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“Estudo do alcance de elétrons com energias
entre 110 eV e 50 keV”
Geórgia Santos Joana
Disserta
ç
ão apresentada como parte dos requisitos
para obten
ç
ão do
g
rau de Mestre em Ciência e
Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais
2005
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Comissão Nacional de Energia Nuclear
CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das
Radiações, Minerais e Materiais
ESTUDO DO ALCANCE DE ELÉTRONS COM
ENERGIAS ENTRE 110 eV E 50 keV
Geórgia Santos Joana
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e
Materiais, como requisito parcial à obtenção do Grau de
Mestre.
Área de concentração: Aplicação de Técnicas Nucleares
Orientadora: Suely Epsztein Grynberg
Belo Horizonte
2005
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ii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Jorge e Graça, aos meus
irmãos, Graciela e Giordano e a todos que me
incentivaram e ajudaram de alguma forma a
superar mais esta etapa da minha vida.
iii
AGRADECIMENTO
À Deus, por mais esta graça alcançada. Aos
meus pais, meus irmãos e ao Felipe, por tudo!
(vocês sabem...). Aos meus orientadores (todos
eles). Às pessoas que acreditaram em mim e me
deram a maior força. Ao CDTN e à CNEN.
iv
RESUMO
Existe um grande número de estudos que examina a dependência entre energia e alcance
para elétrons com energias desde alguns keV’s até centenas de MeV’s. Porém, a descrição
quantitativa do transporte de elétrons de baixa energia é um problema complexo,
especialmente devido à não disponibilidade de dados confiáveis para as seções de choque
dos diferentes mecanismos por meio dos quais elétrons interagem com a matéria. Uma vez
que os modelos analíticos de transporte de elétrons ou são incompletos ou apresentam
dificuldades até o momento intransponíveis, os códigos de Monte Carlo têm sido a
alternativa adotada nestas abordagens e são hoje extensivamente utilizados.
É sabido que na interação de radiações ionizantes com o tecido vivo podem ocorrer danos
severos em estruturas nos níveis celular e sub-celular. Uma vez que a transferência de
energia de radiações ionizantes para o meio ocorre predominantemente através da
interação dos elétrons secundários produzidos por esta com o material, existe um interesse
especial na determinação da relação entre energia inicial e alcance para elétrons;
especialmente os de baixa energia.
Neste trabalho é estudada a relação entre energia inicial e alcance em meio biológico para
elétrons com energias entre 110 eV e 50 keV. Para tal foi utilizado o código de Monte
Carlo PENELOPE com o qual foram realizadas simulações do transporte de elétrons de
baixa energia (110 eV a 50 keV) – e dos fótons secundários gerados por estes –
provenientes de uma fonte monoenergética isotrópica localizada no interior de um meio
tecido equivalente homogêneo. A partir daí, as grandezas de interesse foram calculadas e
analisadas.
v
ABSTRACT
There are a great number of studies that examines the dependence between energy and
range for electrons with energies from some keV's to hundreds of MeV's. However, the
quantitative description of low-energy electron transport is a complex problem, especially
due to the fact that there are not reliable data available for cross sections of the different
possible types of electron interactions with matter. Once the analytic models of electron
transport are incomplete or present difficulties to the present insoluble Monte Carlo codes
have been the alternative adopted in these approaches and are used extensively nowadays.
It is known that the interaction of ionizing radiation with tissue may lead to severe
damages in cellular and sub-cellular levels structures. Thus, there is a special interest in the
determination of the relationship between initial energy and range for electrons despite the
fact that the ionizing radiation energy transfer to the medium occurs predominantly
through the interaction of secondary electrons produced in the material - mainly low-
energy electrons.
In this work it is studied the relationship between initial energy and range in biological
medium for electrons with energies between 110 eV and 50 keV. Monte Carlo PENELOPE
code was used. The simulation of transport of low-energy electrons (110 eV to 50 keV)
originated from a monoenergetic isotropic source located inside a homogeneous tissue-
equivalent medium was accomplished, and then the quantities of interest were calculated
and analyzed.
vi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................8
REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................................................11
1 O MÉTODO MONTE CARLO..........................................................................................................11
1.1 ELEMENTOS DA TEORIA DE PROBABILIDADE ......................................................................................12
1.2 MÉTODOS DE SIMULAÇÃO DE VARIÁVEIS ALEATÓRIAS ......................................................................16
1.2.1 Gerador de números aleatórios...............................................................................................16
1.2.2 Método da transformada inversa.............................................................................................17
1.2.3 Método de Walker....................................................................................................................19
1.2.4 Métodos de rejeição.................................................................................................................21
1.2.5 Métodos de composição. Variáveis bidimensionais.................................................................22
1.3 INTEGRAÇÃO MONTE CARLO .............................................................................................................23
2 INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA.......................................................................27
2.1 INTERAÇÃO DE FÓTONS COM A MATÉRIA............................................................................................27
2.1.1 Efeito fotoelétrico.....................................................................................................................29
2.1.2 Espalhamento Compton...........................................................................................................30
2.2 INTERAÇÃO DE PARTÍCULAS CARREGADAS COM A MATÉRIA ..............................................................31
2.2.1 Poder de frenamento................................................................................................................33
2.2.2 Alcance.............. ......................................................................................................................40
3 TÉCNICAS DE MONTE CARLO PARA O TRANSPORTE DE ELÉTRONS E FÓTONS.......44
3.1 MODELOS CLASSE I E CLASSE II.........................................................................................................46
3.2 SIMULAÇÃO DO TRANSPORTE DE RADIAÇÃO ......................................................................................48
3.2.1 Modelo de espalhamento e funções distribuição de probabilidade.........................................48
3.2.2 Geração das trajetórias aleatórias..........................................................................................51
3.2.3 Seleção de um processo físico..................................................................................................54
3.2.4 Efeitos do tamanho do passo da partícula...............................................................................55
3.2.5 Transporte de partículas como um processo Markoviano.......................................................58
3.2.6 Transporte de elétrons.............................................................................................................59
3.2.7 Transporte de fótons................................................................................................................61
3.3 MÉDIAS ESTATÍSTICAS E INCERTEZAS ................................................................................................62
3.4 EXATIDÃO DO CÓDIGO .......................................................................................................................66
3.4.1 Dados de seção de choque.......................................................................................................66
3.4.2 Erros Sistemáticos ...................................................................................................................67
3.4.3 Incertezas estatísticas ..............................................................................................................68
3.4.4 Eficiência Computacional........................................................................................................69
3.5 REDUÇÃO DE VARIÂNCIA...................................................................................................................70
3.5.1 Interação Forçada...................................................................................................................70
vii
3.5.2 Cisão (splitting) e roleta Russa................................................................................................72
3.5.3 Rejeição de alcance .................................................................................................................73
3.5.4 Outros métodos ......................................................................................................................74
METODOLOGIA..........................................................................................................................................75
4 O CÓDIGO PENELOPE.....................................................................................................................77
4.1 INTERAÇÕES DE FÓTONS.....................................................................................................................77
4.1.1 Espalhamento coerente (Rayleigh)..........................................................................................77
4.1.2 Efeito fotoelétrico.....................................................................................................................77
4.1.3 Espalhamento incoerente (Compton).......................................................................................78
4.1.4 Produção de pares...................................................................................................................78
4.2 INTERAÇÕES DE ELÉTRONS E PÓSITRONS............................................................................................79
4.2.1 Colisão elástica ......................................................................................................................79
4.2.2 Colisão inelástica.....................................................................................................................79
4.2.3 Emissão de bremsstrahlung.....................................................................................................79
4.2.4 Aniquilação de pósitrons .........................................................................................................80
4.3 RELAXAÇÃO ATÔMICA .......................................................................................................................80
4.4 MECÂNICA DO TRANSPORTE DE ELÉTRONS E PÓSITRONS....................................................................81
4.5 SIMULAÇÃO MISTA (CLASSE II) DO ESPALHAMENTO ELÁSTICO ..........................................................82
4.5.1 Espalhamento múltiplo. Método da dobradiça aleatória (“random hinge”)..........................82
4.5.2 Perdas de energia suaves. “Continuous-Slowing-Down-Approximation”..............................82
4.5.3 Combinação de espalhamento e perda de energia ..................................................................83
4.6 GERAÇÃO DAS HISTÓRIAS ..................................................................................................................85
4.7 SIMULAÇÃO DO CHUVEIRO.................................................................................................................89
4.8 ESTABILIDADE DO ALGORITMO DE SIMULAÇÃO.................................................................................93
5 O CÁLCULO DOS ALCANCES........................................................................................................95
RESULTADOS............................................................................................................................................100
CONCLUSÕES............................................................................................................................................111
APÊNDICE A – Composição do tecido mole (ICRP)...............................................................................113
APÊNDICE B – Termos, grandezas e unidades relacionados às radiações ionizantes..........................114
APÊNDICE C – Cinemática de colisão......................................................................................................118
8
INTRODUÇÃO
Em física, o termo radiação refere-se usualmente a partículas e campos que se propagam
(transferindo energia) no espaço (preenchido ou não por matéria). As radiações podem ser
ionizantes ou não ionizantes. Radiações ionizantes são usualmente definidas como aquelas
que podem ionizar a matéria diretamente ou através da ação de alguma radiação
secundária. O processo de ionização ocorre quando uma quantidade suficiente de energia é
transferida para o material arrancando elétrons dos átomos deste. É importante salientar
que, apesar de serem definidas como “ionizantes”, este não é o único – e nem
necessariamente o mais importante – processo através do qual a radiação pode transferir
energia para um material. Um segundo fenômeno importante é a excitação. Neste processo
o átomo é elevado a um estado de maior energia. No processo de desexcitação ocorre a
emissão de raios-X ou de elétron(s) de camadas mais exteriores àquela onde ocorreu a
excitação (elétrons Auger). Ionizações e excitações podem acarretar sérias conseqüências
físicas, químicas e/ou biológicas (quando cabível). Sistemas biológicos, em especial, são
bastante sensíveis a estes eventos. A transferência de energia de radiações ionizantes para o
meio ocorre predominantemente através da interação dos elétrons secundários com o
material (ATTIX, 1968). A interação destes elétrons com o tecido vivo pode provocar
danos em estruturas celulares dependendo da distribuição local da densidade de energia
absorvida. Para se produzir danos no DNA, por exemplo, a deposição de energia deve ser
extremamente localizada, isto é, a distribuição da energia deve se adequar a uma região
cujo volume é da ordem do diâmetro da hélice desta molécula. Neste contexto, deve-se
fazer referência aos elétrons de baixa energia, como os elétrons Auger, cujos alcances são
tais que se torna possível obter valores altos para a densidade de energia em pequenos
volumes.
Encontra-se na literatura vários exemplos que mostram que elétrons de baixa energia
provenientes de emissores localizados internamente em meios biológicos podem produzir
danos relevantes às entidades biológicas irradiadas desde que a densidade de energia
localmente absorvida seja suficientemente grande (MALAMUT, 1987). Com base nisto,
cogita-se fazer uso de emissores de elétrons Auger, tais como
77
Br,
201
Tl,
75
Se,
35
S,
90
Y,
9
dentre outros, na radioimunoterapia (BLOOMER, 1978 citado por MALAMUT, 1987;
MAUSNER, 1993). A idéia central desta aplicação é utilizar os elétrons gerados através do
efeito Auger na irradiação de células neoplásicas. Devido à baixa energia destes elétrons
(em geral menor do que 50 keV) devem ocorrer depósitos de energia em regiões
extremamente localizadas. Tais depósitos podem levar a danos severos nas estruturas
moleculares em torno dos locais de decaimento. Se estas estruturas forem vitais para a
viabilidade celular, um efeito letal pode ocorrer (CHARLTON, 1978; TISLJAR-
LENTRILIS, 1978; KASSIS, 1980 citado por MALAMUT, 1987). O limite de 50 keV
para análise detalhada de distribuição de dose nos níveis celular e sub-celular é
corroborado por outros autores ao considerarem que, com energias maiores que 50 keV, os
elétrons, e desta forma a energia, se difundem para longe da fonte (HUMM, 1993).
Portanto, o estudo dos efeitos da radiação no tecido vivo fundamenta-se na análise dos
elétrons de baixa energia. A avaliação do “alcance” destes elétrons se conFIGURA como
uma ferramenta útil na determinação da extensão sobre a qual estes elétrons, colocados em
movimento em torno da trajetória da radiação, induzem danos diretos ao DNA de células
vivas (MEESUNGNOEN, 2002).
Com as constantes colisões, partículas carregadas penetram num meio até que sua energia
cinética entra em equilíbrio térmico com as partículas do meio, estabelecendo um
“alcance” no meio absorvedor, após um percurso em linha reta ou em zig-zag. As
partículas pesadas, como alfa e fragmentos de fissão, têm uma trajetória praticamente
retilínea dentro do material, ao contrário dos elétrons que têm uma trajetória tortuosa. Para
cada tipo de partícula pode-se definir um alcance, utilizando variações da definição
provenientes de dificuldades experimentais em sua determinação (TAUHATA, 2003).
Alcance, para partículas carregadas, é um conceito mais complexo do que aquele definido
para partículas sem carga, uma vez que estas, em geral, descrevem uma trajetória tortuosa
ao se deslocarem em um meio. Esta complexidade é ainda maior quando se trata de
elétrons de baixa energia, que se deslocam em um pequeno volume até a perda completa de
sua energia. Existe um grande número de estudos que examina a dependência entre energia
e alcance de elétrons com energias desde alguns keV’s até centenas de MeV’s. Porém, a
descrição quantitativa do transporte de elétrons de baixa energia é um problema complexo,
especialmente devido à não disponibilidade de dados confiáveis para as seções de choque
dos diferentes tipos possíveis de interações de elétrons com a matéria
(MEESUNGNOEN, 2002). Os modelos analíticos de transporte de elétrons ou são
incompletos ou apresentam dificuldades até o momento intransponíveis – basta lembrar
10
que a equação de transporte de Boltzmann é uma equação íntegro-diferencial não linear.
Os códigos de Monte Carlo têm sido a alternativa adotada e são hoje extensivamente
utilizados. Códigos de Monte Carlo de simulação análoga (que simulam o frenamento de
elétrons evento por evento) têm sido uma valiosa ferramenta para explicar, em termos
quantitativos, a ação da radiação no nível molecular (EMFIETZOGLOU, 2003).
O problema tratado neste trabalho consiste na simulação do transporte de elétrons com
energias entre 110 eV e 50 keV, e das partículas secundárias geradas por estes,
provenientes de uma fonte monoenergética isotrópica localizada no interior de um meio
tecido equivalente homogêneo cujas dimensões são muito maiores do que o alcance das
partículas em questão, podendo então ser considerado infinito. E este tem por objetivo
estudar a relação entre a energia inicial e o alcance em meio biológico destes elétrons de
baixa energia. Para tal será utilizado o código de Monte Carlo PENELOPE que simula o
transporte de elétrons e fótons até energias tão baixas quanto 100 eV.
11
REVISÃO DE LITERATURA
Todo este trabalho fundamenta-se no transporte de radiação – mais precisamente de
elétrons e fótons – através do método de Monte Carlo.
Nas próximas seções será apresentada a teoria relacionada a este assunto. Na seção 1, são
introduzidos os conceitos básicos do método de simulação de Monte Carlo, incluindo uma
breve visão geral dos métodos de amostragem de variáveis aleatórias. Na seção 2 é tratada
a interação da radiação com a matéria. E, finalmente, na seção 3 são apresentadas as
técnicas de Monte Carlo para o caso específico de transporte de radiação (elétrons e
fótons), incluindo a descrição do código PENELOPE.
1 O método Monte Carlo
O método de Monte Carlo é uma técnica para solução numérica de problemas baseada na
simulação de variáveis aleatórias. Sua origem foi marcada pela publicação, em 1949, do
artigo “The Monte Carlo method” e deve sua existência aos esforços de J. von Neumann e
S. Ulam. Através deste método é possível simular tanto processos que dependem de fatores
aleatórios como problemas não ligados a tais fatores, desde que seja possível associar a
estes um ou vários modelos probabilísticos. O campo de aplicação do método é, portanto,
considerável (SOBOL, 1983).
A característica essencial da simulação Monte Carlo é, então, o uso de números e variáveis
aleatórias (SALVAT, 2001). Designa-se variável aleatória aquela que pode assumir
diversos valores, cada um com uma certa probabilidade, não sendo o valor assumido
necessariamente preciso. Mesmo conhecendo-se a probabilidade associada a cada valor
possível de uma variável aleatória não se consegue prever exatamente o valor que esta
assumirá numa experiência, mas se pode prever o caráter do seu comportamento em uma
série de experiências, e a precisão deste será tanto maior quanto mais longa for esta série
(SOBOL, 1983). Esta aleatoriedade pode ser conseqüência da existência de fatores não
controláveis (como ocorre, por exemplo, em jogos de azar) ou em decorrência da natureza
quântica de sistemas e processos microscópicos (por exemplo, desintegração nuclear e
interações da radiação) (SALVAT, 2001).
12
Apesar do vasto campo de aplicação e da relativa simplicidade deste método, a sua
utilização somente se difundiu após o aparecimento, no final da década de 50, de
computadores capazes de lidar com o considerável volume de cálculos relacionados à
simulação de variáveis aleatórias. Em um computador, estas variáveis são geradas através
de transformações numéricas de números aleatórios (SALVAT, 2001). Nas seções 1.1 e
1.2 serão apresentadas certas propriedades das variáveis aleatórias assim como alguns
métodos de simulação destas.
1.1 Elementos da teoria de probabilidade
Seja x uma variável aleatória contínua que pode assumir qualquer valor no intervalo
maxmin
xxx . A probabilidade de se obter x em um intervalo (a,b) é dado por
{}
NnbxaxP
=
<< | – razão entre o número n de valores de x que caem neste intervalo
e o número total N de valores gerados de x, no limite
N . A probabilidade de se obter
x em um intervalo diferencial de comprimento dx em torno de x
1
pode ser expressa como
, )(} | {
111
dxxpdxxxxxP
=
+
<
<
( 1.1 )
onde )(xp é a função distribuição de probabilidade (FDP) de x. Uma vez que
probabilidades negativas não têm significado e o valor obtido para x deve estar no intervalo
),(
maxmin
xx , a FDP deve satisfazer as condições:
=
max
min
1 )( e 0)(
x
x
dxxpxp . ( 1.2 )
Qualquer “função” que obedece estas duas condições pode ser interpretada como uma
FDP. A distribuição uniforme
><
<<
maxmin
maxminminmax
,
ou se 0
se )/(1
)(
maxmin
xxxx
xxxxx
xU
xx
, ( 1.3 )
por exemplo, é freqüentemente utilizada em simulações Monte Carlo. A definição (1.2)
também inclui distribuições peculiares como a de delta de Dirac, )(
0
xx
δ
, que é definida
pela propriedade
><
<<
=
bx ax
bxa xf
dxxxxf
00
0
b
a
ouse 0
se )(
)( )(
0
0
δ
, ( 1.4 )
para qualquer função )(xf contínua em x
0
. Uma definição equivalente, e mais intuitiva, é
a seguinte:
13
),(lim)(
00
,
0
0
xUxx
xx +
δ
( 1.5 )
que representa a distribuição delta como uma distribuição uniforme centrada no ponto x
0
,
no limite em que a largura desta tende a zero. Assim, a distribuição de Dirac descreve uma
variável aleatória que pode assumir um único valor, isto é, uma constante. A FDP de uma
variável aleatória x que assume valores discretos
K x xx ,,
21
=
com probabilidades
K p p ,,
21
pode ser considerada como uma combinação de distribuições delta
=
i
ii
xxpxp )( )(
δ
. ( 1.6 )
Distribuições discretas podem então, serem consideradas como formas particulares de
distribuições contínuas.
Dada uma variável aleatória contínua x, a função distribuição cumulativa de x é definida
por:
' )'()(
min
dxxpx
x
x
. ( 1.7 )
Esta é uma função não-decrescente de x que varia de
0)(
min
=
x a 1)(
max
=
x . No caso
de uma FDP discreta da forma (1.6), )(x
é uma função degrau. Note que a probabilidade
{}
| bxaxP << de obter x no intervalo (a,b) é
==<<
b
a
abdxxpbxaxP
)()( )( } | { , ( 1.8 )
e que
dxxdxp )()( = .
O nsimo momento de )(xp é definido como
=
max
min
)(
x
x
nn
dxxpxx . ( 1.9 )
O momento
0
x é simplesmente a integral de )(xp , que é igual a um, por definição.
Momentos de ordem maior podem ou não existir O primeiro momento, quando existe, é
chamado de média ou valor esperado da variável aleatória x,
= dxxpxx )( . ( 1.10 )
O valor esperado de uma função )(xf é definido de maneira similar,
dxxpxfxf )( )( )( . ( 1.11 )
Sendo )(xf uma variável aleatória, ela tem sua própria FDP, )( f
π
, que é tal que a
probabilidade de se ter f em um intervalo de largura df é igual à probabilidade de x estar
14
no intervalo ou intervalos correspondentes
1
. Então, se )(xf é uma função
monotonicamente crescente de x (tal que exista uma correspondência um-a-um entre os
valores de x e f ), dffdxxp ) ( )(
π
= e
1
)/( )()(
= dxdfxpf
π
. ( 1.12 )
Pode-se mostrar que as definições (1.10) e (1.11) são equivalentes. Se )(xf cresce
monotonicamente com x, a prova é trivial: começando da definição (1.10) e escrevendo
=== dxxpxfdfdfdxxpxfdffff )( )( )/( )( )( ) (
π
, ( 1.13 )
que concorda com (1.11). Note que o valor esperado é linear, isto é:
)()()()(
22112211
xfaxfaxfaxfa +=+ , ( 1.14 )
onde a
1
e a
2
são constantes reais arbitrárias.
Se o primeiro e o segundo momento da FDP )(xp existem, define-se a variância de x (ou
de )(xp ) como
==
2
222
)()()()var( xxdxxpxxxxx . ( 1.15 )
A raiz quadrada da variância,
[
]
2/1
)var(x
σ
, é chamada de desvio padrão, e dá uma
medida da dispersão da variável aleatória, isto é, da largura da FDP. O delta de Dirac é a
única FDP que tem variância nula. De maneira similar, a variância de um função )(xf é
definida como
2
2
)()()}(var{ xfxfxf = . ( 1.16 )
Assim, para uma função constante, axf
=
)(, af = e
{
}
0var
=
f .
Variáveis aleatórias bidimensionais
Considerando o caso de uma variável aleatória bidimensional, ),( yx , a FDP (conjunta)
correspondente ),( yxp satisfaz as condições
= 1yxpdy dx yxp ),( e0),( . ( 1.17 )
As FDP’s marginais de x e y são definidas como
1
Quando f(x) não cresce ou decresce monotonicamente com x, pode haver mais de um valor de x
correspondente a um dado valor de f.
15
dxyxpyq dy yxpxq ),()(e ),()( , ( 1.18 )
isto é, )(xq é a probabilidade de se obter o valor x e qualquer valor y. A FDP conjunta
pode ser escrita como
)|()()|()(),( yxpyqxypxqyxp
=
=
, ( 1.19 )
onde
)(
),(
)|(e
)(
),(
)|(
xq
yxp
xyp
yq
yxp
yxp == ( 1.20 )
são as FDP’s condicionais de x e y, respectivamente. Note que )|( yxp é a FDP
normalizada de x para um valor fixo de y.
O valor esperado de uma função ),( yxf é
= ),(),(),( yxpyxfdy dxyxf . ( 1.21 )
Os momentos da FDP são definidos por
= ),( yxpyxdy dxyx
mnmn
. ( 1.22 )
Em particular,
== dxxqxyxpxdy dxx
nnn
)(),( . ( 1.23 )
Novamente, o único momento que é necessariamente definido é
1
00
=yx . Quando os
correspondentes momentos existem, as variâncias de x e y são dadas por:
2
2
2
2
)var(e)var( yyy xxx == . ( 1.24 )
A variância de
y
x
+
é
),cov(2)var()var()()var(
2
2
yxyxyxyxyx ++=++=+ , ( 1.25 )
onde
yxxyyx =),cov( ( 1.26 )
é a covariância de x e y, que pode ser positiva ou negativa. Note que )var(),cov( xxx = e
)var(4)2var( xx = . Quando as variáveis x e y são independentes, isto é, quando
)()(),( ypxpyxp
yx
= , tem-se que
)var()var()var(e0),cov( yxyx yx
+
=
+
=
. ( 1.27 )
16
Além disto, para variáveis independentes,
)var()var(}var{
2
2
2
121
yaxayaxa +=+ . ( 1.28 )
(SALVAT, 2001).
1.2 Métodos de simulação de variáveis aleatórias
O primeiro passo para realização de um cálculo de Monte Carlo é a simulação de variáveis
aleatórias com FDP’s específicas. Nesta seção serão descritas diferentes técnicas para a
obtenção de valores aleatórios de uma variável x distribuída no intervalo ),(
maxmin
xx de
acordo com uma dada FDP )(xp ; técnicas que são, inclusive, utilizadas no código
PENELOPE.
1.2.1 Gerador de números aleatórios
Em geral, algoritmos de amostragem randômica são baseados no uso de números aleatórios
ξ
uniformemente distribuídos em um intervalo (0,1). Estes números podem ser facilmente
gerados em um computador. Entre os “bons” geradores de números aleatórios disponíveis
atualmente, os mais simples são os chamados geradores congruenciais multiplicativos. Um
exemplo de gerador deste tipo é o seguinte
),12/(),12(mod7
3131
1
5
==
nnnn
R RR
ξ
( 1.29 )
que produz uma seqüência de números aleatórios uniformemente distribuídos em (0,1) a
partir de uma dada “semente” )1(
0
<
31
2 R . De fato, a seqüência gerada não é
verdadeiramente aleatória, uma vez que ela é obtida a partir de um algoritmo
determinístico (o termo “pseudo-aleatório” seria mais apropriado), porém é muito pouco
provável que a sutil correlação entre os valores da seqüência tenha um efeito considerável
nos resultados da simulação. O gerador (1.29) é conhecido por ter boas propriedades
randômicas, porém, a seqüência gerada por este é periódica, com um período da ordem de
10
9
que, com os recursos computacionais atuais, não é grande o suficiente para evitar a
reinicialização dos números aleatórios em uma simulação. Se o período não for
suficientemente grande para evitar esta reinicialização, é necessário o uso de algoritmos
mais sofisticados do que os congruenciais. O PENELOPE utiliza o gerador de L’Ecuyer
(1988) (citado por SALVAT, 2001)implementado no FORTRAN77, que possui um
período da ordem de 10
18
, virtualmente infinito na prática
17
1.2.2 Método da transformada inversa
A função distribuição cumulativa de )(xp , equação. (1.7), é uma função não-decrescente
de x e, portanto, possui uma função inversa
1
)(
ξ
. A transformação )(x=
ξ
define uma
nova variável aleatória que assume valores no intervalo (0,1) (FIGURA 1.1) Devido à
correspondência entre os valores de x e
ξ
, as FDP’s de
ξ
, )(
ξ
ξ
p , e x, )(xp , são
relacionadas por dxxpdp )( ) ( =
ξ
ξ
ξ
. Assim,
1
)(
)()()(
11
=
=
=
dx
xd
xp
dx
d
xpp
ξ
ξ
ξ
, ( 1.30 )
ou seja,
ξ
é uniformemente distribuído no intervalo (0,1).
Então, sendo
ξ
um número aleatório, a variável x definida por
1
)(
=
ξ
x é aleatoriamente
distribuída no intervalo ),(
maxmin
xx com FDP )(xp (FIGURA 1.1). Isto estabelece um
método prático de gerar valores aleatórios de x utilizando um gerador de números
aleatórios uniformemente distribuído em (0,1). A aleatoriedade de x é garantida por aquela
de
ξ
. Note que x é a raiz (única) da equação
=
x
x
dxxp
min
' )'(
ξ
, ( 1.31 )
que será chamada de equação de amostragem da variável x. Este procedimento de
amostragem aleatória é conhecido como método da transformada inversa, e é adequado
para FDP’s dadas por expressões analíticas simples tais que a equação de amostragem
(1.31) possa ser resolvida analiticamente.
FIGURA 1.1: Amostragem aleatória a partir de uma distribuição p(x)
usando o método da transformada inversa.
18
Transformada inversa numérica
O método da transformada inversa pode ser eficientemente utilizado na amostragem
aleatória a partir de distribuições contínuas )(xp dadas na forma numérica ou cuja
equação de amostragem correspondente seja muito complicada para ser resolvida
analiticamente. Para aplicar este método, os valores da função distribuição cumulativa
)(x
devem ser calculados em alguns pontos x
i
do domínio de )(xp e armazenados na
memória do computador. A equação de amostragem
ξ
=
)(
i
x pode então ser resolvida
por interpolação na tabela ),(
ii
x
ξ
, onde )(
ii
x
ξ
, tratando-se
ξ
como variável
independente.
Distribuições discretas
O método da transformada inversa pode também ser aplicado a distribuições discretas.
