a equipe do Rio de Janeiro e depois,
caracterizando-se como atrativo de público e renda.
Empolgou o clássico “Madureira” e Confiança Triunfo 3x2 para os
cariocas – grande exibição dos dois quadros.
“É bem possível encontrar-se alguém que não gostou do clássico
Madureira e Confiança. Seria mesmo cometer uma grande injustiça se não
dissermos que o noturno de terça-feira agradou plenamente. E de um
modo geral surpreendeu até aqueles que nunca acreditaram no onze do
Bairro Industrial [...]. O Confiança pisou na cancha para fazer uma exibição
inspirada [...]. Um espetáculo maravilhoso, podemos qualificar [...]”.
Correio de Aracaju. 28/04/1951.
Recorde de Público Confiança e Olímpico Renda: Cr$ 12.990,00.
Gazeta Socialista. 06/10/1951.
– Luta de gigantes o clássico Confiança e Olímpico [...]
“Constituiu um espetáculo magnífico o clássico Confiança x Olímpico[...]”
Renda: “Um recorde de bilheterias em jogos do presente campeonato: Cr$
6.864,00 [...]”. Correio de Aracaju. 19/06/1951.
Parafraseando Thompson (1998), o importante era que esse “bem da
cultura” estivesse disponível para uma “pluralidade” de indivíduos (potenciais e reais
consumidores).
3.5 O Confiança na mídia: considerações históricas entre 1949 e 1966
Algumas considerações são necessárias no entendimento sobre a história
do Confiança. Como vimos, foram caracterizados, do ponto de vista histórico, três
momentos da dimensão de sua formação: 1º) entre 1936 e 1949, quando se cria o
Clube para as práticas de Vôlei e Basquete e que o torna vencedor em diversos
torneios amadores da época; 2º) a partir da criação da equipe de futebol (1948/9 até
1955) e sua inserção na FSD, para participar do campeonato oficial e; 3º) a partir de
1957 a 1964, quando o Confiança, após desligamento da Federação (1956), retorna
no final de 1957, e a partir do profissionalismo (oficial em 1960), monta uma das
maiores equipes do futebol sergipano, com uma dimensão interestadual.
Neste sentido, a idéia agora é continuar a narrativa histórica a partir da
mídia local, envolvendo aspectos imprescindíveis à pesquisa e que merecem
reflexão fazendo, assim, um painel de sua presença na mídia, ou seja, o resgate
desses anos.
Em 1949, o Confiança marca sua estréia”, no cenário do futebol
sergipano. A equipe formada, reconhecidamente, como um grande plantel, ou
melhor, como a mídia divulga, “forte conjunto”, no Estado de Sergipe. O “cartão de
visitas” está lançado e o público o reconhece enquanto tal.
Em 1950 o Confiança, ainda por dispor de jogadores irregulares,
preocupa-se apenas em fazer amistosos, mantendo, a partir do espetáculo, o seu
plantel. Para a Crônica Esportiva, ele representava “o melhor dentre os melhores”.
– o “CONFIANÇA” é quem vai dizer o que sabe, pois o seu onze é
considerado como o melhor dentre os melhores . Correio de Aracaju .
21/09/1950. (Obs: Confiança ganha o amistoso em 10/10/1950, contra o
CSA de Alagoas).
conforme fora apresentado. Portanto, a mercadoria estava pronta: cumpria sua
função no processo de troca e, mais do que isso, escondia a relação social que se
dava em sua construção. Consequentemente, era necessário, então, construir os
locais para intercambiar as mercadorias. Do campo construído com lonas de circo
(como exposto pelos sujeitos da pesquisa, abaixo), logo apareceram os Estádios,
cada vez maiores. Os clubes, por sua vez, queriam ter o seu próprio Estádio e
assim, estabelecer a relação entre público pagante e espetáculo no seu próprio
mercado.
A fábrica separou-se do clube em 1955, no entanto, sempre o manteve e
ainda, detinha a posse do Estádio e isto gerou, conforme abaixo, um
descontentamento por parte dos diretores da Fábrica Confiança e o Clube, exigindo
então, que o valor referente à taxa que FSD pagava pelo uso do Estádio, fosse
entregue diretamente a um funcionário, recomendado pela fábrica a receber, pois,
ela (a fábrica) sempre abriu mão ao direito de receber este valor, ou simplesmente,
sempre revertia ao clube. O que me parece estranho, é que neste período os valores
são altos e não se tratava mais de simples soma, desprezar este dinheiro, então,
não mais fazia parte de uma “boa ação” para o desenvolvimento do futebol.
E
97-1
- Foi disputado num campo todo cercado de pano, [...]. meu pai se
entusiasmou com a direção da fábrica e atendeu ao pedido da torcida [...].
E
97-3
- naquele tempo era o velho Adolfo Rollenberg , não tinha o estádio
de Aracaju e depois, o circo, [...].
– Taxa do Campo Agora Será da Fábrica
“A fim de evitar certas distorções, tanto mais que o torcedor proletário
talvez desconhecesse que a Fábrica Confiança sempre manteve o plantel
do clube em termos de fornecimento do material esportivo [...] além da
TAXA do Sabino Ribeiro que sempre revertia em benefício das diretorias
[...] para dirimir essas dúvidas e planificar melhor a vida do clube proletário
a firma Ribeiro Chaves, proprietária da brica Confiança e do Estádio
Sabino Ribeiro, encaminhou ofício à Presidência da Federação Sergipana
de Desportos, comunicando [...] poderão ser recebidas por um
funcionário da Fábrica, especialmente designado para tanto”. (p. 6).
Gazeta de Sergipe. 19/03/1969.
118
Este termo não é utilizado por Adorno, estabeleço um comparativo na comercialização dos bens
da cultura a partir deste termo, que fora utilizado por Silva (1991).
– “O Governo manda reiniciar as obras do Estádio de Aracaju
[...]”.Correio de Aracaju. 01/05/1959.
– Estádio do Propriá: grande empreendimento esportivo-social.
Por Antônio Pádua Inaugurão dos refletores. “deveria servir de
exemplo a todos aqueles que fazem a blica administração em nossa
terra, seja ela na esfera federal, municipal ou estadual [...]”.Gazeta de
Sergipe. 29/08/1962. (Obs: Explica ainda, que deveria servir de exemplo
para todo o Estado).
– MARCO ESPORTIVO
“[...] marca uma época de grande ênfase esportiva [...]. Construir um
Estádio para 45 mil pessoas, com toda sua grandiosidade [...], lembra os
imperadores Romanos [...]” (p.3). Gazeta de Sergipe. 09/07/1969.
– Bilhões Foram Gastos no Batistão. Gazeta de Sergipe. 10/07/1969.
E
04-2
- Oi, eu vou dizer um negócio, houve uma época, 60, 70, 80 por aí,
que os Estádios de Aracaju estavam ficando pequeno, entendeu? Era um
negócio impressionante.
E
04-1
- Aqueles jogos no Sabino Ribeiro, era um negócio, era um
negócio! Cheio, sempre cheio [...] (grifo meu).
Para Marx (1996, p. 94-95) “não é com os pés que as mercadorias o
ao mercado, nem se trocam por decisão própria. Temos, portanto, de procurar seus
[...], donos. [...] as pessoas, aqui, existem, reciprocamente, na função de
representantes de mercadorias e, portanto, de donos de mercadorias”. Neste
sentido, entende-se que é no processo de troca que os homens intercambiam as
mercadorias, ou seja, o valor expresso na forma de mercadoria. Ao fazer referência
ao processo de mercadorização
118
da música, Adorno (2000), explica que - “O
consumidor fabricou o sucesso, não por que o concerto lhe agradou, mas por
ter comprado a entrada”(grifo meu). Assim, entende-se que, como valor de uso, as
condições já estavam dadas. Ou seja, o Confiança despertava os olhares de
interesse de ordem do capital; no entanto, faltava configurar-se enquanto valor de
troca e assim, concretizar-se em mercadoria.
Nesse contexto que envolve sua história, logo se percebeu que o
Confiança representava uma mercadoria valiosa”. Desde que iniciou sua jornada
futebolística vinha quebrando recordes. Suas rendas eram maiores, seu público
maior, seja em jogos amistosos, torneios ou campeonatos oficiais do Estado,
assustadoramente e a necessidade de ampliar esses espaços urgia. Sendo assim, a
construção e ampliação dos Estádios de futebol no Estado de Sergipe e,
principalmente, em Aracaju, pelas circunstâncias que atingia o espetáculo do futebol,
em seu processo de mercadorização
117
apareciam e reapareciam com cara nova. A
sensação é de que o novo nasce velho, ou melhor, o que é novo na fase da
cultura de massas [...] é a exclusão do novo” (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p.
126). Neste aspecto, a construção dos Estádios simbolizava toda essa relação que
se constituía a “sociedade do espetáculo” ou da mercadoria.
- Inaugurado o Estádio do Passagem (Neópolis/SE), em 27/01/1948.
Clube de Fábrica. Sergipe Jornal. 28/01/1948.
– Será inaugurado Amanhã o Estádio da Estância
Estádio do Santa Cruz Clube de Fábrica na cidade de Estância/SE.
Sergipe Jornal. 30/04/1948.
- O Estádio de Aracaju – por José da Silva Lima;
Ansiedade sobre a construção do Estádio de Aracaju.
“[...] Dr. Joaquim Ribeiro [...] em vocês nós confiamos. E estamos certos
que tudo farão para que a cidade esportiva assista a este espetáculo, que
será o lançamento da pedra fundamental para a fase de ouro do futebol de
Aracaju” Diário de Sergipe, 24/08/1949.
Será inaugurado o novo Estádio o campo do Confiança será teatro de
recepções várias.
Confiança e Passagem, inaugurando a nova praça de Esportes.
“Conforme é do conhecimento blico, inaugurar-se-á amanhã o novo
Estádio do Confiança[...]. Conforme esperávamos foi feito vistoria com
resultado satisfatório [...]. O Correio de Aracaju que recebeu o honroso
convite da A.D. CONFIANÇA para assistir as solenidades de inauguração
do novo Estádio, deseja aos seus digníssimos dirigentes felicidades desse
empreendimento [...]”.Correio de Aracaju. 20/04/1955.
Venceu o CONFIANÇA como autêntico campeão 4 x 0. Presente o
Governador Machado de Souza.
“Domingo de maio inaugurou-se oficialmente o Estádio Joaquim
Ribeiro [...] Repetindo suas belas exibições, o CONFIANÇA
convincentemente sobrepujou seu leal adversário o PASSAGEM pelo
placar de 4 x 0”. Correio de Aracaju. 07/05/1955.
117
Aqui entendendo-o como todas as mudanças estruturais que ocorrem no Estado, referente ao
esporte (futebol) – criação dos estádios, público pagante, realização de espetáculos esportivos
(amistosos), o pré-profissionalismo e a profissionalização. Bem como, as alterações nas formas do
jogo (técnica/tática/gestos técnicos), marketing esportivo e, principalmente, a relação capital e
trabalho que se instaurou a partir do Confiança.
De cada Estado participariam o campeão (Clube Sportivo Sergipe) e a
equipe com maiores rendas (deveria ser o Confiança). No entanto fora convidado o
Santa Cruz de Estância/SE, por ter sido Vice-campeão, fato este, que não agradou
nem ao clube (Confiança) e nem a imprensa. Para sustentar, os jornais expuseram
então o regulamento, em que consta os requisitos do parágrafo do Artigo [...],
cuja a redação é a seguinte: o segundo disputante será a equipe que obtiver
melhores rendas no campeonato [...]”. (Sergipe Jornal. 10/02/1965).
– SJ PROVA: Confiança tem Maiores Rendas
Confiança – Renda Cr$ 1.083.367,40
Sergipe – Renda Cr$ 1.000.731,60
Propriá – Renda Cr$ 553.284,40
Outros [...] Rendas Santa Cruz sem a melhor de três, Cr$ 239.165,30.
Sergipe Jornal. 10/02/1965. (Obs: Mesmo o Santa Cruz incluindo as
rendas de melhor de três com o Sergipe, não ganha para o Confiança).
– OS TORCEDORES RECLAMAM
“O jogo da última Quarta-feira sem fugir à regra proporcionou uma
arrecadação fraca, chegando mesmo a decepcionar [...] o que pese o
sensacional clássico Sergipe x Santa Cruz. [...] Estamos apenas fazendo
sentir os reclamos do público [...] muita gente voltar das bilheterias do
Estádio de Aracaju em sinal de protesto. Volta a refletir a presença do
Santa Cruz na Taça Rio São Francisco [...] que deixaram compreender
claramente que o Confiança constituiria atração, bem ao contrário da
situação atual. [...] apenas estamos sendo o porta-voz daqueles que são a
razão do futebol [...]”. Sergipe Jornal. 28/03/1965. (p.4).
Para consolidação do processo de mercadorização do futebol foi preciso,
então, criar locais de sua comercialização e que esses locais atendessem a um
grande público consumidor. Neste sentido, é notória a velocidade com que foram
construídos os estádios e também suas reformas, assim como as instalações de
refletores para os jogos noturnos.
3.4.2.1 Criação dos Estádios/Mercados
As informações capturadas nos jornais simbolizam a importância atribuída
à construção dos Estádios, ou seja, novos espaços para o espetáculo esportivo,
maiores e melhores. No período que vai de 1949 a 1969, conforme abaixo, uma
explosão no tocante a construção desses novos “palcos”, pois, o público aumentava
Desde algum tempo (..) vem o football da cidade e de Sergipe, vivendo
época confusa [...]. Os clubes, esses na sua maioria – viveu situação
aflitiva, exceção dos bafejados por posição financeira definidas, num
ambiente de independência do football. [...] em Aracaju clube algum
baseia suas despesas pela receita dos jogos de football. [...] O próprio
Cotinguiba mesmo, esse colosso de clube, pergunto eu: se fosse esperar
pelas rendas do footbal melhoraria sua séde (sic)? Construiria uma
piscina? [...] lógico que não. Pois bem, desportistas, como se não só
bastassem esses problemas de ordem interna no setor financeiro, eis que
o nosso football vive constantemente tumultuado por celeumas que visam
acima de tudo: A própria derrocada do football de Aracaju (não digo o do
Interior, pois Propriá é hoje o berço do football sergipano). Vejam vocês
em 28 jogos disputados no turno foram arrecadados 57.885,00, o que
para uma capital, francamente, é uma decepção. O porquê dessas rendas
tão diminutas? E eu respondo: Agora mesmo estão levantando a tese
de que o CONFIAA não pode entrar no campeonato pois o estágio
de seus jogadores é de 12 meses. Ora meus senhores: o Confiança
não aspira mais ser campeão e quer entrar no certamen(sic) apenas
prá melhorar a feição do football citadino (grifo meu). Porque cria-se
tanto caso, quando eu sei e todo mundo sabe que as dúvidas só existem e
as consultas são feitas por causa do Confiança? Por esse clima de
ódio, de perseguição sistemática ao CONFIANÇA é que nossos jogos
vivem por ai com rendas (eternas) de 2 e 3 mil cruzeiros. Não
possibilidade de acordo no football citadino. A Federação Sergipana que
muitas vezes quer viver num clima de paz, de repente pega assim um
ABACAXI como esse do Estágio [...]”.(p.3). Gazeta Socialista.
24/08/1957.
Portanto, fica caracterizada a dimensão que o clube atingiu no tocante a
mobilizar público e a gerar renda, e, ao mesmo tempo, despertar interesses diversos
de ordem do capital. Reconhece-se que há outras dimensões, principalmente na
aproximação que o povo pôde ter com o chamado “esporte de elite” e que isso,
representou, de certa forma, uma contra-hegemonia ao modelo (esportivo)
econômico capitalista vigente. No entanto estas características que ditam o processo
de mercadorização e que se materializam no espetáculo são relevantes até para que
se compreenda o caráter “popular” que adquiriu o Confiança.
Após esta fase e já no profissionalismo, principalmente depois de sua
passagem pela Taça Brasil (62/63), o Confiança se consagra e se projeta para além
das fronteiras do Estado. Reconhecidamente para o público, crônica, imprensa,
FSD torna-se expressão hegemônica do futebol. Neste aspecto destaca-se aqui
um momento em que a mídia, mais uma vez, exige sua participação em um torneio
de futebol, envolvendo clubes dos Estados de Sergipe e Alagoas, a Copa São
Francisco - Temporada pelo Nordeste.
Confiança Campeão do Torneio Início”. Correio de Aracaju.
09/04/1957.
– “Seis meses de estágio para qualquer amador que se transferir”
“ O esporte sergipano novamente vem de ser atingido por uma onda
maléfica de interpretações intempestuosas. Conforme é do
conhecimento público, [...] um novo caso surgiu na vida do nosso principal
esporte, o futebol, motivado pelas transferências de amadores, de
diversos clubes citadinos, e que resultou no adiamento da primeira rodada
[...], até ser resolvida a situação surgida. Ao nosso ver achamos que o Sr.
Mascarenhas Filho, [...] agiu precipitadamente suspendendo o
Campeonato, [...], sem ter absoluta certeza da obrigatoriedade ou não da
aplicação da lei [...]. Sobre o caso criado com as transferências, ao que
nos parece o clube mais prejudicado foi o C. S. Sergipe que perdeu dois
dos seus melhores atletas, Nivaldo e Mamede, que se transferiram para o
Confiança [...] (p.3). Gazeta Socialista. 18/04/1957.
O Confiança em não podendo colocar seus jogadores para jogar, devido
a lei de estágio, prefere ficar jogando amistosos e fica afastado do
campeonato. Gazeta Socialista. 30/04/1957.
Notas Esportivas Gazeta Socialista. 07/05/1957. (Obs: Que o
Confiança não poderá jogar amistosamente em dia que houver rodada do
campeonato).
– A Crônica da Semana
“Triste realmente o destino do football citadino. Não digo sergipano, pois a
cidade de Propriá está hoje muito acima do football da capital. [...] temos
jogos em Propriá quando não é o América que leva um Confiança ou um
Paulistano, é o Propriá E.C. que leva o Olímpico ou o Vasco ou mesmo o
Palmeira dos ìndios. E as rendas sempre alcançam a casa dos 13, 14 e ás
vezes até, 21.000,00. Por mais que o cronista procure as causas do
desânimo do Torcedor Aracajuano não encontra resposta. De uns tempos
para cá, encontraram no Confiança a resposta para o fracasso das
rendas em Aracaju (grifo meu). Mas a verdade manda que se diga:
Quando o Confiança joga tem boas rendas, quando ele não joga, pronto,
as cifras ficam na casa dos 6 mil e quando muito 7 mil e poucos cruzeiros.
Prova concreta que o Torcedor do Confiança, a maioria, gosta do clube,
não gosta do football dos outros clubes, [...]. O Confiança subiu tanto no
conceito de seus fans(sic) e admiradores que acontece agora o seguinte:
Ser Confiança se assemelha a uma seita, um culto. A crônica citadina
precisa sair do terreno estéril das campanhas pessoais, dos ataques, para
então, apelar diariamente para o Torcedor do Confiança, pare que ele
acabe com esse ódio aos demais clubes, apenas porque a Lei de
cancelamento impede que seu clube predileto esteja disputando[...]” (p.3).
Gazeta Socialista. 08/06/1957.
– “A Federação com novo Abacaxi”
Por Wellington Elias:
Finais/57
21/07/55
Confiança x Vasco 11.137,00
Campeão do 1º turno
27/08/57
Confiança x Propriá 10.810,00
Amistoso
1956/57 ***** *****
Confiança desfilia-se da
FSD
30/01 a
6/02/57
Rendas 6.755,00
9.835,00
Finais de 1956
Fonte: Fonte: Jornais impressos conforme Anexo II, desta Dissertação.
Como se vê, o campeonato oficial do Estado, apresentava rendas
inexpressivas. Nem mesmo nas finais as cifras superavam às dos jogos do
Confiança. Era portanto, urgente, para salvar inclusive a lógica de mercado que se
consubstanciava perante ao futebol, àquela época, que o Confiança retornasse para
assim, harmonizar investidores, torcedores (consumidores), a mídia entre outros.
Acredita-se também, devido às especificidades dos espetáculos
promovidos pelo Confiança (mais rentáveis), que ele preferiria continuar suas ries
de amistosos, pois assim, arrecadaria muito mais dinheiro. De certa forma, ele
ganha autonomia diante do poder que era controlado pela FSD e, eis aí, uma boa
razão para se “rogar” a sua volta.
Nesse aspecto, a Associação Desportiva Confiança inaugura uma nova
dimensão acerca do futebol no Estado. Começa-se a valorizar o espetáculo
esportivo do futebol. Inicia-se tamm uma nova forma de administrar o futebol:
contratação de cnico, de jogadores/trabalhadores, disponibilidade de material
esportivo em abundância – vai-se criando um sentimento de “carinho” com o público,
e aumentando sua popularidade, ou melhor, já se constitui num bem cultural e
econômico para consumo e que este bem, atinge uma pluralidade de indivíduos na
sociedade.
Os próprios cronistas, sujeitos da pesquisa, reconhecem que a torcida do
Confiança ia mais aos esdios. As matérias abaixo tamm expressam sua
condição de popular. Neste aspecto quem exige que ele participe do campeonato é
a população e a Crônica Esportiva que se auto-proclama falar em nome da
população. O interesse explícito da Crônica é a renda e o espetáculo.
Ou seja, quando retorna seu quadro estava composto de jogadores “irregulares” (lei
de estágio). Ganha o Torneio Início, mas fica impedido de participar do Campeonato.
Como o Confiança não queria descompor sua equipe, preferiu ficar realizando
apenas jogos amistosos. Fato este que lhe valeu uma advertência da FSD, de que
poderia realizar amistosos em dias que não houvesse jogos pelo campeonato
oficial.
Percebe-se, conforme Quadro 6 abaixo, claramente por que o
Confiança, através do espetáculo esportivo, gerava mais rendas que os jogos do
campeonato. Não foi à toa, que a crônica esportiva esforçou-se no sentido de
regularizar seu retorno junto ao campeonato, até porque era uma das interessadas
no espetáculo esportivo produzido pelo Confiança, sem contar a parcela da que
tinha direito nas rendas dos jogos.
Quadro nº 6 da relação jogo e renda em amistosos e torneios secundários,
comparados às rendas das finais de 1956 e 1957
DATA JOGO VALOR
CR$
OBSERVAÇÃO
26/01/55
Co
Paulistano
6.240,00
Finais da Taça Cidade
22/11/55
Confiança x Guarani
(BA)
25.545,00
Amistoso
20/02/57
Confia. x
Bonsucesso-RIO
85.000,00
Amistoso volta do ADC à
FSD
28/03/57
Confiança x América
(SE)
15.135,00
Amistoso
22/06/57
Confiança x
América
(SE)
19.320,00
Amistoso
30/04/57
Confiança x Sergipe 11.000,00
Amistoso
02/07/57
Sergipe x Madureira
(SE)
605,00
Campeonato Sergipano
07/05/57
Confiança x Náutico
(PE)
109.712,0
0
Amistoso
16/07/57
Vasco x Cotinguiba –
Rendas
2.745,00 a 4.135,00
27/11/51
Confiança x
Passagem
19.032,0
0
1º jogo das finais do absoluto
27/11/51
Confiança x
Passagem
16.908,0
0
2º jogo das finais do absoluto
11/11/52
Cotinguiba x
Passagem
7.000,00
1º jogo das finais do absoluto
11/11/52
Cotinguiba x
Passagem
8.000,00
2º jogo das finais do absoluto
Fonte: Jornais impressos conforme Anexo II, desta Dissertação
Percebe-se, conforme Quadro acima, que enquanto a média dos outros
jogos giravam em torno de C$ 2.000,00 a Cr$ 3.000,00, os jogos do Confiança
atingiam acima de Cr$ 4.500,00. Em 1951, quando foi campeão, estabeleceu
recorde de renda e público. E, um ano após sua conquista, na final do campeonato
oficial, as equipes não atingiam a metade de suas rendas. Este é um fato
interessante, pois, faz brilhar o caráter mercadoria e o fetiche produzido pelo seu
espetáculo. A sua inserção no cenário do futebol, elitizado, no Estado teve essa
marca, pois, assim ele pôde se impor, o pelo futebol de fábrica, de bairro, etc.,
mas, sobretudo, pelo caráter mercadoria que já se configurava.
Pode-se observar que, desde a sua estréia no futebol, o Confiança é
sinônimo de renda. Seus jogos simbolizavam maiores arrecadações e também um
bom espetáculo.
– Belíssima vitória A. D. Confiança
[...] sensacional encontro entre os quadros de Confiança e do Olímpico,
atualmente o maior clássico de nosso futebol. O interesse do público
aumentou, ao saber que o Confiança poria em campo seu quadro
completo, mesmo perdendo os pontos, em virtude de possuir elementos
sem condições de jogo. [...] apresentam um espetáculo notável [...].Diário
de Sergipe. 25/07/1949
Isso se repete, como se viu, em 1955, quando o Confiança rompe com
Federação e sai do campeonato oficial e, somente após a aclamação do povo/mídia,
volta a integrar o quadro da Federação Sergipana de Desportos (FSD), em 1957. O
que merece destaque é o caráter de espetáculo que se manifesta nesta construção.
Lisboa, [...] está empenhado em conseguir um terreno onde possa ser
construído um ginásio [...]. Correio de Aracaju. 01/04/1955.
– Drama no Basket
“O basquetebol está voltando àqueles dramas de outras jornadas, sem
clubes para participarem das competições que a federação patrocina.
Atlética, Iate e Vasco, o serão suficientes para manter a agremiação
[...]”. Sergipe Jornal. 06/01/1965.(p. 2).
– FALANDO DE BASQUETE
“Com o advento do futebol profissional, os esportes amadores
sofreram grandemente [...]. Hoje o assunto é futebol profissional [...].
Sergipe Jornal. 18/03/1965. (p. 3).
- Dizendo a Verdade – Por Jurandi Santos
“O basquetebol sergipano na temporada de 67 [...] chegando a ser
relegado a um segundo plano [...]. O Presidente da Federação [...]: não
posso fazer devido a falta de interesse dos dirigentes das agremiações
[...].nada mais justo tentar uma reabilitação, fazendo algo pelo basquetebol
que tendo pinta de milionário vive esmolando pelas esquinas [...]”. Diário
de Aracaju. 05/01/1968. (p. 6).
Quadro nº 5 demonstrativo das rendas dos jogos entre 1949 a 1952
DATA JOGO RENDA OBSERVAÇÃO
05/04/49
Confiança x
Paulistano
2.244,00
Considerada “boa”
25/07/49
Confiança x
Olímpico
2.682,00
“Maior clássico do fut.
sergipano”
14/08/50
Confiança x
Vasco(SE)
4.554,00
Já no novo Estádio
29/04/50
Campeonato 1950 *******
Rendas entre 2.200,00 a
3.700,00
09/06/51
Confiança x
Cotinguiba
5.000,00
19/06/51
Confiança x
Olímpico
6.864,00
Recorde de bilheteria
“clássico”
06/10/51
Confiança x
Olímpico
12.990,0
0
Recorde de público.
06/10/51
Outros jogos *****
Entre 1.700,00 a 3.000,00
05/09/51
Confiança x Sergipe
7.464,00
Recorde de renda
Como foi visto, o “rastro luminoso” trazido pelo espetáculo do Confiança
converge para a comercialização e, com isso, para a geração de “rendas”
115
.
Percebe-se, conforme quadro 5 abaixo, que os jogos do Confiança, representam
um diferencial em relação as outras equipes e principalmente a geração de renda.
Isto também explica o porquê de, aos poucos, ver-se o interesse do público - pelas
modalidades vôlei e basquete sendo substituída pelo futebol. Conforme Viana Filho
(1994, p. 2b), estes contactos [sic] esportivos do Confiança com o público
começaram a diminuir, à medida que a prática do basquetebol e voleibol perdiam a
cada ano, o interesse dos clubes que tinham o futebol como seu principal esporte
[...]”
116
.
Isto é importante nesta análise, pois, percebe-se um olhar de interesse
financeiro no espetáculo esportivo, uma vez que o futebol já representava um
grande atrativo, concentrando grandes multidões, arrecadando grandes cifras e
obtendo espaço na mídia. Entende-se que o espetáculo é a manifestação geral da
forma ilusória da mercadoria. Neste aspecto, estou convicto que a preferência pelo
futebol tem uma relação íntima com o aspecto econômico, ou seja, o basquetebol o
vôlei, apesar de momentos trazerem bom público às quadras, nunca representou um
potencial de renda para germinar e sobreviver por si só. Os recortes dos jornais,
abaixo, em períodos distintos, representam os apelos em recuperar seu status. No
entanto, como alerta Marx (1996), para que se concretize uma mercadoria é
necessário apresentar-se seu duplo caráter, ou seja, valor de uso e valor. Quando
uma dessas características deixa de existir, o bem deixa de ser mercadoria e é o
que me parece ter acontecido com o basquete e o vôlei.
– Por Souza Lima – Como é que Pode?
Por ocasião das festividades comemorativas do I centenário da capital,
[...], como não poderia deixar de ser, duas grandes temporadas, uma de
basquetebol e outra de futebol. A questão das temporadas [...]é sim um
problema, e dos mais rios por sinal. Em basquetebol, não é bom nem
falar, todas as temporadas, dão prejuízo, por vários motivos, dentre os
quais por não possuirmos boas quadras. A propósito, o Presidente Antônio
115
Refere-se as arrecadações extraídas de seus jogos. Aqui, não relacionada com a Renda numa
relação Macro-econômica (Marx, 1996 Terceiro livro de “O capital” e Teorias da Mais-valia”; ou
Keynes, 1982), mas, sobretudo, pelo simbolismo que ela representava na relação com o espetáculo
(mercadoria) esportivo, principalmente, com a equipe do Confiança.
116
Fica claro que a Associação Desportiva Confiança vai abandonando os esportes que a originou
(Basquetebol e Voleibol), pela absorção do futebol, (público e renda).
Santos Jogaem Aracaju. Gazeta de Sergipe. 22/12/1962. (Obs: Foto
de Pelé na primeira página do Jornal).
Pelé Autografará Livros e Fotos Para os Torcedores Sergipanos. Gazeta
de Sergipe. 03/01/1963. (Obs: Crônica Esportiva, expõe sobre a grande
atração que é a vinda do Santos, com seus jogadores e principalmente,
Pelé. Ainda, que autografará, biografias sobre sua vida e fotos).
- Pelé Hoje em Aracaju. Gazeta de Sergipe.
“[...] A exibição do Santos em Aracaju, está despertando grande interesse
nos círculos esportivos [...]. Pelé, que se apresentará amanhã pela
primeira vez, ao público aracajuano”. Gazeta de Sergipe. 08/01/1963
– SANTOS CHEGOU NA MADRUGADA
Orquestra de Pelé Dará Recital: Santos x Combinado. Gazeta de Sergipe.
09/01/1963. (Obs: Fotos da chegada na Primeira página. Todos os
detalhes do jogo, preparação das equipes, os convidados especiais –
Bispo, Coronel do 28 BC (Exército), Capitão dos Portos, Prefeito,
Governador, etc. ).
Santos Lutou Para Vencer. Gazeta de Sergipe. 10/01/1963. Árbitro,
Romualdo Arppi Filho; Placar, 3 x 2; Renda: Cr$ 4.000.238,00. (Obs:
Realização que foi entendida como a maior já ocorrida no Estado).
Destaca-se este, entre vários amistosos promovido pela Federação.
Percebe-se também que os investimentos passaram a ser mais “audaciosos” e os
clubes também tinham tal iniciativa. Era comum a vinda de clubes do Rio de Janeiro
e São Paulo. Chegando ao auge”, com a inauguração do Batistão (1969)
114
, com a
presença da Seleção Brasileira. Estava mais do que consolidado o fato de o
espetáculo gerar renda. É importante ressaltar que o Confiança sempre esteve
“ligado” nesta perspectiva, ou seja, de realizar amistosos, promovendo o espetáculo.
3.4.2 Nessa História [...], o Espetáculo Gera Renda
114
No tópico “a Criação dos Estádio/Mercados”, se ampliará esta discussão.
características espetaculares do Confiança, bem como a sua aproximação com a
torcida, numa relação apaixonada provocada pelo espetáculo, como exposto abaixo.
E
97-3
- [...] Confiança e Olímpico enchia os estádios. [...] O Confiança era
um timão na época.
E
97-2
- A participação popular da torcida, sempre foi o maior standart, [...]
ela é muita valorosa, muito [...]Apaixonada [...]uma das 10 mais
organizadas do Brasil [...].
E
04-1
- Aqueles jogos no Sabino Ribeiro, era um negócio, era um negócio!
Cheio, sempre cheio, [...] Aquele time do Confiança [...]. Naquela
época.[...] eu acho a torcida do Confiança [...], a torcida é mais alegre, do
que a do Sergipe. A do Sergipe é maior em quantidade.[...] A do Sergipe
era mais elitizada, como foi o futebol no Brasil todo,[...] A do Confiança
não. que agora um pouco violenta, com essa Trovão Azul [...]. A
torcida do Confiança, antes dessa trovão azul, era torcida mesmo[...]!
E
04-2
- Exatamente. O confiança atraiu um bocado de torcedor, inclusive de
cá, da cidade, em face da eficiência, da maneira como ele se apresentou
naquele ano, [...] foi conseguindo, naturalmente, adeptos e formou então a
sua torcida. [...]nós tivemos aqui, o Sergipe e o Confiança, com
pouquíssimos jogadores de fora do Estado. Mas, excelentes eventos,
excelentes eventos. [...] eles fizeram um grande time, com um ataque
arrasador. [...] Tenho a impressão que foi no aniversário do Confiança [...],
e o Bonsucesso estava excursionando aqui pelo Nordeste [...]. O
Bonsucesso veio, tinha uma boa equipe, [...], pelo Norte-Nordeste ele
brilhou. Chegou aqui, meu amigo, não deu outra, se não me engano foi 3
a 1 para o Confiança [...].
Percebe-se que, desde sua origem, caminhava-se para uma “proliferação”
do processo de comercialização da cultura a partir do fenômeno esportivo. No
futebol, era crucial que o espetáculo gerasse renda, ou seja, percebe-se que aquele
“fenômeno”, que ora aparecera, constituía-se num “objeto” possível de
comercialização, pois, passava a aglomerar multidões, com reais consumidores, e
que, através da compra do ingresso, produziria o sucesso do “bem”. Ao referir-me ao
espetáculo, estou alertando para o processo de mercadorização que foi possível
tornar a cultura, (no caso, a esportiva) numa “mera” mercadoria. Neste sentido,
gostaria de destacar um momento importante neste processo de espetacularização:
a vinda do Santos (de Pelé) a Aracaju, em 1963;
modo comentários e conversas de bancas de café. Temos certeza de que
agora, [...], o nosso público afluiem massa, hoje ao Estádio de Aracaju
[...]. Segundo obtivemos confirmação [...] Sherlock chegará hoje à tarde
pelo avo das Aerovias Brasil, por conta exclusivamente da Associação
Desportiva Confiança”, que se responsabilizará por todas as despesas.
Sherlock apitará o clássico mediante a importância de Cr$ 2.000,00, livre
de qualquer outro compromisso [...]. Deste modo, existe muito boa
vontade do CONFIANÇA, não para dar mais segurança ao clássico e
ainda em oferecer ao público uma grande noitada futebolística”. Correio
de Aracaju, 29/09/1951.
– Luta de gigantes o clássico Confiança e Olímpico[...]
“Constituiu um espetáculo magnífico o clássico Confiança x Olímpico [...]”.
Renda: “Um recorde de bilheterias em jogos do presente campeonato: Cr$
6.864,00 [...]” Correio de Aracaju. 19/06/1951.
– Espetáculo empolgante o clássico “Sergipe x Confiança”.
Por Souza Lima
“Prélio disputadíssimo que culminou com a vitória do Confiança pelo
placar de 4 x 3 [...]. Récord de bilheterias Cr$ 7.464,00. Correio de
Aracaju. 03/09/1951.
Neste aspecto, desde sua “estréia” no futebol, o Confiança traz consigo
características da sociedade do espetáculo, ou seja, traz consigo o fetichismo da
mercadoria em forma de espetáculo. Sua aparência “enfeitiçadora” levava os
potenciais consumidores – como encantados pelos “Cantos das Sereias
113
” – a
exercer o consumo sem reflexão. Além desse aspecto, o fetiche cria um sentimento
de identidade e de emoção da subjetividade humana na aproximação com seus
“ídolos”, como se percebe a partir do esporte-espetáculo. Para Debord (1997, p. 28),
O princípio do fetichismo da mercadoria, a dominação da sociedade por coisa
supra-senveis embora sensíveis, se realiza completamente no espetáculo,
no qual o mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens que
existe acima dele, e que ao mesmo tempo se fez reconhecer como sensível
por excelência. O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o
mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido.
Jornalistas esportivos que, estrategicamente, foram entrevistados na
pesquisa, em sua vida particular são torcedores do “arqui-rival” do Confiança, o
Clube Esportivo Sergipe. Mesmo assim, são unânimes em reconhecer as
113
Aqui estabeleço uma relação com a mitologia grega, em que o Canto das Sereias provocava um
enfeitiçamento aos homens indo ao encontro delas para serem devorados, bem como, ao “Conceito
de Esclarecimento”, na Dialética do Esclarecimento exposto por Adorno e Horkheimer (1985, p. 44-
45),
3.4.1 O Espetáculo: do Confiança ou da Sociedade!
Percebe-se, a partir da captura das informações referente à mídia
impressa e também, dos entrevistados, o papel da Mídia em estimular o espetáculo.
Mas, a quem cabia o espetáculo: à sociedade que se convertia enquanto tal, ou ao
próprio capital em forma de espetáculo
Para Matos (1979, p. 83), “a sociedade moderna se apresenta como
momento exemplar da sociedade do espetáculo: essa forma por excelência é a
mercadoria tudo é produzido e dirigido pelas leis de mercado”. Neste sentido a
mercadoria se contempla a si mesma num mundo que ela criou (o espetáculo).
A expressão espetáculo, espetacular etc, aparece constantemente nos
jornais no período que vai desde 1949, até, o que delimita o final desta pesquisa
(final da cada de 60). Interessante é que o termo não era usado apenas para
exaltar o espetáculo (show esportivo), mas também simboliza o espetáculo enquanto
fetichizado na sociedade de consumo. Neste caso, vejamos primeiro como a mídia
enunciava as notícias (independente de seu caráter) e depois, referindo-se aos
jogos do Confiança, em que até a indicação do árbitro virava fator de destaque e
contribuía para a espetacularização:
–“Espetacular suicídio do ex-secretário de defesa dos E.E.U.U”
“atirou-se do 1andar do hospital naval depois de ler uma tragédia de
Sófocles”. Diário de Sergipe, 21/05/1949.
– Castigo merecido
“Espetáculo doloroso ofereceu o senador Pedro Aurélio de Gois Monteiro
[...]. Usando de sua patente de General exigiu que se elegesse para o
governo de sua terra o Sr. Silvestre Péricles, sabia que estava agindo
contra Alagoas Correio de Aracaju, 24/01/1950.
“Espetáculo de unidade social e política sobre uma grande bandeira em
torno de um grande nome”. Correio de Aracaju. 31/08/1950. (Obs: Sobre
a candidatura de Leandro Maciel ao governo do Estado).
– Sherlock Apitará o Grande Clássico Confiança Versus Olímpico
“Confirmado as nossas previsões veiculadas nestas colunas [...] de que o
grande árbitro pernambucano Argeniro Félix (Sherlock), apitará o clássico
número um da cidade [...]. A presença do famoso az” do apito, o melhor
do norte do paiz (sic), dará, [...] mais garantia ao match [...], evitando deste
E
04-2
- O Confiança tinha o Beto [...], foi ai que chegou o Ruiter, eles
fizeram um grande time, com um ataque arrasador. [...], quem é aquele
ponta direita [...], é daqui? Era daqui, entendeu? [...].
Após sua campanha na Taça Brasil, dedica-se ao campeonato sergipano
e torna-se Bicampeão, consolidando a sua posição de uma das melhores equipes do
Estado e do Nordeste. A mídia local não poupa elogios, o que faz aumentar ainda
mais a sua relação com o público, elevando a sua popularidade. O fato de ter um
jogador que marcara tantos gols quanto Pelé (o melhor jogador de futebol do Brasil),
na Taça Brasil, enchia de orgulho os sergipanos, independente de serem torcedores
do Confiança. Muitos desses torcedores, iam aos Estádios ver o espetáculo do
Confiança, mesmo sendo torcedores de outra equipe. Vejamos os relatos da crônica
esportiva.
– Meia- Cancha –
“O Confiança, de dois anos para cá, vem se constituindo na equipe de
toda harmônico e condição tática e técnica, mais brilhante, que sem
dúvida temos no futebol sergipano [...]. A verdade, é que o Confiança, é
hoje a única equipe sergipana que reúne as condições de praticar o
futebol moderno, no mais alto nível que se possa conseguir em nosso
Estado [...]. O Confiança Proletário Atual, evidencia a personalidade e
tranquilidade, que somente os grandes quadros apresentam, [...].Está em
pleno apogeu”(p. 7). Gazeta de Sergipe. 27/02/1964.
– Confiança x Sergipe na Decisão do Segundo Turno.
Meia-Cancha
“Com poucas horas a separá-la do sensacional e empolgante Confiança x
Sergipe [...] por isso mesmo, que o choque entre proletários e rubros
merecem inteiramente o cognome de “clássico dos milhões”. É sem dúvida
um Vasco x Flamengo, reduzido a devida proporções[...]. Confiança x
Sergipe é um prélio auto-suficiente no aspecto financeiro [...].Gazeta de
Sergipe. 12/04/1964. (p. 5).
- A.D.Confiança Conquistou o Bi-Campeonato de 1963. Confiança: Super-
Bi-Campeão Sergipano Gazeta de Sergipe. 12/05/1964 (p.5). (Obs:
Destaque na primeira página do Jornal. Renda: Cr$ 1.096.300,00.
Enaltece a conquista do título em vários destaques da página).
– Biografias dos Super-Bi-Campeões Sergipanos. Gazeta de Sergipe.
13/05/1964. (Obs: Traz as Biografias dos jogadores do Confiança com
fotos e história de vida e profissional. Algo nunca visto! Ruiter foi artilheiro
da V Taça Brasil em 1962, juntamente com Pelé).
Amanhã a Grande Decisão: Confiança e Ceará no Jogo de Vida ou
Morte. Correio de Aracaju. 31/08/1963.
– Acabou-se o Que era Doce: Ceará Alijou o Confiança da Taça do Brasil
“ [...] sem contar com Ruiter, que fez greve na última hora[...]”.
Greve de Ruiter aniquilou o craque: medo a hipótese. “[...] o Dr. José
Maria Rodrigues, médico do Confiança informou à Imprensa que Ruiter
não tinha condições favoráveis de jogo, mas que – como desportista,
achava que ele podia jogar [...]”. Correio de Aracaju. 03/09/1963. (p.6).
(Obs: Cogitou-se que Ruiter ficara com medo no dia do jogo. Havia sofrido
uma contusão e ela reapareceu).
