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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS
A PRODUÇÃO DE AÇAI A PARTIR DO PROCESSAMENTO DOS FRUTOS DO
PALMITEIRO (Euterpe edulis Martius) NA MATA ATLÂNTICA
JOANA MAC FADDEN
Florianópolis, junho de 2005.
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JOANA MAC FADDEN
A PRODUÇÃO DE AÇAI A PARTIR DO PROCESSAMENTO DOS
FRUTOS DO PALMITEIRO (Euterpe edulis Martius) NA MATA
ATLÂNTICA
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Agroecossistemas, Programa de Pós-Graduação
em Agroecossistemas, Centro de Ciências
Agrárias, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientador: Paul Richard Momsen Miller
FLORIANÓPOLIS
2005
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TERMO DE APROVAÇÃO
JOANA MAC FADDEN
A PRODUÇÃO DE AÇAI A PARTIR DO PROCESSAMENTO DOS FRUTOS DO
PALMITEIRO (Euterpe edulis Martius) NA MATA ATLÂNTICA
Dissertação aprovada em 27/06/2005, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no
Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade
Federal de Santa Catarina, pela seguinte banca examinadora
__________________________________
Orientador: Paul Richard Momsen Miller
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________ ______________________________
Presidente: Antonio Augusto Alves Pereira Membro: Mário Luiz Vincenzi
___________________________________ ______________________________
Membro: Adelar Mantovanni Membro: Edson Silva
_________________________________________________
Coordenador do PGA: Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho
Florianópolis, junho de 2005.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 01
1.1. Introdução 01
1.2. Objetivos Gerais 04
1.3. Objetivos Específicos 04
1.4. Justificativa 05
CAPÍTULO 2 06
2.1. Revisão Bibliográfica 06
2.1.1. O nero EUTERPE 07
2.1.2. Euterpe edulis Martius 08
2.1.3. A Produção de Frutos do Palmiteiro 11
2.1.4. Antocianinas nos frutos 12
2.1.5. Processamento de Açaí 13
2.1.5.1. Produção Tradicional de Açaí 13
2.1.5.2. Produção Comercial de Açaí 14
2.1.5.3. Método de processamento dos frutos do palmiteiro 17
2.1.5.4. Classificação do Açaí 20
2.1.6. Etnobotânica 20
CAPÍTULO 3 24
3.1.Caracterização do município 24
3.1.1.Garuva 24
3.1.1.1. História de Garuva e o Palmiteiro 26
CAPÍTULO 4 30
4.1. Metodologia 30
4.1.1. Conhecimento Botânico Tradicional 30
4.1.1.1. Entrevista com tiradeiras de açaí 30
4.1.1.2. Entrevista com agricultores 31
4.1.2. Reuniões para integração de conhecimentos 32
4.1.3. Quantificação da produção de frutos de palmiteiros em quintal
agroflorestal e consórcio banana e palmito 33
4.1.4. Avaliação Quantitativa do rendimento da produção de açaí 36
4.1.4.1. Ensaio de Medida do Teor de Absorção de Água 36
4.1.4.2. Análise de Matéria Seca 37
CAPÍTULO 5 38
5.1. Resultados e Discussão 38
5.1.1. Documentação do Conhecimento Botânico Tradicional 38
5.1.1.1. Entrevista com tiradeiras de açaí 38
5.1.1.2. Entrevista com agricultores de Garuva 40
5.1.2. Resultados alcançados a partir das reuniões para integração
de conhecimentos 42
5.1.2.1. Garuva 42
5.1.2.2. Pirabeiraba 47
5.1.2.3. Sete Barras 49
5.1.2.4. Ibirama 51
5.1.2.5. Implantação da primeira unidade de produção de açaí 53
5.1.3. Quantificação da produção de frutos de palmiteiros em quintal
agroflorestal e em consórcio banana e palmito 57
5.1.4. Avaliação do rendimento da produção de açaí a partir dos frutos de
palmiteiros 60
CAPÍTULO 6 65
6.1. Conclusões e considerações finais 65
6.2. Referências bibliográficas 68
6.3. Anexos 73
6.3.1. Instrução Normativa N° 01 DE 7 DE JANEIRO DE 2000 73
6.3.2. LEI N°10.711 DE 5 DE AGOSTO DE 2003 77
6.3.3. Rótulos falsos apreendidos pelo IBAMA em SC 94
6.3.4. Rótulos “Açaí Mata Atlântica” 95
6.3.5. Logomarca “Açaí Mata Atlântica” 96
6.3.6. Ficha para coleta de dados 97
6.3.7. Matéria publicada no jornal da EPAGRI (06/04/2004) 98
6.3.8. Matéria publicada no O ESTADO (06/04/2004) 99
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distribuição Mundial da Família Arecaceae 06
Figura 2: Frutificação do E. edulis 10
Figura 3: Bainhas foliares engrossadas 10
Figura 4: Presença de antocianinas na água de embebição 13
Figura 5: Despolpadora Comercial 15
Figura 5: Diferença de maturação dos frutos 18
Figura 7: Despolpadora Popular 19
Figura 8: Localização do município de Garuva no Estado de SC 25
Figura 9: Quintal Agroflorestal Garuva 34
Figura 10: Consórcio banana e palmito 35
Figura 11: Embebição 36
Figura 12: Palmiteiro com cacho maduro, cacho vermelho e cacho verde 39
Figura 13: Reunião para integração de conhecimentos em Garuva 43
Figura 14: Coleta de cachos maduros no quintal agroflorestal 44
Figura 15: Coleta dos cachos com escada 45
Figura 16: Detalhe do calçado para subir no palmiteiro 46
Figura 17: Derriça e seleção dos frutos em Pirabeiraba 48
Figura 18: Seleção dos frutos maduros 48
Figura 19: Nome dado ao produto obtido a partir do processamento dos
frutos de palmiteiros antes da reunião 50
Figura 20: Cachos com poucos frutos em Sete Barras 50
Figura 21: Coleta de cachos na FLONA de Ibirama 52
Figura 22: Derriça e seleção dos frutos na FLONA – Ibirama 52
Figura 23: Primeira agroindústria de produção de açaí em Garuva 53
Figura 24: Dosadora embaladora 54
Figura 25: Sementes após a despolpa 55
Figura 26. Sementes limpas 55
Figura 27: Agroindústria de produção de açaí 56
Figura 28: Embalagem de 1 kg de açaí 57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Quantidade e valor dos frutos para a fabricação comercial do açaí
no ano de 2002 02
Tabela 2: Comparação de peso de cacho de frutos de palmiteiros do quintal
agroflorestal e do consórcio 58
Tabela 3: Comparação entre palmiteiros produtivos e não produtivos no quintal 59
Tabela 4: Comparação entre palmiteiros produtivos e não produtivos no consórcio 60
Tabela 5: Rendimento em açaí dos frutos provenientes do quintal e do consórcio 62
Tabela 6: Resultados do ensaio de medida do teor de absorção de água nos frutos 63
Tabela 7: Análise de matéria seca 64
À Maria das Dores Pirani (In Memorian)
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer em primeiro lugar ao professor Rick Miller pela orientação, paciência e
amizade.
À Ana por toda ajuda na fase final da dissertação.
Aos meus pais pelas palavras amigas e por todo o amor e carinho que tenho nesta vida.
À minha tia e meu primo André que apesar das dificuldades tenho certeza que estiveram sempre
do meu lado.
Ao Paulo Paiakan e ao Thorinho, pela paciência e compreensão durante esta etapa da minha vida.
Aos amigos João Luiz Veiga, Antonio Henrique dos Santos, Henrique Romano, Jorge Vivan,
Fabiana, Sergio, Natascha, Zé Mario, Jaque, Melissa e todos os outros amigos do mestrado que
partilharam muitos momentos de alegria e confraternização aqui na ilha da magia.
Ao pessoal do norte: Arthur, Luciano e Charles pela atenção especial.
Especialmente a Dona Edith e Dona Maria Arndt.
Ao Fabio Zambonin e Aurora pela atenciosa recepção durante a pesquisa.
À Deus.
À Natureza.
À Netuno pelos prazeres que o mar me proporcionou e proporciona durante toda minha vida.
Aos amigos de pescaria que sempre serão lembrados em meu coração.
Aos amigos: Soraya Souza Sanches, Patrícia Dinon, Roberta Ramos, Alessandra Santana,
Luciana Facchini, Garrincha, Juliana Bueno, Alex Menassi, Fernando, Gilberto Haas, pela
amizade que levarei pro resto da vida.
Ao Laboratório de Biotecnologia Neolítica pelo apoio durante a pesquisa.
Ao Programa de Pós Graduação em Agroecossistemas do Centro de Ciências Agrárias –
Universidade Federal de Santa Catarina.
RESUMO
O objeto de estudo do presente trabalho é a produção do açaí no litoral norte do Estado de Santa
Catarina. O açaí é um produto obtido a partir do processamento dos frutos de palmeiras do gênero
Euterpe, da família Arecaceae. No Norte do país o açaí é extraído de palmeira multicaules –
açaizeiro ou juçara (Euterpe oleracea Martius) e também de uma palmeira monocaule – açaizeiro
(Euterpe precatoria Martius) muito parecida com o palmiteiro (Euterpe edulis Martius). Em
1998, o Laboratório de Biotecnologia Neolítica – UFSC iniciou o trabalho de utilização dos
frutos do palmiteiro para a produção de açaí a partir da valorização do conhecimento ecológico
local de uma tiradeira tradicional na Mata Atlântica. A dinâmica de difusão deste conhecimento é
objeto de estudo da etnobotânica, que é uma ciência interdisciplinar. A metodologia utilizada foi:
1. entrevistas semi estruturadas para o levantamento do conhecimento de tiradeiras de açaí; 2.
reuniões participativas para integração de conhecimentos; 3. quantificação da produção de frutos
do palmiteiro em quintal agroflorestal e consórcio banana e palmito, e 4. entrevistas semi
estruturadas com agricultores para o levantamento do conhecimento sobre o plantio de
palmiteiros em propriedades rurais. Os resultados do presente trabalho evidenciaram que existe,
em Santa Catarina, domínio da técnica de extração do açaí a partir do processamento dos frutos
do palmiteiro (E. edulis). As reuniões para integração de conhecimentos resultaram na
implantação de duas agroindústrias, uma no município de Garuva/SC e outra no município de
Sete Barras/SP. A produtividade dos frutos do palmiteiro no quintal agroflorestal e o no
consórcio banana e palmito apresentou valores semelhantes à produtividade dos frutos de E.
precatoria e E. oleracea, no Norte do país. O açaí produzido em Santa Catarina apresentou teor
de matéria seca de 15%, que faz com que este produto seja classificado como açaí especial de
acordo com a Instrução Normativa N° 1, de 7 de janeiro de 2000 do Ministério da Agricultura e
do Abastecimento. Os agricultores do município de Garuva estão plantando mais palmiteiros em
suas propriedades devido a disponibilidade de sementes despolpadas provenientes da
agroindústria de produção de açaí, e à perspectiva de comercialização dos frutos.
SUMMARY
The present study investigates the production of açaí in northern Santa Catarina. Açaí is a product
obtained by processing palm fruits of the genus Euterpe. In northern Brazil, açaí is obtained from
a bunch palm – açaizeiro, juçara (Euterpe oleracea Martius) and from a solitary palm – açaizeiro
(Euterpe precatoria Martius) very similar to the palmito palm (Euterpe edulis Martius) of
Southern Brazil. In 1998 the Neolithic Biotechnology Lab- UFSC initiated research on the
production of açaí from the fruits of this palm, by exchanging information with women who
already processed the fruit, and had accumulated local ecological knowledge of of the palm. The
diffusion of this knowledge is part of the interdisciplinary science of ethnobotany. The
methodology used was: interviews with women who processed the fruit of palmito palm,
meetings with local growers to exchange botanical information;; quantitative assessment of fruit
production and açaí processing from palms in forest gardens and in banana intercrops; interviews
with local farmers and palm users. The results show that açaí production from E. edulis is a
traditional practice in Santa Catarina, that had not been documented before. Meetings held to
exchange information on the uses of E. edulis resulted in the establishmento of two small
processing plants in Garuva, Santa Catarina, and Sete Barras, São Paulo. Palm trees from forest
gardens and banana intercrops had fruit yields similar to those reported for E. oleraceae and E.
precatoria in northern Brazil. The açaí produced had a dry matter yield of 15%, allowing it to be
classified as the highest quality, according to government standards. Commercial acceptance
confirmed the quality of the product. farmers of Garuva are planting more palms on their
properties due to the seeds available from commercial processing, and the future prospects of
fruit sales.
1
CAPÍTULO 1
1.1. INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma das maiores reservas de florestas tropicais do mundo, que
abriga a biodiversidade mais rica do planeta. Esta vegetação possui muitas
variabilidades as quais caracterizam a peculiaridade de certas regiões do país, como o
clima, o solo, e as espécies animais e vegetais que nela habitam. Entre elas pode-se citar,
por exemplo, a floresta densa tropical no Norte conhecida como Floresta Amazônica, a
mata dos cerrados no Centro-Oeste e, ao longo do litoral, a Mata Atlântica. Estas matas
despertam o interesse de todos perante a vasta disposição de madeira de qualidade, que
em grande parte é direcionada para o mercado externo, além dos animais silvestres e
outros produtos não madeiráveis que são explorados exaustivamente. A exploração
intensiva das florestas vem causando sérios prejuízos para o ecossistema, mas práticas
tradicionais nas florestas de uma parte do Brasil podem ser adaptadas a outras partes
como uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
O açaí é o produto obtido a partir do processamento dos frutos de palmeiras do
gênero Euterpe da família Arecaceae. No Norte do país este produto é extraído de
palmeiras multicaules – açaizeiro, juçara (Euterpe oleracea Martius) e também de uma
palmeira monocaule – açaizeiro (Euterpe precatoria Martius) semelhante ao palmiteiro
(Euterpe edulis Martius). O açaí constituía uma parte importante da alimentação
indígena antes da chegada dos europeus (CANTO, 2001). O hábito de consumir este
alimento manteve-se entre as populações rurais e implantou-se nas cidades. No Estado
2
do Pará, durante os anos de 1985 e 1986, 141.500 toneladas de frutos / ano de E.
oleracea foram coletados e comercializados, principalmente em Belém (CASTRO,
2000).
A produção de açaí é uma atividade de extensão rural desenvolvida pelo Laboratório
de Biotecnologia Neolítica do Departamento de Engenharia Rural da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Este estudo tem como base pesquisas de extensão
rural e etnobotânicas inéditas realizadas pela autora no bioma Mata Atlântica, no norte
do Estado de Santa Catarina.
Os Estados produtores de frutos para a fabricação comercial do açaí no Brasil são:
Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Tocantins e Maranhão (Tabela 1) e, a partir de 2004,
Santa Catarina.
TABELA 1: Quantidade e Valor dos Frutos para a Fabricação Comercial do Açaí no
ano de 2002.
Fruto
Unidade de Federação
Quantidade (toneladas) Valor (1.000 R$)
Pará 122.322 78.540
Maranhão 6.233 2.386
Amapá 1.432 510
Amazonas 1.103 632
Acre 807 229
Tocantins 2 1
Fonte: IBGE – Produção Extrativa Vegetal, 2002
3
O açaí atravessou as fronteiras amazônicas e chegou a outras regiões do país e a
outros países. Tornou-se um produto popular nos grandes centros urbanos e no litoral.
Segundo CANTO (2001), a Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
(CEASA) recebe 200 toneladas / mês de açaí congelado proveniente da região norte do
país, principalmente do Estado do Pará.
A proposta do grupo de pesquisa do Laboratório de Biotecnologia Neolítica é o
incentivo à exploração dos frutos do palmiteiro (Euterpe edulis Martius) em pequenas
propriedades ou em cooperativas do Estado de Santa Catarina. Neste Estado, o maior
potencial para extração de frutos do palmiteiro para fabricação do açaí provém de pomares
que circundam as habitações rurais, com produção de cachos grandes e facilidades de
colheita. Os agricultores que possuem palmiteiros em seus quintais podem obter renda com
a venda dos frutos para unidades de produção de açaí. A atividade de produção do açaí
apresenta uma forma de valorização do trabalho local e pode gerar emprego e renda em
lugares onde as dificuldades de sobrevivência mostram-se cada vez mais presentes. É
também uma tentativa de conservação da espécie no bioma Mata Atlântica, promovendo a
restauração da biodiversidade com o agricultor como elemento principal para o sucesso
deste processo.
