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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA
CURSO DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL
ARAGUACY PAIXÃO ALMEIDA FILGUEIRAS
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO ARTESANATO
EM
COMUNIDADES RURAIS NO CEARÁ
– O BORD
ADO DE ITAPAJÉ
-
CE
FORTALEZA
2005
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ARAGUACY PAIXÃO ALMEIDA FILGUEIRAS
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO ARTESANATO
EM COMUNIDADES RURAIS NO CEARÁ
-
O BORDADO DE ITAPAJÉ
-
CE
-
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-
Graduação em
Economia Rural, da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Economia Rural.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Casimiro Filho
FORTALEZA
2005
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ARAGUACY PAIXÃO ALMEIDA FILGUEIRAS
ASPECTO
S SOCIOECONÔMICOS DO ARTESANATO
EM COMUNIDADES RURAIS NO CEARÁ
O BORDADO DE ITAPAJÉ
-
CE
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-
Graduação em Economia Rural, da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Economia Rural.
Aprovada em 17/03/2005
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Prof. Dr. Francisco Casimiro Filho (Orientador)
Universidade Federal do Ceará
UFC
___________________________________________
Profa. Dra. Rosemeiry Melo Carvalho
Universidade Federal do Ceará
UFC
___________________________________________
Dr. Paulo Roberto Fontes Barquete
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA
Silvio, Ivna e Iana: razões de minha existência. Ao meu
amor, pelo companheirismo, incentivo e compreensão.
Às minhas pequenas, por tantos momentos privados das
suas descobertas, pela minha ausência durante um
período tão lindo da vida! Dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus: princípio, meio e fim de tudo. A luz que SEMPRE me ilumina e me guia por mais
tortuosos que sejam os caminhos.
À minha família: ao Sílvio que vinte e dois anos me apóia, incentiva e acompanha lado a
lado. Um homem de verdade, o meu amor. Às queridas Ivna e Iana, razão de nossas vidas.
Compensarei minha ausência.
Aos meus queridos pais Joana e Rogério, base de minha vida. Lutadores e vencedores:
verdadeiros heróis.
Aos meus sogros e “pais de minhas filhas”, Sílvia Helena e Nailton, pelo carinho e atenção.
Meu ob
rigada especial à Sílvia Helena, por tudo o que fez e fará por nós.
Ao Prof. Dr. Casimiro Filho, pela orientação amiga, confiança, apoio e respeito ao meu ritmo
e estilo na elaboração dessa dissertação.
Ao Dr. Paulo Roberto Fontes Barquete, pelas excelentes colaborações na elaboração desse
trabalho.
À Profª Dra. Rosemeiry Melo Carvalho pelas contribuições, presença e envolvimento
profissional, sempre disponível durante todo o Curso. À amiga Rose pelo desprendimento,
disposição e ajudas intermináveis, ombro amigo, companheirismo e compreensão: uma amiga
sem limites. Meu eterno agradecimento.
À amiga Clarisse Ferreira Gomes, pela simplicidade e beleza interior, pela força e ajuda que
me deu. Um anjo durante um período difícil de minha vida. Alma divina, ilumin
ada, única.
À amiga Silvânia Souza Monte, grande impulso na realização deste curso. Uma referência
profissional e como ser humano.
Ao Departamento de Economia Doméstica meu passado e meu futuro. Às professoras deste
Departamento: amigas, atenciosas, com
preensivas.
Um agradecimento especial às bordadeiras de Itapajé. Pessoas lindas, ingênuas, batalhadoras.
À Prefeitura de Itapajé pela disposição de toda estrutura local.
Ao sociólogo Ésio Lousada, presença indispensável ao grupo das bordadeiras, pela cor
tesia,
disponibilidade e competência.
À Luizinha Braga (Secretária de Educação), por acreditar e investir no potencial das
bordadeiras. Uma mãe.
À Iara, pela generosidade em me apresentar às bordadeiras, acompanhar, subir a serra e
auxiliar na pesquisa. Pelas informações prestadas e aquisição de folhetos, catálogos e livros,
com os quais pude conhecer melhor a história de Itapajé. Uma pessoa maravilhosa. Meu
agradecimento especial.
À Socorro e ‘tia’ Luizinha pelo acolhimento maravilhoso em sua casa em Itap
ajé.
Ao amigo Madson Luís de Oliveira, que tão gentilmente cedeu fotos desse paraíso muitas
vezes assolado pela seca: Itapajé.
Às Professoras Dra. Patrícia Verônica e Dra. Irles Mayorga, e ao Prof. Ahmad Saeed Khan,
PhD, por acreditarem no meu empenho e c
omprometimento.
Aos demais professores do Departamento de Economia Agrícola que, através do
conhecimento, forneceram ferramentas fundamentais para o desenvolvimento desse trabalho.
Aos funcionários do Departamento de Economia Agrícola, imprescindíveis à c
onsecução
desse trabalho, em especial à Margareth, pela atenção a mim dispensada.
À Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa FUNCAP, por cumprir tão honrosamente sua
missão, acreditando e investindo nas possibilidades de crescimento intelectual do ser human
o
para serem revertidas no desenvolvimento da comunidade do Estado do Ceará.
A todos que de alguma forma colaboraram para o progresso desse trabalho: auxiliando,
emprestando material, incentivando... enfim, que me motivaram e que agora vemos o
resultado.
A
os meus amigos Júlia, Miguel e Etevaldo, pelos bons momentos, e também pelos de angústia
e de alegria, de sorrir e de chorar. Hoje sou sorrisos. Mesmo que nossos caminhos sigam
por rumos diferentes, lembrarei e guardarei sempre todos esses momentos comigo. Do curso
de nivelamento; dos estudos nos finais de semana; e, como não lembrar, das provas às
segundas
-
feiras; dos almoços arranjados; dos restaurantes nem sempre decentes, do Paraíso do
Frango e da tia Naíde (que ficamos na vontade). ...E como é bom saber que em nenhum
momento nos desentendemos. Deus nos iluminou para que pudéssemos nos compreender
assim como aceitar nossas diferenças. O meu muito obrigada a Ele por nós termos nos
conhecido. Um enorme beijo, e sucesso para todos!
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim.
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação, à
arte de sorrir cada vez que o mundo diz não.
(GUILHERME ARANTES).
“O SENHOR
é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em
verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. (...).
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não
temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu
cajado me consolam. (...). Certamente que a bondade e a
misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e
habitarei na casa do SENHOR por longos dias.”
(Salmo 23).
RESUMO
Relata a importância que o artesanato representa para as comunidades que o produzem, caso
do município de Itapajé-CE. Os
resultados
obtidos através de comparabilidade entre: os
fundamentos da pesquisa bibliográfica, os dados de estudos, os registros e os censos para
obter os índices selecionados, e a pesquisa de campo, revelam que o impacto da renda
proveniente do bordado no orçamento doméstico é significativo; além de promover o bem-
estar das famílias estudadas. Estes
resultados
enfatizam como o artesanato pode ser uma
atividade economicamente promissora, capaz de preencher alguns dos espaços que a
agricultura familiar vem deixando. O estudo também apresenta aspectos preponderantes da
formação da qualidade de vida das bordadeiras que são refletidos através: da renda e do
consumo, da educação e da saúde, da cultura e da tradição, além da criatividade. Todos esses
elementos são importantes na busca de melhor desenvolvimento humano daquela
comunidade. Além disso, os resultados obtidos através dessa pesquisa apontam a atividade do
bordado como sendo uma importante ferramenta de crescimento socioeconômico capaz de
ajudar a amenizar as concentrações de renda e as desigualdades sociais que fazem parte da
vida dessas famílias; podendo ser também aplicada em programas de políticas públicas
sociais.
Palavras
-
chave: Art
esanato, aspectos socioeconômicos, qualidade de vida
ABSTRACT
Is about the importance of the handicraft for the comunities, specially the one investigated at
Itapajé
-CE. The results - obtained through the comparison between the bibliography search,
the study data, the registration, and the field research - show the importance of the handicraft
for the domestic budget, improving the family comfort. This investigation emphasize the
handicraft as a promiser acitivity, that fills the familiar agriculture budget. The results also
reflect important advances in the craftswoman quality life, specially at the consumption,
education, health, culture, tradition and criativity. All of this elements above mentioned are
important for the human progress at Itapajé. The results indicate the handicraft activity as an
important socioeconomic tool, that could be useful for relief the income concentration, the
social inequality and be applied in social public politics programs.
Key Words: Handicr
aft, socioeconomics aspects, quality life
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
O IDH em apresentação tridimensional...........................................
31
FIGURA 2
Distribuição das bordadeiras segundo a faixa etária........................
46
FIGURA 3
Garotos aparando linhas...................................................................
46
FIGURA 4
Garota parou a tarefa escolar para aparar linhas..............................
46
FIGURA 5
Distribuição dos membros nas famílias das bor
dadeiras segundo a
faixa etária .......................................................................................
47
FIGURA 6
Fases da produção do bordado.........................................................
49
FIGURA 7
Distribuição das bordade
iras segundo o gênero..............................
50
FIGURA 8
Participação dos membros das famílias na atividade do bordado,
por sexo............................................................................................
50
FIGURA 9
Freqüência esc
olar das bordadeiras.................................................
53
FIGURA 10
Distribuição das bordadeiras segundo a escolaridade......................
54
FIGURA 11
Motivos pelos quais a entrevistada não freqüentou ou parou de
freqüentar a escola..
.........................................................................
56
FIGURA 12
Distribuição das bordadeiras segundo o estado civil.......................
58
FIGURA 13
Distribuição das pessoas chefes de família......................................
59
FIGURA 14
O lixo e as doenças..........................................................................
69
FIGURA 15
Evolução da taxa de fecundidade total, Brasil e Grandes Regiões
1940/2000.....................................................................................
84
FIGURA 16
Mulher bordando à mão e homem bordando à máquina.................
100
FIGURA 17
Varais nas ruas.................................................................................
100
FIGURA 18
Loja do Pra
-
Ita.....
............................................................................
102
FIGURA 19
Visão da loja para a BR
-222............................................................
102
FIGURA 20
Logomarca da loja do Pra
-
Ita..........................................................
103
FIGURA 21
Bordado cheio à mão e à máquina em tecido plano........................
109
FIGURA 22
Bordado rechiliê e aplicação em tecido plano.................................
109
FIGURA 23
Bordado e aplicação à mão na malha..............................................
109
FIGURA 24
Senhora bordando à mão, garoto bordando à máquina....................
110
FIGURA 25
Bordadeiras na loja da cooperativa e loja do Pra
-Ita.......................
112
LISTA DE TABELAS
TABELA 1.
Distribuição das ocorrências de tipologias do artesanato no
Estado do Ceará..............................................................................
21
TABELA 2.
Freqüência absoluta e relativa da idade da entrevistada................
46
TABELA 3.
F
reqüência absoluta e relativa da idade dos jovens.......................
48
TABELA 4.
Distribuição de horas/dia trabalhadas pelas entrevistadas.............
51
TABELA 5.
Anos de estudo da pessoa responsável pelo domicílio...................
55
TABELA 6.
Indicador educação: variáveis........................................................
61
TABELA 7.
Escolaridade dos filhos das bordadeiras........................................
61
TABELA 8.
Indicador educação: satisfação...............................
........................
62
TABELA 9.
Indicador saúde: variáveis..............................................................
63
TABELA 10
Indicador saúde: satisfação............................................................
66
TABELA 11
Indicador mo
radia: variáveis..........................................................
66
TABELA 12
Indicador
moradia: satisfação........................................................
70
TABELA 13
Indicador formas de vida e lazer: variáveis........................
............
71
TABELA 14
Indicador
formas de vida e lazer: satisfação..................................
73
TABELA 15
Indicador situação ocupacional: variáveis.....................................
74
TABELA 16
Indicador
situação ocupacional: satisfação.
...................................
75
TABELA 17
Indicador relações de consumo: variáveis......................................
78
TABELA 18
Indicador relações de consumo: satisfação....................................
79
TABELA 19
Indicador expectativa
de vida: variáveis........................................
83
TABELA 20
Indicador expectativa de vida: satisfação.......................................
85
TABELA 21
Indicador renda: variáveis.............................................................
.
86
TABELA 22
Indicador renda: satisfação.............................................................
91
TABELA 23
Índice de desenvolvimento humano das bordadeiras de
Itapajé/CE......................................................................................
93
TABELA 24
Contribuição e participação de cada um dos indicadores que
compõem o índice de qualidade de vida das bordadeiras de
Itapajé/CE (situação I)....................................................................
95
TABELA 25
Contri
buição e participação de cada um dos indicadores que
compõe o índice de qualidade de vida das bordadeiras de
Itapajé/CE (situação II)..................................................................
96
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..............................................................................
10
LISTA DE TABELAS.............................................................................
11
1
INTRODUÇÃO......................................................................................
15
1.1
Problemática...........................................................................................
15
1.2 Objetivos.................................................................................................
17
1.2.1
Objetivo geral...........................................................................................
17
1.2.2
Objetivos específicos................................................................................
17
1.3 Estrutura do trabalho...........................................................................
17
2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................
18
2.1 O Artesanato...........................................................................................
18
2.2 Do Artesanato nacional ao cearense....................................................
20
2.3 O Artesanato e a cultura.......................................................................
24
2.4
Estudos empíricos..................................................................................
26
2.5 Indicadores de qualidade de vida.........................................................
28
3 METODOLOGIA..................................................................................
34
3.1 Caracterização da área de estudo.........................................................
34
3.2
Fonte de dados e seleção e definição da população a ser estudada....
36
3.3
Métodos de análise.................................................................................
37
3.3.1 Análise tabular descritiva.........................................................................
37
3.3.2 Construção dos índices.............................................................................
37
3.3.3 Análise qualitativa....................................................................................
44
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................................
45
4.1
Perfil socioeco
nômico e cultural das famílias estudadas no
município de Itapajé
-
CE........................................................................
45
4.1.1
Idade.........................................................................................................
45
4.1.2 Sexo..........................................................................................................
48
4.1.3 Grau de instrução.....................................................................................
53
4.1.4
Tamanho
e composição da unidade familiar............................................
56
4.2 Análise da qualidade de vida e do desenvolvimento humano das
famílias das bordadeiras de Itapajé
-
CE...............................................
60
4.2.1 Acesso à educ
ação....................................................................................
60
4.2.2
Condições de saúde..................................................................................
63
4.2.3
Condições sanitárias e de moradia...........................................................
66
4.2.4 Formas de vida e lazer..............................................................................
70
4.2.5 Situação ocupacional................................................................................
73
4.2.6 Relações de consumo...............................................................................
77
4.2.7
Expectativa de vida..................................................................................
80
4.2.8 Renda........................................................................................................
85
4.3
Análise da contribuição de cada indicador nos índices de
desenvolvimento humano e de qualidade de vida das bordadeiras
de Itapajé
-
CE........................................................................................
92
4.4
O bordado na vida, na cultura e nas representações sociais das
bordadeiras de Itapajé
-
CE....................................................................
98
4.4.1 O Bordad
o na cultura local.......................................................................
104
4.5
Tipologias, técnicas, formas de produção e comercialização do
artesanato................................................................................................
108
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES..........................................................
116
5.1 Conclusões...............................................................................................
116
5.2
Sugestões.................................................................................................
119
6
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................
121
F512a
Filgueiras, Araguacy Paixã
o Almeida
Aspectos socioeconômicos do artesanato em
comunidades rurais no Ceará
O Bordado de Itapajé
-
CE /
Araguacy Paixão Almeida Filgueiras
Fortaleza, 2005.
130f.
Dissertação (Mestrado)
Universidade Federal do
Ceará, Departamento de Ec
onomia Rural.
1. Artesanato. 2. Aspectos socioeconômicos.
3. Qualidade de vida. 1. Título.
CDD 745.2
1
INTRODUÇÃO
Artesanato é aquilo que todo mundo sabe o que é. (Benedit
o Crosse).
1.1
Problemática
Considerando a forte relação artesanato x moda, uma vez que a ligação entre
esses dois elementos tem-se evidenciado mais e mais nas últimas coleções de muitos e
importantes estilistas e grifes, este trabalho procura enfocar o artesanato, especificamente o
bordado, como fonte de geração de renda para a população rural do Estado do Ceará. A
inserção e, conseqüentemente, a valorização do bordado têm permitido crescimento da
produção e, obviamente, estímulo às bordadeiras em muitos muni
cípios cearenses.
O Ceará tem representatividade na sua economia nas mais diversas expressões de
arte. Madeira, barro, metal, couro, palha, cipó, fios e tecidos são as matérias-primas mais
utilizadas para os trabalhos artesanais no estado, sendo os dois úl
timos de maior utilização em
rendas, bordados e tecelagem. As atividades artesanais estão tradicionalmente alocadas por
todo o Estado com certas tipologias concentradas em algumas regiões. Segundo a Central de
Artesanato do Ceará (CEART), a exploração da atividade do bordado no estado concentra-
se
nos municípios de Maranguape e Itapajé, sendo este último, o de maior volume de produção e
o local de investigação deste trabalho.
Após uma revisão histórica, verificou-se que, em 1875, ocorreu a primeira
aquis
ição de uma máquina de costura no município de Itapajé. Embora incipiente, as
primeiras peças começaram a surgir, mas o desenvolvimento do bordado deu-
se
predominantemente de forma manual. A evolução do artesanato como atividade econômica,
especialmente do bordado no município de Itapajé, apresentou dificuldades iniciais
decorrentes da implantação de uma atividade, que até a década de 60 ainda era desconhecida
de muitos e, conseqüentemente, não se constituía em uma fonte potencial de geração de renda.
Com
a ação precursora de pessoas que, sem medir esforços, tiveram a visão
futurista e se empenharam no desenvolvimento do bordado neste município. A partir da
década de 1980, este se tornou referência no estado do Ceará, tendo, inclusive, o título
informal de
“Capital do Bordado”.
Posteriormente, a partir da década de 1990, este setor recebeu apoio do governo -
municipal e estadual - buscando organização do setor produtivo visando uma maior inserção
dos profissionais envolvidos no potencial econômico do município, através da: garantia de
qualidade dos produtos, intensificação do
marketing
, articulações organizadas de
financiamento, expansão de vendas e de distribuição, fomento do associativismo e
profissionalização da mão-
de
-obra. Esse conjunto de ações teve importantes reflexos na
representatividade da produção do bordado na economia do município de Itapajé.
Tendo em vista a relação artesanato, moda, economia e cultura –, o presente
estudo analisa os aspectos socioeconômicos do artesanato em comunidades rurai
s no Ceará. A
comunidade de Itapajé foi escolhida como objeto deste estudo por ser um local tradicional em
bordados, que vem tentando explorar todas as potencialidades de inserção no mercado de
forma a melhorar seu contexto socioeconômico. Dessa forma, pre
tendeu
-se analisar a
importância do artesanato como elemento propulsor na produção tanto sob os aspectos da
inovação que proporciona, da preservação da cultura popular, da mão-
de
-obra utilizada, como
também o fator econômico que favorece as unidades produt
oras.
Diante do exposto e vislumbrando o
desenvolvimento desse trabalho, colocam
-
se as
seguintes perguntas: Em que formas o artesanato é
produzido na comunidade? Qual é a inserção de
mercado do artesanato que é produzido na comunidade?
Que tipo de mercado
recebe a produção do artesanato
local? Qual a importância do artesanato para a
identidade cultural da comunidade? O turismo tem
dinamizado a produção do artesanato na região? Qual a
contribuição da renda proveniente do artesanato para o
orçamento familiar?
Como o trabalho artesanal
influencia o nível de qualidade de vida da população
estudada? Em que níveis se encontram a qualidade de
vida e o desenvolvimento humano das pessoas
envolvidas com a atividade do bordado? O
desenvolvimento a seguir pretende dar r
espostas a essas
perguntas.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Analisar os aspectos socioeconômicos do artesanato (tipologia bordado) através
do estudo de caso com bordadeiras do município de Itapajé
Ceará.
1.2.2 Objetivos específicos
Identifica
r e conhecer o perfil socioeconômico da comunidade que trabalha com
bordado;
Verificar e analisar os Índices de Qualidade de Vida e de Desenvolvimento
Humano da comunidade pesquisada;
Compreender o papel do bordado na identidade cultural da comunidade;
Identificar as formas de produção, comercialização e o tipo de mercado que
recebe o bordado produzido pela comunidade.
Estrutura do trabalho
O primeiro capítulo é a introdução. O segundo capítulo compreende à revisão de
literatura, contextualizando-se todas as abordagens exploradas no trabalho. Em seguida, o
terceiro apresenta a metodologia aplicada para obtenção e análise dos dados coletados. No
quarto capítulo, apresenta-se e discute-se os resultados obtidos. E, por fim, no quinto, mostra-
se as principais conclusões, a partir das quais elaborou-se algumas sugestões com a finalidade
de maior aproveitamento do potencial existente nas comunidades pesquisadas.
2
REVISÃO DE LITERATURA
Identificar, resgatar e promover os principais produtos de forte identidade regional, coloca em
evidência suas raízes, sua história e sua trajetória. (BARROSO NETO, 2002, p. 29,
mód.II).
Visando a melhor compreensão do texto, inicia-se com uma abordagem sobre o
artesanato: conceito e importância para o presente estudo. Em seguida será feita sua
contextualização no Estado do Ceará, tanto no aspecto econômico quanto nas tipologias
trabalhadas. Apresenta-se, ainda, alguns estudos empíricos sobre o tema e uma breve
discussão sobre os índices de qualidade de vida.
2.1. O Artesa
nato
A produção do artesanato pode ser
questionada em virtude do crescimento acelerado da
industrialização. Alguns autores acreditam que as
características do mesmo venham sofrendo, ao longo do
tempo, alterações na sua apresentação em virtude da
concorrênc
ia com produtos industrializados.
Porém, convém ressaltar que o artesanato
pode se tornar competitivo em relação ao similar
industrializado por apresentar personalização de suas
peças, bem como aspectos artísticos e culturais
intrínsecos a sua concepção e
produção, características
mais perceptíveis e desejáveis por consumidores mais
exigentes, que, normalmente têm maior poder aquisitivo.
Todavia, percebe
-
se, ainda, algumas
disparidades do artesanato diante das inovações
tecnológicas e das exigências do me
rcado consumidor,
tendo em vista, as incipientes formas de criação, de
produção, de administração e de comercialização.
De acordo com Pereira (1979), devido à
coexistência do processo de industrialização e da
evolução tecnológica, o artesanato tende a so
fisticar
-
se
em alguns casos, uma vez que já despertou interesse e
preocupação nos cientistas sociais e administradores em
virtude de sua inserção por diversas áreas, econômicas
e/ou sociais, até mesmo nos países mais desenvolvidos
já que até há pouco tempo
somente os países
subdesenvolvidos demonstravam maior importância.
Nesta perspectiva,
o
artesanato tende a
guardar as características essenciais dos elementos
produzidos, mas com a introdução de algumas
inovações. Mantendo suas qualidades tradicionais, o
produto continuará sendo absorvido pela comunidade
que o produz mas, ao mesmo tempo, as inovações serão
válidas se modificarem de forma positiva a atrair mais
clientes e, conseqüentemente mais venda sem perder a
identidade.
As diversas técnicas artesanais, que representam imensas reservas culturais, podem ser
compreendidas entre: a pintura, a escultura, a cestaria, o mobiliário, os trançados, a cerâmica, a tecelagem, a
culinária, as vestimentas, os adornos pessoais, os instrumentos de trabalho e os utensílios domésticos em geral.
Dentre essas técnicas, tem
-
se as tipologias que são suas subdivisões; onde o fazer diferencia o produto final, uma
vez que a matéria
-
prima quase sempre é a mesma ou similar.
Especificamente no Brasil, o artesanato tem
sido visto c
omo sistema de produção, que representa
empreendimento econômico. Ele também pode ser
considerado como um instrumento estratégico de
desenvolvimento regional por atingir parcelas
significativas da população. Além disso, o artesanato
tem custo de investime
nto relativamente baixo, que
utiliza na maioria das tipologias existentes matéria
-
prima natural disponível.
Outro benefício que o artesanato promove é
a inserção da mulher e do adolescente em atividades
produtivas, estimulando a prática do associativismo
e
fixando o artesão no local de origem. Assim, o
artesanato é visto como um dos meios de ocupação e
atividade de geração de renda.
De acordo com Ribeiro (1983, p.13), o
artesanato
Compreende um elenco de técnicas, o emprego de determinadas matérias
-
primas,
bem como um repertório de elementos decorativos, às vezes
privativo de certos segmentos residenciais, grupos domésticos ou mesmo
indivíduos. O conjunto desses procedimentos técnicos seletivos contém
informações de caráter estético, simbólico
-
religioso, so
cial e étnico,
constituindo o estilo tribal ou o macroestilo, correspondente a uma área
cultural.
Lima e Azevedo (1982, p.18), enfocam o
processo produtivo definindo o artesanato como:
... uma atividade predominantemente manual de produção de bens, exerc
ida
em ambiente doméstico ou pequenas oficinas, postos de trabalho ou centros
associativos, no qual se admite a utilização de máquinas ou ferramentas,
desde que não dispensem a criatividade ou a habilidade individual e de que o
agente produtor participe, d
iretamente de todas ou quase todas as etapas da
elaboração do produto.
Canclini (1983), expressa a dificuldade em
definir o artesanato devido ao fato de que sua identidade
e seus limites têm se tornado complexos nos últimos
tempos porque os produtos consid
erados artesanais
modificaram
-
se ao se relacionarem com o mercado
capitalista, a indústria cultural, o turismo e com as novas
formas de lazer, comunicação e arte. Desse modo,
sugere
-
se conceituar o artesanato como “o
desenvolvimento de uma atividade que pa
ssa de geração
em geração, com técnicas rudimentares que refletem
uma cultura, seus hábitos ou cotidiano, através de suas
experiências de vida e que são fonte de renda, utilizando
quase sempre matérias
-
primas disponíveis facilmente ao
seu alcance.”
O contexto sociocultural sobressai quando se relata as ações que acontecem durante sua execução,
uma vez que, geralmente os artesãos são moradores de uma mesma comunidade e têm relações intrínsecas entre
si, seja nos costumes, no consumo, no comportamento e nos v
alores.
2.2 Do artesanato nacional ao cearense
A expansão territorial brasileira e sua miscigenação (culturas indígenas, africanas e européias),
interferem e influenciam diretamente na classificação e regionalização do artesanato. O regionalismo no
artesa
nato possibilita grande diversificação das técnicas e das tipologias verificando-se, dessa forma, uma
riqueza muito grande nos artigos produzidos. As características regionais possibilitam ao consumidor, por muitas
vezes, visualizar e identificar a origem das peças, fato que facilita ou oportuniza o processo de comercialização.
Conforme Salles (1977), embora o artesanato típico de uma região apresente marcas significativas, pode exceder
os seus limites ou, ainda, acontecer interpenetrações recíprocas, isto é, artesanatos de regiões vizinhas podem
apresentar peças características mas, ao mesmo tempo, elementos comuns, sem perder a identidade de cada uma.
Considerando a grande extensão territorial do Brasil, pode-se imaginar o quanto de
diferenciações no artesanato brasileiro; das cinco regiões é possível enumerar os produtos mais representativos
de cada uma, ou ainda de cada estado. Temos, por exemplo, as peças em pedra sabão de Minas Gerais, a renda
renascença de Pernambuco, cerâmica marajoara do Pará, os cristais de Santa Catarina, cestas e trançados em
buriti do Maranhão e as cerâmicas indígenas do Mato Grosso, que são algumas das manifestações culturais
possibilitadas pela diversidade de materiais, métodos e técnicas existentes. (PROGRAMA DO ARTESANATO
B
RASILEIRO/MDIC, 2003).
Dentre os estados da região Nordeste, o Ceará é um dos principais centros produtivos de
artesanato, possuindo uma estrutura de desenvolvimento e apoio à atividade, levando ao aproveitamento do
potencial econômico e à preservação da
cultura local. Tendo em vista o objeto desse trabalho, outro aspecto a ser
considerado é que no Ceará um terço dos municípios trabalha com a tipologia rendas e bordados, sendo estes
responsáveis por quase 40% de todo o Nordeste (Banco do Nordeste, 2002), conforme pode ser observado na
TABELA 1:
TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE TIPOLOGIAS DO ARTESANATO
NO ESTADO DO CEARÁ
TIPOLOGIAS
REGISTROS
% NO ESTADO
% NA REGIÃO
1.
