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AVALIAÇÃO NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO À
FRATURA DE UM PROTÓTIPO DE VASO DE PRESSÃO
DE REATOR PWR SUBMETIDO A CHOQUE TÉRMICO
PRESSURIZADO
Heloisa Maria Santos Oliveira
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-Graduação em Ciência e
Tecnologia das Radiações, Minerais e
Materiais;
Orientador: Prof. Dr. Julio Ricardo Barreto Cruz
Belo Horizonte
2005
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Comissão Nacional de Energia Nuclear
CENTRO DE DESENVOVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das
Radiações, Minerais e Materiais
AVALIAÇÃO NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO À
FRATURA DE UM PROTÓTIPO DE VASO DE PRESSÃO
DE REATOR PWR SUBMETIDO A CHOQUE TÉRMICO
PRESSURIZADO
Heloisa Maria Santos Oliveira
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das
Radiações, Minerais e Materiais, como requisito parcial para obtenção ao Grau de
Mestre
Área de Concentração: Ciência e Tecnologia dos Materiais
Linha de Pesquisa: Integridade Estrutural e Extensão de Vida
Orientador: Prof. Dr. Julio Ricardo Barreto Cruz
Belo Horizonte
2005
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ii
iii
Ao meu pai (in memorian) e à minha mãe,
principais responsáveis por minhas conquistas
iv
AGRADECIMENTOS
Ao Sr. Cezar Augusto Oliveira que deu grande incentivo para que este trabalho fosse
iniciado e ao Sr. Sebastião Lacerda Gomes por possibilitar a conciliação deste trabalho com
as atividades do GA2.
Ao Prof. Dr. Julio Ricardo Barreto Cruz pela orientação e apoio prestado durante a
realização deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Emerson Giovani Rabello um agradecimento muitíssimo especial pela preciosa
e fundamental ajuda, apoio e discussões técnicas que possibilitaram o desenvolvimento e a
conclusão deste trabalho.
Aos Dr. João Mário e Dr. Geraldo Martins pelas valiosas contribuições técnicas em todas as
etapas do desenvolvimento deste trabalho.
Ao M. Sc. Paulo de Tarso por todas as discussões técnicas, contribuições e apoio
fundamentais para a elaboração deste trabalho.
Ao colega Eduardo Chagas Ribeiro Neto pelos valiosos ‘palpites’ e apoio e também aos
colegas Diva Godoi, Adma Mansur, Hermano, José Roberto, José Roberto ‘Russo’, Ladislau
e demais colegas do GA2/CDTN, que pelo apoio, profissionalismo e competência técnica,
tornaram possível a elaboração deste trabalho.
À Sra. Márcia Valéria Fagundes, pelo apoio administrativo e pelas revisões valiosas.
Aos colegas do EC2/CDTN pelo apoio e incentivo.
Ao Dr. Murilo Senne Júnior pelo incentivo constante.
Às bibliotecárias Lenira Ferreira, Virgínia Rodrigues e Nívea Lima pelas preciosas
colaborações.
Aos meus familiares, amigos e em especial ao Paulo R. Fonseca, ‘amado meu’, pela
compreensão, apoio, paciência, e por entenderem meus momentos de ausência.
Aos colegas do CDTN e do curso de pós-graduação que, direta ou indiretamente, me deram
incentivo e contribuíram para a realização deste trabalho.
Aos secretários da Pós-Graduação Maria Aparecida, Machado e Andréa Dias pela atenção.
Ao Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN, por ter possibilitado a
realização deste trabalho.
v
AVALIAÇÃO NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO À FRATURA DE UM
PROTÓTIPO DE VASO DE PRESSÃO DE REATOR PWR SUBMETIDO A CHOQUE
TÉRMICO PRESSURIZADO
Heloisa Maria Santos Oliveira
RESUMO
No circuito primário de uma usina nuclear do tipo PWR (Pressurized Water Reactor), o
refrigerante do reator é mantido a uma temperatura interna por volta de 300 ºC e pressão
interna da ordem de 15,0 MPa, durante operação normal. O Vaso de Pressão do Reator
(VPR) contém os elementos combustíveis e é considerado o componente mais importante do
circuito primário. A integridade do VPR deve ser assegurada durante toda a vida útil da
usina, de forma a proteger os trabalhadores da usina e o público em geral dos danos
decorrentes da liberação de material radioativo.Uma das condições de carregamento mais
severas que pode ameçar a integridade do VPR é causada por um transitório conhecido
como Choque Térmico Pressurizado (PTS - Pressurized Thermal Shock). O VPR estará
sujeito a tal condição durante um acidente com perda de refrigerante do núcleo do reator.
Em um evento como este, o sistema de refrigeração de emergência do núcleo é ativado, o
que provoca a injeção de água fria no interior do VPR e, consequentemente, um súbito
resfriamento da parede do vaso. As tensões térmicas, resultantes deste choque térmico,
associadas às tensões causadas pela repressurização do sistema, resultam em tensões de
tração bastante elevadas, atingindo um valor máximo na superfície interna da parede do
vaso. Além disso, a baixa temperatura provoca uma redução na tenacidade à fratura do
material. Tal cenário pode levar à propagação de trincas relativamente pequenas através da
parede do vaso. Portanto, ferramentas para prever o comportamento de trincas durante um
evento de PTS são importantes e necessárias. O tema do presente trabalho se insere neste
contexto. Em primeiro lugar, foi feito um estudo das principais questões envolvidas com o
problema de PTS em vasos de pressão de reatores PWR. Essas questões dizem respeito ao
comportamento à fratura de aços ferríticos na região de transição frágil-dúctil, aos
procedimentos de análise de PTS disponíveis em documentos normativos e ao uso de
ferramentas de análise numérica para cálculo de distribuição de temperaturas e tensões, e
para obtenção de parâmetro de mecânica da fratura representativo da força motriz da trinca.
Como principal objetivo do trabalho, foram desenvolvidos modelos de elementos finitos
para avaliação do comportamento estrutural de um protótipo de VPR, contendo trincas em
sua superfície, utilizado em um experimento de PTS. Procedimentos de mecânica da fratura
vi
foram também aplicados para prever eventuais crescimentos de trinca através da espessura
da parede do vaso. Resultados das análises numéricas foram comparados com aqueles
obtidos com o uso de método simplificado e com medições realizadas no experimento de
PTS.
vii
NUMERICAL EVALUATION OF THE FRACTURE BEHAVIOR OF A PWR REACTOR
PRESSURE VESSEL PROTOTYPE UNDER PRESSURIZED THERMAL SHOCK
Heloisa Maria Santos Oliveira
ABSTRACT
In the primary system of a pressurized water reactor (PWR) nuclear power plant, the reactor
coolant is kept at internal temperature around 300 ºC and internal pressure in the order of
15,0 MPa, during normal operation. The reactor pressure vessel (RPV) contains the fuel
assemblies and is considered the most important component of the reactor primary system.
The RPV integrity must be assured all along its useful life to protect the general public
against radiation liberation damage. One of the most severe load conditions that may
threaten the integrity of a RPV is caused by a transient known as pressurized thermal shock
(PTS). The RPV may be subjected to such a condition during a loss of coolant accident. In
an event like that, the emergency core cooling system is activated, what leads to a sudden
cooling of the RPV wall. The thermal stresses due to this thermal shock on the vessel wall,
in combination with the pressure stresses from repressurization of the system, results in
large tensile stresses, which are maximum at the inside surface of the vessel. In addition, the
low temperature causes a decrease in the material fracture toughness. Such a scenario may
lead to the propagation of relatively small cracks through the vessel wall. Therefore, analysis
tools to predict crack growth behavior during a PTS event are important and necessary. The
theme of the present work is connected with this research area. In the first place, the critical
issues involved with the PTS problem were reviewed. These issues are related to the fracture
behavior of ferritic steels in the ductile-to-brittle transition region, the PTS analysis
procedures available in industry codes and standards, and the use of numerical analysis tools
for calculation of temperature and stress distribution and for computation of crack driving
force parameter. As the main goal, finite element models were developed for the assessment
of the structural behavior of a RPV prototype, containing surface cracks, used in a PTS
experiment. Fracture mechanics procedures were applied to predict crack growth through the
vessel wall. The results of numerical analyses were compared with those obtained with the
use of a simplified methodology and measurements from the PTS experiment.
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
1.1. Posicionamento do Tema...........................................................................................1
1.2. Objetivos......................................................................................................................3
2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................4
2.1. Fundamentos da Mecânica da Fratura....................................................................4
2.1.1. Equação de Griffith ......................................................................................................4
2.1.2. Equação de Orowan e Irwin ......................................................................................... 5
2.1.3. Fator de Intensidade de Tensões (K)............................................................................6
2.1.4. Tenacidade à Fratura (K
Ic
)............................................................................................ 8
2.1.5. Solução para Fator de Intensidade de Tensões para Trincas Semi-Elípticas Super-
ficiais ..........................................................................................................................10
2.2. Métodos Numéricos Aplicados à Mecânica da Fratura........................................12
2.2.1. Método dos Elementos Finitos - MEF ....................................................................... 13
2.2.2. Geração da Malha....................................................................................................... 16
2.3. Efeitos da Irradiação sobre a Tenacidade à Fratura............................................19
2.4. Choque Térmico Pressurizado (PTS).....................................................................21
2.4.1. Descrição do Problema de PTS e Metodologia de Análise........................................ 21
2.4.2. Projeto NESC-1..........................................................................................................26
3. METODOLOGIA ....................................................................................................27
3.1. Experimento de Referência .....................................................................................27
3.1.1. Geometria do Vaso.....................................................................................................28
3.1.2. Geometria das Trincas................................................................................................ 28
3.1.3. Propriedades do Material............................................................................................ 30
3.1.4. Montagem Experimental............................................................................................32
3.2. Análise por Elementos Finitos 2D...........................................................................32
3.2.1. Modelo de Elementos Finitos Axissimétricos............................................................ 32
3.2.2. Análise Térmica Transiente........................................................................................ 34
3.2.3. Análise Estrutural....................................................................................................... 35
3.2.4. Determinação do Fator de Intensidade de Tensões (K
I
) pelo ASME......................... 35
3.3. Análise por Elementos Finitos 3D...........................................................................39
3.3.1. Modelo de Elementos Finitos 3D............................................................................... 39
3.3.2. Análise Térmica Transiente........................................................................................ 42
ix
3.3.3. Análise Estrutural....................................................................................................... 43
3.3.4. Determinação do Fator de Intensidade de Tensões (K
I
) pelo ANSYS....................... 43
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................................47
4.1. Experimento de Referência .....................................................................................47
4.1.1. Distribuição das Temperaturas................................................................................... 47
4.1.2. Comportamento das Trincas....................................................................................... 48
4.2. Análise Axissimétrica...............................................................................................48
4.2.1. Distribuição das Temperaturas na Parede do Vaso.................................................... 48
4.2.2. Distribuição das Tensões na Parede do Vaso............................................................. 50
4.2.3. Determinação dos Valores de K
I
................................................................................ 51
4.2.4. Profundidades Críticas de Trinca ...............................................................................54
4.3. Análise 3D .................................................................................................................56
4.3.1. Distribuição das Temperaturas na Parede do Vaso.................................................... 56
4.3.2. Distribuição das Tensões na Parede do Vaso............................................................. 58
4.3.3. Determinação dos Valores de K
I
................................................................................ 61
4.4. Comparação dos Resultados das Análises 2D e 3D...............................................63
4.4.1. Comparação de Temperaturas e Tensões ................................................................... 63
4.4.2. Comparação entre os Valores K
I
(ASME) e K
I
(ANSYS)......................................... 64
5. CONCLUSÕES ........................................................................................................68
5.1. Sugestão para trabalhos posteriores.......................................................................69
APÊNDICE A - VALIDAÇÃO DO CÁLCULO 3D DE K
I
COM O ANSYS 7.1®..........71
ANEXO A - PROJETO NESC -1..........................................................................................74
ANEXO B - ÁBACOS DA NORMA ASME, SEÇÃO XI...................................................78
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................80
x
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Esquema de uma usina nuclear tipo PWR...........................................................1
FIGURA 2 - Trinca passante em um corpo infinito.................................................................5
FIGURA 3 - Definição do sistema de coordenadas na ponta da trinca....................................6
FIGURA 4 - Modos básicos de carregamento envolvendo diferentes superfícies de deslo-
camento da trinca ................................................................................................7
FIGURA 5 - Efeitos da espessura no Fator de Intensidade de Tensões...................................9
FIGURA 6 - Trinca semi-elíptica superficial.........................................................................10
FIGURA 7 - Sistema de coordenadas global e local para um elemento bidimensional.........14
FIGURA 8 - Elementos isoparamétricos comumente usados em problemas bi e tridi-
mensionais com trincas .....................................................................................17
FIGURA 9 - Alteração de um elemento quadrilátero em um elemento triangular na ponta
da trinca.............................................................................................................17
FIGURA 10 - Transformação de um elemento tipo bloco em uma cunha.............................18
FIGURA 11- Elementos de ponta de trinca para análises elástica e plástica.........................18
FIGURA 12 - Modelo semi-simétrico de uma trinca plana ...................................................19
FIGURA 13 - Medidas de redução de tenacidade..................................................................20
FIGURA 14 - Envoltórias de K
Ic
e K
IR
..................................................................................21
FIGURA 15 - Variações de pressão e temperatura durante transitório de PTS .....................22
FIGURA 16 - Comportamento das diversas variáveis num dado transitório de PTS ............24
FIGURA 17- Fluxograma de análise de mecânica da fratura de VPR sob PTS ....................25
FIGURA 18 - Protótipo do VPR ............................................................................................28
FIGURA 19 - Esquema de localização das trincas no vaso de pressão .................................29
FIGURA 20 - Variação da condutividade térmica com a temperatura ..................................31
FIGURA 21 - Variação do calor específico com a temperatura.............................................31
FIGURA 22 - Variação da entalpia com a temperatura .........................................................31
FIGURA 23 - Esquema da montagem experimental..............................................................32
FIGURA 24 - Seção transversal.............................................................................................33
FIGURA 25 - Modelo axissimétrico e detalhe da distribuição da malha ao longo da es-
pessura da parede do vaso...............................................................................34