– Prof. Valquírio: Drama de Consciência no caso de Ruiter. Correio de
Aracaju. 04/09/1963. (Obs: O presidente do Clube, explica que o médico
deixou a cargo do jogador (sua consciência) e como o jogador teve seu
passe avaliado em 3 milhões de cruzeiros, ficou com medo de jogar após
ter visto uma pequena lesão, na radiografia).
Percebi, o quanto este período de 1962/63, foi crucial na vida desse clube
(Confiança). O reconhecimento da sociedade sergipana, da crônica esportiva e
principalmente, dos Estados da Região. O Confiança despontava como uma das
melhores equipes do Nordeste, algo que ficava restrito somente às equipes da
Bahia, Pernambuco, Ceará. O Confiança simbolizava seu próprio fetiche e
fetichizava a todos a partir do espetáculo que proporcionava. Os sujeitos envolvidos
à pesquisa, são unânimes em reconhecer este clube de futebol como grande, ou
seja, que seu potencial era para além das fronteiras de Aracaju/Sergipe. Os
depoimentos abaixo corroboram quanto à importância deste momento do Confiança:
E
97-3
[...] o Confiança foi que me envolveu, [...] na década de 60, quando
ele formou um timão, [...]. Praticamente, foi nos primórdios do
profissionalismo, Confiança formou um timão, inclusive brilhou muito na
Taça Brasil e eu tenho gravado as vitórias dele sobre o Cea4 a 2, do
Campinense 4 a 3, ele perdendo de 2 a 0 [...], eu me lembro bem que o
locutor da rádio Assunção Cearense, dizer eu acho que o Confiança vai
pagar altos juros com a vitória de domingo, e nada Ruiter fez quatro gols.
E
97-2
[...] os jogadores começaram a ser vistos [...] começou com título
de Academia de futebol Sergipano, que foi basicamente nos anos 60 [...].
E
97-6
[...] o Confiança ter ultrapassado todas essas barreiras, e ter se
revelado no cenário nacional, quando na Taça Brasil, o atleta Ruiter, foi o
artilheiro, fazendo mais gol do que Pelé.
Sensacional: Confiança Decide Hoje Continuar na Taça Brasil. Correio
de Aracaju. 30/07/1963. (Obs: Na primeira página do jornal. Poucas vezes
isso ocorre).
– Espetacular! Confiança (Sergipe) Desclassifica o Capelense (Alagoas): 3
x 1. Correio de Aracaju. 31/07/1963.
O Confiança, Reconhecendo Poderio do Adversário, Espera Vencer.
Correio de Aracaju. 07/08/1963. (Obs: Agendamento agora para
enfrentar o Campinense da Paraíba).
Tudo Azul no Confiança Para o Choque de Amanhã. Correio de
Aracaju. 10/08/1963.
Confiança e Campinense a Atração de Hoje. Correio de Aracaju.
11/08/1963.
Debaixo de Pancadaria o Confiança Passou Bem o Primeiro Susto:
2 x 0 Sobre o Campinense. Mais uma espetacular vitória na Taça Brasil
[...]”.Correio de Aracaju. 13/08/1963.
Viajou o Confiança Com Otimismo e Disposto a Tudo. Correio de
Aracaju. 14/08/1963. (Obs. Viagem de avião).
– Ruiter Esmagou o Campinense: Confiança 4 x 3
Vitória espetacular dos proletários Campinense apanhou dentro de
casa [...] Ruiter, o grande vencedor! Correio de Aracaju. 17/08/1963.
- Ruiter, o Artífice da vitória empolgado.
- “Dragões” Proletários receberam a consagração popular (p.7).
- Festiva a Recepção no Aeroporto Santa Maria [...], Desfile no Carro
dos Bombeiros Ruiter quase se perde na multidão (p.8). Correio de
Aracaju. 18/08/1963.
– Confiança Parte Amanhã Para a Vitória no Ceará
– Otimismo o Confiança Viaja Pensando na Vitória
– Confiança Tentará Reeditar Feito de Campina Grande.
Confiança Não Teme Fibra de Cearense: Espera ganhar. Correio de
Aracaju. 22 a 25/08/1963.
– Espetacular Mesmo: Confiança Tamm Fez Cearense Sambar: 4 x 2
“Grande exibição de futebol realizou Domingo, em Fortaleza, a Associação
Desportiva Confiança, ao abater espetacularmente ao tetra campeão
cearense [...]”.Correio de Aracaju. 27/08/1963.
– Ceará Tamm venceu o Confiança em Casa: 1 x 0
“[...] A renda somou a importância de oitocentos mil cruzeiros e uma
fração, considerada pequena para o grande blico presente ao Estádio
“(p. 6). Correio de Aracaju. 29/08/1963.
se tivesse vida própria e domínio sobre si. Parafraseando Debord (1997), parece
relações entre coisas mortas.
Destaca-se, neste período (1962/1963), a sua passagem pela Taça Brasil,
pois, foi a partir desta Competição, que o Confiança de mostrar sua força para os
nordestinos. Era comum as equipes não passarem da primeira etapa desta
competição, mas o Confiança preparou-se para ela e despertou a possibilidade de
uma equipe do Estado de Sergipe ir muito além, reforçando o sonho e a paixão pelo
futebol no Estado.
– Tarati e Rivaldo no Confiança
“[...] Deste modo os dirigentes do Confiança, empenham-se em armar
um quadro que venha fazer boa figura na próxima Taça Brasil e na
temporada de 63, visando o bi-campeonato. Correio de Aracaju.
10/07/1963.
Confiança Tentará Vingar o Esporte Sergipano na Taça Brasil. Correio
de Aracaju. 19/07/1963.
Sua chegada, após ganhar do Campinense da Paraíba e do Ceará em
Fortaleza/CE
112
, foi algo “triunfal”. Primeiro, pelo fato de ter vindo de avião (acredito
ter sido a primeira equipe sergipana com tal feito); segundo, pela aclamação popular,
a cobertura da mídia, os destaques nas rádios e jornais, algo que acontecia com
os espetáculos realizados com equipes do sul do país. Neste contexto, todos os
entrevistados reconhecem esse momento na história do Confiança. Vejamos esse
momento, a partir da mídia impressa:
Confiança e Capelense no Alçapão de Maceió. Correio de Aracaju.
21/07/1963
Proletários Negaram a Confiança do Sergipanos: Super Campeão
Esmagado no Alçapão de Maceió pelo Capelense.
“Depois de estar vencendo por um a zero [...] caiu espetacularmente
[...] pelo escore de três a um [...]”.Correio de Aracaju. 23/07/1963.
Sensação no Sabino Ribeiro; Confiança e Capelense na Grande
Desforra. Correio de Aracaju. 27/28/07/1963.
112
Após esta primeira vitória, na casa do adversário, o Confiança viria perder a revanche e o
desempate para o Ceará, sendo eliminado da Taça Brasil.
0
recorde
14/04/64 (*) 907.450,0
0
jogo final de 63
Recorde
21/04/64 (*) 930.300,0
0
jogo final de 63
Recorde
05/05/64 (*) 956.250,0
0
jogo final de 63
Recorde
12/05/64 (*) 1.096.300,
00
Último jogo (finais) 63
Recorde
Fonte: Fonte: Jornais impressos conforme Anexo II, desta Dissertação.
– Finalmente Hoje Rubros e Proletários em Sensacional Amistoso Noturno
“A semelhança do que representa um Vasco x Flamengo no futebol
guanabarino, guardada as devidas proporções, um embate entre Sergipe x
Confiança desperta sempre grande interesse do torcedor [...]”.Gazeta de
Sergipe. 03/10/1962.
- Confiança Disparou Com Pinta de Campeão
Normalmente seria muito cedo para qualquer prognóstico [...]. Quem
viu entretanto a exuberante exibição proletária esmagando de forma
incontestável [...] o seu maior rival [...].
Sem desmerecermos aos demais disputantes, acreditamos que o
Confiança saltou longe [...] em busca do título de 62”.
“O quadro do Confiança sagrou-se campeão do primeiro turno do Super
[...] “ (p.5). [...]”.Gazeta de Sergipe. 16/04/1963.
– 4 x 3 Sobre o Vasco fizeram A.D.Confiança Campeão de 1962
Com uma espetacular vitória de quatro tentos a três sobre o forte
esquadrão do Vasco Esporte Clube, a Associação Desportiva Confiança
levantou o título de super campeão de futebol de 1962. [...] Segundo
apurou a reportagem, a celebração da grande vitória dos proletários
invadiu até a madrugada de Segunda feira. Correio de Aracaju.
04/06/1963.
Confiança Super-campeão de Futebol do Estado. Gazeta de Sergipe.
04/06/1963
Consolidava-se assim a relação trabalho e capital, a partir do espetáculo
esportivo, algo que vinha se constituindo desde 1949. A sua forma “enfeitiçadora”
materializa-se na mercadoria, mas, a “pseudo-autonomia” esconde a relação social
que ela traz consigo, isso porque a “sociedade” a como “coisa”, reificada, como
Neste aspecto, o Confiança vai destacando, em seus jogos e sua equipe
torna-se bicampeão em 1962/1963. Curiosamente, mantendo um destaque de boas
rendas e de quebra de recordes, principalmente, nas partidas com seu adversário, o
Sergipe, que vai se constituir neste momento histórico e assim por diante, o seu
maior “adversário”. Conforme Quadro 4 abaixo, percebe-se o potencial de renda
desta equipe. A mídia inclusive, já o tratava como clássico dos milhões” (Sergipe e
Confiança).
Meia-cancha
“O movimento de cifras e número da arrecadação do embate
Confiança x Sergipe, apresentou aspectos interessantes e que merecem
divulgação. O montante da arrecadação como todos sabem, foi de Cr$
465.300,00[...] recorde em prélio de tal natureza, em nosso Estado.
Exatamente 4.227 pessoas pagaram ingressos, com um movimento de
público assim discriminados [...], arquibancadas 852 sombras, 2.093
gerais, 181 – menores, 357 – Estudantes, 744.
Pelo que se vê, e sabendo que existem penetras” em quantidade em
nosso futebol, deduz-se que quase 5.000 pessoas [...]. Outra nuance que
deve ser focalizada, é a cota dos juizes, agora baseada em percentagens
sobre a renda. Ao Juiz que tem direito a 2 % coube Cr$ 9.406,00 [...] cada
bandeirinha [...] 1% [...] isto é, Cr$ 4.653,00 [...]. Se todas as rendas
fossem como as de Confiança x Sergipe, não seria mau financeiramente
[...]”. Gazeta de Sergipe. 29/01/1964. (p.7).
Quadro 4 Expressa o Potencial de Renda dos Jogos entre Confiança e
Sergipe (*)
DATA JOG
O
VALOR
Cr$
OBSERVAÇÃO
03/01/63 (*) 122.880,0
0
Maior renda camp.
Sergipano 62
30/03/63 (*) 180.020,0
0
Campeonato de 62
01/05/63 (*) 272.672,0
0
Recorde do campeonato de
62
20/11/63 (*) 450.150,0
0
Campeonato de 63
recorde
28/01/64 (*) 465.100,0 Campeonato de 63
– Confiança quer Mais Um: Valdemar é o visado
Associação Desportiva Confiança, o maior arrematador no leilão de
craques este ano, ainda não parou sua corrida [...] visando
arregimentar craques para aumentar seu fabuloso plantel.” (grifo
meu). 06/04/1962.
Confiança Contrata Preparador Físico O Desportista Félix D`Avila (p.
5). 11/04/1962.
– Confiança quer Tarati. Gazeta de Sergipe. 26/04/1962
– Direção do Confiança Reage: punição para toda a equipe.
“Em reunião ocorrida na noite de Segunda-feira, a direção da Associação
Desportiva Confiança, resolveu aplicar punição em massa a todos o
jogadores que integraram a equipe que perdeu para o Olímpico por dois
tentos a zero. Dez por cenot (sic) sobre os vencimentos foi a taxa fixa
aplicada sobre todos os atletas [...]. Não somos favoráveis a medidas
drásticas. Faltam-nos porém, elementos com que contestar a justiça da
medida imposta pelo Confiança aos seus atletas, tanto mais agora no
regime profissionalista em que vive o nosso futebol. Lutando por fazer
excelente figura no certame que se aproxima, os dirigentes do clube do
[...] não m medido esforços no sentido de formar um bom quadro[...]”
(.p.5). Gazeta de Sergipe. 09/05/1962.
– Repercutiu Favoravelmente a Punição
“[...] punição imposta aos atletas operários pela direção do clube foi
recebida da melhor forma possível. [...] prometeram (os jogadores) maior
empenho nas pelejas futuras”. Gazeta de Sergipe. 11/05/1962 (p. 5).
– Confiança Contrata Técnico Baiano: Fernando Lopes Chegará Hoje.
Gazeta de Sergipe. 12/05/1962.
– Juan Cely no Confiança
O técnico argentino Juan Cely que vinha dirigindo o América de Propriá,
foi contratado [...].Gazeta de Sergipe. 24/05/1962.
– Confiança Campeão
“O Confiança venceu merecidamente a primeira competição oficial do
futebol profissional em nosso Estado [...]”.Gazeta de Sergipe. 05/06/1962.
- Joaquim Ribeiro Prestigia seu Clube
“Em declarações prestadas a GS-Esportiva, o Presidente do
Confiança Sr. João Carlos Mendonça ressaltou o total apoio que o
industrial Joaquim Ribeiro vem destinando ao Confiança. Mesmo sem
aparecer aos olhos da crônica especializada [...], o Dr. Joaquim colabora
valiosamente com o clube: “sem a ajuda dele e de outros como o
Professor Valquírio e Roberto Santos, nada seria possível [...]”.Gazeta de
Sergipe. 19/08/1962.
manhã, me lembro bem, Dona Finha
111
, esperava sentadinha [...], prá me
trazer notícia do Confiança, [...]. Ai, resultado: eu abracei a causa do
Confiança, o Confiança Abandonou a Federação. [...], era o governo
Udenista, Leandro Maciel [...] eu sei que fui comunicado que não podia
mais entrar na Rádio Difulsora [...] resultado: Donisete mandou me chamar
[...], você é alma dessa rádio, não é só no esporte, no seus programas [...],
Dizem que você do lado do Confiança [...] Ai eu expliquei a ele. Rapaz,
infelizmente o governador mandou, e eu recebi ordem que você não
pode entrar na rádio. O programa pode continuar, mas você não pode
falar, a verdade é essa. Você não tem ninguém no seu esquema que pode
te ajudar [...]. Tudo bem, o Dr. Joaquim, que é o dono do Confiança, eu
brigando pelo Confiança. Aí, fui lá na fábrica, me recebeu [...] entre aqui,
me botou no carro e saiu [...], fique aí que eu volto já [...], quando voltou: o
homem está irredutível, você o pode entrar na rádio [...]. Depois, ele
ofereceu um jantar na quadra da fábrica, quando o Confiança voltou ao
futebol, eu falando [...] eu ao lado dele [...] e o Confiança foi campeão. Foi
por esse tempo, que pretenderam me pegar tamm, numa madrugada
[...].
O Confiança voltou a estruturar-se contratando o que havia de melhor no
futebol sergipano jogadores, técnicos e preparadores físicos ou seja, decidiu
organizar para se manter hegemônico. Realiza diversos amistosos, testando seu
novo “plantel” e exigindo, como sempre, o posicionamento profissional de seus
jogadores. Às vezes, multando quando os resultados não eram satisfatórios.
Portanto, resumidamente, a partir da mídia impressa, transcorrerei esse seu “novo”
momento.
O Confiança Sofre Nova Estrutura em 62. Gazeta de Sergipe.
21/03/1962.
Conquista a II Taça Cidade de Aracaju em disputa com o Sergipe.
Gazeta de Sergipe. 24/03/1962 .
Walter, Ruiter e Beto as Estrelas que o Confiança Apresentará à sua
Torcida no amistoso desta tarde contra o Paulistano.
“O Confiança movimentou o futebol do Estado com uma série
de contratações [...]. Sem dúvida, foi uma das mais arrojadas
iniciativas do presidente João Carlos Mendonça, bem incentivado
pela colaboração do patrono do clube, Dr. Joaquim Ribeiro [...]
acreditamos que o Dragão do Bairro iniciou o ano com o pé direito
[...]. (grifo meu). [...], não constitui mais segredo [...] que o Confiança que
conquistar, este campeonato [...]. (p. 5). Gazeta de Sergipe. 25/03/1962.
111
Torcedora ”símbolo” do Confiança. Estava presente em todas as manifestações do clube,
principalmente, no tocante ao futebol.
– O Confiança afastou-se da liga – Por Hildebrando de Souza Lima
“Os últimos acontecimentos esportivos que originaram o afastamento
[...]. Mesmo admitindo houvesse o campeão de 54, sofrida uma série
interminável de perseguições e injustiças, do presidente da F.S.D, Sr.
Manoel Moura Filho [...], mesmo assim, achamos injustificável o seu
afastamento da Liga [...]. Não usaremos esta coluna para fins
desagregadores. Não sabemos onde está a razão, e por isso mesmo,
não opinaremos contra ou a favor do Confiança [...]. Nos limitamos a
comentar às ocorrências com imparcialidades [...] atribuindo tais atitudes
como frutos de paixões exacerbadas, partidas de espíritos egoístas e
inconformados [...] de elementos que nunca foram desportistas e que
jamais compreenderam que o Esporte é a alegria e amizade entre os
povos. Mas o esporte sergipano, não sofrerá tamanho golpe sem o
nosso protesto. Batalharemos pelo seu soerguimento e
combateremos por todos os meios ao nosso alcance contra
àqueles que desejam a sua destruição [...]”(grifo meu).Sergipe
Jornal. 15/12/1955.
Relacionei este acontecimento, nesta temática (mídia), pelos
desdobramentos que ele causou, pois, um dos aliados pelo seu retorno (Confiança)
ao futebol no Estado, foi justamente a mídia. Nesse sentido, o canal de acesso entre
os apaixonados torcedores, era os locutores - Cronistas esportivos e
principalmente, por que, a partir daí, com o seu retorno em 1957, vai caracterizar-se
o terceiro momento hegemônico do Confiança que culmina com a profissionalização
(1960) e sua “aparição” para Região Nordeste, como uma equipe forte epoderosa”.
Apesar da separação, a fábrica (na pessoa do Sr. Joaquim Ribeiro) continuava a
apoiar o clube, financeiramente, bem como, suprindo-o nas condições materiais. O
envolvimento dos jornalistas diante deste fato, foi decisivo para o seu retorno ao
futebol.
Parece-me a partir do contexto que se configurou este clube - de sua
formação, de seu caráter espetacular, de sua popularidade que a mídia, na figura
dos cronistas esportivos, logo percebeu seu caráter mercadoria muito antes de sua
profissionalização. Não posso descartar esta análise e apenas aceitar a idéia de que
o Confiança, em voltando a participar da FSD, seria “bom” para o futebol. Fica
evidente que a sua presença em qualquer competição, representava um bom
público e, consequentemente, uma boa renda nos Estádios.
E
04-1
- [...] eu abracei a causa do Confiança, mesmo sendo Sergipe, eu
tinha um programa Bola na Rede, da “Velha Difulsora”, [...], quase toda
convite da A.D. CONFIANÇA para assistir as solenidades de
inauguração do novo Estádio, deseja aos seus digníssimos
dirigentes felicidades desse empreendimento (grifo meu) [...]”.Correio
de Aracaju. 20/04/1955.
GOLEADO O VASCO pela forte equipe do Confiança pelo placar de
4 x 1 caíram os cruzmaltinos UM BOM PÚBLICO E UM REGULAR
ESPETÁCULO [...], EXCELENTE EXIBIÇÃO DOS PROLETÁRIOS,
SAGRANDO-SE COM MUITA JUSTIÇA CAMPEÃO DESTE PRIMEIRO
TURNO [...] BOA RENDA E BOA ARBITRAGEM. Correio de Aracaju.
20/07/1955.
– “Invicto o Confiança no primeiro turno” Sergipe Jornal. 21/07/1955.
– “CONTEMPLADOS COM MEDALHAS DE PRATAS OS CAMPEÕES DE
1954”
“Em solenidade realizada[...] na sede social da Associação Desportiva
Confiança [...] que brilhantemente levantaram o título de campeão
absoluto do Estado, foram agraciados com lindas medalhas de prata,
gentilmente ofertadas pelo Sr. Governador do Estado e patrocinadas pela
Associação do Cronistas Esportivos de Sergipe (grifo meu)
[...].Sergipe Jornal. 30/07/1955.
– “Suícidio Esportivo da Associação Desportiva Confiança”
“reunida às últimas horas da tarde de hoje, para deliberar sobre os
recentes acontecimentos, que provocaram seu desligamento da
Federação Sergipana de Desportos, a Associação Desportiva Confiança,
em sessão secreta, chegou a conclusões extremistas que, pouco
tornadas públicas, já causaram surpresas e consternações dos meios
esportivos em geral. Dissolveu seus times de Vôlei, Basquete e Futebol.
Não aceitaqualquer sugestão de reconciliar com a federação presidida
por Moura Filho e no próximo Domingo, após jogar sua partida de
despedida no Estádio “Joaquim Ribeiro”, contra o Olímpico, QUEIMARÁ
SUA BANDEIRA E FECHARÁ PARA SEMPRE AS PORTAS DO SEU
CAMPO DE FUTEBOL. Tal decisão do queridíssimo e excelente onze do
Bairro Industrial” origina de seguidos desentendimentos entre sua direção
e a presidência da Federação Sergipana de Desportos. O suicídio
esportivo do Confiança no Domingo que vem, de portões abertos, no
Estádio “Joaquim Ribeiro”, se constitui num acontecimento melancólico
que comoverá às lágrimas os seus torcedores e aracajuanos em geral. O
CONFIANÇA, antes de executar seu plano suicida, deveria, pensando
justamente o valor de sua existência no esporte citadino, ponderar nas
consequências que seu ato extremo importará, dando lição de fraqueza
aos contemporâneos do esporte em Aracaju, e entrando para a
posteridade com uma ação que, apesar de muita altiva, é bem pouco
digna do bem que lhe queremos todos os sergipanos[...]” Obs – Destaque:
Na tarde de 18 jogará no Estádio Joaquim Ribeiro, contra o
Olímpico a sua última partida, será, queimada a bandeira e
fechados os portões do campo do Bairro Industrial – síntese da
tragédia (grifo meu). Sergipe Jornal 09/12/1955.
momento, em discurso improvisado, diz que: "como é para o bem de todos e
felicidade maior do Confiança, o Confiança fica e a Fábrica sai, porque o Confiança
não pertence mais à Fábrica, o Confiança, agora é do povo!" (Op.cit., p. 2b). Fato
este que é ratificado pelo filho do dono da fábrica, conforme depoimento abaixo.
E
97-1
- Eu sei que a primeira partida do campeonato, foi com o Sergipe no
Velho Adolfo Rollemberg, onde hoje é, casas habitacionais lindas ali perto
do Colégio Atheneu Sergipense, era ali, nós ganhamos de três a zero.
[...]o local do Sergipe, nós ganhamos ali, dentro. O segundo jogo devia
ser no campo proletário que meu pai construiu [...], Ai, nesse segundo
jogo, deveria ser lá, a gente ia ficar com a taça, [...] um timasso, Pajé, Aldo
é gente rapaz. La Botinho, era vigia da fábrica, de mentira, mas jogava
era futebol (grifo meu). Ai rapaz, o Sergipe foi para Federação e imbocou
e disse que não ia jogar não, porque o campo neutro era aqui, para fazer o
segundo jogo aqui também. A Federação mudou tudo, cancelou o jogo de
, na época era FSD, [...], ai meu pai fez um ofício para a Federação
desfiliando o Confiança. [...] eu sei que [...], o time saiu do campeonato.
[...], teve um movimento na cidade inteira houve uma passeata, [...] ai o
Confiança começou a ter suas raízes ampliadas, saiu da área operária só,
cresceu para toda Aracaju. Saiu uma procissão, dai do centro da cidade
até o Bairro Industrial, ai se prepararam, montaram o palanque
rapidamente, improvisado, para meu pai a sua declaração final. [...],
defronte da fábrica, eu sei que todo mundo lá [...] meu pai nervoso,
pegou o microfone: "como é para o bem de todos [...] e felicidade geral do
nosso clube , o Confiança hoje, não é mais da brica, é do povo, eu
saio”. Então, entregou o clube ao povo.
Os relatos abaixo, capturados da mídia local, apontam para as pretensões
do clube, ou seja, seu poderio enquanto equipe e sua intenção de sagrar-se bi-
campeão (54/55). Até porque, como expõe alguns entrevistados, era o ano do
centenário de Aracaju e, portanto, todos queriam ganhar a competição. Estava
evidente que o Confiança obteria êxito. Vejamos parte desta campanha
(resumidamente) e tamm, como a mídia noticiou sua saída do futebol.
Conquistou o Confiança o campeonato absoluto do Estado. Correio de
Aracaju. 29/03/1955. (Obs: Referente ao ano de 1954).
Será inaugurado o novo Estádio o campo do Confiança será teatro de
recepções várias. Correio de Aracaju. 20/04/1955.
- Confiança e Passagem, inaugurando a nova praça de Esportes.
“Conforme é do conhecimento blico, inaugurar-se-á amanhã o novo
Estádio do Confiança[...]. Conforme esperávamos foi feito vistoria com
resultado satisfatório [...]. O Correio de Aracaju que recebeu o honroso
A Gazeta Esportiva estimula a participação do público junto ao
campeonato. Concurso: 1 - Quem será o artilheiro do certame? 2 Quem
será o time campeão? Assim, quem acertar a primeira questão ganhará
um presente (não especificado) e quem acertar a Segunda questão, uma
assinatura grátis do Jornal por três meses. Gazeta de Sergipe.
08/01/1964.
A C E S Promove o Torneio II Taça Cidade de Aracaju (Quadrangular).
Correio de Aracaju. 16/03/1961.
– “Domingo início da temporada de 61”
A C E S Premiará participantes e públicos. Ex: Liquidificador, um
conjunto esporte, uma calça esporte e maillot, um ferro elétrico, etc.
Correio de Aracaju. 04/07/1961.
Com a profissionalização (1960), a espetacularização esportiva ganha
uma outra dimensão com o aumento do público que presencia o espetáculo
esportivo. Entende-se que a transição amador/profissional, teve como propulsora a
imprensa local, e fica evidenciado é que a FSD, responsável pelo esporte (futebol)
no Estado à época, bem como os “patronos” dos clubes, sabiam da importância de
contar com o apoio da imprensa (mídia) falada e impressa. Como nos dias de hoje,
pensar em esporte-espetáculo, ou melhor, telespetáculo Betti (1998), é quase
impossível sem a Mídia.
Um fato fundamental na história do clube, e que foi essencial nessa
investigação, é quando o clube se separa da fábrica. Segundo Viana Filho (1994),
isto ocorreu em 1955, na decisão do campeonato sergipano entre Sergipe e
Confiança, numa série de melhor de três. Na primeira partida, realizada no campo
do Sergipe (não era seu Estádio, o qual foi construído muitos anos depois), em
sua “Zona” (sul) e o Confiança venceu por 3 a 1; então, a segunda deveria ser
realizada no estádio Proletário (campo do Confiança), construído neste mesmo ano
e com esse propósito. No entanto, a Federação marcou a segunda partida para o
mesmo local do primeiro, o que ocasionou desentendimento entre o clube e a
Federação, culminando com a saída do Confiança do campeonato. O Sr. Joaquim
Ribeiro, dono da Fábrica e do Clube, desanimou-se com o episódio, ameaçando
acabar com todas as atividades esportivas do Confiança. Foi então que um grande
movimento - membros da sociedade, cronistas esportivos, operários etc, é realizado
em forma de passeata, saindo do centro da cidade aas proximidades do Clube,
pedindo a volta do clube aos gramados. O Sr. Joaquim Ribeiro, envolvido por este
Percebe-se então, a força (simbólica), no sentido de expor as “coisas
boas”. Pois, mesmo perdendo os jogos, a mídia ressalta o valor da equipe. Neste
sentido, a mídia começa a ganhar espaço no tocante a promover o esporte e
principalmente, o futebol. Cabe aqui o reconhecimento pela iniciativa desses
“Cronistas” na tarefa difícil de não só divulgar, mas tamm realizar torneios, como o
Torneio Início do campeonato oficial do Estado, evento este exclusivamente,
promovido pela ACES.
Será Domingo o Torneio Início do Campeonato Oficial. Diário de
Sergipe, 06/07/1949.
– Ansiedade em Torno do Torneio Início. Diário de Sergipe, 07/07/1949.
“Prêmios para os campeões do Torneio Início”
[...] A Associação dos Cronistas Esportivos está agariando prêmios para
os craques do quadro que se sagrar campeão [...]. Aderiram a essa
campanha [...]:
Sapataria Elite
Ótica Santana Ltda
Casa Ávila
Gruta Sergipana
Confeitaria Oriental
Um tubo grande de Byl Cream
Uma máquina fotográfica
Um estojo de Crocodilho (notas e níqueis)
Uma caixa de charutos “costa flor”
Um litro de vermute
Vê-se de maneira ainda “singela” e amadora, a iniciativa da Mídia de
associar o espetáculo esportivo na esfera da circulação do capital junto ao comércio
e à ótica do mercado. Segundo depoimentos, eles eram liberados, ou seja, tinham
“carta branca” para realizar o evento e a FSD organizava, assim, ficavam livres para
procurarem patrocínios e, com isso, financiavam o evento. Além disso, a ACES
estimulava o público e jogadores com prêmios, intervia na fórmula do campeonato
etc. Uma força que se iniciava ainda singela se comparada aos dias de hoje, com a
manipulação/apropriação que a Rede Globo exerce sobre campeonato brasileiro de
futebol, com a compra dos direitos exclusivos de transmissão, definição dos horários
dos jogos etc.
– Teste Esportivo
Qual a constituição do Selecionado Permanente que entrará em campo
por ocasião do seu primeiro jogo?
Respondendo ao teste Esportivo você receberá como prêmio a
importância de Cr$ 1.000,00. Aqueles que acertarem a Constituição da
Seleção, serão chamados por este jornal para assistirem ao sorteio dos
cupons. Correio de Aracaju. 04/06/1959
– Um Grande Dia – Uma Grande Homenagem – Uma Excelente Partida
“O de maio, que amanhã comemoraremos será assinalado [...]. Duas
grandes empresas têxteis, Peixoto Gonçalves e Cia, de Neópolis, e
Ribeiro Chaves e Cia, desta capital [...] representada numa partida
espetacular de futebol, entre as duas valorosas equipes mantidas por
aquelas empresas [...]”. Diário de Sergipe. 30/04/1949.
– Uma Difícil, Mas Merecida Vitória do “Confiança
“Conforme prevíamos, o campo do Tobias Barreto foi teatro, Domingo
último, de uma partida simplesmente espetacular [...]. Quanto ao
Confiança, já sabemos do seu poderio, da sua organização e de seu
conjunto de craques experimentados [...]. O operariado das duas
empresas teve grátis o seu ingresso ao campo do Tobias Barreto, e,
apesar disso, a renda quase chegava aos quatro mil cruzeiros”. (grifo
meu). Diário de Sergipe. 05/05/1949.
Perece-me então, que o “agendamentoque a mídia impressa realizava,
cumpria a função de atrair o público e isso se efetivava com uma boa renda na
opinião dos cronistas esportivos. Outro aspecto importante, refere-se a data em
questão, ou seja, a comemoração do dia do trabalhador. Fica evidente a
aproximação do clube e a direção da fábrica e, com isso, aproximando também os
operários. Este é um dado interessante que vai repercutir na popularidade do
Confiança, ou seja, as camadas populares mais pobres e do Bairro Industrial,
também pobre, começa a admirar e a prestigiar o clube que tem a sua “cara”, pelo
menos pela simples aparência, é claro.
O Segundo momento, refere-se a excursão do Confiança à cidade de
Recife, em que são realizados amistosos com a equipe do Santa Cruz daquela
cidade.
– BRILHANTE ESTRÉIA DO CONFIANÇA EM RECIFE
“Enquanto as atenções do blico esportivo aracajuano estavam voltadas
para o “macth”interestadual de Domingo [...], em Recife a Associação
Desportiva Confiança, desta capital, fazia sua brilhante estréia enfrentando
o famoso quadro do Santa Cruz, daquela cidade”. Correio de Aracaju.
22/03/1950. (Obs: perdeu por 1 a 0).
– DERROTADO – O CONFIANÇA
“Encerrando a sua temporada ontem em Recife, a Associação Desportiva
Confiança em partida revanche, frente ao “Santa Cruz”, foi derrotado [...] 4
tentos a 1. Convém ressaltar, que o quadro do Bairro Industrial, manobrou
no placar até aos 25 minutos da fase derradeira, para depois cair
fragorosamente”. Correio de Aracaju. 30/03/1950.
devidas proporções, no Estado de Sergipe (em Aracaju), essa aproximação também
se efetivou. Era comum, nas excursões, os clubes de futebol, levarem como
acompanhantes cronistas esportivos; por exemplo, em 1950 a excursão do
Confiança à cidade de Recife/PE e também, em 1962, na cidade de Maceió.
- CRONISTAS ACOMPANHARÃO CONFIANÇA
“Convidados pelo Presidente da FSD quatro cronistas esportivos para
Maceió [...] com finalidade de efetuarem a cobertura da temporada azulina
[...]”. Gazeta de Sergipe. 29/07/1962.
A partir do momento que o Confiança se firmava enquanto equipe,
paralelamente, a mídia local cumpria um papel de divulgá-lo e estimular o público a
prestigiar os eventos futebolísticos. Destaquei dois momentos que são interessantes
para se observar esta iniciativa da mídia. Primeiro, ao oficializar a sua entrada no
campeonato do Estado, junto à FSD, o Confiança realiza um amistoso
comemorando tamm, o dia 1º de maio (Dia do Trabalhador). Percebe-se como a
Mídia (impressa) acompanhou este evento no sentido de publicizá-lo (agendá-lo) e,
ao mesmo tempo, convocar o público a comparecer ao “espetáculo”.
– Confiança x Passagem (Neópolis), Domingo em Aracaju
“Uma grande partida de futebol está sendo programada para o próximo
Domingo, nesta capital [...]. Trata-se do embate Confiança x Passagem
dois grandes quadros pertencentes a duas das maiores fábricas de tecidos
de nosso Estado [...]. Será um espetáculo magnífico [...] homenagear a
todas as classes trabalhistas no dia do trabalho”. Diário de Sergipe.
25/04/1949.
– Grande Ansiedade Pelo Amistoso de Domingo
“[...] Todas as providências estão sendo tomadas para que o numeroso
público que comparecerá [...] não encontre atropelo [...]. Teremos uma
assistência colossal, talvez a maior destes últimos tempos [...]. Daremos
novos comentários no decorrer da semana”. Diário de Sergipe.
27/04/1949.
– Renda “Récorde” na Grande Peleja de Domingo
“há uma ansiedade incrível, nos nossos meios esportivos, em torno da
grande peleja amistosa de Domingo [...]. Com certeza, prenuncia-se, para
Domingo, uma renda récorde no campo da rua Divina Pastora. Diário de
Sergipe. 28/04/1949.
– Aproxima-se o “Clássico” Passagem x Confiança
“Finalmente, 48 horas apenas nos separam do grande amistoso [...]”.
Diário de Sergipe. 29/04/1949.
Estou convicto de que a mídia teve um papel importante na construção
desse imaginário e principalmente, com a criação da ACES
110
. Um dos objetivos
desta Associação, era divulgar mais o esporte, por isso idealizam uma Gazeta
Esportiva para divulgar com maior amplitude as informações referentes ao esporte.
Entendiam os “Cronistas”, que os jornais deveriam conceber um espaço maior
para noticiar, principalmente, o futebol. No entanto, esta Gazeta funcionava como
um apêndice dos jornais, seu nome aparece nas “chamadas” das notícias
esportivas. Era comum, no jornais pesquisados, encontrar a mesma informação
esportiva em jornais diferentes.
Fica evidenciado/regulamentado o canal” de acesso entre os patronos e a
mídia; entre a Federação Sergipana de Desportos (FSD) e a mídia; entre o público e
a mídia; entre o comércio e mídia, e a mídia entre si (Os cronistas do rádio passam a
interagir com aqueles que escreviam sobre o esporte). Acredita-se que a relação
mídia e esporte, em Sergipe, não se deu tão desinteressada e com a função apenas
de noticiar os eventos esportivos, pois já se evidenciava uma relação de interesse
financeiro, haja vista que a ACES, além de patrocinar o Torneio Início do
Campeonato Oficial do Estado (a qual a renda pertencia a ela) e outros torneios,
recebia 1% (um por cento) do total das rendas dos jogos do Campeonato Oficial.
Nesse sentido, a própria sociedade, e principalmente os donos dos clubes
reconheciam seu papel e a sua relevância na divulgação do futebol no Estado, algo
que lhe rendeu um aumento percentual na apuração das rendas nos jogos.
A C E S terá 5%
“o Santa Cruz [...], proporcionou a Associação dos Cronistas Esportivos de
Sergipe o aumento de sua percentagem nas rendas deste ano pelo
Certame Estadual um aumento de 4 % passando assim para 5 %. Desta
forma a renda dos jogos será distribuída da seguinte forma: FSD, 40% -
Santa Cruz e Sergipe, 27%, Estádio, 10% e A C E S, 5%. Correio de
Aracaju. 29/03/1962.
Para Melo (2001), na década de 1890, no Rio de Janeiro, os clubes
viviam a mimar a imprensa com homenagens e privilégios, enquanto a imprensa
aumentava rapidamente sua atenção para as práticas esportivas. Guardada as suas
110
“A primeira medida, é fazer circular a Gazeta Esportiva no mais breve tempo possível, vez que os
jornais não satisfazem o desenvolvimento do esporte [...]”. Correio de Aracaju.19/06/1952.
“Passamos a colher melhores frutos”, representa, em poucas palavras, a
dimensão que atingiu a mídia na sua relação com o esporte. Sua aproximação e
hoje, dominação, me faz ver o quanto a mídia está em toda parte e o esporte em
toda mídia” (BETTI, 1998a, p. 80).
A Associação dos Cronistas Esportivos de Sergipe, ganha um papel de
destaque na promoção do espetáculo esportivo. Assim, ela passa a exercer não
essa função, mas, sobretudo, adquire uma expressiva força simbólica (econômica).
Conforme abaixo, com apenas dois anos da fundação, expressa esse papel, como
também faz valer a sua força ao exigir melhores condições de trabalho.
Apelo que esperamos seja atendido. A Associação do Cronistas
Esportivos de Sergipe vem de lançar [...] e com muita razão, um apelo à
Administração do Estádio de Aracaju, no sentido de colocar uma mesa
onde fiquem melhor acomodados os militantes da crônica esportiva [...].
Que a Administração do nosso Estádio encare com devida boa vontade
[...] o apelo feito pela A.C.E.S, que a hoje tem trabalho pelo
engrandecimento do nosso esporte [...]”. Correio de Aracaju. 16/03/1951.
– O Torneio Início será Domingo
“[...] como ficou acertado à Associação dos Cronistas Esportivos de
Sergipe será patrocinadora da festa [...] é pensamento da “Associação dos
Cronistas” premiar todos os clubes vencedores, numa inequívoca de
incentivo e estímulo aos seus atletas [...]”.Correio de Aracaju.
20/03/1951.
Será uma grande festa a abertura do Torneio Início de 1951”. Correio
de Aracaju. 21/03/1951. (Obs: reforça a mensagem anterior e expõe a
necessidade de uma parceria com o comércio).
Assim, a imprensa foi concedendo ainda maior atenção e espaço,
divulgando as práticas esportivas a partir do momento que essas práticas se
tornaram mais organizadas, principalmente, com a formação dos clubes futebol
que por trás, aparecia sempre a figura do “Patrono”. Homem importante no Estado.
E
04-1
- Mas, no começo, [...] os jornais não gostavam de esporte não, era
política. Prá se botar uma nota era um problema! [...], ai eu pegava uma
notinha, entrava de mansinho [...]. Às vezes até, Paulo Costa dizia: já vem
você com suas notas de futebol, né?! Na rádio, eu sempre levava os
comentário, para que fossem lidos”.
E
04-2
- 1949, nós éramos 18 elementos, [...] o idealizador, foi José Tomaz
Gomes da Silva [...]. Então, ele idealizou e as primeiras reuniões foram
realizadas nos próprios órgãos que nós trabalhávamos. Ele era cronista
esportivo do Jornal de Sergipe e eu era cronista esportivo do Sergipe
Jornal [...]. Então, José Tomaz, [...] reuniu alguns elementos, alguns eram
colunistas [...], e ai fundamos a Associação. [...], na verdade é que
juntamos 18 e [...], então fundamos a entidade e ficamos. Tanto para que
você possa imaginar o esforço que foi feito prá fundar a Associação, basta
dizer que todo o material, material preliminar para ofícios, e tudo mais da
parte administrativa, saiu do bolso de Josë Tomaz, né?! Com a promessa
de que quando a Associação fosse fazendo um caixa, ele fosse
ressarcido;
E
04-2
- Bem, o objetivo era o seguinte: é que na época havia muitos
cronistas, mas [...] entravam no campo, como se fosse, mas na realidade,
eles não tinham o jornal. Então, como estava um negócio muito vulnerável,
ai José Tomaz disse, nós vamos fundar a Associação. E um dos
incentivadores para que nós fundássemos a Associação, foi o Vasco. O
Clube do Vasco. [...] era um grupo [...] que frequentava a festas todas e
quando chegava nas festa, ah eu sou cronista esportivo. Não havia
comprovação, o havia carteira, não havia nada, entravam nas festas e,
às vezes, abusavam das coisas, [...] e assim, fundamos e até hoje vive;
E
04-2
O Torneio Início, quando começou logo, [...] a renda era da
Federação ai, eu fiz uma reivindicação [...] e a renda do Torneio Início
então, passou a ser da Associação dos Cronistas. A Federação
organizava e nós íamos atrás de patrocínio [...];
Hoje esta entidade tem o nome de Associação dos Cronistas Desportivos
de Sergipe ACDS. Segundo um dos seus fundadores, a idéia de mudar o nome da
entidade, nasceu de sua amizade com o Presidente da Associação dos Cronistas de
Alagoas Estado vizinho e lá utilizava-se a expressão Desportivos. Para Melo
(2001), a utilização de terminologias em línguas estrangeiras é uma das influências
européia no desenvolvimento do esporte no Brasil. Aqui, estou me referindo as
seguintes terminologias: Desportos, que vem do Francês Deporte e Esporte, que
vem do Inglês Sport.
E
04-2
– Aliás essa sigla foi sugerida por mim. Ela era Associação dos
Cronistas Esportivos de Sergipe e hoje é: ACDS. Associação dos
Cronistas Desportivos de Sergipe. Nós tínhamos um vinculo de
aproximação muito forte com a ACDAL, [...] fazíamos uma interação.
Então, eu me inspirei [...] e foi aceito em reunião de uma assembléia geral.
[...] mudou para ACDS, Associação dos Cronistas Desportivos de Sergipe.