Em 1998, no Laboratório de Biotecnologia Neolítica do Departamento de
Engenharia Rural – UFSC, iniciou-se o trabalho de utilização dos frutos do palmiteiro para
a produção do açaí que começou com a valorização do conhecimento ecológico local de
uma tiradeira tradicional
1
. A dinâmica de aquisição e difusão deste conhecimento é objeto
1
Tiradeira tradicional é o nome dado à mulher que colhe e processa os frutos da palmeira para extração do
açaí levando em consideração o grau de maturidade dos frutos, tempo de imersão em água e tempo de
despolpamento, entre outros fatores.
4
de estudo da etnobotânica, que é uma ciência interdisciplinar. A etnobotânica abrange
campos de estudo que contribuem para analisar como o ser humano interage com as plantas
através da botânica, lingüística, antropologia, química e economia (MARTIN, 1995). O
trabalho que originou esta dissertação abordou as três linhas de pesquisa que MARTIN
(1995) define como etnobotânica: documentação da base do conhecimento botânico
tradicional; projetos aplicados que buscam maximizar a valorização do conhecimento
ecológico da população local, e avaliação quantitativa e experimental de utilização e
manejo de recursos botânicos.
1.2. OBJETIVO GERAL
Avaliar, incentivar e difundir a atividade de produção do açaí a partir do
processamento dos frutos do palmiteiro (Euterpe edulis Martius) no bioma Mata Atlântica.
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Documentar a base do conhecimento botânico tradicional de utilização dos frutos do
palmiteiro.
2. Promover a integração de conhecimentos para maximizar a valorização do
conhecimento ecológico da população local.
3. Quantificar a produção dos frutos de palmiteiros em quintal agroflorestal e em um
consórcio banana e palmito.
5
4. Avaliar quantitativamente o rendimento da produção de açaí a partir dos frutos do
palmiteiro.
1.4. JUSTIFICATIVA
Três agricultores de Garuva, em parceria com o grupo de pesquisa do Laboratório
de Biotecnologia Neolítica do Centro de Ciências Agrárias - UFSC, implantaram a
primeira unidade de processamento comercial dos frutos do palmiteiro para a fabricação
do açaí em Garuva - Santa Catarina, no ano de 2004.
A pesquisa sobre palmiteiro (E.edulis) até o presente momento não esteve voltada
para a utilização dos frutos para a produção de açaí. O conhecimento tradicional das
tiradeiras de açaí não havia sido pesquisado em Santa Catarina até o presente trabalho.
Os frutos do palmiteiro estão presentes na Mata Atlântica e, após processamento,
podem ser utilizados como uma alternativa de segurança alimentar da população de
baixa renda e de geração de excedente para comercialização. Esta prática pode trazer
benefícios sociais significativos e se transformar em uma estratégia de sobrevivência
local.
A utilização dos frutos do palmiteiro para a produção de açaí é uma atividade que
busca diminuir a pressão sobre a exploração desenfreada do palmiteiro nativo e se
caracteriza como uma atividade de utilização de produto florestal não madeireiro
contribuindo para a conservação do bioma ameaçado.
6
CAPÍTULO 2
2.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A família Arecaceae pertence à ordem Arecales e sua distribuição mundial pode ser
observada na figura 1. É uma família botânica representada por 2.500-3.500 espécies e 210-
236 gêneros. As palmeiras possuem um alto valor etnobotânico e econômico (JONES,
1995).
FIGURA 1: Distribuição Mundial da Família Arecaeae.
Fonte: Angiosperm Phylogeny Group, 1998
7
2.1.1. O GÊNERO EUTERPE
Segundo levantamento bibliográfico, o número de espécies do gênero Euterpe não
está claramente definido e tem sido objeto de constantes revisões. A literatura cita 30
espécies do gênero Euterpe na América Central e do Sul (UHL & DRANSFIELD, 1987).
Segundo HENDERSON (2000), Euterpe, juntamente com Prestoea, Oenocarpus
(incluindo Jessenia), Hyospathe e Neonicholsonia fazem parte da subtribo Euterpeinae que
é totalmente neotropical contendo 32 espécies, 7 das quais são Euterpe. Estas são
amplamente distribuídas na América Central e do Sul, ocupando florestas de terras baixas e
montanhas úmidas. No Brasil cinco espécies foram constatadas: Euterpe edulis Martius
(palmiteiro), Euterpe catinga Wallace (açaizinho), Euterpe oleracea Martius (açaizeiro),
Euterpe longibracteata Barbosa Rodrigues (açaí da terra firme), Euterpe precatoria
Martius (açaizeiro). SCHOENINGER & KIRCHNER (2003), citam 28 espécies que se
distribuem ao longo das Antilhas e América do Sul, nas regiões com Florestas Tropicais.
Em uma área limitada da Costa do Pacífico, na Colômbia e no Equador a palmeira
da espécie Euterpe chaunostachys é encontrada em estuários, próximo a rios. Seus frutos e
seu palmito foram colhidos por muitos anos por índios e por “colonos”, e na atualidade
grandes áreas naturais desta palmeira são destinadas às indústrias de palmito e também para
o extrativismo de seus frutos para fabricação do açaí (PEDERSEN & BALSLEV, 1990).
Euterpe chaunostachys é uma palmeira multicaule, como a E. oleracea, podendo
atingir 15 metros ou mais e possui até dez perfilhos por touceira. Ocorre até 200 metros de
altitude e próximo ao nível do mar. A temperatura média dos locais onde esta palmeira está
presente, varia de 25 a 27°C e a precipitação varia de 2.128 a 7.089 milímetros por ano.
8
Esta espécie está presente em áreas inundadas. No Equador os frutos são utilizados no
preparo de uma bebida de coloração roxa, a qual é chamada de “jugo de palmiche” que
também é utilizada na fabricação de sorvete o qual é vendido em Bórbon e San Lorenzo na
costa do Equador. Na Colômbia os frutos também são utilizados na fabricação do suco de
açaí (PEDERSEN & BALSLEV, 1990).
Por toda a região amazônica encontra-se uma palmeira do gênero Euterpe a qual é
conhecida na região como açaizeiro (Euterpe precatoria Martius) semelhante ao palmiteiro
da Mata Atlântica (Euterpe edulis Martius). Ambas são palmeiras monocaules, que podem
ser utilizadas tanto para a extração do palmito como para a utilização dos frutos para o
processamento do açaí.
Segundo CASTRO (2000), com a demanda crescente do mercado urbano para açaí
criou-se uma rede de fornecimento baseada, sobretudo, em laços familiares, da coleta dos
frutos para a fabricação do açaí, passando pelo transporte e pela distribuição.
2.1.2. Euterpe edulis Martius
A espécie E. edulis é encontrada na Floresta Ombrófila Densa sendo ao longo da
costa litorânea seu principal habitat. A distribuição geográfica desta espécie vai desde o Rio
Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Distrito Federal, Goiás,
Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, e no nordeste da Argentina e Sudeste do Paraguai, em florestas tropicais
entre o nível do mar e até 1.000 metros de altitude (HENDERSON, 2000).
9
E. edulis ocupa o estrato médio da floresta, é uma planta tolerante à sombra e
dominante neste estrato. Não há a necessidade de abrir grandes clareiras no dossel da
floresta para sua exploração, mantendo a estrutura e a composição das áreas florestais
manejadas (REIS, 1995). Em virtude do intenso extrativismo do palmito a regeneração
natural pode estar comprometida, pois o corte de todos os indivíduos das populações
nativas de palmiteiro, incluindo as plantas que produzem sementes, ainda é a prática mais
comum (REIS; REIS, 2000).
Em relação a fecundação E.edulis pode ser considerada autocompatível mas com
reprodução predominantemente alógama, polinizada por uma grande diversidade de insetos
(entomófila), e o vento (anemofilia) desempenhando algum papel na polinização.
(MANTOVANI, 1998).
E. edulis é uma palmeira não estolonífera, ou seja, apresenta um estipe. Suas folhas
são pinadas, com cerca de 2 a 2,5 metros de comprimento, e destacam-se com facilidade da
planta. A inflorescência com ráquis mede cerca de 70 centímetros de comprimento, com
muitas ráquilas contendo flores em tríade (uma flor feminina e duas masculinas). Os cachos
são formados por milhares de frutos (Figura 2) que medem de 10 a 15 milímetros de
diâmetro (HENDERSON, 1996). E. edulis é uma palmeira com frutos drupáceos, esféricos,
de cor quase preta ou negro-vinosa quando maduros com mesocarpo carnoso muito fino,
unisseminado, com embrião lateral e albume abundante e homogêneo (REITZ, 1974). O
fruto do palmiteiro pesa em média 1 grama e as infrutescências podem atingir 5 kg, sendo a
média de 3 kg (REIS, 1995).
10
FIGURA 2: Frutificação do E. edulis.
Foto: Andrey Pabst, 2005
No inicio da floração, as plantas reprodutivas apresentam a região das bainhas
foliares bem engrossadas (Figura 3), denunciando a presença de inflorescências. Quando
ocorre a abscisão da folha, a bráctea peduncular aparece e em seguida expõe a
inflorescência. A bráctea peduncular é composta por dupla capa que envolve a
inflorescência e é liberada no momento da abertura das flores (MANTOVANI, 1998).
FIGURA 3: Bainhas foliares engrossadas.
Foto: Andrey Pabst, 2005
11
2.1.3. A PRODUÇÃO DOS FRUTOS DO PALMITEIRO
Em um estudo realizado em área de formação secundária de Floresta Ombrófila
Densa localizada no município de São Pedro de Alcântara-SC, E. edulis apresentou amplo
período de oferta de frutos (seis meses), sendo o pico de oferta em setembro e outubro. O
palmiteiro apresentou floração (flores masculinas e femininas) de novembro a fevereiro,
fruto imaturo durante o ano inteiro e frutos maduros de maio a novembro (MANTOVANI
& MORELLATO, 2000).
Plantas que recebem grande quantidade de luz, plantadas por mudas, atingem a fase
reprodutiva entre o sétimo e o décimo ano. Porém, dentro da floresta nativa não existem
dados disponíveis sobre a idade reprodutiva das plantas. Em áreas de floresta secundária,
abandonadas para a agricultura por mais de 30 anos, é possível encontrar indivíduos de
palmiteiro em fase reprodutiva (MANTOVANI & MORELLATO, 2000).
Na floresta primária em Blumenau-SC foi encontrada uma média de 3,5 kg frutos
por infrutescência. Para plantas a céu aberto em fundo de quintal, jardins e borda de mata,
pode-se encontrar até seis inflorescências emitidas por planta. As plantas que emitem mais
de uma inflorescência estão localizadas em condições de maior luminosidade. O número de
inflorescências encontrado em plantas no interior da floresta foi, em média, duas
inflorescências por planta (REIS,1995).
Um indivíduo reprodutivo não emitirá inflorescências sem que tenha uma
capacidade mínima de reservas para formação de frutos. O sucesso na formação de frutos
está em torno de 50% (MANTOVANI & MORELLATO, 2000), isto é, considerando todas
as inflorescências formadas, aproximadamente 50% destas inflorescências formarão
12
infrutescências. Outra causa da variação de formação dos frutos pode estar relacionada à
maior ou menor ação dos insetos polinizadores.
2.1.4. ANTOCIANINAS NOS FRUTOS
O açaí é considerado uma excelente fonte de antocianinas. Segundo IADEROZA et
al (1992), o conteúdo em antocianinas dos frutos do açaizeiro (Euterpe oleracea) é de 336
mg / 100 g e dos frutos do palmiteiro (E. edulis) é de 1.347 mg / 100 g. Este estudo indica
que os frutos do palmiteiro apresentam uma concentração em antocianinas quatro vezes
superior aos frutos de açaizeiro do norte do país.
Antocianinas fazem parte de um grupo de pigmentos hidrossolúveis visíveis ao olho
humano (Figura 4). Quimicamente, consistem de flavonóides (antocianidinas) glicosilados
e em muitos casos de grupo(s) acil. Os radicais de açúcar são representados por unidades de
glucose (mais comum) ou de outros monossacarídeos. O açúcar aumenta a estabilidade e
solubilidade da antocianina. As antocianinas podem ocorrer em flores, frutos, órgãos de
reserva e folhas. Nas folhas são acumuladas nos vacúolos das células epidérmicas, sub
epidérmicas, e no mesófilo (MARTINS, 2004).
Antocianinas são antioxidantes e anti-radical livre, retardam o envelhecimento,
prolongam a vida das células, aumentam as defesas imunitárias, propiciam uma melhor
circulação sangüínea, protegem o organismo contra o acúmulo de lipídeos nas artérias.
Possuem a capacidade de adiar as perdas de visão, e diminuem os efeitos da doença de
Alzheimer (ROGEZ, 2000).
O açaí apresenta um grande potencial de uso no setor farmacêutico e cosmético. O
setor farmacêutico prevê um crescimento no comércio dos produtos à base de antocianinas,
13
pois são numerosos os trabalhos que comprovam o efeito positivo destas moléculas para a
saúde.
FIGURA 4: Presença de antocianinas na água de embebição.
Foto: Paulo Callegari, 2004
2.1.5. PROCESSAMENTO DE AÇAI
2.1.5.1. PRODUÇÃO TRADICIONAL DO AÇAI
A produção tradicional do açaí consiste no despolpamento manual dos frutos de
palmeiras do gênero Euterpe. Neste processamento, os frutos são embebidos em água
morna (40°C) e em seguida amassados sobre uma primeira peneira de fibras naturais. Neste
procedimento são separados a polpa, o caroço e as cascas. A água é progressivamente
adicionada a fim de separar definitivamente os caroços e as cascas. A mistura da polpa e
água é novamente amassada durante 10 - 15 minutos para formar uma emulsão a qual é
filtrada por uma peneira e, em seguida, o açaí é coletado em uma bacia (ROGEZ, 2000).
14
2.1.5.2. PRODUÇÃO COMERCIAL DO AÇAÍ
A produção comercial do açaí utiliza uma despolpadora elétrica (Figura 5). Esta
despolpadora possui um motor elétrico interligado através de uma correia a uma haste
central giratória com dois braços, um tambor cilíndrico de aço inox com o fundo na forma
de um funil que apresenta internamente uma chapa perfurada pela qual passa o açaí sem a
casca e sem o caroço. Permite produzir de forma descontínua o açaí numa escala maior,
atingindo de 100 a 200 litros / máquina / dia. Os frutos são colocados no cilindro e batidos,
então, é adicionada água potável progressivamente no processamento. O açaí desce por
gravidade e passa por uma peneira com furos menores que 0,6 mm de diâmetro. O tempo
de batida varia entre 3 e 10 minutos mas este tempo depende da dimensão do cilindro, da
velocidade de rotação do eixo, do tipo de açaí extraído e da proveniência dos frutos. Depois
de desligado o motor, os caroços e a borra são liberados através de um orifício lateral e a
máquina lavada com água potável (ROGEZ, 2000; CASTRO, 2000).
15
FIGURA 5: Despolpadora Comercial.
Foto: Andrey Pabst, 2005
Um processamento de 5 kg de frutos permite a fabricação de volumes variáveis de
açaí, segundo ROGEZ (2000), 4,5 a 7 litros de açaí fino, 3 a 4,5 litros de açaí médio e 1,5 a
2,5 litros de açaí grosso.
As etapas do processamento dos frutos do palmiteiro para obtenção do açaí estão
descritas no fluxograma a seguir:
16
FLUXOGRAMA DE PROCESSAMENTO
Recepção dos frutos
Seleção
Lavagem
Embebição
Despolpamento
Envase
Congelamento
Segundo ALEXANDRE; CUNHA; HUBINGER (2004), o açaí é altamente
perecível, sendo seu tempo máximo de conservação de 12 horas, mesmo sob refrigeração.
O fator responsável por esta alta perecibilidade é a elevada carga microbiana que
juntamente com a degradação enzimática são responsáveis pelas alterações de cor e pelo
aparecimento do sabor azedo. Atualmente, a conservação do açaí é feita pelo processo de
congelamento, o que eleva significativamente o custo do produto.
17
2.1.5.3. MÉTODO DE PROCESSAMENTO DOS FRUTOS DO PALMITEIRO
Em 1988, Dona Edith Pessete, uma tiradeira de açaí, pioneira nesta atividade em
Santa Catarina, começou a extrair açaí a partir dos frutos do palmiteiro (E. edulis). Dona
Edith é uma paraense de Bragança – Pará, que adaptou seus conhecimentos obtidos no
Norte do país para Santa Catarina (CALLEGARI, 2003).