Considerando uma variável aleatória que pode assumir os valores discretos N , x
K,1
=
com probabilidades
N
p p ,,
1
K , respectivamente, a FDP correspondente pode ser escrita
como
=
=
N
i
i
ixpxp
1
)( )(
δ
, ( 1.32 )
onde )(x
δ
é a distribuição de Dirac. Aqui, assume-se que )(xp é definida em um
intervalo ),( ba com
1<a e Nb > . A função distribuição cumulativa correspondente é
[
]
=
=
x
i
i
px
1
)( , ( 1.33 )
onde
[]
x denota a parte inteira de x. Note que 0)(
=
x quando 1<x . Assim, equação
(1.31) leva à fórmula de amostragem:
M
M
pp j x
ppp x
p x
j
i
j
i
ii
∑∑
==
=<=
+<=
=
1
11
211
1
1se
se2
se1
ξ
ξ
ξ
( 1.34 )
Então, para obter x, basta gerar um número aleatório
ξ
e escolher x igual ao índice i tal
que
1+
<
ii
PP
ξ
, ( 1.35 )
19
onde
=
+
==+===
N
i
iN
pP ..., ppP pP P
1
1213121
1,,,0 . ( 1.36 )
(SALVAT, 2001).
1.2.3 Método de Walker
Em 1977, Walker definiu o mais eficiente dos métodos de amostragem a partir de
distribuições discretas, que sorteia um valor com apenas uma comparação. A idéia básica
do método de Walker pode ser facilmente compreendida recorrendo-se a argumentos
gráficos (SALVAT, 1987 citado por SALVAT, 2001). Para tal, a FDP (1.32) será
representada como um histograma construído com
N colunas de largura N1 e altura
i
Np
(FIGURA 1.2). As barras do histograma podem ser cortadas convenientemente de maneira
que as peças resultantes sejam encaixadas formando um quadrado de lado unitário tal que
cada linha vertical cruze, pelo menos, duas peças diferentes. Este arranjo pode ser
construído sistematicamente selecionando-se a menor e a maior barra do histograma (aqui,
identificadas com os índices l e j, respectivamente) e cortando-se a maior para completar a
menor, que é mantida inalterada. Para registrar a transformação realizada, rotula-se a peça
adicionada com o valor jK
l
= , que identifica sua posição original no histograma, e
FIGURA 1.2: Representação gráfica do método da transformada inversa (topo) e do método de
Walker para amostragem aleatória a partir de uma distribuição discreta. Neste exemplo, a variável
aleatória pode assumir os valores i = 1, 2, 3 e 4 com probabilidades relativas 1, 2, 5 e 8.
20
introduz-se o valor “de corte”
l
F definido como a altura da menor peça na l-ésima coluna
do quadrado resultante; esta peça mantém o rótulo l. Evidentemente, a repetição deste
processo completará o quadrado (após
1
N passos). Note que as probabilidades
i
p
podem ser reconstruídas a partir dos rótulos e valores de corte:
),( )1(
j
ij
jii
KiFFNp
+=
δ
, ( 1.37 )
onde ),( ji
δ
é o delta de Kronecker ( 1
=
se
j
i
=
e 0
=
caso contrário). A amostragem de
uma variável aleatória
x
através do método de Walker ocorre como a seguir: Gera-se dois
números aleatórios,
1
ξ
e
2
ξ
, definindo um ponto aleatório ),(
21
ξ
ξ
, que é uniformemente
distribuído no quadrado. Se
),(
21
ξ
ξ
estiver em uma peça rotulada com o índice i, define-se
i
x
= . Obviamente, a probabilidade de se obter i como resultado é igual à fração da área do
quadrado ocupada pelas peças de rótulo i, que coincide com
i
p .
Como descrito acima, o algoritmo de Walker requer a geração de dois números aleatórios
para cada valor sorteado para
x
. Mas é possível gerar os valores de
x
a partir de um único
número aleatório: assumindo que as
N colunas do quadrado são alinhadas
consecutivamente formando um segmento de comprimento
N (parte inferior da
FIGURA 1.2). Desta forma, para sortear um valor para
x
, basta gerar um número
aleatório N
ξ
, que é uniformemente distribuído em ),0( N e determinar uma das peças do
segmento. O resultado da amostragem é igual ao rótulo da peça selecionada.
Resumidamente, o algoritmo procede como a seguir:
(i) Gera-se um número aleatório
ξ
e define-se 1 +
=
NR
ξ
.
(ii) Faz-se
[]
Ri = e iRr
=
.
(iii) Se
i
Fr > ,
i
Kx = .
(iv) Caso contrário, i
x
=
.
Desta forma, a amostragem de
x
envolve a geração de apenas um número aleatório e uma
comparação (independente do número
N de resultados possíveis). O preço que se paga
por esta simplificação é o aumento da quantidade de memória necessária para executar o
algoritmo: ao invés de um único banco de dado,
i
p (ou
i
P ), são usados dois,
i
K e
i
F .
Infelizmente o cálculo de rótulos e valores de corte é bastante complexo, o que limita a
aplicabilidade do algoritmo de Walker para distribuições que se mantêm constantes
durante a simulação (SALVAT, 2001).
21
1.2.4 Métodos de rejeição
Os algoritmos de rejeição baseiam-se na simulação de uma variável aleatória x – a partir de
uma certa distribuição diferente de )(xp – e em um teste que determina se esta variável
será rejeitada ou não. A compreensão destes métodos pode ser feita através de simples
argumentos gráficos (FIGURA 1.3): Utilizando-se o método da transformada inversa ou
qualquer outro método de amostragem aplicável, gera-se valores aleatórios para a variável
x a partir de uma FDP )(x
π
. Para cada valor de x, gera-se um valor aleatório para y
uniformemente distribuído no intervalo ))(,0( xC
π
, onde C é uma constante positiva.
Desta forma, os pontos ),( yx gerados estarão uniformemente distribuídos na região A do
plano delimitada pelo eixo x (0
=
y ) e pela curva )(xCy
π
=
. De maneira recíproca, se
forem gerados, de alguma forma, pontos ),( yx aleatórios uniformemente distribuídos em
A, a coordenada x destes pontos será uma variável aleatória distribuída de acordo com
)(x
π
(independente do valor de C). Considerando que a distribuição )(x
π
é tal que
)()( xpxC
π
para algum valor de 0>C e que os pontos aleatórios ),( yx estão
distribuídos uniformemente em A como descrito acima, se os pontos em que )(xpy >
forem rejeitados, os pontos aceitos (com )(xpy
) estarão uniformemente distribuídos na
região entre o eixo x e a curva )(xpy
=
e, então, as coordenadas x correspondentes estarão
distribuídas de acordo com )(xp .
Um método de rejeição pode então ser representado pela FDP )(xp escrita como
)( )( )( xrxCxp
π
=
, ( 1.38 )
FIGURA 1.3: Amostragem aleatória a partir de uma distribuição p(x) utilizando um método de rejeição.
22
onde )(x
π
é uma FDP escolhida tal que facilite a simulação de x (utilizando, por exemplo,
o método da transformada inversa), C é uma constante positiva e a função )(xr satisfaz a
condição 1)(0 < xr .
Com os argumentos gráficos utilizados acima, fica claro que este algoritmo fornece valores
de x distribuídos de acordo com )(xp . A eficiência do algoritmo, isto é, a probabilidade de
se aceitar um valor gerado para x, é:
==
b
a
C
dxxxr
1
)( )(
πε
. ( 1.39 )
Graficamente, a eficiência é igual à razão entre as áreas sob as curvas )(xpy
=
e
)(xCy
π
= , que são iguais a 1 e C, respectivamente. Como 1)(
xr , para uma dada )(x
π
,
a constante C deve satisfazer a condição )()( xpxC
π
para qualquer x. O menor valor
possível de C, que ocorre quando )()( xpxC
=
π
, fornece a melhor eficiência.
A FDP )(x
π
deve ser escolhida de maneira tal que o algoritmo de amostragem seja o mais
rápido possível. Uma grande eficiência também é desejável, mas não é decisiva. Cem por
cento de eficiência é obtida somente quando )()( xpx
=
π
, qualquer outra FDP resultará em
menor eficiência (porém a amostragem a partir desta FDP é justamente o problema que se
deseja resolver). A utilidade do método de rejeição está no fato de que a perda na
eficiência pode ser compensada com a simplicidade da simulação de x a partir de )(x
π
ao
invés de )(xp . A desvantagem deste método é a necessidade de vários números aleatórios
ξ para gerar cada valor de x (SALVAT, 2001).
1.2.5 Métodos de composição. Variáveis bidimensionais
Como visto anteriormente na seção 1.1 [equações. (1.18), (1.19) e (1.20)], para uma
variável aleatória bidimensional, a função distribuição de probabilidade pode ser escrita
como
)|()(),( yxpyqyxp
=
, ( 1.40 )
onde
=
)(
),(
)|(e),()(
yq
yxp
yxp dxyxpyq ( 1.41 )
são, respectivamente, a FDP marginal de y e a FDP condicional de x.
Para gerar pontos ),( yx aleatórios a partir de ),( yxp basta obter y de )(yq e, então, x de
)|( yxp . Portanto, variáveis aleatórias bidimensionais podem ser geradas usando-se
23
métodos de amostragem de variáveis simples. Isto vale também para variáveis n-
dimensionais, uma vez que uma FDP n-dimensional pode sempre ser expressa como o
produto entre uma distribuição marginal de uma variável simples e uma FDP de dimensão
)1( n .
Da definição da FDP marginal de x,
= dyyxpyqdyyxpxq )|( )( ),()( , ( 1.42 )
fica claro que, determinando y a partir de )(yq e, então, x de )|( yxp , os valores gerados
para x são distribuídos de acordo com )(xq . Esta é a base dos métodos de composição, que
são aplicáveis quando a distribuição, )(xp , a ser simulada é uma mistura de várias FDP’s.
Esta técnica é muito útil na simulação de valores aleatórios a partir de distribuições
complexas, que podem ser expressas como uma combinação de distribuições mais simples
que são, por sua vez, facilmente tratadas pelo método da transformada inversa ou por
algum método de rejeição.
Para distribuições analiticamente simples, cuja função distribuição cumulativa possui
inversa, o método da transformada inversa é, em geral, satisfatório. Este é o caso de
algumas poucas distribuições elementares (por exemplo, as distribuições uniforme e
exponencial). Este método é também adequado para distribuições discretas e para FDP’s
contínuas dadas na forma numérica. Combinando-se os métodos da transformada inversa,
de rejeição e de composição, é possível desenvolver algoritmos de amostragem para
praticamente todas FDP’s (SALVAT, 2001).
1.3 Integração Monte Carlo
Todo cálculo de Monte Carlo, pelo menos no sentido formal, é equivalente à integrações
(JAMES, 1980 citado por SALVAT, 2001). Esta equivalência permite estabelecer
formalmente uma teoria para as técnicas de Monte Carlo. Um importante aspecto em
simulações é a determinação das incertezas estatísticas das grandezas calculadas. Nesta
seção serão estabelecidas as fórmulas básicas para tais cálculos considerando-se o cálculo
de Monte Carlo mais simples: o de uma integral unidimensional. Evidentemente estes
resultados também serão válidos para integrais de dimensões maiores.
A integral
=
b
a
dxxFI
)( , ( 1.43 )
24
pode ser escrita na forma de um valor esperado
= fdxxpxfI )( )( , ( 1.44 )
introduzindo uma FDP arbitrária )(xp e fazendo
)()()( xpxFxf
=
(assume-se que
0)( >xp em ),( ba e 0)( =xp fora deste intervalo). O cálculo Monte Carlo da integral I é
muito simples: gera-se um grande número N de pontos aleatórios x
i
a partir da FDP )(xp
acumulando, simultaneamente, a soma dos valores )(
i
xf em um contador. No final do
cálculo o valor esperado de f será estimado como
=
N
i
i
xf
N
f
1
)(
1
. ( 1.45 )
A lei dos grandes números diz que, quando N é suficientemente grande,
ade)probabilid (em If . ( 1.46 )
Em termos estatísticos, isto significa que
f , o resultado de Monte Carlo, é um avaliador
consistente para a integral (1.43). Isto é válido para qualquer função )(xf finita e com um
número finito de descontinuidades.
A lei dos grandes números (1.46) pode ser restabelecida como
=
=
N
i
i
N
xf
N
f
1
)(
1
lim . ( 1.47 )
Aplicando esta lei à integral que define a variância de )(xf [equação. (1.16)]
=
2
2
)( )( } )( var{ fdxxpxfxf , ( 1.48 )
tem-se que
[]
=
∑∑
==
N
i
N
i
ii
N
xf
N
xf
N
xf
1
2
1
2
)(
1
)(
1
lim)}(var{ . ( 1.49 )
A expressão entre as chaves é uma estimativa para variância de )(xf .
É visível que cálculos de Monte Carlo distintos (com seqüências de números aleatórios x
i
diferentes e independentes) resultarão em diferentes valores para
f . Isto implica que os
resultados de um código Monte Carlo é afetado por incertezas estatísticas, similares
àquelas encontradas em experimentos laboratoriais, que precisam ser calculadas
adequadamente para determinar a “precisão” do resultado de Monte Carlo. Para tal,
25
considera-se
f como uma variável aleatória cuja FDP é, em princípio, desconhecida. Isto
significa que a média e a variância de
f são dadas por
==
===
N
i
N
i
i
ff
N
xf
N
f
11
1
)(
1
( 1.50 )
e
{} {}
==
==
=
N
i
N
i
i
xf
N
xf
N
xf
N
f
1
2
1
)(var
1
)(var
1
)(
1
var)var( , ( 1.51 )
onde foram utilizadas as propriedades (1.14) e (1.28) do valor esperado e da variância,
respectivamente. O desvio padrão de
f ,
{
}
N
xf
f
f
)(var
)var( =
σ
, ( 1.52 )
fornece o valor da incerteza estatística da estimativa Monte Carlo de
f . O resultado (1.52)
tem uma importante implicação prática: para reduzir a incerteza estatística por um fator de
10, é necessário aumentar o tamanho da amostra N por um fator de 100, o que determina
um limite na precisão que pode ser alcançada em um cálculo em função da limitação
computacional.
Recorrendo ao teorema central do limite (SOBOL, 1983), tem-se que, no limite
N , a
FDP
)( fp de f , é uma distribuição normal (Gaussiana) com média f e desvio padrão
f
σ
:
=
2
2
2
)(
exp
2
1
)(
f
f
ff
fp
σ
πσ
. ( 1.53 )
Das propriedades da distribuição normal, segue que, para valores de N grandes o
suficiente, para os quais o teorema se aplica, o intervalo
f
nf
σ
± contém o valor exato
f – isto é, o valor da integral I – com probabilidade de 68,3% se 1=n , de 95,4% se
2=n e de 99,7% se 3=n . Na regra utiliza-se 3
=
n , uma vez que a diferença entre a
probabilidade 99,7% e 100% é pouco significativa e, portanto, é quase certo que, em uma
experiência, o desvio entre
f e f seja inferior a
σ
3 .
O teorema central do limite é uma poderosa ferramenta uma vez que ele prevê que os
valores de f seguem uma distribuição específica; porém ele se aplica apenas
26
assintoticamente. O número mínimo N de amostras necessárias para se aplicar o teorema
seguramente depende do problema em questão. Se o terceiro momento central de f,
dxxpfxf )(])([
3
3
µ
, ( 1.54 )
existe, o teorema é satisfeito quando
N
f
3
3
σµ
<< . ( 1.55 )
Em geral, aconselha-se a análise da distribuição de
f para certificar-se da aplicabilidade
do teorema central do limite. Porém, na maioria dos cálculos de Monte Carlo, erros
estatísticos são estimados simplesmente assumindo que o teorema é satisfeito,
independente do tamanho da amostra.
Cada )(xp possível define um algoritmo de Monte Carlo para calcular a integral I,
equação (1.43). O mais simples deles é obtido utilizando-se a distribuição uniforme
)(1)( abxp = . Evidentemente, )(xp determina não somente a densidade dos pontos
i
x
da amostra, mas também a magnitude da variância
{
}
)(var xf , equação (1.48),
{}
∫∫
=
=
b
a
b
a
dxI
xp
xF
xFIdx
xp
xF
xpxf
2
2
)(
)(
)(
)(
)(
)( )( var . ( 1.56 )
Como medida da eficácia de um algoritmo de Monte Carlo é comum o uso da eficiência
ε
,
definida por
[]
T
f
2
1
σ
ε
= , ( 1.57 )
onde T é o tempo computacional para realização da simulação (ou qualquer outra medida
do esforço computacional). Uma vez que
2
f
σ
e T são aproximadamente proporcionais a
1
N e N respectivamente,
ε
é uma constante (independente de N) na média.
Os chamados métodos de redução de variância são técnicas que ajudam a otimizar a
eficiência da simulação através da escolha adequada da FDP )(xp . Porém, uma redução na
variância não necessariamente implica em uma maior eficiência; se um algoritmo de
Monte Carlo baseado em uma certa FDP )(xp tem variância menor do que aquela de uma
distribuição uniforme, mas leva mais tempo para gerar os valores de x a partir de )(xp ,
este algoritmo de “variância reduzida” pode ser menos eficiente do que aquela que
considera a distribuição uniforme. Portanto, deve-se evitar o uso de FDP’s difíceis de lidar
27
na amostragem O aumento da eficiência de algoritmos é uma parte importante e delicada
da técnica de Monte Carlo. (SALVAT, 2001).
2 Interação da radiação com a matéria
Nesta seção são apresentados os principais mecanismos de interação de fótons e elétrons
com a matéria relativos à faixa de energia considerada neste trabalho. No apêndice B são
descritos alguns dos termos, grandezas e unidades relacionados ao assunto para que o leitor
possa recorrer se necessário. No apêndice C é feita uma revisão sobre cinemática de
colisão.
2.1 Interação de fótons com a matéria
As interações primárias de fótons com a matéria envolvem a produção de partículas
secundárias carregadas, geralmente elétrons. É predominantemente através da interação
destas partículas que ocorre a transferência da energia para o material absorvedor,
usualmente através da ionização dos átomos deste; por isso, os efeitos biológicos
provenientes da interação de fótons são na verdade os efeitos biológicos provocados pela
interação de partículas secundárias com o meio.
Um fóton pode interagir com a matéria por qualquer um dos vários mecanismos
competitivos alternativos. A interação pode ser com o átomo como um todo (efeito
fotoelétrico e espalhamento Rayleigh), com um elétron do átomo (efeito Compton e
produção de pares no campo eletromagnético de um elétron) ou com o núcleo atômico
(produção de pares, espalhamento elástico, foto-desintegração e produção de mésons). A
probabilidade de ocorrência de cada um destes processos pode ser expressa como uma
seção de choque de colisão por átomo, por elétron ou por núcleo no absorvedor. A soma de
todas estas seções de choque, normalizada por átomo, é então a probabilidade de um fóton
incidente interagir de alguma forma enquanto passa através de um absorvedor muito
estreito que contém um átomo por centímetro quadrado de área normal à direção de
incidência do fóton.
A seção de choque de colisão total por átomo multiplicada pelo número de átomos por
centímetro cúbico do absorvedor é igual ao coeficiente de atenuação linear
µ
por
centímetro percorrido no absorvedor. A fração de fótons incidentes que passa através de
um absorvedor de largura
x
e densidade
ρ
sem sofrer qualquer tipo de interação é
[]
x
µ
exp ou
[]
))(/(exp x
ρ
ρ
µ
, onde
ρ
µ
/ é o coeficiente de atenuação por massa. A
28
atenuação pode ocorrer por algum processo puramente elástico, como o espalhamento
Rayleigh ou espalhamento por ressonância nuclear (Mossbauer), onde o fóton é
simplesmente defletido e não perde energia para o meio. Neste caso, estaria envolvido no
processo somente um coeficiente de espalhamento,
s
µ
. Por outro lado, em uma interação
fotoelétrica, toda energia do fóton incidente é absorvida por um átomo do meio, não
havendo fóton espalhado residual; aqui, a atenuação da radiação primária é devida à
absorção completa da energia do fóton incidente. O caso intermediário, e de grande
importância, é o efeito Compton em que parte da energia é absorvida e aparece no meio
como energia cinética de recuo de um elétron, enquanto o restante da energia incidente não
absorvida se apresenta como um fóton Compton espalhado. Portanto, o espalhamento
envolve a deflexão do fóton incidente e a absorção envolve a conversão da energia do
fóton incidente em energia cinética de partículas carregadas, que posteriormente é
dissipada através de colisões ao longo de suas trajetórias. O coeficiente de absorção
a
µ
tem um conceito mais restrito do que o coeficiente de atenuação
µ
, que é a soma do
coeficiente de espalhamento
s
µ
e do próprio coeficiente de absorção
a
µ
. Em muitos casos
práticos,
s
µ
é simplesmente o coeficiente de espalhamento Compton
C
σ
(ATTIX, 1968).
No domínio das energias encontradas mais freqüentemente (0,01 a 10 MeV) a maioria dos
efeitos de interação são devidos a somente três dos vários processos competitivos: o efeito
Compton, o efeito fotoelétrico e a produção de pares (ATTIX, 1968). As características
essenciais destes processos são (ROSSI, 1994):
a. Efeito fotoelétrico (EF) e produção de pares (PP) são eventos de absorção, ou
seja, o fóton desaparece após estas interações. No espalhamento Compton (C),
como o próprio nome define, o fóton sofre apenas um espalhamento elástico.
b. A dependência das seções de choque,
σ
, com o número atômico do material
alvo é:
254
~ ,~ ,~ ZZZZ
PPCEF
σσσ
.
c. Quando se trata de tecido biológico (
20
<
Z ), as interações fotoelétrica,
Compton e produção de pares são dominantes, respectivamente, nos intervalos
de energia: < 50 keV, (50 keV,10 MeV) e > 10 MeV (FIGURA 2.1).
A FIGURA 2.1 apresenta a importância relativa destas três principais formas de interação
em função da energia
ν
h do fóton incidente e do número atômico
Z
do material
atenuador. Para qualquer
Z
o efeito Compton predomina para energias do fóton entre 0,8 e
4 MeV; para materiais de baixo
Z
o efeito Compton predomina sobre um domínio maior
29
de energia. Para Z moderadamente grande, a interação fotoelétrica é dominante para
ν
h pequeno e a produção de pares para
ν
h grande (ATTIX, 1968)
No caso deste trabalho os mecanismos de interação relevantes são o efeito fotoelétrico e
espalhamento Compton que são descritos a seguir:
2.1.1 Efeito fotoelétrico
Neste processo um fóton de energia
γ
E colide com um elétron que orbita um átomo do
material. O fóton é absorvido e o elétron atômico é liberado com energia cinética
WET
e
=
γ
, ( 2.1 )
onde
W é a energia de ligação da camada da qual o elétron foi removido. Para estimar
aproximadamente o valor de
W pode-se usar as seguintes fórmulas empíricas (em
unidades de 13.5 eV) (FERMI, 1950 citado por ROSSI, 1994):
9 M camada
4 L camada
K camada
2
2
2
13)(Z
5)(Z
1)(Z
( 2.2 )
A seção de choque fotoelétrica,
EF
σ
, é aproximadamente proporcional a
34
γ
EZ ; porém, à
medida que a energia do fóton aumenta ela aproxima do valor em que o balanço de energia
[equação. (2.1)] permite a remoção de um elétron de uma camada mais interna, ocorrendo
um aumento característico na seção de choque chamado de limite K, L, M, ... . Este
aumento repentino em
σ
é devido ao acréscimo no número de elétrons disponíveis e a
FIGURA 2.1: Importância relativa dos três principais tipos de interação de fótons com a
matéria em função da energia h
ν
do fóton.e do número atômico Z do material.
30
uma propriedade comum deste processo em que quanto mais fortemente ligados os
elétrons, maior a seção de choque.
A distribuição angular dos elétrons ejetados (fotoelétrons) depende de
γ
E . Em baixas
energias a maioria dos fotoelétrons é emitida ao longo da direção do vetor campo elétrico
do fóton, isto é, a 90º da direção de incidência do feixe. À medida que
γ
E aumenta o
fotoelétron é progressivamente emitido em ângulos menores (tendendo à direção do feixe
incidente).
A vacância deixada pela emissão de um fotoelétron é preenchida por um elétron de uma
camada mais externa e a energia originada nesta transição é liberada através da emissão de
raios-X (fluorescência) ou pela produção de um elétron Auger das camadas L ou M. A
razão entre as probabilidades destes dois processos é chamada “fluorescence yield” e
cresce monotonicamente com Z (ROSSI, 1994).
2.1.2 Espalhamento Compton
Espalhamento Compton é uma colisão elástica entre um fóton e um elétron livre em
repouso. Para elétrons atômicos usualmente assume-se que a energia do fóton é muito
maior do que a energia de ligação, w, dos elétrons atômicos e, por questões práticas, eles
podem ser considerados livres e em repouso.
A geometria do espalhamento Compton é mostrada na FIGURA 2.2. A energia do fóton
espalhado, '
γ
E , é dada por:
)cos1(1
'
θα
γ
γ
+
=
E
E
( 2.3 )
onde
2
cm
E
e
γ
α
= . ( 2.4 )
FIGURA 2.2: No efeito Compton um fóton (de momento cE
γ
) é espalhado por um elétron
atômico. O elétron e o fóton são espalhados com momentos
e
p e cE '
γ
, respectivamente.
31
O ângulo de espalhamento do elétron é dado por:
2
1
1
θ
α
φ
tgtg
+
= , ( 2.5 )
e, portanto, o elétron é sempre espalhado na direção do fóton incidente. A energia do
elétron,
e
T , é dada por:
'
γγ
EET
e
=
( 2.6 )
ou
)cos1(1
)cos1(
θα
θ
α
γ
+
= ET
e
. ( 2.7 )
A energia do elétron é máxima quando o ângulo de espalhamento do fóton é
º180=
θ
:
α
α
γ
21
2
)(
max
+
= ET
e
. ( 2.8 )
A seção de choque diferencial
)(cos
θ
σ
dd , para o espalhamento de um fóton na direção
θ
é dada pela fórmula de Klein-Nishima (ROSSI, 1952 citado por ROSSI, 1994):
++
+
+
+
=
)]cos1(1)[cos1(
)cos1(
1
)]cos1(1[
cos1
)(cos
2
22
2
2
2
θαθ
θα
θα
θ
π
θ
σ
e
e
r
d
d
( 2.9 )
onde
22
mcer
e
= é o raio clássico do elétron.
A equação abaixo descreve a seção de choque Compton total:
+
+
+
+
+
+
++
=
22
2
)21(
31
2
)21ln()21ln(
21
)1(21
2
α
α
α
α
α
α
α
α
α
α
πσ
ec
r . ( 2.10 )
(ROSSI, 1994).
2.2 Interação de partículas carregadas com a matéria
As partículas carregadas podem ser classificadas como elétrons e partículas carregadas
pesadas. A diferença fundamental entre elétrons e todas as outras partículas carregadas está
na massa de repouso, que no caso do elétron (
m ) é muito pequena.
Ao atravessar um meio, as partículas carregadas perdem energia principalmente através de
interações Colombianas com os elétrons do material. Elétrons incidentes colidindo com
elétrons podem perder uma grande fração de sua energia em uma única interação e
portanto podem ter grandes ângulos de deflexão; partículas pesadas incidentes perdem
32
apenas pequena fração de sua energia, tipicamente no máximo
Mm4 , onde
M
é a massa
da partícula pesada, e serão defletidas de ângulos muito pequenos.
Para ambos os tipos de partículas as principais interações com a matéria se dividem
basicamente em três grupos: interações com os elétrons individuais de átomos e moléculas,
interação com o núcleo e interações com o átomo como um todo. A última ocorre para
elétrons com energias abaixo das energias de excitação dos átomos e para partículas
pesadas com velocidades muito pequenas,
(
)
zcv 03.0
=
β
, onde z é o número atômico
do íon incidente. Neste caso, a partícula interage com o sistema acoplado do núcleo com os
elétrons atômicos
1
, em contraste com a situação de altas velocidades em que o
acoplamento entre os elétrons e o resto do átomo tem efeito desprezível na transferência de
energia. As interações com o núcleo incluem reações nucleares, espalhamento nuclear e
espalhamento de Rutherford, todos estes contribuindo para o fenômeno de espalhamento
múltiplo
2
.
Estes processos consistem de interações individuais que possuem uma distribuição para as
possíveis transferências de energia. Por esta razão, após a passagem de um grupo de
partículas monoenergéticas através de um material de uma dada espessura, elas irão
apresentar uma dispersão de suas energias (“energy straggling”). Se a espessura é grande o
suficiente, algumas das partículas irão atravessar o material e outras não (“range
straggling”).
Para energias consideravelmente maiores do que a energia associada à massa de repouso
da partícula, a produção de radiação de bremsstrahlung e Cerenkov
3
tem grande relevância.
A geração de fótons de bremsstrahlung ocorre quando partículas carregadas são
desaceleradas, principalmente no campo Colombiano de um núcleo. Este processo pode
ocorrer também com partículas de baixa energia, porém a contribuição deste processo na
perda de energia de partículas de baixa energia é, em geral, tão pequena que pode ser
desprezada. Para elétrons, a perda de energia por bremsstrahlung começa a ser relevante
para energias maiores que 10 MeV em chumbo e por volta de 100 MeV em água.
1
Em geral, estas colisões são inadequadamente chamadas de colisões nucleares.
2
O efeito de várias pequenas deflexões é chamado espalhamento múltiplo. Elétrons sofrem muito mais
espalhamento múltiplo do que partículas pesadas.
3
A radiação Cerenkov é uma espécie de “onda de choque” eletromagnética, na região do visível, que ocorre
quando uma partícula carregada atravessa uma substância com velocidade maior do que a velocidade da luz
neste material.
33
Durante o frenamento de partículas carregadas em qualquer material, alguns átomos (ou
moléculas) do meio são excitados, isto é, elétrons são transferidos do estado fundamental
para estados excitados. Alguns dos átomos podem também ser ionizados; isto significa que
o elétron é completamente separado do átomo, deixando para trás um íon positivo.