FIGURA 26 - Classificação das tensões de membrana e de flexão .......................................36
FIGURA 27 - Determinação dos tamanhos críticos de defeitos ............................................37
FIGURA 28 - Diagrama de profundidade crítica de trinca ....................................................38
xi
FIGURA 29 - Modelo 3D.......................................................................................................40
FIGURA 30 - Malha e detalhe da frente da trinca .................................................................41
FIGURA 31 - Exemplo de elementos singulares 3D .............................................................41
FIGURA 32 - Detalhe dos elementos singulares na ponta da trinca e numeração dos nós....42
FIGURA 33 - Coordenadas locais medidas na frente da trinca .............................................44
FIGURA 34 - Nós utilizados para aproximação dos deslocamentos na ponta da trinca -
modelo parcial.................................................................................................45
FIGURA 35 - Distribuição de temperaturas obtida experimentalmente na parede do vaso
de pressão durante o choque térmico..............................................................47
FIGURA 36 - Trinca 1............................................................................................................48
FIGURA 37 - Trinca 2............................................................................................................48
FIGURA 38 - Distribuição da temperatura ao longo do tempo .............................................49
FIGURA 39 - Distribuição da temperatura ao longo da espessura ........................................49
FIGURA 40 - Distribuição das tensões circunferenciais com o tempo..................................50
FIGURA 41 - Distribuição das tensões circunferenciais ao longo da espessura....................50
FIGURA 42 - Determinação dos tamanhos críticos de trinca (a/L = 1/4) - Tempo 62 s .......54
FIGURA 43 - Determinação dos tamanhos críticos de trinca (a/L=1/5) - Tempo 62 s .........54
FIGURA 44 - Diagrama de profundidade crítica de trinca (a/L = 1/4)..................................55
FIGURA 45 - Diagrama de profundidade crítica de trinca (a/L = 1/5)..................................55
FIGURA 46 - Distribuição de temperatura - tempo 10 s .......................................................56
FIGURA 47 - Distribuição de temperatura - tempo 62 s .......................................................57
FIGURA 48 - Distribuição de temperatura - tempo 180 s .....................................................57
FIGURA 49 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 10 s.......................................58
FIGURA 50 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 62 s.......................................59
FIGURA 51 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 180 s.....................................59
FIGURA 52 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 10 s.......................................60
FIGURA 53 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 62 s.......................................60
FIGURA 54 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 180 s.....................................61
FIGURA 55 - Distribuição de temperaturas nos modelos 2D e 3D - t = 62s.........................63
FIGURA 56 - Distribuição de tensões nos modelos 2D e 3D - t = 62s..................................64
FIGURA 57 - Comparação de K
I
e K
Ic
para a/L = 1/4...........................................................65
FIGURA 58 - Comparação de K
I
e K
Ic
para a/L = 1/5...........................................................65
FIGURA 59 - Comparação dos valores de K
I
calculados pelo ANSYS à 0º e 90º com os
de K
Ic
determinados pelo ANSYS, para a/L = 1/4..........................................66
xii
FIGURA 60 - Comparação dos valores de K
I
calculados pelo ANSYS à 0º e 90º com os
de K
Ic
determinados pelo ANSYS, para a/L = 1/5..........................................66
FIGURA 61 - Trincas reais e trincas modeladas....................................................................67
FIGURA 62 - Trinca superficial semi-elíptica em um sólido finito.......................................71
FIGURA 63 - Malha do sólido e detalhe da trinca.................................................................72
FIGURA 64 - Ábaco para determinação do fator de forma Q ...............................................78
FIGURA 65 - Ábaco para determinação do fator de correção da tensão de membrana M
m
..78
FIGURA 66 - Ábaco para determinação do fator de correção da tensão de flexão M
b
.........79
xiii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Dimensões da trincas.......................................................................................29
TABELA 2 - Propriedades do material.................................................................................30
TABELA 3 - Valores de K
I
determinados segundo código ASME (a/L = 1/4).................... 52
TABELA 4 - Valores de K
I
determinados segundo código ASME (a/L = 1/5).................... 53
TABELA 5 - Valores de K
I
determinados pelo ANSYS.......................................................62
TABELA 6 - Comparação dos Valores de K
I
.......................................................................73
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
ASME American Society of mechanics Engineers
ASTM American Society of Testing Materials
CDTN Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear
DIN Deutsches Institut für Normung
DPCT Diagrama de profundidade crítica de trincas
EF Elementos finitos
END Ensaio(s) Não Destrutivo(s)
MEF Método dos Elementos Finitos
MFEL Mecânica de fratura elástica linear
MPa Mega Pascal
NDTT Temperatura de transição de ductilidade nula
PTS Pressurized Thermal Shock - Choque Térmico Pressurizado
PWR Pressurized Water Reactor - Reator a água pressurizada
RELAP/MOD3 Reactor Excursion and Leak Analysis Program - 3rd Modification
RT
NDT
Temperatura de referência de ductilidade nula
USA Estados Unidos da América
USE Upper Shelf Charpy Energy
VPR Vaso de Pressão de Reator
WPS Fenômeno Warm prestressing
xv
LISTA DE SÍMBOLOS
Geométricos
a
Profundidade da trinca
a/L Razão de aspecto da trinca
B Espessura da placa
c = L/2 Largura da trinca
L = 2c Largura da trinca
r Raio da zona plástica
W Largura da placa
Propriedade dos materiais
ALPX Coeficiente de Expansão Térmica [m/m.ºK]
C Calor Específico [J/kg.ºK]
DAMP Coeficiente Damping
dens Densidade [kg/m
3]
E Módulo de Elasticidade [Pa]
Emiss Coeficiente de Emissividade
Enth Entalpia [k.J/mol]
HF Convecção [W.m
2
.ºK]
Kxx Condutividade Térmica [W/m.ºK]
NUXY,PRXY Coeficiente de Poisson
σ
ys
Limite de Escoamento [Pa]
Matrizes
[B] Matriz com operadores diferenciais das funções de interpolação do EF
[D] Matriz constitutiva
[F] Matriz global de força
[J] Matriz Jacobiana
[k] Matriz de rigidez
[K] Matriz de rigidez global
[u] Matriz global de deslocamentos
{ε} Matriz de deformações
{σ} Matriz de tensões
xvi
Outros
2D Bidimensional
3D Tridimensional
f(a/W) Fator de forma
f
ij,
f
Ø
, f
W
e g Funções adimensionais
K Fator de Intensidade de Tensões
k Constante de proporcionalidade
K
C
Fator de intensidade de tensões crítico
K
I
Fator de intensidade de tensão no modo I de fratura
K
Ia
Tenacidade estimada para parada de trinca
K
Ic
Tenacidade estimada para iniciação de trinca
K
Id
Tenacidade estimada para testes dinâmicos
K
IR
Envoltória inferior de todos os resultados de K
Ia,
K
Ic e
K
Id
M
1
, M
2
e M
3
Constantes adimensionais
M
b
Fator de correção para a tensão de flexão
M
m
Fator de correção para a tensão de membrana
mm Milímetro
N
i
Função de forma
Q Fator de forma da trinca
SY
Tensão circunferencial - modelo 3D
SZ
Tensão circunferencial - modelo 2D
s Segundos
t Tempo
u, v Deslocamentos nodais
X, Y, Z Eixos do sistema de coordenadas global
λ
s
Função adimensional
ξ, η
Coordenadas paramétricas
σ Tensão remota aplicada
σ
ij
Tensor de tensões
σ
rr,
σ
θθ,
σ
rθ
Campo de tensões em coordenadas polares
σ
b
Tensão de flexão
σ
m
Tensão de membrana
θ, Ø Ângulo
xvii
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Posicionamento do Tema
O vaso de pressão do reator (VPR) é o componente estrutural mais importante de uma usina
nuclear do tipo PWR (Pressurized Water Reactor) (vide esquema ilustrado na FIG. 1). Ele
contém o núcleo do reator e funciona como principal componente da barreira de pressão do
circuito primário, sendo considerado um componente insubstituível e, portanto, a sua vida útil
acaba limitando a vida da usina como um todo.
FIGURA 1 - Esquema de uma usina nuclear tipo PWR
Durante toda a sua vida útil, a integridade estrutural do VPR deve ser assegurada tanto sob
condições normais de operação quanto sob condições de acidentes, para proteger o público
em geral dos perigos em potencial de uma liberação significativa de radiação. Uma das
maiores preocupações relacionadas à integridade estrutural de VPR’s é a possibilidade de
ocorrência de uma falha catastrófica do VPR provocada por uma fratura frágil do material
(fratura por clivagem).
2
O principal mecanismo de degradação de VPR’s é a fragilização do material da parede interna
do vaso provocada pela irradiação por nêutrons rápidos. Essa fragilização e a ação de baixas
temperaturas reduzem a tenacidade à fratura (resistência à propagação de trincas) do material
do vaso (Cruz e Mattar, 1999). Portanto, é razoável que os requisitos para prevenção de
fratura apliquem-se em condições de operação (e de acidentes em potencial) que conjugam
baixas temperaturas e tensões elevadas no material do VPR.
Conforme será descrito adiante, o acidente de Choque Térmico Pressurizado (PTS -
Pressurized Thermal Shock) propicia essas condições e é considerado uma grave ameaça à
integridade estrutural do VPR. Portanto, várias análises e procedimentos são necessários para
avaliar o comportamento à fratura e demonstrar a integridade do VPR sob condições de
acidentes postulados de PTS.
As principais etapas que envolvem avaliações de PTS são as seguintes:
a) determinação dos possíveis transitórios do sistema;
b) realização de análises termo-hidráulicas para determinação dos históricos de temperatura,
de pressão e de coeficientes de transferência de calor na superfície do VPR que recebe o
choque térmico;
c) definição de geometria, posição e direção dos defeitos na parede do VPR, sejam eles reais
(determinados por meio de técnicas de inspeção) ou postulados por normas;
d) realização das análises estruturais e de avaliação de fratura do VPR, a partir dos resultados
das análises termo-hidráulicas, das propriedades mecânicas e de tenacidade à fratura do
material e dos dados relativos aos defeitos.
O foco deste trabalho está relacionado a esta última etapa, ou seja, a avaliação do
comportamento estrutural do VPR, mais especificamente, no desenvolvimento de ferramentas
de análise, de metodologias e de procedimentos necessários para investigar a possibilidade de
ocorrência do crescimento de trincas em um protótipo de um VPR durante um experimento de
PTS.
3
1.2. Objetivos
Os principais objetivos do presente trabalho de pesquisa são:
a) Desenvolver modelos numéricos por elementos finitos para avaliação do comportamento
estrutural de um protótipo de vaso de pressão de reator nuclear, contendo trincas em sua
superfície, submetido a um carregamento de choque térmico pressurizado;
b) Comparar e discutir as avaliações baseadas em análises numéricas com aquelas realizadas
com o uso de metodologia simplificada e, ao mesmo tempo, com os dados coletados em um
experimento de choque térmico pressurizado realizado com um protótipo de vaso de pressão
de reator.
4
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Fundamentos da Mecânica da Fratura
A ruptura de um grande número de componentes estruturais é atribuída a defeitos
preexistentes no material, que podem causar a falha do componente quando este é submetido
a valores críticos de tensão (Hertzberg, 1989). Além disso, estes defeitos (microtrincas)
podem crescer até dimensões críticas levando-o à falha. Assim, o comportamento da fratura
de uma dada estrutura ou material depende dos níveis das tensões, da presença de
descontinuidades, das propriedades do material e de mecanismos pelos quais a fratura se
propaga.
Os conceitos de mecânica da fratura conhecidos antes de 1960 eram aplicados apenas para
materiais que obedeciam à Lei de Hooke (Anderson, 1995). Desde então, teorias da mecânica
da fratura foram desenvolvidas para cálculo de diversos tipos de comportamentos dos
materiais, incluindo não linearidades, tais como, plasticidade, viscosidade e visco-
elasticidade, bem como, efeitos de carregamentos dinâmicos. Todas essas teorias são
extensões da Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL). As análises realizadas no presente
trabalho de pesquisa são baseadas nos conceitos da MFEL.
A Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL) é aplicada para materiais frágeis onde a
resposta tensão-deformação do corpo trincado se manifesta essencialmente como um
comportamento elástico-linear até o ponto no qual ocorre a fratura frágil, instável. Para esses
materiais, a deformação plástica que ocorre na frente da trinca, antes da fratura frágil, é muito
pequena, não interferindo no comportamento global tensão-deformação. Alguns exemplos de
condições que promovem a fratura frágil são: materiais de alta resistência, materiais com
comportamentos relativamente frágeis, baixas temperaturas de operação, grande espessura da
parede, ocorrência de tensões residuais devido à fabricação, altas taxas de carregamento
(impacto) e envelhecimento do material provocado pela irradiação por nêutrons rápidos. Sob
estas condições, o material pode sofrer uma fratura frágil sem apresentar uma deformação
plástica significativa (Wessel et al., 1991).
2.1.1. Equação de Griffith
A teoria básica na qual estão baseados os fundamentos de mecânica da fratura têm sua origem
nos trabalhos de A. A. Griffith em 1920. Esses trabalhos referiram-se ao cálculo da força de
5
propagação de trinca em um sólido frágil (vidro) contendo uma trinca aguda. O modelo,
mostrado na FIG. 2, refere-se a uma trinca passante de comprimento 2a em um corpo infinito,
submetido a uma tensão normal uniforme, σ (Knott and Withey, 1993).
FIGURA 2 - Trinca passante em um corpo infinito
A condição de estado plano de deformação foi assumida, ou seja, condição de deformação
nula na direção ortogonal ao comprimento da trinca e à tensão aplicada.
Uma equação de balanço de energia, assumindo um comportamento elástico linear, fornece a
tensão de fratura, σ
F
:
a
E
F
)1(
2
2
νπ
γ
σ
=
(Eq. 1)
sendo:
E - módulo de elasticidade
ν - coeficiente de Poisson
γ - energia de superfície específica
Essa expressão correlaciona a tensão de fratura, σ
F
, com o comprimento da trinca, a, se a
energia de superfície específica, γ, é conhecida.
2.1.2. Equação de Orowan e Irwin
A equação de Griffith foi posteriormente modificada por Orowan e Irwin, para considerar a
ocorrência de uma zona plástica na ponta da trinca antes do início do crescimento de trinca
(Knott and Withey, 1993). Dessa forma, usando relações elásticas para o corpo inteiro, que só
podem ser justificadas quando o tamanho da zona plástica for muito pequena, chegaram à
seguinte equação:
6
a
EG
Ic
F
)1(
2
νπ
σ
=
(Eq. 2)
sendo G
Ic
a tenacidade à fratura do material para o estado plano de deformação, no modo I
(ver 2.1.3). Em metais, G
Ic
é o valor do trabalho plástico que deve ocorrer antes do
crescimento da trinca.
Essa equação também pode ser aplicada para os modos II e III, substituindo-se G
Ic
por G
IIc
e
G
IIIc
, respectivamente. Esses modos estão ilustrados na FIG 4.
2.1.3. Fator de Intensidade de Tensões (K)
A fratura de um componente trincado pode ser verificada por meio da análise de tensões,
baseando-se nos conceitos da teoria da elasticidade. Os campos de tensões e deformações na
região da ponta da trinca podem ser descritos por um Fator de Intensidade de Tensões, K, que
é dependente da tensão externa aplicada, σ, da profundidade da trinca, a, e da geometria da
trinca (Wessel et al.,1991).
Williams (1957) utilizou uma função para descrever o campo de tensões em um sólido
contendo uma trinca, considerando um sistema de coordenadas com origem na ponta da
trinca, conforme FIG. 3, e assumindo um comportamento elástico-linear do material:
()
superiorordem de termosf
r
k
ijij
+
=
θσ
(Eq. 3)
Na Eq. 3, σ
ij
é o tensor de tensões, k é uma constante de proporcionalidade e f
ij
é uma função
adimensional de θ.
FIGURA 3 - Definição do sistema de coordenadas na ponta da trinca
7
Os termos de ordem superior são dependentes da geometria do sólido, mas a solução para
uma dada configuração sempre conterá um termo proporcional a
r/1 . Assim, a Eq. 3
descreve uma singularidade nas tensões, pois, para r = 0, o termo
r/1 tende para infinito e
os demais termos permanecem finitos ou próximos de zero. Dessa forma, as tensões próximas
à ponta da trinca variam com
r/1 independente da configuração tratada.
Existem três modos de carregamento aos quais a trinca pode ser submetida, conforme
mostrado na FIG. 4. Modo I (Modo de Abertura), no qual o carregamento é aplicado no plano
normal às faces da trinca, promovendo a abertura da trinca. Modo II (Modo Deslizante), no
qual as superfícies da trinca deslizam uma sobre a outra na direção perpendicular à frente da
trinca. Modo III (Modo de Rasgamento), no qual as superfícies da trinca se movem
relativamente uma sobre a outra na direção paralela à frente da trinca.
FIGURA 4 - Modos básicos de carregamento envolvendo diferentes
superfícies de deslocamento da trinca
Um corpo trincado pode ser carregado por qualquer um destes modos ou pela combinação
deles, porém, o Modo I é tecnicamente o mais importante modo de carregamento, sendo
encontrado na maioria dos casos práticos de engenharia (Anderson, 1995).