Rendas e Bordados
104 30,3 38,5
2.
Cestarias e Trançados
66 19,2 31,7
3.
Tecelagem
49 14,3 36,3
4.
Cerâmica
32 9,3 19,8
5.
Madeira
30 8,7 21,6
6. Couro 28 8,2 31,1
7.
Metal
17 5,0 44,7
8.
Outros
16 4,7 22,5
9.
Tecidos
1 0,3 16,6
10.
Pedras
0 0 0
11.
NR
0 0 0
TOTAL
343
100%
FONTE: Banco do Nordeste, 2002.
No Ceará, 76,1% dos municípios produzem artesanato (
Banco do Nordeste, 2002),
fato este que evidencia a importância que o setor apresenta no Estado, tanto no aspecto
socioeconômico quanto cultural.
A elaboração de estudo do setor artesanal nordestino justifica-se pela
importância dessa atividade para o turismo, para a redistribuição de renda e
redução das desigualdades sociais, para o aumento de alternativas
econômicas, além de outros aspectos fortemente ligados à promoção do
desenvolvimento regional. (BANCO DO NORDESTE, 2002; p.10)
Acreditando que o artesa
nato pode ser um produto competitivo por agregar valores
positivos de comercialização referentes à personalização, aos aspectos artísticos e culturais
inerentes a cada um, mas que precisa se adequar às exigências do mercado consumidor. O
Banco do Nordeste disponibiliza uma série de instrumentos que envolvem melhorias nos
meios de produção, tecnologia, qualificação e design.
O Farol do Desenvolvimento é um dos instrumentos que o Banco do Nordeste
utiliza para ‘conhecer a realidade social, aproximar os agentes produtivos, implementar
soluções práticas com foco no desenvolvimento auto-sustentável’. E, tendo observado o
elevado número de demandas relativas ao artesanato, criou o Programa de Desenvolvimento
do Artesanato do Nordeste, o CrediArtesão. Esse programa compreende desde a estruturação
da cadeia produtiva do artesanato, passando pela capacitação e promoção, até à
comercialização. (BANCO DO NORDESTE, 2002).
O potencial de crescimento do artesanato cearense pode ser verificado em virtude
da grande concentração de artesãos, produção diversificada e boa aceitação do produto no
mercado. Segundo o Banco do Nordeste, em pesquisa realizada junto a todos os municípios
do Estado, as tipologias com maiores possibilidades de crescimento são rendas e bordados,
cestar
ias e trançados e a tecelagem. No referido estudo verifica-se, ainda, que os maiores
problemas de produção, são a falta de padronização dos produtos, de organização da produção
e de capital de giro.
A tipologia bordado é considerada como o artesanato de maior expansão em todo
o Ceará ocupando grande contingente de mão-
de
-obra feminina de caráter doméstico, isto é,
são donas de casa que têm também a responsabilidade sobre a produção artesanal. A situação
mais comum é a utilização de parte de familiares como
ajudantes e aprendizes na produção do
artesanato. Esta relação de produção familiar garante a continuidade do saber, habilitando
novos artesãos, mas também dificulta a profissionalização do setor, quando se objetiva tornar,
efetivamente, uma atividade econ
omicamente produtiva.
Fleury (2002, p. 103), discorre sobre a atividade artesanal produzida na família,
que gera renda para a mesma: “(...) é fator complementar de renda e laço de solidariedade
social, uma vez que integra seus membros unindo-os nas tarefas e que vai se sucedendo
através das gerações”. O trabalho das bordadeiras contribui também para a comunidade pelo
que representa como expressão de arte criativa através dos diferentes modelos que trabalham
e, por isso, não pode nem deve se esvair com o pas
sar dos anos.
Quando a produção do bordado não é familiar, a mão-
de
-obra é obtida através de
grupos de produção, associações ou cooperativas, percebendo-se algumas vezes, a utilização
de prestadores de serviços e de buscas em aprimoramento e qualificação.
Novas atividades que surgem no comércio e na indústria são fatores que
interferem na sucessão do trabalho do bordado entre as gerações, pois nem sempre as gerações
mais novas podem se dedicar exclusivamente ao bordado, mas o que se verifica é que a
apren
dizagem do mesmo vem, ao longo do tempo, sendo repassada de avós para filhas (os) e
netas (os). “A subsistência do artesanato está fundamentada na tradição familiar e no fato de
que o próprio trabalho tem funções socioeconômicas e lúdicas”. (FUNARTE, 1986,
p. 71).
Outro aspecto a ser considerado é o turismo, que está cada vez mais freqüente na
região em virtude dos incentivos e propagandas que o governo do estado promove. Este fato
apresenta duas vertentes antagônicas: por um lado gera novas formas de trabalho, fazendo
com que as pessoas abandonem o que culturalmente já sabem fazer para trabalhar em serviços
ligados, por exemplo, à hotelaria. Essas mudanças de atitudes profissionais podem significar
que os potenciais criativos sejam esquecidos ao longo do te
mpo.
Por outro lado, as relações entre as atividades turísticas e o artesanato têm-
se
apresentado cada dia mais forte, uma vez que os turistas, ansiosos por lembranças de suas
viagens, procuram no artesanato um meio de satisfação. Nessa relação está presente a
expansão do comércio do artesanato e o aumento dos pontos de venda. Locais como a
Empresa Cearense de Turismo (EMCETUR), Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura,
Mercado Central, Avenida Monsenhor Tabosa, Feirinha da Beira Mar, CEART, Barracas da
Praia
do Futuro e ainda o Aeroporto Pinto Martins, são espaços estratégicos de
comercialização que fazem parte do roteiro turístico de todo aquele que vem à Fortaleza.
Em 1999 a Secretaria de Turismo do Estado definiu seis Macrorregiões Turísticas
(MRT): Fortaleza Região Metropolitana (FRM), Litoral Oeste/Ibiapaba, Litoral Leste/Apodi,
Serras Úmidas/Baturité, Sertão Central e Araripe/Cariri. Essas macrorregiões são interligadas
e complementadas pelos contrastes das unidades geoambientais do litoral, das serras e do
sertão. As praias da Costa Solnascente como Beberibe, Canoa Quebrada, Prainha e Aracati
são grandes centros de artesanato de renda assim como as praias da Costa Solpoente -
Flecheiras, Guajirú, Acaraú e Almofala. Embora apresente características mistas de sertão e
serra, o município de Itapajé está inserido na macrorregião Litoral Oeste/Ibiapaba pela sua
posição geográfica no estado
(
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2002).
2.3 O Artesanato e a cultura
O conjunto de práticas sociais e culturais materialmente presentes que se reproduzem através dos
trabalhos dos artesãos, confere a tradição existente nos seus locais de produção. As particularidades inerentes à
determinada área permitem a descoberta de categorias sociais plenas de significados e que muitas
vezes
permitem o acesso as suas peculiaridades e de suas criações.
À medida em que as evidências do passado se apresentam qualitativa e quantitativamente
diferentes, a história cultural adquire significados distintos nas diversas regiões brasileiras. Nesta abordagem,
Fleury (2002), aponta duas características da cultura: as transformações que acontecem gradualmente de uma
geração para outra, e a tendência de se homogeneizar com a proximidade das pessoas envolvidas ao mesmo
tempo de se diferenciar com a distância social. Desta forma, pode-se afirmar que o padrão e a intensidade de
interação entre os indivíduos refletem diretamente na identidade de determinada cultura.
Conceituar cultura é um tanto quanto complexo. Laraia (1997, p. 25), definiu cultura em amp
lo
sentido etnográfico como “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Desse modo percebe-se que cultura contempla todas as possibilidades de realização humana,
contrapondo
-se à idéia de que ela é nata ao ser humano, mas adquirida ao longo de sua vida, caracterizando-
se
como um aprendizado.
Sobre a história e o uso do termo cultura, Raymond Williams (1992, p. 10) afirma que:
Começ
ando como o nome de um processo cultura (cultivo) de vegetais ou
(criação e reprodução) de animais e, por extensão, cultura (cultivo ativo) da
mente humana ele se tornou, em fins do século XVIII, (...) um nome que
informava ‘o modo de vida global’ de d
eterminado povo.
E ainda:
i)
um estado mental desenvolvido como em “pessoa de cultura”, “pessoa
culta”, passando por ii) os processos desse desenvolvimento como em
“interesses culturais”, “atividades culturais”, até iii) os meios desses
processos
como em uma cultura considerada como “as artes” e o “trabalho
intelectual do homem”. (p. 11, grifo do autor).
Embora todos os conceitos sejam usuais, o sentido geral é o mais comum. A cultura configura um
processo com ênfase nas atividades sócio-culturais (estilos de arte, de linguagem, de trabalho intelectual) e no
espírito formador de um modo de vida global.
Da mesma forma que cultura, a tradição também é um processo de reprodução em ação histórico-
social. Assim, muitos dos elementos-chave do processo cultural são reunidos por esse conceito. Em ambas
definições, as relações predominantes entre pessoas e grupos são fundamentais e necessárias.
Para Fagundes (2001), identidade é o sistema dominante através dos seus mecanismos de controle,
transmitidos e disseminados no caráter repetitivo das necessidades vivenciadas no cotidiano, configurada pelas
representações da realidade, ideologias, crenças e valores. Assim, cultura, tradição e identidade englobam
aspectos, vivências e conhecimentos que interagem e integram a história e a vida de determinado lugar e ou de
certos povos, seus aspectos cognitivos e comportamentais, formadores da herança cultural.
Lousada (2002), afirma que a influência artística e cultural proveniente de índios e europeus
durante a colonização do estado do Ceará, faz parte da formação do município de Itapajé, de suas peculiaridades
etnográficas. O artesanato é uma parte integrante dessas influências e se constitui numa característica básica da
região, atividade intrinsecamente relacionada aos va
lores do lugar onde se desenvolve.
Neste mesmo pensamento, Pereira (1957), relata que na formação histórica das cidades brasileiras,
as atividades artesanais iam se diversificando e se desenvolvendo como um complexo de trabalho relativamente
organizado, à medida em que os núcleos populacionais da Colônia se expandiam. Esse complexo configurava-
se
em linhas ocupacionais cujo conteúdo e expressão, em termos de demandas e oportunidades ocorrentes, estavam
diretamente ligadas à origem e ao crescimento dos cent
ros comunitários.
De acordo com Vives (1983), o saber e o fazer tradicionais, símbolos do meio, podem ser
representados também no artesanato. Essa simbologia possibilita uma interpretação do homem e de sua cultura,
formando um conjunto capaz de tornar significantes os elementos que o constituem. Nisto, consiste a análise de
uma identidade cultural, o papel mais importante do artesão tradicional na sociedade contemporânea.
Por traduzirem sentimentos e comportamentos, os objetos artesanais podem ser vistos co
mo
mensagens transmissoras de informações, de características e sinais de determinado povo ou grupo. Solidificadas
essas mensagens, configura
-
se assim, a identidade deste grupo, a sua cultura.
2.4 Estudos empíricos
Abordar o artesanato em estudos científicos tem sido uma constante entre
pesquisadores que vêem nesse setor grandes possibilidades de exploração seja no campo
sociológico, antropológico, do design ou da economia, entre outros. Algumas referências
podem ser listadas e utilizadas para se conhecer
que, há algum tempo, o artesanato
em todas
as tipologias existentes tem sido objeto de estudo e exploração na pesquisa, seja
mercadológica, social, cultural, etc. Portanto, será apresentada a seguir, uma cronologia desses
estudos, por considerarmos a relevância dos mesmos para este trabalho.
Desde longas datas o governo brasileiro vem desenvolvendo ações que
contemplam as artes populares, como o folclore, a culinária, o artesanato. No século XIX
foram distribuídos folhetos que difundiam técnicas de marcenaria, encadernação, pinturas,
tintas e vernizes, tecelagem, cerâmica, etc., paralelos ao movimento de Liceus de Artes e
Ofícios. O Compêndio da Arte Rendária
(1896),
de Rosalina Pinheiro de Paiva, é exemplo de
divulgação de uma tipologia artesanal.
De acordo com Salles (1977), o artigo 57 da Constituição Brasileira de 1937
mostra o artesanato como uma das formas de atividade econômica protegidas pelo Estado,
formando, ao lado da indústria, uma das seções do Conselho de Economia Nacional.
Posteriormente, o Ministério da Educação inicia a publicação da série Manual de
Tecnologia
, sendo um deles o Renda (1955), de Nair Maria Becker. E, paralelamente a isso, o
Ministério da Agricultura adota política de proteção e estímulo ao artesanato rural e traça
normas para a formulação de um programa de desenvolvimento do artesanato feminino em
áreas rurais, como também lança publicações traduzidas da literatura universal relativas aos
trabalhos manuais.
Em 1948 o Ministério das Relações Exteriores realizou a I Semana do Folclore
que aconteceu no Rio de Janeiro. Nesta, destacou-se a Exposição de Arte Popular que
contemplava peças de cerâmica, madeira, louça, instrumentos musicais, vestuário e adornos
pessoais, rendas de crivo bilro e crochê, cestarias etc.
Uma pesquisa foi realizada em 1958, pelo Banco do Nordeste, para estudar os
aspectos econômicos das atividades artesanais. Os principais objetivos desse estudo foram
avaliar a importância em relação à renda e emprego, e verificar problemas de mercado e
perspectivas de desenvolvimento. Tal pesquisa deteve-se mais aos estados da Bahia e do
Ceará, tantos na coleta de dados quanto nas ações decorrentes da mesma. (PEREIRA, 1979).
Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte foram alguns dos estados nordestinos que
desenvolveram estudos e projetos (1960) mas, por diversos fatores, não foram efetivamente
colocados em prática embora tenham servido de exemplo e proporcionaram elementos para a
formulação de planos de trabalho objetivos na assistência às atividades artesanais. (PEREIRA,
197
9)
Utilizando
-
se dos dados dos estudos desses estados e os da pesquisa anteriormente
relatada, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) reestruturou as ações
voltadas para esse segmento e implantou o projeto de incorporação de uma sociedade de
economia mista com finalidades assistenciais. Em princípio, daria prioridade à estrutura e
assistência nas comunidades onde se concentrava a produção, disponibilizaria supervisão e a
comercialização da produção.
Essas ações no Nordeste despertaram para a importância econômica da atividade
no Nordeste. Desde então, foram lançadas outras ações, em nível federal, para o
desenvolvimento e estímulo das artes que são de conhecimento público como: o Museu de
Artes e Técnicas Populares (SP), o Instituto Nacional do Folclore (RJ) com a Fundação
Nacional da Arte.
Em 1977, o Governo Federal criou o Programa Nacional de Desenvolvimento do
Artesanato e a Comissão Consultiva do Artesanato através do Decreto Nº 80.098/77 de
08/08/1977; cujo objetivo foi a integração das esferas de ação dos diversos organismos que
existem no país, sistematizando a maneira de agir e fazer com que os referidos enfoques se
complementem produzindo uma ação conjugada e conseqüentemente, mais eficaz. A efetiva
aplicação de ações desse Programa abre amplos caminhos para a promoção do artesanato,
transformando
-o em atividade produtiva, promotora do homem, difusora da cultura,
devidamente organizada, interna e externamente. (PEREIRA, 1979).
Pode-se citar uma pesquisa realizada pelo Governo Estadual do Ceará, entre o
período de 14/02 a 14/03/2002 em 16 municípios cearenses, incluindo o município de Itapajé.
A referida pesquisa objetivou avaliar as ações operacionalizadas nos grupos de artesãos dos
municípios sob a coordenação do Ceart (Central de Artesanato do Ceará) no que se refere a
treinamento, design e consultoria, além de traçar o perfil socioeconômico dos artesãos, formas
de comercialização dos produtos e dificuldades na produção e comercialização. Constata-
se
na pesquisa citada que 71% (R$ 157,00) da renda das famílias provêm de programas como
bolsa
-escola, aposentadoria, auxílio-alimentação e da agricultura, enquanto 29% (R$ 96,34)
são obtidos da produção artesanal, considerando-se, dessa forma, forte representatividade na
renda familiar.
(
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2004).
Girão (1984), estudou os focos rendíferos brasileiros e mais detalhadamente os
cearenses, enfocando suas características mais importantes no campo folclórico e sua
semelhança com as de outras regiões brasileiras e mesmo estrangeiras. no Museu Arthur
Moreira Lima RJ existem pesquisas que procuram estudar a renda e a rendeira em todos os
aspectos que possam interessar à ciência antropológica.
Outra pesquisadora que conviveu com artesãs foi Fleury (2002), que explorou,
d
urante dois anos, o trabalho das rendeiras de Flecheiras (Trairi
-
CE) participando e analisando
seu cotidiano, sua identidade e sua cultura.
Considerando que a produção artesanal tipologia renda e bordado é o aspecto de
maior representação econômica (Banco do Nordeste, 2002), e que a renda vem sendo
abordada em diversos trabalhos científicos, vislumbra-se uma grande oportunidade de estudar
a tipologia bordado. Percebe-se, assim, que não o trabalho artesanal, mas todos os aspectos
que o circundam são impor
tantes fontes de pesquisa nos mais diversos campos de estudo.
2.5 Indicadores de qualidade de vida
Qualidade de vida é tudo aquilo que a pessoa pode fazer e ser na vida. Estas
palavras foram ditas por Amartya Sem (2003) responsável pela metodologia para a
construção de índices de desenvolvimento humano utilizados pelo Banco Mundial indicam
que qualidade de vida é um estado no qual existem possibilidades de ampliação das
capacidades e das alternativas de escolha dos indivíduos.
Por ser uma temática relativa e subjetiva, a conceituação de Qualidade de Vida
passa por diversas abordagens. Alguns autores consideram o ideal de qualidade de vida
quando são fornecidas à família ou comunidade o mínimo que lhe garanta a sobrevivência,
com o pleno atendimento das
necessidades básicas.
A Teoria das Necessidades definida por Abraham Maslow (apud Rocha, 2001),
está relacionada ao conjunto de necessidades humanas organizadas hierarquicamente pela
prioridade de satisfação: fisiológicas, segurança, sociais, estima e de
auto
-realização. De
acordo com essa hierarquia, existe motivação para suprir uma necessidade somente após ter
sido satisfeita a anterior, mesmo que parcialmente. Entretanto, esse modelo não é universal e a
referida hierarquia é variável conforme as realidades econômicas e sociais em sociedades
distintas.
A homeostase, esforço automático do corpo humano em manter uma constante, é
o princípio de tudo, logo, esta característica auto-reguladora de um sistema é a principal
motivadora das necessidades, uma vez que as variáveis externas tendem a alterar o padrão e
novas condições precisam ser satisfeitas e assim, ocorre a volta do equilíbrio.
Cebotarev (1982), relata que a ‘qualidade de vida satisfatória’, onde as necessidades básicas são
subdividas em necessidades de subsistência e necessidades para a formação humana, favorecem o bem-
estar,
uma vez que são indispensáveis ao desenvolvimento humano em sociedade. As primeiras compreendem às
biofisiológicas (alimentação, saúde, higiene, vestuário, moradia, etc.) e as seguintes referem-se às necessidades
para formação intelectual (condições de capacitação intelectual, de conscientização e prática da cidadania,
participação associativa, etc.).
Considerando a complexidade de fatores que interferem na qualidade de vida de
seus habitantes a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, sob consultoria da PUC/MG,
desenvolveu um método para determinar o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU/BH),
indicador de qualidade de vida que determinada região (bairro ou conjunto de bairros) oferece
aos seus moradores e àqueles que buscam os serviços ali existentes. O IQVU/BH foi
construído com o objetivo de ser utilizado como ferramenta para avaliação do cumprimento
de metas, avaliação do impacto de programas sociais e de focalização.
Diver
sos trabalhos vêm sendo desenvolvidos no sentido de identificar o nível de
qualidade de vida de algumas localidades, como o de CUNHA (2003), ALMEIDA (2002),
NEIVA (2000), BARRADAS (1999) e MONTE (1999), entre outros, encontrados na
biblioteca setorial do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal do Ceará,
com a finalidade de oportunizar à área acadêmica e ao setor público o conhecimento de
realidades que necessitam de melhorias no que se refere às condições de vida das
comunidades.
Historicamen
te, os indicadores econômicos se sobrepunham aos sociais, mas
paulatinamente, vem ocorrendo uma inversão nestes, embora o critério econômico ainda seja
preponderante. Desta forma, cidades que apresentavam uma ‘economia dinâmica’ eram cada
vez mais favorecidas pois recebiam maiores repasses e as que pouco cresciam ou as
estagnadas eram ainda mais penalizadas.
A formulação desses índices também podem fornecer informações sobre o grau de
desenvolvimento e crescimento econômico. considerável diferença entre desenvolvimento
e crescimento econômico. Conforme relatam Barros, Carvalho e Franco (2003), o crescimento
econômico é representado exclusivamente por dados numéricos através de índices, como
Produto Interno Bruto (PIB), PIB per capta e Produto Nacional Bruto (PNB); enquanto que
para a representação do desenvolvimento inclui-se variáveis como níveis de educação, de
saúde, de consumo diário de calorias; itens que refletem as variações nos diversos aspectos
qualitativos de determinado grupo estudado
.
Dentre diversos indicadores, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado
pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), é uma medida simples e
geral do nível do desenvolvimento humano e seu principal objetivo é oferecer um contraponto
a outro indicador bastante utilizado: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera
apenas a dimensão econômica no aspecto desenvolvimento, e relaciona-se diretamente ao
fator renda.
Publicado pela primeira vez em 1990, o IDH foi recalculado para os anos
an
teriores, a partir de 1975, tendo variado um pouco ao longo dos primeiros anos de
existência. Desde então, vem sendo utilizado como referência e fonte de dados para políticas
públicas em níveis municipal, estadual, federal e mundial.
Além de utilizar o PIB per capita, o IDH considera também outros dois
componentes que têm enfoque mais social: a Longevidade e a Educação. O indicador renda é
mensurado pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, eliminando as
diferenças de custo de vida entre os países); o de longevidade utiliza números de expectativa
de vida ao nascer; e a educação é avaliada pela taxa de analfabetismo e pela taxa de matrícula
em todos os níveis de ensino. Essas três dimensões têm a mesma importância no IDH, que
varia de zero a um, onde, quanto maior esse valor, melhor a qualidade de vida da localidade
em questão.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), o Brasil subiu
no
ranking
do IDH, passando da 65
a
posição em 2003 para a 72
a
em 2004. A Figura 1
demon
stra os níveis comparativos entre o Brasil, a América Latina e o Mundo.
Na Figura 1 verifica-se que na variável educação o Brasil se aproxima
mais dos países ricos (diferença de 0,06) e fica mais distante na dimensão renda
(diferença de 0,21). Em relação à
média mundial, a dimensão educação (índice 0,75)
é a mais avançada, e saúde (0.70), a mais baixa. Percebe-se, ainda, que o Brasil
tem o mesmo índice de renda da média mundial e ligeiramente superior ao da
América Latina. Ficando abaixo da média latino-americana em esperança de vida
mas supera em muito a média dos 175 países pesquisados em educação.
0.89
0.96
0.93
0.75
0.86
0.71
0.72
0.90
0.71
0.75
0.70
0.72
0.60
0.65
0.70
0.75
0.80
0.85
0.90
0.95
longevidade
educação
renda
Países ricos
América Latina
Brasil
Mundo
FIGURA 1
O IDH EM APRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL
FONTE: RDH, 2004.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE
(2004), mostra que a concentra
çã
o de renda é mais elevada no Nordeste e menos elevada no
Sul. Retratando, dessa forma, o elevado nível de pobreza no Nordeste comentado por Lemos
(2002, p. 92/93): “dentre os estados brasileiros Maranhão, Piauí e Ceará apresentam os
menores índices de renda per capita nos domicílios com até dois salários mínimos. (...). Em
1999, a população cearense que sobrevivia em domicílios com até três salários mínimos de
renda tinham uma renda
per capita
de US$ 0,86.”
Em
2003, 27,8% dos ocupados ganhava at
é
um sal
á
rio m
í
nimo e 1,3% recebia mais
de 20 salários mínimos. Mas nos domicílios, considerando as remunera
çõ
es de todos os
moradores, a propor
çã
o de casas com rendimento de até um salário mínimo era de 12,9% e os
domicílios que recebiam mais de 20 salários era de 3,9%. Os maiores percentuais na faixa de
mais de 20 sal
á
rios foram encontrados no Centro
-
Oeste.
Em termos relativos ao estado do Ceará, Fortaleza apresenta o maior Índice de
Desenvolvimento Municipal (IDM) 0,792, seguida de Sobral e Maracanaú (0,631). Os valores
mais baixos foram encontrados nas cidades de Aiuaba (0,094) e Salitre (0,045), indicando as
condições de vida mais difíceis, segundo os dados do Anuário do Estado do Ceará.
(GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2
004).
Entre os novos indicadores socioeconômicos que foram desenvolvidos, podem ser
citados: o índice de condições de vida (
ICV
) [Fundação João Pinheiro/IPEA/IBGE (2003)], o
índice de qualidade de vida (
IQV
) [Almeida (2002)], o índice de pobreza humana (I
PH
) e o
índice de exclusão social (
IES
) relatados por Lemos (2002), o índice de qualidade dos
municípios (
IQM
) [SEMARH (2004)] e o índice de desenvolvimento humano municipal
(
IDH
-M) do Instituto Pólis (2004). Barros, Carvalho e Franco (2003), afirmam que
s
istematicamente
“e
sses indicadores sintéticos têm padecido de uma grave dificuldade: não são
capazes de estimar o grau de desenvolvimento ou carência de cada família mas, apenas um
nível médio para um país, estado, município ou mesmo bairro pode ser calcul
ad
o”, por este
motivo, criaram
o índice de desenvolvimento da família (
IDF
).
Conforme apresentado anteriormente, o cálculo de índices como o IDH e
o IQV, diferem, entre outros aspectos, em relação ao número de variáveis utilizadas.
De acordo com Lemos (2002) e Barros, Carvalho e Franco (2003), a definição de
índices compostos por um pequeno número de variáveis é considerada perigosa por
sintetizar informações pouco relacionadas e que efetivamente não retratam
fidedignamente o índice esperado.
A escolha das variáveis depende fundamentalmente de como se e entende-se a
realidade que se quer avaliar e a visão ideal que se tem de cada situação. No presente estudo
serão utilizadas as seguintes variáveis, para a construção dos índices IQV e IDH, na amostra
pesq
uisada:
Educação, Higiene e saúde, Moradia, Formas de vida e lazer, Consumo, Situação
ocupacional, Expectativa de vida e Renda. A variável renda será verificada nos níveis familiar
e per capita.
Para possibilitar maior abrangência na detecção dos objetivos, propostos, essas
variáveis serão decompostas em sub-itens. A descrição detalhada de cada uma delas será feita
no capítulo 3, a seguir.
3 METODOLOGIA
Um projeto não é uma reta entre dois pontos estáticos (o problema e sua resposta), mas uma
esp
iral, em que cada segmento é mais denso e complexo que seu antecedente. (...)
constituindo
-se em estágios intermediários de um processo dinâmico. (BONFIM, 1999,
p.34).
3.1 Caracterização da área de estudo
O estudo foi desenvolvido em Itapajé, cidade cen
tenária
reconhecida no Estado e
fora dele pela qualidade do seu bordado artesanal. Distante 125km de Fortaleza, Itapajé ocupa
399km
2
da parte meridional da Serra de Uruburetama. Está situada a 262 metros de altitude,
localizada pelas coordenadas geográficas: latitude 3
o
41’12”S e longitude 39
o
35’10”W.
(SILVA , 2000). Tem como principal acesso a rodovia BR-222, sendo sua população
composta de 41.093 habitantes, sendo 66,82% na área urbana e 33,18% na área rural (Anuário
do Ceará 2004). Entre serras, depressões e planícies aparecem zonas de várzea muito férteis
que permitem a formação de pequenos núcleos urbanos.