Geralmente, este elétron secundário irá adquirir uma quantidade
E
de energia cinética. A
energia de recuo do íon é relativamente pequena e é desprezada na maioria dos casos. Se
E
for suficientemente grande para permitir a observação do elétron secundário através de
suas próprias interações, este elétron é chamado de raio
δ
. Muitas vezes, o elétron
secundário se liga a uma molécula neutra, formando um íon negativo. Isto ocorre com
grande probabilidade em alguns gases como oxigênio ou vapor d’água, e com pequena
probabilidade em outros, como argônio ou nitrogênio. Um íon negativo (ou elétron livre) e
o íon positivo correspondente são chamados de par de íons. A energia média necessária
para a produção de um par de íons é normalmente chamada
W (ATTIX, 1968).
2.2.1 Poder de frenamento
Em função dos vários processos que contribuem para o frenamento de partículas
carregadas, é conveniente tratar o poder de frenamento em três intervalos de energias
distintos:
a. Baixas energias, (i) abaixo de
2
21 z MeV para partículas capazes de “atingir”
elétrons orbitais, e (ii) abaixo de aproximadamente
24
10 Mc
para os demais.
b. Energias intermediárias.
c. Altas energias, energia cinética bem acima de
2
Mc para todas as partículas.
Esta divisão em intervalos de energia permite um tratamento uniforme ao desprezar ou
agrupar certos efeitos.
Em baixas energias, os íons positivos irão capturar e perder elétrons, ficando
completamente ionizados apenas parte do tempo. Uma partícula de carga
z é capaz de
produzir uma ionização completa (arrancando todos elétrons) somente quando possui uma
energia de aproximadamente
2
21 z MeV. Colisões nucleares (colisões elásticas entre
partícula e o átomo como um todo) são importantes para todas partículas cuja energia é
menor que
24
10 Mc
e requerem um tratamento diferente daquele das colisões inelásticas
com elétron.
Na região de energias intermediárias, a principal interação é a que ocorre entre a partícula
incidente e os elétrons do meio. Os elétrons são elevados para estados de maior energia
34
(excitação) ou para estados não ligados. O processo de colisão é bem compreendido e, a
princípio, o poder de frenamento (perda de energia média por unidade de comprimento da
trajetória) pode ser calculado teoricamente. As interações nucleares ocorrem com uma
freqüência relativamente pequena (da ordem de 1 a cada 10
9
interações com elétrons), mas
no caso das partículas carregadas pesadas seus efeitos são relevantes para as energias
maiores da região intermediária. Reações nucleares começam a ser mais e mais
importantes à medida que a energia aumenta. Desta forma, o frenamento é melhor descrito
como um certo número de eventos catastróficos, muito mais parecido com o processo de
absorção de fótons ou nêutrons do que com o processo de frenamento relativamente
contínuo. Praticamente não há sentido em se falar de alcance para um próton de
1000 MeV.
Para energias muito maiores do que
2
Mc , a emissão de bremsstrahlung é o processo de
maior relevância. Além disto, nestas energias, as principais propriedades do material
(constante dielétrica, etc.) começam a influenciar fortemente o processo de colisão
proporcionando a redução do poder de frenamento. Este fenômeno é chamado de efeito de
densidade ou efeito de polarização.
Fórmula fundamental para o poder de frenamento
Em energias intermediárias, o principal mecanismo de interação de partículas carregadas
com o meio é a excitação e ionização de elétrons do material. Este é um problema
fundamentalmente de mecânica quântica, porém, os resultados obtidos através de um
tratamento clássico que usa órbitas de Bohr para os elétrons são válidos em uma grande
variedade de experimentos de penetração de partículas na matéria. Este tratamento clássico
tem sido usado para todos tipos de partículas carregadas, mas no caso de elétrons são
necessárias algumas modificações no resultado final.
FIGURA 2.3: Colisão de uma partícula positiva pesada (massa M) com um elétron (massa m).
35
Considere o problema: Uma partícula incidente de carga
ze, massa
M
, energia cinética
E
, e velocidade v , movendo-se ao longo do eixo
x
de um sistema de coordenadas
cartesianas, colide com um elétron livre de carga
e
e massa m situado no eixo y , como
na FIGURA 2.3. Se
M
for muito maior que m , a deflexão da partícula incidente pode ser
desprezada. Inicialmente, será assumido que o elétron não se movimenta durante a colisão.
O parâmetro de impacto,
b , é definido como sendo a menor distância entre as duas
partículas na ausência de uma interação. De acordo com a segunda lei de Newton, a força
Colombiana
(
)
(
)
22222
cos bzerzeF
θ
== irá transferir um momento q para o elétron:
= dt Fq ( 2.11 )
Com as suposições feitas, a componente de
F na direção x não contribui para a integral, e
pode-se escrever:
== dt
b
ze
mvq
cos
3
2
2
θ
( 2.12 )
uma vez que
θ
cos F=
y
F . Para substituir dt na integral, é usada a derivada de
)( bxtg =
θ
em relação ao tempo, isto é, dtbxddttgd /)(/)( =
θ
, onde
)/)(cos/1(/)(
2
dtddttgd
θθθ
= e bvdtdxbdtbxd /)/)(/1(/)(
=
=
. Substituindo as duas
últimas equações na primeira:
bvdtd /)/)(cos/1(
2
=
θθ
ou
θθ
dvbdt cos)/(
2
= .
Substituindo-se então
dt na equação (2.12):
bv
ze
d
bv
ze
q
2
º90
º90
2
2
cos ==
θθ
. ( 2.13 )
Daí a energia
T transferida para o elétron, nesta aproximação clássica, é:
22
42
2
2
2
vmb
ez
m
q
T
== . ( 2.14 )
Note que
T depende apenas da velocidade v e da carga z da partícula incidente e não de sua
massa
M. Usando )/(
22
0
mcer = (o “raio clássico do elétron”) e introduzindo a energia
cinética
E da partícula incidente tem-se que
2
0
2
2
2
=
b
r
T
Mc
z
mc
T
. ( 2.15 )
A energia cinética
T transferida para um elétron, em termos da energia de repouso deste, é
então inversamente proporcional à energia cinética
E da partícula incidente (em termos da
36
sua massa de repouso), inversamente proporcional ao quadrado do parâmetro de impacto
b,
e proporcional ao quadrado da carga
z da partícula.
Existe um limite para a quantidade de energia que pode ser transferida para o elétron. A
velocidade máxima que um elétron pode adquirir é
vu 2
max
=
, ( 2.16 )
ou seja, duas vezes a velocidade da partícula incidente. A energia máxima transferida é
então
22
maxmax
2
2
1
mvmuT == . ( 2.17 )
A equação (2.14) na verdade não é válida para os pequenos valores de
b que resultariam
nesta transferência de energia
T
max
, mas a conclusão a respeito de T
max
ainda é correta. Da
relação entre
b e T, segue que existe um valor para o parâmetro de impacto, b
min
, abaixo do
qual a transferência de energia será apenas
T
max
ao invés do valor dado pela equação
(2.14), ou seja,
2
2
min
mv
ze
b
= . ( 2.18 )
Para um elétron livre, não existe limite inferior para
T, mas para elétrons ligados em um
átomo, é necessário considerar seu movimento. Se o “tempo de colisão”, )/(
vb=
τ
(isto
assume, razoavelmente, que a maior parte da interação entre a partícula e o elétron
acontece a uma distância b ao longo do eixo x), for comparável ao período orbital (
ω
/1 )
do elétron, a partícula produzirá uma deformação na órbita deste elétron, mas não irá
transferir energia para ele. Assim, se for definido )/(
max
ω
τ
vvb
=
=
, nenhuma energia será
transferida para qualquer valor de
b maior do que b
max
. A relação entre b e T, equação
(2.14) indica que a menor transferência de energia possível é dada por:
4
242
22
42
min
22
m
v
ez
bm
v
ez
T
ω
== . ( 2.19 )
A seção de choque diferencial por elétron,
σ
d , é definida como sendo a área em que a
partícula perderá uma quantidade de energia entre
T e dTT
+
, que é igual à área de um
anel de raio
b e largura db; então
dbbd 2
π
σ
=
, ( 2.20 )
que em termos da energia transferida (
T) fica:
37
22
42
2
T
dT
m
v
ez
d
π
σ
= . ( 2.21 )
Como as partículas incidentes são distribuídas com igual probabilidade em toda região em
torno do elétron, a probabilidade para uma colisão com transferência de energia entre
T e
dTT + será proporcional a
σ
d e portanto irá decrescer muito rapidamente com o aumento
da energia transferida e irá também diminuir com a velocidade
v da partícula incidente.
Agora é, então, possível determinar a perda de energia média
E
para uma partícula que
percorre uma distância
x em um material com uma densidade de N átomos por unidade
de volume e com
Z elétrons por átomo (assumindo que
E
E
<
<
). O número de colisões
dn em que ocorre uma perda de energia entre T e dTT
+
é igual ao número total de
elétrons por unidade de área,
υ
, multiplicado pela seção de choque diferencial
σ
d ;
σ
υ
ddn = . A perda de energia dentro deste intervalo de energia, devido a todas as
colisões, será então
σ
υ
dTdnT = . A perda de energia total
E
ao longo de x é obtida
integrando-se sobre todas perdas de energia diferenciais possíveis.
∫∫
==
max
min
T
T
dTdnTE
συ
( 2.22 )
onde
σ
d depende da energia [equação. (2.21)]. Substituindo
σ
d em (2.22):
==
min
max
2
42
2
42
ln
2
1
2
max
min
T
T
mv
ez
dT
Tmv
ez
E
T
T
υπυπ
. ( 2.23 )
Substituindo
xNZ =
υ
e as equações (2.17) e (2.19) e dividindo por x :
=
=
ω
π
ω
π
2
3
2
42
242
62
2
42
ln
4
ln
2
ze
mv
mv
NZez
ez
vm
mv
NZez
x
E
. ( 2.24 )
Este resultado é válido para
zv pequeno. É possível também determinar uma expressão
para
xE / utilizando-se a distribuição de elétrons no material: A partícula incidente
perderá uma mesma quantidade de energia
T para todos elétrons que estiverem a uma
mesma distância
b da sua trajetória. O número dn de elétrons recebendo energia entre T e
dTT + inclui todos elétrons localizados dentro de um cilindro de diâmetro b, espessura db
e comprimento
x
: xdbbNZdn
= 2
π
. A quantidade total de energia absorvida por
todos estes elétrons é
(
)
(
)
xbdbmvNZezdnT = 4
242
π
[equação. (2.14)]. Assim, a
energia total perdida para todos elétrons no material é obtida simplesmente integrando esta
expressão em
b (somando as contribuições de cada cilindro):
38
=
min
max
2
42
ln
4
b
b
mv
NZez
x
E
π
. ( 2.25 )
O fator multiplicado pelo logaritmo é o mesmo na teoria quântica, mas os valores
escolhidos para
min
b e
max
b são diferentes. Os valores clássicos foram obtidos
anteriormente e a razão entre eles dá
)()(
23
minmax
ω
zemvbb = , que substituído na equação
(2.25) leva ao mesmo resultado de antes, [equação. (2.24)].
Para partículas incidentes com velocidades mais altas, é necessário considerar a natureza
ondulatória das partículas, uma vez que o parâmetro de impacto não pode ser menor do que
o tamanho do pacote de onda que representa a partícula. Considerando a colisão no sistema
de coordenadas do centro de massa, a partícula pesada,
M, estará em repouso, e o elétron
estará movendo-se ao longo do eixo
x com velocidade v na direção de M. Após a colisão, o
elétron terá componentes do momento em ambas direções,
x e y. O maior valor possível
para o momento na direção
y será igual a mv (correspondente a uma deflexão de 90º). O
princípio da incerteza determina que
h~
py . O que significa que a definição do
parâmetro de impacto dentro de um intervalo
yb
=
produzirá uma incerteza
y
p
no
momento
y
p , onde
()
yp
y
h~ . Como o momento na direção y não pode ser maior
que
mv, a incerteza máxima não pode exceder mv; conseqüentemente, o menor valor de
y será aproximadamente
(
)
mvy h~
min
, que no sistema de coordenadas do laboratório
fica
(
)
mvy 2~
min
h . Isto, por sua vez, significa que o parâmetro de impacto não pode
ser menor do que
min
y ; assim, o valor
mv
b
2
min
h
= ( 2.26 )
é obtido no tratamento quântico em contraste com o valor clássico
(
)
22
min
mvzeb = . Para
substituir na equação (2.25) deve-se escolher o maior destes valores; assim, é conveniente
definir a razão,
(
)
vze h2
2
=
δ
, entre os valores clássico e quântico para
min
b . Desta
forma, o resultado clássico para
xE
será válido para 1>>
δ
, ao passo que para 1
<
<
δ
deverá ser utilizado o resultado da mecânica quântica:
=
ω
π
h
2
2
42
2
ln
4 mv
mv
NZez
x
E
. ( 2.27 )
39
ω
h é a energia de excitação do elétron, portanto é necessário o uso de um valor médio,
ω
, abrangendo todos valores possíveis de
ω
.
No tratamento quântico, Bethe mostrou que a seção de choque é a mesma da equação
(2.21) exceto pelo fato de
T ter que ser substituído por mQ 2/
2
g= , onde 'p-pg = é a
variação do momento da partícula incidente. Para um elétron livre,
g é igual ao q definido
na equação (2.11) já para um elétron ligado, uma maior parcela de
g pode ser transferida ao
átomo. Além disto, a equação (2.21) deve ser multiplicada pelo “fator de forma”
2
)(g
i
F
(Fano, 1963 citado por ATTIX, 1968), que representa a probabilidade de excitação de um
átomo para o
i-ésimo estado (incluindo estados contínuos) quando este absorve um
momento
g. Conseqüentemente,
min
Q deverá ser determinado como função da energia de
excitação
i
U do i-ésimo nível, ficando
22
min
2mvUQ
i
= ;
max
Q permanecerá o mesmo:
2
max
2mvQ = . Na integral da equação (2.23), )/ln(
minmax
TT é equivalente a
22
minmax
)/2()/ln(
i
UmvQQ = . Após a soma sobre todos os níveis U
i
, a energia de excitação
média
I como definida na equação (2.29) é obtida, e, incluindo termos relativísticos, o
resultado quântico completo fica:
=
Z
C
I
mv
mv
NZez
dx
dE
i
2
2
2
2
42
)1(
2
ln
4
β
β
π
, ( 2.28 )
com )/(
cv=
β
. Os fatores de forma realizam as correções relativas às camadas eletrônicas
e, portanto, não é necessária a inclusão destas correções na teoria.
A energia de excitação média do átomo
I é definida por
=
i
ii
UfIZ lnln , ( 2.29 )
onde
f
i
é a força do oscilador (oscillator strength) para a transição com energia de
excitação
U
i
. O termo
()
ZC
i
representa as correções para camadas, que se fazem
necessárias devido ao fato de os elétrons contribuírem menos para o poder de frenamento
quando
v é comparável às suas velocidades orbitais. Para velocidades baixas, C
i
é bastante
grande, mas assume valores absolutamente pequenos para altas velocidades, sendo
inversamente proporcional a
2
β
em uma aproximação de primeira ordem.
40
Elétrons
Enquanto passa através de um material, elétrons experimentam interações similares às
interações de partículas pesadas, porém, duas diferenças básicas se manifestam: (a) nas
colisões com elétrons atômicos, podem ocorrer grandes perdas de energia; e (b) elétrons
com energias de poucas centenas de keV’s apresentam efeitos relativísticos.
As expressões para partículas pesadas são válidas para elétrons de baixa energia com a
simples modificação do parâmetro de impacto mínimo da equação (2.26). Como o poder
de frenamento não-relativístico é pouco utilizado quando se trata de elétrons, será
apresentada apenas a expressão relativística. Devido a indistinguibilidade dos elétrons,
assume-se que após uma colisão com outro elétron, o elétron primário é aquele com maior
energia. A perda de energia média para elétrons (e pósitrons) por colisão é então
()
()
()
/gMeV.cm ,
22
ln
1535.0
2
2
2
2
+
+
=
±
±
δτ
τ
βρ
F
mcI
A
Z
dx
dE
col
( 2.30 )
onde, para elétrons
()
τ
2 1= e
(
)
[
]
(
)
[
]
() ( ) ()
[]
()
2
2
2
1
1 ln12 2 1
ln1
+
++
+
++=
τ
ττ
τττβ
F
( 2.31 )
e para pósitrons
τ
=
e
()
(
)
()
(
)
(
)
(
)
()
()()() () ()
()
+
+++
+
++
+
+
+=
+
3
434
2
32
2
4 1 3 4 131
2
3 1 31
2
45
ln
τ
τττ
τ
ττ
τ
τ
τ
β
τ
F
( 2.32 )
Aqui,
(
)
2
mcT=
τ
e
δ
é a correção relativa à densidade do meio, e eV 006,511
2
=mc ;
é a energia máxima entregue a raios δ dividido por
2
mc . Escrever estas equações contendo
explicitamente é muito útil quando se deseja uma descrição em função do LET
(ATTIX, 1968).
2.2.2 Alcance
Com as constantes colisões e eventual emissão de radiação de bremsstrahlung, as
partículas carregadas penetram num meio material até que sua energia cinética entre em
equilíbrio térmico com as partículas do meio, estabelecendo um “alcance” no meio
absorvedor, após um percurso em linha reta ou em zig-zag. As partículas pesadas, como
41
alfa e fragmentos de fissão, têm uma trajetória praticamente retilínea dentro do material, ao
contrário dos elétrons que têm uma trajetória tortuosa. Para cada tipo de partícula pode-se
definir um alcance, utilizando variações da definição, devido às dificuldades experimentais
em sua determinação (TAUHATA, 2002).
Uma partícula carregada percorre um caminho aproximadamente bem definido no material
antes de dissipar toda sua energia. A distância ao longo deste caminho, ou seja, a soma de
todos os deslocamentos desde o ponto inicial até o final, é chamada de
comprimento da
trajetória
da partícula. Devido à natureza estatística do processo de perda de energia,
partículas com uma mesma energia inicial
0
E terão trajetórias de comprimentos
ligeiramente diferentes (fenômeno denominado dispersão do alcance ou “range
straggling”). A média destes vários comprimentos de trajetória é definida como
alcance
R
. Os comprimentos das trajetórias das partículas que sofreram interações catastróficas,
como ocorre nas reações nucleares ou na emissão bremsstrahlung, não são considerados
nesta média.
Muitas vezes, não é possível observar a trajetória das partículas, mas apenas a projeção
desta em uma dada direção. Isto ocorre, por exemplo, quando um feixe de partículas incide
perpendicularmente em placas de diferentes espessuras de um dado material e observa-se o
número de partículas que o atravessam. Se )(
tN é o número de partículas que atravessam
uma placa de largura
t, o alcance projetado é definido por
=
0
0
)(
1
dt
dt
tdN
t
N
t
( 2.33 )
onde
0
N é o número de partículas incidentes na placa excluindo aquelas que sofrem
eventos catastróficos. O alcance projetado é então a distância média que partículas de uma
mesma energia inicial penetram em um material na direção de incidência. Outras
grandezas úteis são o
alcance projetado médio (
médio
t ) – valor de t em que 21)(
=
tN , ou
seja, é o ponto em que metade do número original de partículas é absorvido/transmitido, e
o
alcance projetado mais provável ( 't ) – valor de t para o qual dttdN )( é máximo.
A FIGURA 2.4 mostra uma curva típica para o alcance de partículas
α
em um gás. Esta
curva pode ser obtida usando-se uma separação fixa entre a fonte de partículas
α
e o
detector e mudando a pressão do gás entre eles. Nela está plotado o número
N de partículas
detectadas em um certo intervalo de tempo versus a espessura,
t, atravessada no gás, que
certamente é proporcional à pressão deste. A região de dispersão ocorre entre
42
aproximadamente
t95.0 e t05.1 , sendo que muito poucas partículas são perdidas entre
0 e t95.0 . Estas perdas são causadas principalmente por reações nucleares e
espalhamento múltiplo. Para partículas altamente energéticas, as reações nucleares
eliminam uma grande fração das partículas incidentes. Na FIGURA 2.4estão representados
o alcance projetado e o alcance projetado médio.
Na FIGURA 2.5 está representada uma curva de alcance para elétrons obtida com o
mesmo arranjo experimental. Neste caso, os freqüentes e grandes espalhamentos levam a
uma distribuição com profundidades de penetração muito diferentes. Por isso, o conceito
de alcance projetado não é muito útil para elétrons porque eles se espalham tanto que as
curvas )(
tN não possuem uma região de decrescimento rápido como nas curvas para
Partículas transmitidas
Espessura do absorvedor
médio
FIGURA 2.4: Alcance projetado para partículas α monoenergéticas. A assimetria
após o ‘joelho’ da curva é exagerada para mostrar mais claramente a diferença entre o
alcance projetado
t , e o alcance projetado médio,
médio
t (ATTIX, 1968).
Partículas transmitidas
FIGURA 2.5: Absorção de elétrons monoenergéticos. R
p
é definido como o
alcance extrapolado (ATTIX, 1968).
43
partículas carregadas pesadas. Sendo mais difícil a definição do alcance projetado, define-
se o
alcance extrapolado,
p
R , como indicado na FIGURA 2.5.
Nem o ponto final da trajetória da partícula, nem a espessura de material que esta é capaz
de penetrar são grandezas bem definidas. Por exemplo, uma partícula α, após termalizar, se
tornará, presumidamente, um átomo de hélio neutro que certamente irá se difundir através
do material indefinidamente. Portanto, é necessário definir um limite inferior para a
energia da partícula no qual considera-se que esta alcançou o ponto final da trajetória. Este
pode ser, por exemplo, a energia na qual a partícula não é mais capaz de produzir efeitos
em tecidos biológicos, ou ainda o limiar de energia em que o detector é capaz de identificar
a presença da partícula. Outro fator que prejudica a definição do alcance projetado é o fato
de que, uma vez que as partículas emergem do material absorvedor em várias direções,
nem todas elas são detectadas. Esta distribuição da direção em que a partícula deixa o
material resulta dos pequenos espalhamentos Colombianos. Estes espalhamentos são
também a origem das trajetórias tortuosas dentro do material, que por sua vez são
responsáveis pela diferença entre o alcance
R e o alcance projetado t . Este efeito é
conhecido como espalhamento múltiplo. A diferença
tR geralmente é pequena para
partículas pesadas. Estes conceitos de comprimento da trajetória, alcance e alcance
projetado deixam de ser úteis em altas energias onde um número considerável de partículas
começa a sofrer interações catastróficas ao invés de sofrer perdas de energia
aproximadamente contínuas, através de excitação e ionização. Em energias muito altas é
mais útil tratar o movimento de prótons através da matéria da forma como é feita para
fótons e nêutrons, isto é, utilizando coeficientes de atenuação. Da mesma forma, elétrons
de altas energias geram cascatas de fótons e elétrons que dificultam bastante a definição do
conceito de alcance.
Uma grandeza teórica muito útil é o alcance CSDA (“continuous-slowing-down-
approximation”) que assume que a partícula perde energia continuamente ao longo de sua
trajetória e é definido por
)(
1
11
0
0
1
ERdE
S
R
E
E
+=
( 2.34 )
para todas as partículas carregadas. Como a expressão de Bethe para o poder de
frenamento não é válida para pequenas energias, a integração para
0
R começa em uma
certa energia
1
E e um alcance CSDA residual, experimentalmente estimado, é adicionado
44
à integral. O
alcance CSDA não é igual ao alcance
R
porque a atenuação das partículas é
discretizada em pequenas (mas não infinitesimais) perdas de energia. A diferença entre
eles é de 0.2% ou menos para prótons; para elétrons espera-se que esta diferença seja
maior.
O
alcance máximo,
máx
R , é definido como a espessura de material em que todo o feixe de
elétrons, inicialmente monoenergético e paralelo, é completamente absorvido
(comprimento da trajetória máximo). Este alcance é difícil de ser determinado para
elétrons com
30
E keV, enquanto que para elétrons com 40 keV E 160 keV, ele pode
ser reproduzido mais precisamente do que os alcances definidos por outros métodos
(ATTIX, 1968).
3 Técnicas de Monte Carlo para o transporte de elétrons e fótons
O transporte de radiação na matéria tem sido objeto de intensos trabalhos desde o começo
do século XX. Hoje, sabe-se que fótons, elétrons e pósitrons, ao penetrarem a matéria,
sofrem múltiplas interações através das quais energia é transferida para os átomos e
moléculas do material e partículas secundárias são produzidas. Por meio de repetidas
interações com o meio, uma partícula origina uma cascata de partículas que é usualmente
chamada de chuveiro. Após cada interação, a energia da partícula é reduzida e novas
partículas são geradas de forma que a evolução de um chuveiro representa uma degradação
efetiva da energia.
Na técnica de Monte Carlo para a simulação do transporte de radiação, a história
(percurso) de uma partícula é uma seqüência aleatória de deslocamentos que terminam
com uma interação onde a partícula muda sua direção de movimento, perde energia e,
ocasionalmente, produz partículas secundárias. Para simular estas histórias é necessário um
modelo de interação, isto é, um conjunto de seções de choque diferenciais (SCD) dos
mecanismos de interação relevantes. As SCD’s determinam as funções distribuição de
probabilidade (FDP) das variáveis aleatórias que caracterizam a trajetória: 1) livre caminho
entre dois eventos de interação sucessivos, 2) tipo de interação, 3) perda de energia e
deflexão angular em um dado evento (e o estado inicial das partículas secundárias
produzidas, se for o caso). Uma vez conhecidas as FDP’s, as histórias aleatórias podem ser
geradas utilizando-se métodos de amostragem apropriados [incluindo a geração de
números (pseudo-)aleatórios]. Se o número de histórias é grande o suficiente, pode-se obter
informações quantitativas do processo de transporte simplesmente fazendo uma média de
45
valores obtidos nas histórias simuladas (SALVAT, 2001). Uma vez que a história de uma
partícula pode ser acompanhada individualmente, esta técnica pode ser usada para obter
informações a respeito de flutuações estatísticas de tipos de eventos específicos, além
disto, pode-se também obter respostas impossíveis de se obter por meio de experimentos,
como por exemplo: “Qual fração destes elétrons foi gerada no colimador e no filtro?” ou
“Qual a fração dos fótons que sofreu espalhamento Compton?” (ROGERS, 1990).
Inicialmente, o estudo de problemas de transporte de radiação era feito com base na
equação de transporte de Boltzmann. Porém, este procedimento apresentava consideráveis
dificuldades quando aplicado a geometrias limitadas – os métodos numéricos baseados na
equação de transporte tinham certo sucesso somente para geometrias simples,
essencialmente para meio infinito e semi-infinito (ZHENG-MING E BRAHME, 1993
citado por ROGERS, 1990). No final da década de 50, com a disponibilidade de
computadores, os métodos de simulação de Monte Carlo foram desenvolvidos como uma
poderosa alternativa para lidar com problemas de transporte (ROGERS, 1990). O método
Monte Carlo fornece a mesma informação que a solução da equação de transporte de
Boltzmann com o mesmo modelo de interação (seções de choque), mas é mais fácil de
implementar (BERGER, 1963 citado por SALVAT, 2001) e é capaz de responder a
questões relacionadas à história de uma partícula específica de maneira mais direta
(ROGERS, 1990). A principal desvantagem do método Monte Carlo está relacionada à sua
natureza aleatória. Todos os resultados são afetados por incertezas estatísticas, que podem
ser reduzidas aumentando-se o número de amostras e, conseqüentemente, aumentando o
tempo computacional. Em certas circunstâncias, as incertezas estatísticas podem ser
reduzidas utilizando-se técnicas de redução de variância (RUBISTEIN, 1981; BIELAJEW,
ROGERS, 1988 citado por SALVAT, 2001). Muitos problemas em dosimetria da
radiação, física de radioterapia e proteção radiológica vêm sendo tratados através de
técnicas de Monte Carlo porque a complexidade do transporte de elétrons e fótons no meio
material torna as soluções analíticas intratáveis (ROGERS, 1990).
A simulação do transporte de elétrons é muito mais difícil do que a de fótons. A principal
razão disto é que a energia média que um elétron perde em cada interação é muito pequena
(da ordem de poucas dezenas de eV). Conseqüentemente, elétrons de alta energia sofrem
um grande número de interações até serem efetivamente absorvidos pelo meio. Na prática,
simulações detalhadas são factíveis apenas quando o número médio de colisões não é
muito grande (até poucas centenas). Situações experimentais tratáveis através de simulação
detalhada são aquelas que envolvem ou fontes de elétrons com energia cinética inicial
46
baixa (até aproximadamente 100 keV) ou geometrias especiais como um feixe de elétrons
incidindo em uma lâmina fina. Para energias iniciais grandes e geometrias maiores e/ou
mais complexas, o número médio de colisões que um elétron sofre até ser absorvido torna-
se muito grande e a simulação detalhada ineficiente (SALVAT, 2001). Em função disto,
faz-se uso da técnica de história condensada (BERGER, 1963 citado por ROGERS, 1990),
em que o trajeto do elétron é dividido em uma série de passos no qual os efeitos de um
grande número de interações individuais são agrupados. Um grupo é composto pelas várias
deflexões decorrentes do espalhamento elástico; este agrupamento é feito utilizando-se
uma teoria de espalhamento múltiplo como a de Molière (1948) ou de Goudsmit e
Saunderson (1940) (citado por ROGERS, 1990). O outro usa um modelo de ‘frenamento
contínuo’ para agrupar o grande número de pequenas perdas de energia.