Irwin (1957) adotou a solução de Williams para caracterizar o campo de tensões na ponta de
uma trinca submetida ao modo I. Para uma placa infinita contendo uma trinca passante
submetida a uma tração remota, o campo de tensões (em coordenadas polares) pode ser
expresso por:
()
rO
r
K
I
rr
+
=
2
3
cos
4
1
2
cos
4
5
2
θθ
π
σ
(Eq. 4a)
8
()
rO
r
K
I
+
+
=
2
3
cos
4
1
2
cos
4
3
2
θθ
π
σ
θθ
(Eq. 4b)
()
rOsensen
r
K
I
r
+
+
=
2
3
4
1
24
1
2
θθ
π
τ
θ
(Eq. 4c)
Nas Eq. 4a, 4b e 4c, K
I
é o Fator de Intensidade de Tensões para o modo I, obtido pela
substituição de k na Eq. 3 por
π
2/
I
K . O(r) representa os termos de ordem superior da
solução. O índice I do Fator de Intensidade de Tensões (K) é utilizado para caracterizar o
modo de carregamento para o qual foi determinado.
Considerando θ = 0 e desprezando os termos de ordem superior, a tensão τ
rθ
= 0 e
r
K
I
rr
π
σσ
θθ
2
== (Eq. 5)
O Fator de Intensidade de Tensões (K) define a singularidade das tensões e
conseqüentemente, caracteriza o campo de tensões na ponta da trinca. Este parâmetro
descrevendo as condições na ponta da trinca tornou-se o mais importante conceito da
mecânica da fratura. Para uma placa infinita com uma trinca passante de comprimento igual a
2a, sujeita a uma tensão de tração remota uniforme, σ, o Fator de Intensidade de Tensões pode
ser escrito como (Anderson, 1995):
aK
I
πσ
= (Eq. 6)
Para placas com dimensões finitas, deve-se considerar um fator multiplicativo, chamado fator
de forma, f(a/W), sendo W a largura da placa:
=
W
a
faK
I
..
πσ
(Eq. 7)
2.1.4. Tenacidade à Fratura (K
Ic
)
Assumindo que a falha de um material está associada a uma combinação de tensões e
deformações, pode-se esperar que a propagação de uma trinca ocorra para um determinado
valor crítico do Fator de Intensidade de Tensões (Kc). Esse valor crítico pode ser então
utilizado para caracterizar a tenacidade à fratura do material.
9
Entretanto, o Fator de Intensidade de Tensões Crítico (Kc) só pode ser considerado como uma
propriedade do material quando o tamanho da zona plástica for pequena se comparada às
dimensões do corpo-de-prova. Na FIG. 5 são ilustrados os efeitos da espessura (B) do corpo-
de-prova no Fator de Intensidade de Tensões para o Modo I de carregamento.
FIGURA 5 - Efeitos da espessura no Fator de Intensidade de Tensões
Conforme mostrado na FIG. 5, o Fator de Intensidade de Tensões é influenciado pela
geometria do corpo-de-prova estudado. Para pequenas espessuras (Estado Plano de Tensão -
EPT), o valor de K
I
varia devido à perda da restrição à plasticidade. À medida que se aumenta
a espessura do material, atinge-se o Estado Plano de Deformação (EPD) e o valor de K
I
torna-
se constante. Nesse ponto, K
Ic
pode ser considerado uma propriedade para caracterizar a
tenacidade à fratura do material.
Assim, de acordo com a ASTM E399-90 (1990)
1
, a determinação de K
Ic
deve obedecer aos
seguintes critérios dimensionais:
2
5,2)(,,
ys
I
K
aWBa
σ
(Eq. 8)
Na Eq. 8, B é a espessura e σ
ys
é o limite de escoamento do material. Esta equação determina
que o tamanho da zona plástica (r
y
) deve ser menor ou igual a 1/50 vezes as dimensões dos
corpos-de-prova, a fim de garantir a condição de deformação plana e um valor de K
Ic
independente da espessura do corpo-de-prova ensaiado (Anderson, 1995).
Outra consideração importante refere-se à diferença entre os valores críticos do Fator de
Intensidade de Tensões obtidos pelos distintos modos de carregamento, isto é:
1
Citado por Anderson, 1995
10
K
Ic
K
IIc
K
IIIc
. Como a maioria dos materiais é mais susceptível à fratura pela ação de
tensões normais do que cisalhantes, o Modo I tem maior importância prática. Os outros
modos de carregamento são mais empregados em estudos de interfaces, como por exemplo,
em compósitos.
2.1.5. Solução para Fator de Intensidade de Tensões para Trincas Semi-Elípticas Superficiais
A maioria das configurações para as quais existe uma solução analítica de K consiste em uma
geometria simples para representar a trinca (i.e. retângulo ou elipse) em um plano infinito, ou
seja, as dimensões de trinca são pequenas se comparadas com o tamanho do sólido, de tal
forma que as condições na frente da trinca não sejam influenciadas pelas condições de
contorno externas. Quando os tamanhos da trinca aumentam ou as dimensões do sólido
diminuem, as condições de contorno externas começam a exercer influência na frente da
trinca. Nesses casos, normalmente, a solução analítica do fator de intensidade de tensões é
difícil de ser obtida (Anderson, 1995).
FIGURA 6 - Trinca semi-elíptica superficial
Para trincas semi-elípticas superficiais, em um sólido infinito, o Fator de Intensidade de
Tensões é dado por (Anderson,1995):
()
φ
π
σλ
f
Q
a
K
sI
.
.
= (Eq. 9)
11
Na qual,
σ é a tensão aplicada, Q é o fator de forma que é função da geometria da trinca, λ
s
e
f(
φ) são funções adimensionais, dependentes da geometria da trinca e do ângulo φ, conforme
representado na FIG. 6. As equações correspondentes a estes parâmetros são apresentadas
abaixo:
65,1
.464,11
+=
c
a
Q (Eq. 9a)
(
[
2
sen11,0109,013,1
φλ
+
=
c
a
s
)
]
(Eq. 9b)
()
4
1
2
2
2
cossen
+=
φφφ
c
a
f (Eq. 9c)
Essa solução é válida desde que a trinca seja pequena se comparada com as dimensões da
placa e a c.
Conforme mostrado na FIG. 6, duas dimensões são necessárias para caracterizar o tamanho da
trinca: 2c e a, o maior e menor eixos da elipse, respectivamente. O fator de intensidade de
tensões varia ao longo da frente da trinca, com o valor máximo K
I
em φ = 90º.
Considerando a mesma trinca, porém, localizada em uma chapa, o Fator de Intensidade de
Tensões é dado por(Anderson,1995):
=
φ
π
σ
,,,
.
W
c
c
a
B
a
F
Q
a
K
I
(Eq. 10)
Na qual, Q é o fator de forma (dependente da geometria da trinca) definido anteriormente,
e
),,,(
φ
W
c
c
a
B
a
F é o fator adimensional, função da geometria da trinca, das dimensões do
plano e do ângulo
φ, conforme representado na FIG. 6, cujas equações são apresentadas
abaixo:
gff
B
a
M
B
a
MMF
W
..
4
3
2
21
φ
+
+=
(Eq. 10a)
=
c
a
M 09,013,1
1
(Eq. 10b)
12
c
a
M
+
+=
2,0
89,0
54,0
2
(Eq. 10c)
24
3
0,114
65,0
0,1
5,0
+
+
=
c
a
c
a
M
(Eq. 10d)
4
1
22
2
sencos
+
=
φφ
φ
c
a
f (Eq. 10e)
2
1
2
.
sec
=
B
a
W
c
f
W
π
(Eq. 10f)
(
2
2
sen135,01,01
φ
++=
B
a
g
)
(Eq. 10g)
2.2. Métodos Numéricos Aplicados à Mecânica da Fratura
Os fortes desenvolvimentos de recursos computacionais nas últimas décadas tiveram uma
grande influência em todos os ramos da engenharia, e a mecânica da fratura não é uma
exceção. Modelagens numéricas se tornaram uma ferramenta indispensável em análises de
problemas relacionados à fratura, uma vez que relativamente poucos problemas práticos têm
soluções analíticas definidas (Anderson, 1995). Além da melhora no desempenho dos
equipamentos, o desenvolvimento de algoritmos numéricos eficientes propiciaram a redução
do tempo de processamento dos problemas de fratura. Vários códigos de análise numérica
comerciais incorporaram rotinas para avaliação de parâmetros da mecânica da fratura.
Uma variedade de técnicas numéricas têm sido desenvolvida para aplicação em problemas de
mecânica dos sólidos, incluindo os métodos de diferenças finitas (Lapidus and Pinder, 1982)
2
,
elementos finitos (Zienkiewicz and Taylor, 1989)
1
e elementos de contorno (Rizzo, 1967)
1
.
Esses dois últimos métodos têm sido mais aplicados. A maioria das análises para corpos
trincados utiliza o método dos elementos finitos (Anderson, 1995).
2
Citados por Anderson, 1995
13
2.2.1. Método dos Elementos Finitos - MEF
O Método dos Elementos Finitos - MEF é utilizado para resolução de problemas nos meios
contínuos (Exemplos: cálculos de tensões e deslocamentos em sólidos e determinação de
velocidade, deslocamentos e pressões em fluidos), que não são facilmente solucionados por
via algébrica pela resolução de equações diferenciais.
Podemos pensar no MEF como a divisão de um problema complexo em muitos problemas
mais simples, ou seja, transforma-se um problema de equações diferenciais em um sistema de
equações lineares. Obviamente, esta abordagem introduz erros e assim é de se esperar que a
utilização de programas de elementos finitos seja acompanhada de um bom entendimento da
teoria do método e do objeto de estudo.
No MEF, a estrutura de interesse é subdivida em porções discretas denominadas elementos,
que podem ser unidimensionais (barras), bidimensionais (para estados planos de tensão ou
deformação) e tridimensionais (blocos). Os elementos são conectados nos pontos nodais, onde
a continuidade do campo de deslocamentos é forçada.
A dimensão da estrutura real não precisa corresponder à dimensão do elemento. Por exemplo,
uma treliça tridimensional pode ser construída por meio de elementos de barra (Anderson,
1995).
A aplicação do MEF consiste nas seguintes etapas básicas:
1. Pré-Processamento:
- elaboração de um modelo geométrico (pontos, linhas, áreas e/ou volumes) com a
definição das propriedades mecânicas do material analisado. A criação do modelo
geométrico pode ser feita diretamente no programa de elementos finitos ou pode ser
importada de outro aplicativo tipo CAD;
- geração do modelo de elementos finitos (geração da malha), com a definição prévia do
tipo de elemento. Esta definição é função da geometria do modelo e do tipo de
solicitação (mecânica, térmica, etc.) que também define os graus de liberdade do
elemento. O modelo pode ser bidimensional (2D) ou tridimensional (3D) dependendo
do tipo de elemento utilizado. Os modelos axissimétricos também são considerados 2D;
- aplicação dos carregamentos e definição das condições de simetria e de contorno.
14
2. Processamento:
- resolução da matriz de equações diferenciais e obtenção da variável básica do problema
(por exemplo, deslocamentos nodais, no caso de uma análise estrutural, ou temperatura,
no caso de uma análise térmica).
3. Pós-Processamento:
- Visualização e tratamento dos resultados que podem ser deslocamentos, distribuição de
temperaturas e tensões, cálculo de parâmetros, gráficos específicos, dentre outros.
O MEF é usualmente aplicado em problemas de análises de tensões. Na FIG. 7 apresenta -se
um elemento contínuo isoparamétrico bidimensional para aplicação em problemas de estado
plano de tensão ou deformação. Na mesma figura estão representados os sistemas de
coordenadas local e global. As coordenadas locais são também chamadas de coordenadas
paramétricas, variando de -1 a +1 através do elemento de área; o nó localizado no canto
inferior esquerdo possui coordenadas paramétricas (-1,-1) ao passo que o nó situado no canto
superior direito está a (+1,+1) no sistema local. Observe que o sistema de coordenadas
paramétricas não é necessariamente ortogonal (Wessel et al.,1991).
FIGURA 7 - Sistema de coordenadas global e local para um elemento
bidimensional
Considere um ponto no elemento em (ξ,η). As coordenadas globais desse ponto são dadas por:
(x,y) = (
, ) (Eq. 11)
i
n
i
i
xN ),(
1
ηξ
=
i
n
i
i
yN ),(
1
ηξ
=
onde n é o número de nós no elemento e N
i
é a função de forma correspondente ao nó i, cujas
coordenadas são (x
i
,y
i
) no sistema global e (ξ
i
,η
i
) no sistema paramétrico.
15
As funções de forma são polinômios que interpolam domínios dentro do elemento. O grau do
polinômio depende do número de nós no elemento e do número de graus de liberdade em
cada nó. Para um elemento que possua nós apenas nos cantos e possua apenas deslocamentos
como grau de liberdade, N
i
é linear. O elemento ilustrado na FIG. 7 possui quatro lados e oito
nós, demandando uma interpolação quadrática.
Os deslocamentos dentro de um elemento são interpolados como a seguir:
(u,v) = (
, ) (Eq. 12)
i
n
i
i
uN ),(
1
ηξ
=
i
n
i
i
vN ),(
1
ηξ
=
onde (u
i
,v
i
) são os deslocamentos nodais nas direções x e y, respectivamente. A matriz de
deformações em (x,y) é dada por:
{}
[]
=
i
i
v
u
B
ε
(Eq. 13)
Na qual:
[]
=
x
Ni
y
Ni
y
Ni
x
Ni
B 0
0
(Eq. 14)
[]
=
η
ξ
i
i
i
i
N
N
J
y
N
x
N
1
(Eq.15)
Sendo [J] a matriz Jacobiana, que é dada por:
[]
=
=
...
...
...
...
......
......
ii
yx
y
Ni
x
Ni
yx
yx
J
ηη
ξξ
(Eq. 16)
A matriz de tensões é computada conforme mostrado a seguir:
{}
[]
{}
ε
σ
D= (Eq. 17)
16
na qual [D] é a matriz constitutiva do material, que relaciona tensão com deformação. Em
problemas nos quais são incorporados incrementos de plasticidade, os acréscimos de tensão e
deformação são calculados e [D] é atualizado para cada incremento:
{} ( )
[]
{}
ε
σ
ε
σ
= ,D (Eq. 18)
Desse modo, a distribuição de tensões e deformações ao longo do corpo pode ser inferida por
deslocamentos nodais e pela lei constitutiva. As tensões e deformações são normalmente
avaliadas nos pontos de Gauss (pontos de integração) dentro de cada elemento
Os deslocamentos nos nós dependem da rigidez do elemento e das forças nodais. A matriz de
rigidez do elemento é dada por:
[] [][][]
ηξ
ddJBDBk
T
..det..
1
1
1
1
∫∫
−−
= (Eq. 19)
na qual o índice T denota a transposta da matriz. A Eq. 19 pode ser derivada pelo princípio da
energia potencial mínima (Anderson, 1995).
As matrizes de rigidez dos vários elementos em que foi dividida a estrutura são agrupadas
para fornecer a matriz de rigidez global, [K]. As matrizes globais de força, deslocamento e
rigidez são relacionadas como indicado a seguir:
[][] []
Fu =Κ . (Eq. 20)
2.2.2. Geração da Malha
Umas das etapas importantes na geração do modelo de elementos finitos (EF) é a definição da
malha. Embora muitos programas comerciais possuam a capacidade de geração automática da
malha, a construção de um modelo de EF corretamente projetado requer habilidade. Uma
malha grosseira pode apresentar resultados pouco precisos e uma malha muito refinada pode
demandar um tempo de processamento muito longo. Problemas de trinca, em particular,
necessitam de uma certa ponderação na região da ponta da trinca, onde ocorrem
concentrações de tensão.
Na FIG. 8 estão ilustrados os tipos de elementos utilizados em problemas com trincas. Shih, et
al.(1986)
3
, recomendam a utilização de elementos do tipo bi-quadráticos com 9 nós para
3
Citado por Anderson,1995
17
problemas bidimensionais e do tipo tri-quadráticos com 27 nós para problemas
tridimensionais. Elementos com 8 e 20 nós também são utilizados para problemas de trincas.
FIGURA 8 - Elementos isoparamétricos comumente usados em problemas
bi e tridimensionais com trincas
Na ponta da trinca, em problemas bidimensionais, os elementos de quatro lados são
freqüentemente alterados para triângulos, conforme mostrado na FIG. 9. Observe que os nós
1, 2 e 3 ocupam o mesmo ponto no espaço. Na FIG. 10 apresenta-se uma situação análoga
para problemas tridimensionais, na qual o elemento tridimensional tipo bloco é alterado para
uma cunha.