Em princípio essa formação leva as pessoas a explorarem os recursos naturais de
subsistência mas, muitas delas, devido a heranças culturais e históri
cas, têm o artesanato como
forte alternativa de fonte de renda. O Município possui oito distritos distribuídos entre serra e
sertão. Algumas das comunidades e/ou distritos se destacam por desenvolverem a atividade
artesanal continuamente, envolvendo por muitas vezes todos os membros da família. Eis
algumas delas: Aguaí, Baixa Grande, Barracão, Iratinga, Pitombeira, São Tomé, Serrote do
Meio, Soledade, Câmara, Barateiro, Conjunto São Francisco, Padre Lima e Rua das Dutras
(assim designada por haver diversas pessoas desta família com indústria e comércio de
bordados).
A história de Itapajé teve início em meados de 1837 e, com ela a do artesanato. A habilidade de
desenvolver produtos de barro herdada dos antepassados indígenas foi, durante muito tempo, forma de produção
dos habitantes nativos. Por volta de 1875 foi adquirida a primeira máquina de costura de Itapajé. Conforme
Lousada (2002), a compra do equipamento levou à aprendizagem da costura e, para complementar e enfeitar as
peças, surgiu o bordado à mão. A arte foi aos poucos tomando consistência e espaço e, por volta de 1930, o
ponto cruz, rechiliê, crochê e o bordado cheio disputavam espaço nas artes manuais desenvolvidas pelas
mulheres,
principalmente para roupas femininas e infantis; em 1937 algumas mulheres se organizaram e o
artesanato tomou cunho comercial, mesmo que de forma incipiente. Na década de 60 o comércio passou a se
intensificar e um processo gradativo de substituição da at
ividade manual pelo uso da máquina, foi acontecendo.
Na década de 70 acontece a primeira Feira Municipal de Bordados com a exposição e
comercialização dos produtos das bordadeiras locais e dos municípios vizinhos. O evento fortaleceu a produção,
o mercad
o foi se expandindo e, na década de 80, o bordado atingiu seu apogeu principalmente nas peças de moda
feminina. (LOUSADA, 2002).
O centro histórico de Itapajé apresenta ainda algumas edificações que mantêm o
padrão arquitetônico da primeira metade do sécul
o XIX, quando a sede do Município viveu as
transformações sociais impulsionadas pelo comércio do algodão, exemplificadas pela antiga
Casa da Cadeia, o casario do Centro de Comércio e a casa de Quintino Cunha. Hoje, Itapajé
conta com praças arborizadas e bucólicas, e outros equipamentos públicos mantidos pela
Prefeitura Municipal. Com mais de 40 mil habitantes, Itapajé possui uma economia próspera
baseada principalmente no comércio varejista, no artesanato e na cultura da banana, e é
passagem obrigatória de viajantes do norte e meio-
norte do País.
Sua imagem de cidade turística é reforçada
pelo verde circundante da serras de matas nativas, fontes
e piscinas naturais de águas cristalinas e clima
ameno,
que possibilitam agradáveis passeios pelas suas trilhas,
onde é possível contemplar o santuário natural com que
foi abençoado o Município. Imensos paredões
esculpidos pela ação do tempo assumem formas
surpreendentes e atraem a atenção dos viajantes
. As
famosas pedras (do Frade, da Caveira e da Noiva) e
serras são os mais significativos elementos físicos do
município. São visualizadas de quase todos os pontos da
cidade e intimamente identificadas com a imagem e o
caráter de Itapajé. Desse modo, verif
ica
-
se que a
atividade turística possui grande importância na atração
de turistas e investimentos, devendo ser incentivada e
sustentavelmente explorada.
O poder municipal de Itapajé, percebendo o potencial turístico da região, tem
desenvolvido ações como
“Itapajé nas trilhas do Ecoturismo” e, vinculando ao artesanato, tem
alocado pontos de apoio e vendas no roteiro do circuito turístico.
Investir no desenvolvimento turístico do Município requer planejamento para
promoção e consolidação do setor na localidade e circunvizinhanças, vinculando-o a um
projeto de nível maior, como o estadual ou regional. O Prodetur-Ne (Programa de
Desenvolvimento Turístico do Nordeste), criado em 1991pela SUDENE, é resultado da uma
iniciativa de governantes nordestinos que visava
m a dinamização da economia da região.
As ações deste programa têm levado à consolidação e expansão da atividade
ajustando
-a aos moldes globalizados cuja característica principal vem sendo “a transformação
de atividade de lazer espontâneo para uma necessidade a ser preenchida por produtos
especializados que são produzidos no circuito do mercado, fortemente armado em torno de
tecnologias midiáticas e de uma dinâmica baseada no espetacular, no fabuloso, na moda.”
(FARIAS e NOGUEIRA, 2003, p. 16). O Governo do Estado do Ceará vem seguindo esta
linha de ação, direcionando-a a partir dos modelos de turismo internacional, com padrões de
países desenvolvidos.
A implementação e intensificação da atividade turística devem estar baseadas não
somente como uma alternativa promissora, fonte de emprego e aumento da renda, mas, e
principalmente, na qualidade da infra
-estrutura, na manutenção e não degradação dos recursos
naturais; além de impedir a desestruturação das atividades tradicionais. Enfim, articular uma
relação p
ositiva entre o local, o ambiente, os modos de vida tradicionais e as comunidades.
3.2 Fonte de dados, seleção e definição da população a ser estudada
Para alcançar os objetivos propostos foram utilizados dados de natureza primária,
obtidos através da pesquisa direta realizada com as bordadeiras e complementados com
informações obtidas junto à Secretaria de Turismo do Estado do Ceará, do Banco do
Nordeste, da Secretaria de Empreendedorismo e Ação Social do Governo do Estado do Ceará
e Prefeitura Municipal de Itapajé assim como também de publicações do BN, IBGE e PNUD,
à medida do necessário.
O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi uma entrevista mediante questionário,
envolvendo questões abertas e fechadas referentes aos aspectos pessoais, sociais e econômicos. Através destes,
buscou
-
se coletar informações sobre o perfil socioeconômico e a qualidade de vida das bordadeiras.
Antes da elaboração final do questionário foi realizado um pré-teste com bordadeiras para verificar
a adequação das perguntas ao foco da pesquisa.
Itapajé é um município que tem, como atividades artesanais, o trabalho com bordado, madeira e
barro. Entretanto, o bordado, como já citado anteriormente, se sobressai pela quantidade produzida, pelo valor da
produção e pelo número
de pessoas e famílias envolvidas na atividade.
O grupo das bordadeiras constitui o objeto deste estudo. Apesar de estarem distribuídas por todo o
Município de Itapajé, a atividade concentra-se em algumas comunidades, tais como: Barateiro, Camará, Pedra
D’
Água, Iratinga, Padre Lima e na Sede do Município. Nessas comunidades são produzidas peças com bordados
feitos à mão e à máquina. A amostra é composta por quarenta entrevistadas, todos artesãs, distribuídas nas
comunidades acima relacionadas.
Uma vez que diversos municípios desenvolvem o bordado, optou-se por um estudo de caso. Tendo
em vista o contexto no qual a pesquisa foi realizada, seus resultados podem fornecer parâmetros para os Projetos
de Qualificação e Melhoria do Artesanato Cearense, que poderão ser implementados por Instituições como
CEART, SEBRAE-
CE
Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa ou SETE Secretaria de Trabalho e
Empreendedorismo do Governo do Estado do Ceará, a Prefeitura Municipal e outros tipos de políticas públicas.
3.3 Métod
os de análise
3.3.1 Análise tabular descritiva
Os dados coletados na pesquisa direta junto à
população do Município de Itapajé (de grupos de
trabalho artesanal, residentes em áreas próximas
-
bairros ou comunidades), foram agrupados em tabelas
para a obten
ção de informações sobre freqüência
absoluta e freqüência relativa.
3.3.2 Construção dos índices
Para se chegar a uma definição de
Desenvolvimento Humano além da dimensão
econômica, foram consideradas outras características
sociais, culturais e políticas
que influenciam a qualidade
da vida humana.
Todas as extensões ou variações do IDH demonstram que expandir o mero de
indicadores favorece à construção de um índice sintetizador da realidade da comunidade.
Considerando que o desenvolvimento social é multidimensional, trabalhou-se neste estudo
com os seguintes indicadores: educação, higiene e saúde, condições sanitárias e de moradia,
formas de vida e lazer, relações de consumo, expectativa de vida e renda. Estes indicadores
foram constituídos com base nas variáveis e nos escores atribuídos a cada uma, conforme
descrito a seguir:
a)
Educação
– considerado o grau de instrução.
VARIÁVEL
ESCORE
Analfabeto, alfabetizado, ensino fundamental incompleto
1
Ensino fundamental completo, ensino médio incompleto
2
Ensino médio completo, nível técnico
3
Nível Superior
4
B
b)
Higiene e saúde este indicador inclui os serviços públicos disponíveis, uso de
medicamentos alopáticos e caseiros, prática de vacinação, doenças ocorridas nos
últimos cinco anos.
VARIÁVEL
ESCO
RE
Posto de saúde c/ primeiros socorros
Não
1
Sim
2
Presença de médico / agente de saúde
Não
1
Sim
2
Freqüência do médico
Inexistente
1
Mensal
2
Semanal
3
Diária
4
Tipo de remédio mais utilizado
Caseiro
1
De farmácia e caseiro
2
De farmácia
3
Ocorrência de vacinação (*)
Grupo I
1
Grupo II
2
Grupo III
3
Grupo I
1
Incidência de doenças nos últimos 5 anos (**)
Grupo II
2
Grupo III
3
Grupo IV
4
Grupo V
5
(*)
Grupo I
Antipólio/varíola/tríplice
Grupo II
As anteriores
mais sarampo/BCG
Grupo III
As anteriores mais MMR/meningite/hepatite/gripe
(**)
Grupo I
Diarréia/verminoses
Grupo II
Catapora/papeira/sarampo/rubéola
Grupo III
Pneumonia/tuberculose
Grupo IV
Hipertensão/doenças cardíacas, renais e reumáticas
Gr
upo V
Nenhuma doença
c)
Condições sanitárias e de moradia
neste indicador constam o grau de posse, tamanho e
qualidade das residências além da existência de saneamento básico.
VARIÁVEL
ESCORE
Situação de posse
Alugada
1
Própria
2
Tipo de construç
ão
Taipa
1
Tijolo sem reboco
2
Tijolo com reboco
3
Cobertura da casa
Telha
1
Tipo de piso
Barro
1
Cimento
2
Cerâmica
3
Fonte de iluminação
Energia elétrica
1
Destino das fezes
Proximidades de plantações
Jogadas no lixo
1
Fossa
séptica
2
Destino do lixo
Proximidades de plantações e ou rios
1
Enterrado / Queimado
2
Coleta
3
Abastecimento de água
Sim
1
Nenhum / côa
1
Filtrada / clorada
2
Tratamento dado à água
Purificador
3
Até 4 cômodos
1
5 ou 6 cômodos
2
Número de cômodos
Mais de 6 cômodos
3
d)
Formas de vida e lazer – as respostas obtidas neste item levam o pesquisador a conhecer
valores quanto à família e às formas disponíveis e desejadas de lazer.
VARIÁVEL
ESCORE
O que representa a família para você
Importante
1
Tudo na vida
2
O que mais a assusta
Falta de saúde / doenças
1
Violência / drogas
2
Falta de trabalho / não poder estudar
3
O que é mais importante na vida
Ter trabalho, qualquer que seja / saúde
1
Ter família e filhos / ter um bom emprego / ter
um bom marido
2
Ter tempo para lazer, amigos e parentes
3
O que prefere fazer nas horas de folga
Assistir TV / rádio
1
Visitar parentes, amigos / tomar banho de lagoa,
açude
2
Descansar / ler
3
O que precisa ser feito na comunidade para
melhorar
Atendimento médico e odontológico /
saneamento
1
Escolas primárias e secundárias / locais para
produção do artesanato
2
Açude, ponte / melhoria das estradas
3
Escolas de nível superior
4
Que divertimento deveria ter na
comunidade
Quadra de esporte / parque infantil
1
Pólo turístico / praça / teleposto
2
Cinema / Clube
3
e)
Situação ocupacional analisada com base na utilização do tempo e de que forma este
possibilita a entrada de renda na família.
VARIÁVEL
ESCOR
E
Da entrevistada (o)
Artesã (o)
1
Artesã (o) e agricultor (a)
2
Artesã (o) e funcionário público
3
Artesã (o) e comerciante
4
Do parceiro (o)
Não tem
1
Artesã (o)
2
Artesã (o) e agricultor (a)
3
Agricultor, pedreiro, outros
4
Funci
onário público, comerciante ou aposentado
5
f)
Relações de consumo identifica-se como a família gasta sua renda na aquisição de
bens de consumo durável e nos alimentos.
VARIÁVEL
ESCORE
Número de refeições feitas por dia
Até 3
1
4 ou 5
2
6 ou mai
s 3
Proporção da renda gasta com alimentação
Mais de 50%
1
50%
2
Menos de 50%
3
Consumo mensal de combustível
Mais carvão, menos gás butano
1
Mais gás butano menos carvão
2
Somente gás butano
3
Posse de bens duráveis
Possui pelo menos um
dos bens do Grupo I
1
Possui pelo menos um dos bens dos Grupos I e
II mas não do III e IV
2
Possui pelo menos um dos bens dos Grupos I, II
e III mas não do IV
3
Possui pelo menos um dos bens do Grupo I II,
III e IV
4
Grupo I
Fogão a gás, rádio,
máquina de costura, ferro de passar, filtro
Grupo II
TV, bicicleta, geladeira, sistema de som
Grupo III
Telefone fixo/celular, vídeo cassete, moto
Grupo IV
Antena parabólica, automóvel, caminhão
g)
Expectativa de vida constitui-se das informações inerentes ao número de natalidade,
mortalidade e anos de vida.
VARIÁVEL
ESCORE
Número de gravidezes
Mais de 5
1
De 3 a 5
2
Até 2
3
Resultado das gestações
Nenhuma
1
Menos de 50% vivos
2
Mais de 50% vivos
3
Todos vivos / Não teve filhos
4
Idade dos filhos quando morreram
Até aos 3 meses
1
De 4 meses a 1 ano
2
Acima de 1 ano
3
Nenhum morreu / Não teve filhos
4
Causa das mortes
Desidratação, diarréia
1
Indefinida, mal de sete dias
2
Problemas da mãe
3
Sem mortes
4
Número de
pessoas por família
De 7 a 8
1
De 5 a 6
2
De 3 a 4
3
Até 2 pessoas
1
Idade média da família
Até 28 anos
2
De 29 a 56 anos
3
De 57 a 84 anos
4
h)
Renda composta pelos valores apresentados quanto a salário, aposentadoria, rendas do
govern
o e renda obtida com a produção artesanal.
VARIÁVEL
ESCORE
Salário, agricultura e/ou comércio
Não têm
1
Até R$ 80,00
2
Entre R$ 81,00 e R$ 160,00
3
Entre R$ 161,00 e R$ 240,00
4
Entre R$ 241,00 e R$ 320,00
5
Entre R$ 321,00 e R$ 400,00
6
Aci
ma de R$ 400,00
7
Bordado
Até R$ 100
1
De R$ 101 a R$ 200
2
De R$ 201 a R$ 300
3
De R$ 301 a R$ 400
4
De R$ 401 a R$ 500
5
Maior que R$ 500
6
Fontes do Governo
Não têm
1
Até R$ 20,00
2
Entre R$ 21,00 e R$ 40,00
3
Entre R$ 41,00 e R$ 60,00
4
Entre R$ 61,00 e R$ 80,00
5
Acima de R$ 80,00
6
Aposentadoria / Pensão
Não têm
1
Até R$ 260,00 (1 Salário Mínimo)
2
Entre R$ 261,00 e R$ 520,00 (1 a 2
SM)
3
Entre R$ 261,00 e R$ 520,00 (1 a 2
SM)
4
Acima de R$ 780,00 (de 3 SM)
5
Renda
Familiar Total
Até 1 Salário Mínimo (R$ 260,00)
1
Entre 1 e 2 SM 2
Entre 2 e 3 SM 3
Entre 3 e 4 SM 4
Acima de 4 SM
5
A obtenção do IQV é proveniente da média
da somatória da contribuição de cada indicador,
calculada a partir da seguinte fórmula:
n
1j
ii
m
1i
m
1i
ijij
max
P
max
E
PE
n
1
Cs
(1)
Para quantificar o índice de qualidade de vida utilizou-se a fórmula do IQV, dada
por:
k
1s
s
C
k
1
IQV
Sendo k = 1, ..., 8
(2)
Onde:
Cs
=
Contribuição do
s–
ésimo
indicador
s
= Número de ind
icadores (s = 1, ..., k)
j
= Número de artesãs (
j
= 1, ..., n)
i
= Número de variáveis (
i
= 1, ..., m)
ij
= Escore da
i-
ésima
variável obtida pela
j-
ésima
artesã
ij
P
=
Peso da
i-
ésima
variável definido pela j-
ésima
artesã
i
max
E
= Escore máximo da
i-
ésima
variável
i
max
P
= Peso máximo da
i-
ésima
variável
De acordo com Mendes Segundo (1998), o IQV pode ser avaliado em:
excelente, bom, regular ou ruim; e a mensuração do nível de satisfação do entrevistado em
relação às atuais condições de cada variável pode ser definida como:
Baixa satisfação .........................
Média satisfação.........................
Alta satisfação .............
..............
1
2
3
De acordo com Leroy (2002), o índice ideal de Qualidade de Vida de uma população ou
comunidade é verificado quando esta alcança o nível de satisfação máxima em todos os desejos e anseios
indispensáveis ao desenvolvimento do homem em sociedade, e é entendido como um estado atual de condições
de vida e não como um estado esperado. Para Almeida, (2002), a satisfação plena de determinada comunidade
está diretamente ligada à qualidade e quantidade dos bens e serviços disponíveis e/ou consumidos no meio em
que vive, embora a conceituação do ideal de qualidade de vida seja um tanto quanto subjetiva. O paradigma do
desenvolvimento aborda, dentre outras questões, que as necessidades humanas materiais e não materiais são
relativas, assim como tam
bém conhecer o que é ideal para cada grupo estudado.
Utilizando as variáveis acima especificadas, foram calculados os índices de Qualidade de Vida e de
Desenvolvimento Humano das comunidades estudadas. A diferença entre eles está na utilização das variáve
is.
Para o cálculo do Índice de Qualidade de Vida foram utilizadas todas elas, enquanto que para determinar o Índice
de Desenvolvimento Humano, foram utilizadas apenas as variáveis relacionadas aos indicadores de Renda,
Educação e Longevidade.
A metodologi
a a ser utilizada para a
construção do IDH da localidade adotou as adaptações
sugeridas pela FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO/IPEA/IBGE (2003), ao IDH oficial.
Procurando manter a fidelidade aos princípios do IDH e
garantir sua comparabilidade, o PIB per capita foi
substituído pela renda familiar per capita e as taxas de
alfabetização de adultos e de matrícula pela freqüência à
escola. Considerando as diferenças nas unidades dos
indicadores, fez
-
se necessário reduzi
-
los a uma escala
comum para comparação e agregação.
Este processo
consiste em, a partir dos indicadores de Renda,
Educação e Longevidade, calcular o IDH através da
média simples da contribuição desses indicadores, aos
quais foram atribuídos pesos iguais, de acordo com a
metodologia adotada na pesquisa, con
forme a equação
(3).
k
1s
s
C
k
1
IDH
Sendo k = 1, ..., 3
(3)
3.3.3 Análise qualitativa
A análise qualitativa enfoca os aspectos referentes à identidade cultural através da imagem da
mulher bordadeira e de seu papel nas manifestações culturais associadas ao artesanato. Especificamente
procurou
-se explorar o papel da mulher no processo de produção (inspiração, tipos, formas, quantidade e
destino), qualificação e geração de renda financeira obtida pela sua participação.
4
ANÁLISE DOS RESULTADOS
O desenvolvimento é um processo que resulta da transformação das
condições históricas e de vida de uma sociedade em seu conjunto. (LEMOS,
2002, p.13).
4.1 Perfil socioeconômico e cultural das famílias estudadas no município de Itap
ajé
-
CE.
Pretende
-se aqui apresentar as características pessoais tanto da entrevistada quanto da sua família
tais como idade, sexo, grau de instrução e tamanho e composição da família. Convém salientar que foram
entrevistados homens e mulheres mas, devido a representatividade feminina ser bem superior (90%), a
apresentação será feita com a denominação ‘entrevistada’.
4.1.1 Idade
Conforme citado anteriormente, as informações contidas nessa seção referem-se inicialmente aos
dados relativos à idade, seja ela da entrevistada ou da família. A TABELA 2 e Figura 2 mostram que 50% das
entrevistadas (do total de 40, 36 são mulheres e 4 são homens) têm idade entre 21 e 40 anos. De acordo com o
IBGE (2003), considera-se idade economicamente ativa, o intervalo que compreende a partir dos dez anos de
vida até aos sessenta. Portanto, observou-se mais minuciosamente as pessoas que estão com idade a partir de dez
anos, uma vez que em muitas famílias até as crianças participam da atividade artesanal, muitas vezes até por
nece
ssidade de sobrevivência imediata.
TABELA 2
FREQÜÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA DA
IDADE DA ENTREVISTADA
Discriminação
Freqüência
Absoluta
Freqüência Relativa
(%)
Mulheres
Homens
< 20 anos
3
7.5
2
5,5%
1
25%
De 21 a 40 anos
20
50
18
50%
2
50%
De 41 a 60 anos
13
32.5
12
33,3%
1
25%
. > 60 anos
4
10
4
11,2%
0 0
Total
40
100
36
100%
4
100%
FONTE: Dados da pesquisa.
50%
32,5%
10%
7,5%
< 20 anos
De 21 a 40 anos
De 41 a 60 anos
> 60 anos
FIGURA 2
DISTRIBUIÇÃO DAS BORDADEIRAS SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA
FONTE: Dados da Pesq
uisa
As Figuras 3 e 4 mostram crianças que, entre os estudos e as brincadeiras, trabalham em alguma
das etapas da produção do bordado.
FIGURA 3
GAROTOS APARANDO LINHAS
FIGURA 4
GAROTA PAROU A TAREFA ESCOLAR PARA APARAR LINHAS
Convém ressaltar que o fator idade tem grande importância quando se relaciona à atividade
artesanal
uma vez que a arte passa de geração em geração e, principalmente quando essa população é por
demais jovem como visto nos gráficos a seguir. O contingente verificado de pessoas abaixo de vinte anos reflete
negativamente nas condições de vida da família, pois, segundo Monte (1999), um maior número de pessoas em
idade improdutiva aumenta os encargos das pessoas que trabalham e esse tipo de estrutura leva a família à
condição de
pobreza.
Em relação à distribuição da idade, dentre as 166 pessoas que formam as 40 famílias pesquisadas,
verifica
-se o resultado demonstrado na Figura 5 e na TABELA 3. Observa-se que quase 80% (79,6%) dessa
população concentram-se em idade inferior a 40 anos e, sendo todos envolvidos com a atividade artesanal. Este
fato revela que a população é jovem o que leva a crer que o hábito de bordar vai perdurar por diversas gerações,
podendo significar potencialidade de crescimento da atividade. Durante as observações, verificou-se que grande
parcela das crianças trabalha na limpeza das peças, ou seja, na etapa que compreende à apara de pontas de linha.
36,30%
15%
5,40%
27,7%
15,6%
Menor de 15 anos de idade
Entre 16 e 30 anos de idade
Entre 31 e 40 anos de idade
Entre 41 e 60 anos de idade
Acima de 60 anos de idade
FIGURA 5
DISTRIBUIÇÃO DOS MEMBROS NAS FAMÍLIAS DAS BORDADEIRAS
SEGUNDO A FAIXA ETÁ
RIA
FONTE: Dados da Pesquisa
TABELA 3
FREQÜÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA
DA IDADE DOS JOVENS
DISCRIMINAÇÃO
FREQÜÊNCIA
ABSOLUTA
FREQÜÊNCIA
RELATIVA (%)
< 10 anos de idade
30
38
De 10 a 15 anos de idade
29
36
De 16 a 20 anos de
idade
21
26
Total
80
100
Fonte: Dados da Pesquisa
4.1.2 Sexo
Ser maioria mulheres não corresponde apenas às entrevistadas. Verificou-se, durante as entrevistas
e observações, que os homens ainda são minoria na atividade artesanal, entretanto, os companheiros e os f
ilhos
vêm paulatinamente aumentando sua participação. A seqüência da produção do bordado corresponde à criação,
risco do desenho, bordado (à mão ou à máquina), separação das peças, lavagem, engomagem, passadoria e apara
de pontas de linha; e, nessa seqüência, a participação da mão-
de
-obra masculina não foi encontrada no
processo de criação.
A Figura 6 demonstra algumas fases da produção do bordado: o risco sendo passado para o tecido,
o tecido riscado e em seguida sendo bordado, a feitura do acabamento da borda (cordão), recortando a peça,
lavando, estendendo para secar e passando a peça.
O bordado é uma atividade historicamente feminina, mas que, aos poucos, a participação
masculina vem se tornando crescente. Nos gráficos a seguir percebe-se a presença do homem na atividade
artesanal. Das pessoas entrevistadas, apenas quatro foram homens, sendo dois chefes de família e dois rapazes
jovens solteiros, correspondendo a apenas dez por cento das entrevistadas (Figura 7). Verificou-
se
in loco
homens bordando, lavando ou fazendo outras atividades pertinentes ao bordado. Na população pesquisada,
encontramos 54,8% mulheres e 45,2% homens, resultado não muito diferenciado do apresentado no Censo A
nual
de 2003 realizado pelos Agentes de Saúde Municipal, onde informa que Itapajé possui 41.093 habitantes
distribuídos na Zona Urbana 27.459 (66,8%) e Zona Rural 13.634 (33,2%), sendo 20.561 mulheres (50,03%) e
20.532 homens (49,96%).
90%
10%
FEMININO
MASCULINO
FIGURA 7
DISTRIBUIÇÃO DAS BO
RDADEIRAS SEGUNDO O GÊNERO
FONTE: Dados da Pesquisa
Na sub seção Renda será verificada a participação que as famílias têm nas atividades
agropecuárias, e se de fato está ocorrendo uma redefinição das ocupações tradicionais.
Com base nos dados coletados, verificou-se que 62% das 166 pessoas que compõem as famílias
estudadas desenvolvem alguma etapa na confecção das peças artesanais com bordado. Desse percentual, 70% são
mulheres e 30%, homens, conforme a Figura 8.
19%
38%
44%
MULHER
HOMEM
PESSOAS NÃO ENVOLVIDAS
FIGURA 8 PARTICIPAÇÃO DOS MEMBROS DAS FAMÍLIAS NA ATIVIDADE DO BORDADO, POR
SEXO
FONTE: Dados da Pesquisa
Além da atividade artesanal as mulheres são as principais responsáveis por aquelas ditas
domésticas e que culturalmente são desempenhadas pela mulher, seja ela mãe ou filha. Conforme os dados
coletados, observados na TABELA 4, as entrevistadas se dividem entre o bordado e tarefas como cozinhar,
lavar/passar, cuidar da casa, das crianças e demais familiares além de, no período invernoso, ajudar na
agricultura. Algumas delas bordam de dez a quatorze horas por dia mas esse fato não as impede de,
paralelamente, desenvolver outras atividades.
Adicionalmente às tarefas descritas anteriormente algumas entrevistadas são professoras, zeladoras
e estudantes. Percebe
-
se, a
inda, que a maior concentração das entrevistadas (45%) borda em média oito horas por
dia sem deixar de realizar outros afazeres o que representa uma sobrecarga. Nesse aspecto, Bruschini (1990), fala
sobre compreender a condição feminina entre o produtivo e o reprodutivo. Como, no cotidiano, a mulher
acumula e concilia estas duas funções: “mesmo quando não tem ocupação remunerada, a mulher trabalha e
muito, pois consome grande parte do seu tempo na produção de valores de uso e/ou na prestação de serviços, na
unidade doméstica. Além disso, ao assumir outros compromissos como o trabalho fora do lar, continuam
encarregadas do desempenho das primeiras, o que as leva a estender o tempo dedicado ao trabalho e a ficar
sobrecarregadas com uma ‘dupla jornada’” (BRUSCH
INI, 1990, p. 42).