Dona Edith observou a semelhança entre as palmeiras do Norte (E. precatoria) e as
palmeiras de Santa Catarina (E. edulis). Comparou a frutificação e testou seus
conhecimentos sobre processamento dos frutos do açaizeiro (E. precatoria) com os frutos
do palmiteiro (E. edulis).
O conhecimento tradicional de produção do açaí da Dona Edith consiste em colher
os cachos inteiros e maduros do palmiteiro, derriçar os frutos e colocá-los em cima de uma
mesa para selecioná-los antes do processamento. Os frutos bem maduros (com coloração
preta) devem ser separados dos frutos vermelhos e verdes, os quais são descartados. Os
cachos em Santa Catarina (Figura 6) tendem a ter uma maturação menos uniforme do que
os cachos do Norte do país, portanto, a etapa de separação dos frutos maduros é muito
importante para a qualidade de açaí produzido em Santa Catarina.
18
FIGURA 6: Diferença de maturação dos frutos.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004.
Após a seleção, os frutos são lavados em água corrente e potável. Os frutos
selecionados e lavados são embebidos em água morna (40°C) para amolecer o mesocarpo
durante 40 minutos. Após esta embebição os frutos são amassados sobre um pano, e água
potável é adicionada para facilitar a separação da polpa, do caroço e da casca. O açaí é
coletado em uma bacia, e pode ser consumido in natura ou envasado e congelado para
conservar suas características organolépticas.
No Laboratório de Biotecnologia Neolítica, as primeiras experiências da extração de
açaí datam de 1998, e se baseiam no conhecimento da Dona Edith demonstrado para os
estudantes da Agronomia (CALLEGARI, 2003). Em 1998, este laboratório forneceu uma
19
despolpadora elétrica popular (que apresenta em sua constituição muitas partes em madeira
e tem a capacidade de processamento de 4kg de frutos por batida) (Figura 7) para Dona
Edith, que adaptou seus conhecimentos de processamento dos frutos do palmiteiro para a
produção comercial do açaí. A partir deste momento foi possível iniciar o trabalho de
difusão deste conhecimento para agricultores da região norte de Santa Catarina.
FIGURA 7: Despolpadora Popular
Foto: Joana Mac Fadden, 2003
20
2.1.5.4. CLASSIFICAÇÃO DO AÇAÍ
Como outros produtos alimentícios, o açaí é normatizado pelo Ministério Da
Agricultura e Do Abastecimento. A Instrução Normativa entrou em vigor na data de sua
publicação, revogada a Instrução Normativa n°12, de 10 de setembro de 1999.
A Instrução Normativa N° 01, de 7 de janeiro de 2000 estabelece o Regulamento
Técnico Geral para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade Para Polpa de Açaí. A
citada resolução estabelece que:
“De acordo com a adição ou não de água e seus quantitativos, o produto será classificado
em:
Polpa de açaí é a polpa extraída do açaí sem adição de água, por meios mecânicos e sem
filtração, podendo ser submetido a processo físico de conservação.
Açaí grosso ou especial (tipo A) é a polpa extraída com adição de água e filtração,
apresentando acima de 14% de sólidos totais e uma aparência muito densa.
Açaí médio ou regular (tipo B) é a polpa extraída com adição de água e filtração,
apresentando acima de 11 a 14% de sólidos totais e uma aparência densa.
Açaí fino ou popular (tipo C) é a polpa extraída com adição de água e filtração,
apresentando de 8 à 11% de sólidos totais e uma aparência pouco densa” (BRASIL, 2000).
2.1.6. ETNOBOTÂNICA
Há informações que o termo “etnobotânica” foi utilizado pela primeira vez em 1895
por Harshberger. A etnobotânica pode ser entendida da mesma forma como Posey define
etnobiologia, apenas voltando-se ao domínio vegetal (HAVERROTH, 1997).
“(...)
a etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o estudo do
papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes. Neste
21
sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, mas enfatiza as categorias e conceitos
cognitivos utilizados pelos povos em estudo” (Posey, 1987).
Etnobotânica é uma ciência antiga, pois o conhecimento de plantas pelo homem
remonta ao início de sua existência. O homem primitivo tornou-se um etnobotânico porque
precisava classificar plantas conforme sua necessidade, por exemplo, para o alívio de
doenças (SCHULTES, 1996).
A utilização de plantas requer tecnologia, seja através do simples cozimento ou de
técnicas sofisticadas. A moderna tecnologia foi construída baseada no conhecimento de
sociedades primitivas ao longo dos séculos (MARTIN, 1995).
A população local utiliza certas características para identificar plantas que lhes são
peculiares. Assim, os cinco sentidos (paladar, visão, olfato, tato e audição) podem ser
empregados na identificação de uma espécie (MARTIN, 1995). O conhecimento popular
local é um guia importante destas características. Em contraste com a maioria dos
taxonomistas que trabalham com partes de plantas desidratadas, como folhas, flores e frutos
para formarem seu herbário, a população local trabalha com plantas vivas em diferentes
estações do ano. Conseqüentemente, tem a oportunidade de perceber características das
plantas que passam despercebidas aos taxonomistas (CUNNINGHAM, 2001).
A visita a informantes chaves que possuem um grande conhecimento das plantas
(CUNNINGHAM, 2001) é um pré-requisito para se iniciar um levantamento etnobotânico.
Segundo MARTIN (1995), a conversa pode abordar uma ampla gama de assuntos como
agricultura local, plantas medicinais, etc. A partir do momento que o entrevistado entende
os interesses do pesquisador, através de caminhadas nas áreas de plantio, nos quintais
agroflorestais, pode-se iniciar o questionamento sobre a planta de interesse particular.
22
Antes da entrevista deve-se preparar uma lista de tópicos dos assuntos que se deseja
abordar. À medida que a entrevista evolui, outras questões são levantadas e estas poderão
ser exploradas futuramente. A inspiração para a elaboração das questões é proveniente de
prévias interações com a comunidade, como a participação nas atividades diárias,
caminhadas nas áreas de cultivo e conversas informais sobre plantas específicas (MARTIN,
1995).
A integração de conhecimentos do grupo é feita através de uma reunião de um
grupo limitado de informantes, com a presença de um mediador, que intervém para
aprofundar a discussão e segundo MINAYO (2000), o foco das reuniões para integração de
conhecimentos são as opiniões, relevâncias e valores dos entrevistados.
A avaliação quantitativa e experimental da utilização e do manejo dos recursos
botânicos locais é uma forma de estudo de etnobotânica. Essa avaliação é feita através de
um levantamento de dados da espécie ou das espécies que serão estudadas (MARTIN,
1995).
Existem dois métodos de pesquisa aceitos pela comunidade científica: a
quantitativa, que é caracterizada pela objetividade, regras de procedimentos e modelos de
questionários fechados; e a qualitativa, caracterizada pela subjetividade, pelo empirismo e
por questionários abertos. As pesquisas quantitativa e qualitativa possibilitam ao
pesquisador uma análise mais próxima da realidade.
Segundo MINAYO (2000), a entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta
de dados, há sempre uma situação de interação, na qual as informações dadas pelos sujeitos
podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador.
23
“Os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma compreensão profunda de certos
fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social.
Contrapõem-se, assim, à incapacidade estatística de dar conta dos fenômenos complexos e da
singularidade dos fenômenos que não podem se identificados através de questionários
padronizáveis (GOLDENBERG, 1999)”.
Através da entrevista semi-estruturada, é possível compreender a complexidade da
realidade em que se vive. A entrevista possibilita a obtenção de dados de natureza objetiva
e subjetiva como atitudes, valores e opiniões (MINAYO, 2000).
A representatividade dos dados na pesquisa qualitativa consiste em descrições
detalhadas de situações não padronizáveis, através da observação participante que, segundo
GOLDENBERG (1999), consiste em um modelo de pesquisa, cujo objetivo do pesquisador
é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. O pesquisador
coleta os dados através da participação na vida cotidiana, observa como se comportam as
pessoas, conversa para descobrir as interpretações de experiências observadas. Desta forma
a combinação da pesquisa quantitativa e qualitativa tem como objetivo abranger a máxima
amplitude na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo.
24
CAPÍTULO 3
3.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
A seguir será descrito o município onde a pesquisa do presente trabalho foi
desenvolvida. A escolha do município foi realizada através de contatos com escritórios de
extensão rural (EPAGRI). No município de Garuva foram realizadas: entrevistas para
documentar conhecimento tradicional de agricultores; reuniões para integração de
conhecimentos, e quantificação da produção de frutos de palmiteiros.
3.1.1. GARUVA
O município de Garuva (Figura 8) está situado na região Norte de Santa Catarina,
suas coordenadas são: 26°01’00’’ (latitude sul), 48°50’00’’ (longitude oeste) e apresenta
altitude mínima de 6 metros acima do nível do mar, com média de 25 metros e máxima de
1.500 metros (EPAGRI/CIRAM, 1999).
O município ocupa uma área de 499,7 km². Limita-se com os seguintes municípios:
Norte – Guaratuba (PR), Sul – Joinville e São Francisco do Sul, Leste – Itapoá e Oeste –
Campo Alegre. Os acessos principais à cidade são pela BR 101, pela BR 376 e pela rodovia
SC 415, continuando pela PR 412, também denominada Rodovia Máximo Jamur. Segundo
o Zoneamento Agroecológico e Socioeconômico do Estado esta região está situada na Zona
Ecológica 1 - Litoral Norte, Vale do Rio Itajaí. Segundo a classificação climática de
25
Koeppen, esta região é classificada como clima Cfa, clima subtropical constantemente
úmido, sem estação seca, com verão quente (temperatura média do mês mais quente >
22°C). A temperatura média anual da Zona Agroecológica 1 varia de 19,1 a 20°C. A
temperatura média das máximas varia de 26 a 27,6°C e a média das mínimas de 15,4 a
16,8°C. É a região que apresenta as mais altas temperaturas médias do Estado
(EPAGRI/CIRAM, 1999).
FIGURA 8: Localização do Município de Garuva no Estado de Santa Catarina.
Fonte: CIASC, 2004
A população de Garuva conta com 11.375 habitantes dos quais 8.251 (72,6%)
vivem na zona urbana e 3.124 (27,4%) na zona rural (Censo IBGE, 2001).
A precipitação pluviométrica total anual pode variar de 1.430 a 1.908 milímetros,
enquanto os totais anuais de dias com chuva, de 156 a 185 dias. A umidade relativa do ar
pode variar de 84,2 a 87,2%, sendo este último valor o mais alto dentre as zonas
agroecológicas catarinenses (EPAGRI/CIRAM, 1999).
26
Garuva está situada em Planícies Litorâneas resultantes dos processos de
acumulação marinha e fluviomarinha. Esta Unidade Geomorfológica ocupa nesta porção
norte do Estado uma extensa área, e apresenta um litoral com baías e enseadas, a exemplo a
Baía da Babitonga. Há também uma pequena ocorrência das Unidades Geomorfológicas
Serra do Mar que se apresenta como um conjunto de cristas e picos separados por vales
profundos em “V” e com encostas íngremes (EPAGRI/CIRAM, 1999).
Em relação a geologia, o Complexo Tabuleiro ocupa grande parte do município de
Garuva. É composto por granitóides foliados diversos, não diferenciados, associados a
remanescentes de xistos supracrustais e migmatitos de injeção (EPAGRI/CIRAM, 1999).
Predomina nesta zona agroecológica, a Floresta Ombrófila Densa. Atualmente a
predominância é de vegetação secundária e agricultura com culturas cíclicas. Esta região da
Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) compreende as planícies e serras da costa
catarinense, com ambientes marcados pela influência oceânica, traduzida em elevado índice
de umidade e baixa amplitude térmica.
3.1.1.1. A HISTÓRIA DE GARUVA E O PALMITEIRO
A produção de palmito, que faz parte da história da fundação de Garuva, vem
ganhando importância econômica com o plantio do palmiteiro nativo (Euterpe edulis) e
com novas palmáceas exóticas (pupunha e palmeira real). O setor agropecuário de Garuva é
caracterizado pela rizicultura, pela bananicultura, pela piscicultura e pelo cultivo de aipim.
A história de Garuva é uma longa e rica mescla de indígenas, franceses e
palmiteiros e está relacionada à utilização do palmiteiro nativo, pelos indígenas e pelos
franceses.
27
Em janeiro de 1504, lançava âncora nas águas da Baía da Babitonga a nau
“L’Espoir”, cuja expedição financiada por comerciantes da Normandia (França), partiu do
Porto de Honfleur em 24 de junho de 1503, sendo comandada por Binot Paulmier de
Gonneville. A amizade entre os franceses e os índios Carijós foi tão profunda, que o Chefe
Arosca, consentiu que o seu filho Içá-Mirim, seguisse viagem para a França, com a
promessa de retornar após vinte luas (vinte meses). Partiram da nova terra, no dia 3 de julho
de 1504, entretanto, Içá-Mirim jamais regressou. Em 1521 casou com uma sobrinha de
Binot, de nome Suzanne, com a qual teve 14 filhos, vindo a falecer na França, somente no
ano de 1583, com a idade de 95 anos.
A vasta predominância de palmiteiros na região de Garuva se deve principalmente a
presença de índios Guarani os quais manejavam diferentes tipos de palmeiras, as quais
representavam os elementos naturais indicativos aos Guarani para formação de aldeias. As
palmeiras são inteiramente aproveitadas pelos Guarani como fonte de alimentos e para
construção de abrigos (LADEIRA, 1997). Canto (2001) observa que ao longo do tempo e
ao redor do mundo, muitas atividades humanas estiveram ligadas às palmeiras e considera
que as palmeiras indicam a presença humana em uma determinada área.
No início do século 19, os franceses novamente voltaram a influenciar a região de
Garuva. O homeopata Dr. Benoit Jules de Mure, a quem se deve o estabelecimento do
Instituto Homeopático do Rio de Janeiro, iniciou uma campanha no jornal “O Comércio do
Rio de Janeiro” para instalar no país uma colônia, baseada no consumo comum. Ao
conquistar a simpatia do Imperador, conseguiu a concessão de duas léguas quadradas de
terras devolutas na Península do Saí, localizadas no triângulo formado pelos rios São
Francisco, Palmital e Saí Grande.
28
Em 1842, os franceses fundaram o Falanstério do Saí, experiência das doutrinas do
célebre Francisco Maria Carlos Fourier, o predecessor do socialismo moderno. Essa
experiência foi organizada pelo Dr. Benoit Jules Mure. Um senhor “Joly”, que morava em
Paris era encarregado pelo recrutamento dos colonos e o “Conseil du Brésil” conseguia os
passaportes.
A colônia Industrial Francesa, regada pelos rios Saí Guaçu (Garuva) e Saí Mirim
(Itapoá) deveria se transformar em uma metrópole de renovação social capaz de resolver a
crise das nações superlotadas da Europa e provar que o homem poderia refazer-se em uma
sociedade feliz e perfeita.
Mure liderou a formação de duas colônias, uma no Saí e outra no Palmital, mas
houveram muitas dificuldades e divergências entre os imigrantes, dos quais poucos eram
agricultores. A maior parte não resistiu, e voltou para França, outra parte foi para a cidade
de Paranaguá (PR).
Em 1919 um empresário francês conhecido como Monsieur Edmund Paix, adquiriu
35 mil hectares de terra na Península do Saí, na localidade de Barrancos, a cerca de seis
quilômetros da atual sede do município. Estas terras começaram a ser demarcadas em 1927
por um engenheiro Monsieur René Pennoir que iniciou a colonização da área.
A empresa Industrial Agrícola Palmital foi implantada. O projeto da empresa
envolvia venda de terras, beneficiamento da madeira, exploração do palmito, madeira e
sapé, produtos que eram exportados para França. Uma pequena fábrica começou a produzir
palmitos e camarões enlatados.
O progresso da comunidade levou a negociação com a prefeitura de São Francisco
do Sul para a criação do distrito de Garuva, que se concretizou em 1927. Em 1934 a sede
do distrito foi transferida para o local da sede atual do município.
29
Segundo moradores a exploração desenfreada e a falta de replante de sementes
minou a produção de palmito, o que influenciou a falência da empresa Palmital nos anos
50, provocando desemprego e estagnação econômica.