Os códigos de Monte Carlo podem ser divididos em duas categorias, chamadas de classe I
e classe II por Berger (1963) (citado por ROGERS, 1990). Eles se distinguem pela maneira
como tratam os eventos que levam à produção de fótons de bremsstrahlung e/ou a
produção de elétrons secundários. Nos modelos de classe I, as perdas de energia e
deflexões angulares associados a todos eventos são agrupados e a energia e direção do
elétron primário não são afetados pela criação de partículas secundárias. Nos modelos de
classe II, as interações afetam a energia e a direção de movimento do elétron primário, mas
apenas quando os elétrons secundários ou fótons criados têm energia acima de um certo
valor limite; sendo ainda agrupados os efeitos da produção de partículas secundárias com
energia abaixo deste limite.
Um código de simulação Monte Carlo possui quatro componentes principais: (1) dados de
seções de choque para todos os processos considerados na simulação, (2) algoritmos
usados para o transporte das partículas, (3) métodos usados para especificar a geometria do
problema e para calcular as grandezas físicas de interesse e (4) análise das informações
obtida durante a simulação. Os dois primeiros podem afetar consideravelmente o tempo
computacional, porém eles não afetam o aspecto físico da simulação (ROGERS, 1990).
3.1 Modelos classe I e classe II
Berger (1963) (citado por ROGERS, 1990) dividiu os algoritmos de transporte de elétrons
em duas principais classes diferenciadas pela forma com que a energia do elétron primário
se relaciona com a energia perdida nas interações com o meio. Nos modelos de classe I, em
cada passo da história condensada os efeitos de todas interações de um certo tipo são
agrupados. Modelos de classe II agrupam apenas os efeitos de um subconjunto de
47
interações de um dado tipo e trata os efeitos das interações restantes individualmente,
motivo pelo qual é chamado também de simulação mista. Por exemplo, para perdas de
energia por colisão, é usado um modelo de perda de energia contínua que agrupa os efeitos
de todas interações que produzem elétrons com energia abaixo de algum limite arbitrário.
Trata-se individualmente apenas as relativamente raras interações catastróficas que criam
partículas secundárias acima deste mesmo limite arbitrário de energia. Essas interações
fazem com que o elétron primário perca energia e seja defletido. A escolha dos limites de
energia para se considerar a criação de elétrons secundários ou fótons como eventos
discretos é arbitrária e é um componente do algoritmo, e não do processo físico envolvido.
Uma forma simples de cálculo de Monte Carlo para elétrons é o modelo de ‘aproximação
do frenamento contínuo’ (continuous-slowing-down-approximation – CSDA) no qual não
se considera a produção de partículas secundárias e utiliza-se o poder de frenamento total
irrestrito (apêndice B) para o cálculo da perda de energia em cada passo. Como o próprio
nome diz, considera-se que o elétron perde energia continuamente ao longo de sua
trajetória, apesar do fato desta trajetória ser dividida em um número finito de passos
fazendo parecer que a energia é degradada de maneira discretizada. O modelo CSDA é
claramente um algoritmo de classe I. Contudo, algoritmos de classe I podem ser
sofisticados o suficiente para incluir a geração de partículas secundárias e levar em conta a
dispersão da perda de energia (energy-loss straggling). A parte da perda de energia
PASSO SEGUIDO DE ESPALHAMENTO M
Ú
LTIPLO
EVENTO
DISCRETO. O
ELÉTRON CRIADO
É SEGUIDO
SEPARADAMENTE
A ENERGIA
É
PERDIDA CONTINUAMENTE
PARA ELÉTRONS E RAIOS-X DE BAIXA
ENERGIA
FIGURA3.1: Representação das perdas de energia e deflexões de um elétron em um algoritmo de classe II.
Considera-se que a energia é depositada continuamente ao longo dos passos, apesar do fato de as partículas
secundárias produzidas com energias menores do que o valor de corte difundirem esta energia em uma região
em torno da trajetória (área sombreada). No final de cada passo o elétron é defletido de um pequeno ângulo e
m
função do espalhamento múltiplo. Nos eventos de interação discretos são criados elétrons ou fótons de
bremsstrahlung com energias acima do valor de corte.
48
contínua é modelada usando o chamado poder de frenamento restrito (apêndice B). Esta é a
parte do poder de frenamento restrita à criação de partículas secundárias com energias
menores do que o limite considerado para produção de partículas secundárias.
A FIGURA 3.1representa o transporte de elétrons em um algoritmo classe II. Neste
modelo, o elétron se move em pequenos passos retilíneos. Em cada passo, é usada uma
teoria de espalhamento múltiplo para determinar o ângulo em que o elétron será defletido.
A teoria de espalhamento múltiplo deve também ser utilizada na determinação do
comprimento real da trajetória do elétron durante o passo. Deste comprimento pode-se
deduzir a quantidade de energia perdida continuamente, incluindo os elétrons e fótons
criados com energia abaixo do limite pré-determinado. Embora a energia destas partículas
de baixa energia seja depositada por toda área sombreada em torno da trajetória, no modelo
considera-se que esta energia é depositada no próprio trajeto. Depois de percorridas as
distâncias determinadas pelas seções de choque apropriadas, o elétron interage e produz
uma partícula secundária com energia acima do limite de produção. A partícula secundária
é “armazenada” e a energia do elétron primário é reduzida de uma quantidade
correspondente à energia desta partícula secundária. Esta aproximação, em geral muito
boa, ignora a energia de ligação dos elétrons alvo e qualquer energia absorvida pelo núcleo
ou elétron quando um fóton de bremsstrahlung é criado (ROGERS, 1990).
3.2 Simulação do transporte de radiação
3.2.1 Modelo de espalhamento e funções distribuição de probabilidade
Considere uma partícula com energia
E
(energia cinética, no caso de elétrons e pósitrons)
movendo em um certo meio (gasoso, líquido ou sólido amorfo, onde as moléculas são
distribuídas aleatoriamente com densidade uniforme). A composição deste meio é
especificada pela sua fórmula estequiométrica, isto é, número atômico
i
Z e número de
átomos por molécula
i
n de todos elementos presentes. Os índices estequiométricos
i
n não
precisam necessariamente ter valores inteiros, e no caso de ligas, por exemplo, eles devem
ser iguais à porcentagem de cada elemento. O peso molecular é
=
iiM
AnA , onde
i
A é o
peso atômico do
i-ésimo elemento. O número de moléculas por unidade de volume é dado
por
M
A
A
N
ρ
=Ν , ( 3.1 )
49
onde
A
N é o número de Avogadro e
ρ
a densidade do material.
Em cada interação, a partícula pode perder uma energia
W e/ou mudar sua direção de
movimento. A deflexão angular é determinada pelo ângulo polar de espalhamento
θ
ângulo entre a direção da partícula antes e depois da interação – e pelo ângulo azimutal
φ
.
Assumindo que a partícula pode interagir com o meio através de dois mecanismos
independentes “A” e “B” (por exemplo, espalhamento elástico e inelástico, no caso de
elétrons de baixa energia). O modelo de espalhamento é completamente especificado pelas
seções de choque diferenciais moleculares (SCD)
WE
dWd
d
WE
dWd
d
BA
),;(e),;(
22
θ
σ
θ
σ
, ( 3.2 )
onde
d é um elemento de ângulo sólido na direção ),(
φ
θ
, e a dependência paramétrica
da SCD com a energia da partícula
E
foi feita explicitamente. Considerando que as
moléculas do meio são orientadas aleatoriamente, a SCD é independente do ângulo de
espalhamento azimutal, ou seja, a distribuição angular das partículas espalhadas é simétrica
em torno da direção de incidência. As seções de choque totais (por molécula) são
=
π
θ
σ
θθπσ
0
,
2
0
,
) ,;( ) ( 2 )( WE
dWd
d
dsendWE
BA
E
BA
. ( 3.3 )
As FDP’s para perda de energia e para o ângulo polar de espalhamento em eventos de
espalhamento individuais são
) ,;(
)(
2
) ,;(
,
2
,
,
θ
σ
σ
θπ
θ
WE
dWd
d
E
sen
WEp
BA
BA
BA
=
. ( 3.4 )
Note que
θ
θ
ddWWEp
A
) ,;( dá a probabilidade (normalizada) de, em um evento de
espalhamento do tipo A, a partícula perder energia no intervalo ),(
dWWW + e ser
defletida na direção com ângulo polar no intervalo ),(
θ
θ
θ
d
+
. O ângulo de espalhamento
azimutal em cada colisão é uniformemente distribuído no intervalo )2,0(
π
, isto é
π
φ
2
1
)( =
p . ( 3.5 )
A seção de choque total para interação é
)()()( EEE
BAT
σ
σ
σ
+
=
. ( 3.6 )
Quando a partícula interage com o meio, o tipo de interação que ocorre é uma variável
aleatória, que assume os valores “A” e “B” com as probabilidades
50
T
B
B
T
A
A
p p
σ
σ
σ
σ
== e
. ( 3.7 )
Vale lembrar que este tipo de modelo de espalhamento individual somente é válido quando
os efeitos da difração devido ao espalhamento coerente por vários centros são desprezíveis.
O que significa que a simulação é aplicável apenas a meios amorfos e, com algum cuidado,
a sólidos policristalinos.
Para um entendimento intuitivo do processo de espalhamento, pode-se imaginar cada
molécula como sendo uma esfera de raio
s
r de forma que a área de seção de choque
2
s
r
π
seja igual à seção de choque total
T
σ
. Assumindo que uma partícula incide
normalmente em uma lâmina muito fina de largura
ds , o que a partícula incidente vê é
uma distribuição uniforme de
ds
Ν
esferas por unidade de área; quando esta partícula
atinge uma destas esferas ocorre uma interação. Assim, a probabilidade de ocorrer uma
interação nesta lâmina de material é igual à fração da área ocupada pelas esferas,
ds
T
σ
Ν
.
Em outras palavras,
T
σ
Ν
é a probabilidade de interação por unidade de distância
percorrida no meio. Sua inversa,
1
)(
Ν
TT
σλ
, ( 3.8 )
é o livre caminho médio total entre interações.
Considerando agora uma partícula que move em um meio infinito. A FDP )(
sp para
comprimento da trajetória da partícula entre dois eventos de interação pode ser obtida
como a seguir: A probabilidade da partícula percorrer uma distância
s sem interagir é
=
' )'()(
s
dssps . ( 3.9 )
A probabilidade
dssp )( da próxima interação ocorrer quando a distância percorrida estiver
no intervalo ),(
dsss + é igual ao produto de )(s
(probabilidade de chegar em s sem
interagir) e
ds
T
1
λ
(probabilidade de interagir em ds ), isto é
=
1
' )'()(
s
T
dsspsp
λ
. ( 3.10 )
A solução desta equação integral, com a condição de contorno 0)( =
p , é a familiar
distribuição exponencial
)exp()(
1
TT
ssp
λλ
=
. ( 3.11 )
Note que o livre caminho médio
T
λ
coincide com o comprimento médio da trajetória entre
colisões sucessivas:
51
==
0
)(
T
dsspss
λ
. ( 3.12 )
A diferencial do inverso do livre caminho médio para o processo de interação A é definido
como
),;(),;(
212
θ
σ
θ
λ
WE
dWd
d
WE
dWd
d
AA
Ν=
. ( 3.13 )
Evidentemente, a integral desta diferencial dá o inverso do livre caminho médio para o
processo,
A
A
A
WE
dWd
d
dsendW
σθ
λ
θθπλ
Ν=
=
) ,;( ) ( 2
12
1
. ( 3.14 )
O produto
A
σ
Ν
é chamado de seção de choque macroscópica, embora este não seja um
nome apropriado para uma grandeza que tem dimensão de inverso de comprimento. Note
que o inverso do livre caminho médio total é igual à soma dos inversos dos livres caminhos
médios dos diferentes mecanismos de interação considerados,
111
+=
BAT
λλλ
. ( 3.15 )
(SALVAT, 2001).
3.2.2 Geração das trajetórias aleatórias
A trajetória de cada partícula começa em uma dada posição, com direção inicial e energia
determinadas de acordo com as características da fonte. O estado de uma partícula
imediatamente depois de uma interação (ou após penetrar na amostra ou no começo da
trajetória) é definido pelas suas coordenadas ),,(
zyx
=
r , energia
E
e pelas componentes
do vetor unitário ),,(
ˆ
wvu=d que representa os cossenos diretores da direção de
movimento. As coordenadas de posição e direção de movimento são definidas em relação a
um sistema de coordenadas retangular fixo, o referencial do laboratório que pode ser
definido arbitrariamente. Cada trajetória simulada é então caracterizada por uma série de
estados
n
r ,
n
E e
n
d
ˆ
, onde
n
r é a posição em que ocorre o n-ésimo evento de
espalhamento e
n
E e
n
d
ˆ
são a energia e os cossenos diretores da direção de movimento
exatamente após este evento. O comprimento
s do livre caminho até o próximo evento de
interação, o mecanismo de espalhamento envolvido, a mudança na direção e a perda de
energia nesta colisão são variáveis aleatórias que são “sorteadas” a partir das FDP’s
52
correspondentes usando os métodos descritos na seção 1.2. A geração das trajetórias
aleatórias é feita assumindo-se que trajetória já foi simulada até o estado
n
r ,
n
E ,
n
d
ˆ
.
O comprimento do trajeto entre duas interações sucessivas é distribuído de acordo com a
FDP dada pela equação (3.11) Os valores aleatórios de
s são gerados a partir da fórmula
de amostragem
ξ
λ
ln
T
s
=
, ( 3.16 )
onde
ξ
representa um número aleatório uniformemente distribuído no intervalo (0,1). A
interação seguinte ocorre na posição
nnn
sdrr
ˆ
1
+=
+
. ( 3.17 )
O tipo desta interação (“A” ou “B”) é selecionado a partir das probabilidades dadas pela
equação (3.7) usando-se o método da transformada inversa (seção1.2.2). A perda de
energia
W e o ângulo de espalhamento polar
θ
são obtidos através da distribuição
),;(
,
θ
WEp
BA
, equação (3.4) usando-se a técnica de amostragem mais conveniente. O
ângulo de espalhamento azimutal é gerado, de acordo com a distribuição uniforme em
(0,2π) [equação (3.5)], através da fórmula de amostragem
πξ
φ
2
=
.
Após a determinação dos valores de
W ,
θ
e
φ
, a energia da partícula é reduzida,
WEE
nn
=
+1
, e a direção de movimento após a interação )',','(
ˆ
1
wvu
n
=
+
d é obtida
realizando a rotação de ),,(
ˆ
wvu
n
=d (FIGURA 3.2). A matriz rotação ),(
φ
θ
R é
determinada pelos ângulos de espalhamento polar e azimutal. Para se obter o vetor
nn
R dd
ˆ
),(
ˆ
1
φθ
=
+
após a interação deve-se observar que, se a direção inicial está ao longo
do eixo
z, a direção após a colisão é
FIGURA 3.2: Deflexões angulares em eventos de espalhamento.
53
z
ˆ
)()(
cos
cos
θφ
θ
φθ
φθ
yz
RRsensen
sen
=
, ( 3.18 )
onde )1,0,0(
ˆ
=
z e
=
θθ
θθ
θ
cos0sen
010
sen0cos
)(
y
R
e
=
100
0cossen
0sencos
)(
φφ
φφ
φ
z
R
( 3.19 )
são as matrizes rotação que correspondem à realização das rotações em torno dos eixos
y e
z de ângulos iguais a
θ
e
φ
, respectivamente. Se, por outro lado,
ϑ
e
ϕ
forem,
respectivamente, os ângulos polar e azimutal da direção inicial
)cos,sensen,cos(sen
ˆ
ϑϕϑϕϑ
=
n
d , ( 3.20 )
a rotação )()(
ϕ
ϑ
zy
RR transforma o vetor
n
d
ˆ
em z
ˆ
. Fica claro então que a direção final
1
ˆ
+n
d pode ser obtida realizando-se a seguinte seqüência de rotações no vetor inicial: 1)
)()(
ϕ
ϑ
zy
RR , que transforma
n
d
ˆ
em z
ˆ
; 2) )()(
θ
φ
yz
RR , que gira o vetor z
ˆ
de acordo
com os ângulos de espalhamento polar e azimutal ‘sorteados’; e 3) )()(
ϑ
ϕ
yz
RR , que
inverte a rotação realizada no primeiro passo. Assim,
)( )( )( )( )( )(),(
ϕ
ϑ
θ
φ
ϑ
ϕ
φ
θ
=
zyyzyz
RRRRRRR . ( 3.21 )
A direção final é então
==
+
θ
φθ
φθ
ϑϕφθ
cos
cos
)()(
ˆ
),(
ˆ
1
sensen
sen
RRR
yznn
dd
( 3.22 )
e seus cossenos diretores:
[]
[]
. cos1cos'
, cos
1
cos'
, cos
1
cos'
2
2
2
φθθ
φφ
θ
θ
φφ
θ
θ
senwww
usenvw
w
sen
vv
vsenuw
w
sen
uu
=
+
+=
+=
( 3.23 )
Estas equações são indeterminadas quando
1
±
w , ou seja, quando a direção inicial é
aproximadamente paralela ou anti-paralela ao eixo
z; nestes casos fica estabelecido que
θ
φ
θ
φ
θ
cos,sensen,cossen
±
=
±
=
±= wv u . ( 3.24 )
54
Além disto, as equações (3.23) não são muito estáveis numericamente e a normalização de
1
ˆ
+n
d tende a ser diferente de 1 após repetido uso delas. Isto é remediado através da
renormalização periódica de
1
ˆ
+n
d .
A simulação da trajetória prossegue então repetindo-se estes passos e termina quando a
partícula deixa o material ou quando sua energia torna-se menor do que a energia de
absorção
abs
E , na qual assume-se que a partícula foi efetivamente freada e absorvida pelo
meio (SALVAT, 2001).
3.2.3 Seleção de um processo físico
Praticamente todos os processos envolvidos no transporte de uma partícula têm natureza
aleatória; na melhor das hipóteses, pode-se conhecer as distribuições de probabilidade que
governam um evento. Por exemplo, o conhecimento da seção de choque total de um fóton
em um material não implica em saber o quanto o fóton vai penetrar em um meio, mas
apenas o valor médio do comprimento de sua trajetória até a próxima interação. Da mesma
forma, seções de choque diferenciais fornecem a apenas a probabilidade de um processo
ocorrer como função de alguma variável representativa do estado final da partícula (por
exemplo, energia ou ângulo de espalhamento). Portanto, um elemento essencial em
qualquer simulação de Monte Carlo é a capacidade de realizar a amostragem a partir de
várias distribuições de probabilidade que descrevem a física dos processos envolvidos e a
simulação da natureza aleatória destes eventos individuais. Esta pode ser uma tarefa muito
difícil, mas, felizmente, já existem algoritmos precisos e eficientes para amostragem a
partir das distribuições mais utilizadas. Para os processos menos freqüentes, introduz-se
aproximações que tornam as rotinas de amostragem ineficientes, mas como elas são usadas
com pouca freqüência, seu efeito no tempo e na exatidão da simulação é pequeno.
Veja um exemplo. Em um modelo de transporte de fótons que considera apenas
espalhamento Compton e eventos de produção de pares, a seção de choque total em uma
dada energia é dada por
ppComptontot
Σ
+
Σ
=
Σ
( 3.25 )
As perguntas em questão são: qual distância um fóton caminha antes de interagir e qual
interação ocorre? O procedimento começa com a escolha de dois números aleatórios
1
ξ
e
2
ξ
uniformemente distribuídos entre 0 e 1. Sabendo que os comprimentos das trajetórias
dos fótons são exponencialmente distribuídos, faz-se uso de uma distribuição exponencial
55
com um caminho médio dado por
1
Σ
tot
para amostragem. De acordo com as informações
acima, a variável
(cm) x
tot
1
ln
1
ξ
Σ
= ( 3.26 )
é exponencialmente distribuída entre zero e infinito com valor médio
tot
Σ1 . Desta forma,
determina-se que um fóton percorrerá uma distância igual a
x
cm para então interagir.
Pode-se então determinar que tipo de interação ocorre escolhendo uma interação Compton
se
totCompton
Σ
Σ
2
ξ
e uma interação de produção de pares caso contrário. Estas são as
duas rotinas mais simples e mais freqüentemente utilizadas em simulações de Monte Carlo
(ROGERS, 1990).
3.2.4 Efeitos do tamanho do passo da partícula
A escolha do tamanho do passo em simulações do transporte de elétrons/pósitrons pode
afetar dramaticamente a precisão dos resultados e o tempo computacional.
No princípio do passo de um elétron, sabe-se a posição,
i
r , e a direção,
i
d
ˆ
, iniciais, sendo
necessária, então, a escolha do comprimento total do caminho
s até o final do passo. Este
comprimento total do caminho é usado por várias teorias físicas para determinar
(possivelmente estocasticamente) a energia do elétron no final do passo, a posição
f
r e a
nova direção
f
d
ˆ
no ponto final, como caracterizados pelo ângulo de espalhamento
múltiplo
θ
.
Para calcular a posição do ponto final
f
r do passo, é necessário calcular s, a componente
do deslocamento ao longo da direção inicial
i
d
ˆ
. As grandezas t e s estão representadas na
FIGURA 3.3 para um passo típico de um elétron. A grandeza
s se relaciona com
f
r através
da expressão
FIGURA 3.3: Componentes geométricas do passo de um elétron.
56
iif
s drr
ˆ
)( = . ( 3.27 )
Berger propôs a seguinte relação entre
t e s :
)]( cos1[
2
1
tts
θ
+= . ( 3.28 )
Note que
s, como calculado pela equação (3.30), está correlacionado com o ângulo de
espalhamento múltiplo e portanto exibe uma distribuição em torno do seu valor médio.
Lewis (1950) (citado por ROGERS, 1990) determinou a expressão exata para
s ,
=
t
tdts
0
)'( cos'
θ
. ( 3.29 )
A “correção para comprimento do caminho” (CCC), definido como
(
)
sst , é uma
função dependente de
t e é uma medida da curvatura no passo do elétron. Para ilustrar isto,
a FIGURA 3.4 apresenta a CCC em água versus a energia cinética do elétron para vários
tamanhos de passo, caracterizados pela fração da energia cinética do elétron perdida em
todos processos de colisão. A partir desta figura pode-se concluir que a CCC é significante
exceto para elétrons de energia muito alta ou para passos muito pequenos. Assim, para
cálculos precisos deve-se incluir a correção para a curvatura do caminho, a menos que se
aceite pagar o preço de calcular histórias usando passos extremamente curtos.
A FIGURA 3.4 ilustra alguns fatos interessantes a respeito do transporte de elétrons. À
medida que a energia do elétron aumenta, os elétrons tendem a deslocar em linha reta, e a
FIGURA 3.4: Correção para o comprimento do passo versus a energia
cinética para vários tamanhos de passo caracterizados pela perda percentual de
energia devido a todos eventos de colisão.
57
curvatura do caminho decorrente do espalhamento múltiplo torna-se menos importante. À
medida que a energia do elétron decresce, nota-se um nivelamento das curvas com perda
de energia constante por passo. Isto reflete o fato de que, embora os passos do elétron
tenha mais curvatura em baixas energias, o poder de frenamento de colisão também
aumenta, reduzindo o tamanho relativo do passo para uma dada perda de energia.
É necessário considerar também o deslocamento lateral
ρ
do elétron durante o percurso
do passo como ilustrado na FIGURA 3.3. Berger (1963) propôs a expressão
θρ
sen
2
1
t= ( 3.30 )
que expressa a correlação básica de
ρ
com o ângulo de espalhamento múltiplo
θ
. Assim
como no caso da CCC, é necessário incluir o deslocamento lateral (DL) para uma
descrição precisa das trajetórias no transporte de elétrons, exceto em altas energias ou para
passos muito pequenos.
Os resultados de cálculos que consideram a CCC e o DL independem do tamanho do passo
se o transporte do elétron estiver sendo feito com precisão. O efeito do deslocamento
lateral é menos significante e, para passos de comprimento pequeno, os resultados que não
consideram a CCC e o DL convergem para os resultados com CCC e DL, refletindo o fato
de que passos de menor tamanho determinam um transporte mais preciso. Ao invés de
considerar as correções da curvatura e deslocamento lateral do passo do elétron, pode-se
obter resultados precisos reduzindo o tamanho passo do elétron. Porém, deve-se tomar
cuidado para não reduzir demais o passo violando os limites da teoria de espalhamento
múltiplo; caso contrário, podem ocorrer artefatos computacionais. É mais desejável incluir
a CCC e o deslocamento lateral, através dos quais a dependência com o tamanho do passo
é bastante reduzida. Isto permite o uso de passos maiores e tempos de execução
potencialmente mais rápidos.
É necessário um maior cuidado ao simular o transporte de elétrons na vizinhança de
interfaces. A razão disto é que as teorias de espalhamento múltiplo usadas em simulações
de Monte Carlo de história condensada são válidas somente em meio infinito ou semi-
infinito. A introdução de interfaces viola limitações fundamentais destas teorias. Para
evitar os artefatos dos cálculos faz-se necessário, pelo menos na vizinhança de uma
interface, encurtar os passos do elétron de maneira que para a maioria deles o transporte
ocorra em um meio infinito. Qualquer que seja a estratégia empregada, a razão
fundamental é a mesma: a maioria dos trajetos dos elétrons deve acontecer em um meio
infinito. Isto é consumado diminuindo-se o tamanho dos passos, pelo menos na vizinhança
58
de interfaces. Quando um elétron atravessa uma interface ocorre alguma violação das
teorias envolvendo espalhamento múltiplo, mas como isto afeta apenas uma pequena
fração da trajetória total do elétron a qualidade dos resultados não é comprometida
desnecessariamente (ROGERS, 1990).
3.2.5 Transporte de partículas como um processo Markoviano
Num processo Markoviano os valores que uma variável aleatória assumirá ao longo da
simulação são determinados estatisticamente através de uma relação com eventos atuais e
dependem apenas do evento imediatamente anterior. Devido à característica Markoviana
do transporte de partículas, a história de uma partícula pode ser interrompida em um estado
arbitrário (qualquer pondo da trajetória) e ser retomada a partir deste estado sem qualquer
influência nos resultados.
Em simulações mistas (classe II) de transporte de elétrons/pósitrons, é necessário limitar o
tamanho
s de cada passo da partícula de forma que este não exceda um dado valor
max
s .
Para se fazer isto, obtém-se o livre caminho
s até a próxima interação a partir da mesma
FDP exponencial (3.11), mas quando
max
ss > , à partícula é permito deslocar apenas a
distância
max
s ao longo da direção de movimento. No final deste passo truncado nada é
feito (a partícula mantém sua energia e direção de movimento inalteradas); porém, por
conveniência, assume-se que a partícula sofreu uma interação delta. Quando o valor de
s é
menor do que
max
s , uma interação real é simulada. Após a interação (real ou delta), sorteia-
se um novo livre caminho
s e desloca-se a partícula de uma distância ),min('
max
sss = , e
assim sucessivamente. A característica Markoviana do processo de transporte garante que a
inserção de interações delta não influencia a simulação. Veja a prova disto: a probabilidade
de um passo terminar com uma interação delta é
==
max
max
)exp( )(
s
T
sdsspp
λ
δ
. ( 3.31 )
Para obter a probabilidade,
dssp )( , para ocorrência da primeira interação real dentro do
intervalo ),(
dsss + , escreve-se '
max
snss
+
=
com
[
]
max
ssn
=
e, portanto,
max
' ss < . Esta
probabilidade é então igual à probabilidade de se ter
n interações delta sucessivas seguida
por uma interação real em uma distância dentro de )','(
dsss
+
da última (n-ésima)
interação delta,
dssdsspdssp
TTTT
n
)exp( )'exp( )(
11
λλλλ
δ
==
, ( 3.32 )
59
que é o mesmo valor correto para o caso sem inserção de interações delta
(SALVAT, 2001).
3.2.6 Transporte de elétrons
No transporte de elétrons deve-se fazer distinção entre modelos de classe I e classe II. No
modelo de classe II (FIGURA 3.5), um elétron de energia inicial
0
E percorre uma
distância
t e então cria um elétron de energia
δ
E . Imediatamente depois de criar este
elétron a energia do elétron primário é
δ
EtLE
AE
col
0
, onde
AE
col
L é o poder de frenamento
de colisão restrito a partículas secundárias com energia menor do que
A
E
e
AE
col
tL é a
energia perdida continuamente e depositada ao longo do trajeto
t. A criação do elétron
secundário, assim como o espalhamento múltiplo, causa a mudança da direção do elétron
primário. No modelo de classe I, o elétron percorre uma distância
t e cria um elétron
secundário em algum ponto ao longo deste trajeto. A energia no final deste passo não é
explicitamente afetada pela criação deste elétron, mas é reduzida de uma quantidade
determinada de acordo com uma distribuição para perda de energia. Se a dispersão na
perda de energia fosse desconsiderada, a energia perdida seria
col
tS , o comprimento do
trajeto multiplicado pelo poder de frenamento irrestrito (excluindo efeitos radiativos). Nos
algoritmos classe I a criação de elétrons secundários não afeta explicitamente a direção do
elétron primário, contudo a deflexão associada ao espalhamento múltiplo pode levar em
conta estas deflexões.