TABELA 4
DISTRIBUIÇÃO DE HORAS/DIA TRABALHADAS
PELAS ENTREVISTADAS
Bordado
Outras Atividades
Freqüência Absoluta
Freqüência Relativa
(%)
Freqüência Absoluta
Freqüência Relativa
(%)
0 horas
5
12,5
Até 2 horas
12
30
Até 4
horas
7
17,5
12
30
Até 6 horas
7
17,5
4
10
Até 8 horas
18
45
3
7,5
Até 10 horas
3
7,5
1
2,5
Até 12 horas
3
7,5
1
2,5
Até 14 horas
2 5 2 5
TOTA
L
40
100
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
... Rocas, fusos, teares, jogos de bilros, assim como agulheiros
e máquinas de
costura, referenciam fragmentos dessa dimensão obscurecida da dimensão
humana à qual encontra-se atrelada a memória construída em torno das
mulheres. São nossas velhas conhecidas as imagens literárias e pictóricas de
figuras femininas debruç
adas sobre chumaços de algodão, na lida de preparar
meadas e fios, dividindo o olhar ao mesmo tempo entre a roca e as crianças a
seu redor. (OLIVEIRA, 1999, p.193).
De acordo com as observações realizadas, existe grande diferença entre a dedicação feminina e a
masculina às tarefas domésticas sendo que em apenas duas famílias (5%) participação intensiva dos homens
nestas tarefas. Em outras quatro (10%) os homens “ajudam”, pois não as consideram como sua obrigação, e,
quando a mãe tem dedicação maior ao bo
rdado, essas tarefas são transferidas para as filhas.
Convém ressaltar que nesses lares ocorrem simultaneamente relações afetivas e de trabalho, que se
entrelaçam e têm geralmente no centro, a dona de casa, a encarregada do conforto, saúde e bem-
estar de
todos os
membros de seu domicílio.
É o labor de corpos e mãos que garante a continuidade do processo vital e a
sobrevivência da espécie. Incessante e diário, o labor manifesta-se na
preparação dos alimentos, na manutenção da limpeza dos cômodos,
utensílio
s e roupas, na reprodução e no cuidado metódico dos filhos, no
acompanhamento sem fim dos ciclos naturais do metabolismo dos membros
da família e no repetitivo vai-e-vem dos dedos que costuram, bordam e
remendam ou então produzem o fio e o transformam em rendas e tecidos
para criar vestimentas. (OLIVEIRA,
1999,
p.195).
A citação de Oliveira é uma alusão à sociedade do século XVII onde o papel feminino ‘natural’
podia ser prolongado por ofícios compatíveis como de costureira ou de modista, assim como as prof
issões
ligadas à alimentação. A realidade observada no município de Itapajé – que não é único –, reflete ainda a cultura
da sociedade brasileira de séculos passados, da família patriarcal, quando o trabalho feminino mais
representativo era a costura que tinha nítida identificação com a feminilidade mas, ao homem, eram associados o
controle financeiro, o trabalho produtivo, as ciências e a escrita em geral. Considerando as mudanças e
alterações históricas da sociedade ainda perdura nas famílias resquícios d
essa cultura nos hábitos e costumes.
Para Oliveira (1999), mesmo com todos os movimentos feministas e avanços no comportamento
da mulher existe arraigadamente a perduração da tradição machista e a repetição de antigos hábitos. Em
diferentes sociedades essa
realidade é encontrada e sem perspectivas de grandes melhorias.
4.1.3 Grau de instrução
A educação é fator muito importante na construção moral e ética das pessoas pois, através dela,
renovam
-se os valores e as atitudes, os conhecimentos e as práticas de pertença à terra levando à recriação do
meio. Essa mudança pode ser exemplificada pela busca de qualificação na atividade artesanal uma vez que as
condições naturais adversas têm contribuído para certo distanciamento da agricultura embora as pessoas este
jam
inseridas no meio rural. A qualificação ora exposta, está mais detalhada na seção 4.4, quando se fala sobre o
Programa de Revitalização do Artesanato de Itapajé. Assim, o nível de instrução e o acesso à educação de uma
população refletem
-
se na qualidad
e de vida, na estrutura doméstica e, de certa forma, no consumo, seus hábitos e
costumes.
A definição e implantação de uma política pública de educação no campo para o campo, respeitaria
esse local como espaço de vida uma vez que este é ao mesmo tempo pro
duto e produtor de cultura, um espaço de
criação do novo e do criativo e não deve ser tomado como um local de atraso, da não-cultura. Nessa dessa
perspectiva, dentro do Plano Diretor para o Desenvolvimento Urbano, a Prefeitura de Itapajé implantou o projet
o
Itapajé Verde & Saudável que tem como base a educação para o desenvolvimento, uma política educacional
como suporte para o desenvolvimento econômico sustentável com justiça social.
A Figura 9 mostra os resultados referentes à freqüência das entrevistadas à escola. Verifica-se que
apenas 3% nunca freqüentaram a escola e que uma participação significativa daqueles que a freqüentaram
(84%).
3%
84%
13%
Nunca frequentou
Frequenta
Frequentou
FIGURA 9
FREQÜÊNCIA ESCOLAR DAS BORDADEIRAS
FONTE: Dados da Pesquisa
Infelizmente o ‘freqüentou’ não signifi
ca necessariamente que a pessoa concluiu os estudos
mas também, que os interrompeu. Nesse valor (84%) estão indivíduos desde uma pequena freqüência à
escola até à conclusão do ensino médio. Entre as que concluíram o ensino médio, algumas pararam por
falta
de possibilidades de continuar para o ensino superior.
No entanto, essa realidade não é exclusiva do município: considerando os dados oficiais do
país, IBGE (2003), a taxa de analfabetismo da população adulta na zona urbana é de 10,3%, enquanto na
zona ru
ral essa taxa é de 29,8%. O grau de instrução das entrevistadas é demonstrado na Figura 10, no
qual observa
-
se que a maior concentração ocorre no pior nível, isto é, de analfabeto até fundamental
incompleto (54% das entrevistadas têm, no máximo, o ensino f
undamental incompleto), seguido até o
ensino médio incompleto (20%); verifica
-
se, ainda, que 43% das entrevistadas têm entre o ensino
fundamental ao ensino médio completo e, algumas vezes, o nível técnico. A Figura 11 mostra as diversas
causas identificada
s para a ocorrência dessa situação.
FIGURA 10
DISTRIBUIÇÃO DAS BORDADEIRAS SEGUNDO A ESCOLARIDADE
FONTE: Dados da Pesquisa
Verifica
-se na TABELA 5 que a maior parcela (35%) dos chefes das famílias
das comunidades pesquisadas no município de Itapajé pouco freqüentaram a escola, mas
essa informação vem seguida de que 27,5% teve de 5 a 8 anos de estudo, valor superior às
médias nacional, regional e local. Um fato observado e que merece relevância é que, dos
2,5% que têm de 12 a 16 anos de estudo, 83,33% são mulheres e dos que têm menos de 1
ano de estudo, 92,85% são homens. Esse perfil favorável às mulheres demonstra uma
reversão das ocorrências no início do século XX, quando a educação formal era
primordialmente para os filhos homens.
Em relação aos anos de estudo, fez-se um comparativo dos valores
encontrados na pesquisa e os apresentados pelos dados do IBGE (2002), sendo visto a
seguir:
TABELA 5
ANOS DE ESTUDO DA PESSOA
RESPONSÁVEL PELO DOMICÍLIO (%)
Discriminaçã
o
Brasil
(*)
Nordeste
(*)
Ceará
(*)
Itapajé
(
*)
Comunidades
(**)
Sem instrução
e menos de 1
16,17
31,13
32,14
40,40
35,00
20%
54%
23%
3%
Analfabeto, alfabetizado, ensino fundamental
incompleto
Ensino fundamental completo, ensino médio
incompleto
Ensino médio completo, Nível técnico
Tempo de avançar, Magister ou Superior
Completo/Incompleto
ano
De 1 a 4 anos
36,39
35,09
33,75
5,01
20,00
De 5 a 8 anos
21,98
15,84
17,46
16,21
27,50
De 9 a 11
anos
16,32
12,91
11,59
6,31
15,00
De 12 a 16
anos
7,94
4,31
4,23
1,24
2,50
17 anos ou
mais
1,00
0,54
0,52
0,17
0,0
Não
determinados
0,20
0,18
0,31
0,66
0,0
Total
100,0
0
100,00
100,0
0
100,00
100,00
FONTE: (*) IBGE, (2002); (**) Dados da Pesquisa
A Figura 11 ilustra os motivos pelos quais a entrevistada não freqüenta, não freqüentou ou deixou
de ir à escola. Diversos motivos levaram essas pessoas a não atingirem o nível de instrução desejado por si ou
por seus pais. Aquelas de maior idade identificam como causa maior, as dificuldades enfrentadas nos locais onde
residiam quando criança, fosse a distância ou a inexistência de escolas. É um resultado triste quando se sabe que
essa comunidade é relativamente jovem: grande maioria tem até quarenta anos de idade. Observa-se um fato
curioso quando se que 30% interromperam os estudos para casar, ou ter filhos ou mesmo por desinteresse, ou
seja, tiveram a oportunidade de continuar estudando, mas optaram por não fazê
-
lo.
30%
23%
15%
32%
Escola longe / Falta de
escola
Para trabalhar / trabalho era mais
inportante
Para casar / Ter filhos / Desinteresse em
estudar
Terminou o EM / ficou sem perspectiva / foi
trabalhar
FIGURA 11
MOTIVOS PELOS QUAIS A ENTREVISTADA NÃO FREQÜENTOU OU PAROU DE
FREQÜENTAR
A ESCOLA
FONTE: Dados da Pesquisa
Diante dos fatos relativos à educação, questiona-se: a educação pode ser
rotulada de inconclusiva, tendo em vista que a difusão de idéias e práticas educacionais é
um campo de pesquisa desordenado, uma vez que é um processo dinâmico e contínuo
onde os sujeitos têm comportamento, aceitabilidade e reações diferentes? A obtenção de
resultados efetivos é conseguida com o passar dos anos, como conseqüência da ação e
reação das pessoas envolvidas. Amplo é o tema, e grande é o espaço de exploração acerca
do mesmo.
4.1.4 Tamanho e composição da unidade familiar
A quantidade de pessoas por unidade familiar encontrada nas
comunidades estudadas varia de 1 a 8, sendo sua constituição média de 4,15
pessoas por família; conforme o IBGE, o tamanho da família brasileira diminuiu em
todas as regiões: de 4,3 pessoas por família em 1981, chegou a 3,3 pessoas em
2001. Pode-se atribuir diversos fatores que contribuíram para essa ocorrência, tais
como a utilização dos métodos contraceptivos, o a
dvento da mulher trabalhar fora de
casa além do aspecto financeiro. Ainda conforme o IBGE, o número médio de filhos
por família é de 1,6 filhos enquanto o verificado na pesquisa foi de 3,3.
Outro dado relevante a ser considerado é a média de moradores por
domicílio quanto às áreas urbana e rural. Enquanto a média na área urbana no Brasil
é de 3,3 a rural é de 4,1, no Nordeste corresponde a 4,3 e 4,87, respectivamente. O
Ceará apresenta valores iguais a 4,08 e 4,5, na mesma ordem. Percebe-se que nas
áreas r
urais, a média de pessoas por família é sempre maior que nas áreas urbanas.
(IBGE, 2003).
De acordo com alguns depoimentos, podemos retirar a idéia que as
mulheres têm sobre a restrição
do número de filhos:
As coisas tão muito difíceis, não podemos mais ter muitos filho porque vai
passar fome. A gente quase passa, pensou mais menino? (Antonia
Célia, 26, 1 filha de 4 anos, comunidade Padre Lima).
A gente luta para dar o melhor pros filhos, que eles tenham a educação que
a gente não teve. São muitos mas a gente batalha muito mas não perde a
esperança.
(Evilásio Pacheco, 41, 5 filhos, de 1 a 17 anos, comunidade Padre
Lima).
trabalho, é difícil criar, mas... sabe como é... a gente acaba tendo.
Mas eu liguei, E ainda tem minha sobrinha que nós cri
a.
(Regilândia, 28,
3 filhos de 6 a 9 anos, cria a sobrinha de 3 anos, comunidade Camará).
De uma maneira geral, a saída da mulher do ambiente doméstico para
trabalhar é um dos fatores que favoreceram para que isso ocorresse, mas
não
é o
que acontece nas famílias pesquisadas. É possível afirmar que nestas, a presença
da mulher é constante dentro de casa (98%) uma vez que elas desenvolvem sua
atividade econômica dentro de casa.
Conforme Silva (1998), o crescimento relativo da população passou a decrescer a partir da década
de 60 ao mesmo tempo que a taxa de fecundidade começou a diminuir, notadamente nas regiões Sul e Sudeste.
Ainda segundo Silva, a redução da taxa de fecundidade deve-se principalmente aos seguintes fatores: políticas
fragmentadas de planejamento familiar e o acelerado processo de urbanização vivenciado no país. Não podendo
deixar de citar os aspectos de saúde e educação que têm relação direta com o nível de conscientização, com a
decisão sobre a livre escolha de dignidade da pessoa humana e a paternidade responsável.
A Figura 12 nos mostra que 57% das pessoas são casadas – embora que em dois casos as
entrevistadas falassem ‘casadas’ na realidade estavam em fase de separação. A opção casada foi aceita
independente se é com registro oficial ou
união consensual, tendo sempre em vista a relação marido e mulher.
57%
23%
10%
10%
Casada
Viúva
Solteira
Separada
FIGURA 12
DISTRIBUIÇÃO DAS BORDADEIRAS SEGUNDO O ESTADO CIVIL
FONTE: Dados da Pesquisa
De acordo com o IBGE (2003), em 2002 um quarto dos chefes de família era do
sexo feminino, sendo que no Norte ocorreu a maior taxa (28,7%) e a menor no Sul (23,8%).
As famílias pesquisadas em Itapajé apresentaram um índice pouco maior que a média
nacional: 35% e maior também que a do Ceará, que corresponde a 25,1% (Figura 13)
.
Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais 2004, feita a partir de dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD) para 2003, os casos de famílias com mulheres como a
pessoa responsável passaram de 22,3% para 28,8% entre 1993 e 2003. Estes dados estão
muito próximos aos obtidos no levantamento feito pelo Dieese, em março de 2004, o qual
informa que nos últimos 10 anos o percentual de mulheres chefiando a casa passou de 20%
para cerca de 28% ou 30%.
Desde a década de 80 vem crescendo continuamente a proporção de mulheres
como pessoa de referência da família. Para o IBGE, o aumento da responsabilidade feminina
nas famílias "está relacionado com o crescimento da importância socioeconômica do papel da
mulher e como ela se insere no contexto familiar". O instituto considera que a indicação de
uma pessoa como responsável ou de referência na família é feita com base na autoridade
moral ou financeira.
62%
38%
Mulher
Homem
FIGURA 13
DISTRIBUIÇÃO DAS PESSOAS CHEFES DE FAMÍLIA
FONTE: Dados da Pesquisa
O estudo de Guimarãe
s (2000), faz uma consideração interessante a respeito da presença da mulher
como chefe de família. Segundo a autora, na atual sociedade é crescente o fato da mulher chefe de família, onde
ela é pai e mãe, tendo que trabalhar fora de casa para prover ou complementar o sustento do lar sem deixar a
dedicação afetiva para com os filhos.
Com base nos dados obtidos, verifica
-
se ainda, que 57,5% das famílias têm chefes brancos e 42,5%
pardos; quando homens, têm-se 50% das duas etnias, quando mulheres, são 71,4% brancas e 28,6% pardas. Esse
fato é bem diferente do apresentado pelo IBGE, que aponta que na maioria das unidades da federação em 2002,
predominam entre as chefes de família mulheres as pretas e pardas.
Embora o termo ‘moreno’ seja o mais utilizado, não faz parte da classificação, portanto, usou-se o
termo ‘pardo’. Essa classificação de cor ou raça é a utilizada pelo IBGE
q
ue tem, atualmente, cinco categorias:
branca, preta, parda, amarela e indígena – e vista no artigo de Osório (2003), no qual são abordadas a
classificação e a identificação racial. A diferença entre estas é que a classificação consiste no conjunto de
categorias que os sujeitos são enquadrados, enquanto que a identificação é a forma pela qual se define a pertença
dos indivíduos nos grupos raciais, ou seja, a auto-atribuição. No caso em estudo, foi feita a classificação, isto é,
definiu
-se previamente a classificação em branca, parda e preta e, no ato da entrevista prevaleceu o ponto de
vista do pesquisador, ou seja, foi a cor observada e não a auto-atribuída. Ainda de acordo com Osório (2003),
esse aspecto é sempre questionável pois o limite fronteiriço das cores é relativa para cada entrevistador,
entretanto, como a pesquisa foi realizada apenas por uma pessoa, o critério foi o mesmo.
Convém salientar que não existe uma classificação internacional para raças ou para etnias. Nos
dife
rentes países, conceitos como nação, povo, etnia, tribo e raça recebem definições e conteúdos locais, pois as
bases importantes para a delimitação das fronteiras entre grupos sociais são produzidas pela história de cada
sociedade. A classificação racial br
asileira é única e reflete em grande grau a própria história nacional.
4.2 Análise da qualidade de vida e do desenvolvimento humano das famílias das bordadeiras de Itapajé
CE
Se o progresso é conquistado com base na disparidade entre grupos sociais,
étn
icos e/ou regionais, onde uns progridem e outros ficam para trás, o
verdadeiro progresso aquele em que as pessoas realmente crescem ainda
está por vir. (A autora).
Com o objetivo de verificar os índices de qualidade de vida e de desenvolvimento humano das
famílias pesquisadas, procurou-se conhecer os fatores que interferem diretamente em suas condições de vida,
através dos dados coletados em observações e entrevistas. De posse desses dados objetivos e/ou subjetivos
procedeu
-se à construção dos índices de qualidade de vida e de desenvolvimento humano. Acesso à educação,
condições de saúde, condições sanitárias e de moradia, formas de vida e lazer, situação ocupacional, relações de
consumo, expectativa de vida e renda são os indicadores utilizados para a construção dos referidos índices. Vale
ressaltar que os valores apresentados refletem tanto os escores quanto o grau de satisfação de cada entrevistada
em relação aos indicadores em questão.
4.2.1 Acesso à educação
O indicador educação refere-se ao grau de instrução através do ensino formal ministrado pelas
escolas que as entrevistadas tiveram acesso. Os valores absolutos e relativos desse indicador podem ser vistos na
TABELA 6.
TABELA 6
INDICADOR EDUCAÇÃO: VARIÁVEIS
Grau de Instrução
Freqüência
absoluta
Freqüência
Relativa (%)
Analfabeto, alfabetizado, ensino fundamental
incompleto
22
55,0
Ensino fundamental completo, ensino médio
incompleto
8
20,0
Ensino médio completo, nível técnico
9
22,5
Nível Superior
1
2,5
TOTAL
40
100,0
Fonte: Dados da Pesquisa.
Conforme os dados anteriores, 75% das entrevistadas não chegaram a concluir o ensino médio,
sendo, portanto, baixo o seu nível de escolaridade como abordado na seção anterior. Diante desse quadro,
procurou
-
se verificar o nível d
e instrução dos filhos das bordadeiras que pode ser visto na TABELA 7:
TABELA 7
ESCOLARIDADE DOS FILHOS DAS BORDADEIRAS
Discriminação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa
parcial (%)
Freqüência
relativa do
total (%)
Ensino Fundame
ntal (cursando)
46
69,7
53,5
Ensino Médio ou Técnico (cursando)
15
22,72
17,45
Ensino Superior (cursando)
1
1,51
1,16
Não estão cursando
4
6,07
4,65
Na faixa etária
Subtotal
66
100,0
76,76
Ensino Fundam
ental incompleto
8 40
9,30
Ensino Fundamental completo
2
10
2,32
Ensino Médio incompleto
2
10
2,32
Fora da faixa
etária (estão
cursando ou
concluíram)
Ensino Médio completo
8
40
9,30
Subtotal
20
100,0
23,24
Total
86
100,0
FO
NTE: Dados da Pesquisa.
Observa
-se que 93,93% dos filhos que se encontram na faixa etária cursam as séries equivalentes,
apenas 6,07% não estão cursando, e estes resultados são bastante satisfatórios quando comparados às médias
nacionais e regionais
.
Os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira)
- Censo Escolar 2003 -, demonstram que 38,92% das matrículas no Nordeste são de crianças fora da
faixa etária e no Brasil essa realidade corresponde a 27,12% das matrículas, desta forma, ter 23,24% dos
estudantes fora da faixa etária, no meio rural onde a educação é um recurso mais dificilmente disponível às
comunidades, nosso núcleo de estudo apresenta um percentual não tão desfavorável.
Comparando
-
se os resultados e
ntre pais e
filhos, o nível educacional dos filhos é bem superior,
este fato, porém, não reflete no nível de satisfação como
pode ser verificado na TABELA 8.
TABELA 8
INDICADOR EDUCAÇÃO: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
Baixa satisfação
24
60,0
Média satisfação
7
17,5
Alta satisfação
9
22,5
Total
40
100,0
FONTE: Dados da Pesquisa.
De acordo com as respostas das bordadeiras, 60% responderam que tinham baixa ou nenhuma
satisfação, às vezes referindo-se às atuais condições, noutras, às condições que tiveram no período escolar. Esse
nível estava, em sua grande maioria, associado ao fato de a entrevistada ter grau de instrução muito baixo como
analfabeta ou ter baixíssima capacidade de leitura, escrita e operações de matemática. Algumas vezes relataram
sobre as dificuldades de escolas nas proximidades da residência (no caso do Barateiro) e em outras, sobre a não
oferta de escolas de nível superior pois o município não dispõe de faculdade e, se os filhos forem cursar o
terceiro grau, têm que se deslocar para o município de Sobral o que para muitos é impossível pelo fator
econômico.
Nota
-se que, mesmo havendo apenas uma entrevistada que concluiu o nível superior, 22,5% têm
satisfação máxima em relação à educação em sua casa. Este fato pode estar associado à realização dos pais em
fornecer para os filhos a educação que não teve. Conforme observado no item anterior, a população é bastante
jovem (64% têm menos de trinta anos de idade, sendo 36,3% menores de 16 anos) o que significa ter muitas
pessoas em idade escolar e que estão dentro da faixa, portanto, motivo para a satisfação dos genitores.
Conforme a metodologia utilizada, os pontos e escores obtidos serão utilizados para o cálculo do
indicador educação. Este, é um dos componentes dos índices de qualidade de vida e desenvolvimento humano
que será demonstrado mais à frente na composição desses índices.
4.2.2 Condições de saúde
Neste item foram identificados a existência e periodicidade de médico ou agente de saúde, a
ex
istência de posto médico, tipos de remédio mais utilizados, nível de vacinação e ocorrências de doenças mais
comuns.
De uma maneira geral, nota-se na TABELA 9 que a comunidade é bem assistida com serviços de
enfermagem (95%) e razoavelmente bem por médico (75%), pelo menos no atendimento clínico geral pois se
precisar de especialistas as pessoas têm que ir à sede do município ou à capital.
TABELA 9
INDICADOR SAÚDE: VARIÁVEIS
Discriminação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa (%)
Posto de saúde c/ primeiros socorros
Não
2 5
Sim
38
95
Presença de médico / agente de saúde
Não
2 5
Sim
38
95
Freqüência do médico
Inexistente
2 5
Mensal
4
10
Semanal
30
75
Diária
4
10
Tipo de remédio mais utilizado
Caseiro
19
47,5
De farmácia e
caseiro
14
35
De farmácia
7
17,5
Ocorrência de vacinação (*)
Grupo I
1
2,5
Grupo II
0 0
Grupo III
39
97,5
Incidência de doenças nos últimos 5 anos (**)
Grupo I
26
65
Grupo II
6
15
Grupo III
1
2,5
Grupo IV
4
10
Grupo V
10
25
(*
)
Grupo I
Antipólio/varíola/tríplice
Grupo II
As anteriores mais sarampo/BCG
Grupo III
As anteriores mais MMR/meningite/hepatite/gripe
(**)
Grupo I
Diarréia/verminoses
Grupo II
Catapora/papeira/sarampo/rubéola
Grupo III
Pneumonia/tuberculose
Gru
po IV
Hipertensão/doenças cardíacas, renais e reumáticas
Grupo V
Nenhuma doença
FONTE: Dados da Pesquisa.
Em relação à utilização de medicamentos verifica-se que 82,5% usam
remédios caseiro e de farmácia e 47,5 usam somente remédio caseiro (fitoterápi
cos),
e apenas 17,5% usam apenas remédios alopáticos (de farmácia). Estes resultados
retratam dois aspectos: os remédios caseiros são de mais fácil acesso, passam de
geração em geração, é a cultura popular que dita as regras e o outro é que os
remédios alo
páticos custam caro e nem sempre estão disponíveis gratuitamente.
É considerado fitoterápico toda preparação farmacêutica (extratos, tinturas,
pomadas e cápsulas) que utiliza como matéria-prima partes de plantas, como folhas, caules,
raízes, flores e sementes, com conhecido efeito farmacológico. O uso adequado dessas
preparações traz uma série de benefícios para a saúde humana ajudando no combate a doenças
infecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgicas e traumas diversos, entre outros.
Associado às suas atividades terapêuticas está o seu baixo custo; a grande disponibilidade de
matéria
-prima (plantas), principalmente nos países tropicais; e a cultura relacionada ao seu
uso. (MATOS, 2000).
De acordo com Ferreira (1988), alopatia significa “Sistema terapêutico que
consiste em tratar as doenças por meios contrários a elas, procurando conhecer suas causas e
combatê
-las. [Termo introduzido por Hahnemann (v.
homeopatia
) em cerca de 1850, com
referência a qualquer outro método de cura que não o homeopático, e que, posteriormente,
passou a abranger quaisquer outras práticas da medicina exercidas por médicos graduados em
escolas não homeopáticas. Cf.
homeopatia
(1) e
isopatia
.]”.
Dois aspectos que devem ser observados para se caracterizar o nível de assistênc
ia
na saúde são: o grau de vacinação das crianças e o nível de ocorrência de doenças. Para
apreender esses dados, buscou-se conhecer o cartão de vacinação das crianças e obter
informações sobre as doenças. É bastante positivo o fato de que apenas uma criança não
recebeu as vacinas básicas (primárias) que são a antipólio e a tríplice DPT acelular, de
proteção à poliomielite e à difteria, tétano e coqueluche, respectivamente; isto implica que
97,5% da população receberam as devidas vacinas, entretanto, mesmo um caso de não
vacinação, não justificativa diante das contínuas campanhas de vacinação que o governo
vem praticando e, entre elas, há treze anos atua para a erradicação da poliomielite.
Por outro lado, a ocorrência das chamadas “doenças de países e
m
desenvolvimento” existe com elevada incidência, especialmente diarréias e verminoses (65%).
De acordo com a Organiza
çã
o Mundial da Saúde, o principal problema de saú
de
continua sendo o controle das bactérias, vírus e parasitas transmitidos pela á
gua,
esp
ecialmente em países em desenvolvimento. Conforme a TABELA 9 nos últimos
cinco anos ainda ocorreram seis casos de doenças como catapora, rubéola,
sarampo e papeira, contudo, foram de intensidade bastante leve. Acredita-se que
este nível de intensidade seja decorrente do fato de que os acometidos estavam
vacinados. Outra moléstia considerada doença de
pa
í
ses
em desenvolvimento, a
pneumonia acometeu somente uma criança e as outras doenças identificadas
ocorrem mais em pessoas de idade mais avançada como as ca
rdíacas e reumáticas.