Em 4 de dezembro de 1963, Garuva tornou-se um município independente. A
pressão da produção industrial de palmito, o alto rendimento econômico e a facilidade de
exploração da espécie resultaram na instalação de inúmeras indústrias de conserva. Muitas
dessas se mantém clandestinas até os dias atuais, e não tendo a preocupação de manter a
produção futura, propiciam a devastação das populações naturais do palmiteiro.
O município de Garuva é composto, em sua maioria, por pequenos produtores
rurais, que praticam, basicamente, cultivos de subsistência. De acordo com a classificação
realizada pelo Projeto Microbacias 2 no município de Garuva, a maior parte dos
agricultores estão classificados em: - Agricultor familiar periférico: obtém produtividades
inferiores às das médias regionais; as propriedades abrangem pequenas áreas. A maior parte
do valor bruto da produção é destinada ao consumo familiar. O valor agregado/pessoa
ocupada na propriedade situa-se abaixo de 1 salário mínimo por mês. A mão de obra
utilizada é da própria família. Não executa atividades de agregação de valor à produção
primária. Ocasionalmente vende a mão de obra excedente a outras propriedades de
agricultores consolidados ou a empresas rurais.
30
CAPÍTULO 4
4.1. METODOLOGIA
Quatro métodos de pesquisa descritos por MARTIN (1995) foram utilizados no
presente trabalho: 1. as entrevistas para o levantamento do conhecimento botânico
tradicional; 2. reuniões para integração de conhecimentos; 3. quantificação da produção de
frutos de palmiteiros em quintal agroflorestal e consórcio banana e palmito e, 4. avaliação
quantitativa do rendimento da produção de açaí a partir dos frutos de palmiteiros.
4.1.1. CONHECIMENTO BOTÂNICO TRADICIONAL –
ENTREVISTAS
4.1.1.1. ENTREVISTAS COM TIRADEIRAS DE AÇAÍ
No dia 03 de abril de 2004, foram entrevistadas duas moradoras da comunidade Sol
Nascente para obter informações sobre processamento dos frutos de palmiteiros, em Santa
Catarina. A primeira entrevistada foi a Senhora Marlene, moradora da comunidade Sol
Nascente, no município de Garuva. A segunda entrevistada, Elza, também é moradora da
comunidade Sol Nascente no município de Garuva. As entrevistas semi-estruturadas
seguem a metodologia descrita por MINAYO (2000) e CUNNINGHAM (2001), com um
eixo de perguntas orientadoras para estimular o diálogo sobre o processamento dos frutos
do palmiteiro para obtenção do açaí. Dez perguntas foram formuladas para obter as
informações desejadas.
31
1. De onde aprenderam produzir o açaí?
2. Como avaliam o ponto de colheita dos frutos?
3. Qual a importância do manejo dos cachos?
4. Como é feita a seleção dos frutos?
5. Qual é o modo de processamento dos frutos?
6. Esse fruto é lavado?
7. Como é chamado o produto obtido?
8. Como é armazenado este produto, ou é consumido na mesma hora?
9. Esse conhecimento é passado para outras pessoas?
10. Essas plantas são cultivadas?
4.1.1.2. ENTREVISTAS COM AGRICULTORES
Para o levantamento das informações sobre o plantio de palmiteiro, foram
entrevistados dez agricultores que plantam o palmiteiro na região de Garuva durante o mês
de abril de 2005. Utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com perguntas para estimular o
diálogo e resgatar o conhecimento sobre o plantio de palmiteiros. Nesta entrevista foram
utilizadas as seguintes questões:
1. Quanto tempo cultiva esta espécie?
2. Qual a utilização que faz da espécie, produz para palmito, para frutos ou para obtenção
de sementes?
3. Qual o tamanho da área cultivada?
4. O plantio é feito por sementes ou por mudas?
32
5. Se for feito por sementes como coleta as sementes? Quais os equipamentos necessários
para coleta?
6. Qual o ponto ideal para a coleta de sementes?
7. A semente é despolpada antes do plantio?
8. As sementes coletadas são previamente selecionadas?
9. As sementes do palmiteiro são armazenadas?
10. As mudas são produzidas a céu aberto ou na sombra?
11. Qual o local ideal para o plantio do palmiteiro?
12. Na sua opinião qual o clima ideal para o plantio? E o solo?
13. Usa algum tipo de adubação no plantio?
14. Qual espaçamento utilizado?
15. São feitas roçadas? E o coroamento?
16. É feito o desbaste?
17. O palmito é consorciado com outras espécies?
4.1.2. REUNIÕES PARA INTEGRAÇÃO DE CONHECIMENTOS
A autora do presente trabalho em conjunto com o Engenheiro Agrônomo Paulo
Antonio Callegari e representantes da EPAGRI – Empresa de Agropecuária e Extensão
Rural de Santa Catarina (a extensionista social Roberta Ramos e o engenheiro agrônomo
Fabio Zambonin) realizaram a primeira reunião participativa conforme a metodologia
proposta por COTTON (1993) com agricultores do município de Garuva, sobre coleta e
processamento dos frutos do palmiteiro, no dia 13 de abril de 2003 na agroindústria
33
TIPIKUS. Realizou-se mais duas reuniões neste município, nos dias 07 de abril de 2004 e
no dia 10 de dezembro de 2004.
Outras reuniões para integração de conhecimentos se desenvolveram em municípios
que apresentavam o palmiteiro como componente presente em áreas naturais, em quintais
agroflorestais e/ou consórcios com bananais: Pirabeiraba – SC (09/06/2004), Sete Barras –
SP (19/06/2004) e Ibirama – SC (01/07/2004). As reuniões tinham a finalidade de deixar o
participante falar livremente sobre a utilização do palmiteiro, como: plantio, espaçamento,
adubação, tratos culturais, coleta dos frutos, processamento, transporte. Realizou-se práticas
de processamento manual dos frutos e através da despolpadora elétrica para obtenção do
açaí, e por último, foi realizada a degustação do produto.
4.1.3. QUANTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE FRUTOS DE
PALMITEIROS EM QUINTAL AGROFLORESTAL E CONSÓRCIO
BANANA E PALMITO
Duas áreas foram selecionadas, para quantificação da produção de frutos, seguindo
a metodologia de CUNNINGHAM (2001) e COTTON (1996): um quintal agroflorestal
2
de
2.407 m² (Figura 9) e um consórcio
3
de banana e palmito de 4.736 m² (Figura 10), situados
na rua São João Abaixo s/n no município de Garuva, de propriedade do Senhor Waldemar
Arndt. Os dados foram coletados nos dia 08, 09 e 10 e 11 de abril de 2004. O quintal inteiro
2
Quintal Agroflorestal é uma área de produção, localizada perto da casa, onde é cultivada uma mistura de
espécies agrícolas e florestais, envolvendo também, a criação de pequenos animais domésticos (galinhas,
patos, porcos, gatos e cachorros) ou animais domesticados (paca, capivara, porco do mato) (DUBOIS;
VIANA; ANDERSON, 1996).
3
Consórcio é uma mistura de um número limitado de espécies, em geral menos de dez, manejada para fins de
comercialização (DUBOIS; VIANA; ANDERSON, 1996).
34
foi avaliado e, no consórcio, quatro parcelas de 20 x 20 metros foram definidas e
amostradas.
Nestas áreas contou-se o número de total de palmiteiros, anotou-se a idade dos
palmiteiros segundo a informação do proprietário, mediu-se as alturas de inserção dos
primeiros cachos, mediu-se DAP (diâmetro na altura do peito) com o auxílio de um
paquímetro, contou-se o número de cachos por palmiteiro e anotou-se o espaçamento
utilizado no consórcio.
No dia 11 de abril de 2004, de 52 palmiteiros existentes no quintal, 30 estavam em
fase de frutificação e 13 apresentaram cachos com frutos maduros que foram utilizados
para avaliação de produtividade. Na área avaliada de consórcio, de 330 palmiteiros em
1.600 m², 58 estavam em fase de frutificação e 20 apresentaram cachos com frutos maduros
mas, somente 13 cachos foram utilizados para avaliação de produtividade.
FIGURA 9: Quintal Agroflorestal – Garuva.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
35
FIGURA 10: Consórcio banana e palmito
Foto: Joana Mac Fadden
A colheita dos frutos, o processamento e a quantidade de açaí produzida foram
avaliados através da ficha de registro de coleta de frutos e de controle da fabricação do açaí
(Tabela 2 – ver em anexo 8.6, página 103). Esta avaliação foi realizada na comunidade São
João Abaixo do município de Garuva – SC no dia 11 de abril de 2004 na agroindústria do
Senhor Waldemar Arndt. A ficha foi preenchida para cada um dos treze cachos de frutos
colhidos no quintal agroflorestal do agricultor e para treze cachos colhidos no consórcio.
Para cada cacho colhido, os frutos foram derriçados, selecionados, pesados antes e após
embebição (Figura 11) em água potável a 40°C por 40 minutos, lavados três vezes com
36
água potável e processados com a proporção de 0,562 litro de água potável para cada quilo
de fruto. Calculou-se o rendimento em açaí de cada cacho.
FIGURA 11: Embebição
Foto: Joana Mac Fadden, 2003
4.1.4. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DO RENDIMENTO DA
PRODUÇÃO DE AÇAÍ
4.1.4.1. ENSAIO DE MEDIDA DO TEOR DE ABSORÇÃO DE ÁGUA DOS FRUTOS
DE PALMITEIROS
Frutos provenientes de quintal e consórcio agroflorestal foram avaliados para peso
antes e depois de embebição. Em um copo plástico (300 ml) colocou-se trinta frutos e
pesou-se a amostra em uma balança digital. Adicionou-se 150 ml de água potável no copo
37
para a embebição. Após 40 minutos, a água foi descartada e a amostra foi pesada
novamente. Dez repetições foram feitas de cada sistema (quintal e consórcio). O resultado
final (p. 62) foi expresso em porcentagem de peso da água embebida por peso do fruto in
natura.
4.1.4.2. ANÁLISE DE MATÉRIA SECA
Trinta e sete amostras de açaí previamente pesadas (50-60 g cada amostra) de
diferentes métodos de processamento foram analisadas. Quatro métodos de processamento
foram analisados provenientes da despolpadora popular (com capacidade de processamento
de 4 kg de frutos por batida): a. açaí obtido no final do despolpamento e utilizado para
iniciar o processamento dos próximos frutos (6 amostras); b. açaí obtido a partir do
processamento de 4 kg de frutos com 3 litros de água potável (6 amostras); c. açaí obtido a
partir do processamento de 4 kg de frutos com 3 litros de água e peneirado (6 amostras); d.
açaí obtido a partir do processamento de 4 kg de frutos com 2,25 litros de água potável (3
amostras).
Para a análise de matéria seca do açaí produzido em despolpadora comercial (com
capacidade de processamento de 8 kg de frutos por batida) (e) foram feitas dezesseis
amostras de açaí (congelado). O açaí utilizado foi produzido com a proporção de 8 kg de
frutos e 4,5 litros de água potável (0,562 litro de água para cada quilo de fruto) no dia 11 de
abril de 2004. O material foi seco em estufa a 70°C por 30 horas e, em seguida, foi pesado e
quantificado o teor de matéria seca (p. 63).
38
CAPÍTULO 5
5.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1.1. DOCUMENTAÇÃO DA BASE DO CONHECIMENTO BOTÂNICO
TRADICIONAL
5.1.1.1. ENTREVISTA COM TIRADEIRAS TRADICIONAIS
As entrevistas realizadas com as tiradeiras tradicionais do município de Garuva
permitiram constatar que o conhecimento tradicional sobre o processamento dos frutos do
palmiteiro para a obtenção do açaí existe em Santa Catarina.
As entrevistadas responderam que aprenderam a produzir o açaí com a família. No
caso da Dona Elza, a família é do Pará então a tradição de processamento dos frutos de
palmeiras veio do Norte do país. Mas Dona Marlene aprendeu com a família que mora a
gerações no local, portanto, pode-se considerar que é um conhecimento local.
Dona Marlene relatou que para verificar o ponto ideal de colheita dos frutos do
palmiteiro, é necessário apoiar uma escada em um palmiteiro, subir na escada para se
aproximar do cacho e verificar se os frutos estão maduros. Afirmou que quando o cacho é
colhido apenas avistado de baixo, no momento da seleção dos frutos, a perda é muito
grande. Dona Elza por sua vez, verifica o ponto de colheita dos frutos quando observa
frutos maduros no chão.
39
As duas entrevistadas consideram importante colher somente os cachos bem
maduros. Disseram que não se deve colher cachos com frutos vermelhos porque esses não
amadurecem depois de colhidos. As entrevistadas responderam que não se pode colher
todos os cachos de um palmiteiro de uma só vez, pois o grau de maturação é desigual
(Figura 12). O mesmo palmiteiro pode apresentar cacho com frutos verdes, cacho com
frutos vermelhos e cacho com frutos pretos, bem maduros.
FIGURA 12: Palmiteiro com cacho maduro, cacho vermelho e cacho verde.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
Para a produção de açaí as entrevistadas escolhem os frutos maduros, lavam em
água potável e fazem o processamento manualmente. O produto obtido é chamado de açaí
pelas duas entrevistadas e após a extração o açaí é consumido na hora. Este conhecimento
sobre a produção do açaí é passado para a família.
40
As entrevistadas semeiam o palmiteiro próximo à residência. Dona Elza semeia o
palmiteiro na beira do rio. Ambas concordam que as sementes também são dispersas por
passarinhos.
5.1.1.2. ENTREVISTA COM AGRICULTORES DE GARUVA
A entrevista com os agricultores de Garuva, realizada em abril de 2005, sobre o
plantio de palmiteiros mostrou que as atividades de extração do açaí no município
incentivaram os agricultores a plantar o palmiteiro em suas propriedades, principalmente
em seus quintais. A utilização das sementes provenientes do processamento dos frutos do
palmiteiro permitiu aos agricultores perceberem que a germinação é mais rápida quando os
frutos são despolpados. Outra informação importante obtida através das entrevistas é que
quando as sementes do palmiteiros são semeadas diretamente em um local sombreado e
com matéria orgânica no solo, a porcentagem de germinação e desenvolvimento das plantas
é de, aproximadamente 90%. Quando são feitas mudas do palmiteiro e estas são levadas a
campo, a porcentagem de desenvolvimento é de, aproximadamente, 50%.
O tempo de cultivo do palmiteiro é variável, três entrevistados cultivam o palmiteiro
há oito anos em uma área com mais de 5 hectares e sete cultivam o palmiteiro há um ano
em áreas de 1 a 5 hectares.
Dos dez entrevistados, três plantaram o palmiteiro para produzir palmito para o
consumo. Também colhiam a semente e vendiam para plantar em Guaraqueçaba, para
reflorestar áreas exploradas. Sete entrevistados plantaram para utilizar os frutos para vender
para a unidade de produção do açaí em Garuva. Sete entrevistados utilizaram as sementes
41
despolpadas proveniente da agroindústria do açaí e três entrevistados não despolpam o fruto
antes do plantio ou da semeadura.
Nove entrevistados semeiam o palmiteiro e um planta por mudas. Três entrevistados
coletam as sementes maduras que caíram do cacho no chão e quando o palmiteiro é baixo,
cortam o cacho com o auxílio de um facão. Sete agricultores utilizam as sementes
provenientes do processamento dos frutos para obtenção do açaí.
A época de coleta varia de uma região para outra.Quatro entrevistados responderam
que a época ideal para coleta de sementes é de junho a julho. Cinco entrevistados
responderam que a época ideal é quando os frutos estão bem maduros, com a coloração
preta. Um entrevistado respondeu que a época ideal é de maio a junho.
Todos os entrevistados responderam que só os cachos com frutos bem maduros são
selecionados para a produção do açaí e também para obtenção de sementes para a
semeadura e para o plantio do palmiteiro. As sementes não são armazenadas, logo são
semeadas ou plantadas.
Um entrevistado produz as mudas do palmiteiro na sombra, geralmente embaixo do
bananal ou de árvores. Nove entrevistados não produzem mudas, semeiam o palmiteiro
direto no local definitivo onde há presença de sombra.
O local ideal para o plantio do palmiteiro é na sombra, principalmente no inicio do
desenvolvimento. Todos entrevistados responderam que o clima ideal é o clima quente e o
solo coberto com matéria orgânica. Não é feita adubação no local do plantio.
Sete entrevistados utilizaram o espaçamento 2 x 5 m (1.000 plantas por hectare).
Três entrevistados utilizaram o espaçamento 2.5 x 2 m (2.000 plantas por hectare).