Fundada a Associação, na realidade a coisa personalizou [...] e ai,
passamos a colher melhores frutos (grifo meu).
E
97-1
- “[...] até chegar 49 quando o futebol era coqueluche, próximo da
copa do mundo de 50, [...], no Maracanã, no Rio de Janeiro. No ano de 49,
era um ano de muita motivação futebolística, que todo mundo queria se
espelhar na véspera da copa do mundo, porque essa foi a primeira copa
depois da guerra [...]”
No tocante a criação da ACES, ela foi fundada em 31/08/49, mas seu
nome já circulava na Mídia, antes mesmo dessa data
109
. Sua relação com o futebol e
principalmente, na “promoção” do Confiança, foi fundamental para torná-lo objeto de
desejo. Neste aspecto, entende-se que o papel da mídia falada e escrita foi
relevante para expansão do esporte no Estado de Sergipe.
Na América do Sul tem sido destacado o papel da imprensa escrita e
falada para o desenvolvimento do futebol. Concorda-se com Proni (2000), quando
explica que atribuir à mídia o sucesso do futebol (profissional), representa um
exagero. No entanto, entende-se que seu papel, no caso do futebol no Estado de
Sergipe, foi significante, para alcançar um período auge no Estado.
Isso não significa dizer que ela (mídia) tenha criado artificialmente a
demanda esportiva no Estado. No entanto, fica claro que, quanto à aceleração do
processo de popularização, ela foi incisiva. Acredita-se que foi com a mídia
(representada pela ACES), que o futebol no Estado ganhou uma dimensão para
além de suas fronteiras territoriais, pois havia um intercâmbio entre estas
Associações nos Estados do Nordeste (AL/PB/CE/BA/PE), na realização de torneios
e amistosos.
Compreende-se a observação de Proni (2000), de que os clubes de
futebol, no seu início, não tenham sido organizados como empresas capitalistas,
voltadas para comercialização do espetáculo. No entanto, aqui se configura uma
dimensão bem “estranha”, pois, quando o Confiança transfere suas atenções para a
prática do futebol, a sua história muda, bem como, a sua relação com o espetáculo,
com o público pagante, com a mídia e, principalmente, com comercialização, que
ganha um outro significado e faz brotar o processo de mercantilização de suas
práticas esportivas.
109
Ansiedade em torno do Torneio Início [...] Associação dos Cronistas Esportivos esagariando
prêmios para os craques do quadro que se sagrar campeão [...]. Aderiram a essa campanha
[...].Diário de Sergipe. 07/07/1949.
proporções, aqui no Brasil e em Sergipe, em especial, o foi muito diferente uma
vez que o futebol local, era praticado por uma elite e que depois, se popularizou. E
neste aspecto, o Bairro simbolizava um momento de extensão das folgas, das
brincadeiras e com isso, compunha um grupo que ia prestigiar seu clube (futebol)
torcidas assistindo as partidas de futebol. É nesse contexto, entre torcedores e
clube que a imprensa “aproxima” – para mediar – seus “apaixonados” torcedores.
O regime profissional, mesmo que seja de “fachada”
107
passa a ser melhor
aceito, devido ao processo de mercantilização da cultura nas cidades (Aracaju). É
neste sentido que os meios de comunicação passam a alcançar as camadas
populares, ou melhor, a intermediar o processo de acesso destas ao espetáculo
esportivo.
3.4 Da Fábrica ao Espetáculo do Confiança: Um casamento feliz com a mídia
Alguns fatores foram determinantes para a expansão do Confiança,
enquanto equipe de futebol. Primeiro, a formão/criação desta equipe às vésperas
da Copa do Mundo de Futebol, realizada aqui no Brasil em 1950. Segundo, e muito
relevante, a criação da Associação dos Cronistas Esportivos de Sergipe (ACES),
fundada tamm em 1949, com o propósito de realizar torneios, incentivo e
premiação aos jogadores e torcedores, aproximação com o comércio, e, mais ainda,
cobrar das autoridades competentes (poder público) a construção do novo “teatro”
do futebol Sergipano, o Estádio de Aracaju
108
, inaugurado em janeiro de 1950.
Fica evidente, a partir dos depoimentos, que o ano de 1949 simboliza um
marco na história do futebol brasileiro e mundial. Estamos num período que
antecede a primeira Copa do Mundo de Futebol depois da II Grande Guerra, e
principalmente, por se ter realizado aqui no Brasil. Para Proni (2000), após essa
Copa, o futebol ganha um caráter profissional, mundialmente e também, aqui na
América do Sul.
107
Proni (2001) – A Metamorfose do Futebol.
108
Durante o período de “colheita”, encontramos nos jornais, várias iniciativas da construção dos
Estádios e tudo indica, que a partir de 1948 até 1955, uma aceleração “proliferação” desses
“teatrosnas cidades de: Estância, Própria, Neópolis e Aracaju.
E
04-4
- Eles davam condições, quando tinha jogos importantes eles
concentravam, alugavam chácaras [...]. E tinha o campo ali. Naquela
época, [...] o Confiança tinha uma estrutura melhor.
E
97-6
O Roberto Santos, funcionário antigo da fábrica, ele era o elo de
ligação, quando ele sentia que o Dr. Joaquim estava meio
desanimado, [...], ele estimulava. Dizia para o Joaquim que o Clube
está trazendo a divulgação para o nome da fábrica (grifo meu), enfim,
começou com Roberto Santos a idéia e ele sempre cuidava do campo,
cuidava prá não faltar material esportivo. havia a visão que o retorno,
quer queira ou não estava vindo. Por isso, que de um tempo p
algumas pessoas começaram a colocar propaganda em troca dessa
divulgação da publicidade, então eu acho que o Confiança hoje representa
mais ainda, principalmente quando ele começa a fazer uma campanha
muito boa, você chega na Paraíba, Recife todo mundo conhece o
Confiança, quem é o Confiança? da brica Confiança, essa divulgação
mereceria, por parte da fábrica, maior apoio. De trazer atletas, contratar.
Eu acho que é importante uma coisa ade marketing da própria fábrica,
se ele se destaca cada vez mais, a nível nacional é bom prá fábrica. E
ninguém vai pode desvincular.
O futebol vai ganhando expressão/expansão no Brasil e em Sergipe.
Verifica-se que se tornou uma das grandes opções de lazer, principalmente nos
centros urbanos, devido à possibilidade de sua prática, sem necessariamente ter
que disponibilizar recursos financeiros, ou seja, os jovens, adultos, trabalhadores,
passaram a praticá-lo e tamm a assisti-lo. Depois, o futebol virou um espetáculo
muito apreciado, capaz de atrair milhares de pessoas dispostas a pagar. Assim, se
deu na Inglaterra e assim se deu no Brasil.
A princípio desenvolvido como um esporte amador e modelador do caráter
pelas classes médias da escola secundária, foi rapidamente (1885)
proletarizado e portanto, profissionalizado; [...]. Com a profissionalização, a
maior parte das figuras filantrópicas e moralizadoras da elite nacional
afastou-se, deixando a administração dos clubes nas mãos de negociantes e
outros dignitários locais, que sustentaram uma curiosa caricatura das
relações entre classes do capitalismo industrial, como empregadores de uma
força de trabalho predominantemente operária, atraída para a indústria pelos
altos salários, pela oportunidade de ganhos extras antes da aposentadoria
(partidas beneficentes), mas, acima de tudo, pela oportunidade de adquirir
presgio (HOBSBAWM apud PRONI, 2001 p.27).
Esta análise de Eric Hobsbawm refere-se ao caso do futebol inglês e que
deu origem a uma nova luta de classes (disputa ideológica). Guardadas as suas
existia de melhor, para administrar o futebol, como também, a disponibilidade de
materiais (em abundância), o tratamento com os jogadores, exigindo resultados e
posturas profissionais, a construção de seu próprio Estádio (primeiro clube na
capital), em pouco tempo de existência. Assim como também o posicionamento do
Sr. Joaquim Ribeiro, ao contratar árbitro de futebol de fora do Estado, para
abrilhantar o espetáculo, comandando o Clube como se estivesse comandando a
Fábrica, instituiu assim, um pensamento profissional, mesmo numa época ainda
amadora.
Os estudos de Ribeiro (1997), evidenciam que a relação Joaquim
Ribeiro/Clube não se deu de forma tão desinteressada. Ou seja, à medida que o
clube aparecia no contexto sergipano e nordestino, aparecia também e de forma
“conjugal”, o espectro da fábrica de tecidos. Antunes (1994, p. 106), explica que, “o
prestígio da empresa, não era totalmente dependente do desempenho da equipe de
futebol, podia, em parte, ser favorecido por ele. Afinal, o clube era uma espécie de
cartão de visita da empresa”.
– Descontentamento nas hastes do Confiaa
“Corre com insistência, que vários craques do Confiança abandonarão
[...] Clube, em virtude da “dureza” como o tratados [...]”. Diário de
Sergipe. 20/10/1949.
E
97-1
Bicho é uma instituição criada no Brasil errada, porque na Europa
não tem, você ganha o seu salário para trabalhar. Você pode, ao término
do campeonato, ter uma premiação, se for o campeão. Aqui a obrigação
de dar o bicho por vitória é o que quebrou os clubes, [...]. Tem outra coisa
chamada luva, [...] faz o contrato tem que luva, [...]. Dizem que a
carreira de jogador de futebol é curta, que estão quebrando os clubes
todos e os presidentes, em desespero, compram tudo e depois não pagam
nada. Não tem dinheiro para pagar o salário, quanto mais essa outra
parte. O Confiança [...] era uma equipe profissional para época.
E
97-5
[...] o Dr. Joaquim era um industrial, como industrial ele dirigia
profissionais. [...] apesar de ser um homem amante do amadorismo,
pensou profissionalmente.
E
04-3
- [...] Dr. Joaquim, buscava os jogadores, dando bons empregos na
fábrica, bons salários, então o clube sempre teve grandes jogadores.
Mesmo na época do amadorismo era era um clube com muita feição
profissional.
Associação não veio apenas figurar no cenário esportivo, veio marcar posição, GRANDE.
demais clubes de Aracaju, que tinham sua feição elitista e, de uma certa forma,
havia uma discriminação ao clube de periferia.
Neste sentido, vê-se claramente, conforme depoimento abaixo, que os
clubes sociais em Aracaju, eram para uma elite privilegiada e o Confiança, que era
visto como de periferia, rompe com este modelo, aproximando as camadas
economicamente mais baixa e, sobretudo, inserindo-se na elite de forma contra-
dominante, com o povo, sobrepujando aos demais com sua equipe de futebol.
Acredita-se também, que esse seja um dos motivos marcantes de sua
popularização.
E
04-1
- [...], quando apareceu a sigla ADC, [...] ficou aquela confusão.
Porque a maioria aqui era Clube Esportivo Sergipe, Palestra Futebol Clube
e tal, [...] ai, apareceu ADC, Associação Desportiva Confiança [...]. O
Confiança tinha na época, uma sede e havia uma festa, não me lembro se
era quinzenal ou mensalmente, havia uma festa dançante [...], onde ia
mais o pessoal da fábrica e em uma das festas, eu me recordo, que foi
alguém aqui do centro da cidade e não se ambientou muito com o grupo.
"o Confiança, não sei o que, tem gente que a gente nem conhece". Ai,
surgiu aquela justificativa que era para os operários da fábrica. Pois bem,
eu era um elemento que frequentava o Aracaju Esporte Clube no Bairro
Industrial, ficava perto da sede do Confiança [...]. Fiquei bem ligado ao
Bairro Industrial, de maneira que ia a maioria das festas do Confiança, eu
estava lá. Ai no dia seguinte, na minha coluna eu fazia a divulgação [...].
Então eles quiseram manter a tradição também no futebol [...].
E
97-6
[...] Cotinguiba de praia, Sergipe de Praia, o Confiança nada, [...]
zona norte, houve necessidade de ter um clube representativo naquela
região [...] não podia ficar tamm clube de elite porque o Cotinguiba
um clube de elite, Sergipe um clube de elite e o Confiança não. Surgiu
desse envolvimento, dessa idéia, talvez até tomando o exemplo do Bangu.
O Confiança um clube proletário, de uma área carente, zona norte.
3.3 O Profissionalismo “Oculto” do Confiança
Apesar de que, no Brasil, tenha se instituído desde 1934, o futebol
profissional em Sergipe somente foi oficializado em 1960. É com o Confiança que
encontrei indícios da profissionalização, antes mesmo desta data (1960). Não
apenas por formar a equipe a partir da Fábrica, mas, sobretudo, pelas condições em
que isto se deu. Podem ser citados, como exemplo disso, a contratação do que
simboliza toda dimensão que representou e representa a sua história. Pois, entendemos que esta
O slogan
106
de "já nasceu grande" representa a estratégia do Confiança
em formar grandes equipes esportivas (Basquete, Vôlei, Atletismo e Futebol),
contratando os melhores jogadores para trabalhar na fábrica e ao mesmo tempo,
integrar as equipes. Isso aconteceu desde a sua criação, até a formação da grande
equipe “arrasadora" de futebol em 1949, quando se ratifica este slogan. Segundo
Ribeiro (1997), o 01 de maio de 1949, representa o marco fundamental na
construção do imaginário e da representação social do clube Confiança. Neste
aspecto, percebe-se que o Confiança, por não se importar em perder os pontos,
devido a lei de estágio, configura então, o seu cartão de visita (da fábrica e do
clube). E também, as suas condições materiais, devido à brica, tornavam-no
“grande”, culminando, assim, com a aproximação da torcida (mais popular e menos
elite).
E
97-1
[...] eu não me incomodo de perder os pontos não, eu quero que
saibam que ganhamos pro time deles. [...] provocar e esperar a filiação.
(Obs: Expondo o pensamento do Sr. Joaquim Ribeiro).
E
04-3
- A torcida do Confiança [...], vai mais ao Estádio do que a do
Sergipe. [...] a torcida gostou muito desse nome. É um clube muito
apoiado financeiramente pela fábrica, tinha muito uniforme, muita chuteira,
tudo lá era abundante.
E
04-4
- E tinha o campo ali. Naquela época, Sergipe o tinha o campo [...]
Mas, o Confiança tinha uma estrutura melhor. Confiança, Sergipe eles
sempre tiveram boa estrutura. Principalmente o Confiança, por que a
fábrica dava aquele suporte. [...]. Mas, o Confiança tinha uma estrutura
interna, assim, melhor naquela época.
Observa-se também, que todas as comemorações do clube criação do
clube (1936), equipe de futebol (1949), inauguração do seu estádio (1955), etc.,
são oficializadas no dia de maio (dia do trabalhador), representando uma
aproximação entre patrão e empregado. Geralmente, o blico operário
(trabalhadores) tinha sua entrada gratuita nestas comemorações. Instituía-se uma
festa para os operários e para população mais pobre. Esta é uma relação
importante, pois, aproxima o clube das camadas mais pobres, diferentemente dos
106
A Associação Desportiva Confiança possui vários slogans construídos ao longo de sua história,
como: “Dragão do Bairro Industrial”; Da Caverna do Bairro Industrial; ADC, o Gigante Operário;
Campeão dos Campeões; A Academia do Futebol Sergipano, etc., no entanto, “Já Nasceu
Grande”,
-
O Confiança, por seu lado, ainda não teve oportunidade de pôr à prova
as reais possibilidades de seu poderoso onze”, composto dos maiores
cartazes que dispõe o nosso futebol [...]” - Diário de Sergipe. 05/04/1949.
- [...] O nosso visitante será o C.S.A do vizinho Estado de Alagoas [...] e
para encerrar a temporada o CONFIANÇA” é quem vai dizer o que sabe,
pois o seu onze é considerado como o melhor dentre os melhores.
Correio de Aracaju. 21/09/1950
E
97-3
- aquele slogan "já nasceu grande", é uma razão muito simples, [...]
resolveram colocar o Confiança no futebol, ele não foi uma equipe de
bairro formado lá no bairro industrial, ele já foi pegando jogadores já
formados e grandes jogadores, os melhores;
E
97-3
- Formou nasceu grande [...], jogava pelo interior não perdeu
nenhum jogo [...];
E
97-1
- [...] final de 48, um grupo de desportistas, intimamente ligado à
fábrica Confiança, resolveu organizar, administrativamente o clube,
reorganizar, criando uma seção de futebol e filiando a Federação
Sergipana de Desportos a fim de integrar no principal cenário futebolístico
da capital [...];
E
04-2.
- Quando o Confiança apareceu, foi imbatível. Agora, os jogadores,
nenhum deles tinha condições de jogo. Ele formou um time, como um
cartão de visitas.
Para que se tenha uma idéia da dimensão e poderio desta equipe que se
forma, quando da convocação da seleção sergipana em 1949, conforme destaque
do jornal abaixo, uma vez que o campeonato brasileiro era disputado por seleções,
09 (nove) jogadores do Confiança foram convocados. Outro aspecto que se observa
nesta convocação refere-se ao Bomfim, com o segundo maior número de
convocados – 05 - tamm era um clube de fábrica.
- Convocados os Craques para o Campeonato B. de Futebol
[...] Cotinguiba (02); Olímpico (03); Palestra (02); Bomfim (05); Paulistano
(03); Sergipe (03); Confiança (09); Ipiranga (03); Socialista (01). Diário de
Sergipe. 01/10/1949.
- O Confiança jogará Domingo em Penedo. Diário de Sergipe.
17/11/1949.
Resumidamente, expus a campanha do Confiança durante sua estréia”
(cabe-lhe bem este nome: exibição/espetáculo/show) no cenário do futebol
sergipano. Além desses jogos, houve vários amistosos no Estado de Sergipe e fora
dele. Percebe-se queem sua estréia, nos primeiros jogos, era comparado como a
um maior clássico (força do discurso da mídia, que entendo tinha a intenção de
estimular o público para assistir ao espetáculo). Esta relação é importante, pois
começa-se a criar uma outra dimensão, ou seja, o Confiança simboliza público e
renda, mesmo no período ainda amador.
É formada a grande equipe de futebol: contratam-se os melhores
jogadores do Estado e os empregam na fábrica para trabalhar.
E
97-1
“[...] meu pai apanhava atletas de regiões [...] botava como operário
da fábrica para jogar pelo seu time que era o Confiança”.
Quando estreou no campeonato Sergipano de Futebol, em 1949, este fato
o fez perder os pontos, uma vez que a lei de estágio obrigava o atleta amador,
quando da troca de clube, passar um ano sem jogar no campeonato oficial. No
entanto o Confiança não se importava: venceu quase todas as partidas e não foi
declarado campeão por causa desta lei. Neste contexto, verifica-se que a visibilidade
do clube, no cenário esportivo, que era o que interessava, estava evidenciada.
relatos nos jornais e através dos sujeitos que constróem esta história,
que ratificam o surgimento do clube (futebol) e seu caráter hegemônico. Destaca-se
que em 1948, o Confiança já se preparava para inserir-se ao futebol e marcar
definitivamente o seu “cartão de visitas”.
- A equipe do Confiança Excursiona pelo Interior do Estado. Sergipe
Jornal 04/12/1948;
- A equipe do Confiança realiza amistoso com o Olímpico em Aracaju.
Sergipe Jornal. 09/12/1948;
- Quanto ao Confiança, já sabemos do seu poderio, da sua organização e
de seu conjunto de craques experimentados [...].Diário de Sergipe.
05/05/1949.
“[...] assume as características de verdadeiro “clássico”, graças ao poderio
das duas equipes que se defrontarão”. Diário de Sergipe. 08/04/1949.
- Sábado Confiança e Palestra em busca do segundo posto”. Diário de
Sergipe. 09/04/1949..
– “Verdadeiramente sensacional o clássico de Domingo”
“Um público bastante numeroso compareceu [...]. Daí em diante o jogo
assumiu características espetaculares [...]. Podemos, dessa forma, sem
receio de errar que o clássico Confiança x Palestra foi o maior jogo do
atual torneio Adolfo Rolemberg”. Diário de Sergipe. 11/04/1949.
– “Excursionará amanhã o Confiança”
“Viajaamanhã a Maruim, onde enfrentará a forte equipe do “Socialista”,
o forte conjunto do “Confiança”. Diário de Sergipe. 28/05/1949.
Confiança x Olímpico o clássico de amanhã Diário de Sergipe.
23/07/1949. (Obs: referente ao campeonato da cidade).
– Venceu o Confiança por um erro do juiz
“[...] o espetáculo da tarde foi a atuação seguríssima do goleiro do Atântico
[...]”Diário de Sergipe. 08/08/1949.
– Confiança e Palestra os vencedores de ontem
tabela atual dos primeiros quadros Pontos Perdidos
1º lugar-Palestra e Sergipe [...] 0
5º lugar-Confiança 8
“Convém salientar que o Confiança está invicto, apesar de no último posto,
em virtude de perder os pontos em todas as partidas, por inclusão de
elementos sem condições de jogo”. Diário de Sergipe. 22/08/1949.
- Prossegue o “Confiança” em plena invencibilidade.
“não de negar que o quadro do Confiança vem desenvolvendo uma
situação invejável [...] vem perdendo os pontos dos seus jogos, por rios
elementos que integram estão ainda sem condições de jogo”. Diário de
Sergipe. 06/10/1949.
- Quebra a invencibilidade do CONFIANÇA
“[...] pela primeira vez [...] iria sofrer o dessabor de uma derrota [...]. Diário
de Sergipe. 18/10/1949.
– Venceu o Confiança como quis Diário de Sergipe. 08/11/1949.
– Campeão “Torneio da Cooperação” o quadro do Confiança
“[...] a renda do torneio, somente nas bilheterias, foi de Cr$ 2.060,00, a
qual, somada a que estás sendo apurada com os bilhetes passados
anteriormente deverão atingir à casa dos sete mil cruzeiros (grifo meu)”.
- “O BANGÚ jogará Domingo em Estância“Segundo uma notícia ontem
transmitida pela dio Nacional, o quadro carioca do Bangú dará uma
partida, domingo próximo na cidade de Estância, acrescentando a notícia
que será pago aos banguenses, a importância líquida de Cr$ 10.000,00”.
Diário de Sergipe. 29/04/1949.
E
97-1
- Oi, eu sempre fui desportista, [...], eu estava nessa época em Nova
Friburgo, no Estado do Rio, mas todas as férias eu estava em Aracaju.
[...], eu trazia algumas novidades do futebol carioca. [...] o time era
composto, em sua grande maioria, de operários tamm da brica. Meu
pai foi militar, e no Colégio Militar do Rio de Janeiro [...];
E
97-1
- Meu pai era muito amigo de Silverinha
104
, sabe quem é?, [...] foi o
fundador do Bangu, da fábrica Bangu. [...], teve essa relação com o
Bangu. [...] meu pai conhecia Silverinha ia muito no Rio, trocavam idéias,
os dois tinham clube de fábrica de tecidos [...];
E
97-4
– [...] o Bangu teve aqui, havia muita intimidade com Joaquim Ribeiro.
Deve ter influenciado;
E
97-6
[...] mas, o modelo de futebol, de ter nascido numa brica, de
também ser considerado um clube proletário, pode ter começado mesmo.
O próprio Joaquim foi amigo do cabra do Bangu, dirigente. [...] tomando o
exemplo do Bangu, o Confiança um clube proletário, de uma área carente,
zona norte.
E
04-2
[...] deve ter motivado. Inclusive teve um jogador Roberto, que era
goleiro do Confiança, que passou uma temporada lá, 5 anos mais ou
menos [...]. O Bangu passou por aqui e tal, ele fez uma partida [...] tão
maravilhoso, que atraiu [...]. Ele jogou uma temporada lá, ai apertou a
saudade, veio embora [...].
Nesse aspecto, como será exposto a seguir, o Confiança contratou os
melhores jogadores de futebol do Estado, ganhou quase todos os jogos, mas perdia
os pontos por causa da lei de estágio
105
. Somente em 1951, conquista o título
“sobrando”. Nesta decisão, ocorre outra semelhança: tal qual o “industrial”, da
Fábrica Sergipe Industrial, o Confiança manda trazer um árbitro de fora (Bahia) e de
renome Nacional, para apitar o jogo final. Portanto, farei uma ntese da jornada do
Confiança no ano de sua estréia (1949) e tamm, de alguns acontecimentos que
simbolizam essa história:
– “Palestra” xConfiança” – O prélio principal.
104
Guilherme Silveira Filho, foi presidente no período de 1937 a 1949. www.bangu.net.
105
O jogador transferido para outro clube, só poderia jogar pelo campeonato oficial, após um ano.
Percebe-se uma semelhança muito grande na formação (história) do
Confiança com a da Fábrica Sergipe Industrial. Primeiro e antes de tudo, pela figura
dos Patronos”. Tanto o Sr. Thales Ferraz, quanto o Sr. Joaquim Ribeiro, gozavam
de prestígio perante a sociedade local, de homens dignos, sérios, empreendedores
e que foram responsáveis por mudanças significativas no interior de suas bricas,
como também, na construção de áreas de lazer/esporte. Segundo, a relação que
esses “patronos” e a própria fábrica tiveram com o esporte e principalmente, com o
futebol. Terceiro, as duas o fábricas têxteis e com um grande desempenho -
econômico - no Estado e fora dele. Finalmente, não mais importante que os demais,
mas igualmente interessante, refere-se quando da formação da equipe de futebol e
sua inserção junto a Federação Sergipana de Desportos (FSD), para disputar o
campeonato oficial do Estado, conforme abaixo.
E
97-2
- Associação Desportista Confiança, que nasceu dentro de uma
rivalidade que existia entre os operários da fábrica de Tecido Confiança
com os operários da Sergipe Industrial, nas competições [...].
Portanto, por volta de 1948/9, caracterizou o segundo momento
hegemônico e que consubstancia mais precisamente esta pesquisa, ou seja, a
inserção do Confiança no cenário do futebol sergipano. A sua inserção deu-se
depois de ganhar as Olimpíadas Operárias (1948) e então, seus dirigentes
resolverem filiar-se junto à Federação Sergipana de Desportos (FSD) e incluí-lo no
campeonato oficial (1949).
Para Betti (1997, p. 23), “a fundação do The Bangu Athletic Cluc
103
, em
1904, foi de grande importância para a democratização do futebol brasileiro”. Esta
informação é significante, pois, a relação com Associação Desportiva Confiança terá
desdobramentos muitos semelhantes: O Bangu era situado no subúrbio do Rio de
Janeiro e o Confiança tamm em Aracaju; pertencia a uma fábrica de tecidos
igualmente, o Confiança; estabeleceu relações de privilégios entre os jogadores que
trabalhavam na brica, e o Confiança também. Mais do que isso, o Sr. Joaquim
Ribeiro, estudou no Rio de Janeiro, foi influenciado pelas práticas esportivas –
influência inglesa - e viveu o momento de expansão do Bangu.
103
Em 1933 o Bangu foi o primeiro clube carioca, campeão profissional e o primeiro a conquistar um
título no Estádio do Maracanã (1950) e, em 1960, foi campeão mundial do Torneio de Nova York.
Ainda, a influência britânica, trazida pelos técnicos xteis, influenciou, em certa medida, a prática do
futebol. Seu primeiro Presidente foi um inglês “clássico”, William French. www.bangu.net
, 10/12/04.
“[...] Dr. Joaquim Ribeiro [...] em vocês nós confiamos. E estamos certos
que tudo farão para que a cidade esportiva assista a este espetáculo, que
será o lançamento da pedra fundamental para a fase de ouro do futebol de
Aracaju” Diário de Sergipe, 24/08/1949. (Obs: Sobre a construção do
novo Estádio de Aracaju).
E
97-3
- O Dr. Joaquim era que mandava no Confiança, era o Patrão [...];
E
97-3
- Mas o chefe era Dr. Joaquim, o resto pedia a benção a ele;
E
97-2
- Dr. Joaquim Ribeiro Chaves, até quando ele teve vida, o Confiança
era mantido pela Fábrica de Tecidos Confiança;
E
97-2
- Dr. Joaquim foi uma pessoa importantíssima na vida do Confiança.
O Confiança deve a ele toda uma história, porque foi dele que veio essa
ligação, brica de tecidos pro clube de futebol, foi ele que fez o Sabino
Ribeiro, fez a inauguração do Sabino Ribeiro, com uma festa muito bonita
com o clube que veio de fora do Rio de Janeiro [...];
E
04-2
- [...] uma vantagem do Confiança foi a relação com o Sr, Joaquim
Ribeiro [...];
E
04-1
- Dr. Joaquim, que é o dono do Confiança [...];
De 1936 a 1948/9, evidencia-se então, o primeiro momento “hegemônico”
com relação ao esporte, por parte deste clube em parceria com a fábrica. As
competições que eram realizadas pelas fortes
102
equipes de Basquetebol, Vôlei e
Atletismo da Associação Desportiva Confiança, eram vencidas com muita
sobrepujança.
- Sagrou-se o Confiança campeão do torneio aberto de basquetebol.
Diário de Sergipe. 05/08/1949.
E
97-1
– [...] surgiram campeonatos amadores, de basquete aqui, participava
o Confiança dos campeonatos estaduais, ganhou muitos títulos, tem muita
taça na brica dos campeonatos amadoristas, dos operários, tinha uma
quadra, que era dentro da fábrica;
E
97-2
[...] Confiança somou, na era amadorista, vários títulos tanto no
vôlei, como no basquete, tanto a equipe masculina como a equipe
feminina, foram campeões por mais de 5 anos, seis vezes a masculina foi,
a feminina foi de quatro a cinco anos [...];
102
Fica evidente, a partir dos depoimentos, que a Fábrica contrata ”grandes” atletas para formar suas
equipes.
melhores condições de vida (saúde, habitação, lazer etc.), era possível controlar não
só o comportamento dos trabalhadores, como também, a freqüência na fábrica.
Na Itália, sob influência do Taylorismo e do Fascismo, o Dopolavorodas
indústrias têxteis, preocupou-se com habitações e alojamentos para os operários,
salas de banho individuais, sistema elétrico. Ao lado da moradia operária, escola,
creche, igreja, armazém, etc.; assim, havia um maior controle sobre os
trabalhadores.
No tocante a Fábrica de Tecidos Confiança, que originou o Clube, ela fora
fundada em 18 de outubro de 1907, sob a razão social de Ribeiro Chaves e Cia,
pelos Srs. Sabino José Ribeiro, Manuel Teixeira Chaves de Carvalho e Pereira &
Silva (RIBEIRO, 1997), representando um marco no processo de desenvolvimento
do Estado e principalmente, na cidade de Aracaju. Neste aspecto, quando da
formação da Associação Desportiva Confiança, o Sr. Joaquim Ribeiro, representava
o grande nome desta fábrica e tamm, o grande representante da relação fábrica-
esporte.
E mesmo as sociedades anônimas são-no quase sempre muito mais de
nome do que de fato; o seu capital pertence efetivamente, no mais das
vezes, a simples indivíduos, famílias ou pequeníssimo grupos, a que se
associam quando necessário, alguns sócios fictícios para complementar o
número de sete que a lei exige como mínimo das sociedades anônimas
(PRADO JR., 2004 p.264).
Vê-se que a formação burguesa que se deu na Europa no século XIX,
principalmente com a formação de grupos formados por famílias e pessoas com tal
perfil, de certa forma, ganha uma “roupagem em nosso Estado e na cidade de
Aracaju, principalmente, na figura desses homens. Para Hobsbawm (1997, p. 336),
“economicamente, a quintessência do burguês era um capitalista (isto é, o possuidor
de capital, ou aquele que recebia renda derivada de tal fonte, ou um empresário em
busca de lucro, ou todas essas coisas juntas)”.
Parece-me que esta afirmação é ratificada nesta relação entre a Fábrica
Confiança e o esporte. Todos os entrevistados o unânimes em ratificar o papel
relevante do Sr. Joaquim Ribeiro no desenvolvimento da Associação Desportiva
Confiança.
Percebe-se que a iniciativa de contratar os jogadores era possível pela
fábrica possuir condições econômicas para isso. Nem que essas condições fossem
extraídas dos trabalhadores – mais-valia – durante suas jornadas de trabalho.
Acredita-se que o desenvolvimento do Bairro Industrial, onde a Fábrica se
localiza, deu-se devido a sua presença, existindo assim uma relação de “carinho”
entre os moradores e os dirigentes e donos da fábrica. Percebe-se, eno, a
formação das cidades, dos grandes bairros que crescem em torno da brica e
principalmente, do tempo do não trabalho no sentido de um prolongamento do
trabalho.
Para Proni (2000), alguns historiadores consideram que o futebol obteve
mais sucesso entre os operários, o tanto por ser uma espécie de paliativo da
brutalidade da vida industrial, mas em grande medida porque os trabalhadores
industriais, ao contrário dos outros, tinham folgas aos sábados à tarde. Esta é uma
consideração histórica que, de certa forma, vai na “contra-mão” do que foi observado
na história do Confiança. O sucesso na formação da equipe de futebol, ao meu ver,
tem como pressuposto a relação trabalho e capital e à procura de emprego. Não
resta dúvida que as vantagens (funções mais leves na brica, sair mais cedo para
jogar, ascensão funcional etc.) foram determinantes. No entanto, a garantia do
emprego era mais evidente por tudo que a fábrica representava na realidade
sergipana (salário, condições de moradia, saúde etc.), como expõem os
entrevistados abaixo:
E
97-1
- Eles tinham que dar a jornada de trabalho deles, agora [...] às
vezes, o que meu pai fazia, quem fazia era o pessoal da administração,
você vai ser vigia, vai ser vigilante, você vai ser [...];
E
97-3
- a direção da fábrica mantém, sob os mais modernos métodos
sociais, vilas operárias, cooperativas, creches, campos de esportes,
cinemas, assistência médica-dentária.
E
04-3
- Dr. Joaquim, buscava os jogadores, dando bons empregos na
fábrica, bons salários. Então, o clube sempre teve grandes jogadores [...].
Além do canal que se estabelece entre a classe burguesa e os operários,
que, é claro, pode ser entendido, como uma conquista social, mas também, como
uma forma de controle, acredita-se que estas duas concepções estão presentes no
estudo, ou seja, ao mesmo tempo em que a fábrica propiciava aos trabalhadores
realidade brasileira (nortestina e, em Aracaju), fez com que aparecessem as
contradições que o próprio capitalismo criou, pois, é de se observar que tanto o
Industrial, quanto o Confiança, gozavam de uma posição privilegiada, pelo seu poder
econômico e pelas condições materiais que advinham do suporte da fábrica, mas, os
jogadores que ali se encontravam, em sua maioria, eram filhos de pessoas humildes
e pobres, que encontravam no futebol (de fábrica) a possibilidade de subverter a
opressão que eram submetidos pela sua condição de classe. Sendo assim,
configura-se uma característica marcante no capitalismo, ou seja, a pseudo-
igualdade” de chances.
Para Bracht (1997), um passo importante para se continuar a prática do
esporte com as características da sociedade que o criou,
capitalista/burguesa/inglesa, era a criação dos clubes para, assim, manter a
perspectiva aristocrática do fair play e do gentleman. Esta era uma perspectiva da
sociedade inglesa, mas, que de certa forma, influenciou a nossa história,
principalmente, na criação dos clubes em Aracaju.
O terceiro ponto para reflexão está na relação profissional que já se
apresentava. Ou seja, o que era rotulado de “profissionalismo marrom, pois,
configura-se aqui a contratação (escolha dos melhores no mercado) de jogadores
pertencentes a um Estado que se configurava, no cenário do futebol do Nordeste e
do Brasil, como potência no futebol, os quais eram registrados como trabalhadores
(fictícios) da fábrica. Segundo Bracht (1997, p. 97), “na base da questão do
profissionalismo/amadorismo está presente o conflito social básico da sociedade
capitalista: capital x trabalho”. Verifica-se que muitos anos antes do profissionalismo
do futebol no Estado (1960), havia, pela mídia local, cobrança aos órgãos
competentes, para torná-lo como tal.
Amadorismo Marrom
Por José da Silva Lima
“[...] É bem reduzido o número de elementos que, jogando futebol em
Aracaju, não recebe uma compensação em troca de seus serviços
futebolísticos [...]. Para evitar essa irregularidade gritante, melhor seria que
a F.S.D, movimentasse passos no sentido de profissionalisar (sic)
oficialmente o futebol sergipano. [...] condizentes com as possibilidades
econômicas [...]”. Sergipe Jornal. 11/11/1948.
É notório, conforme os estudos de Proni (2000), que o futebol introduzido
no Brasil configurava-se como um “modelo elitista”, de prática recreativa e amadora.
O Próprio Charles Miller, responsável por trazer o futebol para o Brasil, era filho
brasileiro do Cônsul Britânico e ensinava para um grupo seleto (a maioria era
Ingleses altos funcionários de empresas britânicas). Neste sentido,
[...] o futebol foi introduzido sob o signo do novo, pois, mais do que um
simples jogo, estava na lista das coisas moderníssimas: era um “esporte”. Ou
seja, uma atividade destinada a redimir e modernizar o corpo pelo exercício
físico e pela competição, dando-lhe a higidez necessária a sua sobrevivência
num admivel mundo novo esse universo governado pelo mercado, pelo
individualismo e pela industrialização
(DA MATTA apud PRONI 2000,
p. 99).
Considera-se o alerta Betti (1997, p. 20), para quem “a adoção de um
esporte popular de um povo por outro resulta de um processo complexo no qual as
propriedades dicas intrínsecas de um esporte misturam-se com fatores culturais
próprios de cada sociedade”. No entanto evidências de que a criação da
Associação Desportiva Confiança, no tocante ao futebol, sofreu uma influência
determinante pelo modelo Inglês e sua relação fabril têxtil seja proveniente de
trabalhadores ingleses (engenheiros), seja pelos filhos de empresários que, após
seus estudos na Inglaterra, trouxeram o futebol para o Brasil.
O Sr. Joaquim Ribeiro, além de ter estudado no Rio de Janeiro, era amigo
de um dos presidentes do Bangu (Guilherme da Silveira Filho, o “Silveirinha”), dono
de uma fábrica xtil, envolveu-se com as práticas esportivas da época,
principalmente, o futebol. Seu filho, também seguiu os passos do pai, ou seja,
estudou no Rio de Janeiro, fez engenharia e trouxe muitas novidades no tocante à
prática do futebol.
O segundo ponto de reflexão se refere ao entendimento do fair play”;
como característica marcante no esporte moderno e que simboliza as idéias de
respeito às regras do jogo, igualdade nas chances etc. Para Guttmann apud Betti
(1997), esse conceito não existia nem na idade antiga grega, nem na idade média e
foi produzido pelas classes inglesas do século XIX. A idéia de que o adversário
possa lutar em igualdades de chances, talvez fosse possível na sociedade
burguesa (inglesa), em que os filhos desta classe dispunham das condições
materiais para tanto. Com isso, ao trazer esta ideologia na tentativa de aplicá-la na
terminado porque o juiz mandou que batesse o pênalti, mesmo o gol sem
ninguém e deu a vitória ao Cotinguiba [...]. Thales Ferraz, um homem de
princípio rígido, viu aquilo e ficou constrangido decepcionado, uma
semana depois convocou toda a diretoria e dissolveu o time, dessa vez
não teve quem ajudasse, dissolveu de vez. [...], foi o primeiro clube
industrial que morreu, o Confiança ia morrer da mesma forma [...].Era,
para estar ai, Thales Ferraz, o time dele, era o time da Fábrica Industrial
[...]. Time de fábrica infelizmente tem disso [...].
vários aspectos interessantes e dignos de reflexão nesse relato.
Primeiro, a relação do Sr. Thales Ferraz, dono da Fábrica e o Sr. Joaquim Ribeiro,
da fábrica Confiança representando os “patronos”; capitalistas, que apostavam numa
prática em que as características que marcavam o esporte (originalmente na
Inglaterra e para a burguesia) na modernidade deveriam, então, estar presentes
aqui. No entanto, estas práticas o sendo substituídas por novas formas de
comportamentos que se configuram, de certo modo, nas contradições as quais estão
submetidos os homens na sociedade de classes e desigual. Assim, como alerta
Lucena (2002, p. 51): Quanto mais radicalmente adentrarmos na riqueza dos fatos
particulares, na procura das relações e regularidades do passado, mais vivamente
se apresenta aos nossos olhos um contexto firme de processos [...]”.
Ou seja, como expõe Proni (2000), o futebol moderno correspondeu a uma
construção social que implicou um processo gradual de regulamentação para obter
um equilíbrio entre o desejo de praticar uma atividade física “excitante”
(emocionante) e a necessidade de restringir a violência (mecanismo de
autocontrole). Parece-me que o esporte deveria carregar consigo o signo de
mudanças, das idéias progressistas aplicadas ao lazer civilizado. Ou melhor: “pensar
[...] na prática do esporte como uma ação possível a partir do exercício dos
controles, [...] característico das sociedades individualizadas e reguladas
[...]”.(LUCENA 2001, p. 53).
Essas considerações coadunam com o modelo social, político e
econômico à época e que Aracaju já se configurava. Segundo Bracht (1997, p. 96),
“o desenvolvimento e expansão do esporte aconteceu tendo como pano de fundo o
processo de modernização dos séculos XIX e XX, [...] industrialização, urbanização,
tecnologização dos meios de transporte e comunicação, aumento do tempo livre
[...]”.
necessário voltar às raízes do passado, analisar o referido período e projetar o
futuro. Apesar de longo, considero o depoimento que segue:
E
97-3
- Em 1917 o futebol em Sergipe estava evoluindo de uma tal maneira
que, [...], depois da Bahia, Pernambuco [...], esteve sempre na frente na
questão do futebol, porque depois de São Paulo, o primeiro campeonato
do Brasil, [...], foi na Bahia. A Bahia disputa campeonato desde o início
do século. Ora [...], por ser perto da Bahia, [...] trouxeram o futebol prá cá,
através dos militares, uma guarnição da Bahia sediava aqui, era o
quadragésimo sétimo batalhão de caçadores, [...]. Aí, elegeram o futebol
como esporte predileto. [...], 1916, então, um campo improvisado que tinha
na praça Tobias Barreto, [...], dedicado as maiores multidões reunidas
em Aracaju, da época, para assistir jogos de futebol entre Sergipe e
Cotinguiba. Nisso o que fez, Thales Ferraz: ele gostava muito de esporte,
resolveu fundar uma equipe de futebol, O Industrial, era da Fábrica
Sergipe Industrial, [...] é o primeiro Confiança da época, não era da
Fábrica Confiança, que existia, mas era da Fábrica Sergipe industrial, o
primeiro time proletário que teve aqui o foi o Confiança, foi da Fábrica
Sergipe Industrial, o Industrial”, camisa preta e branca como a do
Botafogo. Bom, então, esse time “já nasceu grande”, [...], como nasceu
grande? Em 1917, [...], foi fundado o primeiro clube operário em Sergipe.
[...] esse clube queria ser o maior, ficou entre os três Sergipe e Cotinguiba.