FIGURA 3.5: Distinção entre o mecanismo de perda de energia não-correlacionado
usado em algoritmos de classe I (topo) e o mecanismo de perda de energia
correlacionado usado nos algoritmos de classe II (base).
60
TRANSPORTE DE ELÉTRONS
DEFINE ESTADO INICIAL DO
ELÉTRON PRIMÁRIO
RETIRA PARTÍCULA SECUNDÁRIA DO
TOPO DA PILHA COM AS
RESPECTIVAS VARIÁVEIS DE
ESTADO
E > E
corte
E ELÉTRON ESTÁ DENTRO
DO SISTEMA?
CLASSE II?
DETERMINA DISTÂNICA ATÉ A
PRÓXIMA INTERAÇÃO DISCRETA
SELECIONA O PASSO ENTRE
ESPALHAMENTOS MÚLTIPLOS
DETERMINA O ÂNGULO DE
DEFLEXÃO E MUDA A DIREÇÃO
E
perdida
= t L
AE
E = E - E
perdida
O ELÉTRON SAIU DO SISTEMA?
A
LCANÇOU O PONTO DA INTERAÇÃO
DISCRETA?
DETERMINA O QUE OCORRE:
PRODUÇÃO DE
BREMSSTRAHLUNG OU
ELÉTRON SECUNDÁRIO
DETERMINA A ENERGIA E A
DIREÇÃO DA PARTÍCULA
SECUNDÁRIA, ARMAZENANDO
OS PARÂMETROS NA PILHA
CLASSE II?
MUDA A ENERGIA E A DIREÇÃO DA
PARTÍCULA PRIMÁRIA COMO
RESULTADO DA INTERAÇÃO
PILHA VAZIA?
TERMINA A
HISTÓRIA
DETERMINA E
perdida
FAZENDO
E = E - E
perdida
FOI CRIADA PARTÍCULA
SECUNDÁRIA?
O ELÉTRON SAIU DO SISTEMA?
SELECIONA O PASSO ENTRE
ESPALHAMENTOS MÚLTIPLOS E
PERCORRE ESTA DISTÂNCIA
DETERMINA O ÂNGULO DE
DEFLEXÃO E MUDA A DIREÇÃO
E > E
corte
?
E > E
corte
?
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
N
N
N
N
N
N
N
N
N
N
FIGURA 3.6: Fluxograma representando algoritmos de Monte Carlo para simulação do transporte de elétrons.
61
A FIGURA 3.6 mostra o fluxograma simplificado esquematizando a simulação do
transporte de elétrons. Este fluxograma mostra apenas a parte do código relativa ao
transporte; para se obter as grandezas de interesse necessita-se de um algoritmo adicional.
Outro conceito introduzido pelo fluxograma é o de “pilha” de partículas, que é
simplesmente um procedimento para se armazenar os parâmetros do espaço de fase das
partículas geradas durante a simulação de forma que estes possam ser acessados
posteriormente. Este procedimento é possível, pois este é um processo Markoviano, ou
seja, em qualquer ponto da simulação, o futuro de um fóton ou elétron independe de sua
história anterior (ROGERS, 1990).
3.2.7 Transporte de fótons
A FIGURA 3.7 apresenta um fluxograma que esquematiza a simulação do transporte
Monte Carlo de fótons. A palavra DETERMINA do diagrama simboliza um importante
conceito. Neste ponto, determina-se os parâmetros do evento a partir de distribuições de
probabilidade apropriadas.
A história de um fóton termina quando ele é absorvido ou quando sua energia se torna
menor do que a energia de corte ou quando ele deixa o volume de interesse. Os detalhes do
que fazer quando a história termina e como definir a energia de corte dependem das
informações que se deseja obter na simulação.
A FIGURA 3.7, assim como a FIGURA 3.6 para o transporte de elétrons, mostra apenas
um algoritmo para simulação do transporte do fóton, o que de fato tem pouca utilidade uma
vez que nada é registrado. Para se obter uma grandeza de interesse deve-se monitorar
certos aspectos do processo de transporte e registrar os itens relevantes (ROGERS, 1990).
62
3.3 Médias estatísticas e incertezas
Uma das maiores vantagens das técnicas de Monte Carlo é a possibilidade do acesso a
muito mais grandezas do que aquelas que são fisicamente mensuráveis, exceto sob
algumas raras circunstâncias. Por exemplo, utilizando-se técnicas de Monte Carlo, é
possível não só determinar a energia depositada em um tanque de água como também
conhecer a origem dos elétrons ou fótons que depositaram esta energia e quantas vezes esta
partícula ou suas descendentes sofreram um espalhamento Compton.
DEFINE ESTADO INICIAL DO FÓTON
PRIMÁRIO
TRANSPORTE DE FÓTONS
RETIRA PARTÍCULA DO TOPO DA PILHA
COM AS RESPECTIVAS VARIÁVEIS DE
ESTADO
A ENERGIA DO FÓTON É MENOR DO
QUE E
corte
?
DETERMINA A DISTÂNCIA ATÉ A PRÓXIMA
INTERAÇÃO
TRANSPORTA O FÓTON LEVANDO EM
CONTA A GEOMETRIA DO MEIO
O FÓTON SAIU DA REGIÃO DE
INTERESSE?
DETERMINA O QUE OCORRE:
- EFEITO FOTOELÉTRICO
- ESPALHAMENTO COMPTON
- PRODUÇÃO DE PARES
- ESPALHAMENTO COERENTE
DETERMINA A ENERGIA E A DIREÇÃO DAS
PARTÍCULAS SECUNDÁRIAS PRODUZIDAS,
ARMAZENANDO OS PARÂMETROS DESTAS
NA PILHA
PILHA VAZIA?
TERMINA A
HISTÓRIA
N
N
N
Y
Y
Y
FIGURA 3.7: Fluxograma representando algoritmos de Monte Carlo para simulação do transporte de fótons.
63
Para ir direto ao ponto, considere a simulação de um feixe de elétrons de alta energia
incidindo na superfície de um fantoma de água semi-infinito. Cada elétron primário origina
um chuveiro de elétrons e fótons que são simulados um-a-um até chegarem à energia de
absorção correspondente. Para se avaliar o valor de qualquer grandeza de interesse
Q
deve-se calcular a média desta em um grande número de chuveiros
N . Formalmente, Q
pode ser escrito como uma integral da forma (1.44)
= dq qp qQ )( , ( 3.33 )
onde a FDP )(
qp é, em geral, desconhecida. A simulação de chuveiros individuais
proporciona um método prático de se sortear valores para
q a partir da FDP ‘original’:
para cada chuveiro gerado obtém-se um valor aleatório
i
q que é distribuído de acordo com
)(
qp . A única diferença em relação à integração de Monte Carlo considerada acima é que
neste caso a FDP )(
qp descreve uma cascata de eventos de interação, que possuem, cada
um, uma FDP característica. A estimativa de
Q é então
=
=
N
i
i
q
N
Q
1
1
. ( 3.34 )
Por exemplo, a energia média
dep
E depositada no fantoma por elétron incidente é dada por
=
=
N
i
idep
e
N
E
1
1
, ( 3.35 )
onde
i
e é a energia depositada por todas as partículas do i-ésimo chuveiro. A incerteza
estatística (desvio padrão) para a estimativa de Monte Carlo [equação. (1.52)] é
==
=
N
i
iQ
Qq
NNN
q
1
22
11
)var(
σ
. ( 3.36 )
O resultado de uma simulação deve usualmente ser escrita na forma
Q
Q
σ
3± , de maneira
que o valor real de Q estará contido no intervalo )3,3(
QQ
QQ
σσ
+ com 99,7% de
probabilidade. Note que para calcular o desvio padrão (3.36) deve-se registrar os valores
de
2
i
q durante a simulação. Em certos casos, em que
i
q pode assumir apenas os valores 0 e
1, o desvio padrão pode ser determinado sem registro do quadrado destes valores:
)1(
1
QQ
N
Q
=
σ
. ( 3.37 )
64
A simulação e o registro de grandezas durante a simulação podem também ser utilizados
para o cálculo de distribuições contínuas. O método mais simples de se fazer isto é
discretizando as distribuições, tratando-as como histogramas, e determinando as alturas de
cada uma das barras. Isto é, considere a distribuição de dose em profundidade )(
zD ,
definida como a energia média depositada por unidade de espessura do fantoma de água
por elétron incidente neste.
dzzD )( é a energia média depositada na porção do fantoma
entre
z e dzz + por elétron incidente e a integral de )(zD de 0 a é igual à energia
média depositada
dep
E (novamente, por elétron incidente). Como parte da energia
incidente é refletida pelo fantoma (através da radiação retroespalhada),
dep
E é menor do
que a energia cinética
cin
E dos elétrons incidentes. Para determinar )(zD em uma
profundidade do fantoma entre
0
=
z e
max
zz
=
, deve-se, antes de qualquer coisa,
estabelecer a partição do intervalo ),0(
max
z em
M
caixas (bins) ),(
1 kk
zz
, com
max10
0 zzzz
M
<<<<= K . Seja
kij
e
,
a quantidade de energia depositada na k-ésima caixa
pela
j-ésima partícula do i-ésimo chuveiro, a energia média depositada na k-ésima caixa
(por elétron incidente) é igual a
=
=
N
i
kik
e
N
E
1
,
1
com
j
kijki
ee
,,
. ( 3.38 )
Este valor é afetado pela incerteza estatística
=
=
N
i
kkiEk
Ee
NN
1
22
,
11
σ
. ( 3.39 )
A distribuição de dose em profundidade de Monte Carlo )(
zD
MC
é uma função contínua
por partes,
DkkMC
DZD
σ
3)(
±
=
para
kk
zzz
<
<
1
( 3.40 )
com
k
kk
k
E
zz
D
1
1
e
Ek
kk
Dk
zz
σσ
1
1
. ( 3.41 )
Note que a energia média em cada caixa e o desvio padrão associado têm que ser divididos
pela largura da caixa para obter a distribuição Monte Carlo final. Definida desta maneira,
)(
zD
MC
dá uma estimativa da dose média em cada caixa. A limitação deste método é que
aproxima-se uma distribuição contínua )(
zD por um histograma com barras de largura
65
finita. A princípio, seria possível obter uma melhor aproximação diminuindo-se a largura
das caixas, porém, é necessário tomar cuidado na escolha destas larguras visto que as
incertezas estatísticas podem ocultar completamente as informações no caso de caixas mais
estreitas.
Para calcular a energia média depositada e o desvio padrão associado em cada caixa,
equações (3.38) e (3.39), deve-se registrar, ao longo da simulação, os valores
ki
e
,
e
2
,ki
e .
Porém, há casos em que o uso indiscriminado desta receita faz aumentar
consideravelmente o tempo de simulação. Considere, por exemplo, a simulação da
distribuição de dose 3D no fantoma, que pode envolver vários milhares de caixas. Para
cada caixa, as energias
kij
e
,
depositadas por cada uma das partículas do chuveiro devem ser
acumuladas em um contador parcial para obter a contribuição do chuveiro
ki
e
,
, e, após o
término do chuveiro, o valor de
ki
e
,
e o seu quadrado devem ser adicionados nos
contadores cumulativos. Mas como apenas uma pequena fração das caixas recebem energia
quando
um chuveiro é simulado, não é adequado tratar todas caixas da mesma maneira. O
método mais rápido para se fazer isto é transferir os registros parciais para os contadores
cumulativos apenas quando o contador parcial for receber uma contribuição de um novo
chuveiro. Isto pode ser facilmente implementado se, para cada grandeza de interesse
Q,
forem definidos três contadores reais,
Q, Q2e QP, e um indicador inteiro LQ; todos
definidos inicialmente iguais a zero. Os registros parciais
ij
q das partículas de um chuveiro
são acumulados no contador parcial
QP, enquanto a contribuição global do chuveiro
i
q e o
seu quadrado são acumulados em
Q e Q2, respectivamente. A cada chuveiro é associado
um indicador – seu número,
i, dentro da seqüência de chuveiros, por exemplo – que é
registrado em
LQ quando ocorre a primeira contribuição do chuveiro para o contador
parcial
QP. No decorrer da simulação, o valor de QP é transferido para os contadores
globais
Q e Q2 apenas quando é necessário armazenar uma contribuição
ij
q de um novo
chuveiro. Assim, o código FORTRAN para o registro de
Q ficaria:
IF(i.NE.LQ) THEN
Q=Q+QP
Q2=Q2+QP**2
QP=q
ij
LQ=i
ELSE
QP=QP+q
ij
ENDIF
66
No final da simulação, o conteúdo residual de
QP deve ser transferido para os contadores
globais.
Para algumas grandezas (como por exemplo, o número médio de eventos de espalhamento
por trajetória, a função de dose em profundidade, etc.) quase todas histórias do chuveiro
contribuem com a contagem nas caixas e as incertezas estatísticas dos resultados da
simulação se tornam relativamente pequenas. Outras grandezas (como as distribuições
angulares e de energia para partículas transmitidas através de uma lâmina espessa)
apresentam incertezas estatísticas consideráveis (isto é, grandes variâncias) porque apenas
uma pequena fração das histórias simuladas contribui para os contadores parciais
(SALVAT, 2001).
3.4 Exatidão do código
Em um código de Monte Carlo, definitivamente não importa o quanto o modelo usado é
fidedigno do ponto de vista físico ou o quão bem ele funciona, a qualidade dos resultados é
limitada pela qualidade das seções de choque utilizadas. Além dos erros intrínsecos dos
dados de seção de choque, erros adicionais têm origem no modo como o código de Monte
Carlo tabela, interpola e acessa os dados.
Ao lado dos erros nos dados de seção de choque, várias outras fontes de erro são inerentes
aos cálculos de Monte Carlo, de natureza tanto sistemática quando estatística.
3.4.1 Dados de seção de choque
A incerteza produzida no resultado final pelos erros nas seções de choque são muito
difíceis de se determinar. Veja este exemplo: um erro de 50% no poder de frenamento de
um elétron, para energias menores do que 2 MeV, poderia não ter nenhum efeito numa
curva de dose em profundidade para fótons de 10 MeV porque estes elétrons têm um
pequeno alcance e depositam toda sua energia localmente (se comparado com o poder de
penetração do fóton primário). Portanto, deve-se sempre analisar o problema em questão
para determinar como as incertezas nas seções de choque afetam a incerteza global.
Fótons
A estimativa das incertezas para as seções de choque totais para fótons vêm de Storm e
Israel (1970) e Hubbell (1982) (citados por ROGERS, 1990). Na região em que o efeito
fotoelétrico predomina (FIGURA 2.1) a incerteza é de 3 – 5%. Embora exista uma
incerteza de 3% associada ao espalhamento coerente nesta região, a incerteza global é
completamente dominada pela seção de choque fotoelétrica. Em geral, na faixa de energia
67
em que o efeito Compton predomina as seções de choque são precisas dentro de
aproximadamente 2 – 3%. Contudo, para elementos leves normalmente associados com
dosimetria e terapia, a incerteza pode ser menor do que 1%. A seção de choque para
produção de par deveria ser exata com uma margem de aproximadamente 5%, mas na
região de energia acima de 30 MeV deve-se analisar as incertezas relacionadas à omissão
dos processos fotonucleares.
Elétrons
Como discutido no ICRU 37 (1984) (citado por ROGERS, 1990), a incerteza no poder de
frenamento de colisão para elétrons e pósitrons é governada pela incerteza na seção de
choque do espalhamento inelástico e pelas aproximações das teorias estatísticas para a
soma das várias pequenas perdas de energia. Em baixas energias (10 100 keV), o ICRU
estima que a incerteza é de 2 3% para materiais de baixo Z e de 5 10% para alto Z.
Acima de 100 keV, a incerteza estimada é de 1 2%. A incerteza no poder de frenamento
radiativo tem origem na seção de choque de bremsstrahlung e, de acordo com o ICRU, ela
é de aproximadamente 5% para energias menores do que 2 MeV e 2 5% para energias
entre 2 e 50 MeV (ROGERS, 1990).
3.4.2 Erros Sistemáticos
Erros de programação
Códigos de Monte Carlo são sistemas integrados de programas computacionais grandes e
complicados. Nenhum grande código é livre de erros ou trabalha exatamente como o
planejado. A maior vantagem dos códigos que já são amplamente utilizados é que eles já
foram testados em uma variedade de aplicações.
Incertezas do Modelo
Incertezas são muitas vezes associadas com os componentes analíticos da simulação e
refletem as aproximações utilizadas. Assim como os erros inerentes do modelo empregado,
existem limitações bem conhecidas para muitos dos modelos usados. Por exemplo, muitos
códigos não incluem espalhamento coerente ou os efeitos da ligação do elétron alvo no
espalhamento Compton. Isto pode não ter nenhum efeito em muitos casos, mas poderia ser
crucial em certas aplicações. Portanto, as limitações de um código devem ser
cuidadosamente analisadas antes de utilizá-lo.
68
Erros de truncamento
Às vezes podem surgir dificuldades por causa da precisão finita dos números reais
representados por computadores digitais. Por exemplo, se muito mal codificado, o ponto
flutuante
1
de 32 bit e precisão única
=
+=
000.000.1
1
1
i
i
xx , ( 3.42 )
onde
8
10
=
i
x para todo i , dá a resposta 00.1
=
x e não 1.01 como esperado. Variáveis
cumulativas usadas desta forma devem ser definidas como sendo de precisão dupla. Erros
de truncamento podem causar problemas no transporte de partículas em meio com
geometria definida: uma partícula deveria estar em uma certa região e o truncamento faz
com que ela se encontre em outra. Códigos de geometria bem projetados minimizam este
tipo de erro e podem detecta-los e corrigi-los caso ocorram. Códigos de precisão dupla
ajudam neste caso, mas não eliminam o problema (ROGERS, 1990).
3.4.3 Incertezas estatísticas
Um resultado de Monte Carlo, como qualquer resultado experimental, não tem nenhum
significado a não ser que alguma estimativa de sua incerteza estatística seja dada. Como
não há uma teoria rigorosa de como determinar esta incerteza, é comum dividir uma série
de simulações Monte Carlo em um certo número
B
N de grupos independentes, cada um
considerando o mesmo número de histórias, e calcular um valor estimado
i
x para cada
grandeza de interesse em cada grupo. Com
B
N estimativas para
i
x , o valor final será igual
à média
x destes. Assumindo que
i
x é obtido a partir de uma distribuição normal, a
melhor estimativa da variância
2
σ
é dada por [equação (3.36)]:
=
=
B
N
i
i
BB
x
xx
NN
1
22
)(
11
σ
. ( 3.43 )
Para
10~
B
N , pode-se assegurar que o intervalo
(
)
σ
σ
+
xx , contém o valor real de
x
com 68% de probabilidade, ou com 95% de probabilidade para s2± . Como existe uma
dependência de
σ
com a escolha de
B
N (que deve ser maior ou igual a 10), deve-se
sempre indicar o valor de
B
N utilizado.
1
Método de representação onde sinaliza-se um número através de uma continuidade de algarismos e o
expoente no quadeve-se elevar o número.
69
Para combinar os resultados e incertezas de
m simulações independentes com valores
distintos para
B
N , utiliza-se as seguintes fórmulas:
=
=
m
k
k
k
x
N
N
x
1
( 3.44 )
e
=
=
m
k
x
k
x
k
N
N
1
22
σσ
( 3.45 )
onde
N é o número total de histórias e o índice k indica que aquela variável é associada à
k-ésima simulação. Incertezas maiores ou iguais a 5% tendem a ser ligeiramente
subestimadas e incertezas menores do que isto parecem ser mais precisas e concordam
qualitativamente com o que seria esperado se a distribuição de
i
x fosse realmente normal
(ROGERS, 1990).
3.4.4 Eficiência Computacional
Assumindo que as estimativas das várias simulações independentes são extraídas de uma
distribuição normal, no limite de um grande número de histórias a grandeza
2
σ
N é uma
constante. Assim, em um determinado cálculo, a incerteza estimada é aproximadamente
proporcional ao inverso da raiz quadrada do número de histórias utilizado. Esta relação
pode ser usada para determinar o número de histórias necessário para se alcançar um
resultado com uma certa precisão, desde que já exista uma estimativa, mesmo que
estatisticamente pobre, para esta incerteza.
A relação mencionada acima permite também uma definição prática para a eficiência de
um cálculo de Monte Carlo:
2
1
σε
T= ( 3.46 )
onde
T
é o tempo computacional necessário para obter uma variância igual a
2
σ
. Se a
técnica para os cálculos é mantida a mesma,
ε
permanece constante mesmo aumentando-
se o número de histórias
N . A definição desta grandeza é útil porque quando se
introduzem técnicas de redução de variância, o tempo de computação para um determinado
número de histórias irá, em geral, aumentar. Porém, se o produto
2
σ
T diminui, há uma
melhoria na eficiência computacional (o tempo necessário para alcançar um dado valor
2
σ
torna-se menor ou, alternativamente, para um dado tempo, o valor obtido para
2
σ
é
reduzido) (ROGERS, 1990).
70
3.5 Redução de Variância
No transporte Monte Carlo de elétrons e fótons gasta-se muito tempo gerando números
aleatórios, girando os sistemas de coordenadas, determinando o ângulo de espalhamento
múltiplo, traçando a geometria, etc. Um código de Monte Carlo com uma codificação
eficiente e uma boa estrutura pode diminuir consideravelmente o tempo computacional em
uma simulação. Por exemplo, pode-se tornar os cálculos mais rápidos construindo-se
tabelas para funções mais freqüentemente usadas, assim como melhorar a eficiência dos
procedimentos de amostragem de processos físicos. Por outro lado, técnicas de redução de
variância podem melhorar a eficiência dando mais ênfase às grandezas físicas de interesse,
produzindo então uma maior quantidade de informação relevante em um determinado
tempo computacional (ROGERS, 1990).
A princípio, o erro estatístico de uma grandeza pode ser de certa forma reduzido (sem
aumentar o tempo computacional de simulação) através do uso de técnicas de redução de
variância. Infelizmente, estas técnicas de otimização são extremamente dependentes do
problema a ser tratado, o que impossibilita a definição de um procedimento geral para
minimizar a variância. Por outro lado, não se deve superestimar a importância da redução
de variância, pois em muitos casos, a simulação análoga
1
pode ser realizada em um tempo
razoável. Gastar tempo complicando o programa para se obter apenas uma modesta
redução no tempo computacional pode não ser um bom investimento. É também
importante compreender que um método de redução de variância eficiente usualmente
diminui o erro estatístico de uma dada grandeza
Q às custas do aumento das incertezas de
outras grandezas. Portanto, as técnicas de redução de variância não são recomendadas
quando se busca uma descrição global do processo de transporte (SALVAT, 2001). Nesta
seção é feita uma breve descrição de algumas das técnicas que, com uma programação
simples, podem ser úteis para melhorar a solução de alguns problemas.
3.5.1 Interação Forçada
Uma grande variância pode ser resultado de probabilidades de interação extremamente
baixas. Um exemplo disto é a simulação do espectro de energia de fótons de
bremsstrahlung emitidos por elétrons de energia intermediária (~ 100 keV) em uma lâmina
fina de um determinado material. Como eventos radiativos são muito menos prováveis do
1
Aqui, o termo “análoga” refere-se a simulações detalhadas, condensadas ou mistas, que não incorporam
procedimentos de redução de variância.
71
que os espalhamentos elástico e inelástico, a incerteza do espectro do fóton simulado será
relativamente grande. Nestes casos, um eficiente método para redução da variância é o
aumento artificial da probabilidade de interação para o evento “A” de interesse. A
implementação prática da interação forçada consiste da substituição do livre caminho
médio
A
λ
do processo real por um menor,
fA,
λ
, forçando as interações do tipo A
ocorrerem mais freqüentemente do que no processo real. Considera-se que as FDP’s para
perda de energia e deflexões angulares (e as direções de emissão das partículas
secundárias, se for o caso) nas interações forçadas são as mesmas das interações reais e
para se sortear a distância a ser percorrida até a próxima interação faz-se uso da
distribuição exponencial com o livre caminho médio reduzido
fA,
λ
. Isto é equivalente a
aumentar a probabilidade de interação, através do processo A, por unidade de distância
percorrida, pelo fator
1
,
>=
fA
A
λ
λ
F
. ( 3.47 )
Para que esta medida não interferira nos resultados da simulação, deve-se corrigir as
distorções introduzidas como a seguir:
(i) Um peso
1
)1(
=
p
w é associado a cada partícula primária. As partículas secundárias
produzidas em interações forçadas têm peso F
)1()2(
pp
ww = , e os pesos das
sucessivas gerações de partículas secundárias “forçadas” são F
)1()(
=
k
p
k
p
ww . Às
partículas secundárias geradas em interações não forçadas (geradas por outros
processos que não o A) são dados pesos iguais ao da sua partícula mãe.
(ii) O peso
F
)()( k
p
k
E
ww = é dado à deposição de energia (e qualquer outra alteração
do meio, como por exemplo, deposição de carga) resultante de interações forçadas
de uma partícula de peso
)(k
p
w . Para interações não forçadas,
)()( k
p
k
E
ww = .
(iii) Quando interações forçadas são simuladas para se determinar a perda de energia e a
possível emissão de radiação secundária, as variáveis de estado da partícula em
questão é alterada com a probabilidade
F1 . Ou seja, a energia
E
e a direção de
movimento
d
ˆ
do projétil somente variam quando o valor
ξ
do número aleatório
for menor do que
F1 , caso contrário,
E
e d
ˆ
permanecem inalterados.
72
Considere um problema de blindagem em que, na média, apenas um fóton dentre mil
atravessa o bloqueio. Mudando a seção de choque de maneira que, para cada 1000
histórias, 10 fótons atravessem a blindagem, a eficiência aumentará, uma vez que a
incerteza percentual no número de fótons atravessando o bloqueio será reduzida de
) 11 ( %100 ±± para ) 1010 ( %32 ±± . Neste caso, deve-se ter em mente que a
probabilidade de transmissão foi multiplicada por 10 e, assim, a resposta deve ser dividida
pelo mesmo fator, ficando 3,00,1 ±
Se
1i
w e
1i
q simbolizam o peso e a contribuição da i-ésima partícula primária no cálculo de
alguma grandeza
Q, e
ij
w e
ij
q (1>j ) representam os pesos e contribuições das j-ésimas
partículas secundárias geradas pela
i-ésima primária, a estimativa Monte Carlo de Q
obtida a partir da simulação de
N histórias será
=
ji
ijij
qw
N
Q
,
1
. ( 3.48 )
Evidentemente, as estimativas de Q obtidas com interações forçadas e com uma
simulação análoga são iguais (do ponto de vista estatístico, ou seja, no limite
N , a
diferença entre elas tende a zero). O desvio padrão será dado por
=
∑∑
ij
ijijQ
Qqw
NN
2
2
11
σ
. ( 3.49 )
As grandezas diretamente relacionadas às interações forçadas terão erro estatístico
reduzido devido ao aumento no número destas interações, porém, para um dado tempo de
simulação, outras grandezas podem apresentar desvios padrões maiores do que aqueles da
simulação análoga em função do tempo gasto simulando-se interações forçadas
(SALVAT, 2001).
3.5.2 Cisão (splitting) e roleta Russa
Estas duas técnicas, que são normalmente usadas em conjunto, são eficientes em
problemas cujo interesse está focado em uma determinada região do espaço. O cálculo de
funções de dose em profundidade em um objeto irradiado e, no caso de feixes de radiação
colimados, o cálculo de isodoses em pontos distantes do eixo do feixe são exemplos típicos
de problemas tratáveis com estas técnicas. A idéia básica dos métodos de cisão e roleta
Russa é favorecer o fluxo de radiação para a região de interesse e impedir que a radiação
deixe esta região. Estas técnicas são úteis também em problemas em que é necessária
73
apenas uma descrição parcial do processo de transporte. A “região de interesse” pode então
ser um volume limitado no espaço das variáveis de estado (
dr
ˆ
,,E ); assim, em estudos de
retroespalhamento de radiação, a região de interesse pode ser estabelecida como sendo a
região da amostra mais próxima à superfície irradiada e o conjunto de partículas cuja
direção aponta para esta superfície.
Como no caso da interação forçada, aqui, a redução de variância é realizada modificando-
se os pesos das partículas. Assume-se que as partículas primárias começam com peso
unitário e a cada partícula secundária produzida por uma primária é atribuído um peso
inicial igual ao desta primária. No método de cisão, uma partícula, com peso
0
w e em um
determinado estado, é transformada em um número
1>
S
de partículas idênticas com
pesos
S
0
ww = no mesmo estado inicial. A cisão deve ser aplicada quando a partícula se
aproxima da região de interesse. A técnica da roleta Russa é, de certo modo, o contrário da
cisão: quando a partícula tende a afastar-se da região de interesse, ela pode ser “destruída”
com uma probabilidade 1<
K
, e, se isto não ocorrer, seu peso é aumentado de um fator
)1(1
K
. Aqui, destruir a partícula significa simplesmente descarta-la, não considerando
mais suas contribuições para os cálculos. Estes dois métodos não influenciam os resultados
da simulação, sendo a média e o desvio padrão das grandezas calculadas dadas pelas
equações (3.48) e (3.49). A eficiência destes métodos está relacionada com os valores
adotados para os parâmetros
S
e
K
, e no critério usado para decidir quando a cisão e a
eliminação da partícula devem ser aplicadas (SALVAT, 2001).