Três entrevistados fazem uma roçada e sete entrevistados não fazem roçadas nem
coroamento. Sete entrevistados não desbastam e três desbastam o palmital. Retiram os
42
palmiteiros menores, isto é, com DAP (diâmetro na altura do peito) inferior a nove
centímetros de diâmetro. Nove entrevistados responderam que o palmiteiro é consorciado
com banana e um entrevistado respondeu que é consorciado com eucalipto.
5.1.2. RESULTADOS ALCANÇADOS A PARTIR DAS REUNIÕES PARA
INTEGRAÇÃO DE CONHECIMENTOS
As reuniões realizadas para integração de conhecimentos trouxeram agricultores
para discutir sobre o processamento dos frutos do palmiteiro. Estas reuniões resultaram na
implantação de duas agroindústrias de produção do açaí, uma no município de Garuva –
SC, em função do grande número de palmiteiros existentes na região e outra em Sete Barras
- SP.
A implantação da agroindústria em Sete Barras foi realizada pela Fundação
Florestal de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente, após a reunião para integração de
conhecimentos realizada neste município no dia 19/06/2004.
5.1.2.1. GARUVA
Na primeira reunião para integração de conhecimentos no município de Garuva
foram realizadas práticas de coleta e processamento dos frutos de palmiteiros com
agricultores. Esta reunião aconteceu na propriedade do senhor Waldemar Arndt, na rua São
João Abaixo. Pela manhã os agricultores fizeram a coleta dos cachos com o auxílio de um
bambu com uma foice amarrada na ponta. Os cachos foram cortados e coletados por uma
lona. Após a coleta dos cachos, os frutos foram derriçados em cima da lona, pesados e
levados para uma mesa para ser feita a seleção.
43
Foram selecionados 160 kg de frutos que renderam 80 kg de açaí. O açaí foi
embalado manualmente em embalagens de 100 g, e seladas em seladora manual e
congelado em freezer. Na semana seguinte o total produzido foi comercializado na casa de
suco Dulado localizada na Lagoa da Conceição – Florianópolis.
A segunda reunião, realizada em Garuva, aconteceu no dia 07/04/2004 (Figura 13 e
14), com a participação de 20 agricultores do município. Foram realizadas práticas de
coleta de cachos no quintal agroflorestal do senhor Waldemar Arndt, derriça dos frutos,
pesagem do total de frutos coletados, separação, lavagem, embebição, processamento e
degustação do açaí produzido. Durante esta reunião foram abordadas questões de boas
práticas de manipulação dos alimentos. Alguns agricultores, que já produziam o açaí com o
auxilio de liquidificador, puderam conhecer o método de processamento tradicional manual
e com a despolpadora elétrica. Estes agricultores relataram uma diferença no sabor muito
grande, preferindo a nova metodologia de processamento.
FIGURA 13: Reunião para Integração de Conhecimentos em Garuva.
Foto: Henrique Romano, 2004
44
FIGURA 14: Coleta de cachos maduros no quintal agroflorestal.
Foto: Paulo A.Callegari, 2004
No dia 10 de dezembro de 2004, foi realizada em Garuva uma reunião com os
agricultores que participaram da produção de açaí na agroindústria e a autora para abordar
questões sobre as facilidades e dificuldades na atividade. Uma das dificuldades levantadas
durante a reunião foi a coleta dos frutos. Avistando o cacho do fruto de baixo, não é
possível identificar se os mesmos estão na fase de maturação adequada para a produção do
açaí. Caso a coleta seja realizada quando os frutos não estiverem maduros a etapa de
seleção dos frutos será demorada, atrasando o processamento. Quando os palmiteiros são
baixos, esta verificação pode ser feita com o auxílio de uma escada (Figura 15). Levantou-
se, na reunião, a necessidade de criar ou adaptar um equipamento seguro e eficiente para
auxiliar na subida do palmiteiro.
No ano de 2005, um agricultor chamado Andrey Pabst, morador da comunidade São
João Abaixo e o novo parceiro da agroindústria de produção de açaí em Garuva, adaptou
45
um calçado que permitiu ao coletor alcançar, com segurança, o topo das palmeiras mais
altas (Figura 16).
FIGURA 15: Coleta dos cachos com escada.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
Na região de Garuva, existem palmiteiros denominados, por agricultores,
palmiteiros brancos, que são consideravelmente mais produtivos que os outros. Foram
pesados cachos com até 10 kg de frutos. Mediu-se o DAP (diâmetro na altura do peito) de
dez palmiteiros brancos e constatou-se que apresentam diâmetro superior ao dos
palmiteiros roxos com a mesma idade. O palmiteiro branco é identificado através da
observação da coloração das bainhas foliares.
46
FIGURA 16: Detalhe do calçado para subir no palmiteiro.
Foto: Paulo A. Callegari, 2005.
seleção. No ano de 2004 a seleção dos frutos de palmiteiros foi realizada em cima de uma
mesa de madeira escura. Através das reuniões para integração dos conhecimentos ficou
pintou a mesa com a cor branca e fixou bordas nas extremidades para impedir que os frutos
Agricultores envolvidos com a produção de açaí participaram do Curso de Boas
Práticas de Fabricação na Agroindústria, promovido pela EPAGRI (Empresa de Pesquisa
em Pirabeiraba. Após este curso os agricultores começaram a lavar os frutos com
Outra dificuldade encontrada na atividade foi à visualização dos frutos na etapa da
estabelecido que a mesa seria pintada com tinta epóxi branca. O senhor Waldemar Arndt
caiam no chão.
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e realizado na Fundação XXV de Julho
hipoclorito de sódio devido às exigências da vigilância sanitária. Os agricultores passaram a
47
realizar a lavagem dos frutos na agroindústria da seguinte forma: a primeira lavagem foi
realizada em um tanque com capacidade de 250 litros com água potável e corrente, a
segunda lavagem foi realizada em um tanque de 250 litros com água potável e hipoclorito
de sódio (60 ppm) por dois minutos e na terceira lavagem os frutos foram lavados com água
corrente e potável.
5.1.2.2. PIRABEIRABA
A reunião para integração de conhecimentos em Pirabeiraba foi realizada em
09/06/2004 no Instituto BETESDA com o apoio da EPAGRI, Rotary Club e teve a
participação de 25 participantes (agricultores, extensionistas da EPAGRI e representantes
da ONG Vida Verde – Pirabeiraba) (Figura 17 e 18). Agricultores que participaram desta
reunião começaram a vender frutos para a agroindústria de Garuva neste mesmo ano.
No ano de 2004, um agricultor chamado Vilmar, foi o responsável pela coleta e
compra de frutos na região de Garuva e Joinville. Neste ano, a maior parte dos frutos
obtidos foi coletada de quintais da região.
48
FIGURA 17: Derriça e seleção dos frutos em Pirabeiraba.
Foto: Paulo A. Callegari, 2004
FIGURA 18: Seleção dos frutos maduros
Foto: Paulo A. Callegari, 2004
49
5.1.2.3. SETE BARRAS
No dia 19/06/2004 foi realizada uma reunião para integração de conhecimentos em
Sete Barras, no Estado de São Paulo. A comunidade Gapiruvu, onde foi realizada a reunião,
é caracterizada por implantar sistemas agroflorestais como uma estratégia de diversificação
de produção para garantir a subsistência da comunidade. Agricultores locais e
remanescentes quilombolas buscavam, através da atividade de processamento dos frutos de
palmiteiros para produção de açaí, uma nova forma de utilização do palmiteiro na região.
Um líder comunitário, já falecido, foi a inspiração para a produção de açaí. “Ceará”
tinha como objetivo principal trazer para a comunidade o conhecimento sobre a
transformação dos frutos dos palmiteiros em alimento. Em um episódio mal-sucedido de
difusão de conhecimento tradicional, um trabalhador do Norte do país foi contratado para
ensinar a metodologia de processamento dos frutos. Ao chegar na comunidade, esta pessoa
percebeu que não havia uma despolpadora no local e resolveu processar os frutos de
palmiteiros, sem nenhum critério de seleção, com o auxílio de um liquidificador. O
resultado foi comercializado como suco de juçara (Foto 19 e 20), mas não foi aceito pela
comunidade e pelo comércio local.
50
FIGURA 19: Nome dado ao produto obtido a partir do processamento dos frutos de palmiteiros antes da reunião.
Foto: Fundação Florestal, 2004
FIGURA 20: Cachos com poucos frutos em Sete Barras.
Foto: Fundação Florestal, 2004
51
No dia da reunião de 50 participantes, vinte e cinco eram ladrões de palmito. Essas
pessoas que “roubam” o palmito tinham o interesse de vir a ser coletores de frutos. Isto
contribuiria para aliviar a pressão sobre a exploração predatória da espécie e para amenizar
o conf
nteresse. Após essa reunião, foi estabelecida
ntre a Fundação Florestal e agricultores locais para a construção de uma
ução de açaí na região.
dos frutos de
lmite
cachos no local (Figura 21), derriça dos
frutos,
stado de
Santa Catarina e em quintais e consórcios orestais. Os funcionários do IBAMA,
presentes na reunião, apoiaram o trabalho de produção de açaí em Santa Catarina.
lito social originário da questão. Esta mudança de utilização do palmiteiro é uma
conseqüência direta do valor pago pelo quilo do fruto (R$ 0,50) em Sete Barras.
A degustação do açai, desta vez produzido pelo método tradicional manual e com
despolpadora elétrica, gerou entusiasmo e i
uma parceria e
agroindústria de prod
5.1.2.4. IBIRAMA
No dia 01/07/2004, na Floresta Nacional de Ibirama (FLONA) - SC foi realizada
uma reunião para integração de conhecimentos sobre o processamento
pa iros com 14 agricultores moradores do entorno da FLONA. Participaram da reunião
dois biólogos e um engenheiro agrônomo que são funcionários do IBAMA.
Foram realizadas práticas de coleta de
pesagem do total de frutos coletados, separação (Figura 22), lavagem, embebição,
processamento e degustação do açaí produzido.
Na reunião foi abordado, pelos representantes do IBAMA, que não há legislação
específica sobre a utilização dos frutos do palmiteiro para a fabricação de açaí no E
agrofl
52
FIGURA 21: Coleta de cachos na FLONA de Ibirama.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
FIGURA 22: Derriça e seleção dos frutos na FLONA – Ibirama.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
53
5.1.2.5. IMPLANTAÇÃO DA PRIMEIRA AGROINDÚSTRIA DE PRODUÇÃO DO
AÇAI EM SANTA CATARINA
A agroindústria de produção do açaí em Garuva (Figura 23) se estabeleceu no ano
de 2004 em um local de 45 m². Nesta agroindústria foram criados três ambientes para as
diferentes etapas do processamento. A primeira divisão da agroindústria foi destinada para
recepção, lavagem e embebição dos frutos selecionados, a segunda divisão destinada ao
processamento e envase do açaí e a terceira divisão destinada ao congelamento em freezer e
saída do produto final.
FIGURA 23: Primeira Agroindústria de Produção do Açaí em Garuva.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
54
Os equipamentos destinados à produção de açaí da agroindústria foram: mangueira
para lavagem dos frutos, baldes para embebição dos frutos, filtro de água, uma
despolpadora comercial com capacidade de processamento de 40 kg de fruto por hora (320
kg fruto por dia), uma dosadora-embaladora (Figura 24) com misturador e bomba
helicoidal, balança digital, e um freezer.
FIGURA 24: Dosadora – embaladora.
Foto: Joana Mac Fadden, 2004
O período de produção de açaí se estendeu de abril a junho de 2004, que
correspondeu à parte do período da safra, pois a estrutura da agroindústria foi concluída
após o início da safra. A produção de açaí neste ano foi de 2.500 kg de açaí congelado e
55
embalado em sachês de 100 g. Para essa produção foram utilizados 5.000 kg de frutos
provenientes de quintais agroflorestais da região de Garuva e Joinville.
As sementes (Figura 25 e 26) que sobraram do processamento dos frutos dos
palmiteiros foram plantadas no município de Garuva (comercializadas por R$ 0,50 por kg)
e do total (4.000 kg), 800 kg de sementes foram levados para a Estação Experimental da
EPAGRI de Itajaí para serem realizados testes de armazenamento e para a formação de
mudas em viveiros.
FIGURA 25: Sementes após a despolpa.
Foto: Andrey Pabst, 2005
FIGURA 26: Sementes limpas.
Foto: Andrey Pabst, 2005
56
No primeiro ano de funcionamento, nove pessoas trabalharam na produção de açaí.
Duas pessoas destinadas à coleta dos frutos, duas pessoas destinadas à seleção dos frutos e
cinco pessoas trabalharam dentro da agroindústria. As pessoas envolvidas diretamente com
o processamento do açaí receberam R$ 300,00 por mês durante a safra. Os coletores de
fruto receberam R$ 0,70 por quilo de fruto entregue na agroindústria. Neste mesmo ano, foi
criada a marca “Açaí Mata Atlântica” para a comercialização nos municípios de
Florianópolis, Joinville e Curitiba.
No ano de 2005, a agroindústria destinada à produção de açaí, em Garuva, foi
transferida para a propriedade do senhor Andrey Pabst. Neste local já existe uma
agroindústria construída (Figura 27) que atende aos padrões da ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) e possui uma câmara frigorífica para o congelamento do
produto final. E o açaí passou a ser produzido também em embalagens de 1 kg (Figura 28),
devido a exigência do mercado consumidor.
FIGURA 27: Agroindústria de Produção de Açaí.
Foto: Andrey Pabst, 2005
57
FIGURA 28: Embalagem de 1kg de Açaí.
Foto: Andrey Pabst, 2005
5.1.3. QUANTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE FRUTOS DO PALMITEIRO EM
QUINTAIS AGROFLORESTAIS E CONSÓRCIO BANANA E PALMITO
Os palmiteiros avaliados no consórcio e no quintal foram plantados em 1996. O
espaçamento das bananeiras era 2,5 x 2,5 m e o espaçamento dos palmiteiros era 2 x 2,5 m.
Os cachos colhidos no quintal e no consórcio apresentaram peso médio de 3,3 kg por cacho
(Tabela 2). Segundo ROCHA (2004) a produção de frutos por cacho da Euterpe precatoria
varia de 3,0 kg na Floresta de Terra Firme a 3,6 kg no Baixio do Sítio São Pedro, Acre.
58
TABELA 2: Comparação de Peso de Cacho de Frutos de Palmiteiros do Quintal
Agroflorestal e do Consórcio.
Sistema n DAP (cm) Altura de Inserção do 1° cacho
(m)
Peso Cacho
(g)
Quintal 13 14,30
(S=1,99)
3,61
(S=0,68)
3.304
(S=2.078,61)
Consórcio 58 14,70
(S=1,23)
3,93
(S=0,11)
3.266
(S=1.076,40)
Legenda: n = Número de palmiteiros analisados.
DAP = Diâmetro na altura do peito.
S = Desvio Padrão
A densidade de palmiteiros no quintal estudado foi de 216 palmiteiros por hectare e
no consórcio foi de 2.000 palmiteiros por hectare. No quintal, 57% dos palmiteiros
apresentaram cachos e no consórcio, 17% (Tabela 3 e 4).
No mês de fevereiro do ano de 2005 foi realizado um desbaste de 50% dos
palmiteiros no consórcio. Com o desbaste realizado, a densidade passou a ser de 1.000
plantas por hectare, com rendimento estimado de 4,0 kg de frutos por planta (Tabela 5) e
permitiu estimar uma produtividade de 4,0 toneladas de frutos por hectare, assim que todos
os indivíduos atingirem a fase reprodutiva. O quintal, com uma densidade de 216 plantas
por hectare, e uma produtividade estimada de 6,3 kg de frutos por planta (Tabela 3),
permitiu estimar uma produtividade de 1.360,8 quilos de frutos por hectare.
A produtividade estimada para o quintal é, aproximadamente, 43,3% inferior aos
valores obtidos por WADT et al (2004) para E. precatoria no Acre, onde uma densidade de
59
200 plantas por hectare rende 2,4 toneladas de frutos. ROCHA (2004) estimou
produtividade de 7,5 kg de frutos por planta, mas uma densidade de apenas 60 palmiteiros
adultos por hectare (E. precatoria) em Floresta Terra Firme no Acre.
A produtividade estimada do consórcio (4,0 toneladas de frutos por hectare que
produz 2.000 kg de suco de açaí) está abaixo da média de produtividade de E. oleracea
relatada por ROGEZ (2000) onde 1.200 estipes por hectare apresentam uma produção anual
que oscila entre 6,2 a 14,2 toneladas de frutos.