FIGURA 9 - Alteração de um elemento quadrilátero em um elemento
triangular na ponta da trinca
18
FIGURA 10 - Transformação de um elemento tipo bloco em uma cunha
Em problemas elásticos, os nós na ponta da trinca são normalmente agrupados, e o nó central
é movido para 1/4 (FIG. 11 (a)). Tal modificação resulta em uma singularidade de tensão de
r/1 no elemento, que melhora a precisão numérica. Um resultado similar pode ser
alcançado movendo os nós centrais para pontos a 1/4 em elementos de 4 lados, porém a
singularidade existiria apenas nas extremidades do elemento; elementos triangulares são
preferíveis nesses casos pois a singularidade existe tanto dentro quanto nas extremidades do
elemento.
FIGURA 11- Elementos de ponta de trinca para análises elástica e plástica
Quando a zona plástica é formada, a singularidade
r/1 já não existe na ponta da trinca.
Conseqüentemente, os elementos singulares elásticos não são apropriados para análises
elasto-plásticas. Na FIG. 11 (b) representa-se um elemento que possui uma singularidade de
tensões desejada sob condições totalmente plásticas. O elemento é alterado para um elemento
triangular como o anterior, mas os nós na ponta da trinca não são ligados nem os nós centrais
são deslocados. A geometria desse elemento apresenta uma singularidade de tensões para 1/r,
que corresponde ao campo de tensão real completamente plástico na ponta da trinca, para
19
materiais não enrijecidos. O presente trabalho aborda apenas a situação de uma trinca
estacionária estática e elástica, não sujeita a deformações plásticas.
Em muitos problemas, o desenho de uma malha eficiente para a região na ponta da trinca tem
provado ser a configuração da teia de aranha, que consiste em circunferências concêntricas
que são direcionadas para a ponta da trinca (Anderson, 1995). Os elementos da circunferência
interna são modificados para elementos triangulares, conforme mostrado na FIG. 12. A região
da ponta da trinca apresenta concentrações de tensão e deformação, desta forma, a malha deve
ser mais refinada. O desenho da ‘teia de aranha’ propicia uma transição suave da malha fina
na ponta da trinca até uma malha mais grossa distante da ponta da trinca.
FIGURA 12 - Modelo semi-simétrico de uma trinca plana
2.3. Efeitos da Irradiação sobre a Tenacidade à Fratura
A tenacidade à fratura dos materiais utilizados em VPR’s é fortemente dependente da
temperatura, apresentando uma mudança acentuada de comportamento que passa de frágil
para dúctil, com base em um valor crítico denominado temperatura de transição de ductilidade
nula (“NDT - nil-ductility transition”). As seções III e XI do ASME (American Society of
Mechanical Engineers) (1995a, 1995b) estabelecem critérios para determinação da chamada
temperatura de referência para a transição RT
NDT
(Reference Temperature for nil-ductile
transition) de aços utilizados em VPR’s.
A operação segura de uma central nuclear PWR requer que a degradação do material do VPR
seja monitorada, avaliada e controlada de forma a garantir a integridade estrutural do VPR. Os
efeitos da irradiação sobre a tenacidade à fratura são acompanhados por meio de programas
de monitoração em que pequenos corpos-de-prova, introduzidos em cápsulas, são colocados
em várias posições da parede do VPR, próximas ao núcleo do reator. Periodicamente, esses
corpos-de-prova, na maioria do tipo Charpy, são retirados e ensaiados (Cruz & Mattar Neto,
20
1999). Duas medidas de redução da tenacidade provocada pela irradiação são obtidas
tomando-se por base resultados de testes de impacto em corpos-de-prova Charpy com entalhe
em V. A primeira delas é uma variação da temperatura de referência, RT
NDT
, definida como
mudança de temperatura entre as curvas do material não-irradiado e irradiado para um nível
correspondente a 41J de energia de impacto Charpy. A segunda medida é o decréscimo do
patamar superior de energia Charpy (upper shelf Charpy energy), USE. Essas duas
grandezas estão indicadas, de forma esquemática, na FIG. 13 (curvas de energia Charpy
versus temperatura para o material não-irradiado e para o material irradiado) (ASME,1995c).
0
50
100
150
200
250
-200 -100 0 100 200 300
tem
p
eratura
ener
g
ia
RT
NDT
US
E
N
ão irradiado
Irradiado
FIGURA 13 - Medidas de redução de tenacidade
Os valores de tenacidade utilizados nas avaliações baseadas na MFEL são geralmente obtidos
de uma curva de referência de tenacidade à fratura que foi desenvolvida com base em uma
série de resultados experimentais conduzidos para uma vasta gama de aços ferríticos
utilizados em VPR’s. Os Fatores de Intensidade de Tensão críticos foram determinados
tomando-se por base testes estáticos (K
Ic
), dinâmicos (K
Id
) e de parada de trinca (K
Ia
), e esses
valores foram plotados como função da temperatura relativa RT
NDT
, conforme mostrado na
FIG. 14.
A curva K
Ic
é uma envoltória inferior dos resultados de ensaios estáticos e a curva K
IR
é uma
envoltória inferior de todos os ensaios, incluindo os de ensaios dinâmicos e de parada de
trinca. A curva K
IR
foi escolhida de forma a garantir que não ocorra crescimento de trinca
para valores do Fator de Intensidade de Tensão situados abaixo da curva. Esta curva é dada no
Apêndice G da Seção XI do ASME (1995b).
21
FIGURA 14 - Envoltórias de K
Ic
e K
IR
2.4. Choque Térmico Pressurizado (PTS)
2.4.1. Descrição do Problema de PTS e Metodologia de Análise
A operação contínua e segura de uma usina PWR depende fortemente da determinação e
controle das margens de segurança contra uma ruptura do VPR (Keim et al., 2000). Uma das
questões críticas relacionadas à integridade estrutural do VPR diz respeito à avaliação do
acidente de PTS. O PTS é um transitório térmico severo causado pela seguinte seqüência de
eventos (Pennell and Malik, 1997):
- acidente com perda de refrigerante do núcleo do reator;
- ativação de sistema de segurança para injeção de água em resposta ao acidente de perda de
refrigerante do núcleo;
- choque térmico severo na parede interna do VPR provocado pela injeção de água que se
encontrava armazenada a temperaturas relativamente baixas.
A ameaça potencial à integridade do VPR, que pode levar a uma fratura frágil, ocorrerá se:
- a pressão interna do VPR for mantida ou houver uma repressurização;
- o material do VPR estiver numa condição grave de fragilização por irradiação;
- existirem defeitos superficiais e sub-superficiais com tamanho, forma e orientação que
possam se propagar quando submetidos ao elevado carregamento termo-mecânico na parede
do VPR.
22
Na FIG. 15 estão ilustradas as variações de pressão e temperatura durante um transitório de
PTS. As tensões térmicas causadas pelo rápido resfriamento das paredes do vaso em
combinação com as tensões causadas pela pressão (ou repressurização do sistema) resultam
em grandes tensões de tração que são máximas na superfície interna da parede do vaso. Por
outro lado, a irradiação por nêutrons rápidos na região da parede do VPR que fica adjacente
ao núcleo e as temperaturas baixas provocadas pela injeção de água fria agem no sentido de
reduzir a tenacidade à fratura do material do vaso. Portanto, as elevadas tensões termo-
mecânicas de tração, atuando em regiões do material com baixa tenacidade à fratura, criam
condições nas quais o crescimento de trinca através da parede do VPR pode ocorrer a partir de
defeitos preexistentes no material (Jhung and Park, 1999).
FIGURA 15 - Variações de pressão e temperatura durante transitório de
PTS
A determinação das margens de segurança contra a ruptura do vaso quando submetido a
condições postuladas de choque térmico pressurizado, por meio de avaliações de integridade
estrutural de VPR’s de usinas PWR, envolve os seguintes passos (Pennell and Malik, 1997):
- determinação dos possíveis transitórios do sistema;
- realização de análises termo-hidráulicas usando códigos computacionais adequados para
determinar os históricos de temperatura, pressão e coeficientes de transferência de calor, que
servirão de entrada de dados para as análises estruturais;
- definição de geometria, posição e direção dos defeitos, sejam eles reais (determinados por
meio de técnicas de inspeção) ou postulados por normas;
23
- realização das análises estruturais e de avaliação de fratura do VPR usando os resultados da
análise termo-hidráulica, as propriedades mecânicas e de tenacidade à fratura do material e os
dados relativos aos defeitos.
Diversos aspectos influenciam o processo completo de avaliação da integridade estrutural de
VPR’s, tais como o nível de precisão dos métodos de ensaio não destrutivo (END), os
requisitos de propriedades do material e o nível apropriado de complexidade das análises
termo-mecânicas e de avaliações de fratura (Dickson and Malik, 2000).
Nos procedimentos para avaliação do comportamento de VPR submetido a PTS, a resistência
do material à fratura é geralmente obtida com base em uma curva de referência (FIG. 14), na
qual os valores de tenacidade são dados em função da temperatura de referência de
ductilidade nula RT
NDT
, que por sua vez depende do material e do grau de fragilização
provocada pela irradiação. Atualmente, existe um consenso de que a utilização dessa curva de
referência é inapropriada e incorpora uma série de conservadorismos, o que poderia
comprometer, de forma precoce, a continuidade de operação de uma usina. Estudos recentes
do comportamento de aços ferríticos na região de transição frágil-dúctil baseados em
abordagens probabilísticas propõem a chamada “curva mestra” (Sokolov et al., 1997) como
alternativa para caracterizar o comportamento de aços ferríticos na região de transição. A
definição dessa curva é feita a partir da obtenção de uma temperatura de referência To, cuja
determinação pode ser feita com base na norma ASTM-E1921-97 (1997).
No que diz respeito aos métodos de avaliação estrutural e de fratura sabe-se que métodos
simplificados de engenharia produzem resultados relativamente conservadores. Análises mais
refinadas usando-se modelagem tridimensional por elementos finitos da geometria trincada
permitem uma previsão precisa da localização e do tempo real do evento de clivagem durante
um transitório assim como uma estimativa precisa do crescimento estável de trinca que ocorre
antes da clivagem.
Os principais elementos de uma análise de PTS estão ilustrados na FIG. 16 e são relacionados
a seguir (Pennel, 1997)
4
:
4
Citado por Cruz e Mattar, 1999
24
FIGURA 16 - Comportamento das diversas variáveis num dado transitório
de PTS
a) uma análise da atenuação do fluxo de nêutrons através da parede do vaso define o perfil
radial de fluência de nêutrons;
b) uma análise transiente de transferência de calor define o perfil radial de temperatura na
parede do vaso para os instantes selecionados do transitório de PTS;
c) temperaturas e níveis de fluência neutrônica em diferentes posições radiais juntamente com
correlações de dano por irradiação (dependentes do material) e com a RT
NDT
inicial do
material são utilizados para definir o valor ajustado da RT
NDT
para os pontos selecionados
através da parede do vaso;
d) os valores ajustados da RT
NDT
são, então, utilizados com as correspondentes propriedades
K
Ic
e K
Ia
para definir a tenacidade do material nos vários pontos na parede do vaso;
e) coeficientes de influência para os fatores de intensidade de tensões são usados juntamente
com o perfil radial de tensões para calcular o perfil radial de K
I
considerando diferentes
profundidades de trincas superficiais;
f) as interseções da curva K
I
aplicado (que depende das tensões e da geometria da trinca) com
as curvas do material K
Ic
e K
Ia
(que dependem da temperatura, da fluência neutrônica e do
material) determinam se uma trinca superficial com uma determinada profundidade começará
25
a se propagar em um dado instante do transitório e até que ponto ela se propagará, isto é, onde
ocorrerá uma parada de trinca;
g) várias análises são realizadas usando as informações correspondentes a cada instante do
transitório. Os resultados dessas análises são combinados para determinar o histórico de
iniciação, propagação e parada da trinca.
O fluxograma da FIG. 17 a seguir apresenta a seqüência de passos para a análise de mecânica
de fratura na região da parede do vaso de pressão adjacente ao núcleo quando submetida ao
choque térmico pressurizado (Yinbiao and Toshikuni, 2000).
Material
(Parede do VPR
adjacente ao núcleo)
Definição da Trinca
(Tamanho e Forma
através de END)
Através de
Normas
Propriedades
do Material
Através de
Ensaios
Carregamento
Escolha do
Transiente
Característico
de PTS
Coeficiente de
Transferência de Calor
da Termo-Hidráulica
Análise
Térmica
Análise Estrutural sob
Carregamento Térmico e
Mecânico e Análise de
Fratura
K
I
< K
Ic
Tratamento para
Recuperar a
Resistência à Fratura
do Material
K
Ic
=33,2+2,806.
exp[0,020
(T+RT
NDT
+100)]
Relatório
de PTS
Testes em
Corpos-
de-Prova
Fluxo de
Nêutrons
Temperatura
Pressão
K
I
RT
NDT
K
Ic
Não
Sim
FIGURA 17- Fluxograma de análise de mecânica da fratura de VPR sob
PTS
26
2.4.2. Projeto NESC-1
Em 1993, vários países da Europa, Japão e Estados Unidos criaram, um grupo de avaliação de
componentes estruturais (NESC - Network for Evaluation Structural Components), com o
objetivo de promover e gerenciar a colaboração entre projetos internacionais com foco na
validação do processo completo de avaliação de integridade estrutural. O primeiro projeto,
NESC-I (Bass et al., 2001), estabeleceu uma estrutura para avaliação da contribuição de
interações interdisciplinares aplicadas à avaliação da integridade estrutural de um cilindro
rotativo em um experimento de choque térmico. O experimento foi projetado para simular
condições associadas a um VPR irradiado e com trincas, submetido a um carregamento de
PTS. O objetivo global do NESC-I foi estudar a confiabilidade de todo o processo de
avaliação de integridade estrutural dentro de um programa internacional.
Foram então estabelecidos grupos de trabalho (TG - Task Group) para executar tarefas
integradas em rede. O grupo TG3 ficou responsável pelas análises estruturais, analisando o
comportamento de defeitos no cilindro, usando desde técnicas simples a técnicas altamente
sofisticadas. Na primeira etapa, as técnicas de análises utilizadas foram baseadas em
metodologias simplificadas de análises termo-elásticas ou termo-elastoplásticas em um corpo
não trincado, combinadas com estimativas, baseadas em funções de peso, dos fatores de
intensidade de tensão. Em uma segunda etapa foi feita uma análise por elementos finitos de
um modelo tridimensional de forma a representar a trinca.
De uma maneira geral, o escopo do presente trabalho foi inspirado nas atividades do grupo
TG3 do NESC-1. Naturalmente, simplificações e adaptações foram consideradas, levando-se
em conta o nível deste trabalho de pesquisa, o tempo disponível para o seu desenvolvimento e
as particularidades do experimento de referência. Uma visão geral, com mais detalhes sobre o
Projeto NESC-1, é apresentada no Anexo A.
27
3. METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho, as seguintes etapas foram realizadas:
- Experimento de PTS de referência, realizado nas instalações do CDTN, (como parte da tese
de doutorado do Engº. Paulo de Tarso V. Gomes, IPEN/USP), do qual foram obtidos os dados
para elaboração dos modelos, tais como: geometria, carregamento, propriedades do material;
- Elaboração de um modelo de elementos finitos axissimétrico, utilizando o programa ANSYS
7.1®. Neste modelo foram desenvolvidas duas análises distintas: térmica e estrutural. Da
análise térmica obtiveram-se as distribuições de temperatura, que foram utilizadas como
carregamento da análise estrutural. A análise estrutural forneceu as distribuições de tensões
utilizadas para determinar o Fator de Intensidade de Tensões, K
I
, segundo a norma ASME.