[...] o que fez, mandou contratar os melhores jogadores que tinha na Bahia
do Clube que tinha sido campeão, que era o “República da Bahia”, [...]
jogadores tudo de renome do futebol da Bahia. Vinham como operários da
fábrica, não eram não, tinham residência aqui, tudo mais, mas não
trabalhavam não. Mas, estavam escritos como operários da brica,
vinha jogar bola. A reação, eu tenho jornais que dizia, na época, que isso
era uma ilegalidade que estava destruindo o futebol sergipano. [...]
contrários mesmos [...]. Bem, então o Industrial foi campeão em 1921,
depois de algumas tentativas, [...] assim como o Confiança - veja que os
destinos são iguais - em 1918, disputou o campeonato, 1919 ele brigou
com a Federação, por causa dessa lei de estágio [...]. Praticamente
orientada pelo Cotinguiba, vendo o perigo que era o domínio Industrial”,
então, influenciou uma resolução [...] de que poderia jogar atletas que
tivessem, no mínimo seis meses morando aqui. Teve jogador que veio
depois retornou [...]. Então, o Industrial brigou e saiu da Federação, em
1919, ai não houve campeonato. Aí, em 20, perdoaram tudo, devido a
inauguração do Estádio Adolfo, ele voltou, não foi campeão em 20, mas
disputou com o Cotinguiba. Em 21 ele ai imperou, foi campeão em cima do
Cotinguiba. Em 22, ele disputou, mas, não conseguiu o título, foi o
Sergipe, invicto. Foi o campeonato do centenário, porque era o centenário
da independência do Brasil., Então em 1923, o Industrial novamente foi
disputar uma final com o Cotinguiba. Rapaz, Thales Ferraz foi o patrono,
zero a zero, um a um, determinado momento o juiz, que veio da Bahia,
era tão importante que o juiz vinha de fora, na final, resultado, o juiz
chamava Oscar Coelho, então ele marcou um nalti contra o Industrial,
rapaz o tempo fechou. [...], briga generalizada, entrou polícia, jogadores
foram presos, intimados a ir à delegacia [...], o jogo foi dado como
Esta escolha ajuda a pensar dialeticamente a história, em sua dinâmica e
por isso, passado, presente e futuro não sofrem um determinismo cronológico e sim,
um constante ir e vir, parafraseando Hobsbawm (apud Silva, 2003), localizando as
raízes do presente no solo do passado. Portanto, iniciarei com alguns aspectos de
sua história, contextualizado em um determinado período histórico.
No estudo introdutório realizado (RIBEIRO, 1997); no site da Associação
Desportiva Confiança; na captura de mensagens da mídia impressa e,
evidentemente, pelos depoimentos dos sujeitos envolvidos à pesquisa, encontrei
aspectos históricos que simbolizam a construção/criação deste fenômeno. Neste
sentido, ampliarei os enfoques dados a esta construção, a partir da interpretação da
mídia impressa e de novos depoimentos.
Nesse contexto, a idéia de fundar o clube surgiu da vontade de dois jovens
- Isnard Cantalice e Epaminondas Vital - após terem assistido a uma partida de
voleibol. Idéia essa, que foi abraçada pelo dono da Fábrica de Tecidos Confiança
Sr. Joaquim Ribeiro - sem restrições (Ribeiro,1997). Este é um fato interessante,
pois, evidenciam dois pontos cruciais, primeiro a relação com o espetáculo esportivo,
uma vez que foi através dele que surgiu a idéia de criar o clube. Segundo, a relação
com a Fábrica, que forma um “casamento feliz” entre a empresa e o esporte, relação
essa apoiada por um forte poder econômico que se configurava naquele tempo.
Outro aspecto que deve ser considerado refere-se a brica de Tecidos
Sergipe Industrial, a primeira fábrica a esboçar este modelo no Estado, sob
influência do Sr. Thales Ferraz, e que se localizava no mesmo bairro onde foi
fundada a Fábrica Confiança, além do que se constituía na grande “rival” quando se
realizavam as Olimadas Operárias, bem como, na produção têxtil. relatos, a
partir dos entrevistados, que o Confiança, na sua formação, espelhava-se nesta
fábrica.
3.2.1 “A História que não se conta...!
Concentrei esforços para, a partir dessa história, analisar a dimensão
“Grande” no surgimento do Confiança, principalmente no período de 1949 a 1955
que simboliza um diferencial no futebol sergipano. Neste sentido, será sempre
E
04-2
- O Confiança surgiu em 1936, na época amadorista, [...] eram feitas
as Olimpíadas dos Trabalhadores, aqui no Estado de Sergipe. A Fábrica
Confiança com a Sergipe Industrial, foram as pioneiras no lançamento de
esportes. A modalidade era de voleibol e basquetebol, [...] e, naquela
época, os dirigentes, na pessoa maior do Dr. Joaquim Sabino Ribeiro e os
desportistas como Epaminondas [...], tiveram a ousadia de transformar o
lazer em esporte. Implantou lazer, implantou creche, eles eram pioneiros,
[...], era o lado social e o lado esportivo. O lado social eles promoviam
muitas festas, confraternizações, tinha o amparo ao trabalhador, [...].
E
04-1 -
O Confiança nasceu para a prática do Voleibol e Basquete.
Epaminondas era figura central daquela época. Depois, a coisa evoluiu de
uma maneira tal que o Dr. Joaquim foi incentivado a criar o futebol, ele
criou. Tanto que diz o Confiança já nasceu grande. Era uma fábrica,
naquele tempo tinha lucro [...];
E
97-1
- [...] colocou aqui na fábrica como braço direito dele, [...] Isnard
Cantalice, foi colega dele de escola. Foi quem agregou toda essa parte
esportiva da empresa [...], junto com outro grande esportista que adorava
voleibol, que chamava Epaminondas [...]. Ai, surgiram campeonatos
amadores, de basquete [...] o Confiança [...] ganhou muitos títulos, tem
muita taça na fábrica dos campeonatos amadoristas dos operários.
Esta iniciativa compartilhava o novo modelo de fábrica/sociedade, que se
queria. A fábrica
101
como geradora de emprego e de progresso, incorporou em sua
ideologia, as perspectivas de “lazer” advindas dos Estados Unidos e da Europa.
Assim, o lazer, que era um prolongamento do trabalho, passa a ser agora uma
instituição geradora de espetáculo. Não se descarta que, a partir da construção de
um bem simbólico como o esporte, a “paixão”, por parte de seus idealizadores,
ganha uma outra dimensão, para am de uma esfera eminentemente do capital; no
entanto, esta última passa a ser dominante.
A Associação Desportiva Confiança marca sua história por situações
interessantes no tocante ao esporte (espetáculo), a constrão de um imaginário
social, às relações de trabalho/emprego e capital e sua aproximação com a mídia.
Constituindo-se em fenômeno histórico, vivo, real e concreto, pois faz parte de um
contexto da vida humana.
101
A fábrica que foi motivo de severas críticas de Marx, devido as suas péssimas condições de
trabalho e higiene etc, agora ganha uma nova roupagem e uma nova perspectiva para não balançar
as estruturas do capitalismo. Para Marx (1996), a fábrica envolve diferentes trabalhadores
“cooperando” entre si, através de sua força de trabalho, para produzir um bem (mercadoria) comum.
Esta agora aparece mais fetichizada do que nunca.
possuíam seus próprios clubes desportivos e promoviam vários campeonatos”
(Op.cit., 80).
Interessante refletir que as coisas” o são por acaso, e que o caráter
ideológico que marcam uma sociedade ou sua elite, está por trás das relações que
nos são aparentes. É claro que a realidade européia, ou americana, é extremamente
diferente da realidade de Aracaju, no entanto, acredito que, com a expansão do
capitalismo, alguns princípios norteadores de sua ideologia ganham dimensão para
além de suas fronteiras territoriais, ou seja:
o predomínio do modo capitalista de produção, implicando seu
desenvolvimento intensivo e extensivo [...], traduz-se nos processos de
concentração e centralização do capital [...]. Esses processos que tornam o
capitalismo uma realidade histórica e geográfica, atravessando fronteiras,
mares e oceanos
(IANNI 2001, p. 178).
Portanto, foi nesse contexto, que surgiu a Associação Desportiva
Confiança, que não está “descolada” das contradições e nem do contexto histórico
de sua época. Mas que cria um imaginário simbólico, que perpetua com força
suficiente para ganhar a forma de “valor”. E, sobretudo, que faz ver nesta “entidade”
a outra face dos sujeitos históricos, trabalhadores, homens pobres e ricos, de bairro
e de todo Estado, como parte concreta e viva de suas representações, marcada
pelas contradições que a realidade concreta lhe proporcionou.
3.2 CONFIANÇA: A História Continua, Tecendo a História
Como foi visto anteriormente, apesar do declínio das indústrias têxteis,
algumas empresas deste ramo permaneceram no cenário da economia sergipana,
até os dias de hoje, como empresas de grande potencial econômico e sua ligação às
práticas esportivas foi significante, principalmente, em relação ao futebol. Em
Aracaju, a Fábrica Confiança ainda despontava como uma grande potência
econômica, o que facilitou a iniciativa de criar um clube para a prática de Vôlei e
Basquete e depois conseqüentemente, abraçando o futebol.
Na Itália fascista, sob influência taylorista, havia altos investimentos nos
esportes visando desenvolver o espírito de competição e com isso, eram freqüentes
os campeonatos realizados entre equipes das diversas fábricas. Vê-se então, uma
similaridade nas Olimpíadas Operárias realizada em Sergipe pelas indústrias. Foi
através destas Olimpíadas que o Confiança lançou, não só as grandes equipes de
Basquete, lei e Atletismo, mas, principalmente, a grande equipe de futebol.
E
97-2
“O Confiança surgiu em 1936, [...] então, eram feitas as olimpíadas
dos trabalhadores aqui no Estado de Sergipe e a fábrica Confiança com a
Sergipe Industrial, foram as pioneiras no lançamento de esportes. A
modalidade era de voleibol e basquetebol [...]”.
E
97-1
“Em 49 surgiu as Olimpíadas Operárias. A olimpíada operária era
disputada entre as indústrias do Estado, [...] o Confiança sagrou-se
campeão. Surgiu então um movimento, [...], os operariados da fábrica
Confiança, para o time entrar no campeonato”;
E
97-1
– “A olimpíada foi que deu o pontapé para o surgimento do time”;
Na Alemanha Nazista, segundo Rago e Moreira (2003), a influência
Taylorista, foi ainda muito mais imperativa. Fazendo uma analogia, o Dopolavoro era
representado pelo Departamento da Beleza do Trabalho – instituição criada em
1933, como parte da Organização Nazista do Lazer. Expressa mais uma tentativa no
mundo do trabalho (na fábrica) de ganhar a adesão dos trabalhadores. Para isso, o
ambiente de trabalho (no interior das fábricas) fora mudado ventilação, iluminação,
refeitórios, sanitários ou seja, criava uma ilusão de harmonia social pela aparência
de suas estruturas.
No interior das fábricas e tamm em seu redor, foram estabelecidas
campanhas para higienizar o ambiente de trabalho, bem como a criação de locais de
esportes e áreas de lazer. Para Rago e Moreira (2003, p. 76), as idéias eram
basicamente “docilizar o trabalhador suprimindo o tradicional conflito capital/trabalho
através da higienização das condições de trabalho [...]”. E tamm, desenvolver o
culto ao corpo, através do esporte, acreditando que o esporte desenvolvia a
disciplina e a camaradagem necessárias a paz social. Assim, “entre agosto-
setembro de 1938, foi lançado um apelo esportivo nacional visando encorajar a
prática do atletismo em todas as fábricas alemãs. [...] cerca de 10.000 empresas
fetichismo” - pois, representa uma maneira de iludir o poder do operário. Agrega-se a
isso, a idéia (fascista) de que melhorando as condições de vida dos operários,
aumentaria a produtividade.
Em Aracaju, o operário têxtil serviu bem a este modelo de passividade que
pregava essa ideologia e assim, a partir de um conjunto de características culturais,
políticas (ou apolíticas!) e econômicas, vão caracterizando o estado de
desenvolvimento desta sociedade que então se constituía. Nesta perspectiva ,
ingenuamente, a idéia que patrão (capitalistas) e empregados (operários) não são
classes antagônicas e com interesses diferenciados e de que não exploração,
pois, o empresário aparece como “amigo”. Estimulava-se a realização de festas, a
criação de competições esportivas, a criação de espaços para jogos e momentos de
lazer, bem como, a criação de equipes de futebol, basquete, lei, etc. E, neste
aspecto, o esporte cumpre este papel de deixar as coisas muito iguais”. Quando se
opera sua prática, rompe-se a barreira de classe e aparece um princípio de
“igualdade”, de “socialização”.
E
97-1
– [...] às vezes para agregar grupos, você tem que botar esses
grupos que você trabalha em participação esportiva [...], porque o esporte
tem a capacidade [...], de nivelar o rico com o pobre, o preto com o branco,
o inteligente com o menos inteligente, [...], isso tudo faz com que um
operário de uma seção inferior, um gerente [...], jogando pela mesma
camisa, esse é o grande trunfo do esporte, [...];
E
97-1
- Ah, meu pai não faz separação não; [...] diz meu pai, eu quero
alegria do meu operário [...];
Não resta dúvida que o Sr. Joaquim Ribeiro
99
mantinha uma relação
amistosa com os operários, e até que simpatizava-se pelo “Partidão” (Partido
Comunista Brasileiro) “dizem que Joaquim era simpatizante do Partido“
100
no
entanto, acabada as competições, seus “agentes” voltam a ocupar seus lugares
numa sociedade de classes, e aí, patrão é patrão, e operário, é operário.
99
Joaquim Sabino Ribeiro Chaves dono da Fábrica de Tecidos Confiança e do Clube. Este é um
nome que percorrerá toda a discussão da Análise, pois, representa a figura maior na consolidação da
Associação Desportiva Confiança, com seu caráter empreendedor, “patrono”, incentivador de práticas
esportivas, etc. foi estudante no Colégio Militar no Rio de Janeiro, onde aprendeu a gostar das
práticas esportivas.
100
E
97-4
.- “Odisseu”
Como no Panóptico
96
, uma máquina que se intitulava um “imitador de
Deus”, uma vigilância onipresente, onipotente e onisciente – verifica-se, neste
processo modernizador que se configurava em Aracaju, a intenção de, através do
“controle” policial harmonizar as grandes diferenças sociais, políticas e
principalmente, econômicas que emergiam do modelo capitalista de produção. Neste
sentido, a fábrica é o Panóptico e o Panóptico está na fábrica. Ou seja, verifica-se
uma tentativa de acomodar o homem trabalhador (operário) às normas e
comportamentos da elite burguesa capitalista. Isto implicava tamm, em diminuir
seu potencial de luta, pois, passava ele, o operário, a constituir-se em um “perigo”
para os interesses capitalistas.
Percebe-se a influência do pensamento ocidental e cristão que elegeu
estas “amarras” ao sujeito como forma “elevada” da formação humana, associado à
moralidade, à conduta, ao bom trabalhador”, os bitos alimentares e higiênicos,
passam a repercutir no conceito que os donos da fábrica atribuíam aos operários:o
operário têxtil das bricas Sergipe Industrial e Confiança era considerado por
natureza dedicado ao trabalho [...] havia unanimidade entre os governantes, polícia,
donos de fábrica e jornais na afirmação de que o operariado têxtil era de índole
passiva” (Sousa, 1991 p.25-26).
A influência do modelo taylorista
97
, que prolifera na Europa (Itália) e
principalmente, nos Estados Unidos marca fortemente, no seio das fábricas xteis
de Aracaju, a concepção de mundo, de trabalho e de relacionamento
patrão/empregado, na figura de seus industriais. Assim, como expõem Rago e
Moreira (2003, p. 52), “a ideologia da produtividade se apossava progressivamente
destes industriais, que viam na reestruturação das relações de trabalho uma maneira
de conter o avanço da resistência dos trabalhadores e de elevar a produtividade”.
Com isso, manifesta-se aqui uma categoria central à análise - a “máscara
98
do
96
Jeremy Bentham (1748-1832) - “O Panóptico” (2000) - Os dois princípios fundamentais da
construção panóptica, são a posição central da vigilância e a sua invisibilidade. Assim, os presos têm
a sensação que estão a todo instante sendo vigiados, mas, não vêem os “vigias”. Modelo de
construção que foi incorporado pelas escolas, hospitais, fábricas, etc.
97
Os Princípios de Taylor, resumidamente o: 1) estudar o tempo do trabalhador (cronometristas); 2)
Aperfeiçoamento, treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador; 3) colaboração entre patrão e
empregado (anular a idéia de luta de classes no interior das fábricas; 4) Divisão de papéis (funções
específicas para diretores e para os operários das fábricas).
98
Máscara do fetiche parece ser redundante, pois, o fetiche já simboliza uma máscara. No entanto,
aqui representa a máscara do conhecimento “científico” como fundamento das novas relações de
trabalho e capital (Taylorismo) que esconde as contradições de classe da sociedade. Não é à toa,
que aparecem as bonificações aos trabalhadores, pela produção, bem como a idéia de “operário
padrão”.
proletariado [...]”. Para os autores, o Dopolavoro, neologismo criado pelo
engenheiro Mário Giani para indicar o tempo livre após o trabalho, procurou
organizar as atividades recreativas e culturais dos operários fora da fábrica de modo
a integrá-los ao mundo da produção” (Op.cit., p. 58). Neste contexto, um fato
interessante e perceptível na pesquisa, foi que tanto o Mário Giani – na Itália,
durante o período Fascista quanto o Thales Ferraz (da Sergipe Industrial),
introduziram idéias para organização do tempo livre, após “estágios” nos Estados
Unidos.
Na Itália, MussulinI persuadia os industriais a adotarem novos métodos de
organização científica do trabalho Taylorismo
94
! Assim, com a colaboração das
classes capitalistas e operários propunha um enriquecimento da nação. Neste
sentido, conforme Sousa (1991), não a fábrica cumpria o papel de dominação
sobre os homens, adequando-os aos interesses de ordem do capital, mas também,
a polícia
95
, com apoio explícito dos donos da fábrica, da imprensa e o poder público,
através de seus governantes.
Este, então, representava o discurso modernizador à época, e o
“desenvolvimento” não poderia caminhar com um cenário paralelo de andarilhos,
vagabundos, prostitutas, por isso representava um constrangimento aos olhos das
elites da cidade. Parece-me que “a cidade tinha que ser vigiada”, conforme explica
Sousa (1991, p. 22). Evidencia-se então, os apelos à educação moral, pela família,
escola, igreja e órgãos assistencialistas direcionados à classe pobre. Para Ianni
(2001, p. 167),
todos os círculos da vida social, desde à escola, do mercado ao Estado, da
Igreja à família, são progressivamente organizados e dinamizados pelas
tecnologias da racionalização [...]. À medida que corre o século XX,
atravessando guerras e revoluções, nacionalidades e nações, culturas e
civilizações, o capitalismo intensifica e generaliza o desenvolvimento do
mundo.
94
O Taylorismo constituiu-se num método de racionalizar a produção, de possibilitar o aumento da
produtividade do trabalho economizando tempo, suprimindo gestos desnecessários no interior do
processo produtivo. Desenvolvido por Frederick Winlow Taylor (1856-1915) e aplicado nas indústrias
de todo mundo, assegura o controle do tempo do trabalhador pela classe dominante (Rago e Moreira,
2003).
95
A polícia representava parte do “padrão básico” da ordem urbana. Supervisionando e disciplinando
os indivíduos pobres, assumindo um papel “destaque” no bojo do processo de disciplinarização
(Sousa, 1991).
contradições. A obediência às leis, a dedicação ao trabalho imprensa cumpria o
papel de “recrutar” sujeitos aptos para esta lógica mentalidade voltada para o
trabalho, ou seja, o trabalho como criador do bem-estar”. No entanto, esta
idealização “fantasiosa”, com intuito de mascarar as contradições oriundas de uma
sociedade capitalista e desigual, não impedia que se manifestassem os problemas
da cidade. Ou seja, os trabalhadores enfrentavam dificuldades de moradia, saúde,
alimentação, principalmente nos bairros periféricos, a exemplo do Bairro Industrial,
por falta de iniciativas do poder público. Como exposto no depoimento abaixo:
– Bairro Industrial Não Sabe o Que é Desenvolvimento
“O Bairro Industrial, [...] prossegue a sua existência inteiramente
marginalizada do processo de desenvolvimento [...]. Nos últimos 20 anos,
apenas uma alteração urbana naquele logradouro [...]. Sua origem, muito
provavelmente, está correlacionada com a construção das duas bricas
de tecidos ali existentes, que movimentaram a instalação de uma
comunidade operária nas próprias casas pertencentes aos patrões. A
própria filosofia que a fábrica tem de tudo muito concorreu para a não
instalação de serviços e empreendimentos necessários [...], e assim, o
bairro, vai pagando caro o preço de seu nome operário, que realmente não
se aplica a ele. O número de empregados nas bricas e o número de
moradores do próprio bairro decresce de ano para ano, [...]” (p. 3). Diário
de Aracaju. 27/04/1968.
Aos trabalhadores das indústrias, todavia, eram reservados cuidados
especiais que, mais uma vez, evidenciam semelhanças com o processo civilizador
europeu, até porque “capitalismo é um processo civilizatório” (MARX apud IANNI
2001, p. 198). O capital se reproduzia, principalmente no pós-guerra (II Grande
Guerra), em novas formas e para além de suas fronteiras hegemônicas como na
Europa e nos Estados Unidos.
Segundo Rago e Moreira (2003 p. 58), na Itália, “a sociedade construída à
imagem de uma grande fábrica moderna transformou-se no sonho dos patrões, que
não pouparam esforços para convencer os trabalhadores a desistirem da luta contra
o capital [...], mas é especialmente na organização do tempo livre do trabalhador que
se fará sentir o deslocamento das estratégias patronais de domesticações do
92
IANNI (2001) – “Teorias da Globalização”.
93
Para Ianni (2000, p. 124), a cidade está sempre relacionada à civilização. É na cidade que se
polarizam e decantam muitas das realizações de uns e outros, indivíduos e coletividades, nações e
nacionalidades [...], civilizados e bárbaros”.
sergipana, animando autoridades a seguirem o exemplo e equiparem a
cidade
(SOUSA, 1991 p.13).
E
97-3
- Thales Ferraz, um dirigente da fábrica Sergipe Industrial, um dos
grandes incentivadores sociais, aliás, o hospital São José, aquela
fundação é Thales Ferraz [...].
Mais uma vez aqui observa-se em solo brasileiro a repetição daquilo que é
uma das características do processo civilizatório
92
europeu em culos anteriores.
Como expõe Ianni (2001, p. 151),
os processos de rotinização e secularização historicamente desenvolvem-se
de par-em-par, tensa e combinadamente, com outros processos, tais como
individualização, urbanização, mercantilização, industrialização e
racionalização. E esses processos com frequência ultrapassam fronteiras
geográficas e históricas, atravessando culturas e civilizações.
Com isso, acredito que a racionalidade que passa a imperar no esporte
advindo da sociedade burguesa, era de criar código de condutas coerentes com
valores e princípios desta sociedade. O esporte enquanto instituição vai ganhando
esta “cara”.
Percebe-se então, que é em torno deste contexto, “da fábrica” (na relação
de trabalho e capital, na formação das cidades, no convite” ao emprego, na
constituição dos bairros de periferias) que se chega ao campo (na necessidade
dos espaços de lazer, na criação dos clubes, na formação dos times de futebol e na
necessidade de “teatros” - Estádios - para o espetáculo).
As formas de entretenimento, que no início do século XX eram tão restritas,
foram se diversificando. Além do teatro e do cinema [...], passaram a ser
cultivados os esportes. Por volta de 1907, começaram as primeiras partidas
de futebol [...]. Com o tempo outros times foram se estruturando, começaram
os campeonatos (1918), fomentando espaços mais apropriados [...]
construção em Aracaju do Estádio Adolfo Rolemberg (1920). As fábricas de
tecidos da capital e do interior, empenhadas em preencher o lazer de seus
empregados, foram também promovendo a formação de time como o
industrial (1917), e prática do esporte foi-se firmando [...]
(DANTAS 2004,
p. 56).
Segundo Sousa (1991), a iia de um “processo modernizador” esboçada
na construção da cidade
93
, de seu parque industrial e no trabalho, esbarrava em
preço o que puderam carregar de seus trastes, mercadoria cujo valor é
bem insignificante. Esgotados esses fracos recursos, que lhe resta? O roubo,
e, depois, o enforcamento segundo as regras (MORE, 2000, p. 30).
Como foi exposto, “Aracaju assumia pelos anos de 1920 a posição de
maior centro industrial de Sergipe, possuía duas bricas de tecidos inclusive que
eram as maiores dentre as 8 existentes no Estado ( SOUSA, 1991, p.12). Neste
aspecto, essas fábricas (Confiança e Sergipe Industrial), marcavam a possibilidade
de emprego para a população que crescia e que migrava para a capital.
Possibilidade ostentada na potencialidade hegemônica do capital e na geração de
empregos, bem como, o “deslumbramento” nas condições de existência. Uma vez
que a fábrica construía vilas, contribuía na construção de hospital, de escola, além
da construção de parques de diversões em suas dependências, pois,
Aracaju além de ser o centro administrativo [...] era também o maior centro
industrial e comercial de Sergipe [...] desde aproximadamente 1910 que as
exportações de tecidos representavam a segunda grande contribuição aos
cofres públicos. [...] os tecidos continuaram se valorizando ao ponto de em
1921, contribuírem em impostos para o tesouro com um quantitativo quase
equiparado ao do açúcar
(DANTAS apud SOUSA, 1991 p.12).
O pensamento (modo de ver) dos senhores proprietários das bricas”,
como exposto abaixo, “casava” com a perspectiva de modernidade a qual Aracaju
vinha assumindo. Nesta perspectiva, a brica constituía-se num elo entre a
cotidiana vida dos trabalhadores e a própria produção: para os capitalistas, trabalho
explorado e para os trabalhadores, produção da existência, contextualizados num
mesmo espaço.
Engenheiro têxtil Thales Feraz, figura singular de empresário, formado em
Manchester, na Inglaterra. [...] fez uma visita aos Estados Unidos e trouxe de
algumas idéias de equipamentos de lazer público [...] cinema às quartas e
bados [...], bar [...], além de campo de futebol, quadras de basquete, vôlei
e de esportes femininos, além de uma banda de música formada por moças
[...]. A população operária, pouco mais de mil, gozava de toda essa
equipagem de lazer e ainda tinha, além da casa, pela qual pagava um
décimo de seu salário, escola para seus filhos, armazéns para compras,
bibliotecas, médico e farmácia gratuitamente [...]. Era a fábrica que
antecipava uma melhor qualidade de vida e que abria caminhos da capital
evoluíam. [...] a capital foi se impondo como opção de morada. Prósperos
proprietários do campo e da cidade, [...] foram investindo, construindo seus
palacetes em estilo predominantemente eclético. Nesse processo as
reformas foram expulsando os pobres para periferia. O Bairro Chica Chaves,
que depois seria denominado de Industrial, foi se tornando o mais populoso
(DANTAS 2004, p. 55).
Neste sentido, Sousa (1991), vai expor que essas “mudanças estruturais -
melhoramentos” correspondem ao interesse de poucos e que se deu no sentido
centro-sul (área nobre) da cidade. No Bairro Industrial (área norte), onde se
localizam as duas fábricas de tecidos (Sergipe Industrial e Fábrica Confiança), esses
“melhoramentos” foram lentos e/ou quase inexistentes. Conseqüentemente, a
valorização imobiliária no sentido centro-sul, foi ganhando dimensão especulativa.
Antagonicamente, o lado norte da cidade ficava desprestigiado. Caracterizando-se
assim, no espaço urbano, as contradições de classe. Até por que é nos bairros
periféricos (como este) que vão fixando as camadas pobres da cidade.
De acordo com os estudos de Sousa (1991, p. 11), “no nordeste, a mão de
obra utilizada nas fábricas e outros setores de serviços era especificamente do
interior da região, homens pobres, expulso do campo. Em Sergipe, isto igualmente
acontecia”.
Punidos pela pressão demográfica sobre a economia de subsistência, pela
valorização das terras do agreste-sertão e pela pecuarização de parte de
antigos engenhos, a população rural do Estado ia sendo paulatinamente
expropriada e expulsa dos seus locais de nascimento, principalmente quando
esses fatores se juntaram à seca. Parte dessa população filtrava para fora do
Estado, mas parte ficava formando assim, o mercado social de trabalho,
dando início às transformações capitalistas na economia
(Passos
SUBRINHO apud SOUSA, 1991 p.12).
Analisando esse quadro” que se configurava no Estado de Sergipe e,
sobretudo, em Aracaju fica impossível não relacioná-lo a um clássico da literatura
Inglesa/mundial que apontava para as contradições do modelo econômico que
surgia na Europa por volta do século XVI, e que, guardadas as suas devidas
proporções e tamm com a diferença de dois séculos do período industrial, espelha
uma semelhança que ultrapassa os anos. Thomas More (1478-1534), em sua obra
“Utopia” diz que:
Os infelizes abandonam, chorando, o teto que os viu nascer, o solo que os
alimentou, e não encontram abrigo onde refugiar-se. Então vendem a baixo
Este é um dado importante, pois, começa a marcar, do ponto de vista da relação de
trabalho e capital, a lógica capitalista na região, bem como, a oscilação de uma
economia monocultura e principalmente, pela sua influência na formação das
cidades. Neste sentido, vê-se que
As fábricas de tecidos localizadas no Estado construíram o topo da rede de
comercialização do algodão, obtendo, daí, benefícios, pois, se as mesmas,
não foram atingidas, na segunda metade da década de 1920, pelo excesso
de produção que tantos prejuízos causou às indústrias dos outros Estados,
foi porque As fábricas sergipanas consomem algodão de produção interna
comprando-o diretamente ao agricultor, sem impostos, nem grandes
despesas de transportes. Demais, o operário não é exigente: o custo da mão
de obra é muito baixo”(mensagem do Presidente do Estado em 07/09/1927),
PASSOS SUBRINHO (1987, p. 71).
Neste sentido, merecem ser destacadas as duas principais indústrias do
ramo têxtil do Estado e que se localizavam em Aracaju, conforme Quadro 3. São
elas:
Quadro nº 3 da relação indústria têxtil e número de operários em Aracaju
Firma social Nome Ano criação
s operários
Cruz, Ferraz e Cia Sergipe Industrial 1882 702
Ribeiro Chaves e Cia
Fábrica Confiança 1918 425
Fonte: Dantas (2004, p. 50)
Nos estudos de Sousa (1991), o período de 1910 a 1930, Aracaju
91
viveu
um processo urbano industrial e um aumento da atividade industrial influenciados
pelos efeitos I Grande Guerra na economia. Além disso, passa por um processo de
modernização – o bonde a tração animal (1901), a água encanada, o cinema (1909),
instalação de energia elétrica, serviços de esgotos, serviços de higienização
consolidando assim, a nova fisionomia da cidade, dando-lhe um ar habitável e
higiênico. No entanto, as contradições de classe tamm foram aparecendo:
A urbanização cresceu. Sobretudo em Aracaju as mudanças foram grandes
[...]. A cidade inóspita do fim do século passado passou a ser atrativa. Os
pântanos foram substituídos por bonitas praças. As condições sanitárias
91
Fundada em 1855, no governo de Inácio Barbosa, com a intenção de construir um núcleo urbano
moderno no Estado, um porto, que atendesse as necessidades de escoamento da produção
açucareira (SOUSA, 1991).
constituirá mais um elemento ponderável de reforçamento de nosso balanço
comercial, chegando a figurar em segundo lugar na pauta de exportação [...] (1943)”
( PRADO JR., 2004 p. 304).
Este efeito da economia determina tamm mudanças significativas na
hegemonia de ordem do capital no Estado de Sergipe e, com isso, ganha uma
dimensão política, devido à força “simbólicaque passa a exercer, conforme -se
abaixo:
- Aspecto da Economia Sergipana Por Orlando Dantas, Deputado
Estadual pelo Partido Socialista Brasileiro.
- Indústria de Tecidos de Algodão – O nosso parque industrial de
tecidos representa, sem dúvida, um grande esforço de trabalho, pois
ocupa atividade de 10.000 operários, sendo a maioria do sexo feminino e
com uma produção anual, superior a 50 milhões de metros [...]. As nossas
12 fábricas dispõem de capital e reservas superiores a 100 milhões de
cruzeiros [...]. As fábricas estão localizadas em Aracaju, São Cristóvão,
Estância, Riachuelo, Maruim, Propriá e Neópolis.
- O valor da nossa produção de tecidos é superior a 200 milhões de
cruzeiros e representa a maior economia do Estado. Com a guerra última,
os preços se elevaram a mais de 300 % permitindo lucros fabulosos aos
seus proprietários [...]. Embolsaram os patrões, na fase da inflação, lucros
extraordinários e os salários não acompanharam a mesma relação de
preço [...]. (Gazeta Socialista, p. 3, Ano II, nº 36 e 37, 1949).
Percebe-se que a exploração da força de trabalho e a aquisição de
matéria prima com baixo valor no mercado, foram fundamentais para que as
indústrias xteis impulsionassem sua produção e garantissem sua posição no
mercado. Informação essa, que é ratificada por Prado Jr. (2004, p. 265), segundo o
qual
no pós-guerra (meados de 1924), verifica-se uma elevação geral dos preços
e encarecimento da vida que não são acompanhados no mesmo ritmo pelos
salários [...], a acumulação capitalista se faz efetivamente à custa de um
empobrecimento relativo da massa da população, sobretudo de suas classes
trabalhadas e um acréscimo de exploração do trabalho.
Segundo Passos Subrinho (1987, p. 92), no século XIX, comerciantes de
algodão construíram bricas têxteis, em Sergipe, criando uma demanda local de
algodão e conseqüentemente, “o único seguimento que conseguiu expandir,
consideravelmente, suas vendas externas foi o de fiação e tecelagem de algodão”.
A Economia nordestina e, em particular, em Sergipe, tinha como principais
produtos o açúcar, derivado da plantação de cana e o algodão. Segundo Passos
Subrinho (1987, p. 77), o algodão como em outros estados nordestinos, foi, em
Sergipe, o segundo produto de exportação, mas nunca chegou a ameaçar a
hegemonia do açúcar”.
Corroborando com esta afirmação, para Dantas (2004, p. 49-50), o açúcar
(1º) e o algodão (2º), eram os elementos mais importantes da economia. “Depois do
açúcar [...], vinha o algodão que era cultivado, sobretudo, no agreste e no sertão
pelos pequenos proprietários. Daí ser chamado de cultura de pobre”. A partir daí, a
atividade têxtil foi participando do mercado nacional e assumindo importância
crescente na Economia do Estado.
Entre as exportações industriais, aquela que mais ocupava mão de obra
eram as fábricas de tecidos. Neste sentido, momentos da história sergipana que
a utilização do algodão, a partir das Indústrias têxteis, chega a ser a força propulsora
da economia local e regional se firmando no campo da economia, como expõe o
pesquisador Ibarê Dantas
89
:
As indústrias mais significativas pela quantidade de pessoal empregado
continuavam sendo as têxteis. [...] no período de 1931/45 sua produção foi se
ampliando e, em 1945, Sergipe era o quinto Estado do país em mero de
empresas têxteis e produção, perdendo, na região Nordeste, apenas para
Pernambuco
(DANTAS 2004, p.100).
Esta informação é reforçada por Caio Prado Jr, em sua obra História
Econômica do Brasil”. Segundo ele, após a crise
90
(1930, decorrente da queda da
bolsa de Nova Iorque), salva-se o algodão, com um aumento gradativo nas
exportações, principalmente durante o período da II Guerra, alcançando em 1939, o
alto nível de 323.529 toneladas. Neste aspecto a indústria do algodão encontrou
mercados externos, na América Latina e África do Sul. Os Estados Unidos tamm
se tornaram grandes importadores de tecidos brasileiros. “A exportação de tecidos
89
História de Sergipe: República (1889-2000).
90
Prado Jr. (2004, p. 266) - “O período que vai de 1924 a 1930 será uma fase sombria para as
indústrias brasileiras; muitos fracassam e perecem, e todas ou quase todas se manterão muito
próximo do nível mínimo de subsistência”. A crise mundial desencadeada em outubro (1930),
repercutirá gravemente no Brasil. As exportações sofrem grande redução. Conseqüentemente, a
moeda se desvaloriza rapidamente, as importações declinam.
Para Dantas (2004), essa concentração se acentua ao longo do século XX
e no período de 46 a 64, ampliando consideravelmente a defasagem econômica
entre o Sudeste e o Nordeste do país. Enquanto que o Sudeste do país, estimulado
pelo Plano de Metas” JK articulando empresas nacionais com estrangeiras e,
conseqüentemente, implantação de um processo de industrialização “pesado”,
fabricando produtos industrializados com grande nível de produtividade e com isso,
conquistando o mercado nacional com seus produtos, o Estado de Sergipe, como
em todo o Nordeste, mantinha um perfil agro-exportador em decadência.
No Estado de Sergipe, a queda do setor da indústria têxtil pode ser
visualizada abaixo (Quadro 1), tendo relação direta com o desenvolvimento do
Sudeste e tamm, pela disposição de matéria prima de baixa qualidade e
tecnologia obsoleta, principalmente em relação à Indústria Têxtil.
Quadro nº 1 Relação indústria têxtil e número de operários em Sergipe
ANO CENSO INDUSTRIAL Nº ESTABELECIMENTOS
PESSOAL OCUPADO
1940 40 6.472
1950 61 8.189
1960 39 5.973
Fonte: Dantas (2004) – somente o ramo têxtil.
Em relação à economia geral do Estado, o Quadro 2 demonstra queda
acentuada na produtividade representada pelo setor secundário; tal declínio foi
motivado, entre outros, pelo fechamento da usinas açucareiras e das indústrias
têxteis.
Quadro nº 2 Demonstrativo da Produtividade têxtil em Sergipe
SETORES 1950 1960 1967
PRIMÁRIO 35,9 % 42,8 % 44,8 %
SECUNDÁRIO 18,6 % 10,8 % 6,4 %
TERCIÁRIO 45,5 % 46,4 % 48,8 %
Fonte: Dantas (1997)
88
, com base no Sergipe Sócio-econômico (1970)
87
Fonte: “história Econômica do Brasil” – Caio Pradonior – (2004, p. 260).
88
Tal declínio era motivado, entre vários motivos, pelo fechamento das usinas açucareiras e das
Indústrias têxteis.
sergipano); E
97-4
- Odisseu
85
(conheceu vários operários que trabalharam na fábrica);
E
97-5
- José Walkírio (foi Presidente do Clube na década de 50/60); E
97-6
- Marcos
Prado Dias (Médico do Confiança na década de 60/70). Os entrevistados no
período atual do trabalho são identificados por E
04
, sendo os seguintes: E
04-1
-
Wellington Elias (Cronista esportivo, atua no dio e na televisão como
comentarista); E
04-2
- José Eugênio (Cronista esportivo, um dos fundadores da ACES
e hoje é o atual presidente da Associação Sergipana de Imprensa); E
04-3
- Vilder
Santos (Jornalista, ligado ao dio e conhecedor da história do futebol em Sergipe);
E
04-4
- Luiz Manoel (Foi jogador profissional e integrou a equipe do Confiança na
década de 60 e hoje é funcionário público federal).
3.1 Associação Desportiva Confiança: algumas épocas antes...!
Iniciarei a história (análise) acerca da formão da Associação Desportiva
Confiança, voltando um pouco na própria história. Ou seja, para entender o contexto
político e econômico - mundial-local - que se configurava em Sergipe, em particular,
em Aracaju
86
, voltarei algumas décadas antes de 1936 (quando se cria o Clube da
Fábrica Confiança) e de 1949 (quando se cria a equipe de futebol).
Na transição dos séculos XIX ao XXI, a grande concentração da indústria
brasileira estava na região Centro-Sul: em 1907 havia 3.258 estabelecimentos
industriais, empregando 150.841 operários principalmente nos Estados do Rio,
São Paulo e Rio Grande do Sul (Censo das Indústrias)
87
. Especificamente em São
Paulo, esta concentração, segundo Prado Jr. (2004), é resultado, do Progresso
Geral do Estado: lavoura cafeeira; abundância de energia hidráulica, do processo de
imigração com habilitação técnica do trabalhador europeu. Mesmo assim, considera
que
a acumulação capitalista ainda é essencialmente no Brasil um fato individual
restrito. Aqueles que têm capitais aplicados na indústria são unicamente
indivíduos que lograram reunir fundos suficientes para se estabelecerem nela
por conta própria e independentemente
(Op.cit., p. 264).
85
Este é um nome fictício a pedido do entrevistado.
86
Os Estudos de Dantas (1997 e 2004); Passos Subrinho (1987), Sousa (1991), Figueiredo (1989,
1991) Ribeiro (1997), bem como os entrevistados deste trabalho, constituem a base histórica na
construção desta parte,
os fios da história” dialogando com a base teórica e metodológica adotada para
reflexão.
Sendo assim, apresentarei a análise, a partir do surgimento da Associação
Desportiva Confiança e, ao ir “tecendo os fios” de sua história, relacioná-lo com o
seu contexto cultural, político, social e econômico, numa relação indissociável com a
prática (da vida), no sentido de estabelecer classificões do campo de investigação.
Com isso, quero dizer, que as representações sociais
82
, numa perspectiva dialética
marxista, compreendem a vida material dos sujeitos históricos que fazem parte de
nossa investigação.
Portanto, elaborei temáticas que emergiram de toda construção teórica,
metodológica e do campo
83
e que se relacionam entre si, sendo apresentadas na
forma de tópicos:
1 - Associação Desportiva Confiança: Algumas Épocas Antes...!;
2 - Confiança: A História Continua, Tecendo a História;
3 - “A História Que Não se Conta...!”;
4 - O Profissionalismo “Oculto” do Confiança;
5 - ”Da brica ao Espetáculo do Confiança: Um Casamento Feliz Com a
Mídia;
6 - O Espetáculo: do Confiança ou da Sociedade
!;
7 - Nessa História, o Espetáculo Gera Renda;
8 - Criação dos Estádios/Mercados;
9 - O Confiança na Mídia: Considerações Históricas entre 1949 e 1966.
Para identificação acerca dos depoimentos, usei E
97,
para referir aos
entrevistados do trabalho monográfico
84
, realizado em 1997. Os sujeitos desta
pesquisa foram: E
97-1
- Rubens Chaves (filho do dono da fábrica Confiança e foi
Diretor do Clube); E
97-2
- Sávio Garcez (Escrevia crônica sobre a história do
Confiança); E
97-3
- Viana Filho (Jornalista e um dos historiadores do futebol
82
Minayo (1996) Explica que Representações Sociais é um termo filosófico que significa a
reprodução de uma percepção anterior ou do conteúdo do pensamento e nas ciências sociais, são
categorias de pensamento, de ação e de sentimento que expressam a realidade. Assim, numa
perspectiva marxiana, o pensamento e a consciência, o determinados pelo modo de vida dos
indivíduos, ou seja, pelo modo de produção de sua vida material. Portanto, é importante entender,
historicamente como o campo investigado foi determinado pelas condições de existência classes
em um dado período histórico, na sociedade capitalista.