3.5.3 Rejeição de alcance
O método de rejeição de alcance consiste em absorver uma partícula quando não houver
possibilidade desta partícula (e suas possíveis secundárias) alcançar ou deixar a região de
interesse. Este método pode ser útil, por exemplo, quando se deseja calcular a energia total
depositada por elétrons (ou pósitrons) em uma certa região do espaço. Quando o alcance
residual de uma partícula for menor do que a distância até a mais próxima superfície que
delimita a região de interesse, considera-se que toda sua energia é depositada dentro ou
fora desta região (dependendo se ela estava no interior desta ou não) e a simulação da
trajetória pode ser interrompida (SALVAT, 2001). Em contrapartida, este método introduz
uma aproximação ao ignorar a possibilidade do elétron produzir um fóton que poderia
escapar ou entrar na região de interesse; por esta razão usualmente determina-se uma
energia máxima para aplicação deste método (ROGERS, 1990). Além disto, a rejeição de
74
alcance não é adequada para o transporte de fótons, uma vez que o conceito de alcance
para fótons não é bem definido (ou, mais precisamente, as flutuações no tamanho da
trajetória para fótons são muito grandes) (SALVAT, 2001).
3.5.4 Outros métodos
Freqüentemente, uma redução de variância efetiva pode ser obtida simplesmente evitando-
se cálculos desnecessários; como geralmente acontece nos códigos de simulação que
incorporam pacotes de geometria genéricos. Para geometrias simples (por exemplo, planar,
esférica ou cilíndrica) o programa pode ser substancialmente simplificado e isto pode
acelerar a simulação consideravelmente. De maneira geral, o uso adequado de possíveis
simetrias do problema em consideração pode reduzir a variância apreciavelmente
(SALVAT, 2001).
75
METODOLOGIA
O problema tratado neste trabalho consiste na simulação do transporte de elétrons de baixa
energia (110 eV a 50 keV), e dos elétrons e fótons secundários gerados por estes,
provenientes de uma fonte monoenergética isotrópica localizada no interior de um meio
tecido equivalente homogêneo semi-infinito (suas dimensões são muito maiores do que o
alcance das partículas em questão). A composição deste meio é igual à definida pelo ICRP
(International Commission on Radiation Protection) como tecido mole (ver apêndice A).
As simulações foram realizadas utilizando-se o código de Monte Carlo PENELOPE que
será descrito a seguir. A escolha deste código em especial para realização do estudo do
alcance de elétrons de baixa energia se deu devido ao fato dele ser capaz de simular o
transporte de elétrons até energias tão baixas quanto 100 eV, ao passo que códigos como o
EGS4, ETRAN, ITS3 e MCNP são, de maneira geral, limitados a elétrons com energias
acima de 1 a 20 keV.
Foram realizadas, separadamente para cada energia, as simulações do transporte de
elétrons com energias iniciais de 110, 200, 300, 400, 500, 600, 700, 800 e 900 eV, e 1, 5,
10, 25 e 50 keV (o valor de 110 eV foi escolhido devido à limitação do código de Monte
Carlo utilizado que simula elétrons somente até o limite inferior de 100 eV). Cada
simulação era composta por um certo número N de chuveiros (partículas primárias)
definido de acordo com a energia inicial dos elétrons primários emitidos pela fonte. Esta
diferença no número de chuveiros simulados para cada energia se dá devido ao fato de que
quanto maior a energia inicial do elétron, maior o número de interações e partículas
secundárias produzidas até a degradação completa da energia deste elétron e, portanto,
maior o número de informações a serem processadas e armazenadas. Assim, para cada
energia, o número de chuveiros é limitado em função do esforço e memória computacional
necessários. Portanto, quanto maior a energia inicial do elétron, menor o número de
chuveiros em cada simulação. A determinação de N foi feita testando-se o limite em que o
código PENELOPE e o próprio computador era capaz de trabalhar, simulando um número
cada vez maior de chuverios para cada energia. Finalmente, para cada energia considerada,
foram realizadas dez simulações, contendo cada uma N chuveiros.
76
Durante a simulação, as informações a respeito de toda história de cada partícula simulada,
como posição em que ocorreram interações, tipo de interação, energia depositada em cada
evento, direção de deflexão, etc., foram gravadas seqüencialmente em arquivos sem
formato (binário) para permitir o acesso a estas informações posteriormente. Os dados
foram gravados na representação binária porque o grande número de interações e partículas
secundárias geradas no transporte de elétrons produz um volume tão grande de informação
que não é possível armazená-las da maneira convencional em arquivos de texto, que
inclusive permitiriam a visualização direta destas informações. No PENELOPE, cada
partícula é simulada até que sua energia se torne menor do que a energia de absorção desta
no meio. A simulação inicia com uma partícula primária e após o término da história desta,
são simuladas as histórias das partículas secundárias geradas, uma de cada vez,
completando o chuveiro. Terminadas as partículas secundárias, é iniciado um novo
chuveiro e assim sucessivamente. Desta forma, o arquivo em que foram gravadas as
informações relevantes das simulações possui a seguinte estrutura:
(i) Na primeira linha, o estado inicial (energia, posição e direção iniciais) da partícula
primária a ser simulada;
(ii) A cada interação sofrida por esta partícula primária uma nova linha é gravada
(contendo o estado desta partícula após a interação, o mecanismo de interação que
esta sofreu, a energia perdida, etc.) repetidamente até o término da história desta
(que ocorre quando sua energia é completamente degradada);
(iii) Terminada a história da partícula primária, na linha seguinte é gravado o estado
inicial da primeira partícula secundária a ser simulada, sendo gravadas nas linhas
subsequentes as informações relativas às interações sofridas por esta até o término
de sua história. Este passo se repete até a simulação de todas as secundárias
finalizando assim um chuveiro;
(iv) Terminadas as histórias das secundárias, é iniciado um novo chuveiro e a
gravação prossegue repetindo todas as etapas a partir do passo (i) até a simulação
do número N de chuveiros (partículas primárias) pré-determinado.
A partir destes dados obtidos nas simulações (posição em que ocorreram as interações, tipo
de interação ocorrida, ângulo de deflexão, energia transferida, etc.) foram então calculados
os alcances para elétrons com as energias iniciais mencionadas anteriormente.
77
4 O código PENELOPE
O PENELOPE é um algoritmo de Monte Carlo para a simulação do transporte acoplado de
elétrons e fótons. Este nome é uma abreviatura de “PENetration and Energy Loss of
Positrons and Electrons” – penetração e perda de energia de elétrons e pósitrons (a
simulação de fótons foi introduzida posteriormente). O algoritmo de simulação é baseado
em um modelo de espalhamento que combina bases de dados numéricas com modelos
analíticos de seções de choque para os diferentes mecanismos de interação e trabalha com
energias (energia cinética no caso de elétrons e pósitrons) entre aproximadamente 100 eV e
1 GeV. Os processos de interação relevantes para fótons são: espalhamento coerente
(Rayleigh), espalhamento incoerente (Compton), efeito fotoelétrico e produção do par
elétron-pósitron. Outras interações (como, por exemplo, absorção fotonuclear) ocorrem
com uma probabilidade muito menor e podem ser desconsideradas na maior parte dos
casos práticos. Para elétrons e pósitrons, as interações consideradas são: espalhamento
elástico, colisões inelásticas e emissão de bremsstrahlung; pósitrons podem também sofrer
aniquilação, tanto em repouso quanto em vôo. O código PENELOPE é particularmente útil
em aplicações que envolvem o transporte de radiação em outros materiais que não água
(STEWART, 2002).
4.1 Interações de fótons
4.1.1 Espalhamento coerente (Rayleigh)
Espalhamento coerente ou Rayleigh é o processo pelo qual fótons são espalhados por
elétrons atômicos (ligados) sem excitação do átomo alvo, isto é, a energia dos fótons
incidente e espalhado é a mesma. O espalhamento é qualificado como “coerente” porque
ele surge da interferência entre ondas eletromagnéticas secundárias vindas de diferentes
partes da distribuição de cargas atômicas.
4.1.2 Efeito fotoelétrico
No efeito fotoelétrico, um fóton de energia
E
é absorvido pelo átomo alvo, que faz uma
transição para um estado excitado. Os feixes de fótons encontrados em estudos de
transporte de radiação têm densidade de fótons relativamente baixa e, como conseqüência,
é observada apenas a absorção de fótons individuais (em feixes intensos de fótons de baixa
energia, como os de lasers de alta potência, é possível a absorção simultânea de vários
fótons). Para representar os estados atômicos, pode-se adotar um modelo elétron-
78
independente, assim como o modelo de Dirac-Hartree-Fock-Slater, em que cada elétron
ocupa um orbital, com energia de ionização bem definida. O conjunto de orbitais com os
mesmos números quânticos para o momento principal e total e a mesma paridade
constituem uma camada. Cada camada i pode acomodar um número finito de elétrons, com
energia de ionização característica
i
U .
A interação com o campo do fóton é considerado como uma perturbação de primeira
ordem (o que é apropriado para campos com baixa densidade de fótons) sendo permitidas
apenas transições de um único elétron; isto é, no efeito fotoelétrico, o fóton é absorvido por
um elétron individual da camada “ativa” i, que deixa o átomo com energia cinética
ie
UEE = . Evidentemente, a fotoionização de uma dada camada somente é possível
quando a energia do fóton incidente excede a energia de ionização correspondente; isto dá
origem aos “cortes” (edges) de absorção característicos na seção de choque fotoelétrica.
4.1.3 Espalhamento incoerente (Compton)
No espalhamento Compton, um fóton de energia
E
interage com um elétron atômico, que
o absorve e reemite um fóton (Compton) secundário de energia '
E
na direção ),(
φ
θ
=
relativa à direção do fóton incidente. Após uma interação Compton com a i-ésima camada,
o elétron alvo é ejetado com energia cinética 0 ' >
=
ie
UEEE , onde
i
U é a energia de
ionização da camada em questão, e o átomo residual fica então em um estado excitado com
uma vacância na camada i.
4.1.4 Produção de pares
Pares de elétrons e pósitrons podem ser criados pela absorção de um fóton na vizinhança
de uma partícula massiva, um núcleo ou um elétron, que absorve energia e momento de
forma tal que estas duas grandezas são conservadas. A energia mínima para produção de
pares no campo de um núcleo (supostamente de massa infinita) é
2
2 cm
e
. Quando a
produção de pares ocorre no campo de um elétron, este elétron alvo, após o evento, recua
com uma energia cinética considerável; este processo é conhecido como produção de
“tripleto”. Se o elétron alvo estiver em repouso, a produção de tripleto é possível apenas
para fótons com energia maior do que
2
4 cm
e
(SALVAT, 2001).
79
4.2 Interações de elétrons e pósitrons
4.2.1 Colisão elástica
Por definição, interações elásticas são aquelas em que os estados quânticos inicial e final
do átomo alvo são os mesmos, em geral o estado fundamental. As deflexões angulares nas
trajetórias de elétrons na matéria são principalmente (mas não unicamente) devido ao
espalhamento elástico. Note que há uma certa transferência de energia do projétil para o
alvo, que causa o recuo deste último. Devido à grande massa do alvo (
e
Zm3500~), a
energia média perdida pelo projétil é uma fração muito pequena de sua energia inicial e é,
em geral, desprezada, o que é equivalente a assumir que o alvo tem massa infinita e não
recua.
4.2.2 Colisão inelástica
A colisão inelástica é o mecanismo dominante através do qual elétrons e pósitrons, de
energias baixas e intermediárias, perdem energia para o meio, produzindo excitações
eletrônicas e ionizações neste. A teoria quântica do espalhamento inelástico de partículas
carregadas por átomos individuais e moléculas foi inicialmente formulada por Bethe (1930,
1932) (citado por SALVAT, 2001) com base na aproximação de primeira ordem (onda
plana) de Born. A extensão da teoria para colisões inelásticas na matéria condensada foi
discutida por Fano (1963) (citado por SALVAT, 2001). Os aspectos formais desta teoria
são bastante complicados mas, felizmente, os resultados são essencialmente equivalentes
àqueles da teoria dielétrica clássica.
O efeito de colisões inelásticas individuais no projétil é completamente especificado pela
perda de energia
W e pelos ângulos de espalhamento polar e azimutal
θ
e
φ
,
respectivamente. Para meios amorfos, com átomos (ou moléculas) aleatoriamente
orientados, a SCD para colisões inelásticas é independente do ângulo de espalhamento
azimutal
φ
.
4.2.3 Emissão de bremsstrahlung
Como resultado da aceleração causada pelo campo eletrostático de átomos, elétrons (ou
pósitrons) rápidos emitem fótons de bremsstrahlung (radiação de frenamento). Em cada
evento de emissão de bremsstrahlung, um elétron com energia cinética
E
gera um fóton de
energia
W , que assume valores no intervalo entre 0 e
E
. O processo é descrito por uma
SCD atômica, diferencial em relação à perda de energia
W e às direções finais do projétil
80
e do fóton emitido. As deflexões angulares do projétil são obtidas da SCD para
espalhamento elástico e, consequentemente, a direção de movimento do projétil permanece
inalterada na simulação de eventos radiativos.
4.2.4 Aniquilação de pósitrons
Pósitrons penetrando um meio de número atômico Z com energia cinética
E
podem se
aniquilar com os elétrons do meio emitindo dois fótons. Se for assumido que os elétrons
alvo estão livres e em repouso, desconsiderando então os efeitos de ligação, é possível a
aniquilação com emissão de apenas umton. Quando a aniquilação acontece em vôo, ou
seja, quando a energia cinética
E
do pósitron é maior do que a energia de absorção, os
dois fótons podem ter energias diferentes,
E e
+
E , que somadas dão
2
2 cmE
e
+
(SALVAT, 2001).
4.3 Relaxação atômica
O PENELOPE simula a emissão de radiação característica e elétrons Auger que resultam
de vacâncias produzidas nas camadas K e subcamadas L por absorção fotoelétrica,
espalhamento Compton e impacto com elétron/pósitron. A relaxação destas vacâncias é
seguida até que as camadas K e L sejam preenchidas, isto é, até que as vacâncias tenham
migrado para a camada M ou outra camada mais externa. As vacâncias nestas camadas
mais externas dão origem a radiações secundárias com energias muito menores, cujo
principal efeito é o de difundir a energia de excitação do íon no material em torno deste.
Para se ter uma descrição confiável da distribuição de dose, e outras características
macroscópicas do transporte, é necessário seguir apenas a radiação secundária que é capaz
de propagar distâncias da ordem de, por exemplo, 1% da distância que a partícula primária
penetra no meio (ou do alcance).
Para simplificar a descrição dos processos de ionização de camadas mais externas, assume-
se que, quando a ionização ocorre na camada M ou outra mais externa, um elétron
secundário (radiação delta) é ejetado do íon com uma energia cinética
s
E igual à energia
depositada pela partícula primária,
=
sitron.elétron/pó com impacto no
ca,fotoelétri absorção na
,Compton toespalhamen no '
W
E
EE
E
dep
( 4.1 )
81
Isto é, o elétron fica com toda energia de excitação do íon e nenhuma radiação fluorescente
é simulada. Na realidade, os elétrons emitidos têm energia menor do que os valores (4.1) e
podem ser seguidos de raios-X característicos, que têm livre caminho médio geralmente
muito maior do que o alcance de Bethe para fotoelétrons. Aumentando artificialmente a
energia inicial do elétron permite-se que ele transporte energia para mais longe do íon
compensando as outras radiações desconsideradas durante a cascata de desexcitação.
No caso da ionização de uma camada interna i, isto é uma camada K ou L, considera-se
que o elétron é emitido com energia cinética
ideps
UEE
=
, ( 4.2 )
onde
i
U é a energia de ionização da camada ativa, ficando o átomo alvo com uma
vacância na camada i. Como mencionado, considera-se apenas raios-X característicos e
elétrons Auger emitidos nos primeiros estágios do processo de relaxação. Além disto,
assume-se que estas radiações secundárias são emitidas isotropicamente pelo átomo
excitado (SALVAT, 2001).
4.4 Mecânica do transporte de elétrons e pósitrons
No PENELOPE, o transporte de fótons é simulado por meio do método detalhado
convencional, isto é, todos os eventos de interação na história do fóton são simulados
cronologicamente. A simulação do transporte de elétrons e pósitrons é feita por meio de
um modelo classe II: interações catastróficas, com ângulo de espalhamento
θ
e/ou perdas
de energia
W maiores do que os valores de corte
c
θ
e
c
W , são simuladas detalhadamente
enquanto, interações suaves, com ângulo de espalhamento ou perda de energia menor do
que os valores de corte correspondentes, são descritas por meio de aproximações de
espalhamento múltiplo. Este método de simulação lida de forma apropriada com
deslocamentos laterais e transposição de interfaces e dá uma descrição consistente da
dispersão de energia (“energy straggling”). A simulação é estável sob variações dos
valores de corte
c
θ
e
c
W , que podem assumir valores consideravelmente grandes,
diminuindo o tempo de simulação sem alterar os resultados.
Partículas secundárias emitidas com energia inicial maior do que a energia de absorção
abs
E são armazenadas e simuladas após o término da história da partícula primária. Neste
trabalho, E
abs
= 100 eV. As partículas secundárias são produzidas diretamente (em
interações catastróficas como colisões inelásticas, emissão de bremsstrahlung, aniquilação
82
de pósitron, espalhamento Compton, absorção fotoelétrica e produção de pares) ou
indiretamente como radiação fluorescente (raios-X característicos e elétrons Auger). O
PENELOPE simula a emissão de raios-X característicos e elétrons Auger que resultam de
vacâncias produzidas nas camadas K e subcamadas L, sendo a relaxação destas vacâncias
seguida até o preenchimento das camadas K e L, ou seja, até as vacâncias migrarem para a
camada M ou outra camada mais externa (SALVAT, 2001).
4.5 Simulação mista (classe II) do espalhamento elástico
4.5.1 Espalhamento múltiplo. Método da dobradiça aleatória (“random hinge”)
No PENELOPE, a deflexão angular e o deslocamento lateral devido as múltiplas colisões
suaves em um passo de comprimento
s são simulados através do método da dobradiça
aleatória (FERNÁNDEZ-VAREA et al., 1993 citado por SALVAT, 2001). O algoritmo
deste método pode ser programado como a seguir (FIGURA 4.1):
(i) Primeiramente, o elétron percorre uma distância aleatória
τ
, sorteada
uniformemente no intervalo ),0( s , na direção inicial.
(ii) Ocorre então um evento de espalhamento suave artificial (uma dobradiça), em que
o elétron muda sua direção de movimento de acordo com a distribuição para
espalhamento múltiplo );(
)(
χ
sF
s
, onde
χ
é o ângulo polar que define a nova
direção de movimento.
(iii) Finalmente, o elétron percorre uma distância
τ
s nesta nova direção.
Obviamente, este algoritmo fornece a distribuição angular exata no final do passo.
4.5.2 Perdas de energia suaves. “Continuous-Slowing-Down-Approximation”
O uso do CSDA (“Continuous-Slowing-Down-Approximation”) na descrição de interações
suaves é satisfatoriamente justificável quando a dispersão da energia decorrente a estas
FIGURA 4.1: Simulação do efeito global de interações suaves entre duas colisões
catastróficas consecutivas através do método da dobradiça aleatória.
83
interações é desprezível. Este é o caso que ocorre, por exemplo, quando as energias de
corte
cc
W e
cr
W são pequenas, condição que causa também a redução da fração do poder
de frenamento relativa às interações suaves. Para melhorar a descrição de dispersão da
energia seria necessário reduzir as energias de corte, mas isto faz aumentar o número de
eventos catastróficos inelásticos e radiativos a serem simulados ao longo de cada trajetória,
aumentando assim o tempo de simulação. A proposta do PENELOPE é ir além do CSDA
introduzindo-se a dispersão da energia na descrição das interações suaves. Fica claro que,
procedendo desta maneira, será possível o uso de valores maiores para as energias de corte
cc
W e
cr
W , aumentando assim a velocidade da simulação sem alterar as distribuições de
energia. Em cálculos de distribuição espacial de dose, a perda de energia
w decorrente de
interações suaves pode ser considerada como sendo localmente depositada em uma posição
aleatória uniformemente distribuída ao longo do passo. Este procedimento produz
distribuições idênticas àquelas obtidas assumindo-se que a energia é depositada a uma taxa
constante ao longo do passo, porém é computacionalmente mais simples. Com base nisto,
o PENELOPE simula o efeito combinado de todas as colisões elásticas suaves que ocorrem
entre dois eventos catastróficos sucessivos, separados de uma distância
s , como um único
evento (uma dobradiça) em que a partícula muda sua direção de movimento e perde
energia de acordo com as respectivas distribuições de probabilidade. A posição da
dobradiça é uniformemente distribuída ao longo do passo, como no caso do espalhamento
elástico puro.
4.5.3 Combinação de espalhamento e perda de energia
O espalhamento múltiplo e a perda de energia suave foram tratados como processos
independentes, mas na verdade eles coexistem. É necessário, então, considerar esta
reciprocidade e definir a base de um algoritmo que simula estes efeitos combinados.
Na ausência de perdas de energia suaves, a FDP para comprimento do passo
s entre dois
eventos catastróficos sucessivos (ou de um dado ponto da trajetória até o próximo evento
catastrófico) é
)exp()( ssp
hh
Σ
Σ
=
( 4.3 )
onde
h
Σ é o inverso do livre caminho médio
)(h
T
λ
entre dois eventos catastróficos
84
consecutivos
1
. Em cada evento catastrófico, uma e apenas uma interação – i = “el”
(elástica), “in” (inelástica), “br” (bremsstrahlung) ou “na” (aniquilação de pósitron) –
ocorre com probabilidade
)()( h
T
h
ii
p
σσ
= . ( 4.4 )
Quando perdas de energia suaves são consideradas, a FDP para a distância
s percorrida
pela partícula até a interação catastrófica seguinte não é dada pela equação (4.3), porque o
livre caminho médio
)(h
T
λ
varia com a energia e pode mudar consideravelmente ao longo
de um único passo. A maneira mais simples de lidar com este problema é limitar o
comprimento do passo para garantir que a perda de energia média seja muito menor do que
a energia cinética
E
do início deste, e considerar que )(
)(
E
h
T
λ
permanece essencialmente
constante ao longo do passo. Assim, a energia média perdida em um passo será dada por
)(
)(
ESE
h
T
λ
= , ( 4.5 )
onde
)()()( ESESES
brin
+
=
( 4.6 )
é o poder de frenamento total. Uma vez que o livre caminho médio entre eventos
catastróficos consecutivos de qualquer tipo é menor do que o livre caminho médio entre
eventos elásticos catastróficos, a perda de energia por passo pode ser limitada redefinindo-
se o livre caminho médio catastrófico. Para permitir frações de perda de energia
EE , ao
longo do passo, da ordem de
2
C (um pequeno valor, digamos que 0,05), basta fazer
=
)(
),(min),(max)(
21,1
)(
ES
E
CECEE
elel
h
el
λλλ
, ( 4.7 )
onde
1,el
λ
é o primeiro livre caminho médio de transporte
2
.
Isto limita efetivamente a perda de energia média por passo, porém aumenta a freqüência
dos eventos catastróficos elásticos. Os parâmetros
1
C e
2
C na equação (4.7), definidos
pelo usuário, influenciam no tempo computacional necessário para simular cada trajetória.
1
[]
(
)
[]
)()()()()(
1
)( h
an
h
br
h
in
h
el
h
T
h
Th
NN
σσσσσλ
+++==Σ
, onde N é o número de centros espalhadores
por unidade de volume,
)(h
T
σ
é a seção de choque por átomo total para interações catastróficas.
2
O l-ésimo livre caminho médio de transporte é definido por
1,1,
1
elel
N
σ
λ
, onde N é o número de átomos
por unidade de volume,
()
[]
d
d
d
P
el
el
cos1
11,
σ
θσ
,
d é o elemento de ângulo sólido na
direção
()
φ
θ
, e
(
)
θ
cos
1
P são os polinômios de Legendre.
85
Em condições ideais, eles não devem ter qualquer influência na precisão dos resultados da
simulação, o que ocorre somente quando seus valores são suficientemente pequenos.
As deflexões angulares devido às interações suaves ao longo de um passo de comprimento
s são geradas a partir de uma distribuição artificial que é função do livre caminho médio
)(s
comb
λ
, correspondente à combinação dos processos de espalhamento e perda de energia na
dobradiça. Para levar em conta (pelo menos parcialmente) a dependência energética destas
grandezas, a perda de energia e a deflexão angular (que ocorrem na dobradiça) são
consideradas como sendo processos independentes e são simuladas em ordem aleatória. Ou
seja, a deflexão angular suave é calculada considerando-se a energia tanto no começo
quanto no final do passo, com probabilidades iguais. Isto é equivalente a assumir que o
livre caminho médio
)(s
comb
λ
varia linearmente com a energia. Este método é bastante preciso
e computacionalmente simples e tem apenas a exigência da perda fracional de energia em
cada passo (que é da ordem de
2
C ) ser suficientemente pequena (SALVAT, 2001).
4.6 Geração das histórias
A simulação da história de um elétron ou de um fóton é basicamente uma sucessão
cronológica de eventos. Estes podem ser eventos catastróficos, interações suaves
(dobradiças) ou outro estágio relevante da história da partícula (seu estado inicial, a
passagem através de uma interface ou sua absorção no final da trajetória). O trajeto da
partícula entre dois eventos sucessivos é uma linha reta e é chamado segmento. A porção
do trajeto entre dois eventos catastróficos é chamada passo e consiste de dois segmentos
com uma dobradiça entre eles (no caso de simulação mista).
No PENELOPE, o algoritmo de transporte de elétrons e pósitrons é controlado pelos
seguintes parâmetros de simulação:
1
C : Deflexão angular média,
θ
cos1 , produzida por espalhamento elástico
múltiplo ao longo do livre caminho médio
)(h
el
λ
entre dois eventos catastróficos de
espalhamento elástico. O ideal é que
1
C seja da ordem de 0,05, mas ele pode
assumir qualquer valor entre 0 (simulação detalhada) e 0,2, que corresponde a uma
deflexão angular média
º37~
θ
após um passo de comprimento
)(h
el
λ
.
86
2
C : Valor máximo da perda de energia média (percentual) entre eventos
catastróficos consecutivos de espalhamento elástico. Pode assumir valores entre 0 e
0,2, mas em geral, um valor da ordem de 0,05 é o mais adequado.
cc
W : Valor de corte para perda de energia para colisões inelásticas catastróficas.
cr
W : Valor de corte para perda de energia em emissões de bremsstrahlung
catastróficas.
Estes parâmetros determinam a precisão e a velocidade da simulação. Para garantir boa
precisão,
1
C e
2
C devem ter valores pequenos (da ordem de 0,01 ou menos). Com valores
grandes para estes parâmetros a simulação é mais rápida, porém ocorre uma certa perda de
precisão. As energias de corte
cc
W e
cr
W influenciam principalmente as distribuições de
energia simuladas. A simulação é mais rápida para energias de corte maiores, mas se estas
são muito grandes, as distribuições simuladas podem se tornar um pouco distorcidas. Na
prática, as distribuições de energia simuladas costumam ser completamente insensíveis aos
valores de
cc
W e
cr
W adotados quando estes são menores do que a largura das ‘caixas’
utilizadas para o cálculo das distribuições de energia. Portanto, é a resolução desejada que
determina os valores máximos para as energias de corte.
O efeito combinado de todas as interações elásticas suaves e interações para interrupção da
trajetória da partícula é simulado como um único evento artificial (dobradiça), em que a
partícula muda sua direção de movimento e perde energia. Quando
cc
W é menor do que a
mais baixa energia de ressonância, a simulação de colisões inelásticas se torna puramente
detalhada, isto é, as colisões inelásticas não contribuem para o “poder de frenamento
suave”. Por outro lado, a simulação de emissão de bremsstrahlung é possível apenas
através do esquema misto devido à divergência da SCD em
0
=
W . Para testar a exatidão
de algoritmos mistos, e também em estudos de transporte de elétrons de baixa energia
(
keV100 E < ), pode ser conveniente realizar simulações estritamente detalhadas. Com
este propósito, o PENELOPE permite ‘desligar’ a emissão de fótons de bremsstrahlung
suaves com energia menor do que 10 eV. Esta opção é ativada quando seleciona-se
0<
cr
W (caso em que o programa define eV10 W
cr
=
) desconsiderando eventos de emissão
de bremsstrahlung suave e simulando eventos catastróficos (com
eV10 W > )
detalhadamente. A geração da deflexão angular em eventos artificiais é descontínua
87
quando a simulação de espalhamento elástico e inelástico se torna detalhada (isto é, quando
el
h
el
λλ
=
)(
e 0
=
cc
W ).
O comprimento dos passos gerados pelo PENELOPE é sempre menor do que
max
s , limite
superior estabelecido pelo usuário. O código de simulação limita o tamanho do passo
colocando interações delta ao longo da trajetória da partícula. Estas são interações fictícias
que não alteram o estado da partícula, seu único efeito é interromper a seqüência de
operações da simulação, que requer a alteração dos valores das variáveis de controle
interno para permitir a retomada da simulação de uma maneira consistente. O uso de
passos de comprimento limitado é necessário devido à dependência energética das SCD’s
para interações suaves, porém esta não é a única razão para se limitar o tamanho do passo.