Procedimentos de mecânica da fratura foram aplicados para prever eventuais crescimentos de
trinca, através da espessura da parede do vaso;
- Elaboração de modelo de elementos finitos tridimensional, também utilizando o ANSYS
7.1®. Da mesma forma que no modelo axissimétrico foram desenvolvidos dois modelos:
térmico e estrutural. Novamente, o modelo térmico forneceu a distribuição de temperatura
como dado de carregamento para o modelo estrutural. A partir dos resultados do modelo
estrutural, o Fator de Intensidade de Tensões, K
I
, foi obtido com a utilização do módulo de
pós-processamento do ANSYS 7.1®;
- O Fator de Intensidade de Tensões, K
I
, obtidos pela norma ASME (ASME, 1995d) e aqueles
obtidos numericamente, utilizando-se o programa ANSYS 7.1®, foram então comparados.
Comparações também foram feitas entre as previsões realizadas com base nesses resultados
de K
I
com os dados coletados após o experimento de PTS.
3.1. Experimento de Referência
O projeto da seção de teste, levantamento de propriedades do material do protótipo de VPR,
instrumentação do vaso, execução do experimento e medição dos vários parâmetros durante o
experimento fazem parte da tese de doutorado “Contribuições para Melhorias das
Metodologias de Avaliação de Choque Térmico Pressurizado em Vasos de Pressão de
Reatores PWR”, a ser apresentada em 2005, pelo Engenheiro Paulo de Tarso Vida Gomes
(CDTN).
28
Diferentemente do que acontece em um VPR real, o experimento de PTS foi idealizado de tal
forma que o protótipo recebesse o choque térmico em sua parede externa, na qual foram
confeccionadas trincas superficiais com formatos próximos ao de semi-elípses. Outra
diferença do protótipo em relação ao VPR real é que o material daquele não sofreu nenhum
tipo de irradiação. No entanto, o material do protótipo foi escolhido de maneira que suas
propriedades mecânicas fossem compatíveis com as de um VPR real, o qual tem o seu
material fragilizado em decorrência da irradiação.
3.1.1. Geometria do Vaso
A seção de testes foi constituída por um vaso de pressão (protótipo de VPR) com diâmetro
externo (DV) de 500 mm, altura de 1000 mm e espessura de parede de 85 mm, contido em um
recipiente, também cilíndrico, de diâmetro interno (DA) de 540 mm, aqui denominado placa
defletora, formando entre eles uma região anular, mostrada na FIG. 18, na qual foi feita a
injeção de água para o resfriamento do vaso.
FIGURA 18 - Protótipo do VPR
O protótipo de vaso de pressão foi instrumentado para registrar as temperaturas e as
deformações circunferenciais e axiais em pontos previamente escolhidos.
3.1.2. Geometria das Trincas
Foram confeccionados cinco entalhes, localizados no lado externo da parede do protótipo, na
direção paralela ao eixo do vaso, e posicionados, aproximadamente, na metade da altura do
29
vaso (FIG. 19). Estes entalhes, de forma semi-elíptica, foram confeccionados utilizando-se
inicialmente uma serra circular de espessura de 1,6 mm. Posteriormente, uma segunda serra
circular de espessura de 0,4 mm foi utilizada até a profundidade desejada, de forma a se obter
entalhes mais agudos.
FIGURA 19 - Esquema de localização das trincas no vaso de pressão
Após a usinagem dos entalhes, foi utilizado um procedimento mecânico para a formação da
trinca propriamente dita à frente do entalhe. Este procedimento está detalhado em Gomes et
al.(2005). Após a confecção das trincas, determinaram-se suas geometrias por meio de ensaios
não destrutivos por ultra-som.
Na TAB. 1 são apresentadas as dimensões das trincas confeccionadas. No presente trabalho
foram analisadas as trincas 1 e 2.
TABELA 1
Dimensões da trincas
Trinca a L a/L
1 15 60 1/4
2 12 62 ~1/5
3 16 63 ~1/4
4 16 65 ~1/4
5 13 70 ~1/5
[mm]
30
3.1.3. Propriedades do Material
As propriedades do material do protótipo estão indicadas na TAB. 2 (Bardes, 1978).
A temperatura varia durante todo o experimento. Os valores de condutividade térmica, calor
específico e entalpia variaram com a temperatura. As FIG. 20 a 22 mostram como essas
propriedades variam com a temperatura. As variações de propriedades com a temperatura,
apesar de introduzirem uma não-linearidade na análise térmica, foram consideradas no
modelo de elementos finitos, de forma a retratar de forma fiel o comportamento do material
durante o experimento.
TABELA 2
Propriedades do material
Propriedade Nomenclatura Valor
Calor Específico C 486,00 a 557,00 J/kg.ºK
Coeficiente Damping DAMP 0,00
Coeficiente de Emissividade Emiss 0,79
Coeficiente de Expansão Térmica ALPX 1,5100E-05 m/m.ºK
Coeficiente de Poisson NUXY,PRXY 0,29
Condutividade Térmica Kxx 51,10 a 46,10 W/m.ºK
Convecção HF 1,2540e+06 W.m
2
.ºK
Densidade dens 7800 kg/m
3
Entalpia Enth 0 a 7,9130e+06 k.J/mol
Limite de Escoamento σ
ys
2,7900e+8 Pa
Módulo de Elasticidade E 2,0700e+11 Pa
31
FIGURA 20 - Variação da condutividade térmica com a temperatura
FIGURA 21 - Variação do calor específico com a temperatura
FIGURA 22 - Variação da entalpia com a temperatura
32
3.1.4. Montagem Experimental
Uma estrutura em aço carbono sustentou dois reservatórios de água de 5000 litros cada. A
água dos reservatórios foi resfriada a uma temperatura de aproximadamente 8 ºC. O
esgotamento da água dos reservatórios foi feito mediante uma abertura no fundo de cada um
deles, utilizando-se para tanto duas tubulações independentes de PVC, de 250 mm de
diâmetro, posicionadas verticalmente e terminando horizontalmente na placa defletora, após
terem sido reduzidas em seu diâmetro para 70 mm, conforme mostrado na FIG. 23.
O protótipo teve sua temperatura elevada até 304 ºC, por meio de resistências elétricas
internas, e a pressão interna foi mantida constante em aproximadamente 150 atm. A
alimentação elétrica foi então cortada e o vaso submetido a um resfriamento rápido por meio
de injeção de água, por gravidade, na região entre o vaso e a placa defletora.
FIGURA 23 - Esquema da montagem experimental
3.2. Análise por Elementos Finitos 2D
3.2.1. Modelo de Elementos Finitos Axissimétricos
Na FIG. 24 é mostrada uma representação esquemática de uma seção axial do vaso de
pressão. Um modelo bidimensional axissimétrico foi desenvolvido utilizando-se o programa
ANSYS ® versão 7.1.
33
O vaso foi modelado com uma malha contendo 1720 nós e 1580 elementos. O modelo foi
dividido em partes horizontais, que possibilitaram a aplicação dos carregamentos nas linhas
internas e externas de cada parte (vide FIG. 24 (b)). A análise foi feita em duas etapas
distintas, análise térmica e análise estrutural. Nestas etapas, a modelagem da trinca e dos
flanges não foi considerada.
FIGURA 24 - Seção transversal
A malha foi refinada verticalmente, a partir da superfície externa do modelo, com uma relação
de um para quatro. O lado externo é o lado no qual o choque térmico foi aplicado. Na FIG. 25
é representada a malha utilizada para os modelos térmico e estrutural.
34
FIGURA 25 - Modelo axissimétrico e detalhe da distribuição da malha ao
longo da espessura da parede do vaso
3.2.2. Análise Térmica Transiente
A análise térmica, utilizou o elemento 2D termo-sólido, PLANE55, definido por 4 nós com
um grau de liberdade em cada nó: temperatura.
Conforme já foi citado, o protótipo foi idealizado para receber o choque térmico em sua
parede externa. O carregamento de temperatura (transitório térmico) ao longo da superfície
externa do vaso foi fornecido com base em uma análise termo-hidráulica usando o código de
computador RELAP5/MOD3.2.2γ
5
, para diversas condições de vazão (Palmieri et al., 2002 e
2003)
As condições de contorno impostas ao modelo foram: temperatura inicial de 304ºC e
temperatura de referência de 8ºC. As distribuições de temperaturas no vaso, obtidas nessa
análise, foram usadas como dados de entrada para a análise estrutural, descrita a seguir.
5
RELAP5/MOD3 - é a terceira modificação na série de versões do Reactor Excursion and Leak Analysis
Program (RELAP). RELAP é um código de análises transiente, utilizado inicialmente para análises em reatores
de água leve. Foi desenvolvido em conjunto pela Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos (Nuclear
Regulatory Commission -NRC) e pelo Laboratório Nacional de Engenharia de Idaho para fins de licenciamento e
normalização, diretrizes para avaliação de operadores, e, simulação e análises transientes
35
Além disso, essas distribuições de temperatura, ao longo da espessura da parede, na altura
equivalente à posição da trinca, foram utilizadas para a determinação dos parâmetros K
Ia
e
K
Ic
, conforme descrito em 3.2.4.
3.2.3. Análise Estrutural
Na análise estrutural, utilizou-se o elemento 2D estrutural-sólido, PLANE42, definido por 4
nós com dois graus de liberdade em cada nó: translações nodais nas direções x e y.
Os elementos PLANE55 (térmico) e PLANE42 (estrutural) são compatíveis. Desta forma, foi
possível a transferência dos resultados de distribuições de temperatura da análise térmica
como carregamento para a análise estrutural.
Para a análise estrutural foram consideradas além das distribuições de temperaturas obtidas da
análise térmica, conforme mencionado anteriormente, a pressão interna. Essa última foi
considerada constante, com o valor de 15,0 MPa, aplicada nas superfícies internas do VPR.
Foram impostas restrições ao deslocamento no centro do fundo do vaso de pressão nas
direções x, y, z e no nó mais externo do fundo na direção y.
As distribuições de tensões circunferenciais Sz, consideradas na mesma posição que as
distribuições de temperaturas, foram utilizadas para a determinação do fator de intensidade de
tensões K
I
.
3.2.4. Determinação do Fator de Intensidade de Tensões (K
I
) pelo ASME
Uma das possibilidades estudada para a determinação do Fator de Intensidade de Tensões foi
feita utilizando-se a norma BS 7910 (1999), porém as dimensões do raio interno e da
espessura da parede do protótipo não se enquadravam nas restrições para aplicação dessas
equações. Dessa forma, os valores do fator de intensidade de tensões K
I
foram determinados
utilizando-se procedimento do código ASME, SEC XI D2 ART A-3000 (Method for
Determining Stress Intensity Factor) (ASME 1995d). Calculou-se K
I
para cada um dos 180
instantes do transitório de temperatura.
Segundo o código ASME, seção XI D2, ART A-3300, o fator de intensidade de tensões para a
trinca é calculado a partir das tensões de membrana e de flexão, determinadas pelas análises
de tensões e calculadas em relação à posição da trinca, conforme mostrado na FIG. 26,
utilizando a equação a seguir:
36
m
b
FIGURA 26 - Classificação das tensões de membrana e de flexão
Q
a
MMK
bbmmI
.
)...(
π
σσ
+= (Eq. 21)
considerando:
m
σ
= tensões de membrana
b
σ
= tensões de flexão
a = profundidade da trinca
Q = fator de forma, parâmetro determinado através do ábaco usando (σ
m
+ σ
b
)/σ
y
e a
geometria da trinca
M
m
= fator de correção para a tensão de membrana
M
b
= fator de correção para a tensão de flexão
Os ábacos para determinação do fator de forma Q e dos fatores de correção M
m
e M
b
são
apresentados no Anexo B.
Foram consideradas duas configurações de trinca superficiais, semi-elípticas, com relações
profundidade/comprimento de trinca (a/L) iguais a 1/4 e 1/5. A escolha dessas geometrias foi
baseada no experimento de referência.
37
Também em cada tempo foi realizado um processo de linearização das tensões Sz, para
determinação dos componentes de tensão de membrana,
σ
m
, e de flexão, σ
b
.
A fratura frágil do material é definida por duas propriedades K
Ia
e K
Ic
, que representam
valores críticos do fator de intensidade de tensões, K
I
(Jhung and Park, 1999). K
Ia
é baseado
nos limites inferiores dos valores críticos de parada de trinca da curva de K
I
em função da
temperatura, conforme ilustrado na FIG. 14. K
Ic
é baseado nos limites inferiores dos valores
críticos de crescimento de trinca da curva de K
I
em função da temperatura.
As curvas de K
Ic
e K
Ia
, em função da temperatura foram obtidas com base em ensaios do
material do protótipo de VPR, (Gomes et al., 2005), correspondendo às equações abaixo:
)100(020,0
806,22,33
+
+=
NDT
RTT
Ic
K (Eq. 22)
)160(0145,0
233,18,26
+
+=
NDT
RTT
Ia
K (Eq. 23)
RT
NDT
é a Temperatura de Referência de Ductilidade Nula.
Usando os perfis de tensão e temperatura, os fatores de intensidade de tensões foram
calculados para diversas profundidades de trinca (Jhung and Park, 1999).
Os valores de K
I
, K
Ic
e K
Ia
foram obtidos em 40 pontos ao longo da espessura da parede do
vaso e para cada instante de tempo durante os 180 segundos do transitório. Na FIG. 27, estão
ilustradas as curvas de K
I
, K
Ic
e K
Ia
para um determinado instante do transitório.
FIGURA 27 - Determinação dos tamanhos críticos de defeitos
38
A profundidade da trinca na qual o fator de intensidade de tensões K
I
excede K
Ic
corresponde
ao tamanho crítico de iniciação de trinca (a
c
), e a profundidade da trinca na qual o fator de
intensidade de tensões é inferior à curva K
Ia
corresponde ao tamanho crítico de parada de
trinca (a
a
).
Gráficos de a
c
e a
a
versus tempo, chamados diagrama de profundidade crítica de trinca, são
apresentados na FIG. 28.
(ai;ti): (profund. de trinca; tempo)
(a1;t1): primeira iniciação de trinca
(a2;t2): mínima profundidade para
iniciação de trinca
(a3;t3): máxima profundidade para
iniciação de trinca
(a4;t4): mínima profundidade para
iniciação de trinca considerando
WPS
(a5;t5): máxima profundidade para
iniciação de trinca considerando
WPS
FIGURA 28 - Diagrama de profundidade crítica de trinca
Um diagrama de profundidade crítica de trinca é definido por meio de curvas de iniciação
(K
I
= K
Ic
), parada de trinca (K
I
= K
Ia
) e pelo patamar superior de fratura (K
I
= 220 MPam).
O comportamento da iniciação e parada de trinca, para um tamanho de trinca assumido e para
um determinado transitório, pode ser previsto neste diagrama.
Considerando uma trinca em a/B = 0,20, e seguindo a linha pontilhada até a curva de
iniciação de trinca veremos que resultará em uma propagação da trinca através da parede do
vaso. Na FIG. 28, (a
1
,t
1
) corresponde ao tamanho de trinca e ao tempo para ocorrer o primeiro
crescimento de trinca e a
2
~a
3
é a seqüência de tamanhos de trinca que podem ser iniciadas
durante o transiente. Se a trinca for muito pequena ou muito grande e está além desta
seqüência, ela não será iniciada. Para pequenos valores de a
c
, a
2
é usado para comparação
como critério de aceitação.
Segundo estudos de McGowan (1979) e Curry (1983) citados por (Jhung and Park, 1999), a
tenacidade à fratura pode ser incrementada significativamente a baixas temperaturas se o
material for pré-tensionado a uma temperatura mais alta. Um método conservativo foi
formulado para usar esse efeito de pré-tensionamento a quente (warm prestressing - WPS) na
39
mecânica da fratura de vasos de pressão submetidos a choque térmico. Este método utiliza a
premissa básica que a trinca não irá se iniciar quando o fator de intensidade de tensões for
constante ou decair com o tempo, independente da temperatura decrescer ou não.