83
Campo - Espaço social de relações objetivas e subjetivas.
84
Ribeiro (1997) – refere-se ao ano de realização das entrevistas e 04, ao presente ano.
investigação, se entrelaça. o há, portanto, uma fragmentação do conhecimento,
pois, aqui há uma situação que é una e múltipla, local e universal.
Neste aspecto, após a fase de “descoberta” no campo quando se deu a
captura das informações - nos jornais e também, a partir dos entrevistados passei
a sistematizar essas fontes. Registrei os aspectos que estabelecem um ponto de
conexão entre o concreto no campo e os seus significados). Portanto, para
identificar o contexto destes registros, ou melhor, compreender a codificação e os
seus significados, faz-se necessário esclarecer, previamente, os seguintes aspectos:
- ao me referir à História, encontrei subsídios que explicam a criação do
clube, como também o contexto da cidade (Aracaju); dos bairros (de ricos e pobres);
da economia do Estado (Sergipe); dos “Patronos (capitalista) dos clubes; da
perspectiva moderna influenciada pela Europa e Estados Unidos; do
profissionalismo “oculto” do futebol; da função da fábrica numa relação ideológica
com o esporte;
- ao me referir à Mercadoria, estabeleço relações que explicam o esporte
enquanto um bem cultural dotado de valor e no fetiche que se materializa nas
relações sociais; no trabalho que incorpora os bens simbólicos; no processo de
alienação que se sujeita o trabalhador; no processo de semi-formação do homem na
sociedade capitalista; na renda advinda do espetáculo esportivo;
- ao me referir ao Espetáculo, busco esclarecer não só sua representação
enquanto “show” do jogo esportivo, mas tamm, significados do modelo de
sociedade que estava se configurando; da mercadoria enquanto “bem cultural”; da
política blica na construção de “espaços de lazer”; nos jornais (mídia impressa);
na construção do espetáculo esportivo;
- Por fim, ao me referir sobre a Mídia, o entendimento dos meios de
comunicação (jornal, rádio, televisão); da criação de órgãos ligados ao esporte
(ACES); da criação do espetáculo e dos ídolos do esporte; da promoção e
divulgação dos torneios esportivos; do “agendamento” como forma de informar e
garantir o blico esportivo; como meio de propagação dos bens da cultura
(Indústria cultural).
Para o desenvolvimento das reflexões, envolvi esses achados em
temáticas (buscando a compreensão dos seus significados) que simbolizam a
construção, que é apresentada em forma de “narrativa histórica”, ou seja, no “tecer
CATULO III
ANALISANDO: DA FÁBRICA AO CAMPO [...], TECENDO
SEUS FIOS HISTÓRICOS
Vimos como a maquinaria aumenta o material
humano explorável pelo capital, ao apropriar-se
do trabalho das mulheres e das crianças, como
confisca a vida inteira do trabalhador, ao
estender sem medida a jornada de trabalho, e
como seu progresso, que possibilita enorme
crescimento da produção em tempo cada vez
mais curto, serve de meio para [...] explorar
cada vez mais intensamente a força de trabalho
(KARL MARX, 1996 p. 477).
Aqui, inicia-se uma “trama na tentativa de compreender o fenômeno
estudado. Trata-se então de uma análise que envolve o conteúdo nas suas diversas
manifestações/expressões, seja a partir dos recortes dos jornais, seja a partir dos
depoimentos dos sujeitos históricos, mediados a partir de uma base conceitual que
se configura entre o “objeto” e o “sujeito”. Enfim, trata-se do momento que se
caracteriza por buscar dar sentido aos dados empíricos e conceituais.
A análise de conteúdo, que configura esta etapa da pesquisa, visa
ultrapassar o senso comum e adotar uma reflexão crítica frente aos documentos
(jornais) e entrevistas, a partir do contexto que emergiram a investigação. Não quero
entendê-la “deslocada” da realidade, nem o pouco de uma interpretação
estruturada de dados, ou seja, pretendo fazer da análise de conteúdo, como sugere
Bardin (s/d), não apenas uma técnica de interpretação, mas um conjunto de
estratégias que visam contribuir para desvendar além do simplesmente aparente.
A partir deste entendimento, compreendo que a análise não representa um
momento à parte da investigação, mas que se integra à discussão em torno do
objeto/fenômeno, pois, o a vejo separada da concepção de mundo exposta na
literatura, nem dos aspectos metodológicos, expostos no método. Tudo, nesta
que está sendo comunicado, ampliando o conhecimento sobre o assunto
pesquisado, articulando ao contexto cultural, unindo o concreto (dados empíricos)
com o abstrato (o olhar dos sujeitos a partir das entrevistas), o geral (aspecto
macroeconômico) e o particular (ADC em Aracaju), ou seja, a teoria e a prática numa
relação indissociável.
essas medidas tomadas, envolvi o objeto de estudo, “tecendo” sua história a partir
do próprio “campo” investigativo.
2.6.4 Perspectiva da análise da pesquisa
Analisei os achados” do campo investigativo a partir da compreensão das
mensagens oriundas da mídia escrita (jornal) e dos depoimentos relacionados ao
objetivo e às questões a investigar. Procedi a interpretação por meio da análise de
conteúdo. Pires (2002, p. 193), fazendo referência à Bardin explica que
a finalidade de qualquer análise de conteúdo é a de interpretar,
isto é, de atribuir significação às características
observadas/descritas nas mensagens comunicacionais, isto é
possível através do exercício da inferência, operação lógica que
implica extrair consequências ou admitir proposições a partir de
sua relação com outras já conhecidas.
Foi neste sentido, ou seja, dando sentido aos dados que na primeira fase
desta etapa, organizei o material (jornais e entrevistas), principalmente os trechos
significativos à pesquisa (extraídos do material empírico produzido, representando
as unidades de registro e de contexto). Sendo assim, com uso do pis de cor,
agrupei (por cores diferentes para cada grupamento) as Unidades de Registro
81
. O
segundo momento foi contextualizar cada grupamento a partir de seu significado
para a pesquisa. Por fim, elaborei a análise, conforme Capítulo III, através de uma
“narrativa histórica”, fazendo e refazendo os grupamentos.
É bom esclarecer que a utilização da Análise de Conteúdo, seguindo a
orientação de Bardin (s/d), representou neste trabalho, apenas a técnica para
agrupar os dados e, então, dar sentido a eles. Por isso, percebi no estudo, que
uma comunicação entre emissor e receptor no tocante à mensagem que circulava
nos jornais da época, bem como, comunicação na veiculação da equipe de futebol
da fábrica (Confiança). Decifrar esses signos e códigos constituiu a tarefa da análise
de conteúdo. Articulei os dados, no seu sentido qualitativo, com o referencial teórico,
tentando responder às questões investigativas, ou seja, indo além das aparências do
81
Ver Bardin (s/d, p. 104 a 114) – “Unidades de Registro e de Contexto”
Silva (1991) explica em seu estudo sobre o “processo de mercadorização
do esporte”, a partir da realidade americana, que antes de 1950, jornais, revistas e o
rádio tinham estimulado o interesse pelo esporte e esse despertar vai culminar com
a chegada da televisão. Explica que esta aproximação dá-se primeiro com a mídia
escrita (jornal), principalmente na década de 30 e o rádio na década de 40 e 50,
havendo uma aproximação muito grande com a televisão no final dos anos 60, e
chegando ao ápice na relação com o esporte na década de 70, que marca uma nova
era nas transmissões esportivas. Por isso, não foi analisada a relação com a
Televisão, pois, é a partir de 1970 que ela ganha força na apropriação do fenômeno
esportivo.
Estas proposições foram importantes, pois, percebi a relação entre a
mídia, o esporte e a empresa, uma vez que, no caso específico, o clube de futebol
também tinha por propósito, divulgar o nome da fábrica e vender sua produção.
Não resta dúvida de que o período de criação do clube em 1936 até 1949
foi marcante na relação com o Estado, nas relações de trabalho e capital, nos
incentivos às práticas esportivas, entre outros, como alerta Bruhns (2000) que no
período de 1930 a 1936, o governo Vargas legalizou, além de várias profissões,
também a de jogador de futebol. No entanto, o estudo concentrou-se a partir de
1949, sem perder de vista os períodos anteriores, pela ruptura que ocorreu na
preferência da modalidade esportiva da fábrica que marcou decisivamente a imagem
do clube/fábrica no cenário sergipano e brasileiro.
O limite até o ano de 1970 foi, principalmente, porque marca
decisivamente a inserção da televisão nas práticas desportivas, seja na transmissão
em larga escala, atingindo a milhões de pessoas ao mesmo tempo, seja na criação
dos ídolos esportivos. Entendo que ai se inicia uma outra história.
Resumidamente, pode-se dizer, que o “campo investigativo” caracterizou-
se com a formação da cidade de Aracaju, a partir do Bairro Industrial onde se
localiza a Fábrica de Tecidos Confiança (aqui, para além dos jornais, me nutri das
pesquisas realizadas na área, por pesquisadores do Estado de Sergipe); A
“colheita”, captura dos jornais, envolvendo o esporte no período de 1949 a 1970; o
contato com os sujeitos conversa intencionada através de entrevistas (com 10
indivíduos, sendo que, seis pertencentes à primeira fase da pesquisa em 1997 e
quatro neste período atual de 2005. Todos caracterizados no Capítulo III). Com
“expansão” da Associação Desportiva Confiança - ADC - na cidade de Aracaju. Vale
frisar que a investigação desse período foi concentrada em dois momentos
fundamentais:
1) a criação da equipe de futebol em 1949 (tendo o cuidado de
caracterizar o contexto de Aracaju, no tocante à prática do esporte, da
formação da cidade e das fábricas têxteis, algumas décadas antes) e
consequentemente os anos que se caracterizaram pelo slogan “já nasceu
grande”, ou seja, de 1949 a 1955 (ano que rompe com a Federação e
“separa-se” da fábrica);
2) Outro grande momento, refere-se à década de 60 (de 1957 a 1959, sua
preparação para voltar ao futebol de modo triunfal e, consequentemente, à
profissionalização). De 1960 a 1964, que representa o “auge” de sua
equipe de futebol.
Nos anos que compõem os dois períodos acima delimitados, os
exemplares (jornais) pesquisados tiveram um rigor mais detalhado, sendo que nos
demais houve um recorte factual, sendo capturados apenas os aspectos mais
relevantes à pesquisa.
É importante ressaltar que o clube Associação Desportiva Confiança
foi criado em 1º de maio de 1936, para prática do basquete e do vôlei, daí o cuidado
de voltar alguns anos antes. No entanto, o recorte a partir de 1949 deu-se pelo fato
de neste ano, em de maio de 1949, ter sido criada a tão “famosa equipe de
futebol. Este período foi relevante tamm por estar no pós-guerra, com as
evidentes dificuldades nas relações de trabalho e capital (emprego) que
caracterizaram a época. Neste sentido, eis uma lacuna que foi observada, uma vez
que a fábrica de Tecidos Confiança contrata os melhores jogadores para nela
trabalhar e igualmente jogar pelo seu clube.
Em 1950, foi realizada a Copa do Mundo de Futebol no Brasil e esse fato
histórico repercutiu muito no sentido de ampliar a divulgação do futebol no país e no
mundo. Proni (2000) entende que, mesmo a Segunda Grande Guerra interrompendo
alguns anos a Copa e desarticulando muitas equipes, não tardou, após a Copa de
1950, o futebol seguir sua trajetória expansiva.
“Epifânio Dórea”. A captura das informações veio dos seguintes Jornais: Sergipe
Jornal, Correio de Aracaju e Diário de Sergipe, Gazeta Socialista, Gazeta de
Sergipe, Diário de Aracaju, por se constituírem de grande relevância no Estado e por
seus arquivos conterem quase que todos os exemplares dos anos referentes à
delimitação (1949 a 1970). Evidentemente, no Site da Associação Desportiva
Confiança existem algumas pistas para entender a sua história.
Além da base documental acima descrita, realizei entrevistas com
pessoas ligadas, de alguma maneira, ao clube/fábrica e jornalistas que tenham
atuado no campo do jornalismo esportivo devido sua relevância no contato com os
sujeitos históricos que construíram todo um imaginário na formação do clube ( No
Capítulo III, descrevi os sujeitos da pesquisa). A entrevista como propõem Kahn &
Cannell apud Minayo (1996, p.108), serviu como instrumento, entendendo-a como:
"conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer
informações pertinentes para um objeto de pesquisa e entrada (pelo entrevistador)
em temas pertinentes com vista a este objetivo". Ou seja, garantindo o processo
dialético na investigação e, sobretudo, misturando-se sujeito/objeto. Até por que,
como alerta Silva (2003, p.81), entende-se que “técnica e método não estão
separados e é o processo de pesquisa que qualifica as técnicas e os instrumentos
necessários para elaboração dos conhecimentos”. A idéia na utilização da entrevista
é de estabelecer um diálogo e uma aproximação com os sujeitos da pesquisa. Foi
por isso - enquanto instrumento flexível - que optei pela entrevista semi-
estruturada, acreditando que ela, nessa relação social, valoriza a presença do
entrevistador, dando liberdade e espontaneidade ao entrevistado no processo de
investigação, expondo sua visão de mundo.
Sendo assim, construi um roteiro de entrevistas (conforme Anexo I) no
qual as questões cruciais acerca da problemática foram enfocadas. Com o auxílio do
gravador garanti o registro das falas dos atores sociais que participaram da
investigação, facilitando a interação entre pesquisador e os sujeitos da pesquisa.
Portanto, foi neste universo, uno e múltiplo, que me aproximei da
realidade, lembrando sempre as palavras de Minayo (1996, p. 64), "o que atrai na
produção do conhecimento é a existência do desconhecido, é o sentido da novidade
e o confronto com o que nos é estranho”.
Neste aspecto, delimitei o período de 1949 até o ano de 1970 no Estado
de Sergipe, analisando, a partir da mídia impressa e das entrevistas, a formação e
vida das pessoas, para entender o “ser” social, esse sujeito que trabalha na fábrica,
joga futebol por ela, como ser histórico.
Neste sentido, a pesquisa Histórica aqui empreendida, é entendida numa
perspectiva marxiana, como a história da "vida material", ou seja, que as condições
materiais de existência estão relacionadas com a vida dos sujeitos da pesquisa.
Neste sentido, interpretei, cientificamente, como explicita Ranieri (2001), a partir do
entendimento de uma "ciência social da história". Aqui, diferenciada de uma história
factual e narrativa. Segundo Bottomore e Rubel apud Minayo (1996, p.66), fazendo
uma análise sobre a perspectiva materialista em Marx, explicam que
a ênfase que ele dava à estrutura econômica na sociedade não era novidade.
Sua contribuição pessoal nessa esfera foi o contexto dentro do qual discutiu a
estrutura econômica: o contexto do desenvolvimento histórico do trabalho
humano como relação primária entre homem-natureza e entre os homens e
seus semelhantes. O trabalho de Marx conforme ele mesmo disse, antes de
tudo era uma nova historiografia, e seu interesse dominante era a
transformação histórica.
Assim, percebi que nada é eterno e que nada se constrói fora da história e
que os sujeitos ali, trabalhadores/atletas, Cronistas esportivos, Diretores de Clube,
torcedores, entre outros, que então, representam a história do clube de fábrica, são
sujeitos desta história. Portanto, conforme Minayo (1996, p. 68), "os fenômenos
econômicos e sociais são produtos da ação e da interação, da produção e da
reprodução da sociedade pelos indivíduos".
2.6.3 Procedimentos na “Colheita” no Campo Investigativo
Durante o período de colheita
79
de dados, conforme cronograma
elaborado no Projeto de Pesquisa, busquei informações em jornais da época da
formação do “glorioso” time de futebol da Fábrica de Tecidos Confiança,
reconstruindo então a sua história. Esse material encontra-se disponível para
consultas no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
80
e na Biblioteca Pública
79
Tomando emprestado o termo explicitado por Minayo (1996), trago-o para análise em que o campo
faz brotar inúmeras possibilidades de reflexão humanamente construídas e, por isso, gostaria de
afastar-me da idéia de coleta.
80
Fundado em 1912, tendo como primeiro Presidente o Sr. Florentino Teles Menezes.
Entendo que o homem faz a história e que, o objeto das ciências sociais
tem um caráter histórico, Além de ter compreendido que as sociedades, num
determinado tempo e espaço, estão em constantes transformações nas suas
relações sociais, fez-se necessário, ao deparar-me com um femeno social,
entendê-lo em suas contradições, em seus aspectos qualitativos, ou seja, numa
abordagem dialética. Minayo (1994, p. 24), explica que esta abordagem
propõe abarcar o sistema de relações que constrói, o modo de conhecimento
exterior ao sujeito, mas tamm as representações sociais que traduzem o
mundo dos significados. A Dialética pensa a relação da quantidade como
uma das qualidades dos fatos e fenômenos. Busca encontrar, na parte, a
compreensão e a relação com o todo; e a interioridade e a exterioridade como
constitutivas dos fenômenos [...] considera que o fenômeno ou processo
social tem que ser entendido nas suas determinações e transformações
dadas pelos sujeitos.
Percebendo, então, que o objeto de estudo apresentou-se, para uma
análise com base nos pressupostos teóricos das ciências sociais, e que a realidade
social só se apreende por aproximação, encaminhei a pesquisa dentro de uma
abordagem qualitativa. Compreendi ainda que deve ser buscado, sobretudo, a visão
de mundo que se relaciona com o método e que dá às representações sociais e aos
sujeitos, numa perspectiva marxiana, seus significados enquanto homem.
tantos os fatores viveis, como as representações sociais integram e
configuram um modo de vida condicionado pelo modo de produção
específico. [...] assume-se a importância das representações sociais como
condicionantes tanto na reprodução da consciência como na construção da
realidade mais ampla (MINAYO. 1996 p. 34).
Do ponto de vista metodológico, ao analisar o surgimento de um clube de
fábrica, interliguei os autores sociais, o objeto de estudo à visão de mundo do
pesquisador. Isso por que o fenômeno social traz uma carga histórica, cultural,
política e ideológica, que na perspectiva das ciências sociais, estão imbricados,
numa relação indissociável, a sociedade e o homem. Portanto, o sentido qualitativo
que foi atribuído à pesquisa significa a possibilidade de trabalhar com a
complexidade com que nosso objeto de estudo se apresentou na sociedade ou na
prática social, buscando as raízes dos pressupostos que serviram de fundamento à
básico mediador de suas relações com a natureza, o trabalho. Esse é o elemento
fundamental que caracteriza e dá ao ser humano a condição de vida.
Reportar a um pensador que escreveu no século XIX não significa voltar
ao seu período vivido, pois se entende que isso mataria a própria dialética.
Tampouco tratar os fenômenos com os mesmos olhares, até por que existem
realidades diferentes, principalmente em nosso país de terceiro mundo, na região
nordeste, mais pobre da federação, no menor Estado e na pequena Aracaju mas,
sobretudo, reconhecer o aparente, pois foi a partir desta concepção científica de
história, tendo a práxis como critério de verdade, que lançamos olhares buscando a
essência nas relações sociais, na produção da existência, seja no trabalho, na
cultura, no esporte espetacularizado, nascido no seio de uma fábrica têxtil; enfim, na
vida do homem na sociedade.
Por que então, um estudo dessa natureza e com essa base
epistemológica? Talvez porque acredito que a morte de Marx e de sua teoria não
aconteceram, pois,
os problemas que levaram à problemática marxiana continuam existindo; as
análises de Marx, haja vista a evolução e as pragas do mundo moderno,
continuam frequentemente atuais. Quando se apagam as orientações
totalitárias (que o próprio Marx desenhou) renasce um marxismo vivo,
carregado de interrogações [...] Nem as transformações políticas européias,
nem o fim do marxismo oficial, nos autorizam a dizer que a filosofia de Marx
deixou de ter um papel.
(COGGIOLA, 1996, p.111).
Nesta perspectiva, como alerta Katz (1996, p.21), "as idéias contidas no
Capital continuam sendo a referência de qualquer estudo medianamente sério da
realidade contemporânea [...]". Sendo assim, partirei para tecer a história – do objeto
de estudo – envolvendo-o em suas contradições e conflitos a partir de uma realidade
concreta, ou seja, de uma teoria viva.
2.6.2 Introduzindo: a “forma” e o “campo
Aqui, irei expor sobre os procedimentos metodológicos aos quais foi
submetida a pesquisa, contextualizando a sua abordagem, o seu tipo, bem como, os
instrumentos de coleta de dados e a perspectiva de análise e interpretação dos
dados.
que o objeto científico está intrinsecamente entrelaçado com a problemática posta
na realidade.
Neste contexto, retornando à situação particular dessa investigação, a
criação do Clube de Fábrica, no Estado de Sergipe, verifica-se que muitas coisas
mudaram nas relações de trabalho e natureza, trabalho e capital, principalmente
após o período conhecido como Revolução Industrial, pois é um período que marca
substancialmente a mercantilização da força de trabalho. Significa dizer, que para
produzir sua existência, o ser humano vê-se obrigado a vender sua força de
trabalho.
Ora, deparar-nos com um fenômeno como este - surgimento de um clube
de fábrica - que aparentemente, constitui-se como algo natural, em que os valores, a
forma, seus significados, conduzem-nos a pensar que tudo era “bom” e “belo”,
surge-nos uma inquietação que reporta à produção da existência à qual Marx nos
alertava. Esses acontecimentos foram oriundos de uma lógica de produção que
estampava a vontade para ampliar o lucro, seja sob a forma de hegemonia
esportiva, espetáculo virtual, ou industrial, e que os sujeitos ali,
trabalhadores/atletas, submetiam-se a esta condição por uma razão particular, a
produção da existência material. Algo que se consolida nas relações de troca que se
estabelecem nas transações mercantis, ou seja, nas relações políticas e econômicas
da sociedade capitalista. Assim como Bottomore (1993, p. 260), fazendo referência à
Marx que expõe "o modo de produção da vida material condiciona o processo de
vida social, política e espiritual em geral".
Portanto, este constitui um contexto de contradições e conflitos, que abriu
possibilidades de investigar o "objeto", o fenômeno, a partir da compreensão do
método dialético, que traz a característica histórica e que é perpassado e
determinado pela totalidade social, bem como pela economia política. Acredito e,
não ingenuamente, que a partir desta teoria, possamos viabilizar investigações
sociais e históricas, pois o modo de produção da vida material condiciona o processo
de vida social, política e espiritual. Aqui, simbioticamente misturados, sujeito
pesquisador e objeto (sujeito também) pesquisado, seja em páginas velhas de
jornais, ou na sua história de vida, representam seu momento histórico em um dado
período, produzindo sua existência, que luta contra a opressão de classe, fazendo a
história, lutando para sobreviver ou subsistir e nesse contexto, tendo como elemento
materialista surge como uma ciência das leis mais gerais que regem a dimica e o
desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento.
Para Marx e Engels (1996) a produção de idéias, de representações, da
consciência está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com
o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real. Neste sentido,
Ranieri (2001, p. 108), explica que "em contraposição ao idealismo, a concepção
materialista da história considera as bases naturais sobre as quais se edifica a
sociedade humana, assim como as modificações pelas quais passa essa mesma
sociedade a partir da ação dos homens [...]".
No Prefácio à "Contribuição à Crítica da Economia Política" evidências
da luta contra o idealismo e consequentemente, aponta a perspectiva histórica do
materialismo:
A minha investigação desembocava no resultado de que tanto as relações
jurídicas como as formas de Estado não podem ser compreendidas por si
mesmas nem pela chamada evolução geral do espírito humano, mas se
baseiam, pelo contrário, nas condições materiais de vida [...] Na produção
social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e
independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a
uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas
materiais. O conjunto dessas relações de produção a forma a estrutura
econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a
superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas
de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o
processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do
homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que
determina a sua consciência
(MARX, s/d, p. 301).
Marx esboça uma compreensão de produção no sentido de interação com
a existência humana e com isso, une-se à economia, entendendo como a sociedade
desenvolve as relações materiais e humanas. Entende que a economia engloba o
conjunto dos esforços do homem para se apropriar da matéria e explorá-la e
constitui-se na estrutura essencial das relações sociais. Assim, a produção, como
explica Ranieri (2001), significa também um determinado complexo de realizações
sociais, de relações estabelecidas entre os seres humanos.
Parafraseando Bruyne (1991), esta é a linguagem científica para entender
o objeto de estudo formulado para esta investigação. Linguagem esta que
consubstancia a partir do concreto, das contradições, dos conflitos de novas
problemáticas e que portanto, representam a história do homem, pois entendemos
abordagem deste real. Na concepção materialista histórica, a investigação histórica
das determinações econômico-sociais, constitui-se um pré-requisito fundamental
para entender a realidade. "A luta teórica tem sentido se for sinônimo de luta
social, ou seja, resultado da compreensão das constituições sócio-econômicas que
determinam tanto a vida como o pensamento [...]" (RANIERI, 2001 p.106).
O pensamento de Hegel achava-se estruturado em uma pirâmide, cujo
vértice estaria voltado para baixo. Numa passagem da Ideologia Alemã, Marx e
Engels, fazendo uma crítica ao pensamento hegeliano, explicam que:
A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser
dos homens é o seu processo de vida real. E, se em toda ideologia, os
homens e suas relações aparecem invertidos como uma mara escura, tal
fenômeno decorre de seu processo histórico de vida, do mesmo modo por
que a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida
diretamente físico
(MARX e ENGELS 1996, p. 37).
O que os indivíduos são, depende, portanto, das condições materiais de
sua produção. Numa crítica irônica, segundo Wachowicz (1991, p. 36), Marx
condensa em uma frase sua oposição ao idealismo, quando diz "Não é a
consciência que determina o ser, mas o ser que determina a consciência".
Quando Marx e Engels (1996, p.14) escrevem a 11ª (décima primeira)
tese sobre Feuerbach, "Os fisofos se limitaram a interpretar o mundo, de diferentes
maneiras, mas o que importa é transformá-lo", entende-se que eles pretendiam
alertar para a necessidade de um conhecimento prévio da realidade que se
pretendia transformar, não enunciar, com isso, a morte de toda teoria, mas uma
ruptura com as teorias a respeito do homem, da sociedade e sua história, que até
esse momento eram teorias filosóficas, que se limitavam a contemplar e interpretar o
mundo. São, portanto, incapazes de transformar o indivíduo, porque não conheciam
o mecanismo de funcionamento das sociedades. A crítica deles era justamente, pelo
fato de os filósofos não conhecerem sua realidade, seus problemas vitais - a terra,
latifúndio, o emprego, a moradia e outros - o que até esse momento existia, em
relação à sociedade e sua história, eram teorias filosóficas acerca da História ou
Filosofias da História, ou então narrações históricas e análises sociológicas que se
limitavam a descrever os fatos que ocorriam nas diferentes sociedades. O que não
existia era um conhecimento científico da sociedade e sua história. Assim, a dialética
[...], ainda que a influência hegeliana continue a se fazer presente neste
momento da elaboração teórica de Marx, posto que se considera como
princípio norteador do progresso humano as suprassunções históricas,
processo sem dúvida, herdeiro do sistema de Hegel, o aspecto predominante
da construção do materialismo deste período é a tentativa cada vez mais
evidente e intensa de extrair o significado teórico da dialética de acordo com
a confrontação factual e empírica do cotidiano da vida humana, fazer da
teoria o resultado organizado das conclusões recolhidas a partir do concreto
pensado
(RANIERI, 2001, p. 106).
Marx é obviamente um materialista, sua doutrina se opõe não ao
idealismo, mas também, como diz Wachowicz (1991), à filosofia alemã, à política
francesa e à economia inglesa, além disso, preocupa-se com as graves questões
sociais da época em que viveu e isso é preponderante na interpretação e
entendimento do Materialismo Histórico. O materialismo, numa perspectiva
marxiana, vem a ser uma concepção explicativa da História que afirma que não são
as iias que governam o mundo e sim, as idéias é que dependem das condições
econômicas da sociedade, ou seja, da própria matéria. Como diz Ranieri (2001, p.
106), "é uma espécie de ciência social da história".
Neste sentido, mesmo as instituições criadas pelo homem, como a
política, a religião, a filosofia e a arte possam intervir sobre economia, será esta, a
determinante final da evolução histórica. Todas as transformações e revoluções
históricas, relacionam-se aos processos de produção e de troca, ou seja, em
Marx uma perspectiva econômica de produção da existência. Essa produção, ao
longo da história, é marcada por uma constante luta de classes, sejam amos contra
escravos, patrícios contra plebeus, capitalistas contra proletários. Neste aspecto, a
História é uma seqüência de lutas de classes
78
, opostas entre si como as fases do
processo dialético. Portanto, Marx compreende que a ciência é um conhecimento
que se explica através de uma orientação para a práxis, a ação. A ciência e a
representação científica de classe não são contraditórias. É possível fazer ciência a
partir de uma relação dialética entre ciência e representação de classe (LOWY,
1999).
Segue, nos escritos de Marx e Engels (1996), a necessidade de
diferenciar-se das concepções puramente ideológicas, ou seja, de buscar o caminho
teórico que apontam a dinâmica do real na sociedade, bem como, o método de
78
Apesar de estarmos num tempo em que cada vez mais são desconstruídas as classes, acredita-se
aqui, que as classes ainda existem. Como alerta Jameson (2001), “ainda divisão de classes
sociais e assim por diante. O que talvez tenhamos que pensar é numa forma nova de dizer isso. Para
mobilizar as pessoas, elas precisam identificar as forças que as estão oprimindo”.
Para Chauí (1998), Heráclito de Éfeso, filósofo do culo V a.C.,
desenvolveu a iia de uma dialética da natureza, pois a natureza encontrava-se em
constante mutação, as coisas e os fenômenos estão em perpétuo movimento, o
mundo como um devir eterno. Nós somos e, ao mesmo tempo não somos, os
contrários põem-se de acordo, dos mais diversos sons resulta a mais bela harmonia.
Tudo é engendrado pela luta, pelos contrários. Tudo muda, nada permanece
idêntico a si mesmo, o movimento (devir), é portanto, a realidade verdadeira.
Nos estudos de Lowy (1999), Ranieri (2001), Chauí (1994), percebe-se
que Hegel vai herdar essa concepção de mundo, do devir, buscando em Heráclito a
concepção da "Filosofia da História" e de um conceito para a dialética. Hegel define
a dialética como a conciliação dos contrários nas coisas e no espírito. O processo
dialético, consiste na tese, antítese e ntese. A uma tese opõe-se uma antítese e o
conflito destas vai originar uma ntese e neste sentido, as coisas se encontram em
perpétuo movimento, como afirmara Heráclito. O surgimento dessa síntese,
provocaseu próprio contrário o que vai engendrar uma nova tese que, por sua
vez, originará uma antítese, e assim o devir se instaura indefinidamente.
Parece-me então que desde os gregos antigos até Hegel e Marx, o
idealismo e o materialismo são correntes contrárias, dois campos antagônicos,
justamente pelo modo de resolver o problema da relação entre a matéria e a
consciência. Para os materialistas, o ser determina a consciência, devido a sua
relação com a natureza e com a experiência social. Antagonicamente, no idealismo,
o fato primário é a consciência; e a matéria, o ser, o secundário. O idealismo
interpreta o mundo a partir da consciência do espírito universal, da idéia absoluta,
assim, a História da humanidade surge como um processo desenvolvido por uma
Razão Universal, cujo desígnio é eterno.
O método dialético afirma a identidade dos contrários. Uma coisa é ela
mesma e o seu próprio contrário. O burguês, a partir da passagem do feudalismo ao
capitalismo, da Revolução Francesa à Revolução Industrial, apresenta-se como
condição para tal, a partir de sua contradição, e a sua contradição é o proletário.
evidências de que Marx alicerçara o Materialismo Histórico a partir
do “Manuscritos de Paris” e a “Sagrada Família”; no entanto, é naIdeologia Alemã”,
que se configura de fato, essencialmente, esta concepção.
diária ao respirar, ao buscar alimento, abrigo, amor. Talvez, essa seja uma premissa
que se mantém viva em nossos dias, mesmo num período de capitalismo
globalizado e de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´s), pois
ainda não se superou esta fase material da vida humana.
2.6.1 Uma perspectiva de entender a realidade: o materialismo histórico
[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de toda
história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder
fazer história. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter
habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é,
portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas
necessidades, a produção da vida material, e de fato este é um ato histórico,
uma condição fundamental de toda história, que ainda hoje, como há milhares
de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente
para manter os homens vivos.
(MARX e ENGELS, 1996, p. 39).
Os homens são produtores de suas representações, de suas idéias etc., mas
os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um
determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio
que a ele corresponde até chegar às suas formações mais amplas. A
consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos
homens é o seu processo de vida real
(op.cit., pp. 36-37).
Essas duas citações expressam bem uma ruptura do pensamento que se
consolidava na Europa, explicitamente na Alemanha no final do século XVIII e início
do XIX (em que a característica fundamental baseava-se no idealismo como
concepção para entender a realidade). Marx e Engels, então, rompem com este
olhar e propõem uma nova perspectiva que se configura como o materialismo
histórico”.
Estabelecendo um ponto de ligação entre a Dialética, que consubstancia o
método desta pesquisa e o Materialismo (Dialético e Histórico), verifica-se a
necessidade da contextualização histórica desses termos, até chegar ao que Marx
conceituará de Materialismo Histórico. Neste sentido, percebe-se, a partir dos gregos
antigos, segundo Chauí (1998), que a dialética expressa uma idéia de reciprocidade,
de troca de palavras, diálogo; enfim, configura-se como uma arte da discussão,
procurando convencer e também levar à compreensão. Portanto, ela expressa o
raciocínio que busca a verdade por intermédio da conciliação de contradições.
grande instrumento de reflexão no tocante à concepção de Ciências Sociais e
Humanas.
Ao projetar uma perspectiva investigativa, na qual o objeto nasce das
relações sociais em determinado momento histórico, entende-se como propõe
Bruyne (1991, p. 43), que “os métodos da epistemologia são, portanto,
necessariamente múltiplos: para apreciar os fatos, o método histórico-crítico, e para
as regras, os procedimentos da lógica”. Nesse aspecto, no interior da investigação,
foi necessário perpassar pela economia, sociologia, filosofia, história, substanciando
a base epistemológica de nossa pesquisa científica. Sendo assim, a metodologia
deve apreender a ciência como um processo vivo e não como um produto.
Nesse sentido, quando despertei para essa investigação, conforme
enunciado na Introdução/problematização desta Dissertação, traduzi o enfoque dado
às relações de trabalho e capital - Fábrica Tecidos Confiança
75
- e sua inserção no
"mundo da bola" - formação do clube e da equipe de futebol da brica, que
contratava os melhores jogadores do Estado e os recrutavam para nela trabalhar.
Num período histórico brasileiro - pós-guerra - quando as relações de trabalho,
capital e emprego, eram escassas e que o futebol esboçava um caráter amador (na
essência da palavra), esta era uma boa saída para "driblar" a crise do emprego no
sistema capitalista ("eles, os jogadores, tinham emprego e ainda jogavam futebol")
76
.
Esse é um fato que serviu para uma análise, numa perspectiva crítica de que as
relações históricas - econômicas e políticas - permeiam e fundamentavam esta
iniciativa.
Ao analisar este fenômeno, percebe-se que a matriz substancial na
produção da existência - trabalho - coaduna com as considerações propostas por
Marx
77
em seus estudos e que nos parece tão vivas nos tempos de hoje. Os seres
humanos realizam trabalho, isto é, criam e reproduzem sua existência na prática
75
RIBEIRO, Sérgio Dorenski D. (1997) - Amadorismo-Profissionalismo: suas relações com o trabalho
na história de um clube de fábrica. Este é o título do trabalho monográfico, defendido em 1997, no
Departamento de Educação Física, da UFS, que aponta a criação de um clube de fábrica,
inicialmente para as práticas do Vôlei e do Basquetebol e com o pós-guerra, muda completamente
sua estrutura, passando a ser um clube de futebol com a perspectiva de ser hegemônico. Para tanto,
fora necessário contratar os melhores jogadores do Estado, colocá-los na fábrica de tecidos
Confiança como "trabalhadores/atletas".
76
Na pesquisa realizada por RIBEIRO (1997) - nota anterior expõe-se a fala de um dos
representantes da fábrica de tecidos e também representante da Associação Desportiva Confiança.
77
Ao referir somente o nome Marx, entende-se o seu pensamento e toda a sua obra, desde jovem
até a fase de amadurecimento político e acadêmico que culmina com a sua obra máxima, o Capital.
em forma de espetáculo dramatizado. Assim, a história feita pelas imagens da TV
representava uma história do aparente, sem o pensamento, do parcial, dramatizada
pela força do vídeo. Neste discurso ideológico fatos como a queda do muro de
Berlin eram vistas como o fim espetacular de todas as tiranias ( BUCCI, 2004).
No Brasil, passou-se por um longo período de ditadura militar e a grande
inquietação dos autores supracitados, era como este programa (“Contagem
Regressiva”) iria lidar com esta questão, até por que, durante este período perverso
na história brasileira, a Rede Globo sempre se ocultou em denunciar a opressão, a
tortura. Se a História, neste programa, era aquilo que havia sido exibido na TV, e se
a TV jamais noticiara a tirania brasileira durante o tempo de ditadura, como é que a
ditadura poderia fazer parte daquela retrospectiva sentimental
Nenhum brasileiro
viu a violência do regime militar no entanto, ela acontecia de verdade pelo
jornalismo da TV nesses tempos hostis. Mas, no programa, ela existia, em um tom
inflamado, panfletário para não dizer hipócrita declarando o seu fim. Para o
telespectador, a sensação de que a Globo noticiou a ditadura no período que ela
existiu, ficava evidente. Como diz Bucci (2004, p. 222) “tire a TV de dentro do Brasil
e o Brasil desaparece”.
Entende-se que o Jornal (mídia impressa) desempenhou um grande
papel, no tocante à representação ideológica. No entanto, jamais alcançou e
alcançará a força da televisão.
2.6 Nas trilhas metodológicas da pesquisa
Pretende-se apontar uma perspectiva de abordar ou ler a realidade, não
com o ideal de fixar uma verdade absoluta, mas de estabelecer, entre rias
concepções, a perspectiva materialista da história dentro da convenção acadêmica
moderna da pesquisa científica. Segundo Bruyne et. al (1991), a vigilância
epistemológica torna-se uma necessidade, pois está intrinsecamente ligada à
pesquisa científica ao mesmo tempo. Portanto, defende-se que a abordagem
materialista histórica junto com a crítica à economia política, ainda constituem-se um
passa longe da mão e da cabeça do historiador. O relato histórico vai se convertendo em passatempo
da platéia. É a reprodutibilidade apartada do pensamento Bucci e Kehl (2004).
Segundo Chauí (2004, p.13) no prefácio do livro - “Vidiologias” Bucci e
Kehl, a televisão oculta a si mesma como veículo ou meio de transmissão assim,
“seduzindo, o espectador é arrastado pela transparência do que lhe é enviado e não
se conta de que mantém uma relação determinada com o veículo, mas acredita
relacionar-se diretamente com o mundo”.
O Brasil se comunica pela televisão. O Brasil se conhece e se reconhece
pela. [...] televisão, e praticamente só pela televisão, que reina absoluta sobre
o público nacional, com um peso muitas vezes superior aos outros veículos
[...]. A TV a primeira e a última palavra e, mais do que isso, a primeira e a
última imagem sobre todos os assuntos
(BUCCI, 2004, p. 241).
No Brasil, esse poder simbólico exercido pela TV, através da emissora
Rede Globo, chega a dimensionar aquilo que ela mesma não realizou (fetiche). Nos
estudos de Bucci (2004), evidências deste poder principalmente ideológico
que a televisão impõe. Assim, relata um fato, entre outros, muito interessante, no
capítulo intitulado “A História na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica
74
, analisando
um programa (“Contagem Regressiva”) da Rede Globo, exibido em junho de 1995,
que recapitulava os principais acontecimentos históricos no período de 1965 a 1995,
percebe, então, a dimensão fetichizada pelo espetáculo das imagens.
Neste sentido, “Contagem Regressiva” era um programa jornalístico que
misturava jornalismo e ficção, pois às vezes, entravam em cena atores “globais” para
representar os momentos históricos e quando a época exigia, a imagem ficava em
preto e branco. Era como se a realidade alcançasse o estatuto de acontecimento
histórico, digno de ser lembrado, se passasse na TV, dramatizado e com
características sentimentais. Havia, portanto, uma imensidão de imagens
espetaculares que eram registradas de alguns fatos passados, mas não, é claro, dos
mais determinantes. O fato, dessa forma, não era o fato mas as imagens dos fatos
74
A expressão reprodutibilidade técnica é retirada do ensaio de Walter Benjamin A Obra de Arte
na Era de Sua Reprodutibilidade técnica de 1936. Neste sentido, é aquela que ocorre sem que
seja necessária à participação do artista: é um processo puramente fabril, alienado, impessoal; sai de
cena a tela pintada a óleo, única, e entram em cena a fotografia, os filmes, os discos, todos
produzidos em série. No caso da História, trata-se de um modo de produção da memória social que
a forma midiática, em nosso tempo, a forma de discurso. Ou seja, o discurso
(midiático) sobre o esporte, representa
a expressão característica da linguagem - imagética, sonora e simbólica - dos
meios de comunicação de massa, através da qual conseguem silenciar,
publicizar ou recriar evidências, fatos ou expectativas que constituem a
cotidianidade da cultura contemporânea, a partir da vio dos interesses
ideológicos hegemônicos da sociedade
(PIRES, 2002 p. 36).
Na perspectiva do espetáculo é indissociável a relação da mídia com o
esporte, ou seja, "estão historicamente relacionados com o progresso da produção
industrial de massa e com o avançocnico e científico” (BELLONI, 2001 p. 95). Nos
tempos de hoje, a indústria do entretenimento desempenha um papel promissor na
expansão da mercadoria fetichizada em forma de espetáculo. Assume assim, um
mecanismo poderoso de “produção da consciência”, assegurando a adesão da
maioria da população a um modo de vida e a um modelo de consumo.
Estas considerações sobre a mídia o relevantes, pois é a partir de seu
discurso (midiático) que vai se constituindo atualmente a cultura esportiva
72
.
Compreende-se que o esporte se insere no campo da cultura e é fruto de uma
construção social e, com o processo de espetacularização e mercadorização, ganha
uma associação indissociável com a mídia, particularmente, a mídia esportiva, a
ponto de aquele não mais sobreviver sem esta. Por isso, "a mídia está em toda parte
e o esporte está em toda mídia
73
", ganhando uma dimensão ainda mais ampla a
partir da Televisão. Neste sentido, cabe agora falar no "esporte telespetáculo, uma
realidade textual autônoma [...]. Uma imagem não precisa necessariamente
representar algo que exista materialmente, porque ela é, antes de tudo, a presença
de formas visuais unificada pela atenção de quem a contempla" ( BETTI, 1998 p.
81).
Com o advento da televisão, na sociedade capitalista, o processo
ideológico fica mais evidente nos meios de comunicação, pois agora, ela representa
um espaço público que é instituído pela mediação tecnológica, econômica e política.