A fase reprodutiva dos palmiteiros nestes dois sistemas iniciou-se aos oito anos de
idade nos indivíduos mais precoces. No norte do Brasil a palmeira (Euterpe oleracea)
frutifica a partir do terceiro ano e individualmente produz durante 4 a 6 meses (ROGEZ,
2000)
TABELA 3: Comparação entre palmiteiros produtivos e não produtivos no quintal.
Quintal n N°cachos por
planta
Produção estimada de
frutos selecionados
(g/planta)
DAP
(cm)
Palmiteiro com cacho 30 2,80
(S=1,38)
6.311,20 14,30
(S=1,99)
Palmiteiro sem cacho 22 0 0 10,28
(S=1,97)
Legenda: n = número de palmiteiros analisados
DAP = Diâmetro na altura do peito.
S = Desvio Padrão
60
TABELA 4: Comparação entre palmiteiros produtivos e não produtivos no consórcio.
Consórcio n N°cachos por
planta
Produção estimada de
frutos selecionados
(g/planta)
DAP
(cm)
Palmiteiro com cacho 58 2,49
(S=1,19)
4.066 14,70
(S=1,23)
Palmiteiro sem cacho 272
0 0 11,9
(S=2,38)
Legenda: n = número de palmiteiros analisados
DAP = Diâmetro na altura do peito
S = Desvio Padrão
5.1.4. AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO DA PRODUÇÃO DE AÇAÍ A PARTIR
DOS FRUTOS DE PALMITEIROS
No presente trabalho encontrou-se uma média de peso de fruto de quintal de 1,83 g
e em fruto de consórcio 1,78 g (Tabela 6). O peso médio encontrado é maior do que
qualquer citação na literatura para E. edulis ou E. oleracea (ROGEZ, 2000). Segundo
QUEIROZ (2000) e REIS (1995) o peso médio do fruto do palmiteiro é 1 g. Andrade et al
(1996), relatam uma variação de 0,85 a 1,51 g por fruto do palmiteiro. Provavelmente a
diferença de peso unitário do fruto possa ser explicada pela situação de cultivo no consórcio
e nos quintais, com um maior espaçamento e luminosidade, mais favoráveis do que na
mata. O tamanho do fruto de E. edulis pode ser observado na Figura 29
61
FIGURA 29: Tamanho dos Frutos do Palmiteiro.
Foto: Andrey Pabst, 2005
O teor de embebição para os frutos dos dois sistemas variou de 4 a 14% (Tabela 5 e
6). Isto significa que existe uma variação muito grande de absorção de água entre os cachos
individuais independente do sistema. ROGEZ (2000), em ensaios de amolecimento dos
frutos com água, não relatou a quantidade de embebição, mas encontrou grande
variabilidade nos frutos de diferentes procedências, em relação ao efeito do amolecimento
sobre o processamento.
No teste de processamento, o rendimento em açaí foi maior para os frutos do quintal
(54 %) em comparação com o rendimento dos frutos do consórcio (49%) (Tabela 5). O
rendimento em açaí do consórcio, portanto, é semelhante aos valores de 43 a 48%
encontrados por ROGEZ (2000) para algumas procedências de E. oleracea, e os
rendimentos em açaí dos frutos dos quintais são superiores aos valores encontrados para
qualquer procedência de E. oleracea.
O açaí obtido a partir da despolpadora comercial apresentou um teor de matéria seca
(MS) de 15,5% (Tabela 5 e 7), o que equivale a 84 e 76 g MS/kg fruto, nos sistemas de
62
quintal e consórcio, respectivamente, similar aos resultados obtidos por ROGEZ (2000)
onde os teores de matéria seca variaram de 14% (Ilha das Onças) a 18% (Abaetetuba), o
que equivale a 67 a 77 g MS/kg fruto, respectivamente. O rendimento em MS/kg de frutos
do consórcio foi similar ao rendimento encontrado em Abaetetuba. O rendimento
encontrado nos frutos do quintal foi superior a todos os valores registrados por ROGEZ
(2000).
TABELA 5: Rendimento em Açaí dos Frutos Provenientes de Quintal e do Consórcio.
Sistema n Peso frutos
selecionados*
(g/cacho)
Peso dos frutos
após embebição
(g/cacho)
Embebição
(%)
Rendimento
em açaí (g)
Quintal 13 2.254
(S=1.822,5)
2.444,5 8,5 1.220 (54%)
Consórcio 13 1.633
(S=980,87)
1.800 10,1 815 (49%)
Legenda: n = número de palmiteiros analisados
* Peso dos frutos selecionados sem a vassoura.
S = Desvio Padrão
63
TABELA 6: Resultados do Ensaio de Medida do Teor de Absorção de Água dos Frutos.
Sistema n Peso do fruto
in natura
(g/fruta)
Peso do fruto
após
embebição (g)
Embebição
(%)
Quintal 10 1,83
(S= 0,07)
2,08
(S=0,06)
14,0
Consórcio 10 1,78
(S=0,04)
1,85
(S=0,04)
4,0
Legenda: n = número de amostras
Os métodos de produção de açaí (d) e (e), descritos na metodologia, que utilizaram
0,562 litro de água para cada quilo de fruto durante o processamento em despolpadora
popular e comercial, respectivamente, apresentaram teores de MS acima de 15%, portanto
foram classificados de acordo com a Instrução Normativa n° 01 do Ministério da
Agricultura e Do Abastecimento de 07 de janeiro de 2000, como Açai Especial.
64
TABELA 7: Análise de Matéria Seca.
Procedência do
açaí
Número de
amostras
Matéria Seca
(%)
Classificação do
Açai
a 6 9,62
(S=1,27)
Fino
b 6 12,09
(S=0,97)
Médio
c 6 11,90
(S=0,20)
Médio
d 3 15,23
(S=0,24)
Grosso
e 16 15,55
(S=0,77)
Grosso
Legenda:
a. açaí obtido no final do despolpamento e utilizado para iniciar o processamento
dos próximos frutos;
b. açaí obtido a partir do processamento de 4 kg de frutos com 3 litros de água
potável;
c. açaí obtido a partir do processamento de 4 kg de frutos com 3 litros de água e
peneirado;
d. açaí obtido a partir do processamento de 4 kg de frutos com 2,25 litros de água
potável;
e. açaí produzido com a proporção de 8 kg de frutos e 4,5 litros de água potável
(0,562 litro de água para cada quilo de fruto).
S = Desvio Padrão
65
CAPÍTULO 6
6.1. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do presente trabalho foi possível constatar que existem mulheres que
produzem o açaí a partir dos frutos do palmiteiro em Santa Catarina. Este conhecimento é
passado entre gerações e o produto obtido é utilizado como uma opção de alimento em
pequenas propriedades rurais. O conhecimento tradicional e a experimentação
comprovaram a possibilidade de produzir o açaí no bioma Mata Atlântica a partir dos frutos
do palmiteiro com a participação de agricultores da região.
A produção de frutos em Santa Catarina corresponde à safra de inverno do Norte do
país, o que faz com que o “Açaí Mata Atlântica”, seja procurado por fornecedores de açaí
de Florianópolis para a comercialização devido a qualidade superior ao açaí proveniente do
Norte do país.
O cultivo do palmiteiro em consórcio com a banana ou mesmo em quintais
agroflorestais é uma prática viável que apresenta bons rendimentos para produção de frutos.
Nesses sistemas o palmiteiro atinge o extrato superior e recebe uma grande intensidade de
luz solar, o que favorece a maturação dos frutos. O palmiteiro está inserido nos contextos
culturais e econômicos da população de Garuva e incrementa a bananicultura sem
prejudicá-la. Representa um elemento a mais no sistema bananeiro aumentando a
diversificação da produção local. A produção de açaí mostra o interesse despertado nos
agricultores por essa espécie por meio de sua integração nos sistemas de produção
agroflorestal.
66
Devido à exploração desenfreada dos estoques naturais do palmiteiro na Mata
Atlântica, a atividade de produção de açaí neste bioma gera a possibilidade de enriquecer
áreas exploradas com as sementes provenientes da agroindústria. Através da entrevista
realizada com agricultores do município de Garuva foi possível constatar que os
agricultores estão plantando mais palmiteiros devido à disponibilidade de sementes
despolpadas que apresentam alto índice de germinação.
As reuniões realizadas com agricultores nos diferentes municípios resultaram no
estabelecimento de agroindústrias nos Estados de Santa Catarina e São Paulo.
Nos anos de 2005 - 2006, através do CONAB (Companhia Nacional de
Abastecimento), o açaí poderá vir a fazer parte da merenda escolar do município de
Garuva, mais precisamente para a Escola Municipal Içá Mirim, na comunidade Mina
Velha. Os representantes municipais do CONAB mostraram interesse na compra do
produto, e em parceria com a Secretaria do Bem Estar Social do Município, o açaí poderá
ser distribuído nas escolas.
Nos meses de novembro, dezembro de 2004 e janeiro e fevereiro de 2005 foram
comercializados, somente na cidade de Floriapolis, 50 toneladas de açaí. O Açaí Mata
Atlântica comercializou durante o ano de 2004, aproximadamente 1 tonelada de açaí, e no
verão, 1,5 tonelada nos municípios: Florianópolis e Curitiba. O preço do quilo do açaí
especial variou de R$ 6,00 a R$ 8,00 para o consumidor final, dependendo da quantidade
comercializada. A safra 2005 foi de sete toneladas de açaí, comercializada até setembro do
mesmo ano. Pode-se concluir que o mercado está em plena expansão e a produção de açaí
atual é menor do que a demanda.
67
A atividade de produção do açaí a partir dos frutos do palmiteiro necessita de uma
maior organização social dos agricultores. No Estado de Santa Catarina é uma atividade
recente que busca melhorar a economia regional.
68
6.2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, M. O.; MENDONÇA, M. S.. Aspectos morfo-anatômicos do embrião de
Euterpe precatoria Mart. durante o processo germinativo. Acta Botânica Brasileira.
Julho/Setembro 2002, vol.16, no.3, p.241-249.
ALEXANDRE, D., CUNHA, R. L. e HUBINGER, M. D.. Conservação do açaí pela
tecnologia de obstáculos. Ciênc. Tecnol. Aliment., jan./mar. 2004, vol.24, no.1, p.114-119.
ISSN 0101-2061.
ANDRADE, A. C. S.; VENTURI, S.; PAULILO, M. T.. Efeito do tamanho das sementes
de Euterpe edulis Mart. Sobre a emergência e crescimento inicial. Revista Brasileira de
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07/01/2000. Disponível em:
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Florianópolis, 2003.
CALZAVARA, B.B.. As possibilidades do açaizeiro no estuário amazônico. Boletim da
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CANTO, S.A.E.. Processo Extrativista do Açaí: Contribuição da Ergonomia com Base
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Engenharia de Produção), Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2001.
69
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Editora científica Laure Emperaira. São Paulo: editora UNESP: Imprensa Oficial do
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(Doutorado em Biologia Vegetal) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995.
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72
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Gradiente Altimétrico em um Sistema de Informação Geográfica. In: Floresta Vol. 33,
n.2 – Curitiba: Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, 2003. p.183-200.
SCHULTES, R.E. El desarrollo histórico de la identificación de las Malpigiáceas
empleadas como alucinógenos. América Indígena, vol. XLVI (1). 1986. p. 9-47.
UHL, N. W.; DRANSFIELD, J.. Genera Palmarum; A Classification of Palms Based on
the Work of Harold E. Moore Jr. Allen Press, Lawrence, 1987. 600p.
WADT, L. H. O.; AZEVEDO, O. C. R.; FERREIRA, E. J. L.; CARTAXO, C. B. C.
Manejo de Açaí Solteiro (Euterpe precatoria Mart.) para produção de frutos.
EMBRAPA, Rio Branco, AC: Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar, 2004. 34p.
73
6.3. ANEXOS
6.3.1. INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 01, DE 7 DE JANEIRO DE 2000
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO
GABINETE DO MINISTRO
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 01, DE 7 DE JANEIRO DE 2000
O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO, no
uso da atribuição que lhe confere o art. 87, inciso II, da Constituição, tendo em vista o
disposto nos incisos I, alínea "a" e II do art. 159 e arts. 40 e 41 do Regulamento da Lei nº
8.918, de 14 julho de 1994, aprovado pelo Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997, e o
que consta do Processo nº 21000.000573/99-26, resolve:
Art.1º- Aprovar o Regulamento Técnico Geral para fixação dos Padrões de Identidade e
Qualidade para polpa de fruta conforme consta do Anexo I desta Instrução Normativa.
Art.2º- Aprovar os Regulamentos Técnicos para Fixação dos Padrões de Identidade e
Qualidade para polpa das seguintes frutas: acerola, cacau, cupuaçu, graviola, açaí,
maracujá, caju, manga, goiaba, pitanga, uva, mamão, cajá, melão, mangaba, e para
suco das seguintes frutas: maracujá, caju, caju alto teor de polpa, caju clarificado ou
cajuína, abacaxi, uva, pêra, maçã, limão, lima ácida e laranja, conforme consta do
Anexo II desta Instrução Normativa.
Art. 3º- Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação, revogada
a Instrução Normativa nº 12, de 10 de setembro de 1999.
MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES
74
REGULAMENTO TÉCNICO PARA FIXAÇÃO DOS PADRÕES DE IDENTIDADE E
QUALIDADE PARA POLPA DE AÇAÍ.
1. OBJETIVO
A presente norma tem como objetivo estabelecer os padrões de identidade e
qualidade mínimos que deverão obedecer a polpa de açaí e o açaí, destinados ao consumo
como bebida. Esta norma não se aplica à polpa de açaí destinada para outros fins.
2. DEFINIÇÃO
Polpa de açaí e o açaí são produtos extraídos da parte comestível do fruto do
açaizeiro (Euterpe oleracea, Mart.) após amolecimento através de processos tecnológicos
adequados.
3. CLASSIFICAÇÃO
De acordo com a adição ou não de água e seus quantitativos, o produto será
classificado em:
3.1. Polpa de açaí é a polpa extraída do açaí, sem adição de água, por meios
mecânicos e sem filtração, podendo ser submetido a processo físico de conservação.
3.2. Açaí grosso ou especial (tipo A) é a polpa extraída com adição de água e
filtração, apresentando acima de 14% de Sólidos totais e uma aparência muito densa.
3.3. Açaí médio ou regular (tipo B) é a polpa extraída com adição de água e
filtração, apresentando acima de 11 a 14% de Sólidos totais e uma aparência densa.
3.4. Açaí fino ou popular (tipo C) é a polpa extraída com adição de água e filtração,
apresentando de 8 a 11% de Sólidos totais e uma aparência pouco densa.
4. INGREDIENTES BÁSICOS
A polpa de açaí e o açaí serão obtidos de frutas frescas, sãs, maduras, atendendo às
respectivas especificações, desprovidas de terra, sujidade, parasitas e microrganismos que
possam tornar o produto impróprio para o consumo.
5. INGREDIENTES OPCIONAIS
5.1. Água - A água usada para a extração da polpa deverá ser água potável
obedecendo aos padrões de potabilidade estabelecidos em legislação específica.
5.2. Acidulante
75
No caso do açaí pasteurizado e mantido à temperatura ambiente, será permitida a
adição de ácido cítrico, de acordo com as Boas Praticas de Fabricação (BPF).
6. COMPOSIÇÃO
A polpa de açaí e o açaí deverão ter suas composições de acordo com as
caraterísticas do fruto que lhe deu origem, não devendo apresentar alterações, mistura com
outros frutos de espécie diferente e práticas consideradas ilícitas.
6.1. O açaí (grosso, médio e fino) deverá obedecer às seguintes características
físicas, químicas e organolépticas:
Aspectos físicos: a emulsão deve ficar estável mesmo se for aquecida a 80 º C
Cor: roxo violáceo próprio do açaí roxo e verde claro próprio do açaí verde
Sabor: não adocicado e não azedo
Cheiro: característico
6.2. A polpa de açaí e o açaí poderão conter parte não comestível do fruto, dentro
dos limites que não alterem a qualidade e as características organolépticas do produto e do
"granu teste" das partículas não comestíveis que devem ser igual ou inferior a (seis
décimos) de milímetros.