Uma vez que os valores das perdas de energia e deflexões nas dobradiças são obtidos a
partir de distribuições artificiais, o número de dobradiças no trajeto de uma partícula
primária deve ser estatisticamente suficiente, isto é, maior que ~10, para eliminar as
distorções introduzidas pela adoção de distribuições artificiais. Por essa razão, quando a
partícula atravessa um material estreito, é aconselhável o uso de um valor menor para
max
s
para garantir que o número de dobradiças que ocorrem dentro do meio seja suficiente. Para
garantir uma consistência interna,
max
s deve ser menor do que
)(
3
h
T
λ
. Quando o valor
escolhido pelo usuário é maior, o código define
)(
max
3
h
T
s
λ
= ; neste caso, aproximadamente
5% dos passos da amostra têm comprimento maior do que
max
s e são interrompidos por
uma interação delta. Isto torna a simulação um pouco lenta (~ 5%), mas garante que a
dependência energética de
)(h
T
λ
seja considerada corretamente. No PENELOPE, o
parâmetro
max
s pode variar livremente durante o curso da simulação de uma mesma
trajetória, com base nisto, ao invés de usar o valor
max
s fornecido pelo usuário, o
PENELOPE usa um valor aleatório [obtido de uma distribuição triangular no intervalo
),0(
max
s ] cuja média é a metade do valor fornecido pelo usuário; isto é feito para eliminar
um artefato na distribuição de dose em profundidade de feixes paralelos de
elétrons/pósitrons próximo à superfície de entrada.
O estado de uma partícula, imediatamente após um evento, é definido pela sua posição
r,
energia E e pelos cossenos diretores da sua direção de movimento
d
ˆ
no referencial do
laboratório. Quando a energia da partícula torna-se menor do que o valor pré-definido
abs
E , assume-se que ela é localmente absorvida; considera-se que pósitrons aniquilam após
88
a absorção. A geração de trajetórias aleatórias para elétrons e pósitrons em meio material,
que pode ser constituído de várias regiões homogêneas de composições diferentes
separadas por superfícies (interfaces) bem definidas, é feita executando os seguintes
passos:
(i) Definir a posição inicial
r, energia cinética
E
e direção de movimento d
ˆ
da
partícula primária.
(ii) Determinar a perda de energia ‘suave’ máxima
max
w ao longo de um passo e
definir o valor do inverso do livre caminho médio para eventos catastróficos.
Estes resultados dependem do valor adotado para
max
s , que pode variar ao longo
da trajetória.
(iii) Sortear a distância
s a ser percorrida até o próximo evento catastrófico (ou
interação delta) usando
max,
ln
h
s
Σ
=
ξ
. ( 4.8 )
Se
max
ss > , truncar o passo fazendo
max
ss
=
.
(iv) Gerar o comprimento do passo
ξ
τ
s
=
até a próxima dobradiça. Deixar a partícula
percorrer esta distância na direção
drrd
ˆ
:
ˆ
τ
+ .
(v) Se a trajetória cruzar uma interface:
Parar a partícula no ponto de cruzamento (isto é, definir
r como igual à posição
deste ponto e fazer
τ
igual à distância percorrida).
Ir para o passo (ii) para continuar a simulação no novo material, ou ir para (xi) se
o novo material for vácuo.
(vi) Simular a perda de energia e a deflexão na dobradiça. Este passo consiste de duas
ações:
a. Sortear o ângulo de deflexão polar
(
)
2cos1
θ
µ
=
da distribuição,
correspondente considerando a energia atual
E
. Sortear o ângulo de
espalhamento azimutal usando
πξ
φ
2
=
. Realizar a rotação ),(
φ
θ
R do vetor
d
ˆ
de acordo com as deflexões angulares polar e azimutal sorteadas (como
descrito na seção 3.2.2) para obter a nova direção
dd
ˆ
),(
ˆ
φθ
R .
b. Sortear a perda de energia
w devido às interações suaves ao longo do passo
s a partir da distribuição de probabilidade correspondente, e subtrair da
energia cinética
wEE
89
Estas duas ações são executadas em ordem aleatória para considerar a
dependência energética do ‘livre caminho médio suave’.
Se
abs
EE < , ir para o passo (xi).
(vii) Deixar a partícula caminhar a distância
τ
s na direção drrd
ˆ
)(:
ˆ
s
τ
+ .
(viii) Fazer igual ao passo (v).
(ix) Se no passo (iii) o tamanho do passo foi truncado, isto é,
max
ss = , simular uma
interação delta.
Ir para o passo (ii).
(x) Simular um evento catastrófico:
Sortear o tipo de interação de acordo com as probabilidades pontuais
,,,,
max,
)(
max,
)(
max,
)(
max,
)(
h
h
h
h
bt
br
h
h
in
in
h
h
el
el
N
p
N
p
N
p
N
p
Σ
=
Σ
=
Σ
=
Σ
=
δ
δ
σσσσ
e
max,
)(
h
h
an
an
N
p
Σ
=
σ
no caso de pósitrons. ( 4.9 )
Se o evento for uma interação delta, voltar para (ii).
Sortear o ângulo de espalhamento polar
θ
e a perda de energia W da FDP
correspondente. Gerar o ângulo de espalhamento azimutal usando
πξ
φ
2
=
.
Aplicar a rotação ),(
φ
θ
R no vetor d
ˆ
para obter a nova direção: dd
ˆ
),(
ˆ
φθ
R .
Reduzir a energia cinética da partícula:
WEE
.
Se, como resultado da interação, uma partícula secundária for emitida na direção
s
d
ˆ
, com energia
abss
EE > , armazenar o estado inicial )
ˆ
,,(
ss
E dr .
Ir para (ii) se
abs
EE > .
(xi) Simular a trajetória dos elétrons secundários e fótons produzidos pela partícula
primária (ou por outras secundárias simuladas previamente) antes de iniciar uma
nova trajetória primária.
(SALVAT, 2001).
4.7 Simulação do chuveiro
Os chuveiros de elétrons e fótons são simulados chamando-se uma série de sub-rotinas que
serão brevemente descritas a seguir. A simulação é inicializada com a seguinte sub-rotina:
90
Sub-rotina PEINIT (EPMAX, NMAT, IRD, IWR, INFO). A subrotina PEINIT lê os
arquivos de dados dos diferentes materiais, avalia as propriedades de espalhamento
relevantes e prepara tabelas para consultas relativas às grandezas dependentes da energia
que são usadas durante a simulação. Seus argumentos de entrada são:
EPMAX Energia máxima das partículas simuladas. Note que se as partículas
primárias forem pósitrons com energia cinética inicial EP, a energia
máxima dos fótons produzidos por aniquilação pode ser próxima de (mas
menor que)
(
)
2
EP21.1EPMAX cm
e
+= ; neste caso em especial, a energia
máxima é maior do que a energia cinética inicial.
NMAT Número de materiais envolvidos (menor ou igual à MAXMAT).
IRD Unidade de entrada.
IWR Unidade de saída.
INFO Determina a quantidade de informação que é escrita no arquivo de saída.
É mínima para
0INFO
=
, aumentando progressivamente o nível de
detalhamento para ,2 ,1INFO
=
etc.
Sub-rotina CLEANS. Origina a pilha secundária.
Sub-rotina START. Para elétrons e pósitrons, esta sub-rotina força o evento de interação
seguinte a ser um evento artificial suave. Ela deve ser chamada antes de começar uma nova
trajetória, primária ou secundária, e também quando uma trajetória cruza uma interface.
Chamar START é estritamente necessário para elétrons e pósitrons; para fótons esta sub-
rotina não tem efeito físico. Porém, é aconselhável chamar START para qualquer tipo de
partícula uma vez que nela é checado se a energia da partícula está dentro do limite
esperado, ajudando assim a detectar erros no programa.
Sub-rotina JUMP (DSMAX, DS). Determina o comprimento DS do segmento até o
próximo evento de interação.
O parâmetro de entrada DSMAX define o comprimento máximo do passo para
elétrons/pósitrons; para fótons ele não tem efeito. Como mencionado anteriormente, para
limitar o tamanho do passo, o PENELOPE insere interações delta ao longo da trajetória da
partícula.
91
Sub-rotina KNOCK (DE, ICOL). Simula um evento de interação, determina a nova energia
e direção de movimento, e armazena o estado inicial das partículas secundárias, caso sejam
geradas. Os argumentos de saída são:
DE energia depositada no curso do evento.
ICOL tipo de evento que foi simulado, de acordo com a seguinte convenção,
Elétrons ( 1KPA
R
= )
ICOL = 1, evento artificial suave (dobradiça).
= 2, colisão elástica catastrófica.
= 3, colisão inelástica catastrófica.
= 4, emissão de bremsstrahlung catastrófica.
Fótons ( 2KPA
R
= )
ICOL = 1, espalhamento coerente (Rayleigh).
= 2, espalhamento incoerente (Compton).
= 3, absorção fotoelétrica.
= 4, produção de pares.
Pósitrons (
3KPAR = )
ICOL = 1, evento artificial suave (dobradiça).
= 2, colisão elástica catastrófica.
= 3, colisão inelástica catastrófica.
= 4, emissão de bremsstrahlung catastrófica.
= 5, aniquilação.
onde o parâmetro KPAR indica o tipo de partícula. Para elétrons e pósitrons
7ICOL
=
corresponde a interações delta. O valor
6ICOL
=
é usado para interações auxiliares (um
mecanismo de interação adicional que pode ser definido pelo usuário para simular, por
exemplo, interações fotonucleares).
Sub-rotina SECPAR (LEFT). Fornece o estado inicial de uma partícula secundária e a
remove da pilha secundária. O valor de saída LEFT é o número de partículas secundárias
que permanecem na pilha.
Sub-rotina STORES (E, X, Y, Z, U, V, W, WGHT, KPAR, ILB). Armazena uma partícula
na pilha secundária. Os argumentos são as variáveis de estado da partícula:
E energia da partícula (energia cinética para elétrons e pósitrons).
X, Y, Z coordenadas da posição.
92
U, V, W cossenos diretores da direção de movimento.
WGHT em simulações análogas, esta variável não tem efeito. Ao usar métodos de
redução de variância, pode ser usada para armazenar o peso da partícula.
KPAR tipo de partícula (1: elétron, 2: fóton, 3: pósitron).
ILB(5) arranjo auxiliar de 5 rótulos que descrevem a origem das partículas.
A seqüência de sub-rotinas chamadas para gerar uma trajetória aleatória independe do tipo
de partícula que está sendo simulada. A geração dos chuveiros aleatórios procede como a
seguir (FIGURA 4.2):
(i) Determinar o estado inicial da partícula primária, isto é, define-se os valores das
variáveis de estado KPAR, E, Z)Y,X,(
=
r e W)V,U,(
ˆ
=d . Especificar o ‘corpo’
e o material em que a partícula move, definindo-se os valores de IBODY e MAT,
respectivamente. Opcionalmente, define-se os valores de WGHT e 5):ILB(1 .
(ii) Chamar a sub-rotina CLEANS para inicializar a pilha secundária.
(iii) Chamar a sub-rotina START para iniciar a simulação da trajetória.
(iv) Chamar a sub-rotina JUMP (DSMAX, DS) para determinar o comprimento DS do
próximo segmento de trajetória (para elétrons e pósitrons, DS não pode exceder o
valor de entrada DSMAX).
(v) Calcular a posição do evento seguinte.
Se a trajetória cruza uma interface, ela é interrompida na posição em que a
interseção ocorre, reduzindo-se DS.
Mudar para o novo material redefinindo as variáveis IBODY e MAT.
Quando a partícula escapa do sistema, a simulação é finalizada; atualizar os
contadores e ir para o passo (vii).
Ir para o passo (iii).
(vi) Chamar a sub-rotina KNOCK (DE, ICOL) para simular o próximo evento.
Se a energia tornar-se menor do que EABS (KPAR, MAT), finalizar a
trajetória, atualizar os contadores e ir para o passo (vii).
Ir para o passo (iv).
(vii) Chamar a sub-rotina SECPAR (LEFT) para iniciar a trajetória de uma partícula da
pilha secundária (esta partícula é então automaticamente removida da pilha).
Se LEFT > 0, ir para o passo (iii). Já tendo sido determinado o estado inicial
da partícula secundária.
93
Se LEFT = 0, a simulação do chuveiro produzido pela partícula primária terá
terminado. Ir para o passo (i) para gerar uma nova partícula primária (ou
terminar a simulação se já tiver sido simulado um número suficiente de
chuveiros).
Note que as sub-rotinas JUMP e KNOCK mantêm as coordenadas de posição inalteradas;
as posições dos sucessivos eventos são deduzidas a partir do deslocamento de
comprimento DS ao longo da direção de movimento após cada chamada da sub-rotina
JUMP. A energia da partícula é automaticamente reduzida pela sub-rotina KNOCK, que
também modifica a direção de movimento de acordo com os ângulos de espalhamento do
evento simulado. Assim, na saída de KNOCK, os valores da energia
E
, posição
Z)Y,X,(=
r e direção de movimento W)V,U,(
ˆ
=d definem o estado da partícula
imediatamente após o evento de interação (SALVAT, 2001).
4.8 Estabilidade do Algoritmo de Simulação
No caso da simulação do transporte de elétrons/pósitrons de baixa energia (da ordem de
500 keV ou menos), os parâmetros relevantes são
abs
E ,
1
C ,
cc
W e
max
s , uma vez que
2
C
não é efetivo e a emissão radiativa é desprezível (eventos de bremsstrahlung catastróficos
ocorrem muito raramente e, então,
cr
W não tem nenhuma influência). O valor do
parâmetro
max
s é importante para garantir a confiabilidade dos resultados; uma maneira
segura de se definir este parâmetro é fazê-lo igual a um décimo do valor “esperado” para o
comprimento total da trajetória ou menos. Uma vez que os valores de
abs
E e
cc
W são
ditados pelas características do experimento considerado, o único parâmetro crítico, que
influencia diretamente a velocidade da simulação, é
1
C . Como mencionado anteriormente,
o PENELOPE aceita valores de
1
C entre 0 (simulação detalhada de espalhamentos
elásticos) e 0,2. Na prática, o valor de
1
C não influencia a precisão dos resultados quando
aos outros parâmetros são dados valores “seguros” (SALVAT, 2001). Neste trabalho foram
utilizados os valores indicados como seguros no manual do PENELOPE (SALVAT, 1996
citado por STEWART, 2002): C
1
= 0,001 e C
2
= 0,01. Para as energias de corte foi
escolhido o menor valor com que o PENELOPE trabalha: W
cc
= W
cr
= 100 eV.
94
Inicializa o PENELOPE
Inicia um novo chuveiro
Estado inicial
sim
sim
sim
sim
sim
A trajetória cruza uma interface?
Modificar DS para terminar
na
p
rimeira interface
Mudar para o novo corpo
Saiu?
Figura 4.2: Fluxograma do programa para simulação de chuveiros de elétrons e
fótons com o PENELOPE.
95
5 O cálculo dos alcances
Para o cálculo dos alcances foram desenvolvidos algoritmos na linguagem de programação
FORTRAN que acessam os arquivos de dados em que foram gravadas as informações a
respeito de toda a história de cada partícula simulada para obter as informações necessárias
para estes cálculos. A título de ilustração, encontra-se abaixo um dos algoritmos
desenvolvidos para este fim.
C*******************************************************************
C SUB-ROTINA SOMA
C*******************************************************************
C Calcula a média do comprimento das trajetórias das NTOT partículas
C simuladas com uma mesma energia inicial E0 (partículas primárias).
C
SUBROUTINE SOMA(R)
C
IMPLICIT DOUBLE PRECISION (A-H,O-Z), INTEGER*4 (I-N)
DIMENSION ILB(5)
C
OPEN(60,FILE='temp.dat',FORM='unformatted',STATUS='scratch')
C
READ(65) E0,NTOT
10 CONTINUE
READ(65,END=30) E,DE,X,Y,Z,U,V,W,DS,KPAR,ICOL,ILB(1),ILB(2),
1 ILB(3),ILB(4),ILB(5)
Ri=0
IF (E.EQ.E0) THEN
Ri=Ri+DS
ELSE
GO TO 10
END IF
20 CONTINUE
READ(65,END=30) E,DE,X,Y,Z,U,V,W,DS,KPAR,ICOL,ILB(1),ILB(2),
1 ILB(3),ILB(4),ILB(5)
IF (E.NE.0) THEN
Ri=Ri+DS
GO TO 20
END IF
Ri=Ri+DS
WRITE(60) Ri
GO TO 10
30 CONTINUE
REWIND(60)
SOM=0
40 CONTINUE
READ(60,END=50) Ri
SOM=SOM+Ri
GO TO 40
50 CONTINUE
R=SOM/NTOT
CLOSE(60)
RETURN
END
96
A sub-rotina SOMA calcula o valor médio, R, dos comprimentos das trajetórias de NTOT
elétrons simulados com uma mesma energia inicial E0. Isto é feito somando, para cada
elétron primário, todos os deslocamentos DS entre duas interações consecutivas desde
E = E0 até E = 0, ou seja, do ponto inicial até o ponto final da trajetória deste elétron,
gravando o valor desta soma (que é igual ao comprimento da trajetória) em um segundo
arquivo para cada um dos NTOT elétrons primários da simulação. Este arquivo é então lido
e o comprimento médio das trajetórias destes NTOT elétrons calculado. Esta média por sua
vez é gravada em um terceiro arquivo onde são registrados os valores de R das dez
simulações realizadas. Daí é calculado o alcance R propriamente dito, com o desvio padrão
(incerteza) correspondente: a partir da média destes dez valores obtidos em dez simulações
com NTOT chuveiros. Todos os demais alcances foram calculados desta mesma maneira,
fazendo-se a média de dez valores obtidos em simulações com um mesmo número NTOT
de chuveiros.
Com as constantes interações que sofrem ao longo de sua trajetória, os elétrons penetram
no meio material até que sua energia cinética entre em equilíbrio térmico com as partículas
do meio, estabelecendo um “alcance” no meio absorvedor. Devido às dificuldades
experimentais na determinação do “alcance” de elétrons de baixa energia, pode-se definir
diferentes alcances utilizando variações da definição. Uma partícula carregada, como o
elétron, percorre um caminho aproximadamente bem definido no material antes de dissipar
toda sua energia. Devido à natureza estatística do processo de perda de energia, partículas
com uma mesma energia inicial terão trajetórias de comprimento e forma diferentes. Por
este motivo, os alcances calculados aqui são todos uma média dos valores determinados
para um grande número de elétrons primários com uma mesma energia inicial. Estes
alcances médios, incluindo o alcance R, foram calculados para cada energia considerada –
dentro do intervalo de 110 eV e 50 keV – baseados nas seguintes definições:
Alcance R:
É a soma de todos os deslocamentos do elétron primário entre duas interações consecutivas
desde o ponto inicial até o ponto final da trajetória deste, ou seja, o alcance R é igual ao
comprimento da trajetória do elétron (FIGURA 4.3):
e
-
e
-
e
-
FIGURA 4.3: Representação do alcance R.
97
=
+
i
ii
R rr
1
Este alcance foi determinado como a seguir:
(i) Calculou-se o tamanho da trajetória dos NTOT elétrons primários de uma
simulação, somando todos os deslocamentos DS do elétron desde E = E0 até E = 0;
(ii) Calculou-se então o comprimento médio das trajetórias destes NTOT elétrons;
(iii) Repetiu-se os passos (i) e (ii) dez vezes e calculou-se a média e o desvio padrão
destes dez valores.
Alcance R
90
:
Levando em conta que a fonte de elétrons considerada neste trabalho é isotrópica, o
alcance R
90
foi definido como sendo igual ao raio do volume dentro do qual 90% da
energia inicial do elétron primário foi depositada. Foi determinado como a seguir:
(i) Em toda simulação de NTOT chuveiros, o código de Monte Carlo PENELOPE
calcula uma distribuição de dose em profundidade média por elétron. A partir desta
distribuição de dose em profundidade determinou-se o raio em que 90% da energia
do elétron primário foi depositada;
(ii) Repetiu-se o passo (i) dez vezes e calculou-se a média e o desvio padrão destes dez
valores.
Alcance R
95
:
Analogamente ao alcance R
90
, o alcance R
95
indica o raio do volume dentro do qual 95%
da energia inicial do elétron primário foi depositada. Seu cálculo foi similar ao do
alcance R
90
.
Alcance projetado, R
proj
:
É a penetração máxima do elétron primário em uma determinada direção, em geral a
direção de incidência (FIGURA 4.4). No caso deste trabalho, em que a fonte de elétrons é
isotrópica, R
proj
não depende da direção considerada. Este alcance foi determinado como a
seguir:
e
-
e
-
e
-
FIGURA 4.4: Representação do alcance projetado, R
proj
.
98
(i) Procurou-se o máximo, no arquivo de dados, de uma das coordenadas (x, y ou z)
para cada um dos NTOT elétrons primários de uma simulação, ou seja, determinou-
se a penetração máxima dos elétrons primários em uma determinada direção;
(ii) Calculou-se o valor médio destes máximos;
(iii) Repetiu-se os passos (i) e (ii) dez vezes e calculou-se a média e o desvio padrão
destes dez valores.
Deslocamento total, DT:
É a distância entre os pontos inicial (r
i
) e final (r
f
) da trajetória da partícula (FIGURA 4.5),
isto é,
rr
if
DT =
O deslocamento total do elétron foi calculado como a seguir:
(i) Determinou-se as coordenadas dos pontos em que E = E0 e E = 0, ou seja, dos
pontos inicial e final da trajetória dos NTOT elétrons primários de uma simulação;
(ii) Calculou-se a distância entre estes pontos para os NTOT elétrons;
(iii) Repetiu-se os passos (i) e (ii) dez vezes e calculou-se a média e o desvio padrão
destes dez valores.
Alcance ponderado, R
pond
:
É a soma dos deslocamentos DS, desde o ponto inicial (E = E0) até o ponto final (E = 0) da
trajetória do elétron primário, ponderada pela energia depositada em cada um destes
deslocamentos, isto é,
=
+
i
i
i
iii
pond
E
E
R
rr
1
,
onde
i
r é a posição e
i
E a energia depositada no i-ésimo evento. Este alcance foi
determinado como a seguir:
e
-
e
-
e
-
FIGURA 4.5: Representação do deslocamento total, DT.
99
(i) Fez-se a soma dos deslocamentos DS, do início ao fim da trajetória do elétron,
multiplicados pela energia depositada ao longo de cada um destes passos. Ao
mesmo tempo acumulou-se em um contador estes valores de energia depositada;
(ii) Calculou-se então para cada um dos NTOT elétrons a razão entre estas somas;
(iii) Finalmente, calculou-se a média dos alcances obtidos no item anterior;
(iv) Repetiu-se os passos (i), (ii) e (iii) dez vezes e calculou-se a média e o desvio
padrão destes dez valores.
Os valores obtidos neste trabalho foram comparados com valores experimentais e teóricos
determinados em tecido ou em água. A comparação com valores de alcance em água é
justificável porque a densidade do tecido utilizado nas simulações (tecido mole ICRP) é
igual a um.
Conhecer o alcance de elétrons de baixa energia é relevante, dentre outros motivos, para se
determinar a extensão sobre a qual, elétrons colocados em movimento no interior de um
meio biológico, podem produzir danos relevantes às entidades biológicas irradiadas. Como
ocorre, por exemplo, no uso de anticorpos monoclonais para o tratamento dos mais
variados tipos de neoplasias. Além disto, dispondo de uma variedade de definições para o
alcance de um elétron pode-se determinar qual a definição mais adequada a uma
determinada aplicação. Por exemplo, o alcance R95 poderia ser utilizado quando o
interesse está na região de deposição da energia inicial do elétron, uma vez que este
alcance é uma medida do raio dentro do qual 95% da energia inicial do elétron é
depositada.
Na próxima seção serão apresentados os resultados obtidos neste trabalho para o cálculo de
alcances de elétrons com energias iniciais de 110, 200, 300, 400, 500, 600, 700, 800 e
900 eV, e 1, 5, 10, 25 e 50 keV provenientes de uma fonte monoenergética isotrópica
localizada no interior de um meio tecido equivalente homogêneo semi-infinito.
100
RESULTADOS
As FIGURAS 5.1 e 5.2 apresentam as curvas dos alcances em tecido biológico calculados
neste trabalho versus a energia inicial do elétron. Para uma melhor visualização, a região
de mais baixa energia (de 110 eV a 1 keV) foi plotada separadamente (FIGURA 5.2).
Todos valores calculados têm incerteza máxima de 1% e estão compreendidos no intervalo
em torno de aproximadamente 5 Å e 40 µm.
Como era esperado, o alcance R, dado pelo comprimento total da trajetória do elétron, é
maior do que todos os outros alcances. Já o alcance projetado, R
proj
, dado pela maior
profundidade de penetração do elétron primário em uma determinada direção, é o menor
dentre eles. Curiosamente, os alcances DT e R
95
apresentam valores comparáveis,
principalmente para energias entre 110 eV e 1 keV. O alcance ponderado em energia,
pond
R , foi o único que apresentou comportamento peculiar em função da energia inicial do
0 1020304050
0,0
1,0x10
-3
2,0x10
-3
3,0x10
-3
4,0x10
-3
5,0x10
-3
Alcance (cm)
Energia (keV)
DT
Projetado
R
R90
R95
FIGURA 5.1: Alcances de elétrons com energias entre 110 eV e
50 keV em tecido biológico.
R
proj
Energia inicial do elétron (keV)
101
elétron, por este motivo ele não foi incluído nas FIGURAS 5.1 e 5.2. Como pode ser
observado na FIGURA 5.3, diferentemente dos outros alcances, o alcance ponderado
aumenta linearmente com o aumento da energia inicial do elétron e, além disto, seus
valores são muito pequenos se comparados com os demais alcances – sendo o maior valor,
para energia inicial de 50 keV, inferior a 0,1 µ.
0 200 400 600 800 1000
0,0
5,0x10
-7
1,0x10
-6
1,5x10
-6
2,0x10
-6
2,5x10
-6
3,0x10
-6
3,5x10
-6
4,0x10
-6
4,5x10
-6
5,0x10
-6
5,5x10
-6
Alcance (cm)
Energia (eV)
DT
Projetado
R
R90
R95
FIGURA 5.2: Alcances de elétrons com energias entre 110 eV e 1 keV em tecido biológico.
R
p
ro
j
Energia inicial do elétron (eV)
0 1020304050
0,0
1,0x10
-6
2,0x10
-6
3,0x10
-6
4,0x10
-6
5,0x10
-6
6,0x10
-6
Alcance (cm)
Energia (keV)
Alcance Ponderado
FIGURA 5.3: Alcance ponderado versus energia inicial do
elétron para elétrons com energias entre 110 eV e 50 keV.
102
A regressão linear da curva apresentada na FIGURA 5.3 fornece a seguinte expressão para
o alcance ponderado em centímetros:
ER
pond
108
1007607,11002088,9
×+×=
onde E é a energia inicial do elétron em elétron-volts. Dividindo o alcance ponderado
=
+ iiipond
EER rr
i1
pelo alcance
=
+ ii
R rr
1
, temos:
total
r
i
iii
pond
E
E
E
E
R
R
=
=
++ i1i1
rr rr
.
Isto é, a razão RR
pond
/ é igual ao valor médio da fração da energia do elétron depositada
por passo. O gráfico de RR
pond
/ versus a energia inicial do elétron (FIGURA 5.4), mostra
que esta razão decresce com o aumento da energia, isto é, quanto maior for a energia do
elétron, menor será a fração desta energia depositada em cada passo. Isto indica que é no
final da trajetória do elétron, onde sua energia e seu livre caminho médio são menores, que
a maior parte da energia inicial do elétron é depositada.
100 1000 10000
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
R
pond
/R (%)
log(E) (keV)
(Alcance Ponderado / Alcance R)
FIGURA 5.4: Razão entre os alcances ponderado, R
pond
, e
R em função da energia inicial do elétron.
Energia inicial do elétron (eV)
103
As FIGURAS 5.5 e 5.6 comparam o alcance R com alguns alcances encontrados na
literatura determinados teórica e/ou experimentalmente: o alcance determinado por Cole,
R
Cole
, por Lea, R
Lea
, e os alcances CSDA1
1
e CSDA2. O alcance R
Cole
é um alcance semi-
empírico, já os demais alcances (R
Lea
, CSDA1 e CSDA2) são todos alcances teóricos
calculados utilizando a aproximação de frenamento contínuo. Como pode ser observado
nestas figuras, o alcance R apresenta valores parecidos com os destes alcances, exceto para
energias menores do que 500 eV em que esta diferença aumenta consideravelmente,
principalmente em relação ao alcance R
Cole
.
Cole (1969) determinou alcances para elétrons com energias entre 20 eV e 50 keV
medindo a transmissão de partículas através de lâminas de colódio. Este alcance foi
definido como sendo igual à espessura em que 5% das partículas são transmitidas através
do material absorvedor (isto é, 95% das partículas incidentes são absorvidas em um
material de espessura igual a este alcance). A partir dos alcances medidos, Cole
determinou a seguinte relação empírica:
007.0)367.0(0431.0
77.1
+= ER
Cole
onde E é dado em keV e o alcance em
2
g/cm 100
µ
, que corresponde a 1
m
µ
para
densidade unitária. A estes valores está associada uma incerteza de aproximadamente 10%.
1
CSDA = Continuous-Slowing-Down-Approximation.
0 1020304050
0,0
1,0x10
-3
2,0x10
-3
3,0x10
-3
4,0x10
-3
5,0x10
-3
Alcance (cm)
Energia (keV)
Cole
R
CSDA1
CSDA2
FIGURA 5.5: Com
p
ara
ç
ão do alcance
R
com os alcances
R
Cole
,
CSDA1 e CSDA2.