72
"Conjunto de ações, valores e compreenes que representam o modo predominante de ser/estar
na sociedade globalizada, em relação ao seu âmbito esportivo, cujos significados são simbolicamente
incorporados através, principalmente, da mediação feita pela indústria da comunicação de massa"
(PIRES, 2002 p,12).
73
Para Betti (1998, p.83), "a televisão na ânsia de espetacularizar e vender seus produtos [...] chama
tudo esporte". Neste aspecto, para esse autor, o esporte está em toda parte porque a mídia não o
sugere como uma prática corporal, mas como uma moeda cultural.
esporte seja uma construção social, ele passa a representar-se como um produto da
mídia, que também é uma construção social, assim transmite informações, alimenta
o imaginário do sujeito e constrói uma interpretação do mundo e, com isso, difunde
idéias sobre a cultura corporal de movimento (BETTI, 1998, PIRES, 2003).
Para Kellner (2001, p. 123) “os textos da cultura da mídia
71
incorporam
vários discursos, posições ideológicas, estratégias narrativas [...]. Tentam oferecer
algo a todos, atrair o maior público possível e, por isso, muitas vezes incorporam um
amplo espectro de posições ideológicas”. Ou seja, existe, na maioria das vezes, uma
cultura (dominante) veiculada pela mídia que impregna a vida dos homens, forjando
uma identidade. Além disso, é produzida para as massas e almeja grande audiência.
A Indústria Cultural, em seu processo de rebaixamento do sujeito, cria
produtos com posições ideológicas específicas que são altamente difundidos pela
mídia de massa. Antes da TV, o rádio e o jornal cumpriam o papel de difundir e
ampliar o conhecimento sobre o esporte. No início dessa relação, exaltavam uma
postura romântica de amor à sua prática, mas logo, passam a representar um
intermediário (mediador) do consumo da mercadoria esporte e seus derivados.
Fica evidente que a mídia exerce uma posição ideológica em relação aos
diversos contextos históricos, em determinados períodos e lugares, influenciando o
modo de pensar. Por isso, torna-se fundamental entendê-la em sua essência. Neste
aspecto, relacionando-a com o fenômeno esportivo, cumpre a tarefa de reconhecer o
quanto estão política, ideológica e economicamente entrelaçados. Ou seja:
ler politicamente a cultura da mídia significa situá-la em sua conjuntura
histórica e analisar o modo como seus códigos genéricos, a posição dos
observadores, suas imagens determinantes, seus discursos e seus
elementos estético-formais incorporam certas posições políticas e ideológicas
e produzem efeitos políticos ( KELLNER, 2001, p. 76).
.
Entende-se que o esporte constitui-se um fenômeno cultural de interação
social e de produções de significados (formas simlicas). Por conseguinte, assume
70
Aqui, refere-se a ACES – Associação do Cronistas Esportivos de Sergipe – órgão que teve papel
importante na divulgação do esporte no Estado.
71
Para este autor, a Cultura da Mídia é industrial [...], cria identidade e é constituída por sistemas de
rádio e reprodução de som (discos, fitas, CDs e seus instrumentos de disseminação, como aparelhos
de rádio, gravadores, etc.); de filmes e seus modos de distribuição (cinema, videocassetes,
apresentação pela TV); pela imprensa que vai de jornais a revistas; e pelo sistema de televisão,
situado no cerne desse tipo de cultura. Ainda, é uma cultura que explora a tecnologia mais avançada.
Neste aspecto, torna-se um terreno de disputas (grupos sociais, políticos e ideológicos).
se com os indivíduos que as produzem e as recebem. Ou seja, o desenvolvimento dos meios de comunicação,
por meio de seu conteúdo simbólico, aproxima o relacionamento dos homens entre si.
Para Belloni (2001a) o fenômeno "comunicação de massa" (C.M.) pode
ser abordado de vários pontos de vistas. Um deles é analisá-lo pelo enfoque
econômico (indústria de equipamentos eletrônicos), gerando bens culturais; outro
procedimento diz respeito ao aspecto político (manipulação das pesquisas de
intenção de voto, comportamento eleitoral, como nas sociedades altamente
tecnificadas; do ponto de vista artístico - a obra de arte produzida em série - no
sentido de que a repetição pela mídia banaliza a obra de arte - a exemplo da
Indústria Cultural.
As tradições orais (história oral) ganham uma outra dimensão a partir dos
produtos da mídia. É preciso considerar o alerta feito por Belloni (2001, p. 59) de que
“no Brasil [...], a maioria da população passou diretamente da transmissão oral e
pessoal para o rádio e a televisão, sem passar pela palavra escrita". Nesse sentido,
"o discurso oral e a imagem formam o substrato da difusão de mensagens pela
mídia". Mesmo assim, a criação de órgãos
70
da imprensa, responsáveis por divulgar
o esporte, representa a perspectiva de atender a um blico consumidor destas
informações.
Entende-se que as produções culturais da mídia devam ser lidas em
contextos sociais específicos. Assim, se decifrem seus significados e mensagens e
se avaliem seus efeitos. Referindo-se ao esporte, numa pequena cidade da região
do Nordeste do Brasil, compreende-se o contexto social/cultural que então se
configura, até por que “o melhor modo de desenvolver teorias sobre mídia, e cultura
é mediante estudos específicos dos fenômenos concretos contextualizados nas
vissitudes da sociedade e da história contemporâneas” (KELLNER 2001, p.12). Ou
seja,
Aprendendo como ler e criticar a mídia, resistindo à sua manipulação, os
indivíduos poderão fortalecer-se em relação à mídia e à cultura dominante.
Poderão aumentar sua autonomia diante da cultura da mídia e adquirir mais
poder sobre o meio cultural, bem como os necessários conhecimentos para
produzir novas formas de cultura
(Op.cit., 2001, p. 10).
Não resta dúvida de que os produtos da mídia têm um cunho ideológico.
Por isso, é importante interpretá-los politicamente e mesmo entendendo que o
processos de relações sociais, “é necessário ir além das condições técnicas [...]. É
preciso valorizar o mundo real dos sujeitos, considerá-los como protagonistas de sua
história e o como receptores de mensagens e consumidores de produtos
culturais" (BELLONI, 2001 p.21).
Thompson (1998) entende que a comunicação, no sentido dialógico, muitas vezes não se
completa
69
pela mídia, devido a esse entendimento, considera que o termo transmissão seja mais apropriado do
que comunicação. Mesmo assim, indica as seguintes características do processo que envolve a Comunicação de
Massa:
1º) - Envolve certos meios técnicos e institucionais de produção e difusão aspecto que tem
recebido mais atenção na literatura sobre mídia; É o desenvolvimento da indústria da mídia;
Organização desde a Idade Média; m se interessado pela exploração comercial das inovações
técnicas, que torna posvel a produção e a difusão generalizada das formas simbólicas;
2º) - Mercantilização das formas simbólicas - a comunicação de massa implica explorão
comercial das inovações técnicas. As formas simbólicas se submetem à valorização (forma de
valor); Valor que os objetos têm em virtude do apreço dos indivíduos. A valorização econômica é o
processo de atribuição de valor econômico às formas simbólicas. Neste sentido, devido ao valor
econômico, as formas simbólicas se tornam mercadorias. São bens simbólicos;
3º) - Estabelece uma dissociação estrutural entre a produção das formas simbólicas e a sua
recepção. Na comunicação de massa, o contexto da produção é geralmente separado do contexto
de recepção - Indústria da mídia para as residências. Isso causa implicações no sentido de saber o
retorno dos receptores (feed-back). Criam-se estratégias para suprir essa deficiência, como
programas e filmes em séries e pesquisa mercadológica, para medir a satisfação da audiência;
4º) - Extensão da disponibilidade das formas simbólicas no tempo e no espaço. A ampliação da
disponibilidade das formas simbólicas se torna um fenômeno social cada vez mais significativo e
penetrante. Informação e conteúdo simlico são colocados à disposição de um mero
incalculável de indivíduos, em espaços amplos e com maior velocidade;
5º) - Circulação pública das formas simbólicas. Os produtos da mídia são disponíveis a uma
pluralidade de destinatários. São produzidos em múltiplas cópias ou transmitidos para uma
multiplicidade de receptores.
Estas características são importantes, pois exem como a dia alterou nossa compreensão
acerca do passado, sendo que espaço e tempo são mediados por formas simbólicas e seu conteúdo atinge a um
“grande público”, com isto, construindo uma cultura (da mídia). Para Thompson (1998, p. 26) "o meio técnico é o
substrato material das formas simbólicas". Ou seja, é o meio pelo qual a informação transita de produtor para
receptor e isso se na mais primitiva relação entre os homens - face a face, até aos mais sofisticados meios
tecnológicos - e se materializa na sua transmissão e recepção. Os meios técnicos podem servir de fonte para a
prática de diferentes formas de poder.
Neste sentido, entende-se que a comunicação mediada provoca, de certa maneira, impactos na
vida (social), enquanto femeno. Neste estudo, fiz análise sobre as “matérias” conteúdo - veiculadas nos
jornais (mídia impressa), percebendo, como alerta Thompson (1998), que as mensagens veiculadas relacionam-
69
Numa comunicação de interação face a face, o fluxo de comunicação tem mão-dupla: uma pessoa
fala, a outra responde.
Além do que, as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
provocam um deslumbramento (enfeitiçamento) frente às massas. "É importante
lembrar que este deslumbramento frente às incríveis potencialidades das TIC está
longe de ser uma ilusão ou um exagero apocalíptico, mas ao contrário, constitui um
discurso ideológico bem coerente com os interesses da indústria do setor"
(BELLONI, 2001 p. 24).
Neste sentido, a relação (dominação) que o poder simbólico impera sobre
os sujeitos, cristaliza-se em ideologia. Como dizem Bucci e Kehl (2004, p. 17), “o
sujeito tem a sensação de que as coisas fazem sentido! Claro: sentido ideológico”.
Neste aspecto,
o poder é algo mais industrial, ou superindustrial [...]. O poder pode ser mais
bem descrito, hoje, como o mecanismo de tomada de decisão que permitem
ao modo de produção capitalista, transubstanciado em espetáculo, a sua
reprodução automática – o poder portanto, é a supremacia do espetáculo – a
nova forma de modo de produção capitalista, como descobriu Guy Debord
[...] sobre todas as atividades humanas. O poder, enfim, é a gestão do
espetáculo pelos seus encarregados que, no entanto, não são seus autores,
mas seus subordinados (op.cit., p. 20).
Entende-se que se deve ter cuidado com o termo comunicação de massa,
pois, muitas vezes, ele é “enganoso”. Nem todos os produtos da mídia atingem
milhares de pessoas, seja em época passada ou presente. Isso garante que o termo
"massa" não pode ser reduzido a uma questão de quantidade. "O que importa na
comunicação de massa não está na quantidade de indivíduos que recebe os
produtos, mas no fato de que estes produtos estão disponíveis em princípio para
uma grande pluralidade de destinatários" (THOMPSON,1998, p. 30).
Outro alerta apontado por Thompson (1998), é que os “receptores”
(sujeitos) dos produtos da mídia são vistos como sujeitos passivos, sem
sensibilidade, sem criticidade, como uma "esponja" que absorve água. Isto seria
uma contradição, devido à complexidade com que os produtos da mídia chegam até
os sujeitos em suas vidas, provocando diferentes interpretações e reações. Idéia
esta compartilhada por vários autores da Educação e Educação Física no Brasil
Belloni (2001), Betti (1989; 2003), Pires (2002; 2003) que perspectivam, a partir
daí, a necessidade de uma educação para a mídia, no sentido de criar autonomia e
esclarecimento ao sujeito receptor. Nesta perspectiva, diante das TIC´s e para se
compreender o impacto dessas tecnologias nas sociedades e suas instituições, nos
2.5 Mídia, política e ideologia: reflexões acerca do fenômeno esportivo
A relação indissociável entre o esporte e a mídia, na sociedade capitalista,
juntamente com o seu processo de mercadorização, nos tempos de hoje, configura-
se em um marco pontual para uma análise acerca das formas simbólicas que são
fetichizadas no espetáculo esportivo. Neste aspecto, essa relação compartilha com
os meios de comunicação de massa, na elaboração, criação e produção de um bem
cultural para consumo em massa. Portanto, reforçarei esta idéia, discorrendo sobre
a mídia, seus aspectos políticos e ideológicos, sem, com isso, perder a conexão
com o esporte e sua função de “debatedor” deste enfoque.
Não resta vida de que as formas simbólicas
66
, que são mediadas pelos
meios de comunicação de massa
67
, carregam em si uma gama de poder
(simbólico)
68
que, em muitos casos, influencia o curso da história, tendo em vista,
que pode estar explícita (ou implícita), no conteúdo dessas formas, uma relação de
classe (dominante), pois,
o capital é o sujeito que sujeita a todos os outros [...]. Os Estados Unidos,
expressa [sic] não a supremacia de uma nacionalidade sobre as demais, mas
os desígnios de uma indústria sobre todas as outras e sobre todos os povos:
o espetáculo. A tirania da mercadoria se exponencia na tirania da imagem da
mercadoria. O capitalismo contemporâneo é um modo de produção de
imagens. Aí, o poder político é uma espécie de despachante do modo de
produção (BUCCI e KEHL 2004, p. 22-23).
66
Entende-se, a partir do pensamento de Thompson (1998), que em todas as sociedades os seres
humanos se ocupam da produção e do intercâmbio de informações de conteúdo simbólico.
67
Refere-se à produção institucionalizada e difusão generalizada de bens simbólicos através da
fixação e transmissão de informação ou conteúdo simbólico. Mesmo com as considerações feitas por
Thompson (1998) de que os termos comunicação e massa (C.M.) são complexos, pelo fato de, na
maioria das vezes, na mídia haver uma transmissão e também, não atingir a todos os sujeitos. Outro
ponto relevante, segundo Belloni (2001), que é comum no meio acadêmico, é a expressão C.M. como
sinônimo de dia.
68
Para Tompson (1998) - o poder simbólico nasce na atividade de produção, transmiso e recepção
do significado das formas simbólicas. "O Poder Simbólico, é a capacidade de intervir no curso dos
acontecimentos, de influenciar as ações dos outros e produzir eventos por meio da produção e da
transmissão de formas simbólicas" (p. 24). Para Bourdieu (2002), O Poder Simlico é esse poder
invisível, o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe
estão sujeitos ou mesmo que o exerceu. Poder quase mágico, que permite obter o equivalente
daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), se exerce se for reconhecido, quer dizer,
ignorado como arbitrário. Apesar de Thompson (1998) apropriar-se do termo (poder simbólico)
elaborado por Bourdieu, o diferencia na sua conceituação. No entanto, entendemos que ambos os
conceitos serão utilizados em nosso trabalho, pois no primeiro um avanço na perspectiva
frankfurtiana e o segundo, assemelha-se ao conceito de fetiche e alienação que percorremos no
decorrer deste trabalho.
justamente essa: diante deste quadro “pessimista”, a necessidade de superar os
caprichos teológicos das mercadorias e ao mesmo tempo, superar também, a
condição de “escravos dóceis”
65
do consumo; refletindo com autonomia e
emancipação diante da “coisa” portadora de valor de troca, subverter esse quadro.
Tarefa árdua, até porque, como no fetichismo na música provoca, segundo
Adorno (2000, p. 89), uma regressão da audição, os bens da cultura (mercadoria),
fruto da Indústria Cultural, produzida para um consumo das massas perante sujeitos
“semi-formados” e “alienados”, impossibilita o sujeito, reificado, de uma
autonomia/esclarecimento, ou melhor de um “casamento feliz” com o conhecimento.
Pois, “o que regrediu e permaneceu num estado infantil foi a audição moderna. Os
ouvintes perdem [...] o somente a capacidade de um conhecimento consciente da
música [...] mas negam com pertinácia a própria possibilidade de se chegar a um tal
conhecimento”. Num outro aspecto, acerca dos bens materiais produzidos pelos
trabalhadores vemos que:
O fetichismo da mercadoria produz o efeito de uma insólita espiritualização
do corpo-mercadoria – a presença, na própria matéria, de um elemento
imaterial, mas físico, de um cadáver sutil, relativamente independente do
tempo e do espaço em que esta mercadoria efetivamente circula. A
espiritualização, a mesma que se perdeu como riqueza circulante nas trocas
criativas entre os indivíduos, retorna aderida às mercadorias, como crença
necessária para produzir o esquecimento das condições materiais da
produção dessas mesmas mercadorias: a morte lenta do corpo do
trabalhador, que transferiu seu tempo de vida para a coisa produzida, e o
empobrecimento geral de uma sociedade que só consegue enriquecer à
custa destas vidas expropriadas
(ZIZEK apud KEHL, 2004, p. 79).
Portanto, é assim que o capitalismo se apresenta: sob disfarce, a
realidade do trabalho social fica oculta por trás dos valores das mercadorias. Cabe à
teoria descobrir o conteúdo essencial e oculto em cada forma que nos aparece,
como é no caso do esporte fetichizado – espetacularizado – mercadorizado.
64
A partir da teoria do valor e da mercadoria exposta por Marx (1996) entende-se que o valor
expressa a forma histórica do caráter social do trabalho numa sociedade capitalista. O valor é uma
relação social e que se materializa na forma de mercadoria.
65
Escravos dóceis, pois não há resistência dos sujeitos frente aos ditames do mercado impulsionados
pelo processo de banalização da cultura, advinda da Indústria Cultural. A resistência, numa
perspectiva adorniana, com o esclarecimento. Como dizem Adorno e HorKheimer (1985, p.13), “[...]
que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecedor”.
apenas a ação social pode fazer de determinada mercadoria equivalente
geral. A ação social de todas as outras mercadorias elege, portanto, uma
determinada para nela representarem seus valores. A forma corpórea dessa
mercadoria torna-se, desse modo, a forma equivalente com validade social;
ser equivalente geral torna-se função especificamente social da mercadoria
eleita. Assim, ela vira dinheiro
(Op.cit.,1996, p. 97).
Para Marx (1996, p. 97) “o dinheiro é um cristal gerado necessariamente
pelo processo de troca, e que serve, de fato, para equiparar os diferentes produtos
do trabalho e, portanto, para convertê-los em mercadorias”. Neste sentido, talvez
resida um segredo, que em seu fetiche, não se reconheça, na forma dinheiro de
valor, a forma social que os homens têm em se relacionar com este intermediário de
troca. E este segredo encontra, nos bens da cultura, uma forma ainda maior de
ocultar-se perante aos demais sujeitos em nossa sociedade. Com isso, o esporte
seria ummbolo
63
(enquanto mercadoria), pois como valor, é apenas invólucro
material do trabalho humano nele despendido. Para Silva (1991) o esporte
espetáculo adquire autonomia e é fetichizado em vez de ser resultado da produção
humana e reconhecido como tal, passando a ditar as formas de comportamento em
seu interior, tanto para aqueles que o produzem, como para aqueles que o
consomem.
Neste aspecto, na sociedade capitalista, os objetos materiais, então,
possuem características que se configuram como próprias, como se fossem
“naturais”. No entanto, essas características, a exemplo das mercadorias, o frutos
das relações sociais. Assim, esta mudança de perspectiva que é criada para ocultar
as relações sociais, simboliza o fetichismo. Percebe-se então, que a teoria do valor
64
e o fetichismo mantêm-se “simbioticamente” ligados, pois representam as relações
sociais (trabalho abstrato, capacidade física de produzir valor de uso) que
incorporam ao corpo das mercadorias.
Configura-se, a partir do entendimento do fetiche da mercadoria, um
quadro pessimista diante da realidade na sociedade capitalista. No entanto, a idéia é
62
COGGIOLA (1998) “O fetichismo mercantil alcança a sua forma mais desenvolvida no dinheiro,
que não é mais do que uma mercadoria criada pelos homens para servir de equivalente geral às
outras, e que assume uma personalidade própria[...]”.
63
Para Marx (1996, p.101) “cada mercadoria seria um mbolo, pois, como valor, é apenas invólucro
material do trabalho humano nela despendido”.
término que é a morte, estaria soberanamente presente na determinação do
valor (ROZITCHNER apud KEHL, 2004 p. 77).
A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista
aparece como uma imensa coleção de mercadorias, conforme Marx (1996), e o o
tempo de trabalho presente, individualmente, na mercadoria, revestido de um brilho
de riqueza. Talvez, essa seja a grande sutileza do fetiche e com isso, ele lança uma
ilusão que o trabalhador, na produção da riqueza, possa vir a ser um “rico”,
escondendo dessa forma, as contradições desta mesma sociedade
(classe/exploração/monopólio/acumulação). Tal argumento assemelha-se ao
“trabalhador/atleta” na ilusão de vir a ser um Pelé”, “Zico”, Ronaldinho”, tomando
como exemplo o futebol brasileiro.
Para Karl Marx a riqueza de uma sociedade se mede pela riqueza
simbólica, psíquica, posta em circulação, de todos os sujeitos e tamm, da
satisfação de suas necessidades. Por isso,
A riqueza socialmente produzida é a soma dos elementos em circulação
capazes de refazer, de alguma forma, pelo menos uma parte dos laços
comunitários que foram destruídos pelo desenvolvimento do sistema
capitalista, um sistema onde o indivíduo sofreu uma hipertrofia [...]. Os
sujeitos, sob o capitalismo, não se tornaram menos humanos do que outro
modo de produção qualquer. Mas sua confiança cega na relação entre
mercadoria, riqueza e valor fez certamente que perdessem a noção do que
consiste esta humanidade
(KEHL, 2004, p.78).
Em forma de equivalente geral, ou seja, de dinheiro
62
, o fetiche é ainda
mais misterioso”. Como expõe Marx (1996) ele conquista o monopólio de expressar
o valor do mundo das mercadorias. E, ao ampliar a circulação das mercadorias
aumenta seu poder. Assim, ao receber a sanção social, o dinheiro atua com extrema
“autonomia”, não na troca direta, como intermediando o processo de troca e com
isso, mas do que nunca, fica “mascarada” a forma social pela qual passa a
mercadoria na sociedade capitalista. “O que distingue particularmente a mercadoria
do seu possuidor é a circunstância de ela ver em qualquer outra apenas a forma de
manifestar-se o próprio valor(MARX 1996, p. 95). Entendo, pois, que a mercadoria
é uma relação social, nesse sentido,
Para Bucci e Kehl (2004, p. 23) a fórmula mais conhecida e clara de
fetichismo da mercadoria é a de que ele é resultado de uma operação que oculta,
sob a aparente equivalência objetiva das mercadorias, as diferenças – sob as formas
de dominação e exploração entre os homens que as produziram”. Com isso, o
ocultamento que agrega a mercadoria simboliza a relação social no seu interior,
entre o capitalista que comprou a força de trabalho e o operário que teve que vendê-
la, para garantir sua sobrevivência. Neste sentido, ao ocultar a relação social que
incorpora a mercadoria, percebe-se a sociedade caminhando para o individualismo,
para a negação da coletividade, até porque, em seu fetiche, a mercadoria não
esboça a exploração que se sujeita o trabalhador. Sendo assim,
Marx tem, portanto, que dar conta não apenas de como foi historicamente
expropriado o homem proprietário que trabalha, que culmina no sistema
capitalista; também tem que dar conta de como num momento da história
emerge aquela forma que está presente como expropriação do poder coletivo
e, ao mesmo tempo, a forma simlica que adquire o poder para ocultar seu
próprio fundamento através das próprias forças das quais se apropria
(ROZITCHNER apud KEHL, 2004 p. 76).
No processo de troca, os homens intercambiam
60
as mercadorias, ou seja,
o valor expresso na forma de mercadoria. Entendo que isto se não para uma
real necessidade humana, mas, precisamente, com a intenção de gerar riqueza.
Neste aspecto, talvez levado por um (in)consciente perverso
61
, os homens
esquecem que a medida de valor que estabelece uma equivalência entre eles é
justamente o trabalho humano medido pelo seu tempo. Tempo de vida humana, que
lhe é roubado, ou melhor:
O tempo de vida que ninguém poderia, aparentemente, expropriar um do
outro [...] o desgaste do tempo humano de vida, o que cada um teve que pôr
de seu próprio e irrenunciável tempo, deste tempo finito que lhe foi dado
viver. A presença irrenunciável do tempo da própria vida e seu valor frente ao
60
Para Marx (1996, p. 94-95) “não é com os pés que as mercadorias vão ao mercado, nem se
trocam por decisão própria. Temos, portanto, de procurar seus [...], donos. [...] as pessoas, aqui, só
existem, reciprocamente, na função de representantes de mercadorias e, portanto, de donos de
mercadorias”.
61
Bucci e Kehl (2004) fazem uma associação entre o fetiche em Freud, a partir da psicanálise (o
sujeito perverso, que sabe, mas não quer saber. Ou seja, tenta dominar o objeto que causa seu
desejo, ocultando-o e elegendo um outro) e o fetiche em Marx, a partir da lei de valor que fundamenta
a sociedade capitalista, em sua máxima”, a mercadoria. Aqui seguiremos com a perspectiva
marxiana devido a sua aproximação com a lei de valor.
O mistério da forma mercadoria consiste simplesmente no seguinte: ela
devolve aos homens, como um espelho, os caracteres sociais do seu próprio
trabalho, como caracteres dos próprios produtos do trabalho, como
propriedades naturais e sociais dessas coisas; em conseqüência, a forma
mercadoria reflete também a relação social dos produtores, com o trabalho
global como uma relação social de objetos existentes fora deles. (Op.cit. p.
77).
Neste contexto, analisa-se o esporte dotado de valor “misterioso”
suficiente para que não o reconheçamos como resultado da atividade humana,
mesmo que seu produto, o espetáculo, seja produzido e consumido pelos homens
instantaneamente. Vê-se, simplesmente, como a um feitiço. Percebe-se que há uma
necessidade, imposta pelo mercado, de se ocultar a relação social e imprimir nela
(mercadoria-esporte) uma independência autônoma suficiente para encobrir essa
relação. Como diz Silva (1991, p. 85) "o homem perde autonomia perante a
autonomia do objeto". É claro que o “objetoaqui se refere a um bem da cultura
57
e
que, portanto, é possuidor de características próprias que o diferencia dos bens
materiais. No entanto, como alerta Adorno (2000), eles fazem parte do mundo da
mercadoria, são preparados para o mercado e são governados segundo os critérios
deste mercado.
Adorno (2000, p. 77) explica que o conceito de fetichismo musical
58
não se
pode deduzir por meios puramente psicológicos, até por que ele está dominado pela
característica de mercadoria – “o fato de que valores sejam consumidos e atraiam os
afetos sobre si, sem que suas qualidades específicas sejam, sequer, compreendidas
ou apreendidas pelo consumidor, constitui uma evidência da sua característica de
mercadoria”. Portanto, o efeito do fetichismo no esporte segue esta lógica, ou seja,
não pode limitar-se aos “encantos” e “proezas” heróicas de seus atletas, mas,
sobretudo, na forma mercadoria que ele assume (tamm). Neste aspecto, ao fazer
referência ao processo de mercadorização
59
da música, explica que - “o consumidor
fabricou o sucesso, não por que o concerto lhe agradou, mas por ter comprado a
entrada”.
57
“Se a mercadoria se compõe sempre de valor de troca e do valor de uso, o mero valor de uso
aparência ilusória, que os bens da cultura devem conservar, na sociedade capitalista é substituído
pelo mero valor de troca, o qual, precisamente enquanto valor de troca, assume ficticiamente a
função de valor de uso” (ADORNO, 2000, p. 78). Uma particularidade é que este bem da cultura se
apresenta, precisamente, como excluído do poder da troca.
58
Adorno (2000) - “O Fetichismo na música e a regressão da audição”.
59
Esta expressão não é utilizada por Adorno, estabeleço um comparativo na comercialização dos
bens da cultura a partir dele, que fora utilizado por Silva (1991).
suspiros. Para Coggiola (1998) o capital consegue ocultar a relação entre explorador
e explorado, que se encontra detrás dele, e cria a ilusão de que é eterno, posto que
sem ele não se poderia trabalhar. A mercadoria, nesta estrutura de apropriação,
aparece não como um produto do trabalho, mas como uma coisa com qualidades
próprias, independente do trabalho que a criou. Dá-se a impressão de que ela
assume personalidade própria.
Segundo Coggiola (1998, p. 67) as tribos antigas (primitivas) criavam
fetiches (totens), aos quais depois atribuíam personalidades e poderes próprios,
como exemplo, atrair a chuva etc. Aqui parece haver uma relação semelhante, a
partir de um fetichismo social, ou seja, “os produtos do trabalho humano
(mercadoria, capital) aparecem aos homens como se fossem dotados de
personalidade própria, e os dominam”. Poderes semelhantes são atribuídos ao
esporte, quando em sua prática, estaria o homem fugindo das drogas, das ruas, da
criminalidade, da miséria etc. No entanto, camuflam-se as contradições do modelo
social/econômico em que se vive.
Neste aspecto, parafraseando Marx (1996), ao expor sobre a mercadoria e
seu fetiche e, estabelecendo uma análise compreensível para além sua aparência,
vê-se quanto o esporte, assume a forma de mercadoria e aparece como algo muito
“estranho” e cheio de sutilezas metafísicas e tecnológicas. Entendo que a forma
mercadoria que assume o esporte, projeta (no consumidor direto e indireto
56
), uma
sensação de mistério”, ou seja, fica disfarçada, em forma de espetáculo, pois esta
relação de consumo e produção, representa a relação social que mantém “vivaa
mercadoria. Com isso, evidencia-se o seu caráter misterioso, “encobrindo” e
“ocultando” as características sociais do próprio trabalho dos homens. Parece então
que a forma fantasmagórica” que oculta a relação social, fica evidenciada no
processo de troca que os muitos trabalhos/trabalhadores” são possíveis de realizar
no encontro com esta mercadoria. Para Adorno (2000, p. 77), “Marx descreve o
caráter fetichista da mercadoria como a veneração do que é auto fabricado, o qual,
por sua vez, na qualidade de valor de troca se aliena tanto do produtor como do
consumidor, ou seja, do homem”. Neste sentido:
56
Entendo que com o advento da televisão, o consumo da mercadoria esporte e dos produtos
carregados na sua “calda luminosaganham uma outra dimensão. Daquele consumido diretamente
no Ginásio de Esportes, ou no campo de Futebol, ao telespetáculo, produzido para atingir milhões de
pessoas em todo o mundo e ao mesmo tempo.
cultural e a semi-formação, ou semi-cultura, possibilitando o encontro e o consumo
deste bem. Percebo que esta relação é possível por entender que o fetichismo e
a lei de valor exposta por Marx são indissociáveis. Neste aspecto,
a semicultura carrega uma aparência de cultura e es disfarçada de
educação para as massas. Resume-se, a rigor, a uma semiformação
responsável pela produção de semi-indivíduos enfraquecidos e virtualmente
impotentes para se insirirem de forma autônoma no processo social. (Op.cit.,
p. 61).
É nesta perspectiva de reflexão que continuarei a discussão, analisando,
criticamente, as contradições que circundam um fenômeno social como o esporte.
2.4 O Fetichismo como mistificação das massas
Neste estudo, uma discussão indissociável do conceito de mercadoria
refere-se ao fetiche
55
. Aqui, irei tecendo” a partir do objeto de estudo, suas
interfaces com o esporte, enquanto mercadoria. O conceito de Fetiche, constitui-se
então, o objetivo desse tópico.
Neste sentido, como Marx (1996)alertava, a mercadoria à primeira vista
parece ser coisa simples e de fácil compreensão, principalmente se olharmos a partir
de seu valor de uso. No entanto, por trás do simples aparente, uma dimensão
misteriosa e enfeitiçadora que a torna estranha ao homem.
O caráter misterioso da mercadoria não provém de seu valor de uso, nem
tampouco, dos valores determinantes do valor [...] O caráter misterioso que o
produto do trabalho apresenta ao assumir a forma mercadoria, donde
provém? Dessa própria forma, claro. [...] as relações entre os produtores, nas
quais se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de
relação social entre os produtos do trabalho. A mercadoria é misteriosa
simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos
homens
(MARX 1996, p.79-80).
Com o processo de industrialização pelo qual o mundo passou,
principalmente nos séculos XVIII e XIX, percebe-se como os instrumentos de
trabalho utilizam (ou o capita?!) o trabalhador dominando-o até seus últimos
55
MARX (1996), expõe "o fetichismo da mercadoria: seu segredo". A intenção é revelar a dimensão
social do trabalho que se materializa na mercadoria e que não se percebe, como se ela tivesse vida
própria.
Alienação
54
, devido ao fato dela encobrir” a produção humana, ou melhor, alienar-
se é vivenciar o mundo e a si mesmo passivamente, receptivamente, como sujeito
separado do objeto. Ao alienar-se o homem curva-se e reverencia as "coisas"
criadas por ele mesmo sem reconhecê-las como fruto de sua criação. Para Loureiro
(2003, p.55), "com base no mecanismo de fetichismo da mercadoria, a indústria
cultural reproduz o processo de reificação e estranhamento socialmente construído".
Para Marx, o socialismo dá-se pela emancipação da alienação e de sua
realização (de si mesmo). Quando Marx (1996, p. 81) explica que "a mercadoria é
misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho
dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais
inerentes aos produtos do trabalho [...]" está tentando alertar para o “fetichismo” da
mercadoria, que seduz, pela sensação, os homens e os corrompe, no sentido que as
características intrínsecas às mercadorias e que representam a ideologia da classe
dominante, aparecem ao homem como se lhe fossem naturais e não como fruto do
trabalho e nem que sua essência seja fundamentalmente social. Neste aspecto,
a formação tem por finalidade social tornar os indivíduos aptos a se
afirmarem como racionais numa sociedade racional, como seres livres numa
sociedade livre. Não obstante, o sonho da formação cultural - a libertação da
imposição dos meios e da estúpida e mesquinha utilidade - é falsificado em
apologia do mundo organizado conforme àquela imposição. [...] a formação
cultural se converte em semiformação. (ADORNO apud LOUREIRO, 2003, p.
59).
Percebe-se então, no fetichismo da mercadoria, a característica de
alienação que torna possível o encontro entre ela (mercadoria) e o consumidor. No
entanto, Marx refere-se, sobretudo, ao “mundo material” e principalmente à produção
industrial mercantil. Neste sentido, uma questão é crucial fazer: e como se o
processo de mercadorização e, evidentemente, do fetichismo em um produto não-
material, como o esporte? Não basta dizer que o esporte, no sistema capitalista,
torna-se uma mercadoria, é preciso encontrar elementos que dêem suporte teórico
para essa premissa. Talvez, uma relação necessária para compreensão, seja com o
processo de banalização da cultura - Indústria Cultural - reificando a produção
54
"A alienação é um fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão
independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma, e em si mesma, deixam-se
governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma, não se reconhecem na obra que
criaram, fazendo-a um ser - outro, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles"
(Chauí, 1994 p.170).
que se assemelharia à Paidéia para antigos gregos. Para Adorno (1996), a Halb-
Bildung, ou semicultura/semiformação, é a formação que despreza seus
determinantes, sem auto-reflexão crítica. Por isso, ela é justamente a possibilidade
de a Indústria Cultural existir.
Mas será possível uma sociedade esclarecida? A Utopia que se busca, ou
que faz o homem caminhar, é que isso não se apenas no plano individual, pois
uma formação cultural para o esclarecimento está coagida pela dominação
econômica que se configura numa sociedade de classes. O projeto para uma
autonomia e esclarecimento passa, necessariamente, por um projeto coletivo.
Entende-se que a cultura ou formação cultural, seria então, numa perspectiva
adorniana, a possibilidade de liberdade, de autonomia/esclarecimento. No entanto,
como alertava Adorno (1985), numa sociedade controlada pela mercadoria não
chance para emancipação. A semicultura engendra a ideologia da classe dominante,
numa perspectiva de consumo e reificação
53
, tornando assim, impotente a
possibilidade de uma consciência crítica; sua essência é coisificada num processo
de compra e venda e nesse processo, apaga-se o sujeito, o indivíduo é coisa do
passado, pois a era do capital concentrado na cultura de massas (para o consumo
das massas) destruiu a liberdade pessoal e assim, a liberdade do pensamento crítico
morre, desaparece.
Como diz Pucci (1998) a autonomia constituía um dos momentos da
essência da cultura da classe média burguesa que se configurava no início do
capitalismo, em oposição à hegemonia político-econômico-social da nobreza. Esse
ideal de sonho iluminista, no entanto, com a expansão do capitalismo,
principalmente a partir da Revolução Industrial, com a exploração do trabalho,
impossibilitou que o homem trabalhador possuísse uma formação cultural e assim, a
cultura burguesa (impotente) frustrava-se na tentativa de realizar a construção de
uma sociedade de “homens livres”, virando apenas uma mercadoria, com valor de
troca. Há então, um processo de exclusão da formação (negação da formação
cultural - Bildung ) pela semi-formação, ou seja, falsificando a formação (Halb-
Bildung) que tem na adaptação um caráter de acomodação à natureza.
Talvez uma categoria necessária para análise, que foi explicitada por Marx
e que uma relação intrínseca com o conceito de semi-formação, seja a
53
Entende-se o sentido de coisificação, ou seja, de tornar todos os fenômenos na sociedade
(capitalista) em coisas possíveis de serem comercializadas. Relaciona-se o esporte enquanto “tal”.
capitalista, da produção cultural, característica do capitalismo monopolista, mas cuja
plena constituição só se completa no pós-guerra com a expansão da televisão [...]".
Pires (2002, p. 101) explica que "a Indústria Cultural notabiliza-se pelo
oferecimento de cultura de entretenimento, tipo específico e simplificado de bens
culturais para fruição (vivências imediatas) nos momentos em que o cidadão
encontra-se dispensado do trabalho para recuperação de suas forças produtivas”.
Este pensamento é compartilhado por Belloni (2001)
52
, que alerta para a diversão
organizada, a partir da cultura do narcisismo do esporte espetáculo, organizado pela
Mídia.
Percebe-se a relação entre a Indústria Cultural e a cultura esportiva na
sociedade capitalista, intermediada pelo discurso midiático, provendo assim, como
alerta Pires (2002, p. 101) “de sentidos adaptadores a massa de signos sociais que
reproduz implicitamente ao espetáculo esportivo [...] veiculados por rádio e canais de
TV aberta [...] inclui ainda jornais e revistas”.
Com isso, vê-se que o esporte, enquanto cultura de tempo livre, constitui-
se um protótipo da vida racionalizada, aceitando as "regras do jogo" e sendo
promotora da semiformação cultural. Identifica-se a cultura esportiva à semicultura,
pois,
serve aos interesses ideológicos de ocupação e controle do tempo livre dos
trabalhadores pela indústria cultural; oblitera o canal crítico de que poderia se
revestir o esporte enquanto formação cultural, privilegiando apenas o pólo
adaptativo, e reproduzida na educação, pelo seu caráter dogmático de
mistificação das massas, a (semi) cultura esportiva hipostasia o potencial
emancipatório daquela, como um anti-iluminismo. (Op. Cit., p.107).
Ora, mas por que não damos conta desse processo “perverso” de
dominação que perpassa no interior da Indústria Cultural? Acredita-se que a
formação cultural/educacional seja fundamental para uma autonomia crítica e
reflexiva diante dos fenômenos que nos aparece na sociedade de controle, como a
capitalista. Neste sentido, torna-se fundamental para uma melhor compreensão
acerca da idéia de Indústria Cultural, entender o significado da semi-formação ou
semi-cultura.
Para Pires (2002) a Bildung no sentido germânico, representa a cultura,
formação erudita, conhecimento da cultura geral, a cultura do sujeito. Um conceito
52
BELLONI (2001) - O lazer espetacularizado: cultura do narcizismo e indústria cultural.
liberal que perde seus escrúpulos [...] “Assim, a crítica à razão torna-se a exigência
revolucionária para o advento de uma sociedade racional, porque o mundo do
homem, até hoje, não é o mundo humano, mas o mundo do capital”. Essas são
críticas elaboradas a partir de uma matriz teórica marxista - economia política - que
desmascara os conceitos econômicos dominantes em seus opostos, por exemplo: o
da livre troca passa a ser aumento da desigualdade social. Esse se constitui ponto
fundamental na relação que é estabelecida para o esporte, pois forja-se, a partir de
sua banalização, um caráter hegemônico na sociedade de produção de bens
materiais e culturais.
O conceito de Indústria Cultural, em alusão aos frankfurtianos Adorno e
Horkheimer (1985), está relacionado com o processo de banalização da cultura e
também de sua difusão, por meio de sua mercadorização. Assim, a produção da
cultura vai se integrando ao modo de produção capitalista, assumindo a forma valor,
sendo produzida para o consumo mássico, ou seja, para um consumo das massas.
É interessante esta conceituação, pois é comum, equivocadamente, definir Indústria
Cultural como Mídia, no entanto, entende-se, aqui, que a Mídia é um meio de
difusão e ampliação da Indústria Cultural.
Talvez, entender a Mídia como Indústria Cultural represente a dimensão
de poder, ideologicamente, que ela exerce como mediadora na sociedade
contemporânea, bem como a velocidade aliada à tecnologia que manipula as
dimensões do tempo, deixando as coisas muito semelhantes, como dizem Adorno e
Horkheimer (1985, p. 114-115), “toda cultura de massas é idêntica [...]”. Isto se
pelo poder que o monopólio tem e exerce sobre as relações sociais e faz da
produção artística um negócio que, na ideologia capitalista, tem o lucro como fim.
Assim, a técnica conquista o poder, que nada mais é do que o poder da classe
burguesa sobre a sociedade e a “racionalidade técnica hoje é a racionalidade da
própria dominação. Ela é o caráter compulsivo da sociedade alienada de si mesma”.
Os meios de comunicação de massa assumem um papel crucial,
mediando a relação produção e consumo, principalmente a televisão que, para
Bolaño (2000, p. 268-269), através da teledifusão, incube-se de constituir um público
em massa e atrelá-lo às exigências de reprodução econômica e ideológica do
sistema. Explica que "a Indústria Cultural é a forma mais avançada, especificamente
51
Aqui entendida como todo pensamento da identidade, da não-contradição que tem em Descartes a
sua materialização por excelência (Matos, 2001).
de rendimento e longividade: "mais humano que humano" era o lema da
corporação que construía os "replicantes" [...].
2.3 Indústria cultural e semi-formação: “condições necessárias”
Percorrerei aqui, o conceito sobre a “Semi-formação”, como condição
fundamental ou necessária, para a Indústria Cultural obter êxito e neste sentido, a
sua conversão em Alienação. A Semi-formação é um conceito elaborado por
Theodor Adorno, um dos fisofos da chamada “Escola de Frankfurt” e da “Teoria
Crítica”. Entendo então, que uma semelhança com o conceito de alienação em
Marx. Sendo assim, para uma localização geográfica e histórica, discutiremos de
forma preliminar, sobre esta Escola
50
.