Convém ressaltar que das quarenta famílias, 25% não sofreram nenhum tipo de
doenças no último qüinqüênio, além de gripe.
Ainda sobre a variável incidência de doenças nos últimos cinco anos,
observa
-se que os dados referentes mostram uma somatória superior a 100%, pois
às famílias foi dada a opção de responder a mais de um grupo.
Os resultados apresentados na TABELA 10 demonstram que quase metade da população considera
o aspecto saúde muito ruim, portanto, a prestação dos serviços de sa
úde está muito aquém do necessário. Durante
as conversas, percebeu-se que essa insatisfação está mais ligada aos preços dos remédios, que não têm como
adquiri
-
los por valores mais accessíveis, tanto é que apenas 17,5% utilizam apenas remédios de farmácia.
TABELA 10
INDICADOR SAÚDE: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
18
45
Média satisfação
13
32,5
Alta satisfação
9
22,5
Total
40
100,0
FONTE: Dados da Pesquisa
Obter 55% de satisfação de mé
dia a alta no setor de saúde demonstra que as pessoas têm suprido as
necessidades mínimas de assistência médica. Considerando as dificuldades que o serviço público de saúde passa
em todo o país, a realidade apresentada está em nível mais elevado que o gera
l.
4.2.3 Condições sanitárias e de moradia
Quase todas as entrevistas foram realizadas nas casas das entrevistadas, com exceção de duas que
foram feitas no local de trabalho.
Os dados da TABELA 11 mostram os aspectos sanitários e estruturais das residências, onde foram
identificados a situação de posse, tipo de construção, cobertura e piso da casa, fonte de iluminação, destino dado
ao lixo e às fezes, abastecimento e tratamento dado à água, como também o número de cômodos.
TABELA 11
INDICADOR MORADIA: VAR
IÁVEIS
Discriminação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Situação de posse
Alugada
9
22,5
Própria
31
77,5
Tipo de construção
Taipa
3
7,5
Tijolo sem reboco
9
22,5
Tijolo com reboco
28
70
Cobertura da casa
Telha
40
100
Tipo d
e piso
Barro
1
2,5
Cimento
28
70
Cerâmica
11
27,5
Fonte de iluminação
Energia elétrica
40
100
Destino das fezes
Proximidades de plantações
Jogadas no lixo
1
2,5
Fossa séptica
39
97,5
Destino do lixo
Proximidades de plantações e ou
ri
os
6
15
Enterrado / Queimado
7
17,5
Coleta
27
67,5
Abastecimento de água
Sim
40
100
Nenhum / côa
12
30
Filtrada / clorada
26
65
Tratamento dado à água
Purificador
2 5
Até 4 cômodos
9
22,5
5 ou 6 cômodos
12
30
Número de cômodos
Mais de 6 cômodos
19
47,5
FONTE: Dados da Pesquisa.
O nível de moradia das famílias pode ser considerado bom pois, de acordo com os dados acima,
com exceção do destino do lixo, as demais condições encontram-se em nível que atende às necessidades embor
a
tenha sido demonstrado pelas entrevistadas, nível de satisfação variado, conforme a TABELA 12. Considerando
o nível máximo de cada variável percebe-se que 69,25% das residências estão entre as que apresentam as
melhores condições. 100% das famílias desfrutam de energia elétrica, água encanada e têm sua casa coberta com
telha. Estes fatores permitem certo nível de conforto.
Em todas as casas visitadas verificou-se que os serviços que têm cobertura completa são de
iluminação elétrica e de abastecimento d’água. Em relação ao serviço de telefonia, apenas 17,5% das famílias
têm telefone fixo e 7,5%, telefone celular. Muito embora este serviço tenha tido considerável aumento da oferta
em nível nacional além da expressiva expansão da linha móvel celular, o meio rural ainda não o tem em nível de
excelência.
A água consumida nas comunidades pesquisadas é fornecida pelo abastecimento d’água do
município, portanto, água potável, que deve apresentar as características físicas, químicas e microbiológicas
adequadas ao consumo humano. Porém, nem sempre a estação de tratamento faz a retirada completa de matérias
orgânicas, ou seja, é possível que a água não esteja totalmente livre de contaminação logo, cada residência deve
adotar um meio de melhor potabilidade desta água. Entretanto, 30% das famílias não dão nenhum tratamento,
consumindo
-a como obtém ou pelo menos côa. O processo de coar não permite nenhuma prevenção de doenças
uma vez que todos os microorganismos (germes, bactérias, protozoários, etc.) existentes são digeridos pelas
pessoas. Mais um fator que influencia diretamente a incidência das doenças supra citadas. Nota-se que 65% das
famílias utilizam o filtro ou a colocação de cloro, entretanto, diante do número elevado destas doenças,
questiona
-
se se realmente os r
ecursos estão sendo utilizados adequadamente.
O aspecto ‘destino dado ao lixo’ é crítico na comunidade Camará, situada no alto da serra, que não
tem coleta de lixo e as pessoas o colocam nas redondezas, próximo às plantações e/ou rios ou o queimam.
Segundo
o IBGE, 64% dos municípios brasileiros depositam seu lixo de forma inadequada, em locais sem
controle sanitário ou ambiental. Os resíduos sólidos jogados no ambiente além de alterar a paisagem e produzir
mau cheiro, são focos de contaminação. Sua degradação proveniente da exposição ao sol e à chuva, infiltra na
terra, levando à contaminação do solo e das águas subterrâneas. De acordo com o Consumo Sustentável: Manual
de Educação (IDEC, 2002), ao serem decompostos, os materiais orgânicos (restos de alimentos, verduras, etc.)
produzem diversos gases principalmente o metano (CH
4
), um gás tóxico e inflamável que mata a vegetação;
forma
-se, também o dióxido de carbono (CO
2
) que, junto com o metano e outros gases presentes na atmosfera,
contribui para o aquecimento da terra, sem mencionar alguns resíduos domésticos (pilhas, lâmpadas
fluorescentes, produtos de limpeza, etc.) que contêm significativas quantidades de substâncias químicas nocivas
ao meio ambiente.
Todos estes fatores podem estar associados à alta incidência de doenças como a diarréia e a
verminose constatada no item indicador saúde pois o saneamento e a saúde estão intrinsecamente relacionados.
Sabe
-se, ainda, que o lixo atrai moscas e ratos e diversos insetos que, em contato com o ser humano, transm
item
várias doenças como as apresentadas no Quadro a seguir, Figura 14.
Vetores
Formas de transmissão
Enfermidades
Rato e pulgas
Mordida, urina, fezes e picada
Leptospirose
Peste bubônica
Tifo murino
Mosca
Asas, patas, corpo, fezes e saliva
Febre t
ifóide
Cólera
Amebíase
Giardíase
Ascaridíase
Mosquito
Picada
Malária
Febre amarela
Dengue
Leishmaniose
Barata
Asas, patas, corpo e fezes
Febre tifóide
Cólera
Giardíase
Gado e porco
Ingestão de carne contaminada
Teníase
Cisticercose
Cão e gato
Urina e
fezes
Toxoplasmose
FIGURA 14
O LIXO E AS DOENÇAS
FONTE: IDEC, 2002.
Em relação ao destino das fezes 97,5% das casas dispõem de fossa séptica, apenas uma residência
não tem fossa e joga as fezes em sacos nas proximidades de casa. A possibilidade de moscas, mosquitos e outros
seres que poderiam surgir devido a presença destes dejetos está excluída, dificultando a proliferação de doenças,
o que contrapõe a não coleta do lixo na comunidade de Camará, uma vez que nas comunidades Padre Lima,
Barateiro e na S
ede todas as casas têm coleta de lixo.
É importante ressaltar que no ano de 2000, a comunidade católica de Itapajé implantou o Programa
de Apoio e Geração de Emprego e Renda (PAGE), uma empresa sem fins lucrativos hoje é uma cooperativa
de compra e venda de material reciclável (papelão, plástico, ferro, alumínio, cobre e outros que possuem o
símbolo da reciclagem). São 18 pessoas que trabalham na compra, coleta, classificação e venda do material mas
que ainda precisa de maior divulgação, conscientização e adesão da comunidade itapajeense. Dentre as
entrevistadas nenhuma participa desse projeto, por desconhecimento ou por falta de interesse.
O relatório do PNAD (2003), divulgou que entre 2002 e 2003, em todas as regiões brasileiras
foram observadas melhorias na abrangência dos serviços de abastecimento de água, coleta de lixo, iluminação
elétrica e telefonia, embora ainda perdurem diferenças marcantes. A região Sudeste apresenta os melhores
resultados, ficando os do Nordeste no outro extremo, distanciado dos alcançados nas demais regiões.
Com referência ao tamanho das casas, observa-se que a média do número de cômodos das famílias
que está diretamente relacionada com a satisfação das entrevistadas não corresponde à media nacional. De
acordo com o Censo 2000 (IBGE), a média brasileira de domicílios com até quatro cômodos é de 47,05% onde a
maior concentração é nos domicílios com um cômodo, caso não encontrado entre as entrevistadas. A maior
concentração encontrada foi nas casas com cinco ou seis cômodos; independente do tamanho, em todas elas
estão presentes sala, quarto, cozinha e banheiro.
Diante de todos estes fatores, as entrevistadas falaram sobre seu nível de satisfação em relação a
este indicador. Conforme TABELA 13, quase metade demonstrou alto nível de satisfação. Quando relataram
baixo nível este era, quase sempre, associado ao tamanho da casa, que é pequeno em relação ao tamanho da
família, tanto que, para ter nível de satisfação máximo, 98% disseram que gostariam de mais um ou dois quartos.
Con
vém lembrar que a unidade familiar tem média de 4,15 pessoas/família
TABELA 12
INDICADOR
MORADIA: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
12
30
Média satisfação
10
25
Alta satisfação
18
45
Total
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
4.2.4 Formas de vida e lazer
A qualidade de vida das pessoas está bastante associada às horas de lazer, como essas as desfrutam
e aproveitam do que a localidade tem disponível. As administrações públicas muitas vezes aplicam recursos na
construção de quadras de esporte visando a retirada dos jovens da ociosidade levando-os a se envolverem com
atividades esportivas. Este envolvimento favorece ao melhor desenvolvimento físico, evita o sedentarismo e
desvia o jovem de “atrações” como a marginalidade e as drogas.
Neste item foram observadas as seguintes variáveis: importância e valores da família, preferência
de atividades lúdicas, o que tem e o que falta na comunidade para melhorar as
opções de lazer. Algumas questões
são subjetivas mas as opções de resposta foram ordenadas pelo grau de importância designado pelas
entrevistadas. Os resultados dessas variáveis encontram
-
se sistematizados na TABELA 13.
TABELA 13
INDICADOR FORMAS DE VIDA E LAZER: VARIÁVEIS
Discriminação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa (%)
O que representa a família para você
Importante
10
25
Tudo na vida
30
75
O que mais a assusta
Falta de saúde / doenças
15
37,5
Violência / drogas
15
37,5
Fa
lta de trabalho / não poder estudar
10
25
O que é mais importante na vida
Ter trabalho, qualquer que seja / saúde
25
62,5
Ter família e filhos / ter um bom
emprego / ter um bom marido
12
30
Ter tempo para lazer, amigos e
parentes
03
7,5
O que prefere fazer nas horas de
folga
Visitar parentes, amigos / tomar banho
de lagoa, açude
27
67,5
Assistir TV / rádio / ler
10
25
Descansar
03
7,5
O que precisa ser feito na
comunidade para melhorar
Atendimento médico e odontológico /
sa
neamento
19
47,5
Escolas primárias e secundárias /
locais para produção do artesanato
9
22,5
Açude, ponte / melhoria das estradas
7
17,5
Escolas de nível superior
5
12,5
Que divertimento deveria ter na
comunidade
Quadra de esporte / parq
ue infantil
25
62,5
Pólo turístico / praça / teleposto
8
20
Cinema / Clube
7
17,5
FONTE: Dados da Pesquisa.
Os laços familiares ainda são muito fortes nas relações afetivas, conforme a TABELA 13. Em
diversas ocasiões foi presenciado atos de atenção e de preocupação com os filhos, com a harmonia dos membros
da família; entretanto, vê-se certa divergência quando se pergunta o que é mais importante na vida. Quando a
resposta é ter emprego e saúde (opção que apresenta maior percentual) a justificativa é que sem emprego ou
saúde, fica difícil manter a família nas mínimas condições de vida, principalmente a alimentação: todas as
preocupações são direcionadas ao bem-estar da família. Este fato é reforçado quando se questiona o que mais
assusta a entrevistada e 75% se dividem entre a possibilidade da ocorrência de doenças e de envolvimento com
drogas e violência.
Os dados apresentados na TABELA 13 não incluem o bordado como atividade cultural ou de lazer
e isto pode indicar que o bordar não se constitui expressivamente numa atividade lúdica, uma vez que funciona
como meio de sobrevivência. Os resultados desta Tabela mostram que em virtude da ausência de opções para
lazer como cinema, clube, quadra de esportes ou até mesmo de praças, as pessoas têm como maior d
iversão
visitar parentes e amigos e aproveitar os açudes e lagoas da redondeza. Um quarto (25%) das entrevistadas
também gostam de assistir televisão, eletrodoméstico presente quase na totalidade das famílias. Apenas três
pessoas se dedicam à leitura o que reflete o nível cultural , de educação, de formação e o acesso das pessoas aos
livros.
Fazendo um paralelo com as informações das TABELAS 13 e 14, percebe-se que a satisfação das
entrevistadas neste indicador, é muito baixa, podendo ser associada em grande parte pelas deficiências no
atendimento odontológico, pelas poucas opções de lazer e de escolas como também demonstrado em outros
momentos, a carência financeira. Outro aspecto considerado por elas muito forte, foi a questão da (in)segurança
em função de um episódio que ocorreu neste período, o qual compreendeu a chacina de uma família por
elemento conhecido de todos. Este fato abalou a cidade e todas as pessoas se referiam como um indicativo da
evolução da violência na localidade.
TABELA 14
INDICAD
OR
FORMAS DE VIDA E LAZER: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
22
55
Média satisfação
16
40
Alta satisfação
2 5
TOTAL
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
4.2.5 Situação ocupacional
A definição dos papéis do homem e da mulher no âmbito familiar é construído ao longo do tempo
mas que vem sendo redefinido conforme as alterações sociais e econômicas que a sociedade vem se submetendo
e se adequando às circunstâncias e condições de gênero. VIEIRA (2001, p. 75) cita o cientista social Antonio
Negri na seguinte fala:
Trabalhar conjuga-se antes no feminino do que no masculino. Na sociedade
pós
-moderna a mulher se torna modelo para as formas de produção. E que,
portanto, os homens, para produzir, têm de alg
um modo que se feminizar. (..)
A sociedade mais rica e produtiva é a que consegue pôr no trabalho o mais
rico e produtivo intercâmbio social e a mais rica e produtiva geração de
subjetividade. Mas, quem estaria no centro da reprodução social da vida, da
pr
odução de subjetividade, portanto, se não fossem as mulheres? Quem
educa para os valores da vida relacional e afetiva, senão as mães?
Compartilhando desses aportes teóricos observa-se na nossa sociedade que, mesmo ainda havendo
certa resistência, aos poucos os homens vêm ocupando cargos anteriormente de dominância feminina, e vice-
versa. Especificamente no caso em estudo, a atividade de bordar, predominantemente feminina, vem sendo
desenvolvida pelos homens, quer seja marido ou filhos. Alguns fatores são responsáveis por esta ocorrência, tais
como: a necessidade de complementar a renda familiar, a ociosidade gerada pela falta de trabalho ou pela falta de
qualificação (existem oportunidades de trabalho mas as pessoas se encontram desqualificadas), alterando, assim,
os padrões de comportamento e a distribuição de tarefas no âmbito doméstico.
A elevação da expectativa de consumo face à oferta de novos produtos e grande publicidade em
torno dos mesmos, são fatores que influenciaram a redefinição do conceito de necessidades econômicas. Dentro
desta perspectiva, explica-se a busca do homem em participar de outras atividades até então ignoradas ou
subjugadas. Este fato abrange não somente a classe média mas também as classes de renda mais baixa, onde,
embora a sobr
evivência seja a questão crucial, passa a surgir também o anseio de ampliar e diversificar a cesta de
consumo. Como nos diz FREITAS et.al. (1997), chega-se ao ponto de deixar de atender às reais necessidades
para a atender às necessidades criadas.
A TABELA 15 expressa os resultados da situação ocupacional da entrevistada e do seu parceiro.
Nesta, percebe-se em que 17,5% das famílias, os dois trabalham conjuntamente no bordado. Conforme citado
anteriormente, o homem se dedica mais às etapas de produção em que requer mais força como lavar, engomar e
passar, embora também atue na comercialização onde necessita esforço para deslocamento e transporte das peças
produzidas.
TABELA 15
INDICADOR SITUAÇÃO OCUPACIONAL: VARIÁVEIS
Discriminação
Freqüência
absolut
a
Freqüência
relativa (%)
Da (o) entrevistada (o)
Artesã (o)
21
52,5
Artesã (o) e agricultor (a)
8
20
Artesã (o) e funcionário público
9
22,5
Artesã (o) e comerciante
2 5
Do (a) parceiro (a)
Não tem parceiro (a)
12
30
Artesã (o)
4
10
Artesã (o) e agricultor (a)
3
7,5
Agricultor, pedreiro, outros
16
40
Funcionário público, comerciante ou
aposentado
5
12,5
Total
40
100,0
FONTE: Dados da Pesquisa.
Acred
ita
-se que essa divisão ocorra involuntariamente, ou seja, naturalmente, ficando a mulher
com as etapas mais minuciosas e detalhadas como a criação execução do bordado além das tarefas domésticas.
Alguns consultores especializados em gestão empresarial consideram que a mulher tem mais visão crítica e
criativa, percepção mais apurada e a tendência de executar diversas tarefas porque é mais versátil. Tantas
qualidades refletem não somente neste estudo de caso mas na participação da mulher no mercado de trabal
ho que
tem se alterado a taxas crescentes nas décadas mais recentes; sua facilidade e maior versatilidade de trabalhar em
equipe, de relacionamento e de delegar poderes são alguns dos outros motivos considerados para esta elevação.
As atividades desempenhadas pelas entrevistadas permitem grau satisfatório de médio a alto nível
em 62,5% delas, devendo-se considerar que mais da metade tem como atividade principal o artesanato. As
bordadeiras que declararam alto nível de insatisfação justificam que este é decorrente da inexistência de lucro,
das dificuldades de venda e das circunstâncias desfavoráveis pelas quais as famílias passam em relação à
ausência de dinheiro para as necessidades básicas ou pela impossibilidade de adquirir bens considerados
supérfluos.
TA
BELA 16
INDICADOR
SITUAÇÃO OCUPACIONAL: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
15
37,5
Média satisfação
16
40
Alta satisfação
9
22,5
TOTAL
40
100,0
FONTE: Dados da Pesquisa
Situação ocupacional e aquisição de bens estão diretamente ligados uma vez que o segundo
depende primordialmente do primeiro partindo-se do princípio que a ocupação seja rentável financeiramente. Os
argumentos que definem a insatisfação nos faz perceber que o bordado como atividade econômica principal não
o retorno financeiro desejado. Comparou-se este aspecto entre as bordadeiras das comunidades Camará e
Barateiro as quais apresentam os maiores níveis organizacionais. As bordadeiras do Barateiro participam do
Projeto de Revitalização do Artesanato de Itapajé Pra-Ita (que será descrito na seção 4.4), são organizadas e
têm nível de satisfação de médio a alto, enquanto grande maioria das bordadeiras do Camará não querem nem se
interessam pelo Projeto nem por se organizarem, colocando sempre muitas dificuldades em operacionalizar
qualquer organização de grupo.
A conscientização da necessidade de organização de grupo, seja em forma de associação,
cooperativa ou outro, passa pelo conhecimento e amadurecimento da importância do
capital humano.
O cooperativismo surgiu como uma necessidade de reação dos operários perante a exploração dos
patrões, ligada ao desenvolvimento do capitalismo industrial na Europa, em meados do século XVIII. (RIOS,
1987). Ao longo do tempo algumas idéias foram incorporadas, conceitos revistos e hoje, tem-se a concepção de
que uma cooperativa baseia-se na iniciativa e articulação dos trabalhadores que queiram se entreajudar e
trabalhar em prol comum, tornando
-
se a cooperativa um instrumento de progresso co
letivo.
Veiga e Fonseca (2001), definem o cooperativismo como um sistema que proporciona o
desenvolvimento global do indivíduo por meio do coletivo: “É reconhecido como o sistema mais adequado,
participativo, justo, democrático e indicado para atender às necessidades e aos interesses específicos dos
trabalhadores.”
No município de Itapajé existe a COOPART
Cooperativa
de Artesanato de Itapajé da qual fazem
parte apenas cinco bordadeiras dentre as quais a presidente foi entrevistada.
Quando questionadas a respeito de organização, as entrevistadas deram três tipos diferentes de
resposta: a presidente da cooperativa falou que o aspecto positivo da cooperativa, mesmo com muitas
dificuldades administrativas e operacionais, é que “pelo menos o que fazemos é encomenda”; as bordadeiras
do Barateiro responderam em unanimidade que os trabalhos desenvolvidos na Cooperativa são exclusivos para a
Ceart, portanto, todos os padrões do design (formas, cores, desenhos, etc.) são definidos pela instituição e que o
pagam
ento não compensa a pressão por prazos e uniformidade além de cercear as principais características
que o artesão tem: a criatividade e a sensibilidade intrínseca a cada um, contrapondo-se aos seus princípios.
Desestimuladas, as bordadeiras deixaram de
participar da cooperativa.
Na comunidade Camará a resposta foi outra: as pessoas não se dispõem ao compromisso, ao
deslocamento, à certeza e permanência do padrão na qualidade do produto e colocam como principal barreira o
fato de estar localizada no alto da serra. Nas duas situações, segundo as entrevistadas, a experiência com a
cooperativa não tem possibilidade de continuidade, cada uma com sua visão distinta.
A idéia de solidariedade, o desejo de colaborar e de ajudar uns aos outros é fundamental para um
movimento de cooperativismo. Ainda de acordo com Rios (1987), os fundamentos do cooperativismo são: i)
adesão voluntária e livre; ii) gestão democrática; iii)participação econômica dos membros; iv) autonomia e
independência; v) educação, informação e formação; vi)intercooperação e vii) interesse pela comunidade. Diante
da realidade presenciada em Itapajé, todas as bordadeiras precisariam ser trabalhadas, capacitadas e
conscientizadas da necessidade ou não de uma cooperativa, associação ou outro meio de unidade pela maior
qualificação do processo artesanal como estratégia para melhor qualidade de vida.
Percebe
-se a necessidade de uma organização social que tenha como princípio produzir, gerir e
usufruir, independente de associações ou cooperativas. Para a implementação destas organizações sociais
precisa
-
se da promoção de educação, formação e informação daqueles que provavelmente serão seus membros.
4.2.6 Relações de consumo
...Em cada anúncio “vende-se” “estilos de vida”, “sensações”, “emoções”,
“vis
ões de mundo”, “relações humanas”, “sistemas de “classificação”,
“hierarquia” em quantidades significativamente maiores que geladeiras,
roupas ou cigarros. Um produto vende-se para quem pode comprar, um
anúncio distribui
-
se indistintamente. (ROCHA, 2001,
p. 341).
Conforme citado anteriormente, a mídia tem explorado todos os meios publicitários existentes para
criar no consumidor necessidades que até então não existiam. Veiculam padrões de comportamento, estilos de
vida e determinada visão sobre a realidade, desta forma os objetos deixam de ter apenas valor de uso, adquirindo
valor simbólico. Assim, muitas vezes as pessoas sacrificam as necessidades básicas em função de objetos que
satisfaçam desejos subjetivos e inconscientes.
Nesta seção foram identificados os bens que as famílias possuem, os quais serão mostrados na
TABELA 17. O acesso das pessoas por determinados serviços e a posse de alguns bens duráveis relevantes na
atualidade são fatores que se refletem na saúde, no conforto e no acesso à informação
da população.
TABELA 17
INDICADOR RELAÇÕES DE CONSUMO: VARIÁVEIS
Discriminação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa (%)
Número de refeições feitas por dia
Até 3
9
22,5
4 ou 5
23
57,5
6 ou mais
8
20
Proporção da renda gasta com
alimentaçã
o
Mais de 50%
25 62,5
50%
12
30
Menos de 50%
3
7,5
Consumo mensal de combustível
Mais carvão, menos gás butano
21
52,5
Mais gás butano menos carvão
11
27,5
Somente gás butano
8
20
Posse de bens duráveis
Possui pelo menos um dos bens do
Grupo I
2 5
Possui pelo menos um dos bens
dos Grupos I e II mas não do III e
IV
12
30
Possui pelo menos um dos bens
dos Grupos I, II e III mas não do
IV
6
15
Possui pelo menos um dos bens do
Grupo I II, III e IV
20
50
Grupo I
Fo
gão a gás, rádio, máquina de costura, ferro de passar, filtro
Grupo II
TV, bicicleta, geladeira, sistema de som
Grupo III
Telefone fixo/celular, vídeo cassete, moto
Grupo IV
Antena parabólica, automóvel, caminhão
FONTE: Dados da Pesquisa
Percebe
-
se
a seguir que grande maioria da comunidade estudada (62,5%) gasta quase toda a renda
com alimentos e que 57,5% fazem quatro ou cinco refeições por dia; logo, o valor direcionado com alimentação
corresponde ao bom número de refeições. Entretanto, este fator não implica uma alimentação saudável. De
acordo com Azevedo (2001), não é a quantidade dos alimentos que determina o nível nutricional das famílias
mas, a qualidade dos alimentos ingeridos.
Encontra
-se um contradição quando se observa a posse de bens duráveis. Na denominação dos
bens na última opção onde inclui pelo menos um bem de todos os grupos, encontra
-
se que 50% têm, pelo menos,
um bem do grupo IV que corresponde a veículo ou antena parabólica. Estes bens são de valor alto e de
pagamento sacrificado
em virtude da baixa renda mas, mesmo assim, os têm.
Alguns autores como Lemos (2002) e Monte (1999), falam que a relação entre a despesa com
alimentos e a renda familiar pode ser utilizada como referencial para aferição do nível de pobreza. Quanto for
mai
or esta relação, mais pobre será a família. Ao longo das visitas percebeu-se que os maiores volumes são com
a alimentação, seguida de algum desejo de consumo, como celular, moto, antena parabólica e, por fim, se der,
móveis e eletroeletrônicos, ou seja, es
tes últimos em sua maioria foram adquiridos há bastante tempo.
Considerando que estamos trabalhando com famílias do meio rural, os resultados apresentados em
relação ao consumo de combustível estão conforme o esperado. A possibilidade de fácil aquisição de carvão e o
elevado preço do gás butano, fazem com que 80% consumam carvão sendo que destes, 52,5% utilizam mais
carvão do que o gás. Observou-se que muitas famílias utilizam fiapos de pano dos recortes dos bordados e de
tubos de linha vazios para a queima no carvão, pois a etapa de engomagem requer o cozimento da goma, tendo,
assim, que ‘economizar’.
Ainda de acordo com os dados da TABELA 17, parte-se para o reflexo destes, na satisfação que a
entrevistada tem em relação ao aspecto consumo, apresentada na TABELA 18, a seguir. De todos os indicadores
avaliados, este é o que propicia o pior nível de satisfação das entrevistadas. Quando questionadas, quase a
totalidade argumentou que a circulação do dinheiro é baixa e que os valores monetários que têm acesso n
ão
permitem comprar o que precisam, o que querem, o que gostam
a entrevistada e seus familiares.
TABELA 18
INDICADOR RELAÇÕES
DE CONSUMO: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
32
80
Média satisfa
ção
6
15
Alta satisfação
2 5
TOTAL
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
Na avaliação das próprias entrevistadas sobre o grau de satisfação deste aspecto, tem
-
se os seguinte
depoimentos:
Tamo muito ruim, é difícil viver com esse dinheiro para comer, pagar
energia cara sem falar que roupa a gente custa muito a comprar. Mal
para viver
. (D. Raimunda Vaz
Padre Lima)
O dinheiro é difícil de entrar” mas quando chega, ligeirinho se acaba
.