De acordo com a MFEL clássica, as trincas irão se iniciar quando K
I
exceder K
Ic
. Entretanto,
segundo o principio conservador do WPS, K
I
deve exceder K
Ic
antes que o máximo K
I
ocorra,
para a iniciação da trinca acontecer; caso contrário a iniciação não poderá ocorrer quando K
I
for decrescente com o tempo. Para cada profundidade de trinca, o tempo (θ
máx
) para o máximo
K
I
ocorrer é determinado. A variação de θ
máx
com a profundidade da trinca é então plotado
neste mesmo gráfico de a
c
e a
a
versus tempo. Conseqüentemente a curva WPS (dK
I
/dt=0) é
também incluída no diagrama de profundidade crítica da trinca. Para uma determinada
profundidade de trinca, se a curva θ
máx
é cortada antes da curva a
c
, a iniciação da trinca não irá
ocorrer por causa do efeito de WPS. Na FIG. 28, a trinca em a/B = 0,20 é iniciada uma vez,
sendo seu crescimento interrompido em torno de a/B = 0,375 e não se reinicia novamente.
Considerando o efeito WPS, as interseções das curvas θ
máx
e a
c
definem a série de tamanhos
de trinca que iriam iniciar. Na mesma figura, a
4
~a
5
caracterizam a série de tamanhos de
trincas que podem ser iniciadas durante o transiente postulado. O tamanho de trinca mínimo
(a
4
) que pode iniciar é determinado pela interseção mais baixa entre as curvas θ
máx
e a
c
; o
tamanho de trinca máximo (a
5
) que pode iniciar é determinado pela interseção mais alta entre
as curvas θ
máx
e a
c
. Em outras palavras, trincas com tamanhos inferiores a a
4
e superiores a a
5
não irão crescer.
3.3. Análise por Elementos Finitos 3D
As metodologias de análises simplificadas, utilizando um modelo bidimensional sem a
modelagem das trincas, não podem avaliar satisfatoriamente a influência da geometria dessas
trincas no valor da força motriz da trinca ao longo de sua frente. Desta forma, é necessário
desenvolver um modelo tridimensional, considerando a modelagem da frente da trinca.
3.3.1. Modelo de Elementos Finitos 3D
As análises de trincas tridimensionais representam uma das maiores dificuldades
computacionais para resolução de problemas de mecânica da fratura. Soluções exatas destes
problemas são limitadas a algumas configurações especiais, e.g., trincas semi-elípicas em
corpos infinitos.
40
A análise numérica do VPR submetido a um carregamento de PTS foi executada aplicando o
método dos elementos finitos (MEF). O VPR contendo uma trinca superficial semi-elíptica foi
modelado com o uso do código de computador ANSYS 7.1®, usando elementos finitos 3D,
com 20 nós. Os flanges do protótipo não foram modelados.
Foram simuladas duas geometrias de trincas, com relações a/L = 1/4 e a/L = 1/5,
correspondentes às trincas reais 1 e 2, respectivamente, fabricadas no protótipo de referência.
Considerando a simetria na seção do vaso, apenas a quarta parte da estrutura foi modelada. Na
FIG. 29 é apresentado o corte esquemático do vaso de pressão.
FIGURA 29 - Modelo 3D
O modelo foi elaborado inicialmente com uma malha contendo 19408 nós e 4657 elementos,
tanto para o modelo térmico quanto para o estrutural. Com o objetivo de reduzir o tempo
computacional, foi elaborado um segundo modelo, contendo parte da seção analisada. Este
novo modelo possui 14858 nós e 3190 elementos (ver FIG. 30). Essa mudança no modelo
permitiu um maior refinamento da malha na região da trinca e uma redução global no tempo
de processamento de cerca de 50%. Com o objetivo de se obter uma boa descrição do campo
de tensões e deformações na região da frente da trinca, foi utilizada uma malha muito
41
refinada, constituída por anéis focais centrados na ponta da trinca (Rabelo, et al., 2004),
conforme mostrado no detalhe 1 da FIG. 30.
FIGURA 30 - Malha e detalhe da frente da trinca
Além disso, foi seguida a configuração para modelagem da frente da trinca mostrada na
FIG. 31, na qual arranjos de elementos de cunha são posicionados ao longo da linha que
representa a frente da trinca.
FIGURA 31 - Exemplo de elementos singulares 3D
42
O elemento SOLID95 pode ser utilizado para fornecer um comportamento singular em toda
frente da trinca. Conforme exposto na seção 2.2.1, dependendo das restrições impostas nos
nós coincidentes com a frente da trinca e no posicionamento dos nós centrais, os elementos
podem apresentar uma singularidade de
r/1 , 1/r ou comportamento ajustáveis de tensões
(ANSYS,1989).
Na FIG. 32 apresenta-se o detalhe dos elementos singulares na ponta da trinca e a respectiva
numeração dos nós. Vê-se claramente que os nós na ponta da trinca estão deslocados de 1/4,
conforme referenciado em 2.2.2, apresentado na FIG. 11 (a).
FIGURA 32 - Detalhe dos elementos singulares na ponta da trinca e
numeração dos nós
3.3.2. Análise Térmica Transiente
A análise térmica utilizou o elemento 3D termo-sólido, SOLID90, definido por 20 nós com
um grau de liberdade em cada nó: temperatura.
O carregamento de temperatura (transitório térmico), nas paredes internas e externas do vaso,
foi o mesmo utilizado no modelo axissimétrico, sendo aplicado nas áreas correspondentes.
43
Também as condições de contorno impostas ao modelo foram as mesmas, ou seja:
temperatura inicial de 304ºC e temperatura de referência de 8ºC. As distribuições de
temperaturas no vaso, obtidas nessa análise, foram usadas como dados de entrada para a
análise estrutural.
3.3.3. Análise Estrutural
Na análise estrutural foi empregado o elemento SOLID95 (ver FIG. 31), compatível com o
elemento térmico, com três graus de liberdade em cada nó, ou seja, translações nodais nas
direções x, y e z.
Os carregamentos considerados foram as distribuições de temperaturas obtidas da análise
térmica e a pressão interna (15,0 MPa). Restrições ao deslocamento foram impostas no nó 1,
nas direções x, y, z. Conforme citado em 3.3.1, foi modelada apenas uma parte do vaso, desta
forma, foram aplicadas condições de simetria, para simular o comportamento da estrutura.
3.3.4. Determinação do Fator de Intensidade de Tensões (K
I
) pelo ANSYS
Após o processamento dos carregamentos térmicos e estruturais (semelhante ao que foi feito
no modelo 2D) calculou-se o parâmetro de mecânica da fratura, com a utilização do módulo
de pós-processamento do ANSYS 7.1 ®.
Neste trabalho o parâmetro considerado foi o fator de intensidade de tensões, K
I
, usando o
comando KCALC. A análise usa um ajuste dos deslocamentos nodais na vizinhança da trinca.
Os deslocamentos reais na trinca e próximos dela para materiais elástico-lineares são dados
pelas equações (Paris & SIH (ASTM,1965), citado por ANSYS,1989):
()
()
()
rsensen
r
G
K
r
G
K
u
III
0
2
3
2
32
242
3
cos
2
cos12
24
+
++
=
θθ
κ
π
θθ
κ
π
(Eq. 24)
()
()
()
r
r
G
K
sensen
r
G
K
v
III
0
2
3
cos
2
cos32
242
3
2
12
24
+
++
=
θθ
κ
π
θθ
κ
π
(Eq. 25)
()
rsen
r
G
K
w
III
0
224
2
+=
θ
π
(Eq. 26)
nas quais:
44
u, v, w = deslocamentos no sistema local de coordenadas cartesianas conforme mostrado na
FIG. 33
r, θ = coordenadas no sistema local de coordenadas cilíndricas também mostrado na FIG. 33
G = módulo cortante
K
I
, K
II
, K
III
= fatores de intensidade de tensão relativos aos modos de carregamento, conforme
mostrado na FIG. 4
ν
κ
43 = , para EPD ou axissimétrico
ν
ν
κ
+
=
1
3
, para EPT
ν = coeficiente de Poisson
0(r) = termos de ordem superior.
FIGURA 33 - Coordenadas locais medidas na frente da trinca
Avaliando as equações 24 a 26 para θ = ±180º e desprezando os termos de ordem superior
temos:
()
κ
π
+= 1
22
r
G
K
u
II
(Eq. 27)
)1(
22
κ
π
+=
r
G
K
v
I
(Eq. 28)
45
π
2
2
r
G
K
w
III
= (Eq. 29)
Para modelos simétricos no plano da trinca (modelo parcial, FIG. 34) as equações 27 a 29
podem ser reescritas como:
r
G
K
I
ν
κ
π
+
=
1
2
2 (Eq. 30)
r
u
G
K
II
κ
π
+
=
1
2
2 (Eq. 31)
r
w
GK
III
22
π
= (Eq. 32)
FIGURA 34 - Nós utilizados para aproximação dos deslocamentos na ponta
da trinca - modelo parcial
Como essas últimas equações são semelhantes, iremos considerar apenas a primeira delas. O
fator final |ν| /
r , precisa ser avaliado para os deslocamentos nodais e localizações. Como
mostrado na FIG. 34, três pontos estão disponíveis. ν é normalizado de forma que no nó I ν
seja igual a zero. A e B são determinados de forma que:
BrA
r
+=
ν
(Eq. 33)
nos pontos J e K. Fazendo r0:
46
0
lim
r A
r
=
ν
(Eq. 34)
Desse modo, a equação 30 se torna:
κ
π
+
=
1
2
2
GA
K
I
(Eq. 35)
As equações 31 e 32 são equivalentes.
Como exposto anteriormente, o comando de pós-processamento KCALC permite calcular o
fator de intensidade de tensões para os três modos de carregamento (I, II, III), porém, a
análise em pauta se limitou ao modo I. O comando KCALC é limitado para aplicação em
problemas elástico-lineares, considerando materiais homogêneos e isotrópicos na região
próxima à trinca.
A utilização correta do comando KCALC requer a consideração dos passos abaixo:
1) definição do sistema de coordenadas na extremidade da trinca, com eixo X perpendicular à
frente da trinca, em modelos 3D, e o eixo Y perpendicular à face da trinca, conforme
mostrado na FIG. 33.
2) definição de um caminho ao longo da face da trinca. O primeiro nó no caminho deve ser o
nó na ponta da trinca. Para modelos parciais, dois nós adicionais são requeridos, ambos ao
longo da face da trinca.
3) cálculo de K: O comando KCYS especifica se o modelo é parcial com condições de
contorno de simetria, parcial com condições de contorno de anti-simetria ou modelo
completo.
Em virtude da complexidade de modelagem da trinca semi-elíptica e do cálculo 3D de K
I
,
antes de se fazer a modelagem do vaso, elaborou-se um modelo tridimensional de uma
estrutura mais simples, com solução disponível na literatura, a fim de validar o cálculo de K
I
utilizando o programa ANSYS 7.1®. Essa estrutura é uma chapa, contendo uma trinca semi-
elíptica, submetida à tração. Os resultados desta validação são apresentados no Apêndice A.
47
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Experimento de Referência
4.1.1. Distribuição das Temperaturas
Durante o experimento foram utilizados 22 extensômetros elétricos, termopares e medidores
de pressão para acompanhamento e controle do experimento. Na FIG. 35 apresenta-se a
distribuição da temperatura, ao longo das superfícies interna e externa do vaso, ocorrida
durante o experimento. Nos instantes iniciais ocorre uma variação brusca na temperatura, no
lado externo da parede do vaso, onde ocorre o choque térmico. A partir do tempo 180 s, cessa
o efeito do choque térmico, ou seja, a água lançada acaba, e a temperatura externa começa a
se estabilizar em torno de 100,0 ºC. Ocorre também um decréscimo dos valores das
temperaturas internas, porém de forma mais suave.
Apesar do experimento registrar as variações de temperatura até o instante de 500 s, as
análises foram feitas apenas até o tempo de 180 s.
0 50 100 150 200 250
0
50
100
150
200
250
300
Temperatura (º C)
Tempo (seg)
sup.interna
10 mm
20 mm
30 mm
40 mm
55 mm
65 mm
75 mm
80 mm
sup. externa
FIGURA 35 - Distribuição de temperaturas obtida experimentalmente na
parede do vaso de pressão durante o choque térmico
48
4.1.2. Comportamento das Trincas
Nas FIG. 36 e 37 são apresentadas as fotografias das trincas após o experimento de PTS.
Observa-se um ligeiro crescimento da trinca 1 na região próxima à superfície externa (linha
vermelha) na FIG. 36. Entretanto, no centro da trinca, não foi observado nenhum crescimento.
Este comportamento coincide com os resultados do NESC-1 (ver Anexo A). Na trinca 2
(FIG. 37) não foi observado nenhum crescimento.
FIGURA 36 - Trinca 1
FIGURA 37 - Trinca 2
4.2. Análise Axissimétrica
4.2.1. Distribuição das Temperaturas na Parede do Vaso
A distribuição de temperaturas na parede do vaso foi calculada a partir da variação de
temperatura na superfície externa do vaso durante o transitório de PTS. Na FIG. 38
49
apresenta - se o histórico de temperaturas na parede do vaso, na altura do centro da trinca,
para os valores a/B = 0,05; 0,15; 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00, em função do tempo.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
50
100
150
200
250
300
a/B
1,00
0,75
0,50
0,25
0,15
0,05
Temperatura [ºC]
Tempo [s]
FIGURA 38
- Distribuição da temperatura ao longo do tempo
Observando-se a FIG. 38 é possível verificar que a temperatura decresce rapidamente nos
segundos iniciais e com maior intensidade na face externa da parede do vaso que é a face que
sofre o resfriamento. Este comportamento é equivalente ao verificado durante o experimento.
Esta variação brusca da temperatura, dá origem a tensões elevadas na parede do vaso.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
320
Tempo [s]
Temperatura [ºC]
Espessura normalizada (a/B)
1
10
30
62
120
180
FIGURA 39 - Distribuição da temperatura ao longo da espessura
Na FIG. 39 apresenta-se a mesma distribuição de temperaturas em função da espessura da
parede, para os tempos 1, 10, 30, 62, 90, 120, 150 e 180 segundos. O tempo 62 segundos
corresponde às maiores variações de temperatura na seção analisada do vaso, e
conseqüentemente, às maiores tensões, como está apresentado em 4.2.2.
50
4.2.2. Distribuição das Tensões na Parede do Vaso
Nas FIG. 40 e 41 apresentam-se as distribuições das tensões circunferenciais na parede do
vaso. Na FIG. 40 as tensões circunferenciais variam em função do tempo, e na FIG. 41 as
tensões circunferenciais variam em função da espessura normalizada. Observam-se tensões de
tração do lado externo da parede do vaso e tensões de compressão na parte interna da parede.
Estes diagramas foram definidos para cada um dos 180 s analisados do experimento, ao longo
da espessura da parede do vaso. As tensões variam bruscamente nos primeiros instantes
(aprox. t = 10 s), chegando ao máximo, no tempo 62 s, onde ocorre a maior tensão na parede
que sofreu o choque térmico.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
-600
-500
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
500
a/B
1,00
0,75
0,50
0,25
0,15
0,025
Tensão Circunferencial [MPa]
Tempo [s]
FIGURA 40 - Distribuição das tensões circunferenciais com o tempo
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
T1
T10
T30
T62
T90
T120
T150
T180
Tensão Circunferencial [MPa]
Espessura Normalizada
FIGURA 41 - Distribuição das tensões circunferenciais ao longo da
espessura
51
4.2.3. Determinação dos Valores de K
I
Os valores de K
I
, para as trincas com relação a/L = 1/4 e a/L = 1/5, são apresentados nas
TAB. 3 e 4, juntamente com os valores de K
Ic
e K
Ia
. Na TAB. 3 os valores foram
considerados para a = 15 mm e na TAB. 4 para a = 12 mm, que correspondem às
profundidades das trincas analisadas.