6.2.1 A polpa de açaí e o açaí deverão observar às demais características físicas,
químicas, microscópicas, microbiológicas e organolépticas fixadas nos Padrões de
Identidade e Qualidade para polpa de fruta em geral.
7. ADITIVOS
7.1. A polpa de açaí e o açaí destinado ao consumo direto em embalagem comercial
de no máximo um quilo deverão ser conservados através de processo físico, proibido o uso
de conservantes químicos ou de corantes, com exceção do corante obtido do próprio fruto
do açaí.
8. ROTULAGEM
8.1. Deverão ser obedecidas as normas de rotulagem estabelecidas na legislação
sobre bebidas.
8.2. A classificação do açaí, prevista no item 3 dessa norma, deverá ser declarada no
rótulo principal da polpa de açaí integral e do açaí, de forma legível e visível, em
dimensões gráficas não inferiores à denominação do produto.
76
9.AMOSTRAGEM E MÉTODOS DE ANÁLISE
9.1. Os métodos oficiais de amostragemo aqueles estabelecidos pelo Ministério
da Agricultura e do Abastecimento.
9.2. Os métodos oficiais de análise são aqueles estabelecidos pelo Ministério da
Agricultura e do Abastecimento.
10. DISPOSIÇÕES GERAIS
Os casos omissos serão resolvidos por Atos Administrativos da Secretaria de Defesa
Agropecuária do Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
77
6.3.2. LEI N° 10.711, DE 5 DE AGOSTO DE 2003
Presidência da República Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI N
o
10.711, DE 5 DE AGOSTO DE 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
LEI Nº 10711, DE 5 DE AGOSTO DE 2003.
Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1
o
O Sistema Nacional de Sementes e Mudas, instituído nos termos desta Lei e
de seu regulamento, objetiva garantir a identidade e a qualidade do material de
multiplicação e de reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o
território nacional.
Art. 2
o
Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
I – amostra: porção representativa de um lote de sementes ou de mudas,
suficientemente homogênea e corretamente identificada, obtida por método indicado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa;
II – amostra oficial: amostra retirada por fiscal, para fins de análise de fiscalização;
78
III - amostragem: ato ou processo de obtenção de porção de sementes ou de mudas,
definido no regulamento desta Lei, para constituir amostra representativa de campo ou de
lote definido;
IV - amostrador: pessoa física credenciada pelo Mapa para execução de
amostragem;
V - armazenador: pessoa física ou jurídica que armazena sementes para si ou para
terceiros;
VI - beneficiamento: operação efetuada mediante meios físicos, químicos ou
mecânicos, com o objetivo de se aprimorar a qualidade de um lote de sementes;
VII - beneficiador: pessoa física ou jurídica que presta serviços de beneficiamento
de sementes ou mudas para terceiros, assistida por responsável técnico;
VIII - categoria: unidade de classificação, dentro de uma classe de semente, que
considera a origem genética, a qualidade e o número de gerações, quando for o caso;
IX - certificação de sementes ou mudas: processo de produção de sementes ou
mudas, executado mediante controle de qualidade em todas as etapas do seu ciclo,
incluindo o conhecimento da origem genética e o controle de gerações;
X - certificado de sementes ou mudas: documento emitido pelo certificador,
comprovante de que o lote de sementes ou de mudas foi produzido de acordo com as
normas e padrões de certificação estabelecidos;
XI - certificador: o Mapa ou pessoa jurídica por este credenciada para executar a
certificação de sementes e mudas;
XII - classe: grupo de identificação da semente de acordo com o processo de
produção;
XIII - comerciante: pessoa física ou jurídica que exerce o comércio de sementes ou
mudas;
XIV - comércio: o ato de anunciar, expor à venda, ofertar, vender, consignar,
reembalar, importar ou exportar sementes ou mudas;
XV - cultivar: a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja
claramente distinguível de outras cultivares conhecidas, por margem mínima de descritores,
por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através
de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal,
79
descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem como a
linhagem componente de híbridos;
XVI - cultivar local, tradicional ou crioula: variedade desenvolvida, adaptada ou
produzida por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas, com
características fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas comunidades
e que, a critério do Mapa, considerados também os descritores socioculturais e ambientais,
não se caracterizem como substancialmente semelhantes às cultivares comerciais;
XVII - detentor de semente: a pessoa física ou jurídica que estiver na posse da
semente;
XVIII - fiscalização: exercício do poder de polícia, visando coibir atos em
desacordo com os dispositivos desta Lei e de sua regulamentação, realizado por Fiscal
Federal Agropecuário do Mapa ou por funcionário da administração estadual, municipal ou
do Distrito Federal, capacitados para o exercício da fiscalização e habilitados pelos
respectivos conselhos de fiscalização do exercício profissional;
XIX - híbrido: o resultado de um ou mais cruzamentos, sob condições controladas,
entre progenitores de constituição genética distinta, estável e de pureza varietal definida;
XX - identidade: conjunto de informações necessárias à identificação de sementes
ou mudas, incluindo a identidade genética;
XXI - identidade genética: conjunto de caracteres genotípicos e fenotípicos da
cultivar que a diferencia de outras;
XXII - introdutor: pessoa física ou jurídica que introduz pela primeira vez, no País,
uma cultivar desenvolvida em outro país;
XXIII - jardim clonal: conjunto de plantas, matrizes ou básicas, destinado a fornecer
material de multiplicação de determinada cultivar;
XXIV - laboratório de análise de sementes e mudas: unidade constituída e
credenciada especificamente para proceder a análise de sementes e expedir o respectivo
boletim ou certificado de análise, assistida por responsável técnico;
XXV - mantenedor: pessoa física ou jurídica que se responsabiliza por tornar
disponível um estoque mínimo de material de propagação de uma cultivar inscrita no
Registro Nacional de Cultivares - RNC, conservando suas características de identidade
genética e pureza varietal;
80
XXVI - muda: material de propagação vegetal de qualquer gênero, espécie ou
cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica
de plantio;
XXVII - muda certificada: muda que tenha sido submetida ao processo de
certificação, proveniente de planta básica ou de planta matriz;
XXVIII - obtentor: pessoa física ou jurídica que obtiver cultivar, nova cultivar ou
cultivar essencialmente derivada;
XXIX - planta básica: planta obtida a partir de processo de melhoramento, sob a
responsabilidade e controle direto de seu obtentor ou introdutor, mantidas as suas
características de identidade e pureza genéticas;
XXX - planta matriz: planta fornecedora de material de propagação que mantém as
características da Planta Básica da qual seja proveniente;
XXXI - produção: o processo de propagação de sementes ou mudas;
XXXII - produtor de muda: pessoa física ou jurídica que, assistida por responsável
técnico, produz muda destinada à comercialização;
XXXIII - produtor de semente: pessoa física ou jurídica que, assistida por
responsável técnico, produz semente destinada à comercialização;
XXXIV - propagação: a reprodução, por sementes propriamente ditas, ou a
multiplicação, por mudas e demais estruturas vegetais, ou a concomitância dessas ações;
XXXV - qualidade: conjunto de atributos inerentes a sementes ou a mudas, que
permite comprovar a origem genética e o estado físico, fisiológico e fitossanitário delas;
XXXVI - reembalador: pessoa física ou jurídica que, assistida por responsável
técnico, reembala sementes;
XXXVII - responsável técnico: engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal,
registrado no respectivo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia -
Crea, a quem compete a responsabilidade técnica pela produção, beneficiamento,
reembalagem ou análise de sementes em todas as suas fases, na sua respectiva área de
habilitação profissional;
XXXVIII - semente: material de reprodução vegetal de qualquer gênero, espécie ou
cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica
de semeadura;
81
XXXIX - semente genética: material de reprodução obtido a partir de processo de
melhoramento de plantas, sob a responsabilidade e controle direto do seu obtentor ou
introdutor, mantidas as suas características de identidade e pureza genéticas;
XL - semente básica: material obtido da reprodução de semente genética, realizada
de forma a garantir sua identidade genética e sua pureza varietal;
XLI - semente certificada de primeira geração: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente básica ou de semente genética;
XLII - semente certificada de segunda geração: material de reprodução vegetal
resultante da reprodução de semente genética, de semente básica ou de semente certificada
de primeira geração;
XLIII - semente para uso próprio: quantidade de material de reprodução vegetal
guardada pelo agricultor, a cada safra, para semeadura ou plantio exclusivamente na safra
seguinte e em sua propriedade ou outra cuja posse detenha, observados, para cálculo da
quantidade, os parâmetros registrados para a cultivar no Registro Nacional de Cultivares -
RNC;
XLIV - termo de conformidade: documento emitido pelo responsável técnico, com
o objetivo de atestar que a semente ou a muda foi produzida de acordo com as normas e
padrões estabelecidos pelo Mapa;
XLV - utilização de sementes ou mudas: uso de vegetais ou de suas partes com o
objetivo de semeadura ou plantio;
XLVI - usuário de sementes ou mudas: aquele que utiliza sementes ou mudas com
objetivo de semeadura ou plantio;
XLVII - valor de cultivo e uso - VCU: valor intrínseco de combinação das
características agronômicas da cultivar com as suas propriedades de uso em atividades
agrícolas, industriais, comerciais ou consumo in natura.
Parágrafo único. Aplicam-se, também, no que couber e no que não dispuser em contrário
esta Lei, os conceitos constantes da Lei n
o
9.456, de 25 de abril de 1997.
82
CAPÍTULO II
DO SISTEMA NACIONAL DE SEMENTES E MUDAS
Art. 3
o
O Sistema Nacional de Sementes e Mudas - SNSM compreende as seguintes
atividades:
I - registro nacional de sementes e mudas - Renasem;
II - registro nacional de cultivares - RNC;
III - produção de sementes e mudas;
IV - certificação de sementes e mudas;
V - análise de sementes e mudas;
VI - comercialização de sementes e mudas;
VII - fiscalização da produção, do beneficiamento, da amostragem, da análise,
certificação, do armazenamento, do transporte e da comercialização de sementes e mudas;
VIII - utilização de sementes e mudas.
Art. 4
o
Compete ao Mapa promover, coordenar, normatizar, supervisionar, auditar e
fiscalizar as ações decorrentes desta Lei e de seu regulamento.
Art. 5
o
Compete aos Estados e ao Distrito Federal elaborar normas e procedimentos
complementares relativos à produção de sementes e mudas, bem como exercer a
fiscalização do comércio estadual.
Parágrafo único. A fiscalização do comércio estadual de sementes e mudas poderá
ser exercida pelo Mapa, quando solicitado pela unidade da Federação.
Art. 6
o
Compete privativamente ao Mapa a fiscalização do comércio interestadual e
internacional de sementes e mudas.
CAPÍTULO III
DO REGISTRO NACIONAL DE SEMENTES E MUDAS
Art. 7
o
Fica instituído, no Mapa, o Registro Nacional de Sementes e Mudas -
Renasem.
83
Art. 8
o
As pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades de produção,
beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e exportação
de sementes e mudas ficam obrigadas à inscrição no Renasem.
§ 1
o
O Mapa credenciará, junto ao Renasem, pessoas físicas e jurídicas que atendam
aos requisitos exigidos no regulamento desta Lei, para exercer as atividades de:
I - responsável técnico;
II - entidade de certificação de sementes e mudas;
III - certificador de sementes ou mudas de produção própria;
IV - laboratório de análise de sementes e de mudas;
V - amostrador de sementes e mudas.
§ 2
o
As pessoas físicas ou jurídicas que importem sementes ou mudas para uso
próprio em sua propriedade, ou em propriedades de terceiros cuja posse detenham, ficam
dispensadas da inscrição no Renasem, obedecidas as condições estabelecidas no
regulamento desta Lei.
§ 3
o
Ficam isentos da inscrição no Renasem os agricultores familiares, os
assentados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas
para distribuição, troca ou comercialização entre si.
Art. 9
o
Os serviços públicos decorrentes da inscrição ou do credenciamento no
Renasem serão remunerados pelo regime de preços de serviços públicos específicos,
cabendo ao Mapa fixar valores e formas de arrecadação para as atividades de:
I - produtor de sementes;
II - produtor de mudas;
III - beneficiador de sementes;
IV - reembalador de sementes;
V - armazenador de sementes;
VI - comerciante de sementes;
VII - comerciante de mudas;
VIII - certificador de sementes ou de mudas;
IX - laboratório de análise de sementes ou de mudas;
84
X - amostrador;
XI - responsável técnico.
Parágrafo único. A pessoa física ou jurídica que exercer mais de uma atividade
pagará somente o valor referente à maior anuidade e à maior taxa de inscrição ou de
credenciamento nas atividades que desenvolve.
CAPÍTULO IV
DO REGISTRO NACIONAL DE CULTIVARES
Art. 10. Fica instituído, no Mapa, o Registro Nacional de Cultivares - RNC e o
Cadastro Nacional de Cultivares Registradas - CNCR.
Parágrafo único. O CNCR é o cadastro das cultivares registradas no RNC e de seus
mantenedores.
Art. 11. A produção, o beneficiamento e a comercialização de sementes e de mudas
ficam condicionados à prévia inscrição da respectiva cultivar no RNC.
§ 1
o
A inscrição da cultivar deverá ser única.
§ 2
o
A permanência da inscrição de uma cultivar, no RNC, fica condicionada à
existência de pelo menos um mantenedor, excetuadas as cultivares cujo material de
propagação dependa exclusivamente de importação.
§ 3
o
O Mapa poderá aceitar mais de um mantenedor da mesma cultivar inscrita no
RNC, desde que comprove possuir condições técnicas para garantir a manutenção da
cultivar.
§ 4
o
O mantenedor que, por qualquer motivo, deixar de fornecer material básico ou
de assegurar as características da cultivar declaradas na ocasião de sua inscrição no RNC
terá seu nome excluído do registro da cultivar no CNCR.
§ 5
o
Na hipótese de cultivar protegida, nos termos da Lei n
o
9.456, de 25 de abril de
1997, a inscrição deverá ser feita pelo obtentor ou por procurador legalmente autorizado.
§ 6
o
Não é obrigatória a inscrição no RNC de cultivar local, tradicional ou crioula,
utilizada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas.
§ 7
o
O regulamento desta Lei estabelecerá os critérios de permanência ou exclusão
de inscrição no RNC, das cultivares de domínio público.
85
Art. 12. A denominação da cultivar será obrigatória para sua identificação e
destinar-se-á a ser sua denominação genérica, devendo, para fins de registro, obedecer aos
seguintes critérios:
I - ser única, não podendo ser expressa apenas na forma numérica;
II - ser diferente de denominação de cultivar preexistente;
III - não induzir a erro quanto às características intrínsecas ou quanto à procedência
da cultivar.
Art. 13. O Mapa editará publicação especializada para divulgação do Cadastro
Nacional de Cultivares Registradas.
Art. 14. Ficam convalidadas as inscrições de cultivares já existentes no RNC, na
data de publicação desta Lei, desde que, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, os
interessados atendam ao disposto no art. 11.
Art. 15. O Mapa estabelecerá normas para determinação de valor de cultivo e de uso
- VCU pertinentes a cada espécie vegetal, para a inscrição das respectivas cultivares no
RNC.
Art. 16. A inscrição de cultivar no RNC poderá ser cancelada ou suspensa, na forma
que estabelecer o regulamento desta Lei.
Art. 17. Os serviços públicos decorrentes da inscrição no RNC serão remunerados
pelo regime de preços de serviços públicos específicos, cabendo ao Mapa fixar valores e
formas de arrecadação.
CAPÍTULO V
DA PRODUÇÃO E DA CERTIFICAÇÃO
Art. 18. O Mapa promoverá a organização do sistema de produção de sementes e
mudas em todo o território nacional, incluindo o processo de certificação, na forma que
dispuser o regulamento desta Lei.
86
Art. 19. A produção de sementes e mudas será de responsabilidade do produtor de
sementes e mudas inscrito no Renasem, competindo-lhe zelar pelo controle de identidade e
qualidade.
Parágrafo único. A garantia do padrão mínimo de germinação será assegurada pelo
detentor da semente, seja produtor, comerciante ou usuário, na forma que dispuser o
regulamento desta Lei.
Art. 20. Os padrões de identidade e qualidade das sementes e mudas, estabelecidos
pelo Mapa e publicados no Diário Oficial da União, serão válidos em todo o território
nacional.
Art. 21. O produtor de sementes e de mudas fica obrigado a identificá-las, devendo
fazer constar da respectiva embalagem, carimbo, rótulo ou etiqueta de identificação, as
especificações estabelecidas no regulamento desta Lei.