(Maria Cilma
Camará)
Outro fator a ser considerado está diretamente ligado ao bordado: o preço dos insumos, que tem
tido freqüentes elevações mas o produto desenvolvido não. Aos poucos os custos diretos vão se aproximando do
preço de venda reduzindo a margem de lucro e isto as faz ficarem desestimuladas mas, mesmo assim, co
ntinuam
a fazê
-
lo, pois têm esperança e expectativa de que conseguirão melhorar a produção e conseqüentemente a renda.
4.2.7 Expectativa de vida
Outro indicador de real importância nesta análise integrada refere-se à
longevidade ou expectativa de vida. De acordo com o IBGE, para determinar a
longevidade
“considera-
se
o número médio de anos que uma pessoa nascida no município,
no ano de referência, deve viver, ou seja, a expectativa de vida no município referente a esse
ano.” Este indicador sintetiza as condições de saúde e salubridade local, uma vez que quanto
mais mortes houver nas faixas etárias mais precoces, menor será a expectativa de vida
observada no local.
No início do século XX, nos Estados Unidos e países mais ricos da Europa, a
expectativa de vida ao nascer estava abaixo de 50 anos, entretanto, ao longo do século
diversos fatores provocaram uma extensão dos limites da vida média sem paralelo na histó
ria
da humanidade. O desenvolvimento tecnológico da agropecuária - que permitiu o acesso de
grande
s massas populacionais a alimentos de melhor qualidade - e os avanços científicos da
biologia
-
que conduziram
à
s no
çõ
es modernas de higiene e de saneamento b
á
sico, controle de
doenças,
principalmente as infecto-
contagiosas,
à vacina
çã
o em massa, aos antibió
ticos,
à
descoberta do colesterol e dos benefícios da atividade física permitiram a uma queda na
mortalidade infantil e proporcionaram a elevação dessa esperança de vida ao nascer.
Conforme o IBGE (Censo 2000), a expectativa de vida do brasileiro ao nascer é de 72,6 anos
para as mulheres e de 64,8 para os homens. De acordo com a edi
çã
o de 2004 do Relatório de
Desenvolvimento Humano do Programa das Na
çõ
es Unidas para Desenvolvimento (PNUD), a
expectativa de vida no Brasil é de 68 anos, superior aos países em desenvolvimento (64,6) e à
taxa m
édia mundial, que é de 66,9 anos.
Souza (1999), nos fala que no mundo todo a expectativa de vida ao nascer aumentou - no período
de 1970 a 1993
-
em virtude da erradicação de doenças, do progresso da tecnologia médica,
da expansão da rede
hospitalar e da melhor nutrição da população em seu conjunto.
Considerado como um fenômeno chamado ‘revolução demográfica’, esse aumento da longevidade
e as perspectivas de aumento dessa expectativa geram a necessidade de maior atençã
o por parte do setor público,
influenciando nas decisões em diversas políticas públicas de seguridade social, como idade de aposentadoria,
valores de seguro-
sa
úde, etc. Ocorrendo eventuais distor
çõ
es
nas previsões o governo poderá tomar decisõ
es
inadequada
s
à realidade social. Paralelo a essa elevação outro fato deve ser observado: o crescimento da
população mundial, onde mais de um bilh
ã
o de pessoas (dados da ONU) em todo o mundo continuar
ã
o passando
fome, não por falta de recursos naturais, mas como conseq
üê
ncia de fatores econômicos, políticos e sociais,
como a m
á
distribui
çã
o de renda.
Os fatores acima relacionados podem ser considerados quando se observa as características da
região Nordeste e da localidade em estudo, onde diversos aspectos interferem negativamente na qualidade de
vida, como as condições climáticas que não são favoráveis ao plantio contínuo durante o ano todo, as escassas
alternativas para complementação da renda e as políticas públicas que não são suficientes para manutenção de
um padrã
o de vida mais digno.
Para melhor compreensão, convém salientar que o crescimento mundial
de expectativa de vida tem dois componentes: o aumento da qualidade de vida da
popula
çã
o idosa e a diminui
çã
o da mortalidade infantil.
Em relação ao primeiro, diversos fatores interligados, como o aumento da
renda média em vários países, melhoria nas condi
çõ
es de educa
çã
o, evolu
çã
o da
qualidade sanitária, inova
çõ
es na medicina geriátrica, etc. são responsáveis por esta
ocorrência. O segundo componente, que se refere à diminui
çã
o da mortalidade
infantil, acontece porque a expectativa de vida é calculada através de médias sobre
toda a popula
çã
o, de forma que uma alta mortalidade infantil pode "puxar" para baixo
o
í
ndice.
Ainda no Relatório do Desenvolvimento Humano, consta que a principal
raz
ã
o para o aumento na expectativa de vida at
é
a d
é
cada de 50,
foi
a diminui
çã
o da
mortalidade infantil. Porém, a partir daquela época, melhorias na condi
çã
o de vida
depois dos 65 anos foram as principais responsáveis.
Em virtude do cálculo da esperança de vida ao nascer ser complexo e envolver várias fases, optou-
se por adaptar a metodologia aplicada no IDH municipal que tem como base as perguntas do Censo sobre o
número de filhos nascidos vivos e o número de filhos ainda vivos na data
em que o Censo foi feito
“no caso da
esperança de vida por município, as estatísticas do registro civil são inadequadas”. (BARROS, CARVALHO e
FRANCO, 2003, p. 11)
Conforme os dados coletados para análise dos aspectos idade e condições de
saúde, sanitárias e de moradia, apresentados na TABELA 19, pode-se perceber que dos 157
filhos gerados pelas entrevistadas, 42 morreram correspondendo a 26,75%, ou seja, uma
média de natalidade com vida de 73,24%. Tendo como base estes dados, verifica-se um
índice de mortalidade bastante elevado. Percebe-
se, entretanto, que o maior número
de filhos que morreram antes de completar um ano de vida foram de mulheres com
mais de
cinqüenta
anos, ou seja, que os óbitos aconteceram, em sua maioria
quase duas décadas. Por outro
lado, 52,5% das mães não perderam nenhum filho.
Ainda a partir dos resultados da TABELA 19, tem-se que a média de filhos por entrevistada é de
4,08 logo, se comparada à média brasileira, esta taxa pode ser considerada elevada pois a taxa nacional é de 2,3
filhos por mulher, ou seja, quase o dobro, sendo a taxa nordestina muito próxima a esta, em valores referentes ao
Censo de 2000. Conforme o IBGE, esta taxa teve uma queda significativa entre o período de 2001 a 2003,
apresentando média de filhos por mulher caindo de 2,33 para 2,14, respectivamente, com tendência à
continuidade de queda.
Vale ressaltar que existe grande relação entre a média de filhos por mulher com o grau de
escolaridade: enquanto as mulheres de nível universitário hoje têm em média 1,4 filho, as analfabetas têm 4,4.
Acredita
-se que o conhecimento e o acesso às informações e aos métodos contraceptivos sejam verdadeiros
condicionantes ao número de gestações. O planejamento familiar é inacessível aos que mais precisam dele;
aqueles que têm melhores condições financeiras, têm acesso garantido à pílula, inje
çõ
es e adesivos
anticoncepcionais, preservativos de qualidade, DIU, laqueadura, vasectomia e, em caso de falha, ao abortamento
TABELA 19
INDICADOR EXPECTATIVA DE VIDA: VARIÁVEIS
Discrimi
nação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa (%)
Número de gravidezes
Mais de 5
9
22,5
De 3 a 5
18
45
Até 2
8
20
Nenhuma
5
12,5
Resultado das gestações
Menos de 50% vivos
4
10
Mais de 50% vivos
11
27,5
Todos vivos / Não teve filhos
25
62,5
Idade dos filhos quando morreram
Até aos 3 meses
8
20
De 4 meses a 1 ano
5
12,5
Acima de 1 ano
2 5
Nenhum morreu / Não teve filhos
25
62,5
Causa das mortes
Desidratação, diarréia
5
12,5
Indefinida, mal de sete dias
9
22,5
Pro
blemas da mãe
1
2,5
Sem mortes
25
62,5
Número de pessoas por família
De 7 a 8
4
10
De 5 a 6
17
42,5
De 3 a 4
13
32,5
Até 2 pessoas
6
15
Idade média da família
Até 28 anos
24
60
De 29 a 56 anos
14
35
De 57 a 84 anos
2 5
FONTE: Dado
s da Pesquisa.
A causa
mortis
é também reflexo das condições de vida das famílias. Doenças
como desidratação e diarréia são fortes indicadores da ausência de saneamento básico e da
inexistência ou ineficiência das condições básicas de saúde e alimentação adequada,
características de países pobres ou em desenvolvimento.
No gráfico a seguir é demonstrada a variação das taxas de fecundidade (média
anual de filhos por mulher por ano) do Brasil e de suas regiões. Observa-se que a Região
Nordeste apresenta a segunda taxa mais alta, bem acima das médias nacionais, durante o
período de 1940 ao ano 2000, Figura 15.
FIGURA 15 EVOLUÇÃO DA TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL, BRASIL E
GRANDES REGIÕES
1940/2000
FONTE: Censo Demográfico 2000, Fecundidade e Mortalidade Infantil, resultados preliminares da amostra.
IBGE, 2002.
Verifica
-se neste gráfico que, ao final da curva, todas as médias tendem a se
aproximar da média brasileira mas mesmo assim, a taxa nordestina fica abaixo apenas da
Região Norte. Em dados reais enquanto o Brasil tem, no ano 2000, média de 2,32 e a Região
Nordeste tem 2,64, o Ceará apresenta uma taxa de 3,12 filhos por mulher, maior até que a
média da Região Norte que é de 3,09, segundo o IBGE.
O nível de satisfação das entrevistadas quanto à expectativa de vida é expressado
na TABELA 20. 87,5% apresentam satisfação de média a alta, crê-se que em virtude de ser
uma população jovem, visualizam este aspecto como positivo. Estão satisfeitas com o seu
estado de saúde, com a idade que têm e a de seus familiares,
sem vislumbrar ou ser consciente
das perspectivas.
TABELA 20
INDICADOR EXPECTATIVA
DE VIDA: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
5
12,5
Média satisfação
19
47,5
Alta satisfação
16
40
Total
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
Alguns cientistas e pesquisadores sugerem que não a condição econômica mas também - e
especialmente
- as conquistas, o prestígio e a auto-estima são elementos determinantes da duração da vida. Os
três primeiros elementos não são tão presentes na vida das pessoas pesquisadas, sabe-se, também, que quanto
mais socialmente coerente, menor a gradação da expectativa de vida da população, entretanto, a auto-estima não
é tão decadente como mostra a TABELA 20.
4.2.8 Renda
Outra abordagem que merece atenção é em relação à renda da família a
qual
permite o acesso dos membros a produtos de consumo, a bens duráveis e a
outros bens que propiciam conforto, bem-estar e saúde influenciam diretamente na
qualidade de vida. A ausência dessa renda gera carências que causam a não
satisfação das necessidades básicas humanas. Essas carências se refletem no
estado nutricional, na ocorrência de doenças de países pobres, nas condições de
moradia, no nível de instrução e, principalmente, nas carências sociais como lazer,
cultura, organização social, etc.
Na sociedade capitalista em que nos encontramos é impossível conviver
sem renda, sem poder aquisitivo que possibilite o acesso aos elementos essenciais
à sobrevivência.
Dentro deste estudo, o aspecto renda vem a ser abordado para
compreendermos como as famílias estudadas a obtêm, sua composição e a
participação de cada componente. Sendo a renda destas famílias bastante
diversificada, esta foi divida em quatro grupos compostos pela agricultura, salário
e/ou
comércio, pelo bordado, por fontes do governo e pela aposentadoria e/ou
pensão, conforme apresentado na TABELA 21.
TABELA 21
INDICADOR RENDA: VARIÁVEIS
Discriminação
Freqüência
absoluta
Freqüência
relativa (%)
Salário, agricultura e/ou
comércio
Não
têm
14
35
Até R$ 80,00
3
7,5
Entre R$ 81,00 e R$ 160,00
6
15
Entre R$ 161,00 e R$ 240,00
5
12,5
Entre R$ 241,00 e R$ 320,00
7
17,5
Entre R$ 321,00 e R$ 400,00
3
7,5
Acima de R$ 400,00
2 5
Bordado
Até R$ 100
11
27,5
De R$ 101 a R$ 200
5
12,
5
De R$ 201 a R$ 300
12
30
De R$ 301 a R$ 400
2 5
De R$ 401 a R$ 500
1
2,5
Maior que R$ 500
9
22,5
Fontes do Governo
Não têm
24
60
Até R$ 20,00
3
7,5
Entre R$ 21,00 e R$ 40,00
4
10
Entre R$ 41,00 e R$ 60,00
3
7,5
Entre R$ 61,00 e R$ 80,00
5
12,5
Acima de R$ 80,00
1
2,5
Aposentadoria / Pensão
Não têm
26
65
Até R$ 260,00 (1 Salário Mínimo)
5
12.5
Entre R$ 261,00 e R$ 520,00 (1 a 2
SM)
8
20
Entre R$ 261,00 e R$ 520,00 (1 a 2
SM)
0 0
Acima de R$ 780,00 (de 3 sm)
1
2.5
Renda Famili
ar Total
Até 1 Salário Mínimo
7
17,5
Entre 1 e 2 SM
14
35
Entre 2 e 3 SM
8
20
Entre 3 e 4 SM
1
2,5
Acima de 4 SM
10
25
FONTE: Dados da Pesquisa..
Sabe
-se que as comunidades pesquisadas encontram-se no meio rural, entretanto, conforme a
TABELA 21, observa-se que 35% das famílias não têm qualquer renda proveniente da agricultura, salário ou
comércio e, da maioria que tem (17,5%), os valores equivalem entre R$ 241,00 e R$ 320,00. 45% das famílias
falaram que “retiram alguma coisa da agricultura” ma
s tudo o que é produzido, é utilizado no consumo e que este
ainda precisa ser complementado através de compra. Em apenas três famílias a participação da agricultura é
superior a 75% como fonte de renda. De acordo com Romeiro (et al., 1994), que debatem sobre o relatório da
FAO, de 1993, a renda autoconsumo é gerada pela atividade de consumo de sua própria produção, ou seja,
equivale à renda que o agricultor obteria se a vendesse ao invés de consumi-la. Entretanto, a capacidade de
sobrevivência da pequena produção é limitada por diversas razões como acesso e qualidade da terra,
irrigação, recursos financeiros, etc.
De uma maneira geral, a agricultura não produz renda além de ser necessário às famílias, a compra
complementar de alimentos de origem agrícola. Dessa maneira, fica em risco a possibilidade da segurança
alimentar e nutricional que consiste em garantir, a todos, condições de acesso aos alimentos em quantidade e
qualidade suficientes e saudáveis, e de modo permanente, que correspondam aos vários sentidos simbólicos de
que se revestem os alimentos nas diferentes culturas. (PACHECO, 2002).
Juntamente com Azevedo (2000), essa autora relata, também, sobre a adequação de políticas para a
valorização e o fortalecimento dos sistemas agrícolas tradi
cionais. A busca e implementação de estratégias para a
conservação e utilização econômica de recursos genéticos agrícolas através do resgate, da experimentação, da
seleção, do melhoramento, da multiplicação e do uso produtivo do cultivo de diversas culturas, têm enorme
importância para a composição da renda, na reprodução das famílias e para o cuidado das criações.
Sob o ponto de vista social, esse modelo estrutura a diversidade dos sistemas de produção,
asseguram a reprodução dos vários segmentos de agricultores e a biodiversidade agrícola; reduz a concentração
da terra; evita a migração e tende a reduzir problemas de saúde tanto para o produtor como para o consumidor
(ausência dos efeitos da industrialização da agricultura).
Nesse contexto, Azevedo (2000), realça a necessidade de se construir um mundo de inclusão
social, criando e compartilhando a riqueza social com desenvolvimento sustentável e participação coletiva nas
políticas públicas. Reunindo-se o pensamento destas duas autoras, percebe-se a necessidade emergente de
construir um programa em nível global, numa visão com ponto de vista social, ecológico, político e econômico.
Constituindo
-
se, assim, um desafio promover a segurança alimentar e nutricional sustentável.
A renda per capita tem sido usada tradicionalmente como o principal indicador de
desenvolvimento. É um indicador importante, mas como média este valor camufla a distribuição de renda, não
refletindo o nível de bem-estar da população de baixa renda, que poderá ser bastante numerosa. Economias com
renda muito concentrada, possuem altas rendas
per capita.
(SOUZA, 1999).
A Região Nordeste e em especial o Estado do Ceará, são locais dos mais subdesenvolvidos e
carentes do Brasil. Estes aspectos ocorrem, em parte, em decorrência da predominância do clima semi-árido, da
elevada concentração de renda, da escassez de recursos hídricos, baixo nível tecnológico, dificuldade de crédito
enfim, todos esses elementos aliados à ausência de políticas públicas coerentes com as reais necessidades e,
muitas vezes, o não acesso à terra por parte de pequenos produtores. Estes fatores - isolados ou em conjunto -
vêm, ao longo do tempo, propiciando para a não efetivação da agricultura familiar levando as famílias a outras
alternativas de fonte de renda e à opção de compra dos produtos agrícolas que poderiam ser produzidos por elas
mesmas. Estas alternativas surgem para recompor a rentabilidade perdida com a produção de alimentos básicos.
Fernandes Filho e Campos (2003), nos relatam que mudanças estruturais na economi
a têm causado
grandes impactos no meio rural, nas unidades de produção e, principalmente nas de base familiar. Propõem,
como uma das alternativas para a recuperação e sustentabilidade dessas unidades familiares, o incentivo ao
desenvolvimento de atividades rurais não-
agrícolas
a chamada indústria rural artesanal –, que podem melhorar
o nível de renda e emprego, contribuindo para o seu desenvolvimento. Os autores citam que essa diversificação
de atividades dentro da propriedade, pode ocorrer a partir do fomento de processamento de alimentos como, por
exemplo, a produção de queijo e requeijão na Região Sudeste e rapadura e farinha de mandioca na Região
Nordeste. O desempenho destas ou outras atividades artesanais intensivas em mão-
de
-
obra
relacionadas à
indústria rural nos estabelecimentos familiares possibilitam o incremento de suas rendas.
A TABELA 21 nos mostra uma conseqüência da tradição na atividade artesanal aliada a esse
projeto, percebe-se nos dados a relação do bordado como fonte de renda: 87,5% obtêm mais de 50% da renda
com a venda das peças bordadas produzidas. Percebe-se, ainda, que 30% das famílias têm renda proveniente do
bordado, com valores entre R$ 201,00 e R$ 300,00. Como referenciado anteriormente o poder municipal de
Itapajé vem, desde o ano de 1999, trabalhando junto às bordadeiras para melhor qualificação da sua produção
artesanal. Esse aspecto vem recebendo atenção diferenciada por considerar a importância que a atividade
desempenha na economia do município. Diversos segmentos dessa economia estão ligados na atividade
artesanal, não se restringindo apenas à atividade no seio doméstico como vejamos: as pessoas que têm diversas
máquinas, alugam-nas ou atraem bordadeiras para utilizar sua mão-
de
-obra; o mercado varejista vende os
insumo
s, compra as peças prontas e as revendem; na “feira do bordado sujo” pessoas compram as peças que
precisam de acabamento, lavam, passam e as revendem fora do município; as bordadeiras que participam do
PRA
-ITA (Projeto de Revitalização de Itapajé) têm loja própria à beira da estrada, local de intenso movimento
rodoviário, além daquelas que vendem seus produtos para clientes em Fortaleza.
Os valores anteriormente apresentados podem ser comparados à pesquisa realizada pelo Governo
do Estado (citada na seção ‘estudos empíricos’), onde 29% da renda provêm do artesanato e são considerados
bastante significativos no orçamento familiar.
Quanto a valores, quase 60% das famílias m renda superior a um salário mínimo (na época da
pesquisa o salário equivalia a R$ 260,00). 22,5% têm renda maior que R$ 500,00, encontrando-se valores
superiores a R$ 2000,00, salientando-se que essa renda é proveniente apenas do bordado. À medida que esses
valores sobem percebe
-se nível mais elevado de participação e envolvimento das pro
fissionais com a qualidade e
a quantidade na atividade artesanal. Têm mercado consumidor mais abrangente, utiliza maior quantidade de
maquinário e o número de pessoas envolvidas.
Em termos do rendimento mensal domiciliar, que agrega as remunerações de todas as fontes dos
seus moradores, a proporção de domicílios com rendimento de até 1 salário mínimo ficou em 17,5% e a dos que
estavam na faixa de mais de 4 salários mínimos em 25%, havendo uma concentração (30%) nas famílias com
renda entre dois e três salários mínimos. Os maiores percentuais na última faixa (acima de quatro salários
mínimos) correspondem àquelas compostas por comércio do bordado, aposentadoria ou salário. Estes resultados
são superiores aos apresentados pelo IBGE (Censo 2000) que são até três salários mínimos. Brasil, Nordeste e
Ceará têm valores correspondentes a 12,42%, 8,4% e 8,2%; para rendas entre três e cinco salários, concentram
-
se
14,23%, 7,06% e 6,65%, respectivamente. Revela
-
se assim que as condições na localidade não são tão ruins
.
A renda proveniente dos recursos governamentais equivale à participação
das rendas advindas de transferências governamentais através de programas
oficiais de auxílio (bolsa escola, bolsa família, auxílio gás, fome zero, cartão
cidadão). Algumas entrevistadas reclamam dos critérios de seleção para os
benefícios, dos valores que são sempre mínimos e quase sempre são insuficientes
para o que se propõem.
Entretanto, em virtude da renda total familiar ser muito baixa (75% têm
renda até quatro salários mínimos) esses recursos governamentais são de extrema
importância no orçamento doméstico, quase vitais. Com referência à renda
per
capita
razão entre o somatório da renda de todos os membros da família e o
número total desses membros
verificam-se valor de R$ 641,33, valor bem superior
à média nacional, que corresponde a R$ 379,78, lembrando-se que existe um
percentual de 27,26% de miseráveis. Esses valores foram divulgados pela Fundação
Getúlio Vargas (2004) quando ressalta que a pobreza aumentou no ano de 20
03
devido, principalmente, à distribuição de renda e que a desigualdade no Brasil
está entre as três maiores do mundo.
Para que possam participar dos programas governamentais de benefício,
as famílias não podem ultrapassar meio salário mínimo (R$ 120,00) na renda
per
capita
(MEC,
2004)
. A família que apresenta a menor renda per capita
encontrada
(R$ 16,00) não tem acesso a nenhum dos benefícios que teria direito, em função
desse fator sobrevive da agricultura (autoconsumo) e a única fonte de renda
monetá
ria é o artesanato. Nesta mesma situação encontramos cinco famílias
(12,5%) que têm como única fonte de renda o artesanato. Verifica-se ainda que 60%
não recebem qualquer transferência da renda pública através dos programas das
compensatórias citadas. Neste cenário, percebe-se a ausência de coerência na
distribuição dessas bolsas, de controle na implantação dos programas
governamentais e na aplicação de políticas destinadas à produção agrícola familiar.
A TABELA 22 nos mostra que 60% da população pesquisada estão
insatisfeitos com o nível de renda que têm. Condições financeiras adequadas
favorecem às famílias o acesso a bens e serviços que refletem no conforto, no
prazer, enfim, na qualidade vida. Dentre os diversos indicadores que observamos, a
renda tem influência direta sobre quase todos os outros, entretanto, o indicador que
apresenta maior índice de insatisfação é relativo ao consumo, que depende
exclusivamente do poder aquisitivo e das necessidades decorrentes e (in)satisfeitas.
TABELA 22
INDICADOR RE
NDA: SATISFAÇÃO
Nível de satisfação
Freqüência absoluta
Freqüência relativa
(%)
Baixa satisfação
5
12,5
Média satisfação
19
47,5
Alta satisfação
16
40
TOTAL
40
100
FONTE: Dados da Pesquisa
Diferentes níveis de renda monetária são utilizados para aferição e estratificação
das classes sociais e, quanto maior a renda, melhores condições de vida. Lemos (2002),.
explica que o investimento público nas áreas sociais amenizam o estado de pobreza das
famílias privadas de bens materiais, decorrente da deficiência de renda. Em seu trabalho de
pesquisa, o autor avalia e verifica a evolução dos índices de pobreza, processo brutal de
exclusão social principalmente nas áreas rurais.
O conceito de pobreza perpassa da visão econômica e quantitativa, envolvendo um
componente de subjetividade social e ideológica. No Relatório de Desenvolvimento Humano
(2004), podemos encontrar que pobreza significa ‘a negação de oportunidades de escolhas
mais elementares do desenvolvimento humano’, ou seja, a ausência total de opções. Esse
conceito vai ao encontro dos argumentos de Cebotarev (1982),
quando relata que a
qualidade de vida humana envolve as necessidades biofisiológicas e às de formação
intelectual e psicológica
e ao pensamento de A
martya
Sem
, no qual ao indivíduo dev
em
ser oportunizadas possibilidades de ampliação das capacidades e das alternativas
de escolha.
Definir linha de pobreza é bastante complexo por envolver conceitos objetivos e
subjetivos, e principalmente se esta definição começar pela determinação arbitrá
ria dos limites
de renda. Lemos (2002), relata que a pobreza é um processo de exclusão não apenas pela falta
de renda, mas porque também, acarreta na privação das pessoas à utilização de suas energias e
seus potenciais assim como também na incidência de doenças, crescimento exacerbado da
população (lembrar que na comunidade pesquisada a média de filhos é de 4,08 e a do Brasil é
de 2,3), altas taxas de migração além da degradação do meio ambiente e da instabilidade
social.
Desenvolvimento significa o padrão das transformações econômicas, sociais,
estruturais, através da melhoria qualitativa e do equilíbrio relativo ao meio
ambiente. (LEMOS, 2002, p.12).
Reverter o processo de exclusão implica rever decisões e ações das políticas públicas para efetiva
implemen
tação do processo de desenvolvimento. A ONU enumera ações prioritárias e emergenciais para a
implantação do verdadeiro desenvolvimento e bem-estar humano, partilhando motivação e compromisso das
nações. Erradicar a fome e a pobreza extrema, alcançar o ensino primário fundamental, promover a igualdade de
gênero e capacitar as mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o HIV/AIDS,
malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e por fim, promover uma parcer
ia mundial para
o desenvolvimento são os objetivos da ONU.
Nesta perspectiva, o fim real do desenvolvimento é o progresso que incida
diretamente no bem-estar do ser humano nas suas múltiplas dimensões, portanto, a suma
importância das políticas que traduza
m riqueza em desenvolvimento.
4.3 Análise da contribuição de cada indicador nos índices de desenvolvimento humano e de
qualidade de vida das bordadeiras de Itapajé
-
CE
A riqueza não é, evidentemente, o bem que procuramos; pois ela é apenas
útil por causa
de outra coisa qualquer. (Aristóteles).
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano RDH (2004), o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) enfoca três mensuráveis dimensões do desenvolvimento do ser humano:
viver uma vida longa e saudável, ser instruído e ter acesso aos recursos necessários para um padrão de vida
digno. No RDH, estas dimensões são consideradas como capacidades essenciais para o progresso do homem,
além de uma quarta que é a de participar na vida da comunidade.
As capacidades inerentes a cada indivíduo e as escolhas para eles disponíveis são infinitas e variam
de pessoa para pessoa diante das mais diversas situações, logo, avaliar o progresso e o bem-estar de uma
comunidade, um estado, um país, dependerá, também, de como essas possibilidades foram oportunizadas para
seus habitantes.
A determinação do IDH das bordadeiras de Itapajé, utilizando as mesmas variáveis do IDH oficial
compreende aos seguintes resultados, apresentados na TABELA 22:
TABELA 23
ÍNDICE DE
DESENVOLVIMENTO HU
MANO
DAS BORDADEIRAS DE
ITAPAJÉ/CE.