Para a determinação de K
I
através da Eq. 21, (ASME, 1995d), conforme definido em 3.2.4,
três parâmetros são necessários: Q, M
m
e M
b
, obtidos através de ábacos (ver Anexo B). Os
dois primeiros, Q (fator de forma) e M
m
(fator de correção da tensão de membrana), são
válidos apenas para a profundidade máxima da trinca, a, a 90º, ou seja, não consideram as
outras coordenadas da trinca. Além disso, as curvas que definem o parâmetro Q, estão
limitadas à curva (σ
m
+ σ
b
)/σ
ys
= 1. Observou-se que os valores de σ
m
+ σ
b
obtidos superam
os valores de σ
ys
. As curvas para determinação do parâmetro M
b
(fator de correção da tensão
de flexão) permitem a determinação desse parâmetro a 90º, ou seja, na profundidade a da
trinca, e a 0º. Para 90º apresentam solução exata para uma razão a/L = 0 ou a/L = 0,5, as
demais razões a/L = (0,1; 0,2; 0,3 e 0,4) a solução é estimada. À 0º o valor de M
b
possui
solução estimada para a/L = 0,2 e a/L = 0,3. Isto limita a aplicação deste método para
determinação de K
I
em outras posições ao longo da frente da trinca.
Para a determinação de K
Ic
e K
Ia
foram utilizadas as equações 22 e 23, respectivamente. Os
valores apresentados nas TAB. 3 e 4 correspondem às mesmas profundidades calculadas para
K
I
.
52
TABELA 3
Valores de K
I
determinados segundo código ASME (a/L = 1/4)
t K
Ic
K
Ia
K
I
1 220,00 220,00 5,97
10 175,43 78,03 58,17
20 89,27 52,49 71,52
30 78,30 48,63 75,18
40 72,00 46,29 77,27
50 67,78 44,66 78,32
60 64,71 43,44 78,65
62 64,19 43,23 78,65
70 62,35 42,49 78,50
80 60,46 41,71 78,06
90 58,92 41,06 77,42
100 57,62 40,50 76,66
110 56,51 40,02 75,82
120 55,56 39,60 74,93
130 54,71 39,23 74,00
140 53,96 38,89 73,06
150 53,30 38,59 72,09
160 52,70 38,32 71,11
170 52,24 38,11 70,03
180 56,41 39,98 64,55
Tempo [s] ; K
I
[MPa.m
0,5
]
53
TABELA 4
Valores de K
I
determinados segundo código ASME (a/L = 1/5)
t K
Ic
K
Ia
K
I
1 220,00 220,00 5,66
10 158,00 73,31 58,09
20 82,82 50,24 70,45
30 72,87 46,61 74,05
40 67,21 44,43 76,11
50 63,45 42,93 77,15
60 60,74 41,82 77,48
62 60,28 41,63 77,48
70 58,68 40,95 77,34
80 57,05 40,25 76,91
90 55,72 39,67 76,28
100 54,61 39,18 75,54
110 53,66 38,76 74,71
120 52,85 38,39 73,84
130 52,14 38,06 72,92
140 51,51 37,77 71,99
150 50,95 37,51 71,04
160 50,46 37,27 70,07
170 50,08 37,09 69,00
180 54,01 38,91 63,55
Tempo [s] ; K
I
[MPa.m
0,5
]
Os valores de K
I
em negrito correspondem ao tempo no qual ocorreram as maiores tensões.
Os valores de K
I
para a relação a/L = 1/4 são aproximadamente 1,5% maiores que os valores
de K
I
para a relação a/L = 1/5.
54
4.2.4. Profundidades Críticas de Trinca
Nas FIG. 42 e 43 são apresentados os diagramas para determinação dos tamanhos críticos de
trinca, no tempo 62 s, para as relações de geometria de trinca a/L = 1/4 e a/L = 1/5,
respectivamente. Observa-se na FIG. 42 que a curva de K
I
cruza a curva de K
Ic
em a/B = 0,07,
indicando um crescimento de trinca, e intercepta a curva de K
Ia
em a/B = 0,63, correspondente
à parada de seu crescimento.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
t=62s
0,630,32
0,07
0,03
a/L=1/4
KI
62
KIa
KIc
KIa, KIc, KI [MPa.m
0,5
]
Espessura Normalizada
FIGURA 42 - Determinação dos tamanhos críticos de trinca (a/L = 1/4) -
Tempo 62 s
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
t=62s
0,705
0,37
0,06
0,03
a/L=1/5
KI
62
KIa
KIc
KIa, KIc, KI [MPa.m
0,5
]
Espessura Normalizada
FIGURA 43 - Determinação dos tamanhos críticos de trinca (a/L=1/5) -
Tempo 62 s
55
Nas FIG. 44 e 45 são apresentados os diagramas de crescimento e parada de trinca, ao longo
dos 180 s, para as relações de geometria de trinca a/L = 1/4 e a/L = 1/5 respectivamente.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
a/L=1/4
(0,176;32)
(0,059;109)
(0,067;61)
(0,326;61)
(0,442;169)
Iniciação
Parada
WPS
Profundidade de trinca normalizada (a/B)
Tempo [s]
FIGURA 44 - Diagrama de profundidade crítica de trinca (a/L = 1/4)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
(0,141;25)
(0,375;61)
(0,059;61)
(0,51;168)
(0,053;107)
a/L=1/5
Iniciação
Parada
WPS
Profundidade de trinca normalizada (a/B)
Tempo [s]
FIGURA 45 - Diagrama de profundidade crítica de trinca (a/L = 1/5)
Considerando uma trinca de profundidade a/B = 0,176 e a/L = 1/4 (FIG. 44), verifica-se que
essa trinca começa a crescer no tempo aproximado de 32 s. Observa-se que a trinca atinge um
tamanho de a/B = 0,54, cruza a curva WPS (warm prestressing), e não mais continua a
crescer. Na FIG. 45, para uma trinca com profundidade a/B = 0,141 e a/L = 1/5, este
comportamento se repete para os seguintes valores: início do crescimento da trinca no tempo
25 s e parada de trinca no tamanho a/B = 0,61.
56
Conforme mencionado anteriormente, em 4.1.2, no experimento de referência, observou-se
um crescimento discreto numa região próxima às extremidades da trinca, não sendo
observado o crescimento nos pontos mais profundos da frente da trinca.
4.3. Análise 3D
4.3.1. Distribuição das Temperaturas na Parede do Vaso
Nas FIG. 46 a 48 são apresentadas as distribuições de temperatura ao longo da espessura da
parede do vaso. O tempo 10 s corresponde aproximadamente ao tempo em que a água de
resfriamento atinge a altura da trinca. O tempo 62 s é o tempo onde ocorrem as maiores
tensões na trinca, e o tempo 180 s é o tempo final analisado do experimento. Verifica-se que
esses resultados estão de acordo com aqueles obtidos na análise axissimétrica (FIG. 38 e 39).
FIGURA 46 - Distribuição de temperatura - tempo 10 s
57
FIGURA 47 - Distribuição de temperatura - tempo 62 s
FIGURA 48 - Distribuição de temperatura - tempo 180 s
58
4.3.2. Distribuição das Tensões na Parede do Vaso
Nas FIG. 49 a 51 e FIG. 52 a 54, respectivamente para as trincas com relação a/L = 1/4 e
a/L = 1/5, são apresentadas as distribuições de tensões circunferenciais SY [MPa] nos tempos
10 s, 62 s e 180 s, já mencionados anteriormente. A escala gráfica do detalhe foi alterada para
melhor visualização da distribuição de tensões ao longo da frente da trinca. As distribuições
de tensões no modelo 2D são equivalentes às do modelo 3D, com exceção da região da frente
da trinca, onde se observa uma concentração de tensões. Conforme mencionado
anteriormente, no modelo 2D a modelagem da trinca não foi considerada.
FIGURA 49 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 10 s
59
FIGURA 50 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 62 s
FIGURA 51 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/4 - tempo 180 s
60
FIGURA 52 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 10 s
FIGURA 53 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 62 s
61
FIGURA 54 - Distribuição de tensões SY - a/L = 1/5 - tempo 180 s
4.3.3. Determinação dos Valores de K
I
Na TAB. 5 são apresentados os valores de K
I
calculados para os tamanhos de trinca a/L = 1/4
e a/L = 1/5, determinados numericamente com o uso do programa ANSYS 7.1®. Conforme
FIG. 6, 90º refere-se ao centro da trinca e 0º à extremidade da trinca. O tempo 62 s,
corresponde ao tempo onde ocorrem as maiores tensões circunferenciais SY, e
conseqüentemente, os maiores valores de K
I
. Conforme 2.1.5, observa-se na TAB. 5, que os
valores de K
I
a 90º são maiores que os de K
I
a 0º.
62
TABELA 5
Valores de K
I
determinados pelo ANSYS
a/L=1/4 a/L=1/5
t [s]
K
I
(90º) K
I
(0º) K
I
(90º) K
I
(0º)
1 5,38 3,89 5,13 3,00
10 56,76 49,07 57,09 38,52
20 64,02 52,45 63,54 40,85
30 67,28 55,11 66,77 42,92
40 69,17 56,66 68,64 44,13
50 70,14 57,47 69,61 44,76
60 70,46 57,75 69,94 44,97
62 70,47 57,76 69,94 44,98
70 70,36 57,67 69,84 44,92
80 69,99 57,38 69,47 44,68
90 69,44 56,93 68,93 44,33
100 68,78 56,39 68,27 43,91
110 68,04 55,79 67,54 43,44
120 67,26 55,14 66,76 42,94
130 66,44 54,47 65,95 42,42
140 65,60 53,78 65,12 41,88
150 64,75 53,08 64,26 41,34
160 63,88 52,36 63,40 40,78
170 62,91 51,56 62,44 40,15
180 57,97 47,37 57,48 36,88
Tempo [s] ; K
I
[MPa.m
0,5
]
63
4.4. Comparação dos Resultados das Análises 2D e 3D
4.4.1. Comparação de Temperaturas e Tensões
Nas FIG. 55 e 56 são apresentadas respectivamente as distribuições de temperaturas e de
tensões nos modelos 2D e 3D, no tempo t = 62 s. Observa-se que as distribuições de
temperatura nos modelos 2D e 3D são similares (FIG. 55).
FIGURA 55 - Distribuição de temperaturas nos modelos 2D e 3D - t = 62s
Na FIG. 56, observa-se no modelo 3D, na região próxima à frente da trinca uma concentração
de tensões. Conforme citado anteriormente, no modelo 2D a trinca não foi modelada. No
restante do vaso, observa-se que a distribuição de tensões é equivalente nos dois modelos.
Nesta figura (FIG. 56), para fins de comparação, o modelo 3D apresenta uma distribuição de
tensões na mesma faixa do modelo 2D, porém, são apresentados os valores nominais
máximos de mínimos do modelo 3D.
64
FIGURA 56 - Distribuição de tensões nos modelos 2D e 3D - t = 62s
4.4.2. Comparação entre os Valores K
I
(ASME) e K
I
(ANSYS)
Comparando os valores de K
I
(a 90º) determinados numericamente (TAB. 5) com aqueles
calculados com o uso da norma ASME (TAB. 3 e 4), verifica-se que os valores obtidos pelo
método dos elementos finitos são aproximadamente 10% menores do que aqueles obtidos
com a norma ASME. De forma coerente, os valores máximos de K
I
foram observados no
tempo 62 s, tanto para os cálculos realizados com base nos resultados no modelo 2D como
naqueles baseados no modelo 3D.
Nas FIG. 57 e 58, tanto as curvas de K
I
calculadas pelo ASME quanto àquelas calculadas pelo
ANSYS (valores de K
I
a 90º) cortam a curva de K
Ic
, o que indicaria o crescimento da trinca.
Conforme visto em 2.3, a curva K
Ic
é uma envoltória inferior dos resultados de ensaios
estáticos. Esta curva incorpora uma série de conservadorismos, o que poderia comprometer,
de forma precoce, a continuidade de operação de uma usina. Considerando o valor de K
Ic
definido pela “Curva Mestra” (Master Curve), citado em 2.4, verifica-se que esta curva fica
bem acima dos valores de K
I
.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0
50
100
150
200
250
300
a/L = 1/4
K
I
[MPa.m
0,5
]
Tempo [s]
K
Ic
ASME
K
Ic
MC
K
I
ASME
K
I
ANSYS
65
FIGURA 57 - Comparação de K
I
e K
Ic
para a/L = 1/4
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0
50
100
150
200
250
300
a/L = 1/5
K
I
[MPa.m
0,5
]
Tempo [s]
K
Ic
ASME
K
Ic
MC
K
I
ASME
K
I
ANSYS
FIGURA 58 - Comparação de K
I
e K
Ic
para a/L = 1/5
Nas FIG. 59 e 60, é feita a comparação entre os valores de K
I
obtidos numericamente nas
posições 0º e 90º da frente da trinca, e uma comparação destes com os valores de K
Ic
definidos pelo ASME. Os valores de K
I
a 0º para a relação de a/L = 1/4 são aproximadamente
18,1% menores que os valores determinados a 90º. Para relação a/L = 1/5 esta diferença
aumenta para 35,7%. Comparando estes valores com os de K
Ic
definidos pelo ASME
verifica - se na FIG. 59, trinca com relação a/L = 1/4, que a curva de K
I
(0º) tangencia a curva
de K
Ic
, porém na FIG. 60, a/L = 1/5, a curva de K
I
(0º), fica bem abaixo da curva de K
Ic
.
66
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
K
I
ANSYS
a/L = 1/4
K
I
[MPa.m
0,5
]
X Axis Title
K
Ic
ASME
K
I
0
0
K
I
90
0
FIGURA 59 - Comparação dos valores de K
I
calculados pelo ANSYS à 0º e
90º com os de K
Ic
determinados pelo ANSYS, para a/L = 1/4
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
KI ANSYS
a/L = 1/5
KI [MPA.m
0,5
]
Tempo [s]
K
Ic
ASME
K
I
0
0
K
I
90
0
FIGURA 60 - Comparação dos valores de K
I
calculados pelo ANSYS à 0º e
90º com os de K
Ic
determinados pelo ANSYS, para a/L = 1/5
Os resultados acima estão em desacordo com as observações feitas das superfícies de fratura
das trincas após o experimento de PTS (vide FIG. 36 e 37). Ou seja, enquanto os resultados
numéricos indicaram uma curva de K
I
a 90º sempre acima da curva de K
I
a 0º, verificou-se
nas fotografias das trincas após o experimento de PTS que ocorreu um ligeiro crescimento na
região próxima à superfície externa (linha vermelha), na trinca 1 (FIG. 36). No entanto, no
centro da trinca, não foi observado nenhum crescimento. Isto provavelmente se deve ao
67
modelo idealizado das trincas, com formato semi-elíptico, enquanto que as trincas reais
tinham perfis irregulares, com pontos de reentrâncias geradores de concentração de tensão
próximos às suas extremidades, conforme pode ser observado na FIG. 61.
FIGURA 61 - Trincas reais e trincas modeladas
Desta forma, uma modelagem adequada, considerando tanto a geometria da trinca, bem como,
os elementos singulares na ponta da trinca são essenciais para uma boa análise. Além disso, é
fundamental que os métodos para determinação da geometria da trinca, tais como, ultra-som
ou raios-X, sejam bem executados de maneira a levantar a geometria mais próxima à real.
68
5. CONCLUSÕES
No presente trabalho, foram desenvolvidos modelos numéricos por elementos finitos para
estudar o comportamento estrutural de um protótipo de vaso de pressão de reator nuclear,
contendo trincas em sua superfície, submetido a um carregamento de choque térmico e de
pressão interna. Esse tipo de solicitação é típico de um acidente conhecido como choque
térmico pressurizado (PTS - Pressurized Thermal Shock), que deve ser considerado no projeto
e avaliação da integridade estrutural de vasos de pressão de reatores PWR.
O protótipo de vaso de pressão analisado neste trabalho fez parte de um experimento de PTS
realizado no CDTN em abril de 2004. Neste trabalho, esse experimento foi tomado com
referência para comparação das medições e observações feitas durante e após a sua realização
com as previsões baseadas nos resultados de análises numéricas aqui desenvolvidas. Previsões
baseadas em metodologia simplificada também foram utilizadas nas comparações.