Art. 22. As sementes e mudas deverão ser identificadas com a denominação
"Semente de" ou "Muda de" acrescida do nome comum da espécie.
Parágrafo único. As sementes e mudas produzidas sob o processo de certificação serão
identificadas de acordo com a denominação das categorias estabelecidas no art. 23,
acrescida do nome comum da espécie.
Art. 23. No processo de certificação, as sementes e as mudas poderão ser produzidas
segundo as seguintes categorias:
I - semente genética;
II - semente básica;
III - semente certificada de primeira geração - C1;
IV - semente certificada de segunda geração - C2;
V - planta básica;
VI - planta matriz;
VII - muda certificada.
§ 1
o
A obtenção de semente certificada de segunda geração - C2, de semente
certificada de primeira geração - C1 e de semente básica se dará, respectivamente, pela
reprodução de, no máximo, uma geração da categoria imediatamente anterior, na escala de
categorias constante do caput.
87
§ 2
o
O Mapa poderá autorizar mais de uma geração para a multiplicação da
categoria de semente básica, considerando as peculiaridades de cada espécie vegetal.
§ 3
o
A produção de semente básica, semente certificada de primeira geração - C1 e
semente certificada de segunda geração - C2, fica condicionada à prévia inscrição dos
campos de produção no Mapa, observados as normas e os padrões pertinentes a cada
espécie.
§ 4
o
A produção de muda certificada fica condicionada à prévia inscrição do jardim
clonal de planta matriz e de planta básica, assim como do respectivo viveiro de produção,
no Mapa, observados as normas e os padrões pertinentes.
Art. 24. A produção de sementes da classe não-certificada com origem genética
comprovada poderá ser feita por, no máximo, duas gerações a partir de sementes
certificadas, básicas ou genéticas, condicionada à prévia inscrição dos campos de produção
no Mapa e ao atendimento às normas e padrões estabelecidos no regulamento desta Lei.
Parágrafo único. A critério do Mapa, a produção de sementes prevista neste artigo poderá
ser feita sem a comprovação da origem genética, quando ainda não houver tecnologia
disponível para a produção de semente genética da respectiva espécie.
Art. 25. A inscrição de campo de produção de sementes e mudas de cultivar
protegida nos termos da Lei n
o
9.456, de 1997, somente poderá ser feita mediante
autorização expressa do detentor do direito de propriedade da cultivar.
Art. 26. A produção de muda não-certificada deverá obedecer ao disposto no
regulamento desta Lei.
Art. 27. A certificação de sementes e mudas deverá ser efetuada pelo Mapa ou por
pessoa jurídica credenciada, na forma do regulamento desta Lei.
Parágrafo único. Será facultado ao produtor de sementes ou de mudas certificar a sua
própria produção, desde que credenciado pelo Mapa, na forma do § 1
o
do art. 8
o
desta Lei.
CAPÍTULO VI
DA ANÁLISE DE SEMENTES E DE MUDAS
Art. 28. A análise de amostras de sementes e de mudas deverá ser executada de
acordo com metodologias oficializadas pelo Mapa.
88
Art. 29. As análises de amostras de sementes e de mudas somente serão válidas,
para os fins previstos nesta Lei, quando realizadas diretamente pelo Mapa ou por
laboratório por ele credenciado ou reconhecido.
Parágrafo único. Os resultados das análises somente terão valor, para fins de
fiscalização, quando obtidos de amostras oficiais e analisadas diretamente pelo Mapa ou
por laboratório oficial por ele credenciado.
CAPÍTULO VII
DO COMÉRCIO INTERNO
Art. 30. O comércio e o transporte de sementes e de mudas ficam condicionados ao
atendimento dos padrões de identidade e de qualidade estabelecidos pelo Mapa.
Parágrafo único. Em situações emergenciais e por prazo determinado, o Mapa
poderá autorizar a comercialização de material de propagação com padrões de identidade e
qualidade abaixo dos mínimos estabelecidos.
Art. 31. As sementes e mudas deverão ser identificadas, constando sua categoria, na
forma estabelecida no art. 23 e deverão, ao ser transportadas, comercializadas ou estocadas,
estar acompanhadas de nota fiscal ou nota fiscal do produtor e do certificado de semente ou
do termo de conformidade, conforme definido no regulamento desta Lei.
Art. 32. A comercialização e o transporte de sementes tratadas com produtos
químicos ou agrotóxicos deverão obedecer ao disposto no regulamento desta Lei.
CAPÍTULO VIII
DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Art. 33. A produção de sementes e mudas destinadas ao comércio internacional
deverá obedecer às normas específicas estabelecidas pelo Mapa, atendidas as exigências de
acordos e tratados que regem o comércio internacional ou aquelas estabelecidas com o país
importador, conforme o caso.
89
Art. 34. Somente poderão ser importadas sementes ou mudas de cultivares inscritas
no Registro Nacional de Cultivares.
Parágrafo único. Ficam isentas de inscrição no RNC as cultivares importadas para fins de
pesquisa, de ensaios de valor de cultivo e uso, ou de reexportação.
Art. 35. A semente ou muda importada deve estar acompanhada da documentação
prevista no regulamento desta Lei.
§ 1
o
A semente ou muda importada não poderá, sem prévia autorização do Mapa,
ser usada, ainda que parcialmente, para fins diversos daqueles que motivaram sua
importação.
§ 2
o
As sementes ou mudas importadas, quando condenadas, devem, a critério do
Mapa, ser devolvidas, reexportadas, destruídas ou utilizadas para outro fim.
CAPÍTULO IX
DA UTILIZAÇÃO
Art. 36. Compete ao Mapa orientar a utilização de sementes e mudas no País, com o
objetivo de evitar seu uso indevido e prejuízos à agricultura nacional, conforme
estabelecido no regulamento desta Lei.
CAPÍTULO X
DA FISCALIZAÇÃO
Art. 37. Estão sujeitas à fiscalização, pelo Mapa, as pessoas físicas e jurídicas que
produzam, beneficiem, analisem, embalem, reembalem, amostrem, certifiquem,
armazenem, transportem, importem, exportem, utilizem ou comercializem sementes ou
mudas.
§ 1
o
A fiscalização de que trata este artigo é de competência do Mapa e será
exercida por fiscal por ele capacitado, sem prejuízo do disposto no art. 5
o
.
§ 2
o
Compete ao fiscal exercer a fiscalização da produção, do beneficiamento, do
comércio e da utilização de sementes e mudas, sendo-lhe assegurado, no exercício de suas
90
funções, livre acesso a quaisquer estabelecimentos, documentos ou pessoas referidas no
caput.
Art. 38. O Mapa poderá descentralizar, por convênio ou acordo com entes públicos,
a execução do serviço de fiscalização de que trata esta Lei, na forma de seu regulamento.
Parágrafo único. A delegação de competência prevista no caput fica sujeita a
auditorias regulares, executadas pelo Mapa conforme estabelecido no regulamento desta
Lei.
Art. 39. Toda semente ou muda, embalada ou a granel, armazenada ou em trânsito,
identificada ou não, está sujeita à fiscalização, na forma que dispuser o regulamento.
CAPÍTULO XI
DAS COMISSÕES DE SEMENTES E MUDAS
Art. 40. Ficam criadas as Comissões de Sementes e Mudas, órgãos colegiados, de
caráter consultivo e de assessoramento ao Mapa, às quais compete propor normas e
procedimentos complementares, relativos à produção, comércio e utilização de sementes e
mudas.
§ 1
o
As Comissões de Sementes e Mudas, a serem instaladas nas unidades da
Federação, serão compostas por representantes de entidades federais, estaduais e
municipais e da iniciativa privada, vinculadas à fiscalização, à pesquisa, ao ensino, à
assistência técnica e extensão rural, à produção, ao comércio e ao uso de sementes e mudas.
§ 2
o
A composição, a estrutura, as atribuições e as responsabilidades das Comissões
de Sementes e Mudas serão estabelecidas no regulamento desta Lei.
§ 3
o
Cabe ao Mapa a coordenação, em âmbito nacional, das Comissões de Sementes
e Mudas.
91
CAPÍTULO XII
DAS PROIBIÇÕES
Art. 41. Ficam proibidos a produção, o beneficiamento, o armazenamento, a análise,
o comércio, o transporte e a utilização de sementes e mudas em desacordo com o
estabelecido nesta Lei e em sua regulamentação.
Parágrafo único. A classificação das infrações desta Lei e as respectivas penalidades
serão disciplinadas no regulamento.
CAPÍTULO XIII
DAS MEDIDAS CAUTELARES E DAS PENALIDADES
Art. 42. No ato da ação fiscal serão adotadas como medidas cautelares, conforme
dispuser o regulamento desta Lei:
I - suspensão da comercialização; ou
II - interdição de estabelecimento.
Art. 43. Sem prejuízo da responsabilidade penal e civil cabível, a inobservância das
disposições desta Lei sujeita as pessoas físicas e jurídicas, referidas no art. 8
o
, às seguintes
penalidades, isolada ou cumulativamente, conforme dispuser o regulamento desta Lei:
I - advertência;
II - multa pecuniária;
III - apreensão das sementes ou mudas;
IV - condenação das sementes ou mudas;
V - suspensão da inscrição no Renasem;
VI - cassação da inscrição no Renasem.
Parágrafo único. A multa pecuniária será de valor equivalente a até 250% (duzentos
e cinqüenta por cento) do valor comercial do produto fiscalizado, quando incidir sobre a
produção, beneficiamento ou comercialização.
92
Art. 44. O responsável técnico, o amostrador ou o certificador que descumprir os
dispositivos desta Lei, estará sujeito às seguintes penalidades, isolada ou cumulativamente,
conforme dispuser a regulamentação desta Lei:
I - advertência;
II - multa pecuniária;
III - suspensão do credenciamento;
IV - cassação do credenciamento.
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, fica o órgão
fiscalizador obrigado a comunicar as eventuais ocorrências, imediatamente, ao respectivo
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Crea.
CAPÍTULO XIV
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 45. As sementes produzidas de conformidade com o estabelecido no caput do
art. 24 e denominadas na forma do caput do art. 22 poderão ser comercializadas com a
designação de "sementes fiscalizadas", por um prazo máximo de 2 (dois) anos, contado a
partir da data de publicação desta Lei.
Art. 46. O produto da arrecadação a que se referem os arts. 9 e 17 será recolhido ao
Fundo Federal Agropecuário, de conformidade com a legislação vigente, e aplicado na
execução dos serviços de que trata esta Lei, conforme regulamentação.
Art. 47. Fica o Mapa autorizado a estabelecer mecanismos específicos e, no que
couber, exceções ao disposto nesta Lei, para regulamentação da produção e do comércio de
sementes de espécies florestais, nativas ou exóticas, ou de interesse medicinal ou ambiental,
bem como para as demais espécies referidas no parágrafo único do art. 24.
Art. 48. Observadas as demais exigências desta Lei, é vedado o estabelecimento de
restrições à inclusão de sementes e mudas de cultivar local, tradicional ou crioula em
programas de financiamento ou em programas públicos de distribuição ou troca de
sementes, desenvolvidos junto a agricultores familiares.
93
Art. 49. O Mapa estabelecerá os mecanismos de coordenação e execução das
atividades previstas nesta Lei.
Art. 50. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, a
contar da data de sua publicação.
Art. 51. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação.
Art. 52. Fica revogada a Lei n
o
6.507, de 19 de dezembro de 1977.
Brasília, 5 de agosto de 2003; 182
o
da Independência e 115
o
da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Roberto Rodriques
94
6.3.3. RÓTULOS FALSOS APREENDIDOS PELO IBAMA EM SANTA
CATARINA
95
8.4. RÓTULOS DO AÇAÍ MATA ATLÂNTICA COMERCIALIZADO EM
SANTA CATARINA E PARANÁ
96
8.5. LOGOMARCA AÇAÍ MATA ATLÂNTICA
97
8.6. Ficha para obtenção de dados referentes à coleta e ao processamento
dos frutos.
Ficha de Registro de Coleta de Frutos de Euterpe edulis:
Lote (nome ou número)
Data Local de Coleta
Densidade de palmeiras adultas por hectare
Peso dos frutos coletados por palmeira
Ficha de Controle da Fabricação do Açaí
Lote de origem dos frutos
Data Responsável
Separação e lavagem
Kg Tempo (min)
Embebição
g Tempo (min)
Despolpamento
Total de frutos processados (g) Total de açaí obtido (g)
98
8.7. Matéria publicada no jornal da EPAGRI (06/04/2004):
Epagri e UFSC ensinam produtores de palmito a aproveitarem
comercialmente também o fruto
06 de Abril de 2004
A
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em
parceria com o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e a Associação Orgânica realiza amanhã, no município de Garuva, uma
demonstração de como os produtores de palmito devem proceder na extração do fruto do
palmito Jussara destinado à produção de sucos.
O extensionista rural da Epagri em Garuva, Fábio Martinho Zanbonim, afirma que a
comercialização do fruto é mais lucrativa do que a do próprio palmito. "A extração da
polpa permite uma melhor germinação da semente e quando beneficiada e congelada
pode render até R$ 4,00/kg. De cada planta de palmito adulta pode-se em média produzir
4,0 kg/ano de polpa congelada", diz.
Segundo ele, as casas de suco de Florianópolis que receberam a polpa congelada de
Garuva já manifestaram interesse de comprar toda a produção, substituindo as atuais
polpas de açaí (Euterpe oleracea) importadas do norte e nordeste do país de inferior
sabor e coloração quando comparada às nossas.
Assessoria de Imprensa – Epagri
Maiores informações com Fábio Martinho Zanbonim (47) 445-3882 ou com
Joana Mac Fadden, pesquisadora da UFSC (48) 3232-9249
99
8.8. Reportagem publicada no O Estado (06/04/2004).
Data Inclusão: 06/04/2004
Autor: FELIPE ROSA
Suco de palmito é a novidade lucrativa em SC
O suco de palmito promete ser uma novidade lucrativa para os produtores de
Santa Catarina. Especialistas catarinenses afirmam que a polpa do palmito
Jussara’, espécie nativa do estado, será substituta da atual polpa de Açaí
(Euterpe oleracea), importadas do Norte e Nordeste do País, de inferior sabor e
coloração.
Hoje, na cidade de Garuva (Norte de SC), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em parceria com o Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina e Associação Orgânica,
realizam uma demonstração como os produtores devem proceder na extração do
fruto do palmito Jussara, destinado à produção de sucos. “O curso compreende
informações desde o manejo dos cachos até a embalagem e comercialização do
produto final”, argumenta Joana Mac Fadden, pesquisadora da UFSC.
A extração da polpa permite a melhor germinação da semente e, quando
beneficiada e congelada pode render até R$ 4,00 por quilo. De cada planta de
palmito adulto pode-se produzir uma média de 4 quilos por ano.
Polpa catarinense é superior
Um levantamento feito pela universidade federal concluiu que o palmito Jussara
tem qualidade superior ao que atualmente é vendido no Estado, proveniente do
Nordeste brasileiro.
O produto catarinense é mais consistente, com 14% de matéria seca. “As pessoas
não sabiam que tínhamos o Açaí em Santa Catarina. O processo com o fruto
catarinense é o mesmo, porém o produto final é menos diluído que o açaí do
Norte e Nordeste do Brasil”, informa Fadden.
Preservação - “Estamos criando uma oportunidade nova de trabalho para os
palmiteiros e ainda garantimos a preservação da espécie”, disse. Para extração da
polpa do palmito, o corte da planta não é necessário, garantindo sua preservacão.
Suco rende mais que conserva
A Secretaria de Agricultura de Santa Catarina lançou recentemente o Projeto
Florestar Palmito, com a assinatura de um Termo de Cooperação com o Ibama e a
Fatma, para buscar uma alternativa de manejo sustentado do cultivo do palmito
na região Norte do Estado.
100
Segundo Onévio Antônio Zabot, Gerente Regional da Epagri em Joinville, o
decreto 970, de 2003, delimitou a área de cultivo do palmito na região. “Os
produtores podem explorar o cultivo para palmito em conserva ou a nova
possibilidade, a polpa”, informa.
Zabot revela que a lucratividade com a polpa do fruto é superior a do tradicional
palmito em conserva. “Se ganha aproximadamente 8 mil reais por hectare”. A
estimativa é que a atividade crie cerca de 2 mil empregos diretos, favorecendo
cerca de 1.000 famílias. A meta é atingir 10 mil hectares até 2007. (FR)
Fonte: O ESTADO
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