Indicador
Contribuição
Participação (%)
1. Educação
0,281250
65,82
2. Expectativa de Vida
0,090088
21,08
3. Renda
0,055990
13,10
Total
0,427328
100
IDH
0,142
FONTE: Dados da pesqu
isa.
malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e por fim, promover uma parceria mundial para
o desenvolvimento são os objetivos da ONU.
Nesta perspectiva, o fim real do desenvolvimento é o progresso que incida
diretamente no bem-estar do ser humano nas suas múltiplas dimensões, portanto, a suma
importância das políticas que traduzam riqueza em desenvolvimento.
4.3 Análise da contribuição de cada indicador nos índices de desenvolvimento humano e de
qualidade de vida das bordadeiras de Ita
pajé
-
CE
A riqueza não é, evidentemente, o bem que procuramos; pois ela é apenas
útil por causa de outra coisa qualquer. (Aristóteles).
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano RDH (2004), o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) enfoca três mensuráveis dimensões do desenvolvimento do ser humano:
viver uma vida longa e saudável, ser instruído e ter acesso aos recursos necessários para um padrão de vida
digno. No RDH, estas dimensões são consideradas como capacidades essenciais para o progresso do homem,
além de uma quarta que é a de participar na vida da comunidade.
As capacidades inerentes a cada indivíduo e as escolhas para eles disponíveis são infinitas e variam
de pessoa para pessoa diante das mais diversas situações, logo, avaliar o progresso e o bem-estar de uma
comunidade, um estado, um país, dependerá, também, de como essas possibilidades foram oportunizadas para
seus habitantes.
A determinação do IDH das bordadeiras de Itapajé, utilizando as mesmas variáveis do IDH oficial
compreen
de aos seguintes resultados, apresentados na TABELA 22:
TABELA 23
ÍNDICE DE
DESENVOLVIMENTO HUMANO
DAS BORDADEIRAS DE
ITAPAJÉ/CE.
Indicador
Contribuição
Participação (%)
1. Educação
0,281250
65,82
2. Expectativa de Vida
0,090088
21,08
3. Renda
0,055
990
13,10
Total
0,427328
100
IDH
0,142
FONTE: Dados da pesquisa.
Esta Tabela mostra a formação do IDH com apenas três variáveis. Sua construção baseou-se na
média aritmética onde todos os indicadores receberam o mesmo peso. Observa-se que, a partir dos valores
obtidos na pesquisa utilizando-se somente três indicadores, a maior participação é do indicador educação
(65,82%), seguido pela expectativa de vida (21,08%) e da renda (13,10%). Por ser muita baixa a renda, o poder
de compra dos moradores é pequeno, fato que reflete nas condições gerais que influenciam a qualidade de vida
dessas pessoas.
O IDH divulgado pelo Anuário do Ceará de 2004 referente ao município de
Itapajé corresponde ao valor de 0,641, à 66
a
posição no estado do Ceará e à 3905
a
no Brasil. No período de 1991 a 2000, o Ceará foi o estado brasileiro que apresentou
maior crescimento no IDH, passando de 0,597 para 0,699, com isso saiu da 23ª
posição do ranking nacional, em 1991, para a 19ª posição, em 2000. (
GOVERNO
DO ESTADO DO CEARÁ, 2004). Comparando-se o valor acima (0,641) com o
encontrado (0,142), nota-se grande diferença a qual pode ter sido gerada pelos
dados obtidos e pela metodologia aplicada no trabalho com os mesmos. Considere-
se, também, que a amostra utilizada é relativamente pequena à necessária para
avaliação e obtenção do IDH do município, que tem 41.093 habitantes, e que
corresponde ao grupo específico delimitado como objeto desta pesquisa
as
bordadeiras. Os dois valores acima correspondem a áreas distintas de classificação
do desenvolvimento humano. Para este subgrupo (das bordadeiras) esse valor
necessita ser elevado através de políticas para melhoria da renda e da qualidade de
vida.
Esta classificação varia de zero a um, escala que significa de nenhum
desenvolvimento humano a desenvolvimento humano total, respectivamente, e
compreende a três estágios: IDH até 0,499 corresponde a desenvolvimento humano
considerado baixo, se o IDH está entre 0,500 e 0,799 é considerado médio
desenvolvimento humano e IDH superior a 0,800 corresponde ao desenvolvimento
humano considerado alto. A análise destes dados leva à implementação de
programas que visem melhorar os referidos índices: pelo Anuário o município tem
médio desenvolvimento humano e pelo estudo realizado, as comunidades têm baixo
desenvolvimento humano.
O RDH divulgado em novembro de 2004 apresentou considerável
diferença do IDH brasileiro nos anos 2003 e 2004, tendo o Brasil saído da 65
a
para a
72
a
posição, correspondente aos valores 0,773 e 0,775, respectivamente. Contudo,
essa diferença deve-se ao fato de que foram usados dados de bases diferentes e
mudanças no cálculo de educação, um dos indicadores que formam o Índice de
Desenvolvimento Humano. Esta ocorrência não significa queda, pois se tive
ssem
sido usadas as mesmas séries de dados no RDH 2003 que foram usadas no RDH
2004, o IDH do Brasil estaria ocupando melhor posição no ranking. (PNUD, 2004).
De acordo com Souza (1999), embora seja a iniciativa privada o maior responsável pelo
cresciment
o econômico, o Estado tem papel fundamental na organização pelo desenvolvimento, na implantação
de infra-estrutura econômica básica, na regulação do crédito e, principalmente nas áreas de educação, saúde,
segurança, etc.. Com isso, aumenta-se a oferta dos serviços sociais básicos à população favorecendo à melhoria
dos indicadores de desenvolvimento.
Sabe
-se que para aferir um índice que compreenda o desenvolvimento global do bem-estar do ser
humano, três variáveis não representam com fidedignidade os dados reais. Comparando-se o IQV com o IDH
obtidos da mesma comunidade, verifica-se consideráveis diferenças nos valores apresentados. A inclusão de
dados referentes às outros indicadores permitem e possibilitam uma análise mais detalhada, próxima e coerente
com
a realidade observada e vivenciada.
Para quantificar a qualidade de vida da comunidade em estudo, fez-se necessário determinar estas
dimensões
chamadas indicadores de forma qualitativa para serem medidas quantitativamente. A seleção
desses indicadores
para a análise do
Índice de Qualidade de Vida
IQV desta
comunidade foi bem além dos três
utilizados para a obtenção do IDH oficial. A complexidade de fatores que envolvem a vida das pessoas, suas
atitudes, e o acesso à aquisição de bens e serviços, influenciaram na determinação dos indicadores que o
comporão.
Esta análise permite identificar o IQV decorrente dos indicadores pré-determinados bem como a
participação de cada um na composição deste índice; neste caso, os indicadores são: acesso à educação,
condições de saúde, condições sanitárias e de moradia, formas de vida e lazer, situação ocupacional, relações de
consumo, expectativa de vida e renda.
Os resultados presentes na TABELA 24 mostram freqüências absolutas e relativas dos indicadores
que formam o IQV do universo pesquisado. O IQV encontrado está no nível de qualidade de vida humano baixo
(0,104). Valor pouco inferior ao IQV da comunidade quando foram exploradas apenas as dimensões educação,
longevidade e renda (0,142). Considerando que o pior nível varia de 0 a 0,499, as famílias pesquisadas apresenta
nível de desenvolvimento humano muito baixo. Verificou-se que, dentre os indicadores que apresentaram maior
contribuição para a formação do IQV, destacam-se a educação e a situação ocupacional. Isso revela a
importância desses dois indicadores para o bem
-
estar da população pesquisada.
TABELA 24
CONTRIBUIÇÃO E
PARTICIPAÇÃO DE CADA UM
DOS INDICADORES QUE
COMPÕEM O ÍNDICE DE
QUALIDADE DE VIDA DAS
BORDADEIRAS DE ITAPAJÉ/CE
(SITUAÇÃO I).
Indicador
Co
ntribuição
Participação (%)
1. Acesso à Educação
0,281250
33,67
2. Condições de Saúde
0,069599
8,33
3. Condições de Moradia
0,060797
7,28
4. Formas de Vida e Lazer
0,048457
5,80
5. Situação Ocupacional
0,158796
19,02
6. Relações de Consumo
0,070353
8
,42
7. Expectativa de Vida
0,090088
10,78
8. Renda
0,055990
6,70
Total
0,835329
100%
IQV
0,104
FONTE: Cálculos da autora.
Os indicadores educação e situação ocupacional apresentam algumas singularidades quanto ao
grau de satisfação: de média a baixa. Os referidos indicadores têm 77,5%; mas enquanto a educação apresenta
60% de nível baixo a situação ocupacional reflete 37,5% de satisfação baixa, embora ambas apresentem 22,5%
de alta satisfação, conforme apresentados e discutidos no item anterior (4.2). Acredita-se que em virtude destes
dois indicadores terem poucas variáveis (Situação I), os valores referentes aos mesmos sejam os mais altos.
Assim, procedeu-se os cálculos do IDH incorporando mais outras variáveis para o indicador
educação. Supondo-
se
mais outras duas variáveis para o indicador educação freqüência à escola e os motivos
pelos quais a entrevistada deixou de freqüentar a escola –, este nível baixa para 0,127778, e os demais resultados
ficam alterados na freqüência relativa, como pode ser observado na TABELA 25 (Situação II). Essa alteração
negativa reforça o teoria de que quanto mais variáveis utilizadas, o resultado se torna mais próximo da realidade
observada.
Verifica
-se que o IQV cai de 0,104 para 0,085 este fato indica que o indica
dor
educação representa grande participação na construção deste índice (TABELA 25).
Considerando a alteração no indicador educação, a participação de cada indicador muda nas
referidas proporções. A falta de formação, informação e conhecimento geram resistência e
apatia às questões sociais como, por exemplo, à organização de grupos de trabalho, luta por
direitos e solução de problemas comuns, entre outras.
TABELA 25
CONTRIBUIÇÃO E
PARTICIPAÇÃO DE CADA UM
DOS INDICADORES QUE
COMPÕEM O ÍNDICE DE
QUALIDADE
D
E VIDA DAS BORDADEIRAS DE
ITAPAJÉ/CE (SITUAÇÃO II).
Indicador
Contribuição
Participação (%)
1. Situação Ocupacional
0,158796
23,28
2. Acesso à Educação
0,12778
18,73
3. Expectativa de Vida
0,090088
13,22
4. Relações de Consumo
0,070353
10,31
5. Cond
ições de Saúde
0,069599
10,21
6. Condições de Moradia
0,060797
8,93
7. Renda
0,05599
8,22
8. Formas de Vida e Lazer
0,048457
7,10
TOTAL
0,68186
100
IQV
0,085
FONTE: Dados da pesquisa.
Nos resultados acima observa-se que todos os indicadores tiveram uma parcela importante na
formação do referido índice. Os indicadores formas de vida e lazer e renda tiveram pouca participação na
qualidade de vida. A renda, como é de se esperar no espaço rural nordestino, é muito baixa e esta é realidade na
comunidade
pesquisada. Dentre os dados encontrados, mais da metade da renda de 87,5% das famílias provêm
da venda das peças bordadas produzidas. Se houver um trabalho mais intensivo e sistemático, certamente o
número de pessoas envolvidas e a renda gerada da atividade artesanal serão bem superiores, o que poderá trazer
uma elevação no IQV das comunidades estudadas.
As formas de vida e lazer dependem, em sua maioria, da infra-estrutura que o
município não oferece. Durante as entrevistas e conversas, surgiram solicitações de parques
infantis, praças e quadras de esporte, vistas como opções para divertimento principalmente de
jovens e crianças. Esta infra-estrutura tem grande relevância para evitar estresse nos membros
da comunidade, e favorecem a maiores relações e interações entre as pessoas podendo
facilitar, inclusive, maiores e melhores relações sobre a atividade artesanal. Outro fator
importante relatado foi a necessidade de melhoria no atendimento médico e principalmente
odontológico.
Os demais indicadores
situaç
ão ocupacional, educação, expectativa de vida
,
relações de consumo
e
condições de saúde, apresentam participação significativa na composição do IQV, variando de 23,28% a
10,21%, de acordo com a TABELA 25. Como foram selecionados oito indicadores, a partici
pação de cada um se
torna fragmentado quando comparada à composição de determinado índice que requer apenas três variáveis,
como é o caso do Índice de Desenvolvimento Humano, portanto, retrata com maior precisão os diversos fatores
que afetam e/ou alteram o cotidiano das famílias. Este fato reforça que índices devem ser construídos com o
máximo de indicadores e variáveis possíveis para retratar uma realidade com maior clareza e realismo.
Os valores encontrados funcionam como ferramenta poderosa, rica de
inf
ormações para melhor definir e incorporar estratégias, projetar ações e implantar
políticas públicas e programas sociais que satisfaçam, ou pelo menos tentem satisfazer às
necessidades coletivas de determinado local.
4.4 O Bordado na vida, na cultura e nas representações sociais das bordadeiras de Itapajé -
CE
O artesanato é o fazer diário, necessário e comum. A habilidade de
trabalhar qualquer matéria
-
prima ao alcance das mãos para afeiçoá
-
la e
torná
-la útil ao b
em
-estar dos indivíduos, conferindo a cada peça ou
objeto oriundo desse processo características de quem o cria, assim
como pode identificar ou caracterizar a região em que se expande.
(SALLES, 1983, p. 148).
A extensão do artesanato brasileiro faz-se representar pela diversidade de
tipologias e pelo incontável número de objetos, tornando-se um universo inesgotável.
Estudiosos como Amadeu Amaral, Souza Barros e Costa Pereira admitem que a
formação deste universo tem a contribuição de três linhas que se fundiram, mas que em
determinados locais ou regiões, uma se sobrepõe às outras: a arte do índio, do português
e do negro, trazendo assim, pesos característicos em regiões diferenciadas.
Outros fatores são fortes influentes determinantes desse universo. Sua
abundância e variedade determinam as alternativas possíveis: a diversidade de matéria-
prima, das técnicas tradicionais, do equipamento tecnológico e, nas próprias peças,
contextura, formato, funções, uso ou destino.
Tipologias como a renda-de-bilro, o labirinto e o bordado foram herdadas do
colonizador europeu. (FLEURY, 2002; PEREIRA, 1957). O bordar se constitui num
trabalho artesanal realizado por meio de fios sobre o tecido de algodão e ou de linho,
tido como atividade ocupacional e geradora de renda monetária, desenvolvida no seio
familiar.
No Brasil, a maior representatividade de peças bordadas está no estado do
Ceará, e Itapajé é a cidade mais tradicional na produção e comercialização destas peças
tipicamente nordestinas. “(...) os bordados respondem pela maior absorção de mão-de-
obra feminina e doméstica em todo o Nordeste, desempenhando uma das funções
econômicas mais expressivas do artesanato regional”. (PEREIRA, 1979, p. 90).
A oportunidade vivenciada durante o processo de pesquisa possibilitou
conh
ecer, com mais profundidade, o cotidiano das bordadeiras englobando não somente
a maneira de trabalhar o processo da atividade, suas dificuldades na criação e na
comercialização, mas também sentimentos, emoções e ‘viagens’ que permeiam o seu
imaginário. Fleury (2002, p.32), quando trata da arte como expressão da cultura
material (produção de objetos), nos relata que “os fenômenos culturais apresentam
-
se na
forma de idéias, comportamentos e objetos físicos”, e a esse último a autora afirma que a
cultura material não é desvinculada do comportamento humano e de suas idéias a
cultura não material.
Por ser uma atividade cultural, o artesanato é inserido nas relações sociais.
Dentro deste conceito e, tendo em vista que neste subitem analisamos também o
subjetiv
o, o que vemos e sentimos, faz-se necessário demonstrar como os procedimentos
acontecem na comunidade pesquisada:
O dia-a-dia começa para a bordadeira, em sua maioria, no desempenho das
tarefas domésticas como preparar café, crianças para a escola e iniciar a preparação do
almoço. Em seguida debruçar-se sobre o tecido, quer seja na máquina ou no colo, e bordar,
bordar... Interrompendo algumas vezes para conferir a cocção dos alimentos e, quem sabe
uma rápida limpeza na casa.
Seguir as etapas de obter o desenho, o risco e riscar no pano, etapas geralmente
feitas pela bordadeira e que não recebem a interferência da sua criatividade. Entretanto,
quando ela se dispõe a colocar seu toque pessoal, retoques e alterações são feitos levada pelas
emoções daquele momento, conquistas e percepção do ambiente que a rodeia. Na ocasião, as
idéias fluem e acabam sendo representadas no bordado. Tarefas como recortar as peças
(picotar), tirar as pontas de linha, lavar e passar são desenvolvidas por ela quando não tem
peças para bordar; depende também do envolvimento de membros da família que muitas
vezes são responsáveis por estas etapas.
O processo de criação existe na prática de poucas profissionais. Percebe-se bem
na comunidade Barateiro, onde as profissionais participam efetivamente do PRA-ITA*. Elas
foram qualificadas e têm a compreensão de identificar elementos da natureza, do cotidiano ou
que tenham alguma ligação com o seu dia-a-dia e repassá-los para o papel, avaliar as
possibilidades de construção e repassar para a peç
a a ser confeccionada. As demais se limitam
a copiar e reproduzir desenhos inúmeras vezes bordados, em algumas oportunidades, esses
riscos sofrem pequenas alterações.
É interessante caminhar nas ruas e vielas escutando o barulho intenso das
máquinas vindo por todos os lados. O que outrora era bordado à mão, aos poucos vai sendo
substituído pela máquina (Figura 16). Outro detalhe que convém mencionar são os inúmeros
varais (Figura 17) que enfeitam as ruas: o colorido das peças lavadas e engomadas expostas
a
sol e vento para secarem. Percebi que essa visão é repassada para o desenho nos bordados em
forma de aplicação, que retrata fielmente cenas do seu cotidiano.
FIGURA 16
MULHER BORDANDO À MÃO E HOMEM BORDANDO À MÁQUINA
FIGURA 17
VARAIS NAS RUAS
Após o almoço, recomeçar a bordar e parar quando a iluminação natural o
mais permite um bordado de qualidade. Contudo tem bordadeira que, alterando esta rotina,
acorda as cinco da manhã e borda até às vinte e duas horas. Em algumas famílias as tarefas
domésticas são distribuídas e desempenhadas pelas filhas, filhos e marido. Constatou-se que
62% dos membros das famílias desempenham alguma ou algumas das etapas de confecção do
bordado e que destas, 70% são mulheres.
A busca pela comercialização ocorre sempre que tem peças prontas às vezes
apenas bordadas e recortadas muitas delas de qualidade questionável (consideradas “bordado
sujo”), noutras, a peça acabada, ou seja, lavada, limpa e passada. No último caso as peças têm
maior valor de venda, retornando mais lucro às bordadeiras. Peças de ‘bordado sujo’ são
vendidas na Feira do Bordado Sujo, que ocorre aos sábados na Praça da sede do município;
as pessoas que moram no alto da serra saem de casa ao amanhecer do dia. Nesta feira a oferta
é grande e os preços o mais baixo possível. Discutimos a possibilidade da inexistência da feira,
considerando que todas as peças produzidas se apresentassem da melhor forma possível e de
melhor qualidade, pois assim elas obteriam preços melhores e podendo atingir outros
mercados. Recebemos como resposta os custos para as etapas de finalização, o imediatismo
pelo dinheiro e outras dificuldades operacionais. Outro local que permite o mesmo tipo de
comercialização, é a Praça dos Correios em Fortaleza. As peças ali encontradas são, em
grande parte, de qualidade ruim e preço baixo, mas que, mesmo assim, concorre com o
“bordado de Itapajé’ de melhor qualidade e acabamento.
Identificou
-se que o bordado sujo adquirido é revendido em lojas locais da sede e
de Fortaleza, com preços bem superiores aos adquiridos na feira. Mesmo mostrando estas
oportunidades, as bordadeiras não se sensibilizaram. A chegar à conscientização,
demandará muito trabalho de grupo, de dinâmicas e de tempo.
Em outras ocasiões, viu-se que algumas bordadeiras nas comunidades serranas
compram de outras o bordado sujo, dão o acabamento necessário e vendem as peças tanto nas
lojas da cidade quanto na capital. Neste caso, as produtoras acham bom, pois não precisam se
deslocar até à Sede.
Ainda existem os casos em que as bordadeiras trocam o bordado sujo por tecidos
e linhas, um processo de troca no estilo escambo. As moradoras do Barateiro têm um ponto
de venda disponibilizado pela Prefeitura bem na localidade e à beira da estrada que
acesso à região norte do estado. Grande parte das vendas é realizada para viajantes:
comerciantes e turistas.
A Loja do Pra
-
Ita (Figuras 18 e 19) possibilita com maior facilidade a comercialização
das peças produzidas pela comunidade do Barateiro, aos ‘passantes da estrada’, uma vez que está
situada às margens da BR
-
222.
FIGURA 18 LOJA DO PRA-ITA FIGURA 19- VISÃO DA LOJA PARA A BR-
222
A noite vai chegando, as luzes acendendo e o barulho das máquinas escutado por
todas as ruas, aos poucos, silenciando-se. Ë a hora de a família verificar o que precisa ser
produzido, o que precisa ser comprado ou trocado, assistir à televisão – o divertimento
preferido da maioria, pois outras opções noturnas de lazer são poucas ou, dependendo da
localidade
, inexistem.
O Projeto de Revitalização do Artesanato de Itapajé (*Pra-Ita) foi uma das
iniciativas da prefeitura do município para incentivar a produção do bordado,
envolvendo os artesãos, estilistas, sociólogo, o Sebrae-CE e a prefeitura no apoio
logís
tico. A metodologia aplicada para a implementação do Pra-Ita constituiu-se de
diversas etapas. Inicialmente foi realizado um diagnóstico onde foram captadas
informações diversas dos artesãos, como: nome, endereço, tipologia, produção mensal,
matéria
-
prima
utilizada e fornecedor, preço, para quem, onde e como vendem as peças
produzidas.
“Diante do resultado, objetivou-se renovar e revitalizar o artesanato local,
com identidade cultural, originalidade, qualidade e diferencial. Aliando-se artesanato e
cultura
, é possível desenvolver um artesanato criativo, com história, único, diferenciado,
competitivo e com sustentabilidade”. (Iara Braga, estilista).
Três blocos de conhecimento abrangem o Projeto: motivação,
empreendedorismo e desenvolvimento de produto. Foi realizada a capacitação dos
profissionais através de módulos, onde ocorreram dinâmicas, vivências, oficinas,
discussões e jogos oportunizando conhecer etapas de construção do saber e do fazer.
Artesanato e cultura foram temas trabalhados no primeiro módulo
, a inter
-
relação entre
esses dois elementos e o seu cotidiano.
No módulo seguinte foram abordados o artesanato ocasional e o artesanato
profissional, que têm preocupação com o produto, o mercado e o cliente. Conhecimentos
administrativos e comerciais for
am explorados neste momento. No último módulo foram
trabalhados o design, o processo criativo e o desenvolvimento do produto. Neste, os
envolvidos foram levados a trabalhar os elementos que fizeram parte da infância, da
vida ou que os rodeiam, permeando o
dia
-a-dia. Essa seqüência de ações as levou à
prática e ao desenvolvimento de peças comercializáveis com qualidade bem superior à
apresentada anteriormente à capacitação.
As artesãs envolvidas no Projeto moram nas seguintes comunidades:
Pitombeiras, Padre Manoel, Barateiro, Padre Lima (Pau Ferrado), Camará e Sede; as
quatro últimas foram exatamente as comunidades exploradas neste estudo. Observou-
se
que a comunidade que mais interiorizou e colocou em prática os conhecimentos e os
objetivos do Pra-Ita foi a do Barateiro. Nesta, as bordadeiras valorizam e defendem seu
produto, participam efetivamente do seu desenvolvimento e comercialização de forma
conjunta. Como exemplo, pode ser citada a logomarca do Pra-Ita (Figura 20), que foi
criada a participação efetiv
a das artesãs.
FIGURA 20
LOGOMARCA DA LOJA DO PRA
-
ITA
A produção artesanal nesta localidade é diferenciada, não somente na
qualidade, que é bem melhor. Outros fatores são perceptíveis, como o grau de discussão
sobre os valores das peças que é superior ao preço das mesmas, os argumentos para o
processo de elaboração, desenvolvimento e comercialização se sobrepõem ao ato de
bordar, pois as bordadeiras definem o tipo de produto, as influências que o meio têm
sobre os desenhos a serem elaborados e outros aspectos que consideram para a
valorização total do produto, com a consciência de que as peças do Barateiro são
realmente diferentes das outras comunidades próximas.
4.4.1 O bordado na cultura local
Entender e amar o artesanato são a certeza de estar alcançando a alma
do povo. É identificar seus códigos, seus modelos de comunicação, suas
crenças e seus sonhos. (Autor desconhecido)
A história do bordado pode ser relatada por Maria Luíza Pinto de Mendonça
(1959,
apud
Fleury, 2002, p.62), que nos remonta ao des
envolvimento da arte de tecer até
a inserção e interferência da arte feminina no tecido:
Em suas mãos, o tecido vai adquirindo qualidades: mais espesso ou mais
tênue, do colorido natural ao artificial, liso ou ornamentado com a
superposição de outros fios, formando malhas ou cortando aqui e ali,
formando texturas diferentes. Assim nasceram os bordados mais ricos e
os pontos mais variados(...).
O bordado como atividade artesanal (no município de Itapajé) perpassa da
concepção de ser uma ocupação secundária,
que se utiliza o tempo ocioso ou disponível e
objetiva complementar a renda, pois se tornou a atividade principal de quem o produz,
expressão de sua cultura material.
No dia-a-dia das famílias, o fazer artesanal é transmitido com maior
facilidade e eficiência, constituindo-se em grande fator que garante a perpetuação desta
arte. O conceito de identidade cultural, evidente na questão da cultura e da memória,
alia
-se aos conceitos de utilidade e de beleza, complementando-se. Fazendo-se uma
ligação entre a teoria e a arte do bordado constata-se que, no artesanato, aspectos
imprescindíveis funcionais e formais se vinculam à qualidade estética.
D’Ávila (1983, p.175), nos diz que “no campo estético, artesanato e arte não
têm uma linha divisória”. Neste caso, a originalidade, a sensibilidade, a inteligência, os
valores, o jeito pessoal, a dignidade pessoal, o estilo e a sabedoria adquirida na profissão,
enfim, a personalidade e todo o envolvimento que se transferem ao produto de suas mãos
definem o belo que atende às regras do bem fazer que constitui a atividade artesanal.
A subjetividade do belo no bordado de Itapajé está associada à qualidade do
mesmo e da peça em seu aspecto geral, incluindo a bainha ou cordão, o recorte das
bordas e o engomado. Não se espera que todas as peças e detalhes sejam iguais visto que
este é o aspecto primordial do artesanato: a individualidade. São as características que
cada peça pode oferecer como variação e qualidade decorrente do cunho humano e
pessoal, mesmo se sabendo que o mesmo desenho seja repetido indefinidamente infinitas
vezes.
O bordado se liga à individualidade do agente que transforma durante o
processo de execução o objeto de trabalho através da inteligência, que enfim, é uma
posse sua. Na literatura, também são freqüentes as referências entre o fazer e o meio, as
relações existentes, ocorrentes e decorrentes das atividades na produção artesanal, a
interferência direta no fazer como conseqüência dessas relações.
O imaginário feminino permeia o fazer, sua sensibilidade, a maneira como
capta o que se passa ao seu redor; as relações com filhos, marido e ou outras
companheiras acabam por se refletir no risco, nos traços, nas cores... Muitas vezes, até
no volume de linha em cada traço... Quando se cenas do cotidiano quebra de milho,
homens a cavalo, mulheres bordando, entre outras nas peças de bordado aplicado,
percebe
-se nestas, um pouco da alma e da vivência da bordadeira. Passa, para quem
olha, o amor pela maneira que vivem naquele meio, como são representativas no seu
íntimo, as passagens’ diárias e repetitivas a sua frente, no seu ‘terreiro’. Estão ali,
sentimentos impregnados. Involuntariamente. Na inspiração, nos tipos, nas formas,
quantidades e design.