Do estudo realizado, podem ser tiradas as seguintes conclusões:
- A utilização de modelo de elementos finitos axissimétrico do vaso de pressão (sem a
representação de trincas), para a análise termo-estrutural e cálculo de KI usando metodologia
simplificada do ASME, é perfeitamente viável. Isto porque a diferença dos valores de KI
assim obtidos, quando comparados aos valores obtidos com o modelo 3D, foi de apenas
aproximadamente 10%, no caso aqui estudado.
- No entanto, os resultados obtidos com o modelo 3D são mais precisos, pois neste caso a
geometria da trinca é considerada no modelo. Além disso, enquanto a metodologia do ASME
restringe o cálculo de K
I
a 90º, o modelo 3D permite a obtenção de K
I
em qualquer posição da
frente da trinca (de 0º a 90º).
- No caso aqui estudado, os resultados com o uso da metodologia do ASME mostraram-se
conservadores. No entanto, deve-se ressaltar que o cálculo de K
I
como a metodologia do
ASME faz uso de equações que dependem de parâmetros fornecidos em ábacos, que por si só
incorporam imprecisões e dificuldades de interpolações ou extrapolações das variáveis de
entrada nesses ábacos. Conseqüentemente, não se pode garantir que esses resultados serão
sempre conservadores.
- No que diz respeito à resistência à fratura, a metodologia do ASME faz uso da chamada
curva de referência de tenacidade à fratura (FIG. 14) que é conservadora. Verificou-se, aqui,
que ao se comparar K
I
(tanto calculado pelo ASME como numericamente usando o programa
69
ANSYS) com a curva de tenacidade à fratura do ASME, foi previsto crescimento de trinca
(FIG. 57 e 58). Ao passo que a comparação com a curva de tenacidade à fratura definida pela
“Curva Mestra” (Master Curve), que é uma metodologia bem mais moderna, não indica
crescimento de trinca (vide novamente FIG. 57 e 58). Julga-se que este último caso esteja
mais de acordo com o que de fato ocorreu durante o experimento de PTS, apesar de ter sido
observado um pequeno crescimento de trinca na posição a 0º.
- Atribui-se o pequeno crescimento de trinca, mencionado no parágrafo anterior, aos perfis
bastante irregulares das trincas reais, que no modelo de elementos finitos foram idealizados
por perfis semi-elípticos. Portanto, uma modelagem da trinca a mais próxima possível de sua
geometria real é essencial para uma análise precisa. Além disso, é fundamental que os
métodos para determinação da geometria da trinca, tais como, ultra-som ou raio-X, sejam bem
executados de maneira a levantar com precisão o seu perfil.
- Considerando que em geral análises de PTS são realizadas para se determinar o
prolongamento ou não da vida útil de um VPR, os valores calculados pelo ASME poderiam
sugerir, de forma precoce, o comprometimento do funcionamento de uma usina nuclear.
Portanto é fundamental o uso de métodos numéricos para avaliar de forma precisa a força
motriz da trinca, bem como a aplicação de metodologias modernas, tal como a da Curva
Mestra, para a determinação da resistência à fratura do material
- Uma das etapas mais trabalhosas enfrentadas no presente trabalho, foi o desenho da malha,
no modelo 3D, em especial na região da frente da trinca, com a consideração de elementos
finitos singulares. Assim a disponibilidade de ferramentas computacionais que automatizem a
geração dessa malhas é muito importante para viabilizar a aplicação rotineira dos métodos dos
elementos finitos em análises de mecânica da fratura.
5.1. Sugestão para trabalhos posteriores
As análises realizadas no presente trabalho de pesquisa foram baseadas nos conceitos da
MFEL. Nos modelos de elementos finitos, o comportamento do material foi suposto elástico
linear. No entanto, os resultados das análises de tensão indicaram valores de tensão superiores
ao limite de escoamento do material. Portanto, dependendo da extensão da zona plástica, seria
mais adequada a aplicação de conceitos da MFEP. Sugere-se, como trabalho futuro, que seja
feita esta avaliação e, se for o caso, que as análises sejam refeitas considerando modelos de
70
elementos finitos elasto-plásticos e o uso de parâmetros da MFEP para representar a força
motriz da trinca (por exemplo, integral-J).
Com o desenvolvimento de modelos elasto-plásticos, um outro tópico importante que poderia
ser investigado em trabalho futuro seria a consideração de parâmetros para considerar efeitos
de perda de restrição à plasticidade da ponta da trinca.
Sugere-se ainda a utilização de ferramentas modernas para a modelagem da trinca o mais
próximos possível da trinca real, com o objetivo de verificar a possibilidade de se atingir
resultados mais próximos aos obtidos experimentalmente. Nesse sentido, seria também
interessante a determinação dos valores de K
I
para diversos ângulos ao longo da frente da
trinca.
71
APÊNDICE A - VALIDAÇÃO DO CÁLCULO 3D DE K
I
COM O ANSYS 7.1®
Para validação do cálculo 3D de K
I
utilizando o programa ANSYS 7.1®, foi desenvolvido um
modelo de uma chapa contendo uma trinca superficial, semi-elíptica, submetida à tração,
conforme apresentado na FIG. 62.
FIGURA 62 - Trinca superficial semi-elíptica em um sólido finito
A trinca foi considerada para duas relações, ou seja, a/L = 1/4 e a/L = 1/5, onde L = 2c. No
primeiro caso a = 15 mm e 2c = 60 mm, e no segundo caso a = 12 mm e 2c = 62 mm. As
dimensões adotadas para dois casos, um de chapa grossa e outra fina. Considerou-se ainda a
simetria vertical e horizontal do sólido. Dessa forma, a modelagem foi feita considerando
apenas um quarto da seção. Além da simetria, adotou-se como condição de contorno uma
restrição nas direções X, Y e Z. Esta restrição foi imposta no nó situado na diagonal superior,
oposto à trinca. Essa condição é necessária de forma a evitar o efeito de translação de corpo
rígido. Um esforço de tração de 500,0 MPa foi aplicado na área superior do modelo.
No passo seguinte, foi feita a construção da malha. Na região da trinca, de acordo com o
exposto em 2.2.1, os nós foram deslocados de um quarto. Na FIG. 63 é possível observar que
foram desenhados seis elementos ao redor da ponta da trinca. No restante do sólido utilizou-se
uma malha livre.
72
FIGURA 63 - Malha do sólido e detalhe da trinca
Após a geometria elaborada, a malha definida e os carregamentos lançados o modelo foi
processado utilizando-se o programa ANSYS 7.1®.
A determinação dos valores de K
I
foi feita com a ajuda do módulo de pós-processamento do
ANSYS 7.1®, com a utilização do comando KCALC. Estes valores foram determinados em
duas posições da frente trinca, o centro (90º) e a extremidade (0º).
Para comparação dos resultados, foram utilizadas as Eq. 9 e 10, item 2.1.5. Os resultados são
apresentados a seguir, na TAB. 6.
73
TABELA 6
Comparação do Valores de K
I
a/L=1/4 a/L=1/5
Método
K
I
(90º) K
I
(0º) K
I
(90º) K
I
(0º)
ANSYS
1
96,02 76,60 91,42 68,18
Eq. 9 97,25 75,64 93,04 65,23
Diferença
1,26% -1,27% 1,74% -1,46%
ANSYS2
1
112,37 75,64 104,64 63,68
Eq. 10 110,49 76,60 103,20 62,30
Diferença
1,67% -1,27% 1,38% 2,17%
K
I
[MPa.m
0,5
]
1
Chapa grossa (B = 85 mm)
2
Chapa fina (B = 30 mm)
74
ANEXO A - PROJETO NESC -1
NESC (Network for Evaluation Structural Components) (Bass, R. et all - 2001) é uma rede,
formada por grupos de pesquisadores de vários países, para avaliação estrutural de
componentes criada em 1993, com o objetivo de promover e gerenciar a colaboração entre
projetos internacionais com foco na validação do processo completo para avaliação da
integridade estrutural.
O primeiro projeto, NESC-I, estabeleceu uma estrutura formada por vários grupos de trabalho
para avaliação das interações entre várias disciplinas técnicas aplicadas à avaliação da
integridade estrutural de um cilindro rotativo submetido a choque térmico . Um experimento
com o cilindro foi projetado para simular condições associadas de um VPR irradiado e com
trincas, submetido a um carregamento de PTS. As interações interdisciplinares trouxeram
contribuições para o projeto tais como: avaliação por ensaios não destrutivos, caracterização
das propriedades dos materiais, técnicas de medidas, análises termo-estruturais, avaliações de
fratura e ensaios destrutivos. As contribuições do NESC-I são válidas para a avaliação da
integridade estrutural de componentes nucleares e não-nucleares. Os países participantes do
NESC-I eram predominantemente europeus (Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha,
Itália, Países Baixos, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido), juntamente com Japão e Estados
Unidos.
O objetivo global do NESC-I foi estudar a confiabilidade de todo o processo de avaliação de
integridade estrutural, utilizando-se de uma rede internacional de pesquisa. A simulação de
um carregamento transiente de PTS em um VPR com trincas representa a escolha lógica de
um problema que envolve vários desafios. Uma meta importante do estudo foi alcançar um
melhor entendimento entre as diversas disciplinas envolvidas.
O projeto NESC-I estabeleceu grupos de trabalho (TG - Task Group) para executar tarefas
integradas em rede, abaixo relacionadas:
- TG1 - Inspeção e avaliação mediante ensaios não destrutivos. Responsável pela organização
de pré e pós-testes de inspeção no cilindro, bem como, montagem, interpretação e divulgação
do banco de dados dos resultados das inspeções;
- TG2 - Determinação das propriedades dos materiais, que serviram de base de dados para as
análises do TG3;
75
- TG3 - Análises estruturais. O escopo deste grupo inclui análises de todos os defeitos
significantes no cilindro, usando desde técnicas simples a técnicas altamente sofisticadas;
-TG4 - Instrumentação. Este grupo ficou responsável por todos os instrumentos de medição
presos ao cilindro durante o teste, e pela determinação das tensões residuais no cilindro antes
e após o teste;
- TG5 - Coordenação das atividades dos quatro grupos anteriores e atuando como um foro no
qual os problemas do projeto global poderiam ser discutidos, definindo prioridades e
propondo soluções ao Comitê Dirigente do NESC;
- ETF - Avaliação dos grupos de trabalho (Evaluation Task Force);
- DEAG - Grupo de Ensaios Destrutivos.
Como o presente trabalho está mais relacionado às atividades do grupo TG3, segue-se uma
breve descrição das atividades realizadas por esse grupo no Projeto NESC-1.
A responsabilidade inicial do TG3 foi definir recomendações cruciais sobre os parâmetros do
projeto tanto para o cilindro quanto para os carregamentos transientes, que conduziriam ao
evento de clivagem durante o experimento do NESC-I. Para alcançar seus objetivos, o TG3
definiu duas fases de análise pré-teste, uma simplificada e outra utilizando técnicas analíticas
sofisticadas, utilizadas para determinar a influência dos diversos parâmetros no experimento
planejado.
A primeira fase de análises foi iniciada com o encontro dos membros do grupo em agosto de
1993. As discussões iniciais revelaram experiências limitadas com o protejo e análise de um
experimento baseado no conceito de um cilindro rotativo. Desta forma, foi considerada
essencial que a participação individual inicial deveria ser a execução de cálculos preliminares
para estabelecer a compreensão básica do problema. A especificação para as condições de
carregamento do cilindro e as propriedades do material foram compiladas para dar suporte a
esta etapa. Os resultados desta primeira fase de análises foram apresentados na reunião de
lançamento do NESC em Risley em Setembro de 1993. A maior parte das técnicas de análises
utilizadas foram baseadas em metodologias simplificadas de análises termo-elásticas ou
termo-elastoplásticas em um corpo não trincado, combinado estimativas dos fatores de
intensidade de tensão, baseadas em funções de peso. Os aspectos significantes desta série de
análises foram:
76
- a clivagem não foi prevista no ponto mais profundo para qualquer tamanho de defeito
devido ao gradiente térmico na parede de cilindro;
- a maior probabilidade para ocorrer o crescimento inicial das trincas foi verificado em
posições, da frente das trincas, localizadas próximas à superfície, durante o intervalo de tempo
de 200 a 300 segundos;
- análises elásticas previram que para uma profundidade de 50 mm os defeitos superficiais
semi-elípticos poderiam iniciar um crescimento próximo à frente da trinca durante o
transiente proposto;
- cálculos sugeriram que a clivagem inicial potencial poderia ser aumentada com a redução da
espessura do revestimento interno, abaixando a temperatura da água de resfriamento e
aumentando a velocidade de rotação do cilindro.
Os resultados destacaram um número de problemas associados com a realização do evento de
clivagem no experimento proposto. Em primeiro lugar, aparentemente os métodos
simplificados poderiam não representar satisfatoriamente no modelo a influência do
revestimento interno do cilindro na força motriz da trinca para trincas sub-superficiais. A
modelagem destes defeitos requer uma análise por elementos finitos de um modelo
tridimensional de forma a representar a trinca. Além disso, por causa dos efeitos de perda de
restrição à plasticidade e das propriedades de resistência à fratura do material do cilindro, o
grupo não poderia garantir com precisão que o crescimento do defeito considerado nas
análises iria acontecer durante o transiente proposto. Outrossim, o gradiente superficial das
curvas de força motriz da trinca com interseção com as curvas de tenacidade à fratura do
material sugeria que o efeito de pré-tensionamento à quente (warm-prestressing) poderia
reduzir a probabilidade de iniciação do evento de clivagem.
Em paralelo, o grupo TG2 levantou várias dificuldades com o processo para reduzir a
tenacidade à fratura do material do cilindro, por intermédio de tratamentos térmicos, para
valores de 100 MPa.m a 50ºC. A possibilidade elevada de que a clivagem inicial poderia não
ser percebida no cilindro com aquelas propriedades de tenacidade à fratura naquele ponto,
mesmo sob condições de carregamento mais severas. Conseqüentemente, o Comitê Dirigente
decidiu substituir o cilindro por outro que poderia ser reconstituído da sobra de dois outros
cilindros ensaiados. A maior vantagem desta decisão foi que as propriedades do material eram
conhecidas dentro de limite específico. Adicionalmente, foi decidido que a espessura do
77
revestimento poderia ser reduzida para 4 mm, a temperatura da água de resfriamento
estabelecida em 5ºC e a velocidade de rotação aumentada para 2500 rpm.
A segunda fase de análises baseou-se nos resultados da primeira fase. Uma série mais
detalhada de cálculos simplificados e de elementos finitos 3-D foi programada para
desenvolver um melhor entendimento da influência das variáveis de teste na iniciação de
trinca. Estes estudos utilizaram condições de carregamento mais severas que as recomendadas
pelo Comitê Dirigente. Grupos individuais foram encorajados a executar análises
paramétricas das variáveis experimentais incluindo:
- velocidade e aceleração rotacional;
- cilindro inicial e temperatura da água de resfriamento;
- espessura do revestimento interno;
- modificação das condições de carregamento;
- razão do aspecto do defeito (largura/profundidade);
- resistência do revestimento;
- mudança na geometria.
Os resultados obtidos destas análises permitiram ao grupo TG3 aconselhar ao Comitê
Dirigente os tamanhos dos defeitos que teriam a probabilidade de iniciação do crescimento de
trinca durante o experimento.
78
ANEXO B - ÁBACOS DA NORMA ASME, SEÇÃO XI
FIGURA 64 - Ábaco para determinação do fator de forma Q
FIGURA 65 - Ábaco para determinação do fator de correção da tensão de
membrana M
m
79
FIGURA 66 - Ábaco para determinação do fator de correção da tensão de
flexão M
b
80
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM-E1921: Standard
test method for determination of reference temperature, T
0
, for ferritic steels in the
transition range. Philadelphia,1997.
2. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS.
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