R
Cole
Energia inicial do elétron (keV)
104
Energia
(eV)
R (cm)
Cole
(cm)
CSDA1
(cm)
CSDA2
(cm)
Lea (cm)
Diferença
% de
Cole
Diferença
% de
CSDA1
Diferença
% de
CSDA2
Diferença
% de Lea
110 1,64E-07 4,20E-07 5,00E-07 -- 4,55E-07 61 67 -- 64
200 4,01E-07 8,79E-07 8,00E-07 -- 7,81E-07 54 50 -- 49
300 7,61E-07 1,40E-06 1,15E-06 -- 1,19E-06 46 34 -- 36
400 1,19E-06 2,00E-06 1,55E-06 -- 1,66E-06 40 23 -- 28
500 1,70E-06 2,65E-06 2,00E-06 -- 1,98E-06 36 15 -- 14
600 2,27E-06 3,36E-06 2,51E-06 -- 2,55E-06 32 9 -- 11
700 2,91E-06 4,13E-06 3,06E-06 -- 3,10E-06 30 5 -- 6
800 3,61E-06 4,96E-06 3,66E-06 -- 3,80E-06 27 1 -- 5
900 4,37E-06 5,85E-06 4,30E-06 -- 4,52E-06 25 2 -- 3
1000 5,19E-06 6,80E-06 5,00E-06 -- 5,30E-06 24 4 -- 2
5000 7,71E-05 8,37E-05 8,00E-05 -- 7,99E-05 8 4 -- 4
10000 2,57E-04 2,70E-04 2,87E-04 2,54E-04 2,91E-04 5 10 1,4 12
25000 1,29E-03 1,32E-03 1,23E-03 1,28E-03 1,71E-03 2 5 0,8 25
50000 4,39E-03 4,44E-03 4,25E-03 4,36E-03 6,72E-03 1 3 0,7 35
TABELA 5.1: Alcances R, R
Cole
, R
Lea
, CSDA1 e CSDA2 e diferença percentual de R e
m
relação a estes alcances. Os valores de R
Lea
relativos a energias maiores que 1 keV fora
m
obtidos por extrapolação.
R
Cole
R
Lea
(cm)
FIGURA 5.6: Destaque da região de baixa energia (110 eV a 1 keV). Comparação do
alcance R com os alcances R
Cole
, CSDA1 e R
Lea
.
0 200 400 600 800 1000
0,0
1,0x10
-6
2,0x10
-6
3,0x10
-6
4,0x10
-6
5,0x10
-6
6,0x10
-6
7,0x10
-6
Alcance (cm)
Energia (eV)
Cole
R
CSDA1
Lea
Energia inicial do elétron (eV)
R
Cole
105
Os alcances CSDA1 foram calculados a partir de fórmulas analíticas para o poder de
frenamento total de elétrons em água (TURNER, 1995), com extrapolação para baixas
energias. Já os alcances CSDA2 foram retirados da base de dados ESTAR
(BERGER, 2000) que calcula tabelas com valores de poder de frenamento e alcance para
elétrons de acordo com os métodos
1
descritos no ICRU 37 (ICRU, 1984). Neste método, o
poder de frenamento de colisão é calculado a partir da teoria de Bethe (1930, 1932) (citado
por BERGER, 2000), com correção para o efeito da densidade de acordo com a calculada
por Sternheimer (1952, 1982) (citado por BERGER, 2000), e o poder de frenamento
radiativo, a partir da combinação das seções de choque de bremsstrahlung descritas por
Seltzer e Berger (1985) (citado por BERGER, 2000) com fórmulas analíticas e resultados
numéricos de Pratt et al (1977) (citado por BERGER, 2000). As incertezas associadas a
estes valores, que foram determinados para tecido biológico, estão em torno de 3%. Como
os alcances CSDA1 e CSDA2 foram determinados em água e tecido respectivamente, eles
apresentam uma pequena diferença que varia entre aproximadamente 3 e 12%.
Para baixas energias, além dos resultados de Cole, R
Cole
, e da extrapolação CSDA1, estão
representados no gráfico (FIGURA 5.6) os alcances calculados por Lea (1952), R
Lea
, a
partir da teoria de Bethe para perdas de energia, assumindo a validade da extrapolação da
expressão até baixas energias. Estes cálculos, que foram feitos para água, estão corrigidos
para absorção em tecido. Vale salientar que, enquanto a aproximação de frenamento
contínuo (CSDA) é fisicamente apropriada para partículas carregadas pesadas, ela não é
sempre realista para elétrons, que podem perder grandes frações de sua energia em uma
única colisão (TURNER, 1995). Além disto, os valores dos alcances calculados usando a
equação de Bethe abaixo da região de aplicabilidade tornam-se extremamente dependentes
da seleção do valor do potencial de excitação/ionização médio, I (COLE, 1969). A difícil
definição do potencial de excitação/ionização se deve à não existência de correções para as
camadas atômicas que são necessárias quando a velocidade do elétron incidente é pequena
se comparada às velocidades orbitais dos elétrons atômicos. Em função desta limitação,
estes cálculos que utilizam a aproximação de frenamento contínuo são, usualmente,
restritos a energias maiores que 10 keV (BERGER, 2000).
1
Estes métodos foram desenvolvidos por um comiformado pela International Commission on Radiation
Units and Measurements. Eram membros deste comitê H. H. Anderson, M. J. Berger, H. Bichsel,
J. A. Dennis, M. Inokuti, D. Powers, S. M. Seltzer, D. Thwaites, J. E. Turner e D. E. Watt.
106
Na aproximação de frenamento contínuo, assume-se que a partícula perde energia
continuamente ao longo de sua trajetória independentemente das deflexões sofridas no
percurso (isto é, independente da trajetória ser retilínea ou não) a uma taxa que depende da
energia. Sendo assim, os alcances calculados utilizando a aproximação de frenamento
contínuo (CSDA1, CSDA2 e R
Lea
) dão uma medida aproximada do comprimento da
trajetória da partícula em função da energia inicial desta. Como esperado, os valores
obtidos para o alcance R é bastante próximo aos valores dos alcances CSDA1, CSDA2 e
R
Lea
e à medida que a energia diminui, a discrepância entre os valores aumenta,
possivelmente em conseqüência da restrição do uso da aproximação de frenamento
contínuo no cálculo de alcances de elétrons com energia inicial menor que 10 keV. Na
região de mais altas energias (de 1 a 50 keV), o alcance R difere de 1 a 8% do R
Cole
, de 3 a
10% do alcance CSDA1 e de 0,7 a 1,4% do CSDA2 (TABELA 5.1). Em baixas energias
(de 110 eV a 1 keV) as diferenças aumentam consideravelmente à medida que a energia
diminui, como pode ser visto na TABELA 5.1, chegando a 61% em relação ao R
Cole
, 67%
em relação ao CSDA1 e a 64% em relação ao R
Lea
. Nota-se que, além de serem grandes as
diferenças do alcance R em relação aos demais em energias mais baixas, estas diferenças
são da mesma ordem (~ 60%) em 110 e 200 eV, mesmo sendo o alcance R
Cole
determinado
experimentalmente e não teoricamente como os alcances CSDA1 e R
Lea
. Isto pode ter
origem no fato de que, embora o PENELOPE possa transportar elétrons até energias
comparáveis a 100 eV, as seções de choque e a física de maneira geral, para energias
abaixo de 500 eV têm incertezas maiores do que para altas energias, pois nesta região não
são considerados os refinamentos nas seções de choque diferenciais. O alcance R é
portanto uma boa estimativa para o tamanho da trajetória, em tecido, para elétrons com
energia inicial maior do que 500 eV.
A FIGURA 5.7 apresenta os resultados dos alcances R
90
, R
95
, DT e R
proj
comparados com
os dados experimentais
1
determinados por Davis (1954), R
Davis
. Davis mediu os alcances de
elétrons com energias entre 600 eV e 2 keV utilizando uma enzima biologicamente ativa
como “detetor”: quando uma camada uniforme desta enzima é irradiada, as moléculas
desta enzima situadas dentro do alcance dos elétrons são inativadas; não sendo afetadas
pela radiação as enzimas localizadas além deste alcance. Após a irradiação de um volume
conhecido desta enzima com elétrons monoenergéticos, era determinada a massa
1
Na realidade, os alcances estabelecidos por Davis foram obtidos ajustando-se uma curva aos dados das
medidas experimentais. Portanto, estes resultados são semi-empíricos.
107
correspondente à quantidade de enzimas inativadas. Uma vez conhecidas a área irradiada, a
densidade e a massa da fração de enzimas inativas, determina-se então o alcance. Os
valores utilizados aqui foram corrigidos para densidade unitária simplesmente
multiplicando os resultados de Davis pela densidade de 1,3 g/cm
3
da enzima utilizada
1
. A
incerteza destes dados é de aproximadamente 26%.
Comparado com os valores de Davis na faixa de 200 eV a 1 keV (TABELA 4.2), o alcance
DT apresenta diferenças no intervalo de aproximadamente 0,3 a 10,5%, o R
90
de 1,4 a
22,1% e o R
95
de 0,1 a 24,5%. Para a energia de 110 eV, estas diferenças são maiores para
os alcances DT e R
90
, sendo iguais a 48 e 38% respectivamente. A diferença percentual
média destes alcances em relação a R
Davis
é de 10,1% para o alcance DT, de 14,9% para o
R
90
e de 12,5% para o R
95
, portanto, o alcance DT é o que mais se aproxima do alcance
experimental de Davis.
1
Ao realizar uma correção desta maneira, considera-se hipoteticamente que o comportamento dos eventos de
espalhamento é linear em relação à densidade do meio. Cumpre observar que esta prática, apesar de não ser a
mais adequada, é frequentemente utilizada neste tipo de comparação.
0 200 400 600 800 1000
0,0
5,0x10
-7
1,0x10
-6
1,5x10
-6
2,0x10
-6
2,5x10
-6
3,0x10
-6
3,5x10
-6
4,0x10
-6
Alcance (cm)
Energia (eV)
DT
Projetado
R90
R95
Davis
R
proj
R
Davis
TABELA 4.2: Comparação dos alcances DT, R
proj
, R
90
e R
95
com o alcance de Davis, R
Davis
, com as respectivas diferenças percentuais
em relação a este alcance.
Energia
(eV)
DT (cm)
Projetado
(cm)
R90 (cm) R95 (cm) Davis (cm)
Diferença %
de DT
Diferença %
de R90
Diferença %
de R95
110 8,94E-08 4,68E-08 1,05E-07 1,33E-07 1,72E-07 48,0 38,9 23,0
200 2,48E-07 1,35E-07 2,50E-07 3,22E-07 2,72E-07 9,0 8,3 18,3
300 4,94E-07 2,74E-07 4,48E-07 5,65E-07 4,54E-07 8,8 1,4 24,5
400 7,85E-07 4,40E-07 6,74E-07 8,66E-07 7,10E-07 10,5 5,1 22,0
500 1,12E-06 6,33E-07 9,71E-07 1,18E-06 1,04E-06 7,6 6,7 13,6
600 1,50E-06 8,50E-07 1,30E-06 1,57E-06 1,45E-06 3,6 10,1 8,6
700 1,92E-06 1,09E-06 1,59E-06 1,92E-06 1,93E-06 0,3 17,4 0,1
800 2,38E-06 1,35E-06 1,99E-06 2,39E-06 2,46E-06 3,1 18,9 2,7
900 2,88E-06 1,64E-06 2,39E-06 2,87E-06 3,00E-06 4,1 20,4 4,6
1000 3,42E-06 1,95E-06 2,84E-06 3,37E-06 3,64E-06 6,0 22,1 7,3
5000 5,16E-05 2,93E-05 4,26E-05 5,06E-05 -- -- -- --
10000 1,74E-04 9,86E-05 1,42E-04 1,69E-04 -- -- -- --
25000 8,87E-04 4,99E-04 7,19E-04 8,37E-04 -- -- -- --
50000 3,03E-03 1,70E-03 2,44E-03 2,84E-03 -- -- -- --
R
proj
R
Davis
109
Observando o gráfico que mostra a razão entre os alcances DT e R em função da energia
inicial do elétron (em todo espectro considerado, de 110 eV a 50 keV) (FIGURA 4.8),
percebe-se que esta razão aumenta rapidamente de 110 eV até 1 keV. A partir de 1 keV, a
razão DT / R cresce mais lentamente e parece tender a se estabilizar quando o valor desta
se aproxima de 69%. Este comportamento indica que à medida que a energia aumenta, a
trajetória do elétron tende a ser menos tortuosa, fazendo com que diminua a diferença entre
a distância DT, entre pontos inicial e final da trajetória, e o tamano desta, R. No caso da
razão entre os alcances projetado, R
proj
, e R (FIGURA 4.9), nota-se o mesmo
comportamento: um crescimento rápido da razão entre 110 eV e 1 keV e um crescimento
mais lento a partir daí que parece tender a se estabilizar ao se aproximar de 39%. A
diferença entre os alcances R
proj
e R é aproximadamente constante e fica em torno de 63%,
exceto em 110 eV que é de ~ 72% (TABELA 5.2), o que concorda razoavelmente com a
estimativa de 60% de Williams (WILLIAMS, 1930 citado por DAVIS, 1954). Interessante
observar que, assim como o alcance DT, o alcance projetado tende a manter uma diferença
constante em relação ao alcance R para energias maiores que 1 keV e, neste caso, o
alcance projetado é praticamente igual à metade do tamanho da trajetória do elétron, R.
FIGURA 5.8: Razão entre os alcances DT e R em função da energia
inicial do elétron.
0 1020304050
54
56
58
60
62
64
66
68
70
DT/ R (%)
Energia (keV)
DT/ R
0,1 1 10
54
56
58
60
62
64
66
68
70
DT/ R (%)
log (E) (keV)
Energia inicial do elétron (keV)
110
Energia (eV) Projetado (cm)
R (cm) Projetado/R Diferença %
110 4,68E-08
1,64E-07 0,28506 72
200 1,35E-07
4,01E-07 0,33593 66
300 2,74E-07
7,61E-07 0,36072 64
400 4,40E-07
1,19E-06 0,36887 63
500 6,33E-07
1,70E-06 0,37231 63
600 8,50E-07
2,27E-06 0,3737 63
700 1,09E-06
2,91E-06 0,37435 63
800 1,35E-06
3,61E-06 0,37499 63
900 1,64E-06
4,37E-06 0,3753 63
1000 1,95E-06
5,19E-06 0,37539 63
5000 2,93E-05
7,71E-05 0,38039 62
10000 9,86E-05
2,57E-04 0,38339 62
25000 4,99E-04
1,29E-03 0,38523 62
50000 1,70E-03
4,39E-03 0,38776 61
TABELA 5.2: Comparação entre os alcances projetado R
proj
e R.
R
proj
(cm) R
proj
/ R
0 1020304050
28
30
32
34
36
38
40
R
proj
/ R (%)
Energia (keV)
Alcance projetado / Alcance R
0,1 1 10
28
30
32
34
36
38
40
R
proj
/ R (%)
log (E) (keV)
FIGURA 5.9: Razão entre os alcances projetado R
proj
e R em
função da energia inicial do elétron.
Energia inicial do elétron (keV)
111
CONCLUSÕES
O alcance R é uma boa estimativa para o tamanho da trajetória, em tecido, de elétrons com
energia inicial maior do que 500 eV. Sendo igual ao comprimento total da trajetória do
elétron, alcance R pode ser tomado como um limite superior na determinação de alcances
e, portanto, pode-se concluir que, de acordo com este trabalho, os alcances determinados
por Cole (R
Cole
) e Lea (R
Lea
) e os alcances CSDA1 e CSDA2 para energias menores do que
aproximadamente 1 keV não são boas estimativas para o alcance de elétrons em tecido
uma vez que eles apresentam valores maiores do que aqueles do alcance R.
A razão entre os alcances ponderado e R ( RR
pond
/ ) é igual ao valor médio da fração da
energia do elétron depositada por passo e esta razão (FIGURA 5.4) decresce com o
aumento da energia, isto é, quanto maior a energia do elétron, menor a fração desta energia
depositada em cada passo, o que indica que é no final da trajetória do elétron, onde sua
energia e livre caminho médio são menores, que a maior parte da energia inicial é
depositada.
Considerando a incerteza de ~ 26% associada aos resultados de Davis, os alcances DT, R
90
e R
95
se mostraram ser uma boa estimativa para a distância de penetração do elétron em
tecido. Porém, apresentando uma diferença percentual média menor em relação aos valores
de alcance de Davis, o alcance DT é a melhor estimativa, mais especificamente para
elétrons com energias entre 200 eV e 1 keV.
O fato das razões DT / R e R
proj
/ R aumentarem com o aumento da energia inicial do
elétron indica que à medida que a energia aumenta a trajetória do elétron tende a ser menos
tortuosa, ou seja, o elétron tende a apresentar um comportamento mais balístico e menos
difusivo. Porém, o fato destas razões crescerem muito lentamente (aparentando uma
estabilização) a partir de aproximadamente 1 keV indica que, apesar de tender para um
comportamento balístico à medida que a energia aumenta, este dificilmente deixará de ser
em parte difusivo (a não ser, digamos, para energias extremamente altas).
A diferença entre o alcance projetado e o alcance R, para energias entre 200 eV e 50 keV,
é aproximadamente constante e fica em torno de 63%, portanto, a profundidade de
112
penetração de elétrons em tecido, nesta faixa de energia, equivale a aproximadamente 40%
do tamanho da trajetória de elétrons neste meio.
Observando os gráficos das FIGURAS 5.8 e 5.9, nota-se que há uma mudança brusca no
comportamento destas curvas em torno de aproximadamente 1 keV (o que sugere a
ocorrência de uma transição de fase neste ponto). O comportamento dos elétrons com
energias menores do que 1 keV é bastante peculiar e distinto daquele dos elétrons com
energias maiores do que este valor e, portanto, uma maior atenção deve ser dada em
particular a esta importante “classe” de radiação ionizante.
113
APÊNDICE A – Composição do tecido mole (ICRP)
Densidade (g/cm
3
) = 1,00000E+00
Energia de excitação média I (eV) = 72,300000
Composição
Número
atômico
Peso
(percentual)
1 0,104472
6 0,232190
7 0,024880
8 0,630238
11 0,001130
12 0,000130
15 0,001330
16 0,001990
17 0,001340
19 0,001990
20 0,000230
26 0,000050
30 0,000030
114
APÊNDICE B – Termos, grandezas e unidades relacionados às radiações ionizantes.
1. Grandezas estocásticas e não-estocásticas
Flutuações estatísticas observadas em uma série de medidas de uma determinada grandeza
é um fenômeno bastante familiar à Física. Em muitas destas situações, considera-se apenas
o valor médio do conjunto de medidas e assume-se que, aumentando o número destas
medidas, o valor médio aproxima-se do valor esperado. Este é o caso de grandezas
relacionadas a eventos de deposição de energia e outros eventos discretizados que ocorrem
na interação da radiação com a matéria; efeito que decorre da natureza quântica da própria
matéria e da energia.
Uma grandeza sujeita a flutuações estatísticas é denominada estocástica, e o valor médio
desta, denominada não-estocástica. Assim, a diferença básica entre estas grandezas é que a
grandeza não-estocástica possui um único valor e a grandeza estocástica possui valores que
seguem uma distribuição de probabilidade (ICRU60, 1998).
2. Grandezas e termos relacionados à interação da radiação com a matéria
As grandezas que serão apresentadas a seguir, definidas de acordo com a publicação
ICRU 60 (1998), representam propriedades do meio e do próprio campo de radiação.
Fluência
A fluência ( de partículas), Φ , característica do campo de radiação, é dada por
da
dN
=Φ , ( B-2.1 )
onde
dN é o número de partículas incidentes em uma esfera com seção transversal de área
da . Esta área deve ser perpendicular à direção de incidência das partículas. A unidade de
Φ é m
-2
.
Seção de Choque (Cross Section)
A seção de choque,
σ
, de um alvo, para interação com partículas carregadas ou neutras é
Φ
=
P
σ
, ( B-2.2 )
onde
P
é a probabilidade de interação com um alvo quando este está sujeito a uma
fluência Φ . A unidade
σ
é m
2
.
115
Geometricamente pode-se interpretar
σ
como a área ocupada pelo alvo ou por um disco
em torno deste (ROSSI, 1994): seja um campo de radiação com fluência uniforme e
unidirecional e cujo número de partículas atravessando perpendicularmente um plano de
área unitária é
N . Em uma camada de espessura dl deste material, que contém n alvos
por unidade de volume, o número de alvos por unidade de área é
ndl . Assim, o número de
partículas que sofrem interação,
i
dN , é:
dlnNdNdN
i
σ
=
=
( B-2.3 )
Integrando, tem-se que o número de partículas que não interagiu ao atravessar uma camada
de largura l é:
nl
e
N
lN
σ
=
)0(
)(
, ( B-2.4 )
onde )0(N é o número de partículas incidentes. Esta interpretação geométrica de σ não
deve ser aceita literalmente. De maneira geral,
σ
poderia ser definida como a
probabilidade de espalhamento por alvo por unidade de área.
Em estudos de transporte é necessário ainda discriminar os vários processos de
espalhamento através de variáveis adicionais como energia (
ω
h ) e momento ( qh )
transferidos pelo projétil ao alvo no material, ou, equivalentemente, a energia e o ângulo de
espalhamento da partícula espalhada. Formalmente, isto é expresso em termos de seções de
choque diferenciais. Por exemplo,
[
]
ω
ω
σ
hh ddd )( é a probabilidade de ocorrer uma
transferência de energia no intervalo
ω
hd centrado em
ω
h ; e
[
]
)()( )()(
2
qddqddd hhhh
ωωσ
é a probabilidade de transferência de energia em
ω
hd e
de momento em qd
h centrado em qh . Isto é:
= )(
)()()(
2
qd
qdd
d
d
d
h
hhh
ω
σ
ω
σ
( B-2.5 )
e
= )(
)(
ω
ω
σ
σ
h
h
d
d
d
, ( B-2.6 )
onde os limites de integração são determinados por vínculos cinemáticos.
A seção de choque para alvos compostos (moléculas, por exemplo) são usualmente
tratados como se o meio fosse uma mistura de átomos independentes. Isto é válido para a
maioria dos casos, mas ocasionalmente leva a erros, como por exemplo, para fótons de
baixa energia (ROSSI, 1994).
116
Coeficiente de Atenuação
O coeficiente de atenuação,
µ
, para partículas sem carga é dado por
N
dN
dl
1
=
µ
, ( B-2.7 )
onde
N é o número de partículas neutras incidentes e NdN
é a fração destas partículas
que interagem ao atravessar uma camada de material de espessura
dl . A unidade de
µ
é
m
-1
. O coeficiente de atenuação por massa
ρ
µ
, é o coeficiente de atenuação dividido
pela densidade
ρ
do material (unidade de m
2
.kg
-1
), e tem a vantagem de ser independente
da densidade e do estado físico do atenuador. Comparando
ρ
µ
com a equação (B-2.3),
tem-se (ROSSI, 1994):
A
A
M
N
n
σ
ρ
σ
ρ
µ
== , ( B-2.8 )
onde
A
N é o número de Avogadro e
A
M a massa molar do material.
Coeficiente de transferência de energia por massa
O coeficiente de transferência de energia por massa,
ρ
µ
tr
, é dado por
EN
dE
dl
trtr
1
ρρ
µ
= , ( B-2.9 )
onde
ENdE
tr
é a fração da energia das partículas neutras incidentes que é transferida, sob
a forma de energia cinética, para partículas carregadas do meio de densidade
ρ
ao
percorrerem uma distância dl neste.
Coeficiente de absorção de energia por massa
O coeficiente de absorção de energia por massa,
ρ
µ
a
, é
)1( g
tra
=
ρ
µ
ρ
µ
, ( B-2.10 )
onde
g
é a fração da energia das partículas carregadas secundárias que é perdida no
material através de processos radiativos.
Poder de Frenamento (Stopping Power)
O poder de frenamento por massa para partículas carregadas é dado por
117
dl
dES
ρρ
1
=
, ( B-2.11 )
onde
dE é a energia perdida por uma partícula carregada ao atravessar uma distância dl
em um material de densidade
ρ
. A unidade de
ρ
S é J.m
2
.kg
-1
. S é o poder de
frenamento linear total.
O poder de frenamento por massa total pode ser escrito como a soma de três componentes
independentes:
nucradel
dl
dE
dl
dE
dl
dES
+
=
ρρρρ
111
, ( B-2.12 )
onde
el
el
S
dl
dE
ρρ
11
=
é o poder de frenamento por massa eletrônico (ou de colisão),
devido às colisões com os elétrons atômicos,
rad
rad
S
dl
dE
ρρ
11
=
é o poder de frenamento
por massa radiativo, devido à emissão de radiação de bremsstrahlung nos campos elétricos
do núcleo ou dos elétrons e
nuc
nuc
S
dl
dE
ρρ
11
=
o poder de frenamento por massa nuclear,
devido às colisões Coulombianas elásticas em que uma energia de recuo é absorvida pelos
átomos.
Transferência Linear de Energia (Linear Energy Transfer – LET) ou Poder de
Frenamento Linear de Colisão Restrito
A transferência linear de energia,
L , de um material, para partículas carregadas, é
=
dl
dE
L , ( B-2.13 )
onde
dE é a energia perdida por uma partícula carregada, ao atravessar uma distância dl
no meio, em colisões com elétrons em que a perda de energia é menor do que
. A
unidade de
L é J.m
-1
.
L é igual a
col
S , o poder de frenamento linear total devido a
colisões.
118
APÊNDICE C – Cinemática de colisão
1. Cinemática do processo de espalhamento
A cinemática lida com as conseqüências da conservação de energia e momento nos
processos de colisão. A FIGURA C-1.1 ilustra esquematicamente uma colisão de dois
corpos e introduz algumas notações para caracterização de cada partícula:
T
= energia cinética
p
= momento
v = velocidade
c = velocidade da luz no vácuo
m = massa de repouso
2
mcTE += = energia total
cv=
β
212
)1(
=
βγ
Algumas dessas grandezas se relacionam como a seguir:
22422
2
2
)1(
cpcmmc
mc
E ==
=
γ
β
( C-1.1 )
βγ
β
β
m
m
c
TmcT
c
cmE
p =
=
+
=
=
2
22422
1
2
( C-1.2 )
Quando
2
mcT << pode-se usar a cinemática não-relativística.
Muitos cálculos de cinemática são simplificados se a colisão é tratada no sistema de
referência do centro de massa (CM); ele é definido de forma que o momento total das
partículas – antes e depois da colisão – é nulo (FIGURA C-1.1). O sistema de referência
em repouso em relação ao laboratório recebe este nome (L); tipicamente, mas não sempre,
em L o alvo está em repouso.
Classicamente, a velocidade do CM em relação a L é (FIGURA C-1.1)
1
21
1
v
mm
m
v
CM
+
= . ( C-1.3 )
Aqui, os índices 1 e 2 referem-se ao projétil e ao alvo respectivamente. As grandezas em L
são escritas em letras minúsculas e, em CM, em maiúsculas. As velocidades em L e CM
podem ser obtidas uma a partir da outra:
119
1
21
2
1
v
mm
m
V
+
= ( C-1.4 )
1
21
1
2
v
mm
m
V
+
= . ( C-1.5 )
Na colisão de um projétil com um alvo muito pesado (
21
mm
<
< ) não há distinção entre L e
CM uma vez que
CM
v é praticamente nula. Este é o caso, por exemplo, de um elétron
espalhado por um átomo (
4
21
10
mm ).
Em colisões elásticas
4324321
; TTTT mmmm
1
+
=
+
+
=
+ . ( C-1.6 )
Em colisões inelásticas a energia interna das partículas é envolvida nos processos de
transferência de energia, isto é, ocorrem conversões de energia entre massa e energia
cinética. Daí segue que
QTTTT Qmmmm
1
+
=
+
+
+
=+
4324321
; ( C-1.7 )
e a reação é chamada exotérmica (endotérmica) se 0>Q (0
<
Q ).
O número de variáveis ( , , ,
θ
Qm
i
etc) que podem ser obtidas a partir da cinemática é igual
ao número de equações que expressam, independentemente, conservação de energia e
momento. Para a colisão representada na FIGURA C-1.1 são três as equações:
QTTT
1
+
=
43
( C-1.8 )
44331
coscos
θ
θ
ppp
+
=
( C-1.9 )
4433
sensen0
θ
θ
pp
+
=
. ( C-1.10 )
A energia transferida na colisão é
FIGURA C-1.1: Espalhamento de dois corpos no referencial do laboratório L
(esquerda) e no referencial do centro de massa CM (direita).
120
2
2
4
2m
p
=
ω
h , ( C-1.11 )
onde considerou-se
31
mm = e
42
mm
=
(mesmas partículas antes e depois do
espalhamento).
O valor máximo de
ω
h ocorre quando 0
4
=
θ
e 180
3
=
θ
(colisão frontal):
1
2
21
21
max
)(
4
T
mm
mm
+
=
ω
h . ( C-1.12 )
Quando
21
mm << ,
()
121max
4 Tmm=
ω
h , o que significa que a transferência de energia em
colisões elásticas é extremamente pequena. Este é o caso do espalhamento elétron-átomo,
elétron-molécula ou elétron-sólido.
Finalmente, em reações em que 0
<
Q , é necessário que o projétil tenha uma certa energia
mínima para que a reação ocorra. Esta energia é dada por:
[
]
2
2
2
2
2
1
min
2
)(2
cm
cmcmQQ
T
++
= ( C-1.13 )
(ROSSI, 1994).
121
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elétrons
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os.
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