A partir do momento em que o homem começa a manter relações sociais no
decorrer do uso ou da transformação do mundo material não-humano, constitui sua
história e a sua repetição vai fortalecendo a tradição.
Uma direção consciente que o ser humano aos seus atos lhe possibilita
criar condições para mudanças que venham favorecer à concretização dos seus projetos.
Para Fagundes (
2001)
, cada indivíduo é a síntese das relações existentes, mas também da
história dessas relações; o que une ou diferencia os indivíduos são os seus pensamentos e
não suas diferenças biológicas. Nas atividades em interação é que os homens constroem
suas possibilidades, suas diferenças e seu lugar no mundo.
Podemos relatar as relações que ocorrem no âmbito artesanal e no pós-
artesanal, como nos sugere Williams (1992). Durante as etapas de execução da peça
artesanal, quase sempre realizadas no seio doméstico, a interferência do artista é
imediata, o convívio, sentimentos e emoções acabam por se retratar as relações de
produção nas criações
-
mesmo que involuntariamente. Na fase seguinte, a pós
-
artesanal,
seguem
-se as relações de comercialização, tipicamente capitalistas, onde o mercado
explora e visa o lucro, sobrepondo
-
se às características intrínsecas e individuais da obra.
Considerando as dificuldades no meio rural, onde a mão-de-obra disp
onível
não é absorvida, o bordado desempenha papel social e econômico relevante. Sua
produção e comercialização compatível oportunizam o equilíbrio e a preservação da
cultura bem como representam renda capaz de fornecer meios de subsistência condigna
à mão
-de-
obra empregada.
Recentemente a imprensa nacional (Jornal Nacional, 23/nov/2004, Rede
Globo) veiculou reportagem com a seguinte manchete: “Agricultores trocam trabalho no
campo pela máquina de costura”, e em tom mais leve: “Agricultores de uma das á
rea
s
mais secas do sertão cearense estão trocando a dificuldade do trabalho no campo pela
quina de costura. A primeira escola de moda do semi
rido nordestino aproveita uma
voca
çã
o natural da região: o bordado”. Essa matéria se referia especialmente ao Esta
do
do Ceará, no município de Tejuçuoca, limite sudeste de Itapajé.
Trata
-se de um projeto Tecnomoda que reforça a necessidade de
investimento em trabalho artesanal, principalmente onde a comunidade tem vocação e
as condições de trabalho na agricultura são imensamente difíceis. Foram apresentados
depoimentos de artesãos, alguns que são ao mesmo tempo agricultores e estudantes.
Ações como essa, envolvendo ONGs, instituições, profissionais e a comunidade que
visam aproveitar e valorizar o potencial das pessoas tendem a possibilitar melhores
níveis de bem
-
estar social.
Conciliar conhecimento, habilidades e tecnologia com estrutura e apoio,
podem ser uma alternativa de desenvolvimento de indivíduos e comunidades que não
têm facilmente oportunidades de crescimento. O desenvolvimento de tecnologias ou a
globalização da economia não devem ser empecilhos ou barreiras, mas um estímulo, e
conceber que a modernidade, ao romper com a geografia tradicional, cria novos limites.
A necessidade do desenvolvimento do design do artesanato é urgente.
Revitalizar e inovar o patrimônio cultural, além de ser investimento social profícuo, é
um investimento econômico de grande eficácia, além de buscar satisfazer os desejos de
enriquecimento da consciência e crescimento pessoal de cada pessoa envolvida.
Nenhum fator isolado pode explicar as dificuldades do país, mas prioridades e estratégias devem
ser estabelecidas e implantadas para compensar a alta necessidade de atenção de recursos e compromisso,
especialmente no espaço rural. Dentre alternativas, o turismo pode ser considerado uma opção, independente de
estar relacionada com o meio rural ou não, como, por exemplo, podem ser citados o agroturismo, os hotéis-
fazenda e o ecoturismo. A ativação do turismo no espaço rural é uma estratégia que pode ser adotada pelos
produtores na administração de sua área, permitindo a sobrevivência e a manutenção da propriedade como um
todo, visto as condições econômicas e sociais em que se inserem.
O fluxo de turistas permite o contato com os diversos produtos da região, incrementa a renda e
possibilita a abertura do meio em contato com o mundo. Disponibilizar os artigos artesanais na rota turística faz
com que os artesãos não se desloquem e os produtos estejam à mão mais facilmente.
No município de Itapajé não um movimento turístico capaz de proporcionar
maiores efeitos ao comportamento da economia municipal. Reconhecendo essa realidade, a
prefeitura de Itapajé tem buscado desenvolver ações relativas à exploração de trilhas, mirantes
e locais atraentes, construção de parque ecológico, melhores condições de acesso aos pontos
turísticos e a criação e manutenção de espaços culturais nos distritos. Se forem estes
efetivados certamente os turismos ecológico e cultural propiciarão geração de trabalho e ren
da
sustentáveis, além de abrir mais um espaço para a comercialização do bordado. É o que Mello
e Silva (2003), denomina de integração intersetorial das atividades econômicas e sociais.
Para Mello e Silva (2003), é importante o desenvolvimento do turismo p
ara
incremento da economia, entretanto, é primordial que as ações voltadas para esta atividade
decorram de um planejamento que envolva de forma integrada: interação sociopolítica,
identidade, laços de coesão e projeto social. A inexistência desse planejamento provocará,
irremediavelmente, desequilíbrios sócio-
espaciais e ambientais.
Ainda nesta perspectiva, Farias e Nogueira (2003), alertam para o fato das
atividades tradicionais serem substituídas pelas geradas pelo turismo, decorrendo assim,
substituição
de postos de trabalho e não sua ampliação conseqüentemente, o possível declínio
das atividades tradicionais, como relatam o fato em Flexeiras-CE. Portanto, a implementação
de políticas ligadas ao turismo local, devem estar alinhadas com as ligadas ao
dese
nvolvimento da atividade artesanal. No mesmo raciocínio, Coriolano (2003, p.26), nos
diz que:
Entender o desenvolvimento na escala humana significa
encontrar os caminhos para viabilizar o desenvolvimento
local e o desenvolvimento do turismo, por que ambos
têm o homem no centro da ação e o objetivo é a busca da
satisfação humana.
Desta forma, priorizar o desenvolvimento global envolve as características
inerentes ao ser humano e, às condições disponíveis, acrescentar elementos que viabilizem
melhoria na qualidade de vida. Esta premissa é indispensável para a construção do
desenvolvimento humano homogêneo e coletivo.
4.5 Tipologias, Técnicas, Formas de produção e Comercialização
Ver no artesanato resquícios de uma sociedade tradicional é esquecê-
lo
como contemporâneo e minimizá-lo em sua importância na medida em
que é através das chamadas atividades artesanais que parte significativa
da população sobrevive. (SOARES, 1983, p. 49).
As tipologias do bordado exploradas no universo da pesquisa são o bordado
cheio,
a aplicação e o rechiliê (Figuras 21, 22, 23). O bordado cheio é a tipologia de maior
uso (97,5%), seguido da aplicação (7,5%) e do rechiliê (5%), tendo quatro casos em que
a execução de mais de uma tipologia. Os produtos mais vendáveis são os artigos d
e
mesa (caminhos e toalhas), cama (colchas e fronhas) e banho (conjuntos de toalha).
Bordados de enxovais infantis –sempre feitos à mão têm concentração na localidade
Pitombeiras.
FIGURA 21
– BORDADO CHEIO À MÃO E À MÁQUINA EM TECIDO PLANO
FIGURA 22
BORDADO RECHILIÊ E APLICAÇÃO EM TECIDO PLANO
FIGURA 23
BORDADO E APLICAÇÃO À MÃO NA MALHA
A história do bordado em Itapajé tem início no ano de 1837 quando a
primeira máquina de costura é adquirida e, junto à confecção doméstica de roupas, o
borda
do surgiu. Com o passar do tempo, a atividade tomou força de produção
comercial, foi, portanto o momento de, aos poucos, ser substituída de totalmente manual
para ser realizado com a utilização da máquina. A introdução deste equipamento
tecnológico não modificou o caráter artesanal, mas a técnica manual passou
gradualmente a ser menos utilizada. (LOUSADA,.2002).
Facilitando a produção, o comércio local dispõe de todos os materiais e
insumos necessários, onde 90% das entrevistadas os adquirem, 5% compram em
Fortaleza e 2,5% compram os tecidos direto da fábrica em São Paulo. As compras de
7,5% das entrevistadas são feitas tanto em Itapajé quanto Fortaleza ou ainda não
compram, pois trocam as peças bordadas por materiais e insumos. Braga (2003),
informa que duas fábricas em Fortaleza (Tomás Pompeu e Ribeiro Chaves) têm sua
produção destinada quase completamente para Itapajé, e 30% da produção de linhas
Coats Corrente Nordeste é vendida para este município.
As formas de produção identificadas – à mão e à máquina (Figura 24)–
demonstram que a atividade é, em sua totalidade, desenvolvida no ambiente doméstico;
quase sempre na própria residência, mas às vezes na casa de pessoas que têm diversas
máquinas e o pagamento é efetuado pela produção desempenhada. Em relação
à
quantidade produzida, 77,5% são feitas à máquina, 12,5% à mão e 10% das
entrevistadas, bordam à máquina e à mão. Os argumentos utilizados para justificar a
técnica mais usada são que a produção à máquina é mais rápida, portanto, a certeza do
giro financeiro uma vez que a produção à mão é muito lenta e o valor monetário que a
peça merece nem sempre é conseguido no momento da venda.
FIGURA 24 SENHORA BORDANDO À MÃO, GAROTO
BORDANDO À MÁQUINA
Não a matéria-prima e os insumos, mas movimentam também o
comércio
local a venda de máquinas, seus acessórios e equipamentos, e o crédito financiado por
banco oficial em parceria com o Sebrae.
A Feira do Bordado Sujo é um centro de grande comercialização que
acontece aos sábados na praça principal da cidade. Ali são encontradas, geralmente,
peças mal elaboradas, incompletas, sem acabamento enfim, de qualidade inferior o que
as leva ao preço mínimo que muitas vezes não cobrem nem os custos diretos de
produção. As bordadeiras se vêem a vendê-las nestas condições pela necessidade do
dinheiro em espécie em suas mãos.
As peças também são vendidas em feiras locais, regionais e de todo o Brasil
em Itapajé, municípios vizinhos, Fortaleza e em Belo Horizonte/MG, para clientes de
cidades de outros estados – Pernambuco, Bahia, Piauí, Maranhão, São Paulo e do
Distrito Federal e, em alguns casos, compradores vêm de outras localidades para levar
em consignação ou mesmo para distribuir em outras praças.
Em pesquisa de campo realizada pela estilista Iara Braga grande parte do
país é abastecida pelos bordados da cidade feitos à mão e à máquina. Encontra-se o
bordado de Itapajé tanto em butiques e lojas do Jardim Paulistano bem como nas
calçadas do Hospital da Clínicas em São Paulo; nas lojas da Savassi e na Feira Nacional
do Artesanato em Belo Horizonte (MG), nas feirinhas de artesanato de Caruaru, Porto
de Galinhas e Boa Viagem (PE), da Redinha, João Pessoa e Campina Grande (PB),
Maceió (AL) e em São Leopoldo e Imbé (RS). (BRAGA, 2003).
Convém considerar, neste estudo, o sistema de comercialização como o
mecanismo primário para a coordenação das atividades de produção, distribuição e
consumo. Para Brandt (1980, p.15), “o mercado é mais conceitual do que físico e
constitui parte integrante dos diferentes processos por meio dos quais se transfere a
propriedade dos bens e serviços”. Em conformidade com a teoria e como demonstrado
acima, a produção do bordado de Itapajé atinge grandes mercados, embora deva
receber maiores estímulos para expansão da produção, conseqüentemente, maior
abr
angência de mercado. Esta expansão poderá propiciar ao aumento do nível de renda,
de ocupação e do nível de bem-
estar da população.
O sociólogo Ésio Lousada, que trabalha principalmente as relações de
comercialização com os grupos de produção, acredita que “a manutenção da arte do
bordado, da sua originalidade, são fundamentais para a tradição da cultura local; que o
apoio que vem sendo dado às bordadeiras objetiva maior conscientização do poder que
elas têm na construção e continuidade do fazer, que não pode morrer ou ao longo do
tempo cair no esquecimento”.
Durante a fase artesanal, não somente é possível como também necessária, a
organização das pessoas envolvidas, desde o processo de criação, de execução,
comercialização, distribuição e avaliação de todo processo. Em dois momentos foi
identificada a possibilidade de organização: Comunidade Barateiro e Cooperativa
(Figura 25). Na primeira, percebe-se a participação informal de associados, uma
aparente
associação consciente ou identificação grupal,
como gri
fa
Williams (1992, p. 86),
o qual sugere que essa organização é fundamental e imprescindível, mesmo que informal
ou, por vezes, limitada ao trabalho em conjunto ou a relações de caráter mais geral.
FIGURA 25 BORDADEIRAS NA LOJA DA COOPERATIVA E LOJA DO PRA-
ITA
Na prática do Barateiro, verifica-se um exemplo de organização tipo de
formação cultural moderna como nos fala Williams (1992). É evidente a preocupação
das artesãs em comercializar conjuntamente, em produzir com qualidade, unidade e
identidade (suas peças têm identificação incluindo o nome da bordadeira),
designs
que
representam elementos de vida da comunidade enfim, existe o estilo agregado ao
produto artesanal.
Em uma organização informal mecanismos como exposições coletivas, feiras
ou outros tipos de manifestações demonstram relações sociais de produção cultural.
Obviamente que também apresenta desvantagens como a falta da legitimidade que
impossibilita barganhas na compra de insumos e equipamentos, ausência de
capitalização coletiva, entre out
ras.
No segundo momento, constatou-se a existência de uma cooperativa
comandada por uma bordadeira que faz toda a negociação com a Ceart, onde sua
produção é
definida
(grifo nosso) pela instituição, seja no design, na quantidade ou na
qualidade. Neste tipo de situação, observa-se que a artesã pode estar simplesmente
oferecendo seu trabalho para ‘produzir obras de determinado tipo’. Questiona-se então
a obrigação, sujeição e responsabilidade da artesã a um público ou a um mercado, e
onde ficam a liberdade e a oportunidade de criar ‘como lhe interessar’, mas, por outro
lado, sabe que o que produzir será vendido e sua renda está garantida.
Observou
-se que, como são apenas cinco bordadeiras na cooperativa, e a
análise das demais é que a renda não compensa por que os produtos têm preço muito
baixo, acredita-se que não é vantagem ser cooperado da forma como elas trabalham. De
acordo com a literatura, mais à frente descrita, a cooperativa é uma alternativa com
mais vantagens que desvantagens desde que todos os seus membros compartilhem das
idéias e decisões, legalmente.
Diversas abordagens podem ser discutidas quando se fala de organização
cooperativa. Veiga e Fonseca (2001), ressaltam as vantagens e dificuldades de sua
existência. Os autores levantam que condições de crédito, aumento da produtividade,
eliminação de intermediários, quebra do individualismo e solidão social além de
favorecer à consciência de cidadania, entre outras. Como dificuldades, enumeram a
dependência a pessoas ou a órgãos, possibilidade de paternalismo, pessoas que
trabalham menos que outras e têm o mesmo ganho, os associados não saberem que rumo
segue a cooperativa, entre muitas outras. Em uma relação pacífica de ação’, os autores
sugerem um sistema que propicia o desenvolvimento integral do indivíduo por meio do
coletivo, abrangendo produção, solidariedade e crescimento comum.
Fazendo
-se um paralelo entre a prática de Itapajé e os autores acima,
percebe
-se que as cinco bordadeiras ocupam o prédio da cooperativa e que as ações que
acontecem são distantes do ideal entre cooperativa e cooperado. As relações existentes
entre as cooperadas são de submissão à instituição e à bordadeira ‘chefe’. As peças
produzidas são todas definidas pela instituição que encomenda. O grupo envolvido
isso como vantagem por ter sua produção toda vendida. Não percebem que a expressão
da alma e da personalidade de cada uma foi tolhida, que não está sendo respeitado o seu
ritmo, que os produtos podem estar sendo massificados enfim, que esta prática despreza
a identidade do bordado. Vives coloca muito bem quando ações como esta acontecem de
cima para baixo: “(...) e, socorrido imprudentemente, pela iniciativa oficial, acabará por
desvirtuar seu papel original de testemunho, submetido que será às exigências
mercadológ
icas” (1983, p. 139). Ainda neste raciocínio, a autora defende que “(...)
quando os planejadores oficiais se intrometem, tentando orientar eles deformam e
degradam a obra, pretendendo adequá-
la ao mercado”.
Sabe
-se, enfim, que nem tudo é de tão ruim. Estas pessoas têm a renda
garantida
– mesmo que na baixa valorização de suas peças – e todas as peças que
produzem têm destino certo, desde que satisfaçam às exigências da instituição.
As vendas específicas de bordados são feitas de formas variadas. o
agenci
amento onde um indivíduo fica responsável por todas a transações comerciais,
inclusive determinando o que deve ser produzido. Em algumas comunidades existem
locais predeterminados pontos de apoio e venda para comercialização (tipo galpões).
A venda também pode ocorrer diretamente do produtor ao consumidor, onde o próprio
artesão sai para vender seus produtos em feiras ou demonstrando-os em lojas de
artesanato, casas de veraneio ou hotéis e pousadas. Outra forma de comercialização
comumente utilizada é através de intermediários, pessoas que levam os produtos
confeccionados pelas bordadeiras para Fortaleza e trazem produtos da capital para
vender nessa localidade.
(FLEURY, 2002).
Quando se trata de comercialização, Raymond Williams relata que as
relações sociais dos artistas parcial ou totalmente envolvidos na produção de
mercadorias são, de fato, extremamente variáveis. Ocorre muitas vezes do próprio
‘artista’ vender sua arte, sua obra. Desta forma, o autor nos diz que:
... Chama-se a isso
artesanal.
O produtor é totalmente dependente do
mercado imediato, mas, dentro das condições deste, sua obra permanece
sob seu controle em todas as etapas, e nesse sentido, ele pode considerar-
se independente. (1992, p. 44).
Produzir e comercializar: paradoxo para o artesão. Como dar o valor devido às peças, como
calcular o valor da sua criação, da sua mão de obra? Na vivência das bordadeiras, o valor monetário certamente
não cobre os custos, mas vimos que na grande maioria das famílias estudadas, quando o bordado não é a
fonte
exclusiva de renda, é a maior e principal. Seu trabalho é doméstico e também de subsistência, não somente
contribuindo, mas determinando a receita familiar.
5
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
A pessoa humana é a sede de uma alma original, sede da cultura e de
todos os aperfeiçoamentos. A proficiência artesanal está na pessoa do
artesão. Ele é capaz de exercer sozinho todas as fases de um
determinado ofício. (D’Ávila, 1983
, p.175)
5.1 Conclusões
Conhecer bordadeiras, seu dia-a-dia, a prática artesanal, suas alegrias e
dificuldades... uma experiência que vivendo para
conhecer
profundamente: ir à
Itapajé, caminhar em suas ruas, dormir e acordar ao som de máquinas que quase não
param de zoar. O som não chega a ser ensurdecedor, mas é marcante.
Viver e conviver. É assim que se pode tirar conclusões não apenas numéricas
e concretas mas também aquelas que percebemos no olhar, no sorriso, nas mãos,
atitudes e entonações de voz. A análise apresentada não é de dados apreendidos das
questões objetivas do questionário mas também daqueles comentários que foram por
demais representativos.
Por saber que o bordado faz parte da história dos itapajeenses, foi de grande
valia compreender a importância que esta atividade tem sobre a vida social e econômica
das famílias e do município.
Considerando os resultados encontrados na presente pesquisa, chega-se a
algumas conclusões a respeito da qualidade de vida das bordadeiras de Itapajé. A
população em estudo é extremamente jovem. Entretanto, a idade não está relacionada
positivamente com o grau de instrução, pois destes que têm até quinze anos, apenas
pouco mais de um quarto está na idade regular de matrícula, ou seja, têm ou estão com
oito
anos de estudo, ainda desconsiderando que uma pequena parcela não está em idade
escolar. Conclui-se assim, que embora todas as crianças estejam freqüentando à escola,
algumas encontram-se na série atrasada em relação à idade. Verificou-se, ainda, que
maior
ia dos membros das famílias têm até o ensino fundamental incompleto,
concentrando
-se pessoas de mais idade na categoria analfabeto, alfabetizado e ensino
fundamental incompleto.
Com relação ao indicador saúde os indicadores demonstram que a
comunidade tem relativa assistência para casos primários, mas com deficiência no
atendimento odontológico. Percebe-se que o nível de vacinação é elevado, embora
aconteçam alguns casos esporádicos de doenças infectocontagiosas.
O aspecto de moradia foi satisfatório. Apresenta dados que refletem boas
condições de habitação e moradia. Todas as residências têm cobertura com telha,
iluminação através de energia elétrica e água encanada, embora um terço não
nenhum tratamento para a potabilidade adequada da água. Este fator
incide
diretamente nos indicadores saúde e expectativa de vida pois a incidência de doenças
como diarréia e verminoses são ocorrentes com freqüência e maiores causadores de
mortalidade infantil. Apenas na comunidade Camará não existe coleta de lixo e em s
ua
maioria, as famílias o jogam nas proximidades de rios e plantações ou o queimam.
Quanto às formas de vida e lazer, existe uma reclamação/solicitação das
comunidades pela construção de áreas de lazer para jovens e crianças, como parques e
quadras esportivas. Este aspecto deve-se à grande quantidade de pessoas jovens e sem
opções de diversão. Verificou-se que as alternativas mais utilizadas são a televisão e os
banhos de rio/açude.
Na situação ocupacional, das entrevistadas, mais da metade são somente
arte
sãs, têm como atividade rentável financeiramente, apenas o bordado. Quando
analisamos a entrevistada e o parceiro, mais de um terço das famílias têm no casal a
atividade de renda proveniente exclusivamente do bordado. Apenas uma pequena
parcela está envolvida com artesanato e agricultura. Sob este aspecto, podemos reforçar
a necessidade de estimular a produção artesanal, absorvendo a mão-de-obra disponível
da agricultura e, também, a agricultura familiar.
Sendo este Município considerado pobre, que mesmo possuidor de paisagens
naturais belíssimas, sofre de intempéries da natureza: a seca principalmente. Esta,
impede o desenvolvimento regular e constante das atividades agrícolas. Eis que o
bordado se apresenta como forte alternativa de renda, a qual, em um quarto das
famílias, é a única fonte e em quase todas as famílias estudadas, mais da metade da
renda provém da venda das peças bordadas produzidas. Um aspecto observado que deve
ser ressaltado, relaciona-se às fontes do governo. Os valores verificados são m
uito
baixos, representando pouquíssima participação no orçamento familiar cujo valor e
poder de compra são muito pequenos.
Comprovando o baixo índice de qualidade de vida e de desenvolvimento
humano apresentados no capítulo anterior, observe-se o nível de consumo da
alimentação em relação à renda. Grande parcela das famílias gasta quase tudo com
despesas alimentares, porém, verificou-se que mais de três quartos delas fazem de
quatro a cinco refeições por dia, isto é, não passam fome. A compra de bens concen
tra
-
se
nos bens duráveis, que em sua maioria faz muito tempo de aquisição, verificou-
se
presença massiva de aparelho de tv, som e antena parabólica.
O indicador expectativa de vida é diretamente ligado aos aspectos educação e
saúde, que influenciam nos índices de natalidade e mortalidade. Como foi dito, a
população estudada é muito jovem. Das entrevistadas, quase metade teve de três a cinco
gravidezes e aproximadamente um quarto, acima de cinco. Observe-se que metade
encontra
-se na faixa etária entre vinte e um e quarenta anos, e que muitas delas tiveram
filhos que morreram antes de completar um ano de vida. Não se pode esquecer que
diarréia, desidratação e mal de sete dias foram os maiores causadores desta mortalidade.
Acesso à informação, educação e assistência são fundamentais para a prevenção e
erradicação de doenças ditas de localidades pobres.
Considerando todos estes aspectos dos indicadores, entendemos o por quê dos
níveis da qualidade de vida e do desenvolvimento humano das famílias estudadas. Os
índices encontrados poderão ser melhorados paulatinamente com a parceria e iniciativa
do setor público e da comunidade envolvida.
Conforme dito na Introdução deste trabalho, o Programa Nacional de
Desenvolvimento do Artesanato, criado em 1977, vem, ao longo do tempo sendo
reformulado e adequado às condições e definições de cada momento. Seu objetivo inicial
de organização do trabalho, das relações de trabalho, de organização da produção e de
sua comercialização, além da formação da mão-de-obra, continua sendo trabalhado e,
atualmente, algumas instituições vêm dando apoio à produção do artesanato, como
Sebrae e Ceart. Em Itapajé, o Sebrae já participou mas o trabalho executado não
“fincou raízes”. A Ceart continua trabalhando à sua maneira, com a cooperativa do
município. Convém lembrar, também, o CrediArtesão, instituído e administrado pelo
Banco do Nordeste.
5.2 Sugestões
Considerando que a renda é um grande fator no conforto e na satisfação da
família em adquirir o que deseja, observa-se que ainda é pequeno o valor, mas muito
representativo, o que as bordadeiras tiram da atividade para o sustento da família.
Entretanto, por ser uma opção concreta e viável, esta atividade deve ser estimulada,
estruturada e apoiada no seu desenvolvimento.
Sabe
-se que outras atividades chamadas ‘indústrias artesanais’ são grandes
propulsores da economia doméstica e principalmente do espaço rural. A aquisição de
insumos, materiais e equipamentos requer recursos; para o desempenho da atividade,
conhecimento do mercado, das exigências deste e domínio das técnicas (o que não falta
às bordadeiras); da peça em si, apresentação com design de beleza e qualidade, aliando
estética, utilidade e funcionalidade. Todas estas etapas precisam ser trabalhadas pelas
artesãs em conjunto com o poder público, detentor de meios que possibilitem o
desenvolvimento da atividade com maior precisão, competência e qualidade, uma vez
que o mercado encontra-
se cada vez mais aberto, mais estimulante e mais diversificado.
Bordar em Itapajé é quase tão essencial quanto respirar, é de natureza
econômica típica porque, além de participar efetivamente do mercado de trabalho com
absorção da mão-de-obra, ainda tem por objetivo primacial a comercialização dos
produtos dela resultante. É também de caráter social. Faz parte do cotidiano as relações
de combinação de etapas na produção e comercialização, no empréstimo e troca de
linhas e tecidos, enfim, no programar, fazer e vender: viver. Uma atividade humana,
dinâmica, variável mas constante no tempo e no espaço.
Como nos disse SS. o papa João XXIII, “o respeito à pessoa humana deve
caminhar diante de qualquer consideração de progresso econômico”.
Saliente
-se, aqui, que o artesanato não pode ser valorizado apenas como uma
economia de mercado, mas pelo desenvolvimento cultural como um todo. Não podemos
esquecer que estas pessoas participam da vida cultural, pelo que produzem
materialmente. Valorizar a identidade e autenticidade dessa cultura que, ao mesmo
tempo que supre as necessidades básicas, fazem parte da parte
mais íntima de cada um.
Enfim, podemos acrescentar que as artes e as técnicas populares não podem
ser desvinculadas dos estilos de vida, hábitos e costumes vigentes na área de sua
produção, distribuição e consumo. Devem, sim, serem resgatadas, provocadas,
estimuladas, e asseguradas. Conforme nos diz D’Ávila op. cit., feita de percepções e de
subjetividade, a arte vira cultura material de valor. Cabe à Prefeitura intensificar ações
de envolvimento, resgate e desenvolvimento dessa arte que está presente no sangue de
cada itapajeense
sujeito e objeto de uma política governamental específica. Mesmo que
seja um trabalho lento, uma vez que mexe com necessidades imediatas, com a destreza
das bordadeiras, com seus sentimentos, angústias, necessidades e, principalm
ente
interesses e prioridades, são muitos os motivos para dar continuidade e maior
notoriedade a esta tão importante atividade desenvolvida por todo o município.
6
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