Segundo Matos (2001, p. 7) seus teóricos empreenderam uma crítica em
seu tempo, ou seja, esboçaram a desilusão do mundo contemporâneo e a promessa
do iluminismo que perspectivava a autonomia do pensamento. Viveram num período
em que os absurdos do Nazismo e os equívocos do Stalinismo eram evidentes e
ainda, a falsa idéia do “Milagre Econômico”. Neste sentido, desenvolveram
explicações para o totalitarismo de ordem metafísica sendo no conceito de
razão, que eles explicam o irracional, ou seja, que “em nome de uma racionalização
crescente, os processos sociais são dominados pela ótica da racionalidade
científica, característica da filosofia positivista”. Neste sentido, fazem uma crítica ao
positivismo como uma teoria social, que tenta uniformizar, por meio de um método
científico, a complexidade que é a condição humana. Este contexto de contradições
e conflitos marca as críticas dos pensadores desta Escola e assim, vai se
materializando a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, em oposição à Teoria
Tradicional
51
.
Percebe-se que os teóricos da Escola de Frankfurt fazem uma crítica à
racionalidade - científica e tecnológica - da dominação da natureza para fins
lucrativos, como ocorreu com a associação entre fascismo e capitalismo, pois
assim, se estabelece uma ditadura da produção. Segundo explica Matos (2001, p. 7-
8), extraindo um pensamento crítico de Max Horkheimer, o fascismo é a sociedade
50
FREITAG (1986, p.9) – “Escola de Frankfurt refere-se simultaneamente a um grupo de intelectuais
e a uma teoria social. Esse termo surgiu posteriormente aos trabalhos mais significativos de
Horkheimer, Adorno, Marcuse, Benjamim e Habermas sugerindo uma unidade geográfica [...]”.
universidades
48
em seus cursos de formação, dando o aval de “qualidade” nas
especificidades em torno de esporte-espetáculo.
Toda essa discussão envolvendo conceitualmente o esporte, conduz à
análise acerca do esporte-espetáculo, ou de rendimento: que ele é produzido para
venda; que trata seus agentes (atletas), como objetos descartáveis com data de
validade e tempo de duração, tendo em vista que uma passagem da lógica do
rendimento sendo correspondido com o dinheiro. Neste aspecto, para atingir seus
objetivos, os produtores deste bem (atletas) submetem-se aos rigores físico-
químicos incompatíveis com a condição humana, utilizando-se por exemplo, do
"Doping" para atingir melhores resultados. Com essa ação o componente químico
falseia o resultado esportivo, ao afastar sinais de dor e cansaço, abafa os sinais de
alarmes fundamentais do organismo e permite aumentar a intensidade nos
treinamentos. Assim, uma grande dúvida “paira” sobre o atleta: usar ou não usar. Em
usando, falseia os resultados onde ficam os valores morais, a ética etc.? - Não
usando, afasta-se dos índices e fica longe das grandes competições/eventos (Bourg,
1995).
Percebe-se então, que na busca pelo rendimento máximo e na
transformação do sujeito em uma mera mercadoria, ou na idealização de um "corpo
perfeito", de uma nova humanidade, mas parece retirar tudo que tem de humano e
sobra apenas, a forma humana. Algo que se assemelha aos andróides como vistos
nos filmes futuristas, a exemplo de "Blade Runner"
49
. Trata-se de um novo
“arquétipo (corpo) da felicidade humana”. Silva (2001, p. 73) explica que
a solução para a tecnociência é a criação de uma nova humanidade [...]; Para
essa lógica, a solução dos problemas humanos não se situa no campo ético e
político, mas sim no campo da factibilidade técnica: trata-se de manter em
condições ótimas os possíveis representantes da espécie, não se
preocupando com as condições para a dignidade de todos os seres vivos da
espécie. A lógica é a mesma do filme Blade Runner, que antecipou a
realidade, coerente com o eixo histórico em construção, no qual os homens-
máquinas são programados, antes e depois do nascimento, para seu máximo
48
É possível observar, principalmente, nos cursos "Lato Sensu" como: UFMG -Treinamento
Esportivo; UFRJ -Treinamento Desportivo; UNIMEP - Fisioterapia Desportiva; USP - Treinamento de
Modalidade Esportiva; UNOPAR - Ciências da Atividade Física: Aspectos de Medicina Desportiva/
Ciências do Condicionamento sico Individualizado - Personal Training/ Ciências do Treinamento
Desportivo de Alto Nível; FAMATH - Gestão Administrativa e Marketing/Musculação e Personal
Training/Condicionamento sico etc. Como tamm, as áreas temáticas nos cursos (Mestrado e
Doutorado), além das disciplinas específicas.
49
Filme de Ridley Scott (1982), mais conhecido no Brasil como: Blade Runner, o Caçador de
Andróides”.
Talvez, as palavras de Haug (1997, p. 74) simbolizem bem o fetiche
produzido pela embalagem que envolve o produto,
A abstração estética da mercadoria liberta a sensualidade e o sentido de
coisa portadora do valor de troca, tornando-as separadamente disponíveis. A
princípio, a configuração e a superfície libertas funcionalmente, às quais
se dedicam processos produtivos próprios, aderem à mercadoria como uma
pele. Mas a diferenciação funcional prepara a libertação verdadeira, e a
superfície da mercadoria lindamente preparada torna-se sua embalagem, [...]
mas como o verdadeiro rosto a ser visto pelo comprador potencial [...] e que
envolve, tal como a filha do rei em seu vestido de plumas, transformando-a
visualmente, a fim de correr ao encontro do mercado e de sua mudança de
forma.
Em síntese, o que se persegue aqui é o entendimento de que o trabalho é
a relação do homem com a natureza para produção de sua existência, atendendo às
suas necessidades materiais ou não materiais. Diante de um bem (cultural) como
esporte, na sua forma mercadoria, existem trabalhos específicos para a produção
final deste bem. Produção essa que vai culminar com o processo de
profissionalização do esporte
47
e, neste aspecto, o esportista tamm se levado a
vender sua força de trabalho, como condição necessária à existência, ou melhor:
Com o desenvolvimento do desporto-espetáculo teria de surgir por
arrastamento o movimento financeiro suscetível de o sustentar, de o
promover e de lhe dar rentabilidade. A freqüência das organizações do
desporto-espetáculo, a qualidade e a diversidade do espetáculo a oferecer ao
mundo de consumidores,o podia depender de personagens amadores
pelo que a evolução para um profissionalismo não é natural como
imprescindível para sua continuidade (FEIO APUD SILVA 1991, p. 62).
Não é mais “estranho” a existência de tantos profissionais, de diferentes
áreas, em torno do esporte. É cada vez mais freqüente a existência de treinadores
específicos (físico, tático, para defesa, para o ataque), observadores (com os mais
sofisticados aparelhos eletrônicos), psicólogos, médicos, gerentes (administradores
esportivos) e muitos outros, que vão ganhando o status inclusive das
especificamente deste assunto, no entanto, essa é uma discussão, pela característica do objeto de
estudo, que perpassa todo o contexto aqui enunciado.
47
Silva (1991) - Capítulo II de sua Dissertação expõe sobre o esporte-espetáculo e também sobre o
esportista e sua força de trabalho. Não do atleta como dos demais profissionais que se envolvem
na produção da mercadoria esporte-espetáculo.
Vê-se que a mercadoria, na sociedade capitalista, em seu modelo de
produção, aparece como um componente que possibilita a interação nas relações
sociais, pois sendo produto da ação humana, cristaliza um processo de troca que,
em um certo momento, eqüivale essa ação, entre si. Ou melhor, a mercadoria
representa uma relação social que se materializa no processo de troca. No entanto,
com a mudança no modo de produção (capitalista) e o advento tecnológico para
aumentar a sua produção (de mercadoria), os homens perdem essa dimensão de
interação entre eles. Parece então, que numa sociedade que reforça a coisificação,
o homem não se conhece como elemento chave na formulação da coisa, dando
mais valor a ela do que ela tem e, principalmente, não reconhecendo a relação
social que é necessária nessa formulação.
Por que então retomar estes conceitos expostos por Karl Marx no século
XIX? Justamente pela capacidade que a mercadoria tem de se metamorfosear,
diferentemente do seu tempo (de Marx), mas, que substancialmente, expõe suas
mesmas características (valor de uso e valor). A mercadoria é misteriosa
46
simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos
homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais
inerentes aos produtos do trabalho.
Este entendimento ajuda-me a compreender a construção conceitual da
idéia de mercadoria e, a partir deste conceito, transcendê-lo para entender a sua
existência não material, como se configura no esporte. Pois, parece-me então que,
por vezes, o esporte é a própria mercadoria e tamm assume a forma de
embalagem para comercializar e propagandear outros produtos que não ele mesmo,
numa força mercadológica que se assemelha a uma espécie de "multiplicação dos
pães". Esta multiplicação é notória, considerando as novas tecnologias: o
espectador (no campo) e o telespectador (em casa), assistindo ao mesmo jogo,
consomem espetáculos e mercadorias diferentes. o é à toa que, segundo
Jameson (2001, p. 22), "surgiu toda uma indústria para planejar a imagem das
mercadorias e as estratégias de venda: a propaganda tornou-se uma mediação
fundamental entre cultura e economia".
46
Mais uma vez refiro-me ao Fetiche e se pudesse resumir o trabalho em uma palavra, seria essa.
Estrategicamente haverá um tópico “O fetichismo como Mistificação das Massas” que tratará
humano a condição de vida. Além de servir para produzir mercadorias úteis a sua
sobrevivência. Passaram-se anos para que o homem sentisse necessidade de
outras mercadorias diferentes daquelas que ele produzia, iniciando, assim, o
processo de troca. É bom esclarecer que as mercadorias, assim as são, porque
são frutos do trabalho humano; do contrário, seriam apenas coisas e não
mercadorias. A mercadoria é produto do trabalho que chega do produtor ao
consumidor, por meio da troca e venda. No entanto, como alerta Belloni (2001, p.
87), nas sociedades contemporâneas tecnificadas,
a redução progressiva da jornada semanal de trabalho ainda não é suficiente
para provocar transformações profundas no tempo de não-trabalho, o que
permitiria à maioria dos indivíduos - e não somente àqueles poucos
privilegiados por um universo de socialização mais rico em capital cultural -
desenvolverem sua participação social, enriquecerem sua personalidade,
constituírem sua cultura [...] embora liberado de fato do labor cotidiano, o
homem continua, mesmo durante o tempo de não trabalho, obedecendo a
lógica da produção econômica, ou seja, a uma racionalidade instrumental
que o instrumentaliza enquanto trabalhador e enquanto consumidor.
Assim, vão sendo reproduzidos, a partir do fetichismo da mercadoria e da
gica da Indústria Cultural, para consumo em massa, bens de caráter simbólico,
como o esporte, que ratificam esta crítica formulada pela autora acima. Como
explica ainda que: "o tempo liberado do trabalho foi paulatinamente sendo
preenchido pelas mercadorias culturais, fabricadas em grandes centros e
distribuídas pelas diferentes redes de comunicação[...]” (Op.cit., p. 88).
Voltando então, ao conceito formulado por Karl Marx, entende-se que as
mercadorias no processo de troca, assumem, em determinado momento, um valor-
de-uso, ou seja cada mercadoria satisfaz a uma determinada necessidade do
homem. É ponto fundamental e obrigatório então, que as mercadorias devam
satisfazer uma ou outra necessidade do homem, fato este que constitui o valor-de-
uso das mercadorias. Elas passam a ser, nesse momento, qualitativamente
diferentes enquanto valor-de-uso. Pode-se então admitir que o valor é o trabalho dos
produtores nas mercadorias, nesta relação de satisfazer às necessidades humanas.
o que determina a grandeza do valor, portanto, é a quantidade de trabalho
socialmente necessário para a produção de um valor-de-uso. [...] o valor-de-
uso de cada mercadoria representa determinada atividade produtiva
subordinada a um fim, isto é, um trabalho útil particular. Valores-de-uso não
podem se opor como mercadorias, quando nelas não estão inseridas
trabalhos úteis qualitativamente distintos (MARX, 1996, p. 46-49).
aplicação capitalista e atacar
44
não os meios materiais de produção, mas a forma
social em que são explorados".
Assim, continua Karl Marx , em seu alerta aos trabalhadores:
o instrumento de trabalho, ao tomar a forma de máquina logo se torna
concorrente do próprio trabalhador [...] todo o sistema de produção capitalista
baseia-se na venda da força de trabalho como mercadoria pelo trabalhador.
[...] Quando a máquina passa a manejar a ferramenta, o valor-de-troca da
força de trabalho desaparece ao desvanecer seu valor-de-uso. O trabalhador
é posto fora de mercado como o papel-moeda retirado da circulação. (Op.cit.,
p. 492-493).
Por estas razões postas por Marx (1996) é que o trabalhador via, como
grande rival e vilão, a máquina. No entanto, a crítica era no sentido de combater a
gica capitalista e não a tecnologia
45
.
Os estudos de Huberman (1986); Marx (1996) e Hobsbawn (1995, 1997)
descrevem que, com a ascensão burguesa ao controle sócio-econômico, ou seja,
com a passagem do mundo feudal para o capitalismo, as mudanças estruturais no
modo de produção dos bens materiais passaram a intensificar-se, culminando com a
generalização do processo de troca dos produtos com a comercialização dos bens
produzidos pelo homem como forma de sobrevivência e interligação social. O caráter
mercadoria assume de uma vez as relações no mundo capitalista; sendo assim, a
forma cristalina que se materializa nas relações de troca e que embutem no seu
interior os valores humanos - trabalhos úteis e de troca (Marx diria trabalho concreto
e abstrato, um adequado a um fim determinado, outro a capacidade sica de
produzir valor) - e que o substancialmente apreciados pelos potenciais
consumidores, passa a vigorar como um enfeitiçamento (Fetiche).
A materialização do produto final, que é a própria concretização da
mercadoria, pressupõe a existência de dispêndio de força de trabalho. Por isso, o
ser humano, na sua história, sempre esteve lutando para sobreviver ou subsistir, e
nesse contexto, tendo como elemento básico mediador de suas relações com a
natureza, o trabalho. Esse é o elemento fundamental que caracteriza e ao ser
44
MARX (1996) - Refere-se ao "movimento luddita", o qual proporcionou a destruição de máquinas
nos distritos manufatureiros ingleses.
45
BIANCHETTI (2001) - "Da chave de fenda ao laptop tecnologia digital e novas qualificações:
desafios à educação". - Nesta obra uma discussão pertinente às mudanças que vêm ocorrendo
nos processos produtivos e de trabalho, mediados pelas tecnologias. Uma crítica ao determinismo
tecnológico, mas não à tecnologia.
abstrato, portanto, está simbioticamente ligado ao valor das mercadorias, ou seja, a
substância do valor é o trabalho humano abstrato. O trabalho abstrato está
relacionado com a capacidade física que todos têm de produzir trabalho concreto,
valores-de-uso. O duplo caráter das mercadorias funda-se no duplo caráter do
trabalho, com isso:
todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana de trabalho, no
sentido fisiológico e, nessa qualidade de trabalho humano igual ou abstrato,
cria o valor das mercadorias. Todo trabalho, por um lado, é dispêndio de força
humana de trabalho, sob forma especial, para um determinado fim, e, nessa
qualidade de trabalho útil e concreto, produz valores-de-uso ( MARX, 1996 p.
54).
Retomar estes conceitos propostos no século XIX não significa entendê-
los como “tal”, até porque compreende-se que estamos num período em que o
processo tecnogico tem, cada vez mais, substituído a força de trabalho e as
relações de trabalho e capital m adquirido uma nova imagem, principalmente, pela
inserção das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, no processo
produtivo. Algo que Marx apud Belloni (2001, p. 86) já alertava para a contradição no
tocante ao tempo de não-trabalho do trabalhador.
Resta ainda saber, diz John Stuart Mill, em seus Princípios de economia
política, se as invenções mecânicas feitas até agora aliviaram o labor
cotidiano de um ser humano qualquer [...] não era este seu(delas) objetivo.
Como todo desenvolvimento da força produtiva do trabalho, o emprego
capitalista das máquinas só tende a diminuir o preço das mercadorias, a
encurtar a parte da jornada em que o operário trabalha para ele mesmo, para
alongar aquela outra em que ele trabalha para o capitalista. É um método
particular para fabricar mais valia relativa.
A questão aqui é entender que a lógica capitalista continua a mesma e,
com certeza, mascarando ainda mais a opressão sobre o trabalhador. Neste
aspecto, como alerta Marx (1996, p. 490-491), o problema não está na máquina (nas
tecnologias) e sim, na lógica capitalista de acumulação de capital. "Era mister tempo
e experiência para o trabalhador apreender a distinguir a maquinaria de sua
Considerai também como são poucos aqueles que a trabalhar estão
empregados em coisas verdadeiramente necessária. Porque, neste século do
dinheiro, onde o dinheiro é o deus e a medida universal, grande é o número
das artes frívolas e vãs que se exercem unicamente a serviço do luxo e do
desemprego. Mas se a massa atual dos trabalhadores estivesse repartida
pelas diversas profissões úteis, de maneira a produzir mesmo com
abundância tudo o que exige o consumo, o preço da mão-de-obra baixaria a
um ponto que o operário não poderia mais viver de seu salário (More, 2000,
p. 69).
Ora, quando se pensa no conceito que Marx (1996, p. 208) elaborou sobre
o trabalho que "é atividade dirigida com o fim de criar valores-de-uso, de apropriar os
elementos naturais às necessidades humanas; é condição necessária de
intercâmbio material entre os homens e a natureza; é condição eterna da vida
humana, sendo antes comum a todas as formas sociais", percebe-se uma relação
indissociável entre homem e natureza e, quando se considera a crítica, supracitada,
elaborada por More (2000), observa-se que este momento histórico, no qual
vivemos, é diferenciado, pelo fato do trabalho ter sido apropriado pelo capital
servindo a um interesse particular. Isto culmina a partir do processo de
industrialização (século XVIII e XIX). Sendo assim, a interação entre esses dois
pensadores, mesmo em épocas distantes, possibilita analisar sobre a funcionalidade
do sistema em função do interesse do capital e com isso, perceber o porquê vemos,
cada vez mais rápido, o desaparecimento de profissões pelos ditames do mercado
(capital), pois o emprego é gerado a partir do interesse da ampliação do lucro e não
de sua relevância social.
Nesse contexto, entende-se que as mercadorias são fruto do trabalho
humano, e desta forma, na perspectiva de Marx (1996), no mundo da produção, o
trabalho subdivide-se em trabalho concreto e trabalho abstrato. O trabalho concreto
representa aquilo que está sendo criado, útil, uma atividade racional, adequada a um
fim determinado. Portanto, são qualitativamente diferentes, enquanto valor-de-uso
que condiciona: pedreiro - consti casa; carpinteiro - faz cadeira; padeiro - faz pão
etc., ou seja, os produtos do trabalho concreto são os diferentes valores-de-uso.
Para Volkov e Volkova (1987, p.18) "o trabalho abstrato é o trabalho
humano em geral, cujo caráter social se revela no processo de troca de mercadorias
[...] aparece como gasto de força de trabalho humana em geral, como partícula do
trabalho social que revela o seu caráter social no processo de troca". O trabalho
No mundo capitalista, em que a necessidade de se ampliar e reproduzir o
capital, dentro de uma lógica que coloca em supremacia a obtenção do lucro,
percebe-se o quanto as comunicações, a ciência e os aparatos tecnológicos
exercem determinada força coerciva frente ao homem, ou melhor dizendo: “as
metamorfoses da ciência em técnica e da técnica em força produtiva permitem
intensificar a reprodução do capital e [...], contribuir para a concentração e a
centralização do capital” (IANNI, 2001 p. 198). Impossibilitando, com isso, que o
homem reflita sobre si (consciência)
43
.
Nesta perspectiva, o esporte (espetáculo), um fenômeno cultural,
incorpora-se como mercadoria e assume por vez, o mundo das transações
comerciais. Segundo Jameson (2001, p. 22), "a produção das mercadorias é agora
um fenômeno cultural, em que se compram os produtos tanto por sua imagem,
quanto por seu uso imediato".
Nessa lógica de concepção acerca do esporte, por envolver sonhos e
seduzir as pessoas com promessas de felicidade, que nunca se cumprirá. Inúmeras
são as campanhas de esporte na escola, com um discurso "legitimador" de que
esporte é saúde, esporte educa, esporte tira das drogas etc. No entanto, percebo
que por trás deste discurso está a intenção explícita de selecionar talentos para o
“êxito olímpico” e assim, harmonizar todos os interesses do capital monopolista
(mídia, patrocinadores, produto, preço, acumulação do capital, bolsa de valores etc.).
Portanto, entendo que o esporte na modernidade é corrompido pela
Indústria Cultural, ou seja, um processo de dominação ideológica, banalizando a
produção cultural, preparando-a para uma massa de potenciais consumidores
prontos para realizar a proeza de não frustrar o encontro entre eles (consumidores) e
vendedores.
Aqui uma dominação perversa” e administrada pelo monopólio
capitalista que banaliza a cultura, pela Indústria Cultural, para ampliar e incentivar o
consumo, tornando a novidade como novo, ou seja, "que toda cultura de massa se
torne idêntica, a tudo conferindo um certo ar de semelhança" (ADORNO apud
PIRES 2002, p.94)
2.2 A mercadoria força de trabalho materializada no mundo do esporte
43
Acredito ser uma “falsa consciência”, provocada pela classe ideologicamente dominante.
com que o próprio controle do corpo se exerça de modo a promover o acúmulo de
duas formas: a do esporte como espetáculo de massa e a da mercantilização do
próprio corpo humano e assim, ressalta que o próprio corpo se transforma em
campo de investimento (no sentido amplo do termo) para uma massa de indivíduos,
criando um enorme terreno de expansão para o capital. Esta é uma consideração
interessante, pois presencia-se na atualidade a expansão do capital através do
espetáculo produzido por alguns “mitos” do futebol
40
.
Neste aspecto, entende-se o alerta feito por Betti (1998, p. 34) de que o
termo esporte-telespetáculo seja mais apropriado no momento que estamos, pelo
fato de a Televisão
41
associar a imagem e a linguagem e com isso, moldar novas
maneiras de percepção. Assim,
a televisão seleciona imagens esportivas e as interpreta para nós, propõe um
certo modelo do que é esporte e ser esportista. Mas, sobretudo, fornece ao
telespectador a ilusão de estar em contato perceptivo direto com a realidade,
como se estivesse olhando através de uma janela de vidro.
Pires (2002, p. 90) reforça essa idéia ao explicitar que "o esporte parece
ser o parceiro preferencial da espetacularização na mídia televisiva, porque oferece,
em contrapartida, o show pronto". É possível compreender melhor esta reflexão
enunciada pelos autores supracitados, assistindo a uma partida de futebol
diretamente no campo e fazendo a comparação com a assistida pela televisão, uma
vez que se percebe como a imagem é controlada por uma equipe de profissionais
preocupados em mostrar somente o que lhes interessa
42
, como se eliminasse a
capacidade crítico-reflexiva do sujeito, como alerta Pires (2002). É claro que na
análise da Mídia, ficarei restrito ao poder midiático escrito, no entanto, não se
descarta estas considerações que envolvem a relação simbólica e o poder da mídia
como um todo.
39
No artigo publicado para Revista Candeeiro - ADUFS - o prof. Dr. César Bolaño faz referência ao
esporte no oriente (arte marciais) e no ocidente, sendo este último apropriado para este estudo.
40
Ronaldinho Gaúcho aumentou o número de sócios do Barcelona e tamm gerou muitos milhões
vender Ronaldinho “nem pensar”. Globo Esporte. Rede Globo. 25/11/04.
41
BETTI (2003) - Fazendo referência à Santaella (1996), explica que "a televisão é a dia das
mídias e formas de cultura [...] impondo a elas qualidades de organização, ritmo e aparência que lhe
o próprios". (p. 97).
42
No filme "Um Domingo Qualquer", de Oliver Stone de 1999, é possível compreender a dimensão
que existe na relação esporte-telespetáculo, a partir da idéia de uma economia monopolista e de
controle.
Pires (2002, p.97) explica, minuciosamente, esta relação de experiência entre o “ao vivo” e o vivido.
consumida por uma massa de espectadores, o esporte perde seu caráter lúdico e
ganha a forma de “coisa”, reificada. Este valor-de-uso, que Marx (1996, p. 49)
associa ao trabalho concreto (destinado a um fim determinado) ganhará um
conceito, a partir das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's)
37
,
para além de um caráter extremamente material, corrompendo, inclusive, os bens
culturais como o esporte.
Este é um fator que caracteriza o declínio das formas de jogos populares
devido ao fato de paulatinamente, ficarem fora de uso, tendo em vista os processos
de industrialização e urbanização que levaram a novos padrões e novas condições
de vida, com as quais aqueles jogos já não eram mais compatíveis, devido ao fato
de não se apresentarem como mercadoria. Por isso, concorda-se que há uma
“descontinuidade”
38
do esporte, como exposto por Bracht (1997), e que o esporte de
alto rendimento ou espetáculo, por exemplo, aproxima-se para o praticante e
circunscreve-se no mundo do trabalho, enquanto o consumo daquele e o esporte
praticado como lazer circunscrevem-se no mundo do não-trabalho.
Vê-se então, uma nova configuração referente ao esporte moderno que
surge em função de suas novas características (o esporte espetáculo ou de
rendimento) e pressupõe a correlação com a mercadoria no mundo mercantil. Sendo
assim, os empreendimentos do setor esportivo defrontam-se com o mundo do
trabalho e com os objetivos de obtenção de lucro no modo de produção capitalista
com isso, são visíveis,
empreendimentos com fins lucrativos, com proprietários e vendedores de
força de trabalho, submetido às leis do mercado. Isto se reflete nos apelos
cada vez mais frequentes à profissionalização dos dirigentes esportivos e na
administração empresarial dos clubes (empresas) esportivos (esportivas)
(BRACHT, 1997, p. 14).
Bolaño (1999)
39
, em estudos sobre a problemática do esporte no ocidente,
esclarece que o esporte de massa é manipulado e promovido pelo Estado com
objetivos educacionais ou terapêuticos. Mas, argumenta que essa dimensão
estatista do esporte, soma-se, no capitalismo, a uma dimensão mercantil que faz
37
As TIC´s é o resultado da fusão de três grandes vertentes técnicas: a informática, as
telecomunicações e as mídias eletrônicas (Belloni, 2001).
38
Para Bracht (1997), “o esporte moderno é uma construção humana própria de um determinado
tempo, e não [...], resultado de um processo histórico linear, [...] desde a mais remota antiguidade”.
duas classes antagônicas, capitalistas e operários, consolida-se o surgimento do
esporte moderno como filho da classe burguesa. Neste sentido, o esporte passa na
sociedade - capitalista industrial moderna de uma prática amadora e lúdica, para
os aspectos do rendimento pertinentes à sociedade que o criou, que vai desde sua
racionalização até ao seu caráter mercadoria, ou seja:
O esporte de alto rendimento ou espetáculo vai organizar-se a partir dos
princípios econômicos vigentes na economia de mercado situa-se no plano
da transformação da cultura em mercadoria, é parte do que se chama de
indústria do entretenimento e precisa ser estudado no plano da economia da
cultura (Bracht 1997, p.107).
Assim, nos estudos de Bracht (1989 e 1997), percebe-se como estão
imbricados o trabalho industrial e o desporto de rendimento, bem como a presença
de características oriundas da industrialização capitalista. Dessa forma, essa relação
pressupõe a formalização daquilo que a professora Silva (1991) conceituou de um
produto não-material (como produto final do esporte) e que para Pierre Bourdieu
(2002) significa a construção de um bem simbólico e, nesta construção simbólica,
verificam-se mudanças significativas no imaginário social das pessoas,
principalmente na promessa de felicidade que representa a ideologia da classe
dominante e se materializa a partir de seu fetiche, produzido pelo espetáculo.
Mudança essa, que pode ser observada/materializada a partir da mediação
realizada pelos meios de comunicação de massa, principalmente a televisão,
envolvendo consumidores, produtores e patrocinadores em torno da cultura
esportiva
36
.
Observa-se um contexto perverso” - lógica capitalista - que transforma a
cultura em mercadoria e neste sentido, Jameson (2001, p. 22), explica que "surgiu
toda uma indústria para planejar a imagem das mercadorias e as estratégias de
venda: a propaganda tornou-se uma mediação fundamental entre cultura e
economia". Mediado pelos meios de comunicação de massa, pois ao transformar-se
em mercadoria e essa, produzida para venda (possuindo um valor de troca)
constituindo-se assim, numa mercadoria útil, ou seja, com um valor-de-uso,
etapas de elaboração de um produto não-material: idealização, materialização e venda (síntese
nossa).
36
PIRES (2003, p. 19) - A Cultura Esportiva representa um "conjunto de ações, valores e
compreensão que representa o modo predominante de ser/estar na sociedade globalizada, em
relação ao seu âmbito esportivo, cujo os significados são simbolicamente incorporados através,
principalmente, da mediação feita pela indústria da comunicação de massa".
2.1 Contextualizando o esporte moderno: Idealização, materialização e venda
Tomando por base a sociologia do esporte, é quase inevitável relacionar o
mundo moderno industrial, na sociedade capitalista, e o esporte
32
, justamente por
que o caráter hegemônico desta manifestação na cultura corporal de movimento
33
,
conecta em seu interior, a ideologia da produção capitalista.
Neste sentido, Bracht (1997, p. 5) explicita que “o termo esporte refere-se
a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo surgida no âmbito
da cultura européia por volta do século XVIII como fruto da Revolução Industrial e
que com esta, expandiu-se para todos os cantos do planeta”. Entende-se que
vários conceitos acerca do esporte, principalmente como uma manifestação cultural.
No entanto, pretende-se perseguir este conceito pela relação com a sociedade
industrial moderna, que modifica as relações de trabalho e pelo fato de neste
período histórico, vê-se mercantilizada a força de trabalho.
Com a nova configuração
34
- do mundo da mercadoria - que se materializa
no sistema capitalista, percebe-se que seu ponto de culminância e expansão (do
esporte) deu-se desde a industrialização, ou melhor, na Revolução Industrial (marco
fundamental para sua gênese) - “O esporte como fenômeno de cultura é criação da
sociedade industrial moderna, atendendo aos seus modelos e formas de relação
entre os homens” (Silva,1991)
35
- ou seja, a partir de uma nova estruturação do
mundo do trabalho que passa a incorporar o processo alienante na produção dos
bens. Portanto, neste contexto, de contradições e conflitos, da concretização de
32
Concorda-se aqui com Bracht (1997), que discute no sentido de uma descontinuidade histórica do
esporte, ou seja, a partir da Revolução Industrial, quando se mercantiliza a força de trabalho, o
esporte ganha novas características que coadunam com a sociedade capitalista moderna, próprio de
um determinado tempo. O processo de urbanização leva a novos padrões e a novas práticas
esportivas para a classe burguesa.
33
BETTI (2003) - Cultura Corporal de Movimento representa "a parcela da cultura geral que abrange
algumas das formas culturais que se vêm historicamente construindo, nos planos material, e
simbólico, mediante o exercício (em geral sistemático e intencionado) da motricidade humana - jogo,
esporte, ginástica e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas etc."(p. 91).
34
Entende-se que as relações de trabalho e capital mudam com o processo industrial, principalmente
no tocante ao estranhamento entre trabalhador e produto (mercadoria) realizado pelo trabalho.
35
"Esporte-espetáculo: a mercadorização do movimento corporal humano" - Nesta Dissertação, a
professora Ana Márcia Silva, discute a relação do esporte enquanto mercadoria. Neste trabalho, o
esporte (Basquetebol) sofre alterações significativas na sua perspectiva histórica, nos gestos
técnicos, na tática (defesa e ataque), no treinamento (fisiologia) e, principalmente, nas regras. Tudo
isso para tornar um produto pronto para o consumo. Percebe-se então, neste trabalho, todas as
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA
PESQUISA
Em toda parte onde a propriedade for um
direito individual, onde todas as coisas se
medirem pelo dinheiro, não se pode jamais
organizar nem a justiça nem a prosperidade
social, a menos que denomineis justa a
sociedade em que o que de melhor é a
partilha dos piores, e que considereis
perfeitamente feliz o Estado no qual a fortuna
pública é a presa de punhado de indivíduos
insaciáveis de prazeres, enquanto a massa é
devorada pela miria (THOMAS MORE, 2000
p. 49).
Pretendo, neste capítulo, construir uma base teórica caracterizando os
aspectos da mercadoria e seu fetiche. Através dele, objetiva-se mostrar como o
esporte transforma-se em mercadoria que é apropriada pelo sistema capitalista, a
partir do processo da Indústria Cultural, sabendo que o mediador neste processo é a
Mídia. Serão discutidas também as características do trabalho numa relação
indissociável na produção da mercadoria esporte-espetáculo.
Estrategicamente, farei do esporte o debatedor e mediador destes
conceitos, ou seja, o esporte transformando-se em mercadoria, na relação com a
Indústria cultural e a Mídia. Portanto, apesar de metodologicamente haver
subdivisões temáticas, não se tratará de uma perspectiva linear e fragmentada, pois
o esporte se sempre o eixo central das reflexões propostas. Para tanto, como
critério metodológico, far-se-á um corte a partir da conceituação do Esporte
Moderno, final do séc. XVIII e início do XIX, relacionando-o à sociedade capitalista
como um produto (mercadoria) não material, que tem como mediador para sua
ascensão e ampliação os meios de comunicação de massa. Por fim, discutirei sobre
as bases metodológicas e sua aplicabilidade na pesquisa.
comunicação de massa, principalmente o rádio e o jornal, abrem um espaço amplo
para a transformação de certas manifestações populares em bens da Indústria
Cultural [...]”, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. evidências
31
de
que os Cronistas Esportistas do Estado de Sergipe à época, aproximam-se do
esporte (caso específico do futebol) organizando competições e promovendo a sua
divulgação. Então, que interesses estavam por trás destes acontecimentos?
Segundo esclarece Antunes (1994, p. 106), quando os clubes de fábrica
formam grandes equipes, como por exemplo de futebol, a fábrica ganha com o
retorno publicitário ao divulgar seus produtos, pois: "ao que tudo indica, os
industriais brasileiros perceberam cedo que o futebol praticado pelos operários
poderia funcionar como um ótimo veículo publicitário".
Portanto, percebe-se a metamorfose que se configura numa estrutura
micro (Associação Desportiva Confiança), fruto do propósito de fomentar a prática
desportiva em seu tempo de lazer, ao ver-se engolida pela estrutura macro, do
esporte-espetáculo, competitivo e rentável.
31
Diário de Sergipe – 07/07/1949.
seus produtos, por meio da fama do time, como era o caso da equipe do Bangu, no
Rio de Janeiro. Para a autora “O prestígio da empresa se não era totalmente
dependente da equipe de futebol, podia em parte, ser favorecido por ele. Afinal, o
clube era uma espécie de cartão de visitas da empresa. Ele carregava seu nome e
suas cores e, no limite, divulgava seus produtos” (Antunes apud Bruhns 2000, p.61).
O sucesso do Bangu (Clube de brica de tecidos), do Rio de Janeiro,
certamente foi um bom motivo para que se ratificasse essa iniciativa. Estas
considerações me levou a acreditar que existia um interesse na articulação de
uma equipe (Fábrica) para mostrar (espetáculo) o seu produto. Neste sentido,
questiona-se: será então, que esse caráter (de mercadoria) se configurava
naquele momento e por isso, o basquete e o lei foram sendo "deixados de lado"
justamente por essa relação (de mercadoria) que ia se mostrando a partir do
espetáculo esportivo? Obviamente, encontrei respostas que ratificam esta questão,
pelo caráter mercadoria, no entanto, compreendo que existem outras, ou seja, pela
própria dimensão que futebol ganhou no Brasil, tornando-se prática hegemônica.
Necessariamente, abri uma discussão crítica com relação aos meios de
comunicação de massa
30
. Até por que, as influências do processo de globalização
estavam presentes nas análises do estudo. Concordo então, com Pires (1997, p.
31), quando explica que
nenhum estudo mais abrangente e rigoroso que proponha a
refletir sobre o fenômeno da globalização, pode prescindir da
análise dos processos de comunicação de massa,
principalmente se o foco mais direto do estudo concentrar-se na
questão da cultura mundializada.
Este entendimento é reforçado por Ianni (2000), quando expõe sobre os
atributos de Príncipe, no sentido maquiaveliano ou como um intelectual orgânico
gramsciano, que a Mídia recebe, ou seja, os meios de comunicação de massa
passam a configurar-se como uma forma de poder. Nosso caso, referiu-se ao papel
da mídia impressa e a sua relação com o esporte, especificamente, do Clube
Confiança, uma vez que, como explicita Bruhns (2000, p.66), “os meios de
mercado que relaciona futebol e empresa midiática.
30
Neste estudo, uma descoberta que foi crucial e que compartilha com esse pensamento, refere-se à
criação da Associação dos Cronistas Esportivos de Sergipe (ACES), em 1949, a qual nasce no
mesmo ano da criação da equipe de futebol do Confiança.
do mundo e que o espectador foge à realidade e vira uma compensação para o
mundo do trabalho; d) os sucessos esportivos fornecem prestígio nacional e os
atletas são elevados à figura de representantes nacionais.
Neste contexto, cabe uma reflexão como sugere Freitag (apud Bracht,
1997), sobre os programas sociais no Brasil, esclarecendo que a política social
brasileira como qualquer outra política social precisa ser compreendida não em
termos assistencialistas, mas, em termos econômicos e políticos, como um
instrumento usado pelo Estado para manter as bases de funcionamento do sistema
de acumulação e que essa política social atinge, por isso mesmo, de diferentes
formas e com objetivos variados, tanto as populações trabalhadoras inseridas no
mercado de trabalho, quanto a força de trabalho potencial que, por razões as mais
diversas, não foi absorvida no processo produtivo. Neste aspecto, deve-se levar em
consideração que o estado capitalista é atravessado de lado a lado pelas
contradições de classes, ou seja, se constitui em campo e objeto da luta de classes.
Talvez, então, seja essa a possibilidade de se analisar o fetiche (mercadoria)
produzido pelo esporte.
***
Numa pesquisa, o objetivo central (geral) do estudo pode se
interrelacionar com questões investigativas que entrelaçam o objeto e configuram-se
como fundamentais para apreendê-lo. Neste sentido, uma grande questão que
perpassou o objetivo foi entender o porquê do desestímulo de outras práticas
desportivas - voleibol e basquetebol - e o incentivo ao futebol, a partir do final da
década de 40 do culo XX, em Aracaju, capital do Estado de Sergipe. Pois, do
ponto de vista histórico, o surgimento da Associação Desportiva Confiança deu-se
com a intenção de promover a prática de Basquetebol e Voleibol em 1º de maio de
1936. No entanto, a partir de de maio de 1949, quando se cria a equipe de
futebol, um deslocamento, do ponto de vista do incentivo, para que esta ganhe
projeção ampla no Estado, inclusive com o slogan já nasceu grande”. Com isso,
abriu-se uma lacuna para entender a visão dos empresários que, segundo Antunes
(1994), era: se o time ia bem nas competições, a empresa poderia divulgar mais os
PIRES & SILVA (2001) - A "bolha" estourou! E daí? O Brasil é penta! - explicam a crise financeira do
Neste sentido, o compromisso que se deve ter numa relação blica de troca -
Universidade/Sociedade - é o de esclarecer, através de uma reflexão acerca da
construção histórica da humanidade e, compreendendo o tipo de sociedade em que
se vive, buscar alternativas de superação em suas contradições e conflitos.
1.1 Quanto ao Objetivo Geral e às Questões Investigativas
Elaborei como objetivo deste estudo, analisar o fetiche da mercadoria
materializada no esporte, a partir de uma situação concreta: o surgimento de
um clube de fábrica.
Considerando o objetivo e relacionando-o com a problemática deste
estudo, mantive a análise a partir da relação indissocvel do esporte como
rendimento e espetáculo. Uma vez que ele, nesta relação, manifesta-se (no
espetáculo) na comercialização dos produtos que são produzidos e veiculados por
ele, tornando assim, atrativo aos olhares dos proprietários do capital. Além disso, às
vezes, tem o aval e a participação financeira do Estado
28
, principalmente, num
período de realização de jogos olímpicos que, ideologicamente, na realidade
brasileira, verifica-se um deslocamento das atenções nacionais para este evento.
Segundo Azevedo e Rebelo
29
(2001), o futebol provoca uma intensa presença no
imaginário popular e que os grandes atletas chegam à figura de heróis nacionais.
Isto é percebido quando Bracht (1997, p. 70), explica que o esporte: a) é
uma atividade com regras de fácil compreensão e adequa-se bem às características
da comunicação de massa e à indústria do entretenimento; b) oferece à população
uma possibilidade de identificação com o coletivo (Nação); c) cria um mundo dentro
27
Claudio Szynkier - Carta Maior Agência de Noticias E-mail: fale_agencia@cartamaior.com.br - "
Dos Santos, do Brasil - Por que Daiane dos Santos é o novo fetiche da Globo?" - Análise sobre
imagem, auto-estima nacional e ficção revela detalhes interessantes sobre essa adoção.
28
www.esporte.gov.br - No atual governo, há uma Política Nacional de Esporte que verifica as várias
faces do processo de apropriação social do fenômeno esporte, envolvendo as característica de: 1 -
Esporte social (como instrumento de inclusão social); 2 - Esporte educacional (complementa à
atividade escolar); 3 - Esporte de alto rendimento (esporte competitivo, produzir atletas) e 4 -
Recreação e lazer. Além dos Programas "Esporte e Lazer da Cidade", "Segundo Tempo" (acesso às
práticas esportivas nos estabelecimentos públicos de educação no Brasil). Uma crítica pertinente aos
processos de apropriação social do esporte é feita por Pires (1998).
29
AZEVEDO & REBELO (2001) - "A corrupção no futebol brasileiro " - Expõem sobre a corrupção no
futebol brasileiro a partir do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da mara dos
Deputados, que investigou as relações entre a CBF e a NIKE.
necessário na produção da existência. Enfim, um estudo como este pode constituir-
se num instrumento para o debate amplo e interdisciplinar, seja no âmbito
acadêmico, seja na sociedade, principalmente no tocante às políticas setoriais de
esporte. Este é um aspecto que representa a relevância social à qual a pesquisa
está submetida, ou seja, possibilita aos profissionais da Educação Física e à
sociedade uma discussão sobre as faces encobertas pelo fetiche do esporte.
Fazendo uma leitura crítica, percebe-se o quanto a sociedade capitalista
se apropria dos valores humanos, construídos historicamente, transformando-os em
mercadorias, usufruindo dessa relação de troca, sem que o homem se perceba
enquanto produtor e nem reconheça os objetos produzidos por seu trabalho. Por
isso, considero que este estudo poderá ser de vital importância para uma discussão
e reflexão no seio de uma sociedade. Principalmente, por hoje estarmos vivendo
numa campanha de retorno à obrigatoriedade do esporte na escola
25
, sobre o
pressuposto da melhoria na qualidade de vida, ênfase à saúde, combate às drogas,
entre outros. No entanto, verifico que o esporte tem funções bem determinadas no
âmbito das empresas privadas que oferecem ensino. Geralmente, serve para
veicular o nome da empresa - funcionando como um marketing
26
- o que
descaracteriza sua função educacional. Principalmente, quando está no período de
“Olimpíadas”, uma vez que os sonhos são fantasiados na figura dos “mitos”
atletas
27
do esporte, encobrindo assim, a partir do fetiche produzido por este
mbolo, os valores/interesses de ordem do capital, que perpassam por este grande
evento esportivo mundial.
Ora, um estudo dessa natureza pode abrir possibilidades de discussões e
reflexões acerca do fenômeno esportivo, posto que o mesmo será estudado do
ponto de vista de suas contradições, conflitos, interesses antagônicos, ou seja, do
ponto de vista da essência do fenômeno, fugindo e rompendo com as aparências e
remetendo-nos a uma teoria do conhecimento sobre o esporte, e longe então, de
uma imposição que não traduz a necessidade fundamental na formação humana.
Esporte, Motrivivência/UFSC, Revista USP, Motriz/UNESP, Revista de Educação sica/UEM-PR e
outras.
25
www.esporte.gov.br/secretarias - Vê-se claramente o papel do Estado nesta iniciativa, seja em
programas de incentivo ao esporte de rendimento, seja em programas de inserção no âmbito escolar.
26
RIBEIRO & SANTANA (2000), DANTAS (2002) - Estudos de pesquisa no âmbito da Disciplina
Basquetebol I e Monografia de Final de Curso, respectivamente, na Universidade Federal de Sergipe,
apontam para esta reflexão.
entrelaça o objeto de pesquisa, encontra-se uma indústria (cultural) nova, disposta a
comercializar tudo e a todos pelo princípio da troca. Pode-se comprar a honra, a
dignidade, inclusive, espetacularizar
23
a morte, ou seja, como previam Marx e Engels
(1980, p. 12), tudo vira fumaça para compor o combustível do capitalismo: "tudo que
era sólido e estável se esfuma [...]".
Essas inquietações constituíram parte da problemática, convidando-me a
refletir sobre as “facetas” que se configuram na estrutura capitalista de produção e
como elas estão imbricadas na formação de um clube de fábrica. Lazer, amor ao
esporte, marketing empresarial, ocupação do tempo livre, produção da existência,
que segredo esconde este fetiche?
***
No instante em que se pensa a relevância deste estudo, paira sobre esta
perspectiva uma preocupação no sentido de que se trata de um tema já discutido,
com muitas produções
24
e, portanto, sem maior relevância no contexto da Educação
Física brasileira. No entanto, quando analiso um fenômeno (como o esporte)
perpassando pelas suas bases históricas, pedagógicas e políticas aqui enunciadas,
percebo o quanto ainda se tem a discutir, ou seja, vejo o quanto é importante manter
sempre o diálogo aberto para a contradição que envolve um fenômeno social.
Neste aspecto, no âmbito da pesquisa, uma ausência de discussão
crítica e mais aprofundada sobre o esporte. Ora, estudo como este, expõe o
fenômeno em suas contradições e conflitos, trata com os sujeitos (pesquisador e
pesquisados) históricos, destaca a categoria trabalho, entendendo trabalho como
processo produtivo, como a forma que o homem tem de se relacionar com a
natureza, transformando-a e adequando-a às suas necessidades, ou seja,
23
DEBORD (1997) - "A sociedade do espetáculo" - Nesta pesquisa haverá durante todo processo de
construção, relações em forma de metáforas, referentes a esta obra devido sua importância para o
objeto de pesquisa.
24
Em relação à discussão sobre o esporte-espetáculo, o processo de mercadorização, futebol de
fábrica e Indústria Cultural, Esporte e Mídia encontramos muitos trabalhos como: Silva (1991) -
Esporte-espetáculo: a mercadorização do movimento cultural humano (dissertação Mestrado/UFSC);
Marchi Júnior (2002) - "Sacando" o Voleibol: do amadorismo à espetacularização da modalidade no
Brasil (tese de Doutorado/UFPR); Bracht (1997) - Sociologia Crítica do Esporte; Mara Cristian (1995) -
Esporte & Sociedade; Antunes (1994) - O futebol nas fábricas; Bruni (1994) - Dossiê Futebol; Betti
(1997 & 1998) - Violência em Campo & Janela de Vidro; Pires (2002) - Educação Física e o Discurso
Midiático além de muitos artigos publicados nas Revistas do Colégio Brasileiro de Ciências do
Marx, obviamente, não dispunha de elementos para prever o surgimento e a
expansão da produção capitalista de cultura que, no século XX, passa a ser
feita em larga escala. O fato é que, desde sua implantação, a lógica do capital
extrapola progressivamente o campo da produção material e invade todos os
setores da vida. Com a indústria cultural, o capital se alça à superestrutura e
a própria produção cultural adota a forma mercadoria. (p. 83-84).
Neste sentido, analisando a ideologia consumista moderna, para a qual a
Indústria Cultural contribui, o novo nasce velho, ou seja, como diz Zuim, (1999),
tudo que é produzido parece ser obsoleto, parece-me que "nada deve ficar como
era, tudo deve estar em constante movimento. Pois só a vitória universal do ritmo da
produção e reproduções mecânicas é garantia de que nada mudará, de que nada
surgirá que não se adapte" (Adorno & Horkheimer, 1985, p.115). Com isso, a
Indústria Cultural aperfeiçoa o feitio das mercadorias, fazendo materializar-se aquilo
que é não-material, sob a condição de um produto e, nesta configuração, o esporte
como um fenômeno cultural, criado historicamente pela humanidade, aparece e
cristaliza-se numa relação comercial de compra e venda. É a intenção do
rebaixamento da cultura (Bildung) e com isso tudo se permite, como explicam
Adorno & Horkheimer (1991) que
a indústria cultural não sublima, mas reprime. Expondo repetidamente o
objeto do desejo, o busto no suéter e o torso nu do herói esportivo, ela
apenas excita o prazer preliminar não sublimado que o hábito da renúncia
muito mutilou e reduziu ao masoquismo[...]. As obras de arte são ascéticas e
sem pudor, a indústria cultural é pornográfica e puritana. Assim, ela reduz o
amor ao romance e, uma vez reduzido, muita coisa é permitida, até mesmo a
libertinagem como uma especialidade vendável em pequenas doses e com
marca comercial daring (p. 131).
Envolver essas características (da mercadoria, do esporte, da Indústria
Cultural e a Teoria da Semi-formação) constituiu um desafio, até por que, como diz
Jameson (2001), o capitalismo de hoje encobre o misterioso brilho da mercadoria,
mas depende de uma lógica cultural, de uma sociedade de imagens voltadas para o
consumo. Neste sentido, este é um argumento que se considera, principalmente
porque a lógica capitalista na obtenção do lucro marca a ordem e o modo de
produção na atual conjuntura de globalização. Diante deste contexto a que se
influenciando, destruindo ou recriando outras formas sociais de trabalho e vida, outras formas
culturais e civilizatórias.
sócio-econômicas que se materializam no esporte, desde a criação de um simples
clube de fábrica à consolidação hegemônica do esporte espetáculo
21
Nos estudos de Silva (1991) e Bracht (1997) evidências de que o
esporte (moderno) relaciona-se em sua formação com a sociedade capitalista
moderna, o processo de industrialização, a formação das cidades, a perspectiva
modernizadora
22
que, então, se constituía. Neste aspecto, acrescenta-se aqui
caráter mercadoria em algumas modalidades esportivas oriundas da classe
burguesa que se consolidava como hegemônica, gerando assim, o esporte
espetáculo. Assim, "tão rápido e tão ferozmente quanto o capitalismo o esporte
expandiu-se a partir da Europa para o mundo todo e tornou-se a expressão
hegemônica no âmbito da cultura corporal de movimento" (Bracht 1997, p. 5). Neste
aspecto, o esporte assume as características da sociedade que o criou e perpassa
no praticante uma relação ideológica de comportamento e adaptação às suas
diretrizes.
Nesta perspectiva de análise sobre as características pertinentes ao
esporte-espetáculo, nos dias atuais e também a partir da problemática em que se
localiza o objeto de estudo, evidencia-se a sua relação com o processo de
comercialização, pois o mesmo tende a transformar-se em mercadoria. Esta é
produzida para venda (possuindo um valor de troca) constituindo-se assim, numa
mercadoria útil, ou seja, com um valor-de-uso, consumida por uma massa de
espectadores. Para Belloni (2001, p. 96), "o que corrompe o esporte e degrada a
natureza do jogo, não é tanto o profissionalismo ou a competição, mas a
desintegração das convenções que os estruturam socialmente, o que acarreta sua
banalização. Assim, o ritual, o teatro e o esporte degeneram em espetáculo".
Neste sentido, numa lógica de mercado, o esporte espetáculo insere-se na
Indústria Cultural e na Indústria do Entretenimento, que para Jameson (2001)
significa uma das exportações mais rentáveis dos Estados Unidos, juntamente com
a indústria de alimentos e armas. Compreende-se então, numa análise elaborada
por Bolaño (1999), que
21
BETTI (1998) entende que não cabe mais considerar a expressão apenas de esporte espetáculo,e
sim, “tele-espetáculo” pelo fato de sua evolução tecnológica, apoiado na mídia (Televisão) e
preparado para o consumo de telespectadores. No entanto, para este estudo, a conceituação esporte
espetáculo será mais determinante devido ao período de análise (1949-1970).
22
IANNI (2001, p. 200) Explica que para Marx, o capitalismo é um processo civilizatório mundial.
“Trata-se de um processo civilizatório que invade todo o globo [...] e cria as bases de um novo mundo,
tudo vira “fumaça”, no intuito de compor o combustível para a locomoção desta
estrutura sistêmica chamada capitalismo, obedecendo a ordem de um deus, o
Capital.
Entendo que mesmo num tempo em que alguns autores propõem que
chegamos na pós-modernidade
18
, em que a produção em massa de mercadorias e o
trabalho foram substituídos pela flexibilização do trabalho como explicita Silva
(2003), e ainda, como explica Belloni (2001, p. 87), que "o homem continua, mesmo
durante o tempo de não-trabalho, obedecendo à lógica da produção econômica, ou
seja, a uma racionalidade instrumental que o instrumentaliza enquanto trabalhador e
enquanto consumidor”, é crucial estabelecer um elo entre o período industrial
moderno e a sua correlação com o esporte, simplesmente pelo fetiche provocado
pelas relações econômicas na produção da existência
19
. Nesse aspecto, numa
sociedade capitalista tão efêmera (pois o novo nasce velho, na lógica do
consumo) e contraditória como a nossa, que desumaniza o homem ante o objeto,
coisificando-o, transformar então, um fenômeno social, aceito pelo senso comum
como natural ao movimento humano, na sua forma hegemonicamente dominante,
em problema de pesquisa, constituiu o desafio desta pesquisa, principalmente por
entender que a Alienação
20
, exposta por Marx, impede de ver no esporte-espetáculo,
toda uma relação contraditória de dominação e exploração, não da força de
trabalho, como do imaginário social.
Para Silva (2003, p. 40), “a dinâmica de destruição e exclusão social
patrocinada pelos gestores do capital internacional como o FMI e o Banco Mundial
atinge tanto crianças e jovens, quanto grande contigente da classe trabalhadora
constituída de adultos e velhos”. Foi nesta perspectiva que analisei as relações
18
Loureiro (2003, p. 23 a 30), elabora uma síntese sobre o conceito de pós-modernidade. Acredito
ser uma boa “pista” para quem quer continuar a discussão. Dois autores são essenciais para o
entendimento do conceito: FREDRIC JAMESON (“Pos-modernismo e “A Cultura do Dinheiro”) e
PERRY ANDERSON (“As Origens da Pós-modernidade”).
19
MARX & ENGELS (1996) - o trabalho é condição necessária para o homem fazer história.
20
MARX (1964, p. 160) - “Manuscritos Econômicos” - Expõe como o trabalhador se relaciona ao
produto do seu trabalho como a um objeto estranho. “A alienação do trabalhador no seu produto
significa não só que o trabalho se transforma em objeto, assume uma existência externa, mas que
existe independentemente, fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autônomo em oposição
com ele; que a vida que deu ao objeto se torna uma força hostil e antagônica”. A alienação significa
que o homem não se vivencia como agente ativo de seu controle sobre o mundo, mas que o mundo
(a natureza, os outros e ele mesmo) permanece alheio ou estranho a ele.
estrada quando se parte rumo ao nada”. Para Saviani (1986, p. 21), a essência do
problema é a necessidade, ou seja: “uma questão cuja a resposta se desconhece e
se necessita conhecer”.
Neste sentido, não parti rumo ao nada”, mas, tendo como meta”
espantar-me frente aos fenômenos (como o esporte) que nos aparecem; além de
não naturalizar as relações sociais que estão imbricadas na formação e criação de
um clube de futebol de fábrica. A partir da sociologia crítica do esporte, percebe-se
os valores que são dados ao esporte, na sociedade capitalista, numa perspectiva de
torná-lo um bem dotado de valor de troca, incorporando-se ao capital, que faz dele
um instrumento de geração e ampliação do lucro. Nesse aspecto, Pires (1997),
convida-nos para reflexão, no sentido de que a cultura esportiva, movida pelos
interesses do capital globalizado, pode acarretar mudanças nas práticas culturais de
movimento socialmente construídas. Entendo que este foi um caminho importante e
observado na problemática, pois, nessa perspectiva, o esporte vê-se configurado em
mercadoria e espetáculo, para atender aos interesses diversos e antagônicos
presentes nas relações sociais entre os homens.
Por isso, segundo Saviani (1986), esta pesquisa precisou ser radical (indo
até as raízes da questão, ou seja, uma reflexão em profundidade); ser rigorosa
(sistemática, a partir de um método que analise a sabedoria popular e a ciência);
por fim, a partir de pressupostos filosóficos, descobrindo, ou buscando saber, onde
se localiza o problema em questão, tornando possível a relação ciência e saber.
Percebo que a partir da Revolução Industrial (marco fundamental para o esporte,
devido a sua relação com a sociedade industrial moderna
16
), esta configuração - do
mundo da mercadoria - passa a ser feita em larga escala, ampliando o processo de
troca e, com isso, uma nova estruturação do mundo do trabalho passa a incorporar o
processo alienante na produção dos bens, revolucionando o modo de produção,
num processo contínuo de dominação, forçando
17
uma grande mudança na relação
dos homens e mulheres com a natureza para produzirem sua existência, ou seja,
uma grande mudança no trabalho. Valores humanos como a ética, a música, a arte,
15
www.confiancase.hpg.ig.com.br
16
BRACHT (1997, 1989); BELLONI (2001, p. 95), explica que "o desenvolvimento e a crescente
importância dos esportes-espetáculo, estão historicamente relacionados com o progresso da
produção industrial de massa e com o avanço técnico e científico".
17
Utilizei esta expressão, por entender que, com o capitalismo industrial, o trabalhador não tem outra
opção do que vender a sua força de trabalho para subsistir. Pois, constitui-se um período histórico em
que se mercantiliza a força de trabalho.
mudanças significativas nas relações socioculturais, atendendo assim, a uma ótica
de mercado. Ou seja, nesta sociedade (de classes) a ideologia se manifesta na
realidade concreta que ela mesma orientou (determinou) aos homens o seu agir” e,
assim, o espetáculo transforma-se em sua própria ideologia separando esses
indivíduos entre si pelas “coisas” e imagens.
Nesse sentido, a pergunta de partida” acima formulada - que constituiu o
problema - ajudou-me a estabelecer um fio condutor, tendo o cuidado, como alerta
Quivy (1998), de não pretender contemplar, com isso, a totalidade da investigação,
mas, sobretudo, refletir
14
uma preocupação do ponto de vista científico, no sentido
de buscar uma explicão, repensando e voltando atrás na história, sobre um dado
fenômeno - o esportivo - que no seio da sociedade moderna, assumindo a forma
peculiar de mercadoria, atrai e fascina os homens (fetiche), conduzindo-os ao seu
consumo.
A história que representa a introdução e hegemonia do futebol no clube de
fábrica (Associação Desportiva Confiança)
15
, a partir do ano de 1949, é, no mínimo,
fascinante. Por ganhar todos os jogos e torneios, bem como por montar a melhor
equipe de futebol (contratando os melhores jogadores do Estado), ganha o slogan
“já nasceu grande”, como se fosse um espectro que assombrava o cenário do
futebol sergipano, à época. No entanto, há por trás do simples “aparente” uma
dimensão complexa e contraditória nas relações de trabalho; de capital e na luta de
classes, pois este fenômeno dá-se no seio de uma fábrica, em que a perspectiva
capitalista para a obtenção do lucro, constitui-se o eixo central de interesses
daqueles que detêm o capital. Fato que naturaliza esses acontecimentos históricos,
fetichizados pela paixão ao futebol.
Assim, o problema inicial, que propus em forma de pergunta, representou,
na investigação, aquilo que se pretendeu conhecer sobre a realidade e o fenômeno
em questão: uma meta que procura um alvo. Mas, como expressa na letra da
música de Paulinho Moska (a seta e o alvo) “é a meta de uma seta no alvo, mas o
alvo, na certa não te espera, então me diz qual é a graça de saber o fim da
em quase todos os setores da economia, as diferentes aplicações das mais atualizadas tecnologias
de informação e comunicação, TIC, [...]conseguem estender não apenas o tempo de trabalho, mas
também seu espaço, alcançando o trabalhador em sua própria casa, invadindo a esfera privada da
sociedade e o tempo livre dos indivíduos". (p. 86).
14
SAVIANI (1986, p. 23) “Refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar,
vasculhar numa busca constante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisar
com cuidado”.
CATULO I
RELEVÂNCIA SOCIAL E TEÓRICA DO PROBLEMA
O mundo urbano é sempre plural, atravessado por
múltiplas diversidades e desigualdades,
contemporaneidade e não-contemporaneidade. Ai estão
presentes o passado mais remoto e o recente, o era
uma vez” e o “faz de conta”, ao mesmo tempo que estão
evidentes a trama das relações sociais, o jogo das forças
sociais, as condições da alienação e as possibilidades da
emancipação (OCTÁVIO IANNI, 2000 p.135).
O que se “vê”, quando assistimos a um espetáculo esportivo? Ou melhor,
o que está por trás do fenômeno esportivo numa sociedade capitalista e de classes?
Este problema inicial desafiou-me a uma investigação científica, no sentido de
“desmascarar” as faces encobertas da mercadoria que se materializam na
espetacularização esportiva. Pois, movidos por um movimento “sedutor”, ao
assistirmos um espetáculo
9
esportivo somos transportados para um mundo que
manifesta gostos, prazeres, seduções, desde seu agendamento
10
prévio, passando
pela sua transmissão completa - com início, meio e fim – inclusive, continuando com
a “falação esportiva”
11
.
No entanto, toda essa relação de necessidades "criadas",
substancialmente, representa a materialização ideogica do contexto
socioeconômico capitalista
12
, que entrelaçada ao rearranjo da ordem econômica de
manutenção do capital internacional monopolista - Globalização
13
- determina
9
GUY DEBORD (1997) - Ver “Sociedade do Espetáculo” Nesta Obra há evidências que o
espetáculo representa o “mundo da mercadoria” em forma de imagem.
10
FAUSTO NETO (2000) – “ estratégias de agendamento desenvolvidas pelos jornais
11
HUMBERTO ECO. Ver “ A falação esportiva” (1984).
12
HOBSBAWN (1997) - A era do capital - explicita que, com o capitalismo, institui-se tamm a
incorporação de sua ideologia a partir da classe burguesa. Ou seja, um novo mundo do ciclo do
comércio, acreditando-se que o crescimento econômico repousava na competição, na livre iniciativa
privada, no sucesso de comprar tudo no mercado mais barato e vender no mais caro.
13
BOLAÑO (1999) Globalização e regionalização da comunicações; JAMESON (2000) - A cultura
do dinheiro; IANNI (2001, p.13) - "a terra mundializou-se de tal maneira que o globo deixou de ser
uma figura astronômica para adquirir mais plenamente sua significação histórica"; BELLONI (2001) -
Explica que num período de globalização " ninguém duvida que os avanços tecnológicos não
ajudaram a diminuir o tempo de trabalho de cada ser humano [...] eles tendem a aumentar a cadência
dos processos de produção, obrigando os trabalhadores, a, literalmente, correrem atrás das
máquinas. Embora a jornada de trabalho venha sendo reduzida legalmente na maioria dos países e
O Capítulo III refiro-me, exclusivamente, às análises da pesquisa. A partir
de temáticas extraídas do próprio campo”, construi a narrativa histórica desse
fenômeno esportivo. Aqui, foi discutida desde sua perspectiva civilizadora
8
à posição
de mercadoria fetichizada pelo espetáculo.
8
IANNI (2001) – “Teorias da globalização”.
Nesse sentido, num primeiro momento, encontrei evidências de um
processo civilizador. A partir do pensamento de Karl Marx, Ianni (2001) expõe que o
capitalismo é um processo civilizatório, no sentido em que influencia todas as formas
de organização do trabalho e da vida em que entra em contato. Sendo assim,
mesmo passando por em crises (ou vivendo constantemente nelas), o capitalismo
cria e recria-se continuamente o seu modo de produção. Isto fica evidente com o
poder de generalizar-se para todos os cantos do mundo e, mesmo existindo pólos
poderosos Europa/Estados Unidos desenvolve correlação com pequenas
nacionalidades aliado às suas forças produtivas (capital, à tecnologia, à força de
trabalho, à divisão social do trabalho, ao mercado, ao planejamento e à violência,
entre outros). Marcadamente, “desenvolve e recria simultânea e necessariamente as
relações de produção, compreendendo as instituições em geral, as instituições
jurídico-políticas em especial, envolvendo os padrões sócio-culturais, os valores e os
ideais” (IANNI, 2001 p. 198).
No tocante à Associação Desportiva Confiança, objeto central da análise,
foi marcante a sua passagem de prática “lúdica” para uma prática profissionalizante.
Com a criação da equipe de futebol, em 1948/9 instaura-se um processo de
mercadorização, pois esta Associação marca definitivamente uma ruptura nas
práticas esportivas futebol no Estado. O modo pelo qual se consolidou a
formação de suas equipes; a aproximação com o público (principalmente das
camadas mais pobres da sociedade sergipana); a relação com a mídia (impressa e
falada); seu caráter hegemônico (de ordem do capital e da sobrepujança frente às
outras equipes do Estado); tudo isso apontou para uma nova dimensão do futebol
sergipano, com características “espetaculares”. Com isso, foi se formando um
“contigente” (potenciais consumidores) que aprecia e era seduzido - “encanto” por
esta nova forma de espetáculo.
Portanto, apresentarei no Capítulo I a problematização que se configura
objeto de estudo, determinando assim, o objetivo central que conduziu esta
investigação, bem como sua relevância para Educação Física e para sociedade.
No Capítulo II, tratarei de uma “trama” indissociável entre a teoria e a
metodologia. A partir do processo de mercadorização, focalizei as interfaces do
esporte na condição de fenômeno social e como mercadoria/espetáculo/fetiche
na sua mediação com a mídia, na relação com a Indústria Cultural. Discutirei as
formas de abordar a realidade, a partir do campo investigativo.
A passagem de Penélope
4
, na Odisséia, escrita por Homero (poeta grego
período homérico entre 1200 e 800 a.C. - antigüidade clássica) serviu de
inspiração para “desfazer” e “fazer” nossa história, tecendo seus fios” para, então,
construir as considerações acerca do esporte futebol/fábrica - no Estado de
Sergipe. Neste sentido, esta caminhada iniciou-se a partir de um estudo
monográfico
5
, em que observei uma força poderosa de que dispunha um
determinado esporte (o futebol), assumindo a hegemonia
6
em relação aos agentes
sociais que, então, construíam a história de um clube de brica e que o levou a um
lugar de destaque no cenário do futebol sergipano.
Este foi o primeiro passo para compreender as relações de trabalho e
capital que se materializam no mundo esportivo espetacularizado e, principalmente,
para entender o processo de mercadorização do qual está submetido o homem no
sistema capitalista, em todas as suas dimensões; seja na fábrica, seja no clube, no
“lazer”. Sendo assim, aqui um convite para que possamos discutir as “facetas
produzidas pelo esporte na modernidade, a partir de seu fetiche
7
, numa situação
concreta, real e particular: o surgimento de um clube de fábrica, a Associação
Desportiva Confiança - da Fábrica de Tecidos Confiança - em Aracaju-SE.
Caminhando em uma perspectiva crítica, de enfoque dialético e abordagem
qualitativa, analisei o fenômeno esportivo nas dimensões científicas de pesquisa
social, numa relação inseparável entre sujeito e objeto.
4
Penélope, esposa de Ulisses e após este, como morto, viu-se cortejada a casar-se com os
pretendentes ao reino. Estrategicamente, ela resolveu tecer uma blusa (seria dada ao pretendente
escolhido), no entanto, na calada da noite, desfazia tudo aquilo que havia tecido durante o dia. Com
isso, ela ganharia mais tempo na esperança de Ulisses retornar. Esta passagem assemelhar-se
com a construção do conhecimento filosófico, que se caracteriza por um constante fazer e desfazer.
Este trabalho de pesquisa, começa pelo que foi realizado em 1997, desfazendo-o e reconstruindo
com novas bases.
5
RIBEIRO (1997), Amadorismo/Profissionalismo: suas relações com trabalho na história de clube de
fábrica – Monografia de final de curso, no Departamento de Educação Física da Universidade Federal
de Sergipe - explica a relação de trabalho e capital no âmbito da formação de um clube - Associação
Desportiva Confiança ( ADC) - materializada no esporte.
6
Encontram-se, na literatura, vários significados deste termo. Seja significando domínio, seja
significando liderança (tendo implícita a noção de consentimento). Tomarei este segundo significado,
não sendo aqui, explicitamente, o mesmo que Gramsci desenvolveu em seus escritos – “Cadernos do
Cárcere”. Mas, sobretudo, pela “subversão que a classe trabalhadora encontrou para produzir sua
existência, por meio do esporte. É claro que qualquer tentativa mais organizada e coletiva de
confrontar a lógica capitalista encontrará uma classe (burguesa) forte para manter sua dominação.
7
Este é um conceito essencial neste estudo, seja como uma "crença no poder sobrenatural ou
mágico de certos objetos materiais" (ABBAGNANO, 1996 p. 436), ou como um feitiço artificial, e até a
partir da sociedade capitalista, quando os objetos materiais possuem certas características que lhes
o conferidas pelas relações sociais dominantes, mas que aparecem como se lhes pertencessem
naturalmente" (BOTTOMORE, 1993; MARX, 1996), ou a partir de seu valor simbólico na condição de
mercadoria.
INTRODUÇÃO
Ela está no horizonte.
Aproximo-me dois passos,
ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos
e o horizonte foge,
dez passos mais distante.
Por mais que eu caminhe
nunca a alcançarei.
Para que serve a utopia?
Para isto serve:
PARA CAMINHAR
(Eduardo GaleanoUTOPIA - As Palavras Andantes)
A investigação científica traz consigo uma carga de determinantes
rigores epistemológicos e metodológicos, com seus instrumentos de apreensão da
realidade – que envolve seus “agentes” (pesquisadores e sujeitos pesquisados)
numa dimensão de extrema objetividade. Muitas vezes esses agentes cegam-se
diante da simplicidade e complexidade da vida humana, apor que, como diz Celso
Furtado
1
: “a ciência o explica tudo”. Ora, mas para que serve então a pesquisa?
Será que encontraremos respostas a partir de seus resultados? Bem, o que é
essencial nessa investigação, é que ela possibilite a “Utopia”
2
, ou seja, possibilite-
nos viver, enquanto pesquisadores, caminhando, mesmo tendo a clareza que esse
“não-lugar” seja inatingível.
Foi com essa perspectiva que se analisou nosso objeto de estudo. “Da
Fábrica ao Campo de Futebol, Vender Tecido e Vender Espetáculo: tecendo os
fios da história de um “casamento feliz”
3
traz as dimensões da vida humana, na
sociedade capitalista, a partir do contexto político, social e econômico, numa cidade
da Região Nordeste do Brasil, que é envolvida pelo fenômeno esportivo. Entendo
que a Utopia”, em conhecer essa história não se tratou de um sonho impossível,
mas que foi a possibilidade de descobrir, de um vir a ser.
1
“Conexão Roberto D’Ávila”. Rede Cultura. 26/11/04.
2
Compartilhamos com o pensamento de Eduardo Galeano: este foi um trabalho que nos ensinou a
caminhar.
3
Utilizamos “trocadilhos na idéia de Casamento Feliz, extraídas das obras “Dialética do
Esclarecimento (Adorno e Horkheimer) e Educação Física e Ciência: cenas de um casamento (in)feliz
(Valter Bracht). O significado aqui é outro, ou seja, aqui consolida-se o casamento feliz para o Capital.
3.5 O Confiança na Mídia: considerações entre 1949 e 1966 ..........................145
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 168
ANEXOS ................................................................................................................ 179
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
CAPÍTULO I
RELEVÂNCIA SOCIAL E TEÓRICA DO PROBLEMA ........................................... 17
1.1 Quanto ao Objetivo Geral e às Questões Investigativas.............................. 25
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA ..................... 29
2.1 Contextualizando o Esporte Moderno: idealização, materialização
e venda ........................................................................................................ 30
2.2 A mercadoria força de trabalho materializada no mundo do esporte .......... 35
2.3 Indústria Cultural e Semi-formação: condições necessárias ....................... 42
2.4 O Fetichismo como Mistificação das Massas .............................................. 47
2.5 Mídia, Política e Ideologia: reflexões acerca do fenômeno esportivo .......... 54
2.6 Nas Trilhas Metodológicas da Pesquisa ...................................................... 62
2.6.1 Uma Perspectiva de Entender a Realidade: o materialismo histórico 63
2.6.2 Introduzindo a Metodologia: a forma e o campo ............................... 70
2.6.3 Procedimentos na “Colheita” dos Dados e Delimitação .................... 72
2.6.4 Perspectiva da Análise da Pesquisa .................................................. 75
CAPÍTULO III
ANALISANDO: Da Fábrica Ao Campo [...], Tecendo Seus Fios Históricos .......77
3.1 ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CONFIANÇA: Algumas épocas antes...! ..... 80
3.2 CONFIANÇA: A História Continua, Tecendo a História ............................... 93
3.2.1 “A História que não se conta...!” ......................................................... 95
3.3 O Profissionalismo “Oculto” do Confiança ................................................. 109
3.4 Da Fábrica ao Espetáculo do Confiança:
Um Casamento Feliz com a Mídia ............................................................. 111
3.4.1 O Espetáculo: do Confiança ou da Sociedade! .............................. 131
3.4.2 Nessa História ..., o Espetáculo Gera Renda ................................... 135
3.4.2.1 Criação dos Estádios/Mercados ........................................... 142
ABSTRACT
This study analyzed magic power produced by the merchandise sport, from a
concrete situation: the sprouting of a Club of Soccer of Plant (Porting Association
Confidence), in the city of Aracaju/SE, the year of 1949. Having as first theoretician
the historical materialism, the study broke of a concept of the merchandise
elaborated for Karl Marx, in century XIX and of its metamorphosis, arriving at a
cultural good (as the sport), that the culture process of banal-action of or Cultural
Industry is configured in our time with. In this direction, I analyzed the sport in its
some dimensions in modernity, in its form of income and spectacle, as well as in the
approach with the media, when this measured its spectacle. The social relevance to
which the research was submitted, makes possible a quarrel on the faces occulted
for magic power of the sport, therefore when a phenomenon is analyzed, pass by for
its historical bases, politics, economic and social, besides dealing with the
contradiction and antagonistic interests of order of the capital, it can be contributed to
nowadays promote an ample quarrel on this phenomenon and its relation with the
formation human being. From the dialectic method, the inquiry had as method system
option, in a qualitative perspective, the characterization of a historical research. In the
procedures for "harvest" of the data the capture of the information in periodicals was
include (media printed) on the history of the formation of the teams of soccer of the
Plant, with clippings in the period of 1949 the 1970, and interviews - half-
structuralized - with people (sporting columnist, directors of the club, players,
journalists, laborers) that they had made and they make the history of the club. The
systematization and the interpretation of the data (documentary base and
depositions) had been proceeded by means of the content analysis, from extracted
categories of the proper field. In this direction, I found subsidies that also point with
respect to the process of merchandise-action of the sport in Aracaju and of the paper
of the media in the propagation of the sporting spectacle.
Key-Words: Merchandise-action; Magic power; Soccer of Plant; Cultural industry
RESUMO
Este estudo analisou o fetiche produzido pela mercadoria esporte, a partir de uma
situação concreta: o surgimento de um Clube de Futebol de Fábrica (Associação
Desportiva Confiaa), na cidade de Aracaju/SE, no ano de 1949. Tendo como
matriz teórica (epistemológica) o materialismo histórico, o estudo partiu de um
conceito da mercadoria elaborado por Karl Marx, no século XIX e de sua
metamorfose, chegando a um bem cultural (como o esporte), que se configura em
nosso tempo com o processo de banalização da cultura ou Indústria Cultural. Neste
sentido, analisei o esporte em suas várias dimensões na modernidade, em sua
forma de rendimento e espetáculo, bem como na aproximação com a mídia, quando
esta media seu espetáculo. A relevância social à qual a pesquisa foi submetida,
possibilita uma discussão sobre as faces ocultadas pelo fetiche do esporte, pois
quando se analisa um femeno, perpassando pelas suas bases históricas,
políticas, econômicas e sociais, além de tratar da contradição e de interesses
antagônicos de ordem do capital, pode-se contribuir para promover uma ampla
discussão sobre esse fenômeno nos dias de hoje e sua relação com a formação
humana. A partir do método dialético, a investigação teve como opção metodológica,
numa perspectiva qualitativa, a caracterização de uma pesquisa histórica. Nos
procedimentos para “colheita” dos dados foi inclusa a captura das informações em
jornais (mídia impressa) sobre a história da formação do time de futebol da Fábrica,
com recortes no período de 1949 a 1970, e entrevistas - semi-estruturadas - com
pessoas (cronistas esportivos, diretores do clube, jogadores, jornalistas, operários)
que fizeram e fazem a história do clube. A sistematização e a interpretação dos
dados (base documental e depoimentos) foram procedidas por meio da análise de
conteúdo, a partir de categorias extraídas do próprio campo investigativo. Neste
sentido, encontrei subsídios que apontam para o processo de mercadorização do
esporte em Aracaju e também do papel da mídia na veiculação do espetáculo
esportivo.
PALAVRAS-CHAVE: Mercadorização; Fetiche; Futebol de Fábrica; Indústria Cultural
Professor Ibarê Dantas e aos funcionários e colaboradores em especial: Amanda
Steinbach, Sayonara Nascimento, Polyanna Oliveira, Gustavo Bomfim;
Aos colegas do Mestrado, em especial à ssia (maninha) e ao Éden
estudando, construindo, lutando, discordando, pois, foi nesta dialética que abrimos
possibilidades crescermos acadêmica e humanamente;
Aos Colegas do Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva
Márcio Romeu, Diego Mendes, Mariana Lisboa, Melissa Mol, Antônio Galdino,
Sheila, Cris e em especial, ao amigo Fernando Bitencourt, pelas valiosas
contribuições na minha formação e por sociabilizar o seu conhecimento com todos
nós;
À professora Ana Márcia Silva Fonte de motivação inicial para discutir
sobre o processo de mercadorização do esporte;
Ingrid Wingers, Iracema Soares, Solange Lacks, Iara Damiani, Alexandre
Vaz, todos em seus devidos tempos, ajudaram a refletir sobre as minhas convicções;
Aos meus alunos da UFS, do passado e do futuro, é para vocês que me
esforço para apreender e poder socializar o conhecimento. Como diz Gibrail –
Professor, militante do MST - um lutador e, sobretudo, um educador: “o que vale o
conhecimento se não for para socializar com os outros”;
À Universidade Federal de Sergipe Departamento de Educação Física –
por oportunizar a minha saída sem prejuízos acadêmicos para os alunos do curso;
Aos Cronistas Esportivos de Sergipe e, em especial: José Eugênio,
Wellington Elias, .Viana Filho, Vilder Santos. Sem vocês, esta história não seria
possível;
À “CAPES” Sair de Aracaju/Nordeste para fazer o Mestrado no Sul do
país não é uma opção muito fácil, principalmente, se as condições financeiras não
são suficientes para manter-se. Durante esses dois anos me submeti às arapucas
financeiras, tomando empréstimos, contendo as despesas para que pudesse obter a
alimentação e locomoção necessárias. Isso tudo me fez pensar em Karl Marx -
quando fazia seus estudos e era ajudado, financeiramente, por seu amigo Engels - e
dizer, parafraseando-o: “Nunca precisei tanto de uma coisa, escrevendo tanto sobre
ela”. Mas, em outubro de 2004, fui contemplado com uma Bolsa “emergencial”, de
seis meses. Ufa, que alívio!.
Canto Capela, sujeitos lindos, que cumprem um papel social belíssimo, humanizado
outros sujeitos, a partir de sua prática pedagógica. Meus camaradas”, muito
obrigado. Vocês não têm idéia da dimensão política, pedagógica e existencial que,
através de sua (s) práxis, ajudou-me a ver e analisar o papel de minha profissão e a
mim mesmo;
Aos trabalhadores e em especial, aos trabalhadores do Brasil, devido a
eles que se torna possível realizar esse sonho. Também, aos trabalhadores do MST
que me proporcionam sonhar com a “Utopia” de um mundo melhor;
Aos membros da banca, professores que tanto contribuíram fazendo-me
refletir sobre as minhas próprias contradições. Mauro Betti (foi muito bom te
conhecer); Lucídio Bianchetti (obrigado pela chance da primeira aula); Maurício
Roberto (um dos primeiros a estimular a continuidade deste estudo); César Bolaño
(que veio construindo comigo todo esse trabalho, desde os primórdios, quando ainda
era apenas um projeto);
Airton Paula, do Departamento de Economia da UFS, obrigado pelas
contribuições no Projeto e, principalmente, pelo diálogo que estamos estabelecendo
entre a Educação Física e a Economia, a partir de uma matriz marxista;
Ao Curso de Pós-Graduação Mestrado em Educação Física da UFSC
e a todo seu corpo funcional; À Coordenação do Curso na pessoa do Professor
Juarez Nascimento, que mesmo discordando de minhas convicções
políticas/ideológicas, soube manter um diálogo comigo; Ao Jairo (para mim, será
sempre você na Secretaria em minha memória, o com função de secretário, mas
como irmão) e à amada e bela, Dona Olga;
Aos Professores da UFS: JoAmérico; José Tarcísio Grunnenvaldt; Ana
Carrilho; Hamilcar Dantas Jr.; Anselmo Menezes que tiveram que compartilhar os
estudos do mestrado, com reunião do Departamento, aulas, entre outros
compromissos. Foi, principalmente, por respeito e admiração a vocês, que me
esforcei para cumprir os prazos do mestrado e não pedir prorrogação.
Aldemir Smith, obrigado por compartilhar juntos o primeiro ano do
mestrado;
Nelson Dagoberto (UFS); Roberto Paes (UNICAMP) – os primeiros a
“apostarem” na minha vida acadêmica;
Ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, que cumpre um papel
significativo na preservação da história sergipana e brasileira. Ao seu Presidente,
AGRADECIMENTOS
Desde a posse do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva, a quebra de protocolo se tornou comum nos mais variados procedimentos
formais. Considerando-me agradecido pela contribuição de algumas pessoas de
algumas pessoas na elaboração e execução deste trabalho, preferi aderir à ruptura
de práxis e manifestar meus mais sinceros agradecimentos, textualmente, àqueles
que não aparecem, mas que para mim, o o importantes quanto este documento
de pesquisa.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a minha querida e amada
esposa, Nailene. Sem dúvida, sua compreensão e colaboração foram decisivas para
me manter firme em meu propósito de concluir o curso. O apoio recebido não dizia
respeito apenas ao incentivo, pois Inúmeras foram as noites que passamos
digitando as mensagens capturadas nos jornais. Posso então garantir que
“Casamento Feliz” é o subtítulo que acompanha duas vivências importantes de
minha vida: as fontes de meus estudos e a nossa união. Meu muito obrigado, Amor!
Ao meu estimado amigo Antônio Carlos Santos, do Departamento de
Filosofia da UFS pelas várias discussões que foram realizadas no sentido de
quebrar os caprichos da Fortuna. Sob sua inspiração, com o título Bola que vale
Ouro: o esporte e a Indústria Cultural em Sergipe”, iniciamos um projeto, que hoje se
realiza, fazendo crer que a Virtu pode ser a antítese da Fortuna. Muito obrigado, meu
“amado” e não “temido” amigo;
Ao meu orientador, Giovani Pires. Com quem ao longo desses dois anos
construi não um trabalho de pesquisa, mas, sobretudo, foi materializada uma
philianas nossas ações. Na construção de grupo do estudo, mas principalmente,
pelo respeito ao pensamento e a liberdade de expressão, com autonomia, que é
sinônimo de suas convicções para o esclarecimento;
Na elaboração de um trabalho como esse, inúmeras são as pessoas que
contribuem, de forma direta ou indireta. Usando uma Expressão do professor
Capela, são Anjos”, que não aparecem em nossa caminhada, mas que são
imprescindíveis para sua realização. Assim, me sinto feliz em ter conhecido e
compartilhado parte de minha vida com Edgard Matiello Jr. e Paulo Ricardo do
HOMENAGEM
Aos três pensadores brasileiros que se
foram [...]; por tudo que fizeram para ver
um país/mundo melhor e, principalmente,
pela minha formação: Milton Santos
(1926-2001), Octávio Ianni (1926-2004) e
Celso Furtado (1920-2004).
Aos meus pais - Walter e Helenilde -
esses dois trabalhadores e apaixonados
pela vida humana, que deram parte das
suas vidas na perspectiva de ver um
mundo melhor.
SÉRGIO DORENSKI DANTAS RIBEIRO
DA FÁBRICA AO CAMPO DE FUTEBOL, VENDER TECIDO E
VENDER ESPETÁCULO: tecendo os fios da história de um
“Casamento Feliz
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-graduação em Educação Física da
Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Educação Física.
Aprovada em __/__/__
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
GIOVANI DE LORENZI PIRES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
___________________________________________________________________
MAURO BETTI
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SÃO PAULO
___________________________________________________________________
LUCÍDIO BIANCHETTI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
___________________________________________________________________
MAURÍCIO ROBERTO DA SILVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SÉRGIO DORENSKI DANTAS RIBEIRO
DA FÁBRICA AO CAMPO DE FUTEBOL, VENDER
TECIDO E VENDER ESPETÁCULO: tecendo os fios
da história de um “Casamento Feliz”
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-graduação em Educação Física da
Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Educação Física
ORIENTADOR: GIOVANI DE LORENZI PIRES
Florianópolis-SC,
Fevereiro de 2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE DESPORTOS
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
SÉRGIO DORENSKI DANTAS RIBEIRO
DA FÁBRICA AO CAMPO DE FUTEBOL, VENDER
TECIDO E VENDER ESPETÁCULO: tecendo os fios
da história de um “Casamento Feliz”
Florianópolis-SC,
Fevereiro de 2005
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